relatório socioeconômico - nova olinda i

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Page 1: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I
Page 2: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

Ah! Meu Arapiuns, Maró e Aruã Teus filhos defendem o teu amanhã Não cuidar de ti já reflete para nós Os momentos difíceis do rio Tapajós Ah! que lindo é cantar os teus encantos mil Tu és um pedaço do nosso Brasil Lindo paraíso que a Amazônia tem Orgulho da nossa grande Santarém…

Meu Arapiuns- Célio Costa

Page 3: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

Redação do texto

Regina Oliveira da Silva Márlia Regina Coelho Ferreira

Equipe do Projeto Regina Oliveira Dra. em Desenvolvimento Sustentável – MPEG

Márlia Coelho Ferreira Dra. em Etnobotânica – MPEG

Juarez Pezzuti Dr. em Ecologia - UFPa/NAEA

Jorge Luis Gavina MSc. em Sensoriamento Remoto - MPEG

George Rebelo Dr. em Ecologia- INPA colaborador

Adria Oliveira Bióloga - Colaboradora

Adna Albuquerque MSc em Ciências Biológicas - Colaboradora

Célio Alado Costa Associação. Tapajoara - apoio às atividades de campo. Raimundo Lambia Delegado Sindical - apoio as atividades de campo

Daiana Costa Digitação banco de dados.

Manuela Weirss Mestranda em Ecologia- colaboradora Ronize Santos MSc em Botânica -colaboradora Equipe do levantamento sócio econômico

Idelbergue Ferreira Araújo (IDEFLOR). Raquel Araújo Amaral, Janildo da Silva Aviz, Ednelson Saldanha Correa, Rubens Emanuel François (EMATER-PARÁ) Domingos Ferreira Pereira (STTR – Santarém); Tiago Daniel Amaral Teixeira (IESPES); Silvanei Rodrigues Correia (PSA); Glauber Oliveira, Larissa Almeida, Max Campos (UFRA);

Fotógrafo: Celivaldo Carneiro.

Designer Gráfico: Williams Cordovil

Page 4: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

THE FORD FOUNDATION Escritório do Brasil

Page 5: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

Lista de Tabelas Tabela 1. Comunidades nos rios Maró e Aruã, com o número de famílias

identificadas e entrevistadas. 20

Tabela 2. Número de entrevistados por gênero nos rios Maró e Aruã. 21

Tabela 3. Situação fundiária as comunidades do Rio Maró. 22

Tabela 4. Situação fundiária das comunidades do Rio Aruã. 23

Tabela 5. Abastecimento de água nas comunidades da Gleba Nova Olinda 31

Tabela 6. Tratamento da água consumida nas comunidades da Gleba Nova Olinda I 32

Tabela 7. Destino do lixo nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. 34

Tabela 8. Organização social em que participam os moradores da Gleba Nova

Olinda I. 35

Tabela 9. Utilização da floresta primária e de capoeiras pelos moradores dos Rios

Maró e Aruã, Gleba Nova Olinda I. 38

Tabela 10. Formas de uso da floresta primária mencionados pelos moradores dos

Rios Maró e Aruã, Gleba Nova Olinda I. 38

Tabela 11. Usos de capoeiras mencionados pelos moradores dos Rios Maró e Aruã,

Gleba Nova Olinda I. 38

Tabela 12. Produtos oriundos do extrativismo vegetal na Gleba Nova Olinda I. 39

Tabela 13. Produção agrícola por rio na Gleba Nova Olinda I. 43

Tabela 14. Frutíferas presentes nos quintais das famílias residentes dos Rios Maró e

Aruã, Gleba Nova Olinda I 46

Tabela 15. Produção média semanal de caça realizada pelos moradores dos Rios

Maró e Aruá, Gleba Nova Olinda I. 47

Tabela 16. Produção média semanal de peixe pelos moradores dos Rios Maró e

Aruá, Gleba Nova Olinda I 47

Tabela 17. Itens alimentares mencionados pelos moradores dos Rios Maró e Aruã,

Gleba Nova Olinda I. 50

Tabela 18. Exemplos de recursos extrativistas citados durante o mapeamento do uso

dos recursos pelos moradores dos rios Aruã e Maró. 63

Tabela 19. Projetos das comunidades apresentados na oficina. 74

Quadro 1. Religião dos moradores das comunidades da Gleba Nova Olinda I. 27

Page 6: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

Lista de Figuras Figura 1. Mapa do conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns. 11

Figura 2 . Aspectos da vegetaçao da região 15

Figura 3. Aspectos das comunidades da Gleba Nova Olinda I 19

Figura 4. Faixa etária dos filhos e filhas das famílias entrevistados nas comunidades

dos rios Aruã e Maró. 24

Figura 5. Faixa etária dos esposos e esposas das famílias entrevistas nas

comunidades dos Rios Aruã e Maró 25

Figura 6. Origem dos moradores entrevistados no Rio Aruã. 26

Figura 7. Origem dos moradores entrevistados no Rio Maró. 27

Figura 8. Grau de escolaridade dos filhos dos moradores das comunidades da Gleba

Nova Olinda I. 30

Figura 9. Aspectos cotidianos das comunidades da Gleba Nova Olinda I. 33

Figura 10. Origem da renda das famílias da Gleba Nova Olinda I. 36

Figura 11. Valor da renda obtida pelas famílias da Gleba Nova Olinda 37

Figura 12. Utilização dos recursos naturais do extrativismo. 42

Figura 13. Aspectos da produção de farinha nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. 44

Figura 14. Animais caçados e pescados pelos moradores da Gleba Nova Olinda I. 48

Figura 15. Presença de área já desmatada na Gleba Nova Olinda I. 52

Figura 16. Presença de desmatamento em mata ciliar na Gleba Nova Olinda I. 53

Figura 17. Presença de área queimada na Gleba Nova Olinda I. 53

Figura 18. Presença de madeireiros na Gleba Nova Olinda I. 54

Figura 19. Presença de equipamentos de exploração madeireira nas comunidades da

Gleba Nova Olinda I. 55

Figura 20. Repasse das informações nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. 59

Figura 21. Moradores mapeando suas áreas de uso. 61

Figura 22. Mapas de uso dos recursos construídos em campo. 62

Figura 23. Mapa de uso da comunidade Novo Paraíso processado em ArcGIS. 64

Figura 24. Mapa de uso da comunidade Mariazinha processado em ArcGIS. 65

Figura 25. Grupos de trabalho nas comunidades – Oficina de capacitação 67

Figura 26. Atividades de grupo na oficina de elaboração de projetos 69

Page 7: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

APRESENTAÇÃO

Este relatório apresenta os resultados do Projeto de

Desenvolvimento Comunitário: Fortalecimento da Economia

Agroflorestal e Extrativista das Comunidades na Gleba Nova

Olinda I, cujo objetivo foi elaborar, em parceria com as

comunidades locais, propostas para projetos de

desenvolvimento comunitário com bases sustentáveis, que

permitam a essas comunidades usufruir da biodiversidade

local e melhorar sua qualidade de vida. A Gleba Nova Olinda

I, situa-se no oeste do Pará, na região das cabeceiras do rio

Arapiuns, nos municípios de Santarém e Juruti. Fizeram parte

deste projeto, 13 das 14 comunidades distribuídas entre os

rios Aruã e Maró da Gleba Nova Olinda I.

Este documento é constituído de três partes: uma, refere-se à

análise do questionário sócio-econômico aplicado, sob a

coordenação do Ideflor em julho de 2008 e realizada pela

equipe deste projeto; a segunda, diz respeito a Ia Oficina de

capacitação e elaboração de projetos, proposta e executada

em cada uma das 13 comunidades da Gleba, ocasião em que

as informações geradas na etapa anterior foram apresentadas

aos comunitários e discutidas com eles, e o mapeamento

participativo de uso dos recursos foi realizado; a terceira parte

expressa as atividades desenvolvidas na IIa Oficina de

Elaboração de Projetos, com participação de 14 comunitários,

representando sete comunidades. As duas últimas partes

foram executadas pela equipe de consultores do MPEG e

UFPa/NAEA.

A finalização do Projeto se dará com a Oficina de Negociação

dos projetos comunitários, capitaneada pelo Ideflor e para a

qual foram convidados os agentes financiadores.

Page 8: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

INDICE

Índice de figuras

Índice de tabelas e quadros

Apresentação

1. Introdução 10

2. Caracterização ambiental da área 12

3. Origem das comunidades 16

PARTE I DIAGNÓSTICO SOCIOECONOMICO

I.1 Aspectos fundiários e demográficos 21

I.2. Aspectos sociais 26

I.2.1. Origem dos moradores 26

I.2.2. Religião 27

I.2.3. Documentação Civil 28

I.2.4. Educação 28

I.2.5. Saúde 30

I.2.6. Infra estrutura e saneamento básico 31

I.2.7. Organização social 34

I.2.8 Origem da renda e salários das famílias 36

I.3 Uso dos recursos naturais 37

I.3.1. Extrativismo vegetal 39

I.3.2. Produção agrícola 43

I.3.3. Caça e pesca 47

I.3.4. Dieta 49

I.4 Conflitos 51

I.41. Desmatamento e queimadas na área 51

I.4.2 Presença de madeireiros e de equipamentos de exploração

madeireira na área 54

PARTE II REPASSE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E CAPACITAÇÃO

II.1.O repasse do diagnóstico e apresentação da proposta do projeto 57

II.2 Mapeamento participativo 59

II.3 Oficina de capacitação 66

PARTE III OFICINA DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS COMUNITÁRIOS

Page 9: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

III.1 A dinâmica da oficina 68

III.2 Os projetos comunitários 72

CONSIDERAÇÔES FINAIS 77

DIRETRIZES PARA O PLANO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DA GLEBA NOVA OLINDA I

81

Literatura citada 84

Page 10: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

10

1- INTRODUÇÃO

O Estado do Pará possui mais de 71 milhões de hectares de Florestas

Públicas, dos quais 15.715.019,759 hectares (22,09%) são Florestas Públicas

Estaduais. As florestas públicas são divididas em duas categorias: florestas

destinadas (onde o Estado já definiu sua utilização) e florestas não destinadas

(áreas de florestas com terras estaduais porem sem destinação definida).

Há uma concentração das áreas de florestas públicas estaduais no Oeste e

Norte do Estado do Pará. As florestas públicas não destinadas, segundo o Instituto

de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), encontram-se nas áreas

de glebas estaduais que correspondem a 4.245.900,335 hectares e estão em

processo de identificação. O governo do Estado, por intermédio do Instituto de

Terras do Pará (Iterpa) e do Ideflor, já identificou povos e comunidades tradicionais

localizados na região de entorno das áreas prioritárias para concessão florestal,

previstas no Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF). Estes estão concentrados

nas Glebas Mamuru-Arapiuns, Nova Olinda II e Gleba Nova Olinda I. Nestas glebas

já se iniciaram atividades governamentais para determinação da destinação das

áreas, e onde serão realizadas atividades para apoio a preparação de projetos de

desenvolvimento comunitário (Figura 1).

A Gleba Nova Olinda I, localizada nos municípios de Santarém e Juruti–PA,

é integralmente constituída de terras públicas arrecadadas pelo Estado, sendo

composta de 14 comunidades ribeirinhas formadas por populações tradicionais,

indígenas e não-indígenas, com 309 famílias e 1.304 pessoas (ITERPA, 2007).

O objetivo central deste relatório é apresentar os resultados obtidos nas

atividades realizadas em conjunto com os moradores das comunidades da Gleba

Nova Olinda I, com vistas a subsidiar a proposição de diretrizes norteadoras de

ações para o fortalecimento econômico de base agroflorestal e extrativista local,

formatadas em projetos de desenvolvimento comunitário.

A metodologia adotada neste estudo envolveu entrevistas estruturadas,

repasse das informações derivadas desta técnica, mapeamento participativo de uso

dos recursos, e técnicas lúdicas de capacitação e empoderamento comunitário para

elaboração de projetos participativos. As entrevistas foram aplicadas, por meio de

Page 11: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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questionários, ao membro da família presente naquele momento, em cada domicílio.

No caso das demais técnicas, o trabalho foi realizado em grupos, durante oficinas

realizadas em dois momentos, conforme revelam as partes 2 e 3 deste documento.

Figura 1 - Mapa do conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns. A seta vermelha aponta a região onde se localiza a Gleba Nova Olinda I. Fonte: Ideflor.

Page 12: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

12

2 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA

As características bióticas e abióticas da região da Gleba Nova Olinda I, que

está localizada no interflúvio Amazonas-Tapajós são descritas abaixo.

Solos e geologia

Os solos do Município de Santarém são representados, pelo Latossolo

Amarelo de textura média, argilosa e muito argilosa em associações com os solos

Concrecionários Lateríticos. Por situar-se, estruturalmente, na Bacia Sedimentar

Amazônica, o município de Santarém apresenta terrenos Terciários do Formação

Barreiras - o de maior extensão na área do município - e sedimentos do Quaternário

Recente e Antigo. A região do rio Arapiuns e de seus dois afluentes rios Aruã e Maró

está situada na porção central da Bacia Sedimentar do Amazonas, aflorando uma

seção da Formação Alter do Chão, segundo o Projeto Radam. Trata-se de uma

unidade formada principalmente por arenitos finos a grossos, de cores vermelho-

tijolo e variegados. Nas planícies aluviais há a ocorrência de cascalhos, arenitos

silicificado e quartzo.

Clima

As características climáticas do Município não diferem muito da região

amazônica como um todo. A temperatura do ar é sempre elevada, com média anual

de 25,6˚ C e valores médios para as máximas de 31˚ C e para as mínimas de 22,5˚

C. Quanto à umidade relativa, esta apresenta valores acima de 80% em quase todos

os meses do ano. A pluviosidade se aproxima dos 2.000 mm anuais, com certa

irregularidade durante todo o ano. As estações chuvosas coincidem com os meses

de dezembro a junho e as menos chuvosas, com os meses de julho a novembro. O

tipo climático da região é o Am que se traduz como um clima cuja média mensal de

temperatura mínima é superior a 18˚ C, tem uma estação seca de pequena duração

e amplitude térmica inferior a 5˚C entre as médias do mês mais quente e do mês

menos quente.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Hidrologia

Os rios amazônicos podem ser classificados em rios de águas claras, pretas

ou brancas (Furch & Junk,1997). Os rios de água branca como os Rios Amazonas e

Madeira são considerados rios férteis por possuírem grande quantidade de

sedimentos. Suas águas adquirem uma coloração barrenta devido à grande

quantidade de sedimento que transportam. Os rios de águas claras, como os Rios

Xingu e Tapajós, tem sua origem nos sedimentos terciários da Bacia Amazônica ou

nos sedimentos cretáceos dos escudos das Guianas e Brasileiro. São rios com

grande variabilidade e heterogeneidade quanto aos parâmetros físico-químicos da

água, assim tanto podem ser pobres ou ricos em nutrientes quanto variar a acidez.

As águas possuem geralmente coloração transparente ou esverdeada (Furch & Junk

1997, Ayres, 1993). Os rios de águas pretas, como o Rio Negro, nascem nos

escudos das Guianas e Brasil Central ou nas terras baixas dos sedimentos terciários

da bacia Amazônica. Estes rios recebem poucos sedimentos o que torna as suas

águas transparentes. A cor preta é gerada pelos ácidos húmicos e fúlvicos

dissolvidos na água e oriundos da decomposição de matéria orgânica da floresta.

Em geral esses rios de águas pretas possuem baixos níveis de nutrientes e sais

minerais. A acidez da água ocorre devido à ausência de cálcio e magnésio nas

formações geológicas da drenagem, e da produção de substâncias húmicas.

Na hidrografia do Município de Santarém, o principal rio é o Tapajós, que

atravessa o Município no sentido Sul-Norte. O rio Arapiuns é o seu principal afluente.

Tanto o Tapajós quanto o Arapiuns são rios de água clara, enquanto os rios Maró e

Aruã possuem águas pretas, embora suas águas possam ser consideradas

“relativamente” e não totalmente pretas (Sioli, 2006). Os rios Maró e Aruã são

estreitos e pequenos. Quanto aos aspectos físico-químicos, as águas dos rios Maró

e Aruã são bastante ácidas, sua origem em sedimentos do período terciário,

bastante antigos e, portanto, muito pobre em sedimentos. Os rios de água preta são

reconhecidamente menos produtivos que rios de água clara e principalmente rios de

água branca (Furch & Junk ,1997).

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Vegetação

O município de Santarém possui diversos tipos de grupos de vegetação, que

variam bastante em função dos tipos de solos e da drenagem hídrica. As áreas

relacionadas à vegetação nativa constituem o elemento de maior representatividade

na região, ocupando uma superfície com cerca de 18.334 km2, o que representa

69% de todo o espaço municipal de Santarém. Tais florestas são conhecidas como

floresta tropical úmida ou floresta tropical pluvial. Em função de suas características,

dividem-se em Floresta de terra-firme, Florestas inundáveis e Savanas ou Cerrados.

A região dos rios Maró e Aruã possui cobertura vegetal composta por quatro

tipos de formações vegetais (sub-grupos) bastante distintas entre si: floresta

equatorial subperenifólia e cerrado equatorial subperenifólio, na terra firme, e floresta

equatorial higrófila e campos equatoriais higrófilos, nas áreas sujeitas a inundação

(Embrapa, 1983; Embrapa, 1988). Os enclaves de cerrado são raros e bastante

delimitados. A área de terra firme predomina sobre a área de floresta inundada,

sendo esta denominada de igapó e bastante restrita (Figura 2).

Na floresta equatorial subperenifólia são encontradas árvores que alcançam

até 50 metros de altura ou mais, com um sub-bosque rico em palmáceas. Espécies

como aquariquara (Minquartia guianensis), andiroba (Carapa guianensis), bacaba

(Oenocarpus bacaba), breu (Protium spp), buriti (Mauritia flexuosa), carapanaúba

(Aspidosperma carapanauba), castanheira (Bertholletia excelsa), copaíba (Copaifera ducke), cumaru (Coumarouma odorata), envira (Xilopia spp), e itaúba (Mezilaurus

itauba), entre outras, predominam (RADAMBRASIL, 1976; EMBRAPA, 1983).

O cerrado equatorial subperenifólio é localmente conhecido como “Campo

da Natureza” e ocorre no alto rio Maró, principalmente. É formado por árvores de

altura média, entre quatro e sete metros, e elementos arbustivos esclerófitos,

dispersos sobre um tapete contínuo. Predominam espécies como a lixeira

(Curatella americana), o murici-do-campo (Byrsonima spicata) e o capim-barba-de-

bode (Aristida sp) (BRASIL, 1976; EMBRAPA 1983, apud Lopes, 2008). Já no

igapó encontra-se a floresta equatorial higrófila, de largura bastante estreita.

Permanece parte do ano inundada, e é composta por espécies de porte mediano e

com alguns indivíduos de menor porte. Caracteriza-se pelas madeiras moles de

baixo valor comercial, com poucas exceções, como a andiroba (Carapa

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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guianensis), o taperebá (Spondia lutear), e o buriti (Mauritia flexuosa) (Oliveira

Junior, 2001 apud Lopes, 2008).

Os Campos Hidrófilos (Campos Baixos), ocorrem em áreas mais baixas que

a floresta de igapó e, na região, estao situados na proximidade de alguns lagos e

são localmente conhecidos como ”gapó”. Quanto à composição, há predominancia

de gramíneas, como premembeca ou canarana rasteira (Paspalum repetis),

pomonga ou andré-quicé (Laeerzia hexandra Sw.), arroz bravo (Oryza sp.) e uamá

(Luziola spruceana).

a b

c

d Figura 2 – Aspectos da vegetação da região: a) área de enclave de cerrado , “campos da natureza”; b) margem do rio Maró ; c) igapó e d) área próxima a comunidade (fotos: Regina Oliveira).

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

16

3- ORIGEM DAS COMUNIDADES

A caracterização apresentada abaixo baseia-se nas conversas com os

comunitários durante as expedições dos pesquisadores à área e retrata a origem de

formação das comunidades da Gleba (Figura 3).

Comunidade São Raimundo: localizada no rio Aruã, iniciou-se em 1962

com a chegada da família de Paulo Silva e Raimundo Alves. A organização foi

iniciada em 1988, quando foi concretizada com formação da diretoria. Em 1989, as

construções de infra-estrutura coletiva como igreja, campo de futebol e escola são

efetuadas. Em 2008. a comunidade contava com 13 famílias e já possuía grupo

gerador de energia, televisão e antena parabólica.

Comunidade Novo Paraíso: formada em abril de 1997, quando ali só

viviam 2 famílias: a de Júlia Máximo dos Santos e a de Antonio Máximo dos Santos.

A necessidade de estudo para os filhos foi a motivação para a criação da

comunidade, que conta nos dias de hoje com 18 famílias e possui a seguinte infra-

estrutura: casa do professor, 2 barracões, 1 sede escolar, motor de luz e campo de

futebol.

Comunidade São Luiz: fundada em 4 de outubro de 1954, motivada a partir

de uma reunião que discutiu as dificuldades das crianças estudarem. Um grupo de

pessoas se dirigiu à Secretaria de Educação, solicitando um professor. Tendo a

solicitação sido atendida e representada pelo Sr. Eudes, o primeiro professor de São

Luiz, novas reuniões foram feitas para escolha do nome da comunidade. O primeiro

morador foi o Francisco de Assis, vindo do Maranhão. A comunidade é formada por

10 famílias.

Comunidade São Francisco: a comunidade existe há 42 anos e originou-

se de um núcleo familiar que morava à beira do lago comunitário. Naquela ocasião

o Sr. Justiniano praticava a agricultura de malva e coletava seringa; era também o

tempo dos gateiros. A abundância de caça na área atraiu outras famílias. Naquela

ocasião, o Sr. Jonas, antigo morador, foi chamado para definir a comunidade; no

entanto, ele não aceitou. Depois de muito refletir, resolveu ceder um terreno para

construção de uma igreja, destinada à celebração das missas e das aulas

proferidas pela Sra. Josita, que era paga pelos pais dos alunos. Com a ida da

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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professora para Santarém e o número de alunos aumentando, o Padre Pedro,

durante uma visita, constatou a necessidade de formar uma comunidade. A

comunidade possui uma escola que oferece até a 4ªsérie. Há cerca de três anos

foi enviado um documento à Prefeitura de Juruti, solicitação a inclusão da 6ª e 8ª

séries na escola. Atualmente, a comunidade possui 27 famílias, com 100 alunos na

escola.

Comunidade Prainha: fundada em 1979 pelos primos Cesário e Valério

Sousa, onde tinham uma barraca para comercialização. O porto local recebeu,

inclusive, a denominação de Valério Souza, imortalizando desta maneira um de seus

fundadores. Entre os anos de 1991 e 2000, a comunidade não avançou muito na

opinião dos moradores locais; no entanto, a partir de 2000, os comunitários

alcançaram vários objetivos e mais famílias se uniram à comunidade, perfazendo,

atualmente, 42 famílias. A comunidade ocupa duas áreas: uma dentro da Gleba,

com um menor número de famílias e outro grupo na área da Resex Tapajós-

Arapiuns. Prainha conta com 2 igrejas – uma católica e outra evangélica, um campo

de futebol e motor de luz. Estima-se que em breve terão energia elétrica gerada por

uma mini-usina hidroelétrica, ainda em construção.

Comunidade Fé em Deus: Surgiu da necessidade de se ter uma escola, foi

fundada em 5 de maio de 1996. O primeiro culto foi celebrado no campo de futebol.

Com incentivo da juventude, as famílias se reuniram pra denominar a comunidade.

Começou com 7 famílias e reúne, hoje, 45 famílias. Possui uma infra-estrutura com

escola, barracão, campo de futebol e motor de luz.

Comunidade Vista Alegre: fundada em 1976 pelo Sr. Manoel Rodrigues

Braz Fernandes e Sra. Neuza Cardoso. Estes primeiros moradores, se

responsabilizaram pela limpeza do local para os familiares que viriam depois. Aos

poucos construíram as casas, a igreja, a escola, o campo de futebol, e assim foi

aumentando o pessoal. Com o falecimento do presidente, o povo resolveu sair e

mudou-se para a nova sede na Resex Tapajós Arapiuns. Hoje restam 13 famílias.

Comunidade Repartimento: um núcleo foi inicialmente criado no rio

Nhambu, um dos afluentes do Rio Maró Com a necessidade de escola para as

crianças, surge a idéia de comunidade, a qual foi fundada pelo Sr. Antônio Viana em

1997, vindo da comunidade de São José II, onde nasceu.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Comunidade de Mariazinha: fundada a cerca de 38 anos, pelo Sr. Alberico,

oriundo de Cachoeira do Aruã. Esta comunidade possui dois núcleos: uma na área

da Gleba e outro no Tabocal. Mariazinha conta com uma associação, denomindada

Associação Comunitária do Alto Maró – Mariazinha (ACOAMaM) já legalizada.

Comunidade Novo Lugar: fundada pelo Sr. Manoel sogro, de D. Maria

Onésima de Sousa, vinda da localidade de Raposa, no igarapé homônimo. Vieram

há mais ou menos 20 anos, à procura de terra para roçado. O padroeiro da igreja

local é São Francisco de Chagas.Integram, juntamente com Cachoeira do Maró e

São José II, o Conselho Intercomunitário Indígena Arapiun-Borari (COIIAB).

Comunidade Cachoeira do Maró: surgiu em 1930, sendo o Sr. Veríssimo e

o Sr.Alberico Farias, os fundadores e primeiros moradores. Posteriormente,

chegaram os irmãos, parentes e primos. A comunidade é sede de uma das escolas-

pólo da Gleba. As festividades de São Francisco de Assis, padroeiro da

comunidade, ocorre em setembro. Apresenta atualmente 13 famílias.

Comunidade São José III: Antes de sua fundação como comunidade em

1991, um núcleo populacional já estava ali constituído. Hoje, a comunidade conta

com 13 famílias morando na área e uma parte integrante da comunidade reside na

área da Resex Tapajós-Arapiuns.

As comunidades de Sociedade dos Parentes e Sempre Serve não estão

aqui caracterizadas pelo fato de as mesmas terem se recusado a participar das

atividades propostas e descritas a partir da segunda parte deste documento.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Figura 3 - Aspectos das comunidades da Gleba Nova Olinda I. Fotos A, B e C – Ideflor; foto D –Juarez Pezzuti; foto E- Regina Oliveira; foto F- Márlia Coelho.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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PARTE I : DIAGNÓSTICO SOCIOECONOMICO

Quatorze comunidades foram contabilizadas ao longo dos rios Aruã e Maró

e 172 famílias responderam ao questionário, conforme demonstrado na tabela 1.

Tabela 1 - Comunidades nos rios Maró e Aruã, com o número de famílias identificadas e entrevistadas.

Rio Comunidades n. de famílias identificadas

n. famílias entrevistadas

São José III 13 8 Cachoeira do Maró 18 15 Novo Lugar 18 13 Fé em Deus 30 30 Prainha 4 4 Vista Alegre 7 7 Repartimento 14 10

Maró

Mariazinha 18 17 Sociedade dos Parentes 15 09 Sempre Serve 16 09 São Luis 10 10 Novo Paraíso 16 15 São Francisco 23 19

Aruã

São Raimundo 11 06 Total 14 213 172

Fonte: IDEFLOR.

Tanto no rio Maró como no rio Aruã, foram entrevistados mais homens que

mulheres e isto, provavelmente, tenha ocorrido em função dos homens serem

considerados os chefes das famílias, e são os que recebem “as pessoas de fora”,

que chegam às suas residências (Tabela 2). Não foi possível analisar diferenças das

respostas obtidas entre homens e mulheres.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

21

Tabela 2 – Número de entrevistados, por gênero, nos rios Maró e Aruã.

Rio Comunidade Feminino Masculino Novo Paraíso 7 8 São Francisco 8 11 São Luis 1 9 São Raimundo 3 3 Sempre Serve 2 7

Aruã

Sociedade dos Parentes

2 7

Aruã Total 22 45 Cachoeira do Maró 10 5 Fé em Deus 11 19 Mariazinha 4 13 Novo lugar 6 7 Prainha 4 Repartimento 7 3 São José III 1 7

Maró

Vista Alegre 7 Maró Total 40 65 Total Geral 62 110

I.1 Aspectos fundiários e demográficos

Segundo o relatório do Iterpa (2007), quatorze comunidades ribeirinhas

formam a Gleba Nova Olinda I, contabilizando 309 famílias e 1.304 pessoas em uma

área total aproximada de 172.905,413 ha (Tabelas 3 e 4). A Gleba está localizada na

margem esquerda do Rio Maró e margem direita do rio Aruã, distando cerca de

93Km em linha reta da sede do município de Santarém. As áreas das comunidades

já foram devidamente georeferenciadas e nelas já está ocorrendo a regularização

fundiária a fim de assegurar os direitos dos comunitários à terra. Além das áreas

comunitárias, foram destinadas áreas para a permuta1, que constituem um dos

principais conflitos fundiários no local.

1 Ocorre que em função do Decreto n˚98.865 de 23 de janeiro de 1990 e da Portaria da FUNAI n˚220 de 13 de março de 1990, para expansão da reserva indígena kayapó, os proprietários dos lotes referentes ao Projeto Integrado Trairão, localizado na Gleba Altamira VI, no município de São Félix do Xingu, são impedidos de ocuparem os referidos lotes. O governo do Estado do Pará assina no ano de 2006, em cumprimento ao Decreto Estadual n˚2.472, de 29 de setembro de 2006, publicado no DOE-PA n˚30.777 de 02 de outubro de 2006, os contratos de permuta dos 25 primeiros lotes de terras do Projeto Integrado Trairão. Vale destacar que um dos lotes permutados estava inserido na área da comunidade São Luiz. Uma das cláusulas do contrato de permuta é o compromisso de não executar o corte raso da floresta e demais formas de vegetação nativa, na forma da legislação ambiental vigente. Os empresários interessados na área da Gleba Nova Olinda I fundaram a Associação dos Proprietários do Projeto Trairão (ASPIT). A região é cobiçada por empresários da madeira que se associaram a ASPIT, como por exemplo a cooperativa do Oeste do Pará.Com a criação da Reserva Extrativista Tapajós- Arapiuns, os muitos planos de manejo florestais sustentáveis, inclusive os aprovados foram suspensos, acarretando diversos conflitos fundiários na região.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

22

Tabela 3 - Situação fundiária das comunidades do Rio Maró.

Legenda: M/E = margem esquerda

(1) O acesso fluvial dá-se pelos rios Tapajós, Arapiuns, Maró e Fonte: Fonte: ITERPA

(1) O acesso fluvial dá-se pelos rios Tapajós, Arapiuns, Maró e Marozinho este a partir da comunidade Repartimento para a comunidade Mariazinha.

(2) corresponde ao numero de horas percorridas em barco a motor.

(3) corresponde a área das três comunidades indígenas.

Comunidade Localização Acesso ( 1) Distância p/ STM ( hs) (2)

Número famílias

População Área de pretensão ( ha)

Área por família (ha)

Regularização fundiária

Mariazinha M/E do rio Maró

Fluvial 46 24 100 9.364,9536 100 individual

Repartimento M/E do rio Maró

Fluvial 39 30 123 1.925,6362 100 individual

Vista Alegre M/E do rio Maró

Fluvial 30 21 83 3.118,2376 148,4875 coletiva

Prainha M/E do rio Maró

Fluvial 15 12 73 2.600,8052 216,7337 coletiva

Fé em Deus M/E do rio Maró

Fluvial 14 41 104 4.854,7300 100 individual

Novo Lugar (3)

M/E do rio Maró

Fluvial 13 18 94 29.588,6977 629,5467 coletiva

Cachoeira do Maró (3)

M/E do rio Maró.

Fluvial 12 18 89 29.588,6977 629,5467 coletiva

Rio Maró

São José III(3)

M/E do rio Maró.

Fluvial 12 11 79 29.588,6977 629,5467 coletiva

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

23

Tabela 4- Situação fundiária das comunidades do Rio Aruã.

Fonte : Iterpa

Legenda: M/D= margem direita

(1) correspondem ao acesso as comunidades pelos rios Tapajós, Arapiuns e Aruã.

(2) Número de horas em viagem de barco a motor desde Santarém até as comunidades.

Comunidade Localização Acesso(1) Dist. STM (hs)(2)

Numero de

famílias

População Área de pretensão -ha

Área por família (ha)

Regularização fundiária

São Luiz M/D do rio Aruã

Fluvial 12 13 55 23.872,3591 306,0558 coletiva

Novo Paraíso M/D do rio Aruã

Fluvial 13 16 99 23.872,3591 306,0558 coletiva

São Francisco M/D do rio Aruã

Fluvial 17 34 174 23.872,3591 306,0558 coletiva

São Raimundo M/D do rio Aruã

Fluvial 17 15 64 23.872,3591 306,0558 coletiva

Sociedade dos Parentes

M/D do rio Aruã

Fluvial 12 26 86 4.219,951 100 individual

Rio Aruã

Sempre Serve M/D do rio Aruã

Fluvial 12 29 81 2.805,1593 100 Individual

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24

O município de Santarém conta atualmente com uma população de 275.571

pessoas, com uma densidade populacional de 12,0 hab./km² e o IDH 0,746 de

(IBGE, 2008, PNUD, 2008).

A população da região dos Rios Aruã e Maró apresenta uma distribuição

típica de áreas subdesenvolvidas, com predominância da população jovem (Bartholo

& Bursztyn, 1999, Oliveira et al. 2001). Segundo dados do questionário aplicado, a

maior parte da população representada pelos filhos e filhas das famílias

entrevistadas está com menos de 20 anos, representando mais de 50% da

população (Figura 4).

Figura 4 - Faixa etária dos filhos e filhas das famílias entrevistados nas comunidades dos rios Aruã e Maró.

Faixa etária da população jovem do rio Maró

18

54

43

43

26

de 0 a 1 ano

de 1 a 5 anos

de 5 a 10 anos

de 10 a 20 anos

mais de 20 anos

cate

goria

etá

ria

número de filhos e filhas

Faixa etária da população jovem do rio Aruã

12

41

35

30

20

de 0 a 1 ano

de 1 a 5 anos

de 5 a 10 anos

de 10 a 20 anos

mais de 20 anos

categoria etária

número de filhos e filhas

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

25

Quanto à idade dos casais existentes nas comunidades, a faixa etária dos

moradores corresponde a uma população jovem com baixo número de idosos

(Figura 5). Essas características podem ser consideradas comuns em toda a

Amazônia como já descreveram Bartholo & Bursztyn (1999) para o Estado de

Rondônia, onde população também é muito jovem, e com um baixo índice de idosos.

Em trabalhos realizados no município de Muaná, Almeida (2000) também obteve

esses resultados em comunidades do Alto Rio Atuá.

Faixa etária das esposas_ Rio Aruã

5

4

24

12

8

10

5

a t e 15 a nos

de 15 a 2 0 a nos

de 2 1 a 3 0 a nos

de 3 1 a 4 0 a nos

de 4 1 a 5 0 a nos

de 5 1 a 6 0 a nos

a c i ma de 6 0 a nos

núme r o de mul he r e s

Faixa etária esposos- Rio Aruã

3

0

20

15

9

11

10

a t é 15 a nos

de 15 a 2 0 a nos

de 2 1 a 3 0 a nos

de 3 1 a 4 0 a nos

de 4 1 a 5 0 a nos

de 5 1 a 6 0 a nos

a c i ma de 6 0 a nos

núme r o de home ns

Faixa etária das esposas_ Rio Maró

9

14

23

19

15

9

3

ate 15 anos

de 15 a 20 anos

de 21 a 30 anos

de 31 a 40 anos

de 41 a 50 anos

de 51 a 60 anos

acima de 60 anos

cate

goria

etá

ria

número de mulheres

Faixa etária esposos- Rio Maró

8

2

29

22

17

12

14

a t é 15 a nos

de 15 a 2 0 a nos

de 2 1 a 3 0 a nos

de 3 1 a 4 0 a nos

de 4 1 a 5 0 a nos

de 5 1 a 6 0 a nos

a c i ma de 6 0 a nos

núme r o de home ns

Figura 5 - Faixa etária dos esposos e esposas das famílias entrevistas nas comunidades dos Rios Aruã e Maró.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

26

I.2 Aspectos sociais I.2.1 Origem dos moradores

Os moradores das comunidades do Rio Aruã são nascidos, em sua maioria,

na própria comunidade (N=35), e outros são da própria região. Quanto aos

moradores entrevistados do Rio Maró, estes, em sua maioria também tem sua

origem na própria comunidade. Parece haver uma maior migração entre as

comunidades do rio Maró, com deslocamento de moradores das comunidades mais

distantes para as comunidades mais próximas da foz do rio. Na comunidade do

Repartimento, dos moradores entrevistados, nenhum deles tem origem na

comunidade, em função da recente formação desta, que tem cerca de 10 anos.

Provavelmente a comunidade Repartimento formou-se pelo recrutamento de mão de

obra para atividades de exploração madeireira (Figuras 6 e 7).

Figura 6 - Origem dos entrevistados no Rio Aruã.

1 3

11

311

35

1 1 1 111111 1 2 1 2 1

1 3 2 1

AmazonasSantarém Bonozarlo - AruãCachoeiraCachoeira do AruãCachoeira do maróCom. de Santaria na comunidadeMentai Comunidade do Marópinhel - Rio Tapajós São RobertoFlexal no rio AruãIgapoacú-ArapiunsItuqui Jucutú

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

27

Figura 7- Origem dos entrevistados no Rio Maró.

I.2.2 Religião

A população das comunidades dos rios Aruã e Maró está distribuída entre

católicos e evangélicos, havendo, porém, a predominância de católicos, que

correspondem a cerca de 71% dos entrevistados. Na maioria das comunidades

existe uma igreja católica e/ou evangélica ou um barracão para os cultos que são

proferidos pelos catequistas (Quadro 1).

Quadro 1- Religião dos moradores das comunidades da Gleba Nova Olinda I.

Rios Católica Evangélica Não declarou

Rio Maró 65 32 6

Rio Aruã 56 6 6

Total 121 38 12

Quando questionados sobre os cultos religiosos praticados pelas famílias, os

entrevistados responderam que participam dos cultos dominicais e semanais, de

53

32142 3 1 5

1 1 1 3 1 1 5 1 1 1 1 1 1 1 11111 3 11

comunidaderio InambuMundurucurio marozinhoSantarémMentai Sao Pedro Luta Arapiunsrio acimaSao FranciscoVem se quiserrio MaróVista AlegrePiracuíMariazinhaCastanheiraPinhel PrainhaTucuma

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

28

acordo com a igreja que freqüentam. O catolicismo popular, identificado em diversas

áreas da Amazônia como descreveu Maués (2001) para a região do Salgado,

centra-se na crença e culto dos Santos. Os santos homenageados citados pelos

entrevistados foram Santo Antônio no rio Aruã e São Francisco de Assis e São

Francisco das Chagas, no Rio Maró. Nas comunidades existe também a figura dos

catequistas, coordenadores dos dízimos e dirigente dos cultos, que são pessoas

responsáveis em realizar as atividades religiosas como as missas aos domingos

além de constituir uma espécie de intermediário entre os comunitários e as igrejas

em Santarém.

I.2.3 Documentação civil

Nas comunidades dos rios Aruã e Maró os entrevistados (100%) possuem

algum tipo de documentos, sejam eles a Certidão de Nascimento, Carteira de

Identidade, CPF, Carteira de Trabalho ou Título de eleitor. Ter esses documentos

não é somente um aspecto relacionado à cidadania, mas também uma condição

para quem vai começar a estudar ou para quem vai procurar algum tipo de benefício

como a aposentadoria, auxílio maternidade, bolsa família ou pensão. Em geral estes

documentos são obtidos via organizações como Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais (STTR), Prefeituras e organizações da sociedade civil

organizada que atuam na região.

I.2.4 Educação

O sistema educacional nas comunidades do rio Maró é vinculado à

Secretaria Municipal de Educação e Desporto da cidade de Santarém. No Rio Aruã,

as comunidades São Raimundo, São Francisco e Novo Paraíso são atendidas pela

prefeitura de Juruti, enquanto São Luis, Sempre Serve e Sociedade dos Parantes

são ligadas a Santarém. Nas comunidades onde há maior concentração de

estudantes foram criadas as Escolas Pólo. Nelas fica o diretor e toda a

documentação dos alunos das escolas anexas, isto é, aquelas localizadas demais

comunidades. Estas escolas oferecem ensino da alfabetização até 8ª série enquanto

nas escolas anexas funcionam apenas as séries iniciais. Ao completarem as séries

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

29

iniciais os alunos, na maioria das vezes, se deslocam para a Escola Pólo para

completarem os estudos. Nos rios Aruã e Maró existem três escolas pólo: uma na

comunidade da Cachoeira do Aruã, a Escola Municipal de Ensino Fundamental

Nossa Senhora de Nazaré, que tem como escolas anexas: Escola Municipal de

Ensino Fundamental Sagrado Coração de Jesus da comunidade Sempre Serve; a

Escola Municipal de Ensino Fundamental Deus é Amor da comunidade Sociedade

dos Parentes; a Escola Municipal de Ensino Fundamental São Luis da comunidade

São Luis – Alto Aruã e a Escola Municipal de Ensino Fundamental São Francisco da

Comunidade São Francisco do Lago Aruã.

No rio Maró a Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora das

Graças localizada na comunidade Fé em Deus é a escola Pólo tendo como escolas

anexas a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antonio da comunidade

Prainha, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Cristo Libertador da

comunidade Repartimento, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa

Senhora de Nazaré da comunidade Mariazinha e a Escola Municipal de Ensino

Fundamental Nossa Senhora de Nazaré na comunidade Vista Alegre. A outra escola

pólo é a Escola Municipal de Ensino Fundamental São Francisco da comunidade de

Cachoeira do Maró que tem como escolas anexas a Escola Municipal de Ensino

Fundamental São Francisco na comunidade Novo Lugar e a Escola Municipal de

Ensino Fundamental São Francisco da comunidade São José do Progresso.

Segundo os moradores entrevistados das comunidades dos rios Aruã e Maró os

filhos em idade escolar freqüentam a escola de suas comunidades, e as escolas

Pólo (Figura 8).

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

30

0

10

20

30

40

50

60

2º gra

u comp.

2º gra

u inc.

3º gra

u comp.

3º gra

u inc.

até a

1ª se

rie

entre

a 1ª e

4ª se

rie

entre

a 4ª e

8ª se

rie

Não alfa

betiz

ado

Grau de escolaridade

n. d

e re

spos

tas

A

05

10152025303540

2º gra

u comp.

2º gra

u incom

p.

3º gra

u incom

p.

Alfabetiz

ação

até a

1ª se

rie

entre

a 1ª e

4ª se

rie

entre

a 4ª e

8ª se

rie

Não alfa

betiza

do

Grau de escolaridade

n. d

e re

post

as

B

Figura 8 - Grau de escolaridade dos filhos dos moradores das comunidades da Gleba Nova Olinda I. A) comunidades rio Maró; B) comunidades rio Aruã.

I.2.5 Saúde

Oitenta e cinco por cento dos moradores entrevistados da Gleba Nova

Olinda relataram sofrer de algum tipo de doença. As mais comumente mencionadas

foram: gripe, febre, tosse, diarréia, dor no estômago, feridas, e verminoses. Esse

quadro mórbido está frequentemente associado à falta de informações sobre higiene

e medidas profiláticas. O consumo de água não tratada, por exemplo, é

conseqüência da falta de ações mais intensas por parte dos órgãos públicos

responsáveis.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

31

Para as comunidades do rio Maró foram 226 citações de enfermidades.

Sendo dor de estômago, febre e diarréias as mais citadas. Para as comunidades do

rio Aruã foram citadas 129 ocorrências, com destaque para febre e gripe, seguidas

de dor de cabeça e dores estomacais. Perguntados sobre a forma de tratamento, os

moradores da Gleba Nova Olinda I declararam tratar-se com remédios caseiros. Há

nas comunidades, especialistas em medicina tradicional a exemplo dos rezadores,

puxadores e desmintidores; nas comunidades indígenas, os pajés assumem este

papel.

I.2.6 Infra-estrutura e saneamento básico

A infra-estrutura encontrada nas comunidades foram escolas, casas de

farinha, igrejas, postos de saúde e barracões de festas. Em todas as comunidades

há sanitários instalados. Algumas comunidades possuem tabernas com a venda de

produtos industrializados.

As moradias das famílias da Gleba Nova Olinda I são construídas em sua

maioria de madeira e cobertas com palha ou telhas de amianto. Possuem em média

quatro cômodos.

Entre os 172 informantes que responderam sobre a disponibilidade de água

(Tabela 5), a maioria afirma que os cursos d´água naturais são a principal fonte

abastecedora em toda a Gleba. Não há sistema de abastecimento de água, exceto

na comunidade de São Francisco no rio Aruã, onde já funciona o micro-sistema de

abastecimento de água.

Tabela 5 - Abastecimento de água nas comunidades da Gleba Nova Olinda I

Disponibilidade de água Rio Aruã Rio Maró Rio e/ou igarapé 56 102 Micro sistema de abastecimento

11

Poço comum 01 01 Cacimba 01 Total 68 104

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

32

A água é retirada do rio e armazenada no interior das casas em baldes e

outros vasilhames. Destinada a matar a sede, a água é despejada em potes de

barro. Quanto ao tratamento que se dá a esta, nas comunidades do rio Aruã parece

haver maior preocupação em se consumir água filtrada do que nas comunidades do

rio Maró. Contudo, enquanto o uso de hipoclorito é observado nos dois rios, o

número de usuários deste produto é superior no Maró. Para um número nada

desprezível de informantes, a água consumida não passa por nenhum tipo de

tratamento. Estes resultados devem ser considerados proporcionalmente ao número

de respondentes (Tabela 6).

Tabela 6 - Tratamento da água consumida nas comunidades da Gleba Nova Olinda I

Tratamento Rio Aruã Rio Maró Filtrada 47 61 Filtrada com hipoclorito 02 09 Coada com panos ou outros materiais

03

Sem tratamento 19 31 Total 68 104

As comunidades da Gleba Nova Olinda I não têm acesso à energia elétrica;

no entanto, os moradores de Prainha, comunidade situada na área da Resex

Tapajós-Arapiuns, prevêem que em breve serão atendidos nesse sentido, uma vez

que um sistema de geração de energia hidroelétrica está sendo construído na

margem oposta do rio Maró, dentro da área da Gleba. Trata-se de um projeto

proposto pela Associação Tapajoara, cujo desenvolvimento é financiado pelo BNDS.

Em geral, nas comunidades que possuem geradores movidos a díesel, a energia é

destinada apenas aos espaços de uso coletivo, a exemplo das escolas e barracões.

Poucas famílias possuem seu próprio gerador (Figura 9).

Noventa e cinco por cento (N= 169) dos informantes de ambos os rios que

responderam ao questionário sobre o tratamento dado ao lixo, declararam jogá-lo no

quintal (Tabela 7), onde é queimado e/ou enterrado.

Page 33: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

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33

Figura 9 - Aspectos do cotidiano nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. Fotos A, B , C –Ideflor; D, E , F- Regina Oliveira.

Page 34: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

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Tabela 7 - Destino do lixo nas comunidades da Gleba Nova Olinda I

Destino do lixo Rio Aruã Rio Maró Quintal 66 101 Sem destino 02 - Sem resposta - 03 Total 68 104

I.2.7 Organização social

Nas comunidades quando perguntados sobre participação comunitária, mais

de 87% participa de algum tipo de organização, esteja ela legalizada ou não (Tabela

8) As principais organizações que participam são: o STTR, a Associação

comunitária, as organizações das igrejas católicas e evangélicas, sendo que não foi

possível distinguir das respostas dadas nos questionários aplicados a qual igreja se

referiu o entrevistado. Esta tabela apenas informa que os moradores da Gleba Nova

Olinda I, se engajam em mais de uma forma de organização social.Quando

perguntados sobre participação de algum membro da família na diretoria de alguma

organização comunitária, apenas 26% declararam que alguém da família participa. A

principal função citada foi de catequista.

Page 35: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Tabela 8- Organização social que participam os moradores da Gleba Nova Olinda I.

Organização social Rio Aruã Rio Maró Total Assoc. comunitária 13 12 25 Assoc.e igreja 4 2 6 Assoc. e STTR 1 0 1 GP. de mulheres 1 0 1 Igreja 13 44 57 Ig.católica 10 3 13 Ig.e STTR 1 8 9 STTR 16 20 36 Z- 42 1 1 clube de jovens 0 1 1 Coiab 0 4 4 STTR e Igreja Católica 0 1 1 Time de futebol 0 1 1 Não participa 5 3 8 Total 65 99 164

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36

I.2.8 Origem da renda e salários das famílias

Quando perguntados sobre as atividades exercidas para originar a renda

familiar os moradores das comunidades do rio Aruã (N= 255) e do rio Maró (N=354)

citaram diversas fontes. Entre as mais citadas destacam-se, as atividades na roça

(cultivo de mandioca, e demais produtos agrícola), caça, pesca, extrativismo e

pequenas criações. A atividade madeireira não parecer ter muita importância para os

moradores, ao menos no momento da aplicação do questionário. A caça e a pesca

parecem ter grande importância para geração de renda das famílias, mas não foi

possível analisar se há comercialização destes produtos. Poucas famílias citaram ter

como fonte de renda os auxílios do governo como aposentadoria e a bolsa família,

com cerca de 30 citações entre as comunidades do rio Aruã e 51 citações entre as

comunidades do rio Maró (Figura 10).

Origem da renda da família- Rio Aruã4%

2%

7%

16%

14%

7%1%0%9%

14%

26%

AposentadoriaBeneficio do INSSBolsa-familiaCaçaExtrativismoMadeiraOutrosPecuariaPequenas criaçõesPescaRoça

Origem da renda das famílias- Rio Maró5%

2%

7%

16%

9%

7%1%0%8%

16%

29%

AposentadoriaBeneficio do INSSBolsa-familiaCaçaExtrativismoMadeiraOutrosPecuáriaPequenas criaçõesPescaRoça

Figura 10. Origem da renda das famílias da Gleba Nova Olinda I

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

37

Quando questionados sobre o valor da renda gerada mensalmente, dos 172

questionários aplicados 33 não responderam a esta questão. Dos que responderam

100 famílias afirmaram viver com menos de 1 salário mínimo, 52 declararam obter

entre 1 e 2 salários e apenas 7 famílias declararam obter entre 2 e 5 salários

mínimos de renda ao mês (Figura 11).

Renda das famílias

0 10 20 30 40 50 60 70

menos de 1 salário

de 1 a 2 salários

de 2 a 5 salários

n. s

alár

ios

n. respostas

Aruã Maró

Figura 11- Valor da renda obtida pelas famílias da Gleba Nova Olinda I. I.3 O uso dos recursos naturais

A maioria dos entrevistados declarou utilizar tanto a floresta primária (75%)

quanto as capoeiras 89% (Tabela 09). A caça foi mencionada como a principal

utilização da floresta, seguida pelo extrativismo vegetal não-madeireiro e pela

derrubada para plantação de roça. A extração de madeira, coleta de mel

(mencionado apenas por moradores do Aruã) e pesca foram mencionadas poucas

vezes (Tabela 10). A baixa importância dada à pesca deve ser relativizada, uma vez

que durante o inverno amazônico, época em que os questionários foram aplicados, a

disponibilidade de peixes nos rios da região é muito baixa.

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Tabela 9. Utilização da floresta primária e de capoeiras pelos moradores dos Rios Maró e Aruá, Gleba Nova Olinda I.

Uso da floresta Aruã Maró Total Mata Não 14 25 39 Sim 51 66 117 Capoeira Não 3 13 16 Sim 61 74 135

Tabela 10. Formas de uso da floresta primária mencionados pelos moradores dos Rios Maró e Aruá, Gleba Nova Olinda I.

Atividade Aruã Maró Total Caça 22 36 58 extrativismo vegetal 31 18 49 Roça 11 11 22 Madeira 5 6 11 Mel 2 2 Pesca 1 1 2

As capoeiras foram utilizadas principalmente para plantar, sendo também

utilizadas para coleta, destacando-se a obtenção de lenha. No Maró, mencionou-se

também a prática de caça em capoeiras, e no Aruã um morador declarou o uso para

pastagem do gado (Tabela 11). Dois informantes informaram que compram

normalmente carne de caça na comunidade.

Tabela 11. Usos de capoeiras mencionados pelos moradores dos Rios Maró e Aruã, Gleba Nova Olinda I.

Atividade Aruã Maró Total geral Roça 57 70 127 Extrativismo vegetal 13 7 20 Lenha 4 4 8 Caça 3 3 Pastagem 1 1

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I.3.1 Extrativismo vegetal

O número total de entrevistados praticando o extrativismo de produtos

vegetais é de 249 pessoas, sendo que 54% (N= 135) destes são moradores do rio

Aruã e 46% (N= 114) do rio Maró. Esta prática concerne um total de 35 cinco

produtos, entre cipós, cascas, óleos, fibras, frutos resinas, látex, madeira e mel. Tais

produtos estão distribuídos por rios, conforme demonstrado na Tabela 12.

Tabela 12. Produtos oriundos do extrativismo vegetal na Gleba Nova Olinda I.

Produtos do extrativismo Aruã Total de informantes Maró Total de

informantes Açaí x 16 x 1 Andiroba x 6 x 4 Babaçu x 1 x 1 Bacaba x 12 x 2 Breu x 3 x 11 Buriti ou miriti x 1 x 3 Carapanaúba x 1 Cascas x 1 Castanha-do-Pará x 11 x 5 Chumburana x 1 Cipós x 25 x 23 Copaíba x 2 x 3 Curuá x 2 Guaruba x 1 Ingá x 1 Itaúba x 1 x 1 Louro faia x 1 Madeira x 2 Mel x 6 x 6 Oiti x 1 Palha x 15 x 19 Patauá x 6 Pimenta x 1 Piquiá x 4 x 4 Preciosa x 1 x 1 Raizes x 1 Sucuúba x 8 x 7 Tala x 2 x 8 Tucumã x 4 x 2 Uxi x 5 x 5 Total 135 114

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Os cipós são representados por 3 espécies: cipó-açú (Evodianthus funifer

(Poit) Lindm., Cyclanthaceae), cipó-ambé (Philodendron imbe Schot, Araceae) e

cipó-titica (Heteropsis jenmanii Oliv., Araceae). As cascas provêm de espécies

arbóreas como a carapanaúba (Aspidosperma sp, Apocynaceae) , a preciosa (Aniba

sp, Lauraceae) e a sucuúba (Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson),

Apocynaceae). Desta última é também extraído o látex. A andirobeira (Carapa

guianensis Aubl., Meliaceae) e copaíbeira (Copaifera spp., Leg. Caesalpinoideae)

são também plantas árbóreas fornecedoras de óleos. O óleo da primeira é obtido

das sementes, e o da segunda, um óleo-resina de fato, é extraído do tronco.

As fibras relatadas são as de curuá (Attalea spectabilis Mart.), as palhas e

talas. Presume-se que estes dois últimos produtos sejam derivados desta e de

outras espécies de palmeiras. Enquanto o breu (Protium spp., Burseraceae) foi o

único representante da categoria “resinas”, inúmeras espécies compõem a categoria

“frutos”, sendo elas: açaí (Euterpe oleracea Mart., Arecaceae), bacaba (Oenocarpus

bacaba Mart., Arecaceae), buriti ou miriti (Mauritia flexuosa L., Arecaceae),

castanha-do-Pará (Berthollletia excelsa H.&B., Lecythidaceae), ingá (Inga spp., Leg.

Mimosoideae), patauá (Oenocarpus bataua Mart., Arecaceae), piquiá (Caryocar

villosum (Aubl.) Pers., Caryocaraceae), tucumã (Astrocaryum vulgare Mart.,

Arecaceae) e uxi (Endopleura uchi (Hub.) Cuatrec., Humiriaceae).

De fato, embora não tenha sido especificado o tipo de produto fornecido por

palmeiras como o babaçueiro (Orbignya phalerata Mart, Arecaceae), buritizeiro e

tucumãzeiro, é sabido que as mesmas podem fornecer tanto frutos quanto fibras.

Ademais, tais frutos podem ser consumidos in natura (polpa) ou fornecer óleos,

empregados na cozinha local ou na produção artesanal ou industrial de cosméticos.

Em se tratando de madeira, os dados extraídos das entrevistas aplicadas

não explicitam quais são elas; contudo, com base na literatura disponível, supõe-se

que itaúba (Mezilaurus itauba, Lauraceae), guaruba ou quaruba (Vochysia

guianensis, Vochysiaceae), louro-faia (Roupala montana, Opiliaceae) e oiti (Licania

tomentosa, Chrysobalanaceae) sejam espécies contempladas nesta categoria.

Nas comunidades do rio Aruã, os principais produtos, ou seja, aqueles

coletados pelo maior número de pessoas, são os cipós (Novo Paraíso e São

Francisco), o açaí (São Luis e Sempre Serve), a palha (São Francisco), a bacaba

(São Luis e São Francisco), a castanha-do-Pará (São Francisco, São Luis e Sempre

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Serve) e a sucuúba (Novo Paraíso e São Francisco). Por sua vez, nas comunidades

do Rio Maró, os destaques são para os cipós (Mariazinha e Novo Lugar), a palha

(Cachoeira do Maró, Novo Lugar e Mariazinha), o breu (Mariazinha), a tala e a

sucuúba (ambas em Novo Lugar). As comunidades de São Francisco e São Luis no

rio Aruã e Novo Lugar e Mariazinha no rio Maró, são aquelas que apresentam o

maior número de produtos coletados da mata.

Alguns produtos foram mencionados por apenas um informante, a exemplo

de raízes, pimenta, louro-faia, guaruba e chumburana no rio Maró; oiti, ingá e

carapanaúba no rio Aruã. Outros produtos extrativistas são explorados em todas ou

quase todas as comunidades de um rio. Açaí e bacaba, por exemplo, foram

mencionados em todas as comunidades do Aruã; no caso da palha e do patauá,

apenas uma comunidade localizada neste rio não as coletam. Para o rio Maró, os

cipós e palhas ilustram o caso, onde apenas uma comunidade não os exploram

(Figura 12).

A comercialização dos produtos oriundos do extrativismo é prática comum

na Gleba Nova Olinda I. No Aruã, a maior parte dos entrevistados coleta o açaí e a

bacaba para consumo próprio e pouco é vendido; no Maró, no entanto, apenas um

entrevistado os citou.

Quanto ao breu, a produção está concentrada nas comunidades do rio Maró,

onde uma pequena parte é utilizada localmente. A maior parte é vendida para

marreteiros e estaleiros de Santarém, e uma quantidade menor é fornecida

diretamente aos donos de barcos de Santarém ou de outras localidades.

Os cipós são empregados localmente ou vendidos para marreteiros de

Santarém. O cipó-açú, por exemplo, é comercializado na feira deste município; o

ambé, quando não é usado localmente é vendido sob encomenda; o titica é pouco

utilizado, sendo o grosso da coleta comercializado nas feiras de Santarém, em Juruti

ou vendidos para vizinhos da região.

Em se tratando da castanha do Pará, parte da produção é consumida

localmente, mas a maior parte é vendida a atravessadores de Santarém.

A palha é utilizada localmente, e têm como principal destino a cobertura de

casas; poucos feixes são vendidos a marreteiros ou oferecidos diretamente na feira

de Santarém. As talas são utilizadas para a confecção de objetos artesanais

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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(paneiros, peneiras, vassouras, etc), empregados nas tarefas cotidianas ou vendidos

no mercado de Santarém, Juruti ou nas próprias localidades onde são produzidos.

A coleta da casca ou do látex da sucuúba se faz para consumo ou

comercialização. Neste último caso, as cascas são vendidas na feira de Santarém,

podendo ser por encomenda ou não, e ainda para a própria comunidade. Da mesma

forma, o látex é vendido nas feiras de Santarém por eles mesmos ou por

marreteiros. A ambos os produtos se atribuem propriedades medicinais.

A

B

C D

Figura 12-Utilização de recursos naturais do extrativismo. Fotos A, B, e C ( Ideflor), Foto D(

Regina Oliveira.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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I.3.2 Produção Agrícola

De acordo com as entrevistas, nos rios Aruã e Maró, o número de

produtores é de 217 e 93, respectivamente. Os entrevistados mencionaram um total

de 13 produtos agrícolas de maior importância na Gleba, estando os mesmos

distribuídos, por rio, na Tabela 13. Os três produtos de maior destaque em todas as

comunidades foram a mandioca, seguida por milho e feijão. Em seguida, vêm arroz,

cará e macaxeira no rio Maró, e macaxeira e cará no rio Aruã. O cultivo de arroz nas

comunidades deste rio é inexpressivo, levando em conta os resultados das

entrevistas realizadas. Cará, mandioca e milho são produzidos por todas as

comunidades do rio Aruá; no Maró, o milho não foi citado como sendo cultivado

apenas em Prainha (Figura 13).

Tabela 13. Produção agrícola por rio na Gleba Nova Olinda I.

Produtos agrícolas Rio Aruã Rio Maró Total

Abacaxi 01 03 03

Arroz 01 18 19

Banana 02 02

Batata 05 05

Batata doce 01 01

Cana-de-açúcar 01 01 02

Cará 06 16 22

Feijão 12 19 31

Jerimum 01 01

Macaxeira 10 14 24

Mandioca 42 96 138

Melancia 01 01

Milho 18 42 60

TOTAL 93 217 310

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Figura 13 – Aspectos da produção de farinha nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. Fotos A e B

Márlia Coelho, Fotos C, D, E e F(Ideflor)

Page 45: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

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Quanto ao destino da produção agrícola, 47% do total são consumidos

localmente, enquanto que uma boa parte é fornecida para Santarém, onde é

comercializada (28%). Foi constatada a venda destes produtos no âmbito das

próprias comunidades (11%), bem como também em Juruti (8%). A presença de

marreteiros e atravessadores, compondo a cadeia de comercialização destes

produtos, foi mencionada. Vale ressaltar que a farinha de mandioca se caracteriza

como aquele de maior importância na produção agrícola local, assim como o é para

a maioria das comunidades amazônicas. Diversos tipos de farinha são produzidos

na Gleba, e esta diversidade se deve às inúmeras variedades de maniva e responde

às demandas do mercado.

Os quintais, vistos também como espaços de continuidade da mata,

contribuem para a diversificação dos produtos alimentares consumidos e apreciados

pelos moradores da Gleba. Nestes espaços, podem ser encontrados cultivos de

legumes, poucas verduras (couve e cheiros verdes), temperos (pimentas, chicória,

urucum), ervas medicinais e, sobretudo, frutíferas, cuja diversidade pode ser

observada na tabela 14. Foram mencionadas, ao todo, 38 frutíferas, sendo 33 no rio

Aruã e 27 espécies no Maró. As frutas mais comuns cultivadas nos quintais são a

manga, a banana, a laranja, a goiaba, o muruci, o abacate, o caju, o mamão, o

cupuaçu e o abacaxi, em proporções bem semelhantes nos dois rios em que as

comunidades estão distribuídas. Embora nem todas as espécies sejam comuns a

ambos os rios, conforme se pode verificar na referida tabela, isto não reflete, no

entanto, a sua indisponibilidade ou não de ocorrência nas comunidades em questão.

Pelo fato de todas as espécies terem sido constatadas durante as visitas realizadas

em ambos os rios, isto permite sugerir sua relevância para uma dada comunidade

ou sua ocorrência ou não nos quintais.

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Tabela 14. Frutíferas presentes nos quintais das famílias residentes dos Rios Maró

e Aruã, Gleba Nova Olinda I

Item Aruã Maró Geral Manga 21 35 56 Banana 19 34 53 Caju 19 30 49 Laranja 17 24 41 Goiaba 8 23 31 Muruci 17 21 38 Abacate 13 19 32 Mamão 7 18 25 Cupuaçu 11 15 26 Abacaxi 10 11 21 Ingá 7 9 16 Coco 6 7 13 Açaí 4 6 10 Jambo 3 5 8 Acerola 2 4 6 Pupunha 4 4 8 Carambola 1 2 3 Lima 6 2 8 Pajurá 1 2 3 Uxi 1 2 3 Biribá 1 1 2 Cacau 1 1 2 Cajá 1 1 Graviola 3 1 4 Ingá 1 1 Maracujá 2 1 3 Tangerina 5 1 6 Tucumã 3 1 4 Abricó 1 1 Fruta pão 1 1 Ata 2 2 Buruti 1 1 Castanha 2 2 Limão 1 1 Murucí 1 1 Pitanga 1 1 Bacaba 1 1

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I.3.3. Caça e pesca

Nas Tabelas 15 e 16 constam, respectivamente, dados referentes ao

consumo de carne de caça e de peixe pela família, citados pelo entrevistado ao

longo de uma semana. (Figura 14). Em média, as famílias do Rio Aruã consomem

cinco quilos de carne de caça e também cinco de peixe por semana, enquanto no

Rio Maró este é de 5,27kg de caça e 5,95kg de peixe por semana, respectivamente.

A partir destes dados e usando o número médio de pessoas por domicílio, calculou-

se o consumo anual por família, que foi de 264,52kg de carne de caça por família

por ano no Rio Aruã e 274,25kg no Rio Maró. Já o consumo de pescado por família

por ano foi de 262,5kg no Rio Aruá e 309,76kg no Rio Maró. O consumo diário per

capita de carne de caça foi de 0,111kg no Rio Aruã e de 0,136kg no Rio Maró. Para

o pescado, este consumo foi de 0,110kg no rio Aruá e de 0,154kg no Rio Maró.

Tabela 15. Produção média semanal de caça realizadas pelos moradores dos Rios

Maró e Aruá, Gleba Nova Olinda I.

Aruã Maró N 63 95 mínimo 0 0 máximo 15 30 média 5.09 5.27 desvio padrão 3.65 5.54

Tabela 16. Produção média semanal de peixe pelos moradores dos Rios Maró e

Aruá, Gleba Nova Olinda I.

Aruã Maró N 62 93 mínimo 0 0 máximo 15 25 média 5.05 5.96 desvio padrão 4.10 5.12

De fato, os dados aqui apresentados são estimados, considerando que

informações sobre o que se caça, o que se pesca, e suas respectivas quantidades,

nem sempre são facilmente expostos por caçadores, pescadores e consumidores

locais. Em geral, isto ocorre por se sentirem intimidados pelas circunstâncias legais

e no caso deste estudo, pelas ainda recentes e rápidas relações estabelecidas entre

o entrevistador e o entrevistado.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Figura 14 - Animais caçados e pescados pelos moradores da Gleba. Fotos: Juarez Pezzuti

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I.3.4 Dieta

Na Tabela 17 constam os itens alimentares mencionados como

normalmente consumidos nas três refeições diárias (café, almoço e jantar),

totalizando 1.976 menções. Os itens foram agrupados nas categorias carne de caça

(244 menções), carne de animais domésticos (71 menções), itens de mercado

industrializados (495 menções), peixes e piracuí (258 menções), frutas do quintal

(sete menções), produtos da roça (679 menções) e itens não categorizados (211

menções). Nesta última categoria entram a carne (comprada, de animal doméstico

ou de caça) e outros produtos que podem ser oriundos da roça ou comprados.

A principal fonte de alimentos é a agricultura, destacando-se o consumo dos

derivados da mandioca, principalmente a farinha (328 menções), do beju (154

menções) e da tapioca (145 menções). Em seguida vêm os produtos

industrializados, sobretudo o arroz (170 menções), o café (155 menções) e o feijão

(108 menções).

Os animais silvestres e os peixes constituem as principais fontes de proteína

animal, e o consumo de animais domésticos tem importância relativamente menor,

porém não desprezível. Não há como saber a importância da compra de carne, pois

quando seu tipo não é especificado não é possível definir se foi adquirida ou se foi

produto de uma caçada ou do abate de uma criação. O consumo de carne sem

especificação da sua origem foi mencionado 206 vezes. Os animais silvestres mais

mencionados foram veado (Mazama sp.), a cutia (Dasyprocta sp.), o tatu

(Dasipodidae) e a paca (Cuniculus paca), sendo também mencionados o macaco

(Cebidae) e o jabuti (Testudinidae). Os animais domésticos mencionados foram o

boi e a galinha, sendo também mencionado poucas vezes o consumo de leite e

ovos. O item frango foi categorizado como sendo item industrializado, e foi

mencionado quatro vezes. Em várias entrevistas foi anotado apenas “caça” ou

“carne”, não sendo possível discernir qual a espécie caçada, no primeiro caso, e o

tipo de carne, no segundo. Desta forma, estes itens são apresentados em separado

na referida tabela.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Tabela 17. Itens alimentares mencionados pelos moradores dos Rios Maró e Aruã, Gleba Nova Olinda I.

Tipo Ítem Aruã Maró Total Caça 244 Caça* 83 101 184 Veado 9 15 24 Cutia 6 12 18 Tatu 1 6 7 Paca 4 2 6 Macaco 1 2 3 Jaboti 2 2 Doméstico 75 Boi 17 10 27 Galinha 10 11 21 Leite 8 11 19 Ovo 2 2 4 Frango 4 4 Mercado 491 Fubá 1 1 Pão 3 8 11 milharina 1 1 2 macarrão 5 20 25 Feijão 36 72 108 Cuscuz 1 1 Café 65 90 155 Biscoito 8 10 18 Arroz 60 110 170 Pesca 258 Piracuí 2 2 Peixe 100 156 256 Quintal 7 Fruta 1 1 Chá 3 3 6 Roça 679 Verdura 2 2 Tapioca 60 85 145 Mingau 5 3 8 Milho 1 1 mandioca 1 6 7 macaxeira 3 13 16 Farinha 133 195 328 Cueira 1 1 Cará 5 9 14 Beju 61 93 154 Batata 3 3 Não especificado 211 Carne 72 134 206 Bolo 1 2 3 Bolinho 1 1 2 Total geral 773 1203 1976

*Não especificado pelo entrevistado

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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I.4. Conflitos

Os principais conflitos existentes na região da Gleba Nova Olinda são de

origem fundiária e extração irregular de produtos florestais madeireiros. Segundo

seus moradores estes iniciam-se a partir da chegada dos grileiros e madeireiros no

inicio de 2000. Com o acirramento dos embates, algumas instituições como o STTR

chega a região iniciando a discussão sobre o processo de regularização fundiária.

Atualmente esses enfrentamentos permanecem apesar, da presença dos órgãos

governamentais como o Iterpa, Ideflor, Sema e Ibama. Os principais conflitos que

ainda ocorrem na Gleba estão estabelecidos entre grileiros, poder público local e

comunitário envolvendo a disputa dos espaços utilizados pelas comunidades para

uso de seus recursos naturais. Nas comunidades indígenas que fazem fronteira com

as comunidades ribeirinhas os conflitos são acirrados por grileiros.

I.4.1. Desmatamento e queimadas na área

Todos os proprietários entrevistados mencionaram a ocorrência de áreas já

desmatadas em suas respectivas comunidades (Figura 15). No rio Aruã, sete

proprietários, dos quais três de Novo Paraíso e quatro de São Francisco, afirmaram

não ter ainda desmatado suas áreas. Para o rio Maró, entrevistados de todas as

comunidades fizeram tal afirmativa. O maior número de proprietários de áreas

desmatadas concentra-se na comunidade de Fé em Deus. Estes dados não

permitem conhecer, de fato, a extensão de área desmatada na Gleba, o que, de

acordo com o Laboratório de Sensoriamento Remoto do Ideflor, em análise realizada

em 2008, é da ordem de 4%.

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3 4 3 2 2 2 1 3 1

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Aruã Maró

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s

Com área ja desmatadaSem área ja desmatada

Figura 11. Presença de área já desmatada na Gleba Nova Olinda I

Em se tratando de desmatamento em curso, no rio Aruã, apenas a

comunidade de Sempre Serve não o acusou; São Francisco foi onde a menção a

esta atividade foi maior. Da mesma forma, no rio Maró, em São José, nenhum

entrevistado mencionou haver desmatamento atual em suas áreas. Em Fé em Deus

e Cachoeira, a ocorrência deste é proporcionalmente maior, havendo nesta última

um número de áreas ainda mais expressivo em relação à primeira comunidade.

Foi observada a ocorrência de desmatamento em mata ciliar de maior

importância em Novo Paraíso, São Francisco e São Luis, no Aruã e em Novo Lugar,

no Maró (Figura 16).

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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s

Com desmatamento em mata ciliarSem desmatamento em mata ciliar

Figura 16. Presença de desmatamento em mata ciliar na Gleba Nova Olinda I.

Conforme se observa na Figura 17, quase todos os informantes do rio Aruã

relataram possuir áreas queimadas, exceto em São Francisco e São Luis, onde

alguns (5 e 1 informantes, respectivamente) informaram possuir áreas ainda não

queimadas. No rio Maró, por sua vez, os entrevistados de cinco dentre as oito

comunidades ali situadas afirmaram o mesmo.

5

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15

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Com área queimadaSem área queimada

Figura 17. Presença de área queimada na Gleba Nova Olinda I.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

54

I.4.2. Presença de madeireiros e de equipamentos de exploração madeireira na área

A presença de madeireiros foi mencionada na maioria das comunidades

visitadas (Figura 18). São Francisco e Novo Paraíso no Aruã e, Cachoeira, Fé em

Deus e Novo Lugar, no Maró, são, aparentemente, as mais atingidas. Em Prainha, a

presença daqueles parece não ter sido detectada.

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Presença de madeireiros na áreaAuxência de madeireiros na área

Figura 18. Presença de madeireiros na Gleba Nova Olinda I

O número de entrevistados relatando a presença na área de equipamentos

empregados na exploração de madeira, a exemplo de motosserra, trator e

caminhão, foi maior em São Francisco, São Luis, Novo Paraíso e Sempre Serve no

rio Aruã; em Cachoeira, Fé em Deus e Novo Lugar no Maró. Em São Raimundo e

São José III, a presença destes equipamentos, no entanto, não parece ter sido

constatada por nenhum entrevistado (Figura19).

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Presença de equipamento de exploração madeireiraAuxência de equipamento de exploração madeireira

Figura 19. Presença de equipamentos de exploração madeireira na Gleba Nova Olinda I.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

56

Parte II Repasse, mapeamento participativo e capacitação.

Para que projetos de desenvolvimento comunitário sejam sustentáveis, é

importante ter uma parceria constituída. A participação comunitária é fundamental,

pois a sustentabilidade é alcançada quando o processo de desenvolvimento

pertence à comunidade local e é gerido por ela, não dependendo de ajuda externa, o

que demanda prazos e vontade política. A participação, quando relacionada com o

uso sustentável dos recursos naturais, se refere à capacidade de intervenção

conjunta de todos os atores da sociedade nos processos de articulação, diagnóstico,

planejamento e gestão desses recursos, nas tomadas de decisão, como também de

desfrute dos seus benefícios.

Tendo como objeto a capacitação das comunidades para a elaboração de

projetos voltados ao desenvolvimento comunitário, a primeira oficina foi realizada

nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. Somada a esta ação foram realizados

também as atividades de repasse dos resultados obtidos pela equipe do Ideflor no

levantamento socioeconômico, e o mapeamento participativo do uso dos recursos

naturais.

A expedição para a região da Gleba Nova Olinda I foi composta por 3

pesquisadores, 3 estudantes e contou com o apoio de representantes do Sindicato

do Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR) na pessoa de seu

delegado regional, e do vice-presidente da Associação Tapajoara. Esta expedição

percorreu os rios Aruã e Maró no período de 25 de fevereiro a 12 de março de 2009.

Para fins de cumprimento dos objetivos propostos no projeto a equipe se dividiu em

dois grupos: um grupo seguiu para as comunidades do Rio Aruã e outro para as

comunidades do rio Maró.

Técnicas de pesquisa socioambientais como pesquisa-ação e pesquisa

participante foram associadas à elaboração do mapeamento participativo do uso dos

recursos. Banners para apresentação dos resultados dos levantamentos e descrição

da proposta de trabalho deste projeto foram entregues ás comunidades e uma

cartilha com a temática “elaboração de projetos comunitários” foi utilizada como

ferramenta de capacitação. Durante a estadia nas comunidades foram levantados

também informes sobre modos de vida de seus moradores.

Page 57: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

57

A base metodológica para a organização das reuniões nas comunidades e

nas oficinas obedeceu aos seguintes princípios

O Enfoque Participativo com o uso de técnicas e instrumentos que

facilitassem o processo de debate, procurando melhorar a dinâmica da

reunião, tornar mais transparente e democrático os processos de reflexão,

decisão, ação e avaliação, contribuindo para aumentar a capacitação e a

organização.

A Visualização instrumento utilizado pela equipe, que consistiu no registro

visual contínuo de todo o processo, mantendo sempre acessível para todos.

O Trabalho em Grupo, também denominado Participatory Rural Appraisal (PRA) foi adotado para aumentar a eficácia da comunicação e garantir

momentos intensivos de criação, gerando idéias que são os pontos de partida

para a discussão em plenária.

As Sessões Plenárias foram utilizadas para o aperfeiçoamento e lapidação

das idéias geradas nos grupos. Foram os momentos de socialização dos

resultados, das tomadas de decisão e do estabelecimento de

responsabilidades pelos resultados alcançados.

O Debate Ativo foi provocado continuamente, pois como base de um

processo grupal participativo, todos devem ter os mesmos direitos e

tratamentos, independentemente de posição ou cargo que exerçam.

II.1 O repasse do diagnóstico e apresentação da proposta do projeto

Repassar as informações recebidas é a melhor forma de divulgação dos

resultados obtidos por meio de intervenção em comunidades (aplicação de

questionários, entrevistas semiestruradas, etc) permite o estabelecimento do inicio

de uma relação de confiança entre o interlocutor e os comunitários, além de

possibilitar checar os dados obtidos e promover os devidos ajustes

O repasse das informações obtidas no levantamento socioeconômico foi

apresentado às comunidades de acordo com as particularidades de cada uma.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

58

Estruturado em um painel, essas informações foram apresentadas como figuras,

gráficos e textos em linguagem adequada ao público alvo. Neste painel também

constaram as etapas das atividades referentes a este projeto (Figura 20).

Durante a apresentação do repasse dos resultados as comunidades

reagiram de diferentes maneiras. Quando as informações não retratavam fielmente o

cotidiano; quando não havia entendimento sobre os dados apresentados e ao se

depararem com informações contraditórias e pouco esclarecedoras. Uma das

questões que mais gerou polêmica foi a do consumo alimentar relacionado com a

caça e a pesca. Segundo eles as informações não coincidem com o consumo real

praticado para muitas das comunidades do rio Maró, enquanto que as comunidades

do rio Aruã os resultados apresentados foram corroborados pelos moradores.

A

Page 59: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

59

B

Figura 20 – Repasse das informações: comunidades Novo Lugar e Prainha.

II.2 Mapeamento participativo

A confecção de mapas cognitivos é amplamente usada em estudos

etnobiológicos, visando documentar e entender as perspectivas locais (Tuxill &

Nabhan, 2001). Durante expedição à área da Gleba Nova Olinda I, esta atividade foi

realizada em cada comunidade, com exceção de Sempre Serve, que não concordou

em participar da pesquisa. Trabalhou-se no mapeamento com base em um roteiro

ou tópico guia (Gaskell, 2002). Também foram tomadas notas de informações

adicionais consideradas pertinentes, mesmo que não estivessem incluídas no

roteiro. Para tanto foi utilizada imagem satélite Landsat 5, contendo para cada

comunidade, sua localização ao longo do rio Aruã ou do rio Maró. O grau de

complexidade das informações inseridas nos mapas dependeu do conhecimento, da

disponibilidade e do interesse dos participantes.

Page 60: Relatório Socioeconômico - Nova Olinda I

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

60

O mapeamento do uso dos recursos, elaborado em cada comunidade,

permitiu entender a utilização dos espaços acerca dos locais de ocupação, lagos,

roças, serras, ambientes florestais etc., como elementos geográficos e de uso que

dão forma ao seu mundo vivido. O espaço é percebido sobre o cotidiano, onde suas

atividades estão organizadas a partir do regime dos rios e das estações de seca e

de chuva. As percepções espaciais permitiram desvendar a relação que as

comunidades têm com suas áreas de uso. “As percepções espaciais podem se

constituir em verdadeiros mapas mentais, uma vez que são os produtos das

experiências vividas no espaço, transportadas para o papel a partir de um

conhecimento acumulado” (Fraxe et. al 2006, p.238).

Dois exemplos oriundos do mapeamento foram incluídos neste documento

(Figuras 21 e 22), dando a idéia da importância do uso deste instrumento e do

conhecimento detido pelos informantes em relação à área em que moram e aos

recursos nela existentes. Tratam-se de exemplos concernentes à Mariazinha,

situada no rio Marózinho, um dos afluentes do Maró, e à São Francisco do Aruã,

comunidade que traz em seu nome, a sua localização. Dados sobre pontos

geográficos, ambientes naturais e antropogêncios (roças, terra preta, capoeiras)

foram localizados e nomeados. O mapeamento das áreas de uso de recursos

naturais de origem vegetal e animal foi feito em polígonos, estratégia que favorece a

mensuração dessas áreas, sugerindo as reais possibilidades de exploração e uso

sustentável dos recursos locais (Tabela 18).

As unidades de paisagem, se distinguem por apresentar um conjunto

integrado de atributos abióticos e bióticos localmente percebidos, tornando assim, a

identificação da paisagem uma construção coletiva e individual que depende da

história de socialização das pessoas com o ambiente, ou seja, as experiências e

vivencias dos povos que vivem na floresta.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Figura 21- Moradores mapeando suas áreas de uso.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Figura 22 - Mapas de uso dos recursos construído em campo.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Tabela 18 – Exemplos de recursos extrativistas citados durante mapeamento participativo nas comunidades da Gleba Nova Olinda I. Recursos oriundos de práticas extrativistas na Gleba Nova Olinda I

Vegetal Animal

açaí, amapá, andiroba grande e pequena, angelin-pedra, apuí, araraúba, bacaba, bacuri, barbatimão, breu branco, b. amarelo, b. sucuruba, buriti, caju-açu, caranã, carapanaúba, castanha, cedro, cedrorana, cipó-ambé, cipó-titica, copaíba, cumaru, cupiúba, curauá, guaruba, inajá, invirataia, ipê amarelo, ipê roxo, itaúba, jacarandá, jacareúba, jarana, jatobá, jutaí, louro-faia, mandioqueira, maparajuba, maracatira ou muiracatiara, maracujá, marapuama, marupá, massaranduba, mucajá, mucunã, muruci, mururé, pajurá, palha, patauá, piqui, piranheira, piriquita, preciosa, quina-quina, sapucaia, seringueira, sorva, sucuúba, taperebá, tapuru, tauari, tucumã amarelo e tucumã-açu, ucuúba, unha de gato, uxi liso e curuba, verônica.

Aves: cujubinha, galega, inambú-açu (macuca), jacu-açú, mutum, urumutum. Animais aquáticos: boto vermelho, boto preto, jacaré-tinga, jacaré-uma, peixe-boi. Animais terrestres: caititu, cutia, gato maracajá, onça pintada, onça preta, onça vermelha, porcão, queixada, tatu, veado foboca, veado vermelho. Peixes: traíra, pacu, apurá, jatuarana e aracu. Quelônios: jaboti branco, jaboti vermelho, perema da lista vermelha na cabeça, tartarugas, tracajás. Mel de abelhas jupará, italiana, jandaíra, cú de vaca, tucano preto e tucano vermelho.

No laboratório de sensoriamento remoto, os mapas elaborados pelos

comunitários foram fotografados e inseridos no programa ArcGIS. Com base nos

pontos espacializados sobre a imagem de satélite, os ambientes apontados pelos

participantes foram vetorizados e os polígonos associados com suas respectivas

denominações, como nomes de corpos d’águas e outros ambientes. Os mapas de

uso dos recursos naturais gerados (Figuras 23 e 24) serão utilizados pelas

comunidades como ponto de partida para a elaboração dos projetos de

desenvolvimento comunitário e para balisar o Plano de Uso da Gleba, já em fase de

construção com o apoio do STTR e colaboradores.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Figura 23- Mapa de uso da comunidade Novo Paraíso processado em ArcGIS

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Figura 24 - Mapa de uso da comunidade Mariazinha processado em ArcGIS

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

66

II. 3 Oficina de capacitação:

O desenvolvimento comunitário acontece quando há desenvolvimento de

capital humano, ou seja, fomento ao protagonismo da comunidade e aumento do

capital social – capacidade de articulação dos atores junto as organizações dos

diferentes setores. A realização da oficina proporcionou á população das

comunidades da Gleba acesso a informações que lhes permitiram entender como se

constrói um projeto.

Projetos de cunho participativo que ao mesmo tempo sejam desenhados de

forma a conceber geração de renda, sustentabilidade ambiental e articulação dos

atores envolvidos no processo, demandam tempo e uma certa estruturação de

capital humano.

A primeira oficina de capacitação foi realizada nas comunidades e para tanto

se utilizou de métodos lúdicos, dinâmicas de grupo e aplicação da cartilha. Por meio

de uma avaliação conjunta dos anseios, limitações e perspectivas geradas pela

elaboração de projetos para o desenvolvimento comunitário é que se trabalhou a

construção do pensamento dos comunitários.

As analogias com o cotidiano vivido pelos moradores em conjunto com seus

conhecimentos sobre o local conduziram os exercícios para a formatação dos

projetos.

Em muitas das comunidades o entendimento do que é um projeto se

espelha em buscar resultados para demandas que devem ser imediatamente

solucionadas. Estas demandas se traduzem em “melhorias da comunidade” e “uma

população beneficiada”, que devem chegar sob forma de geração de renda por meio

de projetos econômicos. Um exemplo típico é a necessidade de imediata infra-

estrutura como aquisição de transporte para escoamento da produção, e construção

de espaços para instalação de maquinários visando a produção moveleira. Projetos

voltados à garantia de produção agrícola também foram desenhados. Assim como

projetos voltados ao conhecimento tradicional local sobre os recursos naturais que

possam ser utilizados como bem social á comunidades, a exemplo da constituição

de uma “farmácia tradicional indígena” e da produção de artesanatos. (Figura 25)

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

67

Uma preocupação comum entre os moradores da Gleba, refere-se a

capacitação para gerenciamento e assistência técnica no decorrer do

projeto.Segundo eles esses são os principais gargalos, além da “falta de incentivo e

orientação para a associação da comunidade”

Figura 25- Grupo de trabalho nas comunidades – oficina de capacitação.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

68

PARTE III: OFICINA DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Com o intuito de avaliar as propostas de projetos advindas das comunidades

e, paralelamente cristalizar a capacitação dos comunitários em elaboração de

projetos, foi realizada no período de de 4 a 9 de maio na comunidade do Mentae,

localizada no rio Arapiuns a oficina específica para tal atividade. A escolha desta se

deu em função da grande cheia dos rios que ocorreu na região neste ano de 2009.

Desta oficina participaram 50% das comunidades da Gleba. Três

comunidades do rio Aruã: São Francisco, São Raimundo e Novo Paraíso e quatro do

rio Maró: Mariazinha, Repartimento, Fé em Deus e Cachoeira do Maró, totalizando

13 representantes. A ausência das demais foi justificada pelos presentes como falta

de interesse, e pela não elaboração do projeto comunitário.

III.1 A dinâmica da oficina

A oficina foi construída de forma a permitir que os participantes se

envolvessem com o tema, participassem das discussões e reflexões,

questionassem, e se capacitassem. Para tanto foram abordados e discutidos temas

sob forma de palestras e trabalhos de grupo. Conhecimento tradicional associado e

biodiversidade; manejo de recursos naturais; experiências de projetos comunitários

bem sucedidos e não exitosos foram os temas apresentados sob forma de palestras

proferidas por pesquisadores e representante de Associação Comunitária. As

apresentações fomentaram discussões entre os participantes que questionaram,

sobretudo, conceitos e estabelecimento de ações. Dentre os temas que suscitaram

demanda por explicações por parte dos presentes, a biopirataria e a valorização do

conhecimento tradicional, além do estabelecimento de contratos entre comunidade e

empresas para utilização de recursos naturais, foram os mais solicitados Foram

também questionados a aplicação do manejo e a problemática da participação

comunitária assim como a divisão dos benefícios advindos de projetos com cunho

participativo.

As atividades de grupo tiveram como propósito de trabalhar o

empoderamento das comunidades. Estas atividades visaram obter dos participantes

seu entendimento, suas dúvidas e um retrato da situação atual da comunidade. O

método escolhido para estas atividades foi o de elaboração de questões

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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consideradas primordiais para o desenvolvimento de projetos comunitários, as quais

foram então discutidas entre o grupo gerando reflexões, respostas ou novos

questionamentos. Optou-se então por realizar os trabalhos de grupo em momentos

distintos, de acordo com os encaminhamentos da oficina. A formação dos grupos de

trabalho deu-se de maneira aberta e cada participante escolheu a que grupo

pertencer (Figura 26).

Figura 26- Atividades de grupo na oficina de elaboração de projetos.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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No primeiro momento foram discutidas as questões que trataram da

construção de conceitos de identidade e comunidade; participação comunitária e

gênero. As perguntas para os grupos foram: Grupo 1: O que é comunidade ? Como

funciona a comunidade?Grupo 2: Participação de homens e mulheres nas

atividades: Como se dá a divisão de tarefas? . Grupo 3: Como circula a informação

na comunidade e por quais meios (mídias)?

As repostas dos grupos apontaram para situações reais vividas pelos

presentes em suas comunidades. O grupo 1 apontou a idéia de união,compromisso,

desenvolvimento coletivo e formação de famílias para definir a comunidade e o

funcionamento teve como base a construção da organização comunitária e sua

estrutura organizacional. O papel do líder e suas atividades também ganharam

destaque. A perspectiva de que viver em uma comunidade é possível, pois vai

“melhorar a qualidade de vida de todo mundo” devido a comunhão de idéias, a

vivencia em grupo foi apontado como entendimento da questão.

De acordo com Araújo (1994) a noção de comunidade pode funcionar como

uma ideologia capaz de encobrir a constituição de relações de dependência. sobre

algum recurso natural. No caso das comunidades da Gleba Nova Olinda pareceu

que o grupo ao responder a questão, visou ao entendimento de que se estão

organizados e unidos poderão “receber” projetos.

Para o grupo 2, as questões relacionadas a participação e gênero ganharam

conotações referentes ao reconhecimento de igualdade de direitos entre homens e

mulheres na comunidade, no que diz respeito a capacidade de ambos coordenarem

uma reunião e até mesmo uma comunidade; e no aspecto da unidade comunitária

para a efetivação de ações e atividades em que todos possam participar. Foi

também levantada a questão da autoridade do presidente da comunidade para a

distribuição de tarefas e as possibilidades que existem para promover a participação

comunitária.

O grupo 3 que discutiu as formas de comunicação na comunidade, retratou o

cotidiano vivido para que uma determinada informação chegue aos moradores.A

técnica utilizada foi de sociodrama e, desde esta perspectiva, foram delineados os

principais entraves e proposições para que a circulação de informação ocorra.

Diferentes maneiras de difundir informações foram descritas. Entre elas, avisos em

rádio e durante a concentração de comunitários (missas, cultos, jogos e outros)

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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cartas convocatórias etc. Novamente a questão da sobrecarga de ações sobre a

pessoa do líder foi questionada e discutida. A distribuição de tarefas entre os

membros da organização parece ser uma situação que gera polêmicas e

diversidade de opiniões entre os comunitários. Esta dificuldade pode ser explicada

pela ausência de capacitação para a participação e gestão participativa. Em relação

a este tipo de gestão faz-se referencia a um modelo de governança de ações com

a participação de diferentes atores existentes nas comunidades.

A seqüência da oficina foi moldada de maneira a permitir aos participantes

construir suas idéias em torno da elaboração de projetos, além de expor de que

forma ocorre a mobilização em cada comunidade presente no evento. As atividades

de grupo seguintes focaram em questões voltadas para o tema: “Projetos para a

comunidade ou projetos da comunidade”. As questões propostas foram: Grupo 1:

Quais projetos existem na sua comunidade? Grupo 2: Como foi a participação da

comunidade na elaboração da idéia e na realização do projeto? Grupo 3: Como

projetos comunitários afetam a comunidade?

Ao descreverem os projetos existentes foi possível perceber o

reconhecimento por parte dos comunitários de que para o estabelecimento das

atuais estruturas existentes em suas comunidades, tais como escolas, barracão e

igrejas, foi necessária a formatação de um projeto. Este exercício permitiu aos

participantes perceber que é necessário o estabelecimento de organização,

discussões democráticas e participação comunitária para a construção de idéias e

sugestões que poderão estruturar e moldar modos de vida nas comunidades. É

importante observar que, para os moradores da Gleba Nova Olinda ainda não

ocorreu em nenhuma comunidade projetos com cunho econômico gerado pela

própria comunidade.

O principal fator para que tais estruturas sejam mantidas é a gestão

participativa, considerada também como o gargalo para a efetivação de ações que

visam “melhorias” para a comunidade. Situações internas como a desunião e

desconfiança entre os comunitários, e externas como a ausência de assistência

técnica foram citadas como fatores desestruturantes para que os projetos

considerados como de desenvolvimento comunitário possam dar certo.

Os projetos que chegaram a suas comunidades foram concebidos seguindo

a tendência de “cima para baixo”, sem consulta aos moradores. Para os moradores

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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da Gleba a relação comunidade-projetos ainda não está consolidada, pois: “Projeto

vai melhorar depois que o povo vê o projeto, desenvolve a comunidade. A

experiência da casa de farinha que durou mais de 5 anos e acabou porque não teve

organização e não teve coordenação, faltou incentivo...”

Esta fala representa a situação que em geral ocorre nas comunidades, onde

projetos oriundos de processo não participativos são injetados nas organizações

comunitárias sem que haja envolvimento dos moradores.

III.2 Os Projetos comunitários

Precedendo a apresentação dos projetos elaborados pelas comunidades, foi

necessário entender como estes foram construídos. A terceira dinâmica de trabalho

na oficina foi então realizada partindo da questão: Como foi a elaboração dos

projetos nas comunidades? Nesse momento cada representante comunitário

descreveu esse processo.

Em todas as comunidades houve reuniões para discutir sobre o projeto a

ser elaborado. Estas reuniões tiveram processos diferenciados de acordo com a

forma de organização de cada comunidade. Em algumas destas, segundo seus

representantes, a idéia foi desenvolvida em “bate-papos” entre as lideranças e,

posteriormente, apresentados aos moradores. Outras tomaram a decisão a partir de

uma única reunião e pensando na questão sobre qual a principal necessidade da

comunidade.

Para a apresentação dos projetos pelos comunitários foi proposta a dinâmica

de formação de uma banca de avaliadores entre os próprios comunitários, dando-

lhes oportunidade de participarem criticamente. Esta banca de avaliadores teve

como função representar os apoiadores e fomentadores de diferentes categorias e

realizar questionamentos aos propositores sobre seus projetos. Os questionamentos

foram também realizados pelos pesquisadores presentes na oficina. O principal foco

desta dinâmica foi o de analisar os principais objetivos de cada projeto apresentado,

e seus benefícios às comunidades. As discussões e esclarecimentos surgidos após

a apresentação permitiram aos representantes das comunidades sanar dúvidas e

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

73

até mesmo reestruturar os projetos comunitários ao retornarem às suas

comunidades (Tabela 19).

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Tabela 19 - Projetos das comunidades apresentados na oficina.

COMUNIDADE PROJETO OBJETIVO GERAL OBJETIVO ESPECÍFICO São Raimundo do Alto Aruã

Pimenta do Reino Plantação e comercialização.

Novo Paraíso- Aruã Microssistema de Abastecimento de água

Abastecimento de água potável para toda comunidade.

São Francisco do Alto Aruã

Plantio de macaxeira Realizar um trabalho que beneficie a todos de modo geral, trazendo facilidades tanto para o produtor (comunidade/família), quanto para o consumidor (cliente) visando à melhoria de vida de cada um dos beneficiados, fazendo com que o conhecimento e o aprendizado alcançado por todos, traga para dentro da comunidade um modo de vida social com igualdade e leve para fora tudo que sabemos sobre cultura e interatividade, respeitando os impactos ambientais que poderão a vir acontecer tanto com o campo a ser trabalhado quanto com a rodovia de acesso das comunidades até a cidade de Jurutí.

*melhorar a condição de vida das comunidades; *exportar os produtos para outras cidades e estados; *aumentar a fonte de renda local; *incentivar o agricultor a ter mais interesse pela mão-de-obra local; *interagir com a sociedade através desse produto como fonte de renda e como fonte de alimentação; *fazer com que os filhos dos agricultores tenham o máximo de conhecimento e o interesse sobre a cultura local, visando algumas finalidades como a capacitação de gerenciamento do projeto; *incentivar os nossos filhos através do projeto a permanecerem nas escolas, para se tornarem aptos a participarem de encontros e oficinas relacionadas com nossa cultura agrícola; *melhoria do acesso a via rodoviária para chegar o produto a cidade de Jurutí;

São Francisco, São

Intercomunitário (Caminhão

Este transporte tem como finalidade

*escoamento dos produtos das

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

75

Raimundo, Novo Paraíso como meio de transporte comunitário)

atender a demanda das comunidades da Gleba, facilitando o escoamento de produtos e o livre acesso dos comunitários, buscando a melhoria de vida de todos e a direta comunicação com os demais comunitários.

comunidades até a cidade; *transportar os agricultores até a cidade; *transportar os agricultores em caso de acidentes emergenciais; *facilitar o deslocamento dos comunitários para outras comunidades; *tornar o acesso viável, com segurança e conforto até a cidade.

Cachoeira do Maró Avicultura Familiar Criação de galinhas Necessidade de criar galinhas para subsistência da aldeia e venda para comunidades do rio Maró e Arapiuns.

Fé em Deus Plantio de milho e feijão irrigado

_____ Sustentabilidade, cooperativismo, geração de renda, retorno dos filhos ao trabalho e vida no interior, desenvolvimento da infra-estrutura familiar e comunitária, dignidade e educação.

Repartimento- (Maró) Plantio (feijão, arroz, milho, pimenta do reino e mandioca)

Agricultura para o consumo da comunidade e venda para outras comunidades e Santarém.

_____

Mariazinha Plantação de Feijão da Comunidade Mariazinha

Plantação de feijão para consumo da comunidade e venda para Santarém

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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Os projetos apresentados pelas comunidades presentes na oficina

correspondem às necessidades mais imediatas da população. Por si só não criam a

descolagem do desenvolvimento, mas preparam-na para tal. Os projetos de impacto

imediato local, muitos deles de baixo custo, facilmente reproduzíveis pela população

caracterizam-se pelo seu cunho econômico, social e de infra-estrutura. As propostas

econômicas foram construídas com base na atual vivência das comunidades, ou

seja, todos voltados à produção agrícola. Esta opção permite sugerir que as

comunidades da Gleba, embora reconheçam e utilizem os produtos da floresta, não

os vêem como potenciais econômicos. Não há na região exemplos contundentes de

que o manejo seja a forma mais acertada de se utilizar recursos naturais, o que

dificultou o seu entendimento, por parte da maioria dos representantes comunitários,

a propor projetos com esse cunho. O acesso destas comunidades às informações

sobre o uso sustentável dos recursos naturais é extremamente baixo, o que limita

em muito a possibilidade de adoção de novas práticas e a implementação de

modelos de exploração, beneficiamento e comercialização de produtos da

biodiversidade.

Sua concepção de produção está voltada à agricultura, muito

provavelmente em função dos inúmeros programas governamentais que

impregnaram a região amazônica com propostas de crédito para a produção

agrícola e, ainda, pela cultura de transformação do ambiente.

Percebe-se que as comunidades da Gleba Nova Olinda I encontram-se em

diferentes estágios de organização, e, assim sendo, a implementação de projetos de

desenvolvimento comunitário demandará ainda muitos esforços e investimentos,

tanto no aparelhamento do órgão gestor quanto na construção e reforço da

institucionalidade necessária à gestão participativa da Gleba.

Os projetos comunitários serão negociados brevemente com os apoiadores

e fomentadores convidados pelo Ideflor.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se aqui apresentar uma visão mais ampla das potencialidades que

possam permitir o Fortalecimento da Economia Agroflorestal e Extrativista das

Comunidades na Gleba Nova Olinda I, por meio da elaboração de projetos de

desenvolvimento comunitário. Neste sentido é fundamental que uma comunidade

busque o atendimento de suas próprias necessidades e demandas. Para alcançar

tal objetivo é altamente recomendável a participação das comunidades e dos demais

atores sociais; sua capacitação e empoderamento formatadas em uma base de

ações que satisfaça as necessidades locais.

O desenvolvimento comunitário traz diversos benefícios, a saber: 1) redução

da pobreza da comunidade em algumas dimensões; 2) elevação do capital social da

comunidade; 3) fortalecimento da comunidade; 4) aumento do trabalho formal e

informal; 5) desenvolvimento de empreendimentos locais; entre outros.

Para as populações da Amazônia, sobretudo para os moradores da Gleba

Nova Olinda I, o desenvolvimento de múltiplas maneiras de acessar os recursos

naturais e os espaços disponíveis, bem como a participação política, o acesso às

informações e aos recursos do mercado e do estado, são cruciais na resiliência

dessas populações, frente às mudanças políticas e ambientais que ora ocorrem.

(Berkes et al., 2000)

Dessa forma, insistir em modelos sistemáticos e racionais como requisito

para o desenvolvimento comunitário e declarar toda iniciativa institucional como a

única alternativa, denigre todo o esforço informal para o empoderamento e

sustentabilidade das populações locais amazônicas.

O conhecimento local não é só uma informação para ser testada ou um

conhecimento para ser desconstruído. Mas, sim, um conhecimento autêntico único,

construído de forma diferente na maneira de encarar a relação homem-natureza.

Apesar de se perceber equivalências em termos de conhecimentos ecológicos, as

informações são construídas baseadas numa outra cosmovisão, como demonstrado

pela percepção da diversidade nas formas de classificação etnobiológicas utilizadas

pelos moradores da Gleba no mapeamento de uso de seus recursos naturais.

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: Fortalecimento da economia agroflorestal e extrativista das comunidades na Gleba Nova Olinda I

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O padrão de subsistência na Gleba Nova Olinda I é tipicamente ribeirinho,

constituindo-se de uma combinação de atividades que incluem a agricultura de

subsistência, o extrativismo vegetal (frutos, fibras, madeira, palhas) a pesca e a

caça. A elevada importância destes três últimos atestam para a integridade das

florestas no interior dessa Gleba, assim como para a dependência dos moradores

quanto aos recursos naturais da biodiversidade local. Chama atenção o elevado

número de plantas utilizadas na alimentação, construção e cobertura das casas, no

preparo de remédios caseiros e toda a sorte de utensílios. Os peixes e a fauna

cinegética são as fontes básicas de proteínas na dieta dos moradores.

A região como um todo carece de estudos sobre a pesca artesanal, comercial e

de subsistência, considerando a importância da atividade para a população

ribeirinha e indígena. Fomentar o estabelecimento de acordos de pesca é uma

possibilidade a ser considerada, dependendo da ocorrência de conflitos entre as

comunidades e, eventualmente, de pescadores de fora. A criação destes acordos

depende de diálogo e negociação, mas é considerada política pública prioritária pela

Secretaria Estadual de Pesca e Aquicultura (SEPAq).

A técnica de agricultura tradicional praticada na Gleba é um elemento

importante para o manejo da fauna. Um pequeno assentamento, em poucos anos,

pode proporcionar a criação de centenas de hectares de mata secundária, repleta de

arbustos e gramíneas, que é o habitat preferido para diversas espécies de animais

que dificilmente são encontrados na floresta madura (Gross, 1983; Nietschmann,

1972). Esta associação entre a mata secundária e vários elementos da fauna é

muito bem percebida pelas populações locais, e utilizada de forma favorável a sua

subsistência. As capoeiras situadas no entorno das comunidades da Gleba são

áreas de caça importantes para os moradores. Diferentes estratégias de caça e de

pesca têm impactos variados sobre a fauna, e isso tem implicações para o manejo e

o estabelecimento de acordos coletivos entre os usuários. Considerando a

importância da caça na Gleba Nova Olinda I que é equivalente à da pesca quanto à

contribuição na dieta, projetos voltados para o manejo comunitário de fauna seriam

estrategicamente importantes. O respaldo político a experiências bem sucedidas de

co-manejo é fundamental para que a ampliação deste sistema, com adaptações às

mais distintas realidades vividas pelos moradores da Gleba.

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A principal ameaça à diversidade faunística amazônica não é sua utilização

direta. A destruição dos ecossistemas nativos é a causa principal da perda de

biodiversidade no mundo (Caughley e Gunn 1996, Primack e Rodrigues 2002). A

atividade madeireira constante dentro da Gleba Nova Olinda I, por exemplo,

representa uma dupla ameaça para manutenção da qualidade de vida dos seus

moradores e para a sua sobrevivência atual e futura.

A presença do Estado e de serviços básicos é precária, com exceção para

questão educacional, pela existência de escolas em todas as comunidades e das

três Escolas Pólo que as atendem. As principais ameaças mencionadas pelos

moradores são os desmatamentos, as queimadas e a atividade madeireira. Fica

evidente a ação de madeireiros dentro da Gleba, que agem a partir da rede de

estradas que ligam a Gleba a Juruti e Itaituba. Uma necessidade apontada como

básica pelos moradores refere-se aos meios de transporte, ainda precários na área.

O alto custo deste transporte por ser de propriedade privada, inviabiliza o

escoamento da produção e o deslocamento dos comunitários aos centros urbanos.

De acordo com a fala de muitos dos representantes na oficina, porém, a principal

necessidade é a assinatura dos projetos de assentamentos criados. Com isso terão

a garantia de suas terras, o que permitirá o uso dos recursos “de forma legalizada”.

Em consonância com os princípios metodológicos apresentados para este

projeto, propomos a formulação de atividades participativas junto às comunidades

visando promover um Plano de Desenvolvimento Comunitário para a Gleba. Este

deve considerar um ambiente onde os membros dessas comunidades possam

expressar seus anseios e necessidades, voltados à execução dos projetos

contextualizados por cada uma delas.

Os Planos de desenvolvimento comunitários são considerados instrumentos de

gestão para guiar as linhas de ação de projetos que podem ter cunho estratégico,

prioritários ou de impacto social, ambiental e político. Estes devem levar em conta o

envolvimento direto dos principais atores desde sua concepção para que sua

elaboração e execução seja democrática. No caso da Gleba Nova Olinda I, a

execução do plano de desenvolvimento comunitário deve estar associada ao Plano

de Uso já em fase de elaboração pelos moradores da Gleba.

Tem-se tornado cada vez mais aceita, nos últimos anos, no Brasil, a idéia de

que é necessário criar mecanismos que possibilitem participação mais direta da

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comunidade na formulação, no detalhamento e na implementação das políticas

públicas. A crescente difusão desse enfoque pode ser atribuída, por um lado, ao

próprio avanço da democratização do país e, por outro, a uma nova abordagem que

se vem tornando dominante no contexto internacional, que enfatiza a importância da

participação da sociedade civil e da articulação de atores sociais para as ações

relacionadas com a promoção do desenvolvimento.

É fundamental que a aplicação do plano de desenvolvimento leve em

consideração o modo de trabalho tradicional dos moradores da Gleba. Deve-se

evitar que as iniciativas elaboradas vinculem-se a noção em âmbito político e

técnico-científico de que aquelas populações necessitam de estratégia para

desenvolvimento, exterior às suas práticas. Sem que estas comunidades sejam

adaptadas às exigências impostas para a inserção em um sistema de mercado de

caráter eminentemente capitalista, afinando-se as práticas hegemônicas que são as

autênticas responsáveis pela ameaça a conservação da biodiversidade e do

desenvolvimento local.

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DIRETRIZES PARA O PLANO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DA GLEBA NOVA OLINDA I

Algumas premissas devem ser consideradas para que um Plano de

Desenvolvimento comunitário possa ser implementado na Gleba Nova Olinda I, são

elas:

1. Promover para os moradores da Gleba e lideranças a realização de

cursos de capacitação sobre o funcionamento das políticas públicas e

florestais propostas para a região (PAOF, concessão florestal,

inventário florestal, ZEE, etc.)

2. Acompanhar o retorno das informações junto às comunidades

representadas;

3. Dar o “tempo” necessário aos moradores para entender o que é plano

de desenvolvimento, plano de uso, concessão florestal, monitoramento

e suas implicações nos modos de vida dos comunitários;

4. Apoiar as lideranças na divulgação dos resultados obtidos em todas as

atividades realizadas pelos projetos comunitários aprovados;

5. Estabelecer Redes Sociais de Desenvolvimento Comunitário pautada

pela ética, com estrutura horizontal, orgânica e autônoma, na qual a

participação é incentivada, a diversidade é valorizada e o

protagonismo é desenvolvido.

6. Incentivar estudos para acordos de caça e pesca na região da Gleba

e para o manejo participativo das principais espécies consumidas

pelos moradores;

7. Incentivar estudos para o manejo de produtos florestais não

madeireiros e madeireiros das espécies reconhecidas e utilizadas

pelos moradores da Gleba;

8. Respaldar as ações do governo do estado na busca de maior

participação nas decisões nacionais no que se refere às políticas

florestais para a Amazônia;

9. Criar mecanismos que assegurem a legitimidade do processo

decisório. A deliberação pela comunidade só poderá ser considerada

legítima se houver delegação formal da competência para decidir e se

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os procedimentos forem organizados de forma transparente, sendo

garantida a possibilidade de todas as partes interessadas.

A área da Gleba Nova Olinda I, dentro da perspectiva de aplicação de políticas

florestais, representa para o Estado uma região que poderá ser piloto para que o

manejo florestal comunitário seja aplicado sob forma de projetos de

desenvolvimento. No entanto é preciso ter em conta que o processo de valorização

da floresta passa pelo apoio científico e o acesso das comunidades á tecnologia.

Este projeto executado junto às comunidades da Gleba vislumbrou que para se

“idealizar” um plano de desenvolvimento é necessário que se estabeleçam políticas

para algumas das principais demandas da região. É fundamental entender o espaço

territorial onde a Gleba está inserida, isto é, compartilhando fronteiras com a Resex

Tapajós-Arapiuns, com a Flona do Tapajós, com as Glebas Nova Olinda II e III e

com as áreas de exploração mineral no município de Juruti. Ademais, os moradores

da Gleba convivem com as emergências produtivas ou não que ocorrem na área,

tais como: a exploração madeireira, a ausência de segurança e os conflitos

fundiários com os permutados.

Gerar alternativas de desenvolvimento sustentável que possam contribuir para

a conservação da floresta e, simultaneamente, aumentar a renda das populações

locais são os principais pontos que devem ser inseridos em projetos de

desenvolvimento comunitário. Para tanto, na Gleba Nova Olinda I é importante que

sejam contemplados os seguintes tópicos:

• Fundiário: O acesso e a propriedade da terra são fundamentais para que

as comunidades da Gleba tenham a garantia de permanecer em seus

locais de trabalho, moradia e sustento. As ações do Ideflor em conjunto

com o Iterpa devem priorizar a regularização fundiária dos

assentamentos.

• Transporte: Há uma dependência de transporte para os moradores, visto

que os rios da Gleba se tornam inavegáveis no período de verão. A

articulação, em conjunto com as comunidades, de estratégias para a

instalação de linhas de navegação comunitárias, que favoreçam o

escoamento de seus produtos e o direito de ir e vir de seus moradores;

deve ser priorizada.

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• Potencial Florestal e extrativismo: As principais ações para consolidar o

manejo florestal como alternativa para a conservação e o

desenvolvimento em áreas de PEAS e PEAEX continuam sendo a

garantia ao acesso a financiamento com linhas adaptadas à realidade

local; a criação de infra-estrutura local; a assessoria técnica; o

fortalecimento das capacidades locais e a promoção do acesso à saúde

e à educação rural, entre outros. Para a concretização dessas ações é

imprescindível que as políticas estaduais para a manutenção da floresta

estejam concatenadas com os anseios das comunidades que habitam

esses assentamentos, o que não é caso da maior parte das

comunidades da Gleba Nova Olinda I. Para que isto se reverta é tarefa

do Estado incentivar e capacitar os moradores da Gleba para o manejo

florestal; criar oportunidades para que essas comunidades tenham

acesso à informação que lhes permita tomar decisões. Em se tratando

de decisões sobre a exploração dos recursos florestais (flora e fauna)

devem-se levar em conta tanto a sua ocorrência na área da Gleba,

quanto a sua utilização tradicional pelos moradores.

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