religiÕes no brasil

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A IMIGRAÇÃO NO BRASIL RELIGIÕES 1ª. EDIÇÃO 2014 GILSON MOURA CASTRO

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Page 1: RELIGIÕES NO BRASIL

A IMIGRAÇÃO NO BRASIL RELIGIÕES

1ª. EDIÇÃO

2014

GILSON MOURA CASTRO

Page 2: RELIGIÕES NO BRASIL

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Sumário

Nota do Autor ....................................................................................................................................................... 3

I- Introdução ......................................................................................................................................................... 7

II- Religiões abrâmicas ........................................................................................................................................ 17

1.Islamismo ...................................................................................................................................................... 17

2.Judaísmo ....................................................................................................................................................... 29

3.Cristianismo..............................................................................................................................................36

III- Religiões asiáticas .......................................................................................................................................... 50

1.Budismo ........................................................................................................................................................ 50

2.Hinduísmo ..................................................................................................................................................... 58

3.Jainismo....................................................................................................................................................70

4.Taoismo....................................................................................................................................................76

5.Xintoismo..................................................................................................................................................85

IV- Doutrinas espíritas ...................................................................................................................................... 100

1.Espiritismo.............................................................................................................................................100

V- Igrejas Cristãs................................................................................................................................................ 115

1.Pentecostalismo....................................................................................................................................115

2.Neopentecostalismo................................................................................... ...........................................129

3.Igreja católica........................................................................................................................................131

VI- Religiões afro-brasileiras ............................................................................................................................ 143

1.Candomblé............................................................................................................................................143

VII- Neopaganismo ........................................................................................................................................... 147

1.Wicca.....................................................................................................................................................147

VIII- Neobudismo .............................................................................................................................................. 160

1.Seicho-no-ie...........................................................................................................................................160

2.Igreja Messiânica Mundial.....................................................................................................................163

3.Igreja da Unificação...................................................................... .........................................................166

Bibliografia ........................................................................................................................................................ 167

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Nota do Autor à 1ª. Edição

BRASÍLIA MISTICA

Nosso passado, presente e futuro esta calcado no encontro com o divino em suas

variadas manifestações no pensamento humano, inspirando-nos a buscar sempre por

algo transcendental que foge à racionalidade e que nos conforte frente ao inesperado,

ao imponderável e ao improvável porvir.

No século XIV a.c., no reinado do Faraó Amenóphis IV, posteriormente conhecido

por Akhenaton, o culto a Aton (Disco Solar), o primeiro monoteísmo da história, foi

implantado no Egito politeísta, para, poucos anos após, desaparecer nas névoas do

tempo.

Akhenaton deixou-nos um importante legado espiritual, plenamente válido e precioso

para a Humanidade no que se refere a ideia de um deus único regente do universo.

Estava assim gerada a crença que muitos séculos depois se tornou predominante entre

os povos que se inspiraram nesta concepção religiosa primitiva.

Os brasileiros, em geral, desconhecem o verdadeiro significado místico que envolve a

construção de nossa Capital Federal. Existiriam mistérios e segredos, véus a serem

desvelados? Quais teriam sido os fatores determinantes para a construção de Brasília?

A mensagem de Brasília é tão forte que, em data de 7 de Dezembro de 1987, a

UNESCO a reconheceu como Patrimônio Cultural da Humanidade.

A fundação de Brasília, em data de 21 de abril de 1960, não significou apenas a

construção de mais uma cidade planejada. Todo o projeto do plano-piloto continha

um significado profundamente místico e cuja origem era claramente egípcia.

Por volta de 1930, Juscelino, ainda um jovem estudante, viajou pelo Mediterrâneo e

visitou a cidade de Tell-El-Amarna,a Akhetaton. Essa visita definiria parte da história

de nosso País.

Ali, em meio às areias quentes do deserto, surgiu a semente da cidade que, um dia,

seria chamada de Brasília.

“Levado pela admiração que tinha por esse autocrata visionário, cuja existência quase

lendária eu surpreendera através das minhas leituras em Diamantina,aproveitei minha

estada no Egito para fazer uma excursão até o local, onde existira Tell El-Amarna.”

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(Meu Caminho para Brasília, JK, p.111)

“...Vi os alicerces da que havia sido a capital do Médio Império do Egito. A cidade

media oito quilômetros de comprimento por dois de largura. À margem do Nilo,

jardins verdejantes haviam sido plantados e, atrás deles, subindo a encosta da rocha,

erguera-se o palácio do Faraó, ladeado pelo grande templo.”

“... Tudo ruínas! O grande sonho do Faraó-Herege convertido num imenso montão

de pedras, semi-enterrado na areia! Hoje, tanto tempo percorrido, pergunto-me, às

vezes, se essa admiração por Akhenaton,surgida na mocidade, não constituiu a chama,

distante e de certo modo romântica, que acendeu e alimentou meu ideal, realizado na

maturidade, de construir, no Planalto Central, Brasília – a nova Capital do Brasil.”

Palavras do próprio Juscelino Kubitschek que revelam, com clareza, de onde teria

vindo a sua determinação de construir a nova Capital brasileira em pleno Planalto

Central.

O livro “Brasília Secreta” da egiptóloga Iara Kerns e do empresário Ernani Figueras

Pimentel, publicado pela editora Pórtico, mostra claramente essas intrigantes relações

entre Akhenaton e Juscelino, bem como entre Akhetaton (a cidade sagrada) e Brasília.

São João Melchior Bosco, em italiano Giovanni Melchior Bosco, mais conhecido

como “Dom Bosco”, nasceu em 1815, na Italia, e faleceu em 1888. Ordenado pela

Igreja Católica, foi canonizado em 1934. Em 30 de agosto de 1883, Dom Bosco teve

uma visão profética a respeito de uma cidade que seria construída entre os paralelos

15o e 20 o, que muitos entendem como sendo Brasília.

"...entre os paralelos 15º e 20º graus, havia uma enseada bastante extensa e bastante

larga, partindo de um ponto onde se formava um lago..."

Nessa terra, conforme a visão de Dom Bosco, jorraria leite e mel e surgiria uma grande

civilização.

Essas palavras proféticas influenciaram a decisão final quanto ao local onde seria

instalada a nova Capital Federal.

Dom Bosco tornou-se o padroeiro de Brasília. Em sua homenagem, foi construída

uma pequena capela em forma piramidal, às margens do lago Paranoá: a “Ermida

Dom Bosco”.

Mas há quem diga que a proposta de construir Brasília no interior do País teria partido

de José Bonifácio de Andrada e Silva, maçom, que, em carta à Corte, em Lisboa,

sugere: "Criar uma cidade central no interior do Brasil, para assento da Regência que

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poderá ser em 15° de latitude, em sítio sadio, ameno, fértil, e junto a algum rio

navegável...”

Em 1822, a ideia de José Bonifácio de Andrada e Silva é aprovada pelos deputados

brasileiros e o nome “Brasília” é sugerido por ele próprio, anonimamente, um ano

mais tarde.

Nos primeiros esboços de Lúcio Costa, o Plano Piloto de Brasília deveria partir de

uma cruz – o “sinal da Cruz”. Segundo historiadores, essa cruz deveria corresponder a

um ato de posse da terra.

A primeira fonte a ser examinada é Ísis, esposa do Deus Osíris. Ísis foi a mais amada

de todas as divindades femininas do Egito. Das asas de Ísis surgiu a inspiração para as

duas asas de Brasília, cujo eixo está alinhado perfeitamente com o nascer (leste) e pôr-

do-sol (oeste).... de acordo com as idéias ligadas ao Egito, claramente evidenciadas em

muitas construções, o mais correto é que o Plano Piloto represente, de fato, a Ísis

Alada.

A arquitetura do Congresso Nacional mostra o Sol Nascente (Senado) e a Lua

Crescente (Câmara dos Deputados). A rampa é herança dos palácios egípcios.

O que vemos aqui é uma simbologia esotérica, claramente reconhecível por qualquer

pesquisador Templo mortuário de Al-Deir Al-Bahari, da Rainha Hatshepsut, em

Tebas, a cidade de Amon, hoje conhecida como Luxor.

Sua rampa e colunas frontais teriam servido de modelo para a fachada do Congresso

Nacional.

O Sol nasce entre os dois edifícios a cada aniversário da cidade, em 21 de abril,

mostrando um exato alinhamento astronômico que foi calculado minuciosamente.

Mas ele se põe, diariamente, no lado oposto, atrás do Memorial de Juscelino.

O alinhamento com o Sol e estrelas era essencial na construção das pirâmides e

catedrais da Idade Média.

Não foi diferente em Brasília.

Outra fonte de inspiração: o Templo de Luxor.

Os dois obeliscos teriam inspirado os arquitetos para construir as duas torres do

Congresso Nacional O alinhamento entre o Congresso Nacional – o “Templo do Sol e

da Lua” – e os ministérios não foi apenas um detalhe de projeto.

Ministros são “guardiões” do Poder e, como tais, devem posicionar-se nas laterais.

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Na Alameda no Templo de Luxor, as estátuas guardiãs (pequenas esfinges) teriam

servido de modelo para o posicionamento dos ministérios ao longo do Eixo

Monumental e com o Congresso Nacional, o “Templo do Sol e da Lua”, ao fundo.

A arquitetura do Teatro Nacional, idealizado por Oscar Niemeyer, mostra, com

clareza, as formas de uma pirâmide truncada.

Hoje, podemos perceber que o sonho faraônico de Juscelino Kubitschek concretizou-

se.

Até mesmo uma pirâmide mortuária foi construída para acolher seus restos mortais – a

sua “múmia”. Seu túmulo, na mais pura tradição faraônica, fica acima do solo,

inteiramente talhado em pedra.

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I-INTRODUÇÃO

A religião em nosso país se apresenta como diversificada demograficamente

abrangente e caracteriza-se pelo sincretismo ou seja pela mistura de dogmas de fé e

crenças.

A Constituição brasileira prevê a liberdade de culto e credo em todo território

nacional e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo o Brasil um Estado

laico.

A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa, sendo a sua

prática e instituições livres de intervenção estatal.

Segundo o Relatório Internacional de Liberdade Religiosa de 2005, elaborado

pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a "relação geralmente amigável

entre religiões contribui para a liberdade religiosa" no Brasil.

O Brasil, concluindo é um país religiosamente diverso, predominantemente católico e

majoritariamente cristão com forte tendência ao sincretismo religioso.

Estatísticas

Religiões no Brasil (Censo de 2010)

Religião

Porcentagem

Catolicismo romano   64,6%

Protestantismo   22,2%

Sem religião   8%

Espiritismo   2%

Outras religiões   3,2%

A população brasileira é majoritariamente cristã (87%), sendo sua maior parte católico-

romana (64,4%). Herança da colonização portuguesa, o catolicismo foi a religião

oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico.

Se fazem presentes os movimentos básicos

do protestantismo: adventismo, batistas, evangelicalismo,luteranos, metodismo e presbi

terianismo.

Entretanto, existem muitas outras denominações religiosas no Brasil, algumas dessas

igrejas são: pentecostais,neopentecostais, episcopais, restauracionistas, animistas entre

outras.

Existem mais de três milhões e meio de espíritas (ou kardecistas) que seguem

a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec.

O animismo também é forte dividindo-se em candomblé, umbanda, esoterismo, santo

daime e tradições indígenas.

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Presentes no país também uma minoria de hindus, muçulmanos, budistas,

judeus e neopagãos.

Também cerca de 8% da população (cerca de 15 milhões de pessoas) declarou-se sem

religião no último censo, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas.

Nas últimas décadas, tem havido um grande aumento de igrejas neopentecostais, o que

diminuiu o número de membros tanto da Igreja Católica quanto das religiões afro-

brasileiras.

Cerca de noventa por cento dos brasileiros se declararam como pertencentes a algum

tipo de instituição religiosa de acordo com informações extraídas do

último censo realizado.

O censo demográfico realizado em 2010, pelo IBGE, apontou a seguinte composição

religiosa no Brasil: 64,6% dos brasileiros (cerca de 123 milhões) declaram-se católicos;

22,2% (cerca de 42,3 milhões) declaram-se protestantes (evangélicos

tradicionais, pentecostais e neopentecostais); 8,0% (cerca de 15,3 milhões) declaram-

se irreligiosos: ateus,agnósticos, ou deístas; 2,0% (cerca de 3,8 milhões) declaram-

se espíritas; 0,7% (1,4 milhão) declaram-se as testemunhas de Jeová; 0,3% (588 mil)

declaram-se seguidores doanimismo afro-brasileiro como o Candomblé, o Tambor-de-

mina, além da Umbanda; 1,6% (3,1 milhões) declaram-se seguidores de outras

religiões, tais como: os budistas (243 mil), os judeus (107 mil), os messiânicos (103

mil), os esotéricos (74 mil), os espiritualistas (62 mil), os islãmicos (35 mil) e

os hoasqueiros (35 mil).

Há ainda registros de pessoas que declaram-se baha'ís e wiccanos, porém nunca foi

revelado um número exato dos seguidores de tais religiões no país.

Desde o descobrimento os europeus e outros povos trouxeram com eles as mais

variadas crenças oriundas do mundo inteiro com prevalência ao catolicismo romano

que praticamente levaram atavés dos jesuítas a extinção as crenças locais e de toda a

américa de adoração ao sagrado.

Budismo

O budismo oriundo do japão e da China, é provavelmente a maior de todas as

religiões minoritárias do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística(IBGE), em 2010 havia 243 966 budistas no Brasil - em 1991: 236.408

budistas, em 2000 214.873 budistas no país (- 9.1%).

O número relativamente grande de seguidores é devido, principalmente, a grande

comunidade japonesa brasileira.

Cerca de um quinto da comunidade japonesa no Brasil é seguidora do budismo.

Ramos de origem budista, como o xintoísmo e seichonoie são os mais populares.

No entanto, nos últimos anos tradições chinesas e do sudeste asiático, como o taoismo

e o confuncionismo estão ganhando popularidade.

O budismo foi introduzido no Brasil no início do século XX, por imigrantes japoneses,

embora agora, 60% dos brasileiros japoneses sejam cristãos devido às atividades

missionárias e o casamento.

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No entanto, a cultura brasileira japonesa tem uma substancial influência budista.

Catolicismo

A principal religião do Brasil, desde o século XVI, tem sido o catolicismo apostólico

romano.

Ela foi introduzida por missionários jesuítas que acompanharam os exploradores

e colonizadores portugueses nas terras do país recém-descoberto.

O Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais,

com 64,6% da população brasileira declarando-se católica, de acordo com o Censo

do IBGE de 2010.

No transcorrer do século XX, foi perceptível uma diminuição no interesse pelas

formas tradicionais de religiosidade no país. Um reflexo disso é o aparecimento de

grande número de pessoas que se intitulam católicos "não-praticantes".

Uma pesquisa de 2007 da Fundação Getúlio Vargas, no entanto, indicou pesquisas que

mostram que o número de católicos estagnou no país depois de mais de 130 anos de

queda.

Entretanto, segundo dados do Censo do IBGE, entre os anos 2000 e 2010, o total de

católicos diminuiu 1,4%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Em 2010,

havia 123,2 milhões de católicos no País; em 2000, eram 124,9 milhões. Em dez anos,

a comunidade católica perdeu uma população equivalente à de Curitiba.

Entre as tradições populares do catolicismo no Brasil estão as peregrinações à Basílica

de Nossa Senhora Aparecida, o quarto santuário mariano mais visitado do mundo, e é

capaz de abrigar até 45.000 fiéis.

Nossa Senhora Aparecida acabou por tornar-se a Padroeira do Brasil.

Outras festas católicas importantes são o Círio de Nazaré, Festa do Divino, a Festa do

Divino Pai Eterno, mais conhecida como Romaria de Trindade, em Goiás, e

a Romaria de Nossa Senhora Medianeira, que ocorre anualmente no segundo

domingo de novembro, em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul.

A Renovação Carismática Católica (RCC) chegou ao Brasil no começo dos anos 1970.

O movimento busca dar uma nova abordagem à evangelização e renovar algumas

práticas da tradição católica, incentivando uma experiência pessoal com Deus através

do Espírito Santo.

Assemelha-se em certos aspectos às Igrejas Pentecostais, como no uso dos dons do Espírito Santo, na adoção de posturas que são consideradas fundamentalistas e numa

maior rejeição ao sincretismo religioso por parte de seus integrantes.

A maior proporção de católicos está concentrada nas regiões Nordeste (72,2%)

e Sul (70,1%) do país.

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A menor proporção de católicos é encontrado na região Centro-Oeste. O Piauí tem a

maior proporção de católicos (85,1%) e Rio de Janeiro tem a menor (45,8%).

O município com o maior número de seguidores do catolicismo no Brasil é União da

Serra, no Rio Grande do Sul, onde 99% da população se considera católica.

Protestantismo

O protestantismo é o segundo maior segmento religioso do Brasil, representado

principalmente pelas igrejas evangélicas, com cerca de 42,3 milhões de fiéis, o que

representa um quarto da população brasileira.

Entre as maiores denominações protestantes tradicionais do Brasil em número de

adeptos estão os batistas (3,7 milhões), presbiterianos (1,5 milhão) , adventistas do

sétimo dia (1,5 milhão) , luteranos (1 milhão) e metodistas(340 mil).

Entre os protestantes evangelicalistas (ou pentecostais e os neopentecostais), os grupos

com o maior número de seguidores são a Assembleia de Deus (12,3 milhões),

a Congregação Cristã no Brasil (2,3 milhões), a Igreja Universal do Reino de Deus (1,8

milhão) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (1,8 milhão).

O segmento religioso cristão protestante apresentou um forte crescimento no país nos

últimos anos, aumentando o seu número de seguidores em 61% no período

compreendido entre 2000 e 2010.

O protestantismo chegou ao Brasil pela primeira vez com viajantes e nas tentativas de

colonização do Brasil por huguenotes (nome dado aos reformados franceses) e

reformados holandeses e flamengos durante o período colonial.

Esta tentativa não deixou frutos persistentes. Uma missão francesa enviada por João

Calvino se estabeleceu, em 1557, numa das ilhas da Baía de Guanabara, fundando

a França Antártica.

Os dados do Censo 2010 mostram que as religiões protestantes de origem pentecostal

são as que têm a maior proporção de fieis com renda per capita inferior a um salário

mínimo: 63,7% do total.

Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também mostram

diferenças entre as áreas rurais e urbanas do país. Nas zonas rurais, 77,9% são católicos

e 10,1% são evangélicos de origem pentecostal, enquanto nas zonas urbanas esses

percentuais são de 62,2% e 13,9%, respectivamente.

Na média do país, 64,6% se declararam católicos e 12,2%, evangélicos pentecostais.

Adventismo

No Brasil são 1.561.071 membros da IASD em 2010 sob a coordenação de sete

Uniões que administram as Associações e Missões. As instituições da IASD do Brasil e

de sete países latino-americanos formam a Divisão Sul Americana, com sede

em Brasília, Distrito Federal.

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O adventismo chegou no Brasil em 1884 através de publicações que chegaram pelo

porto de Itajaí com destino a cidade de Brusque, no interior de Santa Catarina. Em

maio de 1893 chegou o primeiro missionário adventista, Alberto B. Stauffer que

introduziu formalmente através da Colportagem os primeiros contatos com a

população. Em abril de 1895 foi realizado o primeiro batismo em Piracicaba, SP,

sendo Guilherme Stein Jr o primeiro converso. Inicialmente os estados brasileiros com

maior presença germânica foram atingidos pela literatura adventista. Conforme

informações repassadas pelo pastor F Westphal, a primeira Igreja Adventista do

Sétimo Dia em solo nacional foi estabelecida na região de Gaspar, em Santa Catarina,

em 1895, seguida por congregações no Rio de Janeiro e em Santa Maria de Jetibá,

no Espírito Santo, todas no mesmo ano.

Com a fundação da gráfica adventista em 1905 em Taquari, RS (atual Casa

Publicadora Brasileira localizada em Tatuí-SP), o trabalho se estabeleceu entre os

brasileiros e se expandiu em todos os estados. A primeira Escola Adventista no Brasil

surgiu em 1896 na cidade de Curitiba. Em 2005 somam-se 393 escolas de ensino

fundamental e 118 do ensino médio com o total de 111.453 alunos e seis instituições

de Ensino Superior (IES) com mais de cinco mil alunos que tem no Centro

Universitário Adventista de São Paulo, sua matriz educacional. O UNASP como é

conhecida esta IES, surgiu em 1915, no Capão Redondo, SP e hoje conta com três

campi: na cidade de São Paulo, em Engenheiro Coelho e Hortolândia.

Mormonismo

O mormonismo chegou no Brasil em 1923, por meio de imigrantes alemães, porém o

trabalho de proselitismo só se iniciou em 1928. De acordo com dados do IBGE,

existiam 226 509 mórmons no Brasil, apesar de dados da Igreja de Jesus Cristo dos

Santos dos Últimos Dias relatarem possuir pouco mais de 1,1 milhão de adeptos no

país, com um crescimento de aproximadamente 460% nos últimos seis anos.

A Igreja Mórmon no Brasil é presidida pelos Élderes (título que significa

"senhor","Irmao mais velho", "ancião") Cláudio R. M. Costa (Presidente) , Carlos A.

Godoy (Primeiro Conselheiro) e Jairo Mazzagardi (Segundo Conselheiro) . Até abril

de 2007, os mórmons eram divididos em duas áreas geográficas distintas, a Área Brasil

Norte (sediada em Recife), e a Área Brasil Sul (sediada em São Paulo).

No país, os mórmons, também chamados de santos dos últimos dias, têm seis templos

construídos, dedicados e em funcionamento (em São Paulo, Recife, Porto

Alegre, Campinas, Curitiba e Manaus) e dois a construir em Fortaleza e Rio de

Janeiro.

Pela crença mórmon, nesses templos são realizadas ordenanças como batismo vicário

e selamento de famílias, além de ser um lugar de aprendizado e espiritualidade.

Somente membros batizados e dignos podem entrar nos templos. A Igreja

Mórmon realiza reuniões de adoração aos domingos em suas igrejas pelo Brasil que

estão abertas ao público.

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Cristianismo oriental

A Igreja Ortodoxa também se faz presente no Brasil. A Catedral Metropolitana

Ortodoxa, localizada em São Paulo, na rua Vergueiro, além de ser

a Sé da Arquidiocese da Igreja Católica Ortodoxa Antioquina de São Paulo é, também,

de todo o Brasil.

É um exemplo deconstrução arquitetônica bizantina que pode ser apreciado

na América do Sul. Seu projeto, cuja edificação teve início da década de 1940, foi

inspirado na Basílica de Santa Sofia em Constantinopla (atual Istambul) e foi

inaugurada em janeiro de 1954.

De acordo com dados do IBGE, existiam 131 571 cristãos ortodoxos no Brasil.

A Igreja Ortodoxa está representada no Brasil pelas seguintes jurisdições: Patriarcado

de Antioquia, Patriarcado de Moscou, Patriarcado da Sérvia, Igreja Ortodoxa da

Grécia, Igreja Ortodoxa da Ucrania e Igreja Ortodoxa da Polonia; e se encontra

presente nos estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do

Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Pernambuco.

Sua diferença básica com o catolicismo romano é o de que seus padres podem casar e

de não estarem subordinadas ao papa e sim a um patriarca.

Testemunhas de Jeová

De acordo dados do Censo de 2010 do IBGE, existiam 1 393 208 Testemunhas de

Jeová no Brasil, que se distribuem em 10.926 congregações.

O Brasil é na atualidade um dos países com maior número de Testemunhas de Jeová.

Em 2011, foram feitos 27.425 batizados no país.

No evento daComemoração da Morte de Cristo estiveram presentes 1.748.226

pessoas.

Foram realizados 801.007 estudos Bíblicos pelas Testemunhas no Brasil. Foram

dedicadas 145.889.031 horas na pregação das Boas Novas no país.

Espiritismo

De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), em 2010, o Brasil possuía 3,8 milhões de espíritas, sendo esse o

terceiro maior grupo religioso do país, representando cerca de 2% da população

brasileira. Com efeito, o IBGE trata os termos kardecismo e espiritismo como

equivalentes em sua classifição censitária.

A doutrina espírita teve através de nomes como Bezerra de Menezes e Chico Xavier a

oportunidade de se popularizar, espalhando seus ensinamentos por grande parte do

território brasileiro.

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Hoje, o país é o que reúne o maior número de adeptos do espiritismo no mundo. Os

espíritas são, também, o segmento social que têm maior renda e escolaridade, segundo

os dados do mesmo Censo. Bezerra de Menezes foi presidente da Federação Espírita

Brasileira (FEB) por duas gestões. A FEB foi fundada em janeiro de 1884, por Elias da

Silva, com a finalidade de unificar o pensamento espírita no Brasil.

Como doutrina filosófica, o espiritismo foi sistematizado pelo pedagogo francês Allan

Kardec n'O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de abril de 1857. No Brasil,

contudo, houve uma forte ressignificação das ideias espíritas, que foram carregadas de

um viés muito mais religioso do que o existente na Europa. Foi dentro dessa

perspectiva que o espiritismo foi amplamente divulgado no Brasil, ainda na segunda

metade do século XIX, atraindo principalmente a classe média. Em setembro de 1865,

em Salvador, Bahia, foi criado o "Grupo Familiar do Espiritismo", o primeiro centro

espírita brasileiro. Em 1873, fundou-se a "Sociedade de Estudos Espíritas", com o lema

"Sem caridade não há salvação; sem caridade não há verdadeiro espírita". Esse grupo

dedicou-se a traduzir para o português as obras de Kardec, como "O Livro dos

Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "O Céu e o

Inferno" e "A Gênese".

Islamismo

Segundo o Censo de 2010, havia 35 167 muçulmanos no Brasil. Acredita-se que

o islã chegou ao Brasil por meio de escravos africanos muçulmanos trazidos da África

Ocidental. O Brasil recebeu mais muçulmanos escravizados do que qualquer outro

lugar nas Américas. Durante o Ramadã, em janeiro de 1835, um pequeno grupo de

escravos negros e libertos de Salvador, na Bahia, inspirados por professores

muçulmanos, se levantaram contra o governo no que ficou conhecido como Revolta

dos Malês, a maior rebelião escrava no Brasil. (Muçulmanos eram chamados

de malês na Bahia por causa da palavra imale do iorubá, que designava um

muçulmano iorubá.) Temendo que o exemplo pudesse ser seguido, as autoridades

brasileiras começaram a vigiar os malês com muito cuidado e, nos anos subsequentes,

intensos esforços foram feitos para forçar conversões para o catolicismo e apagar a

memória popular e o apreço pelo islã. No entanto, a comunidade muçulmana africana

não foi eliminada com facilidade, e em 1910, estima-se que ainda havia cerca de

100.000 africanos muçulmanos vivendo no Brasil.

Uma tendência recente tem sido o aumento nas conversões ao islamismo entre os

cidadãos não-árabes. Uma fonte muçulmana recente estima que existem cerca de 10

mil muçulmanos convertidos no Brasil. Os líderes da comunidade muçulmana no

Brasil estimam que há entre 70.000 e 300.000 muçulmanos no país, com o menor

valor que representando aqueles que praticam a religião, enquanto a estimativa mais

elevada incluiria também membros nominais.

Judaísmo

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De acordo com dados do censo de 2010, existiam 107 329 judeus no Brasil, apesar de

outras fontes apresentarem um número maior de seguidores. A maior proporção de

judeus é encontrado nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Os judeus chegaram pela primeira vez no Brasil como cristãos-novos ou convertidos,

nomes aplicados aos judeus ou muçulmanos que se converteram ao catolicismo, a

maioria deles à força. De acordo com os relatórios da Inquisição, muitos cristãos-

novos que viviam no Brasil durante o período colonial foram condenados por

secretamente manterem costumes judaicos. Estes relatórios podem não ser confiáveis

desde a Inquisição confiscou os bens terrenos de suas vítimas, e tinha um interesse

directo na denúncia e convencendo-os.

Em 1630, os holandeses conquistaram partes do nordeste do Brasil e permitiram a

prática aberta de qualquer religião. Muitos judeus vieram dos Países Baixos para viver

no Brasil na área dominada pelos holandeses. A maioria deles eram descendentes

dos judeus portugueses que tinham sido expulsos de Portugal, em 1497. Em 1636,

a Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga das Américas, foi construída

no Recife, a capital da Nova Holanda (Brasil Holandês). O edifício original permanece

intacto até hoje, mas os judeus foram forçados a sair do Brasil quando o Império

Português retomou as terras em 1654.

A primeira vez que judeus ficaram no Brasil e puderam praticar abertamente a sua

religião aconteceu quando a primeira constituição brasileira concedeu liberdade de

religião em 1824, logo após a independência. Eles eram principalmente judeus

marroquinos, descendentes dos judeus espanhóis e portugueses que tinham sido

expulsos da Espanha em 1492 e de Portugal em 1497.

A primeira onda de judeus sefarditas foi ultrapassada pela maior onda de imigração

de judeus ashkenazi, que chegou no final do século XIX e início do século XX,

principalmente da Rússia, Polônia, Bielorrússia e Ucrânia. Um último grupo

significativo veio, fugindo do nazismo e da destruição que se seguiu pela Segunda

Guerra Mundial.

Neopaganismo

Começam a se difundir entre os brasileiros, atualmente, as religiões neo-pagãs, como

a Wicca e o Neo-druidismo originárias da Inglaterra medieval através de ritos celtas.

Com a Wicca acontece um fator mais expressivo e especial. No Censo 2010, os

wiccanos foram incluídos no grupo de "outras religiosidades" e "não determinadas". De

qualquer forma, desde a década de 1990 a Wicca, ou a Bruxaria moderna em geral,

têm crescido muito no país, especialmente no Rio de Janeiro, Nordeste e São Paulo.

Segundo o Censo demográfico realizado no ano de 2010 no Brasil pelo IBGE, a

religião Wicca e o Paganismo não foram incluídos na relação das religiões existentes

no país, desta forma, podemos dizer que muitos dos seguidores das religiões pagãs ou

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se formos ser mais específicos, da religião Wicca, foram distribuídos entre as tradições

esotéricas (74.013 seguidores), outras religiões (11.306 seguidores) ou religiosidade não

determinada/mal definida (628.219 seguidores).

Contudo, sabemos que dentro deste contexto, a religião Wicca não é a única religião

existente dentro do paganismo ou neo-paganismo, mas sendo ela a mais representativa

e presente junto ao diálogo inter-religioso de nosso país, a coloca como a de maior

expressão, conseguinte, a de maior número junto às demais religiões neo-pagãs. Neste

prisma, podemos fazer um cálculo estimativo e aproximado de que haja em torno de

350 mil à 400 mil seguidores da religião Wicca em nosso país.

Religiões afro-brasileiras e indígenas

Com a vinda dos escravos para o Brasil, seus costumes deram origem a diversas

religiões, tais como o candomblé, que tem milhões de seguidores, principalmente

entre a população negra, descendente de africanos. Estão concentradas em maior

número nos grandes centros urbanos do Norte e do Nordeste do país, mas também

com grande presença no Sudeste. Diferente do candomblé, que é a religião

sobrevivente da África ocidental, há também a Umbanda, que representa o sincretismo

religioso entre o catolicismo, espiritismo e os orixás africanos. As religiões de matriz

africana foram e ainda são perseguidas e discriminadas no Brasil.

As chamadas religiões afro-brasileiras compõem o candomblé que é dividido em várias

nações, o batuque, o Xangô do Recife e o Xambáforam trazidas originalmente

pelos escravos. Estes escravos cultuavam seu Deus, e as divindades

chamadas Orixás, Voduns ou inkicescom cantos e danças trazidos da África.

Nas práticas atuais, os seguidores da umbanda deixam oferendas de alimentos, velas e

flores em lugares públicos para os espíritos. Os terreiros de candomblé são discretos

da vista geral, exceto em festas famosas, tais como a Festa de Iemanjá em todo o litoral

brasileiro eFesta do Bonfim na Bahia. Estas religiões estão em todo o país.

A umbanda é considerada por muitos uma religião nascida no Brasil em 15 de

novembro de 1908 no Rio de Janeiro. Embora existam relatos de outras datas e locais

de manifestação desta religião antes e durante este período seus adeptos aceitam esta

data como o início histórico da mesma.

Hinduismo/jainismo/taoismo,xintoismo

O Hinduísmo/jainismo existem em pequenas comunidades hinduístas no Brasil, isto

se deve a baixa presença de imigrantes indianos no país.Já

oTaoismo/Confuncionismo/xintoísmo vindos da China e Japão respectivamente,

chegaram e ainda chegam juntamente com seus praticantes oriundos daqueles países

asiáticos.

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Religiões hoasqueiras

Nas décadas mais recentes, tem crescido no Brasil o número de adeptos de religiões

que fazem uso do chá Hoasca (também conhecido como ayahuasca) em seus rituais.

São as religiões hoasqueiras, que se originaram na Floresta Amazônica e hoje se

expandem nos grandes centros urbanos. Entre elas, as mais representativas e

organizadas são oSanto Daime, a União do Vegetal.

Em 2004, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (CONAD), atual órgão

do Ministério da Justiça brasileiro, reconheceu a legitimidade do uso religioso

da ayahuasca e a legalidade de sua prática.

Seu uso para fins religiosos foi regulamentado pelo CONAD em 25 de janeiro de

2010, em resolução na qual se estabelece as normas legais para a utilização do chá

pelas instituições religiosas.

Não religiosos

De acordo com dados do Censo brasileiro de 2010 do IBGE, 8,0% da população

brasileira declarou-se "sem religião" (o que equivale a 15,3 milhões de pessoas), dentre

as quais cerca de 615 mil declararam-se ateias. No Censo de 2000, estes

correspondiam a 7,4% (cerca de 12,5 milhões) da população.

Em 1991 essa porcentagem era de 4,7%. Cabe salientar que o IBGE, órgão oficial de

pesquisas, não pergunta quem de fato é ateu, quem é agnóstico, e quem apenas não

segue alguma religião preestabelecida, embora conserve a sua fé em algo

transcendental, denominando todos estes grupos pelo termo "sem religião".

Uma pesquisa realizada pela empresa Ipsos a pedido da agência de

notícias Reuters revelou que 3% dos brasileiros entrevistados não acreditam em deuses

ou seres supremos.

No Brasil, o estado da Bahia é o terceiro com maior número de pessoas sem religião;

o primeiro é o Rio de Janeiro. A capital bahiana, Salvador, tem a maior porcentagem

nacional de pessoas sem religião entre as capitais, 18% da população.

No país todo, são mais numerosos entre os homens e entre os habitantes com menos

de 55 anos.A cidade com o maior número de ateus é Nova Ibiá, com 59,85% dos

habitantes, de acordo com o censo de 2000 do IBGE.

O segundo lugar fica com Pitimbu, na Paraíba, com 42, 44%. De acordo com dados

do Censo de 2010, no entanto, o município do Chuí, no Rio Grande do Sul, é o que

apresenta a maior proporção de pessoas sem religião, onde 54% dos habitantes

declarou não professar nenhuma fé.

Atualmente, apenas os ditos católicos e evangélicos superam em número os não-

religiosos. Em comparação, estima-se que a média mundial de não-religiosos é de

23,5% da população total.

Passaremos a seguir a entrar nesta atmosfera religiosa conhecendo mais de perto todas

as principais correntes do pensamento religioso que por aqui aportou com seus

praticantes ao longo de nossa história.

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I-RELIGIÕES ABRÂMICAS

1. Islamismo

Islão ou islã ou ainda islamismo, é uma religião abraâmica monoteísta articulada

pelo Alcorão, um texto considerado pelos seus seguidores como a palavra literal

de Deus (Alá,em árabe) e pelos ensinamentos e exemplos normativos (a

chamada suna, parte do hadith) de Maomé, considerado pelos fiéis como o

último profeta de Deus. Um adepto do islamismo é chamado de muçulmano.

Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da

existência é adorá-lo.

Eles também acreditam que o islã é a versão completa e universal de uma fé

primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio

de Abraão, Moisés e Jesus, que eles consideram profetas.

Os seguidores do islão afirmam que as mensagens e revelações anteriores foram

parcialmente alteradas ou corrompidas ao longo do tempo, mas consideram

o Alcorão como uma versão inalterada da revelação final de Deus.

Os conceitos e as práticas religiosas incluem os cinco pilares do islão, que são

conceitos e atos básicos e obrigatórios de culto, e a prática da lei islâmica, que atinge

praticamente todos os aspectos da vida e da sociedade, fornecendo orientação sobre

temas variados, como sistema bancário e bem-estar, à guerra e ao meio ambiente.

A maioria dos muçulmanos pertence à uma das duas principais denominações; com

80% a 90% sendo sunitas e 10% a 20% sendo xiitas.

Cerca de 13% de muçulmanos vivem na Indonésia, o maior país muçulmano do

mundo.

25% vivem no Sul da Ásia, 20% no Oriente Médio, 2% na Ásia Central, 4% nos

restantes países do Sudeste Asiático e 15% na África Subsaariana.

Comunidades islâmicas significativas também são encontradas na China, na Rússia e

em partes da Europa.

Comunidades convertidas e de imigrantes são encontradas em quase todas as partes do

mundo.

Com cerca de 1,41-1,57 bilhão de muçulmanos, compreendendo cerca de 21-23%

da população mundial, o islão é a segunda maior religião e uma das que mais crescem

no mundo.

Islão provem do árabe Islām, que por sua vez deriva da quarta forma verbal da

raiz slm, aslama, e significa "submissão (a Deus)".

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O Islão é descrito em árabe como um "diin", o que significa "modo de vida" e/ou

"religião" e possui uma relação etimológica com outras palavras árabes

como Salaam ou Shalam (Shalaam / Shalom), que significam "paz".

Muçulmano, por sua vez, deriva da palavra

árabe muslim (plural, muslimún), particípio activo do verbo aslama, designando

"aquele que se submete".

Em textos mais antigos, os muçulmanos eram conhecidos como "maometanos", este

termo tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os

muçulmanos adoram Maomé (como, durante alguns séculos, por completo

desconhecimento, o Ocidente pensou), o que torna o termo ofensivo para muitos

muçulmanos.

Durante a Idade Média e, por extensão, nas lendas e narrativas populares cristãs, os

muçulmanos eram também designados como sarracenos e também

por mouros (embora este último termo designasse mais concretamente os

muçulmanos naturais do Magrebe, que se encontravam na Península Ibérica).

Islão pode se referir também ao conjunto de países que seguem esta religião

(a jurisprudência islâmica utiliza nesse caso a expressão Dar-al-Islam, "casa do Islão").

A expansão do islamismo configura o maior movimento de conquista religiosa da

História da humanidade.

O islão surgiu entre pequenas hordas pastoris da Arábia no século VII, com base nos

ensinamentos de Maomé.

Além do velho espírito de saques de terras e bens típicas de todas as hordas pastoris

humanas, somou-se a esses povos um sentimento de destinação sagrada.

A doutrina maometana é uma sincretizaçao das tradições judaicas, cristãs e iranianas

(zoroastrismo), definindo-se como uma religião universalista, marcada, mais que

qualquer outra, pelo salvacionismo de conquista e pelo expansionismo.

Assim, o islamismo se configura como um credo messiânico que se orienta pela

expansão do domínio de Alá sobre todos os povos possíveis.

Em poucas décadas, o islamismo se alastrou por todo o Oriente Médio e, a partir dali,

para o oeste, atingindo o Norte da África, as ilhas mediterrânicas e a península

Ibérica e para o leste, se expandindo pela Ásia, Índia, chegando à Indonésia e à

Indochina.

Mais tarde, penetrou a África Subsaariana, a Eurásia e os confins do Oriente.

O islão ensina seis crenças principais:

1. a crença em um único Deus;

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2. a crença nos anjos, seres criados por Deus;

3. a crença nos livros sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e

o Evangelho. O Alcorão é o principal e mais completo livro sagrado,

constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Deus

ao profeta Maomé;

4. a crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o

último;

5. a crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão

avaliadas;

6. a crença na predestinação: Deus tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o

que acontece a cada pessoa.

A pedra basilar da fé islâmica é a crença estrita no monoteísmo. Deus é considerado

único e sem igual.

Cada capítulo do Alcorão (com a exceção de um) começa com a frase "Em nome de

Deus, o clemente, o misericordioso". Uma das passagens do Alcorão frequentemente

usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no capítulo (sura) 59:

"Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, que conhece o invisível e o visível. Ele é o

Clemente, o Misericordioso!

Ele é Deus e não há outro deus senão Ele. Ele é o Soberano, o Santo, a Paz, o Fiel, o

Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus seja louvado acima dos que os

homens lhe associam!

Ele é Deus, o Criador, o Inovador, o Formador! Para ele os epítetos mais belos" (59,

22-24)”.

Anjos

Os anjos são, segundo o islão, são seres criados por Deus a partir da luz. Não

possuem livre arbítrio, dedicando-se apenas a obedecer a Deus e a louvar o seu nome.

Maomé nada disse sobre o sexo dos anjos, mas rejeitou a crença dos habitantes

de Meca, de acordo com a qual eles seriam os filhos de Deus.

Desempenham vários papéis, entre os quais o anúncio da revelação divina aos

profetas; protegem os seres humanos e registram todas as suas acções. O anjo mais

famoso é Gabriel, que foi o intermediário entre Deus e o profeta.

Para além dos anjos, o islamismo reconhece a existência dos jinnis, espíritos que

habitam o mundo natural e que podem influenciar os acontecimentos.

Ao contrário dos anjos, osjinnis possuem vontade própria; alguns são bons, mas de

uma forma geral são maus.

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Um desses espíritos maus é Iblis (Azazel), também ele um jinn, segundo a crença

islâmica, que desobedeceu a Deus e dedica-se a praticar o mal.

Os muçulmanos acreditam que Deus usou profetas para revelar escrituras aos homens.

A revelação dada a Moisés foi a Taura (Torá), a Davi foram dados os Salmos e

a Jesus oEvangelho.

Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada vez mais abrangentes que

culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a Muhammad.

O islamismo ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de profetas.

Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer

aos homens a vontade divina e os que para além dessa função lhes foi entregue uma

escritura revelada.

Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a

unicidade de Deus, esquecida pelos homens.

Para os muçulmanos, a lista dos profetas

inclui Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Maomé (Muhammad),

todos eles pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus.

Maomé é visto como o Último Mensageiro, trazendo a mensagem final de Deus a toda

a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos

Profetas".

Esses profetas eram humanos mortais comuns, o islão exige que o crente aceite todos

os profetas, não fazendo distinção entre eles. No Alcorão, é feita menção a vinte e

cinco profetas específicos.

Segundo as crenças islâmicas, o dia do Julgamento Final é o momento em que cada ser

humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus pelas ações que praticou.

Os seres humanos livres de pecado serão enviados diretamente para o Paraíso,

enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno, antes de

poderem também entrar no Paraíso.

As únicas pessoas que permanecerão para sempre no Inferno são os hipócritas

religiosos, isto é, aqueles que se diziam muçulmanos, mas de fato nunca o foram.

Segundo a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por vários

sinais, como o nascimento do Sol no poente, o som de uma trombeta e o

aparecimento de uma besta.

De acordo com o Alcorão, o mundo não acabará verdadeiramente, mas sofrerá antes

uma alteração profunda.

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Os muçulmanos acreditam no quadar, uma palavra geralmente traduzida como

"predestinação", mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou

qualidade".

Uma vez que, para o islamismo, Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres

humanos, e sendo uma das suas características a onisciência, ele já sabia, quando

procedeu à criação, as características que cada elemento da sua obra teria.

Assim sendo, cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus.

Essa crença não implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por

Deus com a faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar acções positivas

ou negativas.

Os cinco pilares do islão são cinco deveres básicos de cada muçulmano:

1. a recitação e aceitação da crença (Chahada ou Shahada);

2. orar cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah);

3. pagar esmola (Zakat ou Zakah);

4. observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam);

5. fazer a peregrinação a Meca (Haj) se tiver condições físicas e financeiras.

A profissão de fé consiste numa frase - que deve ser dita com a máxima sinceridade -

através da qual cada muçulmano atesta que "não há outro deus senão Deus e Maomé é

seu servo e mensageiro".

No entanto, os muçulmanos xiitas têm por costume acrescentar "e Ali ibn Abi Talib é

amigo de Deus".

Essa frase também é dita quando se chama à oração (adhan).

De acordo com a maioria das escolas islâmicas, para se converter ao islão é necessário

proclamar três vezes a chahada ("testemunho") perante duas testemunhas: "Achadu ala

ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah" ("Testemunho que não há outra

divindade senão Deus. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro").

A oração no islão (conhecida como Salá) é composta por cinco partes, todas

espalhadas durante o dia e a noite, iniciando pela alvorada até à noite. Considerada o

ponto mais próximo que se pode chegar de Deus.

No islão não há obrigatoriamente hierarquia entre os adeptos, porém a comunidade,

conhecida como ummah, escolhe uma pessoa com conhecimento suficiente para

dirigir a adoração.

Durante essas orações, são recitadas suratas do Alcorão, geralmente ditas em árabe,

conduzidas pelo escolhido entre a comunidade.

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Não existe restrição para que o crente reze fora da mesquita, tampouco isso é uma

desbonificação de sua oração, que pode ser feita em qualquer lugar, desde que tenha

feito antes sua purificação.

A purificação é realizada através da higiene especifica e detalhada, que consiste

basicamente em lavar as mãos, os antebraços, a boca, as narinas, a face; em passar água

pelas orelhas, pela nuca, pelo cabelo e pelos pés.

Se um muçulmano se encontrar numa área sem água ou numa área onde o uso da

água não é aconselhável (porque poderia causar uma doença), pode substituir as

abluções pelo uso simbólico de areia ou terra (tayammum). A oração abre-se com a

orientação do crente na direcção de Meca (qibla).

O islão estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente uma certa quantia,

calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos pobres ou por

outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes, endividados).

Essa contribuição é encarada como uma forma de purificação e de culto. A quantia

corresponde a 2,5% do valor dos bens em dinheiro, ouro e prata, mas o valor pode

variar se se tratar, por exemplo, de produtos agrícolas (nesse caso a contribuição pode

chegar a 10% da colheita agrícola).

Quem tiver possibilidades pode ainda contribuir, de forma voluntária, com outras

doações (sadaqa), mas é importante que o faça em segredo e sem ser movido pela

vaidade. O anúncio dessas doações somente poderá ser feito se isso contribuir para

que outras pessoas sejam motivadas a fazer o mesmo (caso de personalidades e pessoas

proeminentes da sociedade), e esse ato deve ser sincero, mesmo que em público.

Durante o Ramadão (o nono mês do calendário islâmico), cada muçulmano adulto

deve abster-se de alimento, de bebida, de fumar e de ter relações sexuais, desde o

nascer até ao pôr-do-sol. Os doentes, os idosos, os viajantes, as grávidas ou as mulheres

lactantes estão dispensados do jejum.

Em compensação, essas pessoas devem alimentar um pobre por cada dia que faltaram

ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano. O jejum é interpretado como uma

forma de purificação, de aprendizagem do auto-controlo e de desenvolvimento da

empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades.

O mês de Ramadão termina com o dia de celebração conhecido como Eid ul-Fitr,

durante o qual os muçulmanos agradecem a Deus a força que lhes foi concedida para

levar a cabo o jejum.

As casas são decoradas e é hábito visitar os familiares. Essa comemoração serve

também para o perdão e a reconciliação entre pessoas desavindas.

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Esse pilar consiste na peregrinação a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na vida

para todos os que gozem de saúde e disponham de meios financeiros. Ocorre durante

o décimo segundo mês do calendário islâmico.

Os muçulmanos vestem-se com um traje especial todo branco, antes de chegar a Meca,

para que todos estejam igualmente vestidos e não haja distinção de classes. Durante

toda a peregrinação, não se preocupam com o seu aspecto físico.

Depois de praticarem sete voltas em torno da Kaaba, os peregrinos correm entre as

duas colinas de Safa e Marwa.

Na última parte do Hajj, os muçulmanos devem passar uma tarde na planície

de Arafat, onde Maomé disse o seu "Último Sermão".

As revelações a Maomé foram reunidas em forma de livro. Considera-se que a

estruturação do Alcorão como livro ocorreu entre 650 e 656, durante o califado de

Otman.

O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras. Cada sura está por sua

vez subdividida em versículos chamados ayat.

Os capítulos possuem tamanho desigual (o menor possui apenas três versículos e os

mais longos 286 versículos) e a sua disposição não reflete a ordem da revelação.

Considera-se que 92 capítulos foram revelados em Meca e 22 em Medina.

As suras são identificadas por um nome, que é em geral uma palavra distintiva surgida

no começo do capítulo ("A Vaca", "A Abelha", "O Figo").

Uma vez que os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último de uma longa linha

de profetas, eles tomam a sua mensagem como um depósito sagrado e tomam muito

cuidado com ela, assegurando que a mensagem tenha sido recolhida e transmitida de

uma maneira a não trair esse legado.

Essa é a principal razão pela qual as traduções do Alcorão para as línguas vernáculas

são desencorajadas, preferindo-se ler e recitar o Alcorão em árabe.

Muitos muçulmanos memorizam uma porção do Alcorão na sua língua original e

aqueles que memorizaram o Alcorão por inteiro são conhecidos

como hafiz (literalmente "guardião").

A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus, que deve ser

adorado. Contém também exortações éticas e morais, histórias relacionadas com os

profetas anteriores a Muhammad (que foram rejeitados pelos povos aos quais foram

enviados), avisos sobre a chegada do dia do Juízo Final, bem como regras relacionadas

com aspectos da vida diária, como o casamento e o divórcio.

Além do Alcorão, as crenças e práticas do islão baseiam-se na literatura hadith, que

para os muçulmanos clarifica e explica os ensinamentos do profeta.

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Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceita ou excluída da

comunidade de crentes. O islão é aberto a todos, independentemente de raça, idade,

género ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do islamismo, acto

formalizado pela recitação da chahada, o enunciado de crença do islão, sem o qual

uma pessoa não pode ser considerada um muçulmano.

Embora não exista no islamismo uma estrutura clerical semelhante à existente

nas denominações cristãs, existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu

conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemás. Os homens que se

destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título

de mufti, sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da

lei islâmica; em teoria esses pareceres (fatwas) só devem ser seguidos pela pessoa que o

solicitou.

Há várias denominações no islão, cada uma com diferenças ao nível legal e teológico.

Os maiores ramos são o Islão sunita e o Islão xiita.

O profeta Maomé faleceu em 632 sem deixar claro quem deveria ser o seu sucessor na

liderança da comunidade muçulmana (a Umma). Abu Bakr, um dos primeiros

convertidos ao islamismo e companheiro do profeta, foi eleito

como califa ("representante"), função que desempenhou durante dois anos. Depois da

sua morte, a liderança coube durante dez anos a Omar e logo em seguida a Otman,

durante doze anos.

Quando Otman faleceu, ocorreu uma disputa em torno de quem deveria ser o novo

califa. Para alguns essa honra deveria recair sobre Ali, primo de Maomé, que era

também casado com a sua filha Fátima.

Para outros, o califa deveria ser o primo de Otman, Muawiyah. Quando Ali é eleito

califa em 656, Muawiyah contesta a sua eleição, o que origina uma guerra civil entre os

partidários das duas facções.

Ali acabaria por ser assassinado em 661 e Muawiyah conquista o poder para si e para a

sua família, fundando o Califado Omíada.

Contudo, o conflito entre os dois campos continua e, em 680, Hussein, filho de Ali, é

massacrado pelas tropas de Yazid, filho de Muawiyah.

Essas lutas estão na origem dos dois principais ramos em que actualmente se divide o

islão. Os partidários de Ali (shiat ali, ou seja, xiitas) acreditam que os três primeiros

califas foram usurpadores que retiraram a Ali o seu direito legítimo à liderança.

Essa crença é justificada em hadiths interpretados como reveladores de que, quando

Maomé se encontrava ausente, ele nomeava Ali como líder momentâneo da

comunidade.

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O islamismo sunita compreende actualmente cerca de 83% de todos os muçulmanos.

Divide-se em quatro escolas de jurisprudência (madhabs), que interpretam a lei

islâmica de forma diferente. Essas escolas tomam o nome dos seus

fundadores: maliquita (forte presença no Norte de África), shafiita (presente no Médio

Oriente, Indonésia, Malásia, Filipinas), hanefita (presente na Ásia Central e do

Sul, Turquia) e hanbalita(dominante na Arábia Saudita e Qatar).

O muçulmanos xiitas acreditam que o líder da comunidade muçulmana - o imã - deve

ser um descendente de Ali e de sua esposa Fátima.

SUFISMO

Às vezes visto pelos fiéis muçulmanos comuns como um ramo separado do

islamismo, o sufismo é antes uma forma de mística que pretende alcançar um contacto

directo com Deus através de uma série de práticas que geralmente incluem

o ascetismo, a meditação, os jejuns, cantos e danças.

Desconhece-se de onde deriva a palavra sufismo (em árabe: tasawwuf). O termo

poderá provir de sūf, "lã", o que se encontra relacionado com o facto de os primeiros

sufis vestirem roupas feitas com o material, imitando os ascetas cristãos da Síria e

da Palestina. Outra teoria procura relacionar sufismo com a palavra árabe safa, que

significa "pureza".

O sufismo já existia como movimento no primeiro século do islão. Para os sufis, o

próprio profeta Maomé seria um deles, já que levaria uma vida extremamente simples,

tendo por hábito retirar-se de Meca para meditar numa caverna, tendo estabelecido

uma relação próxima com Deus.

Um dos primeiros representantes do sufismo foi al-Hasan al-Basri (642-728), que

rejeitou o materialismo do mundo e criticou os soberanos omíadas. Saliente-se ainda

deste período inicial uma mulher, Rabi'ah al-Adawiyah (? - 801), cujo amor por Deus

leva-a a excluir o apego ao mundo.

Desde os séculos XII e XIII, os sufis organizam-se em ordens ou irmandades (tariqas),

que seguem os métodos de realização espiritual ensinados por determinados mestres

(osxeques ou pirs)." As ordens sufis podem ser encontradas quer no sunismo, quer no

xiismo.

O sufismo foi por vezes entendido pelas autoridades ortodoxas muçulmanas como

uma ameaça, tendo os seus líderes e adeptos sido alvo de perseguições. O sufismo tem

sido igualmente criticado devido ao facto de alguns dos seus mestres terem alcançado

um estatuto de santo, tendo sido erguidos santuários nos locais onde nasceram ou

faleceram, que se tornaram locais de peregrinações.

O calendário islâmico (também denominado calendário hegírico em função da sua

origem remontar à Hégira ou migração dos primeiros muçulmanos de Meca para

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Medina em 622 d.C.) segue o ano lunar, que é cerca de onze dias mais curto que o

solar. Consequentemente, as comemorações muçulmanas acabam por circular por

todas as estações de ano.

As duas comemorações do islão são o Eid ul-Fitr, que celebra o fim do jejum

do Ramadão, e o Eid ul-Adha, que marca o fim da peregrinação a Meca (Hajj).

O dia 10 do mês de Muharram (o primeiro mês do calendário islâmico) é um dia de

particular importância para os muçulmanos xiitas. Neste dia, comemora-se o martírio

do terceiro imã xiita, Hussein, morto em Karbala, em 680, por aqueles que os xiitas

consideram usurpadores da liderança da comunidade muçulmana.

No início deste mês, as pessoas envolvem-se em actividades como ouvir contadores de

histórias relatar o martírio de Hussein ou assistir a peças de teatro que pretendem

reconstituir os acontecimentos.

O dia é marcado com procissões, que incluem actos de autoflagelação como bater no

peito ou cortar-se com uma lâmina (os membros do clero xiita desencorajam essas

práticas).

Outras comemorações populares incluem o Mawlid, que celebra o aniversário de

Maomé (12 do mês de Rabi al-Awwal), A Noite da Ascensão (Laylat al-Micraj, no dia

27 deRajab), quando se recorda o dia em que Maomé subiu ao céu para dialogar com

Deus, e A Noite do Poder (Laylat al-Qadr, na noite do 26 para 27 do mês do

Ramadão), que marca o aniversário da primeira revelação do Alcorão e durante a qual

muitos muçulmanos acreditam que Deus decide o que acontecerá durante o ano.

Lugares sagrados do islamismo (da esquerda para a direita): mesquita Al Masjid Al-

Haram, em Meca, Arábia Saudita, considerada o maior centro de peregrinação do

mundo e o local mais sagrado do islamismo; mesquita Al-Masjid an-Nabawi,

em Medina, local do túmulo de Maomé; Cúpula da Rocha, em Jerusalém, cidade

sagrada para os muçulmanos.

A Caaba ("O Cubo"), um edifício situado dentro da mesquita principal deMeca (Al

Masjid Al-Haram), na Arábia Saudita, é o local mais sagrado do islão. De acordo com

o Alcorão, ela foi construída por Abraão (Ibrahim) para que todas as pessoas fossem

ali celebrar os ritos da Hajj. No tempo do profeta Maomé, o monoteísmo instituído

por Abraão tinha sido corrompido pelo politeísmo e pela idolatria. Segundo o

islamismo, Maomé não procurou fundar uma nova religião, mas antes restabelecer o

culto monoteísta que existia no passado. Uma vez que o islão se identifica com a

tradição religiosa do patriarca Abraão, é por isso classificado como uma religião

abraâmica.

O islamismo não nega diretamente o judaísmo e o cristianismo, pelo contrário,

considera uma versão antiga e perdida dessas religiões monoteístas como parte da sua

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herança; as suas versões atuais teriam sido alteradas, o próprio islão considerando-se

uma restauração da verdade divina.

O segundo local sagrado do islamismo é a mesquita Al-Masjid an-Nabawi, na cidade

de Medina, cidade para a qual Maomé e os primeiros muçulmanos fugiram (num

movimento conhecido como Hégira), e onde se encontra o seu túmulo.

A cidade de Jerusalém é o terceiro local sagrado do islão. Este estatuto advém da sua

associação aos profetas anteriores a Maomé e sobretudo pelo facto de os muçulmanos

acreditarem que o profeta teria viajado para esse local durante a noite, cavalgando um

ser denominado Buraq, numa viagem conhecida como Isra. Uma vez em Jerusalém,

ele teria ascendido ao céu (Mi’raj), onde dialogou com Deus e outros profetas, entre os

quais Moisés e Jesus.

No local de Jerusalém onde se acredita que Maomé subiu ao céu, foi construída

a Cúpula da Rocha, em cerca de 690, e a mesquita de Al'Aqsa, sobre as ruínas do

antigo Templo de Salomão dos judeus.

Os muçulmanos xiitas consideram ainda como sagradas as cidades de Karbala e Najaf,

ambas no Iraque. Na primeira, ocorreu o martírio de Hussein (filho de Ali e neto de

Maomé) e dos seus companheiros, quando este contestava o Califado Omíada.

No Irão, devem também ser salientadas duas cidades sagradas para os

xiitas, Mashhad e Qom.

A lei islâmica chama-se Xariá. O Alcorão é a mais importante fonte

da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna ou exemplos do profeta. A Suna é

conhecida graças aosahadith, que são narrações acerca da vida do profeta ou o que ele

aprovava, que chegaram até nossos dias através de uma cadeia de transmissão oral a

partir dosCompanheiros de Maomé.

A terceira fonte de jurisprudência é o ijtihad ("raciocínio individual"), à qual se recorre

quando não há resposta clara no Alcorão ou na Suna sobre um dado tema. Neste caso,

o jurista pode raciocinar por analogia (qiyas) para encontrar a solução.

A quarta e última fonte de jurisprudência é o consenso da comunidade (ijma).

Algumas práticas também chamadas de "charia" têm também algumas raízes nos

costumes locais (Al-urf).

A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está dividida em duas partes: o estudo das

fontes e metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas (furu' al-fiqh, ramos

da lei).

A Áustria foi o primeiro país europeu a reconhecer o islão como uma religião oficial

(1912 ), enquanto que a França tem atualmente a população mais elevada de

muçulmanos da Europa Ocidental (entre 5 a 10%).

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Em Portugal, existe igualmente uma comunidade muçulmana, que nada tem a ver com

os muçulmanos que viveram no país durante a Idade Média; são na sua maioria

naturais das antigas colónias portuguesas deMoçambique e Guiné-Bissau, que se

fixaram em Portugal após a independência desses territórios.

O Islão xiita ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no Centro

Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan.

Estima-se que o número de muçulmanos em Portugal ronde os 30 mil. Segundo o

censo de 2000, o Brasil registra 27.239 muçulmanos.

Porém, para a Federação Islâmica Brasileira, o número de muçulmanos no Brasil é

muito maior.

A maioria dos muçulmanos brasileiros vive nos estados do Paraná e Rio Grande do

Sul, mas também existem comunidades significativas no Rio de Janeiro, Mato Grosso

do Sul e São Paulo.

Grande parte desses muçulmanos são descendentes de imigrantes sírios, palestinos e

libaneses que se fixaram no Brasil durante as grandes guerras mundiais.

O islamismo contemporâneo é dominado pelo tradicionalismo, preocupado com a

manutenção de rituais e práticas antigas, como o uso do véu pelas mulheres.

O islamismo reconhece elementos de verdade no judaísmo e no cristianismo. Todos

os profetas do judaísmo são reconhecidos também como profetas no islão, assim

como Jesus, que de acordo com a perspectiva muçulmana teria anunciado a vinda

de Maomé.

Para os seguidores dessas duas crenças, o Alcorão reservou a noção de "Povos do

Livro" (Ahl al-Kitab), estabelecendo que devem ser tolerados devido ao facto de

possuirem escrituras sagradas. À medida que os muçulmanos tomaram contacto com

outras religiões detentoras de revelações escritas, acabaram em alguns casos por

conceder-lhes também esse estatuto (caso do zoroastrismo).

Porém, se o islão reconhece o papel preparatório do judaísmo e do cristianismo,

considera igualmente que os seguidores dessas religiões acabaram por seguir caminhos

errados.

Os judeus tendo tornado-se idólatras e procederam mal ao adorarem o bezerro de

ouro, e por rejeitarem Jesus como profeta de Deus. Os muçulmanos acreditam que os

cristãos erraram ao considerar Jesus como filho de Deus e ao defender doutrinas

como a da Santíssima Trindade, porém acreditam que Jesus é uma criatura de Deus e

um profeta de Alá.

Tais erros, segundo os muçulmanos, acarretaram a vinda de outro e último profeta

enviado por Deus, Maomé.

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2. Judaísmo

Judaísmo é uma das três principais religiões abraâmicas, definida como a

"religião, filosofia e modo de vida" do povo judeu.

Originário da Bíblia Hebraica (também conhecida como Tanakh) e explorado em

textos posteriores, como oTalmud, é considerado pelos judeus religiosos como a

expressão do relacionamento e da aliança desenvolvida entre Deus com os Filhos de

Israel.

De acordo com o judaísmo rabínico tradicional, Deus revelou as suas leis e

mandamentos a Moisés no Monte Sinai, na forma de uma Torá escrita e oral.

Esta foi historicamente desafiada pelo caraítas, um movimento que floresceu

no período medieval, que mantém vários milhares de seguidores atualmente e que

afirma que apenas a Torá escrita foi revelada.

O judaísmo afirma uma continuidade histórica que abrange mais de 5.000 anos. É uma

das mais antigas religiões monoteístas e a mais antiga das três grandes religiões

abraâmicas que sobrevive até os dias atuais.

Os hebreus/israelitas já foram referidos como judeus nos livros posteriores ao Tanakh,

como o Livro de Ester, com o termo judeus substituindo a expressão "Filhos de

Israel."

Os textos, tradições e valores do judaísmo foram fortemente influenciados mais tarde

por outras religiões abraâmicas, incluindo o zoroastrismo, o islamismo e a Fé Bahá'í.

Muitos aspectos do judaísmo também foram influenciados, direta ou indiretamente,

pela ética secular ocidental e pelo direito civil.

Os judeus são um grupo etno-religioso e incluem aqueles que nasceram judeus e foram

convertidos ao judaísmo.

Em 2010, a população judaica mundial foi estimada em 13,4 milhões, ou

aproximadamente 0,2% da população mundial total.

Cerca de 42% de todos os judeus residem em Israel e cerca de 42% residem

nos Estados Unidos e Canadá e Europa. O maior movimento religioso judaico é

o judaísmo ortodoxo (judaísmo haredi e o judaísmo ortodoxo moderno), o judaísmo

conservador e o judaísmo reformista.

A principal fonte de diferença entre esses grupos é a sua abordagem em relação à lei

judaica. O judaísmo ortodoxo sustenta que a Torá e a lei judaica são de origem divina,

eterna e imutável, e que devem ser rigorosamente seguidas.

Judeus conservadores e reformistas são mais liberais, com o judaísmo conservador,

geralmente promovendo uma interpretação mais "tradicional" de requisitos do

judaísmo do que o judaísmo reformista.

A posição reformista típica é de que a lei judaica deve ser vista como um conjunto de

diretrizes gerais e não como um conjunto de restrições e obrigações cujo respeito é

exigido de todos os judeus.

Historicamente, tribunais especiais aplicaram a lei judaica; hoje, estes tribunais ainda

existem, mas a prática do judaísmo é na sua maioria voluntária.

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A autoridade sobre assuntos teológicos e jurídicos não é investida em qualquer pessoa

ou organização, mas nos textos sagrados e nos muitos rabinos e estudiosos que

interpretam esses textos.

A história do judaísmo é a história de como se desenvolveu a religião principal da

comunidade judaica que, ainda que não seja unificada, contém princípios básicos que a

distingue de outras religiões.

De acordo com a visão religiosa, o judaísmo é uma religião ordenada pelo Criador

através de um pacto eterno com o patriarca Abraão e sua descendência.

Ainda que seja intimamente relacionada à história do povo judeu, a história do

judaísmo se distingue por enfatizar somente a evolução da religião e como esta

influenciou o povo judeu e o mundo.

Surgiram variadas formulações das crenças judaicas, a maioria das quais com muito em

comum entre si, mas divergentes em vários aspectos.

Uma comparação entre várias dessas formulações mostra um elevado grau de

tolerância pelas diferentes perspectivas teológicas.

O princípio básico do judaísmo é a unicidade absoluta de YHWH como Deus e

criador, onipotente, onisciente, onipresente, que influencia todo o universo, mas que

não pode ser limitado de forma alguma.

A afirmação da crença no monoteísmo manifesta-se na profissão de fé judaica

conhecida como Shemá.

Assim qualquer tentativa de politeísmo é fortemente rechaçada pelo judaísmo, assim

como é proibido seguir ou oferecer prece a outro que não seja YHWH.

O judaísmo posterior ao exílio no entanto assumiu a existência de uma corte espiritual

na qual Deus seria uma espécie de rei, o qual controlaria seres para execução de sua

vontade (anjos).

Esta visão era aceita pelos fariseus e passada para o posterior judaísmo rabínico, mas

no entanto desprezada pelos saduceus.

O judaísmo defende uma relação especial entre Deus e o povo judeu, manifesta

através de uma revelação contínua de geração a geração. O judaísmo crê que a Torá é

a revelação eterna dada por Deus aos judeus.

A profecia dentro do judaísmo não tem o caráter exclusivamente adivinhatório como

assume em outras religiões, mas manifestava-se na mensagem da Divindade para com

seu povo e o mundo, que poderia assumir o sentido de advertência, julgamento ou

revelação quanto à Vontade da Divindade.

Esta profecia tem um lugar especial desde o princípio do mosaísmo, seguindo pelas

diversas escolas de profetas posteriores (que serviam como conselheiros dos reis) e

tendo seu auge com a época dos dois reinos.

Oficialmente se reconhece que a época dos profetas encerra-se na época do exílio

babilônico e do retorno a Judá. No entanto o judaísmo reconheceu diversos profetas

durante a época do Segundo Templo, e durante o posterior período rabínico.

O entendimento dos conceitos de corpo, alma e espírito no judaísmo varia conforme

as épocas e as diversas seitas judaicas. O Tanach não faz uma distinção teológica

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destes, usando o termo que geralmente é traduzido como alma (néfesh) para se referir

à vida e o termo geralmente traduzido como espírito (ruakh) para se referir a fôlego.

Deste modo, as interpretações dos diversos grupos são muitas vezes conflitantes, e

muitos estudiosos preferem não discorrer sobre o tema.

O Tanach, excetuando alguns pontos poéticos e controversos, jamais faz referência a

uma vida além da morte, nem a um céu ou inferno, pelo que

os saduceus posteriormente rejeitavam estas doutrinas.

Porém após o exílio em Babilônia, os judeus assimilaram as doutrinas da imortalidade

da alma, da ressurreição e do juízo final, e constituíam em importante ensino por parte

dos fariseus.

Nas atuais correntes do judaísmo, as afirmações sobre o que acontece após a morte são

postulados e não afirmações, e varia-se a interpretação dada ao que ocorre na morte e

se existe ou não ressurreição.

A maioria das correntes crê em uma ressurreição no mundo vindouro (Olam Habá),

incluindo os caraítas, enquanto outra parcela do judaísmo crê na reencarnação, e o

sentido do que seja ressurreição ou reencarnação varia de acordo com a ramificação.

CABALA

Cabalá é o nome dado ao conhecimento místico esotérico de algumas correntes do

judaísmo, que defende interpretação do universo, de Deus e das escrituras através de

suas naturezas divinas.

A lei judaica ortodoxa considera judeu todo aquele que nasceu de mãe judia ou se

converteu de acordo com essa mesma lei, segundo o judaísmo rabínico. Algumas

ramificações como o Reformismo e o Reconstrucionismo aceitam também a linhagem

patrilinear, desde que o filho tenha sido criado e educado em meio judaico.

Um judeu que deixe de praticar o judaísmo e se transforme num judeu não-praticante

continua a ser considerado judeu. Um judeu que não aceite os princípios de fé

judaicos e se torne agnóstico ou ateu também continua a ser considerado judeu.

No entanto, se um judeu se converte a uma outra religião, ou ainda, que se afirme

"judeu messiânico" (ramificação que defende Jesus como o messias para os judeus)

geralmente é visto como que perdido o lugar como membro da comunidade judaica

tradicional e transforma-se num apóstata.

Esta pessoa, caso pretenda retornar ao judaísmo, não precisa se converter, de acordo

com a maior parte das autoridades em lei judaica, mas abjurar das antigas práticas

relativas às outras fés.

As pessoas que desejam se converter ao judaísmo devem aderir aos princípios e

tradições judaicas.

Os homens têm de passar pelo ritual do brit milá (circuncisão). Qualquer converso

tem de passar ainda pelo ritual da mikvá ou banho ritual. Os judeus ortodoxos

reconhecem apenas conversões feitas por seus tribunais rabínicos, seja em Israel ou em

outros locais.

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As comunidades reformistas e liberais também exigem a adesão aos princípios e

tradições judaicos, o brit milá e a mikvá, de acordo com os critérios estipulados em

cada movimento.

Enquanto as conversões autorizadas por tribunais rabínicos ortodoxos são aceitas

como válidas por quase todas as correntes do judaísmo, aquelas feitas de acordo com

as correntes Reformista ou Conservadora são aceitas pelo Estado de Israel e nas

comunidades judaicas não-ortodoxas no mundo inteiro - mais de 80% da população

dos judeus do planeta, mas rejeitadas pelo movimento ortodoxo.

Vida comunitária judaica é o nome dado à organização das diferentes comunidades

judaicas no mundo.

Há variações de locais e costumes mas geralmente as comunidades contam com um

sistema de regras comunais e religiosas, um conselho para julgamento e um centro

comunal com local para estudo.

No entanto, a família é considerada o principal elemento da vida comunitária judaica,

o que ao lado do mandamento de Crescei e multiplicai leva ao desestímulo de

práticas ascéticas como o celibato apesar da existência através da história de algumas

seitas judaicas que promovessem esta renúncia.

SINAGOGA

A Sinagoga Kahal Zur Israel,é a mais antiga sinagoga das Américas, localizada

em Recife, Pernambuco/Brasil.

A sinagoga é o local das reuniões religiosas da comunidade judaica, hábito adquirido

após a conquista de Judá pela Babilônia e a destruição do Templo de Jerusalém. Com

a inexistência de um local de culto, cada comunidade desenvolveu seu local de

reuniões, que após a construção do Segundo Templo tornou-se os centros de vida

comunitária das comunidades da Diáspora.

Na estrutura da sinagoga destaca-se o rabino, líder espiritual dentro da comunidade

judaica e o chazan (cantor litúrgico).

O Chérem é a mais alta censura eclesiástica na comunidade judaica. É a exclusão total

da pessoa da comunidade judaica.

Exceto em casos raros que tiveram lugar entre os judeus ultra-ortodoxos, o cherem

deixou de se praticar depois do Iluminismo, quando as comunidades judaicas locais

perderam a autonomia de que dispunham anteriormente e os judeus foram integrados

nas nações gentias em que viviam.

O judaísmo possui algumas tradições religiosas e culturais em relação à vestimentas,

dentre as quais podemos destacar:

Kipá são os chapéus utilizado pelos judeus tanto como símbolo da religião como

símbolo de "temor a Deus" são semelhantes ao solidéu usado por Bispos Católicos

e pelo Papa .

Tefilin

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Tzitzit é o nome dado à franjas do talit, que servem como meio de lembrança dos

mandamentos de Deus.

Baseados na Torá a maior parte das ramificações judaicas segue o calendário lunar. O

calendário judaico rabínico é contado desde 3761 a.C. O Ano Novo judaico,

chamado Rosh Hashaná é o nome dado ao ano-novo no judaísmo, acontece no

primeiro ou no segundo dia do mês hebreu de Tishrei, que pode cair em setembro ou

outubro.

Os anos comuns, com doze meses, podem ter 353, 354 e 355 dias, enquanto os

bissextos, de treze meses, 383, 384 ou 385 dias. o calendario judaico começa a ser

contado em 7 de outubro de 3760 a.C.que para os judeus foi a data da criação do

mundo. Atualmente estamos no ano de 5774.

Diversas festividades são baseados neste calendário: pode-se dar ênfase às festividades

de Rosh Hashaná, Pessach, Shavuót, Yom Kipur e Sucót. As diversas comunidades

também seguem datas festivas ou de jejum e oração conforme suas tradições.

Com a criação do Estado de Israel diversas datas comemorativas de cunho nacional

foram incorporadas às festividades da maioria das comunidades judaicas.

O hebraico ("A Língua Sagrada") ) é o principal idioma utilizado no judaísmo utilizado

como língua litúrgica durante séculos. Foi revivido como um idioma de uso corrente

no século XIX e utilizado atualmente como idioma oficial no Estado de Israel.

No entanto diversas comunidades judaicas utilizam outros idiomas cuja origem em sua

maioria surgem da mistura do hebraico com idiomas locais

Escatologia judaica refere-se às diferentes interpretações judaicas dadas aos temas

relacionados ao futuro: ainda que se acreditarmos na Torá este tema não seja tão

desenvolvido no judaísmo primitivo após o retorno do Exílio em

Babilônia desenvolveu-se baseado no profetismo e no nacionalismo judaico conceitos

que iriam formar a base da escatologia judaica. Entre estes temas principais podemos

nomear os conceitos sobre o Messias e o Olam Habá (mundo vindouro) no qual todas

as nações submeter-se-iam aYHWH e a Torá e na qual Israel ocuparia um lugar de

proeminência.

Dentro do judaísmo, a doutrina do Messias é um assunto que pode variar de

ramificação para ramificação. Historicamente diversos personagens foram chamados

de Messias, do hebraico ungido, que não assume o mesmo sentido habitual

do cristianismo como um "ser salvador e digno de adoração" . Até mesmo o conceito

do Messias não aparece naTorá, e por isto mesmo recebe interpretações diferentes de

acordo com cada ramificação.

A maior parte dos judeus crê no Messias como um homem judeu, filho de um homem

e de uma mulher, (em algumas ramificações é considerado que viria da tribo de Judá e

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da descendência do rei David, uma herança do sentimento nacionalista que regulou a

vida judaica pós-exílio) que reinará sobre Israel, reconstruirá a nação fazendo com que

todos os judeus retornem à Terra Santa e unirá os povos em uma era de paz e

prosperidade sob o domínio de YHWH.

Algumas ramificações judaicas (reformistas) creem no entanto que a era messiânica

não envolva necessariamente uma pessoa, mas sim que se trate de um período de paz,

prosperidade e justiça na humanidade.

Dão por isso particular importância ao conceito de "Tikun Olam", "reparar o mundo",

ou seja, a prática de uma série de actos que conduzem a um mundo socialmente mais

justo.

Os diversos eventos da história judaica levaram a uma valorização do estudo e da

alfabetização dos membros da comunidade judaica. Na Diáspora a busca de conexão

com o judaísmo e a busca de não-assimilação com os costumes gentílicos levaram a

uma ênfase na necessidade da educação e alfabetização desde a infância, pelo que na

maior parte das comunidades judaicas o analfabetismo é praticamente inexistente. Este

pensamento levou à criação de uma vasta literatura principalmente de uso religioso.

Dentro do judaísmo, a escritura mais importante é a Torá, que seria o livro contendo o

conjunto de histórias da origem do mundo, do homem e do povo de Israel, assim

como os mandamentos de obediência a Deus. Para a maior parte das ramificações

judaicas, acrescenta-se a história de Israel e as palavras dos profetas israelitas até a

construção do Segundo Templo, com sua literatura relacionada, que compiladas na

época do retorno de Babilônia, constituíram o que conhecemos como Tanakh,

conhecido pelos não-judeus como Antigo Testamento.

Os judeus rabinitas creem que Moisés recebeu além da Torá escrita, uma tradição oral

que serviria como um complemento da primeira, e que seria passada de geração à

geração desde Moisés, e que viria a ser compilada no século IV d.C. como o Talmude.

Nos dois últimos séculos, a comunidade judaica dividiu-se numa série de

denominações; cada uma delas tem uma diferente visão sobre que princípios deve um

judeu seguir e como deve um judeu viver a sua vida. Apesar das diferenças, existe uma

certa unidade nas várias denominações.

O judaísmo não é atualmente uma religião proselitista, ainda que no passado já tenha

efetuado missões deste tipo, especialmente durante o período do Segundo Templo.

Atualmente o judaísmo aceita a pluralidade religiosa, e prega a obrigação dos

cumprimentos da Torá apenas ao povo judeu.

Apesar do Cristianismo defender uma origem judaica, o judaísmo considera o

cristianismo uma religião pagã.

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Apesar da existência de judeus convertidos ao Cristianismo e outras religiões, não

existe nenhuma forma de judaísmo rabínico que aceite as doutrinas do

Cristianismo como a divindade de Jesus ou a crença em seu caráter messiânico.

Há movimentos, como Judaísmo messiânico que tentam conciliar a crença em Jesus

como messias e a identidade judia. Algumas ramificações tentaram ver Jesus como

um profeta ou um rabino famoso, mas hoje esta visão também é descartada pela

maioria dos judeus.

Desde o Holocausto, deram-se muitos passos no sentido da reconciliação entre alguns

grupos cristãos e o povo judeu. Tentativas por parte de grupos religiosos cristãos

(principalmente de origem evangélica) de conversão ao judaísmo são desprezadas e

condenadas pelos grupos religiosos judaicos.

O islamismo toma diversas de suas doutrinas do judaísmo, sendo que as duas religiões

mantêm seu intercâmbio religioso desde a época de Maomé, com períodos de

tolerância e intolerância de ambas as partes. É especialmente significativo o período

conhecido como Idade de Ouro da cultura judaica, entre 900 a 1200 na Espanha

muçulmana.

Na China imperial os judeus eram contados juntos com os muçulmanos sob a

designação de Hui-hui e tanto as sinagogas e mesquitas chamadas pelo mesmo

nome, Tsing-chin sze. Em algumas instâncias, grupos judeus adotaram o islão, como

ocorreu entre os jehudi al-islami na pérsia.

O recente conflito palestino-israelense, o que envolve entre parte da população

muçulmana e dos judeus devido à questão do controle de Jerusalém e outros pontos

políticos, históricos e culturais fomentou ainda mais a divergência entre judaísmo e

islão.

O islão reconhece os judeus como um dos povos do Livro, apesar de acreditarem que

os judeus sigam uma Torá corrompida. Já o judaísmo rabínico não crê

em Maomé como profeta e não aceitam diversos mandamentos do islão.

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3. Cristianismo

Cristianismo é uma religião abraâmica monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos

de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo Testamento.

A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de

Deus,Salvador e Senhor.

A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia

Oriental (separada do catolicismo em 1054 após o Grande Cisma do Oriente) e

o protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XVI).

O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações. Os

cristãos acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus que se tornou homem e o

Salvador da humanidade, morrendo pelos pecados do mundo. Geralmente, os cristãos

se referem a Jesus como o Cristo ou o Messias.

Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditam que Jesus seja

o Messias profetizado na Bíblia Hebraica (a parte das escrituras comum tanto ao

cristianismo quanto ao judaísmo).

A teologia cristã ortodoxa alega que Jesus teria sofrido, morrido e ressuscitado para

abrir o caminho para o céu aos humanos.

Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das

denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e

mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores.

Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, e

tanto como o revelador quanto a encarnação de Deus.

Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de Evangelho ("Boas Novas"), e por

isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como evangelhos.

O cristianismo se iniciou como uma seita judaica e, como tal, da mesma maneira que

o próprio judaísmo ou o islamismo, é classificada como uma religião abraâmica.

Após se originar no Mediterrâneo Oriental, rapidamente se expandiu em abrangência

e influência, ao longo de poucas décadas; no século IV já havia se tornado a religião

dominante no Império Romano.

Durante a Idade Média a maior parte da Europa foi cristianizada, e os cristãos também

seguiram sendo uma significante minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da

África e em partes da Índia.

Depois da Era das Descobertas, através de trabalho missionário e da colonização, o

cristianismo se espalhou para as Américas e pelo resto do mundo.

O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da civilização

ocidental pelo menos desde o século IV.

No início do século XXI o cristianismo conta com entre 2,3 bilhões de

fiéis, representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma

das maiores religiões do mundo. O cristianismo também é a religião de Estado de

diversos países.

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Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos

aspectos da sua religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são

partilhadas pela maioria deles.

Grande parte das vertentes cristãs herdaram do judaísmo a crença na existência de um

único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais

importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência.

Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo

Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e essas podem estabelecer uma

relação pessoal com Ele através da oração.

A maioria das denominações cristãs professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que

Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis:

o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no

judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e

o Messias que virá será um homem, descendente do rei Davi.

Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os

cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais

salientam o amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-39), e consideram a sua vida

como um exemplo a seguir.

O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar e

salvar os seres humanos dopecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição,

embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a

maioria dos cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano.

Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que

questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso

expressamente.

Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de versículos que,

através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época,

deixariam clara sua condição divina.

O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a

salvação e a vida eterna. «Pois Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.» (João 3:16)

As visões sobre o que acontece após a morte dentro do Cristianismo variam entre as

denominações.

A Igreja Católica considera a existência do céu, para onde vão os justos, do inferno,

para onde vão os pecadores que não se arrependeram, e do purgatório, que é um

estágio de purificação, mas não um terceiro lugar, para os pecadores que morreram em

estado de Graça, ou seja, já estão salvos e esperando um tempo indeterminado para ir

para o céu.

As igrejas orientais, bem como algumas igrejas protestantes, consideram a existência

apenas do céu e do inferno.

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Dentro do Protestantismo, a maior parte das denominações acredita que os mortos

serão ressuscitados no Juízo Final, quando então serão julgados, sendo que os

pecadores serão definitivamente mortos e os justos viverão junto a Cristo na

imortalidade.

Já as denominações do Cristianismo Esotérico (gnose) são reencarnacionistas e

ponderam que nenhum homem é totalmente bom nem totalmente mau, e após a

morte sofrerão as consequências do bem e do mal que tenham praticado em vida,

atingindo a perfeição com as sucessivas encarnações.

O cristianismo acredita na Igreja (ekklesia), palavra de origem grega que significa

"assembleia", entendida como a comunidade de todos os cristãos e como corpo místico

de Cristo presente na Terra e sua continuidade.

As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas

Protestantes e a Igreja Ortodoxa.

O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado

como credo universal da Cristandade noConcílio de Éfeso de 431. Os cristãos

ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela

Igreja Católica mais tarde.

As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:

A crença na Trindade;

Jesus é simultaneamente divino e humano;

A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;

Jesus Cristo foi concebido de forma virginal,

foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;

A remissão dos pecados é possível através do batismo;

Os mortos ressuscitarão.

Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com

crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e

Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.

Algumas Igrejas Protestantes não acreditam no Credo de Niceia.

A Bíblia é o principal conjunto de escrituras do Cristianismo.

Entretanto, há algumas divergências a respeito de determinadas escrituras,

chamadas deuterocanônicas (ou livros apócrifos), que não são aceitas pelas correntes

majoritárias e foram retiradas da bíblia através dos concílios, apesar de existirem

conexões destes com a vida e pregação de Jesus.

Para certas denominações, há algumas outras escrituras que foram divinamente

inspiradas. Os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos

Dias atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros

são o Livro de Mórmon, a Doutrina e Convénios e a Pérola de Grande Valor.

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39

Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de Ellen G. White são uma

manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia.

As formas de culto do cristianismo envolvem oração, leitura alternada de salmos ou de

passagens bíblicas tais como as de livros do Antigo Testamento, os Evangelhos, as

Espitolas e/ou o Apocalipse. Cantam-se hinos a Deus, o Pai, Jesus ou ao Espírito Santo

e aos anjos esantos entre catolicos romanos, episcopais e ortodoxos.

A cerimónia da eucaristia é praticada diariamente ou semanalmente por católicos,

luteranos, episcopais ou anglicanos e ortodoxos.

Já a equivalente Ceia do Senhor pratica-se mensal, trimensal ou anualmente por

diversas igrejas entre os protestantes. Sermões sao pregados

pelo sacerdote, pastor, ancião, ministro ou outros líderes.

A maioria das denominações cristãs consagra o Domingo como dia de culto. Há

denominacoes que consideram o Sábado dia santo de guarda, entre elas Baptistas do

Setimo Dia, Adventistas, Igrejas de Deus (7.o dia) e Judeus Messiânicos. Este último

grupo, embora não seja cristão, guarda semelhança com o cristianismo, pois crê

em Yeshua (Jesus) como sendo o messias profetizado na bíblia hebraica.

A devoção e oração individual ou em grupo nos outros dias da semana também são

encorajadas.

Igrejas como a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana e a Episcopal/Anglicana que

administram batismo a recem-nascidos também adotam a confirmação quando a

criança tem mais entendimento para assumir a responsabilidade pela sua religiosidade.

Batistas, Adventistas, Pentecostais e neo-pentecostais optam por uma dedicação do

bebê ao Senhor e só batizam quem é maduro o suficiente para decidir por si mesmo

que querem realmente abraçar a fé.

Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do

cristianismo:

1. Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;

2. Patrística: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação

da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano fundada

por Constantino e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário

expoente foi Santo Agostinho;

3. Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino,

que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de

entender a fé.

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A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história e

concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se

formaram.

O principal símbolo do cristianismo é a cruz, que representou em diversas sociedades

a interseção do plano material e do transcendental em seus eixos perpendiculares. Por

exemplo, era insígnia de Serápis no Egito.

Ao ser apropriado pelo cristianismo, este símbolo enriqueceu e sintetizou a história da

salvação e paixão de Jesus, significando também a possibilidade de ressurreição.

Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião. é

o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em grego, sendo também

um acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, "Jesus Cristo filho de Deus

Salvador").

Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e

o Ómega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência a Cristo como

princípio e fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma que

alcancou o bom porto) e o "Bom Pastor", a representação de Cristo como o

dedicado pastor de suas ovelhas.

Os cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa.

Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do

movimento cristão.

O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:

Natal: celebração do nascimento de Jesus;

Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos Reis Magos,

enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu batismo. Acontece doze dias após o

Natal;

Sexta-feira Santa: morte de Jesus;

Domingo de Páscoa: ressurreição de Jesus;

Ascensão: ascensão de Jesus ao céu. Acontece quarenta dias após o Domingo de

Páscoa;

Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos. Ocorre

cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.

Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de

Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais

importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel.

Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir

importância. Por exemplo, o Dia de Todos-os-Santos é celebrado pela Igreja Católica e

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pela Igreja Anglicana a 1 de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é

celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações cristãs

não celebram sequer este dia.

De igual forma, alguns grupos protestantes recusam celebrar o Natal uma vez que

consideram ter origens pagãs.

Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia

aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d.C., Jesus Cristo,

nascido na cidade de Belém na Judéia.

Na Galileia começou a pregar, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi

rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia e

executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura

oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes

religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano.

Com a morte e a suposta ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da

sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e

centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens,

celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e

administrava o batismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos

partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que

eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos,

o eunuco da rainha da Etiópia é batizado, bem como o centurião Cornélio. Em

Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser

conhecidos como cristãos.

Paulo de Tarso não se contava entre os apóstolos originais, ele era um

judeu fariseu que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-

se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário depois de

Jesus Cristo. Boa parte do Novo Testamento foi escrito ou por ele (as Epístolas

paulinas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos).

Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre 44 e 58 ele fez três

grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia

Menor e de vários pontos da Europa, entre eles Roma.

Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos

do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos

últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa

com os primeiros.

Na época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atrativa para alguns dos

cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de

alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e

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não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos

homens.

Através da influência de Paulo, o cristianismo simplificou os costumes judaicos aos

quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns

autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida

expansão do cristianismo.

Outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma

consequência da expansão do cristianismo entre os não-judeus do que como sua causa.

Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por

exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a

toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa

empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado

Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em

divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem.

A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do

cristianismo entre não-judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos

judaicos pode ser lida no livro de Atos dos Apóstolos. De resto, os cristãos adotam as

regras e os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus.

Em Junho do ano 66 inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a

comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a

advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a

desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa

o segundo momento de ruptura com o judaísmo.

Após a derrota dos judeus em 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos

cada vez mais separados. Para o cristianismo o período que se abre em 70 e que segue

até aproximadamente 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como

de organização da hierarquia e da liturgia.

No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por

um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.

Gradualmente, o sucesso do cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da

religião estabelecida.

Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem

verificado perseguições ao cristianismo, estas eram irregulares.

As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século II:

em 112 Trajano fixa o procedimento contra os cristãos.

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Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos

imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano e Diocleciano.

Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem

cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados

para trabalhar nas minas.

Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das

primeiras heresias. Tatiano, um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma

seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez

de vinho.

Marcião rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus

bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro

Sagrado, o Evangelho de Marcião, feito a partir de passagens retiradas do Evangelho

de Lucas e das epístolas paulinas. À medida que o cristianismo criava raízes mais fortes

na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada

(nas comunidades do Oriente usava-se o grego).

Durante o século III, com o relaxamento da intolerância aos cristãos, a Igreja havia

conseguido muitos donativos e bens. Porém com o fortalecimento da perseguição pelo

imperador Diocleciano, esses bens foram confiscados. Posteriormente com a derrota

de Diocleciano e a ascensão do imperador romano Constantino, o cristianismo foi

legalizado pelo Édito de Milão de 313, e os bens da Igreja devolvidos.

A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema de profundo

debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu

gradualmente. Como maneira de fazer penitência , Constantino ordenou a construção

de diversas basílicas e outros templos e as doou à Igreja. Dentre elas, uma basílica em

Roma no local onde, segundo a Tradição, o apóstolo Pedro estava sepultado e,

influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém

da Basílica do Santo Sepulcro e da Basílica da Natividade em Belém.

Para evitar mais divisões na Igreja, Constantino convocou o Primeiro Concílio de

Niceia em 325, onde se definiu o Credo Niceno, uma manifestação mínima da crença

partilhada pelos bispos cristãos.

Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo,

proibindo o seu culto e proclamando o cristianismo religião oficial do Império

Romano.

O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador

romano pelo "bárbaro" germânico Odoacro, mas o cristianismo permaneceria

triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam

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convertidos ao cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império

Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do cristianismo.

Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da

civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo

de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das

instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma

durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força

intelectual, especialmente através da vida monástica.

Embora fosse unida linguisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais

obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de

culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela

cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da

fé cristã. Por volta dos séculos IV e X, todo o território que antes pertencera ao

ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo Papa.

Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras

jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos

povos germânicos e eslavos.

Em 1095, sob o pontificado de Urbano II, as Cruzadas foram lançadas. Estas foram

uma série de campanhas militares na Terra Santa e em outros lugares, iniciadas em

resposta aos apelos do imperador bizantino Aleixo I Comneno contra a

expansão turca. As Cruzadas acabaram fracassando em abafar a agressão islâmica e até

mesmo contribuiu para a inimizade cristã com o saque de Constantinopla durante

a Quarta Cruzada.

Durante um período que se estende do século VII ao XIII, a igreja cristã passou por

uma alienação gradual, resultando em um cisma que dividiu o cristianismo em um

ramo chamado latino ou ocidental, a Igreja Católica Romana, e um ramo oriental, em

grande parte grego, a Igreja Ortodoxa. Estas duas igrejas discordam sobre uma série de

processos e questões administrativas, litúrgicas e doutrinais, principalmente a primazia

da jurisdição papal. O Segundo Concílio de Lyon (1274) e o Concílio de

Florença(1439) tentaram reunir as igrejas, mas em ambos os casos, os ortodoxos

orientais se recusaram a implementar as decisões e as duas principais igrejas

permanecem em cisma até os dias atuais. No entanto, a Igreja Católica Romana tem

alcançado união com várias pequenas igrejas orientais.

Começando por volta de 1184, após a cruzada contra a heresia dos cátaros, várias

instituições, amplamente referidas como a Inquisição, foram estabelecidas com o

objetivo de suprimir a heresia e assegurar a unidade religiosa e doutrinária dentro do

cristianismo através da conversão e repressão.

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O Renascimento do século XV trouxe um renovado interesse em estudos antigos e

clássicos. Outra grande cisma, a Reforma, resultou na divisão da cristandade ocidental

em várias denominações cristãs. Em 1517, Martinho Lutero protestou contra a venda

de indulgências e logo passou a negar vários pontos-chave da doutrina católica romana.

Outros, como Zwingli e Calvino ainda criticaram o ensino católico romano e adoração.

Estes desafios desenvolveram no movimento chamado de protestantismo, que

repudiou o primado do papa, o papel da Tradição, os sete sacramentos e outras

doutrinas e práticas. A Reforma na Inglaterra começou em 1534, quando o

Rei Henrique VIII tinha se declarado chefe da Igreja da Inglaterra. No início em 1536,

os mosteiros por toda a Inglaterra, País de Gales eIrlanda foram dissolvidos.

Em parte como resposta à Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana engajou-se

em um processo significativo de reforma e renovação, conhecido

como Contrarreforma ou Reforma Católica. O Concílio de Trento reafirmou e

clarificou a doutrina católica romana. Durante os séculos seguintes, a concorrência

entre o catolicismo romano e o protestantismo tornou-se profundamente envolvida

com as lutas políticas entre os Estados europeus.

Enquanto isso, a descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492 provocou

uma nova onda de atividade missionária. Em parte de zelo missionário, mas sob o

impulso da expansão colonial pelas potências europeias, o cristianismo se espalhou

para as Américas,Oceania, Ásia Oriental e África Subsaariana.

Em toda a Europa, as divisões causadas pela Reforma levou a surtos de violência

religiosa e o estabelecimento de igrejas separadas do Estado na Europa Ocidental:

o luteranismo em partes da Alemanha e na Escandinávia e

o anglicanismo na Inglaterra em 1534. Em última instância, essas diferenças levaram à

eclosão de conflitos em que a religião desempenhou um papel chave. A Guerra dos

Trinta Anos, a Guerra Civil Inglesa e as Guerras religiosas na França são exemplos

proeminentes. Estes eventos intensificaram o debate sobre a perseguição cristã

e tolerância religiosa.

Na era conhecida como a Grande Divergência, quando no ocidente o Iluminismo e

a revolução científica trouxeram grandes mudanças sociais, o cristianismo foi

confrontado com várias formas de ceticismo e com certas ideologias políticas

modernas, como as versões do socialismo e do liberalismo.

Nessa época, eventos que variaram do mero anti-clericalismo à explosões de violência

contra o cristianismo, como a descristianização durante a Revolução

Francesa, a Guerra Civil Espanhola, e a hostilidade geral dos movimentos marxistas,

especialmente da Revolução Russa de 1917.

Especialmente premente na Europa foi a formação dos Estados-nação após a era

napoleônica. Em todos os países europeus, diferentes denominações

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cristãs encontraram-se em competição, em maior ou menor grau, umas com as outras

e com o Estado. Variáveis são os tamanhos relativos das denominações e da orientação

religiosa, política e ideológica do Estado. Urs Altermatt da Universidade de Friburgo,

olhando especificamente para o catolicismo na Europa, identifica quatro modelos para

as nações europeias.

Em países tradicionalmente católicos, como Bélgica, Espanha, e até certo ponto

a Áustria, comunidades religiosas e nacionais são mais ou menos idênticas. A simbiose

cultural e a separação são encontradas na Polônia, Irlanda e Suíça, todos os países com

denominações concorrentes.

A competição é encontrada na Alemanha, nos Países Baixos e novamente na Suíça,

todos os países com populações minoritárias católicas que, em maior ou menor grau,

se identificam com a nação. Finalmente, a separação entre a religião(mais uma vez,

especificamente o catolicismo) e do Estado é encontrada em grande parte

na França e Itália, países onde o Estado se opôs-se à autoridade da Igreja Católica. Os

fatores combinados da formação de Estados-nação e do ultramontanismo,

especialmente na Alemanha e nos Países Baixos, mas também na Inglaterra (em uma

escala muito menor), muitas vezes forçou as igrejas católicas, organizações, e crentes a

escolher entre as demandas nacionais do Estado e da autoridade da Igreja,

especificamente opapado. Este conflito veio à tona no Concílio Vaticano I e na

Alemanha levaria diretamente ao Kulturkampf, onde os liberais e os protestantes sob a

liderança de Bismarck conseguiram restringir severamente expressão e organização

católica.

O compromisso cristão na Europa caiu com a modernidade e o secularismo entrou na

na Europa Ocidental, embora os compromissos religiosos na América têm sido

geralmente altos em comparação com a Europa Ocidental. O final do século

XX demonstrou a mudança de aderência cristã para os países subdesenvolvidos e em

desenvolvimento e do hemisfério sul em geral, sendo a civilização ocidental não mais a

portadora do padrão do cristianismo.

Alguns europeus (incluindo a diáspora), os povos indígenas das Américas e os nativos

de outros continentes, reavivaram as suas respectivas religiões folclóricas do seus

povos.

Cerca de 7,1 a 10% dos árabes são cristãos, sendo mais prevalentes

no Egito, Síria e Líbano.

Na maioria dos países desenvolvidos a frequência à igreja do mundo entre as pessoas

que continuam a identificar-se como cristãs vem caindo ao longo das últimas

décadas. Algumas fontes visualizam isto simplesmente como parte de um

distanciamento dos membros das instituições tradicionais, enquanto outros apontam

para sinais de um declínio na crença e na importância da religião em geral.

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O cristianismo, de uma forma ou de outra, é a única religião estatal das nações

seguintes: Costa Rica (católica romana), Dinamarca (luterana evangélica), El

Salvador(Católica Romana), Inglaterra (anglicana), Finlândia (Evangélica Luterana e

Ortodoxa), Georgia (Igreja Ortodoxa da Geórgia), Grécia (Igreja Ortodoxa Grega),

Islândia (Luterana Evangélica), Liechtenstein (Católica Romana), Malta (Católica

Romana), Mônaco (Católica Romana), Noruega (Luterana

Evangélica), e Vaticano(católica romana).

Existem inúmeros outros países, como o Chipre, que apesar de não ter uma igreja

estabelecida, continuam a dar reconhecimento oficial a uma denominação

cristã específica.

A Igreja Católica compreende as igrejas lideradas por bispos, em comunhão com o

Papa, o Bispo de Roma, como sua mais alta autoridade em matéria de moral, fé e

governança da Igreja. Como a Igreja Ortodoxa, o Igreja Católica Romana, através da

sucessão apostólica, traça suas origens à comunidade cristã fundada por Jesus Cristo.

Os católicos defendem que o "una, santa, católica e apostólica" fundada

por Jesus subsiste plenamente na Igreja Católica Romana, mas também reconhece

outras igrejas e comunidades cristãs e trabalha no sentido da reconciliação entre todos

os cristãos. A fé católica é detalhada no catecismo da Igreja Católica.

A Ortodoxia Oriental compreende as igrejas em comunhão com a Sé Patriarcal do

Oriente, como o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Como a Igreja Católica

Romana, a Igreja Ortodoxa Oriental também tem sua herança à fundação do

cristianismo através da sucessão apostólica e tem uma estrutura episcopal, embora a

autonomia do indivíduo, principalmente nas igrejas nacionais, seja enfatizada. Uma

série de conflitos com o cristianismo ocidental sobre questões de doutrina e autoridade

culminou com o Grande Cisma. A Ortodoxia Oriental é a segunda maior

denominação única no Cristianismo, com mais de 200 milhões de adeptos.

As Igrejas Ortodoxas Orientais (também chamado de Igrejas Orientais Velhas) são

aquelas igrejas orientais que reconhecem os três primeiros concílios ecumênicos -

Niceia, Constantinopla e Éfeso - mas rejeitam a definições dogmáticas do Concílio de

Calcedônia e defendem uma cristologia miafisista. A comunhão das Igrejas Ortodoxas

Orientais é composta por seis grupos: a Igreja Ortodoxa Síria,Igreja Ortodoxa

Copta, Igreja Ortodoxa Etíope, Igreja Ortodoxa da Eritréia, Igreja Ortodoxa

Malankara (Índia) e a Igreja Apostólica Armênia. Estas seis igrejas, enquanto estão

em comunhão umas com as outras são completamente independentes

hierarquicamente. Essas igrejas geralmente não estão em comunhão com as Igrejas

Ortodoxas Orientais com quem elas estão em diálogo para um retorno à unidade.

No século XVI, Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino inauguraram o que

veio a ser chamado de protestantismo. Os herdeiros teológicos primários de Lutero

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são conhecidos como luteranos. Os herdeiros de Zwingli e Calvino são muito mais

amplas denominalmente e são amplamente referidos como a Tradição Reformada. A

maioria das tradições protestantes se ramificam a partir da Tradição Reformada, de

alguma forma. Além dos ramos luteranos e reformados da Reforma, há

o anglicanismo após a Reforma Inglesa. A tradição anabatista foi amplamente

condenada ao ostracismo por parte dos outros protestantes na época, mas conseguiu

uma medida de afirmação na história mais recente. Alguns, mas não a maioria

dos batistas preferem não ser chamados de protestantes, alegando uma linha direta

ancestral que remonta aos apóstolos, no século I.

Os mais antigos grupos protestantes se separaram da Igreja Católica no século

XVI durante a Reforma Protestante, seguido em muitos casos, por novas divisões. Por

exemplo, a Igreja Metodista surgiu do ministro anglicano John Wesley e do

movimento evangélico de renovação na Igreja Anglicana. Várias igrejas pentecostais e

não-denominacionais, que enfatizam o poder purificador do Espírito Santo, por sua

vez, cresceram a partir da Igreja Metodista.

Devido ao fato de que metodistas, pentecostais, evangélicos e outros enfatizarem que

"aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal", o que vem da ênfase de John

Wesley no Novo Nascimento, muitas vezes eles se referem a si mesmos como pessoas

nascidas de novo.

As estimativas do número total de protestantes são muito incertas, em parte devido à

dificuldade em determinar quais as denominações devem ser colocadas nesta

categoria, mas parece claro que o protestantismo é o segundo maior grande grupo de

cristãos após o catolicismo em número de seguidores (embora o Igreja Ortodoxa é

maior do que qualquer denominação protestante única).

Um grupo especial são as igrejas anglicanas descendentes da Igreja da Inglaterra e que

organizaram na Comunhão Anglicana. Algumas igrejas anglicanas se consideram tanto

protestantes quanto católicas. Alguns anglicanos consideram sua igreja um ramo da

"Santa Igreja Católica" ao lado da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas

Orientais, um conceito rejeitado pela Igreja Católica Romana e algumas Ortodoxas

Orientais.

Alguns grupos de indivíduos que possuem princípios básicos protestantes se

identificam simplesmente como "cristãos" ou "cristãos renascidos". Eles normalmente se

distanciam da confessionalismo de outras comunidades cristãs,125 chamando a si

mesmos de "não-confessionais". Muitas vezes fundada por pastores individuais, eles

têm pouca afiliação com denominações históricas.

O cristianismo esotérico é um termo que se refere a um conjunto de

correntes espirituais que consideram o cristianismo como uma religião de

mistério,gnosticismo, e professam a existência e a posse de certas doutrinas esotéricas

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ou práticas, escondidos do público mas acessível apenas a um círculo restrito de

"iluminados", "iniciados", ou pessoas altamente educadas. Uma característica comum

em especial estas denominações místicas é a crença na reencarnação. Alguns dos

cristãos esotéricos instituições incluem a Fraternidade Rosacruz, a Sociedade

Antroposófica e o Martinismo.

O Segundo Grande Despertar, um período de renascimento religioso que ocorreu

nos Estados Unidos durante o início dos anos 1800, viu o desenvolvimento de um

número de igrejas independentes. Elas geralmente se viam como a restauração da

igreja original de Jesus Cristo, em vez de reformar uma das igrejas existentes. A crença

ordinária detida pelos restauradores era que as outras divisões do cristianismo tinha

introduzido defeitos doutrinários no cristianismo, que era conhecido como a Grande

Apostasia.

Algumas das igrejas que tiveram origem durante este período são historicamente

ligadas à reuniões em acampamento no centro-oeste e norte de Nova York no início

de século XIX. O milenarismo e o adventismo estadunidenses, que surgiu do

protestantismo evangélico, influenciou o movimento das Testemunhas de Jeová (com

7 milhões de membros), como uma reação especificamente para William Miller,

os Adventistas do Sétimo Dia. Outros, incluindo os Discípulos de Cristo e as Igrejas de

Cristo, têm suas raízes no Movimento da Restauração contemporânea de Stone-

Campbell, que foi centrada em Kentucky e no Tennessee. Outros grupos originários

deste período incluem o cristadelfianos e A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos

Últimos Dias, a maior denominação do movimento Santo dos Últimos Dias, com mais

de 13 milhões de membros. Enquanto as igrejas originários do Segunda Grande

Despertar têm algumas semelhanças superficiais, sua doutrina e as práticas variam

significativamente.

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III-RELIGIÕES ASIÁTICAS

1.Budismo

Budismo é uma religião e filosofia não-teísta que abrange uma variedade de tradições,

crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, mais

conhecido como Buda (páli/sânscrito: "O Iluminado"). Buda viveu e desenvolveu seus

ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos VI e IV a. C.

Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas

ideias para ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha),

alcançando o Nirvana e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do

renascimento.

Os ensinamentos de Buda Shakyamuni chegaram ao Tibete pela primeira vez no

século V. Foi somente a partir do século VII, no entanto, quando o Rei Trisong

Deutsen convidou da Índia o monge e erudito Shantarakshita e o Mestre Guru

Padmasambava para construírem o Monastério de Samye, que o budismo firmemente

se estabeleceu no país das neves. Durante a primeira fase de propagação do Carma no

Tibete, surgiu a escola mais antiga do Budismo Tibetano, conhecida como Nyingma,

palavra tibetana que significa “antigo”.

As quatro escolas; posteriormente, após um período em que um dos reis tentou

dizimar o budismo do país, houve um novo fluxo de mestres indianos e novas

traduções de textos sagrados. Com isso formaram-se novas linhagens de práticas.

Quatro escolas principais foram estabelecidas e são conhecidas até hoje: Nyingma,

Kagyu, Sakya, Gelupa.

Através dos séculos, os ensinamentos de Buda Shakyamuni foram transmitidos de

professor a aluno por meio das diferentes linhagens de práticas existentes nas quatro

escolas principais. A pureza dos métodos se manteve porque os detentores dessas

linhagens alcançaram realização e maestria das instruções recebidas.

Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são

encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no

mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do

mundo.

As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a

importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas.

Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu

mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a

comunidade budista) . Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é,

em geral, o que distingue um budista de um não-budista. Outras práticas podem incluir

a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge.

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De acordo com a narrativa convencional, o Buda nasceu

em Lumbini (hoje, patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a. C. e cresceu em Capilvasto:

ambas, atuais localidadesnepalesas.

Logo após o nascimento de Siddhartha, um astrólogo visitou o pai do jovem

príncipe, Suddhodana, e profetizou que Siddhartha iria se tornar um grande rei e que

renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo, se ele, por ventura,

visse a vida fora das paredes do palácio.

O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, impedindo,

assim, que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai,

Siddhartha se aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de

encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube

do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente,

um cadáver e, finalmente, um ascético sadhu, aparentemente contente e em paz com o

mundo. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida

material e ir em busca de uma vida espiritual.

Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascese e quase

morreu de fome ao longo do processo. Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma

menina da vila, ele mudou sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas

extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor

trouxeram poucos benefícios, espiritualmente falando.

Deduziu, então, que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o

ascetismo, concentrando-se na meditação, através da qual descobriu o que hoje os

budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que não passa pela luxúria e

pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do

corpo.

Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou-se embaixo de uma figueira-dos-

pagodes (Ficus religiosa) hoje conhecida como árvore de Bodhi , localizada em Bodh

Gaya, na Índia e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.

A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser

confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências

e muitas vezes é representado por uma cobra naja.

Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido o nirvana à Sidarta, contudo ele teria

percebido que isso o levaria a se distanciar do mundo e o impediria de transmitir seus

ensinamentos adiante.

Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no Buda, o Iluminado,

atraindo um grupo de seguidores e instituiu uma ordem monástica. A partir de então,

passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do

subcontinente indiano.

Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda

pertencia ao ser humano. Faleceu aos oitenta anos de idade, em 483 a. C.,

em Kushinagar, na Índia.

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No budismo, o Carma (do sânscrito , transl. karmam, e em pali, kamma, "ação") é a

força de samsara sobre alguém. Boas ações (páli:kusala), e/ou ações ruins (páli: akisala)

geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento

subsequente.

Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do

budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".

O carma, na filosofia budista, refere-se especificamente a essas ações (do corpo, da fala

e da mente) que brotam da intenção mental e que geram consequências (frutos) e/ou

resultados.

Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa

intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e

este determinará os efeitos dela decorrentes.

Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de

vidas como uma das muitas formas possíveis desenciência. Entretanto, o budismo,

natural da Índia, rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável",

eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo nohinduísmo, pois, no budismo,

existe a doutrina do anatta, sobre a inexistência de um "eu" permanente e imutável.

De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser

entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança -

"originação dependente" - determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da

noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.

Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos

reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:

1. seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;

2. preta: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento,

remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;30

3. animais: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra

vida;

4. seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o

nirvana.

5. semideuses: variavelmente traduzido como "divindades humildes", titãs e

antideuses; não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana, que os

consideram como devas de nível mais baixo;

6. deva: comparado ao paraíso;

O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de

Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por pessoas com enorme

realização espiritual, conhecidos como não-regressistas (sânscrito: anāgāmis).

Já o renascimento no reino sem forma (sânscrito: arupa-dhatu) pode ser alcançando

apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de

meditação.

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De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um

estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada

ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta

Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que

parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário

entre esta vida e a próxima.

O ciclo de samsara

Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração

engendrados pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam.

O samsara compreende os três mundos superiores (deva, semideuses e seres

humanos) e os três inferiores (seres dos infernos, preta e animais), julgados não por um

valor, mas em função da intensidade de sofrimento.

Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas

leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma

maléfico.

Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não-esclarecido como um

estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de

aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos

o nirvana ou a salvação.

Sofrimento: causas e soluções

De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros

ensinamentos deixados pelo Buda depois de atingir o nirvana.

Algumas vezes, são consideradas como a essência dos ensinamentos do Buda e são

apresentadas na forma de um diagnóstico médico:

1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar

(dukkha), de uma forma ou outra;

2. o sofrimento é causado pelo desejo (trishna). Isso é, muitas vezes, expressado

como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a

individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da

felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;

3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da

eliminação da ilusão (maya), assim alcançamos um estado de libertação do

iluminado (bodhi);

4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.

O Nobre Caminho Óctuplo - A Quarta Nobre Verdade do Buda - é o caminho para a

o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a

palavra samyak (que em sânscrito significa "corretamente" e "devidamente"), e são

apresentadas em três grupos:

prajna: é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão

espiritual da natureza de todas as coisas. Engloba:

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1. dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;

2. saṃkalpa (sankappa): a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.

sila: é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivos. Engloba:

3. vāc vāc (vāca): falando de uma maneira verdadeira e não-ofensiva;

4. karman (kammanta): agir de uma maneira não-prejudicial;

5. ājīvana (ājīva): o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente40 .

samadhi: é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a

própria mente. Isso é feito através de práticas, engloba:

6. vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um esforço para melhorar;

7. smṛti (sati): ver as coisas como elas estão com a consciência clara da realidade

presente dentro de si mesmo, sem desejo ou aversão;

8. samādhi (samādhi): meditar ou concentrar-se de maneira correta.

A prática do Caminho Óctuplo é compreendida de duas maneiras: desenvolvimento

simultâneo dos oito itens paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o

praticante se move, ao conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e

o Caminho Óctuplo, geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco

conhecidos no Extremo Oriente.

Caminho do Meio

Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se

diz ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem

várias definições:

1. a prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a

autoindulgência e a morte;

2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;

3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro

que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;

4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na

escola Maaiana).

Impermanência, sofrimento e não-eu

Anicca é uma das três marcas da existência. O termo exprime o conceito budista de

que todas as coisas são compostas ou fenômenos condicionados, sendo estes,

inconstantes, instáveis e impermanentes.

Tudo o que podemos experimentar através dos nossos sentidos é composto de peças e

sua existência depende de condições externas. Tudo está em fluxo constante e, assim,

as condições e coisas em si estão mudando constantemente. As coisas estão vindo

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constantemente a ser e deixar de ser. Como nada dura, não há nenhuma natureza

inerente ou fixada em qualquer objeto ou experiência.

Segundo a doutrina da impermanência, a vida humana incorpora esse fluxo no

processo de envelhecimento, no ciclo de renascimento e em qualquer existência de

perda. A doutrina afirma ainda que, pelo fato de as coisas serem impermanentes, o

apego a elas é inútil e leva ao sofrimento (dukkha).

Dukkha ou sofrimento é um dos conceitos centrais do budismo. A palavra pode ser

traduzida de diversas maneiras, incluindo sofrimento, dor, insatisfação, tristeza,

angústia, ansiedade, desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo.

Apesar disso, dukkha é traduzido, muitas vezes, como "sofrimento", o seu significado

filosófico é mais semelhante a "inquietação", como na condição de ser perturbado.

Devido a isso, algumas literaturas preferem não traduzir o verbete, como é o caso

do inglês, com o objetivo de englobar em uma palavra todos os significados.

Anatta, ou anatman, refere-se à noção da inexistência de um "eu". Após uma análise

cuidadosa, verifica-se que nenhum fenômeno é realmente "eu" ou "meu", estes

conceitos são, na realidade, construídos pela mente.

Nirvana

1. É a meta do budismo.

2. É o apagar do fogo das paixões e a extinção do ego.

3. É não necessitar mais reencarnar.

4. É o que todo budista procura por toda vida, a paz absoluta.

5. É o que faz do homem comum um Buda.

6. É a iluminação.

7. É a extrema paz.

Cosmologia

A cosmologia budista considera que o Universo é composto por vários sistemas

mundiais, sendo que cada um desses possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento

e declínio que dura bilhões de anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por

sua vez incluem vários níveis, num total de trinta e um.

O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é

diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de

permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo

divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau karma que

os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas

infernos quentes, mas também infernos frios.

Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo, encontra-se o reino animal, o único

dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do

reino dos infernos pelo lado direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos

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ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome,

sem nunca terem essas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes

desse reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e

uma boca minúscula.

O reino seguinte é o dos Asura (termo traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os

seus habitantes ali nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um

sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.

O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento

desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via

intermédia nessa cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos

sofrimentos, o que de acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de

consciência sobre a condição samsárica.

O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências.

Nos níveis mais próximos do reino humano, vivem seres que, devido à prática de boas

acções, levam uma acção harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o

vigésimo sétimo são denominados como "Residências Puras", sendo habitadas por

seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como

humanos.

Escrituras

Buda não deixou nada escrito. De acordo com a tradição budista, ainda no próprio

ano em que o Buda faleceu teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra,

onde discípulos do Buda recitaram os ensinamentos perante uma assembleia de

monges que os transmitiram de forma oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade

desse concílio é alvo de debate: para alguns esse relato não passa de uma forma de

legitimação posterior da autenticidade das escrituras.

Por volta do século I d.C., os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos. Um

dos primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde

se constituiu o denominado Cânone Pali. O Cânone Pali é considerado pela tradição

Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do

Buda. Não existem, contudo, no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou

oAlcorão, que seja igual para todos os crentes; para além do Cânone Pali, existem

outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.

O cânone budista divide-se em três grupos de textos, denominado "Triplo Cesto de

Flores" (tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):

1. Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados

por Ananda no primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;

2. Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir

e cuja transgressão é alvo de uma penitência. Contém textos que mostram como

surgiu determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na

ordenação. Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;

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3. Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos

ensinamentos do Buda, incluindo listas de termos técnicos.

A partir do seu local de nascimento no nordeste indiano, o budismo espalhou-se para

outras partes do norte e para o centro da Índia. Durante o reinado do imperador

mauria Asoka, que se converteu ao budismo e que governou uma área semelhante à da

Índia contemporânea (com excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter

conquistado a região de Kalinga pela força, Asoka decidiu que a partir de então

governaria com base nos preceitos budistas. O imperador ordenou a construção de

hospedarias para os viajantes e que fosse proporcionado tratamento médico não só aos

humanos, mas também aos animais. O rei aboliu também a tortura e provavelmente

a pena de morte. A caça, desporto tradicional dos reis, foi substituída pela

peregrinação a locais budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoka revelou-se

também tolerante para com o hinduísmo e o jainismo.

Embora o budismo tenha passado por uma verdadeira renovação a partir de 1959, ano

em que o Dalai Lama escolhe o exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de

termos, muitas vezes, de seguir turistas estrangeiros para localizar os lugares santos de

antigamente. Nesse percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou

desvios,heresias, seitas.

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2.Hinduísmo

Hinduísmo é uma tradição religiosa que se originou no subcontinente indiano.

Frequentemente é chamado de Sanātana Dharma por seus praticantes, frase

em sânscrito que significa "a eterna (perpétua) dharma (lei)".

Num sentido mais abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, a crença na "Alma

Universal", Brâman; num sentido mais específico, o termo se refere ao mundo cultural

e religioso, ordenado por castas, da Índia pós-budista.

De acordo com o livro História das Grandes religiões "o hinduísmo é um estado de

espírito, uma atitude mental dentro de seu quadro peculiar, socialmente dividido,

teologicamente sem crença, desprovido de veneração em conjunto e de formalidades

eclesiásticas ou de congregação: e ainda substitui o nacionalismo".

Entre as suas raízes está a religião védica da Idade do Ferro na Índia e, como tal, o

hinduísmo é citado frequentemente como a "religião mais antiga", a "mais antiga

tradição viva" ou a "mais antiga das principais tradições existentes".

É formado por diferentes tradições e composto por diversos tipos, e não possui um

fundador. Estes tipos, sub-tradições e denominações, quando somadas, fazem do

hinduísmo a terceira maior religião, depois do cristianismo e do islamismo, com

aproximadamente um bilhão de fiéis, dos quais cerca de 905 milhões vivem na Índia e

no Nepal.

O vasto corpo de escrituras do hinduísmo se divide em shruti ("revelado")

e smriti ("lembrado"). Estas escrituras discutem a teologia,filosofia e

a mitologia hinduísta, e fornecem informações sobre a prática do dharma (vida

religiosa).

Entre estes textos os Vedas e os Upanixades possuem a primazia na autoridade,

importância e antiguidade. Outras escrituras importantes são os Tantras, os Ágamas,

sectários e os Puranas, além dos épicos Maabárata e Ramáiana.

O Bagavadguitá, um tratado do Maabárata, narrado pelo deus Críxena (Krishna),

costuma ser definido como um sumário dos ensinamentos espirituais dos Vedas.

Os hindus acreditam num espírito supremo cósmico, que é adorado de muitas formas,

representado por divindades individuais.

O hinduísmo é centrado sobre uma variedade de práticas que são vistos como meios

de ajudar o indivíduo a experimentar a divindade que está em todas as partes, e

realizar a verdadeira natureza de seu Ser.

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A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos avatares (manifestações corporais) da

divindade suprema, Brâman. Particular destaque é dado à Trimurti - uma trindade

constituída por Brama (Brahma), Xiva (Shiva) e Vixnu (Vishnu).

Tradicionalmente o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente raro - em

vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade

cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Críxena (Krishna), avatar de

Vixnu e personagem central do Bagavadguitá.

Os hindus cultuam cerca de 330 mil divindades diferentes.

Etimologia

Hindu é o nome em persa do rio Indo, encontrado pela primeira vez na

palavra Hindu do persa antigo, correspondente ao sânscrito védico Sindhu.

O hinduísmo pode ser subdividido em diversas correntes principais. Dos

seis darshanas ou divisões históricas originais, apenas duas escolas, a vedanta e a ioga,

sobrevivem.

As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vixnuísmo, o xivaísmo,

o smartismo e shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados

sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e

filiações variam imensamente.

Alguns estudiosos dividem as correntes do hinduísmo moderno em seus "tipos":

Hinduísmo popular, baseado nas tradições locais e nos cultos das divindades

tutelares, praticado em nível mais localizado;

Hinduísmo dármico ou "moral diária", baseado na noção de carma, na astrologia,

nas normas de sociedade como o sistema de castas, os costumes de casamentos.

Hinduísmo vedanta, especialmente o Advaita (smartismo), baseado

nos Upanixades e nos Puranas;

Bhakti, ou "devocionalismo", especialmente o vixnuísmo;

Hinduísmo bramânico védico, tal como é praticado

pelos brâmanes tradicionalistas, especialmente os shrautins;

Hinduísmo iogue, baseado especialmente nos Yoga Sutras de Patandjáli. Com os

principais templos Hoysaleswara e Khajuraho.

O hinduísmo não tem um "sistema unificado de crenças, codificado numa declaração

de fé ou um credo", mas sim é um termo abrangente, que engloba a pluralidade de

fenômenos religiosos que se originaram e são baseados nas tradições vêdicas.

Hindu é originalmente um termo persa, em uso desde os tempos do Sultanato Délhi, e

que se referia a qualquer tradição nativa da Índia, em contraste com o islã.

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Hindu é usado no inglês no sentido de "pagão indiano" desde o século XVII, porém a

noção do hinduísmo como uma tradição religiosa identificável, qualificando uma

das religiões do mundo, surgiu apenas durante o século XIX.

A característica da tolerância compreensiva às diferenças de credo e a abertura

dogmática do hinduísmo o torna difícil de ser definido como uma religião de acordo

com o conceito ocidental tradicional.

Embora seja descrito como uma religião, o hinduísmo costuma ser definido com mais

frequência como uma 'tradição religiosa'. É descrito como a mais antiga das religiões

mundiais, e mais diversa em tradições religiosas.

A maior parte das tradições hindus reverenciam um corpo de literatura sagrada ou

religiosa, os Vedas, embora existem exceções; algumas tradições religiosas acreditam

que certos rituais específicos sejam essenciais para a salvação, mas diversos pontos de

vista sobre o assunto podem coexistir.

O hinduísmo por vezes é caracterizado pela crença na reencarnação (samsara),

determinada pela lei do karma (karma), e que a salvação é a liberdade deste ciclo de

sucessivos nascimentos e mortes; outras religiões da região, no entanto, como

o budismo e o jainismo, também acreditam nisto, mesmo estando fora do escopo do

hinduísmo.

O hinduísmo é visto como a mais complexa de todas as religiões históricas vivas do

mundo, porém a despeito desta complexidade é não apenas numericamente a maior

delas, como também a mais antiga tradição em existência na Terra, com raízes que se

estendem até a pré-história.

Os problemas com uma única definição do que realmente se quer dizer pelo termo

'hinduísmo' frequentemente são atribuídas ao fato de que o hinduísmo não tem um

fundador histórico único ou comum.

O hinduísmo ou, como alguns dizem, 'hinduísmos', não tem um sistema único de

salvação, e apresenta diferentes metas de acordo com a seita ou denominação. As

formas da religião vêdica são vistos não como uma alternativa ao hinduísmo, mas

como a sua forma mais antiga, e praticamente não há justificativa para as divisões

estabelecidas pela maior parte dos acadêmicos ocidentais entre o vedismo,

o bramanismo e o próprio hinduísmo.

Temas proeminentes nas crenças hinduístas incluem

o darma (dharma, ética hindu), samsara (samsāra, o contínuo ciclo do nascimento,

morte e renascimento), carma (karma, ação e consequente reação), mocsa (moksha,

libertação do samsara), e as diversas iogas (caminhos ou práticas).

O hinduísmo é um sistema diversificado de pensamento, com crenças que abrangem

o monoteísmo, politeísmo, panenteísmo, panteísmo, monismo e ateísmo, e o seu

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conceito de Deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas tradições e

filosofias.

Por vezes é tido como uma religião henoteísta (isto é, que envolve a devoção a um

único deus, embora aceite a existência de outros), porém o termo é visto, da mesma

maneira que os outros, como uma generalização excessiva.

A maior parte dos hindus acredita que o espírito ou a alma - o "eu" verdadeiro de cada

pessoa, chamado de atman é eterno. De acordo com as teologias monistas/panteístas

do hinduísmo, este Atman não pode ser distinguido, em última instância, do Brâman,

o espírito supremo; estas escolas são, portanto, chamadas de não-dualistas.

A meta da vida, de acordo com a escola Advaita, é chegar à conclusão que o

seu ātman é idêntico ao Brâman, a alma suprema.

Os Upanixades afirmam que quem que tome consciência do atman como o âmago de

si próprio estabelece uma identidade com Brâman, atingindo assim

o moksha ("liberação" ou "liberdade").

Escolas dualísticas compreendem Brâman como um Ser Supremo que possui

personalidade, e o/a veneram como Vishnu, Brahma, shiva ou Shakti, dependendo da

seita.

O atman é dependente de Deus, enquanto o moksha depende do amor a Deus e da

graça de Deus. Quando Deus é visto como um ser supremo pessoal (em lugar do

princípio infinito), Deus é chamado de Ishvara ("O Senhor" ), Bhagavan ("O

Auspicioso" ) ou Parameshwara ("O Senhor Supremo" ).

As escrituras hindus se referem a entidades celestiais chamadas devas (ou devī, na sua

forma feminina; devatā é usado como sinônimo de Deva em hindi), "os brilhantes",

que pode ser traduzido como "deuses" ou "seres celestiais".

Os devas são uma parte integrante da cultura hindu, e foram retratados na

sua arte, arquitetura, e através de ícones, e histórias mitológicas sobre eles foram

relatadas nas escrituras da religião, particularmente na poesia épica indiana e

nos Puranas.

Frequentemente são, no entanto, dissociados de Ishvara, um deus pessoal supremo

que muitos hindus veneram de uma forma particular, como seu iṣṭa devatā, ou "ideal

escolhido".

A escolha é uma questão de preferência individual e tradições regionais e familiares.

Os épicos hindus e os Puranas relatam diversos episódios da descida de Deus à Terra

em sua forma corpórea para restaurar o dharmada sociedade e guiar os humanos

ao moksha.

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Tal encarnação é chamada de avatar. Os avatares mais são os de Vishnu, e

incluem Rama (protagonista do Ramáyana) e Krishna (figura central do

épico Mahabárata).

Karma pode ser traduzido literalmente como "ação", "obra" ou "feito" e pode ser

descrito como a "lei moral de causa e efeito". De acordo com os Upanixades um

indivíduo, conhecido como o jiva-atma, desenvolve samskaras (impressões) a partir das

ações, sejam elas físicas ou mentais.

O linga sharira, um corpo mais sutil que o físico, porém menos sutil que a alma,

armazena as impressões, e lhes carrega à vida seguinte, estabelecendo uma trajetória

única para o indivíduo.

Assim, o conceito de um carma infalível, neutro e universal, relaciona-se

intrinsecamente à reencarnação, assim como à personalidade, característica e família

de cada um. O carma une os conceitos de livre-arbítrio e destino.

O ciclo de ação, reação, nascimento, morte e renascimento é um contínuo, chamado

de samsara. A noção de reencarnação e carma é uma premissa forte do pensamento

hindu. O Bagavadguitá afirma que:

Assim como uma pessoa veste roupas novas e joga fora as roupas antigas e

rasgadas, uma alma encarnada entra em novos corpos materiais, abandonando os

antigos. (B.G. 2:22)

A samsara dá prazeres efêmeros, que levam as pessoas a desejarem o renascimento

para gozar dos prazeres de um corpo perecível. No entanto, acredita-se que escapar do

mundo da samsara através do moksha assegura felicidade e paz duradouras.

Acredita-se que depois de diversas reencarnações um atman eventualmente procura a

união com o espírito cósmico (Brâman/Paramatman).

A meta final da vida, referida como moksha, nirvana ou samādhi, é compreendida de

diversas maneiras diferentes: como uma realização da união de alguém com Deus;

como a realização da relação eterna de alguém com Deus; realização da unidade de

toda a existência; abnegação total e conhecimento perfeito do próprio Eu; como o

alcance de uma paz mental perfeita; e como o desprendimento dos desejos mundanos.

Tal realização libera o indivíduo da samsara e termina com o ciclo de renascimentos.

A conceitualização do moksha difere entre as várias escolas de pensamento hindu.

No Hinduísmo, acredita-se que todos os homens seguem o kama e o artha, mas

brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o dharma,

ou a harmonia moral presente em toda a natureza.

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O objetivo maior seria o infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou

liberação (também conhecida como mukti,samadhi, nirvana, etc.) do samsara, o ciclo

da vida, morte, e da existência dual.

Qualquer que seja a maneira na qual o hindu defina a meta de sua vida, existem

diversos métodos (yôgas) que os sábios ensinaram para se atingir aquela meta. Textos

dedicados ao ioga incluem o Bagavadgitá (Bhagavad Gita), os Yôga Sutras, o Hatha

Yôga Pradipika, aGheranda Samhita, entre outros, e, como sua base filosófico-

histórica, os Upanixades. Os caminhos que um indivíduo pode seguir para atingir a

meta espiritual da vida (moksha ou samadhi) incluem, entre outros:

Bhakti Yoga (o caminho do amor e da devoção)

Karma Yoga (o caminho da ação correta)

Raja Yoga (o caminho da meditação)

Jnana Yoga (o caminho da sabedoria)

Raja Yoga (o caminho da união real)

Um indivíduo pode preferir um ou alguns iogas sobre os outros, de acordo com a sua

inclinação e entendimento. Algumas escolas devocionais ensinam que o bhakti é, para

a maior parte das pessoas, a único caminho prático para se alcançar a perfeição

espiritual, com base em sua crença de que o mundo atualmente estaria no Kali

Yuga (uma das quatro épocas que formam o ciclo Yuga).

A prática de um yoga não exclui as outras, e muitos estudiosos acreditam que os

diferentes yogas se misturam naturalmente e auxiliam na prática das outros yogas. Por

exemplo, acredita-se que a prática da Jñana Yoga inevitavelmente leve ao amor puro (a

meta do bacti-ioga), e vice-versa.

Alguém que pratica a meditação profunda (como no raja-ioga) deve incorporar os

princípios centrais do karma-ioga, do jnana-ioga e do bacti-ioga, seja direta ou

indiretamente.

As práticas hinduístas geralmente envolvem a procura da consciência de Deus, e por

vezes também a procura de bençãos dos devas.

Assim, o hinduísmo desenvolveu muitas destas práticas como forma de ajudar o

indivíduo a pensar na divindade em meio à vida cotidiana. Os hindus podem praticar

a pūjā (culto ou veneração) tanto em casa como num templo.

Em seus próprios lares os hindus frequentemente costumam criar um altar, com

ícones dedicados às suas formas escolhidas de Deus. Os templos costumam ser

dedicados a uma divindade primária e às divindades subordinadas que lhe são

associadas, embora alguns templos sejam dedicados a mais de uma divindade.

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A visita a templos não é obrigatória, e muitos os visitam apenas durante os festivais

religiosos. Os hindus realizam seu culto através dos murtis, ícones; o ícone serve como

uma ligação tangível entre o fiel e Deus.

A imagem costuma ser considerada uma manifestação de Deus, já que Ele é imanente.

O Padma Purana afirma que o mūrti não deve ser visto como apenas pedra ou

madeira, mas sim como uma forma manifesta da Divindade. Algumas seitas hindus,

como o Ārya Samāj, não acreditam em venerar Deus através de ícones.

O hinduísmo possui um sistema desenvolvido de simbolismo e iconografia para

representar o sagrado na arte, arquitetura, literatura e em seu culto. Estes símbolos

ganham seu significado das escrituras, mitologia ou tradições culturais.

A sílaba Om (que representa o Parabrahman) e o sinal da suástica (que simboliza

auspiciosidade) acabaram passando a representar o próprio hinduísmo, enquanto

outros símbolos, como a tilaka, identificam um seguidor da fé.

O hinduísmo ainda apresenta diversos símbolos que são costumeiramente associados a

divindades específicas, como o lótus, chakra e veena.

Os mantras são invocações, louvores e orações que, através de seu significado, som e

estilo de canto, ajudam um devoto a focar a sua mente nos pensamentos sagrados ou

exprimir devoção a Deus ou às divindades.

Muitos devotos realizam abluções matinais às margens de um rio sagrado, enquanto

cantam o Gayatri Mantra ou os mantrasMahamrityunjaya.

O poema épico Maabárata exalta o japa (canto ritualístico) como o maior dever

durante o Kali Yuga (que os hindus acreditam ser a era presente), e muitos adotam

o japa como sua prática espiritual primordial.

A imensa maioria dos hindus praticam rituais religiosos diariamente, porém a

observância destes rituais varia enormemente de acordo com as regiões, cidades ou

aldeias e indivíduos. A maior parte dos hindus segue estes rituais religiosos em seus

lares.

Os hindus mais devotos também executam tarefas diárias, como venerar durante a

alvorada, depois de se banhar (normalmente num santuário familiar, num ritual que

também envolve o acendimento de uma lâmpada e a colocação de oferendas de

alimentos diante de imagens das divindades), recitar os escritos religiosos, cantar hinos

devocionais, meditar, cantar mantras, entre outros.

Um fator de destaque nos rituais religiosos é a divisão entre o puro e o impuro (ou

poluído). Atos religiosos pressupõem algum grau de impureza ou poluição para o seu

praticamente, que devem ser anulados ou neutralizados antes ou durante o decorrer

do ritual. A purificação, feita geralmente comágua, é portanto um aspecto típico da

maior parte dos atos religiosos do hinduísmo.

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Outras características incluem a crença na eficácia do sacrifício e do conceito de

mérito, ganho através da realização da caridade ou de bons atos, que acumulam com o

tempo e reduzem o sofrimento no próximo mundo.

Os ritos védicos da oblação pelo fogo (yajna) são atualmente apenas práticas

ocasionais, embora sejam altamente reverenciadas na teoria. Nas cerimônias de

casamentos e funerais hindus, no entanto, o yajña e o entoamento de mantras védicos

ainda são a norma. Os rituais, upacharas, mudam com o tempo; por exemplo, nas

últimas centenas de anos alguns rituais, como as danças sagradas e as oferendas

musicais nos tradicionais conjuntos de Upacharas Sodasa, recomendados pelo Agama

Shastra, foram substituídos por oferendas de arroz e doces.

Ocasiões como nascimentos, casamentos e mortes envolvem o que são

frequentemente conjuntos elaborados de costumes religiosos. No hinduísmo, os rituais

que tratam do ciclo da vida incluem o Annaprashan (a primeira ingestão de comida

sólida por um bebê),Upanayanam ("cerimônia do fio sagrado" pela qual passam as

crianças de castas elevadas em sua iniciação na educação formal) e Shraadh (ritual de

conceder banquetes em nome dos falecidos).

Para a maior parte das pessoas na Índia, o noivado de um jovem casal e a data e hora

exatas do casamento são questões decididas pelos pais, em consultas com astrólogos.

Na morte, a cremação, que é considerada obrigatória para todos, com a exceção

de sanyasis, hijra e crianças abaixo de cinco anos, costuma ser executada envolvendo-se

o corpo em algum tecido e queimando-o sobre uma pira.

A peregrinação não é obrigatória no hinduísmo, embora muitos de seus seguidores as

realizem. Os hindus reconhecem diversas cidades sagradas na Índia,

incluindo Allahabad, Haridwar, Varanasi e Vrindavan.

Entre as cidades que possuem templos famosos está Puri, que abriga um dos principais

templos vixnuísta de Jagannath e a comemoração de Rath Yatra; Tirumala - Tirupati,

lar do Templo Tirumala Venkateswara; e Katra, onde se localiza o templo de Vaishno

Devi.

Os quatro locais sagrados de Puri, Rameswaram, Dwarka e Badrinath(ou,

alternativamente, as cidades de Badrinath, Kedarnath, Gangotri e Yamunotri,

no Himalaia) compõem o circuito de peregrinação deChar Dham (quatro moradas).

O Kumbh Mela (o "festival das jarras") é uma das peregrinações hindus mais sagradas,

realizada a cada quatro anos; a localização é alternada entre Allahabad,

Haridwar, Nashik e Ujjain. Outro importante grupo de peregrinações são os Shakti

Peethas, onde a Deusa Mãe é cultuada, da qual as duas principais

são Kalighat e Kamakhya.

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O hinduísmo apresenta diversos festivais ao longo do ano. O calendário

hindu costuma prescrever estas datas. Estes festivais tipicamente celebram eventos

da mitologia hindu, e coincidem muitas vezes com as mudanças de estação. Existem

festivais que são celebrados principalmente por seitas específicas ou em certas regiões

do Subcontinente Indiano. Alguns dos festivais mais importantes são o Maha

Shivaratri, Holi, Ram Navami, Krishna Janmastami, Ganesh

Chaturthi, Dussera e Durga Puja, além do Diwali.

O hinduísmo baseia-se no "tesouro acumulado de leis espirituais descobertas por

diferentes pessoas em diferentes tempos."

As escrituras foram transmitidas oralmente, na forma de versos - para auxiliar na sua

memorização, muitos séculos antes de serem escritos. Ao longo dos séculos diversos

sábios refinaram estes ensinamentos e expandiram o cânone. Na crença hindu pós-

védica e moderna a maior parte das escrituras não costuma ser interpretadas

literalmente; dá-se mais importância aos significados éticos e metafóricos derivados

deles.

A maior parte dos textos sagrados está em sânscrito, e os textos se dividem em duas

classes: Shruti eSmriti.

Os Vedas são os textos mais antigos do hinduísmo, e também influenciaram o

budismo, o jainismo e o sikhismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da

Índia antiga.

Juntamente com o Livro dos Mortos, com o Enuma Elish, I Ching e o Avesta, eles

estão entre os mais antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual,

eles também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia antiga.

Enquanto a maioria dos hindus provavelmente nunca leram os Vedas, a reverência por

mais uma noção abstrata de conhecimento (Veda significa "conhecimento"

em sânscrito) está profundamente impregnada no coração daqueles que seguem

o Veda Dharma.

Os Upanixades são denominados Vedanta, porque eles contêm uma exposição da

essência espiritual dos Vedas. Entretanto é importante observar que os Upanixades são

textos e Vedanta é uma filosofia. A palavra Upanishad significa "sentar-se próximo ou

perto", pois os estudantes costumavam sentar-se no solo, próximos a seus mestres.

Os Upanixades organizaram mais precisamente a doutrina védica de auto-

realização, yoga, e meditação, karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo

da antiga religião de mistérios. Os mais antigos Upanixades são geralmente associados

a um Veda em particular, através da exposição de uma brâmana ou Aranyaka,

enquanto os mais recentes não.

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O Mahabarata é atribuído ao sábio Vyasa, e foi escrito no período entre 540 e 300

a.C.. A obra, que conta a lenda dos báratas, uma das tribos arianas, discute o tri-

varga ou as três metas da vida humana: kama ou desfrute sensorial, artha ou

desenvolvimento econômico e dharma a religiosidade mundana que se resume em

códigos de conduta moral e ritual.

O Ramayana é atribuído ao poeta Valmiki, e foi escrito no primeiro século d.C.,

apesar de ser baseado em tradições orais que datam de seis ou sete séculos a.C.

Bhagavad Gita[editar | editar código-fonte]

A Bhagavad Gita (Bagavadguitá em português) é considerado parte

do Maabárata (escrito em 400 ou 300 a.C.), é um texto central do hinduísmo, um

diálogo filosófico entre o deus Krishna e o guerreiro Arjuna. Este é um dos mais

populares e acessíveis textos do hinduísmo, e é de essencial importância para a

religião. O Gita discute altruísmo, dever, devoção, meditação, integrando diferentes

partes da filosofia hindu.

As Leis de Manu

Manu é o homem lendário, o "Adão" dos hindus. As leis de Manu, ou Manusmriti, são

uma coleção de textos atribuídos a ele.

Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já que a sua existência antecede os

registros históricos. É dito que o Hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que

residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), dravidianos,

e harapanos.

A mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição hindu é através

do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua)

juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras.

Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV-

XVII), kirtan(elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual de fogo Védico) são algumas

vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção

tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com Deus através de meios simbólicos.

Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com Deus, é

eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na

bênção do indiferenciado amor a Verdade.

Tantrismo

A palavra tantra significa "tratado" ou "série continua", e é aplicada a uma variedade de

trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como aqueles que agora nos

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consideramos como "tântricos". A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade

Média e surgiram da cosmologia hindu.

Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto

evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral

povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam

tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível

para fertilizante, que o seu estatuto de "cuidadora" espontânea da humanidade cresceu

ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a

maioria dos hindus não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de

carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar

de honra na sociedade hindu. Diz-se que Krishna é tanto Govinda (pastor de vacas)

como Gopala (protector de vacas), e que o assistente de Xiva é Nandi, o touro. Com a

força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões

especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, não admira

que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a

venda de produtos de carne e haja um movimento entre os Hindus para banir a

matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.

A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens

(murti) que são ditas não serem o próprio Deus mas condutos para a consciência dos

devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do

amor e grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do princípio maior, representado

mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a

maneira hindu de adoração de imagens as toma apenas como símbolos da divindade,

opostos à idolatria, geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.

Recitação e mantras originaram-se no hinduísmo e são técnicas fundamentais

praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga, é realizada através

de japa("repetições"). Dizem que os mantras, através de seus significados, sons e

recitação melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que prática) na obtenção de

concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão

de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão

de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são

utilizados para a obtenção de auxílio ou para 'invocar' a força espiritual interior. As

ultimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao Senhor

Rama: "Hey Ram!"

O mais representativo de todos os mantras Hindu é o famoso Gayatri Mantra:

ॐ : | | | न: Aum bhūrbhuvasvah | tat savitūrvareṇyam | bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo

naha pracodayāt

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Significa, literalmente: "Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos).

Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr, o Deus. Que ele estimule os nossos

pensamentos/meditações."

As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos

Upanixades, Tat Twam Asi (Assim És Tu), e na última aspiração como segue:

Aum Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrityor ma aamritaam

gamaya

"Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte

para a imortalidade."

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3. Jainismo

O jainismo ou jinismo é uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com

o hinduísmo e o budismo, compartilhando com este último a ausência da necessidade

de Deus como criador ou figura central. Considera-se que a sua origem antecede

o Bramanismo, embora seja mais provável que tenha surgido na sua forma actual no

século V a.C., em resultado da acção religiosa do Mahavira.

Vista durante algum tempo pelos investigadores ocidentais como uma seita do

hinduísmo ou uma heresia do budismo, devido à partilha de elementos comuns com

estas religiões, o jainismo é contudo um fenômeno original. Ao contrário do budismo,

o jainismo nunca teve um espírito missionário, tendo permanecido na Índia, onde os

jainas constituem hoje cerca de quatro milhões de crentes. Pequenas comunidades

jainas existem também na América do Norte e na Europa, em resultado de

movimentos migratórios. A palavra jainismo tem as suas origens no

verbo sânscrito jin que significa "conquistador". Os seus adeptos devem combater,

através de uma série de estágios, as paixões de modo a alcançar a libertação do mundo.

Sua visão básica é dualista. A matéria e a mônada vital ou jiva são de naturezas

distintas, e durante sua vida o ser vivente (seja humano ou animal) tinge sua mônada

como resultado de suas ações. Para se purificar, esta religião propõe um

extremo ascetismo e o colocar em prática da doutrina da não-violência ou ahimsa.

Segundos os historiadores da religião, o jainismo estabeleceu-se na Índia em meados

do primeiro milénio a.C.. O seu fundador foi o Mahavira, existindo duas propostas

para o período em que viveu: 599 a.C. - 527 a.C (data tradicional apontada pelo

jainismo) ou 540 a.C - 470 a.C. (segundo os académicos). Nasceu perto de Patna,

naquilo que é hoje o estado do Bihar. Foi um contemporâneo do Buda, tendo pregado

na mesma região geográfica, embora não conste que os dois mestres se tenham alguma

vez encontrado. Pertencia à casta dos guerreiros (xátrias), casou, viveu no luxo até que

por volta dos trinta anos tornou-se um mendigo errante.

Entregou-se a longos processos ascéticos até obter a iluminação, tendo consagrado os

restantes trinta ou quarenta anos da sua vida a pregar a sua doutrina. Faleceu

emPavapuri, no Bihar, que é desde então um dos principais locais de peregrinação

jaina.

De acordo com os jainas, a sua religião é eterna, tendo sido a doutrina revelada ao

longo de várias eras pelos Tirthankaras, palavra que significa "fazedores de vau", ou

seja, alguém que ensinou o caminho. Os Tirthankaras foram almas nascidas como

seres humanos que alcançaram a libertação (moksha) do ciclo dos renascimentos

através da renúncia e que transmitiram os seus ensinamentos aos homens. Na presente

era existiram 24 Tirthankaras. O último desses Tirthankaras foi o Mahavira, que os

jainas não consideram como o fundador do jainismo, mas antes aquele que lhe deu a

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sua forma actual. O 23.º Tirthankara foi Parshva, que os historiadores consideram ter

sido provavelmente uma figura histórica que viveu cerca de três séculos antes do

Mahavira. Os jainas acreditam que Parshva pregou os 4 grandes princípios do jainismo,

a saber: não-violência (ahimsa), evitar a mentira, não se apropriar do que não foi dado

e não se apegar às posses materiais; o Mahavira acrescentou o princípio da castidade.

Os jainas encontram-se divididos em dois grupos principais: os Digambara ("Vestes de

céu") e os Svetambara (ou Shvetambara, "Vestes brancas"). Cada um destes grupos

encontra-se por sua vez dividido em vários subgrupos. A maioria dos jainas pertencem

ao grupo Svetambara.

A origem destes dois grupos situa-se no século I d.C (ou talvez no século III d.C,

segundo alguns autores) e deve-se a disputas em torno dos textos que devem constituir

as escrituras do jainismo. Os Svetambara consideram que as suas escrituras estão mais

próximas dos ensinamentos originais do Mahavira, enquanto que os Digambara

rejeitam uma parte considerável dessas escrituras. Os Digambara consideram

igualmente que a renúncia pregada pelo Mahavira implica para os monges a nudez

total e que as mulheres devem primeiro renascer como homens para poderem atingir a

libertação.

Ao nível da geografia, os Digambara concentram-se no sudoeste da Índia e os

Svetambara no noroeste (estados doGujarate, Rajastão e Madhya Pradesh).

As estátuas dos dois grupos são também diferentes: os Tirthankaras dos Svetambara

possuem roupas e uma decoração mais rica, enquanto que as dos Digambara estão

nuas; estas diferenças fazem com que um adepto dos Digambara não possa praticar o

culto num templo Svetambara.

Os jainas consideram que o tempo é infinito e cíclico. Ele é visto como uma grande

roda dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente

(Utsarpini), enquanto que a outra um movimento descendente (Avasarpini). Cada uma

destas partes divide-se em seis eras (ara). Durante o período ascendente os seres

humanos progridem ao nível do saber, estatura e felicidade, enquanto que o período

descendente caracteriza-se pela degradação do mundo, pelo esquecimento da religião e

pela perda de qualidade de vida pelos humanos.

Segundo os jainas, vivemos actualmente num período de movimento descendente,

numa era de infelicidade (Dukham Kal), que começou há 2500 anos e que durará 21

mil anos.

O universo e os cinco mundos

Segundo o jainismo, o universo divide-se em cinco mundos, sendo cada um deles

habitado por determinado tipo de seres. O universo é eterno, não tendo sido criado

por nenhum ser superior.

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No topo do universo está a morada suprema (siddhashila), que é o local onde habitam

as almas que alcançaram a libertação (estas almas são denominadas Siddhas). Abaixo

encontram-se trinta céus, habitados por seres celestiais, alguns dos quais caminham

para a morada suprema.

O mundo médio (madhyaloka) inclui vários continentes separados por mares. No

centro deste mundo encontra-se o continente Jambudvipa, considerado o único

continente no qual as almas podem alcançar a libertação. Os seres humanos habitam

este continente, bem como um segundo continente ao lado deste e parte do terceiro

continente.

O mundo inferior (adholoka) consiste em sete infernos, onde os seres são

atormentados por demónios e onde se atormentam uns aos outros. Abaixo do sétimo

inferno encontra-se a base do universo (nigoda), habitada por inúmeras formas

inferiores de vida.

Karma

À semelhança do hinduísmo e do budismo, o jainismo partilha da crença no karma,

embora de uma forma diferente. O karma no jainismo não é apenas um processo em

que determinadas ações produzem reações, mas também uma substância física que se

agrega a uma alma. As partículas de karma existem no universo e associam-se a uma

alma devido às acções dessa alma (por exemplo, quando uma alma mente, rouba ou

mata esta provoca a o agregação de karma na sua alma). A quantidade e qualidade

destas partículas determinam a existência que a alma terá, a sua felicidade ou

infelicidade. Só é possível a uma alma alcançar a libertação quando desta se retirarem

todas as partículas de karma.

O processo que permite a libertação das partículas de karma de uma alma denomina-

se nirjara e inclui práticas como o jejum, o retiro para locais isolados, a mortificação do

corpo e a meditação.Os seguidores do Jainismo utilizam para isso um ritual mortuário

chamado Sallekhana (também conhecido como Santhara, Samadhi-Marana, Samnyasa-

Marana),que consiste em praticar a eutenásia através do jejum. Devido à natureza

prolongada da sallekhana, é dado tempo ao indivíduo suficiente para refletir sobre sua

vida e pedir perdão dos seus pecados aos deuses. O voto de sallekhana é tomado

quando se sente que a vida tem servido o seu propósito. O objetivo é limpar karmas

antigos e impedir a criação de novos. Existe uma prática hindu similar conhecido

como Prayopavesa. De acordo com a revista Press Trust of India, em média, 240

jainistas prática sallekhana até a morte a cada ano na Índia.

O jainismo considera a vida monástica como o ideal de vida dos seres humanos. Entre

os Svemtambara a entrada na vida monástica é autorizada aos dois sexos a partir dos

sete anos, mas realiza-se em geral numa idade mais avançada. O noviço deve

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abandonar todos os seus bens; por altura da sua ordenação (diksa) a sua cabeça é

rapada e ele toma os cinco votos, que segue numa versão mais rigorosa do que a dos

leigos (mahavrata).

Os monges jainas levam uma vida itinerante, com excepção da época das monções,

altura em que se recolhem numa determinada localidade. Dependem para a sua

alimentação da caridade fornecida pelos leigos jainas, a quem oferecem em troca

assistência espiritual.

Os monges do ramo Svetambara podem ser donos de pequenas coisas, como uma fina

veste branca, uma tigela onde recebem os alimentos dos leigos e uma máscara de

tecido usada sobre a boca (mukhavastrika), cujo objectivo é evitar a ingestão

involuntária de pequenos insectos. Os monges Digambara interpretam o preceito do

desapego de uma forma bastante rigorosa e por esta razão não usam roupas; as monjas

deste ramo usam uma veste branca. Os monges Digambara não possuem uma tigela e

usam a mãos como recipiente dos alimentos. Os monges "Svetambara" costumam se

deslocar em pequenos grupos de cinco ou seis monges, enquanto que os Digambara

geralmente viajam sozinhos.

Todos os monges devem seguir as três regras que evitam a conduta incorrecta (guptis:

ter cuidado com os pensamentos, as palavras e as acções).

Entre os Svetambara o número de monjas ultrapassa o de monges. As

monjas Digambara aceitam a doutrina que afirma que para se avançar no caminho

espiritual é necessário nascer com um corpo masculino.

Os jainas que não são monges devem observar oito regras de comportamento e devem

tomar doze votos. As oito regras de comportamento variam, mas em geral incluem a

prática absoluta e irrestrita de Ahimsa (não-violência) que tem seu ponto forte na

alimentação: não comer carne de nenhum tipo, não comer certos vegetais (cebola e

alho) os quais se acredita serem de origem inferior e não usar nenhum produto de

origem animal. Outras regras incluem não se alimentar à noite, não ingerir bebidas

alcoólicas nem substâncias consideradas alteradoras da consciência (cafeína,

teobromina) e praticar a caridade a todos os seres vivos. Ler sobre as qualidades

transcendentais dos Tirthankaras e recitar o Navkar Mantra também fazem parte das

principais práticas diárias.

Quanto aos doze votos, eles podem ser divididos em três classes:

Anuvratas - são os cinco votos principais: abster-se de atos violentos, não mentir,

não roubar, não cobiçar o parceiro de outra pessoa e limitar as possessões pessoais;

Gunavratas - são três votos que reforçam os cinco votos principais: restringir as

atividades pessoais a uma área concreta (digvrata), restringir práticas que

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proporcionam prazer (bhogopabhogavrata), evitar atos que causam sofrimento

(anarthadandavrata);

Siksavratas - são quatro votos de disciplina espiritual: meditar, limitar determinadas

atividades a certos momentos, adotar a vida de um monge por um dia, fazer

donativos aos monges ou aos pobres.

Uma das principais formas de culto dos jainas leigos é prestar homenagem às estátuas

dos Tirthankaras. Os jainas lavam as estátuas e dedicam-lhes oferendas,

como mel, flores, arroz, etc. Alguns grupos jainas, como os Sthanakavasis e

os Terapanthis, são contra o culto de imagens.

O crente não adora a estátua em si, mas antes as qualidades associadas a ela, de modo

a receber inspiração para seguir o mesmo caminho. As estátuas podem ser adoradas

nos templos ou então em pequenos santuários existentes nas casas. São representadas

em posição de meditação, sentadas ou em pé.

Não é possível estabelecer qualquer forma de contacto com os Tirthankaras através

desta forma de culto, uma vez que estes, tendo alcançado a libertação, ficam fora do

contacto humano. Contudo, durante a Idade Média cada Tirthankara foi associado a

uma deusa protectora, em relação às quais se desenvolveram formas particulares de

devoção. As deusas mais importantes são Ambika (associada ao 22º Tirthankara,

Arishtanemi), Padmavati (associada a Parshva), Lakshmi e Sarasvati.

As orações jainas fazem referência aos grandes actos dos Tirthankaras e aos

ensinamentos do Mahavira, sendo ditas num antigo dialecto do Bihar, o Ardha

Magadhi. A principal oração é o Namaskara Sutra, através do qual o jaina presta

homenagem às qualidades dos cinco grandes seres do jainismo.

O ato de fazer doações para a construção de templos é também considerado uma

forma de culto, assim como a prática de peregrinações.

Os principais festivais do jainismo são:

Mahavira Jayanti - decorre em março ou abril e celebra a data do nascimento

do Mahavira. Neste dia estátuas do Mahavira são levadas em procissões pelas ruas e

os jainas reúnem-se nos templos para ouvir a leitura dos seus ensinamentos.

Paryushana: durante o mês de Bhadrapada (agosto-setembro) os membros do ramo

Svetambara do jainismo celebram um dos seus festivais mais importantes,

Paryushana. Este festival está dedicado ao perdão e consiste na prática do jejum

durante oito dias. No último dia do festival (Samvatsari) os jainas pedem perdão

uns aos outros por ofensas que possam ter causado; aqueles que conseguiram jejuar

durante os oito dias seguidos são levados para os templos em procissão. O festival

equivalente na tradição Digambara denomina-se Dashalakshanaparvan, e para além

da prática do jejum, é lido nos templos um importante texto, o Tattvartha-sutra.

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Divali (festa da luzes) - celebração comum a toda a Índia, é para os jainas a

comemoração da altura em que o Mahavira deu os seus últimos ensinamentos e

alcançou a libertação. Ocorre no mês de Kaartika, que corresponde no calendário

gregoriano a outubro-novembro.

Kartik Purnima - ocorre no dia de lua cheia do mês de Kaartika. Após terem

permanecido numa determinada localidade durante os meses da monção, os

monges e monjas jainas regressam à vida errante, sendo por vezes acompanhados

por leigos no percurso que fazem para outro local. Neste dia muitos jainas realizam

a peregrinação aos templos de Palitana, no estado indiano do Gujarate.

Mastakabhisheka - Cada doze anos os jainas (principalmente os do ramo

Digambara) reúnem-se no santuário de Shravana Belgola no estado de Karnataka,

onde se encontra uma estátua de dezessete metros de Bahubali, que é alvo de

libações com água, mel, leite, flores, preparados de ervas e especiarias.

O Jainismo dá mais ênfase à suástica que o Hinduísmo. Representa o

sétimo jina (santo), o Tirthankara Suparsva. É considerada uma das 24 marcas

auspiciosas, emblema do sétimo arhat dos tempos atuais. Todos os templos jainistas,

assim como os livros santos jainistas, contêm a suástica. As cerimônias jainistas

começam e terminam com o desenho da suástica feito várias vezes em volta do altar.

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4.Taoismo

Tradição filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em harmonia com

o Tao (romanizado atualmente como "Dao"). O termo chinês tao significa "caminho",

"via" ou "princípio", e também pode ser encontrado em outras filosofias e religiões

chinesas. No taoismo, especificamente, o termo designa a fonte, a dinâmica e a força

motriz por trás de tudo que existe.

É, basicamente, indefinível: "O Tao do qual se pode discorrer não é o eterno Tao. A

principal obra do taoismo é o Tao Te Ching, um livro conciso e ambíguo que contém

os ensinamentos atribuídos a Lao Zi.

Juntamente com os escritos de Zhuangzi, estes textos formam os alicerces filosóficos

do taoismo. Este taoismo filosófico, individualista por natureza, não foi

institucionalizado.

Ao longo do tempo, no entanto, foram sendo criadas formas institucionalizadas do

taoismo na forma de diferentes escolas que, frequentemente, misturaram crenças e

práticas que antecediam até mesmo os textos-chave do taoismo - como, por exemplo,

as teorias da Escola dos Naturalistas, que sintetizaram conceitos como o do yin-yang e

o dos cinco elementos. As escolas taoistas tradicionalmente reverenciam Lao Zi e os

"imortais" ou "ancestrais" e possuem diversos rituais de adivinhação e exorcismo, além

de práticas que visam a atingir o êxtase e obter maior longevidade ou mesmo

a imortalidade.

As tradições e éticas taoistas variam de acordo com a escola, porém, no geral,

enfatizam a serenidade , a não ação (wu-wei), o vazio, a moderação dos desejos , a

simplicidade , a espontaneidade, a contemplação da natureza e os Três Tesouros:

compaixão, moderação e humildade.

O taoismo teve uma influência profunda na cultura chinesa no decorrer dos séculos.

Os clérigos do taoismo institucionalizado, geralmente, tomam cuidado para deixar

clara a distinção entre suas tradições rituais e os costumes e práticas encontrados

na religião popular chinesa, uma vez que estas distinções podem ser facilmente pouco

perceptíveis.

A alquimia chinesa (especialmente neidan), a astrologia chinesa, o zen-budismo,

diversas artes marciais, a medicina tradicional chinesa, o feng shui e diversos estilos

de qiqong têm suas histórias entrelaçadas com a do taoismo. Além da China em si, o

taoismo teve grande influência nas sociedades do leste da Ásia.

Após Lao Zi e Zhuangzi, a literatura do taoismo cresceu com regularidade e passou a

ser compilada na forma de um cânone, o Daozang, que, por vezes, era publicado a

mando do Imperador da China.

Ao longo da história chinesa, o taoismo foi, por diversas vezes, decretado a religião do

Estado. Após o século XVII, no entanto, ele perdeu muito de sua popularidade. Tal

como todas as outras atividades religiosas, o taoismo foi reprimido nas primeiras

décadas da República Popular da China e até mesmo perseguido durante a Revolução

Cultural de Mao Tsé-Tung; continuou, no entanto, a ser praticado livremente

em Taiwan.

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Hoje em dia, é uma das cinco religiões reconhecidas pela República Popular da

China e, embora não costume ser compreendida com facilidade longe de suas raízes

asiáticas, tem seguidores em diversas sociedades ao redor do mundo. Há um debate

sobre como, e se, o taoismo deve ser classificado. Lívia Kohn dividiu-o em três

categorias:

Taoismo filosófico,Taoismo religioso e Taoismo tradicional - A religião tradicional

chinesa. Manifestações da tradição religiosa chinesa, de caráter popular, integram

elementos do taoismo religioso, do confucionismo e do budismo.

Esta distinção é complicada pelas dificuldades hermenêuticas (interpretações) na

categorização das escolas taoistas, seitas e movimentos. Alguns estudiosos acreditam

que não há distinção entre daojia e daojiao. De acordo com Kirkland, "a maioria dos

estudiosos que tem estudado o taoismo a sério, tanto na Ásia quanto no Ocidente,

finalmente abandonou a dicotomia simplista de tao-chia (taoismo filosófico) e tao-chiao

(taoismo religioso)".Hansen afirma que a identificação de "taoismo", como tal, ocorreu

pela primeira vez no início da Dinastia Han, quando dao-jia foi identificado como uma

única escola. Os escritos de Laozi e Zhuangzi foram unidos sob esta tradição única

durante a Dinastia Han, mas, notavelmente, não antes desta. É improvável que

Zhuangzi fosse familiarizado com o texto Daodejing (Tao-te-ching). Além disso,

Graham afirma que Zhuangzi não teria se identificado como um taoista, uma

classificação que não surgiu até bem depois de sua morte.

O taoismo não cai estritamente sob uma definição de uma religião organizada, como

as tradições abraâmicas, nem pode puramente ser estudado como o autor ou uma

variante da religião tradicional chinesa, tanto que a religião tradicional está fora dos

princípios e ensinamentos nucleares do taoismo. Robinet afirma que o taoismo pode

ser melhor entendido como um modo de vida do que como uma religião, e que seus

adeptos não se aproximam ou veem o taoismo da mesma maneira não taoista com que

os historiadores o têm feito.18Henri Maspero observou que muitos trabalhos

acadêmicos enquadram o taoismo como uma escola de pensamento focado na busca

pela imortalidade. Tradicionalmente, o taoismo é atribuído a três fontes principais:

A mais antiga, o mítico "Imperador Amarelo", que teria vivido entre 2697 a.C. e

2597 a.C. ;

A mais famosa, o livro de aforismos místicos Tao Te Ching (Dao De Jing),

supostamente escrito por Laozi (Lao Tse), que, segundo a tradição, foi um

contemporâneo mais velho de Confúcio (551 a.C.-479 a.C.);

Os trabalhos do filósofo Zhuangzi (Chuang-Tsé) (369 a.C.-286 a.C.)

Outros livros ampliaram o taoismo, como o Tratado do Vazio Perfeito, de Liezi; e a

compilação Huainanzi. Além destes, o antigo I Ching, "O Livro Das Mutações", é tido

como uma fonte extra do taoismo, assim como práticas de adivinhação da China

antiga.

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Algumas formas de taoismo podem ser rastreadas até as religiões tradicionais na China

pré-histórica, que, mais tarde, se uniram em uma tradição taoista. Laozi é

tradicionalmente considerado como o fundador do taoismo e está intimamente

associado, nesse contexto, com o taoismo "original" ou "primordial". Laozi recebeu o

reconhecimento imperial como uma divindade, em meados da século II a.C. O

taoismo ganhou status oficial na China durante a Dinastia Tang, cujos imperadores

alegaram que Laozi era seu parente. Vários imperadores Song, mais

notavelmente Huizong, estavam ativos na promoção do taoismo, coletando textos

taoistas e edições publicadas doDaozang. Aspectos do confucionismo, taoismo e do

budismo foram sintetizados conscientemente na escola neoconfucionista, que,

eventualmente, se tornou a ortodoxiaimperial para os fins burocráticos do Estado.

A Dinastia Qing, no entanto, muito favoreceu clássicos confucionistas e rejeitou os

trabalhos taoistas. Durante o século XVIII, a biblioteca imperial foi construída, mas

excluiu praticamente todos os livros taoistas. No início do século XX, o taoismo tinha

caído tanto, que apenas uma cópia completa do Daozang ainda permanecia, no

Mosteiro Nuvem Branca, em Pequim. Atualmente, o taoismo é uma das cinco

religiões reconhecidas pela República Popular da China, que regula suas atividades

através de uma estatal burocrática (a Associação Taoista da China).

Um tema no pensamento chinês primitivo é tian-dao ou "caminho da natureza" (tian,

também traduzido como "céu" e, às vezes, "Deus"). Corresponde aproximadamente à

ordem das coisas de acordo com a lei natural. Tanto o "caminho da natureza" quanto o

"grande caminho" inspiram o afastamento estereotípico taoista das doutrinas morais e

normativas. Assim, pensado como o processo pelo qual cada coisa se torna o que ela é

(a "mãe de todas as coisas"), parece difícil imaginar que temos que escolher entre

quaisquer valores de seu conteúdo normativo - portanto pode ser visto como um

príncípio eficiente de "vazio" que sustenta confiavelmente o funcionamento

do universo.

Do "caminho", surge "um" (aquele que está consciente), de cuja consciência, por sua

vez, surge o conceito de "dois" (yin e yang), dos quais o número "três" está implícito

(céu, terra e humanidade); produzindo, finalmente, por extensão, a totalidade do

mundo como o conhecemos, "as 10 000 coisas", através da harmonia do wu xíng. O

caminho, enquanto passa pelos cinco elementos do wu xíng, é também visto como

circular, agindo sobre si mesmo através da mudança para simular um ciclo de vida

e morte nas 10 000 coisas do universo fenomênico.

Aja de acordo com a natureza e com sutileza, em lugar de força.

A perspectiva correta será encontrada pela atividade mental da pessoa, até chegar a

uma fonte mais profunda que guie sua interação pessoal com o universo . O desejo

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obstrui a habilidade pessoal de entender o caminho , moderar o desejo gera

contentamento. Os taoistas acreditam que, quando um desejo é satisfeito, outro,

mais ambicioso, brota para substituí-lo. Em essência, a maioria dos taoistas sente

que a vida deve ser apreciada como ela é, em lugar de forçá-la a ser o que não é.

Idealmente, não se deve desejar nada, "nem mesmo não desejar".

Unidade: ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são

interdependentes e constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias,

passamos a ver todas as coisas como elas são e a nós mesmos como apenas uma

parte do momento presente. Essa compreensão da unidade nos leva a uma

apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles como simples momentos

miraculosos que "apenas são".

Dualismo: a oposição e combinação dos dois princípios básicos - yin e yang - do

universo é uma grande parte da filosofia básica. Algumas das associações comuns

com yange yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e

passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais

importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro,

porque eles são aspectos equiparados do todo. São, em última análise, uma

distinção artificial baseada em nossa percepção das 10 000 coisas, portanto é só

nossa percepção delas que realmente muda.

Wu wei

Muito da essência do tao está na arte do wu wei ("agir pelo não agir"). No entanto, isso

não significa "espere sentado que o mundo caia no seu colo". Essa filosofia descreve

uma prática de se realizarem coisas através da ação mínima. Pelo estudo da natureza

da vida, você pode influenciar o mundo do modo mais fácil e menos disruptivo

(usando a sutileza em vez da força). A prática de seguir a corrente em vez de ir contra

ela é uma ilustração: uma pessoa progride muito mais não por lutar e se debater contra

a água, mas permanecendo quieta e deixando o trabalho nas mãos da correnteza.

O wu wei funciona a partir do momento em que confiamos no nosso design humano,

que é perfeitamente ajustado para nosso lugar na natureza. Em outras palavras,

confiando na nossa natureza em vez de na nossa racionalidade, nós podemos

encontrar contentamento sem uma vida de luta constante contra forças reais e

imaginárias.

Tao Te Ching

É amplamente considerado como o mais influente texto taoista. É uma escritura de

fundação de importância central no taoismo, supostamente escrita por Laozi entre 350

e 250 a.C. No entanto, a data exata em que foi escrito é ainda objecto de debate: há

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aqueles que a colocam em qualquer lugar entre os séculos VI a.C. e III d.C. Ele tem

sido usado como um texto ritual ao longo da história do taoismo religioso.

Os comentadores taoistas ponderaram profundamente nos primeiros versos do Tao

Te Ching. Eles são amplamente discutidos, tanto na literatura acadêmica quanto na

mais popular. Uma interpretação comum é semelhante à observação de Korzybski de

que "o mapa não é o território".

As linhas de abertura, com a tradução literal e a comum, são:

"O caminho que pode ser descrito não é o verdadeiro caminho."

"O nome que pode ser nomeado não é o nome constante."

Tao, literalmente, significa "caminho" ou "o caminho" e pode significar figuradamente

"natureza essencial", "destino", "princípio", ou "caminho verdadeiro". O filosófico e

religioso tao é infinito, sem qualquer limitação. Um ponto de vista afirma que a

abertura paradoxal destina-se a preparar o leitor para os ensinamentos sobre o tao não

ensinável.36Acredita-se que o tao é transcendente, indistinto e sem forma. Por isso, não

pode ser nomeado ou categorizado. Mesmo a palavra "tao" pode ser considerada uma

perigosa tentação de fazer do tao um nome limitador.37

O Tao Te Ching não é tematicamente ordenado. No entanto, os principais temas do

texto são repetidamente expressos em formulações variantes, muitas vezes com apenas

uma pequena diferença entre elas. Os temas principais giram em torno da natureza do

tao e como alcançá-lo. O tao é dito ser inominável e capaz de realizar grandes coisas

através de meios pequenos. Há um debate importante sobre qual tradução do Tao Te

Ching é a melhor. Discussões e disputas sobre várias traduções do Tao Te Ching

podem tornar-se amargas, envolvendo visões profundamente arraigadas.

Os comentários antigos sobre o Tao Te Ching são textos importantes por direito

próprio. O comentário Heshang Gong foi, provavelmente, escrito no século II d.C. e

é, talvez, o mais antigo comentário. Ele contém a edição do Tao Te Ching que foi

transmitida até os dias atuais. Outros comentários importantes incluem o Xiang'er, um

dos textos mais importantes do Caminho do Mestre Celestial e o Wang Bi.

Zhuangzi

O Zhuangzi é, tradicionalmente, atribuído a um sábio taoista de mesmo nome, mas

isso foi recentemente contestado no meio acadêmico ocidental. Zhuangzi também

aparece como um personagem na narrativa do livro. O Zhuangzi contém prosa, poesia,

humor e disputa. O livro é, frequentemente, visto como complexo e paradoxal quanto

aos argumentos e temas de discussão, que não são aqueles comuns à filosofia clássica

ocidental, como a doutrina do nome de retificação (zhengming) e fazer distinções

"isso/não presente" (shi/fei ). Entre o elenco de personagens das histórias do Zhuangzi,

está Laozi, o autor do Tao Te Ching, bem como Confúcio.

Daozang

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É, por vezes, referido como o cânon taoista. Foi, originalmente, compilado durante as

dinastias Jin, Tang e Song. A versão publicada sobreviveu durante a dinastia

Ming. O Ming Daozang inclui quase 1 500 textos. Seguindo o exemplo do

budista Tripitaka, é dividido em três dong.

Eles estão organizados do mais alto para o mais baixo:

1. O Zhen ("real" ou "verdade") : Inclui o Shangqing.

2. A Xuan ("mistério"): Inclui o Lingbao.

3. O Shen ("divino" ): Inclui textos anteriores a Maoshan.

Daoshi geralmente não consultam versões publicadas do Daozang, mas escolhem

individualmente, ou herdam, os textos incluídos no Daozang. Estes textos foram

passados por gerações de professor para aluno.

A escola Shangqing tem uma tradição de se aproximar do taoismo através do estudo

das escrituras. Acredita-se que, recitando alguns textos muitas vezes, se será

recompensado com a imortalidade.

Enquanto o Tao Te Ching é o mais conhecido, há muitos outros textos importantes no

taoismo tradicional. Taishang Ganying Pian ("Tratado do Abençoado na Resposta e

Retribuição") discute pecado e ética e tornou-se uma referência de moralidade popular

nos últimos séculos. Afirma que aqueles em harmonia com o tao vão viver longas e

frutíferas vidas. Que os ímpios e seus descendentes vão sofrer e ter encurtadas vidas.

Tanto a Taiping Jing ("Escritura de Grande Paz") e o Baopuzi ("Livro do Mestre que

Conserva a Simplicidade") contêm fórmulas alquímicas taoistas que se acreditavam

poder conduzir à imortalidade.

Além disso, o Huainanzi é uma compilação da escrita de oito acadêmicos da dinastia

Han que combina taoismo, confucionismo e os conceitos legalistas, incluindo as

teorias, tais como yin-yang e cinco fases. O patrono Liu An (c. 180-122 a.C.) foi

governador do estado de Huainan e neto do fundador da dinastia Han. O discurso em

sua corte, favoreceu o pensamento taoista e trouxe filósofos, poetas e mestres de

práticas esotéricas para a sua corte. Isso resultou no Huainanzi.

Taoismo e confucionismo

O taoismo é uma tradição que, dialogando com seu tradicional contraste,

o confucionismo, modelou a vida chinesa por mais de 2 000 anos. O taoismo enfatiza

a espontaneidade ou liberdade da manipulação sociocultural pelas instituições,

linguagem e práticas culturais. Manifesta o anarquismo - defendendo essencialmente a

ideia de que não precisamos de nenhuma orientação centralizada. Espécies naturais

seguem caminhos apropriados a elas e os seres humanos são uma espécie natural.

Seguimos todos por processos de aquisição de diferentes normas e orientações da

sociedade, mas poderíamos viver em paz mesmo se não procurássemos unificar todas

estas formas naturais de ser.

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Como o conceito confucionista de governo consiste em fazer todos seguirem a mesmo

moral, o taoismo representa, de certa forma, a antítese do conceito confucionista

referente a deveres morais, coesão social e responsabilidades governamentais (embora

o pensamento de Confúcio inclua valores taoistas e o inverso também ocorra, como se

pode observar lendo os Analectos de Confúcio.

Embora Laozi nunca tenha pregado nenhuma religião no Tao Te Ching e tenha

sempre se mantido no terreno filosófico e moral, cerca de mil anos depois da sua

morte, formou-se um corpo de doutrinas e de práticas religiosas e culturais que

constituíram a religião taoista. A religião taoista conserva apenas uns traços da filosofia

de Laozi, com empréstimos de ideias e práticas culturais do budismo, com a

introdução de vários deuses, deusas e génios, e uma mistura com algumas crenças

preexistentes, como a teoria dos cinco elementos, a alquimia e o culto aos ancestrais.

Tentativas de alcançar maior longevidade eram um tema frequente na magia

e alquimia taoistas, com vários feitiços e poções, ainda existentes, com esse propósito.

Muitas versões antigas da medicina tradicional chinesa foram enraizadas no

pensamento taoista e a medicina chinesa moderna, bem como as artes marciais

chinesas, são ainda de várias formas baseadas em conceitos taoistas, como o tao, o qi e

o balanço entre o yin e o yang.

Com o tempo, a absoluta liberdade dos seguidores do taoismo pareceu ameaçadora à

autoridade de alguns governantes, que incentivaram o crescimento de seitas mais

comprometidas com as tradições confucionistas. Uma escola taoista foi formada ao fim

da dinastia Han, por Zhang Daoling. Muitas seitas evoluíram através dos anos, mas a

maioria traça suas origens a Zhan Daoling, e grande parte dos templos taoistas

modernos pertence a uma ou outra dessas seitas. As escolas taoistas incorporam

panteões inteiros de divindades, incluindo Laozi, Zhang Daoling, O Imperador

Amarelo, O Imperador de Jade, Lei Gong (O Deus do Trovão), entre outros.

As duas maiores escolas taoistas da atualidade são a Seita Zhengyi (evoluída de uma

seita fundada por Zhang Daoling) e o Taoismo Quanzhen (fundado por Wang

Chongyang).

Como há algumas afinidades entre a visão taoista e a visão budista do mundo, quando,

no século I, foi introduzido na China, o budismo indiano foi, em grande parte,

interpretado usando-se conceitos taoistas. O budismo chan, que se desenvolveu como

uma escola distinta na China medieval, refletiu estas fortes influências da filosofia

chinesa e, em particular, do taoismo. Com o tempo, o chan acabou se estabelecendo

na Coreia, onde recebeu o nome seon. Havia monges que chegavam de outros países

daÁsia para estudar o chan e a escola foi se espalhando pelos países vizinhos.

No Vietname, recebeu o nome thien e, no Japão, ficou conhecida como zen. Através

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da história, essas escolas cresceram de maneira independente, tendo desenvolvido

identidades próprias e características bastante diferentes umas das outras.

Na China, elementos do taoismo se combinaram com elementos do budismo e

do confucionismo na forma do neoconfucionismo. A adopção por parte dos

confucionistas de vários conceitos taoistas deu origem, durante a dinastia Song (960–

1279 d.C.), à chamada "Escola Neoconfucionista" ou "Escola da Razão".

A filosofia taoista é praticada em várias formas, em outros países além da China. Kouk

Sun Do, na Coreia, é uma dessas variações. A filosofia taoista encontrou muitos

seguidores ao redor do mundo. Genghis Khan era simpático à filosofia taoista e,

durante as primeiras décadas de dominação mongol, o taoismo viu um período de

expansão, entre os séculos XIII e XIV. Devido a isso, muitas escolas taoistas

tradicionais mantêm centros de ensino em vários países ao redor do mundo.

Taoismo no Brasil

No Brasil, existem vários ramos ligados ao taoismo, tanto o religioso (taochiao) quanto

o filosófico (taochia). Uma das vertentes religiosas mais importantes é representada

pelaSociedade Taoista do Brasil. A Sociedade Taoista do Brasil foi instituída no Rio

de Janeiro, em 15 de janeiro de 1991, com o objetivo de difundir o ensinamento do

taoismo em todas as suas formas de expressão - religiosa, filosófica, científica e cultural

- e contribuir para o aperfeiçoamento espiritual dos frequentadores.

O caminho taoista propõe a restauração do estado pleno de vida e consciência,

chamado tao. Para isso, utilizam-se vários meios, como as práticas que promovem a

boa saúde física e mental, o estudo de clássicos escritos pelos grandes mestres do

passado, os métodos místicos para a restauração da ordem interna e

fundamentalmente a meditação, como caminho de autotransformação e elevação

espiritual.

A Sociedade Taoista do Brasil foi fundada por Wu Jyh Cherng (1958-2004), sacerdote

taoista Kao Kon Fa Shi (Alto Ofício, Mestre da Lei). Mestre Cherng escreveu diversos

livros sobre artes taoistas e traduziu o Tao Te Ching (O Livro do Caminho e da

Virtude) e o Yi Jing (I-Ching, O Livro das Mutações), entre outros clássicos do

taoismo.

Em março de 2002, foi inaugurada a sede de São Paulo, um espaço adequado para a

prática e estudo do taoismo, suas artes e sabedoria, onde se têm palestras abertas ao

público, rituais, meditação e diversos cursos. Entre as atividades de São Paulo,

enfatizam-se as práticas de meditação (tao yin), I Ching (ou Yi Jing), feng

shui, astrologia chinesa(zi wei dou shu), tai chi chuan (ou tai ji quan), chi kung (ou qi

gong) e o atendimento de acupuntura e massagem (tui na).

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Além dos grupos formalmente ligados ao taoismo, também podem ser encontrados

muitos ensinamentos taoistas em várias escolas do budismo maaiana chinês e também

em religiões sincréticas como o cao dai, entre outras.

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5.Xintoísmo

Xintoísmo é o nome dado à espiritualidade tradicional do Japão e dos japoneses,

considerado também uma religião pelos estudiosos ocidentais.

A palavra Shinto ("Caminho dos Deuses") foi adotada do chinês escrito através da

combinação de dois kanjis: "shin" , que significa "deuses" ou "espíritos" (originalmente

da palavra chinesa shen); e "tō" ou "do", que significa "estudo" ou "caminho filosófico"

(originalmente da palavra chinesa tao).

O xintoísmo incorpora práticas espirituais derivadas de diversas tradições pré-históricas

japonesas, locais e regionais, porém não surgiu como instituição religiosa formalmente

centralizada até a chegada do budismo, confucionismo e daoísmo no país, a partir

do século VI. O budismo gradualmente se adaptou, no Japão, à espiritualidade nativa,

como por exemplo na inclusão do kami, componente da crença xintoísta, entre

os bodisatvas (bosatsu).

As práticas xintoístas foram registradas e codificadas pela primeira vez nos registros

escritos históricos do Kojiki e Nihon Shoki, nos séculos VII e VIII. Ainda assim, estes

primeiros escritos japoneses não se referem a uma "religião xintoísta" unificada, mas a

práticas associadas com as colheitas e outros eventos dos clãs relacionados às estações

do ano, aliadas a uma cosmogonia e mitologia unicamente japonesas, que combina

tradições espirituais dos clãs ascendentes do Japão arcaico, principalmente das

culturas Yamato e Izumo.

O xintoísmo caracteriza-se pelo culto à natureza, aos ancestrais,e pelo seu politeísmo ,

com uma forte ênfase na pureza espiritual, e que tem como uma de suas práticas

honrar e celebrar a existência de Kami, que pode ser definido como "espírito",

"essência" ou "divindades", e é associado com múltiplos formatos compreendidos pelos

fieis; em alguns casos apresentam uma forma humana, em outros animística, e em

outros é associado com forças mais abstratas, "naturais", do mundo

(montanhas, rios, relâmpago, vento, ondas, árvores, rochas).

Considerado como consistindo de energias e elementos "sagrados", o Kami e as

pessoas não são separados, mas existem num mesmo mundo e partilham de sua

complexidade interrelacionada. O xintoísmo moderno apresenta uma

autoridade teológica central, porém não tem uma teocracia única.

Consiste, atualmente, de uma associação inclusiva de santuários locais, regionais e

nacionais de variada significância, em importância e história, que exprimem suas

diversas crenças através de práticas e idiomas semelhantes, adotando um estilo

semelhante no vestuário, arquitetura e ritual, que data dos períodos Nara e Heian.

O xintoísmo tem atualmente cerca de 119 milhões de seguidores no Japão, embora

qualquer pessoa que pratique algum tipo de ritual xintoísta seja contado como tal.

Geralmente aceita-se que a ampla maioria do povo japonês participe de algum tipo de

ritual xintoísta, ao mesmo tempo em que a maior parte também pratica o culto budista

aos ancestrais.

No entanto, ao contrário de muitas das práticas religiosas monoteístas, o xintoísmo e o

budismo tipicamente não exigem daqueles que os professam que sejam crentes ou

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praticantes, o que torna difícil contabilizar cifras exatas com base na auto-identificação

com alguma crença, entre os habitantes do país.

Devido à natureza sincrética das duas religiões, a maior parte dos eventos relacionadas

à "vida" ficam a cargo dos rituais xintoístas, enquanto os eventos relacionados à "morte"

ou à "vida após a morte" ficam a cargo dos rituais budistas (embora isto não seja uma

regra); assim, é costumeiro, por exemplo, no Japão, registrar uma criança ou celebrar

seu nascimento num santuário xintoísta, enquanto os preparativos para um funeral

costumam ser ditados pela tradição budista.

Existem santuários xintoístas em diversos outros países, incluindo os Estados

Unidos, Brasil, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Países Baixos, entre outros, e está

em vias de expansão para se tornar uma religião global, especialmente com o

surgimento de ramos internacionais dos santuários shinto.

O xintoísmo tem raízes muito antigas nas ilhas japonesas. Sua história registrada

remonta ao Kojiki (712) e ao Nihon Shoki (720), porém os

registros arqueológicos datam de um período significativamente mais antigo.

Ambas as obras são compilações de tradições mitológicas orais já existentes.

O Kojiki estabelece a família imperial como o alicerce da cultura japonesa, na

condição de descendentes de Amaterasu Omikami.

Existe também uma genealogia de criação e aparição dos deuses, de acordo com

um mito de criação. ONihonshoki estava mais interessado em criar um sistema

estrutural de governo, política externa, hierarquia religiosa e ordem social interna.

Existe um sistema interno de desenvolvimento xintoísta que configura as relações entre

o xintoísmo e outras práticas religiosas ao longo de sua história; os Kami ("espíritos")

internos e externos.

O Kami interno ou ujigami (uji significa "clã") favorece a coesão e a continuação dos

papeis e padrões estabelecidos; e o hitogami, ou Kami externo, traz inovação, novas

crenças, novas mensagens e alguma instabilidade.

Os povos joomon do Japão utilizavam-se de habitações naturais, ainda não conheciam

o cultivo de arroz, e frequentemente eram coletores-caçadores; a evidência física de

suas práticas rituais é de difícil documentação.

Existem muitos locais que contêm estruturas rituais de pedra, e conhecem-se práticas

funerárias refinadas, além dos antigos Torii, que indicam a continuidade do xintoísmo

arcaico.

Os joomon tinham um sistema tribal baseado em clãs, similar a muitos dos povos

indígenas do mundo. No contexto deste sistema, as crenças locais desenvolveram-se

naturalmente, e quando a assimilação entre os clãs ocorreu, as crenças de tribos

vizinhas acabaram por influenciar as outras.

A um certo ponto passou a existir um reconhecimento de que os ancestrais criaram as

gerações presentes, e a reverência aos ancestrais (tama) tomou forma. Havia

algum comércio entre os povos indígenas das ilhas japonesas e o continente, bem

como diversas migrações, o que aumentou o crescimento e a complexidade da

espiritualidade dos povos locais, através de sua exposição a novas crenças.

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Esta espiritualidade, no entanto, ainda era centrada no culto às forças naturais,

ou mono, e aos elementos naturais dos quais todos dependiam.

A introdução gradual de organizações religiosas e governamentais metódicas a partir

da Ásia continental, começada por volta de 300 a.C., plantou as sementes das

mudanças reativas que ocorreriam no xintoísmo arcaico, ao longo dos 700 anos

seguintes, em direção a um sistema mais formalizado.

Estas mudanças foram dirigidas internamente, pelos diversos clãs, frequentemente

como forma de um evento cultural sincrético direcionado às influências externas.

Eventualmente, à medida que os yamato conquistaram o poder, um processo de

formalização se iniciou.

A gênese da casa imperial japonesa, e a criação subsequente do Kojiki, ajudou a

facilitar a continuidade necessária para este desenvolvimento a longo prazo. O

xintoísmo apresenta hoje em dia um equilíbio entre as influências externas

do budismo, do confucionismo, do taoísmo, das religiões abraâmicas, do hinduísmo e

de crenças seculares que, embora tenha tido conflitos em seu desenvolvimento,

aparenta atualmente ser natural e não-exclusivo. Em períodos mais modernos o

xintoísmo desenvolveu também novas formas e suas próprias subdivisões, e até mesmo

expandiu-se para além das fronteiras do Japão, tornando-se uma religião global.

O budismo foi introduzido no século VI e trouxe graves consequências para o

xintoísmo. Vindo da Coreia, apresentado ao imperador, o budismo, apesar de algumas

resistências iniciais, acabou por triunfar, tendo servido para a consolidação do poder

imperial, com o apoio dos governantes locais.

Apesar disto, a tendência geral, e mais conforme à mentalidade do Oriente, foi a de

fundir as duas religiões, mas sob a égide do budismo.Durante longos séculos, o

budismo impôs a sua influência, sobrepondo-se à religião tradicional, que porém não

desapareceu.

Face ao domínio duma religião estrangeira desde logo vários pensadores e sacerdotes

procuraram manter a dignidade e o papel desempenhado pela religião tradicional. Na

Idade Média, vários destes pensadores fizeram uma união entre os dois tipos de

divindades, mas em sentido contrário ao já referido: os budas eram na

verdade kamiencarnados, que assim deixavam o seu estado original para descerem à

terra.

Nos sécs. XVI-XVII, viveu-se um momento de renascimento da cultura japonesa, com

o consequente afastamento de influências estrangeiras. Apesar de o budismo não

perder substancialmente o seu terreno, ficou agora relegado para segundo plano, a

favor de uma tendência nacionalista que se afirmava, e que atingiria o seu ponto

culminante no período seguinte.

No âmbito da ideologia profundamente nacionalista da era Meiji, a escolha duma

religião oficial recaiu naturalmente sobre o xintoísmo, já antes aclamado como a

religião verdadeiramente original do povo japonês, considerado pelo regime como

superior a todos os outros.Criou-se então o chamado xintoísmo de Estado, uma

espécie de sacralização do Estado, ou melhor, laicização do xintoísmo.

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De fato, o xintoísmo foi despido do seu carácter religioso para se tornar um dever

cívico de reverência ao Estado e ao imperador.O xintoísmo estatal permaneceu em

vigor durante algumas décadas.

Como expressão do nacionalismo japonês, exacerbou-se particularmente por ocasião

da Segunda Guerra Mundial. Com a derrota do Japão, precipitou-se o seu processo de

queda.

Em 1946, foi proclamada a nova Constituição, pela qual o imperador foi destituído de

todas as prerrogativas divinas e de todo o poder político, tornando-se apenas símbolo

da unidade nacional.

No princípio, esta religião étnica não tinha nome, mas quando se introduziu

o budismo no Japão durante o século VI, um dos nomes que este recebeu foi

Butsudo, que significa "o caminho do Buda".

Assim, a fim de diferenciar do budismo, a religião nativa passou a ser chamada "xinto"

(shinto), palavra de origem chinesa.

Assim, xintoísmo significa "o caminho dos deuses". O nome chinês foi escolhido

porque na época apenas o chinês era escrito no Japão, já que não haviam desenvolvido

ainda a escrita japonesa.

Reconhecem-se várias expressões do xintoísmo, que são o resultado da evolução

histórica da religião, lugar da sua manifestação e prática religiosa dos adeptos.

Xintoísmo dos santuários Jinja Shinto: é o conjunto de crenças que se exprimem

através das festas e das venerações nos santuários. Praticamente todos os santuários

pertencem à Associação dos Santuários (Jinja honchó), fundada em Tóquio no ano

de 1946.

Xintoísmo doméstico: exprime-se nos lares japoneses. Nas casas xintoístas existe

em geral um pequeno altar consagrado aos deuses, o kamidana. Em cima deste

altar encontra-se muitas vezes um amuleto oriundo do santuário local, do Grande

Santuário de Ise e em alguns casos. Nestes altares colocam-se oferendas (saquê,

arroz, sal) e recitam-se orações.

Xintoísmo imperial Koushitsu Shinto : é o resultado do desenvolvimento na casa

imperial da prática dos ritos e cerimónias do xintoísmo.

Xintoísmo folclórico Minkan Shinto: caracteriza-se pela ausência de uma

sistematização doutrinária e de uma organização. É o tipo de xintoísmo praticado

essencialmente pelos pequenos vilarejos.

Xintoísmo das seitas Kyoha Shinto : é composto essencialmente pelas treze seitas

reconhecidas pelo Estado dos Meiji entre 1876 e 1908. Estas seitas possuem em

geral um fundador (homem ou mulher).

Até ao fim da Segunda Guerra Mundial, os grupos xintoístas que não pertenciam a

uma das treze seitas não eram reconhecidos pelo Estado, o que gerou a integração de

muitos desses grupos numa das seitas existentes.

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Depois da guerra, e tendo sido declarada a liberdade religiosa, alguns grupos

estabeleceram-se como organizações independentes. O xintoísmo não possui um livro

sagrado, como a Bíblia ou o Alcorão.

Há no entanto um conjunto de textos sobre os ensinamentos da religião que recebem

o nome de Shinten, "escrituras sagradas", mas não são considerados textos revelados

ou de carácter sobrenatural.

Kojiki ("Anais das coisas antigas"): datado de 712, é o texto sagrado mais antigo,

sendo composto por três volumes.

Nihonshoki ("Crônicas do Japão"): foi redigido em 720 em chinês em 30 volumes.

Também conhecido como Nihongi.

Kogo-shui: compilação das tradições do clã dos Imbe, uma família que junto com a

família dos Nakatomi era responsável pelos ritos. A sua redacção foi concluída em

807.

Estes livros apresentam as narrativas míticas da tradição xintoísta. Os mitos descritos

referem-se a um caos primordial em que os elementos se mesclam em massa amorfa e

indistinta, "como num ovo". Os deuses surgiram desse caos.

O xintoísmo baseia-se no culto aos kami . Esta palavra é frequentemente traduzida por

"deus" ou "divindade", o que não traduz completamente o conceito, dado que os kami

pode ser também forças vitais ou espíritos da natureza.

Ao contrário dos deuses das outras religiões, os kami não são onipotentes ou

oniscientes, possuindo poderes limitados. Nem todos kami são bons. Alguns kami são

locais ou conhecidos como espíritos de um local em particular ou a lugares

(montanhas, ervas, árvores, vales, rios, mares, encruzilhadas).

Outros representam elementos ou processos da natureza, como por

exemplo, Amaterasu, a deusa do Sol, Tsukiyomi, deus da lua, Susanoo, deus

dos oceanos e das tempestades.

Existem kami ligados a fenômenos atmosféricos (chuva, vento, trovão), e kamis

associados à vida humana (vestuário, transportes, ofícios, etc.). Incluem-se ainda no

conceito de kami os espíritos de homens notáveis, como de certos guerreiros.

Os espíritos dos antepassados também são considerados deuses tutelares da família ou

do país, motivo pelo qual os ritos fúnebres possuem grande relevo.

Os textos xintoístas referem-se a "oitocentas miríades" de kami, este número não deve

ser interpretado literalmente, pretendendo-se apenas transmitir a noção de que existem

inúmeros kami. Os kami não são perceptíveis pelo ser humano.

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Podem ser divididos em dois tipos: os que habitam no céu e os que habitam na terra.

Os primeiros trazem à terra influências positivas, enquanto que os segundos mantêm-

na como ela.

O kami mais eminente é a deusa-sol Amaterasu Oo-mikami, antepassada da família

real japonesa. O seu santuário principal é o Grande Santuário de Ise.

Em relação à estrutura do mundo, existem duas concepções diferentes, que se cruzam

e se tomam muitas vezes em paralelo, sem se contradizerem, pois representam duas

perspectivas diferentes e complementares.

A primeira delas é vertical e fala de três mundos distintos: a “Alta Planície Celeste” ,

morada dos kami do céu, de onde eles descem, para dar paz, ordem e felicidade. É

um mundo descrito como reflexo do mundo dos humanos, uma espécie

de Japão plenamente belo e perfeito; segue-se o “País do Meio da Planície dos

Canaviais”, morada dos homens, onde os kami desceram; por último, o chamado

“País de Yomi”, subterrâneo, moradia dos mortos, terra de máculas e de pecados,

onde habitam os espíritos malignos que influenciam o homem para o mal. Esta

tradição é a principal da mitologia xintoísta e reflecte os meios aristocráticos.

A segunda concepção é horizontal, e coloca lado a lado o "País do Meio" e o chamado

"País dos Mortos" que, ao contrário do que o nome indica, é uma terra de delícias,

situada para além dos mares, onde habitam os espíritos purificados dos antepassados,

que visitam este mundo, trazendo felicidade e protecção aos viventes. Esta concepção é

de cariz mais popular. Há que notar, mais uma vez, que o xintoísmo atribui a

importância fundamental a este mundo. De facto, tanto kami como antepassados,

embora habitem noutros planos, conservam estreitas relações com o mundo dos

humanos.

É claro que estas concepções devem ser lidas, não de modo físico, sob o qual se

tornariam ultrapassadas, mas de modo metafísico, como na religião cristã.

Há que reconhecer que o homem vive graças à natureza, a tudo quanto ela lhe

fornece, pelo que a sua atitude deve ser de profunda gratidão e reverência. Mesmo

quando a natureza se desenfreia, o ser humano é forçado a reconhecer que muito

maiores são os benefícios que dela recebe. O homem, apesar de todo o seu

avanço tecnológico, não possui poder pleno, e deve reconhecer a sua humildade, num

espírito de coexistência pacífica.

Há inúmeras divindades ligadas a elementos naturais, o que atesta que tudo é

governado pelos kami. Logo, a natureza reveste um carácter sagrado, regendo-se por

uma vontade e sensibilidade próprias, por uma espiritualidade misteriosa, mais do que

propriamente por leis naturais.

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Sendo que toda a natureza descende de "kamis" assim como a humanidade, fica claro

que tudo está interligado tendo como origem em comum um ancestral divino. Assim

sendo o ser humano e a natureza, seus elementos, minerais, vegetais e animais, são

parentes.

A vida dessassociada da natureza é incompatível com o Xintô, o ser humano não deve

combatê-la ou transformá-la sem necessidade vital. É comum aos praticantes xintoístas

o retiro para ambientes onde possam promover a integração com a natureza, uma

forma de purificação, elevação espiritual, e oportunidade para reflexão e meditação.

Como já foi dito na introdução, o Xintô e a própria cultura japonesa pregam que

sendo a natureza sagrada, sua destruição é indesejável, e não existe o sentimento de

hostilidade inerente recíproca imperante no ocidente.

Outra prática bastante disseminada é a deificação de determinados elementos naturais

em especial. Como por exemplo a árvore que representa um família ou um rocha que

ocupa lugar de destaque em determinada cidade. Principalmente na antiguidade, era

tradicional em muitas aldeias a veneração de algum "ícone" que representasse bem seu

povoado ou dinastia.

O comportamento xintoísta é tão avesso a interferência no cenário natural, para ele é

sagrado e perfeito, que qualquer atividade que implique em utilização ostensiva dos

recursos naturais deve ser recompensada no mínimo com a construção de um templo

dedicado a natureza.

As montanhas no Japão são muito numerosas e estão envolvidas nos aspectos da vida

diária, é delas que brotam os rios, e são consideradas sagradas. Não são kami em si,

mas sim moradias de kami. O território montanhoso é tão respeitado que mesmo hoje

em dia, o alpinismo não é uma atividade muito difundida pelo povo japonês, e isso

num país onde é difícil ver todo um horizonte livre da presença de montanhas.

É muito comum a construção de templos nessas regiões, assim como cerimônias de

deificação e requisição de boas colheitas à "deusa do arrozal" que vive nas montanhas.

Nas lendas japonesas as montanhas ocupam lugar de destaque na associação com

grandes desafios, buscas e peregrinações.

Como vimos, o homem é considerado como naturalmente bom e puro, participante

da natureza dos kami, e que o pecado e a impureza se devem a influências malignas

dosespíritos habitantes do mundo inferior. Por isso, o homem recebe directamente

dos kami uma componente natural, um ideal celeste a ser realizado nesta vida, modelo

de vivência dado e aceite como meta, e que representa a ligação da vida humana à vida

divina. Este é o maior conceito moral do xintoísmo, o chamado michi, termo que

significa “caminho”. Trata-se de um ideal de justiça e de carácter, de que ninguém se

deve afastar, elemento básico da vida xintoísta e do próprio culto. O michi, obediência

ao curso da natureza, reveste-se duma extrema simplicidade e naturalidade.

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Para o xintoísmo, a vida só alcança o seu sentido e a sua finalidade se for vivida

na pureza, que é o seu estado natural. A vida que não leva isto em conta é

radicalmente antixintoísta e não agrada aos kami que, desgostosos, podem mandar

vários tipos de desgraças para avisar o pecador, e até mesmo castigá-lo. Procura-se esse

ideal de pureza, tanto corporal como mental e espiritual, que leva o homem à sua

plenitude. Embora o homem não possa controlar tudo o que acontece e pode

danificar a sua pureza, tem a responsabilidade de procurar viver uma vida

autenticamente xintoísta, recta, clara e honesta, segundo a vontade dos kami.

Vítima de forças que lhe escapam, o homem corrompido é alguém que deixou de

pertencer, durante algum tempo, ao mundo da bondade e da felicidade, possuindo,

porém, o direito de voltar a ele. Por isso, o pecado e a falta moral, embora

reconhecidos, revestem um carácter diferente do que têm para os ocidentais.

Aquilo que pode danificar a pureza pode ser de carácter voluntário ou involuntário. As

faltas voluntárias são verdadeiros pecados, da responsabilidade daquele que os pratica,

e denominam-se tsumi. As faltas involuntárias não fazem, obviamente, a pessoa

incorrer em igual responsabilidade, embora ela possa ter contribuído para a situação,

devido à sua má conduta ou imprudência. Incluem-se neste grupo as calamidades ou

desgraças (wazawai) e as manchas, impurezas (kegari), adquiridas por contactos com

elementos como acadáver, o sangue, as relações carnais, etc. Estes males, como vimos,

têm origem no mundo inferior, que envia as calamidades e impurezas e incita aos

crimes. Para afastar a sua nefasta influência, realizam-se vários tipos de exorcismos.

Isto, que parece uma confusão entre mal moral e acontecimentos fortuitos, tem a sua

justificação no preceito fundamental da pureza que, para muitos pensadores xintoístas,

se sobrepõe aos ritos e ao culto.

Tudo isto é a concepção geral acerca da moralidade. No que se refere ao concreto, as

concepções morais rigidos do xintoísmo apresentam bastante pobreza, pois não se

encontram códigos morais definidos propriamente ditos, como existem noutras

religiões orientais, como o confucionismo, por exemplo. O michi apresenta-se como

algo extremamente vago e simples, o que pode levar a pensar que o xintoísmo rejeita

propositadamente qualquer tipo de regras concretas de moral.

As práticas do xintoísmo têm a finalidade de se dirigirem aos kami, para que escutem a

oração dos fiéis. As orações podem ter diversos sentidos: pedidos, muitas vezes

relacionados com a vida do dia-a-dia ou com alguma ocasião importante; ações de

graças, por um benefício concedido, uma meta atingida, um obstáculo ultrapassado;

promessas de acção futura em favor dos homens e da sociedade; tentativas de aplacar a

fúria dos kami, irritados por alguma coisa; ou, muito simplesmente, para os louvar,

rendendo-lhes homenagem sincera, sem esperar propriamente nada de especial em

troca.

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Através de vários elementos, os fiéis podem estabelecer relação com os kami, relação

muitas vezes de carácter filial, em que uma divindade é tutelar de dada região ou

localidade. Os "paroquianos" estabelecem especial ligação com esse kami, que os

atende e protege, nos mais variados acontecimentos da sua vida.

Os santuários têm ao seu serviço um número variável de sacerdotes, que neles oficiam

de vários modos. São designados pelo termo kannushi, que significa “mestre do kami”,

ou então pelo termo chinês shinshoku, “pessoa cuja profissão é servir a divindade”.

A sua principal função é a de servir e adorar os kami e servir como um elo entre eles e

os crentes através da execução dos ritos nos santuários, visando assegurar a proteção

do povo japonês e do imperador.

Não costumam falar em público, tendo sido mesmo proibidos disso em 1885, no

contexto do xintoísmo de Estado. Hoje em dia, porém, os sacerdotes pregadores

começam a ser apreciados. Não são considerados como chefes ou guias espirituais,

mas somente como oficiantes de atos de culto, a pedido dos fiéis e em seu benefício.

O sacerdócio xintoísta é aberto às mulheres. As sacerdotisas têm mesmo tendência a

aumentar, encontrando-se algumas à frente de grandes templos. O sacerdócio

feminino desenvolveu-se no Japão após a Segunda Guerra Mundial. Para além de

sacerdotisas, as mulheres podem ainda ser mikos. Uma miko é uma virgem que leva

uma vida monástica, ajudando os sacerdotes a executar os ritos nos templos e

executando as danças sagradas. Exercem estas funções durante cinco a dez anos.

Os sacerdotes repartem-se por várias categorias. A mais elevada é a de Princesa

consagrada ao kami, uma princesa virgem da família imperial. Atualmente, só existe

uma, no santuário de Ise. Em seguida, temos o Grande Sacerdote, à frente de cada

santuário, e depois o restante do clero, que se reparte por funções diferenciadas.

Hoje em dia, verifica-se uma nova preocupação em revitalizar o xintoísmo e os

santuários, buscando novas tendências, pelo que se tem agora grande cuidado com a

preparação intelectual e teológica dos candidatos a sacerdotes. Os regulamentos atuais

prevêem vários diplomas possíveis, dos quais pelo menos um é exigido aos sacerdotes,

que apenas o obtêm após vários anos de estudo em universidades ou institutos

especiais. Hoje em dia a formação de um sacerdote xintoísta é garantida pela

frequência de um curso naUniversidade de Kokugakuim ou da Universidade de

Kogakkan.

Os sacerdotes, uma vez consagrados, mantêm as suas funções habitualmente toda a

vida, mesmo não sendo obrigados a exercê-las. Moram fora do santuário, com exceção

do Grande Sacerdote.

Os sacerdotes xintoístas não são obrigados a levar uma vida de castidade,

podendo casar e fundar uma família, o que geralmente fazem.

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As vestes sacerdotais apresentam grande beleza artística, de raízes nos séculos

passados, mas só são utilizadas nos santuários e em ocasiões especiais na rua. A

indumentária para o culto fica completa com um toucado especial e sapatos próprios.

Sobre a testa de um "Yamabushi", coloca-se uma pequena caixa preta chamada "tokin",

que é amarrada à sua cabeça com um cordão preto. Durante as cerimónias, os

sacerdotes costumam trazer também uma espécie de cetro de madeira, que tem um

significado purificador, mas sobre o qual não recai qualquer tipo de veneração.

Fora das funções rituais, os sacerdotes não usam qualquer tipo de sinal exterior, que os

distinga dos leigos.

Os santuários xintoístas espalham-se por todo o Japão, constituindo lugares

privilegiados de culto. Mas, embora surjam por todo o lado, têm geralmente alguma

razão especial para existir: um fenómeno natural, um acontecimento histórico ou

mítico, a simples devoção pessoal ou o patronato político. Também os há motivados

por revelações em sonhos, ou porque simplesmente era necessário um lugar de culto

naquele local.

Quando o local de construção de um novo santuário é escolhido, põe-se em prática

uma série de ritos, destinados a purificar o lugar e a invocar a presença do kami, para

que se digne vir habitar naquele sítio. Se mais tarde for decidido deixar aquele

santuário ou mudá-lo para outro lugar, existem os ritos inversos, pelos quais se convida

delicadamente o kami a retirar-se.

O santuário encontra-se na base do xintoísmo. É nesse local que a divindade habita e

que escuta os seus fiéis, e é também centro de ligação da comunidade e de partilha de

identidade. Neste contexto, podem distinguir-se três grandes tipos de santuários,

conforme a abrangência que possuem:

os de dimensão local, centros de partilha de uma comunidade reduzida, onde se

venera o kami da localidade. Este tipo de santuário congrega em torno de si as

pessoas daaldeia, que sentem uma filiação comum em relação à divindade. O

santuário aparece como local de estreitamento de relações entre kami e

paroquianos.

santuários de tipo particular, mais abrangentes, procurados por motivos concretos e

determinados, como o êxito nos negócios ou nos estudos, ou outro tipo de

protecção especial. Este género de santuários encontra-se por todo o Japão.

por último, os grandes santuários nacionais, destino de peregrinação de milhões de

pessoas, todos os anos, dos quais o mais importante é o de Ise, já referido, em

honra da deusa Amaterasu, e que está directamente ligado à casa imperial.

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Além destes, há ainda templos dedicados a kami de guerra, a valores marciais ou em

honra de pessoas notáveis, a quem se pedem favores específicos.

O santuário é entendido como um local onde as pessoas se vêm “refrescar”

espiritualmente. Neles, está-se em profunda comunhão com a natureza, que abre o

homem a umaespiritualidade plena e à identificação pessoal com os kami.

Os templos xintoístas podem assumir as mais diversas formas e tamanhos, mas

apresentam certos aspectos em comum. Todos eles são constituídos por um edifício,

ou um conjunto deles, inseridos num espaço envolvente, rodeados pela natureza. Têm

particular importância as árvores, principalmente a árvore sagrada, sakaki, utilizada em

muitos dos rituais.

O espaço em volta do edifício principal é por vezes muito extenso, e apresenta-se

dividido em várias partes. Ao longo do caminho, que nunca é em linha recta, encontra-

se uma série de diferentes elementos separadores, que marcam também etapas duma

caminhada espiritual. São eles:

os torii , muito característicos dos templos japoneses, que são uma espécie de

portais sem porta, constituídos por dois postes verticais e duas traves horizontais.

Aparece um de imediato no início do caminho e depois geralmente mais dois, ou

mesmo uma grande fila deles. A série de torii repete-se para cada via de acesso ao

santuário;

pontes, por vezes várias, até se chegar ao templo algumas monumentais e muito

elaboradas. A água é um elemento purificador, pelo que os cursos de água debaixo

das pontes constituem uma eficaz barreira contra toda a impureza;

barreiras e paliçadas, com portas, que simbolizam a entrada no local sagrado,

reservado ao homem puro.

Encontram-se também jardins, lagos, lanternas. Ainda antes de se chegar ao edifício

principal, depara-se um tanque de água limpa, geralmente abrigado por um alpendre,

no qual os fiéis se lavam, purificando-se de todas as impurezas e pecados, servindo-se,

para isso, dumas colheres compridas de bambu, para tirar a água.

É costume também, em ocasiões solenes, libertar aves, peixes e outros animais.

Chegamos, finalmente, ao edifício do templo. Pode haver vários, num mesmo

santuário, dirigidos a diferentes kami. Têm geralmente dimensões modestas, não

obstante a grande diversidade de tamanhos. São constituídos por três secções:

uma sala de orações (Haiden) para os fiéis, onde eles dirigem as suas preces ao

kami. À entrada está uma grande caixa de madeira, para depositar moedas, e um

sino, ligado a uma corda, que serve para advertir o kami da presença do fiel;

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uma sala de oferendas, reservada aos sacerdotes chamada (Heiden);

uma sala mais pequena (Honden), nunca visitada, considerada a morada física do

kami, e onde podem estar depositados objectos simbólicos,

como espelhos, jóias ou espadas, invólucros onde reside o espírito da divindade. O

espelho, particularmente, é considerado morada privilegiada do espírito divino, e

tem origem muito antiga, sendo já mencionado na mitologia japonesa.

Alguns templos prevêem nos seus estatutos serem totalmente reconstruídos

periodicamente. É o caso do templo de Ise, reconstruído de vinte em vinte anos. Essa

ocasião é rodeada de ritos próprios, para convidar o kami a mudar de residência.

Embora reconstruídos, os templos mantêm o estilo do anterior, pelo que os novos não

diferem dos antigos e originais.

Alguns santuários possuem também uma espécie de museu, não raras vezes repleto de

peças de grande valor, consideradas espólio da divindade.

Os ritos exercidos nos santuários, apesar de muito diversos, apresentam o seguinte

esquema: o sacerdote, depois de purificado, invoca o kami. Faz ofertas propiciatórias,

de bebidas e alimentos, a que se segue a oferta de jogos, danças e representações, para

entreter a divindade. No fim, o kami é convidado a retirar-se, seguindo-se uma refeição

fraterna.

A purificação é uma prática fundamental em toda a prática xintoísta. É por ela que o

homem se liberta, regressando ao seu estado inicial de pureza, a que tem direito. Para

a purificação, que antecede qualquer acto religioso, particular ou comunitário, utilizam-

se diversos ritos, que assumem formas diferentes.

Os kami não suportam a impureza, pelo que se exerce sempre um conjunto de

práticas purificativas antes do culto propriamente dito, que tornam puros os

participantes, os objectos e as oferendas. Os ritos de purificação assumem três formas

distintas:

o misogi , que consiste na purificação por meio da água. A água é tida como

poderoso elemento purificador, crença já muito antiga, pois é referida na mitologia:

o deus Izanagi, depois de fugir dos infernos, banhou-se na água dum rio, para se

purificar das imundícies contraídas naquele lugar. Ao banhar-se ou lavar-se na água,

o fiel xintoísta obtém a purificação das impurezas, tanto das voluntárias como das

involuntárias. Pela água, purifica-se o corpo e a alma. O misogi é depois estendido

a níveis sucessivamente superiores: o coração, o meio envolvente, a alma;

o harai , que é um tipo de purificação algo próximo do exorcismo. É realizado por

um sacerdote, que agita sobre o que deve ser purificado ramos da árvore sagrada,

sakaki, ou uma vara com tiras de papel penduradas, ónusa e joga-se um punhado

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de sal. Por este meio, obtém-se a purificação de todas as manchas, corporais e

espirituais, bem como o afastamento de todas as influências malignas.

Duas vezes por ano, no fim de Junho e de Dezembro, realiza-se uma purificação

solene, ou grande exorcismo, o chamado o-harai. No recinto do santuário, reúnem-se

muitas pessoas, que recebem umas tiras de cânhamo ou de papel branco (kirinusa).

Depois de recitar a oração de purificação, o sacerdote agita a vara com os papéis,

enquanto as pessoas agitam também as suas tiras. Estas tornam-se objectos de

substituição, contendo todas as impurezas, e são lançadas a rios ou ao mar. Nalguns

santuários, um exercício semelhante é feito com papéis recortados em forma humana

(hitogata), que a pessoa passa pelo corpo, depois de neles ter escrito o nome;

o imi , que é um período de jejum a ser realizado antes das cerimónias. Tem

duração diferente, conforme a importância do rito. Consiste em abster-se de

determinados alimentos e bebidas, bem como de palavras e acções menos próprias.

É um período de recolhimento pessoal, evitando todo o tipo de impureza, sem se

ouvir música e sem se preocupar com assuntos que causem fadiga ou sofrimento.

Este tipo de purificação é principalmente realizado pelos sacerdotes, que se retiram

para outro lugar e fazem abluções. Após este tempo, qualquer pessoa está apta a

participar nas cerimónias mais importantes. Na sua vida diária, todo o fiel xintoísta

tem a obrigação de prestar homenagem aos kami, o que pode ser feito nos mais

variados lugares e ocasiões, desde a casa até ao templo passando pelo campo ou

pela rua.

Revestem uma importância particular as visitas aos santuários, que podem ser

realizadas com diferentes objectivos: prestar contas, louvar, agradecer ou rogar. Todos

os fiéis têm como dever ir visitar periodicamente o kami e relatar-lhe o que lhe tem

acontecido na vida diária, não no intuito de pedir perdão, mas para simples

informação. É comum também agradecer graças recebidas ou louvar simplesmente o

kami. O pedido de graças faz-se geralmente em favor de outra pessoa ou da sociedade,

pois considera-se de mau tom pedir para si próprio. As orações também não devem

ser muito longas, complexas, para não aborrecer o kami. Muitas vezes, são os

sacerdotes os encarregados de transmitir as preces às divindades, devendo saber

interpretar, por sinais diversos, se a oração foi ou não bem recebida. A adivinhação é

um rito que também acompanha frequentemente o rito individual: faz-se através de

varetas numeradas, dentro duma caixa, que correspondem a predições e conselhos.

Põem-se em prática também uma série de rituais específicos, entre os quais o mais

característico é o bater das palmas. Depois de reverências solenes, diante do templo do

kami, o devoto bate várias vezes as palmas, finalizando de novo com reverências. Este

gesto parece destinar-se a atrair a atenção da divindade, mas o seu sentido não se

esgota simplesmente aí.

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As ofertas feitas são geralmente de ramos de sakaki, a que se prendem tiras de papel.

Em sua casa, os fiéis têm geralmente um pequeno altar doméstico (kamidana), onde

colocam vários amuletos: um do santuário local, outro do grande santuário nacional de

Ise, e mais algum, conforme as devoções e preferências. Todas as manhãs, são feitas

oferendas: saquê (aguardente de arroz), arroz, sal. Acende-se uma lamparina e fazem-

se orações aos kami.

Um outro costume é o das peregrinações. Os japoneses apreciam peregrinar,

ganhando méritos pela austeridade e pelas privações. Mas é claro que hoje em dia as

viagens são muito mais confortáveis. É hábito ter um livrinho, onde se registam os

emblemas dos vários santuários percorridos, assim como adquirir amuletos, que

servem de recordações.

A religião xintoísta comemora um grande número de festas, com uma grande

variedade de costumes e de motivos para celebrar. Não raramente, verifica-se um

grande intercâmbio entre religião e estado civil: várias festividades xintoístas são

feitas feriados, e vice-versa. As festas dividem-se em dois grupos: as comunitárias,

respeitantes à população em geral, e as particulares, de âmbito mais pessoal e familiar.

Diversos tipos de ritos festivos são celebrados nos santuários. Cotidianamente, fazem-

se cerimónias de oferendas, de manhã. No primeiro dia de cada mês também há ritos

próprios. Estes são ritos de dimensão modesta.

Cada santuário, uma ou duas vezes por ano, celebra uma data festiva, relacionada com

o kami ou com o seu templo. O dia em que é celebrada a festa pode ter múltiplos

significados: pode corresponder ao dia de fundação do santuário, a um dia importante

na sua história ou ser um dia associado à divindade do santuário.

Durante estas festas ocorre geralmente uma procissão dos kami, razão pela qual as

festas são também chamadas de shinkó-sai ("Festa da Procissão dos Deuses") ou togyo-

sai("Festa da Augusta Travessia"). Os kami são instalados num carro (hóren) ou num

palanquim (mikoshi) e são passeados pela aldeia ou cidade.

Junta-se muita gente, que agita ramos de árvore e estandartes, fazendo daquele

acontecimento algo muito colorido e vistoso. Estabelecem-se locais de paragem, para o

kami descansar. A finalidade deste acto é simplesmente entreter e divertir a divindade,

pedindo-lhe, ao mesmo tempo, que continue a dispensar a sua protecção. Estas festas

são também ocasião para jogos, artes e danças, tendo especial significado para o

estreitamento de laços entre kami e paroquianos, e destes entre si.

Os vários momentos da vida humana, muitas vezes ligados a ritos de passagem, são

ocasião para realizar um tipo de festas de motivação mais pessoal, realizadas no seio

dafamília. São ocasião de agradecimento, de pedido e de renovação de propósitos para

com os kami.

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A primeira apresentação no santuário ou hatsumyia mairi consiste em levar

ao santuário local os recém-nascidos para serem apresentados às divindades. No caso

dos meninos a apresentação ocorre no trigésimo primeiro dia e nas meninas no

trigésimo terceiro dia (embora possam ocorrer variantes locais quanto ao número de

dias). No passado era hábito a criança ser levada ao santuário pela avó, porque se

considerava que a mãe estava impura por ter dado à luz, mas hoje em dia a criança é

muitas vezes levada pela mãe.

A tradição religiosa do xintoísmo é anterior ao budismo, que posteriormente foi

introduzido no Japão no século VI. O contato entre as duas religiões modificou ambas.

Os budistas adotaram divindades xintoístas, e estes, que consideravam seus deuses

espíritos invisíveis e sem formas precisas, aprenderam com o budismo a erigir imagens

e templos votivos. Proclamou-se inclusive que as duas religiões eram manifestações

diferentes da mesma verdade, o que originou uma tendência sincretista. Ambas

religiões representam a religiosidade japonesa e os japoneses chegam a praticar os ritos

de ambas tradições de acordo com a natureza da ocasião (por exemplo, preferem

rituais xintoístas para rituais de nascimento e casamento e rituais budistas em eventos

fúnebres).

Algumas das novas religiões japonesas tem forte influência xintoísta.

Ao contrario de religiões ocidentais, como o cristianismo. O xintoismo não pretende

expandir-se através da conversão. Por isso sua expansão fora das ilhas japonesas limita-

se, geralmente, a descendentes de japoneses como no caso da imensa colônia japonesa

no Brasil.

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IV- DOUTRINAS ESPÍRITA

1.Espiritismo

Espiritismo ou Doutrina espírita (também denominada popular e equivocadamente

Kardecismo), é a doutrina codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard

Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec.É uma doutrina estabelecida mediante a

fusão da ciência, filosofia e religião, buscando a melhor compreensão não apenas do

universo tangível (científico), mas também do universo a esse transcendente (religião).

É baseada em cinco obras básicas, escritas por ele, através da observação de

fenômenos que o mesmo atribuía a manifestações de inteligências incorpóreas ou

imateriais, denominadas espíritos.

A codificação espírita está presente em: O Livro dos Espíritos, O Livro dos

Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese;

somam-se à codificação as chamadas obras "complementares", como: “O Que é o

Espiritismo”?

O termo Espiritismo foi cunhado por Kardec em 1857 para definir especificamente o

corpo de ideias por ele reunidas e codificadas em "O Livro dos Espíritos".

Na publicação do livro "O Que é o Espiritismo", o codificador a define como uma

doutrina que trata da "natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas

relações com o mundo corporal e as consequências morais que dela emanam", e

fundamenta-se nas manifestações e nos ensinamentos dos espíritos.

Também é compreendida como uma doutrina de cunho científico-filosófico-religioso

voltada para o aperfeiçoamento moral do homem, que acredita na possibilidade de

comunicação com os espíritos através de médiuns.

Embora o Espiritismo tenha importado, a fim de estruturar seu corpo de

conhecimento, muito da metodologia científica, mostra-se importante ressaltar que ele

desenvolve-se sobre princípios que transcendem os rigores dessa metodologia, de

forma que vários dos resultados e fenômenos dentro do Espiritismo entendidos como

válidos perante sua metodologia própria não se sustentam frente à metodologia

científica - essa estabelecida com base e princípios certamente mais rigorosos e

restritivos.

Quando o termociência é usado com acepção estrita (acadêmica), tais extrapolações

ao método cientifico, embora internamente úteis ao validarem vários preceitos da

doutrina, impedem a classificação do Espiritismo como ciência; e essa doutrina não

constitui cadeira científica, mesmo compartilhando com a ciência de outrora o estudo

de vários fenômenos, e nela encontrando-se por vezes referências frequentes a vários

cientistas de renome.

O termo ciência a vigorar junto ao espiritismo caracteriza-se por acepção lata e não

estrita na grande maioria dos casos, sobretudo na atualidade. Muitos cientistas e

intelectuais renomados empenharam-se em investigações sobre a mediunidade e suas

implicações para as relações mente-cérebro, entre eles: Allan Kardec, Alfred Russel

Wallace, Alexandre Aksakof, Cesare Lombroso, Camille Flammarion, Carl

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Jung, Cesare Lombroso, Charles Richet, Gabriel Delanne, Frederic Myers,Hans

Eysenck, Henri Bergson, Ian Stevenson, J. J. Thomson, J. B. Rhine, James H.

Hyslop, Johann K. F. Zöllner, Lord Rayleigh, Marie Curie, Oliver Lodge, Pierre

Curie, Pierre Janet, Théodore Flournoy, William Crookes, William James e William

McDougall.

Aparte os rigores científicos, a doutrina muito tem se expandido e, segundo dados do

ano 2005, conta com cerca de 15 milhões de adeptos espalhados entre diversos

países, como, Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Bélgica, Estados Unidos,

Japão, Alemanha, Argentina, Canadá, e, principalmente, alguns países americanos

como Cuba, Jamaica e Brasil, sendo que este tem a maior quantidade de adeptos no

mundo. Mas vale frisar que é difícil estipular a quantidade de espíritas que existem no

mundo, pois as principais estipulações sobre isso são baseadas em censos

demográficos em que se é perguntado qual a religião dos cidadãos, porém não há

consenso entre os espíritas sobre a questão do Espiritismo ser ou não uma religião. A

causa disto é o tríplice aspecto do Espiritismo que permite classificá-lo como "ciência-

filosofia-religião", desta forma um conhecimento triplo que permite a união dessas três

formas de pensamento.

O médium e filantropo espírita Chico Xavier define e completa a ideia da seguinte

forma "De maneira que se tirarmos a religião do Espiritismo fica um corpo sem

coração, se tirarmos a ciência fica um corpo sem cabeça e se tirarmos a filosofia fica

um corpo sem membros."

No preâmbulo do livro "O Que É o Espiritismo?", Allan Kardec afirma que o Espiritismo é, ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que emanam

essas mesmas relações.

Há ainda quem conteste o aspecto religioso do Espiritismo, contudo no livro

publicado pelo codificador, intitulado "O Espiritismo na sua mais simples

expressão",22 23 claramente ele assegura: Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem

por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as conseqüências do bem

e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões.

Kardec ainda esclarece que Espiritismo é religião no Discurso de Abertura da Sessão

Anual Comemorativa do dia dos Mortos (Sociedade de Paris, 1º de novembro de

1868), em que diz: Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós

nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.

Alguns nomes são tidos como continuadores da doutrina, e de fundamental

importância para sua expansão, entre eles: Arthur Conan Doyle, Albert de

Rochas, Alexandre Aksakof, Amalia Domingo Soler, Bezerra de Menezes, Camille

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Flammarion, Chico Xavier, Divaldo Franco, Ernesto Bozzano, Gabriel

Delanne, Gustave Geley, Haroldo Dutra Dias,Herculano Pires, Hernani G.

Andrade, Hermínio C. Miranda, Léon Denis, Oliver Lodge, Raul Teixeira, Raymond

Moody, Vera Kryzhanovskaia, Waldo Vieira , William Crookes,Yvonne

Pereira e Zilda Gama.Durante o século XIX houve uma grande onda de

manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa.

Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em

móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente.

No final dos anos 1840 destacou-se o suposto caso das Irmãs Fox, nos EUA.Em 1855,

o professor Denizard Rivail, que depois adotou o pseudônimo de Allan Kardec,

pretendia investigar o fenômeno que muitas pessoas afirmavam ter experimentado na

época, das mesas girantes ou dança das mesas, em que mesas e objetos em geral

pareciam animar-se com uma estranha vitalidade.

Apesar de inciais afirmações aparentemente céticas "Eu crerei quando vir e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, deem-me a permissão de não enxergar nisso mais

que um conto para dormir em pé", assegura-se que após dois anos de pesquisas, não

tinha visto constatação de fraudes e nem um motivo para englobar todos os

acontecimentos dessa ordem no âmbito das falácias e/ou charlatanices.

Pessoalmente convencido não só da realidade do fenômeno, que considerou

essencialmente real apesar das mistificações existentes, mas também da possibilidade

de ele ser causado por espíritos, Rivail, em lugar de dedicar o resto de sua vida à busca

por "provar cientificamente" a explicação mediúnica para esses pretensos fenômenos,

sagrou-se a explorar as consequências da hipótese de que fossem causados pela ação

de espíritos.

Quanto à sua formação, foi discípulo de Pestalozzi , discípulo por sua vez

de Rousseau, apesar da sua teórica pesquisa não seguir métodos

estritamente científicos ou mesmo naturalistas.

O seu intuito era dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a

ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos. Kardec

julgava ter encontrado um novo modo de pensar o real, que uniria, de forma

ponderada, a ascendente ciência e a decadente religião.

Assim, Kardec defendia que fazia uso do empirismo científico para investigar os

fenômenos, da racionalidade filosófica para dialogar com o que presumiu

serem espíritos e analisar suas proposições, e buscou extrair desses diálogos

consequências ético-morais úteis para o ser humano.

Surgia aí, mais precisamente em 18 de abril de 1857, a doutrina espírita, sistematizada

na primeira edição de O Livro dos Espíritos.

Nos Estados Unidos, desde os primórdios de seu aparecimento, o Espiritismo tem

sido mais comumente denominado "Moderno Espiritualismo", em face da introdução

de um caráter científico-filosófico-religioso novo nas ideias já existentes do

espiritualismo.

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Nos países de língua inglesa, assim como boa parte da europa, o espiritismo ainda é

considerado, primordialmente, uma ciência de observação dos fenômenos

espiritualistas (uma espécie de "espiritualismo científico ou experimental") e, muito

menos, como umareligião.

O Espiritualismo norte-americano e inglês evoluiu de forma bem diferente do que é

conhecido como Espiritismo ou Doutrina Espírita, conforme codificado por Allan

Kardec. Segundo os seguidores da Doutrina Espírita, os fenômenos mediúnicos seriam

universais e teriam sempre existido, inclusive com fartos relatos na Bíblia.

Entre outros, os espíritas citam como exemplos mediúnicos bíblicos a proibição

de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica

nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; a consulta de Saul,

primeiro rei do antigo reino de Israel, à Médium de En-Dor, em 1 Samuel 28.

A médium vê e ouve o Espírito desencarnado de Samuel, o último dos juízes de Israel

e o primeiro dos profetas registrados na história do seu povo ; a comunicação

de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor, citada no Evangelho de Mateus 17:1-9,

entre outros.

Na filosofia antiga também há exemplos: nos Diálogos de Platão, este fala sobre

o daimon ou gênio que acompanharia Sócrates.Muitos espíritas adotam a data de 31

de março de 1848 (início dos acontecimentos mediúnicos na residência das Irmãs

Fox em Hydesville,EUA) como o marco inicial das modernas manifestações

mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e frequentes do que jamais ocorrera, o que

levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos.

No entanto, para Sir Arthur Conan Doyle e vários outros espíritas, o marco inicial das

modernas manifestações mediúnicas foi na verdade Emanuel

Swedenborg, polímata sueco do século XVII. Segundo Conan Doyle, a espiritualidade

de Swedenborg marcou o início da era em que fenômeno mediúnico deixou de ter

caráter esporádico, para transformar-se numa espécie de "invasão espiritual organizada"

na Terra.Segundo os biógrafos, Allan Kardec foi convidado por Fortier, um amigo

estudioso das teorias de Mesmer, a verificar o fenômeno dasmesas girantes com a

disposição de observar e analisar os fenômenos que despertavam curiosidade

no século XIX.

As primeiras manifestações tidas como mediúnicas aconteceram por meio de mesas se

levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e

respondendo, desse modo, sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão

proposta.Kardec, analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de

convincente neste método para os céticos, porque se podia acreditar num efeito da

eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então.

Foram então utilizados métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio

das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes corresponderia ao

número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases

respondendo às perguntas propostas.

Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não

poderiam ser atribuídas ao acaso. O ser misterioso que assim respondia, quando

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interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu

nome e forneceu diversas informações a seu respeito.

Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos

Espíritos, o Espiritismo se estruturou a partir de pretensos diálogos estabelecidos por

espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram

sobre temas religiosos sob a ótica da moral cristã, ou seja, tendo por princípio o amor

ao próximo. Desta forma foi estabelecido o preceito primário do espiritismo, de que

só é possível buscar o aprimoramento espiritual através da caridade aos semelhantes

(Lema: Fora da caridade não há salvação), além de trazer a luz novas perspectivas

sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica.

O Espiritismo pretende chegar à compreensão da realidade mediante a integração

entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a

religião. Segundo Kardec, cada uma delas, tomada isoladamente, tende a conduzir a

excessos de ceticismo, negação ou fanatismo.

A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à

obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais

profunda, para desta forma melhor compreender a realidade.

Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: “Fé inabalável só o é a que pode

encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”.

É importante ressaltar ainda que, quem quer que acredite haver em si alguma coisa

mais do que os elementos integrantes do universo natural - matéria e radiação -

acreditando assim em quaisquer entidades transcendentes ao universo tangível é, por

definição, espiritualista, independente de sua religião, sendo, portanto,

o espiritualismo enquanto oposição ao materialismo, o pilar fundamental da maioria

das doutrinas religiosas.

No caso do espiritismo, a principal diferença entre esta doutrina e a maioria das

demais religiões é sua crença na possibilidade de comunicação entre o mundo

corporal e o mundo espiritual, contudo, a fé nesta possibilidade de comunicação gera

grande confusão por parte dos leigos entre a doutrina espirita e as religiões afro-

brasileiras, contudo, cada uma delas possui origens completamente distintas umas das

outras.Allan Kardec, em "Obras Póstumas", propõe que o espiritismo seja

uma doutrina natural, passível de ser interpretada ou não como religião pelos homens,

isto é, capaz de colocar o homem – ou o espírito – diretamente em relação com

Deus.A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes

pontos:Existência e unicidade de Deus, desconstruindo o dogma da Santíssima

Trindade (Conforme está na primeira questão de "O Livro dos Espiritos" - "Deus é a

inteligência suprema, causa primária de todas as coisas".);O universo é criação de

Deus, incluindo todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados,

materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados a lei de

evolução;Existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade

inteligente da Criação Divina (para Kardec, a ligação entre o espírito e o corpo físico, é

feita por meio de um conectivo "semimaterial" que denomina de perispírito);Volta do

espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, como o mecanismo

natural para se alcançar o aperfeiçoamento a perfeição.

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No entanto os espíritas não creem na metempsicose;Conceito de "criação igualitária" de

todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente

à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-

arbítrio;Possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os

espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade (Essa comunicação é

realizada com o auxílio de pessoas com determinadas capacidades - os médiuns, como

por exemplo a chamada "escrita automática" (psicografia);Lei de causa e efeito,

compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos,

segundo a qual nossa condição é resultado de nossos atos passados;Pluralidade dos

mundos habitados, a ideia de que a Terra não é o único planeta com vida inteligente

no universo;Jesus como sendo o guia e modelo para toda a humanidade.

Segundo o espiritismo, a moral cristã contida nos evangelhos canônicos é o maior

roteiro ético-moral de que o homem possui, e a sua prática é a solução para todos os

problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade.

Além disso, podem-se citar como características secundárias:

A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do

espírito;

Progressividade do espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da

natureza;

Ausência total de hierarquia sacerdotal;

Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade

nem o fazer visando a segundas intenções, toda a prática espírita é gratuita, como

orienta o princípio moral do evangelho: “Dai de graça o que de graça recebestes”;

Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por

exemplo, perispírito, reencarnação, lei da evolução, lei de causa e

efeito, mediunidade, centro espírita;

Total ausência de exorcismos, fórmulas, palavras

sacramentais, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, amuletos, talismãs, culto

ou oferenda a imagens ou altares, danças, procissões ou atos

semelhantes, paramentos, andores, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso e

fumo, praticas exteriores ou quaisquer sinais materiais;

Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia

para oficializar casamento;

Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.

DOUTRINAS

O Livro dos Espíritos

O Livro dos Médiuns

O Evangelho Segundo o Espiritismo

O Céu e o Inferno

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A Gênese

A investigação científica dos fatos e causas dos pretensos fenômenos mediúnicos é

objeto de estudo, principalmente pela Parapsicologia. Investigações científicas sobre

mediunidade e outros "fenômenos espirituais" defendidos pelo Espiritismo

ocorreram/ocorrem inclusive em âmbito universitário, mas apesar de muitos cientistas,

inclusive renomados, já terem afirmado que evidenciaram a existência de fenômenos

do tipo em suas pesquisas, através do método científico a existência de espíritos não

encontra-se estabelecida, tampouco provada.

Existe certamente uma diversidade de alegadas práticas que vêm suscitando

curiosidade dos pesquisadores de "fenômenos espirituais" em geral - a exemplo

a psicografia, desdobramento espiritual, experiência de quase morte, electronic voice

phenomena, retrocognição,premonição, incorporação, psicofonia, psicometria, xenogl

ossia, obsessão espiritual, medicina

espiritual, clarividência, clariaudiência,poltergeist, psicopictografia, fotografia espírita,

filmagem espírita, ectoplasmia, telepatia, psicoquinesia, levitação, radiestesia.

Frente a essa diversidade de fenômenos é que Kardec, no preâmbulo de "O que é o

Espiritismo", afirma que o espiritismo "é uma ciência que trata da natureza, origem e

destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal", e é dentro

dessa perspectiva é que define-se o que naquele momento se chamou de "ciência

espírita", tendo esta por objeto central de estudo o espírito e por metodologia um

conjunto de princípios teórico-metodológicos próprios que, ao menos em definição,

far-se-iam sempre compatíveis com o estabelecido pela ciência propriamente dita -

via método científico.

É fazendo-o sempre com base nos princípios metodológico-teóricos acima definidos,

sempre esmerando-se em distinguir os acontecimentos que considerava legítimos

daqueles verossímeis de charlatanismo e daqueles oriundos da simples imaginação

superexcitada pela fé, que Kardec analisou, na "Revue Spirite" (Revista espírita) -

dirigida por ele até sua morte - vários dos relatos de fenômenos aparentemente

mediúnicos oriundos de diversas partes do mundo.

Igualmente, já na década de 1960, a pesquisa sobre reencarnação obteve repercussão

graças ao trabalho do Dr. Ian Stevenson, nomeadamente com a publicação de "Twenty

Cases Suggestive of Reincarnation" (1966).

É diante do acima exposto que mostra-se importante frisar que o termo "ciência",

quando associado ao espiritismo, transcende a "ciência" que se encontra atrelada a

cadeiras como física, química, biologia ou qualquer das demais cadeiras que integram

as ditas ciências naturais - ou mesmo as ciências sociais - áreas últimas também

condizentes, ao menos em princípio, com a definição estrita de "ciência", onde

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um estudo científico - uma teoria científica - deve necessariamente obedecer a todas as

delimitações e restrições definidas pelo método científico.

Ressalta-se assim que os aludidos fatos defendidos pelos seguidores da doutrina como

verídicos, embora tenha sobrevivido ao escrutínio de veracidade mediante testes

definidos pela metodologia própria à doutrina, não sobrevivem os escrutínios

condizentes apenas com o método científico, e nenhum deles implicou, até a presente

data, fato científico propriamente dito. Mesmo esforçando-se para manter-se em

consonância com essa, espiritismo não é, frente ao rigor da definição, ciência.

Allan Kardec buscou certamente incorporar o método científico na metodologia

inerente ao fundar o Espiritismo, contudo não restringiu os pilares da Doutrina

à ciência, definindo-a também sobre pilares da religião e filosofia; e é por não tê-lo

seguido de forma única que muitos céticos classificam o Espiritismo como

uma pseudociência ou superstição. Mesmo não considerados ciência em sentido

estrito, justamente por serem sustentados também por pilares filosófico-religiosos, os

fenômenos espíritas foram e ainda são, contudo, objetos de estudos para um número

bem expressivo de pesquisadores ao redor do mundo; e dentre os que

estudaram/estudam "fenômenos espirituais" através da metodologia inerente ao

Espiritismo, muitos alegaram/alegam inclusive dispor de fortes evidências para

corroborar de forma bem próxima à científica estrita vários dos princípios espíritas.

Conclui-se que, mesmo que estudados por várias personalidades de renome que

acabaram por contribuir de outras formas, significativas ou não, à ciência em

sua acepção moderna, as metodologias utilizadas pelas correntes espíritas são até hoje

diferentes ou transcendem o método científico, e por tal o espiritismo permanece, hoje

mais do que outrora, notoriamente muito mais atrelado às religiões do que às

academias científicas propriamente ditas.

Em termos de Medicina, indivíduos com sintomas como audição ou visão de espíritos

já foram apontados como sendo portadores de transtornos mentais mas há muito, com

as atualizações da Classificação internacional de doenças, a Medicina reconhece que

esses sintomas não possuem necessariamente causas patológicas.

É importante também lembrar que a Organização Mundial de Saúde define "saúde"

como o "estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a

ausência de doença ou enfermidade", definição que não sofreu emendas desde a

fundação da Organização, em 1948.

A Classificação internacional de doenças (CID) em sua décima atualização, a CID-10,

prevê, em seu item F.44.3 os chamados "Estados de transe e de possessão", definidos

como:

"Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria

identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente."

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108

Contudo, explicitamente descreve em alínea seguinte:

"Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados,

excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.

Nesse sentido é feita a distinção entre o estado de transe normal - a exemplo

a hipnose, não mais considerado doença - e o transtorno dissociativo psicótico, uma

patologiapsiquiátrica. Exclui-se desse item também, entre outros, a esquizofrenia.

Evidencia-se também na CID que os estados de transes tidos por espiritualistas como

oriundos de"possessões espirituais" - comuns em ambientes religiosos - não são

acobertados pelo item F.44.3 citado, e não são considerados patológicos; e apesar da

CID reconhecer tais estados de transe ao excluí-los explicitamente, também não

aponta "espíritos" como causa de transe algum, mesmo que alguns adeptos

espiritualistas insistam em dizer o contrário.

A expressão "possessão" figura no referido item da CID com acepção que remete aos

estados de agitação demasiada, de agressividade ou mesmo de fúria; e mediante tal

acepção a leitura do item associado em íntegra implica, nitidamente, o não

reconhecimento da tal causa "espiritual" (vide alínea).

Argumento em favor da asserção inicial deriva também do fato de que o

reconhecimento de tal causa pela Organização Mundial de Saúde implicaria a inserção

compulsória dessa na CID bem como a necessidade de tratamento ou

acompanhamento específicos visto serem tais estados de "possessão" prontamente

reconhecido, antes de mais nada pelos próprios espiritualistas, como situações muitas

vez prejudiciais à saúde do "possuído" e que requerem por tal tratamento ou mesmo

acompanhamento "espiritual" imediato, tratamentos esses certamente fornecidos -

segundo suas crenças - pelos referidos grupos ou autoridades religiosas capacitadas

junto aos seus templos ou ambientes de reuniões; contudo não definidos,

estabelecidos, tampouco cogitados pela Organização Mundial de Saúde.

Assim, embora evoluindo gradualmente e já reconhecendo a influência do estado de

espírito na saúde e bem-estar, verifica-se que, sendo uma cadeira científica, a medicina

mantém-se alinhada com a metodologia científica, e a existência de espíritos ainda

transcende também a medicina moderna.

Contudo, em virtude do crescente reconhecimento da importância do estado de

espírito à saúde, muitas escolas médicas ao redor do mundo oferecem cursos que

alegam unir medicina a aspectos espirituais e/ou relacionados à fé. Segundo

a Associação Médica Americana (AMA - American Medical Association), em 1992,

2% de todas as escolas médicas dos EUA ofereciam cursos relacionados à

espiritualidade. Em 2004 esse número cresceu para 67%, o que significa que dos 150

cursos de medicina lá existentes, 100 deles incluíam no currículo algum conteúdo

relacionado à medicina e espiritualidade.

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109

A Associação Médico-Espírita Internacional é representada no Brasil pela Associação

Médico-Espírita do Brasil, que foi fundada em 1995, alegando ter como missão básica

congregar todas as AMEs do País e contribuir para o estudo e a pesquisa científica no

âmbito da Medicina e do Espiritismo; promover a difusão do paradigma médico-

espírita, por meio do ensino e dos meios de comunicação, de livros e outras

publicações; contribuir para firmar esse paradigma, tanto nos cursos de formação

médica, quanto em outros; e incentivar o médico espírita no cumprimento de sua

missão humanitária, apoiando as instituições beneficentes que visem à melhoria da

saúde da coletividade, sobretudo, a dos mais carentes.

O médico homeopata e cirurgião Dr. Bezerra de Menezes, espírita, escreveu o clássico

livro "A Loucura sob Novo Prisma", buscando relacionar a questão dos transtornos

mentais ao Espiritismo e promover a aplicação de meios mais eficazes de cuidado

clínico, humanitário e sensível no campo da saúde mental.

A posição oficial da Igreja Católica proíbe terminantemente aos seus fiéis assistir a

sessões mediúnicas realizadas ou não com auxílio de médiuns espíritas - mesmo que

estes pareçam ser honestos ou piedosos - quer interrogando os espíritos e ouvindo suas

respostas, quer assistindo por mera curiosidade. Posições similares têm as religiões

protestantes.

A Doutrina Espírita, por sua vez, afirma respeitar todas as religiões e doutrinas, e

valorizar todos os esforços para a prática do bem e diz trabalhar pela confraternização

e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, embora rejeite firmemente,

reitere-se, dogmas fundamentais das outras religiões monoteístas; no caso particular do

cristianismo, destacam-se o da divindade de Cristo, o da Santíssima Trindade, o da

salvação/justificação pela graça (mais que pelas obras/esforços individuais), e o da

existência e importância da Igreja como entidade espiritual, não apenas humana.

A doutrina espírita adota a moral cristã, apesar de suas concepções teológicas

diferenciadas. Para os espíritas, nome dado aos seguidores do Espiritismo, Jesus

Cristo se trata do espírito mais elevado a já ter encarnado na Terra, bem como o

modelo de conduta para o auto-aperfeiçoamento humano, tendo provado, pela prática

da caridade absoluta e pela sua própria encarnação, que o homem pode suportar as

provas necessárias para a sua elevação espiritual.

Os espiritistas (tradução muito usada durante as primeiras décadas do século XX para

o neologismo francês spirite) ou espíritas, afirmam-se cristãos e atribuem à doutrina

espírita o caráter de uma doutrina cristã, já que consideram seguir os ensinamentos

morais de Jesus.

Entretanto, essa associação entre o espiritismo e o cristianismo é contestada pelas

religiões de tradição judaico-cristã, sob a alegação de que, embora partilhem de valores

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110

morais semelhantes, a rejeição espírita a diversos dogmas bíblicos e teológicos

preconizados por elas inviabilizaria a conceituação do espiritismo como cristão.

Os espíritas fundamentam sua defesa do caráter cristão da doutrina espírita no fato de

Allan Kardec defender que a moral cristã, isenta dosdogmas de fé a ela associados,

seria o que de mais próximo a um código de ética divino e racional o homem possui.

Os espíritas argumentam que os dogmas foram elaborados ao longo dos séculos pela

Igreja Católica, não sendo, por isso, necessário segui-los para ser cristão. Além disso, o

item 625 d'O Livro dos Espíritos afirma ser Jesus o maior exemplo moral de que

dispõe a humanidade, apesar de o espiritismo negar a ele qualquer carácter

efetivamente divino.

A professora Dora Incontri, pós-doutorada pela Faculdade de Educação

da Universidade de São Paulo, também defende o caráter cristão da doutrina espírita,

apontando, na proposta estruturada por Allan Kardec, um novo modelo de religião,

alheio a dogmas, fórmulas, hierarquias sacerdotais e baseado eminentemente no

aspecto ético-moral do indivíduo.

Considera ainda Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi como os dois

grandes precursores da ideia de uma "religiosidade natural", predominantemente

moral, e defende que "evidenciou-se com a publicação de "O Evangelho segundo o

Espiritismo" e de "O Céu e o Inferno" que, embora não o confessasse, ele [Kardec]

estava fazendo uma nova leitura do Cristianismo".

Por outro lado, um outro estudioso da religiosidade brasileira, o Prof. Antônio Flávio

Pierucci, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, centra sua

análise em aspectos sociológicos ao defender que o espiritismo não é uma religião

legitimamente cristã. Segundo ele, os espíritas utilizam o cristianismo para se

legitimarem. Pierucci defende também que o vínculo com a Igreja Católica, defendido

pelos espíritas serviu, durante décadas, para lutar contra a discriminação e a

intolerância.

A Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira do Santo Ofício, em 1 de junho de

1917 condenou a prática do Espiritismo e proibiu aos católicos participarem, sob

qualquer pretexto de reuniões espíritas:

"(...) partecipare, con medium o senza medium, servendosi o no dell'ipnotismo, a

sedute o a manifestazioni spiritiche, anche se hanno un'apparenza onesta o pia, sia

s'interroghino le anime o gli spiriti, sai si ascoltino le risposte, sia ci si accontenti di fare

da osservatori, quand'anche si dichiarasse tacitamente o espressamente che non si

vuole avere alcun rapporto con gli spiriti cattivi."

Para boa parte das religiões cristãs, a reencarnação está em desconformidade aos

ensinamentos da Bíblia, a ressurreição, ao conceito de salvação e do eterno suplicio.

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111

Exemplificam a passagem do apostolo Paulo que determina o estado de toda a

humanidade após a morte. "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez,

vindo depois disso o juízo..." (Hebreus 9:27). Concluindo que o "juízo" refere-se a

"condição final" em que todos os humanos serão julgados, vivos e mortos, estes últimos

ressuscitarão.

Para a doutrina espírita, entretanto, a reencarnação foi confundida pelo nome

de ressurreição, que significa literalmente "voltar à vida", resultando as diversas causas

de anfibologia.

A crença de que o homem poderia reviver é antiga e fazia parte dos dogmas judeus,

porém não era determinado de que maneira o fato iria ocorrer, pois apenas tinham

vagas e incompletas noções acerca da alma e de sua ligação com o corpo.

Segundo alguns adeptos do espiritismo, o apostolo Paulo na citação anterior, desvenda

a duvida referente à ressurreição e desfaz a crença da volta do espírito no corpo que já

está morto para morrer segunda vez no mesmo, sobretudo quando os elementos da

matéria orgânica já se acham dispersos e absorvidos pelo tempo, pois todos os homens

morrem apenas uma vez a cada existência corpórea.

Afirmam ainda que o "juízo" refere-se ao estado individual (não coletivo) que sucede a

morte do corpo (erraticidade). Embora não resolva profundamente o problema da

ambiguidade diversas passagens bíblicas enfatizam a reencarnação, segundo o

espiritismo, em Job 14:10-14 , Marcos 6:14-16, Marcos 9:11-13, e João 3:1-12.

O juízo final, representa, segundo a doutrina espírita, o processo de Regeneração da

Humanidade, no qual a Terra sofrerá uma lenta transformação físico-moral, em que se

separarão os espíritos que desejam seguir o caminho do bem daqueles que

permanecerem no mal — evento simbolizado na parábola do julgamento das

nações no Evangelho de Mateus 25:31-46, e pela parábola do trigo e do joio em

Mateus 13:24-30.

Todavia, essa desagregação não fará com que os "espíritos imperfeitos" permaneçam

eternamente no sofrimento (situação semelhante encontrada no Evangelho de

Lucas 15) , pois tudo que há no universo está destinado à lei de evolução.

A lei de evolução está intimamente ligada à reencarnação e a lei de causa e efeito. A

doutrina espírita explica que, sendo o espírito dotado de livre-arbítrio, este responderá

pelo bem ou mal que proporcionar a si mesmo e aos outros.

A lei de causa e efeito procura explicar os acontecimentos da vida atribuindo um

motivo justo que gera uma consequência proveitosa para o espírito. Através da

reencarnação o espírito pode provar as experiências adquiridas na pratica do bem ou

reparar o mal que praticou em anteriores encarnações.

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112

As religiões de matriz judaico-cristã entendem que, com a Lei dada a Moisés no Antigo

Testamento, Deus interditou à antiga Israel as comunicações com o mundo dos

espíritos e o uso de poderes sobrenaturais por eles concedidos. "… não haverá no meio

de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, que interrogue os

oráculos, pratique adivinhação, magia, encantamentos, enfeitiçamentos, recorra à

adivinhação ou consulte os mortos (necromancia)" (Deuteronômio 18:10-14).

Afirmam ainda que essa proibição é confirmada no Novo Testamento, pelas

referências contidas nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos aos "espíritos

impuros".

A citação do apóstolo Paulo em Gálatas5:20, afirma que quem pratica "feitiçaria" (ou

bruxaria, o termo grego usado é farmakía) … não herdará o Reino de Deus".

(Na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o termo é vertido por

"espiritismo".

Mas esta aplicação da palavra não se refere, por óbvias razões cronológicas, à doutrina

espírita). É comum encontrar referências ao uso do termo Espiritismo para denominar

outras doutrinas e cultos que não sejam aquela codificada por Allan Kardec.

Já para a doutrina espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si, pois esta

seria fundamentada em um fenômeno natural.

A condenação bíblica, que também encontra apoio no movimento espírita, é a uso dos

recursos mediúnicos para finalidades frívolas ou voltadas ao benefício próprio.

Segundo ela, diversas passagens bíblicas exemplificariam a fenomenologia mediúnica, a

exemplo de I Samuel 9:9, II Crônicas 16:7, e Mateus 17:1-8.

Ao mesmo tempo, a postura da Doutrina Espírita propõe que se avaliem os textos

bíblicos, quando verdadeiramente originais, de forma crítica, levando em conta o seu

patamar simbólico, em função dos recursos vocabulares e figuras de linguagem

disponíveis à época, em ensinamentos dirigidos a um povo simples e sem repertório, e,

consequentemente, desprovido das complexidades e riquezas linguística, cultural e

material necessárias para a compreensão de conceitos que nem mesmo o homem

atual, como todas as suas aquisições intelectuais, é capaz de compreender em toda a

sua profundidade.

Na cidade brasileira de Santos, em 1910 surgiu uma dissidência do movimento

espírita, que se denominou "Espiritismo Racional e Científico Cristão" e,

posteriormente,Racionalismo cristão, sistematizada por Luís de Matos e Luís Alves

Tomás.

No Brasil, desde a segunda metade da década de 1950, alguns centros espíritas seguem

a doutrina ditada pelo espírito Ramatis (corporificada sobretudo nas

obraspsicografadas por Hercílio Maes). Distinguem-se dos centros espíritas tradicionais

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em função da maior ênfase ao universalismo (origem comum das religiões) e ao estudo

comparado de religiões e filosofias espiritualistas ocidentais e orientais.

Nota-se também a influência mais acentuada de correntes de pensamento orientais

(tais como o budismoe o hinduísmo) e a proximidade com

a cosmogonia do espiritualismo universalista.

Surgida no Brasil, também como uma dissidência do movimento espírita, desde

setembro de 2002. Sem deixar de seguir a Doutrina Espírita, afirma fazê-lo com maior

seriedade do que o movimento brasileiro em si, argumento usado para o afastamento.

Desde o século XIX, mais notavelmente na França e no Brasil, existem conflitos de

opinião entre os espíritas, ditos, equivocadamente, "kardecistas" e "roustainguistas",

consoante a admissão ou não dos postulados da obra "Os Quatro Evangelhos",

coordenada por Jean-Baptiste Roustaing, principalmente acerca da natureza do corpo

de Jesus. Para os chamados "roustainguistas" Jesus teve um "corpo fluídico", de origem

material diferente da nossa matéria. Já os espíritas acreditam que Jesus possuía um

corpo de origem material, como de qualquer ser humano.

Após o fim da parceria com o médium Chico Xavier em 1968, o médium Waldo

Vieira inicia pesquisa própria sobre o fenômeno denominado "projeção da

consciência" (no Espiritismo referido como "desdobramento espiritual").

Consequentemente, em 1987 sistematiza o movimento de cunho paracientífico

chamado Conscienciologia.

A Federação Espírita Brasileira foi fundada em 2 de janeiro de 1884, no Rio de

Janeiro. Em 2004 completou 120 anos. É uma sociedade civil, religiosa, educacional,

cultural e filantrópica, que tem por objeto o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo

em todos os seus aspectos, com base nas obras da codificação de Allan Kardec e nos

Evangelhos canônicos. O Departamento Editorial da FEB possui um catálogo de mais

de 400 títulos que passam de 40 milhões de livros vendidos.

Todos inspirados na Codificação Kardequiana: romances, mensagens, contos,

crônicas, textos científicos e filosóficos, vídeos, apostilas e CDs de canções espíritas.

O Conselho Espírita Internacional é um organismo resultante da união das associações

representativas dos movimentos espíritas nacionais e atualmente possui 35 países

associados. Foi constituído em 28 de novembro de 1992 em Madrid, na Espanha. Seus

objetivos são:

Promoção da união solidária e fraterna das instituições espíritas de todos

os países e a unificação do movimento espírita mundial;

Promoção do estudo e da difusão da Doutrina Espírita em seus três

aspectos básicos, quais sejam o científico, o filosófico e o religioso;

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Promoção da prática da caridade material e moral, conforme ensina a

Doutrina Espírita.

O principal evento organizado pelo CEI é o Congresso Espírita Mundial, realizado a

cada três anos.

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V- IGREJAS CRISTÃS

1.Pentecostalismo

Pentecostalismo é um movimento de renovação de dentro do cristianismo, que coloca

ênfase especial em uma experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no

Espírito Santo.

O termo Pentecostal é derivado Pentecostes, um termo grego que descreve a festa

judaica das semanas. Para os cristãos, este evento comemora a descida do Espírito

Santo sobre os seguidores de Jesus Cristo, conforme descrito no Livro de Atos,

Capítulo 2.

Pentecostais tendem a ver que seu movimento reflete o mesmo tipo de poder

espiritual, estilo de adoração e ensinamentos que foram encontrados na Igreja

primitiva. Por este motivo, alguns pentecostais também usam o

termo Apostólica ou Evangelho Pleno para descrever seu movimento.

O pentecostalismo é um termo amplo que inclui uma vasta gama de diferentes

perspectivas teológicas e organizacionais. Como resultado, não existe nenhuma

organização central ou igreja que dirige o movimento.

Os pentecostais podem ser inseridos em mais de um grupo cristão, indo

do trinitariano até o não-trinitariano. Muitos grupos pentecostais são afiliados

ao Conferência Mundial Pentecostal. No Brasil é comum os pentecostais se auto-

identificarem com termo evangélico.

A ênfase do pentecostalismo sobre o charisma o coloca dentro do cristianismo

carismático, um enorme agrupamento de cristão que tem aceitado alguns

ensinamentos pentecostais sobre o batismo no Espírito e dons espirituais. O

pentecostalismo está teologicamente e historicamente próximo ao Movimento

Carismático, influenciando tão significativamente o movimento, que às vezes os

termospentecostal e carismático são usados indistintamente. Todo o movimento

pentecostal no mundo inclui cerca de 588 milhões de pessoas.

O Pentecostes em grego pentekostos (cinqüenta), foi um feriado anual judaico,

também conhecido como a Festa das Semanas, festa dos primeiros frutos da colheita.

Ela é celebrada cinqüenta dias depois da Páscoa. O livro bíblico de Levítico descreve-o

como segue:

Contareis para vós outros desde o dia imediato ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia imediato ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias; então, trareis nova oferta de manjares ao SENHOR. Das vossas moradas trareis dois pães para serem movidos; de duas dízimas

de um efa de farinha serão; levedados se cozerão; são primícias ao SENHOR. Com o pão oferecereis sete cordeiros sem defeito de um ano, e um novilho, e dois carneiros; holocausto serão ao SENHOR, com a sua oferta de manjares e as suas libações, por oferta queimada de aroma agradável ao SENHOR. Também oferecereis um bode, para oferta pelo pecado, e dois cordeiros de um ano, por oferta pacífica. Então, o

sacerdote os moverá, com o pão das primícias, por oferta movida perante o SENHOR,

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com os dois cordeiros; santos serão ao SENHOR, para o uso do sacerdote. No mesmo dia, se proclamará que tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis; é estatuto perpétuo em todas as vossas moradas, pelas vossas gerações. Quando segardes

a messe da vossa terra, não rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da vossa sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.Levítico 23:15-22

As igrejas pentecostais fazem alusão a este acontecimento como um símbolo para

todos os que se converteram ao cristianismo no dia de Pentecostes, seriam os

primeiros frutos da colheita de uma grande parte dos milhões de almas.

Aproximadamente entre 835 e 805 a.C a terra de Judá foi atingida com uma praga de

gafanhotos que destruiu os pastos e as folhagens das árvores, em apenas algumas horas.

Todas os cultivos se perderam, a fome e a seca devastaram o país inteiro.

O profeta Joel ao ver esse período terrível, deu a promessa do derramamento do

Espírito Santo, que seria a restauração de tudo o que o mal tinha destruído,

descrevendo-o como segue:

E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos

e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. E

acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar.Joel 2:28-32

O evangelho de João, menciona um sucessor, o qual é revelado a João Batista, que

cumpriria a promessa de derramar o Espirito Santo sobre os crentes. Ele diz: "Aquele

sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo".

João 1:33 Ora, a pessoa sob a qual o Espírito desceu foi Jesus Cristo. João Batista

testemunhou que quem viria depois dele iria batizar com o Espírito Santo (Mateus

3:11).

Depois que Jesus Cristo ressuscitou ordenou a seus apóstolos e discípulos a

permanecer em Jerusalém até serem revestidos de poder do alto. (Lucas 24:49) Do

mesmo modo, em Marcos 16:17, Jesus diz a seus discípulos que em seu nome

expulsariam os demônios e falariam novas línguas. No livro de Atos, o autor Lucas fala

de um mandato mais específico que Jesus disse aos seus discípulos, descrevendo-o

como segue:

Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.Atos 1:8

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Neste capítulo de Atos, Jesus disse aos seus seguidores que João Batista pregou antes

de finalmente cumprido dentro de poucos dias que Jesus chamou a promessa do Pai.

Dez dias depois Jesus subiu ao céu, chegou o dia de Pentecostes, cento e vinte pessoas

estavam esperando no cenáculo unânime a promessa de Jesus Cristo tinha feito antes.

De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.Atos 2:2-3

Isso ocorreu há cerca de nove horas da manhã e havia testemunhas de várias

nacionalidades, como medos, partos, africanos, egípcios, judeus, árabes e galileus que

ouviram falar das maravilhas de Deus. No entanto, houve muitos que pensavam que

estavam bêbados.

Após o evento, o apóstolo Pedro explica a profecia de Joel preenchidas para a igreja

cristã. Durante muitos anos o derramamento do Espírito Santo havia sido reservada

exclusivamente para os líderes nacionais e espirituais de Israel, mas na época foi

concedido a "toda carne".

O Novo Testamento relata que a igreja primitiva acreditava no batismo no Espírito

Santo (Atos 11:15-16). Os escritores cristãos do segundo século usaram a palavra grega

ou carisma, o que significa "presente" ou "dom divino" para se referir a estes dons, isto

é, a mesma palavra que ele usou o apóstolo Paulo em sua lista de dons do Espírito,

que incluía o falar em línguas (1 Coríntios 12).

Assim como os cristãos do primeiro século praticavam a imposição das mãos para a

ocorrência dessa experiência nos crentes (Atos 8:14-17). A seguir estão vários eventos

realizados em igrejas cristãs do Novo Testamento:

A casa de Cornélio

De acordo com Atos 10:46 em uma visão que teve o apóstolo Pedro no telhado de

uma casa em Jope, Deus revelou que devia amar seus companheiros, apesar de não-

judeus, porque diante de Deus não há acepção de pessoas. O centurião Cornélio da

corte italiana, enviados por ele para chegar a Cesaréia. Pedro concordou em ir à

Cesaréia por ordem de Deus, e chegou à casa de Cornélio. Quando Pedro começou

seu discurso, o Espírito Santo desceu sobre os presentes e começaram a falar em

línguas, glorificando a Deus.

A Igreja em Éfeso

Quando o apóstolo Paulo chegou a Éfeso, ele encontrou uma situação muito

comprometedora. Os cristãos da igreja que tinham sido batizados pelo batismo de

João e nem sequer sabiam que existia o Espírito Santo, depois de Paulo batizou-os na

ordenança de Jesus e colocando as mãos sobre eles veio o Espírito Santo e falaram em

línguas e profetizaram. (Atos 19:5).

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A Igreja na Samaria

Pedro e João tinham chegado a Samaria, onde havia um grupo de cristãos batizados

em água, mas não tinham sido batizados com o Espírito Santo. É por isso que Pedro e

João impuseram suas mãos sobre eles (Atos 8:17). Esta é a única passagem em Atos

que não menciona que os crentes têm falado em novas línguas e é muito discutido. No

entanto, muitos grupos pentecostais modernos, acreditam que se o fizessem, porque

Simão o Mago, que quis comprar o dom do Espírito Santo tinha visto um grande

milagre.

São várias as instâncias de fenômenos que historiadores pentecostais (como Allan

Anderson) interpreta como predecessores do pentecostalismo.

Inácio de Antioquia 67-110 d.C. afirmou em sua carta aos filadelfienses (Inácio aos

filadelfienses 7:01) que profetizou pelo Espírito:"Estando no meio de vós gritei, disse em alta voz, uma voz de Deus:'Permanecei unidos (…)'. Aqueles suspeitaram que eu disse isso porque previa a divisão de alguns, mas aquele pelo qual estou acorrentado é minha testemunha que eu não sabia através da carne. Foi o Espírito que me anunciou, dizendo: '(…), guardai vosso corpo como templo de Deus, amai a união, fugi das

divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também é do seu Pai".

Em sua carta a Policarpo, ele também declara: "Quanto as coisas invisíveis, pode que te sejam manifestadas a ti, para que nada te falte e tenhas abundância em todo dom espiritual".

Policarpo de Esmirna 70-160 d.C. teve uma revelação de Deus de como

morreria. "Orando, ele teve uma visão, três dias antes de o prenderem: viu seu travesseiro queimado pelo fogo. Voltando-se para seus companheiros, disse: 'Devo ser queimado vivo!'.

Embora não haja registros ou indícios de derramamento do Espírito Santo durante a

Idade Média, alguns autores mencionam que o valdenses, albigenses, e os frades

mendicantes, falaram em línguas na Europa Meridional.

Jansenitas 1640-1801 fizeram parte de um movimento agostiniano radical na Igreja

Católica Romana (seu adepto mais famoso foi o cientista e apologista francês Blaise

Pascal), alguns de seus adeptos em Port Royal ficaram conhecidos pelos seus sinais e

prodígios, dança espiritual, curas, e elocuções proféticas. Alguns dizem que falaram em

línguas estranhas e interpretaram as línguas que lhes foram endereçadas.

Serafin de Sarov 1759-1833 líder carismático da igreja ortodoxa russa, afirmou

que o objetivo da vida cristã é a recepção do Espírito Santo. Serafim também é

lembrado pelo dom de cura.

Os Huguenotes foi o nome dado ao calvinistas da França, houve manifestações

carismáticas entre eles em Cevennes, durante a perseguição determinada por Louis

XIV. Em seguida, uma nota sobre os huguenotes:

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119

Respeitando as manifestações físicas, há pouca discrepância entre os relatos de amigos

e inimigos. As pessoas atingidas eram homens e mulheres, idosos e jovens. Muitos

eram crianças com idades entre os nove ou dez anos.

Eles emergiram do povo, disseram seus inimigos, da massa de ignorantes e sem

cultura; sem poder ler e escrever, em sua maioria, e falando o jargão da província

diariamente, que era a única coisa que poderia usar para falar.

Tais pessoas caíam repentinamente para atrás e, permaneciam estendidas na terra,

experimentavam contorções estranhas e aparentemente involuntárias; seus peitos

pareciam inchar-se e seus estômagos inflar-se.

Ao sair de tal condição, gradualmente voltavam a ganhar o poder da fala

instantaneamente. Começavam, muitas vezes, com uma voz interrompida por soluços

e logo derramavam torrentes de palavras, clamores de misericórdia, chamados ao

arrependimento, exortações aos espectadores para que parassem de frequentar as

missas, admoestações à igreja de Roma e profecias relativas ao juízo vindouro.

Da boca de crianças emergiam textos da Escritura e discursos em um francês muito

bom e fácil de entender, um [francês] que nunca usavam quando estavam conscientes.

Quando o transe terminava, declaravam que não se lembravam de nada do ocorrido

de que haviam dito. Em raras ocasiões recordavam impressões vagas e gerais, mas nada

a mais. Não havia aparência de engano, nem indicação de que ao pronunciar suas

predições com relação a eventos futuros, tivessem alguma idéia de prudência ou

dúvida tocante a veracidade do que haviam predito.

O Movimento de Santidade foi um movimento que dava muita ênfase que nesta vida

presente pela fé, é possível obter a inteira santificação, ou perfeição cristã através do

Espírito Santo. A partir de 1840 se iniciou a pregar sobre o batismo no Espírito Santo,

seu principal contribuidor foi John Morgan, o qual escreveu: "O dom do Espírito

Santo, em sua plenitude pentecostal, não devia restringir-se a igreja apostólica; é o

privilégio compartilhado por todos os crentes.

O Pentecostalismo clássico é o que começou em 1901 entre cristãos que se reuníam na

rua Azusa em Los Angeles, EUA e simultaneamente em vários outros lugares na

América do Norte. É a maior corrente pentecostal entre todas as demais, pois está

conformada por organizações religiosas que se formaram naqueles anos e mantém

manifestações espirituais e doutrinas similares.

Dentro do pentecostalismo clássico norte-americano existem três orientações

principais: Santidade-Wesleyana, Vida Superior e Unitários. Exemplos de

denominações wesleyanas de santidade inclui a Igreja de Deus em Cristo e a Igreja

Pentecostal Internacional de Santidade. A primeira foi a Congregação Cristã, fundada

por L. Francescon, logo depois Daniel Berg conhece atraves da Congregação o

movimento pentecostal e funda no Brasil a Assembleia de Deus logo depois da CCB,

A Igreja do Evangelho Quadrangular é um exemplo do ramo Vida Superior.

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120

Algumas igrejas unitárias inclui a Igreja Internacional Pentecostal Unida , Assembleia

Pentecostal do Mundo, e Assembléias do Senhor Jesus Cristo. Muitas igrejas

pentecostais são afiliadas com a Conferência Mundial Pentecostal. O pentecostalismo

reivindica cerca de 588 milhões de adeptos no mundo inteiro.

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, os cristãos das igrejas tradicionais nos

Estados Unidos, Europa, e outras partes do mundo começaram a aceitar a idéia

pentecostal que o batismo no Espírito Santo está disponível aos cristãos de hoje, ainda

mesmo se não aceitassem outros princípios do pentecostalismo formal. O Movimento

carismático começou a crescer nas principais denominações. Emergiram carismáticos

episcopais, luteranos, católicos, metodistas, batistas e durante esse período de

tempo,carismático foi utilizado para se referir a movimentos semelhantes que existiam

dentro das denominações. Pentecostais, por outro lado, usaram o termo para se referir

àqueles que faziam parte das igrejas e denominações que cresceram a partir do início

do avivamento da rua Azusa. Ao contrário dos pentecostais clássicos, que formaram

estritamente congregações ou denominações pentecostais, carismáticos adotaram como

seu lema, "floresce onde Deus plantou você."

Nas últimas décadas, muitas igrejas carismáticas independentes e ministérios formaram

ou se desenvolveram suas próprias denominações, igrejas e associações, como o

Movimento da Vinha. Na década de 1960 e ainda hoje, muitas igrejas pentecostais

ainda são rigorosas com os códigos de vestimenta e proíbem determinadas formas de

entretenimento, criando uma distinção cultural entre os carismáticos e pentecostais. Há

uma grande sobreposição entre o agora e os movimentos carismáticos pentecostais,

apesar de alguns pentecostais ainda manterem um entendimento estrito de "princípio

de santidade de vida".

Pentecostais enfatizam o ensino do "evangelho pleno" ou "evangelho quadrangular". O

termo "quadrangular" refere-se as quatro crenças fundamentais do pentecostalismo:

Jesus salva, conforme João 3:16; batiza com o Espírito Santo, conforme Atos 2:4; cura

o corpo, conforme Tiago 5:15; e está vindo novamente para aqueles que foram salvos,

conforme I Tessalonicenses 4:16–17. Eles são evangelicais na medida em que

enfatizam a confiabilidade da Bíblia e a necessidade de transformação de vida do

indivíduo por meio da fé em Jesus.

Pentecostais, assim como outros evangelicais, geralmente aderem a doutrina da divina

inspiração e inerrância bíblica, alguns ainda subscrevem à doutrina da infalibilidade

bíblica. Essa crença é expressa nas declarações doutrinárias de diversas organizações

pentecostais, como a Declaração de Verdades Fundamentais das Assembléias de

Deus, a Afirmação de Fé da Igreja de Deus em Cristo, e a Declaração de Fé da Igreja

do Evangelho Quadrangular. Entretanto, pentecostais diferem de outros evangelicais

por rejeitarem o cessacionismo. Pentecostais acreditam que os dons espirituais, assim

como o falar em línguas e profecia, não cessaram após o fechamento do cânon

bíblico e ainda estão disponíveis para os cristãos modernos.

Para evitar confusão quando se estuda as crenças pentecostais, os teólogos Duffield e

Van Cleave identificam três usos distintos da palavra "batismo" pelos pentecostais ao

analisar o Novo Testamento:

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Batismo para dentro do corpo de Cristo: Refere-se à salvação. Todo crente em

Cristo é feito parte de seu corpo, a Igreja, através do batismo. O Espírito Santo

é o agente, e o corpo de Cristo é o meio.

Batismo em água: Simboliza o morrer para o mundo e o viver em Cristo, o

batismo nas águas é um símbolo externo do que já foi realizado pelo Espírito

Santo, a saber, o batismo para dentro do corpo de Cristo.

Batismo com o Espírito Santo: Esta é uma experiência de capacitação distinta do

batismo para dentro do corpo de Cristo. Neste batismo, Cristo é o agente e o

Espírito Santo é o meio.

A crença central do pentecostalismo é que através

da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo, os pecados podem ser

perdoados e a humanidade reconciliada com Deus. Este é o Evangelho ou "boa

notícia". A exigência fundamental do pentecostalismo é que as pessoas sejam nascidas

de novo. O novo nascimento é recebido pela graça de Deus mediante a fé em Cristo e

a sua aceitação como Senhor e Salvador pessoal.

No nascer de novo, o crente é regenerado, justificado, adotado na família de Deus,

e santificado. A soteriologia pentecostal é geralmente mais arminiana que calvinista.

A segurança do crente é uma doutrina realizada dentro do pentecostalismo, no

entanto, fé e arrependimento são necessários para a salvação e continuam a ser

necessários para a continuação dessa salvação. Pentecostais acreditam em um céu e

um inferno literais, o primeiro para aqueles que aceitaram o dom divino da salvação, e

o segundo para aqueles que o têm rejeitado.

Tradicionalmente, os pentecostais ensinam que a "evidência física inicial" do batismo

no Espírito Santo é o falar em línguas. Embora falar em línguas seja um sinal imediato

e óbvio de quem foi cheio do Espírito Santo, esta não é a única evidência. Grupos

pentecostais que aderem à doutrina da evidência inicial creêm que falar em línguas "é

seguido por todas as evidências da semelhança de Cristo que marca uma vida coerente

cheia do Espírito Santo".

Apesar do falar em línguas freqüentemente receber forte ênfase entre os pentecostais,

a maioria também reconhece outros dons sobrenaturais que podem ser recebidos a

partir do Espírito Santo. A maioria dos pentecostais reconhecem que nem todos os

cristãos, necessariamente, recebem todos esses dons. Uma lista é freqüentemente

citada em 1 Coríntios 12:8-11 que inclui os seguintes dons: palavra de

sabedoria (capacidade de fornecer orientação sobrenatural em decisões), palavra de

conhecimento (transmissão de informações fatuais do Espírito), fé, cura, operação de

milagres, profecia (pronunciamento de uma mensagem de Deus, não necessariamente

envolvendo o conhecimento do futuro), discernimento de espíritos (capacidade de

dizer se os maus espíritos estão em serviço), línguas, e interpretação de línguas.

Pentecostais são continuacionistas, isso significa que eles acreditam que todos os dons

espirituais, incluindo os miraculosos ou "dons", encontrados em 1 Coríntios 12:4-

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11,12:27-31, Romanos 12:3-8, e Efésios 4:7-16 continuam a operar dentro da igreja no

tempo presente. Pentecostais colocam os dons do Espírito em contexto com o Fruto

do Espírito Santo. O fruto do Espírito é o resultado do novo nascimento e do contínuo

permanecer em Cristo. É pelo fruto exibido que o caráter espiritual é julgado. Os dons

espirituais são recebidos como resultado do batismo com o Espírito Santo. Os dons

são livremente dados pelo Espírito Santo, não podem ser ganhos ou merecidos, eles

não são um critério adequado para a avaliar a vida ou maturidade espiritual de

alguém. Pentecostais ver nos escritos bíblicos de Paulo uma ênfase em tanto ter caráter

quanto poder, exercendo os dons em amor.

Assim como fruto deve ser evidente na vida de cada cristão, os pentecostais acreditam

que para cada crente cheio do Espírito foi dado alguma capacidade para a

manifestação do Espírito. É importante notar que o exercício de um dom é uma

manifestação do Espírito, não da pessoa dotada e, apesar dos dons operarem através

de pessoas, eles são principalmente dons dados à igreja. Eles são valiosos apenas

quando ministram ganho espiritual e edificação para o corpo de Cristo. Escritores

pentecostais apontam que as listas de dons espirituais no Novo Testamento parecem

não ser exaustivas. Acredita-se que há tantos dons como existem ministérios úteis e

funções na igreja. Um dom espiritual é muitas vezes exercido em parceria com outro

dom. Por exemplo, em um culto numa igreja pentecostal, o dom de línguas pode ser

exercido seguido pela operação do dom de interpretação.

De acordo com os pentecostais, todas as manifestações do Espírito devem ser julgados

pela igreja. Isto é possível, em parte, pelo dom de discernimento de espíritos, que é a

capacidade de discernir a se fonte de uma manifestação espiritual é o Espírito Santo,

um espírito maligno, ou o espírito humano.

Pentecostais normalmente concordam com o princípio protestante do Sola Scriptura.

A Bíblia é a " única regra do suficiente de fé e prática", ela é "fixa, completa, e uma

revelação objetiva".

Paralelamente a este grande respeito pela autoridade das Escrituras está a crença de

que o dom de profecia continua a ser dado aos crentes em tempos pós-bíblicos. A

profecia não é compreendida pelos pentecostais como a capacidade de pregar, embora

a profecia e a pregação possam sobrepor-se às vezes. Pentecostais definem profecia

como uma "manifestação espontânea da graça de Deus, recebida por revelação, (às

vezes como uma visão, em outros momentos como sentimentos ou pensamentos) e

falada pelo Espírito através de um cristão, na língua dos destinados à ouvir a palavra

profética. Se vinda como palavra falada em uma situação específica".

Como todos os dons, a profecia é dada a comunidade cristã para encorajar e fortalecer

a fé. A profecia sempre está subserviente e sob a autoridade das Escrituras.

Falar em línguas é uma distintiva prática pentecostal. Um crente pentecostal em uma

experiência espiritual pode vocalizar fluentemente expressões ininteligíveis (glossolalia),

ou articular uma linguagem alegadamente natural até então desconhecida para ele

(xenoglossia).

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Dentro pentecostalismo, geralmente há uma distinção entre dois tipos de línguas.

Primeiro, muitos a vêem como a evidência inicial do Batismo no Espírito Santo,

quando um crente fala em línguas pela primeira vez. A maioria das denominações

pentecostais a consideram como o sinal de que o crente está cheio do Espírito

Santo. Segundo, pentecostais frequentemente referem-se a um dom de línguas. Isto é,

quando uma pessoa é movida por Deus para falar em línguas "conforme o Espírito

Santo lhes concedia" (At 2:4). Este dom de línguas pode ser exercido em qualquer

lugar, mas muitas denominações insistem que só deve ser exercido quando uma pessoa

que tem o dom de interpretação de línguas está presente, mesmo que seja outra

pessoa, ou o mesmo que dá a língua. O intérprete deve traduzir as língua estranha na

língua nativa dos cristãos, para que todos possam entender a mensagem. Estes

regulamentos de ordem da igreja são tomadas de (1Co 14.13) e (1Co 14.27-28).

Muitos pentecostais, principalmente após o crescimento e a influência do movimento

carismático, acreditam que o dom de línguas é diferente de línguas como uma lingua

de oração ou falar em línguas (uma língua desconhecida). De acordo com este ponto

de vista, falar em línguas é uma declaração concedida por Deus para a oração, e o dom

de línguas é um raro milagre em que Deus permite que um cristão fale em uma língua

estrangeira que não tenha previamente estudado a fim de proclamar o evangelho.

Outros pentecostais acreditam que elas são tudo a mesma coisa, em que o dom de

línguas seja falar línguas desconhecidas (incluindo a dos anjos) não com a finalidade de

se comunicar com os outros, mas para "a comunicação entre o espírito e

Deus". Quando utilizado esse caminho, falar em línguas é muitas vezes referido como

uma "lingua de oração". Alguns grupos de pentecostais enfatizam a idéia de falar em

línguas somente quando o Espírito Santo vem sobre um indivíduo, e não crêem que

alguém pode legitimamente falar em línguas na vontade.

No início do século 20, a maioria dos missionários pentecostais, juntamente com

proeminentes líderes pentecostais, sustentaram que o falar em línguas era uma forma

de xenoglossia em que o Espírito Santo lhes permite falar em outras línguas. Contínuas

investigações repetidamente concluíem que o falar em línguas era uma forma de dicção

que faltava toda a estrutura sintática, e quase sempre consistia de sílabas tiradas da

língua materna do orador, teólogos pentecostais redefiniu suas crenças. A maioria

prega agora que falar em línguas é uma lingua de oração pessoal, ou glossolalia, com as

excepções acima referidas, não xenoglossia.

Orar pelos doentes é uma importante prática em muitas igrejas pentecostais. As

práticas variam, mas geralmente esta oração inclui o pastor ungir o doente com azeite e

a ajuda dos anciãos da igreja, juntamente com os colaboradores pastorais, e

a imposição de mãossobre o requerente da oração. Baseado no relato de Atos 19:11-

12, alguns pentecostais ungem e oram sobre "panos de oração", que podem ser

colocados perto de uma parte do corpo doente.

Embora fenômenos como estes estejam presentes no pentecostalismo desde o seu

início, nem todos os pentecostais concordam com a legitimidade bíblica e adequação

de algumas ou de todas as formas de manifestações físicas. A freqüência e a

importância de sua ocorrência em um culto pentecostal pode variar, de ser comum em

uma igreja local a ser inexistente em outra.

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Uma definição diferente, mais recente de dançar no Espírito desenvolveu-se também

entre alguns pentecostais. Esta compreende o dançar no Espírito como um ato de

adoração congregacional, semelhante ao canto e oração. Segundo esta definição, ela é

uma "dança espontânea pela congregação (geralmente no lugar e sem

parceiros)". Aqueles que aderem à definição tradicional tendem a desencorajar a

identificação do último tipo com a dança no Espírito. Ser arrebatado no Espírito

(também conhecido como "cair sob o poder") é um fenômeno no qual uma pessoa cai

(geralmente) para trás ao mesmo tempo que estava orando. Pentecostais creêm que o

cair pode ser causado por "uma grande experiência da presença de Deus".

Embora não seja um exemplo de manifestações do Espírito, a "marcha para Jericó" é

um exemplo de uma prática tradicional pentecostal rara que não viu avivamento nas

igrejas independentes carismáticas. Trata-se de uma congregação marchando com

gritos de oração e cantando.

Como em outras igrejas cristãs, os pentecostais acreditam que certos rituais ou

cerimônias foram instituídos como um padrão e ordenação por Jesus no Novo

Testamento. Alguns pentecostais preferem chamar estas cerimônias de ordenanças, ao

invés de sacramentos. Muitos cristãos chamam isso de sacramentos, no entanto, este

termo não é utilizado por alguns pentecostais que não vêem as ordenanças como

meios de graça. Como alternativa o termo ordenança sacerdotal é utilizado para

designar a crença distinta de que a graça é recebida diretamente de Deus para o

congregante com o oficiante servindo apenas como um canal.

A ordenança do batismo é o símbolo exterior de uma conversão interior, que já teve se

realizou. Portanto, a maioria dos grupos pentecostais pratica o batismo de

crentes porimersão. As visões pentecostais sobre o batismo são divididas em dois

campos principais: a corrente trinitária e o "Nome de Jesus" ou "Só Jesus". A corrente

trinitária ensina que a formulação exata da fórmula batismal é irrelevante, já que é a

autoridade de Deus e a obediência do destinatário que forma os fatores críticos. A

doutrina do "Nome de Jesus" declara que o batisador deve usar uma fórmula que diz:

"Em nome do Senhor Jesus Cristo", em vez da tradicional fórmula trinitária comum a

praticamente todas as outras igrejas cristãs. Este ponto de vista surgiu da "Nova

Emanação" ou "Nova Revelação" que Frank Ewart, um pregador batista australiano,

alegou ter recebido como uma profecia divina, em 1913, e é largamente realizada hoje

pelos pentecostais unitários.

A ordenança da Comunhão é vista como uma ordem direta dada por Jesus na Última

Ceia, a ser feito em sua memória. Algumas igrejas pentecostais usam suco de uva, em

vez de vinho.

Lava-pés também é tido como uma ordenança por alguns pentecostais, especialmente

a Igreja Internacional Pentecostal unida e a Igreja de Deus em Cristo. É considerado

uma "ordenança de humildade", porque Jesus mostrou humildade ao lavar os pés dos

discípulos em João 13.14-17.

Outras denominações, tais como as Assembleias de Deus e a Igreja do Evangelho

Quadrangular, não tem isso como uma ordenança, mas deixam isso à consciência

individual.

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A teologia pentecostal foi moldada por movimentos que cresceram a partir da:

Santidade-Wesleyana e Vida Superior. Os participantes desses movimentos

acreditavam que, após uma experiência de conversão (a "primeira benção") haveria

uma experiência de "crise de santificação" ou a "segunda benção".

Pregadores wesleyanos de santidade ensinavam que essa experiência eliminaria

imediatamente o pecado na vida cristã, resultando na "perfeição de pureza." Cristãos de

Vida Superior compartilhavam dessa crença em uma segunda bênção, mas entendiam

de modo diferente. Eles não a viam, essa experiência, como a eliminação total do

pecado, mas como uma "consagração plena que lhes empoderava ao evangelismo." Os

primeiros pentecostais, portanto, entendiam o Batismo no Espírito Santo como essa

"segunda benção" e falar em línguas como sua evidência física.

A orientação de santidade-wesleyana era a posição universal nos primeiros dias do

pentecostalismo defendendo um triplo processo de conversão, a santificação

progressiva e batismo no Espírito Santo.

Na primeira década do século XX, surgiu a controvérsia sobre uma nova

doutrina, Obra Consumada, que difere da santidade-Wesleyana e da Vida

Superior pentecostal. A doutrina da Obra Plena professa uma dupla experiência de

conversão e de batismo no Espírito, já que a santificação é vista como progressista e

não como instantânea. Este argumento produziu um profundo cisma e foi visto como

falacioso e contencioso por pentecostais ortodoxos, os quais assumiram o Batismo no

Espírito como a prova da segunda obra.

Com um número estimado de 115 milhões de seguidores no mundo em 2000, o

pentecostalismo é classificado como a "terceira força do cristianismo", sendo as duas

primeiras o Catolicismo e o protestantismo. Pentecostais e igrejas carismáticas têm

crescido rapidamente em muitas partes do mundo. A grande maioria dos pentecostais

estão em países em desenvolvimento embora muitas das suas lideranças internacionais

estejam na América do Norte. O movimento desfruta hoje de uma grande onda

no hemisfério sul, que inclui África, América latina, e muito da Ásia. Uma das razões

para este crescimento é o apelo do pentecostalismo aos pobres. Conforme o relatório

das Nações Unidas, o movimento é "o mais bem sucedido em recrutar membros da

classe pobre."

Em 1998, existiam 11.000 denominações pentecostais ou carismáticas diferentes pelo

mundo. A mais ampla denominação pentecostal no mundo, as Assembleias de

Deus têm aproximadamente 63 milhões de seguidores pelo mundo.

Ela tem uma presença significativa em muitos países,

incluindo Cuba, Egito, Índia, Indonésia, Nigéria e Brasil.

A Igreja de Deus (Cleveland) tem uma membresia de mais de 6 milhões, a Igreja de

Deus em Cristo tem uma membresia de 5.5 milhões, A Igreja do Evangelho

Quadrangular tem 5 milhões de membros, a Igreja Internacional Pentecostal

Unida tem uma membresia de mais de 4 milhões, e a Igreja Internacional Pentecostal

de Santidade tem mais de 3 milhões de membros.

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A maior igreja pentecostal no mundo é a Igreja do Evangelho Pleno de Yodo

na Coréia do Sul. Fundada por David Yonggi Cho em 1958, ela possui 780,000

membros em 2003.

O movimento pentecostal pode ser dividido em três ondas delineadas por suas

características sócio-religiosas e contexto cronológico. Além das grandes denominações

pentecostais, existem hoje centenas de "ministérios independentes" ou novas

denominações surgindo anualmente no Brasil e no mundo.

A primeira onda, conhecida como Pentecostalismo Clássico, abrangeu o período de

1910 a 1950 e iniciou-se com sua implantação no país, decorrente da fundação da

Congregação Cristã no Brasil e da Assembleias de Deus até sua difusão pelo território

nacional.

Desde o início, ambas igrejas caracterizam-se pelo anticatolicismo, pela ênfase na

crença no batismo no Espírito Santo e por um ascetismo que rejeita os valores do

mundo e defende a plenitude da vida moral e espiritual. Francescon, Berg e Vingren

tiveram matriz pentecostal comum, ao receberem as novas doutrinas na Missão de Fé

Apostólica conduzida pelo Pastor William H. Durham, ex-pastor batista, em Chicago,

Illinois.

A primeira denominação desse movimento organizada no Brasil em 1910 com a vinda

do missionário Louis Francescon, que atuou em colônias italianas no Sul e Sudeste do

Brasil. Francescon realizou em 1910, o primeiro batismo de orientação pentecostal em

solo brasileiro com a conversão de onze almas, originando a Congregação Cristã no

Brasilem Santo Antônio da Platina - Paraná, e no mesmo ano inicia esta igreja no

Bairro do Brás em São Paulo.

Em 1911 Daniel Berg e Gunnar Vingren, iniciaram suas missões no Pará e Nordeste,

dando origem a Assembleias de Deus. O movimento das Assembléias de Deus cresceu

do norte-nordeste para o sul, com apoio inicial do movimento pentecostal escandinavo

e posteriormente transferência de aliança com as Assemblies of God americanas. Com

os anos surgiram ministérios e convenções, dos quais muitos são independentes, ou

seja, não afiliados à Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil.

Além da Congregação Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus surgiram outras

pequenas denominações pentecostais clássicas nos primeiros quarenta anos do

pentecostalismo brasileiro. Em 1932, foi organizada a Igreja de Cristo no

Brasil em Mossoró (Rio Grande do Norte). A Igreja de Cristo divergiu das demais

igrejas pentecostais da primeira onda ao seguir o dogma da "eterna segurança" mais

conhecida como Perseverança dos santos. Esta também defende que o cristão recebe o

batismo do Espírito Santo no momento da conversão e não como segunda bênção

seguida de dons de línguas. Em Catalão/GO em 1935 foi fundada a Igreja Evangélica

do Calvário Pentecostal. Esta igreja uniu-se à Igreja de Deus de Cleveland, EUA, e se

tornou a Igreja de Deus no Brasil, hoje presente em todos os estados brasileiros.

A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo foi fundada em São Paulo em 1936 por Marcos

Batista.

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A Missão Evangélica Pentecostal do Brasil, fundada em Manaus em 1939, de origem

americana, mas que atualmente atua de forma independente, com direção nacional e

credo baseado no Pentecostalismo Clássico, de característica moderada quanto à

questão de usos e costumes.

Uma das denominações derradeiras da primeira onda pentecostal no Brasil é a Igreja

Evangélica Avivamento Bíblico, fundada em 7 de setembro de 1946 por Mário

Roberto Lindströn, Oswaldo Fuentes e Alídio Flora Agostinho oriundos da Igreja

Metodista. A Igreja Evangélica Avivamento Bíblico conta hoje com mais de 60.000

pessoas.

A segunda onda começou a surgir na década de 1950, quando chegaram a São

Paulo dois missionários norte-americanos da International Church of The Foursquare

Gospel.

Na capital paulista, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na

cura divina, iniciaram a evangelização das massas, principalmente pelo rádio,

contribuindo bastante para a expansão do pentecostalismo no Brasil.

Em seguida, fundaram a Igreja do Evangelho Quadrangular. No seu rastro, surgiram

o Ministério Cristo Vive, O Brasil para Cristo, Igreja União Evangélica

Pentecostal, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Casa da Bênção, Igreja Luz do

Calvário, Igreja Unida, Igreja de Nova Vida e diversas outrasigrejas

pentecostais menores como a Igreja Presbiteriana Pentecostal dentre outras.

A terceira onda, chamada de Neopentecostalismo, teve início na segunda metade dos

anos 1970. Fundadas por brasileiros, as mais antigas são a Igreja Universal do Reino de

Deus (Rio de Janeiro, 1977), liderada pelo bispo Edir Macedo, e a Igreja Internacional

da Graça de Deus (Rio de Janeiro, 1980), liderada e fundada pelo missionário R. R.

Soares, ambas presentes na área televisiva com seus televangelistas. Posteriormente,

temos o surgimento da Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), da Comunidade

Evangélica Sara Nossa Terra (Brasília, 1992), do Ministério Internacional da

Restauração (1992), e da Igreja Mundial do Poder de Deus (1998). De um modo geral,

utilizam intensamente a mídia eletrônica, impressa e editorial, algumas aplicam

técnicas de administração empresarial, com uso de marketing, planejamento estatístico,

análise de resultados etc. Algumas pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o

cristão está destinado à prosperidade terrena, rejeitando os tradicionais usos e

costumes austeros dos pentecostais.

O neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais influente, a que mais cresce

e também a mais liberal em questões de costumes.

Paralelamente ao Pentecostalismo, várias denominações protestantes que eram

tradicionais experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais.

Assim foram denominados "Renovados", como a Igreja Cristã Maranata (originária

da Igreja Presbiteriana do Brasil), Igreja Presbiteriana Renovada (originária também

da IPB), Convenção Batista Nacional (originária da Convenção Batista

Brasileira),Igreja do Avivamento Bíblico (originária da Igreja Metodista do Brasil) e

a Igreja Adventista da Promessa (originária da Igreja Adventista do Sétimo Dia).

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Nos anos mais recentes a doutrina de renovação do Pentecostalismo ultrapassou até

mesmo as fronteiras do Protestantismo, surgindo movimentos de renovação

pentecostal Católica Romana e Ortodoxa Oriental, como a Renovação Carismática

Católica que teve sua origem por Padres influenciados por Pastores e literaturas

pentecostais.

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2.Neopentecostalismo

O Neopentecostalismo ou Terceira Onda do Pentecostalismo é

uma vertente do evangelicalismo que congrega denominações oriundas

do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais (batistas,

metodistas, etc).

Surgiram sessenta anos após o movimento pentecostal do início do século XX, em

1906, na Rua Azuza, ambos nos Estados Unidos.

Em alguns lugares são chamados de carismáticos, tendo como exceção o Brasil, onde

essa nomenclatura é reservada quase exclusivamente para um movimento dentro

da Igreja Católica chamado Renovação Carismática Católica, mas aos poucos o termo

vem sendo resgatado por pentecostais e neopentecostais no País, por exemplo, a

"paróquia" Capela Carismática (Manaus), que faz parte da Igreja de Deus Pentecostal

do Brasil.

No Brasil, as igrejas mais representativas dessa corrente são a Igreja Universal do

Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo,

a Igreja Batista Nacional, a Igreja Fonte da Vida de Adoração, a Igreja Mundial do

Poder de Deus, aComunidade Evangélica Sara Nossa Terra, o Ministério Nova

Jerusalém, a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo e o Ministério Internacional da

Restauração - MIR. Fazem parte ou se aproximam do Protestantismo Apostólico, que

aceitam apóstolos, bispos e pastores ou missionários presidentes que norteiam o rumo

de suas igrejas no País e pelo mundo. Tem um evangelismo massivo (boa parte delas

possuem ou se utilizam de TVs, rádios, jornais, editoras ou literaturas próprias e

portais ou sites).

De acordo com o Dictionary Of Pentecostal And Charismatic Movements (Dicionário

dos Movimentos Pentecostal e Carismático), "Confissão positiva é um título alternativo

para a teologia da fórmula da fé , tambem conhecido como fé ou doutrina da

prosperidade promulgada por televangelistas contemporâneos, sob a liderança e a

inspiração de Essek William Kenyon. A expressão "confissão positiva" pode ser

legitimamente interpretada de várias maneiras. O mais significativo de tudo é que a

expressão "confissão positiva" se refere literalmente a trazer à existência o que

declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão.

De acordo com Paulo Romeiro, em seu livro "Super Crentes, o Evangelho

segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade", é a

corrente doutrinária que ensina que uma vida medíocre do cristão é um indício de falta

de fé. Então um cristão deve ter a marca da plena fé, ser bem-sucedido,ter saúde plena

física, emocional e espiritual, além de buscar a prosperidade material. A pobreza e a

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130

doença derivariam de maldições, fracassos, vida de pecado ou fé insuficiente e

incredulidade.

Outros ensinamentos comuns em igrejas neopentecostais são a batalha espiritual

(confronto espiritual direto com os demônios), maldições hereditárias, possessão de

crentes (domínio demoníaco sobre as pessoas, resultando em doenças ou fracasso),

etc. Justamente a ênfase que as denominações neopentecostais dão a esses ensinos que

as levam a ser bastante criticadas pelas demais denominações protestantes.

Os neopentecostais formaram um grupo coexistente com os pentecostais, mas com

uma identidade distinta. Possuem uma forma muito sobrenaturalista de encarar sua

vida religiosa, com ênfase na busca de revelações diretas da parte de Deus, de curas

milagrosas para doenças e uma intensa batalha espiritual entre forças espirituais do

bem e do mal, que afirmam ter consequências diretas em sua vida cotidiana. São, em

geral, mais flexíveis e modernas em questões de costumes em relação aos Pentecostais

tradicionais.

São taxadas de liberais pelas igrejas históricas. Algumas são um misto de igrejas

progressistas, mas com elementos de doutrinas e liturgias tradicionais, como as igrejas

da Graça, a Universal e a Mundial. Já outros ministérios se aproximam das

igrejas restauracionistas pelas seu modo de doutrinamento e literaturas próprias,

evangelismo e discipulado peculiares e visão de profetismo, apesar de não se

autodenominar única igreja verdadeira, pelo contrário ela aglutina diversas

denominações debaixo de sua cobertura espiritual, princípios doutrinários e modelo

celular de evangelismo.

Segundo Alan B. Pieratt, "Os ensinos da prosperidade não tiveram origem no

pentecostalismo. Todavia, a tendência das denominações pentecostais de aceitarem as

afirmações de autoridades proféticas criou um espaço teológico onde a doutrina da

prosperidade pode afirmar-se e crescer... Nossa primeira conclusão histórica, é que o

pentecostalismo foi o portador desta doutrina, mas ela necessariamente não faz parte

das crenças pentecostais."

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3. Igreja Católica

A Igreja Católica (o termo "católico", derivado da palavra grega Katholikos, significa

"universal" ou "geral"), chamada também de Igreja Católica Romana e Igreja Católica

Apostólica Romana, é uma Igreja cristã com aproximadamente dois mil anos, colocada

sob a autoridade suprema do Papa, Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro. Seu

objetivo é a conversão ao ensinamento e à pessoa de Jesus Cristo em vista do Reino de

Deus, e concede um papel importante nessa missão à pessoa da Santíssima Virgem

Maria (a quem intitulou de "Mãe da Igreja"). Para este fim, a Igreja Católica administra

os sacramentos e prega o Evangelho de Jesus Cristo. Atua em programas sociais e

instituições em todo o mundo, incluindo escolas, universidades, hospitaise abrigos,

bem como administra outras instituições de caridade, que

ajudam famílias, pobres, idosos e doentes.

A Igreja Católica não pensa como uma Igreja entre outras mas como sendo "A Igreja"

estabelecida por Deus para salvar todos os homens. Esta ideia é visível logo no seu

nome: o termo "católico" significa universal em grego. Ela elaborou sua doutrina ao

longo dos concílios a partir da Bíblia, comentados pelos Pais e pelos doutores da

Igreja. Ela propõe uma vida espiritual e uma regra de vida aos seus fiéis inspirada no

Evangelho e definidas de maneira precisa. Regida pelo Código de Direito Canônico,

ela se compõe, além da sua muita bem conhecida hierarquia ascendente que vai

do diácono ao Papa, de vários movimentos apostólicos, que comportam notadamente

as ordens religiosas, os institutos seculares e uma ampla diversidade de organizações e

movimentos deleigos.

Desde o dia 13 de Março de 2013, a Igreja Católica encontra-se sob a liderança

do Papa Francisco. O último papa antes do argentino foi o Papa Bento XVI, que

abdicou do cargo no mesmo ano. Quando de sua entronação, ela contava

aproximadamente com 1,2 bilhões de membros (ou seja, mais de um sexto da

população mundial e mais da metade de todos os cristãos), distribuídos principalmente

na Europa e nas Américas mas também noutras regiões do mundo. Sua influência na

História do pensamento bem como sobre a História da arte é considerável,

notadamente na Europa.

A Igreja Católica, pretendendo respeitar a cultura e a tradição dos seus fiéis, é por isso

atualmente constituída por 23 Igrejas autônomas sui juris, todas elas em comunhão

completa e subordinadas ao Papa. Estas Igrejas, apesar de terem a mesma doutrina e

fé, possuem uma tradição cultural, histórica, teológica e litúrgica diferentes e uma

estrutura e organização territorial separadas.

A Igreja Católica possui mais de dois mil anos de história, sendo a mais

antiga instituição ainda em funcionamento. Sua história é integrante à História do

Cristianismo e a história da civilização ocidental.

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A palavra Igreja Católica para referir-se à Igreja Universal é utilizada desde o século I,

alguns historiadores sugerem que os próprios apóstolos poderiam ter utilizado o termo

para descrever a Igreja. Registros escritos da utilização do termo constam nas cartas

de Inácio, Bispo de Antioquia, discípulo do apóstolo João, que provavelmente foi

ordenado pelo próprio Pedro.

Em diversas situações nos primeiros três séculos do cristianismo, o Bispo de

Roma, considerado sucessor do Apóstolo Pedro, interveio em outras comunidades

para ajudar a resolver conflitos.

Nos três primeiros séculos a Igreja foi organizada sob três patriarcas: o de Antioquia,

de jurisdição sobre a Síria e posteriormente estendeu seu domínio sobre a Ásia

Menor e a Grécia; o de Alexandria, de jurisdição sobre o Egito; e o de Roma, de

jurisdição sobre o Ocidente. Posteriormente os bispos de Constantinopla e de

Jerusalém foram elevados à dignidade de patriarcas por razões

administrativas. O Primeiro Concílio de Niceia, em 325, considerou o Bispo de Roma

como o "primus" (primeiro) entre os patriarcas, afirmando em seus quarto, quinto e

sexto cânones que está "seguindo a tradição antiquíssima", embora muitos interpretem

esse título como o "primus inter pares" (primeiro entre iguais). Considerava-se que

Roma possuía uma autoridade especial devido à sua ligação com São Pedro.

Uma série de dificuldades (disputas doutrinárias e disciplinares, diferenças

culturais, Concílios disputados, a evolução de ritos separados e se a posição do Papa

era ou não de real autoridade ou apenas de respeito) levaram à divisão em 1054, que

separou a Igreja entre a Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa no Leste

(Grécia, Rússia e muitas das terras eslavas, Anatólia, Síria, Egipto, etc.). A esta divisão

chama-se o Cisma do Oriente.

A grande divisão seguinte da Igreja Católica ocorreu no século XVI com a Reforma

Protestante, durante a qual se formaram muitas das actuais igrejas Protestantes, com

maior presença no Norte da Europa.

A Igreja Católica acredita que ela é a única Igreja fundada por Cristo, e portanto, a

única autêntica frente a demais igrejas edenominações cristãs que surgiram

historicamente depois dela. Assim sendo, a Igreja Católica considera que tem por

missão elaborar, comunicar e propagar os ensinamentos de Cristo, assim como a de

cuidar a unidade dos fiéis, com o objetivo de ajudar a humanidade a percorrer o

caminho espiritual a Deus. Tem também o dever de administrar os sacramentos aos

seus fiéis, por meio do ministério de seus sacerdotes. A Igreja acredita que Deus

outorga a sua graça ao crente por meio dos sacramentos, daí a sua importância na vida

eclesial. Ademais, a Igreja Católica manifesta-se como uma estrutura hierárquica e

colegial, com Cristo como a sua cabeça espiritual e auxiliado pelo colégio dos

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apóstolos, cuja autoridade passou a ser exercida, após a sua morte, pelos seus

sucessores: o Papa e os bispos.

A autoridade para ensinar, ou seja, o Magistério da Igreja, baseia-se na Revelação

divina, que está expressa tanto nas Sagradas Escrituras (ou Bíblia) como na Sagrada

Tradição (oral). Segundo a fé católica, a Revelação divina engloba todas as verdades

que a Igreja acredita e que foram sendo gradualmente reveladas por Deus através dos

tempos (desde o Antigo Testamento), atingindo a sua plenitude e perfeição em Jesus

Cristo, que anunciou definitivamente o Evangelho à humanidade. Ou seja, já não há

mais nada a acrescentar à Revelação divina depois de Jesus, apenas há revelações

privadas (ex.: as aparições marianas), que não pertencem à Revelação divina pública

nem podem contradizê-la. O papel das aparições privadas é somente ajudar os fiéis

católicos a viver melhor a Revelação divina, numa determinada época da história.Por

isso, Jesus Cristo é considerado pelos católicos e outros cristãos como o Filho de Deus,

o Messias e o Salvador do mundo e da humanidade. Este conjunto de verdades

reveladas pode ser designado por doutrina católica. Segundo o Catecismo de São Pio

X, a doutrina católica "é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para

nos mostrar o caminho da salvação" e da vida eterna. "As partes principais e mais

necessárias da Doutrina [...] são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e

osSacramentos".

Apesar da doutrina católica ter sido plenamente revelada por Jesus Cristo, a definição

e compreensão desta mesma doutrina é progressiva, necessitando por isso do

constante estudo e reflexão da Teologia, mas sempre fiel à Revelação e orientada

pelo Magistério da Igreja Católica. A esta definição progressiva da doutrina dá-se o

nome dedesenvolvimento da doutrina. Esta Revelação imutável e definitiva é

transmitida pela Igreja sob a forma de Tradição escrita (Bíblia) e oral. A doutrina

católica está resumida no Credo dos Apóstolos, no Credo Niceno-

Constantinopolitano e em variadíssimos documentos da Igreja, como por exemplo

no Catecismo da Igreja Católica e no seu Compêndio.

Com os seus estudos teológicos, a Igreja gradualmente proclama os seus dogmas, que

são a base imutável da sua doutrina, sendo o último dogma (o da Assunção da Virgem

Maria) proclamado solenemente apenas em 1950, pelo Papa Pio XII. Os dogmas

são definidos e proclamados solenemente pelo Supremo Magistério (Papa ou Concílio

Ecumênico com o Papa) como sendo verdades definitivas, porque eles estão contidos

na Revelação divina ou têm com ela uma conexão necessária. Uma vez proclamado

solenemente, nenhum dogma pode ser alterado ou negado, nem mesmo pelo Papa ou

por decisão conciliar. Por isso, o católico é obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos

dogmas de uma maneira irrevogável.

Para os católicos, um dos dogmas mais importantes é o da Santíssima Trindade, que,

não violando o monoteísmo, professa que Deus é simultaneamente uno (porque,

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em essência, só existe um Deus) e trino (se apresenta em três pessoa: o Pai, o Filho e

o Espírito Santo, que se estabelecem entre si uma comunhão perfeita). Estas 3 Pessoas

eternas, apesar de possuirem a mesma natureza, "são realmente distintas".

Logo, muitas vezes, certas actividades e atributos divinos são mais reconhecidas (mas

não exclusivamente realizadas) em uma Pessoa do que em outra. Como por exemplo,

a criação divina do mundo está mais associado a Deus Pai; a salvação do mundo

a Jesus, o Filho de Deus; e a protecção, guia, purificação e santificação da Igreja

ao Espírito Santo.

Jesus Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade de Deus Pai,

ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a salvação à humanidade inteira, "ou seja:

para nos reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer conhecer o

seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade; para nos tornar «participantes

da natureza divina» (2 Ped 1, 4) e para "anunciar as boas novas do Reino de

Deus". Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou que Jesus, "o

Filho de Deus, Se fez homem, para nos fazer Deus", ou seja, para nos

tornarmos santos como Deus.

O dogma cristológico ensina que Jesus é a encarnação do Verbo divino, verdadeiro

Deus e verdadeiro homem, Messias, Salvador e Bom Pastor da Humanidade. Ele é

também «o Filho Unigénito de Deus» (1 Jo 2, 23), a segunda pessoa da Santíssima

Trindade, o único e verdadeiro Sumo Sacerdote e Mediador entre os homens e Deus

Pai, chegando mesmo a afirmar que "«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.

Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6)" .

Nas suas muitas pregações, Jesus, ao anunciar o Evangelho, ensinou as bem-

aventuranças e insistiu sempre «que o Reino de Deus está próximo» (Mt 10,7).

Exortou também que quem quisesse fazer parte desse Reino teria de nascer de novo,

de se arrepender dos seus pecados, de se converter e purificar. Jesus ensinava também

que o poder, a graça e a misericórdia de Deus era maior que o pecado e todas as

forças do mal, insistindo por isso que o arrependimento sincero dos pecados e a fé em

Deus podem salvar os homens. Este misterioso Reino, que só se irá realizar-se na sua

plenitude no fim do mundo, está já presente na Terra através da Igreja, que é a sua

semente. No Reino de Deus, o Mal será inexistente e os homens salvos e justos, após

a ressurreição dos mortos e o fim do mundo, passarão a viver eternamente em Deus,

com Deus e junto de Deus.

A doutrina católica professa também que a salvação do Homem deve-se, para além

da graça divina, ao voluntário Sacrifício e Paixão de Jesus na cruz. Este

supremo sacrifíciodeve-se à vontade e ao infinito amor de Deus, que quis salvar toda a

humanidade. Além disso, é também fundamental para a salvação a adesão livre do

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crente à fé em Jesus Cristo e aos Seus ensinamentos, porque a liberdade humana,

como um dom divino, é respeitado por Deus, o nosso Criador.

Esta fé cristã "opera pela caridade" ou amor (Gal 5,6), por isso ela obriga o crente a

converter-se e a levar uma vida de santificação. Este modo de viver obriga o católico a

participar e receber os sacramentos e a "conhecer e fazer a vontade de Deus". Este

último ponto é cumprido através, como por exemplo, da prática dos ensinamentos

revelados (que se resumem nos mandamentos de amor ensinados por Jesus), das boas

obras e também das regras de vida propostas pela Igreja Católica. Estes mandamentos

de amor consistem em amar a Deus acima de todas as coisas (Mt 22,37), amar ao

próximo como a si mesmo (Mt 22,39) e amar uns aos outros como Eu vos amei (Jo

15,10). Estes ensinamentos radicais constituem por isso o resumo de "toda a Lei e

os Profetas" do Antigo Testamento (Mt 22,40). No fundo, a vida

desantificação proposta pela Igreja tem por finalidade e esperança últimas à salvação e

à implementação do Reino de Deus.

A Igreja ensina também que todos os não-católicos que, sem culpa própria, ignoram a

Palavra de Deus e a Igreja Católica, mas que "procuram sinceramente Deus e, sob o

influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade", podem conseguir a salvação.

A Igreja Católica define-se pelas palavras do Credo Niceno-Constantinopolitano,

como:

«una» porque nela subsiste a única instituição verdadeiramente fundada e

encabeçada por Cristo para reunir o povo de Deus, porque ela tem como alma

o Espírito Santo, que une todos os fiéis na comunhão em Cristo e porque ela tem

uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma

comum esperança e a mesma caridade.

«santa» por causa da sua ligação única com Deus, o seu Autor, porque "o Espírito

Santo vivificou-a com a caridade" e porque ela é a "Esposa de Cristo"; também

porque ela, através dos sacramentos, tem por objectivo santificar, purificar e

transformar os fiéis, reunindo-os todos para o seu caminho de santificação, cujo

objetivo final é a salvação, que consiste na vida eterna, na realização final do Reino

de Deus e na obtenção da santidade.

«católica» porque a Igreja é universal e está espalhada por toda a Terra; é portadora

da integralidade e totalidade do depósito da fé; "leva e administra a plenitude dos

meios" necessários para a salvação" (incluindo os sete sacramentos), dados por Jesus

à sua Igreja; "é enviada em missão a todos os povos, em todos os tempos e qualquer

que seja a cultura a que eles pertençam"; e nela está presente Cristo.

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«apostólica» porque ela é fundamentada na doutrina dos Apóstolos cuja missão

recebeu sem ruptura. Segundo a Doutrina Católica, todos os Bispos da Igreja são

sucessores dos Apóstolos e o Papa, Chefe da Igreja, é o sucessor de São

Pedro ("Príncipe dos Apóstolos"), que é a pedra na qual Cristo edificou a sua Igreja.

Além disso, a Igreja, de entre os seus inúmeros nomes, também é conhecida por:

«Corpo de Cristo» porque os católicos acreditam que a Igreja não é apenas uma

simples instituição, mas um corpo místico constituído por Jesus, que é a Cabeça, e

pelos fiéis, que são membros deste corpo único, inquebrável e divino. Este nome é

assente também na fé de que os fiéis são unidos intimamente a Cristo, por meio

do Espírito Santo, sobretudo no sacramento da Eucaristia. A Igreja Católica

acredita que os cristãos não-católicos também pertencem, apesar de um modo

imperfeito, ao Corpo Místico, visto que tornaram-se uma parte inseparável d'Ele

através do Baptismo - constituindo assim numas das bases do ecumenismo actual.

Ela defende também que muitos elementos de santificação e de verdade estão

também presentes nas Igrejas e comunidades cristãs que não estão em plena

comunhão com o Papa.

«Esposa de Cristo» porque o próprio Cristo "Se definiu como o «Esposo» (Mc 2,19)

que amou a Igreja, unindo-a a Si por uma Aliança eterna. Ele entregou-se a Si

mesmo por ela, para a purificar com o Seu sangue, «para a tornar santa» (Ef 5,26) e

fazer dela mãe fecunda de todos os filhos de Deus" .

«Templo do Espírito Santo» porque o Espírito Santo reside na Igreja, no Corpo

Místico de Cristo, e estabelece entre os fiéis e Jesus Cristo uma comunhão íntima,

tornando-os unidos num só Corpo. Para além disso, Ele guia, toma conta e "edifica

a Igreja na caridade com a Palavra de Deus, os sacramentos, as virtudes e

os carismas" .

A doutrina da Igreja Ortodoxa é bastante parecida com a da Igreja Católica. As únicas

diferenças significativas dizem respeito ao filioque, ao entendimento um pouco

divergente da salvação e do arrependimento e principalmente à compreensão do papel

e função do Papa na Igreja, que para os ortodoxos não tem jurisdição sobre as outras

Igrejas nem é revestido de infalibilidade quando fala ex cathedra.

Em relação às Igrejas protestantes, as diferenças mais significativas dizem respeito à

doutrina da Eucaristia, dos outros sacramentos (a maioria dos protestantes professam o

Batismo e a Eucaristia), à existência do purgatório, à composição do Cânone das

Escrituras e ao culto de veneração à Virgem Maria e aos santos.

Há também diferenças importantes na doutrina do pecado original e da graça, na

necessidade e natureza da penitência e no modo de obter a redenção, com os

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protestantes a defender que a salvaçãosó se atinge apenas através da fé (sola fide), em

detrimento da crença católica que a fé deve ser expressa também através das boas

obras.

Esta divergência levou a um conflito sobre a doutrina da justificação, mas o diálogo

ecuménico moderno levou a alguns consensos entre os católicos e os luteranos, através

da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação, bem como com

os anglicanos e outros.

Existem várias representações dos Dez Mandamentos judaicos, que é a base e o

mínimo fundamental da Lei moral (ou Lei de Deus), devido à diversidade de

traduções existentes. A mais utilizada é aquela ensinada actualmente na catequese de

língua portuguesa da Igreja Católica:

1º Amar a Deus sobre todas as coisas.

2º Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.

3º Guardar domingos e festas de guarda.

4º Honrar pai e mãe.

5º Não matar.

6º Guardar castidade nas palavras e nas obras.

7º Não roubar.

8º Não levantar falsos testemunhos.

9º Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.

10º Não cobiçar as coisas alheias.

Segundo a doutrina católica sobre os Dez Mandamentos, eles são de observância e

cumprimento obrigatórios, porque "enuncia deveres fundamentais do homem para

com Deus e para com o próximo" e dão a conhecer também a vontade divina sobre

a conduta moral dos homens .

Dentro da fé católica, os sacramentos, que a Igreja acredita serem instituídas por Jesus,

são gestos e palavras de Cristo que concedem e comunicam a graça santificadora sobre

quem os recebe. Sobre os sacramentos, São Leão Magno diz: "«o que era visível

no nosso Salvador passou para os seus sacramentos»".

Ao celebrá-los, a Igreja Católica alimenta, exprime e fortifica a sua fé, sendo por isso os

sacramentos uma parte integrante e inalienável da vida de cada católico e fundamentais

para a sua salvação. Isto porque eles conferem ao crente a graça divina, os dons

do Espírito Santo, "o perdãodos pecados, [...] a conformação a Cristo Senhor e a

pertença à Igreja", que o torna capaz "de viver a vida nova de filhos de Deus em Cristo

acolhido com a fé". Daí a grande importância dos sacramentos na liturgia católica .

Ao todo, a Igreja Católica tem sete sacramentos:

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Baptismo é dado às criança e a convertidos adultos que não tenham sido antes

baptizados validamente (o baptismo da maior parte das igrejas cristãs é considerado

válido pela Igreja Católica, contanto que seja feito pela fórmula: "em nome do Pai,

do Filho e do Espírito Santo". A rigor, todo cristão pode, nessa fórmula, batizar

validamente alguém, nomeadamente em situações urgentes. Entretanto, o baptismo

será ilícito, devendo o baptizado ser levado na presença de um sacerdote, para que

complete os rituais do sacramento, como a unção com o Crisma e com o óleo

dos catecúmenos).

Confissão, Penitência ou Reconciliação envolve a admissão de pecados perante um

padre e o recebimento de penitências (tarefas a desempenhar a fim de alcançar a

absolvição ou o perdão de Deus).

Eucaristia (Comunhão) é o sacramento mais importante da Igreja porque ela

relembra e renova o mistério pascal de Cristo, actualizando e renovando assim a

salvação da humanidade. Por isso, recebe também o nome de Santíssimo

Sacramento. Este sacramento está associado também à transubstanciação, que é a

crença de que, após a consagração, o pão e o vinho oferecidos e consagrados se

tornam realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, sob as aparências de pão e

vinho.

Na Confirmação ou Crisma, o Espírito Santo, que é recebido no baptismo é

"fortalecido e aprofundado" através da imposição de mãos e da unção com santo óleo

doCrisma. Na maior parte das igrejas de Rito latino, este sacramento é presidido por

um bispo e tem lugar no início da idade adulta (na maioria das vezes, quando se

completam 15 anos). Nas Igrejas Católicas Orientais o sacramento do Crisma é

geralmente executado por um padre imediatamente depois do baptismo.

Sagrado matrimónio é o sacramento que valida, diante de Deus, a união de um

homem e uma mulher, constituindo assim uma família. Segundo a tradição católica,

com base no Evangelho de São Marcos, o casamento é indissolúvel. Só é permitido

um segundo casamento no caso da morte de um dos cônjuges ou em situações

especiais de nulidade do casamento.

A Ordem recebe-se ao entrar para o clero, através da consagração das mãos com o

santo óleo do Crisma e, no rito latino (ou ocidental), envolvem

um voto de castidadeenquanto que nos ritos orientais, os homens casados são

admitidos como padres diocesanos, mas não como bispos ou padres monásticos. Em

raras ocasiões, permitiu-se que padres casados que se converteram a partir de outros

grupos cristãos fossem ordenados no rito ocidental.

No rito ocidental, os homens casados podem ser ordenados diáconos permanentes,

mas não podem voltar a casar se a esposa morrer ou se for declarada a nulidade do

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casamento. O sacramento das Ordens Sagradas é dado em três graus: o

do diácono (desde o Concílio Vaticano II um diácono permanente pode ser casado

antes de se tornar diácono), o de sacerdote e o de bispo.

A Unção dos enfermos era conhecida como "extrema unção" ou "último sacramento".

Envolve a unção de um doente com um óleo sagrado dos enfermos, abençoado

especificamente para esse fim. Já não está limitada aos doentes graves e aos

moribundos, mas a Igreja recomenda esse sacramento e o viático para a hora da

morte.

Os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja Católica (não confundir com os Dez

Mandamentos da Lei de Deus), na sua forma atual, foram estabelecidos pelo Papa

João Paulo II e promulgados em 2005 pelo Papa Bento XVI, onde suprimiu-se o

termo "dízimos" do quinto mandamento (pagar dízimos conforme o costume), cujo

sentido real era, obviamente, uma contribuição segundo as possibilidades de cada um,

e não uma taxação ou imposto sobre os rendimentos.

Os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja são:

1. Participar na Missa, aos domingos e festas de guarda e abster-se de trabalhos e

atividades que impeçam a santificação desses dias.

2. Confessar os pecados ao menos uma vez cada ano.

3. Comungar o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa.

4. Guardar a abstinência e jejuar nos dias determinados pela Igreja:

Dias de jejum: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa.

Dias de abstinência de carne ou de qualquer outra comida determinada pela

conferência episcopal: todas as sextas-feiras, principalmente as da Quaresma, a

não ser que uma solenidade seja numa sexta-feira.

5. Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as suas

possibilidades.

A Igreja Católica tem uma hierarquia, sendo o seu Chefe o Papa. A expressão "Santa

Sé" significa o conjunto do Papa e dos dicastériosda Cúria Romana, que o ajudam no

governo de toda a Igreja.

A Igreja tem uma estrutura hierárquica de títulos que são, em ordem descendente:

Papa, que é o Sumo Pontífice e chefe da Igreja Católica, o guardador da

integridade e totalidade do depósito da fé, o Vigário de Cristo na Terra, o Bispo de

Roma e o possuidor do Pastoreio de todos os cristãos, concedido por Jesus Cristo a

São Pedro e, consequentemente, a todos os Papas.

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Esta autoridade papal (Jurisdição Universal) vem da fé de que ele é o sucessor

directo do Apóstolo São Pedro . Na Igreja latina e em algumas das orientais, só o

Papa pode designar os membros da Hierarquia da Igrejaacima do nível

de presbítero. Aos Papas atribui-se infalibilidade. Por essa prerrogativa, as decisões

papais em questões de fé e costumes (moral) são infalíveis quando proclamadas ex-

cathedral. Todos os membros da hierarquia respondem perante o Papa e a sua

corte papal, chamada de Cúria Romana.

Cardeais são os conselheiros e os colaboradores mais íntimos do Papa, sendo todos

eles bispos (alguns só são titulares). Aliás, o próprio Papa é eleito, de forma vitalícia

(a abdicação é rara, porque já não acontecia desde a Idade Média) pelo Colégio dos

Cardeais. A cada cardeal é atribuída uma igreja ou capela (e daí a classificação

em cardeal-bispo, cardeal-presbítero e cardeal-diácono) em Roma para fazer dele

membro do clero da cidade. Muitos dos cardeais servem na Cúria, que assiste o

Papa na administração da Igreja. Todos os cardeais que não são residentes em

Roma são bispos diocesanos.

Patriarcas são normalmente títulos possuídos por alguns líderes das Igrejas

Católicas Orientais sui juris. Estes patriarcas orientais, que ao todo são seis, são

eleitos pelos seus respectivos Sínodos e depois reconhecidos pelo Papa. Mas alguns

dos grandes preladosda Igreja Latina, como o Patriarca de Lisboa e o Patriarca de

Veneza, receberam também o título de Patriarca, apesar de ser apenas honorífico e

não lhes conferirem poderes adicionais.

Arcebispos (Metropolita ou Titular) são bispos que, na maioria dos casos, estão à

frente das arquidioceses. Se a sua arquidiocese for a sede de uma província

eclesiástica, eles normalmente têm também poderes de supervisão e jurisdição

limitada sobre as dioceses(chamadas sufragâneas) que fazem parte da

respectiva província eclesiástica.

Bispos (Diocesano, Titular e Emérito) são os sucessores diretos dos doze

Apóstolos. Receberam o todo do sacramento da Ordem, o que lhe confere, na

maioria dos casos, jurisdição completa sobre os fiéis da sua diocese.

Presbíteros ou Padres são os colaboradores dos bispos e só têm um nível de

jurisdição parcial sobre os fiéis. Alguns deles lideram as paróquias da sua diocese.

Monsenhor é um título honorário para um presbítero, que não dá quaisquer

poderes sacramentais adicionais.

Diáconos são os auxiliares dos presbíteros e bispos e possuem o primeiro grau do

Sacramento da Ordem. São ordenados não para osacerdócio, mas para o serviço

da caridade, da proclamação da Palavra de Deus e da liturgia. Apesar disso, eles

não consagram ahóstia (parte central da Missa) e não administram a Unção dos

enfermos e a Reconciliação.

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Todos os ministros sagrados supra-mencionados fazem parte do clero. A Igreja

acredita que os seus clérigos são "ícones de Cristo", logo todos eles são homens, porque

os doze Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua forma humana, também é

homem. Mas isto não quer dizer que o papel da mulher na Igreja seja menos

importante, mas apenas diferente. Exceptuando em casos referentes a padres

ordenados pelas Igrejas orientais, aos diáconos permanentes e a alguns casos

excepcionais, todo o clero católico é celibatário. Os clérigos são importantes porque

efetuam exclusivamente determinadas tarefas, como a celebração da Missa e dos

sacramentos.

Existem ainda funções menores: Leitor, Ministro Extraordinário da Comunhão

eucarística, Ministro da Palavra e Acólito. Estas funções tomados em conjunto não

fazem parte do clero, pois são conferidas aos leigos, uma vez que, para entrar para

o sacerdócio, é preciso ao católico receber o sacramento da Ordem. Desde o Concílio

Vaticano II, os leigos tornaram-se cada vez mais importantes no seio da vida eclesial e

gozam de igualdade em relação ao clero, em termos de dignidade, mas não de funções.

Dentro da Igreja, também existem um grupo de leigos ou de clérigos que decidiram

tomar uma vida consagrada e normalmente agrupam-se em ordens

religiosas, congregações religiosas ou em institutos seculares, existindo porém aqueles

que vivem isoladamente ou até junto dos não-consagrados.

Na Igreja Católica, para além do culto de adoração a Deus, existe também o culto

de veneração aos Santos e à Virgem Maria. Estes cultos, são muito diferentes, mas

ambos são expressos através da liturgia, que é o culto oficial e público da Igreja, e

também através da piedade popular, que é o culto privado dos fiéis.

Dentro da liturgia, destaca-se a Missa (de frequência obrigatória aos Domingos e festas

de guarda) e a Liturgia das Horas; enquanto que na piedade popular, destacam-se

indubitavelmente as devoções e as orações quotidianas. Apesar de a piedade

popular ser de certo modo facultativa, ela é muito importante para o crescimento

espiritual dos católicos. As principais devoções católicas são expressas em "fórmulas

de orações" a Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), à Virgem Maria e

aos Santos (novenas, trezena, Santo Rosário...); em "peregrinações aos lugares

sagrados"; na veneração de medalhas, estátuas, relíquias e imagens sagradas e bentas de

Cristo, dos Santos e da Virgem Maria; em procissões; e em outros "costumes

populares".

O ato de prece mais importante na Igreja Católica é, sem dúvida, a liturgia Eucarística,

normalmente chamada de Missa. A liturgia, que é centrada na missa, é a celebração

oficial e pública do "Mistério de Cristo e em particular do seu Mistério Pascal". Através

dela, "Cristo continua na sua Igreja, com ela e por meio dela, a obra da

nossa redenção" . Esta "presença e actuação de Jesus" são assegurados eficazmente

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142

pelos sete sacramentos , com particular para a Eucaristia, que renova e perpetua "o

sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até ao regresso" de Jesus. Por isso, toda a

missa centra-se na Eucaristia, porque ela "é fonte e cume da vida cristã" e nela "a acção

santificadora de Deus em nosso favor e o nosso culto para com Ele" atingem o cume.

Jesus, como Cabeça, celebra a liturgia com os membros do seu Corpo, ou seja, com a

sua "Igreja celeste e terrestre", constituída por santos e pecadores, por habitantes da

Terra e do Céu. Cada membro da Igreja terrestre celebra e atua na liturgia "segundo a

sua própria função, na unidade do Espírito Santo: os batizados oferecem-se

emsacrifício espiritual [...]; os Bispos e os presbíteros agem na pessoa de Cristo

Cabeça", representando-o no altar. Daí que só os clérigos (excetuando os diáconos) é

que podem celebrar e conduzir a Missa, nomeadamente a consagração da hóstia.

Apesar de celebrar o único Mistério de Cristo, a Igreja possui muitas tradições

litúrgicas diferentes, devido ao seu encontro, sempre fiel à Tradição católica, com os

vários povos e culturas.

A missa é celebrada todos os domingos; no entanto, os católicos podem cumprir as

suas obrigações dominicais se forem à missa no sábado. Os católicos devem também ir

à missa em cerca de dez dias adicionais por ano, chamados de Dias Santos de

Obrigação. Missas adicionais podem ser celebradas em qualquer dia do ano litúrgico,

exceto naSexta-feira Santa, pois neste dia não se celebra a Missa em nenhuma igreja

católica do mundo. Muitas igrejas têm missas diárias. A missa é composta por duas

partes principais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia. Durante a Liturgia da

Palavra, são lidas em voz alta uma ou mais passagens da Bíblia, acto desempenhado

por um Leitor (umleigo da igreja) e pelo padre ou diácono (que lêem sempre as

leituras do Evangelho). Depois de concluídas as leituras, é feita a homilia por

um clérigo. Nas missas rezadas aos domingos e dias de festa, é professado por todos os

católicos presentes o Credo, que afirma as crenças ortodoxas (ou seja, oficiais)

do catolicismo. A Liturgia da Eucaristia inclui a oferta de pão e vinho, a Prece

Eucarística, durante a qual o pão e o vinho se transformam no Corpo e Sangue de

Cristo, e a procissão da comunhão.

Além da missa, a Liturgia das Horas também é extremamente importante na vida

eclesial, porque ela é a oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica. Esta

oração consiste basicamente na oração quotidiana em diversos momentos do dia,

através de Salmos e cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação

de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura cumprir o mandato que recebeu

de Cristo, de orar incessantemente, louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos

os homens. A Liturgia das Horas, que é uma antecipacão para a celebração eucarística,

não exclui, mas requer de maneira complementar, as diversas devoções católicas,

particularmente a adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.

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VI- RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

1.Candomblé

As religiões afro-brasileiras na maioria são relacionadas com a religião yorùbá e

outras religiões tradicionais africanas, é uma parte das religiões afro-americanas e

diferentes das religiões afro-cubanas como a Santeria de Cuba e

o Vodou do Haiti pouco conhecidas no Brasil.

Antes da abolição da escravatura em 1888, os negros escravizados fugidos das

fazendas, reuniam-se em lugares afastados nas florestas em agrupamentos ou

comunidades chamadas quilombos, depois da libertação, os africanos libertos reuniam-

se em comunidades nas cidades que passaram a chamar de candomblé. Candomblé é

o nome genérico que se dá para todas as casas de candomblé independente da nação.

A palavra candomblé a princípio era usado para designar qualquer festa dos africanos,

teria sua origem nas línguas bantu da palavra Candombe que no Uruguai é um ritmo

musical afro-uruguaio que deve existir também em outros países que receberam

escravos africanos.

Nas religiões afro-brasileiras, vários termos são usados para designar iniciação.

Cada uma das religiões tem seus termos próprios, iniciação, feitura, feitura de

santo, raspar santo, são mais usados nosterreiros de candomblé, Candomblé de

Caboclo, Cabula, Omoloko, Tambor de Mina, Xangô do Nordeste, Xambá,

no Batuqueusa-se o termo fazer a cabeça ou feitura.

No Culto de Ifá e no Culto aos Egungun usam o termo iniciação porém

os preceitos são diferentes das outras religiões.

No candomblé o período de iniciação é de no mínimo sete anos, se inserem os rituais

de passagem, que indicam os vários procedimentos dentro de um período

de reclusão que geralmente é de 21 dias (podendo chegar a 30 dias dependendo da

região), o aprendizado de rezas, cantigas, línguas sagradas, uso das folhas (folhas

sagradas), catulagem, raspagem, pintura, imposição do adoxú e apresentação pública, é

individual e faz parte dos preceitos de cada pessoa que entra para a religião dosorixás.

No Candomblé Jeje a iniciação ao culto dos voduns é complexa e longa, de no mínimo

sete anos, o período de reclusão pode chegar a durar um ano, que pode envolver

longas caminhadas a santuários e mercados, dentro do convento ou

terreiro hunkpame, onde os neófitos são submetidos a uma dura rotina de danças,

preces, aprendizagem delínguas sagradas e votos de segredo e obediência.

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A princípio, nessas cerimônias, tem que haver o desprendimento total,

na iniciação deve-se morrer para renascer com outro nome para uma nova vida,

no candomblé Ketu o Orunkó do Orixá (só dito em público no dia do nome),

no Candomblé bantu além do nome do Nkisi (jamais revelado), tem a dijína pelo qual

será chamado o iniciado pelo resto da vida.

Quando uma pessoa iniciada morre é feito o desligamento

do Egum, Nvumbe na cerimônia fúnebre e no Axexê, conhecido pelos nomes de

sirrum e zerim, que varia dependendo do grau iniciático do morto.

Na Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de santo

propriamente dita, uma vez que não incorporam Orixás incorporam os Falangeiros de

Orixás, usa-se o termo fazer a cabeça onde pode existir a catulagem e pintura, porém a

cabeça não é raspada completamente, e não tem imposição do adoxú.

A reclusão nesses casos é de três a sete dias, é feita a instrução esotérica, aprendizado

das rezas e pontos riscados e cantados, e é feita a apresentação pública.

O Babaçuê é de origem indigena, porém já adota algumas influências da Umbanda.

O "Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira" (Cenarab),

a Baixada Fluminense tem 3,8 mil terreiros contra apenas 1,2 mil na área

de Salvador e do Recôncavo Baiano, informação dada por Jairo Pereira, do Cenarab

em 1997.

De todas as religiões afro-brasileiras, a mais próxima da Doutrina Espírita é um

segmento (linha) da Umbanda denominado de "Umbanda branca", e que não tem

nenhuma ligação com o Candomblé, o Xambá, o Xangô do Recife ou o Batuque.

Embora popularmente se acredite que estas últimas sejam um tipo de "espiritismo", na

realidade trata-se de religiões iniciáticas animistas, que não partilham nenhum dos

ensinamentos relacionados com a Doutrina Espírita. Entretanto, outros segmentos

da Umbanda podem ter algumas semelhanças com a Doutrina Espírita, mas também

com o Candomblé por causa da figura dos Orixás.

No tocante específicamente ao Candomblé, crê-se na sobrevivência da alma após a

morte física (os Eguns), e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados (os

Orixás, cultuados coletivamente), não materializam; caso não divinizados

(os Egungun), materializam em vestes próprias para estarem em contacto com os seus

descendentes (os vivos), cantando, falando, dando conselhos e auxiliando

espiritualmente a sua comunidade. Observa-se que o conceito de "materialização" no

Candomblé, é diferente do de "incorporação" na Umbanda ou na Doutrina Espírita.

Em princípio os Orixás só se apresentam nas festas e obrigações para dançar e serem

homenageados. Não dão consulta ao público assistente, mas podem eventualmente

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falar com membros da família ou da casa para deixar algum recado para o filho. O

normal é os Orixás se expressarem através do jogo de Ifá, (oráculo) e merindilogun.

Dependendo da nação ou linha de candomblé, os candomblés tradicionais não fazem

a princípio contato com espíritos através da incorporação para consultas, é possível

mas não é aceito.

Já o candomblé de caboclo tem uma ligação muito forte com caboclos e exus que

incorporam para dar consultas, os caboclos são diferentes da Umbanda.

E existem os candomblés cujos pais de santo eram da Umbanda e passaram para o

candomblé que cultuam paralelamente os Orixás e os guias de Umbanda.

No Candomblé, todo e qualquer espírito deve ser afastado principalmente na hora da

iniciação, para não correr o risco de um deles incorporar na pessoa e se passar por

orixá, o Iyawo recolhido é monitorado dia e noite, recorrendo-se ao Ifá ou jogo de

búzios para detectar a sua presença. A cerimónia só ocorre quando este confirma a

ausência de Egunsno ambiente de recolhimento.

Afastam todo e qualquer espírito (egun), ou almas penadas, forças negativas,

influências negativas trazidas por pessoas de fora da comunidade. Acredita-se que

pessoas trazem consigo boas e más influências, bons e maus acompanhantes (espíritos),

através do jogo de Ifá poderá se determinar se essas influências são de

nascimento Odu, de destino ou adquiridas de alguma forma.

Os espíritos são cultuados, nas casas de Candomblé, em uma casa em separado, sendo

homenageados diariamente uma vez que, como Exú, são considerados protetores da

comunidade.

Existem Orixás que já viveram na terra, como Xangô, Oyá, Ogun, Oxossi, viveram e

morreram, os que fizeram parte da criação do mundo esses só vieram para criar o

mundo e retiraram-se para o Orun, o caso de Obatalá, e outros chamados Orixá

funfun (branco).

Existem as árvores sagradas que são as mesmas das religiões tradicionais

africanas onde Orixás são cultuados pela comunidade como é o caso de Iroko,

Apaoká, Akoko, e também os orixás individuais de cada pessoa que é uma parte do

Orixá em si e são a ligação da pessoa, iniciada com o Orixá divinizado.

Ou seja uma pessoa que é de Xangô, seu orixá individual é uma parte

daquele Xangô divinizado com todas as características, ou como chamam arquétipo.

Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o Orixá pessoal é uma

manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado, outros

dizem ser uma incorporação mas é rejeitada por muitos membros do candomblé,

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justificam que nem o culto aos Egungun é de incorporação e sim de materialização.

Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do

candomblé.

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VII- NEO PAGANISMO

1.Wicca

Religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa

ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como a magia) e os princípios

físicos e espirituais masculinos e femininos que interam a natureza, e que celebra

os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, os quais ocorrem,

normalmente, oito vezes por ano. Autoridades como Alex Sanders referem-se a ela

como religião natural, "a mais antiga do mundo".

É muitas vezes referida como Witchcraft (bruxaria) ou the Craft (a arte) por seus

seguidores, que são conhecidos como Wiccanos ou Bruxos.

Suas origens contestadas residem na Inglaterra no início do século XX, mas foi

popularizada nos anos 50 por Gerald Gardner, que na época chamava a religião de

"culto às bruxas" e "bruxaria", e seus seguidores "a Wicca".

A Wicca é uma religião politeísta, de culto basicamente dualista, que crê

tradicionalmente na Mãe Tríplice e no Deus Cornífero, ou religião matriarcal de

adoração à deusa mãe.

Estas duas deidades são muitas vezes vistas como faces de uma

divindade panteísta maior, ou que se manifestam como várias divindades politeístas.

A Wicca também envolve a prática ritual da magia, em grande parte influenciada

pela magia cerimonial do passado, muitas vezes em conjunto com um código de

moralidade liberal conhecida como a Wiccan Rede, embora não seja uma regra.

Embora algumas tradições adorem o celta Cernuno, símbolo da virilidade, e por vezes

seja confundida com Satanismo, os wiccanos não creem em Lúcifer ou em Satã.

Desde meados do século XX, a Bruxaria tornou-se a autodesignação de uma sucursal

do neopaganismo, especialmente na tradição Wicca, cujo pioneiro foi Gerald Gardner,

que alegava ter resgatado uma antiga tradição religiosa da bruxaria com raízes pré-

cristãs (alguns wiccanos dizem que é a mais antiga religião do mundo).

Na década de 1920 e na década de 1930, a egiptóloga Dr. Margaret Murray publicou

diversos livros influentes detalhando suas teorias de que as bruxas e bruxos caçados

durante a Idade Média não eram, como alegavam seus perseguidores cristãos, adeptas

do Satanismo, mas simpatizantes de uma religião pagã pré-cristã que adorava um deus

cornífero — o Culto Bruxo.

Antes de Murray, nomes como Girolamo Tartarotti, Matilda Joslyn Gage, Jacob

Grimm, Karl Pearson, Jules Michelet e Charles Leland já escreviam linhas ou livros

inteiros sobre o contraste entre as duas religiões na Idade Média e Renascimento.

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Embora nos dias de hoje a pesquisa histórica aprofundada tenha desacreditado de

Murray, suas teorias foram amplamente aceitas e apoiadas na época.

Nos anos 30, apareceu a primeira evidência de uma prática pagã de religião de

bruxaria (o que hoje é reconhecida como Wicca) na Inglaterra.

Diversos grupos em todo o país, em lugares como Norfolk, e Cheshire se

autoproclamaram continuadores da tradição do Culto Bruxo de Murray, embora

estivessem abertos a influências de diversas outras fontes, tais como a Magia

Cerimonial, a Maçonaria, a Teosofia, o Romantismo, o Druidismo, a mitologia

clássica e as religiões asiáticas.

A Bruxaria tornou-se mais proeminente, contudo, na década de 1950 com

a revogação da Lei de Feitiçaria de 1735, da qual diversas figuras, como Charles

Cardell, Cecil Williamson e notavelmente Gerald Gardner, começaram a propagar

suas próprias versões do ofício. Gardner foi iniciado no New Forest coven em 1939,

antes de formar sua própria tradição, mais tarde chamada Gardnerianismo. Sua

tradição, auxiliada por sua Alta Sacerdotiza Doreen Valiente e com a publicação de

seus livros A Bruxaria Hoje (1954) e O Sentido da Bruxaria (1959), logo se tornou a

tradição dominante no país, e se espalhou para outras regiões das Ilhas Britânicas.

São comuns os boatos de que o verdadeiro autor por detrás dos escritos de Gerald

Gardner, tenha sido o mago inglês Aleister Crowley. Contudo, não existem evidências

que dêem sustentação a esta teoria.

Por outro lado, Gardner não apenas foi um membro iniciado de VIIº da Ordo Templi

Orientis (ordem liderada e reformada por Crowley de uma academia maçônica para

uma organização indepentende seguidora da filosofia conhecida como Thelema) como

recebeu autorização para liderar os trabalhos da Ordem naInglaterra.

Com isto, é clara a herança thelemica dentro da Wicca. O postulado "faze o que tu

queres desde que não faças mal a ninguém" é facilmente percebido como uma

adaptação do primeiro postulado da Lei de Thelema: "Faze o que tu queres será o

todo da Lei".

Fora isso, trechos de rituais da Wicca Gardneriana são cópias literais de trechos de

ritos thelemicos.

Com a morte de Gardner em 1964, o Ofício continuou a crescer inabalável apesar

do sensacionalismo e das opiniões negativas publicadas pelos tablóides britânicos, com

novas tradições propagadas por figuras como Robert Cochrane, Sybil Leek e Alex

Sanders, criador da Tradição Alexandrina, que, baseada no Garderianismo, embora

com uma ênfase na magia cerimonial, espalhou-se rapidamente e ganhou muita

atenção da mídia.

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Nesta época, o termo "Wicca" começou a ser adotado ao lado de "Bruxaria" e suas

crenças e tradições exportadas para países como Austrália e os Estados Unidos.

Foi nos Estados Unidos e na Austrália que novas tradições da Wicca surgiram, muitas

vezes baseada emfolk regionais e às vezes misturadas com a estrutura básica da Wicca

de Gardner, gerando diversas formas de Wicca como o Dianismo de Zsuzsanna

Budapest, cada uma delas enfatizando diferentes aspectos do ofício.

Na década de 1970, a literatura Wicca também cresceu, e muitos livros ensinando

pessoas a se tornarem bruxos sem iniciações formais começaram a ser publicados em

grandes quantidades pelo mundo, como o Mastering Witchcraft (1970) de Paul

Huson, um manual "faça você mesmo" que se tornou muito famoso e influenciou

novos bruxos.

Livros da mesma ordem continuaram a serem publicados através dos anos 80 e anos

90, com a autoria de nomes como Doreen Valiente, Janet Farrar, Stewart Farrar eScott

Cunningham, que popularizou a ideia de auto-iniciação ao Ofício com seu Wicca: Um

Guia Para o Praticante Solitário (1988).

Nos anos 90, as poucas mas pioneiras comunidades wiccanas no Brasil procuravam se

solidificar em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, e fazer conexões com

associações européias a fim de regulamentar a religião Wicca no país.

A partir de então, a Wicca e a Bruxaria em geral têm crescido expressivamente no

Brasil, especialmente em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, nos dias de hoje.

O primeiro livro traduzido do inglês para o português trazendo o

termo wiccaniano(a) foi Wicca: A Feitiçaria Moderna, de Gerina Dunwich.

Posteriormente, outros livros traduzidos passaram a apresentar o termo "wiccano"

como uma alternativa para a palavra inglesa "wiccan", termo usual para designar um

adepto da religião em questão naquele idioma.

Na década de 90, onde cada vez mais a Bruxaria ganhava novos adeptos, surgiram

filmes comoJovens Bruxas (1996), dirigido por Andrew Fleming, e seriados

como Charmed (1998-2006), introduzindo aos jovens uma ideia de religião bruxa.

Mas, criticando a forma como a Wicca veio sendo encarada desde então, como moda,

como ecletismo, e sendo engajada em movimentos como aNova Era, muitos bruxos,

notavelmente Andrew Chumbley, voltaram-se para a antiga tradição de Gardner, como

uma forma de "levar a sério" o Ofício.

O termo "Wicca" foi primeiramente aceito nas décadas de 1960 e 70 como parte da

religião Wicca da época.

Antes disso, o termo "Witchcraft" era utilizado de forma mais histórica e ampla. Apesar

de baseada na palavra wiccian do inglês antigo, que se referia apenas e exclusivamente

aos feiticeiros (sendo wicce utilizada para se referir às feiticeiras do sexo feminino), o

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indivíduo real que cunhou o termo "Wicca" é desconhecido, embora especula-se que

tenha sido Charles Cardell, muito certamente na década de 1950.

Gardner usava a palavra wiccian com o sentido de "jogar com a sorte".

Nos dias de hoje, trata-se o praticante da religião através da sua linhagem tradicional.

Assim, ao invés de dizer que alguém é Bruxo ou Wiccano ou Wiccaniano ou Wiccan,

trata-se o praticante da religião como Gardneriano, Xandrino, Georgino, etc. para que

estas situações se resolvam por vez.

Não é sabido oficialmente o número de wiccanos no mundo inteiro e constatou-se que

é mais difícil estabelecer o número de membros de religiões neo-pagãs do que de

qualquer outra religião devido à sua estrutura familiar ou clãns.

No Brasil, de acordo com o gráfico mostrado, até o ano de 2000, haviam cerca de

10.000 a 50.000 wiccanos, embora não haja uma diversificação entre a Wicca e as

outras tradições neopagãs; isso fez com que noCenso 2000 os wiccanos fossem

incluídos nos grupos de "outras religiões" e "Religiosidade não Determinada". De

qualquer forma, desde a década de 1990 a Wicca, ou a Bruxaria em geral, têm

crescido muito no país, especialmente em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e em

agumas cidades do Nordeste.

De 2000 à 2010, a religião Wicca teve um crescimento absurdo e, por mais que

no Censo 2010 realizado pelo IBGE, a religião Wicca, o Paganismo e o Neo-

paganismo não tivessem sido incluídos na relação das religiões existentes no país,

pode-se dizer que muitos dos seguidores das religiões pagãs e neo-pagãs, como é o

caso da religião Wicca, foram distribuídos entre as tradições esotéricas (74.013

seguidores), outras religiões (11.306 seguidores) ou religiosidade não determinada/mal

definida (628.219 seguidores).

Contudo, como já foi mencionado acima, existem vários segmentos dentro do

paganismo e do neo-paganismo, mas sendo a Wicca a religião que mais tem crescido

no Brasil dentre as demais religiões pagãs e neo-pagãs, principalmente por conta de

sua constante presença nos diálogos inter-religiosos de nosso país, a coloca também

como a de maior expressão, conseguinte, a de maior número junto às demais, pegando

uma fatia de pelo menos 2/5 de praticantes diretos e indiretos.

Desta forma, de acordo com alguns levantamentos, há uma estimado de que haja em

torno de 250 mil à 300 mil seguidores da religião Wicca no Brasil.

Isso não significa que sejam todos sacerdotes ou sacerdotisas, mas também seguidores

da religião.

Contudo, cabe lembrar mais uma vez que estes números são baseados em estimativa,

uma vez que ainda não temos no Censo demográfico realizado pelo IBGE a opção

Wicca, Paganismo ou Neo-paganismo.

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No Reino Unido, da mesma forma, os censos não permitem uma separação dentro do

contexto pagão, fazendo com que os wiccanos sejam marcados ao lado de outras

tradições neo-pagãs como a dos druidas e dos heathens através de um acordo em

comum realizado em 2001.

Recentemente, pela primeira vez os entrevistados foram capazes de se inscrever numa

afiliação não abrangidos pela lista comum das religiões, e um total de 42.262 pessoas

da Inglaterra, Escócia e País de Gales se declararam pagãos por este método.

Existem vários pontos em comum entre esses diferentes grupos, que geralmente

incluem pontos de vista sobre teologia, vida após a morte, magia e moralidade.

Embora as opiniões sobre a teologia da Wicca sejam variadas, a grande maioria dos

Wiccanos veneram tanto um Deus quanto uma Deusa.

Essas duas divindades são entendidas de várias formas através de perspectivas

do panteísmo (como os aspectos duais de uma única divindade), duoteísmo (como

dois pólos opostos) ou o politeísmo(sendo composta por muitas divindades menores).

Em algumas concepções panteístas e duoteísticas, divindades de diferentes culturas

podem ser vistas como aspectos da Deusa ou do Deus.

A tradição de Gardner prega que o Deus Cornífero é associado à morte, caça e magia,

um deus que reina sobre um paraíso pós-mundo (às vezes referido como

Summerland), enquanto que a Deusa Mãe (simultaneamente a Virgem Eterna e a

Feiticeira Primordial) é associada ao amor pela vida e à regeneração e ao renascimento

das almas dos mortos.

No entanto, existem também outros pontos de vista teológicos a serem encontrados

dentro da Bruxaria, incluindo o monoteísmo, o conceito de que há apenas um

divindade, que é visto por alguns, como no Dianismo, como a Deusa, enquanto que

para outros é um ser sem gênero, como na Church and School of Wicca.

Existem outros que são ateus ou agnósticos, que não acreditam em qualquer divindade

real, mas veem os deuses como arquétipospsicológicos da mente humana que podem

ser evocados.

De acordo com a bruxa Janet Farrar e com Gavin Bone, a Wicca está se tornando

cada vez mais politeísta à medida que amadurece, ao mesmo tempo que também

abraça uma cosmovisão pagã mais tradicional.

Para Janet e Stewart Farrar, que apoiam uma visãopanteística, duoteística e animista da

teologia, Wiccanos "veem todo o cosmos como vivo, como um todo e em todas as suas

partes", mas que "tal visão orgânica do cosmos não pode ser totalmente expressa e

vivida, sem o conceito de Deus e Deusa.

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Não há manifestação sem polarização, assim, ao mais alto nível criativo, que da

Divindade, a polarização deve ser o mais claro e poderoso de todos, refletindo e

espalhando-se por todos os níveis microcósmicos".

Para a maioria dos Wiccanos, o Deus e Deusa são vistos como polaridades

complementares no universo, existindo um equilíbrio entre um e outro, e desta forma

têm sido comparados com o conceito de yin e yang, encontrado no Taoísmo.

Como tal, são muitas vezes interpretados como sendo "encarnações de uma força de

vida manifesta na natureza", com alguns Wiccanos acreditando que eles são

simplesmente simbólos dessas polaridades, enquanto outros acreditam que o Deus e a

Deusa são seres verdadeiros que existem de forma independente. Às duas divindades

são dadas frequentemente associações simbólicas, com a Deusa comumente sendo

simbolizado como aTerra (ou seja, a Mãe Terra), mas também às vezes como a Lua, a

qual complementa o Deus, visto como o Sol.

Tradicionalmente, o Deus é visto como um Deus Cornífero, associado com

a natureza selvagem, a sexualidade, a caça e o ciclo de vida.

Ao Deus Cornífero é dado vários nomes de acordo com a tradição, e estas

incluem Cernuno, Pã, Atho e Karnayna. Embora este valor não seja igualado com a

figura tradicional de Satã, que é visto como sendo uma entidade dedicada ao mal

no cristianismo, uma pequena minoria de Wiccanos, de acordo com as acusações dos

julgamentos históricos de bruxas, referem-se a seu Deus Cornífero com alguns dos

nomes de Satanás, como "Diabo" ou como "Lúcifer", um termo latino que significa

"portador da luz".

Em outras ocasiões, o Deus é visto como o Homem verde, uma figura tradicional na

arte e da arquitetura européia, e muitas vezes interpretado como sendo associado com

o mundo natural.

O Deus é frequentemente descrito como um Deus Sol, em especial no festival

de Litha, ou o solstício de verão. Outra representação de Deus é a do Rei Carvalho e o

Rei Azevinho, aquele que governa aprimavera e o verão, esse que governa o outono e

o inverno.

A Deusa é geralmente retratada como uma Deusa tríplice, sendo assim uma divindade

triádica composta de uma deusa virgem, umadeusa-mãe e uma deusa anciã, cada um

dos quais tem associações diferentes, ou seja, a virgindade, a fertilidade e a sabedoria.

Ela também é comumente descrita como uma Deusa Lua, e muitas vezes é dado o

nome de Diana após a divindade romana. Alguns wiccanos, especialmente a partir

da década de 1970, têm visto a Deusa como a mais importante das duas divindades,

que é pré-eminente de que ela contém e concebe tudo.

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A este respeito, o Deus é visto como a centelha de vida e inspiração dentro dela, ao

mesmo tempo seu amante e seu filho.

Para uma forma monoteísta da Wicca, o Dianismo, a Deusa é a divindade única, um

conceito que tem sido criticado por membros de outras tradições mais igualitárias.

O conceito de ter uma religião e venerar um Deus Cornífero acompanhado de uma

Deusa tinha sido elaborado pela egiptóloga Margaret Murray durante a década de

1920.

Ela acreditava que, com base em suas próprias teorias sobre os primeiros ensaios da

bruxaria moderna na Europa, que essas duas divindades, mas principalmente o Deus

Cornífero, tinha sido adorado por um culto bruxo, desde que a Europa

Ocidental sucumbiu ao cristianismo.

Embora amplamente desacreditada, Gerald Gardner foi um defensor de sua teoria, e

acreditava que a Wicca foi uma continuação do histórico culto bruxo, e do Deus

Cornífero e da Deusa, eram, portanto, antigas divindades das ilhas britânicas.

A sabedoria moderna refutada as suas pretensões, porém vários diferentes deuses

corníferos e deusas mãe eram de fato adorados nas ilhas britânicas durante os períodos

antigo e medieval.

Existem muitos adeptos da Wicca que acreditam que a Deusa e o Deus são

meramente dois aspectos de uma mesma Deidade, às vezes vista como uma

deidade panteística, abrangendo, assim, tudo o que existe no Universo.

Em seus escritos, Gardner se refere a este ser como o Motor Primordial que

permaneceu desconhecido durante os séculos, embora nos rituais da sua tradição

chamada Gardnerianismo ele seja referido como Dryghten, originalmente uma palavra

que significa "Lord" ("Senhor") na Língua inglesa antiga.

A partir disso, diversos outros nomes foram dados a este "Motor Primordial"; Scott

Cunningham, por exemplo, chamava-no de "The One".

Assim como o panteísmo e o duoteísmo, muitos adeptos da Wicca são politeístas,

acreditando, assim, que existem diversos deuses existentes.

Alguns aceitam a ideia expressa pelo ocultista Dion Fortune de que "todos os deuses

são um deus, e todas as deusas são uma deusa".

Com tal mentalidade, um wiccano pode crer que a germânica Eostre, a hindu Kali, e a

cristã Virgem Maria são manifestações de uma Deusa Suprema e, da mesma forma,

que o celta Cernuno, o grego Dionísio e o judaico-cristão Yahweh são aspectos de um

mesmo Deus Supremo.

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Numa abordagem estritamente mais antiga da crença politeísta, os deuses e deusas são

em seu próprio direito criaturas distintas uma das outras, não sendo, assim, aspectos

nem elementos de uma outra "entidade maior".

Os escritores wiccanos Janet Farrar e Gavin Bone postularam que a Wicca é cada vez

mais politeísta à medida que amadurece, tendendo a adotar uma visão pagã cada vez

mais tradicional.

Outros wiccanos concebem as deidades não como personalidades literais mas

como arquétipos metafóricos ou uma tulpa, fazendo com que estes sejam decidamente

adeptos doateísmo.

Essa visão foi adotada pela Alta Sacerdotiza Vivianne Crowley, que também

era psicóloga, e que considerava as divindades da Wicca

como arquétipos Junguianos que existem no subconsciente e que poderiam ser

evocados através dos rituais.

Por esta razão, Crowley dizia que "A Deusa e o Deus se manifestam para nós em

sonho e em visão."

A Wicca é, essencialmente, uma religião imanente, e para grande parte dos wiccanos

esta idéia também envolve elementos do animismo.

Esta crença diz que a Deusa e o Deus (ou os deuses e as deusas) são capazes de se

manifestarem fisicamente, na forma de uma pessoa, ao vivo, sobretudo nos corpos do

Sacerdote e da Sacerdotiza, para fornecerem uma mensagem espiritual direta aos

integrantes do ritual.

Os rituais wiccanos contêm elementos das lendas de Ishtar (a virgem-mãe

da Babilônia, conhecida, também, por Astarte e Cibele) e de Deméter (a Ceres

romana); tais lendas são interpretadas como um símbolo contínuo

de morte e ressurreição.

Porém, a crença na reencarnação varia entre os wiccanos, embora ela tivesse sido

tradicionalmente ensinada na década de 1930 nos New Forest coven.

O influente Alto Sacerdote Raymond Buckland escreveu que uma alma humana

reencarna nas mesmas espécies durante muitas vidas para aprender lições e progredir

espiritualmente, mas essa crença não é universal no mundo da Wicca, uma vez que

outros acreditam que a reencarnação da alma acontece em espécies distintas.

Contudo, um ditado popular entre os wiccanos é que "uma vez bruxo, sempre bruxo",

indicando que os wiccanos são reencarnações de bruxas do passado.

Os wiccanos que crêem em reencarnação acreditam que as almas vivem entre o Outro

Mundo e a Terra de Verão, conhecida nas escritas de Gardner como o "êxtase da

Deusa".

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Da mesma forma, estes wiccanos acham ser possível se comunicar com espíritos que

residem no Outro Mundo através da mediunidade ou do tabuleiro ouija,

principalmente durante o Sabbat de Samhain, embora alguns discordem com esta

prática, como o Alto Sacerdote Alex Sanders, que dizia "estão mortos; deixem-os em

paz."

No entanto, a crença do contato foi muito influenciada pelo Espiritualismo, que estava

popular na época do surgimento da Wicca, e na qual Gardner e outros wiccanos como

Buckland e Sanders tiveram experiências diretas.

Apesar de alguns wiccanos acreditarem na vida após a morte, este não é o principal

foco da Wicca, nem mesmo para estes grupos.

A Wicca tende a se concentrar na vida atual porque, como observou Ronald Hutton,

"se alguém faz seu melhor na vida presente, em todos os aspectos, a vida seguinte vai

ser mais ou menos benéfica dentro do processo, então pode-se assim concentrar-se no

presente."

Boa parte dos wiccanos crêem na magia — uma força que eles vêem como sendo

capazes de manipulação através da prática de bruxariaou feitiçaria.

Alguns a denonimam "magick", variação cunhada pelo influente ocultista Aleister

Crowley, embora esta grafia é mais comumente associada com a religião

da Thelema de Crowley do que com a Wicca.

De fato, muitos wiccanos concordam com a definição de magia oferecida

pelos mágicos cerimoniais, como Aleister Crowley, que declarava que a magia é "a

ciência e a arte de provocar mudança de ocorrência em conformidade com a vontade",

enquanto que outro mágico cerimonial proeminente, MacGregor Mathers, afirmou

que era "a ciência do controle das forças secretas da natureza."

Os wiccanos também acreditam que a magia é a lei da natureza ainda incompreendida

ou ignorada pela ciência contemporânea, e, como tal, não a vêem como

sendo sobrenatural, mas sendo uma parte dos "super poderes que residem no natural",

como escrevia Leo Martello.

Alguns adeptos da Wicca preferem acreditar que a magia é fazer pleno uso dos cinco

sentidos a fim de se obter resultados surpreendentes, ao passo que outros wiccanos

não pretendem saber como ela funciona, apenas acreditando que ela funciona.

Os feitiços da Wicca são realizados durante as práticas rituais, na tentativa de provocar

mudanças reais no mundo físico.

Assim, os feitiços da Wicca geralmente são usados para a cura, a proteção, o

banimento de influências negativas e, principalmente, a fertilidade.

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Os pioneiros da Wicca, Alex Sanders, Sybil Leek eDoreen Valiente, chamavam suas

práticas de "magia branca", para separá-la da "magia negra", que é associada ao mal e ao

Satanismo e é usada contra um objeto, uma pessoa, um lugar.

Sanders também utilizava a terminologia "Caminho da Mão Esquerda" para descrever a

magia maléfica e "Caminho da Mão Direita" para descrever a magia realizada com boas

intenções; terminologia esta que teve sua origem com a ocultista Madame

Blavatsky no século XIX. Alguns wiccanos, contudo, alegam que a corpreta não é

necessariamente uma associação ao Mal.

A magia na Wicca define-se como a arte de enviar consciência a vontade, em ocasiões

respaldando estes pensamentos ou está fécom objectos como velas, talismãs,

ou ervas que representem a intenção do Mago Wicca.

Símbolos, cores, artefatos, o círculo, movimentos, música e mantras fazem parte do

conjunto fundamental de elementos na magia wicca a fim de se obter o efeito buscado,

que varia de grupo a grupo.

Scott Cunningham escreveu: "O poder pessoal é a força vital que sustenta nossas

existências terrenas. Ela move nossos corpos. [...] Na magia, o poder pessoal é gerado,

imbuído de um propósito específico, liberado e direccionado ao seu objectivo."

Não existe nenhum dogma moral ou código ético universalmente seguido pelos

wiccanos de todas as tradições, no entanto a maioria segue um código conhecido como

a Wiccan Rede que afirma "sem ninguém prejudicar faz o que tu quiseres".

Geralmente, essa frase é interpretada como uma declaração de liberdade para atuar na

vida, juntamente com a necessidade de assumir a responsabilidade por aquilo que

resulta de nossas ações e minimiza danos a si mesmo e aos outros.

Outro elemento típico da moralidade wiccana é a Lei Tríplice que diz que qualquer

ação malévola ou benéfica retornará ao autor três vezes mais forte, ou com igual força

a nível do corpo, da mente e do espírito.

Tanto a Rede como a Lei Tríplice foram introduzidas no Ofício por Gerald Gardner e

posteriormente adotadas pelas outras tradições.

Em grande parte das tradições da Wicca, há a crença nos Quatro Elementos, mas ao

contrário da filosofia na Grécia Antiga, elas são vistas como simbólicas em vez de

literal, ou seja, são representações das fases da matéria.

Esses elementos são geralmente evocados durante os rituais mágicos da Wicca e

nomeados ao se consagrar um círculo mágico. Os quatro elementos

são: Ar, Fogo, Água e Terra, acrescido de um quinto, o Éter (ou Espírito), que une

todos os outro quatro elementos.

Para se explicar o conceito dos Cinco Elementos, foram criadas diversas analogias,

como a da wiccana Ann-Marie Gallagher, que usava o exemplo de uma árvore, que é

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composta de terra (com o solo e matéria vegetal), água (seiva e umidade), fogo (através

da fotossíntese) e ar (a criação de oxigênio e dedióxido de carbono), que se acredita

serem unidos pelo Espírito.

Tradicionalmente, no Gardnerianismo, cada elemento é associado a um ponto

cardeal da bússola, sendo o ar oriental, o fogo sul, a águaoeste, a terra o norte e o

Espírito o centro.

No entanto, alguns wiccanos, como Frederic Lamond, alegaram que os pontos cardeais

foram definidos apenas visando a geografia do sul da Inglaterra, onde a Wicca

emergiu, e que os wiccanos devem determinar os pontos de acordo com sua região;

por exemplo, aqueles que vivirem na costa leste da América do Norte deve chamar

água o leste e não o ocidente, porque o corpo colossal de água, no Oceano Atlântico, é

a seu leste.

Cada elemento também possui uma ferramenta exclusiva nos rituais, sendo a varinha

para o ar, o athame para o fogo, o cálice para a água, o pentáculo para a terra e o

próprio círculo mágico (ou o caldeirão mágico) para o espírito.

Cada um dos Cinco Elementos são representados por cada ponta do pentagrama, o

símbolo mais utilizado da Wicca, com o Éter (ou o Espírito) no ponto mais alto.

Ao que concerne todas as tradições wiccanas, pode-se dizer que as práticas e os rituais

são o foco principal da Wicca.

Estes ritos incluem ferramentas mágicas: como uma faca chamada athame,

uma varinha, um pentagrama, um cálice, às vezes um cabo de vassoura, um caldeirão

mágico, velas, incensos e uma lâmina curva conhecida como bolline. Na maioria das

vezes, o altar é obrigatório dentro do círculo, onde todas ou parte das ferramentas

citadas são colocadas e, às vezes, junto a representações do Deus e da Deusa.

Antes de entrar no círculo, algumas tradições se banham. Depois de um ritual

terminado, os adeptos agradecem os deuses e o círculo é fechado.

O círculo mágico é de suma importância para a magia e é considerado um lugar de

reunião, de amor, de alegria, de verdade; na Wicca, é um escudo contra o mal e serve

também para preservar e conter o poder mágico.

Síntese ideológica da coincidência dos opostos e o equilíbrio dos contrários, o Círculo

Mágico é traçado às vezes com giz, carvão ou mesmo simbolicamente com a vareta, no

chão, e pode ser considerado um baluarte que inclui figuras que correspondem

ao triângulo, ao quadrado, ao pentágono, ao hexágono.

Em grandes círculos, o Mago pode incluir os nomes dasentidades a serem evocadas, ao

passo que nos círculos menores, que correspondem aos quatro pontos cardeais, muitas

vezes são postas figuras da Cabala e, no centro, mantras ou signos, cujo valor símbolo

devem estar de acordo com a potência evocada.

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O Mago nunca deve sair do Círculo Mágico antes do término da operação e

geralmente atua com as costas voltadas para o Oriente.

Os Wiccanos celebram diversos festivais sazonais do ano, que são conhecidos

como Sabás; estas reuniões são geralmente conhecidas como Roda do Ano e festejam

as estações anuais e suas colheitas.

Existem diversos ritos de passagem dentro da Wicca. Talvez o mais significante deles

seja o ritual de iniciação, através do qual alguém se junta à Craft e torna-se um wiccano.

Ao contrário da Bíblia e do Qur'an, a Wicca não possui um texto sagrado, embora

existam algumas escrituras e textos que várias tradições diferentes suportam como

importante e influente para suas crenças e práticas.

Os diversos símbolos na Wicca são a linguagem criadora que expressam o que "não

pode ser dito claramente".

Algumas tradições utilizam o símbolo de uma mulher pisando numa serpente ou um

homem derrotando um dragão, símbolo da dominação ou da vitória diante das

vontades fracas, e que pode ser um símbolo análogo às imagens católicas de Nossa

Senhora de Imaculada Conceição e de São Jorge.

A serpente representa a ambivalência de toda manifestação e é maléfica sobre a

aparência de Tifão e de Píton ou também pode representar sabedoria, como indica

seu nome grego Ophis, anagrama por uma letra da sabedoria, Sophia.

A Donzela representa encantamento, criação, expansão, a promessa de novos

começos, nascimento, juventude e entusiasmo juvenil, representada pela lua crescente;

a Mãe representa maturação, fertilidade, sexualidade, respeito, estabilidade, poder,

vida e é representada pela lua cheia; A Anciã representa a sabedoria, o repouso, a

morte e terminações, e é representada pela lua minguante.

Outro símbolo menos usado nas tradições da Wicca mas bastante constante em outras

formas de neopaganismo é a Estrela de David, a estrela de seis pontas.

O pentagrama, a estrela de cinco pontas, por sua vez, é um outro símbolo, mais

utilizado pelos wiccanos que a Estrela de David, e praticamente obrigatório na maior

parte das tradições wiccanas.

Este não é exclusivamente Wicca; o pentagrama era o signo secreto dos Pitagóricos.

Embora haja distinção entre a doutrina exotérica de Pitágoras (que concerne a conexão

entre música e aritmética e o vínculo da matemática à ciência) e a esotérica, dirigida aos

iniciados, pode-se dizer que tanto para um quanto para outro o pentagrama é uma

indicação da vida e da inteligência, e para os Wiccanos simboliza ainda os quatro

elementos acrescentado do Espírito, no ponto mais alto do ângulo.

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No entanto, no Satanismo, e exclusivamente nele, invertido ou com uma representação

de um bode negro o pentagrama simboliza o mal.

A Wicca surgiu na Inglaterra, país predominantemente cristão, e desde seu início

sofreu preconceito de alguns grupos de outras religiões e de tablóides populares como

o News of the World.

Esse tipo de preconceito continua nos dias de hoje, com alguns cristãos dizendo que a

Wicca é uma forma de Satanismo, apesar de existir uma grande diferença entre as

duas religiões.

Os wiccanos, por exemplo, não crêem em Lúcifer ou em Satã, tampouco na vinda de

um deles à Terra.

Devido à conotação negativa associada à Bruxaria moderna, muitos wiccanos mantém

suas práticas em sigilo, ocultando sua fé por medo de perseguição. Por conta disso

existe a brincadeira entre wiccanos de "sair do armário de vassouras", ou seja, revelar-se

socialmente que se é wiccano.

VIII. NEOBUDISMO

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1.Seicho-no-ie

Surgiu em 1º de março de 1930 como revista de Cultura Moral, cresceu no pós-guerra

no Japão, sofreu perseguição militar e foi transformada em religião.

Nesta época, a sociedade japonesa viu desmoronar a religião oficial do Estado, baseada

na crença na divindade do imperador e uma das bases da ideologia militarista.

Nesse vácuo ideológico e espiritual surgiram ou cresceram inúmeras seitas e religiões,

entre elas a Perfect Liberty, a Igreja Messiânica Mundial (Johrei) e a Seicho-No-Ie. Esta

última contribuiu para a revitalização da religiosidade, incentivando seus adeptos à

prática de suas religiões de origem.

A Seicho-No-Ie foi fundada por Masaharu Taniguchi (1893–1985) e se mundializa a

partir da II Guerra Mundial. Seu conjunto doutrinário incorpora elementos

do cristianismo, do budismo e do xintoísmo - três grandes religiões presentes no Japão,

representadas no seu símbolo oficial respectivamente pela estrela verde no centro, pela

cruz gamada branca intermediária (Lua) e pelo círculo vermelho externo com suas 32

flechas (Sol).

Sua origem cerimonial está ligada, principalmente, ao Xintoísmo, sendo também seus

rituais o batismo, casamento e culto aos antepassados, do qual é talvez o melhor

representante fora do Japão. Vale ressaltar que na Seicho-No-Ie há muita liberdade de

adaptação de cerimonias ligadas à cultura local. Diferentemente de muitas religiões

tradicionais, onde a conduta dos adeptos é condicionada pelo medo, Nakajima explica

que A Seicho-no-iê rejeita o "tem de ser assim", isto é considera que nada deve ser

forçado e ensina a viver naturalmente a vida como ela é.

Ensinamentos como "O ser humano é filho de Deus", "O mundo fenomênico é

projeção da mente" e "Grande harmonia" são interpretados de várias maneiras, em

conformidade com pessoa, tempo e lugar.

O conjunto doutrinário da Seicho-no-Ie reúne tradições xintoístas, cristãs, budistas,

dentre outras.

Predomina, a exemplo da outras Novas Religiões Japonesas, elementos da

religiosidade nipônica, que valoriza todas as formas de vida, preza pelo respeito ao

próximo, gratidão aos pais e cultua os ancestrais.

A Verdade essencial da Seicho-No-Ie é: "O Homem é Filho de Deus" e, sendo assim, é

herdeiro de todas as dádivas dele.

Basta apenas que se conscientize disso para manifestar no mundo fenomênico (mundo

material) a sua perfeição.

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Para isso, há várias práticas adotadas pelos praticantes da Seicho-No-Ie, sendo as mais

importantes:

Prática da Meditação Shinsokan (que, numa tradução livre, significa "ver e

contemplar Deus").

Leitura de Sutras Sagradas e palavras da Verdade;

Prática de atos de amor e caridade;

A Seicho-No-Ie também estuda as "leis mentais", das quais se destaca a lei "Os

semelhantes se atraem" (Lei da Atração).

Normas Fundamentais dos Praticantes da Seicho-No-Ie:

1ª) Agradecer a todas as coisas do Universo;

2ª) Conservar sempre o sentimento natural;

3ª) Manifestar o amor em todos os atos;

4ª) Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos;

5ª) Ver sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as suas partes

negativas;

6ª) Anular totalmente o ego;

7ª) Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na vitória

infalível;

8ª) Iluminar a mente, praticando a Meditação Shinsokan todos os dias sem falta.

A Doutrina da Seicho-no-iê é alicerçada nas escrituras de Masaharu Taniguchi, sendo

as mais importantes entre os adeptos, a "Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade" e

a Coleção "A Verdade da Vida" , composta por 40 volumes, que sintetiza as pregações

de Taniguchi.

Estas obras são publicadas no Japão pela Nippon Kyobunsha Co. Ltd. e, no Brasil,

pela Seicho-no-ie do Brasil.

Verdade Vertical: Só Deus e o que Ele cria existem verdadeiramente, ou seja, não tem

início nem fim, é eterno, infinito (Ele é o Bem, o Criador, a Verdade, Jissô (Imagem

Verdadeira), etc.). Como o homem (na sua essência espiritual) também é criação de

Deus, ele possui a mesma natureza infinita de Deus. Daí vem a principal convicção do

adepto da Seicho-No-Ie: "O Homem é Filho de Deus".

Verdade Horizontal: O mundo fenomênico é projeção da mente humana; o mal não

existe, ou seja, tem início e fim, é efêmero, não é eterno, é finito (ele é apenas criação

da mente humana).

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Da mesma forma, a doença, a morte, o envelhecimento e os pecados também não

existem porque são derivações desse mesmo mal (ilusões da mente humana). Todas as

coisas perceptíveis aos cinco sentidos e também ao sexto sentido não são existências

reais porque não têm a mesma natureza perfeita de Deus. Elas são, portanto,

projeções da mente humana (ilusão) que constitui a causa dos sofrimentos humanos.

Jissô: A realidade absoluta, transcendental, o ser verdadeiro, absoluto, eterno e

perfeito, constituído de Idéia de Deus; a Essência do ser.

Número de membros no Brasil

Segundo o departamento de comunicação da Seicho-No-Ie, em São Paulo, a doutrina

conta com cerca de 3,5 milhões de membros no Brasil, além de um número

incalculável em mais de 40 países no mundo todo. A doutrina encontra-se ramificada

por todos os estados da Federação, além do Distrito Federal, onde possui um templo

em estilo japonês.

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2. Igreja Messiânica Mundial

Igreja Messiânica Mundial é uma instituição religiosa fundada em 1 de janeiro de1935,

no Japão, por Mokiti Okada (1882-1955) — cujo nome religioso é Meishu-

Sama (Senhor da Luz). Ela é classificada como uma nova religião japonesa.

Mokiti Okada, afirma que, por revelação, recebeu de Deus a missão de dar início à

construção doParaíso Terrestre, o mundo ideal consubstanciado na trilogia verdade,

bem e belo em que a civilização atual se transformaria.

Um mundo em que a doença, a miséria e o conflito dariam lugar à saúde, a

prosperidade e à paz.

O elemento principal da Igreja Messiânica é a crença no Johrei, que seria a

transmissão de Luz Divina através da palma das mãos e que pode ser praticado por

todos os messiânicos.

Acredita-se que o Johrei traz purificação espiritual, o que traria bem estar, cura de

doenças e uma saúde perfeita.

A religião tem hoje no Brasil cerca de 103 mil membros.

A Fundação Mokiti Okada é uma instituição social sem fins lucrativos, destinada a

concretizar através de ações sociais, projetos, a filosofia de Mokiti Okada no Brasil.

Ligada à Igreja Messiânica Mundial do Brasil, foi criada em 19 de janeiro de 1971, tem

atuação em todo o território nacional e o objetivo de contribuir para uma sociedade

mais harmoniosa e progressista.

Johrei

Johrei é uma oração ou terapia feita através da imposição de mãos, vista pelos seus

adeptos como a comunicação da luz divina para o aprimoramento e elevação espiritual

e material do ser humano.

Visando a eliminação de suas máculas (pecados), que estão em seu espírito, advindas

de maus pensamentos, más palavras e más ações, que através dessa purificação

permitida pela johrei, seriam eliminadas e consequentemente se obteria

progressivamente mais saúde, prosperidade e paz.

Essa comunicação se dá através da imposição das mãos, pelos membros da Igreja

Messiânica Mundial.

Essa terapia espitirual foi idealizada e concretizada por Meishu-Sama, fundador da

Igreja Messiânica Mundial.

Esta palavra de origem japonesa, é composta dos ideogramas:"Joh" (purificar) e "Rei"

(espírito). Em síntese, significa "Purificação do espírito" ou "Batismo pelo Fogo".

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Em essência consiste no ato de purificar o espírito do Homem pela energia espiritual

do fogo, predominante na luz do "Supremo Deus".

Dentre os seguidores da Igreja, o Johrei é considerado a Luz Divina, emanada de Deus

e Meishu-Sama que é transmitida pelos membros da Igreja com o objetivo de purificar

o espírito, através da eliminação das máculas espirituais, que são a causa dos

sofrimentos humanos.

É a prática altruísta central da fé Messiânica, sendo até mesmo o nome pelo qual é

conhecido o referido movimento.

Qualquer pessoa pode ser capacitada a ministrar Johrei, sendo preciso, ser outorgada

com o Ohikari (do Japonês - Luz Divina) que é um medalhão utilizado pelos membros

da doutrina.

Caso tenha também uma outra religião, pode continuar praticando-a, sem nenhum

impedimento.

Por esse motivo, existem até mesmo praticantes do Johrei que pertencem também a

outras religiões e estão integrando nas suas atividades esta prática.

Não sendo necessários curso de formação, apenas orientações de como usar o

Ohikari, os cuidados que se devem ter, e como fazer a ministração do Johrei.

A medalha do Ohikari é geralmente de formato circular, e usada por baixo das roupas.

O material do seu cordão é livre: pode ser de silicone, corda, metal ou do que o

usuário preferir.

Dentro do Ohikari há réplicas do ideograma japônes Hikari, que originalmente foram

impressionados por Meishu-Sama, e que significa "Luz".

Acreditando que as palavras tem poder e emitem vibrações assim como as imagens,

esta palavra impressionada no papel, emitiria essa Luz de Deus, quando da

ministração, e seria canalizada pela imposição das mãos para as outras pessoas.

A cunhagem dos Ohikaris remontam à época em que Meishu-Sama ainda era membro

da Igreja Oomoto, ou Oomoto Kyo, e este foi confiado do próprio Mestre Deguchi,

então lider do grupo religioso, a produzir tais talismãs.

Os cuidados com o Ohikari devem ser redobrados pois, entre os membros, é

conhecido que ao cair no chão este deverá ser reconsagrado antes de utilizado

novamente.

Não se pode ministrar Johrei sem um Ohikari, de acordo com os membros da Igreja

Messiânica.

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No Brasil existem 10 organizações que divulgam a religião de Mokiti Okada. As mais

conhecidas São:

1 - Igreja Messiânica Mundial do Brasil, fundado em Julho de 1965;

2 - Templo de Luz do Oriente, fundado em 15 de junho de 1973 pelo Minoru

Nakahashi;

3 - Arte do Johrei, fundado em 2005 por: Dorgival Santos Silva;

4 - Arte Mundial de Johrei, fundado em 2012 por: Paulo Marback.

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3.Igreja da Unificação

A Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial mais

conhecida como Igreja de Unificação é um movimento religioso fundado

em Seul, Coreia do Sul em 1 de maio de 1954 por Sun Myung Moon, o Reverendo Moon. Em 1996, o nome oficial da igreja mudou para a Associação das Famílias para

Unificação e Paz Mundial.

A teologia da Igreja da Unificação é baseada no livro Princípio Divino, que ensina e

explica a existência de um só Deus, o Criador do Universo, o Pai e Mãe de toda a

Humanidade, que criou o homem e a mulher para o ideal da família através das três

grandes bênçãos (Genesis 1:28), e está trabalhando para restaurar esse ideal original

antes da queda, na terra e no mundo espiritual, buscando a salvação universal de todas

as pessoas através de uma nova família verdadeira restaurada.

Deus, através de Jesus, escolheu o jovem Sun Myung Moon, na Páscoa de 1936, na

Coreia, para concluir a missão da salvação como a segunda vinda de Cristo, o Messias

e Salvador da humanidade.

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Bibliografia

Sites oficiais, internet, livros sagrados e doutrinas.

Contatos com o autor: [email protected]