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1/16 REFª: 26294053 RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR - 155º CIRE CARACTERIZAÇÃO Tribunal Competente: Ref. de autoliquidação: Nº Processo: Santo Tirso - Tribunal Judicial da Comarca do Porto 671/17.9T8STS Unidade Orgânica: Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3 Finalidade: Juntar a Processo Existente ADMINISTRADOR JUDICIAL SUBSCRITOR Nome: Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva Morada: Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, 236 Localidade: Código Postal: 4770-831 Castelões Vnf Telefone: 252921115 Fax: Email: Nº Registo: 366 NIF: 206013876 Peça Processual entregue por via electrónica na data e hora indicadas junto da assinatura electrónica do subscritor (cfr. última página), aposta nos termos previstos na Portaria n.º 280/2013, de 26 de Agosto Documento processado por computador Relatório do Administrador - 155º CIRE REFª. 26294053 Pág. 1/1

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REFª: 26294053

RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR- 155º CIRE

CARACTERIZAÇÃO

Tribunal Competente:

Ref. de autoliquidação:

Nº Processo:

Santo Tirso - Tribunal Judicial da Comarca do Porto

671/17.9T8STSUnidade Orgânica: Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

Finalidade: Juntar a Processo Existente

ADMINISTRADOR JUDICIAL SUBSCRITOR

Nome: Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva

Morada: Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, 236

Localidade:

Código Postal: 4770-831 Castelões Vnf

Telefone: 252921115 Fax: Email:

Nº Registo: 366

NIF: 206013876

Peça Processual entregue por via electrónica na data e hora indicadas junto da assinatura electrónica do subscritor (cfr. última página), aposta nos termos previstos na Portaria n.º 280/2013, de 26 de Agosto

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P á g i n a | 1

Escritório:  Correspondência: Telefone: 252 921 115 

Quinta do Agrelo Apartado 6042Rua do Agrelo, 236 4774‐909 Pousada de Saramagos Fax: 252 921 115 4770‐831 Castelões VNF [email protected] www.nunooliveiradasilva.pt

Administrador Judicial – Economista – Contabilista Certificado 

Exmo(a). Senhor(a) Doutor(a)  Juiz de Direito 

do  Tribunal  Judicial  da  Comarca  do  Porto  ‐ 

Juízo de Comércio de Santo Tirso 

 Juiz 3 

Processo nº 671/17.9T8STS 

V/Referência: 

Data:

Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves” 

 

Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na Quinta 

do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão, contribuinte nº 

206  013  876,  Administrador  da  Insolvência  nomeado  no  processo  à  margem 

identificado, vem requerer a junção aos autos do relatório a que se refere o artigo 155º 

do C.I.R.E., bem como o respectivo anexo (inventário). 

Mais  informo que não  foi  elaborada a  lista provisória de  créditos prevista no 

artigo 154º do CIRE, uma vez que vai ser junto aos autos a relação de credores a que 

alude o artigo 129º do CIRE. 

P.E.D. O Administrador da Insolvência 

Nuno Oliveira da Silva 

Castelões, 5 de julho de 2017 

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

1 | P á g i n a

I – Identificação dos Devedores

Joaquim Manuel da Rocha Lopes, N.I.F. 202 859 045 e Mónia Susana

de Paiva Neves, N.I.F. 208 697 390, residentes na Rua João Ventura, nº 84, freguesia

e concelho de Valongo (4440-840).

II – Situação profissional e familiar dos devedores

Os devedores são casados entre si no regime de comunhão de adquiridos e residem

em casa própria com uma filha menor (10 anos).

A devedora esposa encontra-se desempregada desde 2014, não auferindo,

actualmente, qualquer rendimento.

Por sua vez, o devedor marido foi empresário em nome individual entre 5 de

Agosto de 2016 até 24 de Março de 2017, tendo-se dedicado, durante esse período ao

comércio de veículos automóveis ligeiros (CAE 45110) e à construção de edifícios -

residenciais e não residenciais - (CAE 41200). Não é possível ao signatário identificar de

forma precisa o rendimento auferido pelo devedor, contudo, de acordo com a declaração

de rendimentos – Modelo 3 do IRS – verificou que durante o ano de 2016, o devedor

marido declarou para efeitos fiscais prestação de serviços anuais no valor total de Euros

2.195,00, assim, o seu rendimento médio mensal ascendeu a cerca de Euros 439,00.

Importa ainda referir que através do portal “e-factura” constata-se a inexistência de

comunicação dos valores totais facturados mensalmente pelo devedor. Desde que cessou

a actividade, o devedor encontra-se desempregado e sem auferir quaisquer rendimentos1.

III – Actividade dos devedores nos últimos três anos e os seus

estabelecimentos (alínea c) do nº 1 do artigo 24º do C.I.R.E.)

1 Informação prestada pela mandatária dos devedores por email de 5 de Julho de 2017.

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

2 | P á g i n a

Os devedores encetaram uma demanda empresarial enquanto sócios e gerentes da

sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda., NIPC 503 185 4262. Nesta qualidade

prestaram o seu aval em diversas operações financeiras celebradas pela sociedade

identificada, no valor de Milhares de Euros.

Fruto de dificuldades várias, esta sociedade veio a ser declarada insolvente:

1. Por sentença datada de 10 de Abril de 2014, foi proferida a declaração de

insolvência desta sociedade, no âmbito do processo com o nº

220/14.0TYVNG, que correu termos na Instância Central de Vila Nova de

Gaia - 2ª Secção de Comércio - J23;

2. A sociedade cessou a actividade para efeitos fiscais (IVA e IR) em 24 de

Novembro de 20144;

3. Resultado da qualificação da insolvência como culposa, por sentença de

30 de Junho de 2016 foi o devedor marido declarado inibido para o

exercício do comércio, bem como para ocupação de qualquer cargo de

titular de órgão de sociedade comercial ou civil, associação ou fundação

privada de actividade económica, empresa pública ou cooperativa pelo

período de dois anos.

Para além desta sociedade, o devedor marido foi ainda sócio e gerente da

sociedade Amazingloft Unipessoal Lda., NIPC 510 893 3255 e administrador da

sociedade Sonskuyn Investments, S.A., NIPC 510 918 3446.

2 Sociedade por quotas com sede na Rua Visconde Oliveira do Paço, 32, Sala V, 3.º, Campo, 4440-032 Valongo e com o capital social de Euros 149.639,36. Tinha como objecto social a construção de edifícios, comércio a retalho de tintas, vernizes e produtos similares, compra e venda de bens imobiliários - revenda dos adquiridos para esse fim. 3 Foi nomeado Administrador Judicial o Dr. Augusto Rosa Roberto. 4 Informação prestada pelo Administrador Judicial, Dr. Joaquim António da Silva Correia Ribeiro, por contacto telefónico de 28 de Junho de 2017. 5 Sociedade por quotas com sede na Rua Visconde Oliveira do Paço, 32, Sala V, 3.º, Campo, 4440-032 Valongo e com o capital social de Euros 1.000,00. Tinha como objecto social a construção de edifícios e outras obras de engenharia civil. Promoção imobiliária. Foi também esta sociedade declarada insolvente no âmbito do processo nº 1025/16.0T8STS, que correu termos na Comarca do Porto, Santo Tirso - Inst. Central - 1ª Sec.Comércio - J1, tendo este processo encerrado em Abril de 2017 por insuficiência da massa insolvente. 6 Sociedade anónima com sede na Rua João Ventura, nº 84, 4440-840 Valongo e com o capital social de Euros 50.000,00. O objecto social respeita Compra e venda de imóveis, revenda dos adquiridos para esse fim, arrendamentos, gestão e administração de imóveis; promoção imobiliária; construção civil e obras públicas; aluguer de maquinas e equipamentos para a construção e engenharia civil.

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

3 | P á g i n a

A acrescer ao passivo assumido por reversão e pelos avais prestados, os devedores

são ainda demandados a título pessoal:

I. Por três contratos de mútuo com hipoteca celebrados com a Caixa Geral

de Depósitos, S.A. em Dezembro de 2006, Junho de 2007 e Junho de

20087, no montante global de Euros 375.000,00, cujo capital actualmente

em dívida ascende a cerca de Euros 345.000,008;

II. Pelo pagamento de custas e demais encargos legais pelo Processo Especial

de Revitalização nº 1484/16.0T8VRL9, foram os devedores condenados a

pagar o valor de Euros 7.032,90;

III. Pelo incumprimento do contrato de prestação de serviços outorgado com

a MEO – Serviços de Comunicação e Multimédia, S.A., resultante do não

pagamento de facturas referentes aos meses de Maio a Novembro de 2015,

no valor total de Euros 1.239,76.

Com o decurso do tempo, viram-se ainda os devedores demandados em diversos

processos de índole executiva.

As dificuldades em honrar os seus compromissos decorrem de dois factores:

1. Da insolvência da empresa em que os devedores ocupavam a posição de sócios

e gerentes e, consequência disso, o vencimento imediato de todas as

obrigações, nomeadamente daquelas em que os devedores prestaram aval;

2. Da celebração de negócios com um valor demasiado avultado que originaram

responsabilidades incompatíveis com os rendimentos auferidos pelos

7 Contrato de mútuo com hipoteca de 30 de Junho de 2008, no valor de Euros 75.000,00 para construção de habitação própria e permanente em incumprimento deste 11 de Janeiro de 2009 e outro contrato no valor de Euros 50.000,00 em incumprimento desde 11 de Maio de 2009. 8 Nestes contratos foi constituída hipoteca sobre o imóvel descrito na Conservatória do Registo Predial de Valongo sob o nº 4715 da freguesia de Valongo e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 7611º da freguesia e concelho de Valongo. 9 Que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca de Vila Real - Juízo Local Cível de Vila Real - Juiz 2.

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Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

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devedores, de que são exemplo os contratos de mútuo outorgados com a Caixa

Geral de Depósitos, S.A..

No entanto, não pode o signatário deixar de constatar a falta de coerência

encontrada entre os rendimentos dos devedores e as despesas que os mesmos parecem

suportar. Vejamos:

1. Na petição inicial os mesmos indicam as seguintes despesas mensais

a. Cerca de Euros 100,00 para energia eléctrica, água, gás e telefone;

b. Cerca de Euros 500,00 para despesas com alimentação;

c. A estes valores acrescem as despesas com educação, vestuário e saúde,

para um agregado familiar composto por três pessoas, inclusive, uma filha

em idade escolar;

2. No entanto, o signatário não consegue compreender, como os

devedores conseguem, desde pelo menos o ano de 2014,

sobreviver, já que os rendimentos declarados a nível fiscal são

praticamente inexistentes:

a. Ano de 2014: rendimento de Euros 2.996,88;

b. Ano de 2015: rendimento de Euros 0,00 (dada a inexistência de declaração

de rendimentos);

c. Ano de 2016: rendimento de Euros 2.195,00.

Posto tudo isto, é convicção do signatário que as incongruências indicadas entre

os rendimentos auferidos e/ou os bens de que os devedores disponham se encontra

desconforme face ao indicado pelos devedores, ou então os mesmos encontram-se a

constituir passivo para suportar as despesas inerentes ao seu quotidiano.

Sem rendimentos nem património suficientes para responder pelas suas

obrigações, os devedores viram-se na obrigação de se apresentar a tribunal, o que vieram

a fazer:

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

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1. Em 2016 (sentença de 22 de Setembro de 2016) os devedores deram início a um

Processo Especial de Revitalização, que correu termos sob o nº 1484/16.0T8VRL no

Tribunal Judicial da Comarca de Vila Real Juízo Local Cível de Vila Real - Juiz 2,

tendo sido nomeado para as funções de Administrador Judicial Provisório, o Dr.

António Francisco Cocco Seixas Soares;

2. Face à inviabilidade de obtenção de acordo para a aprovação de um plano de

revitalização, não veio o mesmo a ser aprovado pelos credores, pelo que se declarou

encerrado este processo em Fevereiro de 2017;

3. Assim, em Fevereiro deste ano vieram os devedores apresentar-se à insolvência, o

que veio a resultar no presente processo.

IV – Estado da contabilidade dos devedores (alínea b) do nº 1 do artigo 155º

do C.I.R.E.)

Não aplicável.

V – Perspectivas futuras (alínea c) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.)

Os devedores apresentaram o pedido de exoneração do passivo restante, nos

termos do artigo 235º e seguintes do Código da Insolvência e da Recuperação de

Empresas.

Estabelece o nº 4 do artigo 236º do Código da Insolvência e da Recuperação de

Empresas que na assembleia de apreciação do relatório é dada aos credores e ao

administrador da insolvência a possibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento do

pedido de exoneração do passivo.

Por sua vez, o artigo 238º do Código da Insolvência e da Recuperação de

Empresas enumera as situações em que o pedido de exoneração do passivo é liminarmente

indeferido.

A aceitação do pedido de exoneração do passivo determina que durante um

período de 5 anos o rendimento disponível que os devedores venham a auferir se

considere cedido a um fiduciário. Integram o rendimento disponível todos os rendimentos

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

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que advenham a qualquer título aos devedores com exclusão do que seja razoavelmente

necessário para o sustento minimamente digno dos mesmos e do seu agregado familiar,

não podendo exceder três vezes o salário mínimo nacional (subalínea i da alínea b) do nº

3 do artigo 239º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas).

Actualmente o salário mínimo nacional mensal é de Euros 557,0010. De acordo

com o acima referido, o rendimento mensal dos devedores mostra-se, de momento, nulo.

De acordo com a alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE, o pedido de

exoneração é liminarmente indeferido se os devedores tiverem incumprido o dever de

apresentação à insolvência ou, não estando obrigados a se apresentar, se tiverem abstido

dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com

prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem

culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica.

Da análise desta disposição legal verifica-se que, para além do incumprimento de

apresentação à insolvência se torna necessário que disso advenha prejuízo para os

credores e, ainda, que os devedores saibam, ou não possam ignorar sem culpa grave, não

existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Tal significa

que, se do atraso na apresentação não advier prejuízo para os credores, o mesmo não deve

ser negativamente valorado. E ainda é necessário que os devedores saibam que a sua

situação é definitiva, no sentido de não ser alterável a curto prazo, ou que não possam

deixar de disso estar consciente, a não ser por inconsideração grave. Tais requisitos são

cumulativos.

A nível doutrinal e jurisprudencial têm existido diferentes entendimentos sobre o

segundo requisito (advir prejuízo para os credores): enquanto uma corrente defende que

a omissão do dever de apresentação atempada à insolvência torna evidente o prejuízo para

os credores pelo avolumar dos seus créditos, face ao vencimento dos juros e consequente

avolumar do passivo global do insolvente, outra corrente defende que o conceito de

prejuízo pressuposto no normativo em causa consiste num prejuízo diverso do simples

vencimento dos juros, que são consequência normal do incumprimento gerador da

10 De acordo com o Decreto-Lei n.º 86-B/2016 de 29 de Dezembro, que entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2017.

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insolvência, tratando-se assim dum prejuízo de outra ordem, projectado na esfera jurídica

do credor em consequência da inércia do insolvente (consistindo, por exemplo, no

abandono, degradação ou dissipação de bens no período que dispunha para se apresentar

à insolvência), ou, mais especificamente, que não integra o ‘prejuízo’ previsto no artigo

238º, nº 1, d) do C.I.R.E. o simples acumular do montante dos juros.

O signatário tem defendido esta última posição, entendendo que não basta o

simples decurso do tempo para se considerar verificado o requisito em análise (pelo

avolumar do passivo face ao vencimento dos juros). Tal entendimento representaria uma

valoração de um prejuízo ínsito ao decurso do tempo, comum a todas as situações de

insolvência, o que não se afigura compatível com o estabelecimento do prejuízo dos

credores enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente. Enquanto

requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente, o prejuízo dos credores

acresce aos demais requisitos – é um pressuposto adicional, que aporta exigências

distintas das pressupostas pelos demais requisitos, não podendo por isso considerar-se

preenchido com circunstâncias que já estão forçosamente contidas num dos outros

requisitos. O que se pretende valorizar neste quesito, como acima foi posto em evidência,

é a conduta dos devedores, de forma a apurar se o seu comportamento foi pautado pela

licitude, honestidade, transparência e boa-fé no que respeita à sua situação económica,

devendo a exoneração ser liminarmente coarctada caso seja de concluir pela negativa.

Ao estabelecer, como pressuposto do indeferimento liminar do pedido de

exoneração, que a apresentação extemporânea dos devedores à insolvência haja causado

prejuízo aos credores, a lei não visa mais do que penalizar os comportamentos que façam

diminuir o acervo patrimonial dos devedores, que onerem o seu património ou mesmo

aqueles comportamentos geradores de novos débitos (a acrescer àqueles que integravam

o passivo que estava já impossibilitado de satisfazer). São estes comportamentos

desconformes ao proceder honesto, lícito, transparente e de boa-fé cuja observância por

parte os devedores é impeditiva de lhe ser reconhecida a possibilidade (verificados os

demais requisitos do preceito) de se libertarem de algumas das suas dívidas, e assim,

conseguir a sua reabilitação económica. O que se sanciona são os comportamentos que

impossibilitem (ou diminuam a possibilidade de) os credores obterem a satisfação dos

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

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seus créditos, nos termos em que essa satisfação seria conseguida caso tais

comportamentos não ocorressem.

Exposta esta questão, verificamos assim que o indeferimento do pedido de

exoneração do passivo restante por violação do dever de apresentação à insolvência

passará pela verificação cumulativa de três pressupostos:

A. Incumprimento do dever de apresentação à insolvência ou, não estando os devedores

obrigados a se apresentar, se se tiverem abstido dessa apresentação nos seis meses

seguintes à verificação da situação de insolvência;

B. Inexistência de perspectivas sérias de melhoria da situação financeira os devedores

que os mesmos conhecessem ou não pudessem ignorar sem culpa grave;

C. Existência de prejuízo para os credores, decorrente do atraso dos devedores na

apresentação à insolvência;

Assim, devemos ter em consideração a seguinte situação fática:

1. Em Julho e Agosto de 2013 os devedores passaram a incumprir os contratos de mutuo

com hipoteca que outorgaram com a Caixa Geral de Depósitos, S.A., nomeadamente

para a construção da casa de morada de família;

2. Os devedores avalizaram dois contratos que esta entidade bancária outorgou com a

sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda., cujo incumprimento data também de

Julho e Agosto de 2013;

3. Pelas facturas vencidas entre Junho e Novembro de 2015, os devedores constituíram

passivo no valor de Euros 1.239,76 junto da MEO – Serviços de Comunicação e

Multimédia, S.A.;

4. Em 10 de Abril de 2014 foi a sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda. declarada

insolvente no âmbito do processo com o nº 220/14.0TYVNG;

5. Em 17 de Outubro de 2016 foi proferida a declaração de insolvência da sociedade

Amazingloft Unipessoal Lda., no âmbito do processo nº 1025/16.0T8STS, tendo este

processo encerrado em Abril de 2017 por insuficiência da massa insolvente;

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Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

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6. Enquanto representantes das sociedades referidas os devedores viram ainda revertido

perante si todo o passivo que as mesmas acumularam perante a Fazenda Nacional11

e a Segurança Social;

7. Os devedores fizeram aumentar o seu passivo junto da Fazenda Nacional pelo não

pagamento de valores de IMI referentes aos anos de 2015 e 2016 no valor que ascende

a cerca de Euros 4.000,00;

8. E ainda por valores de taxas de portagem acumuladas entre os anos de 2010, 2011,

2013, 2014, 2015, 2016 e 2017, num valor superior a Euros 30.000,00;

9. Do incidente de qualificação de insolvência que correu no âmbito do processo de

insolvência da Joaquim Moutinho Lopes, Lda., a qual foi considerara culposa, por

decisão de 30 de Junho de 2016 resultou o seguinte:

a) Inibição do devedor para administrar património de terceiros durante um

período de 2 anos;

b) Inibição do devedor para ocupação de qualquer cargo de titular de órgão da

sociedade comercial ou civil, associação ou fundação privada de actividade

económica, empresa pública ou cooperativa durante um período de 2 anos;

c) Foi ainda o devedor condenado a indemnizar os credores no montante dos

créditos reconhecidos por sentença e não satisfeitos no âmbito da insolvência,

até às forças do seu património;

d) Assim, veio Manuel Lino dos Santos Martins Pereira (credor reclamante no

âmbito do processo de insolvência da referida sociedade) reclamar que lhe

fosse reconhecido um crédito no valor de Euros 67.307,95;

10. Em Setembro de 2016 os devedores foram ainda condenados a pagar a quantia de

7.032,90 no âmbito do Processo Especial de Revitalização que correu sob o nº

1484/16.0T8VRL;

11 Por valores referentes a IVA, IRC, IUC e IRS não liquidados.

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

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11. Os devedores foram ainda demandados judicialmente no âmbito da acção executiva

nº 220/14.0TYVNG.112, que correu termos na Instância Central de Vila Nova de Gaia

- 2ª Secção de Comércio - J2, bem como em diversas execuções de índole fiscal, no

âmbito das quais terá mesmo resultado a penhora da casa de morada de família13;

12. De acordo com os valores reclamados, os insolventes são detentores de um passivo

superior a MEIO MILHÃO DE EUROS;

Pelos factos acima expostos, entende o signatário que a situação de instabilidade

financeira não é de todo recente, pois, pelo menos desde o ano de 2013 que os devedores

demonstram dificuldades financeiras pelo incumprimento dos contratos de mútuo que

outorgaram com o Caixa Geral de Depósitos, S.A. Com a declaração de insolvência da

sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda. em Abril de 2014 e a consequente situação de

desemprego que os devedores, encontram-se esgotadas todas expectativas de melhoria

da sua situação financeira.

Com a declaração de insolvência das empresas em que os devedores

desempenharam a posição de sócios e gerentes, venceram-se todas as obrigações

assumidas pelas referidas empresas e, por todos os avais prestados, constituíram-se os

aqui devedores solidariamente responsáveis pelas mesmas. Sendo o passivo destas

empresas claramente superior ao activo, não poderiam os devedores afastar a

possibilidade de serem responsabilizados pelo passivo que garantiram.

Preenchidos os dois primeiros pressupostos, resta verificar se de tal atraso resultou

algum prejuízo para os seus credores.

Pelo exposto, verifica-se que já depois de se encontrar em situação de insolvência,

e sabendo que de forma alguma poderia reverter tal situação, os devedores fizeram

aumentar o seu passivo junto da Fazenda Nacional, por valores repetidos e sequenciais

referentes a taxas de portagem durante os anos de 2010, 2011, 2013, 2014, 2015, 2016

12 No âmbito desta execução foi também penhorada a casa de morada de família. 13 Penhorada no âmbito do processo executivo nº 1899201401039121 pela apresentação 9115 de 08 de Maio de 2015.

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

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e 2017 e a IMI referente aos anos de 2015 e 2016, no valor total que ascende a cerca de

Euros 34.000,00. Face ao exposto, o signatário considera intolerante esta conduta

negligente dos devedores.

Conclui o signatário que do atraso dos devedores na sua apresentação à

insolvência gerou um acumular sucessivo de passivo e a constituição de novas dívidas, o

que não teria sucedido com a sua apresentação atempada, criando dificuldades crescente

de ressarcimento dos créditos dos seus credores. Claramente tal situação foi o fruto da

inoperância dos devedores num momento em que não poderiam mos mesmos

desconhecer que se encontravam numa posição de ruptura financeira da qual não

conseguiriam recuperar.

Por todo o exposto, entende o signatário que está preenchida a totalidade dos

pressupostos previstos na alínea d) do nº 1 do artigo 236º do CIRE por violação do seu

dever de apresentação à insolvência.

Posto isto, conclui assim o signatário pelo indeferimento do pedido de

exoneração do passivo restante apresentado pelos devedores nos termos do disposto

na alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE.

Face ao exposto, o signatário entende que os credores deverão deliberar no sentido

da liquidação do activo constante do inventário elaborado nos termos do disposto no

artigo 153º do CIRE.

O Administrador da Insolvência

Nuno Oliveira da Silva

Castelões, 5 de Julho de 2017

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Insolvência de “Joaquim Manuel Rocha Lopes e Mónia Susana

de Paiva Neves” Processo nº 671/17.9T8STS da Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de

Santo Tirso - Juiz 3 de Santo Tirso

( A r t i g o 1 5 3 º d o C . I . R . E . )

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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”

Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3

Inventário (artigo 153º do Código da Insolvência e da Recuperação das Empresas)

Página 1 de 1 do Inventário

 

Relação dos bens e direitos passíveis de serem apreendidos a

favor da massa insolvente:

Verba Tipo Localização Descrição da Verba Valor

1 Bem

Imóvel

Rua João Ventura, nº 84, freguesia e concelho de Valongo (4440-840).

Prédio urbano destinado a habitação, composto por casa de rés-do chão, andar e anexos, freguesia e concelho de Valongo; descrito na Conservatória do Registo Predial de Valongo sob o nº 4715/20050224 da freguesia de Valongo e inscrito na respectiva matriz urbana sob o artigo 76118º, da freguesia de Valongo, concelho de Valongo (teve origem no artigo 576º).

Valor Patrimonial:

Euros 233.550,00

2 Bem

Móvel

Conta de activos financeiros nº 0837.041923.344 que apresenta um saldo referente a 320 acções EDP Renováveis com a valoração actual de Euros 2.227,20, na Caixa Geral de Depósitos, S.A..

3 Bem

Móvel

Veículo da marca KAWASAKI, modelo ZZ-R1100, com a matricula 41-54-ET, de 1995.

a)

a) O signatário desconhece o paradeiro deste bem.

Estão em curso diligências para se apurar se os devedores são possuidores de alguma

participação social na sociedade anónima “Sonskuyn Investments, S.A.” da qual é

administrador

O Administrador da Insolvência

Nuno Oliveira da Silva

Castelões, 5 de Julho de 2017

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Índice da Peça ProcessualAnexo nº 1 - Requerimento

Documento assinado electronicamente.

Esta assinatura electrónica substitui a assinatura autógrafa.

Quarta-feira, 05 de Julho de 2017 - 19:46:08 GMT+0100