relatório técnico - estação do conhecimento - jan a mar 2014
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Relatório Técnico - Estação do Conhecimento - Jan a Mar 2014TRANSCRIPT
R ELATÓR IO T ÉCNICO
A R A R I - M A
J A N A M A R | 1 4
NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO
LOCAL E SUSTENTÁVEL
ESTAÇÃO DO CONHECIMENTO
RELATÓRIO TÉCNICO
NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E SUSTENTÁVEL
ESTAÇÃO DO CONHECIMENTO - ARARI|MA
JANEIRO A MARÇO|2014
1. INTRODUÇÃO
A palavra Arari no tupi-guarani significa arara pequena e também dá nome a um município
maranhense, distante 162 km da capital São Luís, localizado na região da baixada maranhense.
Mesmo com a estrutura de uma pequena cidade do interior, Arari vem despontando no cenário
econômico e cultural do Maranhão em razão de suas festas, que a cada ano alcançam maior
repercussão e atraem até pessoas de outros Estados. Entre as mais conhecidas, estão a Festa de Nossa
Senhora das Graças e o Festival da Melancia, que já fazem parte do roteiro de centenas de turistas
que começam a descobrir o interior do Maranhão e suas peculiaridades.
O município foi fundado por um padre jesuíta português chamado José da Cunha D’Eça e a atividade
econômica da região gira em torno da pesca, da produção de melancia e da colheita de arroz. Devido
a grande produção de grãos, o município já foi considerado o segundo maior produtor do Maranhão,
tanto que um agrônomo da cidade desenvolveu um projeto pioneiro, plantando arroz a partir de uma
muda e não da semente. A ideia deu tão certo que já foi levada até para a Alemanha e serve de
referência para os demais municípios do Estado. (wikipedia)
Percebe-se que em Arari a produção de peixe está ativa em todo o município e é grande a quantidade
de casas que já possui seu açude e já tem seus alevinos em estado de crescimento. Algumas
comunidades, como o Povoado de Escondido, se destacam das demais pela grande produção de
milho.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 1
Arari não foge à regra dos outros municípios maranhense que são cortados pela BR. Diversos
produtos também são vendidos às margens da rodovia, como: milho e seus derivados, maracujás,
ovos, macaxeiras, jamelão (que por aqui é chamado de azeitona) dentre outros produtos.
Andando pelas ruas de Arari é fácil perceber a falta de saneamento básico. Como em todo o Estado,
veem-se águas correndo a céu aberto e o mau cheiro parece não mais incomodar seus habitantes que
circulam normalmente pelo local.
Mesmo Arari sendo referência para o Estado, em determinadas culturas, seus habitantes não tem o
hábito de cultivar verduras e legumes. Todo o produto vem de fora do Estado e pelas informações
coletadas, basicamente do Ceará. A maioria da população nunca viu um pé de beterraba, cenoura e
outros legumes, inclusive quem mora na zona rural vai à cidade para comprar tomates e cebolas, pois
o que se produz na maioria das casas, limita-se a cebolinha em folha e coentro.
Inaugurada em 2011, a Estação do Conhecimento de Arari possui uma área de aproximadamente 50
hectares e sua estrutura conta com uma área para desenvolvimento de esportes, salas de aula e áreas
para desenvolvimento agrícola.
Em dezembro de 2013 foi celebrado convênio entre o Núcleo de Desenvolvimento Humano e
Econômico de Arari ( NDHE) e o Centro Popular de cultura e Desenvolvimento ( CPCD) com o objetivo
de fazer da Estação do Conhecimento de Arari uma usina geratriz de Incubadoras Sociais e
Tecnológicas, geradoras de soluções e novas alternativas de desenvolvimento sustentável e qualidade
de vida, um lugar de formação permanente e aperfeiçoamento ( do aprender fazendo) tornando-se a
curto e médio prazo uma referência, local, regional e nacional.
O Espaço da Estação do Conhecimento é muito amplo, rico e tem porte para produção de média
escala, possuindo uma área grande para cultivo, outra área grande de floresta e ainda 2 açudes e 4
tanques para criação de peixes.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 2
2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O PERÍODO
2.1 - Mobilizações
Iniciamos as mobilizações nas comunidades localizadas no entorno da Estação do Conhecimento:
Bubasa, Muquila, Escondido, Mata e Bamburral.
Iniciamos as conversas com os líderes comunitários e Agentes Comunitários de Saúde que ajudaram
nas mobilizações e articulação das reuniões, onde apresentamos o Projeto e fizemos as inscrições
para as duas oficinas de Permacultura.
Conseguimos fazer em torno de 60 inscrições para a s Oficinas.
Percebemos que os homens pouco se envolveram e quem marcou presença nas reuniões foram os
jovens e as mulheres.
Algo que contribuiu com as mobilizações foi a presença de Dona Conceição ( Presidente do CMDCA –
Conselho Municipal dos Direitos das Criança e do Adolescente )que conhece todas as comunidades e é
muito querida. Outro ponto foi que os ACS (Agentes Comunitários de Saúde) já conheciam o CPCD
desde 2002, quando participaram da capacitação de Educadores Sociais e isso também facilitou a
nossa entrada nas comunidades.
Vale ressaltar que Elistia, a Coordenadora da Estação, participou de forma direta nas visitas e
reuniões em algumas comunidades e contribuiu bastante nas conversas durante as reuniões.
2.2 - Oficinas Básicas de Permacultura
Aconteceram duas oficinas de Permacultura Básica na Estação do Conhecimento nas semanas de 20 a
24 e 27 a 31/01/2014.
Tivemos grande baixa nas inscrições fechando as duas semanas com um total de 29 participantes,
menos de 50% dos inscritos e as justificativas dadas por quem participou giraram em torno da
descrença das comunidades com esse espaço.
A capacitação foi focada na formação de equipe, conceitos básicos de permacultura, zoneamento e
algumas técnicas da permacultura como espiral de ervas, compostagem, mandala, buraco de
fechadura, biofertilizandes e repelentes naturais.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 3
A carga horária foi de 40 horas semanais e 08 horas diárias e as turmas foram bem diversificadas.
Participaram jovens de 16 anos até senhoras de 63 anos e essa heterogeneidade fez com que as
discussões se tornassem mais ricas e amplas. O ponto mais rico das discussões foi o retrato que foi
feito das comunidades no passado, presente e futuro, ou seja, como eram, como estão e como ficarão.
No primeiro dia foi trabalhada a apresentação do Projeto do CPCD em parceria com o NDHE. Foram
apresentadas ainda a pedagogia da roda e o seu significado, dinâmicas de formação de
autoconhecimento e formação de equipe.
No segundo dia foram trabalhados o conceito, a ética e os princípios da permacultura. Exibimos o
vídeo do Globo Rural sobre o Projeto Caminho das Águas e o Sítio Maravilha e discutimos o conceito
de zoneamento. Demarcamos a zona 01, caminhamos por ela, conversamos e sonhamos tudo que
poderia ser feito e também identificamos grandes problemas que afetam diretamente o nosso
trabalho, como as fossas sanitárias poluindo diretamente o solo e provocando contaminação do
mesmo. O lixão da Estação, que antes estava sendo depositado na reserva, agora está localizado ao
lado da casa e está trazendo urubus, ratos e baratas. Fizemos um experimento de um composto
aproveitando o resto de matéria orgânica do lixão que é descartado no espaço, sem nenhum critério
de seleção.
No terceiro dia conhecemos o espaço da zona 02. Discutimos toda a possibilidade dessa área,
retornamos à zona 01 e fizemos uma mandala buraco de fechadura.
No quarto dia conhecemos a zona 3, também discutimos as possibilidades dessa zona e percebemos
o grau de pobreza do solo. Nessa área quase não há matéria orgânica devido a uma raspagem feita
por máquinas que retirou toda a riqueza do solo. Vamos fazer uma adubação verde utilizando
mucuna, feijão de porco, crotalária e feijão guandu.
Neste dia visitamos as áreas de tanques para criação de peixes que também está localizada na zona
3. Pensamos em diversas possibilidades e deu para perceber como os olhos dos participantes das
oficinas brilharam nessa hora; à tarde assistimos e discutimos o filme O Homem que Plantava
Árvores.
No quinto dia andamos pela zona 4 e 5 e vimos a necessidade de interferências e recuperação da
zona 4 que até dezembro do ano passado era o lixão da Estação e ainda sobraram vários montes de
entulho e terra que foram retirados de outros locais da Estação e jogados naquele espaço. Pensamos
em reflorestar com árvores frutíferas nativas e árvores nativas da região.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 4
2.3 - Georreferenciamento
Iniciamos o georreferenciamento na Estação do Conhecimento no Espaço cedido para o CPCD e
depois fomos às comunidades para georreferenciar os pontos luminosos e algumas pessoas que
participaram das oficinas. O propósito é criar um mapa de pontos e pessoas luminosas e que também
dê visibilidade aos trabalhos desenvolvidos pelo Projeto.
2.4 - Criação de Peixes
Para a criação dos peixes, já estamos limpando os tanques e iniciamos a criação de 5.000 alevinos
de tabatinga, no tamanho de 3 a 4 cm denominado alevinão.
Vamos iniciar por essa espécie devido aos tanques ainda serem virgens e por essa espécie ter maior
resistência e também conseguir ganhar peso mais rápido.
Cada tanque tem capacidade para mais de 1.000 peixes. Estamos tendo grande dificuldade de
limpeza, pois os açudes ainda estão muito sujos e com peixes pretos como: traíras, bagres, anojados e
outros que poderão, em pouco tempo, eliminar os alevinos; por isso estamos utilizando cal virgem nos
açudes depois de limpos, para eliminar os possíveis predadores.
Os alevinos foram colocados todos em um único tanque e permanecerão juntos até completarem 1
mês, quando serão distribuidos nos outros três tanques para diminuir a concorrência.
A alimentação é feita com ração purina ( a melhor que temos nessa região)
A escolha da tabatinga para essa primeira safra foi devido ao fato de ser um peixe apreciado na
região e também por ser um espécie que possui grande capacidade de ganho de peso e tamanho;
com 5 a 6 meses teremos peixes de quase 2 quilos.
A criação de peixes está sendo uma grande conquista devido a situação que se encontravam os
açudes, que possuiam uma grande quantidade de matéria orgânica no fundo, dificultando muito a
limpeza dos mesmos
Estação do Conhecimento - Arari|MA 5
2.5 - Adubação Verde
Temos uma grande área onde zoneamos como zona 3 que precisará passar pelo processo de
adubação verde em razão da retirada de grande parte da matéria orgânica do solo.A alternativa
encontrada foi investir no plantio de leguminosas (crotalária, mucuna, leucêna) para melhorarmos a
qualidade do solo e, na sequência plantar as roças de feijão, milho, abacaxi, macaxeira. Esse processo
de adubação verde pode atrasar o plantio por no mínimo 3 meses.
A título de experiência estamos plantando junto, sementes de abóbora e pepino nos pontos menos
alagados para que, mesmo no processo de recuperação do solo, possamos produzir algum alimento.
2.6 - Plantio da Horta Permacultural
No espaço que já íamos iniciar a construção das hortas mandalas identificamos, ainda na formação,
que as fossas sépticas despejam as fezes direto no solo e por estarmos no inverno e a quantidade de
água ser abundante, as terras ficam alagadas, se transformam num grande brejo. A água
abundante enche a fossa, fazendo-a transbordar e escorrer na superfície.Com isto todo o solo fica
contaminado, impossibilitando a construção da horta mandala. Este fato nos fez mudar a estratégia.
Enquanto aguardamos uma solução para a fossa, tivemos que iniciar o trabalho por outro ponto e já
estamos trabalhando em outra área para iniciarmos a construção por lá. A área que restou para o
plantio de hortaliças estava coberta de mato, mas já estamos com funcionários roçando e limpando o
local e já temos técnicos estudando a realidade local, para produção tanto no verão quanto no
inverno.
2.7 - Criação de Aves
Recebemos o aviário com 212 frangos com 1 mês e 4 dias. Inicialmente vimos que os pintos não
estavam tendo o crescimento homogêneo: alguns estavam em estado de evolução avançado e outros
subdesenvolvidos e ainda com aspecto de pintainhas e doentes ( doença que faz os frangos virarem a
cabeça ao contrário e morrem de inanição por não conseguirem comer e beber).
Depois de muitas pesquisas descobrimos que essa doença é nomeada de coquisidiose e geralmente
aparece em aves não vacinadas nos primeiros dias de vida.
Isolamos as aves contaminadas, trocamos as camas de palha e incineramos todas as demais.
Separamos os animais doentes, os subdesenvolvidos e os sadios para cuidarmos de acordo com as
necessidades de cada grupo. Já estão sendo medicados e tomando vitaminas para melhorar o
desenvolvimento.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 6
Recebemos a visita do veterinário que constatou tratar-se de aves de refugo e que provavelmente
poucas vão desenvolver e que para próxima safra devemos avaliar melhor o fornecedor.
2.8 - Consultorias Técnicas Especializadas (Jorge Nava)
Tivemos nos dias 09 e 10 de março a presença de Jorge Nava, Permacultor, Técnico Agricola e
Biólogo. Juntos, estamos buscando soluções para vencer o desafio de produzirmos nas estações
chuvosas e não chuvosas.
Uma grande contribuição dele também diz respeito ao zoneamento local. ( Anexo)
2.9 - Consultoria (Celso Sousa Silva)
Tivemos nos dias de 09/03 a 21/03 consultoria e desenvolvimento de práticas permaculturais com o
Permacultor Celso Souza, coordenador técnico do Sítio Maravilha em Araçuai MG. O objetivo dessa
consultoria foi a articulção de novas ações para melhoria do solo e o sistema de plantio dentro dos
critérios permaculturais.
A principal ação desenvolvida foi a demarcação e divisão das áreas de acordo com o zoneamento
implantado, além de contribuir com a formação dos trabalhadores em permacultura.
Na zona 1 foram feitos canteiros acima do nível do solo em zig zag, intercalados com sistema simples
de drenagem. Esses canteiros são mais produtivos devido a quantidades de bordas, que tem como
objetivo acompanhar a natureza e também facilitar a criação de micro climas.
Avaliamos essa consultoria como extremamente positiva devido a quantidade de informações técnicas
e praticas repassadas para a equipe.
2.10 - Fotos Aéreas com Drone
No mês de março tivemos a presença de uma empresa contratada pelo CPCD para realizar fotografias
aéreas da Estação Conhecimento e das 5 comunidades que serão atendidas pelo Projeto.
Essas fotos servirão para detalharmos o zoneamento de forma mais real e também nos dará
informações concretas da situação ambiental de cada comunidade, além do georreferenciamento
com imagens atuais e nítidas.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 7
3. INDICADORES DE ÊXITO
3.1 - Índices Quantitativos
- 04 Tanques em processo de limpeza.
- 01 tanque com 5.000 alevinos de tabatingas em processo de crescimento.
- 02 ACD’s Agentes Comunitários de desenvolvimento atuantes.
- 02 Tipos de defensivos caseiros produzidos pelos ACD’s para reprodução nas comunidades.
- 02 Tipos de biofertilizandes caseiros produzidos pelos ACD’s para reprodução nas
comunidades.
- 02 Minhocários caseiros produzidos pelos ACD’s para reprodução nas comunidades.
- 02 oficinas de Permacultura.
- 29 pessoas capacitadas em permacultura de 6 comunidades (Arari, Bubasa, Muquila,
Escondido, Mata e Bamburral).
- 05 comunidades georreferenciadas.
3.2 - Índices Qualitativos
- Espaço disponível muito amplo e com excelente estrutura.
- Local dos tanques de peixes propício para produção rápida.
- Reunião nas comunidades e contatos com líderes comunitários e Agentes Comunitários de
Saúde.
- Capacitações de permacultores.
- Zoneamento da área.
- Consultorias Técnicas especializadas.
- Aquisição dos alevinos.
- Atuação dos ACDs.
- Experiências de plantios, biofertilizantes e defensores.
- Doação de mudas de bananas pelos moradores da comunidade Bubasa.
- Fauna e flora muito rica.
- Georreferenciamento da área.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 8
4. INDICADORES DE DIFICULDADES
- Não disponibilização por parte da Estação dos materiais de escritório, sala de treinamento e
maquinários solicitados, dificultando a execução dos trabalhos e cumprimento dos prazos.
- Destino do lixo produzido pela Estação (colocado muito próximo da residência do
Coordenador, facilitando a infestação de pragas como baratas, ratos e urubus.
- Quantidade de cobras em todos os espaços.
- Espaços disponibilizados em estado de abandono e sujeira.
- Grande quantidade de alunos se locomovendo pelo espaço sem acompanhando de
responsáveis.
- Interferências de forma negativa na fauna local.
- Difícil acesso a internet.
- Falta de uma linha telefônica
- Falta de vigilância na parte cedida ao CPCD.
- Problemas na parte elétrica do galpão.
- Falta de água nos finais de semana, devido desligamento da bomba na Estação.
- Falta de comunicação do coordenador do CPCD com a portaria (acesso a rádio para possíveis
eventualidades).
- Não montagem do módulo de treinamento devido a falta de material solicitado.
- Demora ao iniciar as atividades, pois ainda não temos o material e maquinário necessário.
- Contaminação do solo por fezes devido ao vazamento das fossas.
- Dificuldade de acesso aos espaços nos dias chuvosos, devido a quantidade de lama.
- Falha nos transporte e na alimentação dos funcionários do CPCD nos fins de semana.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 9
5. BREVE SÍNTESE
A Estação do Conhecimento de Arari tem um significado para as comunidades em seu entorno que
precisa ser resgatado. O próprio nome diz “Conhecimento”, conhecimento este a ser construído e
descoberto juntamente com pessoas que são atendidas pela estação.
Este projeto propõe transformar o espaço em uma geratriz de incubadoras sociais e tecnológicas, um
novo jeito de contribuir com o desenvolvimento local sustentável, melhorar a qualidade de vida da
população do seu entorno, potencializar os recursos locais. Para isso iniciamos com as primeiras
formações de permacultura, trabalhando a formação de um time comprometido com os princípios da
Carta da Terra. O grupo teve a oportunidade de aprender e ensinar, sonhar com um espaço
referência em práticas agroecológicas/sustentáveis, projetá-lo, se apropriar!
Pouco a pouco superamos os desafios e descobrimos também o potencial das pessoas que moram aos
arredores da Estação. Inicia-se um processo de construção do conhecimento de forma coletiva e
participativa.
Helbert Silva Rodrigues - Coordenador
Núcleo de Desenvolvimento Local e Sustentável
Estação do Conhecimento - Arari|MA
Estação do Conhecimento - Arari|MA 10
6. ANEXOS
6.1 - Permacultura
Permacultura quer dizer cultura permanente. É um jeito de pensar e agir, trabalhar e produzir a partir
de três princípios: o cuidado com a terra, o cuidado com as pessoas e o compartilhamento do
excedente.
Tudo tem que ter, no mínimo, duas funções. Uma planta ajuda a outra a crescer. O que era lixo vira
insumo. Problemas viram oportunidades!
Quando seguimos os princípios da permacultura para organizar as atividades em um lugar,
elaboramos um desenho para utilizar o espaço da melhor maneira, facilitar o trabalho humano,
aproveitar ao máximo as fontes de energia. É o que acontece no Sítio Maravilha. A ideia é que tudo
esteja conectado para que não falte nada e nem haja lixo.
Para conseguir cumprir cada princípio da permacultura basta observar a natureza e se inspirar em
seus ensinamentos. Ela é a educadora maior e nós, eternos aprendizes.
6.2 - Zoneamento
Cada coisa em seu melhor lugar
É a forma de desenhar e organizar a propriedade, pensando em facilitar o cultivo, economizar energia
humana e definir os melhores lugares para cada planta, construção e animal.
Zona 1
Próximo da casa — ficam as hortas, as ervas medicinais, os animais de pequeno porte (galinha,
codorna, coelho), a caixa-d’água, os laguinhos, o banheiro compostável. Tudo o que precisa estar
mais a mão, perto das pessoas. É uma área de coordenação fundamental da mulher, especialmente
em propriedades familiares.
Zona 2
Num segundo círculo, fica o plantio de frutas e de alguns grãos que crescem consorciados com o
pomar.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 11
Zona 3
A zona 3 é sempre o lugar das plantas da região.
É o lugar de culturas como grãos. Em grandes propriedades é o local das pastagens e de criação de
gado.
Zona 4
De acordo com os princípios da permacultura, faz parte do zoneamento da propriedade manter uma
área de reserva na zona 4. Essa área deve ser protegida. A moldura verde do terreno serve para evitar
a entrada de animais estranhos e para proteger as demais zonas de plantio e cultivo.
Em todas as zonas existe a preocupação de valorização da diversidade e da manutenção do solo
protegido com matéria orgânica.
6.3 - Composto orgânico
Alimentando o solo
Composto orgânico é um alimento natural para a terra. Nas florestas, quando folhas secas, frutas
maduras, fezes de animais e outros materiais orgânicos caem, eles se transformam em alimento para
o solo, garantindo seus nutrientes e fertilidade.
Tudo isso é reunido em pilhas, misturado frequentemente, protegido e em até 6 meses de fermentação
e decomposição vira composto orgânico.
Após formar a pilha, revolvemos o material a cada semana. Quanto mais revirar, melhor.
Para testar o andamento da compostagem é necessário fazer testes.
De 2 em 2 dias, cravamos uma haste de ferro no composto. Em 2 minutos dá para saber se está indo
bem. Se, ao toque da mão, estiver muito quente, não está bom: tem que mexer um pouco para
oxigenar ou colocar um pouco de água. Se a haste estiver fria significa que o composto está seco,
precisando também de água. Está bom se a haste sair quente, numa temperatura possível de segurar.
Com termômetro, fica ainda mais preciso: se ele estiver com 40 graus, está pronto. Se estiver com 60
graus, carece de oxigenação e de água. E, se estiver frio, também precisa de água para
compostagem.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 12
O composto estará pronto em cerca de 90 dias, se for revirado semanalmente e a pilha for pequena.
Quando o composto estiver frio, com consistência porosa e uniforme de aparência esbranquiçada,
está pronto para uso. Para usá-lo, passe numa peneira grossa e use para adubar intensivamente
hortas- mandala.
Se fizer uma pilha muito grande, o processo pode durar cerca de 6 meses.
Atenção:
Cuidado ao colocar pó de serragem no composto. Se o pó for de madeira tratada, ele impede
a compostagem;
Não vale colocar terra, que dificulta a entrada do ar e dificulta a compostagem;
O composto pode ser feito diretamente na terra ou em cima de uma lona sem furos;
Caso esteja em terreno inclinado, é importante usar a lona para reaproveitar o chorume
gerado pelo processo e devolvê-lo ao composto;
Para enriquecer o composto contra fungos e bactérias, adicione a uma das camadas de
matéria seca um monte de folhas de neem (10 cm no máximo).
6.4 - Adubação verde
Preparando o solo...
A adubação verde é o preparo do solo para a produção principal, por meio do cultivo de
determinadas plantas forrageiras e/ou leguminosas. Essa cobertura verde serve para fertilizar o solo e
condicioná-lo para futuras culturas.
Nessa prática o plantio é feito por um tempo determinado. Antes que a planta cresça completamente,
ela é cortada para incorporar nutrientes ao solo.
A adubação verde evita erosão e compactação do solo, retém água e nutrientes na terra, espanta
ervas daninhas e busca nutrientes profundos (por meio das longas raízes das leguminosas).
6.5 - Espiral de ervas
Pouco espaço e muitas ervas! Ao alcance das mãos.
As espirais são uma forma constante observada na natureza, encontrada nas conchas, nas
constelações... Esse desenho pode ajudar em jardins, hortas e no plantio de ervas.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 13
Na espiral é possível que o canteiro tenha espaços com umidades diferentes entre si, o que é favorável
a plantas com necessidades diversas. No alto ficam as plantas que gostam mais de calor e menos de
água. No espaço curvo, onde há sombra, ficam as que pedem mais umidade e sombra.
As espirais de ervas têm cerca de 1 m de altura e 1,6 m de diâmetro para facilitar o manejo. Devem
ficar bem próximas à porta da cozinha, para as ervas ficarem “à mão” a qualquer hora (na cozinha ou
como remédio).
Veja algumas dicas das ervas e do nível de umidade que cada uma prefere:
Sol: alecrim, alho, arruda, artemísia, babosa, boldo-do-chile, capim-santo, cebolinha, confrei,
funcho, guaco, melissa, pimenta, salsa, sálvia;
Meia sombra: estragão, losna;
Sombra: alfavaca, arnica-de-jardim, carqueja, cavalinha, coentro, gengibre, hortelã, malva,
manjericão, novalgina, poejo, tomilho.
6.6 - Mandala
Juntos somos fortes
Um canteiro circular de diferentes hortaliças é uma prática permacultural das mais conhecidas. Facilita
o manejo, a retenção e a drenagem da água, economiza energia humana e diminui a concorrência
entre as plantas por causa das suas bordas. Ainda, evita a incidência dos fortes raios solares e o
ataque dos pássaros.
A produção pode ser maior e melhor dessa maneira.
A mandala deve ser plantada na época da germinação das sementes.
Como fazer a mandala?
Para fazer a mandala, é preciso um barbante ou arame, duas estacas de madeira e uma trena! Siga
esse passo-a-passo:
1) Para desenhá-la no chão, marque o centro exato da mandala no terreno.
2) Fixe a estaca de madeira neste lugar e prenda um arame ou barbante, de modo que possa girar
livremente.
3) Determine a medida do raio da mandala e amarre a 2ª estaca na outra ponta do barbante /
Estação do Conhecimento - Arari|MA 14
arame.
4) Gire, obtendo o círculo do tamanho desejado. Faça de acordo com o desenho ao lado.
É possível construir a mandala com pedras, pedaços de madeira, garrafas pet, telhas usadas, tijolos e
bambu (pela nossa experiência, o bambu tem menos durabilidade que os outros materiais).
6.7 - Controle da capina
Amigos do mato
Mato não serve só para dar trabalho, mas para proteger a horta do ataque de pássaros, das pragas e
também para evitar a evaporação da água.
Por isso, não capinamos tudo, deixamos um bocado de mato na horta. Ele orna com as nossas
mandalas!
O negócio é controlar o tamanho do mato, roçando ou limpando sem arrancar. O processo de
secagem da terra roçada demora muito mais do que quando capinamos.
6.8 - Quebra-vento
Proteção natural
Para abrigar as plantações dos ventos são plantadas árvores em linha para evitar a ação direta do
vento sobre as mais frágeis ou leves. Uma planta protege a outra.
Essa estratégia contém a força do vento e seu efeito negativo sobre algumas plantas mais frágeis, que
ficam nas zonas mais internas da propriedade.
6.9 - Plantas repelentes
Proteção natural contra pragas
Cravo-de-defunto, pimenta, gergelim, neem indiano. Essas plantas espantam mosquitos e pragas das
plantações, ou nos ajudam a perceber alguma ameaça à saúde das hortas, frutas e ervas. Ao lado de
mandalas e de espirais, as plantas repelentes são aliadas da boa produção!
Além disso, há várias receitas de repelentes naturais que podem ser colocados na terra antes do
cultivo, para prevenir pragas.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 15
6.10 - Zoneamento Proposto para a Estação de Arari
Estação do Conhecimento - Arari|MA 16
6.11 - Relatorio de Consultoria Especializada em Permacultura - Estação Conhecimento - Arari/MA -
Ma
Inaugurada em 2011, a estação ocupa uma área de aproximadamente 50 hectares e sua estrutura
conta com equipamentos esportivos (piscina semi-olímpica, pista de atletismo e campo de futebol),
salas de aula e áreas para o desenvolvimento agrícola. São cerca de 900 beneficiados, entre 5 e 18
anos, participando de modalidades esportivas, oficinas de convivência e cidadania, arte e cultura,
além de cursos de qualificação profissional. No início de 2014 foi iniciada uma parceria da estação
com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) para desenvolvimento das atividades
rurais.
Esta parceria visa implementar, dentro da estação, uma unidade demonstrativa de permacultura, para
produção de alimentos para os jovens que fazem uso daquele espaço.
Para tanto, faz-se necessário um estudo da área a ser utilizada, uma vez que o clima local possui suas
particularidades: seis meses de chuva, e seis meses de sol.
Diante desses fatores, foram realizadas atividades no período de dois dias, conforme especificado
abaixo:
ZONEAMENTO: Foi trabalhado em cima de um pré-projeto já existente, onde foram feitas as
adequações necessárias, redefinindo as zonas de implantação do sistema permacultural.
Dentro da ZONA 1, definimos o local da construção da horta, sendo um dos locais com uma pequena
elevação, comparadas com as demais, em razão do período chuvoso, e em razão da área alagar em
período chuvoso. O sistema a ser utilizado será um sistema utilizado na Amazônia brasileira
denominado plasticultura, em razão do período de excesso de chuva em determinado período
especifico.
Alem disso, observou-se a necessidade da realização do serviço de terraplanagem no local escolhido,
para elevar um pouco o nível da área.
Também dentro da Zona 1, foi escolhido o local de construção do galinheiro, o qual terá interação
com a horta, em sistema de piqueteamento.
Nesta mesma ZONA, mais próximo a ZONA 0 (Casa), foi delimitado área para construção de viveiro,
Estação do Conhecimento - Arari|MA 17
haja vista a enorme demanda de mudas, de diferentes espécies, para suprir a necessidade do projeto.
Alem disso, faz-se necessária a construção de um Açude na ZONA 1, para suprir a necessidade de
água. O referido açude teria a função, tanto de coletar a água das áreas encharcadas (levadas por
canais de captação), quanto para irrigação das hortas nos Períodos de estiagem.
Zona 1 - Área que será utilizada para implantação da horta e galinheiro
Estação do Conhecimento - Arari|MA 18
Na ZONA 2, foi demarcada como área de floresta de alimentos para implantação de espécies
amazônicas e espécies endêmicas da região, tudo em razão do clima local, características do solo,
haja vista o local ser demasiadamente alagado em determinado período do ano.
A Floresta de Alimentos será iniciada com o plantio de espécies leguminosas para enriquecimento do
solo, já identificados no local junto com os técnicos do CPCD, dentre elas a Puerária, Leucena e o
Desmodium. Posteriormente, será implantada as espécies frutíferas com produção de curto prazo,
dentre elas, banana, mamão, etc.
Zona 2 - Local de implantação da Floresta de Alimentos
Estação do Conhecimento - Arari|MA 19
Na ZONA 3, local escolhido para produção de grãos: milho, feijão, etc. Este local foi escolhido por ser
mais próximo dos Açudes já existentes no local, haja vista a necessidade de irrigação na época de
estiagem, que tem duração de 06 meses. Nesta zona também faz-se necessário a inicialização de
processo de recuperação de área por está degrada. Tal recuperação também se dará com o plantio de
espécies leguminosas e outras espécies para produção de biomassa para enriquecimento da área.
Zona 3 – área escolhida para produção de grãos.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 20
A ZONA 4 ficou delimitada por já haver os Açudes construídos na área, a qual terá duas finalidades: a
produção de alimentos (peixes) e irrigação das demais áreas, uma vez que pode ser feita a irrigação
por gravidade, já que os Açudes foram construídos em um nível mais alto que a ZONA 3. A orientação
dada pela consultoria foi de que precisará ser feita limpeza ao redor dos Açudes, bem como o plantio
de espécies frutíferas que servirão de alimento para os peixes, como por exemplo, o Açaí e outras
espécies da região.
Zona 4: Açudes já existente no local para produção de Alimento e irrigação.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 21
A ZONA 5 é uma área de reserva já existente no local, formada por uma floresta secundária de
aproximadamente 20 anos. Destaca-se que, dentro dessa área existia um local onde eram depositados
entulhos e lixo da Estação, necessitando, agora, passar por um processo de recuperação da área, com
a inserção de espécies florestais para enriquecimento da mesma, onde posteriormente podem ser
criadas trilhas para caminhadas e observação de um sistema em estágio de recuperação e
conservação.
Alem disso, observou-se a necessidade das seguintes providências:
1. Delimitação de todos as áreas com espécies frutíferas, e recuperação dos acessos já existentes e
criação de novos acessos a todas as áreas já planejadas durante consultoria;
2. Construção de canais de captação para drenagem próximo a ZONA 0 (casa), por ser uma área de
charco em determinado período do ano.
Zona 5: Áreas alagadas ao redor da ZONA 0.
Estação do Conhecimento - Arari|MA 22
Recuperação e construção para o saneamento básico da casa (ZONA 0), como fossa séptica para o
tratamento de águas negras (vaso sanitário) e águas cinzas (pias e chuveiros);
Sistema de saneamento básico precário (alagado).
Identificou-se a imensa necessidade de aquisição de maquinas e implementos para a execução das atividades em todas as ZONAS, por ser uma área de mais de 30 hectares, dentre eles: um trator grande com roçadeira, furadeira, arado, grade e carreta agrícola, para manter todas as zonas limpas (roçagens, gradagens, perfurações de covas para plantio de espécies, transporte de solo de um local para outro, etc.)
Finalmente, desejamos que este Projeto seja uma janela de possibilidades para todos os que com ele tenham contato, contribuindo para a educação e conscientização da sociedade para a preservação da flora e fauna da região. E que as comunidades quilombolas locais, espelhem-se em uma agricultura mais ética, ou seja, cuidando do planeta, cuidando das pessoas, e repartindo os excedentes. Deixando de lado os insumos químicos, que causam degradação dos sistemas naturais, passando utilizar o que a natureza dispõe, sem custo algum.
Jorge Paulo Nava - Técnico Agrícola, Biólogo e Permacultor Manaus, 17 de março de 2014
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