relatÓrio tÉcnico - cientÍfico · de citrato de alumínio (ca) para um grupo e salina (s) para...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA –
PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PRODOUTOR,
PIBIT E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período : agosto/2014- a julho/2015
( ) PARCIAL
( x ) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa: Avaliação histopatológica renal de ratos intoxicados com
citrato de alumínio.
Nome do Orientador: Marcia Cristina Freitas da Silva
Titulação do Orientador: Doutor Neurociência e Biologia Celular
Faculdade : Enfermagem
Instituto/Núcleo: Instituto de Ciências Biológicas
Laboratório: Ciências aplicadas
Título do Plano de Trabalho: Avaliação imunohistoquimica renal em ratos Wistar após
exposição crônica ao alumínio.
Nome do Bolsista: Ricky Falcão S Trindade
Tipo de Bolsa: PIBIC/PRODOUTOR
1. INTRODUÇÃO
O alumínio é o metal mais comumente encontrado na crosta terrestre, não
aparece isolado em seu estado elementar, entretanto, apresenta-se em forma de vários
tipos de silicatos como bauxita e criolita. Quando exposto a água, ao oxigênio ou a
outra substância oxidante, forma-se uma camada superficial de óxido de alumínio, o que
lhe permite ser o metal com considerável resistência à corrosão (SZURKALO, 2009).
A grande reatividade do alumínio iônico é explicada por sua alta valência (+3) e
seu pequeno raio atômico, em alta temperatura tem a capacidade de reduzir cátions de
vários metais pesados ao estado metálico o que impede a evaporação (SANTOS, 2003).
Existem usos do alumínio que são reconhecidamente poluentes: a indústria, por
exemplo, onde a poluição ocorre principalmente de forma indireta através da emissão de
substâncias como o dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio e a mineração
(CARNEIRO, 2004). Nessas atividades geralmente ocorre a poluição indiscriminada da
atmosfera, rios e lagos que podem trazer riscos à vida considerando a enorme
quantidade de rejeitos produzidos (AMBIENTAL, 2008).
Suas principais vias de introdução e absorção são as vias oral, respiratória,
parenteral e cutânea. A taxa de absorção é muita baixa em estado clínico normal,
quando alcança a corrente sanguínea liga-se a algumas proteínas de baixo peso
molecular principalmente transferrina e à albumina (SANTOS, 2003). O
armazenamento ocorre principalmente nos pulmões e ossos, todavia ainda é distribuído
para o fígado, rins e tecidos cerebrais. Tem capacidade de atravessar as barreiras
hematoencefálica e fetoplacentária.
A água potável, os utensílios de cozinha e embalagem de alimentos são formas
de exposição ao metal, mas também está presente nos antiácidos e aspirina (DANTAS
et al., 2007; FERREIRA et al., 2008). Ele está presente naturalmente na água (em
pequenas quantidades), mas em processos de tratamento hídrico pode ser adicionado o
sulfato de alumínio por ser um ótimo agente coagulante (VAZ, 2010). A contaminação
da água pode ocorrer por destino incorreto de resíduos das mineradoras. Está presente
também na dieta mundial pela utilização de utensílios domésticos feitos a partir do
metal pois partículas de alumínio podem ser retiradas no processo de cozimento de
alimentos (DANTAS et al., 2007).
2. JUSTIFICATIVA
O alumínio é utilizado no setor de transporte, de energia, embalagem e faz parte
de muitos móveis e objetos de nosso dia a dia (ABAL, 2010), sendo improvável que não
haja contato diário com o metal.
Alguns estudos comprovam a toxicidade do metal principalmente ao que se
refere a dano neural. A intoxicação experimental em ratos da linhagem Wistar com
citrato de alumínio resultou em acúmulo do metal no soro e no hipocampo dos animais
provocando estresse oxidativo e ainda prejuízos nos mecanismos de aprendizagem e
memória (SILVA JÚNIOR, 2013). Há evidências também de relação com o
aparecimento de Alzheimer (FERREIRA et al., 2008).
As diferentes espécies de alumínio, orgânico e inorgânico, podem produzir uma
variedade de alterações fisiológicas. Cunat e colaboradores (2000) verificaram que o
alumínio é melhor absorvido quando presente em sais de citrato que em outros sais, e
por apresentar farmacocinética particular, em doses equimolares consegue diminuir a
ação tecidual de cristais de oxalato e parece ter uma margem maior de segurança do que
outros sais de alumínio (LOTE et al., 1995; GUO e MCMARTIN., 2007).
Há estudos sobre mudanças na função renal do rato após exposição crônica ao
alumínio, estas ocorrem sem mudanças nos marcadores de filtração glomerular (TAN et
al., 2007; REITER et al., 2008; MAHIEU et al., 2009), apesar deste metal ser pro
oxidante in vitro e in vivo (EXLEY, 2004), ocasionando uma alteração no sistema
glutationa, peroxidação lipídica e catalase (MAHIEU et al., 2005). Também tem efeito
inibitório na atividade de Na+–K+ATPase (SILVA et al., 2005). Ji e colaboradores
(2011) observaram após exposição crônica ao alumínio estreitamento dos túbulos
renais, vasos dilatados e glomérulos necróticos. Dada a importância da célula endotelial
para a homeostasia renal e do processo inflamatório para o estabelecimento de doenças
renais, foram utilizadas marcações imunohistoquimicas para avaliar o dano renal pela
exposição crônica ao citrato de alumínio.
3. OBJETIVOS
3.1- GERAL
Analisar a imunohistoquimica renal em ratos submetidos a intoxicação crônica com
100 mg/kg de citrato de alumínio.
3.2- ESPECIFICOS
Investigar o comprometimento inflamatório no parênquima renal após intoxicação
crônica com 100 mg/kg de citrato de alumínio.
Avaliar o comportamento dos macrófagos como reguladores principais da
inflamação após intoxicação crônica com 100 mg/kg de citrato de alumínio.
Determinar a integridade das células endoteliais frente à intoxicação crônica com
100 mg/kg de citrato de alumínio.
4. METODOLOGIA
Foram utilizados ratos albinos da espécie Rattus novergicus, linhagem Wistar,
machos, experimentalmente ingênuos com peso entre 200 e 250 g com 2 meses de vida
fornecidos pelo Biotério central da Universidade Federal de Pará (UFPA). Todas as
condições experimentais e os procedimentos éticos estiveram de acordo com as normas
locais do Comitê de Ética em Pesquisa com animais experimentais, onde o presente
trabalho foi submetido e aprovado.
A intoxicação dos animais experimentais foi realizada através da administração
de citrato de alumínio (CA) para um grupo e salina (S) para outro grupo na dose de 100
mg/kg injetada em um volume de até 1 ml por via oral (gavagem) por 30 dias de acordo
com o peso do animal conforme protocolo descrito por Silva Júnior et al., 2013.
A dosagem da concentração de alumínio no soro foi realizada por analise direta
através da técnica de absorção atômica em forno de grafite (GF AAS).
O preparo das amostras biológicas para a realização das reações
imunohistoquímicas, seguiram o mesmo protocolo para inclusão em parafina. Após,
ocorreu a recuperação antigênica , incubação com anticorpos primário e secundário para
observação das marcações no tecido renal.
As reações realizadas neste trabalho foram para detecção de células endoteliais e
periquitos (CD 34), linfócitos (LCA) e macrófagos (CD 68).
Todas as lâminas imunohistoquímicas produzidas neste trabalho foram
submetidas às técnicas descritas acima incluindo os animais controle e expostos.
Toda a análise foi realizada com o auxílio do microscópio de luz comum Axio
Star Plus da Zeiss e a documentação fotomicrográfica, com o uso do microscópio com
DS-U3 Câmera Digital Control Unit Nikon – Nikon upright Microscope – Eclipse-Ci-
S/Ci-L.
Para analise estatística foi usado a analise de variância (ANOVA) teste de
Tukey. O nível de significância adotado neste estudo foi p<0,05.
5. RESULTADOS
1. DOSAGEM DE ALUMINIO NO SORO DE RATOS ADULTOS
A dosagem de alumínio no soro dos animais demonstrou que o grupo
intoxicado apresentou a concentração média de 5000±43 µg/l no final dos 30 dias de
intoxicação.
Figura 1: Concentração de Alumínio no soro de ratos adultos após 30 dias de
intoxicação. Houve diferença significativa entre os grupos estudados
(p<0,05, ANOVA/Teste Tukey)
2. IMUNOHISTOQUIMICA NAS LÂMINAS DE RIM DE RATO
A reação imunohistoquímica para a detecção de células endoteliais e pericitos
(CD34) em células renais de ratos mostrou positividade nas paredes dos vasos
sanguíneos nos animais expostos com citrato de alumínio semelhante aos animais
controle. (Figura 2)
Figura 2: Fotomicrografia de rim de rato após reação imunohistoquimica para CD 34.
As setas indicam as células endoteliais nos vasos renais do controle (A1) e exposto
(A2). Aumento original 100x
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Citrato de aluminio Salina
Co
nce
ntr
açã
o d
e A
lum
inio
no
soro
µg/l
A 1 A 2
A reação imunohistoquímica para a detecção de comprometimento inflamatório no
parênquima renal mostrou que não houve deflagração da resposta imunológica nos
animais tratados. A fotomicrografia mostra a semelhança entre o controle e o exposto
(Figura 3).
Figura 3: Fotomicrografia de rim de rato após reação imunohistoquimica para LCA.
Não foi observado infiltrado linfocitário no controle (Aumento original 20x, B1) e
exposto (Aumento original 40x, B2).
A reação imunohistoquímica para a detecção dos reguladores principais da
inflamação no rim (CD 68) mostrou que não houve marcação de células do sistema
macrofágico mononuclear.(Figura 4)
B 1 B 2
Figura 4: Fotomicrografia de rim de rato após reação imunohistoquimica para CD 68.
Observa-se que reação negativa para as lâminas do controle (C1) e do exposto (C2)
Aumento original 100x.
6. DISCUSSÃO
O rim apresenta sensibilidade aumentada a tóxicos devido ao elevado fluxo
sanguíneo, ser um local de liberação de metabólitos além de ter a habilidade de
concentrar a urina. Com isto, metais, como o alumínio podem causar danos renais
(Zhuo, 2008; Ji et al., 2011).
O modelo de intoxicação utilizada no presente estudo foi baseado no trabalho de
Silva Junior (2013), no qual o alumínio induziu alterações em regiões hipocampais,
como rarefação no número de células e desorganização celular, e na imunomarcação
para proteína ácida fibrilar glial (GFAP) detectaram alterações na reatividade.
As doenças renais crônicas são caracterizadas por processos patogênicos como
disfunção endotelial e desregulação imunológica. Em intoxicação por cloreto de
alumínio, Shi–liang e colaboradores (2013) observaram danos tubulares e nos capilares
renais. Neste estudo, a exposição a 100 mg.Kg -1
de citrato de alumínio por trinta dias
C 1 C 2
consecutivos não deflagrou resposta inflamatória apesar do metal ter sido absorvido e
esta em concentração elevada no soro.
A concentração do alumínio encontrada no soro neste estudo no grupo exposto
foi elevada, mas não acumulou no tecido renal, talvez pelo fato do adjuvante , apesar de
amplificar a absorção no tecido nervoso, não ter sido efetivo no parênquima renal. Na
literatura, os compostos de alumínio formados com cloretos (Ji et al., 2011; Shi-lang et
al., 2013) e fosfetos (Gibbs e Sevigny, 2007; Fritschi et al., 2008; Sim et al., 2009)
induzem danos severos no parênquima renal, enquanto hidróxidos e fosfatos apresentam
riscos baixos quando utilizados como adjuvantes nas vacinas (Mitkus et al., 2011).
Neste modelo experimental, a intoxicação crônica por citrato de alumínio em
Rattus norvergicus, o metal não deflagrou resposta inflamatória e não alterou as células
endoteliais renais.
7.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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