relatorio brundtland nosso futuro comum em portugues

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NOSSO FUTURO COMUM ÍÓHIQ DA COMISSÃO MUNI ■ SOBRE MEIO AMBIE-. E DESENVOLVIMEN A maioria dos atuais niunejadorus s legisladores e: ?>iorta antes quo o [)ianota sofra Iodar as consequência chuva ácida, dc aquecimento gtobal, do esgota mente camada de ozómo. da cesorMcação generalizada e d< tmcào de espéoes. A maiona dos jovens eleitores de estará v:va. A Com.ssáo Mundial somv Meio Anbiente e Desem " ’-ento. ;)resfd.oa por Gr=., ix/iem ohjndtland, primeir:- r-•-'trd da -Noruega, to. cr a< . - eme um organismo mde dense ar 198o peia.-, Idaeoo Unida , Sua missão ora >.atvi!nar os pnncpais probiema* do meio ambiente e dc senvolvinic-nto em ãn-brlo planotáno e formular propc realistas para soiuaoná-los bem como assegurar o: progress-'- r-unano será austontável através do assent mento. sem arrumar os recursos para as futuras geraçtk -'vn.^sé U .u , ■ v.W'?. uadie.oii gj- rp-egou a hora de vs ar n.ais estreitamento economia e ecologia, de modo os governos e os zx-.os jxjsi om a--sumir a rnsoorscb!' mio só pelos danos an'ibv ..... j' :s„,. rn.-i, : o • r- -^cuo- i;' oss-' A.quu v; ; -Sacam a s. rvevivéuc • : u.. • ; néc:e "m* -vra.^-Has no : -v .’1 !• r Lett C vi dOLi.i’ C"-\, turo dc 1 iuf ido. iodar

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Texto produzido pela Comissão Brundtland

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  • NOSSOFUTUROCOMUM

    HIQ DA COMISSO MUNI SOBRE MEIO AMBIE-.

    E DESENVOLVIMEN

    A maioria dos atuais niunejadorus s legisladores e: ?>iorta antes quo o [)ianota sofra Iodar as consequncia chuva cida, dc aquecimento gtobal, do esgota mente camada de ozmo. da cesorMcao generalizada e d< tmco de espoes. A maiona dos jovens eleitores de estar v:va.

    A Com.sso Mundial somv Meio Anbiente e Desem" -ento. ;)resfd.oa por Gr=., ix/iem ohjndtland, primeir:- r--'trd da -Noruega, to. cr a< . - eme um organismo mde dense ar 198o peia.-, Idaeoo Unida , Sua misso ora >.atvi!nar os pnncpais probiema* do meio ambiente e dc senvolvinic-nto em n-brlo planotno e formular propc realistas para soiuaon-los bem como assegurar o: progress-'- r-unano ser austontvel atravs do assent mento. sem arrumar os recursos para as futuras geratk

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    iodar

  • *0 COMUM

    pela Oxford Unite "mats Importante documen-

    deade o Relatrio BnndT, Nosso futuro comum,

    i da Comlseo Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento,

    fbcaitaa um dos temas mala pnemerv tM do momento - a relao entre o desenvolvimento o melo ambiente. Aa Informaes coligidas pela Co- mteefo, ao longo da trs anos de peequlsaa e anlises, apIam-se em depoimentos de cenlenae de espe- eWletaa de quase todos os petses, tomando um cenrio mundial do desenvolvimento a seu Impacto nos re- eureoe planetrios.

    Unw daa Idias centrais de No$o futuro comum afirma e comprova qua um desenvolvimento eeo- nmtoo Ideal toma Imperiosa a con- arve io doa metoa naturais. Sem tnadUee qua assegurem a conquista deeee objetivo, e humanidade por m rtaco a prpria sobrevivncia.

    A obra pe em evidncia meridiana, acima de qualaquer dvldss, eeta realidade: um progresso econmico e social cada vez maior no poder basear-se na explorao Indiscriminada e devastadora ds natureza. Ao contrrio: sem o uso sabJamente dirigido dos recursos naturais, no haver desenvolvimento sustentvel.

    A fim de salientar as propor- eeea marcha das causas que estio concorrendo para tomar a Terra Inabitvel, Nossa futuro comum apresenta advertncias como as se-

    cada ano, 6 milhes de de terras produtivas se

    i em desertos inteis. Em isso corresponde a uma is reas somadas da Ale-

    Espenha, Inglaterra, Noruega - 2.170.000

    so deatrudoa

  • COMISSO

    Presidente: Gro Harlem Brundtland (Noruega) Vice-presidente: Mansour Khalld (Sudo)

    Susanna Agnelli (Itlia)Saleh A. AI- Aihel (Arbia Saudita)Bernard Chidwro (Zimbbue.)Lamine Mohammed Fadika (Costa do M a fim) Volker Hauff (Repblica Federal da Alemanha) lstvan Lang (Hungria)Ma Shjjun (Repblica Popular da China) Margarita Marino de B o ter o (Colmbia) Nagendra Singh (ndia)Paulo Nogueira Neto (Brasil)Saburo Okita (Japo;Shridath S. Ramphal (Guiana)William D. Ruckelshaus (EUA)Mohamed Sahnoun (Arglia)Emil Salim (Indonsia;Bukar Shaib (Nigria)Vladimir Sokolov (URSS)Janez Stanovnik (lugoslvia)Maurice Strong (Canad)

    EX-OFFICIO

    Jim MaeNeill (Canad)

  • Ttulo da obra em ingls:Our common futureOxford / New York, Oxford University Press, 1987

    Direitos reservados desta edio Fundao Getulio Vargas Praia de Botafogo, 190-22253 Rio de Janeiro, RJ - Brasil

    vedada reproduo total ou parcial desta obra

    Copynght O Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

    1* edio -1988 2' edllo-1991

    Editora da Fundao Getulio Vargas Chefia: Francisco de Castro Azevedo Coordenao editorial: Darro Nascimento Superviso de editorao: Ercflia Lopes de Souza Superviso grfica: Hlio Loureno Netto Capa Marcas Tupper

    Nosso futuro comum / Comisso Mundial sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento. - 2. ed. - Rki de Janeiro: Editora da Fundao Getulio Vargas,1W1.rviii, 430 p.

    Traduo de: Our common future.Inclui bibliognfta-

    1. Meio Ambiente. 2. Poltica ambiental. 3. Proteo ambiental.4. Desenvolvimento econmico. 1. Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento. D. Fundao Getulio Varyas.

    CDD-3013

  • LISTA DE TABELAS

    1.1 Tamanho da populao e PNB per capita por grupos de pases 32

    1.2 Distribuio do consumo mundial, mdias para 1980-82 361.3 Taxa anual de crescimento do PIB em pases em

    desenvolvimento, 1976-85 393.1 Transferncia lquida de recursos para pases em

    desenvolvimento importadores de capital 743.2 A importncia crescente do comrcio exterior 864.1 Populao mundial 1950-85: fatos-chave 1094.2 Tamanho da populao - atual e projetado e taxas

    de aumento 1104.3 Indicadores de saide 1124.4 Taxas de matrculas dos sexos masculino e feminino,

    por Regio, 1960 e 1982 1135.1 Duas dcadas de desenvolvimento agrcola 1307.1 Consumo global de energia primria per capita, 1984 1888.1 Participao do valor adicionado manufatureiro

    no PEB, par grupo de economias e grupo de renda 2318.2 Composio do comrcio de mercadorias dos pases

    em desenvolvimento 2339.1 Populao residente em reas urbanas, 1950-2000 2639.2 Exemplas de rpido aumento populacional em

    cidades do Terceiro Mundo 26410.1 Pesca mundial nos principais zonas pesqueiras,

    1979-84 300

    VI

  • SIGLAS

    AIDAIEAAODCAEMCCPACCRMVA

    CECEECIIDMA

    CIPBCIPRCIUCCLACNUAH

    DAESI

    EMENCFAO

    FMIFMVSGATTGEACPM

    IIMAD

    IRMICMA

    OCDE

    OITOMMOMS

    Associao Internacional de Desenvolvimento Agncia Internacional de Energia Atmica assistncia oficial ao desenvolvimento Conselho de Assistncia Econmica Mtua Comit Cientfico de Pesquisa Antrtica Comisso para a Conservao dos Recursos Marinhos Vivos da Antrtida Comunidade Econmica Europia Comisso Econmica EuropiaComit das Instituies Internacionais de Desenvolvimento para o Meio Ambiente Comisso Internacional sobre a Pesca da Baleia Comisso Internacional (te Proteo Radiolgica Conselho Internacional de Unies Cientficas Centro de Ligao AmbientalCentro das Naes Unidas para Assentamentos Humanos (Habitat)Departamento das Naes Unidas de Assuntos Econmicos e Sociais Internacionais empresas multinacionais Estratgia Nacional de Conservao Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a AgriculturaFundo Monetrio InternacionalFundo Mundial para a Vida SelvagemAcordo Geral sobre Tarifas e ComrcioGrupo de Especialistas em Aspectos Cientficos daPoluio MarinhaInstituto Internacional para o Meio Ambiente e o DesenvolvimentoInstituto de Recursos MundiaisJunta das Naes Unidas para a Coordenao do Meio AmbienteOrganizao para a Cooperao e Desenvolvimento EconmicoOrganizao Internacional do Trabalho Organizao Meteorolgica Mundial Organizao Mundial da Sade

    VI[I

  • NOTA SOBRE A TERMINOLOGIA

    O agrupamento de pases na apresentao dos dados est indicado nos lugares apropriados. As expresses pases industrializados e pases desenvolvidos em geral compreendem as categorias adotadas pela ONU de economias de mercado desenvolvidas e pases socialistas do Leste europeu e n URSS. Salvo indicao em contrrio, a expresso "pas em desenvolvimento refere-se ao grupo de pases em desenvolvimento com economias de mercado e aos pases socialistas du sia, tal como classificado pela ONU. A menos que o contexto indique o contrrio, a expresso Terceiro Mundo" refere-se aos pases em desenvolvimento com economias de mercado, tal como definido pela ONU.

    Salvo indicao em contrrio, toneladas so toneladas mtricas l.tlOOkg ou 2.201,6 libras-peso). Dlares so dlares norte-americanos comentes ou para o ano especificado.

    X

  • Mente. Isto me deu esperanas de que o meio ambiente no estava fadado a permanecer uma questo secundria no processo poltico central de tomada de decises.

    Em tiltima anlise, resolvi aceitar o desafio. O desafio de enca- rar o futuro e de proteger os interesses das geraes vindouras. Pois uma coisa era perfeitamente clara: precisvamos de um mandato para a mudana.

    Vivemos uma era da histria das naes em que mais necessria do que nunca a coordenao entre ao poltica e responsabilidade. A tarefa e o encargo com que se defrontam as Naes Unidas e seu secretrio-geral so enormes. Satisfazer com responsabilidade os objetivos e as aspiraes da humanidade requer apoio ativo de todos ns.

    Minhas reflexes e perspectives tambm se baseavam em outros aspectos importantes de minha experincia poltica pessoal: os trabalhos anteriores da Comisso Brandt sobre questes Norte- Sul e da Comisso Palme sobre questes de desarmamento e segurana, de que participei.

    Pediaxn-me que ajudasse a lanar um terceiro e premente apelo ao poltica: aps Programa para a sobrevivncia e Crise comam, da Comisso Brandt, e aps Segurana comum, da Comisso Palme, viria Futuro comum. Era isso o que eu tinha em mente quando, junto com o Vice-Presidente Mansour KhaJid, comecei a trabalhar na ambiciosa tarefa que as Naes Unidas nos confiara. Este relatrio, apresentado Assemblia Geral da ONU em 1987, o resultado desse processo.

    Talvez nossa tarefa mais urgente hoje seja persuadir as naes da necessidade de um retomo ao multilateralismo. O desafio da reconstruo aps a II Guerra Mundial foi a verdadeira motivao que levou ao estabelecimento de nosso sistema econmico internacional do ps-guerra. O desafio de encontrar rumos para um desenvolvimento sustentvel tinha de fornecer o mpeto - ou mesmo o imperativo para uma busca renovada de solues mui- tilaterais e para um sistema econmico internacional de cooperao ree&truturado. Esses desafios se sobrepunham hs distines de soberania nacional, de estratgias limitadas de ganho econmico e de vrias disciplinas cientficas.

    Aps 15 anos de paralisao ou mesmo deteriorao na cooperao global, acredito ter chegado o momento de expectativas mais elevadas de busca conjunta de objetivos comuns, de um maior empenho poltico em relao a nosso futuro comum.

    A dcada de 60 foi um tempo de otimismo e progresso; havia mais esperana de um mundo novo melhor e de idias cada vez

    Xll

  • Mas no meio ambiente que todos vivemos; o desenvolvimento o que todos fazemos ao tentar melhorar o que nos cabe neste lugar que ocupamos. Os dois so inseparveis. Alm disso, as questes de desenvolvimento devem ser consideradas cruciais pelos lderes polticos que acham que seus pases j atingiram um nvel que outras naes ainda lutam para alcanar. Muitas das estratgias de desenvolvimento adotadas pelas naes industrializadas so evidentemente insustentveis. E devido ao grande poder econmico e poltico desses pases, suas decises quanto ao desenvolvimento tero profundo impacto sobre as possibilidades de todos os povos manterem o progresso humano para as geraes futuras.

    Muitas questes crticas de sobrevivncia esto relacionadas com desenvolvimento desigual, pobreza e aumento populacional. Todas elas impem presses sem precedentes sobre as terras, guas, florestas e outros recursos naturais do planeta, e no apenas nos pases em desenvolvimento. A espiral descendente da pobreza e da deteriorao ambiental um desperdcio de oportunidades e recursos. De modo especial, um desperdcio de recursos humanos. Esses vnculos entre pobreza, desigualdade e deteriorao ambiental foram um dos principais temas em nossa anlise e recomendaes. O necessrio agora uma nova era de crescimento econmico um crescimento convincente e ao mesmo tempo duradouro do ponto de vista social e ambiental.

    Devido abrangncia de nosso trabalho e necessidade dc uma viso ampla, eu tinha conscincia de que era preciso reunir uma equipe de cientistas e polticos influentes e altamente qualificados, a fim de formar uma Comisso verdadeiramente independente. Isto era essencial ao xito do processo. Juntos, deveramos esquadrinhar o mundo e formular um mtodo interdisciplinar e integrado para abordar as preocupaes mundiais e nosso futuro comum. Necessitvamos de ampla participao e de uma clara maioria de membros de pases em desenvolvimento, a fim de retratar as realidades do mundo. Necessitvamos de pessoas de grande experincia, oriundas de todos os campos polticos, no s com formao em meio ambiente e desenvolvimento enquanto disciplinas polticas, ruas de todas as reas onde so tomadas decises vitais que influenciam o progresso econmico e social nos nveis nacional e internacional.

    Assim, viemos de experincias extrcmameme diversas: ministros de relaes exteriores, funcionrios de finanas e planejamento. administradores nas reas dc agricultura, cincia e tecnologia. Vnos membros da Comisso so ministros de gabinete e economistas de alto nvel em suas prprias naes, e muito envolvidos nos assuntos desses pases. Mas como membros da Co- XIV

  • Bde comum. Foi sem dvida uma excelente equipe. O clima de frrlTj>fti- comunicao franca, a convergncia de idias e o processo de aprendizagem e participao nos propiciaram uma experincia de otimismo, muito valiosa tanto para ns quanto, creio, para este relatrio e sua mensagem. Esperamos partilhar com outras pessoas tudo aquilo que aprendemos e todas as experincias que vivemos juntos. Muitas outras pessoas tm de partilhar essa experincia a fim de que se possa alcanar um desenvolvimento sustentvel.

    A Comisso foi orientada por pessoas de todas as categorias sociais. a essas peSsoas a todas as pessoas do mundo que a Comisso agora se dirige. Assim, falamos diretamente s pessoas e tambm s instituies que elas criaram.

    A Comisso se dirige a governos, seja diretamente, seja por meio de suas vrias agncias e ministrios. Este relatrio destina- se, principalmente, congregao de governos, reunida na As- semblia Geral das Naes Unidas

    A Comisso se dirige tambm empresa privada, desde a formada por uma s pessoa at a grande companhia multinacional, com um movimento total superior ao de muitos pases, e com possibilidades de promover mudanas e melhorias de grande alcance.

    Antes de tudo, porm, nossa mensagem se dirige s pessoas, cujo bem-estar o objetivo ltimo de todas as polticas referentes a meio ambiente e desenvolvimento. De modo especial, a Comisso se dirige aos jovens. Aos professores de todo o inundo cabe a tarefa crucial de levar a eles este relatrio.

    Se no conseguirmos transmitir nossa mensagem de urgncia aos pais e administradores de hoje, arriscamo-nos a comprometer o direito fundamental de nossas crianas a um meio ambiente saudvel, que promova a vida. Se no conseguirmos traduzir nossas palavras numa linguagem capaz de tocar os coraes e as mentes de jovens e idosos, no seremos capazes de empreender as amplas mudanas sociais necessrias correo do curso do desenvolvimento.

    A Comisso terminou seus trabalhos. Pedimos um empenho conjunto e novas normas de conduta em todos os nfveis. no interesse de todos. As mudanas de atitude, de valores sociais e de aspiraes que o relatrio encarece dependero de amplas campanhas educacionais, de debates e da participao pblica.

    Com este objetivo, apelamos a grupos de cidados, a organizaes no-governamentais, a instituies de ensino e comunidade cientfica. Todos no passado desempenharam funes indispensveis para a conscientizao do pblico e a mudana poltica. Sua participao ser vital para orientar o mundo no nitno do desen-

    XVI

  • Mente no intuito de assegurar o progresso humano continuado e a sobrevivncia da humanidade. No prevemos o futuro; apenas transmitimos a informao uma informao urgente, baseada nas evidncias cientficas mais recentes e mais abalizadas de que chegado o momento de tomar as decises necessrias a fim de garantir os recursos para o sustento desta gerao e das prximas. No temos a oferecer um plano detalhado de ao, e sim um caminho para que os povos do mundo possam ampliar suas esferas de cooperao.

    1. O DESAFIO GLOBAL

    1.1 xitos e fracassos

    Os que buscam xitos e sinais de esperana podem encontrar muitos: a mortalidade infantil est em queda; a expectativa de vida humana vem aumentando; o percentual de adultos, no mundo, que sabem ler e escrever est em ascenso; o percentual de crianas que ingressam na escola est subindo; e a produo global de alimentos aumenta mais depressa que a populao.

    Mas os mesmos processos que trouxeram essas vantagens geraram tendncias que o planeta e seus habitantes no podem suportar por muito tempo. Estas tm sido tradicionalmente divididas em fracassos do desenvolvimento e fracassos na gesto do nosso meio ambiente. No tocante ao desenvolvimento, h, em termos absolutos, mais famintos no mundo do que nunca, e seu mimem vem aumentando. O mesmo ocorre com o nmero de analfabetos, com o nmero dos que no dispem de gua e moradia de boa qualidade, e nem de lenha e carvo para cozinhar e se aquecer. Amplia-se em vez de diminuir o fosso entre naes ricas e pobres, e, dnrtas as circunstncias atuais e as disposies institucionais, h poucas perspectivas de que essa tendncia se inverta.

    H tambm tendncias ambientais que ameaam modificar radicalmente o planeta e ameaam a vida de muitas espcies, incluindo a espcie humana. A cada ano, 6 milhes de hectares de terras produtivas se transformam em desertos Inteis. Em 30 anos, isto representar uma rea quase igual da Arbia Saudita. Anualmente, so destrudos mais de 11 milhes de hectares de florestas, o que, dentro de 30 anos, representar uma rea do tamanho aproximado da ndia. Crrande parte dessas florestas transformada em terra agrcola de baixa qualidade, incapaz de prover o sustento dos que nela se estabelecem. Na Europa, as chuvas cidas matam florestas e lagos e danificam o patrimmio artstico e arquitetnico das naes; grandes extenses de terra

    2

  • ambiente; muitas fornias de desenvolvimento desgastam os recursos ambientais nos quais se deviam fundamentar, e a deteriorao do meio ambiente pode prejudicar o desenvolvimento econmico. A pobreza uma das principais causas e um
  • gon. an plano nacional e regional. A deteriorao das terras ridas leva milhes de refugiadas ambientais a transpor as fronteiras de seus pases. O desflorestamento na Amrica Latina e na sia vem provocando mais inundaes, com danos sempre maiores, aos pases situados em reas mais baixas e no curso inferior dos rios. A chuva cida e a radiao nuclear ultrapassaram as fronteiras da Europa. Na mundo todo, esto ocorrendo fenmenos similares, como o aquecimento global e a perda de oznio. Produtos qumicos perigosos, presentes em alimentos comercializados internacionalmente, so eles prprios comercializados intemacio nalmente. No prximo sculo, podero aumentar muito as presses ambientais que geram migraes populacionais, ao passo que os obstculos a essa migrao podero ser ainda maiores do que hoje.

    Nos ltimos decnios, surgiram no mundo em desenvolvimento problemas ambientais que pem em risco a vida. O nmero crescente de agricultores e de s e t e r r a s vem gerando presses nas reas rurais. As cidades se enchem de gente, carros e fbricas. E no entanto esses pases em desenvolvimento tm de atuar num contexto em que se amplia o fosso entre a maioria das naes industrializadas e em desenvolvimento em matria de recursos, em que o mundo industrializado impe as normas que regem as principais organizaes internacionais, e em que esse mundo industrializado j usou grande parte do capital ecolgica do planeta. Essa desigualdade o maior problema ambiental da Terra; tambm seu maior problema de desenvolvimento .

    Em muitos pases em desenvolvimento, as relaes econmicas internacionais constituem um problema a mais para a administrao do meio ambiente. A agricultura, a silvicultura, a produo energtica e a minerao geram pelo menos a metade do produto nacional bruto de muitos desses pases, proporcionando empregos e meios de subsistncia em escala ainda maior. A exportao de recursos naturais continua sendo um fator importante em suas economias, sobretudo no caso dos menos desenvolvidos. Devido a enormes presses econmicas, tanto .externas como internas, a maioria desses pases explora excess!vamente sua base de recursos ambientais.

    A recente crise africana ilustra bem e de modo bastante trgico como a economia e a ecologia podem interagir de forma destrutiva e precipitar o desastre. Essa crise, desencadeada pela seca, lem causas reais mais profundas, que devem ser buscadas, em parte, nas polticas nacionais que dispensaram pouqussima ateno, e mesmo assim demasiado tarde, s necessidades da agricultura de pequena escala e aos riscos inerentes a rpidos aumentos populacionais. As razes da crise estendem-se tambm a um sistema eco-

    6

  • A Comisso buscou meios para que no sculo XXI o desenvolvimento global possa vir a ser sustentvel. Cerca de 5 mil dias separam a publicao de nosso relatrio do primeiro dia do sculo XXI. Que crises ambientais nos est reservadas nesses 5 mil dias?

    Ma dcada de 70, o nmero de pessoas atingidas por catstrofes naturais a cada ano dobrou em relao dcada de 60. As catstrofes mais cfiretamente ligadas m administrao do meio ambiente e do desenvolvimento secas e inundaes - foram as que afetaram o maior nmero de pessoas e as que se intensificaram mais drasticamente em termos de vitimas. Cerca de 18,5 milhes de pessoas sofreram anualmente os efeitos da seca nos anos 60; 24,4 milhes,

    questo segurana base de definies tradicionais. Isto fica patente nas tentativas de obter segurana por meio de sistemas de anuas nucleares capazes de destruir o planeta. Os estudos indicam que o inverno nuclear, frio e escuro, que se seguiria a uma guerra nuclear mesmo limitada poderia destruir ecossisemas vegetais e animais e deixar aos sobreviventes humanos um planeta devastado, muito diferente daquele que herdaram.

    A corrida anuaxnentista em todos os quadrantes do mundo drena recursos que poderiam ser usados de modo mais produtivo para diminuir as ameaas segurana gerada por conflitos ambientais e ressentimentos alimentados pela pobreza generalizada.

    Muitos dos atuais esforos para manter o progresso humano, para atender s necessidades humanas e para realizar as ambies humanas so simplesmente insustentveis - tanto nas naes ricas quanto nas pobres. Elas retiram demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambientais j a descoberto, e no futuro no podero esperar outra coisa que no a insolvncia dessa conta. Podem apresentar lucros nos balancetes da gerao atual, mas nossos filhos herdaro os prejuzos. Tomamos um capital ambiental emprestado s geraes futuras, sem qualquer inteno ou perspectiva de devolv-lo. Elas podem at nos maldizer por nossos atos perdulrios, mas jamais podero cobrar a dvida que temos para com elas. Agimos desta forma porque podemos escapar impunes: as geraes futuras no votam, no possuem poder poltico ou financeiro, no tm como opor-se a nossas decises.

    6

  • da melhor. Um mundo onde a pobreza endmica estar Sempre sujeito a catstrofes, ecolgicas ou de outra rtatureza.

    O atendimento das necessidades bsicas requer no s uma nova era de crescimento econmico para as naes cuja maioria da populao pobre, como a garantia de que esses pobres recebero uma parcela justa dos recursos necessrios para manter esse crescimento. Tal equidade seria facilitada por sistemas politicos que assegurassem a participao efetiva dos cidados na tomada de decises e por processos mais democrticos na tomada de decises em mbito internacional.

    Para que haja um desenvolvimento global sustentvel necessrio que os mais ricos adotem estilos de vida compatveis com os recursos ecolgicos do planeta - quanto ao consumo de energia, por exemplo. Alm disso, o rpido aumento populacional pode intensificar a presso sobre os recursos e retardar qualquer elevao dos padres de vida; portanto, sd se pode buscar o desenvolvimento sustentvel se o tamanho e o aumento da populao estiverem em harmonia com o potencial produtivo cambiante do ecossistema.

    Afinal, o desenvolvimento sustentvel no um estado permanente de harmonia, mas um processo de mudana no qual a explorao dos recursos, a orientao dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnolgico e a mudana institucional esto de acordo com as necessidades atuais e futuras. Sabemos que este no um processo fcil, sem tropeos. Escolhas difceis lero de ser feitas. Assim, em Ultima anlise, o desenvolvimento sustentvel depende do empenho poltico.

    1.4 As lacunas institucionais

    A meta do desenvolvimento sustentvel e a natureza indissocivel dos desafios imposlos pelo meio ambiente e o desenvolvimento globais constituem um problema para as instituies nacionais e internacionais criadas a partir de preocupaes restritas e compartimentadas. De modo geral, a reao dos governos rapidez e amplitude das mudanas globais tem sido a relutncia em reconhecer devidamente a necessidade de eles mesmos mudarem. Os desafios so interdependentes e complementares, exigindo portanto abordagens abrangentes e participao popular.

    Mas a maioria das instituies que enfrentam esses desafios tende a ser independente, fragmentada, com atribuies relativa- mente limitadas e processos de deciso fechados. As responsveis peia administrao dos recursos naturais e a proteo do meio ambiente esto desvinculadas das que se dedicam administrao da economia. O mundo real de sistemas econmicos e ecolgicos

    10

  • humano afetadas por suas decises, e em dar mais poder aos rgos ambientais para enfrentarem os efeitos do desenvolvimento no-sustentvel.

    Tambm os rgos internacionais que traiam de emprstimos para o desenvolvimento, regulamentao do comrcio, desenvolvimento agrcola etc. necessitam de mudanas. Esses rgos custaram a dar importncia aos efeitos de suas atividades sobre o meio ambiente, embora alguns estejam tentando fazer isso.

    Para que os danos ao meio ambiente possam ser previstos c evitados preciso levar em conta no s os aspectos ecolgicos das polticas, mas tambm os aspectos econmicos, comerciais, energticos, agrcolas e outros. Todos eles devem ser levados em considerao nas mesmas agendas e uas mesmas instituies nacionais e internacionais.

    Essa reorientao um dos principais desafios institucionais para os anos 90 e os seguintes. Realiz-la exigir grandes reformas institucionais. Muitos pases, por serem pobres ou pequenos demais ou por disparem de pouca capacidade administrativa, tero dificuldade em empreender essa tarefa sem ajuda. Precisaro de assistncia financeira e tcnica, alm de formao profissional. Mas h necessidade de mudanas em todos os pases, grandes e pequenos, ricos e pobres.

    2. AS DIRETRIZES DE POLTICA

    A Comisso concentrou sua ateno nas reas de populao, segurana alimentar, extino de espcies e esgotamento de recursos genticos, energia, indstria e assentamentos humanos - por entender que todas se interligam e no podem ser tratadas isoladamente. Este item contm apenas algumas das muitas recomendaes da Comisso.

    2.1 Populao e recursos humanos

    Em muitas partes do mundo, a populao vem aumentando a taxas incompatveis com os recursos ambientais disponveis, e que frustram qualquer expectativa razovel de obter progressos em reas como habitao, servios sanitrios, segurana alimentar ou fornecimento de energia.

    O problema no est apenas no nmero de pessoas, mas na relao entre esse nmero e os recursos disponveis. Assim, o problema populacional tem de ser solucionado por meio de esforos para eliminar a pobreza generalizada, a fim de garantir um acesso mais justo aos recursos e, por meio da educao, a fim de

    12

  • subsdios estimularam o uso abusivo do solo e de produtos qumicos, a contaminao dos recursos hdricos e dos alimentos com esses produtos, e a deteriorao das reas mrajs. Muitos desses esforos geraram excedentes, mas tambm nus financeiros. E parte desses excedentes foi enviada, em condies subvencionais, a pases em desenvolvimento, prejudicando suas polticas agrcolas. Contudo, alguns pases esto tomando maior conscincia das consequncias ambientais e econmicas dessas prticas, e agora suas polticas agrcolas do nfase conservao.

    Por outro lado, muitos pases em desenvolvimento tm passado pelo problema oposto: no h apoio suficiente aos agricultores. Em alguns desses pases, a combinao de tecnologia mais avanada, incentivos atravs dos preos e servios pblicos produziu um aumento repenrino e mareante na produo de alimentos. Mas em outros, os pequenos produtores de alimentos foram negligenciados. Contando com tecnologias quase sempre inadequadas e poucos incentivos econmicos, muitos so forados a trabalhar terras marginais: muito secas, muito encharcadas, ou pobres em nutrientes. Florestas so derrubadas e terras ridas produtivas tornam-se estreis.

    A maioria dos pases em desenvolvimento necessita de sistemas de incentivos mais eficazes para estimular a produo, sobretudo de culturas alimentares. Em suma, preciso que as relaes de troca passem a favorecer o pequeno agricultor. J a maioria dos pases industrializados deve alterar os sistemas atuais, a fim de cortar excedentes, reduzir a concorrncia desleal com os pases que possam ter vantagens comparativas reais, e promover prticas agrcolas sensatas do ponto de vista ecolgico.

    A segurana alimentar exige que se atente para questes de distribuio, pois a fome quase sempre advm da falta de poder aquisitivo e no da falta de alimentos. Pode ser propiciada por reformas agrrias e por polticas de proteo aos agricultores de subsistncia, aos pequenos pecuaristas e aos sem-terra - grupos vulnerveis que por volta do ano 2 0 0 0 compreendero 2 2 0 milhes de famlias. Sua maior prosperidade depender de um desenvolvimento rural iniegrado que aumente as oportunidades de trabalho tanto na agricultura como em outros setores. (Ver captulo S para uma anlise mais ampla dessas questes e recomendaes.)

    2 3 Espcies e ecossistemas: recursos para o desenvolvimento

    As espcies do planeta esto em risco. H um consenso cientifico cada vez mais generalizado de que certas espcies desaparecem do planeta a um ritmo sem precedente, embora tambm haja con-

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  • saro de muito mais energia. Hoje, o indivduo mdio numa economia industrial de mercado consome mais de 80 vezes mais energia que um habitante da frica subsaariana. Portanto, qualquer cenrio energtico global realista deve contar com um aumento substancial no consumo de energia primria nos pases em desen vol vimento.

    Para que, por volta do ano 2025, os pases em desenvolvimento consumam tanta energia quanto os industrializados, seria preciso aumentar cinco vezes o atual consumo global. O ecossis- tema planetrio no suportaria isso, sobretudo se esses aumentos se concentrassem em combustveis fsseis no-renovveis. Os riscos de aquecimento do planeta e acidificao do meio ambiente muito provavelmente descartam at mesmo uma duplicao do consumo de energia mediante as atuais combinaes de fontes primrias.

    Uma nova era de crescimento econmico deve, portanto, consumir menos energia que o crescimento passado. As polticas de rendimento energtico devem ser a pedra-de-toque das estratgias energticas nacionais para um desenvolvimento sustentvel, e h muitas possibilidades de melhoria nesse sentido. As aparelhagens modernas podem ser reformuladas de modo a fornecer o mesmo rendimento usando apenas dois teros ou mesmo a metade dos in- sumos energticos primrios necessrios ao funcionamento dos equipamentos tradicionais. E as medidas que visam a ampliar o rendimento energtico em geral so eficientes em funo dos custos.

    Aps quase 40 anos de intenso esforo tecnolgico, o uso da energia nuclear ampliou-se bastante. Mas nesse perodo, a natureza de seus custos, riscos e benefcios tomou-se mais evidente, servindo de tema a ardentes controvrsias. Vrios pafses, em todo o mundo, adotam posies diferentes quanto ao uso da energia nuclear. Os debates no mbito da Comisso tambm refletiram essas opinies e atitudes diferentes. No entanto, todos foram unnimes em que a gerao de energia nuclear s se justifica se houver solues seguras para os problemas que acarreta.. H que dar prioridade mxima busca de alternativas sensatas do ponto de vista ambiental e ecolgico, bem como de meios para tomar a energia nuclear mais segura.

    No que se refere ao rendimento energtico, cabe apenas esperar que o mundo formule vias alternativas de baixo consumo energtico com base em fontes renovveis, que devero ser o alicerce da estrutura energtica global do sculo XXI. A maioria dessas fonles apresenta hoje problemas, mas, com inovaes, podero fornecer a mesma quantidade de energia primria que o planeta consome atualmente Contudo, para atingir esses nveis de

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  • mais lucrativas por usarem os recursos com mais eficincia. Era bora o crescimento econmico tenha prosseguido, o consumo de matrias-primas se manteve estvel ou mesmo declinou, e novas tecnologias prometem ser ainda mais eficientes.

    As naes tm de arear com os custos da industrializao inadequada, e muitos pases em desenvolvimento to percebendo que no dispem nem de recursos nem de tempo dada a rapidez das mudanas tecnolgicas - para danificar agora seu meio ambiente e mais tarde recuper-lo. Mas tambm precisam de assistncia e de informaes das naes industrializadas, a fim de usar a tecnologia da melhor forma possvel. Cabe em especial s empresas transnacionais a responsabilidade de facilitar a industrializao das naes em que operam.

    As tecnologias emergentes prometem maior produtividade, mais eficincia e menos poluio, mas muitas apresentam o risco de novos produtos qumicos e rejeitos txicos e de graves acidentes que superam em natureza e propores os atuais mecanismos para enfrent-los. Urge controlar mais rigorosamente a exportao de produtos qumicos agrcolas e industriais perigosos. Os atuais controles sobre o despejo de rejeites perigosos deveriam ser mais rgidos

    Muitas das necessidades humanas bsicas s podem ser atendidas por bens e servios industriais, e a transio para o crescimento sustentvel deve ser estimulada por um fluxo contnuo de riqueza proveniente da indilstna. (Ver captulo 8 para uma anlise mais ampla dessas questes e recomendaes.)

    2.6 O desafio urbano

    Na virada do sculo, quase metade da humanidade viver em cidades; o mundo do sculo XXI ser predominantemente urbano. Em apenas 65 anos, a populao urbana do mundo em desenvolvimento decuplicou, passando de aproximadamente 100 milhes on 1920 a I bilho hoje. Em 1940, de cada 100 pessoas, uma vivia em cidades com 1 milho ou mats de habitantes; em 1980, isto ocorria com uma em cada tp. De 1985 at o ano 2000, as cidades do Terceiro Mundo podero abrigar mais de 750 milhes de pessoas. Isto indica que, nos prximos anos, o mundo em desenvolvimento precisa aumentar em 65% sua capacidade de proporcionar infra-estrutura, servios e moradias urbanos apenas para manter as condies atuais, quase sempre bastante precrias.

    Poucos governos municipais do mundo em desenvolvimento dispem de poder, recursos e pessoal qualificado para fornecer a suas populaes em rpido crescimento as terras, os servios e as instalaes que a qualidade da vida humana requer: gua potvel,

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  • pelo intolervel nus da dMda e pela reduo dos fluxos de financiamento do desenvolvimento. Para que os padres de vida se elevem e aliviem a pobreza, preciso inverter essas tendncias.

    Nesse sentido, cabe ao Banco Mundial e Associao Internacional de Desenvolvimento a maior parcela de responsabilidade, j que constituem o principal canal de financiamento multilateral para pases em desenvolvimento. No que respeita a fluxos financeiros constantemente ampliados, o Banco Mundial pode custear projetos e polticas que sejam benficos ao meio ambiente. No tocante ao financiamento para ajustes estruturais, o Fundo Monetrio Internacional deveria apoiar objetivos de desenvolvimento mais amplos e de mais longo prazo que os atuais: crescimento, metas sociais e efeitos sobre o meio ambiente.

    O nvel atual do servio da dvida de muitos pases, sobretudo na frica e na Amrica Latina, no se coaduna com o desenvolvimento sustentvel. Os devedores esto sendo instados a recorrer a excedentes comerciais para pagar o servio de suas dvidas e, para canto, exploram em excesso seus recursos no-renovveis. So necessrias medidas urgentes para aliviar o nus da dvida, de modo a que haja uma diviso mais justa de responsabilidades e obrigaes entre devedores e credores.

    Os atuais acordos sobre produtos bsicos poderiam ser bastante aperfeioados: mais financiamento compensatrio para contrabalanar os choques econmicos encorajaria os produtores a adotarem uma perspectiva de mais longo prazo e a no produzir mercadorias em excesso; e os programas de diversificao poderiam prestar maior assistncia. Os acordos exclusvamente atinentes a produtos bsicos podem seguir o modelo do Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais, um dos poucos a incluir es- pecificamente determinaes ecolgicas.

    As empresas multinacionais tm importante papel a desempenhar no desenvolvimento sustentvel, sobretudo medida que os pases em desenvolvimento passam a depender mais de capital social estrangeiro. Mas para que essas empresas influam de modo positivo no desenvolvimento, a capacidade de negociao dos pafses em desenvolvimento em relao s multinacionais deve ser fortalecida, a fim de que obtenham condies que respeitem seus interesses ambientais.

    Mas essas medidas especficas devem estar inseridas num contexto mais amplo de cooperao efetiva para gerar um sistema econmico internacional comprometido com o crescimento e a eliminao da pobreza no mundo. (Ver captulo 3 para uma anlise mais ampla das questes e recomendaes sobre economia internacional.)

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  • No tocante segurana, os governos e as agncias internacionais deveriam avaliar a eficincia, em funo dos custos, do dinheiro gasto em armamentos em comparao com o dinheiro gasto na reduo da pobre ca ou na recuperao de um meio ambiente devastado.

    Porm o mais importante conseguir um melhor relacionamento entre as grandes potncias capazes de desenvolver armas de destruio em massa. Isto necessrio para que se chegue a um consenso quanto ao controle mais rigoroso da proliferao e da testagem de vrios tipos de annas de destruio em massa - nucleares ou no inclusive as que afetam o meio ambiente. (Ver capitulo 11 para uma anlise mais ampla das questes e recomendaes sobre os vnculos entre paz, segurana, desenvolvimento e meio ambiente.)

    3.4 Mudana institucional e legal

    o longo deste relatrio (e especialmente no captulo 12) h muitas recomendaes especficas para mudanas institucionais e legais que no podem ser resumidas aqui de forma adequada. Mas as principais propostas da Comisso esto contidas em seis reas prioritrias.

    3.4.1 Chegando s fontes

    Este o momento de os governos comearem a responsabilizar diretamente as principais agncias nacionais, econmicas e setoriais pela formulao de polticas, programas e oramentos que apdem um desenvolvimento econmico e ecologicamente sustentvel.

    Por sinal, as vrias organizaes regionais precisam se empenhar mais para incorporar plenamente o meio ambiente em suas metas e atividades. H necessidade sobretudo de novos acordos regionais entre pafses em desenvolvimento para lidar com questes ambientais que ultrapassem fronteiras.

    Todos os principais organismos e agncias internacionais deveriam certificar-se de que seus programas estimulam e aptiam o desenvolvimento sustentvel, e tambm aperfeioar muito mais sua coordenao e cooperao. Dentro do sistema da Organizao das Naes Unidas, o Secretariado Geral deveria constituir-se em um ndcleo de liderana de alto nfvel, capaz de avaliar, aconselhar, dar assistncia e divulgar os progressos nesse sentido.

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  • governos: preencher as grandes lacunas que o direito nacional e internacional apresentam no tocante ao meio ambiente; buscar meios de reconhecer e proteger os direitos das geraes presentes e futuras a um meio ambiente adequado a sua sade e bem-estar, elaborar, sob os auspcios da ONU, uma Declarao universal sobre a proteo do meio ambiente e o desenvolvimento sustentvel, e posteriormente uma Conveno; e aperfeioar os mecanismos para evitar ou solucionar disputas sobre questes relativas ao meio ambiente e administrao de recursos.

    3.4.6 Investindo em nosso futuro

    Na ltima dcada, ficou demonstrada a eficincia global, em funo dos custos, dos investimentos destinados a deter a poluio. O prejuzo crescente, tanto em termos econmicos quanto ecolgicos, de no investir na proteo e melhoria do meio ambiente tambm j foi muitas vezes demonstrado - freqientemente sob a forma cruel de inundaes e fome. Mas h graves implicaes financeiras, seja para desenvolver a energia renovvel, controlar a poluio ou descobrir formos de agricultura que utilizem menos recursos.

    Neste sentido, o papel das Instituies financeiras muitilaterais de capital importncia. Atualmente, o Banco Mundial est incluindo em seus programas uma preocupao maior com o meio ambiente. A isto se deveria somar um comprometimento bsico do Banco com o desenvolvimento sustentvel. Tambm essencial que os bancos de desenvolvimento regionais e o Fundo Monetrio Internacional incluam objetivos similares em suas polticas e programas. E as agncias bilaterais de assistncia tambm devem adotar novas prioridades.

    Dada a dificuldade de aumentar os atuais fluxos de ajuda internacional, os governos agora deveriam considerar seriamente as propostas de obter receita adicional com o uso dos bens comuns e dos recursos naturais internacionais.

    4. APELO AO

    Ao longo deste sculo, o relacionamento entre o homem e o planeta que o sustenta passou por profunda mudana.

    No incio do sculo, nem o nmero de seres humanos nem a tecnologia eram capazes de alterar radiealmente os sistemas planetrios. No findar do sculo, no s o imenso nmero de seres humanos e suas atividades so capazes disto, como esto ocorrendo mudanas inesperadas na atmosfera, nos solos, nas guas.

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  • relatrio Assemblia Geral, uma conferncia internacional poderia ser convocada para analisar os progressos obtidos e promover os acordes complementares necessrios ao estabelecimento de pontos de referncia e manuteno do progresso humano.

    Antes de tudo, esta Comisso preocupou-se com as pessoas de todos os pases e de todas as condies sociais. A elas que dirigimos nosso relatrio. As mudanas que desejamos nas atitudes humanas dependent de uma ampla campanha de educao, debates e participao pblica. Tal companha deve iniciar-se agora, se quisermos chegar a um progresso humano sustentvel.

    Os membros da Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento so oriundos de 21 pases muito diferentes, Em nossas discusses, discordamos com frequncia quanto a detalhes e prioridades: Mas apesar da disparidade de nossas experincias e

  • mundo durante quase trs anos, ouvindo as pessoas. Em audincias pblicas especiais organizadas pela Comisso, ouvimos lderes governamentais, cientistas e especialistas, ouvimos grupos de cidados envolvidos em vrias questes ligadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento, e ouvimos milhares de pessoas agricultores, favelados, jovens,rindustnais e povos indgenas e tribais.

    Encontramos em toda parte uma grande preocupao com o meio ambiente, que no s levou a protestos como tambm, com frequncia, gerou mudanas. O desafio que se nos apresenta garantir que esses novos valores se reflitam melhor nos princpios e no funcionamento das estruturas, polticas e econmicas.

    Tambm encontramos motivos de esperana; as pessoas querem cooperar na construo de um futuro ma is prspero, imis justo e mais seguro; possvel chegar a uma nova era de crescimento econmico, fundamentada em polticas que mantenham e ampliem a base de recursos da Terra; o progresso que alguns desfrutaram no sculo passado pode ser vivido por todos nos prximos anos. Mas para que isso acontea, temos de compreender melhor os sintomas de desgaste que esto diante de ns, identificar suas causas e conceber novos mtodos de administrar os recursos ambientais e manter o desenvolvimento humano.

    1.1 SINTOMAS E CAUSAS

    O desgaste do meio ambiente foi com frequncia considerado o resultado da crescente demanda de recursos escassos e da poluio causada pela melhoria do padro de vida dos relatvamente ricos. Mas a prpria pobreza polui o meio ambiente, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos muitas vezes destroem seu prprio meio ambiente: derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem em nmero cada vez maior para as cidades j congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanas chega a ponto de fazer da prpria pobreza um dos maiores flagelos do mundo.

    J nos casos em que o crescimento econmico permitiu a melhoria dos padres de vida, isso foi por vezes conseguido custa de danos globais a longo prazo. As melhorias conseguidas no passado basearam-se, em grande parte, no uso de quantidades cada vez maiores de matrias-primas, energia, produtos qumicos e sintticos, e produziram uma poluio que no adequadamente levada em conta quando se estimam os custos dos processos de produo. Tildo isso teve efeitos no-previstos sobre o meio ambiente. Por isso, os problemas ambientais que enfrentamos hoje

    30

  • Tabela 1.1Tamanho da populao e PNB per capita por grupos de pases

    Grupo de pases Populao(milhes)

    PNBper capita (dlares de 1984)

    Taxa mdia anual de crescimento do PNB per capita, 1965-84

    (%)

    Economias de baixa renda (exceto China e ndia) 611 190 0,9

    China e ndia 1.778 290 3,3Economias de renda mdia baixa 691 740 3,0Economias de renda mdia alta 497 1.950 3,3Exportadores de petrleo de renda alta 19 11.250 3r2Economiasindustriais de mercado 733 11.430 2,4

    Fonte: baseada em dados de: Banco Mundial. Relatrio sobre o desenvolvimento mundial 1986. Rio de Janeiro, Fundao Getulio Vargas, 1986.

    rana de participarem da vida econmica de seus pases. Pelos mesmos motivos, muitos lavradores nmades tradicionais, que antes derrubavam florestas, cultivavam suas lavouras e depois deixavam que as florestas se refizessem, no tm agora nem terra suficiente nem tempo para que as florestas se recuperem. Assim, muitas vezes as florestas esto sendo destrudas apenas para obter terras de cultivo de baixa qualidade, incapazes de sustentar os que as trabalham. O cultivo extensivo em encostas ngremes est aumentando a eroso do solo em inuita.s regies montanhosas de pases desenvolvidos e em desenvolvimento. Em muitos vales fluviais, cultivam-se agora reas onde as inundaes sempre foram comuns.

    Essas presses se refletem numa incidncia cada vez mas alta de catstrofes. Nos anos 70, o nmero de pessoas mortas anual- mente por catstrofes naturais foi seis vezes superior1 ao dos anos 60, sendo que dobrou o nmero das pessoas atingidas por essas catstrofes. As secas e inundaes flagelos para os quais contribuem o desmatamento e o cultivo excessivo - foram responsveis pelos maiores estragos, em termos de nmero de pessoas afetadas. Nos anos 60, 18,5 milhes de pessoas por ano foram vtimas de secas, e nos anos 70, 24,4 milhes; 5,2 milhes de pes-

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  • "Se as pessoas destroem a vegetao para ter terra, alimento, forragem, combustvel ou madeira, o solo perde sua proteo. A chuva produz escoamento superficial e se d a eroso do solo. Quando j no h solo, a gua no fica retida e a terra j no pode produzir alimento, forragem, combustvel ou madeira suficientes; ento as pessoas buscam novas terras e recomeam todo o processo.

    Os problemas mats catastrficos dc Terceiro Mundo so, em essncia, problemas no- rrsoividos de desenvolvimento. Portanto, a preveno de catstrofes basicamente um aspecto do desenvolvimento, de um desenvolvimento que se verifique dentro das limites sustentveis

    Odd GranoSecretrio-geral da Cruz Vermelha Norueguesa

    Audincia pblica da CMMAD, Osfo, 24-25 de jonho de 1985

    1.1.2 Crescimento

    Em algumas panes do mundo, sobretudo a partir de meados dos anos 50, o padro de vida e a qualidade de vida se elevaram muito, graas ao crescimento e ao desenvolvimento. Muitos dos produtos e das tecnologias que contriburam para essa melhoria consomem muita matria-prima e muita energia, e so altamente poluentes. Por isso, seu impacto sobre o meio ambiente o maior j registrado na histria.

    No sculo passado, o uso de combustveis fsseis cresceu quase 30 veres, e a produo industrial aumentou ruais de 50 vezes. A maior parte desse aumento - cerca de trs quartos no caso dos combustveis fsseis, e pouco mas de quatro quintos no caso da produo industrial ocorreu a partir de 1950. Hoje, o aumento anual da produo industrial talvez o mesmo da produo total da Europa, em fins dos anos 30.^ Atualmente, obtemos em um ano as dcadas de crescimento industrial e de deteriorao do meio ambiente que foram a base da economia europia antes da guerra.

    Formas mais tradicionais de produo tambm provocam desgaste ambiental. Nos ltimos 100 anos, houve mais de sma tame ritos para criar reas de cultivo do que em todos os sculos precedentes. Aumentaram muito as intervenes nos ciclos hdricos. Enormes represas, quase todas construdas aps 1950, retm grande parte das guas dos rios. Na Europa e na sia, chega-se a

  • Tabela 1.2Distribuio do consumo mundial, mdias para 1980-82

    Pases Pasesdesenvolvidos em desenvolvimento(26% da populao) (74% da populao)

    Produto Unidades Participao Per Participao Perde consumo no consumo capita no consumo capitaper capita mundial mundial

    W (%)

    Alimento;Calorias Kcal/ dia 34 3.395 66 2,389Protena gr/dia 38 99 62 58Gordura gr/dia 53 127 47 40

    Papel Kg/ano 85 123 15 8Ao Kg/ano 79 455 21 43Outrosmetais Kg/ano 86 26 14 12

    EnergiaComerciai mtee/ano 80 5,8 20 0,5

    Fonte: estimativas da CMMAD baseadas em dados por pas da FAO, do Escritrio de Estatstica da ONU, da UNCTAD e da American Metal Association.

    vido ao uso de refrigerantes e aerossis. Uma perda substancial desse ozno poderia ter efeitos catastrficos sobre a sade das pessoas e de animais domsticos, e sobre certas formas de vida que constituem a base da cadeia alimentar marinha. A descoberta, em 1986, de que havia um orifcio na camada de oznio sobre a Antrtida sugere que sua destruio pode ocorrer com mais rapidez do que se supunha.^

    Vrios poluentes do ar esto matando rvores e lagos e causando danos a prdios e tesouros culturais, que tanto podem situar-se nas proximidades dos locais onde se d a descarga, quanto estar a milhares de quilmetros de distncia. A acidificao do meio ambiente ameaa vastas reas da Europa e da Amrica do Norte. Atualmente, cada metro quadrado do solo da Europa Central est recebendo mais de um grama de enxofre por ano.y A destruio das florestas pode acarretar eroso, formao de depsitos sedimentares, inundaes e alteraes climticas localizadas. Os danos causados pela poluio do ar esto se tomando evidentes em alguns pases recm-industrializados.

  • vers idade gentica (tos ecos sistemas do mundo. Esse processo priva as geraes atuais e futuras de material gentico para aperfeioar variedades de cultivos, tomando-as menos vulnerveis ao desgaste provocado pelo clima, s pragas e s doenas. O desaparecimento de espcies e subespcies, muitas delas ainda no estudadas pela cincia, priva-nos de importantes fontes potenciais de remdios e produtos qumicos industriais. Destri para sempre seres de grande beleza e partes de nosso patrimnio cultural; e empobrece a biosfera.

    Muitos dos riscos que derivam de nossas atividades produtivas e de nossas tecnologias ultrapassam as fronteiras nacionais; muitos deles so globais. As atividades que causam tais perigos tendem a concentrar-se em poucas pases, mas h riscos para todos, ricos e pobres, tanto para os que se beneficiam dessas atividades como para os que no se beneficiam. A maioria dos pases que compartilham esses riscos influ pouco nos processos decisrios que regulamentam essas atividades.

    Resta pouco tempo para aes corretivas. Em alguns casos, j podemos estar prestes a transpor limites crticos. Os cientistas continuam buscando e discutindo causas e efeitos, mas em muitos casos j temos conhecimento suficiente para justificar a ao. Isso vale em nvel local e regional no caso de ameaas como desertifi- cao, desflorestamento, rejeitos txicos e acidificao; em nvel global, vale para ameaas como alterao do clima, destruio do oznio e extino de espcies. Os riscos aumentam mais rapidamente que nossa capacidade de lidar com eles.

    A maior ameaa ao meio ambiente da Terra, ao progresso sustentvel da humanidade e mesmo sobrevivncia talvez a possibilidade da guerra nuclear, que aumenta a cada dia pela corrida armamentistii que no cessa e j est chegando ao espao. A busca de um futuro mais vivel s tem sentido se houver esforos mats vigorosos para deter o desenvolvimento dos meios de aniquilao.

    1.1.4 A crise econmica

    Os problemas ambientais com que nos defrontamos no so novos, mas s recentemente sua complexidade comeou a ser entendida. Antes, nossas maiores preocupaes voltavam-se para os efeitos do desenvolvimento sobre o meto ambiente. Hoje, temos de nos preocupar tambm com o modo como a deteriorao ambiental pode impedir ou reverter o desenvolvimento econmico. rea aps rea, a deteriorao do meio ambiente est minando o potencial de desenvolvimento. Essa ligao bsica passou a ser

    38

  • cessiva da terra e das recursos naturais para garantir a sobrevivncia a curto prazo.

    Muitos problemas econmicos internacionais ainda no foram resolvidos; o endividamento dos pases em desenvolvimento continua sendo uma questo grave; os mercados de produtos primrios e de energia esto muito instveis; os fluxos financeiros para pases em desenvolvimento so bastante deficientes; o protecionismo e as guerras comerciais representam uma sria ameaa. Alm disso, h um esvaziamento das instituies multilaterais e das regulamentaes, num momento em que so mais necessrias do que nunca. H uma tendncia para o declnio do multilatera- Lis mo e para a afirmao da predominncia nacional.

    1.2 NOVAS MANEIRAS DE CONSIDERAR O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO

    O progresso humano sempre dependeu de nosso engenho tcnico e de nossa capacidade para agir em cooperao. Essas qualidades foram frequente mente usadas de modo construtivo, com vistas ao progresso do desenvolvimento e do meio ambiente: por exemplo, no tocante ao controle da poluio do ar e da gua, ou a uma eficincia maior no uso de materiais e energia. Muitos pases aumentaram a produo de alimentos e reduziram os ndices de crescimento populacional. Alguns progressos tecnolgicos, sobretudo no campo da medicina, foram amplamente disseminados.

    Mas issn nn.basta.) A administrao do meio ambiente e a manuteno do desenvolvimento impem srios problemas a todos

    '7 os pases. Meio ambiente e desenvolvimento no constituem desa- fios separados; esto inevitavelmente interligados. O desenvolvi-

    i\ mento no se mantm se a base de recursos ambientais se deterio- J re; o meio ambiente no pode ser protegido se o crescimento no

    leva em conta as conseqilncias da destruio ambientai. Esses problemas no podem ser tratados separadamente por instituies c polticas fragmentadas. Eles fazem parte de um sistema complexo de causa e efeito.

    Primeiro, os desgastes do meio ambiente esto interligados. O desflorestamento, por exemplo, por aumentar o escoamento, acelera a eroso do solo e a formao de depsitos sedimentares em rios c lagos. A poluio do ar e a acidficao contribuem para matar florestas e lagos. Tais vnculos significam que preciso tentar resolver ao mesmo tempo vrios problemas diferentes. E se houver sucesso em uma rea, como, poT exemplo, a proteo das florestas, podem aumentar as chances de sucesso em outra rea, como, por exemplo, a conservao do solo.

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  • "Para conseguir resolver problemas globais, temos de criar novas mineiras de pensar, desenvolver staves critrios morais e de valores, e sem dvida novos padres de comportamento.

    A humanidade se encontra s portas de um novo estgio em seu desenvolvimento. Deveramos no s promover a expanso de sua base material, cientfica e tcnica, mas tambm, o que mais importante, incutir novos valores e aspiraes humanistas na psicologia humana, pois a sabedoria e o humanismo so as verdades eternas' que constituem a base da humanidade. Precisamos de novos conceitos sociais, morais, cientficos e ecolgicos, que devem ser determinados por novas condies de vida da humanidade,hoje e no futuro."

    I.T. FrolovRedator-Chefe da Commurdsr Magazine

    Audincia pblica da CMMAD, Moscou, 8 de dezembro de 1986

    gramas de desenvolvimento social, principalmente para melhorar a posio das mulheres na sociedade, proteger os grupos vulnerveis e promover a participao local no processo decisrio.

    Por fim, as caracterfsticas sistmicas no atuam somente no interior das naes, mas tambm entre elas. As fronteiras nacionais se tomaram to permeveis que apagaram as .tradicionais distines entre assuntos de significao local, nacional e internacional. Os eco ss is temas no respeitam fronteiras nacionais. A poluio das guas vai tomando rios, lagos e mares que banham mais de um pas. Atravs da atmosfera, a poluio do ar se espalha at bem longe. Os efeitos de acidentes mais srios - principalmente em reatares nucleares ou em fbricas e depsitos que contm materiais txicos - podem espalhar-se por toda uma regio.

    Muitos dos vnculos entre o meio ambiente e a economia tambm atuam em nvel global. Par exemplo, a agricultura das economias industriais de mercado, que recebe muitos subsdios e incentivos, gera excedentes que baixam os preos e tornam menos viveis as agriculturas dos pases em desenvolvimento, com fre- qGncia negligenciadas. Em ambas os sistemas, os solos e outros recursos ambientais sofrem Cada pas deve criar polticas agrcolas nacionais para assegurar os ganhos econmicos e polticos a curto prazo, mas nenhuma nao pode, sozinha, criar polticas que lidera eficiente mente com os custos financeiros, econmicos e ecolgicos das polticas agrcolas e comerciais adotadas pelas demais naes.

    42

  • O desenvolvimento sustentvel procura atender s necessidades e aspiraes do presente sem comprometer a possibilidade de atend-las no futuro. Longe de querer que cesse o crescimento econmico, reconhece que os problemas ligados pobreza e ao subdesenvolvimento s podem ser resolvidos se houver Uma nova era de crescimento no qual os pases em desenvolvimento desempenhem um papel importante e colham grandes benefcios.

    H sempre o risco de que o crescimento econmico prejudique o meio ambiente, uma vez que ele aumenta a presso sobre os recursos ambientais. Mas os planejadores que se orientam pelo conceito de desenvolvimento sustentvel tero de trabalhar para garantir que as economias em crescimento permaneam firmemente ligadas a suas razes ecolgicas e que essas razes sejam protegidas e nutridas para que possam dar apoio ao crescimento a longo prazo. Portanto, a proteo ao meio ambiente inerente ao conceito de desenvolvimento sustentvel, na medida em que visa mais s causas que aos sintomas dos problemas do meio ambiente.

    No pode haver um nico esquema para o desenvolvimento sustentvel, j que os sistemas econmicos e sociais diferem muito de pas para pas. Cada nao ter de avaliar as implicaes concretas de suas polticas. Mas apesar dessas diferenas, o desenvolvimento sustentvel deve ser encarado como um objetivo de todo o mundo.

    Nenhum pas pode desenvolver-se isoladamente. Por isso a busca do desenvolvimento sustentvel requer um novo rumo para as relaes internacionais. O crescimento sustentvel a longo prazo exigir mudanas abrangentes para criar fluxos de comrcio, capital e tecnologia mais eqflitativos e mais adequados aos imperativos do meio ambiente.

    Os mecanismos de uma cooperao internacional maior, necessria para garantir o desenvolvimento sustentvel, variaro de setor para setor e em rlao a cada instituio. Mas fundamental que todas as naes se unam para conseguir o desenvolvimento sustentvel. A unificao das necessidades humanas requer um sistema multilateral que respeite o princpio do consenso democrtico e reconhea que h no apenas uma Terra, mas tambm um s mundo.

    Nos captulos seguintes examinaremos mais detalhadamente essas questes e apresentaremos propostas especficas para reagir s crises de um futuro ameaado. De modo geral, nosso relatrio traz uma mensagem de esperana. Mas tal esperana est condicionada inaugurao de uma nova era de cooperao internacional baseada na premissa de que todo ser humano os que j existem e os que viro - tm direito vida, e a uma vida razovel. Cremos, com confiana, que a comunidade internacional tem

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  • 2. EM BUSCA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    O desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades. Ele contm dois conceito s-chave: o conceito de necessidades , sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a mxima prioridade;* a noo das limitaes que estgio da tecnologia e da organizao social impe ao meio ambiente, impedindo-o de atender s necessidades presentes e futuras.

    Portanto, ao se definirem os objetivos do desenvolvimento econmico e social, preciso levar em conta sua sustentabilidade em todos os pafses desenvolvidos ou em desenvolvimento, com economia de mercado ou de planejamento central. Haver muitas interpretaes, roas todas elas tero caractersticas comuns e devem derivar de um consenso quanto ao conceito bsico de desenvolvimento sustentvel e quanto a uma srie de estratgias necessrias para sua consecuo.

    O desenvolvimento supe uma transformao progressiva da economia e da sociedade. Caso uma via de desenvolvimento se sustente em sentido fsico, teoricamente ela pode ser tentada mesmo num contexto social e poltico rgido. Mas s se pode ter certeza da sustentabilidade fsica se as polticas de desenvolvimento considerarem a possibilidade de mudanas quanto ao acesso aos recursos e quanto distribuio de custos e benefcios. Mesmo na noo mais estreita de sustentabilidade fsica est implcita uma preocupao com a equidade social entre geraes, que deve, evidente mente, ser extensiva eqidade em cada gerao.

    > 2.1 O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTOSUSTENTVEL

    Satisfazer as necessidades e as aspiraes humanas o principal objetivo do desenvolvimento. Nos pases em desenvolvimento, as necessidades bsicas de grande mmern de pessoas alimento, roupas, habitao, emprego no esto sendo atendidas. Alm dessas necessidades bsicas, as pessoas tambm aspiram Icgiti-

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  • **Devido falta de comunicao, os grupos de assistncia ao meto ambiente, populao e ao desenvolvimento ficaram separados durante muito tempo, o que impediu que tomssemos conscincia de nosso interesse comum e de nossa fora conjunta. Felizmente, essa falha est sendo sanada. Sabemos agora que o que nos une muito mais importante que o que nos divide.

    Reconhecemos que a pobreza, a deteriorao do meio ambiente e o crescimento populacional esto indissoluvelmente ligados, e que nenhum desses problemas fundamentais pode ser resolvido isoladamente. Venceremos ou fracassaremos juntos.

    Chegar a Uma definio de desenvolvimento sustentvel aceita por todos continua sendo um desafio para todos os que esto empenhados no processo de desenvolvimento.

    Making common cause US. Based development, environment, population NGOs

    Audincia pblica da CMMAD, Ottawa, 26-27 de maio de 1986

    da interveno humana nos sistemas naturais durante o desenvolvimento. At pouco tempo, tais intervenes eram em pequena escala e tinham impacto limitado. Hoje, seu impacto mais drstico, sua escala maior, e por isso elas ameaam mais os sistemas que sustentam a vida, tanto em nvel local como global. Isso no precisaria ocorrer. No mnimo, o desenvolvimento sustentvel no deve pr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Tena: a atmosfera, as guas, os solos e os seres vivos.

    O crescimento no estabelece um limite preciso a partir do qual o tamanho da populao ou o uso dos recursos podem levar a uma catstrofe ecolgica. Os limites diferem para o uso de energia, de matrias-primas, de gua e de terra. Muitos deles se imporo por si mesmos mediante a elevao de custos e diminuio de retornos, e no mediante uma perda sbita de alguma base de recursos. O conhecimento acumulado e o desenvolvimento tecnolgico podem aumentar a capacidade de produo da base de recursos. Mas h limites extremos, e para haver sustentabilida- de preciso que, bem antes de esses limites serem atingidos, o mundo garanta acesso equitativo ao recurso ameaado e reoriente os esforos tecnolgicos no sentido de aliviar a presso.

    Obviamente, o crescimento e o desenvolvimento econmicos produzem mudanas no ecossistema fsico. Nenhum ecossistema, seja onde for, pode ficar in tacto. Uma floresta pode ser des matada em uma parte de uma bacia fluvial e ampliada em outro lugar e isto pode no ser mau, se a explorao tiver sido planejada e se se levarem em conta os nveis de eroso do solo, os regimes h-

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  • At certo ponto pela educao, pelo desenvolvimento das institui' es e pelo fortalecimento legal. Porm muitos dos problemas de destruio de recursos e do desgaste do'meio ambiente resultam de disparidades no poder econmico e poltico. Uma indstria pode trabalhar com nveis inaceitveis de poluio do ar e da gua porque as pessoas prejudicadas so pobres e no tm condies de reclamar. Pode-se destruir uma floresta pela derrubada excessiva porque as pessoas que nela vivem ou no tm alternativas ou so em geral menos influentes que os negociantes de madeira.

    As interaes ecolgicas no respeitam as fronteiras da propriedade individual e da jurisdio poltica Logo: Numa bacia fluvial, um agricultor cujas terras se situem na encosta pode, dependendo do modo como as use, afetar o escoamento nas fazendas rnais abaixo, As prticas de irrigao, os praguicidas e os fertilizantes utilizados numa fazenda aftam a produtividade das que lhe so vizinhas, sobretudo se forem pequenas propriedades. A gua quente que uma usina trmica despeja num rio ou num trecho de mar afeta a pesca na regio. A eficincia de uma caldeira de fbrica determina o ndice de emisso de fuligem e produtos qumicos nocivos, afetando assim todos os que vivem e trabalham nas imediaes.

    Os sistemas sociais tradicionais reconheceram alguns aspectos dessa interdependncia e aumentaram o controle da comunidade sobre as prticas agrcolas e sobre os direitos tradicionais relativos a gua, florestas e terras. Tal esforo do "interesse comum , contudo, no impediu necessariamente o crescimento e a expanso, embora possa ter limitado a aceitao e difuso de inovaes tcnicas,

    A interdependncia local aumentou, quando muito, devido tecnologia empregada na agricultura e na manufatura modernas. Mas, por causa do progresso tcnico, do cerco** das terras comuns, do desgaste dos direitos comuns sobre florestas e outros recursos, e da intensificao do comrcio e da produo para o mercado, as responsabilidades quanto Ss decises esto sendo retiradas dos grupos e dos indivduos. Essa mudana ainda est em processo em muitos pases em desenvolvimento.

    No que de um lado existam viles e de outro vtimas. Todos estariam em melhor condio se cada um considerasse os efeitos de seus atos sobre os detmis. Mas ningum est disposto a crer que os outros agiro desse modo, e assim todos continuam a buscar seus prprios interesses. As comunidades ou os governos podem compensar essa situao mediante leis, educao, impostos, subsdios e outros mtodos. O cumprimento das leis e uma legis-

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  • duSo aucareira, mas tambm a economia e a ecologia de vrios pases em desenvolvimento que dependem muito desse produto.

    Seria menos difcil buscar o interesse comum se houvesse, para todos os problemas ligados ao desenvolvimento c ao meio ambiente, solues que deixassem a todos em melhor situao. Isto ruramente ocorre, e em geral h quem ganhe e quem perca. Muitos problemas derivam de desigualdades no acesso aos recursos. Uma estrutura no-eqitativa de propriedade da terra pode levar explorao excessiva dos recursos das propriedades menores, com efeitos danosos tanto para o meio ambiente quanto para o desenvolvimento. No plano internacional, o controle monopolstico dos recursos pode levar os que deles no partilham a explotar excessivamente os recursos marginais. Outra manifestao do acesso desigual aos recursos o fato de os explotadores terem uma possibilidade maior ou menor para dispor dos bens livres", seja no plano regional, nacional ou internacional. Entre os que saem perdendo nos conflitos dcsenvolvimento/meio ambiente esto os que sofrem mais com os prejuzos que a poluio causa sade, propriedade e ao ecos sistema.

    Quando um sistema se aproxima de seus limites ecolgicos, as desigualdades se acentuam. Assim, quando uma bacia fluvial se deteriora, os agricultores pobres sofrem mais porque no podem adotar as mesmas medidas anticroso que os agricultores ricos adotam. Qilando se deteriora a qualidade do ar nas cidades, os pobres, que vivem em reas mais vulnerveis, tm a sade mais prejudicada que os ricos, que geral mente vivem em lugares mais protegidos. Quando os recursos minerais escasseiam, os retardatrios do processo de industrializao que perdem os benefcios dos suprimentos baratos. Globalmente, as naes mais ricas esto em situao melhor, do ponto de vista financeiro e tecnolgico, para lidar com os efeitos de.uma possvel mudana climtica.

    Portanto, nossa dificuldade para promover o interesse comum o desenvolvimento sustentvel provm com frequncia do fato de no se ter buscado adequadamente a justia econmica e social dentro das naes e entre elas. ,

    1 3 IMPERATIVOS ESTRATGICOS

    preciso que o mundo crie logo estratgias que permitam s naes substituir seus atuais processos de crescimento, freqiientemente destrutivos, pelo desenvolvimento sustentvel. Para tanto necessrio que todos os pases modifiquem suas polticas, tanto em relao a seu prprio desenvolvimento quanto era relao aos impactos que podero exercer sobre as possibilidades de desen-

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  • Box 2.1 Crescimento, redistrlbufo e pobreza

    A pobreza o nvel de renda abaixo do qual uma pessoa ou uma famlia no capaz de atender regularmente s necessidades da vida. A percentagem da populao que se situa abaixo desse nvel depende da renda nacional per capita e do modo como ela distribuda. Com que rapidez um pas em desenvolvimento espera eliminar a pobreza absoluta? A resposta diferir de pas para pas, mas possvel aprender muito examinando-se um caso tpico.

    Consideremos uma nao na qual metade da populao viva na pobreza e a distribuio da renda familiar seja a seguinte: um quinto das famlias detm 50% da renda total; outro quinto detm 20%, outro 14%, outro 9%, e o ltimo quinto apenas 7%. exatamente isso o que acontece em muitos pases em desenvolvimento de baixa renda.

    Nesse caso, se a distribuio de renda no se alterar, ser preciso que a renda nacional per capita dobre para que o ndice de pobreza caia de 50 para 10%. Se houver uma distribuio de renda que favorea os pobres, essa reduo pode se dar mais depressa. Consideremos a possibilidade de que 25% da renda incremental daquele um quinto da populao que o mais rico sejam igualmente distribudos aos demais.

    Estas hipteses de redistribuo refletem trs critrios. Primeiro, na maioria das situaes as polticas de redistri-

    mento de 5% nos anos 60 e 70, mas tais ndices caram na primeira metade dos anos SO, devido sobretudo crise da dvidaJ A retomada do crescimento na Amrica Latina depende da soluo dessa crise. Na frica, nos anos 60 e 70, os ndices de crescimento situaram-se em tomo de 4-4,5%, o que, aos atuais ndices de crescimento populacional, significaria um crescimento da renda per capita ligeiramente superior a 1% .2 Nos anos 80, o crescimento quase parou, e a renda per capita declinou em dois teros dos pases.3 Para se chegar a um nvel mnimo de crescimento na frica, preciso corrigir os desequilbrios de curto prazo e acabar com velhos entraves ao processo de crescimento.

    O crescimento precisa ser retomado nos pases em desenvolvimento porque neles que esto mais diretamente interligados o crescimento econmico, o alvio da pobreza e as condies ambientais. Mas esses pases fazem parte de uma economia mundial interdependente, e suas perspectives dependem tambm dos nveis e dos padres de crescimento das naes industrializadas. A pers-

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  • Em inilmeros pases em desenvolvimento, porm, os mercados so muito pequenos; e todos estes pases precisaro de um grande crescimento das exportaes, sobretudo de itens no-tradicionais, para financiar as importaes, cuja demanda vir com o crescimento rpido, como veremos no captulo 3.

    2.3.2 Mudando a qualidade do crescimento

    O desenvolvimento sustentvel ma is que crescimento. Ele exige uma mudana no teor do crescimento, a fim de torn-lo menos intensivo de matrias-primas e energia, e ma is equitativo em seu impacto. Tais mudanas precisam ocorrer em tcidos os pases, como parte de um pacote de medidas para manter a reserva de capital ecolgico, melhorar a distribuio de Venda e reduzir o grau de vulnerabilidade s crises econmicas.

    O processo de desenvolvimento econmico deve basear-se rnais firmemente na realidade da reserva de capital que o mantm, coisa que raramente ocorre, seja nos pases desenvolvidos, seja naqueles em desenvolvimento. A renda derivada de operaes florestais, por exemplo, convencionalmente medida em termos do valor da madeira e de outros produtos extrados, deduzidos os custos da extrao. No se levam em conta os custos de regenerar a floresta, a no ser que realmente se gaste dinheiro com isso. Assim, os lucros advindos das operaes com madeira quase nunca levam plenamente em conta as futuras pendas de renda decorrentes da deteriorao da floresta. Tambm no caso da explorao de outros recursos naturais - sobretudo os que no so capitalizados em contas nacionais ou de empresas, como ar, gua e solo verifica-se o mesmo tipo de contabilidade incompleta. Em todos os pases, ricos ou pobres, o desenvolvimento econmico tem de levar tambm em conta a melhoria ou a deteriorao da reserva de recursos naturais em sua mensurao do crescimento.

    A distribuio de renda um dos aspectos da qualidade do crescimento, como foi dito anteriormente, e o crescimento rpido aliado m distribuio de renda pode ser pior do que um crescimento mais lento afiado a uma redistribuio que favorea os pobres. Em muitos pases em desenvolvimento, por exemplo, a introduo da agricultura comercial em grande escala pode gerar receita com rapidez, mas tambm pode desalojar muitos pequenos agricultores e tomar mais injusta a distribuio de renda. A longo prazo, pode no ser uma estratgia vivel, pois empobrece muita gente e aumenta a presso sobre a base de recursos naturais mediante a supercomercializao da agricultura e a margmalizao dos agricultores de subsistncia. Dar preferncia ao cultivo em

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  • meio de vida da comunidade locai devem constar de todos os balanos. Assim, abandonar o projeto de uma hidreltrica porque prejudicaria um sistema ecolgico raro pode scr uma medida a favor do progresso e no um retrocesso no desenvolvimento.4 Pode at ser que, em alguns casos, as consideraes de sustentabilidade levem ao abandono de atividades economicamente atraentes a curto prazo,

    O desenvolvimento econmico e o desenvolvimento social podem e devem apoiar-se mutuamente. O dinheiro empregado em educao e sade pode aumentar a produtividade dos indivduos. O desenvolvimento econmico pode acelerar o desenvolvimento social fornecendo oportunidades a grupos menos favorecidos ou disseminando a educao com mais rapidez.

    2.3.3 Atendendo s necessidades humanas essenciais

    A satisfao das necessidades e aspiraes humanas um objetivo to bvio da atividade produtiva que pode parecer redundante falar de seu papel central no conceito de desenvolvimento sustentvel. Muitas vezes a pobreza tanta que as pessoas no conseguem satisfazer suas necessidades de sobrevivncia e bem-estar, mesmo quando h bens e servios disponveis. Ao mesmo tempo, as demandas dos que no so pobres podem ter consequncias de vulto para o meio ambiente.

    O principal desafio do desenvolvimento atender s necessidades e aspiraes de uma populao cada vez maior do mundo em desenvolvimento. Destas, a principal o sustento, ou seja, o emprego. Entre 1985 e 2000, a fora de trabalho nos pases em desenvolvimento aumentar em cerca de 900 milhes de pessoas, com o que tero de ser criadas novas oportunidades de sustento para 60 milhes de pessoas por ano.5 E preciso que o ritmo e o padro do desenvolvimento econmico criem oportunidades de trabalho sustentveis nessa escala e num nvel de produtividade que permita s famlias pobres viverem dentro dos padres mnimos de consumo.

    preciso haver mais alimento no s para alimentar um nmero maior de pessoas, mas tambm para combater a subnutrio. Para que cada pessoa, no mundo em desenvolvimento, coma tanto quanto cada pessoa no mundo industrializado, por volta do ano 2000, & preciso que haja um aumento de 5% em calorias e 5,8% em protenas na Africa; de 3,4 e 4%, respectvamente, na Amrica Latina; e de 3,5 e 4,5% na sia.6 Cereais e amidos so as fontes bsicas de calorias; as protenas so obtidas principalmente de produtos como leite, carne, peixe, legumes e sementes oleaginosas.

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  • as transmissveis como malria, infeces gastrointestinais, clera e tifo. O crescimento populacional e a migrao para as cidades ameaam agravar esses problemrs. Os planejadores precisam valorizar mais o esprito de iniciativa das comunidades e o uso de tecnologias baratas.

    2.3.4 Mantendo um nvel populacional sustentvel

    A sus rentabilidade do desenvolvimento est diretamente ligada dinmica do crescimento populacional. Mas a questo no simplesmente o tamanho da populao do mundo. Uma criana nascida num pas onde os n/veis de uso de matrias-primas e energia so elevados representa um nus maior para os recursos da Terra do que uma criana num pas mais pobre. O mesmo argumento vale nemaotente para cada jjaj mais fcil buscar o desenvolvimento sustentvel quando o tamanho da populao se estabiliza num nvel coerente com a capacidade produtiva do ecossistema.

    Nos pases industrializados, o ndice global de crescimento populacional inferior a 1%; vrios pases j chegaram ou esto chegando a um crescimento populacional zero. A populao total do mundo industrializado pode aumentar dos atuais 1,2 bilho para cerca de 1,4 bilho em 2025.

    A maior parte do aumento da populao global ocorrer nos pases em desenvolvimento; neles, a popnlao que era de 3,7 bilhes em 1985 pode chegar 6,8 bilhes em 2025.9 o Terceiro Mundo no tem a opo de migrar para terras novas , e o tempo de que dispe para se ajustar muito menor que o que tiveram os pases industrializados. Assim, preciso baixar rapidamente os ndices de crescimento populacional, sobretudo em regies como a frica, onde esses ndices esto se elevando.

    O declnio das taxas de natalidade nos pases industrializados deveu-se em grande parte ao desenvolvimento econmico e social. Os nveis cada vez mais altos de renda e urbanizao, assim como o novo papel das mulheres, tiveram grande importncia. Processos semelhantes esto ocorrendo agora nos pases em desenvolvimento. Eles devem ser reconhecidos e estimulados. As polticas populacionais devem integrar-se a outros prugramas de desenvolvimento econmico e social - educao das mulheres, atendimento mdico e expanso dos meios de sustenro dos pobres. Mas o tempo escasso, e os pases em desenvolvimento tambm tero de adotar medidas diretas para reduzir a fecundidade, a fim de no ultrapassarem de modo radical seu potencial produtivo capaz de sustentar suas populaes. Na verdade, o acesso maior aos servios de planejamento familiar em si mesmo uma

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  • A presso sobre os recursos aumenta quando as pessoas ficam sem alternativas. As polticas de desenvolvimento devem dar mais opes para que as pessoas disponham de um meio de vida sustentvel sobretudo no caso de famlias com poucos recursos e de reas onde existe desgaste ecolgico. Numa regio montanhosa, por exemplo, pode-se aliar o interesse econmico e a ecologia ajudando os agricultores a trocarem as safras de gros pelas culturas arbreas; para isso preciso dar-lhes conselhos, equipamento e assistncia mercadolgica.

    Os programas para proteger as rendas de agricultores, pescadores e silvicultores contra as quedas de preo a curto prazo podem diminuir sua necessidade de explorar excessivamente os recursos.tl A conservao dos recursos agrcolas tarefa urgente porque em muitas partes do mundo os cultivos j se estenderam s terras marginais, e a pesca e a silvicultura foram exploradas excessiva- mente. Tais recursos devem ser conservados e melhorados para atender s necessidades de populaes cada vez maiores. O uso da terra na agricultura e na silvicultura deve basear-se numa avaliao cientfica da capacidade da terra, e o esgotamento anual do solo arvel e dos recursos pesqueiros e florestais no deve ultrapassar o ndice de regenerao.

    As presses que a lavoura e a pecuria exercem sobre a terra agricultvel podem ser em parte aliviadas se a produtividade aumentar. Mas melhorar a produtividade de modo imprevidente e a curto prazo pode provocar diversas formas de desgaste ecolgico, como a perda de diversidade gentica dos cultivos permanentes, a salinizaao e a aJcalizao das terras irrigadas, a poluio por nitrato das guas subterrneas e os resduos de praguicidas nos alimentos. Existem opes mais benignas do ponto de vista ecolgico. Os futuros aumentos de produtividade, tanto nos pases em desenvolvimento como nos desenvolvidos, deveriam basear-se num uso mais bem controlado de gua e agroqunicos, e tambm no uso mais extensivo de adubos orgnicos e praguicidas no- qumicos. Essas alternativas s podem ser estimuladas por uma poltica agrcola que se baseie nas realidades ecolgicas. (Ver captulo 5.)

    No tocante pesca e a silvicultura tropical, dependemos muito da explorao das reservas naturais disponveis. E bem possvel que a produtividade sustentvel dessas reservas seja insuficiente para atender demanda. Nesse caso, ser preciso adotar mtodos que produzam mais peixe, lenha e produtos florestais sob condies controladas. Podem ser estimulados os substitutos de lenha.

    Os limites extremos do desenvolvimento global talvez sejam determinados pela disponibilidade de recursos energticos e pela

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  • ao estmulo a setores menos energia-intensivos. Mas preciso acelerar o processo a fim de reduzir o consumo per capita e estimular a busca de fontes e tecnologias no-poluentes. No vivel, nem desejvel, que o mundo em desenvolvimento simplesmente adote os mesmos padres de consumo de energia dos pases industrializados. Uma mudana desses padres para melhor requer novas polticas de desenvolvimento urbano, localizao de indstrias, planejamento habitacional e sistemas de transporte, bem como a seleo de tecnologias agrcolas e industriais.

    Os problemas de suprimento de recursos minerais no-combustveis aparentemente so menores. Segundo estudos anteriores a 1980, que supunham uma demanda exponencialmente crescente, o problema s surgiria no decorrer do prtximo sculo. Desde ento, o consumo mundial da maioria dos metais permaneceu quase o mesmo, o que leva a crer que os minerais no-combustveis s se esgotaro num prazo ainda mais longo. A histria do desenvolvimento tecnolgico tambm sugere que a indstria pode se ajustar escassez se houver maior eficincia no uso, na reciclagem e na substituio. Entre as necessidades mais imediatas contam-se a modificao da estrutura do comreio mundial de minrios, para dar aos exportadores uma participao maior no valor adicionado do uso de minerais, e a melhoria do acesso dos pases em desenvolvimento s reservas de minerais medida que sua demanda aumente.

    A preveno e a reduo da poluio do ar e da gua continuaro sendo um ponto crtico da conservao de recursos A qualidade do ar e da gua ameaada pelo uso de fertilizantes e pra- guie idas, despejos urbanos, queima de combustveis fsseis, uso de alguns produtos qumicos e vrias outras atividades industriais. Tudo isso capaz de aumentar substancialmente a poluio da biosfera, sobretudo nos pases em desenvolvimento. Limpar o que j foi poludo uma soluo cara. Assim, todos os pases precisam prever e evitar problemas de poluio, e para tanto podem, por exemplo, buscar padres de emisso que levem em conta os efeitos a longo prazo, estimular as tecnologias que deixem poucos rejeitos e prever o impacto de novos produtos, tecnologias e rejeitos.

    2.3,6 Reorientando a tecnologia e administrando o risco

    Para alcanar esses objetivos, ser preciso reorientar a tecnologia o vnculo-chave entre os seres humanos e a natureza. Primeiro, a capacidade de inovao tecnolgica precisa ser muito ampliada nos pases em desenvolvimento, a fim de que eles possam reagir de modo mais eficaz aos desafios do desenvolvimento sustent-

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  • Os povos indgenas so a base do que, em minha opinio, pode ser chamado de o sistema de segurana do meio ambiente. Somos responsveis pelo sucesso ou fracasso em poupar nossos recursos. Para muitos de ns. contudo, houve nos ltimos sculos uma substancial perda de controle sobre nossas terras e guas. Ainda somos os primeiros a tomar conhecimento das mudanas do meio ambiente, mas agora sumos os ltimos a serem ouvidos ou consultados.

    Somos os primeiros a perceber quando as florestas esto sendo ameaadas, j que a economia deste pais fa z delas o que bem entende. E somos os ltimos a opinar sobre o futuro de nossas florestas. Somas os primeiros a sentir a poluio de nossas guas, como podem atestar os povos Ojibway das terras em que nasci, no norte de Onirio. E, evidentemente, somos os ltimos a serem consultados sobre como, quando e onde deveriam ser tomadas medidas para assegurar a harmonia para a stima gerao.

    O mximo que aprendemos a esperar ser compensados, sempre multo tarde e com muito pouco. Raramente somos chamados a contribuir com nossa experincia e nosso consentimento para o desenvolvimento no sentido de evitar a necessidade de sermos compensados

    Louis BmyerePresidente do Conselho Nativo do Canad

    Audincia pblica da CMMAD, Ottawa. 26-27 de maio de 1986

    atividade manufature ira e planos de contingncia para as operaes, as consequncias de uma falha ou de um acidente podem ser menos catastrficas.

    No tem sido aplicada coerente mente s tecnologias ou sistemas a melhor anlise de vulnerabilidade ou de risco. Um dos principais objetive da ampla concepo de sistemas seria tomar menos graves as consequncias de falhas ou sabotagem. Portanto, so necessrias novas tcnicas e tecnologias e tambm novos mecanismos legais e institucionais - para planejar a segurana, prevenir acidentes, traar planos de contingncia, diminuir os danos e dar o auxilio necessrio.

    Os riscos ambientais resultantes de decises tecnolgicas e de- senvolvimentistas recaem sobre os indivduos e as reas que tm pouca ou nenhuma influncia sobre estas decises. H pois que levar em conta seus interesses. So necessrios mecanismos institucionais de mbito nacional e internacional para avaliar os impactos potenciais de novas tecnologias, antes que elas se tomem

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  • compatibilidade entre os objetivos ambientais e econmicos fica perdida quando se busca o ganho individual ou de algum grupo, sem dar grande importncia ao impacto que isto pode causar aos outros, acreditando-se cegamente que a cincia encontrar solues e ignorando-se as conscqilncias que podero ter num futuro distante as decises tomadas hoje. A inflexibilidade das instituies agrava essa situao.

    Uma sria inflexibilidade a tendncia a lidar isoladamente com cada setor ou indstria, sem reconhecer'a importncia dos vfnculos intersetoriais. A agricultura moderna utiliza grandes quantidades de energia produzida comercialmente e tambm de produtos industriais. Ao mesmo tempo, o vnculo mats tradicional o fato de a agricultura ser fonte de matrias-primas para a indstria est se desfazendo devido ao uso cada vez mais disseminado de produtos sintticos. A ligao entre energia e indstria tambm est se alterando, pois h uma forte tendncia a um uso menos Intensivo de energia na produo industrial dos pases industrializados. No Terceiro Mundo, contudo, a transferncia gradual da base industrial para os setores produtores de materiais bsicos est levando a um uso mais intensivo de energia na produo industrial.

    Essas ligaes intersetoriais criam contextos de interdependncia econmica e ecolgica que raramente se refletem no modo corno as polticas so elaboradas. As organizaes setoriais tendem a buscar objetivos setoriais e a considerar seus efeitos sobre outros setores como efeitos colaterais, s os levando em conta se a isso forem obrigadas. Por isso os impactos sobre as florestas raramente preocupam os responsveis pelos rumos das polticas pblicas ou das atividades comerciais nas reas de energia, desenvolvimento industrial, agronomia e comrcio exterior. Muitos dos problemas de meio ambiente e de desenvolvimento com que' nos defrontamos originam-se dessa fragmentao setorial