relatório 3
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1 INTRODUÇÃO
ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA
Disciplina: Química Orgânica e Bioquímica Experimental
EXTRAÇÃO COM SOLVENTES QUIMICAMENTE ATIVOS
Data da realização do experimento: 27/03/2012
Turma: TQM_T01 Prof. Responsável: Msc. Geverson Façanha da Silva
Aluno: Amina MourãoUso do Professor
Nota do grupoAluno: Rayane AraújoUso do Professor
Aluno: Rosebrícia Pereira BritoUso do Professor
Aluno: Silvana da Silva MacedoUso do Professor
Manaus, AM
2012
A extração é uma técnica para purificação e separação, baseada nos diferentes graus de
solubilidade dos constituintes. Compostos orgânicos, por exemplo, são, em geral, mais solúveis
em solventes também orgânicos e pouco solúveis em água (BLACKADDE & NEDDERMAN,
1982).
Quando se colocam em contato duas fases de composições diferentes, pode ocorrer a
transferência de componentes de uma fase a outra e vice-versa. Esta transferência entre as fases
ocorre até que o estado de equilíbrio seja atingido (BLACKADDE & NEDDERMAN, 1982).
Os componentes de uma mistura são solúveis, em diferentes graus, no solvente. No caso
ideal, o componente a ser extraído é solúvel no solvente, e os outros componentes são insolúveis.
Então, o soluto é o único componente transferido da mistura inicial para a fase do solvente.
Depois do contato entre a carga e o solvente, as duas fases líquidas imiscíveis e de diferentes
densidades formadas são denominadas de extrato (a fase mais rica em solvente que acolhe o
soluto) e rafinado (a fase mais pobre em solvente de onde foi extraído o soluto). Removendo-se o
solvente do extrato e do rafinado obtém-se o produto extraído e o produto rafinado. A esse
processo damos o nome de extração (BLACKADDE & NEDDERMAN, 1982).
1.1 COMPONENTES DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO
Descontínua
Etração líquido-líquido
Solvente quimicamente
ativo
Contínua
Aparelho Soxhlet
Extrator líquido-líquido
Técnicas de Extração
Soluto: produto ou produtos que se deseja extrair da carga.
Co-solvente: o outro ou os outros componentes da carga que não deve(m) ser extraído(s).
Solvente: produto utilizado para a extração do soluto, o qual nele se solubiliza
(GONÇALVES & ALMEIDA, 1988).
1.2 CRITÉRIO PARA ESCOLHA DO SOLVENTE
Os critérios para a escolha do solvente ideal para o processo de extração podem ser
agrupados em classes, cada qual com sua importância relativa para cada processo. Alguns deles
foram explanados a seguir (GONÇALVES & ALMEIDA, 1988):
Capacidade de separação do solvente
O solvente deve ser capaz de provocar a formação de uma fase separada da fase rica em
co-solvente, além de ser facilmente separável daquela fase. Cinco critérios estão relacionados a
esta capacidade:
Solubilidade : o solvente ao ser adicionado à carga deve provocar a formação de duas
fases. Solvente e soluto devem ser miscíveis, enquanto que solvente e co-solvente devem
ser praticamente imiscíveis.
Densidade : a densidade do solvente deve ser bem diferente da densidade do co-
solvente para que seja possível a separação das fases formadas, até mesmo por decantação
(eliminando o uso de outros dispositivos de separação).
Tensão interfacial : as fases formadas pela adição do solvente se apresentam sob a
forma contínua e dispersa. A fase dispersa, seja ela rafinado ou extrato, deve apresentar
elevada tensão interfacial, de forma a provocar o rápido coalescimento das gotas
formadas.
Estabilidade e reatividade química : o solvente não deve reagir com as outras
substâncias do sistema, nem deve ser quimicamente instável.
Viscosidade : a transferência de matéria é favorecida por baixas viscosidades
(bombeamento turbulento).
Performance do Solvente
Considerando-se como performance a capacidade do solvente de extrair o soluto da carga,
três fatores adquirem importância:
Coeficiente de distribuição do soluto nas duas fases K C = (YC/XC): definido como a
relação da concentração do soluto na fase extrato para a da fase rafinado, este coeficiente
indica a tendência de distribuição do soluto nestas fases. Se a relação for superior a 1,
melhor será a recuperação do soluto pelo solvente.
Seletividade CA = (KC/KA): traduz a capacidade de o solvente extrair o soluto sem
extrair o co-solvente, sendo expressa pela relação entre os coeficientes de distribuição do
soluto e do co-solvente. Se a relação for superior a 1, maior será a eficácia do solvente
para a extração do soluto.
Capacidade : quantidade de solvente necessária para tratar a carga. Quanto menor for
esta quantidade, melhor será a extração em termos de processo e de custo.
Aceitabilidade do Sistema
Entre os outros critérios que afetam a escolha do solvente, pois influem no custo do
processo e na operação, temos:
Corrosividade : quanto menor for à corrosão provocada pelo solvente, menor será o
custo operacional.
Pressão de vapor : quanto menor for a pressão de vapor, menor será a pressão de
operação e menores serão as perdas de produto.
Inflamabilidade e toxicidade : quanto menos inflamável e tóxico for o solvente,
menores serão os riscos associados à sua utilização.
Recuperabilidade : após extrair o soluto da carga, o solvente deve ser facilmente
separado deste para ser reutilizado. Esta separação normalmente é feita por destilação
(flash ou fracionada), exigindo adequada volatilidade relativa.
Custo e disponibilidade : fatores decisivos para a escolha de um solvente quando
ocorrer mais de uma possibilidade de uso.
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Separar os componentes orgânicos de uma mistura através da extração com solventes
quimicamente ativos.
2.2 ESPECÍFICOS
Aplicar a técnica de extrações múltiplas líquido-líquido, com base nos procedimentos
básicos e na solubilidade dos compostos envolvidos;
Relatar e investigar todas as etapas do método, bem como os fenômenos observados
durante a execução do experimento, atentando-se às propriedades físico-químicas de cada
amostra fornecida para análise e às possíveis reações químicas ocorridas;
Calcular os rendimentos, coeficientes de distribuição e concentrações de solutos em um
dado solvente, analisando os resultados numéricos da técnica para diferentes compostos
orgânicos, averiguando a sua eficácia;
Justificar quaisquer equívocos cometidos ao longo da prática, bem como identificar seus
fatores causadores.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Seguem abaixo os materiais, reagentes e procedimentos adotados durante a execução da
prática:
3.1 MATERIAIS UTILIZADOS
- Erlenmeyer de 250 mL (04)
- Funil de separação de 250 mL (01)
- Funil de vidro (01)
- Papel de Filtro (03)
- Proveta de 50 e 100 mL (01)
- Bastão de vidro (01)
- Béquer 50 mL (04)
- Placas de Petri (03)
- Banho Maria (01)
- Vidro de relógio (03)
- Tesoura
- Balão de fundo redondo de 500 mL
- Cubetas para cromatografia
- Garra (01)
- Pipeta Graduada 10 mL (02)
- Óculos de segurança
- Pisseta com água destilada (01)
- Espátula (03)
- Balança analítica (01)
- Suporte Universal (01)
-Papel tornassol
3.2 REAGENTES UTILIZADOS
- Ácido benzoico (P.A.)
- Naftaleno (P.S.)
- β-naftol (P.A.)
- Éter etílico (P.A.) (100 mL por
equipe).
- Ácido clorídrico (HCl) concentrado.
- Solução de bicarbonato de sódio
(NaHCO3) a 10% (90 mL por equipe).
- Solução de Hidróxido de sódio
(NaOH) a 10% (90 mL por equipe).
- Sulfato de sódio anidro (Na2SO4)
(P.A.)
3.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
3.3.1 Alterações nos procedimentos:
Os experimentos contaram com as seguintes modificações:
Constava-se sob a bancada laboratorial, dois frascos contendo, teoricamente,
solução de NaHCO3 10%. Todas as equipes usufruíram do frasco que continha
maior quantidade da solução, apenas uma equipe utilizou o frasco com menor
quantidade; e, no entanto, apenas essa obteve os resultados esperados. Conclui-se,
portanto, que a solução utilizada pela maioria das equipes não estava em bom uso
ou não fora devidamente preparada, o que levou a equipe do referido relatório a
decidir em refazer toda a prática utilizando a solução correta.
O roteiro da prática previa a utilização de erlenmeyers de 125 mL, no entanto,
estavam disponível apenas erlenmeyers de 250 mL.
Não foi realizada a etapa referente ao método de cromatografia em camada
delgada (CCD), em razão de não estar disponível sob a bancada os materiais
referentes à técnica.
3.3.2 Execução dos experimentos:
3.3.2.1 Preparo da solução:
A solução a ser extraída fora preparada da seguinte forma:
Utilizando a balança analítica, pesou-se aproximadamente 1,0000 g de cada um
dos seguintes componentes: naftaleno, β-naftol e ácido benzóico. As aferições de
massa foram realizadas uma a uma e diretamente em um erlenmeyer vazio de 250
mL, no qual a solução seria preparada, com o intuito de diminuir as etapas do
processo e, consequentemente, reduzir a perda de massa dos compostos;
Analisaram-se as propriedades físicas dos compostos orgânicos, para comparar os
aspectos iniciais dos sólidos com as aparências ao final da extração;
Adicionou-se ao mesmo erlenmeyer de 250 mL um volume de 100,0 mL de éter
etílico, o qual fora medido em uma proveta de 50,0 mL, formando uma mistura
homogênea de coloração amarelo-clara denominada solução etérea;
Transferiu-se a solução para o funil de separação, com o cuidado de lavar o
erlenmeyer com um pouco de éter, a fim de garantir que toda a massa inicial dos
compostos orgânicos fosse transferida ao aparato.
3.3.2.2 Aplicação da técnica:
Após a transferência da solução ao funil de separação, procedeu-se à adição de
algumas soluções aquosas extratoras, nas quais determinados solutos orgânicos seriam
solubilizados.
Acrescentou-se 30,0 mL de solução aquosa de NaHCO3 ao funil de separação,
que era tampado hermeticamente. Retirou-se o funil da alça e agitou-o cinco
vezes, com o dedo indicador segurando a tampa e a mão o corpo do funil.
Após a agitação, direcionou-se o tubo de saída do funil para cima – como uma
medida de segurança -, abrindo a torneira do tubo para retirar a pressão criada
no interior desta vidraria. A pressão criada no interior do tubo era devida à
intensa agitação, ao calor emitido pela mão da pessoa que segura o funil e ao
atrito da mão com o vidro. Colocou-se o funil no suporte universal e observou-
se a formação de uma linha tênue entre as fases. Abriu-se a torneira do funil
para despejar em um erlenmeyer de 250 mL a fase mais densa da mistura
imiscível, correspondente à fase aquosa da solução que permaneceu no fundo
do funil. Tomou-se o devido cuidado para que a fase superior da solução, que
continha éter e os demais solutos orgânicos, não fosse passada para o
erlenmeyer. Esse procedimento foi repetido mais duas vezes, ou seja,
efetuando-se extrações múltiplas. O filtrado obtido foi designado como
solução 1.
O mesmo procedimento foi executado para a solução extratora de NaOH,
sendo o filtrado (solução 2) despejado em outro erlenmeyer.
Lavou-se a solução etérea contida no funil de separação com 30,0 mL de água
destilada, realizando o mesmo processo de agitação dos solventes extratores.
Secou-se o filtrado com Na2SO4. Através de filtração simples, filtrou-se a
solução etérea que continha excesso de sal, para retirar totalmente a água. O
filtrado foi transferido para um balão de fundo redondo de 500 mL,
previamente pesado, e levado ao banho-maria a uma temperatura de
aproximadamente 66 ⁰C, que garante que o éter seja volatilizado.
As soluções aquosas 1 e 2 foram neutralizadas dentro da capela com HCl
concentrado. Esse processo ocorreu com o auxílio de um conta-gotas, sendo
que a cada gota adicionada de ácido, agitava-se o recipiente com movimentos
circulares e constantes. Assim que apareciam os precipitados, os pHs eram
medidos com papel indicador de pH. Os precipitados finais foram recuperados
por filtração à vácuo. Os papéis de filtro de cada solução foram previamente
identificados e pesados, antes da filtração. O sólido retido no papel de filtro de
ambas as filtrações foram colocados, cada um, em placas de petri e colocados
no interior da estufa para que o restante de água evaporasse.
Retirou-se o balão de fundo redondo de 250 mL que estava no banho-maria,
secando a água que estava no seu exterior. Aferiu-se a massa total do
erlenmeyer e, em seguida, este foi lavado para também ser levado à estufa.
Após aproximadamente 48 horas da realização do experimento a equipe
retornou ao Laboratório de Química C34 para pesar os materiais que estavam
na estufa e proceder à análise e discussão dos resultados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A corrente prática consistia no isolamento de três sólidos orgânicos: naftaleno, ß-
naftol e ácido benzóico. A técnica empregada na prática foi a extração líquido-líquido do tipo
descontínua, uma vez que as três substâncias mencionadas são suficientemente solúveis no
solvente orgânico escolhido sendo, portanto, desnecessário aplicar uma extração do tipo
contínua. Ademais, estes solutos também são mais solúveis no solvente orgânico do que em
água (SOLOMONS & FRYHLE, 2008), o que contribui para acentuar a eficácia do método
escolhido.
O éter etílico foi o solvente designado para o preparo da solução em razão de ser um
composto orgânico com cadeias apolares, facilitando a dissolução dos componentes também
apolares da mistura. O baixo ponto de ebulição deste éter (SOLOMONS & FRYHLE, 2008)
também justifica a sua escolha, uma vez que favorecem a volatilização da substância e,
portanto, agilizam a obtenção dos produtos a serem recuperados (PAVIA, LAMPMAN [et.
al], 2009). A solubilidade dos compostos orgânicos empregados é explicada por interações
dipolo-induzido entre as cadeias carbônicas destas substâncias orgânicas (BROWN, LEMAY
[et. al], 2007).
A figura 1 abaixo ilustra as interações entre o éter etílico e os três compostos
orgânicos aludidos:
Figura 1. Representação das interações dipolo-induzido na mistura etérea:
A separação dos três compostos presentes na mistura foi realizada por meio da
agitação da solução original com solventes quimicamente ativos que, ao reagirem com os
constituintes orgânicos, induzem a formação de íons - conformações mais polares
(SOLOMONS & FRYHLE, 2008) - corroborando para a miscibilidade destes no solvente
aquoso predominante (PAVIA, LAMPMAN [et. al], 2009). Portanto, os compostos orgânicos
inicialmente apolares e miscíveis em éter passam a ser polares e miscíveis em água.
Os solventes quimicamente ativos citados são soluções diluídas de compostos
inorgânicos, selecionados com base na solubilidade dos componentes de caráter orgânico a
serem extraídos (VOGEL, 1989).
Conforme especificado no item Materiais e Métodos, os compostos extraídos pelos
solventes quimicamente ativos foram recuperados através de filtração à vácuo, restando no
recipiente – nesse caso um balão de 500 mL – apenas o composto neutro.
Para obtenção da massa final dos compostos recuperados, os mesmos foram colocados
em uma estufa a 50°C com a finalidade de remover os resíduos aquosos.
Após 48 horas, os compostos sólidos foram colocados em um dessecador que se
encontrava a uma temperatura inferior, a fim de que fosse resfriada lentamente, uma vez que,
para pesar a massa do composto obtida pela extração, o papel de filtro ou o balão de 500 mL
não poderia se encontrar a elevadas temperaturas (SKOOG, WEST [et. al], 2006).
A tabela 1 a seguir apresenta as massas iniciais e finais de cada composto orgânico
extraído.
Composto
extraído
Massa inicial (g) Massa do
conjunto papel
de filtro/balão de
fundo redondo*
+ composto
extraído (g)
Massa do papel
de filtro ou do
balão de fundo
redondo* (g)
Massa final (g)
Ácido
benzóico
(1,0382 ± 0,0001) (1,2557 ± 0,0001) (0,7581 ± 0,0001) (0,5154 ± 0,0001)
β-naftol (1,0490 ± 0,0001) (1,6642 ± 0,0001) (0,7403 ± 0,0001) (0,9061 ± 0,0001)
Naftaleno* (1,0039 ± 0,0001) (53,9357±0,0001) (53,1103±0,0001) (0,8255 ± 0,0001)
Tabela 1: Massas dos compostos e suas incertezas.
As incertezas das massas totais e massas dos papeis de filtro e recipiente
correspondem à incerteza da balança analítica, igual a ± 0,0001 g. Já o cálculo da propagação
dos erros da massa final corresponde ao erro acumulado das incertezas da massa total e da
massa do recipiente e/ou papel de filtro, uma vez que a incerteza da massa final é baseada na
diferença entre a massa do conjunto e massa do papel de filtro ou recipiente. Logo, o cálculo
das incertezas referente à coluna 5 da tabela 1 é definido pela seguinte fórmula:
Δm = (Δm12 + Δm2
2)1/2
Δm = (2 . 0,00012)1/2
Δm = 1,414.10-4 g
Como devem ser mantidas quatro casas decimais, o valor de ∆m encontrado fora
arredondado para 0,0001 g. Para efeitos dos cálculos posteriores, utilizaram as seguintes
equações:
Equação 1:
Equação 2:
Equação 3:
Onde: S = massa do soluto (g) no solvente A;
Vb = volume de B (mL);
Va = volume de A (mL);
X = massa do soluto extraído (g).
Em relação às extrações de cada composto, constarão nos subitens seguintes as
explicações dos fenômenos químicos presenciados ao longo da prática, através da exposição
de equações químicas; apresentação dos cálculos de coeficiente de partição e rendimento e;
discussão dos resultados finais.
4.1 ÁCIDO BENZÓICO
Para a obtenção do ácido benzóico, a solução etérea foi extraída três vezes com a
solução de NaHCO3 e recolhida em um mesmo erlenmeyer de 250 mL. Em todas as extrações
foi perceptível a formação de duas fases no funil de separação, o que é justificado pela
imiscibilidade dos solventes. Como a solução aquosa era mais densa que a solução etérea, a
primeira localizava-se ao fundo no funil de separação, podendo ser transferida para uma
vidraria diferente, permanecendo a solução etérea com os dois outros componentes orgânicos
no funil. A cada extração, as fases do sistema apresentavam o mesmo aspecto físico, não
sendo constatadas diferenças entre uma extração e outra.
Por ser uma base fraca, o NaHCO3 reage com o composto orgânico mais ácido, nesse
caso o ácido benzóico, formando benzoato de sódio, água e dióxido de carbono. Esta reação
ocorre preferencialmente porque o ácido benzóico é mais forte e porque sua base conjugada é
mais estável que a base do β-naftol, devido a contribuição de estabilidade proveniente da
ressonância.
A reação ocorrida entre o ácido benzóico e o bicarbonato de sódio é exemplificada
abaixo:
Reação 1: Obtenção do carboxilato
(1)
Na reação acima, ocorre uma substituição eletrofílica aromática: o íon Na+ da solução
aquosa, um eletrófilo, atrai o oxigênio da hidroxila, tendendo assim a substituir o hidrogênio,
que é um átomo menos eletropositivo. Desta forma, o produto desta reação, o benzoato de
sódio, é mais estável e apresenta uma característica polar (SOLOMONS & FRYHLE, 2008),
razão pela qual ocorre a solubilidade do benzoato na solução aquosa, sendo separado da
solução etérea. Como os produtos são solúveis em água, ocorre a formação de duas fases. O
sal de ácido carboxílico formado é estabilizado por hidratação, verificando que há solvatação
através de interações íon-dipolo. Também ocorre a interação de ligação de hidrogênio entre a
água e o sal de ácido carboxílico.
Após a extração da solução aquosa de benzoato de sódio, este sal de ácido carboxílico
devia retornar à forma de composto insolúvel em água para que enfim fosse aferida a massa
de ácido benzóico final. A conversão do benzoato de sódio em ácido benzóico depende da
reação de protonação deste carboxilato, ou seja, da reação de neutralização deste sal polar
com um ácido forte.
Sendo assim, com o auxílio de um conta-gotas, foi adicionando uma solução
concentrada de HCl. A cada gota adicionada agitava-se o erlenmeyer com movimentos
circulares, a fim de que todo o ácido acrescentado reagisse com a solução aquosa. A reação de
neutralização podia ser percebida por uma intensa efervescência devido ao contato do sal de
ácido carboxílico com o ácido. Quanto mais a solução se aproximasse da neutralidade, maior
era a efervescência verificada. O pH final verificado foi de 1,0, em um sinal de que todo o
carboxilato existente em solução havia sido convertido no ácido carboxílico original. O ácido
benzóico é pouco solúvel em água devido às suas interações de Van der Waals, portanto, ao
final da neutralização, obteve-se um sistema de duas fases: no topo, encontrava-se o
precipitado ácido benzóico e, na parte inferior, a solução aquosa diluída de sal. Durante as
agitações, perdeu-se um pouco de massa da solução.
A reação entre as espécies químicas mencionadas é ilustrada a seguir:
Reação 2: Neutralização da solução com HCl concentrado
(2)
A reação 2 explana uma interação eletrônica entre o íon Na+ do benzoato de sódio e o
íon Cl- do ácido clorídrico concentrado (SOLOMONS & FRYHLE, 2008). Formou-se como
produto o sal cloreto de sódio e o ácido benzóico sólido na forma de precipitado.
Sabe-se que a desprotonação do ácido benzóico, bem como a protonação de seus
carboxilatos são reações de ocorrência relativamente fácil, sendo a primeira transformação
mais freqüente que a primeira.
Finalmente, a solução de NaCl e ácido benzóico foi filtrada. O sólido coletado exalava
um odor característico do ácido benzóico, o que frisa a certeza qualitativa da prática.
Ademais, sabe-se que parte do sólido obtido não correspondia a cloreto de sódio em razão da
solução original de NaHCO3 ser diluída (10%), de forma que todos os íons Na+ e Cl-
(provavelmente na mesma proporção que os de Na+) estavam solubilizados na fase aquosa.
Para os cálculos referentes ao coeficiente de partição e ao rendimento, utilizaram-se os
dados da tabela 1, os quais inserindo nas equações 1, 2 e 3, obtem-se:
C ( éter )=1,0382−0,5154100
=5,228.10−3 g /mL
C ( água )=0,515490
=5,726.10−3 g /m L
K=C (éter )C ( água )
=(5,228.10¿¿−3)
5,726.10−3=0,9130¿
ŋ=m(final )
m(inicial).100 %=0,5154
1,0382.100 %=49,64 %
Um rendimento baixo para o ácido benzóico pode ter ocorrido por diversos fatores, dentre eles
a perda de massa durante a transferência do material entre as vidrarias ou provavelmente devido ao
efeito da salgadura, pois como havia um sal inorgânico dissolvido na solução aquosa, ocorreu
uma diminuição da solubilidade do benzoato de sódio em água. Ademais, o bicarbonato de
sódio empregado não é um sal de caráter básico tão forte, de forma que a reação envolvida
(reação 1) por si só já apresenta um rendimento mediano.
4.2 β-NAFTOL
Após a extração do ácido benzóico, a solução etérea permaneceu dois componentes
orgânicos restantes: β-naftol e naftaleno. Para separação dos dois compostos a solução etérea
foi, então, extraída três vezes com a solução de NaOH. O composto extraído fora o β-naftol.
Observou-se a imiscibilidade das soluções não apenas pela linha tênue entre as fases
com distintas polaridades, mas através dos diferentes aspectos físicos das fases do sistema: na
primeira extração, a solução etérea, localizada na parte superior do funil de separação, tornou-
se turva e mais clara, enquanto a solução aquosa passou de uma coloração incolor para um
tom amarelo claro. O β-naftol, por ser um sólido marrom, era responsável pela tonalidade das
soluções em que estava dissolvido. Portanto, a atenuação da coloração da solução etérea, bem
como a acentuação da tonalidade da solução aquosa é devida à migração do β-naftol de uma
solução etérea para a solução aquosa de NaOH.
Na segunda extração, a solução aquosa estava mais clara do que na primeira. Na
terceira, a solução aquosa estava praticamente transparente, em um sinal positivo de que boa
parte da massa de β-naftol empregada havia sido convertida no seu íon correspondente.
O β-naftol é um composto apolar, solúvel em éter e insolúvel em água (SOLOMONS
& FRYHLE, 2008). O seu pKa = 9,5 também indica um leve caráter ácido, o que justifica a
ocorrência de reação entre este composto e as moléculas de NaOH presentes, bases fortes.
A reação da primeira etapa desta extração é mostrada abaixo:
Reação 3: Reação entre as espécies químicas mencionadas.
(3) + NaOH H2O +
A reação entre o β-naftol e o hidróxido de sódio sucede de forma análoga à reação 1:
ocorre uma substituição eletrofílica entre o íon Na+ e o oxigênio do fenol, originando água e
β-naftolato de sódio.
Posteriormente à solubilização do naftolato de sódio, efetuou-se a neutralização desta
solução aquosa com solução concentrada de HCl. Diferentemente da neutralização do
experimento anterior, observava-se uma efervescência mais contida, de forma que o dispêndio
de ácido clorídrico, bem como o tempo levado para que surgisse o precipitado de β-naftol foi
muito maior. Outra distinção observada foi quanto à geração de calor: o erlenmeyer da
solução que continha β-naftol ficou muito quente, em um sinal de que ocorria, durante a
adição de ácido clorídrico, a conversão do β-naftolato no β-naftol original.
A reação (4) explana a reação ocorrida:
(4) + HCl NaCl +
Analogamente à reação 2, ocorre a reação entre HCl e o íon orgânico obtido, havendo
a formação de cloreto de sódio e do composto original. A intensa liberação de energia sugere
que a reação ocorreu violentamente: como o íon Cl- possui uma densidade eletrônica muito
maior que o íon O- (ATKINS, 2008) do benzoato, o Na+ é atraído pelo primeiro ânion,
produzindo cloreto de sódio. O íon H+, por sua vez, assume o antigo lugar do Na+, finalizando
a reação. Dessa forma, obteve-se β-naftol na forma de precipitado branco e NaCl solvatado.
Para os cálculos pertinentes ao coeficiente de partição e para o rendimento, procedeu-
se de forma semelhante ao item anterior. Sendo assim, aplicando-se os valores de massa
inicial e final do β-naftol nas equações 1, 2 e 3, obtem-se:
C ( éter )=1,0490−0,9061100
=1,429.10−3 g/mL
C ( água )=0,906190
=0,0100677 g/mL
K=C (éter )C ( água )
=(1,429.10¿¿−3)
0,0100677=0,1419¿
ŋ=m(final )
m(inicial).100 %=0,9061
1,0490.100 %=86,37 %
Referente à extração do β-naftol provavelmente ocorreu um fenômeno conhecido
como emulsão. Após a adição do solvente e agitação do funil de separação, as duas fases –
aquosa e orgânica – não se separam completamente, ficando gotículas de uma fase dissolvida
na outra, formando uma interface não definida, comprometendo assim uma separação
eficiente; o que justifica a não obtenção de um rendimento máximo.
4.3 NAFTALENO
A este estágio da prática, ácido benzóico e β-naftol já haviam sido isolados, restando
na solução o composto naftaleno, que é insolúvel em água por ser extremamente apolar. Além
disso, o naftaleno é impassível de reagir com NaOH ou NaHCO3 em razão de não possuir em
seus anéis aromáticos grupos hidroxila, carboxila ou quaisquer outros que possam sofrer
interação dos íons sódio (SOLOMONS & FRYHLE, 2008). Desta forma, o naftaleno é
solúvel apenas em compostos orgânicos semelhantemente apolares como o éter etílico.
Portanto, é justificada a permanência do naftaleno na solução etérea tanto por sua apolaridade
quanto pela impossibilidade de reagir com os solventes extratores.
Não havendo reações a serem explanadas, é conveniente explicar os fenômenos
ocorridos durante o processo experimental para obtenção do naftaleno puro:
A lavagem da solução de éter e naftaleno teve o intuito de retirar resquícios de
água deixados pelas soluções aquosas anteriores (PAVIA, LAMPMAN [et. al],
2009). Ao adicionar a água destilada, os traços das soluções aquosas passam a
interagir através de ligações de hidrogênio (BROWN, LEMAY [et. al], 2007),
depositando-se no fundo do recipiente, uma vez que a água possuía a maior
densidade;
A função do sulfato de sódio anidro na solução era estimular a secagem da
solução etérea (PAVIA, LAMPMAN [et. al], 2009), de forma que apenas
restasse, ao final, éter e naftaleno;
O éter etílico foi para o banho maria para ser volatilizado, em razão de seu
baixo ponto de fusão.
De maneira análoga aos compostos anteriores, calculou-se o coeficiente de partição e
rendimento do naftaleno. Os cálculos se encontram efetuados na sequência:
C ( éter )=1,0039−0,8255100
=1,784.10−3 g/mL
C ( água )=0,825590
=9,172.10−3 g /mL
K=C (éter )C ( água )
=(1,784.10¿¿−3)
9,172.10−3=0,1945¿
ŋ=m(final )
m(inicial).100 %=0,8255
1,0039.100 %=82,23 %
Acumulando todas as perdas de massa oriundas das extrações anteriores, obteve-se um
rendimento de 82,23% para o naftaleno. Considera-se também que a extração não alcançou
um rendimento de 100% em virtude de a equipe não ter agitado as soluções ou esperado-as
repousar suficientemente.
4.4 DISCUSSÕES FINAIS
A tabela 2 resume os resultados finais obtidos:
Composto extraído
Ca (g/mL) Cb (g/mL) Coeficiente de partição K
(adimensional)
Rendimento (%)
Ácido Benzóico 5,228.10-3 5,726.10-3 0,9130 49,64
β-naftol 1,429.10-3 0,001 0,1419 86,37
Naftaleno 1,784.10-3 9,172.10-3 0,1945 82,33
Tabela 2: Resultados finais.
As incertezas não foram consideradas na tabela em virtude de serem muito pequenas –
da ordem de 10-4 ou menos.
Analisando-se os resultados, é possível perceber que quanto maior o coeficiente de
partição K, menor será o rendimento da reação. Isto porque o numerador da equação de K
(equação 3) contem a concentração do soluto no solvente inicial. Se essa concentração for
elevada, em um sinal de que pouco soluto fora transferido ao segundo solvente, o K será
elevado e o rendimento da reação será baixo.
Constata-se que, à exceção do ácido benzóico, que possuiu um rendimento inferior a
50%, juntamente com um K quase igual a 1, os outros compostos apresentam rendimentos
relativamente altos, acima de 80%. Tendo em vista que esta foi a primeira realização da
prática pela equipe, os resultados são satisfatórios.
5 CONCLUSÃO
A corrente prática consistia em separar os componentes orgânicos de uma mistura
através da extração com solventes quimicamente ativos. Mesmo com alguns impasses como
perda de massa, conseguiu-se isolar os três componentes da mistura: ácido benzóico, β-naftol
e naftaleno. As extrações não tiveram um rendimento máximo, mas a prática
foi de grande valia para o aprendizado, onde foi possível aprofundar conhecimentos sobre
técnica de extração com solventes quimicamente ativos; que se baseia em separar e
isolar componentes de uma mistura e de remover impurezas solúveis indesejáveis através do
processo de lavagem. Além disso, a prática permitiu elucidar conhecimentos sobre polaridade
das substâncias, as reações envolvidas e metodologia desenvolvida, constatando a eficácia da
mesma mediante a massa final obtida em comparação com a massa inicial.
6 QUESTIONÁRIO
Apesar de quase todos os questionamentos já terem sido respondidos ao longo da
discussão dos resultados, as respostas às perguntas presentes no roteiro da prática seguem
abaixo:
1. Em que consiste a extração por solventes quimicamente ativos?
A técnica da extração envolve a separação de um composto, presente na forma
de uma solução ou suspensão em um determinado solvente, através da agitação com
um segundo solvente, no qual o composto orgânico seja mais solúvel e que seja pouco
miscível com o solvente que inicialmente contém a substância.
Quando as duas fases são líquidos imiscíveis, o método é conhecido como
"extração líquido-líquido". Neste tipo de extração o composto estará distribuído entre
os dois solventes. O sucesso da separação depende da diferença de solubilidade do
composto nos dois solventes. Geralmente, o composto a ser extraído é insolúvel ou
parcialmente solúvel num solvente, mas é muito solúvel no outro solvente.
2. Que composto foi extraído nos itens 1 e 2? Escrever as reações envolvidas em
cada separação, incluindo também as dos itens 4 e 5.
O composto extraído nos itens 1 e 2 foram o ácido benzóico (reações (1) e (2))
e o β-naftol (reações (3) e (4)), respectivamente.
3. Que composto foi recuperado da solução etérea (item 6)?
Como o roteiro da prática não cita um ítem 6, subentende-se que este fora o
último composto a ser extraído. Sendo assim, nesse caso, o composto recuperado foi o
naftaleno, em razão de não possuir grupos que poderiam sofrer substituição
eletrofílica. Ademais, o naftaleno é um composto apolar e extremamente solúvel em
éter.
4. Dispondo-se de éter etílico, soluções aquosas de NaOH (10%), NaHCO3 10%,
HCl (10%) e concentrado, esquematizar, através de fluxograma, todas as etapas
necessárias para separar uma mistura de ciclo-hexanol, ciclo-hexilamina, p-cresol
e ácido benzóico.
Uma vez que processos de extração envolvem uma fase ácida, uma fase básica
e uma fase neutra, após a preparação da solução com éter, os solventes extratores
devem ser aplicados na seguinte ordem:
HCl (10%), NaHCO3 (10%), NaOH (10%) e água destilada (1).
O primeiro composto extraído, a partir da reação com HCl seria a ciclo-
hexilamina, em virtude de ser uma base. O segundo composto seria o ácido benzóico,
seguido do p-cresol e do ciclo-hexanol.
O fluxograma requerido é apresentado:
5. Citar algumas aplicações da extração por solventes quimicamente ativos.
O processo de extração com solventes é um método simples, empregado na
separação e isolamento de substâncias componentes de uma mistura, ou ainda na
remoção de impurezas solúveis indesejáveis. Este último processo é geralmente
denominado lavagem.
HCl (10%)
Extração da ciclo-hexilamina
NaHCO3 (10%)
Extração do ácido benzóico
NaOH (10%)
Extração do p-cresol
H2O (10%)
Extração do ciclo-hexanol
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATKINS, P; DE PAULA, J. Físico-Química v.1 8 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
BLACKADDER D. A. and NEDDERMAN R. M. Extração de Solvente. In: Manual de
Operações Unitárias. Rio de Janeiro: hemus editora LTDA, 1982.
BROWN, T.L.; LeMAY, H.E.; [et al]. Química: A ciência central 9 ed. São Paulo: Pearson, 2007.
GONÇALVES,D.,WAL,E.,ALMEIDA,R.R. Química Orgânica Experimental, São Paulo :McGraw Hill,1988.
MARQUES, J. A.; BORGES, C.P.F. Práticas de Química Orgânica. Editora Átomo, 2007.
PAVIA, D. L.; LAMPMAN, G. M.; KRIZ, G.S.; ENGEL, R.G. Química Orgânica Experimental: técnicas de escala pequena 2. Ed.. Ed. Bookman, 2009.
SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R.; Fundamentos de Química Analítica 8.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2006.
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UFSC. Química Orgânica Experimental 1. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/52112556/073-Quimica-Organica-Apostila>. Acesso: 01/04/2012.
VOGEL, A. I. Vogel’s Textbook of practical organic chemistry 5 th edition. London: Longman Scientific and Technical, 1989.