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RELATÓRIO FINAL FAPES Processo 45433470/09 GIRARDI; CURTO; TESCH, 2012. 1 Título do Projeto Análise das repercussões do “Projeto Sossego” na escala do cotidiano: uma contribuição geográfica RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA Coordenadora: Gisele Girardi Universidade Federal do Espírito Santo N o do Processo: 45433470/09 Período de execução: janeiro/2010 a dezembro/2011 Autoria do relatório: Profa. Dra. Gisele Girardi Gustavo Cordeiro Curto (Bolsista IC) Paulo Cesar Neitzel Tesch (Bolsista IC) Vitória, 2012.

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GIRARDI; CURTO; TESCH, 2012.

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Título do Projeto

Análise das repercussões do “Projeto Sossego” na

escala do cotidiano: uma contribuição geográfica

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

Coordenadora: Gisele Girardi –

Universidade Federal do Espírito Santo

No do Processo: 45433470/09

Período de execução: janeiro/2010 a dezembro/2011

Autoria do relatório:

Profa. Dra. Gisele Girardi

Gustavo Cordeiro Curto (Bolsista IC)

Paulo Cesar Neitzel Tesch (Bolsista IC)

Vitória, 2012.

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SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO………………………………………………………………... 3

II - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO......................................... 7

II. 1- Caracterização Ambiental........................................................... 8

II.2- Caracterização socioeconômica................................................... 20

III – O PROJETO SOSSEGO......................................................................... 26

III.1 – Histórico da constituição do Projeto Sossego........................... 26

III.2 – A Segunda Fase do Projeto Sossego: ações............................ 30

III.2.a - Ações do SEBRAE-ES................................................. 32

III.2.b. Ações da FUNASA......................................................... 38

III.2.c – Ações do INCAPER..................................................... 42

III.2.d – Ações da UFES-LabGest............................................. 44

IV. ANÁLISE DAS REPERCUSSÕES DO PROJETO SOSSEGO................ 47

IV.1- Procedimentos metodológicos.................................................... 47

IV.2- Resultados das entrevistas..................................................................... 51

IV.3- Análise e discussão dos resultados............................................ 62

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES............................... 67

VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 68

VII – TRABALHOS PUBLICADOS................................................................. 71

ANEXOS......................................................................................................... 73

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I - INTRODUÇÃO

O presente relatório apresenta os resultados do projeto de pesquisa “Análise

das repercussões do “Projeto Sossego” na escala do cotidiano: uma

contribuição geográfica”, financiado pela FAPES no período de janeiro de 2010

a dezembro de 2011 (Processo 45433470/09/ TOAAF 090/2009). A pesquisa

foi coordenada pela Professora Doutora Gisele Girardi, do Departamento de

Geografia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal

do Espírito Santo e contou com a participação dos bolsistas de Iniciação

Científica Douglas Rafael Salaroli e Rodrigo Huebra Martins (janeiro de 2010 a

março de 2011) e Gustavo Cordeiro Curto e Paulo Cesar Neitzel Tesch (abril a

dezembro de 2011). O Projeto compõe o conjunto de atividades do Grupo de

Pesquisa CNPq LabGest – Laboratório de Gestão de Recursos Hídricos e

Desenvolvimento Regional, foi realizado em laboratório homônimo, do DEA-

CT-Ufes e integrou as ações do LabGest como membro do Grupo Gestor do

Projeto Sossego.

O Projeto Sossego vem sendo desenvolvido no âmbito da Bacia do Córrego

Sossego/Itarana-ES desde 2003 e tem como foco Água & Sustentabilidade de

comunidades rurais de base familiar. Dele participam a comunidade moradora

e produtora da bacia do córrego Sossego em parceria com várias instituições,

como a Ufes (LabGest), o Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão

Rural, o Idaf – Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal, a Polícia

Ambiental, a Prefeitura Municipal de Itarana, a Associação de Pequenos

Produtores Rurais do Sossego entre outras. O Projeto já realizou várias ações

em prol da melhoria das condições de vida da comunidade, bem como é

reconhecido, nos âmbitos municipal (Câmara Municipal de Itarana) e estadual

(Conselho Estadual de Recursos Hídricos) como um laboratório vivo para a

realização de pesquisas voltadas ao desenvolvimento de metodologias de

integração e de participação na gestão das águas.

O Projeto Sossego pode ser subdividido em fases. A primeira fase foi

desenvolvida entre 2003 e 2005 e centrou-se no diagnóstico socioeconômico,

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ambiental, biofísico, político-institucional; na avaliação da disponibilidade de

água superficial na microbacia; na identificação de conflitos (disputas pela

água) e na identificação de parceiros potenciais para a 2ª Fase. Os principais

resultados obtidos nessa primeira fase foram: águas da bacia do córrego do

Sossego apresentavam na sua maior parte pouca quantidade e baixa

qualidade; muitos produtores utilizavam sistemas de irrigação, mas não havia

controle se estavam sendo usados de forma eficiente, ou seja, se estava ou

não melhorando a produção; no âmbito da saúde a esquistossomose era um

problema muito sério e diretamente ligado à má qualidade da água; os tipos

predominantes de cultivos realizados, café e olericultura, não estavam

garantindo renda suficiente para os produtores devido principalmente ao tipo de

escoamento da produção; quase não havia ações de geração de trabalho e

renda além da produção agrícola; as organizações sociais estavam

fragilizadas; a situação da cobertura vegetal, que tem uma importante função

no ciclo da água, estava crítica.

A segunda fase do Projeto, realizada entre 2006 e 2008, a partir dos elementos

diagnosticados na primeira, buscou trazer mais parceiros que pudessem

pesquisar para conhecer e também desenvolver ações que caminhassem para

a resolução dos problemas diagnosticados na primeira fase. A Fundação

Nacional de Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde e as Secretarias

Municipais de Saúde e de Educação de Itarana dedicaram-se ao problema da

esquistossomose, fazendo campanhas educativas e encaminhando melhorias

no saneamento básico. O INCAPER, além de seu trabalho habitual de

assessoramento aos produtores, produziu estudos para recomposição da

vegetação. O SEBRAE-ES coordenou a realização de levantamentos sobre as

propriedades e promoveu vários cursos de capacitação para geração de

trabalho e renda, seja por meio do beneficiamento de produtos agrícolas

(doces caseiros) seja por meio do aproveitamento dos resíduos do

agronegócio, como a produção de artesanato com fibra de bananeira. Também

promoveu cursos para melhoria da administração das propriedades e

intermediou parcerias para comercialização de produtos agrícolas, minimizando

a dependência dos atravessadores (fator que reduzia em muito o rendimento

dos pequenos produtores rurais).

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A Ufes desenvolveu estudos sobre a situação da irrigação em 13 propriedades,

concluindo que os equipamentos da irrigação estavam em bom funcionamento,

mas a quantidade de água aplicada quase sempre não correspondia à

demanda efetiva das plantas. Desenvolveu, também, pesquisas que

identificaram as origens dos conflitos pela água no Sossego, concluindo que na

medida em que a água escasseava surgiam conflitos que desgastavam as

relações comunitárias construídas há muito tempo, desde a ocupação da área

pelas famílias imigrantes pioneiras.

O Projeto “Análise das repercussões do Projeto Sossego na escala do

cotidiano: uma contribuição geográfica” teve, assim, como objetivo geral

compreender as repercussões dos resultados das ações da segunda fase do

Projeto Sossego junto aos sujeitos diretamente envolvidos, por meio dos

conceitos geográficos de modo de vida, geograficidade e escala do cotidiano,

verificando se/como se processou o empoderamento das informações

produzidas e divulgadas pela/para a comunidade local.

Este objetivo foi construído a partir de constatações de projetos anteriores

(Girardi, 2008; Quarentei, 2008), sobre a dificuldade de se identificar a

perspectiva da comunidade local quanto aos projetos propostos e implantados

no Sossego e, ainda, sobre o desdobramento destes nas práticas e

perspectivas locais com relação à sua influência na bacia e em sua

comunidade. A relevância destas informações deve-se à valorização política e

institucional da gestão participativa, ou seja, da inserção das comunidades

locais enquanto agentes construtores de um projeto de desenvolvimento local a

partir da gestão compartilhada do meio ambiente entre aqueles agentes e a

institucionalidade.

Assim, a ênfase da pesquisa foi a compreensão de como os sujeitos envolvidos

na segunda fase do Projeto Sossego receberam e incorporaram as

informações e como essa incorporação se desdobrou em ações cotidianas, em

outras palavras, como se empoderaram delas.

Como já explicitado, a segunda fase do Projeto Sossego contou com ações

ligadas às temáticas de saúde (esquistossomose), agricultura (irrigação),

geração de trabalho e renda, principalmente feminina (artesanato e doces),

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mudanças nas formas de administração da propriedade e mudanças na

produção (cultivares e destino da produção). Cada uma dessas ações têm

graus diferentes de relação com os recursos hídricos, mas foram igualmente

relevados na pesquisa, pois consideramos os termos recurso

hídrico/desenvolvimento regional, mutuamente condicionados. A expectativa de

identificar e dialogar com os atores sociais envolvidos em cada uma dessas

ações era a de nos fornecer uma dimensão bastante abrangente das

repercussões destas ações na bacia do córrego Sossego, fomentando a

formatação da terceira fase do Projeto Sossego, feita concomitante ao

desenvolvimento deste projeto, tipo de pesquisa que a característica de

laboratório vivo que o local apresenta nos possibilita.

Desde modo, foram estabelecidos para a pesquisa os seguintes objetivos

específicos, cujos resultados serão detalhados no corpo do relatório:

1. Identificar e qualificar os sujeitos sociais envolvidos em ações diretas da

segunda fase do Projeto Sossego, nas áreas de saúde, agricultura irrigada,

geração de trabalho e renda e mudanças na produção e administração das

propriedades, sistematizando as informações coletadas.

2. Analisar, a partir de entrevistas com indivíduos selecionados por critérios

estatísticos e dados secundários, as mudanças econômicas, sócio-culturais e

ambientais percebidas por membros da comunidade local a partir de sua

participação no Projeto Sossego.

3. Compreender as intensidades das repercussões das ações do Projeto

Sossego e analisá-las a partir dos conceitos de modo de vida, geograficidade e

escala local, gerando contribuições de caráter teórico-metodológico.

4. Propor estratégias de ação para a terceira fase do Projeto Sossego a

partir da sistematização das informações obtidas na pesquisa.

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II – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

A bacia do Córrego Sossego (Itarana-ES) possui uma área aproximada de 65

Km² e está inserida na Bacia do Rio Santa Joana, sub-bacia que aflui no Rio

Doce (FIGURA 1). Ela fica localizada no município de Itarana, estado do

Espírito Santo, distante 130 km da capital Vitória.

Figura 1 – Localização do córrego Sossego – Itarana - ES

Por ser uma área densamente trabalhada no âmbito do Grupo de Pesquisa

LabGest, foi estabelecida como meta adicional do presente projeto de pesquisa

a sistematização das informações disponíveis acerca da bacia do córrego

Sossego, geradas em diferentes projetos de pesquisa do grupo, compondo

uma caracterização detalhada da área. Esta caracterização abrangeu aspectos

ambientais, sociais e econômicos, discriminados a seguir.

II.1. Caracterização ambiental

Em termos de zonas naturais, conforme proposto pelo INCAPER (FIGURA 2),

o município de Itarana é caracterizado pela ocorrência de terras de

temperaturas amenas, acidentadas e chuvosas (44,30%), terras quentes,

acidentadas e secas (33,90%) e terras frias, acidentadas e chuvosas (21,80%).

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A precipitação média do município é de 960 mm. Na bacia do córrego Sossego

ocorrem estas três zonas naturais, fortemente determinadas pela altimetria.

Além disso para o Espírito Santo em geral, e para o Sossego em particular, há

uma regra geral da ocupação das terras quentes e frias, sendo as primeiras de

ocupação das famílias migrantes no processo de colonização italiana, com

café, e as segundas geralmente de ocupação germânica (Petrone, 1962).

FIGURA 2 – Zonas Naturais no município de Itarana, conforme INCAPER.

Em termos altimétricos e topográficos a área da bacia do córrego Sossego

apresenta uma amplitude altimétrica de aproximadamente 1000 metros, sendo

que as áreas próximas à foz apresentam cotas próximas a 100 m de altitude e

as áreas mais altas superam os 1000 m de altitude.

Esta diversidade topográfica implica em respostas diferenciadas do terreno ao

escoamento superficial, à perda ou recebimento de sedimentos produzidos em

processos erosivos, bem como à adequação dos tipos de cultivo e de manejo

da agricultura.

A área pode ser compartimentada nos setores alto, médio e baixo (FIGURA 3),

que preservam características relativamente homogêneas quanto aos aspectos

anteriormente citados.

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FIGURA 3 – Topografia da bacia do córrego Sossego

A bacia hidrográfica do córrego Sossego é subdividida em 8 sub-bacias, sendo

seis relativas aos afluentes - Boa Vista (Barra), Matutina, Santa Helena, Boa

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Vista (Toniato), Bananal e Penedo – e duas decorrentes da subdivisão do

próprio curso do córrego – Alto Sossego e Baixo Sossego (FIGURA 4).

FIGURA 4 – Hidrografia da bacia do córrego Sossego

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A bacia se caracteriza por apresentar declividades altas nas vertentes, nos

setores alto e médio e baixa declividade nos fundos de vale (FIGURA 5).

FIGURA 5 – Clinografia da bacia do córrego Sossego

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Cerca de 60% da área possui classe de relevo com restrições à agricultura,

somando-se as faixas Forte ondulado, Montanhoso e Escarpado, áreas que

possuem declividade acima de 20% (Poloni, 2010).

Ocorrem na área as seguintes classes de solo:

Classe de Solos Unidade de

Mapeamento % de

ocorrência

ARGISSOLO VERMELHO Distrófico típico PVd 1,61

ARGISSOLO VERMELHO Eutroférrico Pvef 24,91

ARGISSOLO VERMELHO Eutroférrico latossólico Pvef 1,08

ARGISSOLO VERMELHO Eutrófico latossólico Pvef 7,95

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico PVAd 1,12

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico latossólico PVAe 17,87

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico típico PVAe 11,40

GLEISSOLOS G 0,24

LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico LVdf 5,70

LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Acriférrico típico LVAwf 6,28

LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico húmico LVAd 8,24

NEOSSOLO LITÓLICO RY 2,17

NEOSSOLO FLÚVICO RL 6,21

ROCHA

4,89

Quanto à pedologia, de acordo com Poloni (2010), aproximadamente 65% dos

solos da bacia são da classe ARGISSOLOS, que possuí uma fertilidade

natural, sua aptidão é favorável para agricultura, por possuírem características

intrínsecas, são de alta erodibilidade. O restante segue com a presença de

LATOSSOLOS que são característicos de possuírem alto potencial para

agropecuária, um fator limitante é a baixa fertilidade desses solos, contudo,

com aplicações adequadas de corretivos e fertilizantes, obtêm-se boa

produção; NEOSSOLOS que são solos que possuem baixa aptidão para a

agricultura; GLEISSOLOS solo de baixa aptidão agrícola devido a deficiência

de oxigênio (pelo excesso de água), à baixa fertilidade e ao impedimento à

mecanização.

A distribuição destas classes de solo pela área em estudo pode ser observada

na FIGURA 6.

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FIGURA 6 – Pedologia da bacia do córrego Sossego

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A pluviosidade incidente na área da bacia do córrego Sossego se caracteriza

pela distribuição irregular de chuvas no decorrer dos meses, conforme dados

das estações pluviométricas (FIGURAS 7 e 8).

FIGURA 7 – Localização das estações pluviométricas próximas à área em

estudo.

FIGURA 8 – Dados mensais das estações pluviométicas

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No que se refere ao uso atual do solo, a bacia do córrego Sossego tem um alto

índice de ocupação por cultivos, especialmente de café e pastagens, e

apresenta áreas de florestas nativas (FIGURAS 9 e 10):

FIGURA 9 – Distribuição percentual das classes de uso do solo na bacia do

córrego Sossego

Destaque especial é dado à cobertura vegetal nativa. Na FIGURA 11 observa-

se a distribuição dos fragmentos de floresta nativa e na FIGURA 12 sua

distribuição percentual por microbacia. A preservação dos fragmentos florestais

é francamente condicionada pelas áreas mais declivosas, nas quais a

ocupação pelas atividades agropecuárias foi dificultada.

O tipo de floresta nativa predominante na área é a Floresta Estacional

Semidecidual.

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FIGURA 10 – Uso do solo na bacia do córrego Sossego.

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FIGURA 11 – Fragmentos florestais na área da bacia do córrego Sossego

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FIGURA 12 – Porcentagens de recobrimento do solo por vegetação nativa,

consideradas as microbacias hidrográficas.

O conjunto de elementos até agora descritos contribuem para o entendimento

da erosividade, que leva à perda de solo. Poloni (2010) aponta que a

erosividade resulta de

“uma interação entre a energia cinética presente nas gotas de água de

chuva e as partículas da superfície do solo. Esta interação pode resultar

num maior ou menor grau de destacamento e um transporte “morro

abaixo” das partículas conforme a quantidade de energia e intensidade

de chuva, considerando um mesmo tipo de solo, mesmas condições

topográficas e ainda cobertura e manejo do solo” (Poloni, 2010, p. 15)

A perda de solo na bacia do córrego Sossego é bastante intensa, em virtude da

somatória entre os componentes físicos e modos de uso e ocupação do solo,

conforme pode ser observado na figura a seguir. (FIGURA 13).

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FIGURA 13 – Perda de solo na bacia do córrego Sossego.

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II.2. Caracterização socioeconômica

A ocupação de Itarana se deu, sobretudo, pela imigração européia ocorrida no

estado do Espírito Santo.

“Em 1847, chegaram os primeiros imigrantes alemães e fundaram o

Núcleo de Santa Isabel. Durante a década de 1850, chegaram os

imigrantes suíços, luxemburgueses, austríacos e outra leva de alemães,

que se instalaram na Colônia de Santa Leopoldina [...]. A partir de 1874,

chegaram os imigrantes italianos, porém, em maior número, visto que

colonizaram grande parte do território estadual [...]” (Ventorim, 1990, p.

07).

Desde meados do século XIX já havia a presença de grandes fazendeiros

fluminenses e mineiros na região do Vale do Rio Santa Joana, onde se

desenvolveram as vilas de Figueira Santa (Itarana) e Boa Família (Itaguaçu).

Esses fazendeiros utilizavam mão de obra escrava, que posteriormente viria a

ser substituída por imigrantes alemães e, principalmente, italianos.

Acredita-se que a chegada de imigrantes europeus a região iniciou-se a partir

de 1882, pois os relatos de Derenzi (apud VENTORIM, 1990, p. 10) afirmam

que em 1879 o veleiro La Velleja chegou ao porto de Vitória e seus ocupantes

foram conduzidos para a colônia de Santa Teresa até que, três anos mais

tarde, se deslocaram para Barra do Limoeiro onde fundaram Figueira de Santa

Joana (Itarana).

No trabalho do historiador Sbardelotti (1989) há relatos de indícios de presença

indígena na região do vale do Santa Joana, tais como,

“[...] o caso do Bom Destino, onde o Nicolino Gomes colheu uma

igaçaba, revelando que toda a área teria sido palco de aldeias antigas;

inclusive nos Coan – aí perto, há machadinhos de pedra”. (Sbardelotti,

1989, p. 55)

Cita ainda que o filho da viúva Toniato e os Cancian acharam vestígios e que

“no Grotão do Baixo Sossego, há potes nos murundus, que os cafezais

cobriram”. (Sbardelotti, 1989, p. 55).

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Desta forma, como em grande parte do território capixaba, os primeiros

habitantes da região onde se estabeleceu a cidade de Itarana foram índios

Krenák (Botocudo).

A ocupação da área do córrego Sossego se deu de sul, áreas mais próximas à

sede municipal atual, para o norte, nas áreas mais altas, seguindo os cursos

dos afluentes. Em levantamento realizado em 2006 observou-se a distribuição

das famílias pelos afluentes (FIGURA 14), o que indicia uma organização

fortemente baseada na produção e nas relações societais de base familiar.

FIGURA 14 – Distribuição das famílias na bacia do córrego Sossego – Croqui

de campo elaborado por Laura Quarentei, 2006.

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A população residente na bacia do córrego Sossego corresponde a 14,15% da

população total do município de Itarana. Os dados dos censos demográficos de

2000 e 2010 mostram que houve um pequeno decréscimo no total de

habitantes, mas, ao mesmo tempo, um significativo acréscimo no número de

domicílios, conforme tabelas a seguir.

Tabela 1 –População residente nas comunidades do Sossego

Domicílios População residente 2000

Total Homens Mulheres

408 1579 814 765

Fonte: IBGE, 2000.

Tabela 2 –População residente nas comunidades do Sossego

Domicílios População residente 2010

Total Homens Mulheres

743 1540 781 759

Fonte: IBGE, 2010.

A estrutura da população por idade e sexo (FIGURAS 15 e 16), nas datas de

2000 e 2010 revelam acréscimo da população idosa, convengente com a

dinâmica demográfica estadual (Castiglioni, 2009). Comparando a população

de 10 a 14 anos em 2000 com a população de 20 a 24 anos em 2010 observa-

se a permanência do público feminino, mas um decréscimo de um terço da

população masculina, o que é revelador de processo de êxodo dos jovens, por

motivos de estudo e de trabalho. O significativo acréscimo da população adulta

(20 a 60 anos), marcadamente a população masculina, e o aumento do número

de domicílios devem-se, possivelmente, à implantação do assentamento rural

na Matutina.

FIGURAS 15 E 16 – Pirâmides etárias da população do Sossego, 2000 e 2010

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No que se refere à caracterização agropecuária, há, conforme visto

anteriormente, o predomínio de pastagens e lavouras de café, mas também há

um significativo efetivo de produção de banana e olerícolas. Não foi possível

avançar na atualização dos dados, pois os microdados do Censo Agropecuário

2005/2006 ainda não foram disponibilizados. Contudo, após uma breve

descrição da situação agropecuária constante nos levantamentos de

2002/2003 (GEARH 2003), serão apresentados os dados sobre a produção

agrícola constantes no Relatório T0 (SEBRAE, 2006).

De acordo com o GEARH-NES (2003), a estrutura fundiária da bacia

hidrográfica do Córrego do Sossego era formada por 162 estabelecimentos

sendo que 31% deles estão localizados no extrato de zero até 10 ha; outros

57% estão localizadas no extrato de 10,1 ha a 50 ha; e por fim 13% estão no

extrato acima de 50,1 ha. A predominância é de pequenos proprietários

possuindo áreas de até 50 ha, que utilizam a mão-de-obra familiar e a parceria

para cultivar a olericultura entre outras.

De acordo com o escritório local do INCAPER, a olericultura possuía uma área

plantada de 320,69 ha e sua produção vinculada é de 10.031,73 toneladas.

Existem algumas olericulturas como o inhame, jiló e quiabo que são

classificadas como orgânicas, pois não utilizam defensivo agrícola no cultivo,

enquanto nas demais é bastante difundida a utilização de defensivos,

fertilizantes e agrotóxicos (GEARH-NES, 2003).

A fruticultura estava se expandindo com as culturas da banana, dos citros

(limão, laranja e tangerina), maracujá, manga, goiaba, coco e do mamão, pois

é uma atividade que permite a oferta de empregos e serve como complemento

da renda na entressafra do café, somando-se à renda da olericultura.

A fruticultura ocupava uma área de 104,45 ha com uma produção de 1.566,81

toneladas, e gerava uma renda de R$ 391.702,50. As culturas que utilizavam

irrigação somavam 69,50% da área total que ocupavam dentro da bacia. A

utilização da água do rio, poço, represa e outros para irrigação ocasionavam,

às vezes, na época da seca, falta de água nos córregos.

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As ligações dos produtores rurais do município de Itarana com o abastecimento

alimentar da Região Metropolitana da Grande Vitória constituía a principal

forma de integração do espaço regional.

A cafeicultura desenvolvida na bacia do Sossego era composta pelas

variedades conillon e arábica com respectivas áreas ocupadas de 370,40 e

176,67 ha, abrangendo 158 propriedades, das quais 26 estavam ocupadas

com café do tipo arábica. O café conillon utilizava o sistema de irrigação por

aspersão em 54,14% da área ocupada.

A pecuária bovina atendia ao consumo próprio, e quando havia excedente era

realizada uma pequena produção de queijo caseiro. A criação de galinhas e

suínos também era voltada para consumo próprio.

Segue, abaixo, os dados obtidos pelo levantamento realizado pelo SEBRAE

(2006).

TABELA 3 – Área plantada e produção anual de cultivos na bacia do Sossego

Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

Café

Área plantada 0,1 37,5 3,4 5,1

Produção anual (sacas piladas) 02 2.600 83,1 254,0

Inhame

Área plantada 0,10 30 2,2 4,9

Produção anual (ton.) 0,02 77 12,6 17,5

Banana prata

Área plantada 0,15 04 1,2 1,2

Produção anual (ton.) 0,32 70 13,2 23,5

Banana grand nine

Área plantada 0,5 2,5 1,5 0,91

Produção anual (ton.) 02 72 37 49,50

Eucalipto

Área plantada 0,3 45 4,4 11,0

Produção anual (m3) 02 100 51,0 69,3

Quiabo

Área plantada 0,1 03 1,3 0,9

Produção anual (ton.) 0,5 547 44,3 134,1

Limão

Área plantada 0,3 05 1,7 2,2

Produção anual (caixa) 1000 8000 4500 4949,7

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Jiló

Área plantada 0,2 1,2 0,7 0,4

Produção anual (caixa) 43,2 2000 839,9 679,3

Pasto

Área plantada 02 50 21,6 13,6

Produção anual 35 35 35 -

Milho

Área plantada 0,2 04 1,3 1,1

Produção anual (saco) 10 280 72,8 89,9

Tomate

Área plantada 0,01 0,5 0,3 0,3

Produção anual (ton.) 8,8 21 14,9 8,6

Cana

Área plantada 1,5 1,5 1,5 -

Produção anual (m3) 44 44 44 -

Cacau

Área plantada 0,7 2,6 1,7 1,3

Produção anual (saco) 01 01 01 -

Mamão

Área plantada 1,5 07 4,5 2,8

Produção anual - - - -

Banana da terra

Área plantada 0,7 0,7 0,7 -

Produção anual (caixa) 700 700 700 -

Feijão

Área plantada 0,3 0,3 0,3 -

Produção anual (saco) 10 10 10 -

Pimentão

Área plantada 0,1 01 0,6 0,6

Produção anual 350 800 575 318,2

Berinjela

Área plantada 0,5 0,5 0,5 0

Produção anual (caixa) 500 500 500 -

Arroz

Área plantada 0,5 1,6 1,1 0,8

Produção anual (saco) 20 150 85 91,9

Coco

Área plantada 0,5 0,5 0,5 -

Produção anual (peças) 4000 4000 4000 -

Vagem

Área plantada 01 01 01 -

Produção anual (saco) 49 49 49 -

Fonte: SEBRAE, 2006.

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III – O PROJETO SOSSEGO

III.1. Histórico da constituição do Projeto Sossego

Em 2002 pesquisadores do Grupo de Estudos e Ações em Recursos Hídricos –

GEARH, da Universidade Federal do Espírito Santo buscavam o

aprofundamento dos estudos e pesquisas sobre a gestão das águas, como

forma de contribuir com a Política Estadual de Recursos Hídricos. Foi, então,

estruturado o Projeto GEARH-NES, sigla para o projeto “Desenvolvimento de

instrumento para a Gestão dos Recursos Hídricos do Norte do Estado do

Espírito Santo”. Naquele momento o norte do Espírito Santo chamava a

atenção como área-problema devido ao episódio da seca severa que ocorria na

região.

O grupo tinha ciência de que qualquer estudo sobre a gestão dos recursos

hídricos, para se efetivar, deveria contar com parcerias além do âmbito estrito

da Universidade. Assim, foram parceiros no projeto GEARH-NES o Instituto

Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), a Secretaria Estadual de

Meio Ambiente (SEAMA) e o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

O grupo precisava escolher áreas para poder aprofundar suas pesquisas e foi

feito um estudo para a escolha das bacias-piloto. Estes estudos em pequenas

áreas são importantes para depois poder reproduzir as experiências bem

sucedidas em outras áreas.

Para tanto, considerando toda a área norte do Espírito Santo, duas pequenas

bacias hidrográficas foram escolhidas. Os critérios para escolha destas áreas

foram: 1. Escassez de informações hidrológicas; 2. Carência de recursos

hídricos para abastecimento público e para outras atividades importantes para

o desenvolvimento regional; 3. Condições de saneamento básico que

pudessem comprometer os recursos hídricos; 4. Degradação da qualidade dos

corpos d’água; 5. Degradação da bacia hidrográfica; 6. Condições de posse da

terra, com pequenas propriedades, diversidade de uso e ocupação do solo e de

características geomorfológicas; 7. Condições sócio-econômicas desfavoráveis

por influência da disponibilidade hídrica (qualidade e/ou quantidade); 8. Nível

de atuação quanto à extensão rural de forma a facilitar os trabalhos de campo

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e obtenção de informações; 9. Facilidade de acesso; 10. Infra-estrutura

disponível para apoio de campo, incluindo a existência de local para

acomodação e alimentação, segurança para instalação de equipamentos, etc;

11. Existência de Comitê de Bacia (Teixeira et al, 2003)

O Córrego Sossego foi umas das duas áreas escolhidas. Como se pode

perceber pelos critérios utilizados, a situação do Córrego Sossego na época

era bastante crítica. Contudo, um dos fatores decisivos na escolha do Sossego

para o desenvolvimento da pesquisa foi o fato de a comunidade ter

manifestado apoio ao desenvolvimento de estudos lá, como forma de melhorar

suas condições de vida.

Informações sobre o Sossego eram escassas. Não se sabia quanto de água

havia em seus córregos, como eram as águas, como eram os solos e para que

eram utilizados. Para se pensar na gestão dos recursos hídricos, também foi

preciso entender como era o funcionamento das instituições que atuavam na

bacia.

Esses dados iniciais foram obtidos para subsidiar as pesquisas que

diagnosticaram aspectos sociais, econômicos, ambientais, políticos e

institucionais do Sossego e avaliaram a disponibilidade de água na região.

Trouxeram como fatos relevantes o uso intensivo da terra e a identificação de

conflitos pelo uso da água.

Naquele momento foi constatado que a quantidade de problemas a serem

solucionados era muita, e extrapolavam as possibilidades da execução da

pesquisa científica, estritamente. Seria necessário o esforço de muitas pessoas

e instituições para buscar soluções.

Neste momento começam a se articular instituições que até então atuavam

como parceiras na execução do projeto de pesquisa (como viabilizadores

logísticos, fontes de pesquisa e beneficiários dos resultados das investigações)

e outras, culminando na estruturação do Projeto Sossego, cujo escopo central

era a sustentabilidade de comunidades rurais de base familiar e apresentava

como metas: aumento da produtividade de café, inhame e banana na bacia;

aumento da renda média familiar das propriedades rurais da bacia; redução do

índice de esquistossomose na bacia; aumento da cobertura florestal nativa e

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implantação de floresta plantada na bacia; garantia da vazão mínima do

córrego. As instituições gestoras do Projeto Sossego – SEBRAE-ES (Serviço

de apoio a pequenas e micro empresas), FUNASA (Fundação Nacional de

Saúde), em parceria com as a Secretaria Estadual de Saúde e com secretarias

municipais de Educação e de Saúde, INCAPER (Instituto Capixaba de

Pesquisa e Extensão Rural), escritório de Itarana e Ufes (Universidade Federal

do Espírito Santo), mais especificamente o LabGest (Laboratório de Gestão de

Recursos Hídricos e Desenvolvimento Regional) –, dentro de suas

especificidades, coordenaram ações distintas, que serão descritas

oportunamente.

No primeiro semestre do ano de 2009, a continuidade do Projeto Sossego bem

como a manutenção daquela bacia como área de pesquisa foi posta em xeque.

Constatações sobre a dinâmica social local foram consideradas questões

relevantes para os projetos que se desenvolveriam posteriormente. Se o

empoderamento da população estava como proposta fundamental ao Projeto, o

conhecimento de suas dinâmicas e relações com o lugar seria imprescindível.

O que se deu a partir daí foi não só a valorização destas questões enquanto

objetivos de projetos posteriores, mas enquanto tema relevante no intercâmbio

de pesquisadores no âmbito do LabGest, a fim de se fortalecer a noção do

social e do sócio-espacial no grupo.

Ainda, a continuidade do Projeto Sossego só teria sentido na medida em que

as ações realizadas fossem efetivamente incorporadas pela comunidade

enquanto práticas cotidianas (melhorias nos sistemas de irrigação,

compreensão da importância da manutenção da vegetação nativa para recarga

hídrica, associativismo, ações que redundassem em melhorias na saúde, como

diminuição do uso de agrotóxicos e destinação correta do esgoto doméstico,

entre outros).

Marca, também, este período a potencialidade que o adensamento da

produção científica na área representava no estabelecimento de interações

interinstitucionais (Universidades, órgãos da gestão ambiental e da gestão

territorial do Estado do Espírito Santo, bem como Poder Judiciário e Ministério

Público) na perspectiva de aprofundamento metodológico visando à

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implementação efetiva dos instrumentos da gestão dos recursos hídricos

(Teixeira et al, 2007).

A estratégia utilizada foi a da realização de um evento para a comunidade, em

maio de 2009, composto inicialmente pela apresentação dos resultados das

pesquisas e das ações, seguido de uma discussão sobre a continuidade do

projeto, com a inserção de mais instituições parceiras e da efetiva participação

da comunidade.

A partir deste momento, passou-se a identificar todo o processo como “Fases

do Projeto Sossego”: a primeira fase corresponde às pesquisas iniciais no

âmbito do GEARH-NES e do DATEC-Doce, entre 2002 e 2006; a segunda fase

corresponde à estruturação e desenvolvimento do Projeto Sossego

propriamente dito, entre 2006 e 2009. A fase que se iniciava passou a ser

denominada terceira fase do Projeto Sossego, que tinha como pressupostos

ampliar as parcerias institucionais e, primordialmente, ser constituído com e

pela comunidade.

As incursões a campo realizadas no período de execução dos projetos

evidenciou de que não seriam apenas projetos técnicos de caráter aplicativo

que resolveriam as questões da água e dos conflitos e apontavam a

necessidade da efetiva incorporação da comunidade como co-responsável pela

gestão de suas águas e de seu território. Instaurou-se, assim, a participação

social como pilar da construção do Projeto Sossego.

Constituiu-se um grupo gestor, composto por instituições parceiras, a saber:

Universidade Federal do Espírito Santo (representada pelo LabGest), Instituto

Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (INCAPER, escritório de Itarana),

Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (IDAF, escritório de Itarana),

Prefeitura e Secretarias Municipais de Saúde, de Educação, de Agricultura e de

Obras, Associação de Pequenos Produtores Rurais do Sossego (APEPRUS),

Polícia Militar Ambiental (batalhão de Itarana), Serviço Autônomo de Água e

Esgoto (SAAE) de Itarana e Cooperativa Agropecuária de Itarana (CAPIL). A

composição do grupo gestor é flexível na medida em que tem como

perspectiva o aumento das instituições integrantes. Foram aqui mencionadas

as mais atuantes até o momento.

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Constituiu-se, também, um Grupo Coordenador da Comunidade. No segundo

semestre de 2009 o grupo gestor e membros da comunidade reuniram-se e

decidiram pela estratégia de reapresentar os dados do evento de maio de 2009

para cada uma das 13 comunidades da bacia do Sossego. As comunidades

reuniram-se após as apresentações e elegeram, cada uma, três

representantes, sendo necessariamente uma mulher, para compor o Grupo

Coordenador da Comunidade. Este grupo foi tem participado de oficinas,

capacitações e tem sido a voz da comunidade no Projeto Sossego.

Neste conjunto de experiências desenvolvidas e em desenvolvimento

construiu-se a ideia da transformação da bacia do Córrego Sossego em

Laboratório Vivo para Gestão de Recursos Hídricos, no qual não só se aplicam,

avaliam e aperfeiçoam técnicas e tecnologias voltadas aos aspectos quali-

quantitativos das águas, mas também permite a observação e a pesquisa em

situação, integrando aspectos sociais, ambientais, técnico-tecnológicos,

políticos e institucionais, que são demandas da Política Nacional de Recursos

Hídricos.

III.2. A Segunda Fase do Projeto Sossego: ações dos gestores

Serão aqui detalhadas as ações da considerada Segunda Fase do Projeto

Sossego, iniciada com a estruturação do Projeto “Desenvolvimento Regional

Sustentável e Gestão das Águas na Bacia do Córrego do Sossego - Bacia do

Rio Doce no Município de Itarana”, em março de 2006 (ANEXO 1) e finalizada

no I Seminário do Projeto Sossego, em maio de 2009 (ANEXO 2).

O Projeto “Desenvolvimento Regional Sustentável e Gestão das Águas na

Bacia do Córrego do Sossego - Bacia do Rio Doce no Município de Itarana”

tinha como meta cinco resultados, transcritos a seguir:

Número: 1 Tipo: (x) Finalístico ( ) Intermediário

Resultado Pretendido: aumentar, até o final de 2008, a produtividade para os seguintes

produtos agrícolas:

- Café: de 18 para 25 sacas/ha

- Inhamen: de 20 para 25 ton/ha

- Banana: de 12 para 20 ton/ha – banana prata; e de 30 para 50 ton/ha – banana gand naine

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Observações:

- Com o desenvolvimento do trabalho, procurar-se-á avaliar se houve no período de realização

do trabalho aumento na relação “produtividade / volume de água consumido”, para esses

produtos agrícolas;

- Para o primeiro ano de desenvolvimento do Projeto, uma quantidade de propriedades, em

torno de 20 do total de 195, será selecionada para servir de propriedade piloto na avaliação do

uso racional da água na agricultura. As propriedades não selecionadas para participarem

diretamente do desenvolvimento desta atividade no primeiro ano participarão de outras

atividades do Projeto. No Segundo ano, todas as propriedades receberão aconselhamento

sobre o uso racional de água na agricultura visando o aumento dos produtos agrícolas

cultivados; não apenas o café, inhame e banana.

Número: 2 Tipo: (x) Finalístico (x) Intermediário

Resultado: aumentar a renda média familiar das propriedades rurais da bacia do córrego

Sossego, de acordo com evolução:

- Aumento de renda familiar em julho de 2007: 5% em relação ao valor medido em julho de

2006 (T0);

- Aumento de renda familiar em julho de 2008: 5% em relação ao valor medido em julho de

2007.

Número: 3 Tipo: (x) Finalístico (x) Intermediário

Resultado: reduzir o índice de esquistossomose na bacia do córrego Sossego:

- De 12,71% para 10% ao final de 2007;

- E para 5% no final de 2008.

Observação: O índice de 12,71% se baseou na prevalência de esquistossomose na

população examinada apurada no período de 1997 a 2005.

Número: 4 Tipo: (x) Finalístico ( ) Intermediário

Resultado: aumentar de 8% para 11% cobertura florestal nativa e implantar 300 ha de floresta

plantada.

Observação: Atualmente não existe floresta plantada.

Número: 5 Tipo: (x) Finalístico (x) Intermediário

Resultado: garantir vazão mínima no Córrego do Sossego

Observação: A vazão mínima deverá se basear em uma percentagem da vazão Q7,10,

segundo a regulamentação do instrumento outorga de direito de uso da água no ES.

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Cada uma das instituições envolvidas assumiu a responsabilidade por um ou

mais resultados. As ações de cada um serão detalhados a seguir.

III.2.a - Ações do SEBRAE-ES

O SEBRAE-ES (Serviço de apoio a pequenas e micro empresas) incumbiu-se

dos resultados 1 (aumento de produtividade de café, banana e inhame) e 2

(aumento da renda média familiar). O SEBRAE realizou o estudo denominado

“T0”, que dizia respeito ao levantamento de condições das propriedades

naquele momento (2006), com a metodologia Gestão Estratégica Orientada

para Resultados (GEOR) para avaliação e acompanhamento das ações

realizadas pelo projeto.

Os principais itens diagnosticados neste levantamento estão transcritos a

seguir:

“-Dentre as propriedades rurais entrevistadas 54,1% delas apresentam

estrutura acionária como sendo de um único proprietário, e 45,9% como

sendo de estrutura familiar (sociedade limitada), pode-se verificar,

portanto, que as propriedades rurais locais são fundamentadas na

estrutura familiar.[...] O produtor rural do Sossego ainda é o principal

responsável pelo sustento da família, o número de pessoas que em

média ele sustenta é de 4 pessoas, sendo que praticamente 3 pessoas

da família contribuem para esta renda. Em geral, essas pessoas são a

esposa e os filhos que, em sua maioria, trabalham na propriedade.

- O nível de escolaridade dos entrevistados apresentou predominância

de quase 65% dos participantes com ensino fundamental incompleto,

aproximadamente 15% com ensino médio completo e 6,4% com o

ensino médio incompleto. Em média os entrevistados apresentam 34,3

anos de atividade como produtores rurais na localidade, tendo essa

média um desvio padrão de 18,5 anos e mínimo de 0,7 e máximo de 75

anos.

- Os produtores rurais do Córrego do Sossego, em sua grande maioria,

não sabem a quantidade de água que utilizam em suas plantações, nem

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mesmo uma média de consumo mensal da mesma. [...] a outorga da

água é um fato praticamente desconhecido dentre os proprietários

entrevistados.

- A cultura do associativismo e da cooperação é incipiente dentre os

proprietários do Sossego. A grande maioria pertence ao Sindicato dos

Trabalhadores Rurais de Itarana, entretanto, essa participação tem

caráter previdenciário. A inexistência de articulação entre os produtores

rurais pode ser percebida pela falta de ação cooperada entre os

mesmos. A maioria dos entrevistados afirmou não ter realizado nenhuma

parceria com outras propriedades, dos que realizaram tal prática, as

compras realizadas em conjunto foram as mais citadas, e os parceiros,

em sua maioria eram parentes próximos.

- As propriedades do Sossego pouco investem em inovações, na

verdade, a falta de capital financeiro, intelectual e cultural é um grande

dificultador das inovações no campo. Das principais inovações

implementadas no Sossego, algumas delas foram: o lançamento de

novos produtos, no caso local, o início do plantio de algum novo produto

na propriedade, utilização de novas técnicas/processos de plantio em

função deste novo produto, e aquisição de novas máquinas, tendo sido a

mais citada o microtrator.

- A comercialização da produção do Sossego, em sua maioria é

realizada por atravessadores, pessoas que recolhem a produção local e

a revendem na CEASA – ES (Centrais de Abastecimento do Espírito

Santo), entretanto, os produtores não possuem garantia de venda de

seu produto, não sabem ao certo o preço que sua mercadoria será

vendida, e em alguns casos, esperam mais de um mês para receberem

o valor em dinheiro pelo produto vendido. A presença do atravessador

ao mesmo tempo em que é um dificultador para os produtores locais é

um facilitador, visto que os proprietários não teriam como levar sua

própria produção até os centros consumidores.

- Grande parte dos proprietários rurais da Bacia do Córrego do Sossego

não tem conhecimento da atuação do SEBRAE na região, ou então nem

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conhecem a instituição. Muitos deles já ouviram falar no “Projeto

Sossego”, mas também não tem um conhecimento do que seja este

projeto. A atuação do SEBRAE na região, segundo alguns proprietários

respondentes não ajudou em nada a propriedade ou a região, quanto a

avaliação do gestor, este é distante e sua freqüência, nenhuma ou

pequena na propriedade e/ou região. Há um desconhecimento acerca do

nome do gestor do Projeto que representa o SEBRAE/ES na região. Os

parceiros do projeto mais citados e atuantes na região foram o

INCAPER, com assistência técnica, o IDAF, como órgão fiscalizador e a

FUNASA, com sua campanha e monitoramento da esquistossomose na

região” (SEBRAE, 2006).

A partir dos resultados do levantamento citado e visando ao cumprimento das

metas assumidas, o SEBRAE ministrou capacitações sobre empreendimento

rural nos aspectos de gestão, tecnologia, escoamento e comercialização,

visando a sua inserção competitiva no mercado (FIGURA 17). Desdobrou-se

disto a intermediação da negociação para venda da produção de inhame para

empresa alimentar e cursos de aproveitamento de resíduos do agronegócio

para artesanato e de doces caseiros.

FIGURA 17 – Proprietários rurais do Sossego em curso de capacitação para

gerenciamento de propriedades rurais ministrado pelo SEBRAE em 2007.

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O alcance dos resultados das ações do SEBRAE é apresentado a seguir,

transcritos do relatório T0:

Indicador 1: Produtividade Resultado 1.1: Aumentar a produtividade até o final de 2008 para o café de 18 para 25

sacas/ha.

Proposta para T0

18 sacas/ ha

Resultado obtido (1): T0

18,8 sacas/ha (Período de referência: agosto de 2005 a julho

de 2006)

Resultado obtido (2): T0

24,1 sacas/ha (Período de referência: agosto de 2005 a julho

de 2006)

Nota (1): Para este resultado foram desconsiderados os dados de produção e área produzida do proprietário José Nicodemos Covre.

Nota (2): Para este resultado foram considerados os dados de produção e área produzida do proprietário José Nicodemos Covre.

A produção cafeeira da Bacia do Córrego Sossego apresenta uma

produtividade média conforme previsto na meta inicial para o resultado

finalístico, entretanto, este índice se altera, conforme apresentado na tabela 09,

visto que um proprietário apresenta uma área e uma produção bastante

elevada, que destoa da realidade dos demais produtores rurais do Córrego do

Sossego, o que eleva consideravelmente a média de produtividade quando

este é incluído nos dados.

Tabela 4 - Produção de café (1)

Café Freq. Mínimo

Máximo

Média Desvio Padrão

Soma Produtividade

Área plantada 121 0,1 29 3,2 4,1 382,3 18,8

Produção anual (sacas piladas) 106 02 300 59,3 64,9 6.288,0

Sacas/ ha

Nota: Desconsiderando os dados de produção e de área do proprietário José Nicodemos Covre.

Tabela 5 - Produção de café (2)

Café Freq. Mínimo

Máximo

Média Desvio Padrão

Soma Produtividade

Área plantada 122 0,1 37,5 3,4 5,1 419,8 24,1

Produção anual (sacas piladas) 107 02 2.600 83,1 254,0 8.888,0

Sacas/ ha

Nota: Considerando os dados de produção e de área do proprietário José Nicodemos Covre.

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Indicador 1: Produtividade Resultado Finalístico 1.2: Aumentar a produtividade até o final de 2008 para o inhame de

20 para 25 toneladas/ha.

Proposta para T0

20 toneladas/ ha

Resultado obtido: T0

5,8 toneladas/ha

(Período de referência: agosto de 2005 a julho de 2006)

A produção de inhame apresentou uma produtividade abaixo do esperado para

cumprimento da meta do resultado finalístico do produto. Este fato pode ser

explicado, pois conforme verificado em campo, algumas propriedades

apresentam o sistema de rotação de culturas, que se alternam conforme as

épocas do ano, e também de acordo com preço de mercado do produto em

questão. A falta de informações precisas acerca de sua produção também se

tornou um fator relevante sobre a queda do índice de produtividade. A colheita

e venda da produção, em algumas propriedades, são realizadas com certa

periodicidade, e não há um mecanismo/ método de controle do que foi

produzido e vendido. Isso demonstra para grande parte dos proprietários da

região, a falta de conhecimentos administrativos e gerenciais.

Tabela 6 - Dados de área e de produção de inhame

Inhame Freq. Mínimo Máximo Média

Desvio Padrão

Soma Produtividade

Área plantada 37 0,10 30 2,2 4,9 80,2 5,8

Produção anual (ton.) 38 0,02 77 12,6 17,5 480,2

ton/ ha

Indicador 1: Produtividade Resultado Finalístico 1.3: Aumentar a produtividade até o final de 2008 para a banana

prata de 12 para 20 toneladas/ha.

Proposta para T0

12 toneladas/ ha

Resultado obtido: T0

10,6 toneladas/ha

(Período de referência: agosto de 2005 a julho de 2006)

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Indicador 1: Produtividade Resultado Finalístico 1.4: Aumentar a produtividade até o final de 2008 para a banana

grand nine de 30 para 50 toneladas/ha.

Proposta para T0

30 toneladas/ ha

Resultado obtido: T0

24,7 toneladas/ha (Período de referência: agosto de 2005 a julho

de 2006)

A produtividade da banana prata e da banana grand nine apresentou uma

produtividade próxima à indicada como base de cálculos iniciais para o índice

de produtividade. Novamente, foi verificada a falta de conhecimentos acerca de

dados de produção e vendas por parte dos entrevistados, o que dificultou a

coleta de informações precisas, sendo este fator agravado, pois alguns

proprietários realizam o cultivo de diferentes espécies de bananas

consorciadas e não sabem informar a especificamente a quantidade produzida

de cada uma.

Tabela 7 - Dados de área e de produção de banana prata

Banana prata Freq. Mínimo Máximo Média

Desvio Padrão

Soma Produtividade

Área plantada 19 0,15 04 1,2 1,2 23,73 10,6

Produção anual (ton.) 08 0,32 70 13,2 23,5 105,44

ton/ha

Tabela 8 - Dados de área e de produção da banana grand nine

Banana grand nine Freq. Mínimo Máximo Média

Desvio Padrão

Soma Produtividade

Área plantada 04 0,5 2,5 1,5 0,91 06 24,7

Produção anual (ton.) 02 02 72 37 49,50 74

ton/ ha

Indicador 2: Renda média familiar Resultado Finalístico 2: Aumentar a renda média familiar das propriedades rurais da

Bacia do Córrego Sossego em 5% ao final de 2007.

T0 Resultado obtido:

R$ 10.436,51

T1 Meta a atingir até 2007:

R$ 10.958,33

O faturamento médio anual das propriedades rurais do Sossego é de R$

10.436,51, mas grande parte dos proprietários possui sua renda abaixo de R$

5.000,00 e uma outra parte dos entrevistados entre os valores de R$ 5.000,00

e R$ 10.000,00.

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Tabela 9 - Faturamento anual das propriedades rurais do Córrego do Sossego

Faturamento anual da propriedade

Freq. Mínimo Média Máximo Desvio padrão Soma

126 2.500,00 10.436,51 25.000,00 8.106,04

1.315.000,00

Tabela 10 - Faturamento anual das propriedades rurais do Córrego do Sossego

Faturamento anual da propriedade Freq. %

Abaixo de R$ 5 mil 45 35,7

Entre R$ 5 mil e R$ 10 mil 28 22,2

Entre R$ 10 mil e R$ 15 mil 19 15,1

Entre R$ 15 mil e R$ 20 mil 10 7,9

Entre R$ 20 mil e R$ 25 mil 08 6,3

Acima de R$ 25 mil 16 12,7

Total 126 100,0

Fonte: SEBRAE, 2006. II.2.b. Ações da FUNASA

A FUNASA (Fundação Nacional de Saúde) assumiu a responsabilidade quanto

ao resultado 3: reduzir o índice de esquistossomose na bacia do córrego

Sossego. Para tanto, elaborou inicialmente um levantamento em relação à

prevalência da doença na comunidade no período de 2000 a 2006.

Especificamente para o ano de 2006 as informações estão detalhadas na

sequência, conforme tabelas a seguir:

Tabela 11 - Prevalência de Positivesra esquistossomose na bacia do córrego Sossego no período de 2000 a 2006

( LOCALIDADE

CAT.

PRÉD.

POP.

2000 %

2001 %

2002 %

2003 %

2004 %

2005 %

2006 %

Alto Córrego Sossego Pov. 43 125 23,78 - - 22,92 21,43 - 13,0

Baixo Córrego Sossego Pov. 45 132 7,85 - - 6,54 - 4,67

Barra Córrego Sossego Pov. 62 248 8,21 - - 3,55 - -

Cab. Alto Cor. Sossego Pov. 18 41 8,68 - - - - 6,45 6,45

Córrego Bananal Pov. 101 252 11,40 - - 30,43 2,93 - 5,45

Córrego Boa Vista Pov. 13 34 8,26 - - 0,0 0,0 - 0,00

Córrego Matutina Pov. 36 126 7,39 - 3,06 10,34 3,49 -

Córrego Santa Helena Pov. 49 134 8,69 - - 53,54 3,36 - 3,81

Córrego Sossego Pov. 37 86 14,92 - - 1,75 8,93 - 10,29

Rizzi Pov. 208 508 11,63 - - 28,39 4,96 -

Córrego Penedo Pov. 22 68 14,06 - 8,10 - 2,44 - 1,75

FONTE: FUNASA, 2006.

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Tabela 12 - Prevalência da Esquistossomose na População Examinada em Inquéritos Coproscópicos, Bacia do Córrego do Sossego, Município de Itarana, ES. 2006

Item Nome da Localidade Categoria

População Residente

Exames Realizados

Nº Positivos

% Posit.

1 Alto Córrego Sossego Povoado 125 105 13 12,38

2 Baixo Córrego Sossego Povoado 128 107 4 3,74

3 Barra Córrego Sossego Povoado 214 193 10 5,18

4 Córrego Bananal Povoado 252 243 12 4,94

5 Córrego Boa Vista Povoado 34 25 0 0,00

6 Córrego Matutina Povoado 85 63 2 3,17

7 Córrego Penedo Povoado 68 60 1 1,67

8 Córrego Sossego Povoado 92 79 9 11,39

9 Rizzi Povoado 530 435 24 5,52

10 Cabeceira Alto Córrego Sossego Povoado 32 31 2 6,45

11 Córrego Santa Helena Povoado 134 105 4 3,81

Total 1694 1446 81 5,60

FONTE: FUNASA, 2006.

A FUNASA elaborou, também, diagnóstico sobre as condições sanitárias das

comunidades da bacia do córrego Sossego e, a partir disto, propôs um

conjunto de melhorias por comunidade, abaixo especificadas.

Tabela 13 - Melhorias sanitárias domiciliares necessárias na bacia do córrego Sossego

LOCALIDADES FILTRO

DE ÁGUA MÓDULO

SANITÁRIO

FOSSA SÉPTICA E

FILTRO BIOLÓGICO

FOSSA SÉPTICA E

SUMIDOURO

LIGAÇÃO ESGOTO

Córrego Santa Helena 10 01 02 02 0

Córrego Alto Sossego 12 01 06 03 0

Boa Vista 0 0 01 0 0

Penedo 04 0 0 0 0

Córrego Sossego 03 02 0 02 0

Cab. Alto Sossego 04 01 01 01 0

Córrego Matutina 18 0 0 0 0

Baixo Córrego Sossego 01 0 0 0 0

Barra Córrego Sossego 07 01 01 02 0

Córrego Bananal 16 05 0 08 0

Rizzi 39 26 51 01 21

TOTAL GERAL 114 37 62 19 21

Observação: Os módulos sanitários terão pia e tanque de lavar roupas.

FONTE: FUNASA, 2007.

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O Projeto para a efetiva implantação destas melhorias foi elaborado pela

FUNASA e enviado aos órgãos competentes do Governo Federal para

aprovação e liberação dos recursos. Contudo, houve um significativo atraso no

andamento do processo e só recentemente a FUNASA retomou os trabalhos,

elaborando um novo levantamento de condições sanitárias (com ênfase nos

aspectos de abastecimento de água e esgotamento sanitário – ANEXO 3),

elaborando novo quadro de demandas, conforme pode ser observado na

FIGURA 18.

FIGURA 18 – Proposta de distribuição de equipamentos para melhoria sanitária

na bacia do córrego Sossego

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Em parceria com as a Secretaria Estadual de Saúde e com secretarias

municipais de Educação e de Saúde, foram promovidas ações de educação

ambiental com crianças das escolas da localidade, denominadas o Dia “E”

contra a esquistossomose, realizado em 20 de outubro de 2007 na comunidade

Rizzi (FIGURAS 19 e 20).

FIGURA 19 – Ação educacional do “Dia E” com crianças da comunidade do

Sossego

FIGURA 20 – Ação educacional do “Dia E” com crianças da comunidade do

Sossego, com a participação da Professora Gema, da secretaria Municipal de

Educação de Itarana.

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Os resultados das ações coordenadas pela FUNASA foram descritas no

Relatório T0, transcritas a seguir:

Indicador 3: Índice de esquistossomose

Resultado Finalístico 3: Reduzir de 12,71% para 10% o índice de esquistossomose na Bacia do Córrego Sossego ao final de 2007.

T0 Resultado obtido:

Média de 1 pessoa da família que contraíram a doença no último ano.

“A maior parte dos entrevistados não apresentou nenhuma ocorrência da

esquistossomose dentre os membros da família, entretanto a média de

ocorrências da doença foi de 01 pessoa [...] A presença constante dos

funcionários da SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde

Pública do Ministério da Saúde) percorrendo as propriedades do Sossego,

realizando campanha de conscientização, prevenção e tratamento,

demonstra bons trabalhos dentre os proprietários da bacia” (SEBRAE,

2007).

III.2.c – Ações do INCAPER

O INCAPER (Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural), escritório de

Itarana, responsabilizou-se pelas ações relativas ao alcance do resultado 4 -

aumentar de 8% para 11% cobertura florestal nativa e implantar 300 ha de

floresta plantada. Neste aspecto, algumas considerações devem ser feitas

acerca da porcentagem de cobertura vegetal nativa. Quando esta meta foi

estabelecida, a informação acerca da efetiva cobertura vegetal era bastante

genérica. No que se refere à cobertura vegetal nativa, houve a necessidade de

um detalhamento no levantamento das informações, o que ocorreu somente a

partir de 2008, com a obtenção de imagens aéreas detalhadas da área.

Conforme já descrito, a situação da cobertura vegetal varia bastante em cada

sub bacia somente três delas apresentam menos do que 20% de cobertura.

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Ocorre, contudo, que esta distribuição não é uniforme nas propriedades de

cada sub-bacia, são raros os trechos em que ocorre mata ciliar e conforme foi

levantado em pesquisa posterior, os fragmentos florestais são pouco diversos,

necessitando de ações para a recomposição de sua biodiversidade. Ademais, a

temática da recomposição e recuperação de áreas de vegetação nativa tomou

recentemente proporções bastante amplas em virtude da discussão legal do

novo Código Florestal.

Localmente, houve determinações legais para a recomposição de vegetação

ciliar de nascentes, tendo sido providenciados pelo poder judiciário local a

aquisição de mudas, mourões e arame para cercamento das áreas, ação que,

no entanto, sofreu entraves no que se refere à disponibilização de mão-de-obra

para a efetivação dos cercamentos e plantios.

O Incaper promoveu cursos de capacitação em cultivares específicos (como

em inhame e em silvicultura), além de atuar como divulgador do Projeto

durante suas atividades institucionais de extensão.

Assim são descritos os resultados das ações relativas ao aumento da área de

floresta plantada no Relatório T0:

Indicador 4: Cobertura florestal da bacia

Resultado Finalístico 4.2: Implantar 300 ha de área de floresta plantada para fins comerciais.

T0 Resultado obtido:

Soma de 71 ha de área plantada de eucalipto.

“A área destinada ao cultivo de floresta plantada para fins comerciais é

uma prática incipiente na região do Sossego, a maioria dos produtores

que realiza esta prática, se encontra com o plantio em estágio inicial a

médio, não sabendo ao certo qual será a produção total da área

plantada”. (SEBRAE, 2006)

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III.2.d – Ações da UFES-LabGest

A Ufes, mais especificamente o LabGest, responsabilizou-se pelas ações

visando ao alcance do resultado 5 - garantir vazão mínima no córrego

Sossego. Sendo a irrigação um dos grandes responsáveis pela extração da

água dos córregos e tendo sido diagnosticado que os produtores não sabiam o

quanto extraíam de água para esta finalidade, foi dada ênfase à temática da

racionalização do uso da água na agricultura irrigada e à influência do manejo

da irrigação na produtividade de café, banana e inhame.

A primeira etapa destas investigações consistiu na avaliação dos sistemas de

irrigação. Foram selecionadas treze propriedades rurais, foram avaliados 22

sistemas de irrigação e foram considerados os cultivos de café, banana e

inhame. Os sistemas avaliados foram o de aspersão, microaspersão e

microjet/microspray. Nas propriedades avaliadas foram instalados

equipamentos para medição de lâmina d’água aplicada bem como

pluviômetros.

Foram, ainda, avaliados os níveis de manejo da irrigação (manutenção das

linhas, entupimentos e outros).

Os resultados obtidos nesta avaliação são demonstrados na FIGURA 21.

FIGURA 21 - Resultado das avaliações dos sistemas de irrigação.

Observa-se que todos os sistemas apresentam funcionamento relativamente

satisfatório. Contudo, em campo observou-se que há pouca prática de manejo

e de planejamento dos sistemas (FIGURA 22).

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FIGURA 22 – Água sendo disperdiçada “irrigando” a estrada de chão.

A despeito do satisfatório funcionamento dos sistemas, ao se avaliar o manejo

da irrigação observou-se que a aplicação da lâmina d’água era bastante

equivocada, conforme FIGURA 23 e 24.

FIGURA 23 Resultado do manejo da irrigação.

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Conforme se observa nos dados levantados, durante todo o ano a umidade do

solo se aproxima da capacidade de campo e da umidade de segurança, o que

indica que o solo é sistematicamente umedecido. Contudo, o ponto de murcha

da planta, indicado pela linha amarela, ou seja, o ponto em que a planta entra

em stress por déficit hídrico, raramente é alcançado pelo volume de água

aplicado.

FIGURA 24 – resultado do manejo da irrigação

Comparando-se as linhas vermelhas, que indicam a irrigação que seria

necessária para garantia das condições de umidade necessárias às plantas e

as linhas verdes, que indicam o volume efetivamente aplicado, observa-se que

há uma homogeneidade na aplicação de água durante todo o ano, sem que se

leve em conta a precipitação ocorrida e as demais condições climatológicas,

ocasionando irrigação desnecessária (quando as linhas verdes são maiores

que as vermelhas) ou irrigação deficitária, quando as linhas verdes são

menores que as vermelhas).

Após estas constatações foram geradas informações em formato de cartilha

para os produtores que participaram da pesquisa e foram realizadas ações de

aconselhamento (FIGURA 25), indicando formas de manejo da irrigação,

manutenção dos equipamentos, necessidade de observação das condições

atmosféricas. Indicou-se, também, que os sistemas que utilizavam maior

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47

volume de água, como o de aspersão, não garantiam maior eficiência na

irrigação.

FIGURA 25 – Aconselhamento ao produtor rural por membro do LabGest.

A descrição das ações desenvolvidas na segunda fase do Projeto Sossego

tiveram o propósito de subsidiar a análise do quanto estas ações foram

incorporadas no cotidiano dos membros da comunidade do Sossego e por isso

foram aqui detalhadas. Serão a seguir apresentados e descritos os elementos

e procedimentos efetivados para o alcance dos objetivos específicos da

presente pesquisa.

IV. ANÁLISE DAS REPERCUSSÕES DO PROJETO SOSSEGO

IV.1. Procedimentos metodológicos

Antes de se realizar campanha de campo específica para a execução de

entrevistas, foram desenvolvidas outras atividades que se constituíram como

parte procedimental do projeto de pesquisa, tais como, ida a campo

acompanhando o profissional de apoio técnico do LabGest em visitas as

propriedades rurais para comunicação do Projeto Sossego com produtores,

colaboração nas oficinas do “River Basin Game”, vinculadas ao trabalho de

pesquisa de doutoramento de Marcos Eugênio Pires de Azevedo Lopes

(PPGEA) (LOPES, 2011) e colaborando na aplicação do cadastro de usuários

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48

para fins de outorga coletiva na bacia hidrográfica do córrego Sossego. A

participação dos bolsistas nestas atividades tiveram como propósito, dentre

outros pontos, a construção de relações de convivência e troca entre nós

pesquisadores e alguns dos sujeitos sociais da região estudada, configurando

contatos iniciais ou até mesmo o estreitamento destas relações. Esse fator

possui relevância para os tipos de investigação-ação/pesquisas-ação

realizadas na área.

Esses contatos e relações que foram se dando ao longo da pesquisa

contribuíram para a seleção dos sujeitos a serem entrevistados posteriormente

e revelou informações/impressões nas falas dos sujeitos e em conversas

informais durante as oficinas, o cadastro de usuários e visitas as propriedades,

que talvez não fossem possíveis de se obter nas entrevistas, pela formalidade

presente nesse tipo de trabalho, mesmo quando do tipo semi-estruturada.

A estratégia adotada foi a de entrevista aberta semi-estruturada, com as

seguintes questões-chave:

- complementação de informações básicas (comunidade, ações que

participou);

- nível de empoderamento das ações que participou (como avalia, se beneficia

ou não dos conhecimentos trabalhados? De que forma?);

- transformações percebidas (nas paisagens, nas práticas, socioeconômicas,

ambientais. Por quais fatores, houve ligação com o Projeto Sossego);

- visão geral do Projeto Sossego, como avalia, expectativas.

Estas questões se constituíram em diretrizes para as abordagens junto aos

sujeitos; a abordagem das questões-chave foram permeadas por conversas de

assuntos não diretamente relacionados ao Projeto que configuram uma eficaz

estratégia de se deixar o entrevistado mais à vontade e de induzir a assuntos

mais efetivamente ligados ao Projeto, tornando possível revelar informações

mais coerentes ao modo de vida, a geograficidade e ao empoderamento. Como

dito anteriormente, esses diálogos, possíveis em entrevistas semi-estruturadas,

permitem um nível de apreensão de informações mais fieis aos pensamentos

dos entrevistados.

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As entrevistas realizadas durante a campanha de campo foram gravadas e

posteriormente, já no laboratório de pesquisa, passaram por um processo de

eliminação de ruídos no áudio utilizando o software livre AUDACITY 1.3. A

próxima etapa foi ouvir as gravações para selecionar os trechos mais

relevantes para as análises, feito isso, utilizando-se novamente o software

recortamos os trechos selecionados, para podermos transcrevê-los e realizar

as análises necessárias a partir dos objetivos da pesquisa e dos conceitos-

chave da mesma.

Para apreender e analisar os conteúdos das entrevistas empregamos a técnica

de história oral, que se constitui em uma possibilidade de pesquisa, onde o

investigador reúne informações orais de uma pessoa ou de um grupo sobre

eventos, seu contexto, suas causas e efeitos. Seu uso visa suprir a deficiência

de documentos disponíveis, obter informações não registradas ou inacessíveis

e compreender o contexto vivido para além das informações unidimensionais

presentes em documentos (Chizzotti, 2010).

Outra técnica utilizada foi a análise do discurso, que “em pesquisa, é análise de

um conjunto de idéias, um modo de pensar ou corpo de conhecimentos

expressos em uma comunicação textual ou verbal, que o pesquisador pode

identificar quando analisa um texto ou fala” (Chizzotti, 2010, p. 120). Sendo

que,

“A análise do discurso constitui-se como um tipo de análise que

ultrapassa os aspectos meramente formais da linguística, para

privilegiar a função e o processo da língua no contexto interativo e

social em que é prolatada, considerando a linguagem, em última

análise, como uma prática social” (CHIZZOTTI, 2010, 113-114).

Devido ao caráter de prática social da linguagem e também da comunicação,

“Um discurso é determinado […] pela posição do produtor-

receptor na estrutura social e condicionado pelas forças

assimétricas que afetam tanto o discurso quanto a posição social

dos interlocutores: patrão-operário, vendedor-consumidor. O

discurso está conexo com as relações sociais, é revelador da

posição dos interlocutores no contexto e só pode ser

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compreendido quando se tem presente as relações de força

contida no discurso” (CHIZZOTTI, 2010, p. 122).

No contexto sócio-espacial da BHCS, a interlocução entre produtor-receptor

presente nos discursos as entrevistas e diálogos, se deram na

posição/condição de produtor(rural)-pesquisador, devido ao caráter

hierarquizado nesse tipo de relação, é que insistimos que a construção de

agradáveis relações sociais de convivência e de confiança, são além de

características desejáveis da humanidade e de ética, um fator de inserção dos

pesquisadores como sujeitos sociais da BHCS e do Projeto Sossego, que

pretendeu amenizar a hierarquização e possíveis entraves ao desenvolvimento

das pesquisas.

Para a campanha de campo propriamente dita, que foi realizada entre os dias

11 e 15 de julho de 2011, os entrevistados foram definidos a partir de

amostragem estratificada, visando à garantia da representatividade da

diversidade presente no universo de atores sociais da BHCS e de algumas

instituições parceiras do Projeto Sossego. Desta forma, foram selecionados

jovens, adultos e idosos de diferentes comunidades e dos gêneros masculino e

feminino. Sendo em sua maioria sujeitos envolvidos diretamente em ações do

Projeto Sossego e outros com pouca participação, para tornar possível

compreender as repercussões em diferentes níveis de participação. Já os

representantes de instituições parceiras foram selecionados, principalmente,

pela disponibilidade de nos atender durante o período de realização do trabalho

de campo.

Após a definição dos entrevistados os profissionais de apoio técnico que atuam

frequentemente na BHCS realizaram contatos prévios verificando a

disponibilidade destes em nos receber para as entrevistas e diálogos, em datas

favoráveis para os mesmos e para os bolsistas.

Identificação dos entrevistados

Nome Instituição / comunidade Gênero Faixa etária Ocupação

Paulinho Baixo Sossego Masculino Adulto Agricultor

Marinho

(Osmar)

Baixo Sossego Masculino Adulto Agricultor

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Ricardo Baixo Sossego Masculino Adulto Agricultor

Rodrigo Baixo Sossego Masculino Adulto Agricultor/motorista

Preta Baixo Sossego Feminino Adulto Técnica/SEMED

Mauro IDAF Masculino Adulto Chefe

Gema Rizzi Feminino Adulto Professora

Joaquim Santa Helena Masculino Idoso Agricultor

Éder Santa Helena Masculino Jovem Agricultor

Ana Barra do Sossego Feminino Idosa Do lar

Rosimere Barra do Sossego Feminino Adulta Do lar

Fabiano Barra do Sossego Masculino Adulto Agropecuarista

Fátima Baixo Sossego Feminino Adulto Professora

Raquel Baixo Sossego Feminino Adulto Professora

Lucas Baixo Sossego Masculino Jovem Estudante

Sérgio Boa Vista Masculino Idoso Pecuarista

Adenir Policia Militar Ambiental Masculino Adulto Sargento

Anderson SAAE Masculino Adulto Gestor

Isaura Matutina Feminino Adulto Microempresária

Maryellen Matutina Feminino Jovem Estudante

Romário Barra do Sossego Masculino Jovem Estudante

Xexeu

(Valcelino)

Meneguel Masculino Adulto Agricultor

Betinho Bananal Masculino Adulto Agricultor

Obs.: algumas entrevistas, que envolveram mais de um membro da família, foram feitas simultaneamente.

IV.2. Resultados das entrevistas

Apresenta-se a seguir uma síntese das entrevistas, buscando qualificar o grau

de envolvimento dos entrevistados no Projeto Sossego, para posterior

discussão conforme descrito nos procedimentos metodológicos.

Seguem as informações sistematizadas relativas a todas as entrevistas

realizadas (datas, horários e principais tópicos abordados pelos entrevistados)

Entrevistado(a): Paulo Fiorotti

Comunidade: Baixo Sossego

Data e horário da entrevista: 13/07, das 8:50 às 10:15

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Qualificação do entrevistado: produtor rural, foi presidente da APEPRUS na

segunda fase do Projeto Sossego e participa desde o início do projeto

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Participou do treinamento do SEBRAE sobre administração de propriedades e

oficina despertar rural [é utilizada ainda];

- Pesquisa de manejo de irrigação: faltou ex. prático e resultados [era previsto o

marcos manusear a metade da plantação e o produtor manusear a outra metade

para comparar os resultados – não foi feito]

- Os comerciantes de materiais é quem fazem os projetos de irrigação [mal feito e

sem técnica];

- O projeto peca em não dar retorno de resultados das pesquisas;

- Reflorestamento: intervenção da promotora [faltou às mudas que “viriam” do IDAF

e da Aracruz];

- Irrigação: para verdura não causava problema, quando começou a localizada no

café que veio o problema [a partir de 1998 – 1ª vez que o rio cortou /secou];

- Tivemos queda na produção devido ao êxodo rural, por isso está gastando menos

água [será que caiu mesmo? Temos que verificar];

- O povo fica esperando pelo projeto e o projeto pelo povo;

- Com a mudança no governo municipal o projeto deve alavancar

Entrevistado(a): Osmar Fioroti (Marinho) e os filhos Ricardo e Rodrigo

Comunidade: Baixo Sossego

Data da entrevista: 13/07, das 10:40 às 11:30

Qualificação do entrevistado: produtor rural, participou da pesquisa sobre irrigação

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Participou de algumas oficinas (Oficina do Sebrae, economia de água e qualidade

do café). Afirma que estas oficinas influenciaram na forma de lidar com a sua

propriedade e que após estas oficinas vale a conscientização de cada o que é

muito difícil de ocorrer.

- Cita o financiamento como um incentivador para o aumento do consumo de água

do córrego e uma bola de neve das dívidas.

- A mudança do sistema de irrigação da propriedade foi feita, mas sem a influencia

do PS. O PS veio para educar e conscientizar a população.

- Cita a análise do manejo de irrigação. A medição da quantidade de chuva com o

pluviômetro até hoje é feito em sua propriedade.

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Entrevistado(a): Preta (Elisângela Marques Covre)

Comunidade: Baixo Sossego

Data e horário da entrevista: 13/07, das 13:45 às 14:45

Qualificação do entrevistado: foi secretária da APEPRUS durante as duas primeiras

fases do Projeto Sossego e atualmente trabalha na Secretaria de Educação do

Município de Itarana

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- As pessoas achavam que iriam receber benefícios do Projeto Sossego de maneira

direta;

- O Projeto trouxe conscientização: na irrigação; melhorou a administração das

propriedades a partir dos “CCR” [SEBRAE];

- O Projeto falou algumas coisas e não fez: caixa-seca, reflorestamento;

- Os parceiros assumiram responsabilidades e acabavam “pulando fora”;

- Educação: “Dia E” foi positivo, permaneceu nas pessoas;

- Cursos que deram mais resultados: SENAR: banana e café, SEBRAE:

capacitação rural + consultoria individualizada; outros cursos foram mais para

organização política/social dos produtores [associação];

- Organização social/econômica: APEPRUS desde1992 não caminhava, a produção

era diferente (olerícolas, hortaliças e legumes) e há uns anos passou a produzir

café e banana, isso fez mudar sua organização. Fortaleceu a organização e

estrutura física, porém é menos procurada devido às mudanças na produção.

Produtores de outras comunidades associaram-se através do Projeto Sossego.

Entrevistado(a): Antonio Mauro Rossoni

Instituição: Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal – IDAF – escritório de Itarana

Data e horário da entrevista: 14/07, das 8:40 às 9:10

Qualificação do entrevistado: Técnico do IDAF, iniciou sua participação no Projeto

Sossego somente na terceira fase, participa do Grupo Gestor do Projeto.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- A maioria dos produtores diz que não tem resultado aparente, o pessoal é

imediatista e não entende o que é resultado de pesquisa.

- A visão de instituição parceira é diferente, concorda totalmente com a forma de

conduzir o Projeto, colocando na cabeça da comunidade a importância da

participação deles no processo.

- Algumas pessoas se sentem um pouco desanimados, porque querem ver a coisa

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funcionar e por isso ficam com pé atrás em relação ao Projeto.

- Entrou no projeto efetivamente na terceira fase e não sabe se o que o antecedeu

na chefia foi efetivo no processo.

Entrevistado(a): Gema Dalleprane

Comunidade: Rizzi

Data e horário da entrevista: 14/07, das 9:30 às 9:50

Qualificação do entrevistado: professora de educação infantil, participou como

representante da Secretaria Municipal de Educação na segunda fase do Projeto

Sossego

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- participou dos encontros com as comunidades e acha que neste momento o

projeto eu uma alavancada, mas depois esfriou. Se o pessoal da Ufes não ficar

“cutucando” o tempo todo, o projeto parece que não sai;

- trabalhou na parceria com o pessoal da saúde sobre a questão da

esquistossomose, que foi trabalhado o ano todo, trazendo resultados positivos. As

escolas foram envolvidas, o que é importante, pois quando se envolve a escola, a

família está sempre antenada, porque os estudantes se empolgam, cobram e

envolvem a família.

- como seu trabalho é na escola e sua família não mexe muito com roça, não se

envolveu nos cursos e capacitações para a parte do rural, mas seu irmão, sua

cunhada e suas sobrinhas sempre participam e sempre falaram muito bem. Não

sabe o que falta, as ideias são boas, mas na hora de colocar em prática há

desgaste; não sabe se falta incentivo de algum órgão público, uma parceria maior.

A comunidade espera a coisa pronta, espera do Projeto, é por isso que morre, fica

aquele grupinho de 3. Fazia parte de um grupo desse, mas nem convidada eu fui

mais pra reunião, ai eu não sei o que está acontecendo. Era representante da

educação, mas parece que já colocaram outra pra representar e não sabe quando

está acontecendo.

- acha que os resultados das ações, como da saúde, ficam com o tempo no

cotidiano das pessoas, pode conversar que elas lembram.

- o Projeto trouxe muita coisa o que faltou foi a comunidade abraçar, o que sobrou

foi a fábrica de doces, o pessoal da fibra (de bananeira) ficou 1 ou 2, e então

desanimaram. Trouxe muitas ideias boas, mas pelo comodismo o pessoal não

aproveitou, porque eles querem as coisas prontas. É um Projeto que muitos

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municípios querem, porque é uma coisa boa, mas para o povo mesmo depois de

tantos anos “não caiu a ficha”.

- espera que o pessoal do Sossego acorde pra vida, espera eles reflitam e vejam

que vale a pena perder um tempo, porque ainda vai vir muita coisa boa pro lugar,

porque nosso lugar está morrendo. Quem sabe se isso não é a solução, resgatar a

auto-estima do lugar.

Entrevistado(a): Joaquim Cancian

Comunidade: Santa Helena

Data e horário da entrevista: 14/07, das 10:10 às 10:25

Qualificação do entrevistado: produtor rural, não teve participação ativa nas

atividades do Projeto Sossego, em nenhuma das fases.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- acha que no momento está tudo parado, ainda não sabe o que aconteceu, está

havendo alguma movimentação em relação à água, assistência técnica, apoio da

prefeitura. Mas acha que vai dar certo. Ainda não modificou nada na vida, mas

também não vai ser feito de um mês para o outro.

- não participou dos cursos;

- o que está fraco é a saúde, para ter atendimento tem que ir para longe;

- não se envolve porque tem idade avançada e está saindo da produção;

- acha que o povo é muito desunido;

- sobre a água, o córrego é pequeno e estão plantando muito. Tinha que se plantar

menos, na época da seca tem briga. Todo mundo tem poço, não tem mais lugar

para fazer poço e o povo não pára de plantar. Lá no Baixo Sossego é pior que aqui

- a primeira reunião que foi feita foi há um ano ou um ano e meio, tem umas três

pessoas mais envolvidas, mas estão muito quietinhos.

- se ninguém fizer nada vocês também desanimam e aí pára tudo.

- bom que a gente está vendo alguém trabalhando.

Entrevistado(a): Éder Viganô

Comunidade: Santa Helena

Data e horário da entrevista: 14/07, das 10:40 às 11:00

Qualificação do entrevistado: jovem produtor rural, seu pai é um dos representantes

da comunidade no Projeto Sossego.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

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- participou em duas ou três reuniões somente, pois estava na Inglaterra. Antes de

viajar foi a época que os rapazes estavam começando aqui [refere-se à pesquisa

sobre racionalização da água na agricultura irrigada]

- seu pai é representante; pelo que vê o Projeto ficou muito tempo parado, só fazia

reunião mas não resolvia nada. Agora com a outorga começou a fazer. Se vai ter

mesmo aquele apoio falado na reunião aí pode dar certo. Do seu ponto de vista

está encaminhando.

- no Santa Helena, no Rizzi e no Sossego não é muita gente que vai pra reunião

porque acha que não vai ter retorno. Pode ser que o tempo desgaste as pessoas,

elas esperam as coisas e acabam desistindo. Se começar a ver resultado buscam

se envolver mais. Não sabe se todo mundo se envolveu na outorga coletiva.

- quando tem uma coisa que interessa o pessoal eles vão e procuram, falam um

com o outro e vão atrás. Depende de cada um, mas já é um bom exemplo.

Entrevistado(a): Ana de Lurdes C. Coan e Rosimere Coan

Comunidade: Barra do Sossego

Data e horário da entrevista: 14/07, das 13:40 às 14:10

Qualificação do entrevistado: moradoras,esposa e filha de produtor rural

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- gosta muito do Projeto. A ideia do Projeto é boa, mas não tem ação nenhuma. Até

agora quando falta água falta do mesmo jeito, para quem vai fez ou deixou de

fazer.

- se caixa seca é uma coisa boa porque não começa a mobilizar para fazer as

caixas secas? São Roque já tem um projeto piloto com caixa seca, e 55% do

volume de água aumentou. Se tem que começar, começar por isso.

- o pessoal daqui não é unido, e não sabe que quer. Fizeram esse negócio de

mudar a irrigação, há muitos anos já mudou, estão fazendo “no chão”, mas muitos

ainda usam o canhão. A mudança do tipo de irrigação tem a ver com Projeto.

Aprenderam que é desperdício, muita gente aprendeu, mas outros não ou não tem

condições financeiras. Evolui que muitos que tem condições estão fazendo

gotejamento, mas estão esperando por outras coisas.

- as pessoas são “cabeça-dura”, se tiver água, vão usando. Os técnicos ensinaram,

mas alguns não tem condições financeira, governo não ajuda, prefeito menos

ainda e não tem condições de arrumar uma máquina para a caixa seca, que é

muito cara. Aí, desanima.

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- o pequeno não vê o grande fazendo e pensa “por que vai fazer?”.

- acha que o povo já está mais consciente de molhar. Precisa coibir os grandes para

não desperdiçar.

- a outorga coletiva foi uma coisa bonita.

- fazer um poço é muito difícil.

- reza para que o projeto tenha boas ideias.

Entrevistado(a): Fabiano Cancian

Comunidade: Barra do Sossego

Data e horário da entrevista: 14/07, das 15:10 às 15:40

Qualificação do entrevistado: Agropecuarista, participou de oficinas na segunda

fase do Projeto Sossego

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- participou de oficinas, não tinha utilizado nada, agora vai trocar a irrigação,

influenciado pelas ações do projeto;

- a comunidade devia tomar consciência para fazer – mudou o mínimo, uns 20% a

mentalidade das pessoas. Só começam a fazer alguma coisa quando falta o deles.

- tem gente que sabe do projeto desde o dia que iniciou, todo mundo foi convidado,

mas teve gente que não foi em nenhuma reunião até agora. Se é para ser um

modelo, 100% deveria participar. No fim vai dar certo para ele também, mas não

sabe nada o que está acontecendo.

- Ninguém está fazendo nada, ninguém tem a medida de plantar. Tem muita gente

que não sabe do projeto porque não quer ir. As pessoas que participaram, as

pessoas mudaram, tem influencia na vida delas, só em termos de irrigação.

- O pequeno produtor mudou mais que o grande. O grande desde o início já estava

se precavendo um pouco. O pequeno só tinha a bombinha encostada na beira do

córrego e sofreu mais e está mudando para ver se economiza.

- em toda reunião o cara pede represa, caixa seca, a maioria do pessoal pede isso.

Ele pode até fazer a primeira, mas como a estradas estão todas ruins e na primeira

chuva ela enche, para refazer é um custo elevado, não tem onde colocar a terra,

depois tem de gastar a mesma coisa com a retroescavadeira, com a basculante,

eleva o custo. Quase todo mundo que fez a primeira vez depois é abandonada.

- quem está participando já tem uma mentalidade, se mostrar algum resultado

mesmo quem não está vai querer participar, se tiver coisa produtiva mais gente

participa. Se um, dois, três derem certo os outros vem junto.

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Entrevistado(a): Fátima Covre e Raquel Covre

Comunidade: Baixo Sossego

Data e horário da entrevista: 14/07, das 16:00 às 16:30

Qualificação do entrevistado: Professoras, esposas de produtores que participaram

dos projetos de racionalização do uso da água na segunda fase do Projeto Sossego.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Mudou a irrigação por influência do Projeto, pelo trabalho de conscientização;

- Mudança na produção: de hortaliças para o café, devido a escassez da água e uso

excessivo de agrotóxicos;

- Saúde: foi feito pouco, teve mutirões, mas sem continuidade; teria de haver alguma

ação mais permanente;

- Conhecimentos do curso de administração e de artesanato do SEBRAE

permaneceram;

- Tem muita gente que participa, mas tem muita gente que fica esperando acontecer

alguma coisa e por isso às vezes tem participação de pouca gente.

Entrevistado(a): Lucas Covre

Comunidade: Baixo Sosego

Data e horário da entrevista: 14/07, das 17:00 às 17:20

Qualificação do entrevistado: estudante de Agronomia em Itapina, filho de produtor

rural

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Percebe mudanças na irrigação;

- Mudança na produção devido ao excesso de trabalho e uso de agrotóxicos no

cultivo de hortaliças;

- “faço Agronomia porque sou da roça e não quero ir embora”.

Entrevistado(a): Sergio H. Toniato

Comunidade: Boa Vista

Data e horário da entrevista: 14/07, das 18:00 às 18:40

Qualificação do entrevistado: produtor rural, participou dos cursos da segunda fase

do Projeto Sossego, é representante de sua comunidade no Projeto, ex-vereador do

município de Itarana. Tem propriedades em três diferentes localidades na bacia.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Para os que estão presentes no projeto e participaram das oficinas o projeto

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mudou algo, mas para os que estão de fora não, pois não há coisa material então

acham que o projeto não vai dar em nada.

- Quando uma coisa é obrigada todo mundo faz, mas quando não é 2-3 acatam e

20-30 criticam.

- Muitos tem a opinião de que o Projeto Sossego é para dar emprego para o pessoal

da UFES

- Para ele não adianta ele fazer a parte dele se seu vizinho não faz.

- A maioria da população da comunidade é cabeça dura, por mais que você

explique, eles teimam em fazer da maneira deles.

- Não há diferença no comportamento da população de uma comunidade para outra

- A mudança de cultura ocorreu ao longo dos anos, pois se um produtor planta

banana e estiver dando dinheiro todo mundo planta.

- O produtor possui apoio do governo com o financiamento o que falta para melhoria

é que cada um possa possuir a capacidade de modificar suas atitudes para

benefício de todos.

- Em relação as oficinas, para os que estavam mais integrados sabiam que era uma

parceria do Projeto Sossego com as instituições parceiras, mas para outros

participantes achavam que isto veio por iniciativa das instituições.

- As mudanças ao longo dos anos na bacia foram feitas devido ao aumento da

ganância dos produtores em sempre plantar mais e mais, sempre relacionando

com a busca pelo que estar dando mais lucro.

- Acha que com a presença de um técnico para auxiliar os produtores eles irão ouvir

e acatar as medidas necessárias.

Entrevistado(a): Adenir Marquez

Comunidade: Marquez

Data e horário da entrevista: 15/07, das 8:25 às 8:55

Qualificação do entrevistado: Sargento BPM Ambiental, há 7 anos em Itarana,

participa do grupo Gestor do Projeto, terceira fase. É originário da comunidade

Marquez

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Ocorrências de crime ambiental reduziram (desmatamento e caça) “devido à

organização social com o projeto”;

- Sua presença de farda nas reuniões e o contato com a comunidade melhorou a

relação, com orientação fez melhorar a questão da fauna;

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- Acha que deveria ter um técnico (assistência técnica) só para o Sossego.

Entrevistado(a): Anderson (Paçoca)

Instituição: SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto - Itarana

Data e horário da entrevista: 15/07, das 9:00 às 9:22

Qualificação do entrevistado: atual diretor do SAAE, membro do grupo gestor do

Projeto Sossego na terceira fase; era responsável pela Vigilância Sanitária do

Município

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- o alcance da água tratada é no Rizzi e na Barra, como extensão do sistema

urbano, mas alguns acham que a água do poço é suficiente, mas o lençol é muito

contaminado pelas fossas. O resultado da qualidade das águas feita pela FUNASA

deve convencer as pessoas a fazerem as ligações à água tratada, que não é feito

muitas vezes em função do custo, ainda que não seja alto (cem reais para

instalação do relógio e cerca de quinze reais mensais, incluído o esgoto).

- na área rural é muito difícil chegar a rede. A FUNASA deve treinar o pessoal para

tratar a própria água.

- o entendimento da população sobre a ação das instituições enquanto ações do

projeto não é muito claro, mas aumentou com a campanha de análise das águas.

- Aponta a importância do SIM (Selo de Inspeção Municipal) para incentivo às

vendas das produções rurais no município.

Entrevistado(a): Maryellen Lambert

Comunidade: Matutina

Data e horário da entrevista: 15/07, das 10:05 às 10:17

Qualificação do entrevistado: estudante de Eng. Mec. na UNESC/Colatina, filha de

proprietário rural representante da comunidade.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- o pessoal de baixo às vezes reclama que a gente é que prende a água, mas não é

verdade;

- houve mudança no tipo de ordenha (de manual para ordenha mecânica), o que

indica mudança no tipo de tecnologia;

- participou de uma reunião, mas seus pais participam com frequência;

- o Projeto promoveu a união das comunidades para a solução de alguns problemas.

Coleta de lixo: a cerca de 1 ano o caminhão começou a passar na região, atendendo a

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demanda levantada pela comunidade. Acha que a organização para solicitação do

serviço foi influenciada pelo projeto.

Entrevistado(a): Isaura Lambert

Comunidade: Matutina

Data e horário da entrevista: 15/07, das 10:45 às 11:05

Qualificação do entrevistado: produtora de queijos, esposa de representante da

comunidade na terceira fase do Projeto Sossego, participou de alguns cursos.

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Para o projeto “atingir” mais pessoas tem que falar mais explicado [linguagem

adequada] e individualmente;

- Em algumas casas se junta o lixo, eles queimam;

- Cursos SENAR: derivados do leite e administração familiar permaneceram no dia-

dia das pessoas;

- Está tentando regularizar a fábrica de queijos com a ajuda do SEBRAE ;

- O projeto tem conseguido conscientizar muita gente.

Entrevistado(a): Romário Coan

Comunidade: Barra do Sossego

Data e horário da entrevista: 15/07 / 11:33 – 11:53

Qualificação do entrevistado: Jovem que participa de um projeto de cooperativismo

em Santa Maria de Jetibá [ CESCOP – OCB – projeto de formação de jovens

lideranças] e está muito empolgado e pode se tornar parceiro do Projeto Sossego

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Reduziu o uso de agrotóxico;

- Deve buscar chamar pessoas que não participam devido ao seu jeito de ser.

Entrevistado(a): Valcelino Xexeu

Comunidade: Meneguel

Data e horário da entrevista: 15/07, das 13:35 às 14:00

Qualificação do entrevistado: produtor rural, participou de atividades na

segunda fase do Projeto Sossego

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Os cursos foram proveitosos/ajudaram;

- Caixa-seca: não fazem por medo dos órgãos do governo e custo;

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- Planta de acordo com a disponibilidade hídrica;

- Inhame e banana gastam mais água que hortaliças.

Entrevistado(a): Paulo Loriato

Comunidade: Meneguel

Data e horário da entrevista: 15/07, das 14:20 às 14:35

Qualificação do entrevistado: produtor rural

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Êxodo rural;

- Caixa-seca: não sai por falta de interesse do governo;

- Parou de plantar verdura por causa dos agrotóxicos.

Entrevistado(a): José Alberto Neuman

Comunidade: Bananal

Data e horário da entrevista: 15/07, das 15:15 às 15:30

Qualificação do entrevistado: Produtor rural, participou de atividades na segunda

fase e é representante de sua comunidade nas atividades da terceira fase

Principais tópicos mencionados na entrevista:

- Conflitos devido à ganância;

- Menos problema de falta de água este ano devido a mudanças na irrigação

influenciadas pelo projeto;

- Diminuiu a produção de hortigranjeiros e aumentou o café devido a escassez da

água e o preço;

- Quem tem menos terra mudou a irrigação e os “maiores” não;

- Financiamento é bom, mas tem que focar e planejar.

VI.3. Análise e discussão dos resultados

Para a análise dos resultados das entrevistas, tomamos como referência

conceitos geográficos de modo de vida, geograficidade e escala do cotidiano, a

fim de verificar se/como se processou o empoderamento das informações

produzidas e divulgadas pela/para a comunidade local desdobradas as ações

da segunda fase do Projeto Sossego.

Situar o objeto da pesquisa na escala do cotidiano não significa restringir-se,

mas analisar em proximidade as interrelações das várias ordens.

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De acordo com Araújo,

“trabalhar com a noção de cotidiano [...] leva-nos a aceitar a estruturação

da realidade social em dois planos ou níveis: um macro ou histórico e

outro micro ou cotidiano. Isto para a Geografia significa retornar à

questão da escala, mas não só isso, sugere também incorporar outras

noções importantes como a lei da implicação entre os níveis de

realidade” (Araújo, 2009, p. 4)

Para Santos (2010),

“a localidade se opõe à globalidade, mas também se confunde com ela.

O mundo, todavia, é nosso estranho. Entretanto se, pela sua essência,

ele pode esconder-se, não pode fazê-lo pela sua existência, que se dá

nos lugares. No lugar, nosso próximo, se superpõem, dialeticamente, o

eixo das sucessões que transmite os tempos externos das escalas

superiores e o eixo dos tempos internos, que é o eixo das coexistências,

onde tudo de funde, enlaçando, definitivamente, as noções e as

realidades de espaço e de tempo” (Santos, 2010, p. 592).

A compreensão da dinâmica espacial na bacia do córrego Sossego pressupõe

o entendimento das implicações de todas estas dimensões. O Projeto Sossego,

a princípio, funciona como um articulador escalar, uma vez que baseia-se tanto

na participação social comunitária como na integração de instituições gestoras

em níveis municipal, estadual e federal. Esta noção é relevante para o

entendimento das repercussões do Projeto no cotidiano.

Modo de vida, de maneira ampla, refere-se ao conjunto de costumes e valores

de um grupo social. Conforme Marques (1994), o modo de vida corresponde a

um conjunto de práticas cotidianas desenvolvidas por um determinado

grupo social e decorrentes de sua história da posição que ocupa na

sociedade envolvente e da forma específica que assegura a sua

reprodução social. Corresponde à forma de um determinado grupo social

manifestar sua vida (Marques, 1994, p 3-4)

Para Limonad, o “modo de vida” refere-se à inserção sócio-cultural dos

indivíduos no sistema. “Ao conformar a vida cotidiana, torna-se parte das

condições objetivas materiais da vida dos indivíduos, de sua situação material

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e inserção no mercado de trabalho, integra, assim, a condição de existência

(estratégias de reprodução e sobrevivência) e o quadro de vida (satisfação de

necessidades básicas), conformando-as e sendo por elas conformado”

(Limonad, 2000).

Não se pode isolar as comunidades do Sossego como dotadas de um modo de

vida particularizado, mas sim assemelhado à maior parte da comunidade rural

nacional e espírito-santense pautada em pequenas propriedades de base

familiar desdobradas do movimento de colonização estrangeira. Idenfifica-se,

assim, elementos do prático-inerte que, segundo Santos (2010)

“é uma expressão introduzida por Sartre, para significar as cristalizações

da experiência passada, do indivíduo e da sociedade, corporificada em

formas sociais e, também, em configurações espaciais e paisagens”

(Santos, 2001, p. 587-588).

Assim, a produção é baseada no café, que foi o cultivo justificador destas levas

migrantes e, em virtude de um longo período de relativo isolamento em relação

às economias mais dinamizadas que atribuiu ao território pouca densidade

técnica até um passado recente, a determinação da relação com o meio se deu

em grande medida na subordinação a macro políticas agrícolas. Por outro lado,

observa-se certa homogeneização de valores religiosos católicos e as relações

parentais como base da organização comunitária.

Quarentei (2010) identificou, com base nos estudos de Sabourin, que as

variáveis de parentesco, localidade e reciprocidade qualificam a relação que o

produtor mantém com o seu lugar, com a terra e com seu trabalho. Cada uma

destas variáveis traz uma condicionante específica. O parentesco dá à

comunidade a noção de origem comum e justifica diversos laços. A localidade

é uma variável que caracteriza a proximidade, que se dá a partir do

desmembramento das propriedades (que no passado foram dos pais, avós,

bisavós...) e distribuição destas entre os familiares. A reciprocidade, por fim, é

reveladora da reprodução de prestações e trocas que geram vínculos e

sentimentos de pertencimento (identidades, saberes, práticas, valores etc.)

Por outro lado, as condicionantes históricas da constituição do território do

Sossego (políticas governamentais tais como erradicação dos cafezais, pró-

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várzea, incentivos a plantios comerciais tecnificados – sistemas de irrigação,

tratores e agrotóxicos) redundaram em uma relação daquela comunidade com

os recursos hídricos francamente alienada.

Esta alienação é apontada nas entrevistas por meio de expressões recorrentes

como “o pessoal é ganancioso”, “o pessoal é cabeça-dura” e “o pessoal não se

interesse ou só vai fazer alguma coisa quando faltar o dele”. De maneiras

distintas, estas noções apareceram em várias falas dos entrevistados.

Existe, portanto, uma diferenciação bastante marcante entre a perspectiva das

instituições gestoras do Projeto Sossego e a da comunidade em si e as ações

da segunda fase visaram, em certa medida, a produção de algum

empoderamento em relação a temas específicos.

A noção de empoderamento tem sido utilizada por autores que trabalham com

qualificação de sujeitos sociais e significa, em linhas gerais, a tomada de

consciência dos direitos sociais por parte dos indivíduos. Esta noção é

relevante na medida em que gera as bases de acúmulo para a participação

social.

Segundo Quarentei (2010), é importante ressaltar que a mudança induzida de

práticas e valores, não se movimenta com a mesma velocidade, força e

intencionalidade entre os atores sociais.

Esta temporalidade é bastante mencionada nas entrevistas e são muito

recorrentes expressões como “não saiu do papel” ao se referirem ao Projeto

Sossego. Isto revela um desconhecimento generalizado acerca dos objetivos

do projeto, o que pode ser atribuído à fragilidade da rede comunicacional

formal. Ou seja, a despeito de se ter promovido encontros para

esclarecimentos em todas as comunidades, de se ter produzido material

informativo entregue em todas as propriedades, de haver profissionais de apoio

técnico à disposição para esclarecimentos e de haver representantes

comunitários que teriam papel de agente multiplicador, as informações

circuladas pelas comunidades têm apresentado força de indução e de fixação

de práticas.

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Por outro lado, há práticas efetivamente modificadas, especialmente em

relação à irrigação, que são fracamente atribuídas como resultados do Projeto.

A mudança do tipo de equipamento de irrigação, o controle da aplicação de

água por meio da leitura de pluviômetros apareceu nas entrevistas, o que pode

parecer um paradoxo às afirmações de que o projeto ainda não saiu do papel.

Isso contribui para reafirmar a força da disseminação comunitária das

informações (“fez porque viu que o vizinho fez e deu certo”) em detrimento da

ação comunicativa do próprio Projeto.

Moreira (2004) define geograficidade como a condição espacial da existência

do homem em qualquer sociedade, como a existência em sua expressão

espacial.

Pode-se então dizer que geograficidade é a dimensão espacial que é

constituinte do humano, o fundamento geográfico do ser, ou seja, implica dizer

que os sujeitos compõem o lugar tanto quanto o lugar compõe os sujeitos.

De acordo com Martins

“A questão central agora é observar como fica o fundamento geográfico

do ser do homem quando a relação entre ele e o meio se estabelece

mediante o fato de que a sua objetivação lhe é alienada. [...] A partir

disso, todas as características existenciais desse meio, que são as

características da existência do próprio homem, possuem também

caráter alienado” (Martins, 2007).

É possível atribuir este caráter de alienação em relação ao meio ao se observar

práticas locais (que não são necessariamente são exclusivas do local) tais

como a noção da água como bem de uso público e comum. Esta dimensão é

revelada nas práticas de “prender” a água, de despejo de efluentes domésticos,

de uso para a irrigação sem manejo adequado ou mesmo a atribuição da

existência ou não da água exclusivamente à “vontade de Deus”.

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V – CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

A partir da análise das falas capturadas pelas entrevistas com aportes da

bibliografia é possível concluir que houve um efetivo empoderamento ou, pelo

menos, uma ampliação de conhecimentos por parte da comunidade do

Sossego em relação aos temas tratados na segunda fase: racionalização da

água na agricultura irrigada, controle da esquistossomose, melhoria nas

práticas de organização financeira da propriedade.

No entanto, ao mesmo tempo em que tais conhecimentos emergem na fala dos

entrevistados, a noção de que o projeto não tem resultados efetivos é bastante

forte. Muitas vezes é atribuída a uma ou outra instituição parceira do Projeto na

segunda fase as ações como cursos, capacitações, pesquisas, o que revela um

conhecimento frágil sobre o que é o Projeto Sossego.

Ao contrário, muitas das ações mais impactantes, como o Termo de

Ajustamento de Conduta, que foi uma ação temporalmente fora da segunda

fase do projeto, como desdobramento, ora positivo, ora negativo, deste.

Com base na análise dos resultados das entrevistas, o tema considerado

prioritário para incorporação na terceira fase do Projeto Sossego é o da

comunicação como ação pedagógica.

É necessário maior investimento em ações que deem visibilidade à efetividade

do Projeto como meio de empoderamento comunitário, sem o que pode-se

comprometer a terceira fase do Projeto no que se refere à disposição à

participação.

Esta comunicação deve se pautar na temporalidade das ações, na

responsabilidade das ações – institucionais e comunitárias.

A ênfase no Projeto como ação coletiva deve ser reforçada, pois a noção do

projeto como um “outro” é bastante recorrente, mesmo entre os que tiveram

participação ativa na segunda fase do Projeto Sossego.

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VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DESENVOLVIMENTO REGIONAL–LABGEST (Departamento de

Engenharia Ambiental/Centro Tecnológico/Universidade Federal do Espírito

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FAPES – Processo 45433470/09

GIRARDI; CURTO; TESCH, 2012.

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RELATÓRIO FINAL

FAPES – Processo 45433470/09

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RELATÓRIO FINAL

FAPES – Processo 45433470/09

GIRARDI; CURTO; TESCH, 2012.

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Departamento Estadual de Cultura, 1990.

VI – TRABALHOS PUBLICADOS

TEIXEIRA, E. C. ; LOPES, M. E. P. A. ; GIRARDI, G. ; JUIZO, D. L. ;

SAIMONE, F. ; MUSSÁ, F. E. F. . Experimentação prática do paradigma

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Sossego/Brasil e Movene/Moçambique.. In: SIMPÓSIO DE HIDRÁULICA E

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PORTUGUESA, 2011, Porto de Galinhas. Anais do 10º SILUSBA, 2011. v.

1. p. 1-6. (ANEXO 4)

TEIXEIRA, E. C. ; GIRARDI, G. ; LOPES, M. E. P. A. ; OLIVEIRA, S. ; DARÉ, J.

C. . Avaliação de processos sociais e institucionais envolvidos na

constituição de Laboratório Vivo para o desenvolvimento de

estudos/pesquisas sobre gestão integrada, participativa e adaptativa de

recursos hídricos. In: SIMPÓSIO DE HIDRÁULICA E RECURSOS

HÍDRICOS DOS PAÍSES DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA, 2011,

Porto de Galinhas. Anais do 10o. SILUSBA, 2011. v. 1. p. 1-14. (ANEXO 5)

QUARENTEI, L. M. ; GIRARDI, G. . Dinâmicas sócio-espaciais na bacia

hidrográfica do córrego Sossego (Itarana-ES) no contexto da política

brasileira de recursos hídricos. In: CONGRESSO LUSO AFRO

BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 2011, Salvador. Anais do XI

CONLAB, 2011. v. 1. p. 1-16. (ANEXO 6)

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RELATÓRIO FINAL

FAPES – Processo 45433470/09

GIRARDI; CURTO; TESCH, 2012.

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SALAROLI, D. R.; MARTINS, R. H. Análise das repercussões do Projeto

Sossego na escala do cotidiano: uma contribuição geográfica. In: XVI

Encontro Nacional de Geógrafos, 2010, Porto Alegre. Resumos do XVI

ENG, 2010. (ANEXO 7)

TEIXEIRA, E. C. ; LOPES, M. E. P. A. ; GIRARDI, G. ; OLIVEIRA, S. ;

QUARENTEI, L. M. . Experiência prática em subsídio a novas alternativas

de uso/gestão da água na agricultura irrigada: o caso do Projeto Sossego,

Itarana-ES.. In: IX Congreso Latinoamericano y del Caribe de Ingeniería

Agrícola - CLIA 2010 / XXXIX Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola

- CONBEA, 2010, Vitória. Anais do X CLIA 2010 / XXXIX CONBEA. Vitória,

2010. v. unico. (ANEXO 8)

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RELATÓRIO FINAL

FAPES – Processo 45433470/09

GIRARDI; CURTO; TESCH, 2012.

73

ANEXOS:

ANEXO 1: Projeto “Desenvolvimento Regional Sustentável e Gestão das Águas

na Bacia do Córrego do Sossego - Bacia do Rio Doce no Município de Itarana”

ANEXO 2: I Seminário do Projeto Sossego

ANEXO 3: Levantamento de condições sanitárias (com ênfase nos aspectos de

abastecimento de água e esgotamento sanitário), elaborado pela FUNASA

ANEXO 4: Artigo “Experimentação prática do paradigma Gestão Integrada de

Recursos Hídricos o caso das bacias do Sossego/Brasil e

Movene/Moçambique”, publicado nos Anais do 10º SILUSBA, 2011.

ANEXO 5: Artigo “Avaliação de processos sociais e institucionais envolvidos na

constituição de Laboratório Vivo para o desenvolvimento de estudos/pesquisas

sobre gestão integrada, participativa e adaptativa de recursos hídricos”,

publicado nos Anais do 10º SILUSBA, 2011.

ANEXO 6: Artigo “Dinâmicas sócio-espaciais na bacia hidrográfica do córrego

Sossego (Itarana-ES) no contexto da política brasileira de recursos hídricos”,

publicado nos Anais do XI CONLAB, 2011.

ANEXO 7: Resumo “Análise das repercussões do Projeto Sossego na escala

do cotidiano: uma contribuição geográfica”, publicado nos Resumos do XVI

ENG, 2010.

ANEXO 8: Artigo “Experiência prática em subsídio a novas alternativas de

uso/gestão da água na agricultura irrigada: o caso do Projeto Sossego, Itarana-

ES”. , publicado nos Anais do X CLIA 2010 / XXXIX CONBEA. Vitória, 2010.

(Obs: os anexos, devido ao volume, encontram-se gravados no CD-ROM

que acompanha este relatório)