relatório desenvolvimento humano 2009

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Relatrio de Desenvolvimento Humano 2009www.almedina.net

Ultrapassar barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Website do RDH: http//hdr.undp.org

Relatrio de Desenvolvimento Humano 2009.O nosso mundo muito desigual. Para muitas pessoas em todo o mundo, sair da sua cidade natal, ou da sua aldeia, poder ser a melhor ou, s vezes, a nica opo para melhorar as suas oportunidades de vida. Com efeito, essa mudana poder melhorar bastante os rendimentos e os nveis de educao e de participao de cada indivduo, bem como das suas famlias, assim como as perspectivas futuras dos seus fi lhos. Mas essa alterao geogrfica tem um valor para alm disso: ter-se a possibilidade de decidir onde viver um elemento fundamental da liberdade humana. No possvel traar o perfi l tpico dos migrantes de todo o mundo. Apanhadores de fruta, enfermeiras, refugiados polticos, trabalhadores da construo civil, acadmicos e programadores informticos todos se incluem nos quase mil milhes de pessoas que se encontram em migrao dentro dos seus prprios pases ou para o exterior. Quando as pessoas se deslocam, quer atravessem ou no fronteiras internacionais, embarcam numa viagem de esperana e de incertezas. A maioria parte em busca de melhores oportunidades, na esperana de poder aliar os seus prprios talentos aos recursos existentes nos pases de destino, obtendo, assim, benefcios para si e para a sua famlia mais directa, que frequentemente os acompanha ou os segue. Comunidades locais e sociedades no seu todo tambm obtiveram os seus benefcios, tanto nos locais de origem como nos destinos. A diversidade destes indivduos e as regras que governam a sua deslocao fazem da mobilidade humana uma das questes mais complexas que hoje o mundo enfrenta, especialmente agora que se encontra em plena recesso. Em Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos, explora-se o modo como melhores polticas para a mobilidade podero fomentar o desenvolvimento humano. Primeiro, traa-se os contornos das deslocaes humanas nomeadamente, quem se desloca para onde, quando e porqu antes de se analisar o vasto impacto dessas mudanas nos migrantes e nas suas famlias, bem como nos locais de origem e de destino. Apresenta-se, ento, o modo como os governos devero reduzir as restries no que respeita s deslocaes, dentro dos limites do seu territrio e para fora dele, para assim alargar a possibilidade de escolha dos indivduos e as prprias liberdades humanas. Defender-se-, por fim, um conjunto de medidas prticas que podero melhorar as perspectivas dos migrantes chegada, o que, por sua vez, trar enormes benefcios tanto para as comunidades de destino como para os locais de origem. Note-se que as reformas enunciadas dirigem-se no s aos governos de destino, mas tambm aos governos de origem, a outros intervenientes fundamentais em particular, ao sector privado, aos sindicatos e s organizaes no governamentais e aos prprios indivduos migrantes. O Relatrio de Desenvolvimento Humano de 2009 coloca firmemente a questo do desenvolvimento humano na agenda dos decisores polticos, os quais, perante padres de deslocao humana cada vez mais complexos em todo o mundo, procuram obter os melhores resultados.

RDH 2009 Ultrapassar barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

A imagem da capa visa ilustrar o modo como a mobilidade pode promover o desenvolvimento humano. Os pontos, que representam pessoas, reectem as suas mudanas de localizao no espao geogrco. Visto a uma escala maior, este padro revela no s os mltiplos caminhos da deslocao humana, mas tambm as barreiras que entretanto se interpem.Para muitas pessoas em todo o mundo, sair da sua cidade natal, ou da sua aldeia, poder ser a melhor ou, s vezes, a nica opo para melhorar as suas oportunidades de vida. Com efeito, a mobilidade humana poder melhorar bastante os rendimentos e os nveis de educao e de participao de cada indivduo, bem como das suas famlias, assim como as perspectivas futuras dos seus fi lhos. Mas essa alterao geogrfica tem um valor para alm disso: ter-se a possibilidade de decidir onde viver um elemento fundamental da liberdade humana. Contudo, a deslocao no representa uma pura questo de escolha frequentemente, as pessoas deslocam-se por se verem foradas a tal, e enfrentam riscos e incertezas significativos. Para que a mobilidade possa trazer um maior benefcio ao desenvolvimento humano, preciso adoptar uma viso vigorosa uma viso que saiba reconhecer os riscos e as presses subjacentes, e que permita elaborar reformas especialmente bem sucedidas no seu impacto. Em Ultrapassar Barreiras apresentam-se recomendaes claras que convergem no sentido de se alcanar o equilbrio necessrio para enfrentar estes desafios.

Relatrio de Desenvolvimento Humano de 2009 MundialOs recursos relacionados com este relatrio esto disponveis em hdr.undp.org, incluindo exemplares e resumos completos do relatrio; resumos das consultas, seminrios e discusses em rede; a Coleco de Artigos de Investigao do Desenvolvimento Humano e material de imprensa. Todos os indicadores estatsticos e ferramentas de dados; mapas interactivos, chas descritivas dos pases e outro material podem ser gratuitamente acedidos no website.

Relatrios de Desenvolvimento Humano Nacionais, Subnacionais e RegionaisO primeiro RDH nacional foi lanado em 1992, e desde ento mais de 630 RDH nacionais e subnacionais foram produzidos por equipas de mais de 130 pases com o apoio do PNUD, assim como 35 relatrios regionais. Enquanto documentos de defesa de polticas, estes relatrios trazem o conceito de desenvolvimento humano para os dilogos nacionais atravs de processos de consulta, investigao e escrita realizados e detidos pelos pases. Os dados so frequentemente apresentados em separado para os diferentes gneros e grupos tnicos, ou seguindo linhas rurais / urbanas com vista a identicar desigualdades, a medir o progresso e a lanar os primeiros sinais de alerta de possveis conitos. Em virtude de estes relatrios se fundamentarem em perspectivas locais, podero inuenciar estratgias nacionais, incluindo as polticas para os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio e outras prioridades de desenvolvimento humano. Para mais informaes, ver http://hdr.undp.org/en/nhdr/, incluindo os exemplares de todos os relatrios, um manual sobre a medio, materiais de formao, e outros.

Journal of Human Development and CapabilitiesA Multi-Disciplinary Journal for People-Centered Development [Revista do Desenvolvimento e Capacidades Humanos: Uma Revista Multi-Disciplinar para o Desenvolvimento Centrado nas Pessoas]. Esta revista uma publicao do Gabinete do Relatrio de Desenvolvimento Humano do PNUD e da Associao para o Desenvolvimento e Capacidade Humanos [HDCA Human Development and Capability Association]. Oferece um frum para a aberta troca de ideias entre um abrangente conjunto de decisores polticos, economistas e acadmicos. O Journal of Human Development and Capabilities uma revista analisada por especialistas, publicada trs vezes por ano (Maro, Julho e Novembro) pela Routledge Journals, uma editora do Taylor and Francis Group Ltd. Para assinaturas, aceda por favor a http://www.tandf.co.uk/journals.

Temas do Relatrio de Desenvolvimento Humano mundial2007/2008 Combater as Alteraes Climticas: Solidariedade Humana num Mundo Dividido 2006 A gua para l da Escassez: Poder, Pobreza e a Crise Mundial da gua 2005 Cooperao Internacional numa Encruzilhada: Ajuda, Comrcio e Segurana num Mundo Desigual 2004 Liberdade Cultural num Mundo Diversicado 2003 Objectivos de Desenvolvimento do Milnio: Um Pacto entre Naes para Eliminar a Pobreza Humana 2002 Aprofundar a democracia num mundo fragmentado 2001 Fazendo as Novas Tecnologias Trabalhar para o Desenvolvimento Humano 2000 Direitos Humanos e Desenvolvimento Humano 1999 Globalizao com uma Face Humana 1998 Padres de Consumo para o Desenvolvimento Humano 1997 Desenvolvimento Humano para Erradicar a Pobreza 1996 Crescimento Econmico e Desenvolvimento Humano 1995 Gnero e Desenvolvimento Humano 1994 Novas dimenses da Segurana Humana 1993 Participao das Pessoas 1992 Dimenses Globais do Desenvolvimento Humano 1991 Financiamento do Desenvolvimento Humano 1990 Conceito e Medida do Desenvolvimento Humano

Relatrio de Desenvolvimento Humano 2009Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Publicado para o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Agradecimento: A traduo e a publicao da edio portuguesa do Relatrio do Desenvolvimento Humano 2009 s foram possveis graas ao apoio do Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD)

Copyright 2009 Pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento 1 UN Plaza, New York, 10017, USA Todos os direitos reservados. Nenhum excerto desta publicao poder ser reproduzido, armazenado num sistema de recuperao ou transmitido sob qualquer forma ou por qualquer meio, nomeadamente, electrnico, mecnico, tipogrco, de gravao ou outro, sem prvia permisso. Depsito Legal: 299856/09 ISBN 978-972-40-3945-9 Primeira publicao em 2009 por Palgrave Macmillan Houndmills, Basingstoke, Hampshire RG21 6XS and 175 Fifth Avenue, New York, NY 10010 Companhias e representantes em todo o mundo A Palgrave Macmillan no Reino Unido uma editora da Macmillan Publishers Limited, registada em Inglaterra, sob o nmero 785998, de Houndmills, Basingstoke, Hampshire RG21 6XS. A Palgrave Macmillan nos EUA uma diviso da St Martins Press LLC, 175 Fifth Avenue, New York, NY 10010. A Palgrave Macmillan a editora acadmica global das companhias acima mencionadas e detm companhias e representantes em todo o mundo. A Palgrave e a Macmillan so marcas registadas nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Europa e em outros pases. Edies Almedina, SA Avenida Ferno de Magalhes, N 584, 5 Andar 3000-174 Coimbra/Portugal www.almedina.net Impresso pela G.C. Grca de Coimbra, Lda. A capa foi impressa em cartolina Trucard 240 grs com baixa gramagem e revestimento numa das faces, sem cloro e em conformidade com as linhas directrizes do Plano de desenvolvimento Sustentvel da Floresta. As pginas de texto foram impressas em 60 grs Munken Lynx um papel obtido a partir de bra branqueada 30% reciclada ps-consumidor, certicado pelo Forest Stewardship Council, e sem cloro. Tanto a capa como as pginas de texto so impressas usando tintas vegetais e produzidas por meio de tecnologias compatveis com o ambiente.

Edio e Layout: Green Ink Design: ZAGO Para uma lista de eventuais erros ou omisses encontrados posteriormente impresso, visite, por favor, o nosso website em http://hdr.undp.org

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Equipa Team

Equipa responsvel pela elaborao do Relatrio de Desenvolvimento Humano 2009Directora Jeni Klugman Pesquisa Coordenao de Francisco R. Rodrguez, com a colaborao de Ginette Azcona, Matthew Cummins, Ricardo Fuentes Nieva, Mamaye Gebretsadik, Wei Ha, Marieke Kleemans, Emmanuel Letouz, Roshni Menon, Daniel Ortega, Isabel Medalho Pereira, Mark Purser e Cecilia Ugaz (directora adjunta at Outubro de 2008). Estatstica Coordenao de Alison Kennedy, com a colaborao de Liliana Carvajal, Amie Gaye, Shreyasi Jha, Papa Seck e Andrew Thornton. RDH nacionais e rede de colaboradores Eva Jespersen (directora adjunta do GRDH), Mary Ann Mwangi, Paola Pagliani e Timothy Scott. Promoo e divulgao Coordeno de Marisol Sanjines, com a colaborao de Wynne Boelt, Jean-Yves Hamel, Melissa Hernandez, Pedro Manuel Moreno e Yolanda Polo. Produo, traduo, plano oramental e operaes, administrao Carlotta Aiello (coordenadora de produo), Sarantuya Mend (directora de operaes), Fe Juarez-Shanahan e Oscar Bernal.

iii

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Foreword Prefcio

Prefcio comum que o tema da migrao seja tratado com impopularidade pelos meios de comunicao. Esteretipos negativos que representam os migrantes como algum que nos vem roubar os empregos ou que vive s custas do contribuinte abundam nas seces dos media e junto da opinio pblica, especialmente em pocas de recesso. Para outros, porm, a palavra migrantepoder evocar imagens de pessoas em situaes de extrema vulnerabilidade. O Relatrio de Desenvolvimento Humano de este ano, Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos, vem desafiar esses esteretipos, procurando alargar e reequilibrar as percepes que existem da migrao, de modo a reflectir uma realidade que se afigura mais complexa e bastante varivel.

Este relatrio vem abrir novos caminhos ao aplicar uma abordagem do desenvolvimento humano ao estudo da migrao. Desenvolve uma discusso sobre quem so os migrantes, de onde vm e para onde vo, e por que se deslocam. Paralelamente, lana um olhar sobre os mltiplos impactos da migrao junto de todos aqueles que so por ela afectados no s os que partem, mas tambm os que ficam. Desta feita, as concluses do relatrio trazem uma nova luz sobre algumas concepes erradas comuns. Por exemplo, a migrao a partir de pases em desenvolvimento em direco a pases desenvolvidos corresponde apenas a uma pequena parte de todas as deslocaes humanas. Efectivamente, a migrao a partir de um pas em desenvolvimento para outro nas mesmas circunstncias muito mais comum. Para mais, a maioria dos migrantes no se desloca para o estrangeiro, mas antes para outro ponto do seu prprio pas. Alm disso, a maior parte dos migrantes, longe de serem vtimas, tendem a ser bem sucedidos, tanto antes de deixarem os seus lares de origem como aps a chegada ao seu destino. De facto, os resultados relativamente a todos os aspectos do desenvolvimento humano, no s no que respeita aos rendimentos, mas tambm educao e sade, so, de um modo geral, positivos alguns so at extremamente positivos como, nomeadamente, no caso de pessoas oriundas dos lugares mais pobres que acabam por obter os maiores rendimentos e benefcios.

Analisando-se uma extensa bibliografia sobre o assunto, o relatrio conclui que o receio de os migrantes serem responsveis pela diminuio do nmero de empregos ou dos salrios da populao local, constituindo um fardo indesejvel para os servios locais, ou custando muito dinheiro aos contribuintes , geralmente, exagerado. Quando as competncias dos migrantes complementam aquelas das populaes locais, ambos os grupos saem beneficiados. As sociedades no seu todo podero igualmente beneficiar de variados modos desde atravs de um aumento dos nveis de inovao tcnica at uma gastronomia cada vez mais diversificada para a qual os migrantes contribuem. O relatrio sugere que as respostas polticas migrao podero ser insatisfatrias. Muitos governos instituem regimes de entrada no pas cada vez mais repressivos, viram as costas violao de questes de sade e de segurana por parte de entidades empregadoras, ou no tomam medidas que adequadamente eduquem o pblico sobre os benefcios da imigrao. Ao examinar solues polticas com vista a alargar as liberdades das pessoas, em vez de se controlar ou restringir as deslocaes humanas, este relatrio prope um conjunto de reformas vigorosas. Quando adaptadas aos contextos especficos de cada pas, estas alteraes podero optimizar as j substanciais contribuies que a mobilidade humana tem prestado ao desenvolvimento humano.v

Prefcio

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

As principais reformas sugeridas centram-se em seis reas, cada uma das quais prendendo-se com contributos importantes e complementares para o desenvolvimento humano: alargamento dos canais de entrada existentes para que mais trabalhadores possam emigrar; garantia de direitos bsicos aos migrantes; diminuio dos custos da migrao; procura de solues que beneficiem tanto as comunidades de destino como os migrantes que elas acolhem; maior facilidade nas deslocaes para pessoas que migram dentro dos limites do seu prprio pas; e o tratamento da migrao como um dos factores preponderante nas estratgias de desenvolvimento nacionais. Segundo se defende no presente relatrio, embora muitas de estas reformas sejam mais exequveis do que partida possam parecer, todas elas requerem coragem poltica para as colocar em prtica. No entanto, sabido que os governos podem estar sujeitos a algumas limitaes no que respeita sua capacidade de introduzir alteraes polticas imediatas enquanto a recesso persistir. Este o primeiro Relatrio de Desenvolvimento Humano para o qual redigi o prefcio enquanto

administradora. Como todos os outros relatrios, tambm este consiste num estudo independente que visa essencialmente estimular o debate e a discusso sobre uma matria importante. No representa, efectivamente, qualquer expresso das polticas das Naes Unidas ou do PNUD. Simultaneamente, sublinhando-se a mobilidade humana como uma componente central da agenda do desenvolvimento humano, o PNUD espera que as consideraes aqui produzidas constituam uma mais-valia para o actual debate sobre a migrao e que se tenha conseguido transmitir informao sobre o trabalho dos especialistas em desenvolvimento e dos decisores polticos em todo o mundo.

Helen ClarkAdministradora Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

As recomendaes de anlise e de polticas mencionadas no Relatrio no reectem necessariamente as perspectivas do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, ou do seu Conselho Executivo, ou mesmo dos seus Estados-Membros. O Relatrio uma publicao independente sob a responsabilidade do PNUD. fruto de um esforo de cooperao por parte de uma equipa de consultores e conselheiros eminentes e da equipa do Relatrio de Desenvolvimento Humano. Jeni Klugman, Directora do Gabinete do Relatrio de Desenvolvimento Humano, coordenou este grupo de trabalho. vi

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Agradecimentos

AgradecimentosEste relatrio o resultado dos esforos, contributos e apoio de muitas pessoas e organizaes. Gostaria de agradecer a Kemal Dervi pela oportunidade de poder assumir desafiantes tarefas enquanto Directora do Relatrio de Desenvolvimento Humano, bem como nova administradora do PNUD, Helen Clark, pelos conselhos e apoio. Regressar ao gabinete depois dos seus 20 anos de crescimento e sucesso foi uma experincia tremendamente gratificante. Gostaria de dirigir especiais agradecimentos minha famlia, nomeadamente, a Ema, a Josh e a Billy, pela sua pacincia e apoio durante todo este perodo. A dedicao e o rduo trabalho de toda a equipa do RDH, nomeada anteriormente, foram cruciais. Entre aqueles que ofereceram importantes sugestes e conselhos estratgicos, e que foram especialmente decisivos na elaborao do presente relatrio, encontram-se Oliver Bakewell, Martin Bell, Stephen Castles, Joseph Chamie, Samuel Choritz, Michael Clemens, Simon Commander, Sakiko Fukuda-Parr, Hein de Haas, Frank Laczko, Loren Landau, Manjula Luthria, Gregory Maniatis, Philip Martin, Douglas Massey, Saraswathi Menon, Frances Stewart, Michael Walton e Kevin Watkins. Realizaram-se alguns estudos de apoio, devidamente referidos na seco da bibliografia, sobre um conjunto de questes temticas. Esses estudos encontram-se igualmente publicados online no mbito da nossa Coleco de Artigos de Investigao do Desenvolvimento Humano, lanada em Abril de 2009. De igual modo, uma srie de 27 seminrios que tiveram lugar entre Agosto de 2008 e Abril de 2009 ofereceram um estmulo importante para o nosso pensamento e desenvolvimento de ideias, pelo que gostaramos de agradecer novamente queles oradores por terem partilhado as suas investigaes e ideias. Estamos tambm profundamente gratos aos peritos nacionais que participaram na nossa avaliao das polticas de migrao, dando os seus preciosos contributos. Os dados e estatsticas usados neste relatrio resultam significativamente das bases de dados de outras organizaes, s quais nos foi generosamente concedido o acesso: Andean Development Corporation; Centro de Investigao de Desenvolvimento para a Migrao, Universidade de Sussex; ECLAC; o Instituto de Migrao Internacional de Oxford; Unio Interparlamentar; Centro de Controlo de Deslocaes Internas; o Departamento de Estatstica e o Programa de Migrao Internacional da OIT; OIM; Estudos de Rendimento do Luxemburgo; OCDE; UNICEF; DAESNU, Diviso de Estatstica e Diviso da Populao; Instituto de Estatstica da UNESCO; ACNUR; UNRWA; Seco dos Tratados do Gabinete de Assuntos Jurdicos das Naes Unidas; o Banco Mundial e a OMS. O relatrio beneficiou enormemente com os conselhos e orientaes de um painel de consultores acadmicos. Deste painel fizeram parte Maruja Asis, Richard Black, Caroline Brettell, Stephen Castles, Simon Commander, Jeff Crisp, Priya Deshingkar, Cai Fang, Elizabeth Ferris, Bill Frelick, Sergei Guriev, Gordon Hanson, Ricardo Hausmann, Michele Klein-Solomon, Kishore Mahbubani, Andrew Norman Mold, Kathleen Newland, Yaw Nyarko, Jos Antonio Ocampo, Gustav Ranis, Bonaventure Rutinwa, Javier Santiso, Maurice Schiff, Frances Stewart, Elizabeth Thomas-Hope, Jeffrey Williamson, Ngaire Woods e Hania Zlotnik. Desde o incio, a elaborao do presente relatrio envolveu um conjunto de consultas destinadas a reunir e explorar as opinies de investigadores, defensores da sociedade civil, especialistas em desenvolvimento e decisores polticos de todo o globo, os quais tiveram, assim, participao em todo o processo. Realizaram-se, nomeadamente, 11 consultas informais a intervenientes, entre Agosto de 2008 e Abril de 2009, em Nairbi, Nova Deli, Am, Bratislava, Manila, Sydney, Dakar, Rio de Janeiro, Genebra, Turim e Joanesburgo, envolvendo um total de quase 300 peritos e especialistas. O apoio das delegaes nacionais e regionais, bem como de parceiros locais do PNUD foi crucial para a realizao destas consultas. Vrios eventos foram organizados por parceiros fundamentais, incluindo a OIM, a OIT e o Instituto de Poltica de Migrao. Outras consultas de nvel acadmico tiveram lugar em Washington D. C. e em Princeton, tendo a equipa do GRDH participado em vrios outros fruns regionais e mundiais, incluindo o Frum Mundial sobre Migraes e Desenvolvimento (GFMD Forum on Migration and Development)vii

Agradecimentos

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

em Manila, encontros de preparao para o GFMD de Atenas, e muitas conferncias e seminrios organizados por outras agncias das Naes Unidas (por exemplo, o DAESNU, o Instituto das Naes Unidas para a Formao e Investigao / UNITAR United Nations Institute for Training and Research e a OIT ), universidades, academias e organizaes no governamentais. Os que participaram numa srie de discusses de Redes de Desenvolvimento Humano forneceram ideias e observaes abrangentes sobre as interligaes entre migrao e desenvolvimento humano. Outros pormenores sobre o processo encontram-se disponveis em: http://hdr.undp.org/en/nhdr. Um Grupo de Leitores do PNUD, que inclui representantes de todas as delegaes regionais e polticas, deram o seu contributo com muitas informaes e sugestes teis sobre as caractersticas associadas ao conceito e as primeiras verses do relatrio, semelhana de outros colegas, que igualmente nos forneceram informaes e conselhos pertinentes. Gostaramos de agradecer especialmente a Amat Alsoswa, Carolina Azevedo, Barbara Barungi, Tony Bislimi, Kim Bolduc, Winifred Byanyima, Ajay Chhibber, Samuel Choritz, Pedro Conceio, Awa Dabo, Georgina Fekete, Priya Gajraj, Enrique Ganuza, Tegegnework Gettu, Rebeca Grynspan, Sultan Hajiyev, Mona Hammam, Mette Bloch Hansen, Mari Huseby, Selim Jahan, Bruce Jenks, Arun Kashyap, Olav Kjoren, Paul Ladd, Luis Felipe Lpez-Calva, Tanni Mukhopadhyay, B. Murali, Theodore Murphy, Mihail Peleah, Amin Sharkawi, Kori Udovicki, Mourad Wahba e Caitlin Wiesen pelos seus comentrios. Uma equipa da Green Ink, coordenada por Simon Chater, forneceu-nos os servios de edio.

O trabalho de design grfico da autoria de Zago. Guoping Huang desenvolveu alguns dos mapas. A produo, traduo, distribuio e promoo do relatrio beneficiaram da ajuda e apoio do Gabinete de Comunicao do PNUD, e particularmente de Maureen Lynch. As tradues foram revistas por Luc Gregoire, Madi Musa, Uladzimir Shcherbau e Oscar Yujnovsky. Margaret Chi e Solaiman Al-Rifai do Gabinete das Naes Unidas para os Servios de Apoio aos Projectos deram tambm o seu contributo, oferecendo apoio administrativo e servios de coordenao que se revelaram cruciais. O relatrio beneficiou tambm do trabalho dedicado de alguns estagirios, nomeadamente, Shreya Basu, Vanessa Alicia Chee, Delphine De Quina, Rebecca Lee Funk, Chloe Yuk Ting Heung, Abid Raza Khan, Alastair Mackay, Grace Parker, Clare Potter, Limon B. Rodriguez, Nicolas Roy, Kristina Shapiro e David Stubbs. Agradecemos a todos aqueles que estiveram directa ou indirectamente envolvidos na orientao dos nossos esforos, assumindo todavia toda a responsabilidade por eventuais erros de omisso e de comisso.

Jeni KlugmanDirectora Relatrio de Desenvolvimento Humano 2009

viii

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Acrnimos

ACNUR AGCS CCG CDC CEDCM CEDEAO CEPAL CTM DAESNU DERP DPI EIU ERP GRDH HDI MIPEX OCDE OIM OIT OMC OMS ONG PIB PNUD RDH TMB UE UNESCO UNICEF UNODC UNRWA URSS

Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios Conselho de Cooperao do Golfo Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos da Criana Conveno da ONU para a Eliminao de todas as Formas de Discriminao contra as Mulheres Comunidade Econmica dos Estados da frica Ocidental Comisso Econmica para a Amrica Latina e Carabas Conveno Internacional da ONU sobre a Proteco dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e Membros das suas Famlias Departamento dos Assuntos Econmicos e Sociais das Naes Unidas Documentos de Estratgia para a Reduo da Pobreza Desenvolvimento da Primeira Infncia Unidade de Inteligncia do Economista Estratgia para a Reduo da Pobreza Gabinete do Relatrio de Desenvolvimento Humano ndice de Desenvolvimento Humano ndex de Polticas de Integrao de Migrantes Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico Organizao Internacional para as Migraes Organizao Internacional do Trabalho Organizao Mundial do Comrcio Organizao Mundial de Sade Organizao No Governamental Produto Interno Bruto Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento Relatrio de Desenvolvimento Humano Comit de Controlo de Tratados Unio Europeia Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura Fundo das Naes Unidas para a Infncia Gabinete das Naes Unidas contra a Droga e o Crime Agncia das Naes Unidas de Assistncia aos Refugiados da Palestina no Prximo Oriente Unio das Repblicas Socialistas Soviticas

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

ix

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

Contents ndice

ndicePrefcio Agradecimentos Acrnimos e abreviaturas v vii ix

CAPTULO 4Os impactos na origem e no destino 4.1 Os impactos nos lugares de origem 4.1.1 Efeitos ao nvel do agregado familiar 4.1.2 Efeitos econmicos ao nvel da comunidade e da nao 4.1.3 Efeitos sociais e culturais 4.1.4 Estratgias de mobilidade e de desenvolvimento nacional 4.2 Efeitos nos locais de destino 4.2.1 Impactos econmicos em agregado 4.2.2 Impactos no mercado de trabalho 4.2.3 Urbanizao rpida 4.2.4 Impactos scais 4.2.5 Percepes e preocupaes acerca da migrao 4.3 Concluses 71 71 71 76 79 82 83 84 85 86 87 89 92

SNTESEComo e por que razo as pessoas se deslocam Obstculos deslocao Os argumentos a favor da mobilidade A nossa proposta O caminho em frente

11 2 3 4 6

CAPTULO 1Liberdade e deslocao: como a mobilidade pode estimular o desenvolvimento humano 1.1 Questes de mobilidade 1.2 Escolha e contexto: compreender a razo pela qual as pessoas se deslocam 1.3 Desenvolvimento, liberdade e mobilidade humana 1.4 O que trazemos para a mesa de debate

9 9 12 14 16

CAPTULO 5Polticas e instituies para optimizar os resultados do desenvolvimento humano 5.1 O pacote principal 5.1.1 Liberalizar e simplicar os canais regulares 5.1.2 Garantir direitos bsicos para os migrantes 5.1.3 Reduzir os custos das transaces associados s deslocaes 5.1.4 Melhorar os resultados para os migrantes e as comunidades de destino 5.1.5 Possibilitar os benefcios da mobilidade interna 5.1.6 Tratar a mobilidade como uma parte integrante das estratgias de desenvolvimento nacional 5.2 A viabilidade poltica da reforma 5.3 Concluses Notas Bibliograa 95 96 96 99 102 104 106 107 108 111 113 119

CAPTULO 2Pessoas em movimento: quem se desloca para onde, quando e porqu 2.1 As deslocaes humanas hoje 2.2 Olhando para trs 2.2.1 A viso a longo prazo 2.2.2 O sculo XX 2.3 Polticas e deslocao 2.4 Olhando em frente: a crise e para alm dela 2.4.1 A crise econmica e as perspectivas de retoma 2.4.2 Tendncias demogrcas 2.4.3 Factores ambientais 2.5 Concluses 21 21 28 28 30 33 40 41 43 44 46

CAPTULO 3Como se saem os migrantes 3.1 Rendimento e padres de vida 3.1.1 Impactos no rendimento bruto 3.1.2 Custos nanceiros da deslocao 3.2 Sade 3.3 Educao 3.4 Inuncia, direitos civis e participao 3.5 Compreender os resultados de factores negativos 3.5.1 Quando a insegurana leva deslocao 3.5.2 Deslocaes induzidas por desenvolvimento 3.5.3 Trco humano 3.6 Impactos gerais 3.7 Concluses 49 49 50 53 55 57 60 62 62 64 65 67 68

ANEXO ESTATSTICOTabelas Guia do leitor Nota tcnica Denies de termos e indicadores estatsticos Classicao dos pases 143 203 208 209 213

xi

ndice

RELATRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2009 Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos

CAIXAS1.1 1.2 1.3 1.4 2.1 2.2 2.3 2.4 3.1 3.2 3.3 3.4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 Estimar o impacto das deslocaes O modo como as deslocaes so importantes para a avaliao do progresso Termos bsicos usados no presente relatrio Como a migrao vista pelos pobres? Quanticao de migrantes irregulares Deslocaes induzidas por conito e trco Tendncias de migrao na antiga Unio Sovitica Gesto global da mobilidade China: Polticas e resultados associados migrao interna Crianas migrantes independentes A prxima gerao Mecanismos de aplicao na Malsia O modo como os telemveis podem reduzir os custos das transferncias de dinheiro: o caso do Qunia A crise de 2009 e as remessas Os impactos dos uxos de competncias no desenvolvimento humano A mobilidade e as perspectivas de desenvolvimento de Estados pequenos A mobilidade e o desenvolvimento humano: algumas perspectivas dos pases em desenvolvimento Abrir canais regulares A Sucia e a Nova Zelndia Experincia com a regularizao Reduzir a burocracia dos documentos: um desao para os governos e parceiros Reconhecimento de qualicaes Quando as pessoas qualicadas emigram: algumas opes polticas 12 14 15 16 23 26 31 39 52 59 60 62 74 75 77 80 82 97 98 103 105 109

FIGURAS2.1 Muito mais pessoas deslocam-se dentro de fronteiras do que para fora delas 22 2.2 Os mais pobres so quem mais tem a ganhar com as deslocaes 23 2.3 mas tambm se deslocam menos 25 2.4 Uma crescente parcela de migrantes provm de pases em desenvolvimento 32 2.5 Fontes e tendncias da migrao para pases em desenvolvimento 33 2.6 Taxas de migrao interna aumentaram apenas ligeiramente 34 2.7 Hiatos no rendimento mundial alargaram 35 2.8 Dar as boas-vindas aos altamente qualicados, alternar os pouco qualicados 36 2.9 As prticas de controlo variam 37 2.10 Evidncias em diferentes pases corroboram pouco a hiptese nmero versus direitos 38 2.11 O desemprego est a aumentar em destinos chave da migrao 41 2.12 Os migrantes esto nos locais mais afectados pela recesso 42 2.13 A populao activa aumentar nas regies em desenvolvimento 44 3.1 Os deslocados tm rendimentos muito mais altos do que os que permanecem nos seus locais de origem 50 3.2 Enormes benefcios salariais para os migrantes altamente qualicados 50 3.3 Benefcios signicativos nos salrios de migrantes internos na Bolvia, especialmente os que tm menores graus de educao 51 3.4 A pobreza mais elevada entre as crianas migrantes, mas as transferncias sociais podero ajudar 53 3.5 Os custos das deslocaes so frequentemente muito elevados 54 3.6 Os custos das deslocaes podem ser muitas vezes os rendimentos mensais esperados 54 3.7 Os lhos de migrantes tm maior probabilidade de sobreviverem 55 3.8 Os migrantes irregulares e temporrios carecem muitas vezes de acesso a servios de assistncia mdica 57 3.9 Os benefcios em termos de escolarizao so maiores para os migrantes de pases com IDH baixo 58 3.10 Os migrantes tm melhor acesso educao em pases desenvolvidos 58 3.11 O direito ao voto est geralmente reservado aos cidados 61 3.12 A escolarizao entre os refugiados excede frequentemente a das comunidades de acolhimento em pases em desenvolvimento 64 3.13 Benefcios signicativos em termos de desenvolvimento humano para deslocados internos 67 3.14 Os migrantes so geralmente to felizes como os nativos 68 4.1 Prev-se que a recesso global tenha impacto nos uxos de remessas 75 4.2 Os trabalhadores qualicados deslocam-se de modo semelhante para fora e dentro dos limites das naes 78 4.3 O apoio imigrao depende da existncia de vagas de emprego 90 4.4 Quando os empregos so limitados, as pessoas do preferncia aos nativos 91 4.5 Muitas pessoas valorizam a diversidade tnica 92 5.1 Raticao da conveno dos direitos dos migrantes foi limitada 100 5.2 Defesa da oportunidade de permanncia 110

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ndice

MAPAS1.1 As fronteiras fazem a diferena 1.2 Os migrantes esto a deslocar-se para locais com melhores oportunidades 2.1 A maioria das deslocaes ocorre dentro das regies 3.1 O conito como causa das deslocaes em frica 4.1 Fluxos de remessas essencialmente de regies desenvolvidas para regies em desenvolvimento 10 11 24 63 73

TABELAS DO ANEXO ESTATSTICOA Deslocao de pessoas: imagens e tendncias B Emigrantes internacionais por rea de residncia C Educao e emprego dos migrantes internacionais em pases da OCDE (com idades a partir de 15 anos) D Deslocaes induzidas por conito e pela insegurana E Fluxos nanceiros internacionais: remessas ajuda pblica ao desenvolvimento e investimento directo estrangeiro F Seleco de convenes relacionadas com direitos humanos e migraes (por ano de raticao) G Tendncias do ndice de desenvolvimento humano H ndice de desenvolvimento humano de 2007 e as componentes que o constituem I1 Pobreza humana e de rendimentos I2 Pobreza humana e de rendimentos: os pases da OCDE J ndice de Desenvolvimento ajustado ao Gnero e as componentes que o constituem K Medida de Participao segundo o Gnero e as suas componentes L Tendncias demogrcas M Economia e Desigualdade N Sade e Educao 143 147 151 155 159 163 167 171 176 180 181 186 191 195 199

TABELAS2.1 Cinco dcadas de estabilidade em agregado, com mudanas regionais 2.2 Os decisores polticos dizem que esto a tentar manter os nveis de imigrao existentes 2.3 Mais de um tero dos pases restringem signicativamente o direito mobilidade 2.4 Rcios de dependncia a aumentar em pases desenvolvidos e a permanecerem estveis nos pases em desenvolvimento 4.1 As ERPs reconhecem os mltiplos impactos da migrao 30 34 40 45 83

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Overview Sntese

SnteseConsideremos o Juan. Nascido no seio de uma famlia pobre no Mxico rural, a famlia lutou muito para lhe poder pagar a assistncia mdica, todos os cuidados e a educao. Com 12 anos, deixou a escola para ajudar no sustento da famlia. Seis anos mais tarde, Juan seguiu o tio na sua ida para o Canad em busca de um melhor salrio e de melhores oportunidades.A esperana mdia de vida no Canad cinco anos mais elevada do que a do Mxico e os rendimentos so trs vezes melhores. Juan foi seleccionado para um trabalho temporrio no Canad, conseguiu o direito de residncia e, por fim, tornou-se empresrio num negcio que agora emprega canadianos nativos. Este apenas um caso de entre milhes de pessoas todos os anos que encontram novas oportunidades e liberdades ao migrarem, beneficiando-se a si mesmas, assim como os seus locais de origem e de destino. Consideremos agora Bhagyawati. Ela vive na zona rural de Andhra Pradesh, na ndia, e pertence a uma casta inferior. Viaja at cidade de Bangalore com os fi lhos para trabalhar nas obras durante seis meses por ano, onde ganha Rs 60 (1,20 dlares americanos) por dia. Enquanto est longe de casa, os fi lhos no vo escola porque esta fica demasiado longe do local da construo e, para mais, no sabem falar o idioma local. Bhagyawati no tem direito a qualquer subsdio de alimentao ou de assistncia mdica, e nem exerce o direito de voto, porque vive fora do distrito onde est registada. Como milhes de outros migrantes internos, dispe de poucas opes para melhorar a sua vida para alm de se mudar para uma cidade diferente em busca de melhores oportunidades. O nosso mundo muito desigual. As enormes diferenas em termos de desenvolvimento humano entre e dentro de cada pas tm constitudo um tema recorrente do Relatrio de Desenvolvimento Humano (RDH) desde a sua primeira publicao, em 1990. No relatrio de este ano, exploramos pela primeira vez o assunto da migrao. Para muitas pessoas de pases em desenvolvimento, sair da sua cidade natal, ou da sua aldeia, poder ser a melhor ou, s vezes, a nica opo para melhorar as suas oportunidades de vida. Com efeito, essa mudana poder melhorar bastante os seus rendimentos individuais e familiares, os nveis de educao e de participao, assim como as perspectivas futuras dos seus fi lhos. Mas essa alterao geogrfica tem um valor para alm disso: ter-se a possibilidade de decidir onde viver um elemento fundamental da liberdade humana. Quando as pessoas se deslocam, quer atravessem ou no fronteiras internacionais, embarcam numa viagem de esperana e de incertezas. A maioria parte em busca de melhores oportunidades, na esperana de poder aliar os seus prprios talentos aos recursos existentes nos pases de destino, obtendo, assim, benefcios para si e para a sua famlia mais directa, que frequentemente os acompanha ou os segue posteriormente. Se forem bem sucedidos, a sua iniciativa e os seus esforos podero tambm beneficiar aqueles que deixaram para trs, bem como a sociedade no seio da qual construram os seus novos lares. Mas nem todos so, efectivamente, bem sucedidos. Os migrantes que deixam os amigos e a famlia podero vir a enfrentar a solido, sentir que no so bem-vindos entre as pessoas que temem ou que hostilizam os estrangeiros recm-chegados, podero perder o emprego ou adoecer e, por isso, no ser capaz de aceder aos servios de apoio de que necessitam para prosperar. O RDH 2009 explora o modo como melhores polticas para a mobilidade humana podero fomentar o desenvolvimento humano. Nomeadamente, sugere-se que os governos reduzam as restries no que respeita s deslocaes, dentro dos limites do seu territrio e para fora dele, para assim alargar a possibilidade de escolha dos indivduos e as prprias liberdades humanas. Nesse sentido, defende-se um conjunto de medidas prticas que podero melhorar as perspectivas dos migrantes chegada, o que, por sua vez, trar enormes benefcios tanto para as comunidades de destino como para os locais de origem. Como e por que razo as pessoas se deslocam A perspectiva que constitui tipicamente o ponto de partida de todas as discusses sobre migrao a dos fluxos que se deslocam a partir dos pases em desenvolvimento em direco aos pases ricos da Europa,1

Sntese

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A maior parte dos migrantes, internos e internacionais, consegue alcanar melhores rendimentos, melhor acesso educao e assistncia mdica e melhores perspectivas de vida para os seus lhos.

da Amrica do Norte e da Australsia. Contudo, a maioria das deslocaes no mundo no aquela entre os pases em desenvolvimento e os pases desenvolvidos. Na verdade, no sequer aquela que se verifica entre pases. Com efeito, a esmagadora maioria das pessoas que se desloca f-lo dentro do seu prprio pas. Para usar uma defi nio conservadora, estimamos que aproximadamente 740 milhes de pessoas sejam migrantes internas quase quatro vezes mais do que aquelas que se deslocaram internacionalmente. Entre as pessoas que se deslocaram atravessando fronteiras nacionais, pouco mais de um tero mudaram-se de um pas em desenvolvimento para um pas desenvolvido menos de 70 milhes de pessoas. A maioria dos 200 milhes de migrantes internacionais do mundo mudou-se de um pas em desenvolvimento para outro, ou entre pases desenvolvidos. A maior parte dos migrantes, internos e internacionais, consegue alcanar melhores rendimentos, melhor acesso educao e assistncia mdica e melhores perspectivas de vida para os seus filhos. Estudos realizados sobre os migrantes do conta que a maioria afirma sentir-se feliz nos seus pases de destino, apesar de uma srie de reajustes e obstculos que se prendem tipicamente com a prpria mudana. Uma vez estabelecidos, os migrantes aderem frequentemente mais a sindicatos ou a grupos religiosos e outros do que os residentes locais. Contudo, existe um outro lado da moeda e os benefcios da mobilidade no esto distribudos de forma equitativa. As pessoas que se deslocam por motivos de insegurana e de conflito enfrentam desafios especiais. Estima-se que existam 14 milhes de refugiados a viver fora do seu pas de cidadania, os quais representam cerca de 7% dos migrantes de todo o mundo. A maioria permanece perto do pas do qual fugiu e vive tipicamente em campos de refugiados at que as condies no seu pas permitam o seu regresso. Porm, cerca de meio milho por ano viajam at pases desenvolvidos em busca de asilo. Um nmero muito superior, que ronda os 26 milhes, tem estado deslocado internamente. Estas pessoas no atravessaram quaisquer fronteiras, mas podem enfrentar especiais dificuldades longe de casa, num pas fragmentado pelo confl ito ou devastado por desastres naturais. Outro grupo vulnervel consiste em pessoas principalmente mulheres jovens que foram traficadas. Muitas vezes enganadas com promessas de uma vida melhor, a sua deslocao no se d de livre vontade mas por coao, muitas vezes acompanhada de violncia e abuso sexual.

Todavia, em geral, as pessoas mudam-se por sua livre vontade, para lugares com melhores condies. Mais de trs quartos dos migrantes internacionais vo para um pas com um nvel mais elevado de desenvolvimento humano do que o do seu pas de origem. Porm, so significativamente restringidos por polticas que impem obstculos sua entrada e pela escassez de recursos disponveis que lhes permitam a deslocao. As pessoas de pases pobres so as que menos se mudam: por exemplo, o nmero de africanos que se mudou para a Europa inferior a 1%. Com efeito, a histria e as evidncias actuais sugerem que o desenvolvimento e a migrao andam de mos dadas: a taxa mediana de emigrao num pas com desenvolvimento humano baixo inferior a 4%, ao passo que em pases com nveis elevados de desenvolvimento humano superior a 8%. Obstculos deslocao A taxa de migrantes internacionais entre a populao mundial tem-se mantido notavelmente estvel em cerca de 3% nos ltimos 50 anos, embora se pudesse esperar, dada a existncia de determinados factores, um aumento no fluxo. As tendncias demogrficas a saber, uma populao envelhecida nos pases desenvolvidos e populaes jovens, em crescimento, nos pases em desenvolvimento e as crescentes oportunidades de emprego, aliadas a comunicaes e transportes mais baratos, fizeram aumentar o desejo de migrao. No entanto, aqueles que procuram migrar tm encontrado cada vez mais obstculos sua deslocao em virtude das polticas dos governos. Efectivamente, para alm de o nmero de estadosnao ter quadruplicado para quase 200 no sculo anterior, criando-se, por conseguinte, mais fronteiras para atravessar, as alteraes nas polticas dos pases continuaram a limitar a escala das migraes, mesmo quando as barreiras ao comrcio se abriram. Os obstculos mobilidade so especialmente grandes para as pessoas pouco qualificadas, apesar de muitos pases ricos procurarem os seus servios. As polticas favorecem geralmente a admisso dos mais instrudos, por exemplo, ao permitir que os estudantes permaneam no pas aps completarem os seus graus acadmicos e ao convidar determinados profissionais a estabelecerem-se com as suas famlias. Mas os governos tendem a ser muito mais ambivalentes relativamente a trabalhadores pouco qualificados, cujo estatuto e trato deixam muito a desejar. Em muitos pases, os sectores da agricultura, da construo, da produo fabril e dos servios abrangem postos de trabalho que

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so preenchidos por esses migrantes. Porm, os governos procuram muitas vezes manter as pessoas menos instrudas em circulao para dentro e para fora do pas, tratando por vezes os trabalhadores temporrios que no esto devidamente legalizados como a gua de uma torneira que se pode abrir e fechar vontade. Estima-se que 50 milhes de pessoas estejam a viver e a trabalhar no estrangeiro com um estatuto irregular. Alguns pases, tais como a Tailndia e os Estados Unidos, toleram um elevado nmero de trabalhadores no autorizados. Isso permite-lhes aceder a empregos mais bem remunerados do que os que conseguem nos seus pases mas, apesar de frequentemente realizarem o mesmo trabalho e pagarem os mesmos impostos que os residentes nativos, podero no ter acesso a servios bsicos, correndo tambm o risco de serem deportados. Alguns governos, tais como o de Itlia e de Espanha, reconheceram que os migrantes no qualificados contribuem para as suas sociedades, pelo que regularizaram aqueles que tinham trabalho. Outros pases ainda, tais como o Canad e a Nova Zelndia, tm programas de migrantes sazonais bem definidos para sectores como o da agricultura. De facto, h um amplo consenso sobre o valor da migrao qualificada para os pases de destino. Contrariamente, os trabalhadores migrantes com poucas qualificaes geram muita controvrsia. De um modo geral, embora alguns acreditem que estes migrantes venham efectivamente preencher postos de trabalho vagos, entre outros persiste a ideia de que vm sobretudo roubar o emprego a trabalhadores nativos e so, para alm disso, responsveis pela reduo dos nveis salariais. Entre outras preocupaes manifestadas perante os fluxos de entrada de migrantes, tem-se apontado um maior risco de criminalidade, uma acrescida sobrecarga para as infra-estruturas dos servios locais e o receio de se perder coeso social e cultural. Mas estas preocupaes revelam-se muitas vezes desmesuradas. Embora as investigaes evidenciem a possibilidade de a migrao, em determinadas circunstncias, ter efeitos negativos nos trabalhadores nativos com as mesmas qualificaes, o conjunto de factos apurados sugere que estes efeitos so geralmente pouco significativos e podem, em alguns contextos, ser totalmente inexistentes. Os argumentos a favor da mobilidade Este relatrio defende que os migrantes aumentam a produtividade econmica, com um custo irrelevante ou inexistente para os cidados nativos. Efectivamente, os efeitos positivos podero ser muito

abrangentes por exemplo, quando a disponibilidade dos migrantes para a prestao de servios de cuidados infantis permite que as mes trabalhem fora de casa. medida que os migrantes adquirem a lngua e outras competncias necessrias para progredir nos seus nveis de rendimento, muitos integram-se muito naturalmente, fazendo com que os receios relativamente actual chegada de estrangeiros culturalmente inassimilveis no pas semelhantes queles manifestados no incio do sculo XX na Amrica face aos irlandeses, por exemplo paream infundados. Todavia, tambm verdade que muitos migrantes enfrentam desvantagens sistemticas, que lhes dificultam ou os impossibilitam de obter o mesmo acesso que os nativos tm aos servios locais. Este problema afigura-se especialmente grave no que diz respeito aos trabalhadores temporrios e em situao irregular. Nos pases de origem dos migrantes, os impactos das deslocaes so sentidos sob a forma de mais elevados rendimentos, maior consumo, melhor educao e condies de sade, e um aumento geral nos nveis cultural e social. Os benefcios mais directos que comummente emergem com a mudana geogrfica prendem-se com as remessas enviadas aos membros da famlia mais prxima. de salientar, porm, que as repercusses desses benefcios tm um vasto alcance: ao serem gastas, as remessas levam criao de emprego para os trabalhadores nativos. Por outro lado, verificase tambm uma alterao do prprio comportamento das pessoas, em resposta s ideias que lhes chegam do estrangeiro. Para dar um exemplo significativo, notese como esta abertura pode levar a que se permita que as mulheres se libertem dos seus papis tradicionais. A natureza e a extenso destes impactos dependem de quem se desloca, de como se sai no estrangeiro e de permanecer ou no ligado s suas razes atravs de fluxos de dinheiro, conhecimento e ideias. Em virtude de os migrantes tenderem a chegar em elevado nmero a partir de determinados locais especficos por exemplo, de Kerala, na ndia, ou da provncia de Fujian, na China , os efeitos ao nvel da sua comunidade podem ser mais preponderantes do que propriamente ao nvel nacional. Todavia, a longo prazo, os efeitos do fluxo de ideias fomentado pelas deslocaes humanas podero atingir tais propores que acabam por afectar as prprias normas e estruturas sociais em todo um pas. O fluxo de sada de competncias muitas vezes visto como negativo, particularmente, no que respeita prestao de certos servios, tais como aqueles na rea da educao e da sade. No entanto, mesmo quando este o caso, a melhor resposta encetar polticas que

Baixar as barreiras que se interpem s deslocaes e melhorar o tratamento dedicado queles que se deslocam podero trazer grandes vantagens para o desenvolvimento humano.

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Sntese

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As duas dimenses mais significativas da agenda da mobilidade, onde h ainda espao para melhores polticas, so, a admisso e o tratamento.

abordem os problemas estruturais que motivaram essa sada, tais como baixos vencimentos, financiamentos inadequados e instituies fracas. Atribuir a culpa pela perda de trabalhadores qualificados aos prprios trabalhadores uma atitude que escamoteia as verdadeiras razes pelas quais estes abandonam os seus pases, e restries sua mobilidade sero provavelmente contra produtivas para no mencionar o facto de que essas restries negam o direito humano bsico de algum deixar o seu prprio pas. No entanto, a migrao internacional, mesmo que politicamente bem gerida, no representa, s por si, uma estratgia de desenvolvimento humano nacional. Com poucas excepes (e sobretudo em pequenos Estados insulares, onde mais de 40% dos habitantes se deslocam para o estrangeiro), no provvel que a emigrao esteja na base das perspectivas de desenvolvimento de toda uma nao. A migrao , no mximo, uma via que complementa esforos locais e nacionais mais amplos para reduzir a pobreza e melhorar o desenvolvimento humano. Estes esforos, por sua vez, continuam a ser to cruciais como sempre foram at aqui. Enquanto redigamos este relatrio, o mundo estava a passar pela crise econmica mais grave do ltimo meio sculo. Economias que se retraem e momentos caracterizados por elevadas taxas de desemprego esto a afectar milhes de trabalhadores, incluindo os migrantes. Acreditamos que a actual retraco econmica deveria ser vista e aproveitada como uma oportunidade para instituir novos acordos para os migrantes acordos que beneficiassem tanto aqueles que trabalham no seu prprio pas como os que trabalham no estrangeiro, prevenindo-se uma reaco adversa proteccionista. Com a retoma, muitas das mesmas tendncias que tm fomentado e influenciado as deslocaes durante o ltimo meio sculo surgiro novamente, levando a que mais pessoas desejem migrar. vital que os governos comecem a pr em prtica as medidas necessrias para se prepararem para esta situao. A nossa proposta Baixar as barreiras que se interpem s deslocaes e melhorar o tratamento dedicado queles que se deslocam podero trazer grandes vantagens para o desenvolvimento humano. necessria uma viso vigorosa para se ter a percepo destas vantagens. Este relatrio apresenta argumentos para um conjunto abrangente de reformas a colocar em prtica, o qual poder oferecer importantes benefcios aos migrantes, comunidades e pases.

A nossa proposta contempla as duas dimenses mais significativas da agenda da mobilidade, onde h ainda espao para melhores polticas, nomeadamente, a admisso e o tratamento. As reformas traadas no nosso pacote principal tm efeitos a mdio e longo prazo. Elas dirigem-se no s aos governos dos pases de destino, mas tambm aos governos dos pases de origem, a outros intervenientes fundamentais em particular, ao sector privado, aos sindicatos e s organizaes no governamentais e aos prprios indivduos migrantes. Embora os decisores polticos enfrentem desafios comuns, tero seguramente de conceber e implementar diferentes polticas para a migrao nos seus respectivos pases, de acordo com circunstncias nacionais e locais. No obstante, existem algumas boas prticas que se destacam e que podero ser amplamente adoptadas. Tramos seis orientaes essenciais no sentido da reforma que podem ser seguidas individualmente mas que, usadas em conjunto numa abordagem integrada, podero optimizar os seus efeitos positivos no desenvolvimento humano. O alargamento dos canais de entrada existentes para que mais trabalhadores possam emigrar; a garantia de direitos bsicos aos migrantes; a diminuio dos custos da migrao; a procura de solues que beneficiem tanto as comunidades de destino como os migrantes que elas acolhem; uma maior facilidade nas deslocaes para pessoas que migram dentro dos limites do seu prprio pas; e o tratamento da migrao como um dos factores preponderantes nas estratgias de desenvolvimento nacionais so medidas que podero oferecer contributos importantes e complementares para o desenvolvimento humano. O pacote principal salienta dois caminhos para o alargamento dos canais de entrada mais comuns existentes: Recomendamos esquemas de expanso para o trabalho verdadeiramente sazonal em sectores tais como os da agricultura e do turismo, os quais j deram provas de serem eficazes em vrios pases. A boa prtica sugere que esta interveno dever envolver sindicatos e entidades patronais, juntamente com os governos dos pases de destino e de partida, particularmente, na concepo e aplicao de garantias de salrios base, condies de sade e de segurana e clusulas contratuais assegurando a possibilidade de novas visitas ao pas, como no caso da Nova Zelndia, por exemplo. Tambm propomos aumentar o nmero de vistos para pessoas pouco qualificadas, sob determinadas condies, de acordo com a procura no pas de

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destino. A experincia sugere que as boas prticas neste mbito incluem: garantir que os imigrantes tenham o direito a mudar de entidade empregadora (conhecido como portabilidade entre entidades empregadoras), permitir que peam o prolongamento da sua estadia e abram caminho para a eventual obteno do direito de residncia permanente, estabelecer condies que facilitem as viagens de regresso durante o perodo do visto e permitir a transferncia de benefcios de segurana social acumulados, tal como ficou estabelecido na recente reforma decretada na Sucia. Os pases de destino devero decidir quanto ao nmero desejado de indivduos a entrar no territrio atravs de processos polticos que deixem espao discusso pblica e ao equilbrio entre diferentes interesses. Os mecanismos para determinar o nmero de indivduos que entra no territrio devero ser transparentes e assentar na respectiva procura por parte das entidades empregadoras, estabelecendo-se quotas que estejam de acordo com as condies econmicas. No destino, os imigrantes so muitas vezes tratados de formas que infringem os seus direitos humanos bsicos. Mesmo que os governos no ratifiquem as convenes internacionais que protegem os trabalhadores migrantes, devero assegurar-se de que estes usufruem dos seus plenos direitos nos locais de trabalho a saber, igual remunerao por idntico trabalho, condies de trabalho dignas e o direito organizao colectiva. Com efeito, poder haver necessidade de actuarem rapidamente para suprimir a discriminao. Os governos dos pases de origem e de destino devero tambm considerar colaborar conjuntamente no sentido de facilitar o reconhecimento de crditos obtidos no estrangeiro. A actual recesso tornou os migrantes particularmente vulnerveis. Alguns governos dos pases de destino intensificaram a aplicao das leis da migrao de formas que podero at mesmo infringir os direitos dos migrantes. Dar aos migrantes que foram despedidos a oportunidade de procurarem outra entidade empregadora (ou, pelo menos, conceder-lhes tempo para que possam tratar de encerrar os seus assuntos antes de partirem) e divulgar o panorama do emprego incluindo as retraces nos pases de partida so medidas que podero mitigar os custos desproporcionais da recesso, gerados tanto por migrantes actuais como por migrantes futuros. No que respeita as deslocaes internacionais, os custos da transaco inerentes aquisio dos documentos necessrios e ao preenchimento dos requisitos

administrativos para atravessar fronteiras nacionais so muitas vezes elevados e tendencialmente regressivos (proporcionalmente mais elevados para pessoas no qualificadas e para aqueles com contratos a curto prazo), podendo ter tambm o efeito indesejado de encorajar as deslocaes ilegais e o contrabando. Um em cada dez pases apresenta custos em passaportes que excedem os 10% do rendimento per capita. Como seria de esperar, estes custos esto negativamente correlacionados com as taxas de emigrao. Tanto os governos dos pases de origem como os dos pases de destino podero simplificar os procedimentos e reduzir os custos dos documentos, medida que ambas as partes podem tambm colaborar uma com a outra no sentido de melhorar e regulamentar os servios de intermediao. vital assegurar que cada migrante se possa estabelecer bem ao chegar, mas tambm crucial que as comunidades s quais se juntam no se sintam injustamente sobrecarregadas pelas exigncias acrescidas que eles representam em servios fundamentais. Quando esta situao coloca desafios s autoridades locais, podero ser necessrias transferncias fiscais acrescidas. Garantir que os fi lhos dos migrantes tenham o mesmo acesso educao e, sempre que necessrio, dar-lhes apoio para poderem recuperar os contedos perdidos e integrar-se na sua nova escola podero melhorar as suas perspectivas e evitar a formao de uma classe desfavorecida. O ensino da lngua fundamental para as crianas nas escolas, mas tambm para os adultos, atravs do local de trabalho ou atravs de esforos especiais no sentido de alcanar aquelas mulheres que no trabalham fora de casa. Algumas situaes necessitaro de esforos mais activos do que outras no combate discriminao, na resoluo de tenses sociais e, sempre que seja relevante, na preveno de surtos de violncia contra os imigrantes. A sociedade civil e os governos tm uma experincia positiva bastante ampla na preveno da discriminao atravs, por exemplo, de campanhas de consciencializao. Apesar de a maioria dos sistemas de planeamento centralizado em todo o mundo j terem sido abandonados, um nmero surpreendente de governos cerca de um tero continua, de facto, a levantar obstculos s deslocaes internas. As restries assumem tipicamente a forma de uma reduo no fornecimento de servios bsicos e na concesso de direitos para aqueles que no estiverem registados na sua rea local, discriminando assim migrantes internos, tal como ainda o caso na China. Assegurar a equidade no fornecimento

Embora no possa substituir outros esforos de desenvolvimento mais amplos, a migrao poder constituir uma estratgia vital para os agregados familiares e as famlias que procurem diversificar e melhorar os seus padres de vida.

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Sntese

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de servios bsicos uma recomendao fundamental do relatrio no que respeita aos migrantes internos. O tratamento equitativo importante para os trabalhadores temporrios e sazonais e suas famlias, para as regies para onde vo trabalhar, e tambm para que se possa assegurar um fornecimento de servios digno nos locais onde pertencem, de modo a que no se sintam compelidos a se deslocarem para obter o acesso a escolas e a servios de assistncia mdica. Embora no possa substituir outros esforos de desenvolvimento mais amplos, a migrao poder constituir uma estratgia vital para os agregados familiares e as famlias que procurem diversificar e melhorar os seus padres de vida, especialmente em pases em desenvolvimento. Os governos precisam de reconhecer este potencial e integrar a migrao junto de outros aspectos das polticas para o desenvolvimento do pas. Um ponto crucial que emerge a partir da experincia a importncia das condies econmicas nacionais e da existncia de instituies fortes no sector pblico que permitam alcanar os maiores benefcios da mobilidade. O caminho em frente Para avanar com esta agenda ser necessria uma liderana forte e iluminada, aliada a um esforo mais determinado no sentido de interagir com o pblico e despertar as suas conscincias para os factos reais da migrao. Para os pases de origem, uma contemplao mais sistemtica do perfil da migrao e dos seus benefcios, custos e riscos ofereceria uma melhor base para integrar as deslocaes nas estratgias para o desenvolvimento nacional. A emigrao no uma alternativa aos esforos internos do pas no sentido de acelerar o

desenvolvimento, mas a mobilidade poder facilitar o acesso a ideias, ao conhecimento e a recursos que podero complementar e, em alguns casos, optimizar o progresso. Para os pases de destino, por seu lado, as questes de como e quando estabelecer reformas depender de uma viso realista sobre as condies econmicas e sociais, tendo em considerao a opinio pblica e as restries polticas aos nveis local e nacional. A cooperao internacional, especialmente atravs de acordos bilaterais ou regionais, poder conduzir a uma melhor gesto poltica da migrao, a uma maior proteco dos direitos dos migrantes e a maiores contributos dos migrantes tanto para os pases de origem como para os de destino. Algumas regies esto a criar zonas de livre-trnsito para promover uma maior liberdade nas transaces comerciais e simultaneamente optimizar os benefcios da migrao tais como a frica Ocidental e o Cone Sul da Amrica Latina. Os alargados mercados de trabalho criados nestas regies podem trazer benefcios substanciais aos migrantes, s suas famlias e s suas comunidades. Existem apelos para que se crie um novo regime mundial para melhorar a gesto poltica da migrao: com efeito, mais de 150 pases j participam no Frum Mundial sobre Migraes e Desenvolvimento. Os governos, que enfrentam desafios comuns, desenvolvem respostas comuns uma tendncia que vimos emergir enquanto preparvamos este relatrio. Em Ultrapassar Barreiras coloca-se firmemente a questo do desenvolvimento humano na agenda dos decisores polticos, os quais, perante padres de deslocao humana cada vez mais complexos em todo o mundo, procuram obter os melhores resultados.

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Liberdade e deslocao: como a mobilidade pode estimular o desenvolvimento humano

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A distribuio de oportunidades no mundo muito desigual. Esta desigualdade um factor determinante do desenvolvimento humano e, por isso, implica que as deslocaes tenham um enorme potencial no sentido de melhorar o desenvolvimento humano. Contudo, as deslocaes no so uma mera expresso de escolha muitas vezes, as pessoas so coagidas a deslocarem-se em situaes que podem ser de enorme gravidade e os benefcios que recolhem por se mudarem so distribudos de forma extremamente desigual. A nossa ideia de desenvolvimento como algo que promove a liberdade das pessoas levarem as vidas que escolherem para si mesmas reconhece a mobilidade como uma componente essencial dessa mesma liberdade. Todavia, as deslocaes envolvem dilemas tanto para os migrantes como para aqueles que permanecem nos seus locais de residncia. Compreender e analisar esses dilemas crucial para a formulao de polticas adequadas.

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Liberdade e deslocao: como a mobilidade pode estimular o desenvolvimento humanoTodos os anos, mais de cinco milhes de pessoas atravessam fronteiras internacionais para irem viver num pas desenvolvido.1 O nmero de pessoas que se desloca para uma nao em desenvolvimento, ou dentro dos limites do seu pas, muito maior, embora seja difcil apurar estimativas precisas.2 Um nmero ainda maior de pessoas, tanto nos locais de destino, como nos locais de origem, afectado pelas deslocaes dos outros atravs de fluxos de dinheiro, de conhecimento e de ideias.Para as pessoas que se deslocam, a viagem quase sempre implica sacrifcios e incertezas. Os possveis custos a pagar incluem desde a dor de deixarem as suas famlias e amigos para trs at taxas monetrias elevadas. Os riscos, por seu lado, podero abranger perigos fsicos inerentes ao trabalho em profisses perigosas. Em alguns casos, como aqueles que se prendem com a transposio ilegal de fronteiras, os migrantes enfrentam perigos de morte. No obstante, milhes de pessoas esto dispostas a incorrer nesses custos ou riscos a fim de melhorarem os seus padres de vida, bem como os das suas famlias. As oportunidades de uma pessoa ter uma vida longa e saudvel, ter acesso educao, assistncia mdica e a bens materiais, de gozar de liberdade poltica e ser protegida de violncia so todas fortemente influenciadas pelo local onde a mesma reside. Algum que nasceu na Tailndia poder esperar viver mais sete anos, ter quase trs vezes mais anos de ensino e de gastar e de poupar oito vezes mais em relao a algum nascido em Mianmar, um pas vizinho.3 Estas diferenas de oportunidades criam uma imensa presso no sentido da migrao. 1.1 Questes de mobilidade Veja-se, por exemplo, o modo como os resultados do desenvolvimento humano esto distribudos perto das fronteiras nacionais. O mapa 1.1 traa uma comparao entre o desenvolvimento humano em ambos os lados da fronteira que separa os Estados Unidos do Mxico. Para esta ilustrao usmos o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) uma medida de desenvolvimento sumria usada ao longo deste relatrio para classificar e comparar os pases. Um padro que salta vista a forte correlao que existe entre o lado da fronteira em que um local se situa e o seu respectivo IDH. O IDH mais baixo num condado fronteirio dos Estados Unidos (Starr County, Texas) situa-se acima de at o mais elevado do lado mexicano (Mexicali Municipality, Baja Califrnia).4 Este padro sugere que atravessar as fronteiras nacionais poder em grande medida alargar as oportunidades disponveis para um melhor bem-estar. Por outro lado, considere-se a direco das deslocaes humanas quando se levantam restries mobilidade. Entre 1984 e 1995, a Repblica Popular da China liberalizou progressivamente o seu rigoroso regime sobre as restries internas, permitindo que as pessoas se deslocassem de uma regio para outra. Registaram-se de seguida enormes fluxos populacionais em movimento, sobretudo para regies com nveis mais elevados de desenvolvimento humano. Neste caso, os padres sugerem novamente que a oportunidade de atingir um melhor bem-estar revelou ser um factor crucial (mapa 1.2).5 Estas impresses espaciais so corroboradas por pesquisas mais rigorosas que estimaram os efeitos de se mudar de residncia em prol de um maior bem-estar. Trata-se, porm, de comparaes intrinsecamente difceis de se traar, pois as pessoas que se deslocam tendem a apresentar caractersticas e circunstncias diferentes daquelas que no se deslocam (caixa 1.1). Recentes estudos acadmicos que cuidadosamente explicam estas relaes complexas confirmaram, contudo, a existncia de enormes benefcios resultantes da travessia de fronteiras internacionais. Por exemplo, indivduos com apenas nveis moderados de ensino oficial que migram de um tpico pas em desenvolvimento para os Estados Unidos conseguem obter um rendimento anual de cerca de 10.000 dlares americanos basicamente, o dobro do nvel mdio do rendimento per capita num pas em desenvolvimento.6 No mesmo sentido, e de acordo com uma pesquisa solicitada para este relatrio,9

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Mapa 1.1

As fronteiras fazem a diferena IDH em zonas fronteirias dos Estados Unidos e do Mxico, 2000

IDH, 2000 0,636 0,701 0,766 0,831 0,896 0,700 0,765 0,830 0,895 0,950

Mexicali: IDH = 0,757

Starr: IDH = 0.766

Fonte: Anderson and Gerber (2007a).

uma famlia que migre da Nicargua para a Costa Rica aumenta, assim, a probabilidade de que os seus filhos tenham escolarizao ao nvel do ensino primrio em 22%.7 Existem, contudo, muitos outros motivos que explicam estas deslocaes que no apenas estas disparidades. Uma parte importante das mudanas geogrficas ocorre em resposta a um conflito armado. Outras pessoas emigram para evitar represses polticas por parte de Estados autoritrios. Por outro lado, a migrao poder ainda representar uma oportunidade de determinadas pessoas escaparem aos papis tradicionais que se esperava que desempenhassem na sua sociedade de origem. Jovens deslocam-se com frequncia em busca de educao e mais amplos horizontes, intencionando regressar, mais tarde, a casa. Tal como discutiremos em maior detalhe na prxima seco, existem, efectivamente, mltiplos factores que levam migrao, assim como vrias restries mesma, documentando motivos e experincias extremamente diferentes entre os migrantes. Porm, as oportunidades e as aspiraes so, com efeito, temas recorrentes. As deslocaes nem sempre levam a resultados melhores ao nvel do desenvolvimento humano. Uma questo que salientamos ao longo deste relatrio prende-se com o facto de se observarem enormes desigualdades na liberdade de migrar, mas tambm na distribuio de benefcios resultantes dessa migrao. Quando os mais pobres migram, fazem-no frequentemente sob condies de vulnerabilidade que reflectem a limitao dos seus recursos e das suas escolhas. A informao prvia que recebem poder ser limitada ou at enganadora. O abuso em relao s empregadas domsticas migrantes ocorre em muitas cidades e pases em todo o mundo,10

desde Washington e Londres a Singapura e os Estados do Conselho de Cooperao do Golfo (CCG). Recentes pesquisas nos Estados rabes concluram que as condies de abuso e de explorao, por vezes associadas ao trabalho domstico, bem como a falta de mecanismos de correco, podem enredar as mulheres migrantes num ciclo vicioso de pobreza e vulnerabilidade ao VIH.8 Os mesmos estudos mostraram que muitos pases examinam os migrantes quanto ao VIH e deportam aqueles que forem portadores do vrus. E note-se que so poucos os pases de origem que tm programas de reintegrao para migrantes que tenham sido forados a regressar em resultado de terem contrado o VIH.9 As deslocaes para alm das fronteiras nacionais constituem apenas uma parte destes fluxos. A migrao dentro das fronteiras nacionais de um pas efectivamente mais significativa em magnitude e apresenta um enorme potencial no sentido de optimizar o desenvolvimento humano. Esta situao deve-se, em parte, ao facto de o estabelecimento num outro pas ser custoso e dispendioso. Uma mudana para o estrangeiro no s envolve substanciais custos financeiros associados s taxas e viagem em si (e que tendem a ser regressivos ver captulo 3), como tambm implica viver numa cultura diferente e deixar para trs toda uma rede de amigos e de relaes pessoais, o que poder representar um pesado, e at mesmo incomensurvel fardo psicolgico. O levantamento do que constituam muitas vezes impiedosos obstculos s deslocaes internas numa srie de pases (incluindo a China, mas no s) beneficiou muitas das pessoas mais pobres do mundo um impacto no desenvolvimento humano que se perderia se, neste relatrio,

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tivssemos adoptado um enfoque na migrao internacional exclusivamente. A possibilidade da mobilidade nacional e internacional aumentar o bem-estar humano levar-nos-ia a esperar que a mesma constitusse um foco de ateno essencial entre os decisores polticos e investigadores do desenvolvimento. Este no , porm, o caso. A literatura acadmica que trata os efeitos da migrao revela-se diminuta vista da pesquisa sobre as consequncias do comrcio internacional e de polticas macroeconmicas, para se mencionar apenas dois exemplos.10 Enquanto a comunidade internacional ostenta uma arquitectura institucional bem estabelecida para gerir o comrcio e as relaes financeiras entre os pases, o tratamento da mobilidade tem-se caracterizado como uma questo para a qual no existe um regime bem estudado e concertado (com a importante excepo feita aos refugiados).11 Este

relatrio faz parte dos esforos que esto a ser perpetrados no sentido de corrigir este desequilbrio. Seguindo a linha do recente trabalho de organizaes como a Organizao Internacional para as Migraes (OIM), a Organizao Internacional do Trabalho (OIT), o Banco Mundial e o Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (ACNUR), bem como das discusses desenvolvidas em eventos como o Frum Mundial sobre Migraes e Desenvolvimento, defendemos que a migrao merece uma maior ateno dos governos, das organizaes internacionais e da sociedade civil.12 Esta nossa posio prende-se no s com os enormes benefcios que uma optimizao das deslocaes poder significar para todo o mundo, mas tambm com os riscos substanciais enfrentados por muitos daqueles que migram riscos que poderiam, pelo menos em parte, ser afastados atravs de melhores polticas.

Mapa 1.2

Os migrantes esto a deslocar-se para locais com melhores oportunidades O desenvolvimento humano e os uxos migratrios entre diferentes regies da China, 1995-2000

IDH, 1995 0,000 0,600 0,601 0,700 0,701 0,800 0,801 1

Nmero de migrantes, 1995-2000

> 2.500.000 Sem dados 1.000.000 2.500.000

150.0001.000.000Fonte: UNDP (2008a) e He (2004).

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Caixa 1.1

Estimar o impacto das deslocaescompetncias. Estes podero ainda ser sujeitos a tendncias de seleco associadas a escolhas individuais relativamente aos locais. Uma questo fulcral, discutida no captulo 4, saber se as qualicaes dos migrantes substituem ou complementam aquelas das pessoas nativas. Determinar esta questo requer uma avaliao correcta destas qualicaes. Uma abordagem que se est a revelar cada vez mais popular procura explorar uma aleatorizao aparente ou fabricada para estimar os impactos. Por exemplo, a Categoria de Acesso ao Pacco (Pacic Access Category) da Nova Zelndia atribuiu uma srie de vistos aleatoriamente, fazendo com que se avaliasse o impacto da migrao com base numa comparao entre os candidatos mal sucedidos e os vencedores da lotaria. H tambm uma dimenso temporal importante. A migrao tem custos iniciais elevados e os benefcios podero levar algum tempo a surgir. Por exemplo, as recompensas no mercado do trabalho tendem a melhorar signicativamente com o tempo medida que se apreende e reconhece as especicidades de qualicao de cada pas. Uma deciso de um migrante de regressar poder signicar uma complicao acrescida, afectando o perodo em que os impactos deveriam ser medidos. Finalmente, tal como discutiremos em maior detalhe no prximo captulo, a anlise da migrao enfrenta grandes restries informativas. Mesmo no caso dos pases ricos, muitas vezes difcil de proceder a comparaes por razes muito bsicas, tais como as diferenas que existem nas denies do conceito de migrante.

Consideraes metodolgicas fundamentais afectam a medio tanto das recompensas para os indivduos como dos efeitos nos locais relatados na extensiva literatura dedicada migrao. Obter uma medida precisa dos impactos requer uma comparao entre o bem-estar de algum que migra e o seu bem-estar tivesse essa pessoa permanecido no seu local original. Esta ltima situao no passa de uma mera hiptese e que, por isso, no se deixa apreender na totalidade, no podendo ser adequadamente representada atravs dos no migrantes. Aqueles que se deslocam internacionalmente tendem a ter mais elevados nveis de ensino e de rendimento de partida do que aqueles que no se mudam e, por conseguinte, de esperar que tenham uma melhor situao do que aqueles que cam para trs. H evidncias de que este fenmeno conhecido tecnicamente como selectividade dos migrantes esteja tambm presente na migrao interna (ver captulo 2). As comparaes de grupos com caractersticas observveis semelhantes (gnero, educao, experincia, etc.) podem ser mais dedignas, mas ainda assim omitir caractersticas potencialmente importantes, tais como as atitudes perante o risco. Existe ainda uma srie de outros problemas metodolgicos. As diculdades em identicar a causalidade minam as estimativas sobre o impacto das remessas no consumo do agregado familiar. Compreender o modo como a migrao afecta os mercados de trabalho nos locais de destino tambm problemtico. A maioria dos estudos procurou olhar para o impacto nos salrios ao nvel regional ou em grupos ligados a determinadasFonte: Clemens, Montenegro and Pritchett (2008), McKenzie, Gibson, and Stillman (2006).

1.2 Escolha e contexto: compreender a razo pela qual as pessoas se deslocam Existe uma enorme variao nas circunstncias que envolvem as deslocaes humanas. Milhares de pessoas oriundas de Chin emigraram para a Malsia nestes ltimos anos para escapar perseguio das foras de segurana de Mianmar, mas vivem constantemente com medo de serem detectadas por grupos paramilitares.13 Acredita-se que mais de 3.000 pessoas se tero afogado entre 1997 e 2005 no Estreito de Gibraltar, ao tentarem entrar na Europa ilegalmente, em barcos improvisados.14 Estas experincias contrastam com aquelas de centenas de tonganeses pobres que ganharam a lotaria ao conseguirem estabelecer-se na Nova Zelndia, ou com as de centenas de milhares de polacos que se mudaram para empregos mais bem pagos no Reino Unido ao abrigo do regime da livre circulao de pessoas no espao da Unio Europeia, introduzido em 2004. O nosso relatrio trata vrios tipos de deslocaes, incluindo internas e internacionais, temporrias e permanentes, e induzidas por conflito. A utilidade de abranger todos estes casos poder ser questionada. No estaremos a falar de fenmenos muito distintos, com causas extremamente diferentes e resultados intrinsecamente divergentes? No estaria o nosso propsito melhor servido se limitssemos o nosso enfoque a um tipo de migrao e12

estudssemos em detalhe as suas causas, consequncias e implicaes? Pensamos que no. Embora distintos tipos de deslocaes humanas variem, com efeito, significativamente quanto aos seus factores impulsionadores e resultados, tal tambm se aplica em casos mais especficos dentro de cada tipo. A ttulo ilustrativo, a migrao laboral internacional abrange casos to diferentes como aquele dos trabalhadores tadjiques na indstria da construo da Federao Russa, impelidos a migrarem devido a condies econmicas adversas, num pas onde a maioria das pessoas vive com menos de dois dlares por dia, e o dos engenheiros informticos da sia Oriental, extremamente cobiados, recrutados por empresas como a Motorola e a Microsoft. As abordagens convencionais migrao tendem a sofrer de compartimentalizao. comum traar-se distines entre os migrantes cujas deslocaes so classificadas como foradas ou voluntrias, internas ou internacionais, temporrias ou permanentes, ou econmicas ou no econmicas. As categorias originalmente destinadas a estabelecer distines legais com o propsito de gerir a entrada e o tratamento dos migrantes podem acabar por desempenhar um papel dominante no pensamento conceptual e poltico. Na ltima dcada, acadmicos e decisores polticos comearam a questionar estas distines, e h um crescente reconhecimento de que a sua proliferao

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obscurece, em vez de iluminar, os processos subjacentes deciso de uma mudana geogrfica, com efeitos potencialmente prejudiciais na elaborao de polticas.15 Em quase todas as instncias da deslocao humana podemos ver a interaco de duas foras bsicas, que variam no grau da sua influncia. Por um lado, existem indivduos, famlias e, por vezes, comunidades que decidem deslocarem-se de sua livre vontade a fim de radicalmente mudarem as circunstncias em que vivem. Com efeito, mesmo quando as pessoas so impelidas a deslocar-se devido a condies muito adversas, as escolhas que fazem desempenham quase sempre um papel vital. Pesquisas entre refugiados angolanos que se estabeleceram no noroeste da Zmbia, por exemplo, demonstraram que muitos foram levados pelas mesmas aspiraes que impelem aqueles que so comummente classificados como migrantes econmicos.16 Do mesmo modo, os afegos que fogem do conflito vo para o Paquisto ou o Iro atravs das mesmas rotas e redes de comrcio estabelecidas h dcadas para fins de migrao laboral sazonal.17 Por outro lado, as escolhas so raramente, se que o so alguma vez, tomadas sem restries. Isso evidente para aqueles que se deslocam para escapar perseguio poltica ou privao econmica, mas tambm vital para compreender decises onde h menor coaco. Existem factores essenciais relacionados com a estrutura da economia e da sociedade, intrinsecamente associados ao contexto embora tambm mudem com o tempo, que determinam as decises no sentido de migrar ou de permanecer. Esta interaco dinmica entre as decises individuais e o contexto socioeconmico em que as primeiras so tomadas por vezes designada, em linguagem sociolgica, por interaco agncia-estrutura crucial para entender o que define o comportamento humano. A evoluo temporal de factores estruturais determinantes tratada no captulo 2. Considere-se o caso das dezenas de milhares de imigrantes indonsios que entram na Malsia todos os anos. Estes fluxos so impulsionados em grande medida pelas grandes diferenas de rendimento entre estes pases. Mas a escala de deslocaes tambm cresceu de forma consistente desde a dcada de 80, enquanto o fosso de rendimentos entre os dois pases aumentou e diminuiu alternadamente no mesmo perodo. Claramente, maiores processos socioeconmicos desempenharam aqui um papel importante. A industrializao malaia nas dcadas de 1970 e de 1980 gerou uma deslocao massiva de malaios do campo para as cidades, criando uma escassez laboral severa no sector da agricultura, numa altura em que a comercializao da agricultura e o rpido crescimento econmico estavam a produzir um excedente de trabalho agrcola na Indonsia. O facto de a maioria dos indonsios ter uma origem tnica,

lingustica e religiosa idntica dos malaios facilitou, sem dvida, os fluxos.19 O reconhecimento do papel dos factores estruturais na determinao das deslocaes humanas teve um profundo impacto nos estudos da migrao. Apesar de as primeiras abordagens conceptualizao dos fluxos de migrao se centrarem nas diferenas dos padres de vida, nos ltimos anos tem-se compreendido cada vez melhor que estas diferenas s explicam os padres de deslocaes at um determinado ponto.20 Em particular, se as deslocaes so apenas resultado de diferenas de nveis de rendimento, difcil explicar a razo pela qual muitos migrantes bem sucedidos escolhem regressar aos seus pases de origem depois de vrios anos a viverem no estrangeiro. Para mais, se a migrao fosse puramente determinada por diferenas salariais, ento, esperar-se-ia ver enormes deslocaes de pases pobres em direco a pases ricos e muito poucas deslocaes entre pases ricos mas nenhum destes padres se verifica na prtica (captulo 2). Estes padres observados levaram a diferentes tendncias de pesquisa. Alguns acadmicos reconheceram que um enfoque no indivduo constitui um desvio daquilo que tipicamente uma deciso e at uma estratgia de famlia (como quando alguns membros de famlia se deslocam enquanto outros permanecem nos seus lares).21 A necessidade de se ir para alm do pressuposto de mercados perfeitamente competitivos tambm se tornou cada vez mais evidente. Em particular, os mercados de crdito em pases em desenvolvimento so extremamente imperfeitos, enquanto os padres de vida dos agregados familiares muitas vezes dependem de sectores to volteis como o da agricultura. Enviar um membro da famlia para um outro local permite famlia diversificar, evitando o risco de maus resultados em casa.22 Outros investigadores enfatizaram o modo como as caractersticas estruturais e as tendncias a longo-prazo, tanto nos locais de origem como nos locais de destino muitas vezes designadas por factores pull and push , determinam o contexto em que as deslocaes ocorrem. As deslocaes, a ttulo ilustrativo, podem resultar de uma crescente concentrao na posse de bens, tais como terrenos, tornando difcil que as pessoas subsistam atravs dos seus modos de produo tradicionais.23 Tambm se reconheceu que as oportunidades disponveis para os migrantes so restringidas por obstculos entrada, tal como discutiremos nos captulos 2 e 3, e pela forma como os mercados de trabalho funcionam, tal como o demonstram considerveis evidncias de que tanto os migrantes internacionais como os internos so canalizados para ocupaes de estatuto inferior e mais mal pagas. sobretudo de notar que as teorias que enfatizam factores puramente econmicos no so eficazes em retratar

As teorias que enfatizam factores puramente econmicos no so eficazes em retratar a estrutura social mais abrangente em que as decises so tomadas.

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a estrutura social mais abrangente em que as decises so tomadas. Por exemplo, comum que os jovens da casta inferior dos Kolas, no centro da regio indiana de Gujarat, procurem emprego em fbricas fora da sua localidade a fim de romperem com as relaes de subordinao das castas. Isto acontece apesar de o facto de os salrios fabris no serem mais elevados, sendo que, em alguns casos, so at mais baixos, do que aqueles que teriam se escolhessem trabalhar na sua terra, no sector da agricultura. Escapar s hierarquias tradicionais poder ser um factor importante que leva migrao (captulo 3). Para mais, a relao entre as deslocaes e a economia est longe de ser unidireccional. As deslocaes de pessoas em larga escala podero ter consequncias econmicas profundas para os locais de origem e de destino, tal como discutiremos em detalhe no captulo 4. At mesmo o modo como pensamos em conceitos econmicos bsicos afectado pelas deslocaes de pessoas, tal como poder ser ilustrado pelas questes levantadas para a medio dos rendimentos per capita e do crescimento econmico (caixa 1.2).

1.3 Desenvolvimento, liberdade e mobilidade humana A nossa tentativa de compreender as implicaes das deslocaes humanas para o desenvolvimento humano comea com uma ideia que central neste relatrio. Trata-se do conceito de desenvolvimento humano como um alargamento da liberdade das pessoas viverem as suas vidas da forma que escolherem. Este conceito inspirado pelo trabalho precursor de Amartya Sen, laureado com o prmio Nobel, e pela liderana de Mahbub ul Haq, sendo tambm conhecido como a abordagem das capacidades devido sua nfase na liberdade de se conseguir ser e fazer algo vital tem estado no centro do nosso pensamento desde o primeiro Relatrio de Desenvolvimento Humano em 1990, e agora to relevante como nunca para a concepo de polticas eficientes para combater a pobreza e a privao.25 A abordagem das capacidades provou ser poderosa na redefinio do pensamento sobre tpicos to diversos como os do gnero, segurana humana e alteraes climticas. Usar a perspectiva do alargamento das liberdadees e capacidades humanas tem

Caixa 1.2

O modo como as deslocaes so importantes para a avaliao do progressoo nvel mdio de desenvolvimento humano de todos os indivduos que nasceram nas Filipinas, independentemente do local onde vivam no momento. Esta nova medida tem um impacto signicativo na nossa compreenso de bem-estar humano. Em 13 das 100 naes para as quais podemos calcular esta medida, o IDH das suas populaes pelo menos 10% mais elevado do que o IDH dos seus pases. Para outras nove populaes, a diferena situa-se entre os 5 e os 10%. Para 11 das 90 populaes para as quais pudemos calcular tendncias ao longo do tempo, a mudana em IDH durante o perodo entre 1990 e 2000 diverge em mais de 5% da mudana mdia dos seus pases. Por exemplo, o IDH dos ugandenses subiu quase trs vezes mais do que IDH do Uganda. Ao longo do resto do presente relatrio, continuaremos a adoptar a abordagem convencional por motivos de mais fcil tratamento e comparabilidade com a literatura existente. Tambm concebemos estas duas medidas como complementares, visto que uma no substitui a outra: uma retrata os padres de vida das pessoas que vivem num determinado local, a outra os padres de vida das pessoas que nasceram num determinado local. Por exemp