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Relatório e Contas Volume I 1

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Relatrio e Contas Volume I 1

2 Relatrio e Contas Volume I

ndice

Volume I Sntese de Indicadores 5 Destaques 6 Mensagem do Presidente do Conselho de Administrao

Executivo 9 Grupo Millennium 13 Rede Millennium 16 Alteraes ao Governo Societrio 19 rgos e Corpos Sociais 22 Crise Financeira Internacional 24 Estratgia num Contexto Adverso 29 Enquadramento Macro-econmico e Competitivo 37 Anlise Financeira 45 Anlise das reas de Negcio 77 Colaboradores 130 Gesto dos Riscos 132 Aco BCP 161 Participaes Qualificadas 168 Principais Eventos de 2008 171 Demonstraes Financeiras 174 Proposta de Aplicao de Resultados 177 Anexo 179

Volume II Relatrio do Conselho Geral e de Superviso Parecer do Conselho Geral e de Superviso Parecer da Comisso de Auditoria e Risco Contas e Notas s Contas de 2008 Relatrio sobre o Governo da Sociedade

Volume III Relatrio de Sustentabilidade

Relatrio e Contas Volume I 3

4 Relatrio e Contas Volume I

PGINA INTENCIONALMENTE DEIXADA EM BRANCO

Relatrio e Contas Volume I 5

Sntese de Indicadores

Sntese de Indicadores Milhes de euros

2008 2007 2006 2005 % 08/07

Balano Activo total 94.424 88.166 79.045 76.850 7,1%Crdito a clientes (lquido) (1) 72.372 65.650 56.670 52.909 10,2%Recursos totais de clientes 66.264 63.953 57.239 56.363 3,6%Situao lquida e Passivos Subordinados 8.559 7.543 7.562 7.208 13,5%

RendibilidadeProduto bancrio 2.602,0 2.791,9 2.874,7 3.016,9 -6,8%Custos operacionais 1.670,8 1.748,6 1.725,5 1.908,2 -4,4%Imparidades e Provises 589,2 355,1 155,3 170,7 65,9%Impostos sobre lucros 84,0 69,6 154,8 97,4 20,7%Interesses minoritrios 56,8 55,4 52,0 87,0 2,7%Lucro lquido atribuvel ao Banco 201,2 563,3 787,1 753,5 -64,3%

Rcio de eficincia 58,6% 60,3% 61,2% 64,7%Rendibilidade dos capitais prprios mdios (ROE) 3,4% 13,7% 22,0% 24,1%Rendibilidade do activo mdio (ROA) 0,2% 0,6% 1,0% 1,0%

Qualidade do CrditoCrdito vencido h mais de 90 dias / Crdito total (1) 0,9% 0,7% 0,8% 0,8%Crdito com incumprimento / Crdito total (1) 1,4% 1,0% 1,1% 1,1%Imparidade do crdito / Crdito vencido h mais de 90 dias (1) 211,1% 251,8% 284,8% 301,8%Custo do risco 74 pb 39 pb 21 pb 21 pb

Solvabilidade (rcio Banco de Portugal)Core Tier I 5,8% 4,5% 4,9% 5,3%Tier I 7,1% 5,5% 6,6% 7,4%Total 9,2% 9,6% 11,0% 12,9%

Aco BCPCapitalizao bolsista (aces ordinrias) 3.826 10.545 10.112 8.361Resultados lquidos por aco ajustados (euros)

Bsico 0,03 0,13 0,18 0,20 -73,4%Diludo 0,03 0,13 0,18 0,18 -73,4%

Valores de mercado por aco (euros)Mximo 2,646 4,30 2,88 2,39Mnimo 0,685 2,57 2,14 1,88Fecho 0,815 2,92 2,80 2,33

SucursaisActividade em Portugal 918 885 864 909 3,7%Actividade Internacional 885 743 614 642 19,1%

ColaboradoresActividade em Portugal 10.667 10.821 10.876 11.510 -1,4%Actividade Internacional 11.922 10.301 8.449 8.138 15,7%

(1) Exclui o crdito titulado transferido de activos financeiros disponveis para venda.

Nota: os indicadores referentes aos exerccios de 2006 e 2007, incluindo os rcios prudenciais, reflectem os ajustamentos efectuados s contas com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2006.

6 Relatrio e Contas Volume I

Destaques

66.757 71.949 74.076

12.28816.217 20.348

2006 2007 2008

Internacional

Portugal

94.42488.16679.045

Activo TotalMilhes de euros

Crdito a Clientes Bruto *Milhes de euros

Recursos Totais de ClientesMilhes de euros

Produto BancrioMilhes de euros

49.847 55.195 58.860

8.06511.678

14.989

2006 2007 2008

Internacional

Portugal

66.87373.849

57.912

38.413 45.35551.682

18.82618.598 14.582

2006 2007 2008

Fora de Balano

De Balano

63.953 66.264

57.239

2.241,8 2.013,4 1.702,4

632,9 778,5899,6

2006 2007 2008

Internacional

Portugal

2.791,9 2.602,02.874,7

* No inclui crdito titulado

Relatrio e Contas Volume I 7

1.269,4 1.221,9 1.048,3

456,1 526,7 622,5

2006 2007 2008

Internacional

Portugal

1.748,6 1.670,81.725,5

Custos OperacionaisMilhes de euros

Rcio de Eficincia

Rcio de SolvabilidadeResultados LquidosMilhes de euros

58,2%57,3%

53,7%

58,6%60,3%61,2%

2006 2007 2008

Portugal

Consolidado

6,6% 5,5%7,1%

4,4%4,1%

3,4%

2006 2007 2008

Tier I Tier II

11,0%9,6%

10,5%

6,1% 5,6% 6,6%

Situao Lquida / Activos Totais

718,8450,9

107,3

68,3

112,4

93,9

2006 2007 2008

Internacional

Portugal

563,3

201,2

787,1

8 Relatrio e Contas Volume I

PGINA INTENCIONALMENTE DEIXADA EM BRANCO

Relatrio e Contas Volume I 9

Mensagem do Presidente do Conselho de Administrao Executivo

Prezados Accionistas,

O ano de 2008 ficar para histria como um dos anos conturbados e desafiantes para o sistema financeiro mundial. A propagao da crise do mercado de crdito hipotecrio norte-americano de alto risco despoletada em 2007 a outros produtos, mercados financeiros e geografias e a intensificao da turbulncia aps a falncia da Lehman Brothers, conduziram a uma instabilidade nos mercados financeiros sem precedentes, que alastrou rapidamente a outros sectores econmicos e suscitou a interveno significativa de governos e bancos centrais, com vista a pr termo a uma espiral de estmulos negativos, estabilizar o sistema financeiro mundial e mitigar os efeitos da crise na economia.

Este enquadramento teve um impacto significativo nos resultados e nas exigncias de capital das instituies financeiras a nvel mundial, por via de perdas relacionadas com a exposio ao subprime ou a outros produtos financeiros problemticos, do aumento significativo do custo do funding, da desvalorizao dos activos financeiros em carteira ou dados como colateral financeiro e de um maior custo do risco.

Em perspectiva histrica, s encontramos paralelo ao que estamos a viver na bolha dos caminhos de ferro na Amrica do Norte no sculo XIX, na depresso dos anos 30 nos EUA, ou noutra escala, na crise imobiliria e bancria dos pases nrdicos do incio dos anos 90, na dcada perdida do Japo ou, em menor escala, na bolha tecnolgica do incio desta dcada. Em retrospectiva, foram tempos difceis mas, sendo a durao e intensidade das crises maiores ou menores, as sociedades e economias souberam ajustar-se e superar estes perodos exigentes.

Apesar de tudo, o sector bancrio portugus, e o Millennium bcp em particular, mostrou-se resiliente, beneficiando do facto de no ter exposio relevante aos denominados produtos txicos, de polticas prudentes de gesto do risco e tambm de em Portugal no se ter formado nos ltimos anos uma bolha no sector imobilirio, o que permitiu que se evitassem cenrios como os observados em pases onde foi imprescindvel aos Estados assumirem uma interveno bastante mais significativa no sector financeiro.

Ainda que num ano conturbado, no Millennium bcp prosseguimos a estratgia definida, que se revelou apropriada ao enquadramento econmico e financeiro, concedendo naturalmente a maior ateno aos rcios de solvabilidade, gesto da liquidez e a uma gesto de risco prudente, sem deixar contudo de conceder a devida ateno aos nossos clientes, de lanar

10 Relatrio e Contas Volume I

bases para crescimento futuro e de promover melhores nveis de eficincia. O Grupo apresentou neste ano difcil um resultado positivo de 201,2 milhes de euros.

Os resultados lquidos consolidados do Grupo foram influenciados quer por um conjunto de impactos no associados actividade corrente do Banco, designadamente a desvalorizao da participao financeira que detnhamos no Banco BPI, e sem os quais o lucro teria ascendido a 426,2 milhes de euros, quer pelo enquadramento econmico e financeiro, que ditou um aumento do custo do financiamento, a moderao das receitas associadas evoluo dos mercados de capitais e um aumento das imparidades.

Contudo, so de salientar alguns aspectos positivos que, neste contexto adverso, merecem realce: (i) os proveitos operacionais, excluindo as especificidades referidas, aumentaram 7,7%, de onde se destaca o aumento de 12,0% da margem financeira, (ii) continumos a merecer a confiana e a apoiar os nossos clientes particulares e empresariais, com os seus depsitos a aumentarem 14,4%, e o crdito a crescer 10,4%, (iii) num ano em que expandimos a rede de sucursais em 11% no conjunto das geografias onde operamos, os custos operacionais aumentaram apenas 3,3%, tendo-se mesmo verificado uma reduo de 3,8% dos custos em Portugal.

O rcio de solvabilidade elevou-se de 9,6% a 31 de Dezembro de 2007 para 10,5% a 31 de Dezembro de 2008, com o rcio Tier 1 a situar-se em 7,1% e o rcio Core Tier 1 em 5,8%. Neste contexto, e com vista ao reforo da solidez do Banco, foi em Abril de 2008 realizado um aumento de capital de 1,3 mil milhes de euros, que mereceu bom acolhimento pelos Senhores Accionistas e que se revelou importante para enfrentar de forma mais consistente a instabilidade que se veio a intensificar a partir do final do terceiro trimestre de 2008.

Tambm no mbito do vector estratgico do reforo da disciplina de pricing, risco e capital, foi concedido nfase ao ajuste dos prerios das operaes de crdito, adequando-os evoluo dos mercados financeiros internacionais que ditaram um aumento do custo do financiamento e do risco, foram lanadas iniciativas internas com vista optimizao do consumo de capital e, no final do ano, foi acordada a venda da participao de 9,69% que o Banco detinha no capital social do Banco BPI, reduzindo assim a exposio do Banco ao risco proveniente dos mercados accionistas, que influenciou ainda negativamente os resultados do Banco em 2008.

O reenfoque no servio aos Clientes foi outro dos vectores estratgicos prosseguidos, actuao essa que ter contribudo para o Banco merecer a preferncia do maior nmero de novos clientes deste 2000. Em termos de volumes de negcios, verificou-se um crescimento de dois dgitos quer dos recursos de balano quer do crdito. Neste domnio, igualmente de salientar o reforo das equipas que servem directamente os nossos Clientes, bem como a abertura de cerca de 200 novas sucursais nas geografias em que estamos presentes. O Banco promoveu tambm os denominados Encontros Millennium em 5 distritos de Portugal, revelando o compromisso e promovendo o propsito de alcanar uma maior proximidade de toda a estrutura do Banco aos Clientes.

No mbito da expanso orgnica das operaes de retalho nos mercados com maior potencial, foram abertas 51 novas sucursais em Portugal, 86 na Polnia, 13 na Grcia e 49 nas restantes geografias. Durante o ano estabelecemos parcerias com duas instituies angolanas, a Sonangol e o Banco Privado Atlntico, para a aquisio de 49% do Millennium Angola, com vista a dispormos de condies adequadas para desenvolver uma operao de sucesso num mercado com elevado potencial de crescimento e de importncia estratgica para o Grupo. De

Relatrio e Contas Volume I 11

igual modo assumimos uma participao de 10% no capital do Banco Privado Atlntico, instituio de referncia na banca corporate e de investimentos em Angola.

A simplificao das estruturas do Banco com vista a atingir nveis de eficincia mais elevados foi intensificada, tendo sido reorganizadas diversas reas dos servios centrais do banco, revista a organizao do retalho e principais reas dos servios de apoio rede comercial e procedido anlise custo-benefcio de consumos: tudo isto se reflectiu numa reduo de custos de natureza recorrente. Esta optimizao de estruturas e de procedimentos permitiu a optimizao do quadro de pessoal afecto aos servios centrais e, suportado num programa de formao especfico que promove o desenvolvimento de competncias comerciais, foi possvel reforar em Portugal, sem novas admisses e apesar da abertura de novas Sucursais, a rea comercial do Banco.

A actuao ao nvel do reforo da imagem institucional do Banco, beneficiou em primeiro lugar da serenidade da base accionista em torno do projecto do Banco. O Conselho de Administrao Executivo procurou defender o bom nome e reputao do Banco, colaborou com as Autoridades de Superviso no mbito dos processos de contra-ordenao em curso, e promoveu o lanamento do processo de mediao, em colaborao com a CMVM, com vista resoluo dos litgios existentes com pequenos aforradores no mbito das denominadas Campanhas Accionistas realizadas em 2000 e 2001.

Muito se fez num ano difcil, e 2009 no ser porventura menos exigente, mas estamos hoje melhor preparados e menos expostos volatilidade do mercado de capitais, dispomos de um conjunto de negcios com potencial de crescimento relevante e contamos com um conjunto de profissionais competentes e empenhados em gerir bem a exigncia do curto prazo e promover um crescimento rentvel e sustentvel no longo prazo, pelo que estou certo que o Banco estar altura dos desafios que o futuro lhe reserva.

Carlos Santos Ferreira

12 Relatrio e Contas Volume I

PGINA INTENCIONALMENTE DEIXADA EM BRANCO

Relatrio e Contas Volume I 13

Grupo Millennium O Millennium bcp um banco com centro de deciso em Portugal e o maior banco privado

portugus , com uma posio importante no mercado financeiro portugus: o segundo banco em termos de quota de mercado, quer em crdito a clientes (cerca de 26%), quer em recursos totais de clientes (cerca de 24%) e tem a maior rede de distribuio bancria do pas , com 918 sucursais, sendo tambm uma instituio de referncia na Europa e em frica, atravs das suas operaes bancrias na Polnia, Grcia, Moambique, Angola, Romnia, Sua, e tambm na Turquia e Estados Unidos da Amrica. Todas as operaes operam sob a marca Millennium.

O Grupo est enfocado na distribuio de Retalho em Portugal, Polnia, Grcia e Moambique. A actividade em Portugal representa 78% dos activos totais, 80% do crdito a clientes (lquido), 79% dos recursos totais de clientes, e 78% dos resultados lquidos, excluindo itens especficos, verificando-se um contributo crescente das novas operaes em resultado de opes estratgicas, no sentido da diversificao das fontes de rendimento, tomadas no momento prprio. As operaes internacionais representam j 53% dos mais de 22 mil colaboradores do Grupo e 49% do total de 1.803 sucursais. So de destacar a crescente dimenso da operao do Bank Millennium na Polnia, j com 490 sucursais, e uma quota de mercado de cerca 5%, quer em depsitos, quer em crdito a clientes (o Bank Millennium ocupava a segunda posio do ranking no que respeita ao crdito habitao em Setembro de 2008), a liderana destacada do Millennium bim no mercado moambicano e a operao na Grcia com 178 sucursais, das quais 32% tm menos de 3 anos de existncia. Por fim, de realar a expanso da actividade na Romnia, com a abertura de 65 sucursais desde o incio de operaes em 2007. A Banca Millennium captou 105,4 milhes de euros em recursos totais de clientes e concedeu 236,2 milhes de euros de crdito a clientes, em 2008.

49% das nossas Sucursais esto localizadas fora de Portugal53% dos nossos Colaboradores trabalham fora de Portugal

OutrosMoambiqueGrciaPolniaPortugal

(Dezembro de 2008)

Milhes de euros

Um Grupo lder enfocado no negcio de Retalho em Portugal, Polnia, Grcia e Moambique

Fonte: As quotas de mercado em Portugal so baseadas na informao divulgada publicamente pela Associao Portuguesa de Bancos. As quotas de mercado na Polnia so divulgadas pela Associao de Bancos Polacos e pela Associao Polaca de Gestoras de Activos. As quotas de mercado na Grcia so baseadas na inf ormao divulgada pelo Banco da Grcia e pelos Bancos Gregos. As quotas de mercado em Moambique so baseadas na informao divulgada pelo Banco de Moambique.

8.125 4.794 1.3478.241

3.558 1.339

57.622

484

52.322

804

25,8% 24,5%Excluindo securitizaes

Dezembro 2008

7.0491.5571.554

10.667

1762 117178490

918

100

11,5% 5,6% 2,0% 1,1%

Crdito a Clientes (lquido,

excluindo titulado)

Recursos de Clientes

Crdito a Clientes (lquido)

Recursos de Clientes

Crdito a Clientes (lquido)

Recursos de Clientes

Crdito a Clientes (lquido)

Recursos de Clientes

Colaboradores Sucursais Colaboradores Sucursais Colaboradores Sucursais Colaboradores Sucursais

em Crdito Habitao em Dezembro de

2008

em Depsitosem Dezembro de

2008

Dezembro de 2008

em Crdito em Dezembro de

2008

em Depsitosem Novembro

de 2008

Quota de Mercado 41,2% 36,8%

em Crdito em Outubro de

2008

em Depsitosem Outubro de

2008

Colaboradores Sucursais

Crdito a Clientes (lquido)

Recursos de Clientes

14 Relatrio e Contas Volume I

O Grupo oferece uma ampla gama de produtos e servios bancrios e servios financeiros relacionados, designadamente contas ordem, meios de pagamento, produtos de poupana, de investimento, crdito imobilirio, crdito ao consumo, banca comercial, leasing, factoring, seguros, private banking e gesto de activos, entre outros, servindo a sua base de clientes de forma segmentada. Dispondo da maior rede de sucursais em Portugal e de uma crescente rede nos pases onde opera, o Grupo oferece ainda canais de banca distncia (servio de banca por telefone e banca pela Internet), que funcionam tambm como pontos de distribuio dos produtos e servios do Millennium.

O Banco Comercial Portugus S.A. (BCP) foi criado em 1985, na sequncia da desregulamentao do sistema bancrio portugus, a qual possibilitou o estabelecimento de bancos comerciais de capital privado. Desde a fundao, o BCP destaca-se pelo seu dinamismo, inovao, competitividade, rendibilidade e solidez financeira, afirmando-se como lder destacado em vrias reas de negcio financeiro em Portugal e como instituio de referncia a nvel internacional na distribuio de produtos e servios financeiros. O Banco escalou diversos patamares de crescimento, tendo sido protagonista na aquisio, reestruturao e integrao de diversas instituies financeiras em Portugal.

O crescimento do BCP foi catalisador de evoluo do sistema bancrio portugus para um dos mais desenvolvidos, modernos e inovadores da Europa. As aces do BCP esto admitidas cotao na Euronext Lisbon, sendo a capitalizao bolsista em 31 de Dezembro de 2008 de 3,8 mil milhes de euros.

O modelo de organizao em 31 de Dezembro de 2008 baseia-se em cinco unidades de negcio Banca de Retalho, Empresas e Corporate, Private Banking e Asset Management e Negcios na Europa, e duas unidades de suporte Servios Bancrios e reas Corporativas. As primeiras cinco reas integram os comits de coordenao, cada um dos quais liderado por dois membros do Conselho de Administrao Executivo, que concentram as principais responsabilidades em cada rea. A responsabilidade pela Banca de Investimento deixou de estar integrada no mbito dos Comits de Coordenao, por dispor de modelo de governo especfico. A coordenao global das operaes em frica e na Amrica foi assumida directamente pelos Administradores do BCP responsveis por essas operaes, por ter sido considerado que as especificidades dos mercados em que actuam justificam tratamento individualizado, e que, consequentemente, no beneficiariam da integrao em Comits de Coordenao.

Em 31 de Dezembro de 2008, o Grupo tinha, de acordo com as Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS), um activo total de 94.424 milhes de euros e recursos totais de clientes de 66.264 milhes de euros. O crdito concedido a clientes (lquido, excluindo crdito representado por ttulos) era de 72.372 milhes de euros. O rcio de solvabilidade consolidado, calculado de acordo com as normas do Banco de Portugal, situava-se em 10,5% (Tier I em 7,1%).

A estratgia actual do Millennium bcp, enfocada no Retalho, centrada no reforo da disciplina de pricing, do risco e de capital e em alcanar nveis de eficincia superiores; a posio relevante no sistema financeiro portugus e a fora do franchise domstico; a expanso selectiva das operaes internacionais, providenciando diversificao das fontes de rendimento e perspectivas de crescimento nos mercados com grande potencial de desenvolvimento do sistema bancrio; e os bons indicadores relativos de qualidade dos activos e dos rcios de capital, continuaram a merecer das principais agncias de rating Standard & Poors, Moodys

Relatrio e Contas Volume I 15

e Fitch Ratings uma avaliao que se traduz em elevadas notaes de rati ng. O BCP apresenta notaes de rating de longo prazo elevadas: Aa3 Moodys; A Standard & Poors (S&P); e A+ Fitch, todas com outlook estvel, com excepo da S&P, cujo outlook negativo.

Moody's Ratings 22 Outubro de 2008Depsitos Aa3/P-1

Outlook Estvel

Solidez financeira C +

Dvida snior - moeda local Aa3

Subordinada MTN -- moeda local A 1

Aces preferenciais A 2

Outras de curto prazo - moeda local P-1

Bank Millennium S.A.Outlook Positivo (m)

Depsitos A3/P-2

Solidez Financeira D

BCP Finance Bank, Ltd.Outlook Estvel

Dvida snior garantida Aa3

Dvida subordinada garantida A 1

Papel comercial garantido P-1

Outra de curto prazo garantida P-1

Standard & Poor's 14 Outubro de 2008

Dvida snior A/Negativo/A-1

Certificados de depsito A/A-1

Papel comercial moeda local A-1

Papel comercial A-1

BCP Finance Bank Ltd.

Dvida snior A

Dvida subordinada A-

Papel comercial A-1

BCP Finance Co.

Aces preferenciais BBB+

Fitch Ratings 1 Dezembro de 2008

Rating de crdito LP/CP A+/F1

Outlook Estvel

Individual B

Suporte 2

Floor de suporte do Rating BBB

Ratingltimas Aces de Rating em 2008

Reafirmao, pela Fitch Ratings, em 1 de Dezembro de 2008, dos ratings do Banco Comercial Portugus, S.A. (Millennium bcp), mantendo o Outlook em estvel.

Reafirmao, pela Moodys, em 22 de Outubro de 2008, dos ratings atribudos ao BCP, designadamente solidez financeira de C+, de longo prazo em Aa3 e de curto prazo em P-1, mantendo o Outlook em estvel.

Reafirmao, pela Standard & Poor's, em 14 de Outubro de 2008, dos ratings do Banco Comercial Portugus, S.A. (Millennium bcp), com reviso do Outlook de estvel para negativo.

16 Relatrio e Contas Volume I

Rede Millennium

Redes de distribuio 1.803 sucursais Millennium

2008 2007 2006Var.%08/07

Total em Portugal 918 885 864 3,7%

Polnia 490 410 354 19,5%

Grcia 178 165 148 7,9%

Turquia 18 16 16 12,5%

Moambique 100 85 75 17,6%

Angola 16 9 3 77,8%

EUA 18 18 18 0,0%

Romnia 65 40 0 62,5%

Total Internacional 885 743 614 19,1%

Total do Grupo 1.803 1.628 1.478 10,7%

Angola0,9%

Turquia1,0%

Moambique5,5%

Polnia27,2%

Grcia9,9%

EUA1,0% Romnia

3,6%

Portugal50,9%

Decomposio das Sucursais em 31 de Dezembro de 2008

Angola0,9%

Turquia1,0%

Moambique5,5%

Polnia27,2%

Grcia9,9%

EUA1,0% Romnia

3,6%

Portugal50,9%

Decomposio das Sucursais em 31 de Dezembro de 2008

Relatrio e Contas Volume I 17

4,9 milhes de clientes

2.589 mil Clientes

emPortugal

555 milMoambique

20 milTurquia

502 milGrcia

1.153 milPolnia

17 milAngola

26 milEUA 23 mil

Romnia

N mero de Clientes por Pas a 31 de Dezembro de 2008

2.296 mil Clientes no

Exterior

18 Relatrio e Contas Volume I

PGINA INTENCIONALMENTE DEIXADA EM BRANCO

Relatrio e Contas Volume I 19

Alteraes ao Governo Societrio

Deliberaes da Assembleia Geral de 15 de Janeiro de 2008 relativas aos rgos e Corpos Sociais

Na Assembleia Geral de 15 de Janeiro de 2008 foram tomadas as seguintes deliberaes relativas aos rgos e Corpos Sociais:

I. Foi aprovada a proposta de eleio da Mesa da Assembleia Geral, com a seguinte composio:

Presidente: Antnio Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro

Vice-Presidente: Manuel Antnio de Castro Portugal Carneiro da Frada.

II. Foi eleito um novo Conselho de Administrao Executivo (CAE), para o trinio 2008/2010:

Presidente: Carlos Jorge Ramalho dos Santos Ferreira

Vice-Presidentes: Armando Antnio Martins Vara

Paulo Jos de Ribeiro Moita de Macedo

Vogais: Lus Maria Frana de Castro Pereira Coutinho

Vtor Manuel Lopes Fernandes

Jos Joo Guilherme

Nelson Ricardo Bessa Machado.

III. Foram eleitos os seguintes membros para o Conselho Geral e de Superviso, para o preenchimento das vagas existentes, at ao termo do trinio 2006/2008:

Membros Efectivos: Antnio Lus Guerra Nunes Mexia

Manuel Domingos Vicente

Membro Suplente: ngelo Ludgero da Silva Marques.

IV. Foi ratificada a cooptao dos seguintes trs membros para o Conselho Superior para o mandato de 2005/2008:

Lus Manuel de Faria Neiva dos Santos

Manuel Domingos Vicente

Maarten W. Dijkshoorn.

20 Relatrio e Contas Volume I

Sntese das alteraes introduzidas na gesto executiva aps a Assembleia Geral de 15 de Janeiro de 2008

Os princpios subjacentes s alteraes introduzidas no domnio da gesto executiva consistem na simplificao das estruturas de governao que emanam do CAE, o que acrescenta fluidez e transparncia ao processo de deciso, e na ideia de que a proliferao de rgos e estruturas de governo com mbito de actuao transversal a diversas reas dilui e dispersa as responsabilidades, quer ao nvel da deciso, quer ao nvel do controlo.

Alteraes introduzidas:

Foi criado o Comit de Coordenao Corporate e Empresas, substituindo os dois comits que anteriormente abordavam estes segmentos (Comit Corporate e Banca de Investimento e o Comit de Empresas);

A responsabilidade pela Banca de Investimento deixou de estar integrada no mbito dos Comits de Coordenao, por dispor de modelo de governo especfico;

Foi criado o Comit de Coordenao dos Negcios na Europa, substituindo o anterior Comit de Negcios no Exterior;

A coordenao global das operaes em frica e na Amrica foi assumida directamente pelos Administradores do BCP responsveis por essas operaes, por ter sido considerado que as especificidades dos mercados em que actuam justificam tratamento individualizado, e que, consequentemente, no beneficiariam da integrao em Comits de Coordenao;

Manuteno dos seguintes Comits de Coordenao:

Comit de Coordenao de Retalho;

Comit de Coordenao Private Banking e Asset Management;

Comit de Coordenao de Servios Bancrios.

Racionalizao e adaptao das Comisses que emanam do Conselho de Administrao Executivo:

Supresso da Comisso de Formao e Desenvolvimento Profissional, cuja responsabilidade passou a ser assumida pelo CAE;

Supresso da Comisso de Responsabilidade Social, cuja responsabilidade passou a ser assumida pelo CAE;

Supresso da Sub-Comisso de Relaes Sociais, cuja responsabilidade passou a ser assumida pelo CAE;

Supresso da Sub-Comisso de Mecenato e Donativos, cuja responsabilidade passou para a Direco de Comunicao/Secretaria Geral;

Supresso da Comisso de Auditoria, Segurana e AML, cujas matrias foram assumidas por outras estruturas, no mbito dos novos princpios organizativos de Gesto e Controlo do Risco;

Alterao da Comisso de Riscos e respectivas Sub-Comisses, no mbito dos novos princpios organiz ativos de Gesto e Controlo do Risco, com reduo do nmero de Sub-Comisses;

Relatrio e Contas Volume I 21

Transformao da Sub-Comisso de Acompanhamento do Fundo de Penses em Comisso;

Implementao da Comisso de Planeamento e Alocao de Capital e Gesto de Activos e Passivos (CA LCO).

As matrias que as diversas Comisses abordam so de tal forma importantes que merecem a

mxima ateno do CAE. H matrias que, pela sua especificidade e abrangncia, justificaram a formalizao de Comisses especficas (CALCO, Riscos, Fundo de Penses, Stakeholders), sendo que, por serem em nmero reduzido, merecem tambm elas maior ateno por parte do CAE.

Deliberaes do Conselho Geral e de Superviso

Em 21 de Abril de 2008, o Conselho Geral e de Superviso (CGS) deliberou, nos termos da lei e do n. 1 do artigo 13 dos Estatutos do Banco, avocar a competncia para fixar a remunerao do Conselho de Administrao Executivo, designando para esse efeito a Comisso de Seleco, que passou a adoptar a denominao de Comisso de Seleco e Remuneraes, mantendo-se as anteriores competncias de coadjuvar e aconselhar o CGS em matrias relativas determinao do perfil de competncias e composio das estruturas e rgos internos e efectuar recomendaes ao CGS sobre listas de membros para os rgos e corpos sociais do Banco e das empresas participadas e na formulao de parecer sobre o voto anual de confiana nos membros dos rgos de administrao.

Informao detalhada sobre o Governo do Grupo Millennium encontra-se no Relatrio sobre o Governo da Sociedade que, em conjunto com o Relatrio do Conselho Geral e de Superviso e as Contas e Notas s Contas, constitui o Volume II do presente Relatrio.

Modelo de Governo Corporativo

Comisses EspecializadosComits de Coordenao

Revisor Oficial de Contas (ROC)

Conselho Geral e de Superviso

Retalho Corporate e Empresas Private Banking e Asset ManagementNegcios na Europa Servios Bancrios

Comisso de Planeamento e Alocao de Capital e Gesto de Activos e Passivos (CALCO*) Comisso de Riscos Comisso de Acompanhamento do Fundo de Penses Comisso de Stakeholders

Comisso de Auditoria e Risco Comisso de Seleco e Remuneraes Comisso de Governo da Sociedade

Assembleia Geral

Conselho de Remuneraes e PrevidnciaConselho Superior

Provedor do Cliente

reas Corporativas

Conselho de Administrao Executivo

Millennium bcp Investimento

* CALCO = Capital, Assets and L iabilities Management Committee

22 Relatrio e Contas Volume I

rgos e Corpos Sociais

data de 31 de Dezembro de 2008

Mesa da Assembleia Geral

Presidente: Antnio Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro Vice-Presidente: Manuel Antnio de Castro Portugal Carneiro da Frada Secretrio: Secretrio da Sociedade (Ana Isabel dos Santos de Pina Cabral)

Conselho de Administrao Executivo

Presidente: Carlos Jorge Ramalho dos Santos Ferreira Vice-Presidentes: Armando Antnio Martins Vara Paulo Jos de Ribeiro Moita de Macedo Vogais: Jos Joo Guilherme Nelson Ricardo Bessa Machado Lus Maria Frana de Castro Pereira Coutinho Vtor Manuel Lopes Fernandes

Conselho Geral e de Superviso

Presidente: Gijsbert J. Swalef Vice-Presidente: Antnio Manuel Ferreira da Costa Gonalves Vogais: Antnio Lus Guerra Nunes Mexia Francisco de la Fuente Snchez Joo Alberto Ferreira Pinto Basto Jos Eduardo de Faria Neiva dos Santos Keith Satche ll Lus de Melo Champalimaud Lus Francisco Valente de Oliveira Manuel Domingos Vicente Mrio Branco Trindade Vogal Suplente: ngelo Ludgero da Silva Marques

Revisor Oficial de Contas

Efectivo: Vtor Manuel da Cunha Ribeirinho (ROC n. 1081) Suplente: Ana Cristina Soares Valente Dourado (ROC n. 1011)

Relatrio e Contas Volume I 23

Conselho Superior

Presidente: Antnio Manuel Ferreira da Costa Gonalves Vice-Presidentes: Joo Alberto Ferreira Pinto Basto Gijsbert J. Swalef Membros: ngelo Ludgero da Silva Marques Antnio Augusto Serra Campos Dias da Cunha Antnio Lus Guerra Nunes Mexia Dimitrios Contominas E. Alexandre Soares dos Santos Francisco de La Fuente Snchez Henrique Jaime Welsh Hiplito Mendes Pires Jos de Sousa Cunhal Melero Sendim Jos Eduardo de Faria Neiva dos Santos Jos Manuel Pita Goes Ferreira Josep Oliu Creus Keith Satchell Lus de Melo Champalimaud Lus Francisco Valente de Oliveira Lus Manuel de Faria Neiva dos Santos Maarten W. Dijkshoorn Manuel Alfredo da Cunha Jos de Mello Manuel Domingos Vicente Manuel Roseta Fino Mrio Branco Trindade Mrio Fernandes da Graa Machungo Ricardo Herculano Freitas Fernandes Vasco Lus S. Quevedo Pessanha Antnio Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro, Presidente da Mesa

da Assembleia Geral Carlos Jorge Ramalho dos Santos Ferreira, Presidente do Conselho

de Administrao Executivo

24 Relatrio e Contas Volume I

Crise Financeira Internacional

No decurso de 2008, a instabilidade nos mercados financeiros, que se iniciou no Vero de 2007, intensificou-se medida que as dificuldades na obteno de liquidez evoluam para um contexto mais grave de risco de incumprimento, de recesso econmica e de instabilidade social. Se no segundo trimestre ainda se registou uma breve recuperao nos mercados financeiros, no perodo subsequente, os ef eitos negativos sobre a actividade econmica, decorrentes da conjugao de condies financeiras agravadas e do aumento do preo das matrias-primas, avivaram o sentimento de averso ao risco ao ponto de encerrar mercados, com consequncias violentas nos preos dos activos financeiros. As preferncias dos investidores alteraram-se profundamente a favor de activos de liquidez e de qualidade de crdito elevadas em detrimento de investimentos alternativos de maior risco e de liquidez incerta.

Confrontados com o avolumar de riscos sistmicos e com o desenvolvimento de dinmicas auto sustentadas de reduo do valor dos activos financeiros e dos activos reais, governos e bancos centrais avanaram com resolues inovadoras sobre o funcionamento dos mercados e de suporte actividade econmica com o objectivo de proporcionar uma maior estabilidade aos mercados financeiros e o regresso a um clima de confiana.

No obstante a dimenso e abrangncia das medidas, os indicadores de mercado disponveis sugerem, ainda, uma reduzida confiana dos operadores na normalizao dos mercados a breve prazo. O modelo financeiro em vigor nos ltimos anos revelou-se com deficincias na responsabilidade pela originao do risco de crdito; na dimenso de efeitos colaterais; no modelo de superviso; na gesto dos conflitos de interesses; na substncia do relato financeiro; no enquadramento normativo; na avaliao do grau de interdependncia entre mercados e geografias de reforma complexa e prolongada, de modo a repor um nvel de conf iana mnimo imprescindvel para que os mercados financeiros exeram a sua funo de afectao eficiente da poupana.

A crise nos diversos mercados e por tipo de activo financeiro

Os receios quanto robustez de algumas instituies financeiras e com o impacto da instabilidade financeira na evoluo da actividade econmica reflectiram-se numa forte desvalorizao das cotaes bolsistas. Os nveis de volatilidade implcita atingiram nveis extremos, tal como as valorizaes relativas definidas por diversos mltiplos de mercado (apesar das expectativas de gerao de resultados terem vindo a ser ajustadas em conformidade). Os principais ndices accionistas encerraram o ano com perdas na ordem de 40% a 50% e com oscilaes intra-dirias de grande amplitude nos ltimos meses do ano.

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Volatilidade implcita SP500 (escala da esquerda)

Taxa de juro dos Bilhetes do Tesouro 3m EUA (escala da direita)

Fonte: Datastream

2008 um ano atpico nos mercados financeiros

Volatilidade do mercado accionista e taxas de juro de curto prazo nos EUA (em %)

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ndice S&P500 em logaritmo (escala da esquerda)

Dividend yield S&P500 (escala da direita)

Fonte: Datastream

Correces expressivas nos mercados accionistas

Nvel do ndice bolsista S&P500 dos EUA e respectivodividend yield (em %)

Relatrio e Contas Volume I 25

O impacto nos mercados de crdito foi particularmente expressivo a partir do Vero, na sequncia da falncia de instituies financeiras de charneira dos EUA. Estes eventos contriburam para estender a percepo de danos potenciais a outros detentores de interesses financeiros para alm das aces ou instrumentos financeiros complexos. O custo do risco aumentou exponencialmente no espao de semanas, superando os nveis atingidos na crise financeira do incio da dcada e complicando uma conjuntura j de si dbil nos mercados primrios de dvida. Mesmo no caso de instrumentos de qualidade de crdito superior, como as obrigaes hipotecrias, a exigncia de prmios de risco elevados e as restries de balano praticamente inviabilizaram novas emisses. Nas titularizaes de crdito, apesar de o mercado secundrio se revelar igualmente pouco activo, o alargamento da lista de activos elegveis admitidos para efeitos de poltica monetria contribuiu para a subsistncia do mercado, mas com a diferena fundamental de no existir uma colocao em investidores finais e a emisso ter por destino as operaes com o banco central. Nos ltimos meses do ano, a elevada correlao exibida entre os preos de instrumentos de dvida e o valor das aces atesta o grau de apreenso dos investidores com o retorno do capital. Nestas circunstncias adversas, as garantias do Estado actuaram como facilitadores para a emisso de dvida bancria de mdio prazo nos mercados internacionais.

A persistncia da instabilidade financeira e o agravamento da conjuntura recessiva beneficiaram os instrumentos financeiros de mercados com maior profundidade e de qualidade de crdito superior, tendo-se pontualmente verificado taxas de juro negativas em ttulos do tesouro norte-americano de prazos muito curtos. As taxas de juro dos ttulos de dvida pblica desceram significativamente com a inverso do contexto inflacionista e com a conjuntura crescentemente recessiva, mas os prmios de risco entre emitentes soberanos aumentaram, em funo da liquidez do mercado e da robustez financeira do emitente, nomeadamente reflectindo a condio financeira actual e o grau de suporte implcito nos programas pblicos de revitalizao da actividade econmica e de suporte aos sistemas financeiros respectivos. Na Europa, a preferncia por liquidez e a fuga para a qualidade beneficiou em particular os ttulos do Tesouro alemes, verificando-se nos mercados de dvida pblica um alargamento pronunciado dos prmios de risco face s emisses de referncia.

O sector dos produtos de investimento alternativos (hedge funds) revelou perdas significativas com a reduo brutal da liquidez dos mercados, com as restries a alguns tipos de transaces, com a falncia de empresas e de produtos financeiros correlacionados e com o reconhecimento de fraudes na indstria. O nvel de endividamento elevado e de curto prazo tpico deste tipo de entidades revelou-se factor de vulnerabilidade crucial, que potenciou a venda forada de activos para efeitos de reembolso de dvida ou para cobrir resgates.

Nos mercados emergentes, o perodo de prmios de risco de crdito reduzidos terminou subitamente. Os investidores alteraram a composio das suas carteiras a favor de mercados mais lquidos ante o receio de que situaes de incapacidade financeira por parte de entidades soberanas se tornassem mais comuns, semelhana do que ocorreu em alguns pases europeus e asiticos e que exigiu diferentes graus de ajuda externa.

No mercado cambial, o contexto de instabilidade financeira revelou-se favorvel s principais moedas, tais como o dlar norte-americano e o euro. O iene e, em menor grau, o franco suo, apreciaram-se em virtude da reverso abrupta das aplicaes em moedas de taxa de juro mais elevada, designadamente as realizadas em moedas do Leste Europeu e do Sudeste Asitico. A quebra na convertibilidade da coroa islandesa no quarto trimestre apressou a fuga de investimentos similares, verificando-se ento uma preferncia pelo euro, com repercusso

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Fonte: Datastream

Custo do risco com aumento exponencialSpreads dos ndices Iboxx empresas Europeias, todas as maturidades, face a dvida europeia soberana (em p.b.)

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ndice de valor de hedge funds (esc.esq)

Prmio de risco mercados emergentes (p.b.; esc dta)

Fonte: Bloomberg

Activos Financeiros de Risco

Spread dvida de mercados emergentes (JPMorgan) e valor lquido de hedge funds (Hedge FundResearch) (em p.b.)

26 Relatrio e Contas Volume I

relativa noutras moedas satlites, como as moedas escandinavas e a libra esterlina, que registaram depreciaes acentuadas face ao euro. A reduo dos riscos inflacionistas e a intensificao da conjuntura recessiva repercutiu-se tambm numa alterao da poltica cambial de algumas economias em desenvolvimento. No passado, o ritmo de crescimento acelerado nestes pases e o fluxo de capitais geraram presses inflacionistas, que eram parcialmente mitigadas pela consequente valorizao das respectivas moedas. Perante a alterao das circunstncias, alguns pases (como a China e a Rssia) abandonaram explicitamente a poltica cambial de moeda forte ento prosseguida.

O comportamento do mercado monetrio ao longo de 2008 sintetiza todas estas influncias. A incerteza com a robustez financeira da contraparte; a instabilidade na acessibilidade a fundos no mercado de capitais, o contexto propcio eficcia dos rumores, e a discriminao dos investidores em relao a emitentes; estabeleceram dificuldades acrescidas s instituies de crdito na obteno de financiamento nos seus mercados tradicionais interbancrios. Em contrapartida, aumentou a dependncia do recurso directo ao banco central para financiamento de curto prazo. A alterao nas condies financeiras teve profundas implicaes nos planos de financiamento estratgico das instituies e no custo dos fundos e do risco para a economia em geral, por via do efeito de contgio exercido sobre as principais taxas de juro indexantes. O elevado nvel de incerteza produziu alteraes na forma de funcionamento dos prprios mercados, com excessiva concentrao das operaes em transaces de muito curto prazo e preferencialmente com contrapartes prximas, limitando uma redistribuio de poupana mais eficiente. A globalizao do mercado exigiu acordos de cedncia de liquidez transnacionais, nomeadamente em dlares norte-americanos e euros, para aliviar restries de liquidez de curto prazo.

O funcionamento nos mercados monetrios interbancrios manteve-se deficiente, com transaces concentradas em prazos curtos, prmios de risco elevados e pouca redistribuio de fundos entre os participantes. Entre as medidas anunciadas para tentar desbloquear este impasse destacam-se a reduo pronunciada das taxas de juro para nveis mnimos histricos, para aliviar o esforo absoluto com o servio da dvida dos agentes econmicos; a extenso dos prazos de cedncia de liquidez; a suavizao dos critrios de classificao de activos que servem de garantia contra emprstimos do banco central e a reposio do diferencial da taxa de juro do depsito dirio face taxa de refinanciamento principal de modo a desincentivar os depsitos de liquidez excedentria junto do Banco Central Europeu (BCE). Nos EUA e noutros pases destaca-se ainda a assuno explcita de uma poltica monetria de quantitative easing, isto , de expanso da base monetria e actuao alargada da poltica monetria sobre instrumentos de dvida de prazos mais longos, pblica ou semi-privada e a interveno dos poderes pblicos com vista a amortecer os impactos negativos na actividade econmica que resultem do actual processo de ajustamento de nveis de endividamento insustentveis.

Moedas seleccionadas por geografias

(var %) 2007 2008

Dlar norte-americano -7,47 8,04

Euro 5,64 4,65

Iene Japons 0,20 33,16Yuan Chins 1,97 8,39

Rupia Indiana 5,70 -14,67

Rand Africa Sul -3,11 -23,85

Real Brasileiro 14,81 -22,49

Rublo Russo -0,57 -12,34

Evoluo dos ndices de taxas de cmbio efectivas

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Euribor 3m

Taxa de refinanciamento principalMdia da taxa Eonia 3m

Fonte: Datastream

Mercados interbancrios na rea do Euro

Taxa de refinanciamento principal, Euribor 3m e mdia da taxa Eonia para os 3 meses seguintes (em %)

Relatrio e Contas Volume I 27

Impacto no Sistema Financeiro Internacional

Averso ao risco bloqueia mercados interbancrios

Os mercados financeiros internacionais tm apresentado grande instabilidade, afectados pela incerteza que emana da dificuldade em lidar simultaneamente com a complexidade de produtos inovadores, com a necessidade de reduzir o endividamento e os riscos em balano, com o agudizar da conjuntura recessiva, com as falncias e dificuldades de empresas-referncia internacionais, com as lacunas detectadas nos modelos e nos indicadores de avaliao de risco. O clima de incerteza e averso ao risco instalados infligiram danos relevantes nos mercados de capitais, em particular no mercado interbancrio, onde a crise de confiana elevou a preservao de capital a factor central na deciso da aplicao de fundos.

Este contexto afectou profundamente o comportamento dos mercados interbancrios, constrangidos pelo risco de contraparte, produzindo um alargamento exponencial dos prmios de risco e a virtual ausncia de transaces sem garantia para prazos superiores a um ms, cessando uma das suas funes mais importantes de redistribuio de liquidez. No mercado de capitais, a emisso lquida de dvida bancria na rea do euro tornou-se negativa no quarto trimestre de 2008, colocando em evidncia as crescentes dificuldades de refinanciamento. Na ausncia de transaces subjacentes, as taxas de juro indexantes de prazos superiores passaram a constituir uma referncia terica de um mercado virtual, com consequncias negativas na eficcia da poltica monetria.

Interveno das autoridades para facilitar o financiamento e repor a confiana no sistema financeiro

Os bancos centrais tm actuado no sentido de repor o funcionamento regular dos mercados interbancrios, atravs da reformulao dos seus instrumentos e da operativa de cedncia de fundos ao mercado. Verificam-se, porm, alguns efeitos perversos, nomeadamente a crescente dependncia do mecanismo de transaces directas entre banco central e banco comercial, aferido pelos elevados nveis de depsitos a taxas de juro penalizadoras junto do banco central. A indstria financeira e as autoridades de superviso tm tambm accionado diversos planos de contingncia, compreendendo maior exigncia de informao coordenao e proximidade entre supervisores e indstria; procura de solues de mercado, quando possvel, para o reforo da condio financeira das instituies financeiras (processos de fuso, reduo da exposio ao risco, garantias bancrias para emisso de dvida bancria ou disponibilidade de fundos com contrapartidas para a recapitalizao de instituies) ou, no limite, atravs da interveno directa na gesto, quando imperativo para a defesa dos depositantes e da estabilidade do sistema financeiro. Os impactos destas medidas ainda se revelam pouco expressivos, sob a forma de reduo das principais taxas de juro indexantes da economia, mas ainda sem efeitos relevantes no custo do risco praticado e na agilizao das transaces. No mercado de financiamento por grosso, o recurso a dvida garantida pelo Estado suportou uma ligeira recuperao nas emisses de dvida bancria no final do ano, mas a concorrncia para a captao de fundos intensa e limita a reduo no custo de financiamento.

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Facilidade diria de depsito (esc. esq.)

Facilidade diria cedncia emergncia (esc. dta.)

Fonte: Datastream

Depsitos junto do BCE assinalam elevado receio com risco de crdito de contrapartesVolumes de depsitos e cedncia de fundos com o BCE (em mil milhes de euros )

28 Relatrio e Contas Volume I

PGINA INTENCIONALMENTE DEIXADA EM BRANCO

Relatrio e Contas Volume I 29

Estratgia num Contexto Adverso

O novo Conselho de Administrao Executivo, eleito na Assembleia Geral de 15 de Janeiro de 2008, props -se reforar a estabilidade do governo do Millennium bcp e o enfoque na gesto do Banco, tendo definido, em Fevereiro de 2008, uma nova Viso Estratgica. O Millennium bcp aspira ser um Banco de referncia no servio ao cliente, com base em plataformas de distribuio inovadoras, com crescimento enfocado no Retalho, em que mais de dois teros do capital estar alocado ao Retalho e empresas, em mercados de elevado potencial, e ainda atingir um nvel de eficincia superior, traduzido num compromisso com um rcio de eficincia que se situe em nveis de referncia para o sector, e com reforada disciplina na gesto de capital.

O Programa Millennium 2010, inicialmente lanado em Junho de 2007, viu o seu plano de negcios revisto em Fevereiro de 2008. O Programa Millennium 2010 revisto assentou em cinco pilares estratgicos:

I. Recentrar nos clientes, dinamizar a actividade comercial e melhorar nveis de servio;

II. Reforar a disciplina de pricing, de risco e de gesto do capital;

III. Expandir as operaes de Retalho em mercados com maior potencial;

IV. Simplificar o Banco com vista a atingir nveis superiores de eficincia;

V. Fortalecer a reputao institucional.

Programa Millennium 2010

Simplificar o Banco para alcanar nveis

superioresde eficincia

Reforar disciplina de pricing, risco e

capital

Fortalecimento da reputao institucional

Expandir operaesde retalho nos mercados de

maior potencial

Reenfoque nos clientes, estimulando a actividadecomercial e melhorando

nveis de servio

Banco de referncia no Servio ao Cliente, com Crescimento focado no Retalho em Mercados de elevado potencial, e nvel de Eficincia superior

Responde s principais preocupaes de mercado (eficincia, risco e enfoque)

e

defensiva: exclui ambies de crescimento no orgnico e prev o reforo no Retalho rea de negcio de baixo risco

1

2

A estratgia actual apropriada

Em consequncia, os desafios do Millennium bcp

consistem na estrita execuo da estratgia

definida e nos factores de risco do negcio

Podemos dizer que 2008 foi um dos anos mais conturbados de sempre do sector financeiro. No mercado de crdito, o epicentro da crise financeira internacional, registaram-se perdas de

30 Relatrio e Contas Volume I

extraordinria dimenso. A incerteza quanto dimenso e exposio das instituies financeiras ao subprime minou a confiana entre operadores e conduziu ao maior perodo de instabilidade dos ltimos 80 anos, desencadeando uma crise de liquidez sem precedentes. No mercado monetrio, onde a crise de liquidez se agravou e propagou aos restantes segmentos dos mercados financeiros, a actividade para alm de 30 dias praticamente cessou e o preo do risco praticado, num contexto de reduzidos volumes de transaces, aumentou desmesuradamente, reflectindo a extraordinria averso ao risco de contraparte e a estratgia de preservao da liquidez por parte das instituies financeiras. O agudizar da crise reflectiu-se num aumento expressivo dos prmios de risco no funding e no prprio funcionamento dos mercados interbancrio, limitando as opes de financiamento dos bancos e empresas.

O agravamento da crise de liquidez e de crdito reflectiu-se nas cotaes bolsistas com os principais ndices bolsistas a apresentarem fortes quedas. A exposio ao subprime e o agudizar da crise de liquidez e de crdito reflectiu-se de forma extrema em algumas instituies financeiras que, ou foram nacionalizadas, ou faliram, ou foram objecto de injeces de capital pblico, ou foram absorvidas por outros players do sector.

A crise financeira internacional veio igualmente transmitir-se economia real, conduzindo a uma recesso escala mundial: EUA, rea do Euro e Japo fecharam o ano em recesso. A China encontra-se num processo de acentuado arrefecimento. Nenhuma rea geogrfica ficou inclume recesso. A extrema intensidade da crise econmico-financeira determinou uma resposta enrgica das autoridades dos pases mais afectados, que reduziram de forma agressiva as taxas de juro directoras, injectaram liquidez no sistema financeiro, concederam garantias estatais emisso de dvida bancria e diversos governos participaram nos esforos de recapitalizao. A estas medidas acresceram outras de estmulo oramental, de montantes significativos, anunciadas no final do ano.

Neste enquadramento adverso, o ano de 2008 pode ser considerado como um ano no recorrente, tendo sido marcado por uma envolvente e acontecimentos profundamente negativos que condicionaram a implementao da estratgia definida pelo Banco.

Agenda Estratgica de 2008

Durante a primeira metade do ano, a actividade do Banco enfocou-se primordialmente na estabilizao da instituio e no alinhamento da sua base accionista, no reforo da reputao institucional e no fortalecimento da situao financeira, quer atravs do aumento de capital de 1,3 mil milhes de euros concludo com sucesso em Abril de 2008, quer atravs de diversas emisses de dvida de mdio prazo num montante total de 2,25 mil milhes de euros.

No segundo semestre de 2008, o agravamento profundo da crise financeira internacional que se iniciou no vero de 2007 veio alterar o contexto de mercado e a envolvente do sector bancrio de forma significativa, condicionando a actuao do Banco e das demais instituies financeiras e criando novos desafios gesto e aos modelos de negcio do sector bancrio.

Num contexto de elevada incerteza e crise profunda dos mercados, o Banco redefiniu a sua Agenda Estratgica de curto prazo atravs de medidas de gesto em ambiente de crise, visando obter resultados e melhorias imediatas. A actuao em 2008, e em especial no segundo semestre, foi reenfocada nos seguintes vectores estratgicos :

Fortalecer a gesto de risco, dando maior enfoque gesto da liquidez e do capital;

Relatrio e Contas Volume I 31

Implementar medidas de retoma da rendibilidade, nomeadamente atravs de:

- Reforo e aprofundamento das iniciativas de reduo da base de custos operacionais e simplificao da organizao;

- Enfoque da actuao comercial na captao e reteno de clientes, no aumento dos recursos de clientes de balano e no restabelecimento de fortes nveis de confiana dos clientes;

- Fortalecimento das medidas para assegurar a base dos proveitos operacionais;

- Expanso das operaes em mercados de retalho de elevado potencial;

Enfocar o portfolio internacional, considerando o eventual desinvestimento em operaes seleccionadas.

Fortalecer a gesto de risco

Ao nvel da gesto da liquidez e de capital importa salientar a concluso com sucesso, em Abril de 2008, do aumento de capital de 1,3 mil milhes de euros, necessrio para reforar os rcios de capital do Banco, e que contou com uma procura pelos accionistas duas vezes superior oferta, permitindo atingir um rcio de Tier I de 7,1% a 31 de Dezembro de 2008. Destaca-se tambm a emisso de obrigaes hipotecrias em Maio, no montante de mil milhes de euros e a emisso de dvida snior no colateralizada, concluda tambm em Maio, no valor de 1,25 mil milhes de euros.

Durante o segundo semestre de 2008, o Banco reforou as iniciativas para melhorar a gesto de liquidez, quer atravs do controlo do gap comercial, no apenas em Portugal mas tambm nas demais geografias, quer na promoo de iniciativas de captao de recursos de clientes de balano, quer ainda atravs do aumento da base de activos elegveis no Banco Central Europeu, que atingiu um montante de 5,6 mil milhes de euros no final de 2008, face a valores prximos de mil milhes de euros no ano anterior. Destacam-se, entre outras iniciativas, as securitizaes de carteiras de crdito habitao de crdito a Pequenas e Mdias Empresas (PME).

Neste mbito igualmente de referir que o Banco foi notificado do Despacho n. 31835-A/2008, do Secretrio de Estado do Tesouro e Finanas, que autoriza a concesso da garantia pessoal do Estado para cumprimento das obrigaes de capital e de juros no mbito da emisso a taxa fixa, com prazo de trs anos e no montante de at 1.500 milhes de euros, a realizar ao abrigo do Programa de Euro Medium Term Notes do Millennium bcp em 2009.

No que respeita ao fortalecimento da gesto do risco, o Banco iniciou a implementao de um novo modelo de recuperao de crdito no terceiro trimestre de 2008. A reviso do modelo est direccionada para o aumento da eficcia desta rea de suporte, e dever produzir efeitos positivos em 2009.

A partir de Setembro e at ao final do exerccio, os desenvolvimentos que afectaram fortemente algumas instituies financeiras internacionais, por um lado, e a volatilidade cambial, face ao Euro, de algumas das moedas de mercados onde o Grupo opera (Polnia, Turquia, Romnia, entre outras), por outro, obrigaram adopo pronta de medidas que permitiram minimizar os impactos adversos da exposio do Grupo a tais riscos.

No final de 2008, o Banco anunciou a alienao de 87.214.836 aces representativas de 9,69% do capital social do Banco BPI, S.A., sociedade aberta, sociedade SANTORO

32 Relatrio e Contas Volume I

FINANCIAL HOLDINGS, SGPS, S.A., sociedade de direito portugus. Em resultado da execuo do referido contrato, o BCP deixou de deter participao qualificada no Banco BPI, S.A..

Implementar medidas de retoma da rendibilidade

Neste mbito, importa salientar as iniciativas de simplificao organizativa, que permitiram o reforo do esforo comercial e a expanso da rede de sucursais em simultneo com a reduo do quadro de colaboradores. A reorganizao de estruturas permitiu a transferncia, em 2008, de 244 colaboradores dos servios centrais do Banco para a rede comercial. O Banco concluiu em 2008 as 3 e 4 edies do Programa de Desenvolvimento de Competncias Comerciais (PDCC), que atingiu um total de 383 colaboradores desde o seu lanamento em 2007, e lanou em Dezembro a 5 edio do PDCC e o Programa para Quadros Directivos, um programa de mobilidade e valorizao profissional para quadros directivos.

Ao nvel da reduo dos custos, de salientar o forte esforo na conteno de outros gastos administrativos em Portugal, que se reduziram em 7,4% em 2008 face ao ano anterior, bem como a reduo de 1,5% dos custos com pessoal da operao portuguesa, apesar do aumento dos custos com penses e da expanso da rede comercial em 33 novas sucursais. Num ano de forte presso sobre a base de proveitos operacionais, este esforo permitiu a reduo dos custos operacionais em Portugal, excluindo itens especficos, em 3,8%, e reflectiu-se na melhoria do rcio de eficincia de 57,3% em 2007 para 53,7% em 2008.

No menos importante que o esforo de conteno de custos, e num ano especialmente desafiante em termos de imagem do sector bancrio, o Banco reforou a sua actuao comercial atravs de iniciativas de captao de clientes e no aumento dos recursos de clientes de balano. A confiana dos clientes no Banco e na solidez e capacidade da sua gesto, a sua distintiva posio no mercado e o reconhecimento da qualidade do seu servio saram reforadas e foram reconhecidas, como evidenciam a captao de mais de 174 mil novos clientes no Retalho em Portugal e no aumento de 13,9% dos recursos de clientes de balano da actividade em Portugal.

Face a um enquadramento de presso de volumes de negcio por via da reduo da procura e maiores restries de liquidez, de forte aumento do custo de funding, de presso competitiva e deteriorao do risco de crdito, o Banco fortaleceu as medidas para assegurar a base dos proveitos operacionais, em especial da margem financeira e comisses, que se reflectiram em aces de repricing em funo do aumento do custo de financiamento e do risco.

Apesar dos constangimentos, o Banco conseguiu assegurar o crescimento do volume de crdito em Portugal mantendo o gap comercial sob controlo, sendo de destacar a sua quota de mercado na nova produo de crdito habitao de 19,7%, o crescimento crdito a empresas em Portugal de 8,2%, e sobretudo o aumento do nvel da satisfao dos clientes, no final de 2008, para os melhores nveis dos ltimos trs anos.

No mbito da estratgia de reforo do dinamismo comercial e institucional do Millennium bcp, foram retomados os Encontros Millennium nas principais cidades portuguesas. Igualmente, o Conselho de Administrao Executivo do Banco decidiu propor aos investidores a resoluo dos litgios emergentes da subscrio dos aumentos de capital em dinheiro, realizados pelo BCP, nos anos de 2000 e 2001, atravs do procedimento de mediao organizado pela Comisso do Mercado de Valores Mobilirios (CMVM). A proposta foi dirigida aos investidores

Relatrio e Contas Volume I 33

que tinham apresentado reclamao ao Banco, ao Provedor do Cliente do BCP, ao Banco de Portugal ou CMVM ou que tinham proposto aco judicial contra o BCP ou reconvindo em aco judicial proposta pelo BCP, desde que, cumulativamente, reunissem um conjunto de condies publicamente divulgadas.

Importa igualmente destacar o cumprimento dos objectivos de expanso das operaes com maior potencial, evidenciadas no aumento do nmero lquido de sucusais em 33 em Portugal e 142 na operaes internacionais, salientando-se a expanso das operaes na Polnia, Moambique, Angola e Romnia. Na sequncia do planos de expanso efectuado, o Bank Millennium j a 4 maior rede a operar na Polnia com 490 sucursais, atingindo nveis de notoriedade acrescida e registando um aumento da quota de mercado em depsitos de particulares superior a 7%, angariando mais de 186 mil novos clientes e atingindo a marca histrica de mais de 1 milho de clientes activos.

Em Moambique, o Banco atingiu a marca histrica de 100 sucursais e 500 mil clientes, reforando a sua posio destacada no mercado e atingindo nveis de rendibilidade significativos, apesar do plano de expanso.

Enfocar o portfolio internacional

O terceiro vector estratgico consistiu no enfoque do portfolio internacional, tendo o Banco anunciado a seu tempo a reviso desse portfol io, com o objectivo de avaliar a capacidade de cada operao para acrescentar valor, de consolidar o actual portfolio, e preservar o seu potencial de crescimento, considerando o eventual desinvestimento em operaes seleccionadas.

O agravamento da crise financeira internacional condicionou a implementao plena deste vector de actuao, estando em curso a redefinio definitiva do portfolio internacional e foi entretanto iniciado, com o apoio de consultores externos, um processo de aferio de diferentes opes.

Em 2008, na sequncia do acordo de parceria estratgica estabelecido em Dezembro de 2007, foram assinados acordos de parceria em Angola, reforando a vocao e capacidade de expanso do Millennum Angola, entre o BCP, a Sonangol e o Banco Privado Atlntico, S.A., prevendo, designadamente, uma participao indicativa de referncia da Sonangol no capital do BCP. O acordo de parceria contempla a aquisio de 49,9% do capital do Banco Millennium Angola pela Sonangol e pelo Banco Privado Atlntico, a concretizar atravs de uma operao de aumento de capital a ser subscrita em numerrio. O acordo prev, ainda, a tomada pelo Millennium Angola de uma participao de 10% no capital do Banco Privado Atlntico. Em Setembro de 2008, foram acordados os preos e as condies das transaces.

Prioridades do Millennium bcp para 2009

Num contexto de forte incerteza relativamente ao futuro e sob presso de mltiplas variveis exgenas, nomeadamente ao nvel do crescimento econmico mundial e nos pases onde opera, num ambiente de forte presso sobre as taxas de juro e preos dos activos, de reduzida confiana face s elevadas perdas reportadas por instituies financeiras internacionais e face escassez do capital e liquidez, o Millennium bcp considera que, aps um perodo de estabilizao do Banco, se justifica o lanamento de novas prioridades para 2009,

34 Relatrio e Contas Volume I

considerando que o Programa Millennium 2010 foi desenhado em condies de mercado completamente distintas da realidade actual.

As novas prioridades do Millennium bcp para 2009 assentam em trs pilares fundamentais: Solidez e Confiana; Compromisso e Performance; Sustentabilidade e Valor, definindo seis vectores de actuao prioritria que procuram Reforar o Compromisso, Rumo ao Futuro.

Solidez e Confiana

Compromisso e Performance

Sustentabilidade e Valor

Prioridades de gesto para 2009

1. Gesto proactiva e rigorosa do risco

2. Gesto integrada e prudente da liquidez e do capital

3. Aprofundamento do compromisso com osclientes e maximizao de recursos e valor

4. Acelerao da reduo de custos e simplificaoorganizativa

5. Ajuste de modelos de negcio e materializaode oportunidades de crescimento

6. Gesto de talento e mobilizao dos colaboradores

Reforar o Compromisso

Os seis vectores de actuao que compem o Programa Rumo ao Futuro englobam um conjunto de iniciativas que se sintetizam em:

1. Gesto proactiva e rigorosa do risco A gesto do risco assumida como uma prioridade fundamental do Banco, e ser reforada atravs das seguintes iniciativas:

Aprofundamento do processo de identificao, avaliao e gesto dos riscos;

Aumento da sustentabilidade e mitigao dos riscos do Fundo de Penses, ao nvel das responsabilidades e dos activos;

Aperfeioamento dos processos de identificao preventiva dos sinais de imparidade;

Novos modelos de recuperao de crdito, para retalho e para grandes clientes / grandes riscos;

Aumento do grau de automatizao de avaliao do risco dos clientes e da deciso de crdito; e

Reforo do reporte de riscos interno e para o mercado.

Relatrio e Contas Volume I 35

2. Gesto integrada e prudente da liquidez e do capital Atendendo ao aumento do risco da liquidez no ltimo ano e meio e necessria prudncia na gesto do capital, e tendo presente as recomendaes de rcio de capital Tier I do Banco de Portugal, o Banco entendeu ser necessrio reforar as suas iniciativas ao nvel de gesto integrada e prudente destes factores, sendo de destacar:

Planeamento e controlo integrado do capital e da liquidez e implementao da gesto baseada na relao retorno/risco;

Desenvolvimento de uma gesto estratgica da Tesouraria em articulao com as reas de negcio;

Diversificao da estrutura de funding e dos instrumentos alternativos de financiamento em caso de contingncia;

Transio para metodologias IRB (Basileia II);

Desenvolvimento do processo de avaliao e alocao do capital econmico (Pilar II - ICAP); e

Optimizao de activos ponderados pelo risco (RWAs), atravs do desinvestimento de activos no estratgicos e reforo de garantias adequadas.

3. Aprofundamento do compromisso com os clientes Para aprofundar o compromisso com os clientes, destacam-se as seguintes iniciativas:

Programas de aproximao base de clientes em todas as operaes;

Plano de captao de recursos de balano nos diversos segmentos, e em particular no Retalho, em todas as geografias;

Gesto mais rigorosa do leakage/isenes comerciais, incluindo comisses, em todas as redes;

Ajustes consistentes ao prerio praticado, por forma a reflectir o custo real do risco de crdito e liquidez (risk based pricing); e

Plano de captao de clientes em todas as geografias.

4. Acelerao da reduo de custos e simplificao organizativa O Banco prope-se prosseguir e aprofundar os esforos de reduo de custos operacionais, nomeadamente atravs dum plano transversal de reduo de encargos com o pessoal, num esforo continuado para a reduo dos custos administrativos em Portugal e na reduo significativa de custos nas diferentes operaes, atravs do ajuste da estrutura ao volume de produo no novo contexto de mercado.

Ao nvel da simplificao organizativa e optimizao de processos, o Banco dever lanar novas iniciativas de delayering e fuso de reas de suporte em Portugal e simplificao do modelo operativo nas operaes europeias, atravs da centralizao das funes de suporte e integrao de back-offices.

5. Ajuste de modelos de negcio e materializao de oportunidades de crescimento Em Portugal, sero efectuados ajustes ao modelo e estratgia do Private Banking face s novas oportunidades de negcio, bem como ser revisto o modelo de negcio e organizativo

36 Relatrio e Contas Volume I

do Corporate e Banca de Investimento, e lanados modelos de distribuio inovadores, orientados aos novos hbitos e necessidades dos clientes na Banca Directa.

Nas operaes internacionais, destaca-se a implementao do plano de expanso em Angola, corporizando a parceria com a Sonangol/BPA, iniciativas de optimizao de margem e captao de clientes nas operaes africanas e a reviso da estratgia de crescimento na Europa, focando em Particulares e em PME, alavancando na marca e na rede de sucursais como plataformas de distribuio.

6. Gesto do talento e mobilizao dos colaboradores O reforo do compromisso com os colaboradores implica o lanamento e reforo de iniciativas orientadas para a performance, responsabilizao e valorizao profissional, destacando-se:

Reforo dos programas de gesto de talento;

Modelo de incentivos nas reas comerciais.

Implementao do novo sistema de avaliao orientado para uma maior responsabilizao dos colaboradores;

Continuao dos projectos de valorizao profissional, como por exemplo os programas Master in Retail e Financial Risk Manager;

Aumento do envolvimento e comunicao a todos os nveis da organizao.

Em linha com as prioridades de 2009, emergem os princpios chave da estratgia do banco a prazo.

Cinco princpios chave do novo Programa Rumo ao Futuro

Banco de relaesduradouras foco na relao (e no no produto e natransaco), aprofundamento da proximidade e contactos regulares com a base de clientes, compromisso de longo prazo

Compromissocom os Clientes

Banco com fortes capacidades de gesto de risco e optimizao do capitalutilizao eficaz do capital e liquidez, viso proactiva dos riscos, robustecimentodos processosde deciso de crdito, melhor controlo do risco operacional

Gesto Efectivado Risco

Banco mais simples e mais eficiente em custos na estrutura organizativa, nosprocessos internos, na relao com os clientes, nas linhasde negcioe na prpriaoferta de produtos e servios

Simplicidade e Eficincia

Banco com opes portfolio com operaesem que o banco possa fazer a diferena e acrescentar valor, e que contribuam para o crescimento, diversificao de riscos e valorizao do Grupo a prazo

Presenainternacional

focada

Banco centrado nas suas capacidades banco focado nas suas capacidadesdistintivase que possam constituir vantagens competitivas: banca de retalho/comercial, redes de sucursais bem dimencionadas, experincia e know how dos colaboradores - em todas as geografias

Centrado nasCapacidades

Relatrio e Contas Volume I 37

Enquadramento Macroeconmico e Competitivo

Economia Internacional

Alterao profunda do paradigma econmico e financeiro em 2008

O ano de 2008 fica definitivamente associado propagao da crise do mercado de crdito hipotecrio de alto risco norte-americano a demais segmentos de mercado, geografias e sectores econmicos. A instabilidade financeira tornou-se denominador comum nos mercados e a degradao na actividade econmica disseminou-se por pases de elevado crescimento. A aco dos efeitos da globalizao, mas em sentido reverso, amplificou ajustamentos e precipitou a economia mundial num clima de incerteza e de averso ao risco complexo e de difcil erradicao. O agravamento vertiginoso da conjuntura e o enraizar de um ciclo vicioso de reforo de estmulos negativos entre sector financeiro e actividade econmica suscitou a interveno coordenada de governos, bancos centrais e outros agentes econmicos, atravs da adopo de polticas de estmulo actividade e de suporte aos mercados financeiros sem precedentes que devero comear a surtir efeitos ao longo do prximo ano. Contudo, no devero evitar um ano de fraco crescimento econmico mundial e de presses desinflacionistas, num entorno muito complexo e delicado no plano social, poltico e institucional.

De tenses inflacionistas a riscos deflacionistas

Depois de vrios anos de crescimento econmico consistente, a economia mundial enfrenta o risco de recesso e de deflao. As principais economias devero registar uma contraco do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de 1% a 2%, em termos reais, em 2009 e as economias em desenvolvimento devero ver o seu contributo para o crescimento econmico mundial substancialmente diminudo. Estima-se um aumento real do PIB mundial medocre pelo padro histrico. Num ambiente caracterizado pela reduo da disponibilidade de fundos e de elevada averso ao risco, economias mais dependentes dos fluxos de financiamento externo, na forma de investimento de carteira, investimento directo estrangeiro ou transferncias pblicas tendero a apresentar uma maior dificuldade na sustentao dos ritmos de crescimento anteriores.

A inverso do ciclo econmico foi tambm consequncia e causa da evoluo do preo das matrias-primas. Durante o primeiro semestre do ano, a expectativa de uma integrao acelerada das economias em desenvolvimento nos mercados mundiais e de convergncia dos hbitos de consumo e dos nveis de desenvolvimento para patamares semelhantes aos das economias ocidentais instituiu uma forte procura e aprovisionamento a prazo de matrias-primas, com reflexos muito expressivos nos respectivos preos. Metais, energia fssil e at bens alimentares apresentaram aumentos de preos muito pronunciados, com os investidores

2007 2008 E 2009 P

Ec. Mundial 5,0 3,7 2,2

Ec. Desenvolvidas 2,6 1,4 0,0

EUA 2,0 1,4 -0,7

UEM 2,6 1,2 -0,5

Japo 2,1 0,5 -0,2

Ec.Desenvolvimento 8,0 6,6 5,1

China 11,9 9,7 8,5

India 9,3 7,8 6,3

Russia 8,1 6,8 3,5

Brasil 5,4 5,2 3,0

Fonte: FMI, actualizao de Novembro de 2008.

Actividade econmica

Crescimento real do PIBDesempenho e projeces do FMI (variao em %)

38 Relatrio e Contas Volume I

preocupados com a escassez em potncia decorrente da inelasticidade da oferta a curto prazo. O aumento expressivo no preo da energia e dos bens alimentares que se verificou at ao Vero teve repercusses negativas no desempenho das economias. A viragem no ciclo econmico provocou um colapso na procura por matrias-primas que se tem reflectido numa queda muito intensa nos respectivos preos. Excepo a estas tendncias tm sido alguns metais preciosos, como o ouro, que ora serviram para preservao de valor em conjunturas de presses inflacionistas, ora como activo de refgio em contexto de forte averso ao risco, apresentaram-se bem suportados no decurso de 2008. A queda dos preos das matrias-primas est a adiar a implementao de novos projectos de explorao e a incentivar a alguma retraco na oferta que, a prazo, num contexto de recuperao econmica poder rapidamente suportar uma tendncia altista nestes materiais.

Dada a magnitude dos movimentos nos preos das matrias-primas, a evoluo das taxas de inflao encontra-se fortemente correlacionada com estes preos, nomeadamente os dos bens alimentares e dos bens energticos. No obstante o acumular de alguma evidncia de saturao no processo de crescimento, a resilincia da economia mundial, sobretudo pela robustez ainda evidenciada pelas economias em desenvolvimento, e a valorizao muito forte das matrias-primas, reflectiu-se num aumento expressivo nos preos de bens de elevada rotatividade no consumo, levantando receios de contgio aos processos de formao de outros preos na economia, nomeadamente os salrios, e s expectativas inflacionistas. O risco de tal dinmica constituiu o argumento principal pelo qual alguns bancos centrais adoptaram uma poltica monetria mais restritiva durante o Vero. A alterao profunda e rpida das condies conduziu a uma inverso de expectativas do mercado e actualmente o cenrio implcito nos preos praticados em instrumentos financeiros o de deflao. Uma envolvente econmica dbil, o processo de reduo de endividamento e de exposio ao risco em marcha e as dificuldades em perspectiva para o mercado de trabalho so factores que podero reforar a tendncia desinflacionista. O desequilbrio repentino entre a procura e a oferta poder incentivar a prticas concorrenciais mais agressivas, pelo que o fenmeno desinflacionista poder acentuar-se e reforar o risco de deflao. Tal seria potencialmente devastador para o cenrio de retoma econmica, dado o nus tremendo que exerceria sobre o valor real das dvidas, justificando a actuao enrgica das autoridades com medidas de estmulo actividade econmica.

A interveno das autoridades: contrariar riscos sistmicos, evitar deflao, colmatar falhas de mercado

A poltica econmica ao longo do quarto trimestre de 2008 adoptou uma postura de claro suporte actividade econmica, com intervenes directas em sectores mais vulnerveis. Findas as preocupaes com as presses inflacionistas e perante um ritmo de degradao intenso da actividade, os bancos centrais reduziram as taxas de juro de forma expressiva. No caso dos EUA e do Japo, as taxas de juro baixaram para valores em torno de 0% e noutros pases existe a possibilidade de se seguir idntico caminho ou, pelo menos, de reduo substancial dos nveis de taxas de juro.

Por outro lado, o deficiente funcionamento no mecanismo de transmisso monetria obrigou adopo de polticas inovadoras. Enfrentando riscos sistmicos relevantes, e com o intuito de atenuar a fraca liquidez do mercado interbancrio, os bancos centrais reformataram a sua actuao no mbito, forma, prazos e montantes de cedncia de liquidez e estenderam a sua interveno a outros mercados, incluindo a aquisio directa de ttulos de dvida de prazo mais longo e a emisso monetria alargada. A crescente integrao dos mercados financeiros exigiu

0

200

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800

Dez-00 Dez-02 Dez-04 Dez-06 Dez-08

OuroPetrleoMatrias-primas industriais

Fonte: Datastream

Desempenhos distintos nascommoditiesPreo do petrleo, preo do ouro e ndice de preo de matrias-primas industriais

(Dez 2000=100)

-4

-2

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2

4

6

Jan-03 Jan-05 Jan-07

Taxa de inflao geral nos EUA

Inflao esperada nos prximos 5 anosimplcita na dvida indexada

Fonte: Datastream

Jan-08

Processo desinflacionista intenso no final de 2008Taxa de inflao nos EUA e expectativas para a taxa de inflao nos prximos 5 anos implcita em instrumentos de dvida pblica

(em %)

Relatrio e Contas Volume I 39

uma maior coordenao nas medidas tomadas e a implementao de mecanismos de apoio transnacionais, quer na disponibilizao de liquidez em moeda estrangeira, quer na ajuda financeira directa para fins de estabilizao macroeconmica em alguns pases europeus e asiticos.

No mbito da poltica oramental, para fazer face contrariedade do ciclo e menor eficcia da poltica monetria, tm sido reforados os mecanismos estabilizadores automticos, ao nvel das despesas sociais, na suavizao tributria e no aumento de despesa discricionria. Em diversos pases, foram apresentados planos de investimento e de aumento da despesa pblica, variando o seu montante em funo da gravidade da conjuntura econmica enfrentada. Embora relativamente diferenciados, os planos colocam especial nfase na construo de infra-estruturas, na reforma energtica e na melhoria do capital humano. Foram tambm elaborados planos de assistncia especficos para sectores mais afectados pela crise, como o sector financeiro, o sector da construo e o sector automvel. A apropriao do privado pelo pblico, recurso ltimo em contextos de bloqueio dos mecanismos de mercado e de riscos relevantes para a actividade econmica e bem estar social, resulta num esforo acrescido das finanas pblicas. Os diferenciais de taxas de juro de dvida pblica alargaram significativamente em funo da percepo dos investidores quanto capacidade de sustentao de planos ambiciosos de despesa e estabilidade financeira dos pases a prazo.

Recesso no final de 2008, riscos para 2009 e esperanas para 2010

Os ltimos meses de 2008 registaram um dos perodos de maior instabilidade dos mercados financeiros das ltimas dcadas, acompanhado por uma sincronizao invulgar no grau de arrefecimento, acentuado, da actividade econmica na generalidade dos pases, com particular acuidade no comrcio mundial. O ajustamento nos planos de produo e a concomitante reviso de estratgias de negcio devero acentuar-se ao longo dos primeiros meses de 2009, com repercusso negativa nos nveis de emprego, limitando no imediato uma melhoria da conjuntura. A actuao de estabilizadores automticos, como a retraco no preo das matrias-primas, a reduo agressiva das taxas de juro e as medidas de interveno directa em sectores econmicos mais debilitados devero contribuir para uma retoma econmica e para a normalizao do comportamento dos mercados financeiros a prazo, mas no so isentas de risco e com desafios importantes e invulgares na retoma do pblico pelo privado.

Um enquadramento de dbil crescimento econmico, relativamente disseminado e com risco de agravamento, apresenta-se propcio intensificao da concorrncia e, eventualmente, ocorrncia frequente de frices geopolticas, dado o apelo a uma maior interveno do Estado nas economias. Nestas circunstncias, o comrcio externo, a poltica cambial e as ajudas ao desenvolvimento podero retomar um estatuto proeminente na ordem econmica e poltica mundial.

Actividade econmica nos mercados domsticos

Conjuntura recessiva e crise financeira expem debilidade das economias europeias

As principais economias europeias apresentaram um abrandamento muito pronunciado no final do Vero, medida que se intensificou a quebra nos fluxos de comrcio mundial e se agravaram as condies financeiras nos mercados internacionais. As condies econmicas no final de 2008, aferidas pelos indicadores de conjuntura, regrediram para nveis de h 20 anos. Ao mesmo tempo, os indicadores de inflao, contemporneos e prospectivos,

0

1

2

34

5

6

7

D-00 D-02 D-04 D-06 D-08

Fed funds target

Taxa de refinanciamento principal

Fonte: Datastream

Redues agressivas nas taxas de juro

Evoluo das taxas directoras nos EUA (Fed fnds target) e na rea do Euro (taxa de refinanciamento principal)

(em %)

Jan-08 Jun-08 Set-08 Dez-08

EUA 8 8 26 67

R.Unido 9 15 28 110

Alemanha 7 6 13 46

Frana 10 10 17 55

Espanha 18 37 51 100

Itlia 20 39 53 158

Portugal 18 38 51 90

Grcia 22 50 64 237

Fonte: Datastream

Custo anual de proteco de dvida soberana

Creditdefault swaps a 5 anos (em p.b.)

40 Relatrio e Contas Volume I

evidenciaram uma alterao dos riscos para a estabilidade dos preos de sentido contrrio. Nestas condies, o Banco Central Europeu inverteu a estratgia, procedendo a vrias redues nas taxas directoras, de 4,25% em Julho para 2,5% no final do ano, tendncia que se espera se mantenha no primeiro semestre de 2009. Para 2009, a procura interna apresenta limitaes relevantes de crescimento: o receio de desemprego ameaa o consumo, a incerteza atenua a propenso para o investimento, os mercados exportadores apresentam-se fragilizados e a concorrncia intensifica-se. Com um sector privado condicionado na capacidade de resposta, o impulso do crescimento reside na evoluo dos gastos e investimento pblicos, conforme os planos de estmulo negociados, em funo da folga financeira disponvel em cada estado membro.

As economias domsticas foram afectadas negativamente pela conjuntura global desfavorvel, com efeitos indirectos no nvel de procura externa dirigida s empresas, e pela maior restritividade nas condies financeiras enfrentadas, contexto ampliado pelas debilidades econmicas estruturais de alguns destes pases: em Portugal e na Grcia, dificultando o financiamento regular dos elevados dfices externos; nas economias da Europa de Leste pela reverso das estratgias de investimento de carteira de curto prazo; nas economias africanas pela alterao nas condies favorveis presentes nos ltimos anos nos mercados das matrias-primas.

Menores presses inflacionistas permitem polticas monetrias mais expansionistas

As dificuldades financeiras de alguns estados soberanos europeus, decorrente da elevada exposio a fluxos financeiros reversveis e endividamento de curto prazo, e que suscitaram o suporte financeiro do FMI, foram determinantes para a alterao de sentimento dos investidores em relao a estas economias. As moedas depreciaram-se fortemente e os prmios de risco subiram de forma exponencial. O objectivo intermdio da poltica monetria focou-se na estabilidade cambial, dada a elevada exposio do sector privado a financiamentos denominados em moeda estrangeira. Em alguns pases, tal estabilidade foi conseguida com a subida das taxas de juro, mesmo que coarctando nveis de crescimento futuros. No obstante a alterao substancial de conjuntura e o arrefecimento econmico pronunciado, estes pases apresentaram ritmos de crescimento significativamente superiores mdia da rea do Euro. Enquanto que o crescimento real do PIB na rea do Euro dever situar-se em 0,9%, na Turquia estar na vizinhana de 2%, ser perto de 3% na Grcia, superior a 4,5% na Polnia e mais de 8% na Romnia. Moambique dever apresentar um crescimento do PIB real robusto, tal como nos ltimos anos, enquanto que em Angola se mantm taxas reais de crescimento de dois dgitos, num enquadramento poltico de estabilidade reforado nas eleies de Setembro de 2008. O grau de abrandamento em 2009 ser expressivo e persistem riscos relevantes relacionados com a capacidade e com o custo do refinanciamento da dvida que se vence em alguns pases do Leste Europeu, e, com um contexto mundial mais adverso, de implicaes negativas nos mercados de commodities . Retomada alguma estabilidade nos mercados financeiros domsticos, as taxas de juro nos pases com poltica monetria prprias podero descer facilitando o processo de ajustamento s condies externas mais exigentes.

Economia portuguesa depende dos desenvolvimentos externos

A economia portuguesa ter registado um fraco cres cimento em 2008, com o PIB praticamente a estagnar, em termos reais, face ao ano anterior. O crescimento tem-se apresentado muito dependente do impulso e das condies externas, decorrente dos nveis de endividamento

60

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120

140

Jan-06 Jan-07 Jan-08

Polnia GrciaRomnia Portugalrea do Euro

Fonte: Datastream

Retraco repentina na actividade econmica nas economias domsticas europeiasndices de sentimento econmico da Comisso Europeia (em %)

2008 E 2009 P 2010 P

EU27 1,4 0,2 1,1

Portugal 0,5 0,1 0,7

Polnia 5,4 3,8 4,2

Grcia 3,1 2,5 2,6

Romnia 8,5 4,7 5,0

Turquia 3,4 2,7 3,9

Africa Subsaariana 5,4 4,6 5,8

Moambique 6,0 6,3 6,4

Angola 15,8 11,1 11,3

Fonte:Comisso Europeia e Banco Mundial, actualizao de Novembro de 2008.

Actividade econmicaCrescimento real do PIBDesempenho e projeces (var. em %)

Relatrio e Contas Volume I 41

elevados do sector privado, da folga oramental reduzida e da elevada dependncia energtica do exterior. Os ganhos de competitividade obtidos nos ltimos anos so pouco expressivos para contrariar a quebra da procura externa, apesar do esforo de diversificao das exportaes, quer em termos de mercados de destino, quer na composio dos bens e dos servios exportados. Deste modo, a capacidade para desenvolver um processo de retoma econmica autnomo afigura-se limitado. Em contrapartida, a exposio directa a instrumentos financeiros complexos reduzida e o crescimento econmico, apesar de fraco, foi relativamente diversificado em termos sectoriais, pelo que o risco de sofrer um ajustamento especfico menor do que o enfrentado por outros pases.

O cenrio mais provvel ser o de uma recesso, em linha com o desempenho mdio esperado para a rea do Euro. O principal risco advm da capacidade do sistema financeiro manter o nvel de captao de