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Ficha Técnica
Projecto Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora
Relatório Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-post
do Plano Estratégico de Évora de 1994
Trabalho realizado para
Câmara Municipal de Évora
Trabalho realizado por
Universidade de Évora
Coordenador Geral Paulo Neto
Organização do texto
do relatório Paulo Resende da Silva
Equipa Técnica
1) Área de Demografia, Qualificação
de Recursos Humanos e Coesão Social
Coordenador Saudade Baltazar
Restante equipa Patrícia Rego
2) Área de Actividades Económicas
Coordenador José Belbute
Restante equipa Jacinto Vidigal, Elsa Vaz, Natércia Mira, Rui
Junqueira Lopes, Rui Fragoso, Domingas Simplício
3) Área de Ambiente, Recursos Naturais e Paisagem
Coordenador Alexandre Cancela d’Abreu
Restante equipa António Pinheiro, Ricardo Serralheiro, Rui
Junqueira Lopes, Alfredo Gonçalves Ferreira,
João Rabaça, Teresa Pinto Correia, António Chambel, Virgínia
Henriques, Patrícia Rego.
4) Área de Urbanismo
Coordenador João Soares
Restante equipa João Matos
5) Área de Planeamento e Gestão Estratégica
Coordenador António Caleiro
Restante equipa António Sousa
6) Área de Turismo,
Industrias da Cultura e do Lazer
Coordenador Paulo Neto
Restante equipa Jorge Bravo, Rui Quaresma,
João Pereira, Helena Grilo e
João Vaz Rodrigues.
7) Área de Património e Cultura
Coordenador João Brigola
Restante equipa Maria Filomena Barata
8) Área de Competitividade
e Internacionalização
Coordenador José Caetano
Restante equipa Soumodip Sarkar e Elsa Vaz
9) Área de Ciência, Tecnologia e Inovação
Coordenadores Paulo Silva e Adão Carvalho
Restante equipa Soumodip Sarkar, Rui Quaresma
e Ricardo Vidigal da Silva
Design e Paginação João Morgado
Impressão Fundação Luis de Molina
Local e Data Évora, Julho de 2008
2008, Universidade de Évora.
Todos os direitos reservados.
Índice
Sumário executivo 1
1. Introdução 3
2. Análise da evolução da noção e do ideal de cidade na cidade de Évora 9
2.1 Património urbano e ambiental: reabilitação e valorização 9
2.2 Modelo cultural: da preservação à criação 13
2.3 Os eixos de cooperação territorial: a cidade regional e transnacional 16
2.4 Uma cidade do conhecimento – o papel da Universidade 22
3. Análise dos objectivos e do contexto de governação do Plano Estratégico de 1994 25
3.1 Os objectivos do PEE94 25
3.1.1 Estrutura geral do PEE94 25
3.1.2 Horizonte temporal para implementação do PEE94 26
3.1.3 Quinze objectivos específicos 27
3.1.4 Razões que impediram uma maior concretização dos objectivos 30
3.2 Relação entre os projectos estruturantes e os objectivos 31
3.3 Governança 32
3.3.1 O Gabinete da Cidade 33
3.3.2 Consciência pública do PEE94 34
3.3.3 Fase de elaboração do plano estratégico 34
3.3.4 Fase de implementação do plano estratégico 35
3.4 Ilações relevantes 37
4. A avaliação do nível de concretização das ideias-chave do Plano Estratégico de 1994 39
4.1 Dinâmica Regional de Convergência no período 1995-2005 39
4.2 Performance e Eficiência Económica 46
4.3 População Economicamente Activa e Dinâmica de Emprego 49
4.4 As ideias Chave do PEE94 52
4.5 Avaliação do nível de concretização das ideias-chave do PEE94 56
5. Conclusão 65
Bibliografia 69
Anexos 71
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
SUMÁRIO EXECUTIVO
Este relatório procura compreender de onde se partiu e onde se chegou com o Plano Estratégico
da Cidade de Évora de 1994.
Não se visa fazer juízos de valor sobre o Plano, os Actores e os Resultados, somente se visa
compreender, aprender e potenciar o que de bom existiu e procurar não cometer erros que se
considerem relevantes, à luz do conhecimento do presente e da vivência demonstrada pelos
Actores/Agentes com responsabilidade pelo Plano de 1994.
Em conformidade, procurou-se auscultar esses Actores e Agentes e procurou-se ter uma
perspectiva crítica sobre o Plano Estratégico da Cidade de Évora, visando perceber os impactos
do mesmo no desenvolvimento do território e da cidade.
Para esse efeito inquiriu-se os Actores e Agentes e analisou-se os documentos considerados
relevantes para este relatório e que surgem identificados no mesmo.
Procura-se, em suma, identificar factores críticos de sucesso com um plano de desenvolvimento
estratégico e identificar indicadores que possam ser relevantes e úteis para a monitorização do
plano a ser apresentado por esta equipa.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
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1. Introdução
O Plano Estratégico de Desenvolvimento da Cidade de Évora (PEE94) foi elaborado, em 1994,
pelo Gabinete da Cidade. Criado dois anos antes, o Gabinete aglutinou, para além da própria
Autarquia, as seguintes entidades: Centro Dramático de Évora (CENDREV), Comissão de
Coordenação da Região Alentejo (CCRA), Núcleo de Empresários da Região de Évora (NERE),
União de Sindicatos do Distrito de Évora (USDE) e Universidade de Évora (UE).
A constituição do Gabinete da Cidade resultou da análise das alternativas propostas pelo Guia
de Planeamento Estratégico, produzido pela Rede Europeia de Cidades de Média Dimensão
(MECINE) a que Évora se encontrava associada. O Gabinete foi assessorado pela empresa GEOIDEIA
que, não só preparou um documento que discutiu com várias entidades civis e religiosas de
Évora e promoveu nove reuniões temáticas para “proceder à audição de contributos que todos
entendessem dar”, como elaborou um novo documento acolhendo e integrando propostas dessas
entidades consultadas. O documento de trabalho foi apresentado à discussão pública,
pretendendo “enunciar as linhas mestras gerais de uma estratégia para a cidade de Évora”.
Afigura-se consensual o pioneirismo do município eborense na área do Planeamento Urbano e
Ordenamento do Território, constituindo exemplo maior o seu Plano Director Municipal, elaborado
em finais dos anos setenta, e formalmente aprovado em 1985. Contudo, a adopção conceptual
e metodológica da ideia de planeamento estratégico terá conhecido um período inicial de
desinteresse, ou até de resistência, por parte da autarquia eborense. Para a sua superação, a crer
em testemunhos de alguns dos protagonistas do processo, terão sido decisivos quer a participação
de Évora no Simpósio Europeu de Cidades de Média Dimensão, em Speyer, quer, sobretudo, o
conhecimento impressivo do modelo teórico de Plano Estratégico e da experiência da cidade
catalã de Barcelona.
Factores endógenos também constituíram, nesse contexto, terreno facilitador à adopção de um
planeamento estratégico, a saber: a classificação de Évora como Património da Humanidade,
em 1986; os efeitos e transformações já verificados designadamente “ao nível da hotelaria,
restauração e comércio, para além da animação da cidade”, bem como a instalação da
Universidade em Évora no incremento da vida cultural e a aquisição do Parque Industrial pelo
Município, viabilizando novos investimentos privados e permitindo uma ampliação de actividades
económicas com efeitos evidentes no uso do solo e no urbanismo da cidade.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora4
A existência de fundos comunitários de apoio surgia como oportunidade para “dar corpo a
grandes investimentos estruturantes do desenvolvimento da cidade” e para o intercâmbio de
experiências-piloto. A própria Administração Central, ciente deste novo paradigma de
planeamento, logo nesse mesmo ano de 1994 produziria legislação que fazia depender o acesso
de alguns desses apoios à elaboração, pelos municípios, de um Plano Estratégico da Cidade. Na
verdade, o Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução dos
Planos Directores Municipais (PROSIURBE, Desp. 6/94, 10 de Janeiro) previa como condição de
acesso ao Subprograma I – Valorização das Cidades Médias – a existência de um plano estratégico
da cidade1. Para o campo específico da análise da ideia de Cidade e de Património, importa
referenciar no PROSIURBE a identificação, na estruturação do plano estratégico da cidade, como
primeiro objectivo, a “melhoria da qualidade do meio urbano” e como factores de valorização
urbana a apoiar, entre outros, os de “preservação e qualificação patrimonial”.
O Plano refere na sua “Nota Introdutória” algumas das fragilidades estruturais da cidade de
Évora - “debilidade do tecido empresarial, carência de alguns grandes equipamentos,
desajustamento dos recursos humanos às actividades económicas, fraco potencial de crescimento
das indústrias locais, inexistência da Região Administrativa”, mencionando dois grandes desafios
que teria que enfrentar: o encurtamento da distância de Évora-Lisboa com a construção da nova
auto-estrada que poderia transformar Évora numa cidade satélite de Lisboa, correndo “o risco
de ver a ser remetida a um processo de sub-urbanização”; a abolição de fronteiras que poderia
fazer secundar Évora em função de congéneres espanholas mais desenvolvidas. A integração na
Comunidade Europeia era lida como um desafio positivo que abria novas perspectivas,
nomeadamente a ideia de que a uma “Europa das Regiões” corresponderia a existência de
“centros de excelência”.
Neste contexto, este relatório tem por finalidade “conhecer a memória do plano anterior,
permitindo identificar alguns aspectos críticos de sucesso a ter em consideração como ponto de
partida”.
Com base nesta finalidade, a equipa definiu os seguintes objectivos, visando alcançar, em
momento posterior, resultados que contribuam para a definição do novo Plano de
Desenvolvimento Estratégico de Évora. Os objectivos que se visam atingir, com este relatório,
são: conhecer o plano anterior, no que aparentemente foi a sua virtude e a sua fragilidade, e
1 Cfr. Diário da República, II Série, nº 21, 26-01-1994, pp. 718-719
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
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procurar identificar indicadores de avaliação do plano. Com estes objectivos procura-se identificar
factores críticos de sucesso e analisar o impacto do PEE94.
A metodologia seguida para responder às finalidades, aos objectivos e aos resultados desejados
partiu da análise da documentação relevante para o efeito (O Plano Estratégico da Cidade de
Évora de 1994, em primeiro lugar, e os outros documentos estruturantes, tais como o Plano
Director Municipal [PDM] e o Plano de Urbanização de Évora [PUE], em complementaridade;
para além de outros documentos que irão sendo identificados no relatório), os dados estatísticos
sobre o território e da aplicação de um questionário a entidades/personalidades directamente
envolvidas no PEE94.
Sabendo-se que as avaliações ex-post são sempre momentos de aprendizagem e de alguma
conflitualidade de leituras sobre a realidade “acontecida”, procurou-se, acima de tudo, usar
uma metodologia que permita obter duas dimensões de análise: o que aconteceu e como
aconteceu e que impactos (em termos de concepção e ideal de cidade e em termos económicos2)
se podem hoje visualizar que tenha alguma relação com o PEE94.
A avaliação ex-post servirá de base (teórica) de trabalho para contextualizar o processo de avaliação
e para a compreensão do novo plano de desenvolvimento estratégico. Conforme se irá poder
verificar, a utilização desta metodologia pressupõe que o plano, cujos efeitos se pretendem
avaliar, tenha determinadas características que permitam essa mesma avaliação. À partida, a
existência destas características ao nível do plano é um factor desejável na medida em que
permite, mesmo que a posteriori, uma avaliação dos seus efeitos, sendo este facto obviamente
importante do ponto de vista da responsabilização durante o período de implementação do
plano.
Como é evidente, a avaliação ex-post (do plano, no seu conjunto) deve ser feita após ter terminado
o período de vigência do plano. Significa isto, também obviamente, que se pressupõe a existência
de um horizonte temporal para o plano, o qual é, assim, uma condição necessária para uma
correcta avaliação dos efeitos do plano e, desse modo, para a comparação entre os objectivos e
os resultados, sendo esta comparação obviamente crucial na avaliação ex-post. Para além deste
facto, a existência de um horizonte temporal confere ao plano, regra geral, características que
2 Demos primazia aos económicos pelo facto de a Autarquia ter desenvolvidos outros trabalhos onde as dimen-sões sociais, de planeamento e de urbanismo forma ou estão a ser objecto de análise e desenvolvimento.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora6
impedem, ou pelo menos, dificultam o adiamento de implementação de medidas. Assim, um
plano sem horizonte temporal bem definido encerra em si este duplo risco: por um lado, não
pode ser alvo de uma avaliação ex-post com um nível mínimo de segurança e, por outro lado,
pode dar azo a alguma falha na implementação atempada das medidas.
Tendo por principal objectivo verificar a relevância e a coerência da estratégia inerente ao plano,
a sua avaliação ex-post deve assentar na determinação dos impactos (esperados e não esperados)
que, efectivamente, se podem atribuir à implementação das medidas, efectivamente tomadas,
durante o período de vigência do plano. Tal significa que o plano deve indicar claramente quais
os instrumentos (e, tanto quanto possível, a sua quantificação em termos de medidas) sob a,
efectiva, responsabilidade do agente decisor e quais os instrumentos ou decisões dos demais
agentes sob as quais incidem responsabilidades para a obtenção dos objectivos traçados. Para
além deste facto, a comparação dos resultados (ou realizações) do plano com os objectivos nele
traçados torna-se, evidentemente, mais fácil se estes estiverem devidamente quantificados em
metas. Um plano que não assente nestas características corre, assim, o risco de não ser possível
determinar a quem atribuir responsabilidades/mérito pelos seus efectivos resultados, os quais,
por sua vez, dificilmente se poderão comparar com os objectivos e, assim, poder-se determinar
se o plano correspondeu, ou não, minimamente ao que se esperava/desejava.
Para além daquele facto é obviamente relevante conhecer a ligação entre objectivos e instrumentos
que se considerou aquando da construção do plano. Sendo certo que, à partida, cada objectivo
deverá estar coberto por pelo menos um instrumento, a existência de relações conflituosas entre
objectivos em resultado, por exemplo, de efeitos discordantes dos vários instrumentos, pode ser
uma causa para divergências (inaceitáveis) entre resultados e metas. Para a análise destas
divergências, ainda que ao nível de uma avaliação ex-post, é, assim, fundamental o conhecimento
do que estava pressuposto, em termos de ligações objectivos-instrumentos, até como forma de
verificar se o modelo, enquanto conjunto daquelas ligações, foi o mais indicado enquanto suporte
à construção do plano. Naturalmente, um plano que não tenha em conta o (melhor) modelo, no
que àquelas ligações diz respeito, corre o risco de gerar resultados, não só inesperados como
aquém dos desejados.
Tratando-se de um plano estratégico, em princípio existiriam diversos objectivos com diferentes
graus de prioridade ou de importância. Este facto torna-se relevante ao nível de uma metodologia
possível de utilizar em avaliações ex-post. De facto, a análise multi-critério permite avaliar os
impactos de um plano no que diz respeito a diversos critérios se, mais uma vez, o plano
(estratégico) estiver construído por forma a que estes critérios estejam devidamente explicitados.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
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A impossibilidade de recurso a esta análise conduz, por vezes, à necessidade de recolha de
informação através de inquéritos a stakeholders, cuja informação (sendo devidamente
‘trabalhada’, por exemplo por técnicas de inquérito ‘Delphi’) permitem, tanto quanto possível,
proceder a um género de avaliação ex-post que, ainda assim, permita alcançar os seus objectivos,
i.e. retirar lições para a construção de planos (estratégicos) mais efectivos e eficientes. De alguma
forma é esta a perspectiva que iremos adoptar nos pontos que se seguem.
Desta forma, complementarmente à análise documental e de dados estatísticos, foram convidadas
18 personalidades (Anexo 1) a responder sobre os objectivos do PEE94, tendo-se obtido 12
respostas, que foram objecto de análise e serão explicitadas nos pontos seguintes.
Para responder à finalidade e aos objectivos a que nos propusemos, o relatório bem estruturado
em capítulos. O capítulo 2, onde se descreve a noção e o ideal de cidade na Cidade de Évora,
fazendo uma interpretação a partir dos Planos Estruturantes do Planeamento (o PDM, o PEE94
e o PUE). Para melhor enquadrar o capítulo 2 deste relatório, surgem em anexo (Anexo 2) algumas
citações julgadas pertinentes pela equipa para validar e explicitar melhor o documento. O capítulo
3 avalia o PEE94 a partir da sua própria estrutura de construção e da aplicação do questionário
de avaliação aos actores/personalidades directamente envolvidas no PEE94. O capítulo 4 avalia o
PEE94 a partir das suas ideias-chave enquadrando-as na sua sustentabilidade económica, a partir
dos principais indicadores económicos, e avaliando o nível de concretização dos projectos
previstos.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
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2. Análise da evolução da noção e do ideal de cidade na cidade de ÉvoraJoão Brigola, Saudade Baltazar, João Soares e Filomena Barata
2.1 Património urbano e ambiental: reabilitação e valorização
A promoção de Évora como cidade de média dimensão apresentava-se decisiva no quadro de
uma nova Europa, devendo funcionar como “pólo de desenvolvimento”. Os autores do PEE94
recusavam, contudo, uma definição de ‘cidade média’ fundada exclusivamente no factor
demográfico. O texto é naturalmente marcado pela corrente urbanista e patrimonial de
recuperação e de revitalização dos centros urbanos antigos, a que a Europa vinha a assistir
desde os anos sessenta e que haveria de culminar na celebração do Ano Europeu das Cidades,
em 1975, movimento doutrinariamente vertido na Declaração de Amesterdão. A partir dos anos
oitenta, assiste-se a uma mais aprofundada reflexão sobre o papel das cidades, geradoras de
actividades criativas e inovadoras, num contexto de mundialização da economia, designadamente
através do incremento de novos sistemas de produção. A integração comunitária não é aqui
alheia a este fenómeno, pois favorecia as “articulações entre os diversos agentes locais públicos
e privados reconhecidos nos princípios da subsidariedade e do partenariado”. Incorpora-se na
discursividade do planeamento urbano o conceito de “cidade intermédia/intermediária”, agora
centrada em valores de natureza qualitativa, oferecendo-se como pólo de relações e de
cruzamentos, de fluxos entre cidades e regiões. A cidade quer-se agora integrada numa vasta e
complexa rede relacional, avaliada pela sua capacidade de produzir nexos no seio dos sistemas
urbanos nacional e internacional. Também aqui se assiste a uma alteração conceptual já que o
conceito de “estrutura urbana”, fortemente hierarquizado, dava lugar ao de “sistema urbano”.
Uma das finalidades do PEE94 era exactamente a de encontrar uma estratégia que permitisse à
cidade encontrar a sua “especialização adequada”.
Para interpretar a evolução da imagem que se foi construindo, no tempo, sobre a cidade de
Évora a nível urbano, faz-se referência a três importantes documentos: PDM - Plano Director
Municipal, de 1978; PEE94 - Plano Estratégico de Desenvolvimento da Cidade de Évora, de 1994;
PUE - Plano de Urbanização de Évora, de 2000. A concepção destes documentos inscreve-se
num arco temporal de duas décadas e atravessa diferentes contextos a nível nacional e também
diferentes inclinações políticas a nível do município. Apesar de se abordar a evolução da ideia de
cidade a partir do ponto de vista urbano, parte-se também com a consciência de que a noção de
urbano, contendo aspectos claramente definidos, se constrói da convergência de muitos outros
aspectos que se encontram intimamente associados, desde económicos a culturais, de saneamento
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora10
a patrimoniais. A própria noção de inter-relação e implicação de uns campos noutros – que se
nos apresenta hoje como consensual – foi também algo que se construiu no tempo e a partir das
experiências de planeamento e reflexão sobre a cidade que foram sendo produzidas. Na realidade,
o PDM não explicita ainda essa consciência, o seu mote inicial é “O Plano Director Municipal de
Évora é essencialmente uma proposta de uso do solo pelos vários agentes económicos” (...).
O facto da cidade de Évora ter sido a primeira a produzir um PDM a nível nacional e, mais ainda,
quando não era ainda obrigatório por lei e não existia a lei das finanças das autarquias, demonstra
uma disponibilidade para o planeamento, e evidencia um genuíno empreendorismo e consciência
comunitária, pelo menos a nível das instituições de representação social e política. Não deixa de
ser interessante verificar que o PDM é elaborado antes mesmo de existir um Plano Estratégico
Nacional e anterior ao seu próprio Plano Estratégico. Este concebido já sobre instrumentos de
planeamento definidos que, num princípio orgânico, deveriam sujeitar-se ao PEE94. No primeiro
PDM a cidade de Évora é ainda lida à luz de uma hierarquia territorial e regional, mas essa
perspectiva irá ser alterada a partir do PEE94.
Apesar da pioneira acção de planeamento, a perspectiva hierarquizada e a noção de que o PDM
é uma proposta de uso de solo pelos agentes económicos, configuram uma visão estrita e
funcionalista/economicista sobre a cidade. Na linha de pensamento da relação hierárquica do
território/cidade um dos pontos associados a grande expectativa era, à época, a barragem do
Alqueva (no âmbito da agricultura). Acreditava-se no potencial do sector agrícola como alavanca
para o desenvolvimento, um optimismo que fazia sentido quer pela tradição e vocação da região,
quer pela expectativa que a Reforma Agrária alimentava. Cerca de duas décadas volvidas o
Alqueva apresenta-se de facto como grande infra-estrutura para a agricultura, mas com uma
nova grande vocação: o turismo.
No ponto 3 da parte II - “Sobre a evolução” lê-se: “Os factores de transformação e desenvolvimento
em Évora foram já identificados e são: Reforma agrária, Parque industrial, Alqueva, Papel
administrativo do Concelho na Região.” No ponto 4 das “Questões ainda ausentes” lê-se: “Neste
relatório não surgem ainda os programas e os meios de realização do plano, assim como, não é
apresentada uma ordem de prioridades dos objectivos”. Nos factores apontados no ponto 3 da
parte II não é ainda identificado o Património como motor para a transformação e
desenvolvimento. Apesar de ser reconhecido como recurso da cidade, de facto, não é feita uma
quantificação do seu potencial: qual o valor da qualidade do conjunto urbano da cidade antiga?
O reconhecimento acontecerá em 1986, quando mais tarde a cidade passar a integrar a lista das
cidades património mundial da UNESCO. Da mesma maneira, não é feita alusão à produção de
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
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conhecimento enquanto valia. A consciência da cultura, do património da cidade e do
conhecimento será apenas assumida no PEE94. No ponto 2.3 da parte V - “Políticas Sectoriais”
referem-se explicitamente três tipos de cidade: cidade intramuros, cidade extramuros e
aglomerados rurais; porém não se consegue ler uma proposta de articulação que potencie a sua
utilização como conjunto, pelo que, apesar do seu desenho claro, na cidade e envolvente
permanecem ainda inevitáveis desequilíbrios a nível de utilização e identidade entre estas “três
cidades”. Na Estratégia de Mobilidade para a cidade de Évora3, documento que toma em
consideração linhas orientadoras do PEE94, mais do que referência ao triplo carácter urbano,
faz-se uma distinção por “classes de clientes” – distinguem-se 9 tipos e são propostas 36 medidas
para a mobilidade.
O PDM de Évora é sem dúvida um documento de referência a nível nacional, pelo que já se
referiu, porém nos moldes em que foram e continuam a ser realizados, não deixam de ser
caracterizados por uma forte componente restritiva, sobre os PDM’s, Nuno Portas diz: (...) “os
Planos Municipais continuaram aliás a ser entendidos como instrumentos legais “contra” eventuais
abusos de edificabilidade e não para “orientar”, pela positiva, uma modificação programada do
Concelho, guiando a oferta de terrenos e infra-estruturas.”(...)4
O Plano Estratégico de Desenvolvimento da Cidade de Évora é concebido já após a integração da
cidade na Lista do Património Mundial, pela UNESCO. No Plano, de 1994, o Gabinete da Cidade
traça as linhas mestras de uma estratégia para a cidade de Évora. No capítulo “O desafio do
futuro”, refere-se que: “Paralelamente, um outro fenómeno se tem vindo a revelar: o modelo de
vida das grandes metrópoles é posto em causa diariamente. Assim, se, por um lado, ao gerarem
economias de escala, elas são um factor de atracção para as empresas, por outro lado, têm
problemas de tal forma graves (tráfego, poluição, insegurança...) que se tornam “caras” e perdem
atractividade. Neste contexto, as cidades médias perfilam-se no horizonte como alternativa
económica e social, pelo que entre elas se desenha um cenário de competição a que, a curto
prazo, não poderão fugir se quiserem apostar no seu futuro, o qual se irá jogar em torno de 2
parâmetros: - a qualidade e a inovação.” Alterando o paradigma interpretativo da relação da
cidade constrói-se um ponto de vista que coloca a situação peculiar de Évora como potencialmente
positiva. Ainda em “O desafio do futuro” pode ler-se que: “(...) torna-se necessário definir uma
3 Documento produzido pelo Instituto Superior Técnico, com a Coordenação Geral de Tiago Farias, 2006.4 Nuno Portas, "Os Planos Directores como instrumentos de regulação", Sociedade e Território, Revista de Estudos
Urbanos e Regionais, Dossier "PDM's, PMOT's, PROT's, POOC's... Para que queremos estes Planos?", n.º 22/Setembro 1995.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora12
estratégia para o futuro da cidade, que permita lançar as bases do seu desenvolvimento
sustentado. Mas ter uma estratégia significa essencialmente seleccionar, isto é, identificar com
rigor um conjunto de projectos (porque essenciais, necessariamente escassos) vitais para o
desenvolvimento, e em torno dos quais importa fazer convergir sinergias”. Como foi já referido
há uma “passagem de uma perspectiva hierarquizada para uma concepção em rede e relacional
do território e das cidades”.
As próprias metodologias de planeamento deveriam operar, igualmente, uma passagem para
um novo modo, provavelmente menos determinístico, mais próximo dos “novos princípios do
urbanismo”, como os define François Ascher: “O novo-urbanismo “agita” assim os velhos
esquemas causais que ordenavam o diagnóstico, a identificação das necessidades e a eventual
elaboração de cenários, a programação, o projecto, a realização e a gestão. Este substitui esta
linearidade com procedimentos eurísticos, interactivos, incrementais e recursivos, ou seja com
acções que servem contextualmente a elaborar e testar hipóteses, com realizações parciais que
reinformam o projecto e tornam possíveis intervenções mais direccionadas para o princípio de
precaução e de sustentabilidade com avaliações que integram o feed-back e se traduzem
eventualmente na redefinição dos próprios elementos estratégicos.” 5
Apesar de mais sofisticado (e também de diferente natureza do PDM) o modelo de trabalho que
produziu o PEE94 terá, talvez, acusado uma dificuldade em propor e integrar a noção de feed-
back como acima se refere. Das entrevistas realizadas emerge o facto de para o PEE94 de 1994
não existir horizonte temporal definido. Esta questão, conceptualmente estrutural, talvez tenha
contribuído tanto para a sua falta de operatividade e concretização quanto os efectivos
condicionalismos dos meios à disposição com que o Gabinete da Cidade se deparou. A par dos
meios à disposição de um município, a questão do tempo é determinante, é ainda Portas que
escreve: (...) “os PDM’s, demasiado vagos e generalista, apontam mal as prioridades (o “tempo”
e os recursos não são com eles)” (...)6.
O Plano de Urbanização Évora (PUE) é o documento urbanístico que se realiza posteriormente
ao PEE94. Interessa, portanto, reflectir sobre a sua concepção também numa perspectiva de
avaliação da capacidade do PEE94 para ser “semente” de ideias ou de formas de gestão traduzíveis
5 Eurística: método de investigação que procede por avaliações sucessivas e hipóteses provisórias. Interacção:método de resolução de uma equação por aproximações sucessivas. Incremental: valor crescente atribuído auma variável em cada fase de um programa. Série recursiva: em que cada termo é função dos termosimediatamente precedentes. François Ascher, Les Nouveaux principes de l'urbanisme, Paris, Edition de l'Aube,2001. (tradução livre)
6 Nuno Portas, ob.cit.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
13
em instrumentos operativos cuja aplicação conduza ao(s) rumo(s) que as estratégias tinham
apontado. No ponto 1 do artigo 1º - Objectivo e âmbito – do Regulamento do Plano de
Urbanização de Évora, publicado em Diário da República de 28 de Março de 2000, lê-se: “O
Plano de Urbanização de Évora (PUE) tem por objectivo estabelecer as regras a que devem
obedecer a ocupação, uso e transformação do solo da cidade de Évora e do espaço agrícola
envolvente da cidade”. Na resolução do Conselho de Ministros que faz a introdução ao PUE
refere-se: “O Plano de Urbanização de Évora (3.ª revisão) implica alterações àquele PDM,
designadamente no que diz respeito a acertos de perímetro urbano, a nível da planta de
zonamento, com acréscimo para expansões de áreas industriais a sul e decréscimo em áreas de
uso agrícola, anteriormente integradas no perímetro, pelo que está sujeito a ratificação.”
O PUE vem confirmar e mesmo promover o preenchimento concêntrico dos anéis que ao longo
do tempo se foram formando. “O PUE pretende consolidar a estrutura radiocêntrica da cidade,
tendo como centro a cidade intramuros, e o primeiro anel circundante da muralha (...) Do
perímetro urbano definido, apenas cerca de 50% se encontra de facto urbanizado. Apesar disso,
esta extensa mancha corresponde a uma quase duplicação. (...) os antigos “bairros clandestinos”
foram recuperados, mas a concentração de serviços e de emprego contínua fixada na cidade
antiga.” 7
Em conclusão: pela leitura dos três documentos referidos emerge uma transformação da ideia
da cidade a partir de dentro e, inevitavelmente, muito a partir da mudança da sua percepção
num enquadramento territorial e regional mais vasto e que se relaciona tanto a uma escala
simultaneamente local e nacional, como a uma escala internacional. O contexto da mundialização,
ao mesmo tempo que revela as fragilidades e condicionalismos de Évora, reforça a condição de
diferença e especificidade da cidade como forma de cultura.
2.2 Modelo cultural: da preservação à criação
Os autores do PEE94 identificam dois períodos de evolução da cidade, na década de oitenta. A
primeira metade, “marcada fisicamente pela construção de importantes zonas de expansão como
a Malagueira de Siza Vieira e outras de iniciativa pública e cooperativa (Corunheiras, Horta das
7 Álvaro Domingues (Coord.); Jorge Filipe (Fotog.); Ricardo Pereira (Coord. Edição Cartográfica); João Soares;Sónia Rafaela; Tiago Matos, Cidades e Democracia, 30 anos de Transformação Urbana em Portugal. Ediçãobilingue, Português e Espanhol. 399 págs. Editora Argumentum, com: Ordem dos Arquitectos - Secção RegionalNorte; e a Fundação da Juventude - Porto. Lisboa. 2006.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora14
Figueiras, António Sérgio), enquanto que, paralelamente, decorria a infraestruturação dos bairros
clandestinos”. Iniciava-se entretanto a execução material do P.D.M. e do decorrente Plano de
Salvaguarda do Centro Histórico, bem como a concepção do Sistema Integrado de Transportes
e Estacionamento (SITE). O segundo período deve ser balizado no ano de 1986, com a inscrição
da cidade antiga muralhada na Lista do Património Mundial, promovida pela UNESCO. A
divulgação internacional do evento representou desde logo um acréscimo significativo de
visitantes, facto que tem contribuído para a animação das actividades de hotelaria e de
restauração, e sobremaneira para a construção do capital simbólico da cidade, dela desenhando
uma imagem externa poderosamente atractiva. Noutro registo, um dos efeitos materiais mais
interessantes e duradouros da instalação da Universidade na malha urbana antiga traduziu-se
na aquisição ou locação de edifícios históricos de valor patrimonial, desse modo participando
no esforço público e privado de recuperação e valorização do património arquitectónico. Desta
tendência participaram também vários serviços da administração central que, com algumas
conhecidas excepções, optaram pela localização na cidade intramuros.
A década de oitenta conhece um conjunto de novos agentes culturais e desportivos e assiste à
reanimação de outros, a exemplo da Academia de Música Eborense, Coral de Évora, Eborae
Música, Cantares de Évora, bem como ao fenómeno mediático das rádios locais e ao incremento
dos jornais diários e semanários. O património urbanístico torna-se motivo de orgulho dos
eborenses e viabiliza o investimento privado na sua reabilitação. A cidade começa a ser mais
vivida com o aparecimento de esplanadas, discotecas, bares e com a eleição de Évora como
espaço ideal para a realização de congressos, seminários e eventos comemorativos. A par dos
turistas nacionais e estrangeiros, chegam à cidade especialistas e estudiosos atraídos pela
experiência pioneira do planeamento municipal, pela classificação patrimonial, e pela gradual
projecção académica e científica da Universidade.
Durante a década de noventa, projecta-se definitivamente para o exterior, sobretudo no espaço
europeu onde chega a ocupar lugar de destaque como o que desempenhou no âmbito da Rede
MECINE, bem como a participação no Comité da Associação de Cidades Património Mundial. A
existência de fundos comunitários viabiliza o aparecimento de um conjunto de grandes
equipamentos estruturantes do desenvolvimento da cidade, “configurantes de uma nova cidade”,
assistindo-se à recuperação de grandes edifícios no Centro Histórico, a exemplo do Teatro Garcia
de Resende, da Casa da Rua de Burgos (sede da Delegação da Cultura e do IPPAR), do projecto
de reutilização do Convento dos Remédios, entre tantos outros. A criação da Região de Turismo
de Évora viabiliza, entretanto, uma melhor projecção turística da cidade e áreas limítrofes.
Igualmente relevantes para a definição de uma cidade do conhecimento são a abertura de novos
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
15
cursos da Universidade e a criação de mestrados e pós-graduações, e o estabelecimento de uma
Escola Superior de Música. Do ponto de vista cultural deve ainda salientar-se o incremento da
produção artística, o aumento de agentes culturais, e “a afirmação do Património Arqueológico
como importante factor de valorização da cidade”.
Decorrente do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Cidade Évora, e da necessidade de
inventariar a realidade dos recursos humanos e das actividades criativas do Município, elaborou-
se em 1999 um Plano Estratégico Cultural do Concelho. Baseou-se metodologicamente num
Inquérito às associações sócio-culturais e desportivas, num total de 325, incluindo 163 criadores
culturais. Editaram-se seis jornais públicos, um embrionário fórum de discussão na NET e
iniciou-se a estruturação de uma Comissão Municipal de Cultura. Este texto perdurou apenas
como documento de trabalho, não tendo sido submetido a aprovação autárquica. Em vários
passos do texto do PEE94, à ideia de “imagem identitária” encontra-se associada a consciência
colectiva do património cultural da cidade, encarado como “factor de desenvolvimento aliado
a um rico passado histórico próprio e diversificado, que não se perde mas antes se enriquece
e amplia permanentemente”. Algumas das ideias fortes para Évora traduzem exactamente
essa inspiração: “Évora, cidade cultural, património da humanidade; Évora, cidade universitária;
Évora, cidade aberta à inovação”. Ainda nos “objectivos específicos dos diversos domínios
estratégicos de intervenção, no Domínio A, “imagem identitária da cidade” se refere a
necessidade de “redescobrir a cidade, a sua história e vocação universitária” e de “promover a
imagem e as potencialidades da cidade”, reforçando o interesse dos cidadãos e mobilizando
“atenções e esforços para as questões que se prendem com a leitura da cidade, dos seus
valores e dos seus simbolismos. Trata-se, em suma, de redescobrir novos factores de atracção,
acentuando o sentimento de pertença”. A História e o Património de Évora são, portanto,
encarados quer como recurso a desenvolver, quer como factor identitário - “a coesão em
torno de valores de identidade própria”.
No que respeita ao Domínio Estratégico B - “qualidade urbana global”, uma das ideias centrais
é justamente a de “valorizar e (re)criar o património edificado”, defendendo-se que as acções
“devem compreender não só a recuperação e revitalização dos valores monumentais, mas também
do tecido urbano em geral cujo significado patrimonial seja relevante e a criação de novos
elementos simbólicos”, pois só assim se poderia afirmar Évora como “Cidade Cultural”, apontando-
se o desenvolvimento de actividades culturais, artísticas, criativas e turísticas como uma das vias
de sustentabilidade. Ainda nos “Projectos Estruturantes” para a cidade, são apontados em primeiro
lugar o “Fórum Évora, imaginário citadino”, pensada a partir da necessidade da criação de um
“núcleo dinamizador da vida de relação e de troca de ideias entre as forças vivas da cidade” e,
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora16
em segundo lugar, “Évora, museu vivo, cidade de Túlio”, apontando-se como fundamental a
criação de um conjunto de equipamentos que “comportam a construção/recuperação de edifícios,
a musealização de sítios e a respectiva animação e o estabelecimento de itinerários histórico-
culturais”.
Propunham os autores do Plano que o denominado ‘Museu da Cidade’ poderia assumir a
arqueologia industrial e as artes e ofícios como temas agregadores, apontando-se para uma
lógica de programação museológica em rede. Implícita nesta concepção, parece estar o desenho
de uma estrutura polinucleada, cujas primeiras unidades se viriam efectivamente a materializar
nos núcleos da Metrologia - Pesos e Medidas, no Chão das Covas, da Estação Elevatória da
Água, e o do Pão nos Moinhos de S. Bento. Contava-se ainda com a reabertura do Museu do
Artesanato, cuja indefinição tutelar perduraria até muito recentemente. De sublinhar a clara
assunção da Arqueologia Industrial como elemento de valorização, bem como o Património
Arqueológico, constituindo aqui exemplos maiores o Templo Romano e as Termas.
Em jeito de síntese poderia afirmar-se que a criação de equipamentos culturais e de circuitos/
itinerários em rede era aqui considerada como estruturante para o desenvolvimento de uma
“Évora Cultural”, a par da reabilitação do seu Património Construído. As iniciativas que visassem
promover a cidade “como lugar de encontro de especialistas do património” e que contribuíssem
para potenciar a protecção e revitalização do Centro Histórico, eram apontados como Programas
fundamentais a desenvolver. Uma palavra final para o importante lugar que os valores intangíveis
ocupam nas preocupações dos autores deste Plano, tal como já nos do PDM, ao sublinharem a
dimensão humana das vivências e da cultura tradicionais dos eborenses, no respeito pelo espírito
e pela matéria da cidade histórica.
2.3 Os eixos de cooperação territorial: a cidade regional e transnacional
A problemática do desenvolvimento regional aplicada a cidades de média dimensão assume-se
como um vector de actuação territorial desde há aproximadamente meio século em vários países
europeus, contexto em que a teoria dos pólos de crescimento ganhou expressão com vista a
dissipar e/ou resolver as assimetrias regionais. As “cidades médias” ao possibilitarem o
desenvolvimento de economias de escala e de aglomeração e com a ausência de algumas das
tensões típicas dos grandes aglomerados urbanos, pareciam dar resposta às exigências do processo
de reconfiguração espacial numa lógica de descentralização.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
17
A ideia de estrutura urbana dá lugar à dinâmica e interactiva noção de sistema urbano, que
privilegia as ligações entre as componentes, independentemente das dimensões. É com base
nesta perspectiva que o PEE94 é definido, e as linhas mestras gerais da estratégia são enunciadas
para a cidade e não para o concelho de Évora. A cidade é aqui entendida como motor do
território municipal. Ideia que desde logo se parece consubstanciar no pressuposto de que com
base na estratégia da cidade, à época definida, se iria proceder à revisão do PDM8.
O PDM (1978) de Évora, não obstante o seu pioneirismo no plano nacional, evoca de modo
manifesto a sua intencionalidade: “proposta de uso do solo pelos vários agentes económicos,
assumida através dos vários instrumentos de actuação controláveis pelo município” (CIPRO -
PDM Évora, 1978:1), mas de igual modo refere a não existência de planeamento regional em
Portugal que visasse a elaboração de um instrumento de planeamento integrado e coerente de
desenvolvimento, da região ao poder central. Basta lembrar que o Decreto-Lei fundador dos
PDMs só seria publicado em meados dos anos oitenta (DL 2008 / 84). E esta 1ª geração de PDMs
evidenciou de sobremaneira as conflituosas delimitações do Plano Rodoviário e Salvaguardas e
das Reservas Nacionais em associação com uma expressiva dependência dos serviços ministeriais,
conflitos de interesses que provocaram o arrastamento da elaboração dos Planos e da sua
aprovação.
Circunstâncias que se revelaram condicionantes da capacidade de orientação da modificação
programada dos concelhos, e em que os PDMs assumiram maior relevância “como instrumentos
legais contra eventuais abusos de edificabilidade. (...) Se os PDM falham este objectivo de
(re)estruturação do território vivido ou urbanizado(zável), então que lhes resta?” (Portas, 1995:23
e 32). No caso específico do PDM de Évora foram identificados, como já acima referido, quatro
factores de transformação e desenvolvimento, a saber: Reforma Agrária, Parque Industrial, Alqueva
e Papel Administrativo do Concelho na Região. Que por seu turno determinaram os objectivos
gerais do Plano: “1 - Reforço do papel de Évora como pólo regional e melhoria dos ritmos de
crescimento demográfico do concelho; 2 – Estabilizar a população nos aglomerados rurais como
forma de evitar a sua regressão e garantir uma efectiva ocupação do território concelhio; 3 –
Satisfação das necessidades básicas da população; 4 – Proteger os valores históricos, culturais e
ambientais do concelho” (CIPRO – PDM Évora, 1978:9).
8 Revisão do PDM que só se efectivaria nos nossos dias, volvidos mais de dez anos, pese embora ter sido desdelogo identificado em 1994 como projecto estruturante no âmbito da Estratégia B - Qualificação Urbana Global- do Plano Estratégico da Cidade de Évora.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora18
Como é dado a observar dos desígnios propostos, a perspectiva de cooperação territorial
surge enaltecida, destacando-se o posicionamento de Évora face à região, opção que passava
necessariamente pela reivindicação de diversos serviços públicos que pressupunham a
dinamização do desenvolvimento do concelho pautado na manutenção dos níveis demográficos
nas freguesias rurais. Face à tendência de decréscimo populacional, é pois reforçada a ideia de
que não importava ter um espaço territorial desabitado, pelo que deveria ser dada particular
importância à satisfação das necessidades básicas da população, nomeadamente nos
aglomerados rurais. Apesar de não existir um manifesto consenso sobre a dimensão demográfica
da cidade a definir no âmbito do PEE94, o Gabinete da Cidade defendia a ideia de que deveria
ser uma cidade de média dimensão no plano europeu, com aproximadamente 70 mil habitantes.
Em meados dos anos noventa, a cidade de Évora apresentava “umas condições talvez únicas
no País: por um lado assistiu a um crescimento demográfico razoável (tanto mais assinalável,
quanto a região tem vindo a decrescer de população) – 16,2% na década de 70 e 7,9% na de
80; por outro lado conseguiu manter as características de ligação ao mundo rural envolvente
que se manifestam na vida económica e de relação quotidiana e no próprio desenho urbanístico
(a predominância da habitação unifamiliar com logradouro ou mesmo horta)” (Gabinete Cidade,
1994: 21).
Em termos evolutivos, a noção e o ideal de cidade de Évora enquanto pólo dinamizador da
região onde se insere mantêm-se inalteráveis desde o PDM/78, como foi dado a observar pelo
exposto. O PEE94 reforça essa premissa e em complementaridade esta ligação à região passa a
assumir uma atitude solidária – é a afirmação de uma cidade cooperante. Verifica-se um consenso
mais ou menos alargado, até mesmo entre muitos habitantes, sobre a ideia de que o
desenvolvimento da cidade não deve ocorrer à custa da destruição do equilíbrio que se tem
vindo a manifestar entre Évora e a sua envolvente. Desenvolvimento harmonioso que só poderia
ocorrer mediante a promoção de práticas de solidariedade e de inter-ajuda institucional, sem
que se definisse “o papel de Évora como capital de uma região9 para evitar problemas de ordem
política com Beja. Donde, a designação de cidade solidária com a Região” (excerto da entrevista
realizada a membro do Gabinete da Cidade). Atitude solidária em termos territoriais que pressupõe
que, sem qualquer tentativa de hegemonia, sejam asseguradas as condições de solidariedade
com a região baseadas em vectores de mútua contribuição e de partilha, pautados no quadro -
vigente à época - de atribuições e competências das autarquias, nomeadamente no que respeita
9 Importa frisar que no PDM/78 inserida numa das Políticas Sectoriais - apoio às actividades económicas -é reivindicada a instalação dos serviços inerentes à formação de Évora como capital regional, criando edesenvolvendo serviços de apoio à produção.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
19
à programação e execução de investimentos inter-municipais assim como a cooperação entre
instituições existentes nos diversos aglomerados urbanos da região Alentejo (PEE94). Évora dever-
se-ia demarcar como cidade na região Alentejo (no que respeita à qualidade de vida e atractividade
exercida e, em suma, como portadora de uma estratégia interessante), mas simultaneamente
ocupar uma posição charneira no sistema urbano nacional (nomeadamente, como uma das
cidades mais importantes do interior do país).
Paralelamente, como já se fez referência, é reforçada a importância do eixo Lisboa10 – Évora –
Badajoz – Madrid, o que extravasa necessariamente o plano nacional e revelava uma forte aposta
na transnacionalidade. Dimensão que não se encontra explicitada no PDM/78, mas que no âmbito
do PEE94 é de sobremaneira evidenciada, enfatizando uma perspectiva transfronteiriça
sublinhando a posição geo-estratégica que ocupa face a Espanha. Évora, cidade internacional,
baseia-se em funções fundamentais: cidade universitária e histórico-cultural. A crescente
permeabilidade das fronteiras, com uma maior aproximação “funcional” às vizinhas regiões
espanholas, demonstrava que o futuro da cidade iria depender marcadamente das opções geo-
estratégicas assumidas. Todavia, face à potencial ameaça de centrifugação e asfixia parcial, a
presença da Cidade em redes internacionais denota a necessidade de aprofundamento e
diversificação das relações existentes. Em meados dos anos noventa, Évora apresenta já uma
colaboração activa em redes internacionais: “Universidade através de vários programas de
investigação e intercâmbio: Câmara Municipal através da Associação de Cidades Património
Mundial, dos programas RECITE, THERMI; Comissão de Coordenação da Região Alentejo através
do programa DIONISIUS; UNESUL através do programa COMETT, etc, contudo, esta colaboração
é muito recente e ainda pouco estruturada” (PEE94).
Os autores do PEE94 defendiam também a ideia de que qualquer estratégia de afirmação
internacional passaria necessariamente pela existência de centros de excelência, para que a cidade
de Évora assumisse o seu papel de cidade do mundo através da capacidade de se afirmar com
visibilidade própria. Decorrente deste contexto, foi definida como uma das estratégias de
intervenção a “intensificação e qualificação dos processos de integração em espaços mais vastos”,
a qual se traduzira em quatro objectivos específicos: i) reforçar os laços existentes com a área
envolvente; ii) reforçar a cooperação inter-urbana com centros vizinhos; iii) reforçar as ligações
ao espaço ibérico; iv) reforçar os níveis de abertura de Évora ao mundo.
10 Contudo, no PEE94 / 94 a maior incógnita que se coloca a nível das possibilidades de inserção geo-estratégicaprende-se com a futura interligação da cidade e da região com a Área Metropolitana de Lisboa.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora20
Pressupostos que se têm vindo a traduzir numa diversidade de formas de relacionamento,
enquadráveis em várias escalas territoriais, como se pode observar de seguida (figura 1):
Figura 1 Relacionamento nacional e transnacional da Cidade de Évora
Fonte: Elaboração própria com base em informação fornecida pela CME
É por demais evidente o reforço e o aumento das relações externas, tendência que se tem vindo
a intensificar após a integração europeia. E que se enquadra na denominada abordagem territorial
à escala europeia, a qual visa assegurar um desenvolvimento equilibrado e sustentável da União
Europeia (UE). A diversidade cultural do território da UE é tida como um potencial e mais
importante factor de desenvolvimento europeu, e que exige preservação à medida que a
integração europeia vai progredindo. Logo, quaisquer políticas sobre a estrutura territorial e
urbana da UE devem evitar a uniformização das identidades locais e regionais uma vez que estas
contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. São estas as premissas que
estiveram na génese do EDEC11 – Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário – como
“quadro de orientação adequado às políticas sectoriais com impacto territorial da Comunidade
e dos Estados-Membros, assim como à acção das colectividades regionais e locais, tendo em
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
21
vista o desenvolvimento equilibrado e sustentável do território europeu”. Visando uma mais
profunda integração europeia no respeito do princípio da subsidariedade, é tida como necessária
a colaboração territorial entre Estados-Membros, assim como das correspondentes colectividades
regionais e locais. A aplicação do EDEC pressupõe que as estruturas político-administrativas
nacionais, regionais e locais responsáveis pelo ordenamento do território actuem a dois níveis:
externo e interno. Como de forma mais detalhada se ilustra na figura 2.
Figura 2 Formas de Cooperação em matéria de Desenvolvimento Territorial
Fonte: CE, 1999: 39
A estreita cooperação deve ocorrer, horizontalmente, entre políticas sectoriais e entre estas e os
responsáveis pelo desenvolvimento territorial a todos os níveis e, verticalmente, entre políticas
comunitárias e as de nível transnacional, regional e local. A aplicação integrada das opções
políticas, da responsabilidade das diversas autoridades ligadas ao desenvolvimento territorial e
11 Aprovado no Conselho informal de Ministros responsáveis pelo Ordenamento do Território, em Potsdam(Alemanha), Maio de 1999.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora22
também ao planeamento sectorial, é definida neste quadro. As suas possibilidades de actuação
devem ser pensadas localmente, de acordo com a especificidade dos casos, embora se possam
ilustrar alguns exemplos: a promoção da ligação em rede das regiões urbanas; a melhoria das
acessibilidades como condição de base para o desenvolvimento policêntrico; a constituição de
euro-corredores (instrumento essencial do desenvolvimento territorial para a cooperação das
cidades); o reforço das cidades e regiões próximas nas fronteiras externas da UE; a preservação
e desenvolvimento da biodiversidade nas regiões da UE; a valorização do património cultural
europeu (CE, 1999).
A promoção de uma estrutura territorial e urbana equilibrada é tida como a premissa
necessária a um desenvolvimento sustentável da UE, cujos objectivos ou princípios
orientadores encontram consenso, desde 1994, entre os Ministros que tutelam o Ordenamento
do Território: “desenvolvimento de um sistema urbano policêntrico e equilibrado e de uma
nova relação cidade-campo; garantia de uma igualdade de acesso às infra-estruturas e ao
conhecimento; desenvolvimento sustentável, gestão “inteligente” e preservação da natureza
e património cultural” (CE, 1999: 11). O desenvolvimento das cidades revela múltiplas
oportunidades de “pensar globalmente e agir localmente”, como é passível de verificar para
o caso da estratégia definida em 1994 para a Cidade de Évora – no âmbito deste quadro de
referência comunitário - através das ideias fortes enunciadas e correspondentes objectivos e
projectos identificados.
2.4 Uma cidade do conhecimento – o papel da Universidade
A estratégia para a cidade de Évora, no âmbito do PEE94, pauta-se em eixos de intervenção,
sendo um deles identificado como o “reforço dos valores de identidade e de pertença territorial”.
São os distintos atributos materiais e imateriais dos territórios - recursos biofísicos e humanos,
relações sociais, modos de produção e a sua cultura - que associados a factores e processos
exógenos conferem diferentes identidades territoriais. Diferentes formas e intensidades de
integração económica e cultural dos lugares e das regiões, no passado e no presente, revelam o
espectro da sua identidade territorial no âmbito de redes e sistemas socio-económicos e espaciais
hierarquizados. Face ao actual processo de globalização, com especial destaque para os domínios
da economia e da cultura, a identidade do território é cada vez mais considerada como um
decisivo trunfo em prol do desenvolvimento sustentável. Entendimento que tem vindo a adquirir
importância estratégica na União Europeia, muito em particular em regiões e países menos
desenvolvidos. Para o caso da Cidade de Évora, neste contexto, é definido como domínio
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
23
estratégico de intervenção A: Imagem identitária da cidade, que por seu turno se operacionaliza
em objectivos específicos, sendo um destes enunciado do seguinte modo: A.2. Redescobrir a
cidade, a sua história e vocação universitária.
O ideal de cidade surge, pois, ancorado no processo histórico da Universidade em Évora e na sua
vocação humanística, sendo a harmonização entre modernidade e tradição tida como eixo
fundamental para o desenvolvimento regional e local, visando o “aproveitamento da tipicidade
ancestral para encorajar uma evolução diferenciadora que possa conduzir ao reforço da inovação
local” (Albino, 1997:113). A Universidade de Évora - a segunda a ser criada no país – foi, desde
1559 e até à data da sua extinção em 1759, um importante pólo humanista, irradiador de
cultura, com ligação aos mais importantes centros do saber da Europa Renascentista, em que
um número significativo de vultos da Cultura Portuguesa deixou o eco das suas palavras, do seu
talento e do seu saber. O ideal de “Évora, cidade universitária” surge como uma constante nas
entrevistas realizadas junto de membros do Gabinete da Cidade, o que traduz desde logo que,
para além do papel de difusão dos saberes científicos e técnicos, a Universidade tem tido a
capacidade de se projectar no espaço regional e nacional como um importante agente de
desenvolvimento cultural, económico e social. O papel a desempenhar pela Universidade de
Évora (até 1979, Instituto Universitário) tem vindo a reforçar-se desde a sua refundação, a qual
dista aproximadamente de dezasseis anos até à definição da estratégia para a Cidade de Évora
no âmbito do instrumento de planeamento em análise.
Em coerência, considerava-se necessário que Évora fosse uma cidade competitiva no plano
nacional e internacional, devendo associar tecidos sócio-produtivos eficientes à existência de
centros de investigação e de educação/formação, ajudando-a a superar os desafios da inovação
tecnológica. A noção de cidade universitária tinha subjacente a criação de novas fileiras económicas
com base no conhecimento. Importaria, de igual modo, que existisse um profundo entrosamento
entre Universidade, cidade e região, compreendido num processo de interacção entre população
residente e estudantes universitários. Aliás, é apenas este vector que consta das Políticas sectoriais
apresentadas no PDM/78, já que as propostas de medidas de política para o centro histórico
incluem as que correspondem à recuperação de edifícios por entidades públicas ou privadas:
“recuperação de imóveis destinando-os ao alojamento de estudantes, professores ou funcionários,
com possibilidade de se recorrer a formas mistas de associação da Câmara com essas entidades,
e procurando articular programas para alojamento de estudantes com o IUE” (CIPRO - PDM,
1978: 27).
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora24
Os projectos então apresentados, nomeadamente UNESUL (associação universidades - empresas)
e BUS (Banco Universitário de Serviços) são bem reveladores da mudança de perspectiva
(comparativamente ao momento em que a Universidade de Évora voltava a dar os seus primeiros
passos). O que pressupõe admitir que o futuro da cidade de Évora e da região passaria a estar
indissociavelmente ligado às opções que a Universidade fizesse no domínio da política de ensino,
formação, investigação científica e extensão sócio-cultural.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
25
3. Análise dos objectivos e do contexto de governação do Plano
Estratégico de 1994Adão Carvalho e António Bento Caleiro
3.1 Os objectivos do PEE94
3.1.1 Estrutura geral do PEE94
O PEE94 assentava em seis ideias fortes que conferiam uma visão futura para a cidade de
Évora, um ideal para a cidade, e tinha como objectivo geral “criar um ambiente de cultura e de
inovação capaz de transformar Évora numa cidade socialmente justa, organicamente integrada
na região e com projecção internacional”. Conceptualmente, a materialização deste objectivo
geral ancorava-se em 4 estratégias de intervenção e estas em 15 objectivos específicos, conforme
está descrito na Figura 3.
Figura 3 Estrutura geral do Plano Estratégico de 1994
Fonte: Com base no Plano Estratégico de Évora 1994
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora26
O Plano Estratégico de 1994 tinha como âmbito principal a cidade de Évora, procurando
projectar a cidade no contexto nacional e internacional e constituir, assim, uma referência de
desenvolvimento. Embora estivesse subjacente um âmbito regional mais alargado de
intervenção superior à própria cidade, que é visível nalguns objectivos específicos, o plano
perspectivava o futuro da cidade muito a partir da própria cidade, não sendo explícita a
necessidade de integração e coordenação de políticas regionais para atingir esse fim.
Em termos gerais, os objectivos assumiam um carácter qualitativo, logo de difícil quantificação
em termos de metas. Para além deste facto apresentavam-se não hierarquizados, quer em termos
relativos quer em termos da sua prossecução temporal, até porque não existia um horizonte
temporal explícito para o Plano Estratégico.
3.1.2 Horizonte temporal para implementação do PEE94
No texto final do PEE94 não ficou explicitado o horizonte temporal de implementação do plano,
nem uma calendarização, mesmo elementar, da implementação dos projectos estruturantes lá
identificados e que permitiriam realizar os objectivos ambicionados. Um plano desta natureza
deverá ter associado um horizontal temporal de médio prazo para permitir a implementação de
projectos, muitos deles de natureza estruturante, e de políticas que vão ter impacto
socioeconómico no território. A definição de uma data concreta é importante para a
calendarização das actividades a executar e para a avaliação ex-post da implementação do plano.
O pioneirismo que caracterizou o PEE94 não permitiu a definição de um objectivo temporal em
função de outros planos estratégicos definidos para outras cidades e concelhos do território
nacional. Apesar da questão ter sido bastante discutida aquando da elaboração do PEE94,
nomeadamente no âmbito da equipa técnica do Gabinete da Cidade, não houve consenso quanto
a uma data concreta para a realização do plano, nem sequer um horizonte temporal orientador
dos trabalhos que fosse comum a toda a equipa, a julgar pelas respostas das personalidades
directamente envolvidas na elaboração do plano, pese embora os 14 anos já decorridos e a
erosão que tal provoca na memória dos entrevistados. Alguns entrevistados referiram a inexistência
de objectivos temporais explícitos, outros referiram a ideia de uma plano para um horizonte
temporal superior a uma década, embora a maioria dos entrevistados considere que se tratava
de um plano para 10 anos.
A não definição de um horizonte temporal preciso justificou-se, segundo os entrevistados, por
três razões essenciais: i) pela necessidade de assumir compromissos e calendarizar actividades,
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
27
que nem todas as instituições estavam suficientemente motivadas ou tinham capacidade para
o fazer; ii) o grau de compromisso entre os parceiros era pequeno; iii) porque houve um
entendimento que haveria um controlo periódico da realização dos objectivos e da evolução
da cidade, e o consequente ajustamento do plano estratégico em função dessas avaliações
periódicas.
3.1.3 Quinze objectivos específicos
O PEE94 definia quinze objectivos específicos, repartidos pelas quatro áreas de intervenção. O
foco principal do plano era a cidade de Évora e, por isso, a maioria dos objectivos revelava um
factor considerado importante e de que a cidade carecia ou deveria reforçar no sentido do seu
posicionamento estratégico futuro. São objectivos com uma amplitude muito variável, que ora
têm um carácter local ou regional, ora buscam posicionar Évora no panorama internacional e
mesmo global. Isso revela a importância estratégica e a consciência da necessidade de intervenção
a vários níveis para atingir o objectivo geral estabelecido para Évora, mas isso também sugere
que Évora precisaria primeiro de reforçar a sua importância e identidade regional e nacional
para, numa fase posterior, apostar fortemente no seu posicionamento internacional como cidade
de referência turística, cultural e patrimonial.
Os objectivos específicos do PEE94, uma vez atingidos, teriam tido inquestionável relevância
no quadro da visão futura pretendida para a cidade de Évora. Eram objectivos que exprimiam,
por um lado, carências da cidade existentes ao nível económico, social, infraestrutural, etc.,
que importava colmatar ou minimizar e, por outro, factores que importava dotar a cidade
para que esta pudesse realizar o objectivo geral a que se propunha. Estes objectivos traduziam
uma ambição saudável e desejável de progresso e bem-estar, mas representavam igualmente
uma ambição excessiva face ao tamanho das tarefas, meios, organização e participação que
envolviam. A realização de parte dos objectivos não estava dependente apenas da vontade
dos agentes locais, o que tornava a sua realização muito mais difícil ou mesmo não exequível.
O facto de não ter sido definido um horizontal temporal para a implementação do plano
estratégico, nem um calendário detalhado, incluindo a angariação de meios e atribuição de
tarefas, para cada objectivo específico dificultou muito, nalguns casos terá mesmo
inviabilizado, a sua realização. Para além disso, a maioria dos objectivos tinha uma natureza
genérica e qualitativa, o que tornava as tarefas de controlo e avaliação dos resultados
alcançados bastante difíceis. Uma avaliação objectiva, quantitativa, é extremamente difícil
por ausência de variáveis e critérios que permitam avaliar objectivos qualitativos, vagos e
cronologicamente indefinidos.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora28
É possível, contudo, fazer uma avaliação qualitativa por entrevista, que está sujeita às limitações
inerentes ao próprio método de avaliação. As figuras seguintes dão-nos uma imagem da percepção
que as personalidades entrevistadas têm sobre o grau de realização dos objectivos do PEE94.
Embora os entrevistados tenham estado directamente envolvidos na elaboração do PEE94, o
tempo que entretanto decorreu e o facto de parte dos entrevistados ter exercido actividades
fora da cidade de Évora foram dois factores que dificultaram a percepção mais exacta do grau
de realização dos objectivos.
Em geral, as personalidades têm uma percepção sobre o grau de realização dos objectivos e
conseguiram estabelecer diferenças entre o grau de realização dos vários objectivos. Os resultados
mostram, no entanto, uma tendência clara para as classificações intermédias de “Pouco” e
“Muito”, sendo raramente consideradas as classificações de “Nada” e “Totalmente” na escala de
avaliação considerada. Isso pode significar, no geral, uma avaliação prudente por parte dos
entrevistados por causa das limitações identificadas acima, mas revela certamente a percepção
de que nenhum dos objectivos definidos no PEE94 foi totalmente realizado. Embora haja
diferenças de percepção entre os entrevistados, a percepção geral dos entrevistados parece
apontar para um nível fraco de realização dos objectivos, nomeadamente os seguintes onde
parece haver quase unanimidade: “A3 - Promover a imagem e as potencialidades da cidade”;
“C4 - Promover a economia de Évora nos mercados internacionais”; e “D2 - Reforçar a cooperação
inter-urbana com centros vizinhos”. A questão que se coloca é: “Por que não se fez mais?”;
apontando potencialmente para problemas de governança.
Figura 4 Percepção da realização dos objectivos relativos à estratégia de intervenção
“A - Reforço dos valores de identidade e de pertença territorial”
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
29
Figura 5 Percepção da realização dos objectivos relativos à estratégia de intervenção
“B - Melhoria e valorização da qualidade ambiental e das condições de vida”
Figura 6 Percepção da realização dos objectivos relativos à estratégia de intervenção
“C - Criação de uma base económica sustentada”
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora30
Figura 7 Percepção da realização dos objectivos relativos à estratégia de intervenção
“D - Intensificação e qualificação dos processos de integração em espaços mais vastos”
Fonte: Respostas ao questionário das personalidades que tiveram relevância na elaboração do PEE94.
3.1.4 Razões que impediram uma maior concretização dos objectivos
Procurou-se determinar as razões que não permitiram uma maior concretização dos objectivos
específicos, tendo as personalidades entrevistadas identificado diversas limitações que estão
directamente relacionadas com a governança do plano estratégico e que vai ser detalhada no
ponto seguinte. É possível identificar quatro tipos de factores com relevância para a não
concretização dos objectivos:
» Factores políticos/institucionais: falta de vontade política e de empenhamento na fase de
implementação por parte das instituições que participaram na elaboração do plano;
mudança do quadro político e divergência entre as instituições.
» Factores económicos: escassez de meios, dificuldade em mobilizar recursos financeiros e
incapacidade para materializar alguns dos projectos.
» Estrutural organizacional: desagregação do Gabinete da Cidade e ausência de uma
estrutura de governança forte e com autonomia para implementar o plano estratégico,
nomeadamente os projectos que exigiam a participação e coordenação de várias entidades;
fraco comprometimento das instituições na fase de implementação.
» Excesso de ambição: objectivos demasiado ambiciosos e de difícil concretização.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
31
3.2 Relação entre os projectos estruturantes e os objectivos
O documento de trabalho que serviu de base à estruturação do PEE94 indicava um conjunto
de projectos estruturantes que se enquadravam em cada uma das quatro estratégias de
intervenção identificadas na Figura 3. Curiosamente, no documento apresentado posteriormente
para discussão pública já não aparece o termo “projectos estruturantes”, sendo antes
identificados “exemplos de acções” a promover no âmbito de cada um dos quinze objectivos
específicos. No entanto, não se tratou de uma mera alteração terminológica porque não há
coincidência das propostas apresentadas, sendo certo que a expressão “exemplos de acções”
é muito menos afirmativa e determinada do que a expressão “projectos estruturantes”. A
identificação de exemplos de acções a desenvolver em cada um dos objectivos tinha a vantagem
de fazer uma associação directa entre acções e objectivos a atingir, permitindo mais facilmente
a sua avaliação.
Apesar da pertinência e relevância quer das acções, quer dos projectos estruturantes para a
realização dos objectivos específicos do PEE94, é notório que nalguns casos os projectos já
estavam em fase adiantada de estudo (existindo até entidades responsáveis pela sua
implementação), noutros tratava-se de ideias ainda em fase preliminar de maturação. Neste
último caso, os projectos identificados não passariam de intenções que deveriam ser detalhadas
numa fase subsequente.
No documento de trabalho sobre a proposta do PEE94 reconhece-se a natureza elementar do
documento e a necessidade de um trabalho posterior de detalhe dos projectos julgados relevantes
para implementar o PEE94. Neste documento pode ler-se: “Não se pode actuar em simultâneo
sobre todos os aspectos de todos os domínios. É necessário o estabelecimento rigoroso de
objectivos, metas, prioridades e respectivas calendarizações, o que, por sua vez, implica opções
e critérios de selecção transparentes e, na medida do possível, consensuais. Só assim será possível
conciliar uma visão ambiciosa e exigente com as possibilidades efectivas existentes em cada
cidade.” O facto de não ter sido efectuado este trabalho subsequente é, porventura, a limitação
mais importante do PEE94 e que teve influência directa nos resultados obtidos.
Embora as acções e projectos estruturantes raramente especifiquem que entidades ou agentes,
públicos, privados ou em parceria entre ambos, seriam responsáveis pela sua concretização e
administração, parece claro que uma parte muito substancial das acções e projectos a desenvolver
seriam primeiramente da responsabilidade da administração local (Câmara Municipal de Évora)
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora32
ou instituições locais. Parece haver, deste modo, um défice de exigência de participação do
sector e agentes privados na implementação da estratégia para a cidade de Évora, e que
seguramente têm um papel importante a desempenhar na sustentação de um projecto desta
natureza. Obviamente, não tendo sido elaborado um plano detalhado para a implementação do
projecto, dotado de recursos e meios financeiros adequados, calendarizado e com indicação das
entidades responsáveis pela sua implementação, não é possível avaliar com segurança o contributo
dos agentes e entidades privadas.
Para além daquele facto há a registar que algumas das acções previstas pareciam corresponder
a verdadeiros objectivos por parte de alguns dos agentes com poder de decisão ao nível da
cidade.
3.3 Governança
Tendo em conta a natureza dos objectivos e dos instrumentos presentes no Plano Estratégico, a
governança do mesmo assumiria um papel crucial, não só na fase de construção do Plano mas
também durante a sua fase de implementação. De facto, sendo as normas, processos e condutas
através dos quais se articulam interesses, se gerem recursos e se exerce o poder na sociedade,
um elemento nuclear na governança, esta assenta na participação dos cidadãos, em geral, e dos
agentes decisores, em particular, no processo de tomada de decisões.
A governança assenta nos seguintes princípios (veja-se Governança Europeia: Um livro branco,
Comissão das Comunidades Europeias, Bruxelas, 2001):
» Abertura/Transparência. As instituições deverão seguir uma estratégia de comunicação
activa sobre as tarefas e as suas decisões, através de uma linguagem acessível ao grande
público e facilmente compreensível.
» Participação. A qualidade, pertinência e eficácia das políticas traçadas nos planos
dependem de uma ampla participação através de toda a cadeia política – desde a
concepção até à execução, da qual resulta uma maior confiança no resultado final e nas
instituições que produzem aquelas políticas.
» Responsabilização. É necessário definir atribuições no âmbito dos processos de execução
das medidas traçadas no(s) plano(s).
» Eficácia. As políticas deverão, naturalmente, ser eficazes e oportunas, dando resposta às
necessidades com base em objectivos claros, na avaliação do seu impacto futuro e, quando
possível, na experiência anterior.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
33
» Coerência. As políticas e as medidas inscritas no(s) plano(s) deverão ser coerentes e
perfeitamente compreensíveis por parte dos cidadãos em geral.
À partida, aqueles princípios poderão ter estado implícitos (sendo certo que mais uns do que
outros) durante a fase de construção do Plano, o mesmo não se pode afirmar, em geral, na fase
de implementação do mesmo.
3.3.1 O Gabinete da Cidade
Durante as fases de elaboração e implementação do Plano Estratégico cabia ao Gabinete da
Cidade um papel fundamental. Este órgão correspondeu a uma estrutura criada pela Câmara
Municipal de Évora composta pelas seguintes entidades:
» CME – Câmara Municipal de Évora;
» CDE – Centro Dramático de Évora;
» CCRA – Comissão de Coordenação da Região do Alentejo;
» NERE – Núcleo Empresarial da Região de Évora;
» USDE – União dos Sindicatos do Distrito de Évora;
» UE – Universidade de Évora;
tendo sido assessorado por uma empresa especializada, a GEOIDEIA, durante a fase de elaboração
do Plano Estratégico. Tal como se indica no documento “Uma Estratégia para a Cidade de Évora”
elaborado, então, pelo Gabinete da Cidade, aquele foi “o resultado das discussões havidas no
seio da Gabinete, de inúmeras contribuições escritas e orais de diversas entidades e pessoas,
algumas das quais remontam à discussão que se iniciou em 1989 sobre as perspectivas das
cidades de média dimensão (participação de Évora no Simpósio Europeu de cidades de média
dimensão promovido pela cidade alemã de Speyer).”
3.3.2 Consciência pública do PEE94
Um projecto desta natureza e desta dimensão, que necessariamente teria implicações a todos os
níveis na cidade Évora, exigiria o envolvimento e empenhamento de todos os agentes locais e
dos munícipes em geral. A existência de uma maioria de agentes e munícipes que se revêem no
Plano Estratégico é fundamental para a sua implementação com sucesso. Para isso, torna-se
fundamental que haja uma consciência pública do projecto, informada e esclarecida. A abertura
ou transparência do Plano, a qual esteve, efectivamente, presente durante a fase de construção
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora34
do mesmo, pode comprovar-se pela série de iniciativas tomadas na altura, nomeadamente os
debates públicos, nos quais se apelou à participação dos cidadãos, assim como à criação de um
Jornal do Plano Estratégico enquanto veículo privilegiado de disseminação de informação junto
dos cidadãos.
Apesar daquele esforço, a participação ou envolvimento da generalidade dos munícipes ficou,
aparentemente, aquém do esperado e desejável. A atestar este facto apresentam-se de seguida
as respostas obtidas no âmbito dos questionários aplicados à seguinte questão:
Considera que os habitantes de Évora tomaram consciência dos objectivos definidos do Plano
Estratégico de 1994 e que, directa ou indirectamente, neles se sentiram integrados?
» “A grande maioria não. As elites cientificas, culturais, economicas e politicas sim.”
» “Não. Para além dos poucos que discutiram o PE na fase de concepção e os membros do
gabinete, praticamente ninguém sabe da sua existência.”
» “Apenas uma elite mais informada.”
» “Não creio.”
» “Julgo que, apesar de tudo, muito ficou - as ideias de cidade património, cidade
universitária, cidade cultural. Pessoas e instituições integraram no seu vocabulário e em
muitos projectos estas ideias.”
» “Penso que em 94/95 a consciência de que existia uma estratégia para Évora estava
presente. É ver o sucesso que foi a Assembleia Geral das Cidades Património Mundial.
Mudanças profundas ocorridas e a não chamada para a discussão dos cidadãos e das
organizações levaram a um alheamento da mensagem renovadora que era o PE.”
» “Sim, pensando obviamente que é sempre possível fazer mais e melhor.”
» “Só uma minoria (que não se afasta dos padrões de participação cívica do país). Os
objectivos, porque cobriram um âmbito alargado, terão satisfeito a generalidade dos
participantes.”
3.3.3 Fase de elaboração do plano estratégico
No que à responsabilização diz respeito, o Gabinete da Cidade assumiu um papel fundamental
na fase de construção do Plano Estratégico e deveria ter assumido, ainda mais, um papel
chave na fase de implementação do Plano. De facto, o carácter (algo vago) dos objectivos e,
sobretudo, a complexidade, dimensão e, paradoxalmente, o fraco, ou mesmo nulo, poder de
decisão sobre alguns dos instrumentos estratégicos previstos no Plano, tornaram inoperacional
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
35
a responsabilização deste órgão pela implementação do Pano. A este propósito considere-se
o Quadro 1, o qual transcreve as respostas obtidas no âmbito do questionário entretanto
aplicado.
Quadro 1 Principais vantagens e desvantagens do “Gabinete da Cidade”
Fonte: Respostas ao questionário das personalidades que tiveram relevância na elaboração do PEE94 e dos
elementos da Comissão de Acompanhamento.
3.3.4 Fase de implementação do plano estratégico
A consideração de um modelo do tipo “Gabinete da Cidade”, enquanto estrutura de
governação condutora, tal como foi feito assentou num pressuposto (cujo realismo se pode
questionar) de que existiria um nível de cooperação e efectiva tomada de decisões por parte
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora36
dos restantes agentes (decisores) com os quais o Plano, implícita ou explicitamente, contava.
Na verdade, a ligação de um ponto de partida a uma situação de chegada, considerada
ideal, assentava na manipulação de instrumentos e na tomada de decisões que, em boa
medida, se revelavam ou revelaram totalmente exógenos aos responsáveis pela implementação
do plano.
Aquele facto resulta ser claro a partir da análise das respostas dos entrevistados sobre o modelo
“Gabinete da Cidade”, as quais se reproduzem de seguida.
Qual a razão porque se optou, para a elaboração do PEE94, pelo modelo organizacional do tipo
“Gabinete da cidade”?
» “Para envolver no processo de desenvolvimento da cidade as entidades mais
representativas. Na UE havia casos já testados nomeadamente na Bélgica e Holanda.”
» “A proposta do Gabinete da Cidade resultou das alternativas propostas pelo Guia de
Planeamento Estratégico elaborado pela rede MECINE ao mesmo tempo que estava a ser
feito o PE. A opção foi claramente política no intuito de envolver os principais agentes da
cidade.”
» “Por razões de nivelamento das principais instituições envolvidas, sem qualquer
menorização do seu estatuto participativo.”
» “Envolvimento de todos os stakeholders (em particular penso que foi uma forma de
justificar a presença de referenciais políticos importantes para o poder de então como a
união dos sindicatos ou o Cendrev.”
» “Tratava-se de uma estrutura muito institucional, mais de reflexão do que de operação;
é provável que existissem casos similares mas não me recordo.”
» “Não se conheciam experiências deste ou de outros esquemas de organização. Optou-se
por esta estrutura porque se entendeu que as 6 mais representativas organizações da
cidade podiam ser o motor de propostas a serem analisadas e, mais tarde, implementadas
pelo conjunto das organizações da cidade.”
» “Julgo que também aí fomos pioneiros. A cidade é um espaço comum, não é propriedade
do governo da cidade, logo os principais actores da cidade devem ser chamados a dar o
seu contributo para a definição da estratégia da cidade . Trata-se de uma questão de
rede e de conciliação de objectivos. O convite aos principais actores da cidade pretendia
constituir um todo entre o que é próprio do governo da cidade e aquilo que não é
próprio desse governo. O Gabinete da cidade era tido como uma plataforma de dialogo,
de concertação para a definição da estratégia da cidade. Logo este Gabinete era entendido
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
37
como a soma de seis parcerias e não como uma estrutura pirâmidal (Câmara Municipal
de Évora no topo e em escalões inferiores a outras entidades), era sim uma estrutura
horizontal. O Governo da cidade não era explicitamente o líder da plataforma, e esta
seria a forma mais razoável para que o Plano Estratégico 94 não fosse o plano da CME e
deste modo estas entidades tudo fariam para o levar à prática mobilizando os recursos
para a sua implementação. Posteriormente, outras cidade (da rede) também optaram
por um modelo semelhante.”
» “Tinha-se presente o exemplo de Barcelona e por outro lado a flexibilidade do Plano e a
sua transversalidade obrigavam a uma convergência de esforços, até porque algumas
das estratégias a definir recairiam seguramente fora do âmbito municipal.”
» “Envolvimento dos principais parceiros / forças vivas do concelho. Que eu saiba, não;
considerado um modelo inédito e muito interessante.”
Em suma, a condução de um ponto de partida (bem definido do ponto de vista do diagnóstico
efectuado) a um ponto de chegada (com horizonte temporal não explicitado), caracterizado por
um conjunto de objectivos algo vagos, não hierarquizados e não quantificados, colocou
obviamente problemas na fase de implementação do plano. Algumas das estratégias apontadas
como instrumentos não o eram, de facto, já que, por um lado, não correspondiam a variáveis de
decisão por parte da Câmara e, por outro lado, constituíam-se como objectivos de outros agentes
decisores que, pela sua natureza (institucional) foram ouvidos (e bem) durante a fase de elaboração
do plano. Deste ponto de vista, a eficácia e coerência das medidas, enquanto princípios
fundamentais de uma boa governança foram (também) postas em causa durante a fase de
implementação do Plano Estratégico.
3.4 Ilações relevantes
Como atrás se referiu, um dos objectivos fundamentais em qualquer avaliação ex-post –
neste caso, uma avaliação ex-post de um plano estratégico – é o de retirar ‘lições’ que permitam
servir de recomendações para a elaboração de planos seguintes. Deste ponto de vista, o
Plano Estratégico de Évora de 1994 pode servir os propósitos de se conseguir construir um
melhor Plano de Desenvolvimento Estratégico se este, desde logo, for passível de ser avaliado
ex-post.
Para além daquele facto, há a referir que o Plano Estratégico de Évora de 1994 terá sido
condicionado, inevitavelmente, pelo seu (importante) pioneirismo, que se revelou importante,
por um lado, no que diz respeito ao pensar a cidade a médio e longo prazo e, por outro, no que
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora38
diz respeito à complexidade das tarefas a ele associadas. Esta complexidade resultou em
dificuldades/problemas ao nível de questões como: a transposição da fase de elaboração para a
fase da implementação, a liderança do processo (recorrendo à responsabilização, envolvência,
dinamização e motivação de todos os agentes envolvidos), os quais se pretendem ver acautelados
de futuro.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
39
4. A avaliação do nível de concretização das ideias-chave do Plano
Estratégico de 1994José Belbute, Natércia Mira e Alexandre Cancela d'Abreu
Nesta secção avalia-se o PEE94 na componente "SUSTENTABILIDADE ECONÓMICA". Essa análise
será efectuada em dois momentos separados mas complementares.
Na primeira parte procede-se à análise, ao longo do período 1995-2005, da evolução dos principais
indicadores económicos relativamente ao Alentejo Central, bem como a sua posição relativa na
Região Alentejo e no País. Este exercício não visa nem permite, porém, uma avaliação dos impactes
económicos, sociais, etc. do PEE94 uma vez que não estão disponíveis dados suficientemente
rigorosos e fiáveis que permitam, com o tempo disponível, essa avaliação. O PEE94 não visava
intervir sobre a sub-região mas antes sobre a cidade de Évora e, por isso, não será apropriado
nem correcto "avaliar-lo" tendo como base dados da sub-região Alentejo Central e muito menos,
a própria região Alentejo.
Na segunda parte procura-se efectuar uma avaliação sobre o nível de concretização dos projectos
previstos no PEE94, assim como da sua coerência com os objectivos enunciados.
4.1 Dinâmica Regional de Convergência no período 1995-2005
O PEE94 constitui, inequivocamente, um avanço importante na forma de encarar e aplicar a
política de desenvolvimento local na região. Pela primeira vez, a autarquia consagra num
documento uma visão de cidade.
Com todas as suas deficiências, constrangimentos, virtualidades e boas vontades, percebe-se
que o PEE94 não foi encarado como um mero documento formal mas procurou antes alcançar
resultados. A indisponibilidade de um instrumento analítico adequado impede que se avaliem
com rigor os impactos (directos, indirectos e induzidos) económicos e sociais exclusivamente
atribuíveis ao PEE94. Todavia parece-nos útil efectuar um rápido olhar para a dinâmica regional
nos 10 anos seguintes de forma a que, ao menos, se procure compreender a evolução da região
desde 1995 e compará-la com os objectivos enunciados para o PEE94, assim com a realidade
diagnosticada na altura.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora40
O objectivo deste exercício consiste em caracterizar a evolução da sub-região “Alentejo Central”
de acordo com os “fundamentais” disponíveis e, assim, procurar identificar “movimentos de
transformação estrutural “ (nomeadamente no que diz respeito às tendências de convergência
real) que estejam a confirmar ou a contrariar o que o PEE94 já considerava como um dos principais
factores condicionadores do desenvolvimento e desencravamento da região Alentejo: a debilidade
do seu tecido económico. Essa análise será realizada com recurso a informação estatística
disponível no Eurostat (NUTS II e NUTS III) para o período 1995-2005.
Os dois gráficos seguintes comparam a posição do Alentejo Central em 1995 e em 2005, face à
média Comunitária12 e à média Nacional (figura 8):
Figura 8 Posição do pib per-capita da sub-região “Alentejo Central” no contexto Nacional e
da União Europeia (a 27 países)
PIB per-capita - 1995 (em PPC - 2000)
12 Na sua actual composição de 27 países. Os dados são comparáveis uma vez que se encontram em "unidades"de paridade de poder de compra padrão (PPS) relativamente à Europa a 27 países e centradas no ano de 2000.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
41
PIB per-capita - 2005 (em PPC - 2000)
Nota: Dados originais do Eurostat
Neles são visíveis duas realidades marcantes para a todas as sub-regiões nacionais NUT III e, em
particular, para a sub-região “Alentejo Central”, quando comparadas com a média Nacional e a
média da Europa a 27 países.
Em primeiro lugar, todas as 30 sub-regiões NUT III em que o país se encontra actualmente
subdividido registam um aumento do respectivo PIB per-capita, o que, de resto, também ocorre
relativamente à média nacional e à média da Europa a 27.
Todavia, no ano terminal (2005) apenas as sub-regiões de Lisboa, Madeira e Alentejo Litoral
conseguem atingir e ultrapassar mesmo a média da Europa a 27. Em particular, e com a excepção
do Alentejo Litoral, as restantes sub-regiões mantém a distância que registavam em 1995 face á
média nacional e, naturalmente à media da Europa a 27. Em 2005 o PIB per-capita continuava a
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora42
representar 85% da média nacional, pouco diferente, portanto dos 84% verificados 10 anos
antes. Na região Alentejo, apenas o Alentejo Litoral e o Alto Alentejo alteram de forma relevante
a sua posição face à média nacional.
Quadro 2 Percentagem do pib per-capita face à média Nacional
Fonte: Eurostat
A presença de apenas um “efeito nível” (não acompanhado por um “efeito crescimento”) no
padrão de evolução do Alentejo Central que os dois gráficos anteriores mostram de forma clara,
esconde ainda uma outra realidade que marca a evolução dos últimos 17 anos do Alentejo
Central e que urge ter presente13.
Com efeito, se é verdade que o PIB per-capita em volume nas cinco sub-regiões Alentejanas
tem crescido consistentemente no período, a verdade é que, com a excepção do Baixo
Alentejo, a velocidade a que essa evolução tem ocorrido tem sido sistematicamente cada vez
menor.
13 Muito embora os dados não sejam apresentados neste relatório, a existência de um "efeito dimensão" e aausência de um "efeito crescimento" é também confirmado quando usamos o PIB per-capita real (a preços de2000), em vez da sua da sua "correcção" pela PPS .
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
43
Gráfico 1.A Evolução do PIB per-capita em volume
Gráfico 1.B Evolução das taxas anuais de crescimento em volume
Ano base: 2000
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora44
Isto é, com a excepção do Baixo Alentejo, (que parte de um nível de PIB per-capita mais baixo
e regista um processo de aproximação à restantes sub-regiões Alentejanas) as posições relativas
entre as sub-regiões não registam alterações significativas. Por essa razão, o teste de
convergência permite concluir que não existe evidência estatística sobre a presença de -
convergência14 no interior da Região Alentejo. No período em análise, do ponto de vista da
criação de riqueza per-capita, o Alentejo Central (como de resto as restantes 4 sub-regiões
Alentejanas) manteve a posição relativa que ocupava no ano base.
Este quadro contrasta com o processo de convergência que se verificou no conjunto das 30
sub-regiões NUT III do país. Na verdade, o coeficiente de -convergência é estatisticamente
diferente de zero para todos os modelos. O quadro seguinte mostra os valores obtidos para
duas das versões estimadas e sobre os resultados queremos apenas chamar a atenção para
o facto de que se não obstante todos os modelos estimados sugerirem um processo de
-convergência absoluta das sub-regiões NUT III de Portugal, esse processo é desigual e
influenciado pelo nível de riqueza per-capita existente em cada uma das sub-regiões
consideradas. Em particular, quanto maior o nível de riqueza da sub-região, maior o efeito
-convergência e, por isso, as regiões com maior nível de riqueza per-capita tendem a convergir
mais rapidamente dos que as regiões mais frágeis.
Em resumo, no que à sub-região Alentejo Central diz respeito, podemos afirmar que não foi
possível encontrar evidência estatística significativa de um processo de convergência (de
características - absoluta) com as restantes sub-regiões alentejanas e os dados parecem sugerir
que também não há evidência suficientemente forte que permita concluir sobre uma trajectória
de convergência da sub-região Alentejo Central quando em contexto com as restantes 29 sub-
regiões NUT III do país.
14 Um processo de -convergência absoluta ocorre quando as economias envolvidas tendem a convergir para omesmo nível de pib per-capita e fazem-no a taxas tanto mais altas quanto mais distantes estão desse "estadoestacionário". Este processo de convergência é particularmente observável em sub-regiões nacionais.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
45
Quadro 3 Estimativas de efeitos-aleatórios (GLS) usando 300 observações
incluídas 30 unidades de painel, para um período temporal de 10 anos
Notas:
(1) O Sinal negativo da variável ln(pibi,t-1) sugere a existência de um processo de “ -convergência
absoluta”. Naturalmente que um sinal positivo no parâmetro desta variável é indiciador da
existência de uma trajectória de “divergência”. O processo de “convergência condicional” não
foi analisado neste trabalho.
(2) Variável Dummy para a proporção do nível de pib per-capita da sub-região i face à média dos
países da União Europeia a 27, em “unidades de pps” para os anos de 1995 (DEU95) e 2005
(DEU05). D = 1 se o quociente for inferior a 75% da média europeia e D = 0 caso contrário
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora46
4.2 Performance e Eficiência Económica
Neste ponto analisa-se a evolução da performance e eficiência no uso dos factores produtivos
tradicionais com o recurso ao Valor Acrescentado Bruto (VAB) e a produtividade do trabalho.
A sub-região Alentejo Central contribui com cerca de 20% para o VAB da Região Alentejo e,
posição esta que se mantém praticamente inalterada entre 1995 e 2005 (20% em 2005 que
comparam com os 21% em 1995)15.
Gráfico 2 Contribuição das sub-regiões NUT III para o VAB da Região Alentejo
Fonte: Elaboração própria, dados Eurostat
15 A inclusão em 2001 da Lezíria do Tejo na NUT II "Região Alentejo" alterou a posição relativa da contribuição doAlentejo Central para o VAB regional. Importa ainda referir que o Decreto-Lei n.º 244/2002 de 5 de Novembro,estabeleceu um novo ordenamento do território nacional para efeitos estatísticos, com atribuição ao Alentejode cinco NUTS de nível III: Alto Alentejo, Alentejo Litoral, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Lezíria do Tejo.Assim, a informação actualmente disponível no Eurostat se reporta à nova classificação, independentementede ser posterior ou não a 2001.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
47
Não obstante, a contribuição da sub-região para o VAB nacional não é muito significativa e não
se alterou de forma assinalável entre 1995 e 2005 (de 1,42 para 1, 37%)16.
No que diz respeito à produtividade do trabalho17 (gráfico 3) podemos assinalar um aumento
para todas as sub-regiões, acompanhando assim a tendência do País, sendo todavia mais notária
a evolução do Alentejo Litoral. Com valores muito semelhantes aos do País, em particular no
último ano, o Alentejo Central passou de 18.202 euros por trabalhador em 1995, para 20.585
em 2005, o que significa um aumento de 13,1% no período (a uma taxa média anual de 1,23%).
Gráfico 3 Produtividade do Trabalho (Euros por Trabalhador)
Fonte: Elaboração própria, dados Eurostat
Em termos agregados, o Alentejo tem uma produtividade média acima do valor nacional mas a
sub-Região Alentejo Central regista um VAB por empregado ligeiramente inferior ao que foi
gerado pelo País (índice 96 na sub-região para um índice de 100 em Portugal). Do ponto de vista
sectorial, as dinâmicas regionais foram, naturalmente diferentes e no que diz respeito à sub-
16 Da mesma forma, o VAB da região Alentejo representa apenas 6,7% do VAB Nacional nos dois anos extremosdo período em estudo.
17 Calculada pelo rácio entre o VAB (a preços constantes de 2000) e o total do Emprego.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora48
região Alentejo Central, é notória a melhor posição relativa que ocupa quer no sector agrícola
quer também nos serviços (24.146 euros por trabalhador).
Gráfico 4 Produtividade do Trabalho por sectores (Portugal = 100))
Fonte: Elaboração própria, dados Eurostat
De destacar a elevada produtividade do Sector II na Região Alentejo, fruto da boa performance
do Alentejo Litoral (37.250 euros por trabalhador, contra 20.585 do Alentejo Central, o que
traduz a nível da Indústria, uma menor performance relativa desta última sub-região). Com
grande parte da sua superfície afecta ao sector agrícola é natural que o este sector evidencie na
Região Alentejo um peso relativo superior àquele que tem no VAB nacional. Apesar disso, a
dinâmica de crescimento do sector na Região foi negativa (-36,59%), e mais ainda na sub-região
Alentejo Central (-47,22%).
Facto interessante foi a fraca dinâmica evidenciada pelo sector industrial que no período registou
um crescimento do VAB de apenas 3,5% (e que compara com os 10% a nível nacional e os 35,7%
na região Alentejo). Inversamente, o VAB do terciário cresce no período, cerca de 50%, muito
acima da média nacional.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
49
Quadro 4 Taxa de crescimento real do VAB sectorial no período (1995 – 2005)
Fonte: Elaboração própria, dados Eurostat
4.3 População Economicamente Activa e Dinâmica de Emprego
Segundo os dados disponíveis, em 1999 apenas 7,1% da população activa da região Alentejo
possuía uma formação de nível superior, percentagem essa que em 2005 aumentou para
10,3%. Isto denota um baixo nível para o capital humano quando comparado com o País
(cujo indicador atingia o valor de 13% em 2005) e, sobretudo, com a média da União Europeia,
então com 25 membros e onde 28% da população possuía qualificação superior. O reduzido
nível do capital humano na região condiciona, naturalmente, a sua produtividade e
competitividade, mas tem também reflexos na capacidade regional de criação de riqueza não
apenas pelos efeitos que exerce enquanto “facilitador” do processo de inovação tecnológica,
com ainda no incremento da capacidade de adaptação a novas tecnologias e dinâmicas
económico-sociais.
O perfil sectorial do emprego não se alterou de forma significava no período em estudo. Em
2005 62,76% do emprego total na sub-região o Alentejo Central encontrava-se no sector terciário,
a que não é estranho o papel desempenhado pela cidade de Évora enquanto capital administrativa
regional e pólo regional de comércio e serviços. O sector industrial é ainda responsável por
absorver cerca de 25% do emprego (em 1995 e em 2005) enquanto o sector primário reflecte a
tendência nacional de redução do número de empregados (12% quando em 1995 o valor deste
indicador ascendia a 18,74%).
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora50
Quadro 4 População activa (com 15 anos ou mais), segundo o nível de educação
Fonte: Elaboração própria, dados Eurostat
Gráfico 5 Repartição sectorial do Emprego em 2005 (%)
Fonte: Elaboração própria, com base em dados Eurostat
Em resumo, do ponto de vista do emprego, a sub-região, que tem vindo a assistir a uma
redução do emprego no sector agrícola e ao aumento da idade média desses activos, da
substituição de culturas (essencialmente menos intensivas em mão-de-obra). Simultaneamente,
regista-se uma relativa estabilidade na indústria e um crescente dinamismo das actividades
terciárias.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
51
Os Custos Laborais Horários por Trabalhador (CLHT) são geralmente usados como um indicador
importante de competitividade geral mas o Eurostat apenas disponibiliza informação para um
ano 2004 e com uma desagregação por NUTS II. Esse facto torna inviável uma análise dinâmica
mas, em todo o caso permite comparações com a média nacional.
Os custos laborais horários por trabalhador (excluindo aprendizes), em 2004 e em unidades
produtivas com mais de 10 trabalhadores, estavam regra geral no Alentejo, abaixo dos custos
laborais do País. Excepção feita dentro dos ramos da NACE para três deles: Minas e exploração
mineira, Transformadora e Electricidade, Gás e Água. Para um índice de 100 no País, nestes
ramos de actividade, os índices eram respectivamente de 120, 123 e 138.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é, também a nível regional, responsável pela capacidade
de criação de bens futuros e, por isso, determinante para o desenvolvimento económico dos
territórios. Para se ter uma ideia, daquela que é uma condicionante do desenvolvimento económico
da Região Alentejo (mais uma vez apenas existe informação disponível ao nível de NUTS II), foi
calculado para a Região, o peso no VAB das despesas regionais em FBCF.
Quadro 5 Proporção da FBCF no VAB regional (%)
Fonte: Elaboração própria, com base em dados Eurostat
Podemos ver no Quadro 5, o reduzido peso da FBCF da Região Alentejo no VAB, o que por si só
traduz uma reduzida capacidade de investimento. Apesar disso, a FBCF cresceu em volume na
Região Alentejo, mais do que em qualquer uma outra (132,7%), de 1995 para 2004, enquanto
no País esse crescimento foi de apenas 31,9%.
Do ponto de vista das actividades económicas, o turismo foi, sem sombra de dúvida, uma
actividade altamente promissora, não só para a Região Alentejo em geral mas em particular
para a sub-região do Alentejo Central, onde a riqueza patrimonial, histórica e cultural, constituem
entre outros, atractivos suficientes.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora52
Entre 1995 e 2005, o Alentejo Central aumentou de forma significativa a capacidade de
alojamento. Na verdade, o número de estabelecimentos hoteleiros cresceu no Alentejo Central,
cerca de 35%, (a uma média anual de 2,99%), que se traduziu num acréscimo de 55% da sua
capacidade de alojamento no período, ultrapassando largamente aquilo que se verificou a nível
nacional (que regista uma taxa média anual de 2,57%).
Quadro 6 Hotéis e estabelecimento similares
Fonte: Elaboração própria, com base em dados Eurostat
Actividade com fortes potencialidades, o turismo tem vindo a afirmar-se como bastante relevante
nas actividades económicas da sub-região, constituindo, não apenas um elemento chave que
deve continuar a ser explorado, mas também um desafio ao desenvolvimento económico do
Alentejo Central.
4.4 As ideias Chave do PEE94
Como se referiu noutro local deste relatório, o PEE94 é um instrumento pioneiro no contexto
nacional do processo de planeamento estratégico regional e local. Nesse sentido ele reflecte por
um lado, a ausência de experiência neste domínio à época e, por outro, uma vontade genuína e
generosa “de fazer” bem e que permitiu suplantar os obstáculos existentes então.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
53
O PEE94 parece ter sido inspirado pela participação do município de Évora nos trabalhos realizados
no âmbito do Simpósio Europeu de cidades de média dimensão promovido em 1989 pela cidade
alemã de Speyer.
Na verdade, o enfoque é colocado nas cidades de média dimensão, então “entidades emergentes”
onde a aposta na qualidade e na inovação lhes assegurariam a condição de alternativa
(económica e social) viável às “grandes metrópoles”, cujo “modelo de vida” era diariamente
posto em causa e cujas vantagens (capacidade em atrair pessoas e actividades), estariam a ser
contrariadas pelos enormes inconvenientes (ou “custos; ambientais, intensidade de tráfego,
insegurança, etc.) que geravam.
Por outro lado, a própria “agenda política” Europeia criava também um “momentum” propício
para os esforços de planeamento estratégico resultante da criação do Mercado Único em 1993,
como ainda devido á crescente importância atribuída ao conceito da Europa das Cidades e das
Regiões, como forma de contrariar a tendência hegemónica de alguns estados-membros da
então Comunidade, e assegurar uma maior redistribuição do poder político ao nível regional e
mesmo nacional. À semelhança das empresas, também as regiões e as cidades poderiam e
deveriam usar o conhecimento, as novas tecnologias e a “qualidade” como factores de
competitividade interna e externa capazes, por isso, de atrair pessoas e empresas aos seus
“territórios”.
Finalmente, o quadro de evolução previsível da realidade socioeconómica da região afectava
significativamente a posição estratégica da cidade lançando dúvidas sobre o seu desenvolvimento
e, por isso, gerava uma fonte adicional de motivação e justificação do próprio PED. Por um lado,
a “…nova ponte sobre o Tejo, a transferência do aeroporto internacional de Lisboa, a Auto-
Estrada Lisboa-Madrid …”18 reduziam a “distância-tempo” entre Évora e Lisboa Na verdade,
suscitava até receios sobre a indesejável sub-urbanização da cidade de Évora. Por outro lado, “…
a abolição de fronteiras e a proximidade de cidades vizinhas espanholas mais desenvolvidas e
inseridas em espaços regionais mais dinâmicos …”19 dava origem a receios sobre os efeitos
adversos que poderia provocar sobre a capacidade de afirmação da cidade no contexto regional,
nacional e mesmo internacional.
18 PEE94, página 9.19 Idem, página 9.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora54
Ora, é este o quadro geral de motivações que foi usado para justificar a necessidade de estabelecer
e definir uma estratégia para o futuro da cidade, com o objectivo de permitir “… lançar as bases
do seu desenvolvimento sustentado”. Assim, o objectivo estratégico do Plano Estratégico da
Cidade de Évora - 1994 consiste em promover o Desenvolvimento Sustentado da cidade.
O PEE94 apresenta uma ESTRATÉGIA de DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO para a CIDADE de
ÉVORA, cuja eficácia prática depende da capacidade que evidenciar em agir sobre os seguintes
quatro domínios ou dimensões (e que constituem as suas Condições de Desenvolvimento) da
realidade de Évora e que, de acordo com o próprio PEE94, constituem o quadro referencial
adequado para a sua (posterior) análise e avaliação20:
a) a sua imagem identitária,
b) a qualidade urbana global,
c) a sustentação económica e, finalmente
d) a integração territorial.
Entre estes domínios existe um conjunto de interacções, nem sempre positivas e por vezes
conflituantes ou mesmo contraditórias, cuja coerência seria necessário assegurar e promover,
obrigando uma atenção especial na selecção criteriosa das intervenções. É, de resto, por esta
razão que o PEE94 faz depender o seu sucesso da capacidade da entidade gestora em “…mobilizar
agentes e beneficiários, da cidade e do exterior.”21
É por essa razão que o PEE94 aponta 6 Ideias Mobilizadoras para a cidade, que articulam cada
um dos 4 domínios. Cada um dos quatro domínios são desdobrados em 15 objectivos
específicos, todos eles procurando concretizar o objectivo geral que consiste na criação de um
“…ambiente de cultura e de inovação capaz de transformar Évora numa cidade
socialmente justa, organicamente integrada na região e com projecção
internacional”22.
O quadro seguinte sintetiza as ideias centrais do PEE94.
20 Idem, página 32.21 Idem, página 40. O documento é, na verdade, incisivo nesta ideia chegando mesmo a afirmar que "…o papel
primordial da autarquia não é tanto "fazer" mas antes "animar". Idem página 15.22 Idem, páginas 5 e 41.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
55
Quadro 7 As ideias gerais do Plano de Desenvolvimento da Cidade de Évora
Para cada uma das 4 dimensões de intervenção o PEE94 apresenta um conjunto de projectos
que considera “estruturantes”, mas não apresenta, explicitamente, qualquer associação desses
projectos aos objectivos específicos de cada Dimensão.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora56
Quadro 8 Projectos estruturantes do PEE94
4.5 Avaliação do nível de concretização das ideias-chave do PEE94
Neste ponto fazemos a avaliação do nível de concretização das ideias-chave do PEE94. A
inexistência de um instrumento adequado (como uma matriz de Input-Output regional) e mesmo
de dados estatísticos de base regional não possibilitam uma avaliação de impactos (económicos,
sociais, culturais, etc). Por outro lado, este instrumento de planeamento não apresenta, com
rigor, um cenário de partida claro e é, como já se referiu anteriormente, vago na quantificação
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
57
dos objectivos e na identificação da sua relação com os projectos que considerou como
estruturantes.
Dado este quadro analítico pouco favorável a análises mais rigorosas e robustas de avaliação, e
de forma a minimizar o risco de prevalência de aspectos subjectivos, optámos por classificar os
projectos estruturantes em projectos que se destinavam à criação de Capital Físico (CF) e projectos
cuja concretização se destinou à criação do que designámos de Capital Social (CS). Nos casos em
que ambas as naturezas estão presentes, os projectos são “classificados” como F/S,
independentemente de qual dessas naturezas parece prevalecer.
A segunda opção metodológica de avaliação associa a cada projecto as entidades/instituições
de quem depende a sua realização e/ou a promoção. Esta opção pareceu-nos relevante dada,
por um lado, a ênfase que o PEE94 deliberadamente colocou na “…conjugação e congregação
de vontades e esforços…” com o objectivo primordial de promover “…o desenvolvimento
integrado e sustentado da cidade…” e a que já havíamos feito referência anteriormente e, por
outro, na circunstância, paradoxal, de que o documento nem sempre é explicito na identificação
dos potenciais promotores.
Esse facto foi contornado pela equipa avaliadora que realizou um exercício de identificação das
entidades com responsabilidade directa para a realização dos projecto, recorrendo os conteúdos
das respectivas “fichas”. Estes casos estão identificados no quadro resumo de avaliação com o
termo “não explícito”, à falta de melhor alternativa para os diferenciar das situações em que o
PEE94 é preciso.
Finalmente, confrontámos as acções previstas nos projectos com as realizações ocorridas até ao
ano de 2008. Este ano terminal surge na medida em que, como já referimos noutro local, o
PEE94 não estabelece um horizonte temporal para a sua vigência, pelo que a equipa decidiu que
este terminava no momento em que o actual processo de planeamento estratégico se iniciou.
Os projectos e, como teremos oportunidade de verificar, as dimensões estratégicas são
“classificadas” em 3 níveis tendo em consideração os termos expressos em cada “ficha de Projecto”
a que tivemos acesso: Totalmente concretizado, Parcialmente concretizado e, finalmente, Muito
fraca ou Nula concretização. Cada uma destas “classificações” surge no quadro com um símbolo
apropriado para mais fácil leitura.
O quadro seguinte sumaria o grau de realização de cada um dos Projectos Estruturantes.
Quadro 9 Nível de Realização dos projectos Estruturantes
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora58
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
59
Por outro lado, os dados disponíveis sugerem ainda que não apenas a natureza dos projectos
(criação de capital social, físico ou mista) como também a imprecisão quanto aos seus potenciais
promotores/realizadores, podem ser factores que terão afectado o nível de concretização dos
projectos e, consequentemente, das próprias ideias chave do PEE94.
Na verdade, apenas 8% dos projectos foram considerados como tendo sido totalmente
concretizados, e destes, 2/3 tem uma natureza bivalente (contribuem para a criação quer de
capital social quer de capital físico). Todos eles têm em comum o facto do promotor estar
claramente identificado.
De realçar que apenas projectos com indicação clara dos promotores/realizadores, foram
integralmente concretizados. De referir que 71% de todos os projectos estruturantes não têm
uma indicação explícita dos potenciais promotores e nenhum deles foi considerado integralmente
concretizado. Os quadros seguintes dão uma ideia da relação entre estes factores e o nível de
concretização dos projectos.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora60
A avaliação termina com um exercício de correspondência entre os objectivos estabelecidos
para cada uma das 4 dimensões estratégicas e os projectos estruturantes escolhidos. Isso
permitir-nos-á compreender eventuais sobre-determinações (ou sub-determinações) entre estes
dois níveis do processo de planeamento que poderão ter justificado sucessos ou insucessos. É
essencialmente uma dimensão de “governance” que procuramos introduzir na avaliação que
estamos a efectuar.
As ligações a “cheio” mostram as ligações entre objectivos e projectos que nos pareceram ser
“directas” isto é, os projectos permitem alcançar objectivos em questão. A tracejado, mostramos
as relações indirectas (ou mesmo induzidas) isto é, os projectos permitem também a realização
de outros objectivos que não os seus objectivos primários ou principais nomeadamente através
de relações mais directas entre projectos estruturantes ligados a outro subjectivos.
A distinção é apenas de grau/intensidade do contributo de cada projecto para a realização do
objectivo/estratégia. Naturalmente que na ausência destas relações no próprio PEE94, este
exercício depende da apreciação da equipa e, nessa medida, está marcado por certo nível
subjectivo que não deve ser ignorado. Apesar disso, pensamos ser útil apresentá-lo.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
61
O objectivo deste exercício consiste em caracterizar a evolução da sub-região "Alentejo Central"
de acordo com os "fundamentais" disponíveis e, assim, procurar identificar "movimentos de
transformação estrutural " (nomeadamente no que diz respeito às tendências de convergência
real) que estejam a confirmar ou a contrariar o que o PEE94 já considerava como um dos principais
factores condicionadores do desenvolvimento e desencravamento da região Alentejo: a debilidade
do seu tecido económico. Essa análise será realizada com recurso a informação estatística
disponível no Eurostat (NUTS II e NUTS III) para o período 1995-2005.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
65
5. Conclusão
A avaliação de qualquer plano, acção ou intervenção deverá sempre procurar incorporar a
objectividade, mesmo que não existam elementos suficientes para se usarem instrumentos de
validação suficientemente robustos.
Por outro lado, para se ter uma percepção real do sucesso, mérito e aspectos menos positivos,
devemos procurar sempre contextualizar a avaliação, dentro do quadro de referência do
desenvolvimento do plano, procurando compreender as causas das opções, para se ter uma
leitura mais consentânea dos resultados e dos efeitos do plano.
No relatório procurou-se sempre ter uma perspectiva objectiva, apesar das dificuldades inerentes
à inexistência clara de elementos de objectividade que é vulgarmente exigida a plano de
desenvolvimento estratégicos. Independentemente desse facto, existiu o esforço de definir critérios
de avaliação que possam ser facilmente compreendidos e validados pela Comissão de
Acompanhamento, por um lado, e que possam avaliação de forma objectiva o PEE94.
Outro aspectos de destaque foi o esforço tido em auscultar os Actores, os agentes do PEE94
que contribuíram e participaram na construção do Plano, para se procurar compreender o
Como e o Porquê das opções tomadas e como avaliam, esses mesmos actores, os resultados
alcançados.
Finalmente, salientamos alguns tópicos que julgamos adequados e pertinentes para se retirarem
as ilações mais relevantes e que sirvam de “aprendizagem organizacional” para o novo Plano de
Desenvolvimento Estratégico de Évora.
Temos assim, que os factores críticos de sucesso do plano deverão ser: a definição de um horizonte
temporal bem preciso; a definição clara da liderança do processo e a afectação de
responsabilidades, recursos e estrutura que permitam a realização do plano; a transparência e
abertura à participação, com regras e prazos de discussão bem delimitados, para melhor se
interiorizar o plano; e a identificação dos indicadores de parametrização dos objectivos, bem
como a fixação de metas e prazos de realização das acções.
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora66
Súmula das principais conclusões que se retiram com este relatório:
1. Compreender a noção percepcionada e desejada de cidade é determinante para se
construir um plano de desenvolvimento estratégico para essa mesma cidade e espaço
do território.
2. O território gira em torno de alguns conceitos que advêm do seu legado patrimonial
em termos de edificação, cultura e posicionamento geo-estratégico.
3. A autarquia eborense tem demonstrado, ao longo dos tempos, um pioneirismo
importante em torno do planeamento e ordenamento do território que merece
destaque e merece ser potenciado e divulgado.
4. No Plano Estratégico da Cidade de Évora de 1994 (PEE94) não ficou explicitado o
horizonte temporal de implementação do plano, nem uma calendarização da
implementação dos projectos estruturantes lá identificados. A inexistência de um
plano de implementação é, porventura, a limitação mais importante do PEE94 e que
teve influência directa nos resultados obtidos.
5. Os objectivos específicos do PEE94 traduziam uma ambição saudável e desejável de
progresso e bem-estar para Évora, mas representavam igualmente uma ambição
excessiva face ao tamanho das tarefas, meios, organização e participação que
envolviam. A realização de parte dos objectivos não estava dependente apenas da
vontade dos agentes locais, o que tornava a sua realização muito mais difícil ou
mesmo não exequível. É possível identificar quatro tipos de factores que impediram
uma maior concretização dos objectivos: factores político/institucionais; factores
económicos; estrutura organizacional; excesso de ambição.
6. Tendo em conta a natureza dos objectivos e dos instrumentos presentes no Plano
Estratégico, a governança do mesmo assumiria um papel crucial, não só na fase de
construção do Plano mas também durante a sua fase de implementação. Os princípios
de uma boa governança são: Abertura/Transparência, Participação, Responsabilização,
Eficácia, e a Coerência.
7. O PEE94 revelou-se razoavelmente transparente, com um grau de participação
aquém do desejável/desejado, tendo apresentado evidentes problemas de
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
67
responsabilização, dos quais resultou alguma incoerência e, sobretudo, ineficácia
das medidas nele previstas.
8. Não existe evidência estatística suficientemente robusta que permita aceitar a
hipótese de que a sub-região Alentejo Central tenha registado um processo de
convergência real nos 10 anos seguintes ao PEE94.
9. Do ponto de vista do crescimento económico, os dados sugerem a existência de
um “efeito nível” (aumento do PIB per-capita) mas não um “efeito crescimento”
(a taxa média de crescimento deste agregado não aumentou no período em
análise).
10. Do ponto de vista da criação de riqueza, a sub-região, não altera significativamente
a sua posição quer no contexto regional quer nacional, perdendo posição relativa
para a emergente sub-região “Alentejo Litoral”.
11. Sectorialmente, apenas o sector do turismo registou alguma dinâmica, a que não é
certamente estranho o esforço desenvolvido pela autarquia para potenciar
(conservando, melhorando e valorando) o valioso património (construído, cultural e
natural) existente.
12. O PEE94 é um avanço assinalável no processo de planeamento estratégico. É, todavia,
ainda marcado por debilidades que acabarão por marcar a sua eficácia e que, por
seu turno, dificultam a sua avaliação ex-post. Em particular:
a) Identifica objectivos mas não os quantifica;
b) não identifica claramente as entidades promotoras e/ou responsáveis (ainda que
potencialmente) pela concretização dos projectos;
c) Assume, de resto, que o sucesso da estratégia depende da “”…conjugação e
congregação de vontades e esforços…” e, com isso, poucas entidades se sentirão
“comprometidas” com o sucesso do projecto;
d) As relações estabelecidas pela equipa entre os diversos objectivos e os projectos
estruturantes parecem sugerir um desequilíbrio que não favorece a concretização
das ideias chave do PEE94. Nuns casos há claramente projectos a menos para os
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora68
objectivos (o que por si só não é problemático23), outros ocorre o contrário (veja-
se o caso da dimensão/estratégia B - QUALIDADE URBANA GLOBAL) e, finalmente,
verifica-se que há objectivos para cuja concretização não se vislumbra, claramente,
qualquer projecto;
e) Apenas projectos com indicação clara dos promotores/realizadores, foram
integralmente concretizados;
f) 71% de todos os projecto estruturantes não têm uma indicação explícita dos
potenciais promotores e nenhum deles foi considerado integralmente
concretizado.
23 Com efeito, um único objectivo pode ser concretizado com um único projecto e um projecto pode contribuirpara a realização de vários objectivos.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
69
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Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
71
Anexos
ANEXO 1
ACTORES E AGENTES INQUIRIDOS
Dr. Abílio Fernandes (na altura Presidente da Câmara Municipal de Évora)
Dr. José Emílio Guerreiro (Câmara Municiapal de Évora, um dos elementos da CMÉvora que
mais directamente participou no Gabinete da Cidade inclusivamente com funções de
coordenação )
Dra. Carmem Almeida (Câmara Municiapal de Évora, um dos elementos da CMÉvora que
mais directamente participou no Gabinete da Cidade )
Dra. Manuela Oliveira (Câmara Municiapal de Évora, um dos elementos da CMÉvora que
mais directamente participou no Gabinete da Cidade)
Professor Doutor Santos Junior (na altura Reitor da Universidade de Évora )
Professor Doutor António Covas (na altura docente e representante da Universidade Évora
no Gabinete da Cidade)
Professor Doutor Carlos Zorrinho (na altura docente e representante da Universidade de
Évora no Gabinete da Cidade)
Dr. Carmelo Aires (na altura Presidente da CCDRA )
Arqta. Margarida Cancela d’Abreu (na altura representante da CCRA no Gabinete da Cidade)
Dra. Conceição Barradas (na altura representante da CCRA no Gabinete da Cidade)
Dr. Luís Cavaco (na altura em representação da Associação de Municípios)
Sr. José Russo (na altura em representação do CENDREV)
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora72
Dr. Mário Barradas (na altura em representação do CENDREV)
Sr. José Espanhol (na altura Presidente do NERE)
Dr. Joaquim Aleixo (na altura em representação do NERE)
Dr. José Figueira (na altura em representação da União de Sindicatos do Distrito de Évora)
Arqto. Filipe Marchand (na altura como consultor)
Arqto. Jorge Silva (na altura como consultor)
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
73
ANEXO 2
CITAÇÕES-ANTOLOGIA
I. Plano Director Municipal. Estratégia, objectivos e políticas do plano concelhio, 1978
1.
“Objectivos gerais do plano: (…) 4. Proteger os valores históricos, culturais e ambientais do
concelho”.
2.
“Estratégias do plano: (…) 4. Reabilitação do centro histórico de Évora através da sua
animação sócio-cultural e da recuperação do parque imobiliário degradado. 5.
Responsabilização da Administração Central pela conservação do património histórico,
cultural e ambiental do concelho”
3.
“Turismo. a) preservar e valorizar as áreas de interesse histórico, urbanístico e paisagístico,
nomeadamente através da valorização urbanística do centro histórico (cidade intra-muros)
e da sua relação com a paisagem envolvente; da valorização dos aglomerados rurais de
maior valor arquitectónico e cultural, da preservação de elementos de enquadramento
paisagístico e dos pontos de vista de especial interesse. b) apoiar através dos serviços
competentes a dinamização deste sector, reivindicando financiamentos para a instalação
de novas unidades ou ampliação das existentes, muito particularmente aquelas que
recuperam imóveis de interesse ou zonas degradadas. c) proporcionar a utilização de edifícios
e zonas de especial interesse arquitectónico e paisagístico para uso colectivo e turístico.”
4.
“c) Recuperação e conservação de edifícios pela Câmara em programas de intervenção
directa.
- recuperação de parte ou totalidade de quarteirões degradados que obriguem a profundas
transformações dos imóveis e eventualmente a um reparcelamento dos lotes.
- aquisição dos imóveis pela Câmara.
- realização de projectos e obras pela Câmara.
d) Recuperação de edifícios por entidades públicas ou privadas
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora74
- recuperação de imóveis destinando-se ao alojamento de estudantes, professores ou
funcionários, com possibilidade de se recorrer a formas mistas de associação da Câmara
com essas entidades, e procurando articular programas para alojamento de estudantes
com o Instituto Universitário de Évora.
e) Demolição e reconstrução de imóveis por particulares
- admitindo-se que em áreas localizadas seria permitida a demolição de imóveis com
vista à sua reconstrução, parece-nos que tal prática não encontra incentivos suficientes a
menos que fosse permitido um substancial aumento da área edificável o que se afigura,
de uma forma geral, condicionada pela estrutura antiga da cidade.”
5.
“Animação do Centro Histórico. Com o objectivo de animar o Centro Histórico parece possível
desencadear algumas medidas nos seguintes domínios:
- localização de equipamentos novos ou a renovar em locais estratégicos: creches,
infantários, recreios para jovens, cinemas, bibliotecas, galerias de exposição, centro
cultural”
6.
“Valorização e Defesa do Património Arquitectónico:
- classificação de edifícios de acordo com as propostas do Plano Director;
- dinamização da Comissão Municipal do Património;
- divulgação pública dos edifícios e conjuntos de interesse histórico e arquitectónico;
- constituição dum gabinete técnico para apoio às obras de restauro e conservação e às
obras de adaptação para instalação de comércio;
- instituição de prémios e incentivos a um correcto restauro e conservação.
II. Plano Estratégico de Desenvolvimento da Cidade de Évora (1994)
1.
“O planeamento estratégico das cidades não corresponde apenas a uma postura defensiva,
de mero ajustamento a um mundo que evolui velozmente em sentidos com elevado grau
de indeterminação. Pelo contrário, ele reflecte uma visão ofensiva, qualitativamente
ambiciosa, que permita identificar e contratualizar um conjunto coerente de acções que
contribuam para a requalificação da base económica das cidades, respeitando - e valorizando
- as suas potencialidades sócio-culturais, ambientais e patrimoniais.”
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
75
2.
“O Património construído de Évora foi alvo, ao longo do Séc. XX, de atenções especiais por
parte de alguns intelectuais, Associações e Instituições, o que permitiu reivindicar para a
cidade um estatuto único no País.”
3.
“Estes valores patrimoniais são hoje uma das bases das perspectivas de criação de riqueza,
não só no campo económico, como nas áreas culturais, humanísticas e sociais.”
4.
“A nível cultural, o fenómeno mais importante foi a instalação do Centro Cultural de Évora
no Teatro Garcia de Resende, primeiro projecto a nível nacional de descentralização teatral,
que se traduziu na reanimação daquele edifício e na revitalização da vida cultural eborense.”
5.
“Em 1986, a classificação pela UNESCO de Évora como Património da Humanidade assinalou
uma segunda etapa da vida da cidade que se caracterizou por um forte crescimento do
afluxo turístico, o qual por sua vez se traduziu pela revivificação da vida económica da
cidade, sobretudo na restauração, comércio e outros serviços e na necessidade de construção
de novos hotéis.”
6.
“Outras alterações qualitativas marcaram a cidade nesta época:
- o aparecimento de novos agentes culturais e desportivos e a reanimação de outros
(Academia de Música Eborense, Coral Évora, Eborae Música, Cantares de Évora....);
- o acentuar do orgulho de “ser eborense”, que se traduziu, entre outros aspectos, na
recuperação de património, para onde começaram a ser canalizados investimentos
privados.”
7.
“Alguns destes factos, aliados à classificação da cidade como Património da Humanidade e
à projecção crescente da Universidade, contribuíram para o reconhecimento e abertura de
Évora ao exterior, sobretudo no espaço europeu.”
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora76
8.
“Os Fundos Comunitários permitiram investir num conjunto de grandes equipamentos e
infraestruturas estruturantes do desenvolvimento da cidade:
- a recuperação de grandes edifícios no Centro Histórico - Teatro Garcia de Resende,
edifício da Rua de Burgos, Convento dos Remédios, antigo Colégio Nuno Álvares.”
9.
“Em termos culturais, é também possível detectar algumas mudanças, que se traduziram
essencialmente nos seguintes aspectos:
- Criação do projecto CENDREV que veio reanimar a produção teatral, a escola de formação
de actores e a promoção de grandes manifestações culturais, como o caso da Bienal de
Marionetas;
- Incremento da produção artística, com o aparecimento de alguns valores locais;
- Aumento do número de agentes culturais, acompanhado, em alguns casos de alterações
qualitativas das respectivas intervenções;
- Afirmação do património arqueológico como importante factor de valorização da cidade;
- Instalação de Delegações dos principais órgãos de comunicação social em Évora,
assegurando uma maior presença mediática da cidade;
- Abertura de novos cursos da Universidade e a criação de mestrados e pós-graduações;
- Criação de uma Escola Superior de Música e projecto de criação de uma Orquestra
regional;
- Criação do Centro UNESCO;
- Como corolário de toda esta evolução refira-se ainda a abertura da Delegação Regional
da SEC, confirmando o dinamismo da cidade.”
10.
“PONTOS FORTES
- Cidade classificada como Património da Humanidade;
- Existência de Património Histórico e Cultural bem conservado e intensa vida cultural.”
11.
“Através de um levantamento não exaustivo junto da Câmara Municipal, foi possível apurar
a existência de 68 agentes que, tendo a sua actividade centrada na cidade de Évora mantêm
uma actividade regular.”
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
77
12.
“Entre as 39 colectividades de cultura e recreio, sobressaem como vertentes importantes
nas preocupações que as norteiam, a música, o convívio, a defesa de interessas, o teatro
e a ecologia. De referir ainda que boa parte destas associações assumem um carácter
bastante específico, quer a nível dos temas (22), quer no que diz respeito ao espaço que
privilegiam (4).”
13.
“A afirmação de Évora no espaço nacional efectuou-se com base em duas funções
fundamentais - a de capital administrativa e a de sede económica de uma região agrícola -
a que recentemente se adicionaram outras duas: as de cidade universitária e histórico-
cultural.”
14.
“Para fins analíticos e de definição de uma estratégia coerente de intervenção, as condições
de desenvolvimento de uma cidade podem ser agregadas em quatro conjuntos: imagem
identitária da cidade, qualidade urbana global, sustentação económica e integração
territorial.”
15.
“É necessário identificar algumas ideias fortes, mobilizadoras da cidade. No caso de Évora,
essas ideias poderiam ser as seguintes:
- Évora, cidade Cultural, Património da Humanidade: a importância da actividade cultural
como potencial factor de desenvolvimento aliado a um rico passado histórico próprio e
diversificado, que não se perde mas antes se enriquece e amplia permanentemente
(articulação dos blocos A e B)”
16.
“Seis ideias fortes para Évora: 1. Évora, cidade Cultural, Património da Humanidade”
17.
“ 1º Objectivo geral para o plano estratégico: criar um ambiente de cultura e de inovação…”
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora78
18.
“Domínio estratégico de intervenção A - IMAGEM IDENTITÁRIA DA CIDADE
Objectivos específicos:
A.1- Fomentar o espírito de cidadania e a componente relacional da vivência urbana.
A.2- Redescobrir a cidade, a sua histórica e vocação universitária.
A.3- Promover a imagem e as potencialidades da cidade.
Domínio estratégico de intervenção B - QUALIDADE URBANA GLOBAL
Objectivos específicos:
B.1- Globalizar a qualidade do ambiente urbano.
B.2- Valorizar e (re)criar o património edificado.
B.3- Reforçar a vida cultural e científica e a criatividade artística.”
19.
“A2 - Redescobrir a Cidade, a sua história e vocação universitária.
Reforçar o interesse dos cidadãos por Évora e mobilizar atenções e esforços para as questões
que se prendem com a leitura e vivência da cidade, dos seus valores e dos seus simbolismos.
Trata-se, em suma, de redescobrir novos factores de atracção, acentuando o sentimento de
pertença à cidade.”
20.
“A actual atractividade da cidade reside no seu património…”
21.
“B1 - Globalizar a qualidade do Ambiente Urbano
Qualificar o ambiente urbano em geral, actuando tanto no domínio da gestão do território
como na valorização dos usos e dos aspectos de ordem estética e imagética, tendo como
objectivo a globalização da imagem da cidade, esbatendo as diferenças de qualidade urbana
existentes entre o centro histórico e a cidade extra-muros.”
22.
“B2 - Valorizar e (Re)Criar o Património Edificado
Actuar no domínio da imagem urbana, favorecendo os aspectos simbólicos susceptíveis de
reforçar a visibilidade externa da cidade e contribuir para a consolidação de um ambiente
urbano mais qualificado. As acções devem compreender não só a recuperação e revitalização
dos valores monumentais, mas também do tecido urbano em geral cujo significado
patrimonial seja relevante e a própria criação de novos elementos simbólicos.
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
79
Este objectivo liga-se directamente à afirmação de Évora como cidade cultural, pelo que
participa directamente na criação de condições favoráveis à sustentação económica da
cidade (desenvolvimento de actividades ligadas à cultura e ao turismo). Além disto, contribui
para a valorização da imagem de Évora e para a consolidação de um ambiente urbano
atractivo e qualificado.
B3 - Reforçar a Vida Cultural e Científica e a Criatividade Artística
Qualificar a ambiência urbana, intervindo em concreto nos domínios que se prendem com
a actividade cultural e artística e a vida universitária. Pretende-se fundamentalmente
contribuir para a renovação do valor simbólico da Évora humanista e universitária e para a
(re)afirmação da cidade como foco privilegiado de cultura e criação artística.
A existência de algumas importantes estruturas de natureza cultural, assim como de um
número apreciável de associações locais que, actualmente, de um modo ou outro,
desenvolvem actividades culturais, não são, contudo, factores suficientes para configurar a
Évora o papel de cidade cultural que se pretende.”
23.
“Será necessário uma estratégia de intervenção cultural para a cidade, também apoiada no
associativismo cultural e recreativo, a qual deverá resultar da conjugação de duas
componentes essenciais:
- Um forte e vivo testemunho do seu passado, o seu Património (tomado em sentido lato);
- E uma contínua e intensa Vida Cultural, estruturada em torno das questões do saber
científico (uma vez que qualquer política cultural não pode divorciar-se das questões da
educação, da ciência e da tecnologia), da criação artística, e das criações anónimas de
origem popular, das tradições, hábitos e crenças locais.
Torna-se, assim, necessário reforçar a vida cultural local, através de uma actuação concertada
em torno de três eixos fundamentais:
- Preservação e animação do património cultural
- Criação, difusão e programação da vida cultural;
- Criação dos equipamentos necessários à sua concretização.”
24.
“Atrair actividades como as indústrias culturais, de turismo cultural e outras que dêem
corpo à ideia de cidade cultural”
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora80
25.
“Évora, museu vivo, cidade de Túlio.
Conjunto de equipamentos, de dimensão variável, que comportam a construção/recuperação
de edifícios, a musealização de sítios e a respectiva animação e o estabelecimento de
itinerários histórico-culturais.
O núcleo central será constituído pelo Museu da Cidade, incluindo os temas Arqueologia
Industrial e Artes e Ofícios.
Neste projecto, poderão figurar também - numa lógica de funcionamento em rede - o
Templo e as Termas Romanas, as noras que circundam a cidade e os depósitos de água da
Rua do Menino Jesus (tema agregador: a água).
Admite-se ainda a utilização de outros espaços como parte das muralhas integrando o
Museu Militar de ar livre e o Largo do Chão das Covas para temas ligados aos pesos e
medidas e instrumentos de trabalho de carpintaria.”
26.
“Agora, reabilitação e renovação urbanas.
Na sequência do Programa de Recuperação do Centro Histórico, torna-se necessário um
salto qualitativo nos objectivos e conceitos a atingir, que hoje em dia se identificam com
programas em que a revitalização/ valorização/ requalificação passem a constituir prioridades,
em que a preservação continue a manter o peso anterior, mas em que o conceito de
recuperação represente uma meta específica de menor impacto.
Sem desvalorizar o papel determinante do Centro Histórico, hoje em dia é possível e desejável
ter uma estratégia mais globalizante, que considere o Património arquitectónico, histórico,
artístico, etnográfico e antropológico de todo o concelho e que é necessário estender a
qualidade do espaço urbano a toda a cidade e descongestionar o centro, criando novas
centralidades fora das muralhas.”
27.
“Bibliopólis.
Este projecto implica a resolução das questões ligadas à Biblioteca Pública e Arquivo Distrital.
A Bibliopólis integrará uma Biblioteca de Leitura Pública, mantendo o depósito legal, uma
Biblioteca para documentação e espólio histórico, literário e artístico, Arquivo Distrital, Um
Núcleo de Documentação Municipal. A Bibliopólis enquadra outras formas de informação
e de acesso à informação. A introdução de meios informáticos e interactivos, a fonoteca, o
audiovisual, a criação de rede de informação, com objectivo descentralizador, são
componentes com grande relevo.”
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
81
28.
“Programa de Desenvolvimento Artístico.
Conjunto de infraestruturas e equipamentos a instalar em edifícios simbólicos e de prestígio
para a cidade - a recuperar ou construir de novo - que funcionem como importantes pólos
locais, regionais e nacionais de desenvolvimento cultural.
Estes espaços contribuirão para a reabilitação do património histórico-artístico e para a
revitalização do tecido cultural da cidade, devendo ser apetrechados com as tecnologias
mais modernas e concebidos de modo a responderem às exigências de uma formação
artística de alta qualidade.”
29.
“Programa “Évora - Património da Humanidade”.
Conjunto de acções, articuladas entre si, a promover pelo Município, mas também pela
Administração Central e pelos diferentes agentes que operam na área do património, tendo
como objectivo potenciar a classificação do centro histórico de Évora pela UNESCO como
Património da Humanidade.
Neste objectivo geral incluem-se todas as iniciativas que promovam a cidade como lugar de
encontro de especialistas do património e sede de organismos internacionais, como por
exemplo, o secretariado regional europeu da OCPM (Organização das Cidades do Património
Mundial).”
III. Plano de Urbanização de Évora (2000)
1.
“TÍTULO II
Do património e das condicionantes ao uso dos solos
CAPÍTULO I
Do património
Artigo 5.
Objectivo e âmbito
Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora82
1 — São património todos os espaços, conjuntos, edifícios ou elementos pontuais cujas
características morfológicas, ambientais ou arquitectónicas se pretende preservar e como
tal sejam identificados.
2 — Para além dos espaços, conjuntos, edifícios e elementos pontuais referidos no artigo
seguinte poderá o município vir a reconhecer, expressamente, a existência de outros valores
patrimoniais, sujeitando-os às disposições deste Regulamento.
Artigo 6.
Identificação
1 — O inventário de património anexo a este Regulamento contém o levantamento e
descrição sumária dos espaços, conjuntos, edifícios e elementos pontuais já identificados
como património.
2 — São identificados os seguintes grandes conjuntos de valor patrimonial: a) Centro histórico
de Évora; b) Zona verde monumental; c) Zona de urbanização. 1—núcleo inicial; d) Bairro
da Malagueira.
3 — São identificados pequenos conjuntos ou elementos individuais de valor patrimonial,
agrupados da seguinte forma: a)Imóveis classificados, subdivididos em MN (monumentos
nacionais classificados por decreto), IIP (imóveis de interesse público classificados por decreto)
e IVC (imóveis de valor concelhio classificados por decreto); b) Edificações de valor
patrimonial, subdivididas, de acordo com o seu valor patrimonial, em E1,E2 eE3; c) Fachadas
de valor patrimonial, subdivididas, de acordo com o seu valor patrimonial, em F1 eF2; d)
Zonas verdes de valor patrimonial, subdivididas, de acordo com o seu valor patrimonial, em
V1 eV2; e) Zonas de vestígios arqueológicos, A; f) Elementos pontuais de valor patrimonial,
P “
2.
“SECÇÃO I
Grandes conjuntos de valor patrimonial
Artigo 8.
Centro histórico
1 — O centro histórico constitui o elemento primordial de estruturação, caracterização e
identificação da cidade de Évora. Corresponde à área envolta, a norte e poente, pela cerca
medieval e, a sul e nascente, pela muralha do século XVII/XVIII, coincidindo com o espaço
Relatório de Avaliação e Monitorização Ex-postdo Plano Estratégico de Évora de 1994
83
classificado património mundial pela UNESCO em 26 de Novembro de 1986 e considerado
o melhor exemplo de cidade da idade de ouro portuguesa pelo ICOMOS. Inclui 35 imóveis
classificados por decreto, entre 190 elementos de valor patrimonial
2 — O centro histórico está sujeito às regras urbanísticas específicas (…), devendo todas as
intervenções nele promovidas ter como premissa e condicionante a salvaguarda e valorização
das características expressas no n.º 1.
3 — O centro histórico deverá ser objecto de programas específicos de salvaguarda e
valorização. “