relatório tutoria 5
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS:
CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE
CURSO DE MEDICINA.
CLAYTON PARASO MACEDO
EDSON DE JESUS ROCHA
GEORGIA SANTOS ARCANJO
ISABELA LIMA OLIVEIRA
JOO ANTNIO BOMFIM SILVA
LUANA CAMARGO BRITOLUCAS RODRIGUES DA SILVA
LUIZ HENRIQUE ROCHA VIEIRA
PROBLEMA 05: DOENA E CULTURA
RELATRIO DA QUINTA SESSO
TUTORIAL DO MDULO: INTRODUO
AO ESTUDO DA MEDICINA, ORIENTADOPELA TUTORA MARTA MARIA GOMES.
MONTES CLAROS MG
MARO 2011
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Problema 05: Doena e cultura
Sara, 26 anos, residente na zona rural de Januria (MG), era apaixonada por Pedro, que
emigrou, por motivo de trabalho, para So Paulo. Sem noticia deste por longos dois anos,
Sara aceitou o pedido de casamento de Joo, com quem teve um filho. De repente, Pedro
retorna a Januria e Sara abandona Joo para reviver seu grande amor. Tem um filho com
Pedro, que novamente a abandona, antes da criana nascer. Joo, ainda apaixonado, perdoa-a,
aceitando-a de volta e assumindo o filho. Um ano mais tarde, esta criana, aps um quadro de
diarria intratvel, recebe o diagnstico de AIDS. Corroda pelo remorso, Sara se desespera.
Nos ltimos anos, situaes semelhantes tm ocorrido na rea rural do Norte de Minas.
Estudos antropolgicos realizados conseguiram identificar pontos comuns dos casos
diagnosticados com a histria anterior.
Tutora: Prof. Marta Maria Gomes
Coordenadora: Luana Camargo Brito
Relator: Luiz Henrique Rocha Vieira
Questionamentos levantados:
Qual a importncia dos estudos antropolgicos no processo sade/doena?
Como a cultura influencia no processo sade/doena?
De que forma a cultura e as condies econmicas desencadeiam a aquisio de
doenas?
Que acesso as pessoas tm a medidas que previnem DSTs?
Como o medico pode se adequar s diferentes culturas?
Objetivos:
1. Investigar a importncia dos estudos antropolgicos no processo sade/doena.
2. Pesquisar de que forma a cultura e as condies econmicas interferem nesse
processo.
3. Descobrir como a prtica mdica deve se adequar s diferentes culturas.
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Rediscusso do assunto a partir dos avanos obtidos no conhecimento:
A antropologia do grego estudo do homem tem sido chamada a mais cientfica
das humanidades e a mais humana das cincias. Seu objetivo visa ao estudo holstico da
humanidade, de suas origens, desenvolvimento, organizao poltica e social, religies,
lnguas, arte e artefatos. Como campo de estudo, apresenta vrios ramos, um deles a
antropologia mdica.
A antropologia mdica aborda as maneiras pelas quais as pessoas, em diferentes
culturas e grupos sociais, explicam as causas dos problemas de sade. Relaciona-se, tambm,
aos tipos de tratamento nos quais as pessoas acreditam e aos indivduos a quem recorrem
quando, de fato, adoecem. A antropologia mdica , tambm, o estudo de como essas crenas
e prticas relacionam-se s mudanas biolgicas, psicolgicas e sociais do organismohumano, tanto na sade quanto na doena.
Tradicionalmente, os antroplogos em sua maior parte estudam as sociedades de
pequeno porte ou grupos relativamente pequenos em uma sociedade maior. No entanto,
atualmente, muitas das grandes ameaas sade humana como superpopulao, poluio,
aquecimento global, uso abusivo de drogas e a epidemia da AIDS no podem mais ser
confinadas ou tratadas somente no mbito das divisas locais ou nacionais. Em um mundo
cada vez mais mvel e interdependente, esses problemas so verdadeiramente globais, tantona sua origem quanto nos seus efeitos.
No estudo dos seres humanos, faz-se necessrio estudar as caractersticas tanto da
sociedade quanto da cultura. Segundo Keesing, sociedade uma populao marcada por um
relativo afastamento das populaes circunvizinhas e por uma cultura distinta. Ao estudar
uma sociedade, os antroplogos investigam os seus modos de organizao, hierarquias, e
papeis. Essa organizao revela-se em suas ideologias e religies dominantes, em seus
sistemas polticos e econmicos, nos tipos de laos que o parentesco e a residncia contguacriam entre as pessoas, assim como na diviso de trabalho entre pessoas de diferentes origens
e gneros.
As regras que sustentam a organizao de uma sociedade e o modo como ela
simbolizada e transmitida fazem parte da cultura dessa sociedade. De acordo com a definio
de Tylor, cultura aquele todo complexo que inclui conhecimento, crena, arte, moral, lei,
costumes e todas as outras aptides e hbitos adquiridos pelo homem como membro da
sociedade. A partir disso, conclui-se que cultura um conjunto de princpios herdados por
indivduos membros de uma dada sociedade; princpios esses que mostram aos indivduos
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como ver o mundo, como vivenci-lo emocionalmente e como comportar-se em relao s
outras pessoas, s foras sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural.
Antroplogos como Leach tm salientado o fato de as sociedades possurem mais de
uma cultura dentro de suas fronteiras. Ricos e pobres, poderosos e desprovidos, cada um ter
herdado sua prpria perspectiva cultural. Dessa forma, a cultura deve ser considerada dentro
de seu contexto particular. Pode ser impossvel isolar crenas e comportamento puros do
contexto social no qual os comportamentos ocorrem. Por exemplo, difcil para uma famlia
carente aceitar a injeo de uma vacina, que pode ter vrios efeitos colaterais, em uma pessoa
aparentemente saudvel, como medida preventiva. Muitas vezes, autoridades culturais - como
curandeiros - e rituais msticos so considerados alternativas primrias no tratamento e
preveno de doenas. Em algumas partes da frica, acredita-se que relaes sexuais comvirgens servem com tratamento para a AIDS.
No obstante, entender sade e doena requer que se evite responsabilizar a vtima
isto , no se deve encarar a ma sade de uma populao como resultado somente de sua
cultura, deve-se tambm considerar sua situao econmica e social. Os fatores econmicos
so uma causa importante da falta de sade, da que a pobreza pode resultar em m-nutrio,
habitaes superlotadas, roupas inadequadas, violncia fsica e psicolgica, estresse
psicolgico e abuso de drogas e de lcool. Um exemplo prtico da importncia das condiesscio-ambientais so as comparaes dos resultados parciais das catstrofes ambientais
ocorridas no Haiti e no Japo. Enquanto estima-se que um terremoto de 8.9 graus na escala
Richter tenha matado cerca de 10.000 japoneses, outro de 7.4 graus matou aproximadamente
316.000 haitianos e deixou inmeros outros em estado de misria extrema.
De modo geral, portanto, a formao cultural influencia muitos aspectos da vida das
pessoas, inclusive suas crena, comportamentos, percepes, emoes, linguagem, religio,
rituais, estrutura familiar, dieta, modo de vestir, imagem corporal, conceitos de tempo e deespao e atitudes frente doena, dor e a outros infortnios. Contudo, ela no a nica
influncia, apenas uma entre diversas que incluem: fatores individuais (idade, gnero,
tamanho, aparncia, personalidade e inteligncia); fatores educacionais (educao religiosa,
tnica ou profissional); fatores socioeconmicos (classe social, status econmico e ocupao);
alm de fatores ambientais (clima, densidade populacional ou poluio do habitat, infra-
estrutura e servio pblicos ou de sade).
Um aspecto importante da antropologia medica o estudo do ciclo vital humano e de
todos os estgios, desde o nascimento at a morte. Num mbito internacional, a importncia
do estudo antropolgico da infncia vem crescendo devido s implicaes de diversas
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questes sociais para a sade. Entre essas questes, esto o trabalho infantil, o abuso fsico e
sexual das crianas, a ampla prevalncia da prostituio infantil, o aumento do uso de crianas
em conflitos armados e os nmeros crescentes de crianas de rua em muitos pases pobres.
J um ramo relativamente novo da antropologia mdica, a gerontologia transcultural, o
estudo do envelhecer e das atitudes sociais em relao a esse fenmeno em diversas culturas.
Esse ramo vem ganhando importncia, j que o nmero de pessoas idosas est aumentando
rapidamente no mundo. O envelhecimento da populao tambm um desafio crescente para
o modelo de ateno mdica, com sua nfase atual em tratamentos que privilegiam uma
soluo rpida. Um mundo em que um nmero cada vez maior de pessoas sofre de doenas
crnicas (fsicas e mentais) exigir uma mudana significativa no paradigma mdico,
agastando-se dos tratamentos agudos e mais dramticos em direo e um gerenciamento delongo prazo, mais holstico ou seja, da cura para o cuidado.
Outra caracterstica importante do estudo antropolgico que ele fornece elementos
conceituais e metodolgicos aos temas apresentados, o que sistematiza o assunto. A
antropologia mdica, por exemplo, se inscreve numa relao de complementaridade com a
epidemiologia e com a sociologia da sade. Assim, o discurso antropolgico aponta os limites
e a insuficincia da tecnologia biomdica quando se trata de mudar de forma permanente o
estado de sade de uma populao. Ele nos revela que o estado de sade de uma populao associado ao seu modo de vida e ao seu universo social e cultural. Diversos autores ressaltam
a grande influncia que exercem a semiologia popular e as concepes culturais de
causalidade sobre os comportamentos adotados frente s doenas. Eles apontam a
necessidade de enraizarem-se os programas de educao e o planejamento em sade em
conhecimento prvio das formas caractersticas de pensar e agir predominantes nas
populaes junto s quais se quer intervir.
Segundo Geertz, a cultura fornece modelos de e modelos para a construo dasrealidades sociais e psicolgicas. Para ele, a cultura o contexto no qual os diferentes eventos
se tornam inteligveis. Essa concepo estabelece ligao entre as formas de pensar e as
formas de agir dos indivduos de um grupo. Nessa perspectiva considera-se que as
percepes, as interpretaes e as aes, at mesmo no campo da sade, so culturalmente
construdas.
Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de Harvard e, em particular, pelos professores
Arthur Kleinman e Byron Good fornecem os elementos-chave de um quadro terico e
metodolgico para analise dos fatores culturais que intervm no campo da sade. Esses
trabalhos ressaltam a importncia de considerar que as desordens, sejam elas orgnicas ou
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psicolgicas, s nos so acessveis por meio da mediao cultural; a desordem sempre
interpretada pelo doente, pelo medico e pelas famlias. A distino estabelecida por
Eisenberg entre a doena processo (disease) e a doena padro (illness) o elemento
chave desse grupo de estudos. A disease refere-se s anormalidades de estrutura ou
funcionamento de rgos ou sistemas, e a illness experincia subjetiva do mal-estar sentido
pelo doente. De acordo com Kleinman, todas as atividades de cuidados em sade so
respostas socialmente organizadas frente s doenas e podem ser estudadas como um sistema
cultural: health care system, constitudo pela interao de trs setores diferente (profissional,
tradicional e popular).
Nessa perspectiva, o universo scio-cultural do doente visto no mais como
obstculo maior efetividade dos programas e prticas teraputicas, mas como o contextoonde se enrazam as concepes sobre as doenas, as explicaes fornecidas e os
comportamentos diante delas. Esse modelo reorienta a percepo dos aspectos relacionados
efetividade das intervenes em sade. Se considerarmos que a efetividade de um programa
de sade depende da extenso em que a populao aceita, utiliza e participa desse programa,
essa efetividade parece, assim, ser dependente do conhecimento prvio das maneiras
caractersticas de pensar e agir associadas sade nessa populao e da habilidade do
programa em integrar esse conhecimento.O interesse no campo da antropologia mdica aplicada clinicamente tem crescido de
forma constante nos ltimos anos. Os antroplogos mdicos envolveram-se em projetos
variados, em muitas partes do mundo, com o objetivo de melhorar a sade e a assistncia
sade. Muitas pessoas tornaram-se antroplogos clnicos, intimamente envolvidos com o
cuidado ao paciente em contextos clnicos e hospitalares, muitas vezes como membros de
uma equipe de assistncia multidisciplinar. Acima de tudo, o nosso objetivo demonstrar o
significado clnico de fatores culturais e sociais na doena e na sade, na medicina preventiva,na educao em sade e na prtica de prestao de servios de sade.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
CAMPOS, G. W. S.. Sete consideraes sobre sade e cultura.
CONESQUI, A. M.. Os estudos de antropologia da sade/doena no Brasil na dcada de
90.
CUSTDIO, M. I. F.. Antropologia e sade.
GIGLIO-JACQUEMOT, Armelle. A produo antropolgica sobre a articulao sade,
religio e corpo.
HELMAN, C. G.. Cultura, sade e doena.
LANGDON, E. J.. A construo scio-cultural da doena e seu desafio para a pratica
mdica.
LANGDON, E. J.. Dialogando sobre o processo sade/doena com a antropologia.
MATSINHE, S. F.. Sade, cultura e desenvolvimento.
OLIVEIRA, F. A.. Antropologia nos servios de sade: integralidade, cultura e
comunicao.
SILVA, A. M.. Somatizao em migrantes de baixa renda no Brasil.
UCHA, E. et all. Antropologia mdica: elementos conceituais e metodolgicos para uma
abordagem da sade e da doena.
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