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Download Relatório de Supervisão Comportamental - 2008 · Relatório de Supervisão Comportamental 2008 Lisboa, 2009 Disponível em ... Quadro 6.2.4.1 Resultados dos processos de reclamação

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  • Relatrio de Superviso Comportamental

    2008

    Lisboa, 2009Disponvel em

    http://clientebancario.bportugal.ptou em www.bportugal.pt

  • BANCO DE PORTUGAL

    Av. Almirante Reis, 71

    1150-012 Lisboa

    www.bportugal.pt

    Edio

    Departamento de Superviso Bancria

    Design, pr-impresso e distribuio

    Departamento de Servios de Apoio

    rea de Documentao, Edies e Museu

    Servio de Edies e Publicaes

    Impresso

    Departamento de Servios de Apoio

    rea de Apoio Logstico

    Lisboa, 2009

    Tiragem

    500 exemplares

    ISBN 978-989-8061-69-0

    ISSN 1646-9216

    Depsito Legal n. 272452/08

  • NDICE

  • NDICE TEMTICO

    1 NOTA INTRODUTRIA ..................................................................... 13

    2 ESTRATGIA DE ACTUAO ......................................................... 17

    3 PRINCIPAIS PROJECTOS DESENVOLVIDOS ................................ 21

    3.1 Publicidade ................................................................................. 21

    3.2 Prerios ..................................................................................... 23

    3.3 Informao Contratual ................................................................ 25

    3.3.1 Crdito habitao .................................................................... 25

    3.3.2 Produtos de poupana ............................................................... 27

    3.4 Promoo da Literacia Financeira .............................................. 30

    3.4.1 Contexto internacional ................................................................ 30

    3.4.2 Inqurito literacia fi nanceira ..................................................... 31

    4 REGULAO DOS MERCADOS FINANCEIROS A RETALHO ....... 35

    4.1 Crdito Habitao .................................................................... 35

    4.1.1 Iniciativas legislativas ................................................................. 35 Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio ..................................... 35 Decreto-Lei n. 171/2008, de 26 de Agosto ................................ 36

    4.1.2 Actuao normativa do Banco de Portugal ................................ 36 Carta-Circular n. 1/2008/DSB, de 9 de Janeiro ......................... 37 Carta-Circular n. 61/2008/DSB, de 30 de Setembro ................. 37 Carta-Circular n. 10/2009/DSB, de 14 de Janeiro ..................... 37 Carta-Circular n. 19/2009/DSB, de 3 de Fevereiro ................... 38 Projecto de Aviso sobre crdito habitao ............................... 38

    4.2 Crdito ao Consumo e outros Crditos ....................................... 39 4.2.1 Iniciativas legislativas ................................................................. 39 Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio ..................................... 39 Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro ......................... 39

    4.3 Produtos de Poupana ............................................................... 40

    4.3.1 Iniciativas legislativas ................................................................. 40 Decreto-Lei n. 54/2008, de 26 de Maro ................................... 40 Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio ..................................... 40 Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro ......................... 41

    ndice

    5Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • 4.3.2 Actuao normativa do Banco de Portugal ................................. 42 Aviso n. 3/2008, 18 de Maro ..................................................... 42 Carta-Circular n. 5/2008/DET, de 16 de Janeiro ........................ 43 Carta-Circular n. 8/2008/DSB, de 30 de Janeiro ........................ 43 Projecto de Aviso sobre os depsitos simples ............................. 43 Projecto de Aviso sobre depsitos indexados e depsitos duais ... 44 Projecto de Aviso sobre as caractersticas dos depsitos ........... 44

    4.4 Operaes com Numerrio .......................................................... 44 Carta-Circular n. 36/2008/DET, de 28 de Abril ........................... 44

    4.5 Promoo da Transparncia de Informo .................................. 45 4.5.1 Iniciativas legislativas .................................................................. 45 Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro .......................... 45

    4.5.2 Actuao normativa do Banco de Portugal ................................. 46 Aviso n. 10/2008, de 9 de Dezembro ......................................... 46 Projecto de Aviso e de Instruo sobre o Prerio ...................... 46

    4.6 Prticas Comerciais Desleais ...................................................... 46 4.6.1 Iniciativas legislativas .................................................................. 46 Decreto-Lei n. 57/2008, de 26 de Maro .................................... 46

    5 SUPERVISO EFECTUADA PELO BANCO DE PORTUGAL .......... 51

    5.1 Actividade de Inspeco .............................................................. 51

    5.1.1 Por tipo de instrumento ............................................................... 51 Inspeces off-site .................................................................... 52 Inspeces cliente mistrio ....................................................... 52 Inspeces credenciadas .......................................................... 53

    5.1.2 Por matria .................................................................................. 54 Prerios ..................................................................................... 55 Crdito habitao ..................................................................... 55 Crdito ao consumo e outros crditos ......................................... 57 Contas de depsitos e produtos de poupana ............................ 58 Caixa 1 - Servios Mnimos Bancrios ........................................ 59 Caixa 2 - Fiscalizao da aplicao do DL n. 171/2008, de 26 de Agosto ........................................................... 62

    5.2 Actuao Sancionatria ............................................................... 69

    5.2.1 Correco de irregularidades ...................................................... 69 5.2.1.1 Recomendaes .................................................................. 71 Crdito habitao .............................................................. 71 Crdito ao consumo e outros crditos ................................. 71 Regras de conduta ............................................................... 71

    ndice

    6 Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • 5.2.1.2 Determinaes especfi cas ............................................. 71 Publicidade .......................................................................... 71 Prerios ............................................................................. 73 Crdito habitao ............................................................. 73 Crdito ao consumo e outros crditos ................................ 73

    Contas de depsitos e produtos de poupana .................... 73

    5.2.2 Processos de contra-ordenao ................................................. 74

    6 RECLAMAES DOS CLIENTES BANCRIOS ............................. 79

    6.1 Enquadramento Legal e Regulamentar ...................................... 79 Caixa 3 - Entendimentos do Banco de Portugal ......................... 81

    6.2 Anlise Estatstica ....................................................................... 83

    6.2.1 Principais caractersticas ............................................................ 83

    6.2.2 Evoluo global .......................................................................... 83

    6.2.3 Por matria reclamada ............................................................... 86 Caixa 4 - Contas de depsito e produtos de poupana | 2008 ..... 90 Caixa 5 - Crdito ao consumo e outros crditos | 2008 .............. 91 Caixa 6 - Crdito habitao | 2008 .......................................... 93 Caixa 7 - Cheques | 2008 ........................................................... 94 Caixa 8 - Cartes | 2008 ............................................................. 95

    6.2.4 Por resultado .............................................................................. 96 Caixa 9 - Notas Metodolgicas ................................................... 97

    7 O PORTAL DO CLIENTE BANCRIO .............................................. 103

    7.1 Misso e Objectivos .................................................................... 103

    7.2 Acessos e Consulta de Informao ............................................ 104

    7.3 Formulrios ............................................................................... 107

    7.4 Pedidos de Informao ............................................................... 108 Caixa 10 - Pedidos de Informao | Alguns exemplos ................ 111

    ndice

    7Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • NDICE DE QUADROS

    Quadro 5.1.1.1 Inspeces realizadas | 2008 ................................................ 52

    Quadro 5.1.2.1 Inspeces realizadas por matria | 2008 ............................. 54

    Quadro 5.1.2.2 Inspeces realizadas por diploma legal | 2008 ................... 58

    Quadro C.1.1 Servios Mnimos Bancrios - Nmero de contas | 2008 ...... 59

    Quadro C.1.2 Servios Mnimos Bancrios - Comisses praticadas pelas instituies aderentes | 2008 ................................................... 61

    Quadro 5.2.1.1 Recomendaes e determinaes especfi cas emitidas | 2008 ...................................................................... 70

    Quadro 5.2.1.2 Recomendaes e determinaes especfi cas emitidas no mbito da publicidade | 2008 ............................................. 72

    Quadro 5.2.2.1 Processos de contra-ordenao instaurados | 2008 ............. 75

    Quadro 6.2.2.1 Nmero de reclamaes entradas, por provenincia ............ 85

    Quadro 6.2.3.1 Reclamaes por matria reclamada | 2008 ......................... 87

    Quadro 6.2.3.2 Matria reclamada (valores relativos) ................................... 88

    Quadro 6.2.4.1 Resultados dos processos de reclamao ............................ 97

    ndice

    8 Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • NDICE DE GRFICOS

    Grfi co 3.3.1 Emprstimos Bancrios das Famlias ...................................... 25

    Grfi co 3.3.2 Depsitos e equiparados - Particulares (incluindo emigrantes) .............................................................. 27

    Grfi co 5.1.1 Inspeces realizadas por tipo de instrumento | 2008 ............ 53

    Grfi co 5.1.2.2 Inspeces realizadas por matria em 2008 ........................... 55

    Grfi co C.1.1 Servios Mnimos Bancrios - Distribuio de contas por instituio aderente | 2007 e 2008 .................................... 60

    Grfi co C.2.1 Contratos de crdito habitao no mbito do Decreto-Lei n. 51/2007, de 7 de Maro | 2008 .................. 65

    Grfi co C.2.2 Contratos renegociados e com reembolso antecipado total | 2008 .............................................................................. 65

    Grfi co C.2.3 Contratos renegociados e condies objecto de reviso | 2008 .................................................................... 66

    Grfi co C.2.4 Reclamaes sobre renegociao do crdito habitao | Distribuio por tipo de condio contratual | 2008 ................ 67

    Grfi co 5.2.1.1 Recomendaes e determinaes especfi cas emitidas por matria | 2008 ..................................................... 70

    Grfi co 5.2.1.2 Recomendaes e determinaes emitidas por rea de superviso | 2008 ............................................................... 70

    Grfi co 6.2.2.1 Nmero de reclamaes entradas, por provenincia | 2008 ............................................................ 86

    Grfi co 6.2.3.1 Reclamaes por matria reclamada (em estrutura percentual) | 2008 .............................................. 88

    Grfi co 7.2.1 Evoluo mensal das visitas ao Portal do Cliente Bancrio | 2008 ....................................................... 104

    Grfi co 7.2.2 Distribuio das visitas por tema | 2008 ................................... 105

    Grfi co 7.2.3 Evoluo temtica das visitas | 2008 ....................................... 105

    Grfi co 7.2.4 Evoluo das visitas aos servios do Banco | 2008 ................. 106

    Grfi co 7.2.5 Principais documentos descarregados (downloads) | 2008 ..... 106

    Grfi co 7.3.1 Evoluo mensal dos formulrios de reclamao submetidos | 2008 .................................................................... 107

    Grfi co 7.4.1 Evoluo mensal do nmero de pedidos de informao | 2008 ... 108

    Grfi co 7.4.2 Evoluo mensal do nmero de pedidos de informao (principais temas) | 2008 .......................................................... 109

    ndice

    9Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • LISTA DE SIGLAS

    ATM Automated Teller Machine

    CE Comisso Europeia

    CMVM Comisso do Mercado de Valores Mobilirios

    CRC Central de Responsabilidades de Crdito

    FIN Ficha de Informao Normalizada

    IC Instituio de Crdito

    IGFE Internacional Gateway for Financial Education

    ISP Instituto de Seguros de Portugal

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmicos

    PORTAL Portal do Cliente Bancrio

    RCL Reclamao proveniente do Livro de Reclamaes

    RCO Reclamao proveniente de Outros Meios

    RGICSF Regime Geral das Instituies de Crdito e Sociedades Financeiras

    SICOI Sistema de Compensao Interbancria

    SMB Servios Mnimos Bancrios

    TAE Taxa Anual Efectiva

    TAEG Taxa Anual de Encargos Efectiva Global

    TAEL Taxa Anual Efectiva Lquida

    TANB Taxa Anual Nominal Bruta

    TAN Taxa Anual Nominal

    UE Unio Europeia

  • CAPTULO 1Nota Introdutria

  • Nota Introdutria | 1

    13Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

    1 NOTA INTRODUTRIA

    A evoluo dos mercados fi nanceiros em 2008 foi marcada por um nvel de turbulncia sem precedentes, com uma signifi cativa reavaliao em alta do risco e uma deteriorao da confi ana. Neste contexto, absolutamente crucial garantir o funcionamento regular do sistema fi nanceiro, que constitui um pr-requisito para a minimizao do impacto adverso da turbulncia nos mercados fi nanceiros sobre a actividade econmica. Adicionalmente, necessrio estabelecer um modelo de regulao e superviso dos mercados fi nanceiros que promova o seu funcionamento efi ciente e reduza a probabilidade e a intensidade de crises fi nanceiras futuras.

    A tomada de decises racionais pelos clientes bancrios, conscientes designadamente dos riscos envolvidos nos produtos e servios, um dos requisitos fundamentais para o funcionamento efi ciente dos mercados fi nanceiros a retalho e para a reduo do prprio nvel de risco no sistema fi nanceiro. A divulgao pelas instituies de crdito de informao relevante sobre os seus produtos e servios, de forma transparente, acessvel e estan-dardizada, promove essa tomada de decises. No entanto, a divulgao de informao, mesmo que com estes parmetros, pode no ser sufi ciente, pois as decises dos clien-tes so tambm condicionadas pelo seu grau de literacia fi nanceira. Por isso, tambm necessrio promover a educao fi nanceira.

    A interveno pblica atravs da superviso comportamental dos mercados fi nanceiros a retalho promove a tomada de decises racionais e conscientes pelos clientes, protegendo, assim, os seus interesses e contribuindo para a estabilidade e efi cincia destes mercados.

    As linhas de orientao que estruturam a superviso comportamental do Banco de Portugal so diversas e complementares entre si. Desde a exigncia do cumprimento de princpios e regras de transparncia e rigor na informao prestada aos clientes nas vrias fases da comercializao dos produtos at ao desenvolvimento das normas que regulam a actuao das instituies. Simultaneamente, incluem a fi scalizao da actuao das instituies, atravs de inspeces e da apreciao de reclamaes, bem como a correco de situaes de incumprimento e a penalizao de actuaes irregulares, com a instau-rao de processos de contra-ordenao em situaes consideradas graves. A formao e informao dos clientes, melhorando a qualidade da procura de produtos fi nanceiros um outro vector de actuao.

    Em 2008, para cumprir esta estratgia, desenvolveram-se vrios projectos, alguns dos quais estruturantes da regulao comportamental dos mercado fi nanceiros a retalho sujeitos superviso comportamental do Banco de Portugal. Destacam-se a criao do Portal do Cliente Bancrio e a preparao de diversas iniciativas regulamentares de desenvolvimento do quadro normativo que regula a relao das instituies com os seus clientes. Estas iniciativas abrangeram a publicidade, os prerios das instituies e os deveres de informao na comercializao de produtos bancrios. No estudo e prepa-rao destes projectos, o Banco de Portugal envolveu instituies de crdito, associaes representativas dos consumidores e outras entidades relevantes. As iniciativas regula-mentares foram posteriormente sujeitas a consulta pblica.

    O Portal do Cliente Bancrio, lanado a 17 de Abril de 2008, constituiu, pelas suas caractersticas, uma das primeiras prioridades. Os seus objectivos fazem dele um canal de comunicao dinmico e interactivo. A sua contnua actualizao e o desenvolvimento de novos contedos refl ectem a dinmica da oferta de novos produtos e as alteraes legislativas e regulamentares e respondem complexidade e diversidade crescente das questes colocadas pelos clientes, apresentadas atravs de pedidos de informao e

  • 1 | Nota Introdutria

    14 Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

    de reclamaes. Recentemente, foi possvel pr em funcionamento a possibilidade dos clientes conseguirem atravs do Portal obter informao sobre a situao em que se encontram as suas reclamaes.

    Nas iniciativas regulamentares, foi dada particular ateno publicidade a produtos e servios bancrios com a publicao de um diploma que explicita os princpios e regras a que esta deve obedecer.

    Tambm os prerios foram objecto de uma iniciativa regulamentar, para se estabelecer um novo modelo que uniformize esta informao, facilitando a comparao das condies praticadas nos diversos produtos e servios. Pretende-se, nomeadamente, que o prerio revele todas as comisses praticadas com indicao dos seus valores mximos e prev-se que estas sejam divulgadas no Portal do Cliente Bancrio.

    Na regulao dos deveres de informao na comercializao dos produtos, focou-se a ateno, pela sua importncia para as famlias, no crdito habitao e nos produtos de poupana. No crdito habitao, exige-se maior transparncia na negociao e apro-vao, na celebrao do contrato e durante a vigncia deste, alterando substancialmente o actual quadro regulamentar. Nos produtos de poupana, a sua complexidade crescente levou preparao de uma interveno em diversos nveis caractersticas dos depsitos e deveres de informao na sua comercializao para assegurar que a informao rigorosa e completa, designadamente no que respeita sua caracterizao. Na prestao da informao sobre as caractersticas dos produtos estabelece-se a entrega obrigatria aos clientes de fi chas de informao normalizadas e de prospectos informativos, no caso dos depsitos indexados e duais.

    O Banco de Portugal tem tambm vindo a preparar o lanamento de um inqurito popu-lao portuguesa destinado a aferir o seu nvel de literacia fi nanceira.

    Neste segundo Relatrio de Superviso Comportamental, onde se faz o balano das actividades desenvolvidas pelo Banco de Portugal neste domnio no ano de 2008, d-se conta publicamente da forma como foi exercida a superviso da actuao das instituies nos mercados fi nanceiros a retalho, referindo-se as inspeces realizadas e a actuao da decorrente para assegurar o cumprimento das normas em vigor. Apresenta-se tambm uma anlise relativa ao tratamento das reclamaes e so divulgadas estatsticas sobre os acessos ao Portal do Cliente Bancrio.

    No captulo relativo s reclamaes, apresentam-se as matrias sobre que incide a maior parte das reclamaes e referem-se, do conjunto das queixas que foram remetidas ao Banco de Portugal, as instituies sobre as quais incidiram mais reclamaes. A meno s entidades reclamadas no refl ecte o nmero absoluto de reclamaes de cada instituio, antes se baseia em indicadores que ponderam o nmero de reclamaes pela importncia relativa das instituies no respectivo segmento de mercado, tendo em vista no disseminar uma imagem distorcida das instituies e do sistema fi nanceiro em geral.

    Espero que a publicao deste Relatrio, para alm de dar a conhecer opinio pblica os trabalhos que desde h um ano a recm criada funo de Superviso Comportamental conseguiu concretizar, sirva tambm para estimular o sistema bancrio a aperfeioar os servios que presta aos seus clientes, reduzindo o nmero de reclamaes e aumentando a efi cincia da intermediao fi nanceira no nosso pas.

    O Governador

    Vtor Constncio

  • CAPTULO 2Estratgia de Actuao

  • 2 ESTRATGIA DE ACTUAO

    A reviso do Regime Geral das Instituies de Crdito e Sociedades Financeiras (RGICSF), em 2008(1), consagrou um conjunto de regras de conduta e de deveres de informao a observar pelas instituies de crdito e sociedades fi nanceiras na sua relao com os clientes, ao mesmo tempo que reforou e alargou as atribuies do Banco de Portugal na rea da superviso comportamental.

    A actuao do Banco de Portugal no mbito da superviso comportamental constitui um instrumento de interveno pblica nos mercados fi nanceiros a retalho, cujo funcionamento afectado pela informao imperfeita dos clientes bancrios. A regulao destes mercados tem como objectivo reduzir os custos de transaco decorrentes dessa assimetria, contri-buindo para aumentar a mobilidade dos clientes, a concorrncia entre as instituies e a efi cincia destes mercados.

    O Banco de Portugal tem actuado no s do lado da oferta de produtos e servios pelas instituies de crdito, procurando aumentar e melhorar a informao que prestada, mas tambm do lado da procura, contribuindo para a sua maior informao e formao fi nanceira.

    A estratgia defi nida para o cumprimento destes objectivos assenta em cinco componentes distintas, mas complementares entre si.

    A primeira componente a exigncia do cumprimento de princpios e regras de transpa-rncia e rigor na informao que as instituies de crdito prestam nas diversas fases da comercializao de produtos e servios bancrios. Esta exigncia estende-se das campanhas publicitrias s diversas etapas da contratao de um produto ou servio bancrio.

    A segunda componente o exerccio, pelo Banco de Portugal, do seu poder regulamentar, procurando aperfeioar o quadro normativo da actuao das instituies de crdito nos mercados fi nanceiros a retalho. O Banco de Portugal emite Avisos e Instrues e transmite o seu entendimento sobre normas em vigor atravs de Cartas Circulares.

    A terceira componente da estratgia reside na vigilncia da actuao das instituies de crdito. O Banco de Portugal fi scaliza a sua actuao atravs de inspeces e das reclamaes. As inspeces so realizadas, quer aos balces e aos servios centrais das instituies, quer distncia, fi scalizando os stios na Internet e a informao reportada ao Banco de Portugal. O Banco de Portugal actua frequentemente como cliente mistrio aos balces das instituies e nas suas linhas de atendimento telefnico. O cliente mistrio , alis, um mtodo de inspeco particularmente importante da superviso comporta-mental.

    A quarta componente diz respeito actuao do Banco de Portugal perante situaes de incumprimento ou actuaes irregulares das instituies. O Banco de Portugal emite recomendaes ou determinaes especfi cas, exigindo a correco dessas situaes, e, quando detecta faltas graves, instaura processos de contra-ordenao, com possvel aplicao de sanes, designadamente pecunirias. Para exigir a correco de irregula-ridades ou incumprimentos, o Banco de Portugal recorre, com frequncia, emisso de determinaes especfi cas.

    (1) Decreto-Lei n.1/2008, de 3 de Janeiro, e, posteriormente, Decreto-Lei n. 126/2008, de 21 de Julho, e Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro.

    Estratgia de Actuao | 2

    17Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • A quinta componente da estratgia de actuao do Banco de Portugal consiste na promoo da qualidade da procura de produtos e servios fi nanceiros, atravs de iniciativas que contribuam para o aumento das competncias na avaliao dos custos, rendimentos esperados e riscos dos produtos e servios fi nanceiros. Visando, numa primeira fase, o incremento da efi cincia na gesto dos encargos e poupanas dos clientes bancrios, a qualidade da procura de produtos e servios fi nanceiros gera benefcios para o prprio sistema fi nanceiro e para a economia no seu conjunto.

    So vrios os projectos que tm sido desenvolvidos para implementar esta estratgia. De entre os primeiros, destaca-se a criao do Portal do Cliente Bancrio disponibilizado ao pblico em 17 de Abril de 2008. O Portal, no s apresenta informao til e actualizada sobre produtos e servios fi nanceiros, mas tambm serve como instrumento de fi scalizao indirecta das prticas das instituies(2).

    Ainda em Abril de 2008, o Banco de Portugal divulgou o primeiro Relatrio de Superviso Comportamental. Neste relatrio, com periodicidade anual, o Banco de Portugal faz o balano das actividades desenvolvidas no mbito da superviso comportamental, dando a conhecer a forma como so regulados os mercados fi nanceiros a retalho.

    Nos primeiros meses de 2008, iniciaram-se os trabalhos de preparao de novas iniciativas regulamentares por parte do Banco de Portugal no mbito da superviso comportamental.

    Logo de incio, mereceu particular ateno a publicidade fi nanceira, pela importncia de que se reveste a transparncia da informao no momento da divulgao ao pblico de produtos e servios bancrios. Preparado ao longo da primeira metade de 2008, o diploma regulamentar foi submetido a consulta pblica entre Julho e Setembro e foi publicado no incio de Dezembro(3).

    Tambm os prerios das instituies de crdito mereceram especial ateno da superviso comportamental. Em resultado da sua anlise e das inspeces efectuadas aos balces, revelou-se necessria a reviso do Aviso n. 1/95 que regulamenta a informao a ser prestada sobre produtos e servios bancrios. O projecto de novo diploma regulamentar foi elaborado durante a segunda metade de 2008 e colocado em consulta pblica no incio de 2009(4).

    A ateno do Banco de Portugal recaiu tambm na qualidade da informao a disponibilizar aos clientes no crdito habitao e nos produtos de poupana. No crdito habitao, o Banco de Portugal preparou um projecto de Aviso que vem reforar e aumentar os deveres de transparncia de informao nas diferentes fases do processo de contratao de um crdito habitao, alterando substancialmente o quadro regulamentar defi nido na Instruo n. 27/2003(5). Por seu turno, a complexidade crescente dos produtos de poupana levou o Banco de Portugal a preparar uma interveno regulamentar abrangente com o objectivo de assegurar a caracterizao rigorosa dos depsitos bancrios(6).

    O Banco de Portugal est ainda a preparar a realizao de um inqurito populao, destinado a aferir o seu nvel de literacia fi nanceira, a concretizar-se no decurso do ano de 2009(7).

    (2) Ver ponto 7. (3) Ver ponto 3.1. (4) Ver ponto 3.2. (5) Ver ponto 3.3.1. (6) Ver ponto 3.3.2. (7) Ver ponto 3.4.

    18

    2 | Estratgia de Actuao

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • CAPTULO 3Principais Projectos Desenvolvidos

  • 21

    Principais Projectos Desenvolvidos | 3

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

    3 PRINCIPAIS PROJECTOS DESENVOLVIDOS

    3.1 Publicidade

    As campanhas de publicidade a produtos e servios das instituies de crdito tm uma infl uncia determinante na formao da vontade do cliente bancrio, no seu processo de escolha e deciso.

    A informao divulgada no pode, por isso, deixar de estar sujeita a princpios de transpa-rncia, rigor e equilbrio. A publicidade enganosa atenta contra os interesses dos clientes e a s concorrncia entre instituies, justifi cando a interveno pblica na defi nio e fi scalizao dessa actividade.

    O legislador, tendo em conta a relevncia da publicidade na comunicao entre as instituies e os seus clientes, estabeleceu no RGICSF disposies especfi cas para a publicidade de produtos e servios bancrios. Alm do cumprimento da legislao geral em vigor em matria de publicidade no mbito do Cdigo da Publicidade, as instituies de crdito devem cumprir o fi xado no RGICSF e as normas especfi cas emitidas pelo Banco de Portugal.

    Para a fi scalizao do cumprimento deste normativo foi atribudo ao Banco de Portugal o poder para exigir as modifi caes necessrias nas mensagens publicitrias ou ordenar a sua suspenso. Se no acatar estas determinaes, a instituio sujeita-se actuao sancionatria do Banco de Portugal.

    O Banco de Portugal tem acompanhado, desde o incio de 2008, as principais campanhas de publicidade, exigindo, sempre que necessrio, o cumprimento dos deveres de rigor e transparncia das mensagens. Em simultneo, o Banco de Portugal preparou a emisso do Aviso n. 10/2008, com os princpios e regras que devem ser observados pelas institui-es de crdito nas mensagens publicitrias dos produtos e servios fi nanceiros sujeitos sua superviso.

    O Aviso n. 10/2008 , assim, o resultado de uma refl exo aprofundada, no mbito da qual foram: (i) analisadas experincias e modelos de actuao de pases como a Alemanha, a Blgica, o Canad, a Espanha, a Holanda, o Japo e o Reino Unido; (ii) ponderadas as contribuies das prprias instituies e de outros interessados, designadamente associaes de defesa dos consumidores e organismos pblicos, na sequncia de reunies bilaterais ou da consulta pblica(1) efectuada; e (iii) analisadas as campanhas ao longo de 2008.

    Como resultado desta refl exo, o Aviso n. 10/2008 consagra um modelo de actuao que, semelhana do que sucede na generalidade das experincias internacionais, assenta na fi scalizao ex post. A opo por este modelo, em detrimento da aprovao prvia, promove a responsabilidade das instituies, concedendo-lhes ao mesmo tempo maior fl exibilidade de aco e, por conseguinte, menores custos de oportunidade no lanamento de novas campanhas.

    (1) O projecto de diploma regulamentar que viria a estar na base do Aviso n. 10/2008 foi submetido a consulta pblica, entre os dias 10 de Julho e 10 de Setembro de 2008, tendo sido recebidos contributos de 15 entidades, incluindo instituies de crdito, instituies representantes do sector fi nanceiro e da publicidade, associaes de defesa dos consumidores e organismos pblicos. O relatrio da consulta pblica foi publicado pelo Banco de Portugal em 22 de Dezembro de 2008, data da publicao do Aviso n. 10/2008.

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    3 | Principais Projectos Desenvolvidos

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

    A avaliao das campanhas publicitrias consiste, em primeiro lugar, na verifi cao do cumprimento de princpios (de transparncia e rigor, de equilbrio da mensagem publici-tria, de respeito pela concorrncia e da proibio de mensagens enganadoras). Tal no impede a verifi cao simultnea do cumprimento de regras especfi cas para determinados produtos, defi nidas para orientar a conduta das instituies.

    O tipo de actuao e as sanes a serem aplicadas pelo Banco de Portugal dependem da ponderao, caso a caso, dos riscos que a mensagem publicitria considerada irregular pode colocar aos clientes bancrios.

    Em suma, o modelo de actuao adoptado pelo Banco de Portugal para a superviso da publicidade a produtos e servios fi nanceiros sujeitos sua superviso promove a res-ponsabilizao das instituies de crdito e permite um elevado grau de previsibilidade da sua actuao fi scalizadora.

    Contudo, tal como sucede na generalidade das experincias internacionais, a superviso da publicidade a produtos fi nanceiros de maior complexidade no segue este modelo. Por fora do Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro, a publicidade aos produtos fi nanceiros complexos assenta num modelo ex ante, pelo que os depsitos indexados e duais tm de ser submetidos aprovao prvia do Banco de Portugal.

    Na fi scalizao do cumprimento dos princpios e regras estabelecidos na lei e no Aviso n. 10/2008, o Banco de Portugal procura actuar de forma abrangente e sistemtica, tendo em vista a cobertura adequada dos diferentes canais de difuso das mensagens publicitrias e o tratamento equitativo das instituies de crdito.

    Para uma cobertura adequada das campanhas publicitrias divulgadas nos meios de comunicao de massa, o Banco de Portugal contratou os servios de uma entidade que recolhe a publicidade de instituies de crdito em canais televisivos, estaes de rdio e publicaes escritas, incluindo jornais e revistas e em cartazes de exterior. Adicionalmente, as instituies de crdito esto obrigadas a enviar ao Banco de Portugal um exemplar dos suportes escritos disponibilizados ao balco, mailings e cartazes utilizados exclusivamente no interior das agncias, permitindo, deste modo, tambm a superviso destes meios.

    Na superviso de campanhas publicitrias, durante o ano de 2008 e at ao fi nal de Janeiro de 2009, o Banco de Portugal emitiu 53 determinaes especfi cas, relativas a produtos de crdito ao consumo, depsitos a prazo, crdito habitao, contas ordem e cartes de crdito(2). Foram mandadas suspender 5 campanhas, por se considerar que envolviam riscos signifi cativos para o pblico-alvo, tendo sido ordenada a alterao das restantes (num prazo de 10 dias teis, sempre que a campanha envolvia anncios na televiso, e de 5 dias teis nas restantes). Aps a entrada em vigor do Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro, foram apreciados 7 pedidos de aprovao prvia de campanhas publici-trias referentes a depsitos indexados e duais.

    (2) Ver ponto 5.2.1.

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    Principais Projectos Desenvolvidos | 3

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

    3.2 Prerios

    As instituies de crdito esto obrigadas a disponibilizar, em todos os balces, quadros com informao actualizada sobre as condies gerais de acesso aos produtos e servios que comercializam, documento usualmente designado de Prerio (3) (doravante, prerio).

    De acordo com o normativo em vigor(4), o prerio deve ser afi xado em lugar de acesso directo e bem identifi cado e deve incluir um conjunto de quadros com as informaes relativas a taxas de juro, impostos e outras condies relativas aos depsitos e outras aplicaes fi nanceiras, bem como as taxas representativas de todos os crditos concedidos pelas instituies. H um conjunto de informao que deve estar imediata-mente acessvel e um outro que deve ser disponibilizado, a pedido.

    Reconhece-se que o prerio assume uma importncia fundamental para o cliente, na medida em que lhe permite conhecer, em cada instante, as condies gerais dos produtos e servios comercializados pelas instituies. Mas, para o Banco de Portugal, o prerio tambm um importante instrumento de superviso, ao permitir fi scalizar as prticas bancrias e a sua conformidade com as normas legais e regulamentares em vigor. Alm de inspeces cliente mistrio a balces para consulta dos prerios, as instituies so obrigadas a remet-los ao Banco de Portugal. Os prerios so analisados e sancionadas eventuais irregularidades detectadas.

    O actual modelo apresenta, hoje, algumas limitaes, decorrentes da maior complexidade e diversidade de produtos e servios fi nanceiros disponibilizados pelas instituies, revelando-se, muitas vezes, insufi ciente para acomodar toda a informao relevante de forma harmonizada e facilmente apreensvel. Tendo tido na sua gnese a necessidade de promover a transparncia do mercado de crdito, no contexto de liberalizao das taxas de juro do fi nal da dcada de oitenta, as exigncias estabelecidas s instituies colocaram a nfase na divulgao no prerio das taxas de juro praticadas.

    A divulgao das comisses adquiriu entretanto importncia pelo peso que passaram a assumir no custo total dos produtos e servios comercializados. Neste contexto, o prerio deve destacar as comisses mximas praticadas e apresentar todas as comisses em vigor.

    De modo a ultrapassar as limitaes do actual quadro regulamentar, o Banco de Portugal preparou e submeteu a consulta pblica um projecto de Aviso, para maior transparncia, rigor e divulgao mais completa das condies que as instituies praticam. Este projecto estabelece que as instituies de crdito passem a apresentar no prerio todas as comisses pelo seu valor mximo e o montante indicativo das principais despesas. Devem ainda continuar a disponibilizar as taxas de juro activas e passivas de referncia, bem como informao sobre datas-valor e datas de disponibilizao de fundos. No prerio deve constar tambm informao de natureza genrica, designadamente, o regime de cobertura dos depsitos da instituio, a existncia de Livro de Reclamaes e a entidade reguladora competente.

    (3) No mbito das competncias que lhe foram conferidas pelo Decreto-Lei n. 220/94, de 23 de Agosto, e do disposto no ento artigo 75. (actual artigo 77.) do RGICSF, o Banco de Portugal emitiu o Aviso n. 1/95, que regulamenta o prerio.

    (4) O Aviso n.1/95 incorporou entretanto alteraes introduzidas pelos Avisos ns 2/2002, de 15 de Abril, 7/2003, de 15 de Janeiro, e 9/2006, de 10 de Novembro.

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    3 | Principais Projectos Desenvolvidos

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

    O novo modelo procura uniformizar a informao do prerio para facilitar a comparao das condies praticadas pelas instituies de crdito. Em complemento a este novo Aviso, ser, por isso, publicada uma Instruo, tambm j submetida a consulta pblica, na qual so defi nidos os diversos quadros do prerio e o seu modo de preenchimento.

    O novo modelo de prerio apresenta, assim, alteraes signifi cativas face ao actual, destacando-se a arrumao da informao em dois folhetos: o Folheto de Taxas de Juro e o Folheto de Comisses e Despesas.

    O Folheto de Taxas de Juro deve conter as taxas indicativas das operaes de crdito mais representativas: a taxa anual nominal (TAN) e respectivos spreads mnimos e mximos aplicveis, bem como as correspondentes taxa anual efectiva (TAE) e taxa anual efectiva global (TAEG), e as taxas de remunerao das principais aplicaes fi nanceiras, nomeada-mente a taxa anual efectiva lquida (TAEL) dos depsitos. As instituies de crdito devem manter a informao constante deste folheto actualizada e envi-lo ao Banco de Portugal, com uma periodicidade trimestral.

    O Folheto de Comisses e Despesas deve informar os clientes do valor mximo de todas as comisses praticadas pela instituio, bem como o valor indicativo das principais despesas. As instituies no podero cobrar comisses que no estejam previstas neste folheto, nem valores superiores aos a indicados. As comisses referem-se s prestaes pecunirias devidas s instituies de crdito em retribuio dos servios por elas prestados ou subcontratados a terceiros, no mbito da sua actividade. O Folheto de Comisses e Despesas passar a ser divulgado no Portal do Cliente Bancrio.

    Sempre que pretendam alterar comisses que praticam, as instituies de crdito devem remeter o Folheto de Comisses e Despesas alterado ao Banco de Portugal, com uma antecedncia mnima de cinco dias teis relativamente data pretendida para a entrada em vigor dessas alteraes, sendo, ainda, responsveis pela sua actualizao em todos os canais de divulgao. Esta actualizao no dispensa a prvia comunicao aos clientes que sejam titulares de contratos em vigor.

    As instituies passaro tambm a ter de disponibilizar o prerio completo nos balces e restantes locais de atendimento, em local bem visvel e de acesso directo, em dispositivo de consulta fcil e imediata, bem como na Internet, sem que o cliente seja obrigado a registar--se previamente. Sempre que as instituies comercializem os seus produtos e servios fi nanceiros distncia, devem assegurar aos clientes a prestao de informao prvia sobre o custo total dos produtos e servios fi nanceiros comercializados por esse meio.

    A consulta pblica relativa a esta iniciativa regulamentar terminou a 6 de Fevereiro de 2009, prevendo-se que a publicao do Aviso, em Dirio da Repblica, e da Instruo, no Boletim Ofi cial do Banco de Portugal, ocorra antes do fi nal do primeiro semestre de 2009.

  • Fonte: Banco de Portugal

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    Principais Projectos Desenvolvidos | 3

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

    3.3 Informao Contratual

    Em paralelo com as iniciativas desenvolvidas na rea da publicidade e do prerio, o Banco de Portugal tem preparado novos diplomas regulamentares sobre a escolha e contratao de produtos bancrios nos mercados do crdito habitao e da poupana(5).

    Com estes diplomas, pretende-se harmonizar a informao pr-contratual, atravs de fi chas de informao normalizadas, exigir a incluso de toda a informao relevante nos contratos e o envio regular de extractos bancrios com a evoluo dos compromissos assumidos.

    3.3.1 Crdito habitao

    O mercado do crdito habitao tem merecido uma ateno especial do Banco de Portugal. Reconhece-se, por um lado, o elevado peso do crdito habitao no grau de endividamento dos particulares e, enquanto compromisso fi nanceiro a mdio e longo prazo, as suas implicaes duradouras no oramento das famlias. Por outro lado, o crdito habi-tao assume uma importncia muito signifi cativa no balano das instituies de crdito.

    O crescimento dos emprstimos bancrios das famlias, que passaram de 57,5 por cento do PIB, em 2000, para 88 por cento do PIB, em 2008, tem sido explicado pela evoluo do crdito habitao, que subiu de 41 por cento do PIB, em 2000, para 71 por cento em 2008.

    Grfi co 3.3.1

    EMPRSTIMOS BANCRIOS DAS FAMLIAS

    0,0

    20,0

    40,0

    60,0

    80,0

    100,0

    Dez. 00 Dez. 01 Dez. 02 Dez. 03 Dez. 04 Dez. 05 Dez. 06 Dez. 07 Dez. 08

    Emprstimos Bancrios Habitao Outros Emprstimos Bancrios

    Como consequncia das inspeces realizadas e da apreciao de reclamaes e pedidos de informao relacionados com o crdito habitao, o Banco de Portugal considera que as actuais exigncias impostas s instituies de crdito(6) so insufi cientes para garantir que os clientes tenham conhecimento completo e rigoroso das condies que as institui-es praticam.

    O Banco de Portugal entendeu ser necessrio rever o conjunto de informao que as instituies devem prestar no mbito do crdito habitao. As novas regras(7) vm reforar os requisitos mnimos da informao que deve ser prestada na simulao e na negociao de um emprstimo habitao e estabelecer novas exigncias quanto informao a incluir nos contratos e a disponibilizar durante a sua vigncia.

    (5) Ver pontos 3.3.1 e 3.3.2. (6) Constantes da Instruo n. 27/2003. (7) Projecto de Aviso sobre Deveres de Informao no Crdito Habitao (Ver ponto 4.1.2).

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    3 | Principais Projectos Desenvolvidos

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

    Para permitir a avaliao adequada dos custos e riscos e a comparao de diferentes alternativas de fi nanciamento, defi nem-se obrigaes mais amplas e precisas na pres-tao de informao em cada uma das quatro etapas do processo de contratao de um emprstimo habitao: (i) na simulao; (ii) na aprovao; (iii) na celebrao do contrato; e (iv) durante a sua vigncia.

    No momento da simulao, as instituies de crdito so obrigadas a entregar um documento padronizado com as condies fi nanceiras detalhadas do emprstimo a Ficha de Informao Normalizada (FIN) e a apresentar o respectivo plano fi nanceiro, com os encargos relativos amortizao do capital e ao pagamento dos juros. Esta alterao contempla a prtica j hoje seguida por algumas instituies e responde a sugestes apresentadas por associaes de defesa dos consumidores.

    Actualmente(8), as instituies so obrigadas a disponibilizar a FIN apenas no momento da aprovao do crdito. Futuramente, esta obrigao mantm-se, mas as instituies passam a fi car obrigadas a entregar, alm da FIN com as condies aprovadas para o emprstimo, a minuta do contrato.

    Na celebrao do contrato, as instituies tm de garantir que o mesmo especifi ca todos os elementos de informao relevantes para uma completa avaliao das condies fi nan-ceiras do emprstimo e dos riscos e obrigaes que implica.

    Durante a vigncia do contrato, as instituies devem enviar regularmente extractos sobre o servio da dvida do emprstimo e notifi car o cliente com a devida antecedncia aquando da concretizao de alteraes previstas contratualmente.

    Uma outra alterao introduzida a obrigao de disponibilizao do plano fi nanceiro de um emprstimo padro, sempre que a modalidade escolhida no revista esta forma de reembolso. O emprstimo padro o que prev o reembolso em prestaes constantes, de capital e juros. Esta exigncia decorre da preocupao de alertar os clientes para as implicaes fi nanceiras (riscos e encargos) associados a modalidades alternativas, como sucede, nomeadamente, nos emprstimos que permitem a carncia e/ou o diferimento de capital e/ou juros.

    A FIN a disponibilizar no momento da simulao e no da aprovao do crdito passa a ser composta por trs partes: a parte I, com as caractersticas e as condies fi nanceiras do emprstimo; a parte II, com o plano fi nanceiro do emprstimo, a anlise do impacto de uma possvel subida da taxa de juro varivel e o plano fi nanceiro do emprstimo padro, se o muturio pretender outra modalidade de reembolso; e a parte III, com informao geral sobre as caractersticas dos produtos e servios fi nanceiros disponibilizados no mbito do crdito habitao e a documentao necessria para a sua contratao.

    Adopta-se tambm uma clara distino entre comisses e despesas. As comisses correspondem s prestaes pecunirias exigveis aos clientes como retribuio pelos servios prestados pelas instituies de crdito, ou subcontratados a terceiros, no mbito da negociao, celebrao e vigncia dos contratos. As despesas correspondem aos demais encargos suportados pelas instituies de crdito, que lhes so exigveis por terceiros, e repercutveis nos clientes, nomeadamente os pagamentos a Conservatrias, Cartrios Notariais ou que tenham natureza fi scal. A obrigatoriedade de distino entre os dois tipos de encargos traduz a preocupao, tambm presente nos prerios, de transparncia e harmonizao de conceitos, de molde a tornar possvel a comparao de custos associados a propostas alternativas.

    (8) De acordo com a Instruo n. 27/2003.

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    Principais Projectos Desenvolvidos | 3

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    3.3.2 Produtos de poupana

    O Banco de Portugal preparou tambm um conjunto de normas relativas transparncia e rigor da informao a prestar pelas instituies de crdito no mercado dos produtos de captao de poupana.

    Este mercado tem sofrido alteraes profundas nos ltimos anos. O acrscimo da comple-xidade e o esbater de fronteiras entre famlias de produtos tem resultado do aumento da oferta de instrumentos indexados, cuja rendibilidade resulta da combinao de caracters-ticas de diferentes instrumentos, com nveis acrescidos de risco.

    Mais recentemente, a diminuio da liquidez do sistema fi nanceiro levou as instituies de crdito a procurarem aumentar a captao de fundos, diversifi cando ainda mais a oferta e tornando a sua remunerao relativamente mais atractiva. Ao mesmo tempo, refl ectindo a maior averso ao risco dos aforradores, tem-se assistido a um crescimento signifi cativo dos depsitos bancrios.

    Grfi co 3.3.2

    DEPSITOS E EQUIPARADOS - PARTICULARES (incluindo emigrantes)

    -4%

    -2%

    0%

    2%

    4%

    6%

    8%

    10%

    12%

    14%

    16%

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    Ta

    xa

    de

    va

    ria

    oh

    om

    lo

    ga

    O Banco de Portugal entende que os actuais deveres de informao na comercializao dos depsitos bancrios devem ser alargados para acompanhar toda esta evoluo. Em 2008 preparou um conjunto de propostas para rever esses deveres.

    Esto em curso alteraes aos deveres de informao na comercializao de depsitos simples e de depsitos indexados e duais(9). Reafi rmam-se, ainda, as caractersticas fundamentais dos depsitos bancrios que os distinguem de outros produtos de aforro e de investimento, ao mesmo tempo que se defi nem prazos para a movimentao dos fundos que lhe esto associados.

    (9) Os depsitos indexados e duais so considerados produtos fi nanceiros complexos para efeito da aplicao do Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro.

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    3 | Principais Projectos Desenvolvidos

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    O Banco de Portugal entendeu defi nir deveres de informao a cumprir pelas instituies de crdito na comercializao de contas ordem e de depsitos bancrios, sejam estes a prazo, com pr-aviso ou de poupana(10).

    A necessidade de introduzir deveres de informao tambm na comercializao dos depsitos bancrios simples resulta da sua grande variedade, com diferentes modalidades no que se refere, designadamente, movimentao dos fundos aplicados, estrutura de remunerao e regime de capitalizao de juros.

    As actuais normas no exigem a prestao de informao sobre depsitos simples com o detalhe necessrio para que o depositante conhea todas as caractersticas relevantes da sua remunerao e risco, antes da sua constituio, no momento da sua subscrio e durante a vigncia deste.

    O Banco de Portugal entende que, antes da abertura de uma conta ou da constituio de um depsito, as instituies de crdito devem ser obrigadas a entregar ao cliente uma Ficha de Informao Normalizada (FIN), com a descrio das principais caractersticas da conta ou do depsito. Alm de facultar ao cliente informao relevante sobre as condies da referida conta ou do depsito, a FIN facilitar a comparao entre diferentes alternativas.

    No caso das contas ordem, dever ser disponibilizada informao sobre as comisses aplicveis e sobre as condies de utilizao de descobertos, se estiverem previstos. No caso dos depsitos a prazo, ser importante a informao relativa taxa de juro a ser praticada e possibilidade de movimentao antecipada de fundos aplicados no depsito e eventual penalizao dos juros.

    A abertura de conta ou a constituio de depsito dever ser formalizada atravs da celebrao do respectivo contrato. As clusulas do contrato devero conter os elementos informativos que constam da FIN, cabendo s instituies de crdito a prova de que foi disponibilizada cpia desse contrato ao cliente.

    A informao mnima que deve constar dos extractos bancrios e a respectiva periodi-cidade mnima passam a obedecer tambm a normas defi nidas pelo Banco de Portugal.

    Entretanto, tem-se assistido introduo de novos instrumentos de poupana, com o desenvolvimento de depsitos indexados e, por vezes, da comercializao conjunta de depsitos, os depsitos duais.

    O Banco de Portugal j no passado havia estabelecido deveres de informao a observar pelas instituies de crdito previamente comercializao deste tipo de depsitos(11) por entender que os depsitos bancrios indexados tm associado um nvel de risco que poder no ser facilmente perceptvel ou compreensvel pelo aforrador.

    Desde ento, as modalidades de depsitos indexados tm aumentado e, paralelamente, as de depsitos duais. Os depsitos indexados so aqueles cuja rendibilidade est associada a ndices do mercado monetrio de uma forma no simples e aqueles cuja rendibilidade est associada, total ou parcialmente, evoluo de outros instrumentos ou variveis fi nanceiras ou econmicas relevantes, designadamente aces ou um cabaz de aces, um ndice ou um cabaz de ndices accionistas, um ndice ou um cabaz de ndices de mercadorias, entre outros. Os depsitos duais, so, por seu turno, produtos de aforro resultantes da comercia-lizao combinada de dois ou mais depsitos bancrios, simples e/ou indexados.

    (10) Projecto de Aviso sobre Deveres de Informao na Comercializao de Depsitos Bancrios Simples (Ver ponto 4.3.2). (11) Aviso n. 6/2002, de 18 de Setembro.

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    Principais Projectos Desenvolvidos | 3

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

    O Banco de Portugal entendeu tambm actualizar e alargar as exigncias de informao na comercializao destes depsitos(12).

    Com estas novas regras as instituies de crdito devem promover a harmonizao da informao prestada, atravs de um prospecto informativo que deve obedecer a um modelo normalizado, princpio j adoptado nas fi chas de informao dos emprstimos habitao e dos depsitos simples. No caso dos depsitos indexados e dos duais, como a informao bem mais complexa, essa fi cha tambm o , passando a designar-se de Prospecto Informativo.

    Como os depsitos indexados e duais podem apresentar caractersticas bastante distintas entre si, cada uma das modalidades passa a ter de ser submetida ao Banco de Portugal. Os prospectos informativos passam a ter de ser apresentados aprovao prvia do Banco de Portugal.

    As instituies tm tambm neste caso de cumprir com um conjunto de deveres de informao aquando da constituio deste tipo de depsito. Os elementos caracterizadores do depsito indexado ou dual passam a ter de constar obrigatoriamente do contrato de constituio do depsito, os quais devem estar em conformidade com o respectivo prospecto informativo. As instituies devem tambm disponibilizar cpia do contrato de constituio do depsito. O Banco de Portugal defi ne, mais uma vez, o contedo e periodi-cidade mnima dos respectivos extractos.

    Os desenvolvimentos verifi cados no mercado dos depsitos bancrios suscitaram ainda a clarifi cao das suas caractersticas fundamentais(13). O Banco de Portugal considera que importante reafi rmar as componentes intrnsecas dos depsitos, com especial destaque para a reafi rmao do prprio conceito de depsito(14), seja ele simples, indexado ou dual: a garantia do capital aplicado no vencimento ou aquando da mobilizao antecipada, se permitida. Restringe-se, assim, a utilizao da designao de depsito apenas para os produtos em que aquela se verifi que.

    Estando um depsito registado no balano do banco, o risco de crdito do depsito encon-tra-se coberto pelo regime que seja aplicvel aos depsitos dessa instituio no mbito do Fundo de Garantia dos Depsitos. Quanto ao risco de mercado, ele prende-se com a evoluo da remunerao que tenha sido fi xada aquando da sua constituio, pelo que para os depsitos indexados e duais se fi xa uma taxa mnima de zero por cento quando indexados a comportamentos de ndices de aces e/ou de matrias-primas, designada-mente a fi m de garantir, em qualquer circunstncia, o reembolso do montante aplicado no depsito. Os depsitos simples, pelas suas prprias caractersticas, tradicionalmente a taxa fi xa ou indexados de forma simples taxa Euribor, no apresentam partida, nem em qualquer circunstncia, uma taxa de remunerao negativa.

    Por outro lado, reafi rma-se que, quando a taxa de juro no seja fi xa e pr-determinada no momento da sua constituio, os depsitos devem ter a sua remunerao dependente da evoluo de variveis econmicas ou fi nanceiras relevantes.

    So igualmente introduzidas normas relativas data-valor e data de disponibilizao de operaes decorrentes dos contratos de depsito, aspectos que no se encontravam regulados e em relao aos quais se constata a existncia de prticas diferenciadas nas instituies de crdito.

    (12) Projecto de Aviso sobre os Deveres de Informao na Comercializao de Depsitos Indexados e Duais (Ver ponto 4.3.2). (13) Reviso do Aviso n. 5/2000, de 16 de Setembro. (14) Projecto de Aviso sobre as Caractersticas dos Depsitos Bancrios (Ver ponto 4.3.2).

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    3.4 Promoo da Literacia Financeira3.4.1 Contexto internacional

    Os conhecimentos fi nanceiros bsicos da populao, bem como a sua consciencializao para a importncia desses conhecimentos tornaram-se especialmente relevantes pelos crescentes riscos tomados pelas famlias (encargos com reformas e cuidados de sade), pela maior complexidade dos produtos fi nanceiros e, ainda, pela recente instabilidade nos mercados fi nanceiros. Clientes mais capazes de compreender a informao fi nanceira ao seu dispor contribuem no s para o funcionamento mais efi ciente dos mercados fi nan-ceiros, mas tambm para a melhor regulao dos mesmos.

    Diversos organismos internacionais, como a Organizao para a Cooperao e Desen-volvimento Econmicos (OCDE) e a Unio Europeia, tm desenvolvido trabalho signifi cativo na fi xao de princpios e linhas orientadoras na partilha de boas prticas de promoo da formao fi nanceira.

    A OCDE tem estado particularmente empenhada neste projecto, com a criao do portal International Gateway for Financial Education (IGFE) que rene iniciativas de educao fi nanceira de vrios pases, alm de estudos e investigao nessa rea. O Portal do Cliente Bancrio uma das iniciativas internacionais apresentadas no IGFE.

    Outra contribuio signifi cativa da OCDE, sob a gide dos seus comits responsveis pela educao fi nanceira (Comit de Mercados Financeiros e Comit de Seguros e Fundos de Penses Privados), foi a criao da International Network for Financial Education (INFE). Esta rede integra representantes de vrios pases e tem por objectivo a cooperao inter-nacional no mbito da educao fi nanceira. O Banco de Portugal membro da INFE desde a sua criao, tendo participado na sua primeira reunio, realizada em Maio de 2008, em Washington, margem da conferncia internacional sobre educao fi nanceira, organizada conjuntamente pela OCDE e pelo Tesouro dos EUA.

    A OCDE est ainda a desenvolver um projecto sobre boas prticas na educao fi nanceira, dirigida aos utilizadores de crdito. Este projecto esteve em consulta pblica durante o ms de Janeiro de 2009 e representa a concretizao, para o mercado do crdito, das orientaes constantes da Recomendao que sobre a matria aquela entidade tinha dirigido aos pases membros, em Julho de 2005.

    Por seu turno, a Unio Europeia (UE), aps ter defi nido prioridades de actuao na Comunicao sobre Educao Financeira, adoptada pela Comisso Europeia, em Dezembro de 2007, tem promovido a partilha de ideias, experincias e boas prticas, com a constituio do Expert Group on Financial Education. O grupo constitudo por peritos com experincia em educao fi nanceira, representantes de autoridades nacionais, da indstria fi nanceira, de associaes de consumidores e acadmicos.

    Alm disso, a UE tem desenvolvido iniciativas concretas neste domnio. O portal Dolceta, por exemplo, destina-se educao fi nanceira de adultos e os seus contedos so adaptados lngua e realidade de cada pas (apresentando temas como a gesto de oramentos, crdito ao consumo, crdito habitao, modos de pagamento e aplicaes fi nanceiras). Outro exemplo o recente lanamento da European Database for Financial Education, stio da Internet que compila informao sobre os programas de educao fi nanceira e os projectos de investigao desenvolvidos nos Estados-Membros.

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    Principais Projectos Desenvolvidos | 3

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

    margem destas organizaes, multiplicam-se as iniciativas nacionais: elaborao de estratgias de actuao, realizao de inquritos para avaliar a literacia fi nanceira das populaes e a implementao de aces de educao fi nanceira.

    A incluso de contedos de literacia fi nanceira nos programas curriculares dos vrios nveis de escolaridade, desde o ensino primrio ao universitrio, constitui um bom exemplo de projectos implementados (ou em vias de o serem) no Reino Unido, nos EUA, no Brasil ou na Hungria, entre outros. Assinala-se tambm a extenso de iniciativas de educao fi nanceira aos locais de trabalho (Reino Unido e EUA) e o desenvolvimento de portais (Reino Unido e Nova Zelndia), com contedos direccionados aos vrios tipos de produtos e servios fi nanceiros e tambm em funo das diferentes etapas de vida do consumidor, cuja necessidade de conhecimentos fi nanceiros tende a evoluir ao longo da vida.

    O Banco de Portugal continua a acompanhar os principais fruns internacionais dedicados literacia fi nanceira, particularmente atento evoluo das linhas orientadoras de boas prticas, s iniciativas de promoo da educao fi nanceira e aos estudos que permitam avaliar os resultados das medidas implementadas.

    3.4.2 Inqurito literacia fi nanceira

    Em linha com os princpios internacionalmente adoptados sobre literacia fi nanceira e com as melhores prticas observadas num conjunto de pases de referncia nesta rea, o Banco de Portugal est a preparar o lanamento de um inqurito literacia fi nanceira da populao portuguesa. Nos pases que delinearam estratgias nacionais de educao fi nanceira, a realizao de um inqurito desta natureza surgiu como a primeira etapa dessa estratgia.

    O principal objectivo deste inqurito identifi car as reas ou os produtos fi nanceiros em que existe maior dfi ce de informao, de compreenso e de formao da populao.

    Paralelamente, o inqurito permitir o levantamento de elementos importantes na comu-nicao das instituies com os clientes bancrios, nomeadamente a defi nio do tipo de linguagem mais adequada, os conceitos fi nanceiros a utilizar, ou a clarifi car, e o tipo de informao que deve ser transmitida sobre os diferentes produtos fi nanceiros.

    Os resultados do inqurito sero utilizados pelo Banco de Portugal na defi nio de projectos, visando a transparncia e a clareza da informao prestada pelas instituies de crdito aos clientes bancrios e tambm na avaliao das medidas implementadas ou em vias de concretizao: entre outras, as regras da publicidade a produtos e servios fi nanceiros ou os deveres de informao no crdito habitao e nos produtos de poupana. O prprio Portal do Cliente Bancrio poder sofrer alteraes, em funo dos resultados obtidos, com a melhoria ou a criao de novos contedos.

    Na preparao deste projecto, foi feito um levantamento de experincias de concepo e implementao de estratgias nacionais de educao fi nanceira, sendo dada particular ateno aos inquritos literacia fi nanceira realizados no Reino Unido(15), na Holanda(16) e na Austrlia(17).

    (15) Financial capability baseline survey: questionnaire, FSA, Maro 2006. (16) DNB Household Survey, desde 1993 com periodicidade anual. (17) ANZ Survey of Adult Financial Literacy in Australia, Novembro 2005.

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    3 | Principais Projectos Desenvolvidos

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

    Conjugando a anlise da experincia internacional com o mbito da superviso do Banco de Portugal, foi defi nido um conjunto de reas e temas relevantes, passveis de serem integrados no inqurito. Assim, prev-se que o inqurito permita aferir o grau de excluso fi nanceira da populao portuguesa e as causas que lhe esto subjacentes, bem como caracterizar os hbitos de gesto da conta bancria e avaliar a capacidade de planeamento de despesas, o tipo de produtos bancrios detidos pelas famlias e os processos de escolha para a sua aquisio e, fi nalmente, as fontes de informao utilizadas pelos consumidores. O inqurito incluir ainda questes para aferio do grau de compreenso fi nanceira dos consumidores.

    O trabalho no terreno decorrer no ano de 2009, estando j defi nidas as suas linhas de base. O inqurito ter uma abrangncia nacional, devendo os resultados ser representativos da populao em geral e tambm de alguns segmentos, tendo em conta, designadamente, o gnero, as classes etrias, critrios geogrfi cos, participao no mercado de trabalho e nvel de escolaridade. Prev-se que os resultados do inqurito sejam publicados ainda em 2009.

  • CAPTULO 4Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho

  • 4 REGULAO DOS MERCADOS FINANCEIROS A RETALHO

    Do ponto de vista institucional, de salientar o desenvolvimento do enquadramento legal para o exerccio das atribuies do Banco de Portugal no mbito da superviso comportamental das instituies de crdito. Na verdade, o Decreto-Lei n. 1/2008, de 3 de Janeiro, o Decreto-Lei n. 126/2008, de 21 de Julho, e o Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro, actos normativos que introduziram alteraes ao RGICSF, tiveram um impacto signifi cativo na defi nio do modelo normativo de superviso comportamental, defi nindo os poderes do Banco de Portugal neste mbito.

    Procurando dar sequncia informao prestada no Relatrio de Superviso Compor-tamental de 2007, no presente captulo, apresenta-se uma breve smula da legislao relativa aos mercados fi nanceiros a retalho e aos servios prestados por instituies de crdito, publicada durante o ano de 2008. Seguindo essa mesma estrutura, o presente captulo inclui tambm a descrio da actuao normativa do Banco de Portugal neste mbito, bem como os projectos regulamentares que tem em curso.

    A avaliao do impacto de diplomas legais atribuda ao Banco de Portugal, designadamente os Decretos-Lei n. 240/2006 e n. 51/2007, no fi nal do primeiro ano a contar da data da sua entrada em vigor, foi j efectuada no mbito do Relatrio de Superviso Comportamental de 2007. Neste Relatrio de 2008 feita uma primeira avaliao intercalar da execuo do Decreto-Lei n. 171/2008, cerca de trs meses aps a sua entrada em vigor(1).

    4.1 Crdito Habitao

    4.1.1 Iniciativas legislativas

    No mbito do crdito habitao, o Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio, e o Decreto--Lei n. 171/2008, de 26 de Agosto, foram as principais iniciativas legislativas publicadas em 2008.

    Estes dois diplomas tm objectivos distintos. Com o Decreto-Lei n. 88/2008, o legislador pretendeu clarifi car alguns aspectos do regime consagrado no Decreto-Lei n. 51/2007, de 7 de Maro, designadamente quanto obrigao das instituies utilizarem a con-veno de mercado de 360 dias no ano para o clculo dos juros e para o indexante e defi nio do prazo mximo para o envio de informao e documentao entre instituies de crdito nas situaes de transferncia do emprstimo. Por seu turno, com o Decreto--Lei n. 171/2008, o legislador visou reforar a proteco do muturio na renegociao das condies de crdito habitao e promover a mobilidade do emprstimo habitao.

    Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio

    Com este diploma, o legislador alterou, no s o disposto no Decreto-Lei n. 51/2007, mas tambm o disposto no Decreto-Lei n. 171/2007, de 8 de Maio, que estabelece as regras de arredondamento da taxa de juro em contratos de crdito e de fi nanciamento no abrangidos pelo disposto no Decreto-Lei n. 240/2006, de 22 de Dezembro, e no Decreto-Lei n. 430/91, de 2 de Novembro, que regula a constituio de depsitos.

    (1) Ver Caixa 2.

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    Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho | 4

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • No que respeita ao crdito habitao, o legislador procurou, sobretudo, uniformizar prticas de mercado, modifi cando a redaco dos artigos 4. e 7. do Decreto-Lei n. 51/2007.

    Em resultado dessas alteraes, as instituies passaram a ter de adoptar a conveno de mercado 30/360 (referncia a um ms de 30 dias e a um ano de 360) para o clculo dos juros do crdito habitao e a utilizao do respectivo indexante (a Euribor) tambm na sua forma de clculo habitual, isto , tambm com referncia a um ano de 360 dias (artigo 4. do Decreto-Lei n. 51/2007). Paralelamente, foi estabelecido o prazo mximo de dez dias teis para que, no caso de reembolso antecipado total do emprstimo tendo em vista a contratao de novo crdito junto de outra instituio, as instituies de crdito procedam ao envio da informao e documentao necessrias concre-tizao dessa operao (artigo 7. do Decreto-Lei n. 51/2007).

    Decreto-Lei n. 171/2008, de 26 de Agosto

    O Decreto-Lei n. 171/2008 estabeleceu um conjunto de medidas de proteco do muturio de crdito habitao no mbito da renegociao das condies desses emprstimos.

    Em particular, passou a ser proibida a cobrana de qualquer comisso pela anlise da renegociao das condies do crdito por parte das instituies de crdito (nmero 1 do artigo 3.), bem como o condicionamento da renegociao do crdito aquisio, pelo muturio, de outros produtos ou servios fi nanceiros (nmero 2 do artigo 3.).

    Paralelamente, o legislador consagrou o princpio da intangibilidade do contrato de seguro: sem prejuzo da substituio do benefi cirio das aplices pela nova instituio mutuante, o reembolso antecipado total do crdito habitao com vista respectiva transferncia para instituio de crdito diversa, desde que efectuado em condies que no afectem os riscos cobertos pelos contratos de seguro celebrados para garantia da obrigao de pagamento no mbito do contrato de mtuo primitivo, no prejudica a validade desses contratos de seguro (artigo 4.).

    O legislador teve como preocupao remover obstculos renegociao das condies dos emprstimos habitao e sua transferncia para outra instituio de crdito. Num contexto de agravamento das taxas de juro como o que se vivia data da publicao do diploma, estas medidas procuravam incentivar os muturios a procurar melhores condies para o seu crdito, tendo em vista reduzir os encargos mensais com a pres-tao mensal do crdito, quer junto da instituio mutuante, atravs da negociao do contrato celebrado, quer junto de outra instituio.

    4.1.2 Actuao normativa do Banco de Portugal

    No domnio do crdito habitao, a actuao normativa do Banco de Portugal centrou-se na transmisso s instituies de crdito de orientaes sobre a interpretao e aplicao de disposies legais e na preparao de acto regulamentar relativo aos deveres de infor-mao das instituies no crdito habitao.

    Tendo por base a apreciao de reclamaes apresentadas por clientes bancrios e as dvidas suscitadas pelas prprias instituies de crdito, o Banco de Portugal entendeu

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    4 | Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • transmitir s instituies de crdito directrizes sobre um conjunto de questes decorrentes da interpretao e aplicao de preceitos normativos disciplinadores do crdito habi-tao, atravs da emisso de Cartas-Circulares. Neste perodo, o Banco de Portugal dirigiu quatro Cartas-Circulares s instituies de crdito: a Carta-Circular n. 1/2008/DSB, de 9 de Janeiro, a Carta-Circular n. 61/2008/DSB, de 30 de Setembro, a Carta-Circular n. 10/2009/DSB, de 14 de Janeiro e a Carta-Circular n. 19/2009/DSB, de 3 de Fevereiro.

    Promoveu, paralelamente, uma refl exo em torno da Instruo n. 27/2003, tendo em vista a sua revogao por diploma mais exigente no que se refere aos requisitos mnimos de informao a satisfazer pelas instituies de crdito na comercializao de produtos de crdito habitao.

    Carta-Circular n. 1/2008/DSB, de 9 de Janeiro

    Esta carta circular transmitiu a posio do Banco de Portugal acerca do disposto no artigo 3. do Decreto-Lei n. 240/2006, de 22 de Dezembro.

    Tendo sido invocado por algumas instituies como fundamento para a reviso do indexante das operaes de crdito a taxa varivel com periodicidade diferente da do prazo do respectivo indexante, o Banco de Portugal veio realar que aquela norma no permite a adopo dessa prtica, pelo que a reviso do valor do indexante no pode ser feita com uma periodicidade distinta daquela a que o mesmo se refere. Relembrou, ainda, que aquele artigo se refere ao mtodo de clculo do valor do indexante, o qual calculado com base na mdia dos valores desse indexante no ms de calendrio anterior quele em que tem lugar a respectiva reviso, devendo vigorar inalterado no prazo a que o mesmo respeita.

    Carta-Circular n. 61/2008/DSB, de 30 de Setembro

    O Banco de Portugal expressou, por esta via, o seu entendimento quanto ao disposto no nmero 1 do artigo 3. do Decreto-Lei n. 171/2008.

    O Banco de Portugal esclareceu que o legislador pretendeu proibir a cobrana de qualquer comisso associada ao processo de reviso das condies do contrato de crdito, incluindo a anlise do pedido de renegociao e a sua formalizao.

    Para este efeito, referiu que deve entender-se por comisso toda e qualquer prestao pecuniria solicitada ao muturio pela instituio de crdito a ttulo de retribuio pelos servios prestados por esta, ou por terceiros, em conexo com a renegociao do emprstimo. Donde, esclareceu ainda, no se encontra abrangida pela proibio estabelecida naquela norma, a repercusso pelas instituies de custos por elas supor-tadas junto de terceiros por conta do cliente, designadamente perante Conservatrias e Cartrios Notariais, ou que tenham natureza fi scal, mediante justifi cao documental ao cliente.

    O Banco de Portugal sublinhou tambm que a expresso renegociao do crdito engloba a alterao de clusulas contratuais, relativas ou no reviso das condies fi nanceiras do mesmo, que ocorra durante a vigncia do contrato, razo pela qual con-sidera no ser permitida a cobrana de qualquer montante aquando da sua alterao.

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    Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho | 4

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • Carta-Circular n. 10/2009/DSB, de 14 de Janeiro

    Na sequncia da anlise de diversas reclamaes, o Banco de Portugal entendeu ser de chamar a ateno das instituies para que os contratos de mtuo para pagamento do sinal devido no mbito da futura aquisio de imvel para habitao prpria perma-nente, secundria ou para arrendamento, ou ainda para a construo de habitao prpria esto sujeitos ao disposto no artigo 1. do Decreto-Lei n. 51/2007. Daqui decorre que, nestes emprstimos, a comisso de reembolso antecipado deve observar os limites defi nidos no nmero 1 do artigo 6. do referido Decreto-Lei, no podendo ser, por esse facto, distinta da aplicada no reembolso de um emprstimo habitao.

    Carta-Circular n. 19/2009/DSB, de 3 de Fevereiro

    Ainda na sequncia da anlise de reclamaes, o Banco de Portugal transmitiu o seu entendimento quanto ao disposto no nmero 2 do artigo 5. do Decreto-Lei n. 51/2007, na redaco introduzida pelo Decreto-Lei n. 88/2008.

    O Banco de Portugal entendeu transmitir que o disposto no referido preceito no permite que, no mbito do reembolso antecipado total da quantia mutuada, as instituies de crdito mutuantes procedam cobrana de juros relativamente ao futuro, isto , para alm do momento em que o montante em dvida reembolsado. Assim, em caso de reembolso antecipado total, o clculo do valor a ser reembolsado pelos muturios dever ter por referncia o capital relativo ltima prestao vencida e paga, acrescido dos juros calculados at data do reembolso antecipado.

    As clusulas dos contratos de crdito habitao que prevejam a obrigatoriedade do muturio pagar por inteiro a prestao correspondente ao perodo em que a antecipao feita no podem ser aplicadas luz do disposto no referido artigo 5. do Decreto-Lei n. 51/2007.

    Projecto de Aviso sobre crdito habitao

    O Banco de Portugal submeteu o projecto de diploma sobre Deveres de Informao no Crdito Habitao (2) discusso pblica, at ao passado dia 28 de Fevereiro (Consulta Pblica n. 2/2009).

    Este acto regulamentar destina-se a reforar os requisitos (mnimos) de informao a prestar pelas instituies de crdito aos seus clientes aquando da simulao e da negociao de um emprstimo habitao e estabelecer novas exigncias quanto informao que deve constar dos contratos e a que deve ser prestada durante a sua vigncia. De entre as principais alteraes que preconiza, merece destaque:

    i) O reconhecimento de quatro etapas na contratao de um emprstimo habitao: a simulao do emprstimo, a aprovao das suas condies, a celebrao do contrato e o perodo de vigncia;

    (2) Ver ponto 3.3.1.

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    4 | Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • ii) Os requisitos mnimos da informao a ser prestada em cada uma destas quatro etapas, de modo a ser completa, clara e rigorosa sobre as condies do emprstimo; e

    iii) A defi nio de um modelo nico para a Ficha de Informao Normalizada.

    Com a entrada em vigor deste diploma ser revogada a Instruo n. 27/2003.

    4.2 Crdito ao Consumo e outros Crditos

    4.2.1 Iniciativas legislativas

    No domnio do crdito ao consumo, o ano de 2008 fi ca marcado pela aprovao da Directiva n. 2008/48/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Abril de 2008, relativa a contratos de crdito aos consumidores que revoga a Directiva 87/102/CEE do Conselho. Com esta Directiva, cujas normas devero ser transpostas pelos Estados--Membros at 12 de Maio de 2010, pretendeu o legislador comunitrio, sobretudo, reforar os deveres de informao a observar pelas instituies de crdito no mbito da concesso de crdito a consumidores.

    Ao nvel nacional, merecem destaque o Decreto-Lei n. 88/2008, atravs do qual o legis-lador clarifi cou o mbito de aplicao do Decreto-Lei n. 171/2007, bem como o Decreto--Lei n. 211-A/2008, que introduziu no RGICSF regras especfi cas na prestao de infor-mao na concesso de crdito ao consumo.

    Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio

    Atravs deste diploma, o legislador esclareceu o mbito de aplicao da regra de determinao da taxa de juro constante do artigo 3. do Decreto-Lei n. 240/2006 e que se refere, recorda-se, ao clculo do valor do indexante com referncia mdia deste no ms de calendrio anterior.

    Por fora do disposto no Decreto-Lei n. 88/2008, foi alterada a redaco do artigo 1. do Decreto-Lei n. 171/2007, de 8 de Maio, sendo estabelecido que, por acordo entre as partes, os contratos de crdito e fi nanciamento celebrados com muturios que, na acepo prevista no n. 1 do artigo 2. da Lei n. 24/96, de 31 de Julho, no sejam considerados consumidores, podem deixar de estar sujeitos ao disposto no artigo 3. do Decreto-Lei n. 240/2006.

    Os contratos que sejam celebrados com clientes, que no sejam qualifi cados como consumidores, passaram a poder optar, mediante opo de ambos expressamente consagrada no contrato, por tomar como referncia o valor spot do indexante, nomea-damente. O clculo do valor do indexante a partir da respectiva mdia mensal obser-vada no ms de calendrio anterior deixa de ser o mtodo obrigatoriamente aplicado a todos os contratos de crdito e fi nanciamento, como sejam os contratos de mtuo que no sejam enquadrveis no mbito do crdito habitao, contratos como a locao fi nanceira, o aluguer de longa durao ou a cesso fi nanceira.

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    Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho | 4

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro

    Atravs do disposto no artigo 3. deste decreto-lei, o legislador alterou a redaco do artigo 77. do RGICSF, estabelecendo requisitos mnimos de informao a ser prestada pelas instituies no mbito do crdito ao consumo, como que antecipando algumas das disposies da Directiva do Crdito aos Consumidores. Fixou, nomeadamente:

    i) A obrigatoriedade de prestao de informao pr-contratual em suporte duradouro sobre as condies e os elementos caracterizadores do produto de crdito ao consumo, o custo total do crdito (expresso atravs da indicao da taxa anual de encargos global (TAEG) em exemplos representativos), as obrigaes do cliente e os riscos associados falta de pagamento do crdito;

    ii) A responsabilidade das instituies de crdito pela prestao da informao pr--contratual por parte das empresas que intermedeiam a concesso do crdito; e

    iii) Requisitos relativos ao contedo e redaco dos contratos celebrados entre as instituies de crdito e os clientes, designadamente quanto sua forma neces-sariamente clara e concisa.

    4.3 Produtos de Poupana

    4.3.1 Iniciativas legislativas

    No mbito dos produtos de poupana, so trs as iniciativas que merecem ser destacadas:

    i) O Decreto-Lei n. 54/2008, de 26 de Maro, relativo s contas poupana--habitao,

    ii) O Decreto-Lei n. 88/2008, que introduziu alteraes no Decreto-Lei n. 430/91, de 2 de Novembro, e

    iii) O Decreto-Lei n. 211-A/2008, que estabeleceu um conjunto de deveres de infor-mao a observar pelas instituies de crdito na publicitao e comercializao de produtos fi nanceiros complexos.

    Decreto-Lei n. 54/2008, de 26 de Maro

    O legislador veio esclarecer que a mobilizao de saldos de contas poupana-habitao que resultem de depsitos efectuados at 31 de Janeiro de 2003 para outros fi ns que no os previstos no artigo 5. do Decreto-Lei n. 27/2001, de 3 de Fevereiro, na redaco em vigor, deixa de estar sujeita a penalizaes fi scais e anulao de juros vencidos ou creditados.

    Nos casos em que os saldos mobilizados para outros fi ns resultem de depsitos efec-tuados aps 1 de Janeiro de 2004, o legislador estabeleceu a no imperatividade do disposto no n. 1 do artigo 6. do Decreto-Lei n. 27/2001, de 3 de Fevereiro.

    Caber a cada instituio de crdito depositria a deciso quanto aplicao das regras por si defi nidas para depsitos a prazo superiores a um ano e consequente anulao do montante dos juros vencidos e creditados que corresponda diferena de taxas.

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    4 | Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • Decreto-Lei n. 88/2008, de 29 de Maio

    Neste diploma, o legislador procedeu tambm modifi cao da redaco do Decreto--Lei n. 430/91, de 2 de Novembro.

    Tendo como objectivo uniformizar os critrios de clculo de juros dos depsitos com os aplicveis ao crdito habitao, bem como introduzir maior transparncia nas prticas bancrias de remunerao dos depsitos e facilitar a comparabilidade entre as prticas de instituies concorrentes, o legislador adoptou, em matria de clculo de juros dos depsitos, a conveno de mercado actual/360 para que o clculo do juro corrido do depsito considere o nmero de dias efectivamente decorridos e o pondere em relao a um ano de 360 dias.

    De notar que, por fora da nova redaco do artigo 4. do Decreto-Lei n. 430/91, em particular do respectivo nmero 2, esta regra aplicvel aos depsitos ordem, aos depsitos com pr-aviso, aos depsitos a prazo e aos depsitos a prazo no mobili-zveis antecipadamente, bem como aos depsitos constitudos ao abrigo de legislao especial.

    Decreto-Lei n. 211-A/2008, de 3 de Novembro

    Neste decreto-lei, o legislador consagrou a fi gura dos produtos fi nanceiros complexos e estabeleceu um conjunto de deveres de informao especfi cos para a publicitao e comercializao destes produtos.

    Segundo o legislador, por produtos fi nanceiros complexos devem considerar-se os instrumentos fi nanceiros que, embora assumindo a forma jurdica de um instrumento fi nanceiro j existente, apresentam caractersticas que no so directamente identifi -cveis com as desse instrumento, em virtude de terem associados outros instrumentos de cuja evoluo depende, total ou parcialmente, a sua rendibilidade. Os instrumentos de captao de aforro estruturado, que, recorde-se, so objecto do Aviso n. 6/2002 do Banco de Portugal, so expressamente includos no mbito do conceito de produtos fi nanceiros complexos aqui consagrado.

    Considerando necessria a introduo de regras especfi cas para a publicitao e comercializao destes produtos, o legislador estabeleceu no artigo 2. do Decreto-Lei n. 211-A/2008 que:

    i) As mensagens publicitrias relativas aos produtos fi nanceiros complexos devem classifi car os produtos publicitados como produtos fi nanceiros complexos;

    ii) As mensagens publicitrias relativas aos produtos fi nanceiros complexos esto sujeitas aprovao da autoridade responsvel pela superviso do instrumento em causa; e

    iii) A colocao de produtos fi nanceiros complexos dever ser precedida da entrega ao cliente de prospecto informativo, que, redigido em linguagem clara, sinttica e compreensvel, dever conter informao completa, verdadeira, actual, clara, objectiva, lcita e adequada.

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    Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho | 4

    Relatrio de Superviso Comportamental | Banco de Portugal

  • Por este diploma foi atribuda competncia regulamentar s autoridades responsveis pela superviso destes produtos para a concretizao dos deveres de informao e transparncia a que devem obedecer as mensagens publicitrias e os prospectos informa-tivos e para a defi nio do modelo de fi scalizao do cumprimento desses deveres.

    4.3.2 Actuao normativa do Banco de Portugal

    Em 2008, o Banco de Portugal publicou diferentes normativos relativos aos depsitos bancrios e suas contas e preparou uma reviso global das regras de informao e trans-parncias sobre os diferentes tipos de depsitos.

    O Aviso n. 3/2008 incidiu sobre a prestao de informao no que diz respeito ao saldo disponvel nas contas de depsito ordem.

    Entretanto, atravs da Carta-Circular n. 5/2008/DET, de 16 de Janeiro, o Banco de Portugal havia comunicado s instituies de crdito que passaria a difundir pelo sistema pedidos de informao apresentados por particulares tendo em vista a identifi cao de contas de depsito e de outros activos fi nanceiros relativamente a titulares falecidos. Ainda a respeito das contas de depsito, a Carta-Circular n. 8/2008/DSB, de 30 de Janeiro, recomenda s instituies de crdito o respeito pelas regras legalmente previstas para a execuo de ordens de penhora de saldos de contas bancrias.

    Junto ao fi nal do ano, foram preparados trs projectos regulamentares para a concre-tizao dos deveres de informao na comercializao de depsitos bancrios.

    Aviso n. 3/2008, de 18 de Maro

    Por este Aviso, foram defi nidos requisitos especfi cos para a divulgao de informao relativa aos saldos das contas de depsito ordem.

    Atendendo importncia que a informao relativa ao saldo disponvel assume para o titular da conta e para os seus eventuais representantes com poderes de movimentao, o Banco de Portugal entendeu, por um lado, obrigar as instituies de crdito a trans-mitir aos respectivos titulares informao que expressamente refi ra o saldo disponvel existente nas contas de depsitos ordem nesse momento, e, pelo outro, uniformizar a informao que deve a esse respeito ser prestada.

    Por fora do disposto neste Aviso, a informao relativa aos saldos disponveis deve reportar-se unicamente ao valor existente na conta de depsitos susceptvel de ser movimentado sem que haja lugar ao pagamento de juros, comisses ou quaisquer outros encargos por essa utilizao. Consequentemente, as instituies de crdito no podem incluir no saldo disponvel os valores susceptveis de implicar o pagamento de juros ou comisses pela sua movimentao, designadamente os montantes colocados disposio dos seus clientes a ttulo de facilidade de crdito permanente ou duradoura, levantamentos a descoberto, mobilizao antecipada de depsitos de valores pendentes de boa cobrana ou outros que aguardem a atribuio de data-valor futura.

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    4 | Regulao dos Mercados Financeiros a Retalho

    Banco de Portugal | Relatrio de Superviso Comportamental

  • Carta-Circular n. 5/2008/DET, de 16 de Janeiro

    Atravs desta carta circular o Banco de Portugal informou que iria passar a difundir pelo sistema bancrio pedidos de informao relativos identifi cao de contas bancrias e de outros activos fi nanceiros que lhe sejam endereados pelo cabea de casal, no mbito da sucesso por morte dos respectivos titulares.

    Sem prejuzo de outras formas de acesso ao servio, mediante o preenchimento de formulrio em anexo Carta-Circular, o Banco de Portugal comunicou que privilegiar a recepo dos pedidos formulados atravs de funcionalidade especfi ca criada para este efeito no Portal do Cliente Bancrio.

    Carta-Circular n. 8/2008/DSB, de 30 de Janeiro

    Recorda s instituies de crdito que a execuo das ordens de penhora de saldos de contas bancrias, designadamente das provenientes da Direco-Geral dos Impostos, deve ter em especial ateno:

    i) Os limites do valor da penhora previstos nos artigos 821., n. 3, 824., 824.-A e 861.-A, n. 5, do Cdigo de Processo Civil;

    ii) A prioridade da penhora do saldo das contas em que o executado o nico titular;

    iii) A restrio da penhora quota-parte das contas em que o executado seja co-titular, presumindo-se neste caso que as quotas so iguais; e,

    iv) Os limites ao penhor dos rendimentos com proveninci