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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA ANA CAROLINA MARTENDAL RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E DEPRESSÃO EM CRIANÇAS SEGUNDO A ABORDAGEM COMPORTAMENTAL BIGUAÇU Novembro, 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

ANA CAROLINA MARTENDAL

RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E DEPRESSÃO EM CRIANÇAS

SEGUNDO A ABORDAGEM COMPORTAMENTAL

BIGUAÇU

Novembro, 2009

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ANA CAROLINA MARTENDAL

RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E DEPRESSÃO EM CRIANÇAS,

SEGUNDO A ABORDAGEM COMPORTAMENTAL

BIGUAÇU

Novembro, 2009

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito na obtenção do grau de Bacharel em

Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí.

Orientadora: Professora Drª. Vera Baumgarten de

Ulyssea Baião.

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ANA CAROLINA MARTENDAL

RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E DEPRESSÃO EM CRIANÇAS,

SEGUNDO A ABORDAGEM COMPORTAMENTAL

Este trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os

requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do

Itajaí, no Curso de Psicologia.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ Prof. Dr. Vera Baumgarten de Ulyssea Baião

(Orientadora)

_______________________________________ Prof. Msc. Paulo Cesar Nascimento

_______________________________________ Viviam Agatti

BIGUAÇU

Novembro, 2009

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, por me oferecer a oportunidade de estudar, já que eles não

a tiveram.

Agradeço ao meu namorado Marcos, que sempre me apoiou nas minhas escolhas,

pelo seu amor, carinho e dedicação. Sua mãe, Dona Zenir, pela importância e compreensão

que teve com este trabalho.

Agradeço aos meus amigos de classe, em especial a Monique, Luisa, Aline e

Murilo, pelas dificuldades que enfrentamos juntos no decorrer do curso e pelo

companheirismo que construímos.

Por fim, agradeço a minha orientadora, professora Vera, por usa amizade,

dedicação e no compartilhar de seus conhecimentos.

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RESUMO

A violência está presente de maneira cada vez mais acentuada, com diferentes formas e

manifestações, se apresenta em todas as classes e níveis sociais. O modo como as crianças

reagem diante da violência pode ser variado, a depressão é um deles. Essa patologia, em

crianças é um fato que vem crescendo, com isso necessita de estudos voltados para o tema.

Este trabalho possui por objetivo, relacionar a violência com a depressão infantil,

utilizando a abordagem comportamental como base para as discussões. Para isto, buscou-

se contextualizar a violência, realizando um levantamento dos seus principais tipos.

Esclarecer o desenvolvimento cognitivo e emocional na infância, já que esses podem vir a

ser afetados pela depressão. Ilustrar as principais formas de aprendizagem encontradas na

teoria comportamental, por fim, apresentar o modelo comportamental da depressão. A

metodologia utilizada para este trabalho foi a pesquisa bibliográfica, na qual as principais

fontes foram livros e artigos relacionados.

PALAVRAS-CHAVE: Violência, Depressão, Criança, Abordagem comportamental.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

2 METODOLOGIA ..................................................................................................... 10

3 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 11

3.1 DIFERENTES TIPOS DE VIOLÊNCIA E SEUS CONTEXTOS ..................... 11

3.2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL NA INFÂNCIA ....... 14

3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL............................................................ 18

3.3.1 Condicionamento Pavloviano ...................................................................... 18

3.3.2 Condicionamento Operante ......................................................................... 19

3.3.3 Modelação .................................................................................................... 20

3.3.4 Regras .......................................................................................................... 21

3.5 DEPRESSÃO ...................................................................................................... 22

4 RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E VIOLÊNCIA SEGUNDO A ABORDAGEM

COGNITIVO COMPORTAMENTAL ...................................................................... 25

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 34

6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 36

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa referente à relação entre violência e

depressão segundo a abordagem comportamental. Existem diferentes formas como cada

criança reage diante dos episódios de violência. Algumas podem ficar agressivas, outras

retraídas, ou também, entre outros quadros, pode ocorrer a depressão, está última é uma

patologia que está crescendo no que se refere ao âmbito infantil.

Um dos problemas mais atuais encontrados pelos profissionais da saúde mental é a

depressão. A terapia comportamental é considerada uma das abordagens de curto prazo

que apresentam maiores resultados no tratamento (BARLOW, 1999). Está por sua vez,

possui como objeto de interesse o comportamento como tal e seus processos, como as

condições ambientais e a cognição como forma de aprendizagens.

Para Nunes Filho (2005), recentemente, apesar das dificuldades que existem em seu

reconhecimento, o diagnóstico de depressão em crianças vem crescendo cada vez mais.

Porém um dos problemas encontrados para realizar o diagnóstico correto da depressão

infantil, é que alguns sintomas são camuflados ou algumas vezes não são tão visíveis,

como nos adultos. Algumas especificidades, da depressão infantil são: “transtorno do

déficit de atenção, hiperatividade, baixa auto-estima, tristeza, medos, distúrbios do sono,

enurese e dores abdominais (CALDERARO; CARVALHO, 2005, p. 181).

Pesquisas sobre a relação entre violência e depressão em crianças não são muito

estudados. Com isso, esta pesquisa tem como principal objetivo relacionar a violência à

depressão em crianças, pautando-se na abordagem comportamental. Como objetivos

específicos, pretende-se descrever os diferentes tipos de violência encontrados nos

diferentes contextos; esclarecer o desenvolvimento cognitivo e emocional na infância;

ilustrar as principais formas de aprendizagem encontradas na teoria comportamental e por

fim verificar o modelo comportamental da depressão.

Assis e colaboradores (2008) ressaltam que as crianças estão em pleno crescimento

e desenvolvimento, com isso, tornam-se muito vulneráveis às situações de violência que

ocorrem na família, na escola e na comunidade em que vivem, já que dependem da

proteção dos adultos e das instituições.

A constatação de que a criança está vulnerável a vivenciar subseqüentes ou

simultâneos episódios violentos, em ambientes diferentes, pode ser designado como

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“revitimização”. Atualmente percebe-se que os atos de violência não ocorrem em episódios

isolados, com isso torna-se mais difícil o fim dessas experiências violentas, fazendo com

que a criança possa desencadear problemas de saúde mental (AVANCI et al, 2008).

Socialmente, esse estudo se torna relevante devido ao alto risco de recorrência que

essa patologia depressiva pode desencadear, causando prejuízos severos tanto na qualidade

de vida da criança como em seus ambientes escolares, familiares e sociais. A violência se

produz através das relações sociais, estando assim, presente em todos os meios, ela “não é

um atributo da vida urbana contemporânea”, é responsável pela estruturação da sociedade

(ANDREY; SÉRIO, 1999, p. 439).

Um estudo realizado pela ONU (2006) mostra que a violência contra a criança

acontece no mundo todo. Está presente na família, na escola, na comunidade e em

instituições, como por exemplo, abrigos para menores. Segundo dados da OMS, levantados

para esse estudo (da ONU) e baseado em um número limitado de dados, calcula-se que no

ano de 2002, cinqüenta e três mil crianças morreram em todo mundo, vítimas de

homicídio.

Como relevância científica e acadêmica tem-se o que Regra (1997) enfatiza. A

maioria das patologias possui sintomas multifatoriais, no caso da depressão infantil, ocorre

a falta de especificação do contexto que ocorrem tais comportamentos, tornando-se difícil

de realizar o diagnóstico e estudos concretos sobre o tema. Assim, faz-se necessário

destacar o contexto em que a depressão se apresenta, como por exemplo, o que este

trabalho irá propor, o ambiente de violência.

Para Gauer (1999) existem quatro tipos específicos de violência que são: a

institucionalização da violência, a violência anômica, a violência banal e a violência

interna. Segundo Maciel e Cruz (2009) a criança está mais exposta a violência intrafamiliar

(característica da violência interna), na qual as principais formas de agressão são: a

violência física, a sexual, a psicológica e a negligência.

A violência está presente de maneira cada vez mais acentuada, com diferentes

formas e manifestações, ela se apresenta em todas as classes e níveis sociais. Em

decorrência deste fato, as crianças são alvos fáceis, sem muita capacidade de defesa, estão

vulneráveis a se tornarem vítimas. O modo como essas crianças reagem diante da violência

pode ser variado, a depressão é um deles.

Nos Estados Unidos, estima-se que crianças de Los Angeles testemunham cerca de

10% a 20% dos homicídios por ano. No Brasil, no ano de 1998, 31% dos jovens cariocas

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pertencentes a extratos menos elevados social e economicamente presenciaram cenas de

violência através de assaltos ou pequenos furtos, 22,5%, através da violência física e 2%,

da violência sexual (MINAYO et. al, 1999).

No âmbito escolar, estima-se que entre os anos de 1996 e 1997, quatro mil estupros

ocorreram nas escolas norte-americanas ou em eventos realizados por ela, além de sete mil

roubos, onze mil agressões físicas ou ferimentos com arma de fogo e 188 mil agressões

físicas ou ferimentos sem arma de fogo1. Em um município do Rio de Janeiro, entre os

anos de 2002 e 2003, um em cada cinco adolescentes foi humilhado na escola e, dentre

1.220 jovens cariocas, 23% foram agredidos fisicamente, 19% foram ameaçados, 17,5%

testemunharam o uso de drogas, 3,5% a venda de drogas e 3,7% foram agredidas

sexualmente nesse local (MINAYO apud ASSIS et. al, 2008).

Na esfera doméstica, a violência atinge 1,5 milhões de crianças americanas, a taxa

média da violência por 1.000 crianças é de 43. Em outros países como em Ontário, 21

crianças, na Alemanha, 15, na Inglaterra, 13, na Holanda, 5 e na Bélgica, 3 (TANG, 1998

apud AVANCI, et. al, 2008). Para Assis e colaboradores (2006) esse significativo cenário

da violência nos lares estrangeiros se assemelha muito às famílias brasileiras.

Avanci e colaboradores (2008 p. 384) constatam que, “é crescente o número de

estudos que investigam a relação entre a violência e os problemas em psiquiatria infantil”.

Resultados consistentes têm sido verificados em estudos relacionados aos comportamentos

agressivos, anti-sociais e de transtorno de estresse pós-traumático. Porém, poucos e

ambíguos são os resultados encontrados nas pesquisas entre violência e depressão em

crianças e adolescentes.

Apesar do estudo sistemático da depressão ser recente, a American Academy of

Child and Adolescent Psychiatry2, em 1996, apontou que cerca de cinco por cento (5%)

das crianças e adolescentes da população geral possuem um grau significante de depressão.

Sem a ajuda necessária, pode gerar danos graves na vida da criança, comprometendo a sua

auto-estima, o desempenho escolar e os relacionamentos pessoais.

1 (U.S. Department of Education. Principal/School Disciplinarian Survey on school violence, 1997, apud

AVANCI, et. al, 2008)

2 http://www.psych.med.umich.edu/web/aacap.

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2. METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se por uma análise documental, de cunho qualitativo, com o

intuito de resgatar e articular bibliografias já tornadas públicas em relação ao tema

estudado. Barros e Lehfeld (2000) ressaltam que é fundamental que o pesquisador faça um

levantamento dos temas e tipos de abordagens já trabalhados por outros estudiosos,

assimilando conceitos e explorando aspectos já estudados.

Cervo e Bervian (1996) explicam que comumente a pesquisa bibliográfica é o

primeiro passo de qualquer análise cientifica, e que compõe as investigações na área das

Ciências Humanas, objetivando conhecer, esclarecer e analisar as contribuições culturais e

científicas do passado, sobre determinado assunto, tema ou problema.

Galliano (1986) enfatiza que a pesquisa bibliográfica (ou descritiva) é um meio de

ação e investigação que tem por objetivo colher informações, analisar e explicar

determinado tema ou problema baseado em referenciais teóricos, publicações em livros,

artigos, revistas entre outros meios. Sendo este trabalho embasado principalmente por meio

de livros e artigos. Martins e Lintz (2000) colocam que esse método de pesquisa é um dos

mais utilizados em projetos e um excelente instrumento de formação cientifica. Para

Martins e Pinto (1947, p. 41) “trata-se da abordagem mais adequada para a elaboração de

um trabalho acadêmico”.

Para Oliveira (2001) a pesquisa descritiva, é orientada no sentido de reconstruir

teorias, condições explicativas da realidade, polêmicas e discussões pertinentes. Esse tipo

de pesquisa não implica imediata intervenção na realidade, porém não deixa de ser

importante, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a intervenção.

Com relação ao método qualitativo, Oliveira (2001) coloca que, essa abordagem

apresenta-se de forma adequada para entender a analogia de causa e efeito de um

fenômeno e conseqüentemente chegar a um fato. Nagel (1978 apud MARCONI e

LAKATOS, 2000) realça que é característica do modelo qualitativo formular

possibilidades a partir de estudos teóricos.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 DIFERENTES TIPOS DE VIOLÊNCIA E SEUS CONTEXTOS

Para Michaud (apud FERNANDES, et. al, 2006 p. 227) a violência pode ser

definida como "uma ação direta ou indireta, concentrada ou distribuída, destinada a

prejudicar uma pessoa ou a destruí-la, seja em sua integridade física ou psíquica, seja em

suas posses, seja em suas participações simbólicas”.

A violência é um dos elementos nucleares que compõe a cultura e movimenta a

sociedade contemporânea (GAUER, 1999), sendo resultante das interações sociais

(MINAYO; SOUZA, 1999). Tem seu surgimento nos primórdios da civilização humana,

onde as pessoas viviam sem a presença de um estado ou autoridade maior e suas leis, em

que o limite era a força de uns sobre os outros. Essa condição, porém, foi substituída a

partir do momento em que os mais fracos se submetiam aos mais fortes. Estes, por sua vez,

empunham seus desígnios e assim estabeleceram-se novos limites aos quais agora o Estado

deveria exercer, organizando os indivíduos em sociedade, estabelecendo regras e punindo

os que violassem o contrato. Toda essa perda da liberdade foi motivada pela garantia de

segurança e paz oferecidas pelo Estado (VERONESE; CAIRE, 1999). Percebe-se então

que a construção da sociedade está acompanhada ao histórico da violência.

Para Gauer (1999) a violência caracteriza-se de várias formas, são elas, a

institucionalização da violência, a violência anômica, a violência banal e a violência

interna.

Com relação a institucionalização da violência é possível verificar que a mesma

está ligada de maneira direta com o poder, e quem detém o poder está no direito de exercer

sua autoridade sobre seu subordinado. No imaginário social, atualmente, o poder está

ligado à polícia e não ao aparelho do Estado responsável pelo julgamento. Na Idade Média

os criminosos eram punidos em público, dando maior visibilidade ao poder real

(VERONESE; CAIRE, 1999).

Percebe-se que é a institucionalização da violência que sustenta o próprio Estado, e

este como detentor da legitimidade acaba por utilizar a força física ou moral para se impor,

fazendo com que essas formas de violências se exercitem por meio de diversas outras

(VERONESE; CAIRE, 1999). Assim também afirma Weber (apud VERONESE; CAIRE,

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1999), quando diz que somente o Estado, no exercício de suas funções, é que promove o

bem comum, garantindo paz e segurança aos indivíduos, através da aplicação de sanções,

valendo-se do legítimo poder de coerção que dispõe. Dessa forma, o Estado proclama-se

como próprio agente da violência, onde as vítimas são os cidadãos comuns.

Outra forma de violência, conforme apresentado anteriormente, é a violência

anômica, também conhecida como violência visível é entendida como uma ruptura, por

uma força desordenada e explosiva, da ordem jurídico-social, que dá lugar à delinqüência,

à marginalidade ou as muitas ilegalidades exercidas pelo poder do Estado. Alguns

exemplos deste tipo de violência são os crimes de morte, os assaltos e os massacres

(SODRÉ, 2006). Peralva (2000) associa a violência e o conceito de anomia3 ao

inconformismo e o aborrecimento social, principalmente das camadas pobres, diante da

impossibilidade de aquisição a bens considerados de valor positivo na cultura atual.

Maffesoli (apud FERNANDES, et. al, 2006, p. 229), descreve a violência anômica

como:

[...] uma resposta a violência e à dominação dos poderes instituídos, no intuito de

proteger o corpo social, manifesta-se em atos de resistência e nas diversas formas de

ilegalidade e consubstancia-se em revoltas latentes que explodem ocasionalmente. É

um fenômeno ambivalente que se inscreve num duplo movimento - de destruição e

reconstrução -, que mantêm uma estreita conexão entre si, constituindo um vaivém

incessante entre ordem e desordem, fundamento da estruturação social.

Atualmente a banalização da violência, terceira forma citada por Gauer (1999),

torna-se visível aos olhos de todos pela mídia. Segundo Rondelli (2000) é um tipo de

violência corriqueira, trivial, porém fortemente explícita pelos meios de comunicação.

Dessa forma, os tempos atuais assistem a uma escala da violência com um maior

sofrimento alheio, porém acabam por banalizar as diversas formas de manifestações

presentes na humanidade, assistem as mais bárbaras brutalidades de modo natural,

resultando em um estado geral de indiferença, tornando-se um simples dado do cotidiano e

talvez o não menos incômodo (GAUER, 1999). Velho (2000) desenvolve um raciocínio

semelhante ao relacionar o aumento da violência ao processo de modernização da

sociedade brasileira. Ele menciona que atualmente ocorre uma diminuição de conteúdos

culturais e éticos no aparelho de relações sociais, agravado pela inabilidade do poder

3 Dicionário Político: O vocábulo grego que dá origem ao termo anomia significa "sem normas", o que

permite entendê-la como uma situação de desregramento social, onde a ação dos indivíduos não mais é

pautda por normas claras e compartilhadas. Assim entende-se anomia como ausência de regras. (MOYA,

2009)

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público de regular e acolher às necessidades básicas da população, que com isso se

adaptam à nova realidade, o convívio banal com a violência.

A quarta forma de violência é a interna. Sobre esse assunto Kristen, Oliveira e

Flores (2000) apontam que a maior parte dos episódios de maus tratos na infância ocorre

no espaço familiar e permanece, em grande parte, silenciosa, inacessível a olhares

superficiais, não dirigidos para o problema. Gauer (1999) mostra que a violência interna é

um problema da sociedade contemporânea, ela está desagregada de um sentido de valores

universais. Para ele, a sociedade que não consegue desvincular a compulsão consumista

dos valores que incluem reciprocidades, não consegue evitar a violência, ou ao menos

algumas de suas manifestações.

Dentro da violência interna, o medo é outro valor que está tomando lugar de

destaque na sociedade, ele está substituindo a confiança, a liberdade, o amor entre outros

valores. Ele pode tanto unir as pessoas como separá-las, porém o mais visível é que o medo

está fazendo com que as pessoas se isolem voluntariamente em suas casas, no trabalho, na

escola (GAUER, 1999). Assim, a violência interna faz vítimas que algumas vezes não são

alcançadas, pelo fato desses crimes ocorrerem, na maioria das vezes, dentro de casa ou em

ambientes particulares. A realidade urbana contemporânea isola até mesmo o acesso de

ajuda a essas pessoas que são lesadas, já que se torna difícil atender esse tipo de demanda

sem uma denúncia, fato esse, que algumas vezes não ocorre por medo e insegurança.

A sociedade está cada vez mais individualizada, “estabelece-se um estado geral de

apatia, de tranqüila “aceitação”, tanto nos que aplicam a violência direta ou indiretamente,

como naqueles que a sofrem diuturnamente” (GAUER, 1999, p. 13).

Segundo Fernandes e colaboradores (2006) os fatores culturais não são estáticos,

mas dinâmicos e permitem a construção, desconstrução e reconstrução das condutas,

hábitos e práticas dos seres humanos em seu dia-a-dia. Pode-se dizer então que “a

violência está presente no nosso cotidiano, como um dos fenômenos sociais mais

inquietantes do mundo atual” (GAUER, 1999, p. 13), ela está presente tanto nas grandes

cidades como nos lugares mais isolados, ou seja, está presente em todas as classes. Pode-se

dizer que a violência é um elemento estrutural, inerente ao fator social e que não está

próxima de sua extinção (GAUER, 1999).

Conclui-se que as crianças por mais que estejam em contato com todos os tipos de

violência mencionados anteriormente, acabam por sofrer mais com a violência interna.

Assim percebe-se que a vitimização das crianças em ambientes internos como os familiares

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e escolares apontam ser mais freqüentes do que os outros tipos de violência apresentados,

claro que sem deixar de considerar a importância desses outros modelos de violência.

Segundo Cruz e Maciel (2009, p. 90) “a violência é um fenômeno que se aprende

nas inter-relações, via de regra, sob uma condição hierárquica e disciplinar, que se

configura como uma forma de comunicação que determina regras e crenças [...]”.

Dentro desse contexto, pode-se compreender algumas subcategorias dentro da

violência interna. Minayo e colaboradores (1999) classifica-as como: violência física,

caracterizadas por um tapa ou até situações de assassinato, sempre de forma não acidental.

Violência psicológica, onde agressões verbais, gestuais possuem o objetivo de humilhar e

isolar a criança. Violência sexual, em que o jogo sexual entre um ou mais adultos e uma

criança, tem por finalidade estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter estimulação. E

por fim a negligência, configurada por omissão, ausência, abandono, recusa de cuidados

necessários á saúde.

Para melhor compreensão deste trabalho, faz-se necessário observar, diante da

construção da violência, os aspectos do desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.

3.2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL NA INFÂNCIA

O desenvolvimento infantil é produto da interação entre a natureza

(hereditariedade), e o meio ambiente (nativismo). Alguns padrões temperamentais são

herdados, porém, com o tempo, podem ser modificados pelas relações sociais, estilos e

cuidados prestados pelos responsáveis da criança (BEE, 1996). Algumas mudanças são

universais, independente da cultura, como por exemplo, as “crianças de todo mundo

sorriem ao ver rostos humanos durante o segundo ou terceiro mês de vida, pronunciam a

primeira palavra em torno do décimo segundo mês e caminham em torno do décimo

terceiro” (NEWCOMBE, 1999, p. 24).

Nesta parte do trabalho, pretende-se abordar o desenvolvimento infantil,

enfatizando o desenvolvimento cognitivo e emocional. Slobin (1985 apud BEE, 1996)

propõe que as crianças nascem com certos “princípios operadores” que organizam a

maneira como a criança vai compreender os sons que chegam até ela. Segundo alguns

pesquisadores, existem “regras inatas” pelas quais, por exemplo, os bebês percebem

movimentos e mudanças entre claro e escuro. Esses padrões inatos são considerados

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essenciais, pois o desenvolvimento é resultante das experiências captadas do meio através

dessas tendências iniciais (MUSSEN, 1995).

Os padrões seqüenciais das mudanças geneticamente programadas são conhecidos

pelo termo “maturação”, como as mudanças no tamanho e na forma corporal, músculos e

ossos, no sistema nervoso e nos hormônios. Existe o timing (ou momento no tempo) em

que ocorrem essas mudanças, tais seqüências são compartilhadas por todos os membros da

nossa espécie, desde a nossa concepção até a morte, através das informações hereditárias

transmitidas. Gesell (1925 apud BEE, 1996) afirma que independentemente de treino ou

prática, o desenvolvimento maturacional vai ocorrer. Porém, esses padrões maturacionais

necessitam um mínimo de apoio ambiental, como uma dieta adequada e um meio que

possua estímulos.

Os principais objetivos dos psicólogos que estudam sobre o desenvolvimento

cognitivo é analisar como a mente humana representa e manipula informações e entender

como os processos cognitivos se alteram com a idade e a experiência. Piaget foi um dos

estudiosos que procurou descrever o percurso do desenvolvimento cognitivo na infância,

para ele não era possível observar diretamente os processos de pensamento, o que se podia

notar era o comportamento ou desempenho na realização de tarefas (NEWCOMBE, 1999).

Piaget propôs que o desenvolvimento ocorre em uma seqüência de quatro estágios:

o sensório-motor (entre 0 e 18 meses); o pré-operatório (entre 18 meses e 7 anos); o

operatório concreto (entre 7 anos e 12 anos) e o operatório formal (12 anos em diante). Na

transição de um estágio para outro ocorre uma reorganização da maneira como o indivíduo

interpreta o mundo (NEWCOMBE, 1999).

No estágio sensório-motor, o desenvolvimento cognitivo da criança se baseia nas

interações sensoriais e motoras dela com o meio. No estágio pré-operatório, “a criança

adquire a capacidade de pensar sobre objetos e eventos que não estão presentes no

ambiente imediato” (NEWCOMBE, 1999, p. 138), esse estágio também é marcado pela

capacidade da criança em utilizar símbolos. No estágio operatório-concreto a criança

possui a capacidade de realizar operações mentais que são flexíveis e reversíveis, como por

exemplo, a adição e subtração, ao retirar algumas moedas de um cofre, a criança percebe

que pode reverter essa operação colocando a mesma quantia novamente no cofre. Por fim

no estágio operatório-formal “a criança desenvolve a capacidade de raciocinar sobre

problemas hipotéticos [...], assim como problemas reais” (NEWCOMBE, 1999, p. 139).

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Muitos aspectos da teoria de Piaget foram questionados. Segundo Bee (1996),

Piaget se enganou quanto ao momento do desenvolvimento de várias habilidades

cognitivas. Porém vários aspectos de sua teoria ainda são muito influentes, como a idéia de

que é a criança que constrói o seu entendimento no meio e que existem mudanças

qualitativas, significativas na maneira como se aprendem, nas diferentes idades da criança.

O conceito dos estágios de Piaget gerou muitas controvérsias. Para Bee (1996), os

estágios não estão corretos, porém muitos autores utilizam Piaget como base para a

construção de manuais de desenvolvimento. Atualmente as etapas se dividem em bebês,

pré-escolares, escolares e adolescentes, não apenas por ser conveniente, mas pelo fato de

muitos estudiosos, influenciados por Piaget, estudarem as crianças em apenas um período

da infância.

Para Flavell (apud BEE, 1996) o desenvolvimento cognitivo no período pré-escolar

pode ser entendido em dois níveis, o primeiro em idade entre dois e três anos, onde a

criança sabe que outra pessoa vivencia a mesma situação de modo diferente. Nessa fase a

criança “tem pelo menos certa capacidade de compreender que as outras pessoas vêem

coisas ou experienciam as coisas de maneira diferente” (BROWNELL, 1990 e

GURALNICK; PAUL-BROWN, 1984, apud BEE 1996, p. 206), como por exemplo, ao

brincar com uma criança mais velha ela se comportará de maneira diferente do que se

estivesse brincando com uma criança mais nova, também apresentaria um comportamento

diferente ao interagir com adultos. Bee (1996) diz que esse entendimento não pode ser

perfeito considerando a idade da criança.

No segundo nível, perceptível em crianças entre quatro e cinco anos, desenvolve-se

uma série de aparatos complexos para compreender precisamente como a outra pessoa

vivencia e vê a situação (FLAVELL, 1985 e FLAVELL; GREEN; FLAVELL, 1990 apud

BEE, 1996). Aqui a criança já consegue diferenciar aparência de realidade, ou seja, ela

“compreende que, outra pessoa pode acreditar em algo que não é verdade e agir de acordo

com essa crença” (BEE, 1996, p. 208).

Outras capacidades encontradas em crianças pré-escolares são a de: 1)

classificação. Estudos mostram que crianças entre dois, três e quatro anos são capazes de

classificar objetos em grupos; 2) resolução de problemas que envolvem lógica, desde que

recebam ordens claras, objetivas e bem simples. “Embora os pré-escolares possam fazer

algumas coisas aparentemente sofisticadas, seu entendimento continua sendo específico e

não geral” (BEE, 1996, p. 210). Elas ainda estão muito ligadas à situações específicas,

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quando algumas capacidades mais complexas se manifestam, a criança necessita de muito

apoio. E 3) pré-escolares não possuem a capacidade de generalizar, ou seja, não assimilam

o que aprenderam em um determinado contexto para uma situação semelhante (BEE,

1996).

Segundo o mesmo autor, no período escolar, Piaget parece ter sido mais exato do

que qualquer outra pessoa, o que se observa em crianças entre seis e doze anos é o uso de

tipos mais complexos de análise e estratégia, elas são capazes de refletir sobre como

aprendem e lembram das coisas. O processo desenvolvimental agora aparenta ser muito

mais gradual, e é muito mais afetado pelas experiências que a criança vivencia. Assim,

embora todo esse processo seja gradual, o efeito do conhecimento específico mais as

experiências da criança resultam nas diferentes estratégias cognitivas utilizadas e não em

uma mudança significativa de um estágio. Inicia-se agora, um aprimoramento da cognição

baseado em suas experiências.

Para Mussen (1995), o aprimoramento lingüístico e cognitivo das crianças,

juntamente com as regras de sua cultura, permite a aquisição de conceitos sobre as

emoções. Aproximadamente aos dois anos, muitas crianças já possuem vocabulário para

descrever algumas emoções básicas, como por exemplo, quando a criança verbaliza que

está contente, ou está com medo. Aos cinco anos a criança já consegue diferenciar as

emoções entre suas categorias amplas, positivas e negativas, como feliz, triste e irritado.

Com o passar do tempo, as crianças começam a entender que a origem dos

sentimentos pode ser interna e também depender de situações. Dessa forma, elas sabem

que lembranças podem evocar sentimentos e que as causas desses sentimentos podem

durar um tempo, como exemplo, o caso de um garoto que sabe que sua mãe está irritada

desde a manhã, pois perdeu dinheiro no mercado de ações (MUSSEN, 1995).

Ainda segundo o referido autor, a partir dos seis ou sete anos, a criança passa a

entender que sentimentos múltiplos e conflitantes podem ocorrer juntos, porém ainda não

está clara essa mistura entre emoções positivas e negativas. Somente entre nove e dez anos

as crianças conseguem articular a ambivalência entre as emoções positivas e negativas,

como amor e ódio dentro de um mesmo contexto. Com o passar da idade, as crianças

passam a entender cada vez mais que os sentimentos reais, algumas vezes, não condizem

com as expressões observáveis. Porém Bretherton (apud MUSSEN, 1995) afirma que já se

podem observar comportamentos em crianças de dois anos, de “fingimento” que, de

maneira rudimentar, demonstram emoções que não estão sentindo.

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É importante ressaltar, que este capítulo serve apenas para ilustrar as etapas do

desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, nas diferentes fases da sua vida. Assim

as discussões finais não iram enfatizar de maneira exaustiva o referido assunto.

Após discorrer sobre esse tema, entende-se importante compreender brevemente as

principais formas de aprendizagem encontradas na abordagem comportamental, já que

pretende-se utilizar como base neste trabalho a visão da referida teoria.

3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL

No decorrer dos anos, alguns estudiosos foram construindo a teoria

comportamental. Ivan Pavlov foi quem descobriu o condicionamento clássico e baseado

nos estudos de Thorndike, Skinner desenvolveu o condicionamento operante.

A terapia comportamental constituiu-se fundamentada em diversas posições

teóricas. É uma das primeiras teorias a priorizar a aprendizagem na construção da

personalidade dos indivíduos. (SHINOHARA, 1999 e BARCELLOS; HAYDU, 1998).

Para uma melhor compreensão das formas de aprendizagem da teoria

comportamental pretende-se abordar brevemente a construção do condicionamento

pavloviano, condicionamento operante, a modelação e o comportamento verbal (ou

regras).

3.3.1 Condicionamento Pavloviano

O fisiologista russo Ivan Pavlov, em seus estudos com cães foi quem descobriu o

condicionamento clássico ou condicionamento respondente, também conhecido como

condicionamento pavloviano, que “ocorre quando um estímulo neutro é emparelhado com

um reflexo e eventualmente se torna capaz de eliciar respostas reflexas” (BALDWIN;

BALDWIN, 1986, p. 1).

Pavlov começou estudando o sistema digestivo de cães, porém começou a perceber

que suas pesquisas estavam retrocedendo, já que sua meta era determinar o tempo que os

animais levavam para secretar sucos digestivos após a alimentação, no entanto esse tempo

não era constante. O pesquisador percebeu que com o passar do tempo, os cães salivavam

ao ver a comida, depois salivavam ao ver o cientista entrar na sala (WOOLFOLK, 2000).

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Assim Pavlov resolveu modificar seus estudos e verificar as interferências na sua

pesquisa. Ele passou a disparar uma sirene ao alimentar o cão, com o passar do tempo o

cachorro começou a salivar apenas ao ouvir o som da sirene. Dessa forma Pavlov

demonstrou que o som da sirene (um estímulo neutro), o alimento (um estímulo não

condicionado) e a salivação (uma resposta não condicionada) ao serem emparelhados, ou

seja, relacionados entre si, poderiam desencadear respostas reflexas no cão. Agora, o som

passa a ser um estímulo condicionado e o salivar passa a ser uma resposta condicionada,

pois estão relacionados com o ato de se alimentar. De maneira sucinta pode-se entender

que um estímulo condicionado evoca uma resposta emocional ou fisiológica após o

condicionamento e a resposta torna-se condicionada ao ser relacionada com um estímulo

anteriormente neutro (WOOLFOLK, 2000).

Outros três processos foram identificados por Pavlov no condicionamento, a

generalização, a discriminação e a extinção. Na generalização, o indivíduo passa a

responder da mesma forma a estímulos semelhantes, na discriminação, passa a responder

de modo diferente a estímulos semelhantes, porém não iguais, e na extinção, passa a não

responder, pois o estímulo condicionado não é mais apresentado juntamente com o

estímulo não condicionado, assim a resposta condicionada tende a desaparecer

gradualmente (WOOLFOLK, 2000).

3.3.2 Condicionamento Operante

Para compreender mais sobre o comportamento humano, Skinner, influenciado

com as idéias de Thorndike, desenvolveu a teoria do condicionamento operante.

Em suas experiências com animais, Thorndike colocou gatos em caixas, que as

denominou de caixa-problema, os gatos descobriram uma forma de abrir essas caixas para

alcançar a comida que estava do lado de fora, assim, passaram a repetir o movimento

sempre que eram trancados nas mesmas. A partir desse experimento, formulou-se uma

teoria chamada lei do efeito, que afirmava que qualquer ação que produza um efeito

satisfatório para quem o executa será repetida posteriormente (WOOLFOLK, 2000).

Skinner adotou o associacionismo de Thorndike como base em suas formulações

psicológicas do comportamento, às quais são marcadas pela preocupação com a

aprendizagem. A lei do efeito é apropriada por Skinner para definir o comportamento

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operante, que é constituído por associações estímulo-reforço às respostas de um sujeito

(FADIMAN; FRAGER, 1986).

Para Baldwin e Baldwin (1986, p.1), os princípios do condicionamento operante

podem ser entendidos a partir da seguinte formula, “A:R → C”, onde (A) refere-se a um

estímulo (que tanto pode ser ambiental como vindos do próprio corpo, como por exemplo

uma emoção) que abre possibilidades para que uma resposta aconteça (R), ou seja, um

comportamento emitido pelo indivíduo, e (C) refere-se às conseqüências do

comportamento. Sendo que, esse último elemento dita se o comportamento irá se tornar

mais freqüente ou não. “As conseqüências que fazem um comportamento se tornar mais

freqüentes são chamados de reforçadores e as conseqüências que fazem um

comportamento se tornar menos freqüente são chamados de punidores”.

A interrupção de qualquer reforçamento (seja positivo ou negativo) que esteja

mantendo um comportamento é conhecido como extinção (BALDWIN; BALDWIN,

1986).

3.3.3 Modelação

Quando uma pessoa observa o comportamento de outra, ela poderá vir futuramente

a se comportar da mesma forma, assim o comportamento do modelo pode modificar o

comportamento do observador. Esse fenômeno é conhecido como modelação (BALDWIN;

BALDWIN, 1986).

Existem três principais tipos de efeitos modeladores: aprendizagem vicariante,

efeitos inibidores e desinibidores e os efeitos de facilitação da resposta. A aprendizagem

vicariante consiste em aprender (ou tentar imitar) um comportamento novo, que o sujeito

nunca tenha feito antes, pela observação. O efeito inibidor consiste na punição do modelo,

fazendo com que o observador não repita o mesmo comportamento e o efeito desinibidor

acontece quando o modelo recebe reforçadores por seu comportamento, isso faz com que

tanto o observador como o modelo sejam influenciados a repetir o mesmo comportamento.

Os efeitos facilitadores ocorrem quando o comportamento de uma pessoa facilita que a

outra faça a mesma coisa, esses efeitos “não envolvem nova aprendizagem (efeito

modelador 1) nem produzem efeitos duradouros que aumentam ou diminuem de

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performances futuras do antigo comportamento (efeito modelador 2)” (BALDWIN;

BALDWIN, 1986, p. 3).

Para que uma pessoa possa desempenhar um comportamento aprendido por

modelação, é necessária a aquisição desse comportamento. Muitas vezes a resposta é

adquirida, porém nunca é realizada, um exemplo, são os vários modelos de violência e

crimes que são aprendidos através do modelo da TV. Existem alguns fatores que fazem

com que o sujeito adquira informações sobre o comportamento de um modelo: quando o

comportamento do modelo produz conseqüências reforçadoras, quando o observador se

identifica com o modelo, quando apenas observar o modelo seja um reforçador, quando o

comportamento do modelo é fácil de ser realizado, quando as habilidades do modelo são

semelhantes da do observador (BALDWIN; BALDWIN, 1986).

3.3.4 Regras

Segundo Baum (1999), tanto o comportamento quanto o pensamento dos

indivíduos é controlado por regras. Baldwin e Baldwin (1986) definem regras como sendo

uma forma de aprendizagem através da linguagem verbal, como por exemplo, instruções,

sugestões, indicações, que ensinam formas de lidar com diversas situações.

Quando uma criança está aprendendo a compreender palavras e a ensaiar sua fala,

ela já consegue obedecer a regras. Tanto a linguagem falada como a escrita, são

necessárias para a aquisição das mesmas (BALDWIN; BALDWIN, 1986).

Baldwin e Baldwin (1986, p. 2), dizem que “uma pessoa aprende a seguir regras

quando o comportamento de segui-las leva ao reforçamento”, e que, quando o uso da regra

leva a punição, o indivíduo tende a se comportar de maneira oposta a ela.

Regras podem ser dadas de forma explícita ou implícita. Baldwin e Baldwin (1986)

demonstram esses dois tipos de fornecer regras, através do exemplo de uma criança,

quando sua mãe lhe ordena, arrume a mesa, provavelmente a mãe da criança não terá

resultados satisfatórios, porém se ela disser, coloque os guardanapos desse jeito, a criança

o fará de maneira correta.

À medida que as pessoas vão adquirindo experiência, elas conseguem emitir

comportamentos sem a necessidade de receber instruções claras (explícitas). Baum (1999,

p. 155) sugere que “a criança que cresce em determinada cultura pode aprender a obedecer

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algumas de suas regras sem que seja explicitamente instruída a fazê-lo”. Segundo Simon

(1990 apud BAUM, 1999, p. 155), se não fosse pela capacidade de generalizar regras

“nunca nos tornaríamos aculturados”. Assim, regras são formas mais superficiais de

aprendizagem, que se constroem dentro de uma cultura, em comparação com os

condicionamentos, que são formas de aprendizagens mais duradouras.

A partir da compreensão da abordagem comportamental, pode-se entender mais

facilmente sobre as características da depressão, já que parte-se do pressuposto que essa é

fruto das aprendizagens do indivíduo.

3.5 DEPRESSÃO

Um dos problemas mais atuais encontrado pelos profissionais da saúde mental é a

depressão. A terapia cognitivo-comportamental é considerada uma das abordagens de curto

prazo que apresentam maiores resultados no tratamento (BARLOW, 1999), baseados em

causas ambientais e orgânicas.

De maneira sucinta, pode-se entender por depressão os quadros que apresentam,

segundo o DSM IV, as seguintes características4:

1. Humor deprimido ou irritável;

2. Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos;

3. Perda ou ganho significativo de peso, ou diminuição ou aumento de apetite;

4. Insônia ou hipersonia;

5. Agitação ou retardo psicomotor;

6. Fadiga ou perda de energia;

7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;

8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão;

9. Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida, tentativa ou plano suicida.

Para Hunziker (1997) a visão comportamental procura caracterizar a depressão de

forma objetiva, três pontos são levantados de forma correlacional, para melhor explicar o

modelo: a falta de reforçadores, a extinção e o desamparo aprendido.

4 Fonte: DSM-IV, 2002.

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Com relação ao primeiro ponto (falta de reforçadores), ao comparar uma pessoa

sem depressão com uma deprimida, percebe-se que o repertório do segundo sujeito

encontra-se com uma baixa freqüência de respostas, principalmente as que geram

reforçadores. Hunziker (1997) diz que através da história pessoal do indivíduo, que só

pode ser acessada de forma indireta por meio de relatos verbais, pode-se compreender as

funções exercidas pelo ambiente que são responsáveis pelo comportamento atual. Assim “a

pessoa deprimida sofre basicamente, da falta de reforçadores” (FERSTER, 1973 apud

HUNZIKER, 1997, p. 142).

É importante ressaltar que o modelo comportamental leva em consideração fatores

orgânicos envolvidos na patologia depressão. Por mais que a análise seja feita sobre as

contingências do ambiente, alterações orgânicas também são identificadas em pessoas com

depressão. Dessa forma, mudanças no sistema de neurotransmissão de noradrenalina,

serotonina, dopamina entre outros, podem justificar a falta de reforçadores, já que a

sensibilidade a esses é mediada pelos neurotransmissores citados anteriormente. Assim,

quando ocorre uma falha na neurotransmissão, conseqüentemente ocorre uma diminuição

na quantidade de reforçadores. Em suma, “a identificação das disfunções bioquímicas

relacionadas com a depressão pode ser útil por ter um nível de análise que permite

intervenções biológicas, mas não modificam o fato crítico de que a depressão é falta de

reforçadores”. Além do que, algumas vezes as alterações orgânicas podem ser

conseqüências (causa secundária) das interações do sujeito com o ambiente (HUNZIKER,

1997, p. 143).

O segundo ponto, a extinção, refere-se “a interrupção do reforçamento para

respostas que anteriormente produziam reforçadores” (FERSTER, 1973 apud HUNZIKER,

1997, p. 144). Isso pode ocorrer devido a alterações no ambiente, tais como, perda do

emprego, separação conjugal, etc. Com essas mudanças, o indivíduo não consegue se

readaptar ao novo ambiente, fazendo com que suas respostas não sejam mais reforçadas,

ocasionando assim a extinção e conseqüentemente a depressão (HUNZIKER, 2005).

O desamparo aprendido, terceiro ponto do modelo comportamental, propõe que

“algumas circunstâncias podem ensinar ao indivíduo que seu ambiente mudou e que, de

uma forma generalizada, reforçamentos não serão mais disponíveis: conseqüentemente, ele

deixa de emitir respostas frente a novas situações, mesmo sem experimentar a extinção”. O

desamparo aprendido pode estar relacionado a fatos aversivos, traumáticos. Isso faz com

que a pessoa aprenda que os aspectos do ambiente não estão sob seu controle, dessa forma,

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ela passará a não atuar sobre seu meio, irá emitir menos respostas e conseguintemente será

menos reforçada (HUNZIKER, 1997, p. 144).

Apresentado o referencial teórico, faz-se necessário a articulação dos assuntos

ilustrados para o alcance do objetivo principal.

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4. RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E DEPRESSÃO SEGUNDO A ABORDAGEM

COMPOTAMENTAL

Segundo Andrey e Sério (1999, p. 434) “O homem é um ser histórico e social em

contínuo processo de satisfação de suas necessidades”. Partindo de uma análise behavorista

(comportamental) de homem, os autores enfatizam que nesse processo de busca e criação

de necessidades, alguns homens tornam-se mais refinados em suas atitudes, outros partem

para a agressão, “[...] este processo expressa as contradições do momento histórico

vivido”. Dessa forma os autores concluem que:

Estes pressupostos nos impedem de olhar a violência como simplesmente

um aspecto da vida dos homens [...]. Isto significa que não olharemos para a

violência como algo em si, à parte, em separado, mas que ao olharmos para a

violência, estamos falando do comportamento humano, ou seja, de relações entre

os homens. Ao discutir a violência, na realidade, estamos analisando o homem

que está sendo produzido e em que condições esse homem está sendo produzido

[...] (ANDREY; SÉRIO, 1999, p. 435).

Esclarecido como o comportamentalismo concebe o fenômeno da violência, resta

explicar o que a teoria entende por violência. Como a proposta deste trabalho é relacionar a

violência com depressão em crianças, a presente autora desse estudo irá realizar as

discussões a luz da referida teoria.

Entende-se violência, como sinônimo de coerção. Quando uma criança está em

contato com um ambiente de violência, segundo a teoria comportamental, ela está sob a

influência de um controle aversivo (ou coerção). Pode-se entender que o controle aversivo

nada mais é do à alteração da freqüência do comportamento empregando o reforço

negativo (fuga e esquiva) e a punição (positiva e negativa) (MOREIRA; MEDEIROS,

2007). Ou seja, coerção (ou controle aversivo) é o “[...] uso da punição e da ameaça de

punição para conseguir que os outros ajam como nós gostaríamos” (SIDMAM, 1995, p.

17).

A teoria comportamental é uma teoria que prioriza a aprendizagem na construção

da personalidade dos indivíduos e da atenção ao impacto do pensamento sobre o afeto, o

comportamento e o ambiente (SHINOHARA, 1999 e BARCELLOS; HAYDU, 1998). As

principais formas de aprendizagem são as regras, a modelação, o condicionamento

pavloviano e o condicionamento operante. É neste último que um comportamento emitido

pelo indivíduo irá gerar conseqüências (A:R → C). Sendo que, as conseqüências iram ditar

se o comportamento irá se tornar mais freqüente ou não. “As conseqüências que fazem um

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comportamento se tornar mais freqüentes são chamados de reforçadores e as

conseqüências que fazem um comportamento se tornar menos freqüentes são chamados de

punidores” (BALDWIN; BALDWIN, 1986, p. 01).

Conseqüentemente o que diminui a freqüência do comportamento é entendido

como um estímulo aversivo. Algumas vezes um estímulo pode se tornar reforçador para

uma pessoa e aversivo para outra. Porém, o reforço não necessariamente é o ganho de algo

bom, ele também pode ser a retirada de um estímulo ruim do meio (MOREIRA;

MEDEIROS, 2007). Sidmam (1995, p. 50) reforça afirmando que “o que fazemos é

fortemente controlado pelo que acontece a seguir – pelas conseqüências da ação [...] as

conseqüências controlam comportamentos”.

Dentro do condicionamento operante é que se encontram o reforço negativo e a

punição. No caso do reforço negativo, a freqüência do comportamento aumenta, o que é

considerado um reforço, que se torna negativo, pois o indivíduo se livra de algo ruim (um

estímulo aversivo) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Segundo Sidmam (1995, p. 51)

existem duas características observáveis do reforçamento, que são: “um reforçador deve

seguir uma ação”, e o segundo, “um reforçador deve fazer com que essa ação seja repetida

ou ocorra mais freqüentemente”. Alguns exemplos de reforço negativo referentes à

violência contra a criança são: realizar tarefas domésticas, pois já foram agredidas por não

as realizarem; o desenvolvimento de quadros de enurese, a criança faz xixi na calça para se

livrar do castigo.

Dentro do reforço negativo existem dois tipos de comportamentos: a fuga e a

esquiva. A fuga é sempre a primeira a ser aprendida, já que nela adquire-se um

comportamento para se livrar de um estímulo aversivo que se encontra presente no

ambiente. Um exemplo de fuga: fingir que desmaiou com as pancadas que está levando.

Na esquiva emite-se um comportamento para se livrar de um estímulo que ainda não está

presente no meio. Um exemplo de esquiva é manter o quarto limpo para não ser surrado

(MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

De forma sucinta:

[...] denominamos comportamento de fuga aqueles em que um estímulo aversivo

está presente no ambiente no momento em que o comportamento é emitido e em

que a conseqüência produzida por ele é a retirada do estímulo aversivo do

ambiente. Chamamos comportamento de esquiva aqueles em que um estímulo

aversivo não está presente no ambiente no momento em que o comportamento é

emitido, e sua conseqüência é o atraso ou o cancelamento do contato com o

estímulo aversivo [...] (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 69).

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Na punição, o intuito é eliminar comportamentos inadequados, ou seja, na punição,

a possibilidade de ocorrência do comportamento diminui devido as conseqüências ruins.

Ela pode ser positiva, na qual ocorre o acréscimo de um estímulo aversivo no meio, ou

negativa, na qual se retira um estímulo reforçador do meio. Ambos têm como

conseqüência a diminuição do comportamento, seja por apresentação de um estímulo ruim

(punição positiva), seja pela retirada de um estímulo bom do meio (punição negativa)

(MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Um exemplo de punição positiva é jogar bola dentro de casa, ser castigado, isso

pode diminuir o comportamento de não brincar dentro de casa. E punição negativa seria

fazer bagunça em casa quando brinca com os colegas e ser proibido de brincar com os

amigos.

Quando a contingência de punição é retirada, espera-se que a criança volte a emitir

os comportamentos anteriormente suprimidos pela punição, porém para isso é necessário

que o reforço volte, seja mantido e a criança volte a se expor novamente a contingência.

Dessa forma, se a criança não se arriscar a brincar novamente com os colegas, segundo

Skinner esse comportamento não voltará a ocorrer. Outro ponto importante é que a criança

precisa perceber que o contexto foi modificado, ou seja “o estímulo punidor não é mais

contingente ao comportamento (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Segundo Maciel e Cruz (2009), existem três sistemas relacionados à violência

familiar. Os autores supracitados demonstram através de um modelo ecológico, os

diferentes sistemas em que a criança vive: o macrosistema, o exosistema e o microsistema

(figura 1).

Figura 1 – Modelo ecológico aplicado a violência familiar

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No macrosistema encontram-se as relações mais distantes da criança, porém

possuem impacto na sua vida. Nesse sistema estão as relações desenvolvidas com a

cultura, baseada nas crenças culturais associadas ao problema da violência familiar e do

modo como são compreendidas e repassadas essas crenças ao longo das relações familiares

(CORSI, 2004). Maciel e Cruz (2009) relacionam esse modelo de estrutura familiar,

baseada no poder de forma vertical, nas quais as noções de cidadania se compõem ao

problema da violência social.

Associando a teoria comportamental com o macrosistema, pode-se dizer que a

ênfase maior de aprendizagem nesse modelo são as regras. É a partir do comportamento

verbal que determinadas culturas, passam a aprender os valores, as crenças e os

comportamentos adequados para o meio social. Skinner (1998) afirma que regras são

estímulos verbais que descrevem contingências, funcionando como estímulos

discriminativos capazes de controlar o comportamento (verbal ou não) do ouvinte.

Comportamentos controlados por esse tipo de aprendizagem são chamados de “governado

por regras” (SKINNER, 1998).

O exosistema caracteriza-se pelas relações com as instituições, como as educativas,

religiosas, recreativas. Maciel e Cruz (2009, p. 100) orientam afirmando que se trata de

“relações que as pessoas estabelecem, mas que não estão intimamente ligadas a ela”. A

produção de violência nesse sistema dá-se devido ao formato de poder verticalizado criado

pelo macrosistema, onde as instituições acabam por utilizar formas violentas de resolver

seus problemas, tornando-se um reflexo das crenças culturais que estão enraizadas.

Segundo Corsi (2004) a violência cometida pelas instituições sociais torna-se um meio de

aprendizagem de condutas violentas a nível individual. Os meios de comunicação de

massa, para Corsi (2004) são elementos poderosos de transmissão de modelos violentos no

exosistema. Maciel e Cruz (2009, p. 100) consideram que:

A inoperância das instituições sociais, a carência de mecanismos eficazes que

caracterizem a violência na família como condutas socialmente puníveis aliadas

ao fracasso no combate às formas violentas de resolução de problemas sociais

também são importantes fatores de risco que devem ser considerados como

pertencentes ao nível exosistêmico, mas que têm forte influência no nível

microsistemico [...].

Dentro do exosistema encontram-se a violência institucionalizada, que possui

relação direta com o poder, a violência anômica, pautada nas massas e nas diferentes

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formas de manifestações em detrimento as muitas ilegalidades cometidas pelo poder. Por

fim a violência banal, corriqueira, porém fortemente explicita pelos meios de comunicação.

As formas de aprendizagem características, segundo a teoria comportamental, para

as violências encontradas no exosistema estão relacionadas com a modelação, outros tipos

de aprendizagem também estão relacionados com o exosistema, mas a ênfase maior é para

a modelação. É comum o ser humano observar outras pessoas, como agem e como se

comportam diante do que acontece no meio em que vivem. Somos afetados por modelos

sociais, como amigos familiares, modelos de televisão, jornais e revistas. Segundo Bandura

(1979, p. 69) “um dos modos fundamentais pelos quais novos tipos de comportamento são

adquiridos e padrões existentes são modificados envolve modelação e processos vicários”.

É através da aprendizagem vicariante que muitas pessoas passam a imitar modelos

que assistem na televisão. Ao assistirem a impunidade, os efeitos facilitadores promovem a

repetição do mesmo comportamento do modelo, muitos passam a praticar os mesmos atos,

pois o modelo é reforçado a roubar, matar e a violentar.

O microsistema é composto pela família, onde as relações parentais, a interação

entre os membros e as histórias individuais de cada elemento irá contextualizar as relações

de violência que podem se construir dentro do âmbito familiar. As famílias que possuem

características violentas apresentam modelos ditados pela cultura em que estão inseridos,

pelas crenças, pelas relações de autoritarismo e que apresentam um histórico de violência

anterior (MACIEL; CRUZ, 2009). “Numa relação de aprendizagem familiar, não

conseguem distinguir o ato violento do ato disciplinador e os usa para os mesmos fins”

(MACIEL; CRUZ, 2009, p. 101).

Com base no modelo ecológico ilustrado, percebe-se que a criança pode sofrer

violência em todos os sistemas, porém como o microsistema é um reflexo dos outros dois

sistemas e, é onde a criança está mais próxima e ativa, é justamente na família, onde a

criança se desenvolve e que na maior parte das vezes começa a sofrer os primeiros atos

violentos.

Tanto o condicionamento pavloviano como o operante recebem destaque com

relação às aprendizagens no microsistema. No primeiro condicionamento, um estímulo

neutro quando emparelhado com um reflexo (fisiológico) gera respostas reflexas. Por

exemplo, a criança submetida a situações severas de violência pode desenvolver respostas

fisiológicas, como taquicardia. Assim, sempre que presenciar episódios violentos as

respostas reflexas (a taquicardia nesse caso) iram surgir. No segundo condicionamento, um

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estímulo (que tanto pode ser ambiental como vindo da própria pessoa) gera uma

conseqüência. Uma criança que desobedece aos pais é castigada, de modo que após essa

conseqüência passa a respeitar e obedecer às ordens que recebe. Esses dois tipos de

condicionamentos são aprendizagens que se desenvolvem com relações próximas e

recorrentes, como no microsistema. Conforme exemplificado anteriormente, a violência é

muito utilizada para controlar comportamentos indesejados.

Segundo Ramires; Passarini e Santos (2009, p. 214), “a violência doméstica tem um

grande impacto em todas as esferas do desenvolvimento da criança [...], podendo atingir as

dimensões afetiva, cognitiva, social, física e neurológica [...]”. Com isso concluem que

“crianças que vivenciam atos violentos cotidianamente podem desenvolver uma

dessensibilização emocional à violência, passando a perceba-la como um componente

normal da realidade” (RAMIRES; PASSARINI; SANTOS, 2009, p. 214).

Pode-se considerar que a violência é um método eficiente de aumentar ou diminuir

o comportamento de maneira rápida, porém, segundo Moreira e Medeiros (2007), existem

alguns “efeitos colaterais” do controle aversivo:

1) Eliciação de respostas emocionais: quando uma criança entra em contato com o

estímulo aversivo ela pode desencadear várias respostas emocionais como tremores,

taquicardia, palpitações, choro etc.

2) Supressão de outros comportamentos além do punido: “outros comportamentos

que estiverem ocorrendo temporalmente próximos ao momento da punição podem ter sua

freqüência reduzida” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p 76). Por exemplo: uma criança,

que é punida pela manhã porque não arruma seu quarto pode passar a não gostar de ir a

aula, já que é castigada próximo ao horário de sair para a escola.

3) Emissão de respostas incompatíveis ao comportamento punido: quando um

comportamento é punido, a pessoa passa a emitir um outro comportamento com o intuito

de que o inicial punido não se repita, isso faz com que se torne de difícil compreensão para

a pessoa discriminar que a contingência de punição não está mais acontecendo, já que ela

impede que o organismo se exponha à contingência novamente.

4) Contracontrole: aqui o organismo controlado emite uma nova resposta que

impede que o agente controlador mantenha o controle sobre seu comportamento. No caso

da punição, garante-se que o comportamento punido continue a ocorrer sem entrar em

contato com o agente punidor. A mentira é uma forma de contracontrole, de modo que,

afim de evitar entrar em contato com o estímulo aversivo, a criança pode inventar uma dor

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de cabeça para não ir à escola, já que não fez os deveres de casa. Futuramente a criança

pode vir a assumir um papel de marginalizada, uma vez que passa a generalizar a mentira e

a cometer pequenos delitos como forma de contracontrole.

Com relação aos efeitos colaterais referentes ao controle aversivo, a questão que

fica é, “por que esse é o método mais utilizado para controlar o comportamento?”

(MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 79) Segundo o autor, a resposta se divide em três

pontos: 1) Imediaticidade da conseqüência; 2) Eficácia não depende da privação, “ou seja,

uma palmada será eficaz para punir ou reforçar negativamente o comportamento de uma

criança em qualquer situação”; 3) Facilidade no arranjo das contingências, é mais fácil e

rápido punir do que organizar e controlar o comportamento por reforço positivo

(MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 79)

A criança está sob controle aversivo quando exposta à violência, uma importante

forma de violência cometida contra a criança é a interna ou a intrafamilar. Existem quatro

principais formas de se cometer o ato de agressão, que são: física, sexual, psicológica e a

negligência. Pode-se constatar que ocorre uma mudança de conduta da criança frente aos

abusos cometidos contra ela, na qual a depressão se manifesta como uma das possíveis

mudanças do comportamento diante da violência. O quadro a seguir ilustra os tipos de

violência praticados no contexto familiar, bem como suas manifestações e as

conseqüências à saúde baseados nas articulações entre os três sistemas macro, exo e

microsistêmico juntamente com os indicadores de violência intrafamiliar, fornecidos pela

National Center on Child Abuse and Neglect (1997 apud MACIEL; CRUZ, 2009):

Tabela 1: Tipos de violência, formas de manifestações, conseqüências psicológicas na

criança

Tipos de

Violência Formas Conseqüências psicológicas

Física Ativa Comportamento agressivo/bulliyng, depressão,

ansiedade.

Sexual Ativa Depressão, ansiedade, comportamento sexualizado

incompatível para a idade, alterações cognitivas.

Psicológico Passiva Depressão, medo, desajuste social, fobias.

Negligência Passiva Timidez, baixa auto-estima.

FONTE: Maciel e Cruz (2009).

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Observa-se que dentre os quatros tipos de violência cometida contra a criança, em

três delas, uma das conseqüências é a depressão. Sendo que a baixa auto-estima,

encontrada como conseqüência da negligência, pode desencadear depressão a longo prazo.

A depressão por sua vez caracteriza-se, segundo a teoria comportamental, pelo

desamparo aprendido, pela ausência de reforçadores e pela extinção de comportamentos

sem outras alternativas.

Com relação ao desamparo aprendido, a criança em um ambiente de violência está

exposta a situações de incontrolabilidade, “que é caracterizada por uma relação de

independência entre eventos programados e o comportamento do organismo” (SANABIO-

HECK; MOTTA, 2005, p. 82), ou seja, a criança, muitas vezes, por mais que se comporte

bem, realize todas as suas tarefas, acaba recebendo punição do meio social, a violência.

Dessa forma, o comportamento da criança não está relacionado com as conseqüências do

mesmo, por mais que ela mude seu repertório de comportamentos, a punição não se altera.

Maier e Seligman (1976 apud SANABIO-HECK; MOTTA, 2005) propuseram para

explicar os efeitos a incontrolabilidade, a teoria do desamparo aprendido. Sanabio-Heck e

Motta (2005, p. 82) explicam que a idéia central do desamparo aprendido “é que os

organismos expostos a eventos incontroláveis aprendem que os eventos ambientais são

independentes de suas respostas, uma aprendizagem que irá interferir na aquisição de

novos desempenhos”.

O desamparo aprendido passa por duas etapas, sendo que na primeira, os arranjos

entre o meio e o comportamento emitido fornecem uma informação sobre a relação de

independência. Na segunda etapa, a informação sobre a relação de independência é

“processada e transformada em uma representação cognitiva da contingência” (MAIER;

SELIGMAN, 1976, p. 17 apud SANABIO-HECK; MOTTA, 2005). Esta representação é

entendida como se a resposta comportamental fosse independente dos eventos ambientais.

Em decorrência disso, a criança pode apresentar três tipos de déficits: motivacional, onde

ocorre a diminuição da motivação para emitir respostas, déficit cognitivo, que interfere na

aprendizagem de relações de controlabilidade, e déficit emocional, que gera alterações

fisiológicas como perda de peso, perda de apetite, aparecimentos de úlceras estomacais e

passividade (SANABIO-HECK; MOTTA, 2005).

Para se verificar a interação da criança com o meio, é muito importante a

identificação das relações entre as respostas da mesma e os eventos que ocorrem em seu

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meio físico e social (FERSTER, 1973). Constata-se que um meio sem reforçadores como o

violento pode desencadear comportamentos depressivos na criança.

A falta de reforçadores caracteriza-se pelo baixo repertório de respostas

comportamentais frente ao meio que pode gerar medo, angustia, tristeza, pessimismo, etc.

(HUNZIKER, 1997). O repertório de uma criança deprimida apresenta uma baixa

freqüência de respostas, principalmente daquelas que geravam reforçadores. Com a

diminuição de reforçadores, os comportamentos anteriormente reforçados entram em

extinção. Segundo Ferster (1973 apud HUNZIKER, 1997) um dos fatores principais da

depressão é a extinção, que é a interrupção do reforçamento que anteriormente produziam

reforçadores. Como exemplo, um lar que com o passar do tempo vai se tornando cada vez

mais violento.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como principal objetivo relacionar a violência com a depressão em

crianças, segundo a abordagem comportamental. Para isto, buscou-se trabalhar nos

objetivos específicos os diferentes tipos de violência encontrados nos diferentes contextos;

o desenvolvimento cognitivo e emocional na infância; as principais formas de

aprendizagem encontradas na teoria comportamental e por fim verificou-se o modelo

comportamental da depressão.

Existem cinco principais tipos de violência, a institucionalizada, a violência

anômica, a violência banal e a violência interna. Sendo que nesta última encontra-se a

violência intrafamiliar, que se subdivide em violência física, sexual, psicológica e

negligência.

Com relação ao desenvolvimento cognitivo e emocional na infância, Bee (1996)

afirma que, este é produto da interação entre a natureza e o meio ambiente. Sendo que,

alguns padrões temperamentais são herdados, porém, com o tempo, podem ser modificados

pelas relações sociais, estilos e cuidados prestados pelos responsáveis da criança.

A teoria comportamental prioriza a aprendizagem na construção da personalidade

dos indivíduos (SHINOHARA, 1999 e BARCELLOS; HAYDU, 1998). No qual, o

condicionamento operante, o condicionamento pavloviano, a modelação e as regras as

principais formas de aprendizagens.

Na depressão, Hunziker (1997) afirma que a visão comportamental articula três

pontos, para melhor explicar o modelo: a falta de reforçadores, a extinção e o desamparo

aprendido.

O comportamentalismo considera que a violência está relacionada com a

construção social dos homens. Entende-se violência, como sinônimo de coerção, ou seja, o

controle aversivo (ou coerção) nada mais é do à alteração da freqüência do comportamento

empregando o reforço negativo (fuga e esquiva) e a punição (positiva e negativa)

(MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Baseado no modelo ecológico de Maciel e Cruz (2009) considerou-se que, o meio

em que a criança está presente subdivide-se em três áreas o macrosistema, exosistema e

microsistema. As aprendizagens, com maior ênfase, relacionadas a cada área são

respectivamente: as regras, a modelação e os condicionamentos, operante e pavloviano. Os

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tipos de violência encontrados são: a violência institucionalizada, a anômica e a banal no

exosistema e a violência interna no microsistema.

A criança é um ser vulnerável a vivenciar subseqüentes ou simultâneos episódios

violentos, em ambientes diferentes. Elas dependem de seus responsáveis, sendo estes

muitas vezes, os próprios agressores. Constata-se que, independente do meio em que a

criança está inserida, um lugar violento é um ambiente sem muitos reforçadores, e com

muitos agentes punidores.

Percebe-se que ocorre uma mudança de conduta da criança frente aos abusos

cometidos contra ela, na qual a depressão se manifesta como uma das possíveis mudanças

do comportamento diante da violência. A coerção é um método eficiente de controlar

comportamentos de maneira rápida, porém umas das conseqüências é o desenvolvimento

de quadros depressivos.

Levando em consideração as limitações de um trabalho acadêmico, os assuntos aqui

abordados não foram trabalhados de forma exaustiva. Existiu uma preocupação em manter

o estudo dentro de uma coerência teórica necessária para um trabalho de conclusão de

curso. Diante do exposto, considera-se que o objetivo principal do trabalho foi alcançado.

Para novas pesquisas sugere-se aprofundar fatores que resguardam a criança, com

ênfase nos amigos e a rede de apoio social, que podem protegê-la tanto das vitimizações

quanto de suas conseqüências. Avanci e colaboradores (2008) ressaltam que “[...] apesar de

ser certo que violências e rejeições prejudicam o desenvolvimento infantil, nem todas as

crianças que vivem em ambientes violentos desenvolvem problemas depressivos [...]”.

Além disso, pouco é conhecido sobre a natureza da vida familiar das crianças que sofrem

muitas vitimizações e dos fatores sociodemográficos (AVANCI, et. al, 2008).

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