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  • 8/6/2019 Relatrio Tutoria 5

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS:

    CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE

    CURSO DE MEDICINA.

    CLAYTON PARASO MACEDO

    EDSON DE JESUS ROCHA

    GEORGIA SANTOS ARCANJO

    ISABELA LIMA OLIVEIRA

    JOO ANTNIO BOMFIM SILVA

    LUANA CAMARGO BRITOLUCAS RODRIGUES DA SILVA

    LUIZ HENRIQUE ROCHA VIEIRA

    PROBLEMA 05: DOENA E CULTURA

    RELATRIO DA QUINTA SESSO

    TUTORIAL DO MDULO: INTRODUO

    AO ESTUDO DA MEDICINA, ORIENTADOPELA TUTORA MARTA MARIA GOMES.

    MONTES CLAROS MG

    MARO 2011

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    Problema 05: Doena e cultura

    Sara, 26 anos, residente na zona rural de Januria (MG), era apaixonada por Pedro, que

    emigrou, por motivo de trabalho, para So Paulo. Sem noticia deste por longos dois anos,

    Sara aceitou o pedido de casamento de Joo, com quem teve um filho. De repente, Pedro

    retorna a Januria e Sara abandona Joo para reviver seu grande amor. Tem um filho com

    Pedro, que novamente a abandona, antes da criana nascer. Joo, ainda apaixonado, perdoa-a,

    aceitando-a de volta e assumindo o filho. Um ano mais tarde, esta criana, aps um quadro de

    diarria intratvel, recebe o diagnstico de AIDS. Corroda pelo remorso, Sara se desespera.

    Nos ltimos anos, situaes semelhantes tm ocorrido na rea rural do Norte de Minas.

    Estudos antropolgicos realizados conseguiram identificar pontos comuns dos casos

    diagnosticados com a histria anterior.

    Tutora: Prof. Marta Maria Gomes

    Coordenadora: Luana Camargo Brito

    Relator: Luiz Henrique Rocha Vieira

    Questionamentos levantados:

    Qual a importncia dos estudos antropolgicos no processo sade/doena?

    Como a cultura influencia no processo sade/doena?

    De que forma a cultura e as condies econmicas desencadeiam a aquisio de

    doenas?

    Que acesso as pessoas tm a medidas que previnem DSTs?

    Como o medico pode se adequar s diferentes culturas?

    Objetivos:

    1. Investigar a importncia dos estudos antropolgicos no processo sade/doena.

    2. Pesquisar de que forma a cultura e as condies econmicas interferem nesse

    processo.

    3. Descobrir como a prtica mdica deve se adequar s diferentes culturas.

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    Rediscusso do assunto a partir dos avanos obtidos no conhecimento:

    A antropologia do grego estudo do homem tem sido chamada a mais cientfica

    das humanidades e a mais humana das cincias. Seu objetivo visa ao estudo holstico da

    humanidade, de suas origens, desenvolvimento, organizao poltica e social, religies,

    lnguas, arte e artefatos. Como campo de estudo, apresenta vrios ramos, um deles a

    antropologia mdica.

    A antropologia mdica aborda as maneiras pelas quais as pessoas, em diferentes

    culturas e grupos sociais, explicam as causas dos problemas de sade. Relaciona-se, tambm,

    aos tipos de tratamento nos quais as pessoas acreditam e aos indivduos a quem recorrem

    quando, de fato, adoecem. A antropologia mdica , tambm, o estudo de como essas crenas

    e prticas relacionam-se s mudanas biolgicas, psicolgicas e sociais do organismohumano, tanto na sade quanto na doena.

    Tradicionalmente, os antroplogos em sua maior parte estudam as sociedades de

    pequeno porte ou grupos relativamente pequenos em uma sociedade maior. No entanto,

    atualmente, muitas das grandes ameaas sade humana como superpopulao, poluio,

    aquecimento global, uso abusivo de drogas e a epidemia da AIDS no podem mais ser

    confinadas ou tratadas somente no mbito das divisas locais ou nacionais. Em um mundo

    cada vez mais mvel e interdependente, esses problemas so verdadeiramente globais, tantona sua origem quanto nos seus efeitos.

    No estudo dos seres humanos, faz-se necessrio estudar as caractersticas tanto da

    sociedade quanto da cultura. Segundo Keesing, sociedade uma populao marcada por um

    relativo afastamento das populaes circunvizinhas e por uma cultura distinta. Ao estudar

    uma sociedade, os antroplogos investigam os seus modos de organizao, hierarquias, e

    papeis. Essa organizao revela-se em suas ideologias e religies dominantes, em seus

    sistemas polticos e econmicos, nos tipos de laos que o parentesco e a residncia contguacriam entre as pessoas, assim como na diviso de trabalho entre pessoas de diferentes origens

    e gneros.

    As regras que sustentam a organizao de uma sociedade e o modo como ela

    simbolizada e transmitida fazem parte da cultura dessa sociedade. De acordo com a definio

    de Tylor, cultura aquele todo complexo que inclui conhecimento, crena, arte, moral, lei,

    costumes e todas as outras aptides e hbitos adquiridos pelo homem como membro da

    sociedade. A partir disso, conclui-se que cultura um conjunto de princpios herdados por

    indivduos membros de uma dada sociedade; princpios esses que mostram aos indivduos

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    como ver o mundo, como vivenci-lo emocionalmente e como comportar-se em relao s

    outras pessoas, s foras sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural.

    Antroplogos como Leach tm salientado o fato de as sociedades possurem mais de

    uma cultura dentro de suas fronteiras. Ricos e pobres, poderosos e desprovidos, cada um ter

    herdado sua prpria perspectiva cultural. Dessa forma, a cultura deve ser considerada dentro

    de seu contexto particular. Pode ser impossvel isolar crenas e comportamento puros do

    contexto social no qual os comportamentos ocorrem. Por exemplo, difcil para uma famlia

    carente aceitar a injeo de uma vacina, que pode ter vrios efeitos colaterais, em uma pessoa

    aparentemente saudvel, como medida preventiva. Muitas vezes, autoridades culturais - como

    curandeiros - e rituais msticos so considerados alternativas primrias no tratamento e

    preveno de doenas. Em algumas partes da frica, acredita-se que relaes sexuais comvirgens servem com tratamento para a AIDS.

    No obstante, entender sade e doena requer que se evite responsabilizar a vtima

    isto , no se deve encarar a ma sade de uma populao como resultado somente de sua

    cultura, deve-se tambm considerar sua situao econmica e social. Os fatores econmicos

    so uma causa importante da falta de sade, da que a pobreza pode resultar em m-nutrio,

    habitaes superlotadas, roupas inadequadas, violncia fsica e psicolgica, estresse

    psicolgico e abuso de drogas e de lcool. Um exemplo prtico da importncia das condiesscio-ambientais so as comparaes dos resultados parciais das catstrofes ambientais

    ocorridas no Haiti e no Japo. Enquanto estima-se que um terremoto de 8.9 graus na escala

    Richter tenha matado cerca de 10.000 japoneses, outro de 7.4 graus matou aproximadamente

    316.000 haitianos e deixou inmeros outros em estado de misria extrema.

    De modo geral, portanto, a formao cultural influencia muitos aspectos da vida das

    pessoas, inclusive suas crena, comportamentos, percepes, emoes, linguagem, religio,

    rituais, estrutura familiar, dieta, modo de vestir, imagem corporal, conceitos de tempo e deespao e atitudes frente doena, dor e a outros infortnios. Contudo, ela no a nica

    influncia, apenas uma entre diversas que incluem: fatores individuais (idade, gnero,

    tamanho, aparncia, personalidade e inteligncia); fatores educacionais (educao religiosa,

    tnica ou profissional); fatores socioeconmicos (classe social, status econmico e ocupao);

    alm de fatores ambientais (clima, densidade populacional ou poluio do habitat, infra-

    estrutura e servio pblicos ou de sade).

    Um aspecto importante da antropologia medica o estudo do ciclo vital humano e de

    todos os estgios, desde o nascimento at a morte. Num mbito internacional, a importncia

    do estudo antropolgico da infncia vem crescendo devido s implicaes de diversas

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    questes sociais para a sade. Entre essas questes, esto o trabalho infantil, o abuso fsico e

    sexual das crianas, a ampla prevalncia da prostituio infantil, o aumento do uso de crianas

    em conflitos armados e os nmeros crescentes de crianas de rua em muitos pases pobres.

    J um ramo relativamente novo da antropologia mdica, a gerontologia transcultural, o

    estudo do envelhecer e das atitudes sociais em relao a esse fenmeno em diversas culturas.

    Esse ramo vem ganhando importncia, j que o nmero de pessoas idosas est aumentando

    rapidamente no mundo. O envelhecimento da populao tambm um desafio crescente para

    o modelo de ateno mdica, com sua nfase atual em tratamentos que privilegiam uma

    soluo rpida. Um mundo em que um nmero cada vez maior de pessoas sofre de doenas

    crnicas (fsicas e mentais) exigir uma mudana significativa no paradigma mdico,

    agastando-se dos tratamentos agudos e mais dramticos em direo e um gerenciamento delongo prazo, mais holstico ou seja, da cura para o cuidado.

    Outra caracterstica importante do estudo antropolgico que ele fornece elementos

    conceituais e metodolgicos aos temas apresentados, o que sistematiza o assunto. A

    antropologia mdica, por exemplo, se inscreve numa relao de complementaridade com a

    epidemiologia e com a sociologia da sade. Assim, o discurso antropolgico aponta os limites

    e a insuficincia da tecnologia biomdica quando se trata de mudar de forma permanente o

    estado de sade de uma populao. Ele nos revela que o estado de sade de uma populao associado ao seu modo de vida e ao seu universo social e cultural. Diversos autores ressaltam

    a grande influncia que exercem a semiologia popular e as concepes culturais de

    causalidade sobre os comportamentos adotados frente s doenas. Eles apontam a

    necessidade de enraizarem-se os programas de educao e o planejamento em sade em

    conhecimento prvio das formas caractersticas de pensar e agir predominantes nas

    populaes junto s quais se quer intervir.

    Segundo Geertz, a cultura fornece modelos de e modelos para a construo dasrealidades sociais e psicolgicas. Para ele, a cultura o contexto no qual os diferentes eventos

    se tornam inteligveis. Essa concepo estabelece ligao entre as formas de pensar e as

    formas de agir dos indivduos de um grupo. Nessa perspectiva considera-se que as

    percepes, as interpretaes e as aes, at mesmo no campo da sade, so culturalmente

    construdas.

    Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de Harvard e, em particular, pelos professores

    Arthur Kleinman e Byron Good fornecem os elementos-chave de um quadro terico e

    metodolgico para analise dos fatores culturais que intervm no campo da sade. Esses

    trabalhos ressaltam a importncia de considerar que as desordens, sejam elas orgnicas ou

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    psicolgicas, s nos so acessveis por meio da mediao cultural; a desordem sempre

    interpretada pelo doente, pelo medico e pelas famlias. A distino estabelecida por

    Eisenberg entre a doena processo (disease) e a doena padro (illness) o elemento

    chave desse grupo de estudos. A disease refere-se s anormalidades de estrutura ou

    funcionamento de rgos ou sistemas, e a illness experincia subjetiva do mal-estar sentido

    pelo doente. De acordo com Kleinman, todas as atividades de cuidados em sade so

    respostas socialmente organizadas frente s doenas e podem ser estudadas como um sistema

    cultural: health care system, constitudo pela interao de trs setores diferente (profissional,

    tradicional e popular).

    Nessa perspectiva, o universo scio-cultural do doente visto no mais como

    obstculo maior efetividade dos programas e prticas teraputicas, mas como o contextoonde se enrazam as concepes sobre as doenas, as explicaes fornecidas e os

    comportamentos diante delas. Esse modelo reorienta a percepo dos aspectos relacionados

    efetividade das intervenes em sade. Se considerarmos que a efetividade de um programa

    de sade depende da extenso em que a populao aceita, utiliza e participa desse programa,

    essa efetividade parece, assim, ser dependente do conhecimento prvio das maneiras

    caractersticas de pensar e agir associadas sade nessa populao e da habilidade do

    programa em integrar esse conhecimento.O interesse no campo da antropologia mdica aplicada clinicamente tem crescido de

    forma constante nos ltimos anos. Os antroplogos mdicos envolveram-se em projetos

    variados, em muitas partes do mundo, com o objetivo de melhorar a sade e a assistncia

    sade. Muitas pessoas tornaram-se antroplogos clnicos, intimamente envolvidos com o

    cuidado ao paciente em contextos clnicos e hospitalares, muitas vezes como membros de

    uma equipe de assistncia multidisciplinar. Acima de tudo, o nosso objetivo demonstrar o

    significado clnico de fatores culturais e sociais na doena e na sade, na medicina preventiva,na educao em sade e na prtica de prestao de servios de sade.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    CAMPOS, G. W. S.. Sete consideraes sobre sade e cultura.

    CONESQUI, A. M.. Os estudos de antropologia da sade/doena no Brasil na dcada de

    90.

    CUSTDIO, M. I. F.. Antropologia e sade.

    GIGLIO-JACQUEMOT, Armelle. A produo antropolgica sobre a articulao sade,

    religio e corpo.

    HELMAN, C. G.. Cultura, sade e doena.

    LANGDON, E. J.. A construo scio-cultural da doena e seu desafio para a pratica

    mdica.

    LANGDON, E. J.. Dialogando sobre o processo sade/doena com a antropologia.

    MATSINHE, S. F.. Sade, cultura e desenvolvimento.

    OLIVEIRA, F. A.. Antropologia nos servios de sade: integralidade, cultura e

    comunicao.

    SILVA, A. M.. Somatizao em migrantes de baixa renda no Brasil.

    UCHA, E. et all. Antropologia mdica: elementos conceituais e metodolgicos para uma

    abordagem da sade e da doena.

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