relatório percepção criativa

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Relatório de Percepção de Criatividade Objeto: Kusudama Blutenball Universidade Federal da Paraíba João Pessoa, 21 de março de 2009 Fernanda Vasconcelos Eggers – 10623429 Comunicação Social – Jornalismo Professora Sandra Chaves – Psicologia da Criatividade

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O trabalho é um relatório de percepção criativa, realizado para a cadeira de Psicologia da Criatividade, cursada em 2008.1, como optativa do curso de Jornalismo da UFPB. Descreve a composição do kusudama Blutenball, de Rocky Jardes, o processo criativo envolvido e a análise utilizando textos do livro Psicologia da Criatividade, de Todd Lubart (Artmed, 2007).

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Relatório de Percepção de Criatividade

Objeto: Kusudama Blutenball

Universidade Federal da Paraíba

João Pessoa, 21 de março de 2009

Fernanda Vasconcelos Eggers – 10623429

Comunicação Social – Jornalismo

Professora Sandra Chaves – Psicologia da Criatividade

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Para realizar esse trabalho, utilizei como base textos do livro Psicologia da Criatividade, de Todd Lubart (Artmed, 2007), o aprendizado do curso de Psicologia da Criatividade, ministrado durante o período 2008.2 e o artigo Origami (http://en.wikipedia.org/wiki/Origami) na Wikipédia em inglês, para fatos históricos sobre o origami.

Acredita-se que o Origami tenha se originado no Japão, mas parece ter raízes na China, de onde os japoneses importavam o papel no período Heian (794 – 1185 d.C.), quando o Origami começou a se tornar mais importante no país.

A palavra origami vem do japonês oru (dobradura) + kami (papel) e significa “a arte de dobrar papéis”. Logo que surgiu a prática, os samurais trocavam peças de origami entre si como presentes em suas cerimônias e não era permitido que mulheres ou crianças fizessem as dobraduras.

Além dessa, outra regra estrita era de que um origami só poderia ser produzido em papéis quadrados, sem cortá-los ou usar qualquer tipo de cola para juntar as peças. No período Edo (1603 – 1867 d.C.) as regras se tornaram menos estritas. Os papéis podiam ser cortados, colados, qualquer um podia aprender a arte tradicional do Origami e ele se tornou mais popular. Com isso, começaram a surgir novas peças além das mais tradicionais, que são conhecidas e montadas até hoje, como o Tsuru (garça) e o Kearu (sapo).

O Origami se difundiu no ocidente quando passou a ser ensinado em escolas alemãs, introduzido pelo Movimento Kindergarten, fundado pelo educador Friedrich Fröebel em 28 de junho de 1840, quando foi aberta a primeira escola pré-alfabetização, conhecido por jardim da infância. Uma senhora alemã levou o Movimento Kindergarten para o Japão, aonde teve grande aceitação e contribuiu para maior fixação do Origami na cultura e tradição locais.

Além dos origamis simples e de duas dimensões, há os origamis modulares e aqueles em 3D, alguns apresentam formas circulares ou retangulares e, na maioria dos casos, lembram flores. São chamados kusudamas (kusu = remédio, dama = bola), bolas medicinais. Assim são conhecidos pois durante a sua confecção eram adicionadas ervas em seu interior. Os japoneses acreditavam que essas ervas afastavam os espíritos malignos que faziam com que as crianças adoecessem e penduravam kusudamas nas entradas e janelas das casas. Também eram posicionados acima da cabeça dos doentes e possuiam uma corda para que a boa energia dos kusudamas fosse levada ao doente. A técnica funcionava, ainda que não fosse por causa de maus espíritos: as ervas proporcionavam conforto aos doentes e afastavam insetos transmissores de doenças.

Tenho o Origami como hobbie à cinco anos e acredito ser importante conhecer a história e filosofia contida numa prática tão fortemente ligada com a cultura e a tradição de um país, além de tão importante em diversas cerimônias japonesas. Noto também que pessoas que gostam ou fazem origamis também se interessam por outros aspectos da cultura japonesa, como os animês (animação japonesa), a técnica do ikebana (técnica de arranjos florais), danças ou literatura provenientes do Japão.

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As dobras do origami possuem certas regras, cada origami é feito a partir de um passo-a-passo de dobras. Antigamente, só era possível aprender com uma pessoa ensinando. Hoje há livro e há a internet. Muitos autores divulgam seus diagramas em sites, os dobradores de origami compartilham informações através de listas, fóruns, blogs e vídeos no YouTube. Para alguns origamis, a dobra deve ser precisa, não há espaço para muita modificação. Muitas vezes as modificações levam à criação de uma forma nova. É o caso do tsuru. Ele é, normalmente, o primeiro origami a ser aprendido, pois suas formas são base para fazer diversos outros origamis. Mas mudanças no tsuru por inexperiência levarão a um origami mal-feito. As mudanças feitas por experimentação permitiram a criação de origami de outras aves, como o beija-flor.

À esquerda, o beija-flor, no centro, o tsuru e à direita um pássaro voador (suas dobras permitem que ele bata as asas). A base dos três é igual, mas suas dobras finais os diferenciam.

Para realizar esse trabalho, escolhi um kusudama novo para mim, mas eu eu já queria montar a algum tempo, o Blutenball. Ele também não é um origami tradicional ou mesmo uma obra japonesa. É necessário usar cola para juntar os módulos e ele foi criado por um americano, Rocky Jardes. Não há diagramas explicativos na internet e não encontrei referência a nenhum livro. Foi possível ver trabalhos de outras pessoas em blogs, encontrar alguma explicação dada por elas e referências a vídeos no YouTube.

Pensei que seria um origami difícil, mas a dobra dos módulos foi fácil, pois lembrava a de outro kusudama que já fiz, o Tornillo, criação do italiano Paolo Bascetta. A junção dos módulos do Blutenball foi mais simples que a do Tornillo. Demorei uma semana para entender como juntar o kusudama italiano, mas o Blutenball não me tomou mais do que trinta minutos.

Ganhei o papel de rosas numa troca com outra pessoa que faz origamis e quando o vi, pensei logo nas formas arredondadas do Blutenball e como aquele seria o papel perfeito. Era como se ele contivesse o kusudama. Demorei para realizá-lo por falta de tempo.

Quando dobrei os módulos e testei o encaixe, percebi que era um origami flexível, desses que eu posso alterar algumas dobras para torná-lo mais individual,

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mas manter sua forma característica e que eu poderia montar a peça com diferentes quantidades de módulos. Resolvi fazer um pequeno, com apenas seis módulos.

Normalmente demoro mais tempo num kusudama. Acredito que a disponibilidade de tempo e o estado de espírito positivo durante a criação tenham me ajudado a concluir o Blutenball mais rápido.

Na primeira imagem, os módulos dobrados ao lado do papel escolhido.

Na segunda, um Blutenball montado ao lado dos módulos, seguido pelo kusudama sozinho.

As duas últimas são dos kusudamas prontos, enfeitados e finalizados.

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Por mais que o Blutenball fosse mais flexível nas suas formas, o encaixe do Tornillo permitiu alguns momentos de uma diversão mais lúdica, pois os conjuntos com três módulos encaixados me lembraram de representações de vírus e anticorpos nos livros de Biologia e de naves espaciais de filmes de ficção científica.

A primeira foto é dos 30 módulos do Tornillo dobrados, antes de montá-los. Na segunda, navezinhas que precisei desmanchar e encaixar uma na outra, para formar o Tornillo (apelidado de Sputnik), que pode ser visualizado pronto na foto ao lado.

Por ser uma tarefa que realizo por diversão, a criatividade na escolha de papéis e em qual origami vou fazer, bem como as alterações que geralmente faço e os detalhes decorativos que aplico, a motivação é intrínseca. Faço porque gosto, me divirto e acho bonito, portanto dedico mais tempo trabalhando nos origamis e em outros hobbies para aperfeiçoá-los. Também gosto de dedicar algum tempo para testar novas estampas, papéis de gramatura e textura diferentes.

Fotografar os trabalhos prontos faz parte do processo. Muitas vezes construo cenários e sempre procuro a melhor iluminação natural, pois destaca as cores e estampas do papel. Utilizo-as para divulgar o trabalho num blog (http://latelierorigami.blogspot.com).

De acordo com Todd Lubart, o estado emocional positivo favorece menos a criatividade do que o negativo. Vejo acontecer o contrário comigo. Quando estou feliz, disposta e bem-humorada, me concentro melhor numa tarefa, seja lá qual for, sou mais atenciosa e mais perfeccionista. Se estiver triste, mal-humorada, com raiva ou estressada, não consigo me concentrar o suficiente para fazer os origamis, minha mente permanece focada no problema. Se tenho alguma tarefa que preciso realizar

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por obrigação, faço-a de modo a terminar o mais rápido possível e não procuro o melhor resultado, paro no primeiro satisfatório.

Para voltar a um estado emocional neutro, não recorro a hobbies. Procuro atividades que não exijam esforço mental e que motimentem o corpo, como ir para a academia, caminhar na praia ou outro exercício físico. Aulas de aeróbica, dança e Pilates normalmente me deixam num estado emocional positivo.

Não concordo com a classificação de estilos cognitivos em relação à criatividade descrita por Todd Lubart. O autor descreve extremos e faz parecer que não existem graus intermediários. É como se alguém só fosse criativo se for sempre perseverante ou tiver um alto grau de psicotismo.

A perseverança, no caso do origami, é relativa. Se eu não consigo realizar alguma dobra, eu desisto daquela dobra até conseguir habilidade suficiente para realizá-la ou, se for uma dobra simples e eu estiver num estado de espírito negativo, até estar novamente com um humor positivo e paciência.

Vivo num ambiente familiar onde outra pessoa pussui diversos hobbies. Aprendi com ela alguns deles, como ponto-cruz e jardinagem. Isso influenciou para que eu buscasse outros hobbies e formas de distração. Meu relacionamento atual também teve influência nisso. Meu namorado incentiva que eu tenha diversas atividades e busque aperfeiçoá-las, diferente dos outros, que exigiam que eu focasse neles e me mantivesse sempre disponível.

Durante meu desenvolvimento, vivi numa casa de regras flexíveis. A principal exigência sempre foi com pontualidade e com o cumprimento de tarefas escolares, além de manter as notas altas. Fora isso, tinha a liberdade de brincar aonde quisesse, desde que arrumasse depois e não quebrasse nada e podia também escolher minhas atividades extra-curriculares, como aulas de inglês, dança ou musculação. Também não haviam exigências na hora de escolher o que eu iria comer no almoço. Como sempre gostei de verduras cruas, carne e legumes, sempre tive uma alimentação balanceada, mesmo escolhendo não comer arroz.

Acredito que essa liberdade tenha influenciado na minha personalidade. Isso permitiu que eu escolhesse fazer uma aula de origami e gastar algum tempo na internet para aprender mais, já que nunca houve limite de tempo que eu posso passar no computador.

A escola de jardim de infância que frequentei também influenciou a minha preferência por atividades manuais, já que estimulava que os alunos fizessem esculturas, desenhos, pinturas, etc.

O que percebi em relação a mim e a minha forma de expressar criatividade é que faço isso de forma diferente das outras pessoas, pois prefiro atividades individuais, as realizo melhor quando estou num estado de humor positivo ou neutro do que para tentar atingir esses estados e tenho uma paciência para essas atividades que as pessoas ao meu redor alegam não possuir. Também notei que isso

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é normal, cada um tem seu jeito de se expressar, de realizar suas tarefas e de atingir seus objetivos.

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