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Ministério da Ciência e TecnologiaInstituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Núcleo de Pesquisas em Ciências Humanas e SociaisLaboratório de Psicologia e Educação Ambiental
Laboratório de Antropologia e Etnologia
RELATÓRIO FINAL
VIDA SOCIAL DAS COMUNIDADES DAFLONA DE PAU ROSA E DO ENTORNO
MAUÉS - AM
Elaborado por:
Maria Inês Gasparetto HiguchiMaria de Nazaré de Lima Ribeiro
Carlos Henrique Ferreira SantosIgor José Theodorovitz
Manaus – AMJulho, 2009
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................................ 1FLORESTAS NACIONAIS – FLONAs................................................................................2FLONA DE PAU ROSA – MAUÉS......................................................................................3METODOLOGIA DE PESQUISA........................................................................................ 7COMUNIDADES DA FLONA DE PAU ROSA E DO ENTORNO.................................. 12Santa Marta...........................................................................................................................12Santa Maria de Ituense......................................................................................................... 18São Pedro..............................................................................................................................20Sagrado Coração de Jesus.................................................................................................... 21Ozório da Fonseca................................................................................................................ 23Santa Teresa......................................................................................................................... 25São Tomé..............................................................................................................................26Bragança...............................................................................................................................28Fortaleza............................................................................................................................... 30Santa Maria do Caiaué......................................................................................................... 31São João do Cacoal...............................................................................................................35Monte Carmelo.....................................................................................................................36Bom Pastor........................................................................................................................... 38DADOS DEMOGRÁFICOS................................................................................................40Mobilidade e Tempo de Moradia nas localidades................................................................41Situação Civil – Posse de documentos................................................................................. 44Escolaridade......................................................................................................................... 45INFRA ESTRUTURA DAS COMUNIDADES..................................................................47Habitação..............................................................................................................................47Arranjo Interno das Casas.................................................................................................... 50Transportes........................................................................................................................... 54Energia..................................................................................................................................55Meios de Comunicação........................................................................................................ 58Destino de resíduos e saneamento........................................................................................60Abastecimento e uso da água............................................................................................... 66SOCIO ECONOMIA........................................................................................................... 70Atividades econômicas – renda familiar.............................................................................. 71EDUCAÇÃO........................................................................................................................76Níveis de Ensino disponíveis nas comunidades................................................................... 77Escolas e condição dos benefícios educacionais..................................................................77Escola de Santa Marta.......................................................................................................... 80Escola de São Pedro............................................................................................................. 80Escola de Sagrado Coração de Jesus....................................................................................81Escola de Monte Carmelo.................................................................................................... 81Escola de Ozório da Fonseca................................................................................................82Escola de São João do Cacoal.............................................................................................. 82Escola de Bragança.............................................................................................................. 83Escola de Santa Teresa......................................................................................................... 83Escola de Santa Maria de Caiaué......................................................................................... 84Escola de Bom Pastor...........................................................................................................84NUTRIÇÃO......................................................................................................................... 85Bebidas................................................................................................................................. 86
v
Frutas.................................................................................................................................... 87Hortaliças e raízes................................................................................................................ 88Massas e doces..................................................................................................................... 89Alimentos industrializados................................................................................................... 90Carnes...................................................................................................................................91Preparo dos alimentos.......................................................................................................... 93SAÚDE.................................................................................................................................94Doenças mais freqüentes...................................................................................................... 95Causas de mortalidade da população nos últimos 5 anos.....................................................96Tratamento para as doenças................................................................................................. 97LAZER............................................................................................................................... 100Lazer do fim do dia............................................................................................................ 101Lazer nos fins de semana....................................................................................................104ORGANIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL...............................................................106Participação dos moradores em atividades sociais.............................................................109Clima Social....................................................................................................................... 112Aspectos de satisfação com o lugar onde vivem................................................................114Aspectos de insatisfação com o lugar onde vivem.............................................................118Intenções de mudança para outros locais........................................................................... 122Dificuldades enfrentadas.................................................................................................... 124Superando as dificuldades.................................................................................................. 126Expectativas........................................................................................................................128Empreendedorismo.............................................................................................................130Ajuda externa..................................................................................................................... 135SIGNIFICADO DO LUGAR.............................................................................................136SENTIMENTO DE POSSE DA TERRA.......................................................................... 137SIGNIFICADO DA FLONA PARA OS MORADORES................................................. 139PERCEPÇÕES SOBRE O CUIDADO AMBIENTAL..................................................... 141O que faz “bem à terra”......................................................................................................141O que faz “mal à terra”.......................................................................................................142PERCEPÇÕES SOBRE ÁREAS VERDES...................................................................... 143Identificação da área verde circundante da localidade - paisagem.................................... 144Noções sobre Floresta........................................................................................................ 145Noções sobre Mata............................................................................................................. 146Noções sobre Mato.............................................................................................................147Noções sobre Floresta Amazônica..................................................................................... 148CONCEITOS SOBRE MANEJO FLORESTAL...............................................................150CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 151APENDICE I......................................................................................................................154APENDICE II.................................................................................................................... 155
LISTA DE FIGURAS
Figura1 – Limites de abrangência da Flona de Pau Rosa 4
Figura 2- Barco da Expedição - Cometa Halley 5Figura 3- Deslocamento do barco às comunidades usando voadeiras 6Figura 4– Dificuldades de acesso para chegada na comunidade 6Figura 5– Receptividade e oferta de frutas e hortaliças à equipe de pesquisadores 7FiguraFigura
6 – Reunião com os moradores para explicação do trabalho a ser desenvolvido 87 – Interação da equipe de pesquisadores e comunitários 9
FiguraFiguraFigura
8– Interação da equipe de pesquisadores e crianças da comunidade9– Realização das entrevistas nas casas e no centro comunitário 1010– Elaboração do croqui da comunidade com auxílio dos moradores
9
11Figura 11– Localização das comunidades dentro e no entorno
dos limites da Flona PR 12Figura 12 - Vista Panorâmica da Sede comunitária de Santa Marta 14Figura 13– Croqui da Comunidade Santa Marta 14Figura 14– Vista Panorâmica da Sede comunitária de Frente São
Jorge 15FiguraFigura
15– Croqui da Comunidade Frente São Jorge16– Vista Panorâmica da Comunidade Vilanova
1617
Figura 17– Croqui da Comunidade Vilanova 17Figura 18– Vista panorâmica de Santa Maria de Ituense 19FiguraFigura
19- Croqui da Comunidade Santa Maria de Ituense20– Vista Panorâmica da Comunidade São Pedro 20
19
Figura 21 - Croqui da Comunidade São Pedro 21Figura 22– Vista Panorâmica da Comunidade Sagrado Coração
de Jesus 22Figura 23– Croqui da Comunidade Sagrado Coração de Jesus 22FiguraFigura
24– Vista Panorâmica da Comunidade de Ozório da Fonseca25– Croqui da Comunidade de Ozório da Fonseca 24
23
Figura 26– Vista Panorâmica da Comunidade de Santa Teresa 25Figura 27 - Croqui da Comunidade de Santa Teresa 26Figura 28 - Vista Panorâmica da Comunidade de São Tomé 27Figura 29 - Croqui da Comunidade São Tomé 28Figura 30– Vista Panorâmica da Comunidade de Bragança 29Figura 31– Croqui da Comunidade de Bragança 29Figura 32- Vista Panorâmica da Comunidade Fortaleza 30Figura 33– Croqui da Comunidade Fortaleza 31Figura 34– Vista panorâmica de Santa Maria de Caiaué 33Figura 35– Croqui da comunidade de Santa Maria de Caiaué 34Figura 36– Vista Panorâmica de São João de Cacoal 35FiguraFigura
37– Croqui da Comunidade de São João de Cacoal 3638– Vista Panorâmica de Monte Carmelo 37
Figura 39- Croqui da Comunidade de Monte Carmelo 37FiguraFiguraFigura
40 - Vista Panorâmica da Comunidade de Bom Pastor41– Croqui da Comunidade de Bom Pastor 3942- Estilos de construção das igrejas nas comunidades
39
47Figura 43- Arranjo espacial das residências e tipo de construção
48Figura 44– Disposição de móveis na sala 50FiguraFigura
45 - Uso do fogãozinho a carvão e fogão a gás na cozinha46– Disposição interna dos utensílios domésticos e redes 51
51
Figura 47- Objetos industrializado e manufaturados de uso dos moradores 52
vii
Figura 48– Tipo de embarcação para deslocamento de pessoas e produção54
Figura 49- Tipo de embarcação comunitária e de transporte escolarFigura 50- Casas de abrigo do gerador de energia 56
55
Figura 51– Fabricação e comercialização de carvão vegetal 58Figura 52- Proteção de cuidado aos aparelhos de telefone público em Vilanova 59Figura 53- Uso de canoas pelas crianças entre as unidades domésticasFigura 54– Lixo acumulado e queima de resíduos 61Figura 55- Depósito de garrafas para evitar riscos 62
60
Figura 56- Panelas de alumínio achatadas para venda e pilha descartada no quintalFigura 57- Acúmulo de lixo nos barrancos dos rios e lixeiras domésticas 63
62
Figura 58- Tipo de sanitário – “casinha” 65Figura 59- Sistema de abastecimento de água construído pela Funasa 66Figura 60– Abastecimento de água do rio e acondicionamento em caixas d’água 66Figura 61 - Hora do banho no rio – higiene e lazerFigura 62- Utensílios domésticos feitos de barro 72
68
Figura 63- Barco que trafega pelos rios comercializando carne bovina 75Figura 64– Tipo de construção dos prédios escolares 78Figura 65– Cupuaçu, Limão e tucumã in natura consumidos pelos moradores 87Figura 66– Banana e Graviola em fase de amadurecimento 88Figura 67– Plantio de temperos e ervas medicinais na horta comunitária 88Figura 68 – Alimentos feitos a partir da massa da mandioca 89Figura 69– Sub produtos da mandioca utilizado como alimentos 90Figura 70– Carne de Tatu pronta para ser cozida 91Figura 71- Consumo de peixes pelos entrevistados 92Figura 72– Preparo dos alimentos com poucos cuidados de higiene 93Figura 73– Poste de saúde e atendimento de emergência médica à luz de velas 98Figura 74– Remédios disponíveis nos postos de saúde locais 99Figura 75– Livros e instrumentos médicos adquiridos pelos práticos pela ajuda deestrangeiros 99Figura 76– O jogo de futebol ao final do dia reúne times de homens e mulheres 102Figura 77- Jogos de mesa com amigos ao final do dia 102Figura 78– Crianças ao fim do dia no rio e nas brincadeiras de bola no quintal 103Figura 79– O lazer como forma de união e celebração religiosa nos fins de semana
105
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1-Residência em lugares diferentes do atual...........................................................42Gráfico 2 - Locais procurados para residir em algum tempo antes da chegada ou retorno. 42Gráfico 3– Tempo de moradia dos comunitários................................................................. 43Gráfico 4– Tipo de posse da casa onde a família reside...................................................... 47Gráfico 5– Tipo de material usado nas casas....................................................................... 48Gráfico 6– Origem dos recursos despendidos na construção da casa.................................. 49Gráfico 7- Forma de aquisição da terra onde vivem........................................................... 49Gráfico 8– Tipo de energia elétrica utilizada pelos moradores............................................55Gráfico 9– Preocupação dos moradores em relação resíduos produzidos na comunidade.. 64Gráfico 10– Origem da água de beber..................................................................................67Gráfico 11 - Consumo de alimentação líquida nas famílias dos entrevistados................... 87Gráfico 12– Consumo de massas e farináceos pelos entrevistados......................................90Gráfico 13– Consumo de carnes pelos entrevistados...........................................................92Gráfico 14 - Tipos de atividades de lazer praticado pelos moradores ao fim do dia......... 104Gráfico 15- Tipos de atividades de lazer praticado pelos moradores nos fins de semana. 106Gráfico 16- Participação dos moradores em Associações Comunitárias........................... 107Gráfico 17- Tipo de atividades sociais comunitárias e frequencia.....................................109Gráfico 18– Atividades que agregam os moradores nas diferentes comunidades............. 113Gráfico 19 – Aspectos que os moradores dizem gostar mais do lugar onde moram......... 115Gráfico 20– Aspectos de insatisfação nas comunidades.................................................... 118Gráfico 21– Intenções de mudança numa eventualidade que surgir................................. 122Gráfico 22– Aspectos de dificuldades vivenciadas pelos moradores.................................124Gráfico 23 – Expectativas de melhoria para as comunidades............................................ 128Gráfico 24– Expectativas de empreendimento para as comunidades................................ 130Gráfico 25 – Tipos de atividades de extrativismo com interesse para o empreendedorismo............................................................................................................................................ 131Gráfico 26- Plantações passíveis de projetos de empreendedorismo...............................132Gráfico 27– Atividades de criação de animais passiveis de empreendedorismo............... 133Gráfico 28– Tipo de ajuda externa recebida pelas comunidades....................................... 135Gráfico 29- Significados atribuídos ao lugar..................................................................... 136Gráfico 30– Sentimentos de posse verdadeira da terra onde vivem...................................138Gráfico 31– Motivos por se sentirem verdadeiros donos da terra onde vivem.................138Gráfico 32– Motivos por não se sentirem verdadeiros donos da terra onde vivem......... 139Gráfico 33- Conhecimento dos moradores sobre o que é Flona........................................ 140Gráfico 34- Aspectos que fazem “bem à terra”..................................................................142Gráfico 35- Aspectos que fazem “mal à terra”...................................................................142Gráfico 36– Nome designado à área verde circundante (paisagem) da localidade............145Gráfico 37– Noções sobre Floresta.................................................................................... 145Gráfico 38– Noções sobre Mata.........................................................................................146Gráfico 39 – Noções referentes à diferença e semelhança entre Floresta e Mata.............. 147Gráfico 40– Noções sobre Mato.........................................................................................147Gráfico 41– Noções sobre Floresta Amazônica................................................................. 149Gráfico 42– Noções de inclusão no ambiente da Floresta Amazônica.............................. 150Gráfico 43 – Noções sobre Manejo Florestal....................................................................151
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1– Número de entrevistados por localidade............................................................. 40Tabela 2- Distribuição de pessoas por domicílio em cada comunidade...............................41Tabela 3- Distribuição por tempo de residência no local em anos.......................................43Tabela 4- Moradores das localidades que não possuíam nenhum documento.....................45Tabela 5 – Distribuição dos entrevistados por nível de escolaridade nas comunidades...... 46Tabela 6- Composição de domicílios, instituições, organizações e estabelecimentoscomerciais nas comunidades................................................................................................ 53Tabela 7- Distribuição do tipo de energia nas diversas comunidades.................................57Tabela 8 – Produção econômica e grau de renda familiar.................................................. 72Tabela 9– Renda sobre Benefícios recebidos pelos moradores em cada localidade...........74Tabela 10– Tipo de dívidas feitas pelos moradores entrevistados....................................... 75Tabela 11– Tipos de ensino oferecido nas escolas de cada comunidade............................. 77Tabela 12– Situação Educacional das Comunidades no entorno e dentro da Flona de PauRosa...................................................................................................................................... 79Tabela 13– Tipos de queixas e/ou doenças mais freqüentes entre os moradores.................96Tabela 14– Atividades de superação utilizada pelos moradores diante das dificuldadesenfrentadas..........................................................................................................................126
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Produtos base da economia familiar ............................................................... 71Quadro 2 – Discriminação de serviços desenvolvidos nas localidades ..............................73Quadro 3 – Nome dos coordenadores de cada comunidade .............................................107
1
APRESENTAÇÃO
Com o objetivo da melhoria das condições sociais e uso racional dos recursos naturais o Governo
Federal estabeleceu a criação de Florestas Nacionais. De acordo com SNUC (Lei 9985 de 2000) as
Florestas Nacionais integram o grupo das unidades de conservação de uso sustentável que
objetivam compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus
recursos naturais. O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade – ICMBio, por intermédio da Diretoria de Unidades de
Conservação de Uso Sustentável e Populações Tradicionais – DIUSP é responsável pela
elaboração e implementação dos instrumentos de gestão desta categoria de unidade deconservação
(UC). O ICMBio, se ocupa no entendimento socioambiental e na manutenção da vida nessas
localidades, bem como atua na vigilâncias dos termos de gestão dos recursos naturais. Para tanto é
necessário que se implemente e consolide um plano de manejo para a Flona dentro dos princípios
da sustentabilidade socioambiental. O Plano de Manejo, constitui-se num dos principais
instrumentos de gestão de uma Flona. Em termos concretos se trata de um documento técnico
mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se
estabelece seu zoneamento e as normas que devem orientar o uso da área e o manejo dos seus
recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à sua gestão. Na sua
elaboração é fundamental obter informações que irão colaborar para o zoneamento da unidade e a
definição de regras de utilização das zonas. Neste contexto, se faz necessário o levantamento de
informações socioeconômicas e a dinâmica social das populações que vivem no seu território bem
como as populações imediatamente em seu entorno, e que por motivos da socialidade vivida, a
Flona é um espaço de uso direto ou indireto dos moradores residentes no interior e entorno. Este
relatório se refere, pois a área de estudo da Floresta Nacional de Pau Rosa, a ser referida neste
relatório por Flona PR, que foi criada pelo Decreto s/nº de 07 de agosto de 2001, no estado do
Amazonas. Possui uma área de 947.520,285 ha localizada nos municípios de Maués e Nova
Olinda do Norte. Para responder a essa necessidade, o ICMBio, Setor de Gestão da Flona PR, por
meio da sua Chefe Ana Paula de Oliveira Mendes solicitou ao Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia - INPA, mais especificamente ao Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental
(LAPSEA) para realizar um diagnóstico socioambiental, de modo a identificar, descrever e
caracterizar os grupos cujos interesses se relacionam de forma direta ou indireta com a Flona PR,
incluindo as populações residentes no seu interior e nas comunidades do entorno, abrangendo um
número de moradores representativo. Este relatório descreve aspectos processuais da expedição e
os respectivos aspectos da relação gente e ambiente na Flona PR, que foram analisados para o fim
proposto deste trabalho. A expedição foi realizada em conjunto com o Laboratório de Manejo
Florestal (LMF) do INPA que se ocupou de dados do inventário florestal e envolveu uma
sofisticada logística por meio fluvial numa época de muitas chuvas e cheia dos rios.
FLORESTAS NACIONAIS – FLONAs
As Florestas Nacionais (Flonas) são áreas de domínio público que existem formalmente a partir da
Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965. Ao serem designadas como Flonas a área passa a ser de
posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser
desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. As áreas demarcadas como FLONA podem ter
cobertura vegetal nativa ou plantada, que no caso da Amazônia, o mais comum é a vegetação
nativa.
Com a lei 9985 de 2000 as Flonas foram integradas a esse novo Sistema de Unidades de
Conservação (SNUC) e denominadas como Unidades de Uso Sustentável direto. As Flonas tem
objetivo principal de promover o manejo de recursos naturais, com ênfase na exploração
sustentável de florestas nativas (produção de madeiras) e demais produtos vegetais, sem que esse
uso traga prejuízo aos recursos hídricos, à paisagem cênica, aos sítios arqueológicos (se
existentes) e ainda fomentar a pesquisa científica, programas de educação ambiental, atividades de
lazer e turismo. Em se tratando do desenvolvimento da pesquisa e educação ambiental, qualquer
estudo ou intervenção deve ter uma prévia autorização do órgão responsável pela administração da
unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.
Apesar da ênfase nos recursos naturais e geológicos, nas Flonas podem ter em suas áreas
moradores que estão residindo na área há muitas décadas. Dessa forma a lei resguarda o direito da
permanência de populações tradicionais que a habitam, quando de sua criação, em conformidade
com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. Essa população será um
elemento de grande importância na co-responsabilidade da gestão da Flona. Por isso é prevista a
formação de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e
constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando
for o caso, e representantes das populações tradicionais residentes. Essa conformação que prevê
uma certa versatilidade estabelecimento do processo de gestão da Flona é, na verdade bastante
complexa. Além das distâncias de acesso, em particular na Amazônia, e complicações
orçamentárias e de recursos humanos do órgão gestor, no caso o ICMBio, o processo em si
demanda aprimoramento dos mecanismos de gestão e acesso aos recursos naturais renováveis,
exigindo, inclusive, a criação de incentivos duradouros aos diversos atores envolvidos, uma vez
que as atividades ali desenvolvidas são cíclicas e de longo prazo.
FLONA DE PAU ROSA – MAUÉS
A Flona de Pau-Rosa foi criada pelo Decreto S/N, de 07/08/2001. Está localizada no Município
de Maués, no Estado do Amazonas e possui uma área total aproximada de 827,877 ha, descrita nas
Cartas Planimétricas SA-21-Y-D, SB-21-V-B, SB-21-V-D e SB- 21-V-C, do Projeto
RADAMBRASIL, escala l:250.000, ano 1978. Os limites estão também descritos nesse decreto e
abrange a confluência de dois municípios estaduais, o de Maués e Nova Olinda do Norte (Figura
1).
A Flona PR tem como objetivos a promoção do manejo de uso múltiplo dos recursos naturais, a
manutenção e a proteção dos recursos hídricos e da biodiversidade, a recuperação de áreas
degradadas, a implementação e consolidação de atividades de educação ambiental, bem como o
apoio ao desenvolvimento sustentável dos recursos naturais das áreas limítrofes
(http://www.icmbio.gov.br/Flonas/index.php?id_menu=159 ) Mesmo que criada há 8 anos, o endereço
constante no sítio de Internet acima apresentado consta estar ainda na capital do estado, Manaus,
na sede do antigo instituto IBAMA, onde há uma sala provisória para as atividades do ICMBio, e
por conseguinte, o escritório da Flona de PR. Neste sítio encontram-se os números de telefone, da
chefia atual e nenhuma outra informação, de modo que as informações sobre essa Flona ainda se
encontram de acesso restrito ao público em geral. Embora algumas informações já estejam
disponíveis para consulta junto ao órgão gestor e sua chefia, outras informações necessárias para a
implementação de ações como o Plano de Uso e Manejo necessitavam ser desveladas.
Figura – Limites de abrangência da Flona de Pau RosaFonte: MMA/IBAMA
Este trabalho trata, portanto de construir um repertório de informações iniciais para cumprir as
determinações legais de gestão e uso da Flona. O presente relatório está organizado em seções a
partir de indicadores socioambientais para o monitoramento da FLONA além de outras
informações socioculturais e percepções que podem ampliar o conhecimento das práticas atuais e
possibilidades de intervenção para uma nova atuação para cumprimento dos objetivos
estabelecidos para essa Flona.
5
A EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA
A expedição para o trabalho de coleta de informações ocorreu durante 30 (trinta) dias, iniciada no
dia 08 de fevereiro até o dia 07 de março de 2009. No dia 06 e 07 o barco as equipes foram
equipando o barco locado para a expedição - Cometa Halley (Ver Figura 2). No dia 08 de fevereiro
o barco com as equipes do INPA e ICMBio, partia rumo à Flona PR. O barco e sua tripulação
abrigou por 30 (trinta) dias, mais de trinta pessoas, entre pesquisadores, auxiliares técnicos e
representantes do órgão gestor do ICMBio, e eventualmente pesquisadores e técnicos da equipe
independente de Fauna. O percurso percorrido foi Rio Amazonas Abaixo, Lago Grande, Rio
Urariá e Rio Paraconi. A viagem teve duração aproximada 30 horas até chegar nas primeiras
localidades do entorno, Santa Marta e Frente São Jorge.
Figura - Barco da Expedição - Cometa Halley
Em muitos casos o barco atracava nas margens do rio, próximo a uma comunidade ou no meio do rio onde havia profundidade suficiente para navegação e as equipes se deslocavam com canoas – voadeiras para domicílios mais distantes (Figura 3) ou para o centro da comunidade, onde moravam alguns moradores.
Figura – Deslocamento do barco às comunidades usando voadeiras
Além dos deslocamentos a equipe também enfrentava a fragilidade das escadas já desgastadas nos barrancos ainda não totalmente submersos, uma vez que o rio ainda estava subindo (Figura 4) e as chuvas torrenciais que ocorriam na época.
Figura – Dificuldades de acesso para chegada na comunidade7
METODOLOGIA DE PESQUISA
Num cronograma sincronizado com a equipe do LMF, a equipe do LAPSEA se dirigia às
localidades iniciando na sede da comunidade. Poucas informações previas se tinha sobre a vida
social daquelas populações. Ao atracarmos em Itacoatiara-AM nos surpreendemos com as notícias
referentes aos problemas e riscos da viagem para a área da Flona PR. Os riscos colocados pelos
gestores do IBAMA nos apontavam um cenário perigoso, onde poderíamos não ser bem recebidos,
ou até hostilizados, tendo em vista problemas ocorridos com operações de fiscalização e autuações
do IBAMA e operações do Departamento Antitrafico da Polícia Federal. Surpreendentemente,
esse cenário se mostrou equivocado, pois todas as lideranças como os demais moradores
receberam com atenção e interesse os pesquisadores de todas as áreas, mesmo sem conhecimento
de nossa visita para desenvolver o diagnóstico. Nas primeiras localidades observou-se que os
moradores ficaram surpresos com a notícia do trabalho. Logo percebeu-se que havia nas
localidades e entre as comunidades um forte esquema associativo e participativo, liderado
principalmente pela Igreja Católica de Maués. Mesmo assim todos foram solícitos e ao serem
informados do trabalho, suas condições e objetivos foram colaborando em todas as informações
solicitadas. As demais comunidades que foram tomando conhecimento na medida em que
avançávamos o Rio Paraconi, já aguardavam nossa chegada para participarem do diagnóstico. Os
moradores se mostravam hospitaleiros com nossa visita e não raro traziam ao barco frutas e outros
produtos como doces caseiros e sucos de frutas (Figura 5).
Figura – Receptividade e oferta de frutas e hortaliças à equipe de pesquisadores
Em cada localidade a equipe do INPA optou por realizar uma breve reunião com alguns moradores
e líderes da comunidade para apresentar os objetivos do trabalho. Em geral ao chegarmos numa
localidade já tínhamos o nome do coordenador da associação de moradores, com quem nos
apresentávamos e solicitávamos uma reunião com os demais comunitários. Como o primeiro
contato era normalmente feito no final da tarde, a reunião era marcada para o início do dia
seguinte, dando tempo para que o maior número possível de moradores pudesse estar presente na
primeira conversa. Essa reunião ocorria à sombra de uma árvore, nos centros comunitários ou
ainda na escola (Figura 6). A reunião não ocorria apenas com a equipe socioambiental, mas com a
equipe do inventário florestal onde eram esclarecidas todas as dúvidas sobre o trabalho. Como de
modo geral os comunitários não tinham conhecimento sobre a Flona, o responsável pelo ICMBio,
Sr Huelinton da Silveira Ferreira passou a fazer uma palestra explicando a existência desse
instituto, seus objetivos e formas de gestão que ora se iniciava com o trabalho de levantamento
florestal, socioambiental e da fauna. que após da informação esclarecida os líderes recebiam e
assinavam o formulário de consentimento livre, como suporte ético às atividades de levantamento
de dados (Anexo I).
Figura – Reunião com os moradores para explicação do trabalho a ser desenvolvido
Em todas as comunidades os líderes e demais moradores prontamente aceitaram aparticipar da pesquisa e se dispuseram a auxiliar no que fosse necessário. Ressalta-se que a
convivência entre pesquisadores foi bastante amistosa e se tornava muito comum uma
interatividade de lazer no final do dia, quando os pesquisadores se juntavam para um jogo
de futebol ou os moradores vinham ao barco para conversar, oferecer algum produto ou
solicitar ajuda (Figura 7).
Figura – Interação da equipe de pesquisadores e comunitários
É surpreendente a interação que ocorreu principalmente com as crianças, que ficavam no início
tímidas no contato, mas em poucas horas estas já se juntavam nas brincadeiras com a equipe
fazendo visitas ao barco para comer, brincar ou ver no computador os mapas da região e fotos que
eram tiradas deles próprios (Figura 8).
Figura – Interação da equipe de pesquisadores e crianças da comunidade
O trabalho de coleta de informações seguia-se nessa convivência das conversas e interações
espontâneas. Muitas informações são possíveis serem apreendidas a partir dessa metodologia de
observação participante. A sistematização dessas informações foi realizada com anotações no
diário de campo de cada pesquisador e utilizada nesse relatório como detalhamento e
aprofundamento das informações fornecidas por meio da entrevista semi- estruturadas (Formulário
no Anexo II). As entrevistas foram feitas nos domicílios ou nos centros sociais, muitas vezes logo
após a reunião comunitária (Figura 9). Os que moravam perto da sede comunitária eram visitados
em suas casa, os mais distantes preferiam ser entrevistado por ocasião da reunião, uma vez que a
distância de suas casas era relativamente grande. A entrevista era conduzida pelo adulto
responsável pela unidade doméstica, mas não raro o casal respondia alguns questionamentos de
forma conjunta. As crianças se juntavam aos pais e os bebês trocavam de colo constantemente. Em
muitos casos a entrevista era interrompida para dar atenção aos pequeninos que queriam tomar a
mamadeira, comer ou estavam fazendo algo não aprovado pelos pais.
Figura – Realização das entrevistas nas casas e no centro comunitário
As respostas dadas pelos questionamentos feitos eram anotadas no formulário e depois digitadas
num banco de dados para posterior análise. A entrada dos dados exige um rigor absoluto da
informação fornecida, de modo que neste momento a fala do/a entrevistado/a é o dado bruto, sem
interpretações ou arranjos de linguagem, de modo a ser o mais fidedigno possível ao dialogo
estabelecido com o/a entrevistado/a. Os dados foram submetidos a um tratamento quantitativo e
qualitativo. Usou-se estatística não-paramétrica (percentual) para compilação da informação e em
muitos casos foi feita uma análise para estabelecimento de categorias analíticas que surgem a
partir do método de análise de conteúdo (Bardin, 1977;1 Bauer, 20022). A análise de conteúdo foi o
método principal para compreender aspectos relacionados à percepção ambiental. Além da
entrevista foi elaborado um croqui sobre o arranjo espacial da habitação e demais aparatos sociais
existentes na localidade. Esses croquis eram feitos a partir da observação in loco por um membro
da equipe, que em muitas ocasiões era auxiliado pelos moradores (Figura 10).
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Martins fontes, 1977.BAUER, M. 2002. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In Bauer, M.V. e Gaskell, G. Pesquisa qualitativa, com texto, imagem e som.
Petrópolis: Vozes, 516 pp
Figura – Elaboração do croqui da comunidade com auxílio dos moradores
As informações específicas sobre o histórico da comunidade foi feita a partir de entrevistas
consorciadas com moradores antigos ou com uma das pessoas mais antigas da comunidade e que
era indicada pelos demais como conhecedora desse processo. Dados sobre a situação escolar eram
fornecidos por professores que se encontravam na comunidade por ocasião de nossa visita, mas
essas informações foram comprometidas, pois os professores estavam de férias fora da
comunidade e os moradores não sabiam informar. Esses dados podem vir a ser completados com
um trabalho posterior na Secretaria Municipal de Educação de Maués – AM, uma vez que todas as
escolas estão
vinculadas a esse órgão público. A equipe fotografou acontecimentos, paisagens e objetos para uso no
relatório como elemento auxiliar na compreensão da sociabilidade e ambientabilidade existente na área
pesquisada. As fotos compõem um banco de imagens que foram devidamente autorizadas pelas pessoas
fotografadas para uso restrito nas atividades de pesquisa e banco para a equipe de gestão da Flona. A
veiculação da imagem para qualquer outro uso é vedada, a menos que as pessoas retratadas dêem o
consentimento para esta finalidade. Em algumas situações foram realizadas reuniões com adolescentes e
crianças com o objetivo de desenvolver atividades lúdicas ou educacionais, que neste relatório não serão
usadas para análise. Este relatório consta, pois desses dados organizados e analisados para fins de uso
pela Gestão da Flona PR/ICMBio e estudos científicos pela equipe do INPA.
COMUNIDADES DA FLONA DE PAU ROSA E DO ENTORNO
Constam das informações providenciadas pela gestora da Flona PR que havia 10 comunidades na
área interna da Flona e pelo menos 5 na área limítrofe. Considerando as coordenadas geográficas
existem na Flona PR oito (8) comunidades dentro dos limites e 8 comunidades nas áreas
limítrofes. A Figura 11 mostra a localização geográfica das comunidades, sendo que uma das
comunidades citadas como entorno não foi visitada devido o acesso, uma vez que esta se localiza,
segundo os moradores num braço do rio Urariá de Cima, mais ao norte, não tendo, portanto acesso
ao rio Paraconi e demais moradores do entorno da Flona PR.
Figura – Localização das comunidades dentro e no entorno dos limites da Flona PRFonte: MMA-ICMBio
Santa Marta
Na memória coletiva dos atuais moradores consultados não havia uma informação que
confirmasse uma história clara da habitação de pessoas que se identificam moradores de Santa
Marta. Antes da denominação “comunidade” os moradores dizem que moram nessa área, pois seus
pais nasceram e viviam ali. Poucos demonstraram curiosidade em saber sobre essa história e,
portanto dizem não saber quando e nem de onde seus antecedentes vieram. Uma informação que
se tem é que a família de um senhor chamado Antônio, que atuou muito como líder comunitário,
se mudou da região do rio Madeira há cerca de três gerações, no entanto, não se soube o motivo
dessa mudança. O Sr. Antônio
também contou a história do Sr. Elias que teria sido o primeiro morador da área e que não deixou
descendentes. Por esse motivo, o lago seria conhecido por Lago do Elias. Há aproximadamente 16 anos
os moradores da área do Lago do Elias sentiram a necessidade de uma casa de oração para o culto
religioso (católico). Começaram então a se reunir na casa de Dona Rosilda, a matriarca da família
Guimarães. Destas reuniões começaram as idéias de se ter um espaço mais adequado para as reuniões,
culto e escola, então o Sr. Antônio doou parte de sua terra para essa finalidade. O nome Santa Marta
parece ter sido escolhido pela Secretaria Municipal de Educação de Maués, por ocasião da construção da
escola, que na ausência de um nome para a comunidade, achou que Santa Marta seria ideal, pois segundo
um dos moradores, nessa Secretaria havia uma senhora que tinha um quadro de Santa Marta, e por isso
doou aos moradores pelo fato de aceitarem a sugestão. A partir disso, os comunitários adotaram Santa
Marta como padroeira. Os comunitários se orgulham do nome escolhido, pois segundo os mesmos, não há
por perto, outra comunidade com esse nome. Os moradores se organizam em associação que é amparada
e orientada pela igreja católica de Maués. A associação comunitária é organizada com representantes que
são votados e que permanecem na função por 2 anos. O primeiro coordenador foi o Sr. Mauro Magalhães
que atualmente coordena a associação de Frente São Jorge. Sua mudança ocorreu porque se casou com a
filha do casal que primeiro habitou aquela área. Todas as reuniões da comunidade possuem ata, eles
aprenderam essa forma de organização em um curso para comunidades no município de Maués. Um dos
moradores da área se diz representante do sindicato dos agricultores, no entanto, este, além de não ser
atuante nas atividades comunitárias, uma vez que comunidade é entendida pelos moradores como grupo
ligado às atividades da igreja. A localização da comunidade é de frente ao Grande Lago do Elias, entre os
Igarapés Açu e Mundurucu. A sede da comunidade (Figura 12) é habitada por membros da mesma
família, que também são os antigos e atuais líderes. Santa Marta é, no entanto, uma área maior do que a
sede, que pode ser visualizada no croqui (Figura 13)
Figura - Vista Panorâmica da Sede comunitária de Santa Marta
Figura -- Croqui da Comunidade Santa Marta
Os atuais moradores da localidade têm ligações familiares direta com o casal Maria das Graças
(Dona Pituca) e seu Paulo Pinheiro. O casal inicialmente recebeu a terra dos pais de Seu Paulo e
construíram uma casa nos arredores do lago São Jorge, onde plantaram seringa e castanha há 40
anos. Para ficar mais próximo do rio transferiram a casa mais para frente, na parte baixa da várzea.
Desta forma o nome da localidade passou a ser “Frente São Jorge”.O casal teve 10 filhos, dos
quais 6 decidiram morar próximo. Uma das filhas casou- se com Mauro, um jovem líder e atuante
de Santa Marta, que ao construir a casa propôs criarem uma comunidade. A comunidade se limita
basicamente na sede com escola e uma igreja e os seus moradores próximos. A forma atuante do
atual coordenador é responsável pela organização da associação comunitária e a construção da
escola 2001. A escola passou a ter o nome de seu pai: Bertholdo Lima, que já era falecido. Frente
São Jorge se caracteriza, assim como um agrupamento bastante familiar, mesmo tendo famílias
sem
parentes consangüíneos. Todos são participantes atuantes e são organizados e possuem regra de
convivência baseada nos preceitos católicos. Frente São Jorge e Santa Marta se caracterizam como
núcleos extensos de familiares. É uma das poucas comunidades que tem poço artesiano em
funcionamento e uma horta comunitária bem organizada, cuidada pelos moradores e utilizada como
atividade escolar. Frente à sede comunitária há uma extensa passarela por onde todos circulam para
chegar e sair, lavar roupa e tomar banho (Figuras 14 e 15).
Figura – Vista Panorâmica da Sede comunitária de Frente São Jorge
Figura – Croqui da Comunidade Frente São Jorge
Vilanova
A comunidade Vilanova esta organizada como as demais comunidades. Localiza-se às margens do
Rio Urariá em cuja sede tem uma igreja de alvenaria, um centro social, um centro de saúde e uma
escola com várias salas e equipe auxiliar paga pela SEMED de Maués, telefone público e um
centro folclórico chamado Bentimódromo, onde reúnem grupos para apresentações de danças
(Figura 16). Os moradores como os das outras comunidades tem parentes nas proximidades e se
organizam em coordenação, atualmente sendo o Sr. Antonio da Silva (Tonhão) o coordenador.
Figura – Croqui da Comunidade Vilanova
Santa Maria de Ituense
O senhor Ermelino Carvalho de Oliveira se diz o morador mais antigo na comunidade, com 65
anos no local. Segundo ele o nome Ituense é uma tradição iniciada pela memória de seu avô, que
se chamava Tomaz de Oliveira Ituá. Seu Tomaz era conhecido à época como Seu Ituá, que era um
comerciante forte. Distinguia-se dos demais, pois morava numa casa de taipa, com telha de barro.
Segundo seu Ermelino foi lá onde nasceu meu pai. Essa localidade, segundo Seu Ermelino era um
grande cacual (semente que se vendia seca) grande na época do meu avô. Nessa época não corria
dinheiro era só ouro e prata, era uma região de muito ouro e muita prata e de acordo com a mãe de
Seu Ermelino, o avô tinha um tesouro. Seu Ituá adoeceu gravemente e foi se cuidar em Belém e lá
morreu. Deixou os filhos aqui e a história do ouro e da prata nunca foi encontrada. Dizem que ele
enterrou por aí...
Aquela casa de taipa de Seu Ituá foi se acabando e alguns filhos foram para Belém, porém dois
deles, um sendo o pai de Seu Ermelino decidiu ficar nessa localidade. O tio mais tarde foi para
Belém e seu pai se fixou em Manaus. Seu Ermelino permaneceu na localidade que passou a
chamar de Comunidade Ituense. Esse nome teve origem na caracterização da família Ituá, cujos
vizinhos se referiam a sede como lugar dos Ituenses.
A idéia de virar comunidade no papel foi estimulada por um parente vereador de Nova Olinda. A
idéia surgiu pelo fato de uma das filhas de seu Ermelino ser professora em Nova Olinda e ter que
se deslocar para outras comunidades remando de canoa. Se a localidade se tornasse uma
comunidade ela poderia lecionar no local. Seu Ermelino diz que então foi para Nova Olinda com o
secretário da prefeitura e ficou acertado que seria criado uma comunidade que teria uma escola
com o nome de Santa Maria do Ituence.
A comunidade tem oficialmente 14 anos, e o fundador foi Seu Ermelino e seus filhos. Por
conseguinte Seu Ermelino foi o primeiro presidente e depois passou para seu filho Roberval de
Oliveira, e assim sucessivamente a todos os filhos. Cada “mandato” tem duração de 2 anos. Um
dos filhos não foi bom presidente, vendeu tudo o que ganhou da prefeitura e o que foi conseguido
pela família. Como os filhos envelheceram os netos não parecem se interessar pela comunidade e
foram para outras comunidades ou cidades próximas. Há alguns anos atrás tinha um pequeno
comércio e uma escola. Hoje já não tem mais comércio nem escola. A comunidade praticamente é
formada pelos filhos e genros de Seu Ermelino, que vivem do roçado.
A Comunidade Ituense tem como criador seu Ermelino que é católico. Como um dos filhos se
converteu para a igreja evangélica, este acabou criando uma nova comunidade com uma igreja
evangélica e está propondo um novo nome: Monte Sinai, onde tem uma pequena igreja e está
tentando oficializar a troca de nome, porém ainda não está oficializado. Os cultos são apenas
evangélicos. A antiga igrejinha católica foi se acabando e os cultos católicos não aconteceram
mais na comunidade. A localidade abriga quatro famílias em quatro casas e apenas uma igreja
pequena (Figuras 17 e 18).
Figura – Vista panorâmica de Santa Maria de Ituense
Figura - Croqui da Comunidade Santa Maria de Ituense
São Pedro
Os primeiros moradores foram descendentes de Aureliano Leite – os Leitezada, como eram conhecidos há 60 anos. Essa família construiu uma igreja e deu nome de São Pedro. Desde então a localidade é conhecida como São Pedro. Com o tempo vieram outros moradores da família Freire – os Freirezada. Os irmãos Freire inauguram em 2002 a escola “Cezar Gadelha” cujo nome foi uma homenagem ao primeiro professor. Desde a aglomeração destes grupos familiares, os moradores da área se identificam como comunitários e em 2002 criaram a associação que seus representantes eleitos exercem a coordenação por 2 anos.A comunidade se caracteriza pela presença de grupos familiares de duas gerações a três gerações.
Lembra um aglomerado com 15 famílias mais próximas, com outras que moram nas margens ao
longo do lago do rio Urariá. Uma vez por ano a comunidade de São Pedro se junta coma as demais
13 comunidades do rio Urariá e Paraconi para decidir um cronograma de encontros mensais para
cultos, torneios e outras atividades interativas.
A comunidade São Pedro tem uma igreja, escola, salas de apoio comunitário como cozinha e
centro comunitário e campo de futebol (Figuras 19 e 20).
Figura – Vista Panorâmica da Comunidade São Pedro
Figura - Croqui da Comunidade São Pedro
Sagrado Coração de Jesus
Segundo os moradores atuais a comunidade tem uma memória de pelo menos uma década. Há
mais de 100 anos uma mulher forte chamada Dona Francisca Pinheiro de Miranda – formou uma
família de seis filhos, que foram se casando e formando nova famílias. O número de crianças era
tanto que viram a necessidade de ter uma escola na própria localidade. Decidiram então criar uma
escola com o apoio da Semed de Maués. O nome “Sagrado Coração de Jesus” foi dado devido à
devoção de Dona Francisca.
A comunidade foi formada basicamente por três troncos familiares: os Freire, os Pinheiro e os
Barbosa. Mais recentemente chegaram os Viana, os Frós, os Peixotos, os Guimarães e os Breves.
A coordenação comunitária iniciou-se com incentivo da Diocese de Maués. A primeira
coordenação ocorreu em 1963. O primeiro coordenador foi o filho de Dona Francisca. A eleição
para este cargo ocorre de dois em dois anos e a equipe de coordenadores se reúne semanalmente.
Até o momento desta pesquisa faziam parte desse quadro Davi Freire Barbosa (coordenador)
Reginilson (Vice) Antonio Fernando (secretário) José Pinheiro (tesoureiro). Os atuais dirigentes
tem planos para formar grupos de trabalhos em conjunto.
A sede da comunidade abriga apenas algumas famílias, as demais estão dispersas ao longo das
margens do Rio Paraconi (Figuras 21 e 22).
Figura – Vista Panorâmica da Comunidade Sagrado Coração de Jesus
Figura – Croqui da Comunidade Sagrado Coração de Jesus
Ozório da Fonseca
O primeiro nome da localidade era Povoação, depois passou a se chamar Santo Antonio em
homenagem ao padroeiro da localidade e pro fim teve nome de Ozório da Fonseca. A comunidade
se caracteriza pela presença de grupos familiares e desde 1960, os moradores se identificam como
comunidade.
Os primeiros moradores da localidade foram das famílias de José Bonifácio, natural de
Pernambuco casado com Dona Maria, moradora da região e de Mariano José Rodrigues Lauriano,
casado com Dona Lucinda também moradora da região. Segundo os moradores o Sr. Lauriano foi
professor da localidade durante 16 anos e ocupou cargos de guarda de medicador (uma espécie de
agente de saúde da época), atuava como policial chegando ser vice-prefeito nomeado por Maués.
Em 1962, o político Darcy Michiles deu o nome de Ozório da Fonseca à comunidade em
homenagem ao Marechal Ozório da Fonseca, que permanece até hoje. Atualmente fazem parte da
comunidade 35 famílias, sendo que 18 moram na sede, e as outras às margens direita e esquerda
do rio Paraconi nas proximidades a sede (Figuras 23e 24).
Figura – Vista Panorâmica da Comunidade de Ozório da Fonseca
Figura – Croqui da Comunidade de Ozório da Fonseca
A organização social comunitária é representada por coordenador, atualmente o senhor Roberto
Rodrigues Macedo, Diamor dos Santos (Vice), secretário e tesoureiro.
Na comunidade há um posto de saúde, construído em alvenaria pela prefeitura de Maués, na
gestão de Sidney Leite, que atende as treze comunidades da redondeza. Em Ozório há um sistema
de comunicação bem organizado, com antena para celular e até uso de Internet. Há um centro
social igreja e uma escola. A primeira igreja católica em homenagem ao padroeiro Santo Antonio
foi construída em madeira na década de 1960 com uma torre ao lado. O sino era batido todos os
dias às 6:00h e às 18:00h. A pequena imagem de Santo Antonio usada na inauguração capelinha
foi substituída por uma maior, e a original está em Maués.
Santa Teresa
Localizada nas margens do rio Paraconi a comunidade Santa Tereza tem um histórico semelhante às outras comunidades. A comunidade começou apenas com um morador Senhor Aflaudisio Antonio Correa, seu “Didi” como era conhecido na redondeza. Este chegou na localidade e fixou residência. Antes de tornar-se comunidade a área era conhecida como o sítio do seu Didi. Em seguida outro morador vindo do Curuçá fixou também residência na área. Seu Didi doou a terra para esse morador que mais tarde casou- se com uma moradora da região do Caiuaé.A comunidade propriamente dita começou em 1983. Como a dificuldade de estudo para os filhos
eram muito grande, as famílias se reuniram para criar uma comunidade, que era condição
primordial para se ter uma escola. Os fundadores foram: Antonio Francisco da Silva, natural do
ceará e morando há 25 anos no local, Francisco Correa, Manoel da Luz (já falecido), cuja família
continua no local, e Miguel Correa. O terreno onde está localizada a escola foi doado pelo senhor
“Didi”. Por esse motivo a escola foi nomeada de “Escola Municipal Aflaudisio Antonio Correa”.
A estrutura organizacional da comunidade baseia-se em 18 domicílios e aproximadamente 20
famílias, entretanto, na sede da comunidade apenas três casas estão ocupadas. As outras famílias
moram nas margens do Rio Paraconi nas proximidades (Figuras 25 e 26).
Figura – Vista Panorâmica da Comunidade de Santa Teresa
Figura - Croqui da Comunidade de Santa Teresa
Na comunidade tem uma igreja católica que tem como padroeira Santa Tereza. Aos sábados há formação de catequese com as catequistas Nicinha e Nadir. Há ainda um centro comunitário onde os moradores costumam se reunir para suas atividades administrativas e sociais. A comunidade possui um grupo de coordenadores que atualmente é representando por Miguel Correa (Coordenador), José Nazir (Vice), Adenilson (Secretário) - filho de Nazir, Romário Correa (Tesoureiro) filhos de Miguel Correa. Semelhantes as outras comunidades do Paraconi os representantes são eleitos de 2 em 2 anos, com possibilidade de ficarem por até 4 anos.
São Tomé
A comunidade São Tomé existe há 14 anos e está localizada onde outrora foi o sítio da família Lavareda. Antes de ser comunidade, a terra pertencia ao Senhor Osmar Lavareda, casado com dona Estrogilda Freitas da Silva, filha da região do Paraconi. Dona Estrogilda morou no local por muitos anos antes de ir embora para Manaus. Depois disso, o local ficou abandonado por mais ou menos seis anos.A idéia de formar uma comunidade partiu do Senhor Edimilson Francisco Freitas, morador da
região há muitos anos. A dificuldade no deslocamento dos filhos para irem à escola foi um dos
principais motivos que levaram seu Edimilson lutar para que o local tornasse uma comunidade,
assim, teriam direitos a uma escola mais perto de sua residência que atenderia os alunos das
proximidades.
A primeira casa construída no local onde hoje é a sede da comunidade foi um galpão coberto de
palha, uma cozinha e mesas feitas de tábuas para apoio dos alunos. Nessa casa funcionou a
primeira escola. Para acomodar a professora construíram um anexo que servia de quarto para a
mesma. A primeira professora da comunidade chamava-se Maria Graciele, ela passou 2 anos
exercendo a função de magistério na comunidade. Uma das exigências da Secretaria de Educação
foi que os moradores construíssem na localidade uma igreja, assim a segunda providência dos
moradores foi a construção da igreja que viria a legitimar a localidade como comunidade. O nome
da comunidade foi colocado por outro morador da localidade Senhor José Perrone que era devoto
de São Tomé. Na comunidade há um centro social para reuniões e encontros comunitários além
das casas (Figuras 27 e 28). Apesar de ter uma escola não foi possível coletar dados educacionais
por não haver nenhum morador que pudesse dar essa informação.
Figura - Vista Panorâmica da Comunidade de São Tomé
Figura - Croqui da Comunidade São Tomé
Bragança
Localizada na margem direita do Rio Paraconi, teve como primeiros moradores Salustiano da Silva Monteiro e Maria Liberalina da Silva Monteiro. Pais de vinte e três filhos muitos dos quais nascidos na região do Paraconi e os demais nascidos no Pará onde moravam anteriormente. A família veio em busca de melhores condições de vida e fixaram residência no local onde atualmente é a sede da comunidade.Em homenagem a cidade de onde vieram Seu Salustiano colocou o nome do lugar de Bragança. A
comunidade existe há 13 anos, os motivos para tornar-se comunidade são semelhantes às outras
localidades. Os filhos precisavam estudar e as escolas eram em outras comunidades mais distantes.
Havia dificuldade para levar os filhos, remavam longas distancias até os locais onde havia escola.
Assim, os moradores reuniram-se e articularam com a Secretaria de Educação de Maués para
instalar uma escola no local e mandar professores.
A comunidade tem representantes formados atualmente por Antonio da Silva Monteiro
(Coordenador), Sebastião Rodrigues Garcia (Vice), Orlando dos Santos Barbosa (Secretário) e
Silvio da Silva Monteiro (Tesoureiro). Os representantes comunitários são eleitos de 2 em 2 anos,
podendo ser reconduzidos ao cargo por mais dois anos.
Na sede da comunidade moram 08 famílias em 05 domicílios. Tem uma igreja que tem como
padroeiro São José; um centro social onde os moradores fazem reuniões (Figuras 29 e 30). Muitos
moradores de Fortaleza, Cacoal e Monte Carmelo se dirigem a Bragança para serem atendidos
pela agente de saúde da sede.
Figura – Vista Panorâmica da Comunidade de Bragança
Figura – Croqui da Comunidade de Bragança
FortalezaLocalizada na margem direita do rio Paraconi, os primeiros moradores foram da família Pandura.
Segundo informações dos moradores o Senhor Adolfo Pandura veio do Peru com 15 anos, ficou na
região, trabalhou e casou-se com Dona Minervina dos Santos, natural da região do Paraconi.
Quando Sr Adolfo veio morar na localidade não havia ninguém na área. Ele registrou a terra no
Incra por meio da sua primeira esposa que era brasileira. Tiveram 4 filhas (Zelina, Zenaide,
Zelinda, e Maria do Socorro). Após o falecimento de Dona Minervina, o Sr Adolfo casou-se
novamente e com segunda esposa teve mais filhos. Os filhos foram casando-se e construindo casas
na localidade que era conhecido como sítio dos Panduras. Seu Adolfo faleceu com 88 anos de
idade. Antes dividiu o terreno com os filhos e cada um procurou tomar conta do seu pedaço de
terra. Para tornar-se comunidade os moradores reuniram-se na sombra de uma mangueira para
decidir a localização da sede comunitária. Um dos filhos de Seu Adolfo abriu mão do seu terreno
em favor da comunidade, que há 13 anos passou a ser chamada de Comunidade Fortaleza. O nome
“Fortaleza” foi decidido pelo pai do atual vice-coordenador e não se sabe o motivo da escolha.
Na comunidade além de algumas casas tem uma escola, um centro social e uma igreja que tem
como padroeiro São Benedito (Figuras 31 e 32). Segundo informações a primeira construção da
igreja era uma capelinha construída pelos próprios moradores. A atual construção da igreja feita
em novembro de 2001 foi feita em mutirão e embora seja em madeira é bem maior do que a
anterior. Na comunidade não há posto de saúde nem agente, essa atividade é feita pelo agente de
saúde de Bragança.
Figura - Vista Panorâmica da Comunidade Fortaleza
Figura – Croqui da Comunidade Fortaleza
Santa Maria do Caiaué
Localizada na margem direita do rio Mundurucu a comunidade teve como primeiros moradores Inácio Lopes casado com Dona Maria Muaca e João Gabriel, pai de dona Maria Muaca. As cinco famílias de etnia mudurucanha/mundurucus deram origem a localidade. Ao longo do tempo perderam o hábito de falar a língua dos antepassados indígenas e foram adotando costumes dos que chegavam no local. A tradição da língua Mundurucu era falada pelos antigos moradores, mas foi se perdendo ao longo do tempo, pois os jovens não entendiam. Segundo os mais antigos os jovens tinham vergonha de se comunicar na língua oficial dos mundurucus. Segundo Seu Valtinho a tradição da fala mundurucu é a coisa mais bonita que perderam. Os mais antigos não se comunicavam em outra língua, falavam somente na língua mundurucu. A comunidade foi fundada como dia 26/09/1972. Nesse ano fizeram a primeira festa, com a presença do Padre Santos que fez quatro casamentos e dois batizados. O dono da área batizou-se aos 82 anos. No ano seguinte festejaram Santo Antonio que naquele tempo se fazia uma grande festa que passou a ser tradicional, ao som do gambá (instrumento regional típico da época). Havia procissão de Santo Antonio entre as
comunidades coletando doações para a festa. Quando voltavam para a comunidade continuavam com a
festa noite adentro, com a mesma dança do gambá acompanhado de tamborim, foliões que cantavam. A
lembrança dessa época ainda traz alegria aos moradores que comentam a beleza dos festejos, as bandeiras
e os instrumentos que tocavam. Atualmente dizem ter perdido esse costume e os atuais moradores não
sabem
mais cantar as toadas da época da festa. Naquele tempo durante as noites de festejos os moradores
comiam beiju e biscoitos feitos de goma (amido retirado da mandioca) que chamavam na época de café
com cavaco. Toda essa tradição foi terminando com o passar dos anos.
A comunidade foi crescendo e novas famílias foram chegando e a tradição foi aos poucos
desaparecendo dos hábitos comunitários. As pessoas dizem que naquela época tudo era bonito, as
pessoas executavam todas as idéias em relação a festas e comemorações.
O primeiro coordenador comunitário foi o senhor Inácio Gabriel e a primeira coordenadora foi
dona Maria Muaca, esposa do senhor Gabriel Inácio. Dona Maria mobilizada os comunitários para
os serviços de limpeza do terreno, que segundo senhor Valter conhecido como “Valtinho” a frente
do terreno era um tirirical medonho e muitos marajás, as pessoas trabalhavam cortando os marajás
no meio da água de terçado e na época da seca os próprios moradores iam retirando os tocos que
ficavam e hoje está desse jeito (limpo), “mas aí era muito feio com tanto mato”. Nessa ilha tinha
uns pés de guaraná que o pessoal doou tudo pra comunidade.
A primeira capelinha foi construída em 1975, e no mesmo ano veio o bispo Dom Arcângelo, a
partir daí surgiu a paróquia, que nesse tempo a prelazia de Maués era auxiliada pela diocese de
Parintins. Em 1979 veio outro bispo Dom João Rizzate, nessa época a capela já era maior, embora
ainda feita em madeira. Nesta igreja o Bispo crismou muitos moradores da região.
A partir de 1975 a comunidade não parou mais de crescer e o número de famílias passou para 10
depois para 20 e hoje há aproximadamente 60 famílias. Em março de 1994 a nova capela foi
inaugurada em alvenaria com esforços dos próprios comunitários. Segundo os moradores nesse
ano havia muita roça. Seu Valtinho era o coordenador que sempre teve vontade de ajudar a
comunidade formou um novo grupo para trabalhar em favor dos comunitários. Depois do Senhor
Inácio Gabriel novos coordenadores surgiram. O segundo coordenador foi o senhor Rosendo
Mendes e a esposa Dona Rosa Mendes atuava como catequista. O terceiro coordenador foi o
Raimundo Messias, depois foi Raimundo Mendes, irmão da Noemia, depois José Edson, que era o
pai do Evaldison conhecido como “Chiquinho”, depois o Senhor Valter. O sexto coordenador Seu
Valter exerceu o mandato de coordenador três vezes, depois e uns anos ausente da coordenação,
Senhor Valter retornou para organizar novamente a comunidade e fazer as ruas. Atualmente a
comunidade lembra um aglomerado urbano dividido por duas ruas que denominam uma parte
delas de Inácio Gabriel e outra que fica atrás de Sidney Leite (Figuras 33 e 34). Depois desse
mandato, elegeram novo coordenador que foi Dona Noemia, a seguir Seu José Adelson e Seu
Manoel. O atual coordenador é o senhor Evaldison conhecido como “Chiquinho”. Cada
coordenação permanece por dois anos no cargo que pode ser renovado por mais dois. Fazem parte
da atual gestão: Evaldison Lavareda dos Santos (coordenador) Jose Ailton Freire (vice) Eliomar
Faustino da Silva (tesoureiro), Manoel Raimundo Faustino (secretario). Há também coordenação
de trabalho masculino que tem como responsável o senhor Osmar
Figura – Vista panorâmica de Santa Maria de Caiaué
Figura – Croqui da comunidade de Santa Maria de Caiaué
Com a organização os moradores já adquiriram um barco de nome Javé Nissi. Hoje já trocaram o motor por um melhor. Tudo isso trabalhando com união na associação comunitária chamada Atransmacurapá. Já compraram outro barco que tem o mesmo nome da associação. Segundo Seu Valtinho a associação trabalha com transparência, todos os associados participam das decisões tomadas. Há um cadastro e uma ficha com o nome e documentos de cada associado. A associação existe há seis anos e está registrada em cartório e toda a documentação está legalizada. Porém, o beneficio dessa união só veio depois de cinco anos de trabalho. O nome antigo da vila era Santo Antonio, mas como já existia outra comunidade com esse nome (a atual Ozório da Fonseca) decidiram mudar para não confundir com a outra comunidade. Então o Padre Gabriel, da prelazia de Parintins, sugeriu que o nome da comunidade fosse Santa Maria de Caiaué por ter muitas árvores de caiaué na área. Com a instalação do telefone público, os moradores se orgulham de ter o nome registrado em Brasília. Na comunidade há além das casas um centro comunitário e casa de alojamento para professores.
São João do Cacoal
Localizado na margem esquerda do rio Paraconi, a comunidade de Cacoal está sob a gestão da prefeitura de Nova Olinda do Norte. Os primeiros moradores a chegarem na localidade foram da família do Senhor Manoel dos Santos e Dona Maria Agostinha. Essa família reside no local há mais ou menos 100 anos. Os cinco filhos foram casando e construindo suas famílias na localidade.O nome Cacoal foi dado pelos primeiros moradores, e em 1954 o local passou a ser designada
comunidade de São João de Cacoal nome colocado então político da época Humberto Michiles
juntamente com os antigos moradores. O local lembra um aglomerado urbano com duas ruas
paralelas (uma de frente para o rio Paraconi e outra na área de trás). Na sede há um centro social
utilizado para múltiplas atividades (reuniões comunitárias, salão de festas, salas de aula).
A primeira igreja foi construída em 1954 pelos moradores, era de madeira com cobertura de palha.
A atual construção é em alvenaria, idéia de Padre Edílson que trabalhou muitos anos nas
comunidades do Paraconi. O Padre Edilson era muito atuante e visitava as comunidade de dois em
dois meses. Atualmente fazem parte da comunidade 42 famílias sendo que 12 moram na sede e as
outras distribuídas nas proximidades, tanto na margem direita quanto na esquerda do rio Paraconi
(Figuras 35 e 36). A comunidade é representada por Marquinasanor dos Santos Freire
(Coordenador), Sebastião Pinheiro (Vice), Aldemir dos Santos (Secretário), Elcimele Ferreira
Pantoja (Tesoureira).
Figura – Vista Panorâmica de São João de Cacoal
Figura – Croqui da Comunidade de São João de Cacoal
Na comunidade há um agente de saúde responsável pelo atendimento dos comunitários dando-lhes alguns medicamentos e tomando providencias de enviar os casos mais graves para a cidade mais próxima.
Monte Carmelo
Localizado na margem esquerda do rio Paraconi, no igarapé do Miriti, Monte Carmelo faz parte do município de Nova Olinda do Norte. Há mais de 65 anos o casal Manoel Nunes e Dona Maria Amazonina Ferreira da Silva, natural da região, mais precisamente da atual comunidade de Caiaué vieram morar nesta localidade. Nessa época não havia moradores no local e os dois construíram a primeira casa, plantaram roça e formaram família. Pais de 17 filhos dos quais cinco ainda permanecem na localidade com suas famílias. O senhor Manoel Nunes, atualmente viúvo, ainda permanece morando no local, mais precisamente dentro de um pequeno barco regional que atraca nos diferentes portos de seus filhos e vizinhos. Assim Seu Manoel vai levando a vida.O nome da comunidade Monte Carmelo foi idéia de um pastor evangélico da localidade de Santa
Maria que viajava pela redondeza pregando o evangélico. Em 1988 o pastor reuniu os moradores
para propor que o local tornasse uma comunidade. Para isso elegeu o primeiro coordenador
comunitário o senhor Hermínio Ferreira da Silva. Após essa organização os moradores passaram s
denominar o lugar como comunidade. Há nessa comunidade 10 casas e 13 famílias, uma escola e
uma igreja evangélica (Figuras 37 e 38). Estas famílias estão sob a atual coordenação de Manoel
Ferreira da Silva tendo como vice Geovani Ferreira da Silva. Não há secretário, tesoureiro, ou
posto de saúde nem centro social. O pastor ajudou na construção do templo evangélico em 1988
com auxilio dos pelos moradores.
Figura – Vista Panorâmica de Monte Carmelo
Figura - Croqui da Comunidade de Monte Carmelo
Bom Pastor
O primeiro morador da localidade que outrora se chamava São Tomé foi o senhor Manoel de Abreu, natural do Amazonas que segundo os moradores era um grande mestre na carpintaria que fazia casas, embarcações e outras coisas que envolvessem madeira. Morreu sem deixar herdeiros e durante muitos anos a localidade ficou sem ninguém.Em 1972 moradores da região formaram um Sindicato Rural tendo como membros Erasmo
(delegado), Osvaldo, Raimundo Marques, Raimundo Coelho (sócios) que vieram e demarcaram a
área. Esses moradores que faziam parte da localidade Centenário, onde não dispunham de terras
para trabalhar e se uniram para ocuparem uma nova área para morar e cultivar a terra. A primeira
família a ocupar a nova terra foi há família Palheta, sendo a localidade ainda chamada de São
Tomé. A partir de 1982, quando havia mais famílias na localidade, o Padre Edílson da Paróquia de
Maués trocou o nome antigo de São Tomé pelo nome atual de Bom Pastor.
Atualmente fazem parte da comunidade 13 domicílios e 15 famílias (Figuras 39 e 40). A
comunidade tem Coordenador (Raimundo Palheta), Vice (Dinelson Borges), Secretário (Cláudio
Pereira da Silva) e Tesoureiro (Vivaldo Vieira Machado). Para ocupar esses cargos há eleição de
dois em dois anos, quando os moradores da comunidade votam nos candidatos às funções
designadas.
A igreja foi construída em 1990 pelos moradores, sendo toda em madeira, coberta de telha de
amianto, piso em cimento e bancos em madeira. Antes dessa construção os cultos eram realizados
em uma pequena casa chamada de casa de oração. O padroeiro da comunidade é Cristo Bom
Pastor, festejado em janeiro no último sábado do mês.
A comunidade ainda não tem posto de saúde, mas há um agente de saúde que atende aos
moradores dando-lhes alguns medicamentos cedidos pela Secretaria de saúde. Há na comunidade
uma cozinha comunitária e escola.
Figura - Vista Panorâmica da Comunidade de Bom Pastor
Figura – Croqui da Comunidade de Bom Pastor
DADOS DEMOGRÁFICOS
As informações aqui apresentadas são fruto de entrevistas realizadas com osmoradores de cada localidade que eram escritas nos formulários e das observações
realizadas em campo e descritas no diário de cada pesquisador da equipe. A escolha dos
entrevistados se deu pela disponibilidade e presença desses moradores no momento da
visita do pesquisador. Foram realizadas 116 (cento e dezesseis) entrevistas com moradores
de ambos os sexos com idade na faixa etária de 19 a 78 anos de idades. Foram
entrevistadas 31(trinta e uma) mulheres, o que equivale a 27% do total de entrevistados,
mais 85(oitenta e cinco) homens representando 73% do total. A Tabela 1 mostra o
número de entrevistados (freqüência e percentual) em cada localidade visitada.
Tabela 1– Número de entrevistados por localidadeLocalidade Homens Mulheres Total de entrevistadosSanta Marta 6 1 7Frente São Jorge 4 3 7Vila Nova 4 2 6Sta Maria de Ituiense 2 1 3São Pedro 4 5 9Sagrado Coração de Jesus 13 6 19Ozório da Fonseca 8 4 12Santa Tereza 5 1 6São Tomé 6 - 6Bragança 2 - 2Fortaleza 4 3 7Santa Maria de Caiaué 14 3 17S. J. Cacoal 7 1 8
Monte Carmelo 3 - 3Bom Pastor 3 1 4TOTAL 85 31 116Fonte: ICMBio
Numero de Pessoas por Domicilio
De modo geral em todas as comunidades prevalece a característica de formação social centrada no núcleo familiar. É comum encontrar com moradores que afirmam não ter um conhecimento preciso de quando seus familiares se instalaram na localidade, uma vez que esse tempo já decorre de várias décadas e se constitui como uma informação que já não precisa ser lembrada, uma vez que esse tempo é “desde sempre”.A maior parte (60%) dos domicílios é formada por mais de 6 pessoas, de forma que essa família se
expressa pela presença de até 3 gerações numa mesma casa. Observa-se que na Tabela 2, apenas
40% dos entrevistados residem em domicílios com menos de 5 pessoas.
Tabela 2- Distribuição de pessoas por domicílio em cada comunidadeComunidades 1 a 3 4 a 5 6 a
78 a 9 +10 TO
TAL
Santa Maria 1 3 1 - 2 7Frente São Jorge 1 3 2 - 1 7
Vila Nova - 1 3 1 1 6Sta Maria Ituiense - 2 1 - - 3
São Pedro 2 1 3 1 2 9Sagrado Coração de
Jesus4 2 8 3 2 19
Ozório da Fonseca 3 3 2 3 2 12Santa Tereza 1 - 3 2 - 6
São Tomé 2 1 2 1 - 6Bragança - - 1 1 - 2Fortaleza 1 2 2 - 2 7
Santa Maria do Caiaué 1 6 2 4 2 17Cacoal 2 3 2 1 - 8
Monte Carmelo - 1 - 2 - 3Bom Pastor 1 - 1 2 - 4
TOTAL 19 28 33 20 16 116% 16 24 29 17 14 100
Fonte: ICMBio
Mobilidade e Tempo de Moradia nas localidades
Como as localidades em questão são centradas nas famílias, estas estão radicadas no local há vários anos. A população residente nas comunidades é praticamente fixada nela, tendo uma baixa mobilidade. Todos os entrevistados declararam ter nascido na região do Rio Paraconi. Apenas 43% (50 moradores) em alguma ocasião morou em lugares diferentes da atual comunidade (Gráfico 1).
Gráfico 1-Residência em lugares diferentes do atual
N
Os motivos da residência estão associados com sua chegada ou saída do atual lugar. A saída pra residir em outros lugares se deu principalmente por quatro motivos: casamento, trabalho, estudos, melhores condições econômicas e esejo de conhecer outros lugares. Os locais onde os atuais moradores residiram por um tempo foram quase que totalmente no estado do Amazonas (96%) sendo 41% nas cidades próximas, 39% nas comunidades próximas, 16% em Manaus e apenas 4% procurou o estado vizinho do Pará. Constata-se que a mobilidade para as cidades é mais intensa (57%) (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Locais procurados para residir em algum tempo antes da chegada ou retorno
A chegada de pessoas originárias de outros lugares se deve principalmente por motivos de casamento com alguém do local ou busca de um lugar para trabalhar (quando desempregado no lugar anterior ou por ser professor, agente de saúde). O retorno ao local de origem se deve exclusivamente por motivo familiar, como por exemplo, para ficar próximo dos pais e irmãos, Destaca-se que os moradores das comunidades em sua grande maioria (67%) estão nesses lugares há mais de 20 anos (Gráfico 3).
Gráfico 3– Tempo de moradia dos comunitários
De alguma forma o tempo de existência da comunidade está associada ao tempo demoradia da população, predominando, no entanto a permanência no lugar (Tabela 3).
Tabela 3- Distribuição por tempo de residência no local em anos
Comunidades <=1 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 ou maisSanta Marta 2 1 1 1 2Frente São Jorge 2 1 1 2 1Vila Nova 3 1 - - 2Sta Maria de Ituiense - 1 1 1 -São Pedro 1 1 2 1 4Sagrado Cor. De Jesus
3 4 3 4 5
Ozório da Fonseca 3 2 - 3 4Santa Teresa 3 - 2 - 1São Tomé 1 1 2 - 2Bragança - - - - 2Fortaleza 1 - 2 1 3Santa Maria do Caiaué
1 1 3 4 8
Cacoal - 2 2 4 -Monte Carmelo - 1 1 1 -Bom Pastor 1 1 2 - -TOTAL 21 17 22 22 34% 18 15 19 19 29
Os dados obtidos nos informam que em todas as comunidades prevalece o enraizamento, ou seja, as famílias tendem a permanecer na localidade, ou próxima dela. Essa proximidade favorece os laços de parentesco e consolida a responsabilidade e solidariedade que os membros dos grupos familiares devem ter uns com os outros. Esta realidade tem sido recorrente no interior do Amazonas e de modo especial os que vivem em comunidades cujas localidades foram incorporadas por uma legislação de Unidade de Conservação – Resex (Higuchi et al, 2006; 2008a; 2008b)3. Esse dado é crucial para identificarmos o grau de apropriação que estes moradores possuem com o lugar, favorecendo aspectos de mobilização em prol de uma melhoria da comunidade e também numa ação em que se almeje um melhor uso dos recursos no caso da implementação do plano de uso e manejo dos recursos naturais.
Situação Civil – Posse de documentos
Das 116 famílias entrevistadas nas 16 comunidades, totalizando 724 (setecentos evinte e quatro) pessoas, apenas 9% não possuía nenhum documento civil. Observa-se que o
maior índice sem documentos são os bebês até um ano de idade. Dos 40 bebês 18 deles não
tinham o registro de nascimento. Nos grupos de idade, vemos 57% das pessoas que não
tem documento são crianças de 0 a 5 anos; 21% estão na faixa etária de 6 a 15 anos; 12%
estão na faixa de 16 a 25 anos e 10% são adultos com mais de 25 anos. Outro dado
importante é que de maneira geral as crianças e adolescentes que não possuem documento
algum são provenientes da mesma família. Na tabela 4 apresentamos a distribuição desses
indivíduos sem documentação formal em cada localidade.
HIGUCHI, M.I.G. RIBEIRO, M.N.L., THEODOROVITZ, I.J. Vida Social das comunidades daResex do Baixo Juruá-AM. Relatório Técnico. Manaus:INPA/IBAMA-ICMBio, 2006.
HIGUCHI, M.I.G. TOLEDO, R.F., RIBEIRO, M.N.L.,SILVA, K. Vida Social das comunidades da ResexAuati-Paraná, Fonte Boa-AM. Relatório Técnico. Manaus:INPA/IBAMA-ICMBio, 2008a.
HIGUCHI, M.I.G., BRUNO, A.C., SILVA, V.R.G., SANTOS, C.H.F., SOUZA, I.L.F., SAMPAIO, C.A.,TOLEDO, R.F., RIBEIRO, M.N.L. Vida Social das comunidades próximas e pertencentes à ResexLago do Capanã Grande, Fonte Boa -AM. Relatório Técnico. Manaus:INPA/IBAMA-ICMBio, 2008b
Tabela 4- Moradores das localidades que não possuíam nenhum documento
Localidade/Faixa Etária 0 a 5 anos 6 a 15 anos 16 a 25 anos Mais de 25 anos TOTALSanta Maria 3 1 - - 4Frente São Jorge - - 1 - 1Vila Nova 2 - - - 2Sta Maria de Ituiense - - - - -São Pedro 3 1 - - 4Sagrado Cor. De Jesus 11 4 3 1 19Ozório da Fonseca 7 3 1 - 11Santa Teresa 2 - 2 - 4São Tomé 4 2 1 - 7Bragança - - - 1 1Fortaleza 3 - - 1 4Santa Maria do Caiaué 2 - - 3 5Cacoal 1 - - 1 2Monte Carmelo - - - - -Bom Pastor - 3 - - 3TOTAL 38 14 8 7 67% 57 21 12 10 100%
Observamos ainda que entre os adultos (pessoas maiores que 18 anos) a maioria, ouseja, 80% deles possuem todos os documentos principais (RN, RG, CPF, Titulo de Eleitor
e Carteira de Trabalho). Segundo os moradores isso foi possível pela ação da Prefeitura
Municipal de Maués, que trouxe um atendimento de barco para a emissão de todos esses
documentos, na gestão passada.
Escolaridade
O grau de escolarização de uma população é um dado importante nas ações futuras
do órgão gestor, uma vez que é um indicativo importante na formação dos moradores da
área e sua condição cidadã. A escolaridade dos moradores entrevistados segue uma
tendência encontrada em outras comunidades de UCs (Higuchi et al., 2006; 2007; 2008),
isto é, a maior concentração é de pessoas (51%) com escolaridade de primeiro ciclo do
ensino fundamental, seguido por 25% de pessoas com o segundo ciclo do ensino
fundamental. Os níveis educacionais dos entrevistados em cada comunidade podem ser
observados na tabela 5
Tabela 5 – Distribuição dos entrevistados por nível de escolaridade nas comunidades
Localidade/Ensino
Não Estudaram 1º ao 5º ano 6º ao 9º ano
Médio Incompleto Médio Completo
Superior
Santa Marta - 6 1 - - -Frente São Jorge
- 3 4 - - -
Vila Nova - 4 2 - - -Sta Maria de Ituiense
- 1 1 - 1 -
São Pedro 2 5 1 1 - -Sagrado Cor. De Jesus
- 6 8 2 2 1
Ozório da Fonseca
2 6 2 2 - -
Santa Teresa - - 2 4 - -São Tomé 1 2 3 - - -Bragança - 2 - - - -Fortaleza 2 3 1 1 - -Sta Maria do Caiaué
3 13 2 - - -
Cacoal 1 3 2 2 - -Monte Carmelo - 3 - - - -Bom Pastor 1 2 - - 1 -
TOTAL 12 59 29 12 4 1% 10 51 25 10 3 1
Religião
Observa-se nas comunidades uma religiosidade muito saliente, e de fato todas as comunidades são constituídas em torno da religião e igrejas construídas na localidade. A presença da religião católica é mais marcante, de modo que 85% das famílias entrevistadas se declararam católicas e apenas 15% são evangélicos, batistas e adventistas. As festas e eventos católicos se consolidaram com encontros muito importantes de reunião das
comunidades, que estão divididas em 13 setores da prelazia de Maués. Uma vez por mês os
comunitários se reúnem numa das comunidades previamente agendadas e escolhidas por meio de
sorteio em presença dos coordenadores de cada localidade para momentos de oração, culto,
planejamento comunitário, esportes e lazer.
As construções das igrejas são muito variadas, algumas são em alvenaria e outras em madeira,
mas todas são cuidadas com esmero pelos comunitários (Figura 42). Mensalmente são feitos
mutirões para a limpeza do terreno e arrumação do prédio.
Figura - Estilos de construção das igrejas nas comunidades
INFRA ESTRUTURA DAS COMUNIDADES
Habitação
De modo geral as casas nessas comunidades são muito parecidas com as demais comunidades no interior do Amazonas. A maioria (89%) se considera dono da própria casa, e apenas 11% diz estar vivendo numa casa que lhe foi cedida ou doada por familiares ou em alguns casos construída e cedida pela comunidade para favorecer o morador que se encontrava com dificuldades econômicas ou com problemas para construir a casa (Gráfico 4).
Gráfico 4– Tipo de posse da casa onde a família reside
A organização espacial das sedes comunitárias (local onde estão concentrados aigreja, escola e centro social) segue um arranjo linear, muito similar à disposição urbana.
As casas são normalmente construídas de frente para o rio, salvo aquelas em que são
construídas um pouco distantes do curso principal. A grande maioria das casas nas
comunidades tem sua construção básica feita de madeira, mas já surgem algumas
construções em alvenaria Os telhados das casas são feitos em palha e algumas já
apresentam cobertura de alumínio ou amianto (Figura 42).
Figura - Arranjo espacial das residências e tipo de construção
Observa-se que (93%) das casas residenciais são feitas em madeira, outras 3% estãosendo ampliadas com tijolo e 2% das casas já estão sendo construídas em alvenaria.
Entretanto, percebe-se que 2% dos moradores ainda residem em casa bastante rústicas,
sendo parcialmente abertas, com um cômodo fechado com palha e chão batido (Gráfico 5).
Gráfico 5– Tipo de material usado nas casas
Daqueles que consideram que moram em casa própria, em sua maioria (64%) admitem que fizeram a casa com seus recursos econômicos e laborais, já 23% diz que obtiveram ajuda dos familiares, e 13% contaram com ajuda econômica de órgãos públicos (Gráfico 6).
Gráfico 6– Origem dos recursos despendidos na construção da casa
Em se tratando da terra, isto é, da área geográfica em que moram, os entrevistados reconhecem pelo menos quatro formas de aquisição ocorridas no histórico de sua moradia. A mais freqüente na memória dos entrevistados é que a terra foi adquirida por meio da família (66%), outros 21% dizem ter amigos lhes deram a terra num dado momento que vieram morar na localidade; 9% relataram que compraram a terra por algum montante em dinheiro ou troca de propriedade, e 4% dizem ter chegado e se
instalado na área em que moram pois consideravam como “terra sem dono” (Gráfico 7).
Gráfico 7- Forma de aquisição da terra onde vivem
Entre os entrevistados constatou-se que 41% deles dizem ter algum documento de posse, sendo o mais comum o formulário do Imposto Territorial Rural (ITR) emitido pelo Incra, que esses moradores pagam anualmente, ou um recibo de compra emitido pelo morador anterior, que em alguns casos é feito em cartório. Pelo menos um morador alega ter título de propriedade. Já 59% reconhecem que não tem nenhum documento de legalização de propriedade sobre a área em que vivem.
Arranjo Interno das Casas
As residências possuem um arranjo interno bastante diversificado, mas de forma geral seguem modelos culturais perceptíveis noutras comunidades do Amazonas. Observa- se que nas casas são muito reduzidos os móveis manufaturados. A grande maioria das casa são divididas em duas partes, uma parte fechada para o quarto, normalmente um apenas e um salão que é dividido pelos móveis, sendo nos fundos a cozinha e na parte da frente a sala. Na sala geralmente existe uma mesa ou máquina de costura para apoiar a TV,, ao lado desta uma estante de madeira para se colocar objetos como jarro de flores artificiais, troféus, rádio, e livros escolares (Figura 43). Observa-se que os livros são objetos de grande consideração para os moradores e estes além de representarem valores simbólicos de escolarização, são elementos materiais de status social, onde os moradores se distinguem entre si a partir da quantidade de livros que dispõem.
Figura – Disposição de móveis na sala
Na cozinha encontra-se o fogão a gás que é usado apenas eventualmente, uma vez que é comum usar-se um “fogãozinho” de barro que é feito artesanalmente por algumas comunidades do Rio Paraconi. Na cozinha os moradores costumam guardar tanto os utensílios domésticos como mantimentos. As panelas são penduradas na parede e cuidadosamente areadas de modo que brilham muito. O uso do pote de barro é utilizado para armazenamento de água para beber. Nos quartos estão fixadas as redes dos adultos e crianças que durante o dia ficam enroladas para possibilitar melhor locomoção e a noite as redes são estendidas no vão interno da casa. As roupas ficam dispostas em prateleiras, ou ainda penduradas num varal interno ou nos pregos das paredes (Figuras 44 e 45).
Figura - Uso do fogãozinho a carvão e fogão a gás na cozinha
Figura – Disposição interna dos utensílios domésticos e redes
Observa-se que os arranjos internos das unidades domésticas começam gradualmente a se parecerem com ambientes urbanizados e a quantidade de objetos manufaturados e industrializados é também significante (Figura 46)
53
Tabela 6- Composição de domicílios, instituições, organizações e estabelecimentos comerciais nas comunidades
ComunidadesReconhecidas pelos
entrevistados
Santa Marta
Frente São Jorge
Vilanova
Sta Maria de Ituiense
São PedroSagrado Coração de
LocalizaçãoLimites da FLONA
FORA -Lago do EliasMargem Direita do UrariáFORA -Margem Esquerdado Paraná UrariáFORA -Margem Esquerdado Paraná UrariáFORA - Margem Esquerdado Paraná UrariáFORA -Margem Direita doParaná UrariáDENTRO - Margem Direta
Domicílios
10
12
10
4
22
18
Escolas
1
1
1
-
1
1
Postos deSaúde
-
-
1
-
-
-
Igrejas
1
1
1
1
1
1
Camposde
Futebol1
1
1
1
1
1
CentrosSociais
1
1
2
-
2
3
Telefone eoutros
-
-
1
-
-
1
EstabelecimentosComerciais:
(A) Bar(B) Comércio
1B
1A1B
1A1B
-
Jesus do Rio Paracuní
Ozório da Fonseca
Santa Teresa
São Tomé
Bragança
FortalezaSanta Maria do
DENTRO - Margem Diretado Rio ParacuníDENTRO - Margem Diretado Rio ParacuníDENTRO - Margem Diretado Rio ParacuníDENTRO - Margem Diretado Rio ParacuníDENTRO - Margem Diretado Rio ParacuníDENTRO - Margem Direta
12
10
7
4
11
27
1
1
1
1
1
1
1
-
-
-
-
-
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1**
-
-
-
1
1
-
-
-
-
-
-Caiaué do Rio Paracuní
Cacoal
Monte Carmelo
Bom Pastor
DENTRO - MargemEsquerda do Rio ParacuníFORA – Margem esquerdado Rio Paraconi – Rio MiritiFORA – Margem Direita doRio Paraconi – Rio Peixinho
13
7
8
1
1
1
-
-
-
1
1
1
1
1
1
1*
-
-
1**
-
-
1B
-
-
* Centro comunitário e escola TOTAL 175 14 2 15 15 16 5 6
54
Transportes
O transporte entre comunidades e entre moradores da mesma localidade é basicamente fluvial usando-se canoas a remo (Figura 47) ou “rabeta” - adaptação de um motor de polpa na parte traseira. Observa-se a precariedade do transporte familiar e comunitário e até mesmo o transporte intermunicipal. O barco de linha para Maués chamado pelos moradores de “recreio” entra pela “boca” (entrada) do rio Paraconi indo até a comunidade Ozório. Dependendo do número de passageiros os barcos adentram mais ou menos nos rios. Esse transporte é normalmente feito uma vez por semana.
Figura – Tipo de embarcação para deslocamento de pessoas e produção
Algumas comunidades possuem transporte próprio, como é o caso de Caiaué que a Associação Transmacurapá comprou um barco para o deslocamento de pessoas e escoamento da produção agrícola e extrativa. A Associação Transmacurapá é formada por moradores associados de maioria em Caiaué e organizada hierarquicamente, legalizada com CNPJ e se mantém graças às mensalidades dos associados. A aquisição de dois barcos (Atransmacurapá e o Jave Nissi) foi possível com auxílio de verba pública (Figura 48). O deslocamento dos comunitários é relativamente alto e observa-se que famílias inteiras costumam se deslocar para a cidade de Maués ou Nova Olinda. Esse fluxo aumenta consideravelmente no final do mês quando os benefícios e salários são pagos aos trabalhadores. É comum os moradores pegarem carona com os barcos que costumam trafegar pelos rios pela falta de uma regularidade dos barcos de linha.O transporte escolar é aos alunos é feito por barcos que são contratados pela Secretaria de
Educação Municipal. De modo geral esses barcos não são criteriosos no sentido de proporcionar
todos os requisitos básicos de segurança aos alunos. Com as atuais exigências os prestadores de
serviço estão preocupados, pois dizem não ter condições financeiras para atender as exigências
(coletes salva vidas e outros itens de navegação).
Figura - Tipo de embarcação comunitária e de transporte escolar
Energia
Nenhuma das comunidades havia energia elétrica provida pelo programa “Luz paraTodos” do Governo Federal. Constatou-se que 50% dos moradores entrevistados não
possuem energia elétrica, 43% fazem uso do gerador comunitário e 7% fazem uso de
gerador de energia particular (Gráfico 8).
Gráfico 8– Tipo de energia elétrica utilizada pelos moradores
Observa-se que em algumas comunidades há uma concentração de moradores e por estarem situados na sede comunitária, estes se beneficiam com o gerador comunitário, mas aqueles que moram distantes da sede fazem uso de um gerador particular. Os geradores são fixados normalmente na sede comunitária e a uma certa distância das casas devido o barulho que eles produzem quando ligados (Figura 49).
Figura - Casas de abrigo do gerador de energia
Nas comunidades os horários e duração são decididos pelos próprios moradores que além de ter iluminação noturna, o objetivo principal é para assistir TV. É comum nos dias de semana o gerador ser ligado nas primeiras horas da noite, quando todos aproveitam para assistir TV e acompanhar o Jornal Nacional e novelas da Rede Globo. Nos fins de semana o horário freqüente é na parte da tarde para assistir o Domingão do Faustão e jogos de futebol. Porém esses horários ficam na dependência da disponibilidade de diesel para o funcionamento do gerador. De modo geral o diesel necessário para funcionamento do gerador é comprado por todos os moradores num sistema de cotas. A cota varia, sendo a compra comunitária ou cada família contribuindo mensalmente comprando o diesel. Na comunidade de Bragança, por exemplo, não há gerador de energia nem particular nem comunitário (Tabela 7)
Tabela 7- Distribuição do tipo de energia nas diversas comunidades
Localidade/Uso de Energ. Elétrica Não tem Gerador Comunitário
Gerador Particular
Santa Marta 5 - 2Frente São Jorge 2 4 1Vila Nova 3 3 -Sta Maria de Ituiense 1 2 -São Pedro 2 7 -Sagrado Coração de Jesus 12 7 -Ozório da Fonseca 5 7 -Santa Tereza 4 1 1São Tomé 4 1 1Bragança 2 - -Fortaleza 1 5 1Santa Maria do Caiaué 9 8 1Cacoal 5 2 1Monte Carmelo 1 2 -Bom Pastor 2 1 1
TOTAL 58 50 8
Muitos moradores que não tinham energia elétrica disponível em suas casas era pelo fato de estarem distantes do gerador e não tinham dinheiro para comprar fios elétricos para chegar à sua casa ou em alguns casos porque o gerador não tinha capacidade motriz (potência) para produzir mais energia e distribuir para outras casas. Essas famílias fazem uso de lamparinas, candeeiros e lanternas para se guiar na escuridão da noite ou desenvolver alguma atividade.Constata-se que os moradores de modo geral estão cada vez mais dependentes do óleo diesel, seja
para produção de energia ou transporte. Com o incremento da renda o consumo de óleo diesel
aumenta proporcionalmente. O uso de gás para cozinha também passa a ser um produto de larga
necessidade, mesmo tendo alternativas de uso como o carvão, que também vem sendo
gradativamente incorporado para uso nos fornos para farinha e nos pequenos fogões de barro para
cozinhar alimentos. Alguns moradores já fazem do carvão uma atividade que gera renda para a
família. Há indícios de um provável aumento na produção de carvão vegetal, substituindo a
madeira usada como lenha para fogo (Figura 50)
Figura – Fabricação e comercialização de carvão vegetal
Meios de Comunicação
De modo geral o meio de comunicação mais intenso é o uso do rádio, tanto para ouvir notícias, recados, mensagens religiosas ou para ouvir música. O programa Voz do Brasil, Bicho do Mato e Fala Governador são os programas mais citados. As estações de rádio mais ouvidas dependem da antena e capacidade do aparelho, mas há uma preferência para a Radio Cultura, Radio Difusora de Itacoatiara e Rádio Local de Maués. Os rádios são usados com pilhas, raramente são usados rádios movidos a energia elétrica. Os que moram, vão ou estão na cidade enviam suas mensagens aos que permanecem na comunidade via programas de rádio.A Televisão exerce o maior fascínio para todos os moradores, os quais costumam se reunir ou no
centro comunitário ou numa das residências para compartilharem a apresentação de um programa.
Homens, mulheres e crianças dividem a atenção nos mais variados programas, porém o Jornal
Nacional, novelas e jogos de futebol são campeões de audiência. Programas de auditório
(Domingão do Faustão e BBB) são também favoritos por todos.
Apenas 17%, ou seja, em 20 residências, os moradores dizem não usar nem rádio nem Televisão,
justificando que não possuem esses aparelhos. Os que não possuem TV em casa, assistem nas
casas dos vizinhos ou na comunidade, de modo que a TV agrega encontros de todos para
assistirem os programas selecionados enquanto o gerador estiver ligadoAlém desses aparelhos de comunicação os moradores fazem uso incondicional dos recados e mensagens escritas ou faladas que são levadas pelos barcos que trafegam em frente à comunidade. É comum também o uso do telefone que possuem na comunidade, ou nas comunidades próximas. Percebe-se um grande cuidado com esse aparelho público, devido a grande utilidade que este tem para todos os moradores. É comum haver uma cabine bem cuidada em torno desse aparelho e a supervisão constante de um morador ou liderança comunitária para se certificar que todos estejam zelando pelo telefone (Figura 51).
Figura - Proteção de cuidado aos aparelhos de telefone público em Vilanova
Ao contrário dos cuidados dispensados pelos moradores aos aparelhos de telefones, as mantenedoras deste serviço de comunicação raramente retornam às comunidades cujos aparelhos apresentam problema. Dentre as cinco comunidades visitadas que possuíam o aparelho, antena e
sistema de energia solar da Embratel, apenas 2 apresentavam condições de uso. Vale acrescentar que os telefones são a mais eficiente maneira de reduzir os riscos e problemas enfrentados pelos moradores. O telefone é análogo a um atendimento de emergência que salva vidas e dá conforto aos moradores. Para se comunicar entre as moradias ou com comunidades próximas as crianças e jovens são os
mensageiros que se deslocam com grande destreza pelos rios e lagos, usando suas canoas a remo
ou ainda usando motor de rabeta (Figura 52).
Figura - Uso de canoas pelas crianças entre as unidades domésticas
Destino de resíduos e saneamento
Observa-se um padrão de consumo bastante urbano sendo introduzido nas comunidades. O tipo de descarte, que até pouco tempo era quase exclusivamente orgânico, já é considerável a presença de resíduos inorgânicos. A quantidade de plásticos, PETs, pilhas, e latas é considerável. Os plásticos advêm das embalagens dos produtos alimentícios, da mesma forma que latarias. Esta ultima tendo sua origem principalmente da merenda escolar, que envia os fiambres e conservas às escolas. As pilhas são amplamente usadas para as lanternas e rádios utilizados intensamente pela população. O alto consumo de PETs tem sua origem nos refrigerantes consumidos com uma freqüência muito alta. Os vidros são de garrafas, principalmente de aguardente vendidas pelos regatões ou pelo comercio interno. Embora os moradores não utilizem tanto papéis como na cidade, percebe-se que restos de cadernos, de livros escolares e algumas folhas de revistas perambulam com o vento entre as casas. Embora muitos já expressem uma preocupação com determinados tipos de resíduos, a maioria convive com os lugares aonde vão sendo depositados tais resíduos. Há, entretanto, uma diferenciação de descarte em função do tipo de resíduo (Figura 53)
Figura – Lixo acumulado e queima de resíduos
Os resíduos orgânicos como restos de comida, por exemplo, são sempre dados aos animais para
consumirem, quando estes sobram da alimentação diária. Já as cascas de frutas são comumente jogadas num local onde se acumula o lixo, ou então ficam espalhadas no quintal até apodrecer favorecendo a proliferação de insetos e não raro atraindo outros animais silvestres. Este é o comportamento mais freqüente (61%) em relação às cascas de frutas. Já 34% dos entrevistados admitem queimar quando estão secos. Os demais 5% declaram que dão aos animais ou fazem adubo depois de deixarem num buraco como se fosse uma composteira. As folhas secas são quase unanimemente (91%) varridas e depois queimadas. Estas são consideradas sujeiras que caem das árvores próximas às casas, por isso mantêm limpas. Para evitar que essas folhas se espalhem novamente, é feita a queima em todas as comunidades. Apenas 9% admite que junta as folhas num monte e deixa apodrecer longe da casa. Os restos de madeira ou móveis quebrados são reutilizados em outros objetos como canteiros suspensos de temperos, fazem remo, e quando não podem ser mais usados queimam como lenha. Após serem reutilizados à exaustão os resíduos inorgânicos como plásticos são queimados pela maioria (76%) dos moradores, ou então são enterrados num buraco (usualmente a fossa das casinhas) por 15% dos moradores; outros 9% dizem jogar na água ou na mata. As garrafas PETs seguem o mesmo destino. São amplamente reutilizadas para acondicionamento de combustível (diesel, gasolina). Usa-se ainda como depósito de água ou outro produto extraído da mata (óleo, mel). Em alguns casos as mulheres usam para artesanato. Depois do uso intenso esse material é queimado junto com outros objetos residuais no quintal das casas. Os vidros (potes e garrafas) ganham destino diferenciado,
quando não são vendidos ao barco de sucatas, estes são depositados em buracos da fossa, uma vez que representam um perigo quando quebrados (Figura 54).
Figura - Depósito de garrafas para evitar riscos
As latas e panelas de alumínio são achatadas e vendidas por preços irrisórios ao barco de sucatas (Figura 55). Essa atividade é amplamente utilizada pelas crianças, cuja renda lhes permite comprar salgadinhos e outras guloseimas. Dentre todos os resíduos nenhum é tão pernicioso e preocupante como as pilhas usadas para lanternas e rádios. Percebe-se uma prática duvidosa de descarte desse material, principalmente aquela, que segundo os moradores foi disseminada pela campanha da fraternidade da igreja Católica, que era de enterrá-las ao pé das bananeiras, uma vez que estas matariam as pestes comuns que atacam a banana. Outros expressam um maior entendimento do perigo existente no descarte das pilhas, por isso dizem enterrar num buraco ou jogá-lo na fossa. Uma boa parcela dos moradores admite que joga as pilhas no quintal, na mata ou no rio, porém coloca-as dentro de um plástico, que equivocadamente acreditam que diminua o problema de contaminação.
Figura - Panelas de alumínio achatadas para venda e pilha descartada no quintal
Entre todos os hábitos de descarte inapropriado dos resíduos, os moradores expressam uma preocupação muito superficial e percebe-se que apesar de falarem dessa preocupação, as ações de cuidado são mínimas. Alguns fazem um esforço para manterem lixeiras próximas da casa par depois jogá-los num buraco distante ou então queimá-los, mas o que se vê é um crescente acúmulo de lixo próximo das casas, nos barrancos dos rios e na floresta (Figura 56).
Figura - Acúmulo de lixo nos barrancos dos rios e lixeiras domésticas
Pelo menos 31% dos moradores expressam uma preocupação com os resíduos plásticos; seguidos por 23% que se preocupam principalmente com a poluição e sujeira na comunidade e nos rios; 19% centram sa preocupação no crescimento do capim ou mato no perímetro da comunidade, que deixa uma aparência de desleixo dos que lá residem, desvalorizando a localidade e a todos que vivem lá. As pilhas que são descartadas com descuido mostram que a preocupação dos moradores é insignificante, ou seja, apenas 7% deles demonstra alguma preocupação com elas; As fezes de animais, vidros e latas somam 5%. Os demais 15% dos entrevistados dizem não estarem preocupados com o lixo produzido pelos moradores (Gráfico 9).
Gráfico 9– Preocupação dos moradores em relação resíduos produzidos na comunidade
Os motivos da preocupação com cada um desses tipos de resíduos segue uma lógica funcionalista de cuidado. Por exemplo, o resíduo que desperta maior atenção, o plástico, é motivo de preocupação pelo fato de ser um perigo aos animais, que por descuido podem engolir e vir a morrer; porque deixa “sujo”, “feio” ou “bagunçado” o ambiente; pode prejudicar os peixes na água; porque é proibido pelos órgãos gestores; o plástico junta doença; pode acumular água e virar criadouro do mosquito da dengue; demora muito para acabar.A preocupação em torno da sujeira da comunidade agrega motivos que possam favorecer a
disseminação de doenças, atrair animais peçonhentos, insetos e urubus; poluir as águas dos rios
próximos. Mas o principal motivo é a apresentação da comunidade como aspecto de higiene e
organização social, pois a sujeira “deixa a comunidade feia”. Deixar o capim ou mato crescer na
sede da comunidade é uma preocupação muito parecida com a sujeira acumulada. O capim pode
servir de esconderijo de cobras e outros animais que são perigosos às pessoas, principalmente para
as crianças. Essa vegetação rasteira favorece ainda a criação de formigas, mosquitos, micuins,
carrapatos e outros que tornam a vida dessas pessoas, em determinadas estações, insuportável.
Outro aspecto diz respeito à apresentação da comunidade, que segundo a opinião dos moradores,
deve estar “limpa”, ou seja, cuidadosamente capinada e varrida. Deixar o capim crescido “deixa a
comunidade feia e poluída”.
Entre os moradores que se preocupam com o descarte das pilhas há um motivo único, ou seja,
todos se preocupam com o “veneno” da pilha, ou com o “produto químico que pode contaminar a
água, a terra e as pessoas”. Com os vidros e latas o principal risco na opinião daqueles que se
preocupam com isso é das crianças ou as pessoas se machucarem ou se cortarem com os cacos ou
latas enferrujadas.
Para os moradores que declararam não ter preocupação com o lixo ou descarte de resíduos está
baseado na justificativa de que a comunidade por enquanto não tem quantidade de lixo como na
cidade.
O saneamento em boa parte das comunidades é bastante precário ou inexistente. É bastante
comum, ou seja, 96% dos moradores fazerem suas necessidades fisiológicas em casinhas
construídas próximo à casa. Essas casinhas são feitas de madeira e com a fossa. Em muitos casos a
casinha é compartilhada por membros da mesma família de várias casas, ou ainda, a comunidade
constrói o sanitário para uso comum de boa parte dos moradores (Figura 57). Apenas 4% dos
entrevistados admitem usar a mata para fazer suas necessidades.
A água servida na cozinha para lavagem de utensílios domésticos é despejada displicentemente
pela janela, formando uma lama que exala um mau cheiro e se espalha no quintal. Os animais
criados no quintal como galinhas, patos, porcos e cães acabam por beber dessa água e também são
os responsáveis pela sujeira que se espalha por debaixo das casas e se alonga no terreno todo.
Figura - Tipo de sanitário – “casinha”
Abastecimento e uso da água
Apenas quatro (4) comunidades tem poço para abastecimento de água (Frente São Jorge, Ozório da Fonseca, Santa Maria de Caiaué e Fortaleza) que foram feitos com recursos públicos seja da Prefeitura de Maués ou pela Funasa (Figura 58).
Figura - Sistema de abastecimento de água construído pela Funasa
Apesar de que várias comunidades já terem todo o equipamento e a escavação feita pela anterior administração municipal de Maués. Pelo tempo deixado sem concluir, a fonte de água já encontrada acabou secando. O abastecimento da água, na ausência do poço, é feito exclusivamente do rio ou igarapé próximo, e nesse caso as crianças são os principais agentes de abastecimento doméstico (Figura 59).
Figura – Abastecimento de água do rio e acondicionamento em caixas d’água
Na época de chuvas alguns moradores acondicionam a água em camburões para uso geral. Mesmo com poço tubular na sede da comunidade, apenas as famílias que moram próximo são beneficiadas, uma vez que vários domicílios se localizam em locais distantes da sede. Outro motivo está no abastecimento dos tanques (caixas d’água) para distribuição às unidades domésticas. O problema não está no defeito da bomba, mas na ausência de combustível para o gerador, que muitas vezes os moradores não tem dinheiro para comprar o diesel.Dos entrevistados, 17% (20 moradores) se beneficiam de poço tubular feito na comunidade. Os
demais 83% dependem totalmente da água do rio ou igarapé para beber e usar em suas atividades
de limpeza doméstica, lavagem de roupa e higiene corporal (Gráfico 10).Gráfico 10– Origem da água de beber
A água captada pelo poço traz uma satisfação sem igual aos moradores da comunidade, pois além de constatarem uma melhora substancial nas diarréias e outros males nas crianças e adultos, o
poço diminui o árduo trabalho de subir e descer os barrancos para trazer as latas de água para casa. Todos que utilizam a água de poço relataram que a água é “muito boa”, tem “outro gosto”, “é branquinha e clara”; “é limpinha” e “é gosto de água mesmo”.Já os que tomam água do rio ou do igarapé parecem estar acostumados com a rotina de beber
aquela água e 62% dizem que a água é boa, mas 38% reclama que a água não é boa, pois “tem
muita lama”, “ é suja”, “na seca dá muita doença nas crianças”, “tem muita coisa suja, até
sujeira das necessidades das pessoas...”; “é a única que temos pra matar a sede”; “as vezes tem
microbiozinhos...”; “dá dor de barriga” ou “estamos acostumados. Para melhorar a qualidade da
água os moradores costumam coar, ferver e aplicar o bactericida (hipoclorito de sódio) que é
mensalmente disponibilizado pelos agentes de saúde. Em muitos casos os frascos acabam antes da
próxima visita e assim os moradores apenas coam a água. Para evitar ficar sem o bactericida
alguns moradores dizem “economizar”, ou seja, aplicam menos gotinhas para uma mesma
quantidade de água. Apesar de ser um hábito saudável, constata-se que esse uso não é seguro o
bastante devido as proporções de hipoclorito para a quantidade de água, pela falta de precisão na
aplicação, uma vez que estes dizem “coloco algumas gotinhas de cloro” sem se dar conta que a
quantidade de gotinhas depende da quantidade de água.
A água usada para cozinhar é invariavelmente a do rio ou igarapé. Nesse caso, como irá ferver, os
moradores costumam usá-la diretamente, apenas coando na época da seca, quando tem mais lama
ou resíduos.
Todos os moradores, de forma unânime usam as águas dos rios e igarapés para higiene pessoal. O
banho é feito em cima de um trapiche, construído rusticamente pela família ou grupo de familiares
para uso comum (Figura 60). As mulheres e homens se alternam nos horários de banho. As
crianças pequenas se banham com a presença da mãe ou irmãos mais velhos. Esse momento é
mais um momento de brincadeira do que de higiene.
Figura - Hora do banho no rio – higiene e lazer
Apesar de haver um horário mais comum, como o de da manhã e no cair da tarde, o banho pode ser tomado a qualquer momento, principalmente pra se refrescar do calor, ou antes de sair para uma atividade social com outros moradores. As crianças se banham antes de ir à escola, logo cedo, quando o dia começa. Na hora do banho, aproveita-se para escovar os dentes, pelo menos uma vez por dia. Nota-se, entretanto que a escovação ainda é precária e esporádica seja entre os adultos, jovens ou crianças. Isso fica visível na quantidade de adultos sem dentes, ou com cáries à mostra. As crianças pequenas também exibem uma dentadura já comprometida pelas cáries.A água é sem dúvida o elemento mais importante para esses moradores. Dela são retiradas muito além das condições necessárias e suficientes para sua sobrevivência física.
A água é um elemento simbólico da cultura e identidade desse povo cujo rio é a própria vida do
ribeirinho. A água, no entanto não possui apenas aspectos agradáveis, mas exprime também sofrimentos
de uma vida de dificuldades para essas pessoas. A percepção da água, como elemento de uso nos indica
formas de ver o mundo com limitações. O valor da água na vida dos moradores dessas localidades é
largamente reconhecido como fator de interesse sanitário, tanto para a prevenção como para disseminação
de doenças.
SOCIO ECONOMIA
A base da economia dessas famílias é a terra, a água e a floresta, tal como as demais populações tradicionais. Essa fonte é respeitada por todos e há um reconhecimento da dádiva oferecida pela natureza, entretanto alguns moradores começam a introduzir necessidades próprias das culturas urbanas de redução do trabalho físico e maior conforto nas tarefas de produção rural. De modo geral, essas pessoas tem conhecimento de algumas tecnologias simples que podem ser introduzidas nas suas atividades e percebem as dificuldades que tem em adquiri-las, seja pelo custo ou pela capacitação operacional das mesmas. Em muitos casos este é o motivo pelo qual queiram se mudar do interior para a cidade, pois na cidade não teriam que “suar tanto”.Os moradores dessas localidades ribeirinhas atuam em diversas frentes de trabalho que mudam de
acordo com a época do ano, obedecendo a sazonalidade (chuva e seca) e ciclo das águas (cheia e
vazante). Ao caracterizar a ocupação dos moradores dessas localidades, percebe-se que todos se
denominam a partir da atividade exercida, ou seja, fazem roça, pescam, caçam, praticam o
extrativismo vegetal, cultivam produtos agrícolas e criam uns poucos animais. Desse modo dizem
que são agricultores.Outros já assumem atividades assalariadas como professores, agentes de
saúde, ou auxiliares da escola. Mesmo assim não deixam de assumir sua condição de vida
ribeirinha. As mulheres e homens se dividem no tipo de trabalho executado, de modo que os
homens se encarregam de atividades que exige maior força física. É comum a participação da
família toda em
qualquer atividade, porém cada membro fica com uma parte do trabalho. Essa divisão é feita em função
do gênero e idade. As crianças estão sempre envolvidas com alguma atividade, e a partir de 5 anos já se
observa essas atribuições dadas pelos pais aos filhos. As meninas se ocupam com tarefas mais domésticas,
enquanto que os meninos tendem a seguir o pai na pesca, caça ou na feitura da roça. Essa participação não
é contestada pelas crianças, ao contrário, é um momento de recreação e grande satisfação para elas. Na
colheita todos participam sem distinção. A jornada de trabalho não segue um padrão rígido de horário,
mas é organizada de acordo com a atividade a ser desenvolvida. Tal tarefa é modificada diante de
qualquer mudança do tempo, ou seja, caso chova raramente essas pessoas saem de casa. Uma rotina de
trabalho para os homens que vão para a mata em busca de produtos da floresta é feita normalmente com
outros moradores. Em muitos casos os homens acampam na mata por alguns dias até terminarem a tarefa,
visto que voltar para casa seria muito cansativo pela distancia em que se embrenham na mata.
Na época de horário escolar as mulheres costumam acordar antes das 7 horas da manhã, quando
inicia a aula. Nas férias, esses horários se estendem um pouco mais, esperando o sol aquecer o
ambiente. Nos dias de chuva as janelas da casa demoram um pouco mais de tempo para serem
abertas. O motivo cultural de se manter na rede é reproduzido por questões funcionais também,
tendo em vista que não se tem onde ir e o que fazer fora de casa. Com a chuva tudo se protela, o
tempo pára e o corpo assume essa postura de recolhimento.
Atividades econômicas – renda familiar
Os moradores das localidades dentro da Flona de PR e das localidades no entorno vivem basicamente da renda advinda da produção rural para a subsistência e renda familiar. O quadro 1 mostra o tipos de produtos citados pelos entrevistados.
Quadro 1 – Produtos citados pelos entrevistados como base da economia e subsistência familiar
Tipo CaracterizaçãoExtrativismo Castanha, Guaraná, Seringa, Mudas de Pau Rosa,
Madeira, Açaí e CopaíbaFrutas Perenes Banana
Frutas da Época
Açaí, Limão, Abacaba, Cupuaçu, Ingá, Caju, Maracujá, Acerola, Taperebá, Graviola, Jenipapo, Laranja, Biribá, Cacau, Goiaba, Tucumã, Puxuri, Mamão, Pupunha, Tangerina, Jaca, Manga, Abacate, Abacaxi(ananá), Uixi(liso e coroa), Carambola, Murici, Jambo e Mari-Mari.
Hortaliças/Legumes
Tomate, Maxixi, Cebolinha, Couve, Pimentão, Feijão, Gerimum, Cubiu, Alface, Repolho, Coentro, Pequiá, Cheiro Verde
CaçaTatu, Paca, Veado, Catitú, Anta, Mutum, Jacamim, Jaboti, Cotia, Capivara, Guariba, Cabeçudo, Nambu, Jacu, Cujubim, Onça, Tucano, Papagaio
PeixesJaraqui, Tucunaré, Pacu, Sardinha, Mapará, Acará, Curimatã, Branquinha, Charuto, Matrinxã, Cará, Traíra, Piranha, Aracu, Surubim, Aruanã, Tambaqui, Pirarucu, Pescada, Peixe boi, Jacunda.
Produtos do Roçado Batata, Cará, Verdura e Melancia.Criação de Animais Aves, Bovino, Suino, Ovino e Equino
Esses produtos representam níveis diferenciados de renda em épocas distintas no ano, as quais dependem do ciclo das águas e chuvas. A Tabela 8 apresenta o grau de renda familiar tendo como base os produtos extraídos da natureza e vendidos para compradores que levam a produção para cidades e em casos excepcionais para comunidades vizinhas ou compradores eventuais que trafegam os rios.
Tabela 8 – Produção econômica e grau de renda familiar ProdutoLocalidade Guaraná Castanha Farinha Madeira Frutas Peixes Criação de
animaisSanta Marta *** ** ** - ** ** **Frente São Jorge *** ** ** - ** - **Vilanova *** ** * - ** * -Sta Maria deItuiense ** ** ** * * - *São Pedro *** ** ** - * * **Sagrado Coraçãode Jesus *** ** ** ** * * *Ozório daFonseca ** ** ** ** ** * *Santa Teresa * - * ** ** - -São Tomé ** * * ** ** - -Bragança - * ** - * - -Fortaleza * * * * - - -
Santa Maria doCaiaué ** * ** - ** * -São João doCacoal *** * * - * - -Monte Carmelo * - * * - - -Bom Pastor ** * *** - * - -
Legenda: (***) grau alto de renda; (**) grau médio de renda; (* ) grau baixo de renda
Além da produção extrativista e agropecuária, muitos moradores desenvolvem serviços assalariados e executam atividades que lhes rendem uma renda extra, porém não constante. Algumas comunidades se valem do artesanato que é vendido na época da pesca esportiva, quando trafegam pelos rios muitos turistas. Da mesma forma é a produção artesanal de utensílios domésticos que fazem com o barro como pequenos objetos de decoração, potes, panelas e “fogãozinhos” (Figura 61).
Figura - Utensílios domésticos feitos de barro
De todos esses utensílios, o “fogãozinho” (uma espécie de churrasqueira em miniatura) é amplamente procurado e muito utilizada pelos moradores das comunidades, pois substitui o fogão a gás. Neste fogãozinho bastam alguns pedaços de carvão e o fogo é feito para aquecer a água ou cozinhar alimentos. Os serviços públicos relativos à escola, saúde e gestão ambiental tem sido uma
fonte constante para alguns moradores, mas essa renda não impede que estes continuem a atividade
costumeira de extrativismo e agricultura. Percebe-se que essas atividades dão uma grande segurança ao
morador que terá, todo final do mês, a garantia de um dinheiro para os gastos que necessita. No quadro 2
estão descritos esses serviços mais comuns relatados pelos moradores.
Quadro 2 – Discriminação de serviços desenvolvidos nas localidades
Além dos serviços que geram renda mensal, muitas famílias contam com os auxílios referentes à aposentadoria e Bolsa família, programas do Governo Federal. A Tabela 9 apresenta esses rendimentos em cada comunidade. Muitas famílias expressam frustração por ainda não terem recebido o benefício da Bolsa Família, que dizem já ter se cadastrado.
Tabela 9– Renda sobre Benefícios recebidos pelos moradores em cada localidade
BenefíciosLocalidade
Pensão e/ouAposentadoria
BolsaFamilia Outro
Santa Marta 1 3
1 5
1 2 2 Auxilio Saúde
1 -
3 3
4 6
2 2
2 -
2 -
- -
2 3
6 6
2 -
- -
- -
Total 26 30
A renda obtida é costumeiramente utilizada para aquisição de bens manufaturados desde alimentos, vestuário até mobiliário. As compras são efetuadas mensalmente (ou bimensal) nas cidades próximas, como Maués, Itacoatiara e Nova Olinda. Compras emergenciais são feitas nos pequenos comércios existentes em algumas comunidades, como produtos de higiene, de limpeza e salgadinhos ou refrigerantes. Apesar de mais raro, o regatão ainda se faz presente. Da mesma forma, os moradores costumam trocar produtos da agricultura ou extrativistas com produtos manufaturados. Observa-se que os moradores são fregueses costumeiros de uma mesma rede comercial, como é o caso da “Casa Mendes” em Maués, que dizem que os produtos são mais baratos e que se sentem bem comprando lá, pois o dono já os conhece. Alguns barcos de comercio trabalham a base do escambo (troca de mercadorias por produtos
naturais ou artesanais) outros por dinheiro como é o caso do comercio de carne bovina, tendo o
proprietário a regularidade de abater uma rés semanalmente para abastecer algumas comunidade
(Figura 62).
Figura - Barco que trafega pelos rios comercializando carne bovina
Constatou-se que é muito comum a existência de dívidas pelos moradores dessas comunidades tanto por atividades de compra como empréstimos bancários. Os valores não são muito elevados, mas com as dificuldades de pagamento, muitos deles acabam por acumularem altos valores e dizem não saber como e quando poderão saldar a dívida. A Tabela 10 mostra o tipo de dívida e fonte de empréstimo.
Tabela 10– Tipo de dívidas feitas pelos moradores entrevistados
EmpréstimoLocalidade Bancos Familiar Comércio
Santa Marta 3 - -Frente São Jorge - - 4Vila Nova 1 1 3Sta Maria de Ituiense 1 - 1São Pedro 1 - 1Sagrado Coração de Jesus 12 1 1Ozório da Fonseca 5 - 5Santa Teresa 2 - 1São Tomé 3 - -Bragança 1 - -Fortaleza 3 - -
Santa Maria do Caiaué 10 - 1São João do Cacoal 4 - 1Monte Carmelo - - -Bom Pastor 2 - -
Total 48 2 18
O número de famílias (41%) com dívidas nos bancos (BASA, do Brasil e Bradesco) é preocupante. Em algumas comunidades – Sagrado Coração de Jesus, 75% dos entrevistados tem dívidas com bancos, fruto de empréstimos. De forma geral, todos estão tentando renegociar a dívida para fazer novos empréstimos, e muito desse dinheiro é aplicado na compra de gado ou em subsídios para a produção agrícola – PRONAF (plantação de banana, guaraná, açaí, mandioca e outros produtos do roçado). Os empréstimos nos Bancos variam de R$ 1.000,00 (Hum mil Reais a R$ 6.000,00 (Seis mil Reais). Já os empréstimos junto ao Pronaf, variam de R$ 750,00 (Setecentos e Cinquenta Reais) a R$ 1.500,00 (Hum mil e Quinhentos Reais).
EDUCAÇÃO
É por meio da educação que muitas comunidades superaram suas dificuldades de inserção na sociedade maior. Como Paulo Freire ensinava, a escola não pode ser criticada como apenas um espaço de reprodução da ideologia predominante e dominante, mas acima de tudo um espaço de libertação dessa dominação e um espaço para transformação, como diz Edgar Morin (1989, p. 23)4
“ inventar um novo futuro”. Nesse sentido a educação é um espaço de esperança e deve ser vivida como lócus de construção de um novo ethos social, isto é, um espaço de que possibilita a promoção da pessoa tendo os direitos e deveres como norteadores de uma trajetória social em busca da plena cidadania. Em particular nas questões ambientais, a educação permite a busca sistemática da reflexão e atitudes individuais e coletivas que permitam uma relação de respeito entre as pessoas e o ambiente (Reigota, 19945; Boff, 20036).Embora o ensino desenvolvido nessas comunidades não possa ser qualificado como um ensino de
excelência – ao contrário, em alguns casos bastante deficiente, há entre os agentes de educação um
desejo gradativo de aprimoramento. Um exemplo disso é a formação contínua dos professores, os
quais participam ativamente dos cursos promovidos pela Secretaria Municipal de Educação em
Maués e outros também estão matriculados em cursos superior na Universidade Estadual do
Amazonas (UEA) no Proformar (Programa de Formação de Magistério) que realizam no pólo de
Maués ou até um Manaus.
MORIN, E. Idéias Contemporâneas. Entrevistas da Lê Monde. São Paulo: Ática, 1989.REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BOFF, L. Ethos Mundial. Rio de Janeiro; Sextante, 2003
Níveis de Ensino disponíveis nas comunidades
Observa-se a valorização dada a instituição escolar e as atividades educacionais em absolutamente todas as comunidades. Muitos adultos voltaram a estudar depois de terem parado por muitos anos. Os turnos escolares variam durante o dia (7:00 às 11:00h) e parte da noite (19:00 às 22:30h). Os turnos matutinos são reservados ao ensino infantil e primeiro ciclo do ensino fundamental; o turno vespertino é prioridade para o ensino do segundo ciclo fundamental e a noite é para o ensino médio ou outros cursos de curta duração como o acelerado do ensino fundamental para adultos. Na Tabela 11 mostra-se os tipos de ensino disponibilizados nas escolas em cada comunidade.
Tabela 11– Tipos de ensino oferecido nas escolas de cada comunidade
Tipo de EnsinoLocalidade Infantil Fundamental Médio Acelerado
Santa Marta 12 17 - 18Frente São Jorge * * * *Vilanova * * * *Sta Maria de Ituiense * * * *São Pedro 13 32 - -Sagrado Coração de Jesus 19 59 - -Ozório da Fonseca 30 60 60 -Santa Teresa * * * *São Tomé * * * *Bragança 12 20 - 20Fortaleza * * * *Santa Maria do Caiaué * * * *São João do Cacoal 26 - 34 -Monte Carmelo 21 15 - -Bom Pastor - - - 24
Total
*sem informação devido a ausência dos responsáveis pelas escolas e do desconhecimento dos entrevistados
Escolas e condição dos benefícios educacionais
Na maior parte das comunidades há um prédio em boas condições que abriga a escola. O prédio representa uma conquista que faz parte da história dessas pessoas. A escola simboliza a integração e o crescimento do morador a um mundo onde a escolaridade é um importante meio de obtenção da cidadania. De modo geral a escola é muito bem cuidada, pois todas as famílias participam da manutenção da escola. Em algumas localidades há um mutirão para a limpeza da escola e os consertos tanto do mobiliário quanto do prédio (Figura 63).
Figura – Tipo de construção dos prédios escolares
Na tabela 12 estão descritos a situação física do prédio escolar e os auxílios recebidos em cada escola, além do número de profissionais alocados em cada escola. Em algumas comunidades, por ser período de férias escolares não foi possível obter informações precisas sobre a situação escolar, nem tampouco o número de docentes e discentes.Observa-se que em algumas localidades o prédio escolar existente não abriga toda a demanda de
classes em andamento, por isso alguns prédios comunitários como o salão de atividades, salão da
igreja, ou residências são usadas para uso de algumas turmas.
79
Tabela 12– Situação Educacional das Comunidades no entorno e dentro da Flona de Pau Rosa
Localidade
Santa MartaFrente São JorgeVilanovaSta Maria de ItuienseSão PedroSagrado Coração de JesusOzório da FonsecaSanta TeresaSão ToméBragançaFortalezaSanta Maria do CaiauéSão João do CacoalMonte CarmeloBom Pastor
EstruturaFísica
Alvenaria*Alvenaria*Alvenaria**
Não TemAlvenaria*
MadeiraAlvenaria**
Madeira*Madeira*Madeira
Alvenaria*AlvenariaAlvenaria*
MadeiraMadeira
Cozinha
NãoSimSimNãoNãoSimSimNãoNãoNãoNãoNãoSimNão
MerendaEscolar
MãesPais
AuxiliaresMãesMãesMães
AuxiliaresMãesMãesMãesMãesMães
AuxiliaresMãesMães
Fardamento
SimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSim
MaterialDidático
SimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSimSim
No. deProfessores
245
45145
***2
******422
No. deAuxiliares
***
*********
******
******
******
******
33
**** Uso de prédio auxiliar para abrigar turmas** Escola ampla, nova e muito bem equipada*** - Não foi possível obter a informação
80
Para um melhor detalhamento descreve-se a seguir algumas informações obtidas por professores, auxiliares ou comunitários. Essas informações, porém devem ser vistas com cautela, uma vez que os informantes não estavam seguros sobre a exatidão dos dados.
Escola de Santa Marta
A Escola Municipal Edmundo Mendonça é um prédio em alvenaria, que ainda está em boa condição de uso, em seu interior possui cadeiras de madeira com braço para apoiar o material dos alunos. Ao lado do prédio da escola existe um barracão em madeira que serve como sua cozinha, onde as mães dos alunos preparam a merenda.Em 2008 matricularam-se 18 alunos no período noturno, e ao final do ano letivo ocorreu uma
desistência de 8 alunos terminando o ano com 10. No período matutino tiveram 12 crianças no
ensino infantil e 17 crianças de 1ª a 5ª série. Os professores recebem a merenda mensalmente de
Maués (arroz, feijão, rapadura, óleo) e os pais e alunos cozinham em casa e levam para a escola.
Estão satisfeitos com os alimentos, também recebem material escolar novo.
Escola de São Pedro
A Escola Cezar Gadelha foi inaugurada em 2002 e é de alvenaria e possui uma sala de aula com carteiras de madeira, mais um cômodo para a copa que é usado como depósito. Os banheiros apenas têm o compartimento, mas não foram instalados. Hoje é usado para armazenar material escolar. Por falta de sala, os alunos de educação infantil usam a construção rústica da cozinha comunitária para suas atividades. Os alunos recebem somente a camisa da farda e o material didático. A escola recebe mensalmente a merenda padrão (arroz, feijão, macarrão, conserva, etc,). Por falta de merendeiras contratadas as mães dos alunos se revezam para preparar o alimento, que cozinham em suas casas e levam à escola.Os quatro professores são da Semed de Maués e trabalham com as quatro turmas, sendo no
período da manhã o ensino Infantil com 13 alunos e de 1a a 4a com 14 alunos. No período da tarde
as turmas são de 4a e 5a séries 12 alunos e noturno 6o ao 9o com 18 alunos.
Escola de Sagrado Coração de Jesus
A escola começou a funcionar na capela há 40 anos. A doação do terreno onde funciona atualmente a escola em alvenaria foi feita por Dona Francisca Pinheiro de Miranda. A escola tem 20 cadeiras de madeira com braços, lousa com giz e depósito.O material didático para o professor são livros (da série que lecionam), cadernos, pincel e lápis.
Para os alunos a Semed de Maués envia: farda (somente a camisa) quantidades de acordo com a
matrícula.
No kit de merenda a escola recebe: feijão, arroz, macarrão, salsicha, açúcar, sal, óleo, suco de caju,
rapadura, xarope de guaraná. Esses alimentos os professores pegam na SEMED de Maués uma
vez por mês quando vão receber o salário, às vezes têm atividades de formação para eles
permanecendo na cidade de 3 a 4 dias. Fazem parte do corpo docente 5 professores, todos da
comunidade SCJ. A escola funciona pela manhã com ensino infantil (19 alunos), no salão
comunitário, de 1a a 4a - 1o ano (10 alunos), funciona na escola; 2o ano (10 alunos) funciona na
casa em construção; 3o ,4o e 5o ano (18 alunos) funciona na casa do povo (alojamento). No período
da noite de 6:30h às 21:30h estudam os alunos do 6o ao 9o ano. Na casa do povo 6o com (6 alunos);
no salão comunitário 7o (7 alunos) e 8o ano (8 alunos); na escola 9º ano (16 alunos).
O transporte escolar, contratado pela Semed é pontual e assíduo, tem substituto. A coordenação e
supervisão desse trabalho fica sob a responsabilidade do Coordenador e vice coordenador
comunitários.
O preparo dos alimentos para os alunos é de responsabilidade das mães que se revezam em uma
escala. Fazem a comida na casa comunitária onde tem o refeitório. Na ausência o professor
improvisa. Se não tiver merenda os alunos saem mais cedo.
Escola de Monte Carmelo
Na comunidade tem uma escola com uma sala de aula com cadeiras de madeira e braços para escrever. No horário da manhã funciona o ensino infantil das 7:30h às 11:30h (21 alunos) e a noite fundamental (6o ao 9o ano) das 19:00h às 21:30h (15 alunos). Faz parte do corpo docente apenas um professor. Seu Manoel não soube informar se o professor recebe algum material escolar para auxiliá-lo. Mas os alunos recebem farda (camisa), caderno, lápis, borracha, livros didáticos. Ainda não há transporte para os alunos, os pais são responsáveis por essa tarefa. A escola recebe a merenda padrão mensal que é trazida da SEMED de Nova Olinda do Norte. As mães são responsáveis para fazer o alimento para os alunos. Elas cozinham em suas próprias casas e levam à escola diariamente.
Escola de Ozório da Fonseca
A atual escola construída com ajuda da senhora Marina, uma dinamarquesa, que morou na região alguns anos financiou a maior parte da construção em parceria com a prefeitura de Maués. A escola tem 06 salas de aula, cozinha, banheiros, poço artesiano e um gerador de luz exclusivo. Fazem parte do quadro docente 14 professores, sendo 04 deles efetivos. Funciona em 3 turnos sendo: pela manhã ensino infantil com 30 alunos e ensino fundamental com 60 alunos, a noite o ensino médio com 1o, , 2o e 3o ano. Segundo informação da gestora os professores não recebem kit escolar, o material fornecido pela
secretaria de educação são camisetas, lápis cadernos e livros didáticos para os alunos. A escola
recebe a merenda básica: feijão, arroz, salsicha, conserva, rapadura, charque, leite, achocolatado,
suco, bolacha, milho, etc. O montante de alimentos, porém não é suficiente para todos e
normalmente dura somente quinze dias. As auxiliares de serviços gerais preparam os alimentos
para os alunos.
Escola de São João do Cacoal
A Escola Municipal de São José foi construída em 1954 e está sob gestão da Semedde Nova Olinda do Norte. Nessa escola há salas multisseriadas. Fazem parte do quadro
docente três professores e um gestor, todos são de Nova Olinda com exceção do gestor que
é natural da comunidade, formado em Ensino Superior pela UEA de Nova Olinda do
Norte. Três pessoas são contratadas pela Semed para fazer o transporte escolar e recebem
diária de R$ 50,00 (Cinqüenta Reais).
A escola funciona em 2 turnos: pela manhã das 7:00h às 11:00h com ensino infantil
(26 alunos) noturno das 17:00 às 21:00h, ensino fundamental 6o ao 9o ano (34 alunos) e
Educação de Jovens e Adultos - EJA. Para atender a esses alunos o professor recebe um kit
contendo caneta, lápis, caderno, livro do mestre, régua, cadernos e pincel. Para os alunos a
SEMED envia: farda (camisa) caderno, lápis, caneta, livros didáticos. A merenda a escola
é semelhante às demais comunidades com conteúdo padrão de alimentos. Fica sob a
responsabilidade do professor ir uma vez por buscar a merenda na Semed de Nova Olinda
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do Norte. Três auxiliares de serviços gerais contratadas temporariamente são responsáveispelo preparo do alimento.
Escola de Bragança
A escola está registrada na Semed de Maués com o nome de “Escola MunicipalCarlos Esteves”, entretanto, o nome conhecido pelos moradores é Salustiano da Silva
Monteiro pelo fato do terreno onde funciona a escola ter sido doado pelo senhor Salustiano
há 14 anos. A escola tem uma sala de aula com cadeiras de madeira com braços. A escola
funciona pela manhã com ensino infantil (12 alunos) e a noite ensino fundamental do 6o ao
9o ano (10 alunos). Para atender aos alunos a Semed envia dois professores. O transporte
dos alunos é feito por um morador contratado pela Semed.
Para os alunos a secretaria envia um kit contendo: farda (só camisa), caderno, lápis,
livros didáticos, canetas. Os professores recebem o kit escolar com caderno, livros do
professor, régua, canetas, lápis e pincel. A merenda escolar é semelhante às demais escolas
com alimentos padrão. Fica sob a responsabilidade do professor ir uma vez por buscar a
merenda na Semed.
Escola de Santa Teresa
A escola está sob a gestão da Semed - Maués contém 3 salas de aula, um anexopara alojamento dos professores com capacidade para 5 professores. A escola funciona em
dois turnos sendo pela manhã ensino infantil com aproximadamente 12 alunos; ensino
fundamental com aproximadamente 20 alunos e no período da noite turma de adultos
(EJA) com aproximadamente 20 alunos. O transporte dos alunos é feito por um morador
contratado pela Semed.
Para os alunos a secretaria envia um kit contendo: farda (só camisa), caderno,
lápis, livros didáticos e canetas. Os professores recebem um kit escolar contendo caderno,
livros do professor, régua, canetas, lápis e pincel. A merenda escolar é composta pelos
itens padrão: feijão, arroz, salsicha, rapadura, sardinha, suco industrializado, açúcar, sal,
conserva, ervilha, milho branco. Fica sob a responsabilidade do coordenador (Miguel) ir
uma vez por mês buscar a merenda na Semed em Maués. O preparo fica por conta das
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mães que se revezam e cada dia uma delas prepara o alimento e leva à escola para osalunos.
Escola de Santa Maria de Caiaué
Em 1973 iniciou a primeira turma tendo como professora a Senhora RaimundaFreire Brasil que ministrou aulas na comunidade até o ano seguinte (1974). A partir desse
ano iniciou de fato a escola com a professora Noemia Mendes dos Santos que foi a
segunda professora e trabalhou no local até 2000, após Dona Noemia vários professores já
atuaram como docentes na comunidade.
Na Escola Municipal João Gabriel é toda em alvenaria, ela possui duas salas de
aula com cadeiras em madeira próprias para escola que permite que os alunos desenvolvam
suas atividades. Na escola são ministradas aulas do ensino fundamental nas duas salas da
escola e no centro comunitário, onde são ofertadas aulas para os jovens e para os adultos.
Estão em via de implementação do Ensino Médio na localidade em parceria com a
Secretaria de Educação do Estado do Amazonas para o ano de 2010. As aulas ocorreram
assim como na comunidade Ozório da Fonseca que ocorre por meio de tele aula, onde um
professor atua apenas como facilitador, intermediando a aula ministrada pelo vídeo e os
alunos na comunidade.
Quanto ao número de alunos, professores e auxiliares não se obteve maiores
informações devido a falta de pessoas com conhecimento suficiente para assegurar a
certeza dos dados referentes ao numero de alunos e demais dados escolares.
Escola de Bom Pastor
O terreno onde funciona a escola Rural Boa União foi doado pelo senhor RaimundoBarros há aproximadamente 12 anos. Ele foi o primeiro professor da localidade. A escola
funciona em um barracão construído em madeira, sem paredes, cobertura de telhas de
amianto e tendo cadeiras de madeira com braço. A gestão escolar é de responsabilidade da
Secretaria de Educação de Nova Olinda do Norte. O professor está cursando o último
período de Pedagogia pelo Município de Nova Olinda do Norte e também é de lá, mas já
está na localidade há dois anos.
A escola tem uma sala de aula com turmas multisseriadas de 1º. ao 4º. ano que
funciona no horário matutino de 7:00h às 10:45h quando tem merenda, e no período
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noturno de 18:00h às 21:00h uma turma de EJA com 24 alunos. O transporte dos alunossenhor Osvaldo Marques de Souza contratado pela Semed para este
serviço porque possui
barco próprio estilo regional.
O professor recebe um kit escolar contendo: lápis, caderno,
borracha, canetas e
alguns livros didáticos do professor. Para os alunos a Semed de Nova
Olinda do Norte
envia caderno, borracha, lápis, régua, lápis de cor e farda somente a
camisa. A merenda é
mensal e é composta dos alimentos padrão. O preparo fica por conta
das mães dos alunos
que se revezam para realizar essa tarefa. Entretanto, segundo o
professor algumas vezes
elas não podem fazer tal serviço ficando a cargo do mesmo o
cumprimento da tarefa. Então
a partir deste ano a prefeitura contratará uma das mães que ficará com
a responsabilidade
de fazer as refeições durante o ano todo. Todos os meses o professor
ausenta-se da
comunidade durante uma semana para receber a merenda escolar,
diesel e resolver partes
burocráticas da escola e ainda receber o salário.
Neste ano alguns alunos irão cursar o 6o ano do ensino
fundamental, entretanto, a
localidade ainda não tem essas séries e esses discentes terão que se
deslocar para outra
comunidade mais próxima onde já há essas séries. Esta é uma
preocupação do professor,
pois segundo ele não há transporte matutino para esses alunos. Os