relatório do filme (germinal)

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RELATÓRIO DO FILME “GERMINAL” André Felipe Silva Torres, acadêmico de Direito Maio/2007 Tal filme discorre principalmente das relações de trabalho no final do século XIX. O que vamos nos deter no presente trabalho é a conexão dos fatos com a implantação de um sistema de autonomia, no caso, o Capitalismo. Para tanto, precisamos considerar os aspectos históricos presentes a época, bem como o contexto sócio-econômico. No contexto considerado do filme, a Europa vivia o novo processo de produção conhecido como Revolução Industrial. Foi um conjunto de transformações, bem como invenções que propiciaram uma revolução no modo de produção do homem. Essas transformações, de cunho técnico, evoluíram para aspectos econômicos, os quais influenciaram toda a conjuntura social da época. Assim sendo, desmantelava-se o processo produtivo artesanal, presente na Baixa Idade Média e na Idade Moderna, caracterizada pelas corporações de ofício, e pelo domínio do artesão de todas as etapas do processo; implantava-se a divisão do trabalho, na qual os trabalhadores eram treinados e ordenados em grupos, ou mesmo individualmente em funções, para desempenhar uma única atividade do processo produtivo. Enfim, começava a especialização dos trabalhadores, com vistas à otimização da produção. Isso perdurou de forma “não científica”, até os trabalhos de Taylor, com o estudo dos tempos e movimentos, e o empresário Ford, que implantou o modelo em série para produção de automóveis. Além do colapso do processo artesanal, as corporações que foram surgindo nesse tempo começaram a utilizar seu poderio econômico para desapropriar grandes espaços nos quais se verificavam a incidência de suas matérias-primas. Assim, os aldeões e camponeses se viam obrigados a sair de suas terras e ceder o espaço para tais corporações. As atividades econômicas dos aldeões estavam cada vez mais perdendo espaço para as corporações, e eles tiveram que se adequar, e passaram a vender sua força de trabalho (praticamente, a força física) para os sistemas fabris. Em troca, remuneração suficiente para a sobrevivência de forma frugal, da própria pessoa. Logo, surge a unidade econômica

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Resenha do filme:Direção: Claude Berri Ano: 1993 País: Bélgica, Itália, França Gênero: Drama Duração: 170 min. / corTítulo Original: Germinal Elenco: Gérard Depardieu, Renauld, Miou-Miou, Jean Carmet, Jean-Roger Milo...

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Page 1: Relatório do filme (Germinal)

RELATÓRIO DO FILME “GERMINAL”

André Felipe Silva Torres, acadêmico de DireitoMaio/2007

Tal filme discorre principalmente das relações de trabalho no final do século XIX. O que vamos nos deter no presente trabalho é a conexão dos fatos com a implantação de um sistema de autonomia, no caso, o Capitalismo. Para tanto, precisamos considerar os aspectos históricos presentes a época, bem como o contexto sócio-econômico.

No contexto considerado do filme, a Europa vivia o novo processo de produção conhecido como Revolução Industrial. Foi um conjunto de transformações, bem como invenções que propiciaram uma revolução no modo de produção do homem. Essas transformações, de cunho técnico, evoluíram para aspectos econômicos, os quais influenciaram toda a conjuntura social da época. Assim sendo, desmantelava-se o processo produtivo artesanal, presente na Baixa Idade Média e na Idade Moderna, caracterizada pelas corporações de ofício, e pelo domínio do artesão de todas as etapas do processo; implantava-se a divisão do trabalho, na qual os trabalhadores eram treinados e ordenados em grupos, ou mesmo individualmente em funções, para desempenhar uma única atividade do processo produtivo. Enfim, começava a especialização dos trabalhadores, com vistas à otimização da produção. Isso perdurou de forma “não científica”, até os trabalhos de Taylor, com o estudo dos tempos e movimentos, e o empresário Ford, que implantou o modelo em série para produção de automóveis.

Além do colapso do processo artesanal, as corporações que foram surgindo nesse tempo começaram a utilizar seu poderio econômico para desapropriar grandes espaços nos quais se verificavam a incidência de suas matérias-primas. Assim, os aldeões e camponeses se viam obrigados a sair de suas terras e ceder o espaço para tais corporações. As atividades econômicas dos aldeões estavam cada vez mais perdendo espaço para as corporações, e eles tiveram que se adequar, e passaram a vender sua força de trabalho (praticamente, a força física) para os sistemas fabris. Em troca, remuneração suficiente para a sobrevivência de forma frugal, da própria pessoa. Logo, surge a unidade econômica família operária, onde homens, mulheres e crianças saiam de suas casas para trabalhar. Do contrário, não tinham como garantir a subsistência.

Outros fatores contribuíram para o incremento da Revolução Industrial, se não, o seu próprio surgimento. O capital acumulado nas nações mercantilistas, a grande aglomeração humana, decorrente de melhorias nas ciências. Ainda as ciências propiciaram os novos instrumentos, as grandes invenções, ou seja, o início do desenvolvimento tecnológico aliado ao capital. A burguesia e o proletariado eram as classes sociais do sistema, aquela num status consolidado, após todo o seu desenvolvimento anterior, e esta uma invenção do sistema.

Podemos dizer que o sistema capitalista se implanta segundo todo um ordenamento de acontecimentos históricos. Trazendo para o Direito, dois movimentos jurídicos foram de extrema importância para a consolidação autônoma do sistema capitalista. A revolução cultural conhecida como Iluminismo trouxe as bases da consolidação das ciências, acendeu o estopim das grandes revoluções políticas, notadamente, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa. As independências das nações americanas também se inserem nesse contexto. E, considerando também os valores da época, como a igualdade perante a lei, a propriedade privada, a liberdade econômica, a política da época condicionou,

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influenciada pelo poderio da classe burguesa, o movimento constitucionalista e a codificação do Direito Privado.

A Constituição dos Estados Unidos foi a primeira lei principal de um estado republicano, e apesar de bem compacta (discorrendo principalmente sobre a organização política), ela traz, os princípios detalhados no parágrafo anterior, bem como a conservação, manutenção e defesa destes valores. Com Napoleão, o estado francês passou a conservar a legislação sobre o Direito Privado, notadamente as relações civis de âmbito comercial.

Essa proteção, assim como o respeito às essas leis, conservou o alicerce para a implantação do novo processo produtivo, ou seja, a nova fase do capitalismo evidenciada no filme em epígrafe. As relações sociais entre patrão e empregado passaram a ser de acordo com a legislação, de acordo com os valores políticos de grande empregabilidade econômica. Mas houve rupturas, com o desenvolvimento intelectual de autores que criticavam e denunciavam as relações desvantajosas para os proletários de um lado. Esse desenvolvimento culminou na proposta socialista, assim como movimentos alternativos, de anarquia, comunismo, utopias científicas, sociedades alternativas. Isso foi verificado no filme, e tais movimentos serviram para eclosão de revoluções, ou mesmo para a garantia de sobrevivência das classes prejudicadas.