relatório de pesquisa · relatório de pesquisa projeto nº: 2.059.721 trajetórias de educação...

50
Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no Rio Grande do Sul Porto Alegre, agosto de 2019

Upload: others

Post on 13-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721

Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no Rio Grande

do Sul

Porto Alegre, agosto de 2019

Page 2: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Instituto de Psicologia

Departamento de Serviço Social

Programa de Pós-Graduação em Política Social e Serviço Social da UFRGS

Coordenadora

Prof.ª Dr.ª Rosa Mª Castilhos Fernandes – Departamento de Serviço Social

PPG Política Social e Serviço Social-IP/UFRGS

Pesquisadoras

Ana Gabriela Brock - Graduanda do Curso de Serviço Social da UFRGS - bolsista FAPERGS 11/2017 - 07/2018; bolsista PIBIC/UFRGS - CNPq 08/2018 - 03/2019 e bolsista CNPq (03/2019 - 05/2020)

Jéssica Degrandi Soares - Mestra em Serviço Social pelo PPG Política Social e Serviço Social - UFRGS. Bolsista CAPES 2017-2018.

Patrícia Pereira Lopes - Diplomada em Serviço Social pela UFRGS - Bolsista CEGOV/UFRGS 2015-2017 e bolsista PIBIC/UFRGS - CNPq 03/2019 - 07/2019.

Poliana Einsfeld da Silva - Diplomada em Serviço Social pela UFRGS - Bolsista CNPQ 2017-2018.

Jessica Sulis Binkowski - Diplomada em Serviço Social pela UFRGS - Bolsista CEGOV/UFRGS 2016-2017.

1

Page 3: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS 3

1. APRESENTAÇÃO 4

2. ACHADOS DA PESQUISA 12 2.1 Sobre os trabalhadores do SUAS participantes da pesquisa 12 2.2 Sobre a Política Nacional de Educação permanente no SUAS 19 2.3 Sobre os Saberes e Habilidades para o Trabalho no SUAS 25 2.4 Sobre as Experiências de Educação Permanente no SUAS 29 2.5 O Blog 35

3. CONCLUSÕES 45

REFERÊNCIAS 48

2

Page 4: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

AGRADECIMENTOS

A concretização desta pesquisa não seria possível sem a mobilização de um conjunto

de pessoas que contribuíram de diferentes maneiras, assim como as estruturas organizacionais

que permitiram o desenvolvimento do estudo que apresentamos neste relatório. A começar

pelo fomento do CNPq possibilitando a realização de pesquisas na área do Serviço Social e

das estruturas disponibilizadas no âmbito do Instituto de Psicologia da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, assim como, do Centro de Estudos Internacionais sobre Governos-

CEGOV, que valorizam as iniciativas das/os docentes pesquisadoras/es.

A partir disto, foram se criando as amarras necessárias e as condições para que

bolsistas de iniciação científica da graduação de Serviço Social e do mestrado do PPG

Política Social e Serviço Social vivenciassem aprendizagens significativas ao

desenvolverem o espírito crítico e investigativo aguçados neste processo de pesquisa.

Coletivo este formado pela: Ana Brock, Patricia Lopes, Jéssica Degrandi, Jessica Sulis,

Poliana E. da Silva e também por aquelas que contribuíram com as discussões durante este

processo como a Daiane Conrado, Tassiane Lemos, Marina Pires e Mariana Maciel.

Destacamos a parceria e incentivo da Prof.ª Dr.ª Loiva Mara de Oliveira Machado que

também faz parte do Grupo de Pesquisa Educação, Trabalho e Políticas Social - coordenado

pela pesquisadora responsável por este estudo. Também nosso reconhecimento aos colegas,

pesquisadores, assistentes sociais, psicólogas, conselheiras e conselheiros, usuários da

política de assistência social, integrantes do fórum dos trabalhadores do SUAS, o Conselho

Regional de Serviço Social da 10ª região, entre outros que tornaram o blog “Trajetórias da EP

no SUAS” um espaço democrático, de resistência e de ricas aprendizagens ao socializarem ali

reflexões sobre as mais diversas temáticas correlatas ao objeto de estudo.

Contudo, em especial agradecemos as trabalhadoras e os trabalhadores do Sistema

Único de Assistência Social do Rio Grande do Sul que aceitaram participar desta pesquisa

respondendo ao questionário, socializando experiências de educação permanente, acessando

o blog, enfim tornando possível e protagonizando a realização desta investigação.

3

Page 5: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

1. APRESENTAÇÃO

A Política de Assistência Social no Brasil surge como direito do cidadão e dever do

Estado a partir da Constituição Federal de 1988, compondo o tripé do sistema da Seguridade

Social junto a Política de Saúde e da Previdência Social. Essa política, como se apresenta

hoje, foi e tem sido fruto de intensa luta e mobilização de trabalhadores e demais sujeitos

sociais para que sua consolidação se tornasse uma realidade em todo território brasileiro. As

legislações que norteiam este processo, as quais deram surgimento ao Sistema Único de

Assistência Social em 2005, e todas que compõem o marco legal que estruturam e organizam

a sua institucionalização, desempenham importantes garantias neste cenário e reflexões que

suscitam novas estratégias para a defesa e o fortalecimento desta política.

Neste sentido, desde 2013 uma Política Nacional de Educação Permanente do SUAS

(PNEP/SUAS) tem se constituído como importante estratégia que vem contribuindo com a

formação dos trabalhadores e, consequentemente, com a qualificação dos serviços prestados,

assim como dos programas e projetos operacionalizados por este sistema. Esta política tem

como objetivo geral “Institucionalizar, no âmbito do SUAS, a perspectiva

político-pedagógica e a cultura da Educação Permanente, estabelecendo suas diretrizes e

princípios e definindo os meios, mecanismos, instrumentos e arranjos institucionais

necessários à sua operacionalização e efetivação” (BRASIL, 2013, p.27). Entretanto,

partimos do entendimento que mesmo a existência de uma política com proposta pedagógica

para a formação dos trabalhadores do SUAS sendo instituída no Brasil, não há como negar

que a sua implementação e até mesmo a sua compreensão depende do modo de gestão nos

entes federativos, assim como da capacidade dos trabalhadores e gestores fazerem a

apreensão crítica da dimensão ética e política que a PNEP-SUAS carrega em sua essência.

Afinal, o que dá sentido à educação permanente é o diálogo provocado entre os

sujeitos sociais (gestores, trabalhadores, conselheiros e usuários), a análise rigorosa dos

processos de gestão em que se inserem, das intervenções e a procura coletiva de melhores

formas de agir através da interlocução dos saberes (FERNANDES, 2016). Por isto. a

valorização da aprendizagem a partir do trabalho, da identificação das reais necessidades

4

Page 6: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

sociais postas e do planejamento técnico-operacional em resposta às demandas que surgem na

assistência social, são importantes dispositivos para as experiências de educação permanente.

Em muitas situações observa-se que há confusão entre os conceitos de educação

continuada e educação permanente. Entretanto, a educação permanente não se sobrepõe nem

inviabiliza a educação continuada, sendo estas apenas diferentes em seus processos. A

perspectiva da educação permanente aparece como um princípio reorganizador de todo o

processo educativo vivenciados pelos trabalhadores no e do SUAS. Esta orientação propõe-se

a superar as concepções dominantes e as práticas escolarizadas, disseminando novas práticas

de formação, como, por exemplo, no âmbito do trabalho na assistência social, valorizando as

aprendizagens advindas das situações de trabalho, das reflexões dos coletivos que discutem

os programas e ações do sistema, incluindo os conselhos locais de controle social, espaços de

participação popular e democrático e, portanto, de reflexão crítica sobre a condução do SUAS

(FERNANDES, 2016).

Também não podemos deixar de situar o cenário atual vivenciado no Brasil, - de

rupturas orçamentárias, de destituição de programas, projetos e serviços que foram sendo

estruturados em todo território nacional e, neste caso, no âmbito da assistência social - que

representa desafios para o atendimento das necessidades sociais dos sujeitos de direitos,

usuários desta política. São exigidas cada vez mais estratégias de resistência, de organização

dos trabalhadores e, também aquisições de saberes, inclusive para o enfrentamento dos

ataques das reformas neoliberais em curso no Brasil, que suprimem direitos sociais postos na

agenda das políticas sociais. Entre essas está a política de assistência social, que tem

contribuído significativamente para a efetivação dos direitos socioassistenciais. Por isso, é

necessário aprimorar o trabalho profissional nos diferentes processos organizativos e

instituídos no SUAS.

Nessa perspectiva, a pesquisa intitulada “Trajetórias de Educação Permanente no

Sistema Único de Assistência Social- SUAS: uma pesquisa avaliativa no RS” desenvolvida

pelo Grupo de Pesquisa Educação, Trabalho e Políticas Sociais (vinculado ao Departamento

de Serviço Social e ao PPG Política Social e Serviço Social do Instituto de Psicologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul), procurou responder o seguinte problema de

pesquisa: Qual a trajetória que vem sendo percorrida pelos trabalhadores para o

desenvolvimento da política de educação permanente no SUAS e as experiências vivenciadas

5

Page 7: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

nos municípios do Rio Grande do Sul, no período de 2013 a 2017? Partindo desta questão

central, buscou-se analisar a trajetória que vem sendo percorrida pelos trabalhadores no

desenvolvimento da política de educação permanente do SUAS nos municípios do Rio

Grande do Sul (RS) no período de 2013 a 2017. Esse objetivo principal se desdobra nos

seguintes objetivos específicos: conhecer a percepção dos sujeitos sociais sobre a PNEP e as

trajetórias formativas que vêm sendo vivenciadas nos municípios do RS, para conhecimento

das iniciativas dos territórios analisados; analisar as experiências de EP postados no blog para

o conhecimento dos limites e das possibilidades para a implementação da política nacional de

educação permanente do SUAS no RS e contribuir com a disseminação de experiências,

saberes e habilidades profissionais para o trabalho no SUAS, visando a construção coletiva de

uma agenda pedagógica de educação permanente que atenda às necessidades sociais dos

territórios em análise. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética do Instituto de Psicologia

da UFRGS e todos os participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) e manifestaram concordância de participarem da investigação.

A investigação, de natureza quantitativa e qualitativa com ênfase nesta última

abordagem, teve como sujeitos da pesquisa os trabalhadores e trabalhadoras do SUAS, que

atuam em algum dos 497 municípios do estado do RS. O principal instrumento da pesquisa

foi o blog, intitulado “Trajetórias de Educação Permanente no SUAS”

(www.ufrgs.br/epsuas-rs), onde ficou disponível o questionário da pesquisa no período de

junho de 2017 a dezembro de 2018 na plataforma Google de formulários; o questionário foi

composto por 12 questões, sendo 9 fechadas e 2 abertas, voltado aos trabalhadores do SUAS

de todo o estado do RS. Participaram da pesquisa 101 trabalhadores que responderam ao

questionário, perfazendo o total de 59 diferentes municípios do estado RS. Destacamos que o

blog além de ser um importante espaço para a realização da pesquisa, contribuiu e vem

contribuindo de maneira interativa e democrática com a disseminação de experiências,

saberes e habilidades profissionais para o trabalho no SUAS, assim como para a sua defesa

enquanto importante política de proteção social no Brasil. Com relação ao processo de análise

dos resultados da pesquisa, foi realizado o tratamento estatístico e inferências considerando

às questões fechadas e análise de conteúdo foi utilizada para a análise qualitativa tanto das

questões abertas como as questões fechadas do questionário.

6

Page 8: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

A divulgação e o processo de mobilização da pesquisa foi realizada por diferentes

estratégias quais sejam: contato direto com os trabalhadores do SUAS dos diferentes

municípios do estado , por meio de ligações para gestores e coordenadores de serviços além

de envio de e-mail aos diferentes equipamentos do SUAS, como Centros de Referência de

Assistência Social (CRAS), Centros de Referência Especializado de Assistência Social

(CREAS) e Unidades de Acolhimento, totalizando o número de 69 contatos a esse locais.

Além disso, a divulgação da pesquisa também ocorreu por meio da participação em fóruns,

reuniões, conferências de trabalhadores do SUAS e em núcleos de educação permanente.

Dentre esses espaços destaca-se a participação na reunião do Departamento de Assistência

Social (DAS) do estado e numa reunião do Núcleo de Educação Permanente (NUEP) dos

trabalhadores da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) de Porto Alegre. É

preciso também destacar os contatos realizados com as entidades das categorias profissionais

que atuam na assistência social, como o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), o

Conselho Regional de Psicologia (CRP) e o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia

Ocupacional (CREFITO). Ademais, os espaços de controle social da política, como o

Conselho Estadual de Assistência Social, o Conselho Municipal de Assistência Social de

Porto Alegre, o Conselho Municipal de Assistência Social de Santa Maria, e ainda os fóruns

de assistência social, como o Fórum Estadual de Trabalhadores do SUAS (FETSUAS), o

Fórum Municipal de Trabalhadores de Assistência Social (FMTAS) e o Fórum Estadual de

Entidades Socioassistenciais. Por fim, entrou-se em contato por e-mail com todos os

participantes do curso de Introdução ao Provimento dos Serviços e Beneficios

Socioassistenciais do CapacitaSUAS, ofertado pelo Programa Nacional de Capacitação do

Sistema Único de Assistência Social aos trabalhadores do SUAS, Vale ressaltar que uma das

principais metodologias de divulgação que foi amplamente utilizada pelo grupo foi pelas

páginas das organizações anteriormente descritas nas redes sociais, principalmente no

Facebook, a partir da criação de uma página do grupo de pesquisa nessa mesma rede social.

O Projeto foi contemplado pelo Edital Universal 01/2016 do CNPq, sendo este o

principal fomento para a realização do estudo, pois sem este auxílio não chegaríamos a este

resultado. É importante reconhecer o investimento da ciência e tecnologia para o

desenvolvimento de pesquisas sociais que possam contribuir com a qualidade dos serviços

prestados pelas políticas públicas - e neste caso a assistência social – para a formação dos

7

Page 9: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

profissionais que operacionalizam um conjunto de programas, projetos, serviços e benefícios

e, fundamentalmente, que visam incidir no atendimento da população cidadã deste país.

Como resultado deste processo, salientamos no quadro 01 que foram apresentados 05

trabalhos em salões de iniciação científica, 03 em eventos nacionais, 04 eventos

internacionais, 06 artigos publicados, 02 capítulos de livros, um vídeo infográfico, entre

outras socializações envolvendo estudantes de graduação do Curso de Serviço Social e do

PPG Política Social e Serviço Social da UFRGS.

Quadro 01 – Produção de conhecimento relacionada a pesquisa

Título da publicação Autores Evento/Local de publicação

EDUCAÇÃO PERMANENTE E A ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: cenários de uma

pesquisa.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana Gabriela Brock e Poliana Einsfeld

XXII Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social, 2018,

Bogotá.

SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO

PERMANENTE: estratégia para a defesa e ampliação das

Políticas Sociais no Brasil.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana Gabriela Brock

Conferência ESPAnet Portugal 2019: Política Social em Portugal

Pós Crise e Austeridade. Porto, 2019.

A EDUCAÇÃO PERMANENTE COMO

EXPERIÊNCIA SOCIAL: relatos de uma pesquisa no

SUAS.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana Gabriela Brock e Poliana Einsfeld

XVI Encontro Nacional de Pesquisadoras/S em Serviço Social

(ENPESS), 2018, Vitória.

Educação Permanente, Trabalho e Resistência na

Assistência Social

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana

Gabriela Brock; Patrícia Pereira Lopes

16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Brasília, 2019.

UM ESPAÇO VIRTUAL DE PESQUISA E RESISTÊNCIA

EM DEFESA DO SUAS.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana Gabriela Brock;

Fernanda Teló e Poliana Einsfeld

9º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE), 2017,

Santana do Livramento.

8

Page 10: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

U M BLOG ENQUANTO

ESPAÇO DE RESISTÊNCIAS E APRENDIZAGENS: relato

de uma experiência investigativa.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana Gabriela Brock

XXX Salão de Iniciação Científica da UFRGS, 2018, Porto Alegre.

FRAGMENTOS DE UMA PESQUISA SOBRE

EDUCAÇÃO PERMANENTE NO SUAS: saberes que

emergem

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana

Gabriela Brock; Jessica Degrandi Soares e

Luiza Garcia dos Santos

33ª Jornada Acadêmica Integrada da UFSM, 2018, Santa Maria.

Um blog para a Educação Permanente no SUAS: espaço

de socialização e análise da política no Rio Grande do Sul.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Jessica Sulis

Binkowki; Patrícia Pereira Lopes

5º Encontro Internacional e 12º Encontro Nacional Políticas Sociais,

2017, Vitória/Espirito Santo.

Um blog como espaço de socialização de experiências de

educação permanente no trabalho no SUAS no RS: uma

estratégia de pesquisa e resistência

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Jéssica Sulis

Binkowski

XIX Salão de Iniciação Científica da UFRGS, 2017, Porto Alegre.

Um blog para a Educação Permanente no SUAS: espaço

de socialização e análise da política no RS.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Naiara

Thomassim

Poliana Einsfeld da Silva

32ª Jornada Acadêmica Integrada da UFSM, 2017, Santa Maria.

Processos de Educação Permanente nas situações de

trabalho no SUAS

Rosa Maria Castilhos Fernandes

REVISTA SOCIEDADE EM DEBATE, v. 23, p. 121-147, 2017

Educação no/do Trabalho no Âmbito das Políticas Sociais

Rosa Maria Castilhos Fernandes

(organizadora)

https://www.ufrgs.br/cegov/files/pub_140.pdf

EDUCAÇÃO, TRABALHO E EXPERIÊNCIAS SOCIAIS.

Rosa Maria Castilhos Fernandes

In: Rosa Maria Castilhos Fernandes. (Org.). Educação no/do Trabalho no

Âmbito das Políticas Sociais. 1ed.Porto Alegre: UFRGS, 2019, v.

1, p. 23-38.

9

Page 11: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

CONTRIBUIÇÕES PARA A DISSEMINAÇÃO DA

CULTURA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE NO SUAS:

RELATOS DE UMA INVESTIGAÇÃO

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana

Gabriela Brock; Jéssica Degrandi Soares; Tassiane Lemos

Pacheco.

In: Rosa Maria Castilhos Fernandes. (Org.). Educação no/do Trabalho no

Âmbito das Políticas Sociais. 1ed.Porto Alegre: UFRGS, 2019, v.

1, p. 39-54.

SOBRE UMA PREMISSA PARA EDUCAÇÃO PERMANENTE NO

TRABALHO: captar os cenários em transformação.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana Gabriela Brock.

https://www.ufrgs.br/epsuas-rs/2018/08/02/sobre-uma-premissa-para-educacao-permanente-no-trabalho-capta

r-os-cenarios-em-transformacao/

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: uma pauta para o

SUAS

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana

Gabriela Brock; Jessica Degrandi Soares e

Luiza Garcia dos Santos

https://www.ufrgs.br/epsuas-rs/2018/08/23/violencia-contra-a-mulher-um

a-pauta-para-o-suas/

Educação permanente e educação continuada: do que

estamos falando?

Rosa Maria Castilhos Fernandes

https://www.ufrgs.br/epsuas-rs/2018/04/24/educacao-permanente-e-educacao-continuada-do-que-estamos-fala

ndo/

Educação Permanente no SUAS.

Rosa Maria Castilhos Fernandes; Ana

Gabriela Brock; Jéssica Degrandi Soares

https://www.youtube.com/watch?v=q-yL3nBTbuM

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Assim sendo, este relatório estrutura-se, além desta apresentação introdutória, em um

capítulo principal denominado “Achados da pesquisa”. Esse capítulo está dividido em duas

partes, a primeira parte com os resultados das questões do questionário que dizem respeito ao

perfil dos trabalhadores do SUAS do estado que participaram da pesquisa; e a segunda parte é

composta pelas informações advindos das questões sobre educação permanente,

principalmente que dizem respeito à Política de Educação Permanente no SUAS, sobre os

saberes e habilidades para o trabalho no SUAS, sobre as experiências de educação

permanente desveladas pelos participantes da pesquisa e ainda socializamos os resultados que

se referem aos conteúdos socializados no blog da pesquisa. Por fim, como síntese deste

processo encerramos com a s reflexões finais sobre o estudo.

10

Page 12: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Esperamos que esta pesquisa seja um instrumento para uso de todos aqueles

comprometidos com a política de assistência social, pois temos a compreensão de que toda

investigação da realidade social é fundamental para a apreensão dos fenômenos que nela se

engendram, assim como, para a sua transformação.

Boa leitura!

Prof.ª Rosa M Castilhos Fernandes

Pesquisadora Responsável

11

Page 13: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

2. ACHADOS DA PESQUISA

2.1 Sobre os trabalhadores do SUAS participantes da pesquisa

Buscando compreender o perfil dos trabalhadores e trabalhadoras do SUAS

participantes desta investigação, a primeira pergunta do questionário indagava acerca do

município de atuação dos mesmos. Para analisar os resultados dessa pergunta é preciso

ressaltar que o universo da pesquisa foi composto pelos 497 municípios do estado do RS e a

população amostral correspondeu aos trabalhadores do SUAS que atuam em algum desses

municípios. Nesse sentido, como dito na introdução, ao todo obteve-se a resposta de

trabalhadores de 59 municípios do Estado, o que equivale a 11% do total de municípios.

De acordo a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004), os municípios

brasileiros são classificados a partir de seu porte, tais como: Pequeno porte I, Pequeno Porte

II, Médio Porte, Grande Porte e Metrópole, segundo o seu número de habitantes. A Divisão

Regional do Brasil são agrupamento de Estados e Municípios por regiões que tem como

finalidade ampliar o conhecimento regional do País e viabilizar uma base para fins de

levantamento e divulgação de dados estatísticos (IBGE, 2017).

Cada porte de município corresponde a um número mínimo de Centros de Referência

de Assistência Social (CRAS) que devem haver no município, de forma a atender as

necessidades sociais de seus moradores, ou seja, sujeitos de direitos também reconhecidos

como usuários do SUAS.

O maior percentual de respostas é de municípios de Pequeno Porte I, 41%,

representando 24 municípios diferentes do RS; seguido dos municípios de Pequeno Porte II e

Grande Porte, ambos com 22%, que corresponde a 13 municípios; quanto aos municípios de

Médio Porte correspondem a 14% dos respondentes, o que equivale a 8 municípios, conforme

demonstra o quadro 2:

12

Page 14: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Quadro 2 - Número de municípios respondentes de acordo com cada porte de município

(n=59)

Porte do município Nº de municípios respondentes

Pequeno Porte I 24 (41%)

Pequeno Porte II 13 (22%)

Grande Porte 13 (22%)

Médio Porte 8 (14%)

Metrópole 1 (2%)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Entretanto, em relação ao número de respondentes, a maioria pertence a municípios

de Grande Porte, perfazendo 35 respostas ao total. Em contrapartida as 26 respostas de

trabalhadores de municípios de Pequeno Porte I e 15 respondentes dos municípios de

Pequeno Porte II; quanto aos municípios de Médio Porte houveram 10 respostas no total. E

Metrópole corresponde a 2%, 1 município, com 15 respondentes.

Quadro 3 - Número de trabalhadores respondentes de acordo com cada porte (n=101)

Porte do município Nº de respostas

Grande Porte 35 (35%)

Pequeno Porte I 26 (26%)

Pequeno Porte II 15 (15%)

Metrópole 15 (15%)

Médio Porte 10 (8%)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Outra classificação importante de destacar é a divisão geográfica do estado do RS

em diferentes sete mesorregiões, conforme demonstra a imagem 1.

13

Page 15: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Imagem 1 - Mesorregiões do Rio Grande do Sul

Fonte: Site Baixar Mapas (2016). 1

As mesorregiões que mais tiveram respostas foram as da região Metropolitana de

Porto Alegre, com 37% dos municípios respondentes, e a Mesorregião Noroeste, com 29%.

Em seguida, com 10% dos municípios está a Mesorregião Nordeste, seguida da Mesorregião

Sudoeste, com 8%. Por fim, as três mesorregiões que menos tiveram municípios respondentes

da pesquisa foram a Mesorregião Centro Oriental (7%), a Mesorregião Centro Ocidental

(5%) e a Mesorregião Sudeste (3%), respectivamente.

1 Disponível em: <http://www.baixarmapas.com.br/mapa-do-rio-grande-do-sul-mesorregioes/> Acesso em 17 abr. 2018

14

Page 16: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Quadro 4 - Número de municípios respondentes por mesorregião (n=59)

Mesorregião Nº de municípios respondentes

Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre 22 (37%)

Mesorregião Noroeste Rio-grandense 17 (29%)

Mesorregião Nordeste Rio-grandense 6 (10%)

Mesorregião Sudoeste Rio-grandense 5 (8%)

Mesorregião do Centro Oriental Rio-grandense

4 (7%)

Mesorregião do Centro Ocidental Rio-grandense

3 (5%)

Mesorregião Sudeste Rio-grandense 2 (3%)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Na pesquisa todas as 7 mesorregiões do Estado tiveram representação de ao menos

um trabalhador nas respostas do questionário, o que traduz a abrangência da pesquisa em

todo o Estado do Rio Grande do Sul.

A segunda pergunta do questionário refere-se às equipes de trabalho atuantes no

SUAS, cuja estrutura organizacional divide-se por proteções sociais: básica e especial, a qual

é dividida em média e alta complexidade. Para cada nível destas proteções existe um

conjunto de serviços, programas e projetos para atender as demandas advindas da população

que se encontra em situações de vulnerabilidade e risco social, de pobreza e extrema pobreza,

de desemprego, de violação de direitos sociais, entre tantas outras situações que materializam

as expressões da questão social.

Para dar conta da operacionalização destes serviços a Norma Operacional Básica de

Recursos Humanos do SUAS (NOB RH-SUAS, 2012) regula que cada Centro de Referência

de Assistência Social (CRAS) - equipamento da proteção social básica - deve contar com

uma equipe mínima para a execução dos serviços e ações nele ofertados, de acordo com o

porte do município. Para municípios de Pequeno Porte I, com até 2.500 famílias

referenciadas, a equipe deve contar com 2 técnicos de nível superior, sendo um profissional

assistente social e outro preferencialmente psicólogo e 2 técnicos de nível médio. Já os

municípios de Pequeno Porte II, com até 3.500 famílias referenciadas, devem possuir uma

15

Page 17: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

equipe composta por 3 técnicos de nível superior, sendo dois profissionais assistentes sociais

e preferencialmente um psicólogo e 3 técnicos de nível médio. Os municípios de Médio e

Grande Porte, Metrópole e DF, a cada 5.000 famílias referenciadas, devem contar com uma

equipe composta de 4 técnicos de nível superior, sendo dois profissionais assistentes sociais,

um psicólogo e um profissional que compõe o SUAS e 4 técnicos de nível médio (BRASIL,

2012).

Contudo, é importante ressaltar que muitas vezes a realidade vivenciada pelas equipes

dos equipamentos da assistência social é distante do estipulado pela NOB-RH, devido a

precariedade das condições de trabalho que decorre do sucateamento destes serviços e

programas por conta dos cortes orçamentários em cursos no Brasil destinados ao SUAS.

Essa redução de investimento na assistência social acaba afetando de forma negativa o trabalho desenvolvido por essas equipes, compostas muitas vezes por profissionais

sobrecarregados, devido ao número reduzido de trabalhadores. Nesse sentido, destaca-se que são raras exceções de equipes e municípios que atendem a esta

normativa.

Dentre os participantes da pesquisa constatou-se que 65 trabalhadores atuam como

assistentes sociais, seguidos de 17 que exercem a profissão de psicólogo, 7 que são

educadores sociais, 2 pedagogos. Além destes, 10 trabalhadores ocupam outras profissões

como cuidadores, sociólogos, advogados, entre outros. Conforme se observa no gráfico 1:

Gráfico 1 - Cargos dos trabalhadores do SUAS respondentes da pesquisa (n=101)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

16

Page 18: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Com relação ao questionamento se o respondente é trabalhador ou não de entidade

socioassistencial, é importante considerar, que, de acordo com o Artigo 3o da Lei Orgânica de

Assistência Social/LOAS (BRASIL, 1993), consideram-se entidades e organizações de

assistência social aquelas sem fins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestam

atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as que

atuam na defesa e garantia de direitos.

As entidades que prestam atendimento são aquelas que concedem benefícios de

prestação social básica ou especial, dirigidos a indivíduos e às famílias em situações de

vulnerabilidade ou risco social e pessoal. Já as que são de assessoramento estão voltadas

prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de

usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência

social. Por fim, as entidades voltam-se à defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, à

promoção de cidadania, à construção de novos direitos, ao enfrentamento das desigualdades

sociais e à articulação com órgãos públicos de defesa de direitos (MARTINELLI, 2016).

A política de assistência social é composta por um conjunto integrado de ações de

iniciativa pública e da sociedade, o que prevê que parte de sua execução seja realizada pelas

entidades e organizações. Contudo, essas entidades precisam estar de acordo com “os

princípios da LOAS, estar inscritas no Conselho Municipal de Assistência Social, fazer parte

do Cadastro Nacional de Entidades e Organizações de Assistência Social e prestar seus

serviços gratuitos, continuados e planejados” (MARTINELLI, 2016, p.98). Nesse sentido,

para prestar serviços do SUAS e acessar o fundo público, é preciso que as entidades sigam as

orientações descritas, além de adequarem-se fielmente à Tipificação dos Serviços

Socioassistenciais (BRASIL, 2014).

Assim, quando perguntados aos participantes se trabalham em entidades

socioassistenciais, 57% dos trabalhadores responderam que sim, ao passo que 43% afirmaram

não trabalhar em entidades, conforme mostra o gráfico abaixo.

17

Page 19: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Gráfico 2 - Trabalhadores de entidades socioassistenciais (n=101)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Esse dado evidencia o crescimento das entidades socioassistenciais, na execução da

política de assistência social no Brasil, “fato este aliado a implantação do projeto neoliberal

de Estado” (MONTAÑO, 2010, p.17. Também, no Brasil desde os anos 1990 existe uma

legislação que tem ajudado à criação e a operação de certas entidades privadas com “interesse

público”, “não-governamentais” e sem fins lucrativos, como as entidades socioassistenciais,

que dependendo do modelo de gestão dos entes federados há uma de desresponsabilização

do Estado na primazia da política social, e neste caso a assistência social.

Outra pergunta que integrou o questionário diz respeito a atuação dos trabalhadores do

SUAS nas diferentes proteções sociais da assistência social, quais sejam: A proteção social

básica (PSB), que busca prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de

potencialidades e aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. É

voltada à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da

pobreza e/ou fragilização de vínculos afetivos - relacionais e de pertencimento social e tem

como porta de entrada do SUAS os Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

(BRASIL, 2004); A Proteção Social Especial de Média Complexidade que objetiva atender

famílias e indivíduos que tenham seus direitos violados, mas cujos vínculos familiares não

foram rompidos. Por isso, essa proteção requer maior estruturação técnico-operacional e

atenção especializada e individualizada com um acompanhamento sistemático e monitorado

(BRASIL, 2004); A Proteção Social Especial de Alta Complexidade que tem como finalidade

garantir proteção integral - moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para

18

Page 20: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça,

necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário (BRASIL, 2004).

Ao responder essa pergunta do questionário, a grande maioria dos trabalhadores do

SUAS, 49%, afirmaram atuar na PSB, seguido de 22% que trabalham na PSE de Média

Complexidade e de 15% que atuam na PSE de Alta Complexidade. Já o campo de atuação da

gestão contempla o percentual de 11% de trabalhadores e a vigilância socioassistencial teve o

menor percentual, com apenas 2% do total de trabalhadores respondentes do questionário.

Quadro 5 - Tipo de proteção social do SUAS em que os trabalhadores estão inseridos

(n=101)

Em qual proteção social do SUAS você trabalha?

PSB - Proteção Social Básica 50 (49%)

PSE - Proteção Social de Média Complexidade 23 (22%)

PSE - Proteção Social de Alta Complexidade 15 (15%)

Gestão 11 (11%)

Vigilância Socioassistencial 2 (2%)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

2.2 Sobre a Política Nacional de Educação permanente no SUAS

A Política Nacional de Educação Permanente do SUAS (2013) tem como objetivo

geral “institucionalizar, no âmbito do SUAS, a perspectiva político-pedagógica e a cultura da

Educação Permanente, estabelecendo suas diretrizes e princípios e definindo os meios,

mecanismos, instrumentos e arranjos institucionais necessários à sua operacionalização e

efetivação” (BRASIL, 2013, p.27).

Segundo o que consta na PNEP (2013), entende-se por Educação Permanente “o

processo contínuo de atualização e renovação de conceitos, práticas e atitudes profissionais

das equipes de trabalho e diferentes agrupamentos, a partir do movimento histórico, da

afirmação de valores e princípios e do contato com novos aportes teóricos, metodológicos,

científicos e tecnológicos disponíveis” (BRASIL, 2013, p. 32). Entretanto este processo se

19

Page 21: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

desenvolve a partir da mediação realizada por meio da problematização das situações de

trabalho e das reflexões que emergem nesses contextos.

Entre os princípios da PNEP destacam-se: a interdisciplinaridade, a aprendizagem

significativa e a historicidade. Com relação a esta última, o princípio da historicidade nos

remete ao fato de que o Sistema Único de Assistência Social e a PNEP/SUAS se configuram

nos marcos de uma “[...]dada forma de sociedade e de um determinado tipo de Estado[...]”

(BRASIL, 2013, p.38). Essa noção possibilita analisar suas lógicas de funcionamento, suas

relações e as múltiplas determinações. Isso facilita a compreensão das possibilidades de

“[...]afirmação positiva e realização dos princípios contidos na Lei Orgânica de Assistência

Social, em direção ao fortalecimento e consolidação da Assistência Social, enquanto política

pública de direito[...]” (BRASIL, 2013, p. 38).

Já com relação a aprendizagem significativa, a PNEP aponta que as experiências de

educação permanente precisam ter significado “para os trabalhadores e agentes de controle

social do SUAS” (BRASIL, 2013, p. 37). Afinal, o significado atribuído a uma experiência

de aprendizagem se “desenvolve pela interiorização de novos conhecimentos, habilidades e

atitudes a partir da mobilização dos saberes e experiências prévias do educando” (BRASIL,

2013, p. 37). Com relação a interdisciplinaridade, ela é fundamental considerando a

perspectiva pedagógica que carrega a concepção de educação permanente, no sentido de

“qualificar trabalhadores que atuam no contexto de equipes multidisciplinares e que

cotidianamente mobilizam processos laborais e práticas profissionais que lidam com

contextos de vida experimentados por indivíduos e famílias, cuja compreensão não é possível

por meio da perspectiva de disciplinas isoladas” (BRASIL, 2013, p. 36).

Sobre o conhecimento da PNEP, contatou-se que dentre os 101 trabalhadores, 55

(53%) responderam conhecê-la; sendo que destes, 42 (40%) responderam conhecer pouco a

PNEP e 7 (7%) de trabalhadores responderam não a conhecer. Conforme ilustra o gráfico 3.

20

Page 22: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Gráfico 3 - Porcentagem de trabalhadores que conhecem, ou não, a PNEP

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Buscando compreender de que forma se dá o acesso a PNEP-Suas (2013), uma das

questões abordou a forma como os trabalhadores a conheceram, sendo que existia a

possibilidade de selecionar mais de uma alternativa. A grande maioria, 69 trabalhadores

(66%) responderam que conheceram a PNEP (2013) por meio da leitura da política; 37

trabalhadores (36%) conheceram por meio de encontros que participaram; 24 trabalhadores

(23%) através de debates em grupo no trabalho; 7 trabalhadores (14%) disseram que

conheceram de outra forma, sem especificar; e, por fim, 7 trabalhadores (7%) responderam

que desconhecem a política conforme o demonstrado no gráfico 4.

21

Page 23: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Gráfico 4 - Como os trabalhadores acessam/conhecem a PNEP

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Vale ressaltar que embora haja um percentual de 66% de trabalhadores que conhecem a

PNEP Suas é preciso considerar a existência ou não de iniciativas de educação permanente.

É preciso compreender que as iniciativas de experiências de educação permanente não

ocorrem somente a partir de cursos, capacitações e demais atividades formais, mas sim dizem

respeito à implicação dos trabalhadores nestas vivências de problematização das situações de

trabalho, de planejamento coletivo, de criação de estratégias para a intervenção

interprofissional e interinstitucional tão necessária para os atendimentos das necessidades

sociais dos sujeitos de direitos. Ressalta-se, portanto, a importância do levantamento de dados

e informações como essas, a fim de que a cultura de educação permanente possa

materializar-se nos diferentes espaços de trabalho do SUAS.

Foi possível observar , que na maioria dos locais não existem espaços de debate e

formação para os trabalhadores, estando assim, o conhecimento da política limitado a leitura

da mesma. Ou através de encontros que os trabalhadores participam, fora dos seus locais de

trabalho. Também é expressivo o número de trabalhadores que desconhecem a política.

Com relação às iniciativas de formação para os trabalhadores do SUAS nos

municípios foi possível observar que 37 trabalhadores (36%) disseram que não existem

iniciativas no seu município. Outros 34 trabalhadores (33%) relataram que existem poucas

22

Page 24: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

iniciativas e apenas 25 trabalhadores (24%) disseram que existem iniciativas. Outros 8

trabalhadores (8%) responderam que desconhecem, de acordo com o gráfico 5.

Gráfico 5 - Existência de iniciativas de formação nos municípios (n=101)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

Dessa forma, podemos aferir que ainda a política de educação permanente não é parte

da cultura da gestão do trabalho destes 59 municípios, pois mesmo aqueles que referiram

conhecer a PNEP (2013), fazem menção que não existem iniciativas nos seus locais de

trabalho para vivenciarem experiências de educação permanente ou ainda nem todos têm

consciência do que ela significa para os trabalhadores e o próprio trabalho no SUAS. Nesse

mesmo sentido, percebe-se que o distanciamento da Política de Educação Permanente não é

exclusividade dos trabalhadores, pois também se expressa na falta de iniciativas de formação

por parte das gestões municipais. Tratam-se de iniciativas que requerem decisão política no

âmbito da gestão do trabalho no Suas e planejamento programático, além de uma cultura de

trabalho coletivo e de aprendizagens que façam sentido para as realidades territoriais, para as

necessidades dos profissionais e o atendimento das demandas dos usuários da assistência

social.

Existem também programas voltados para a capacitação dos trabalhadores, dentre

eles, mencionado no questionário o CapacitaSUAS, que é o Programa Nacional de

Capacitação do Sistema Único de Assistência Social e tem como objetivo garantir a oferta de

formação e capacitação permanente para profissionais, gestores, conselheiros e técnicos da

rede socioassistencial do SUAS para a implementação das ações dos Planos de Educação

23

Page 25: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Permanente, aprimorando a gestão do SUAS nos Estados, no Distrito Federal e nos

Municípios (BRASIL, 2015). Esses cursos são ofertados desde 2012 em todo território

nacional.

Quando foi perguntado aos trabalhadores se haviam participado de algum dos cursos

do programa do total, 61% (60 pessoas) alegaram ter participado de algum dos cursos do

CapacitaSUAS e 40% (41 pessoas) não participaram de nenhum. O quadro 6 apresenta os

cursos que os participantes da pesquisa selecionaram como sendo realizados pelos mesmos.

Nesta questão foi possível assinalar mais de uma opção caso o trabalhador tivesse realizado

mais de um dos cursos indicados no questionário.

Quadro 6 - Participação dos trabalhadores nos cursos do CapacitaSUAS

Você participou de algum curso do CapacitaSUAS que vem ocorrendo desde 2012? Você poderá marcar mais de uma opção.

Não realizei 40% (41 pessoas)

Curso de Introdução ao Provimento dos Serviços e Benefícios Socioassistenciais do SUAS e à implementação de ações do Plano Brasil sem

Miséria

31% (32 pessoas)

Curso de Introdução ao Exercício do Controle Social 25% (26 pessoas)

Curso de Atualização em Indicadores para Diagnóstico e Acompanhamento do SUAS e do BSM

25% (26 pessoas)

Curso de Indicadores para Diagnóstico do SUAS e do Brasil Sem Miséria 22% (23 pessoas)

Curso em Conceitos e Instrumentos para Monitoramento de Programas 13% (14 pessoas)

Curso de Atualização em Gestão Financeira e Orçamentária do SUAS 12% (13 pessoas)

Curso de Atualização em Vigilância Socioassistencial do SUAS 10% (10 pessoas)

Curso em Conceitos e Técnicas para Avaliação de Programas 10% (10 pessoas)

Curso de Atualização para a elaboração de Planos de Assistência Social 9% (9 pessoas)

Outro 7% (7 pessoas)

Curso de Atualização sobre Especificidades e Interfaces da Proteção Social Básica do SUAS

5% (5 pessoas)

Curso de Atualização sobre Especificidades e Interfaces da Proteção Social Básica do SUAS

3% (3 pessoas)

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras, 2019.

24

Page 26: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

A maioria dos respondentes marcou o Curso de Introdução ao Provimento dos

Serviços e Benefícios Socioassistenciais do SUAS e a implementação de ações do Plano

Brasil sem Miséria, ao todo 32 trabalhadores. Seguido pelos cursos de Introdução ao

Exercício do Controle Social e o Curso de Atualização em Indicadores para Diagnóstico e

Acompanhamento do SUAS e do BSM, ambos com 26 trabalhadores. E o Curso de

Indicadores para Diagnóstico do SUAS e do Brasil Sem Miséria com 23 trabalhadores. Esses

foram os cursos com maior participação daqueles que participaram da pesquisa.

Também é importante frisar que, nas experiências de educação permanente, a função

crítica do questionamento pertinente ao modo de fazer é fundamental. É a reflexão na ação

que proporciona ao profissional questionar a estrutura assumida e repensar o modo de

intervir. É como revisitar o pensamento que o levou a agir de determinada forma, e, nesse

processo, poder pensar em novas estratégias de ação. Isso significa pensar de forma coletiva,

construindo junto àqueles que são beneficiados com o serviço prestado, razão do fazer

profissional: os sujeitos de direitos, reconhecidos como os usuários.

2.3 Sobre os Saberes e Habilidades para o Trabalho no SUAS

Com relação à questão aberta, os trabalhadores responderam sobre os saberes e

habilidades que são necessários de serem apreendidos para o atendimento das necessidades

sociais dos usuários nos serviços e/ou programas onde trabalham. Das 89 respostas

observamos diferentes categorias emergentes, que podemos dividir entre saberes específicos e

habilidades.

Como saberes necessários de serem desenvolvidos para o trabalho no SUAS, podemos citar aqueles que emergem em mais de uma resposta, quais sejam: conhecimento sobre

a própria política de assistência social, a relação Estado e sociedade, análise de conjuntura, intersetorialidade, interdisciplinaridade, trabalho em rede, população em

situação de rua, dependência química, compreensão do território, ética, organização dos processos de trabalho dos/as trabalhadores/as, técnicas de intervenção com grupos

específicos de usuários e atendimento, política de habitação, proteção social (legislações protetivas) e controle social.

25

Page 27: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Entre os resultados destaca-se, o necessário conhecimento sobre a Política de

Assistência Social pois este se apresenta enquanto saber crucial para o trabalho dentro desta

política, aparecendo em 38 respostas diferentes. Esse conhecimento perpassa questões que se

fundam no processo sócio histórico da constituição da assistência social, do conhecimento

das leis e respectivas resoluções que foram sendo construídas ao longo dos anos por conta das

deliberações das conferências ou de ordem organizativa, por exemplo, assim como da relação

desta política com as outras políticas sociais. Também, se destaca o entendimento sobre as

complexidades dentro da política de assistência social, da tipificação dos serviços

socioassistenciais. É possível constatar ao analisar as respostas, que os trabalhadores

demonstram compreender o trabalho no âmbito do SUAS como sendo possível a partir do

conhecimento da própria política seus programas e serviços, assim como seus documentos.

Também se evidencia a correlação da política de assistência social com o conhecimento sobre

as demais políticas públicas, sendo a intersetorialidade apontada como algo a ser

desenvolvido, pois é uma necessidade bastante presente nas respostas dos trabalhadores o que

tem a ver com um modo de gestão e de operacionalizar as políticas públicas nos territórios e

isto vai além da existência de uma rede socioassistencial, diz respeito a decisões éticas e

políticas. Também o conhecimento dos serviços públicos existentes , suas finalidades, formas

de atuação são fundamentais para a articulação das políticas sociais nos territórios.

[...] a presença de serviços públicos em diferentes territórios requer, por parte dos profissionais que por lá operacionalizarão serviços e programas sociais, o conhecimento e a identificação das necessidades, dos indicadores sociais e das condições de qualidade

de vida da população. Da mesma forma, é fundamental a identificação das potencialidades existentes (de crianças, adolescentes, juventudes, idosos, trabalhadores e

trabalhadoras, famílias e da própria comunidade), suas formas de resistências e de enfrentamento para superação de suas necessidades sociais. Cientes dessa dinâmica

existente em cada território específico, não há como negar que desses espaços emergem indicativos para mobilização de saberes e/ou necessidades de apreensão de novos

conhecimentos para uma dada resposta como forma de suprir uma necessidade social e até mesmo local. (FERNANDES, 2016. p.58).

A gestão aparece em 11 respostas diferentes, como um dos aspectos centrais dos

saberes e enquanto uma das responsáveis por promover e instigar os trabalhadores a

participarem de espaços de capacitações. Os trabalhadores trazem em suas falas a dificuldade

26

Page 28: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

de os gestores compreenderem os documentos e legislações que tratam sobre a assistência

social e essa dificuldade se estrutura desde as condições de destinação dos recursos até o

fluxo dos serviços que compõem a rede.

(...) Percebo que há necessidades de saberes básicos sobre o SUAS para todo e qualquer profissional da área. É comum haver entrada de funções político partidárias na gestão.

E que normalmente ingressam nos cargos sem nenhum conhecimento da área. (participante)

As situações da população atendida no SUAS e que faz uso de substâncias psicoativas

tem mobilizado os profissionais para a necessária construção de habilidades para lidarem com

essa realidade. Há um reconhecimento pelos trabalhadores de que a Política de Assistência

Social tem um papel importante no enfrentamento dessa questão, juntamente com a política

de Saúde, no que diz respeito às ações de prevenção e de reinserção social, conforme consta

na cartilha de orientações técnicas no atendimento no SUAS às famílias e aos indivíduos em

situação de vulnerabilidade e risco social por violação de direitos associada ao consumo de

álcool e outras drogas (BRASIL, 2016). Tais iniciativas ganham maior impacto mediante um

conjunto de atuações articuladas e integradas entre as políticas de Saúde, Assistência Social e

Segurança Pública nos territórios.

Compreensão do território em que o trabalhador está inserido aparece em 11 respostas

diferentes e portanto nos referimos ao território “como espaço social em constante dinâmica,

que deve ser compreendido para além dos limites geográficos e administrativos” (KOGA,

2009, p.31). Além disso, é

Importante lembrarmos, ainda, que a política de assistência social, ao agir sobre um determinado território com base nos dados e informações identificados sobre a dinâmica desta realidade, inaugura outra perspectiva de análise, ao tornar visíveis aqueles setores

da sociedade brasileira, tradicionalmente, tidos como invisíveis ou excluídos das estatísticas, tais como: a população em situação de rua, adolescentes em conflito com a

lei, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiências, entre outros peculiares a cada território (PNAS, 2004, p. 16).

Os trabalhadores também trazem o trabalho interdisciplinar como importante

ferramenta nos espaços de trabalho, de acordo com o preconizado pela NOB-SUAS/RS

(2012), os espaços de trabalho no âmbito do SUAS contam com uma equipe mínima,

27

Page 29: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

composta por profissionais de diferentes especializado. Segundo Lewgoy (2016), a

intervenção interdisciplinar é, cada vez mais, um requerimento do trabalho na esfera

executiva, indispensável na formulação de políticas públicas e na gestão de políticas sociais.

Pensar em trabalho interdisciplinar é pensar em ações conjuntas dos diferentes profissionais

no atendimento aos usuários, o enxergando em sua totalidade. Também a exigência do

trabalho interdisciplinar impõe “às especialidades que transcendam suas próprias áreas,

tomando consciência de seus limites e acolhendo as contribuições de outras disciplinas”

(GATTÁS; FUREGATO. p.324). Trata-se de uma epistemologia de convergências, de

complementaridade e de superação da lógica fragmentada no uso dos conhecimentos para a

intervenção profissional.

Podemos afirmar diante os resultados analisados com relação a esta questão, os

saberes necessários dizem respeito às realidades vivenciadas pelos trabalhadores que

participaram desta investigação, dos territórios e dos processos de trabalho onde se inserem.

Isso posto, é preciso reconhecer que as situações de trabalho se diferem, assim como as

necessidades dos sujeitos que acessam os direitos socioassistenciais, mas são situações que

possibilitam aos trabalhadores desenvolverem, progressivamente, saberes gerados e baseados

no próprio processo de trabalho, compreendendo-se, então, o que são esses saberes que

exigem fundamentos teóricos e metodológicos, tempo, prática, experiência, habilidades e

atitudes.

A intenção aqui não é apontar quais saberes são necessários para o trabalho na

assistência social, como algo que se esgota, mas ao contrário, proporcionar a reflexão sobre

as possibilidades de construção de saberes nas mais diversas situações de trabalho

considerando a complexidade e particularidades de cada política pública, e neste caso os

serviços, os programas, os projetos e os benefícios que se desenvolvem no âmbito dos SUAS.

Esse saber, construído no trabalho, em espaço-tempo específico, no exercício de uma

ocupação profissional, com o passar do tempo vai se revelando um novo saber, podendo

modificar, inclusive, o “saber trabalhar” (FERNANDES, 2016; 2019).

Não menos importante e totalmente relacionada às competências para o trabalho estão

as habilidades, que dizem respeito a colocar o conhecimento em ação. É a habilidade que o

sujeito possui ao saber como fazer alguma coisa. Refere-se ao querer fazer algo. Diz respeito

28

Page 30: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

a um determinado sentimento ou à predisposição da pessoa, que determina a sua conduta em

relação aos outros, ao trabalho ou a situações (RIOS, 2003; FERNANDES, 2009)

Assim, é perceptível nas colocações dos participantes que suas experiências e

conhecimentos estão diretamente ligadas à condução efetiva dos processos laborais e

apresentam-se de imbricadas num complexo de fatores que descrevem da seguinte maneira:

a escuta sensível, a flexibilidade, a criatividade, a resiliência técnico-operativa no enfrentamento à precarização das políticas públicas, a empatia, a percepção, o

compromisso ético, a capacidade de mediação de conflitos, o acolhimento, a liderança, o trabalho em equipe, a tolerância à frustração, o planejamento das ações, habilidade política, dentre outras que são indissociáveis das dimensões teórico, metodológicas e

éticas que constituem as competências para o trabalho no SUAS.

Podemos dizer que o conhecimento é o resultado do processamento cognitivo de

informações apreendidas na interação dos sujeitos com o mundo e as habilidades estão

relacionadas à capacidade de aplicar o conhecimento no trabalho, corresponde a uma

intervenção profissional ou, ainda, a uma ação política que contribua para transformação de

uma situação da realidade social; e ainda existe a predisposição e uma atitude, que refere-se

ao querer fazer algo. (FERNANDES,2016). Portanto, os saberes e habilidades identificados

pelos participantes tem a ver com o compromisso desses trabalhadores com a efetivação de

algo, nesse caso da política de assistência social.

São então as competências – algo em permanente construção –, em que o equilíbrio do conhecimento com a capacidade e habilidade de utilizá-lo e os princípios éticos que

caracterizam a atitude de um profissional, que se constituem em elementos necessários para o trabalho no SUAS. (FERNANDES, 2016,p.82)

2.4 Sobre as Experiências de Educação Permanente no SUAS

A questão referente às experiências de educação permanente no SUAS traz a riqueza

do que realmente pode e vem sendo vivenciado pelos trabalhadores no cotidiano. Aqui

estamos identificando como experiência vivida, sentida por meio de processos coletivos de

aprendizagens e que fazem sentido aos trabalhadores, pois ao adquirirem novos

conhecimentos e saberes podem colocar em uso, ou até mesmo transformar a organização do

29

Page 31: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

trabalho e as relações. A experiência também como atividade cognitiva onde são acionados

os conhecimentos de cada trabalhador, e enquanto subjetiva, experiências impulsionadas pela

emoção, e pelos princípios éticos que devem construir o sentido do trabalho no SUAS. Por

isto a importância de socializar os resultados destas experiências vivenciadas e que

caracterizam os processos de educação permanente que envolvem trabalhadores, gestores,

usuários e conselheiros da política. Assim, o trabalho tem sido o ambiente que provoca nos

trabalhadores da Assistência Social a necessidade de construção de saberes e habilidades para

lidarem com as diferentes expressões da questão social.

Quando questionados se vivenciaram ou não experiências de Educação Permanente

em seus locais de trabalho, 57 trabalhadores responderam positivamente a questão, em

contrapartida a 44 trabalhadores que responderam não vivenciar experiências de educação

permanente em seus municípios. Isso decorre do fato dos gestores da política não

promoverem essas experiências, e, quando o fazem, estas são voltadas para interesses da

gestão e não dos trabalhadores, conforme revelam algumas respostas. Nessa perspectiva

apenas os gestores ou os seus indicados tem participado dessas atividades de educação

permanente, como os cursos do CapacitaSUAS, conforme as respostas dos participantes e

com relação aos cursos ofertados no período da pesquisa. Dessa forma, as respostas apontam

que a educação permanente tem relação com a iniciativa individual de cada trabalhador que a

partir do diálogo as transforma em experiências coletivas.

(...) as experiências que tenho tido dependem muito mais de meu desejo enquanto profissional, através de uma postura ética-reflexiva do que por parte da gestão.

Com relação a questão que se referia ao compartilhamento das experiências de

educação permanente no trabalho, foram socializadas ao todo 39; destas, 7 participantes

optaram por compartilhar no blog suas experiências e 32 participantes não quiseram

socializar suas experiências no blog. Podemos aferir que se tratam de diferentes experiências,

tais quais: as vivenciadas entre trabalhadores e o conselho tutelar do município; de

participação no CapacitaSUAS; no Controle Social democrático nas organizações das

pré-conferências de assistência social de diferentes municípios; em encontros periódicos dos

trabalhadores da proteção social da média complexidade; encontro entre as coordenações dos

30

Page 32: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

CRAS e dos CREAS; na rede socioassistencial objetivando a construção do plano de

qualificação do SUAS no território; em encontros para discussão sobre a população em

situação de rua e saúde mental; e preparação para a construção de indicadores

socioassistenciais promovidos pela vigilância socioassistencial, entre outros. Para fins de

ilustração, a imagem 2 sintetiza as experiências:

Imagem 2 - Experiências de Educação Permanente vivenciadas pelos trabalhadores

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras (2019).

A participação no CapacitaSUAS aparece como experiência formativa extremamente

importante, conforme referem os trabalhadores que já participaram de seus cursos. Para eles,

a experiência do CapacitaSUAS foi de grande valia para a atuação profissional no SUAS,

tendo sido um processo enriquecedor de aprendizagem devido à convivência e à troca de

experiências com outros profissionais que atuam na assistência social. Os trabalhadores

também apontaram a participação em diferentes cursos como exemplo de experiências de

educação permanente. Dentre esses cursos o que mais apareceu nas respostas foi o curso de

Gestores Sociais promovidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Vale ressaltar

a ausência de cursos mais recentes tendo em vista que os cursos citados ocorreram nos anos

de 2008 e 2012. Somente em 2019, o Departamento de Assistência Social do Rio Grande do

31

Page 33: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Sul, por meio da Gestão do Trabalho e Educação Permanente inicia a sua segunda execução 2

dos cursos do CapacitaSUAS, os quais tiveram seus critérios e vagas pactuadas na Comissão

Intergestora Bipartite-CIB através da Resolução n° 211/2015.

Outro apontamento de experiência de educação permanente diz respeito às

experiências junto aos conselhos e conferências municipais de assistência social, pois

esses espaços são apresentados pelos trabalhadores como importantes mecanismos de

reflexão e de questionamento dos processos de trabalho. Ademais, é apontada a importância

do controle social no sentido de aprimorar, defender, fiscalizar e monitorar a política.

Secretaria de Desenvolvimento Social promove as pré-conferências de Assistência Social fazendo reuniões com moradores de vários bairros para abordar temas e estimular debates preparatórios para a Conferência Municipal de Assistência

Social, que acontece todos os anos. O grande objetivo é projetar o Sistema Único de Assistência Social. Participo nas pré conferências e na Conferência, como

membro do Conselho e represento a Universidade.

No que diz respeito às diferentes metodologias e estratégias de educação

permanente desenvolvidas no SUAS, ressalta-se as reuniões de equipe como potentes

espaços para o desenvolvimento de sinalizaram as diferentes situações de trabalho que

requerem saberes. Dentre essas se destaca a vigilância socioassistencial, que apareceu mais

vezes nas respostas, como forma de ilustrar a importância da instrumentalização para a

implementação da vigilância socioassistencial nos municípios, socializamos o relato de uma

experiência em um município de grande porte da região metropolitana de Porto Alegre no

período de 2013-2016:

2 As ações para execução dos recursos do Programa CapacitaSUAS referente ao ano de 2015 tiveram início no ano de 2018 após processo licitatório, o qual a partir da contratação de instituição credenciada à Rede Nacional de Educação Permanente- RNEP, propiciarão os seguintes cursos que serão ofertados são: 1. Curso de Atualização Sobre Especificidade e Interfaces da Proteção Social Básica do SUAS, com 950 vagas; 2. Curso de Atualização em Vigilância Socioassistencial, com 200 vagas; 3. Curso de Atualização Sobre o Reordenamento dos Serviços de Proteção Social Especial, com 250 vagas; 4. Curso de Introdução ao Exercício do Controle Social, com 800 vagas. Disponível em: < https://gestaodotrabalhors.wixsite.com/capacitasuasrs2019/capacitasuas>

32

Page 34: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Considero que todo o percurso de implantação foi balizado, foi constituído em processo de educação permanente. Estamos aprendendo fazer vigilância

socioassistencial [...], nossa opção foi a partir de construção coletiva envolvendo equipe responsável por esta implantação e as equipes dos vários serviços

socioassistenciais dos diversos níveis de proteção social. Realizamos estudo do que e vigilância socioassistencial, inicialmente na equipe e em seguida com as

equipes dos serviços. a partir deste estudo iniciou-se a discussão do instrumento de coleta de dados já utilizado em alguns serviços. Estes foram aprimorados a partir de oficinas com todos(as) os trabalhadores(as) dos serviços em questão. Foram realizadas oficinas com cada equipe que não possuir instrumento de coleta de dados e estas pensaram o seu instrumento, a partir de sua prática cotidiana e o que seria importante visibilizar na coleta de dados. As oficinas foram retomadas

06 meses após uso dos instrumentos em cada serviço. Nestas a equipe de vigilância socializa de forma sistematizada e em gráfico os resultados.

Ainda nessa questão, os trabalhadores poderiam optar por socializarem suas

experiências no fórum de socialização do Blog “Trajetórias de Educação Permanente no

SUAS”. Neste espaço aparecem vivências relacionadas a criação de grupos e núcleos de

Educação Permanente nos espaços de trabalho, organizados pelos próprios trabalhadores,

como vemos abaixo:

(...) A equipe do CREAS, espaço onde estou inserida, se mobilizou e organizou um Grupo de Educação Permanente (GEP). A iniciativa e organização partiu totalmente dos trabalhadores da equipe. Estamos completando um ano de

experiência. A atuação se dá em 2 âmbitos: 1) Encontros do GEP[...]; 2) Seminário Interno[...]. Felizmente, a participação é integral de todos os colegas.

Também destacamos que nas experiências socializadas são relatadas situações que

envolvem violações de toda ordem, tais como aquelas que a população em situação de rua

vivenciam cotidianamente e que requer dos profissionais que atuam nas políticas públicas um

conjunto de conhecimentos e habilidades para mediação dos direitos destes sujeitos. Como

exemplo, trazemos a experiência de um município de grande porte do Estado, vivenciada

entre os trabalhadores da política de Assistência Social e a política de Saúde, mais

especificamente Saúde Mental. Esta situação de trabalho revela a necessária articulação

intersetorial para o trabalho nos territórios e atendimento das necessidades sociais dos

sujeitos de direitos, como por exemplo, a população em situação de rua e sofrimento psíquico

e/ou usuária de substâncias psicoativas.

33

Page 35: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Realizamos no meu município algumas oficinas entre serviços da proteção social especial direcionados à população em situação de rua e serviços de saúde mental

onde buscamos refletir sobre as formas de cuidado às pessoas que estão em situação de rua. Buscamos apoio tanto nas políticas de assistência quanto de saúde para trazer conceitos/saberes importantes para a proteção desse público. As oficinas foram encerradas pela secretaria de assistência social do município que temia o

encontro dos trabalhadores e não entendeu que a iniciativa de educação permanente vinda dos próprios profissionais como algo importante para a gestão.

Trabalhadores autônomos e empoderados são um perigo!

A violência doméstica, a violência contra a mulher, contra crianças e adolescentes,

idosos, entre outras, são manifestações que se apresentam como demandas para o trabalho no

âmbito do SUAS e requerem, por parte dos trabalhadores, o desenvolvimento de

competências para lidarem com essas situações. Entre os resultados da pesquisa, constatamos

uma experiência interdisciplinar, que mobilizou a equipe técnica e usuários diante das

situações de violência com crianças e adolescentes. A estratégia utilizada, pela equipe técnica

de um CREAS de um município de pequeno porte II, para a abordagem desta situação foi a

realização de um teatro filmado e socializado no blog da pesquisa 3

Como integrante da equipe do CREAS [...], compartilho a experiência de trabalho resultante dos estudos sobre violência e abordagens com crianças e adolescentes.

Em 2016 a partir do planejamento de grupo para o trabalho de superação da violência sofrida por crianças e adolescentes, a equipe sentiu a necessidade de uma estratégia alternativa, surgindo o interesse pelo trabalho que concilia a intervenção multiprofissional (Assistente Social, Psicóloga e Ator de teatro/cinema). O objetivo

inicial era abordar as emoções e expressão de sentimentos a partir de exercícios cênicos. O trabalho foi se tornando dia a dia mais envolvente, as crianças e

adolescentes tiveram avanços na socialização, reconhecimento enquanto grupo, verbalização de sentimentos e pensamento crítico/reflexivo. Conciliar as dinâmicas de círculos restaurativos também contribuiu muito na organização da fala e escuta.

Após trabalhar com as crianças e adolescentes a temática da violência, surgiu a ideia de elaboração de um filme, desejo que se tornou realidade.

As próprias crianças e adolescentes, sugeriram cenas do cotidiano que contem questões de violência. Participaram das filmagens e iluminação, além de

voluntários que se envolveram como atores. O resultado deste trabalho foi um filme – curta metragem (8 minutos) que objetiva mostrar o quanto a violência está

presente no cotidiano das crianças e adolescentes. O material tem sido utilizado pela equipe em diversas atividades: palestras para grupos dos projetos sociais (PAIF e SCFV), grupos com pais ou responsáveis no CREAS, abordagens mais específicas

com famílias e grupos de Medida Socioeducativa, entre outros.

3 Disponível em: https://www.ufrgs.br/epsuas-rs/2017/12/13/o-teatro-como-estrategia-para-o-trabalho-no-creas/ 

34

Page 36: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

O planejamento na Assistência Social é trazido pelos participantes desta pesquisa

como um dos conhecimentos a serem cada vez mais desenvolvidos e aprimorados, trata-se de

uma importante ferramenta, não só de gestão e operacionalização da política, como um

instrumento político e estratégico para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais.

Observa-se relatos dos trabalhadores que a elaboração do Plano de Assistência Social se

constitui numa importante vivência de educação permanente.

(...) a Elaboração do Plano da Assistência foi bem legal e também a que tratou da gerência dos recursos financeiros do SUAS foi importante para sabermos em que se

pode utilizar os recursos. O departamento de Assistência Social do RS tem nos mobilizado a termos um contador junto à Secretaria da Assistência Social e isso é bem complicado não para nós pois também entendemos essa necessidade, mas o que ocorre

na real é nós Assistentes Sociais da gestão fazermos toda a parte administrativa e também financeira. É uma sobrecarga muito grande pois a Política da Assistência Social do SUAS não é mais a mesma no que tange aos serviços da gestão enquanto

planejamento e adequação gerencial assim como o suporte que temos que dar às coordenações do CRAS e CREAS entre outros

2.5. O Blog

O blog foi pensado inicialmente como principal instrumento para alocar o

questionário da pesquisa e o fórum de socialização onde os trabalhadores poderiam

compartilhar suas experiências. Entretanto, ao longo da investigação, ele emerge como um

espaço estratégico e político do ponto de vista da prática cidadã, que visa contribuir de

maneira interativa e democrática, com a disseminação de experiências, saberes e habilidades

profissionais para o trabalho no SUAS, assim como, analisar a trajetória que vem sendo

percorrida por esses trabalhadores no desenvolvimento da Política de Educação Permanente

no RS.

Desde abril de 2017, realiza-se a postagem de diferentes conteúdos no blog. Para fins

de organização desse material, dividimos as mesmas em cinco eixos, quais sejam: 1.

Produções de Conhecimentos do grupo de pesquisa; 2. Reflexões dos trabalhadores,

militantes e estudiosos do SUAS; 3. Controle social democrático e participação popular; 4.

Direitos especiais; e o 5. Resultados das pesquisas, perfazendo um total de 73 postagens até

agosto de 2019, conforme a tabela 1:

35

Page 37: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Tabela 1 - Organização das postagens no blog por eixos

Eixos Número de postagens

1 produções de conhecimentos do GPETPS 14

2 reflexões dos trabalhadores, militantes e estudiosos do SUAS 25

3 controle social democrático e participação popular 12

4 direitos especiais 17

5 resultados das pesquisas 5

Fonte: elaborada pelas pesquisadoras, 2019.

Com relação ao eixo 1, no que tange às produções de conhecimentos do grupo de

pesquisa, são materiais organizados pelo coletivo de pesquisadoras e que são divulgados

neste meio digital, tais quais: o livro intitulado: Educação no e do Trabalho no Âmbito das

Políticas Sociais (disponível em: https://www.ufrgs.br/cegov/files/pub_140.pdf); o

“Dicionário crítico: a política de assistência social no Brasil” (2016); os cadernos de estudos

produzidos para o CapacitaSUAS/MDS; a publicação dos relatórios das pesquisas já

finalizadas; artigos alinhados com a discussão sobre educação permanente no SUAS e sobre

o trabalho profissional. Destaca-se que além das postagens recorrentes, o blog possui uma

biblioteca, onde são disponibilizadas sugestões de textos e de artigos - sendo produções do

grupo ou não - que visam contribuir com os processos de aprendizagens para aqueles que

acessam a plataforma virtual. E também possui um espaço de videoteca, que dentre outros

vídeos, recentemente teve publicação de um vídeo do tipo infográfico sobre Educação

Permanente no SUAS , construído pelo coletivo de pesquisadoras a partir da análise das 4

respostas do questionário, conforme a imagem 3.

4 Disponível em: https://www.ufrgs.br/epsuas-rs/2019/04/29/video-educacao-permanente-no-suas/

36

Page 38: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Imagem 3 – Infográfico sobre Educação Permanente no SUAS

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q-yL3nBTbuM

As produções técnicas dos trabalhadores, militantes e estudiosos do SUAS, dizem

respeito às postagens feitas por pessoas externas ao grupo, pois este é um espaço coletivo que

se coloca à disposição desses trabalhadores. Esse eixo 2 demonstra que não há um único

modelo de postagem no blog, pois estas acompanham as necessidades e as demandas dos

trabalhadores, advindas da conjuntura atual. Pode-se observar a ocorrência de postagens de

divulgação de eventos, de publicações e de experiências de educação permanente, além de

textos escritos por pessoas envolvidas com a política de assistência social (trabalhadores,

representantes de entidades de categorias profissionais que atuam no SUAS, estudantes de

graduação e pós-graduação e pesquisadores de áreas afim), conforme demonstramos na tabela

2, onde constam todos os títulos das postagens.

37

Page 39: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Tabela 02 - Eixo 2: Reflexões dos trabalhadores, militantes e estudiosos do SUAS

Eixo 2

Título Data Endereço eletrônico

Posicionamento Frente Gaúcha em Defesa do SUAS contra o desmonte da FASC em POA jun/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/06/21/posicionamento-da-frente-gaucha-em-defesa-do-suas-e-da-seguridade-social-posicionamento-da-frente-gaucha-em-defesa-do-suas-e-da-seguridade-soc

ial/

Benefício de Prestação Continuada (BPC): Direito adquirido é direito garantido! jul/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/07/25/beneficio-de-prestacao-continuada-bpc-direito-adquirido-e-direito-garantido/

Audiência Pública "Rede de Política e Assistência Social e os Problemas no

Atendimento à População-Alvo" ago/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/08/29/audiencia-publica-rede-de-politica-e-assistencia-social-e-os-problemas-no-ate

ndimento-a-populacao-alvo/

A Psicologia e a Assistência Social: uma história de transformações set/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/09/22/a-psicologia-e-a-assistencia-social-uma-hi

storia-de-transformacoes/

Construção do NUEP em Porto Alegre set/17 ufrgs.br/epsuas-rs/2017/09/28/construcao-do-nuep-em-porto-alegre/

Na festa da independência: o anúncio do fim do SUAS set/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/09/13/na-festa-da-independencia-o-anuncio-do-fi

m-do-suas/

A inviabilização e o desmonte do SUAS em tempos de aumento da demanda por assistência

social out/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/10/09/a-inviabilizacao-e-o-desmonte-do-suas-em-tempos-de-aumento-da-demanda-p

or-assistencia-social/

Audiência pública sobre corte do orçamento da assistência social será realizada na Câmara dos

Deputados out/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/10/25/audiencia-publica-sobre-corte-do-orcamento-da-assistencia-social-sera-realiza

da-na-camara-dos-deputados/

Ato público em defesa do SUAS nov/17 ufrgs.br/epsuas-rs/2017/11/06/ato-publico-em-defesa-do-suas/

Jornada SUAS em Cachoeira do Sul nov/17 ufrgs.br/epsuas-rs/2017/11/13/jornada-suas/

O teatro como estratégia para o trabalho no CREAS dez/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/12/13/o-teatro-como-estrategia-para-o-trabalho-

no-creas/

38

Page 40: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Você já pensou o quanto o acesso à informação depende da forma como ocupamos os meios de

comunicação nos territórios onde atuamos? jan/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/01/10/voce-ja-pensou-o-quanto-o-acesso-a-informacao-depende-da-forma-como-ocupamos-os-meios-de-comunicacao-no

s-territorios-onde-atuamos/

Campanha contra o preconceito ao usuário e usuária do SUAS fev/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/02/22/campanha-contra-o-preconceito-ao-usuari

o-e-usuaria-do-suas

I Ciclo de debates sobre a Assistência Social mar/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/03/19/i-ciclo-de-debates-sobre-a-assistencia-soc

ial/

12º Encontro Gaúcho de Assistentes Sociais (EGAS) mai/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/05/09/12o-encontro-gaucho-de-assistentes-sociai

s-egas/

ASSISTENTE SOCIAL: somos classe trabalhadora e nossa escolha é a resistência mai/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/05/15/assistente-social-somos-classe-trabalhadora-e-nossa-escolha-e-a-resistencia/

A organização dos trabalhadores do SUAS mai/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/05/03/a-organizacao-dos-trabalhadores-do-suas/

12º Encontro Gaúcho de Assistentes Sociais (EGAS) mai/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/05/09/12o-encontro-gaucho-de-assistentes-sociai

s-egas/

I Mostra de Experiências de Luta e Resistências no SUAS jun/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/06/04/i-mostra-de-experiencias-de-luta-e-resiste

ncia-no-suas

I Encontro Estadual de Educação Permanente do SUAS out/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/10/26/i-encontro-estadual-de-educacao-permane

nte-do-suas/

Seminário sobre Seguridade Social out/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/10/15/seminario-sobre-seguridade-social/

Encontro de Usuários/as do Sistema Único de Assistência Social da Região Metropolitana dez/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/12/04/encontro-de-usuariosas-do-sistema-unico-de-assistencia-social-da-regiao-metr

opolitana/

CapacitaSUAS/RS - 2019 fev/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/02/22/capacitasuasrs-2019/

Encontro Estadual em Defesa da Seguridade Social mar/19

ufrgs.br/epsuas-rs/2019/03/12/encontro-estadual-em-defesa-da-seguridade-social/

1º de maio: mais um dia em defesa da gestão do trabalho no SUAS! maio/19

ufrgs.br/epsuas-rs/2019/05/13/1o-de-maio-mais-um-dia-em-defesa-da-ge

stao-do-trabalho-no-suas

Fonte: elaborada pelas pesquisadoras, 2019.

39

Page 41: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

O eixo 3 conta com as postagens sobre controle social democrático e participação

popular, discussões que contemplam a cultura política e participação dos cidadãos na

construção e efetivação do SUAS; textos que abordam a temática da vigilância

socioassistencial e os desafios para a sua materialização; divulgações de eventos sobre a

temática, inclusive realizados pelo próprio grupo de pesquisa, entre outros. Nesta parte

identificamos representantes dos fóruns dos trabalhadores do SUAS, assim como, das

entidades socioassistenciais que trouxeram suas reflexões para socialização no blog. A tabela

3 traz os títulos das postagens.

Tabela 03 - Eixo 3: Controle Social democrático e participação popular

Eixo 3

Título Data Endereço eletrônico

XII Conferência Municipal de Assistência Social de POA/RS jul/17 ufrgs.br/epsuas-rs/2017/07/12/xii-confere

ncia-municipal-de-assistencia-social/

Por que realizar Conferência Municipal de Assistência Social jul/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/07/14/por-que-realizar-conferencia-municipal-de-assistenc

ia-social/

11ª Conferência Nacional de Assistência Social nov/17 ufrgs.br/epsuas-rs/2017/11/27/11a-confer

encia-nacional-de-assistencia-social/

Nota de repúdio do Conselho Nacional de Assistência Social nov/17

ufrgs.br/epsuas-rs/2017/11/01/nota-de-repudio-do-conselho-nacional-de-assistencia

-social/

Carta aberta dos Conselheiros da Sociedade Civil do CNAS aos membros da

CIT fev/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/02/26/carta-aberta-dos-conselheiros-da-sociedade-civil-do-

cnas-aos-membros-da-cit/

Roda de conversa "Controle social democrático do SUAS" mar/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/03/23/roda-de-conversa-controle-social-democratico-do-su

as/

Reunião descentralizada e ampliada do CNAS mai/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/05/18/reuniao-de

scentralizada-e-ampliada-do-cnas/

Roda de conversa “Controle social democrático do SUAS” mai/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/03/23/roda-de-conversa-controle-social-democratico-do-su

as/

40

Page 42: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

O processo de materialização da Vigilância Socioassistencial e os desafios

para os Trabalhadores Sociais

set/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/09/06/o-processo-de-materializacao-da-vigilancia-socioassistencial-e-os-desafios-para-os-trabalhado

res-sociais/

Cultura política e participação popular no SUAS: nenhum direito a menos!

abril/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/04/11/cultura-politica-e-participacao-popular-no-suas-nenh

um-direito-a-menos/

Chamada em defesa das Conferências do SUAS!

jul/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/07/03/chamada-em-defesa-das-conferencias-do-suas/

Controle Social no SUAS: um panorama nacional

julho/19 https://www.ufrgs.br/epsuas-rs/2019/07/08/controle-social-no-suas-um-panorama-n

acional/

Fonte: elaborada pelas pesquisadoras, 2019.

Sequencialmente, no eixo 4 os direitos especiais são tratados nas mais diferentes

dimensões, com postagens que retratam a realidade atual e que caracteriza a sociedade

brasileira e suas desigualdades que afetam a vida de diferentes sujeitos tais como: os direitos

dos povos indígenas, dos refugiados, das mulheres, das juventudes, entre outros, sendo alguns

exemplos citados na tabela 04. Discussões essas latentes ao trabalho no âmbito da assistência

social, mas não apenas. Que possibilitam vislumbrar realidades e olhares necessários para o

enfrentamento da questão social.

Tabela 04 - Eixo 4: Direitos Especiais

Eixo 4

Título Data Endereço eletrônico

Dia internacional da mulher mar/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/03/08/dia-internacional-da-mulher/

Sobre o acolhimento de crianças e adolescentes mar/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/03/13/sobre-o-ac

olhimento-de-criancas-e-adolescentes/

Dia do índio abril/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/04/19/dia-do-indio/

ATLAS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL (2018): o que você já leu

sobre? jun/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/06/11/atlas-da-violencia-no-brasil-2018-o-que-voce-ja-leu

-sobre/

41

Page 43: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Estatuto da Adoção em Debate ago/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/08/08/estatuto-da-adocao-em-debate/

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: uma pauta para o SUAS ago/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/08/23/violencia-c

ontra-a-mulher-uma-pauta-para-o-suas/

CFESS Manifesta: vidas negras importam! nov/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/11/20/cfess-mani

festa-vidas-negras-importam/

Ilê Mulher e as questões de gênero, raça e etnia nov/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/11/28/ile-mulher

-e-as-questoes-de-genero-raca-e-etnia/

O SUAS também é Novembro Negro! nov/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/11/07/o-suas-tambem-e-novembro-negro/

As andanças dos/as estudantes indígenas no território acadêmico dez/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/12/11/as-andancas-dosas-estudantes-indigenas-no-territori

o-academico/

Os direitos das Juventudes na Realidade Brasileira jan/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/01/04/os-direitos

-das-juventudes-na-realidade-brasileira/

8 de Março - Dia Internacional da Mulher mar/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/03/08/8-de-marc

o-dia-internacional-da-mulher/

DIREITOS INDÍGENAS AMEAÇADOS: saúde em risco mar/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/03/27/direitos-in

digenas-ameacados-saude-em-risco/

Aos trabalhadores/as que lutam pelos direitos humanos abril/19

ufrgs.br/epsuas-rs/2019/04/03/aos-trabalhadores-as-que-lutam-pelos-direitos-huma

nos/

Sobre o dia 19 de Abril e as orientações para o trabalho com

famílias indígenas no SUAS abril/19

ufrgs.br/epsuas-rs/2019/04/19/sobre-o-dia-19-de-abril-e-as-orientacoes-para-o-trabalho-com-familias-indigenas-no-suas/

Ser refugiado não é uma escolha! mai/19 .ufrgs.br/epsuas-rs/2019/05/27/ser-refugiado-nao-e-uma-escolha/

42

Page 44: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

Chamada de Luta! Marcha das Mulheres Indígenas. ago/19 ufrgs.br/epsuas-rs/2019/08/05/chamada-d

e-luta-marcha-das-mulheres-indigenas/

Fonte: elaborada pelas pesquisadoras, 2019.

Por fim, o eixo 5 refere-se aos resultados das pesquisas elaboradas pelo grupo,

trazidos em formas de textos produzidos pelo coletivo de pesquisadoras, fazendo a análise

dos dados obtidos. Como exemplo, podemos citar o texto que aborda as diferenças entre

educação permanente e educação continuada, outro que aborda o perfil dos trabalhadores

respondentes da pesquisa sobre a educação permanente no SUAS, postagem sobre os direitos

socioassistenciais, entre outros citados na tabela 5.

Tabela 05 - Eixo 5: Resultados das pesquisas

Eixo 5

Título Data Endereço eletrônico

Devolução dos dados da pesquisa sobre controle social abril/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/04/09/devolucao-dos-dados-da-pesquisa-sobre-controle-so

cial/

Educação permanente e educação continuada: do que estamos falando? abril/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/04/24/educacao-permanente-e-educacao-continuada-do-que

-estamos-falando/

Conhecimento acerca da Política Nacional de Educação Permanente do SUAS mai/18

ufrgs.br/epsuas-rs/2018/05/23/conhecimento-acerca-da-politica-nacional-de-educacao-permanente-do-suas/

Perfil das/os trabalhadoras/es respondentes da pesquisa

jul/18 ufrgs.br/epsuas-rs/2018/07/04/perfil-dasos-trabalhadorases-respondentes-da-pesqui

sa/

Lançamento do livro "Educação no/do Trabalho no Âmbito das Políticas Sociais"

ago/19 ufrgs.br/epsuas-rs/wp-admin/post.php?post=808&action=edit

Fonte: elaborada pelas pesquisadoras, 2019.

Como se pode observar por meio dos eixos e das postagens, estas se referem a

diferentes conteúdos e movimentos por parte dos trabalhadores que resistem às mudanças que

vêm sendo travadas e que incidem na operacionalização do SUAS e, fundamentalmente, na

efetivação dos direitos socioassistenciais. Contudo, o blog é um espaço virtual e que pode

desencadear aprendizagens aos sujeitos que acessam e fazem uso dele, uma vez que as

43

Page 45: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

postagens possam provocar reflexões, aquisição de saberes e habilidades para o trabalho no

SUAS.

Como resultado desta investigação tem-se como encaminhamento a manutenção do

blog até que se tenha socializado o suficiente os resultados da pesquisa e/ou ainda que hajam

possibilidades e estrutura para alimentação desta ferramenta virtual, pois o blog tem sido

referência no SUAS. Pois até a finalização deste relatório, em agosto de 2019, constatamos

23.475 acessos.

44

Page 46: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

3. CONCLUSÕES

O alcance dos objetivos propostos nesta pesquisa nos fazem concluir que a realização

deste estudo traz importantes subsídios para o desenvolvimento da cultura de educação

permanente no âmbito do SUAS. Se considerarmos que o objetivo da Política Nacional de

Educação Permanente do SUAS (2013) é “institucionalizar, no âmbito do SUAS, a

perspectiva político-pedagógica e a cultura da Educação Permanente, estabelecendo suas

diretrizes e princípios e definindo os meios, mecanismos, instrumentos e arranjos

institucionais necessários à sua operacionalização e efetivação” (BRASIL, 2013, p.27),

podemos inferir que muito ainda deverá ser investido e consolidado para que este se

concretize. Vimos nos resultados que embora haja um reconhecimento pela maioria dos

participantes da existência da PNEP SUAS, ainda há também a necessidade de fomentar as

iniciativas de educação permanente (EP) no cotidiano do trabalho, nos diferentes espaços

desta política.

Da mesma forma, a compreensão conceitual sobre EP pressupõe reconhecer a

existência de princípios éticos e políticos que embasam o desenvolvimento de experiências

formativas nas situações de trabalho. Portanto, há aí um necessário compromisso com a

efetivação dos direitos socioassistencias e com a aquisição de conhecimentos por parte dos

gestores e trabalhadores para dar conta das necessidades sociais trazidas pelos sujeitos de

direitos: a classe trabalhadora.

Entretanto, não há como se comprometer com algo que não se compreende, pois ainda

temos muito o que percorrer para superação da lógica assistencialista que caracterizou a

trajetória da política de assistência social no Brasil, para a real apropriação da perspectiva

socioassistencial preconizada pela LOAS desde 1993 e pela materialização do SUAS. Esse

aspecto é reconhecido como um obstáculo a ser superado mesmo diante de tantos avanços

legais e operacionais do SUAS, ou seja, a lógica assistencialista com o forte viés

funcionalista-positivista que culpabiliza os sujeitos por sua condição de pobreza, resultado de

incapacidades morais ou cognitivas, precisa ser radicalmente enfrentada e denunciada pelos

trabalhadores e gestores desta política. Ainda é apontado pelos participantes da pesquisa a

45

Page 47: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

necessária apropriação por parte dos gestores e de alguns trabalhadores, sobre o significado

sócio-histórico da política de assistência social no cenário de desigualdades sociais do Brasil.

Algumas peculiaridades com relação aos objetivos específicos podem ser destacadas

aqui:

- as trajetórias formativas que vêm sendo vivenciadas nos municípios do RS,

estão diretamente relacionadas com a realidade de cada território onde atuam

os participantes da pesquisa; por isto os relatos socializados representam as

particularidades das situações de trabalho vivenciadas em cada local. As

iniciativas de EP foram socializadas ao longo deste relatório; destacamos a

participação dos trabalhadores de municípios de pequeno porte I e II do RS,

que somados correspondem ao maior percentual de participantes. Tal

constatação se repete na socialização das experiências de EP;

- com relação aos limites e as possibilidades para a implementação da política

nacional de educação permanente do SUAS no RS, houve situações que os

participantes relataram dificuldades de espaços democráticos para a vivência

de EP, seja pelo modelo de gestão do município e frágil compromisso com a

PNEP Suas, ou pelas dificuldades impostas pelas condições de trabalho, com

equipes reduzidas, baixos investimentos na gestão do trabalho, entre outras;

por outro lado, as possibilidades se caracterizam pelas potencialidades trazidas

nos relatos dos participantes que possuem desejo de vivenciarem experiências

formativas e/ou aqueles relatos que indicam que vêm sendo instituídos espaços

participativos, envolvendo diferentes profissionais na reflexão crítica sobre os

processos de trabalho em que se inserem no SUAS para o atendimento dos

usuários, assim como para a transformação dos seus espaços de trabalho.

Portanto, mesmo diante do cenário atual, cada vez mais é preciso dar

visibilidade às experiências formativas que os trabalhadores do SUAS

vivenciam para que a disseminação da cultura de EP se torne parte do

trabalho; as práticas educativas, as metodologias formativas, as rodas de

conversa, os grupos, os ciclos de debates, os seminários, os encontros com

usuários, as capacitações, entre tantas outras, devem ser socializadas para que

46

Page 48: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

assim possam ser reaplicadas, considerando as particularidades e realidades

territoriais;

- podemos concluir que o blog em todo o processo desta investigação se

constituiu em um importante espaço que contribui com a disseminação de

experiências, saberes e habilidades profissionais para o trabalho no SUAS;

seja pelos diversos textos publicados, pelos conteúdos postados na biblioteca e

na videoteca, pela divulgação de eventos ou pelos chamados que o blog faz

aos trabalhadores do SUAS para a defesa desta política. Isto é possível afirmar

em função da participação de diferentes trabalhadores, pesquisadores,

militantes na construção coletiva deste espaço virtual. Ainda o acesso a este

blog tem sido a nível nacional, e tem servido de base para fundamentar e

construir agendas de EP pelo Estado do RS.

Por fim, ressaltamos a natureza não exaustiva deste estudo e a satisfação como

pesquisadoras em realizar esta investigação e contribuir com a construção de conhecimentos

que possam incidir na formação da classe trabalhadora que atua no SUAS ou ainda aqueles

que são sujeitos que acessam este direito socioassistencial. Por ora publicizamos este

relatório para que possamos seguir na construção e na defesa da PNEP SUAS.

47

Page 49: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

REFERÊNCIAS

BAIXAR MAPAS. Mapa do Rio Grande do Sul - Mesorregiões. Disponível em:

<http://www.baixarmapas.com.br/mapa-do-rio-grande-do-sul-mesorregioes/>. Acesso em: 17

abr. 2018.

BOSCHETTI, Ivanete. Assistência social e trabalho no capitalismo. São Paulo: Cortez,

2016. 192 p.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Conselho Nacional de

Assistência Social. Política Nacional de Educação Permanente da Política Assistência

Social. Brasília, 2013.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de

Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2004. 59 p. Disponível

em: <http://www.sesc.com.br/mesabrasil/doc/Política-Nacional.pdf>. Acesso em: 13 jun.

2018.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Conselho Nacional de

Assistência Social. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília, 58 p.

Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.p

df>. Acesso em: 02 maio 2018.

BRASIL. Norma Operacional Básica - NOB SUAS. Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Brasília, 2012. 64 p.

Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/assistencia_social/nob_suas.pdf>. Acesso em:

29 maio 2018.

BRASIL. Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Dicas em Saúde. Acolhimento. 2008.

Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/167acolhimento.html>. Acesso em

01.08.2019.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno de

Orientações Técnicas: Atendimento no SUAS às famílias e aos indivíduos em situação de

vulnerabilidade e risco pessoal e social por violação de direitos associada ao consumo de

álcool e outras drogas. Brasília, 2016. Disponível em:

48

Page 50: Relatório de Pesquisa · Relatório de Pesquisa Projeto nº: 2.059.721 Trajetórias de Educação Permanente no Sistema Único de Assistência Social: uma pesquisa avaliativa no

https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/cartilhas/Suas_trabalhoS

ocial_vulnerabilidade_consumodedrogas.pdf . Acesso em 02 de agosto de 2019.

BRASIL. Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Lei Orgânica da Assistência Social.

Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742compilado.htm>. Acesso em: 29 maio

2018.

FERNANDES, Rosa Maria Castilhos. Educação Permanente e Políticas Sociais.

Campinas-SP: Papel Social, 2016.

FERNANDES, Rosa Maria Castilhos. (Re)valorização da educação permanente. Revista

Serviço Social e Sociedade, São Paulo: Cortez, n 99, p. 518-539, jul./set. 2009.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. Regiões Geogáficas. 2017. Disponível

em: <

https://www.ibge.gov.br/geociencias/cartas-e-mapas/redes-geograficas/2231-np-divisoes-regi

onais-do-brasil/15778-divisoes-regionais-do-brasil.html?=&t=o-que-e>. Acesso em 02 de

agosto de 2019.

GATTÁS, Maria Lúcia Borges. FUREGATO, Antonia Regina Ferreira. Interdisciplinaridade:

uma contextualização. Acta paul. enferm. 2006, vol.19, n.3, pp.323-327.

LEWGOY, Alzira Mª Baptista. Interdisciplinaridade. In: CASTILHOS, Rosa Maria et al

(Org.). Dicionário crítico: política de assistência social no Brasil. Porto Alegre: Ufrgs, 2016.

p. 153-156. (Coleção CEGOV: Transformando a administração pública). Disponível em:

<https://www.ufrgs.br/cegov/files/pub_70.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2018.

MONTAÑO, C.; DURIGUETTO, M. L. O lugar do mercado, do estado e da sociedade civil

no neoliberalismo de Hayek. p. 60-66. In: Estado, Classe e Movimento Social. 1 ed. São

Paulo: Cortez, 2010.

MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de

intervenção social. São Paulo: Cortez, 2002. p. 200 – 256.

49