relaÇÕes imagem-texto

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1 RELAÇÕES IMAGEM-TEXTO EM TEXTOS DIDÁTICOS PARA EAD: UM EXERCÍCIO DE RESSIGNIFICAÇÃO 1 Luiz Fernando Gomes Unicamp/Uniso email: [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta um breve estudo sobre as relações entre imagem e texto escrito. A fim de ilustrar os conceitos discutidos, apresenta um exemplo de ressemiotização de um texto verbal para um texto-imagem, produzido como material didático para um curso a distância. O referencial teórico está apoiado nas relações imagem e texto propostas por Barthes (1977) e na taxionomia de Martinec & Salway (2005). Ao final, traz algumas considerações sobre a importância de se conhecer melhor as implicações da escrita multimodal para a produção de material didático para EaD. Palavras-chave: Material Didático; Educação a Distância; imagem-texto 1. O VERBAL E O NÃO VERBAL Nós nos comunicamos através de códigos que podem ser divididos em duas grandes categorias: verbal e não verbal. Ambos são interpretados de forma convencional e articulada, porém, o primeiro organiza-se com base na linguagem duplamente articulada, que forma a língua, e o segundo envolve sentidos variados, como os visuais, auditivos, sinestésicos, olfativos e gustativos. A comunicação do homem primitivo começou com gestos e balbucios, porém, devido à necessidade cada vez maior de comunicar-se com pessoas que se encontravam longe do alcance da vista e voz, ele passou a utilizar de meios diferentes, tais como, fumaça, tambores etc. A fala começou a ser registrada simbolicamente através de pinturas nas paredes das cavernas e, gradativamente, o homem desenvolveu outros suportes para seus registros (argila, papiro, pergaminho, seda, couro, papel e a tela do computador) e outra forma também simbólica de registrar sua cultura, o alfabeto. 2 Passamos, então, de registros figurativos em cavernas para textos escritos que substituíam as imagens pelo código alfabético. Porém, as imagens continuaram a ter um papel importante na preservação da cultura. Eco 3 (1996) nos fala que no século XVI, em Paris, por estarem os manuscritos reservados à elite o “único meio ensinar as massas sobre as histórias da Bíblia, da vida de Cristo e dos santos, os princípios morais, os acontecimentos da história nacional ou as noções mais elementares de geografia e das ciências naturais (a natureza dos povos desconhecidos e as virtudes das ervas ou das pedras) era através das imagens da Catedral de Notre Dame, em Paris”. Conforme observa Landow (1997, p.63) “olhando para a história da escrita pode-se perceber que há uma longa conexão com a informação visual, não apenas na origem de muitos sistemas alfabéticos, em hieróglifos e outras formas originais de escrita”. Além disso, os manuscritos medievais (e todos os tipos de texto s impressos) apresentam algum tipo de combinação de tamanhos de letras, tipos de fontes, margens e espaços entre as letras, adereços visuais, de forma que todo texto impresso 4 é também 1 Trabalho apresentado no13º Congresso Anual da Associação Brasileira de Educação a Distância ABED- 2007- “Em Busca de Novos Domínios e Novos Públicos Através da EAD

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Artigo acadêmico publicado sobre o tema.

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    RELAES IMAGEM-TEXTO EM TEXTOS DIDTICOS PARA EAD:

    UM EXERCCIO DE RESSIGNIFICAO1

    Luiz Fernando Gomes Unicamp/Uniso email: [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho apresenta um breve estudo sobre as relaes entre imagem e texto

    escrito. A fim de ilustrar os conceitos discutidos, apresenta um exemplo de

    ressemiotizao de um texto verbal para um texto-imagem, produzido como material

    didtico para um curso a distncia. O referencial terico est apoiado nas relaes

    imagem e texto propostas por Barthes (1977) e na taxionomia de Martinec & Salway

    (2005). Ao final, traz algumas consideraes sobre a importncia de se conhecer

    melhor as implicaes da escrita multimodal para a produo de material didtico

    para EaD.

    Palavras-chave: Material Didtico; Educao a Distncia; imagem-texto

    1. O VERBAL E O NO VERBAL

    Ns nos comunicamos atravs de cdigos que podem ser divididos em duas

    grandes categorias: verbal e no verbal. Ambos so interpretados de forma convencional

    e articulada, porm, o primeiro organiza-se com base na linguagem duplamente

    articulada, que forma a lngua, e o segundo envolve sentidos variados, como os visuais,

    auditivos, sinestsicos, olfativos e gustativos.

    A comunicao do homem primitivo comeou com gestos e balbucios, porm,

    devido necessidade cada vez maior de comunicar-se com pessoas que se encontravam

    longe do alcance da vista e voz, ele passou a utilizar de meios diferentes, tais como,

    fumaa, tambores etc. A fala comeou a ser registrada simbolicamente atravs de

    pinturas nas paredes das cavernas e, gradativamente, o homem desenvolveu outros

    suportes para seus registros (argila, papiro, pergaminho, seda, couro, papel e a tela do

    computador) e outra forma tambm simblica de registrar sua cultura, o alfabeto.2 Passamos, ento, de registros figurativos em cavernas para textos escritos que

    substituam as imagens pelo cdigo alfabtico. Porm, as imagens continuaram a ter

    um papel importante na preservao da cultura. Eco3 (1996) nos fala que no sculo XVI,

    em Paris, por estarem os manuscritos reservados elite o nico meio ensinar as massas sobre as histrias da Bblia, da vida de Cristo e dos santos, os princpios morais, os

    acontecimentos da histria nacional ou as noes mais elementares de geografia e das

    cincias naturais (a natureza dos povos desconhecidos e as virtudes das ervas ou das

    pedras) era atravs das imagens da Catedral de Notre Dame, em Paris. Conforme observa Landow (1997, p.63) olhando para a histria da escrita pode-se perceber que h uma longa conexo com a informao visual, no apenas na

    origem de muitos sistemas alfabticos, em hierglifos e outras formas originais de

    escrita. Alm disso, os manuscritos medievais (e todos os tipos de textos impressos) apresentam algum tipo de combinao de tamanhos de letras, tipos de fontes, margens e

    espaos entre as letras, adereos visuais, de forma que todo texto impresso4 tambm

    1 Trabalho apresentado no13 Congresso Anual da Associao Brasileira de Educao a Distncia ABED- 2007- Em Busca de Novos Domnios e Novos Pblicos Atravs da EAD

  • 2

    visual. Percebe-se, no decorrer da histria, uma predominncia da informao verbal

    sobre a informao visual nos textos impressos, (que ainda permanece nos textos

    eletrnicos), colocando-se elementos visuais (ilustraes, diagramao das pginas,

    tipos e tamanhos das fontes, cores etc.) como menos importantes. Essa predominncia

    sempre foi ameaada pela presena dos elementos visuais que era muito valorizados nas

    iluminuras medievais, na arte de vanguarda do incio do sculo XX ( o caso da poesia

    concreta - agora retomada como infopoesia, e do clip-poema5) e, de uma forma bem

    sofisticada, o sentido das formas e da fuso imagem-texto chegaram ao extremo na arte

    Islmica (Martinec e Salway, 2005,p.338). Essa tendncia permanece, atualmente, nos

    gibis, nas propagandas em revistas e em grande dos websites.

    Nos dias de hoje, principalmente devido facilidades oferecidas pelos meios

    eletrnicos, tanto para a obteno de imagens digitais quanto para sua insero e edio

    em documentos em computadores ou na web, os limites entre texto e imagem esto cada

    vez mais tnues. Kress & Van Leeuwen (1996) e Kress (2005) defendem a ideia de que

    as modalidades culturalmente valorizadas mudam ao longo da histria e que atualmente

    estamos vendo a escrita ceder lugar para a imagem e que esta mudana traz

    consequncias na comunicao, quer por meios eletrnicos ou materiais impressos.

    Interessa-me, neste texto, estudar as relaes da fuso imagem-texto,

    considerando que estes modos (imagem e texto) possuem affordances6 particulares (Kress & Van Leeuwen, 1996, p.5 ; Kress, 2005, p.7) e que se integram tanto no leiaute

    quanto no significado da mensagem. As razes desse interesse baseiam-se em duas

    ideias principais: (a) alguns tipos de imagens, em certos contextos, podem ser mais

    esclarecedores que o texto escrito e (b) a combinao de texto escrito e imagem pode

    favorecer melhor a construo de sentidos. Alm disso, as imagens costumam ter um

    impacto emocional mais direto, enquanto o texto escrito traz um apelo maior ao

    raciocnio lgico. Isto no quer dizer, porm, que as palavras no emocionam (temos a

    poesia!) e que as imagens no sejam racionais (grficos e tabelas so bons exemplos de

    mensagens racionais). Mas interessa conhecer melhor de que maneira essa inter-relao entre imagem e texto (e mais adiante, em outra pesquisa, outros modos, tais

    como sons, movimentos etc.) podem contribuir para a elaborao de materiais didticos

    para cursos a distncia que favoream a construo de sentidos no texto pedaggico.

    Martinec & Salway (2005), Lemke (2002), assim como Kress & Van Leeuwen

    (1996) reconhecem que sua propostas para uma sistematizao dos estudos das relaes

    imagem e texto so tributrias dos estudos de Barthes (1967 e 1977, entre outros) sobre

    a imagem, e tambm das idias de Halliday (1978, 1985) sobre a semitica social e a

    gramtica funcional. Assim, interessante, fazermos uma breve reviso das idias de

    Barthes que ajudaram a construo, por estes autores, de teorias explicativas das

    relaes entre imagem e texto.

    2. RELAES IMAGEM-TEXTO

    Roland Barthes (1977 p. 38 e ss.) elaborou os primeiros trabalhos mais

    significativos sobre as relaes entre imagem e texto, baseando-se numa lgica de trs

    possibilidades de como as imagens e os textos se inter-relacionam:

    a) ancoragem (texto apoiando imagem). Neste caso, o texto escrito tem a funo de conotar e direcionar a leitura, propondo um vis de leitura da imagem;

  • 3

    Fig.1 Hall da sauna com ducha

    b) ilustrao (imagem apoiando texto). Neste caso, a imagem que esclarece o texto, expandindo a informao verbal.

    Fig.2 Todos os recursos foram utilizados para apagar o fogo.

    c) relay (texto e imagem so complementares). Neste caso, h uma integrao das linguagens. So exemplos os cartoons e as tiras cmicas.

    Fig.3

    Martinec & Salway (2005) fazem outra classificao dos casos acima, dividindo

    as relaes imagem-texto em relaes de status e relaes lgico-semnticas. Eles

    utilizam essa classificao para formular dois subsistemas que combinam,

    independentemente, o status e a lgica-semntica7.

    3. RELAES DE STATUS NO CONSTRUTO IMAGEM-TEXTO

    Segundo Martinec & Salway (Op.cit.p. 343), do mesmo modo que as relaes

    entre as oraes numa oraes coordenada, colocam-nas como orao principal e

    coordenada, as relaes entre imagem e texto passam a ocupar um status desigual

    quando um dos dois modifica o outro. Eles estabelecem uma relao de dependncia

    entre os termos onde o elemento modificador considerado dependente do elemento

    modificado.

    Na lngua escrita podemos citar um exemplo: Eu corri porque estava atrasado. A primeira orao (Eu corri) chamada independente, enquanto a segunda (por que

    estava atrasado ) chamada dependente, ou orao coordenada sindtica explicativa.

    Fazendo uma transposio para a relao imagem-texto, Martinec & Salway

    estabelecem uma taxionomia que esclarece os status da imagem e do texto,que pode ser

    resumida da seguinte maneira:

    a) imagem inteira com o texto inteiro;

  • 4

    b) imagem inteira com parte do texto; c) texto inteiro com parte da imagem.

    Fig. 4 Mapa Mundi Fig.5 Propaganda de xampu

    O motor de combusto interna tem sua fora proveniente da expanso provocada pela

    queima do combustvel em uma cmara interna do motor. O tipo de motor de

    combusto interna mais conhecido o motor a pisto presente na maioria dos carros

    de passeio. Mas outros tipos de motores podem ser considerados de combusto interna,

    como o motor a jato, o motor Wankel, e at os motores dos foguetes.

    Fig. 6 mostra um motor de automvel, mas a legenda (texto) refere-se aos

    cilindros do motor apenas.

    Fig.7 os rendimento do motor evidentemente aumentou

    4. O TEXO RESSIGNIFICADO: ELUCIDAO DO PROCESSO

    Ressignificao (ou ressemiotizao), conforme Iedema (2003, p.41) refere-se s mudanas de significado, de contexto para contexto, de prtica para prtica, ou de um

    estgio de prtica para outro.

    STATUS DA RELAO

    IMAGEM - TEXTO

    IGUAL

    L

    DESIGUAL

    Imagem e texto

    Independentes

    Figs. 4 e 5(abaixo)

    Imagem e texto

    complementares Fig.6 (abaixo)

    Imagem subordinada a parte do texto. Fig.6 (abaixo)

    Texto subordinado a parte

    da imagem.Fig. 7 (abaixo)

  • 5

    A ressignificao que proponho neste trabalho refere-se releitura que eu fiz de

    um texto verbal escrito (sem imagens, alm da prpria representao grfica de sua

    disposio no papel e das regras de ortografia: pargrafos, acentos, etc.) e que procurei

    ressignificar, isto , reescrever o texto utilizando a linguagem verbal e inserindo

    imagens e atentando para as relaes entre ambos os modos de representao. Meu

    objetivo verificar de que maneira a insero de imagens ao texto, respeitando seus

    affordances poderia tornar o texto-imagem resultante mais compreensvel. Voltei

    especial ateno aos mecanismos de escolha (e de no escolha) das imagens e suas

    funes/relaes de sentido no texto, que passo a explicitar.

    A escolha do texto foi feita a partir de um corpus de material didtico

    desenvolvido por mim para um curso, via internet, de Formao de Professores para

    Educao a Distncia. Na verdade, devido ao escopo deste artigo, selecionei apenas um

    pequeno trecho de um texto. Transcrevo abaixo, em itlico, o trecho selecionado,

    conforme foi utilizado na sala virtual, do qual apresentarei apenas um exemplo de

    ressognificao.

    HORAS DE TRABALHO E HORAS DE ESTUDO EM EaD

    No ensino presencial, as horas so contadas como horas-aula8, isto , horas em que o professor passa dentro da sala de aula, dedicando-se exclusivamente s aes

    didticas...Tambm no presencial, o que chamamos de horas de estudo, na verdade,

    so as horas em que os alunos esto presentes em nossa sala de aula. Desconsideramos

    as horas gastas pelos alunos na realizao de pesquisas, trabalhos domiciliares,

    leituras e estudo. Institucionalizou-se o perodo de 50 min. para cada aula e um total de

    4 aulas por perodo (h, entretanto, outros regimes, especialmente nas universidades

    pblicas). ). Essa diviso a que (em alguns casos) melhor se encaixa nas demais atividades do dia-a-dia dos alunos e das instituies; ela est mais preocupada com a

    logstica da oferta das aulas e dos tempos de trabalho do que com a aprendizagem

    propriamente dita.

    Segue abaixo o texto ressignificado, separado por pargrafos e cada pargrafo,

    por sentenas (unidades mnimas escolhidas por mim, segundo critrios propostos por

    Martinec e Salway). Discusses sobre o processo de ressignificao so apresentadas

    aps cada sentena.

    No ensino presencial, as horas so contadas como horas-aula, isto , horas em

    que o professor passa dentro da sala de aula, dedicando-se exclusivamente s aes

    didticas.

    .

    Fig1

    Devido ao tpico da sentena (a definio de hora/aula no ensino presencial) ser

    apresentado de modo explicativo, procurei no Google uma imagem, a partir da palavra-

  • 6

    chave hora-aula e no encontrei uma sequer que representasse este conceito. A imagem escolhida ilustra o texto, relacionando-se a apenas uma parte do texto (o

    conceito de hora-aula no est representado) estando subordinada ao texto. Ocorre uma

    relao de redundncia entre texto e imagem, que pode ser claramente percebida, pois a

    imagem mostra o que as palavras-chave grifadas e o que a sentena explicam: uma aula

    presencial retratada na imagem. Como o professor est em ao, depreende-se que

    est em curso uma aula. Pode-se questionar em que medida essa redundncia auxiliou

    na compreenso do texto. A insero da imagem ilustrando a sentena traz tambm um

    sentido conotativo do conceito de aula culturalmente aceito em nossa sociedade, de

    professor no centro da classe (e das aes didticas) explicando a matria (e fazendo exclusivamente isso), e alunos sentados em carteiras enfileiradas, prestando ateno. A

    coeso da relao imagem-texto foi conseguida atravs dos elementos diticos (em

    negrito, acima) do texto escrito, apontando para suas contrapartes na imagem. A

    expresso hora-aula, que indica tempo transcorrido no pde ser representada pela

    imagem escolhida, ficando sua interpretao (de que uma hora aula equivale a 50

    minutos, ao menos, na maioria dos casos) por conta das prticas culturais da nossa

    sociedade, j que a imagem esttica escolhida no mostra a durao de um processo,

    mas apenas um recorte, um instante dele. Seria essa uma affordance do meio e talvez

    um exemplo da falta de aptido da imagem para representar eventos processuais.

    No segundo pargrafo, repeti os mesmos procedimentos mencionados para o

    primeiro pargrafo.

    Abaixo podemos ler a primeira sentena.

    Tambm no presencial, o que chamamos de horas de estudo, na verdade, so as

    horas em que os alunos esto presentes em nossa sala de aula.

    Fig. 3

    Procurei 9 uma imagem na qual o centro fosse agora o aluno e no o mais o

    professor, pois o tpico diz respeito s horas de estudo dos alunos. Novamente a

    referenciao do texto imagem se d atravs das palavras-chave grifadas. Neste caso,

    a imagem tem a funo de ilustrar o texto. Percebe-se que h em curso uma aula

    presencial e subentendem-se a, horas de estudo; este, porm, um conceito difcil de

    explicar com imagens, tanto quanto difcil explicar o conceito de estudo propriamente

    dito, especialmente pelo carter processual das horas de estudo que o mesmo de hora-aula do pargrafo anterior.

    J a segunda sentena do segundo pargrafo, ficou assim:

    Desconsideramos as horas gastas pelos alunos na realizao de pesquisas,

    trabalhos domiciliares, leituras e estudo.

    Kress (2003) considera que seria difcil exprimir uma idia de negao atravs

    de imagens (so as affordances de cada modo). Confesso que alm da imagem

    representando uma ao e um xis vermelho sobre ela, como nas placas de trnsito

  • 7

    indicando, por exemplo, proibido estacionar, nenhuma outra idia me ocorreu de como expressar a idia da sentena acima. Portanto, ela permaneceu inalterada na

    imagem-texto resultante deste meu exerccio.

    A terceira sentena foi ressignificada da seguinte forma:

    Institucionalizou-se o perodo de 50 min. para cada aula e um total de 4 aulas

    por perodo (h, entretanto, outros regimes, especialmente nas universidades pblicas).

    Fig.4

    Esta sentena recebeu o apoio de um desenho que pretende lembrar um

    horrio representando as 4 aulas dirias, simplificado, para apenas um dia da semana. Neste caso, o desenho refere-se a apenas uma parte do texto, estando subordinada a ele.

    A ressalva colocada parnteses no foi considerada relevante a ponto de merecer um

    outro horrio apenas para ressalt-la. A ltima sentena ficou da assim:

    Essa diviso a que (em alguns casos) melhor se encaixa nas demais atividades

    do dia-a-dia dos alunos e das instituies; ela est mais preocupada com a logstica da

    oferta das aulas e dos tempos de trabalho do que com a aprendizagem propriamente

    dita.

    Fig.5 aluna estudando

    A quarta sentena pode ser entendida em relao s sentenas e imagens

    anteriores, mas tornou-se impossvel, dentro do escopo terico deste trabalho,

    apresentar qualquer tipo de imagem que ajudasse a torn-la mais clara em seu contedo

    objetivo. Porm, percebi que seu tpico uma crtica velada diviso rgida das horas-

    aula, alegando que esta diviso administrativa e no pedaggica. Deixa subentendida

    que na Educao a Distncia, no ter horrios rgidos um benefcio. Foi pensando em

    ajudar a passar essa mensagem de liberdade e de livre escolha que escolhi a imagem que

    mostra uma aluna estudando num parque, com a conotao de paz e de liberdade. A

    coeso da imagem-texto faz-se mais pela mensagem implcita da sentena. Neste caso,

    Ingls 10 s 10:50h 10:30(:40

    Ingls 10:50 s 11:30h

    TCC 8 s 8:50h

    TCC 8:50 s 9:40

    HORRIO

    2.-FEIRA

  • 8

    a relao da imagem com o texto de ancoragem, pois o texto que oferece o vis para

    a compreenso da imagem que, de outra maneira, no se justificaria naquele contexto.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Ao realizar o exerccio aqui apresentado pude perceber quo complexas so as

    relaes entre texto e imagem e tambm quo imprescindvel o seu estudo. H

    aspectos na escolha das imagens que precisariam de um estudo mais aprofundado. Por

    exemplo, a busca por uma imagem que no traga conotaes que desviem o leitor de seu

    foco ou que prejudiquem a compreenso da mensagem. Isto envolve fazer escolhas num

    banco de dados (Google) a partir de nossas crenas percebidas ou no. Tomei

    conscincia da importncia e das dificuldades de fazer escolhas ao procurar uma

    imagem para a primeira sentena do primeiro pargrafo: precisava de um professor em

    sala de aula, mas os alunos no poderiam ser crianas, a imagem do professor teria que

    mostrar minhas concepes sobre seu papel, que fosse do gnero masculino para haver

    alguma identificao comigo, o tamanho da sala de aula representada teria que ser

    prximo ao da sala que utilizamos em nossa universidade etc. Tambm questionei-me

    diante de algumas imagens dadas pelo Google, se no seriam infantis ou estilizadas

    demais para o texto escolhido. Esse trabalho consumiu muito mais tempo que esperava

    e dispunha.

    Outra questo que precisa ser melhor estudada a relao entre o autor (escritor)

    e o designer. Em vrios momentos, durante a elaborao deste artigo atuei mais como

    designer do que como escritor e creio que este novo papel e as novas habilidades

    necessrias fazem parte de um letramento que ainda no estamos dando nas escolas.

    A despeito dos resultados do exerccio aqui apresentado, recorro novamente a

    Lemke (1997, p. 290) para reforar algumas questes apontadas por ele que continuam

    requerendo maior discusso. So elas: (a) o que as imagens, desenhos, diagramas, grficos, tabelas e equaes fazem por ns que o texto verbal no pode fazer? (b) o que

    podemos fazer melhor ainda com a combinao de textos e outros meios?(Kress, os

    chama de modos, como vimos); (c) O que exatamente acontece com uma imagem que

    mesmo mil palavras no podem dizer? (d) como um diagrama e sua legenda nos dizem

    mais do que um desenho ou um texto sozinhos? Para Lemke, a educao, mesmo nos dias de hoje, ainda no incorporou, a no

    ser em alguns cursos de graduao ou ps-graduao, o ensino das habilidades de

    escrita multimodal10

    , nem sua anlise crtica. Isto ocorre tambm nos Estados Unidos,

    pois conforme afirma o lingista americano (1997, p. 288) ns no ensinamos os alunos como integrar desenhos e diagramas a seus textos escritos, muito menos

    videoclipes, efeitos sonoros, animao e outros modos de representao mais

    especializados. As palavras de Lemke, a seguir, pela relao com este trabalho e pelas implicaes na minha realidade de professor e pesquisador servem perfeitamente para o

    fechamento deste estudo. O texto escrito pode ou no ser a espinha dorsal de um trabalho multimodal, mas precisamos entender para depois ensinar, como as diversas

    culturas combinam essas diferentes modalidades semiticas para construir significados

    que so mais do que a soma do que cada uma poderia significar separadamente.

    6. NOTAS 1 Para uma leitura mais detalhada, veja Braga e Ricarte Letramento e Tecnologia.

    Cefiel/IEL/Unicamp, 2005.

  • 9

    2Todas as tradues neste trabalho so de minha autoria.

    3A comunicao oral tambm multimodal. Por exemplo, para chamar a ateno de

    uma pessoa, gesticulamos, gritamos seu nome etc. 4Veja site de Augusto de Campos: http://www2.uol.com.br/augustodecampos/home.htm

    5Limites e possibilidades de cada modo.

    6Os autores utilizam ainda, como suporte para suas teorias, as relaes lgico-

    semnticas propostas por Halliday (1985) e adaptadas para a imagem-texto que, embora

    pudessem fornecer elementos importantes para o exerccio de ressignificao aqui

    proposto, no fazem parte do escopo deste trabalho. 7Os termos horas-aula e horas de estudo esto em destaque (azul) no texto original,

    como palavras-chave dos tpicos discutidos.

    8 Obtive as imagens atravs do Google Imagens, clicando at a 7. pgina de resultados,

    no mximo, como regra de procedimento. Numa produo mais profissional procuraria instruir o fotgrafo para captar as imagens de acordo com minhas

    necessidades. 9 Na verdade, o autor fala em multimdia, mas estamos interpretando, neste caso, para

    este trabalho, como expresso equivalente a multimodal.

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BARTHES,Roland.Image-Music-Text. London: Fontana, 1977.

    BRAGA, D.B. e RICARTE, I.L.M. Letramento e Tecnologia. Cefiel/ IEL/Unicamp,

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    ECO, H. From Internet to Gutemberg. 1996.Disponvel em

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    IEDEMA, RICK. Multimodality, resemiotization: extending the analysis of discourse as

    muti-semiotic practice. In Jean; MOHR, Simone. This peculiar language of

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    KRESS, G. and VAN LEEUWEN, T.Reading Images. The Grammar of Visual Design.

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    _________ Gains and Losses. IN Computers and Composition. Volume

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    LANDOW, G.P. Hypertext 2.0: The Convergence of Critical Contemporary Theory

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    LEMKE, J.L. Travels in Hypermodality. SAGE Publications. London, Thousand

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    Reinking et al. (Eds.) Literacy for the 21st century: Technological transformation in a

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    MARTINEC E SALWAY. R. and SALWAY. A. A system for image-text relations in

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    Delhi: http://vcj.sagepub.com Vol.4(3):337-371. 2005.

  • 10