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REJU a revista da rede juçara - Volume 3 de 3 - set de 2011 Articulação

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Revista de Rede Juçara (www.redejucara.org.br).

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Articulação

Assessoria de Comunicação:

Catarse - Coletivo de Comunicação

www.coletivocatarse.com.br

Fotos: Gustavo Türck e Têmis NicolaidisTextos e Correção: Gustavo TürckProjeto Gráfico e Diagramação: Têmis Nicolaidis

Impressão: IdeografTiragem: 3.000 exemplares

Jornalista Responsável: Têmis Nicolaidis (Mtb: 13612)

A Rede Juçara é uma articulação de organizações e produtores que trabalham com o uso sustentável da Palmeira Juçara nos estados do RS, SC, SP e RJ. Com o enfoque de destacar o desenvolvimento das cadeias produtivas da polpa dos frutos e das sementes, aliadas à conservação da espécie, tendo como principais protagonistas agricultores familiares e comunidades tradicionais na Mata Atlântica, estruturou-se o Projeto “O Uso Sustentável da Palmeira Juçara como Estratégia para Conservação da Mata Atlântica”, com apoio do Programa PDA – Mata Atlântica, do Ministério do Meio Ambiente, e coordenado pelo Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema).

Nesta edição "Articulação" da REJU, é possível finalizar o raciocínio perpassado tanto pela REJU Comunidade como pela REJU Sustentabilidade - complementando-se também no encarte com o mapa da Rede Juçara - de que um dos principais objetivos alcançados pelo projeto foi o intercâmbio de conhecimentos e experiências que subsidiassem a construção de programas e políticas públicas para o desenvolvimento da cadeia produtiva da polpa de Juçara e conservação da espécie. Para isso, desenvolveu-se em 3 metas, que foram: o levantamento e estudo das legislações ambientais e sanitárias; o diagnóstico e monitoramento dos sistemas e práticas de manejo para fruto; e a construção da identidade do produto polpa a partir do protagonismo social.

A REJU nasce, portanto, neste contexto, e finaliza nesta edição com a contextualização de algumas das articulações da Rede, apresentando, por exemplo, o I Encontro da Rede Juçara, alguns resultados práticos desses mais de 2 anos de trabalho e também trazendo outras frentes de trabalho com a Palmeira Juçara de instituições que passarão, com certeza, a se comunicar mais intensamente com todo este processo em desenvolvimento, trazendo para a Rede realidades encontradas em estados como o Paraná e Minas Gerais - que estiveram fora no primeiro momento de organização da Rede, mas que têm suas próprias iniciativas com a Palmeira Juçara em andamento.

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Realização REDE JUÇARA - www.redejucara.org.br

Componente do Projeto 437 MA – Chamada 5: Projetos em Rede - Programa PDA Mata Atlântica/Ministério do Meio Ambiente

Coordenação geral: Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica - IPEMA

Coordenação regional sul: Ação Nascente Maquiné - ANAMA

Ação Nascente Maquiné - ANAMA; Associação de Desenvolvimento Comunitário do Bairro do Rio Preto; Associação de Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável Guapiruvu - AGUA; Associação de Moradores do Quilombo do Campinho - AMOQC; Associação dos Colonos Ecologistas do Vale do Mampituba - ACEVAM; Associação Papa-Mel de Apicultores de Rolante; Associação para Cultura Meio Ambiente e Cidadania - AKARUI; Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais - CEMEAR; Centro Ecológico; Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo - ESALQ/USP; Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo - FF; Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica - IPEMA; Instituto Socioambiental - ISA; Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Rural Sustentável e Mata Atlântica - DESMA/UFRGS.

Monitoramento

Um trabalho de diagnóstico e monitoramento

REJU - Como que foi executado o trabalho de monitoramento?

LETÍCIA - Para conhecermos um pouco mais sobre o manejo, acompanhamos 21 áreas piloto, sendo 5 no Rio Grande do Sul, 3 em Santa Catarina, 4 no litoral norte de São Paulo, 3 no litoral sul do Rio de Janeiro e 6 no Vale do Ribeira, também em São Paulo. A partir da análise dos resultados foi elaborada uma tipologia de sistemas de manejo. Nas áreas piloto também foram demarcadas parcelas onde foram monitoradas, por monitores locais, pessoas da comunidade, a produção de frutos nas áreas de colheita.

REJU - Qual o tipo de realidade que vocês encontraram nos cultivos de Juçara?

LETÍCIA - A Juçara manejada para a colheita de frutos provém, na sua grande maioria, de sistemas agroflorestais (SAFs) mais ou menos complexos. Só que é difícil enquadrar cada sistema de manejo, com suas especificidades, em “caixinhas” (tipos) fechadas. Existem diversas áreas com características de mais de um tipo.

REJU - Mas vocês conseguiram identificar, mesmo que numa classificação genérica, a produção com a Palmeira Juçara?

LETÍCIA - Sim, claro. Vimos o manejo em bananais, incluindo desde áreas com apenas banana e Juçara e outros em que foram inseridas outras espécies agrícolas e arbóreas. Mas, normalmente, as espécies exploradas comercialmente são mesmo essas duas. O interessante também é que há locais de bananais em que a Juçara é nativa, tendo sido deixada no local quando da derrubada do mato pra fazer a roça. Em outros locais está ocorrendo uma regeneração natural, mas há onde ela tenha sido intencionalmente introduzida. Nos quintais, o manejo da área é mais intenso, onde a Juçara compõe o jardim, atrai a fauna e produz frutos para despolpa. Temos, então, o manejo em SAFs concebidos e implementados intencionalmente, onde muitas vezes a Juçara e/ou a banana são as espécies mais manejas. E, por último, encontramos manejo em capoeiras, que poderiam ser consideradas SAFs de uso tradicional do pousio florestal. Esse sistema conta com grande número de espécies arbóreas, uma menor intensidade de manejo e poucas espécies manejadas. Aliás, muitas vezes é só a Juçara manejada.

REJU – O manejo em capoeira pode ser considerado como o manejo na mata?

LETÍCIA - A gente sabe que ao se manejar uma espécie também se está manejando a paisagem em que ela está inserida. A grande maioria das áreas de capoeira hoje manejadas para a colheita de Juçara foram roças. Devido aos mais diversos motivos, especialmente falta de mão-de-obra e inviabilidade econômica das roças em morros, e sobretudo a legislação ambiental restritiva, esses locais deixaram de ser roças e foram sendo repovoados com espécies nativas através de regeneração natural e/ou da semeadura ou plantio de espécies de interesse do agricultor. Ao longo da “evolução” das capoeiras, as espécies de interesse foram sendo favorecidas por meio da eliminação ou poda de algumas plantas competidoras, por exemplo, transformando essas capoeiras em paisagens “promovidas”. Assim, a gente considera essas áreas de capoeira como sistemas de manejo e não apenas como florestas secundárias em estado médio ou até mesmo avançado de regeneração. Particularmente, no caso da Juçara, não há interesse dos agricultores em impedir o avanço da regeneração das áreas de capoeira. Ou seja, pra eles o mato não atrapalha a colheita da Juçara, mas, sim, precisa ser manejado.

REJU - Quais os principais dados de produção que vocês conseguiram coletar?

LETÍCIA - Olha, a gente acompanhou durante a safra de 2009/2010 a produção dos cachos e da colheita. Foi um monitoramento piloto, com objetivo de testar metodologia e sensibilizar a comunidade acerca da importância de acompanharmos o processo da colheita como um todo. Porém, apesar das dificuldades de execução, limitação de tempo e recurso, os dados obtidos nos mostram evidências muitas vezes observadas a campo. Os dados amostrados em 11 propriedades demonstram que as 455 palmeiras que frutificaram naquela safra, produziram 1.289 cachos (média de 2,8 cachos/palmeira) e destes apenas 175 foram colhidos e aproveitados para a produção de polpa, gerando 291 Kg de frutos que resultaram em, aproximadamente, 146 Kg de polpa. Ou seja, apenas 14% dos cachos produzidos foram aproveitados para colheita. Cabe ressaltar que a safra acompanhada foi atípica em alguns locais, onde diversas palmeiras não frutificaram ou produziram cachos com poucos frutos. Porém o percentual de cachos colhidos em relação ao total de cachos produzidos não ultrapassou 35% em nenhuma propriedade.

REJU - Foram identificados muitos problemas pra justificar a coleta de pouco mais de 1/3 dos cachos?

LETÍCIA - Os agricultores apontaram diversos motivos para esse "não aproveitamento" dos cachos. Uns comentaram que os cachos estavam com maturação desparelha ou tardia, ou com antracnose, com poucos frutos, etc.. Outros indicaram dificuldades com palmeiras muito altas, muito finas ou tortas, em locais perigosos e com muitas bromélias.

REJU - Mesmo assim a produção de polpa vem aumentando, não?

LETÍCIA - Sim. Por apresentar uma importante alternativa de renda pra diversos agricultores, a gente tem presenciado um incremento bem interessante. Em Maquiné, por exemplo, a

A Rede Juçara logrou articular diversas pontas na região da Mata Atlântica através de atividades e metas do projeto "Uso Sustentável da Palmeira Juçara como Estratégia de Conservação da Mata Atlântica". Uma destas foi um processo de diagnóstico e monitoramento integrado dos sistemas e práticas de manejo com a Palmeira Juçara, que teve a sua frente a bióloga Letícia Troian, parte do corpo técnico da ANAMA, desenvolvendo como principal objetivo o levantamento do perfil dos diferentes sistemas de manejo praticados, com a geração de dados sobre a produção de frutos, polpa, sementes. Essa meta foi demandada pelas diferentes organizações que compõem a Rede devido ao escasso conhecimento sobre como a palmeira é manejada nas áreas de abrangência, o estado atual das populações e sua conservação nessas áreas e a quantidade de frutos de Juçara disponíveis para a fauna em locais onde a colheita é praticada. Estes dados são importantes para a formulação de políticas públicas que viabilizem o manejo dessa espécie no âmbito da agricultura familiar.

produção passou de 325,5 Kg em 2007 para 884,2 Kg em 2009. Em Ubatuba, segundo dados do IPEMA, em 2008 foram produzidos 810 Kg de polpa, seguidos de 1.871 em 2009 e 2.150 em 2010. Em Sete Barras, segundo dados da COOPERAGUA, foram produzidos 2.190 Kg de polpa.

REJU – E o que é feito com as sementes após a despolpa?

LETÍCIA - Grande parte das sementes é utilizada, é semeada, doada, utilizada em viveiros e até mesmo vendida. Nós temos alguns dados preliminares disponibilizados por instituições que fazem parte da Rede Juçara que mostram terem sido adensadas e/ou repovoadas com a palmeira cerca de 715 ha com a utilização de mais de 60 mil mudas e mais de 11 toneladas de sementes!

*todos esses dados e muito mais farão parte de um relatório a ser publicado na sua íntegra também no site da Rede Juçara.

1º Encontro da rede jucarai

Um marco para a Rede Juçara: o I Encontro

Gilberto Otta, morador do bairro Guapiruvu, município de Sete Barras, Vale do Ribeira, falou para REJU da importância da formação da Rede em torno desse tema.

Gilberto – Pra nossa comunidade é extrema. Nós já viemos trabalhando com a Juçara desde a década de 1980, começando a distribuir, a plantar, falando pra comunidade que isso poderia ser uma oportunidade pra nós no ponto de vista ambiental e do ponto de vista econômico e sempre presente vinha discutindo com o Estado, com quem representava os órgãos públicos, na tentativa de construir alguma alternativa, alguma opção que fosse importante pra comunidade. Enfim, vivemos um período de 15, 20 anos, desde que eu me conheço por gente, brigando pela Juçara e não conseguimos muita coisa. E no momento que chega a Rede, a gente começa a sonhar. Porque aí há um sentimento coletivo de se resolver este problema. É importante a gente dizer que nesse período de existência, a gente resolveu mais problemas, trouxe mais soluções, houve mais conquistas do que no tempo em que a gente ficava brigando com o Estado. Evoluímos em 3 questões. Hoje a gente tem uma discussão com o Estado, por exemplo, na questão da legislação, que é inovadora, no ponto de vista da construção da comunidade, com respeito da comunidade - isso é importante enfatizar que sempre foi problema. A

Sem dúvidas pode-se considerar que este evento foi um marco na formação da Rede Juçara e no processo de construção de políticas públicas para desenvolvimento da cadeia de valor da Palmeira Juçara. Articulando uma grande diversidade de atores, gerou um ambiente com intenso fluxo de informações, contatos, troca de experiências e debates; primou pela socialização de experiências e dos conhecimentos gerados e acumulados sobre o manejo, beneficiamento e comercialização da Polpa de Juçara. Temáticas que como um todo ainda são muito recentes e, por isso, carentes de informações técnicas, científicas e de experiências produtivas. Realizado às margens do Rio Ribeira, na cidade de Registro, foram ao todo cerca de 350 participantes durante os dois dias, com 272 inscritos, provenientes dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Pará e Distrito Federal, representando 51 organizações governamentais, não governamentais, empresas, universidades e, sobretudo, comunidades e associações de agricultores. Dentre os inscritos, 118 eram agricultores e agricultoras familiares e tradicionais, 57 técnicos de organizações da sociedade civil e 59 técnicos e gestores de órgãos públicos e agências reguladoras ligadas à área, além de estudantes, empresários e pesquisadores, que juntos somaram 38 pessoas. Os participantes puderam trocar experiências e participar das discussões acerca da cadeia produtiva da Polpa de Juçara em 3 paineis e várias oficinas temáticas e práticas. Contando também com os espaços de circulação livre na feira de produtos, exposição de projetos, atividades culturais e de degustação de polpa e alimentos agroecológicos.

Tendo como uma de suas tônicas a compreensão de que o uso sustentável das espécies nativas é uma das principais estratégias para conservação da biodiversidade, o encontro contribuiu com o debate aproximando sociedade civil e Estado para o diálogo com foco na gestão compartilhada dos recursos naturais e estratégias de desenvolvimento locais e regionais protagonizadas por comunidades tradicionais e agricultores familiares.

comunidade nunca foi ouvida e agora passa a ser ouvida, porque nós temos força política a partir da Rede Juçara. Outra questão é a construção da polpa como uma opção para não mais se colher o palmito, na perspectiva da estratégia de salvar a Mata Atlântica também, de se construir essa coisa do ponto de vista da renda, mas de dar sustentabilidade. Isso foi construído pela Rede, porque não era assim. Outra é a gente iniciar um processo pra ter um preço mínimo pela Conab. Quer dizer, conseguimos 3 coisas em pouco tempo, 3 desafios que a gente não conseguia construir. São conquistas extremamente importantes. Sem esquecer desse desafio que era a gente montar a própria Rede, que hoje está consolidada. A Rede foi fundamental nesse papel de deixarmos de conflitar com o Estado pra, sim, conversar com o Estado. Tem também a importância da identidade das comunidades dentro de toda a discussão. Quando se faz rede, normalmente as comunidades não são respeitadas. E nesta as comunidades são respeitadas. Elas são protagonistas, são atores do processo, são ouvidas. Isso que é importante nessa rede. E nós acreditamos que se a gente tiver essa agenda de continuidade, o compromisso, o envolvimento das instituições e as comunidades continuarem sendo ouvidas, elas vão protagonizar mais, elas vão trabalhar mais, vão se envolver mais e isso vai fazer com que a gente resolva os desafios que a gente ainda tem pela frente.

Paineis

Feira de Produtos e Projetos

Foto: Fernanda Chinelatto - Akarui

Local das oficinas temáticas, degustação da polpa, lanche com juçara e oficinas práticas.

Assista ao registro em vídeo do encontro no site da Rede Juçara: www.redejucara.org.br

O nosso objetivo lá na região é de preservar a mata atlântica e plantar o palmito no sistema de agroflorestas com os bananais. (Jorge - Morrinhos do Sul)

O trabalho que a gente faz é tentar inserir a polpa na alimentação.(Jaciel - Presidente Getúlio)

Hoje eu dou um grande valor em preservar cada vez mais a Palmeira Juçara e proteger o patrimônio. Hoje meu pensamento é aumentar a produção na minha comunidade e dar mais valor a essa palmeira. (Cristiano - Ubatuba)

Às vezes, eu me sinto sozinho, sem o apoio de ninguém, mas hoje eu vejo que existe o apoio de vocês e acho que a gente vai estar junto pra lutar e repassar o conhecimento pra outras comunidades. (Lucas - Cananéia)

A nossa relação com a Palmeira Juçara foi através das abelhas.(Rafael - Rolante)

projeto jucarai

Entre os dias 14 e 15 de maio de 2011 ocorreu a III Festa da Juçara, comemorando a safra do ano em Ubatuba. Já se tornando um evento tradicional na região, dessa vez quem recebeu os convidados foi o Quilombo da Fazenda, na área do campo de futebol, próximo à Casa de Farinha.

A festa já se consagrou como uma importante manifestação cultural das comunidades tradicionais e quilombolas, envolvidas no trabalho de preservação da Palmeira Juçara, trazendo para o público uma culinária que tem a polpa de Juçara como ingrediente. Pratos salgados ou doces, sucos, café com Juçara, além de pães, bolos, até granola enriquecida com seu fruto, fizeram a delícia do público que foi à festa.

A programação cultural também foi intensa, com muita diversão com as apresentações de música e dança, ensaio aberto, apresentação de números circenses, sem deixar de mencionar os tradicionais jongo, maracatu, samba de roda e a capoeira.

Não perca a próxima!

3ª Festa da JuçaraUbatuba - SP

Uma articulação importante entre algumas das instituições integrantes da Rede Juçara e encabeçada pelo Instituto de Permacultura e Ecovilas, o Ipema, no Estado de São Paulo, é o Projeto Juçara. Com patrocínio da Petrobrás, fundamenta-se na divulgação e expansão da utilização dos frutos da Palmeira Juçara para produção de polpa alimentar e seu uso na culinária; consolidação de sua cadeia produtiva, por meio da difusão do manejo sustentável da Juçara para geração de renda, associada a atividades de recuperação da espécie e da Mata Atlântica; e a reconversão produtiva de áreas, contribuindo com a fixação de carbono. É também fruto da construção conjunta com as comunidades rurais e tradicionais onde as instituições atuam, com apoio de parceiros locais, sendo elas foco do projeto.

A metodologia proposta procura estimular a participação das comunidades e agricultores em todas as etapas dos projetos e dos empreendimentos, para que possuam uma visão completa de todas as fases da cadeia produtiva. Procura-se garantir as atividades produtivas e extrativistas tradicionais problematizando as realidades de conservação dos recursos naturais, dos mercados, do planejamento, das formas de organização e de associativismo e da contabilidade das atividades e dos resultados. Procura-se estabelecer ainda uma visão sistêmica dos seus empreendimentos, subdivididos em 3 segmentos: a produção de matérias primas; a transformação dos produtos; e a comercialização.

Maiores informações no site: www.projetojucara.org.br.

artigo

Resolução Estadual sobre manejo sustentável da Palmeira Juçara - Estado de São Paulo* Por Renato Farinazzo Lorza, Gestor da APA São Francisco Xavier, Fundação Florestal - DAT/GPRA - Setor de Recuperação Ambiental.

O Estado de São Paulo caminha para publicar uma resolução sobre manejo sustentável da Palmeira Juçara, incluindo o manejo de corte e o manejo dos frutos e outras partes da planta. O processo se iniciou em 2007, por meio de uma solicitação do órgão gestor das UCs estaduais (Fundação Florestal) para revisão da antiga Resolução SMA 16/94, que tratava exclusivamente do manejo de corte.

A nova resolução resulta do trabalho desenvolvido por um grupo multidisciplinar formado por integrantes dos diversos órgãos da SMA e por profissionais convidados de outras esferas públicas e de projetos. No âmbito da Rede Juçara participaram a Fundação Florestal, o IPEMA e o ISA.

O manejo dos frutos de Juçara ocorre no Estado de São Paulo desde a década de 1990, a partir de iniciativas diversas concentradas no município de Sete Barras. Um dos pioneiros foi o veterinário Marcos Migliano, seguido pelas comunidades dos Bairros do Rio Preto e do Guapiruvu. A partir de 2006, esta atividade começou a ser desenvolvida na região norte do estado, primeiramente em Ubatuba e, em seguida, São Luiz do Paraitinga, Natividade da Serra, Mogi das Cruzes e São Francisco Xavier.

A resolução estadual que está em fase final de tramitação se fundamentou no Plano de Manejo de Frutos da Palmeira Juçara, construído em parceria pelo IPEMA e Fundação Florestal, no âmbito do projeto Educação Agroflorestal para Comunidades Tradicionais de Ubatuba, projeto PDA realizado na região do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar.

A elaboração da proposta de resolução teve dois momentos:

1) entre abril e setembro de 2008, quando o GT instituído fez a primeira versão da minuta e; 2) entre dezembro de 2009 e setembro de 2011, quando este documento tramitou nas instâncias da SMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente).

Nesta última fase, houve um conjunto de novos questionamentos e sugestões para a construção da nova minuta, destacando-se a contribuição dos parceiros da Rede Juçara, especialmente na formulação de questões relativas ao manejo de corte, à celeridade do processo, à necessidade de se construir um processo mais participativo e às possibilidades de atuação das organizações de ATER.

Introdução e Histórico

Após finalizar a elaboração de um texto praticamente consensual, o documento foi encaminhado para análise jurídica nas instâncias da SMA e da CETESB (órgão licenciador do estado de SP). Durante esta tramitação os pareceres jurídicos chamaram atenção para dois itens principais:

- A impossibilidade de o órgão gestor (Fundação Florestal, em SP) autorizar manejo em suas áreas. Apenas o órgão licenciador terá esta competência e;

- A área jurídica do órgão licenciador não aceita a possibilidade de manejo em área resultante do enriquecimento ecológico. Mas aponta como viável a possibilidade do manejo agroflorestal sustentável resultante do manejo de plantios realizados em áreas nos estágios médio e avançado, desde que previamente cadastrados e autorizados pelo órgão ambiental (CETESB), conforme artigo 13 do Decreto da Mata Atlântica.

Todas as considerações e questionamentos se fundamentam na Lei 11.428/06 e Decreto 6.660/08 e, especialmente, na IN 06/08, lista de espécies ameaçadas de extinção.

Face aos debates prévios e aos questionamentos jurídicos, a norma legal proposta para o Estado de São Paulo terá duas partes principais: um capítulo para o manejo da estipe (palmito), do caule e outras partes que exijam o corte e um capítulo para o manejo de frutos. O primeiro capítulo é uma atualização da resolução SMA 16/94, à luz da Lei da Mata Atlântica e de seu decreto regulamentador. O segundo capítulo trata do manejo de frutos é composto por poucos artigos e 3 formulários, buscando a maior simplicidade possível, ainda que o conceito de simplicidade precise ser ainda muito desenvolvido quando se trata de manejo na Mata Atlântica.

A nova resolução prevê a possibilidade de apoio de órgãos públicos ou entidades de ATER para os pequenos agricultores, familiares, quilombolas e indígenas quando impossibilitados de contarem com responsáveis técnicos em suas organizações locais.

Outro mecanismo da nova resolução é a criação de um grupo permanente para tratar de questões omissas e o estabelecimento de um prazo para revisão da norma, ferramentas para garantir a constante atualização de seu conteúdo.

A Norma Legal de SP e os Questionamentos Jurídicos

Espécies inseridas na lista de ameaçadas de extinção apresentam grande dificuldade de regulamentação nos estados, uma vez que a legislação federal em vigor é bastante restritiva quanto ao seu manejo.

Por sua vez, a ausência de regulamentação coloca os diversos projetos em andamento, numa situação de irregularidade latente ou ainda de falta de assistência adequada pelos órgãos ambientais. Diversas situações e incômodos vem sendo relatados pelos responsáveis por projetos integrantes da Rede Juçara ou independentes.

Em São Paulo, a regulamentação deste tema tramita desde 2007 e encontra-se em fase final, o que nos permite visualizar um novo patamar para o manejo, especialmente para o manejo de frutos.

Uma pauta que continua na ordem do dia é a formulação de estratégias e de um plano para a retirada da Palmeira Juçara da lista de ameaçadas de extinção.

Considerações Finais

Para saber mais leia:

- Lei Federal 11.428/06 – Lei da Mata Atlântica

- Decreto Federal 6.660/08 – Decreto da Mata Atlântica

- IN 06/08 – Lista Federal de Espécies Ameaçadas de Extinção

Palmeiras Juçara na área do Quilombo da Fazenda.Ubatuba - SP

Articulações nos estados do Paraná e de Minas GeraisHá diversos projetos e instituições que trabalham em atividades com a Palmeira Juçara para muito além das articulações da Rede Juçara. São iniciativas que tangenciam um processo coletivo e que, no todo, depois, vêm a se somar para dar mais forças aos objetivos comuns de preservação da Euterpe edulis e da Mata Atlântica sempre na perspectiva de geração de trabalho e renda daqueles que decidem-se por trabalhar com a espécie.

Nesta seção, apresentamos duas iniciativas, uma o , Instituto Agronômico do Paraná, que encaminhou suas considerações através do engenheiro agrônomo Francisco Paulo Chaimsohn, e o , Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, que respondeu aos questionamentos da REJU pelo engenheiro florestal Martin Meier. No site da rede estão apresentadas mais duas iniciativas: a , do município de Barra do Turvo, Vale do Ribeira-SP, e o , na Serrinha, município de Resende, Rio de Janeiro (http://www.redejucara.org.br/site/pagina?id=21).

IAPARCTA

CooperaflorestaProjeto AMAVEL

Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR)

REJU – Como é desenvolvido o trabalho da organização com a Juçara?

Francisco Paulo Chaimsohn – O trabalho é coordenado pelo IAPAR em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Associação dos Produtores Rurais e Artesanais de Antonina (ASPRAN) e SEBRAE-PR. É importante salientar que a UEPG tem avançado muito no trabalho de processamento dos frutos de Juçara e na utilização da sua polpa, tendo sido apresentados dois trabalhos de conclusão de curso (TCC), uma tese de mestrado, havendo ainda outra tese de mestrado e uma tese de doutorado em andamento, cujos trabalhos são coordenados e orientados pela Professora Dra. Nelci Catarina Chiquetto.

REJU – Qual a área de atuação, geograficamente, e que comunidades estão envolvidas?

Francisco – Atualmente trabalhamos no Litoral do Paraná, mais especificamente na Comunidade do Rio Cachoeira em Antonina, e temos alguns trabalhos de campo em Morretes.

REJU – Qual a importância que vocês veem da palmeira no contexto de vocês, do trabalho e da comunidade?

Francisco – A exploração dos frutos de Juçara tem uma importância socioambiental muito grande, como estratégia de conservação da palmeira e alternativa de renda para as comunidades do litoral do Paraná.

REJU – Quais os resultados práticos e as perspectivas em curto e médio prazo com que vocês trabalham?

Francisco – Trabalhamos na perspectiva de diversos estudos e resultados, como, por exemplo, o estudo da fenologia reprodutiva da Palmeira Juçara nas condições edafoclimáticas da região, determinando-se o ciclo de produção, rendimento potencial de frutos e principais limitações e identificação de fatores importantes para melhoria da produção dos frutos de Juçara; também com a caracterização físico-química dos frutos e da polpa de Juçara, nas condições edafoclimáticas do litoral do Paraná; com a caracterização físico-química das sementes; e com o desenvolvimento de produtos a base de polpa de frutos de Juçara.

Oficina de boas práticas de fabricação, coordenada pela UEPG.

Festa da Juçara, na comunidade Cachoeira.

Avaliação do rendimento dos frutos.

O IAPAR se localiza no Paraná, na região de Londrina.

Baixe arquivos com a síntese do trabalho do IAPAR em: http://www.redejucara.org.br/site/pagina?id=21

experiencias fora da rede^

REJU – Como é desenvolvido o trabalho da organização com a Juçara?

Martin Meier – A relação do CTA com a Palmeira Juçara vem de vários anos, por se tratar de uma espécie de extrema importância para a recuperação e conservação da Mata Atlântica. Por diversos anos, o plantio e recuperação de áreas se utilizando da Juçara foi incentivado pela equipe técnica do CTA. No entanto, nunca foi um tema específico de nosso trabalho a mobilização em torno da palmeira por meio de projetos.

REJU – Qual a área de atuação, geograficamente, e que comunidades estão envolvidas?

Martin – O CTA atua nos municípios do entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) e do Parque Nacional do Caparaó (PARNA Caparaó) em Minas Gerais. O entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro é considerado pela Portaria MMA no 9, de 23/01/2007, e pelo Decreto no 5.092, de 21 de maio de 2004, que definem as Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade Brasileira, como uma área de importância extremamente alta e uma prioridade muito alta por constar em sua região espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção como: Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), Sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita), Sauá (Callicebus personatus), Capacetinho-cinza (Poospiza cinerea), Araponga (Procnias nudicollis) e Pichochó (Sporophila frontalis). Já o corredor estabelecido entre o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e o Parque Nacional do Caparaó tem uma importância muito alta e uma prioridade muito alta por apresentar remanescentes de Floresta Estacional Semi-decídua, que abrigam diversas espécies ameaçadas, dentre elas o muriqui (mono-carvoeiro - Brachiteles aracnoides).

REJU – Qual a importância que vocês veem da palmeira no contexto de vocês, do trabalho e da comunidade?

Martin – A Juçara se configura como uma espécie chave para a recuperação e conservação da Mata Atlântica no contexto da agricultura familiar. Por ser uma espécie nativa que propicia diversos produtos, como principal deles o fruto, que é possível extrair a polpa e servir tanto para a alimentação das famílias, como uma estratégia de comercialização e de renda.

REJU - Existem parcerias locais? Quais?

Martin – O CTA mantém estreita interação com os movimentos populares e as organizações de agricultores/as familiares da região, como Sindicatos de Trabalhadores Rurais, Associações, Cooperativas de Produção e de Crédito, entre outras. Está inserido em projetos de pesquisa desenvolvidos junto ao meio acadêmico e instituições de pesquisa (Universidade Federal de Viçosa – UFV – e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG) além de integrar a coordenação da Articulação Mineira de Agroecologia (AMA) e o núcleo executivo, coordenação nacional, Grupo de Trabalho GT Construção do Conhecimento e GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Participa ainda do Comitê de Agroecologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF), da Câmara Técnica de Desenvolvimento Territorial do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (CEDRS), e das instâncias de gestão do Território e Parque Estadual da Serra do Brigadeiro.

REJU – Quais os resultados práticos e as perspectivas em curto e médio prazo com que vocês trabalham?

Martin – Diagnóstico das áreas que possuem presença da Palmeira Juçara na região que trabalhamos, identificação de famílias que já se utilizam da palmeira tanto para obtenção de frutos e demais produtos, potencialização e promoção dessas famílias como promotores da proposta de utilização da Palmeira para seus diversos fins e, a médio prazo, enriquecimento com mudas de Juçara das áreas produtivas com SAFs e nas áreas de preservação permanente das demais famílias envolvidas nos trabalhos do CTA.

Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA)

O CTA se localiza em Minas Gerais.na Zona da Mata

Área com mais de 100 Palmeiras Juçara em propriedade nacomunidade dos Pereiras, Araponga-MG.

Intercâmbio Agroecológico na comunidade dos Pereiras, Araponga-MG.

Canteiro de mudas da Palmeira Juçara em propriedade agroecológica de Araponga-MG.

Os marcos da Legislação Ambiental e Sanitária para trabalhar com a Juçara.

rede jucara NA INTERNETi

Todas as informações de contato das instituições que se articulam na rede.

Veja várias informações sobre a Palmeira Juçara, suas sementes e mudas, o cultivo, processamento e receitas.

Todo o conteúdo do Primeiro Encontro da Rede. Assista na íntegra todas as mesas e muito mais.

Todo o conteúdo desta revista e muito mais daquilo que foi produzido e coletado nesses quase dois anos de Rede Juçara estão à disposição no nosso site.

São muitos vídeos, textos e fotos para que quem acessa tenha o mais completo conteúdo possível sobre as atividades da Rede e sobre informações desta palmeira que é uma espécie-chave do bioma Mata Atlântica.

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