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AVENTURA SOCIAL & SAÚDE
RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Inês CamachoGina Tomé
Paulo GomesMargarida Gaspar de Matos
& Equipa Aventura Social
AVENTURA SOCIAL & SAÚDE
RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
5RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Coordenação da EquipaCoordenação GeralMargarida Gaspar de Matos
Coordenação Rescur/UECeleste Simões
Coordenação Aventura Social AssociaçãoTânia Gaspar
Coordenações executivasna Equipa Aventura Social
Projeto HBSC/OMSInês Camacho, Gina Tomé e Marta ReisProjeto KIDSCREEN/UETânia GasparProjeto Tempest/UETânia Gaspar Projeto Riche/UETânia Gaspar e Gina ToméProjeto Youth Sexual Violence/UEMarta Reis e Lúcia RamiroProjeto Online Studyon Young People´s SexualityLúcia RamiroProjeto Saúde Sexual e Reprodutivados Jovens UniversitáriosMarta ReisProjeto Dream TeensCátia BranquinhoProjeto e-trainingPaulo GomesProjeto ES’COOL - Promoção da Saúde Mental em Contexto EscolarGina ToméProjeto Saúde na UniversidadeMarta ReisQualidade de Vida e Doença CrónicaTeresa SantosSavoringPaulo GomesRecessão Económica e Saúde MentalDiana FrasquilhoLiderança e EmpreendedorismoJaqueline CruzSaúde Sexual e Educação Sexual/VIH/SidaMarta Reis e Lúcia Ramiro
Colaboradores (por ordem alfabética)
António BorgesAdilson Marques Cátia BranquinhoLúcia Canha Marina CarvalhoNuno LoureiroPaula LebreRicardo MachadoSandra Rebolo
Consultores ES’COOL (por ordem alfabética)Celeste SimõesDaniel SampaioIngrid HolsenJosé Miguel Caldas de AlmeidaMargarida Gaspar de MatosTânia GasparTeresa Paiva
Parceiros ES’COOL (por ordem alfabética)Aventura Social, AssociaçãoCEFAE Alto TejoDireção Geral de EducaçãoInstituto Superior de Ciências EducativasUniversidade de Bergen
Equipa Aventura Social
7RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Índice
Introdução 9
Aventura Social 11
Formação ES’COOL 13
Conteúdos da Ação 14
Metodologia 15
Procedimento 16
I - Saúde Mental 17
II - Perturbações do Humor 21
III - Perturbações da Ansiedade 24
IV - Violência em Contexto Escolar 27
V - O Consumo de Substâncias na Adolescência 32
VI - Fatores Protetores da Saúde Mental 36
VI.I - Resiliência 36
VI.II - Competências Pessoais e Sociais - Desenvolvimento
Positivo e Participação Social: O Papel da Promoção
de Competências Pessoais e Sociais 41
VI.III - Autorregulação e Saúde 48
VI.IV - Relacionamento com a Família 54
VI.V - Grupo de Pares 57
VI.VI - Contexto Escolar 60
VII - Bem Estar, Felicidade e Otimismo 64
Introdução
Os problemas de saúde mental na infância e adolescência são cada vez mais comuns. Estima-se que uma
em cada 5 crianças apresenta evidência de problemas de saúde mental (Caldas de Almeida, 2009). Para
colmatar essa problemática, a OMS (WHO, 2013) através do Plano de Ação sobre a Saúde Mental- 2013-
2020, recomenda programas de prevenção destinados a adolescentes, que tenham por objetivo a
identificação precoce dos sinais de doença mental, de forma a proceder precocemente ao
encaminhamento e intervenção da problemática. As ações educativas devem ser integradas num contexto
mais vasto de promoção da saúde. Os jovens e famílias devem estar informados, devem poder tomar
decisões e responsabilizarem-se pela sua saúde, devendo por isso ser competentes para adotar estilos de
vida saudáveis.
Apesar de todos os esforços e progressos na área da saúde mental, Portugal continua a necessitar de lidar
com várias necessidades. As que merecem uma referência especial são: reduzida participação de utentes e
familiares; escassa produção científica no setor da psiquiatria e saúde mental; resposta limitada às
necessidades de grupos vulneráveis; a quase total ausência de programas de promoção/prevenção (Caldas
de Almeida, 2009).
O Projeto ES´COOL – Promoção da Saúde Mental em Contexto Escolar, surge no âmbito do aumento das
necessidades na área da saúde mental nas escolas.
O Projeto tem como objetivo promover a saúde mental dos adolescentes através da formação de
professores e outros profissionais de educação. Visa o desenvolvimento de um programa de competências
pessoais e sociais, que inclui a prevenção dos sintomas das perturbações de ansiedade, perturbações do
humor, a promoção do bem-estar, da resiliência e autorregulação dos adolescentes e da saúde mental em
contexto escolar.
A Implementação de uma formação onde se foque a educação e formação dos professores e,
posteriormente, que esta tenha impacto na concretização de projetos nas escolas, que promovam o bem-
estar dos adolescentes, através da participação de outros profissionais da educação e pais, de forma a
capacitar todos os agentes educativos para a identificação precoce das problemáticas associadas à saúde
mental dos adolescentes permitindo o seu encaminhamento e promover o bem–estar e estilos de vida
saudáveis nas escolas, poderá colmatar algumas das lacunas existentes em contexto educativo
relativamente à saúde mental dos adolescentes.
Pretende-se que com as competências adquiridas ao longo das 40 horas de formação e da troca de
experiências entre todos os participantes, possibilitem a melhoria do ambiente escolar, através do
9RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Introdução
Os problemas de saúde mental na infância e adolescência são cada vez mais comuns. Estima-se que uma
em cada 5 crianças apresenta evidência de problemas de saúde mental (Caldas de Almeida, 2009). Para
colmatar essa problemática, a OMS (WHO, 2013) através do Plano de Ação sobre a Saúde Mental- 2013-
2020, recomenda programas de prevenção destinados a adolescentes, que tenham por objetivo a
identificação precoce dos sinais de doença mental, de forma a proceder precocemente ao
encaminhamento e intervenção da problemática. As ações educativas devem ser integradas num contexto
mais vasto de promoção da saúde. Os jovens e famílias devem estar informados, devem poder tomar
decisões e responsabilizarem-se pela sua saúde, devendo por isso ser competentes para adotar estilos de
vida saudáveis.
Apesar de todos os esforços e progressos na área da saúde mental, Portugal continua a necessitar de lidar
com várias necessidades. As que merecem uma referência especial são: reduzida participação de utentes e
familiares; escassa produção científica no setor da psiquiatria e saúde mental; resposta limitada às
necessidades de grupos vulneráveis; a quase total ausência de programas de promoção/prevenção (Caldas
de Almeida, 2009).
O Projeto ES´COOL – Promoção da Saúde Mental em Contexto Escolar, surge no âmbito do aumento das
necessidades na área da saúde mental nas escolas.
O Projeto tem como objetivo promover a saúde mental dos adolescentes através da formação de
professores e outros profissionais de educação. Visa o desenvolvimento de um programa de competências
pessoais e sociais, que inclui a prevenção dos sintomas das perturbações de ansiedade, perturbações do
humor, a promoção do bem-estar, da resiliência e autorregulação dos adolescentes e da saúde mental em
contexto escolar.
A Implementação de uma formação onde se foque a educação e formação dos professores e,
posteriormente, que esta tenha impacto na concretização de projetos nas escolas, que promovam o bem-
estar dos adolescentes, através da participação de outros profissionais da educação e pais, de forma a
capacitar todos os agentes educativos para a identificação precoce das problemáticas associadas à saúde
mental dos adolescentes permitindo o seu encaminhamento e promover o bem–estar e estilos de vida
saudáveis nas escolas, poderá colmatar algumas das lacunas existentes em contexto educativo
relativamente à saúde mental dos adolescentes.
Pretende-se que com as competências adquiridas ao longo das 40 horas de formação e da troca de
experiências entre todos os participantes, possibilitem a melhoria do ambiente escolar, através do
10 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
desenvolvimento de projetos promotores de saúde mental, da maior participação dos adolescentes e
encarregados de educação nas atividades propostas pela escola, do aumento da comunicação entre
alunos e professores e do envolvimento de toda a comunidade educativa nos projetos desenvolvidos.
Ao reconhecer nos adolescentes os sinais de mal-estar e de problemáticas relacionadas com a saúde
mental, os professores poderão recorrer a estratégias adequadas, sendo capazes de encaminhar
precocemente sempre que necessário, para os serviços de apoio disponíveis.
A intervenção ao longo de um período de tempo com inclusão da formação e supervisão contribuirá para a
mudança da cultura da própria escola, facilitando a continuidade e sustentabilidade das ações e o seu
carater multiplicador.
Aventura Social
O Projeto ES´COOL é um projeto da equipa Aventura Social, coordenada pela Prof. Margarida Gaspar de
Matos, com gestão financeira da Aventura Social Associação. A equipa do projeto Aventura Social tem
como principal objetivo desenvolver diversas investigações no domínio da promoção da saúde e
comportamento social.
O projeto Aventura Social & Saúde está integrado em diversas redes Europeias Health Behaviour in School
Aged Children - HBSC/OMS; Kidscreen/ EU; Tempest/EU; RICHE/EU; DICE/EU; YSAV-EU. São projetos de
investigação e monitorização, que pretendem ter impacto nas políticas de promoção e educação para a
saúde. O objetivo é o conhecimento dos comportamentos ligados à saúde e respetivos contextos e o
desenvolvimento de programas. Inclui também a formação e supervisão de técnicos e jovens.
11RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Aventura Social
O Projeto ES’COOL é um projeto da equipa Aventura Social, coordenada pela Prof. Margarida Gaspar de
Matos, com gestão financeira da Aventura Social Associação, financiado pela EEagrants. A equipa do
projeto Aventura Social tem como principal objetivo desenvolver diversas investigações no domínio da
promoção da saúde e comportamento social.
O projeto Aventura Social & Saúde está integrado em diversas redes Europeias: Health Behaviour in School
Aged Children - HBSC/OMS; Kidscreen/EU; Tempest/EU; RICHE/EU; DICE/EU; YSAV/EU. São projetos de
investigação e monitorização, que pretendem ter impacto nas políticas de promoção e educação para a
saúde. O objetivo é o conhecimento dos comportamentos ligados à saúde e respetivos contextos e o
desenvolvimento de programas. Inclui também a formação e supervisão de técnicos e jovens.
Formação ES’COOL
O objetivo da formação “ES’COOL” é transmitir competências aos formandos para desenvolver um
ambiente escolar promotor de bem-estar e estilos de vida saudáveis entre os adolescentes. A formação
visa o desenvolvimento de um programa de competências pessoais e sociais, que incluirá a prevenção dos
sintomas das perturbações de ansiedade, perturbações do humor, a promoção do bem-estar, da
resiliência e autorregulação dos adolescentes, da saúde mental em contexto escolar. Irá ainda permitir um
eficaz encaminhamento proporcionando uma intervenção precoce e com maior eficácia em situações
complexas. Por último, permitirá promover o diálogo com pais e outros agentes educativos sobre estas
temáticas e desenvolver um contexto escolar promotor de bem-estar e saúde mental entre os jovens.
Após a formação, os professores serão capazes de desenvolver projetos promotores de bem-estar e
estilos de vida saudáveis nas suas escolas, de dinamizar grupos de trabalho sobre esta temática nas
respetivas escolas e agrupamentos, que permitam desenvolver outros projetos com a mesma finalidade,
criando um ciclo gerador de projetos na área do bem-estar, nas escolas a nível nacional.
Os professores terão maiores competências para lidar com as problemáticas dos adolescentes, podendo
auxiliar todos os agentes educativos a desenvolver as mesmas capacidades e implementar projetos que
promovam o bem-estar, de forma a melhorar o ambiente escolar.
Pretende-se que os formandos trabalhem com um grupo de colegas, no desenvolvimento de novos
projetos que deverão ser concretizados nas suas escolas. O desenvolvimento e implementação dos seus
projetos desenvolvidos pelos formandos e seus pares, terão supervisão dos formadores.
14 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Conteúdos da Ação PLANEAMENTO DAS SESSÕES
MÓDULO 1 – Saúde Mental em Contexto Escolar
� Definição saúde-mental
� Perturbações do Humor
� Perturbações da Ansiedade
� Violência em Contexto escolar
� Consumo de substâncias
� Fatores protetores da saúde mental (resiliência, autorregulação, relacionamento com família, pares, contexto escolar, competências pessoais e sociais)
� Bem-estar, Felicidade e Otimismo.
MÓDULO 2 – Metodologia de Projeto
� Boas Práticas
� Identificação e caracterização do problema
� Implementação do Projeto
� Avaliação do Projeto
MÓDULO 3 – Elaboração do Projeto
� Elaboração de Projeto a implementar em contexto escolar
MÓDULO 4 – Apresentação do Projeto
� Apresentação e discussão do Projeto Elaborado
MÓDULO 5 – Estratégias e Técnicas para Desenvolvimento de Projetos
� Dinamização de grupos de professores e agentes educativos para desenvolver e implementar projetos promotores de bem-estar e estilos de vida saudáveis, com supervisão dos formadores
MÓDULO 6 – Implementação do Projeto em Contexto Escolar
� Implementação dos projetos realizados em contexto escolar, com apoio e supervisão dos formadores
Como se pretende que este seja um trabalho ajustado às realidades evidenciadas pelos formandos, o tipo de estratégias a implementar irá depender de múltiplos fatores, os quais condicionarão algumas das opções metodológicas a tomar, quer pelos formadores, quer pelos formandos.
15RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Metodologia
O Projeto ES’COOL ocorrerá em três etapas distintas. Na primeira etapa, a de implementação do Projeto ES’COOL, a formação ES’COOL realizou-se aos professores do 1º e 2º ciclos do Ensino Básico e Secundário, Educadores de Infância e Professores do Ensino Especial das escolas das quatro regiões do país (Lisboa e Vale do Tejo, Norte, Centro e Sul), num total de aproximadamente 141 professores. Na segunda etapa do Projeto ES´COOL pretende-se centrar a formação aos professores do 1º e 2º ciclos do Ensino Básico e Secundário, Educadores de Infância e Professores do Ensino Especial da região de Lisboa e Vale do Tejo e numa terceira etapa pretende-se abranger novamente os professores das restantes regiões do país. Esta metodologia justifica-se pelos diferentes tipos de foco de estudo nas três fases do projeto.
Na primeira etapa do projeto, realizou-se uma avaliação inicial e uma avaliação final da formação, junto dos professores que participaram na formação. De forma a verificar o impacto real da formação entre os professores, realizou-se uma formação ES´COOL em formato mais curto, a cerca de 60 professores, constituindo assim um grupo de controlo de professores que tiveram acesso apenas a uma parte da formação.
A segunda etapa do projeto deixa de contar com o financiamento do EEaGrants, mantendo a realização das formações no mesmo formato.
Na segunda e na terceira etapas do projeto, pretende-se alargar a avaliação do impacto aos adolescentes. Dessa forma, será solicitado aos professores participantes na formação, que enviem um link aos seus alunos, com os questionários a eles destinados. A avaliação terá metodologia semelhante à dos professores, ou seja, com dois momentos de avaliação, inicial e final.
Os questionários de avaliação foram submetidos e aprovados pela Comissão de Ética do Centro Académico de Medicina de Lisboa e o consentimento informado será obtido junto dos professores ou junto dos encarregados de educação no caso dos alunos. A formação ES´COOL foi acreditada pelo Conselho Científico Pedagógico da Formação Contínua da Universidade do Minho, como oficina de formação.
O Questionário “ES’COOL - QUESTIONÁRIO SAÚDE MENTAL EM CONTEXTO ESCOLAR (Versão Professores)” é constituído por questões demográficas, pela “Escala de Conhecimentos e Atitudes de Saúde Mental em Contexto Escolar – ES´COOL”, adaptada da “Escala de Autoperceção dos Comportamentos de Risco” (Cruz, 2016)1 e questões adaptadas do Questionário do estudo Health Behaviour in School Aged Children - HBSC/OMS (2015) 2.1
1Cruz, J. (2016). Estilos de Liderança dos Professores e Comportamentos de Risco de Alunos Adolescentes. Tese elaborada com vista à obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Educação na Especialidade de Educação para a Saúde. Faculdade de Motricidade Humana. 2Matos, M., Simões, C., Camacho, I., Reis, M. (2015). A Saúde dos Adolescentes Portugueses em tempos de recessão. HBSC 2014. Lisboa: CMDT/ DGS/ FMH/ Website: www.aventurasocial.com http://aventurasocial.com/arquivo/1437158618_RELATORIO%20HBSC%202014e.pdf
16 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Procedimento
A formação é constituída por 40 horas, distribuídas por 20 horas presenciais e 20 horas à distância. Os
módulos realizados à distância são realizados através das Novas Tecnologias de Comunicação,
especialmente via Skype com sessões entre os formandos e formadores. Outro meio utilizado para a
supervisão dos formadores, foi um fórum criado no site do projeto, em que apenas podem participar os
professores que realizem a formação, motivando assim a troca de experiências e ideias entre os
formandos das diversas escolas participantes.
A formação prevê que os formandos realizem um projeto que deverá ser implementado na sua escola,
com o objetivo de promover a saúde mental da comunidade educativa. Para isso inclui um módulo de
metodologia de projeto que transmite aos formandos as ferramentas adequadas para a concretização do
projeto pretendido. Ao longo da realização do projeto pelos formandos e posteriormente na fase de
implementação dos projetos nas escolas, os formandos têm a supervisão técnica dos formadores, através
de diversos meios disponibilizados.
Para além da Metodologia de Projeto, a formação inclui um módulo que permitirá aos formandos adquirir
competências que lhe permitirão auxiliar professores que não participaram na formação, na concretização
de projetos com o mesmo objetivo, criando nas escolas um ciclo gerador de projetos promotores de bem-
estar e saúde mental não apenas nos adolescentes, mas em toda a comunidade escolar.
17RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Procedimento
A formação é constituída por 40 horas, distribuídas por 20 horas presenciais e 20 horas à distância. Os
módulos realizados à distância são realizados através das Novas Tecnologias de Comunicação,
especialmente via Skype com sessões entre os formandos e formadores. Outro meio utilizado para a
supervisão dos formadores foi a criado um fórum no site do projeto, em que apenas podem participar os
professores que realizem a formação, motivando assim a troca de experiências e ideias entre os
formandos das diversas escolas participantes.
A formação prevê que os formandos realizem um projeto que deverá ser implementado na sua escola,
com o objetivo de promover a saúde mental da comunidade educativa. Para isso inclui um módulo de
metodologia de projeto que transmite aos formandos as ferramentas adequadas para a concretização do
projeto pretendido. Ao longo da realização do projeto pelos formandos e posteriormente na fase de
implementação dos projetos nas escolas, os formandos têm a supervisão técnica dos formadores, através
de diversos meios disponibilizados.
Para além da Metodologia de Projeto, a formação inclui um módulo que permitirá aos formandos adquirir
competências que lhe permitirão auxiliar professores que não participaram na formação, na concretização
de projetos com o mesmo objetivo, criando nas escolas um ciclo gerador de projetos promotores de bem-
estar e saúde mental não apenas nos adolescentes, mas em toda a comunidade escolar.
I - Saúde Mental Gina Tomé
São diversos os fatores que podem influenciar a saúde mental e o bem-estar dos adolescentes: a relação
com os pares, o relacionamento com a família, o consumo de substâncias, as perturbações mentais, a falta
de competências pessoais e sociais, entre outros. Não há uma causa única para os problemas de saúde
mental e ninguém se encontra imune. Em contexto escolar, a saúde mental pode ser promovida através de
programas preventivos que impliquem governo, comunidade, família e escola.
Definir o que é saúde mental é uma tarefa complexa. Acredita-se que crianças e adolescentes saudáveis
são aqueles que apresentam um desenvolvimento cognitivo, social e emocional satisfatórios para a idade,
fatores que definem a capacidade de adaptação aos desafios diários (Estanislau & Bressan, 2014).
Em 2005 a OMS definiu a saúde mental em crianças e adolescentes como:
“…. A capacidade de alcançar e manter um funcionamento psicossocial e um estado de bem-estar em
níveis ótimos que auxiliam o jovem a perceber, compreender e interpretar o mundo que está à sua volta, a
fim de que adaptações ou modificações sejam feitas em caso de necessidade…”
Cerca de 50% das doenças mentais que afetam os adultos tiveram início antes dos 14 anos de idade
(European Union, 2012; Huebner, 1991), cerca de 20% dos adolescentes experienciam anualmente algum
problema de saúde mental, as mais comuns são as perturbações do humor e da ansiedade (Huebner,
1991). Muitas dessas problemáticas podem ser percursoras de perturbações na idade adulta, sendo
necessário tornar as estratégias preventivas prioritárias (Murris, 2001).
Alguns estudos sugerem que a falta de informação sobre a saúde mental é um dos maiores obstáculos
para a sua intervenção, dai a importância dos programas que promovam a informação e a deteção dos
sinais entre os adolescentes em contexto escolar (O´Neill, 2013; Ozer & Schotland, 2011).
Em Portugal não existem dados epidemiológicos que nos permitam quantificar a prevalência das doenças
mentais em crianças, adolescentes ou adultos, no entanto existem alguns estudos com dados relevantes,
especialmente para os adultos. O relatório da Direção Geral de Saúde- “Saúde Mental em Números 2015”
(DGS, 2016), revela que as proporções mais altas de registo nos Cuidados de Saúde Primários (CSP)
relacionaram-se com perturbações depressivas, seguidas das perturbações da ansiedade e por fim, das
demências. O estudo abrangeu as regiões do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. A
maior proporção de registo de demência e perturbações da ansiedade encontrou-se na região do Alentejo
e o número de utentes com perturbações depressivas revelou-se mais elevado na região Centro. O Algarve
18 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
foi a região cujos registos de utentes nos CSP, para os três tipos de problemas de saúde mental foi mais
baixa.
Algumas pessoas podem vivenciar uma perturbação mental e continuar a ter uma vida produtiva, como
por exemplo em caso de perturbações de ansiedade menos intensas, ou casos de défice de atenção
/hiperatividade leves, nos quais o individuo pode ser orientado a viver e se adaptar aos sintomas.
Entretanto, há perturbações mentais incapacitantes, que prejudicam o funcionamento individual, familiar e
social. As perturbações mentais ocorrem através da interação de fatores individuais (biológicos, genéticos,
psicológicos), sociais (condições financeiras, rede de suporte, cultura, entre outros) e ambientais (influência
dos pais, qualidade dos amigos e da escola, exposição a situações de stress, entre outras) e nem sempre
são desencadeadas por uma situação específica. Na presença de uma perturbação mental, podem ser
observados sinais ou sintomas que refletem diversas alterações do funcionamento, entre as quais:
- Cognição (ou pensamento); Perceção; Emoções (ou sentimentos); Física (ou somática) e Comportamental.
As perturbações mentais não são apenas problemas passageiros, são caracterizadas por graves alterações
no funcionamento. No caso das crianças e adolescentes, é natural que o seu rendimento escolar seja
afetado, assim como a relação com a sua família e amigos. As perturbações mentais necessitam de um
diagnóstico e, portanto, de intervenção profissional adequada (Estanislau & Bressan, 2014).
No âmbito da saúde mental Jané-Llopis (2007) descreve trabalhos que apontam a co-ocorrência entre
problemas de saúde física e mental, que indicam a necessidade de incluir a promoção da saúde mental em
ações de promoção da saúde física e nas políticas de saúde pública.
A escola tem sido identificada como um espaço privilegiado para a promoção e prevenção da saúde mental
das crianças e adolescentes, através da implementação de projetos promotores de bem-estar em
ambiente escolar. O professor é referido como um agente de destaque, uma vez que:
- Possui experiência com várias crianças e adolescentes, permitindo uma observação mais critica do
comportamento dos seus alunos;
- Pode observar os alunos em diversos contextos (sala de aula, com os amigos, etc.);
Um professor bem informado e motivado pode promover a saúde mental e atuar na sua prevenção, por
exemplo, através da identificação de sinais que permitam um encaminhamento eficaz e precoce, na
promoção de um ambiente de bem-estar nas escolas, ao incentivar os alunos a participar em projetos na
área da saúde mental, motivando os colegas a desenvolver projetos promotores de bem-estar, entre
outros (Estanislau & Bressan, 2014).
Na comunidade escolar ressalta a eficácia de uma abordagem que inclua a “escola toda”, que use um
modelo de promoção de competências sociais, que use educação entre pares, que favoreça a participação
e a iniciativa dos alunos, que use metodologias interativas e participadas, e que dure ao longo de vários
anos de modo a se tornar uma cultura na escola (Lhopis-Jané, Barry, Hosman, & Patel, 2005). É útil que
novos programas se integrem e que se estabeleçam parcerias e trabalho em rede com outras estruturas
na comunidade de modo a permitir uma fertilização cruzada, a criação de novas estruturas, a construção
de competências e a geração de maior participação.
O estudo Nacional HBSC/OMS (2014) identificou entre os adolescentes sinais de mal-estar psicológico,
sinais de desesperança e de dificuldade em lidar com conflitos. Os adolescentes passam grande parte do
seu tempo na escola, o que faz da escola um importante cenário nas suas vidas, com impacto importante
na sua saúde mental. No entanto de 2010 para 2014 baixou o número de alunos que afirma gostar da
escola (de 76,5% para 73,1%). O estudo revela ainda que, a saúde (mental) dos adolescentes portugueses
não está muito bem. Os indicadores associados a esta situação foram dos que mais evidenciaram um
declínio com a recessão (depois de 2010).
Embora estejamos a falar de sintomas de mal–estar e não de critérios clínicos de depressão ou de
ansiedade, de acordo com o referido estudo, ocorreu em 2014 um agravamento generalizado de sintomas
psicológicos (estavam nervosos quase todos os dias 6,2% em 2010 e agora são 8,4% em 2014; estavam
tristes quase todos os dias 5% em 2010 e agora são 5,1% em 2014; estavam irritados quase todos os dias,
3,7% em 2010 e agora são 5,9% em 2014; estavam “sempre tão tristes que parece que não aguentavam”
3,8% em 2010, e agora são 5,5% em 2014) (Matos e colaboradores, 2014).
Esse cenário revela a necessidade de promover a saúde e o bem-estar dos adolescentes através de
projetos desenvolvidos e implementados nas escolas. Para isso, torna-se essencial a participação dos
professores e outros profissionais de educação e saúde que trabalham nas escolas. O desenvolvimento de
programas que os apoiem na criação de projetos que promovam a participação dos jovens, dos pais e de
toda a comunidade educativa é essencial para tornar a escola num ambiente promotor de bem-estar e de
saúde mental nos adolescentes.
19RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Na comunidade escolar ressalta a eficácia de uma abordagem que inclua a “escola toda”, que use um
modelo de promoção de competências sociais, que use educação entre pares, que favoreça a participação
e a iniciativa dos alunos, que use metodologias interativas e participadas, e que dure ao longo de vários
anos de modo a se tornar uma cultura na escola (Llopis, 2007). É útil que novos programas se integrem
e que se estabeleçam parcerias e trabalho em rede com outras estruturas na comunidade de modo a
permitir uma fertilização cruzada, a criação de novas estruturas, a construção de competências e a geração
de maior participação.
O estudo Nacional HBSC/OMS (2014) identificou entre os adolescentes sinais de mal-estar psicológico,
sinais de desesperança e de dificuldade em lidar com conflitos. Os adolescentes passam grande parte do
seu tempo na escola, o que faz da escola um importante cenário nas suas vidas, com impacto importante
na sua saúde mental. No entanto de 2010 para 2014 baixou o número de alunos que afirma gostar da
escola (de 76,5% para 73,1%). O estudo revela ainda que, a saúde (mental) dos adolescentes portugueses
não está muito bem. Os indicadores associados a esta situação foram dos que mais evidenciaram um
declínio com a recessão (depois de 2010).
Embora estejamos a falar de sintomas de mal–estar e não de critérios clínicos de depressão ou de
ansiedade, de acordo com o referido estudo, ocorreu em 2014 um agravamento generalizado de sintomas
psicológicos (estavam nervosos quase todos os dias 6,2% em 2010 e agora são 8,4% em 2014; estavam
tristes quase todos os dias 5% em 2010 e agora são 5,1% em 2014; estavam irritados quase todos os dias,
3,7% em 2010 e agora são 5,9% em 2014; estavam “sempre tão tristes que parece que não aguentavam”
3,8% em 2010, e agora são 5,5% em 2014) (Matos e colaboradores, 2014).
Esse cenário revela a necessidade de promover a saúde e o bem-estar dos adolescentes através de
projetos desenvolvidos e implementados nas escolas. Para isso, torna-se essencial a participação dos
professores e outros profissionais de educação e saúde que trabalham nas escolas. O desenvolvimento de
programas que os apoiem na criação de projetos que promovam a participação dos jovens, dos pais e de
toda a comunidade educativa é essencial para tornar a escola num ambiente promotor de bem-estar e de
saúde mental nos adolescentes.
20 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Referências Bibliográficas
Brito, I. (2011). Ansiedade e depressão na adolescência. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 27(2), 208-14. Acesso em de http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10842/10578
Caldas de Almeida, J., & Xavier, M. (2013). Estudo epidemiológico nacional de saúde mental (vol. 1). Lisboa, Portugal. Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa.
Direção Geral de Saúde. (2013). Plano nacional de prevenção do suicídio 2013/2017. Lisboa:
Estanislau, G., & Bressan, R. (2014). Saúde Mental na Escola – O que os educadores devem saber. Porto Alegre: Artmed.
Frasquilho, M., & Guerreiro, D. (2009). Stress, Depressão e Suicídio – Gestão de Problemas de Saúde em Meio Escolar. Lisboa: Coisas de Ler Edições
Barufi Fernandes, L. F., Alckmin-Carvalho, F., Izbicki, S., & da Silva Melo, M. H. (2014). Prevenção universal de ansiedade na infância e adolescência: uma revisão sistemática. 16(3), 83-89. doi: 10.15348/1980-6906/psicologia.v16n3p83-99
de Jonge-Heesen, K. W. J., van Ettekoven, K. M., Rasing, S. P. A., Oprins-van Liempd, F. H. J., Vermulst, A. A., Engels, R. C. M. E., & Creemers, D. H. M. (2016). Evaluation of a school-based depression prevention program among adolescents with elevated depressive symptoms: study protocol of a randomized controlled trial. BMC Psychiatry,16(402), 1-9. doi: 10.1186/s12888-016-1119-8
Martinsen, K. D., Kendall, P. C., Stark, K., & Neumer, S.-P. (2016). Prevention of Anxiety and Depression in Children: Acceptability and Feasibility of the Transdiagnostic EMOTION Program. Cognitive and Behavioral Practice, 23(1), 1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cbpra.2014.06.005
Queiroz de Azevedo Erse, M. P., Pereira Simões, R. M., Neto Façanha, J. D., Fernandes Alves Marques, L. A., Exposto Costa Loureiro, C. R., Teixeira Sampaio Matos, M. E., & Pereira Santos, J. C. (2016). Depressão em adolescentes em meio escolar: Projeto + Contigo. 4(9), 37. doi: 10.12707/RIV15026
Santos, M. (2015). Problemas de Saúde Mental nas Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Silabo
II – Perturbações do Humor
Gina Tomé
As emoções surgem de forma espontânea ou como resposta a determinada situação e são expressas e
mantidas em equilíbrio pelo cérebro. Assim, se determinada situação gera tristeza, o nosso humor não se
manterá triste para sempre, a maior parte dos indivíduos, após algum tempo, volta ao seu estado normal
de humor (Estanislau & Bressan, 2014). Quando o cérebro não é capaz de controlar as emoções, podem
ocorrer estados de humor fora do habitual. Para além de influenciar o humor, as perturbações do humor,
podem alterar a parte cognitiva, biológica e comportamental (Estanislau & Bressan, 2014).
A depressão é um estado clinico complexo, que surge geralmente devido a uma situação negativa,
diferente de estados emocionais passageiros, em que o retorno ao estado emocional normal ocorre após
um breve período de tempo. Não existe uma causa única para a depressão. A hereditariedade pode ser
uma causa, no entanto não é a única, também são apontadas como causas fatores como padrões de
pensamento como o negativismo ou criticismo excessivos, situações estressantes, contexto familiar
instável, entre outros (Estanislau & Bressan, 2014).
Em Portugal a taxa de prevalência da depressão em adultos é de 25,8% ao longo da vida e 7,9% nos
últimos 12 meses (Caldas de Almeida & Xavier, 2013). Verifica-se uma discrepante predominância no
género feminino, com episódios mais duradouros e com maior risco de cronicidade. Todavia não há dados
nacionais para a prevalência da doença mental nos adolescentes.
No ano de 2012, em Portugal a taxa global de suicídio foi de 10,2/100 mil habitantes e nos adolescentes
dos 15 aos 24 anos foi de cerca de 3/100 mil habitantes, sendo 4,5 nos rapazes e 1,4 nas raparigas
(Queiroz de Azevedo Erse et al., 2016). O diagnóstico de doença mental está presente em cerca de 90%
dos jovens que se suicidaram, estimando-se que 60% aconteçam no contexto de uma depressão (DGS,
2013).
A depressão tem sido considerada um dos maiores problemas de saúde pública a nível internacional,
causando diversos prejuízos emocionais e económicos para a sociedade. Estudos internacionais referem
uma prevalência de depressão entre 2 e 5,6% entre os adolescentes (de Jonge-Heesen et al., 2016). A
depressão pode passar despercebida mais frequentemente nos adolescentes do que nos adultos, já que
os sintomas ao longo da adolescência caracterizam-se por ser mais oscilantes, humor reativo e maior
irritabilidade (de Jonge-Heesen et al., 2016). Além disso, outras problemáticas como perturbações
alimentares, perturbações de ansiedade, abstinência escolar, baixo desempenho académico, estão
geralmente presentes e podem ocultar os sintomas de depressão.
21RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Referências Bibliográficas
Brito, I. (2011). Ansiedade e depressão na adolescência. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 27(2), 208-14. Acesso em de http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10842/10578
Caldas de Almeida, J., & Xavier, M. (2013). Estudo epidemiológico nacional de saúde mental (vol. 1). Lisboa, Portugal. Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa.
Direção Geral de Saúde. (2013). Plano nacional de prevenção do suicídio 2013/2017. Lisboa:
Estanislau, G., & Bressan, R. (2014). Saúde Mental na Escola – O que os educadores devem saber. Porto Alegre: Artmed.
Frasquilho, M., & Guerreiro, D. (2009). Stress, Depressão e Suicídio – Gestão de Problemas de Saúde em Meio Escolar. Lisboa: Coisas de Ler Edições
Barufi Fernandes, L. F., Alckmin-Carvalho, F., Izbicki, S., & da Silva Melo, M. H. (2014). Prevenção universal de ansiedade na infância e adolescência: uma revisão sistemática. 16(3), 83-89. doi: 10.15348/1980-6906/psicologia.v16n3p83-99
de Jonge-Heesen, K. W. J., van Ettekoven, K. M., Rasing, S. P. A., Oprins-van Liempd, F. H. J., Vermulst, A. A., Engels, R. C. M. E., & Creemers, D. H. M. (2016). Evaluation of a school-based depression prevention program among adolescents with elevated depressive symptoms: study protocol of a randomized controlled trial. BMC Psychiatry,16(402), 1-9. doi: 10.1186/s12888-016-1119-8
Martinsen, K. D., Kendall, P. C., Stark, K., & Neumer, S.-P. (2016). Prevention of Anxiety and Depression in Children: Acceptability and Feasibility of the Transdiagnostic EMOTION Program. Cognitive and Behavioral Practice, 23(1), 1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cbpra.2014.06.005
Queiroz de Azevedo Erse, M. P., Pereira Simões, R. M., Neto Façanha, J. D., Fernandes Alves Marques, L. A., Exposto Costa Loureiro, C. R., Teixeira Sampaio Matos, M. E., & Pereira Santos, J. C. (2016). Depressão em adolescentes em meio escolar: Projeto + Contigo. 4(9), 37. doi: 10.12707/RIV15026
Santos, M. (2015). Problemas de Saúde Mental nas Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Silabo
II – Perturbações do Humor
Gina Tomé
As emoções surgem de forma espontânea ou como resposta a determinada situação e são expressas e
mantidas em equilíbrio pelo cérebro. Assim, se determinada situação gera tristeza, o nosso humor não se
manterá triste para sempre, a maior parte dos indivíduos, após algum tempo, volta ao seu estado normal
de humor (Estanislau & Bressan, 2014). Quando o cérebro não é capaz de controlar as emoções, podem
ocorrer estados de humor fora do habitual. Para além de influenciar o humor, as perturbações do humor,
podem alterar a parte cognitiva, biológica e comportamental (Estanislau & Bressan, 2014).
A depressão é um estado clinico complexo, que surge geralmente devido a uma situação negativa,
diferente de estados emocionais passageiros, em que o retorno ao estado emocional normal ocorre após
um breve período de tempo. Não existe uma causa única para a depressão. A hereditariedade pode ser
uma causa, no entanto não é a única, também são apontadas como causas fatores como padrões de
pensamento como o negativismo ou criticismo excessivos, situações estressantes, contexto familiar
instável, entre outros (Estanislau & Bressan, 2014).
Em Portugal a taxa de prevalência da depressão em adultos é de 25,8% ao longo da vida e 7,9% nos
últimos 12 meses (Caldas de Almeida & Xavier, 2013). Verifica-se uma discrepante predominância no
género feminino, com episódios mais duradouros e com maior risco de cronicidade. Todavia não há dados
nacionais para a prevalência da doença mental nos adolescentes.
No ano de 2012, em Portugal a taxa global de suicídio foi de 10,2/100 mil habitantes e nos adolescentes
dos 15 aos 24 anos foi de cerca de 3/100 mil habitantes, sendo 4,5 nos rapazes e 1,4 nas raparigas
(Queiroz de Azevedo Erse et al., 2016). O diagnóstico de doença mental está presente em cerca de 90%
dos jovens que se suicidaram, estimando-se que 60% aconteçam no contexto de uma depressão (DGS,
2013).
A depressão tem sido considerada um dos maiores problemas de saúde pública a nível internacional,
causando diversos prejuízos emocionais e económicos para a sociedade. Estudos internacionais referem
uma prevalência de depressão entre 2 e 5,6% entre os adolescentes (de Jonge-Heesen et al., 2016). A
depressão pode passar despercebida mais frequentemente nos adolescentes do que nos adultos, já que
os sintomas ao longo da adolescência caracterizam-se por ser mais oscilantes, humor reativo e maior
irritabilidade (de Jonge-Heesen et al., 2016). Além disso, outras problemáticas como perturbações
alimentares, perturbações de ansiedade, abstinência escolar, baixo desempenho académico, estão
geralmente presentes e podem ocultar os sintomas de depressão.
22 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Inúmeras causas podem estar na origem das dificuldades diagnósticas e atraso no início do tratamento:
estigma associado às doenças mentais, apresentação atípica da sintomatologia, falta de formação
adequada dos profissionais de saúde, descrença no sucesso dos tratamentos e as barreiras no acesso aos
cuidados de saúde mental. A depressão nos adolescentes tem manifestações específicas, contudo é
possível serem encontrados sintomas que se assemelham aos quadros depressivos em adultos. A
irritabilidade, os episódios de agressividade, o consumo de álcool e outros tipos de substâncias, as
dificuldades na concentração, os prejuízos no desempenho escolar e social, a baixa autoestima, a ideação
suicida e a adoção de comportamentos da esfera suicidária, são manifestações típicas da depressão em
adolescentes (Queiroz de Azevedo Erse et al., 2016).
Ao longo da adolescência existem períodos de alguma tristeza e irritabilidade, no entanto são momentos
passageiros, que não se associam a alterações evidentes de comportamento e nem a prejuízo da suas
competências e rotinas. Nesta etapa a tristeza tem habitualmente razão identificável, não sendo
acompanhada por pensamentos de morte ou comportamentos de risco (Estanislau & Bressan, 2014).
Nas crianças os sintomas são mais difíceis de detetar, devido à dificuldade em exprimir o que realmente
sentem. A partir da idade escolar, essa dificuldade é ultrapassada e o humor depressivo já é verbalizado e
é geralmente descrito como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças com perturbações de humor,
apresentam geralmente aparência triste, choro fácil, apatia, fadiga, isolamento, declínio ou baixo
desempenho escolar, podendo chegar à recusa escolar, que se pode dever às dificuldades de
concentração ou perda de interesse comuns nas perturbações de humor (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Alguns sinais de alerta para a depressão na adolescência podem ser: longos períodos de humor irritável ou
depressivo, isolamento da família e/ou amigos, hostilidade para com a família e/ou amigos, quebra no
rendimento escolar ou faltas na escola, desistência de atividades de grupo, abuso de substâncias, violência
física, atividade sexual imprudente, fugas de casa (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Se os cuidadores estiverem atentos irão identificar as alterações no comportamento das crianças e
adolescentes, no entanto por vezes, são os professores ou educadores os primeiros a assinalar a situação.
Quanto mais novas são as crianças mais dependentes estão dos seus cuidadores, assim, quando existe a
suspeita de depressão há que ter atenção ao estado afetivo dos cuidadores e prestar-lhe ajuda quando
necessário. Nas crianças mais velhas é necessário dar atenção às perdas, reais ou imaginárias que sofreu
recentemente (Santos, 2015).
O diagnóstico da depressão é realizado através de uma avaliação dos pensamentos e comportamentos,
necessitando de profissionais habilitados. Na infância é essencial ouvir os pais ou cuidadores, já que é uma
etapa aonde se pode verificar alguma dificuldade em exprimir os sentimentos. Na adolescência, os adultos
são uma importante fonte de informação, no entanto a avaliação será realizada diretamente com os
jovens. Como em qualquer outra perturbação mental, não é possível diagnosticar a depressão através de
informação retirada da internet ou revistas de saúde, mas apenas com a intervenção de um profissional de
saúde, com formação adequada para realizar o diagnóstico (Estanislau & Bressan, 2014).
Referências Bibliográficas
Brito, I. (2011). Ansiedade e depressão na adolescência. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 27(2), 208-14. Acesso em de http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10842/10578
Caldas de Almeida, J., & Xavier, M. (2013). Estudo epidemiológico nacional de saúde mental (vol. 1). Lisboa, Portugal. Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa.
Direção Geral de Saúde. (2013). Plano nacional de prevenção do suicídio 2013/2017. Lisboa:
Estanislau, G., & Bressan, R. (2014). Saúde Mental na Escola – O que os educadores devem saber. Porto Alegre: Artmed.
Frasquilho, M., & Guerreiro, D. (2009). Stress, Depressão e Suicídio – Gestão de Problemas de Saúde em Meio Escolar. Lisboa: Coisas de Ler Edições
Barufi Fernandes, L. F., Alckmin-Carvalho, F., Izbicki, S., & da Silva Melo, M. H. (2014). Prevenção universal de ansiedade na infância e adolescência: uma revisão sistemática. 16(3), 83-89. doi: 10.15348/1980-6906/psicologia.v16n3p83-99
de Jonge-Heesen, K. W. J., van Ettekoven, K. M., Rasing, S. P. A., Oprins-van Liempd, F. H. J., Vermulst, A. A., Engels, R. C. M. E., & Creemers, D. H. M. (2016). Evaluation of a school-based depression prevention program among adolescents with elevated depressive symptoms: study protocol of a randomized controlled trial. BMC Psychiatry, 16(402), 1-9. doi: 10.1186/s12888-016-1119-8
Martinsen, K. D., Kendall, P. C., Stark, K., & Neumer, S.-P. (2016). Prevention of Anxiety and Depression in Children: Acceptability and Feasibility of the Transdiagnostic EMOTION Program. Cognitive and Behavioral Practice, 23(1), 1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cbpra.2014.06.005
Queiroz de Azevedo Erse, M. P., Pereira Simões, R. M., Neto Façanha, J. D., Fernandes Alves Marques, L. A., Exposto Costa Loureiro, C. R., Teixeira Sampaio Matos, M. E., & Pereira Santos, J. C. (2016). Depressão em adolescentes em meio escolar: Projeto + Contigo. 4(9), 37. doi: 10.12707/RIV15026
Santos, M. (2015). Problemas de Saúde Mental nas Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Silabo
23RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Inúmeras causas podem estar na origem das dificuldades diagnósticas e atraso no início do tratamento:
estigma associado às doenças mentais, apresentação atípica da sintomatologia, falta de formação
adequada dos profissionais de saúde, descrença no sucesso dos tratamentos e as barreiras no acesso aos
cuidados de saúde mental. A depressão nos adolescentes tem manifestações específicas, contudo é
possível serem encontrados sintomas que se assemelham aos quadros depressivos em adultos. A
irritabilidade, os episódios de agressividade, o consumo de álcool e outros tipos de substâncias, as
dificuldades na concentração, os prejuízos no desempenho escolar e social, a baixa autoestima, a ideação
suicida e a adoção de comportamentos da esfera suicidária, são manifestações típicas da depressão em
adolescentes (Queiroz de Azevedo Erse et al., 2016).
Ao longo da adolescência existem períodos de alguma tristeza e irritabilidade, no entanto são momentos
passageiros, que não se associam a alterações evidentes de comportamento e nem a prejuízo da suas
competências e rotinas. Nesta etapa a tristeza tem habitualmente razão identificável, não sendo
acompanhada por pensamentos de morte ou comportamentos de risco (Estanislau & Bressan, 2014).
Nas crianças os sintomas são mais difíceis de detetar, devido à dificuldade em exprimir o que realmente
sentem. A partir da idade escolar, essa dificuldade é ultrapassada e o humor depressivo já é verbalizado e
é geralmente descrito como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças com perturbações de humor,
apresentam geralmente aparência triste, choro fácil, apatia, fadiga, isolamento, declínio ou baixo
desempenho escolar, podendo chegar à recusa escolar, que se pode dever às dificuldades de
concentração ou perda de interesse comuns nas perturbações de humor (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Alguns sinais de alerta para a depressão na adolescência podem ser: longos períodos de humor irritável ou
depressivo, isolamento da família e/ou amigos, hostilidade para com a família e/ou amigos, quebra no
rendimento escolar ou faltas na escola, desistência de atividades de grupo, abuso de substâncias, violência
física, atividade sexual imprudente, fugas de casa (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Se os cuidadores estiverem atentos irão identificar as alterações no comportamento das crianças e
adolescentes, no entanto por vezes, são os professores ou educadores os primeiros a assinalar a situação.
Quanto mais novas são as crianças mais dependentes estão dos seus cuidadores, assim, quando existe a
suspeita de depressão há que ter atenção ao estado afetivo dos cuidadores e prestar-lhe ajuda quando
necessário. Nas crianças mais velhas é necessário dar atenção às perdas, reais ou imaginárias que sofreu
recentemente (Santos, 2015).
O diagnóstico da depressão é realizado através de uma avaliação dos pensamentos e comportamentos,
necessitando de profissionais habilitados. Na infância é essencial ouvir os pais ou cuidadores, já que é uma
etapa aonde se pode verificar alguma dificuldade em exprimir os sentimentos. Na adolescência, os adultos
são uma importante fonte de informação, no entanto a avaliação será realizada diretamente com os
jovens. Como em qualquer outra perturbação mental, não é possível diagnosticar a depressão através de
informação retirada da internet ou revistas de saúde, mas apenas com a intervenção de um profissional de
saúde, com formação adequada para realizar o diagnóstico (Estanislau & Bressan, 2014).
Referências Bibliográficas
Brito, I. (2011). Ansiedade e depressão na adolescência. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 27(2), 208-14. Acesso em de http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10842/10578
Caldas de Almeida, J., & Xavier, M. (2013). Estudo epidemiológico nacional de saúde mental (vol. 1). Lisboa, Portugal. Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa.
Direção Geral de Saúde. (2013). Plano nacional de prevenção do suicídio 2013/2017. Lisboa:
Estanislau, G., & Bressan, R. (2014). Saúde Mental na Escola – O que os educadores devem saber. Porto Alegre: Artmed.
Frasquilho, M., & Guerreiro, D. (2009). Stress, Depressão e Suicídio – Gestão de Problemas de Saúde em Meio Escolar. Lisboa: Coisas de Ler Edições
Barufi Fernandes, L. F., Alckmin-Carvalho, F., Izbicki, S., & da Silva Melo, M. H. (2014). Prevenção universal de ansiedade na infância e adolescência: uma revisão sistemática. 16(3), 83-89. doi: 10.15348/1980-6906/psicologia.v16n3p83-99
de Jonge-Heesen, K. W. J., van Ettekoven, K. M., Rasing, S. P. A., Oprins-van Liempd, F. H. J., Vermulst, A. A., Engels, R. C. M. E., & Creemers, D. H. M. (2016). Evaluation of a school-based depression prevention program among adolescents with elevated depressive symptoms: study protocol of a randomized controlled trial. BMC Psychiatry, 16(402), 1-9. doi: 10.1186/s12888-016-1119-8
Martinsen, K. D., Kendall, P. C., Stark, K., & Neumer, S.-P. (2016). Prevention of Anxiety and Depression in Children: Acceptability and Feasibility of the Transdiagnostic EMOTION Program. Cognitive and Behavioral Practice, 23(1), 1-13. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cbpra.2014.06.005
Queiroz de Azevedo Erse, M. P., Pereira Simões, R. M., Neto Façanha, J. D., Fernandes Alves Marques, L. A., Exposto Costa Loureiro, C. R., Teixeira Sampaio Matos, M. E., & Pereira Santos, J. C. (2016). Depressão em adolescentes em meio escolar: Projeto + Contigo. 4(9), 37. doi: 10.12707/RIV15026
Santos, M. (2015). Problemas de Saúde Mental nas Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Silabo
24 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
III – Perturbações da Ansiedade
Gina Tomé
A ansiedade descreve um estado de preparação para uma situação de perigo, desaparecendo quando o
perigo desaparece. Quando ocorre um desequilíbrio no processamento dessa informação, podem surgir
respostas desadequadas, como preocupação excessiva e persistente, pensamentos negativos, sintomas
físicos, respiração acelerada, comportamentos que afetam o dia-a-dia do jovem, causando sofrimento e
podendo desenvolver uma perturbação de ansiedade (Estanislau & Bressan, 2014).
Alguns estudos referem que cerca de 5.6% e 18.1% de jovens podem experienciar perturbações de
ansiedade. Ao longo da vida a prevalência das perturbações de ansiedade pode atingir 28.8% (Martinsen,
Kendall, Stark, & Neumer, 2016). Alguns autores referem que as perturbações de ansiedade estão entre as
problemáticas emocionais mais comuns da infância e adolescência, tendo inicio geralmente entre os 8 e os
9 anos, podendo afetar até 27% das crianças (Estanislau & Bressan, 2014).
Em Portugal, não existem dados sobre a prevalência das perturbações de ansiedade nas crianças e nos
adolescentes, no entanto um indicador indireto da prevalência dessas perturbações para os adultos, pode
ser o elevado consumo de ansiolíticos, estimados para cerca de 10% de todos os medicamentos. Cerca de
10 a 27% dos doentes dos cuidados primários apresentam queixas de ansiedade e aproximadamente
metade se devem a perturbações de ansiedade (Moreira & Melo, 2005).
A ansiedade manifesta-se através de sintomas psícológicos, corporais, comportamentais e percetivos. Caso
não sejam diagnosticadas, as perturbações de ansiedade podem ter consequências graves na vida do
individuo. Assim, como todas as perturbações mentais, as perturbações de ansiedade necessitam de
avaliação e intervenção de especialistas na área da saúde mental (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Existem diversos fatores que podem estar associados às causas da ansiedade nas crianças e adolescentes,
como um sistema nervoso autónomo muito ativado, modelagem dos cuidadores, que transmitem as suas
reações ansiosas diante aos estímulos percecionados como ameaçadores, contexto familiar e social
adversos, entre outros (Santos, 2015).
As perturbações de ansiedade dependem do estímulo causador da ansiedade:
- Estímulos específicos (animais, agulhas): fobias;
- Afastamento dos cuidadores: perturbação de ansiedade de separação;
- Fatores múltiplos: perturbação de ansiedade generalizada;
- Pensamentos/imagens intrusivas: perturbação obsessivo-compulsiva;
- Exposição social: perturbação de ansiedade social;
- Evento traumático: perturbação de stress pós-traumático;
- Ausência de estímulo identificável: perturbação de pânico (Santos, 2015).
O diagnóstico de uma perturbação de ansiedade na infância ou adolescência pode aumentar o risco de
insucesso escolar, de perturbações do humor, tentativas de suicídio e internamento psiquiátrico na vida
adulta (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Os adolescentes podem sentir-se ameaçados com as diversas alterações pelas quais estão a passar, no
seu corpo, na relação com os pares, na relação com os pais, nos seus receios relativamente às suas
competências sociais, académicas, entre outros (Brito, 2011).
A ansiedade pode interferir com a aprendizagem e com a inserção escolar, comprometer a relação com o
grupo de pares, acentuar os conflitos com a família e conduzir ao isolamento do adolescente. O
adolescente pode desenvolver ataques de pânico ou fobias. Apresentar comportamentos de risco,
consumir álcool e drogas ou ter um comportamento sexual impulsivo, como tentativas para negar os seus
medos (Brito, 2011).
Torna-se necessário avaliar o impacto que os sintomas da ansiedade têm na aprendizagem e na frequência
escolar do adolescente, nas relações familiares e na relação com os pares. A intervenção deverá ser
planeada com o envolvimento do adolescente, da família, da escola e por vezes até dos amigos. É
importante informar a família que os sintomas da ansiedade são involuntários. Mesmo parecendo que o
adolescente pretende «manipular» os que o cercam, não está a fazê-lo por vontade própria. Os
pais/cuidadores devem transmitir segurança ao adolescente, não se mostrarem críticos em relação aos
seus receios e menos ainda castigá-lo pelos seus comportamentos desajustados. Uma vez que o
rendimento escolar também é afetado, a escola, quando possível e necessário, deverá ser incluída na
intervenção (Brito, 2011).
As pesquisas iniciais sobre os programas de prevenção de ansiedade na infância e na adolescência,
datadas da década de 1980, tinham como objetivo reduzir a ansiedade e outros problemas de
comportamento, tais como depressão e stress, tendo um enfoque no aperfeiçoamento e na expansão
desse tipo de intervenção. No século XXI, o objetivo manteve-se, mas passou-se a observar um cuidado
maior por parte dos investigadores em comprovar a eficácia desses programas e em acompanhar por mais
25RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
III – Perturbações da Ansiedade
Gina Tomé
A ansiedade descreve um estado de preparação para uma situação de perigo, desaparecendo quando o
perigo desaparece. Quando ocorre um desequilíbrio no processamento dessa informação, podem surgir
respostas desadequadas, como preocupação excessiva e persistente, pensamentos negativos, sintomas
físicos, respiração acelerada, comportamentos que afetam o dia-a-dia do jovem, causando sofrimento e
podendo desenvolver uma perturbação de ansiedade (Estanislau & Bressan, 2014).
Alguns estudos referem que cerca de 5.6% e 18.1% de jovens podem experienciar perturbações de
ansiedade. Ao longo da vida a prevalência das perturbações de ansiedade pode atingir 28.8% (Martinsen,
Kendall, Stark, & Neumer, 2016). Alguns autores referem que as perturbações de ansiedade estão entre as
problemáticas emocionais mais comuns da infância e adolescência, tendo inicio geralmente entre os 8 e os
9 anos, podendo afetar até 27% das crianças (Estanislau & Bressan, 2014).
Em Portugal, não existem dados sobre a prevalência das perturbações de ansiedade nas crianças e nos
adolescentes, no entanto um indicador indireto da prevalência dessas perturbações para os adultos, pode
ser o elevado consumo de ansiolíticos, estimados para cerca de 10% de todos os medicamentos. Cerca de
10 a 27% dos doentes dos cuidados primários apresentam queixas de ansiedade e aproximadamente
metade se devem a perturbações de ansiedade (Moreira & Melo, 2005).
A ansiedade manifesta-se através de sintomas psícológicos, corporais, comportamentais e percetivos. Caso
não sejam diagnosticadas, as perturbações de ansiedade podem ter consequências graves na vida do
individuo. Assim, como todas as perturbações mentais, as perturbações de ansiedade necessitam de
avaliação e intervenção de especialistas na área da saúde mental (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Existem diversos fatores que podem estar associados às causas da ansiedade nas crianças e adolescentes,
como um sistema nervoso autónomo muito ativado, modelagem dos cuidadores, que transmitem as suas
reações ansiosas diante aos estímulos percecionados como ameaçadores, contexto familiar e social
adversos, entre outros (Santos, 2015).
As perturbações de ansiedade dependem do estímulo causador da ansiedade:
- Estímulos específicos (animais, agulhas): fobias;
- Afastamento dos cuidadores: perturbação de ansiedade de separação;
- Fatores múltiplos: perturbação de ansiedade generalizada;
- Pensamentos/imagens intrusivas: perturbação obsessivo-compulsiva;
- Exposição social: perturbação de ansiedade social;
- Evento traumático: perturbação de stress pós-traumático;
- Ausência de estímulo identificável: perturbação de pânico (Santos, 2015).
O diagnóstico de uma perturbação de ansiedade na infância ou adolescência pode aumentar o risco de
insucesso escolar, de perturbações do humor, tentativas de suicídio e internamento psiquiátrico na vida
adulta (Frasquilho & Guerreiro, 2009).
Os adolescentes podem sentir-se ameaçados com as diversas alterações pelas quais estão a passar, no
seu corpo, na relação com os pares, na relação com os pais, nos seus receios relativamente às suas
competências sociais, académicas, entre outros (Brito, 2011).
A ansiedade pode interferir com a aprendizagem e com a inserção escolar, comprometer a relação com o
grupo de pares, acentuar os conflitos com a família e conduzir ao isolamento do adolescente. O
adolescente pode desenvolver ataques de pânico ou fobias. Apresentar comportamentos de risco,
consumir álcool e drogas ou ter um comportamento sexual impulsivo, como tentativas para negar os seus
medos (Brito, 2011).
Torna-se necessário avaliar o impacto que os sintomas da ansiedade têm na aprendizagem e na frequência
escolar do adolescente, nas relações familiares e na relação com os pares. A intervenção deverá ser
planeada com o envolvimento do adolescente, da família, da escola e por vezes até dos amigos. É
importante informar a família que os sintomas da ansiedade são involuntários. Mesmo parecendo que o
adolescente pretende «manipular» os que o cercam, não está a fazê-lo por vontade própria. Os
pais/cuidadores devem transmitir segurança ao adolescente, não se mostrarem críticos em relação aos
seus receios e menos ainda castigá-lo pelos seus comportamentos desajustados. Uma vez que o
rendimento escolar também é afetado, a escola, quando possível e necessário, deverá ser incluída na
intervenção (Brito, 2011).
As pesquisas iniciais sobre os programas de prevenção de ansiedade na infância e na adolescência,
datadas da década de 1980, tinham como objetivo reduzir a ansiedade e outros problemas de
comportamento, tais como depressão e stress, tendo um enfoque no aperfeiçoamento e na expansão
desse tipo de intervenção. No século XXI, o objetivo manteve-se, mas passou-se a observar um cuidado
maior por parte dos investigadores em comprovar a eficácia desses programas e em acompanhar por mais
26 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
tempo, as populações abrangidas, com o intuito de verificar se os efeitos da intervenção foram realmente
preventivos (Barufi Fernandes, Alckmin-Carvalho, Izbicki, & da Silva Melo, 2014).
Referências Bibliográficas
Brito, I. (2011). Ansiedade e depressão na adolescência. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 27(2), 208-14. Acesso em de http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10842/10578
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Santos, M. (2015). Problemas de Saúde Mental nas Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Silabo
27RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
tempo, as populações abrangidas, com o intuito de verificar se os efeitos da intervenção foram realmente
preventivos (Barufi Fernandes, Alckmin-Carvalho, Izbicki, & da Silva Melo, 2014).
Referências Bibliográficas
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Santos, M. (2015). Problemas de Saúde Mental nas Crianças e Adolescentes – Identificar, Avaliar e Intervir. Lisboa: Edições Silabo
IV - Violência em Contexto Escolar Marta Reis
O bullying diz respeito a um tipo de violência exercida entre pares em contexto escolar, o qual apareceu
como resposta à necessidade de caracterizar um tipo particular de violência ou de agressão, que ocorre
entre alunos na escola (Gonçalves, 2011; Matos et al, 2009; Olweus, 1991, 1994; Simões et al, 2009). Trata-
se de comportamentos agressivos exercidos por um indivíduo ou grupo de indivíduos sobre outro
indivíduo ou grupo, havendo uma desigualdade de poder entre quem agride e quem é vitimizado. O
bullying é praticado pelo agressor e dirigido à vítima, sendo realizado de forma intencional e repetitiva ao
longo do tempo, com o intuito de massacrar o outro sem que tenha havido qualquer motivo para tal
(Gonçalves, 2011; Matos et al, 2009; Olweus, 1991, 1993, 1994; Seixas, Fernandes, & Morais, 2016).
O conceito bullying surgiu na década de 70, na sequência de estudos realizados, na Noruega, por Olweus.
O referido autor utilizava como instrumento o questionário “Olweus Bully/Victim Questionnaire”1 (Barros,
Carvalho, & Pereira, 2009). No final da década de 90, um estudo em grande escala, coordenado por Smith,
realizado em 21 países, veio também alertar o mundo para a problemática bullying (Alexander, 2007). Do
ponto de vista científico, o bullying despertou inúmeros estudos empíricos nacionais e internacionais,
crescendo enquanto assunto de interesse e tendo recebido uma especial atenção por parte da
Organização Mundial de Saúde (OMS).
O bullying pode ser físico (ex: pontapear; dar estalos; dar murros), verbal (ex: gozar; insultar; espalhar
rumores), psicológico (ex: ameaçar; chantagear; enviar mensagens ou fazer telefonemas com conteúdo
desagradável), social (ex: ignorar; excluir socialmente) e sexual (ex:exibicionismo; assédio; comentários
desagradáveis acerca de determinadas zonas do corpo da vítima; gozar relativamente à orientação sexual
do outro; tocar em partes íntimas sem consentimento; divulgar comentários e/ou imagens/vídeos alheios
de caráter sexual) (Bouth & Sousa, 2011; Matos et al., 2009a; Seixas, Fernandes, & Morais, 2016). Pode
ainda o bullying ser caraterizado como direto (agressões: físicas; verbais; sexuais) ou indireto (ferir o
psicológico; espalhar boatos; excluir socialmente) (Serrate, 2009).
1 O questionário de Olweus (self-report questionnaire) consiste em 25 questões de escolha múltipla colocadas aos alunos. Inclui
várias áreas de recolha de informação: sócio-demográficos; relativo à amizade; acerca da vitimização; em relação à agressão. As questões principais estão relacionados com: a frequência da vitimização; os tipos de comportamento agressivo; os locais onde ocorre; quem são os agressores; se os professores ou colegas tentam impedir que o bullying surja; se os professores e os pais têm conhecimento quando ocorre bullying; frequência com que agridem os colegas.
28 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Existe também o cyberbullying que consiste na utilização das tecnologias de informação e comunicação
para divulgar mensagens, comentários, imagens e/ou vídeos de caráter íntimo da vítima, através de
telemóveis, computadores e redes sociais (Bandeira & Hutz, 2012b; Melim, 2011; Schultz, Duque, Silva,
Souza, & Carneiro, 2012), com o intuito de assediar, difamar e espalhar rumores (Willard, 2007, citado por
Andrade, 2012), sendo realizado de forma intencional (Patchin & Hinduja, 2006, citados por Andrade, 2012;
Sá, 2007, citado por Abreu, 2011).
As causas e consequências do bullying
Definir o que causa os comportamentos de bullying entre adolescentes, em contexto escolar, pode ser
muito complexo, no entanto, alguns autores (Melim, 2011; Gonçalves, 2011; Seixas, Fernandes, & Morais,
2016) referem que pode estar relacionado com fatores individuais, tais como: problemas de saúde e de
desenvolvimento, abuso de drogas e perturbações psicológicas (nervosismo, ansiedade, depressão e
hiperatividade). Também pode ser potenciado por aspetos familiares, nomeadamente a existência de
violência no seio familiar pode servir de exemplo ao adolescente para resolver conflitos, tal como a falta de
compreensão por parte dos pais, a ausência de envolvimento e supervisão parental, o negativismo e a
indiferença dos pais em relação ao filho, a atitude muito permissiva e tolerante por parte dos pais em
relação à agressividade, o desemprego parental, a relação de demasiada proximidade entre pais-filho. O
bullying pode ainda ser reforçado por aspectos sociais, quando existe agressividade na sociedade onde o
jovem vive, o que pode levá-lo a imitar este comportamento. Os fatores escolares podem afetar o bullying
devido ao insucesso e abandono escolar, tal como problemas disciplinares, mudança de escola e fraca
relação com a mesma. Os aspetos grupais podem influenciar o bullying quando há envolvimento com
outros jovens problemáticos, tal como quando há conflitos com os pares (Matos et al., 2009a).
Quanto aos fatores de proteção, podemos revelar que estudos acerca da relação parental afirmam que
estilos de relacionamento parental saudáveis e com boa comunicação, desempenham funções
importantes, sendo decisivas no ajustamento psicossocial e na saúde mental dos adolescentes (Ferraz &
Pereira, 2012).
O bullying acarreta consequências prejudiciais tanto para agressores como para vítimas, nomeadamente
perturba a vida escolar e a boa convivência entre os adolescentes (Melim, 2011). Contudo, as
consequências do bullying, em meio escolar, implicam não só com a vida de quem o pratica e de quem o
sofre mas também de quem o assiste e de quem precisa intervir (Abreu, 2011). As consequências podem
ser a curto e/ou a longo prazo, podendo influenciar negativamente o desenvolvimento psicoafetivo e social
dos jovens, originando um desenvolvimento muito pouco saudável (Matos & Gonçalves, 2009; Seixas,
Fernandes, & Morais, 2016).
A intervenção para combater o bullying nas escolas
Os programas de intervenção implementados nas escolas têm prevenido a violência nos jovens, revelando-
se eficazes (Matos et al., 2009a; Seixas, Fernandes, & Morais, 2016). As estratégias de prevenção e
intervenção em bullying seguem, muitas vezes, as ideias de Olweus. Neste sentido devem envolver o
agressor e a vítima, dando-lhes apoio individualizado, tal como promovendo competências cognitivas,
emocionais e comportamentais, nomeadamente: gestão emocional; comportamento assertivo; resolução
de problemas; escuta-ativa; trabalho em equipa; procura de soluções pacíficas; uso do humor no lidar com
o agressor; trato amigável; envolvimento na participação ativa; técnicas de relaxamento; atividades
extracurriculares; recurso ao desporto, às artes entre outras atividades para controlar o stress,
aborrecimento/tédio, ansiedade/depressão, podendo melhorar a frequência da agressão, visto se
manterem entretidos e ocupados nas atividades que lhes proporciona agrado; utilização de vídeos, teatro-
debate, histórias, jogos dramáticos e cooperativos. Preconizam, ainda, o envolvimento dos professores e
da escola, no sentido de avaliar o problema na própria escola, identificando as atividades bullying,
estabelecendo regras no regulamento escolar contra este fenómeno, oferecendo formação adequada aos
professores, promovendo o diálogo, envolvendo e responsabilizando os alunos, tal como melhorando a
supervisão. Também as famílias devem-se envolver no percurso escolar do seu educando, identificando
sinais de violência no adolescente e prevenindo comportamentos agressivos. (Matos & Gonçalves, 2009;
Olweus, 1991, 1993, 1994, citado por Matos et al., 2009a; Pereira, Costa, Melim, & Farenzena, 2011).
Referências Bibliográficas
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Bandeira C., & Hutz C. (2012a). Bullying: Prevalência, implicações e diferenças entre os géneros. Psicologia Escolar e Educacional, 16 (1), 1-10.
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29RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Existe também o cyberbullying que consiste na utilização das tecnologias de informação e comunicação
para divulgar mensagens, comentários, imagens e/ou vídeos de caráter íntimo da vítima, através de
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As causas e consequências do bullying
Definir o que causa os comportamentos de bullying entre adolescentes, em contexto escolar, pode ser
muito complexo, no entanto, alguns autores (Melim, 2011; Gonçalves, 2011; Seixas, Fernandes, & Morais,
2016) referem que pode estar relacionado com fatores individuais, tais como: problemas de saúde e de
desenvolvimento, abuso de drogas e perturbações psicológicas (nervosismo, ansiedade, depressão e
hiperatividade). Também pode ser potenciado por aspetos familiares, nomeadamente a existência de
violência no seio familiar pode servir de exemplo ao adolescente para resolver conflitos, tal como a falta de
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supervisão. Também as famílias devem-se envolver no percurso escolar do seu educando, identificando
sinais de violência no adolescente e prevenindo comportamentos agressivos. (Matos & Gonçalves, 2009;
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31RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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32 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
V – O Consumo de Substâncias na Adolescência Cátia Branquinho
Num período de vida em que a necessidade de aceitação por parte do grupo de pares ou a experienciação
de situações de stress se constituem problemas comuns, ocorrem as primeiras experiências com
substâncias e outros comportamentos de risco (Branquinho, 2015). Constituindo-se os fatores como a
família, amigos, colegas e professores, associados ao desenvolvimento de fatores pessoais que inibem, ou
facilitam o envolvimento nestes comportamentos (Simões, Matos, & Batista-Foguet, 2006). O local de
residência e as características inerentes ao mesmo, podem da mesma forma ser perspetivados como uma
ameaça ou fator protetor, dependendo do nível socioeconómico, stress experienciado no bairro de
residência, capital social e coesão, contexto cultural ou acesso a produtos e publicidade (Ayuka & Barrett,
2015).
Em Portugal, no âmbito do estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) da Organização Mundial
de Saúde (OMS), desenvolvido com 6026 jovens do 6º, 8º e 10º ano de escolaridade, os resultados revelam
que na sua maioria os adolescentes do 8º e 10º ano (n=3869), nunca experimentou tabaco (77,8%), álcool
(58,8%), drogas (93,7%) ou episódios de embriaguez (82,8%). Contudo, se invertermos a perspetiva e
considerarmos aqueles que já consumiram tabaco, álcool ou drogas, e que a idade média de
experimentação é aos 13 anos de idade, o panorama deixa de revelar-se tão positivo (Matos, Simões,
Camacho, Reis, & Equipa Aventura Social, 2015).
Com um forte impacto na evolução de doenças de foro cancerígeno, cardiovascular, metabólico,
respiratório e de desenvolvimento, o tabaco é considerado a principal causa de morte evitável entre a
população jovem (USDHHS, 2014). Significativamente relacionado ao comportamento de fumar por parte
dos pais ou grupo de pares, exposição ao fumo de tabaco, ou ainda, à publicidade por parte da indústria
tabaqueira (Veeranki, Mamudu, Andersen, & Zsheng, 2014), o tabaco é uma das substâncias com maior
predominância nos comportamentos de risco dos jovens. Sendo comum que aqueles que já
experimentaram tabaco, ou que mantenham um consumo regular, revelem ser menos felizes, maior
número de sintomas de mal-estar físico e psicológico, alimentação menos saudável, dietas mais
frequentes, e ainda, uma insatisfação com a imagem corporal (Matos et al., 2001).
Com fortes impactos na saúde e vida dos jovens, o consumo de tabaco constitui-se também um
importante risco para o consumo de álcool e drogas ilícitas (Simões, Matos, Batista-Foguet, & Simons-
Morton, 2014; USDHHS, 1994, 2012).
33RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
IV – O Consumo de Substâncias na Adolescência Cátia Branquinho
Num período de vida em que a necessidade de aceitação por parte do grupo de pares ou a experienciação
de situações de stress se constituem problemas comuns, ocorrem as primeiras experiências com
substâncias e outros comportamentos de risco (Branquinho, 2015). Constituindo-se os fatores como a
família, amigos, colegas e professores, associados ao desenvolvimento de fatores pessoais que inibem, ou
facilitam o envolvimento nestes comportamentos (Simões, Matos, & Batista-Foguet, 2006). O local de
residência e as características inerentes ao mesmo, podem da mesma forma ser perspetivados como uma
ameaça ou fator protetor, dependendo do nível socioeconómico, stress experienciado no bairro de
residência, capital social e coesão, contexto cultural ou acesso a produtos e publicidade (Ayuka & Barrett,
2015).
Em Portugal, no âmbito do estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) da Organização Mundial
de Saúde (OMS), desenvolvido com 6026 jovens do 6º, 8º e 10º ano de escolaridade, os resultados revelam
que na sua maioria os adolescentes do 8º e 10º ano (n=3869), nunca experimentou tabaco (77,8%), álcool
(58,8%), drogas (93,7%) ou episódios de embriaguez (82,8%). Contudo, se invertermos a perspetiva e
considerarmos aqueles que já consumiram tabaco, álcool ou drogas, e que a idade média de
experimentação é aos 13 anos de idade, o panorama deixa de revelar-se tão positivo (Matos, Simões,
Camacho, Reis, & Equipa Aventura Social, 2015).
Com um forte impacto na evolução de doenças de foro cancerígeno, cardiovascular, metabólico,
respiratório e de desenvolvimento, o tabaco é considerado a principal causa de morte evitável entre a
população jovem (USDHHS, 2014). Significativamente relacionado ao comportamento de fumar por parte
dos pais ou grupo de pares, exposição ao fumo de tabaco, ou ainda, à publicidade por parte da indústria
tabaqueira (Veeranki, Mamudu, Andersen, & Zsheng, 2014), o tabaco é uma das substâncias com maior
predominância nos comportamentos de risco dos jovens. Sendo comum que aqueles que já
experimentaram tabaco, ou que mantenham um consumo regular, revelem ser menos felizes, maior
número de sintomas de mal-estar físico e psicológico, alimentação menos saudável, dietas mais
frequentes, e ainda, uma insatisfação com a imagem corporal (Matos et al., 2001).
Com fortes impactos na saúde e vida dos jovens, o consumo de tabaco constitui-se também um
importante risco para o consumo de álcool e drogas ilícitas (Simões, Matos, Batista-Foguet, & Simons-
Morton, 2014; USDHHS, 1994, 2012).
Considerado um problema de saúde pública com graves consequências a curto e longo prazo (Room,
Babor, & Rehm, 2005; Tsoumakas et al., 2014), ao nível da saúde, físico, psicológico, educacional e social
(WHO, 2011), o álcool apresenta uma forte tendência de crescimento na Europa (WHO, 2012). Com estilos
de consumo diferenciados, os jovens europeus de cultura mediterrânea, nos quais se incluem os jovens
portugueses, são frequentemente relacionados a um início precoce de uso de álcool, baixa taxa de
embriaguez, mas a uma alta taxa de consumo regular (Beccaria & Prina, 2010).
Consumido pela primeira vez para fazer um brinde, sentir o efeito das bebidas alcoólicas ou para maior
diversão numa festa (Kuntsche & Müller, 2012), é uma prática social cada vez mais comum entre os jovens.
Num estudo desenvolvido pelo autor McArthur e colaboradores (2012), verificou-se que aos 15 anos de
idade, aproximadamente metade dos rapazes e raparigas já consumiram álcool, e um quinto já praticou
binge drink. Sendo comum, um maior consumo de bebidas alcoólicas no final da semana, fim-de-semana e
final do dia (Kuntsche & Labhart, 2012).
Estreitamente associada ao consumo de tabaco e álcool, a cannabis é uma das substâncias mais
conhecidas pela geração jovem. Ainda que de acordo com o investigador Ter Bogt e colaboradores (2014),
a frequência do consumo de cannabis ao longo da vida tenha vindo a diminuir na Europa, apresentando-se
a disponibilidade percebida e os contactos através dos pares enquanto fortes preditores do seu uso, a sua
liberalização relaciona-se com uma maior probabilidade de uso, uso no ano passado, e uso regular (Shi,
Lenzi & An, 2015). Positivamente associada a sintomas psicológicos, consistente com a ideia que os jovens
podem recorrer ao seu consumo para alívio de sintomas enquanto estratégia de coping, o seu uso pode
pelo contrário, relacionar-se a situações de divertimento (Simões, Matos, Moreno, Rivera, Batista-Foguet, &
Simons-Morton, 2012), ignorando-se os graves impactos que a sua utilização representa.
Foco de inúmeros estudos e programas de intervenção, as substâncias continuam a representar um
grande número de comportamentos de risco. Intervenções e programas com foco no histórico modelo
ecológico de Brofenbrenner (1976, 1977), baseado num contexto micro (relações com os pais, grupos de
pares, encvolvimento escolar e escola), meso (envolvimento dos professores), exo (exposição a substâncias
no bairro de residência e através dos media), macro (crenças e normas culturais) e chrono (mudanças na
dinâmica familiar) (Brofenbrenner, 1994), aliadas a um envolvimento dos jovens na identificação dos
problemas da sua geração, e de estratégias para a sua solução (Matos, 2014; Matos, 2015; Matos et al.,
2015), podem ajudar a alcançar mudanças eficazes e duradouras.
34 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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35RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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World Health Organization (WHO). (2012). Alcohol in the European Union – Consumption, harm and policy approaches, p.1. Copenhagen: Regional Office for Europe.
36 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI – Fatores Protetores da Saúde Mental VI.I – Resiliência Celeste Simões
A resiliência pode ser definida como um fenómeno interativo do qual resultam consequências
relativamente positivas apesar do confronto com graves fatores de stress ou adversidades (Rutter, 2013).
De acordo com a American Psychological Association (2014), a resiliência é o processo de adaptação bem
sucedida face à adversidade, trauma, tragédia, ameaças ou fontes significativas de stress - como problemas
familiares e de relacionamento, problemas de saúde graves, stress no local de trabalho ou problemas
financeiros. A investigação na área tem indicado que níveis elevados de resiliência estão associados a níveis
mais baixos de depressão, stress, ansiedade, violência e abuso de substâncias, o que sugere um papel
importante da resiliência na prevenção de problemas mentais (Dray et al., 2014; Wang, Zhang, &
Zimmerman, 2015; Zolkoski & Bullock, 2012). Associado à resiliência é possível encontrar um conjunto de
características individuais e contextuais (família, escola e comunidade alargada) que estão por sua vez
relacionadas com um desenvolvimento saudável (Benard, 2004). Estas características funcionam como
fatores de proteção atenuando, por um lado, o impacto da exposição a fatores risco preditores de
doenças, e promovendo, por outro, a saúde enquanto entidade positiva (bem-estar e qualidade de vida)
(Friedli, 2009).
A resiliência é um conceito que apresenta ainda muitas questões em seu torno, nomeadamente o facto de
ser entendida por diferentes investigadores como um processo ou como um traço, o seu dinamismo, que
implica uma atenção particular a fatores contextuais e temporais que influem diferentes resultados em
vários domínios do funcionamento, os possíveis mecanismos e efeitos da adversidade sobre os indivíduos
e os sistemas, promovendo forças ou revelando fraquezas, ou ainda as formas mais efetivas de promover a
resiliência (Southwick, Bonanno, Masten, Panter-Brick, & Yehuda, 2014). No entanto uma das questões em
relação à qual parece haver um consenso na comunidade cientifica nesta área é o facto de a resiliência
envolver uma transação complexa e dinâmica entre fatores de risco e proteção.
Os fatores de risco são elementos preditores de consequências negativas (Wright, Masten, & Narayan,
2013). Estes fatores podem ser agregados em diversas categorias, nomeadamente: circunstâncias
individuais (e.g. prematuridade, dificuldades emocionais, défice de competências), familiares (e.g. conflitos,
divórcio), problemas escolares (e.g. bullying), problemas interpessoais (e.g. dificuldades de relacionamento
com os pares), contexto ecológico desfavorecido (e.g. pobreza, crime). Vários aspetos no campo do risco
são determinantes para a manifestação de resiliência, nomeadamente, a intensidade, a duração e a
repetição ou acumulação de fatores de risco ou acontecimentos negativos, a vulnerabilidade do indivíduo
aos fatores de risco, o tipo de acontecimentos, o confronto anterior com o risco, e o momento em que os
acontecimentos têm lugar.
Os fatores de proteção referem-se a variáveis que servem para diminuir ou eliminar as influências
negativas de estar exposto ao risco. Neste campo é possível encontrar múltiplos fatores que podem ser
enquadrados na denominada tríade da proteção que engloba fatores individuais, familiares ou
comunitários. De entre os fatores individuais encontram-se, entre outros, as competências cognitivas,
emocionais e relacionais, um temperamento sociável e adaptável e uma visão positiva de si e da vida. Na
família destaca-se a importância das boas práticas parentais, de um ambiente afetivo, e as boas relações
com os elementos da família nuclear e alargada. Na comunidade destacam-se, para além das
oportunidades de participação nas atividades comunitárias, a qualidade do envolvimento comunitário, e o
papel fundamental que um ambiente escolar protetor (seguro, afetivo, com expetativas positivas e
oportunidades de participação) tem na promoção da satisfação com escola e consequentemente no
desempenho académico e no desenvolvimento positivo (Benard, 2004; Simões, Matos, Tomé, Ferreira, &
Chaínho, 2010; Wright, et al., 2013).
Os processos através dos quais os fatores de proteção atuam no sentido de prevenir, diminuir ou eliminar,
as influências negativas de estar exposto ao risco são múltiplos. Em alguns casos há uma clara interação
com o risco, através de processos de mediação ou moderação dos fatores de proteção. Contudo é
também possível observar casos em que se verifica um efeito direto dos fatores de proteção sobre os
resultados, sem interação com os fatores de risco, que permite compensar o efeito destes últimos (Simões,
2007). Benard (2004) aponta três processos de proteção que podem ocorrer em casa, na escola, na
comunidade, ou na relação com os pares. Estes processos envolvem os seguintes fatores: relações afetivas,
elevadas expectativas e oportunidades para contribuir para os outros nos principais cenários ecológicos.
Estes fatores promovem o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, como as capacidades de
comunicação e cooperação, resolução de problemas, empatia, autoeficácia, autoconhecimento e objetivos
e aspirações. Por sua vez, estes recursos apresentam um impacto direto na promoção de resultados
positivos ao nível da saúde e do bem-estar, bem como a nível académico e social (Hanson & Kim, 2007).
As escolas constituem contextos de eleição para a implementação de programas de promoção da
resiliência e prevenção de problemas de saúde mental. Alguns estudos de revisão do impacto dos
programas nesta área mostram resultados positivos neste campo, quer para intervenções universais, quer
para intervenções seletivas, ao nível da prevenção de problemas de saúde mental, quer na promoção da
saúde mental (Dray et al., 2015). Weare e Nind (2011), numa análise que abarcou 52 revisões sistemáticas e
meta-análises relativas a programas de promoção da saúde mental e prevenção de problemas na escola,
37RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI – Fatores Protetores da Saúde Mental VI.I – Resiliência Celeste Simões
A resiliência pode ser definida como um fenómeno interativo do qual resultam consequências
relativamente positivas apesar do confronto com graves fatores de stress ou adversidades (Rutter, 2013).
De acordo com a American Psychological Association (2014), a resiliência é o processo de adaptação bem
sucedida face à adversidade, trauma, tragédia, ameaças ou fontes significativas de stress - como problemas
familiares e de relacionamento, problemas de saúde graves, stress no local de trabalho ou problemas
financeiros. A investigação na área tem indicado que níveis elevados de resiliência estão associados a níveis
mais baixos de depressão, stress, ansiedade, violência e abuso de substâncias, o que sugere um papel
importante da resiliência na prevenção de problemas mentais (Dray et al., 2014; Wang, Zhang, &
Zimmerman, 2015; Zolkoski & Bullock, 2012). Associado à resiliência é possível encontrar um conjunto de
características individuais e contextuais (família, escola e comunidade alargada) que estão por sua vez
relacionadas com um desenvolvimento saudável (Benard, 2004). Estas características funcionam como
fatores de proteção atenuando, por um lado, o impacto da exposição a fatores risco preditores de
doenças, e promovendo, por outro, a saúde enquanto entidade positiva (bem-estar e qualidade de vida)
(Friedli, 2009).
A resiliência é um conceito que apresenta ainda muitas questões em seu torno, nomeadamente o facto de
ser entendida por diferentes investigadores como um processo ou como um traço, o seu dinamismo, que
implica uma atenção particular a fatores contextuais e temporais que influem diferentes resultados em
vários domínios do funcionamento, os possíveis mecanismos e efeitos da adversidade sobre os indivíduos
e os sistemas, promovendo forças ou revelando fraquezas, ou ainda as formas mais efetivas de promover a
resiliência (Southwick, Bonanno, Masten, Panter-Brick, & Yehuda, 2014). No entanto uma das questões em
relação à qual parece haver um consenso na comunidade cientifica nesta área é o facto de a resiliência
envolver uma transação complexa e dinâmica entre fatores de risco e proteção.
Os fatores de risco são elementos preditores de consequências negativas (Wright, Masten, & Narayan,
2013). Estes fatores podem ser agregados em diversas categorias, nomeadamente: circunstâncias
individuais (e.g. prematuridade, dificuldades emocionais, défice de competências), familiares (e.g. conflitos,
divórcio), problemas escolares (e.g. bullying), problemas interpessoais (e.g. dificuldades de relacionamento
com os pares), contexto ecológico desfavorecido (e.g. pobreza, crime). Vários aspetos no campo do risco
são determinantes para a manifestação de resiliência, nomeadamente, a intensidade, a duração e a
repetição ou acumulação de fatores de risco ou acontecimentos negativos, a vulnerabilidade do indivíduo
aos fatores de risco, o tipo de acontecimentos, o confronto anterior com o risco, e o momento em que os
acontecimentos têm lugar.
Os fatores de proteção referem-se a variáveis que servem para diminuir ou eliminar as influências
negativas de estar exposto ao risco. Neste campo é possível encontrar múltiplos fatores que podem ser
enquadrados na denominada tríade da proteção que engloba fatores individuais, familiares ou
comunitários. De entre os fatores individuais encontram-se, entre outros, as competências cognitivas,
emocionais e relacionais, um temperamento sociável e adaptável e uma visão positiva de si e da vida. Na
família destaca-se a importância das boas práticas parentais, de um ambiente afetivo, e as boas relações
com os elementos da família nuclear e alargada. Na comunidade destacam-se, para além das
oportunidades de participação nas atividades comunitárias, a qualidade do envolvimento comunitário, e o
papel fundamental que um ambiente escolar protetor (seguro, afetivo, com expetativas positivas e
oportunidades de participação) tem na promoção da satisfação com escola e consequentemente no
desempenho académico e no desenvolvimento positivo (Benard, 2004; Simões, Matos, Tomé, Ferreira, &
Chaínho, 2010; Wright, et al., 2013).
Os processos através dos quais os fatores de proteção atuam no sentido de prevenir, diminuir ou eliminar,
as influências negativas de estar exposto ao risco são múltiplos. Em alguns casos há uma clara interação
com o risco, através de processos de mediação ou moderação dos fatores de proteção. Contudo é
também possível observar casos em que se verifica um efeito direto dos fatores de proteção sobre os
resultados, sem interação com os fatores de risco, que permite compensar o efeito destes últimos (Simões,
2007). Benard (2004) aponta três processos de proteção que podem ocorrer em casa, na escola, na
comunidade, ou na relação com os pares. Estes processos envolvem os seguintes fatores: relações afetivas,
elevadas expectativas e oportunidades para contribuir para os outros nos principais cenários ecológicos.
Estes fatores promovem o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, como as capacidades de
comunicação e cooperação, resolução de problemas, empatia, autoeficácia, autoconhecimento e objetivos
e aspirações. Por sua vez, estes recursos apresentam um impacto direto na promoção de resultados
positivos ao nível da saúde e do bem-estar, bem como a nível académico e social (Hanson & Kim, 2007).
As escolas constituem contextos de eleição para a implementação de programas de promoção da
resiliência e prevenção de problemas de saúde mental. Alguns estudos de revisão do impacto dos
programas nesta área mostram resultados positivos neste campo, quer para intervenções universais, quer
para intervenções seletivas, ao nível da prevenção de problemas de saúde mental, quer na promoção da
saúde mental (Dray et al., 2015). Weare e Nind (2011), numa análise que abarcou 52 revisões sistemáticas e
meta-análises relativas a programas de promoção da saúde mental e prevenção de problemas na escola,
38 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
revelam que as intervenções em contexto escolar apresentam benefícios para as crianças, famílias e
comunidades ao nível da saúde mental, apresentando concretamente resultados a nível social, emocional e
educacional. As autoras salientam que, apesar de em termos estatísticos os efeitos dos programas
variarem entre efeitos pequenos a moderados, o seu impacto real é bastante expressivo. De acordo com a
análise, os programas mais eficazes incluem: (1) Ensino de competências, com enfoque na saúde mental
positiva; (2) Um equilíbrio entre as abordagens universais e seletivas; (3) Início precoce com as crianças
mais novas e continuação dos programas com as mais velhas; e (4) Implementação por um período
alargado através de uma abordagem multimodal que abarque toda a comunidade educativa, o que inclui
mudanças em vários aspetos, nomeadamente, ao nível do currículo, promoção de competências com
ligação às aprendizagens académicas, melhorar o ambiente escolar, formação de professores, ligação com
os pais, formação parental, envolvimento com a comunidade e estabelecimento de parcerias.
Um dos programas desenvolvidos para a promoção da resiliência em contexto nacional, no âmbito de um
consórcio constituído por seis parceiros europeus (Cefai et al., 2015), é o Currículo Europeu para a
Resiliência na educação pré-escolar, de primeiro ciclo e segundo ciclo (RESCUR), para crianças entre os 4 e
os 12 anos de idade. O RESCUR foi desenvolvido no âmbito do Programa Comenius – Programa de
Aprendizagem ao Longo da Vida ao longo de três anos (2012-2015) através da colaboração intercultural e
internacional das instituições parceiras. O currículo tem uma abordagem sistémica e pretende contribuir
para a aprendizagem académica, emocional e social, de crianças que poderão estar em risco de abandono
escolar, absentismo, insucesso académico, exclusão social, problemas de saúde mental, entre outros. O
RESCUR é um programa universal, tendo também uma atenção especial com alguns grupos que se
encontram em risco psicossocial, como é o caso das crianças com deficiência ou outras necessidades
educativas especiais, crianças pertencentes a minorias étnicas e/ou refugiados. A avaliação da
implementação piloto conduzida pelos seis países parceiros com cerca de 3000 crianças indicou que o
currículo parece ser útil, interessante, apropriado e exequível. Os professores observaram mudanças
positivas moderadas nas crianças, bem como um envolvimento ativo e entusiasta nas atividades.
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41RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI.II – Competências Pessoais e Sociais - Desenvolvimento Positivo e Participação Social: o papel da promoção de competências pessoais e sociais Margarida Gaspar de Matos
Da redução dos déficites à promoção de competências e Participação Social
Inicialmente considerava-se que a aprendizagem de um número “finito” de comportamentos simples e
descontextualizados garantiria “competência social”. Posteriormente foi considerado que a competência
social é na realidade um constructo multifacetado e complexo que incluí para além de conjuntos desses
comportamentos simples, uma adequada perceção das situações sociais, um processamento adequado da
informação, uma capacidade de seleção da melhor resposta e sua concretização. Inclui ainda fatores
relacionados com as expectativas e com a motivação e posteriormente foi sublinhado o caráter situacional,
desenvolvimental e cultural do que se considera um comportamento relacional “competente”. A
competência social deixou de ser considerada uma questão de um reportório adequado de
comportamentos abertos (visíveis) verbais e motores, e passou a incluir comportamentos encobertos (não
visíveis) bastante complexos (pensamentos, crenças, emoções, respostas fisiológicas), sem esquecer que a
pessoa pode “saber” ser competente socialmente e simplesmente “não querer” ou mesmo “não lhe
apetecer”. Autores como Spence (1980), McFall (1982), Felner et al. (1990) e Matos (1997) ajudaram a
construir e entender este processo. Mais tarde, houve uma outra mudança de perspetiva que levou a uma
abordagem das pessoas e suas características pessoais e relacionais pela positiva, pondo foco na
promoção de recursos e pontos fortes individuais (“assets”). Nesta fase o papel das competências sociais,
autorregulação e resiliência tornam-se ainda mais prementes. Autores como Rutter (1979, 2013), Lerner et
al. (2009), Matos (2005), Matos e Sampaio (2009), e Mitchie et al. (2013) ajudaram a desenvolver avanços
nesta área, que se traduziram necessariamente em alterações em termos do conteúdo e dinâmicas de
programas preventivos (Spence & Matos, 2000).
Recentemente (Kia-Keating et al., 2011) apresentou um modelo baseado em uma abordagem unificada
desses conceitos, que propõe duas vias para o desenvolvimento saudável, a via da proteção e a via da
promoção. Ambos os caminhos levam a um desenvolvimento saudável. Na primeira via, a proteção
modera a relação entre risco e desenvolvimento saudável. Na segunda via, os ativos levam direta-
mente ao desenvolvimento saudável embora haja uma relação recíproca com o risco que sugere que
possam de modo direto prevenir riscos.
42 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Como resposta à "perspectiva do défice" surgiu ainda uma outra abordagem, baseada numa
concetualização em 5 competências (Lerner et al, 2005; Lerner et al. 2009, Lerner, et al., 2011) enfatizando
os recursos dos jovens nos seus ambientes naturais e considerando-os a chave para a promoção de
resultados positivos. Diversas medidas foram usadas para avaliar o desenvolvimento positivo dos jovens
(PYD) (Lerner et al., 2005), operacionalizado através da avaliação das 5 Cs (Ecles & Gootman, 2002; Roth &
Brooks-Gunn, 2003):1. Competência (em áreas acadêmicas, sociais, emocionais e vocacionais); 2. Confiança
(no que o individuo esta a tornar-se - identidade pessoal e social); 3. Carácter (relacionado com valores
positivos, integridade e um forte senso de equidade nas relações interpessoais); 4. Conexão (laços consigo
e com os outros); 5. Cuidado (empatia e solidariedade). Estes cinco domínios são interativos e um
desenvolvimento saudável de todos eles é necessário para um PYD (Dukakis et al., 2009). Sua manifestação
através da adolescência pode aumentar uma relação mutuamente benéfica entre a pessoa e o contexto
mais tarde ao longo da trajetória da vida. Um sexto C emergiu recentemente – a Contribuição
(envolvimento social e participação social) (Lerner, 2004). Investigações na área sugerem um padrão
complexo de desenvolvimento positivo e negativo, estando o PYD associado a indicadores positivos como
contribuição, envolvimento escolar, autorregulação e expectativas positivas (Geldorf et al., 2014).
Quando se fala de Positive Youth Development (PYD) enfatiza-se a promoção de condições e competências
que contribuem para a saúde e bem-estar dos jovens, sugerindo que a prevenção de problemas não é
suficiente para preparar os jovens para a idade adulta (Roth, Brooks -Gunn, Murray, & Foster, 1998). O
modelo dos Trunfos (”assets”) do Desenvolvimento (Benson, 1997) identifica 40 fatores significativos para a
prevenção ou redução de comportamentos de risco e para a promoção do desenvolvimento pessoal e
procuram ajudar os jovens a crescer saudáveis, carinhosos e responsáveis e foram organizados em dois
social e do bem-estar dos jovens (Benson et al. , 1998; Benson et al, 2006) ). Esses 40 trunfos
blocos principais: Trunfos Externos (Apoio, Empoderamento, Limites e Expectativas, Uso Construtivo
do Tempo) e Trunfos Internos (Compromisso com a Aprendizagem, Valores Positivos, Competências
Sociais, Identidade Positiva) (Scales et al, 2012). Este foco centrado na força e nos recursos/trunfos é uma
conceptualização atrativa para grupos políticos, institucionais e diferentes organizações, fornecendo
uma linguagem comum que permite um planeamento mais eficaz das intervenções (Small & Memmo,
2004). No entanto os trunfos (”assets”) não são igualmente significativos e alguns são mais importantes do
que outros. O seu significado varia dependendo dos fatores individuais / contextuais e do resultado do
desenvolvimento, portanto nem todos os recursos são igualmente passíveis de mudança (Memmo & Small,
2001). Num modelo recente (COM-B), Susan Mitchie e os seus colegas depois de uma revisão sistemática
de literatura sobre programas de intervenção eficazes, apontam que para alcançar uma mudança duradou-
ra, há uma necessidade de promover a Competência, a Motivação e as Oportunidades. Estes autores
salientam que esta hipótese deve ser considerada em todos os programas e políticas
43RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Como resposta à "perspectiva do défice" surgiu ainda uma outra abordagem, baseada numa
concetualização em 5 competências (Lerner et al, 2005; Lerner et al. 2009, Lerner, et al., 2011) enfatizando
os recursos dos jovens nos seus ambientes naturais e considerando-os a chave para a promoção de
resultados positivos. Diversas medidas foram usadas para avaliar o desenvolvimento positivo dos jovens
(PYD) (Lerner et al., 2005), operacionalizado através da avaliação das 5 Cs (Ecles & Gootman, 2002; Roth &
Brooks-Gunn, 2003):1. Competência (em áreas acadêmicas, sociais, emocionais e vocacionais); 2. Confiança
(no que o individuo esta a tornar-se - identidade pessoal e social); 3. Carácter (relacionado com valores
positivos, integridade e um forte senso de equidade nas relações interpessoais); 4. Conexão (laços consigo
e com os outros); 5. Cuidado (empatia e solidariedade). Estes cinco domínios são interativos e um
desenvolvimento saudável de todos eles é necessário para um PYD (Dukakis et al., 2009). Sua manifestação
através da adolescência pode aumentar uma relação mutuamente benéfica entre a pessoa e o contexto
mais tarde ao longo da trajetória da vida. Um sexto C emergiu recentemente – a Contribuição
(envolvimento social e participação social) (Lerner, 2004). Investigações na área sugerem um padrão
complexo de desenvolvimento positivo e negativo, estando o PYD associado a indicadores positivos como
contribuição, envolvimento escolar, autorregulação e expectativas positivas (Geldorf et al., 2014).
Quando se fala de Positive Youth Development (PYD) enfatiza-se a promoção de condições e competências
que contribuam para a saúde e bem-estar dos jovens, sugerindo que a prevenção de problemas não é
suficiente para preparar os jovens para a idade adulta (Roth, Brooks -Gunn, Murray, & Foster, 1998). O
modelo dos Trunfos (”assets”) do Desenvolvimento (Benson, 1997) identifica 40 fatores significativos para a
prevenção ou redução de comportamentos de risco e para a promoção do desenvolvimento pessoal e
social e do bem-estar dos jovens saudáveis (Benson et al., 1998; Benson et al, 2006) ). Esses 40 trunfos
procuram ajudar os jovens a crescer saudáveis, carinhosos e responsáveis e foram organizados em dois
blocos principais, cada um compreendendo: Trunfos Externos (Apoio, Empoderamento, Limites e
Expectativas, Uso Construtivo do Tempo) e Trunfos Internos (Compromisso com a Aprendizagem, Valores
Positivos, Competências Sociais, Identidade Positiva) (Scales et al, 2012). Este foco centrado na força e nos
recursos/trunfos é uma conceptualização atrativa para grupos políticos, institucionais e diferentes
organizações, fornecendo uma linguagem comum que permite um planeamento mais eficaz das
intervenções (Small & Memmo, 2004). No entanto os trunfos não são igualmente significativos e alguns são
mais importantes do que outros. O seu significado varia dependendo dos fatores individuais / contextuais
e do resultado do desenvolvimento, portanto nem todos os recursos são igualmente passíveis de mudança
(Memmo & Small, 2001). Num modelo recente (COM-B), Susan Mitchie e os seus colegas depois de uma
revisão sistemática de literatura sobre programas de intervenção eficazes, apontam que para alcançar uma
mudança duradoura, há uma necessidade de promover a Competência, a Motivação e as Oportunidades.
Estes autores salientam que esta hipótese deve ser considerada em todos os programas e políticas
públicas que visem a mudança em saúde. Mais recentemente, surgiu um foco no envolvimento ativo das
populações e da adoção de uma perspetiva “ao longo da vida” e transgeracional (Matos, 2015).
Intervenções preventivas e promocionais
A prevenção universal (para todos) constituiu um salto civilizacional, promovendo o acesso de todos à
melhoria da sua saúde e perceção de bem-estar e qualidade de vida, não eliminando contudo a
necessidade de complementar intervenções preventivas de caráter universal, com outras de tendência
mais seletiva, destinadas a “nichos escondidos” de populações com mais dificuldades, de modo a se
ajustarem mais perfeitamente às suas caraterísticas e necessidades específicas (Matos, 2015; Matos et al,
2003). Privilegiam-se intervenções não exclusivamente focadas em comportamentos específicos, e
incluindo riscos e pontos fortes de cada pessoa ou situação. No campo da saúde, a ideia de focar no
positivo é refletida no "Modelo dos Trunfos na Saúde" descrito por Morgan et al. (2010) e implica o
mapeamento de recursos de cada comunidade, seus pontos fortes e capacidades, tanto individuais como
coletivos (Kretzmann & McKnight, 1993), recomendando-se a participação da população-alvo em todas as
medidas que visem a promoção da sua saúde (Staines et al., 2013).
Um recente projeto da equipa Aventura Social2, o Dream Teens3 visa justamente aumentar a competência
e a motivação dos jovens para a participação e mudança social (Matos, 2015; Matos et al, 2015; Frasquilho
et al, 2016; Branquinho & Matos, 2016), ao mesmo tempo que promove a oportunidade da intervenção
destes nas suas comunidades (família, escola, autarquia). Num programa nacional anterior da equipa
Aventura Social com jovens tutelados, desenvolvido e avaliado em 1999 (Matos et al., 2000), os jovens
participantes integraram ao longo de um ano um programa de promoção de competências pessoais e
sociais que incidiu sobre a comunicação interpessoal, resolução de problemas, gestão emocional,
desenvolvimento de competências e expectativas futuras e incluiu a formação de técnicos. Foram
reportados resultados positivos (Matos et al, 2000) embora este programa não se tenha mostrado
sustentável por razões externas e sistémicas. Com a mesma estrutura, um programa mais recente,
“Encontra o teu estilo pessoal” foi implementado e avaliado em ambiente escolar (Matos et al., 2012a). Este
programa incluiu a promoção de competências em áreas como a comunicação interpessoal, a identificação
e a gestão de cognições e emoções, o desenvolvimento de capacidades de relacionamento interpessoal, a
capacidade de autorregulação, o aumento de capital social e as expectativas futuras. Incluiu ainda uma
componente de promoção cultural. Os resultados reportados também foram positivos e o programa foi
incorporado com sucesso na cultura da escola tornando-se sustentável (Matos et al., 2013). Apesar de
ambos os programas já contemplarem a preocupação do “crescimento pessoal” (PYD) e o destaque num 2 http://aventurasocial.com/arquivo/1371815964_brochura%20TEMPEST.pdf; http://aventurasocial.com/arquivo/1359119208_Brochura%20DELPHI%20-%2002%20.pdf 3 www.dreamteensaventurasocial.blogs.sapo.pt; www.dreamteens.aventurasocial.com e http://dreamteens2014-2015.blogspot.pt/
44 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
comportamento integrado com inclusão de aspetos cognitivos, emocionais, motivacionais e relacionados
com as expectativas, não havia ainda o foco no envolvimento ativo dos jovens na definição de objetivos e
metodologias, como veio a acontecer no Dream Teens (2).
Intervenções baseadas em modelos teóricos e em evidências
Para falar de programas de intervenção é necessário um quadro teórico e uma avaliação empírica ( do
processo, dos resultados e do impacto). Além da eficácia do programa, também é importante avaliar como,
e em que condições, o programa tem efeitos, e que componentes do programa são eficazes (os contextos de
aplicação, o formato da implementação, a experiência e a formação dos técnicos, p.e.), e entender as
mudanças à luz de um quadro teórico de referência explícito. A questão não é apenas “o programa é ou
não eficaz?”, mas antes, que tipo de aplicação e de população-alvo, que tipo de técnicos, com que formação
e com que experiência, e com que acesso a uma supervisão produzem este ou aquele efeito (Jané-Llopis &
Barry, 2005; Matos, 2005. Matos et al, 2002; 2012a). Por exemplo as abordagens a nível escolar parecem
mais eficazes quando incluem uma perspetiva de “escola inteira”, quando usam um modelo de promoção
de competências pessoais e sociais, quando incluem a educação de pares, quando favorecem a
participação e a iniciativa dos alunos, quando utilizam metodologias interativas e participativas, quando os
novos programas são integrados nos já existentes e continuados, quando há parcerias e trabalho em rede
com estruturas dentro da comunidade (Jané-Llopis & Barry, 2005;Matos et al 2012).
Na última década (ver Matos & Sampaio, 2009; Staines et al., 2013; Matos, 2015; Matos, 2016, para uma
revisão) os estudos têm sugerido a necessidade de "dar voz aos jovens", incluindo as populações-alvo
como participantes ativos em todas as fases das intervenções: a identificação dos problemas, o
planeamento a implementação e a avaliação. As ideias-chave seriam então:
1. As alterações de comportamento incluem aspetos motores/verbais bem como aspetos cognitivos,
emocionais, as motivações das pessoas e a gestão das suas expectativas;
2. As mudanças de comportamentos devem partir do desenvolvimento de competências pessoais,
refletidas numa nova identidade pessoal e social;
3. O foco deve ser nos aspetos positivos das populações e das situações;
4. A participação ativa das populações deve ser promovida;
5. Deve ser privilegiada a criação e manutenção de redes de suporte social e institucional de modo a
garantir a implementação, a continuidade e a sustentabilidade das mudanças, permitindo uma
verdadeira mudança da identidade e da cultura pessoal e institucional;
6. Sublinha-se a importância das políticas públicas, “amigas das pessoas”, que forneçam um contexto
favorecendo a promoção da sua saúde e bem-estar.
45RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
comportamento integrado com inclusão de aspetos cognitivos, emocionais, motivacionais e relacionados
com as expectativas, não havia ainda o foco no envolvimento ativo dos jovens na definição de objetivos e
metodologias, como veio a acontecer no Dream Teens (2).
Intervenções baseadas em modelos teóricos e em evidências
Para falar de programas de intervenção é necessário um quadro teórico e uma avaliação empírica, do
processo, dos resultados e do impacto. Além da eficácia do programa, também é importante avaliar como,
e em que condições, o programa tem efeitos, e que componentes do programa são eficazes (os contextos de
aplicação, o formato da implementação, a experiência e a formação dos técnicos, p.e.), e entender as
mudanças à luz de um quadro teórico de referência explícito. A questão não é apenas “o programa é ou
não eficaz?”, mas antes, que tipo de aplicação e de população-alvo, que tipo de técnicos, com que formação
e com que experiência, e com que acesso a uma supervisão produzem este ou aquele efeito (Jané-Llopis &
Barry, 2005; Matos, 2005. Matos et al, 2002; 2012a). Por exemplo as abordagens a nível escolar parecem
mais eficazes quando incluem uma perspetiva de “escola inteira”, quando usam um modelo de promoção
de competências pessoais e sociais, quando incluem a educação de pares, quando favorecem a
participação e a iniciativa dos alunos, quando utilizam metodologias interativas e participativas, quando os
novos programas são integrados nos já existentes e continuados, quando há parcerias e trabalho em rede
com estruturas dentro da comunidade (Jané-Llopis & Barry, 2005;Matos et al 2012).
Na última década (ver Matos & Sampaio, 2009; Staines et al., 2013; Matos, 2015; Matos, 2016, para uma
revisão) os estudos têm sugerido a necessidade de "dar voz aos jovens", incluindo as populações-alvo
como participantes ativos em todas as fases das intervenções: a identificação dos problemas, o
planeamento a implementação e a avaliação. As ideias-chave seriam então:
1. As alterações de comportamento incluem aspetos motores/verbais bem como aspetos cognitivos,
emocionais, as motivações das pessoas e a gestão das suas expectativas;
2. As mudanças de comportamentos devem partir do desenvolvimento de competências pessoais,
refletidas numa nova identidade pessoal e social;
3. O foco deve ser nos aspetos positivos das populações e das situações;
4. A participação ativa das populações deve ser promovida;
5. Deve ser privilegiada a criação e manutenção de redes de suporte social e institucional de modo a
garantir a implementação, a continuidade e a sustentabilidade das mudanças, permitindo uma
verdadeira mudança da identidade e da cultura pessoal e institucional;
6. Sublinha-se a importância das políticas públicas, “amigas das pessoas”, que forneçam um contexto
favorecendo a promoção da sua saúde e bem-estar.
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48 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI.III - Autorregulação e Saúde Tânia Gaspar Nas últimas décadas, verifica-se um crescente interesse e estudo do constructo autorregulação,
sistematicamente identificam-se duas propriedades básicas da autorregulação (Cameron & Leventhal,
2003). A primeira diz respeito ao facto da autorregulação ser um sistema motivacional e dinâmico de
estabelecimento de objetivos, desenvolvimento e implementação dos mesmos, avaliação dos progressos e
revisão dos objetivos e estratégias. A segunda menciona que autorregulação é também um
manuseamento de respostas emocionais, que são vistas como elementos cruciais do sistema motivacional
e estão intrinsecamente relacionadas com o processo cognitivo (De Ridder & De Wit, 2006).
Segundo Baumeister (1999) o ser humano tem capacidade para resistir aos seus impulsos, adaptar os seus
comportamentos e mudá-los para atingir os seus objetivos. A autorregulação refere-se aos vários
processos através dos quais a mente humana exerce controlo sobre as suas funções, os seus estados e os
seus processos internos, ou seja, aos esforços que o ser humano faz para alterar os seus pensamentos,
sentimentos, desejos/vontades e acções em função dos muitos objetivos que pretende alcançar (Carver &
Scheier, 1998; Vohs & Baumeister, 2004). Por isso, autorregulação é um aspeto vital de adaptação humana
e promotor de um desenvolvimento saudável, em que o indivíduo, para não se tornar um mero espectador
dos acontecimentos de vida, tem de ser um agente ativo de tomadas de decisão (Baumeister, 2005).
Vários estudos mostram que a capacidade para regular as ações se desenvolve gradualmente durante a
infância e a adolescência. Estes períodos requerem adaptações ao contexto e vice-versa, sendo este um
processo bidirecional de regulação desenvolvimental (Gestsdottir & Lerner, 2008). Quando aplicado a
crianças mais novas o termo autorregulação é utilizado para referir várias capacidades, como por exemplo,
alternar rapidamente entre tarefas diferentes, focar a atenção ou controlar as emoções. Por outro lado, a
autorregulação mede a capacidade dos adolescentes para monitorizar as suas atividades, avaliar os seus
desempenhos, motivarem-se e manter a resiliência enquanto vivenciam experiências de desilusão
escolares e sociais (Zimmerman, 2002).
Mueller (2008) refere que a capacidade de controlar e regular as próprias ações desempenha um papel
importante no funcionamento saudável ao nível cognitivo, social e emocional. Por exemplo, a
autorregulação é necessária quando surgem obstáculos às atividades direcionadas para o objetivo e o
indivíduo tem que pensar em caminhos alternativos para alcançar o objetivo, sendo igualmente necessária
quando a atenção está focada numa determinada tarefa e é necessário bloquear pensamentos
irrelevantes para a tarefa. Por outro lado, Barkley (1997) definiu autorregulação como uma resposta ou um
conjunto de respostas dadas pelo indivíduo, que servem para alterar a probabilidade da resposta
subsequente do indivíduo a um acontecimento e, ao fazê-lo, permite alterar a probabilidade de uma
consequência posterior relacionada com esse acontecimento.
As definições de autorregulação têm em comum o facto de referirem que quando o indivíduo se
autorregula está a ir ao encontro ou a ajustar-se ao seu comportamento para perseguir algum estado ou
objetivo desejado (Carver & Scheier, 1998).
De Ridder e De Wit (2006) referem que uma característica particular da autorregulação está associada ao
facto de ser um processo que envolve a prossecução efetiva de objetivos que, muitas vezes, se estendem
por longos períodos de tempo e são frequentemente confrontados com obstáculos e tentações.
Por seu lado, o sucesso da autorregulação requer estratégias de mobilização de pensamentos,
sentimentos e ações, em particular quando confrontados com obstáculos e conflitos entre objetivos. A
autorregulação geralmente é construída como um processo dinâmico que envolve esforços conscientes
que influenciam pensamentos, sentimentos e comportamentos para atingir um objetivo num contexto de
mudança ambiental. A autorregulação transmite envolvimentos individuais de manuseamento dos seus
próprios processos de mudança, incluindo a consideração consciente da importância da competição entre
objetivos e a priorização de objetivos em particular. Apesar de alguns autores afirmarem que a
autorregulação está exclusivamente relacionada com os processos conscientes, existem evidências de que
existem processos inconscientes associados (Vohs & Baumeister, 2004).
Os modelos de autorregulação do comportamento têm em comum o conceito de objetivos. Vários autores
propuseram diferentes tipos de objetivos, incluindo os esforços/empenhos pessoais, as tarefas de vida, os
projetos pessoais e os auto-modelos/auto-guias; cada um enfatiza diferentes aspetos dos objetivos, mas
têm uma ideia em comum de que os objetivos estimulantes dão um sentido à vida dos indivíduos. Por
definição, objetivos são orientações futuras que estão relacionadas com o que os indivíduos pensam do
seu potencial de realização e com o número de coisas que pretendem alcançar. Os objetivos são princípios
que guiam os indivíduos consciente e intencionalmente a efetividade da direção dos seus comportamentos
(Austin & Vancouver, 1996), embora existam atos para atingir os objetivos que não são inteiramente
conscientes (Strack & Deutsch, 2004; Vohs & Baumeister, 2004).
Segundo Gebhardt (2006) qualquer comportamento de saúde é apenas um objetivo comportamental num
contexto de múltiplos objetivos que são seguidos simultaneamente, na medida em que os objetivos
pessoais competem, de modo contínuo, entre eles. Se um comportamento de saúde é adotado ou não se
torna prioritário comparativamente com os outros objetivos, vai depender da força de ligação a outros
49RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI.III - Autorregulação e Saúde Tânia Gaspar Nas últimas décadas, verifica-se um crescente interesse e estudo do constructo autorregulação,
sistematicamente identificam-se duas propriedades básicas da autorregulação (Cameron & Leventhal,
2003). A primeira diz respeito ao facto da autorregulação ser um sistema motivacional e dinâmico de
estabelecimento de objetivos, desenvolvimento e implementação dos mesmos, avaliação dos progressos e
revisão dos objetivos e estratégias. A segunda menciona que autorregulação é também um
manuseamento de respostas emocionais, que são vistas como elementos cruciais do sistema motivacional
e estão intrinsecamente relacionadas com o processo cognitivo (De Ridder & De Wit, 2006).
Segundo Baumeister (1999) o ser humano tem capacidade para resistir aos seus impulsos, adaptar os seus
comportamentos e mudá-los para atingir os seus objetivos. A autorregulação refere-se aos vários
processos através dos quais a mente humana exerce controlo sobre as suas funções, os seus estados e os
seus processos internos, ou seja, aos esforços que o ser humano faz para alterar os seus pensamentos,
sentimentos, desejos/vontades e acções em função dos muitos objetivos que pretende alcançar (Carver &
Scheier, 1998; Vohs & Baumeister, 2004). Por isso, autorregulação é um aspeto vital de adaptação humana
e promotor de um desenvolvimento saudável, em que o indivíduo, para não se tornar um mero espectador
dos acontecimentos de vida, tem de ser um agente ativo de tomadas de decisão (Baumeister, 2005).
Vários estudos mostram que a capacidade para regular as ações se desenvolve gradualmente durante a
infância e a adolescência. Estes períodos requerem adaptações ao contexto e vice-versa, sendo este um
processo bidirecional de regulação desenvolvimental (Gestsdottir & Lerner, 2008). Quando aplicado a
crianças mais novas o termo autorregulação é utilizado para referir várias capacidades, como por exemplo,
alternar rapidamente entre tarefas diferentes, focar a atenção ou controlar as emoções. Por outro lado, a
autorregulação mede a capacidade dos adolescentes para monitorizar as suas atividades, avaliar os seus
desempenhos, motivarem-se e manter a resiliência enquanto vivenciam experiências de desilusão
escolares e sociais (Zimmerman, 2002).
Mueller (2008) refere que a capacidade de controlar e regular as próprias ações desempenha um papel
importante no funcionamento saudável ao nível cognitivo, social e emocional. Por exemplo, a
autorregulação é necessária quando surgem obstáculos às atividades direcionadas para o objetivo e o
indivíduo tem que pensar em caminhos alternativos para alcançar o objetivo, sendo igualmente necessária
quando a atenção está focada numa determinada tarefa e é necessário bloquear pensamentos
irrelevantes para a tarefa. Por outro lado, Barkley (1997) definiu autorregulação como uma resposta ou um
conjunto de respostas dadas pelo indivíduo, que servem para alterar a probabilidade da resposta
subsequente do indivíduo a um acontecimento e, ao fazê-lo, permite alterar a probabilidade de uma
consequência posterior relacionada com esse acontecimento.
As definições de autorregulação têm em comum o facto de referirem que quando o indivíduo se
autorregula está a ir ao encontro ou a ajustar-se ao seu comportamento para perseguir algum estado ou
objetivo desejado (Carver & Scheier, 1998).
De Ridder e De Wit (2006) referem que uma característica particular da autorregulação está associada ao
facto de ser um processo que envolve a prossecução efetiva de objetivos que, muitas vezes, se estendem
por longos períodos de tempo e são frequentemente confrontados com obstáculos e tentações.
Por seu lado, o sucesso da autorregulação requer estratégias de mobilização de pensamentos,
sentimentos e ações, em particular quando confrontados com obstáculos e conflitos entre objetivos. A
autorregulação geralmente é construída como um processo dinâmico que envolve esforços conscientes
que influenciam pensamentos, sentimentos e comportamentos para atingir um objetivo num contexto de
mudança ambiental. A autorregulação transmite envolvimentos individuais de manuseamento dos seus
próprios processos de mudança, incluindo a consideração consciente da importância da competição entre
objetivos e a priorização de objetivos em particular. Apesar de alguns autores afirmarem que a
autorregulação está exclusivamente relacionada com os processos conscientes, existem evidências de que
existem processos inconscientes associados (Vohs & Baumeister, 2004).
Os modelos de autorregulação do comportamento têm em comum o conceito de objetivos. Vários autores
propuseram diferentes tipos de objetivos, incluindo os esforços/empenhos pessoais, as tarefas de vida, os
projetos pessoais e os auto-modelos/auto-guias; cada um enfatiza diferentes aspetos dos objetivos, mas
têm uma ideia em comum de que os objetivos estimulantes dão um sentido à vida dos indivíduos. Por
definição, objetivos são orientações futuras que estão relacionadas com o que os indivíduos pensam do
seu potencial de realização e com o número de coisas que pretendem alcançar. Os objetivos são princípios
que guiam os indivíduos consciente e intencionalmente a efetividade da direção dos seus comportamentos
(Austin & Vancouver, 1996), embora existam atos para atingir os objetivos que não são inteiramente
conscientes (Strack & Deutsch, 2004; Vohs & Baumeister, 2004).
Segundo Gebhardt (2006) qualquer comportamento de saúde é apenas um objetivo comportamental num
contexto de múltiplos objetivos que são seguidos simultaneamente, na medida em que os objetivos
pessoais competem, de modo contínuo, entre eles. Se um comportamento de saúde é adotado ou não se
torna prioritário comparativamente com os outros objetivos, vai depender da força de ligação a outros
50 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
objetivos com valor e à inexistência de conflitos entre os objetivos. Por seu lado, o conflito entre os
diferentes objetivos e interobjetivos terão impacto noutras fases de mudança comportamental, tais como
na preparação para a ação, no início da mudança comportamental e na sua manutenção ao longo do
tempo. A forma como os indivíduos resolvem os conflitos pode ter implicações profundas no seu bem-
estar e saúde mental. A eficácia da resolução depende da capacidade dos indivíduos anteciparem o
conflito e prepará-lo antes de acontecer. Esta capacidade de antecipação resulta da experiência e da
maturidade. É provável que esta característica varie de indivíduo para indivíduo, mas geralmente é uma
característica do comportamento adulto. Embora, nem todos os comportamentos relacionados com a
saúde sejam sempre planeados.
O processo de regulação nos adolescentes difere dos adultos no sentido em que a saúde para os
adolescentes é muito mais um fenómeno social. Os seus comportamentos têm mais probabilidade de
envolver risco (e.g. uso de substâncias, comportamentos sexuais de risco) e de ocorrerem no seio de
grupos ou em determinados contextos sociais. De um modo geral, os adolescentes são mais sensíveis à
influência social do que os adultos, especialmente no que se refere aos comportamentos de risco (Gardner
& Steinberg, 2005).
Por outro lado, a falta de experiência dificulta a tarefa de antecipar conflitos nos jovens, bem como para
arranjarem respostas alternativas ou simplesmente evitar a tentação. Também os estilos de
processamento cognitivo nos adolescentes diferem dos adultos, sendo os primeiros mais impulsivos e
menos introspetivos (Steinberg & Cauffman, 1996).
Segundo Duckworth e Seligman (2006) a autorregulação é crucial para o sucesso do indivíduo em várias
áreas. Estudantes com maior autorregulação têm um melhor ajustamento psicológico, melhores relações
interpessoais e um melhor desempenho em tarefas, da mesma forma que a autorregulação parece ser o
melhor preditor para o desempenho académico. No mesmo sentido, Baumeister e Vohs (2004) verificaram
que pessoas com elevada autorregulação apresentam um menor uso de substâncias e de álcool, menores
índices de crime e delinquência, melhor avaliação da saúde e melhores comportamentos de saúde.
A autorregulação na aprendizagem é um processo ativo e construtivo, onde os que estão a aprender
estabelecem objetivos para a sua aprendizagem e depois tentam monitorizar, regular e controlar a sua
cognição e comportamento, guiado e constrangido pelos seus objetivos e pelos recursos existentes no
ambiente (Pintrich, 2000).
Zimmerman (2000) descreve a autorregulação a nível pessoal, comportamental e ambiental. A
autorregulação pessoal envolve o ajustamento dos estados afetivos e cognitivos; o comportamento de
autorregulação envolve a auto-observação e o desempenho estrategicamente adotado; a autorregulação
ambiental envolve a observação e o ajustamento às condições ambientais. Estas interações são descritas
como ocorrendo dentro de um objetivo estabelecido de autorregulação, monitorização e avaliação,
incluindo a premeditação da tarefa, desempenho e autorreflexão. Durante o processo de autorregulação o
indivíduo que está a aprender utiliza as condições sociais e outras condições ambientais como recurso
para melhorar a premeditação, desempenho e autorreflexão.
As teorias sociais cognitivas da autorregulação sugerem interdependência entre o contexto social e a
autorregulação do indivíduo. Jackson, Mackenzie e Hobfol (2000) ampliam esta visão social cognitiva
sugerindo uma regulação do self num cenário social, que enfatiza uma regulação comum, em que um
indivíduo regula e monitoriza a sua cognição e ação dentro das normas e restrições do seu espaço social.
Estes autores sugerem que é incompleto considerar a autorregulação sem o conhecimento de que os
indivíduos procuram fontes dentro da comunidade alargada para agir como modelos de guia
comportamental e para também para confirmarem quais as ações apropriadas.
A autorregulação é uma competência a ser desenvolvida e promovida ao longo do desenvolvimento,
nomeadamente, através de programas de promoção de competências em contexto escolar. O estudo
Europeu TEMPEST identificou três competências organizadas em seis estratégias de autorregulação na
adolescência, nomeadamente, evitamento e controlo com o objetivo de reduzir as tentações, a distração e
supressão para reduzir o valor atribuído às tentações e a definição de objetivos e regras e reflexão sobre
os objetivos com o intuito de apoiar o objetivo de comportamento saudável (Gaspar, Matos, Tomé &
Simões, 2015).
Segundo Boekaerts e Cascallar (2006) a autorregulação é influenciada por um conjunto de condições
psicoeducativas, incluindo a clareza e o ritmo de instrução, a quantidade de estrutura fornecida aos alunos,
o grau de autonomia na aprendizagem, as características dos professores e os fatores de sala de aula. Por
outro lado, enquanto a aprendizagem ligada à autorregulação é um processo controlado pelo aluno, existe
uma crescente literatura que sugere que os fatores sociais e ambientais influenciam a probabilidade e a
capacidade de um aluno empenhar-se neste processo.
51RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
objetivos com valor e à inexistência de conflitos entre os objetivos. Por seu lado, o conflito entre os
diferentes objetivos e interobjetivos terão impacto noutras fases de mudança comportamental, tais como
na preparação para a ação, no início da mudança comportamental e na sua manutenção ao longo do
tempo. A forma como os indivíduos resolvem os conflitos pode ter implicações profundas no seu bem-
estar e saúde mental. A eficácia da resolução depende da capacidade dos indivíduos anteciparem o
conflito e prepará-lo antes de acontecer. Esta capacidade de antecipação resulta da experiência e da
maturidade. É provável que esta característica varie de indivíduo para indivíduo, mas geralmente é uma
característica do comportamento adulto. Embora, nem todos os comportamentos relacionados com a
saúde sejam sempre planeados.
O processo de regulação nos adolescentes difere dos adultos no sentido em que a saúde para os
adolescentes é muito mais um fenómeno social. Os seus comportamentos têm mais probabilidade de
envolver risco (e.g. uso de substâncias, comportamentos sexuais de risco) e de ocorrerem no seio de
grupos ou em determinados contextos sociais. De um modo geral, os adolescentes são mais sensíveis à
influência social do que os adultos, especialmente no que se refere aos comportamentos de risco (Gardner
& Steinberg, 2005).
Por outro lado, a falta de experiência dificulta a tarefa de antecipar conflitos nos jovens, bem como para
arranjarem respostas alternativas ou simplesmente evitar a tentação. Também os estilos de
processamento cognitivo nos adolescentes diferem dos adultos, sendo os primeiros mais impulsivos e
menos introspetivos (Steinberg & Cauffman, 1996).
Segundo Duckworth e Seligman (2006) a autorregulação é crucial para o sucesso do indivíduo em várias
áreas. Estudantes com maior autorregulação têm um melhor ajustamento psicológico, melhores relações
interpessoais e um melhor desempenho em tarefas, da mesma forma que a autorregulação parece ser o
melhor preditor para o desempenho académico. No mesmo sentido, Baumeister e Vohs (2004) verificaram
que pessoas com elevada autorregulação apresentam um menor uso de substâncias e de álcool, menores
índices de crime e delinquência, melhor avaliação da saúde e melhores comportamentos de saúde.
A autorregulação na aprendizagem é um processo ativo e construtivo, onde os que estão a aprender
estabelecem objetivos para a sua aprendizagem e depois tentam monitorizar, regular e controlar a sua
cognição e comportamento, guiado e constrangido pelos seus objetivos e pelos recursos existentes no
ambiente (Pintrich, 2000).
Zimmerman (2000) descreve a autorregulação a nível pessoal, comportamental e ambiental. A
autorregulação pessoal envolve o ajustamento dos estados afetivos e cognitivos; o comportamento de
autorregulação envolve a auto-observação e o desempenho estrategicamente adotado; a autorregulação
ambiental envolve a observação e o ajustamento às condições ambientais. Estas interações são descritas
como ocorrendo dentro de um objetivo estabelecido de autorregulação, monitorização e avaliação,
incluindo a premeditação da tarefa, desempenho e autorreflexão. Durante o processo de autorregulação o
indivíduo que está a aprender utiliza as condições sociais e outras condições ambientais como recurso
para melhorar a premeditação, desempenho e autorreflexão.
As teorias sociais cognitivas da autorregulação sugerem interdependência entre o contexto social e a
autorregulação do indivíduo. Jackson, Mackenzie e Hobfol (2000) ampliam esta visão social cognitiva
sugerindo uma regulação do self num cenário social, que enfatiza uma regulação comum, em que um
indivíduo regula e monitoriza a sua cognição e ação dentro das normas e restrições do seu espaço social.
Estes autores sugerem que é incompleto considerar a autorregulação sem o conhecimento de que os
indivíduos procuram fontes dentro da comunidade alargada para agir como modelos de guia
comportamental e para também para confirmarem quais as ações apropriadas.
A autorregulação é uma competência a ser desenvolvida e promovida ao longo do desenvolvimento,
nomeadamente, através de programas de promoção de competências em contexto escolar. O estudo
Europeu TEMPEST identificou três competências organizadas em seis estratégias de autorregulação na
adolescência, nomeadamente, evitamento e controlo com o objetivo de reduzir as tentações, a distração e
supressão para reduzir o valor atribuído às tentações e a definição de objetivos e regras e reflexão sobre
os objetivos com o intuito de apoiar o objetivo de comportamento saudável (Gaspar, Matos, Tomé &
Simões, 2015).
Segundo Boekaerts e Cascallar (2006) a autorregulação é influenciada por um conjunto de condições
psicoeducativas, incluindo a clareza e o ritmo de instrução, a quantidade de estrutura fornecida aos alunos,
o grau de autonomia na aprendizagem, as características dos professores e os fatores de sala de aula. Por
outro lado, enquanto a aprendizagem ligada à autorregulação é um processo controlado pelo aluno, existe
uma crescente literatura que sugere que os fatores sociais e ambientais influenciam a probabilidade e a
capacidade de um aluno empenhar-se neste processo.
52 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Referências Bibliográficas
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regulation? Educational Psychology Review, 18(3), 199-210.
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54 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI.IV- Relacionamento com a Família Inês Camacho
A família tem um papel fundamental no desenvolvimento global da criança e do adolescente. As famílias e
os fatores a elas associados têm influência na educação, socialização, prestação de cuidados, transmissão
de crenças e valores e, de um modo geral, na saúde e bem-estar dos seus elementos. Apesar de nesta fase
os adolescentes alargarem os horizontes, os pais continuam a ser a sua principal base de apoio para as
questões de proteção e segurança e para problemas escolares e de saúde (Braconnier & Marcelli, 2000).
Apesar de na fase de adolescência, fase caracterizada pela busca de independência, autonomia e
identidade, os jovens alargarem os seus horizontes e terem um maior contacto com os amigos, que
partilham o mesmo tipo de experiências, sentem as mesmas mudanças e têm as mesmas dúvidas, a família
continua a ser a base de apoio. É importante referir que, para o adolescente sentir a família como base de
apoio nesta fase repleta de mudanças, tem que haver a construção de uma relação sólida e com base na
confiança desde muito cedo.
Uma boa comunicação com os pais e uma monitorização parental adequada torna este processo de
mudanças e desafios mais fácil tanto para os jovens como para os pais. No entanto, tem-se assistido ao
longo dos tempos a uma mudança na dinâmica familiar e passou-se de um estilo parental autoritário para
um estilo parental permissivo que passa muitas vezes por negligente. Assim, a família poderá surgir como
fator de proteção ou de risco nos comportamentos saudáveis e de risco nos adolescentes.
Uma boa comunicação existente entre pais e adolescentes surge como fator protetor na satisfação com a
vida (Boniel-Nissim et al., 2015; Karademas, Peppa, Fotiou, & Kokkevi, 2008; Levin & Currie, 2010).
A comunicação com a família aparece fortemente associada ao bem-estar nos adolescentes (Jackson,
Bijstra, Oostra, & Bosma, 1998), que é mais baixo nas raparigas e nos jovens mais velhos (Ramos, Moreno,
Rivera, Matos, & Morgan, 2012) além disso, a comunicação com os pais tem um peso superior do que a
comunicação com o grupo de pares no que diz respeito aos sintomas psicológicos ou mesmo na satisfação
com a vida (Tomé, Matos, Camacho, Simões, & Diniz, 2012).
Na área da família torna-se importante perceber em que diferem rapazes e raparigas relativamente à
facilidade que têm em comunicar com os seus pais e os efeitos que isto poderá ter nos seus
comportamentos. Assim, num estudo realizado com 1308 adolescentes do 6º ao 10º ano de escolaridade,
com o objetivo de verificar a existência de diferenças na comunicação com a mãe e o pai e os
comportamentos de risco em rapazes e raparigas, constatou-se que nos rapazes a comunicação com o pai
surge como fator de proteção no consumo de marijuana e a comunicação com a mãe surge como fator de
proteção no hábito de fumar. Neste estudo a comunicação com a mãe e pai não surgiram como fator de
proteção no consumo de substâncias nas filhas (Luk, Farhat, Iannoti, & Simons-Morton, 2010).
Além das diferenças de género dos jovens relativamente à relação que têm com a família, também tem
sido estudada a diferença existente entre o papel desempenhado pelos pais na família. Diversos estudos
referem, que o pai desempenha um papel diferente da mãe no seio da família, sendo este facto
determinante para as diferenças que existem na comunicação entre pais e filhos. Tem sido demonstrado
que o pai é menos afetivo e está menos envolvido nos assuntos familiares comparativamente com a mãe
(Williams & Kelly, 2005) e que as mães comunicam de uma forma mais aberta com os seus filhos. No
sentido dos dados referidos anteriormente, tem sido demonstrado que as raparigas sentem dificuldade
em comunicar com o pai sobre os seus problemas, enquanto que rapazes e raparigas sentem-se à vontade
para falar com a mãe sobre os mais diversos assuntos (Ackard, Neumark-Sztainer, Story, & Perry, 2006).
Os jovens que mantêm um diálogo sincero e aberto com os pais, sentem mais suporte parental, confiança
e proximidade dos pais. (Cava, Buelga, & Musitu, 2014).
O estilo parental associado a cada família influencia largamente os comportamentos de saúde e de risco
associados à adolescência. Os jovens que fazem parte de famílias caracterizadas por um estilo parental
democrático apresentam maiores níveis de bem-estar, os que fazem parte de famílias caracterizadas por
um estilo parental autoritário ou permissivo apresentam maior predisposição para comportamentos de
risco e menores índices de bem-estar (Rothrauff, Cooney, & Shin An, 2009)
A investigação tem demonstrado que a monitorização parental tem uma forte influência na prevenção de
comportamentos de risco, incluindo o consumo de substâncias (Branstetter & Furman, 2013) a violência e
o abuso de álcool e na promoção do bem-estar (Camacho, Matos, Tomé, Simões, & Diniz, 2013).
Em geral, o envolvimento parental que engloba interação, comunicação e monitorização e preocupação
com o jovem, tem demonstrado ser protetor relativamente ao envolvimento em comportamentos de risco
(Hindelang, Dwyer, & Leeming, 2001).
Podendo a família funcionar como fator de risco ou de proteção nos comportamentos de saúde e de risco
na adolescência bem como no bem-estar, torna-se imperativo a implementação de programas de
intervenção junto das famílias que as ajudem a serem promotoras de saúde e bem-estar das crianças e
adolescentes.
Referências Bibliográficas
Ackard, D. M., Neumark-Sztainer, D., Story, M., & Perry, C. (2006). Parent-child connectedness and behavioral and emotional health among adolescents. American Journal of Preventive Medicine, 30,59-66.
55RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
proteção no hábito de fumar. Neste estudo a comunicação com a mãe e pai não surgiram como fator de
proteção no consumo de substâncias nas filhas (Luk, Farhat, Iannoti, & Simons-Morton, 2010).
Além das diferenças de género dos jovens relativamente à relação que têm com a família, também tem
sido estudada a diferença existente entre o papel desempenhado pelos pais na família. Diversos estudos
referem, que o pai desempenha um papel diferente da mãe no seio da família, sendo este facto
determinante para as diferenças que existem na comunicação entre pais e filhos. Tem sido demonstrado
que o pai é menos afetivo e está menos envolvido nos assuntos familiares comparativamente com a mãe
(Williams & Kelly, 2005) e que as mães comunicam de uma forma mais aberta com os seus filhos. No
sentido dos dados referidos anteriormente, tem sido demonstrado que as raparigas sentem dificuldade
em comunicar com o pai sobre os seus problemas, enquanto que rapazes e raparigas sentem-se à vontade
para falar com a mãe sobre os mais diversos assuntos (Ackard, Neumark-Sztainer, Story, & Perry, 2006).
Os jovens que mantêm um diálogo sincero e aberto com os pais, sentem mais suporte parental, confiança
e proximidade dos pais (Cava, Buelga, & Musitu, 2014).
O estilo parental associado a cada família influencia largamente os comportamentos de saúde e de risco
associados à adolescência. Os jovens que fazem parte de famílias caracterizadas por um estilo parental
democrático apresentam maiores níveis de bem-estar, os que fazem parte de famílias caracterizadas por
um estilo parental autoritário ou permissivo apresentam maior predisposição para comportamentos de
risco e menores índices de bem-estar (Rothrauff, Cooney, & Shin An, 2009).
A investigação tem demonstrado que a monitorização parental tem uma forte influência na prevenção de
comportamentos de risco, incluindo o consumo de substâncias (Branstetter & Furman, 2013) a violência e
o abuso de álcool e na promoção do bem-estar (Camacho, Matos, Tomé, Simões, & Diniz, 2013).
Em geral, o envolvimento parental que engloba interação, comunicação e monitorização e preocupação
com o jovem, tem demonstrado ser protetor relativamente ao envolvimento em comportamentos de risco
(Hindelang, Dwyer, & Leeming, 2001).
Podendo a família funcionar como fator de risco ou de proteção nos comportamentos de saúde e de risco
na adolescência bem como no bem-estar, torna-se imperativo a implementação de programas de
intervenção junto das famílias que as ajudem a serem promotoras de saúde e bem-estar das crianças e
adolescentes.
Referências Bibliográficas
Ackard, D. M., Neumark-Sztainer, D., Story, M., & Perry, C. (2006). Parent-child connectedness and behavioral and emotional health among adolescents. American Journal of Preventive Medicine, 30,59-66.
56 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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57RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI.V - Grupo de pares Inês Camacho
O papel do grupo de pares no desenvolvimento dos adolescentes tem sido alvo de diversos estudos ao
longo dos anos. Se por um lado se tenta compreender como atua a influência negativa dos amigos, por
outro o seu papel protetor. No entanto não há dúvidas no facto de os amigos desempenharem um papel
muito importante ao longo da adolescência. A tentar reforçar esses dados, alguns estudos passaram a
analisar as consequências da falta de amigos para os adolescentes e observaram que o isolamento social
pode ter consequências nefastas no desenvolvimento dos jovens, entre os quais menor satisfação com a
vida, menor índice de bem-estar geral, mais sintomas psicológicos, maior envolvimento em
comportamentos de risco, como o consumo de substâncias ou álcool (Tomé, Matos, Camacho, Simões, &
Diniz, 2013).
A influência exercida pelo grupo de pares parece ir na direção dos comportamentos dos próprios amigos,
assim, se o grupo de pares tiver maior envolvimento em comportamentos de risco a influência será
maioritariamente negativa, no entanto se os comportamentos do grupo forem na direção dos
comportamentos saudáveis, terão um papel mais protetor. Por outro lado, o papel dos pais, que se espera
que seja de mediador desta influência, poderá por vezes não exercer esse papel de proteção contra a
influência negativa dos pares (Tomé, Matos, Simões, Diniz, & Camacho, 2012). A tendência que se verifica é
que quando o relacionamento entre os adolescentes, os pais e os amigos é positivo, os adolescentes
sentem-se mais saudáveis, com menor envolvimento em comportamentos de risco. Analisados
separadamente, o relacionamento com os pais parece ter maior influência na saúde dos jovens, enquanto
o relacionamento com os pares parece ter maior peso na influência do envolvimento nos comportamentos
de risco (Tomé, Matos, Camacho, Simões, & Diniz, 2012).
Também em contexto escolar os amigos são de grande importância. Na escola os adolescentes passam
grande parte do seu tempo com os colegas, por isso as características dos mesmos poderão influenciar os
seus resultados académicos, a sua motivação para alcançar os seus objetivos, entre outros aspetos
académicos. Ter amigos na escola ajuda ao maior envolvimento nas atividades escolares, e a manter uma
elevada performance académica. Na relação com os colegas de turma a aceitação dos pares e o número
de amigos, podem influenciar os seus resultados académicos. Acredita-se que os adolescentes selecionam
os seus amigos de acordo com alguns critérios de similaridade, que em contexto académico poderá estar
associado aos objetivos académicos (Shin, & Ryan, 2014). Em contexto escolar, a falta de amigos também
58 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
pode ter consequências negativas, revelando jovens que gostam menos da escola e que estão mais
envolvidos em comportamentos de bullying.
Dentro ou fora do contexto escolar, não há dúvidas que o relacionamento com os amigos tem um papel
importante para o desenvolvimento de competências sociais entre os adolescentes. Compreender o
processo de influência negativa ou positiva e o papel dos pais na mediação dessa influência, torna-se
relevante para a prevenção da influência negativa e o envolvimento dos adolescentes em comportamentos
de risco, promovendo relações interpessoais que influenciam positivamente o bem-estar dos adolescentes.
A adolescência traz consigo uma fase de mudança da relação que o jovem mantém com a família, deixando
de ser influenciado unicamente pelos pais e passando a ter que tomar decisões sobre a sua vida de forma
mais independente e autónoma. O grupo de pares poderá facilitar esta transição para um ambiente social
mais alargado. Ter conhecimento sobre o tipo de grupo em que o adolescente está inserido e o tipo de
comportamentos em que se envolve poderá facilitar a prevenção de comportamentos que poderão trazer
riscos associados.
A relação com os colegas ou amigos, no contexto de interação social, é considerada como uma das
influências mais importantes para o desenvolvimento social e emocional da criança e do jovem.
Ter amigos permite partilhar experiências, sentimentos, e aprender a resolver conflitos. Por outro lado, não
ter amigos pode levar ao isolamento social e a contactos sociais muito limitados, pelo facto de existirem
poucas oportunidades de desenvolver novas relações e competências de interacção social. A falta de
amigos limita os contactos sociais e as oportunidades de desenvolvimento de determinadas competências
sociais, que dificulta o estabelecimento de novos contactos sociais (Pérez, Maldonado, Andrade, & Díaz,
2007).
Os amigos podem ter um papel importante no aumento da auto-estima, uma vez que a tendência será
procurar amigos que nos façam sentir bem e poderá prevenir os sentimentos de tristeza e infelicidade
(Tomé, Matos, & Diniz, 2008; Chung & Furnham, 2002).
O papel dos pares ou de amigos não se reduz ao número de amigos mas também à qualidade percebida
dessas relações. Alguns estudos evidenciam que um grande nível de apoio percebido pelos alunos pode
sugerir que estes se sintam fortemente integrados e aceites pelos seus pares (Samdal & Dur, 2000).
A maioria dos jovens nomeia pelo menos um dos amigos como sendo o melhor amigo e também é
nomeado pelo seu melhor amigo (Brown, 2004). Ter uma boa relação com pelo menos um amigo é um dos
fatores que tem influência numa boa saúde psicológica. São as raparigas que mantêm amizades mais
próximas, baseadas na confiança, segurança e apoio (Schneider, 2000).
Tendo em consideração que as experiências entre os adolescentes e o grupo de pares são heterogéneas e
dependem de diversas características, como por exemplo, o tipo de grupo: grande ou pequeno; o tipo de
amizade: recíproca, com qualidade, se em contexto escolar ou fora do contexto escolar; ou o tipo de
comportamentos do grupo, torna-se imperativo conhecer os processos que tornam os pares um fator de
risco ou um fator protetor para os comportamentos dos adolescentes, de forma a adequar as intervenções
destinadas a essa população (Véronnea, Trempe, & Paiva, 2014).
Referências Bibliográficas
Brown, B. (2004). Adolescents Relationship with peers. In R. M. Lerner, & L. Steinberg, Handbook of Adolescent Psychology (pp. 364-394). New Jersey: Wiley.
Chung, H., & Furnham, A. (2002). Personality, peer relations, and self-confidence as predictors of happiness and loneliness. Journal of Adolescence, 25, 327-339.
Pérez, J. J., Maldonado, T. C., Andrade, C. F., & Díaz, D. R. (2007). Judgments expressed by children between 9 to 11 years old, about behaviors and attitudes that lead to acceptance or social rejection in a school group. Revista Diversitas - Perspectivas en Psicologia , 1, (3) 81-107.
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Tomé, G., Matos, M., & Dinis, J. (2008). Consumo de substâncias e felicidade nos adolecentes, in M. Matos (eds.) Consumo de Substâncias: Estilo de Vida? À Procura de um estilo? pp. 127-164.Lisboa: IDT
Samdal, O., & Dur, W. (2000). The school environment and the health of adolescents. In W. Currie, R. Stterbulte, R. Smith, & J. Todd, Health and Health Promotion Among Young People. Hepca Series: World Health Organization.
Schneider, B. (2000). Friends and enemies. Peer relations in childhood. London: Arnold.
Shin, H., & Ryan, A. (2014). Friendship Networks and Achievement Goals: An Examination of Selection and Influence Processes and Variations by Gender. Journal of Youth and Adolescents, 1-12
59RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
pode ter consequências negativas, revelando jovens que gostam menos da escola e que estão mais
envolvidos em comportamentos de bullying.
Dentro ou fora do contexto escolar, não há dúvidas que o relacionamento com os amigos tem um papel
importante para o desenvolvimento de competências sociais entre os adolescentes. Compreender o
processo de influência negativa ou positiva e o papel dos pais na mediação dessa influência, torna-se
relevante para a prevenção da influência negativa e o envolvimento dos adolescentes em comportamentos
de risco, promovendo relações interpessoais que influenciam positivamente o bem-estar dos adolescentes.
A adolescência traz consigo uma fase de mudança da relação que o jovem mantém com a família, deixando
de ser influenciado unicamente pelos pais e passando a ter que tomar decisões sobre a sua vida de forma
mais independente e autónoma. O grupo de pares poderá facilitar esta transição para um ambiente social
mais alargado. Ter conhecimento sobre o tipo de grupo em que o adolescente está inserido e o tipo de
comportamentos em que se envolve poderá facilitar a prevenção de comportamentos que poderão trazer
riscos associados.
A relação com os colegas ou amigos, no contexto de interação social, é considerada como uma das
influências mais importantes para o desenvolvimento social e emocional da criança e do jovem.
Ter amigos permite partilhar experiências, sentimentos, e aprender a resolver conflitos. Por outro lado, não
ter amigos pode levar ao isolamento social e a contactos sociais muito limitados, pelo facto de existirem
poucas oportunidades de desenvolver novas relações e competências de interacção social. A falta de
amigos limita os contactos sociais e as oportunidades de desenvolvimento de determinadas competências
sociais, que dificulta o estabelecimento de novos contactos sociais (Pérez, Maldonado, Andrade, & Díaz,
2007).
Os amigos podem ter um papel importante no aumento da auto-estima, uma vez que a tendência será
procurar amigos que nos façam sentir bem e poderá prevenir os sentimentos de tristeza e infelicidade
(Tomé, Matos, & Diniz, 2008; Chung & Furnham, 2002).
O papel dos pares ou de amigos não se reduz ao número de amigos mas também à qualidade percebida
dessas relações. Alguns estudos evidenciam que um grande nível de apoio percebido pelos alunos pode
sugerir que estes se sintam fortemente integrados e aceites pelos seus pares (Samdal & Dur, 2000).
A maioria dos jovens nomeia pelo menos um dos amigos como sendo o melhor amigo e também é
nomeado pelo seu melhor amigo (Brown, 2004). Ter uma boa relação com pelo menos um amigo é um dos
fatores que tem influência numa boa saúde psicológica. São as raparigas que mantêm amizades mais
próximas, baseadas na confiança, segurança e apoio (Schneider, 2000).
Tendo em consideração que as experiências entre os adolescentes e o grupo de pares são heterogéneas e
dependem de diversas características, como por exemplo, o tipo de grupo: grande ou pequeno; o tipo de
amizade: recíproca, com qualidade, se em contexto escolar ou fora do contexto escolar; ou o tipo de
comportamentos do grupo, torna-se imperativo conhecer os processos que tornam os pares um fator de
risco ou um fator protetor para os comportamentos dos adolescentes, de forma a adequar as intervenções
destinadas a essa população (Véronnea, Trempe, & Paiva, 2014).
Referências Bibliográficas
Brown, B. (2004). Adolescents Relationship with peers. In R. M. Lerner, & L. Steinberg, Handbook of Adolescent Psychology (pp. 364-394). New Jersey: Wiley.
Chung, H., & Furnham, A. (2002). Personality, peer relations, and self-confidence as predictors of happiness and loneliness. Journal of Adolescence, 25, 327-339.
Pérez, J. J., Maldonado, T. C., Andrade, C. F., & Díaz, D. R. (2007). Judgments expressed by children between 9 to 11 years old, about behaviors and attitudes that lead to acceptance or social rejection in a school group. Revista Diversitas - Perspectivas en Psicologia , 1, (3) 81-107.
Véronneau, M.-H., Trempe, S.-C., & Paiva, A. O. (2014). Risk and protection factors in the peer context: how do other children contribute to the psychosocial adjustment of the adolescent? Ciência & Saúde Coletiva, 19 (3), 695-705
Tomé, G., Matos, M., Camacho, I., Simões, C., & Diniz, J. A. (2013). The Lack of Friends amongst Adolescents and Well-Being. International Journal of Science, 2(11), 43-51.
Tomé, G., Matos, M., Simoes, C., Diniz, J. A., & Camacho, I. (2012). How can peer group influence the behavior of adolescents: explanatory model. Global Journal of Health Science, 4(2), 26-35.
Tomé, G., Matos, M. G., Camacho, I., Simoes, C., & Diniz, J. A. (2012). Portuguese adolescents: the importance of parents and peer groups in positive health. Spanish Journal of Psychology, 15(3), 1315-1324
Tomé, G., Matos, M., & Dinis, J. (2008). Consumo de substâncias e felicidade nos adolecentes, in M. Matos (eds.) Consumo de Substâncias: Estilo de Vida? À Procura de um estilo? pp. 127-164.Lisboa: IDT
Samdal, O., & Dur, W. (2000). The school environment and the health of adolescents. In W. Currie, R. Stterbulte, R. Smith, & J. Todd, Health and Health Promotion Among Young People. Hepca Series: World Health Organization.
Schneider, B. (2000). Friends and enemies. Peer relations in childhood. London: Arnold.
Shin, H., & Ryan, A. (2014). Friendship Networks and Achievement Goals: An Examination of Selection and Influence Processes and Variations by Gender. Journal of Youth and Adolescents, 1-12
60 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VI.VI – Contexto Escolar Inês Camacho
A escola, para além de ser um local onde os jovens desenvolvem aprendizagens e processos educacionais,
é também onde se promovem relações interpessoais importantes para facilitar o seu desenvolvimento
pessoal e social (Ruini, et al.,2009). É um local privilegiado no desenvolvimento de ferramentas que ajudam
os jovens na utilização de estratégias de convívio com diversas situações e desafios (Frydenberg, 2008),
nomeadamente na relação com o insucesso escolar, com as dificuldades de adaptação à escola e de
regulação do comportamento pessoal e social. É responsável pela transmissão de padrões e normas
comportamentais, tendo um papel crucial no processo de socialização da criança e do adolescente. A
escola é capaz de unir variadas comunidades de pares e promover a auto-estima e o desenvolvimento
harmonioso entre jovens, sendo um espaço privilegiado de interações e encontros (Baptista, Tomé, Matos,
Gaspar, & Cruz, 2008). O gosto e satisfação pela escola, o apoio por parte dos professores, o suporte
parental e a perceção de autonomia académica são fatores que têm sido associados ao bem-estar na
adolescência. (Suldo, et al., 2008; Danielsen, 2010; McGrath, et al., 2009).
Os jovens que referem gostar da escola apresentam mais comportamentos positivos associados,
nomeadamente: melhor desempenho académico, maiores níveis de resiliência e comportamentos de
saúde associados (Carter, McGee, Taylor, & Williams, 2007; Lippman & Rivers, 2008; Somersalo, Solantaus,
& Almqvist, 2002; Heckman, et al, 2006) e menores índices de ansiedade e depressão (Anderma, 2002;
Shochet, Dadds, Ham, & Montague, 2006)
Se por um lado a satisfação com a escola está positivamente associada ao aumento da motivação para a
aprendizagem, sendo o desempenho académico escolar diretamente influenciado pela capacidades dos
jovens compreenderem e regularem as suas emoções (Varasteanu & Iftime, 2013), por outro está
negativamente associada a comportamentos desviantes no grupo de pares (Wu, Chong,Cheng, & Chen,
2007; Camacho, Tomé, Matos, Gamito, & Diniz, 2010) e ao comportamento anti-social (Roth & Brooks-
Gunn, 2000).
Os adolescentes passam uma grande parte do seu dia na escola. As experiências vividas na escola não
afetam somente o seu desempenho académico mas também têm influência no seu desenvolvimento social
e emocional. Estudos sugerem que o envolvimento e a disciplina na escola influenciam o bem-estar (Saab
& Kingler, 2010), a sensação de sucesso e existência de expetativas no futuro (Piko & Kovács, 2010). Jovens
que tenham boa relação com os professores e os colegas apresentam menores índices de
comportamentos de risco e menores taxas de abandono escolar. (Yibing et al, 2011). Uma perceção
negativa da escola aumenta a probabilidade de envolvimento em comportamentos de risco, do absentismo
escolar, do envolvimento em lutas e o porte de armas (Kasen, Barenson, Cohen, & Johnson, 2004).
Segundo o estudo Health Behaviour School-aged Children (HBSC) que conta com a participação de 44 países
(Inchley, et al, 2016), e tomando o último estudo realizado em Portugal em 2014 houve uma descida da
frequência de jovens que referem gostar da escola comparando este estudo com o estudo anterior de
2010 (Matos et al, 2012, 2015). Os jovens portugueses comparados com os jovens europeus, de acordo
com mais do que um estudo internacional (HBSC e PISA), são dos que apresentam pior realização escolar
quer em resultado de provas quer na sua perceção. Habitualmente referem gostar da escola no entanto
esse gosto refere-se mais aos recreios, à relação com os colegas e com algumas atividades ou com alguns
professores, e tem vindo a diminuir (Matos et al, 2015)
O Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou recentemente um relatório sobre o Estado da
Educação 2015, (CNE 2016) e com base no estudo do HBSC nas suas últimas 5 séries em 1998, 2002, 2006,
2010 e 2014 e salientam que os alunos que referem gostar muito da escola apresentam as percentagens
mais elevadas quanto a não sentir pressão com os trabalhos de casa (47.1%). Quando se relaciona a
opinião dos alunos sobre” perceção do desempenho na escola e “gostar da escola” os dados do estudo
HBSC de 2014 referem que os adolescentes portugueses que gostam muito da escola apresentam as
percentagens mais elevadas na perceção académica percebida (perceção do que os seus professores
pensam acerca da capacidade académica).
Com os dados observados, torna-se imperativo implementar programas nas escolas com os agentes
educativos (professores, pais, funcionários das escolas, diretores e estudantes), com o objetivo de não só
melhorar o gosto pela escola mas também melhorar a comunicação entre todos os intervenientes na
educação e ensino das crianças e adolescentes.
Referências Bibliográficas
Anderman, E. M. (2002). Schhol effects on psychological outcomes during adolescence. Journal of Educational Psychology, 94, 795-809.
Baptista, I., Tomé, G., Matos, M. G., Gaspar, T., & Cruz, J. (2008). A Escola. In M. G. Matos, & D. Sampaio, Jovens com Saúde-Diálogo com uma geração. (pp. 197-214). Lisboa: Texto.
Camacho, I., Tomé, G., Matos, M., Gamito, P., & Diniz, A. (2010). A escola e os adolescentes: Qual a influência da família e dos amigos? Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente, 1, 101-116.
Carter, M., McGee, R., Taylor, B., & Williams, S. (2007). Health outcomes in adolescence: Associations with family, friends and school engagement. Journal of Adolescence , 30,51-62.
61RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
negativa da escola aumenta a probabilidade de envolvimento em comportamentos de risco, do absentismo
escolar, do envolvimento em lutas e o porte de armas (Kasen, Barenson, Cohen, & Johnson, 2004).
Segundo o estudo Health Behaviour School-aged Children (HBSC) que conta com a participação de 44 países
(Inchley, et al, 2016), e tomando o último estudo realizado em Portugal em 2014 houve uma descida da
frequência de jovens que referem gostar da escola comparando este estudo com o estudo anterior de
2010 (Matos et al, 2012, 2015). Os jovens portugueses comparados com os jovens europeus, de acordo
com mais do que um estudo internacional (HBSC e PISA), são dos que apresentam pior realização escolar
quer em resultado de provas quer na sua perceção. Habitualmente referem gostar da escola no entanto
esse gosto refere-se mais aos recreios, à relação com os colegas e com algumas atividades ou com alguns
professores, e tem vindo a diminuir (Matos et al, 2015)
O Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou recentemente um relatório sobre o Estado da
Educação 2015, (CNE 2016) e com base no estudo do HBSC nas suas últimas 5 séries em 1998, 2002, 2006,
2010 e 2014 e salientam que os alunos que referem gostar muito da escola apresentam as percentagens
mais elevadas quanto a não sentir pressão com os trabalhos de casa (47.1%). Quando se relaciona a
opinião dos alunos sobre “perceção do desempenho na escola” e “gostar da escola” os dados do estudo
HBSC de 2014 referem que os adolescentes portugueses que gostam muito da escola apresentam as
percentagens mais elevadas na perceção académica percebida (perceção do que os seus professores
pensam acerca da capacidade académica).
Com os dados observados, torna-se imperativo implementar programas nas escolas com os agentes
educativos (professores, pais, funcionários das escolas, diretores e estudantes), com o objetivo de não só
melhorar o gosto pela escola mas também melhorar a comunicação entre todos os intervenientes na
educação e ensino das crianças e adolescentes.
Referências Bibliográficas
Anderman, E. M. (2002). Schhol effects on psychological outcomes during adolescence. Journal of Educational Psychology, 94, 795-809.
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62 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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63RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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64 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VII – Bem Estar, Felicidade e Otimismo Paulo Gomes
Diga, em duas ou três palavras, o que mais quer para as suas crianças. De seguida, e também em poucas
palavras, refira o que, tradicionalmente, é ensinado nas escolas…
Este exercício foi levado a cabo durante a formação ES´COOL e os resultados foram semelhantes aos
referidos por Seligman (2015) e Seligman, Ernst, Gillham, Reivich e Linkins (2009). As respostas à primeira
questão são sobretudo: “Felicidade”, “Satisfação”, “Cresçam com Valores”, “Sejam bons cidadãos”, “Saúde”
entre outras. Ou seja, prendem-se com o bem-estar. Mas quando se analisa a segunda questão, as
respostas andam à volta de “Conteúdos”, “Saber estar”, “Português”, “Matemática”, “Disciplina”, “Sucesso”,
“Realizar testes”, etc. Resumidamente, como obter sucesso.
Se olharmos para as duas listas percebemos que quase não há qualquer sobreposição entre o que
queremos para as crianças e o que é ensinado nas escolas. Contudo, através da Educação Positiva é
possível conciliar as duas visões. Segundo Seligman et al. (2009) é possível, sem comprometer qualquer
uma das aprendizagens, ensinar as competências necessárias para a promoção da felicidade e as
competências tradicionais associadas à escola e ao sucesso académico e profissional.
A Educação Positiva também é descrita como um termo geral usado para descrever programas e
intervenções empiricamente validados com impacto no bem-estar dos estudantes (White & Waters 2014).
É possível pensar que a educação positiva e a sua implementação em toda a comunidade escolar pode
preconizar a alteração de uma política educacional mais centrada no sucesso académico para uma política
que valorize e promova tanto o sucesso pedagógico quanto as competências psicológicas associadas ao
bem-estar pessoal.
De uma forma simples Seligman e colaboradores (2009) referem que o bem-estar deve ser ensinado nas
escolas por três razões: é um antídoto para a depressão; é uma forma de aumentar a satisfação com a
vida; ajuda a uma melhor aprendizagem e ao desenvolvimento de um pensamento criativo. Na mesma
linha, apresentam os benefícios destes programas que trabalham o bem-estar: promovem competências e
características valorizadas por quase todas as pessoas; produzem melhorias mensuráveis no
comportamento e bem-estar dos alunos; e facilitam a participação ativa dos alunos na sua aprendizagem e
realização.
O papel da escola deve ser olhado e entendido como um contexto crítico para a promoção de uma saúde
mental positiva. Em Portugal, segundo o último relatório da OCDE (2016), as crianças e jovens até ao 9º ano
de escolaridade têm cerca de 1000 horas de aulas por ano letivo. Na prática, ao passarem mais de 6 horas
por dia na escola, durante aproximadamente 180 dias por ano, este é um espaço por excelência para que
se possam proporcionar atividades, iniciativas e programas relacionadas com a saúde mental positiva. A
forma como a educação está estabelecida, com uma clara falta de equilíbrio entre os recursos, tempo e
atenção destinados ao estudo do mundo, por um lado, e às áreas que constituem a vida pessoal e a
experiência do outro, faz com que as crianças e jovens tenham muitas oportunidades para aprender sobre
matemática, literatura, geografia, ciências, mas poucas hipóteses de aprender algo sobre si mesmos e
sobre as diferentes formas como se podem relacionar e experienciar tudo o que se passa à sua volta
(Popovic, 2013).
No programa ES’COOL (Tomé, Matos, Gomes, Camacho, & Gaspar, in press) quando se aborda a temática
Bem-estar, Felicidade e Otimismo não se pretende ir ao encontro da visão, muitas vezes apresentada pela
comunicação social, em livros de autoajuda ou conselhos populares, que enfatiza a necessidade de “ser
feliz”- a maioria das vezes, com atividades sem grande suporte empírico. Esta visão da psicologia positiva
pode ser uma abordagem superficial de “sentir-se bem” ou “pensamento positivo” que em nada se
enquadra com o rigor científico da psicologia (Kern, Adler, Waters, & White, 2015). Assim, é importante ter
em conta a perspetiva Hedónica e a Eudaimónica do bem-estar e uma compreensão holística dos fatores
envolvidos na felicidade das crianças e adolescentes. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, aumentar
os níveis de felicidade e bem-estar nem sempre implica intervenções de grande dimensão ou impacto. Há
modelos teóricos e investigações que mostram que estas melhorias podem ser alcançadas através de
intervenções baseadas em atividades positivas simples, intencionais e com uma prática regular
(Lyubomirsky & Layous, 2013). Quando se fala na criação de projetos com vista à criação de um contexto
escolar promotor de bem-estar e saúde mental (Tomé et al., in press) pretende-se mais do que criar
pessoas não deprimidas, sem ansiedade, alunos cumpridores das regras estabelecidas e que sejam
capazes de “sobreviver” à escola. Pretende-se ajudar a criar condições para que se formem alunos com
saúde, otimistas, felizes, empáticos, com compaixão, intelectualmente curiosos, vibrantes, resilientes e com
esperança no futuro.
A investigação mostra que pessoas mais felizes têm mais sucesso numa série de áreas da sua vida
incluindo casamento, relações, saúde, longevidade, dinheiro e performance profissional (Boniwell, 2013).
Começando a trabalhar e a promover a felicidade e o bem-estar, dá-se início a todo um processo de
desenvolvimento pessoal. Isto é facilmente constatado em inúmeros estudos onde os níveis de felicidade e
bem-estar apresentados em momentos de avaliação realizados depois da intervenção (follow-ups - passado
um determinado período de tempo) são mais elevados do que os valores apresentados no final das
intervenções. (Conoley & Conoley, 2009). E são vários os exemplos.
65RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
VII – Bem Estar, Felicidade e Otimismo Paulo Gomes
Diga, em duas ou três palavras, o que mais quer para as suas crianças. De seguida, e também em poucas
palavras, refira o que, tradicionalmente, é ensinado nas escolas…
Este exercício foi levado a cabo durante a formação ES´COOL e os resultados foram semelhantes aos
referidos por Seligman (2015) e Seligman, Ernst, Gillham, Reivich e Linkins (2009). As respostas à primeira
questão são sobretudo: “Felicidade”, “Satisfação”, “Cresçam com Valores”, “Sejam bons cidadãos”, “Saúde”
entre outras. Ou seja, prendem-se com o bem-estar. Mas quando se analisa a segunda questão, as
respostas andam à volta de “Conteúdos”, “Saber estar”, “Português”, “Matemática”, “Disciplina”, “Sucesso”,
“Realizar testes”, etc. Resumidamente, como obter sucesso.
Se olharmos para as duas listas percebemos que quase não há qualquer sobreposição entre o que
queremos para as crianças e o que é ensinado nas escolas. Contudo, através da Educação Positiva é
possível conciliar as duas visões. Segundo Seligman et al. (2009) é possível, sem comprometer qualquer
uma das aprendizagens, ensinar as competências necessárias para a promoção da felicidade e as
competências tradicionais associadas à escola e ao sucesso académico e profissional.
A Educação Positiva também é descrita como um termo geral usado para descrever programas e
intervenções empiricamente validados com impacto no bem-estar dos estudantes (White & Waters 2014).
É possível pensar que a educação positiva e a sua implementação em toda a comunidade escolar pode
preconizar a alteração de uma política educacional mais centrada no sucesso académico para uma política
que valorize e promova tanto o sucesso pedagógico quanto as competências psicológicas associadas ao
bem-estar pessoal.
De uma forma simples Seligman e colaboradores (2009) referem que o bem-estar deve ser ensinado nas
escolas por três razões: é um antídoto para a depressão; é uma forma de aumentar a satisfação com a
vida; ajuda a uma melhor aprendizagem e ao desenvolvimento de um pensamento criativo. Na mesma
linha, apresentam os benefícios destes programas que trabalham o bem-estar: promovem competências e
características valorizadas por quase todas as pessoas; produzem melhorias mensuráveis no
comportamento e bem-estar dos alunos; e facilitam a participação ativa dos alunos na sua aprendizagem e
realização.
O papel da escola deve ser olhado e entendido como um contexto crítico para a promoção de uma saúde
mental positiva. Em Portugal, segundo o último relatório da OCDE (2016), as crianças e jovens até ao 9º ano
de escolaridade têm cerca de 1000 horas de aulas por ano letivo. Na prática, ao passarem mais de 6 horas
por dia na escola, durante aproximadamente 180 dias por ano, este é um espaço por excelência para que
se possam proporcionar atividades, iniciativas e programas relacionadas com a saúde mental positiva. A
forma como a educação está estabelecida, com uma clara falta de equilíbrio entre os recursos, tempo e
atenção destinados ao estudo do mundo, por um lado, e às áreas que constituem a vida pessoal e a
experiência do outro, faz com que as crianças e jovens tenham muitas oportunidades para aprender sobre
matemática, literatura, geografia, ciências, mas poucas hipóteses de aprender algo sobre si mesmos e
sobre as diferentes formas como se podem relacionar e experienciar tudo o que se passa à sua volta
(Popovic, 2013).
No programa ES’COOL (Tomé, Matos, Gomes, Camacho, & Gaspar, in press) quando se aborda a temática
Bem-estar, Felicidade e Otimismo não se pretende ir ao encontro da visão, muitas vezes apresentada pela
comunicação social, em livros de autoajuda ou conselhos populares, que enfatiza a necessidade de “ser
feliz”- a maioria das vezes, com atividades sem grande suporte empírico. Esta visão da psicologia positiva
pode ser uma abordagem superficial de “sentir-se bem” ou “pensamento positivo” que em nada se
enquadra com o rigor científico da psicologia (Kern, Adler, Waters, & White, 2015). Assim, é importante ter
em conta a perspetiva Hedónica e a Eudaimónica do bem-estar e uma compreensão holística dos fatores
envolvidos na felicidade das crianças e adolescentes. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, aumentar
os níveis de felicidade e bem-estar nem sempre implica intervenções de grande dimensão ou impacto. Há
modelos teóricos e investigações que mostram que estas melhorias podem ser alcançadas através de
intervenções baseadas em atividades positivas simples, intencionais e com uma prática regular
(Lyubomirsky & Layous, 2013). Quando se fala na criação de projetos com vista à criação de um contexto
escolar promotor de bem-estar e saúde mental (Tomé et al., in press) pretende-se mais do que criar
pessoas não deprimidas, sem ansiedade, alunos cumpridores das regras estabelecidas e que sejam
capazes de “sobreviver” à escola. Pretende-se ajudar a criar condições para que se formem alunos com
saúde, otimistas, felizes, empáticos, com compaixão, intelectualmente curiosos, vibrantes, resilientes e com
esperança no futuro.
A investigação mostra que pessoas mais felizes têm mais sucesso numa série de áreas da sua vida
incluindo casamento, relações, saúde, longevidade, dinheiro e performance profissional (Boniwell, 2013).
Começando a trabalhar e a promover a felicidade e o bem-estar, dá-se início a todo um processo de
desenvolvimento pessoal. Isto é facilmente constatado em inúmeros estudos onde os níveis de felicidade e
bem-estar apresentados em momentos de avaliação realizados depois da intervenção (follow-ups - passado
um determinado período de tempo) são mais elevados do que os valores apresentados no final das
intervenções. (Conoley & Conoley, 2009). E são vários os exemplos.
66 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Numa meta-análise de 213 estudos, que envolveram mais de 270 mil estudantes, Durlak , Weissberg,
Dymnicki, Taylor e Schellinger (2011) salientam que os alunos que participaram em programas de
promoção de competências socioemocionais alcançaram resultados académicos 11% superiores aos dos
outros estudantes.
Já em 2009, Seligman et al. tinham apresentado resultados muito relevantes de dois programas de bem-
estar por eles conduzidos. No Penn Resiliency Program, implementado ao longo de quase duas décadas e
com a participação de 2000 estudantes, constatou-se uma redução e prevenção de sintomas de depressão
e ansiedade, uma diminuição da desesperança e a possibilidade de reduzir problemas comportamentais.
Estas melhorias ao nível do bem-estar ainda se encontravam ao fim de 12 e 31 meses. No outro programa,
o Positive Psychology Programme, os alunos relataram níveis mais elevados de prazer e envolvimento na
escola e os professores referiram que houve uma melhoria nas capacidades relacionadas com a
aprendizagem e com o envolvimento dos alunos. Estes resultados vêm salientar que é possível ensinar e
trabalhar o bem-estar nas escolas sem prejudicar os tradicionais objetivos da escola. Pelo contrário, facilita
e aumenta esses mesmos objetivos.
Outra conclusão, obtida a partir dos relatórios de professores e mães dos alunos, foi a de que a
implementação deste programa melhorou as capacidades sociais, nomeadamente empatia, cooperação,
assertividade e autocontrolo. Estes resultados ainda se mantinham ao fim de 18 meses.
Numa outra revisão de 12 programas de psicologia positiva aplicados nas escolas, Waters (2011) refere
que estes estão positivamente associados com o bem-estar, relacionamentos, satisfação na e com a escola
e melhor performance académica dos alunos.
Em Portugal, o livro “Avaliação e Promoção de Competências Socioemocionais em Portugal”, coordenado
por Pinto e Raimundo (2016), reúne vários programas de natureza empírica, desenvolvidos neste âmbito,
em crianças e jovens do pré-escolar ao ensino secundário.
Uma saúde mental positiva aos 15 e 16 anos mostrou ser preditora da capacidade de desenvolver e
estabelecer uma carreira profissional aos 27-28 anos, bem como da obtenção de mais distinções
académicas (O’Connor, Sanson, Toumbourou, Norrish, & Olsson, 2016). Neste estudo, a saúde mental
positiva surge também associada a um maior envolvimento destes jovens adultos nas atividades da
comunidade e em programas de voluntariado. O desenvolvimento de intervenções para a promoção da
saúde mental positiva na adolescência parece ser, assim, uma promissora forma de facilitar uma transição
eficaz para as responsabilidades e papéis enquanto jovens adultos.
A importância da inteligência emocional, numa perspetiva que contempla as competências cognitivas, mas
também socioemocionais e o seu impacto nas diferentes esferas da vida pessoal é reconhecida numa série
de outros programas e estudos.
As pessoas que são capazes de identificar e usar as suas forças/recursos de forma mais eficaz apresentam
maiores probabilidades de serem bem-sucedidas e de terem maiores níveis de autodisciplina. Esta
capacidade pode prever o sucesso académico do aluno ao longo do tempo com maior precisão do que os
testes de QI tradicionais (White & Murray, 2015).
Como já foi referido, as escolas e o sistema escolar devem adotar uma abordagem holística do bem-estar.
Segundo White e Murray (2015) e com base nas suas experiências de implementação de bem-estar em
todos os aspetos da vida escolar no St Peter’s College, na Austrália, uma instituição que pretenda ser ou
tornar-se uma instituição positiva deve incluir, na sua essência, os seguintes objetivos:
- Construir uma capacidade de liderança executiva na ciência do bem-estar
- Definir e aferir/medir “ bem-estar”
- Aumentar a resiliência da comunidade
- Desenvolver uma estratégia de gestão da mudança
- Investir na capacidade de liderança dos profissionais da escola
- Implementar programas cientificamente comprovados de Educação Positiva
- Avaliar a eficiência do programa
- Desenvolver modelos de mudança organizacional positiva
As abordagens da saúde mental positiva contribuem para um bem-estar psicológico e para uma maior
facilidade na perseguição de objetivos relacionados com um estilo de vida saudável e, simultaneamente,
como o crescimento pessoal (Deci & Ryan, 2007).
Desenvolver uma atitude positiva e ser otimista, motiva crianças, adolescentes e adultos a persistirem, a
trabalharem para encontrar soluções mesmo quando as coisas não parecem as melhores (Hasnain, Wazid,
& Hasan, 2014). Contudo, é importante ter em conta que trabalhar os níveis de otimismo das crianças não
irá impedir que estas encontrem problemas e situações negativas na sua vida, mas irá fazer com que
consigam lidar com esses acontecimentos de modo eficaz e que sejam capazes de se ajustar
psicologicamente da melhor forma (Boman & Mergler, 2014).
67RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
A importância da inteligência emocional, numa perspetiva que contempla as competências cognitivas, mas
também socioemocionais e o seu impacto nas diferentes esferas da vida pessoal é reconhecida numa série
de outros programas e estudos.
As pessoas que são capazes de identificar e usar as suas forças/recursos de forma mais eficaz apresentam
maiores probabilidades de serem bem-sucedidas e de terem maiores níveis de autodisciplina. Esta
capacidade pode prever o sucesso académico do aluno ao longo do tempo com maior precisão do que os
testes de QI tradicionais (White & Murray, 2015).
Como já foi referido, as escolas e o sistema escolar devem adotar uma abordagem holística do bem-estar.
Segundo White e Murray (2015) e com base nas suas experiências de implementação de bem-estar em
todos os aspetos da vida escolar no St Peter’s College, na Austrália, uma instituição que pretenda ser ou
tornar-se uma instituição positiva deve incluir, na sua essência, os seguintes objetivos:
- Construir uma capacidade de liderança executiva na ciência do bem-estar
- Definir e aferir/medir “ bem-estar”
- Aumentar a resiliência da comunidade
- Desenvolver uma estratégia de gestão da mudança
- Investir na capacidade de liderança dos profissionais da escola
- Implementar programas cientificamente comprovados de Educação Positiva
- Avaliar a eficiência do programa
- Desenvolver modelos de mudança organizacional positiva
As abordagens da saúde mental positiva contribuem para um bem-estar psicológico e para uma maior
facilidade na perseguição de objetivos relacionados com um estilo de vida saudável e, simultaneamente,
como o crescimento pessoal (Deci & Ryan, 2007).
Desenvolver uma atitude positiva e ser otimista, motiva crianças, adolescentes e adultos a persistirem, a
trabalharem para encontrar soluções mesmo quando as coisas não parecem as melhores (Hasnain, Wazid,
& Hasan, 2014). Contudo, é importante ter em conta que trabalhar os níveis de otimismo das crianças não
irá impedir que estas encontrem problemas e situações negativas na sua vida, mas irá fazer com que
consigam lidar com esses acontecimentos de modo eficaz e que sejam capazes de se ajustar
psicologicamente da melhor forma (Boman & Mergler, 2014).
68 RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
Referências Bibliográficas
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69RELATÓRIO ES’COOL ISaúde Mental em Teoria (Etapa I)
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