religiosidade e satisfação com a religião em estudantes universitários - nascimento & roazzi,...

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Revista AMAzônica, LAPESAM/GMPEPPE/UFAM/CNPq/EDUA ISSN 1983-3415 (versão impressa) - ISSN 2318-8774 (versão digital) Ano7, Vol XIII, número 1, 2014, Jan-Jun, pág. 143-174. Religiosidade e Satisfação com a Religião em estudantes universitários Religiosity and Satisfaction with religion in college students Alexsandro Medeiros do Nascimento e Antonio Roazzi Resumo: O estudo investigou em população universitária as relações entre religiosidade e satisfação com a religião como índice de bem estar subjetivo, investigando possíveis diferenças nos níveis de satisfação mediante o nível de envolvimento religioso e o tipo de orientação religiosa segundo as dimensões da religiosidade que sejam mais salientes na subjetividade dos participantes. Uma amostra de 258 estudantes universitários de instituições de ensino superior públicas e privadas respondeu a um questionário contendo a Escala de Religiosidade Global e a Escala de Satisfação com a Religião de Item Único e a questões sobre variáveis sociodemográficas e história religiosa dos participantes, tendo as análises subsequentes sido realizadas com os dados de 252 participantes pareados por sexo que relataram adesão a religião institucionalizada no presente. Análise Fatorial realizada com auxílio de extensa rede de índices estatísticos para avaliação das características psicométricas da Escala de Religiosidade Global (ERG) permitiu o levantamento de indícios convincentes de adequação do instrumento psicológico na pesquisa, alcançando-se uma fidedignidade pelo Alfa de Cronbach de .85. Análises subsequentes revelaram alta taxa (97,67%) de estudantes universitários autodeclarados enquanto religiosos, tendo-se encontrado com ANOVA de um fator seguida do teste das diferenças honestamente significativas (DHS) de Tukey que os universitários mais religiosos também são àqueles mais satisfeitos com sua religião atual, havendo, contudo, diferenças nessas relações a depender das dimensões da religiosidade mais edificadas na subjetividade dos estudantes. O estudo permitiu responder afirmativamente sobre o papel positivo da religiosidade sobre dimensões importantes do bem estar subjetivo, devendo-se investir em estudos futuros que mapeiem mais detalhadamente os efeitos de dimensões específicas da religiosidade sobre a satisfação com a vida como um todo, e sobre a satisfação com a religião em particular. Palavras-chave: religiosidade; satisfação com a religião; bem estar subjetivo; estudantes universitários.

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  • Revista AMAznica, LAPESAM/GMPEPPE/UFAM/CNPq/EDUA

    ISSN 1983-3415 (verso impressa) - ISSN 2318-8774 (verso digital)

    Ano7, Vol XIII, nmero 1, 2014, Jan-Jun, pg. 143-174.

    Religiosidade e Satisfao com a Religio em estudantes universitrios

    Religiosity and Satisfaction with religion in college students

    Alexsandro Medeiros do Nascimento e Antonio Roazzi

    Resumo: O estudo investigou em populao universitria as relaes entre religiosidade

    e satisfao com a religio como ndice de bem estar subjetivo, investigando possveis

    diferenas nos nveis de satisfao mediante o nvel de envolvimento religioso e o tipo

    de orientao religiosa segundo as dimenses da religiosidade que sejam mais salientes

    na subjetividade dos participantes. Uma amostra de 258 estudantes universitrios de

    instituies de ensino superior pblicas e privadas respondeu a um questionrio

    contendo a Escala de Religiosidade Global e a Escala de Satisfao com a Religio de

    Item nico e a questes sobre variveis sociodemogrficas e histria religiosa dos

    participantes, tendo as anlises subsequentes sido realizadas com os dados de 252

    participantes pareados por sexo que relataram adeso a religio institucionalizada no

    presente. Anlise Fatorial realizada com auxlio de extensa rede de ndices estatsticos

    para avaliao das caractersticas psicomtricas da Escala de Religiosidade Global

    (ERG) permitiu o levantamento de indcios convincentes de adequao do instrumento

    psicolgico na pesquisa, alcanando-se uma fidedignidade pelo Alfa de Cronbach de

    .85. Anlises subsequentes revelaram alta taxa (97,67%) de estudantes universitrios

    autodeclarados enquanto religiosos, tendo-se encontrado com ANOVA de um fator

    seguida do teste das diferenas honestamente significativas (DHS) de Tukey que os

    universitrios mais religiosos tambm so queles mais satisfeitos com sua religio

    atual, havendo, contudo, diferenas nessas relaes a depender das dimenses da

    religiosidade mais edificadas na subjetividade dos estudantes. O estudo permitiu

    responder afirmativamente sobre o papel positivo da religiosidade sobre dimenses

    importantes do bem estar subjetivo, devendo-se investir em estudos futuros que

    mapeiem mais detalhadamente os efeitos de dimenses especficas da religiosidade

    sobre a satisfao com a vida como um todo, e sobre a satisfao com a religio em

    particular.

    Palavras-chave: religiosidade; satisfao com a religio; bem estar subjetivo;

    estudantes universitrios.

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    Abstract: The study investigated in college students the relationship between

    religiosity and satisfaction with religion as index of subjective well-being,

    investigating possible differences in levels of satisfaction by means of the level

    of religious involvement and the type of religious orientation according to the

    dimensions of religiosity that are salient in the subjectivity of the participants.

    A sample of 258 college students from state and private higher education

    institutions answered to a questionnaire containing the Global Religiosity Scale

    and the Satisfaction with Religion of Single Item Scale and questions about

    sociodemographic variables and religious history of the participants;

    subsequent analyzes have been carried out with 252 participants matched by

    sex who reported adherence to organized religion in the present. Factor

    Analysis performed with the aid of others statistical indices to assess the

    psychometric characteristics of the Global Religiosity Scale (GRS) allowed

    good reliability index: Cronbach's alpha of .85. Further analysis revealed high

    rate (97.67%) of college students who declared themselves as religious people,

    having found using Anova that the most religious college students were also

    those most satisfied with their current religion, however, there were differences

    in these relationships depending on the dimensions of religiosity more salient

    in the subjectivity of students. The study allowed answering affirmatively on

    the positive role of religiosity on important dimensions of subjective well-

    being and future studies should describe in more detail the effects of specific

    dimensions of religiosity on satisfaction with life as a whole, and the

    satisfaction with religion, in particular.

    Key-words: religiosity; satisfaction with religion; subjective well-being;

    college students.

    Religiosidade e Satisfao com a Religio em estudantes universitrios

    O estudo reportado neste trabalho resgata as complexas interaes entre

    a religio e o bem estar subjetivo em populao universitria do Nordeste do

    Brasil. despeito do rompimento da imagem moderna do mundo com a

    religio como eixo privilegiado de leitura do mundo e de organizao do real, e

    das expectativas do pensamento social sobre uma crescente secularizao das

    sociedades ocidentais (ver Nascimento, Rego & Rocha Falco, 2002), no se

    observa um expressivo abandono da religio por parte de populaes tcnicas

    brasileiras como mdicos, enfermeiros e psiclogos (Nascimento, Rego &

    Rocha Falco, 2002), bem como estudantes universitrios de amplos matizes

    formativos nas reas de exatas, biolgicas/sade e humanas/sociais

    (Nascimento, 2008).

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    Isto no ocorre somente no Brasil. Em pesquisas nacionais nos Estados

    Unidos encontraram que 95% dos entrevistados declarava uma crena religiosa

    (Gallup, 1995). Em outros estudos 78% dos participantes tm indicado a

    religio como fonte de conforto e apoio nos perodos de dificuldade e em

    enfrentar problemas de sade (Koenig, Hays, George, Blazer, Larson &

    Landerman, 1997). Alm do mais, no resto do mundo, no qual encontra-se o

    80% da humanidade, as prticas religiosas so partes integrantes das atividades

    quotidianas, os ritmos da vida do dia-a-dia so marcados por rituais e costumes

    geralmente observados pela maioria da populao - nica exceo dos

    contextos urbanos modernos, aonde de qualquer maneira reside um percentual

    reduzido da populao total - as tradies dominam a organizao do vida e da

    sociedade como um todo, sendo permeada por aspectos ritualsticos e

    significados simblicos (Koenig, McCullough, & Larson, 2001).

    A controvrsia crescente na literatura sobre o impacto da religio (se

    negativo, positivo ou neutro) sobre aspectos da vida adulta como sade fsica e

    mental, bem estar subjetivo, coping, e comportamentos pr-sociais, dentre

    outros (ver Lim & Putnam, 2010; Nascimento, 2008; Ferraro & Albrecht-

    Jensen, 1991) abre uma janela de oportunidade de escrutinizao da dinmica

    destas relaes, em especial, quando notifica-se uma carncia de estudos desta

    interface no Brasil, pas com populao notadamente religiosa (Nascimento,

    2008).

    Conforme discutido em Hill e Pargament (2003), a definio de

    religiosidade impe severas dificuldades aos tericos, o que repercute numa

    disperso de instrumentos em uso, os quais em mapeamento no-exaustivo dos

    autores citados chega ao montante de 125 medidas diferentes, incluindo-se no

    levantamento as relacionadas espiritualidade.

    Dentre alguns desses instrumentos em uso, podem ser citadas algumas

    medidas j antigas como a sub-escala de Religiosidade do Personal Value

    Scales de Scott (1965, citado em Stanke, 2004), o Value on Religion Scale de

    Jessor (Jessor & Jessor, 1977, citado em Wills, Yaeger & Sandy, 2003), e

    outras de validao mais recente como o Daily Spiritual Experience Scale

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    (Underwood & Teresi, 2002), o Religion Index for Psychiatric Research

    (Koenig, Meador & Parkerson, 1997), entre os instrumentos internacionais; em

    contexto brasileiro, podem ser citadas a Escala de Crenas Religiosas e a

    Escala de Prticas Religiosas de Santos (2008), a Escala de Coping Religioso-

    Espiritual (CRE) (Panzini & Bandeira, 2005) e a Verso brasileira do Religion

    Index de Koenig et. al. (1997), ainda no validada, conforme informaes de

    seus autores (ver Moreira-Almeida, Peres, Aloe, Lotufo Neto & Koenig, 2008),

    e a Escala de Religiosidade Global (ERG) construda e validada por

    Nascimento (2008).

    Considerando-se a religiosidade um fator da personalidade que engata

    os indivduos numa rede de processos culturais que prescrevem formas

    semioticamente baseadas de crena, adorao, comportamento e scripts para

    funcionamentos psicolgicos especficos, os quais modelam os sistemas

    psicolgicos e cognitivos em formas particulares (ver Brady, Peterman, Mo &

    Cella, 1999, citados em Wasner et al., 2005; Fontana, 2003), incluindo a

    tecnologias de modificao da conscincia e de acesso s formas superiores de

    conscincia e autoconscincia embutidas nas prticas e ritos religiosos (ver

    Fontana, 2003; vila, 2007; Paiva, 1998), o exame da religiosidade enquanto

    um fator relacionado ao desenvolvimento dos sistemas cognitivos e de seus

    efeitos sobre o bem-estar e satisfao psicolgicos precisa ser urgentemente

    encaminhado.

    Para isso, construo de medidas psicometricamente vlidas para se

    acessar distintos nveis de religiosidade de importncia fundamental para

    subsdio de desenvolvimento de modelos tericos mais empiricamente

    fundamentados dos processos de organizao ontogenticos dos estados de

    ajustamento psicolgico da mente e do acesso a nveis otimizados de satisfao

    com a vida como um todo, e com seus subdomnios, como a satisfao com a

    religio.

    Uma vez considerando-se religiosidade em sua vertente mais prpria de

    participao em crenas particulares, rituais e atividades de religio

    institucionalizada (Wasner et al., 2005), o interesse pelo construto em

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    pesquisas epidemiolgicas e nas reas da sade e da psicopatologia tem

    crescido com a percepo da religiosidade enquanto fator de proteo ao

    consumo de drogas em diversos nveis (Sanchez & Nappo, 2007), e como fator

    potencializador da adeso aos tratamentos nas reas da sade e psicoterapia

    (Peres, Simo & Nasello, 2007) e de melhores ndices de evoluo clnica e

    comportamental em pacientes psiquitricos institucionalizados portadores de

    deficincia mental (Leo & Lutufo Neto, 2007), entre muitos outros achados

    relacionados.

    Pesquisas como a de Lewis, Joseph e Noble (1996) no tem encontrado

    evidncias de maior satisfao com a vida entre indivduos com atitudes mais

    favorveis ao Cristianismo e maior frequncia de participao na vida das

    instituies religiosas e seus ritos; Johnson et al. (2000) em exame meta-

    terico da literatura dos ltimos 30 anos sobre a influncia da religio sobre a

    delinquncia no encontraram evidncia conclusiva da mesma enquanto fator

    de proteo queda no comportamento delinquente, como tambm Paul

    (2005), em extensa pesquisa transnacional de tipo survey encontra um avano

    importante da secularizao nas mais prsperas democracias contemporneas e

    maiores ndices de sade societria nestas sociedades onde a religio encontra-

    se enfraquecida que na Amrica do Norte religiosamente orientada que

    apresenta taxas elevadas de adorao e crena em um Criador e profundamente

    anti-evolucionista.

    Por outro lado, pesquisas indicam a religio enquanto estando

    relacionada a melhores ndices de sade e bem-estar psicolgicos gerais, como

    no estudo de Francis, Lewis e Ng (2003) em que escores dos testes Revised

    Eysenck Personality Questionnaire (teste de personalidade) e o Francis Scale

    of Attitude towards Christianity (atitudes ao Cristianismo) mostraram

    correlaes negativas entre atitude favorvel religio crist e psicoticismo e

    nenhuma associao estatisticamente significante com neuroticismo,

    evidncias de um aspecto de proteo da religio psicopatologia adolescente.

    Gabler (2004) em pesquisa com pacientes hospitalizados com longa histria de

    internaes psiquitricas envolvendo tentativas de suicdio, transtorno bipolar e

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    de ansiedade, investigou as relaes entre religiosidade interna e prtica de

    orao e bem-estar religioso e existencial encontrando correlaes significantes

    entre uso da ferramenta devocional da orao e melhores ndices de bem-estar,

    mostrando ser esta ferramenta de modificao dos parmetros mentais uma

    aliada psicoteraputica ajudando os pacientes a manejarem melhor o stress de

    suas enfermidades mentais.

    Existe forte evidncia na literatura de a religio ser um fator de

    preveno psicopatologia em geral (Kendler et al., 2003) e doenas fsicas

    (Aukst-Margetic & Margetic, 2005), a comportamentos socialmente desviantes

    (Santos, 2008), ao abuso de substncias psicoativas lcitas e/ou ilcitas como

    lcool, tabaco e maconha (marijuana) (ver Wills, Yaeger & Sandy, 2003;

    Sanchez & Nappo, 2007), como tambm a resposta psicoteraputica estas

    adices mais efetiva quando se conjuga aos procedimentos clnicos

    contextos de expresso das religiosidades individuais. Abordagens

    psicoterpicas de natureza psiquitrica e psicolgica so otimizadas com a

    incluso da considerao religio e espiritualidade (Peres, Simo & Nasello,

    2007), como evidencia o estudo de Leo e Lutufo (2007) cuja incluso de

    prticas espirituais em instituio para portadores de deficincia mental

    apresentou efeitos positivos na evoluo clnica desses pacientes.

    Koenig, King e Carson (2012) em uma recente publicao Handbook

    of Religion and Health procuram responder uma questo bsica na rea: Qual

    a relao entre religio e bem-estar? Esta pergunta respondida de forma

    exaustiva atravs de uma meta-anlise (que uma coleo e uma comparao

    de estudos anteriores) sobre a correlao positiva entre religio e

    desenvolvimento fsico, mental e social (definio de sade por parte da

    Organizao Mundial de Sade) de quem professa uma crena religiosa. Os

    resultados da pesquisa, realizada principalmente nos Estados Unidos e na

    Europa, focando principalmente a religio crist, chega a uma concluso clara:

    "Em cerca de 2.800 estudos quantitativos que analisam a relao entre

    religio/espiritualidade e bem-estar, a maioria dos estudos (mais de 1800, cerca

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    de 2/3) encontraram uma relao positiva entre a religio/espiritualidade e

    sade fsica e mental" (p. 600).

    Do ponto de vista psicolgico, a reviso mostra como a religio est

    relacionada uma maior extroverso e abertura para novas experincias,

    cordialidade, cooperao, altrusmo, compaixo, propenso para o perdo,

    locus de controle interno (assumindo mritos e responsabilidade de suas

    aes), autoestima, otimismo, esperana, busca de um propsito na vida,

    compromisso e vontade de viver, crescimento ps-traumtico, serenidade. Em

    contrapartida, haveria nos crentes uma menor ansiedade, stress, depresso,

    raiva, hostilidade, sentimentos de solido e propenso ao suicdio.

    Do ponto de vista fsico, a religio produz efeitos positivos de base,

    como menos stress, sistema imunolgico mais eficaz e estilo de vida mais

    saudvel e equilibrado. Os efeitos positivos so, principalmente, no caso de

    menos doenas cardacas, colesterol, presso arterial, diabetes, acidente

    vascular cerebral, doenas sexualmente transmissveis, cncer, percepo da

    dor e da gesto da deficincia. No geral, a religio est relacionada a uma

    longevidade melhor: pessoas crentes, de acordo com os estudos, teriam 37%

    mais chances de ainda estarem vivas no momento de um estudo posterior

    (follow-up). Alm disso, a religio aumenta a cumplicidade mdica, ou seja, a

    abertura do paciente ao mdico e confiana no cuidado e seguir as instrues.

    Do ponto de vista social, os crentes tm melhor desempenho

    acadmico, maior estabilidade no trabalho e no casamento, elemento

    importante para o bem-estar dos cnjuges e filhos, menor incidncia para o

    crime. Quanto aos aspectos mdicos, a religio est relacionada a uma maior

    ateno aos exames preventivos. Na verdade, as igrejas e lugares de culto so

    muitas vezes importantes lugares de informao e preveno.

    Quanto a relao entre crenas religiosas e de uso de drogas, os estudos

    mostram como a religio pode desempenhar um fator protetor para o uso de

    substncias. A religio tambm pode ter um impacto significativo e eficaz em

    uma possvel recuperao e reabilitao de viciados em drogas. Em um total de

    278 estudos sobre o uso de lcool, 86% indicam uma relao inversa com a

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    religio, isto , uma menor propenso ao uso de lcool em pessoas que

    professam uma f ou professam sua prpria espiritualidade. Quanto ao uso de

    drogas, 155 de 185 estudos (84%) relataram menor uso de substncias, entre os

    crentes.

    Enfim, na prtica, os estudos revisados por Koenig et al. (2012)

    mostram que a religiosidade das pessoas esteja relacionada a um melhor bem-

    estar fsico, mental e social. A f religiosa produz efeitos positivos na sade e

    melhora a qualidade de vida, com base em comportamentos e estilos de vida

    saudveis.

    Achados da natureza dos discutidos acima, quando coadjuvados por

    observaes de pesquisas sociais que mostram o significado de proteo social

    representado pela adeso religiosa (ver Nascimento, 2008; Krok, 2014) e a

    fora da religiosidade em modelar respostas sociais importantes relacionadas

    sade, comportamentos de risco e violncia, entre tantas outras variveis

    importantes reflexo social em mxima abrangncia (ver Hill & Pargament,

    2003; Koenig, 2012; Kendler et al., 2003), colocam a religio e construtos

    associados na agenda imediata de preocupaes cientficas contemporneas

    (ver Nascimento, 2008; Emmons, 2006a; 2006b).

    Levanta-se nesta presente investigao a hiptese de ter a religiosidade

    um papel especial na organizao dos ambientes fsico e social, alm do

    ambiente interno (cognio e personalidade) dos indivduos, a qual deve ter um

    efeito sobre o desenvolvimento cognitivo em geral, e do acesso a formas mais

    robustas de bem-estar psicolgico e satisfao com a vida, tal como expressa

    por um de seus domnios a satisfao com a religio.

    A pergunta sobre a felicidade vem desde a antiguidade e tem ocupado

    as mentes tanto de filsofos, quanto de homens comuns, em especial, a

    considerao sobre o que faz de uma vida uma vida boa, digna de ser vivida.

    Os cientistas sociais tem chegado a um consenso no estudo do bem estar

    subjetivo de que um ingrediente fundamental da boa vida que a prpria

    pessoa (self) goste de sua vida. Bem estar subjetivo assim se refere s

    avaliaes cognitivas e afetivas que uma pessoa faz consoante a sua vida,

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    estando includas destas avaliaes reaes emocionais a eventos, e

    julgamentos cognitivos de satisfao e realizao. Bem estar subjetivo envolve

    experienciar emoes prazerosas, baixos nveis de humor negativo e altos

    nveis de satisfao com a vida, sendo um conceito de grande amplitude terica

    e experiencial, envolvendo uma gama de processos psicolgicos usualmente

    tratados sob as rubricas felicidade, satisfao com a vida, bem estar

    psicolgico, entre outros (Diener, Lucas & Oishi, 2002).

    Segundo Costa e Pereira (2007), apesar de no haver um consenso

    sobre o significado de bem estar subjetivo, na esteira dos trabalhos de Ed

    Diener e colaboradores (ver Diener, 1984; 2000; Diener, Suh, Lucas & Smith,

    1999; Diener, Lucas & Oishi, 2002) pode-se considerar bem estar subjetivo

    como qualidade de vida percebida, sendo pessoas com altos nveis deste

    construto indivduos felizes e satisfeitos, numa referncia aos dois

    componentes bsicos do bem estar subjetivo, a saber, o componente cognitivo

    (satisfao) e o afetivo, este sendo vivenciado ora como felicidade, ora como

    afeto positivo ou afeto negativo. Nesta perspectiva uma pessoa feliz seria

    quela com um balano positivo entre afeto positivo e afeto negativo.

    Os humores e emoes das pessoas refletem suas reaes on-line a

    eventos que lhes acontece, os indivduos realizando julgamentos abrangentes

    sobre suas vidas como um todo, tanto quanto sobre domnios importantes como

    religio, casamento e trabalho. Apesar desse tnica panormica na experincia,

    existem, portanto, componentes separveis de bem estar subjetivo, como afeto

    positivo - quando se experincia emoes e humores gozosos, de valncia

    positiva, nveis baixos de afeto negativo quando se experiencia poucos

    humores e emoes desprazerosos, de valncia negativa, satisfao com a vida

    na forma de juzos globais sobre a prpria vida, e satisfao com domnios

    importantes queles que tem mais salincia e significao na vida do

    indivduo, como por exemplo, a satisfao com o trabalho (Diener, 2000), com

    o casamento e a sexualidade, ou satisfao com a religio, objeto desta

    investigao.

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    Conforme informe de Diener (2000), na pesquisa inicial sobre bem

    estar subjetivo, pesquisadores interessados no estudo de facetas da felicidade

    em geral operacionalizaram sua medida em termos de item nico de autorelato,

    em geral um item em formato de escala Likert, forando sua interpretao em

    termos unidimensionais. Compreenso mais recente sobre a natureza do

    construto (ver Diener, Suh, Lucas & Smith, 1999) tem alertado sobre a

    necessidade de se considerar o bem estar subjetivo uma categoria abrangente

    de fenmenos respostas emocionais, satisfao por domnio, e julgamento

    global de satisfao com a vida dos indivduos, cada um deles devendo ser

    abordado em seus prprios termos, mesmo considerando-se que se encontram

    correlaes substanciais na pesquisa emprica entre esses componentes, o que

    sugere a existncia de um fator de alta ordem na base do fenmeno.

    A dimensionalidade do construto matria ainda de interrogao, por

    um lado, autores defendem que emoes e humores, usualmente tratados juntos

    sob a rubrica do afeto, em que se representam as avaliaes on-line que as

    pessoas realizam sobre os eventos de suas vidas, podem ter suas dimenses

    positiva e negativa mensuradas separadamente, por se tratarem de fato de dois

    fatores distintos. Embora esta hiptese no esteja ainda elucidada, outros

    autores consideram que nas dimenses afetivas a longo prazo, ao contrrio de

    suas contrapartes online, o grau de independncia das valncias de afeto

    antittico menos controverso, a pesquisa empirica tendo documentado

    convincentemente que o afeto negative se separa substancialmente a medida

    em que o escalo de tempo considerado aumenta (ver Diener, Suh, Lucas &

    Smith, 1999).

    A mensurao da felicidade em termos transnacionais tem sido

    crescente, usando-se uma variedade de medidas psicomtricas, o que dificulta a

    comparao entre os estudos, e limita a apreciao dos resultados encontrados

    (Veenhoven, 2012; Helliwell & Wang, 2012). Estudos tipo survey tm sido

    realizados desde o estudo inicial feito nos Estados Unidos em 1946, e

    atualmente h dados disponveis sobre felicidade sobre quase todas as naes

    do mundo, compondo a coleo Happiness in Nations (Veenhoven, 2012) da

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    World Database of Happiness. Tais mensuraes se baseiam em geral em

    questo nica (Taking all together, how satisfied or dissatisfied are you with

    your life as a whole these days?), com respostas em escala Likert de 11

    pontos, indo de 0 (insatisfeito) a 10 (satisfeito).

    Verificao das taxas de felicidade entre as naes para o perodo 2000-

    2009 evidenciam largas diferenas entre as naes, com naes com taxas

    medianas de felicidade (entre 5 e 6 pontos) como Coria do Sul, frica do Sul,

    Rssia, Gana e Paquisto, a naes com taxas acima da mdia (mdias maiores

    que 7.8 pontos) como Costa Rica, Dinamarca, Islndia, Sua, Finlndia,

    Mxico e Noruega, e naes com taxas abaixo da mdia (mdias menores que

    3.6 pontos) como Serra Leoa, Benin, Zimbabwe, Burundi, Tanznia e Togo.

    Apesar do interesse incrementado na pesquisa com essas fontes

    transculturais e transnacionais, permanece a dvida sobre a possibilidade de

    existncia de vieses na aferio cultural do construto, em especial sobre o

    significado de felicidade para cada nao, possvel impacto das diferentes

    lnguas em que os estudos so realizados sobre as taxas de resposta, bem como

    a perene questo da comparao entre diferentes instrumentos psicomtricos,

    dada a no uniformidade de seus usos, a depender das diferentes bases de

    dados consultadas. Todavia, Veenhoven (2012) para alm das dificuldades

    mapeadas considera vivel o estudo da felicidade atravs do estudo

    comparativo entre pases, sendo a mensurao do construto um indicador

    precioso de quo bem as pessoas prosperam em suas sociedades.

    A aposta na possibilidade de mensurao confivel do bem estar

    subjetivo tem levado a busca por mapeamento de outras dimenses da mesma,

    como a da satisfao com a vida, na relao com um grande nmero de

    variveis, tanto intrnsecas, quanto extrnsecas ao indivduo.

    Leung, Colantonio e Santaguida (2005) avaliaram em amostra nacionais

    de idosos canadenses a associao entre uso de cadeira de rodas e nveis de

    dor, atividades funcionais afetadas pela dor, e satisfao com atividades e com

    a vida, levando-se em considerao tanto a avaliao da vida como um todo,

    quanto a satisfao com 9 domnios especficos: sade, relaes familiares,

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    amizades, habitao, finanas, vizinhana, atividades, religio e transporte. Os

    resultados evidenciaram que idosos usurios de cadeiras de rodas experienciam

    mais dor que os idosos no usurios, a dor interferindo fortemente com

    atividades e satisfao com a vida, havendo tambm uma correlao positiva

    entre satisfao com a religio e com a vida como um todo nesta amostra, o

    que refora a compreenso de ser a satisfao com a religio um forte preditor

    de bem estar subjetivo, em especial, na dimenso da satisfao com a vida

    (juzo global).

    O estudo de Krause (2004) com foco em amostra nacional de afro-

    americanos idosos investigou a interface entre facetas comuns de religio

    queles aspectos da religio que podem ser compartilhadas por pessoas de

    quaisquer grupos raciais (por exemplo, orao privada), facetas nicas de

    religio aspectos da religio que so especficas a um grupo racial (por

    exemplo, religio como fonte de enfrentamento da discriminao racial para

    afro-americanos), e satisfao com a vida. Os achados revelaram que tanto

    aspectos comuns quanto nicos da religio contribuem para a satisfao com a

    vida em idosos afroamericanos.

    Clark e Lelkes (2009) investigaram efeitos religiosos colaterais sobre

    satisfao com a vida em amostra transnacional de 90.000 indivduos de 26

    pases europeus, encontrando que indivduos religiosos so mais satisfeitos

    com suas vidas, se mantendo este resultado mesmo aps ter-se controlado

    variveis como idade, renda, escolaridade, situao do mercado de trabalho,

    condio de sade, estado civil e pas, tendo grande peso na equao de

    regresso estrutural a denominao religiosa, ida habitual a igreja e orao

    pessoal.

    Elliott e Hayward (2009) investigaram numa amostra de 93.142

    indivduos de 65 de 70 pases participantes da quarta onda de World Values

    Surveys, amostra esta que reflete todos os casos vlidos para a varivel

    dependente do estudo, a satisfao com a vida. Especificamente o interesse do

    estudo recaiu sobre os efeitos de identidade religiosa e participao em religio

    organizada sobre a satisfao com a vida, e se os efeitos variaram como funo

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    do grau de regulamentao governamental de liberdades individuais em um

    dado pas. Os resultados indiciaram que identidade religiosa est associada

    positivamente com satisfao com a vida ao redor do mundo, mas que a

    associao aumenta em fora em condies de maior regulao governamental;

    a associao entre participao em religio organizada e satisfao com a vida

    positiva na situao de baixa regulao governamental, se atenua medida

    que esta regulao cresce, e se atenua quando a regulao governamental alta.

    Segundo Cloninger (2006), a psiquiatria tem falhado em promover

    melhores taxas de felicidade e bem estar na populao geral despeito de

    grandes gastos em drogas psicotrpicas e manuais de psicoterapia, sendo tal

    falha resultante de foco estrito sobre aspectos de estigmatizao das desordens

    mentais e negligncia em mtodos de promoo de emoes positivas,

    desenvolvimento da personalidade, satisfao com a vida e espiritualidade.

    Trabalhos recentes na pesquisa do bem estar tem evidenciado a possibilidade

    de melhorar a personalidade incrementando o bem estar e diminuindo

    incapacidade relacionada a sade mental na populao geral usando-se

    mtodos que focalizam sobre desenvolvimento de emoes positivas e traos

    de personalidade essenciais ao bem estar conforme mensurados por

    instrumento psicomtrico especfico (Temperament and Character Inventory)

    nas dimenses fundamentais de: autodireo (responsvel, proposital, e

    engenhoso), cooperativismo (tolerante, til, compassivo), e auto-

    transcendncia (ou seja, intuitivo, judicioso, espiritual). Pessoas com altos

    escores nesses traos tem emoes positivas frequentes - so mais alegres,

    satisfeitos, e otimistas, e infrequentes emoes negativas so muito pouco

    ansiosos, tristes ou pessimistas.

    As consideraes do autor citado (Cloninger, 2006) sobre o papel

    essencial da religiosidade e espiritualidade na assuno do bem estar recebe

    respaldo de ampla documentao de pesquisa emprica, embora ainda no se

    tenham elucidado os fatores especficos que ocasionam a religio modelar a

    satisfao com a vida (Lim & Putnam, 2010), ambiguidade terica que corre de

    par a par com as profundamente divergentes posies consoante ao papel da

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    religio na vida humana coexistindo no pensamento social em geral, e

    sociolgico, psicolgico e psicanaltico em particular. Entre os cientistas

    sociais, emblemticas so as posies de Marx e Freud que descreveram a

    religio enquanto tendo efeitos negativos sobre a vida humana e funcionamento

    mental, enquanto autores como Sorokin e Jung a tem descrito como benfica

    ao bem estar pessoal e vida social, conforme pontuam Ferraro e Albrecht-

    Jensen (1991).

    A controvrsia sobre se a religio tem efeitos positivos, negativos ou

    algum efeito sobre sade e bem estar na vida adulta permanece na atualidade, e

    queles que defendem uma relao positiva entre os construtos avanam em

    tentativas de explanao desses efeitos. Idler (1987), em estudo com idosos no

    institucionalizados tem identificado quatro mecanismos responsveis pelos

    efeitos positivos da religio sobre a sade: (1) comportamentos saudveis

    religiosidade reduz comportamentos destrutveis sade; (2) coesividade social

    religiosidade ativa redes sociais para coping e suporte; (3) coerncia

    religiosidade ativa um sistema especial de significado para se fazer sentido da

    vida; e, (4) teodiceia religiosidade modifica percepes de aflio associada

    com sofrimento fsico, incrementando esperana para o indivduo.

    Lim e Putnam (2010) encontraram em seu estudo forte evidncia para

    mecanismos sociais e participatrios modelando o impacto sobre satisfao

    com a vida, efeitos que ocorrem vis--vis ao atendimento regular aos servios

    religiosos e construo de redes sociais em suas congregaes, estando o

    efeito relacionado amizade dentro da congregao a depender de forte

    identidade religiosa. Os achados se alinham percepes tericas clssicas no

    pensamento social, em especial, s relacionadas aos pensamentos de Durkheim

    e Simmel que consideram a dimenso social da religio a essncia e substncia

    da religio; nesta perspectiva, envolvimento religioso fomenta bem estar

    subjetivo pelo fato de organizaes religiosas oferecerem oportunidades para

    interao social entre pessoas de mesmo pensamento, amizades encorajadoras e

    laos sociais (ver Lim & Putnam, 2010).

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    Uma explanao mais cognitiva foi proposta por Nascimento (2008) em

    estudo com estudantes universitrios e faceia a dinmica de mediao cognitiva

    de autoconscincia na interao com envolvimento religioso. Esta articulao

    entre mediao cognitiva e a religiosidade, envolve o juzo de satisfao do

    indivduo com sua religiosidade atual, o qual invariavelmente comparece na

    forma de avaliaes verbais (appraisals) na forma de discurso interior (self-

    talk), o qual remete invariavelmente o indivduo a experienciao de estados

    autoconscientes queles em que o indivduo presta ateno ativamente em

    algum de seus auto-aspectos e aprende mais sobre si mesmo com base neste

    escrutnio reflexivo (Nascimento, 2008). A avaliao sobre o bem-estar prprio

    tem estado intimamente associada na literatura ao conceito de satisfao, a qual

    inmeros estudos segundo Veenhoven (1996) tm guardado forte associao

    (correlao) entre suas dimenses globais (vida-como-um-todo) e seus

    respectivos domnios (sade, trabalho, casamento, moradia, sexualidade,

    religiosidade, etc.), o que coloca a satisfao com a religiosidade enquanto

    ndice indireto da satisfao com a vida em geral.

    Assim, uma vez que a avaliao subjetiva da satisfao pessoal tramita

    na cognio a partir de mecanismos de comparao de padres (standards)

    internalizados (Nascimento, 2008; Veenhoven, 1996), os quais necessitam da

    autoconscincia para serem conscientizados no fluxo da conscincia corrente,

    existe uma conexo entre satisfao com a religio e a religiosidade passando

    pelo autofoco com seus mecanismos mediadores, devendo as pessoas mais

    satisfeitas com a prpria religio atual tambm serem as com mais altos escores

    de religiosidade (ver Nascimento, 2008).

    Uma vez que pesquisas envolvendo religiosidade e escores de

    satisfao no tem mostrado um quadro conclusivo (ver Lewis, Joseph &

    Noble, 1996), havendo ainda lacunas na compreenso sobre os efeitos da

    religiosidade sobre o bem estar subjetivo, e por outro lado, h indcios de forte

    decrscimo de comportamento religioso em populaes altamente

    escolarizadas (Paul, 2005), tem-se a percepo da necessidade de se avanar na

    documentao junto a esse tipo de populao dos efeitos da ausncia de

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    religiosidade sobre a satisfao com a vida, em plano global, e por domnios,

    dentre este, o da satisfao com a religio, no caso de indivduos religiosos.

    Dada o escasso interesse evidenciado pelo exame da literatura cientfica

    em lngua portuguesa sobre o construto satisfao com a religio e a ausncia

    de estudos especficos que mapeiem seu enlace aos nveis de religiosidade de

    populao universitria, tem-se o principal argumento que alicera este

    presente trabalho que tem como principal objetivo o mapear em populao

    universitria as relaes entre religiosidade e satisfao com a religio como

    ndice de bem estar subjetivo, investigando possveis diferenas nos nveis de

    satisfao mediante o nvel de envolvimento religioso e o tipo de orientao

    religiosa segundo as dimenses da religiosidade que sejam mais salientes

    conforme reportados pelos participantes. Assumiu-se no estudo a hiptese de

    que (a) pessoas com escores mais altos em satisfao com a religio atual

    (adeso religiosa no presente) so as com maiores escores em religiosidade, e

    (b) os efeitos da religiosidade sobre a satisfao diferem entre diversas

    orientaes religiosas, isto , as dimenses da religiosidade mais edificadas nos

    estudantes.

    Mtodo

    Participantes

    A amostra foi composta por 258 estudantes universitrios de

    instituies de ensino superior pblicas e privadas, os quais responderam ao

    protocolo de pesquisa para o teste das hipteses relacionadas s medidas de

    religiosidade, adeso religiosa, tempo de adeso religiosa e satisfao com a

    religio atual. As anlises especficas relacionadas Satisfao com a Religio

    Atual foram efetuadas com uma sub-amostra de 252 participantes (126 por

    sexo) que relataram vinculao formal a igrejas e instituies de culto

    organizadas, as religies encontradas na amostra replicando a estrutura global

    do campo religioso brasileiro, conforme destacadas no Atlas da filiao

    religiosa a partir do Censo (Jacob et. al., 2003), a saber, o Catolicismo Romano

    (66%), as Igrejas Protestantes oriundas da Reforma (21%), e o Espiritismo

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    Kardecista (9,4%), os quais compem o grosso da orientao religiosa no

    Brasil contemporneo, e outras religies (3,6%) de menor expresso numrica.

    Instrumentos

    Os participantes responderam a um questionrio auto-administrado

    distribudo pelo pesquisador na forma de uma apostila contendo as medidas

    usadas neste estudo, a Escala de Religiosidade Global, a Escala de Satisfao

    com a Religio de Item nico, alm do Questionrio Scio-Demogrfico

    contendo questes sobre a orientao religiosa atual e histria religiosa dos

    respondentes.

    No que se refere aos instrumentos psicomtricos utilizados, a Escala de

    Religiosidade Global de Nascimento (2008) uma escala de tipo Likert

    composta de 05 itens correspondentes aos aspectos mais nucleares da dinmica

    psicolgica da religiosidade Adeso Religiosa, Comportamento Religioso,

    Experincia Mstica, F e Vinculao Epistmica, sendo uma medida geral e

    unidimensional do construto religiosidade. Por sua vez, a Escala de

    Satisfao com a Religio de Item nico (Nascimento, 2008) uma medida

    unidimensional em escala Likert de 05 pontos que mensura em tomada nica

    os nveis de satisfao com a religio atual do participante, independente de

    sua histria religiosa.

    Procedimentos

    Aps apresentao dos objetivos da pesquisa e assinatura dos Termos

    de Consentimento Livre e Esclarecido, os participantes responderam ao

    questionrio de pesquisa, necessitando os mesmos do tempo mdio de 1 hora

    para resposta aos protocolos. As respostas ao questionrio se deram nas

    prprias salas de aula das instituies de ensino superior visitadas. Uma vez

    conseguidos os protocolos respondidos necessrios, os dados foram digitados

    em planilhas do software SPSS for Windows (verso 18) e encaminhados s

    anlises estatsticas respectivas.

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    Resultados

    Avaliao psicomtrica da Escala de Religiosidade Global (ERG)

    Em busca de se reunir elementos para diagnstico das qualidades

    psicomtricas da Escala de Religiosidade Global (ERG), analisou-se a Matriz

    de correlaes dos 05 itens da escala para verificao de sua fatorabilidade

    atravs dos ndices de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e do Teste de Esfericidade

    de Bartlett. Os resultados encontrados do legitimidade ao uso da Anlise dos

    Componentes Principais para esta escala como se ver a seguir.

    A medida do KMO (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling

    Adequacy) encontrada de .80 indicia a alta correlao inter-itens da escala,

    sendo esta estatstica considerada Boa por Reis (2001). Por sua vez, o Teste

    de Esfericidade de Bartlett com o resultado de 2 (10) = 535,824, p < .001,

    permite que se rejeite a hiptese H0 da Matriz de Correlaes ser uma Matriz

    Identidade, isto , que no haja correlaes fortes e significativas entre as

    variveis. O p encontrado tendo um valor menor que o nvel de significncia

    exigido (= 5%), tomado conjuntamente com o valor do KMO relatado

    anteriormente, rene as evidncias para que se proceda com legitimidade

    estatstica a Anlise dos Componentes Principais, tendo-se procurado atravs

    dos critrios da Raiz Latente (Critrio de Kaiser) e do Grfico de Declive

    (Critrio de Cattell) informaes para a determinao do nmero de

    componentes (fatores) a ser retido.

    O uso triangulado dos critrios de Kaiser e de Cattel indicaram a

    unidimensionalidade da escala, encontrando-se pelo Critrio de Kaiser para

    autovalores maiores que 1 (Hair et al., 2005) um nico componente a ser

    extrado (3.1) para os itens desta escala, o qual explicou 61.5% da Varincia

    Total, resultado corroborado pela sugesto de reteno de apenas um

    componente pela visualizao da distribuio dos valores prprios no Grfico

    de Declive (Critrio de Cattell), haja vista a suavizao e horizontalizao da

    curva aps a plotagem do primeiro componente, conforme indicao de Hair et

    al. (2005).

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    Os resultados a que se chega aps o exame dos critrios de Kaiser e

    de Cattell sugerem conforme esperado teoricamente uma soluo unifatorial

    para a esta escala, o que se confirma aps a rotao de seus itens. A estrutura

    da Escala de Religiosidade Global pode ser conhecida na Tabela 1.

    | Tabela 1

    Anlise fatorial da Escala de Religiosidade Global (ERG) (eigenvalue >1 e

    saturao >.40)

    Itens F1 h2

    01. Eu sou adepto de uma determinada tradio religiosa... .842 .709

    05. Entre o que o conhecimento religioso afirma... .829 .687

    02. Eu participo de rituais religiosos... .825 .681

    04. Deposito minha confiana... .736 .541

    03. Eu vivencio estados de completa unio... .676 .456

    Nmero de Itens 5

    Valor Prprio (Eingenvalue) 3.1

    % de varincia por cada fator 61.5

    Alfa de Cronbach .85

    Notas. ndice Kaiser-Meier-Olkin de Adequao da Amostra: ,80; Teste de

    esfericidade de Bartlett: 535,824, p = .000; Identificao dos fatores: F1:

    Religiosidade.

    Na Tabela 1 observa-se a alta saturao dos itens desta escala,

    superando de forma expressiva a carga fatorial de .40 prescrita para

    permanncia de itens em definitivo no instrumento. A comparao do contedo

    semntico dos itens permitiu a nomeao do fator encontrado enquanto

    Religiosidade, propiciando uma medida nica e global para o exame da

    religiosidade, uma vez que os itens expressam seus diferentes aspectos (adeso

    religiosa, comportamento religioso, experincia mstica/xtase, f e vinculao

    epistmica), tais itens explicando conjuntamente 61.5% da Varincia Total.

    As cargas fatoriais dos itens do Fator I variaram de .84 no item 01 (Eu

    sou adepto de uma determinada tradio religiosa...) a .67 no item 03 (Eu

    vivencio estados de completa unio...).

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    O exame da fidedignidade da escala atravs do Alfa de Cronbach

    evidencia uma alta correlao inter-itens para o fator com um = .85, ndice

    que satisfaz a critrios mais rigorosos para validao de escalas como o

    indicado por Kline, citado em Loewenthal (2004) que o prescreve em pelo

    menos .80 para que se o considere adequado usabilidade para fins

    diagnsticos e de pesquisa acadmico-profissional. Uma vez que o valor

    encontrado para a consistncia desta escala supera de modo importante nveis

    considerados adequados por especialistas psicometristas e associaes

    cientficas de peso como a The British Psychological Society Steering

    Committee on Test Standards ( .70) (ver Loewenthal, 2004; Hair et al.,

    2005; Reis, 2001), evidencia-se dessa feita as excelentes qualidades

    psicomtricas do instrumento, alm de sua validade e conciso, o que torna a

    escala bastante apropriada incluso em pesquisas que relacionem

    religiosidade a outros construtos psicossociolgicos e cognitivos. Por fim,

    destaca-se ainda o valor prprio alcanado pelo fator de 3.1, explicando dessa

    maneira os j citados 61.5% da Varincia Total devida escala.

    Teste das hipteses do estudo

    No intuito de responder s hipteses do estudo, aps levantamento das

    principais estatsticas descritivas (medidas de tendncia central, disperso e

    freqncia), o passo inicial das anlises foi a verificao da relao entre os

    nveis de Religiosidade atravs das respostas Escala ERG e os nveis de

    Satisfao com a Religio Atual obtidos numa escala de item nico de tipo

    Likert de 5 pontos, tendo entrado na composio desta anlise apenas os

    indivduos que responderam Escala ERG e que no momento presente da

    pesquisa achavam-se filiados a alguma religio institucionalizada. Como as

    freqncias ao Nvel 1 da escala Likert para a satisfao foram extremamente

    baixas, optou-se por juntar essas marcaes ao nvel seguinte (2), compondo

    um nico nvel das baixas satisfaes que ser sempre relatado com eles

    pareados nas anlises efetuadas (1-2). As mdias de resposta s duas medidas

    consideradas podem ser apreciadas na Tabela 2.

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    | Tabela 2

    Estatstica Descritiva das mdias e desvios-padres das respostas aos itens da

    Escala ERG em funo dos Nveis de Satisfao com a Religio Atual.

    Itens

    Totalmente

    Insatisfeito/Um pouco Insatisfeito

    (1-2)

    Nem Insatisfeito Nem

    Satisfeito

    (3)

    Um pouco Satisfeito (4)

    Totalmente Satisfeito (5)

    Total

    Mdia DP Mdia DP Mdia DP Mdia DP Mdia DP

    Escala ERG Total 3.23 .96756 3.14 .89167 3.90 .65393 4.13 .83429 3.80 .88117

    Adeso Religiosa 3.12 1.364 2.96 1.306 3.98 1.087 4.16 1.148 3.80 1.258

    Comportamento Religioso 2.88 1.111 2.40 1.118 3.64 1.069 3.92 1.297 3.48 1.288

    Experincia Mstica 3.29 1.359 3.24 1.393 3.61 1.123 3.69 1.298 3.55 1.261

    F 4.12 1.054 4.04 1.428 4.63 .676 4.65 .925 4.49 .984

    Vinculao Epistmica 2.76 1.437 3.08 1.222 3.66 .996 4.18 .984 3.68 1.179

    Conforme esperado, encontrou-se as maiores mdias de religiosidade

    pelos itens entre os grupos com maior satisfao com a religio atual (4.65;

    4.63; 4.18; 4.16), enquanto ao inverso, os menos satisfeitos com a religio atual

    (nveis 1-2 e 3) encontram-se entre os que obtiveram menores mdias nos

    escores parciais de religiosidade (2.96; 2.88; 2.76; 2.40) (ver mdias na Tabela

    2). Em geral, o grupo medianamente satisfeito (nvel 3, nem insatisfeito, nem

    satisfeito) esteve sempre com menores escores de religiosidade que o grupo

    dos pouco satisfeitos ou insatisfeitos (nveis 1-2), exceo de sua mdia em

    Vinculao Epistmica que resultou um pouco maior (3.08).

    Deduz-se a partir das mdias em exame que h uma tendncia a quo

    maior envolvimento religioso (maiores ndices de religiosidade), maior a

    satisfao com a religio, com um fato especfico a ser considerado e que se

    refere a um perfil diferenciado nas relaes entre esses construtos nos grupos

    de baixa e mediana satisfao, onde os indivduos menos satisfeitos so em

    mdia um pouco mais religiosos que os indecisos quanto satisfao com a

    religio atual, embora os ltimos permaneam em mdia mais vinculados

    religio enquanto um campo de saber e de orientao da vida em geral

    (Vinculao Epistmica) (3.08).

    Para verificar-se a existncia efetiva de diferenas nas religiosidades

    entre os 04 grupos por nveis de satisfao com a religio atual, efetuou-se

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    Anlises de Varincia (ANOVA de um fator), seguida do teste das diferenas

    honestamente significativas (DHS) de Tukey para comparao e descrio das

    diferenas nas mdias de resposta s diferentes medidas pelos grupos. A

    ANOVA ou Anlise de Varincia um teste paramtrico usado para anlise de

    trs ou mais condies, e o faz determinando a mdia geral (mdia das demais

    mdias) e verificando o quo diferente cada mdia individual da mdia geral.

    Para discriminao e melhor apreciao das diferenas encontradas pela

    ANOVA usam-se testes post hoc para explorao das mesmas como o teste de

    Tukey, escolhido para este estudo por sua adequao a anlises envolvendo um

    grande nmero de comparaes e por seu carter mais conservador, com mais

    exigncias de adequao estatstica, o que otimiza a confiana nas relaes

    encontradas (ver Hair et al., 2005; Nascimento, 2008). Os resultados destas

    anlises listam-se na Tabela 3.

    Tabela 3

    ANOVA One-Way e Tukey das mdias das respostas Escala de Religiosidade

    total e por itens em Funo do Nvel de Satisfao com a Religio Atual Itens SQ gl QM F P Tukey (p

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    caso uma exceo no que tange s mdias de Experincia Mstica, que no

    revelaram diferenas de nota atravs dos distintos nveis de satisfao com a

    religio atual (ver coeficientes na Tabela 3). Para explorao subsequente das

    diferenas encontradas, o teste de Tukey revelou um perfil geral que contrape

    as mdias de religiosidade mais baixas e as mais altas, onde em mdia os nveis

    mais baixos de religiosidade se encontram entre os indivduos menos satisfeitos

    com a sua religio atual ou indecisos (p < .05), pelo exame das mdias de

    religiosidade entre os grupos.

    Assim, os respondentes com maior adeso a religio institucionalizada,

    com maior modelao religiosa do comportamento e maior compromisso ao

    campo religioso como forma de saber so os mais satisfeitos com sua religio

    atual, com a particularidade de a F apresentar uma relao estatisticamente

    significante contrapondo apenas as mdias de religiosidade dos extremos do

    continuum de satisfao, os mais insatisfeitos dentre os de baixa satisfao (1-

    2) e os mais satisfeitos dentre os de alta satisfao com a religio atual (5),

    encontrando-se tambm uma ausncia de diferena nas mdias dos mais

    insatisfeitos (1-2) com o grupo inferior dos mais satisfeitos (4) no que se

    refere orientao religiosa do comportamento (Comportamento Religioso).

    Em sntese, os nveis de religiosidade acompanham os de satisfao com a

    religio atual em mdia, com os mais satisfeitos sendo tambm queles que

    obtm maiores mdias global e por itens ( exceo da Experincia Mstica) da

    religiosidade.

    Discusso

    O mote do estudo foi a investigao e documentao em populao

    universitria do Nordeste do Brasil a dinmica psicolgica e cognitiva em que

    se enlaam a religiosidade e os nveis de satisfao com a religio, como ndice

    de bem estar subjetivo dos indivduos pesquisados, tendo como horizonte o

    teste emprico das hipteses de que pessoas mais satisfeitas com sua religio

    atual so quelas com maior envolvimento religioso global, e que os efeitos

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    sobre a satisfao diferem segundo as dimenses da religiosidade mais

    solidamente edificadas na cognio dos sujeitos da pesquisa.

    O teste emprico destas hipteses passa pelo exame necessrio da

    qualidade do instrumento psicomtrico que acessa o fenmeno cognitivo

    investigado, a saber a religiosidade. O uso de extensa rede de ndices

    estatsticos para avaliao das caractersticas psicomtricas da Escala de

    Religiosidade Global (ERG) permitiu o levantamento de indcios convincentes

    de adequao do instrumento na pesquisa: os ndices de Kaiser-Meyer-Olkin

    Measure of Sampling Adequacy (KMO) e o Teste de Esfericidade de Bartlett

    evidenciaram estar-se diante de uma matriz de correlaes fatorvel e com

    variveis latentes teoricamente interpretveis, tendo-se levantado pelos

    critrios de Kaiser e de Cattell a indicao de um nico fator a ser extrado, o

    que se confirmou pela extrao do mesmo pela Anlise dos Componentes

    Principais (ACP), alcanando-se uma fidedignidade muito alta para a escala

    pela mensurao pelo Alfa de Cronbach de .85, e cargas fatoriais expressivas

    em todos os itens. No geral, obtiveram-se resultados favorveis adequao da

    escala para uso em pesquisa, quando cotejados seus ndices com os prescritos

    pela psicometria (Loewenthal, 2004; Hair et al., 2005; Reis, 2001).

    Embora seja de arrematada dificuldade a comparao entre distintas

    medidas de religiosidade, uma vez no haver consenso na literatura sobre sua

    definio e sobre suas dimenses constituintes, o que resvala para uma

    disperso metodolgica com a existncia de muitas medidas do construto, nem

    sempre mensuram as mesmas dimenses (ver Hill & Pargament, 2003),

    todavia, para se recolher evidncias da validade de construto e da qualidade da

    fidedignidade da escala ERG, faz-se mister contrast-la com outras medidas de

    religiosidade relatadas na literatura.

    O estudo de Lewis, Joseph e Noble (1996) usando o Francis Scale of

    Attitude towards Christianity de Francis e Stubbs (1987, citado em Lewis et

    al., 1996) uma escala de 24 itens de atitudes relacionadas ao Cristianismo,

    encontrou um alfa de Cronbach de .98. Underwood e Teresi (2002) no estudo

    de validao do The Daily Spiritual Experience Scale escala de religiosidade

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    e espiritualidade composta de 16 itens organizados em dois fatores,

    encontraram alfas de .94 e .95 para os respectivos fatores. Em estudo com

    populao brasileira, Panzini e Bandeira (2005) validaram a Escala de Coping

    Religioso-Espiritual (CRE) com 87 itens distribudos em dimenses positiva e

    negativa do coping, estruturadas em torno de 12 fatores, encontrando alfas

    variando de .59 (Insatisfao com o Outro Institucional) a .93 (fatores

    Transformao de Si e Posio Positiva frente Deus).

    Um exame da fidedignidade reportada pelos diversos estudos acima

    evidencia uma consistncia excelente para a escala ERG, dado que os

    instrumentos com maiores alfas de Cronbach tambm so os instrumentos mais

    extensos, com uma variedade de dimenses da religiosidade sendo mensuradas

    atravs de sub-escalas especficas. Em sendo um instrumento pequeno e

    unifatorial, sua consistncia excelente, ultrapassando os valores da

    fidedignidade em relao aos fatores 2 e 4 da Escala CRE-Negativo (Panzini &

    Bandeira, 2005) com seus alfas respectivos de .68 e .59, sendo ambas as sub-

    escalas de 4 itens.

    Um fato digno de considerao a alta taxa (97,67%) de indivduos

    universitrios autodeclarados enquanto religiosos, e envolvidos com religio

    institucionalizada no presente (252 de 258) encontrados, achado que vai na

    contramo das expectativas do pensamento social corrente de uma crescente

    secularizao da sociedade contempornea e abandono da religio, em

    especial, em contextos de sade societria, como os de alta escolaridade,

    conforme Paul (2005). Os estudantes universitrios desta amostra de pesquisa

    revelam-se profundamente religiosos, e alinhados com o espectro do campo

    religioso brasileiro (ver Nascimento, 2008; Jacob et. al., 2003).

    Os resultados das anlises com a ANOVA de um fator seguida do

    teste das diferenas honestamente significativas (DHS) de Tukey com base nas

    mdias de respostas s medidas utilizadas, permitiram uma resposta afirmativa

    s expectativas de autores como Veenhoven (1996) de serem as pessoas mais

    religiosas tambm mais satisfeitas com sua religio atual, e possivelmente mais

    satisfeitas com a vida, levando-se em considerao as relaes usualmente

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    positivas entre satisfao com a vida como um todo e satisfao com domnios

    especficos, conforme Diener, Suh, Lucas e Smith (1999).

    Os achados ecoam Cloninger (2006), ao pontuar que o cultivo da

    espiritualidade prov os indivduos de caminhos acessveis e poderosos de

    fomento de bem estar, efeito que se por um lado, independe do tipo de religio

    adotada, uma vez que toda religio se assenta em prescries especficas sobre

    como se deve proceder a adorao, o cultivo de uma rica vida interior cursando

    com reformas profundas no comportamento pessoal e social e formas de

    espiritualidade como matrizes de construo de significado existencial, por

    outro, as muitas diferenas entre religies devem cursar com diferentes

    impactos subjetivos na personalidade e cognio a serem devidamente

    mapeados na pesquisa, conforme Nascimento (2008), devendo os efeitos sobre

    o sujeito variarem tambm conforme as dimenses da religiosidade que tenham

    encontrado um maior alicerce e desenvolvimento ao longo de sua histria

    religiosa.

    justamente este o caso que os achados notificam, onde

    encontraram-se relaes especficas entre religiosidade e satisfao com a

    religio. Se os indivduos menos satisfeitos com a religio so em mdia um

    pouco mais religiosos que os de satisfao mediana (indecisos), estes ltimos

    tem uma vinculao maior a religio enquanto um campo de saber (vinculao

    epistmica), relao de carter mais cognitivo, e muito distinta da atitude

    menos epistmica, mais global e holstica dos insatisfeitos menos satisfeitos

    porque mais visceralmente religiosos, e que por razes que extrapolam o

    presente estudo, no encontram em sua religio atual uma forma satisfatria de

    cultivo da dimenso religiosa de suas existncias.

    H que sem notar a inexistncia de diferenas nos nveis de satisfao

    com a religio consoante a dimenso de Experincia Mstica, o que se explica

    por um lado pela raridade de acesso a essa dimenso profunda em todas as

    religies so poucos em cada tradio religiosa os que se consideram tocados

    por uma experincia singular do Sagrado de carter mstico, como tambm o

    contexto de vivncia da religiosidade destes estudantes universitrios, pautado

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    pela racionalidade, objetividade e forte acento fisicalista e antimisticismo que

    torna experincias como o xtase mstico sob forte suspeio (ver vila, 2007;

    Fontana, 2003; Nascimento, 2008).

    Dada a potncia da religio em modificar de forma auspiciosa os

    parmetros da experincia consciente (Nascimento, 2008; Fontana, 2003),

    otimizando o escrutnio reflexivo e construo de insights sobre aspectos do

    self (Nascimento, 2008) e o cultivo de emoes prazerosas que alavancam o

    bem estar subjetivo, o estudo obteve uma resposta positiva a hiptese de um

    enlace orgnico entre envolvimento com a religio e satisfao com a religio,

    lastreando empiricamente as recomendaes de autores como Cloninger

    (2006), que apostam nas emoes prazerosas advindas em treino e cultivo de

    espiritualidade como remdios mais eficazes aos estados dolorosos e

    patolgicos da mente que psicotrpicos e terapia psicolgica convencional. Os

    estudantes universitrios deste estudo ao engajarem-se ostensivamente em

    atividades religiosas em contextos institucionais evidenciaram melhores

    ndices de satisfao com a religio, domnio sabidamente central na vida de

    pessoas religiosas, e que contribui de forma expressiva para seu bem estar e

    senso de propsito e valor pessoal.

    Uma vez que bem estar subjetivo se instancia numa relao entre

    patamares expressivos de emoes gozosas, minimizados ndices de humor

    negativo e altos ndices de satisfao, com a vida e por domnios especficos,

    conforme Diener, Lucas e Oishi (2002), em sendo a religio um complexo

    experiencial multidimensional e histrica e culturalmente situado (Nascimento,

    2008; vila, 2007; Paiva, 1998), suas muitas dimenses necessitam de maior

    investigao (ver Hill & Pargament, 2003), na elucidao de seus impactos

    sobre a satisfao, quer em nvel global, quer por domnios. Os resultados

    encontrados nesta pesquisa so promissores e lanam as bases de um programa

    de pesquisa a ser desenvolvido com vistas a uma mais profunda compreenso

    dos fatores que possibilitam uma vida mais feliz e melhores ndices de bem

    estar em indivduos altamente escolarizados, bem como na populao em geral.

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    Recebido em 10/4/2014. Aceito: 10/6/2014.

    1 Professor na Ps-Graduao em Psicologia Cognitiva Universidade Federal de

    Pernambuco. Coordenador do LACCOS/UFPE. Endereo eletrnico de contato:

    [email protected]. 2 Professor na Ps-Graduao em Psicologia Cognitiva Universidade Federal de

    Pernambuco. Coordenador do NEC/UFPE. Endereo eletrnico de contato:

    [email protected].