religiÕes no brasil
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A IMIGRAÇÃO NO BRASIL RELIGIÕES
1ª. EDIÇÃO
2014
GILSON MOURA CASTRO
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Sumário
Nota do Autor ....................................................................................................................................................... 3
I- Introdução ......................................................................................................................................................... 7
II- Religiões abrâmicas ........................................................................................................................................ 17
1.Islamismo ...................................................................................................................................................... 17
2.Judaísmo ....................................................................................................................................................... 29
3.Cristianismo..............................................................................................................................................36
III- Religiões asiáticas .......................................................................................................................................... 50
1.Budismo ........................................................................................................................................................ 50
2.Hinduísmo ..................................................................................................................................................... 58
3.Jainismo....................................................................................................................................................70
4.Taoismo....................................................................................................................................................76
5.Xintoismo..................................................................................................................................................85
IV- Doutrinas espíritas ...................................................................................................................................... 100
1.Espiritismo.............................................................................................................................................100
V- Igrejas Cristãs................................................................................................................................................ 115
1.Pentecostalismo....................................................................................................................................115
2.Neopentecostalismo................................................................................... ...........................................129
3.Igreja católica........................................................................................................................................131
VI- Religiões afro-brasileiras ............................................................................................................................ 143
1.Candomblé............................................................................................................................................143
VII- Neopaganismo ........................................................................................................................................... 147
1.Wicca.....................................................................................................................................................147
VIII- Neobudismo .............................................................................................................................................. 160
1.Seicho-no-ie...........................................................................................................................................160
2.Igreja Messiânica Mundial.....................................................................................................................163
3.Igreja da Unificação...................................................................... .........................................................166
Bibliografia ........................................................................................................................................................ 167
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Nota do Autor à 1ª. Edição
BRASÍLIA MISTICA
Nosso passado, presente e futuro esta calcado no encontro com o divino em suas
variadas manifestações no pensamento humano, inspirando-nos a buscar sempre por
algo transcendental que foge à racionalidade e que nos conforte frente ao inesperado,
ao imponderável e ao improvável porvir.
No século XIV a.c., no reinado do Faraó Amenóphis IV, posteriormente conhecido
por Akhenaton, o culto a Aton (Disco Solar), o primeiro monoteísmo da história, foi
implantado no Egito politeísta, para, poucos anos após, desaparecer nas névoas do
tempo.
Akhenaton deixou-nos um importante legado espiritual, plenamente válido e precioso
para a Humanidade no que se refere a ideia de um deus único regente do universo.
Estava assim gerada a crença que muitos séculos depois se tornou predominante entre
os povos que se inspiraram nesta concepção religiosa primitiva.
Os brasileiros, em geral, desconhecem o verdadeiro significado místico que envolve a
construção de nossa Capital Federal. Existiriam mistérios e segredos, véus a serem
desvelados? Quais teriam sido os fatores determinantes para a construção de Brasília?
A mensagem de Brasília é tão forte que, em data de 7 de Dezembro de 1987, a
UNESCO a reconheceu como Patrimônio Cultural da Humanidade.
A fundação de Brasília, em data de 21 de abril de 1960, não significou apenas a
construção de mais uma cidade planejada. Todo o projeto do plano-piloto continha
um significado profundamente místico e cuja origem era claramente egípcia.
Por volta de 1930, Juscelino, ainda um jovem estudante, viajou pelo Mediterrâneo e
visitou a cidade de Tell-El-Amarna,a Akhetaton. Essa visita definiria parte da história
de nosso País.
Ali, em meio às areias quentes do deserto, surgiu a semente da cidade que, um dia,
seria chamada de Brasília.
“Levado pela admiração que tinha por esse autocrata visionário, cuja existência quase
lendária eu surpreendera através das minhas leituras em Diamantina,aproveitei minha
estada no Egito para fazer uma excursão até o local, onde existira Tell El-Amarna.”
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(Meu Caminho para Brasília, JK, p.111)
“...Vi os alicerces da que havia sido a capital do Médio Império do Egito. A cidade
media oito quilômetros de comprimento por dois de largura. À margem do Nilo,
jardins verdejantes haviam sido plantados e, atrás deles, subindo a encosta da rocha,
erguera-se o palácio do Faraó, ladeado pelo grande templo.”
“... Tudo ruínas! O grande sonho do Faraó-Herege convertido num imenso montão
de pedras, semi-enterrado na areia! Hoje, tanto tempo percorrido, pergunto-me, às
vezes, se essa admiração por Akhenaton,surgida na mocidade, não constituiu a chama,
distante e de certo modo romântica, que acendeu e alimentou meu ideal, realizado na
maturidade, de construir, no Planalto Central, Brasília – a nova Capital do Brasil.”
Palavras do próprio Juscelino Kubitschek que revelam, com clareza, de onde teria
vindo a sua determinação de construir a nova Capital brasileira em pleno Planalto
Central.
O livro “Brasília Secreta” da egiptóloga Iara Kerns e do empresário Ernani Figueras
Pimentel, publicado pela editora Pórtico, mostra claramente essas intrigantes relações
entre Akhenaton e Juscelino, bem como entre Akhetaton (a cidade sagrada) e Brasília.
São João Melchior Bosco, em italiano Giovanni Melchior Bosco, mais conhecido
como “Dom Bosco”, nasceu em 1815, na Italia, e faleceu em 1888. Ordenado pela
Igreja Católica, foi canonizado em 1934. Em 30 de agosto de 1883, Dom Bosco teve
uma visão profética a respeito de uma cidade que seria construída entre os paralelos
15o e 20 o, que muitos entendem como sendo Brasília.
"...entre os paralelos 15º e 20º graus, havia uma enseada bastante extensa e bastante
larga, partindo de um ponto onde se formava um lago..."
Nessa terra, conforme a visão de Dom Bosco, jorraria leite e mel e surgiria uma grande
civilização.
Essas palavras proféticas influenciaram a decisão final quanto ao local onde seria
instalada a nova Capital Federal.
Dom Bosco tornou-se o padroeiro de Brasília. Em sua homenagem, foi construída
uma pequena capela em forma piramidal, às margens do lago Paranoá: a “Ermida
Dom Bosco”.
Mas há quem diga que a proposta de construir Brasília no interior do País teria partido
de José Bonifácio de Andrada e Silva, maçom, que, em carta à Corte, em Lisboa,
sugere: "Criar uma cidade central no interior do Brasil, para assento da Regência que
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poderá ser em 15° de latitude, em sítio sadio, ameno, fértil, e junto a algum rio
navegável...”
Em 1822, a ideia de José Bonifácio de Andrada e Silva é aprovada pelos deputados
brasileiros e o nome “Brasília” é sugerido por ele próprio, anonimamente, um ano
mais tarde.
Nos primeiros esboços de Lúcio Costa, o Plano Piloto de Brasília deveria partir de
uma cruz – o “sinal da Cruz”. Segundo historiadores, essa cruz deveria corresponder a
um ato de posse da terra.
A primeira fonte a ser examinada é Ísis, esposa do Deus Osíris. Ísis foi a mais amada
de todas as divindades femininas do Egito. Das asas de Ísis surgiu a inspiração para as
duas asas de Brasília, cujo eixo está alinhado perfeitamente com o nascer (leste) e pôr-
do-sol (oeste).... de acordo com as idéias ligadas ao Egito, claramente evidenciadas em
muitas construções, o mais correto é que o Plano Piloto represente, de fato, a Ísis
Alada.
A arquitetura do Congresso Nacional mostra o Sol Nascente (Senado) e a Lua
Crescente (Câmara dos Deputados). A rampa é herança dos palácios egípcios.
O que vemos aqui é uma simbologia esotérica, claramente reconhecível por qualquer
pesquisador Templo mortuário de Al-Deir Al-Bahari, da Rainha Hatshepsut, em
Tebas, a cidade de Amon, hoje conhecida como Luxor.
Sua rampa e colunas frontais teriam servido de modelo para a fachada do Congresso
Nacional.
O Sol nasce entre os dois edifícios a cada aniversário da cidade, em 21 de abril,
mostrando um exato alinhamento astronômico que foi calculado minuciosamente.
Mas ele se põe, diariamente, no lado oposto, atrás do Memorial de Juscelino.
O alinhamento com o Sol e estrelas era essencial na construção das pirâmides e
catedrais da Idade Média.
Não foi diferente em Brasília.
Outra fonte de inspiração: o Templo de Luxor.
Os dois obeliscos teriam inspirado os arquitetos para construir as duas torres do
Congresso Nacional O alinhamento entre o Congresso Nacional – o “Templo do Sol e
da Lua” – e os ministérios não foi apenas um detalhe de projeto.
Ministros são “guardiões” do Poder e, como tais, devem posicionar-se nas laterais.
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Na Alameda no Templo de Luxor, as estátuas guardiãs (pequenas esfinges) teriam
servido de modelo para o posicionamento dos ministérios ao longo do Eixo
Monumental e com o Congresso Nacional, o “Templo do Sol e da Lua”, ao fundo.
A arquitetura do Teatro Nacional, idealizado por Oscar Niemeyer, mostra, com
clareza, as formas de uma pirâmide truncada.
Hoje, podemos perceber que o sonho faraônico de Juscelino Kubitschek concretizou-
se.
Até mesmo uma pirâmide mortuária foi construída para acolher seus restos mortais – a
sua “múmia”. Seu túmulo, na mais pura tradição faraônica, fica acima do solo,
inteiramente talhado em pedra.
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I-INTRODUÇÃO
A religião em nosso país se apresenta como diversificada demograficamente
abrangente e caracteriza-se pelo sincretismo ou seja pela mistura de dogmas de fé e
crenças.
A Constituição brasileira prevê a liberdade de culto e credo em todo território
nacional e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo o Brasil um Estado
laico.
A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa, sendo a sua
prática e instituições livres de intervenção estatal.
Segundo o Relatório Internacional de Liberdade Religiosa de 2005, elaborado
pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a "relação geralmente amigável
entre religiões contribui para a liberdade religiosa" no Brasil.
O Brasil, concluindo é um país religiosamente diverso, predominantemente católico e
majoritariamente cristão com forte tendência ao sincretismo religioso.
Estatísticas
Religiões no Brasil (Censo de 2010)
Religião
Porcentagem
Catolicismo romano 64,6%
Protestantismo 22,2%
Sem religião 8%
Espiritismo 2%
Outras religiões 3,2%
A população brasileira é majoritariamente cristã (87%), sendo sua maior parte católico-
romana (64,4%). Herança da colonização portuguesa, o catolicismo foi a religião
oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico.
Se fazem presentes os movimentos básicos
do protestantismo: adventismo, batistas, evangelicalismo,luteranos, metodismo e presbi
terianismo.
Entretanto, existem muitas outras denominações religiosas no Brasil, algumas dessas
igrejas são: pentecostais,neopentecostais, episcopais, restauracionistas, animistas entre
outras.
Existem mais de três milhões e meio de espíritas (ou kardecistas) que seguem
a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec.
O animismo também é forte dividindo-se em candomblé, umbanda, esoterismo, santo
daime e tradições indígenas.
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Presentes no país também uma minoria de hindus, muçulmanos, budistas,
judeus e neopagãos.
Também cerca de 8% da população (cerca de 15 milhões de pessoas) declarou-se sem
religião no último censo, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas.
Nas últimas décadas, tem havido um grande aumento de igrejas neopentecostais, o que
diminuiu o número de membros tanto da Igreja Católica quanto das religiões afro-
brasileiras.
Cerca de noventa por cento dos brasileiros se declararam como pertencentes a algum
tipo de instituição religiosa de acordo com informações extraídas do
último censo realizado.
O censo demográfico realizado em 2010, pelo IBGE, apontou a seguinte composição
religiosa no Brasil: 64,6% dos brasileiros (cerca de 123 milhões) declaram-se católicos;
22,2% (cerca de 42,3 milhões) declaram-se protestantes (evangélicos
tradicionais, pentecostais e neopentecostais); 8,0% (cerca de 15,3 milhões) declaram-
se irreligiosos: ateus,agnósticos, ou deístas; 2,0% (cerca de 3,8 milhões) declaram-
se espíritas; 0,7% (1,4 milhão) declaram-se as testemunhas de Jeová; 0,3% (588 mil)
declaram-se seguidores doanimismo afro-brasileiro como o Candomblé, o Tambor-de-
mina, além da Umbanda; 1,6% (3,1 milhões) declaram-se seguidores de outras
religiões, tais como: os budistas (243 mil), os judeus (107 mil), os messiânicos (103
mil), os esotéricos (74 mil), os espiritualistas (62 mil), os islãmicos (35 mil) e
os hoasqueiros (35 mil).
Há ainda registros de pessoas que declaram-se baha'ís e wiccanos, porém nunca foi
revelado um número exato dos seguidores de tais religiões no país.
Desde o descobrimento os europeus e outros povos trouxeram com eles as mais
variadas crenças oriundas do mundo inteiro com prevalência ao catolicismo romano
que praticamente levaram atavés dos jesuítas a extinção as crenças locais e de toda a
américa de adoração ao sagrado.
Budismo
O budismo oriundo do japão e da China, é provavelmente a maior de todas as
religiões minoritárias do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística(IBGE), em 2010 havia 243 966 budistas no Brasil - em 1991: 236.408
budistas, em 2000 214.873 budistas no país (- 9.1%).
O número relativamente grande de seguidores é devido, principalmente, a grande
comunidade japonesa brasileira.
Cerca de um quinto da comunidade japonesa no Brasil é seguidora do budismo.
Ramos de origem budista, como o xintoísmo e seichonoie são os mais populares.
No entanto, nos últimos anos tradições chinesas e do sudeste asiático, como o taoismo
e o confuncionismo estão ganhando popularidade.
O budismo foi introduzido no Brasil no início do século XX, por imigrantes japoneses,
embora agora, 60% dos brasileiros japoneses sejam cristãos devido às atividades
missionárias e o casamento.
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No entanto, a cultura brasileira japonesa tem uma substancial influência budista.
Catolicismo
A principal religião do Brasil, desde o século XVI, tem sido o catolicismo apostólico
romano.
Ela foi introduzida por missionários jesuítas que acompanharam os exploradores
e colonizadores portugueses nas terras do país recém-descoberto.
O Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais,
com 64,6% da população brasileira declarando-se católica, de acordo com o Censo
do IBGE de 2010.
No transcorrer do século XX, foi perceptível uma diminuição no interesse pelas
formas tradicionais de religiosidade no país. Um reflexo disso é o aparecimento de
grande número de pessoas que se intitulam católicos "não-praticantes".
Uma pesquisa de 2007 da Fundação Getúlio Vargas, no entanto, indicou pesquisas que
mostram que o número de católicos estagnou no país depois de mais de 130 anos de
queda.
Entretanto, segundo dados do Censo do IBGE, entre os anos 2000 e 2010, o total de
católicos diminuiu 1,4%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Em 2010,
havia 123,2 milhões de católicos no País; em 2000, eram 124,9 milhões. Em dez anos,
a comunidade católica perdeu uma população equivalente à de Curitiba.
Entre as tradições populares do catolicismo no Brasil estão as peregrinações à Basílica
de Nossa Senhora Aparecida, o quarto santuário mariano mais visitado do mundo, e é
capaz de abrigar até 45.000 fiéis.
Nossa Senhora Aparecida acabou por tornar-se a Padroeira do Brasil.
Outras festas católicas importantes são o Círio de Nazaré, Festa do Divino, a Festa do
Divino Pai Eterno, mais conhecida como Romaria de Trindade, em Goiás, e
a Romaria de Nossa Senhora Medianeira, que ocorre anualmente no segundo
domingo de novembro, em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul.
A Renovação Carismática Católica (RCC) chegou ao Brasil no começo dos anos 1970.
O movimento busca dar uma nova abordagem à evangelização e renovar algumas
práticas da tradição católica, incentivando uma experiência pessoal com Deus através
do Espírito Santo.
Assemelha-se em certos aspectos às Igrejas Pentecostais, como no uso dos dons do Espírito Santo, na adoção de posturas que são consideradas fundamentalistas e numa
maior rejeição ao sincretismo religioso por parte de seus integrantes.
A maior proporção de católicos está concentrada nas regiões Nordeste (72,2%)
e Sul (70,1%) do país.
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A menor proporção de católicos é encontrado na região Centro-Oeste. O Piauí tem a
maior proporção de católicos (85,1%) e Rio de Janeiro tem a menor (45,8%).
O município com o maior número de seguidores do catolicismo no Brasil é União da
Serra, no Rio Grande do Sul, onde 99% da população se considera católica.
Protestantismo
O protestantismo é o segundo maior segmento religioso do Brasil, representado
principalmente pelas igrejas evangélicas, com cerca de 42,3 milhões de fiéis, o que
representa um quarto da população brasileira.
Entre as maiores denominações protestantes tradicionais do Brasil em número de
adeptos estão os batistas (3,7 milhões), presbiterianos (1,5 milhão) , adventistas do
sétimo dia (1,5 milhão) , luteranos (1 milhão) e metodistas(340 mil).
Entre os protestantes evangelicalistas (ou pentecostais e os neopentecostais), os grupos
com o maior número de seguidores são a Assembleia de Deus (12,3 milhões),
a Congregação Cristã no Brasil (2,3 milhões), a Igreja Universal do Reino de Deus (1,8
milhão) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (1,8 milhão).
O segmento religioso cristão protestante apresentou um forte crescimento no país nos
últimos anos, aumentando o seu número de seguidores em 61% no período
compreendido entre 2000 e 2010.
O protestantismo chegou ao Brasil pela primeira vez com viajantes e nas tentativas de
colonização do Brasil por huguenotes (nome dado aos reformados franceses) e
reformados holandeses e flamengos durante o período colonial.
Esta tentativa não deixou frutos persistentes. Uma missão francesa enviada por João
Calvino se estabeleceu, em 1557, numa das ilhas da Baía de Guanabara, fundando
a França Antártica.
Os dados do Censo 2010 mostram que as religiões protestantes de origem pentecostal
são as que têm a maior proporção de fieis com renda per capita inferior a um salário
mínimo: 63,7% do total.
Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também mostram
diferenças entre as áreas rurais e urbanas do país. Nas zonas rurais, 77,9% são católicos
e 10,1% são evangélicos de origem pentecostal, enquanto nas zonas urbanas esses
percentuais são de 62,2% e 13,9%, respectivamente.
Na média do país, 64,6% se declararam católicos e 12,2%, evangélicos pentecostais.
Adventismo
No Brasil são 1.561.071 membros da IASD em 2010 sob a coordenação de sete
Uniões que administram as Associações e Missões. As instituições da IASD do Brasil e
de sete países latino-americanos formam a Divisão Sul Americana, com sede
em Brasília, Distrito Federal.
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O adventismo chegou no Brasil em 1884 através de publicações que chegaram pelo
porto de Itajaí com destino a cidade de Brusque, no interior de Santa Catarina. Em
maio de 1893 chegou o primeiro missionário adventista, Alberto B. Stauffer que
introduziu formalmente através da Colportagem os primeiros contatos com a
população. Em abril de 1895 foi realizado o primeiro batismo em Piracicaba, SP,
sendo Guilherme Stein Jr o primeiro converso. Inicialmente os estados brasileiros com
maior presença germânica foram atingidos pela literatura adventista. Conforme
informações repassadas pelo pastor F Westphal, a primeira Igreja Adventista do
Sétimo Dia em solo nacional foi estabelecida na região de Gaspar, em Santa Catarina,
em 1895, seguida por congregações no Rio de Janeiro e em Santa Maria de Jetibá,
no Espírito Santo, todas no mesmo ano.
Com a fundação da gráfica adventista em 1905 em Taquari, RS (atual Casa
Publicadora Brasileira localizada em Tatuí-SP), o trabalho se estabeleceu entre os
brasileiros e se expandiu em todos os estados. A primeira Escola Adventista no Brasil
surgiu em 1896 na cidade de Curitiba. Em 2005 somam-se 393 escolas de ensino
fundamental e 118 do ensino médio com o total de 111.453 alunos e seis instituições
de Ensino Superior (IES) com mais de cinco mil alunos que tem no Centro
Universitário Adventista de São Paulo, sua matriz educacional. O UNASP como é
conhecida esta IES, surgiu em 1915, no Capão Redondo, SP e hoje conta com três
campi: na cidade de São Paulo, em Engenheiro Coelho e Hortolândia.
Mormonismo
O mormonismo chegou no Brasil em 1923, por meio de imigrantes alemães, porém o
trabalho de proselitismo só se iniciou em 1928. De acordo com dados do IBGE,
existiam 226 509 mórmons no Brasil, apesar de dados da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias relatarem possuir pouco mais de 1,1 milhão de adeptos no
país, com um crescimento de aproximadamente 460% nos últimos seis anos.
A Igreja Mórmon no Brasil é presidida pelos Élderes (título que significa
"senhor","Irmao mais velho", "ancião") Cláudio R. M. Costa (Presidente) , Carlos A.
Godoy (Primeiro Conselheiro) e Jairo Mazzagardi (Segundo Conselheiro) . Até abril
de 2007, os mórmons eram divididos em duas áreas geográficas distintas, a Área Brasil
Norte (sediada em Recife), e a Área Brasil Sul (sediada em São Paulo).
No país, os mórmons, também chamados de santos dos últimos dias, têm seis templos
construídos, dedicados e em funcionamento (em São Paulo, Recife, Porto
Alegre, Campinas, Curitiba e Manaus) e dois a construir em Fortaleza e Rio de
Janeiro.
Pela crença mórmon, nesses templos são realizadas ordenanças como batismo vicário
e selamento de famílias, além de ser um lugar de aprendizado e espiritualidade.
Somente membros batizados e dignos podem entrar nos templos. A Igreja
Mórmon realiza reuniões de adoração aos domingos em suas igrejas pelo Brasil que
estão abertas ao público.
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Cristianismo oriental
A Igreja Ortodoxa também se faz presente no Brasil. A Catedral Metropolitana
Ortodoxa, localizada em São Paulo, na rua Vergueiro, além de ser
a Sé da Arquidiocese da Igreja Católica Ortodoxa Antioquina de São Paulo é, também,
de todo o Brasil.
É um exemplo deconstrução arquitetônica bizantina que pode ser apreciado
na América do Sul. Seu projeto, cuja edificação teve início da década de 1940, foi
inspirado na Basílica de Santa Sofia em Constantinopla (atual Istambul) e foi
inaugurada em janeiro de 1954.
De acordo com dados do IBGE, existiam 131 571 cristãos ortodoxos no Brasil.
A Igreja Ortodoxa está representada no Brasil pelas seguintes jurisdições: Patriarcado
de Antioquia, Patriarcado de Moscou, Patriarcado da Sérvia, Igreja Ortodoxa da
Grécia, Igreja Ortodoxa da Ucrania e Igreja Ortodoxa da Polonia; e se encontra
presente nos estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do
Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Pernambuco.
Sua diferença básica com o catolicismo romano é o de que seus padres podem casar e
de não estarem subordinadas ao papa e sim a um patriarca.
Testemunhas de Jeová
De acordo dados do Censo de 2010 do IBGE, existiam 1 393 208 Testemunhas de
Jeová no Brasil, que se distribuem em 10.926 congregações.
O Brasil é na atualidade um dos países com maior número de Testemunhas de Jeová.
Em 2011, foram feitos 27.425 batizados no país.
No evento daComemoração da Morte de Cristo estiveram presentes 1.748.226
pessoas.
Foram realizados 801.007 estudos Bíblicos pelas Testemunhas no Brasil. Foram
dedicadas 145.889.031 horas na pregação das Boas Novas no país.
Espiritismo
De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2010, o Brasil possuía 3,8 milhões de espíritas, sendo esse o
terceiro maior grupo religioso do país, representando cerca de 2% da população
brasileira. Com efeito, o IBGE trata os termos kardecismo e espiritismo como
equivalentes em sua classifição censitária.
A doutrina espírita teve através de nomes como Bezerra de Menezes e Chico Xavier a
oportunidade de se popularizar, espalhando seus ensinamentos por grande parte do
território brasileiro.
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Hoje, o país é o que reúne o maior número de adeptos do espiritismo no mundo. Os
espíritas são, também, o segmento social que têm maior renda e escolaridade, segundo
os dados do mesmo Censo. Bezerra de Menezes foi presidente da Federação Espírita
Brasileira (FEB) por duas gestões. A FEB foi fundada em janeiro de 1884, por Elias da
Silva, com a finalidade de unificar o pensamento espírita no Brasil.
Como doutrina filosófica, o espiritismo foi sistematizado pelo pedagogo francês Allan
Kardec n'O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de abril de 1857. No Brasil,
contudo, houve uma forte ressignificação das ideias espíritas, que foram carregadas de
um viés muito mais religioso do que o existente na Europa. Foi dentro dessa
perspectiva que o espiritismo foi amplamente divulgado no Brasil, ainda na segunda
metade do século XIX, atraindo principalmente a classe média. Em setembro de 1865,
em Salvador, Bahia, foi criado o "Grupo Familiar do Espiritismo", o primeiro centro
espírita brasileiro. Em 1873, fundou-se a "Sociedade de Estudos Espíritas", com o lema
"Sem caridade não há salvação; sem caridade não há verdadeiro espírita". Esse grupo
dedicou-se a traduzir para o português as obras de Kardec, como "O Livro dos
Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "O Céu e o
Inferno" e "A Gênese".
Islamismo
Segundo o Censo de 2010, havia 35 167 muçulmanos no Brasil. Acredita-se que
o islã chegou ao Brasil por meio de escravos africanos muçulmanos trazidos da África
Ocidental. O Brasil recebeu mais muçulmanos escravizados do que qualquer outro
lugar nas Américas. Durante o Ramadã, em janeiro de 1835, um pequeno grupo de
escravos negros e libertos de Salvador, na Bahia, inspirados por professores
muçulmanos, se levantaram contra o governo no que ficou conhecido como Revolta
dos Malês, a maior rebelião escrava no Brasil. (Muçulmanos eram chamados
de malês na Bahia por causa da palavra imale do iorubá, que designava um
muçulmano iorubá.) Temendo que o exemplo pudesse ser seguido, as autoridades
brasileiras começaram a vigiar os malês com muito cuidado e, nos anos subsequentes,
intensos esforços foram feitos para forçar conversões para o catolicismo e apagar a
memória popular e o apreço pelo islã. No entanto, a comunidade muçulmana africana
não foi eliminada com facilidade, e em 1910, estima-se que ainda havia cerca de
100.000 africanos muçulmanos vivendo no Brasil.
Uma tendência recente tem sido o aumento nas conversões ao islamismo entre os
cidadãos não-árabes. Uma fonte muçulmana recente estima que existem cerca de 10
mil muçulmanos convertidos no Brasil. Os líderes da comunidade muçulmana no
Brasil estimam que há entre 70.000 e 300.000 muçulmanos no país, com o menor
valor que representando aqueles que praticam a religião, enquanto a estimativa mais
elevada incluiria também membros nominais.
Judaísmo
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De acordo com dados do censo de 2010, existiam 107 329 judeus no Brasil, apesar de
outras fontes apresentarem um número maior de seguidores. A maior proporção de
judeus é encontrado nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Os judeus chegaram pela primeira vez no Brasil como cristãos-novos ou convertidos,
nomes aplicados aos judeus ou muçulmanos que se converteram ao catolicismo, a
maioria deles à força. De acordo com os relatórios da Inquisição, muitos cristãos-
novos que viviam no Brasil durante o período colonial foram condenados por
secretamente manterem costumes judaicos. Estes relatórios podem não ser confiáveis
desde a Inquisição confiscou os bens terrenos de suas vítimas, e tinha um interesse
directo na denúncia e convencendo-os.
Em 1630, os holandeses conquistaram partes do nordeste do Brasil e permitiram a
prática aberta de qualquer religião. Muitos judeus vieram dos Países Baixos para viver
no Brasil na área dominada pelos holandeses. A maioria deles eram descendentes
dos judeus portugueses que tinham sido expulsos de Portugal, em 1497. Em 1636,
a Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga das Américas, foi construída
no Recife, a capital da Nova Holanda (Brasil Holandês). O edifício original permanece
intacto até hoje, mas os judeus foram forçados a sair do Brasil quando o Império
Português retomou as terras em 1654.
A primeira vez que judeus ficaram no Brasil e puderam praticar abertamente a sua
religião aconteceu quando a primeira constituição brasileira concedeu liberdade de
religião em 1824, logo após a independência. Eles eram principalmente judeus
marroquinos, descendentes dos judeus espanhóis e portugueses que tinham sido
expulsos da Espanha em 1492 e de Portugal em 1497.
A primeira onda de judeus sefarditas foi ultrapassada pela maior onda de imigração
de judeus ashkenazi, que chegou no final do século XIX e início do século XX,
principalmente da Rússia, Polônia, Bielorrússia e Ucrânia. Um último grupo
significativo veio, fugindo do nazismo e da destruição que se seguiu pela Segunda
Guerra Mundial.
Neopaganismo
Começam a se difundir entre os brasileiros, atualmente, as religiões neo-pagãs, como
a Wicca e o Neo-druidismo originárias da Inglaterra medieval através de ritos celtas.
Com a Wicca acontece um fator mais expressivo e especial. No Censo 2010, os
wiccanos foram incluídos no grupo de "outras religiosidades" e "não determinadas". De
qualquer forma, desde a década de 1990 a Wicca, ou a Bruxaria moderna em geral,
têm crescido muito no país, especialmente no Rio de Janeiro, Nordeste e São Paulo.
Segundo o Censo demográfico realizado no ano de 2010 no Brasil pelo IBGE, a
religião Wicca e o Paganismo não foram incluídos na relação das religiões existentes
no país, desta forma, podemos dizer que muitos dos seguidores das religiões pagãs ou
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se formos ser mais específicos, da religião Wicca, foram distribuídos entre as tradições
esotéricas (74.013 seguidores), outras religiões (11.306 seguidores) ou religiosidade não
determinada/mal definida (628.219 seguidores).
Contudo, sabemos que dentro deste contexto, a religião Wicca não é a única religião
existente dentro do paganismo ou neo-paganismo, mas sendo ela a mais representativa
e presente junto ao diálogo inter-religioso de nosso país, a coloca como a de maior
expressão, conseguinte, a de maior número junto às demais religiões neo-pagãs. Neste
prisma, podemos fazer um cálculo estimativo e aproximado de que haja em torno de
350 mil à 400 mil seguidores da religião Wicca em nosso país.
Religiões afro-brasileiras e indígenas
Com a vinda dos escravos para o Brasil, seus costumes deram origem a diversas
religiões, tais como o candomblé, que tem milhões de seguidores, principalmente
entre a população negra, descendente de africanos. Estão concentradas em maior
número nos grandes centros urbanos do Norte e do Nordeste do país, mas também
com grande presença no Sudeste. Diferente do candomblé, que é a religião
sobrevivente da África ocidental, há também a Umbanda, que representa o sincretismo
religioso entre o catolicismo, espiritismo e os orixás africanos. As religiões de matriz
africana foram e ainda são perseguidas e discriminadas no Brasil.
As chamadas religiões afro-brasileiras compõem o candomblé que é dividido em várias
nações, o batuque, o Xangô do Recife e o Xambáforam trazidas originalmente
pelos escravos. Estes escravos cultuavam seu Deus, e as divindades
chamadas Orixás, Voduns ou inkicescom cantos e danças trazidos da África.
Nas práticas atuais, os seguidores da umbanda deixam oferendas de alimentos, velas e
flores em lugares públicos para os espíritos. Os terreiros de candomblé são discretos
da vista geral, exceto em festas famosas, tais como a Festa de Iemanjá em todo o litoral
brasileiro eFesta do Bonfim na Bahia. Estas religiões estão em todo o país.
A umbanda é considerada por muitos uma religião nascida no Brasil em 15 de
novembro de 1908 no Rio de Janeiro. Embora existam relatos de outras datas e locais
de manifestação desta religião antes e durante este período seus adeptos aceitam esta
data como o início histórico da mesma.
Hinduismo/jainismo/taoismo,xintoismo
O Hinduísmo/jainismo existem em pequenas comunidades hinduístas no Brasil, isto
se deve a baixa presença de imigrantes indianos no país.Já
oTaoismo/Confuncionismo/xintoísmo vindos da China e Japão respectivamente,
chegaram e ainda chegam juntamente com seus praticantes oriundos daqueles países
asiáticos.
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Religiões hoasqueiras
Nas décadas mais recentes, tem crescido no Brasil o número de adeptos de religiões
que fazem uso do chá Hoasca (também conhecido como ayahuasca) em seus rituais.
São as religiões hoasqueiras, que se originaram na Floresta Amazônica e hoje se
expandem nos grandes centros urbanos. Entre elas, as mais representativas e
organizadas são oSanto Daime, a União do Vegetal.
Em 2004, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (CONAD), atual órgão
do Ministério da Justiça brasileiro, reconheceu a legitimidade do uso religioso
da ayahuasca e a legalidade de sua prática.
Seu uso para fins religiosos foi regulamentado pelo CONAD em 25 de janeiro de
2010, em resolução na qual se estabelece as normas legais para a utilização do chá
pelas instituições religiosas.
Não religiosos
De acordo com dados do Censo brasileiro de 2010 do IBGE, 8,0% da população
brasileira declarou-se "sem religião" (o que equivale a 15,3 milhões de pessoas), dentre
as quais cerca de 615 mil declararam-se ateias. No Censo de 2000, estes
correspondiam a 7,4% (cerca de 12,5 milhões) da população.
Em 1991 essa porcentagem era de 4,7%. Cabe salientar que o IBGE, órgão oficial de
pesquisas, não pergunta quem de fato é ateu, quem é agnóstico, e quem apenas não
segue alguma religião preestabelecida, embora conserve a sua fé em algo
transcendental, denominando todos estes grupos pelo termo "sem religião".
Uma pesquisa realizada pela empresa Ipsos a pedido da agência de
notícias Reuters revelou que 3% dos brasileiros entrevistados não acreditam em deuses
ou seres supremos.
No Brasil, o estado da Bahia é o terceiro com maior número de pessoas sem religião;
o primeiro é o Rio de Janeiro. A capital bahiana, Salvador, tem a maior porcentagem
nacional de pessoas sem religião entre as capitais, 18% da população.
No país todo, são mais numerosos entre os homens e entre os habitantes com menos
de 55 anos.A cidade com o maior número de ateus é Nova Ibiá, com 59,85% dos
habitantes, de acordo com o censo de 2000 do IBGE.
O segundo lugar fica com Pitimbu, na Paraíba, com 42, 44%. De acordo com dados
do Censo de 2010, no entanto, o município do Chuí, no Rio Grande do Sul, é o que
apresenta a maior proporção de pessoas sem religião, onde 54% dos habitantes
declarou não professar nenhuma fé.
Atualmente, apenas os ditos católicos e evangélicos superam em número os não-
religiosos. Em comparação, estima-se que a média mundial de não-religiosos é de
23,5% da população total.
Passaremos a seguir a entrar nesta atmosfera religiosa conhecendo mais de perto todas
as principais correntes do pensamento religioso que por aqui aportou com seus
praticantes ao longo de nossa história.
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I-RELIGIÕES ABRÂMICAS
1. Islamismo
Islão ou islã ou ainda islamismo, é uma religião abraâmica monoteísta articulada
pelo Alcorão, um texto considerado pelos seus seguidores como a palavra literal
de Deus (Alá,em árabe) e pelos ensinamentos e exemplos normativos (a
chamada suna, parte do hadith) de Maomé, considerado pelos fiéis como o
último profeta de Deus. Um adepto do islamismo é chamado de muçulmano.
Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da
existência é adorá-lo.
Eles também acreditam que o islã é a versão completa e universal de uma fé
primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio
de Abraão, Moisés e Jesus, que eles consideram profetas.
Os seguidores do islão afirmam que as mensagens e revelações anteriores foram
parcialmente alteradas ou corrompidas ao longo do tempo, mas consideram
o Alcorão como uma versão inalterada da revelação final de Deus.
Os conceitos e as práticas religiosas incluem os cinco pilares do islão, que são
conceitos e atos básicos e obrigatórios de culto, e a prática da lei islâmica, que atinge
praticamente todos os aspectos da vida e da sociedade, fornecendo orientação sobre
temas variados, como sistema bancário e bem-estar, à guerra e ao meio ambiente.
A maioria dos muçulmanos pertence à uma das duas principais denominações; com
80% a 90% sendo sunitas e 10% a 20% sendo xiitas.
Cerca de 13% de muçulmanos vivem na Indonésia, o maior país muçulmano do
mundo.
25% vivem no Sul da Ásia, 20% no Oriente Médio, 2% na Ásia Central, 4% nos
restantes países do Sudeste Asiático e 15% na África Subsaariana.
Comunidades islâmicas significativas também são encontradas na China, na Rússia e
em partes da Europa.
Comunidades convertidas e de imigrantes são encontradas em quase todas as partes do
mundo.
Com cerca de 1,41-1,57 bilhão de muçulmanos, compreendendo cerca de 21-23%
da população mundial, o islão é a segunda maior religião e uma das que mais crescem
no mundo.
Islão provem do árabe Islām, que por sua vez deriva da quarta forma verbal da
raiz slm, aslama, e significa "submissão (a Deus)".
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O Islão é descrito em árabe como um "diin", o que significa "modo de vida" e/ou
"religião" e possui uma relação etimológica com outras palavras árabes
como Salaam ou Shalam (Shalaam / Shalom), que significam "paz".
Muçulmano, por sua vez, deriva da palavra
árabe muslim (plural, muslimún), particípio activo do verbo aslama, designando
"aquele que se submete".
Em textos mais antigos, os muçulmanos eram conhecidos como "maometanos", este
termo tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os
muçulmanos adoram Maomé (como, durante alguns séculos, por completo
desconhecimento, o Ocidente pensou), o que torna o termo ofensivo para muitos
muçulmanos.
Durante a Idade Média e, por extensão, nas lendas e narrativas populares cristãs, os
muçulmanos eram também designados como sarracenos e também
por mouros (embora este último termo designasse mais concretamente os
muçulmanos naturais do Magrebe, que se encontravam na Península Ibérica).
Islão pode se referir também ao conjunto de países que seguem esta religião
(a jurisprudência islâmica utiliza nesse caso a expressão Dar-al-Islam, "casa do Islão").
A expansão do islamismo configura o maior movimento de conquista religiosa da
História da humanidade.
O islão surgiu entre pequenas hordas pastoris da Arábia no século VII, com base nos
ensinamentos de Maomé.
Além do velho espírito de saques de terras e bens típicas de todas as hordas pastoris
humanas, somou-se a esses povos um sentimento de destinação sagrada.
A doutrina maometana é uma sincretizaçao das tradições judaicas, cristãs e iranianas
(zoroastrismo), definindo-se como uma religião universalista, marcada, mais que
qualquer outra, pelo salvacionismo de conquista e pelo expansionismo.
Assim, o islamismo se configura como um credo messiânico que se orienta pela
expansão do domínio de Alá sobre todos os povos possíveis.
Em poucas décadas, o islamismo se alastrou por todo o Oriente Médio e, a partir dali,
para o oeste, atingindo o Norte da África, as ilhas mediterrânicas e a península
Ibérica e para o leste, se expandindo pela Ásia, Índia, chegando à Indonésia e à
Indochina.
Mais tarde, penetrou a África Subsaariana, a Eurásia e os confins do Oriente.
O islão ensina seis crenças principais:
1. a crença em um único Deus;
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2. a crença nos anjos, seres criados por Deus;
3. a crença nos livros sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e
o Evangelho. O Alcorão é o principal e mais completo livro sagrado,
constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Deus
ao profeta Maomé;
4. a crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o
último;
5. a crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão
avaliadas;
6. a crença na predestinação: Deus tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o
que acontece a cada pessoa.
A pedra basilar da fé islâmica é a crença estrita no monoteísmo. Deus é considerado
único e sem igual.
Cada capítulo do Alcorão (com a exceção de um) começa com a frase "Em nome de
Deus, o clemente, o misericordioso". Uma das passagens do Alcorão frequentemente
usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no capítulo (sura) 59:
"Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, que conhece o invisível e o visível. Ele é o
Clemente, o Misericordioso!
Ele é Deus e não há outro deus senão Ele. Ele é o Soberano, o Santo, a Paz, o Fiel, o
Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus seja louvado acima dos que os
homens lhe associam!
Ele é Deus, o Criador, o Inovador, o Formador! Para ele os epítetos mais belos" (59,
22-24)”.
Anjos
Os anjos são, segundo o islão, são seres criados por Deus a partir da luz. Não
possuem livre arbítrio, dedicando-se apenas a obedecer a Deus e a louvar o seu nome.
Maomé nada disse sobre o sexo dos anjos, mas rejeitou a crença dos habitantes
de Meca, de acordo com a qual eles seriam os filhos de Deus.
Desempenham vários papéis, entre os quais o anúncio da revelação divina aos
profetas; protegem os seres humanos e registram todas as suas acções. O anjo mais
famoso é Gabriel, que foi o intermediário entre Deus e o profeta.
Para além dos anjos, o islamismo reconhece a existência dos jinnis, espíritos que
habitam o mundo natural e que podem influenciar os acontecimentos.
Ao contrário dos anjos, osjinnis possuem vontade própria; alguns são bons, mas de
uma forma geral são maus.
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Um desses espíritos maus é Iblis (Azazel), também ele um jinn, segundo a crença
islâmica, que desobedeceu a Deus e dedica-se a praticar o mal.
Os muçulmanos acreditam que Deus usou profetas para revelar escrituras aos homens.
A revelação dada a Moisés foi a Taura (Torá), a Davi foram dados os Salmos e
a Jesus oEvangelho.
Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada vez mais abrangentes que
culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a Muhammad.
O islamismo ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de profetas.
Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer
aos homens a vontade divina e os que para além dessa função lhes foi entregue uma
escritura revelada.
Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a
unicidade de Deus, esquecida pelos homens.
Para os muçulmanos, a lista dos profetas
inclui Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Maomé (Muhammad),
todos eles pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus.
Maomé é visto como o Último Mensageiro, trazendo a mensagem final de Deus a toda
a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos
Profetas".
Esses profetas eram humanos mortais comuns, o islão exige que o crente aceite todos
os profetas, não fazendo distinção entre eles. No Alcorão, é feita menção a vinte e
cinco profetas específicos.
Segundo as crenças islâmicas, o dia do Julgamento Final é o momento em que cada ser
humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus pelas ações que praticou.
Os seres humanos livres de pecado serão enviados diretamente para o Paraíso,
enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno, antes de
poderem também entrar no Paraíso.
As únicas pessoas que permanecerão para sempre no Inferno são os hipócritas
religiosos, isto é, aqueles que se diziam muçulmanos, mas de fato nunca o foram.
Segundo a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por vários
sinais, como o nascimento do Sol no poente, o som de uma trombeta e o
aparecimento de uma besta.
De acordo com o Alcorão, o mundo não acabará verdadeiramente, mas sofrerá antes
uma alteração profunda.
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Os muçulmanos acreditam no quadar, uma palavra geralmente traduzida como
"predestinação", mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou
qualidade".
Uma vez que, para o islamismo, Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres
humanos, e sendo uma das suas características a onisciência, ele já sabia, quando
procedeu à criação, as características que cada elemento da sua obra teria.
Assim sendo, cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus.
Essa crença não implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por
Deus com a faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar acções positivas
ou negativas.
Os cinco pilares do islão são cinco deveres básicos de cada muçulmano:
1. a recitação e aceitação da crença (Chahada ou Shahada);
2. orar cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah);
3. pagar esmola (Zakat ou Zakah);
4. observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam);
5. fazer a peregrinação a Meca (Haj) se tiver condições físicas e financeiras.
A profissão de fé consiste numa frase - que deve ser dita com a máxima sinceridade -
através da qual cada muçulmano atesta que "não há outro deus senão Deus e Maomé é
seu servo e mensageiro".
No entanto, os muçulmanos xiitas têm por costume acrescentar "e Ali ibn Abi Talib é
amigo de Deus".
Essa frase também é dita quando se chama à oração (adhan).
De acordo com a maioria das escolas islâmicas, para se converter ao islão é necessário
proclamar três vezes a chahada ("testemunho") perante duas testemunhas: "Achadu ala
ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah" ("Testemunho que não há outra
divindade senão Deus. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro").
A oração no islão (conhecida como Salá) é composta por cinco partes, todas
espalhadas durante o dia e a noite, iniciando pela alvorada até à noite. Considerada o
ponto mais próximo que se pode chegar de Deus.
No islão não há obrigatoriamente hierarquia entre os adeptos, porém a comunidade,
conhecida como ummah, escolhe uma pessoa com conhecimento suficiente para
dirigir a adoração.
Durante essas orações, são recitadas suratas do Alcorão, geralmente ditas em árabe,
conduzidas pelo escolhido entre a comunidade.
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Não existe restrição para que o crente reze fora da mesquita, tampouco isso é uma
desbonificação de sua oração, que pode ser feita em qualquer lugar, desde que tenha
feito antes sua purificação.
A purificação é realizada através da higiene especifica e detalhada, que consiste
basicamente em lavar as mãos, os antebraços, a boca, as narinas, a face; em passar água
pelas orelhas, pela nuca, pelo cabelo e pelos pés.
Se um muçulmano se encontrar numa área sem água ou numa área onde o uso da
água não é aconselhável (porque poderia causar uma doença), pode substituir as
abluções pelo uso simbólico de areia ou terra (tayammum). A oração abre-se com a
orientação do crente na direcção de Meca (qibla).
O islão estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente uma certa quantia,
calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos pobres ou por
outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes, endividados).
Essa contribuição é encarada como uma forma de purificação e de culto. A quantia
corresponde a 2,5% do valor dos bens em dinheiro, ouro e prata, mas o valor pode
variar se se tratar, por exemplo, de produtos agrícolas (nesse caso a contribuição pode
chegar a 10% da colheita agrícola).
Quem tiver possibilidades pode ainda contribuir, de forma voluntária, com outras
doações (sadaqa), mas é importante que o faça em segredo e sem ser movido pela
vaidade. O anúncio dessas doações somente poderá ser feito se isso contribuir para
que outras pessoas sejam motivadas a fazer o mesmo (caso de personalidades e pessoas
proeminentes da sociedade), e esse ato deve ser sincero, mesmo que em público.
Durante o Ramadão (o nono mês do calendário islâmico), cada muçulmano adulto
deve abster-se de alimento, de bebida, de fumar e de ter relações sexuais, desde o
nascer até ao pôr-do-sol. Os doentes, os idosos, os viajantes, as grávidas ou as mulheres
lactantes estão dispensados do jejum.
Em compensação, essas pessoas devem alimentar um pobre por cada dia que faltaram
ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano. O jejum é interpretado como uma
forma de purificação, de aprendizagem do auto-controlo e de desenvolvimento da
empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades.
O mês de Ramadão termina com o dia de celebração conhecido como Eid ul-Fitr,
durante o qual os muçulmanos agradecem a Deus a força que lhes foi concedida para
levar a cabo o jejum.
As casas são decoradas e é hábito visitar os familiares. Essa comemoração serve
também para o perdão e a reconciliação entre pessoas desavindas.
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Esse pilar consiste na peregrinação a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na vida
para todos os que gozem de saúde e disponham de meios financeiros. Ocorre durante
o décimo segundo mês do calendário islâmico.
Os muçulmanos vestem-se com um traje especial todo branco, antes de chegar a Meca,
para que todos estejam igualmente vestidos e não haja distinção de classes. Durante
toda a peregrinação, não se preocupam com o seu aspecto físico.
Depois de praticarem sete voltas em torno da Kaaba, os peregrinos correm entre as
duas colinas de Safa e Marwa.
Na última parte do Hajj, os muçulmanos devem passar uma tarde na planície
de Arafat, onde Maomé disse o seu "Último Sermão".
As revelações a Maomé foram reunidas em forma de livro. Considera-se que a
estruturação do Alcorão como livro ocorreu entre 650 e 656, durante o califado de
Otman.
O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras. Cada sura está por sua
vez subdividida em versículos chamados ayat.
Os capítulos possuem tamanho desigual (o menor possui apenas três versículos e os
mais longos 286 versículos) e a sua disposição não reflete a ordem da revelação.
Considera-se que 92 capítulos foram revelados em Meca e 22 em Medina.
As suras são identificadas por um nome, que é em geral uma palavra distintiva surgida
no começo do capítulo ("A Vaca", "A Abelha", "O Figo").
Uma vez que os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último de uma longa linha
de profetas, eles tomam a sua mensagem como um depósito sagrado e tomam muito
cuidado com ela, assegurando que a mensagem tenha sido recolhida e transmitida de
uma maneira a não trair esse legado.
Essa é a principal razão pela qual as traduções do Alcorão para as línguas vernáculas
são desencorajadas, preferindo-se ler e recitar o Alcorão em árabe.
Muitos muçulmanos memorizam uma porção do Alcorão na sua língua original e
aqueles que memorizaram o Alcorão por inteiro são conhecidos
como hafiz (literalmente "guardião").
A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus, que deve ser
adorado. Contém também exortações éticas e morais, histórias relacionadas com os
profetas anteriores a Muhammad (que foram rejeitados pelos povos aos quais foram
enviados), avisos sobre a chegada do dia do Juízo Final, bem como regras relacionadas
com aspectos da vida diária, como o casamento e o divórcio.
Além do Alcorão, as crenças e práticas do islão baseiam-se na literatura hadith, que
para os muçulmanos clarifica e explica os ensinamentos do profeta.
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Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceita ou excluída da
comunidade de crentes. O islão é aberto a todos, independentemente de raça, idade,
género ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do islamismo, acto
formalizado pela recitação da chahada, o enunciado de crença do islão, sem o qual
uma pessoa não pode ser considerada um muçulmano.
Embora não exista no islamismo uma estrutura clerical semelhante à existente
nas denominações cristãs, existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu
conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemás. Os homens que se
destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título
de mufti, sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da
lei islâmica; em teoria esses pareceres (fatwas) só devem ser seguidos pela pessoa que o
solicitou.
Há várias denominações no islão, cada uma com diferenças ao nível legal e teológico.
Os maiores ramos são o Islão sunita e o Islão xiita.
O profeta Maomé faleceu em 632 sem deixar claro quem deveria ser o seu sucessor na
liderança da comunidade muçulmana (a Umma). Abu Bakr, um dos primeiros
convertidos ao islamismo e companheiro do profeta, foi eleito
como califa ("representante"), função que desempenhou durante dois anos. Depois da
sua morte, a liderança coube durante dez anos a Omar e logo em seguida a Otman,
durante doze anos.
Quando Otman faleceu, ocorreu uma disputa em torno de quem deveria ser o novo
califa. Para alguns essa honra deveria recair sobre Ali, primo de Maomé, que era
também casado com a sua filha Fátima.
Para outros, o califa deveria ser o primo de Otman, Muawiyah. Quando Ali é eleito
califa em 656, Muawiyah contesta a sua eleição, o que origina uma guerra civil entre os
partidários das duas facções.
Ali acabaria por ser assassinado em 661 e Muawiyah conquista o poder para si e para a
sua família, fundando o Califado Omíada.
Contudo, o conflito entre os dois campos continua e, em 680, Hussein, filho de Ali, é
massacrado pelas tropas de Yazid, filho de Muawiyah.
Essas lutas estão na origem dos dois principais ramos em que actualmente se divide o
islão. Os partidários de Ali (shiat ali, ou seja, xiitas) acreditam que os três primeiros
califas foram usurpadores que retiraram a Ali o seu direito legítimo à liderança.
Essa crença é justificada em hadiths interpretados como reveladores de que, quando
Maomé se encontrava ausente, ele nomeava Ali como líder momentâneo da
comunidade.
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O islamismo sunita compreende actualmente cerca de 83% de todos os muçulmanos.
Divide-se em quatro escolas de jurisprudência (madhabs), que interpretam a lei
islâmica de forma diferente. Essas escolas tomam o nome dos seus
fundadores: maliquita (forte presença no Norte de África), shafiita (presente no Médio
Oriente, Indonésia, Malásia, Filipinas), hanefita (presente na Ásia Central e do
Sul, Turquia) e hanbalita(dominante na Arábia Saudita e Qatar).
O muçulmanos xiitas acreditam que o líder da comunidade muçulmana - o imã - deve
ser um descendente de Ali e de sua esposa Fátima.
SUFISMO
Às vezes visto pelos fiéis muçulmanos comuns como um ramo separado do
islamismo, o sufismo é antes uma forma de mística que pretende alcançar um contacto
directo com Deus através de uma série de práticas que geralmente incluem
o ascetismo, a meditação, os jejuns, cantos e danças.
Desconhece-se de onde deriva a palavra sufismo (em árabe: tasawwuf). O termo
poderá provir de sūf, "lã", o que se encontra relacionado com o facto de os primeiros
sufis vestirem roupas feitas com o material, imitando os ascetas cristãos da Síria e
da Palestina. Outra teoria procura relacionar sufismo com a palavra árabe safa, que
significa "pureza".
O sufismo já existia como movimento no primeiro século do islão. Para os sufis, o
próprio profeta Maomé seria um deles, já que levaria uma vida extremamente simples,
tendo por hábito retirar-se de Meca para meditar numa caverna, tendo estabelecido
uma relação próxima com Deus.
Um dos primeiros representantes do sufismo foi al-Hasan al-Basri (642-728), que
rejeitou o materialismo do mundo e criticou os soberanos omíadas. Saliente-se ainda
deste período inicial uma mulher, Rabi'ah al-Adawiyah (? - 801), cujo amor por Deus
leva-a a excluir o apego ao mundo.
Desde os séculos XII e XIII, os sufis organizam-se em ordens ou irmandades (tariqas),
que seguem os métodos de realização espiritual ensinados por determinados mestres
(osxeques ou pirs)." As ordens sufis podem ser encontradas quer no sunismo, quer no
xiismo.
O sufismo foi por vezes entendido pelas autoridades ortodoxas muçulmanas como
uma ameaça, tendo os seus líderes e adeptos sido alvo de perseguições. O sufismo tem
sido igualmente criticado devido ao facto de alguns dos seus mestres terem alcançado
um estatuto de santo, tendo sido erguidos santuários nos locais onde nasceram ou
faleceram, que se tornaram locais de peregrinações.
O calendário islâmico (também denominado calendário hegírico em função da sua
origem remontar à Hégira ou migração dos primeiros muçulmanos de Meca para
26
Medina em 622 d.C.) segue o ano lunar, que é cerca de onze dias mais curto que o
solar. Consequentemente, as comemorações muçulmanas acabam por circular por
todas as estações de ano.
As duas comemorações do islão são o Eid ul-Fitr, que celebra o fim do jejum
do Ramadão, e o Eid ul-Adha, que marca o fim da peregrinação a Meca (Hajj).
O dia 10 do mês de Muharram (o primeiro mês do calendário islâmico) é um dia de
particular importância para os muçulmanos xiitas. Neste dia, comemora-se o martírio
do terceiro imã xiita, Hussein, morto em Karbala, em 680, por aqueles que os xiitas
consideram usurpadores da liderança da comunidade muçulmana.
No início deste mês, as pessoas envolvem-se em actividades como ouvir contadores de
histórias relatar o martírio de Hussein ou assistir a peças de teatro que pretendem
reconstituir os acontecimentos.
O dia é marcado com procissões, que incluem actos de autoflagelação como bater no
peito ou cortar-se com uma lâmina (os membros do clero xiita desencorajam essas
práticas).
Outras comemorações populares incluem o Mawlid, que celebra o aniversário de
Maomé (12 do mês de Rabi al-Awwal), A Noite da Ascensão (Laylat al-Micraj, no dia
27 deRajab), quando se recorda o dia em que Maomé subiu ao céu para dialogar com
Deus, e A Noite do Poder (Laylat al-Qadr, na noite do 26 para 27 do mês do
Ramadão), que marca o aniversário da primeira revelação do Alcorão e durante a qual
muitos muçulmanos acreditam que Deus decide o que acontecerá durante o ano.
Lugares sagrados do islamismo (da esquerda para a direita): mesquita Al Masjid Al-
Haram, em Meca, Arábia Saudita, considerada o maior centro de peregrinação do
mundo e o local mais sagrado do islamismo; mesquita Al-Masjid an-Nabawi,
em Medina, local do túmulo de Maomé; Cúpula da Rocha, em Jerusalém, cidade
sagrada para os muçulmanos.
A Caaba ("O Cubo"), um edifício situado dentro da mesquita principal deMeca (Al
Masjid Al-Haram), na Arábia Saudita, é o local mais sagrado do islão. De acordo com
o Alcorão, ela foi construída por Abraão (Ibrahim) para que todas as pessoas fossem
ali celebrar os ritos da Hajj. No tempo do profeta Maomé, o monoteísmo instituído
por Abraão tinha sido corrompido pelo politeísmo e pela idolatria. Segundo o
islamismo, Maomé não procurou fundar uma nova religião, mas antes restabelecer o
culto monoteísta que existia no passado. Uma vez que o islão se identifica com a
tradição religiosa do patriarca Abraão, é por isso classificado como uma religião
abraâmica.
O islamismo não nega diretamente o judaísmo e o cristianismo, pelo contrário,
considera uma versão antiga e perdida dessas religiões monoteístas como parte da sua
27
herança; as suas versões atuais teriam sido alteradas, o próprio islão considerando-se
uma restauração da verdade divina.
O segundo local sagrado do islamismo é a mesquita Al-Masjid an-Nabawi, na cidade
de Medina, cidade para a qual Maomé e os primeiros muçulmanos fugiram (num
movimento conhecido como Hégira), e onde se encontra o seu túmulo.
A cidade de Jerusalém é o terceiro local sagrado do islão. Este estatuto advém da sua
associação aos profetas anteriores a Maomé e sobretudo pelo facto de os muçulmanos
acreditarem que o profeta teria viajado para esse local durante a noite, cavalgando um
ser denominado Buraq, numa viagem conhecida como Isra. Uma vez em Jerusalém,
ele teria ascendido ao céu (Mi’raj), onde dialogou com Deus e outros profetas, entre os
quais Moisés e Jesus.
No local de Jerusalém onde se acredita que Maomé subiu ao céu, foi construída
a Cúpula da Rocha, em cerca de 690, e a mesquita de Al'Aqsa, sobre as ruínas do
antigo Templo de Salomão dos judeus.
Os muçulmanos xiitas consideram ainda como sagradas as cidades de Karbala e Najaf,
ambas no Iraque. Na primeira, ocorreu o martírio de Hussein (filho de Ali e neto de
Maomé) e dos seus companheiros, quando este contestava o Califado Omíada.
No Irão, devem também ser salientadas duas cidades sagradas para os
xiitas, Mashhad e Qom.
A lei islâmica chama-se Xariá. O Alcorão é a mais importante fonte
da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna ou exemplos do profeta. A Suna é
conhecida graças aosahadith, que são narrações acerca da vida do profeta ou o que ele
aprovava, que chegaram até nossos dias através de uma cadeia de transmissão oral a
partir dosCompanheiros de Maomé.
A terceira fonte de jurisprudência é o ijtihad ("raciocínio individual"), à qual se recorre
quando não há resposta clara no Alcorão ou na Suna sobre um dado tema. Neste caso,
o jurista pode raciocinar por analogia (qiyas) para encontrar a solução.
A quarta e última fonte de jurisprudência é o consenso da comunidade (ijma).
Algumas práticas também chamadas de "charia" têm também algumas raízes nos
costumes locais (Al-urf).
A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está dividida em duas partes: o estudo das
fontes e metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas (furu' al-fiqh, ramos
da lei).
A Áustria foi o primeiro país europeu a reconhecer o islão como uma religião oficial
(1912 ), enquanto que a França tem atualmente a população mais elevada de
muçulmanos da Europa Ocidental (entre 5 a 10%).
28
Em Portugal, existe igualmente uma comunidade muçulmana, que nada tem a ver com
os muçulmanos que viveram no país durante a Idade Média; são na sua maioria
naturais das antigas colónias portuguesas deMoçambique e Guiné-Bissau, que se
fixaram em Portugal após a independência desses territórios.
O Islão xiita ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no Centro
Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan.
Estima-se que o número de muçulmanos em Portugal ronde os 30 mil. Segundo o
censo de 2000, o Brasil registra 27.239 muçulmanos.
Porém, para a Federação Islâmica Brasileira, o número de muçulmanos no Brasil é
muito maior.
A maioria dos muçulmanos brasileiros vive nos estados do Paraná e Rio Grande do
Sul, mas também existem comunidades significativas no Rio de Janeiro, Mato Grosso
do Sul e São Paulo.
Grande parte desses muçulmanos são descendentes de imigrantes sírios, palestinos e
libaneses que se fixaram no Brasil durante as grandes guerras mundiais.
O islamismo contemporâneo é dominado pelo tradicionalismo, preocupado com a
manutenção de rituais e práticas antigas, como o uso do véu pelas mulheres.
O islamismo reconhece elementos de verdade no judaísmo e no cristianismo. Todos
os profetas do judaísmo são reconhecidos também como profetas no islão, assim
como Jesus, que de acordo com a perspectiva muçulmana teria anunciado a vinda
de Maomé.
Para os seguidores dessas duas crenças, o Alcorão reservou a noção de "Povos do
Livro" (Ahl al-Kitab), estabelecendo que devem ser tolerados devido ao facto de
possuirem escrituras sagradas. À medida que os muçulmanos tomaram contacto com
outras religiões detentoras de revelações escritas, acabaram em alguns casos por
conceder-lhes também esse estatuto (caso do zoroastrismo).
Porém, se o islão reconhece o papel preparatório do judaísmo e do cristianismo,
considera igualmente que os seguidores dessas religiões acabaram por seguir caminhos
errados.
Os judeus tendo tornado-se idólatras e procederam mal ao adorarem o bezerro de
ouro, e por rejeitarem Jesus como profeta de Deus. Os muçulmanos acreditam que os
cristãos erraram ao considerar Jesus como filho de Deus e ao defender doutrinas
como a da Santíssima Trindade, porém acreditam que Jesus é uma criatura de Deus e
um profeta de Alá.
Tais erros, segundo os muçulmanos, acarretaram a vinda de outro e último profeta
enviado por Deus, Maomé.
29
2. Judaísmo
Judaísmo é uma das três principais religiões abraâmicas, definida como a
"religião, filosofia e modo de vida" do povo judeu.
Originário da Bíblia Hebraica (também conhecida como Tanakh) e explorado em
textos posteriores, como oTalmud, é considerado pelos judeus religiosos como a
expressão do relacionamento e da aliança desenvolvida entre Deus com os Filhos de
Israel.
De acordo com o judaísmo rabínico tradicional, Deus revelou as suas leis e
mandamentos a Moisés no Monte Sinai, na forma de uma Torá escrita e oral.
Esta foi historicamente desafiada pelo caraítas, um movimento que floresceu
no período medieval, que mantém vários milhares de seguidores atualmente e que
afirma que apenas a Torá escrita foi revelada.
O judaísmo afirma uma continuidade histórica que abrange mais de 5.000 anos. É uma
das mais antigas religiões monoteístas e a mais antiga das três grandes religiões
abraâmicas que sobrevive até os dias atuais.
Os hebreus/israelitas já foram referidos como judeus nos livros posteriores ao Tanakh,
como o Livro de Ester, com o termo judeus substituindo a expressão "Filhos de
Israel."
Os textos, tradições e valores do judaísmo foram fortemente influenciados mais tarde
por outras religiões abraâmicas, incluindo o zoroastrismo, o islamismo e a Fé Bahá'í.
Muitos aspectos do judaísmo também foram influenciados, direta ou indiretamente,
pela ética secular ocidental e pelo direito civil.
Os judeus são um grupo etno-religioso e incluem aqueles que nasceram judeus e foram
convertidos ao judaísmo.
Em 2010, a população judaica mundial foi estimada em 13,4 milhões, ou
aproximadamente 0,2% da população mundial total.
Cerca de 42% de todos os judeus residem em Israel e cerca de 42% residem
nos Estados Unidos e Canadá e Europa. O maior movimento religioso judaico é
o judaísmo ortodoxo (judaísmo haredi e o judaísmo ortodoxo moderno), o judaísmo
conservador e o judaísmo reformista.
A principal fonte de diferença entre esses grupos é a sua abordagem em relação à lei
judaica. O judaísmo ortodoxo sustenta que a Torá e a lei judaica são de origem divina,
eterna e imutável, e que devem ser rigorosamente seguidas.
Judeus conservadores e reformistas são mais liberais, com o judaísmo conservador,
geralmente promovendo uma interpretação mais "tradicional" de requisitos do
judaísmo do que o judaísmo reformista.
A posição reformista típica é de que a lei judaica deve ser vista como um conjunto de
diretrizes gerais e não como um conjunto de restrições e obrigações cujo respeito é
exigido de todos os judeus.
Historicamente, tribunais especiais aplicaram a lei judaica; hoje, estes tribunais ainda
existem, mas a prática do judaísmo é na sua maioria voluntária.
30
A autoridade sobre assuntos teológicos e jurídicos não é investida em qualquer pessoa
ou organização, mas nos textos sagrados e nos muitos rabinos e estudiosos que
interpretam esses textos.
A história do judaísmo é a história de como se desenvolveu a religião principal da
comunidade judaica que, ainda que não seja unificada, contém princípios básicos que a
distingue de outras religiões.
De acordo com a visão religiosa, o judaísmo é uma religião ordenada pelo Criador
através de um pacto eterno com o patriarca Abraão e sua descendência.
Ainda que seja intimamente relacionada à história do povo judeu, a história do
judaísmo se distingue por enfatizar somente a evolução da religião e como esta
influenciou o povo judeu e o mundo.
Surgiram variadas formulações das crenças judaicas, a maioria das quais com muito em
comum entre si, mas divergentes em vários aspectos.
Uma comparação entre várias dessas formulações mostra um elevado grau de
tolerância pelas diferentes perspectivas teológicas.
O princípio básico do judaísmo é a unicidade absoluta de YHWH como Deus e
criador, onipotente, onisciente, onipresente, que influencia todo o universo, mas que
não pode ser limitado de forma alguma.
A afirmação da crença no monoteísmo manifesta-se na profissão de fé judaica
conhecida como Shemá.
Assim qualquer tentativa de politeísmo é fortemente rechaçada pelo judaísmo, assim
como é proibido seguir ou oferecer prece a outro que não seja YHWH.
O judaísmo posterior ao exílio no entanto assumiu a existência de uma corte espiritual
na qual Deus seria uma espécie de rei, o qual controlaria seres para execução de sua
vontade (anjos).
Esta visão era aceita pelos fariseus e passada para o posterior judaísmo rabínico, mas
no entanto desprezada pelos saduceus.
O judaísmo defende uma relação especial entre Deus e o povo judeu, manifesta
através de uma revelação contínua de geração a geração. O judaísmo crê que a Torá é
a revelação eterna dada por Deus aos judeus.
A profecia dentro do judaísmo não tem o caráter exclusivamente adivinhatório como
assume em outras religiões, mas manifestava-se na mensagem da Divindade para com
seu povo e o mundo, que poderia assumir o sentido de advertência, julgamento ou
revelação quanto à Vontade da Divindade.
Esta profecia tem um lugar especial desde o princípio do mosaísmo, seguindo pelas
diversas escolas de profetas posteriores (que serviam como conselheiros dos reis) e
tendo seu auge com a época dos dois reinos.
Oficialmente se reconhece que a época dos profetas encerra-se na época do exílio
babilônico e do retorno a Judá. No entanto o judaísmo reconheceu diversos profetas
durante a época do Segundo Templo, e durante o posterior período rabínico.
O entendimento dos conceitos de corpo, alma e espírito no judaísmo varia conforme
as épocas e as diversas seitas judaicas. O Tanach não faz uma distinção teológica
31
destes, usando o termo que geralmente é traduzido como alma (néfesh) para se referir
à vida e o termo geralmente traduzido como espírito (ruakh) para se referir a fôlego.
Deste modo, as interpretações dos diversos grupos são muitas vezes conflitantes, e
muitos estudiosos preferem não discorrer sobre o tema.
O Tanach, excetuando alguns pontos poéticos e controversos, jamais faz referência a
uma vida além da morte, nem a um céu ou inferno, pelo que
os saduceus posteriormente rejeitavam estas doutrinas.
Porém após o exílio em Babilônia, os judeus assimilaram as doutrinas da imortalidade
da alma, da ressurreição e do juízo final, e constituíam em importante ensino por parte
dos fariseus.
Nas atuais correntes do judaísmo, as afirmações sobre o que acontece após a morte são
postulados e não afirmações, e varia-se a interpretação dada ao que ocorre na morte e
se existe ou não ressurreição.
A maioria das correntes crê em uma ressurreição no mundo vindouro (Olam Habá),
incluindo os caraítas, enquanto outra parcela do judaísmo crê na reencarnação, e o
sentido do que seja ressurreição ou reencarnação varia de acordo com a ramificação.
CABALA
Cabalá é o nome dado ao conhecimento místico esotérico de algumas correntes do
judaísmo, que defende interpretação do universo, de Deus e das escrituras através de
suas naturezas divinas.
A lei judaica ortodoxa considera judeu todo aquele que nasceu de mãe judia ou se
converteu de acordo com essa mesma lei, segundo o judaísmo rabínico. Algumas
ramificações como o Reformismo e o Reconstrucionismo aceitam também a linhagem
patrilinear, desde que o filho tenha sido criado e educado em meio judaico.
Um judeu que deixe de praticar o judaísmo e se transforme num judeu não-praticante
continua a ser considerado judeu. Um judeu que não aceite os princípios de fé
judaicos e se torne agnóstico ou ateu também continua a ser considerado judeu.
No entanto, se um judeu se converte a uma outra religião, ou ainda, que se afirme
"judeu messiânico" (ramificação que defende Jesus como o messias para os judeus)
geralmente é visto como que perdido o lugar como membro da comunidade judaica
tradicional e transforma-se num apóstata.
Esta pessoa, caso pretenda retornar ao judaísmo, não precisa se converter, de acordo
com a maior parte das autoridades em lei judaica, mas abjurar das antigas práticas
relativas às outras fés.
As pessoas que desejam se converter ao judaísmo devem aderir aos princípios e
tradições judaicas.
Os homens têm de passar pelo ritual do brit milá (circuncisão). Qualquer converso
tem de passar ainda pelo ritual da mikvá ou banho ritual. Os judeus ortodoxos
reconhecem apenas conversões feitas por seus tribunais rabínicos, seja em Israel ou em
outros locais.
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As comunidades reformistas e liberais também exigem a adesão aos princípios e
tradições judaicos, o brit milá e a mikvá, de acordo com os critérios estipulados em
cada movimento.
Enquanto as conversões autorizadas por tribunais rabínicos ortodoxos são aceitas
como válidas por quase todas as correntes do judaísmo, aquelas feitas de acordo com
as correntes Reformista ou Conservadora são aceitas pelo Estado de Israel e nas
comunidades judaicas não-ortodoxas no mundo inteiro - mais de 80% da população
dos judeus do planeta, mas rejeitadas pelo movimento ortodoxo.
Vida comunitária judaica é o nome dado à organização das diferentes comunidades
judaicas no mundo.
Há variações de locais e costumes mas geralmente as comunidades contam com um
sistema de regras comunais e religiosas, um conselho para julgamento e um centro
comunal com local para estudo.
No entanto, a família é considerada o principal elemento da vida comunitária judaica,
o que ao lado do mandamento de Crescei e multiplicai leva ao desestímulo de
práticas ascéticas como o celibato apesar da existência através da história de algumas
seitas judaicas que promovessem esta renúncia.
SINAGOGA
A Sinagoga Kahal Zur Israel,é a mais antiga sinagoga das Américas, localizada
em Recife, Pernambuco/Brasil.
A sinagoga é o local das reuniões religiosas da comunidade judaica, hábito adquirido
após a conquista de Judá pela Babilônia e a destruição do Templo de Jerusalém. Com
a inexistência de um local de culto, cada comunidade desenvolveu seu local de
reuniões, que após a construção do Segundo Templo tornou-se os centros de vida
comunitária das comunidades da Diáspora.
Na estrutura da sinagoga destaca-se o rabino, líder espiritual dentro da comunidade
judaica e o chazan (cantor litúrgico).
O Chérem é a mais alta censura eclesiástica na comunidade judaica. É a exclusão total
da pessoa da comunidade judaica.
Exceto em casos raros que tiveram lugar entre os judeus ultra-ortodoxos, o cherem
deixou de se praticar depois do Iluminismo, quando as comunidades judaicas locais
perderam a autonomia de que dispunham anteriormente e os judeus foram integrados
nas nações gentias em que viviam.
O judaísmo possui algumas tradições religiosas e culturais em relação à vestimentas,
dentre as quais podemos destacar:
Kipá são os chapéus utilizado pelos judeus tanto como símbolo da religião como
símbolo de "temor a Deus" são semelhantes ao solidéu usado por Bispos Católicos
e pelo Papa .
Tefilin
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Tzitzit é o nome dado à franjas do talit, que servem como meio de lembrança dos
mandamentos de Deus.
Baseados na Torá a maior parte das ramificações judaicas segue o calendário lunar. O
calendário judaico rabínico é contado desde 3761 a.C. O Ano Novo judaico,
chamado Rosh Hashaná é o nome dado ao ano-novo no judaísmo, acontece no
primeiro ou no segundo dia do mês hebreu de Tishrei, que pode cair em setembro ou
outubro.
Os anos comuns, com doze meses, podem ter 353, 354 e 355 dias, enquanto os
bissextos, de treze meses, 383, 384 ou 385 dias. o calendario judaico começa a ser
contado em 7 de outubro de 3760 a.C.que para os judeus foi a data da criação do
mundo. Atualmente estamos no ano de 5774.
Diversas festividades são baseados neste calendário: pode-se dar ênfase às festividades
de Rosh Hashaná, Pessach, Shavuót, Yom Kipur e Sucót. As diversas comunidades
também seguem datas festivas ou de jejum e oração conforme suas tradições.
Com a criação do Estado de Israel diversas datas comemorativas de cunho nacional
foram incorporadas às festividades da maioria das comunidades judaicas.
O hebraico ("A Língua Sagrada") ) é o principal idioma utilizado no judaísmo utilizado
como língua litúrgica durante séculos. Foi revivido como um idioma de uso corrente
no século XIX e utilizado atualmente como idioma oficial no Estado de Israel.
No entanto diversas comunidades judaicas utilizam outros idiomas cuja origem em sua
maioria surgem da mistura do hebraico com idiomas locais
Escatologia judaica refere-se às diferentes interpretações judaicas dadas aos temas
relacionados ao futuro: ainda que se acreditarmos na Torá este tema não seja tão
desenvolvido no judaísmo primitivo após o retorno do Exílio em
Babilônia desenvolveu-se baseado no profetismo e no nacionalismo judaico conceitos
que iriam formar a base da escatologia judaica. Entre estes temas principais podemos
nomear os conceitos sobre o Messias e o Olam Habá (mundo vindouro) no qual todas
as nações submeter-se-iam aYHWH e a Torá e na qual Israel ocuparia um lugar de
proeminência.
Dentro do judaísmo, a doutrina do Messias é um assunto que pode variar de
ramificação para ramificação. Historicamente diversos personagens foram chamados
de Messias, do hebraico ungido, que não assume o mesmo sentido habitual
do cristianismo como um "ser salvador e digno de adoração" . Até mesmo o conceito
do Messias não aparece naTorá, e por isto mesmo recebe interpretações diferentes de
acordo com cada ramificação.
A maior parte dos judeus crê no Messias como um homem judeu, filho de um homem
e de uma mulher, (em algumas ramificações é considerado que viria da tribo de Judá e
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da descendência do rei David, uma herança do sentimento nacionalista que regulou a
vida judaica pós-exílio) que reinará sobre Israel, reconstruirá a nação fazendo com que
todos os judeus retornem à Terra Santa e unirá os povos em uma era de paz e
prosperidade sob o domínio de YHWH.
Algumas ramificações judaicas (reformistas) creem no entanto que a era messiânica
não envolva necessariamente uma pessoa, mas sim que se trate de um período de paz,
prosperidade e justiça na humanidade.
Dão por isso particular importância ao conceito de "Tikun Olam", "reparar o mundo",
ou seja, a prática de uma série de actos que conduzem a um mundo socialmente mais
justo.
Os diversos eventos da história judaica levaram a uma valorização do estudo e da
alfabetização dos membros da comunidade judaica. Na Diáspora a busca de conexão
com o judaísmo e a busca de não-assimilação com os costumes gentílicos levaram a
uma ênfase na necessidade da educação e alfabetização desde a infância, pelo que na
maior parte das comunidades judaicas o analfabetismo é praticamente inexistente. Este
pensamento levou à criação de uma vasta literatura principalmente de uso religioso.
Dentro do judaísmo, a escritura mais importante é a Torá, que seria o livro contendo o
conjunto de histórias da origem do mundo, do homem e do povo de Israel, assim
como os mandamentos de obediência a Deus. Para a maior parte das ramificações
judaicas, acrescenta-se a história de Israel e as palavras dos profetas israelitas até a
construção do Segundo Templo, com sua literatura relacionada, que compiladas na
época do retorno de Babilônia, constituíram o que conhecemos como Tanakh,
conhecido pelos não-judeus como Antigo Testamento.
Os judeus rabinitas creem que Moisés recebeu além da Torá escrita, uma tradição oral
que serviria como um complemento da primeira, e que seria passada de geração à
geração desde Moisés, e que viria a ser compilada no século IV d.C. como o Talmude.
Nos dois últimos séculos, a comunidade judaica dividiu-se numa série de
denominações; cada uma delas tem uma diferente visão sobre que princípios deve um
judeu seguir e como deve um judeu viver a sua vida. Apesar das diferenças, existe uma
certa unidade nas várias denominações.
O judaísmo não é atualmente uma religião proselitista, ainda que no passado já tenha
efetuado missões deste tipo, especialmente durante o período do Segundo Templo.
Atualmente o judaísmo aceita a pluralidade religiosa, e prega a obrigação dos
cumprimentos da Torá apenas ao povo judeu.
Apesar do Cristianismo defender uma origem judaica, o judaísmo considera o
cristianismo uma religião pagã.
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Apesar da existência de judeus convertidos ao Cristianismo e outras religiões, não
existe nenhuma forma de judaísmo rabínico que aceite as doutrinas do
Cristianismo como a divindade de Jesus ou a crença em seu caráter messiânico.
Há movimentos, como Judaísmo messiânico que tentam conciliar a crença em Jesus
como messias e a identidade judia. Algumas ramificações tentaram ver Jesus como
um profeta ou um rabino famoso, mas hoje esta visão também é descartada pela
maioria dos judeus.
Desde o Holocausto, deram-se muitos passos no sentido da reconciliação entre alguns
grupos cristãos e o povo judeu. Tentativas por parte de grupos religiosos cristãos
(principalmente de origem evangélica) de conversão ao judaísmo são desprezadas e
condenadas pelos grupos religiosos judaicos.
O islamismo toma diversas de suas doutrinas do judaísmo, sendo que as duas religiões
mantêm seu intercâmbio religioso desde a época de Maomé, com períodos de
tolerância e intolerância de ambas as partes. É especialmente significativo o período
conhecido como Idade de Ouro da cultura judaica, entre 900 a 1200 na Espanha
muçulmana.
Na China imperial os judeus eram contados juntos com os muçulmanos sob a
designação de Hui-hui e tanto as sinagogas e mesquitas chamadas pelo mesmo
nome, Tsing-chin sze. Em algumas instâncias, grupos judeus adotaram o islão, como
ocorreu entre os jehudi al-islami na pérsia.
O recente conflito palestino-israelense, o que envolve entre parte da população
muçulmana e dos judeus devido à questão do controle de Jerusalém e outros pontos
políticos, históricos e culturais fomentou ainda mais a divergência entre judaísmo e
islão.
O islão reconhece os judeus como um dos povos do Livro, apesar de acreditarem que
os judeus sigam uma Torá corrompida. Já o judaísmo rabínico não crê
em Maomé como profeta e não aceitam diversos mandamentos do islão.
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3. Cristianismo
Cristianismo é uma religião abraâmica monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos
de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo Testamento.
A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de
Deus,Salvador e Senhor.
A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia
Oriental (separada do catolicismo em 1054 após o Grande Cisma do Oriente) e
o protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XVI).
O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações. Os
cristãos acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus que se tornou homem e o
Salvador da humanidade, morrendo pelos pecados do mundo. Geralmente, os cristãos
se referem a Jesus como o Cristo ou o Messias.
Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditam que Jesus seja
o Messias profetizado na Bíblia Hebraica (a parte das escrituras comum tanto ao
cristianismo quanto ao judaísmo).
A teologia cristã ortodoxa alega que Jesus teria sofrido, morrido e ressuscitado para
abrir o caminho para o céu aos humanos.
Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das
denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e
mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores.
Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, e
tanto como o revelador quanto a encarnação de Deus.
Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de Evangelho ("Boas Novas"), e por
isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como evangelhos.
O cristianismo se iniciou como uma seita judaica e, como tal, da mesma maneira que
o próprio judaísmo ou o islamismo, é classificada como uma religião abraâmica.
Após se originar no Mediterrâneo Oriental, rapidamente se expandiu em abrangência
e influência, ao longo de poucas décadas; no século IV já havia se tornado a religião
dominante no Império Romano.
Durante a Idade Média a maior parte da Europa foi cristianizada, e os cristãos também
seguiram sendo uma significante minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da
África e em partes da Índia.
Depois da Era das Descobertas, através de trabalho missionário e da colonização, o
cristianismo se espalhou para as Américas e pelo resto do mundo.
O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da civilização
ocidental pelo menos desde o século IV.
No início do século XXI o cristianismo conta com entre 2,3 bilhões de
fiéis, representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma
das maiores religiões do mundo. O cristianismo também é a religião de Estado de
diversos países.
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Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos
aspectos da sua religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são
partilhadas pela maioria deles.
Grande parte das vertentes cristãs herdaram do judaísmo a crença na existência de um
único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais
importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência.
Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo
Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e essas podem estabelecer uma
relação pessoal com Ele através da oração.
A maioria das denominações cristãs professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que
Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis:
o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no
judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e
o Messias que virá será um homem, descendente do rei Davi.
Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os
cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais
salientam o amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-39), e consideram a sua vida
como um exemplo a seguir.
O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar e
salvar os seres humanos dopecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição,
embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a
maioria dos cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano.
Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que
questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso
expressamente.
Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de versículos que,
através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época,
deixariam clara sua condição divina.
O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a
salvação e a vida eterna. «Pois Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.» (João 3:16)
As visões sobre o que acontece após a morte dentro do Cristianismo variam entre as
denominações.
A Igreja Católica considera a existência do céu, para onde vão os justos, do inferno,
para onde vão os pecadores que não se arrependeram, e do purgatório, que é um
estágio de purificação, mas não um terceiro lugar, para os pecadores que morreram em
estado de Graça, ou seja, já estão salvos e esperando um tempo indeterminado para ir
para o céu.
As igrejas orientais, bem como algumas igrejas protestantes, consideram a existência
apenas do céu e do inferno.
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Dentro do Protestantismo, a maior parte das denominações acredita que os mortos
serão ressuscitados no Juízo Final, quando então serão julgados, sendo que os
pecadores serão definitivamente mortos e os justos viverão junto a Cristo na
imortalidade.
Já as denominações do Cristianismo Esotérico (gnose) são reencarnacionistas e
ponderam que nenhum homem é totalmente bom nem totalmente mau, e após a
morte sofrerão as consequências do bem e do mal que tenham praticado em vida,
atingindo a perfeição com as sucessivas encarnações.
O cristianismo acredita na Igreja (ekklesia), palavra de origem grega que significa
"assembleia", entendida como a comunidade de todos os cristãos e como corpo místico
de Cristo presente na Terra e sua continuidade.
As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas
Protestantes e a Igreja Ortodoxa.
O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado
como credo universal da Cristandade noConcílio de Éfeso de 431. Os cristãos
ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela
Igreja Católica mais tarde.
As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:
A crença na Trindade;
Jesus é simultaneamente divino e humano;
A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;
Jesus Cristo foi concebido de forma virginal,
foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;
A remissão dos pecados é possível através do batismo;
Os mortos ressuscitarão.
Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com
crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e
Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.
Algumas Igrejas Protestantes não acreditam no Credo de Niceia.
A Bíblia é o principal conjunto de escrituras do Cristianismo.
Entretanto, há algumas divergências a respeito de determinadas escrituras,
chamadas deuterocanônicas (ou livros apócrifos), que não são aceitas pelas correntes
majoritárias e foram retiradas da bíblia através dos concílios, apesar de existirem
conexões destes com a vida e pregação de Jesus.
Para certas denominações, há algumas outras escrituras que foram divinamente
inspiradas. Os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros
são o Livro de Mórmon, a Doutrina e Convénios e a Pérola de Grande Valor.
39
Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de Ellen G. White são uma
manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia.
As formas de culto do cristianismo envolvem oração, leitura alternada de salmos ou de
passagens bíblicas tais como as de livros do Antigo Testamento, os Evangelhos, as
Espitolas e/ou o Apocalipse. Cantam-se hinos a Deus, o Pai, Jesus ou ao Espírito Santo
e aos anjos esantos entre catolicos romanos, episcopais e ortodoxos.
A cerimónia da eucaristia é praticada diariamente ou semanalmente por católicos,
luteranos, episcopais ou anglicanos e ortodoxos.
Já a equivalente Ceia do Senhor pratica-se mensal, trimensal ou anualmente por
diversas igrejas entre os protestantes. Sermões sao pregados
pelo sacerdote, pastor, ancião, ministro ou outros líderes.
A maioria das denominações cristãs consagra o Domingo como dia de culto. Há
denominacoes que consideram o Sábado dia santo de guarda, entre elas Baptistas do
Setimo Dia, Adventistas, Igrejas de Deus (7.o dia) e Judeus Messiânicos. Este último
grupo, embora não seja cristão, guarda semelhança com o cristianismo, pois crê
em Yeshua (Jesus) como sendo o messias profetizado na bíblia hebraica.
A devoção e oração individual ou em grupo nos outros dias da semana também são
encorajadas.
Igrejas como a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana e a Episcopal/Anglicana que
administram batismo a recem-nascidos também adotam a confirmação quando a
criança tem mais entendimento para assumir a responsabilidade pela sua religiosidade.
Batistas, Adventistas, Pentecostais e neo-pentecostais optam por uma dedicação do
bebê ao Senhor e só batizam quem é maduro o suficiente para decidir por si mesmo
que querem realmente abraçar a fé.
Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do
cristianismo:
1. Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;
2. Patrística: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação
da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano fundada
por Constantino e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário
expoente foi Santo Agostinho;
3. Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino,
que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de
entender a fé.
40
A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história e
concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se
formaram.
O principal símbolo do cristianismo é a cruz, que representou em diversas sociedades
a interseção do plano material e do transcendental em seus eixos perpendiculares. Por
exemplo, era insígnia de Serápis no Egito.
Ao ser apropriado pelo cristianismo, este símbolo enriqueceu e sintetizou a história da
salvação e paixão de Jesus, significando também a possibilidade de ressurreição.
Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião. é
o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em grego, sendo também
um acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, "Jesus Cristo filho de Deus
Salvador").
Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e
o Ómega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência a Cristo como
princípio e fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma que
alcancou o bom porto) e o "Bom Pastor", a representação de Cristo como o
dedicado pastor de suas ovelhas.
Os cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa.
Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do
movimento cristão.
O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:
Natal: celebração do nascimento de Jesus;
Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos Reis Magos,
enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu batismo. Acontece doze dias após o
Natal;
Sexta-feira Santa: morte de Jesus;
Domingo de Páscoa: ressurreição de Jesus;
Ascensão: ascensão de Jesus ao céu. Acontece quarenta dias após o Domingo de
Páscoa;
Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos. Ocorre
cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.
Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de
Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais
importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel.
Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir
importância. Por exemplo, o Dia de Todos-os-Santos é celebrado pela Igreja Católica e
41
pela Igreja Anglicana a 1 de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é
celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações cristãs
não celebram sequer este dia.
De igual forma, alguns grupos protestantes recusam celebrar o Natal uma vez que
consideram ter origens pagãs.
Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia
aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d.C., Jesus Cristo,
nascido na cidade de Belém na Judéia.
Na Galileia começou a pregar, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi
rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia e
executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura
oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes
religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano.
Com a morte e a suposta ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da
sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e
centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens,
celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e
administrava o batismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos
partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que
eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos,
o eunuco da rainha da Etiópia é batizado, bem como o centurião Cornélio. Em
Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser
conhecidos como cristãos.
Paulo de Tarso não se contava entre os apóstolos originais, ele era um
judeu fariseu que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-
se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário depois de
Jesus Cristo. Boa parte do Novo Testamento foi escrito ou por ele (as Epístolas
paulinas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos).
Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre 44 e 58 ele fez três
grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia
Menor e de vários pontos da Europa, entre eles Roma.
Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos
do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos
últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa
com os primeiros.
Na época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atrativa para alguns dos
cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de
alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e
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não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos
homens.
Através da influência de Paulo, o cristianismo simplificou os costumes judaicos aos
quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns
autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida
expansão do cristianismo.
Outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma
consequência da expansão do cristianismo entre os não-judeus do que como sua causa.
Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por
exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a
toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa
empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado
Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em
divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem.
A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do
cristianismo entre não-judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos
judaicos pode ser lida no livro de Atos dos Apóstolos. De resto, os cristãos adotam as
regras e os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus.
Em Junho do ano 66 inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a
comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a
advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a
desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa
o segundo momento de ruptura com o judaísmo.
Após a derrota dos judeus em 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos
cada vez mais separados. Para o cristianismo o período que se abre em 70 e que segue
até aproximadamente 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como
de organização da hierarquia e da liturgia.
No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por
um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.
Gradualmente, o sucesso do cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da
religião estabelecida.
Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem
verificado perseguições ao cristianismo, estas eram irregulares.
As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século II:
em 112 Trajano fixa o procedimento contra os cristãos.
43
Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos
imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano e Diocleciano.
Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem
cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados
para trabalhar nas minas.
Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das
primeiras heresias. Tatiano, um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma
seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez
de vinho.
Marcião rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus
bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro
Sagrado, o Evangelho de Marcião, feito a partir de passagens retiradas do Evangelho
de Lucas e das epístolas paulinas. À medida que o cristianismo criava raízes mais fortes
na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada
(nas comunidades do Oriente usava-se o grego).
Durante o século III, com o relaxamento da intolerância aos cristãos, a Igreja havia
conseguido muitos donativos e bens. Porém com o fortalecimento da perseguição pelo
imperador Diocleciano, esses bens foram confiscados. Posteriormente com a derrota
de Diocleciano e a ascensão do imperador romano Constantino, o cristianismo foi
legalizado pelo Édito de Milão de 313, e os bens da Igreja devolvidos.
A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema de profundo
debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu
gradualmente. Como maneira de fazer penitência , Constantino ordenou a construção
de diversas basílicas e outros templos e as doou à Igreja. Dentre elas, uma basílica em
Roma no local onde, segundo a Tradição, o apóstolo Pedro estava sepultado e,
influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém
da Basílica do Santo Sepulcro e da Basílica da Natividade em Belém.
Para evitar mais divisões na Igreja, Constantino convocou o Primeiro Concílio de
Niceia em 325, onde se definiu o Credo Niceno, uma manifestação mínima da crença
partilhada pelos bispos cristãos.
Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo,
proibindo o seu culto e proclamando o cristianismo religião oficial do Império
Romano.
O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador
romano pelo "bárbaro" germânico Odoacro, mas o cristianismo permaneceria
triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam
44
convertidos ao cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império
Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do cristianismo.
Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da
civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo
de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das
instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma
durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força
intelectual, especialmente através da vida monástica.
Embora fosse unida linguisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais
obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de
culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela
cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da
fé cristã. Por volta dos séculos IV e X, todo o território que antes pertencera ao
ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo Papa.
Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras
jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos
povos germânicos e eslavos.
Em 1095, sob o pontificado de Urbano II, as Cruzadas foram lançadas. Estas foram
uma série de campanhas militares na Terra Santa e em outros lugares, iniciadas em
resposta aos apelos do imperador bizantino Aleixo I Comneno contra a
expansão turca. As Cruzadas acabaram fracassando em abafar a agressão islâmica e até
mesmo contribuiu para a inimizade cristã com o saque de Constantinopla durante
a Quarta Cruzada.
Durante um período que se estende do século VII ao XIII, a igreja cristã passou por
uma alienação gradual, resultando em um cisma que dividiu o cristianismo em um
ramo chamado latino ou ocidental, a Igreja Católica Romana, e um ramo oriental, em
grande parte grego, a Igreja Ortodoxa. Estas duas igrejas discordam sobre uma série de
processos e questões administrativas, litúrgicas e doutrinais, principalmente a primazia
da jurisdição papal. O Segundo Concílio de Lyon (1274) e o Concílio de
Florença(1439) tentaram reunir as igrejas, mas em ambos os casos, os ortodoxos
orientais se recusaram a implementar as decisões e as duas principais igrejas
permanecem em cisma até os dias atuais. No entanto, a Igreja Católica Romana tem
alcançado união com várias pequenas igrejas orientais.
Começando por volta de 1184, após a cruzada contra a heresia dos cátaros, várias
instituições, amplamente referidas como a Inquisição, foram estabelecidas com o
objetivo de suprimir a heresia e assegurar a unidade religiosa e doutrinária dentro do
cristianismo através da conversão e repressão.
45
O Renascimento do século XV trouxe um renovado interesse em estudos antigos e
clássicos. Outra grande cisma, a Reforma, resultou na divisão da cristandade ocidental
em várias denominações cristãs. Em 1517, Martinho Lutero protestou contra a venda
de indulgências e logo passou a negar vários pontos-chave da doutrina católica romana.
Outros, como Zwingli e Calvino ainda criticaram o ensino católico romano e adoração.
Estes desafios desenvolveram no movimento chamado de protestantismo, que
repudiou o primado do papa, o papel da Tradição, os sete sacramentos e outras
doutrinas e práticas. A Reforma na Inglaterra começou em 1534, quando o
Rei Henrique VIII tinha se declarado chefe da Igreja da Inglaterra. No início em 1536,
os mosteiros por toda a Inglaterra, País de Gales eIrlanda foram dissolvidos.
Em parte como resposta à Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana engajou-se
em um processo significativo de reforma e renovação, conhecido
como Contrarreforma ou Reforma Católica. O Concílio de Trento reafirmou e
clarificou a doutrina católica romana. Durante os séculos seguintes, a concorrência
entre o catolicismo romano e o protestantismo tornou-se profundamente envolvida
com as lutas políticas entre os Estados europeus.
Enquanto isso, a descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492 provocou
uma nova onda de atividade missionária. Em parte de zelo missionário, mas sob o
impulso da expansão colonial pelas potências europeias, o cristianismo se espalhou
para as Américas,Oceania, Ásia Oriental e África Subsaariana.
Em toda a Europa, as divisões causadas pela Reforma levou a surtos de violência
religiosa e o estabelecimento de igrejas separadas do Estado na Europa Ocidental:
o luteranismo em partes da Alemanha e na Escandinávia e
o anglicanismo na Inglaterra em 1534. Em última instância, essas diferenças levaram à
eclosão de conflitos em que a religião desempenhou um papel chave. A Guerra dos
Trinta Anos, a Guerra Civil Inglesa e as Guerras religiosas na França são exemplos
proeminentes. Estes eventos intensificaram o debate sobre a perseguição cristã
e tolerância religiosa.
Na era conhecida como a Grande Divergência, quando no ocidente o Iluminismo e
a revolução científica trouxeram grandes mudanças sociais, o cristianismo foi
confrontado com várias formas de ceticismo e com certas ideologias políticas
modernas, como as versões do socialismo e do liberalismo.
Nessa época, eventos que variaram do mero anti-clericalismo à explosões de violência
contra o cristianismo, como a descristianização durante a Revolução
Francesa, a Guerra Civil Espanhola, e a hostilidade geral dos movimentos marxistas,
especialmente da Revolução Russa de 1917.
Especialmente premente na Europa foi a formação dos Estados-nação após a era
napoleônica. Em todos os países europeus, diferentes denominações
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cristãs encontraram-se em competição, em maior ou menor grau, umas com as outras
e com o Estado. Variáveis são os tamanhos relativos das denominações e da orientação
religiosa, política e ideológica do Estado. Urs Altermatt da Universidade de Friburgo,
olhando especificamente para o catolicismo na Europa, identifica quatro modelos para
as nações europeias.
Em países tradicionalmente católicos, como Bélgica, Espanha, e até certo ponto
a Áustria, comunidades religiosas e nacionais são mais ou menos idênticas. A simbiose
cultural e a separação são encontradas na Polônia, Irlanda e Suíça, todos os países com
denominações concorrentes.
A competição é encontrada na Alemanha, nos Países Baixos e novamente na Suíça,
todos os países com populações minoritárias católicas que, em maior ou menor grau,
se identificam com a nação. Finalmente, a separação entre a religião(mais uma vez,
especificamente o catolicismo) e do Estado é encontrada em grande parte
na França e Itália, países onde o Estado se opôs-se à autoridade da Igreja Católica. Os
fatores combinados da formação de Estados-nação e do ultramontanismo,
especialmente na Alemanha e nos Países Baixos, mas também na Inglaterra (em uma
escala muito menor), muitas vezes forçou as igrejas católicas, organizações, e crentes a
escolher entre as demandas nacionais do Estado e da autoridade da Igreja,
especificamente opapado. Este conflito veio à tona no Concílio Vaticano I e na
Alemanha levaria diretamente ao Kulturkampf, onde os liberais e os protestantes sob a
liderança de Bismarck conseguiram restringir severamente expressão e organização
católica.
O compromisso cristão na Europa caiu com a modernidade e o secularismo entrou na
na Europa Ocidental, embora os compromissos religiosos na América têm sido
geralmente altos em comparação com a Europa Ocidental. O final do século
XX demonstrou a mudança de aderência cristã para os países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento e do hemisfério sul em geral, sendo a civilização ocidental não mais a
portadora do padrão do cristianismo.
Alguns europeus (incluindo a diáspora), os povos indígenas das Américas e os nativos
de outros continentes, reavivaram as suas respectivas religiões folclóricas do seus
povos.
Cerca de 7,1 a 10% dos árabes são cristãos, sendo mais prevalentes
no Egito, Síria e Líbano.
Na maioria dos países desenvolvidos a frequência à igreja do mundo entre as pessoas
que continuam a identificar-se como cristãs vem caindo ao longo das últimas
décadas. Algumas fontes visualizam isto simplesmente como parte de um
distanciamento dos membros das instituições tradicionais, enquanto outros apontam
para sinais de um declínio na crença e na importância da religião em geral.
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O cristianismo, de uma forma ou de outra, é a única religião estatal das nações
seguintes: Costa Rica (católica romana), Dinamarca (luterana evangélica), El
Salvador(Católica Romana), Inglaterra (anglicana), Finlândia (Evangélica Luterana e
Ortodoxa), Georgia (Igreja Ortodoxa da Geórgia), Grécia (Igreja Ortodoxa Grega),
Islândia (Luterana Evangélica), Liechtenstein (Católica Romana), Malta (Católica
Romana), Mônaco (Católica Romana), Noruega (Luterana
Evangélica), e Vaticano(católica romana).
Existem inúmeros outros países, como o Chipre, que apesar de não ter uma igreja
estabelecida, continuam a dar reconhecimento oficial a uma denominação
cristã específica.
A Igreja Católica compreende as igrejas lideradas por bispos, em comunhão com o
Papa, o Bispo de Roma, como sua mais alta autoridade em matéria de moral, fé e
governança da Igreja. Como a Igreja Ortodoxa, o Igreja Católica Romana, através da
sucessão apostólica, traça suas origens à comunidade cristã fundada por Jesus Cristo.
Os católicos defendem que o "una, santa, católica e apostólica" fundada
por Jesus subsiste plenamente na Igreja Católica Romana, mas também reconhece
outras igrejas e comunidades cristãs e trabalha no sentido da reconciliação entre todos
os cristãos. A fé católica é detalhada no catecismo da Igreja Católica.
A Ortodoxia Oriental compreende as igrejas em comunhão com a Sé Patriarcal do
Oriente, como o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Como a Igreja Católica
Romana, a Igreja Ortodoxa Oriental também tem sua herança à fundação do
cristianismo através da sucessão apostólica e tem uma estrutura episcopal, embora a
autonomia do indivíduo, principalmente nas igrejas nacionais, seja enfatizada. Uma
série de conflitos com o cristianismo ocidental sobre questões de doutrina e autoridade
culminou com o Grande Cisma. A Ortodoxia Oriental é a segunda maior
denominação única no Cristianismo, com mais de 200 milhões de adeptos.
As Igrejas Ortodoxas Orientais (também chamado de Igrejas Orientais Velhas) são
aquelas igrejas orientais que reconhecem os três primeiros concílios ecumênicos -
Niceia, Constantinopla e Éfeso - mas rejeitam a definições dogmáticas do Concílio de
Calcedônia e defendem uma cristologia miafisista. A comunhão das Igrejas Ortodoxas
Orientais é composta por seis grupos: a Igreja Ortodoxa Síria,Igreja Ortodoxa
Copta, Igreja Ortodoxa Etíope, Igreja Ortodoxa da Eritréia, Igreja Ortodoxa
Malankara (Índia) e a Igreja Apostólica Armênia. Estas seis igrejas, enquanto estão
em comunhão umas com as outras são completamente independentes
hierarquicamente. Essas igrejas geralmente não estão em comunhão com as Igrejas
Ortodoxas Orientais com quem elas estão em diálogo para um retorno à unidade.
No século XVI, Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino inauguraram o que
veio a ser chamado de protestantismo. Os herdeiros teológicos primários de Lutero
48
são conhecidos como luteranos. Os herdeiros de Zwingli e Calvino são muito mais
amplas denominalmente e são amplamente referidos como a Tradição Reformada. A
maioria das tradições protestantes se ramificam a partir da Tradição Reformada, de
alguma forma. Além dos ramos luteranos e reformados da Reforma, há
o anglicanismo após a Reforma Inglesa. A tradição anabatista foi amplamente
condenada ao ostracismo por parte dos outros protestantes na época, mas conseguiu
uma medida de afirmação na história mais recente. Alguns, mas não a maioria
dos batistas preferem não ser chamados de protestantes, alegando uma linha direta
ancestral que remonta aos apóstolos, no século I.
Os mais antigos grupos protestantes se separaram da Igreja Católica no século
XVI durante a Reforma Protestante, seguido em muitos casos, por novas divisões. Por
exemplo, a Igreja Metodista surgiu do ministro anglicano John Wesley e do
movimento evangélico de renovação na Igreja Anglicana. Várias igrejas pentecostais e
não-denominacionais, que enfatizam o poder purificador do Espírito Santo, por sua
vez, cresceram a partir da Igreja Metodista.
Devido ao fato de que metodistas, pentecostais, evangélicos e outros enfatizarem que
"aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal", o que vem da ênfase de John
Wesley no Novo Nascimento, muitas vezes eles se referem a si mesmos como pessoas
nascidas de novo.
As estimativas do número total de protestantes são muito incertas, em parte devido à
dificuldade em determinar quais as denominações devem ser colocadas nesta
categoria, mas parece claro que o protestantismo é o segundo maior grande grupo de
cristãos após o catolicismo em número de seguidores (embora o Igreja Ortodoxa é
maior do que qualquer denominação protestante única).
Um grupo especial são as igrejas anglicanas descendentes da Igreja da Inglaterra e que
organizaram na Comunhão Anglicana. Algumas igrejas anglicanas se consideram tanto
protestantes quanto católicas. Alguns anglicanos consideram sua igreja um ramo da
"Santa Igreja Católica" ao lado da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas
Orientais, um conceito rejeitado pela Igreja Católica Romana e algumas Ortodoxas
Orientais.
Alguns grupos de indivíduos que possuem princípios básicos protestantes se
identificam simplesmente como "cristãos" ou "cristãos renascidos". Eles normalmente se
distanciam da confessionalismo de outras comunidades cristãs,125 chamando a si
mesmos de "não-confessionais". Muitas vezes fundada por pastores individuais, eles
têm pouca afiliação com denominações históricas.
O cristianismo esotérico é um termo que se refere a um conjunto de
correntes espirituais que consideram o cristianismo como uma religião de
mistério,gnosticismo, e professam a existência e a posse de certas doutrinas esotéricas
49
ou práticas, escondidos do público mas acessível apenas a um círculo restrito de
"iluminados", "iniciados", ou pessoas altamente educadas. Uma característica comum
em especial estas denominações místicas é a crença na reencarnação. Alguns dos
cristãos esotéricos instituições incluem a Fraternidade Rosacruz, a Sociedade
Antroposófica e o Martinismo.
O Segundo Grande Despertar, um período de renascimento religioso que ocorreu
nos Estados Unidos durante o início dos anos 1800, viu o desenvolvimento de um
número de igrejas independentes. Elas geralmente se viam como a restauração da
igreja original de Jesus Cristo, em vez de reformar uma das igrejas existentes. A crença
ordinária detida pelos restauradores era que as outras divisões do cristianismo tinha
introduzido defeitos doutrinários no cristianismo, que era conhecido como a Grande
Apostasia.
Algumas das igrejas que tiveram origem durante este período são historicamente
ligadas à reuniões em acampamento no centro-oeste e norte de Nova York no início
de século XIX. O milenarismo e o adventismo estadunidenses, que surgiu do
protestantismo evangélico, influenciou o movimento das Testemunhas de Jeová (com
7 milhões de membros), como uma reação especificamente para William Miller,
os Adventistas do Sétimo Dia. Outros, incluindo os Discípulos de Cristo e as Igrejas de
Cristo, têm suas raízes no Movimento da Restauração contemporânea de Stone-
Campbell, que foi centrada em Kentucky e no Tennessee. Outros grupos originários
deste período incluem o cristadelfianos e A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, a maior denominação do movimento Santo dos Últimos Dias, com mais
de 13 milhões de membros. Enquanto as igrejas originários do Segunda Grande
Despertar têm algumas semelhanças superficiais, sua doutrina e as práticas variam
significativamente.
50
III-RELIGIÕES ASIÁTICAS
1.Budismo
Budismo é uma religião e filosofia não-teísta que abrange uma variedade de tradições,
crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, mais
conhecido como Buda (páli/sânscrito: "O Iluminado"). Buda viveu e desenvolveu seus
ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos VI e IV a. C.
Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas
ideias para ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha),
alcançando o Nirvana e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do
renascimento.
Os ensinamentos de Buda Shakyamuni chegaram ao Tibete pela primeira vez no
século V. Foi somente a partir do século VII, no entanto, quando o Rei Trisong
Deutsen convidou da Índia o monge e erudito Shantarakshita e o Mestre Guru
Padmasambava para construírem o Monastério de Samye, que o budismo firmemente
se estabeleceu no país das neves. Durante a primeira fase de propagação do Carma no
Tibete, surgiu a escola mais antiga do Budismo Tibetano, conhecida como Nyingma,
palavra tibetana que significa “antigo”.
As quatro escolas; posteriormente, após um período em que um dos reis tentou
dizimar o budismo do país, houve um novo fluxo de mestres indianos e novas
traduções de textos sagrados. Com isso formaram-se novas linhagens de práticas.
Quatro escolas principais foram estabelecidas e são conhecidas até hoje: Nyingma,
Kagyu, Sakya, Gelupa.
Através dos séculos, os ensinamentos de Buda Shakyamuni foram transmitidos de
professor a aluno por meio das diferentes linhagens de práticas existentes nas quatro
escolas principais. A pureza dos métodos se manteve porque os detentores dessas
linhagens alcançaram realização e maestria das instruções recebidas.
Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são
encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no
mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do
mundo.
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a
importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas.
Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu
mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a
comunidade budista) . Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é,
em geral, o que distingue um budista de um não-budista. Outras práticas podem incluir
a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge.
51
De acordo com a narrativa convencional, o Buda nasceu
em Lumbini (hoje, patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a. C. e cresceu em Capilvasto:
ambas, atuais localidadesnepalesas.
Logo após o nascimento de Siddhartha, um astrólogo visitou o pai do jovem
príncipe, Suddhodana, e profetizou que Siddhartha iria se tornar um grande rei e que
renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo, se ele, por ventura,
visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, impedindo,
assim, que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai,
Siddhartha se aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de
encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube
do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente,
um cadáver e, finalmente, um ascético sadhu, aparentemente contente e em paz com o
mundo. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida
material e ir em busca de uma vida espiritual.
Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascese e quase
morreu de fome ao longo do processo. Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma
menina da vila, ele mudou sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas
extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor
trouxeram poucos benefícios, espiritualmente falando.
Deduziu, então, que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o
ascetismo, concentrando-se na meditação, através da qual descobriu o que hoje os
budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que não passa pela luxúria e
pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do
corpo.
Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou-se embaixo de uma figueira-dos-
pagodes (Ficus religiosa) hoje conhecida como árvore de Bodhi , localizada em Bodh
Gaya, na Índia e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.
A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser
confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências
e muitas vezes é representado por uma cobra naja.
Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido o nirvana à Sidarta, contudo ele teria
percebido que isso o levaria a se distanciar do mundo e o impediria de transmitir seus
ensinamentos adiante.
Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no Buda, o Iluminado,
atraindo um grupo de seguidores e instituiu uma ordem monástica. A partir de então,
passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do
subcontinente indiano.
Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda
pertencia ao ser humano. Faleceu aos oitenta anos de idade, em 483 a. C.,
em Kushinagar, na Índia.
52
No budismo, o Carma (do sânscrito , transl. karmam, e em pali, kamma, "ação") é a
força de samsara sobre alguém. Boas ações (páli:kusala), e/ou ações ruins (páli: akisala)
geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento
subsequente.
Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do
budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
O carma, na filosofia budista, refere-se especificamente a essas ações (do corpo, da fala
e da mente) que brotam da intenção mental e que geram consequências (frutos) e/ou
resultados.
Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa
intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e
este determinará os efeitos dela decorrentes.
Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de
vidas como uma das muitas formas possíveis desenciência. Entretanto, o budismo,
natural da Índia, rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável",
eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo nohinduísmo, pois, no budismo,
existe a doutrina do anatta, sobre a inexistência de um "eu" permanente e imutável.
De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser
entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança -
"originação dependente" - determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da
noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos
reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:
1. seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
2. preta: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento,
remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;30
3. animais: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra
vida;
4. seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o
nirvana.
5. semideuses: variavelmente traduzido como "divindades humildes", titãs e
antideuses; não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana, que os
consideram como devas de nível mais baixo;
6. deva: comparado ao paraíso;
O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de
Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por pessoas com enorme
realização espiritual, conhecidos como não-regressistas (sânscrito: anāgāmis).
Já o renascimento no reino sem forma (sânscrito: arupa-dhatu) pode ser alcançando
apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de
meditação.
53
De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um
estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada
ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta
Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que
parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário
entre esta vida e a próxima.
O ciclo de samsara
Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração
engendrados pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam.
O samsara compreende os três mundos superiores (deva, semideuses e seres
humanos) e os três inferiores (seres dos infernos, preta e animais), julgados não por um
valor, mas em função da intensidade de sofrimento.
Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas
leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma
maléfico.
Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não-esclarecido como um
estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de
aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos
o nirvana ou a salvação.
Sofrimento: causas e soluções
De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros
ensinamentos deixados pelo Buda depois de atingir o nirvana.
Algumas vezes, são consideradas como a essência dos ensinamentos do Buda e são
apresentadas na forma de um diagnóstico médico:
1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar
(dukkha), de uma forma ou outra;
2. o sofrimento é causado pelo desejo (trishna). Isso é, muitas vezes, expressado
como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a
individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da
felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;
3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da
eliminação da ilusão (maya), assim alcançamos um estado de libertação do
iluminado (bodhi);
4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
O Nobre Caminho Óctuplo - A Quarta Nobre Verdade do Buda - é o caminho para a
o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a
palavra samyak (que em sânscrito significa "corretamente" e "devidamente"), e são
apresentadas em três grupos:
prajna: é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão
espiritual da natureza de todas as coisas. Engloba:
54
1. dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;
2. saṃkalpa (sankappa): a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.
sila: é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivos. Engloba:
3. vāc vāc (vāca): falando de uma maneira verdadeira e não-ofensiva;
4. karman (kammanta): agir de uma maneira não-prejudicial;
5. ājīvana (ājīva): o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente40 .
samadhi: é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a
própria mente. Isso é feito através de práticas, engloba:
6. vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um esforço para melhorar;
7. smṛti (sati): ver as coisas como elas estão com a consciência clara da realidade
presente dentro de si mesmo, sem desejo ou aversão;
8. samādhi (samādhi): meditar ou concentrar-se de maneira correta.
A prática do Caminho Óctuplo é compreendida de duas maneiras: desenvolvimento
simultâneo dos oito itens paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o
praticante se move, ao conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e
o Caminho Óctuplo, geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco
conhecidos no Extremo Oriente.
Caminho do Meio
Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se
diz ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem
várias definições:
1. a prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a
autoindulgência e a morte;
2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro
que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na
escola Maaiana).
Impermanência, sofrimento e não-eu
Anicca é uma das três marcas da existência. O termo exprime o conceito budista de
que todas as coisas são compostas ou fenômenos condicionados, sendo estes,
inconstantes, instáveis e impermanentes.
Tudo o que podemos experimentar através dos nossos sentidos é composto de peças e
sua existência depende de condições externas. Tudo está em fluxo constante e, assim,
as condições e coisas em si estão mudando constantemente. As coisas estão vindo
55
constantemente a ser e deixar de ser. Como nada dura, não há nenhuma natureza
inerente ou fixada em qualquer objeto ou experiência.
Segundo a doutrina da impermanência, a vida humana incorpora esse fluxo no
processo de envelhecimento, no ciclo de renascimento e em qualquer existência de
perda. A doutrina afirma ainda que, pelo fato de as coisas serem impermanentes, o
apego a elas é inútil e leva ao sofrimento (dukkha).
Dukkha ou sofrimento é um dos conceitos centrais do budismo. A palavra pode ser
traduzida de diversas maneiras, incluindo sofrimento, dor, insatisfação, tristeza,
angústia, ansiedade, desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo.
Apesar disso, dukkha é traduzido, muitas vezes, como "sofrimento", o seu significado
filosófico é mais semelhante a "inquietação", como na condição de ser perturbado.
Devido a isso, algumas literaturas preferem não traduzir o verbete, como é o caso
do inglês, com o objetivo de englobar em uma palavra todos os significados.
Anatta, ou anatman, refere-se à noção da inexistência de um "eu". Após uma análise
cuidadosa, verifica-se que nenhum fenômeno é realmente "eu" ou "meu", estes
conceitos são, na realidade, construídos pela mente.
Nirvana
1. É a meta do budismo.
2. É o apagar do fogo das paixões e a extinção do ego.
3. É não necessitar mais reencarnar.
4. É o que todo budista procura por toda vida, a paz absoluta.
5. É o que faz do homem comum um Buda.
6. É a iluminação.
7. É a extrema paz.
Cosmologia
A cosmologia budista considera que o Universo é composto por vários sistemas
mundiais, sendo que cada um desses possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento
e declínio que dura bilhões de anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por
sua vez incluem vários níveis, num total de trinta e um.
O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é
diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de
permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo
divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau karma que
os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas
infernos quentes, mas também infernos frios.
Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo, encontra-se o reino animal, o único
dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do
reino dos infernos pelo lado direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos
56
ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome,
sem nunca terem essas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes
desse reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e
uma boca minúscula.
O reino seguinte é o dos Asura (termo traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os
seus habitantes ali nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um
sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.
O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento
desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via
intermédia nessa cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos
sofrimentos, o que de acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de
consciência sobre a condição samsárica.
O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências.
Nos níveis mais próximos do reino humano, vivem seres que, devido à prática de boas
acções, levam uma acção harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o
vigésimo sétimo são denominados como "Residências Puras", sendo habitadas por
seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como
humanos.
Escrituras
Buda não deixou nada escrito. De acordo com a tradição budista, ainda no próprio
ano em que o Buda faleceu teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra,
onde discípulos do Buda recitaram os ensinamentos perante uma assembleia de
monges que os transmitiram de forma oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade
desse concílio é alvo de debate: para alguns esse relato não passa de uma forma de
legitimação posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I d.C., os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos. Um
dos primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde
se constituiu o denominado Cânone Pali. O Cânone Pali é considerado pela tradição
Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do
Buda. Não existem, contudo, no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou
oAlcorão, que seja igual para todos os crentes; para além do Cânone Pali, existem
outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.
O cânone budista divide-se em três grupos de textos, denominado "Triplo Cesto de
Flores" (tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):
1. Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados
por Ananda no primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;
2. Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir
e cuja transgressão é alvo de uma penitência. Contém textos que mostram como
surgiu determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na
ordenação. Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;
57
3. Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos
ensinamentos do Buda, incluindo listas de termos técnicos.
A partir do seu local de nascimento no nordeste indiano, o budismo espalhou-se para
outras partes do norte e para o centro da Índia. Durante o reinado do imperador
mauria Asoka, que se converteu ao budismo e que governou uma área semelhante à da
Índia contemporânea (com excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter
conquistado a região de Kalinga pela força, Asoka decidiu que a partir de então
governaria com base nos preceitos budistas. O imperador ordenou a construção de
hospedarias para os viajantes e que fosse proporcionado tratamento médico não só aos
humanos, mas também aos animais. O rei aboliu também a tortura e provavelmente
a pena de morte. A caça, desporto tradicional dos reis, foi substituída pela
peregrinação a locais budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoka revelou-se
também tolerante para com o hinduísmo e o jainismo.
Embora o budismo tenha passado por uma verdadeira renovação a partir de 1959, ano
em que o Dalai Lama escolhe o exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de
termos, muitas vezes, de seguir turistas estrangeiros para localizar os lugares santos de
antigamente. Nesse percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou
desvios,heresias, seitas.
58
2.Hinduísmo
Hinduísmo é uma tradição religiosa que se originou no subcontinente indiano.
Frequentemente é chamado de Sanātana Dharma por seus praticantes, frase
em sânscrito que significa "a eterna (perpétua) dharma (lei)".
Num sentido mais abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, a crença na "Alma
Universal", Brâman; num sentido mais específico, o termo se refere ao mundo cultural
e religioso, ordenado por castas, da Índia pós-budista.
De acordo com o livro História das Grandes religiões "o hinduísmo é um estado de
espírito, uma atitude mental dentro de seu quadro peculiar, socialmente dividido,
teologicamente sem crença, desprovido de veneração em conjunto e de formalidades
eclesiásticas ou de congregação: e ainda substitui o nacionalismo".
Entre as suas raízes está a religião védica da Idade do Ferro na Índia e, como tal, o
hinduísmo é citado frequentemente como a "religião mais antiga", a "mais antiga
tradição viva" ou a "mais antiga das principais tradições existentes".
É formado por diferentes tradições e composto por diversos tipos, e não possui um
fundador. Estes tipos, sub-tradições e denominações, quando somadas, fazem do
hinduísmo a terceira maior religião, depois do cristianismo e do islamismo, com
aproximadamente um bilhão de fiéis, dos quais cerca de 905 milhões vivem na Índia e
no Nepal.
O vasto corpo de escrituras do hinduísmo se divide em shruti ("revelado")
e smriti ("lembrado"). Estas escrituras discutem a teologia,filosofia e
a mitologia hinduísta, e fornecem informações sobre a prática do dharma (vida
religiosa).
Entre estes textos os Vedas e os Upanixades possuem a primazia na autoridade,
importância e antiguidade. Outras escrituras importantes são os Tantras, os Ágamas,
sectários e os Puranas, além dos épicos Maabárata e Ramáiana.
O Bagavadguitá, um tratado do Maabárata, narrado pelo deus Críxena (Krishna),
costuma ser definido como um sumário dos ensinamentos espirituais dos Vedas.
Os hindus acreditam num espírito supremo cósmico, que é adorado de muitas formas,
representado por divindades individuais.
O hinduísmo é centrado sobre uma variedade de práticas que são vistos como meios
de ajudar o indivíduo a experimentar a divindade que está em todas as partes, e
realizar a verdadeira natureza de seu Ser.
59
A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos avatares (manifestações corporais) da
divindade suprema, Brâman. Particular destaque é dado à Trimurti - uma trindade
constituída por Brama (Brahma), Xiva (Shiva) e Vixnu (Vishnu).
Tradicionalmente o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente raro - em
vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade
cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Críxena (Krishna), avatar de
Vixnu e personagem central do Bagavadguitá.
Os hindus cultuam cerca de 330 mil divindades diferentes.
Etimologia
Hindu é o nome em persa do rio Indo, encontrado pela primeira vez na
palavra Hindu do persa antigo, correspondente ao sânscrito védico Sindhu.
O hinduísmo pode ser subdividido em diversas correntes principais. Dos
seis darshanas ou divisões históricas originais, apenas duas escolas, a vedanta e a ioga,
sobrevivem.
As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vixnuísmo, o xivaísmo,
o smartismo e shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados
sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e
filiações variam imensamente.
Alguns estudiosos dividem as correntes do hinduísmo moderno em seus "tipos":
Hinduísmo popular, baseado nas tradições locais e nos cultos das divindades
tutelares, praticado em nível mais localizado;
Hinduísmo dármico ou "moral diária", baseado na noção de carma, na astrologia,
nas normas de sociedade como o sistema de castas, os costumes de casamentos.
Hinduísmo vedanta, especialmente o Advaita (smartismo), baseado
nos Upanixades e nos Puranas;
Bhakti, ou "devocionalismo", especialmente o vixnuísmo;
Hinduísmo bramânico védico, tal como é praticado
pelos brâmanes tradicionalistas, especialmente os shrautins;
Hinduísmo iogue, baseado especialmente nos Yoga Sutras de Patandjáli. Com os
principais templos Hoysaleswara e Khajuraho.
O hinduísmo não tem um "sistema unificado de crenças, codificado numa declaração
de fé ou um credo", mas sim é um termo abrangente, que engloba a pluralidade de
fenômenos religiosos que se originaram e são baseados nas tradições vêdicas.
Hindu é originalmente um termo persa, em uso desde os tempos do Sultanato Délhi, e
que se referia a qualquer tradição nativa da Índia, em contraste com o islã.
60
Hindu é usado no inglês no sentido de "pagão indiano" desde o século XVII, porém a
noção do hinduísmo como uma tradição religiosa identificável, qualificando uma
das religiões do mundo, surgiu apenas durante o século XIX.
A característica da tolerância compreensiva às diferenças de credo e a abertura
dogmática do hinduísmo o torna difícil de ser definido como uma religião de acordo
com o conceito ocidental tradicional.
Embora seja descrito como uma religião, o hinduísmo costuma ser definido com mais
frequência como uma 'tradição religiosa'. É descrito como a mais antiga das religiões
mundiais, e mais diversa em tradições religiosas.
A maior parte das tradições hindus reverenciam um corpo de literatura sagrada ou
religiosa, os Vedas, embora existem exceções; algumas tradições religiosas acreditam
que certos rituais específicos sejam essenciais para a salvação, mas diversos pontos de
vista sobre o assunto podem coexistir.
O hinduísmo por vezes é caracterizado pela crença na reencarnação (samsara),
determinada pela lei do karma (karma), e que a salvação é a liberdade deste ciclo de
sucessivos nascimentos e mortes; outras religiões da região, no entanto, como
o budismo e o jainismo, também acreditam nisto, mesmo estando fora do escopo do
hinduísmo.
O hinduísmo é visto como a mais complexa de todas as religiões históricas vivas do
mundo, porém a despeito desta complexidade é não apenas numericamente a maior
delas, como também a mais antiga tradição em existência na Terra, com raízes que se
estendem até a pré-história.
Os problemas com uma única definição do que realmente se quer dizer pelo termo
'hinduísmo' frequentemente são atribuídas ao fato de que o hinduísmo não tem um
fundador histórico único ou comum.
O hinduísmo ou, como alguns dizem, 'hinduísmos', não tem um sistema único de
salvação, e apresenta diferentes metas de acordo com a seita ou denominação. As
formas da religião vêdica são vistos não como uma alternativa ao hinduísmo, mas
como a sua forma mais antiga, e praticamente não há justificativa para as divisões
estabelecidas pela maior parte dos acadêmicos ocidentais entre o vedismo,
o bramanismo e o próprio hinduísmo.
Temas proeminentes nas crenças hinduístas incluem
o darma (dharma, ética hindu), samsara (samsāra, o contínuo ciclo do nascimento,
morte e renascimento), carma (karma, ação e consequente reação), mocsa (moksha,
libertação do samsara), e as diversas iogas (caminhos ou práticas).
O hinduísmo é um sistema diversificado de pensamento, com crenças que abrangem
o monoteísmo, politeísmo, panenteísmo, panteísmo, monismo e ateísmo, e o seu
61
conceito de Deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas tradições e
filosofias.
Por vezes é tido como uma religião henoteísta (isto é, que envolve a devoção a um
único deus, embora aceite a existência de outros), porém o termo é visto, da mesma
maneira que os outros, como uma generalização excessiva.
A maior parte dos hindus acredita que o espírito ou a alma - o "eu" verdadeiro de cada
pessoa, chamado de atman é eterno. De acordo com as teologias monistas/panteístas
do hinduísmo, este Atman não pode ser distinguido, em última instância, do Brâman,
o espírito supremo; estas escolas são, portanto, chamadas de não-dualistas.
A meta da vida, de acordo com a escola Advaita, é chegar à conclusão que o
seu ātman é idêntico ao Brâman, a alma suprema.
Os Upanixades afirmam que quem que tome consciência do atman como o âmago de
si próprio estabelece uma identidade com Brâman, atingindo assim
o moksha ("liberação" ou "liberdade").
Escolas dualísticas compreendem Brâman como um Ser Supremo que possui
personalidade, e o/a veneram como Vishnu, Brahma, shiva ou Shakti, dependendo da
seita.
O atman é dependente de Deus, enquanto o moksha depende do amor a Deus e da
graça de Deus. Quando Deus é visto como um ser supremo pessoal (em lugar do
princípio infinito), Deus é chamado de Ishvara ("O Senhor" ), Bhagavan ("O
Auspicioso" ) ou Parameshwara ("O Senhor Supremo" ).
As escrituras hindus se referem a entidades celestiais chamadas devas (ou devī, na sua
forma feminina; devatā é usado como sinônimo de Deva em hindi), "os brilhantes",
que pode ser traduzido como "deuses" ou "seres celestiais".
Os devas são uma parte integrante da cultura hindu, e foram retratados na
sua arte, arquitetura, e através de ícones, e histórias mitológicas sobre eles foram
relatadas nas escrituras da religião, particularmente na poesia épica indiana e
nos Puranas.
Frequentemente são, no entanto, dissociados de Ishvara, um deus pessoal supremo
que muitos hindus veneram de uma forma particular, como seu iṣṭa devatā, ou "ideal
escolhido".
A escolha é uma questão de preferência individual e tradições regionais e familiares.
Os épicos hindus e os Puranas relatam diversos episódios da descida de Deus à Terra
em sua forma corpórea para restaurar o dharmada sociedade e guiar os humanos
ao moksha.
62
Tal encarnação é chamada de avatar. Os avatares mais são os de Vishnu, e
incluem Rama (protagonista do Ramáyana) e Krishna (figura central do
épico Mahabárata).
Karma pode ser traduzido literalmente como "ação", "obra" ou "feito" e pode ser
descrito como a "lei moral de causa e efeito". De acordo com os Upanixades um
indivíduo, conhecido como o jiva-atma, desenvolve samskaras (impressões) a partir das
ações, sejam elas físicas ou mentais.
O linga sharira, um corpo mais sutil que o físico, porém menos sutil que a alma,
armazena as impressões, e lhes carrega à vida seguinte, estabelecendo uma trajetória
única para o indivíduo.
Assim, o conceito de um carma infalível, neutro e universal, relaciona-se
intrinsecamente à reencarnação, assim como à personalidade, característica e família
de cada um. O carma une os conceitos de livre-arbítrio e destino.
O ciclo de ação, reação, nascimento, morte e renascimento é um contínuo, chamado
de samsara. A noção de reencarnação e carma é uma premissa forte do pensamento
hindu. O Bagavadguitá afirma que:
Assim como uma pessoa veste roupas novas e joga fora as roupas antigas e
rasgadas, uma alma encarnada entra em novos corpos materiais, abandonando os
antigos. (B.G. 2:22)
A samsara dá prazeres efêmeros, que levam as pessoas a desejarem o renascimento
para gozar dos prazeres de um corpo perecível. No entanto, acredita-se que escapar do
mundo da samsara através do moksha assegura felicidade e paz duradouras.
Acredita-se que depois de diversas reencarnações um atman eventualmente procura a
união com o espírito cósmico (Brâman/Paramatman).
A meta final da vida, referida como moksha, nirvana ou samādhi, é compreendida de
diversas maneiras diferentes: como uma realização da união de alguém com Deus;
como a realização da relação eterna de alguém com Deus; realização da unidade de
toda a existência; abnegação total e conhecimento perfeito do próprio Eu; como o
alcance de uma paz mental perfeita; e como o desprendimento dos desejos mundanos.
Tal realização libera o indivíduo da samsara e termina com o ciclo de renascimentos.
A conceitualização do moksha difere entre as várias escolas de pensamento hindu.
No Hinduísmo, acredita-se que todos os homens seguem o kama e o artha, mas
brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o dharma,
ou a harmonia moral presente em toda a natureza.
63
O objetivo maior seria o infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou
liberação (também conhecida como mukti,samadhi, nirvana, etc.) do samsara, o ciclo
da vida, morte, e da existência dual.
Qualquer que seja a maneira na qual o hindu defina a meta de sua vida, existem
diversos métodos (yôgas) que os sábios ensinaram para se atingir aquela meta. Textos
dedicados ao ioga incluem o Bagavadgitá (Bhagavad Gita), os Yôga Sutras, o Hatha
Yôga Pradipika, aGheranda Samhita, entre outros, e, como sua base filosófico-
histórica, os Upanixades. Os caminhos que um indivíduo pode seguir para atingir a
meta espiritual da vida (moksha ou samadhi) incluem, entre outros:
Bhakti Yoga (o caminho do amor e da devoção)
Karma Yoga (o caminho da ação correta)
Raja Yoga (o caminho da meditação)
Jnana Yoga (o caminho da sabedoria)
Raja Yoga (o caminho da união real)
Um indivíduo pode preferir um ou alguns iogas sobre os outros, de acordo com a sua
inclinação e entendimento. Algumas escolas devocionais ensinam que o bhakti é, para
a maior parte das pessoas, a único caminho prático para se alcançar a perfeição
espiritual, com base em sua crença de que o mundo atualmente estaria no Kali
Yuga (uma das quatro épocas que formam o ciclo Yuga).
A prática de um yoga não exclui as outras, e muitos estudiosos acreditam que os
diferentes yogas se misturam naturalmente e auxiliam na prática das outros yogas. Por
exemplo, acredita-se que a prática da Jñana Yoga inevitavelmente leve ao amor puro (a
meta do bacti-ioga), e vice-versa.
Alguém que pratica a meditação profunda (como no raja-ioga) deve incorporar os
princípios centrais do karma-ioga, do jnana-ioga e do bacti-ioga, seja direta ou
indiretamente.
As práticas hinduístas geralmente envolvem a procura da consciência de Deus, e por
vezes também a procura de bençãos dos devas.
Assim, o hinduísmo desenvolveu muitas destas práticas como forma de ajudar o
indivíduo a pensar na divindade em meio à vida cotidiana. Os hindus podem praticar
a pūjā (culto ou veneração) tanto em casa como num templo.
Em seus próprios lares os hindus frequentemente costumam criar um altar, com
ícones dedicados às suas formas escolhidas de Deus. Os templos costumam ser
dedicados a uma divindade primária e às divindades subordinadas que lhe são
associadas, embora alguns templos sejam dedicados a mais de uma divindade.
64
A visita a templos não é obrigatória, e muitos os visitam apenas durante os festivais
religiosos. Os hindus realizam seu culto através dos murtis, ícones; o ícone serve como
uma ligação tangível entre o fiel e Deus.
A imagem costuma ser considerada uma manifestação de Deus, já que Ele é imanente.
O Padma Purana afirma que o mūrti não deve ser visto como apenas pedra ou
madeira, mas sim como uma forma manifesta da Divindade. Algumas seitas hindus,
como o Ārya Samāj, não acreditam em venerar Deus através de ícones.
O hinduísmo possui um sistema desenvolvido de simbolismo e iconografia para
representar o sagrado na arte, arquitetura, literatura e em seu culto. Estes símbolos
ganham seu significado das escrituras, mitologia ou tradições culturais.
A sílaba Om (que representa o Parabrahman) e o sinal da suástica (que simboliza
auspiciosidade) acabaram passando a representar o próprio hinduísmo, enquanto
outros símbolos, como a tilaka, identificam um seguidor da fé.
O hinduísmo ainda apresenta diversos símbolos que são costumeiramente associados a
divindades específicas, como o lótus, chakra e veena.
Os mantras são invocações, louvores e orações que, através de seu significado, som e
estilo de canto, ajudam um devoto a focar a sua mente nos pensamentos sagrados ou
exprimir devoção a Deus ou às divindades.
Muitos devotos realizam abluções matinais às margens de um rio sagrado, enquanto
cantam o Gayatri Mantra ou os mantrasMahamrityunjaya.
O poema épico Maabárata exalta o japa (canto ritualístico) como o maior dever
durante o Kali Yuga (que os hindus acreditam ser a era presente), e muitos adotam
o japa como sua prática espiritual primordial.
A imensa maioria dos hindus praticam rituais religiosos diariamente, porém a
observância destes rituais varia enormemente de acordo com as regiões, cidades ou
aldeias e indivíduos. A maior parte dos hindus segue estes rituais religiosos em seus
lares.
Os hindus mais devotos também executam tarefas diárias, como venerar durante a
alvorada, depois de se banhar (normalmente num santuário familiar, num ritual que
também envolve o acendimento de uma lâmpada e a colocação de oferendas de
alimentos diante de imagens das divindades), recitar os escritos religiosos, cantar hinos
devocionais, meditar, cantar mantras, entre outros.
Um fator de destaque nos rituais religiosos é a divisão entre o puro e o impuro (ou
poluído). Atos religiosos pressupõem algum grau de impureza ou poluição para o seu
praticamente, que devem ser anulados ou neutralizados antes ou durante o decorrer
do ritual. A purificação, feita geralmente comágua, é portanto um aspecto típico da
maior parte dos atos religiosos do hinduísmo.
65
Outras características incluem a crença na eficácia do sacrifício e do conceito de
mérito, ganho através da realização da caridade ou de bons atos, que acumulam com o
tempo e reduzem o sofrimento no próximo mundo.
Os ritos védicos da oblação pelo fogo (yajna) são atualmente apenas práticas
ocasionais, embora sejam altamente reverenciadas na teoria. Nas cerimônias de
casamentos e funerais hindus, no entanto, o yajña e o entoamento de mantras védicos
ainda são a norma. Os rituais, upacharas, mudam com o tempo; por exemplo, nas
últimas centenas de anos alguns rituais, como as danças sagradas e as oferendas
musicais nos tradicionais conjuntos de Upacharas Sodasa, recomendados pelo Agama
Shastra, foram substituídos por oferendas de arroz e doces.
Ocasiões como nascimentos, casamentos e mortes envolvem o que são
frequentemente conjuntos elaborados de costumes religiosos. No hinduísmo, os rituais
que tratam do ciclo da vida incluem o Annaprashan (a primeira ingestão de comida
sólida por um bebê),Upanayanam ("cerimônia do fio sagrado" pela qual passam as
crianças de castas elevadas em sua iniciação na educação formal) e Shraadh (ritual de
conceder banquetes em nome dos falecidos).
Para a maior parte das pessoas na Índia, o noivado de um jovem casal e a data e hora
exatas do casamento são questões decididas pelos pais, em consultas com astrólogos.
Na morte, a cremação, que é considerada obrigatória para todos, com a exceção
de sanyasis, hijra e crianças abaixo de cinco anos, costuma ser executada envolvendo-se
o corpo em algum tecido e queimando-o sobre uma pira.
A peregrinação não é obrigatória no hinduísmo, embora muitos de seus seguidores as
realizem. Os hindus reconhecem diversas cidades sagradas na Índia,
incluindo Allahabad, Haridwar, Varanasi e Vrindavan.
Entre as cidades que possuem templos famosos está Puri, que abriga um dos principais
templos vixnuísta de Jagannath e a comemoração de Rath Yatra; Tirumala - Tirupati,
lar do Templo Tirumala Venkateswara; e Katra, onde se localiza o templo de Vaishno
Devi.
Os quatro locais sagrados de Puri, Rameswaram, Dwarka e Badrinath(ou,
alternativamente, as cidades de Badrinath, Kedarnath, Gangotri e Yamunotri,
no Himalaia) compõem o circuito de peregrinação deChar Dham (quatro moradas).
O Kumbh Mela (o "festival das jarras") é uma das peregrinações hindus mais sagradas,
realizada a cada quatro anos; a localização é alternada entre Allahabad,
Haridwar, Nashik e Ujjain. Outro importante grupo de peregrinações são os Shakti
Peethas, onde a Deusa Mãe é cultuada, da qual as duas principais
são Kalighat e Kamakhya.
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O hinduísmo apresenta diversos festivais ao longo do ano. O calendário
hindu costuma prescrever estas datas. Estes festivais tipicamente celebram eventos
da mitologia hindu, e coincidem muitas vezes com as mudanças de estação. Existem
festivais que são celebrados principalmente por seitas específicas ou em certas regiões
do Subcontinente Indiano. Alguns dos festivais mais importantes são o Maha
Shivaratri, Holi, Ram Navami, Krishna Janmastami, Ganesh
Chaturthi, Dussera e Durga Puja, além do Diwali.
O hinduísmo baseia-se no "tesouro acumulado de leis espirituais descobertas por
diferentes pessoas em diferentes tempos."
As escrituras foram transmitidas oralmente, na forma de versos - para auxiliar na sua
memorização, muitos séculos antes de serem escritos. Ao longo dos séculos diversos
sábios refinaram estes ensinamentos e expandiram o cânone. Na crença hindu pós-
védica e moderna a maior parte das escrituras não costuma ser interpretadas
literalmente; dá-se mais importância aos significados éticos e metafóricos derivados
deles.
A maior parte dos textos sagrados está em sânscrito, e os textos se dividem em duas
classes: Shruti eSmriti.
Os Vedas são os textos mais antigos do hinduísmo, e também influenciaram o
budismo, o jainismo e o sikhismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da
Índia antiga.
Juntamente com o Livro dos Mortos, com o Enuma Elish, I Ching e o Avesta, eles
estão entre os mais antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual,
eles também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia antiga.
Enquanto a maioria dos hindus provavelmente nunca leram os Vedas, a reverência por
mais uma noção abstrata de conhecimento (Veda significa "conhecimento"
em sânscrito) está profundamente impregnada no coração daqueles que seguem
o Veda Dharma.
Os Upanixades são denominados Vedanta, porque eles contêm uma exposição da
essência espiritual dos Vedas. Entretanto é importante observar que os Upanixades são
textos e Vedanta é uma filosofia. A palavra Upanishad significa "sentar-se próximo ou
perto", pois os estudantes costumavam sentar-se no solo, próximos a seus mestres.
Os Upanixades organizaram mais precisamente a doutrina védica de auto-
realização, yoga, e meditação, karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo
da antiga religião de mistérios. Os mais antigos Upanixades são geralmente associados
a um Veda em particular, através da exposição de uma brâmana ou Aranyaka,
enquanto os mais recentes não.
67
O Mahabarata é atribuído ao sábio Vyasa, e foi escrito no período entre 540 e 300
a.C.. A obra, que conta a lenda dos báratas, uma das tribos arianas, discute o tri-
varga ou as três metas da vida humana: kama ou desfrute sensorial, artha ou
desenvolvimento econômico e dharma a religiosidade mundana que se resume em
códigos de conduta moral e ritual.
O Ramayana é atribuído ao poeta Valmiki, e foi escrito no primeiro século d.C.,
apesar de ser baseado em tradições orais que datam de seis ou sete séculos a.C.
Bhagavad Gita[editar | editar código-fonte]
A Bhagavad Gita (Bagavadguitá em português) é considerado parte
do Maabárata (escrito em 400 ou 300 a.C.), é um texto central do hinduísmo, um
diálogo filosófico entre o deus Krishna e o guerreiro Arjuna. Este é um dos mais
populares e acessíveis textos do hinduísmo, e é de essencial importância para a
religião. O Gita discute altruísmo, dever, devoção, meditação, integrando diferentes
partes da filosofia hindu.
As Leis de Manu
Manu é o homem lendário, o "Adão" dos hindus. As leis de Manu, ou Manusmriti, são
uma coleção de textos atribuídos a ele.
Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já que a sua existência antecede os
registros históricos. É dito que o Hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que
residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), dravidianos,
e harapanos.
A mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição hindu é através
do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua)
juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras.
Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV-
XVII), kirtan(elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual de fogo Védico) são algumas
vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção
tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com Deus através de meios simbólicos.
Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com Deus, é
eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na
bênção do indiferenciado amor a Verdade.
Tantrismo
A palavra tantra significa "tratado" ou "série continua", e é aplicada a uma variedade de
trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como aqueles que agora nos
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consideramos como "tântricos". A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade
Média e surgiram da cosmologia hindu.
Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto
evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral
povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam
tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível
para fertilizante, que o seu estatuto de "cuidadora" espontânea da humanidade cresceu
ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a
maioria dos hindus não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de
carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar
de honra na sociedade hindu. Diz-se que Krishna é tanto Govinda (pastor de vacas)
como Gopala (protector de vacas), e que o assistente de Xiva é Nandi, o touro. Com a
força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões
especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, não admira
que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a
venda de produtos de carne e haja um movimento entre os Hindus para banir a
matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.
A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens
(murti) que são ditas não serem o próprio Deus mas condutos para a consciência dos
devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do
amor e grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do princípio maior, representado
mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a
maneira hindu de adoração de imagens as toma apenas como símbolos da divindade,
opostos à idolatria, geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.
Recitação e mantras originaram-se no hinduísmo e são técnicas fundamentais
praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga, é realizada através
de japa("repetições"). Dizem que os mantras, através de seus significados, sons e
recitação melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que prática) na obtenção de
concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão
de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão
de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são
utilizados para a obtenção de auxílio ou para 'invocar' a força espiritual interior. As
ultimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao Senhor
Rama: "Hey Ram!"
O mais representativo de todos os mantras Hindu é o famoso Gayatri Mantra:
ॐ : | | | न: Aum bhūrbhuvasvah | tat savitūrvareṇyam | bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo
naha pracodayāt
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Significa, literalmente: "Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos).
Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr, o Deus. Que ele estimule os nossos
pensamentos/meditações."
As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos
Upanixades, Tat Twam Asi (Assim És Tu), e na última aspiração como segue:
Aum Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrityor ma aamritaam
gamaya
"Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte
para a imortalidade."
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3. Jainismo
O jainismo ou jinismo é uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com
o hinduísmo e o budismo, compartilhando com este último a ausência da necessidade
de Deus como criador ou figura central. Considera-se que a sua origem antecede
o Bramanismo, embora seja mais provável que tenha surgido na sua forma actual no
século V a.C., em resultado da acção religiosa do Mahavira.
Vista durante algum tempo pelos investigadores ocidentais como uma seita do
hinduísmo ou uma heresia do budismo, devido à partilha de elementos comuns com
estas religiões, o jainismo é contudo um fenômeno original. Ao contrário do budismo,
o jainismo nunca teve um espírito missionário, tendo permanecido na Índia, onde os
jainas constituem hoje cerca de quatro milhões de crentes. Pequenas comunidades
jainas existem também na América do Norte e na Europa, em resultado de
movimentos migratórios. A palavra jainismo tem as suas origens no
verbo sânscrito jin que significa "conquistador". Os seus adeptos devem combater,
através de uma série de estágios, as paixões de modo a alcançar a libertação do mundo.
Sua visão básica é dualista. A matéria e a mônada vital ou jiva são de naturezas
distintas, e durante sua vida o ser vivente (seja humano ou animal) tinge sua mônada
como resultado de suas ações. Para se purificar, esta religião propõe um
extremo ascetismo e o colocar em prática da doutrina da não-violência ou ahimsa.
Segundos os historiadores da religião, o jainismo estabeleceu-se na Índia em meados
do primeiro milénio a.C.. O seu fundador foi o Mahavira, existindo duas propostas
para o período em que viveu: 599 a.C. - 527 a.C (data tradicional apontada pelo
jainismo) ou 540 a.C - 470 a.C. (segundo os académicos). Nasceu perto de Patna,
naquilo que é hoje o estado do Bihar. Foi um contemporâneo do Buda, tendo pregado
na mesma região geográfica, embora não conste que os dois mestres se tenham alguma
vez encontrado. Pertencia à casta dos guerreiros (xátrias), casou, viveu no luxo até que
por volta dos trinta anos tornou-se um mendigo errante.
Entregou-se a longos processos ascéticos até obter a iluminação, tendo consagrado os
restantes trinta ou quarenta anos da sua vida a pregar a sua doutrina. Faleceu
emPavapuri, no Bihar, que é desde então um dos principais locais de peregrinação
jaina.
De acordo com os jainas, a sua religião é eterna, tendo sido a doutrina revelada ao
longo de várias eras pelos Tirthankaras, palavra que significa "fazedores de vau", ou
seja, alguém que ensinou o caminho. Os Tirthankaras foram almas nascidas como
seres humanos que alcançaram a libertação (moksha) do ciclo dos renascimentos
através da renúncia e que transmitiram os seus ensinamentos aos homens. Na presente
era existiram 24 Tirthankaras. O último desses Tirthankaras foi o Mahavira, que os
jainas não consideram como o fundador do jainismo, mas antes aquele que lhe deu a
71
sua forma actual. O 23.º Tirthankara foi Parshva, que os historiadores consideram ter
sido provavelmente uma figura histórica que viveu cerca de três séculos antes do
Mahavira. Os jainas acreditam que Parshva pregou os 4 grandes princípios do jainismo,
a saber: não-violência (ahimsa), evitar a mentira, não se apropriar do que não foi dado
e não se apegar às posses materiais; o Mahavira acrescentou o princípio da castidade.
Os jainas encontram-se divididos em dois grupos principais: os Digambara ("Vestes de
céu") e os Svetambara (ou Shvetambara, "Vestes brancas"). Cada um destes grupos
encontra-se por sua vez dividido em vários subgrupos. A maioria dos jainas pertencem
ao grupo Svetambara.
A origem destes dois grupos situa-se no século I d.C (ou talvez no século III d.C,
segundo alguns autores) e deve-se a disputas em torno dos textos que devem constituir
as escrituras do jainismo. Os Svetambara consideram que as suas escrituras estão mais
próximas dos ensinamentos originais do Mahavira, enquanto que os Digambara
rejeitam uma parte considerável dessas escrituras. Os Digambara consideram
igualmente que a renúncia pregada pelo Mahavira implica para os monges a nudez
total e que as mulheres devem primeiro renascer como homens para poderem atingir a
libertação.
Ao nível da geografia, os Digambara concentram-se no sudoeste da Índia e os
Svetambara no noroeste (estados doGujarate, Rajastão e Madhya Pradesh).
As estátuas dos dois grupos são também diferentes: os Tirthankaras dos Svetambara
possuem roupas e uma decoração mais rica, enquanto que as dos Digambara estão
nuas; estas diferenças fazem com que um adepto dos Digambara não possa praticar o
culto num templo Svetambara.
Os jainas consideram que o tempo é infinito e cíclico. Ele é visto como uma grande
roda dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente
(Utsarpini), enquanto que a outra um movimento descendente (Avasarpini). Cada uma
destas partes divide-se em seis eras (ara). Durante o período ascendente os seres
humanos progridem ao nível do saber, estatura e felicidade, enquanto que o período
descendente caracteriza-se pela degradação do mundo, pelo esquecimento da religião e
pela perda de qualidade de vida pelos humanos.
Segundo os jainas, vivemos actualmente num período de movimento descendente,
numa era de infelicidade (Dukham Kal), que começou há 2500 anos e que durará 21
mil anos.
O universo e os cinco mundos
Segundo o jainismo, o universo divide-se em cinco mundos, sendo cada um deles
habitado por determinado tipo de seres. O universo é eterno, não tendo sido criado
por nenhum ser superior.
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No topo do universo está a morada suprema (siddhashila), que é o local onde habitam
as almas que alcançaram a libertação (estas almas são denominadas Siddhas). Abaixo
encontram-se trinta céus, habitados por seres celestiais, alguns dos quais caminham
para a morada suprema.
O mundo médio (madhyaloka) inclui vários continentes separados por mares. No
centro deste mundo encontra-se o continente Jambudvipa, considerado o único
continente no qual as almas podem alcançar a libertação. Os seres humanos habitam
este continente, bem como um segundo continente ao lado deste e parte do terceiro
continente.
O mundo inferior (adholoka) consiste em sete infernos, onde os seres são
atormentados por demónios e onde se atormentam uns aos outros. Abaixo do sétimo
inferno encontra-se a base do universo (nigoda), habitada por inúmeras formas
inferiores de vida.
Karma
À semelhança do hinduísmo e do budismo, o jainismo partilha da crença no karma,
embora de uma forma diferente. O karma no jainismo não é apenas um processo em
que determinadas ações produzem reações, mas também uma substância física que se
agrega a uma alma. As partículas de karma existem no universo e associam-se a uma
alma devido às acções dessa alma (por exemplo, quando uma alma mente, rouba ou
mata esta provoca a o agregação de karma na sua alma). A quantidade e qualidade
destas partículas determinam a existência que a alma terá, a sua felicidade ou
infelicidade. Só é possível a uma alma alcançar a libertação quando desta se retirarem
todas as partículas de karma.
O processo que permite a libertação das partículas de karma de uma alma denomina-
se nirjara e inclui práticas como o jejum, o retiro para locais isolados, a mortificação do
corpo e a meditação.Os seguidores do Jainismo utilizam para isso um ritual mortuário
chamado Sallekhana (também conhecido como Santhara, Samadhi-Marana, Samnyasa-
Marana),que consiste em praticar a eutenásia através do jejum. Devido à natureza
prolongada da sallekhana, é dado tempo ao indivíduo suficiente para refletir sobre sua
vida e pedir perdão dos seus pecados aos deuses. O voto de sallekhana é tomado
quando se sente que a vida tem servido o seu propósito. O objetivo é limpar karmas
antigos e impedir a criação de novos. Existe uma prática hindu similar conhecido
como Prayopavesa. De acordo com a revista Press Trust of India, em média, 240
jainistas prática sallekhana até a morte a cada ano na Índia.
O jainismo considera a vida monástica como o ideal de vida dos seres humanos. Entre
os Svemtambara a entrada na vida monástica é autorizada aos dois sexos a partir dos
sete anos, mas realiza-se em geral numa idade mais avançada. O noviço deve
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abandonar todos os seus bens; por altura da sua ordenação (diksa) a sua cabeça é
rapada e ele toma os cinco votos, que segue numa versão mais rigorosa do que a dos
leigos (mahavrata).
Os monges jainas levam uma vida itinerante, com excepção da época das monções,
altura em que se recolhem numa determinada localidade. Dependem para a sua
alimentação da caridade fornecida pelos leigos jainas, a quem oferecem em troca
assistência espiritual.
Os monges do ramo Svetambara podem ser donos de pequenas coisas, como uma fina
veste branca, uma tigela onde recebem os alimentos dos leigos e uma máscara de
tecido usada sobre a boca (mukhavastrika), cujo objectivo é evitar a ingestão
involuntária de pequenos insectos. Os monges Digambara interpretam o preceito do
desapego de uma forma bastante rigorosa e por esta razão não usam roupas; as monjas
deste ramo usam uma veste branca. Os monges Digambara não possuem uma tigela e
usam a mãos como recipiente dos alimentos. Os monges "Svetambara" costumam se
deslocar em pequenos grupos de cinco ou seis monges, enquanto que os Digambara
geralmente viajam sozinhos.
Todos os monges devem seguir as três regras que evitam a conduta incorrecta (guptis:
ter cuidado com os pensamentos, as palavras e as acções).
Entre os Svetambara o número de monjas ultrapassa o de monges. As
monjas Digambara aceitam a doutrina que afirma que para se avançar no caminho
espiritual é necessário nascer com um corpo masculino.
Os jainas que não são monges devem observar oito regras de comportamento e devem
tomar doze votos. As oito regras de comportamento variam, mas em geral incluem a
prática absoluta e irrestrita de Ahimsa (não-violência) que tem seu ponto forte na
alimentação: não comer carne de nenhum tipo, não comer certos vegetais (cebola e
alho) os quais se acredita serem de origem inferior e não usar nenhum produto de
origem animal. Outras regras incluem não se alimentar à noite, não ingerir bebidas
alcoólicas nem substâncias consideradas alteradoras da consciência (cafeína,
teobromina) e praticar a caridade a todos os seres vivos. Ler sobre as qualidades
transcendentais dos Tirthankaras e recitar o Navkar Mantra também fazem parte das
principais práticas diárias.
Quanto aos doze votos, eles podem ser divididos em três classes:
Anuvratas - são os cinco votos principais: abster-se de atos violentos, não mentir,
não roubar, não cobiçar o parceiro de outra pessoa e limitar as possessões pessoais;
Gunavratas - são três votos que reforçam os cinco votos principais: restringir as
atividades pessoais a uma área concreta (digvrata), restringir práticas que
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proporcionam prazer (bhogopabhogavrata), evitar atos que causam sofrimento
(anarthadandavrata);
Siksavratas - são quatro votos de disciplina espiritual: meditar, limitar determinadas
atividades a certos momentos, adotar a vida de um monge por um dia, fazer
donativos aos monges ou aos pobres.
Uma das principais formas de culto dos jainas leigos é prestar homenagem às estátuas
dos Tirthankaras. Os jainas lavam as estátuas e dedicam-lhes oferendas,
como mel, flores, arroz, etc. Alguns grupos jainas, como os Sthanakavasis e
os Terapanthis, são contra o culto de imagens.
O crente não adora a estátua em si, mas antes as qualidades associadas a ela, de modo
a receber inspiração para seguir o mesmo caminho. As estátuas podem ser adoradas
nos templos ou então em pequenos santuários existentes nas casas. São representadas
em posição de meditação, sentadas ou em pé.
Não é possível estabelecer qualquer forma de contacto com os Tirthankaras através
desta forma de culto, uma vez que estes, tendo alcançado a libertação, ficam fora do
contacto humano. Contudo, durante a Idade Média cada Tirthankara foi associado a
uma deusa protectora, em relação às quais se desenvolveram formas particulares de
devoção. As deusas mais importantes são Ambika (associada ao 22º Tirthankara,
Arishtanemi), Padmavati (associada a Parshva), Lakshmi e Sarasvati.
As orações jainas fazem referência aos grandes actos dos Tirthankaras e aos
ensinamentos do Mahavira, sendo ditas num antigo dialecto do Bihar, o Ardha
Magadhi. A principal oração é o Namaskara Sutra, através do qual o jaina presta
homenagem às qualidades dos cinco grandes seres do jainismo.
O ato de fazer doações para a construção de templos é também considerado uma
forma de culto, assim como a prática de peregrinações.
Os principais festivais do jainismo são:
Mahavira Jayanti - decorre em março ou abril e celebra a data do nascimento
do Mahavira. Neste dia estátuas do Mahavira são levadas em procissões pelas ruas e
os jainas reúnem-se nos templos para ouvir a leitura dos seus ensinamentos.
Paryushana: durante o mês de Bhadrapada (agosto-setembro) os membros do ramo
Svetambara do jainismo celebram um dos seus festivais mais importantes,
Paryushana. Este festival está dedicado ao perdão e consiste na prática do jejum
durante oito dias. No último dia do festival (Samvatsari) os jainas pedem perdão
uns aos outros por ofensas que possam ter causado; aqueles que conseguiram jejuar
durante os oito dias seguidos são levados para os templos em procissão. O festival
equivalente na tradição Digambara denomina-se Dashalakshanaparvan, e para além
da prática do jejum, é lido nos templos um importante texto, o Tattvartha-sutra.
75
Divali (festa da luzes) - celebração comum a toda a Índia, é para os jainas a
comemoração da altura em que o Mahavira deu os seus últimos ensinamentos e
alcançou a libertação. Ocorre no mês de Kaartika, que corresponde no calendário
gregoriano a outubro-novembro.
Kartik Purnima - ocorre no dia de lua cheia do mês de Kaartika. Após terem
permanecido numa determinada localidade durante os meses da monção, os
monges e monjas jainas regressam à vida errante, sendo por vezes acompanhados
por leigos no percurso que fazem para outro local. Neste dia muitos jainas realizam
a peregrinação aos templos de Palitana, no estado indiano do Gujarate.
Mastakabhisheka - Cada doze anos os jainas (principalmente os do ramo
Digambara) reúnem-se no santuário de Shravana Belgola no estado de Karnataka,
onde se encontra uma estátua de dezessete metros de Bahubali, que é alvo de
libações com água, mel, leite, flores, preparados de ervas e especiarias.
O Jainismo dá mais ênfase à suástica que o Hinduísmo. Representa o
sétimo jina (santo), o Tirthankara Suparsva. É considerada uma das 24 marcas
auspiciosas, emblema do sétimo arhat dos tempos atuais. Todos os templos jainistas,
assim como os livros santos jainistas, contêm a suástica. As cerimônias jainistas
começam e terminam com o desenho da suástica feito várias vezes em volta do altar.
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4.Taoismo
Tradição filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em harmonia com
o Tao (romanizado atualmente como "Dao"). O termo chinês tao significa "caminho",
"via" ou "princípio", e também pode ser encontrado em outras filosofias e religiões
chinesas. No taoismo, especificamente, o termo designa a fonte, a dinâmica e a força
motriz por trás de tudo que existe.
É, basicamente, indefinível: "O Tao do qual se pode discorrer não é o eterno Tao. A
principal obra do taoismo é o Tao Te Ching, um livro conciso e ambíguo que contém
os ensinamentos atribuídos a Lao Zi.
Juntamente com os escritos de Zhuangzi, estes textos formam os alicerces filosóficos
do taoismo. Este taoismo filosófico, individualista por natureza, não foi
institucionalizado.
Ao longo do tempo, no entanto, foram sendo criadas formas institucionalizadas do
taoismo na forma de diferentes escolas que, frequentemente, misturaram crenças e
práticas que antecediam até mesmo os textos-chave do taoismo - como, por exemplo,
as teorias da Escola dos Naturalistas, que sintetizaram conceitos como o do yin-yang e
o dos cinco elementos. As escolas taoistas tradicionalmente reverenciam Lao Zi e os
"imortais" ou "ancestrais" e possuem diversos rituais de adivinhação e exorcismo, além
de práticas que visam a atingir o êxtase e obter maior longevidade ou mesmo
a imortalidade.
As tradições e éticas taoistas variam de acordo com a escola, porém, no geral,
enfatizam a serenidade , a não ação (wu-wei), o vazio, a moderação dos desejos , a
simplicidade , a espontaneidade, a contemplação da natureza e os Três Tesouros:
compaixão, moderação e humildade.
O taoismo teve uma influência profunda na cultura chinesa no decorrer dos séculos.
Os clérigos do taoismo institucionalizado, geralmente, tomam cuidado para deixar
clara a distinção entre suas tradições rituais e os costumes e práticas encontrados
na religião popular chinesa, uma vez que estas distinções podem ser facilmente pouco
perceptíveis.
A alquimia chinesa (especialmente neidan), a astrologia chinesa, o zen-budismo,
diversas artes marciais, a medicina tradicional chinesa, o feng shui e diversos estilos
de qiqong têm suas histórias entrelaçadas com a do taoismo. Além da China em si, o
taoismo teve grande influência nas sociedades do leste da Ásia.
Após Lao Zi e Zhuangzi, a literatura do taoismo cresceu com regularidade e passou a
ser compilada na forma de um cânone, o Daozang, que, por vezes, era publicado a
mando do Imperador da China.
Ao longo da história chinesa, o taoismo foi, por diversas vezes, decretado a religião do
Estado. Após o século XVII, no entanto, ele perdeu muito de sua popularidade. Tal
como todas as outras atividades religiosas, o taoismo foi reprimido nas primeiras
décadas da República Popular da China e até mesmo perseguido durante a Revolução
Cultural de Mao Tsé-Tung; continuou, no entanto, a ser praticado livremente
em Taiwan.
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Hoje em dia, é uma das cinco religiões reconhecidas pela República Popular da
China e, embora não costume ser compreendida com facilidade longe de suas raízes
asiáticas, tem seguidores em diversas sociedades ao redor do mundo. Há um debate
sobre como, e se, o taoismo deve ser classificado. Lívia Kohn dividiu-o em três
categorias:
Taoismo filosófico,Taoismo religioso e Taoismo tradicional - A religião tradicional
chinesa. Manifestações da tradição religiosa chinesa, de caráter popular, integram
elementos do taoismo religioso, do confucionismo e do budismo.
Esta distinção é complicada pelas dificuldades hermenêuticas (interpretações) na
categorização das escolas taoistas, seitas e movimentos. Alguns estudiosos acreditam
que não há distinção entre daojia e daojiao. De acordo com Kirkland, "a maioria dos
estudiosos que tem estudado o taoismo a sério, tanto na Ásia quanto no Ocidente,
finalmente abandonou a dicotomia simplista de tao-chia (taoismo filosófico) e tao-chiao
(taoismo religioso)".Hansen afirma que a identificação de "taoismo", como tal, ocorreu
pela primeira vez no início da Dinastia Han, quando dao-jia foi identificado como uma
única escola. Os escritos de Laozi e Zhuangzi foram unidos sob esta tradição única
durante a Dinastia Han, mas, notavelmente, não antes desta. É improvável que
Zhuangzi fosse familiarizado com o texto Daodejing (Tao-te-ching). Além disso,
Graham afirma que Zhuangzi não teria se identificado como um taoista, uma
classificação que não surgiu até bem depois de sua morte.
O taoismo não cai estritamente sob uma definição de uma religião organizada, como
as tradições abraâmicas, nem pode puramente ser estudado como o autor ou uma
variante da religião tradicional chinesa, tanto que a religião tradicional está fora dos
princípios e ensinamentos nucleares do taoismo. Robinet afirma que o taoismo pode
ser melhor entendido como um modo de vida do que como uma religião, e que seus
adeptos não se aproximam ou veem o taoismo da mesma maneira não taoista com que
os historiadores o têm feito.18Henri Maspero observou que muitos trabalhos
acadêmicos enquadram o taoismo como uma escola de pensamento focado na busca
pela imortalidade. Tradicionalmente, o taoismo é atribuído a três fontes principais:
A mais antiga, o mítico "Imperador Amarelo", que teria vivido entre 2697 a.C. e
2597 a.C. ;
A mais famosa, o livro de aforismos místicos Tao Te Ching (Dao De Jing),
supostamente escrito por Laozi (Lao Tse), que, segundo a tradição, foi um
contemporâneo mais velho de Confúcio (551 a.C.-479 a.C.);
Os trabalhos do filósofo Zhuangzi (Chuang-Tsé) (369 a.C.-286 a.C.)
Outros livros ampliaram o taoismo, como o Tratado do Vazio Perfeito, de Liezi; e a
compilação Huainanzi. Além destes, o antigo I Ching, "O Livro Das Mutações", é tido
como uma fonte extra do taoismo, assim como práticas de adivinhação da China
antiga.
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Algumas formas de taoismo podem ser rastreadas até as religiões tradicionais na China
pré-histórica, que, mais tarde, se uniram em uma tradição taoista. Laozi é
tradicionalmente considerado como o fundador do taoismo e está intimamente
associado, nesse contexto, com o taoismo "original" ou "primordial". Laozi recebeu o
reconhecimento imperial como uma divindade, em meados da século II a.C. O
taoismo ganhou status oficial na China durante a Dinastia Tang, cujos imperadores
alegaram que Laozi era seu parente. Vários imperadores Song, mais
notavelmente Huizong, estavam ativos na promoção do taoismo, coletando textos
taoistas e edições publicadas doDaozang. Aspectos do confucionismo, taoismo e do
budismo foram sintetizados conscientemente na escola neoconfucionista, que,
eventualmente, se tornou a ortodoxiaimperial para os fins burocráticos do Estado.
A Dinastia Qing, no entanto, muito favoreceu clássicos confucionistas e rejeitou os
trabalhos taoistas. Durante o século XVIII, a biblioteca imperial foi construída, mas
excluiu praticamente todos os livros taoistas. No início do século XX, o taoismo tinha
caído tanto, que apenas uma cópia completa do Daozang ainda permanecia, no
Mosteiro Nuvem Branca, em Pequim. Atualmente, o taoismo é uma das cinco
religiões reconhecidas pela República Popular da China, que regula suas atividades
através de uma estatal burocrática (a Associação Taoista da China).
Um tema no pensamento chinês primitivo é tian-dao ou "caminho da natureza" (tian,
também traduzido como "céu" e, às vezes, "Deus"). Corresponde aproximadamente à
ordem das coisas de acordo com a lei natural. Tanto o "caminho da natureza" quanto o
"grande caminho" inspiram o afastamento estereotípico taoista das doutrinas morais e
normativas. Assim, pensado como o processo pelo qual cada coisa se torna o que ela é
(a "mãe de todas as coisas"), parece difícil imaginar que temos que escolher entre
quaisquer valores de seu conteúdo normativo - portanto pode ser visto como um
príncípio eficiente de "vazio" que sustenta confiavelmente o funcionamento
do universo.
Do "caminho", surge "um" (aquele que está consciente), de cuja consciência, por sua
vez, surge o conceito de "dois" (yin e yang), dos quais o número "três" está implícito
(céu, terra e humanidade); produzindo, finalmente, por extensão, a totalidade do
mundo como o conhecemos, "as 10 000 coisas", através da harmonia do wu xíng. O
caminho, enquanto passa pelos cinco elementos do wu xíng, é também visto como
circular, agindo sobre si mesmo através da mudança para simular um ciclo de vida
e morte nas 10 000 coisas do universo fenomênico.
Aja de acordo com a natureza e com sutileza, em lugar de força.
A perspectiva correta será encontrada pela atividade mental da pessoa, até chegar a
uma fonte mais profunda que guie sua interação pessoal com o universo . O desejo
79
obstrui a habilidade pessoal de entender o caminho , moderar o desejo gera
contentamento. Os taoistas acreditam que, quando um desejo é satisfeito, outro,
mais ambicioso, brota para substituí-lo. Em essência, a maioria dos taoistas sente
que a vida deve ser apreciada como ela é, em lugar de forçá-la a ser o que não é.
Idealmente, não se deve desejar nada, "nem mesmo não desejar".
Unidade: ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são
interdependentes e constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias,
passamos a ver todas as coisas como elas são e a nós mesmos como apenas uma
parte do momento presente. Essa compreensão da unidade nos leva a uma
apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles como simples momentos
miraculosos que "apenas são".
Dualismo: a oposição e combinação dos dois princípios básicos - yin e yang - do
universo é uma grande parte da filosofia básica. Algumas das associações comuns
com yange yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e
passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais
importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro,
porque eles são aspectos equiparados do todo. São, em última análise, uma
distinção artificial baseada em nossa percepção das 10 000 coisas, portanto é só
nossa percepção delas que realmente muda.
Wu wei
Muito da essência do tao está na arte do wu wei ("agir pelo não agir"). No entanto, isso
não significa "espere sentado que o mundo caia no seu colo". Essa filosofia descreve
uma prática de se realizarem coisas através da ação mínima. Pelo estudo da natureza
da vida, você pode influenciar o mundo do modo mais fácil e menos disruptivo
(usando a sutileza em vez da força). A prática de seguir a corrente em vez de ir contra
ela é uma ilustração: uma pessoa progride muito mais não por lutar e se debater contra
a água, mas permanecendo quieta e deixando o trabalho nas mãos da correnteza.
O wu wei funciona a partir do momento em que confiamos no nosso design humano,
que é perfeitamente ajustado para nosso lugar na natureza. Em outras palavras,
confiando na nossa natureza em vez de na nossa racionalidade, nós podemos
encontrar contentamento sem uma vida de luta constante contra forças reais e
imaginárias.
Tao Te Ching
É amplamente considerado como o mais influente texto taoista. É uma escritura de
fundação de importância central no taoismo, supostamente escrita por Laozi entre 350
e 250 a.C. No entanto, a data exata em que foi escrito é ainda objecto de debate: há
80
aqueles que a colocam em qualquer lugar entre os séculos VI a.C. e III d.C. Ele tem
sido usado como um texto ritual ao longo da história do taoismo religioso.
Os comentadores taoistas ponderaram profundamente nos primeiros versos do Tao
Te Ching. Eles são amplamente discutidos, tanto na literatura acadêmica quanto na
mais popular. Uma interpretação comum é semelhante à observação de Korzybski de
que "o mapa não é o território".
As linhas de abertura, com a tradução literal e a comum, são:
"O caminho que pode ser descrito não é o verdadeiro caminho."
"O nome que pode ser nomeado não é o nome constante."
Tao, literalmente, significa "caminho" ou "o caminho" e pode significar figuradamente
"natureza essencial", "destino", "princípio", ou "caminho verdadeiro". O filosófico e
religioso tao é infinito, sem qualquer limitação. Um ponto de vista afirma que a
abertura paradoxal destina-se a preparar o leitor para os ensinamentos sobre o tao não
ensinável.36Acredita-se que o tao é transcendente, indistinto e sem forma. Por isso, não
pode ser nomeado ou categorizado. Mesmo a palavra "tao" pode ser considerada uma
perigosa tentação de fazer do tao um nome limitador.37
O Tao Te Ching não é tematicamente ordenado. No entanto, os principais temas do
texto são repetidamente expressos em formulações variantes, muitas vezes com apenas
uma pequena diferença entre elas. Os temas principais giram em torno da natureza do
tao e como alcançá-lo. O tao é dito ser inominável e capaz de realizar grandes coisas
através de meios pequenos. Há um debate importante sobre qual tradução do Tao Te
Ching é a melhor. Discussões e disputas sobre várias traduções do Tao Te Ching
podem tornar-se amargas, envolvendo visões profundamente arraigadas.
Os comentários antigos sobre o Tao Te Ching são textos importantes por direito
próprio. O comentário Heshang Gong foi, provavelmente, escrito no século II d.C. e
é, talvez, o mais antigo comentário. Ele contém a edição do Tao Te Ching que foi
transmitida até os dias atuais. Outros comentários importantes incluem o Xiang'er, um
dos textos mais importantes do Caminho do Mestre Celestial e o Wang Bi.
Zhuangzi
O Zhuangzi é, tradicionalmente, atribuído a um sábio taoista de mesmo nome, mas
isso foi recentemente contestado no meio acadêmico ocidental. Zhuangzi também
aparece como um personagem na narrativa do livro. O Zhuangzi contém prosa, poesia,
humor e disputa. O livro é, frequentemente, visto como complexo e paradoxal quanto
aos argumentos e temas de discussão, que não são aqueles comuns à filosofia clássica
ocidental, como a doutrina do nome de retificação (zhengming) e fazer distinções
"isso/não presente" (shi/fei ). Entre o elenco de personagens das histórias do Zhuangzi,
está Laozi, o autor do Tao Te Ching, bem como Confúcio.
Daozang
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É, por vezes, referido como o cânon taoista. Foi, originalmente, compilado durante as
dinastias Jin, Tang e Song. A versão publicada sobreviveu durante a dinastia
Ming. O Ming Daozang inclui quase 1 500 textos. Seguindo o exemplo do
budista Tripitaka, é dividido em três dong.
Eles estão organizados do mais alto para o mais baixo:
1. O Zhen ("real" ou "verdade") : Inclui o Shangqing.
2. A Xuan ("mistério"): Inclui o Lingbao.
3. O Shen ("divino" ): Inclui textos anteriores a Maoshan.
Daoshi geralmente não consultam versões publicadas do Daozang, mas escolhem
individualmente, ou herdam, os textos incluídos no Daozang. Estes textos foram
passados por gerações de professor para aluno.
A escola Shangqing tem uma tradição de se aproximar do taoismo através do estudo
das escrituras. Acredita-se que, recitando alguns textos muitas vezes, se será
recompensado com a imortalidade.
Enquanto o Tao Te Ching é o mais conhecido, há muitos outros textos importantes no
taoismo tradicional. Taishang Ganying Pian ("Tratado do Abençoado na Resposta e
Retribuição") discute pecado e ética e tornou-se uma referência de moralidade popular
nos últimos séculos. Afirma que aqueles em harmonia com o tao vão viver longas e
frutíferas vidas. Que os ímpios e seus descendentes vão sofrer e ter encurtadas vidas.
Tanto a Taiping Jing ("Escritura de Grande Paz") e o Baopuzi ("Livro do Mestre que
Conserva a Simplicidade") contêm fórmulas alquímicas taoistas que se acreditavam
poder conduzir à imortalidade.
Além disso, o Huainanzi é uma compilação da escrita de oito acadêmicos da dinastia
Han que combina taoismo, confucionismo e os conceitos legalistas, incluindo as
teorias, tais como yin-yang e cinco fases. O patrono Liu An (c. 180-122 a.C.) foi
governador do estado de Huainan e neto do fundador da dinastia Han. O discurso em
sua corte, favoreceu o pensamento taoista e trouxe filósofos, poetas e mestres de
práticas esotéricas para a sua corte. Isso resultou no Huainanzi.
Taoismo e confucionismo
O taoismo é uma tradição que, dialogando com seu tradicional contraste,
o confucionismo, modelou a vida chinesa por mais de 2 000 anos. O taoismo enfatiza
a espontaneidade ou liberdade da manipulação sociocultural pelas instituições,
linguagem e práticas culturais. Manifesta o anarquismo - defendendo essencialmente a
ideia de que não precisamos de nenhuma orientação centralizada. Espécies naturais
seguem caminhos apropriados a elas e os seres humanos são uma espécie natural.
Seguimos todos por processos de aquisição de diferentes normas e orientações da
sociedade, mas poderíamos viver em paz mesmo se não procurássemos unificar todas
estas formas naturais de ser.
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Como o conceito confucionista de governo consiste em fazer todos seguirem a mesmo
moral, o taoismo representa, de certa forma, a antítese do conceito confucionista
referente a deveres morais, coesão social e responsabilidades governamentais (embora
o pensamento de Confúcio inclua valores taoistas e o inverso também ocorra, como se
pode observar lendo os Analectos de Confúcio.
Embora Laozi nunca tenha pregado nenhuma religião no Tao Te Ching e tenha
sempre se mantido no terreno filosófico e moral, cerca de mil anos depois da sua
morte, formou-se um corpo de doutrinas e de práticas religiosas e culturais que
constituíram a religião taoista. A religião taoista conserva apenas uns traços da filosofia
de Laozi, com empréstimos de ideias e práticas culturais do budismo, com a
introdução de vários deuses, deusas e génios, e uma mistura com algumas crenças
preexistentes, como a teoria dos cinco elementos, a alquimia e o culto aos ancestrais.
Tentativas de alcançar maior longevidade eram um tema frequente na magia
e alquimia taoistas, com vários feitiços e poções, ainda existentes, com esse propósito.
Muitas versões antigas da medicina tradicional chinesa foram enraizadas no
pensamento taoista e a medicina chinesa moderna, bem como as artes marciais
chinesas, são ainda de várias formas baseadas em conceitos taoistas, como o tao, o qi e
o balanço entre o yin e o yang.
Com o tempo, a absoluta liberdade dos seguidores do taoismo pareceu ameaçadora à
autoridade de alguns governantes, que incentivaram o crescimento de seitas mais
comprometidas com as tradições confucionistas. Uma escola taoista foi formada ao fim
da dinastia Han, por Zhang Daoling. Muitas seitas evoluíram através dos anos, mas a
maioria traça suas origens a Zhan Daoling, e grande parte dos templos taoistas
modernos pertence a uma ou outra dessas seitas. As escolas taoistas incorporam
panteões inteiros de divindades, incluindo Laozi, Zhang Daoling, O Imperador
Amarelo, O Imperador de Jade, Lei Gong (O Deus do Trovão), entre outros.
As duas maiores escolas taoistas da atualidade são a Seita Zhengyi (evoluída de uma
seita fundada por Zhang Daoling) e o Taoismo Quanzhen (fundado por Wang
Chongyang).
Como há algumas afinidades entre a visão taoista e a visão budista do mundo, quando,
no século I, foi introduzido na China, o budismo indiano foi, em grande parte,
interpretado usando-se conceitos taoistas. O budismo chan, que se desenvolveu como
uma escola distinta na China medieval, refletiu estas fortes influências da filosofia
chinesa e, em particular, do taoismo. Com o tempo, o chan acabou se estabelecendo
na Coreia, onde recebeu o nome seon. Havia monges que chegavam de outros países
daÁsia para estudar o chan e a escola foi se espalhando pelos países vizinhos.
No Vietname, recebeu o nome thien e, no Japão, ficou conhecida como zen. Através
83
da história, essas escolas cresceram de maneira independente, tendo desenvolvido
identidades próprias e características bastante diferentes umas das outras.
Na China, elementos do taoismo se combinaram com elementos do budismo e
do confucionismo na forma do neoconfucionismo. A adopção por parte dos
confucionistas de vários conceitos taoistas deu origem, durante a dinastia Song (960–
1279 d.C.), à chamada "Escola Neoconfucionista" ou "Escola da Razão".
A filosofia taoista é praticada em várias formas, em outros países além da China. Kouk
Sun Do, na Coreia, é uma dessas variações. A filosofia taoista encontrou muitos
seguidores ao redor do mundo. Genghis Khan era simpático à filosofia taoista e,
durante as primeiras décadas de dominação mongol, o taoismo viu um período de
expansão, entre os séculos XIII e XIV. Devido a isso, muitas escolas taoistas
tradicionais mantêm centros de ensino em vários países ao redor do mundo.
Taoismo no Brasil
No Brasil, existem vários ramos ligados ao taoismo, tanto o religioso (taochiao) quanto
o filosófico (taochia). Uma das vertentes religiosas mais importantes é representada
pelaSociedade Taoista do Brasil. A Sociedade Taoista do Brasil foi instituída no Rio
de Janeiro, em 15 de janeiro de 1991, com o objetivo de difundir o ensinamento do
taoismo em todas as suas formas de expressão - religiosa, filosófica, científica e cultural
- e contribuir para o aperfeiçoamento espiritual dos frequentadores.
O caminho taoista propõe a restauração do estado pleno de vida e consciência,
chamado tao. Para isso, utilizam-se vários meios, como as práticas que promovem a
boa saúde física e mental, o estudo de clássicos escritos pelos grandes mestres do
passado, os métodos místicos para a restauração da ordem interna e
fundamentalmente a meditação, como caminho de autotransformação e elevação
espiritual.
A Sociedade Taoista do Brasil foi fundada por Wu Jyh Cherng (1958-2004), sacerdote
taoista Kao Kon Fa Shi (Alto Ofício, Mestre da Lei). Mestre Cherng escreveu diversos
livros sobre artes taoistas e traduziu o Tao Te Ching (O Livro do Caminho e da
Virtude) e o Yi Jing (I-Ching, O Livro das Mutações), entre outros clássicos do
taoismo.
Em março de 2002, foi inaugurada a sede de São Paulo, um espaço adequado para a
prática e estudo do taoismo, suas artes e sabedoria, onde se têm palestras abertas ao
público, rituais, meditação e diversos cursos. Entre as atividades de São Paulo,
enfatizam-se as práticas de meditação (tao yin), I Ching (ou Yi Jing), feng
shui, astrologia chinesa(zi wei dou shu), tai chi chuan (ou tai ji quan), chi kung (ou qi
gong) e o atendimento de acupuntura e massagem (tui na).
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Além dos grupos formalmente ligados ao taoismo, também podem ser encontrados
muitos ensinamentos taoistas em várias escolas do budismo maaiana chinês e também
em religiões sincréticas como o cao dai, entre outras.
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5.Xintoísmo
Xintoísmo é o nome dado à espiritualidade tradicional do Japão e dos japoneses,
considerado também uma religião pelos estudiosos ocidentais.
A palavra Shinto ("Caminho dos Deuses") foi adotada do chinês escrito através da
combinação de dois kanjis: "shin" , que significa "deuses" ou "espíritos" (originalmente
da palavra chinesa shen); e "tō" ou "do", que significa "estudo" ou "caminho filosófico"
(originalmente da palavra chinesa tao).
O xintoísmo incorpora práticas espirituais derivadas de diversas tradições pré-históricas
japonesas, locais e regionais, porém não surgiu como instituição religiosa formalmente
centralizada até a chegada do budismo, confucionismo e daoísmo no país, a partir
do século VI. O budismo gradualmente se adaptou, no Japão, à espiritualidade nativa,
como por exemplo na inclusão do kami, componente da crença xintoísta, entre
os bodisatvas (bosatsu).
As práticas xintoístas foram registradas e codificadas pela primeira vez nos registros
escritos históricos do Kojiki e Nihon Shoki, nos séculos VII e VIII. Ainda assim, estes
primeiros escritos japoneses não se referem a uma "religião xintoísta" unificada, mas a
práticas associadas com as colheitas e outros eventos dos clãs relacionados às estações
do ano, aliadas a uma cosmogonia e mitologia unicamente japonesas, que combina
tradições espirituais dos clãs ascendentes do Japão arcaico, principalmente das
culturas Yamato e Izumo.
O xintoísmo caracteriza-se pelo culto à natureza, aos ancestrais,e pelo seu politeísmo ,
com uma forte ênfase na pureza espiritual, e que tem como uma de suas práticas
honrar e celebrar a existência de Kami, que pode ser definido como "espírito",
"essência" ou "divindades", e é associado com múltiplos formatos compreendidos pelos
fieis; em alguns casos apresentam uma forma humana, em outros animística, e em
outros é associado com forças mais abstratas, "naturais", do mundo
(montanhas, rios, relâmpago, vento, ondas, árvores, rochas).
Considerado como consistindo de energias e elementos "sagrados", o Kami e as
pessoas não são separados, mas existem num mesmo mundo e partilham de sua
complexidade interrelacionada. O xintoísmo moderno apresenta uma
autoridade teológica central, porém não tem uma teocracia única.
Consiste, atualmente, de uma associação inclusiva de santuários locais, regionais e
nacionais de variada significância, em importância e história, que exprimem suas
diversas crenças através de práticas e idiomas semelhantes, adotando um estilo
semelhante no vestuário, arquitetura e ritual, que data dos períodos Nara e Heian.
O xintoísmo tem atualmente cerca de 119 milhões de seguidores no Japão, embora
qualquer pessoa que pratique algum tipo de ritual xintoísta seja contado como tal.
Geralmente aceita-se que a ampla maioria do povo japonês participe de algum tipo de
ritual xintoísta, ao mesmo tempo em que a maior parte também pratica o culto budista
aos ancestrais.
No entanto, ao contrário de muitas das práticas religiosas monoteístas, o xintoísmo e o
budismo tipicamente não exigem daqueles que os professam que sejam crentes ou
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praticantes, o que torna difícil contabilizar cifras exatas com base na auto-identificação
com alguma crença, entre os habitantes do país.
Devido à natureza sincrética das duas religiões, a maior parte dos eventos relacionadas
à "vida" ficam a cargo dos rituais xintoístas, enquanto os eventos relacionados à "morte"
ou à "vida após a morte" ficam a cargo dos rituais budistas (embora isto não seja uma
regra); assim, é costumeiro, por exemplo, no Japão, registrar uma criança ou celebrar
seu nascimento num santuário xintoísta, enquanto os preparativos para um funeral
costumam ser ditados pela tradição budista.
Existem santuários xintoístas em diversos outros países, incluindo os Estados
Unidos, Brasil, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Países Baixos, entre outros, e está
em vias de expansão para se tornar uma religião global, especialmente com o
surgimento de ramos internacionais dos santuários shinto.
O xintoísmo tem raízes muito antigas nas ilhas japonesas. Sua história registrada
remonta ao Kojiki (712) e ao Nihon Shoki (720), porém os
registros arqueológicos datam de um período significativamente mais antigo.
Ambas as obras são compilações de tradições mitológicas orais já existentes.
O Kojiki estabelece a família imperial como o alicerce da cultura japonesa, na
condição de descendentes de Amaterasu Omikami.
Existe também uma genealogia de criação e aparição dos deuses, de acordo com
um mito de criação. ONihonshoki estava mais interessado em criar um sistema
estrutural de governo, política externa, hierarquia religiosa e ordem social interna.
Existe um sistema interno de desenvolvimento xintoísta que configura as relações entre
o xintoísmo e outras práticas religiosas ao longo de sua história; os Kami ("espíritos")
internos e externos.
O Kami interno ou ujigami (uji significa "clã") favorece a coesão e a continuação dos
papeis e padrões estabelecidos; e o hitogami, ou Kami externo, traz inovação, novas
crenças, novas mensagens e alguma instabilidade.
Os povos joomon do Japão utilizavam-se de habitações naturais, ainda não conheciam
o cultivo de arroz, e frequentemente eram coletores-caçadores; a evidência física de
suas práticas rituais é de difícil documentação.
Existem muitos locais que contêm estruturas rituais de pedra, e conhecem-se práticas
funerárias refinadas, além dos antigos Torii, que indicam a continuidade do xintoísmo
arcaico.
Os joomon tinham um sistema tribal baseado em clãs, similar a muitos dos povos
indígenas do mundo. No contexto deste sistema, as crenças locais desenvolveram-se
naturalmente, e quando a assimilação entre os clãs ocorreu, as crenças de tribos
vizinhas acabaram por influenciar as outras.
A um certo ponto passou a existir um reconhecimento de que os ancestrais criaram as
gerações presentes, e a reverência aos ancestrais (tama) tomou forma. Havia
algum comércio entre os povos indígenas das ilhas japonesas e o continente, bem
como diversas migrações, o que aumentou o crescimento e a complexidade da
espiritualidade dos povos locais, através de sua exposição a novas crenças.
87
Esta espiritualidade, no entanto, ainda era centrada no culto às forças naturais,
ou mono, e aos elementos naturais dos quais todos dependiam.
A introdução gradual de organizações religiosas e governamentais metódicas a partir
da Ásia continental, começada por volta de 300 a.C., plantou as sementes das
mudanças reativas que ocorreriam no xintoísmo arcaico, ao longo dos 700 anos
seguintes, em direção a um sistema mais formalizado.
Estas mudanças foram dirigidas internamente, pelos diversos clãs, frequentemente
como forma de um evento cultural sincrético direcionado às influências externas.
Eventualmente, à medida que os yamato conquistaram o poder, um processo de
formalização se iniciou.
A gênese da casa imperial japonesa, e a criação subsequente do Kojiki, ajudou a
facilitar a continuidade necessária para este desenvolvimento a longo prazo. O
xintoísmo apresenta hoje em dia um equilíbio entre as influências externas
do budismo, do confucionismo, do taoísmo, das religiões abraâmicas, do hinduísmo e
de crenças seculares que, embora tenha tido conflitos em seu desenvolvimento,
aparenta atualmente ser natural e não-exclusivo. Em períodos mais modernos o
xintoísmo desenvolveu também novas formas e suas próprias subdivisões, e até mesmo
expandiu-se para além das fronteiras do Japão, tornando-se uma religião global.
O budismo foi introduzido no século VI e trouxe graves consequências para o
xintoísmo. Vindo da Coreia, apresentado ao imperador, o budismo, apesar de algumas
resistências iniciais, acabou por triunfar, tendo servido para a consolidação do poder
imperial, com o apoio dos governantes locais.
Apesar disto, a tendência geral, e mais conforme à mentalidade do Oriente, foi a de
fundir as duas religiões, mas sob a égide do budismo.Durante longos séculos, o
budismo impôs a sua influência, sobrepondo-se à religião tradicional, que porém não
desapareceu.
Face ao domínio duma religião estrangeira desde logo vários pensadores e sacerdotes
procuraram manter a dignidade e o papel desempenhado pela religião tradicional. Na
Idade Média, vários destes pensadores fizeram uma união entre os dois tipos de
divindades, mas em sentido contrário ao já referido: os budas eram na
verdade kamiencarnados, que assim deixavam o seu estado original para descerem à
terra.
Nos sécs. XVI-XVII, viveu-se um momento de renascimento da cultura japonesa, com
o consequente afastamento de influências estrangeiras. Apesar de o budismo não
perder substancialmente o seu terreno, ficou agora relegado para segundo plano, a
favor de uma tendência nacionalista que se afirmava, e que atingiria o seu ponto
culminante no período seguinte.
No âmbito da ideologia profundamente nacionalista da era Meiji, a escolha duma
religião oficial recaiu naturalmente sobre o xintoísmo, já antes aclamado como a
religião verdadeiramente original do povo japonês, considerado pelo regime como
superior a todos os outros.Criou-se então o chamado xintoísmo de Estado, uma
espécie de sacralização do Estado, ou melhor, laicização do xintoísmo.
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De fato, o xintoísmo foi despido do seu carácter religioso para se tornar um dever
cívico de reverência ao Estado e ao imperador.O xintoísmo estatal permaneceu em
vigor durante algumas décadas.
Como expressão do nacionalismo japonês, exacerbou-se particularmente por ocasião
da Segunda Guerra Mundial. Com a derrota do Japão, precipitou-se o seu processo de
queda.
Em 1946, foi proclamada a nova Constituição, pela qual o imperador foi destituído de
todas as prerrogativas divinas e de todo o poder político, tornando-se apenas símbolo
da unidade nacional.
No princípio, esta religião étnica não tinha nome, mas quando se introduziu
o budismo no Japão durante o século VI, um dos nomes que este recebeu foi
Butsudo, que significa "o caminho do Buda".
Assim, a fim de diferenciar do budismo, a religião nativa passou a ser chamada "xinto"
(shinto), palavra de origem chinesa.
Assim, xintoísmo significa "o caminho dos deuses". O nome chinês foi escolhido
porque na época apenas o chinês era escrito no Japão, já que não haviam desenvolvido
ainda a escrita japonesa.
Reconhecem-se várias expressões do xintoísmo, que são o resultado da evolução
histórica da religião, lugar da sua manifestação e prática religiosa dos adeptos.
Xintoísmo dos santuários Jinja Shinto: é o conjunto de crenças que se exprimem
através das festas e das venerações nos santuários. Praticamente todos os santuários
pertencem à Associação dos Santuários (Jinja honchó), fundada em Tóquio no ano
de 1946.
Xintoísmo doméstico: exprime-se nos lares japoneses. Nas casas xintoístas existe
em geral um pequeno altar consagrado aos deuses, o kamidana. Em cima deste
altar encontra-se muitas vezes um amuleto oriundo do santuário local, do Grande
Santuário de Ise e em alguns casos. Nestes altares colocam-se oferendas (saquê,
arroz, sal) e recitam-se orações.
Xintoísmo imperial Koushitsu Shinto : é o resultado do desenvolvimento na casa
imperial da prática dos ritos e cerimónias do xintoísmo.
Xintoísmo folclórico Minkan Shinto: caracteriza-se pela ausência de uma
sistematização doutrinária e de uma organização. É o tipo de xintoísmo praticado
essencialmente pelos pequenos vilarejos.
Xintoísmo das seitas Kyoha Shinto : é composto essencialmente pelas treze seitas
reconhecidas pelo Estado dos Meiji entre 1876 e 1908. Estas seitas possuem em
geral um fundador (homem ou mulher).
Até ao fim da Segunda Guerra Mundial, os grupos xintoístas que não pertenciam a
uma das treze seitas não eram reconhecidos pelo Estado, o que gerou a integração de
muitos desses grupos numa das seitas existentes.
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Depois da guerra, e tendo sido declarada a liberdade religiosa, alguns grupos
estabeleceram-se como organizações independentes. O xintoísmo não possui um livro
sagrado, como a Bíblia ou o Alcorão.
Há no entanto um conjunto de textos sobre os ensinamentos da religião que recebem
o nome de Shinten, "escrituras sagradas", mas não são considerados textos revelados
ou de carácter sobrenatural.
Kojiki ("Anais das coisas antigas"): datado de 712, é o texto sagrado mais antigo,
sendo composto por três volumes.
Nihonshoki ("Crônicas do Japão"): foi redigido em 720 em chinês em 30 volumes.
Também conhecido como Nihongi.
Kogo-shui: compilação das tradições do clã dos Imbe, uma família que junto com a
família dos Nakatomi era responsável pelos ritos. A sua redacção foi concluída em
807.
Estes livros apresentam as narrativas míticas da tradição xintoísta. Os mitos descritos
referem-se a um caos primordial em que os elementos se mesclam em massa amorfa e
indistinta, "como num ovo". Os deuses surgiram desse caos.
O xintoísmo baseia-se no culto aos kami . Esta palavra é frequentemente traduzida por
"deus" ou "divindade", o que não traduz completamente o conceito, dado que os kami
pode ser também forças vitais ou espíritos da natureza.
Ao contrário dos deuses das outras religiões, os kami não são onipotentes ou
oniscientes, possuindo poderes limitados. Nem todos kami são bons. Alguns kami são
locais ou conhecidos como espíritos de um local em particular ou a lugares
(montanhas, ervas, árvores, vales, rios, mares, encruzilhadas).
Outros representam elementos ou processos da natureza, como por
exemplo, Amaterasu, a deusa do Sol, Tsukiyomi, deus da lua, Susanoo, deus
dos oceanos e das tempestades.
Existem kami ligados a fenômenos atmosféricos (chuva, vento, trovão), e kamis
associados à vida humana (vestuário, transportes, ofícios, etc.). Incluem-se ainda no
conceito de kami os espíritos de homens notáveis, como de certos guerreiros.
Os espíritos dos antepassados também são considerados deuses tutelares da família ou
do país, motivo pelo qual os ritos fúnebres possuem grande relevo.
Os textos xintoístas referem-se a "oitocentas miríades" de kami, este número não deve
ser interpretado literalmente, pretendendo-se apenas transmitir a noção de que existem
inúmeros kami. Os kami não são perceptíveis pelo ser humano.
90
Podem ser divididos em dois tipos: os que habitam no céu e os que habitam na terra.
Os primeiros trazem à terra influências positivas, enquanto que os segundos mantêm-
na como ela.
O kami mais eminente é a deusa-sol Amaterasu Oo-mikami, antepassada da família
real japonesa. O seu santuário principal é o Grande Santuário de Ise.
Em relação à estrutura do mundo, existem duas concepções diferentes, que se cruzam
e se tomam muitas vezes em paralelo, sem se contradizerem, pois representam duas
perspectivas diferentes e complementares.
A primeira delas é vertical e fala de três mundos distintos: a “Alta Planície Celeste” ,
morada dos kami do céu, de onde eles descem, para dar paz, ordem e felicidade. É
um mundo descrito como reflexo do mundo dos humanos, uma espécie
de Japão plenamente belo e perfeito; segue-se o “País do Meio da Planície dos
Canaviais”, morada dos homens, onde os kami desceram; por último, o chamado
“País de Yomi”, subterrâneo, moradia dos mortos, terra de máculas e de pecados,
onde habitam os espíritos malignos que influenciam o homem para o mal. Esta
tradição é a principal da mitologia xintoísta e reflecte os meios aristocráticos.
A segunda concepção é horizontal, e coloca lado a lado o "País do Meio" e o chamado
"País dos Mortos" que, ao contrário do que o nome indica, é uma terra de delícias,
situada para além dos mares, onde habitam os espíritos purificados dos antepassados,
que visitam este mundo, trazendo felicidade e protecção aos viventes. Esta concepção é
de cariz mais popular. Há que notar, mais uma vez, que o xintoísmo atribui a
importância fundamental a este mundo. De facto, tanto kami como antepassados,
embora habitem noutros planos, conservam estreitas relações com o mundo dos
humanos.
É claro que estas concepções devem ser lidas, não de modo físico, sob o qual se
tornariam ultrapassadas, mas de modo metafísico, como na religião cristã.
Há que reconhecer que o homem vive graças à natureza, a tudo quanto ela lhe
fornece, pelo que a sua atitude deve ser de profunda gratidão e reverência. Mesmo
quando a natureza se desenfreia, o ser humano é forçado a reconhecer que muito
maiores são os benefícios que dela recebe. O homem, apesar de todo o seu
avanço tecnológico, não possui poder pleno, e deve reconhecer a sua humildade, num
espírito de coexistência pacífica.
Há inúmeras divindades ligadas a elementos naturais, o que atesta que tudo é
governado pelos kami. Logo, a natureza reveste um carácter sagrado, regendo-se por
uma vontade e sensibilidade próprias, por uma espiritualidade misteriosa, mais do que
propriamente por leis naturais.
91
Sendo que toda a natureza descende de "kamis" assim como a humanidade, fica claro
que tudo está interligado tendo como origem em comum um ancestral divino. Assim
sendo o ser humano e a natureza, seus elementos, minerais, vegetais e animais, são
parentes.
A vida dessassociada da natureza é incompatível com o Xintô, o ser humano não deve
combatê-la ou transformá-la sem necessidade vital. É comum aos praticantes xintoístas
o retiro para ambientes onde possam promover a integração com a natureza, uma
forma de purificação, elevação espiritual, e oportunidade para reflexão e meditação.
Como já foi dito na introdução, o Xintô e a própria cultura japonesa pregam que
sendo a natureza sagrada, sua destruição é indesejável, e não existe o sentimento de
hostilidade inerente recíproca imperante no ocidente.
Outra prática bastante disseminada é a deificação de determinados elementos naturais
em especial. Como por exemplo a árvore que representa um família ou um rocha que
ocupa lugar de destaque em determinada cidade. Principalmente na antiguidade, era
tradicional em muitas aldeias a veneração de algum "ícone" que representasse bem seu
povoado ou dinastia.
O comportamento xintoísta é tão avesso a interferência no cenário natural, para ele é
sagrado e perfeito, que qualquer atividade que implique em utilização ostensiva dos
recursos naturais deve ser recompensada no mínimo com a construção de um templo
dedicado a natureza.
As montanhas no Japão são muito numerosas e estão envolvidas nos aspectos da vida
diária, é delas que brotam os rios, e são consideradas sagradas. Não são kami em si,
mas sim moradias de kami. O território montanhoso é tão respeitado que mesmo hoje
em dia, o alpinismo não é uma atividade muito difundida pelo povo japonês, e isso
num país onde é difícil ver todo um horizonte livre da presença de montanhas.
É muito comum a construção de templos nessas regiões, assim como cerimônias de
deificação e requisição de boas colheitas à "deusa do arrozal" que vive nas montanhas.
Nas lendas japonesas as montanhas ocupam lugar de destaque na associação com
grandes desafios, buscas e peregrinações.
Como vimos, o homem é considerado como naturalmente bom e puro, participante
da natureza dos kami, e que o pecado e a impureza se devem a influências malignas
dosespíritos habitantes do mundo inferior. Por isso, o homem recebe directamente
dos kami uma componente natural, um ideal celeste a ser realizado nesta vida, modelo
de vivência dado e aceite como meta, e que representa a ligação da vida humana à vida
divina. Este é o maior conceito moral do xintoísmo, o chamado michi, termo que
significa “caminho”. Trata-se de um ideal de justiça e de carácter, de que ninguém se
deve afastar, elemento básico da vida xintoísta e do próprio culto. O michi, obediência
ao curso da natureza, reveste-se duma extrema simplicidade e naturalidade.
92
Para o xintoísmo, a vida só alcança o seu sentido e a sua finalidade se for vivida
na pureza, que é o seu estado natural. A vida que não leva isto em conta é
radicalmente antixintoísta e não agrada aos kami que, desgostosos, podem mandar
vários tipos de desgraças para avisar o pecador, e até mesmo castigá-lo. Procura-se esse
ideal de pureza, tanto corporal como mental e espiritual, que leva o homem à sua
plenitude. Embora o homem não possa controlar tudo o que acontece e pode
danificar a sua pureza, tem a responsabilidade de procurar viver uma vida
autenticamente xintoísta, recta, clara e honesta, segundo a vontade dos kami.
Vítima de forças que lhe escapam, o homem corrompido é alguém que deixou de
pertencer, durante algum tempo, ao mundo da bondade e da felicidade, possuindo,
porém, o direito de voltar a ele. Por isso, o pecado e a falta moral, embora
reconhecidos, revestem um carácter diferente do que têm para os ocidentais.
Aquilo que pode danificar a pureza pode ser de carácter voluntário ou involuntário. As
faltas voluntárias são verdadeiros pecados, da responsabilidade daquele que os pratica,
e denominam-se tsumi. As faltas involuntárias não fazem, obviamente, a pessoa
incorrer em igual responsabilidade, embora ela possa ter contribuído para a situação,
devido à sua má conduta ou imprudência. Incluem-se neste grupo as calamidades ou
desgraças (wazawai) e as manchas, impurezas (kegari), adquiridas por contactos com
elementos como acadáver, o sangue, as relações carnais, etc. Estes males, como vimos,
têm origem no mundo inferior, que envia as calamidades e impurezas e incita aos
crimes. Para afastar a sua nefasta influência, realizam-se vários tipos de exorcismos.
Isto, que parece uma confusão entre mal moral e acontecimentos fortuitos, tem a sua
justificação no preceito fundamental da pureza que, para muitos pensadores xintoístas,
se sobrepõe aos ritos e ao culto.
Tudo isto é a concepção geral acerca da moralidade. No que se refere ao concreto, as
concepções morais rigidos do xintoísmo apresentam bastante pobreza, pois não se
encontram códigos morais definidos propriamente ditos, como existem noutras
religiões orientais, como o confucionismo, por exemplo. O michi apresenta-se como
algo extremamente vago e simples, o que pode levar a pensar que o xintoísmo rejeita
propositadamente qualquer tipo de regras concretas de moral.
As práticas do xintoísmo têm a finalidade de se dirigirem aos kami, para que escutem a
oração dos fiéis. As orações podem ter diversos sentidos: pedidos, muitas vezes
relacionados com a vida do dia-a-dia ou com alguma ocasião importante; ações de
graças, por um benefício concedido, uma meta atingida, um obstáculo ultrapassado;
promessas de acção futura em favor dos homens e da sociedade; tentativas de aplacar a
fúria dos kami, irritados por alguma coisa; ou, muito simplesmente, para os louvar,
rendendo-lhes homenagem sincera, sem esperar propriamente nada de especial em
troca.
93
Através de vários elementos, os fiéis podem estabelecer relação com os kami, relação
muitas vezes de carácter filial, em que uma divindade é tutelar de dada região ou
localidade. Os "paroquianos" estabelecem especial ligação com esse kami, que os
atende e protege, nos mais variados acontecimentos da sua vida.
Os santuários têm ao seu serviço um número variável de sacerdotes, que neles oficiam
de vários modos. São designados pelo termo kannushi, que significa “mestre do kami”,
ou então pelo termo chinês shinshoku, “pessoa cuja profissão é servir a divindade”.
A sua principal função é a de servir e adorar os kami e servir como um elo entre eles e
os crentes através da execução dos ritos nos santuários, visando assegurar a proteção
do povo japonês e do imperador.
Não costumam falar em público, tendo sido mesmo proibidos disso em 1885, no
contexto do xintoísmo de Estado. Hoje em dia, porém, os sacerdotes pregadores
começam a ser apreciados. Não são considerados como chefes ou guias espirituais,
mas somente como oficiantes de atos de culto, a pedido dos fiéis e em seu benefício.
O sacerdócio xintoísta é aberto às mulheres. As sacerdotisas têm mesmo tendência a
aumentar, encontrando-se algumas à frente de grandes templos. O sacerdócio
feminino desenvolveu-se no Japão após a Segunda Guerra Mundial. Para além de
sacerdotisas, as mulheres podem ainda ser mikos. Uma miko é uma virgem que leva
uma vida monástica, ajudando os sacerdotes a executar os ritos nos templos e
executando as danças sagradas. Exercem estas funções durante cinco a dez anos.
Os sacerdotes repartem-se por várias categorias. A mais elevada é a de Princesa
consagrada ao kami, uma princesa virgem da família imperial. Atualmente, só existe
uma, no santuário de Ise. Em seguida, temos o Grande Sacerdote, à frente de cada
santuário, e depois o restante do clero, que se reparte por funções diferenciadas.
Hoje em dia, verifica-se uma nova preocupação em revitalizar o xintoísmo e os
santuários, buscando novas tendências, pelo que se tem agora grande cuidado com a
preparação intelectual e teológica dos candidatos a sacerdotes. Os regulamentos atuais
prevêem vários diplomas possíveis, dos quais pelo menos um é exigido aos sacerdotes,
que apenas o obtêm após vários anos de estudo em universidades ou institutos
especiais. Hoje em dia a formação de um sacerdote xintoísta é garantida pela
frequência de um curso naUniversidade de Kokugakuim ou da Universidade de
Kogakkan.
Os sacerdotes, uma vez consagrados, mantêm as suas funções habitualmente toda a
vida, mesmo não sendo obrigados a exercê-las. Moram fora do santuário, com exceção
do Grande Sacerdote.
Os sacerdotes xintoístas não são obrigados a levar uma vida de castidade,
podendo casar e fundar uma família, o que geralmente fazem.
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As vestes sacerdotais apresentam grande beleza artística, de raízes nos séculos
passados, mas só são utilizadas nos santuários e em ocasiões especiais na rua. A
indumentária para o culto fica completa com um toucado especial e sapatos próprios.
Sobre a testa de um "Yamabushi", coloca-se uma pequena caixa preta chamada "tokin",
que é amarrada à sua cabeça com um cordão preto. Durante as cerimónias, os
sacerdotes costumam trazer também uma espécie de cetro de madeira, que tem um
significado purificador, mas sobre o qual não recai qualquer tipo de veneração.
Fora das funções rituais, os sacerdotes não usam qualquer tipo de sinal exterior, que os
distinga dos leigos.
Os santuários xintoístas espalham-se por todo o Japão, constituindo lugares
privilegiados de culto. Mas, embora surjam por todo o lado, têm geralmente alguma
razão especial para existir: um fenómeno natural, um acontecimento histórico ou
mítico, a simples devoção pessoal ou o patronato político. Também os há motivados
por revelações em sonhos, ou porque simplesmente era necessário um lugar de culto
naquele local.
Quando o local de construção de um novo santuário é escolhido, põe-se em prática
uma série de ritos, destinados a purificar o lugar e a invocar a presença do kami, para
que se digne vir habitar naquele sítio. Se mais tarde for decidido deixar aquele
santuário ou mudá-lo para outro lugar, existem os ritos inversos, pelos quais se convida
delicadamente o kami a retirar-se.
O santuário encontra-se na base do xintoísmo. É nesse local que a divindade habita e
que escuta os seus fiéis, e é também centro de ligação da comunidade e de partilha de
identidade. Neste contexto, podem distinguir-se três grandes tipos de santuários,
conforme a abrangência que possuem:
os de dimensão local, centros de partilha de uma comunidade reduzida, onde se
venera o kami da localidade. Este tipo de santuário congrega em torno de si as
pessoas daaldeia, que sentem uma filiação comum em relação à divindade. O
santuário aparece como local de estreitamento de relações entre kami e
paroquianos.
santuários de tipo particular, mais abrangentes, procurados por motivos concretos e
determinados, como o êxito nos negócios ou nos estudos, ou outro tipo de
protecção especial. Este género de santuários encontra-se por todo o Japão.
por último, os grandes santuários nacionais, destino de peregrinação de milhões de
pessoas, todos os anos, dos quais o mais importante é o de Ise, já referido, em
honra da deusa Amaterasu, e que está directamente ligado à casa imperial.
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Além destes, há ainda templos dedicados a kami de guerra, a valores marciais ou em
honra de pessoas notáveis, a quem se pedem favores específicos.
O santuário é entendido como um local onde as pessoas se vêm “refrescar”
espiritualmente. Neles, está-se em profunda comunhão com a natureza, que abre o
homem a umaespiritualidade plena e à identificação pessoal com os kami.
Os templos xintoístas podem assumir as mais diversas formas e tamanhos, mas
apresentam certos aspectos em comum. Todos eles são constituídos por um edifício,
ou um conjunto deles, inseridos num espaço envolvente, rodeados pela natureza. Têm
particular importância as árvores, principalmente a árvore sagrada, sakaki, utilizada em
muitos dos rituais.
O espaço em volta do edifício principal é por vezes muito extenso, e apresenta-se
dividido em várias partes. Ao longo do caminho, que nunca é em linha recta, encontra-
se uma série de diferentes elementos separadores, que marcam também etapas duma
caminhada espiritual. São eles:
os torii , muito característicos dos templos japoneses, que são uma espécie de
portais sem porta, constituídos por dois postes verticais e duas traves horizontais.
Aparece um de imediato no início do caminho e depois geralmente mais dois, ou
mesmo uma grande fila deles. A série de torii repete-se para cada via de acesso ao
santuário;
pontes, por vezes várias, até se chegar ao templo algumas monumentais e muito
elaboradas. A água é um elemento purificador, pelo que os cursos de água debaixo
das pontes constituem uma eficaz barreira contra toda a impureza;
barreiras e paliçadas, com portas, que simbolizam a entrada no local sagrado,
reservado ao homem puro.
Encontram-se também jardins, lagos, lanternas. Ainda antes de se chegar ao edifício
principal, depara-se um tanque de água limpa, geralmente abrigado por um alpendre,
no qual os fiéis se lavam, purificando-se de todas as impurezas e pecados, servindo-se,
para isso, dumas colheres compridas de bambu, para tirar a água.
É costume também, em ocasiões solenes, libertar aves, peixes e outros animais.
Chegamos, finalmente, ao edifício do templo. Pode haver vários, num mesmo
santuário, dirigidos a diferentes kami. Têm geralmente dimensões modestas, não
obstante a grande diversidade de tamanhos. São constituídos por três secções:
uma sala de orações (Haiden) para os fiéis, onde eles dirigem as suas preces ao
kami. À entrada está uma grande caixa de madeira, para depositar moedas, e um
sino, ligado a uma corda, que serve para advertir o kami da presença do fiel;
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uma sala de oferendas, reservada aos sacerdotes chamada (Heiden);
uma sala mais pequena (Honden), nunca visitada, considerada a morada física do
kami, e onde podem estar depositados objectos simbólicos,
como espelhos, jóias ou espadas, invólucros onde reside o espírito da divindade. O
espelho, particularmente, é considerado morada privilegiada do espírito divino, e
tem origem muito antiga, sendo já mencionado na mitologia japonesa.
Alguns templos prevêem nos seus estatutos serem totalmente reconstruídos
periodicamente. É o caso do templo de Ise, reconstruído de vinte em vinte anos. Essa
ocasião é rodeada de ritos próprios, para convidar o kami a mudar de residência.
Embora reconstruídos, os templos mantêm o estilo do anterior, pelo que os novos não
diferem dos antigos e originais.
Alguns santuários possuem também uma espécie de museu, não raras vezes repleto de
peças de grande valor, consideradas espólio da divindade.
Os ritos exercidos nos santuários, apesar de muito diversos, apresentam o seguinte
esquema: o sacerdote, depois de purificado, invoca o kami. Faz ofertas propiciatórias,
de bebidas e alimentos, a que se segue a oferta de jogos, danças e representações, para
entreter a divindade. No fim, o kami é convidado a retirar-se, seguindo-se uma refeição
fraterna.
A purificação é uma prática fundamental em toda a prática xintoísta. É por ela que o
homem se liberta, regressando ao seu estado inicial de pureza, a que tem direito. Para
a purificação, que antecede qualquer acto religioso, particular ou comunitário, utilizam-
se diversos ritos, que assumem formas diferentes.
Os kami não suportam a impureza, pelo que se exerce sempre um conjunto de
práticas purificativas antes do culto propriamente dito, que tornam puros os
participantes, os objectos e as oferendas. Os ritos de purificação assumem três formas
distintas:
o misogi , que consiste na purificação por meio da água. A água é tida como
poderoso elemento purificador, crença já muito antiga, pois é referida na mitologia:
o deus Izanagi, depois de fugir dos infernos, banhou-se na água dum rio, para se
purificar das imundícies contraídas naquele lugar. Ao banhar-se ou lavar-se na água,
o fiel xintoísta obtém a purificação das impurezas, tanto das voluntárias como das
involuntárias. Pela água, purifica-se o corpo e a alma. O misogi é depois estendido
a níveis sucessivamente superiores: o coração, o meio envolvente, a alma;
o harai , que é um tipo de purificação algo próximo do exorcismo. É realizado por
um sacerdote, que agita sobre o que deve ser purificado ramos da árvore sagrada,
sakaki, ou uma vara com tiras de papel penduradas, ónusa e joga-se um punhado
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de sal. Por este meio, obtém-se a purificação de todas as manchas, corporais e
espirituais, bem como o afastamento de todas as influências malignas.
Duas vezes por ano, no fim de Junho e de Dezembro, realiza-se uma purificação
solene, ou grande exorcismo, o chamado o-harai. No recinto do santuário, reúnem-se
muitas pessoas, que recebem umas tiras de cânhamo ou de papel branco (kirinusa).
Depois de recitar a oração de purificação, o sacerdote agita a vara com os papéis,
enquanto as pessoas agitam também as suas tiras. Estas tornam-se objectos de
substituição, contendo todas as impurezas, e são lançadas a rios ou ao mar. Nalguns
santuários, um exercício semelhante é feito com papéis recortados em forma humana
(hitogata), que a pessoa passa pelo corpo, depois de neles ter escrito o nome;
o imi , que é um período de jejum a ser realizado antes das cerimónias. Tem
duração diferente, conforme a importância do rito. Consiste em abster-se de
determinados alimentos e bebidas, bem como de palavras e acções menos próprias.
É um período de recolhimento pessoal, evitando todo o tipo de impureza, sem se
ouvir música e sem se preocupar com assuntos que causem fadiga ou sofrimento.
Este tipo de purificação é principalmente realizado pelos sacerdotes, que se retiram
para outro lugar e fazem abluções. Após este tempo, qualquer pessoa está apta a
participar nas cerimónias mais importantes. Na sua vida diária, todo o fiel xintoísta
tem a obrigação de prestar homenagem aos kami, o que pode ser feito nos mais
variados lugares e ocasiões, desde a casa até ao templo passando pelo campo ou
pela rua.
Revestem uma importância particular as visitas aos santuários, que podem ser
realizadas com diferentes objectivos: prestar contas, louvar, agradecer ou rogar. Todos
os fiéis têm como dever ir visitar periodicamente o kami e relatar-lhe o que lhe tem
acontecido na vida diária, não no intuito de pedir perdão, mas para simples
informação. É comum também agradecer graças recebidas ou louvar simplesmente o
kami. O pedido de graças faz-se geralmente em favor de outra pessoa ou da sociedade,
pois considera-se de mau tom pedir para si próprio. As orações também não devem
ser muito longas, complexas, para não aborrecer o kami. Muitas vezes, são os
sacerdotes os encarregados de transmitir as preces às divindades, devendo saber
interpretar, por sinais diversos, se a oração foi ou não bem recebida. A adivinhação é
um rito que também acompanha frequentemente o rito individual: faz-se através de
varetas numeradas, dentro duma caixa, que correspondem a predições e conselhos.
Põem-se em prática também uma série de rituais específicos, entre os quais o mais
característico é o bater das palmas. Depois de reverências solenes, diante do templo do
kami, o devoto bate várias vezes as palmas, finalizando de novo com reverências. Este
gesto parece destinar-se a atrair a atenção da divindade, mas o seu sentido não se
esgota simplesmente aí.
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As ofertas feitas são geralmente de ramos de sakaki, a que se prendem tiras de papel.
Em sua casa, os fiéis têm geralmente um pequeno altar doméstico (kamidana), onde
colocam vários amuletos: um do santuário local, outro do grande santuário nacional de
Ise, e mais algum, conforme as devoções e preferências. Todas as manhãs, são feitas
oferendas: saquê (aguardente de arroz), arroz, sal. Acende-se uma lamparina e fazem-
se orações aos kami.
Um outro costume é o das peregrinações. Os japoneses apreciam peregrinar,
ganhando méritos pela austeridade e pelas privações. Mas é claro que hoje em dia as
viagens são muito mais confortáveis. É hábito ter um livrinho, onde se registam os
emblemas dos vários santuários percorridos, assim como adquirir amuletos, que
servem de recordações.
A religião xintoísta comemora um grande número de festas, com uma grande
variedade de costumes e de motivos para celebrar. Não raramente, verifica-se um
grande intercâmbio entre religião e estado civil: várias festividades xintoístas são
feitas feriados, e vice-versa. As festas dividem-se em dois grupos: as comunitárias,
respeitantes à população em geral, e as particulares, de âmbito mais pessoal e familiar.
Diversos tipos de ritos festivos são celebrados nos santuários. Cotidianamente, fazem-
se cerimónias de oferendas, de manhã. No primeiro dia de cada mês também há ritos
próprios. Estes são ritos de dimensão modesta.
Cada santuário, uma ou duas vezes por ano, celebra uma data festiva, relacionada com
o kami ou com o seu templo. O dia em que é celebrada a festa pode ter múltiplos
significados: pode corresponder ao dia de fundação do santuário, a um dia importante
na sua história ou ser um dia associado à divindade do santuário.
Durante estas festas ocorre geralmente uma procissão dos kami, razão pela qual as
festas são também chamadas de shinkó-sai ("Festa da Procissão dos Deuses") ou togyo-
sai("Festa da Augusta Travessia"). Os kami são instalados num carro (hóren) ou num
palanquim (mikoshi) e são passeados pela aldeia ou cidade.
Junta-se muita gente, que agita ramos de árvore e estandartes, fazendo daquele
acontecimento algo muito colorido e vistoso. Estabelecem-se locais de paragem, para o
kami descansar. A finalidade deste acto é simplesmente entreter e divertir a divindade,
pedindo-lhe, ao mesmo tempo, que continue a dispensar a sua protecção. Estas festas
são também ocasião para jogos, artes e danças, tendo especial significado para o
estreitamento de laços entre kami e paroquianos, e destes entre si.
Os vários momentos da vida humana, muitas vezes ligados a ritos de passagem, são
ocasião para realizar um tipo de festas de motivação mais pessoal, realizadas no seio
dafamília. São ocasião de agradecimento, de pedido e de renovação de propósitos para
com os kami.
99
A primeira apresentação no santuário ou hatsumyia mairi consiste em levar
ao santuário local os recém-nascidos para serem apresentados às divindades. No caso
dos meninos a apresentação ocorre no trigésimo primeiro dia e nas meninas no
trigésimo terceiro dia (embora possam ocorrer variantes locais quanto ao número de
dias). No passado era hábito a criança ser levada ao santuário pela avó, porque se
considerava que a mãe estava impura por ter dado à luz, mas hoje em dia a criança é
muitas vezes levada pela mãe.
A tradição religiosa do xintoísmo é anterior ao budismo, que posteriormente foi
introduzido no Japão no século VI. O contato entre as duas religiões modificou ambas.
Os budistas adotaram divindades xintoístas, e estes, que consideravam seus deuses
espíritos invisíveis e sem formas precisas, aprenderam com o budismo a erigir imagens
e templos votivos. Proclamou-se inclusive que as duas religiões eram manifestações
diferentes da mesma verdade, o que originou uma tendência sincretista. Ambas
religiões representam a religiosidade japonesa e os japoneses chegam a praticar os ritos
de ambas tradições de acordo com a natureza da ocasião (por exemplo, preferem
rituais xintoístas para rituais de nascimento e casamento e rituais budistas em eventos
fúnebres).
Algumas das novas religiões japonesas tem forte influência xintoísta.
Ao contrario de religiões ocidentais, como o cristianismo. O xintoismo não pretende
expandir-se através da conversão. Por isso sua expansão fora das ilhas japonesas limita-
se, geralmente, a descendentes de japoneses como no caso da imensa colônia japonesa
no Brasil.
100
IV- DOUTRINAS ESPÍRITA
1.Espiritismo
Espiritismo ou Doutrina espírita (também denominada popular e equivocadamente
Kardecismo), é a doutrina codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard
Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec.É uma doutrina estabelecida mediante a
fusão da ciência, filosofia e religião, buscando a melhor compreensão não apenas do
universo tangível (científico), mas também do universo a esse transcendente (religião).
É baseada em cinco obras básicas, escritas por ele, através da observação de
fenômenos que o mesmo atribuía a manifestações de inteligências incorpóreas ou
imateriais, denominadas espíritos.
A codificação espírita está presente em: O Livro dos Espíritos, O Livro dos
Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese;
somam-se à codificação as chamadas obras "complementares", como: “O Que é o
Espiritismo”?
O termo Espiritismo foi cunhado por Kardec em 1857 para definir especificamente o
corpo de ideias por ele reunidas e codificadas em "O Livro dos Espíritos".
Na publicação do livro "O Que é o Espiritismo", o codificador a define como uma
doutrina que trata da "natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas
relações com o mundo corporal e as consequências morais que dela emanam", e
fundamenta-se nas manifestações e nos ensinamentos dos espíritos.
Também é compreendida como uma doutrina de cunho científico-filosófico-religioso
voltada para o aperfeiçoamento moral do homem, que acredita na possibilidade de
comunicação com os espíritos através de médiuns.
Embora o Espiritismo tenha importado, a fim de estruturar seu corpo de
conhecimento, muito da metodologia científica, mostra-se importante ressaltar que ele
desenvolve-se sobre princípios que transcendem os rigores dessa metodologia, de
forma que vários dos resultados e fenômenos dentro do Espiritismo entendidos como
válidos perante sua metodologia própria não se sustentam frente à metodologia
científica - essa estabelecida com base e princípios certamente mais rigorosos e
restritivos.
Quando o termociência é usado com acepção estrita (acadêmica), tais extrapolações
ao método cientifico, embora internamente úteis ao validarem vários preceitos da
doutrina, impedem a classificação do Espiritismo como ciência; e essa doutrina não
constitui cadeira científica, mesmo compartilhando com a ciência de outrora o estudo
de vários fenômenos, e nela encontrando-se por vezes referências frequentes a vários
cientistas de renome.
O termo ciência a vigorar junto ao espiritismo caracteriza-se por acepção lata e não
estrita na grande maioria dos casos, sobretudo na atualidade. Muitos cientistas e
intelectuais renomados empenharam-se em investigações sobre a mediunidade e suas
implicações para as relações mente-cérebro, entre eles: Allan Kardec, Alfred Russel
Wallace, Alexandre Aksakof, Cesare Lombroso, Camille Flammarion, Carl
101
Jung, Cesare Lombroso, Charles Richet, Gabriel Delanne, Frederic Myers,Hans
Eysenck, Henri Bergson, Ian Stevenson, J. J. Thomson, J. B. Rhine, James H.
Hyslop, Johann K. F. Zöllner, Lord Rayleigh, Marie Curie, Oliver Lodge, Pierre
Curie, Pierre Janet, Théodore Flournoy, William Crookes, William James e William
McDougall.
Aparte os rigores científicos, a doutrina muito tem se expandido e, segundo dados do
ano 2005, conta com cerca de 15 milhões de adeptos espalhados entre diversos
países, como, Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Bélgica, Estados Unidos,
Japão, Alemanha, Argentina, Canadá, e, principalmente, alguns países americanos
como Cuba, Jamaica e Brasil, sendo que este tem a maior quantidade de adeptos no
mundo. Mas vale frisar que é difícil estipular a quantidade de espíritas que existem no
mundo, pois as principais estipulações sobre isso são baseadas em censos
demográficos em que se é perguntado qual a religião dos cidadãos, porém não há
consenso entre os espíritas sobre a questão do Espiritismo ser ou não uma religião. A
causa disto é o tríplice aspecto do Espiritismo que permite classificá-lo como "ciência-
filosofia-religião", desta forma um conhecimento triplo que permite a união dessas três
formas de pensamento.
O médium e filantropo espírita Chico Xavier define e completa a ideia da seguinte
forma "De maneira que se tirarmos a religião do Espiritismo fica um corpo sem
coração, se tirarmos a ciência fica um corpo sem cabeça e se tirarmos a filosofia fica
um corpo sem membros."
No preâmbulo do livro "O Que É o Espiritismo?", Allan Kardec afirma que o Espiritismo é, ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que emanam
essas mesmas relações.
Há ainda quem conteste o aspecto religioso do Espiritismo, contudo no livro
publicado pelo codificador, intitulado "O Espiritismo na sua mais simples
expressão",22 23 claramente ele assegura: Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem
por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as conseqüências do bem
e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões.
Kardec ainda esclarece que Espiritismo é religião no Discurso de Abertura da Sessão
Anual Comemorativa do dia dos Mortos (Sociedade de Paris, 1º de novembro de
1868), em que diz: Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós
nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.
Alguns nomes são tidos como continuadores da doutrina, e de fundamental
importância para sua expansão, entre eles: Arthur Conan Doyle, Albert de
Rochas, Alexandre Aksakof, Amalia Domingo Soler, Bezerra de Menezes, Camille
102
Flammarion, Chico Xavier, Divaldo Franco, Ernesto Bozzano, Gabriel
Delanne, Gustave Geley, Haroldo Dutra Dias,Herculano Pires, Hernani G.
Andrade, Hermínio C. Miranda, Léon Denis, Oliver Lodge, Raul Teixeira, Raymond
Moody, Vera Kryzhanovskaia, Waldo Vieira , William Crookes,Yvonne
Pereira e Zilda Gama.Durante o século XIX houve uma grande onda de
manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa.
Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em
móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente.
No final dos anos 1840 destacou-se o suposto caso das Irmãs Fox, nos EUA.Em 1855,
o professor Denizard Rivail, que depois adotou o pseudônimo de Allan Kardec,
pretendia investigar o fenômeno que muitas pessoas afirmavam ter experimentado na
época, das mesas girantes ou dança das mesas, em que mesas e objetos em geral
pareciam animar-se com uma estranha vitalidade.
Apesar de inciais afirmações aparentemente céticas "Eu crerei quando vir e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, deem-me a permissão de não enxergar nisso mais
que um conto para dormir em pé", assegura-se que após dois anos de pesquisas, não
tinha visto constatação de fraudes e nem um motivo para englobar todos os
acontecimentos dessa ordem no âmbito das falácias e/ou charlatanices.
Pessoalmente convencido não só da realidade do fenômeno, que considerou
essencialmente real apesar das mistificações existentes, mas também da possibilidade
de ele ser causado por espíritos, Rivail, em lugar de dedicar o resto de sua vida à busca
por "provar cientificamente" a explicação mediúnica para esses pretensos fenômenos,
sagrou-se a explorar as consequências da hipótese de que fossem causados pela ação
de espíritos.
Quanto à sua formação, foi discípulo de Pestalozzi , discípulo por sua vez
de Rousseau, apesar da sua teórica pesquisa não seguir métodos
estritamente científicos ou mesmo naturalistas.
O seu intuito era dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a
ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos. Kardec
julgava ter encontrado um novo modo de pensar o real, que uniria, de forma
ponderada, a ascendente ciência e a decadente religião.
Assim, Kardec defendia que fazia uso do empirismo científico para investigar os
fenômenos, da racionalidade filosófica para dialogar com o que presumiu
serem espíritos e analisar suas proposições, e buscou extrair desses diálogos
consequências ético-morais úteis para o ser humano.
Surgia aí, mais precisamente em 18 de abril de 1857, a doutrina espírita, sistematizada
na primeira edição de O Livro dos Espíritos.
Nos Estados Unidos, desde os primórdios de seu aparecimento, o Espiritismo tem
sido mais comumente denominado "Moderno Espiritualismo", em face da introdução
de um caráter científico-filosófico-religioso novo nas ideias já existentes do
espiritualismo.
103
Nos países de língua inglesa, assim como boa parte da europa, o espiritismo ainda é
considerado, primordialmente, uma ciência de observação dos fenômenos
espiritualistas (uma espécie de "espiritualismo científico ou experimental") e, muito
menos, como umareligião.
O Espiritualismo norte-americano e inglês evoluiu de forma bem diferente do que é
conhecido como Espiritismo ou Doutrina Espírita, conforme codificado por Allan
Kardec. Segundo os seguidores da Doutrina Espírita, os fenômenos mediúnicos seriam
universais e teriam sempre existido, inclusive com fartos relatos na Bíblia.
Entre outros, os espíritas citam como exemplos mediúnicos bíblicos a proibição
de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica
nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; a consulta de Saul,
primeiro rei do antigo reino de Israel, à Médium de En-Dor, em 1 Samuel 28.
A médium vê e ouve o Espírito desencarnado de Samuel, o último dos juízes de Israel
e o primeiro dos profetas registrados na história do seu povo ; a comunicação
de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor, citada no Evangelho de Mateus 17:1-9,
entre outros.
Na filosofia antiga também há exemplos: nos Diálogos de Platão, este fala sobre
o daimon ou gênio que acompanharia Sócrates.Muitos espíritas adotam a data de 31
de março de 1848 (início dos acontecimentos mediúnicos na residência das Irmãs
Fox em Hydesville,EUA) como o marco inicial das modernas manifestações
mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e frequentes do que jamais ocorrera, o que
levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos.
No entanto, para Sir Arthur Conan Doyle e vários outros espíritas, o marco inicial das
modernas manifestações mediúnicas foi na verdade Emanuel
Swedenborg, polímata sueco do século XVII. Segundo Conan Doyle, a espiritualidade
de Swedenborg marcou o início da era em que fenômeno mediúnico deixou de ter
caráter esporádico, para transformar-se numa espécie de "invasão espiritual organizada"
na Terra.Segundo os biógrafos, Allan Kardec foi convidado por Fortier, um amigo
estudioso das teorias de Mesmer, a verificar o fenômeno dasmesas girantes com a
disposição de observar e analisar os fenômenos que despertavam curiosidade
no século XIX.
As primeiras manifestações tidas como mediúnicas aconteceram por meio de mesas se
levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e
respondendo, desse modo, sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão
proposta.Kardec, analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de
convincente neste método para os céticos, porque se podia acreditar num efeito da
eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então.
Foram então utilizados métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio
das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes corresponderia ao
número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases
respondendo às perguntas propostas.
Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não
poderiam ser atribuídas ao acaso. O ser misterioso que assim respondia, quando
104
interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu
nome e forneceu diversas informações a seu respeito.
Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos
Espíritos, o Espiritismo se estruturou a partir de pretensos diálogos estabelecidos por
espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram
sobre temas religiosos sob a ótica da moral cristã, ou seja, tendo por princípio o amor
ao próximo. Desta forma foi estabelecido o preceito primário do espiritismo, de que
só é possível buscar o aprimoramento espiritual através da caridade aos semelhantes
(Lema: Fora da caridade não há salvação), além de trazer a luz novas perspectivas
sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica.
O Espiritismo pretende chegar à compreensão da realidade mediante a integração
entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a
religião. Segundo Kardec, cada uma delas, tomada isoladamente, tende a conduzir a
excessos de ceticismo, negação ou fanatismo.
A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à
obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais
profunda, para desta forma melhor compreender a realidade.
Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: “Fé inabalável só o é a que pode
encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”.
É importante ressaltar ainda que, quem quer que acredite haver em si alguma coisa
mais do que os elementos integrantes do universo natural - matéria e radiação -
acreditando assim em quaisquer entidades transcendentes ao universo tangível é, por
definição, espiritualista, independente de sua religião, sendo, portanto,
o espiritualismo enquanto oposição ao materialismo, o pilar fundamental da maioria
das doutrinas religiosas.
No caso do espiritismo, a principal diferença entre esta doutrina e a maioria das
demais religiões é sua crença na possibilidade de comunicação entre o mundo
corporal e o mundo espiritual, contudo, a fé nesta possibilidade de comunicação gera
grande confusão por parte dos leigos entre a doutrina espirita e as religiões afro-
brasileiras, contudo, cada uma delas possui origens completamente distintas umas das
outras.Allan Kardec, em "Obras Póstumas", propõe que o espiritismo seja
uma doutrina natural, passível de ser interpretada ou não como religião pelos homens,
isto é, capaz de colocar o homem – ou o espírito – diretamente em relação com
Deus.A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes
pontos:Existência e unicidade de Deus, desconstruindo o dogma da Santíssima
Trindade (Conforme está na primeira questão de "O Livro dos Espiritos" - "Deus é a
inteligência suprema, causa primária de todas as coisas".);O universo é criação de
Deus, incluindo todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados,
materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados a lei de
evolução;Existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade
inteligente da Criação Divina (para Kardec, a ligação entre o espírito e o corpo físico, é
feita por meio de um conectivo "semimaterial" que denomina de perispírito);Volta do
espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, como o mecanismo
natural para se alcançar o aperfeiçoamento a perfeição.
105
No entanto os espíritas não creem na metempsicose;Conceito de "criação igualitária" de
todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente
à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-
arbítrio;Possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os
espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade (Essa comunicação é
realizada com o auxílio de pessoas com determinadas capacidades - os médiuns, como
por exemplo a chamada "escrita automática" (psicografia);Lei de causa e efeito,
compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos,
segundo a qual nossa condição é resultado de nossos atos passados;Pluralidade dos
mundos habitados, a ideia de que a Terra não é o único planeta com vida inteligente
no universo;Jesus como sendo o guia e modelo para toda a humanidade.
Segundo o espiritismo, a moral cristã contida nos evangelhos canônicos é o maior
roteiro ético-moral de que o homem possui, e a sua prática é a solução para todos os
problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade.
Além disso, podem-se citar como características secundárias:
A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do
espírito;
Progressividade do espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da
natureza;
Ausência total de hierarquia sacerdotal;
Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade
nem o fazer visando a segundas intenções, toda a prática espírita é gratuita, como
orienta o princípio moral do evangelho: “Dai de graça o que de graça recebestes”;
Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por
exemplo, perispírito, reencarnação, lei da evolução, lei de causa e
efeito, mediunidade, centro espírita;
Total ausência de exorcismos, fórmulas, palavras
sacramentais, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, amuletos, talismãs, culto
ou oferenda a imagens ou altares, danças, procissões ou atos
semelhantes, paramentos, andores, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso e
fumo, praticas exteriores ou quaisquer sinais materiais;
Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia
para oficializar casamento;
Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.
DOUTRINAS
O Livro dos Espíritos
O Livro dos Médiuns
O Evangelho Segundo o Espiritismo
O Céu e o Inferno
106
A Gênese
A investigação científica dos fatos e causas dos pretensos fenômenos mediúnicos é
objeto de estudo, principalmente pela Parapsicologia. Investigações científicas sobre
mediunidade e outros "fenômenos espirituais" defendidos pelo Espiritismo
ocorreram/ocorrem inclusive em âmbito universitário, mas apesar de muitos cientistas,
inclusive renomados, já terem afirmado que evidenciaram a existência de fenômenos
do tipo em suas pesquisas, através do método científico a existência de espíritos não
encontra-se estabelecida, tampouco provada.
Existe certamente uma diversidade de alegadas práticas que vêm suscitando
curiosidade dos pesquisadores de "fenômenos espirituais" em geral - a exemplo
a psicografia, desdobramento espiritual, experiência de quase morte, electronic voice
phenomena, retrocognição,premonição, incorporação, psicofonia, psicometria, xenogl
ossia, obsessão espiritual, medicina
espiritual, clarividência, clariaudiência,poltergeist, psicopictografia, fotografia espírita,
filmagem espírita, ectoplasmia, telepatia, psicoquinesia, levitação, radiestesia.
Frente a essa diversidade de fenômenos é que Kardec, no preâmbulo de "O que é o
Espiritismo", afirma que o espiritismo "é uma ciência que trata da natureza, origem e
destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal", e é dentro
dessa perspectiva é que define-se o que naquele momento se chamou de "ciência
espírita", tendo esta por objeto central de estudo o espírito e por metodologia um
conjunto de princípios teórico-metodológicos próprios que, ao menos em definição,
far-se-iam sempre compatíveis com o estabelecido pela ciência propriamente dita -
via método científico.
É fazendo-o sempre com base nos princípios metodológico-teóricos acima definidos,
sempre esmerando-se em distinguir os acontecimentos que considerava legítimos
daqueles verossímeis de charlatanismo e daqueles oriundos da simples imaginação
superexcitada pela fé, que Kardec analisou, na "Revue Spirite" (Revista espírita) -
dirigida por ele até sua morte - vários dos relatos de fenômenos aparentemente
mediúnicos oriundos de diversas partes do mundo.
Igualmente, já na década de 1960, a pesquisa sobre reencarnação obteve repercussão
graças ao trabalho do Dr. Ian Stevenson, nomeadamente com a publicação de "Twenty
Cases Suggestive of Reincarnation" (1966).
É diante do acima exposto que mostra-se importante frisar que o termo "ciência",
quando associado ao espiritismo, transcende a "ciência" que se encontra atrelada a
cadeiras como física, química, biologia ou qualquer das demais cadeiras que integram
as ditas ciências naturais - ou mesmo as ciências sociais - áreas últimas também
condizentes, ao menos em princípio, com a definição estrita de "ciência", onde
107
um estudo científico - uma teoria científica - deve necessariamente obedecer a todas as
delimitações e restrições definidas pelo método científico.
Ressalta-se assim que os aludidos fatos defendidos pelos seguidores da doutrina como
verídicos, embora tenha sobrevivido ao escrutínio de veracidade mediante testes
definidos pela metodologia própria à doutrina, não sobrevivem os escrutínios
condizentes apenas com o método científico, e nenhum deles implicou, até a presente
data, fato científico propriamente dito. Mesmo esforçando-se para manter-se em
consonância com essa, espiritismo não é, frente ao rigor da definição, ciência.
Allan Kardec buscou certamente incorporar o método científico na metodologia
inerente ao fundar o Espiritismo, contudo não restringiu os pilares da Doutrina
à ciência, definindo-a também sobre pilares da religião e filosofia; e é por não tê-lo
seguido de forma única que muitos céticos classificam o Espiritismo como
uma pseudociência ou superstição. Mesmo não considerados ciência em sentido
estrito, justamente por serem sustentados também por pilares filosófico-religiosos, os
fenômenos espíritas foram e ainda são, contudo, objetos de estudos para um número
bem expressivo de pesquisadores ao redor do mundo; e dentre os que
estudaram/estudam "fenômenos espirituais" através da metodologia inerente ao
Espiritismo, muitos alegaram/alegam inclusive dispor de fortes evidências para
corroborar de forma bem próxima à científica estrita vários dos princípios espíritas.
Conclui-se que, mesmo que estudados por várias personalidades de renome que
acabaram por contribuir de outras formas, significativas ou não, à ciência em
sua acepção moderna, as metodologias utilizadas pelas correntes espíritas são até hoje
diferentes ou transcendem o método científico, e por tal o espiritismo permanece, hoje
mais do que outrora, notoriamente muito mais atrelado às religiões do que às
academias científicas propriamente ditas.
Em termos de Medicina, indivíduos com sintomas como audição ou visão de espíritos
já foram apontados como sendo portadores de transtornos mentais mas há muito, com
as atualizações da Classificação internacional de doenças, a Medicina reconhece que
esses sintomas não possuem necessariamente causas patológicas.
É importante também lembrar que a Organização Mundial de Saúde define "saúde"
como o "estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a
ausência de doença ou enfermidade", definição que não sofreu emendas desde a
fundação da Organização, em 1948.
A Classificação internacional de doenças (CID) em sua décima atualização, a CID-10,
prevê, em seu item F.44.3 os chamados "Estados de transe e de possessão", definidos
como:
"Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria
identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente."
108
Contudo, explicitamente descreve em alínea seguinte:
"Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados,
excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.
Nesse sentido é feita a distinção entre o estado de transe normal - a exemplo
a hipnose, não mais considerado doença - e o transtorno dissociativo psicótico, uma
patologiapsiquiátrica. Exclui-se desse item também, entre outros, a esquizofrenia.
Evidencia-se também na CID que os estados de transes tidos por espiritualistas como
oriundos de"possessões espirituais" - comuns em ambientes religiosos - não são
acobertados pelo item F.44.3 citado, e não são considerados patológicos; e apesar da
CID reconhecer tais estados de transe ao excluí-los explicitamente, também não
aponta "espíritos" como causa de transe algum, mesmo que alguns adeptos
espiritualistas insistam em dizer o contrário.
A expressão "possessão" figura no referido item da CID com acepção que remete aos
estados de agitação demasiada, de agressividade ou mesmo de fúria; e mediante tal
acepção a leitura do item associado em íntegra implica, nitidamente, o não
reconhecimento da tal causa "espiritual" (vide alínea).
Argumento em favor da asserção inicial deriva também do fato de que o
reconhecimento de tal causa pela Organização Mundial de Saúde implicaria a inserção
compulsória dessa na CID bem como a necessidade de tratamento ou
acompanhamento específicos visto serem tais estados de "possessão" prontamente
reconhecido, antes de mais nada pelos próprios espiritualistas, como situações muitas
vez prejudiciais à saúde do "possuído" e que requerem por tal tratamento ou mesmo
acompanhamento "espiritual" imediato, tratamentos esses certamente fornecidos -
segundo suas crenças - pelos referidos grupos ou autoridades religiosas capacitadas
junto aos seus templos ou ambientes de reuniões; contudo não definidos,
estabelecidos, tampouco cogitados pela Organização Mundial de Saúde.
Assim, embora evoluindo gradualmente e já reconhecendo a influência do estado de
espírito na saúde e bem-estar, verifica-se que, sendo uma cadeira científica, a medicina
mantém-se alinhada com a metodologia científica, e a existência de espíritos ainda
transcende também a medicina moderna.
Contudo, em virtude do crescente reconhecimento da importância do estado de
espírito à saúde, muitas escolas médicas ao redor do mundo oferecem cursos que
alegam unir medicina a aspectos espirituais e/ou relacionados à fé. Segundo
a Associação Médica Americana (AMA - American Medical Association), em 1992,
2% de todas as escolas médicas dos EUA ofereciam cursos relacionados à
espiritualidade. Em 2004 esse número cresceu para 67%, o que significa que dos 150
cursos de medicina lá existentes, 100 deles incluíam no currículo algum conteúdo
relacionado à medicina e espiritualidade.
109
A Associação Médico-Espírita Internacional é representada no Brasil pela Associação
Médico-Espírita do Brasil, que foi fundada em 1995, alegando ter como missão básica
congregar todas as AMEs do País e contribuir para o estudo e a pesquisa científica no
âmbito da Medicina e do Espiritismo; promover a difusão do paradigma médico-
espírita, por meio do ensino e dos meios de comunicação, de livros e outras
publicações; contribuir para firmar esse paradigma, tanto nos cursos de formação
médica, quanto em outros; e incentivar o médico espírita no cumprimento de sua
missão humanitária, apoiando as instituições beneficentes que visem à melhoria da
saúde da coletividade, sobretudo, a dos mais carentes.
O médico homeopata e cirurgião Dr. Bezerra de Menezes, espírita, escreveu o clássico
livro "A Loucura sob Novo Prisma", buscando relacionar a questão dos transtornos
mentais ao Espiritismo e promover a aplicação de meios mais eficazes de cuidado
clínico, humanitário e sensível no campo da saúde mental.
A posição oficial da Igreja Católica proíbe terminantemente aos seus fiéis assistir a
sessões mediúnicas realizadas ou não com auxílio de médiuns espíritas - mesmo que
estes pareçam ser honestos ou piedosos - quer interrogando os espíritos e ouvindo suas
respostas, quer assistindo por mera curiosidade. Posições similares têm as religiões
protestantes.
A Doutrina Espírita, por sua vez, afirma respeitar todas as religiões e doutrinas, e
valorizar todos os esforços para a prática do bem e diz trabalhar pela confraternização
e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, embora rejeite firmemente,
reitere-se, dogmas fundamentais das outras religiões monoteístas; no caso particular do
cristianismo, destacam-se o da divindade de Cristo, o da Santíssima Trindade, o da
salvação/justificação pela graça (mais que pelas obras/esforços individuais), e o da
existência e importância da Igreja como entidade espiritual, não apenas humana.
A doutrina espírita adota a moral cristã, apesar de suas concepções teológicas
diferenciadas. Para os espíritas, nome dado aos seguidores do Espiritismo, Jesus
Cristo se trata do espírito mais elevado a já ter encarnado na Terra, bem como o
modelo de conduta para o auto-aperfeiçoamento humano, tendo provado, pela prática
da caridade absoluta e pela sua própria encarnação, que o homem pode suportar as
provas necessárias para a sua elevação espiritual.
Os espiritistas (tradução muito usada durante as primeiras décadas do século XX para
o neologismo francês spirite) ou espíritas, afirmam-se cristãos e atribuem à doutrina
espírita o caráter de uma doutrina cristã, já que consideram seguir os ensinamentos
morais de Jesus.
Entretanto, essa associação entre o espiritismo e o cristianismo é contestada pelas
religiões de tradição judaico-cristã, sob a alegação de que, embora partilhem de valores
110
morais semelhantes, a rejeição espírita a diversos dogmas bíblicos e teológicos
preconizados por elas inviabilizaria a conceituação do espiritismo como cristão.
Os espíritas fundamentam sua defesa do caráter cristão da doutrina espírita no fato de
Allan Kardec defender que a moral cristã, isenta dosdogmas de fé a ela associados,
seria o que de mais próximo a um código de ética divino e racional o homem possui.
Os espíritas argumentam que os dogmas foram elaborados ao longo dos séculos pela
Igreja Católica, não sendo, por isso, necessário segui-los para ser cristão. Além disso, o
item 625 d'O Livro dos Espíritos afirma ser Jesus o maior exemplo moral de que
dispõe a humanidade, apesar de o espiritismo negar a ele qualquer carácter
efetivamente divino.
A professora Dora Incontri, pós-doutorada pela Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo, também defende o caráter cristão da doutrina espírita,
apontando, na proposta estruturada por Allan Kardec, um novo modelo de religião,
alheio a dogmas, fórmulas, hierarquias sacerdotais e baseado eminentemente no
aspecto ético-moral do indivíduo.
Considera ainda Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi como os dois
grandes precursores da ideia de uma "religiosidade natural", predominantemente
moral, e defende que "evidenciou-se com a publicação de "O Evangelho segundo o
Espiritismo" e de "O Céu e o Inferno" que, embora não o confessasse, ele [Kardec]
estava fazendo uma nova leitura do Cristianismo".
Por outro lado, um outro estudioso da religiosidade brasileira, o Prof. Antônio Flávio
Pierucci, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, centra sua
análise em aspectos sociológicos ao defender que o espiritismo não é uma religião
legitimamente cristã. Segundo ele, os espíritas utilizam o cristianismo para se
legitimarem. Pierucci defende também que o vínculo com a Igreja Católica, defendido
pelos espíritas serviu, durante décadas, para lutar contra a discriminação e a
intolerância.
A Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira do Santo Ofício, em 1 de junho de
1917 condenou a prática do Espiritismo e proibiu aos católicos participarem, sob
qualquer pretexto de reuniões espíritas:
"(...) partecipare, con medium o senza medium, servendosi o no dell'ipnotismo, a
sedute o a manifestazioni spiritiche, anche se hanno un'apparenza onesta o pia, sia
s'interroghino le anime o gli spiriti, sai si ascoltino le risposte, sia ci si accontenti di fare
da osservatori, quand'anche si dichiarasse tacitamente o espressamente che non si
vuole avere alcun rapporto con gli spiriti cattivi."
Para boa parte das religiões cristãs, a reencarnação está em desconformidade aos
ensinamentos da Bíblia, a ressurreição, ao conceito de salvação e do eterno suplicio.
111
Exemplificam a passagem do apostolo Paulo que determina o estado de toda a
humanidade após a morte. "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez,
vindo depois disso o juízo..." (Hebreus 9:27). Concluindo que o "juízo" refere-se a
"condição final" em que todos os humanos serão julgados, vivos e mortos, estes últimos
ressuscitarão.
Para a doutrina espírita, entretanto, a reencarnação foi confundida pelo nome
de ressurreição, que significa literalmente "voltar à vida", resultando as diversas causas
de anfibologia.
A crença de que o homem poderia reviver é antiga e fazia parte dos dogmas judeus,
porém não era determinado de que maneira o fato iria ocorrer, pois apenas tinham
vagas e incompletas noções acerca da alma e de sua ligação com o corpo.
Segundo alguns adeptos do espiritismo, o apostolo Paulo na citação anterior, desvenda
a duvida referente à ressurreição e desfaz a crença da volta do espírito no corpo que já
está morto para morrer segunda vez no mesmo, sobretudo quando os elementos da
matéria orgânica já se acham dispersos e absorvidos pelo tempo, pois todos os homens
morrem apenas uma vez a cada existência corpórea.
Afirmam ainda que o "juízo" refere-se ao estado individual (não coletivo) que sucede a
morte do corpo (erraticidade). Embora não resolva profundamente o problema da
ambiguidade diversas passagens bíblicas enfatizam a reencarnação, segundo o
espiritismo, em Job 14:10-14 , Marcos 6:14-16, Marcos 9:11-13, e João 3:1-12.
O juízo final, representa, segundo a doutrina espírita, o processo de Regeneração da
Humanidade, no qual a Terra sofrerá uma lenta transformação físico-moral, em que se
separarão os espíritos que desejam seguir o caminho do bem daqueles que
permanecerem no mal — evento simbolizado na parábola do julgamento das
nações no Evangelho de Mateus 25:31-46, e pela parábola do trigo e do joio em
Mateus 13:24-30.
Todavia, essa desagregação não fará com que os "espíritos imperfeitos" permaneçam
eternamente no sofrimento (situação semelhante encontrada no Evangelho de
Lucas 15) , pois tudo que há no universo está destinado à lei de evolução.
A lei de evolução está intimamente ligada à reencarnação e a lei de causa e efeito. A
doutrina espírita explica que, sendo o espírito dotado de livre-arbítrio, este responderá
pelo bem ou mal que proporcionar a si mesmo e aos outros.
A lei de causa e efeito procura explicar os acontecimentos da vida atribuindo um
motivo justo que gera uma consequência proveitosa para o espírito. Através da
reencarnação o espírito pode provar as experiências adquiridas na pratica do bem ou
reparar o mal que praticou em anteriores encarnações.
112
As religiões de matriz judaico-cristã entendem que, com a Lei dada a Moisés no Antigo
Testamento, Deus interditou à antiga Israel as comunicações com o mundo dos
espíritos e o uso de poderes sobrenaturais por eles concedidos. "… não haverá no meio
de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, que interrogue os
oráculos, pratique adivinhação, magia, encantamentos, enfeitiçamentos, recorra à
adivinhação ou consulte os mortos (necromancia)" (Deuteronômio 18:10-14).
Afirmam ainda que essa proibição é confirmada no Novo Testamento, pelas
referências contidas nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos aos "espíritos
impuros".
A citação do apóstolo Paulo em Gálatas5:20, afirma que quem pratica "feitiçaria" (ou
bruxaria, o termo grego usado é farmakía) … não herdará o Reino de Deus".
(Na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o termo é vertido por
"espiritismo".
Mas esta aplicação da palavra não se refere, por óbvias razões cronológicas, à doutrina
espírita). É comum encontrar referências ao uso do termo Espiritismo para denominar
outras doutrinas e cultos que não sejam aquela codificada por Allan Kardec.
Já para a doutrina espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si, pois esta
seria fundamentada em um fenômeno natural.
A condenação bíblica, que também encontra apoio no movimento espírita, é a uso dos
recursos mediúnicos para finalidades frívolas ou voltadas ao benefício próprio.
Segundo ela, diversas passagens bíblicas exemplificariam a fenomenologia mediúnica, a
exemplo de I Samuel 9:9, II Crônicas 16:7, e Mateus 17:1-8.
Ao mesmo tempo, a postura da Doutrina Espírita propõe que se avaliem os textos
bíblicos, quando verdadeiramente originais, de forma crítica, levando em conta o seu
patamar simbólico, em função dos recursos vocabulares e figuras de linguagem
disponíveis à época, em ensinamentos dirigidos a um povo simples e sem repertório, e,
consequentemente, desprovido das complexidades e riquezas linguística, cultural e
material necessárias para a compreensão de conceitos que nem mesmo o homem
atual, como todas as suas aquisições intelectuais, é capaz de compreender em toda a
sua profundidade.
Na cidade brasileira de Santos, em 1910 surgiu uma dissidência do movimento
espírita, que se denominou "Espiritismo Racional e Científico Cristão" e,
posteriormente,Racionalismo cristão, sistematizada por Luís de Matos e Luís Alves
Tomás.
No Brasil, desde a segunda metade da década de 1950, alguns centros espíritas seguem
a doutrina ditada pelo espírito Ramatis (corporificada sobretudo nas
obraspsicografadas por Hercílio Maes). Distinguem-se dos centros espíritas tradicionais
113
em função da maior ênfase ao universalismo (origem comum das religiões) e ao estudo
comparado de religiões e filosofias espiritualistas ocidentais e orientais.
Nota-se também a influência mais acentuada de correntes de pensamento orientais
(tais como o budismoe o hinduísmo) e a proximidade com
a cosmogonia do espiritualismo universalista.
Surgida no Brasil, também como uma dissidência do movimento espírita, desde
setembro de 2002. Sem deixar de seguir a Doutrina Espírita, afirma fazê-lo com maior
seriedade do que o movimento brasileiro em si, argumento usado para o afastamento.
Desde o século XIX, mais notavelmente na França e no Brasil, existem conflitos de
opinião entre os espíritas, ditos, equivocadamente, "kardecistas" e "roustainguistas",
consoante a admissão ou não dos postulados da obra "Os Quatro Evangelhos",
coordenada por Jean-Baptiste Roustaing, principalmente acerca da natureza do corpo
de Jesus. Para os chamados "roustainguistas" Jesus teve um "corpo fluídico", de origem
material diferente da nossa matéria. Já os espíritas acreditam que Jesus possuía um
corpo de origem material, como de qualquer ser humano.
Após o fim da parceria com o médium Chico Xavier em 1968, o médium Waldo
Vieira inicia pesquisa própria sobre o fenômeno denominado "projeção da
consciência" (no Espiritismo referido como "desdobramento espiritual").
Consequentemente, em 1987 sistematiza o movimento de cunho paracientífico
chamado Conscienciologia.
A Federação Espírita Brasileira foi fundada em 2 de janeiro de 1884, no Rio de
Janeiro. Em 2004 completou 120 anos. É uma sociedade civil, religiosa, educacional,
cultural e filantrópica, que tem por objeto o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo
em todos os seus aspectos, com base nas obras da codificação de Allan Kardec e nos
Evangelhos canônicos. O Departamento Editorial da FEB possui um catálogo de mais
de 400 títulos que passam de 40 milhões de livros vendidos.
Todos inspirados na Codificação Kardequiana: romances, mensagens, contos,
crônicas, textos científicos e filosóficos, vídeos, apostilas e CDs de canções espíritas.
O Conselho Espírita Internacional é um organismo resultante da união das associações
representativas dos movimentos espíritas nacionais e atualmente possui 35 países
associados. Foi constituído em 28 de novembro de 1992 em Madrid, na Espanha. Seus
objetivos são:
Promoção da união solidária e fraterna das instituições espíritas de todos
os países e a unificação do movimento espírita mundial;
Promoção do estudo e da difusão da Doutrina Espírita em seus três
aspectos básicos, quais sejam o científico, o filosófico e o religioso;
114
Promoção da prática da caridade material e moral, conforme ensina a
Doutrina Espírita.
O principal evento organizado pelo CEI é o Congresso Espírita Mundial, realizado a
cada três anos.
115
V- IGREJAS CRISTÃS
1.Pentecostalismo
Pentecostalismo é um movimento de renovação de dentro do cristianismo, que coloca
ênfase especial em uma experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no
Espírito Santo.
O termo Pentecostal é derivado Pentecostes, um termo grego que descreve a festa
judaica das semanas. Para os cristãos, este evento comemora a descida do Espírito
Santo sobre os seguidores de Jesus Cristo, conforme descrito no Livro de Atos,
Capítulo 2.
Pentecostais tendem a ver que seu movimento reflete o mesmo tipo de poder
espiritual, estilo de adoração e ensinamentos que foram encontrados na Igreja
primitiva. Por este motivo, alguns pentecostais também usam o
termo Apostólica ou Evangelho Pleno para descrever seu movimento.
O pentecostalismo é um termo amplo que inclui uma vasta gama de diferentes
perspectivas teológicas e organizacionais. Como resultado, não existe nenhuma
organização central ou igreja que dirige o movimento.
Os pentecostais podem ser inseridos em mais de um grupo cristão, indo
do trinitariano até o não-trinitariano. Muitos grupos pentecostais são afiliados
ao Conferência Mundial Pentecostal. No Brasil é comum os pentecostais se auto-
identificarem com termo evangélico.
A ênfase do pentecostalismo sobre o charisma o coloca dentro do cristianismo
carismático, um enorme agrupamento de cristão que tem aceitado alguns
ensinamentos pentecostais sobre o batismo no Espírito e dons espirituais. O
pentecostalismo está teologicamente e historicamente próximo ao Movimento
Carismático, influenciando tão significativamente o movimento, que às vezes os
termospentecostal e carismático são usados indistintamente. Todo o movimento
pentecostal no mundo inclui cerca de 588 milhões de pessoas.
O Pentecostes em grego pentekostos (cinqüenta), foi um feriado anual judaico,
também conhecido como a Festa das Semanas, festa dos primeiros frutos da colheita.
Ela é celebrada cinqüenta dias depois da Páscoa. O livro bíblico de Levítico descreve-o
como segue:
Contareis para vós outros desde o dia imediato ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia imediato ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias; então, trareis nova oferta de manjares ao SENHOR. Das vossas moradas trareis dois pães para serem movidos; de duas dízimas
de um efa de farinha serão; levedados se cozerão; são primícias ao SENHOR. Com o pão oferecereis sete cordeiros sem defeito de um ano, e um novilho, e dois carneiros; holocausto serão ao SENHOR, com a sua oferta de manjares e as suas libações, por oferta queimada de aroma agradável ao SENHOR. Também oferecereis um bode, para oferta pelo pecado, e dois cordeiros de um ano, por oferta pacífica. Então, o
sacerdote os moverá, com o pão das primícias, por oferta movida perante o SENHOR,
116
com os dois cordeiros; santos serão ao SENHOR, para o uso do sacerdote. No mesmo dia, se proclamará que tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis; é estatuto perpétuo em todas as vossas moradas, pelas vossas gerações. Quando segardes
a messe da vossa terra, não rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da vossa sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.Levítico 23:15-22
As igrejas pentecostais fazem alusão a este acontecimento como um símbolo para
todos os que se converteram ao cristianismo no dia de Pentecostes, seriam os
primeiros frutos da colheita de uma grande parte dos milhões de almas.
Aproximadamente entre 835 e 805 a.C a terra de Judá foi atingida com uma praga de
gafanhotos que destruiu os pastos e as folhagens das árvores, em apenas algumas horas.
Todas os cultivos se perderam, a fome e a seca devastaram o país inteiro.
O profeta Joel ao ver esse período terrível, deu a promessa do derramamento do
Espírito Santo, que seria a restauração de tudo o que o mal tinha destruído,
descrevendo-o como segue:
E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos
e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. E
acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar.Joel 2:28-32
O evangelho de João, menciona um sucessor, o qual é revelado a João Batista, que
cumpriria a promessa de derramar o Espirito Santo sobre os crentes. Ele diz: "Aquele
sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo".
João 1:33 Ora, a pessoa sob a qual o Espírito desceu foi Jesus Cristo. João Batista
testemunhou que quem viria depois dele iria batizar com o Espírito Santo (Mateus
3:11).
Depois que Jesus Cristo ressuscitou ordenou a seus apóstolos e discípulos a
permanecer em Jerusalém até serem revestidos de poder do alto. (Lucas 24:49) Do
mesmo modo, em Marcos 16:17, Jesus diz a seus discípulos que em seu nome
expulsariam os demônios e falariam novas línguas. No livro de Atos, o autor Lucas fala
de um mandato mais específico que Jesus disse aos seus discípulos, descrevendo-o
como segue:
Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.Atos 1:8
117
Neste capítulo de Atos, Jesus disse aos seus seguidores que João Batista pregou antes
de finalmente cumprido dentro de poucos dias que Jesus chamou a promessa do Pai.
Dez dias depois Jesus subiu ao céu, chegou o dia de Pentecostes, cento e vinte pessoas
estavam esperando no cenáculo unânime a promessa de Jesus Cristo tinha feito antes.
De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.Atos 2:2-3
Isso ocorreu há cerca de nove horas da manhã e havia testemunhas de várias
nacionalidades, como medos, partos, africanos, egípcios, judeus, árabes e galileus que
ouviram falar das maravilhas de Deus. No entanto, houve muitos que pensavam que
estavam bêbados.
Após o evento, o apóstolo Pedro explica a profecia de Joel preenchidas para a igreja
cristã. Durante muitos anos o derramamento do Espírito Santo havia sido reservada
exclusivamente para os líderes nacionais e espirituais de Israel, mas na época foi
concedido a "toda carne".
O Novo Testamento relata que a igreja primitiva acreditava no batismo no Espírito
Santo (Atos 11:15-16). Os escritores cristãos do segundo século usaram a palavra grega
ou carisma, o que significa "presente" ou "dom divino" para se referir a estes dons, isto
é, a mesma palavra que ele usou o apóstolo Paulo em sua lista de dons do Espírito,
que incluía o falar em línguas (1 Coríntios 12).
Assim como os cristãos do primeiro século praticavam a imposição das mãos para a
ocorrência dessa experiência nos crentes (Atos 8:14-17). A seguir estão vários eventos
realizados em igrejas cristãs do Novo Testamento:
A casa de Cornélio
De acordo com Atos 10:46 em uma visão que teve o apóstolo Pedro no telhado de
uma casa em Jope, Deus revelou que devia amar seus companheiros, apesar de não-
judeus, porque diante de Deus não há acepção de pessoas. O centurião Cornélio da
corte italiana, enviados por ele para chegar a Cesaréia. Pedro concordou em ir à
Cesaréia por ordem de Deus, e chegou à casa de Cornélio. Quando Pedro começou
seu discurso, o Espírito Santo desceu sobre os presentes e começaram a falar em
línguas, glorificando a Deus.
A Igreja em Éfeso
Quando o apóstolo Paulo chegou a Éfeso, ele encontrou uma situação muito
comprometedora. Os cristãos da igreja que tinham sido batizados pelo batismo de
João e nem sequer sabiam que existia o Espírito Santo, depois de Paulo batizou-os na
ordenança de Jesus e colocando as mãos sobre eles veio o Espírito Santo e falaram em
línguas e profetizaram. (Atos 19:5).
118
A Igreja na Samaria
Pedro e João tinham chegado a Samaria, onde havia um grupo de cristãos batizados
em água, mas não tinham sido batizados com o Espírito Santo. É por isso que Pedro e
João impuseram suas mãos sobre eles (Atos 8:17). Esta é a única passagem em Atos
que não menciona que os crentes têm falado em novas línguas e é muito discutido. No
entanto, muitos grupos pentecostais modernos, acreditam que se o fizessem, porque
Simão o Mago, que quis comprar o dom do Espírito Santo tinha visto um grande
milagre.
São várias as instâncias de fenômenos que historiadores pentecostais (como Allan
Anderson) interpreta como predecessores do pentecostalismo.
Inácio de Antioquia 67-110 d.C. afirmou em sua carta aos filadelfienses (Inácio aos
filadelfienses 7:01) que profetizou pelo Espírito:"Estando no meio de vós gritei, disse em alta voz, uma voz de Deus:'Permanecei unidos (…)'. Aqueles suspeitaram que eu disse isso porque previa a divisão de alguns, mas aquele pelo qual estou acorrentado é minha testemunha que eu não sabia através da carne. Foi o Espírito que me anunciou, dizendo: '(…), guardai vosso corpo como templo de Deus, amai a união, fugi das
divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também é do seu Pai".
Em sua carta a Policarpo, ele também declara: "Quanto as coisas invisíveis, pode que te sejam manifestadas a ti, para que nada te falte e tenhas abundância em todo dom espiritual".
Policarpo de Esmirna 70-160 d.C. teve uma revelação de Deus de como
morreria. "Orando, ele teve uma visão, três dias antes de o prenderem: viu seu travesseiro queimado pelo fogo. Voltando-se para seus companheiros, disse: 'Devo ser queimado vivo!'.
Embora não haja registros ou indícios de derramamento do Espírito Santo durante a
Idade Média, alguns autores mencionam que o valdenses, albigenses, e os frades
mendicantes, falaram em línguas na Europa Meridional.
Jansenitas 1640-1801 fizeram parte de um movimento agostiniano radical na Igreja
Católica Romana (seu adepto mais famoso foi o cientista e apologista francês Blaise
Pascal), alguns de seus adeptos em Port Royal ficaram conhecidos pelos seus sinais e
prodígios, dança espiritual, curas, e elocuções proféticas. Alguns dizem que falaram em
línguas estranhas e interpretaram as línguas que lhes foram endereçadas.
Serafin de Sarov 1759-1833 líder carismático da igreja ortodoxa russa, afirmou
que o objetivo da vida cristã é a recepção do Espírito Santo. Serafim também é
lembrado pelo dom de cura.
Os Huguenotes foi o nome dado ao calvinistas da França, houve manifestações
carismáticas entre eles em Cevennes, durante a perseguição determinada por Louis
XIV. Em seguida, uma nota sobre os huguenotes:
119
Respeitando as manifestações físicas, há pouca discrepância entre os relatos de amigos
e inimigos. As pessoas atingidas eram homens e mulheres, idosos e jovens. Muitos
eram crianças com idades entre os nove ou dez anos.
Eles emergiram do povo, disseram seus inimigos, da massa de ignorantes e sem
cultura; sem poder ler e escrever, em sua maioria, e falando o jargão da província
diariamente, que era a única coisa que poderia usar para falar.
Tais pessoas caíam repentinamente para atrás e, permaneciam estendidas na terra,
experimentavam contorções estranhas e aparentemente involuntárias; seus peitos
pareciam inchar-se e seus estômagos inflar-se.
Ao sair de tal condição, gradualmente voltavam a ganhar o poder da fala
instantaneamente. Começavam, muitas vezes, com uma voz interrompida por soluços
e logo derramavam torrentes de palavras, clamores de misericórdia, chamados ao
arrependimento, exortações aos espectadores para que parassem de frequentar as
missas, admoestações à igreja de Roma e profecias relativas ao juízo vindouro.
Da boca de crianças emergiam textos da Escritura e discursos em um francês muito
bom e fácil de entender, um [francês] que nunca usavam quando estavam conscientes.
Quando o transe terminava, declaravam que não se lembravam de nada do ocorrido
de que haviam dito. Em raras ocasiões recordavam impressões vagas e gerais, mas nada
a mais. Não havia aparência de engano, nem indicação de que ao pronunciar suas
predições com relação a eventos futuros, tivessem alguma idéia de prudência ou
dúvida tocante a veracidade do que haviam predito.
O Movimento de Santidade foi um movimento que dava muita ênfase que nesta vida
presente pela fé, é possível obter a inteira santificação, ou perfeição cristã através do
Espírito Santo. A partir de 1840 se iniciou a pregar sobre o batismo no Espírito Santo,
seu principal contribuidor foi John Morgan, o qual escreveu: "O dom do Espírito
Santo, em sua plenitude pentecostal, não devia restringir-se a igreja apostólica; é o
privilégio compartilhado por todos os crentes.
O Pentecostalismo clássico é o que começou em 1901 entre cristãos que se reuníam na
rua Azusa em Los Angeles, EUA e simultaneamente em vários outros lugares na
América do Norte. É a maior corrente pentecostal entre todas as demais, pois está
conformada por organizações religiosas que se formaram naqueles anos e mantém
manifestações espirituais e doutrinas similares.
Dentro do pentecostalismo clássico norte-americano existem três orientações
principais: Santidade-Wesleyana, Vida Superior e Unitários. Exemplos de
denominações wesleyanas de santidade inclui a Igreja de Deus em Cristo e a Igreja
Pentecostal Internacional de Santidade. A primeira foi a Congregação Cristã, fundada
por L. Francescon, logo depois Daniel Berg conhece atraves da Congregação o
movimento pentecostal e funda no Brasil a Assembleia de Deus logo depois da CCB,
A Igreja do Evangelho Quadrangular é um exemplo do ramo Vida Superior.
120
Algumas igrejas unitárias inclui a Igreja Internacional Pentecostal Unida , Assembleia
Pentecostal do Mundo, e Assembléias do Senhor Jesus Cristo. Muitas igrejas
pentecostais são afiliadas com a Conferência Mundial Pentecostal. O pentecostalismo
reivindica cerca de 588 milhões de adeptos no mundo inteiro.
No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, os cristãos das igrejas tradicionais nos
Estados Unidos, Europa, e outras partes do mundo começaram a aceitar a idéia
pentecostal que o batismo no Espírito Santo está disponível aos cristãos de hoje, ainda
mesmo se não aceitassem outros princípios do pentecostalismo formal. O Movimento
carismático começou a crescer nas principais denominações. Emergiram carismáticos
episcopais, luteranos, católicos, metodistas, batistas e durante esse período de
tempo,carismático foi utilizado para se referir a movimentos semelhantes que existiam
dentro das denominações. Pentecostais, por outro lado, usaram o termo para se referir
àqueles que faziam parte das igrejas e denominações que cresceram a partir do início
do avivamento da rua Azusa. Ao contrário dos pentecostais clássicos, que formaram
estritamente congregações ou denominações pentecostais, carismáticos adotaram como
seu lema, "floresce onde Deus plantou você."
Nas últimas décadas, muitas igrejas carismáticas independentes e ministérios formaram
ou se desenvolveram suas próprias denominações, igrejas e associações, como o
Movimento da Vinha. Na década de 1960 e ainda hoje, muitas igrejas pentecostais
ainda são rigorosas com os códigos de vestimenta e proíbem determinadas formas de
entretenimento, criando uma distinção cultural entre os carismáticos e pentecostais. Há
uma grande sobreposição entre o agora e os movimentos carismáticos pentecostais,
apesar de alguns pentecostais ainda manterem um entendimento estrito de "princípio
de santidade de vida".
Pentecostais enfatizam o ensino do "evangelho pleno" ou "evangelho quadrangular". O
termo "quadrangular" refere-se as quatro crenças fundamentais do pentecostalismo:
Jesus salva, conforme João 3:16; batiza com o Espírito Santo, conforme Atos 2:4; cura
o corpo, conforme Tiago 5:15; e está vindo novamente para aqueles que foram salvos,
conforme I Tessalonicenses 4:16–17. Eles são evangelicais na medida em que
enfatizam a confiabilidade da Bíblia e a necessidade de transformação de vida do
indivíduo por meio da fé em Jesus.
Pentecostais, assim como outros evangelicais, geralmente aderem a doutrina da divina
inspiração e inerrância bíblica, alguns ainda subscrevem à doutrina da infalibilidade
bíblica. Essa crença é expressa nas declarações doutrinárias de diversas organizações
pentecostais, como a Declaração de Verdades Fundamentais das Assembléias de
Deus, a Afirmação de Fé da Igreja de Deus em Cristo, e a Declaração de Fé da Igreja
do Evangelho Quadrangular. Entretanto, pentecostais diferem de outros evangelicais
por rejeitarem o cessacionismo. Pentecostais acreditam que os dons espirituais, assim
como o falar em línguas e profecia, não cessaram após o fechamento do cânon
bíblico e ainda estão disponíveis para os cristãos modernos.
Para evitar confusão quando se estuda as crenças pentecostais, os teólogos Duffield e
Van Cleave identificam três usos distintos da palavra "batismo" pelos pentecostais ao
analisar o Novo Testamento:
121
Batismo para dentro do corpo de Cristo: Refere-se à salvação. Todo crente em
Cristo é feito parte de seu corpo, a Igreja, através do batismo. O Espírito Santo
é o agente, e o corpo de Cristo é o meio.
Batismo em água: Simboliza o morrer para o mundo e o viver em Cristo, o
batismo nas águas é um símbolo externo do que já foi realizado pelo Espírito
Santo, a saber, o batismo para dentro do corpo de Cristo.
Batismo com o Espírito Santo: Esta é uma experiência de capacitação distinta do
batismo para dentro do corpo de Cristo. Neste batismo, Cristo é o agente e o
Espírito Santo é o meio.
A crença central do pentecostalismo é que através
da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo, os pecados podem ser
perdoados e a humanidade reconciliada com Deus. Este é o Evangelho ou "boa
notícia". A exigência fundamental do pentecostalismo é que as pessoas sejam nascidas
de novo. O novo nascimento é recebido pela graça de Deus mediante a fé em Cristo e
a sua aceitação como Senhor e Salvador pessoal.
No nascer de novo, o crente é regenerado, justificado, adotado na família de Deus,
e santificado. A soteriologia pentecostal é geralmente mais arminiana que calvinista.
A segurança do crente é uma doutrina realizada dentro do pentecostalismo, no
entanto, fé e arrependimento são necessários para a salvação e continuam a ser
necessários para a continuação dessa salvação. Pentecostais acreditam em um céu e
um inferno literais, o primeiro para aqueles que aceitaram o dom divino da salvação, e
o segundo para aqueles que o têm rejeitado.
Tradicionalmente, os pentecostais ensinam que a "evidência física inicial" do batismo
no Espírito Santo é o falar em línguas. Embora falar em línguas seja um sinal imediato
e óbvio de quem foi cheio do Espírito Santo, esta não é a única evidência. Grupos
pentecostais que aderem à doutrina da evidência inicial creêm que falar em línguas "é
seguido por todas as evidências da semelhança de Cristo que marca uma vida coerente
cheia do Espírito Santo".
Apesar do falar em línguas freqüentemente receber forte ênfase entre os pentecostais,
a maioria também reconhece outros dons sobrenaturais que podem ser recebidos a
partir do Espírito Santo. A maioria dos pentecostais reconhecem que nem todos os
cristãos, necessariamente, recebem todos esses dons. Uma lista é freqüentemente
citada em 1 Coríntios 12:8-11 que inclui os seguintes dons: palavra de
sabedoria (capacidade de fornecer orientação sobrenatural em decisões), palavra de
conhecimento (transmissão de informações fatuais do Espírito), fé, cura, operação de
milagres, profecia (pronunciamento de uma mensagem de Deus, não necessariamente
envolvendo o conhecimento do futuro), discernimento de espíritos (capacidade de
dizer se os maus espíritos estão em serviço), línguas, e interpretação de línguas.
Pentecostais são continuacionistas, isso significa que eles acreditam que todos os dons
espirituais, incluindo os miraculosos ou "dons", encontrados em 1 Coríntios 12:4-
122
11,12:27-31, Romanos 12:3-8, e Efésios 4:7-16 continuam a operar dentro da igreja no
tempo presente. Pentecostais colocam os dons do Espírito em contexto com o Fruto
do Espírito Santo. O fruto do Espírito é o resultado do novo nascimento e do contínuo
permanecer em Cristo. É pelo fruto exibido que o caráter espiritual é julgado. Os dons
espirituais são recebidos como resultado do batismo com o Espírito Santo. Os dons
são livremente dados pelo Espírito Santo, não podem ser ganhos ou merecidos, eles
não são um critério adequado para a avaliar a vida ou maturidade espiritual de
alguém. Pentecostais ver nos escritos bíblicos de Paulo uma ênfase em tanto ter caráter
quanto poder, exercendo os dons em amor.
Assim como fruto deve ser evidente na vida de cada cristão, os pentecostais acreditam
que para cada crente cheio do Espírito foi dado alguma capacidade para a
manifestação do Espírito. É importante notar que o exercício de um dom é uma
manifestação do Espírito, não da pessoa dotada e, apesar dos dons operarem através
de pessoas, eles são principalmente dons dados à igreja. Eles são valiosos apenas
quando ministram ganho espiritual e edificação para o corpo de Cristo. Escritores
pentecostais apontam que as listas de dons espirituais no Novo Testamento parecem
não ser exaustivas. Acredita-se que há tantos dons como existem ministérios úteis e
funções na igreja. Um dom espiritual é muitas vezes exercido em parceria com outro
dom. Por exemplo, em um culto numa igreja pentecostal, o dom de línguas pode ser
exercido seguido pela operação do dom de interpretação.
De acordo com os pentecostais, todas as manifestações do Espírito devem ser julgados
pela igreja. Isto é possível, em parte, pelo dom de discernimento de espíritos, que é a
capacidade de discernir a se fonte de uma manifestação espiritual é o Espírito Santo,
um espírito maligno, ou o espírito humano.
Pentecostais normalmente concordam com o princípio protestante do Sola Scriptura.
A Bíblia é a " única regra do suficiente de fé e prática", ela é "fixa, completa, e uma
revelação objetiva".
Paralelamente a este grande respeito pela autoridade das Escrituras está a crença de
que o dom de profecia continua a ser dado aos crentes em tempos pós-bíblicos. A
profecia não é compreendida pelos pentecostais como a capacidade de pregar, embora
a profecia e a pregação possam sobrepor-se às vezes. Pentecostais definem profecia
como uma "manifestação espontânea da graça de Deus, recebida por revelação, (às
vezes como uma visão, em outros momentos como sentimentos ou pensamentos) e
falada pelo Espírito através de um cristão, na língua dos destinados à ouvir a palavra
profética. Se vinda como palavra falada em uma situação específica".
Como todos os dons, a profecia é dada a comunidade cristã para encorajar e fortalecer
a fé. A profecia sempre está subserviente e sob a autoridade das Escrituras.
Falar em línguas é uma distintiva prática pentecostal. Um crente pentecostal em uma
experiência espiritual pode vocalizar fluentemente expressões ininteligíveis (glossolalia),
ou articular uma linguagem alegadamente natural até então desconhecida para ele
(xenoglossia).
123
Dentro pentecostalismo, geralmente há uma distinção entre dois tipos de línguas.
Primeiro, muitos a vêem como a evidência inicial do Batismo no Espírito Santo,
quando um crente fala em línguas pela primeira vez. A maioria das denominações
pentecostais a consideram como o sinal de que o crente está cheio do Espírito
Santo. Segundo, pentecostais frequentemente referem-se a um dom de línguas. Isto é,
quando uma pessoa é movida por Deus para falar em línguas "conforme o Espírito
Santo lhes concedia" (At 2:4). Este dom de línguas pode ser exercido em qualquer
lugar, mas muitas denominações insistem que só deve ser exercido quando uma pessoa
que tem o dom de interpretação de línguas está presente, mesmo que seja outra
pessoa, ou o mesmo que dá a língua. O intérprete deve traduzir as língua estranha na
língua nativa dos cristãos, para que todos possam entender a mensagem. Estes
regulamentos de ordem da igreja são tomadas de (1Co 14.13) e (1Co 14.27-28).
Muitos pentecostais, principalmente após o crescimento e a influência do movimento
carismático, acreditam que o dom de línguas é diferente de línguas como uma lingua
de oração ou falar em línguas (uma língua desconhecida). De acordo com este ponto
de vista, falar em línguas é uma declaração concedida por Deus para a oração, e o dom
de línguas é um raro milagre em que Deus permite que um cristão fale em uma língua
estrangeira que não tenha previamente estudado a fim de proclamar o evangelho.
Outros pentecostais acreditam que elas são tudo a mesma coisa, em que o dom de
línguas seja falar línguas desconhecidas (incluindo a dos anjos) não com a finalidade de
se comunicar com os outros, mas para "a comunicação entre o espírito e
Deus". Quando utilizado esse caminho, falar em línguas é muitas vezes referido como
uma "lingua de oração". Alguns grupos de pentecostais enfatizam a idéia de falar em
línguas somente quando o Espírito Santo vem sobre um indivíduo, e não crêem que
alguém pode legitimamente falar em línguas na vontade.
No início do século 20, a maioria dos missionários pentecostais, juntamente com
proeminentes líderes pentecostais, sustentaram que o falar em línguas era uma forma
de xenoglossia em que o Espírito Santo lhes permite falar em outras línguas. Contínuas
investigações repetidamente concluíem que o falar em línguas era uma forma de dicção
que faltava toda a estrutura sintática, e quase sempre consistia de sílabas tiradas da
língua materna do orador, teólogos pentecostais redefiniu suas crenças. A maioria
prega agora que falar em línguas é uma lingua de oração pessoal, ou glossolalia, com as
excepções acima referidas, não xenoglossia.
Orar pelos doentes é uma importante prática em muitas igrejas pentecostais. As
práticas variam, mas geralmente esta oração inclui o pastor ungir o doente com azeite e
a ajuda dos anciãos da igreja, juntamente com os colaboradores pastorais, e
a imposição de mãossobre o requerente da oração. Baseado no relato de Atos 19:11-
12, alguns pentecostais ungem e oram sobre "panos de oração", que podem ser
colocados perto de uma parte do corpo doente.
Embora fenômenos como estes estejam presentes no pentecostalismo desde o seu
início, nem todos os pentecostais concordam com a legitimidade bíblica e adequação
de algumas ou de todas as formas de manifestações físicas. A freqüência e a
importância de sua ocorrência em um culto pentecostal pode variar, de ser comum em
uma igreja local a ser inexistente em outra.
124
Uma definição diferente, mais recente de dançar no Espírito desenvolveu-se também
entre alguns pentecostais. Esta compreende o dançar no Espírito como um ato de
adoração congregacional, semelhante ao canto e oração. Segundo esta definição, ela é
uma "dança espontânea pela congregação (geralmente no lugar e sem
parceiros)". Aqueles que aderem à definição tradicional tendem a desencorajar a
identificação do último tipo com a dança no Espírito. Ser arrebatado no Espírito
(também conhecido como "cair sob o poder") é um fenômeno no qual uma pessoa cai
(geralmente) para trás ao mesmo tempo que estava orando. Pentecostais creêm que o
cair pode ser causado por "uma grande experiência da presença de Deus".
Embora não seja um exemplo de manifestações do Espírito, a "marcha para Jericó" é
um exemplo de uma prática tradicional pentecostal rara que não viu avivamento nas
igrejas independentes carismáticas. Trata-se de uma congregação marchando com
gritos de oração e cantando.
Como em outras igrejas cristãs, os pentecostais acreditam que certos rituais ou
cerimônias foram instituídos como um padrão e ordenação por Jesus no Novo
Testamento. Alguns pentecostais preferem chamar estas cerimônias de ordenanças, ao
invés de sacramentos. Muitos cristãos chamam isso de sacramentos, no entanto, este
termo não é utilizado por alguns pentecostais que não vêem as ordenanças como
meios de graça. Como alternativa o termo ordenança sacerdotal é utilizado para
designar a crença distinta de que a graça é recebida diretamente de Deus para o
congregante com o oficiante servindo apenas como um canal.
A ordenança do batismo é o símbolo exterior de uma conversão interior, que já teve se
realizou. Portanto, a maioria dos grupos pentecostais pratica o batismo de
crentes porimersão. As visões pentecostais sobre o batismo são divididas em dois
campos principais: a corrente trinitária e o "Nome de Jesus" ou "Só Jesus". A corrente
trinitária ensina que a formulação exata da fórmula batismal é irrelevante, já que é a
autoridade de Deus e a obediência do destinatário que forma os fatores críticos. A
doutrina do "Nome de Jesus" declara que o batisador deve usar uma fórmula que diz:
"Em nome do Senhor Jesus Cristo", em vez da tradicional fórmula trinitária comum a
praticamente todas as outras igrejas cristãs. Este ponto de vista surgiu da "Nova
Emanação" ou "Nova Revelação" que Frank Ewart, um pregador batista australiano,
alegou ter recebido como uma profecia divina, em 1913, e é largamente realizada hoje
pelos pentecostais unitários.
A ordenança da Comunhão é vista como uma ordem direta dada por Jesus na Última
Ceia, a ser feito em sua memória. Algumas igrejas pentecostais usam suco de uva, em
vez de vinho.
Lava-pés também é tido como uma ordenança por alguns pentecostais, especialmente
a Igreja Internacional Pentecostal unida e a Igreja de Deus em Cristo. É considerado
uma "ordenança de humildade", porque Jesus mostrou humildade ao lavar os pés dos
discípulos em João 13.14-17.
Outras denominações, tais como as Assembleias de Deus e a Igreja do Evangelho
Quadrangular, não tem isso como uma ordenança, mas deixam isso à consciência
individual.
125
A teologia pentecostal foi moldada por movimentos que cresceram a partir da:
Santidade-Wesleyana e Vida Superior. Os participantes desses movimentos
acreditavam que, após uma experiência de conversão (a "primeira benção") haveria
uma experiência de "crise de santificação" ou a "segunda benção".
Pregadores wesleyanos de santidade ensinavam que essa experiência eliminaria
imediatamente o pecado na vida cristã, resultando na "perfeição de pureza." Cristãos de
Vida Superior compartilhavam dessa crença em uma segunda bênção, mas entendiam
de modo diferente. Eles não a viam, essa experiência, como a eliminação total do
pecado, mas como uma "consagração plena que lhes empoderava ao evangelismo." Os
primeiros pentecostais, portanto, entendiam o Batismo no Espírito Santo como essa
"segunda benção" e falar em línguas como sua evidência física.
A orientação de santidade-wesleyana era a posição universal nos primeiros dias do
pentecostalismo defendendo um triplo processo de conversão, a santificação
progressiva e batismo no Espírito Santo.
Na primeira década do século XX, surgiu a controvérsia sobre uma nova
doutrina, Obra Consumada, que difere da santidade-Wesleyana e da Vida
Superior pentecostal. A doutrina da Obra Plena professa uma dupla experiência de
conversão e de batismo no Espírito, já que a santificação é vista como progressista e
não como instantânea. Este argumento produziu um profundo cisma e foi visto como
falacioso e contencioso por pentecostais ortodoxos, os quais assumiram o Batismo no
Espírito como a prova da segunda obra.
Com um número estimado de 115 milhões de seguidores no mundo em 2000, o
pentecostalismo é classificado como a "terceira força do cristianismo", sendo as duas
primeiras o Catolicismo e o protestantismo. Pentecostais e igrejas carismáticas têm
crescido rapidamente em muitas partes do mundo. A grande maioria dos pentecostais
estão em países em desenvolvimento embora muitas das suas lideranças internacionais
estejam na América do Norte. O movimento desfruta hoje de uma grande onda
no hemisfério sul, que inclui África, América latina, e muito da Ásia. Uma das razões
para este crescimento é o apelo do pentecostalismo aos pobres. Conforme o relatório
das Nações Unidas, o movimento é "o mais bem sucedido em recrutar membros da
classe pobre."
Em 1998, existiam 11.000 denominações pentecostais ou carismáticas diferentes pelo
mundo. A mais ampla denominação pentecostal no mundo, as Assembleias de
Deus têm aproximadamente 63 milhões de seguidores pelo mundo.
Ela tem uma presença significativa em muitos países,
incluindo Cuba, Egito, Índia, Indonésia, Nigéria e Brasil.
A Igreja de Deus (Cleveland) tem uma membresia de mais de 6 milhões, a Igreja de
Deus em Cristo tem uma membresia de 5.5 milhões, A Igreja do Evangelho
Quadrangular tem 5 milhões de membros, a Igreja Internacional Pentecostal
Unida tem uma membresia de mais de 4 milhões, e a Igreja Internacional Pentecostal
de Santidade tem mais de 3 milhões de membros.
126
A maior igreja pentecostal no mundo é a Igreja do Evangelho Pleno de Yodo
na Coréia do Sul. Fundada por David Yonggi Cho em 1958, ela possui 780,000
membros em 2003.
O movimento pentecostal pode ser dividido em três ondas delineadas por suas
características sócio-religiosas e contexto cronológico. Além das grandes denominações
pentecostais, existem hoje centenas de "ministérios independentes" ou novas
denominações surgindo anualmente no Brasil e no mundo.
A primeira onda, conhecida como Pentecostalismo Clássico, abrangeu o período de
1910 a 1950 e iniciou-se com sua implantação no país, decorrente da fundação da
Congregação Cristã no Brasil e da Assembleias de Deus até sua difusão pelo território
nacional.
Desde o início, ambas igrejas caracterizam-se pelo anticatolicismo, pela ênfase na
crença no batismo no Espírito Santo e por um ascetismo que rejeita os valores do
mundo e defende a plenitude da vida moral e espiritual. Francescon, Berg e Vingren
tiveram matriz pentecostal comum, ao receberem as novas doutrinas na Missão de Fé
Apostólica conduzida pelo Pastor William H. Durham, ex-pastor batista, em Chicago,
Illinois.
A primeira denominação desse movimento organizada no Brasil em 1910 com a vinda
do missionário Louis Francescon, que atuou em colônias italianas no Sul e Sudeste do
Brasil. Francescon realizou em 1910, o primeiro batismo de orientação pentecostal em
solo brasileiro com a conversão de onze almas, originando a Congregação Cristã no
Brasilem Santo Antônio da Platina - Paraná, e no mesmo ano inicia esta igreja no
Bairro do Brás em São Paulo.
Em 1911 Daniel Berg e Gunnar Vingren, iniciaram suas missões no Pará e Nordeste,
dando origem a Assembleias de Deus. O movimento das Assembléias de Deus cresceu
do norte-nordeste para o sul, com apoio inicial do movimento pentecostal escandinavo
e posteriormente transferência de aliança com as Assemblies of God americanas. Com
os anos surgiram ministérios e convenções, dos quais muitos são independentes, ou
seja, não afiliados à Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil.
Além da Congregação Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus surgiram outras
pequenas denominações pentecostais clássicas nos primeiros quarenta anos do
pentecostalismo brasileiro. Em 1932, foi organizada a Igreja de Cristo no
Brasil em Mossoró (Rio Grande do Norte). A Igreja de Cristo divergiu das demais
igrejas pentecostais da primeira onda ao seguir o dogma da "eterna segurança" mais
conhecida como Perseverança dos santos. Esta também defende que o cristão recebe o
batismo do Espírito Santo no momento da conversão e não como segunda bênção
seguida de dons de línguas. Em Catalão/GO em 1935 foi fundada a Igreja Evangélica
do Calvário Pentecostal. Esta igreja uniu-se à Igreja de Deus de Cleveland, EUA, e se
tornou a Igreja de Deus no Brasil, hoje presente em todos os estados brasileiros.
A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo foi fundada em São Paulo em 1936 por Marcos
Batista.
127
A Missão Evangélica Pentecostal do Brasil, fundada em Manaus em 1939, de origem
americana, mas que atualmente atua de forma independente, com direção nacional e
credo baseado no Pentecostalismo Clássico, de característica moderada quanto à
questão de usos e costumes.
Uma das denominações derradeiras da primeira onda pentecostal no Brasil é a Igreja
Evangélica Avivamento Bíblico, fundada em 7 de setembro de 1946 por Mário
Roberto Lindströn, Oswaldo Fuentes e Alídio Flora Agostinho oriundos da Igreja
Metodista. A Igreja Evangélica Avivamento Bíblico conta hoje com mais de 60.000
pessoas.
A segunda onda começou a surgir na década de 1950, quando chegaram a São
Paulo dois missionários norte-americanos da International Church of The Foursquare
Gospel.
Na capital paulista, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na
cura divina, iniciaram a evangelização das massas, principalmente pelo rádio,
contribuindo bastante para a expansão do pentecostalismo no Brasil.
Em seguida, fundaram a Igreja do Evangelho Quadrangular. No seu rastro, surgiram
o Ministério Cristo Vive, O Brasil para Cristo, Igreja União Evangélica
Pentecostal, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Casa da Bênção, Igreja Luz do
Calvário, Igreja Unida, Igreja de Nova Vida e diversas outrasigrejas
pentecostais menores como a Igreja Presbiteriana Pentecostal dentre outras.
A terceira onda, chamada de Neopentecostalismo, teve início na segunda metade dos
anos 1970. Fundadas por brasileiros, as mais antigas são a Igreja Universal do Reino de
Deus (Rio de Janeiro, 1977), liderada pelo bispo Edir Macedo, e a Igreja Internacional
da Graça de Deus (Rio de Janeiro, 1980), liderada e fundada pelo missionário R. R.
Soares, ambas presentes na área televisiva com seus televangelistas. Posteriormente,
temos o surgimento da Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), da Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra (Brasília, 1992), do Ministério Internacional da
Restauração (1992), e da Igreja Mundial do Poder de Deus (1998). De um modo geral,
utilizam intensamente a mídia eletrônica, impressa e editorial, algumas aplicam
técnicas de administração empresarial, com uso de marketing, planejamento estatístico,
análise de resultados etc. Algumas pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o
cristão está destinado à prosperidade terrena, rejeitando os tradicionais usos e
costumes austeros dos pentecostais.
O neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais influente, a que mais cresce
e também a mais liberal em questões de costumes.
Paralelamente ao Pentecostalismo, várias denominações protestantes que eram
tradicionais experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais.
Assim foram denominados "Renovados", como a Igreja Cristã Maranata (originária
da Igreja Presbiteriana do Brasil), Igreja Presbiteriana Renovada (originária também
da IPB), Convenção Batista Nacional (originária da Convenção Batista
Brasileira),Igreja do Avivamento Bíblico (originária da Igreja Metodista do Brasil) e
a Igreja Adventista da Promessa (originária da Igreja Adventista do Sétimo Dia).
128
Nos anos mais recentes a doutrina de renovação do Pentecostalismo ultrapassou até
mesmo as fronteiras do Protestantismo, surgindo movimentos de renovação
pentecostal Católica Romana e Ortodoxa Oriental, como a Renovação Carismática
Católica que teve sua origem por Padres influenciados por Pastores e literaturas
pentecostais.
129
2.Neopentecostalismo
O Neopentecostalismo ou Terceira Onda do Pentecostalismo é
uma vertente do evangelicalismo que congrega denominações oriundas
do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais (batistas,
metodistas, etc).
Surgiram sessenta anos após o movimento pentecostal do início do século XX, em
1906, na Rua Azuza, ambos nos Estados Unidos.
Em alguns lugares são chamados de carismáticos, tendo como exceção o Brasil, onde
essa nomenclatura é reservada quase exclusivamente para um movimento dentro
da Igreja Católica chamado Renovação Carismática Católica, mas aos poucos o termo
vem sendo resgatado por pentecostais e neopentecostais no País, por exemplo, a
"paróquia" Capela Carismática (Manaus), que faz parte da Igreja de Deus Pentecostal
do Brasil.
No Brasil, as igrejas mais representativas dessa corrente são a Igreja Universal do
Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo,
a Igreja Batista Nacional, a Igreja Fonte da Vida de Adoração, a Igreja Mundial do
Poder de Deus, aComunidade Evangélica Sara Nossa Terra, o Ministério Nova
Jerusalém, a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo e o Ministério Internacional da
Restauração - MIR. Fazem parte ou se aproximam do Protestantismo Apostólico, que
aceitam apóstolos, bispos e pastores ou missionários presidentes que norteiam o rumo
de suas igrejas no País e pelo mundo. Tem um evangelismo massivo (boa parte delas
possuem ou se utilizam de TVs, rádios, jornais, editoras ou literaturas próprias e
portais ou sites).
De acordo com o Dictionary Of Pentecostal And Charismatic Movements (Dicionário
dos Movimentos Pentecostal e Carismático), "Confissão positiva é um título alternativo
para a teologia da fórmula da fé , tambem conhecido como fé ou doutrina da
prosperidade promulgada por televangelistas contemporâneos, sob a liderança e a
inspiração de Essek William Kenyon. A expressão "confissão positiva" pode ser
legitimamente interpretada de várias maneiras. O mais significativo de tudo é que a
expressão "confissão positiva" se refere literalmente a trazer à existência o que
declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão.
De acordo com Paulo Romeiro, em seu livro "Super Crentes, o Evangelho
segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade", é a
corrente doutrinária que ensina que uma vida medíocre do cristão é um indício de falta
de fé. Então um cristão deve ter a marca da plena fé, ser bem-sucedido,ter saúde plena
física, emocional e espiritual, além de buscar a prosperidade material. A pobreza e a
130
doença derivariam de maldições, fracassos, vida de pecado ou fé insuficiente e
incredulidade.
Outros ensinamentos comuns em igrejas neopentecostais são a batalha espiritual
(confronto espiritual direto com os demônios), maldições hereditárias, possessão de
crentes (domínio demoníaco sobre as pessoas, resultando em doenças ou fracasso),
etc. Justamente a ênfase que as denominações neopentecostais dão a esses ensinos que
as levam a ser bastante criticadas pelas demais denominações protestantes.
Os neopentecostais formaram um grupo coexistente com os pentecostais, mas com
uma identidade distinta. Possuem uma forma muito sobrenaturalista de encarar sua
vida religiosa, com ênfase na busca de revelações diretas da parte de Deus, de curas
milagrosas para doenças e uma intensa batalha espiritual entre forças espirituais do
bem e do mal, que afirmam ter consequências diretas em sua vida cotidiana. São, em
geral, mais flexíveis e modernas em questões de costumes em relação aos Pentecostais
tradicionais.
São taxadas de liberais pelas igrejas históricas. Algumas são um misto de igrejas
progressistas, mas com elementos de doutrinas e liturgias tradicionais, como as igrejas
da Graça, a Universal e a Mundial. Já outros ministérios se aproximam das
igrejas restauracionistas pelas seu modo de doutrinamento e literaturas próprias,
evangelismo e discipulado peculiares e visão de profetismo, apesar de não se
autodenominar única igreja verdadeira, pelo contrário ela aglutina diversas
denominações debaixo de sua cobertura espiritual, princípios doutrinários e modelo
celular de evangelismo.
Segundo Alan B. Pieratt, "Os ensinos da prosperidade não tiveram origem no
pentecostalismo. Todavia, a tendência das denominações pentecostais de aceitarem as
afirmações de autoridades proféticas criou um espaço teológico onde a doutrina da
prosperidade pode afirmar-se e crescer... Nossa primeira conclusão histórica, é que o
pentecostalismo foi o portador desta doutrina, mas ela necessariamente não faz parte
das crenças pentecostais."
131
3. Igreja Católica
A Igreja Católica (o termo "católico", derivado da palavra grega Katholikos, significa
"universal" ou "geral"), chamada também de Igreja Católica Romana e Igreja Católica
Apostólica Romana, é uma Igreja cristã com aproximadamente dois mil anos, colocada
sob a autoridade suprema do Papa, Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro. Seu
objetivo é a conversão ao ensinamento e à pessoa de Jesus Cristo em vista do Reino de
Deus, e concede um papel importante nessa missão à pessoa da Santíssima Virgem
Maria (a quem intitulou de "Mãe da Igreja"). Para este fim, a Igreja Católica administra
os sacramentos e prega o Evangelho de Jesus Cristo. Atua em programas sociais e
instituições em todo o mundo, incluindo escolas, universidades, hospitaise abrigos,
bem como administra outras instituições de caridade, que
ajudam famílias, pobres, idosos e doentes.
A Igreja Católica não pensa como uma Igreja entre outras mas como sendo "A Igreja"
estabelecida por Deus para salvar todos os homens. Esta ideia é visível logo no seu
nome: o termo "católico" significa universal em grego. Ela elaborou sua doutrina ao
longo dos concílios a partir da Bíblia, comentados pelos Pais e pelos doutores da
Igreja. Ela propõe uma vida espiritual e uma regra de vida aos seus fiéis inspirada no
Evangelho e definidas de maneira precisa. Regida pelo Código de Direito Canônico,
ela se compõe, além da sua muita bem conhecida hierarquia ascendente que vai
do diácono ao Papa, de vários movimentos apostólicos, que comportam notadamente
as ordens religiosas, os institutos seculares e uma ampla diversidade de organizações e
movimentos deleigos.
Desde o dia 13 de Março de 2013, a Igreja Católica encontra-se sob a liderança
do Papa Francisco. O último papa antes do argentino foi o Papa Bento XVI, que
abdicou do cargo no mesmo ano. Quando de sua entronação, ela contava
aproximadamente com 1,2 bilhões de membros (ou seja, mais de um sexto da
população mundial e mais da metade de todos os cristãos), distribuídos principalmente
na Europa e nas Américas mas também noutras regiões do mundo. Sua influência na
História do pensamento bem como sobre a História da arte é considerável,
notadamente na Europa.
A Igreja Católica, pretendendo respeitar a cultura e a tradição dos seus fiéis, é por isso
atualmente constituída por 23 Igrejas autônomas sui juris, todas elas em comunhão
completa e subordinadas ao Papa. Estas Igrejas, apesar de terem a mesma doutrina e
fé, possuem uma tradição cultural, histórica, teológica e litúrgica diferentes e uma
estrutura e organização territorial separadas.
A Igreja Católica possui mais de dois mil anos de história, sendo a mais
antiga instituição ainda em funcionamento. Sua história é integrante à História do
Cristianismo e a história da civilização ocidental.
132
A palavra Igreja Católica para referir-se à Igreja Universal é utilizada desde o século I,
alguns historiadores sugerem que os próprios apóstolos poderiam ter utilizado o termo
para descrever a Igreja. Registros escritos da utilização do termo constam nas cartas
de Inácio, Bispo de Antioquia, discípulo do apóstolo João, que provavelmente foi
ordenado pelo próprio Pedro.
Em diversas situações nos primeiros três séculos do cristianismo, o Bispo de
Roma, considerado sucessor do Apóstolo Pedro, interveio em outras comunidades
para ajudar a resolver conflitos.
Nos três primeiros séculos a Igreja foi organizada sob três patriarcas: o de Antioquia,
de jurisdição sobre a Síria e posteriormente estendeu seu domínio sobre a Ásia
Menor e a Grécia; o de Alexandria, de jurisdição sobre o Egito; e o de Roma, de
jurisdição sobre o Ocidente. Posteriormente os bispos de Constantinopla e de
Jerusalém foram elevados à dignidade de patriarcas por razões
administrativas. O Primeiro Concílio de Niceia, em 325, considerou o Bispo de Roma
como o "primus" (primeiro) entre os patriarcas, afirmando em seus quarto, quinto e
sexto cânones que está "seguindo a tradição antiquíssima", embora muitos interpretem
esse título como o "primus inter pares" (primeiro entre iguais). Considerava-se que
Roma possuía uma autoridade especial devido à sua ligação com São Pedro.
Uma série de dificuldades (disputas doutrinárias e disciplinares, diferenças
culturais, Concílios disputados, a evolução de ritos separados e se a posição do Papa
era ou não de real autoridade ou apenas de respeito) levaram à divisão em 1054, que
separou a Igreja entre a Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa no Leste
(Grécia, Rússia e muitas das terras eslavas, Anatólia, Síria, Egipto, etc.). A esta divisão
chama-se o Cisma do Oriente.
A grande divisão seguinte da Igreja Católica ocorreu no século XVI com a Reforma
Protestante, durante a qual se formaram muitas das actuais igrejas Protestantes, com
maior presença no Norte da Europa.
A Igreja Católica acredita que ela é a única Igreja fundada por Cristo, e portanto, a
única autêntica frente a demais igrejas edenominações cristãs que surgiram
historicamente depois dela. Assim sendo, a Igreja Católica considera que tem por
missão elaborar, comunicar e propagar os ensinamentos de Cristo, assim como a de
cuidar a unidade dos fiéis, com o objetivo de ajudar a humanidade a percorrer o
caminho espiritual a Deus. Tem também o dever de administrar os sacramentos aos
seus fiéis, por meio do ministério de seus sacerdotes. A Igreja acredita que Deus
outorga a sua graça ao crente por meio dos sacramentos, daí a sua importância na vida
eclesial. Ademais, a Igreja Católica manifesta-se como uma estrutura hierárquica e
colegial, com Cristo como a sua cabeça espiritual e auxiliado pelo colégio dos
133
apóstolos, cuja autoridade passou a ser exercida, após a sua morte, pelos seus
sucessores: o Papa e os bispos.
A autoridade para ensinar, ou seja, o Magistério da Igreja, baseia-se na Revelação
divina, que está expressa tanto nas Sagradas Escrituras (ou Bíblia) como na Sagrada
Tradição (oral). Segundo a fé católica, a Revelação divina engloba todas as verdades
que a Igreja acredita e que foram sendo gradualmente reveladas por Deus através dos
tempos (desde o Antigo Testamento), atingindo a sua plenitude e perfeição em Jesus
Cristo, que anunciou definitivamente o Evangelho à humanidade. Ou seja, já não há
mais nada a acrescentar à Revelação divina depois de Jesus, apenas há revelações
privadas (ex.: as aparições marianas), que não pertencem à Revelação divina pública
nem podem contradizê-la. O papel das aparições privadas é somente ajudar os fiéis
católicos a viver melhor a Revelação divina, numa determinada época da história.Por
isso, Jesus Cristo é considerado pelos católicos e outros cristãos como o Filho de Deus,
o Messias e o Salvador do mundo e da humanidade. Este conjunto de verdades
reveladas pode ser designado por doutrina católica. Segundo o Catecismo de São Pio
X, a doutrina católica "é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para
nos mostrar o caminho da salvação" e da vida eterna. "As partes principais e mais
necessárias da Doutrina [...] são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e
osSacramentos".
Apesar da doutrina católica ter sido plenamente revelada por Jesus Cristo, a definição
e compreensão desta mesma doutrina é progressiva, necessitando por isso do
constante estudo e reflexão da Teologia, mas sempre fiel à Revelação e orientada
pelo Magistério da Igreja Católica. A esta definição progressiva da doutrina dá-se o
nome dedesenvolvimento da doutrina. Esta Revelação imutável e definitiva é
transmitida pela Igreja sob a forma de Tradição escrita (Bíblia) e oral. A doutrina
católica está resumida no Credo dos Apóstolos, no Credo Niceno-
Constantinopolitano e em variadíssimos documentos da Igreja, como por exemplo
no Catecismo da Igreja Católica e no seu Compêndio.
Com os seus estudos teológicos, a Igreja gradualmente proclama os seus dogmas, que
são a base imutável da sua doutrina, sendo o último dogma (o da Assunção da Virgem
Maria) proclamado solenemente apenas em 1950, pelo Papa Pio XII. Os dogmas
são definidos e proclamados solenemente pelo Supremo Magistério (Papa ou Concílio
Ecumênico com o Papa) como sendo verdades definitivas, porque eles estão contidos
na Revelação divina ou têm com ela uma conexão necessária. Uma vez proclamado
solenemente, nenhum dogma pode ser alterado ou negado, nem mesmo pelo Papa ou
por decisão conciliar. Por isso, o católico é obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos
dogmas de uma maneira irrevogável.
Para os católicos, um dos dogmas mais importantes é o da Santíssima Trindade, que,
não violando o monoteísmo, professa que Deus é simultaneamente uno (porque,
134
em essência, só existe um Deus) e trino (se apresenta em três pessoa: o Pai, o Filho e
o Espírito Santo, que se estabelecem entre si uma comunhão perfeita). Estas 3 Pessoas
eternas, apesar de possuirem a mesma natureza, "são realmente distintas".
Logo, muitas vezes, certas actividades e atributos divinos são mais reconhecidas (mas
não exclusivamente realizadas) em uma Pessoa do que em outra. Como por exemplo,
a criação divina do mundo está mais associado a Deus Pai; a salvação do mundo
a Jesus, o Filho de Deus; e a protecção, guia, purificação e santificação da Igreja
ao Espírito Santo.
Jesus Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade de Deus Pai,
ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a salvação à humanidade inteira, "ou seja:
para nos reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer conhecer o
seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade; para nos tornar «participantes
da natureza divina» (2 Ped 1, 4) e para "anunciar as boas novas do Reino de
Deus". Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou que Jesus, "o
Filho de Deus, Se fez homem, para nos fazer Deus", ou seja, para nos
tornarmos santos como Deus.
O dogma cristológico ensina que Jesus é a encarnação do Verbo divino, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, Messias, Salvador e Bom Pastor da Humanidade. Ele é
também «o Filho Unigénito de Deus» (1 Jo 2, 23), a segunda pessoa da Santíssima
Trindade, o único e verdadeiro Sumo Sacerdote e Mediador entre os homens e Deus
Pai, chegando mesmo a afirmar que "«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6)" .
Nas suas muitas pregações, Jesus, ao anunciar o Evangelho, ensinou as bem-
aventuranças e insistiu sempre «que o Reino de Deus está próximo» (Mt 10,7).
Exortou também que quem quisesse fazer parte desse Reino teria de nascer de novo,
de se arrepender dos seus pecados, de se converter e purificar. Jesus ensinava também
que o poder, a graça e a misericórdia de Deus era maior que o pecado e todas as
forças do mal, insistindo por isso que o arrependimento sincero dos pecados e a fé em
Deus podem salvar os homens. Este misterioso Reino, que só se irá realizar-se na sua
plenitude no fim do mundo, está já presente na Terra através da Igreja, que é a sua
semente. No Reino de Deus, o Mal será inexistente e os homens salvos e justos, após
a ressurreição dos mortos e o fim do mundo, passarão a viver eternamente em Deus,
com Deus e junto de Deus.
A doutrina católica professa também que a salvação do Homem deve-se, para além
da graça divina, ao voluntário Sacrifício e Paixão de Jesus na cruz. Este
supremo sacrifíciodeve-se à vontade e ao infinito amor de Deus, que quis salvar toda a
humanidade. Além disso, é também fundamental para a salvação a adesão livre do
135
crente à fé em Jesus Cristo e aos Seus ensinamentos, porque a liberdade humana,
como um dom divino, é respeitado por Deus, o nosso Criador.
Esta fé cristã "opera pela caridade" ou amor (Gal 5,6), por isso ela obriga o crente a
converter-se e a levar uma vida de santificação. Este modo de viver obriga o católico a
participar e receber os sacramentos e a "conhecer e fazer a vontade de Deus". Este
último ponto é cumprido através, como por exemplo, da prática dos ensinamentos
revelados (que se resumem nos mandamentos de amor ensinados por Jesus), das boas
obras e também das regras de vida propostas pela Igreja Católica. Estes mandamentos
de amor consistem em amar a Deus acima de todas as coisas (Mt 22,37), amar ao
próximo como a si mesmo (Mt 22,39) e amar uns aos outros como Eu vos amei (Jo
15,10). Estes ensinamentos radicais constituem por isso o resumo de "toda a Lei e
os Profetas" do Antigo Testamento (Mt 22,40). No fundo, a vida
desantificação proposta pela Igreja tem por finalidade e esperança últimas à salvação e
à implementação do Reino de Deus.
A Igreja ensina também que todos os não-católicos que, sem culpa própria, ignoram a
Palavra de Deus e a Igreja Católica, mas que "procuram sinceramente Deus e, sob o
influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade", podem conseguir a salvação.
A Igreja Católica define-se pelas palavras do Credo Niceno-Constantinopolitano,
como:
«una» porque nela subsiste a única instituição verdadeiramente fundada e
encabeçada por Cristo para reunir o povo de Deus, porque ela tem como alma
o Espírito Santo, que une todos os fiéis na comunhão em Cristo e porque ela tem
uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma
comum esperança e a mesma caridade.
«santa» por causa da sua ligação única com Deus, o seu Autor, porque "o Espírito
Santo vivificou-a com a caridade" e porque ela é a "Esposa de Cristo"; também
porque ela, através dos sacramentos, tem por objectivo santificar, purificar e
transformar os fiéis, reunindo-os todos para o seu caminho de santificação, cujo
objetivo final é a salvação, que consiste na vida eterna, na realização final do Reino
de Deus e na obtenção da santidade.
«católica» porque a Igreja é universal e está espalhada por toda a Terra; é portadora
da integralidade e totalidade do depósito da fé; "leva e administra a plenitude dos
meios" necessários para a salvação" (incluindo os sete sacramentos), dados por Jesus
à sua Igreja; "é enviada em missão a todos os povos, em todos os tempos e qualquer
que seja a cultura a que eles pertençam"; e nela está presente Cristo.
136
«apostólica» porque ela é fundamentada na doutrina dos Apóstolos cuja missão
recebeu sem ruptura. Segundo a Doutrina Católica, todos os Bispos da Igreja são
sucessores dos Apóstolos e o Papa, Chefe da Igreja, é o sucessor de São
Pedro ("Príncipe dos Apóstolos"), que é a pedra na qual Cristo edificou a sua Igreja.
Além disso, a Igreja, de entre os seus inúmeros nomes, também é conhecida por:
«Corpo de Cristo» porque os católicos acreditam que a Igreja não é apenas uma
simples instituição, mas um corpo místico constituído por Jesus, que é a Cabeça, e
pelos fiéis, que são membros deste corpo único, inquebrável e divino. Este nome é
assente também na fé de que os fiéis são unidos intimamente a Cristo, por meio
do Espírito Santo, sobretudo no sacramento da Eucaristia. A Igreja Católica
acredita que os cristãos não-católicos também pertencem, apesar de um modo
imperfeito, ao Corpo Místico, visto que tornaram-se uma parte inseparável d'Ele
através do Baptismo - constituindo assim numas das bases do ecumenismo actual.
Ela defende também que muitos elementos de santificação e de verdade estão
também presentes nas Igrejas e comunidades cristãs que não estão em plena
comunhão com o Papa.
«Esposa de Cristo» porque o próprio Cristo "Se definiu como o «Esposo» (Mc 2,19)
que amou a Igreja, unindo-a a Si por uma Aliança eterna. Ele entregou-se a Si
mesmo por ela, para a purificar com o Seu sangue, «para a tornar santa» (Ef 5,26) e
fazer dela mãe fecunda de todos os filhos de Deus" .
«Templo do Espírito Santo» porque o Espírito Santo reside na Igreja, no Corpo
Místico de Cristo, e estabelece entre os fiéis e Jesus Cristo uma comunhão íntima,
tornando-os unidos num só Corpo. Para além disso, Ele guia, toma conta e "edifica
a Igreja na caridade com a Palavra de Deus, os sacramentos, as virtudes e
os carismas" .
A doutrina da Igreja Ortodoxa é bastante parecida com a da Igreja Católica. As únicas
diferenças significativas dizem respeito ao filioque, ao entendimento um pouco
divergente da salvação e do arrependimento e principalmente à compreensão do papel
e função do Papa na Igreja, que para os ortodoxos não tem jurisdição sobre as outras
Igrejas nem é revestido de infalibilidade quando fala ex cathedra.
Em relação às Igrejas protestantes, as diferenças mais significativas dizem respeito à
doutrina da Eucaristia, dos outros sacramentos (a maioria dos protestantes professam o
Batismo e a Eucaristia), à existência do purgatório, à composição do Cânone das
Escrituras e ao culto de veneração à Virgem Maria e aos santos.
Há também diferenças importantes na doutrina do pecado original e da graça, na
necessidade e natureza da penitência e no modo de obter a redenção, com os
137
protestantes a defender que a salvaçãosó se atinge apenas através da fé (sola fide), em
detrimento da crença católica que a fé deve ser expressa também através das boas
obras.
Esta divergência levou a um conflito sobre a doutrina da justificação, mas o diálogo
ecuménico moderno levou a alguns consensos entre os católicos e os luteranos, através
da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação, bem como com
os anglicanos e outros.
Existem várias representações dos Dez Mandamentos judaicos, que é a base e o
mínimo fundamental da Lei moral (ou Lei de Deus), devido à diversidade de
traduções existentes. A mais utilizada é aquela ensinada actualmente na catequese de
língua portuguesa da Igreja Católica:
1º Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.
3º Guardar domingos e festas de guarda.
4º Honrar pai e mãe.
5º Não matar.
6º Guardar castidade nas palavras e nas obras.
7º Não roubar.
8º Não levantar falsos testemunhos.
9º Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
10º Não cobiçar as coisas alheias.
Segundo a doutrina católica sobre os Dez Mandamentos, eles são de observância e
cumprimento obrigatórios, porque "enuncia deveres fundamentais do homem para
com Deus e para com o próximo" e dão a conhecer também a vontade divina sobre
a conduta moral dos homens .
Dentro da fé católica, os sacramentos, que a Igreja acredita serem instituídas por Jesus,
são gestos e palavras de Cristo que concedem e comunicam a graça santificadora sobre
quem os recebe. Sobre os sacramentos, São Leão Magno diz: "«o que era visível
no nosso Salvador passou para os seus sacramentos»".
Ao celebrá-los, a Igreja Católica alimenta, exprime e fortifica a sua fé, sendo por isso os
sacramentos uma parte integrante e inalienável da vida de cada católico e fundamentais
para a sua salvação. Isto porque eles conferem ao crente a graça divina, os dons
do Espírito Santo, "o perdãodos pecados, [...] a conformação a Cristo Senhor e a
pertença à Igreja", que o torna capaz "de viver a vida nova de filhos de Deus em Cristo
acolhido com a fé". Daí a grande importância dos sacramentos na liturgia católica .
Ao todo, a Igreja Católica tem sete sacramentos:
138
Baptismo é dado às criança e a convertidos adultos que não tenham sido antes
baptizados validamente (o baptismo da maior parte das igrejas cristãs é considerado
válido pela Igreja Católica, contanto que seja feito pela fórmula: "em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo". A rigor, todo cristão pode, nessa fórmula, batizar
validamente alguém, nomeadamente em situações urgentes. Entretanto, o baptismo
será ilícito, devendo o baptizado ser levado na presença de um sacerdote, para que
complete os rituais do sacramento, como a unção com o Crisma e com o óleo
dos catecúmenos).
Confissão, Penitência ou Reconciliação envolve a admissão de pecados perante um
padre e o recebimento de penitências (tarefas a desempenhar a fim de alcançar a
absolvição ou o perdão de Deus).
Eucaristia (Comunhão) é o sacramento mais importante da Igreja porque ela
relembra e renova o mistério pascal de Cristo, actualizando e renovando assim a
salvação da humanidade. Por isso, recebe também o nome de Santíssimo
Sacramento. Este sacramento está associado também à transubstanciação, que é a
crença de que, após a consagração, o pão e o vinho oferecidos e consagrados se
tornam realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, sob as aparências de pão e
vinho.
Na Confirmação ou Crisma, o Espírito Santo, que é recebido no baptismo é
"fortalecido e aprofundado" através da imposição de mãos e da unção com santo óleo
doCrisma. Na maior parte das igrejas de Rito latino, este sacramento é presidido por
um bispo e tem lugar no início da idade adulta (na maioria das vezes, quando se
completam 15 anos). Nas Igrejas Católicas Orientais o sacramento do Crisma é
geralmente executado por um padre imediatamente depois do baptismo.
Sagrado matrimónio é o sacramento que valida, diante de Deus, a união de um
homem e uma mulher, constituindo assim uma família. Segundo a tradição católica,
com base no Evangelho de São Marcos, o casamento é indissolúvel. Só é permitido
um segundo casamento no caso da morte de um dos cônjuges ou em situações
especiais de nulidade do casamento.
A Ordem recebe-se ao entrar para o clero, através da consagração das mãos com o
santo óleo do Crisma e, no rito latino (ou ocidental), envolvem
um voto de castidadeenquanto que nos ritos orientais, os homens casados são
admitidos como padres diocesanos, mas não como bispos ou padres monásticos. Em
raras ocasiões, permitiu-se que padres casados que se converteram a partir de outros
grupos cristãos fossem ordenados no rito ocidental.
No rito ocidental, os homens casados podem ser ordenados diáconos permanentes,
mas não podem voltar a casar se a esposa morrer ou se for declarada a nulidade do
139
casamento. O sacramento das Ordens Sagradas é dado em três graus: o
do diácono (desde o Concílio Vaticano II um diácono permanente pode ser casado
antes de se tornar diácono), o de sacerdote e o de bispo.
A Unção dos enfermos era conhecida como "extrema unção" ou "último sacramento".
Envolve a unção de um doente com um óleo sagrado dos enfermos, abençoado
especificamente para esse fim. Já não está limitada aos doentes graves e aos
moribundos, mas a Igreja recomenda esse sacramento e o viático para a hora da
morte.
Os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja Católica (não confundir com os Dez
Mandamentos da Lei de Deus), na sua forma atual, foram estabelecidos pelo Papa
João Paulo II e promulgados em 2005 pelo Papa Bento XVI, onde suprimiu-se o
termo "dízimos" do quinto mandamento (pagar dízimos conforme o costume), cujo
sentido real era, obviamente, uma contribuição segundo as possibilidades de cada um,
e não uma taxação ou imposto sobre os rendimentos.
Os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja são:
1. Participar na Missa, aos domingos e festas de guarda e abster-se de trabalhos e
atividades que impeçam a santificação desses dias.
2. Confessar os pecados ao menos uma vez cada ano.
3. Comungar o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa.
4. Guardar a abstinência e jejuar nos dias determinados pela Igreja:
Dias de jejum: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa.
Dias de abstinência de carne ou de qualquer outra comida determinada pela
conferência episcopal: todas as sextas-feiras, principalmente as da Quaresma, a
não ser que uma solenidade seja numa sexta-feira.
5. Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as suas
possibilidades.
A Igreja Católica tem uma hierarquia, sendo o seu Chefe o Papa. A expressão "Santa
Sé" significa o conjunto do Papa e dos dicastériosda Cúria Romana, que o ajudam no
governo de toda a Igreja.
A Igreja tem uma estrutura hierárquica de títulos que são, em ordem descendente:
Papa, que é o Sumo Pontífice e chefe da Igreja Católica, o guardador da
integridade e totalidade do depósito da fé, o Vigário de Cristo na Terra, o Bispo de
Roma e o possuidor do Pastoreio de todos os cristãos, concedido por Jesus Cristo a
São Pedro e, consequentemente, a todos os Papas.
140
Esta autoridade papal (Jurisdição Universal) vem da fé de que ele é o sucessor
directo do Apóstolo São Pedro . Na Igreja latina e em algumas das orientais, só o
Papa pode designar os membros da Hierarquia da Igrejaacima do nível
de presbítero. Aos Papas atribui-se infalibilidade. Por essa prerrogativa, as decisões
papais em questões de fé e costumes (moral) são infalíveis quando proclamadas ex-
cathedral. Todos os membros da hierarquia respondem perante o Papa e a sua
corte papal, chamada de Cúria Romana.
Cardeais são os conselheiros e os colaboradores mais íntimos do Papa, sendo todos
eles bispos (alguns só são titulares). Aliás, o próprio Papa é eleito, de forma vitalícia
(a abdicação é rara, porque já não acontecia desde a Idade Média) pelo Colégio dos
Cardeais. A cada cardeal é atribuída uma igreja ou capela (e daí a classificação
em cardeal-bispo, cardeal-presbítero e cardeal-diácono) em Roma para fazer dele
membro do clero da cidade. Muitos dos cardeais servem na Cúria, que assiste o
Papa na administração da Igreja. Todos os cardeais que não são residentes em
Roma são bispos diocesanos.
Patriarcas são normalmente títulos possuídos por alguns líderes das Igrejas
Católicas Orientais sui juris. Estes patriarcas orientais, que ao todo são seis, são
eleitos pelos seus respectivos Sínodos e depois reconhecidos pelo Papa. Mas alguns
dos grandes preladosda Igreja Latina, como o Patriarca de Lisboa e o Patriarca de
Veneza, receberam também o título de Patriarca, apesar de ser apenas honorífico e
não lhes conferirem poderes adicionais.
Arcebispos (Metropolita ou Titular) são bispos que, na maioria dos casos, estão à
frente das arquidioceses. Se a sua arquidiocese for a sede de uma província
eclesiástica, eles normalmente têm também poderes de supervisão e jurisdição
limitada sobre as dioceses(chamadas sufragâneas) que fazem parte da
respectiva província eclesiástica.
Bispos (Diocesano, Titular e Emérito) são os sucessores diretos dos doze
Apóstolos. Receberam o todo do sacramento da Ordem, o que lhe confere, na
maioria dos casos, jurisdição completa sobre os fiéis da sua diocese.
Presbíteros ou Padres são os colaboradores dos bispos e só têm um nível de
jurisdição parcial sobre os fiéis. Alguns deles lideram as paróquias da sua diocese.
Monsenhor é um título honorário para um presbítero, que não dá quaisquer
poderes sacramentais adicionais.
Diáconos são os auxiliares dos presbíteros e bispos e possuem o primeiro grau do
Sacramento da Ordem. São ordenados não para osacerdócio, mas para o serviço
da caridade, da proclamação da Palavra de Deus e da liturgia. Apesar disso, eles
não consagram ahóstia (parte central da Missa) e não administram a Unção dos
enfermos e a Reconciliação.
141
Todos os ministros sagrados supra-mencionados fazem parte do clero. A Igreja
acredita que os seus clérigos são "ícones de Cristo", logo todos eles são homens, porque
os doze Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua forma humana, também é
homem. Mas isto não quer dizer que o papel da mulher na Igreja seja menos
importante, mas apenas diferente. Exceptuando em casos referentes a padres
ordenados pelas Igrejas orientais, aos diáconos permanentes e a alguns casos
excepcionais, todo o clero católico é celibatário. Os clérigos são importantes porque
efetuam exclusivamente determinadas tarefas, como a celebração da Missa e dos
sacramentos.
Existem ainda funções menores: Leitor, Ministro Extraordinário da Comunhão
eucarística, Ministro da Palavra e Acólito. Estas funções tomados em conjunto não
fazem parte do clero, pois são conferidas aos leigos, uma vez que, para entrar para
o sacerdócio, é preciso ao católico receber o sacramento da Ordem. Desde o Concílio
Vaticano II, os leigos tornaram-se cada vez mais importantes no seio da vida eclesial e
gozam de igualdade em relação ao clero, em termos de dignidade, mas não de funções.
Dentro da Igreja, também existem um grupo de leigos ou de clérigos que decidiram
tomar uma vida consagrada e normalmente agrupam-se em ordens
religiosas, congregações religiosas ou em institutos seculares, existindo porém aqueles
que vivem isoladamente ou até junto dos não-consagrados.
Na Igreja Católica, para além do culto de adoração a Deus, existe também o culto
de veneração aos Santos e à Virgem Maria. Estes cultos, são muito diferentes, mas
ambos são expressos através da liturgia, que é o culto oficial e público da Igreja, e
também através da piedade popular, que é o culto privado dos fiéis.
Dentro da liturgia, destaca-se a Missa (de frequência obrigatória aos Domingos e festas
de guarda) e a Liturgia das Horas; enquanto que na piedade popular, destacam-se
indubitavelmente as devoções e as orações quotidianas. Apesar de a piedade
popular ser de certo modo facultativa, ela é muito importante para o crescimento
espiritual dos católicos. As principais devoções católicas são expressas em "fórmulas
de orações" a Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), à Virgem Maria e
aos Santos (novenas, trezena, Santo Rosário...); em "peregrinações aos lugares
sagrados"; na veneração de medalhas, estátuas, relíquias e imagens sagradas e bentas de
Cristo, dos Santos e da Virgem Maria; em procissões; e em outros "costumes
populares".
O ato de prece mais importante na Igreja Católica é, sem dúvida, a liturgia Eucarística,
normalmente chamada de Missa. A liturgia, que é centrada na missa, é a celebração
oficial e pública do "Mistério de Cristo e em particular do seu Mistério Pascal". Através
dela, "Cristo continua na sua Igreja, com ela e por meio dela, a obra da
nossa redenção" . Esta "presença e actuação de Jesus" são assegurados eficazmente
142
pelos sete sacramentos , com particular para a Eucaristia, que renova e perpetua "o
sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até ao regresso" de Jesus. Por isso, toda a
missa centra-se na Eucaristia, porque ela "é fonte e cume da vida cristã" e nela "a acção
santificadora de Deus em nosso favor e o nosso culto para com Ele" atingem o cume.
Jesus, como Cabeça, celebra a liturgia com os membros do seu Corpo, ou seja, com a
sua "Igreja celeste e terrestre", constituída por santos e pecadores, por habitantes da
Terra e do Céu. Cada membro da Igreja terrestre celebra e atua na liturgia "segundo a
sua própria função, na unidade do Espírito Santo: os batizados oferecem-se
emsacrifício espiritual [...]; os Bispos e os presbíteros agem na pessoa de Cristo
Cabeça", representando-o no altar. Daí que só os clérigos (excetuando os diáconos) é
que podem celebrar e conduzir a Missa, nomeadamente a consagração da hóstia.
Apesar de celebrar o único Mistério de Cristo, a Igreja possui muitas tradições
litúrgicas diferentes, devido ao seu encontro, sempre fiel à Tradição católica, com os
vários povos e culturas.
A missa é celebrada todos os domingos; no entanto, os católicos podem cumprir as
suas obrigações dominicais se forem à missa no sábado. Os católicos devem também ir
à missa em cerca de dez dias adicionais por ano, chamados de Dias Santos de
Obrigação. Missas adicionais podem ser celebradas em qualquer dia do ano litúrgico,
exceto naSexta-feira Santa, pois neste dia não se celebra a Missa em nenhuma igreja
católica do mundo. Muitas igrejas têm missas diárias. A missa é composta por duas
partes principais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia. Durante a Liturgia da
Palavra, são lidas em voz alta uma ou mais passagens da Bíblia, acto desempenhado
por um Leitor (umleigo da igreja) e pelo padre ou diácono (que lêem sempre as
leituras do Evangelho). Depois de concluídas as leituras, é feita a homilia por
um clérigo. Nas missas rezadas aos domingos e dias de festa, é professado por todos os
católicos presentes o Credo, que afirma as crenças ortodoxas (ou seja, oficiais)
do catolicismo. A Liturgia da Eucaristia inclui a oferta de pão e vinho, a Prece
Eucarística, durante a qual o pão e o vinho se transformam no Corpo e Sangue de
Cristo, e a procissão da comunhão.
Além da missa, a Liturgia das Horas também é extremamente importante na vida
eclesial, porque ela é a oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica. Esta
oração consiste basicamente na oração quotidiana em diversos momentos do dia,
através de Salmos e cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação
de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura cumprir o mandato que recebeu
de Cristo, de orar incessantemente, louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos
os homens. A Liturgia das Horas, que é uma antecipacão para a celebração eucarística,
não exclui, mas requer de maneira complementar, as diversas devoções católicas,
particularmente a adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.
143
VI- RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
1.Candomblé
As religiões afro-brasileiras na maioria são relacionadas com a religião yorùbá e
outras religiões tradicionais africanas, é uma parte das religiões afro-americanas e
diferentes das religiões afro-cubanas como a Santeria de Cuba e
o Vodou do Haiti pouco conhecidas no Brasil.
Antes da abolição da escravatura em 1888, os negros escravizados fugidos das
fazendas, reuniam-se em lugares afastados nas florestas em agrupamentos ou
comunidades chamadas quilombos, depois da libertação, os africanos libertos reuniam-
se em comunidades nas cidades que passaram a chamar de candomblé. Candomblé é
o nome genérico que se dá para todas as casas de candomblé independente da nação.
A palavra candomblé a princípio era usado para designar qualquer festa dos africanos,
teria sua origem nas línguas bantu da palavra Candombe que no Uruguai é um ritmo
musical afro-uruguaio que deve existir também em outros países que receberam
escravos africanos.
Nas religiões afro-brasileiras, vários termos são usados para designar iniciação.
Cada uma das religiões tem seus termos próprios, iniciação, feitura, feitura de
santo, raspar santo, são mais usados nosterreiros de candomblé, Candomblé de
Caboclo, Cabula, Omoloko, Tambor de Mina, Xangô do Nordeste, Xambá,
no Batuqueusa-se o termo fazer a cabeça ou feitura.
No Culto de Ifá e no Culto aos Egungun usam o termo iniciação porém
os preceitos são diferentes das outras religiões.
No candomblé o período de iniciação é de no mínimo sete anos, se inserem os rituais
de passagem, que indicam os vários procedimentos dentro de um período
de reclusão que geralmente é de 21 dias (podendo chegar a 30 dias dependendo da
região), o aprendizado de rezas, cantigas, línguas sagradas, uso das folhas (folhas
sagradas), catulagem, raspagem, pintura, imposição do adoxú e apresentação pública, é
individual e faz parte dos preceitos de cada pessoa que entra para a religião dosorixás.
No Candomblé Jeje a iniciação ao culto dos voduns é complexa e longa, de no mínimo
sete anos, o período de reclusão pode chegar a durar um ano, que pode envolver
longas caminhadas a santuários e mercados, dentro do convento ou
terreiro hunkpame, onde os neófitos são submetidos a uma dura rotina de danças,
preces, aprendizagem delínguas sagradas e votos de segredo e obediência.
144
A princípio, nessas cerimônias, tem que haver o desprendimento total,
na iniciação deve-se morrer para renascer com outro nome para uma nova vida,
no candomblé Ketu o Orunkó do Orixá (só dito em público no dia do nome),
no Candomblé bantu além do nome do Nkisi (jamais revelado), tem a dijína pelo qual
será chamado o iniciado pelo resto da vida.
Quando uma pessoa iniciada morre é feito o desligamento
do Egum, Nvumbe na cerimônia fúnebre e no Axexê, conhecido pelos nomes de
sirrum e zerim, que varia dependendo do grau iniciático do morto.
Na Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de santo
propriamente dita, uma vez que não incorporam Orixás incorporam os Falangeiros de
Orixás, usa-se o termo fazer a cabeça onde pode existir a catulagem e pintura, porém a
cabeça não é raspada completamente, e não tem imposição do adoxú.
A reclusão nesses casos é de três a sete dias, é feita a instrução esotérica, aprendizado
das rezas e pontos riscados e cantados, e é feita a apresentação pública.
O Babaçuê é de origem indigena, porém já adota algumas influências da Umbanda.
O "Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira" (Cenarab),
a Baixada Fluminense tem 3,8 mil terreiros contra apenas 1,2 mil na área
de Salvador e do Recôncavo Baiano, informação dada por Jairo Pereira, do Cenarab
em 1997.
De todas as religiões afro-brasileiras, a mais próxima da Doutrina Espírita é um
segmento (linha) da Umbanda denominado de "Umbanda branca", e que não tem
nenhuma ligação com o Candomblé, o Xambá, o Xangô do Recife ou o Batuque.
Embora popularmente se acredite que estas últimas sejam um tipo de "espiritismo", na
realidade trata-se de religiões iniciáticas animistas, que não partilham nenhum dos
ensinamentos relacionados com a Doutrina Espírita. Entretanto, outros segmentos
da Umbanda podem ter algumas semelhanças com a Doutrina Espírita, mas também
com o Candomblé por causa da figura dos Orixás.
No tocante específicamente ao Candomblé, crê-se na sobrevivência da alma após a
morte física (os Eguns), e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados (os
Orixás, cultuados coletivamente), não materializam; caso não divinizados
(os Egungun), materializam em vestes próprias para estarem em contacto com os seus
descendentes (os vivos), cantando, falando, dando conselhos e auxiliando
espiritualmente a sua comunidade. Observa-se que o conceito de "materialização" no
Candomblé, é diferente do de "incorporação" na Umbanda ou na Doutrina Espírita.
Em princípio os Orixás só se apresentam nas festas e obrigações para dançar e serem
homenageados. Não dão consulta ao público assistente, mas podem eventualmente
145
falar com membros da família ou da casa para deixar algum recado para o filho. O
normal é os Orixás se expressarem através do jogo de Ifá, (oráculo) e merindilogun.
Dependendo da nação ou linha de candomblé, os candomblés tradicionais não fazem
a princípio contato com espíritos através da incorporação para consultas, é possível
mas não é aceito.
Já o candomblé de caboclo tem uma ligação muito forte com caboclos e exus que
incorporam para dar consultas, os caboclos são diferentes da Umbanda.
E existem os candomblés cujos pais de santo eram da Umbanda e passaram para o
candomblé que cultuam paralelamente os Orixás e os guias de Umbanda.
No Candomblé, todo e qualquer espírito deve ser afastado principalmente na hora da
iniciação, para não correr o risco de um deles incorporar na pessoa e se passar por
orixá, o Iyawo recolhido é monitorado dia e noite, recorrendo-se ao Ifá ou jogo de
búzios para detectar a sua presença. A cerimónia só ocorre quando este confirma a
ausência de Egunsno ambiente de recolhimento.
Afastam todo e qualquer espírito (egun), ou almas penadas, forças negativas,
influências negativas trazidas por pessoas de fora da comunidade. Acredita-se que
pessoas trazem consigo boas e más influências, bons e maus acompanhantes (espíritos),
através do jogo de Ifá poderá se determinar se essas influências são de
nascimento Odu, de destino ou adquiridas de alguma forma.
Os espíritos são cultuados, nas casas de Candomblé, em uma casa em separado, sendo
homenageados diariamente uma vez que, como Exú, são considerados protetores da
comunidade.
Existem Orixás que já viveram na terra, como Xangô, Oyá, Ogun, Oxossi, viveram e
morreram, os que fizeram parte da criação do mundo esses só vieram para criar o
mundo e retiraram-se para o Orun, o caso de Obatalá, e outros chamados Orixá
funfun (branco).
Existem as árvores sagradas que são as mesmas das religiões tradicionais
africanas onde Orixás são cultuados pela comunidade como é o caso de Iroko,
Apaoká, Akoko, e também os orixás individuais de cada pessoa que é uma parte do
Orixá em si e são a ligação da pessoa, iniciada com o Orixá divinizado.
Ou seja uma pessoa que é de Xangô, seu orixá individual é uma parte
daquele Xangô divinizado com todas as características, ou como chamam arquétipo.
Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o Orixá pessoal é uma
manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado, outros
dizem ser uma incorporação mas é rejeitada por muitos membros do candomblé,
146
justificam que nem o culto aos Egungun é de incorporação e sim de materialização.
Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do
candomblé.
147
VII- NEO PAGANISMO
1.Wicca
Religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa
ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como a magia) e os princípios
físicos e espirituais masculinos e femininos que interam a natureza, e que celebra
os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, os quais ocorrem,
normalmente, oito vezes por ano. Autoridades como Alex Sanders referem-se a ela
como religião natural, "a mais antiga do mundo".
É muitas vezes referida como Witchcraft (bruxaria) ou the Craft (a arte) por seus
seguidores, que são conhecidos como Wiccanos ou Bruxos.
Suas origens contestadas residem na Inglaterra no início do século XX, mas foi
popularizada nos anos 50 por Gerald Gardner, que na época chamava a religião de
"culto às bruxas" e "bruxaria", e seus seguidores "a Wicca".
A Wicca é uma religião politeísta, de culto basicamente dualista, que crê
tradicionalmente na Mãe Tríplice e no Deus Cornífero, ou religião matriarcal de
adoração à deusa mãe.
Estas duas deidades são muitas vezes vistas como faces de uma
divindade panteísta maior, ou que se manifestam como várias divindades politeístas.
A Wicca também envolve a prática ritual da magia, em grande parte influenciada
pela magia cerimonial do passado, muitas vezes em conjunto com um código de
moralidade liberal conhecida como a Wiccan Rede, embora não seja uma regra.
Embora algumas tradições adorem o celta Cernuno, símbolo da virilidade, e por vezes
seja confundida com Satanismo, os wiccanos não creem em Lúcifer ou em Satã.
Desde meados do século XX, a Bruxaria tornou-se a autodesignação de uma sucursal
do neopaganismo, especialmente na tradição Wicca, cujo pioneiro foi Gerald Gardner,
que alegava ter resgatado uma antiga tradição religiosa da bruxaria com raízes pré-
cristãs (alguns wiccanos dizem que é a mais antiga religião do mundo).
Na década de 1920 e na década de 1930, a egiptóloga Dr. Margaret Murray publicou
diversos livros influentes detalhando suas teorias de que as bruxas e bruxos caçados
durante a Idade Média não eram, como alegavam seus perseguidores cristãos, adeptas
do Satanismo, mas simpatizantes de uma religião pagã pré-cristã que adorava um deus
cornífero — o Culto Bruxo.
Antes de Murray, nomes como Girolamo Tartarotti, Matilda Joslyn Gage, Jacob
Grimm, Karl Pearson, Jules Michelet e Charles Leland já escreviam linhas ou livros
inteiros sobre o contraste entre as duas religiões na Idade Média e Renascimento.
148
Embora nos dias de hoje a pesquisa histórica aprofundada tenha desacreditado de
Murray, suas teorias foram amplamente aceitas e apoiadas na época.
Nos anos 30, apareceu a primeira evidência de uma prática pagã de religião de
bruxaria (o que hoje é reconhecida como Wicca) na Inglaterra.
Diversos grupos em todo o país, em lugares como Norfolk, e Cheshire se
autoproclamaram continuadores da tradição do Culto Bruxo de Murray, embora
estivessem abertos a influências de diversas outras fontes, tais como a Magia
Cerimonial, a Maçonaria, a Teosofia, o Romantismo, o Druidismo, a mitologia
clássica e as religiões asiáticas.
A Bruxaria tornou-se mais proeminente, contudo, na década de 1950 com
a revogação da Lei de Feitiçaria de 1735, da qual diversas figuras, como Charles
Cardell, Cecil Williamson e notavelmente Gerald Gardner, começaram a propagar
suas próprias versões do ofício. Gardner foi iniciado no New Forest coven em 1939,
antes de formar sua própria tradição, mais tarde chamada Gardnerianismo. Sua
tradição, auxiliada por sua Alta Sacerdotiza Doreen Valiente e com a publicação de
seus livros A Bruxaria Hoje (1954) e O Sentido da Bruxaria (1959), logo se tornou a
tradição dominante no país, e se espalhou para outras regiões das Ilhas Britânicas.
São comuns os boatos de que o verdadeiro autor por detrás dos escritos de Gerald
Gardner, tenha sido o mago inglês Aleister Crowley. Contudo, não existem evidências
que dêem sustentação a esta teoria.
Por outro lado, Gardner não apenas foi um membro iniciado de VIIº da Ordo Templi
Orientis (ordem liderada e reformada por Crowley de uma academia maçônica para
uma organização indepentende seguidora da filosofia conhecida como Thelema) como
recebeu autorização para liderar os trabalhos da Ordem naInglaterra.
Com isto, é clara a herança thelemica dentro da Wicca. O postulado "faze o que tu
queres desde que não faças mal a ninguém" é facilmente percebido como uma
adaptação do primeiro postulado da Lei de Thelema: "Faze o que tu queres será o
todo da Lei".
Fora isso, trechos de rituais da Wicca Gardneriana são cópias literais de trechos de
ritos thelemicos.
Com a morte de Gardner em 1964, o Ofício continuou a crescer inabalável apesar
do sensacionalismo e das opiniões negativas publicadas pelos tablóides britânicos, com
novas tradições propagadas por figuras como Robert Cochrane, Sybil Leek e Alex
Sanders, criador da Tradição Alexandrina, que, baseada no Garderianismo, embora
com uma ênfase na magia cerimonial, espalhou-se rapidamente e ganhou muita
atenção da mídia.
149
Nesta época, o termo "Wicca" começou a ser adotado ao lado de "Bruxaria" e suas
crenças e tradições exportadas para países como Austrália e os Estados Unidos.
Foi nos Estados Unidos e na Austrália que novas tradições da Wicca surgiram, muitas
vezes baseada emfolk regionais e às vezes misturadas com a estrutura básica da Wicca
de Gardner, gerando diversas formas de Wicca como o Dianismo de Zsuzsanna
Budapest, cada uma delas enfatizando diferentes aspectos do ofício.
Na década de 1970, a literatura Wicca também cresceu, e muitos livros ensinando
pessoas a se tornarem bruxos sem iniciações formais começaram a ser publicados em
grandes quantidades pelo mundo, como o Mastering Witchcraft (1970) de Paul
Huson, um manual "faça você mesmo" que se tornou muito famoso e influenciou
novos bruxos.
Livros da mesma ordem continuaram a serem publicados através dos anos 80 e anos
90, com a autoria de nomes como Doreen Valiente, Janet Farrar, Stewart Farrar eScott
Cunningham, que popularizou a ideia de auto-iniciação ao Ofício com seu Wicca: Um
Guia Para o Praticante Solitário (1988).
Nos anos 90, as poucas mas pioneiras comunidades wiccanas no Brasil procuravam se
solidificar em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, e fazer conexões com
associações européias a fim de regulamentar a religião Wicca no país.
A partir de então, a Wicca e a Bruxaria em geral têm crescido expressivamente no
Brasil, especialmente em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, nos dias de hoje.
O primeiro livro traduzido do inglês para o português trazendo o
termo wiccaniano(a) foi Wicca: A Feitiçaria Moderna, de Gerina Dunwich.
Posteriormente, outros livros traduzidos passaram a apresentar o termo "wiccano"
como uma alternativa para a palavra inglesa "wiccan", termo usual para designar um
adepto da religião em questão naquele idioma.
Na década de 90, onde cada vez mais a Bruxaria ganhava novos adeptos, surgiram
filmes comoJovens Bruxas (1996), dirigido por Andrew Fleming, e seriados
como Charmed (1998-2006), introduzindo aos jovens uma ideia de religião bruxa.
Mas, criticando a forma como a Wicca veio sendo encarada desde então, como moda,
como ecletismo, e sendo engajada em movimentos como aNova Era, muitos bruxos,
notavelmente Andrew Chumbley, voltaram-se para a antiga tradição de Gardner, como
uma forma de "levar a sério" o Ofício.
O termo "Wicca" foi primeiramente aceito nas décadas de 1960 e 70 como parte da
religião Wicca da época.
Antes disso, o termo "Witchcraft" era utilizado de forma mais histórica e ampla. Apesar
de baseada na palavra wiccian do inglês antigo, que se referia apenas e exclusivamente
aos feiticeiros (sendo wicce utilizada para se referir às feiticeiras do sexo feminino), o
150
indivíduo real que cunhou o termo "Wicca" é desconhecido, embora especula-se que
tenha sido Charles Cardell, muito certamente na década de 1950.
Gardner usava a palavra wiccian com o sentido de "jogar com a sorte".
Nos dias de hoje, trata-se o praticante da religião através da sua linhagem tradicional.
Assim, ao invés de dizer que alguém é Bruxo ou Wiccano ou Wiccaniano ou Wiccan,
trata-se o praticante da religião como Gardneriano, Xandrino, Georgino, etc. para que
estas situações se resolvam por vez.
Não é sabido oficialmente o número de wiccanos no mundo inteiro e constatou-se que
é mais difícil estabelecer o número de membros de religiões neo-pagãs do que de
qualquer outra religião devido à sua estrutura familiar ou clãns.
No Brasil, de acordo com o gráfico mostrado, até o ano de 2000, haviam cerca de
10.000 a 50.000 wiccanos, embora não haja uma diversificação entre a Wicca e as
outras tradições neopagãs; isso fez com que noCenso 2000 os wiccanos fossem
incluídos nos grupos de "outras religiões" e "Religiosidade não Determinada". De
qualquer forma, desde a década de 1990 a Wicca, ou a Bruxaria em geral, têm
crescido muito no país, especialmente em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e em
agumas cidades do Nordeste.
De 2000 à 2010, a religião Wicca teve um crescimento absurdo e, por mais que
no Censo 2010 realizado pelo IBGE, a religião Wicca, o Paganismo e o Neo-
paganismo não tivessem sido incluídos na relação das religiões existentes no país,
pode-se dizer que muitos dos seguidores das religiões pagãs e neo-pagãs, como é o
caso da religião Wicca, foram distribuídos entre as tradições esotéricas (74.013
seguidores), outras religiões (11.306 seguidores) ou religiosidade não determinada/mal
definida (628.219 seguidores).
Contudo, como já foi mencionado acima, existem vários segmentos dentro do
paganismo e do neo-paganismo, mas sendo a Wicca a religião que mais tem crescido
no Brasil dentre as demais religiões pagãs e neo-pagãs, principalmente por conta de
sua constante presença nos diálogos inter-religiosos de nosso país, a coloca também
como a de maior expressão, conseguinte, a de maior número junto às demais, pegando
uma fatia de pelo menos 2/5 de praticantes diretos e indiretos.
Desta forma, de acordo com alguns levantamentos, há uma estimado de que haja em
torno de 250 mil à 300 mil seguidores da religião Wicca no Brasil.
Isso não significa que sejam todos sacerdotes ou sacerdotisas, mas também seguidores
da religião.
Contudo, cabe lembrar mais uma vez que estes números são baseados em estimativa,
uma vez que ainda não temos no Censo demográfico realizado pelo IBGE a opção
Wicca, Paganismo ou Neo-paganismo.
151
No Reino Unido, da mesma forma, os censos não permitem uma separação dentro do
contexto pagão, fazendo com que os wiccanos sejam marcados ao lado de outras
tradições neo-pagãs como a dos druidas e dos heathens através de um acordo em
comum realizado em 2001.
Recentemente, pela primeira vez os entrevistados foram capazes de se inscrever numa
afiliação não abrangidos pela lista comum das religiões, e um total de 42.262 pessoas
da Inglaterra, Escócia e País de Gales se declararam pagãos por este método.
Existem vários pontos em comum entre esses diferentes grupos, que geralmente
incluem pontos de vista sobre teologia, vida após a morte, magia e moralidade.
Embora as opiniões sobre a teologia da Wicca sejam variadas, a grande maioria dos
Wiccanos veneram tanto um Deus quanto uma Deusa.
Essas duas divindades são entendidas de várias formas através de perspectivas
do panteísmo (como os aspectos duais de uma única divindade), duoteísmo (como
dois pólos opostos) ou o politeísmo(sendo composta por muitas divindades menores).
Em algumas concepções panteístas e duoteísticas, divindades de diferentes culturas
podem ser vistas como aspectos da Deusa ou do Deus.
A tradição de Gardner prega que o Deus Cornífero é associado à morte, caça e magia,
um deus que reina sobre um paraíso pós-mundo (às vezes referido como
Summerland), enquanto que a Deusa Mãe (simultaneamente a Virgem Eterna e a
Feiticeira Primordial) é associada ao amor pela vida e à regeneração e ao renascimento
das almas dos mortos.
No entanto, existem também outros pontos de vista teológicos a serem encontrados
dentro da Bruxaria, incluindo o monoteísmo, o conceito de que há apenas um
divindade, que é visto por alguns, como no Dianismo, como a Deusa, enquanto que
para outros é um ser sem gênero, como na Church and School of Wicca.
Existem outros que são ateus ou agnósticos, que não acreditam em qualquer divindade
real, mas veem os deuses como arquétipospsicológicos da mente humana que podem
ser evocados.
De acordo com a bruxa Janet Farrar e com Gavin Bone, a Wicca está se tornando
cada vez mais politeísta à medida que amadurece, ao mesmo tempo que também
abraça uma cosmovisão pagã mais tradicional.
Para Janet e Stewart Farrar, que apoiam uma visãopanteística, duoteística e animista da
teologia, Wiccanos "veem todo o cosmos como vivo, como um todo e em todas as suas
partes", mas que "tal visão orgânica do cosmos não pode ser totalmente expressa e
vivida, sem o conceito de Deus e Deusa.
152
Não há manifestação sem polarização, assim, ao mais alto nível criativo, que da
Divindade, a polarização deve ser o mais claro e poderoso de todos, refletindo e
espalhando-se por todos os níveis microcósmicos".
Para a maioria dos Wiccanos, o Deus e Deusa são vistos como polaridades
complementares no universo, existindo um equilíbrio entre um e outro, e desta forma
têm sido comparados com o conceito de yin e yang, encontrado no Taoísmo.
Como tal, são muitas vezes interpretados como sendo "encarnações de uma força de
vida manifesta na natureza", com alguns Wiccanos acreditando que eles são
simplesmente simbólos dessas polaridades, enquanto outros acreditam que o Deus e a
Deusa são seres verdadeiros que existem de forma independente. Às duas divindades
são dadas frequentemente associações simbólicas, com a Deusa comumente sendo
simbolizado como aTerra (ou seja, a Mãe Terra), mas também às vezes como a Lua, a
qual complementa o Deus, visto como o Sol.
Tradicionalmente, o Deus é visto como um Deus Cornífero, associado com
a natureza selvagem, a sexualidade, a caça e o ciclo de vida.
Ao Deus Cornífero é dado vários nomes de acordo com a tradição, e estas
incluem Cernuno, Pã, Atho e Karnayna. Embora este valor não seja igualado com a
figura tradicional de Satã, que é visto como sendo uma entidade dedicada ao mal
no cristianismo, uma pequena minoria de Wiccanos, de acordo com as acusações dos
julgamentos históricos de bruxas, referem-se a seu Deus Cornífero com alguns dos
nomes de Satanás, como "Diabo" ou como "Lúcifer", um termo latino que significa
"portador da luz".
Em outras ocasiões, o Deus é visto como o Homem verde, uma figura tradicional na
arte e da arquitetura européia, e muitas vezes interpretado como sendo associado com
o mundo natural.
O Deus é frequentemente descrito como um Deus Sol, em especial no festival
de Litha, ou o solstício de verão. Outra representação de Deus é a do Rei Carvalho e o
Rei Azevinho, aquele que governa aprimavera e o verão, esse que governa o outono e
o inverno.
A Deusa é geralmente retratada como uma Deusa tríplice, sendo assim uma divindade
triádica composta de uma deusa virgem, umadeusa-mãe e uma deusa anciã, cada um
dos quais tem associações diferentes, ou seja, a virgindade, a fertilidade e a sabedoria.
Ela também é comumente descrita como uma Deusa Lua, e muitas vezes é dado o
nome de Diana após a divindade romana. Alguns wiccanos, especialmente a partir
da década de 1970, têm visto a Deusa como a mais importante das duas divindades,
que é pré-eminente de que ela contém e concebe tudo.
153
A este respeito, o Deus é visto como a centelha de vida e inspiração dentro dela, ao
mesmo tempo seu amante e seu filho.
Para uma forma monoteísta da Wicca, o Dianismo, a Deusa é a divindade única, um
conceito que tem sido criticado por membros de outras tradições mais igualitárias.
O conceito de ter uma religião e venerar um Deus Cornífero acompanhado de uma
Deusa tinha sido elaborado pela egiptóloga Margaret Murray durante a década de
1920.
Ela acreditava que, com base em suas próprias teorias sobre os primeiros ensaios da
bruxaria moderna na Europa, que essas duas divindades, mas principalmente o Deus
Cornífero, tinha sido adorado por um culto bruxo, desde que a Europa
Ocidental sucumbiu ao cristianismo.
Embora amplamente desacreditada, Gerald Gardner foi um defensor de sua teoria, e
acreditava que a Wicca foi uma continuação do histórico culto bruxo, e do Deus
Cornífero e da Deusa, eram, portanto, antigas divindades das ilhas britânicas.
A sabedoria moderna refutada as suas pretensões, porém vários diferentes deuses
corníferos e deusas mãe eram de fato adorados nas ilhas britânicas durante os períodos
antigo e medieval.
Existem muitos adeptos da Wicca que acreditam que a Deusa e o Deus são
meramente dois aspectos de uma mesma Deidade, às vezes vista como uma
deidade panteística, abrangendo, assim, tudo o que existe no Universo.
Em seus escritos, Gardner se refere a este ser como o Motor Primordial que
permaneceu desconhecido durante os séculos, embora nos rituais da sua tradição
chamada Gardnerianismo ele seja referido como Dryghten, originalmente uma palavra
que significa "Lord" ("Senhor") na Língua inglesa antiga.
A partir disso, diversos outros nomes foram dados a este "Motor Primordial"; Scott
Cunningham, por exemplo, chamava-no de "The One".
Assim como o panteísmo e o duoteísmo, muitos adeptos da Wicca são politeístas,
acreditando, assim, que existem diversos deuses existentes.
Alguns aceitam a ideia expressa pelo ocultista Dion Fortune de que "todos os deuses
são um deus, e todas as deusas são uma deusa".
Com tal mentalidade, um wiccano pode crer que a germânica Eostre, a hindu Kali, e a
cristã Virgem Maria são manifestações de uma Deusa Suprema e, da mesma forma,
que o celta Cernuno, o grego Dionísio e o judaico-cristão Yahweh são aspectos de um
mesmo Deus Supremo.
154
Numa abordagem estritamente mais antiga da crença politeísta, os deuses e deusas são
em seu próprio direito criaturas distintas uma das outras, não sendo, assim, aspectos
nem elementos de uma outra "entidade maior".
Os escritores wiccanos Janet Farrar e Gavin Bone postularam que a Wicca é cada vez
mais politeísta à medida que amadurece, tendendo a adotar uma visão pagã cada vez
mais tradicional.
Outros wiccanos concebem as deidades não como personalidades literais mas
como arquétipos metafóricos ou uma tulpa, fazendo com que estes sejam decidamente
adeptos doateísmo.
Essa visão foi adotada pela Alta Sacerdotiza Vivianne Crowley, que também
era psicóloga, e que considerava as divindades da Wicca
como arquétipos Junguianos que existem no subconsciente e que poderiam ser
evocados através dos rituais.
Por esta razão, Crowley dizia que "A Deusa e o Deus se manifestam para nós em
sonho e em visão."
A Wicca é, essencialmente, uma religião imanente, e para grande parte dos wiccanos
esta idéia também envolve elementos do animismo.
Esta crença diz que a Deusa e o Deus (ou os deuses e as deusas) são capazes de se
manifestarem fisicamente, na forma de uma pessoa, ao vivo, sobretudo nos corpos do
Sacerdote e da Sacerdotiza, para fornecerem uma mensagem espiritual direta aos
integrantes do ritual.
Os rituais wiccanos contêm elementos das lendas de Ishtar (a virgem-mãe
da Babilônia, conhecida, também, por Astarte e Cibele) e de Deméter (a Ceres
romana); tais lendas são interpretadas como um símbolo contínuo
de morte e ressurreição.
Porém, a crença na reencarnação varia entre os wiccanos, embora ela tivesse sido
tradicionalmente ensinada na década de 1930 nos New Forest coven.
O influente Alto Sacerdote Raymond Buckland escreveu que uma alma humana
reencarna nas mesmas espécies durante muitas vidas para aprender lições e progredir
espiritualmente, mas essa crença não é universal no mundo da Wicca, uma vez que
outros acreditam que a reencarnação da alma acontece em espécies distintas.
Contudo, um ditado popular entre os wiccanos é que "uma vez bruxo, sempre bruxo",
indicando que os wiccanos são reencarnações de bruxas do passado.
Os wiccanos que crêem em reencarnação acreditam que as almas vivem entre o Outro
Mundo e a Terra de Verão, conhecida nas escritas de Gardner como o "êxtase da
Deusa".
155
Da mesma forma, estes wiccanos acham ser possível se comunicar com espíritos que
residem no Outro Mundo através da mediunidade ou do tabuleiro ouija,
principalmente durante o Sabbat de Samhain, embora alguns discordem com esta
prática, como o Alto Sacerdote Alex Sanders, que dizia "estão mortos; deixem-os em
paz."
No entanto, a crença do contato foi muito influenciada pelo Espiritualismo, que estava
popular na época do surgimento da Wicca, e na qual Gardner e outros wiccanos como
Buckland e Sanders tiveram experiências diretas.
Apesar de alguns wiccanos acreditarem na vida após a morte, este não é o principal
foco da Wicca, nem mesmo para estes grupos.
A Wicca tende a se concentrar na vida atual porque, como observou Ronald Hutton,
"se alguém faz seu melhor na vida presente, em todos os aspectos, a vida seguinte vai
ser mais ou menos benéfica dentro do processo, então pode-se assim concentrar-se no
presente."
Boa parte dos wiccanos crêem na magia — uma força que eles vêem como sendo
capazes de manipulação através da prática de bruxariaou feitiçaria.
Alguns a denonimam "magick", variação cunhada pelo influente ocultista Aleister
Crowley, embora esta grafia é mais comumente associada com a religião
da Thelema de Crowley do que com a Wicca.
De fato, muitos wiccanos concordam com a definição de magia oferecida
pelos mágicos cerimoniais, como Aleister Crowley, que declarava que a magia é "a
ciência e a arte de provocar mudança de ocorrência em conformidade com a vontade",
enquanto que outro mágico cerimonial proeminente, MacGregor Mathers, afirmou
que era "a ciência do controle das forças secretas da natureza."
Os wiccanos também acreditam que a magia é a lei da natureza ainda incompreendida
ou ignorada pela ciência contemporânea, e, como tal, não a vêem como
sendo sobrenatural, mas sendo uma parte dos "super poderes que residem no natural",
como escrevia Leo Martello.
Alguns adeptos da Wicca preferem acreditar que a magia é fazer pleno uso dos cinco
sentidos a fim de se obter resultados surpreendentes, ao passo que outros wiccanos
não pretendem saber como ela funciona, apenas acreditando que ela funciona.
Os feitiços da Wicca são realizados durante as práticas rituais, na tentativa de provocar
mudanças reais no mundo físico.
Assim, os feitiços da Wicca geralmente são usados para a cura, a proteção, o
banimento de influências negativas e, principalmente, a fertilidade.
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Os pioneiros da Wicca, Alex Sanders, Sybil Leek eDoreen Valiente, chamavam suas
práticas de "magia branca", para separá-la da "magia negra", que é associada ao mal e ao
Satanismo e é usada contra um objeto, uma pessoa, um lugar.
Sanders também utilizava a terminologia "Caminho da Mão Esquerda" para descrever a
magia maléfica e "Caminho da Mão Direita" para descrever a magia realizada com boas
intenções; terminologia esta que teve sua origem com a ocultista Madame
Blavatsky no século XIX. Alguns wiccanos, contudo, alegam que a corpreta não é
necessariamente uma associação ao Mal.
A magia na Wicca define-se como a arte de enviar consciência a vontade, em ocasiões
respaldando estes pensamentos ou está fécom objectos como velas, talismãs,
ou ervas que representem a intenção do Mago Wicca.
Símbolos, cores, artefatos, o círculo, movimentos, música e mantras fazem parte do
conjunto fundamental de elementos na magia wicca a fim de se obter o efeito buscado,
que varia de grupo a grupo.
Scott Cunningham escreveu: "O poder pessoal é a força vital que sustenta nossas
existências terrenas. Ela move nossos corpos. [...] Na magia, o poder pessoal é gerado,
imbuído de um propósito específico, liberado e direccionado ao seu objectivo."
Não existe nenhum dogma moral ou código ético universalmente seguido pelos
wiccanos de todas as tradições, no entanto a maioria segue um código conhecido como
a Wiccan Rede que afirma "sem ninguém prejudicar faz o que tu quiseres".
Geralmente, essa frase é interpretada como uma declaração de liberdade para atuar na
vida, juntamente com a necessidade de assumir a responsabilidade por aquilo que
resulta de nossas ações e minimiza danos a si mesmo e aos outros.
Outro elemento típico da moralidade wiccana é a Lei Tríplice que diz que qualquer
ação malévola ou benéfica retornará ao autor três vezes mais forte, ou com igual força
a nível do corpo, da mente e do espírito.
Tanto a Rede como a Lei Tríplice foram introduzidas no Ofício por Gerald Gardner e
posteriormente adotadas pelas outras tradições.
Em grande parte das tradições da Wicca, há a crença nos Quatro Elementos, mas ao
contrário da filosofia na Grécia Antiga, elas são vistas como simbólicas em vez de
literal, ou seja, são representações das fases da matéria.
Esses elementos são geralmente evocados durante os rituais mágicos da Wicca e
nomeados ao se consagrar um círculo mágico. Os quatro elementos
são: Ar, Fogo, Água e Terra, acrescido de um quinto, o Éter (ou Espírito), que une
todos os outro quatro elementos.
Para se explicar o conceito dos Cinco Elementos, foram criadas diversas analogias,
como a da wiccana Ann-Marie Gallagher, que usava o exemplo de uma árvore, que é
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composta de terra (com o solo e matéria vegetal), água (seiva e umidade), fogo (através
da fotossíntese) e ar (a criação de oxigênio e dedióxido de carbono), que se acredita
serem unidos pelo Espírito.
Tradicionalmente, no Gardnerianismo, cada elemento é associado a um ponto
cardeal da bússola, sendo o ar oriental, o fogo sul, a águaoeste, a terra o norte e o
Espírito o centro.
No entanto, alguns wiccanos, como Frederic Lamond, alegaram que os pontos cardeais
foram definidos apenas visando a geografia do sul da Inglaterra, onde a Wicca
emergiu, e que os wiccanos devem determinar os pontos de acordo com sua região;
por exemplo, aqueles que vivirem na costa leste da América do Norte deve chamar
água o leste e não o ocidente, porque o corpo colossal de água, no Oceano Atlântico, é
a seu leste.
Cada elemento também possui uma ferramenta exclusiva nos rituais, sendo a varinha
para o ar, o athame para o fogo, o cálice para a água, o pentáculo para a terra e o
próprio círculo mágico (ou o caldeirão mágico) para o espírito.
Cada um dos Cinco Elementos são representados por cada ponta do pentagrama, o
símbolo mais utilizado da Wicca, com o Éter (ou o Espírito) no ponto mais alto.
Ao que concerne todas as tradições wiccanas, pode-se dizer que as práticas e os rituais
são o foco principal da Wicca.
Estes ritos incluem ferramentas mágicas: como uma faca chamada athame,
uma varinha, um pentagrama, um cálice, às vezes um cabo de vassoura, um caldeirão
mágico, velas, incensos e uma lâmina curva conhecida como bolline. Na maioria das
vezes, o altar é obrigatório dentro do círculo, onde todas ou parte das ferramentas
citadas são colocadas e, às vezes, junto a representações do Deus e da Deusa.
Antes de entrar no círculo, algumas tradições se banham. Depois de um ritual
terminado, os adeptos agradecem os deuses e o círculo é fechado.
O círculo mágico é de suma importância para a magia e é considerado um lugar de
reunião, de amor, de alegria, de verdade; na Wicca, é um escudo contra o mal e serve
também para preservar e conter o poder mágico.
Síntese ideológica da coincidência dos opostos e o equilíbrio dos contrários, o Círculo
Mágico é traçado às vezes com giz, carvão ou mesmo simbolicamente com a vareta, no
chão, e pode ser considerado um baluarte que inclui figuras que correspondem
ao triângulo, ao quadrado, ao pentágono, ao hexágono.
Em grandes círculos, o Mago pode incluir os nomes dasentidades a serem evocadas, ao
passo que nos círculos menores, que correspondem aos quatro pontos cardeais, muitas
vezes são postas figuras da Cabala e, no centro, mantras ou signos, cujo valor símbolo
devem estar de acordo com a potência evocada.
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O Mago nunca deve sair do Círculo Mágico antes do término da operação e
geralmente atua com as costas voltadas para o Oriente.
Os Wiccanos celebram diversos festivais sazonais do ano, que são conhecidos
como Sabás; estas reuniões são geralmente conhecidas como Roda do Ano e festejam
as estações anuais e suas colheitas.
Existem diversos ritos de passagem dentro da Wicca. Talvez o mais significante deles
seja o ritual de iniciação, através do qual alguém se junta à Craft e torna-se um wiccano.
Ao contrário da Bíblia e do Qur'an, a Wicca não possui um texto sagrado, embora
existam algumas escrituras e textos que várias tradições diferentes suportam como
importante e influente para suas crenças e práticas.
Os diversos símbolos na Wicca são a linguagem criadora que expressam o que "não
pode ser dito claramente".
Algumas tradições utilizam o símbolo de uma mulher pisando numa serpente ou um
homem derrotando um dragão, símbolo da dominação ou da vitória diante das
vontades fracas, e que pode ser um símbolo análogo às imagens católicas de Nossa
Senhora de Imaculada Conceição e de São Jorge.
A serpente representa a ambivalência de toda manifestação e é maléfica sobre a
aparência de Tifão e de Píton ou também pode representar sabedoria, como indica
seu nome grego Ophis, anagrama por uma letra da sabedoria, Sophia.
A Donzela representa encantamento, criação, expansão, a promessa de novos
começos, nascimento, juventude e entusiasmo juvenil, representada pela lua crescente;
a Mãe representa maturação, fertilidade, sexualidade, respeito, estabilidade, poder,
vida e é representada pela lua cheia; A Anciã representa a sabedoria, o repouso, a
morte e terminações, e é representada pela lua minguante.
Outro símbolo menos usado nas tradições da Wicca mas bastante constante em outras
formas de neopaganismo é a Estrela de David, a estrela de seis pontas.
O pentagrama, a estrela de cinco pontas, por sua vez, é um outro símbolo, mais
utilizado pelos wiccanos que a Estrela de David, e praticamente obrigatório na maior
parte das tradições wiccanas.
Este não é exclusivamente Wicca; o pentagrama era o signo secreto dos Pitagóricos.
Embora haja distinção entre a doutrina exotérica de Pitágoras (que concerne a conexão
entre música e aritmética e o vínculo da matemática à ciência) e a esotérica, dirigida aos
iniciados, pode-se dizer que tanto para um quanto para outro o pentagrama é uma
indicação da vida e da inteligência, e para os Wiccanos simboliza ainda os quatro
elementos acrescentado do Espírito, no ponto mais alto do ângulo.
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No entanto, no Satanismo, e exclusivamente nele, invertido ou com uma representação
de um bode negro o pentagrama simboliza o mal.
A Wicca surgiu na Inglaterra, país predominantemente cristão, e desde seu início
sofreu preconceito de alguns grupos de outras religiões e de tablóides populares como
o News of the World.
Esse tipo de preconceito continua nos dias de hoje, com alguns cristãos dizendo que a
Wicca é uma forma de Satanismo, apesar de existir uma grande diferença entre as
duas religiões.
Os wiccanos, por exemplo, não crêem em Lúcifer ou em Satã, tampouco na vinda de
um deles à Terra.
Devido à conotação negativa associada à Bruxaria moderna, muitos wiccanos mantém
suas práticas em sigilo, ocultando sua fé por medo de perseguição. Por conta disso
existe a brincadeira entre wiccanos de "sair do armário de vassouras", ou seja, revelar-se
socialmente que se é wiccano.
VIII. NEOBUDISMO
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1.Seicho-no-ie
Surgiu em 1º de março de 1930 como revista de Cultura Moral, cresceu no pós-guerra
no Japão, sofreu perseguição militar e foi transformada em religião.
Nesta época, a sociedade japonesa viu desmoronar a religião oficial do Estado, baseada
na crença na divindade do imperador e uma das bases da ideologia militarista.
Nesse vácuo ideológico e espiritual surgiram ou cresceram inúmeras seitas e religiões,
entre elas a Perfect Liberty, a Igreja Messiânica Mundial (Johrei) e a Seicho-No-Ie. Esta
última contribuiu para a revitalização da religiosidade, incentivando seus adeptos à
prática de suas religiões de origem.
A Seicho-No-Ie foi fundada por Masaharu Taniguchi (1893–1985) e se mundializa a
partir da II Guerra Mundial. Seu conjunto doutrinário incorpora elementos
do cristianismo, do budismo e do xintoísmo - três grandes religiões presentes no Japão,
representadas no seu símbolo oficial respectivamente pela estrela verde no centro, pela
cruz gamada branca intermediária (Lua) e pelo círculo vermelho externo com suas 32
flechas (Sol).
Sua origem cerimonial está ligada, principalmente, ao Xintoísmo, sendo também seus
rituais o batismo, casamento e culto aos antepassados, do qual é talvez o melhor
representante fora do Japão. Vale ressaltar que na Seicho-No-Ie há muita liberdade de
adaptação de cerimonias ligadas à cultura local. Diferentemente de muitas religiões
tradicionais, onde a conduta dos adeptos é condicionada pelo medo, Nakajima explica
que A Seicho-no-iê rejeita o "tem de ser assim", isto é considera que nada deve ser
forçado e ensina a viver naturalmente a vida como ela é.
Ensinamentos como "O ser humano é filho de Deus", "O mundo fenomênico é
projeção da mente" e "Grande harmonia" são interpretados de várias maneiras, em
conformidade com pessoa, tempo e lugar.
O conjunto doutrinário da Seicho-no-Ie reúne tradições xintoístas, cristãs, budistas,
dentre outras.
Predomina, a exemplo da outras Novas Religiões Japonesas, elementos da
religiosidade nipônica, que valoriza todas as formas de vida, preza pelo respeito ao
próximo, gratidão aos pais e cultua os ancestrais.
A Verdade essencial da Seicho-No-Ie é: "O Homem é Filho de Deus" e, sendo assim, é
herdeiro de todas as dádivas dele.
Basta apenas que se conscientize disso para manifestar no mundo fenomênico (mundo
material) a sua perfeição.
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Para isso, há várias práticas adotadas pelos praticantes da Seicho-No-Ie, sendo as mais
importantes:
Prática da Meditação Shinsokan (que, numa tradução livre, significa "ver e
contemplar Deus").
Leitura de Sutras Sagradas e palavras da Verdade;
Prática de atos de amor e caridade;
A Seicho-No-Ie também estuda as "leis mentais", das quais se destaca a lei "Os
semelhantes se atraem" (Lei da Atração).
Normas Fundamentais dos Praticantes da Seicho-No-Ie:
1ª) Agradecer a todas as coisas do Universo;
2ª) Conservar sempre o sentimento natural;
3ª) Manifestar o amor em todos os atos;
4ª) Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos;
5ª) Ver sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as suas partes
negativas;
6ª) Anular totalmente o ego;
7ª) Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na vitória
infalível;
8ª) Iluminar a mente, praticando a Meditação Shinsokan todos os dias sem falta.
A Doutrina da Seicho-no-iê é alicerçada nas escrituras de Masaharu Taniguchi, sendo
as mais importantes entre os adeptos, a "Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade" e
a Coleção "A Verdade da Vida" , composta por 40 volumes, que sintetiza as pregações
de Taniguchi.
Estas obras são publicadas no Japão pela Nippon Kyobunsha Co. Ltd. e, no Brasil,
pela Seicho-no-ie do Brasil.
Verdade Vertical: Só Deus e o que Ele cria existem verdadeiramente, ou seja, não tem
início nem fim, é eterno, infinito (Ele é o Bem, o Criador, a Verdade, Jissô (Imagem
Verdadeira), etc.). Como o homem (na sua essência espiritual) também é criação de
Deus, ele possui a mesma natureza infinita de Deus. Daí vem a principal convicção do
adepto da Seicho-No-Ie: "O Homem é Filho de Deus".
Verdade Horizontal: O mundo fenomênico é projeção da mente humana; o mal não
existe, ou seja, tem início e fim, é efêmero, não é eterno, é finito (ele é apenas criação
da mente humana).
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Da mesma forma, a doença, a morte, o envelhecimento e os pecados também não
existem porque são derivações desse mesmo mal (ilusões da mente humana). Todas as
coisas perceptíveis aos cinco sentidos e também ao sexto sentido não são existências
reais porque não têm a mesma natureza perfeita de Deus. Elas são, portanto,
projeções da mente humana (ilusão) que constitui a causa dos sofrimentos humanos.
Jissô: A realidade absoluta, transcendental, o ser verdadeiro, absoluto, eterno e
perfeito, constituído de Idéia de Deus; a Essência do ser.
Número de membros no Brasil
Segundo o departamento de comunicação da Seicho-No-Ie, em São Paulo, a doutrina
conta com cerca de 3,5 milhões de membros no Brasil, além de um número
incalculável em mais de 40 países no mundo todo. A doutrina encontra-se ramificada
por todos os estados da Federação, além do Distrito Federal, onde possui um templo
em estilo japonês.
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2. Igreja Messiânica Mundial
Igreja Messiânica Mundial é uma instituição religiosa fundada em 1 de janeiro de1935,
no Japão, por Mokiti Okada (1882-1955) — cujo nome religioso é Meishu-
Sama (Senhor da Luz). Ela é classificada como uma nova religião japonesa.
Mokiti Okada, afirma que, por revelação, recebeu de Deus a missão de dar início à
construção doParaíso Terrestre, o mundo ideal consubstanciado na trilogia verdade,
bem e belo em que a civilização atual se transformaria.
Um mundo em que a doença, a miséria e o conflito dariam lugar à saúde, a
prosperidade e à paz.
O elemento principal da Igreja Messiânica é a crença no Johrei, que seria a
transmissão de Luz Divina através da palma das mãos e que pode ser praticado por
todos os messiânicos.
Acredita-se que o Johrei traz purificação espiritual, o que traria bem estar, cura de
doenças e uma saúde perfeita.
A religião tem hoje no Brasil cerca de 103 mil membros.
A Fundação Mokiti Okada é uma instituição social sem fins lucrativos, destinada a
concretizar através de ações sociais, projetos, a filosofia de Mokiti Okada no Brasil.
Ligada à Igreja Messiânica Mundial do Brasil, foi criada em 19 de janeiro de 1971, tem
atuação em todo o território nacional e o objetivo de contribuir para uma sociedade
mais harmoniosa e progressista.
Johrei
Johrei é uma oração ou terapia feita através da imposição de mãos, vista pelos seus
adeptos como a comunicação da luz divina para o aprimoramento e elevação espiritual
e material do ser humano.
Visando a eliminação de suas máculas (pecados), que estão em seu espírito, advindas
de maus pensamentos, más palavras e más ações, que através dessa purificação
permitida pela johrei, seriam eliminadas e consequentemente se obteria
progressivamente mais saúde, prosperidade e paz.
Essa comunicação se dá através da imposição das mãos, pelos membros da Igreja
Messiânica Mundial.
Essa terapia espitirual foi idealizada e concretizada por Meishu-Sama, fundador da
Igreja Messiânica Mundial.
Esta palavra de origem japonesa, é composta dos ideogramas:"Joh" (purificar) e "Rei"
(espírito). Em síntese, significa "Purificação do espírito" ou "Batismo pelo Fogo".
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Em essência consiste no ato de purificar o espírito do Homem pela energia espiritual
do fogo, predominante na luz do "Supremo Deus".
Dentre os seguidores da Igreja, o Johrei é considerado a Luz Divina, emanada de Deus
e Meishu-Sama que é transmitida pelos membros da Igreja com o objetivo de purificar
o espírito, através da eliminação das máculas espirituais, que são a causa dos
sofrimentos humanos.
É a prática altruísta central da fé Messiânica, sendo até mesmo o nome pelo qual é
conhecido o referido movimento.
Qualquer pessoa pode ser capacitada a ministrar Johrei, sendo preciso, ser outorgada
com o Ohikari (do Japonês - Luz Divina) que é um medalhão utilizado pelos membros
da doutrina.
Caso tenha também uma outra religião, pode continuar praticando-a, sem nenhum
impedimento.
Por esse motivo, existem até mesmo praticantes do Johrei que pertencem também a
outras religiões e estão integrando nas suas atividades esta prática.
Não sendo necessários curso de formação, apenas orientações de como usar o
Ohikari, os cuidados que se devem ter, e como fazer a ministração do Johrei.
A medalha do Ohikari é geralmente de formato circular, e usada por baixo das roupas.
O material do seu cordão é livre: pode ser de silicone, corda, metal ou do que o
usuário preferir.
Dentro do Ohikari há réplicas do ideograma japônes Hikari, que originalmente foram
impressionados por Meishu-Sama, e que significa "Luz".
Acreditando que as palavras tem poder e emitem vibrações assim como as imagens,
esta palavra impressionada no papel, emitiria essa Luz de Deus, quando da
ministração, e seria canalizada pela imposição das mãos para as outras pessoas.
A cunhagem dos Ohikaris remontam à época em que Meishu-Sama ainda era membro
da Igreja Oomoto, ou Oomoto Kyo, e este foi confiado do próprio Mestre Deguchi,
então lider do grupo religioso, a produzir tais talismãs.
Os cuidados com o Ohikari devem ser redobrados pois, entre os membros, é
conhecido que ao cair no chão este deverá ser reconsagrado antes de utilizado
novamente.
Não se pode ministrar Johrei sem um Ohikari, de acordo com os membros da Igreja
Messiânica.
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No Brasil existem 10 organizações que divulgam a religião de Mokiti Okada. As mais
conhecidas São:
1 - Igreja Messiânica Mundial do Brasil, fundado em Julho de 1965;
2 - Templo de Luz do Oriente, fundado em 15 de junho de 1973 pelo Minoru
Nakahashi;
3 - Arte do Johrei, fundado em 2005 por: Dorgival Santos Silva;
4 - Arte Mundial de Johrei, fundado em 2012 por: Paulo Marback.
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3.Igreja da Unificação
A Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial mais
conhecida como Igreja de Unificação é um movimento religioso fundado
em Seul, Coreia do Sul em 1 de maio de 1954 por Sun Myung Moon, o Reverendo Moon. Em 1996, o nome oficial da igreja mudou para a Associação das Famílias para
Unificação e Paz Mundial.
A teologia da Igreja da Unificação é baseada no livro Princípio Divino, que ensina e
explica a existência de um só Deus, o Criador do Universo, o Pai e Mãe de toda a
Humanidade, que criou o homem e a mulher para o ideal da família através das três
grandes bênçãos (Genesis 1:28), e está trabalhando para restaurar esse ideal original
antes da queda, na terra e no mundo espiritual, buscando a salvação universal de todas
as pessoas através de uma nova família verdadeira restaurada.
Deus, através de Jesus, escolheu o jovem Sun Myung Moon, na Páscoa de 1936, na
Coreia, para concluir a missão da salvação como a segunda vinda de Cristo, o Messias
e Salvador da humanidade.
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Bibliografia
Sites oficiais, internet, livros sagrados e doutrinas.
Contatos com o autor: [email protected]