releituras de jane austen nos mangás femininos japoneses

15
Prof.ª Dr.ª Valéria Fernandes da Silva Releituras de Jane Austen no Mangás Femininos Japoneses

Upload: valeria-shoujofan

Post on 30-Jun-2015

2.534 views

Category:

Education


1 download

DESCRIPTION

Esse era meu trabalho no IV Encontro Nacional da JASBRA. Infelizmente, não pude ir... O resumo era este aqui: Jane Austen é uma das escritoras inglesas mais lidas e relidas em todo mundo e sua influência pode ser percebida em várias mídias e suas obras, especialmente Orgulho & Preconceito, sua obra mais conhecida, é constantemente revisitada pela literatura, quadrinhos, cinema, TV, etc. Também no Japão, Jane Austen faz sucesso e nos últimos anos algumas de suas obras mais famosas – Orgulho & Preconceito, Razão & Sensibilidade, Ema – foram adaptadas para o formato quadrinho. Os mangás, quadrinhos japoneses, são hoje uma das propagandas mais vigorosas do Japão, ajudando a difundir a cultura do país pelo mundo. Os mangás desde muito tempo mantém diálogo profícuo com aquilo que é produzido em outros países e este é o caso das obras de Jane Austen e suas adaptações para o cinema e TV. Em particular as produções nipônicas para o público feminino constantemente revisitam a obra da escritora inglesa, seja via quadrinho ou mesmo através do teatro feminino Takarazuka. Em nossa comunicação pretendemos discutir as adaptações das obras de Austen para mangá, assim como algumas das releituras e apropriações que as autoras dos quadrinhos femininos japoneses (shoujo mangá) tem feito nas últimas quatro décadas das obras e personagens da escritora inglesa e em particular, Orgulho & Preconceito.

TRANSCRIPT

Page 1: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Prof.ª Dr.ª Valéria Fernandes da Silva

Releituras de Jane Austen no Mangás Femininos Japoneses

Page 2: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Jane Austen no Japão

O Japão começou sua abertura para o Ocidente com a chamada Restauração Meiji (1868).

A nova era trouxe um impulso à modernização tecnológica e cultural nos moldes ocidentais.

Autores europeus e norte americanos foram traduzidos para o japonês ainda no século XIX com grande sucesso.

Jane Austen, no entanto, esperou até 1926 para ser traduzida e a obra escolhida foi Orgulho & Preconceito.

Page 3: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Jane Austen no Japão

Orgulho & Preconceito já gozava de prestígio entre as elites intelectuais japonesas antes da sua tradução, graças ao trabalho do escritor e especialista em literatura inglesa Natsume Sōseki.

Sōseki associou Jane Austen ao ideal de “boa esposa, mãe sábia” que servia de diretriz para a educação feminina durante a Era Meiji e Taishō.

Nogami Toyoichirou, o tradutor, e sua esposa, a escritora Nogami Yaeko, foram discípulos de Sōseki.

Page 4: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Jane Austen no Japão

Nogami Yaeko (1885-1985) foi a primeira a trazer Austen para o grande público japonês. Seu romance Machiko é considerado uma releitura politizada de Orgulho & Preconceito.

Em Machiko, uma jovem moderna questiona o sistema de casamentos arranjados e deseja uma carreira.

Como Elizabeth Bennet, Machiko precisa lidar com três pretendentes: um rico e orgulhoso; outro revolucionário e libertino; e o último formal e frio.

Page 5: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Jane Austen na Cultura Pop Japonesa

Após a II Guerra (1939-45), multiplicaram-se as traduções de obras de Jane Austen, assim como suas adaptações serializadas em revistas populares e outras mídias.

No entanto, de todas as obras da autora, é Orgulho & Preconceito a mais conhecida no Japão.

Suas adaptações e releituras para a TV, cinema e teatro, garantiram ampla difusão tanto da história original, quanto das suas protagonistas, Darcy e Elizabeth.

Page 6: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Jane Austen na Cultura Pop Japonesa

Sucesso com o público feminino, Orgulho & Preconceito foi transportado para dois formatos muito populares no Japão: o shoujo mangá (quadrinhos femininos) e o Teatro Takarazuka.

O Japão é o único mercado de quadrinhos no mundo no qual uma fatia considerável é voltada para o público feminino de todas as idades.

Outra singularidade é que boa parte dos mangás produzidos para este público é feito por mulheres e publicado em revistas femininas.

Page 7: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Jane Austen na Cultura Pop Japonesa

Houve dois tipos de apropriação de Orgulho & Preconceito pelas autoras de quadrinhos japoneses.

A mais comum é a que utiliza as linhas gerais da história, especialmente o relacionamento entre Darcy e Elizabeth, e algumas personagens.

A outra forma é a transposição da obra original para o formato mangá.

Neste caso, percebe-se, também, o diálogo com as adaptações de Orgulho & Preconceito para cinema e TV da obra.

Page 8: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Referências, Releituras e Homenagens Orgulho & Preconceito

(Kouman to Henken) foi adaptado para mangá por Reiko Mochizuki em 2009.

Em dois volumes, a obra tenta transpor o original, para mangá, utilizando como referência visual a série da BBC de 1995 e o filme de 2005.

Page 9: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Referências, Releituras e Homenagens

A releitura em formato mangá mais conhecida e bem sucedida de Orgulho & Preconceito é Hana Yori Dango (1992-2003).

A série foi adaptada para animação, novela televisiva e cinema.

Hna Yori Dango, de Yoko Kamio, é o shoujo mangá mais vendido de todos os tempos.

Page 10: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Em forma de romance escolar, temos uma heroína pobre e corajosa, que se torna alvo da atenção e, depois do afeto, de um rapaz rico e arrogante.

Page 11: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Referências, Releituras e Homenagens

Hana Yori Dango permite identificação imediata com Orgulho & Preconceito: a heroína, Tsukushi Makino, é Elizabeth Bennet; Tsukasa Doumyouji é um Mr. Darcy; a mãe de moça é a Sr.ª Bennet, interessada em um casamento vantajoso, já a mãe de Tsukasa é Lady Catherine De Burgh capaz de tudo para separar o casal.

Page 12: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Referências, Releituras e Homenagens

Outras referências são menos explícitas, em Glass Mask, de Suzue Miuchi, série iniciada em 1976, a relação entre a protagonista, Maya Kitajima, e Masumi Hayami é em Orgulho & Preconceito.

Glass Mask já vendeu milhões de cópias e foi adaptado para animação e novela mais de uma vez.

Page 13: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Referências, Releituras e Homenagens

A relação entre as obras foi percebida de imediato quando a primeira animação foi exibida na França, e o nome de Masumi foi mudado para Maxime Darcy.

Maya e Masumi se desentendem em público, ela o considera arrogante e cruel, ele a trata com desdém, mas, em segredo, a protege e auxilia sua carreira como atriz.

Page 14: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Referências, Releituras e Homenagens

Em 2012, o teatro Takarazuka, encenou uma adaptação de Orgulho & Preconceitocom o nome de Angel’s Ladder (Tenshi no Hashigo).

O Takarazuka Revue foi fundado em 1913. Em suas peças todos os papéis são interpretados por mulheres. Orgulho & Preconceito foi a primeira obra de Jane Austen adaptada pela Revue.

Page 15: Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses

Considerações Finais Orgulho & Preconceito fascina os japoneses desde o

início do século XX sendo identificado, ora, com a propaganda estatal da mulher ideal, ora, às mulheres modernas que buscavam novos horizontes.

Dos círculos intelectuais a obra migrou para a cultura pop, conseguindo grande êxito entre as produções feitas para o público feminino.

Mesmo 200 anos depois de seu lançamento, Orgulho & Preconceito se mantém capaz de romper barreiras culturais permitindo múltiplas interpretações e apropriações.