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RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO MASCULINIDADES E FEMINILIDADES
NO COTIDIANO ESCOLAR UMA TEIA DE SENTIDOS E
SIGNIFICADOS
Autor Beatriz Giugliani
Orientador Osmundo Pinho
Universidade Federal da Bahia bgiuglianiyahoocombr
Resumo Esta comunicaccedilatildeo foi construiacuteda a partir de investigaccedilatildeo antropoloacutegica em andamento
conduzido entre jovens negros do sexo masculino de escola puacuteblica nas cidades de Satildeo Feacutelix no
Recocircncavo Baiano Bahia Busca investigar os processos cotidianos que tem conduzidos esses
estudantes a abandonarem as salas de aula do Ensino Meacutedio Partindo de dados do PNAD2009 a
distribuiccedilatildeo percentual dos estudantes por curso frequentado segundo sexo-corraccedila se percebe que
satildeo as mulheres brancas que apresentam uma distribuiccedilatildeo mais igualitaacuteria considerando todos os
niacuteveis de ensino Importa privilegiar aqui anaacutelises que deem conta da complexidade das interaccedilotildees
entre relaccedilotildees de gecircnero e raccedila para interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais e buscar
compreender como as representaccedilotildees satildeo construiacutedas assumidas e apropriadas no contexto das
formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico Essa
anaacutelise de dados empiacutericos estaacute sendo construiacuteda a partir de procedimentos metodoloacutegicos
quantitativos e qualitativos e tenta estabelecer uma visatildeo mais aprofundada a respeito dos fatores que
interferem no percurso dos estudantes negros e suas percepccedilotildees em relaccedilatildeo agraves proacuteprias trajetoacuterias
familiares e escolares Estamos falando de determinadas formas de masculinidade que fazem parte da
trajetoacuteria de um grupo significativo desses rapazes daqueles que estatildeo mais abaixo no conjunto das
hierarquias de classe e de raccedila um caminho que desemboca em atitudes anti-escola em fracasso
escolar Haacute relaccedilotildees de gecircnero que se natildeo explicam esses fenocircmenos como um todo natildeo podem ser
dispensadas para entendecirc-los
Palavras-chave Masculinidades Feminilidades Relaccedilotildees de Gecircnero Ensino Meacutedio Escola
Puacuteblica
2
Introduccedilatildeo
Estudos recentes tecircm apontado para o fenocircmeno do abandono escolar mais acentuados
entre os rapazes negros no Brasil Na Regiatildeo Nordeste onde existe uma maior defasagem
escolar dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas estamos desenvolvendo o projeto de pesquisa ndash tese
de Doutorado que envolve os jovens homens negros estudantes do Ensino Meacutedio (EM) de
Escola Puacuteblica na cidade de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano (BA) O projeto busca
investigar as possiacuteveis relaccedilotildees entre masculinidades negras e desempenho escolar no Ensino
Meacutedio nessa unidade de ensino Consiste assim em um estudo investigativo que busca
evidenciar uma inflexatildeo relacionada com as questotildees do abandono escolar dos rapazes no
EM baseando-se na anaacutelise dos dados e na discussatildeo dos temas como desigualdade de gecircnero
e de raccedila a construccedilatildeo das masculinidades defasagem dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas
espaccedilo escolar Recocircncavo Baiano relaccedilotildees de gecircnero e eacutetnico-raciais identidades raciais
Para essa comunicaccedilatildeo entretanto decidimos apresentar algumas anaacutelises ndash ainda muito
provisoacuterias sobre as relaccedilotildees de gecircnero ateacute aqui colhidas atraveacutes de Grupos Focais A anaacutelise
portanto tem abordagem etnograacutefica uma vez que pretendemos interpretar essas questotildees a
partir do que dizem os nossos sujeitos (estudantes do Ensino Meacutedio) ou seja dos diaacutelogos
possiacuteveis com os estudantes ndash jovens homens negros de 14 a 25 anos Esses Grupos Focais
versam sobre a recuperaccedilatildeo escolar dos rapazes seus percursos escolares suas relaccedilotildees com a
escola seus pares incluindo aqui a percepccedilatildeo deles quanto ao desempenho das meninas Ou
ainda das dimensotildees simboacutelicas da construccedilatildeo de suas masculinidades racializadas e de que
maneira significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agraves masculinidades e agraves
feminilidades
Considerariacuteamos ainda aqui dois aspectos que nos parece relevantes O primeiro eacute
ratificar o atraso escolar crocircnico da educaccedilatildeo brasileira que vem afetando de maneira
diferenciada rapazes e moccedilas e em segundo lugar a distribuiccedilatildeo percentual dos estudantes
por curso frequentado segundo sexo-corraccedila Partindo por exemplo de dados do
PNAD12009 Rosemberg amp Madsen (2011) construiacuteram graacutefico
i sobre a distribuiccedilatildeo
percentual dos estudantes por curso frequentado segundo sexo-corraccedila onde se percebe que
satildeo as mulheres brancas que apresentam uma distribuiccedilatildeo mais igualitaacuteria considerando todos
1 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios
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os niacuteveis de ensino sendo 488 delas no Ensino Fundamental 165 no Ensino Meacutedio e
165 na Graduaccedilatildeo Com os homens negros a realidade eacute outra 631 deles no Ensino
Fundamental 131 no Ensino Meacutedio e 58 na Graduaccedilatildeo Os homens negros apresentam
uma distribuiccedilatildeo bastante desigual se concentram no Ensino Fundamental alcanccedilando em
pequena proporccedilatildeo o ensino superior Um fato previsto haja vista que o EF eacute o uacutenico niacutevel
de ensino praticamente universalizado e o de maior duraccedilatildeo (nove anos) Por isso eacute natural
que ele abarque a maior proporccedilatildeo de estudantes A existecircncia de uma concentraccedilatildeo de
estudantes do sexo masculino no Ensino Fundamental no entanto natildeo pode ser considerada
um avanccedilo significa outrossim que natildeo estatildeo conseguindo sair dessa etapa (SENKEVICS
2012) Outro dado visibilizado pelo graacuteficodados eacute que enquanto as mulheres brancas
atravessam o fundamental o meacutedio e chegam agraves faculdades os meninos negros ficam retidos
no fundamental levando assim o aumento da sua proporccedilatildeo nesta etapa
Em outro graacuteficoii que se refere agrave distorccedilatildeo seacuterie-idade no Ensino Meacutedio segundo corraccedila
e os iacutendices do PNAD2009 as anaacutelises de Rosemberg amp Madsen (2011) natildeo deixam
duacutevidas a taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade eacute praticamente o dobro para homens negros se
comparado agraves mulheres brancas Os dados inevitavelmente revelam que as mulheresmeninas
apresentam escolarizaccedilatildeo mais adequada se comparados aos homensmeninos a populaccedilatildeo
branca igualmente comparando com a populaccedilatildeo negra ou seja brancosas apresentam
melhores indicadores que negrosas e dentro desses grupos as mulheresmeninas vatildeo melhor
nos dois casos Interroguemos portanto com veemecircncia Ateacute quando iremos esperar que uma
poliacutetica pretensamente neutra em gecircnero e raccedila de conta de eliminar essas desigualdades O
que precisamos a nosso ver satildeo medidas mais especiacuteficas que se dirijam para as
desigualdades que atingem determinados grupos
Entender como os jovens negros estudantes do ensino meacutedio em escola puacuteblico no
Recocircncavo Baiano significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agrave(s) masculinidades
e agrave(s) feminilidade(s) pode significar um exerciacutecio para averiguar (des) continuidades nos
significados socialmente manipulados disponiacuteveis eou construiacutedos pela juventude para
moldar suas experiecircncias e valores (SOUZA 2010 p 110) Sem duacutevida uma nova
abordagem haja vista um reduzido nuacutemero de pesquisas acadecircmicas com foco centrado na
compreensatildeo dos repertoacuterios significados e ideias em circulaccedilatildeo no imaginaacuterio de rapazes
sobre masculinidade (SOUZA 2010 p 112) principalmente na articulaccedilatildeo com as questotildees
de raccedila de gecircnero e de desempenho escolar Dessa forma a visibilidade dos resultados
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escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a
masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo
cientiacutefica
Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de
aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e
meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir
alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de
novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees
intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra
formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos
das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as
de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)
Metodologia
Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm
sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute
expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo
social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do
Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2
Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas
oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens
entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular
e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de
ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes
Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza
interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio
sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato
narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante
Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem
2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000
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ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e
fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p
4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na
construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico
Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa
que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das
construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das
formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico
O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a
escola o que pensam dela
Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias
escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as
contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos
duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da
vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p
1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e
assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas
dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas
O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios
seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante
dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do
ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir
sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas
demandas e as expectativas que colocam na escola
Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira
auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo
seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas
sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no
ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que
uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o
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sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido
e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos
Discussatildeo
Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros
que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos
brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na
escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa
vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns
pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos
problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato
de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo
(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)
Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e
Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos
cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino
meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar
aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso
escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos
atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo
dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade
como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a
imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola
contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre
o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por
exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente
confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo
importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o
significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute
esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia
Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes
contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia
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distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
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Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
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referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
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Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
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ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
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Introduccedilatildeo
Estudos recentes tecircm apontado para o fenocircmeno do abandono escolar mais acentuados
entre os rapazes negros no Brasil Na Regiatildeo Nordeste onde existe uma maior defasagem
escolar dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas estamos desenvolvendo o projeto de pesquisa ndash tese
de Doutorado que envolve os jovens homens negros estudantes do Ensino Meacutedio (EM) de
Escola Puacuteblica na cidade de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano (BA) O projeto busca
investigar as possiacuteveis relaccedilotildees entre masculinidades negras e desempenho escolar no Ensino
Meacutedio nessa unidade de ensino Consiste assim em um estudo investigativo que busca
evidenciar uma inflexatildeo relacionada com as questotildees do abandono escolar dos rapazes no
EM baseando-se na anaacutelise dos dados e na discussatildeo dos temas como desigualdade de gecircnero
e de raccedila a construccedilatildeo das masculinidades defasagem dos rapazes em relaccedilatildeo agraves moccedilas
espaccedilo escolar Recocircncavo Baiano relaccedilotildees de gecircnero e eacutetnico-raciais identidades raciais
Para essa comunicaccedilatildeo entretanto decidimos apresentar algumas anaacutelises ndash ainda muito
provisoacuterias sobre as relaccedilotildees de gecircnero ateacute aqui colhidas atraveacutes de Grupos Focais A anaacutelise
portanto tem abordagem etnograacutefica uma vez que pretendemos interpretar essas questotildees a
partir do que dizem os nossos sujeitos (estudantes do Ensino Meacutedio) ou seja dos diaacutelogos
possiacuteveis com os estudantes ndash jovens homens negros de 14 a 25 anos Esses Grupos Focais
versam sobre a recuperaccedilatildeo escolar dos rapazes seus percursos escolares suas relaccedilotildees com a
escola seus pares incluindo aqui a percepccedilatildeo deles quanto ao desempenho das meninas Ou
ainda das dimensotildees simboacutelicas da construccedilatildeo de suas masculinidades racializadas e de que
maneira significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agraves masculinidades e agraves
feminilidades
Considerariacuteamos ainda aqui dois aspectos que nos parece relevantes O primeiro eacute
ratificar o atraso escolar crocircnico da educaccedilatildeo brasileira que vem afetando de maneira
diferenciada rapazes e moccedilas e em segundo lugar a distribuiccedilatildeo percentual dos estudantes
por curso frequentado segundo sexo-corraccedila Partindo por exemplo de dados do
PNAD12009 Rosemberg amp Madsen (2011) construiacuteram graacutefico
i sobre a distribuiccedilatildeo
percentual dos estudantes por curso frequentado segundo sexo-corraccedila onde se percebe que
satildeo as mulheres brancas que apresentam uma distribuiccedilatildeo mais igualitaacuteria considerando todos
1 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios
3
os niacuteveis de ensino sendo 488 delas no Ensino Fundamental 165 no Ensino Meacutedio e
165 na Graduaccedilatildeo Com os homens negros a realidade eacute outra 631 deles no Ensino
Fundamental 131 no Ensino Meacutedio e 58 na Graduaccedilatildeo Os homens negros apresentam
uma distribuiccedilatildeo bastante desigual se concentram no Ensino Fundamental alcanccedilando em
pequena proporccedilatildeo o ensino superior Um fato previsto haja vista que o EF eacute o uacutenico niacutevel
de ensino praticamente universalizado e o de maior duraccedilatildeo (nove anos) Por isso eacute natural
que ele abarque a maior proporccedilatildeo de estudantes A existecircncia de uma concentraccedilatildeo de
estudantes do sexo masculino no Ensino Fundamental no entanto natildeo pode ser considerada
um avanccedilo significa outrossim que natildeo estatildeo conseguindo sair dessa etapa (SENKEVICS
2012) Outro dado visibilizado pelo graacuteficodados eacute que enquanto as mulheres brancas
atravessam o fundamental o meacutedio e chegam agraves faculdades os meninos negros ficam retidos
no fundamental levando assim o aumento da sua proporccedilatildeo nesta etapa
Em outro graacuteficoii que se refere agrave distorccedilatildeo seacuterie-idade no Ensino Meacutedio segundo corraccedila
e os iacutendices do PNAD2009 as anaacutelises de Rosemberg amp Madsen (2011) natildeo deixam
duacutevidas a taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade eacute praticamente o dobro para homens negros se
comparado agraves mulheres brancas Os dados inevitavelmente revelam que as mulheresmeninas
apresentam escolarizaccedilatildeo mais adequada se comparados aos homensmeninos a populaccedilatildeo
branca igualmente comparando com a populaccedilatildeo negra ou seja brancosas apresentam
melhores indicadores que negrosas e dentro desses grupos as mulheresmeninas vatildeo melhor
nos dois casos Interroguemos portanto com veemecircncia Ateacute quando iremos esperar que uma
poliacutetica pretensamente neutra em gecircnero e raccedila de conta de eliminar essas desigualdades O
que precisamos a nosso ver satildeo medidas mais especiacuteficas que se dirijam para as
desigualdades que atingem determinados grupos
Entender como os jovens negros estudantes do ensino meacutedio em escola puacuteblico no
Recocircncavo Baiano significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agrave(s) masculinidades
e agrave(s) feminilidade(s) pode significar um exerciacutecio para averiguar (des) continuidades nos
significados socialmente manipulados disponiacuteveis eou construiacutedos pela juventude para
moldar suas experiecircncias e valores (SOUZA 2010 p 110) Sem duacutevida uma nova
abordagem haja vista um reduzido nuacutemero de pesquisas acadecircmicas com foco centrado na
compreensatildeo dos repertoacuterios significados e ideias em circulaccedilatildeo no imaginaacuterio de rapazes
sobre masculinidade (SOUZA 2010 p 112) principalmente na articulaccedilatildeo com as questotildees
de raccedila de gecircnero e de desempenho escolar Dessa forma a visibilidade dos resultados
4
escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a
masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo
cientiacutefica
Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de
aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e
meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir
alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de
novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees
intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra
formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos
das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as
de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)
Metodologia
Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm
sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute
expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo
social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do
Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2
Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas
oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens
entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular
e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de
ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes
Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza
interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio
sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato
narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante
Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem
2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
5
ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e
fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p
4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na
construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico
Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa
que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das
construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das
formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico
O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a
escola o que pensam dela
Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias
escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as
contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos
duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da
vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p
1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e
assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas
dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas
O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios
seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante
dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do
ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir
sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas
demandas e as expectativas que colocam na escola
Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira
auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo
seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas
sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no
ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que
uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o
6
sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido
e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos
Discussatildeo
Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros
que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos
brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na
escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa
vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns
pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos
problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato
de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo
(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)
Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e
Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos
cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino
meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar
aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso
escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos
atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo
dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade
como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a
imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola
contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre
o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por
exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente
confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo
importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o
significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute
esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia
Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes
contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia
7
distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
8
Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
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Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
3
os niacuteveis de ensino sendo 488 delas no Ensino Fundamental 165 no Ensino Meacutedio e
165 na Graduaccedilatildeo Com os homens negros a realidade eacute outra 631 deles no Ensino
Fundamental 131 no Ensino Meacutedio e 58 na Graduaccedilatildeo Os homens negros apresentam
uma distribuiccedilatildeo bastante desigual se concentram no Ensino Fundamental alcanccedilando em
pequena proporccedilatildeo o ensino superior Um fato previsto haja vista que o EF eacute o uacutenico niacutevel
de ensino praticamente universalizado e o de maior duraccedilatildeo (nove anos) Por isso eacute natural
que ele abarque a maior proporccedilatildeo de estudantes A existecircncia de uma concentraccedilatildeo de
estudantes do sexo masculino no Ensino Fundamental no entanto natildeo pode ser considerada
um avanccedilo significa outrossim que natildeo estatildeo conseguindo sair dessa etapa (SENKEVICS
2012) Outro dado visibilizado pelo graacuteficodados eacute que enquanto as mulheres brancas
atravessam o fundamental o meacutedio e chegam agraves faculdades os meninos negros ficam retidos
no fundamental levando assim o aumento da sua proporccedilatildeo nesta etapa
Em outro graacuteficoii que se refere agrave distorccedilatildeo seacuterie-idade no Ensino Meacutedio segundo corraccedila
e os iacutendices do PNAD2009 as anaacutelises de Rosemberg amp Madsen (2011) natildeo deixam
duacutevidas a taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade eacute praticamente o dobro para homens negros se
comparado agraves mulheres brancas Os dados inevitavelmente revelam que as mulheresmeninas
apresentam escolarizaccedilatildeo mais adequada se comparados aos homensmeninos a populaccedilatildeo
branca igualmente comparando com a populaccedilatildeo negra ou seja brancosas apresentam
melhores indicadores que negrosas e dentro desses grupos as mulheresmeninas vatildeo melhor
nos dois casos Interroguemos portanto com veemecircncia Ateacute quando iremos esperar que uma
poliacutetica pretensamente neutra em gecircnero e raccedila de conta de eliminar essas desigualdades O
que precisamos a nosso ver satildeo medidas mais especiacuteficas que se dirijam para as
desigualdades que atingem determinados grupos
Entender como os jovens negros estudantes do ensino meacutedio em escola puacuteblico no
Recocircncavo Baiano significam as relaccedilotildees de gecircnero e atribuem sentidos agrave(s) masculinidades
e agrave(s) feminilidade(s) pode significar um exerciacutecio para averiguar (des) continuidades nos
significados socialmente manipulados disponiacuteveis eou construiacutedos pela juventude para
moldar suas experiecircncias e valores (SOUZA 2010 p 110) Sem duacutevida uma nova
abordagem haja vista um reduzido nuacutemero de pesquisas acadecircmicas com foco centrado na
compreensatildeo dos repertoacuterios significados e ideias em circulaccedilatildeo no imaginaacuterio de rapazes
sobre masculinidade (SOUZA 2010 p 112) principalmente na articulaccedilatildeo com as questotildees
de raccedila de gecircnero e de desempenho escolar Dessa forma a visibilidade dos resultados
4
escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a
masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo
cientiacutefica
Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de
aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e
meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir
alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de
novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees
intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra
formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos
das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as
de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)
Metodologia
Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm
sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute
expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo
social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do
Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2
Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas
oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens
entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular
e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de
ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes
Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza
interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio
sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato
narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante
Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem
2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
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ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e
fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p
4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na
construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico
Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa
que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das
construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das
formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico
O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a
escola o que pensam dela
Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias
escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as
contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos
duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da
vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p
1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e
assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas
dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas
O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios
seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante
dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do
ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir
sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas
demandas e as expectativas que colocam na escola
Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira
auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo
seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas
sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no
ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que
uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o
6
sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido
e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos
Discussatildeo
Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros
que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos
brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na
escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa
vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns
pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos
problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato
de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo
(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)
Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e
Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos
cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino
meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar
aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso
escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos
atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo
dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade
como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a
imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola
contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre
o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por
exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente
confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo
importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o
significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute
esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia
Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes
contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia
7
distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
8
Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
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10
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Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
4
escolares de jovens rapazes e moccedilas tem sido a vantagem de trazer para o espaccedilo escolar a
masculinidade como categoria de anaacutelise tornando-se um problema de investigaccedilatildeo
cientiacutefica
Em verdade a anaacutelise das formas de masculinidades construiacutedas internamente agrave sala de
aula ou agrave escola mesmo em relaccedilatildeo agraves diferentes expectativas das famiacutelias para os meninos e
meninas eacute um caminho pouco explorado no Brasil Portanto nosso estudo poderaacute sugerir
alternativas para melhor compreensatildeo desse fenocircmeno e assim contribuir na construccedilatildeo de
novas possibilidades de enfrentamento da discussatildeo sobre masculinidades e sobre relaccedilotildees
intra-escolares Eacute justamente nesse contexto que insistimos que a escola como qualquer outra
formaccedilatildeo social deve ser pensada como sendo ativamente constituiacuteda sobre os fundamentos
das diferentes hierarquias e contradiccedilotildees que informam as relaccedilotildees sociais especialmente as
de gecircnero raccedila e classe (Rosemberg 1991)
Metodologia
Partindo da constataccedilatildeo de que iacutendices de evasatildeoabandono em acircmbito nacional tecircm
sido mais altos para jovens do sexo masculino em especial para jovens negros como jaacute
expressamos nossa anaacutelise se baseia em procurar compreender o modo como a construccedilatildeo
social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso escolar masculino entre estudantes do
Ensino Meacutedio em duas escolas estaduais nas cidades de Cachoeira e Satildeo Feacutelix Bahia2
Para tanto recorre-se agrave observaccedilatildeo participante a grupos focais rodas de conversas
oficinas questionaacuterios e entrevistas semiestruturadas com nossos sujeitos jovens homens
entre 14 a 24 anos sobre gecircnero educaccedilatildeo desigualdade e defasagem escolar cultura popular
e identidade negra Contamos com uma equipe interdisciplinar que inclui estudantes de
ciecircncias sociais comunicaccedilatildeo e cinema para operacionalizar as atividades com os estudantes
Como processo metodoloacutegico privilegiou-se uma linha qualitativa de natureza
interpretativa buscando concentrar-se na compreensatildeo da conduta humana atraveacutes do proacuteprio
sujeito e da complexidade das situaccedilotildees que o enquadram Por isso consideramos o relato
narrativo como material reflexivo rico em significados das accedilotildees de cada jovem estudante
Reconheceriacuteamos que dessa maneira as experiecircncias relatadas sobre a escolarizaccedilatildeo podem
2 A cidade de Satildeo Feacutelix estimada2013 de 15000
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=290490ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completas
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ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e
fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p
4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na
construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico
Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa
que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das
construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das
formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico
O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a
escola o que pensam dela
Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias
escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as
contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos
duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da
vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p
1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e
assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas
dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas
O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios
seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante
dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do
ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir
sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas
demandas e as expectativas que colocam na escola
Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira
auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo
seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas
sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no
ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que
uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o
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sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido
e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos
Discussatildeo
Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros
que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos
brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na
escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa
vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns
pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos
problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato
de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo
(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)
Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e
Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos
cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino
meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar
aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso
escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos
atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo
dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade
como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a
imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola
contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre
o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por
exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente
confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo
importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o
significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute
esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia
Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes
contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia
7
distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
8
Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
Referecircncias
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WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
5
ser pensadas e interpretadas ldquocomo a chave acesso aos siacutembolos culturais que estruturam e
fundamentam as masculinidades em sua relaccedilatildeo com o rendimento escolarrdquo (BRITO 2011 p
4) Referimos-nos das experiecircncias concretas vividas e sentidas e seus provaacuteveis efeitos na
construccedilatildeo de uma identidade masculina negra nesse nosso contexto perifeacuterico
Portanto eacute dessa forma privilegiando-se uma linha qualitativa de natureza interpretativa
que pretendemos focar na compreensatildeo das representaccedilotildees a partir do proacuteprio sujeito e das
construccedilotildees assumidas na complexidade dos contextos que o enquadram bem como das
formaccedilotildees discursivas e das relaccedilotildees de poder subliminares sob a forma do poder simboacutelico
O que eles dizem sobre a proacutepria defasagem em relaccedilatildeo agraves meninas O que nos dizem sobre a
escola o que pensam dela
Para abordar a relaccedilatildeo que os jovens estudantes estabelecem entre suas trajetoacuterias
escolares a construccedilatildeo da(s) masculinidade(s) suas experiecircncias seus projetos de vida e as
contribuiccedilotildees da escola para a sua realizaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se leve em conta pelo menos
duas questotildees a sua vivecircncia determinada por experimentaccedilotildees em todas as dimensotildees da
vida subjetiva e social e o jovem que existe no estudante Para Leatildeo Dayrell amp Reis (2011 p
1068) o estudante do ensino meacutedio eacute compreendido apenas na sua dimensatildeo de aluno e
assim pouco se apreende sobre os sujeitos reais que frequentam a escola as muacuteltiplas
dimensotildees da sua experiecircncia social suas demandas e expectativas
O jovem que cursa o ensino meacutedio busca espaccedilo e tempo para refletir sobre seus anseios
seus desejos suas experiecircncias vividas De que maneira entatildeo a escola se posiciona diante
dessa realidade Que relaccedilatildeo a escola tem com o abandono dos jovens do sexo masculino do
ensino meacutedio Seraacute que a instituiccedilatildeo escolar seus gestores e professores procuram refletir
sobre a realidade desses jovens E quais satildeo [de fato] os projetos de vida desses jovens suas
demandas e as expectativas que colocam na escola
Por fim analisar a juventude e seus modos de vida tem constituiacutedo uma maneira
auspiciosa de perceber as transformaccedilotildees que se operam num mundo globalizado Talvez natildeo
seja mais possiacutevel aceitar portanto explicaccedilotildees simplistas alarmistas e unicamente descritas
sobre as desigualdades educacionais que comprometem o desempenho dos jovens negros no
ensino de modo geral Epstein et al (1998 BRITO 2009 p 37) dizem por exemplo que
uma oposiccedilatildeo fixa se instalou no campo dos estudos sobre fracasso escolar de forma que o
6
sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido
e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos
Discussatildeo
Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros
que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos
brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na
escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa
vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns
pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos
problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato
de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo
(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)
Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e
Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos
cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino
meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar
aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso
escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos
atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo
dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade
como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a
imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola
contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre
o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por
exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente
confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo
importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o
significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute
esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia
Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes
contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia
7
distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
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Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
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em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede
Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
6
sucesso feminino eacute visto como um campo histoacuterico dos movimentos feministas que foi obtido
e se manteve ao longo do tempo agrave custa dos prejuiacutezos educacionais masculinos
Discussatildeo
Ao realizar um levantamento sobre o fracasso escolar nos deparamos com nuacutemeros
que ao contraacuterio do que apontam as pesquisas na Ameacuterica Latina na maioria dos contextos
brasileiros os meninos e rapazes na regiatildeo Nordeste satildeo menos propensos a permanecer na
escola e serem aprovados (HARBISON amp HANUSHEK 1992 p 70) por exemplo Essa
vantagem das meninas reafirmada principalmente nos uacuteltimos 20 anos faz com que alguns
pesquisadores visualizem esta ldquodefasagemrdquo a favor delas mais como um reflexo dos
problemas especiacuteficos enfrentados pelos meninos no processo de escolarizaccedilatildeo do que o fato
de as mulheres estarem conquistando seu lugar na sociedade por meio da educaccedilatildeo
(ROSEMBERG 2001 CARVALHO 2004)
Eacute justamente como consequecircncia dessa revelaccedilatildeo trazida por Rosemberg (2001) e
Carvalho (2004) que desejamos enfrentar o desafio de buscar compreender os processos
cotidianos que tecircm conduzido estudantes - jovens negros a abandonarem a escola no ensino
meacutedio em escola puacuteblica em duas cidades do Recocircncavo Baiano Aleacutem disso procurar
aprofundar o modo como a construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o percurso
escolar desses jovens observando os processos de subjetivaccedilatildeo e ouvindo o que dizem nossos
atores sociais sobre seus percursos e experiecircncias Destaca-se tambeacutem reconhecer o padratildeo
dominante de masculinidade que a proacutepria escola constroacutei e desempenha Numa sociedade
como a brasileira reprodutora de desigualdades histoacutericas onde as incertezas e a
imprevisibilidade preponderam qual eacute o lugar que a escola ocupa ndash de que maneira a escola
contribui para a reproduccedilatildeo das desigualdades E mais que relaccedilatildeo os estudantes veem entre
o trabalho que fazem em sala de aula e as vidas que levam fora dela Poderiacuteamos agregar por
exemplo aspectos da sua cultura vivida no trabalho da escolarizaccedilatildeo sem estar somente
confirmando aquilo que eles jaacute sabem sem banalizar os objetos e as relaccedilotildees que satildeo
importantes para os estudantes Nesse contexto ainda precisariacuteamos interrogar qual o
significado da escola no entendimento desses jovens qual a sua relaccedilatildeo com ela que lugar eacute
esse no entendimento desses jovens no interior da Bahia
Nas sociedades contemporacircneas as aprendizagens sociais fazem-se em diferentes
contextos ndash a famiacutelia a escola a miacutedia grupos de pares cada uma com sua importacircncia
7
distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
8
Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
Referecircncias
ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia
integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130
BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas
Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16
de setembro de 2014
CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em
httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-
15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014
10
CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de
masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158
CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96
CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus
CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre
masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170
FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23
n 80 p 299-325
HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural
Brazil Washington DC World Bank 1992
HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In
HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra
Capa p 126-147
LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ
Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014
LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora
LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso
escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence
Qualifying Paper HAVARD University
LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de
estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133
PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz
ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo
erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65
ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil
contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil
2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434
ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista
Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001
ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo
Paulo ndeg 77 maio p 25-34
11
SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das
emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo
e Psicologia do Minho Braga
SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em
httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado
em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
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Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
7
distinta a cada periacuteodo da vida A escola possui uma relevacircncia na forma como instiga a
construccedilatildeo de uma forma especiacutefica de masculinidade e de feminilidade principalmente na
regulaccedilatildeo do corpo e na promoccedilatildeo de comportamentos considerados adequados A escola
assume assim um papel ativo na construccedilatildeo de identidades apelando a mensagens
estereotipadas sobre as possibilidades disponiacuteveis para cada sexo ou seja a existecircncia de um
discurso direcionado para um estudante neutro eacute feita em paralelo com uma intensa
normalizaccedilatildeo de aacutereas adequadas a cada um dos sexos Nessa perspectiva Guacira Louro
(2000 p 41) reitera que ldquoa escola estaacute absolutamente empenhada em garantir que meninos e
meninas se tornem homens e mulheres que correspondam agraves formas hegemocircnicas de
masculinidade e feminilidaderdquo
Ora ao analisarmos as proacuteprias pesquisas sobre o fracasso escolar verificamos que
este fenocircmeno educacional - um dos mais complexos fenocircmenos educacionais (LOUZANO
2013 p 115) estaacute associado agrave organizaccedilatildeo escolar agraves relaccedilotildees existentes dentro da escola e
mais amplificadamente agraves dimensotildees poliacuteticas histoacutericas raciais sociais e institucionais
aleacutem evidentemente mostrarem a complexidade do fenocircmeno (PATTO 1991) Alguns
estudos chegam a chamar a atenccedilatildeo e mostram a associaccedilatildeo entre o fracasso escolar a
determinadas caracteriacutesticas dos estudantes natildeo soacute a origem racial mas igualmente seu sexo
origem familiar e a regiatildeo onde mora (LOUZANO 2004 2013 ALVES ORTIGAtildeO
FRANCO et al 2007)3 Hasenbalg (1999) e Silva (2000 e 2002) reforccedilam essa ideia e
revelam que aleacutem das questotildees ligadas agrave inscriccedilatildeo racial dos estudantes as desigualdades
educacionais entre brancos e negros satildeo geradas por diferenccedilas de renda regiatildeo de domiciacutelio
estrutura familiar escolaridades dos pais e estrutura do sistema de ensino
Atenta a essa realidade Carvalho (2009) potildee em relevo interaccedilotildees entre sexo e a cor
da pele na construccedilatildeo de sofriacuteveis resultados entre meninos pretos ou pardos Seus estudos
realizados por uma deacutecada deixa transparecer que aspectos fenoacutetipos relacionados agrave cor preta
satildeo frequentemente associados pelos professores agrave pobreza e ao baixo desempenho dos
estudantes Satildeo estatiacutesticas nacionais que persistem indicando de maneira evidente a diferenccedila
de desempenho escolar entre meninosrapazes e meninasmoccedilas e que os maiores problemas
se referem ao grupo de alunos negros do sexo masculino (CARVALHO 2004 p 250-251)
3 O abandono e a evasatildeo como aspectos centrais do fracasso escolar seratildeo aqui analisados Reconheceriacuteamos o
abandono e a evasatildeo quando o estudante deixa de frequentar a escola durante o andamento de determinado ano
letivo ou no segundo caso quando conclui o ano letivo poreacutem natildeo se matricula na escola no ano seguinte
independente de ser aprovado ou natildeo
8
Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
Referecircncias
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integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130
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Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16
de setembro de 2014
CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em
httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-
15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014
10
CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de
masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158
CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96
CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus
CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre
masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170
FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23
n 80 p 299-325
HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural
Brazil Washington DC World Bank 1992
HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In
HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra
Capa p 126-147
LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ
Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014
LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora
LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso
escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence
Qualifying Paper HAVARD University
LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de
estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133
PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz
ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo
erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65
ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil
contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil
2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434
ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista
Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001
ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo
Paulo ndeg 77 maio p 25-34
11
SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das
emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo
e Psicologia do Minho Braga
SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em
httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado
em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede
Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
8
Importa pois desvendar o fenocircmeno fracasso escolar Vaacuterios satildeo os autores que nos
revelam esse termo como um fenocircmeno complexo que engloba e inter-relaciona baixo
rendimento acadecircmico repetecircncia evasatildeo e abandono (CARRAHER amp SCHIEMAN 1983
ROCHA 1983 PATTO 1991 FREITAS 2002) Para Paula Louzano (2013 p 112) o
fracasso escolar afeta de forma diferenciada estudantes de distintos grupos sociais
econocircmicos e eacutetnico-raciais uma vez que as oportunidades educacionais natildeo satildeo igualmente
distribuiacutedas no paiacutes
Agrave medida que garantimos uma maior visibilidade ao problema da defasagem ndash
fracasso escolar dos rapazes traz agrave tona a discussatildeo da masculinidade no espaccedilo escolar e a
encarando como categoria analiacutetica constituiacutemos um problema de investigaccedilatildeo cientiacutefica
Sem sombra de duacutevida uma nova abordagem pois ateacute pouco tempo os temas relacionados
com a vida e a trajetoacuteria de mulheres eram considerados objetos de estudos e necessitavam
intervenccedilatildeo (CARRITO amp ARAUacuteJO 2013 p 139)
Ora no mundo ocidental considera-se que ser um homem de verdade estaacute
relacionado agrave racionalidade ao autocontrole e sucesso na vida puacuteblica e privada Luis Santos
(2009 p 42) fala que ldquotornar-se homem traduz-se afinal num processo de construccedilatildeo
identitaacuteria livremente escolhido uma espeacutecie de apresentaccedilatildeo teatral de si proacutepriordquo que em
sua opiniatildeo confere afora todos os mecanismos e constrangimentos sociais a cada sujeito a
capacidade de agecircncia sobre a sua vida
Ser homem eacute pois uma aprendizagem ao longo da vida um ideal que se persegue com
a ldquosubmissatildeo ao modelo e obtenccedilatildeo dos privileacutegios do modelordquo (WELZER-LANG 2001 p
461) O modelo por meio de praacuteticas incessantemente reproduzidas assegura que o poder eacute
exercido por certo tipo de homens que possuem privileacutegios e ascendecircncia sobre outros grupos
masculinos e sobre as mulheres Ao falar de ldquomodelordquo relacionamos com as contribuiccedilotildees de
Connell (2001) para o conhecimento da(s) masculinidade(s) no campo socioloacutegico Ela
defende a existecircncia de diferentes formas de ser homem que satildeo histoacuterica social e
culturalmente construiacutedas ou seja a masculinidade eacute a forma como cada sociedade interpreta
e usa os corpos masculinos (e tambeacutem femininos) A autora introduz ainda o conceito de
masculinidade hegemocircnica4 definida como referecircncia ndash modelo Esta masculinidade de
4 Na conceituaccedilatildeo de Connell (2001) a masculinidade hegemocircnica eacute um conjunto de praacuteticas exercidas tanto por
homens quanto mulheres que respondem ao problema da legitimaccedilatildeo do patriarcado isto eacute que garante tanto
em niacutevel local quanto global a contiacutenua subordinaccedilatildeo das mulheres pelos homens
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
Referecircncias
ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia
integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130
BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas
Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16
de setembro de 2014
CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em
httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-
15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014
10
CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de
masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158
CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96
CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus
CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre
masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170
FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23
n 80 p 299-325
HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural
Brazil Washington DC World Bank 1992
HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In
HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra
Capa p 126-147
LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ
Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014
LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora
LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso
escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence
Qualifying Paper HAVARD University
LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de
estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133
PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz
ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo
erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65
ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil
contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil
2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434
ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista
Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001
ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo
Paulo ndeg 77 maio p 25-34
11
SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das
emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo
e Psicologia do Minho Braga
SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em
httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado
em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede
Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
9
referecircncia tem sustentado ao longo dos tempos a dominaccedilatildeo masculina ocupando uma
posiccedilatildeo dominante em determinado tempo e lugar
Conclusatildeo
O objetivo de conhecer as formas cotidianas de geraccedilatildeo do fracasso escolar mais
acentuado entre rapazes do que entre moccedilas determina a nossa necessidade de investigar as
relaccedilotildees de gecircnero e raccedila e interrogar a produccedilatildeo dessas desigualdades educacionais Ademais
buscar-se aprofundar como o modo de construccedilatildeo social da(s) masculinidade(s) condiciona o
percurso escolar masculino nas escolas de ensino meacutedio de Satildeo Feacutelix no Recocircncavo Baiano
Natildeo se trata nesse caso de analisar se rapazes e moccedilas satildeo mais aptos mais raacutepidos ou mais
afetos agrave aprendizagem escolar ndash em geral ou especificamente Aqui o cerne estaacute sobre os
processos que tem conduzido um maior nuacutemero de rapazes a abandonar a escola no ensino
meacutedio na regiatildeo do Recocircncavo Baiano
Esse trabalho de pesquisa desenvolve-se na tentativa de verificar e investigar possiacuteveis
intersecccedilotildees entre gecircnero raccedila e desempenho escolar e por isso tem como base entrevistas e
relatos desses jovens sobre suas experiecircncias e trajetoacuterias escolares vividas ateacute esse momento
Mesmo natildeo excluindo as anaacutelises quantitativas pois satildeo tambeacutem especiais na anaacutelise de
dados estatiacutesticos relativamente ao fracasso escolar dos rapazes e moccedilas no Brasil e na regiatildeo
Nordeste mais especificamente nosso objetivo natildeo estaacute enraizado na quantificaccedilatildeo do
problema e sim na compreensatildeo dos processos que levam ao desinteresse escolar a partir da
perspectiva dos nossos sujeitos atraveacutes da escuta Sublinhamos que a leitura do que escutamos
corresponde a uma interpretaccedilatildeo subjetiva ela proacutepria regulada pela relaccedilatildeo estabelecida com
uma investigadora de uma geraccedilatildeo diferente e do sexo feminino
Referecircncias
ALVES F ORTIGAtildeO I FRANCO C (2007) Origem social e risco de repetecircncia
integraccedilatildeo raccedila-capital econocircmico Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo v 37 n 130
BRITO R (2011) Gecircnero raccedila e fracasso escolar algumas articulaccedilotildees analiacuteticas
Disponiacutevel em httpwwwisapgcombr2011ciepgdownloadphpid=108 Acessado em 16
de setembro de 2014
CARRAHER T SCHIEMAN A (1983) Fracasso escolar uma questatildeo social Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p 3-19 Disponiacutevel em
httpeducafccorgbrscielophpscript=sci_isorefamppid=S0100-
15741983000200001amplng=ptamptlng=pt Acessado em 21 de agosto de 2014
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CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de
masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158
CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96
CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus
CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre
masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170
FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23
n 80 p 299-325
HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural
Brazil Washington DC World Bank 1992
HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In
HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra
Capa p 126-147
LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ
Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014
LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora
LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso
escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence
Qualifying Paper HAVARD University
LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de
estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133
PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz
ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo
erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65
ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil
contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil
2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434
ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista
Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001
ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo
Paulo ndeg 77 maio p 25-34
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SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das
emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo
e Psicologia do Minho Braga
SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em
httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado
em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede
Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
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Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
10
CARRITO M ARAUacuteJO H (2013) A ldquopalavrardquo aos jovens a construccedilatildeo de
masculinidades em contexto escolar Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas n 39 p 139-158
CARVALHO M (2004) Quem satildeo os meninos que fracassam na escola Cadernos de
Pesquisa Satildeo Paulo v 34 n 21 p 77-96
CARVALHO M (2009) Avaliaccedilatildeo escolar gecircnero e raccedila Campinas Papirus
CONNELL R W (2001) Educando a los muchachos Nuevas investigaciones sobre
masculinidad y estrategias de gecircnero para las Escuelas Noacutemadas 14 p 156-170
FREITAS L (2002) A internalizaccedilatildeo da exclusatildeo Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 23
n 80 p 299-325
HARBISON R HANUSHEK E Educational performance of the poor lessons from rural
Brazil Washington DC World Bank 1992
HASENBALG C SILVA N (1999) Famiacutelia cor e acesso agrave escola no Brasil In
HASENBALG C SILVA N LIMA M Cor e estratificaccedilatildeo social Rio de Janeiro Contra
Capa p 126-147
LEAtildeO G DAYRELL J REIS J (2011) Juventude projetos de vida e ensino meacutedio Educ
Soc Campinas v 32 n 117 p 1067-1084 Disponiacutevel em httpwwwcedesunicampbr Acessado em 10 de setembro de 2014
LOURO G (2000) Corpo gecircnero e sexualidade Porto Porto Editora
LOUZANO P (2004) Racial inequalities in Brazilian primary education how fracasso
escolar and race interrelate with studentrsquos gener family background and region of residence
Qualifying Paper HAVARD University
LOUZANO P (2013) Fracasso escolar evoluccedilatildeo das oportunidades educacionais de
estudantes de diferentes grupos raciais Cadernos Ceppec Satildeo Paulo v3 n 1 p 111-133
PATTO M (1991) Produccedilatildeo do fracasso escolar Satildeo Paulo T A Queiroz
ROCHA A (1983) Contribuiccedilatildeo das revisotildees de pesquisa internacionais ao tema evasatildeo
erepetecircncia no primeiro grau Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 45 p57-65
ROSEMBERG F MADSEN N (2011) Educaccedilatildeo formal mulheres e gecircnero no Brasil
contemporacircneo In Barnsted L L Pitanguy J (org) O Progresso das Mulheres no Brasil
2003-2010 Rio de Janeiro CEPIA Brasiacutelia ONU Mulheres p 390-434
ROSEMBERG Fuacutelvia Escola Formal Mulher e Gecircnero no Brasil Contemporacircneo Revista
Estudos Feministas v 9 n 2 2deg semestre p 515-540 2001
ROSEMBERG Fuacutelvia (1991) Raccedila e Educaccedilatildeo Inicial In Cadernos de Pesquisa Satildeo
Paulo ndeg 77 maio p 25-34
11
SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das
emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo
e Psicologia do Minho Braga
SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em
httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado
em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede
Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)
11
SANTOS L (2009) Tornar-se homem dramaturgias em torna das apresentaccedilotildees de si das
emoccedilotildees e dos efectos em palcos off-line e online Tese de doutorado Instituto de Educaccedilatildeo
e Psicologia do Minho Braga
SENKEVICS A (2012) A escola eacute hostil aos meninos Disponiacutevel em
httpensaiosdegenerowordpresscom20111202a-escola-e-hostil-aos-meninos Acessado
em 01 de outubro de 2014
SILVA N HASENBALG C (2000) Tendecircncias da desigualdade educacional no Brasil
Dados Rio de Janeiro v 43 n 3 p 423-445
SILVA N (2002) Recursos familiares e transcriccedilotildees educacionais Cadernos de Sauacutede
Puacuteblica Rio de Janeiro v 18 p n 3 p 423-445
SOUZA R (2010) Rapazes negros e socializaccedilatildeo de Gecircnero Cadernos Pagu (34) janeiro-
junho p 107-142
WELZER-LANG D (2001) A construccedilatildeo do masculino dominaccedilatildeo das mulheres e
homofobia Estudos Feministas Florianoacutepolis 9 p 460-482
Anexos
i
Distribuiccedilatildeo percentual dosas estudantes por curso frequentado segundo o sexo e corraccedila Legenda CA
(Classe de Alfabetizaccedilatildeo) EF (Ensino Fundamental) EM (Ensino Meacutedio) (Fonte PNAD 2009 baseado em
Rosemberg amp Madsen 2011)
12
ii
Taxa de distorccedilatildeo seacuterie-idade no ensino meacutedio segundo corraccedila e sexo (Fonte PNAD 2009 baseado em Rosemberg amp Madsen 2011)