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1 Imazon - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia Projeto Conectando as Partes Mercado de Produtos Florestais Não-Madeireiros em Belém Estagiária: Shana Sampaio Sieber Supervisora: Simone Carolina Bauch Belém, abril de 2006 PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com

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Imazon - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

Projeto Conectando as Partes

Mercado de Produtos Florestais

Não-Madeireiros em Belém Estagiária: Shana Sampaio Sieber

Supervisora: Simone Carolina Bauch

Belém, abril de 2006

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1. INTRODUÇÃO

O Bioma Amazônia refere-se a uma área de 6,4 milhões de quilômetros quadrados

estendendo-se por nove países da América do Sul. O Brasil abriga 63,0%, ou 4 milhões de

quilômetros quadrados desse total e os 37,0% restantes estão distribuídos entre o Peru

(10,0%), Colômbia (7,0%), Bolívia (6,0%), Venezuela (6%), Guiana (3,0%), Suriname

(2,0%), Equador (1,5%) e Guiana Francesa (1,5%). A Amazônia Legal possui uma área de

aproximadamente 5 milhões de quilômetros quadrados incluindo os Estados do Norte (Acre,

Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), Mato Grosso, parte do Maranhão

e uma pequena porção de Goiás representando 59,0% do Brasil. O desmatamento cobre cerca

de 14,0% da cobertura vegetal da Amazônia até 2004, atingindo 27.200 quilômetros

quadrados. Considerando apenas o Bioma Amazônia, o desmatamento atingiu 17,0% em

2004. As florestas densas, abertas e estacionais cobrem 64,0% da Amazônia Legal e as

formações compostas por cerrados, campos naturais e campinaranas cobrem outros 22,0%

(Lentini et al., 2005).

O desenvolvimento da Amazônia tem se mostrado até os dias atuais causando ampla

degradação e desmatamento florestal e proporcionando economias de crescimento e colapso

que resultam em pouca riqueza duradoura. O presente trabalho possui dois objetivos, um geral

por se tratar de um projeto grande previsto para 4 anos, e outro específico apresentando um

estudo realizado na cidade de Belém.

A região metropolitana de Belém é considerada um dos principais centros urbanos da

Amazônia Legal e possui cerca de 1,8 milhões de habitantes com problemas como favelas

(invasões), saneamento básico precário, transporte público de baixa qualidade, escassez de

área de lazer, violência crescente e alta taxa de desemprego segundo Paranaguá et al. (2003).

O estudo pode gerar certa melhoria na comercialização dos produtos florestais não

madeireiros - PFNMs tanto para as comunidades produtoras como para os comerciantes que

residem em Belém.

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1. 1. OBJETIVOS GERAIS

O Projeto “Conectando as partes: Melhorando a situação fundiária, o manejo da

floresta e a comercialização de seus produtos na Amazônia brasileira” têm como principais

objetivos contribuir com a conservação da diversidade biológica amazônica, melhorar o

padrão de vida e bem-estar das comunidades que dependem da floresta, promover a

legalização fundiária, aumentar a capacidade local na prática e compreensão do manejo

florestal sustentável, facilitar as condições de negociação e comercialização dos produtos das

comunidades, identificando o que vale a pena ser manejado e comercializado a partir das

informações relevantes sobre as espécies prioritárias com valor econômico. O projeto é

subdividido em três componentes: 1º a questão fundiária; 2º o manejo florestal e 3º o

mercado. Através dos trabalhos realizados no 3º componente foram levantadas espécies de

maior importância para algumas comunidades do Estado do Pará. A lista resumida das

espécies prioritárias compreende o açaí, a andiroba, a castanha-do-pará, a copaíba, o piquiá e

o uxi e as comunidades envolvidas estão localizadas nos municípios de Gurupá, Marabá e

Porto de Moz.

A formulação de políticas públicas que funcionem com baixo custo e que possam ser

replicadas por toda a Amazônia também é uma das metas do projeto, visando aumentar a

consciência da população a respeito do uso dos produtos florestais e do impacto do seu

consumo no meio ambiente.

A insegurança fundiária impede a aprovação de iniciativas de manejo florestal e venda

dos produtos num mercado formal e reduz o acesso a créditos. Esses e outros entraves como a

questão dos mercados dificultam a realização do manejo florestal sustentável. Sem a

legalização fundiária não há estímulo para desenvolver o manejo sustentável e sem

informação sobre produtividade e consumo seria impossível desenvolver mercados.

1.2. OBJETIVOS ESPECIFICOS

O 3º componente do projeto também está realizando trabalhos diretamente nas

localidades envolvidas através de aplicações de questionários de opiniões nas lideranças

locais obtendo informações como características pessoais, cargo, conhecimento de produtos

florestais não-madeireiros, entraves ao uso da floresta e prioridade de investimento. Através

de questionários também são levantadas informações para análise de qualidade de vida das

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comunidades como características pessoais, levantamento de renda direta e indireta, satisfação

com a vida e avaliação do projeto. O levantamento de espécies de interesse das comunidades,

sua produção e comercialização atual são de extrema importância na seleção das espécies

prioritárias para realização do presente estudo de mercado realizado em Belém.

As atuações do 3º componente do projeto compreendem também outros centros de

demanda como nos municípios de Manaus, Marabá, Macapá e São Paulo realizando estudos

de mercado em cada uma dessas cidades.

Um dos principais objetivos deste trabalho é a identificação dos nichos local e regional

para comercialização de produtos florestais não-madeireiros de interesse através da coleta

sistemática de informações, mapeamento dos fluxos de comércio caracterizando a cadeia de

comercialização iniciado com dados coletados sobre a origem dos produtos e entrevistas nos

portos (entrepostos).

A análise de casos bem sucedidos de comercialização por comunidades de outros

locais da Amazônia brasileira, identificando comunidades que já comercializam os produtos

florestais não-madeireiros, também será realizada através de informações fornecidas pelos

comerciantes envolvendo os mercados mais próximos das comunidades de estudo até os

principais centros de consumo no sudeste do Brasil, além de visitas a campo para estas

comunidades (por exemplo, comunidades na Floresta Nacional do Tapajós em Santarém).

A identificação de fatores que determinam a demanda de longo prazo nos principais

mercados da região também será realizada, porém necessitando de acompanhamento durante

os 4 anos do projeto para observação da variação da demanda. A transparência na

comercialização dos produtos vai ser imprescindível para capturar um maior valor de mercado

para as comunidades e futura redução da pobreza, melhorando o acesso e aumentando os

benefícios provenientes dos ecossistemas florestais.

A compreensão de atores que antes não eram notados no manejo florestal sustentável

como comerciantes e fornecedores peri-urbanos é de extrema importância, pois muitos

produtos são comercializados por meios informais dificultando a compreensão do valor e da

importância da floresta Amazônica.

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2. DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO

O Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) é uma instituição de

pesquisa, sem fins lucrativos, cuja missão é promover o desenvolvimento sustentável na

Amazônia por meio de estudos, disseminação de informações e formação profissional.

O Instituto foi fundado em 1990, e sua sede fica em Belém, Pará. Em 15 anos de

funcionamento, o Imazon publicou cerca de 200 trabalhos técnicos, dos quais 88 foram

veiculados em revistas científicas internacionais ou como capítulos de livros. O Instituto

editou 29 livros, 10 livretos, 20 números da Série Amazônie e seis da série o Estado da

Amazônia.

O Imazon realiza atividades de pesquisa aplicada sobre problemas de uso dos recursos

naturais, formação profissional e disseminação ampla dos estudos.

As atividades de pesquisa do Imazon incluem diagnósticos das atividades de uso do

solo, desenvolvimento de métodos para avaliação e monitoramento das atividades de uso do

solo, realização de projetos demonstrativos, análise de políticas públicas de uso da terra e

elaboração de cenários e modelos de desenvolvimento sustentável para essas atividades.

Um dos objetivos do Imazon é formar pesquisadores com capacidade analítica e

experiência de campo, voltados ao entendimento e solução dos problemas ambientais da

Amazônia. O trabalho envolve a elaboração de um projeto de pesquisa, coleta e análise dos

dados e apresentação dos resultados em artigos científicos e reuniões profissionais. Mais de

120 profissionais receberam treinamento no Imazon nas áreas de ecologia, engenharia

florestal, direito ambiental, economia rural e mineral, geoprocessamento, planejamento

regional e políticas públicas. A excelência do programa de treinamento do Imazon foi

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reconhecida publicamente em 1997, por meio do prêmio Henry Ford de Conservação

Ambiental na categoria de Ciência e Formação de Recursos Humanos.

Além da publicação em revistas indexadas, os estudos do Imazon são disseminados

por meios mais acessíveis, tais como manual, vídeo, Série Amazônia, livros, artigos e

reportagens especiais para jornais e revistas de grande circulação (Gazeta Mercantil, O

Liberal, Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo, Veja, Correio Brasiliense, Revista Época

etc.).

A equipe do Imazon é formada por cerca de 50 pessoas, entre pesquisadores, técnicos,

estagiários, além de pesquisadores associados de instituições nacionais e internacionais que se

inserem em diferentes programas de atuações do Instituto, dentre os quais, Monitoramento da

Paisagem, Política e Economia Florestal, Cenário de Ocupação, Ecologia e Manejo Florestal,

Floresta e Comunidade (no qual o presente trabalho está incluído) e Cidades Sustentáveis.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA1

3. 1. Considerações sobre os produtos de interesse

3. 1. 1. Açaí (Euterpe oleraceae)

O açaí é nativo do Pará e ocorre também no Amapá, Amazonas, Maranhão, Guianas e

Venezuela. Naturalmente os açaizais densos aparecem em áreas de várzea e igapó, mas

crescem melhor em áreas abertas com abundância de sol para o desenvolvimento dos frutos e

nos solos bem drenados.

O açaizeiro pode alcançar mais de 25 metros de altura com 9 a 16 cm de diâmetro do

tronco formando touceiras de vários estipes.

A maior abundância de frutos ocorre entre julho e dezembro, na estação seca.

O fruto de açaí produz o “vinho” muito consumido com farinha na Amazônia, polpa

congelada, sorvete, chopp, picolé, açaí em pó, geléia, bolo, mingau, corante e bombons.

O palmito pode ser consumido fresco ou enlatado e seu estipe (tronco) também pode

ser utilizado em construções rurais como ripas e caibros.

A palha do açaizal é utilizada em casas, na fabricação de cestos, tapetes, abanadores,

peconha, como adubo e ração animal; e o coaratá (que cobre o cacho) também serve como

brinquedo e como rede para bebês. O cacho também pode ser usado como adubo, vassoura de

quintal, e, queimado, serve como repelente.

O caroço serve como adubos e, quando secos pode ser utilizado na fabricação de

bijuteria. 1 Extraído do livro SHANLEY, P. Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica.

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A raiz é utilizada como chás no combate a verminoses e o sumo do palmito do

açaizeiro batido e espremido ajuda a estancar o sangue no caso de acidentes.

A polpa de açaí possui um elevado valor calórico que pode chegar até 247 calorias por

100 gramas de polpa. O “vinho” de açaí é rico em cálcio, ferro, fósforo, lipídios, vitamina B1,

vitamina A e vitamina C.

A germinação das sementes ocorre em 30 a 40 dias em boas condições de umidade e

na terra firme os plantios são realizados através de mudas produzidas em 4 ou 5 meses.

Um açaizeiro produz cerca de 4 a 8 cachos por ano. Cada cacho pesa 4 quilos de fruto

e uma touceira produz cerca de 120 quilos por safra. Em açaizais manejados com capina e

poda, a produção por hectare pode atingir de 12000 quilos por ano, na terra firme, e até 15000

quilos na várzea.

Os estipes de açaí podem ser colhidos várias vezes, porém acaba diminuindo a

quantidade de produção de frutos através de colheitas excessivas. O corte de troncos velhos e

mais altos para retiradas de frutos e o corte dos palmitos tenros facilita o manejo deixando os

troncos médios produtivos e não-produtivos e a palhada para ser utilizada como adubo.

A retirada das flores do açaizeiro quando ainda estão novas possibilita a produção de

fruto na entressafra mudando a época do pico de frutificação possibilitando a produção o ano

inteiro.

3. 1. 2. Andiroba (Carapa guianensis)

A andirobeira ocorre em toda a bacia Amazônica, América Central e África preferindo

as várzeas nas margens dos rios, mas podendo ser encontrada em terra firme.

A árvore de andiroba possui médio a grande porte, tronco reto que pode atingir 30

metros de altura e raízes em forma de tábuas chamadas de sapopemas.

No leste do Pará a andiroba floresce entre agosto e outubro e frutificam entre janeiro e

abril podendo ocorrer variações na produção em diferentes regiões.

O óleo extraído das sementes pode ser usado como repelente de insetos, cicatrização e

recuperação da pele e, ainda como remédio para baques, inchaços, reumatismo, vermes e para

cicatrizar cordão umbilical.

A madeira é resistente ao ataque de insetos e turus de ótima qualidade utilizada para

cavaco e na construção civil. A casca que pode se desprender facilmente da árvore e possui

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uso medicinal como chás contra febre, vermes, combatendo bactérias e no tratamento de

tumores. O pó da casca cura feridas servindo como cicatrizante para afecções da pele.

A germinação das sementes de andiroba ocorre nos seis primeiros dias e termina após

2 a 3 meses de semeadura e o crescimento da árvore pode chegar a 1,6 metros por ano. A

produção pode ser estimada em aproximadamente 10 anos.

A produção de uma árvore varia de 25 a 200 kg de sementes, cada kg contém cerca de

55 sementes e cada fruto produz cerca de 12 a 16 sementes.

As indústrias extraem o óleo quebrando as sementes em pedaços pequenos que são

aquecidos e prensados com um rendimento que varia de 8 a 12 litros para 40 kg de semente.

As comunidades acabam tendo um rendimento menor porque extraem o óleo sem a prensa

com uma produção que pode variar de 1 a 6 litros por 40 kg de semente.

A andiroba se desenvolve tanto em pleno sol como na sombra, favorecendo o seu

plantio em áreas degradadas e sistemas agroflorestais.

3. 1. 3. Castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa)

No Brasil a castanheira só ocorre na Amazônia em áreas altas de terra firme podendo

ocorrer também em outros países amazônicos como Bolívia e Peru. No Acre a castanheira

aparece somente no leste do estado.

No Pará as flores aparecem entre setembro e fevereiro e os frutos amadurecem e caem

entre janeiro e abril.

A castanha pode ser comida fresca, descascada, em bombons, sorvetes, doces, farinha

e leite para temperar comida. Produtos como sabonetes, cremes e xampu são fabricados a

partir do óleo da castanha e o ouriço é utilizado como artesanato, brinquedos, carvão,

pilãozinho, tigela para coletar seringa e até mesmo como remédio. O chá da casca da

castanheira também pode ser usado como remédio para diarréia. A madeira foi muito utilizada

para estacas e construção, porém atualmente é ilegal a derrubada de castanheiras silvestres.

O chá do ouriço da castanha é um ótimo remédio para hepatite, anemia e problemas

intestinais, e pode ser obtido através do ouriço limpo e após 2 a 3 horas de descanso na água

obtendo uma cor de sangue.

A castanha é rica em proteínas e calorias, possui minerais como fósforo, potássio e

vitamina B, além de grandes quantidades de metionina, que é um dos elementos nutritivos

mais limitados na dieta amazônica. Estudos recentes mostraram que a castanha-do-brasil

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contém selênio, um mineral que pode prevenir o câncer e combater certos vírus, além de

fornecer energia e reduzir a chance de pegar doenças. As pessoas que consomem selênio

ficam mais simpáticas e confiantes podendo resolver problemas como ansiedade, cansaço,

depressão e perda de memória. As recomendações para o consumo são de 2 castanhas por dia

logo depois de descascadas.

As sementes possuem certa dormência e uma forma de tratar as sementes é realizar a

colheita quando elas estiverem ainda frescas e armazená-las em recipiente com areia úmida,

na sombra, em lugar ventilado e drenado. Depois de 5 meses, deve-se retirar a casca das

sementes jogando fora as que foram danificadas na ponta, para que dentro de 2 semanas inicie

a germinação. A germinação ocorre em 60 a 275 dias e com tratamento pode chegar de 14 a

100 dias. Depois de aproximadamente 9 meses a muda pode estar pronta para o plantio. A

árvore cresce 1 cm de diâmetro por ano e atinge a produção em 5 a 12 anos.

Uma castanheira produz em média 29 ouriços por ano e uma árvore produz cerca de

470 castanhas. Cada ouriço possui em média 16 castanhas e cada uma pode pesar 7 gramas.

O plantio de castanhais deve ser realizado próximo a uma floresta para que a

castanheira possa ser polinizada e produzir frutos. O plantio deve ser realizado em dias

chuvosos e as mudas devem ter suas folhas da parte de baixo cortadas, deixando apenas as 4

ou 5 folhas mais altas, assim a planta perde menos água quando o sol está muito forte.

3. 1. 4. Copaíba (Copaifera sp)

As árvores de copaíba podem ser encontradas em todos os trópicos, mas com maior

incidência no Brasil, onde 16 espécies têm ampla distribuição. Ocorre na floresta de terra

firme, nas margens dos lagos e igarapés e nas matas do cerrado do Brasil central.

As árvores podem atingir cerca de 36 metros de altura, 140 cm de diâmetro, ou rodo

de até 3 metros.

A copaibeira floresce na estação chuvosa entre janeiro e abril e frutifica de maio a

setembro.

O óleo de copaíba é metabolizado no centro do tronco por canais secretores na medula

da árvore e possui função medicinal como antibiótico e antiinflamatório. A extração do óleo é

realizada com a utilização de trado que perfura a árvore até o centro do caule (20 a 50 cm de

profundidade no tronco, conforme a grossura da árvore). É utilizado como cicatrizante de

feridas e úlceras e também contra dermatose, psoríase e infecções na garganta. As pessoas

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devem tomar 2 gotas de óleo de copaíba pingado em uma colher de sopa de mel de abelha 2

vezes ao dia como remédio para dor de garganta.

O uso industrial do óleo de copaíba como fixador na fabricação de verniz, perfume,

tintas e na revelação de fotografias também é realizado. A sua utilização na produção de

sabonetes, cremes, xampus e usos farmacêuticos em linhas de produtos naturais são de

extrema importância.

A madeira extraída serve para a construção civil e fabricação de tábuas servindo como

repelente de insetos, principalmente cupins, e o chá da casca também pode ser utilizado como

antiinflamatório como substituto do óleo.

A germinação leva 35 dias para completar seu ciclo e a árvore cresce 50 cm por ano

podendo iniciar sua produção quando atingir mais de 40 cm de diâmetro.

A produção de óleo de copaíba pode variar de acordo com o tipo de solo e ao longo do

tempo podendo chegar de 100 mililitros a 60 litros por ano e por árvore, sendo que algumas

árvores podem não produzir.

A copaíba cresce preferencialmente em meia sombra no estágio das mudas e em

seguida no sol para se desenvolver e prefere não ser plantada com outras espécies.

3. 1. 5. Piquiá (Caryocar villosum)

O piquiá ocorre em toda a Amazônia, com maior concentração na terra firme da região

do estuário.

A árvore de piquiá pode atingir até 50 metros de altura, tronco de até 2,5 metros de

diâmetro ou rodo superior a 5 metros.

O piquiazeiro produz flores durante a estação seca entre os meses de agosto até

outubro e os frutos estão desenvolvidos no período de fevereiro até abril.

A madeira é de alta qualidade, compacta e pesada, muito utilizada nas construções

civil e naval e de grande importância para armação do fundo interno das embarcações. É

muito usada também na fabricação de canoas, curral e portões; pois é resistente à água e evita

rachaduras.

O fruto é consumido depois de cozido em água e sal e o óleo pode ser usado em

frituras. A casca do fruto é rica em tanino e substitui a noz de galha na preparação de tinta

para escrever, para tingir rede de dormir e fio. A casca também pode ser utilizada para fazer

sabão.

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O piquiá é uma excelente fonte de calorias e energia, possui proteína, fibra e outros

carboidratos e gordura.

A germinação pode ocorrer em média entre 2 meses a 1 ano de semeadura e seu

crescimento pode chegar a 1 metro a cada ano por 10 anos. A produção acontece depois de 10

a 15 anos. Em média a produção chega a 350 frutos por árvore variando muito de ano pra ano,

podendo não haver produção.

As mudas de piquiá não crescem bem na sombra, portanto no caso de usar essas

árvores para o enriquecimento das florestas, são necessárias grandes clareiras para receber

maior quantidade de sol.

3. 1. 6. Uxi (Endopleura uchi)

O uxi é originário da Amazônia brasileira, ocorre frequentemente no estuário do Pará

e regiões como Bragantina, Guamá e Capim, parte ocidental do Marajó e nas regiões dos

Furos. É uma espécie tipicamente silvestre da mata alta de terra firme.

A árvore pode atingir de 25 a 30 metros de altura, 1 metro de diâmetro ou 3 metros de

rodo.

O uxizeiro floresce entre outubro e novembro e chega a frutificar entre fevereiro e

maio, mas em algumas áreas próximas a Belém como Boa vista, Viseu e Mosqueiro, algumas

árvores podem produzir na entressafra, nos meses de julho a agosto.

O fruto pode ser consumido in natura e através de produtos como o picolé, sorvete de

massa, “vinho”, suco e óleo. A madeira é extraída para a indústria madeireira e utilizada nas

marcenarias. O chá da casca é consumido para combater o colesterol, diabetes, reumatismo e

artrite.

O óleo é utilizado na alimentação e como remédio no tratamento de sinusite e prisão

de ventre. As sementes são utilizadas como artesanato, defumação e amuletos. O caroço

possui um pozinho que antigamente era utilizado para cobrir manchas na pele e aliviar

coceiras. A fumaça das sementes quebradas e acesas dentro de uma lata pode espantar

carapanã e espíritos maus.

O uxi é uma excelente fonte de calorias e vitaminas (B, B1, B2 e C), além de

apresentar fibras, ferro e minerais como o potássio, cálcio, magnésio, fósforo e sódio. O óleo

de uxi é rico em fitoesteróis que em alimentos reduz o nível de colesterol no sangue.

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A germinação ocorre entre 10 a 16 meses de semeadura e o crescimento é lento e pode

chegar a 1 metro por ano ao sol. A produção em plantios começa com 7 a 10 anos de

desenvolvimento e pode variar muito de ano para ano. Uma árvore de uxi pode produzir em

média 1000 frutos por ano.

Algumas práticas para aumentar a densidade e melhorar a produção incluem o

enriquecimento de plantio, corte de vegetação que compete por luz e nutrientes, fogo para

controlar formigas no tronco e galhos, além de limpeza do solo a cada 6 meses para ajudar na

coleta dos frutos e adubar os uxizeiros. Quando a árvore fica velha e diminui a produção é

retirada para abrir espaço e sol para as outras árvores.

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4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

4. 1. Introdução ao Estudo de Mercado e Pesquisa de Marketing

Um estudo de mercado visa caracterizar o mercado; identificando a demanda e a oferta

de determinado produto, os concorrentes e novas oportunidades de negócio (Varian, 2000).

Visa caracterizar a cadeia de comercialização, os produtores, atravessadores, processadores e

consumidores.

Uma cadeia de produção possui atores econômicos que buscam obter o máximo de

lucro em suas atividades para se defender contra as forças de concorrência ou transformá-las

em seu favor. Para definir a cadeia de produção deve-se considerar as relações comerciais

diretas entre clientes e fornecedores, as relações comerciais indiretas entre o fluxo de compra

e venda dos clientes e fornecedores e as relações tecnológicas como elemento de base da

construção da cadeia. Após a identificação da cadeia de produção o comerciante pode

conseguir vantagens competitivas através de estratégias que devem permitir a influência na

dinâmica concorrencial da cadeia (Batalha et al., 2001).

Segundo Varian (2000) o mercado é o conjunto de atores envolvidos em diversos

processos de troca. A troca é voluntária e, portanto, só ocorre se for beneficial para ambas as

partes. Quando se trata do mercado em termos mais amplos, não se considera as transações

individualmente, apenas o seu resultado.

A pesquisa de marketing é a identificação, coleta, análise e disseminação de

informações de forma sistemática e objetiva e seu uso visando a melhorar a tomada de

decisões relacionadas à identificação de problemas (e oportunidades) em marketing. A

pesquisa identifica informações necessárias para os atores envolvidos nas comercializações,

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concebe o método para a coleta destas informações, gerencia e implementa o processo de

coleta de dados, analisa os resultados e comunica as conclusões e suas implicações (Malhotra,

2001).

O método de coleta de dados utilizado, o método de survey, apresenta um questionário

estruturado de uma amostra da população e é destinado a obter informações específicas dos

entrevistados. Baseia-se no interrogatório dos participantes e é direto, ou seja, o objetivo é

conhecido pelo respondente. O questionário é estruturado visando certa padronização no

processo de coleta de dados, apresentando questões em ordem predeterminada e simples de

ser aplicado permitindo a coleta de dados de forma confiável (respostas limitadas). Porém, o

método apresenta como desvantagem a hesitação ou incapacidade dos informantes em

responder as questões dos pesquisadores. O método de survey pode ser classificado em

entrevistas telefônicas, entrevistas pessoais nas residências, entrevistas pessoais nos locais de

compras e entrevistas postais (Malhotra, 2001).

Para a capacitação da equipe que trabalha no projeto, foi realizado um curso de

economia e treinamento em estudo de mercado incluindo dia de campo na Feira do Ver-o-

Peso com aplicação de questionários-testes com comerciantes e consumidores para posterior

discussão.

4.2. Questionários

Os questionários para entrevistas de comerciantes foram aplicados visando à

realização do estudo de mercado e caracterização da cadeia de comercialização; identificação

dos produtores, atravessadores, processadores e consumidores. Dados como a origem e

destino do produto, o preço de compra e venda e a importância do produto também foram

coletados.

Os questionários para entrevistas de consumidores visam à realização da pesquisa de

marketing através da caracterização do consumidor, dos produtos, da quantidade de consumo,

do preço que se paga pelo produto e identificação dos produtos que podem ser substitutos e

complementares.

Os questionários utilizados classificam-se como estruturados apresentando perguntas

abertas e fechadas.

4. 3. Amostragem

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Uma população é um agregado, ou soma, de todos os elementos que compartilham

algum conjunto de características comuns, conformando o universo para o problema de

pesquisa de marketing. Uma informação sobre a população pode ser extraída utilizando um

censo ou uma amostragem. O censo representa a enumeração completa dos elementos de uma

população, onde as características populacionais são obtidas diretamente. A amostra

representa um subgrupo de uma população, selecionado para participação no estudo

(Malhotra, 2001).

A amostragem foi realizada através da definição da população de interesse, ou seja, a

população que trabalha com produtos florestais não-madeireiros.

4. 3. 1. Definição da população de interesse: levantamento das empresas que

trabalham com produtos florestais não-madeireiros

O levantamento foi realizado através da consulta à lista telefônica e à outras fontes

para identificar empresas do ramo. Foram contatadas por telefone 20 empresas que

representam 10% das empresas listadas. A identificação de redes de supermercados e suas

lojas (quatro maiores redes), principais sorveterias e ervanários também foi realizada.

4. 3. 2. Segmentação do mercado: amostragem aleatória das empresas

A amostragem foi realizada através das entrevistas com todas as empresas que tem

produtos florestais não-madeireiros de grande importância na renda do comerciante. No total

foram entrevistados através dos questionários de comerciantes sete estabelecimentos (centrais

de abastecimentos, gerência ou proprietários), dentre eles, quatro supermercados, duas

sorveterias e uma indústria de cosméticos, além de quatro ervanários (40,0%) dos 10

identificados.

Os questionários para entrevistas de consumidores foram aplicados em 6 lojas de

supermercados o que representa 20% das lojas de cada rede de supermercado.

4. 3. 3. Aplicação de questionários nas empresas

a) Entrevistas com comerciantes

• Contato com 20 empresas por telefone

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• Visitas nas 11 mais importantes: Supermercados, Sorveterias, Indústria

e Ervanários

b) Entrevistas com consumidores

• Seleção sistemática dos consumidores

• 30 questionários por supermercado selecionado

4. 3. 4. Definição da população de interesse: levantamento das feiras que trabalham

com produtos florestais não-madeireiros em Belém

O levantamento do número das feiras de Belém foi realizado através do auxílio da

SECON (Secretaria de Economia de Belém) com o fornecimento do cadastro das feiras e

dados de comercialização dos entrepostos, além de visitas nas 44 feiras identificadas e quatro

portos de abastecimento para identificação do número de bancas por produto de interesse que

são comercializados em cada feira.

4. 3. 5. Segmentação do mercado: amostragem das feiras

A segmentação do mercado, especificamente das feiras, foi realizada através de

técnicas de amostragem estratificadas com a divisão dos estabelecimentos por tamanho de

acordo com o levantamento de número de bancas por produto de interesse em cada feira. O

total de feiras foi dividido em 4 classes de diversidade de PFNMs ofertados. As feiras que

possuíam menos de oito PFNMs de interesse foram descartadas representando a quarta classe

de tamanho, na terceira classe foram sorteadas 6 feiras (15,0%), na segunda classe foram

sorteadas duas feiras (18,0%) e na primeira classe foram amostradas todas as feiras, pois é a

classe onde se insere a feira do Ver-o-Peso, a maior feira que comercializa grande diversidade

de produtos florestais não-madeireiros de Belém (Gráfico 1).

A quantidade de comerciantes entrevistados de cada feira amostrada foi realizada

através de técnicas de amostragem sistemática, 50,0% dos comerciantes foram entrevistados,

um sim e um não, passando para o próximo quando o anterior recusa a entrevista.

Os questionários de consumidores foram realizados através de amostragem sistemática

dos consumidores que estão passando no momento; a cada três consumidores que estão

passando, um é entrevistado.

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Gráfico 1. Número de bancas por produto florestal não-madeireiro de interesse de cada feira

4. 3. 6. Aplicação de questionários nas feiras

a) Entrevistas com Comerciantes

• Seleção sistemática 50 % dos comerciantes

• Seleção aleatória dos comerciantes dos portos de abastecimento no

horário de chegada dos produtos (às 5:00 horas da manhã)

b) Entrevista com consumidores:

• Seleção sistemática dos consumidores

• 60 de cada feira

Feiras em Belém

010

203040

5060

7080

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43

Feira

Núm

ero

de b

anca

s co

m

PFN

M d

e in

tere

sse

Feiras descartadas

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados obtidos são resultados preliminares que ainda estão em processo de análise.

Esses resultados serão de grande valia no desenvolvimento do Projeto “Conectando as Partes:

Melhorando a situação fundiária, o manejo da floresta e a comercialização de seus produtos

na Amazônia brasileira”. Foram realizados, no total, 715 questionários para entrevistas de

consumidores e 185 questionários para entrevistas de comerciantes, e a compilação dos dados

obtidos gerou inúmeras tabelas apresentadas a seguir.

5. 1. Resultados preliminares do estudo de mercado a partir dos questionários obtidos

com comerciantes

A tabela 1 mostra a origem dos produtos de interesse comercializados, ressaltando que

somente os produtores de açaí vêm até Belém comercializar seus produtos, mas a maioria dos

comerciantes entrevistados compra seus produtos de produtores. No caso da castanha, uxi,

piquiá, andiroba e copaíba, a maioria dos comerciantes compra seus produtos de

atravessadores. Deve-se destacar também a grande importância do atravessador que se mostra

consolidado na cadeia de comercialização, porém esta consolidação mostra-se na maioria das

vezes de forma prejudicial, como o relato de uma das feirantes da feira do Ver-o-Peso.

“... tinha que acabar com o atravessador para o produtor poder comercializar com a

gente...” (Dna Carmelita).

Esses resultados irão ajudar a nortear as possíveis soluções dos grandes entraves da

comercialização desses produtos nas comunidades.

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Tabela 1. Origem do produto, em %.

Origem do produto Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Produtores 2,6 23,3 0,0 0,0 0,0 0,0 Compra de produtores 13,2 46,5 41,0 48,4 45,0 35,7 Compra de atravessadores 47,4 37,2 61,5 61,3 65,0 78,6 Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se na tabela 2 que os comerciantes de açaí possuem um maior número de

fornecedores. Para os produtos da copaíba, andiroba e açaí os comerciantes possuem interesse

em aumentar a quantidade de fornecedores, justamente para aumentar o poder de barganha

dos comerciantes e possibilitando a comercialização dos produtos das comunidades

envolvidas. Algumas dificuldades na escolha dos fornecedores podem ser demonstradas pelas

palavras de uma feirante do Ver-o-Peso do Setor das Ervas Medicinais.

“... O fornecedor tem que ser uma pessoa de confiança e vender o produto certo,

verdadeiro, sem ser misturado...” (Beth Cheirosinha).

Tabela 2. Número de fornecedores e interesse do comerciante (em %) em aumentar a

quantidade de fornecedores.

Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Fornecedores Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP N° de fornecedores 4,6 6,0 14,7 38,5 6,3 8,4 4,1 3,2 3,6 3,0 2,5 2,0 Interesse 40,0 53,0 48,7 41,9 55,0 64,3 Fonte: Dados da pesquisa.

A tabela 3 apresenta as formas de pagamento realizadas pelos comerciantes indicando

que a maioria dos comerciantes de açaí, uxi, andiroba e copaíba pagam seus fornecedores à

vista, e os comerciantes de castanha e piquiá, à prazo.

Tabela 3. Forma de pagamento ao fornecedor, em %.

Forma de pagamento ao fornecedor Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba À vista 42,9 67,4 69,2 41,9 70,0 71,4 À prazo 52,4 11,6 30,8 64,5 25,0 21,4 Consignação 0,0 2,3 0,0 0,0 5,0 7,1 Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se na tabela 4 que somente os comerciantes de açaí vendem o seu produto na

maioria das vezes para atravessadores. Isso identifica as entrevistas realizadas nos portos de

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abastecimento, onde é comercializado o açaí in natura para os atravessadores que trabalham

com máquina que produzem o “vinho” do açaí, muito consumido com farinha na alimentação

das pessoas que vivem em Belém. Para os outros produtos de interesse, a maioria dos

comerciantes vende seus produtos para consumidores finais.

Tabela 4. Destino do produto, em %.

Consumidor Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Consumidor final 95,2 37,2 92,3 96,8 100,0 100,0 Atravessador 28,6 76,7 25,6 22,6 5,0 7,1 Fonte: Dados da pesquisa.

A tabela 5 mostra que a maioria dos comerciantes possui os produtos florestais não-

madeireiros como principal fonte de renda destacando a grande importância desses produtos

no mercado e comercializam esses produtos a mais de uma década. Os dados de importância

na renda foram atribuídos pelos entrevistados (comerciantes) de acordo com uma escala de 0

a 10.

Tabela 5. Importância dos produtos na renda e tempo de comercialização dos produtos (em

anos).

Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Comerciantes Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP

Importância na renda 6,8 2,4 9,3 2,0 6,8 2,6 6,2 3,0 7,2 3,4 7,4 2,3

Anos com o produto 14,7 12,4 18,1 12,8 16,6 13,6 18,4 12,8 17,5 13,8 15,8 12,4

Fonte: Dados da pesquisa.

A tabela 6 apresenta a variação do consumo de produtos florestais não-madeireiros em

relação ao passado que aumentou na maioria das vezes e em relação ao futuro que tende a

aumentar ainda mais. Esse resultado destaca que a comercialização desses produtos é

promissora nos principais mercados da região. Alguns relatos a seguir explicam essas

variações de consumo ao longo do tempo.

“As vendas nos próximos anos devem aumentar através de pesquisa, televisão, mídia,

conhecimento da população e eficiência do produto...” (Beth Cheirosinha – comerciante do

Setor das Ervas Medicinais da Feira do Ver-o-Peso).

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“As vendas nos próximos anos devem diminuir por causa do desmatamento, o pessoal

está deixando de plantar... essas frutas demoram muitos anos para dar e a tendência é

acabar...” (Gerson – comerciante da Feira São Brás).

Tabela 6. Variação do consumo, em%.

Consumo Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Aumentou 85,7 88,4 66,7 51,6 65,0 57,1 Constante 9,5 7,0 25,6 32,3 25,0 42,9 Passado Diminuiu 9,5 4,7 7,7 12,9 10,0 0,0 Aumentou 85,7 88,4 51,3 48,4 70,0 57,1 Constante 9,5 2,3 25,6 19,4 20,0 28,6 Futuro Diminuiu 4,8 9,3 23,1 32,3 10,0 14,3

Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se na tabela 7 e nos mapas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 que os municípios de origem de

cada produto de interesse na maioria dos casos estão localizados próximos a Belém

destacando-se o caso da castanha-do-pará que apresenta como um dos municípios de origem a

cidade de Marabá isolada do centro de comercialização. Também é interessante notar que o

Ceará aparece como uma importante fonte de castanha, apesar de não ser uma região

produtora, mostrando a falta de informação neste mercado. Esse resultado comprova que por

se tratar de um produto não-perecível há uma maior possibilidade de negociação da castanha

entre comunidades mais distantes.

Tabela 7. Municípios de origem dos produtos.

Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Origem % Origem % Origem % Origem % Origem % Origem % Marabá 16,4 Barcarena 16,4 Acará 15,0 Acará 13,0 Cametá 23,3 Tucuruí 13,6 Capitão Poço

12,7 Acará 9,0 Boa Vista 13,3 Barcarena 8,7 Acará 10,0 Barcarena 9,1

Bujaru 10,9 Ponta de Pedra

9,0 Barcarena 8,3 Cametá 8,7 Barcarena 10,0 Marajó 9,1

Barcarena 10,9 Abaetetuba 6,0 Moju 6,7 Marajó 6,5 Marajó 10,0 Tomé Açu 9,1 Moju 7,3 Anajás 6,0 Mosqueiro 6,7 Moju 6,5 Abaetetuba 6,7 Ceará 7,3 Muaná 6,0 Ilha de

Marajo 6,0

Fonte: Dados da pesquisa.

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Figura 1. Municípios de origem do Açaí. Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 2. Municípios de origem da castanha-do-pará. Fonte: Dados da pesquisa.

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Figura 3. Municípios de origem da andiroba. Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 4. Municípios de origem da copaíba. Fonte: Dados da pesquisa.

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Figura 5. Municípios de origem do piquiá Fonte: Dados da pesquisa

Figura 6. Municípios de origem do uxi. Fonte: Dados da pesquisa.

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5. 2. Resultados preliminares da pesquisa de marketing a partir dos questionários

obtidos com consumidores

As tabelas 8 e 9 mostram a grande falta de informação e interesse dos consumidores a

respeito dos produtos florestais não-madeireiros. O resultado destaca que cinco dos dez

produtos mais consumidos não são nativos da floresta demonstrando a falta de consciência

sobre o que é uma floresta dos consumidores. O produto mais consumido é o cupuaçu e em

segundo lugar está o açaí.

Tabela 8. Consumo dos produtos da floresta.

Produto % dos consumidores 1° Cupuaçu 47,13 2° Açaí 40,70 3° Banana 37,76 4° Bacuri 22,38 5° Laranja 17,20 6° Manga 16,78 7° Maçã 12,59 8° Pupunha 12,45 9° Abacate 11,75 10° Castanha 9,93 Fonte: Dados da pesquisa

Ressalta-se na tabela 9 a falta de interesse dos consumidores com a origem e forma de

produção dos produtos florestais e nível de consciência ambiental baixo.

Tabela 9. Preocupação com a origem.

Preocupação % de respostas Com certeza 4,30 Sim 24,10 Mais ou menos 0,60 Não 70,70 De jeito nenhum 0,30 Fonte: Dados da pesquisa.

A tabela 10 mostra que na ausência de determinado PFNM, os consumidores recorrem

a outros produtos. No caso específico da andiroba e copaíba verifica-se uma taxa

relativamente alta de substituição pelos consumidores.

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Tabela 10. Produtos substitutos

Castanha Açaí Uxi Piquiá Andiroba Copaíba Substituto % Substituto % Substituto % Substituto % Substituto % Substituto %

Coco 15,0 Banana 20,0 Banana 14,0 Banana 20,0 Copaíba 27,0 Andiroba 35,0 Açaí 11,0 Nenhum 18,0 Açaí 11,0 Nenhum 13,0 Remédio 11,0 Nenhum 18,0

Nenhum 11,0 Cupuaçu 14,0 Cupuaçu 8,0 Pupunha 13,0 Nenhum 22,0 Remédio 18,0 Cupuaçu 9,0 Bacaba 11,0 Manga 7,0 Açaí 7,0 Mel 12,0 Mel 7,0 Banana 7,0 Acerola 6,0 Piquiá 7,0 Bacuri 7,0 Arnica 9,0 Abacate 5,0 Refrigerante 6,0 Nenhum 6,0 Cupuaçu 7,0 Bacuri 5,0 Pupunha 6,0 Uxi 7,0

Castanha de Caju

5,0

Pupunha 5,0 Fonte: Dados da pesquisa.

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6. CONCLUSÃO

Os resultados mostraram que há pouca ou nenhuma informação sobre o que é uma

floresta e os consumidores não têm preocupação com a origem dos produtos. A falta de

percepções ambientais das pessoas (consumidores) pode ser explicada pelo fato de possuírem

outras prioridades, as pessoas vivem numa condição precária nas cidades e isso dificulta a

consciência na conservação florestal. E isso vai gerar também dificuldades para a

implementação de estratégias de conscientização desta população.

Talvez a elaboração de trabalhos de educação ambiental alternativos com a população

urbana possa ser realizada para que passem a incorporar no dia-a-dia a preocupação com o

meio ambiente.

A pesquisa mostrou a grande diversidade de produtos florestais não-madeireiros

consumidos pela população da cidade de Belém, de modo que, estratégias de conservação da

floresta e práticas de manejo dos recursos naturais são importantes, além da preservação

ambiental, para a perpetuação das tradições culinárias, religiosas e fitoterápicas desta mesma

população.

O fato dos municípios que produzem os diferentes produtos consumidos estarem

próximos à cidade de Belém, pode ser um fator que facilite uma atuação, governamental e

não-governamental, no sentido de equacionar os problemas apontados por esta pesquisa, tais

como, a falta de produtos na entressafra, melhorar a qualidade, armazenamento e

acondicionamento dos produtos, promover melhor organização dos produtores e

comerciantes, aumentar o nível de consciência dos consumidores no que diz respeito ao uso e

conservação dos produtos da floresta, incentivar uma articulação entre os diferentes atores

econômicos, melhorar a circulação e acesso à informação para todos os atores sociais, etc.

Através da melhoria da comercialização dos produtos nas comunidades e conseqüente

melhoria da qualidade de vida e aumento da renda pode-se incentivar a conscientização das

pessoas pela Floresta Amazônica. E isso pode ser conquistado através da articulação entre os

comerciantes e agricultores de modo que todos possam se beneficiar com a comercialização

dos produtos, e facilitado em virtude da proximidade da maioria dos agricultores do

município de Belém.

Os produtores das comunidades precisam de informação sobre o mercado, incluindo

determinantes de demanda, sensibilidade do preço e da renda e custos de transação do

atendimento dessa demanda.

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Foi observada grande apreensão dos feirantes com a chegada de grandes empresas do

setor de cosméticos que estão comprando grande quantidade de produtos nas comunidades e

preocupando tanto comerciantes quanto consumidores desses produtos em Belém. Eles

acreditam que pode haver falta de fornecimento de produtos em virtude das ações dessas

empresas. Além da diminuição da demanda, explicada pela preferência dos consumidores em

comprar diretamente nesses estabelecimentos, principalmente quando se trata de turistas que

acabam utilizando feiras como o Ver-o-Peso somente como ponto turístico. (Em anexo segue

uma reportagem do Jornal O Liberal sobre o assunto).

Destaca-se a importância do projeto na organização da negociação entre todos os

agentes econômicos para não ocorrer esses problemas. Além disso, o projeto também capacita

os agricultores no manejo florestal sustentável o que pode possibilitar um aumento da oferta

de PFNMs de modo que possa trazer aumento da renda e do trabalho para as comunidades e

ao mesmo tempo atender o aumento da demanda.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Amazônia. Belém: Imazon, 2005. 138 p.

SHANLEY, P., Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica. Editores: Patrícia Shanley e

Gabriel Medina. Belém: CIFOR, Imazon, 2005. 304 p.

PARANAGUÁ, P.; MELO, P.; SOTTA, E. D.; VERÍSSIMO, A. Belém Sustentável. Belém:

Imazon, 2003. 112p.

MALHOTRA, N. K. Pesquisa de Marketing: Uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre:

Bookman, 2001. 719 p.

VARIAN, H. R. Microeconomia: Princípios básicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 756 p.

BATALHA, M. O. (Coord.). Gestão Agroindustrial. GEPAI: Grupo de Estudos e Pesquisas

Agroindustriais. São Paulo: Atlas, 2001. 689 p.

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