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1 RELAÇÕES DE GÊNERO, MASCULINIDADES E FEMINILIDADES NO COTIDIANO ESCOLAR: UMA TEIA DE SENTIDOS E SIGNIFICADOS Autor: Beatriz Giugliani Orientador: Osmundo Pinho Universidade Federal da Bahia [email protected] Resumo: Esta comunicação foi construída a partir de investigação antropológica em andamento conduzido entre jovens negros do sexo masculino de escola pública nas cidades de São Félix no Recôncavo Baiano, Bahia. Busca investigar os processos cotidianos que tem conduzidos esses estudantes a abandonarem as salas de aula do Ensino Médio. Partindo de dados do PNAD/2009, a distribuição percentual dos estudantes por curso frequentado, segundo sexo-cor/raça se percebe que são as mulheres brancas que apresentam uma distribuição mais igualitária considerando todos os níveis de ensino. Importa privilegiar aqui análises que deem conta da complexidade das interações entre relações de gênero e raça para interrogar a produção dessas desigualdades educacionais e buscar compreender como as representações são construídas, assumidas e apropriadas no contexto das formações discursivas e das relações de poder subliminares, sob a forma do poder simbólico. Essa análise de dados empíricos está sendo construída a partir de procedimentos metodológicos quantitativos e qualitativos, e tenta estabelecer uma visão mais aprofundada a respeito dos fatores que interferem no percurso dos estudantes negros e suas percepções em relação às próprias trajetórias familiares e escolares. Estamos falando de determinadas formas de masculinidade que fazem parte da trajetória de um grupo significativo desses rapazes, daqueles que estão mais abaixo no conjunto das hierarquias de classe e de raça, um caminho que desemboca em atitudes anti-escola, em fracasso escolar. Há relações de gênero que, se não explicam esses fenômenos como um todo, não podem ser dispensadas para entendê-los. Palavras-chave: Masculinidades; Feminilidades; Relações de Gênero; Ensino Médio; Escola Pública.

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RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO MASCULINIDADES E FEMINILIDADES

NO COTIDIANO ESCOLAR UMA TEIA DE SENTIDOS E

SIGNIFICADOS

Autor Beatriz Giugliani

Orientador Osmundo Pinho

Universidade Federal da Bahia bgiuglianiyahoocombr

Resumo Esta comunicaccedilatildeo foi construiacuteda a partir de investigaccedilatildeo antropoloacutegica em andamento

conduzido entre jovens negros do sexo masculino de escola puacuteblica nas cidades de Satildeo Feacutelix no

Recocircncavo Baiano Bahia Busca investigar os processos cotidianos que tem conduzidos esses

estudantes a abandonarem as salas de aula do Ensino Meacutedio Partindo de dados do PNAD2009 a

distribuiccedilatildeo percentual dos estudantes por curso frequentado segundo sexo-corraccedila se percebe que

satildeo as mulheres brancas que apresentam uma distribuiccedilatildeo mais igualitaacuteria considerando todos os

niacuteveis de ensino Importa privilegiar aqui anaacutelises que deem conta da complexidade das interaccedilotildees

entre relaccedilotildees de gecircnero e raccedila para interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais e buscar

compreender como as representaccedilotildees satildeo construiacutedas assumidas e apropriadas no contexto das

formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico Essa

anaacutelise de dados empiacutericos estaacute sendo construiacuteda a partir de procedimentos metodoloacutegicos

quantitativos e qualitativos e tenta estabelecer uma visatildeo mais aprofundada a respeito dos fatores que

interferem no percurso dos estudantes negros e suas percepccedilotildees em relaccedilatildeo agraves proacuteprias trajetoacuterias

familiares e escolares Estamos falando de determinadas formas de masculinidade que fazem parte da

trajetoacuteria de um grupo significativo desses rapazes daqueles que estatildeo mais abaixo no conjunto das

hierarquias de classe e de raccedila um caminho que desemboca em atitudes anti-escola em fracasso

escolar Haacute relaccedilotildees de gecircnero que se natildeo explicam esses fenocircmenos como um todo natildeo podem ser

dispensadas para entendecirc-los

Palavras-chave Masculinidades Feminilidades Relaccedilotildees de Gecircnero Ensino Meacutedio Escola

Puacuteblica

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Introduccedilatildeo

Estudos recentes tecircm apontado para o fenocircmeno do abandono escolar mais acentuados

entre os rapazes negros no Brasil Na Regiatildeo Nordeste onde existe uma maior defasagem

escolar dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas estamos desenvolvendo o projeto de pesquisa ndash tese

de Doutorado que envolve os jovens homens negros estudantes do Ensino Meacutedio (EM) de

Escola Puacuteblica na cidade de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano (BA) O projeto busca

investigar as possiacuteveis relaccedilotildees entre masculinidades negras e desempenho escolar no Ensino

Meacutedio nessa unidade de ensino Consiste assim em um estudo investigativo que busca

evidenciar uma inflexatildeo relacionada com as questotildees do abandono escolar dos rapazes no

EM baseando-se na anaacutelise dos dados e na discussatildeo dos temas como desigualdade de gecircnero

e de raccedila a construccedilatildeo das masculinidades defasagem dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas

espaccedilo escolar Recocircncavo Baiano relaccedilotildees de gecircnero e eacutetnico-raciais identidades raciais

Para essa comunicaccedilatildeo entretanto decidimos apresentar algumas anaacutelises ndash ainda muito

provisoacuterias sobre as relaccedilotildees de gecircnero ateacute aqui colhidas atraveacutes de Grupos Focais A anaacutelise

portanto tem abordagem etnograacutefica uma vez que pretendemos interpretar essas questotildees a

partir do que dizem os nossos sujeitos (estudantes do Ensino Meacutedio) ou seja dos diaacutelogos

possiacuteveis com os estudantes ndash jovens homens negros de 14 a 25 anos Esses Grupos Focais

versam sobre a recuperaccedilatildeo escolar dos rapazes seus percursos escolares suas relaccedilotildees com a

escola seus pares incluindo aqui a percepccedilatildeo deles quanto ao desempenho das meninas Ou

ainda das dimensotildees simboacutelicas da construccedilatildeo de suas masculinidades racializadas e de que

maneira significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agraves masculinidades e agraves

feminilidades

Considerariacuteamos ainda aqui dois aspectos que nos parece relevantes O primeiro eacute

ratificar o atraso escolar crocircnico da educaccedilatildeo brasileira que vem afetando de maneira

diferenciada rapazes e moccedilas e em segundo lugar a distribuiccedilatildeo percentual dos estudantes

por curso frequentado segundo sexo-corraccedila Partindo por exemplo de dados do

PNAD12009 Rosemberg amp Madsen (2011) construiacuteram graacutefico

i sobre a distribuiccedilatildeo

percentual dos estudantes por curso frequentado segundo sexo-corraccedila onde se percebe que

satildeo as mulheres brancas que apresentam uma distribuiccedilatildeo mais igualitaacuteria considerando todos

1 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios

3

os niacuteveis de ensino sendo 488 delas no Ensino Fundamental 165 no Ensino Meacutedio e

165 na Graduaccedilatildeo Com os homens negros a realidade eacute outra 631 deles no Ensino

Fundamental 131 no Ensino Meacutedio e 58 na Graduaccedilatildeo Os homens negros apresentam

uma distribuiccedilatildeo bastante desigual se concentram no Ensino Fundamental alcanccedilando em

pequena proporccedilatildeo o ensino superior Um fato previsto haja vista que o EF eacute o uacutenico niacutevel

de ensino praticamente universalizado e o de maior duraccedilatildeo (nove anos) Por isso eacute natural

que ele abarque a maior proporccedilatildeo de estudantes A existecircncia de uma concentraccedilatildeo de

estudantes do sexo masculino no Ensino Fundamental no entanto natildeo pode ser considerada

um avanccedilo significa outrossim que natildeo estatildeo conseguindo sair dessa etapa (SENKEVICS

2012) Outro dado visibilizado pelo graacuteficodados eacute que enquanto as mulheres brancas

atravessam o fundamental o meacutedio e chegam agraves faculdades os meninos negros ficam retidos

no fundamental levando assim o aumento da sua proporccedilatildeo nesta etapa

Em outro graacuteficoii que se refere agrave distorccedilatildeo seacuterie-idade no Ensino Meacutedio segundo corraccedila

e os iacutendices do PNAD2009 as anaacutelises de Rosemberg amp Madsen (2011) natildeo deixam

duacutevidas a taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade eacute praticamente o dobro para homens negros se

comparado agraves mulheres brancas Os dados inevitavelmente revelam que as mulheresmeninas

apresentam escolarizaccedilatildeo mais adequada se comparados aos homensmeninos a populaccedilatildeo

branca igualmente comparando com a populaccedilatildeo negra ou seja brancosas apresentam

melhores indicadores que negrosas e dentro desses grupos as mulheresmeninas vatildeo melhor

nos dois casos Interroguemos portanto com veemecircncia Ateacute quando iremos esperar que uma

poliacutetica pretensamente neutra em gecircnero e raccedila de conta de eliminar essas desigualdades O

que precisamos a nosso ver satildeo medidas mais especiacuteficas que se dirijam para as

desigualdades que atingem determinados grupos

Entender como os jovens negros estudantes do ensino meacutedio em escola puacuteblico no

Recocircncavo Baiano significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agrave(s) masculinidades

e agrave(s) feminilidade(s) pode significar um exerciacutecio para averiguar (des) continuidades nos

significados socialmente manipulados disponiacuteveis eou construiacutedos pela juventude para

moldar suas experiecircncias e valores (SOUZA 2010 p 110) Sem duacutevida uma nova

abordagem haja vista um reduzido nuacutemero de pesquisas acadecircmicas com foco centrado na

compreensatildeo dos repertoacuterios significados e ideias em circulaccedilatildeo no imaginaacuterio de rapazes

sobre masculinidade (SOUZA 2010 p 112) principalmente na articulaccedilatildeo com as questotildees

de raccedila de gecircnero e de desempenho escolar Dessa forma a visibilidade dos resultados

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escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a

masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo

cientiacutefica

Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de

aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e

meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir

alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de

novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees

intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra

formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos

das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as

de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)

Metodologia

Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm

sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute

expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo

social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do

Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2

Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas

oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens

entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular

e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de

ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes

Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza

interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio

sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato

narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante

Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem

2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

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ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e

fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p

4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na

construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico

Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa

que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das

construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das

formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico

O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a

escola o que pensam dela

Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias

escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as

contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos

duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da

vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p

1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e

assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas

dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas

O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios

seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante

dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do

ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir

sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas

demandas e as expectativas que colocam na escola

Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira

auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo

seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas

sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no

ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que

uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o

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sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido

e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos

Discussatildeo

Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros

que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos

brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na

escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa

vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns

pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos

problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato

de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo

(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)

Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e

Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos

cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino

meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar

aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso

escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos

atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo

dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade

como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a

imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola

contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre

o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por

exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente

confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo

importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o

significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute

esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia

Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes

contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia

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distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

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Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

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SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

2

Introduccedilatildeo

Estudos recentes tecircm apontado para o fenocircmeno do abandono escolar mais acentuados

entre os rapazes negros no Brasil Na Regiatildeo Nordeste onde existe uma maior defasagem

escolar dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas estamos desenvolvendo o projeto de pesquisa ndash tese

de Doutorado que envolve os jovens homens negros estudantes do Ensino Meacutedio (EM) de

Escola Puacuteblica na cidade de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano (BA) O projeto busca

investigar as possiacuteveis relaccedilotildees entre masculinidades negras e desempenho escolar no Ensino

Meacutedio nessa unidade de ensino Consiste assim em um estudo investigativo que busca

evidenciar uma inflexatildeo relacionada com as questotildees do abandono escolar dos rapazes no

EM baseando-se na anaacutelise dos dados e na discussatildeo dos temas como desigualdade de gecircnero

e de raccedila a construccedilatildeo das masculinidades defasagem dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas

espaccedilo escolar Recocircncavo Baiano relaccedilotildees de gecircnero e eacutetnico-raciais identidades raciais

Para essa comunicaccedilatildeo entretanto decidimos apresentar algumas anaacutelises ndash ainda muito

provisoacuterias sobre as relaccedilotildees de gecircnero ateacute aqui colhidas atraveacutes de Grupos Focais A anaacutelise

portanto tem abordagem etnograacutefica uma vez que pretendemos interpretar essas questotildees a

partir do que dizem os nossos sujeitos (estudantes do Ensino Meacutedio) ou seja dos diaacutelogos

possiacuteveis com os estudantes ndash jovens homens negros de 14 a 25 anos Esses Grupos Focais

versam sobre a recuperaccedilatildeo escolar dos rapazes seus percursos escolares suas relaccedilotildees com a

escola seus pares incluindo aqui a percepccedilatildeo deles quanto ao desempenho das meninas Ou

ainda das dimensotildees simboacutelicas da construccedilatildeo de suas masculinidades racializadas e de que

maneira significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agraves masculinidades e agraves

feminilidades

Considerariacuteamos ainda aqui dois aspectos que nos parece relevantes O primeiro eacute

ratificar o atraso escolar crocircnico da educaccedilatildeo brasileira que vem afetando de maneira

diferenciada rapazes e moccedilas e em segundo lugar a distribuiccedilatildeo percentual dos estudantes

por curso frequentado segundo sexo-corraccedila Partindo por exemplo de dados do

PNAD12009 Rosemberg amp Madsen (2011) construiacuteram graacutefico

i sobre a distribuiccedilatildeo

percentual dos estudantes por curso frequentado segundo sexo-corraccedila onde se percebe que

satildeo as mulheres brancas que apresentam uma distribuiccedilatildeo mais igualitaacuteria considerando todos

1 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios

3

os niacuteveis de ensino sendo 488 delas no Ensino Fundamental 165 no Ensino Meacutedio e

165 na Graduaccedilatildeo Com os homens negros a realidade eacute outra 631 deles no Ensino

Fundamental 131 no Ensino Meacutedio e 58 na Graduaccedilatildeo Os homens negros apresentam

uma distribuiccedilatildeo bastante desigual se concentram no Ensino Fundamental alcanccedilando em

pequena proporccedilatildeo o ensino superior Um fato previsto haja vista que o EF eacute o uacutenico niacutevel

de ensino praticamente universalizado e o de maior duraccedilatildeo (nove anos) Por isso eacute natural

que ele abarque a maior proporccedilatildeo de estudantes A existecircncia de uma concentraccedilatildeo de

estudantes do sexo masculino no Ensino Fundamental no entanto natildeo pode ser considerada

um avanccedilo significa outrossim que natildeo estatildeo conseguindo sair dessa etapa (SENKEVICS

2012) Outro dado visibilizado pelo graacuteficodados eacute que enquanto as mulheres brancas

atravessam o fundamental o meacutedio e chegam agraves faculdades os meninos negros ficam retidos

no fundamental levando assim o aumento da sua proporccedilatildeo nesta etapa

Em outro graacuteficoii que se refere agrave distorccedilatildeo seacuterie-idade no Ensino Meacutedio segundo corraccedila

e os iacutendices do PNAD2009 as anaacutelises de Rosemberg amp Madsen (2011) natildeo deixam

duacutevidas a taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade eacute praticamente o dobro para homens negros se

comparado agraves mulheres brancas Os dados inevitavelmente revelam que as mulheresmeninas

apresentam escolarizaccedilatildeo mais adequada se comparados aos homensmeninos a populaccedilatildeo

branca igualmente comparando com a populaccedilatildeo negra ou seja brancosas apresentam

melhores indicadores que negrosas e dentro desses grupos as mulheresmeninas vatildeo melhor

nos dois casos Interroguemos portanto com veemecircncia Ateacute quando iremos esperar que uma

poliacutetica pretensamente neutra em gecircnero e raccedila de conta de eliminar essas desigualdades O

que precisamos a nosso ver satildeo medidas mais especiacuteficas que se dirijam para as

desigualdades que atingem determinados grupos

Entender como os jovens negros estudantes do ensino meacutedio em escola puacuteblico no

Recocircncavo Baiano significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agrave(s) masculinidades

e agrave(s) feminilidade(s) pode significar um exerciacutecio para averiguar (des) continuidades nos

significados socialmente manipulados disponiacuteveis eou construiacutedos pela juventude para

moldar suas experiecircncias e valores (SOUZA 2010 p 110) Sem duacutevida uma nova

abordagem haja vista um reduzido nuacutemero de pesquisas acadecircmicas com foco centrado na

compreensatildeo dos repertoacuterios significados e ideias em circulaccedilatildeo no imaginaacuterio de rapazes

sobre masculinidade (SOUZA 2010 p 112) principalmente na articulaccedilatildeo com as questotildees

de raccedila de gecircnero e de desempenho escolar Dessa forma a visibilidade dos resultados

4

escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a

masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo

cientiacutefica

Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de

aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e

meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir

alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de

novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees

intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra

formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos

das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as

de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)

Metodologia

Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm

sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute

expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo

social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do

Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2

Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas

oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens

entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular

e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de

ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes

Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza

interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio

sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato

narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante

Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem

2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

5

ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e

fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p

4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na

construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico

Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa

que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das

construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das

formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico

O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a

escola o que pensam dela

Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias

escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as

contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos

duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da

vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p

1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e

assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas

dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas

O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios

seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante

dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do

ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir

sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas

demandas e as expectativas que colocam na escola

Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira

auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo

seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas

sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no

ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que

uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o

6

sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido

e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos

Discussatildeo

Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros

que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos

brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na

escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa

vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns

pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos

problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato

de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo

(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)

Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e

Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos

cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino

meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar

aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso

escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos

atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo

dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade

como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a

imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola

contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre

o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por

exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente

confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo

importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o

significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute

esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia

Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes

contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia

7

distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

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10

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junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

3

os niacuteveis de ensino sendo 488 delas no Ensino Fundamental 165 no Ensino Meacutedio e

165 na Graduaccedilatildeo Com os homens negros a realidade eacute outra 631 deles no Ensino

Fundamental 131 no Ensino Meacutedio e 58 na Graduaccedilatildeo Os homens negros apresentam

uma distribuiccedilatildeo bastante desigual se concentram no Ensino Fundamental alcanccedilando em

pequena proporccedilatildeo o ensino superior Um fato previsto haja vista que o EF eacute o uacutenico niacutevel

de ensino praticamente universalizado e o de maior duraccedilatildeo (nove anos) Por isso eacute natural

que ele abarque a maior proporccedilatildeo de estudantes A existecircncia de uma concentraccedilatildeo de

estudantes do sexo masculino no Ensino Fundamental no entanto natildeo pode ser considerada

um avanccedilo significa outrossim que natildeo estatildeo conseguindo sair dessa etapa (SENKEVICS

2012) Outro dado visibilizado pelo graacuteficodados eacute que enquanto as mulheres brancas

atravessam o fundamental o meacutedio e chegam agraves faculdades os meninos negros ficam retidos

no fundamental levando assim o aumento da sua proporccedilatildeo nesta etapa

Em outro graacuteficoii que se refere agrave distorccedilatildeo seacuterie-idade no Ensino Meacutedio segundo corraccedila

e os iacutendices do PNAD2009 as anaacutelises de Rosemberg amp Madsen (2011) natildeo deixam

duacutevidas a taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade eacute praticamente o dobro para homens negros se

comparado agraves mulheres brancas Os dados inevitavelmente revelam que as mulheresmeninas

apresentam escolarizaccedilatildeo mais adequada se comparados aos homensmeninos a populaccedilatildeo

branca igualmente comparando com a populaccedilatildeo negra ou seja brancosas apresentam

melhores indicadores que negrosas e dentro desses grupos as mulheresmeninas vatildeo melhor

nos dois casos Interroguemos portanto com veemecircncia Ateacute quando iremos esperar que uma

poliacutetica pretensamente neutra em gecircnero e raccedila de conta de eliminar essas desigualdades O

que precisamos a nosso ver satildeo medidas mais especiacuteficas que se dirijam para as

desigualdades que atingem determinados grupos

Entender como os jovens negros estudantes do ensino meacutedio em escola puacuteblico no

Recocircncavo Baiano significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agrave(s) masculinidades

e agrave(s) feminilidade(s) pode significar um exerciacutecio para averiguar (des) continuidades nos

significados socialmente manipulados disponiacuteveis eou construiacutedos pela juventude para

moldar suas experiecircncias e valores (SOUZA 2010 p 110) Sem duacutevida uma nova

abordagem haja vista um reduzido nuacutemero de pesquisas acadecircmicas com foco centrado na

compreensatildeo dos repertoacuterios significados e ideias em circulaccedilatildeo no imaginaacuterio de rapazes

sobre masculinidade (SOUZA 2010 p 112) principalmente na articulaccedilatildeo com as questotildees

de raccedila de gecircnero e de desempenho escolar Dessa forma a visibilidade dos resultados

4

escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a

masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo

cientiacutefica

Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de

aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e

meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir

alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de

novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees

intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra

formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos

das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as

de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)

Metodologia

Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm

sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute

expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo

social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do

Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2

Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas

oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens

entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular

e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de

ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes

Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza

interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio

sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato

narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante

Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem

2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

5

ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e

fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p

4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na

construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico

Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa

que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das

construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das

formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico

O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a

escola o que pensam dela

Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias

escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as

contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos

duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da

vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p

1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e

assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas

dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas

O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios

seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante

dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do

ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir

sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas

demandas e as expectativas que colocam na escola

Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira

auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo

seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas

sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no

ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que

uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o

6

sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido

e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos

Discussatildeo

Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros

que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos

brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na

escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa

vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns

pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos

problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato

de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo

(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)

Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e

Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos

cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino

meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar

aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso

escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos

atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo

dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade

como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a

imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola

contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre

o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por

exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente

confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo

importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o

significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute

esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia

Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes

contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia

7

distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

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10

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11

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WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

4

escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a

masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo

cientiacutefica

Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de

aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e

meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir

alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de

novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees

intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra

formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos

das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as

de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)

Metodologia

Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm

sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute

expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo

social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do

Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2

Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas

oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens

entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular

e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de

ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes

Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza

interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio

sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato

narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante

Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem

2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-

informaE7F5es-completas

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ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e

fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p

4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na

construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico

Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa

que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das

construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das

formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico

O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a

escola o que pensam dela

Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias

escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as

contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos

duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da

vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p

1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e

assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas

dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas

O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios

seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante

dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do

ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir

sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas

demandas e as expectativas que colocam na escola

Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira

auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo

seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas

sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no

ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que

uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o

6

sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido

e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos

Discussatildeo

Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros

que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos

brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na

escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa

vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns

pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos

problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato

de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo

(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)

Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e

Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos

cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino

meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar

aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso

escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos

atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo

dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade

como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a

imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola

contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre

o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por

exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente

confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo

importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o

significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute

esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia

Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes

contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia

7

distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia

integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130

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masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170

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WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

5

ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e

fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p

4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na

construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico

Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa

que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das

construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das

formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico

O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a

escola o que pensam dela

Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias

escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as

contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos

duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da

vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p

1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e

assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas

dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas

O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios

seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante

dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do

ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir

sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas

demandas e as expectativas que colocam na escola

Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira

auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo

seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas

sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no

ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que

uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o

6

sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido

e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos

Discussatildeo

Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros

que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos

brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na

escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa

vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns

pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos

problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato

de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo

(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)

Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e

Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos

cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino

meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar

aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso

escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos

atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo

dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade

como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a

imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola

contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre

o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por

exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente

confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo

importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o

significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute

esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia

Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes

contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia

7

distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

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Qualifying Paper HAVARD University

LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de

estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133

PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz

ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo

erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65

ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil

contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil

2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434

ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista

Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001

ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo

Paulo ndeg 77 maio p 25-34

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

6

sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido

e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos

Discussatildeo

Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros

que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos

brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na

escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa

vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns

pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos

problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato

de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo

(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)

Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e

Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos

cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino

meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar

aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso

escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos

atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo

dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade

como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a

imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola

contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre

o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por

exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente

confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo

importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o

significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute

esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia

Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes

contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia

7

distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia

integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130

BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas

Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16

de setembro de 2014

CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em

httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-

15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014

10

CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de

masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158

CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96

CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus

CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre

masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170

FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23

n 80 p 299-325

HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural

Brazil Washington DC World Bank 1992

HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In

HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra

Capa p 126-147

LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ

Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014

LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora

LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso

escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence

Qualifying Paper HAVARD University

LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de

estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133

PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz

ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo

erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65

ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil

contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil

2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434

ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista

Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001

ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo

Paulo ndeg 77 maio p 25-34

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

7

distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a

construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na

regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola

assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens

estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um

discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa

normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro

(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e

meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de

masculinidade e feminilidaderdquo

Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que

este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO

2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e

mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais

aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns

estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a

determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo

origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO

FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e

revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades

educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio

estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino

Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor

da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos

realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta

satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos

estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila

de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas

se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)

3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o

abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano

letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte

independente de ser aprovado ou natildeo

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia

integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130

BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas

Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16

de setembro de 2014

CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em

httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-

15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014

10

CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de

masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158

CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96

CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus

CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre

masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170

FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23

n 80 p 299-325

HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural

Brazil Washington DC World Bank 1992

HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In

HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra

Capa p 126-147

LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ

Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014

LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora

LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso

escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence

Qualifying Paper HAVARD University

LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de

estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133

PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz

ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo

erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65

ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil

contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil

2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434

ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista

Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001

ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo

Paulo ndeg 77 maio p 25-34

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

8

Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos

revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo

rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983

ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o

fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais

econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente

distribuiacutedas no paiacutes

Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash

fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a

encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica

Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados

com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam

intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)

Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute

relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos

(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo

identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em

sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a

capacidade de agecircncia sobre a sua vida

Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com

a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p

461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute

exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos

masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de

Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela

defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e

culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta

e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de

masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de

4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por

homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto

em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia

integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130

BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas

Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16

de setembro de 2014

CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em

httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-

15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014

10

CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de

masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158

CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96

CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus

CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre

masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170

FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23

n 80 p 299-325

HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural

Brazil Washington DC World Bank 1992

HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In

HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra

Capa p 126-147

LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ

Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014

LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora

LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso

escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence

Qualifying Paper HAVARD University

LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de

estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133

PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz

ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo

erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65

ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil

contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil

2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434

ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista

Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001

ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo

Paulo ndeg 77 maio p 25-34

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

9

referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma

posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar

Conclusatildeo

O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais

acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as

relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais

buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o

percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano

Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais

afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os

processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino

meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano

Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis

intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e

relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento

Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de

dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo

Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do

problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da

perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos

corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com

uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino

Referecircncias

ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia

integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130

BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas

Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16

de setembro de 2014

CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em

httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-

15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014

10

CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de

masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158

CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96

CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus

CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre

masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170

FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23

n 80 p 299-325

HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural

Brazil Washington DC World Bank 1992

HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In

HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra

Capa p 126-147

LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ

Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014

LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora

LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso

escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence

Qualifying Paper HAVARD University

LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de

estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133

PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz

ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo

erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65

ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil

contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil

2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434

ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista

Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001

ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo

Paulo ndeg 77 maio p 25-34

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

10

CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de

masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158

CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96

CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus

CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre

masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170

FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23

n 80 p 299-325

HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural

Brazil Washington DC World Bank 1992

HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In

HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra

Capa p 126-147

LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ

Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014

LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora

LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso

escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence

Qualifying Paper HAVARD University

LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de

estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133

PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz

ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo

erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65

ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil

contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil

2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434

ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista

Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001

ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo

Paulo ndeg 77 maio p 25-34

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

11

SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das

emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo

e Psicologia do Minho Braga

SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em

httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado

em 01 de outubro de 2014

SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil

Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445

SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede

Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445

SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-

junho p 107-142

WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e

homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482

Anexos

i

Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA

(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em

Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)

12

ii

Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)