regularização fundiaria no brasil

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL Brasília Ministério das Cidades 2009

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Page 1: Regularização Fundiaria No Brasil

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA

NO BRASIL

Brasília Ministério das Cidades

2009

Page 2: Regularização Fundiaria No Brasil

Florianópolis (SC)

Conceiçãozinha, Guarujá (SP)

Page 3: Regularização Fundiaria No Brasil

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Florianópolis (SC) Vila Gilda, Santos (SP)

Conceiçãozinha, Guarujá (SP) Campinas (SP)

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Page 4: Regularização Fundiaria No Brasil

Palafitas, São Vicente (SP) Foto: Acervo Seurb

Page 5: Regularização Fundiaria No Brasil

O Ministério das Cidades, em parceria com gestores públicos estaduais,

municipais e com os diversos segmentos sociais integrantes do Conse-

lho Nacional das Cidades vem construindo uma Política Nacional de Regula-

rização Fundiária em áreas urbanas. São diversos os programas do Ministério

que apoiam os Estados e municípios e atuam diretamente na regularização

fundiária de interesse social nas dimensões jurídica, urbanística, social e am-

biental. Esses programas dão ênfase, não só na regularização jurídica dos

lotes, consolidando o direito à moradia dos habitantes de assentamentos

informais, mas implicam também a previsão de urbanização com adequado

saneamento, melhores condições de habitação e mobilidade urbana.

Seis anos após a criação, os resultados obtidos por meio dos progra-

mas do Ministério das Cidades voltados à regularização fundiária mostram

que essa temática entrou nas agendas municipais e estaduais de política ur-

bana, uma vez que prefeitos e governadores desenvolvem, hoje, programas

de regularização de grande envergadura.

Esta publicação é parte de um conjunto de ações de capacitação, visan-

do à implementação ou ampliação da política nacional fundiária. O objetivo

é aprofundar o conhecimento, discutir e avaliar as experiências de regulari-

zação fundiária urbana de interesse social em todo o território nacional.

Ao disseminar o conhecimento, contribuimos para ampliar e agilizar

esses processos. Buscamos, também, mostrar um pouco do universo dos

que promovem a regularização com um número considerável e diversifi-

cado de políticas, programas e planos em todo o país. As experiências de-

monstram soluções aos obstáculos operacionais e os desafios a serem ainda

superados. São 120 experiências selecionadas de três chamadas públicas

realizadas pela Secretaria Nacional de Programas Urbanos (SNPU) do Minis-

tério das Cidades. Essas experiências foram enviadas pelos diferentes atores

que implementam a regularização e elaboradas por especialistas e gestores

públicos. Participaram da edição técnicos do Ministério das Cidades dedica-

dos a essa área com profissionalismo e afinco.

Que esta publicação seja instrumento de referência para o intercâmbio

nas ações de regularização fundiária, para superarmos a informalidade dos

assentamentos precários e construirmos cidades mais justas e saudáveis.

Marcio Fortes de AlmeidaMinistro de Estado das Cidades

Page 6: Regularização Fundiaria No Brasil

Vidigal (RJ) Foto: Acervo Ambiental Engenharia e Consultoria Ltda. (RJ)

Page 7: Regularização Fundiaria No Brasil

Quando o tema é propriedade da terra e regularização fundiária, o conflito lega-lidade versus ilegalidade remonta quase à formação do Estado e do território

brasileiro. A falta de sintonia entre o social e o econômico amplia o abismo entre ricos e pobres e cria um caráter desigual e excludente nas cidades brasileiras.

Esse processo perverso gera um resultado paradoxal por meio do qual o cres-cimento econômico que, a rigor, deveria ser fonte de desenvolvimento sustentável, resulte na condenação de boa parte da população a uma condição de subcidadania. Considerável parcela da população é forçada a migrar para regiões cada vez mais periféricas, quase sempre não dotadas de infraestrutura básica e, ocupando áreas impróprias e/ou terras não tituladas e quase sempre em desconformidade com os preceitos urbanísticos. Em última análise, a segregação social leva à segregação es-pacial que, por sua vez leva à ilegalidade.

A ausência de uma visão integrada da cidade com o indivíduo, do social com o espacial, pode levar a investimentos públicos que, a despeito da aparente moderniza-ção e progresso, resulte no aprofundamento da segregação social, com o agravante de se converter em instrumento a serviço da acumulação e da concentração de renda.

A grave situação de irregularidade urbana existente no Brasil indica que a prin-cipal saída deva se dar por meio da regularização fundiária e urbanística. Neste con-texto, a despeito dos sérios problemas ainda vivenciados em nosso país, é inques-tionável que o Estatuto da Cidade, que foi resultado de amplo debate e que contou com importante participação da sociedade, se constitui em uma das legislações mais avançadas nesta área. No entanto, não basta ter um arcabouço jurídico adequado; é imprescindível adotar medidas práticas destinadas a transformar idéias em ações e “direitos legais” em “direitos reais”.

A CAIXA, na qualidade de principal instrumento executor da Política de De-senvolvimento Urbano do Governo Federal, está comprometida no seu trabalho do dia a dia não apenas em viabilizar novas unidades habitacionais, mas, também, em contribuir para a construção de um habitat, que leve em consideração os interesses coletivos e fomente a articulação com as condições culturais, preservando o respeito às diversidades individuais e familiares.

Associado e em complemento às ações objetivas, para que se atinja plena efe-tividade das regulamentações decorrentes do Estatuto da Cidade, é imprescindível a divulgação de experiências exitosas e/ou inovadoras e o compartilhamento e a socia-lização do conhecimento. Neste contexto, a realização de eventos como o Seminário Nacional sobre Regularização Fundiária, bem como a publicação de documento a ele associado, certamente contribuirá para a ampliação da efetividade em termos de regularização e para aceleração ao acesso à terra regularizada e para construção de cidades mais justas.

Jorge Fontes HeredaVice-Presidente de Governo

Caixa Econômica Federal

Page 8: Regularização Fundiaria No Brasil

Casas Mocotó, Florianópolis-SC Foto: Aécio Miranda Breilbach

Page 9: Regularização Fundiaria No Brasil

A Política Nacional de Habitação, aprovada pelo Conselho das Cidades, em

dezembro de 2004, foi construída com base no pagamento de uma dí-

vida social em que 6,3 milhões de famílias brasileiras precisam de moradia. O

esforço e a participação de todos os entes da federação e da sociedade civil

estão sendo decisivos para a formulação e implementação dessa política.

Por meio do Sistema Nacional da Habitação de Interesse Social (SNHIS)

estão sendo aplicados cerca de R$ 13 bilhões de recursos federais não onero-

sos em ações de desenvolvimento do setor habitacional, dentre os quais a ur-

banização, regularização e integração de assentamentos precários ocupados

por famílias de baixa renda, que compõem mais de 90% do nosso déficit.

A compreensão da importância do processo de regularização fundiá-

ria nessas ações fez com que o considerássemos etapa obrigatória, uma exi-

gência indissociável nos projetos apresentados por Estados e municípios.

Com isso, ela se constituiu também como um desafio às equipes técnicas

e comunidades locais envolvidas, pois é preciso conjugar a urbanização à

sustentabilidade ambiental e às políticas de desenvolvimento urbano, nos

termos do Estatuto da Cidade.

Realizar este Seminário Nacional sobre Regularização Fundiária é uma

oportunidade de ampliar as discussões acerca desse desafio e, principal-

mente, de disseminar boas práticas, alertando para que, por meio do plane-

jamento dessas ações, seja possível desarmar os principais entraves ineren-

tes aos conflitos fundiários urbanos.

Melhorar a qualidade de vida da população historicamente excluída

do mercado formal por meio do acesso à terra regularizada e à moradia

digna é o alvo e implementar efetivamente as ações de regularização fun-

diária é uma das condições necessárias para atingi-lo. Esperamos que este

conjunto de histórias de luta e de persistência estimule e auxilie as admi-

nistrações e as lideranças sociais neste objetivo, que compartilhamos com

todos, para que possamos celebrar o direito a cidades socialmente justas e

espacialmente equilibradas.

Inês MagalhãesSecretária Nacional de Habitação

Page 10: Regularização Fundiaria No Brasil

Palafitas, São Vicente (SP) Fotos: Acervo Seurb

Page 11: Regularização Fundiaria No Brasil

No Brasil, mais de 13 milhões de domicílios urbanos são irregulares. São

milhões de famílias que não estão seguras se podem ou não permanecer

em suas moradias e se vão poder deixá-las como herança para seus filhos. São

domicílios que, em sua maioria, não contam com acesso às redes de infra-

estrutura urbana e, muitas vezes, estão localizados em áreas de risco ou de

proteção ambiental.

Historicamente, este é um quadro que faz parte da estrutura injusta das

cidades e da sociedade brasileira. É sabido que a maioria da população não

possui condições financeiras para comprar uma moradia legal. O mercado é

voltado apenas para atender a uma camada privilegiada da população.

Contra essa situação, o Movimento pela Reforma Urbana, que congre-

ga os movimentos de luta por moradia, setores acadêmicos e profissionais,

organizações não governamentais (ONGs) e técnicos dos poderes públicos,

principalmente municipais, luta, desde a década de 1960, para fazer valer no

país o direito à moradia.

A sociedade brasileira entendeu essa luta e fez com que a Assembleia

Nacional Constituinte, em 1988, incluísse na Carta Magna o direito à moradia

e o princípio da função social da propriedade. Em 2001, a lei federal nº 11.257,

conhecida como Estatuto da Cidade, trouxe os instrumentos jurídicos neces-

sários para concretizar esses princípios, abrindo espaço para que a regulari-

zação fundiária de interesse social pudesse finalmente se colocar como uma

política pública relevante.

A partir de 2003, com a criação do Ministério das Cidades, o governo

federal finalmente incorporou-se a essa luta e instituiu o primeiro programa

nacional de regularização fundiária urbana, o Programa Papel Passado, coor-

denado pela Secretaria Nacional de Programas Urbanos(SNPU).

O objetivo da SNPU é fazer parte do esforço nacional pela regularização

fundiária para fazer valer na prática o que diz a Constituição. Ou seja, garan-

tir a todos os cidadãos o título registrado do seu local de moradia. Para isso,

apoiamos os Estados, municípios, ONGs, associações de moradores, defenso-

rias públicas e todos os agentes locais, que, cotidianamente, trabalham com

comunidades carentes, para regularizar os bairros construídos com o próprio

esforço da população.

Além de transferir recursos do Orçamento Geral da União para que esses

parceiros pudessem desenvolver os trabalhos de regularização, o Programa Pa-

pel Passado realizou seminários para a troca de experiências entre agentes locais;

Page 12: Regularização Fundiaria No Brasil

elaborou cursos a distância, que atenderam a quase dois mil técnicos de todo o

país; publicou material didático; construiu acordos de cooperação técnica com

cartórios de registro de imóveis; e implementou várias ações de divulgação.

Além disso, o Ministério das Cidades incluiu em todos os seus programas

de urbanização de assentamentos precários, desenvolvidos sob a responsa-

bilidade das secretarias nacionais de Habitação (SNH) e de Saneamento Am-

biental (SNA), a componente da regularização fundiária. Todas as obras de

urbanização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), considerado

o maior esforço de urbanização do país, incorporam a dimensão da regulari-

zação em conjunto com a implantação de infraestrutura e serviços urbanos.

Isso significa que, ao término das obras, as famílias atendidas terão acesso a

redes de abastecimento de água, de coleta de esgoto, a vias pavimentadas, à

drenagem urbana, aos serviços de coleta de lixo, aos demais serviços urbanos

e ao título de propriedade ou de concessão dos seus lotes devidamente regis-

trado em cartório.

Da mesma forma, a SPU passou a privilegiar a função socioambiental

das terras públicas federais, promovendo a regularização das ocupações de

interesse social. Mas, talvez, a principal forma de apoio do governo federal,

implementada em conjunto com o Congresso Nacional, tenha sido as adequa-

ções realizadas na legislação federal, com o objetivo de remover os obstáculos

legais à regularização.

Em 2004, a lei federal nº 10.931 instituiu a gratuidade do registro do pri-

meiro título da regularização fundiária. Em 2007, a lei federal nº 11.481 insti-

tuiu mecanismos mais ágeis para a regularização das terras da União. Em 2009,

a lei federal nº 11.952, resultado da aprovação da medida provisória nº 458, ao

tratar da regularização fundiária da Amazônia Legal, incluiu mecanismos ágeis

que permitem a doação aos municípios das terras públicas federais inseridas

em áreas urbanizadas e em áreas de expansão urbana. Hoje, os 170 municípios

da Amazônia Legal que têm sua área urbana implantada, total ou parcialmen-

te, sobre áreas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),

e que se encontravam irregulares, impedindo-os de promover o desenvolvi-

mento econômico e social, têm o direito de receber da União essas áreas para

realizar a regularização fundiária em nome dos moradores.

Finalmente, a medida provisória nº 459, de 25 de março de 2009, apro-

vada pelo Congresso como lei federal nº 11.977/2009, trouxe, junto com o

Programa Minha Casa Minha Vida, a primeira lei nacional de regularização fun-

Page 13: Regularização Fundiaria No Brasil

diária urbana. Com a aprovação dessa lei, os municípios tiveram reconhecida

sua competência para definir os procedimentos da regularização fundiária em

seu território e para definir o conteúdo do projeto de regularização de forma

adequada às suas especificidades. Foram também definidos, para os casos de

interesse social, as condições que permitem a consolidação das ocupações

em Áreas de Preservação Permanente (APPs), garantindo a necessária melho-

ria das condições ambientais e promovendo, dessa forma, a compatibilização

entre o direito à moradia e o direito ambiental.

Além disso, os procedimentos para o registro da regularização foram uni-

formizados em todo o país. Também foram criados novos instrumentos da

demarcação urbanística e legitimação da posse, que permitem solucionar de

forma administrativa os casos de regularização de ocupações de interesse so-

cial em áreas privadas em que não existe oposição de eventuais antigos pro-

prietários, evitando as demoradas e custosas ações de usucapião.

Todo esse esforço do governo federal refletiu-se no incremento da re-

gularização fundiária urbana, que passou a fazer parte da agenda da política

urbana de Estados e municípios.

Após seis anos do início do Programa Papel Passado, é com enorme ale-

gria que vemos políticas de regularização em curso nos vários pontos do país,

contribuindo para garantir condições de cidadania para a população. Esta pu-

blicação mostra a riqueza e a diversidade das experiências e das políticas de

regularização fundiária urbana promovidas pelo governo federal, governos

estaduais, prefeituras municipais, defensorias públicas estaduais e ONGs. A

todos os responsáveis por este trabalho, agentes públicos e privados, dedica-

mos o livro Regularização Fundiária Urbana no Brasil.

Maria Teresa Saenz Surita JucáSecretária Nacional de Programas Urbanos

Page 14: Regularização Fundiaria No Brasil

1. Experiências de Regularização Fundiária realizadas pela União.................................................16

1.1 - Ministério das Cidades e Ministério da Justiça (RJ)............................................................................................17

1.2 - Secretaria do Patrimônio da União..........................................................................................................................24

2. Experiências de Regularização Fundiária Realizadas pelos Estados e Defensorias Públicas....32

2.1 - Estado da Bahia – Secretaria de Desenvolvimento Urbano..............................................................................33

2.2 - Estado da Bahia – Companhia de Desenvolvimento Urbano...........................................................................35

2.3 - Distrito Federal................................................................................................................................................................36

2.4 - Estado do Mato Grosso.................................................................................................................................................39

2.5 - Estado de Minas Gerais................................................................................................................................................42

2.6 - Estado do Pará...............................................................................................................................................................44

2.7 - Estado de Pernambuco...............................................................................................................................................46

2.8 - Estado do Rio de Janeiro..............................................................................................................................................48

2.9 - Estado do Rio Grande do Sul......................................................................................................................................54

2.10 - Estado de Roraima.......................................................................................................................................................55

2.11 - Estado de São Paulo – Fundação Instituto de Terras José Gomes da Silva............................................57

2.12 - Estado de São Paulo – Secretaria de Habitação................................................................................................60

2.13 - Defensoria Pública Geral do Estado de Mato Grosso do Sul........................................................................62

3 - Experiências de Regularização Fundiária Elaboradas pelos Municípios....................................66

3.1 - Prefeitura Municipal de Ananindeua (PA)..............................................................................................................67

3.2 - Prefeitura Municipal de Aracajú (SE).......................................................................................................................68

3.3 - Prefeitura Municipal de Ariquemes (RO)................................................................................................................71

3.4 - Prefeitura Municipal de Barra Mansa (RJ)..............................................................................................................73

3.5 - Prefeitura Municipal de Belém (PA)..........................................................................................................................76

3.6 - Prefeitura Municipal de Blumenau (SC).................................................................................................................78

3.7 - Prefeitura Municipal de Cachoeirinha (RS)............................................................................................................80

3.8 - Prefeitura Municipal de Campinas (SP)..................................................................................................................81

3.9 - Prefeitura Municipal de Campo Grande (MS)....................................................................................................83

3.10 - Prefeitura Municipal de Cubatão (SP)................................................................................................................85

3.11 - Prefeitura Municipal de Curitiba (PR).................................................................................................................86

3.12 - Prefeitura Municipal de Diadema (SP)..................................................................................................................90

3.13 - Prefeitura Municipal de Feira de Santana (BA)....................................................................................................93

3.14 - Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE)...............................................................................................................94

3.15 - Prefeitura Municipal de Guarulhos (SP)............................................................................................................97

3.16 - Prefeitura Municipal de Ipatinga (MG)..................................................................................................................99

3.17 - Prefeitura Municipal de Itabirito (MG)...............................................................................................................101

3.18 - Prefeitura Municipal de Itaboraí (RJ)..................................................................................................................102

3.19 - Prefeitura Municipal de Juiz de Fora (MG)........................................................................................................104

SUMÁRIO

Page 15: Regularização Fundiaria No Brasil

3.20 - Prefeitura Municipal de Jundiaí (SP)...................................................................................................................105

3.21 - Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista (SP)..................................................................................................108

3.22 - Prefeitura Municipal de Niterói (RJ)....................................................................................................................109

3.23 - Prefeitura Municipal de Osasco (SP)...................................................................................................................112

3.24 - Prefeitura Municipal de Piraquara (PR)...............................................................................................................115

3.25 - Prefeitura Municipal de Porto Velho (RO).........................................................................................................118

3.26 - Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (RJ).....................................................................................................123

3.27 - Prefeitura Municipal de Santo André (SP)........................................................................................................126

3.28 - Prefeitura Municipal de Santos (SP)...................................................................................................................129

3.29 - Prefeitura Municipal de São José dos Campos (SP)......................................................................................130

3.30 - Prefeitura Municipal de São Paulo (SP)..............................................................................................................132

3.31 - Prefeitura Municipal de São Vicente (SP)..........................................................................................................137

3.32 - Prefeitura Municipal de Sumaré (SP)...................................................................................................................141

3.33 - Prefeitura Municipal de Suzano (SP)...................................................................................................................142

3.34 - Prefeitura Municipal de Taboão da Serra (SP).................................................................................................144

3.35 - Prefeitura Municipal de Ubatuba (SP)................................................................................................................148

3.36 - Prefeitura Municipal de Varjão (GO)....................................................................................................................150

3.37 - Prefeitura Municipal de Vitória (ES).....................................................................................................................151

3.38 - Prefeitura Municipal de Volta Redonda (RJ)......................................................................................................153

3.39 - Prefeitura Municipal de Votuporanga (SP).......................................................................................................154

4 - Experiências de Regularização Fundiária Realizadas por Entidades Civis e Públicas.............156

4.1 - Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (PE)..........................................................................157

4.2 - Centro de Estudos, Articulação e Referência sobre Assentamentos Humanos (CE)............................159

4.3 - Centro pelo Direito à Moradia e Contra Despejos (RS)...................................................................................160

4.4 - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Norte (RN).............163

4.5 - Fundação Educacional de Criciúma (SC).............................................................................................................165

4.6 - Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (SP).....................................................166

4.7 - Instituto Light S.A. (RJ)...............................................................................................................................................168

4.8 - Rede Internacional de Ação Comunitária (SP)...................................................................................................169

4.9 - Serviço de Justiça e Paz (PE).....................................................................................................................................172

4.10 - Terra de Direitos - Organização de Direitos Humanos (PR)........................................................................173

4.11 - Universidade Federal Fluminense (RJ)...............................................................................................................176

4.12 - Universidade Federal de Minas Gerais (MG)....................................................................................................179

4.13 - Universidade Federal do Pará (PA)......................................................................................................................182

4.14 - Universidade São Francisco (SP)..........................................................................................................................183

5 - Anexos...........................................................................................................................................186

5.1 - Anexo 01: LEI Nº 11.977, DE 7 DE JULHO DE 2009...........................................................................................187

5.2 - Anexo 02: LEI Nº 11.952, DE 25 DE JUNHO DE 2009........................................................................................198

Page 16: Regularização Fundiaria No Brasil

Experiências de Regularização Fundiária Realizadas pela União1Conjunto Habitacional Candeias II - Município de Candeias (BA) Foto: Google Earth

Vila Estrutural (DF) Foto: Acervo Sudesa - GDF

Page 17: Regularização Fundiaria No Brasil

17

EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELA UNIÃO

Foto: Acervo Sudesa - GDF

O governo federal, a partir de 2003, passou a incorporar em seus programas de desen-volvimento urbano ações específi cas de regularização fundiária de assentamentos de

interesse social.Além de apoiar as ações de regularização fundiária implementadas pelos municípios, Es-

tados, defensorias públicas e organizações não governamentais por meio do Programa Papel Passado, o Ministério das Cidades desenvolveu uma parceria inédita com o Ministério da Jus-tiça, articulando as ações dos programas federais de regularização fundiária e de segurança pública. Essa parceria, que contou com a participação do governo do Estado e a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, além da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, está permitindo avançar na regularização de dois locais emblemáticos para todo o país, as comunidades da Rocinha e do Vidigal, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

O governo federal tratou também das ocupações localizadas em terras da União. A Secre-taria do Patrimônio da União incluiu em seu programa o objetivo de concretizar a função social e ambiental dos imóveis da União, passando, a partir de 2003, a desenvolver uma forte ativida-de de regularização fundiária das ocupações de interesse social, em parceria com o Ministério das Cidades, com Estados e municípios. É relevante destacar que já são 497 assentamentos regularizados ou em processos de regularização, benefi ciando cerca de 500 mil famílias.

Apresenta-se a seguir uma amostra das experiências de regularização implementa-das pela União.

1.1 - Ministério das Cidades e Ministério da Justiça (RJ)

As experiências descritas a seguir são fruto da parceria iniciada em abril de 2006 entre o Ministério das Cidades e o Ministério da Justiça, no âmbito dos programas Papel Passado e Segurança Cidadã. A iniciativa dessa proposta teve como princípio a implementação de ações de regularização fundiária e de segurança pública nos assentamentos informais da Rocinha e do Vidigal, na cidade do Rio de Janeiro. Por meio da regularização fundiária plena, as ações têm como pressuposto o reconhecimento do direito à moradia.

Para integrar as ações de regularização fundiária, de segurança, de urbanização e de desenvolvimento social, foi assinado, em outubro de 2006, um Acordo de Cooperação Técnica (ACT), formalizando a parceria entre o governo federal (ministérios da Justiça e das Cidades), o governo do Estado do Rio de Janeiro (secretarias de Obras e da Habitação e o Instituto de Terras e Cartografi a do Estado do Rio de Janeiro - ITERJ), a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (secretarias do Habitat e do Urbanismo) e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. O acordo pretende reduzir obstáculos inerentes ao processo de regularização, forma-lizando a necessária articulação interinstitucional em torno de um mesmo objetivo: agilizar os processos de regularização fundiária sustentável a famílias de baixa renda desses dois gran-des ícones do processo de favelização do país.

Page 18: Regularização Fundiaria No Brasil

18

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

A partir desse acordo, com recursos dos dois ministérios, as atividades que visam à regu-larização foram iniciadas em 2006, após processo licitatório conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foram contratadas instituições especia-lizadas em planejamento urbano e em trabalho social. Essas instituições elaboraram planos setoriais de regularização fundiária e executaram atividades específi cas para formalizar os processos de regularização, com o objetivo de titular mais de 7.500 famílias moradoras dos dois bairros. Salienta-se que a condução dos processos relativos à contratação pelo organis-mo internacional ocorreu em função dos recursos fi nanceiros estarem alocados no Programa Segurança Cidadã, gerenciados pelo PNUD.

Rocinha - Fundação Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento RubiãoO projeto de regularização da Rocinha é o resultado de uma demanda das associações

de moradores locais e da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que, em conjunto com a Fundação Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião, identifi caram as áreas a serem atendi-das. Transformada em bairro por decreto municipal, a Rocinha encontra-se inserida em uma das regiões de alto poder aquisitivo da zona sul do Rio de Janeiro.  Hoje, são aproximadamen-te 56 mil habitantes e um total de 17 mil moradias (dados do Censo 2000), ocupando uma área de 1.000.000 m² e densidade de 1.000 hab/ha.

Considerada uma das maiores favelas da América Latina, a Rocinha não teve grandes avanços pela sua regulamentação de “bairro”, nem por ser uma Área de Especial Interesse So-cial (AEIS), gravada em 2001. A irregularidade urbana está presente desde a primeira ocupa-ção, em que diversos proprietários não conseguiram aprovar seus loteamentos na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, gerando com isso uma região desprovida de regulamentação urbanística e fundiária. O território da Rocinha é formado por cinco glebas distintas: quatro de propriedade particular e uma do poder público municipal.

Os trabalhos de reconhecimento, diagnóstico e regularização tiveram início na parte baixa do bairro, uma área conhecida como bairro Barcellos, um loteamento não regularizado

Rocinha (RJ)

Page 19: Regularização Fundiaria No Brasil

19

EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELA UNIÃO

de propriedade particular, e se estendeu a outras áreas como Cruzado e Laboriaux, áreas públicas municipais. Esse trabalho possibilitou que o grupo amadurecesse a ideia de planejar as próximas ações no bairro, com hierarquização de áreas, ordenando a regularização em etapas, envolvendo toda a Rocinha.

Nessa perspectiva, foi elaborado o Plano de Regularização Fundiária. O processo de pla-nejamento do plano envolveu todas as associações do bairro e outras instituições, como o posto de saúde local, principal parceiro no desenvolvimento do diagnóstico da favela.

O bairro da Rocinha possui diferentes características socioeconômicas, identifi cadas pe-las várias formas de apropriação do espaço. Existem áreas como o bairro Barcellos, onde é possível encontrar famílias com mais de uma propriedade e alguns prédios inteiros para loca-ção pertencentes a um único dono. Há também sub-bairros, como a Macega, onde a maioria das unidades de moradia é construída em madeira, com graves difi culdades de acesso, além das péssimas condições de salubridade. O crescimento do bairro extrapola os limites das gle-bas originais e continua em processo constante de ocupação em todas as glebas. O adensa-mento se dá pela ocupação das áreas de encosta dentro da área de preservação ambiental, bem como no aumento de pavimentos em todas as áreas indistintamente.

A Rocinha pode ser considerada um “município autônomo”, no que diz respeito à sua dinâmica urbana, pois seus setores de serviços e comércio movimentam a economia local e asseguram emprego a boa parte de seus moradores. O mercado formal e informal constitui uma vasta rede de abastecimento interno. A Rocinha é hoje um bairro com ampla diversidade intraespacial, com vários setores com tempo de ocupação e características físico-urbanísticas diferentes. Além disso, o espaço edifi cado é extremamente complexo, apresentando formas criativas, ainda que apresentem problemas de técnicas construtivas e dimensionamento. Existe ainda na Rocinha um conjunto de coletividades com perso-nalidades e identidades específi cas. Para cada uma dessas áreas é preciso traçar uma es-tratégia diferente de ação para mobilizar e sensibilizar seus moradores a participarem do processo de regularização.

Fotos: Douglas Engle/AustralFoto

Page 20: Regularização Fundiaria No Brasil

20

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

As estratégias utilizadas para os projetos de regularização têm como premissa funda-mental a aproximação com a comunidade e o seu envolvimento pelo contato constante com as associações de moradores locais. Nesse sentido, o conhecimento da realidade socioeco-nômica da Rocinha é essencial para o planejamento e trabalho de campo com as famílias. Portanto, estabelecer uma boa articulação entre as principais instituições atuantes no bairro é fundamental para o processo de regularização fundiária e para a elaboração do plano de regularização. Para tanto, uma série de encontros e atividades foi planejada como parte inte-grante do projeto.

A proposta do Plano de Regularização Fundiária da Rocinha tem como objetivo geral planejar a regularização da situação fundiária de todas as áreas ocupadas pelos moradores do bairro. Visa potencializar o processo emancipatório das famílias vulnerabilizadas, o reconheci-mento de seu direito à moradia digna e ao exercício pleno de usufruto da cidadania, a partir de uma intervenção que propicie a recuperação urbanística e ambiental das áreas ocupadas, ao mesmo tempo que promove a justiça social.

A partir da legislação aplicável e das especifi cidades da comunidade e após a conclusão do diagnóstico, fez-se a refl exão sobre as alternativas existentes, avaliando-se as vantagens e desvantagens das opções viáveis e identifi cando o tipo de instrumento jurídico que deveria ser utilizado em cada caso específi co e nas etapas da ação.

A Rocinha tem uma situação jurídica bastante complexa, com áreas particulares, públicas e ocupações em área de risco ou de proteção ambiental. Para cada uma delas é preciso aplicar um instrumento adequado. Para o bairro Barcelos, primeira área atendida pelo Programa Papel Passado, foi aplicada a Adjudicação Compulsória, por se tratar de área particular loteada e não aprovada. Para essa área, os moradores já possuíam documentos de compra e venda e a quita-ção dos lotes. Para os casos de vendas por recibos particulares ou contratos particulares de ces-são de posse, foi utilizado o instrumento jurídico da usucapião extraordinária e especial urbana. Algumas famílias que já possuem escrituras defi nitivas vão aguardar a averbação da Planta de Aprovação de Loteamento (PAL), para então ajuizar ação de retifi cação de metragem na Vara de Registros Públicos, na Comarca do Rio de Janeiro. Nas áreas públicas, como Laboriaux e Vila Cruzado, o instrumento aplicável é a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), por processo administrativo municipal, e a Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM).

A Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro está analisando a PAL do bairro Barcellos. Após a averbação no 2o Registro Geral de Imóveis, a área será desmembrada e cada morador terá seu lote identifi cado para que possa realizar o registro individual. Para as demais áreas, a equipe téc-nica da Fundação Bento Rubião aguarda a fi nalização da topografi a para a elaboração das PALs.

A experiência não envolve intervenções ou obras de urbanização. Porém, a Rocinha foi objeto de um concurso de ideias para urbanização do bairro, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). O vencedor foi posteriormente contratado pelo Estado para a rea-lização do projeto, com fi nanciamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto prevê, entre outras intervenções, a construção de novas unidades habitacionais

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para 500 famílias em novos prédios que serão construídos na parte alta da favela. Também está prevista a construção de novas ruas, um centro esportivo com piscina, um centro de convivência, duas creches e um mini-hospital. O projeto de regularização já estava implan-tado na comunidade antes das obras do PAC, que exige a elaboração do processo de regu-larização da comunidade atendida. O Ministério das Cidades está atuando em paralelo ao processo já iniciado na comunidade, enquanto a equipe da Fundação Bento Rubião está se articulando, na medida do possível, para atuar em parceria para que a comunidade seja benefi ciada como um todo.

Vidigal - Ambiental Engenharia e Consultoria Ltda.O assentamento informal do Vidigal teve início no começo do século passado. Nos anos

1940, com o crescimento dos bairros da zona sul carioca, ocorreu um incremento no povoa-mento da região, inicialmente, na área abaixo da avenida Niemeyer e nas vizinhanças da praia do Vidigal. Ainda na década de 1940, iniciou-se a ocupação da estrada do Tambá, conhecida atualmente como Presidente João Goulart. A partir daí, ao longo do tempo, a comunidade en-frentou várias ameaças de remoção. Somente na década de 1980, foi contemplada com ações ligadas à regularização, quando o governo estadual lançou o plano Cada Família um Lote, objetivando regularizar os assentamentos. Em 1996, o programa Favela-Bairro da Prefeitura do Rio de Janeiro trouxe muitas melhorias para a infraestrutura do bairro. Na época, foram defi nidos os limites da Área de Especial Interesse Social (AEIS) do Vidigal, com o objetivo de amparar a implementação do programa.

Aproximadamente, 65% da comunidade ocupam uma grande porção do loteamento bairro Vidigal, não reconhecido pelo município. Existe um processo de desapropriação movi-do pelo Estado do Rio de Janeiro em relação a essa área. Grande porção do restante, 35%, da comunidade está localizada em parte de um loteamento aprovado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, composto de 15 lotes, pertencente à particular. A comunidade ocupa do lote 5 ao 15. Para essa área também existe um processo de desapropriação, transitado em julgado com a precatória já expedida. A comunidade do Vidigal abrange ainda um pequeno terreno situado à avenida Niemeyer, de propriedade particular, pertencente também a um loteamento apro-vado pelo município.

O cadastramento dos imóveis tem por fi nalidade o levantamento e processamento de dados cartográfi cos, literais e processuais, de maneira a permitir a adequada elaboração das peças necessárias ao processo de regularização fundiária pretendida. A metodologia adota-da no desenvolvimento desse cadastramento possui três áreas distintas de atuação: técnico-social, físico-espacial e jurídica.

As atividades que envolvem a atuação técnico-social têm por principal fi nalidade as-sessorar a comunidade para o entendimento de todo o processo de regularização fundiária, para o qual é imprescindível a adesão dos moradores da comunidade. Desse modo, a atuação social faz-se necessária em todas as fases do processo. Essas atividades, além de auxiliarem no

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esclarecimento da população-alvo dos instrumentos de regularização a serem adotados, são importantes para promover a participação e a adesão necessárias.

A etapa físico-espacial envolve a aquisição e o preparo das bases cartográfi cas. Essa atividade é fundamental para o mapeamento de diversos temas e consecução do cadastro físico, executado com a fi nalidade de gerar as peças técnicas necessárias ao provimento da regularização fundiária. Assim como os serviços na área social, essa etapa tem suas atividades desenvolvidas do início ao fi m dos trabalhos.

Quanto à abordagem das questões de ordem jurídica, essas também permeiam o de-senvolvimento das etapas de levantamentos previstos e principalmente as atividades prepa-ratórias. Além disso, assessoram as equipes técnicas (social e físico-espacial) sobre os aspectos relacionados ao processo de regularização fundiária e auxiliam na defi nição dos instrumentos e diretrizes para sua implantação. A atuação da consultoria jurídica alcança também a orien-tação nas fases de elaboração do plano de regularização e de cadastramento.

Mostra-se imprescindível a integração entre os diferentes segmentos de profi ssionais responsáveis pelas três áreas distintas de atuação, pois o êxito dos serviços depende do esfor-ço e do interrelacionamento dessas equipes.

Salienta-se a importância do ACT, que envolve entes dos governos federal, estadual e municipal, para o sucesso do processo de regularização em curso.

Para a defi nição dos instrumentos jurídicos utilizados no ajuizamento das ações referen-tes ao processo de regularização fundiária do Vidigal, foi preciso aprofundar a pesquisa cartográfi ca e cartorial, tendo em vista a obtenção de um diag-nóstico preciso da titularidade da área. Assim, nas áreas particulares, defron-tamo-nos com a perspectiva de duas modalidades de titulação: usucapião individual ou coletiva. Quando a densidade da área for muito acentuada, impossibilitando a individualização dos lotes, indica-se a usucapião coletiva.

No caso da parte ocupada do loteamento, composto por 15 lotes, in-cide um processo expropriatório. Segundo informações coletadas na Pro-curadoria Geral do Estado, o processo transitou em julgado e a precatória já foi expedida. A área, portanto, passará futuramente para a propriedade do Estado do Rio de Janeiro. Assim, será possível promover a regularização fundiária pela CDRU. Imitido na posse provisória da área, o Estado do Rio de Janeiro, por ter lei que o autoriza, pode outorgar aos moradores o Termo de Promessa de Concessão de Uso. Uma vez concluída a desapropriação, com o registro do imóvel transcrito no Registro Geral de Imóveis, transfe-rindo a propriedade ao Estado, este poderá outorgar o Termo de Conces-são de Uso aos moradores.

O cadastro para a regularização fundiária do Vidigal já foi concluído. A área total cadastrada foi de 261.085,23m2, constituída de 83 quadras, 1.307 lotes e 3.753 unidades. Já foram fi nalizados com êxito 2.722 cadas-

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tros socioeconômicos. Estão, agora, habilitados à regularização os lotes de 1.733 famílias. Os quantitativos atingidos são de quase 50% dos cadastros realizados com possibilidade de serem regularizados. Além do encaminhamento dos dossiês de cada cadastro executado às instituições parceiras pertinentes, para agilizar o processo de regularização urbanística e con-sequentemente o fundiário, foram elaboradas as PALs, com a conformação atual da comuni-dade, e encaminhadas à Secretaria Municipal de Urbanismo para aprovação.

Responsáveis pelas informações:RocinhaNome: Priscila Soares da SilvaEntidade: Fundação Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento RubiãoCargo: Arquiteta e urbanista Endereço: Avenida Beira Mar, 216, sala 701, Castelo, Rio de Janeiro-RJE-mail: [email protected]: (21) 2262-3406 / Fax: (21) 2533-0837VidigalNome: Schirley de Azevedo Cardoso MachadoEntidade: Ambiental Engenharia e Consultoria LtdaCargo: Coordenadora executivaEndereço: Rua Martins Ferreira, 28, Botafogo, Rio de Janeiro-RJE-mail: [email protected]: (21) 3232-1850 / Fax (21) 2286-1817

Vidigal (RJ) Foto: Acervo da Empresa Ambiental Engenharia e Consultoria Ltda.

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1.2 - Secretaria do Patrimônio da União - Experiências em Regularização Fundiária Urbana

A Secretaria do Patrimônio da União (SPU), vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, é responsável pela gestão dos imóveis públicos federais. Em 2003, implantou uma nova política de gestão de seus imóveis, cuja missão foi redefi nida a partir dos princípios constitucionais, do Estatuto da Cidade e das diretrizes das Políticas Nacionais de Habitação, de Desenvolvimento Urbano e de Regularização Fundiária, coordenadas pelo Ministério das Cidades.

A atual missão da SPU é conhecer, zelar e garantir que cada imóvel da União cumpra sua função socioambiental em harmonia com a função arrecadadora, em apoio aos programas estratégicos da Nação. A regularização fundiária urbana é considerada uma das ações priori-tárias da Secretaria a partir de eixos estruturantes relacionados aos aspectos administrativos, cadastrais, urbanístico-ambientais, jurídicos, cartoriais e de gestão democrática. O fi nal de cada processo deve resultar na garantia plena do direito à moradia digna dos cidadãos como componente de cidades sustentáveis.

Para a ampliação das ações de regularização fundiária, alguns obstáculos legais sig-nifi cativos foram removidos. Em 2007, foi aprovada a lei federal nº 11.481, que retira os principais entraves jurídicos da legislação patrimonial. Um dos grandes avanços é a possibilidade de utilização de vários instrumentos de regularização fundiária em áreas da União, que asseguram claramente o direito subjetivo à moradia. Esse passo foi funda-mental para a implementação concreta da função social da propriedade pública e para o fortalecimento da nova ordem jurídico-urbanística estabelecida a partir da Constituição Federal de 1988.

Partindo da integração de diferentes ações, a SPU evidencia o entendimento de que a regularização fundiária de imóveis da União não é entendida apenas como a transferência de direitos sobre o imóvel, mas como a construção de uma nova política pública que deve considerar os múltiplos aspectos e dimensões do processo de regularização fundiária. Isso ressalta também a necessidade de gestão compartilhada do patrimônio da União com os Estados e municípios a fi m de garantir plena efetividade dessas ações.

Nesse contexto, a formulação de parcerias institucionais da SPU com outros órgãos do governo federal, entre os quais o Ministério das Cidades, além de Estados, municípios e entidades civis, para implantação do processo de regularização fundiária em imóveis de domínio da União, tem resultado em signifi cativas ações. Os avanços foram expressivos tanto em áreas rurais, com a regularização fundiária de territórios tradicionais de comuni-dades remanescentes de quilombos e comunidades ribeirinhas, como em áreas urbanas, conforme experiências relatadas a seguir, enviadas por diversas superintendências regio-nais do Patrimônio da União da SPU.

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Maceió (AL) – Conjunto Joaquim Leão O conjunto Joaquim Leão, em Maceió, ocupado há mais de 20 anos por população caren-

te, é um exemplo de regularização fundiária em terras da União a partir da gestão comparti-lhada e com o estabelecimento de parcerias com diferentes atores. Na década de 1940, a área, situada em um bairro central, foi ocupada por soldados americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, com a implantação, pelo poder público, de loteamentos habitacio-nais, a região foi sendo ocupada por famílias de baixa renda, com a existência, inclusive, de palafi tas em áreas de mangue, sem que a regularização fundiária tenha sido implementada.

Por meio da gestão compartilhada entre a SPU, o Ministério das Cidades/SNPU, a Prefei-tura de Maceió, a Procuradoria Geral do Município, a Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg/AL), a própria comunidade e outros representantes da sociedade civil or-ganizada, foram obtidos signifi cativos avanços, que resultaram em 2.329 processos em an-damento. Desses, 1.200 já foram devidamente solucionados, com a entrega dos respectivos títulos de aforamento devidamente registrados em nome dos moradores.

Inconfi dentes (MG) Alguns municípios no Brasil tiveram sua origem em áreas parciais ou totalmente de do-

mínio da União, a exemplo da cidade de Inconfi dentes, em Minas Gerais. A cidade teve sua origem na colônia Inconfi dentes, formada pelo governo federal, em 1911, para assentamento de agricultores. Atualmente, a área perdeu a sua vocação rural e se confi gura como área urba-na. Porém, a maioria dos imóveis não possui comprovação dominial.

A primeira tentativa de regularização de Inconfi dentes remonta à década de 1970, quando foi realizado o primeiro levantamento topográfi co de toda a área do município. Nesse mesmo período, os ocupantes solicitaram a inscrição dos seus imóveis no cadastro da União, iniciando-se a cobrança de taxa de ocupação, na forma da legislação patrimonial.

Em 1996, devido à apresentação de alguns títulos de propriedade em nome de particu-lares, a SPU inibiu a cobrança das taxas de ocupação e realizou um novo levantamento, con-cluído em 2003, do que efetivamente estava sob o seu domínio. Assim, somente no período 2003-2007, em razão da convocação promovida pela SPU para atualização das inscrições de ocupação, foram formalizados cerca de 600 processos.

Durante esse período, a SPU procedeu à identifi cação das áreas da União ocupadas no município de Inconfi dentes. A partir da aprovação da lei n° 11.481/2007, passou-se a vislum-brar a possibilidade de fi nalizar uma história que se arrasta há décadas e que tanta inseguran-ça tem causado à população do município. A lei estabelece como alternativa para a regulari-zação fundiária de interesse social a doação direta de imóveis da União às famílias carentes, que possuam renda familiar de até cinco salários mínimos e não sejam proprietárias de outro imóvel, urbano ou rural.

Atualmente, encontram-se formalizados e em fase de conclusão na Superintendência do Patrimônio da União no Estado de Minas Gerais (SPU/MG) 180 processos. Desses, cerca de

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130 já foram fi nalizados, com a emissão aos benefi ciários dos títulos de doação das áreas que efetivamente ocupam. Espera-se que esse número seja multiplicado, de forma a se alcançar a totalidade das famílias de baixa renda que preencham as condições legais para receber os imóveis por meio de doação.

João Pessoa (PB) – Assentamentos Padre Zé e Condomínio EsperançaOs assentamentos Padre Zé e condomínio Esperança localizam-se no antigo loteamento

São Bento, aprovado em 1968, e em terrenos de domínio da União contíguos a esse loteamen-to. Os 458 lotes parcelados originalmente deram lugar, ao longo do tempo, à ocupação atual de 1.384 famílias de baixa renda. A área é urbanizada e fi ca próxima ao centro de João Pessoa.

Nessa experiência, foi constatada a necessidade de defi nição das áreas de domínio da União nas zonas ribeirinhas e próximas a manguezais. A delimitação desses terrenos já está em estudo na Superintendência do Patrimônio da União no Estado da Paraíba (SPU/PB).

Vale citar que parte da área encontra-se defi nida na legislação municipal como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). A existência de áreas de risco e de proteção ambiental é um dos obstáculos ainda a ser vencidos no processo de regularização. Houve ainda ocupa-ções nos arredores do loteamento, muito próximas a um rio que sofre infl uência de maré. É caracterizado como terreno de marinha de propriedade da União.

O objetivo principal da ação é a regularização da posse das famílias residentes nos as-sentamentos. No bairro Padre Zé encontram-se quatro tipos distintos de situações para a regularização fundiária: terrenos desapropriados pela prefeitura do loteamento São Bento; imóveis construídos no condomínio Esperança, do qual parte da área também foi desapro-priada pela prefeitura; imóveis construídos em terreno de marinha, de propriedade da União; e imóveis construídos em terrenos de proprietário não identifi cado.

Nos dois primeiros casos, será adotado, como instrumento de regularização, a Conces-são de Direito Real de Uso (CDRU), já tendo sido entregues os primeiros 200 contratos, re-ferentes ao condomínio Esperança. Para o caso dos terrenos em área da União, estuda-se a possibilidade de adotar a Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM) ou o afora-mento. Nas áreas de proprietários não identifi cados, ainda está em estudo qual instrumento adotar. Atualmente, o processo encontra-se em fase de elaboração do projeto de parcela-mento e posterior aprovação.

O resultado de maior relevância nesse processo de regularização foi a garantia da segu-rança da posse das famílias residentes na área. Esse fato gerou a confi ança e a participação das pessoas no processo de regularização. Houve também o empoderamento das lideranças comunitárias, por meio da informação e participação em todas as etapas do processo.

Guarapuava (PR) – Vila Paz e BemO processo de regularização fundiária da Vila Paz e Bem, realizada pela Superintendên-

cia do Patrimônio da União no Paraná (SPU/PR), benefi ciou cerca de 488 famílias de baixa

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renda, que tiveram iniciados seus processos de regularização fundiária em áreas da União, no município de Guarapuava. Os terrenos da Vila Paz e Bem somam 414.000 m².

O governo federal simplifi cou o processo de regularização, cedendo a área da União para a prefeitura municipal. A intenção foi benefi ciar as 488 famílias da comunidade com os títulos de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), devidamente registrados no Cartório de Registro de Imóveis.

Algumas conquistas merecem ser destacadas nessa experiência. Ressalta-se a integra-ção de todos os parceiros envolvidos e o entendimento da importância da regularização fun-diária de interesse social da área para a cidade e, principalmente, para a população moradora da localidade. Ficou entendido que a regularização promove a segurança da posse e cidada-nia dos moradores, além de possibilitar a devida integração da comunidade na estrutura da sociedade urbana.

A união de esforços de todos os atores envolvidos, comunidade, poder público federal e municipal também signifi cou um avanço para resolver os problemas e retirar antigos obstá-culos. A formação de um grupo gestor para coordenar o processo de regularização fundiária foi um fator essencial para a melhor condução de todas as ações.

Recife (PE) – Brasília Teimosa As primeiras ocupações em Brasília Teimosa surgiram em meados de 1957, coincidindo

com a construção de Brasília. É um assentamento antigo, localizado na zona sul do Recife. Essa experiência é conhecida nacionalmente como um dos primeiros processos de regula-rização fundiária de interesse social. Apesar dos muitos obstáculos, a comunidade, de forma “teimosa”, organizou-se, com a ajuda da Igreja Católica e de organizações da sociedade civil, e apresentou ao poder público uma proposta de regularização e urbanização da área. O Projeto “Teimosinho” propunha a regularização fundiária em favor dos ocupantes e reivindicava a urbanização da área fi nanciada com recursos do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH) no programa denominado Promoradia.

Em 1979, a SPU cedeu a área ao município de Recife, por meio de contrato de afora-mento gratuito para fi ns de regularização fundiária. Naquela época, o município promoveu o parcelamento e o registro da área. Contudo, de forma incompleta.

A partir de muita luta da comunidade local, em 1983, a área foi instituída como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Foi a primeira vez que se instituiu no país este instrumento, a partir da Lei de Uso e Ocupação do Solo da cidade do Recife.

A área em questão foi alvo constante de especulação imobiliária, sofrendo, inclusive, dois incêndios misteriosos, mas a comunidade soube resistir e se organizar em prol de uma habitação digna.

Em 2005, com o objetivo de dar continuidade ao processo de regularização, iniciado pelo município na década de 1980, foi realizado um novo contrato de cessão da área pela SPU à cidade de Recife. O processo anterior expirou sem a conclusão do que havia sido acordado,

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porém, desta vez, com previsão para a emissão de títulos de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) em nome das famílias residentes. Para tanto, foram realizadas as seguintes atividades: levantamento topográfi co cadastral, pesquisa socioeconômica, emissão dos instrumentos de concessão, assinatura dos contratos, registros dos termos e entrega dos títulos.

Com o novo contrato de cessão, o processo de regularização fundiária foi reiniciado e culminou na titulação de 1.791 domicílios. Estima-se, pelo cadastro socioeconômico não fi nalizado, que ainda serão entregues e registrados cerca de 7 mil títulos em Brasília Tei-mosa. Dessa forma, pretende-se atender as famílias que residem na área e que não foram ainda contempladas.

Essas ações de regularização fundiária e urbanização de Brasília Teimosa visaram extinguir as ocupações precárias na praia sob palafi tas (projeto denominado Recife Sem Palafi tas), além de devolver aos cidadãos recifenses a areia da praia com todo o seu potencial turístico.

A participação da Superintendência do Patrimônio da União de Pernambuco (SPU/PE) nes-se processo deve-se principalmente à mudança de paradigma da destinação dos bens imóveis da União pela atual coordenação da SPU. Destaca-se nessa experiência a parceria estabelecida entre a SPU, a Prefeitura da Cidade do Recife e as ONGs que participaram de todo o processo.

Rio das Ostras (RJ) – Assentamento Nova EsperançaA área do assentamento Nova Esperança foi ocupada de forma espontânea e desorde-

nada, por população, em sua maioria, carente. Compreende o total de 395.119,84 m².A Prefeitura de Rio das Ostras elaborou projeto de parcelamento, levando em conside-

ração a ocupação existente e as obras de infraestrutura, como pavimentação de ruas e sanea-mento básico, já implementadas.

Destacam-se, nessa experiência, as parcerias efetivas entre as instituições e a sociedade civil envolvidas. Sem elas, não haveria qualquer possibilidade das ações terem sido executadas. Foram vários os parceiros do Programa de Regularização Fundiária de Nova Esperança: Prefeitu-ra de Rio das Ostras, por intermédio da Assessoria de Programas Especiais e da Secretaria Muni-cipal de Planejamento; Superintendência do Patrimônio da União no Estado do Rio de Janeiro (SPU/RJ); Procuradoria da União da Fazenda Nacional; Rotary Club de Rio das Ostras; Ministério Público Estadual, Defensoria Pública e a Associação de Moradores de Nova Esperança.

Os resultados alcançados a partir dessas articulações e parcerias estabelecidas foram a criação de 157 registros patrimoniais (RIPs) e cartoriais (títulos), a entrega de 150 títulos em fase de registro e a confecção de aproximadamente 1.300 títulos a serem outorgados.

Porto Alegre (RS) – Rua São Miguel, 237, Bairro Partenon Esse foi o primeiro caso de aplicação de Concessão de Uso Especial para fi ns de Moradia

(CUEM) realizado pela Superintendência do Patrimônio da União no Rio Grande do Sul (SPU/RS). Serviu de exemplo para outros tantos casos e foi utilizado para desvendar o passo a passo operacional necessário para a aplicação desse instrumento de regularização fundiária.

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Em 2001, a União adquiriu, via Carta de Adjudicação, uma área urbana de 1.700,00 m², em um bairro residencial de Porto Alegre. Após essa aquisição, foi verifi cado pela SPU/RS que a área se encontrava ocupada, desde 1990, por 11 famílias de baixa renda.

Em 2007, com a edição da lei federal nº 11.481, o procedimento para a regularização fundiá-ria em áreas da União, inclusive para utilização do instrumento CUEM, fi cou mais ágil e facilitado. Procedeu-se, nessa ocasião, ao recadastramento socioeconômico dos moradores e a instrução dos processos administrativos. Ressalta-se que a regularização fundiária da área contou com o apoio de representante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM).

Em abril de 2008, lavrou-se o contrato de CUEM coletiva em nome dos moradores e seu registro no Cartório de Registro de Imóveis, garantindo o direito à moradia às 11 famílias de baixa renda, conforme previsto na Constituição Federal.

Guarujá (SP) – ConceiçãozinhaO sítio Conceiçãozinha encontra-se em área da União Federal, comprovadamente ocu-

pada desde a década de 1950 por famílias de baixa renda, que utilizam o local para fi ns de moradia. A regularização do assentamento é uma demanda antiga da comunidade, que, em abril de 2006, representada pela Sociedade de Melhoramentos da Conceiçãozinha (Some-con), formalizou na Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo (SPU/SP) o pedi-do da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM).

Em 1972, toda a faixa ao longo do canal de Santos foi desapropriada, por meio de de-creto de utilidade pública (decreto nº 7.1398/72), para expansão do porto de Santos. O assen-tamento em questão encontra-se encravado na área portuária. Nas áreas desapropriadas ao

Córrego Pouca Saúde, Conceiçãozinha, Guarujá (SP) Foto: Julia Moretti

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longo do estuário e do rio Pouca Saúde e nos terrenos alagadiços foram construídas moradias precárias, a maior parte palafi tas.

Observa-se, assim, que o objetivo principal da ação é a garantia do direito à moradia, tendo em vista a insegurança jurídica na posse dos moradores da área, causada princi-palmente por pressão econômica gerada pela proximidade da ocupação precária com o porto de Santos.

Um dos grandes obstáculos enfrentados foi a fi nalização da ação judicial de desa-propriação de parte da área, em curso desde 1973. Vários obstáculos já foram vencidos. O cadastramento já foi concluído e entregues cerca de 1.600 títulos de CUEM aos moradores da comunidade.

Cidade de São Paulo (SP) – Bairro da Luz A experiência do bairro da Luz, no centro da cidade de São Paulo, destaca-se pelo fato de

estar localizados ali os primeiros imóveis da União que foram destinados a uma cooperativa para regularização de habitação de interesse social – a Cooperativa dos Catadores Autôno-mos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (Coopamare), que surgiu em 1989 de um projeto de moradores de rua.

Para viabilizar tal projeto, a SPU cedeu à prefeitura, sob regime de Concessão de Direi-to Real de Uso (CDRU), os imóveis da União localizados na rua Brigadeiro Tobias, 258 (894,50 m²), e rua Vitória 100/104 (102,00 m²) e 106/108 (352,00 m²). Essa cessão visa à construção de 90 unidades habitacionais que irá atender a população de baixa renda organizada por meio da Coopamare.

Responsáveis pelas informações:Nome: Renata Araújo Villa NovaEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado de AlagoasCargo: Técnico de nível superiorEndereço: Praça Dom Pedro II, 16, centro, Maceió-ALE-mail: [email protected] / Fax: (82) 3311/ 2671

Nome: Nara Amaral Medeiros de PaulaEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado de Minas GeraisCargo: Analista de planejamento e orçamentoEndereço: Av. Afonso Pena, 1316, 10o andar, Ala B, centro, Belo Horizonte-MGE-mail: [email protected]: (31) 3218-6056 / 6038 / Fax - 3218-6058

Nome: Ana Catarina Machado de Arruda / Jennifer dos Santos BorgesEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado da ParaíbaCargo: Arquitetas Endereço: Av. Epitácio Pessoa,1705, Bairro dos Estados, João Pessoa-PB E-mail: [email protected] / [email protected]: (83) 3216-4470

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Nome: Urânia Flores da Cruz FreitasEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado do Paraná Cargo: Chefe de serviçoEndereço: Rua Munhoz da Rocha, 1247, Cabral, Curitiba-PRE-mail: [email protected] / uraniafl [email protected] Telefone: (41) 3254-6365 - ramal 233 / Fax: (41) 3254-6365 - ramal 221

Nome: Paulo Roberto Ferrari Lucas AlvesEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado de PernambucoCargo: Superintendente Endereço: Av. Alfredo Lisboa, 1168, 5º Bairro do Recife, Recife-PEE-mail: [email protected]: (81) 3797-5576 / Fax: (81) 3797-5489

Nome: Tiago Gonçalves (Informações sobre Brasília Teimosa)Entidade: Prefeitura do Recife - Gerência de Regularização FundiáriaCargo: Gerente de regularização fundiáriaEndereço: Av. Cais do Apolo, 925, 12° andar, Bairro do Recife, Recife-PETelefone: (81) 3232-8593 / Fax: (81) 3232-8764

Nome: Francine Ferman Bezerra Cavalcanti e José Henrique LockenEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado do Rio de JaneiroCargo: Geógrafa e engenheiroEndereço: Av. Presidente Antônio Carlos, 375, Rio de Janeiro-RJE-mail: [email protected] / [email protected]: (21) 3805-3526 ou (21) 3805-2556 / Fax: (21) 3805-3512

Nome: Maria do Carmo Cardoso BackesEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado do Rio Grande do SulCargo: Especialista em políticas públicas e gestão governamentalEndereço: Av. Loureiro da Silva, 445, 10º andar, Porto Alegre-RSE-mail: [email protected]: (51) 3455-2087 / Fax: (51) 3455-2096

Nome: Ana Lucia dos AnjosEntidade: Superintendência do Patrimônio da União no Estado de São PauloCargo: Analista de planejamento e orçamentoEndereço: Av. Prestes Maia, 733, 13° andar, São Paulo-SPE-mail: [email protected] Telefone: (11) 3227-2868 / Cel: 9654-2025 / Fax: (11) 3229-4691

Responsável pelas informações gerais da SPU:Nome: Cristiane Siggea Benedetto Entidade: Secretaria do Patrimônio da União Cargo: Coordenadora Geral de Projetos EspeciaisEndereço: Esplanada dos Ministérios, Bloco C, 2º andarE-mail: [email protected] Telefone: (61) 2020-1336

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Experiências de Regularização Fundiária Realizadas pelos Estados e Defensorias Públicas2Alagados, Salvador (BA) Foto: Acervo Conder

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELOS ESTADOS E DEFENSORIAS PÚBLICAS

F ato relevante ao longo da consolidação do Programa Papel Passado foi o envolvimento progressivo de vários Estados da Federação com a temática da regularização fundiária

urbana. Inicialmente, desde 2003, a realização das Conferências das Cidades permitiu ao go-verno federal perceber o interesse em torno dos temas de ordenamento urbano e territorial, habitação e política fundiária. Num segundo momento, as regras do Programa Papel Passado recepcionaram o compromisso e o interesse dos Estados em formular políticas e programas relativos a essa questão. Assim, já foram apoiados, desde 2004, dez Estados, com repasses do Programa Papel Passado.

Posteriormente, a Secretaria Nacional de Programas Urbanos (SNPU) fortaleceu o prota-gonismo dos Estados mediante convênios firmados em 2007, 2008 e 2009. Foram viabilizadas ações de regularização fundiária na vertente do planejamento municipal e ações específicas de assentamentos. Invariavelmente, os convênios firmados entre a SNPU e os Estados pro-porcionaram a necessária aproximação com os municípios beneficiados, que consolidaram os compromissos e fortaleceram políticas locais de regularização fundiária. Até o presente, foram firmados convênios com os Estados de Minas Gerais, Pará, Mato Grosso e Roraima.

Além do apoio financeiro direto, a SNPU busca apoiar as ações implementadas pelos Estados de forma autônoma, por meio de atividades de capacitação, articulação institucional e adequação de legislação federal. Os resultados já podem ser melhor entendidos pelas várias experiências aqui selecionadas.

2.1 - Estado da Bahia – Secretaria de Desenvolvimento Urbano

A Habitação e Urbanização S.A (Urbis), empresa de economia mista em processo de li-quidação desde 1999, é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia. A empresa implementou intervenções públicas que tiveram como objetivo a regula-rização fundiária de 92.199 unidades habitacionais, construídas pela própria Urbis, por meio do Sistema Financeiro de Habitação, bem como das unidades habitacionais construídas infor-malmente nas áreas remanescentes, institucionais e verdes dos referidos conjuntos.

A situação fundiária das glebas onde foram implantados os conjuntos habitacionais é diversa: a maior parte encontra-se sob o domínio da Urbis, adquirida por meio de compra direta, e processos desapropriatórios movidos pelo Estado da Bahia, com posterior doação à empresa. Contudo, existem glebas pertencentes aos municípios e a particulares, além de processos desapropriatórios em curso. A intervenção está estruturada em fases e estratégias distintas, com dois focos: os conjuntos habitacionais formalmente construídos pelo Estado e as ocupações informais.

A Urbis construiu 221 conjuntos habitacionais, englobando 92.199 unidades habita-cionais em todo o Estado, muitas vezes não atendendo às normas legais e aos padrões ur-

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

banísticos. Tampouco, levou em conta a regularidade fundiária das glebas. Vários conjuntos foram entregues à população com ação de desapropriação em curso, sem imissão de posse, ou mesmo sem o devido ajuizamento da ação expropriatória. A Urbis também se omitiu na obrigação legal de transferir aos municípios praças, áreas de equipamentos públicos e espa-ços livres. Hoje, diversas dessas áreas estão ocupadas irregularmente.

A lei estadual nº. 7.435/98 determinou que a Urbis entrasse em processo de liquidação, situação que perdura até o presente momento, o que exige da empresa o levantamento dos seus ativos e passivos, respeitando os trâmites da Lei de Sociedade Anônima.

O Estado da Bahia promoveu a remição das prestações não pagas, por meio da lei esta-dual nº. 8209/02. À Urbis caberia promover a outorga de escrituras.

A ação de regularização fundiária buscou inicialmente a promoção da regularização das glebas onde foram implantados os conjuntos habitacionais, seguida da averbação do empre-endimento nas prefeituras municipais. A seguir, finalizaria com a outorga das escrituras aos moradores dos conjuntos habitacionais.

Em relação às áreas ocupadas informalmente, buscou-se o georrefenciamento delas e a sobreposição em fotos aéreas, além da elaboração de diagnóstico para subsidiar a intervenção.

Foram realizadas parcerias com as prefeituras municipais no intuito de obter a aprovação de leis para a isenção do Imposto de Transmissão Inter Vivos (ITIV). No caso de conjuntos habitacio-nais construídos em terrenos de propriedade do poder público municipal, foi necessário que os municípios promovessem doações à Urbis a fim de que a empresa pudesse outorgar as escrituras.

Outro parceiro importante foi a Corregedoria de Justiça do Estado, que emitiu em 2008 a instrução normativa nº. CGJ. 01/08 - SEC, que instrui claramente os oficiais de Registro de Imóveis do Estado a cumprirem a isenção com relação ao pagamento das custas cartorárias, previsto na lei estadual nº 4.256/1984. As associações de moradores também foram identifi-cadas como atores fundamentais.

Os resultados alcançados pelas ações incluem a averbação de 87 conjuntos habitacio-nais nos cartórios de registro de imóveis; a outorga de 4.211 escrituras, no período de 2007 a 2008, e 1.174 no período de janeiro a junho de 2009; viabilização da transferência para o Estado de domínio de terrenos onde localizam-se escolas estaduais; além de parecer jurídico da Procuradoria Geral do Estado favorável à outorga de escrituras para ocupantes de imóveis sem vínculos jurídicos com a Urbis, que até então não podiam regularizar sua situação.

Responsável pelas informações:Nome: Bruno HeimEntidade: Secretaria de Desenvolvimento Urbano – Diretoria de Regularização FundiáriaCargo: Coordenador II de regularização fundiária Endereço: Rua Erico Veríssimo, 80, Itaigara, Salvador-BAE-mail: [email protected]: (71) 3353-7816 / Fax: (71) 3116-5734

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELOS ESTADOS E DEFENSORIAS PÚBLICAS

2.2 - Estado da Bahia – Companhia de Desenvolvimento Urbano

A cidade de Salvador conta com uma população de 2.948.733 habitantes, segundo esti-mativa do IBGE em 2008. Cerca de 28,7% têm renda mensal familiar per capita inferior a meio salário mínimo, conforme o Censo de 2000, e ocupam áreas informais e de risco. Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 2007, o déficit habitacional era de 141 mil na região metropolitana de Salvador. 

O Estado da Bahia vem desenvolvendo ao longo dos anos ações de intervenções físicas e fundiárias visando eliminar a informalidade e a urbanização da área de Alagados e Novos Alaga-dos. Essas áreas são constituídas de poligonais com 2.084.936,79 m² (Alagados) e 638.127,58 m² (Novos Alagados), ambas com aforamento concedido pela União e registradas nos cartórios de imóveis competentes, em favor da Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder).

Alagados surgiu de uma ocupação, em 1940, inicialmente em terra firme, mas, ao lon-go dos anos, avançou mar adentro a partir de edificações do tipo palafitas. Essa área sofreu, diversas intervenções do Estado, tais como a retirada das palafitas, urbanização, aterro, im-plantação de redes de água, esgoto, energia elétrica e construção de novas habitações para remoção das famílias que moravam em áreas de risco.

As poligonais de Alagados e Novos Alagados foram consideradas Zona Especial de Inte-resse Social (ZEIS), por intermédio da lei municipal nº 7.400/2008. Diversas foram as ações de intervenção. Porém, considerando a dimensão da poligonal, o crescimento populacional e a construção desordenada das ocupações nas áreas ainda não trabalhadas, houve necessidade de novas intervenções.

Os assentamentos que inicialmente tinham uma ocupação totalmente horizontal estão hoje bastante verticalizados. Os imóveis, em sua maioria, possuem dois a três pavimentos e necessitam ainda ser legalizados.

A Conder, em parceria com a Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU/BA), inicialmente desenvolveu um projeto piloto nas áreas denominadas Massaranduba e Uru-guai, em Alagados. Foram cadastradas 1.166 unidades habitacionais, originando 574 Es-crituras de Transferência de Aforamento, devidamente registradas em cartório de imóveis e entregues aos beneficiários. Do saldo restante, 592 escrituras, 181 se encontram na De-fensoria Pública, 101 em processo de comercialização e 310 com pendências diversas de documentação pessoal.

Na área de Novos Alagados, foram cadastrados 1.245 imóveis. Desses, foram lavradas 294 escrituras de aforamento, já registradas e entregues aos beneficiários, 380 escrituras registradas para ser entregues, 56 estão na Defensoria Pública, 58 em processo de comer-cialização e 457 com pendências de documentação diversas.

A Conder, em parceria com o Ministério das Cidades, vem desenvolvendo o cadastra-mento de 7 mil imóveis, com o objetivo de alcançar a titulação de 5 mil unidades na área

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

de Alagados. Até a presente data, foram elaborados 1.678 cadastros. Desses, 290 estão em processo de elaboração de escrituras, 53 na Defensoria Pública e 1.335 em processo admi-nistrativo de análise física, social e jurídica.

Todo o trabalho de regularização fundiária desenvolvido tem a participação atuante da GRPU/BA, da comunidade, por meio de suas lideranças, da Defensoria Pública do Esta-do, que atua nas ações civis, pertinentes aos imóveis que necessitam de soluções no âm-bito judicial, e os cartórios de imóveis, que têm procedido com os registros das escrituras totalmente sem ônus.

Responsável pelas informações:Nome: Célia Maria de Brito SáEntidade: Conder Cargo: Coordenadora do Grupo de Trabalho de Regularização Fundiária Endereço: Av. Edgard Santos, 936, Narandiba, Salvador-BA E-mail: [email protected] Telefone: (71) 3117-3680 / Fax: (71) 3117-3680

2.3 - Distrito Federal – Companhia de Desenvolvimento Habitacional

O governo do Distrito Federal, em parceria com o Ministério das Cidades, está construin-do 1.290 unidades habitacionais, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A proposta está no âmbito do Projeto de Regularização Fundiária da Vila Estrutural como ação da política pública específica do Distrito Federal para a implementação da regula-rização fundiária em várias áreas de seu território.

Segundo dados do IBGE (2007), de 2.455.903 habitantes, hoje, no Distrito Federal, há apro-ximadamente 274.107 habitantes em assentamentos informais, o que corresponde a 11% da população total. Em 2008, foi criada a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), que tem como uma de suas atribuições a regularização fundiária de Áreas de Interesse Social (ARIS), definidas no Plano Diretor de Ordenamento Territorial e Urbano, lei nº 803/2009, ou em lei distrital específica. Destaca–se a experiência da Vila Estrutural, localizada na região administrativa do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA).

A Vila Estrutural é uma ocupação irregular, de baixa renda, originada na década de 1970, como assentamento espontâneo de população de catadores de lixo, nos arredores de área de aterro sanitário, inserida no tecido urbano de Brasília. No passado, algumas intervenções do governo do Distrito Federal para erradicar a ocupação não foram eficazes e a ocupação foi consolidada pelo aumento do número de catadores e pela instalação de chácaras (plantio de subsistência) às margens do córrego Cabeceira do Valo.

Na década de 1990, a ocupação cresceu de forma desordenada, com o aumento da popu-lação de diversas origens, não mais voltada apenas às atividades de coleta e seleção de resíduos

Novas casas da Vila Estrutural

Remoção de familias, Vila Estrutural (DF)

Novas casas da Vila Estrutural (DF)

Abrigo Temporário de 31 famílias, Vila Estrutural

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sólidos. O uso do solo predominante é o uso residen-cial, mas também observa-se o uso comercial e de prestação de serviços de pequeno porte. Hoje, ape-nas 3% dos moradores são catadores de lixo.

A área possui 183 hectares e está situada em terras desapropriadas entre a DF-095 (via EPCL - via Estrutural), o córrego Cabeceira do Valo, o SCIA e os limites do Parque Nacional de Brasília. Está a 15 km do Plano Piloto – a área central de Brasília. Hoje, a Vila Estrutural tem aproximadamente 35 mil habi-tantes, com um total de 8.620 famílias e 4,06 habi-tantes por unidade habitacional.

Em 2002, mediante a lei complementar dis-trital nº 530, a Vila foi declarada como Zona Habi-tacional de Interesse Social e Público (ZHISP). Na época, alguns entraves de ordem ambiental resul-taram em dificuldades para o desenvolvimento do processo de regularização. Em 2006, essa lei foi re-vogada pela lei complementar nº 715, que definiu a Estrutural como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Dentre outros dispositivos, a lei de ZEIS es-tabeleceu a necessidade da obediência ao proje-to urbanístico, às restrições e aos condicionantes físico-ambientais, recomendados pelos estudos e licenças ambientais. Os principais condicionantes são referentes à proximidade do Parque Nacional (Unidade de Conservação - UC) e à localização de área do aterro de lixo, além dos problemas decor-rentes da ausência de infraestrutura.

Dentre os dados socioeconômicos disponí-veis, baseados em censo realizado pelo governo do Distrito Federal (2003), destacam-se: mais de 92% ganham até seis salários mínimos; 91% residem no Distrito Federal há mais de cinco anos; 69,28% das famílias possuem de um a três dependentes; e ape-nas 14,38% são provenientes do Distrito Federal.

Em 2004, o GDF iniciou negociações com o Banco de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD),

Novas casas da Vila Estrutural

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Abrigo Temporário de 31 famílias, Vila Estrutural

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Banco Mundial, para investimentos naquela localidade, no âmbito do Programa de Sanea-mento Ambiental e Gestão Territorial – Brasília Sustentável. Nesse sentido, foi criado o Projeto Integrado Vila Estrutural (PIVE), que compreende o conjunto de intervenções no local, cujos principais objetivos são a regularização fundiária, melhorias habitacionais, implantação de infraestrutura e ações de gestão socioambiental.

Como principal desafio desse projeto, destaca-se a compatibilização do cronograma das diversas obras de infraestrutura, equipamentos e unidades habitacionais com o cronograma de remoção e reassentamento, considerando a complexidade do projeto, caracterizada pela extensão da área e pelo número de famílias envolvidas (8.620 famílias).

Quanto aos instrumentos legais de titulação, a lei nº 715/06 (ZEIS) permite a assinatura de contratos a partir do instrumento de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) pelos ocu-pantes da área após a aprovação e registro do parcelamento do solo.

Em 2008, foram iniciadas as obras da via do Contorno e das redes de infraestrutura, com pre-visão de entrega em dezembro de 2009. Devido às obras iniciais, foram removidas 31 famílias para a área de apoio, até a conclusão das primeiras casas. Outras foram atendidas por aluguéis sociais na própria Vila. Em junho de 2009, as famílias já foram transferidas para as unidades residenciais.

Também estão em andamento as obras das 1.360 casas que deverão abrigar, primeira-mente, 903 famílias relocadas. A seleção dessas famílias se deu em função de elas ocuparem áreas de intervenção do projeto de regularização, áreas de risco ou de preservação ambiental. As entregas parciais serão efetivadas até 30 de novembro de 2009.

Em cumprimento às diretrizes estabelecidas no PIVE, foram construídos também equi-pamentos comunitários, como posto policial, restaurante comunitário, escola, posto de saú-de. Estão, ainda, em andamento a construção dos seguintes equipamentos: escolas de ensino infantil, médio e fundamental, outro posto policial, uma Vila olímpica, um centro de referên-cia de assistência social e um centro de referência especializado de assistência social.

Para a execução de obras das unidades habitacionais, trabalho social, implantação das obras de abastecimento de água e construção de equipamentos públicos, o GDF recebeu re-cursos do PAC na ordem de R$ 58 milhões de reais. No contexto do Programa Brasília Susten-tável, o GDF receberá, no total, para as obras da Vila Estrutural, aproximadamente US$ 31,40 milhões de dólares para pavimentação e drenagem, implantação de esgotamento sanitário, desativação e recuperação da área do lixão e construção de um novo aterro sanitário no DF, construção de equipamentos comunitários com recursos do Banco Mundial, além de apli-car recursos próprios do GDF, no valor total de R$ 17,02 milhões para contratação de estudo ambiental e projetos urbanísticos, implantação de rede de energia elétrica e construção de equipamentos comunitários.

É importante destacar a participação da comunidade nas decisões do projeto, mediante a apresentação e a discussão dos condicionantes, do diagnóstico e da proposta urbanística.

Apesar de o projeto de regularização ainda estar em pleno desenvolvimento, já é pos-

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELOS ESTADOS E DEFENSORIAS PÚBLICAS

sível observar que alguns aspectos, procedimentos e processos devem ser reavaliados, tais como: o controle da área para impedir novas ocupações irregulares no decorrer do processo de regularização fundiária; a questão referente à metodologia do levantamento socioeconô-mico – ocupantes e agregados; a operacionalização das convocações para habilitação; e a mobilização da comunidade para a entrega da documentação e comprovação das informa-ções nos prazos estabelecidos.

Outros aspectos também já podem ser quantificados. O processo de titulação está em fase inicial, com a convocação, habilitação e entrega de termos de CDRU para as 32 famílias que receberam as primeiras 32 casas em junho de 2009. Em fase inicial do processo de convo-cação, foram chamadas quase mil famílias. Deverão ainda ser convocadas mais 7 mil famílias, para apresentação de documentação e habilitação, de acordo com os critérios de atendimen-to da política habitacional do Distrito Federal.

Responsável pelas informações:Nome: Ana Lucia Augusto de OliveiraEntidade: Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito FederalCargo: Diretora técnicaEndereço: SCS Quadra 6, Lote13/14, Bloco A, 1º andar, Brasília-DFE-mail: [email protected] Telefone: (61) 3325-1888 / Fax: (61) 3325-2715

2.4 - Estado do Mato Grosso – Instituto de Terras de Mato Grosso

O Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), responsável pela regularização fundi-ária urbana em áreas de domínio do Estado, atua também em parceria com as secretarias estaduais e com os municípios na implementação de ações prioritariamente de regularização fundiária de assentamentos precários.

O Programa Cidade-Cidadã – Projeto Tequenfim é de responsabilidade do instituto. Esse programa desenvolve ações de regularização fundiária urbana e tem como objetivo a pro-moção da regularização fundiária de loteamentos formais – núcleos habitacionais oriundos da Cohab, como também em áreas remanescentes desses núcleos e da colonização oficial urbana promovida pela extinta Companhia de Desenvolvimento do Estado. Promove tam-bém a regularização dos assentamentos informais (ocupações espontâneas / invasões), com o devido reconhecimento, regularização e titulação em áreas de seu domínio. Recentemente, passou a ser de competência do Intermat a legalização dos conjuntos habitacionais construí-dos com recursos do Fetab, por meio do Programa Escritura na Mão.

Dentre as inúmeras regularizações implementadas pelo Projeto Tequenfim, o loteamen-to Jardim União destaca-se como uma experiência recente, cujo processo de regularização está em fase final de titulação.

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O bairro Jardim União localiza-se na porção norte de Cuiabá, próximo do Com-plexo do Centro Político Administrativo (CPA) e da avenida do CPA. Possui uma área de 330.046,00 m². Seu processo de ocupa-ção deu-se a partir do início de 1995, ainda na gestão do governador Dante de Oliveira. Seu modelo de ocupação não é diferente das demais formas de invasão existentes em Cuiabá, comumente chamadas de “ocupa-ções espontâneas”, que difere dos processos chamados grilos (terreno cujo título de pro-priedade é falso).

A ocupação do bairro Jardim União é o que pode ser chamada de espontânea e pacífica, pois em nenhum momento gerou conflito entre “invasores” e o proprietário da terra. A invasão aconteceu em área de do-mínio do Estado de Mato Grosso, dentro do grande perímetro do Complexo do CPA (sede político-administrativa do governo estadual). Essa área foi adquirida pelo Estado de Mato Grosso da Prefeitura Municipal de Cuiabá, em 27/07/1971, pela desapropriação para a construção do CPA.

Em se tratando de uma área afetada, houve a necessidade de uma lei autorizati-va da Assembleia Legislativa de MT para o Intermat proceder à regularização fundiária do assentamento. Assim, a lei nº 8.395, de 15/12/2005, autorizou a transferência do do-mínio dessa área para o Intermat.

Em 2007, a área passou a constituir o loteamento Jardim União por meio do Pro-jeto de Parcelamento do Solo Urbano, devi-damente aprovado pela Prefeitura Municipal de Cuiabá. De 923 lotes, estamos titulando aproximadamente 600.

Jardim União, Cuiabá (MT)

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Jardim União, Cuiabá (MT)

Com relação às condições da habitação, o loteamento Jardim União não foge à regra da maioria dos assentamentos informais de baixa renda, onde muitas casas apresentam condições precárias de habitabilidade. Foram selecionadas 150 unidades, visando imple-mentar obras de melhorias habitacionais, pelo PAC-Cuiabá - Patprosanear.

A área objeto da nossa intervenção não é uma ZEIS e, mesmo tendo todos os requi-sitos para a instituição de uma, não foi possível, por estar inserida em uma Zona de Inte-resse Ambiental (ZIA), denominada de ZIA-1 - Recarga de Aquíferos do CPA. A Prefeitura Municipal de Cuiabá, por meio dos setores competentes, está estudando várias áreas de assentamentos informais precários, visando à delimitação como ZEIS. A definição do Jardim União como ZEIS facilitará em muito a atuação do Intermat, no sentido de definir regras, parâmetros e instrumentos específicos para implementar a regularização fundiária de inte-resse social em áreas urbanas.

No loteamento Jardim União foram implantadas as seguintes obras de infraestrutura urbana e equipamentos públicos: energia: 90% dos domicílios são atendidos; água: 86% dos domicílios possuem água potável; esgoto: as moradias possuem fossas sépticas; abertura de ruas: embora em estado regular de conservação, 100% das ruas estão encascalhadas; asfalta-mento: somente na rua 25, avenida da linha do transporte coletivo, que faz divisa com o Jardim Florianópolis, existe 500m de asfalto, a previsão é de asfaltamento de mais uma avenida que dá acesso ao bairro via CPA.

Assim como a seguinte infraestrutura de serviços: educação – há somente uma escola municipal que atende aproximadamente 1.200 alunos, inclusive o EJA; inclusão digital – há uma escola de informática que atende precariamente cerca de 60 alunos, nos três turnos do Projeto Pró-Jovem; saúde – o atendimento do bairro é feito pelo posto de saúde do bairro Jardim Florianópolis, e atende cerca de 23 pessoas/dia; segurança – devido à escassez do serviço de segurança no entorno, esse serviço é prestado precariamente pelo posto policial do bairro Jardim Vitória; telefonia – o bairro, além de “orelhões”, possui linhas residenciais; serviços de atendimento social: CRAS, centro cívico, campo de futebol, quadra coberta e quadra socyte; linhas de ônibus: possui transporte coletivo regular; coleta de lixo: esse ser-viço é prestado de forma regular no bairro; centro comunitário; creche.

Responsável pelas informações:Nome: Lenice AmorimEntidade: Instituto de Terras de Mato Grosso Cargo: Responsável pelo Projeto TequenfimEndereço: Edifício, 02, CPA, Cuiabá-MTE-mail: [email protected]: (65) 3613-6148 / (65) 3613-6124

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

2.5 - Estado de Minas Gerais – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana do Estado de Mi-nas Gerais, órgão estadual responsável pelo ordenamento territorial, tem como uma de suas finalidades propor e promover políticas de regularização fundiária sustentável nas regiões metropolitanas. Dentre suas atribuições afigura-se o desenvolvimento de planos municipais para a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Estão sendo elaborados planos municipais de regularização fundiária sustentável para 24 municípios: Baldim, Caeté, Capim Branco, Confins, Esmeraldas, Florestal, Ibirité, Igarapé, Jaboticatubas, Juatuba, Lagoa Santa, Mário Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Nova União, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Sarzedo e Taquaraçu de Minas.

O município de Vespasiano foi o primeiro a ser contemplado com seu Plano Municipal de Regularização Fundiária, elaborado em parceria com o Ministério das Cidades e aprovado pela Câmara Municipal pela lei no 2.283/09. Outros tiveram os trabalhos iniciados em 2008. No mo-mento, oito planos estão em fase de conclusão. Desses, cinco são em parceria com o Ministério das Cidades. Outros 16 planos em andamento têm a conclusão prevista para o início de 2010.

Esses planos objetivam estabelecer o Programa Municipal de Regularização Fundiária, a partir da identificação de áreas informais passíveis ou não de regularização fundiária, para as-sim consolidar os instrumentos legais necessários à formulação e implementação das ações.

A elaboração é feita por processo participativo, de modo a fomentar a participação da comunidade em todas as etapas, fortalecer os laços sociais de convivência comunitária e a representatividade da comunidade, estimular os mecanismos de promoção social, buscar a sustentabilidade das propostas apresentadas e compartilhar responsabilidades em uma con-cepção de gestão participativa.

Ao adotar metodologia padronizada para a elaboração desses planos, o governo de Minas Gerais terá o diagnóstico da irregularidade fundiária na região metropolitana de Belo Horizonte,

Foto: Acervo da SedruOficina de Capacitação de Lideranças, Lagoa Santa (MG)

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELOS ESTADOS E DEFENSORIAS PÚBLICAS

para, em seguida, ter uma proposta que vai subsidiar o trabalho de implementação da regulari-zação fundiária e programar ações urbanísticas para os próximos anos. Os resultados prelimina-res dos planos em desenvolvimento permitirão estabelecer uma estratégia de atuação.

Situação de irregularidade por município

Municípios

Projeção de domicílios

total para o ano de 2007

Assentamentos irregulares

Nº de domicílios em

assentamentos irregulares

% de domicílios irregulares em

relação ao total

Caeté 11.766 53 4.139 35,18Confins 1.842 28 1.258 68,3Ibirité 45.493 68 13.576 29,84

Lagoa Santa 14.393 81 6.919 48,07Mário Campos 3.333 20 2.598 77,95

Nova União 1.627 22 1.427 87,71Pedro Leopoldo 17.118 43 7.850 45,86

Raposos 4.606 22 3.149 68,37Ribeirão das Neves 99.174 117 44.058 44,42

Rio Acima 2.586 31 2.440 94,35Santa Luzia 65.075 102 29.957 46,03

Sarzedo 7.110 17 723 10,17Taquaraçu de Minas 1.205 28 1.061 88,05

Vespasiano 27.511 25 8.355 30,37

Fonte: Fundação João Pinheiro – 2007 e Fundação Israel Pinheiro – 2009.

Os planos indicam a necessidade de duas frentes de ações para enfrentar a irregularida-de nos municípios. São definidas ações preventivas para evitar o aparecimento de novas si-tuações de irregularidades e propiciar a implantação de um programa específico de atuação frente aos casos identificados nos municípios.

As ações preventivas incluem, basicamente, fiscalização e iniciativas de educação e in-formação à população. Para as ações corretivas, faz-se necessária a implementação de um programa de regularização fundiária sustentável pelo município.

Um programa como esse deve ter por objetivo legalizar a permanência de populações moradoras de assentamentos irregulares, proporcionando-lhes melhoria das condições so-cioeconômicas e de moradia. Deve, também, fazer parte integrante da política habitacional e desenvolvimento urbano uma vez que efetiva o direito à moradia adequada.

Responsável pelas informações:Nome: Liliana Gomes Rocha SousaEntidade: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política UrbanaCargo: Diretora de Integração do Ordenamento TerritorialEndereço: Rua Bernardo Guimarães, 2.640, 8º andar, Belo Horizonte-MGE-mail: [email protected] Telefone: (31) 3349-9242

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

2.6 - Estado do Pará – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional

O Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regio-nal, com apoio do Programa Papel Passado, do Ministério das Cidades, está implementando em 16 de seus municípios um projeto de capacitação de agentes públicos e comunitários para atuarem na elaboração de planos de regularização fundiária sustentável. O objetivo principal é qualificar as equipes municipais para influírem como multiplicadoras na elaboração e execução de planos municipais de regularização fundiária de assentamentos informais em áreas urbanas, em decorrência das demandas estabelecidas nos planos diretores municipais.

Os planos buscam capacitar, prestar assistência técnica na realização de estudos e promo-ver ações de regularização fundiária para famílias ocupantes de assentamentos urbanos priori-tariamente de baixa renda em áreas públicas de interesse social.

Os municípios do Estado do Pará apresentam sérios problemas fundiários, decorrentes, dentre outros fatores, de um processo desordenado de ocupação que se reflete numa reali-dade em que o patrimônio não se encontra delimitado, e onde aproximadamente 70% dos imóveis urbanos não dispõem de segurança jurídica quanto ao domínio e titulação.

São muitos os obstáculos para a elaboração e a implementação dos planos. Entre eles, a ausência ou imprecisão das informações fundiárias na escala municipal, descontinuidade no processo de planejamento municipal iniciado com aprovação dos planos diretores, ausência de unidades de planejamento de gestão territorial nas estruturas dos executivos municipais, des-crédito popular inicial nas ações do projeto, precariedade ou ausência documental (prestação de contas) para viabilizar o deslocamento dos representantes da sociedade civil para os eventos de capacitação.

A partir da definição e aprovação dos projetos de desenho urbanístico dos parcelamen-tos, aprovados juntamente com a comunidade, conselhos municipais e prefeitura, e do pro-cesso de capacitação realizado, espera-se que as prefeituras municipais elaborem os projetos de captação de recursos indicados para a execução de obras e intervenções necessárias à urbanização dos assentamentos selecionados.

Como estratégia de participação, foi formado um grupo municipal de trabalho com a par-ticipação da sociedade civil (um representante do Conselho do Plano Diretor ou Concidades, um conselheiro do Planejamento Territorial Participativo do Estado e um morador de cada área objeto de intervenção) e do poder público municipal. Contou-se também com a representativi-dade de três técnicos de cada prefeitura municipal (das áreas jurídica, territorial e social), além de um representante de cada Câmara Legislativa Municipal. Todos tiveram atuação ativa nas oficinas de capacitação e nas assistências técnicas. Foi também relevante a participação nas atividades realizadas nas áreas, tais como levantamento de informações, levantamento socioe-conômico e mobilização da comunidade para discussões sobre a regularização fundiária.

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Foi constituído também um Grupo Estadual de Capacitação e Assistência Técnica, com a participação de técnicos dos seguintes órgãos estaduais: Instituto de Terras do Pará (Iterpa), Companhia de Habitação do Estado do Pará (Cohab), Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri), Defensoria Pública, Procuradoria Geral do Estado do Pará e da Secretaria de Estado de Desen-volvimento Urbano e Regional (Sedurb). Além disso, foi firmado convênio com a Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), com o objetivo de agilizar e manter a gratuidade da lavratura dos atos notariais e de registros necessários às transferências da posse ou do domínio dos lotes destinados à habitação da população de baixa renda no Estado do Pará.

Apesar da não conclusão do programa, os resultados parciais mostram muitos avanços. São 118 agentes multiplicadores formados, 13 áreas com levantamento topográfico e pes-quisas socioeconômicas concluídas, totalizando 11.960 lotes cadastrados nos 16 municípios envolvidos. Houve identificação e pré-seleção de 5.830 famílias de baixa renda para coleta de documentos e instrução de processos de titulação, quatro áreas em processo de aviventação / arrecadação para recuperar os limites entre dois imóveis confinantes e identificar, por meio de levantamentos topográficos, a quem pertence o domínio da área arrecadada, para fins de regularização, além de quatro áreas matriculadas pelos municípios.

Os municípios de Portel, Bragança e Igarapé-Açu já iniciaram o processo de titulação, com a instrução de 50 processos de regularização cada um. O município de Melgaço já está em fase de convocação das famílias para a coleta dos documentos.

A pesquisa fundiária no Estado do Pará permitiu aprofundar o conhecimento da reali-dade dos municípios da região e ter informações técnicas para desenvolver o trabalho de re-gularização fundiária, mas a grande extensão territorial do Estado dificultou a comunicação, o deslocamento e a mobilização das equipes técnicas. Entretanto, com a criação de parcerias e formas de cooperação entre os municípios, Estado e União, foi possível a realização do tra-balho. Assim, as atividades desenvolvidas com o Grupo Municipal e com o Grupo Estadual de Trabalho mostraram a necessidade e a importância de trabalhar com grupos multidisciplina-res, assim como o valor de envolver a comunidade em todo o trabalho.

As oficinas e a assistência técnica também fizeram perceber o nível de conhecimento de cada município em relação a sua própria questão fundiária. Além disso, por meio das discus-sões teóricas e atividades práticas, foi possível avançar no conhecimento e na qualificação dos técnicos, gestores e outros agentes nos municípios na temática da regularização fundiária.

Responsáveis pelas informações:Nome: Myrian Silvana da Silva Cardoso e Marinéa do Socorro Carvalho dos Santos Entidade: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional Cargo: Técnica em gestão de desenvolvimento urbano e diretora de Desenvolvimento InstitucionalEndereço: Av. Senador Lemos, 290, Bairro Umarizal, Belém-PAE-mail: [email protected] Telefone: (91) 3222-9636

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

2.7 - Estado de Pernambuco – Companhia Estadual e Habitação e Obras

No Brasil, uma das principais causas das desigualdades socioeconômicas é a má distri-buição de terras. Em Pernambuco, esse cenário não é diferente. No campo, a monocultura da cana-de-açúcar e a existência de uma estrutura fundiária, que estabeleceu uma relação de domínio, limitaram o acesso à terra. Com relação às áreas urbanas, fortes pressões dos agen-tes imobiliários colaboraram, ao longo da história, para a marginalização da população que vive em ocupações informais.

No Estado de Pernambuco, a extinta Companhia de Habitação Popular (Cohab), na con-dição de agente do Sistema Financeiro da Habitação, sucedida institucionalmente pela atual Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab), teve relevante papel no reconhecimento do direito à moradia em áreas urbanas. A pressão de comunidades com elevado potencial organizativo e reivindicatório, aliada à decisão política de reverter o quadro fundiário dos assentamentos populares da região metropolitana do Recife, desencadeou um processo de aquisição de terras, notadamente aquelas objeto de conflito com os proprietários.

Se, por um lado, essas ações foram essenciais na mediação de conflitos, funcionando como eficiente remédio nas lutas com os proprietários, por outro, faltou a transformação da posse dos moradores em propriedade, a fim de estabelecer a segurança jurídica necessária.

Assim, dentro de um grande universo de comunidades carentes desse trabalho, com base nas demandas apresentadas pelos grupos comunitários organizados, foram escolhidas cinco comunidades para integrar um projeto piloto de regularização fundiária sustentável, a saber:

Milagres, Vinte e Sete de Novembro e Pantanal (Recife)Inicialmente denominado de Plano Cruzado, em referência ao pacote econômico da épo-

ca, as comunidades de Vinte e Sete de Novembro e Pantanal ocupam uma área de 90,00 ha. A Cohab atuou, junto com os moradores, na história de resistência e embates com o proprietá-rio do terreno, intervindo na aquisição do solo e no fornecimento de material para autocons-trução das casas.

Já a comunidade de Milagres, cuja denominação está ligada às propriedades terapêuti-cas de uma nascente próxima, possui uma área de 30,1 ha e foi adquirida por meio de contra-to de compra e venda, em 1988.

Essas comunidades estão situadas no sudoeste da cidade do Recife e integram as proxi-midades do bairro do Ibura, que agrega um grande cinturão de assentamentos de baixa renda.

Vila Liberdade (Moreno) O município de Moreno teve seu desenvolvimento impulsionado com a instalação da

indústria têxtil. Com 7,4 ha, essa comunidade está assentada sobre um dos poucos terrenos que não pertencem à fábrica instalada na localidade.

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA REALIZADAS PELOS ESTADOS E DEFENSORIAS PÚBLICAS

Loteamento Araçoiaba (Araçoiaba) Desmembrado do território de Igarassu, Araçoiaba é o município mais novo de Per-

nambuco, criado em 14 de julho de 1995. Esse loteamento possui 471.615,49 m² e representa boa parte da área urbana do município. Foi adquirida por meio de permuta, celebrada entre o Estado de Pernambuco e a União Federal, conforme contrato lavrado pela Delegacia de Patrimônio da União, em livro próprio.

A regularização fundiária sustentável está sendo planejada e executada em parceria com as organizações comunitárias, por meio da contratação de empresas especializadas nes-sa matéria. Segundo o cronograma, até dezembro serão atendidas 6.500 famílias em Mila-gres, Vinte e Sete de Novembro e Pantanal (Recife); 500 famílias na Vila Liberdade (Moreno) e mil famílias no Loteamento Araçoiaba (Araçoiaba), totalizando 8 mil famílias (quantitativo apontado nos dados iniciais).

Conforme já destacado, a execução do trabalho está apoiada, fundamentalmen-te, no compartilhamento de responsabilidades, tanto pelo poder público, quanto pelas comunidades, por meio dos grupos comunitários organizados, que discutem em pé de igualdade o norte a ser fornecido à empresa contratada. Para tanto, foi formada uma co-missão de acompanhamento e monitoramento, composta pelas entidades associativas, que se reúne quinzenalmente.

Outro aspecto relevante é o diálogo com os Ofícios de Registro Imobiliário, que são considerados parceiros estratégicos no êxito da ação. Há um diálogo de sensibilização sobre a gratuidade e sobre o cenário jurídico regulador da regularização fundiária sus-tentável, especialmente o provimento n.º 04/2006, do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, que cria procedimento para legalização de parcelamentos irregulares ou clandestinos do solo urbano.

Como fruto do trabalho, teremos três produtos importantes: instrumento de regulari-zação fundiária – a intenção é adotar a Escritura Particular de Compra e Venda, com força de pública. Essa é uma prerrogativa da Cehab, que pode emitir documentos dessa natureza com o mesmo valor dos lavrados nos cartórios de Notas. Tais documentos serão celebrados, preferencialmente, com a titulação destinada à mulher, atendendo orientação da lei fede-ral n.º11.124/2005, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS); banco de dados eletrônico – todas as informações da pesquisa socioeconômica esta-rão digitalizadas. Isso propiciará a dinamização no uso dos dados coletados; cartilha de orien-tação – a ideia é utilizar essa ferramenta para o resgate da história da comunidade e ilustração da luta sociopolítica pelo direito à cidade.

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Diante do inquietante cenário exposto, e apoiados no arcabouço jurídico edificado poli-ticamente no âmbito da luta pela reforma urbana, espera-se, com esse projeto piloto, efetivar, por meio da segurança jurídica na posse, o direito à moradia.

Responsável pelas informações:Nome: Otávio CalumbyEntidade: Companhia Estadual de Habitação e Obras Cargo: Gestor de pesquisas e informaçõesEndereço: Rua Odorico Mendes, 700, Campo Grande, Recife-PE E-mail: [email protected]: (81) 3182-7567

2.8 - Estado do Rio de Janeiro – Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e Secretaria da Casa Civil

A experiência descrita a seguir tem a participação do governo do Estado do Rio de Janei-ro e da empresa Metrópolis - Projetos Urbanos Ltda (MPU). Especificamente no que se refere a serviços de regularização fundiária, a MPU, além de áreas das comunidades do complexo do Alemão, complexo de Manguinhos e bairro da Rocinha, vem trabalhando nas comunidades do Pavão/Pavãozinho e Cantagalo desde o início do ano de 2008.

Salienta-se que o projeto de regularização fundiária do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para os complexos do Alemão e de Manguinhos e o bairro da Rocinha en-contra-se em fase de planejamento (elaboração de projeto básico de regularização fundiária).

Bairro da RocinhaNo mapa administrativo da cidade, a Rocinha localiza-se na Área de Planejamento 2

(AP2), configurando um bairro e uma região administrativa (XXVII RA), criada em 1986, por decreto, posteriormente regulamentado pela lei nº 1.995, de 1993, que cria e delimita o bairro da Rocinha. A Área de Especial Interesse Social (AEIS) no bairro da Rocinha foi instituída por lei em 28 de dezembro de 2001.

Essa ação também ocorrerá em áreas do bairro da Rocinha que ainda não foram objeto de atividades de regularização fundiária pela Fundação Bento Rubião.

A Área de Intervenção 2 (AI2) possui 79.773 m² e contempla as localidades conhecidas como Cidade Nova, Rua 4, U.P.M.M.R., parte do Largo do Boiadeiro e parte do Campo da Espe-rança. Está localizada junto à estrada da Gávea e do caminho do Boiadeiro.

Na AI2 está fixada a Área Exemplar de Projeto, objeto deste trabalho. É constituída de porções conhecidas como Cidade Nova e Rua 4, com 43.887 m². Segundo o escritório Mayerhofer & Toledo Arquitetura e Planejamento Ltda., responsável pelo projeto de urba-nização, a área foi escolhida por apresentar características topográficas, socioeconômicas e

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edilícias típicas da Rocinha. Localizada à meia encosta, tem como limites a estrada da Gávea e a Rua 4, comportando atualmente cerca de 940 edificações, de um a oito pavimentos, com uma população estimada em 16 mil habitantes (Tecnenge, 2007). A área em estudo insere-se em um loteamento de propriedade particular.

Complexo do AlemãoO conjunto de áreas conhecidas como complexo do Alemão está situado na zona norte

da cidade do Rio de Janeiro, na Área de Planejamento 3 (AP3). Os principais acessos ao com-plexo ocorrem a partir da estrada do Itararé e da avenida Itaóca, importantes eixos viários dessa região da cidade. Segundo o IBGE, a área de estudo do complexo do Alemão possuía, em 2000, uma população de 57.733 habitantes.

A criação da AEIS por lei, em 27 de dezembro de 2006, estipulando os limites do comple-xo, sobrepõe-se ao macrozoneamento da área e vem permitir a criação de normas especiais com índices e parâmetros urbanísticos adequados aos assentamentos existentes. Com a che-gada do PAC e a consequente expansão da área de intervenção urbanística, já foi elaborada pela equipe de projeto uma proposta de ampliação dos limites da AEIS e encaminhada para a Secretaria Municipal de Urbanismo.

A área sob responsabilidade do Estado do Rio de Janeiro, definida em função da lo-calização das obras contratadas pelo Estado, envolve as comunidades do Morro do Adeus, Esperança, Mineiros, Palmeiras/Matinha, Fazendinha, Itararé e Baiana. A pesquisa fundiária

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Rocinha (RJ) Foto: Pedro Aleixo

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encontra-se em andamento. Até o momento, foram levantadas inúmeras Plantas de Aprova-ção de Loteamento (PALs) em nome de particulares, abrangendo porções do complexo.

Complexo de ManguinhosO complexo de Manguinhos localiza-se em região marginal à Baía de Guanabara. É

parte integrante da X Região Administrativa (RA) de Ramos, cujos limites externos e in-trabairros foram definidos por decreto municipal em 1988. Trata-se de uma área de uso diversificado (industrial, institucional e residencial) localizada em um eixo de circulação de escala metropolitana. A região é formada por importantes bairros do subúrbio carioca, como Bonsucesso, Manguinhos, Ramos e Olaria, e integra a Área de Planejamento 3 (AP3) da cidade do Rio de Janeiro.

A Fundação Oswaldo Cruz e a Refinaria de Manguinhos são as grandes referências de todo o bairro de Manguinhos. As comunidades desse complexo totalizaram, em 2000, uma população de 28.389 habitantes, responsáveis pela conformação do quinto maior conjunto irregular da cidade. Em 2006, a Área de Especial Interesse Social (AEIS) no complexo de Man-guinhos foi criada por lei.

A comunidade Agrícola de Higienópolis, Parque Carlos Chagas ou Varginha e Parque Oswaldo Cruz são as três comunidades que estão sendo contempladas nos estudos desenvol-vidos para a regularização fundiária contratados pelo Estado do Rio de Janeiro. A comunidade Parque Carlos Chagas ou Varginha localiza-se em área acrescida de marinha (pertencente à

Complexo do Alemão (RJ) Foto: Pedro Aleixo

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União); a comunidade Parque Oswaldo Cruz é um imóvel nacional, que foi terreno perten-cente à Fundação Oswaldo Cruz; e a Comunidade Agrícola de Higienópolis está estabelecida em terreno pertencente à Fundação Abrigo Cristo Redentor.

Contexto de realização do trabalho A regularização fundiária é uma das ações componentes do Programa de Urbanização,

Regularização e Integração de Assentamentos Precários, coordenado pelo Ministério das Ci-dades, no âmbito do PAC, ora em andamento nessas comunidades. Os projetos de infraes-trutura priorizados foram reunidos em três eixos estratégicos, com destaque especial para a infraestrutura social e urbana, onde estão incluídos os Projetos Prioritários de Investimentos (PPI) para intervenções em favelas, sob a responsabilidade do Ministério das Cidades. As in-tervenções propostas no âmbito do Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários têm como objetivo precípuo a implantação de ações necessárias à regularização fundiária, segurança, salubridade e habitabilidade de população localizada em área inadequada à moradia, visando a sua permanência ou realocação, por intermédio da execução de ações integradas de habitação, saneamento e inclusão social.

Para efeito deste trabalho foi tomado por base o conceito de regularização fundiária plena do Ministério das Cidades (Manual de Regularização Fundiária, 2007), no qual a regu-

Complexo de Manguinhos (RJ) Foto: Pedro Aleixo

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

larização é definida como “um conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e so-ciais por razões de interesse social. Essas medidas objetivam a adequação dos assentamentos informais consolidados, de modo a garantir o direito social à moradia e à função social da propriedade e da cidade”.

A legalização das moradias é uma das etapas finais do processo da regularização fun-diária que está sendo implementada nas áreas de intervenção. É recomendável que ela seja efetivada após a execução das obras de urbanização, devido às alterações e adaptações de projeto que podem ocorrer durante a execução. Assim, consideramos coerente compatibili-zar o desenvolvimento do projeto básico de regularização fundiária com o andamento das obras do programa. O ideal é que o trabalho de campo seja iniciado a partir do momento em que as principais questões da intervenção urbanística já tenham sido ultrapassadas.

Diante desse contexto, os objetivos específicos em relação ao projeto são, entre outros, realizar o levantamento da situação jurídica existente; promover ações e buscar parcerias vi-sando simplificar e agilizar procedimentos administrativos e jurídicos necessários; promover a sensibilização e capacitação dos beneficiários para a importância da regularização fundiária como garantia do direito à moradia, assim como a conscientização dos direitos outorgados pela legislação vigente para os seus ocupantes; coletar as peças técnicas dos beneficiários ne-cessárias para subsidiar a propositura das ações judiciais cabíveis para formalizar a posse da terra; e fornecer o cadastro técnico das comunidades em forma de PAL/PRU (Planta Aprovada de Loteamento ou Projeto de Urbanização) visando sua aprovação pelos órgãos competentes e consequente averbação no Registro Geral de Imóveis (RGI).

Para que se atinjam esses objetivos, a metodologia a ser adotada no desenvolvimento do trabalho está baseada em três áreas distintas de atuação: abordagem técnico-social; abor-dagem físico-espacial; abordagem jurídica.

O plano de trabalho que vem sendo executado no âmbito dos serviços de regularização fundiária possui os seguintes procedimentos no que se refere à implementação de medidas jurídicas e administrativas necessárias à regularização fundiária e urbanística:

Regularização urbanísticaEssa etapa consiste na elaboração do Projeto Aprovado de Alinhamento e Planta Apro-

vada de Loteamento (PAA/PAL), com a definição do parcelamento existente e reconhecimen-to dos logradouros públicos. Essa planta será elaborada após a etapa de cadastramento e será encaminhada à Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) para sua aprovação e posterior averbação no Cartório de Registro de Imóveis.

Regularização fundiáriaPode ser sintetizada em três etapas: análise da documentação pela área jurídica; ela-

boração e instrução de ações judiciais ou procedimentos administrativos com a finalidade

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de subsidiar a propositura das ações judiciais e o requerimento de concessões administra-tivas pela Defensoria Pública e pelo ITERJ, respectivamente; e acompanhamento processual (judicial ou administrativo). Essa última etapa consiste na rotina jurídica de acompanhar os autos no cartório das varas cíveis, despachar com os juízes, atender exigências do juízo e do Ministério Público, consultar periodicamente os sites do Poder Judiciário, construir e alimen-tar os bancos de dados, promover eventuais reuniões com as comunidades no intuito de compartilhar as informações do andamento processual das ações e buscar cumprimento das exigências, que, certamente, existirão durante os processos.

Já na esfera administrativa, essa rotina será a de acompanhar o desenrolar dos requerimen-tos de concessão feitos perante o poder público concedente, o que poderá implicar visitas fre-quentes às repartições públicas, consultas periódicas aos sites do concedente, despachos com autoridades, elaboração e distribuição de correspondência e eventual propositura de ação judi-cial caso ocorra negativa ou inércia do concedente quanto ao requerimento da concessão.

Estão previstas intervenções urbanísticas em todas as áreas de abrangência dos traba-lhos, entre elas destacam-se: implantação ou complementação de redes de infraestrutura básica de abastecimento de água, esgoto, drenagem; melhoria do sistema viário existente; recuperação e pavimentação de vias e escadarias internas; realocação de moradias existentes em áreas de risco ou necessárias para implantação de equipamentos públicos; recuperação de unidades habitacionais; recuperação ambiental e tratamento paisagístico; implantação de sistema de transporte por meio do teleférico no complexo do Alemão, com estações internas e interligação à rede de transporte público da cidade; elevação de linha férrea no complexo de Manguinhos; criação de áreas de esporte e lazer; implantação de equipamentos públicos de saúde, educação, justiça e cultura.

De acordo com a metodologia definida pelo trabalho social em curso nessas comuni-dades, será formado um comitê de regularização fundiária com a participação de lideranças locais cuja função é interagir no desenvolvimento das ações da regularização fundiária, moni-torar e avaliar o andamento dos trabalhos, mediar em favor dos interesses coletivos da comu-nidade, multiplicar o projeto entre os moradores e receber e encaminhar dúvidas, sugestões e demandas dos moradores sobre o trabalho.

Na totalidade das ações, deverão ser beneficiadas cerca de 27 mil famílias – 5 mil no bairro da Rocinha, 18 mil no complexo do Alemão e 4 mil no complexo de Manguinhos.

Responsáveis pelas informações:Nome: Cláudia Couto e Pedro Aleixo Entidades: Governo do Estado do RJ e MPU Metrópolis Projetos Urbanos Ltda.Cargo: Assessora de projeto / Coordenadoria de Regularização Fundiária / DiretorEndereço: Palácio Guanabara, Rua Pinheiro Machado, s/nº, prédio anexo, 427, Laranjeiras e Rua Martins Ferreira, 26, Botafogo, Rio de Janeiro-RJ E-mail: [email protected] / [email protected]: (21) 2334-3147 / (21) 2286-1817 / Fax: (21) 2334-3248

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2.9 - Estado do Rio Grande do Sul – Secretaria de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano

A Secretaria de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano (Sehadur), por meio do Departamento de Regularização Fundiária e Reassentamento (Derer), atua, desde 1999, di-retamente em áreas de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul e por meio de convênios em áreas municipais.

No município de Porto Alegre, o Programa Estadual de Regularização Fundiária desen-volve ações na Vila Juliano Moreira, entre outras localidades. A Vila está estabelecida no bairro Jardim Botânico e possui 137 famílias de baixa renda (aproximadamente 548 pessoas com média de três salários mínimos), cuja ocupação predominante é de autônomos e funcionários públicos ativos e inativos. Compreende, atualmente, uma área de 40.1664,64 m², gravados como Área Especial de Interesse Social (AEIS).

A ocupação teve início nos anos 30 do século passado, numa área que originalmente pertencia ao Hospital Estadual Psiquiátrico São Pedro. Com a criação da Secretaria Especial de Habitação, em 1999, iniciaram-se as negociações para a permanência da comunidade no local, com a Secretaria do Meio Ambiente e a Fundação Zoobotânica (FZB), a qual havia se tornado proprietária da área, em 1977.

Em 2002, foi efetuado o Termo Administrativo de Concessão de Uso, e, em 2004, foi pro-mulgada a lei nº 1.264, que autoriza a FZB a doar os 4,16 ha ao Estado.

Com a elaboração e aprovação do Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) e o registro da área doada ao Estado no Cartório de Registro de Imóveis, em 2008, a Sehadur encaminhou o projeto urbanístico elaborado para o cartório. Conseguiu ainda a aprovação da licença de instalação na Secretaria de Meio Ambiente e a execução da rede de esgoto local pela prefei-tura municipal por meio do orçamento participativo.

Após o registro do loteamento, a família poderá escolher em receber a Concessão de Uso Especial de Moradia (CUEM) ou adquirir o lote. A ação objetivou promover a autonomia dos indivíduos, prevenir o conflito social, permitir a mobilidade urbana, alimentando o Fundo Esta-dual de Habitação para possibilitar novas ações a fim de beneficiar o maior número de famílias.

Os maiores obstáculos enfrentados no projeto foram a rigidez da legislação ambiental e do órgão ambiental do município, em especial no que diz respeito à necessária retirada de espécies vegetais com vistas à implantação da infraestrutura ou mesmo para a construção de unidades habitacionais em substituição às existentes, já bastante deterioradas; os reduzidos recursos do Estado, inclusive para execução de projetos; e o desconhecimento de alguns mo-radores em relação aos seus direitos e deveres, em especial no que diz respeito à redução dos seus terrenos e as vantagens da urbanização e da regularização.

O projeto conta com parceiros como: a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, na aprovação do estudo de viabilidade urbanística, projeto urbanístico e gravame de AEIS; a Associação dos

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Moradores da Vila Juliano Moreira, como promotora de assembleias para apresentação e avalia-ção do Programa de Regularização Fundiária e dos projetos técnicos, além da sua colaboração para esclarecimentos à comunidade durante todo o processo; o Departamento Municipal de Habitação (Demhab) e a Secretaria da Governança Local (organismo de administração partici-pativa), para a implementação das reivindicações da comunidade; a Fundação Zoobotânica; e o Ministério Público Estadual, na solução de conflitos apresentados pelos moradores.

Com o processo já em fase de conclusão, o projeto urbanístico foi encaminhado em janeiro de 2009 para o Poder Judiciário, via provimento More Legal, que autorizou a geração das matrículas de 84 lotes individuais e sete lotes condominiais, beneficiando 137 famílias.

Com esse projeto, podemos destacar alguns aprendizados: reconhecimento dentro do próprio governo acerca da necessidade da regularização da ocupação; entendimento das or-ganizações governamentais e não governamentais da área ambiental sobre o histórico dessa ocupação e o direito à moradia em equilíbrio com o meio ambiente por mútuo consenso, recuperação de áreas degradadas (execução do esgoto cloacal) e compensação vegetal; par-ceria com o governo municipal, em suas diversas secretarias (Meio Ambiente, Planejamento, Habitação) para licença, aprovações e na aplicação de recursos; necessidade de entendimen-to com os órgãos municipais aprovadores, considerando os procedimentos recomendados e a legislação urbanística do município; colocação em prática dos direitos fundamentais, pre-vistos na Constituição Federal, como a dignidade da pessoa humana, promovendo a igual-dade e a harmonia social; reconhecimento da função social da propriedade, como forma de promoção da justiça social.

Responsável pelas informações:Nome: Jairo Miguel Werba Entidade: Secretaria de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento UrbanoCargo: Arquiteto e urbanista Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1.501, 14° andar, Porto Alegre-RSE-mail: [email protected] Telefone: (51) 3288-4627 / Fax: (51) 3288-4624

2.10 - Estado de Roraima – Secretaria Extraordinária de Regularização Fundiária Urbana

A Secretaria de Estado Extraordinária de Regularização Fundiária Urbana (Seurb), criada em 2009 com o objetivo de regularizar ocupações em terras urbanas de domínio estadual, está desenvolvendo em Roraima, no município de Rorainópolis, uma ação visando beneficiar aproximadamente 4.464, dos 24.866 habitantes que compõem a população do município.

A cidade de Rorainópolis possui uma área de 33.740,00 km², equivalente a 14,99% da área territorial do Estado de Roraima.

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A área objeto desta experiência, denominada pela Seurb de “Chico Reis”, abrange cinco bairros – Campolândia, Suelândia, Brasil Novo, Cidade Nova e parte da Chácara 2.

Para a execução desse trabalho, a Seurb utilizou como principal estratégia a cooperação técnica entre instituições estaduais e municipais. Destaca-se o acordo com a Secretaria de Es-tado de Articulação Municipal e Política Urbana (Seam), o Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima), o Gabinete Civil, a Prefeitura Municipal de Rorainópolis, a Câmara Municipal, a Fundação Estadual de Meio Ambiente Ciência e Tecnologia (Femact), o Serviço Social do Co-mércio (SESC) por meio da unidade local, SESC LER, Cartório de Notas e Tabelionato existente na Comarca de Rorainópolis e a Rádio FM Alto Astral.

O início do processo ocorreu em 2007 com o Iteraima, que realizou levantamentos to-pográficos, demarcação e parcelamento do solo. Na seqüência, em abril de 2009, a área foi transformada em Área Especial de Interesse Social (AEIS) pela Câmara Municipal e o projeto foi aprovado pela prefeitura. A partir de então, a responsabilidade pelo processo coube à Seurb, que firmou acordos de cooperação com o Iteraima, com a Seam, e com a prefeitura municipal. Por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo, a prefeitura apoia as atividades de campo, como vistorias e mobilização comunitária. O SESC apoiou com a oferta de diversos serviços à comunidade e na disponibilização de sua sede durante o período de mobilização comunitária. Quanto ao cartório, houve auxílio nas consultas de certidões negativas de regis-tros. Encontra-se ainda prevista a elaboração do plano diretor da cidade, bem como, a regula-rização fundiária das demais áreas urbanas consolidadas na sede do município.

Em cada lote é gerado um processo administrativo, aberto por meio de requerimen-to, ao qual são juntados os seguintes documentos: cópias do CPF; identidade; certidão de casamento ou de união estável; documentação pessoal do cônjuge e de filhos com menos de 18 anos que morem com os pais; comprovante da posse, como recibos de compra e venda, ou licença de ocupação emitida pela prefeitura (na ausência desses documentos, opta-se pelas declarações de limitantes, para comprovação da posse); comprovante de re-sidência (cópia de “contas” de luz ou de água emitidas pela empresas correspondentes); pesquisa no Cartório de No-tas e Tabelionato; laudo de vistoria e questionário de pes-quisa socioeconômica; cópia do memorial descritivo; cópia da planta da quadra; cópia do registro em cartório da área;

Avenida Chico Reis, Rorainópolis (RR) Foto: Auriléia Cunha

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despachos; parecer técnico e jurídico; deferimento ou não; cópia do título com o recebi-mento do beneficiário.

Devido à sua origem, é necessário o pedido de descaracterização no Incra de área rural para urbana. Os recursos financeiros utilizados nesse projeto são do orçamento estadual, alo-cados na Seam.

A área de preservação permanente do Igarapé está em recuperação e várias famílias foram indenizadas pela prefeitura municipal e removidas de sua margem.

Os bairros foram dotados em suas áreas centrais de pavimentação, calçamento e iluminação pública, porém ainda existem várias residências sem água encanada, utilizando poços tubulares para suprir suas necessidades básicas. Não existe rede de esgoto; são utilizadas fossas sépticas.

Em meados de 2009, o projeto encontrava-se em fase de registro pelo cartório. Ao todo, foram iniciados 523 processos com requerimentos para regularização fundiária. Desses, qua-torze foram indeferidos por se encontrarem em área de proteção ambiental, porém com dois moradores já indenizados pela prefeitura municipal. Outros 54 processos tiveram seus ocu-pantes alterados e foram arquivados. Os demais estão em fase de instrução e análise para a emissão dos títulos, equivalendo a 87%, dos processos abertos, e a 40,77% do total. A pre-visão para a conclusão da regularização do total de lotes é de 180 dias, contados a partir da mobilização de maio de 2009.

Responsável pelas informações:Nome: Maria Conceição de Sant’ana Barros Escobar Entidade: Secretaria de Estado Extraordinária de Regularização Fundiária Urbana Cargo: Gerente de projetoEndereço: Rua Barão do Rio Branco, 1.495, centro, Boa Vista-RR E-mail: [email protected] Telefone: (95) 2121-3739

2.11- Estado de São Paulo – Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo José Gomes da Silva

A Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo José Gomes da Silva (Itesp) tem como responsabilidade planejar e executar a política agrária e fundiária, no âmbito do Estado. Desde 1999, passou a apresentar propostas no Programa Minha Terra, viabilizando a regularização fundiária das ocupações, sejam elas em área urbana ou rural. A ação tem por objetivo evitar demandas judiciais; possibilitar aos beneficiários o acesso a créditos; e proporcionar aos municípios meios para solução de problemas de uso e ocupação do solo, além de buscar o desenvolvimento e paz social.

Destacam-se as experiências descritas abaixo:A Vila Albertina, localizada em Campos do Jordão, é um bairro popular, de uso predomi-

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nantemente residencial, com ocupações irregulares nas encostas, sem qualquer infraestrutu-ra. Após os desabamentos de 2000, a prefeitura passou a programar ações nessas áreas. Os trabalhos foram iniciados em área pública com 155.200,00 m², onde existem lotes vendidos pela Empresa Municipal de Habitação e foram cadastradas 413 famílias. Essa área foi incluí-da na Lei Municipal de Zoneamento como Área de Especial Interesse Social (AEIS).

A prefeitura elaborou, em parceria com o Ministério das Cidades, o Plano Municipal de Redução de Riscos, que traz diretrizes sobre a regularização fundiária. A população be-neficiada foi muito atuante nos trabalhos por meio de reuniões e audiências públicas. Os moradores apresentaram a documentação necessária para instrução dos processos admi-nistrativos e o atendimento foi realizado durante o desenvolvimento do trabalho, com a presença de técnicos e advogados do Itesp e da prefeitura, que prestavam orientação jurí-dica e encaminhavam os documentos necessários.

A parceria com o Cartório de Registro de Imóveis foi também importante para agilizar todo o processo. A prefeitura ainda está pleiteando recursos financeiros para realizar as obras urbanísticas e promover as remoções necessárias. Ao final da regularização urbanísti-ca será possível efetivar a regularização dominial da área, outorgando-se aos ocupantes das áreas passíveis de regularização o título de propriedade de seus imóveis.

Nesse caso, a existência de ocupações em áreas de risco permitiu vivenciar as dificul-dades para planejar a remoção de famílias, para conseguir recursos não só para as remoções e realocações, mas também para a urbanização de áreas carentes de infraestrutura básica.

A Vila Aparecida é um bairro localizado na região norte da cidade de Capão Bonito. O loteamento foi implantado na década de 1980, sem aprovação dos órgãos competentes, com algumas transmissões aos munícipes, na época, que não eram passíveis de registro. Com o tempo, as ocupações foram proliferando, acarretando uma total insegurança jurídica.

A Vila tem uma área de 96,31 ha, de propriedade do município. É ocupada por população de baixa e média renda, com destinação mista, declarada, por lei municipal, como Área Especial de Interesse Social (AEIS). Em 2003, o município firmou parceria com a Fundação Itesp, visando im-plantar o Programa Minha Terra, o que propiciou a realização de trabalhos técnicos e jurídicos, a re-gularização e registro do parcelamento e a transferência definitiva dos lotes aos ocupantes da área.

O loteamento já estava fisicamente implantado, dispondo de toda a infraestrutura bá-sica, incluindo, pavimentação, guias e sarjetas, sem aprovação dos órgãos ambientais. Para o processo de regularização, foi firmado o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) entre o município de Capão Bonito e o Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais (DEPRN), para que fossem realizadas medidas para recuperação ambiental da área. Com a regulariza-ção, o loteamento passou a contar com a destinação de áreas de lazer e institucionais.

O resultado foi o registro do parcelamento e a alienação dos lotes aos seus ocupantes, por meio de doação com o encargo de registrar o título de propriedade expedido, autori-zado por lei municipal.

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Entrega de Titulos, Registro (SP) Foto: Regina Bonomo

A experiência do projeto da Vila Aparecida proporcionou a visualização de um para-digma no perfil das relações entre o Estado e sociedade. Ou seja, o Estado outrora atuando com ações abstratas e burocratizadas passa a viabilizar diretrizes concretas, em uma “gestão cidadã”, possibilitando a participação da comunidade envolvida a alcançar seus objetivos.

O Itesp desenvolveu um processo de regularização fundiária dominial com o objeti-vo principal de formalizar situações de ocupações consolidadas há anos no município de Itapirapuã Paulista; no bairro Cidade Nova, do distrito Pirapitingui, município de Itu; no município de Apiaí; no município de Mirante do Paranapanema; e na Vila Nova Registro.

O processo de regularização de Itapirapuã Paulista, município com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), colaborou muito para a transformação dessa realidade. A economia ficou fortalecida, deixando de ser o município menos desenvolvido do Estado.

No caso do bairro Cidade Nova, do distrito Pirapitingui, município de Itu, o processo de regularização resultou no registro em cartório de 88 quadras, 2.997 lotes, seis áreas ver-des e seis áreas institucionais e uma área de lazer. Foram abertos 2.240 processos para titu-lação, com a entrega, em dezembro de 2008, de 2.184 títulos de propriedade. Relevante di-zer que em 15 dias (janeiro de 2009) foram registrados mais de 10% dos títulos expedidos.

No município de Apiaí, na área remanescente, verificou-se a existência de, aproxima-damente, 1.700 imóveis. Foram expedidos aos ocupantes 1.600 títulos de propriedade. No município de Mirante do Paranapanema, a partir do convênio firmado entre o município com o Itesp, o processo resultou na regularização de todo o município, incluindo área rural e urbana, além do distrito de Costa Machado. Foram abertos 3.500 processos para titulação, com a entrega dos 3.100 títulos de domínio. Desses, foram registrados mais de 60% dos títulos expedidos.

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Já na Vila Nova Registro, na cidade de Registro, como resultado, foram abertos 1.447 processos administrativos individuais e um geral. Já foi expedido um total de 989 títulos de domínio e registrados aproximadamente 70% deles. No entanto, 68 títulos aguardam evento da outorga. Restam aproximadamente 300 lotes, pendentes de atualização de dados.

As parcerias dos municípios e das comunidades ocupantes das diversas áreas foram fundamentais para que cada um dos processos chegasse a um bom resultado. A regulariza-ção fundiária nessas áreas propiciou segurança jurídica e cidadania à população envolvida. Possibilitou também ao poder público municipal qualificação da gestão urbana a partir da atualização do sistema de cadastro físico territorial e tributário da prefeitura.

Responsáveis pelas informações:Nome: Catia Marise Alves TrugilloEntidade: Fundação Instituto de Terras do Estado de São PauloCargo: Analista de desenvolvimento fundiárioEndereço: Av. Joaquim Juca de Góes, 555, centro, Mirante do Paranapanema-SPEmail: [email protected] Telefone: (18) 3991-1766 / Fax: (18) 399-17 66

Nome: Cleusadélia de OliveiraEntidade: Fundação Instituto de Terras do Estado de São PauloCargo: Analista de desenvolvimento fundiárioEndereço: Rua Santo Saletti, 262, Pariquera-Açu-SPEmail: [email protected] Telefone: (13) 3856-1741 - ramal 203 / Fax: (13) 3856-1741

Nome: Daniela Corrêa da Silva Entidade: Fundação Instituto de Terras do Estado de São PauloCargo: Analista de desenvolvimento fundiárioEndereço: Rua Capitão Geraldo, 20, centro, Taubaté - SPEmail: [email protected] / [email protected]: (12) 3612 2300 ou 3629 77 70 / Fax: (12) 3621-2300

Nome: Kátia Maria de Melo VieiraEntidade: Fundação Instituto de Terras do Estado de São PauloCargo: Analista de desenvolvimento fundiárioEndereço: Praça da Maçonaria, s/nº - Sorocaba - SPEmail: [email protected] / [email protected]: (15) 3417-3049 - ramal 26

2.12 - Estado de São Paulo – Secretaria da Habitação

O Programa Estadual de Regularização de Núcleos Habitacionais – Cidade Legal, do go-verno de São Paulo, foi criado para assessorar e auxiliar as prefeituras na regularização de núcleos habitacionais já existentes, públicos ou privados. Dos 645 municípios paulistas, 184

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já assinaram o convênio de cooperação técnica e outros 127 estão em fase de formalização. A prioridade do programa, criado em agosto de 2007, é o bem-estar social, com a correção das distorções urbanas e seus efeitos negativos para toda a sociedade.

Por meio desses convênios, 1,2 milhão de moradias está em processo de regularização no momento (dados de julho de 2009 - Programa Cidade Legal), beneficiando uma popula-ção em torno de 6 milhões de pessoas no Estado.

Após o diagnóstico da situação dos núcleos a serem regularizados, a equipe técnica de apoio do programa fornece orientação, assessoria e apoio técnico aos municípios nas ações de regularização.

O governo do Estado de São Paulo determinou a regularização como uma das prio-ridades na área de habitação. Assumiu com os representantes da administração pública estadual a missão de incentivar os municípios a exercerem a responsabilidade pela regu-larização, colocando-se como um fomentador das ações necessárias à desburocratização e agilização dos processos.

Ao focalizar o benefício de comunidades e residentes locais, o governo do Estado tem incentivado cidadãos, formadores de políticas, empresas privadas e organizações não go-vernamentais a assumirem um papel pró-ativo, além de incentivar as pessoas a superarem contradições e a trabalharem juntas por suas cidades.

O Programa Cidade Legal tem como foco principal promover o resgate da cidadania, garantindo ao beneficiário o direito à moradia e à propriedade do imóvel registrado em cartório, documento que para muitas famílias é o único meio de acesso ao mercado formal e ao crédito, além da garantia de poder transferir ou deixar a propriedade para os herdeiros.

A secretaria executiva do programa enfatiza a importância dos avanços na legislação e a parceria com outros órgãos do Estado para desburocratizar e agilizar os processos. Um dos exemplos foi a promulgação da lei estadual nº 13.290/08, que promove uma impor-tante e significativa redução nas custas e emolumentos pagos aos serviços notariais e de registro de imóveis.

Nos casos dos atos praticados para o primeiro registro de imóvel regularizado de po-pulação de baixa renda essa redução chega a 90%. Os descontos abrangem o registro da primeira alienação imobiliária e de correspondente hipoteca, e o registro do primeiro título aquisitivo da unidade imobiliária em favor de beneficiário de regularização fundiária de interesse social.

Cronologia do programa• Agosto de 2007 – Instituído o Programa Estadual de Regularização de Núcleos Habi-

tacionais Cidade Legal, por meio do decreto nº 52.052;• Junho/julho de 2008 – Realização do Simpósio Técnico Regional Regularização e Res-

gate da Cidadania, para orientação das prefeituras e dos representantes de órgãos e

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entidades da classe de como os municípios podem realizar a parceria com o Estado para providenciar a regularização; publicação do Parecer nº 144, de 23/06/2008, da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, adotado em caráter normativo, concentrando no Comitê de Regularização do Programa Cidade Legal a orientação aos municípios sobre questões relativas à regularização de núcleos habitacionais;

• Dezembro de 2008 – Aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a lei nº 13.290/12/2008, de Emolumentos, que reduziu as custas de registro de imóveis de interesse social;

• Janeiro de 2009 – Resolução conjunta entre as secretarias de Estado da Habitação e do Meio Ambiente, SH/SMA 3, de 9/1/2009, sobre regras para ações de regularização; apoio do Ministério Público Estadual, que integra a cartilha da regularização destina-da às prefeituras;

• Março de 2009 – Assinatura simbólica, no Palácio dos Bandeirantes, de convênio com 25 cidades do Estado, totalizando 150 municípios conveniados desde o início do pro-grama, em agosto de 2007, beneficiando aproximadamente 3 milhões de pessoas. O esforço do governo possibilitou que cerca de 20 mil imóveis da CDHU em todo o Estado, distribuídos em 109 conjuntos habitacionais, fossem regularizados. Dezoito famílias receberam o título de propriedade na cerimônia, representando esses mu-tuários. A prefeita em exercício do município de São Paulo, Alda Marco Antonio, fez a entrega simbólica da documentação de regularização de núcleos habitacionais da capital, envolvendo cerca de 27 mil imóveis; prêmio Selo de Mérito 2008, concedido pela Associação Brasileira de Cohabs (ABC).

Responsável pelas informações:Nome: Silvio FigueiredoEntidade: Secretaria da Habitação do Estado de São Paulo – Programa Estadual de Regularização Cidade LegalCargo: Secretário executivoEndereço: Rua Boa Vista, 170, 7º andar, Bloco III, São Paulo-SPE-mail: [email protected] / www.habitacao.sp.gov.br Telefone: (11) 3638-5207 / Fax: (11) 3638-5130

2.13 - Estado de Mato Grosso do Sul – Defensoria Pública Geral

Para efetivar o princípio do livre acesso à Justiça, presente no texto da Constituição Cidadã, emerge a instituição da Defensoria Pública como realizadora de uma atividade es-tatal de ampla defesa dos direitos fundamentais, singulares ou coletivos, na busca da tutela jurídica necessária. Além da firme atuação dos órgãos da Defensoria Pública nas lides que envolvem conflitos de família, buscando, sempre que possível, a conciliação, a Defensoria

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Pública diversifica sua presença em conflitos, como os vinculados às relações de consumo, aos direitos e garantias da mulher, da criança e do idoso, dos indígenas. Também participa de discussões específicas das associações e comunidades de bairros.

As defesas criminais, no país, têm na Defensoria Pública sua maior estatística de atua-ção, por razões sociais facilmente explicáveis. As políticas que envolvem a defesa do meio ambiente, a aquisição de imóveis populares pelo Sistema Financeiro da Habitação ou por financiamento por empreiteiras e o direito de vizinhança, em suas várias nuances, envol-vem a atuação da Defensoria Pública sempre que solicitada a agir juridicamente em favor da população. O bairro escolhido foi o Jardim Futurista e entorno, formado pelos bairros Jardim Futurista, Danúbio Azul, Bosque do Carvalho e Bosque da Esperança. O Jardim Fu-turista é também uma das 102 áreas beneficiadas com a política de regularização fundiária implantada pela Prefeitura de Campo Grande (MS), desde o ano 2000.

No local, moram 10% dos proprietários que construíram suas casas de madeira ou al-venaria. A grande maioria das casas foi construída de material precário e de diversos outros tipos de materiais reciclados ou aproveitados de demolições ou doações públicas e parti-culares. O projeto do parcelamento do solo foi aprovado e registrado na década de 1960. A ocupação dos loteamentos Jardim Futurista, bairro Danúbio Azul, Bosque da Esperança e Bosque do Carvalho deu-se por volta dos anos 1995 e 1996, de forma desordenada, mas, obedecendo aos arruamentos e limitações dos terrenos.

No início, houve algumas disputas ou ações possessórias judiciais, mas depois, os pro-prietários conformaram-se com as ocupações irregulares e não mais reivindicaram suas

Foto: Ernandes da SilvaJardim Futurista, Campo Grande-MS

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propriedades. As edificações construídas eram precárias e com o passar do tempo os mo-radores foram fazendo melhorias, porém, preservando a origem de baixo padrão, sem ne-nhuma regularização de domínio no município nem no Cartório de Registro Imobiliário.

Algumas famílias instalaram pequenos comércios, como bares, mercearias, lojas de roupas, templos e igrejas. A infraestrutura dos serviços essenciais de fornecimento de água e energia foi sendo levada às residências “à força”, pois os fornecedores exigiam a docu-mentação comprobatória da propriedade. Porém, foram cedendo a esse requisito, em ra-zão dos movimentos conjuntos de seus moradores, em sua maioria mulheres chefes de família, que se reuniam em “mutirões” para construir e equipar suas pequenas moradias dos serviços essenciais à família (água, luz e telefone).

A Defensoria Pública Geral do Estado de Mato Grosso do Sul foi selecionada na Siste-mática de 2006 do Ministério das Cidades, da Secretaria Nacional de Programas Urbanos. Foi inscrita na Ação Apoio a Projetos de Regularização Fundiária Sustentável de Assenta-mentos Informais em Áreas Urbanas, com recursos do Orçamento Geral da União, do Pro-grama Urbanização, Regularização Fundiária e Integração de Assentamentos Precários no Programa Papel Passado, no valor de R$ 95.628,93.

Para os moradores do bairro Jardim Futurista foi ajuizada uma ação civil pública, pela Defensoria Pública Estadual, a fim de amparar coletivamente todos os moradores que se cadastraram no projeto de regularização, pleiteando a consolidação da ocupação e a con-cessão do título de propriedade, aproveitando-se todos os documentos comprobatórios da aquisição da posse ou da propriedade, inclusive, comprovação documental em nome dos antecessores à ocupação.

A ação civil pública visa à manutenção dos atuais ocupantes dos lotes edificados e ocupados há mais de 15 anos, o qual é objeto de uma ação de desapropriação promovi-da pelo município de Campo Grande, decretada em 2004, sobre os 428 lotes de terrenos que foram deixados ao abandono pelos antigos proprietários, inclusive, sem se preocupar com o pagamento dos impostos municipais. Para os moradores do Danúbio Azul foram ajuizadas, individualmente, 228 ações de usucapião contra os proprietários, pleiteando a propriedade dos lotes, cuja posse supera 12 anos, de forma pacífica e contínua, somada à dos antecessores.

Todas as ações ajuizadas estão em pleno desenvolvimento processual. Quanto aos moradores do Bosque da Esperança e Bosque do Carvalho, em torno de 400 famílias cadastradas, ainda não foram ajuizadas as ações por estar em fase de execução (em se-tembro de 2008) o registro dos referidos loteamentos, e também, em razão de a proprie-dade desses lotes estar sujeita ao término do projeto de regularização e parcelamento urbano, pela Empresa Municipal de Habitação e a Agência Estadual de Habitação. Rele-vante citar que as áreas que lhes deram origens ainda não estão legalizadas em nome do município e do Estado e farão parte de projeto de financiamento aos atuais ocupantes

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pelos respectivos órgãos. A participação da comunidade beneficiada deu-se em todas as etapas do processo.

Este projeto foi pioneiro no Estado e o primeiro de regularização fundiária realizado pela Defensoria Pública do MS em convênio com um órgão Federal – o Ministério das Ci-dades – e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal.

Para a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, foi uma experiência e tanto, com envolvimento, nas reuniões, da população que acreditou nos objetivos do projeto, seus re-presentantes comunitários que divulgaram os trabalhos e reuniões realizadas, e de vários funcionários da Defensoria Pública Geral do Estado de Mato Grosso do Sul.

A experiência foi uma ação conjunta entre a Agência Municipal de Habitação da Pre-feitura de Campo Grande, Defensoria Geral Pública do MS, Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal, que resultará na titulação aos atuais ocupantes, no mínimo, de 428 lo-tes do Jardim Futurista, desapropriados há mais de seis anos pelo poder público municipal; a concessão de, no mínimo, 228 títulos de propriedade dos lotes a serem usucapidos do bairro Danúbio Azul, em ação judicial em trâmite no Fórum de Campo Grande; e mais de 400 títulos de concessão de direito de propriedade (ou doação) a serem concedidos pelos poderes públicos municipal e estadual, tão logo sejam sanadas as irregularidades quanto à propriedade dos lotes que formam os bairros Bosque da Esperança e Bosque do Carvalho. Ocorrendo a titulação desses lotes serão beneficiadas mais de 1.500 pessoas, integrantes das famílias que residem nos lotes e povoam a região do Jardim Futurista e entorno.

Responsável pelas informações:Nome: Olga Lemos Cardoso de MarcoEntidade: Defensoria Pública Geral do Estado do Mato Grosso do SulCargo: 9ª Defensora Pública Cível de Segunda Instância - CoordenadoraEndereço: Parque dos Poderes, bloco IV, 1ºandar, Campo Grande-MSE-mail: [email protected] Telefone: (67) 3318-2502 e 2559 / Fax: (67) 3318-2560

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Experiências de Regularização Fundiária Elaboradas pelos Municípios3Córrego Pouca Saúde, Conceiçãozinha, Guarujá (SP) Foto: Julia Moretti

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T odo esforço de mobilização dos municípios brasileiros em torno do enfrentamento da informalidade urbana encontrou amplo respaldo desde o início do Programa Papel

Passado em 2003. As competências constitucionais do município de promover a política urbana quando

confrontadas com a realidade de segregação, de precariedade e de irregularidade das ocupa-ções urbanas foram traduzidas num movimento progressivo em torno da implementação de políticas de regularização fundiária de interesse social sob responsabilidade das prefeituras. O Ministério das Cidades definiu seu papel de apoiar tal movimento mediante capacitação, mobilização, articulação institucional e repasse de recursos financeiros para implementação de ações de planejamento e específicas de regularização fundiária.

O Programa Papel Passado, com recursos do Ministério das Cidades, alcança, até o presente, 152 municípios brasileiros em 26 Estados da Federação, contemplando 307.496 famílias com processos de regularização iniciados, 34.738 famílias beneficiadas com títu-los concedidos, 25.204 famílias com títulos registrados em cartório em 669 assentamen-tos urbanos.

Será relatado, a seguir um número expressivo de experiências de regularização fundiária implementadas pelos municípios, que demonstram como a regularização entrou efetivamen-te nas agendas municipais.

3.1- Prefeitura Municipal de Ananindeua (PA)

A Prefeitura Municipal de Ananindeua, por meio de sua Secretaria de Habitação (Sehab), desenvolve, desde 2006, processos de regularização fundiária em diversos bairros do município. Para isso, já estabeleceu parcerias institucionais com vários atores envolvidos no processo, entre eles o governo federal; o governo estadual, por meio da Companhia de Habitação do Estado do Pará (Cohab); o Cartório de Registro de Imóveis; movimentos so-ciais; e lideranças comunitárias.

A cidade sofreu durante décadas um intenso processo de ocupação, gerando uma série de irregularidades fundiárias e habitacionais. O resultado foi o surgimento de aproximada-mente 250 áreas de ocupação irregular, formadas tanto por terras particulares como públicas estaduais e federais, em sua quase totalidade com condições precárias de habitabilidade.

Os processos de regularização fundiária em desenvolvimento pela prefeitura iniciam-se, na maior parte dos casos, com a ida da comunidade à Sehab, com o intuito de legalizar seu assentamento. A interface com as lideranças da área ocorre não só nesse momento, mas durante todo o processo: na mobilização, na sensibilização e no esclarecimento sobre a im-portância do título e seu registro em cartório.

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Como existe na prefeitura uma equipe própria para a realização dos levantamentos to-pográfico e social e do georreferenciamento, parte do trabalho desenvolve-se rapidamente e de forma pouco onerosa para o município.

Realiza-se, então, o georreferenciamento da área, levantamento da legislação incidente e as pesquisas cartorárias e de ações judiciais. Posteriormente, identificam-se as lideranças da área e, a seguir, é realizada a reunião “Pede Licença” com os moradores para esclarecimento do processo. Os levantamentos topográfico e social, que resultam na relação dos imóveis e de famílias a serem beneficiadas, são feitos pelos técnicos da secretaria, por lideranças comu-nitárias e voluntários.

É realizada também a reunião “Passo a Passo” com todos os beneficiários para os esclare-cimentos sobre os benefícios da área legalizada.

Nos assentamentos de Ananindeua, em função das características das ocupações, o pro-cesso é concluído com a utilização do instrumento Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) para transferência da dominialidade da terra. O convênio com a Associação de Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), que garantiu a gratuidade do primeiro registro das áreas trabalhadas e o incentivo na isenção do pagamento do IPTU no ano da regularização, propor-ciona atrativos suplementares à regularização.

Algumas áreas sofreram ainda intervenções de obras de saneamento, pavimentação, construção de escolas, postos de saúde e centros comunitários.

Como resultado, até o início de 2009, assentamentos de 16 bairros já haviam sido be-neficiados com a CDRU, totalizando 8.624 famílias tituladas. Outras 123 áreas de ocupação encontravam-se com processos tramitando na Sehab de Ananindeua.

Responsável pelas informações:Nome: Zinda NunesEntidade: Secretaria Municipal de Habitação de Ananindeua Cargo: Secretária de HabitaçãoEndereço: Avenida Cláudio Saunders, 1000E-mail: [email protected]: (91) 8115-0999

3.2 - Prefeitura Municipal de Aracajú (SE)

O Bairro Novo, em Aracajú, é um bairro em processo de implantação, em terreno totalmente desocupado. Seu projeto de parcelamento foi concebido para ser executa-do em etapas conforme a disponibilidade de recursos, dividido em blocos – I, II, IIA e III. Os recursos, com financiamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), contemplarão toda a infraestrutura urbana, equipamentos sociais, espaços públicos, comércio e serviços necessários para seus moradores. Nos blocos I e II, está previs-

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to projeto de reassentamento de famílias ocupantes de áreas de risco e/ou proteção ambiental do bairro Santa Maria e de assentamentos precários de outras áreas da ci-dade. A área do bloco I já está em fase de execução, onde estão sendo construídas 1.254 unidades habitacionais em que as obras e o processo de regularização fundiária encontram-se próximas à conclusão. A área correspondente ao bloco II encontra-se na fase de terraplanagem e pavimentação de vias, incluindo a implantação de rede de drenagem de águas pluviais e esgotamento sanitário e a construção de 1.325 unida-des habitacionais. O bloco IIA já tem seus projetos de parcelamentos concluídos, suas obras ainda não foram iniciadas, porém o processo de regularização fundiária já está em andamento juntamente com o bloco I e II. No bloco III será implantado um parque e áreas residenciais, de comércio e outros serviços.

O terreno, onde está sendo implantado o empreendimento, com área de 1.960.083,13 m², foi cedido pela União por contrato de cessão, sob regime de aforamento gratuito à Prefei-tura de Aracajú. O objetivo é promover projetos de habitação de interesse social e regu-larização fundiária para o assentamento de famílias. O projeto de regularização fundiária será executado pela prefeitura e atenderá todas as famílias a serem reassentadas na área do Bairro Novo, por meio de contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), con-forme previsto na Lei Orgânica Municipal e no Plano Diretor para as famílias de até três salários mínimos e ou venda dos lotes para outros casos.

Está em fase de conclusão a primeira etapa do projeto, que atenderá 1.254 famílias remanejadas de assentamentos precários e que são objeto de projetos de urbanização pela prefeitura.

O bloco I já possui registro do parcelamento e matrícula dos lotes em cartório, que será nominado por ocasião do registro dos contratos de CDRU antes da mudança dos be-neficiários às unidades habitacionais. Para as etapas seguintes, várias ações já estão sendo executadas paralelamente à primeira etapa.

O Projeto Bairro Novo possibilitará à Prefeitura de Aracajú executar nos locais de onde serão remanejadas as famílias projetos de urbanização nas áreas de risco; proteção ambiental, para adequação dos espaços públicos e equipamentos sociais; dragagem de canais; contenção de encostas; e implantação de macro e microdrenagem, cujas obras são atualmente inviáveis por colocar as famílias ali residentes em risco.

Área de Reassentamento, Bairro Novo, Aracajú (SE) Fotos: Agostinho Mendonça

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Além da comunidade objeto do projeto, a prefeitura contou com a participação de alguns de seus órgãos, como a Secretaria de Planejamento (Seplan), Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc), Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) e Fundação Municipal do Trabalho (Fundat). Desempenharam o que é próprio de cada área, da equipe social específica de cada projeto. A prefeitura contou ainda com a Gerência do Patrimônio da União (GRPU/SE) e com o Conselho Municipal de Habitação.

As ações do projeto foram: elaboração do projeto urbanístico para o Bairro Novo; apresentação do projeto urbanístico à comunidade; cadastramento das famílias; apro-vação do projeto urbanístico; registro do projeto urbanístico em cartório; audiências públicas para discutir com as famílias o processo de regularização fundiária para a área de reassentamento, declaração de área de interesse social, encaminhamento do projeto de lei para a Câmara Municipal de Aracajú autorizar a prefeitura a efetivar a regulari-zação fundiária às famílias; elaborar minuta do instrumento de regularização, CDRU, e apresentar minuta do contrato de CDRU em audiência pública às famílias para discus-são, coleta de documentação e elaborar CDRU para cada família; coleta das assinaturas nos contratos dos beneficiários e do prefeito; registro em cartório dos contratos; fazer averbação de cada apartamento em nome do cessionário quando se tratar de prédio de apartamentos; inclusão no cadastro imobiliário; o registro dos imóveis com o nome do cessionário; inclusão no cadastro único da prefeitura o nome de cada cessionário; solenidade de entrega dos contratos aos beneficiários; e encaminhar relação dos con-cessionários para a GRPU/SE.

Dentre as dificuldades encontradas estão o longo período transcorrido entre o pe-dido de cessão da área pela prefeitura ao Ministério do Planejamento e a assinatura do contrato; a necessidade de ajustes no projeto de parcelamento do bloco II, que está atra-sando o registro em cartório do parcelamento; a aquisição da documentação dos bene-ficiários que não se preocupam em possuí-las; os recursos para pagamento de taxas e emolumentos e falta de apoio por parte do cartório.

Responsável pelas informações:Nome: Maria de Abreu VasconcellosEntidade: Prefeitura de AracajúCargo: Coordenadora de HabitaçãoEndereço: Rua Frei Luíz Canolo de Noronha, Aracaju-SEE-mail: [email protected]: (79) 3218-7912 / 3218-7913 / 8814-4547 / Fax: (79) 3218-7900

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3.3 - Prefeitura Municipal de Ariquemes (RO)

O município de Ariquemes possui uma população de 84.581 habitantes, dentre os quais 12.457 são residentes em assentamentos informais de baixa renda. Ariquemes tornou-se mu-nicípio em outubro de 1977. É um importante centro do comércio de oito municípios do vale do Jamari. O ciclo da mineração gerou um crescimento desordenado. Somente nos primeiros 20 anos, a cidade cresceu 40% (2% a.a.) e, nos últimos cinco anos, cresceu 16% (3,2% a.a.).

Diante do quadro da crescente informalidade urbana, o município optou por desenvol-ver ações articuladas para que, além do benefício da regularização dominial, a população ti-vesse uma melhoria na sua qualidade de vida com ações sociais, ambientais e de urbanização. Destaca-se a regularização do Setor 10 com emissão de títulos.

Em paralelo, o município executou a pavimentação asfáltica e drenagem pluvial do Se-tor 10. Desenvolveu projeto de sistema de tratamento de esgoto sanitário a ser executado. Firmou contrato de repasse com a Caixa Econômica Federal para execução de melhorias habi-tacionais. Foi efetuada reforma da escola de ensino fundamental e implementada a educação integral. Foi executada a retificação do igarapé que corta o setor, rebaixando o lençol freático e melhorando as condições das fossas sépticas em uso. Foi executada em parceria com a Companhia de Águas a interligação de residências anteriormente não atendidas.

O Setor 10, com 314.600 m², foi um loteamento instalado pelo poder público, para abrigar a população migrante, sem infraestrutura, com um igarapé que o circunda e que, assoreado, derramava as águas no setor, criando charcos. As famílias foram se aglomerando, construindo casas de madeira (90%), executando fossas negras que transbordam no período de chuvas, não utilizando água tratada por força do custo e assim abrindo poços amazônicos, que são poços rasos, sem revestimento interno. As crianças e os jovens, sem local para ativi-dades, estavam sempre no meio da rua ou em pequenos becos.

O Setor 10 sempre encabeçou as estatísticas em termos de criminalidade e problemas de saúde. A paisagem era desoladora, uma vez que as ruas sem pavimento criavam crateras, as águas servidas corriam a céu aberto, os poucos veículos que circulavam no local, na maio-ria motos e bicicletas, tinham dificuldade de tráfego, além da má iluminação das ruas, que mantinha os moradores em clima de medo.

Setor 10 - Ariquemes (RO) Fotos: Iacira Azamor

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A área era de domínio do município, hoje com o loteamento regularizado no Cartório de Registro de Imóveis, sendo originalmente de propriedade privada. Em 2006, foi transformada em Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) pela lei nº 1273/06 – Plano Diretor Participativo.

O bairro é separado das áreas de chácaras por um igarapé com área de preservação permanente, com ocupações irregulares a serem remanejadas. O Setor 10 é composto por um universo de 1.038 lotes, com uma população estimada em 3.084 habitantes. Há famílias incluídas no Programa Bolsa-Família, consideradas em situação de pobreza ou extrema po-breza. Ali, a renda familiar está na faixa de um salário mínimo por família. Na contribuição do IPTU no ano de 2007, a inadimplência foi de 76,45%.

Para a efetivação de regularização fundiária plena do Setor 10, considerou-se a neces-sidade de caracterizar o nível de urbanização atual, a infraestrutura e os serviços públicos existentes, a fim de identificá-lo como assentamento irregular. Por conseguinte, foi projetado o conjunto de medidas que visavam se adequar às conformidades legais da regularização e a infraestrutura urbana necessária ao setor.

O primeiro passo foi a regularização da área, com levantamento topográfico, desenho do loteamento, encaminhamento ao Cartório de Registro de Imóveis. Posteriormente, foram realizadas várias parcerias e o setor foi agraciado com um contrato de repasse para a melhoria das unidades habitacionais.

O município iniciou a implantação das infraestruturas, como retificação do igarapé, exe-cução de pavimentação asfáltica e implantação das redes de abastecimento de água pela Companhia de Águas e Esgoto de Rondônia (Caerd). Em paralelo, o município implantou a educação integral, reformou o centro da juventude com área de lazer para crianças e inclusão digital para a juventude. A ideia era transformar a vida daquelas pessoas. Para tanto, eram necessárias várias ações paralelas.

No decorrer da execução das melhorias habitacionais, será implementado o trabalho so-cial que virá contribuir para transmitir à população a necessidade da regularização do imóvel, uma vez que, dos 1.028 lotes, somente 323 possuem os documentos para a regularização.

Para a regularização dessa área foi utilizada a lei municipal nº 1358, de 28/12/2007, que eliminou a necessidade de comprovação da cadeia sucessória da posse. O projeto urbanísti-co considerou a área já consolidada, redesenhando áreas de lazer e delimitando as áreas de preservação ambiental.

As intervenções já executadas foram: pavimentação asfáltica, drenagem pluvial, retifica-ção do igarapé, reforma da Escola de Ensino Fundamental Roberto Turbay, reforma do posto de saúde e reforma do centro da juventude.

As intervenções com execução prevista para 2009 são: melhorias de unidades habita-cionais, sistema de esgotamento sanitário, construção de novo refeitório na Escola Roberto Turbay, calçamento das áreas laterais externas da Escola Roberto Turbay, projeto social e con-clusão da execução de meio-fio e sarjetas no setor.

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Os principais atores sociais envolvidos no processo foram: União de Associações de Mo-radores de Ariquemes (Umama); Associação de Moradores do Setor 10; Cartório de Registro de Imóveis; Instituto Rondônia de Alternativas de Desenvolvimento (IRAD); Conselho da Cida-de de Ariquemes (CCA); Caixa Econômica Federal; Secretaria Municipal de Planejamento; Se-cretaria Municipal de Educação; Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social; Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos.

As atividades para a regularização do setor propiciaram os seguintes resultados: observa-ção de deficiências não identificadas anteriormente; projeto Burareiro (educação municipal em tempo integral); registro do loteamento; implantação do IPTU; implantação de serviços de infraestrutura; melhoria das condições de habitabilidade; melhoria da qualidade de vida da população.

Foram constatadas as seguintes dificuldades no decorrer do processo: conscientização da população acerca da importância de possuir o título do imóvel; da necessidade de pagar as taxas cobradas pelo cartório para efetivar o registro; pagamento do IPTU; falta de educação sanitária e compromisso ambiental. Já foram concedidos 80 títulos. Quanto aos títulos regis-trados, ainda não temos dados consolidados.

Responsável pelas informações:Nome: Iacira AzamorEntidade: Prefeitura Municipal de Ariquemes Cargo: Chefe do Núcleo Executivo de ProjetosEendereço: Rua Rio Madeira 3617, Setor Institucional, Ariquemes-ROE-mail: [email protected] / www.ariquemes.ro.gov.brTelefone: (69) 3536-3212 / Fax: (69) 3536-3212

3.4 - Prefeitura Municipal de Barra Mansa (RJ)

A Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal de Barra Mansa, por meio da Gerência de Programas Habitacionais, vem resgatando os passivos fundi-ários acumulados nos quase 200 anos do município. Tal resgate, a partir de estudo e diagnóstico, propiciou cidadania aos moradores do núcleo Vila Natal, ora apresentado, permitindo a seus integrantes regularizar suas moradias e proceder ao registro no Re-gistro Geral de Imóveis (RGI).

A região em que se encontra o núcleo Vila Natal havia sido desapropriada para fins habitacionais, mas antes que o município legalizasse a questão fundiária, no final de 1996, cerca de 200 famílias de localidades próximas ocuparam-na, vivendo em situação precá-ria por cerca de cinco anos, quando então foram implantadas as redes de água potável e de esgoto. A partir do Programa Habitar Brasil / BID, a área foi decretada Setor Especial de Habitação Social (SEHS), cujo projeto abrange, além da infraestrutura, equipamentos

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comunitários, trabalho social, com prioridade para a mobilização comunitária e programa de geração de emprego e renda.

O loteamento social Vila Natal foi formado pela transformação da ocupação em lo-teamento popular, com lotes para famílias carentes incluídas em programa habitacional da Secretaria Municipal de Planejamento. Os requisitos para ocupação da área concentra-ram-se nas famílias moradoras da região, que não possuíssem imóvel ou terreno próprio e que tivessem renda familiar até três salários mínimos. As famílias cadastradas e selecio-nadas pela administração pública ficaram acampadas no local durante quase 30 dias até a decisão final de elaboração do projeto do loteamento social Vila Natal, quando começa-ram a surgir as primeiras construções ainda em situação precária.

As ações desenvolvidas na comunidade de Vila Natal têm a intenção de promover a melhoria da qualidade de vida da população, com a implantação da infraestrutura urba-na, mobiliário urbano, melhorias sanitárias, equipamentos comunitários, trabalho social e regularização fundiária, buscando-se, assim, maior interação entre poder público e a comunidade, bem como o exercício pleno da cidadania.

Cabe ressaltar que, devido à área desapropriada primitiva apresentar grandes di-mensões (cerca de 7,67 alqueires geométricos) e áreas de aclives acentuados, houve uma grande preocupação de que o núcleo, consolidado na parte menos acidentada, não se expandisse nas reservas de área verde. A maior parte a montante da área encontra-se ocupada desde o final dos anos 1980 pelo núcleo Recanto do Sol, com cerca de 200 fa-mílias. Por isso, para efetivar a regularização fundiária da Vila Natal, os dois núcleos foram

Obras na Vila Natal - Barra Mansa (RJ) Foto: Maria Celeste Fortes Bastos

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desmembrados e o Recanto do Sol também foi regularizado, com a entrega das Conces-sões de Direito Real de Uso (CDRU).

Para que a ocupação da área da Vila Natal não se expandisse e os lotes do Recanto do Sol não avançassem encosta abaixo, foram apontados os seguintes mecanismos: monito-ramento e controle da expansão pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Barra Mansa; contenção das encostas existentes na área com o plantio de árvores e gradeamen-to, e demarcação física dos limites com as áreas de particulares.

Do ponto de vista ambiental, o projeto procurou atender a todos os condicionantes, com a realização de várias palestras para a comunidade. O projeto de urbanização abran-geu a estabilização de encostas; a recuperação de áreas degradadas; a implantação de rede separadora de águas pluviais e construção de fossas sépticas.

O principal obstáculo encontrado foi a dificuldade em oficializar o domínio da área, pois com o falecimento do antigo proprietário (de quem a área foi desapropriada), o mu-nicípio só conseguiu o alvará judicial para transcrição da escritura em maio de 2008. As-sim, somente após o alvará, o projeto de desmembramento da área, bem como a aprova-ção dos parcelamentos, puderam ser encaminhados ao Cartório de Registro de Imóveis. Essa etapa levou cinco anos para ser concluída.

Outra dificuldade foi conseguir a gratuidade do registro para os primeiros ocupan-tes, dada a resistência por parte dos cartórios.

Foram realizadas algumas obras, como complementação e normalização das ligações domiciliares à rede de água potável e das ligações domiciliares à rede de esgotamento sanitário; ampliação do tratamento de esgoto sanitário com a construção de fossa-filtro; complementação de rede de águas pluviais e meios-fios; pavimentação; arborização; contenção / estabilização das encostas e recuperação de áreas degradadas; plantio das áreas verdes remanescentes; construção de equipamentos comunitários; creche; cozinha comunitária; centro comunitário; sede de associação de moradores; quadra poliesportiva; construção de módulos hidráulicos para as casas que não dispunham de banheiro; e me-lhorias habitacionais (construção de muros frontais e instalação de caixas-d’águas). Hou-ve ainda a necessidade de remanejamento de dois barracos que estavam dentro do pe-rímetro da área e a construção de duas novas moradias em alvenaria para essas famílias.

Os recursos para o empreendimento vieram dos governos federal, estadual e mu-nicipal, cabendo ao último a efetivação e custeio da regularização fundiária, equipar a creche, assumir a manutenção da infraestrutura e dos equipamentos públicos, além dos recursos humanos da creche e do centro comunitário.

O município aproveitou a oportunidade que o Programa Habitar Brasil – BID propor-cionou e, por intermédio do Subprograma de Desenvolvimento Municipal, contratou asses-soria para a elaboração de um Projeto Amostral de Regularização Fundiária. O projeto tam-bém serviu de base para a Lei de Política Municipal de Habitação Social, bem como dos seus

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decretos regulamentadores, todos componentes do Plano Diretor de Desenvolvimento Ur-bano e Ambiental. Outro contrato do mesmo programa foi utilizado para a capacitação e homogeneização do quadro técnico das secretarias envolvidas com a questão habitacional.

Há que se destacar a importância da participação e acompanhamento da comuni-dade ao longo de todo o processo, desde o levantamento de dados, demanda das ne-cessidades da comunidade, anteprojeto e projeto executivo do plano integrado. Todos, inclusive, apresentados e aprovados em assembleias públicas. Isto foi, sem dúvida, ponto decisivo para que as áreas destinadas aos equipamentos públicos tenham garantia de ser preservada e bem aproveitada, pelo comprometimento da comunidade.

Dos atores, destacamos a Associação de Moradores do Bairro Paraíso, a Pastoral da Criança, a igreja evangélica mais próxima da área, a diretoria do Colégio Damião Medeiros, além das lideranças da Vila Natal. Como o programa exigiu um plano inte-grado, houve outros parceiros, como o governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio dos técnicos envolvidos e dos fiscais; as consultorias contratadas para gerenciamento e implantação do projeto social; e os fiscais de obra do governo federal, por intermédio da Caixa Econômica Federal.

O município aprovou o desmembramento do núcleo Vila Natal da gleba original, de-correndo, assim, na individualização também do núcleo Recanto do Sol. No dia 2 de de-zembro de 2008, foram entregues as CDRUs do Recanto do Sol, num total de 211 títulos. Em 6 de dezembro do mesmo ano, foram entregues as CDRUs da Vila Natal, num grande evento que titulou 115 famílias.

Os trabalhos encontram-se na fase de registro cartorial, tanto da gleba original em nome do município, como o desmembramento dos dois núcleos, além dos loteamentos devidamente aprovados, e, consequentemente, dos registros das CDRUs.

Responsável pelas informações:Nome: José Marcos Rodrigues FilhoEntidade: Secretaria Municipal de Barra MansaCargo: SecretárioEndereço: Rua Luiz Ponce, 263, centro, Barra Mansa-RJE-mail: [email protected] Telefone: (24) 2106-3454 / 2106-3414 / Fax: (24) 3322-2114

3.5 - Prefeitura Municipal de Belém (PA)

A Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem), criada por lei municipal de 1970, é uma sociedade de economia mista cujo maior acionista é a Prefeitura Municipal de Belém. Desenvolve ações de regularização fundiária integradas no planejamento urbano municipal, visando melhorias na qualidade de vida

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da população. Atua também na prestação de serviços a terceiros no mercado imobiliário.A área de intervenção do projeto, denominada comunidade de Fátima, não constitui

uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), é propriedade da própria Codem. Está inserida em zona ordinária residencial de média densidade, de acordo com o zoneamento estabele-cido na lei municipal de controle urbanístico. Sua ocupação foi iniciada há mais de 20 anos e caracteriza-se por assentamento consolidado em áreas alagadas ou alagáveis, desprovidas de saneamento básico e ocupadas em sua quase totalidade por população de baixa renda. As edificações são predominantemente de madeira com dois pavimentos, a maioria dispondo de subunidades no mesmo lote, para familiares e agregados. Destacam-se a existência de comércios, conferindo uso misto às edificações, assim como edificações em alvenaria, princi-palmente nos corredores principais.

O Projeto de Regularização para a Comunidade de Fátima abrange uma área de 88.771 m², composta por oito quadras, 640 imóveis, com uma população residente de 2.036 habitantes. Seu objetivo principal foi a regularização fundiária sustentável, de forma participativa e ade-quada à realidade socioeconômica da comunidade, visando evitar que a população original sofresse expulsão pelos processos de troca do mercado imobiliário.

Nesse sentido, foi escolhido como instrumento de regularização a Concessão do Direito de Superfície, pelo prazo de dez anos, para fins residenciais de famílias que não possuam outro imóvel no município de Belém. O processo foi gratuito e legitimado pela participação permanente da comunidade, apesar da dificuldade inicial na sensibilização dos ocupantes para a utilização desse instrumento, dada a não efetivação da propriedade da terra em nome dos moradores.

O projeto desenvolveu-se com as seguintes atividades: levantamento topográfico; le-vantamento socioeconômico; integração da comunidade; levantamento das edificações para a definição de espaço público e privado; avaliação das irregularidades fundiárias / levanta-mento e análise de documentos; avaliação e definição de critérios e instrumentos urbanís-ticos; identificação das necessidades de investimentos; elaboração de projetos urbanísticos e de infraestrutura; apresentação do plano de trabalho à comunidade; revisão do cadastro municipal com informação de campo; registro dos instrumentos de regularização fundiária; esclarecimentos dos procedimentos adotados e entrega das escrituras.

Foram realizados ainda projetos de saneamento, propostos arranjos para os lotes na qua-dra, sem reassentamentos ou remoções, e instalação de praça de lazer e quadra polivalente.

Destacam-se na ação a participação da Associação dos Notários e Registradores do Pará (Anoreg), empenhando-se e priorizando os registros para fins sociais da comunidade, de for-ma gratuita; e o reconhecimento da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, acolhendo o escri-tório da Codem e incentivando a comunidade a se engajar nas atividades.

Dentre as 640 unidades habitacionais existentes na área, 144 haviam iniciado indivi-dualmente processos administrativos em busca da regularização antes do projeto munici-

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pal. O projeto desenvolvido pela prefeitura iniciou a regularização de outras 310 unidades, tendo concluído e concedido títulos em 230 casos. As demais 186 unidades não formali-zaram processos.

Responsável pelas informações:Nome: Ana Cristina Kaliff de OliveiraEntidade: Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém, Diretoria de Desenvolvimento e NegóciosCargo: Coordenadora temática da regularização fundiária Endereço: Av. Nazaré, 708, Nazaré, Belém-PAE-mail: [email protected] Telefone: (91) 3084-0747

3.6 - Prefeitura Municipal de Blumenau (SC)

Os terrenos objeto da experiência de regularização em destaque fazem parte do Progra-ma de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários Informais, Moda-lidade 03 – Atividades Jurídicas e Administrativas de Regularização Fundiária, sob o contrato nº 0174621-64/2005 firmado entre a Prefeitura Municipal de Blumenau e o Ministério das Cidades, representado pela Caixa Econômica Federal.

O objetivo final de todo o desenvolvimento do processo é a titulação/cessão de posse/propriedade dos lotes das famílias que são o público-alvo deste projeto, considerando que assim propicia-se a consolidação legal da habitabilidade de cada família e consequentemen-te a melhoria da qualidade de vida dessa população.

Fazem parte desse contexto as seguintes áreas/assentamentos: 1) os loteamentos Horto Florestal, Celso Odeli e São Paulo Apóstolo; as vilas Bromberg e Feliz; e 2) a rua Vereador Ro-mário Conceição Badia.

A primeira área, de propriedade do município de Blumenau, fica localizada no bairro do Sal-to e conta com 691.028,42 m² de extensão e com a divisão física de cinco microáreas. O início da ocupação ocorreu há mais de 25 anos pelo próprio município, após as enchentes de 1983 e 1984. Posteriormente, a ocupação desordenada continuou por iniciativa de outros moradores, sendo atualmente configurada como área consolidada e decretada como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), no final de 2007.

A segunda gleba mencionada situa-se no bairro Itoupava Norte, na testa da rua Verea-dor Romário da Conceição Badia. Trata-se de uma área de 67.138,00 m², de propriedade do município de Blumenau. Possui ocupação consolidada há aproximadamente 30 anos e foi instituída como ZEIS em 2007.

Com recursos do Programa Papel Passado, do Ministério das Cidades, e execução da Secretaria de Regularização Fundiária e Habitação da Prefeitura Municipal local, foram desen-volvidas atividades visando à regularização dos assentamentos.

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As áreas apresentam topografia irregular, o que não impossibilitou a ocupação de tre-chos com declividades superiores a 30%, em terrenos com vegetação nas Áreas Verdes Públi-cas (AVP) e nas Áreas de Preservação Permanente (APP).

A população moradora nesses assentamentos totaliza aproximadamente 620 famílias, e o fato de habitarem ocupações irregulares configura um modelo de exclusão territorial, pois dificulta o acesso das famílias mais pobres às oportunidades econômicas e de desenvolvimento humano que as cidades oferecem. Facilmente, tornam-se, também, palco de relações políticas marcadas pela troca de favores e clientelismo, prejudicando o alcance da democracia plena, além de contabilizar perdas ambientais que muitas vezes são irrecuperáveis.

Questionando esse modelo, buscou-se alternativas visando à inclusão social e amplia-ção da cidadania, utilizando estratégias de ação, tais como: contatos com representantes das associações de moradores para elucidação das propostas de regularização dos loteamentos, assembleias gerais com os moradores com a mesma finalidade e capacitação das lideranças comunitárias para posterior promoção do envolvimento comunitário. Foram ainda realizados levantamentos sociocadastrais e topográficos de cada lote, bem como dos equipamentos urbanos e comunitários existentes no entorno, para elaboração do perfil da comunidade e do projeto final de parcelamento de cada loteamento.

Algumas parcerias ocorreram de modo a facilitar o projeto, como a articulação com a igreja local na mobilização da comunidade, e com os cartórios, que forneceram as certidões necessá-rias sem cobrança de taxas, além da busca de informações necessárias e solicitação de assento no Conselho Municipal de Habitação, para melhor entendimento dos processos em andamento.

Apesar de existir alguma infraestrutura nos assentamentos, decorrentes do longo perío-do de ocupação consolidada, estão previstas intervenções, tais como melhorias em vias e servidões, e projetos complementares de instalação de energia elétrica e água potável nos pontos ainda não contemplados.

As atividades do projeto resultaram na decretação da ZEIS para as glebas aborda-das; na definição do instrumento de regularização; na venda com preço simbólico; e no encaminhamento para aprovação do Plano Urbanístico Específico (PUE) para a Secretaria de Planejamento.

Por intermédio do projeto reconhecido pela Secretaria de Planejamento e aprovação no registro de imóveis, serão contempladas 620 famílias com escritura pública.

Responsáveis pelas informações:Nome: Álvaro Pinheiro/Cezar A. Campesatto dos Santos/Rosemary J. RabitzschEntidade: Prefeitura Municipal de Blumenau, Secretaria Municipal de Regularização Fundiária e Habitação.Cargo: secretário municipal / Diretor de Regularização Fundiária / Assistente social Endereço: Rua das Missões, 150, Ponta Aguda, Blumenau-SCE-mail: [email protected] Telefone: (47) 3326-7560 / 3326-6782

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3.7 - Prefeitura Municipal de Cachoeirinha (RS)

A experiência de regularização fundiária no município de Cachoeirinha, no Estado do Rio Grande do Sul, foi desenvolvida pela Secretaria Municipal de Habitação, com financia-mento do Ministério das Cidades, e envolve a regularização urbanística dos assentamentos Jardim Conquista e Jardim Betânia.

São assentamentos informais sobre áreas municipais, com uso predominantemente residencial, incluídos como Área de Especial Interesse Social (AEIS), segundo o plano dire-tor. O loteamento Jardim Betânia possui 125.000,00 m², com 260 lotes recebidos pela pre-feitura em troca de obras de infraestrutura. Posteriormente, esses lotes foram subdivididos, totalizando 452 lotes para o assentamento de famílias de baixa renda.

O loteamento Jardim Conquista, com 38.270,28 m², é área de propriedade municipal. Foi ocupada na década de 1990, por cerca de 162 famílias, e anos depois é que foi dotada de infraestrutura.

O projeto tem por objetivo o reconhecimento da posse das famílias moradoras por meio da regularização jurídica e urbanística da área, a capacitação institucional e o envol-vimento das famílias no processo a fim de garantir a sustentabilidade do projeto no tempo e no espaço.

Nesse sentido, foram previstos: capacitação da comunidade por meio de oficinas, reu-niões e comitê gestor (existem associações de moradores em ambos os loteamentos); qua-lificação institucional com oficinas de capacitação e inclusão de técnicos locais em todas as etapas; elaboração de diagnóstico territorial para definição de instrumento jurídico ade-quado; cadastro socioeconômico; e regulamentação urbanística.

A infraestrutura da área é dotada : Jardim Bethânia: rede coletora mista esgoto / plu-vial; rede de abastecimento de água; rede de energia elétrica domiciliar; iluminação públi-ca; coleta de lixo; e o Jardim Conquista: rede coletora mista esgoto / pluvial; rede de abas-tecimento de água; rede de energia elétrica domiciliar; iluminação pública; coleta de lixo.

O loteamento Jardim Conquista, pelo fato de estar localizado em área central do mu-nicípio, deverá sofrer adequações por um regime urbanístico específico, como forma de contenção à especulação imobiliária, além de promover a sustentabilidade do projeto após a finalização da ação.

O projeto encontra-se em andamento e os instrumentos de regularização previstos para o loteamento Jardim Conquista são a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), para os beneficiários que se enquadram às condições da CDRU e promessa de compra e venda para os demais.

Para o loteamento Jardim Bethânia foi prevista a Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM). Foi realizado o cadastramento econômico e social de 558 famílias, sen-do 162 no Jardim Conquista e 396 no Jardim Bethânia.

Obras nos loteamentos Jardim Monte Cristo, Parque Oziel e Gleba B, Campinas (SP)

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Responsável pelas informações:Nome: Cátia Schmitz de Lima NevesEntidade: Secretaria Municipal de Habitação de CachoeirinhaCargo: Engenheira civilEndereço: Av. Flores da Cunha, 2.209, sala 9, centro, Cachoeirinha-RSE-mail: [email protected] Telefone: (51) 3041-7103

3.8 - Prefeitura Municipal de Campinas (SP)

Para o desenvolvimento do Programa de Regularização Fundiária no Município de Cam-pinas foi criada, em 2002, a Coordenadoria Es-pecial de Regularização Fundiária, ligada à Se-cretaria de Habitação da prefeitura municipal. A coordenadoria é composta por quadro técnico, jurídico e de assistência social, com a atribuição específica de coordenar a regularização dos lote-amentos clandestinos e irregulares.

Embora existam em Campinas 380 áreas em processo de regularização (com aproxima-damente 76 mil lotes), elegemos como experi-ência para compartilhar com outros municípios, os procedimentos adotados na regularização da ocupação conhecida como “Jardim Monte Cristo, Parque Oziel e Gleba B”.

Em 1997, cerca de 3 mil famílias ocuparam uma área localizada em importante região do município (entre as rodovias Santos Dumont e Anhanguera), com 937.000,00 m², formada por parte do loteamento Jardim Lago Continuação (aprovado em 1970 e não implementado com obras de infraestrutura) e parte da Gleba B da Fazenda Taubaté.

Obras nos loteamentos Jardim Monte Cristo, Parque Oziel e Gleba B, Campinas (SP)

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A ocupação, caracterizada por construções de alvenaria para uso habitacional, expandiu-se rapidamente, desconfigurando completamente o traçado das vias, quadras, lotes e áreas públicas constantes no projeto do loteamento aprovado. Foram constatadas interferências ambientais, tais como trechos de encostas com ocorrências de erosão e solapamento, trechos de APP ocupados e assoreamento dos cursos d’água.

Diante da irreversibilidade da situação, o poder público foi obrigado a garantir aos mora-dores condições de habitabilidade, salubridade, higiene e segurança e a iniciar um complexo processo de regularização fundiária.

Em razão de existência de liminar nas ações de reintegração e com o objetivo de ressarcir os prejuízos suportados pelos proprietários em razão da perda da posse dos imóveis, o muni-cípio declarou as áreas ocupadas como Área de Especial Interesse Social (AEIS) para fins de desapropriação.

Paralelamente, foram desenvolvidos os seguintes trabalhos, dentre outros, levantamen-to planialtimétrico, proposta de regularização urbanística, propostas de intervenções para erradicação de risco (projetos das obras e identificação das remoções), projetos executivos das obras de infraestrutura, projeto de recuperação ambiental, projetos para implantação de equipamentos públicos urbanos e comunitários, cadastro socioeconômico dos moradores e adoção das medidas visando à organização comunitária. Além disso, a área foi gravada como ZEIS de Regularização no Plano Diretor (lei complementar 15/2006).

Como o município não dispunha de recursos para o pagamento prévio das indeniza-ções da totalidade das áreas a serem desapropriadas, foi submetido à consideração e aceito pelo Poder Judiciário o seguinte plano: pagamento parcelado de indenizações com recursos oriundos de dotação orçamentária própria, complementados pelos valores arrecadados dos ocupantes; imissão na posse dos imóveis, sem prévio depósito, para viabilizar as demais me-didas da regularização fundiária; permissão de uso onerosa das áreas aos ocupantes; regula-rizado o empreendimento, será celebrado com o permissionário contrato de compra e venda do imóvel, e do valor do lote será debitada a importância paga a título de permissão de uso e o valor recolhido mensalmente a título de permissão é destinado ao pagamento de parte das indenizações e, na medida do possível, ao custeio das demandas do local.

Para a legitimação da estratégia foi celebrado com os moradores um “Termo de Adesão ao Programa de Regularização Fundiária dos loteamentos denominados Jardim Monte Cristo, Par-que Oziel e Gleba B, com permissão de uso a título oneroso e compromisso de compra e venda”.

No local, estão sendo realizadas as seguintes intervenções, algumas delas financiadas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): reorganização dos espaços; implantação de abastecimento de água; rede de energia elétrica domiciliar e iluminação pú-blica; coleta e remoção de lixo; pavimentação e drenagem; construção de equipamentos; es-gotamento sanitário; e construção de 100 unidades habitacionais para remoção de famílias de área de risco.

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O desenvolvimento dos trabalhos conta com a colaboração de parceiros, dentre eles: a Cohab, contratada para elaborar projetos de regularização, cadastro socioeconômico e re-colhimento de valores; a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), res-ponsável pela implantação do saneamento básico, e a associação de moradores, atuante na definição das estratégias.

Além da presença do poder público, o local conta também com a atuação da sociedade civil, a exemplo das seguintes entidades educacionais: Fundação Douglas Andreani, Associa-ção Amigos da Criança e Obras São João Bosco.

A presente experiência destaca-se, principalmente, pela inovação na tese defendida nos processos de desapropriação (imissão na posse sem o prévio depósito e possibilidade de pa-gamento parcelado das indenizações) e pelo fato dos 3.200 moradores arcarem com parte dos custos da desapropriação e regularização, pela permissão de uso onerosa, que será con-vertida em compra e venda após a regularização registrária do loteamento.

Responsável pelas informações:Nome: Simone S. Nicoliello PenaEntidade: Prefeitura Municipal de CampinasCargo: Procuradora municipal e diretora de regularização fundiáriaEndereço: Rua São Carlos, 677, Parque Itália, Campinas-SPE-mail: [email protected] Telefone: (19) 3119-9624 / 9625

3.9 - Prefeitura Municipal de Campo Grande (MS)

O município de Campo Grande implementou a política de regularização fundiária iniciada na extinta Secretaria Municipal de Assuntos Fundiários, passando à responsabili-dade da Empresa Municipal de Habitação, a qual foi transformada, em 2008, em Agência Municipal de Habitação. Até a presente data, foram regularizadas 102 áreas, beneficiando aproximadamente 9 mil famílias.

Podemos identificar três principais características nas ações de regularização fundiária da Prefeitura de Campo Grande:

Domínio particular: Em áreas de domínio particular, consideradas como Zona Es-pecial de Interesse Social (ZEIS), a política de desenvolvimento urbano visou à integração plena dos assentamentos precários à cidade formal, com a melhoria das condições habi-tacionais, urbanização, acesso aos equipamentos e serviços públicos, erradicação de risco e a regularização fundiária.

Uma das condições apresentadas na ocasião foi a desapropriação. Para tanto, utilizou-se a negociação com os proprietários e uma das dificuldades enfrentadas foi a contestação dos proprietários em face do valor indenizatório, considerando que a Prefeitura Municipal de

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Campo Grande tem como política pagar o valor venal do imóvel (IPTU), o que pode ocasionar a morosidade no processo.

Nessa situação, destacamos os assentamentos Jardim Futurista e Jardim Tayaná. Neste úl-timo, além da ocupação de terras particulares, os moradores também ocupavam área pública municipal. A regularização só foi possível com a desapropriação dos lotes particulares, com a fi-nalidade de regularização da titularidade aos ocupantes, e com a desafetação da área de domínio público por meio de decreto. Posteriormente, implantou-se projeto de remembramento e des-dobro. Salienta-se que esse processo teve participação da Defensoria Pública Geral do Estado do Mato Grosso do Sul, conforme apresentado em tópico específico da instituição (experiência 2.13).

Ocupação indígena: O loteamento Jardim Noroeste – Aldeia Urbana Darcy Ribeiro está localizado na zona noroeste da cidade e incluído na Macrozona de Adensamento Se-cundário (MZ2) e ocupa área de 28 ha. A população é formada por famílias indígenas de etnia Terena, que migraram da aldeia para a cidade em busca de trabalho, melhores condi-ções de saúde e educação.

As famílias ocuparam o loteamento de forma desordenada, com moradias precárias, que não ofereciam as mínimas condições de habitabilidade. Por ser área particular, os proprietários entraram com processo de reintegração de posse. Mas a mobilização da Associação de Morado-res e do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, fez com que o poder público buscasse alternativas para evitar o despejo das 98 famílias. Iniciou-se, assim, o processo de desapropriação e regularização.

Uma grande dificuldade encontrada foi a diferença de valores culturais, bem como a per-sonalidade muito forte por parte da liderança indígena. Nesse contexto, no início dos trabalhos foi muito difícil a aceitação em relação às decisões do trabalho social, pois a equipe era composta só por mulheres. A participação das mulheres na comissão de acompanhamento da obra e nas reuniões para levantamento das demandas por cursos, para a definição das ações, teve que ser negociada com o cacique que representava as famílias.

Todos os empreendimentos regularizados pela municipalidade contam com serviços de infraestrutura básica (energia elétrica, abastecimento de água, transporte coletivo com linha de ônibus e via asfaltada, coleta de lixo e iluminação pública).

Em relação aos serviços públicos, são disponibilizados à população um centro de referência de assistência social (atendimento integral à família); uma unidade básica de saúde, uma escola municipal de ensino fundamental e um centro de educação infantil.

Nesse assentamento, foi deixada uma área de aproximadamente 3.824 m², especificamen-te para implantação do Centro Cultural Indígena e projetada uma área para a construção do Memorial da Cultura Indígena. Esse espaço será dedicado à realização de ações voltadas para crianças e adolescentes, buscando reforçar aspectos da sua cultura (terena) e manter as tradi-ções, apesar do contato direto com a cidade. Também estão previstos a realização de cursos e o apoio à comercialização de artesanato.

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Áreas de risco e ocupação ambiental: O assentamento Jardim São Conrado é constituído por famílias de baixa renda e escolaridade e sem qualificação profissional. Ocupam irregular-mente áreas de risco e de preservação ambiental, às margens dos córregos Buriti e Lagoa e sob a linha de alta tensão.

Após levantamento topográfico, todas as edificações que atendiam à distância mínima de 30 metros do córrego, exigida pela Lei do Uso e Ocupação do Solo, permaneceram e os mora-dores tiveram seus lotes regularizados. As outras edificações foram demolidas e os moradores remanejados para unidades habitacionais construídas no Jardim São Conrado em lotes desa-propriados. Como a área era de propriedade da Prefeitura Municipal de Campo Grande, foi ne-cessário apenas o decreto de desafetação para concretizar a regularização fundiária de todos os moradores que não estavam em área de risco.

O envolvimento popular nas ações sociais e físicas foi prioridade, seguido da formação e/ou fortalecimento dos grupos representativos da área alvo. A promoção de ações de capacitação, de geração de renda, resultando na melhoria econômico-financeira da comunidade e sua consequen-te fixação na área, aliado à urbanização oferecida, propiciou o desenvolvimento local sustentável.

Responsável pelas informações:Nome: Vera Cristina Galvão BacchiEntidade: Agência Municipal de Habitação de Campo GrandeCargo: Arquiteta e urbanistaEndereço: Rua Iria Loureiro Viana, 415, Campo Grande-MSE-mail: [email protected] Telefone: (67) 3314-3942

3.10 - Prefeitura Municipal de Cubatão (SP)

O município de Cubatão possui várias experiências de regularização fundiária com ti-tulação final em empreendimentos públicos municipais e em projetos de reurbanização de novos assentamentos precários.

O loteamento da Vila São José é uma das experiências destacadas. Possui aproximada-mente 13,1 ha., área de propriedade da União, com aforamento para a Prefeitura Municipal de Cubatão. O loteamento foi devidamente registrado no cartório de registro com a abertura de 450 matrículas e inscrito como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS).

A Vila São José, também conhecida como Vila Socó, surgiu no início da década de 1960, devido ao processo industrial do município. Fundada pelo pescador Arthur Isidoro Maes, que veio do Rio da Vó, em São Vicente, e ali se estabeleceu. Como criava em sua casa um pássaro chamado socó, a vila ficou conhecida como Socó ou Vila do Arthur. Naquela época, a popula-ção rural começava a se adequar à nova condição do município em fase de industrialização, vendendo suas terras e ocupando novos bairros. O processo imigratório, a procura de novos

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empregos gerados pela industrialização e o despreparo da mão de obra resultaram no apa-recimento desse núcleo.

Em meados da década de 1970, já estava instalada a favela, com a predominância de moradores cujas rendas não ultrapassam três salários mínimos. Com inúmeras palafitas, em fe-vereiro de 1984, um incêndio, ocasionado pelo vazamento de dutos que cortavam a área, pra-ticamente destruiu metade da favela, provocando a morte de aproximadamente 100 pessoas.

Várias ações foram realizadas, com destaques para a transferência da área da União para a municipalidade, com a utilização do instrumento de cessão por meio de aforamento expe-dido pela municipalidade, para o registro do loteamento no cartório local e para a confecção dos documentos de titulação e entrega aos beneficiários.

O assentamento foi contemplado também com algumas obras de infraestrutura, tais como abertura de ruas, instalação de unidade básica de saúde, escola de educação infantil e áreas verdes. A parceria com a Petrobras possibilitou a edificação de 450 unidades habitacio-nais. Outras parcerias foram igualmente importantes, como o Estado de São Paulo, que fez a identificação dos beneficiados, e o cartório, que auxiliou a prefeitura em todo o processo. Coube à prefeitura o registro do loteamento e a titulação das unidades.

Foram iniciados 150 processos de regularização fundiária, sendo 100 títulos concedidos e 60 registrados.

Responsáveis pelas informações:Nome: Andrea Maria de Castro, Ana Carolina Correia Rosa e José Eduardo L. F. GuilhermeEntidade: Prefeitura Municipal de Cubatão Cargo: Procuradora municipal, chefe da Divisão de Regularização Fundiária e secretário de Negócios JurídicosEndereço: Praça dos Emancipadores, s/nº, centro, Cubatão-SP.E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Telefone: (13) 3362-6495 / 3362-6496 / 3362-6130

3.11 - Prefeitura Municipal de Curitiba (PR)

A cidade de Curitiba tem 2,8% de sua superfície total (432 km²) ocupados de forma ir-regular (assentamentos espontâneos, loteamentos clandestinos e assentamentos precários). São 397 áreas, com um contingente de 241.014 pessoas, que representam 13,4% da popula-ção do município. Do total de ocupações, 30% estão em terrenos públicos, 40% particulares e 30% estão em terrenos que são ao mesmo tempo públicos e particulares. São 251 áreas irregulares que possuem Área de Preservação Permanente (APP). Dessas, 151 estão em locais sujeitos a inundações.

A partir da elaboração do Plano de Regularização Fundiária em APPs, em 2007, Curitiba implantou um amplo programa de intervenção em ocupações irregulares que têm domicílios em APPs. O programa compatibiliza a ação habitacional com a preservação ambiental e inclui o apoio do trabalho social com as comunidades, contemplando um total de 8.833 famílias.

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Os projetos de intervenção nas 39 Vilas foram iniciados em abril de 2008 e têm duração que varia de 18 a 24 meses, conforme a complexidade das ações a serem desenvolvidas. Trata-se, portanto, de atuações ainda na fase inicial.

Fundada em 1965, a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) é respon-sável pela condução da política de habitação de interesse social do município de Curitiba, atuando em regularização fundiária desde 1985.

Neste trabalho serão apresentados alguns dos principais projetos de regularização fun-diária conduzidos atualmente pela Cohab, incluindo a Vila Terra Santa, a Vila Parolin e Guaíra, a aldeia indígena Kakané Porã e o bolsão Audi/União.

A comunidade da Terra Santa formou-se no final da década de 1980, mas intensificou-se a partir de 1998 e disseminou-se para uma área de propriedade particular com concentração da vegetação nativa, provocando, além da grave devastação ambiental, ocupações contínuas nas faixas de preservação permanente. Embora a ação para a reintegração de posse tenha sido obtida pelos proprietários na Justiça, as tentativas para a desocupação foram infrutíferas.

A área ocupada pela comunidade Terra Santa possui cerca de 250.000 m² e localiza-se no bairro do Tatuquara. Para possibilitar a intervenção no local, o imóvel foi transferido ao Fundo Municipal de Habitação como pagamento de impostos (dação). O projeto em execução na área envolve regularização e urbanização.

O partido urbanístico proposto para a Vila Terra Santa ficou condicionado à esponta-neidade do processo de ocupação ocorrido e tratou, na medida do possível, de se adaptar a ele. Promoveu apenas as alterações necessárias ao rompimento da situação de isolamento da área e ao cumprimento da legislação municipal e federal para permitir sua regularização (APPs e faixas de domínio de ferrovias e rede de transmissão).

Considerando a situação de precariedade das moradias, a proposta para o projeto Terra Santa teve o objetivo de prover a população local das condições mínimas necessárias, por meio da construção de casas novas ou da introdução de melhorias urbanísticas. Para as ações de re-assentamento, foi destinada uma área (Moradias Laguna) dentro do mesmo bairro Tatuquara, com a construção de 479 casas, uma escola para 980 alunos, uma creche e casa comunitária.

Salienta-se que todas as intervenções contaram com a flexibilidade de parâmetros con-feridos pelo decreto municipal, que declara todas as áreas de intervenção da Cohab como de

Vila Parolin Aldeia Kakané Porã Bolsão Audi /União - Curitiba (PR)

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Habitação de Interesse Social. A intervenção foi iniciada em 2007 e tem previsão de duração até o mês de dezembro de 2009.

Quanto à questão documental, os resultados pretendidos são de titulação com a emis-são de escrituras públicas de compra e venda em nome de 100% dos beneficiários do projeto. O projeto técnico social prevê a mensuração dos resultados por meio de indicadores que serão acompanhados ao longo do projeto e comparados ao final do prazo de execução. O serviço social permanecerá nas áreas por um período de seis meses após a conclusão das obras. Ao todo serão beneficiadas 1.077 famílias.

A Vila Parolin é a mais antiga área de ocupação irregular de Curitiba. Localizada nos bair-ros do Parolin e Vila Guaíra, numa área de aproximadamente 165.000 m² próxima ao centro da cidade de Curitiba. A ocupação teve início na década de 1950, ao longo da ferrovia então existente no local. No decorrer dos anos, avançou em direção ao centro da cidade sobre áreas ao longo do rio Vila Guairá que, embora desocupadas, faziam parte de plantas de loteamen-tos aprovadas e registradas em cartório.

A permanência das famílias no local não se deu de forma pacífica, pois os proprietários da maior parte da área impetraram várias ações de reintegração de posse com o objetivo de desocupar o espaço, porém sem sucesso. A prefeitura, ao longo dos anos, proveu a comuni-dade dos serviços e equipamentos urbanos básicos sem promover mudanças na estrutura física do assentamento, tendo em vista o grande número de remanejamentos necessários.

Posteriormente, a prefeitura e a Cohab-Curitiba iniciaram um processo de aquisição das áreas ocupadas por dação em pagamento de impostos e transferência de potencial cons-trutivo. Toda a área de intervenção e remanejamento foi decretada como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) pelo município.

Considerando o tempo de ocupação e o desejo de permanência das famílias na área, a proposta de intervenção está voltada ao remanejamento para áreas do entorno. O projeto tem como objetivo geral assegurar o direito à moradia adequada e a eliminação de condições de riscos à vida para as famílias residentes na Vila Parolin.

Tal objetivo será concretizado pela ação de urbanização da área, combinada com o re-manejamento das famílias ocupantes de área de risco e de proteção ambiental para casas construídas no entorno e com a implementação de ações de regularização fundiária e desen-volvimento social.

As ações do projeto envolvem loteamento de áreas contíguas à Vila Parolin para reas-sentamento de famílias, dotando-as de infraestrutura completa; construção de 677 unidades habitacionais com padrões adequados à composição familiar da população a ser remanejada; complementação da infraestrutura dentro da Vila Parolin; construção de uma escola munici-pal de 1º grau com 14 salas de aula; recuperação habitacional em 87 moradias e recuperação de áreas ambientalmente degradadas.

Ao todo, serão beneficiadas 1.507 famílias. Foi criada uma comissão de representantes

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dos moradores para acompanhar os trabalhos, tanto de projeto quanto das obras. Técnicos do serviço social da Cohab e da prefeitura estão diariamente no local.

A aldeia Kakané Porã foi criada para abrigar remanescentes das tribos Caingangue, Gua-rani e Xetá que viviam irregularmente numa área de preservação ambiental no parque Igua-çu, no bairro Uberaba. A criação da aldeia pôs fim a um impasse que se arrastava desde 2003, quando as famílias ocuparam a reserva biológica do Cambuí, próxima à APA do rio Iguaçu, no bairro Uberaba. A área é de preservação e a legislação ambiental não permitia a permanência das famílias no local.

O projeto tem como objetivos assegurar o direito à moradia adequada, eliminar as con-dições de riscos à vida para as famílias indígenas, além, de proporcionar resgate das tradições e cultura indígena. Tais objetivos foram concretizados com o remanejamento das famílias da área de proteção ambiental para casas construídas em forma de aldeia indígena e com a im-plementação de ações de desenvolvimento social.

As 35 famílias indígenas passaram a morar na aldeia Kakané Porã, construída pela pre-feitura numa área de 42 mil metros quadrados no bairro de Campo de Santana, com recursos do Fundo Municipal de Habitação. A implantação do projeto é resultado de convênio firmado entre a prefeitura, Cohab, Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Funai.

Por se tratar de assentamento no formato de aldeia optou-se pelo regime de condomí-nio. O imóvel, de propriedade da Cohab-Curitiba, foi cedido por meio de contrato de como-dato. Cada família indígena participante desse projeto assinou um contrato não oneroso e recebeu um título de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU).

Na aldeia, os índios encontraram casas de boa qualidade, infraestrutura adequada e pas-saram a contar com o atendimento dos equipamentos públicos existentes na vizinhança. As famílias receberam capacitação para a manutenção da horta comunitária e também para a comercialização da produção local de artesanato típico.

O bolsão Audi/União é composto por oito Vilas e engloba uma área de quase 3.000.000 m², delimitada, de um lado, pelo rio Iguaçu e, de outro, pela via férrea. Outros limites são a BR-277, ligação com o litoral paranaense e a avenida das Torres, ligação com o sul do Brasil e o aeroporto Afonso Pena.

O local era anteriormente uma região de cavas e chegou a ficar embaixo de água na grande enchente que ocorreu em Curitiba em 1995. A ocupação deu-se em imóveis públicos e particulares, numa Área de Proteção Ambiental (APA) do rio Iguaçú.

A ocupação teve início em 1998 e apresentou um crescimento rápido. Tornou-se uma das maiores concentrações de população em área irregular da cidade. O projeto em questão tem como objetivo geral assegurar o direito à moradia adequada e a eliminação de condições de risco à vida para as famílias residentes nas Vilas que compõem o bolsão.

O projeto desenvolvido na área prevê a urbanização combinada com o reassentamen-to das famílias que estão em situação de risco ou infringindo a legislação ambiental e a

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implementação de ações de regularização fundiária e desenvolvimento social. As ações para assegurar solução habitacional adequada para famílias cadastradas são: Reassentamento de 800 famílias ocupantes da APP do rio Iguaçu nos loteamentos Moradias Sambaqui e Moradias Jardim Iraí; construção de 419 casas numa área de aterro para remanejamento com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); consolidação de 1.925 imóveis que perma-necem na área de intervenção, com a implantação de obras de infraestrutura.

A intervenção inclui, ainda, obras de infraestrutura, construção de equipamentos ur-banos e de proteção contra inundações. Para o reassentamento, a prefeitura aprovou dois loteamentos com infraestrutura completa e equipamentos sociais.

A área foi declarada como ZEIS, o que permitiu a flexibilização de determinadas exi-gências urbanísticas. Um projeto da Secretaria Municipal do Meio Ambiente prevê a criação de um grande parque na mesma área de onde foram retiradas, pela Cohab, famílias que viviam em situação de risco. Será utilizado como área de lazer e recreação para as famílias do bolsão. Na prática, vai contribuir para evitar que a área seja alcançada por alagamentos. Para acompanhar os trabalhos, tanto de projeto, quanto das obras, foi criada uma comissão de representantes dos moradores.

A intervenção na Vila foi iniciada no ano de 2006 e tem previsão de duração até o mês de dezembro de 2009. Os resultados pretendidos são de titulação com a emissão das escrituras públicas de compra e venda em nome de 100% dos beneficiários do projeto.

Responsável pelas informações:Nome: Vivian TroibEntidade: Companhia de Habitação Popular de Curitiba Cargo: Coordenadora de planos habitacionaisEndereço: Rua Barão do Rio Branco, 45, centro, Curitiba-PR E-mail: [email protected] Telefone: (41) 3221-8100 / Fax: (41) 3322-4315

3.12 - Prefeitura Municipal de Diadema (SP)

Na década de 1980, foi criada no município de Diadema uma política de desadensa-mento e urbanização de favelas, pois o município estava sob forte pressão da população sem moradia que se instalou na área urbana devido ao pólo industrial em formação na região do ABC paulista. Nesse período, a prefeitura desapropriou mais de dez glebas com o objetivo de implantar empreendimentos habitacionais de interesse social. Destaca-se a experiência do loteamento Jardim Alba II.

Em 1990, o município de Diadema doou o terreno para a Associação de Construção Co-munitária de Diadema para lá ser implantado um empreendimento habitacional de interesse social. Em 1994, o Plano Diretor Municipal, lei complementar nº 25/94, criou as Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS). Foram demarcadas como AEIS os terrenos ocupados pelas favelas já

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em plena urbanização e terrenos vazios. Em 1996, foi aprovada a lei complementar nº 50/96, com a definição de índices urbanísticos diferenciados para essas áreas.

Nesse período, o empreendimento de interesse social, denominado Jardim Alba II, foi implantado a partir de um trabalho coletivo dos moradores, da luta dos movimentos de moradia e da vontade política do governo municipal. Para tanto, foi realizado o projeto do loteamento e assentadas famílias de três a cinco salários com um total de 318 unidades ha-bitacionais, das quais, 280 são verticais multifamiliares. Dessas, 96 são apartamentos e 184 casas sobrepostas. As restantes 39 unidades habitacionais são horizontais unifamiliares, ocupando lotes individualizados, em aproximadamente 19.000,00 m² de área construída. As casas são sobrepostas em dois andares e duas unidades e possuem um projeto padrão com ocupação de 52,65 m².

O empreendimento foi o primeiro mutirão na história do país a construir prédios de apartamentos para assentamento de famílias de baixa renda, inscrevendo aqueles moradores na história da habitação popular e luta por moradia digna. O projeto do loteamento também representou um marco para o país em termos de arquitetura e urbanismo, uma vez que pro-pôs a racionalização dos espaços por meio da implantação de lotes menores, casas sobrepos-tas e adoção de sistema construtivo baseado na utilização do bloco cerâmico aparente.

O projeto não perdeu de vista a qualidade ambiental, com projeção de um sistema viá-rio adequado à circulação local de veículos, diversas áreas verdes e de lazer, além da reserva de área para construção de equipamento público de educação ou lazer, totalizando 21,9%. Índice maior que o percentual exigido para áreas verdes e de lazer, que é de 15%, conforme o Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação de Solo. O terreno possui um córrego na parte sul, canalizado tamponado sob o leito da rua.

O histórico do Jardim Alba II expressa a efetivação do controle social e participação po-pular: os trabalhadores participaram desde o cadastro das famílias, a definição e elaboração do projeto, a qualificação para o mutirão, até a construção das casas e dos prédios e a admi-nistração do financiamento pela Caixa Econômica Federal. Assim como a doação do terre-no pela prefeitura, o financiamento foi conquistado pela associação. Com essa verba, foram construídas as 100 primeiras unidades – 32 apartamentos e 68 casas.

Posteriormente, por meio do Fundo Municipal de Apoio à Habitação de Interesse Social (Fumapis), foram destinados recursos para a aquisição dos materiais e acompanhamento do mutirão para a construção de mais 180 unidades. Todo esse processo foi acompanhado e referendado pelo Fumapis, criado pela lei nº 1.093/1990.

O processo de regularização fundiária dominial somente foi iniciado em 2002, quando o município assumiu o papel de licenciar o empreendimento, elaborando os projetos e do-cumentos exigidos, então, pelo governo do Estado de São Paulo, para análise e aprovação por um grupo composto pelos órgãos que compõem o Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais de São Paulo (Graprohab). A Divisão de Regularização Fundiária, da

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então Secretaria da Habitação, hoje Secretaria Estadual de Habitação e Desenvolvimento Urbano, foi o agente promotor. Durante todo o processo ocorreram inúmeros contatos, principalmente com a associação de moradores e com a população. Serão 330 famílias be-neficiadas. O cadastramento de todas elas será feito quando da efetivação do registro do parcelamento de solo no cartório.

Um dos obstáculos da regularização fundiária foi o processo de licenciamento no Esta-do. Um fator que impossibilitou a continuidade de análise pelo Graprohab foi a exigência pela Secretaria Estadual da Habitação de que as unidades habitacionais locadas à margem da rua onde está situado o córrego canalizado tamponado fossem retiradas para respeitar o afasta-mento de 30 metros da APP, por não atendimento no que está previsto no § 1º do artigo 3º da lei nº 4771/65 - Código Florestal.

O município de Diadema aprovou a lei municipal nº 2581/06 – Lei de Regularização Fundiá-ria, que estabelece procedimentos específicos para a regularização de loteamentos não registra-dos de interesse social e todos os outros, habitacionais ou não. Essa lei cria a Comissão Integrada de Regularização Fundiária (CIRF), que é composta por representantes das secretarias municipais das áreas de meio ambiente, habitação, desenvolvimento urbano e regularização fundiária.

Após concluir os procedimentos, é emitida a Licença Integrada de Regularização Fun-diária. Paralelamente, o governo estadual expediu o decreto estadual nº 52.053/07, no qual definiu-se que caberia ao Graprohab a análise dos empreendimentos a serem implantados. A partir disso, o licenciamento do Jardim Alba II foi protocolado na Comissão Integrada de Regularização Fundiária, bem como solicitada a dispensa de análise pelo Graprohab. Entre-tanto, as normas da Corregedoria de Justiça do Estado, que determinam os procedimentos cartoriais, ainda não foram adequadas ao decreto estadual. Portanto, é uma etapa que ain-da deve ser vencida.

A Licença Integrada de Regularização Fundiária foi expedida pela CIRF no mês de junho de 2009. Existem ainda vários procedimentos necessários ao registro cartorial que devem ainda ser executados, tais como a obtenção de Declaração de Conformidade do Programa Cidade Legal desenvolvido pelo governo estadual; solicitação de descaracterização de APP ao Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais; e obtenção da licença de ope-ração da Cetesb. Como os procedimentos de regularização fundiária ainda têm uma incom-patibilidade entre as diversas esferas governamentais e cartoriais nas suas definições, cremos que são esses os passos faltantes.

Finalmente, após atender todas as exigências elencadas, é necessário solicitar ao Car-tório de Registro de Imóveis de Diadema o registro do loteamento com a individualização dos títulos. A quantidade de projetos e documentos exigidos para o licenciamento e registro, além de diversos procedimentos que devem ser realizados, torna o processo caro e moroso.

O empreendimento tem toda a infraestrutura básica, bem como a pavimentação e as moradias construídas. As áreas verdes deverão ser implantadas no âmbito de um projeto de

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recuperação e educação ambiental, a ser desenvolvido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente em conjunto com a população.

Essa experiência mostra como a participação popular foi de fundamental importância no processo de regularização fundiária. Essa mobilização foi realizada de maneira consciente, na qual os atores foram instruídos sobre cada etapa do trabalho e puderam se apropriar e contri-buir com o processo. É o primeiro empreendimento habitacional de interesse social submetido ao licenciamento municipal pela Comissão Integrada de Regularização Fundiária nos termos da lei municipal nº 2581/06 – Lei de Regularização Fundiária. Sua análise e questões dela de-correntes servem de preâmbulo para o licenciamento dos próximos empreendimentos.

Responsável pelas informações:Nome: Mirjana PavičićEntidade: Prefeitura Municipal de Diadema Cargo: Arquiteta e urbanistaEndereço: Rua Amélia Eugenia, 397, Diadema-SPE-mail: [email protected] Telefone: (11) 4057-8126

3.13 - Prefeitura Municipal de Feira de Santana (BA)

O município de Feira de Santana, Bahia, possui uma população de aproximadamente 570 mil habitantes. Desse total, 120.237 habitantes (dados da Secretaria Municipal de Plane-jamento em 2001 residem em áreas informais, totalizando em torno de 24.047 famílias.

A área objeto dessa experiência limita-se com o centro da cidade, no bairro Rua Nova e faz parte da antiga fazenda São Gonçalo, medindo 360.708,90 m². A área está indicada como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) no Plano Diretor de Desenvolvimento Muni-cipal (PDDM/2006), ainda em fase de aprovação. De acordo com os dados do levantamen-to socioeconômico, a ocupação da área começou há mais de 50 anos por trabalhadores da própria fazenda.

Em conseqüência do tipo de ocupação, o traçado das vias e o tamanho dos lotes são irregulares, variando entre 60 m² e 80 m². Conforme relatos dos moradores, a antiga pro-prietária e os herdeiros prometeram a venda dos terrenos, o que nunca se efetivou. Frente a esse contexto, o trabalho desenvolvido teve como principais objetivos: regularizar a posse dos imóveis aos moradores, garantindo o exercício do direito à moradia; criar condições para que os beneficiários tenham acesso aos mecanismos formais de financiamento; facilitar a permanên-cia da comunidade na área; implementar ações socioeconômicas para melhoria de renda dos moradores; melhorar a infraestrutura do bairro; utilizar essa experiência como piloto para outras áreas em situação semelhante no município; e isentar da cobrança de IPTU os moradores de áreas declaradas como de interesse social para fins de habitação.

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O instrumento jurídico utilizado foi o usucapião individual com litisconsórcio ativo contra o espólio do proprietário da área. Teve como autores o município (requerendo o registro das praças, ruas, escolas e posto médico) e os moradores, representados pela Divisão de Assuntos Jurídicos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, após cadastramento prévio com identificação dos lotes de 2.860 moradores da área a ser regularizada.

O município solicitou a tutela antecipada para que o registro de toda a área fosse de pleno deferido a seu favor. Após a tutela antecipada, iniciou-se o parcelamento do imó-vel e, na seqüência, o registro. Nesse processo, a relação processual foi perfazendo-se por escritura administrativa outorgada aos interessados individualizados no cadastro social. O município solicitou a troca da audiência de justificação prévia pela inspeção judicial, em que o juiz vai ao local realizar a verificação. Com a decisão judicial, o município elaborou um plano de loteamento e aprovou o parcelamento.

Entre os problemas enfrentados no decorrer dos trabalhos, destacam-se: a oposição por parte dos herdeiros da área, que tentaram buscar indenização por via administrativa; a violência na comunidade. Devido ao tráfico de drogas, a equipe só podia trabalhar em horários predeterminados; e o descrédito da população, devido ao longo tempo de espera.

Como o processo é muito recente, ainda não se chegou a nenhuma escritura registrada, porém, até o momento, contabiliza-se 2.680 processos de regularização iniciados e 535 títulos entregues em atos públicos realizados na comunidade. Destaca-se que em todo o processo foi fundamental a participação das lideranças comunitárias locais.

Responsável pelas informações:Nome: Amarildo Costa dos SantosEntidade: Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária Cargo: Consultor Endereço: Av. Sampaio, 344, centro, Feira de Santana-BAE-mail: [email protected] Telefone: (75) 3602-8330

3.14 - Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE)

A Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), órgão da ad-ministração indireta da Prefeitura Municipal de Fortaleza, é responsável pela implemen-tação da política habitacional no município e tem como um de seus eixos de trabalho a regularização fundiária. Para isso, dispõe de uma equipe multidisciplinar que compõe a Coordenação de Regularização Fundiária.

Fortaleza, capital do Estado do Ceará, conta com 2.114.402 habitantes. A população moran-do em assentamentos irregulares é de 611 mil pessoas, o que representa 28,9% dos habitantes.

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Para enfrentar esse grave quadro de irregularidade, a prefeitura instituiu um progra-ma de regularização fundiária que tem conduzido intervenções em áreas diversas, ocupa-das irregularmente. Neste trabalho serão apresentados alguns dos principais projetos que estão em andamento. São eles: comunidade Lagoa do Opaia, Vila Cazumba, Goiabeiras, Planalto Universo, Marrocos e dezenas de antigos conjuntos habitacionais.

A regularização fundiária da comunidade Lagoa do Opaia, localizada no bairro Vila União, está sendo desenvolvida em conjunto com as obras de urbanização da lagoa, remo-ção de moradias em áreas de risco e de proteção ambiental e construção de edifícios para reassentamento de moradores.

Trata-se de uma ocupação iniciada há 40 anos, nas margens de uma lagoa, parte em área de domínio privado, parte em áreas de preservação permanente, trechos do próprio espelho d´água e uma área especial aeroportuária. Das 736 famílias beneficiadas no proje-to, 415 moravam em áreas de risco ou de preservação ambiental. O projeto contemplou a construção do conjunto habitacional Planalto Universo, para o qual foram realocadas 504 famílias, e a regularização de 232 moradias que permaneceram no local.

A área utilizada para a construção do conjunto habitacional foi desapropriada pela prefeitura enquanto que a área ocupada pelas 232 famílias tornou-se objeto de ação de Usucapião Coletiva que ainda tramita na Justiça.

As principais etapas do processo de regularização são: diagnóstico prévio da comu-nidade e elaboração do plano de ação; atividades de sensibilização e capacitação das li-deranças comunitárias; atividades de mobilização e capacitação das famílias; coleta de informações e documentos necessários ao ajuizamento das ações; levantamentos físicos e cadastramento das famílias e elaboração de planta de urbanismo da área, com demarca-ção dos lotes e memorial descritivo; elaboração dos termos administrativos de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) e Concessão de Uso Especial de Moradia (CUEM) no caso das moradias implantadas em áreas públicas; e elaboração das petições judiciais das ações de Usucapião Coletiva, no caso de moradias implantadas em área de domínio privado, ajui-zamento das ações e acompanhamento processual até trânsito em julgado, incluindo re-cursos que porventura sejam impetrados e registro das sentenças em cartório de imóveis.

Outro projeto é a regularização fundiária da Vila Cazumba. Implementada com recur-sos do Ministério das Cidades, que beneficia 876 famílias. A comunidade ocupa há mais de 20 anos uma área de 200.000 m², com porções de domínio público e privado. A regu-larização fundiária está sendo desenvolvida em conjunto com o projeto de urbanização, prevendo inclusive o reassentamento de 478 moradias que se encontram às margens da lagoa de Vila Cazumba, na cidade dos Funcionários. Os instrumentos utilizados são: a Usu-capião Especial Urbana e a CDRU.

Em Goiabeiras, por ser de grande dimensão, duas localidades foram escolhidas den-tro da comunidade para ser assistidas com o projeto de regularização fundiária. A área do

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Amanhecer conta com um histórico de ocupação de mais de 20 anos em terreno privado. Tem, em média, 580 unidades habitacionais e uma extensão aproximada de 56.000,00 m². A área conhecida como Sonho Meu, por sua vez, possui aproximadamente 82.000 m² e cerca de 580 unidades habitacionais e compreende uma antiga lagoa aterrada há vários anos, de propriedade privada. A comunidade está demarcada no plano diretor como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Por se encontrar em terreno privado, o instrumento de regularização a ser utilizado será a Usucapião Coletiva, alcançando as 1.160 famílias resi-dentes nas duas áreas.

A regularização fundiária da comunidade Marrocos, no bairro Bom Jardim, beneficia 668 famílias em um universo de 3.340 pessoas, ocupando uma área de 86.422 m2. Locali-zada na bacia hidrográfica do rio Maranguapinho, essa comunidade caracteriza-se como uma área de risco fisíco e social em função da ocupação desordenada. Antes da ocupação, o local era composto por um açude denominado “açude da Viúva”.

Toda a área da comunidade será urbanizada e as famílias que moravam em áreas insalubres e em condições subumanas estão recebendo uma unidade habitacional, cons-truída dentro da própria comunidade, nos lotes que se encontravam vazios. O projeto de urbanização prevê, ainda, a criação de áreas verdes e melhorias habitacionais, incluindo projeto de oficialização das ruas e legalização dos serviços de água e energia, possibilitan-do aos moradores endereço e comprovantes de residência.

Pelo fato de estar inserida em terreno privado e pelo tempo de ocupação, o instru-mento utilizado foi a Usucapião Especial Coletiva, que atualmente tramita na Justiça.

Além dessas intervenções em grandes ocupações irregulares, a prefeitura também de-senvolveu, com apoio financeiro do Programa Papel Passado do Ministério das Cidades, a regularização fundiária de seus antigos conjuntos habitacionais. Dos 50 antigos conjuntos habitacionais de Fortaleza, estão em processo de regularização 46 conjuntos construídos em regime de mutirão com mais de dez anos de existência, localizados em diversos bairros.

O projeto foi dividido em duas fases. Em 2006, iniciou-se com 28 conjuntos que ocu-pam uma área total de 260.041 m². Em 2008, iniciaram-se os trabalhos nos demais. Ao todo, 4.473 unidades habitacionais serão beneficiadas.

A situação fundiária era bastante diversa. Alguns conjuntos foram implantados em terreno desapropriado com registro em nome do município; outros foram desapropriados, mas não foram registrados; outros só possuem decreto de desapropriação; e outros não possuem sequer tal decreto, permanecendo no nome dos antigos proprietários. No plano diretor aprovado em 2008, todos os conjuntos habitacionais foram incluídos como ZEIS.

O projeto contempla: diagnóstico da situação jurídica e informações constantes nos arquivos do município e dos cartórios de imóveis; elaboração de uma metodologia que fomentasse uma participação ativa dos moradores e lideranças; aprovação e registro dos loteamentos nos órgãos do município e nos cartórios; individualização dos lotes e quadras

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dos conjuntos para registro; entrega aos moradores do termo da CDRU e posterior registro nos respectivos cartórios de imóveis e ajuizamento de ações de Usucapião Coletiva em nome dos moradores dos conjuntos construídos em terreno privado.

Os instrumentos de regularização fundiária adotados foram a Usucapião Especial Co-letiva e a CDRU.

Todos os projetos aqui apresentados estão em andamento. Alguns estão em fase de conclusão, apenas aguardando decisão judicial.

Responsável pelas informações:Nome: Glaucia Hansen de Souza MotaEntidade: Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza Cargo: Coordenadora da Coordenação de Gestão de Cadastros e Regularização Fundiária Endereço: Rua Nogueira Acioly, 1400, 1º andar, Fortaleza-CEE-mail: [email protected] Telefone: (85) 3105-1017 / Fax: (85) 3488-3376

3.15 - Prefeitura Municipal de Guarulhos (SP)

Guarulhos é a maior cidade do Estado de São Paulo, depois da capital, tanto em número de habitantes como em vigor de seu desenvolvimento econômico. Um dos símbolos da in-dustrialização e do vigor da atividade econômica de Guarulhos é a Cidade Industrial Satélite de Cumbica ou simplesmente CIS Cumbica. A região, que concentra um potencial expressivo de soluções, mas também de problemas, é expressão de um modelo de concentração in-dustrial gerado no século XX, que, apesar de positivo em muitos casos, agravou problemas urbanos locais, sem extrair plenamente todas as vantagens desse tipo de localização de em-preendimento econômico.

A CIS Cumbica representa 15% da área do município e abriga 25% de toda atividade indus-trial existente em Guarulhos. Os problemas que a região enfrenta são de ordem urbanística e ha-bitacional e afetam o processo de desenvolvimento dessa região ainda longe de sua plenitude. Trata-se de uma região carente de infraestrutura, com o sistema viário comprometido por ocu-pações de assentamentos precários, problemas ambientais e degradação da paisagem urbana.

O processo de ocupação do loteamento em questão iniciou-se na década de 1980, quan-do a população, atraída pela oferta de emprego, fixou-se no entorno das empresas, ocupando o sistema viário, praças e beira de córregos. As condições de moradia são precárias, com cons-truções adensadas, sujeitas a risco de solapamento de córrego e enchente e desprovidas de rede de abastecimento de água e saneamento. A CIS Cumbica encontra-se atualmente com cerca de 16 favelas, com aproximadamente 2 mil famílias num total de 8 mil habitantes.

O programa ora apresentado propõe a recuperação do bairro, que apresenta um ele-vado grau de precariedade do conjunto das infraestruturas e equipamentos, por meio de

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políticas públicas para melhorias da área e de seu entorno, na perspectiva da solução dos pro-blemas apontados, das pendências administrativas existentes e da regularização fundiária das favelas que estão em áreas públicas e particulares. Alguns projetos estão em discussão para recuperação da área, no que diz respeito ao planejamento urbano e infraestrutura necessária para atrair investimentos, estimular e possibilitar a implantação de novas in-dústrias e empresas na região, promovendo a retomada do desenvolvimento local.

O programa de urbanização das áreas precárias e de reassentamento das famílias tem como premissa básica a transferência da população moradora em áreas inadequadas, para outros locais, buscando garantir moradia digna para essas comunidades e promover a recuperação da região. Faz parte desse programa a implantação de novos conjuntos habitacionais de interesse social e de loteamento de interesse social. O programa prevê também a implantação de infraestrutura urbana e a construção de equipamentos públicos destinados às famílias reassentadas nos conjuntos e loteamentos.

Faz parte da presente proposta a recuperação ambiental, ao longo de trechos de importantes avenidas, praças e beiras de córrego. Tal ação visa à recuperação da região degradada, bem como sua qualificação urbana.

É importante ressaltar que todas as ações desenvolvidas durante esse processo se-rão acompanhadas de trabalhos sociais (apoio à mobilização e organização comunitária, capacitação profissional ou geração de trabalho e renda e educação sanitária e ambien-tal), com técnicos especializados contratados e da Secretaria de Habitação da Prefeitura de Guarulhos. O seu objetivo é assegurar a participação da comunidade e propiciar um ambiente tranquilo ao desenvolvimento das etapas de obra, que prevêem remoção de

Guarulhos (SP) Foto: Acervo Secretaria de Habitação de Guarulhos

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moradias e reassentamento das famílias, entre outras situações que requerem negocia-ções e pactuações devido à complexidade de sentimentos que provocam na população. O trabalho será desenvolvido ao longo da execução das obras, durante a transferência das famílias para os novos empreendimentos, ao longo de nove meses após a transferência, sendo seis meses de ações de pós-ocupação e três meses de avaliação de pós-ocupação.

Para os empreendimentos habitacionais de interesse social, a municipalidade terá como possibilidades de regularização fundiária os instrumentos jurídicos: Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), Concessão Especial para Fins de Moradia (CUEM) e o instru-mento contratual de Compromisso de Compra e Venda, de acordo com a legislação muni-cipal, regulamentada por decreto.

Para a conclusão do trabalho, serão desenvolvidas, para cada área, as seguintes eta-pas: análise da situação fundiária e busca cartorial; providências visando à adequação da documentação jurídica nos órgãos competentes; acompanhamento das ações de desa-propriações no Poder Judiciário; a companhamento de expedição de Carta de Sentença e Mandato de Transcrição para encaminhamento ao juiz corregedor do Cartório de Registro de Imóveis; elaboração de minuta de ofício requerendo ao cartório de imóveis o registro de mandato de transcrição e abertura de matrícula; e elaboração de minuta de especificação e incorporação de condomínio.

Responsável pelas informações:Nome: Maria Inês VolpatoEntidade: Secretaria de HabitaçãoCargo: Diretora do Departamento de Assuntos FundiáriosEndereço: Av. Otávio Braga de Mesquita, 119, Vila Fátima, Guarulhos-SPE-mail: [email protected] Telefone: (11) 2088-5608 / 5609 / 5611

3.16 - Prefeitura Municipal de Ipatinga (MG)

O município de Ipatinga está localizado na região leste do Estado de Minas Gerais, com uma população de 241.720 habitantes (IBGE/2008) e IDH (2000) = 0.806. Integra a região me-tropolitana do vale do Aço e tem como principal atividade a siderurgia.

A Prefeitura Municipal de Ipatinga, por meio do Departamento de Habitação de In-teresse Social, vem desenvolvendo ações de regularização fundiária em diferentes áreas de propriedade do município. O presente relato apresenta experiências dos assentamen-tos Esperança, Vila Celeste (vale do Sol), Veneza (morro do Sossego), Canaã (monte Si-nai), Limoeiro, Bom Jardim e Planalto II, ocorridas no ano de 1996; e dos bairros Bethânia e Nova Esperança, com regularização ainda em andamento. São comunidades de baixa renda surgidas da ocupação desordenada de áreas públicas municipais, situadas princi-

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palmente nas encostas. Essas áreas são dotadas de infraestrutura, equipamentos comu-nitários e transporte.

Nos diversos assentamentos foram realizadas intervenções urbanísticas, ambientais e sociais, incluindo, em alguns casos, a remoção de famílias e construção de novas unidades habitacionais. Em todos eles, o instrumento utilizado na regularização fundiária foi a Con-cessão de Direito Real de Uso (CDRU).

Em todos os assentamentos regularizados foram realizadas as seguintes etapas, para-lelamente ao trabalho social: apresentação do programa para a comunidade; levantamen-to topográfico cadastral da área; aprovação da lei de desafetação e autorização da outorga de escritura de CDRU; abertura de processo com toda a documentação relativa à área a ser regularizada; realização dos cadastros socioeconômicos das famílias (visita social indi-vidualizada); conferência da planta de parcelamento do loteamento no local; elaboração, análise e aprovação da planta de parcelamento final e do memorial descritivo; aprovação do loteamento pela prefeitura; encaminhamento ao cartório da planta de parcelamen-to e demais documentos para a aprovação do loteamento e emissão das matrículas dos imóveis; impressão das escrituras de CDRU; reunião para assinatura das escrituras pelos beneficiários; registro das escrituras no setor de patrimônio da prefeitura; assinatura das escrituras pelo prefeito municipal; encaminhamento das escrituras ao cartório para regis-tro; entrega das escrituras para os beneficiários.

No bairro Bethânia – aglomerado Bethânia – existem cinco assentamentos que se encontram em diferentes estágios no processo de regularização. Nesses casos, foram re-alizadas, além das estratégias já apresentadas, as intervenções urbanísticas promovidas pelo Programa Habitar Brasil – HBB/BID. São 1.200 famílias beneficiadas numa área de 686.203,62 m². Ressalte-se que a regularização fundiária dessa área se encontra na fase de registro dos loteamentos, no Cartório de Registro de Imóveis, bem como a emissão de escrituras pela prefeitura.

Nesse assentamento foram realizadas obras habitacionais e de contenção de encos-tas, drenagem e pavimentação de becos e escadarias. Foram removidas e reassentadas em novas unidades habitacionais 49 famílias com casas em situação de risco. Também foram construídas várias praças, quiosques, centro comunitário, mirante e efetivadas a amplia-ção da creche e a implantação de parques.

Outro projeto que se encontra em andamento é a regularização fundiária parcial do assentamento Nova Esperança, com recursos financeiros do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FHNIS), onde serão concedidos 470 títulos.

As demais áreas regularizadas foram urbanizadas com recursos próprios do municí-pio. Algumas foram urbanizadas após a regularização fundiária. Nesses bairros, tem-se o seguinte resultado: Esperança: 205 títulos concedidos; Vila Celeste (vale do Sol): 684 títulos concedidos; Veneza (morro do Sossego): 217 títulos concedidos; Canaã (monte Sinai): 62

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Marzagão, Itabirito (MG) Fotos: Acervo Prefeitura Municipal de Itabirito

títulos concedidos; Limoeiro: 157 títulos concedidos; Bom Jardim: foram construídas e re-gularizadas 427 unidades habitacionais, em regime de mutirão com autogestão; Bethânia: 397 imóveis regularizados no morro São Francisco e 39 na rua Guimarães e Planalto II: fo-ram reassentadas famílias removidas da área central da cidade, devido à situação de risco de inundação e vulnerabilidade social. Total de 250 famílias beneficiadas.

No total, foram beneficiadas 2.438 famílias no município, com o título de CDRU.

Responsável pelas informações:Nome: Ana Cristina Franco de Souza BoyEntidade: Prefeitura Municipal de Ipatinga Cargo: Diretora do Departamento de Habitação de Interesse SocialEndereço: Rua Pouso Alegre, 34, centro, Ipatinga-MGE-mail: [email protected] Telefone: (31) 3829-8436 / (31) 3829-8411

3.17 - Prefeitura Municipal de Itabirito (MG)

A Secretaria de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Itabirito, com a colaboração dos Conselhos Municipais de Política Urbana (Compurb) e de Desenvolvimento Sustentável e Me-lhoria do Ambiente (Codema), desenvolveu nos três trechos que compõem a região denomi-nada Marzagão um projeto de regularização fundiária para beneficiar cerca de 80 famílias.

A ocupação, localizada em área particular às margens da rodovia MG-030 e do rio Itabirito, constitui-se principalmente por edificações unifamiliares de um pavimento. Foram provocados ao longo do tempo desmatamento, desgaste de encostas, assoreamento e poluição do rio e deterio-ração de nascentes. A infraestrutura implantada é deficiente, com ruas sem calçamento e drena-gem pluvial insatisfatória, porém oferece algum serviço de iluminação pública, abastecimento de água e esgotamento sanitário.

O processo de regularização fundiária teve início com a elaboração e aprovação do pla-no diretor municipal, que definiu a região como Área Urbana Especial de Desenvolvimento Social. Posteriormente, a delimitação e o zoneamento da área, dividida em Zona de Especial Interesse Social (ZEIS) e Zona de Proteção Ambiental (ZPA), permitiu a definição de parâme-

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tros de uso e ocupação do solo que dialogam melhor com a localidade, de modo a controlar o adensamento e amenizar os prejuízos ambientais.

Desde 2006, diversas ações vêm sendo realizadas na área, tais como: identificação e levantamento cadastral; cadastramento socioeconômico; declaração de utilidade pública; criação da comissão de regularização composta por membros do poder público e da comuni-dade; delimitação de ZEIS e ZPA; desapropriação da parte ocupada do terreno; realização de reuniões com a comunidade e com os moradores individualmente; definição de parâmetros específicos de parcelamento, uso e ocupação do solo; e elaboração e registro do projeto com-pleto de parcelamento; aprovação da lei municipal que autoriza a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) aos moradores pela Câmara Municipal de Itabirito.

A fim de garantir o direito à moradia dos moradores, a prefeitura declarou a área de utilidade pública, e, em 2007, desapropriou a área ocupada. Na sequência, em abril de 2008, por meio da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), foi formalizada a transferência da titu-laridade das terras à comunidade moradora.

No desenvolvimento das atividades, a prefeitura elaborou o projeto de parcelamento do solo e projetos complementares, como drenagem pluvial, abastecimento de água e esgota-mento sanitário. As intervenções físicas não contemplaram a execução de pavimentação e do sistema de drenagem, mas foram realizadas obras, especialmente a ampliação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, com recursos do Ministério das Cidades.

Alguns desafios foram encontrados ao longo do caminho, dentre os quais destacam-se o envolvimento da comunidade, que, por já ter estabelecido um sentimento de perten-cimento com o local, não entendia a necessidade de intervenção do poder público; e a contenção de novas ocupações.

Nos últimos três anos foram concluídos dois processos de regularização em Itabirito: Mar-zagão e o loteamento denominado Meu Sítio. Ao todo, foram mais de 500 famílias beneficiadas.

Responsáveis pelas informações Nome: Rousemara Lopes e Ana Carolina Maria Soraggi Entidade: Prefeitura Municipal de ItabiritoCargo: Secretária Municipal de Urbanismo / Chefe da Divisão de Planejamento UrbanoEndereço: Av. Queiroz Junior, 635, Bairro Praia, Itabirito-MGE-mail: [email protected] / [email protected] Telefone: (31) 3561-4007 / 3561-4034 / Fax: (31) 3561-4006

3.18 - Prefeitura Municipal de Itaboraí (RJ)

O levantamento das subnormalidades habitacionais do município de Itaboraí, reali-zado com o apoio do Ministério das Cidades / Programa Habitar Brasil, permitiu analisar as principais características e problemas dos 20 assentamentos populares informais existen-tes no município, previamente apontados no Plano Estratégico Municipal de Assentamen-

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tos Subnormais (Pemas). Em 2004, o Pemas identificou cerca de 3.800 domicílios situados em favelas, loteamentos irregulares e clandestinos, conjuntos habitacionais ocupados e áreas públicas e privadas ocupadas, inclusive as situadas em faixa de domínio de rodovias e ferrovias, faixas de proteção de rios e canais, de redes de alta tensão e adutoras e em áreas de preservação permanente.

Dentre as áreas identificadas, o assentamento bairro Amaral, denominado popularmen-te “Pé de Briga”, foi o primeiro assentamento a requerer do governo municipal a implantação de um projeto de regularização fundiária, posterior ao mesmo processo direcionado pelo Mi-nistério das Cidades ao assentamento denominado Engenho Velho.

A comunidade atendida situa-se em parte do loteamento Grande Rio, localizado no dis-trito Itambi, de propriedade privada, com área aproximada de 87.000 m². É delimitada pelo rio Tambutaí, a estrada João Batista Cáffaro e a via férrea RFFSA, com ocupações em áreas non aedificandi. A área foi instituída como Zona de Especial Interesse Social (ZEIS) na complemen-tação do plano diretor, ainda não finalizado.

Quanto às questões ambientais, é uma região sujeita à inundação, que nos períodos de cheias atinge a comunidade pelas valas, muitas vezes abertas pelos próprios moradores, que servem também para lançamento de esgoto. A ocupação não apresenta fornecimento de água tratada e saneamento básico. A energia elétrica é, em sua maioria, clandestina. Além disso, o lixo é queimado nas proximidades das moradias.

A ocupação constituiu-se ao longo do tempo de forma espontânea há mais de 20 anos, com início aproximadamente no ano de 1997. Os próprios moradores parcelaram os lotes com tamanhos irregulares e variados. O uso predominante é residencial, apresentando tam-bém outras atividades, como o comercial e o religioso.

O projeto de regularização foi iniciado em agosto de 2008. Foram feitos até o momento o reconhecimento do local, numeração das moradias e o cadastramento das famílias. Estão sendo executados os serviços de coleta de documentação de moradores, a medição das casas e dos lotes, levantamento jurídico e a pesquisa cadastral da área.

Como a planta da área do assentamento encontra-se defasada, datada de 2001, estão sendo feitas medições dos lotes e das casas para subsidiar os projetos de reurbanização da área e titulação dos lotes. Nesse processo será tratado o conjunto de aspectos legais, urbanís-ticos e sociais, com o objetivo de resolver situações de risco, projetar soluções de infraestrutu-ra e saneamento básico, redefinir arruamentos, espaços públicos e privados, buscando, assim, garantir o direito social à moradia e à função social da propriedade.

A metodologia adotada no Projeto de Regularização Fundiária do Bairro Amaral teve como referência o Projeto de Regularização Fundiária do Engenho Velho, outro assentamen-to no município com processo já iniciado e com parceria do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (NEPHU), da Universidade Federal Fluminense (UFF). A metodologia consta de cinco macroetapas: reconhecimento e análise da área; desenvolvimento de proje-

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Atividade de Lazer, Vila Sô Neném, Juiz de Fora (MG) Trabalho Social, Vila Sô Neném, Juiz de Fora (MG)

tos de urbanismo e de infraestrutura; estudos técnicos preliminares de soluções; estudos para viabilizar os planos e projetos e trabalho técnico social.

Os instrumentos jurídico-urbanísticos a ser utilizados ainda não foram definidos. No as-sentamento, deverão ser previstas obras de infraestrutura urbana, remanejamento e reassen-tamento de algumas unidades habitacionais que se encontram em áreas impróprias para a moradia, além da implantação de áreas verdes e equipamentos de lazer.

Responsável pelas informações:Nome: Ricardo Luiz de Salles SouzaEntidade: Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento EconômicoCargo: Secretário de PlanejamentoEndereço: Rua Doutor Fidélis Alves, 19, Centro, Itaboraí-RJE-mail: [email protected]: (21) 3639-1946 ou (21) 3639-1551 / Fax: (21) 3322-4315

3.19 - Prefeitura Municipal de Juiz de Fora (MG)

A experiência de regularização fundiária no município de Juíz de Fora ocorreu em região conhecida como Vila Sô Neném, situada no bairro Santa Rita. Trata-se de área parti-cular, descrita como Área de Especial Interesse Social (AEIS) pelo Plano de Desenvolvimento Urbano (PDU-2000), que teve sua ocupação iniciada em 1985, em função de fortes chuvas ocorridas no município, quando várias famílias ficaram desabrigadas. Nessa oportunidade, a prefeitura transferiu as famílias para o alto da Vila Santa Rita, e ocorreram, a partir de en-tão, ocupações irregulares.

Em 2002, a prefeitura de Juiz de Fora deu início à implantação do Programa Habitar Bra-sil / BID na Vila Sô Neném, por convênio com o Ministério das Cidades.

Dadas às condições da ocupação, o instrumento utilizado para a regularização fundiária adotado foi a Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano.

Para o desenvolvimento do processo judicial, houve a necessidade de articulação tanto com a associação de moradores (constituída na época), quanto com a Defensoria Pública de Mi-

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nas Gerais. Dessa forma, a Associação de Moradores do Bairro Santa Rita, compreendendo as 184 famílias da Vila Sô Neném, ingressou em litisconsórcio ativo com o município de Juiz de Fora, por intermédio da Procuradoria Geral do Município (PGM), com a ação de Usucapião Coletiva peran-te a Vara da Fazenda Pública. Em função do relevante interesse público e social, foi requerido ca-ráter prioritário na tramitação do processo. Sem manifestação de recurso, foi proferida sentença favorável à ação, com mandado de averbação ao Cartório de Registro de Imóveis competente. Aguarda-se a expedição dos registros atribuindo fração ideal a cada família.

O projeto integrado foi implementado com ações de intervenções físicas e sociais nas linhas de mobilização e organização comunitária, educação sanitária e ambiental, geração de emprego e renda. O projeto de urbanização contemplou, entre outras intervenções, drena-gem, pavimentação, iluminação pública, contenção e estabilização de encostas, recuperação de áreas degradadas e terraplanagem. Foram construídos ainda equipamentos públicos e unidades habitacionais, e implantadas três áreas de preservação permanente.

Para a regularização de outras áreas, a Prefeitura de Juiz de Fora desenvolve o Progra-ma de Regularização Fundiária, a cargo da Empresa Regional de Habitação de Juiz de Fora (Emcasa), empresa pública criada por lei municipal. Seu objetivo é regularizar as ocupações irregulares, especialmente as Áreas de Especial Interesse Social (AEIS), em terrenos públicos ou particulares, estabelecidas pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.

Responsáveis pelas informações:Nome: Eloiza Helena Lopes CorrêaEntidade: Prefeitura de Juiz de Fora-MGCargo: Assistente social Endereço: Av. Brasil, 2001, Juiz de Fora-MGE-mail: [email protected] Telefone: (32) 3690-7569 / (32) 3690-7592

3.20 – Prefeitura Municipal de Jundiaí (SP)

A experiência de regularização no município de Jundiaí foi desenvolvida pela Fundação Municipal de Ação Social (Fumas), entidade responsável pela supervisão da política municipal de habitação, com atuação prioritária na regularização e urbanização de favelas e habitações de interesse social.

O objeto da experiência é a regularização fundiária das áreas públicas e particulares ocupadas pelos núcleos de baixa renda, localizados na Vila Ana. Objetiva-se também melho-rar as condições de habitabilidade com a construção de unidades habitacionais.

As áreas ocupadas pelos núcleos totalizam 17.678,88 m² e foram classificadas como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) pelo Plano Diretor Municipal de 2004, possibilitando sua regularização com parâmetros específicos editados pelo Executivo local. A quase totali-dade das habitações é feita de compensados de madeira, o que propicia riscos de incêndio.

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Conjunto Habitacional Benedito Amaro da Silva  da CDHU - Jundiaí (SP) Foto: Dorival Pinheiro

Os núcleos estão situados em ruas de bairro nobre, na região central do município, tornando visível a disparidade entre esses e os demais imóveis do mesmo bairro.

O processo de ocupação teve início após o loteamento da área, na década de 1970, com a ocupação primeiramente das áreas públicas e, posteriormente, dos lotes particula-res vazios adjacentes.

O trabalho em conjunto com a comunidade em todas as etapas do processo foi uma das diretrizes da ação, que inicialmente focou no desenvolvimento do local onde foi edifi-cado o centro comunitário. A intenção era que a edificação, onde residiam 16 famílias, fosse destinada às ações do processo. Outra premissa do projeto era a diminuição da densidade demográfica local, a fim de propiciar urbanização com adequada acomodação das famílias. Nesse sentido, decidiu-se, em parceria com a entidade de moradores, constituída para esse propósito, pela edificação de 70 unidades habitacionais.

Foi escolhida área pública próxima ao bairro e a construção foi realizada pelos próprios ocupantes, em sistema de mutirão. Posteriormente, em razão de novas ocupações – uma das maiores dificuldades da ação –, foi necessária a transferência de mais 17 famílias para unida-des habitacionais da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), viabilizando, assim, o atendimento a todas as famílias do local.

A primeira etapa para a regularização fundiária das áreas ocupadas ocorreu com as pro-vidências de averbação das descrições perimétricas das áreas públicas do loteamento, a fim

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de viabilizar a desafetação das áreas ocupadas de forma consolidada. Com relação às áreas particulares, o município de Jundiaí adjudicou alguns imóveis ocupados ou em processo de execução de dívida ativa. Os demais imóveis estão em processo judicial de Usucapião Cole-tiva, ajuizado pela entidade representativa de moradores, com o respaldo técnico e jurídico da Fumas. Esse instrumento foi escolhido em discussão com o Ministério Público e com o Cartório de Registro de Imóveis.

As áreas públicas utilizadas pelas famílias que optaram pelo sistema de mutirão en-contravam-se, no momento da coleta dos dados da experiência, ainda em processo de de-safetação. As últimas famílias beneficiadas foram transferidas para apartamentos da CDHU totalmente regularizados.

Algumas intervenções foram executadas ou estavam em andamento: reforma do centro comunitário e viabilização de construção de 16 unidades habitacionais em uma parte da fa-vela; construção, pelo sistema de mutirão e apoio técnico e social da Fumas, de 70 unidades habitacionais com toda a infraestrutura necessária, em área próxima à Vila Ana; construção de um centro comunitário no local; remoção de 17 famílias para apartamentos da CDHU, des-tinados ao desfavelamento; construção de alojamentos para a remoção de famílias que se encontram na área da construção dos imóveis, objeto de repasse de recursos financeiros do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS); licitação para contratação das obras de infraestrutura e da edificação das moradias (apartamentos); pleito de recursos, feito pela associação de moradores, autora da ação de usucapião, do Programa Ação de Apoio à Produ-ção Social da Moradia, do FNHIS, para dar continuidade às intervenções e desenvolvimento das ações de mobilização e organização comunitária, objeto de repasse de recursos do FNHIS.

A experiência resultou em: erradicação de parte das áreas de habitações com alto grau de precariedade, beneficiando mais de 100 famílias; usucapião coletiva, que beneficiará apro-ximadamente 80 famílias; e ssinatura de 17 contratos de compra e venda entre as famílias transferidas do núcleo para a CDHU; melhoria da qualidade de vida da população alvo, garan-tindo o acesso à moradia digna e salubridade para as famílias; implantação de infraestrutura adequada e incrementação dos equipamentos comunitários e serviços sociais do bairro, tais como: reforma e construção de um centro comunitário, implementação de áreas de lazer para as famílias, beneficiando também os moradores do entorno; e resgate da autoestima e o for-talecimento da cidadania e integração dos moradores.

Responsável pelas informações:Nome: Solange Aparecida MarquesEntidade: Fundação Municipal de Ação SocialCargo: Diretora de Habitação Endereço: Avenida União dos Ferroviários , 2222, Jundiaí-SPE-mail: [email protected]: (11) 4583-1722

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3.21 - Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista (SP)

A Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista (SP) desenvolveu, com recursos próprios, em ocupação hoje denominada loteamento Jardim Primavera, uma ação de regularização fundi-ária, cujo objetivo era a regularização jurídica do loteamento e o parcelamento do solo para posterior outorga de escrituras aos ocupantes.

A ocupação do imóvel ocorreu em 1984, contando com a permissão da prefeitura, que providenciou, à época, sua desapropriação. Foi, assim, autorizada a construção de casas em regime de mutirão, realizado por uma associação constituída exclusivamente para essa fina-lidade. Entretanto, ao ser implantado o loteamento, foram utilizadas, além da área desapro-priada inicialmente, áreas da Rede Ferroviária Federal e terras lindeiras do imóvel. A ocupação também não respeitou áreas de preservação permanente e áreas non aedificandi pertencen-tes ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER).

Dada à situação de irregularidade, foi proposta ação para desapropriação da gleba. Em 2001, por ter havido sucessão na posse, foi pedida a substituição do pólo passivo da ação, o que agilizou o procedimento. A área foi registrada em nome do município. Houve a re-tificação das áreas que compunham o loteamento e sua unificação, por via judicial. Então, iniciou-se o processo de regularização do loteamento, que foi aprovado por todos os órgãos governamentais e levado a registro no Cartório de Registro de Imóveis local. Efetuou-se o le-

Jardim Primavera, Lençóis Paulista (SP) Foto: Wagner José Gonçalves

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vantamento dos ocupantes dos imóveis e foi elaborada lei municipal que autorizou a outorga da propriedade aos mutirantes originais e também àqueles que tivessem comprovação da posse. Foram doados 397 lotes com suas respectivas unidades habitacionais.

O loteamento foi totalmente urbanizado e hoje conta com toda infraestrutura necessá-ria: água, esgoto, energia elétrica, galerias de águas pluviais e pavimentação asfáltica. Além disso, foi construída uma creche e centro educativo, uma escola de ensino fundamental e duas praças públicas.

A ação de regularização teve seu andamento agilizado pelo Programa Estadual de Re-gularização de Núcleos Habitacionais de Interesse Social do Governo do Estado de São Paulo – Secretaria de Habitação.

Responsável pelas informaçõesNome: Silvia Maria Gasparotto Entidade: Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista Cargo: Diretora administrativa Endereço: Praça das Palmeiras, 55, Lençóis, Paulista-SPE-mail: [email protected] Telefone: (14) 3269-7000

3.22 - Prefeitura Municipal de Niterói (RJ)

O Núcleo de Regularização Fundiária (Nurf ), ligado à Secretaria Municipal de Urbanis-mo, foi criado pela lei municipal nº 2.372/06 e deu início aos seus trabalhos em fevereiro de 2007. Até dezembro de 2008, realizou a regularização fundiária de três Áreas de Especial Interesse Social (AEIS), além da publicação de decretos visando ao bom andamento das obras e parcerias, tais como o convênio firmado com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.

Uma experiência positiva foi sinalizada em 2008, quando o Nurf titulou as famílias das AEIS do Argeu Fazendinha I, no bairro da Serra Grande, cuja situação dominial caracteriza-va-se em bem dominical; comunidade de Charitas, no bairro de Charitas, cujo domínio da terra era privado com doação da área ao município; e a comunidade do morro da Cocada, no bairro do Badu, em que a situação da titularidade da área também era privada doada ao município. Essas três áreas ocupam um total de 88.150,90 m2 e estão instituídas respectiva-mente no Plano Urbanístico da Região Oceânica (lei nº 1.968/2002) e nos decretos munici-pais nº 9.452/2004 e nº 10.258/2008.

Quanto às questões ambientais, as AEIS de Charitas e Argeu Fazendinha I estão subja-centes a uma zona de restrição à ocupação urbana, e o morro da Cocada apresenta no interior de sua área um corpo hídrico. As famílias dessas comunidades apresentam uma renda média de até três salários mínimos e com domicílios sem abastecimento oficial de água, sem men-cionar a falta de esgoto tratado, fora alguns casos onde a energia elétrica ainda é irregular.

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Nessas três AEIS em que as ações do Nurf operaram efetivamente, temos um quadro de ocupação que diverge uns dos outros. Na AEIS do Argeu Fazendinha I, a ocupação ocorreu em uma área com uso de bem dominial do parcelamento denominado “Fazendinha”. Já na AEIS de Charitas o processo de ocupação inicialmente aconteceu em função dos antigos funcioná-rios dos já extintos Aeroclube de Charitas e Hípica de Niterói, terem a permissão de ocupação de área particular. Mais tarde, a comunidade expandiu-se, principalmente com o crescimento das famílias. Depois, na intenção de implantação de um condomínio de luxo, a área foi doada. Enquanto na AEIS do morro da Cocada, temos a ocupação de uma área doada ao município de acordo com a Lei de Parcelamento do Solo Municipal, em que os parceladores que adqui-rem áreas com mais de 10.000 m2 têm de doar 10% de suas terras. Nesse contexto, as formas de ocupação são predominantemente de uso residencial, e as ocorrências de uso misto são basicamente para subsistência, tais como bares ou pequenas mercearias. Existem, ainda, al-guns casos de igrejas, centros religiosos e afins.

Todas as ações implementadas nas AEIS do Argeu Fazendinha I, comunidade de Cha-ritas e morro da Cocada apresentam como principais objetivos a promoção da urbanização, prevenção de situações de risco e a regularização fundiária dominial, articulando ações para atender as necessidades básicas da população e melhorar sua condição de habitabilidade e inclusão social. Têm como principais condicionantes a transformação das áreas a partir de projeto de alinhamento, regularização fundiária e ações participativas e, principalmente, a regulamentação urbanística e fundiária de áreas públicas municipais ocupadas.

A população moradora, por ser de baixa renda, não só fica excluída do mercado imobi-liário formal, como também está exposta a uma série de riscos geológicos-geotécnicos, insa-lubridade, falta de habitabilidade, entre outros, Nesse contexto, a regularização urbanística e fundiária dominial são as principais estratégias utilizadas, que, em conjunto com as práticas de geração de trabalho e renda, vêm se contrapor à exclusão urbanística e social a que as famílias são submetidas.

Durante as ações efetuadas nas AEIS trabalhadas pelo Nurf, alguns obstáculos foram enfrentados pela equipe. Pode-se destacar a resistência inicial do corpo jurídico da Procu-radoria Geral do Município em aceitar o uso do instrumento de Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM) sob a alegação de ele não ser constitucional. Foi necessário trabalhar também alguns moradores, principalmente, da comunidade de Charitas, que não aceitam o uso da CUEM. Eles alegam que o decreto de AEIS transforma a área em favela, desvalorizando assim seus imóveis, já que eles têm o interesse em vendê-los sem o devido acompanhamento do município. Outro problema, ainda hoje pendente, é a demora dos registros dos títulos nos cartórios.

Dentro do contexto de regularização fundiária implementado nas AEIS trabalhadas pelo Nurf, são essenciais a execução das seguintes etapas: diante da contratação do produto de levantamento topográfico, planialtimétrico e cadastral atrelado à selagem das casas (assegu-

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rando o não aparecimento de novas unidades), é feita a elaboração das Plantas de Aprovação de Loteamento (PALs) e aprovadas de acordo com as diretrizes legais que envolvem as AEIS desse município. Concomitantemente, temos a elaboração de plantas de lotes individualiza-dos, possibilitando assim a elaboração dos memoriais descritivos de cada lote. Em seguida, esse produto é enviado à Secretaria Municipal de Fazenda (SMF) para a abertura de matrículas. Paralelamente a esse processo, são realizadas assembleias explicativas quanto ao mecanismo adotado com a finalidade de cadastramento, análise e coleta dos documentos das famílias.

Como as modalidades de titulação adotada foram a CUEM e processos de Usucapião Coletiva, passa-se a montar os processos de titulação, anexando-se os documentos dos mo-radores, a planta individual do lote e memorial, além do espelho da matrícula da inscrição na Secretaria Municipal de Fazenda (SMF). Todas as vias dos títulos são devidamente assinadas pelos moradores e pelo prefeito do município e encaminhado para a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, e, em seguida, para o Cartório de Registro de Imóveis que atende a região onde está a AEIS.

Por meio dos diagnósticos realizados nessas comunidades, podemos iniciar obras de urbanização em apenas uma delas – o morro da Cocada. A área foi contemplada inicialmente com o financiamento do Habitar Brasil BID / HBB e atualmente está sendo financiada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto de urbanização da área apresenta obras de infraestrutura, tais como: pavimentação, drenagem, água e esgoto, canalização do rio Sapê, contenções viárias, qualificação das vias de acesso (incluindo becos e escadarias), além da instalação de novos pontos de iluminação pública.

Nesse processo, ainda teremos a implantação dos seguintes equipamentos públicos: centro comunitário, creche para atendimento de crianças de até três anos, inclusive com ber-çário, quadra poliesportiva coberta, praça com playground e módulos hidrossanitários nos imóveis sem banheiros. As obras estão em andamento.

Já na AEIS de Charitas, estamos realizando projetos de urbanização (incluindo constru-ções de habitações e implantação de rede de esgoto e água). Porém, a comunidade ainda não foi inscrita em nenhum programa de financiamento.

No Argeu Fazendinha I, as famílias beneficiadas com a regularização fundiária residem em uma área de um centro de bairro já urbanizado, não cabendo, portanto, a entrada em nenhuma linha de financiamento.

Esse processo de leitura das áreas com a participação comunitária foi desenvolvido com a parceria da Secretaria Municipal de Defesa Civil e Integração Comunitária e da Secretaria de Assistência Social. Nesse contexto, a participação da comunidade beneficiada é fundamental na identificação das carências e aspirações locais, sem mencionar a discussão sob as formas de aplicação das disponibilidades financeiras da prefeitura para o investimento regionalizado e da articulação de parcerias para a realização de iniciativas do interesse comunitário. Ou seja, a parti-cipação comunitária é a base para interlocução entre o Poder Executivo e as várias comunidades.

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Nessa conjuntura, também foi fundamental a formação de um convênio com a Defen-soria Pública do Estado do Rio de Janeiro, cuja finalidade principal é a garantia da gratuidade do registro dos títulos.

Dentro das possibilidades da equipe do Nurf, entre agosto e dezembro de 2008, foram abertos e iniciados 457 processos de regularização fundiária, utilizando-se como instrumento a CUEM, sem mencionar a abertura dos processos judiciais de usucapião da AEIS do morro da Cocada. Desses processos, foram concedidos 431 títulos e estão sendo registrados um total de 66 títulos das AEIS do Argeu Fazendinha I e da comunidade de Charitas, respectivamente, desde agosto e novembro de 2008, em dois diferentes cartórios, pois cada cartório tem uma área de atuação e abrangência.

Responsáveis pelas informações:Nome: Andréa Teixeira Silva e Leandro Pereira RibeiroEntidade: Núcleo de Regularização FundiáriaCargo: Geógrafa e arquitetaEndereço: Rua Visconde de Sepetiba, 987, centro, Niterói-RJ E-mail: [email protected]: (21) 2620-0403 - ramal 296 / (21) 2717-2188 - ramal 206 / Fax: (21) 2717-2188

3.23 - Prefeitura Municipal de Osasco (SP)

A cidade de Osasco possui, atualmente, cerca de 170 assentamentos informais, implan-tados sobre áreas públicas municipais, conhecidos na cidade como “áreas livres”. Nesses as-sentamentos residem cerca de 120 mil pessoas, quase 20% da população total do município. A maioria desses assentamentos foi implantada em terrenos municipais que tinham outra destinação que não a habitacional, geralmente imóveis da classe de bens de uso comum do povo, destinados, originalmente, à implantação de equipamentos públicos.

A ocupação dessas áreas foi “oferecida” como alternativa habitacional à população de baixa renda, especialmente em momentos em que era necessário equacionar situações de risco ou implantar melhoramentos públicos, mas também como resposta à demanda por ha-bitação. As moradias foram construídas, em sua maioria, em regime de autoconstrução. As 170 áreas encontram-se em diferentes estágios de consolidação, tanto do ponto de vista das moradias, quanto do ponto de vista da infraestrutura implantada.

O principal objetivo da regularização das áreas públicas municipais é a aplicação dos instrumentos jurídicos previstos no Estatuto da Cidade, lei federal nº 10.257/2001, e na medi-da provisória nº 2.220/2001, para garantir aos moradores dessas áreas a segurança jurídica da posse ou a propriedade dos lotes.

A fase I do Programa de Regularização das Áreas Públicas inclui 37 áreas públicas munici-pais em diversas regiões da cidade, que totalizam 1.587.059,31 m². Desse total, 615.891,00 m²

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são bens dominiais disponíveis. O restante de áreas a serem parceladas, 611.519,09 m², são bens de uso comum do povo.

Para a fase I foram selecionados os assentamentos informais que apresentassem ocupa-ção consolidada; dotados de infraestrutura básica e serviços; que tivessem recebido algum tipo de intervenção ou urbanização pelo poder público; que não estivessem inseridos em áreas de proteção ambiental ou de risco; implantados em áreas públicas de loteamentos re-gulares; e implantados sobre áreas públicas da classe dos bens dominiais.

Todas essas áreas foram gravadas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), por meio da lei complementar municipal nº 152/2006.

Somando-se os 170 assentamentos informais aos loteamentos irregulares e clandesti-nos, estima-se que cerca de 60% do território apresenta algum tipo de irregularidade, aquém dos padrões urbanísticos mínimos ou desprovidos de regularidade jurídica.

Para a regularização fundiária de áreas públicas ocupadas, foi desenvolvida uma meto-dologia identificada como os “10 passos fundamentais”, a partir da aplicação dos instrumen-tos da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM) e da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU): 1º passo – Identificação, mapeamento e seleção dos assentamentos informais; 2º passo – Garantia de participação da população nos processos de regularização; 3º passo – Projeto de lei autorizando a desafetação das áreas públicas e a aplicação dos instrumentos de regularização fundiária; 4º passo – Projeto de lei delimitando as áreas ocupadas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS); 5º passo – Realização do Levantamento Planialtimétrico Cadastral (Lepac); 6º passo – Realização do cadastro socioeconômico e coleta de documentos pessoais que comprovem o tempo de posse; 7º passo – Registro da área municipal nos car-tórios de registro de imóveis; 8º passo – Definição dos instrumentos a ser aplicados em cada situação, elaboração da planta de concessão e dos memoriais dos lotes; 9º passo – Assinatura do termo de concessão (contrato); 10º passo – registro dos termos de concessão nos cartórios de registro de imóveis.

Para os loteamentos implantados irregularmente pela prefeitura, optou-se pela aliena-ção dos lotes aos moradores, por meio de contratos de compra e venda.

A metodologia de trabalho está centrada em atividades que envolvem a gestão demo-crática e a participação das comunidades em todas as etapas do processo de regularização fundiária, atendendo ao disposto no inciso II, do art. 2º do Estatuto da Cidade. Como instância de participação, foi criado o Fórum de Regularização, que reúne cerca de 120 representantes das 37 áreas públicas inicialmente selecionadas para o programa.

Também os dois cartórios de registro de imóveis contribuíram no processo, ajudando nas pesquisas fundiárias; na delimitação das áreas públicas, abertura de matrículas e retifica-ção e na definição dos procedimentos visando ao registro dos termos de concessão.

Nas etapas de cadastramento dos moradores, da coleta de documentos e da compatibiliza-ção de Lepac com dados cadastrais atuaram também empresas contratadas (Núcleo Engenharia

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e ETEP Consultoria, Gerenciamento e Serviços, Geris Engenharia). Por meio da Geris Engenharia, outra contratada da Prefeitura Municipal de Osasco, foi desenvolvido um sistema operacional, que permite a geração dos termos de concessão, memoriais de lotes e plantas de concessão.

Dentre as conquistas importantes, destacamos: a criação de um Departamento de Re-gularização no município; a aplicação dos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade e no plano diretor do município; o atendimento a uma demanda histórica do município; e a mobilização das comunidades para o tema da regularização.

Destacamos experiência recentíssima de regularização de loteamentos irregulares, ten-do em vista a sanção presidencial à lei federal nº 11.977/2009, que trouxe, no capítulo III, disposições para a regularização fundiária de assentamentos urbanos.

Amparada nas novas normas de regularização fundiária, especificamente o artigo 75 da medida provisória nº 459/2009 (correspondência art. 71, da lei nº 11.977/2009), a prefeitura efetuou, em menos de dois meses, no 1º Ofício de Registro de Imóveis de Osasco, o registro da regularização de três loteamentos.

Esse artigo prevê procedimentos simplificados para a regularização de parcelamentos do solo implantados anteriormente a 19 de dezembro de 1979, desde que estejam integra-dos à cidade. Caso dos três loteamentos regularizados.

Para tanto, o município encaminhou, diretamente ao oficial registrador: planta de re-gularização do parcelamento do solo; memoriais descritivos dos lotes; Anotação de Res-ponsabilidade Técnica (ART); Alvará de Regularização, nos termos do art. 75 e seus §§ da MP nº 459/2009; certificação emitida pela Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urba-no de que o loteamento encontra-se plenamente integrado à cidade desde a década de 1960; e foto aérea de 1967, comprovando a existência do parcelamento desde essa década.

Os casos adotados como “experiência-piloto” são parcelamentos de pequeno porte e juntos representam menos de uma centena de lotes. Entretanto, a novidade da experiência está na celeridade dos procedimentos: menos de dois meses desde a petição até o efetivo registro da regularização. Em se tratando de regularização fundiária, isso é “recorde absolu-to”. Nessa experiência, foi fundamental a colaboração do oficial registrador do 1º Registro de Imóveis de Osasco.

Vale ressaltar que os parcelamentos foram implantados na década de 60 do século XX e que os adquirentes dos lotes, alguns já representados pela segunda ou terceira geração, até hoje não haviam alcançado o registro de suas moradias.

Quanto às dificuldades podemos destacar: instrumentos de concessão de uso – inicial-mente foi necessário muito trabalho para “explicar” o conceito e o funcionamento desses instrumentos aos moradores das áreas públicas. Há alguma resistência à utilização do instru-mento, uma vez que os moradores “reclamam” pelo que chamam “escritura definitiva” do lote; registro dos instrumentos nos cartórios de registro de imóveis – o 2º Cartório de Registro de Imóveis de Osasco não procedeu ao registro dos termos de concessão, suscitando dúvida ao

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juiz corregedor. A dúvida foi julgada improcedente, com determinação do registro gratuito dos termos de concessão, após 12 meses de tramitação no Judiciário. Durante a tramitação desse processo, percebemos o quão distante o Judiciário está desse tema. E por ser assunto relativamente novo, há inclusive dificuldade em se encontrar julgados e/ou jurisprudência, bem como estudos jurídicos aprofundados; gestão das concessões – é importante lembrar que com a concessão, a propriedade do imóvel continua pública e a finalidade é “regularizar o uso habitacional”. Atualmente, temos recebido pedidos de transferência das concessões, possibilidade prevista pela MP nº 2.220/2001 e lei municipal específica. Estamos construindo, juntamente com o 1º Cartório de Registro de Imóveis, os requisitos para que essas transferên-cias sejam registradas. Estão sendo discutidas questões como: custos para efetuar o registro das transferências; instrumentos a utilizar, se escritura pública ou instrumento particular; in-cidência de Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI); valor venal do terreno sob concessão X valor venal total do imóvel X valor do negócio efetuado (o art. 108 do Código Civil exige a escritura pública para negócios, cujo valor seja superior a 30 salários mínimos).

Processos de regularização iniciados: 9.202 lotes em 25 assentamentos informais im-plantados em áreas públicas municipais.

Títulos de CUEM e CDRU: concedidos – 2.292 títulos de CUEM ou de CDRU; concessões registradas em cartório – 960; concessão em processo de registro – 282.

Alienação de lotes: títulos concedidos: 4.992 compromissos de compra e venda de lote (recursos do Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social – PSH); registro da regu-larização de um loteamento (Jardim Canaã, com 582 lotes); 582 compromissos de compra e venda foram registrados no 2º Cartório de Registro de Imóveis, com a devida averbação da quitação (Jardim Canaã).

Loteamentos privados regularizados: seis loteamentos – 328 lotes.

Responsável pelas informações:Nome: Patryck Araújo CarvalhoEntidade: Secretaria de Habitação e Desenvolvimento UrbanoCargo: Diretor de Regularização FundiáriaEndereço: Alameda dos Ypês, 28, Bela Vista, Osasco-SPE-mail: [email protected]: (11) 3654-2660 ramais 214, 220, 239 / Fax: (11) 3654-2660

3.24 - Prefeitura Municipal de Piraquara (PR)

O município de Piraquara, no Estado do Paraná, possui 86 mil habitantes; dista 22 quilô-metros da capital e integra a região metropolitana de Curitiba. Cerca de 97% de seu território situa-se sobre áreas de mananciais e outros 3% sobre mata atlântica. Estima-se que a população morando em assentamentos irregulares é de aproximadamente 40 mil habitantes.

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

As ações visando à legalidade fundiária e à garantia de condições de habitabilidade são recentes. Iniciaram-se no ano de 2006, quando o municí-pio obteve recursos do Ministério das Cidades – Secretaria Nacional de Pro-gramas Urbanos (SNPU) para a regu-larização de aproximadamente 2 mil famílias no bairro Guarituba.

Em 2008, devido à relevância e alcance desse projeto, a prefeitura criou o Núcleo de Regularização Fun-diária e Habitação de Interesse Social, com o objetivo de desenvolver uma política de regularização fundiária, re-alizando uma discussão multidiscipli-nar e intersetorial sobre o desafio de conjugar ações de regularização, pre-servação ambiental e resgate social. Assim, para integrar as comunidades ocupantes de assentamentos irregu-lares ao cenário legal, o Núcleo vem desenvolvendo o Projeto Piraquara Regularizada: Terra Prometida.

Os maiores projetos em anda-mento – pelo número de famílias be-neficiadas – são do bairro Guarituba e Vila Vicente Macedo. Porém, o pro-jeto visa atender famílias de todo o município, desde que se enquadrem nas normas estabelecidas para aten-dimento no referido Núcleo.

GuaritubaO bairro do Guarituba tem uma

área total de 31,59 km², sendo que 8,00 km² compõem a área de inter-venção. Uma das origens da irregula-

Guarituba, Piraquara (PR) Fotov: Frans Fabiano

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

ridade fundiária no Guarituba foram as inúmeras ocupações sobre loteamentos e glebas, principalmente a partir da década de 1990. Atualmente, predominam áreas ocupadas ir-regularmente, com padrões de urbanização, infraestrutura e habitação precários, além de uma enorme demanda social, urbana e ambiental.

Estima-se que cerca de 50 mil pessoas estejam fixadas no total da área e que 60% do total de construções sejam irregulares. Além do porte, a problemática local é agravada por sua localização sobre um manancial de grande importância para o abastecimento da região metropolitana de Curitiba. Na experiência do Guarituba foram trabalhados 2.555 lotes, dos quais 1.632 foram considerados regularizáveis. Em relação à sua dominialidade, os lotes estão divididos entre os privados e pertencentes ao município.

Com o entendimento de que seria necessário conciliar os aspectos sociais e ambientais, buscou-se identificar, localizar e quantificar os lotes municipais e particulares e seus ocupan-tes. Após realizado o cadastramento das famílias e o diagnóstico fundiário, foram definidos os instrumentos e o arcabouço jurídico e administrativo para a regularização. Como instru-mentos de regularização foram utilizados a doação (lotes municipais), a usucapião (lotes par-ticulares), decreto de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e desafetação de ruas, mediante legislação específica para a área.

Nesse aspecto, destaca-se a desapropriação amigável com um grande proprietário da área, que possibilitou a doação de 160 lotes. O processo resultou em 577 ações de usucapião ajuizadas, 233 contratos de doação e 709 possíveis ações de usucapião (pendentes por falta de documentação). A articulação com o Poder Judiciário vem possibilitando a agilização dos processos de usucapião.

O projeto envolveu a indicação de relocação e a necessidade de intervenções urbanísti-cas e de infraestrutura, além da capacitação da equipe técnica municipal. A área foi contem-plada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no qual estão previstas as obras de macro e microdrenagem, novo traçado de sistema viário e pavimentação, relocação e provi-são habitacional.

Vila Vicente MacedoO Projeto de Regularização Fundiária Terra Prometida também vem sendo realizado

na Vila Macedo, localizada na bacia do rio Iraizinho, responsável por 10% da água consu-mida em Curitiba. A área em questão tem um total de 163.575,57 m² e foi desapropriada em junho de 2008.

As primeiras ocupações nessa localidade ocorreram na década de 1980, e, a exemplo do Guarituba, intensificaram-se na década seguinte. Aproximadamente 30% da área não está servida de rede de água e esgoto ou de energia elétrica e cerca de 30% está sujeita a ala-gamentos. Por isso, o objetivo central do projeto é a garantia de propriedade (doação) às famílias que residem no local há pelo menos cinco anos e a realocação das famílias que, inde-

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

pendente do tempo de ocupação, encontram-se em Áreas de Preservação Permanente (APP) que permeiam todo o assentamento.

Desde o início de 2008, foram desenvolvidas as etapas de desapropriação da área, cadastramento das famílias, levantamento topográfico e coleta de documentos. Conco-mitantemente, aprovou-se a ZEIS, lei municipal que possibilita as ações de regularização fundiária e a definição dos instrumentos a ser utilizados. Portanto, para a realização do projeto, foram definidos os seguintes instrumentos: doação para quem reside no lote há pelo menos cinco anos e que não esteja dentro da faixa marginal de APP de 30 metros de distância do leito do rio Írai; Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) para as famílias que estão sobre a área dos 30 metros de APP; e usucapião para as famílias que ocupam lotes limítrofes da área desapropriada.

A concepção do projeto é de que, diante da impossibilidade de regularização definitiva das famílias que habitam as áreas de APP, elas serão atendidas por meio do instrumento de CDRU e serão contabilizadas no Plano Local de Habitação de Interesse Social, devendo, com o tempo, serem realocadas.

As intervenções físicas envolvidas no projeto estão em andamento e, algumas, em fase de planejamento. Estão em execução a rede de macrodrenagem e a pavimentação, além de estar prevista a construção de 60 unidades habitacionais, em localidade próxima, para realo-cação de parte das famílias que estão dentro da faixa marginal dos 30 metros em área de APP (recursos do Ministério das Cidades e do município).

Em relação à titulação, foram obtidos até o momento 161 contratos de CDRU (por dez anos, podendo ser prorrogados); 171 contratos de doação e 21 ações de usucapião.

Responsável pelas informações:Nome: Raquel SizanoskiEntidade: Prefeitura Municipal de Piraquara - Núcleo de Regularização Fundiária e Habitação de Interesse SocialCargo: Coordenadora do Núcleo de Regularização Endereço: Travessa Deodoro, 41, Piraquara-PRE-mail: [email protected] Telefone: (41) 3589-1544 / 3673-0180 / Fax: (41) 3673-0183

3.25 - Prefeitura Municipal de Porto Velho (RO)

A Secretaria Municipal de Regularização Fundiária e Habitação de Porto Velho (Semur) foi criada em 2005 a partir das discussões realizadas na I Conferência Municipal das Cidades (2004). Os problemas fundiários do município nunca haviam sido priorizados ao longo das di-versas gestões. Por isso, os conflitos fundiários pela posse da terra agravaram-se ao longo das décadas. A Semur tem em sua estrutura três departamentos: de Gestão de Política Fundiária (DGPF), de Regularização Fundiária (DRF) e de Habitação.

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

Desde a sua criação, a Semur vem priorizando ações direcionadas ao planejamento e execução do Programa Municipal de Regularização Fundiária e Habitação, principalmente no que diz respeito aos assentamentos urbanos localizados em áreas municipais urbanas com ocupação já consolidada. Com essa finalidade, já foi iniciado pela Semur, o processo de regu-larização fundiária em diversos bairros do município (ver tabela a seguir) das áreas passíveis de escrituração imediata pelo poder público (dominialidade municipal), bem como de áreas onde existem conflitos sociojurídicos de titularidade privada, ocupadas por população de baixa renda, e áreas passíveis de projetos urbanísticos visando loteamentos públicos regula-res, onde se garante o direito à moradia a milhares de famílias.

Além dos procedimentos já adotados em diversas localidades, a partir de 2009 a Semur tem implementado o Programa Uso Campeão, para mais de 16 mil famílias que vivem em áreas privadas. O trabalho do poder público com o citado programa visa colocar à disposição da população equipe de advogados para os procedimentos judiciais perante o Poder Judiciá-rio, bem como viabilizar as condições técnicas à população (memoriais descritos, plantas dos imóveis, levantamento topográfico) para a instrução das ações de usucapião.

O objetivo do Programa de Regularização Fundiária do Município de Porto Velho é a escrituração e registro dos imóveis em situação de irregularidade fundiária nos cartórios de imóveis da capital.

As estratégias utilizadas e previstas no processo são as seguintes: levantamento da situ-ação jurídico-fundiária da área a ser regularizada no cadastro imobiliário do município e car-tórios de imóveis; definição dos instrumentos jurídico-urbanísticos a ser utilizados; reuniões com a comunidade visando prestar informações acerca dos procedimentos adotados; atuali-zação cadastral imobiliária – nessa etapa comprova-se efetivamente quem detém a posse do imóvel. A população é convocada para atendimento na Semur, onde são entregues diversos documentos comprobatórios de moradia; formalização de cada processo na Semur. Para cada imóvel é aberto um processo; levantamento topográfico das condições físicas da área com vistas ao projeto de loteamento ou sua adequação e projeto urbanístico. Caracterização das áreas destinadas a equipamentos comunitários e áreas verdes (lei nº 6.766/1979); definição do projeto de loteamento da área e/ou urbanístico. Aprovação. Confecção dos memoriais descritivos. Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) no Conselho Regional de Engenha-ria, Arquitetura e Agronomia de Rondônia (CREA/RO); desmembramento dos imóveis em car-tórios. Expedição das certidões de inteiro teor; encaminhamento dos processos formalizados de regularização fundiária aos cartórios para lavratura das escrituras; convocação da popu-lação para assinatura das escrituras. Assinatura pelo chefe do Executivo; encaminhamento das escrituras lavradas e assinadas ao cartório de imóveis; registro e entrega à população das escrituras registradas (a escritura é totalmente gratuita).

Por intermédio do apoio dos programas Papel Passado (SNPU/Ministério das Cidades), Fundo Nacional para Habitação de Interesse Social (FNHIS), Programa de Aceleração do Cres-

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

cimento (PAC) e Programa Municipal de Regularização Fundiária, a Semur tem atuado nas seguintes localidades do município de Porto Velho, beneficiando, até o momento, 41.510 fa-mílias (166.040 pessoas):

Bairro (objeto)Número de famílias beneficiadas

Situação atual

Tancredo Neves 2.467 Concluída

Tiradentes 213 Concluída

Caladinho 1.000 Concluída

Conceição 1.196 Concluída

Espírito Santo 68 Concluída

São João Batista 346 Concluída

Embratel 1.476 Concluída

Marcos Freire 1.562 Concluída

Ronaldo Aragão 601 Concluída

Tupy 196 Em tramitação. Cancelamento de carta de aforamento

JK 2.460 Concluída

Eletronorte 357 Concluída

Loteamento Luiene (Areia Branca) 455

Em conclusão.Procedimento de dação em pagamento (município x proprietário)

Floresta Em tramitação

Fortaleza 600 Em tramitação. Dação em pagamento (município x Estado de Rondônia)

Ulisses Guimarães 2.100Em tramitaçãoEm negociação com Município. Doação

Mato Grosso 700 Em tramitação. Cancelamento de carta de aforamento

Liberdade 800 Em tramitação

São João Bosco 1.000 Em tramitação

Nossa Senhora das Graças Em levantamento Em tramitação

Agenor de Carvalho 1.500 Em tramitação

Baixa da União 528Em tramitação. Procedimento de cessão ao município de Porto Velho pela União Federal

Ocupação Mamoré 52 Em tramitação

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

Feliz Cidade III Em levantamento Em tramitação

Loteamento Chagas Neto Em levantamento Em levantamento

Areal 1.195 Em tramitação. Cancelamento de carta de aforamento

Calama 360 Em tramitação

Paraíso 168 Em tramitação

Feliz Cidade II Em tramitação

Cuniã 68Em tramitação.Cancelamento de carta de aforamento

Tucumanzal 475 Em tramitação. Processo de cessão (União Federal x município)

Santa Bárbara Em levantamento Em levantamento

Loteamento Flamboyant I e II 600 Em tramitação. Desapropriação.

Loteamento Ayrton Sena 750 Em tramitação.Desapropriação

Nacional 600 Em tramitação. Permuta

Nova Esperança 1.010 Em tramitação. Doação pelo INCRA ao Município

Mariana 4.083 Em tramitação. Negociação

Jardim Santana 2.909 Em tramitação. Área doada da União ao município – Programa Terra Legal

Socialista 2.499 Em tramitação. Área doada da União ao município – Programa Terra Legal

Uma rede de entidades parceiras foi articulada para que fosse possível operacionalizar os procedimentos de regularização. Foram estabelecidos diálogos com a Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU/RO), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Associação dos Notários e Registradores (Anoreg/RO), Cartórios de Notas e Registro Civil, Cartórios de Registro de Imóveis, CREA/RO e Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.

A parceria com a GRPU/RO permitiu avanços nas discussões a respeito da regulariza-ção de áreas da União Federal na cidade – que são muitas. Permitiu ainda viabilizar a im-plantação de equipamentos comunitários e empreendimentos públicos de grande porte, tais como a construção do Mercado Municipal do Peixe e do Porto do Cai N’Água, na região central da cidade.

Com o auxílio do Ministério das Cidades / Secretaria Nacional de Programas Urbanos, traçou-se novo plano de trabalho para o repasse das áreas de domínio do Incra à prefeitura, para a escrituração aos atuais posseiros. No mês de junho de 2009, foram repassadas pela

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

União Federal ao município de Porto Velho as áreas dos bairros Jardim Santana e Socialista, representando, dessa forma, o benefício a mais de 20 mil pessoas.

O estabelecimento de convênio com os cartórios e a Anoreg/RO permitiu à prefeitura efetivar a regularização, ou seja, registrar a regularização urbanística de cada uma das áreas, escriturando lote a lote, em nome das famílias posseiras.

As associações de moradores, entidades filantrópicas, sindicatos e cooperativas são de fundamental importância no processo, já que uma porcentagem significativa do traba-lho depende da mobilização da comunidade, e da realização de atividades comunitárias, previstas nos projetos sociais. Outros parceiros importantes são o Tribunal de Justiça de Rondônia, a Caixa Econômica Federal e a Procuradoria Geral do Município.

Em um processo singular e complexo como o de regularização fundiária, surgem muitos tipos de obstáculos e problemas em vários níveis, como: material humano: equipe técnica capacitada (em número insuficiente); equipamentos e recursos tecnológicos (des-de computadores, softwares adequados, sistema de administração do cadastro fundiário); estrutura administrativa: para a operacionalização dos trabalhos, no caso de Porto Velho, foram necessárias duas reformas administrativas ao longo de seus quatro anos de existên-cia; estrutura jurídica: com a revisão do plano diretor em andamento, foram necessárias as edições de algumas leis municipais e a criação de algumas outras – atualmente está em

Porto Velho (RO) Foto: Marcos Freire

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

revisão a Lei de Uso e Ocupação do Solo. O Estatuto da Cidade muitas vezes não prevê soluções ou instrumentos para situações típicas da região, como o tamanho de lotes (geral-mente superior a 250 m²); quebra da cadeia sucessória e atualização do cadastro; população sem acesso a direitos civis básicos (certidão de nascimento, CPF, título de eleitor, separação, divórcio); grande número de áreas privadas ocupadas espontaneamente, parcelamentos clandestinos, áreas institucionais, de preservação e faixas de proteção ambientais ocupa-das; quantidade de áreas e diversidade de situações fundiárias muitas vezes dificultam a agilidade na finalização do processo.

Até março de 2009, já foram escriturados com registro em cartório 14.140 imóveis da cidade de Porto Velho (lavrados e registrados em cartórios). Estão em procedimento de regularização fundiária 43 bairros da capital (mais de 15 mil imóveis). Ainda em 2009 será dado inicio à regularização fundiária dos 11 distritos da capital. Para cada imóvel é aberto um processo distinto, sendo que desde 2008 já foram abertos mais de 29 mil processos na Semur.

A lição mais importante apreendida por toda a equipe da Semur é de que é possível, com vontade política, muito trabalho e recursos, fazer regularização fundiária, a partir de um plano municipal pensado de forma planejada e com as mais diversas estratégias de mobilização da população.

Responsável pelas informações:Nome: Fernanda KopanakisEntidade: Secretaria Municipal de Regularização Fundiária e Habitação Cargo: Secretária MunicipalEndereço: Avenida Jorge Teixeira, 1325, bairro São Cristóvão, Porto Velho-RO E-mail: [email protected]: (69) 3901-3191 / Fax: (69) 3901-3190

3.26 - Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (RJ)

Dentre as ações de regularização fundiária implementadas pela Gerência de Regulariza-ção Fundiária da Secretaria Municipal de Habitação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, destacamos a regularização da Colônia Juliano Moreira.

A implementação da metodologia desenvolvida pela Gerência de Regularização Urba-nística e Fundiária compreende dois setores da antiga colônia, com uma área de aproxima-damente 204 ha, de propriedade da União e em processo de transferência à prefeitura da cidade. O setor 2 é ocupado por edificações de uso institucional e habitacional, onde residem famílias de antigos funcionários, e o setor 3, por assentamentos de baixa renda.

Em 2008, a lei nº 4.885 declarou como Área Especial de Interesse Social (AEIS) o setor 3. Parte do setor 2 foi incluída na Área de Especial Interesse Funcional (AEIF) da colônia. Situada em um grande território, de aproximadamente 780 ha, na zona oeste do Rio de Janeiro, a

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

antiga Colônia Juliano Moreira foi inaugurada como instituição psiquiátrica. Com a progres-siva redução de suas atividades, as edificações existentes no local foram se deteriorando e sua área sendo ocupada por moradias de antigos funcionários e por assentamentos de baixa renda, alguns originários de ocupações.

Das duas áreas que serão objeto da regularização urbanística e fundiária, o setor 2 abri-ga 2.947 moradores, comportando, além de habitações, o núcleo histórico que deu origem ao lugar, equipamentos de saúde e estabelecimentos de comércio e serviços de âmbito local. No setor 3 residem cerca de 19.580 habitantes em assentamentos precários de baixa renda (Entre Rios, Caminho da Creche, parque Dois Irmãos, Vilas da André Rocha, Vila do Ipê, Vila Arco Íris e Curicica 1). Todas com carência de infraestrutura, situações de risco e degradação ambiental. O adensamento progressivo das ocupações aponta para a maior degradação am-biental sobre as margens de rios, espaços planos e encostas.

Recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a colônia visam promover a reversão do quadro de informalidade pela regularização fundiária e urbanís-tica, com ações integradas entre duas instâncias governamentais, federal e municipal, acompanhadas por um conselho gestor.

A partir de tais iniciativas, somadas a uma urbanização com respeito ao meio ambiente e oferta de habitação digna, pretende-se promover um modelo de intervenção, por meio de planos de regularização, de urbanização e de reassentamento, bem como de ações de preservação ambien-tal e do patrimônio cultural. Objetiva-se ainda que todo o processo seja perme-ado por um trabalho de comunicação e negociação com os moradores, atuando de forma participativa inclusive na de-finição de parâmetros sustentáveis de ocupação do solo e critérios acerca do que legalizar.

O projeto tem como principais ob-jetivos reconhecer e garantir a segurança da posse, garantir as possibilidades para que o morador tenha acesso ao seu títu-lo de propriedade, bem como contribuir para ampliar os direitos de cidadania da população inserida em áreas de interes-se social por meio da moradia digna, da

Exemplo do processo de crescimento vertical das edificações na comunidade Parque Dois Irmãos Rio de Janeiro (RJ)

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

Exemplo do processo de crescimento vertical das edificações na comunidade Parque Dois Irmãos Rio de Janeiro (RJ)

qualificação do ambiente urbano e da existência jurídica e administrativa da habitação. A re-gularização urbanística e fundiária promovida pelo PAC possui como principais condicionantes as restrições impostas pela proteção do patrimônio ambiental e cultural da região, bem como pela proximidade de equipamentos de saúde, com a sua preservação na área.

Dessa forma, das estratégias previstas, ressalta-se a gestão participativa, com a inclusão dos moradores no processo decisório, especialmente em relação às normas de uso e ocupa-ção do solo e aos critérios de legalização. Quanto às estratégias utilizadas, destaca-se a arti-culação entre as instâncias de governo envolvidas no processo de regularização da área, com a assinatura de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a União Federal e a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, para o qual foi instituído um conselho gestor, cujo comitê tem atribuições consultivas e deliberativas.

O PAC-Colônia conta com a atuação conjunta do Ministério do Planejamento, Orçamen-to e Gestão (Secretaria do Patrimônio da União e Gerência Regional do Patrimônio da União); do Ministério das Cidades (secretarias nacionais de Habitação e de Programas Urbanos); da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz / Ministério da Saúde); e do município do Rio de Janeiro, por intermédio das secretarias de Habitação, de Urbanismo e de Saúde.

A princípio, serão realizados encontros com a participação dos diversos atores/órgãos envolvidos para a definição dos princípios norteadores da regularização urbanística e fundiá-ria, além de discutir os instrumentos jurídicos, o meio ambiente, as áreas de risco e a definição de atuação para a situação dos que moram por aluguel na área. Destaca-se que os instrumen-tos jurídicos a ser utilizados, a princípio, serão a Concessão de Uso Especial para Fins de Mora-dia (CUEM) e a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), gratuita ou onerosa. A proposta de instrumentos urbanísticos será baseada na construção conjunta entre moradores e técnicos, intermediada por um trabalho de comunicação e negociação.

Estão previstas para a área do PAC-Colônia obras de infraestrutura, com esgotamento sanitário, rede de água, drenagem, pavimentação e construção de equipamentos públicos. Tem-se ainda a previsão de execução de moradias para ex-internos da colônia, de revitaliza-ção do núcleo histórico e de produção de lotes para implantação de 1.500 unidades habita-cionais, além de lote destinado à implantação de 70 habitações por intermédio da produção social da moradia (Cooperativa Esperança).

Como o estágio dos trabalhos está ainda no início, os resultados são parciais, destacando-se, dentre eles, a assinatura do contrato de cessão, sob o regime de aforamento gratuito e doação de benfeitorias, do imóvel próprio nacional, para o setor 2 da colônia, entre a União e o município; a realização do vôo aerofotogramétrico para a produção de base cartográfica atuali-zada da área e o cadastro socioeconômico do setor 2; a elaboração de plano de ocupação apro-vado pelo comitê gestor, bem como a apresentação para as lideranças comunitárias do projeto urbanístico e da proposta de metodologia para a regularização urbanística e fundiária da área.

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

No total, serão beneficiadas 6.130 famílias com as ações do programa.

Responsável pelas informações:Nome: Angela Regina Lima de JesusEntidade: Secretaria Municipal de Habitação / Gerência de Regularização Urbanística e FundiáriaCargo: GerenteEndereço: Rua Afonso Cavalcanti, 455, anexo, 4º andar, Rio de Janeiro-RJE-mail: [email protected] Telefone: (21) 2503-3043 e 2503.3699 / Fax: (21) 2273-9595

3.27 - Prefeitura Municipal de Santo André (SP)

O município de Santo André tem aproximadamente 668 mil habitantes. Desses, 126.295 são de baixa renda, totalizando 29.371 famílias.

A experiência aqui relatada trata da regularização fundiária e urbanística e da recupe-ração ambiental do loteamento do parque Represa Billings, com extensão de 98,29 ha, total-mente inserida em área de proteção aos mananciais da represa, criada por legislação estadual específica. A população residente é de baixa renda, sendo que 68% recebem até três salários mínimos e 22% recebem até cinco salários mínimos.

O projeto original do loteamento obteve aprovação pelo município de Ribeirão Pires em 1955. Porém, não foi levado ao registro em cartório de imóveis, tampouco foi licenciado por órgão ambiental competente, conforme exigências da legislação vigente.

A área não está inclusa como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) no plano diretor, mas como Zona de Recuperação Ambiental, cujos principais objetivos são: qualificar os assentamen-tos existentes, evitar novas ocupações e recuperar ambientalmente as áreas degradadas.

Em 1998, o órgão ambiental municipal passou a fiscalizar a área. A situação encontrada foi de ocupação de forma irregular, sem respeito às restrições ambientais e urbanísticas, com interferências em cursos d’água, nascentes e na represa, bem como em suas áreas de preser-vação permanente e outras áreas ambientalmente protegidas, desrespeitando recuos e nor-mas sanitárias, entre outros. Muitos lotes foram subdivididos sem anuência do poder público e em desacordo com a legislação vigente.

O loteamento encontra-se parcialmente implantado, com aproximadamente 50% de sua área ocupada e uso predominantemente residencial. Todos os lotes são particulares, havendo inúmeros proprietários diferentes. Considerando que não houve demarcação no local, as ruas foram abertas fora do traçado original, ocasionando o deslocamento de qua-dras, lotes e construções.

Os principais objetivos do trabalho são o registro do loteamento em cartório de imóveis, a remoção de moradores de áreas de risco e seu reassentamento no próprio loteamento, a re-cuperação de áreas degradadas, a complementação da infraestrutura, além de impedir novas ocupações irregulares e minimizar e mitigar os impactos ambientais.

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

O litígio pela posse das terras entre as prefeituras de Ribeirão Pires e Santo André deixou a área sem fiscalização e controle. Isso proporcionou a ocupação irregular com a implantação das quadras, lotes e vias deslocados em relação ao projeto original e construções em desacordo com a legislação ambiental e urbanística, dificultando assim a regularização de uma área particular.

Foram consideradas entraves ao processo de regularização pretendido para a área as seguintes questões: a limitação do poder público em interferir em imóveis particulares, res-peitando direitos adquiridos e propondo solução para cada caso; a identificação de sobrepo-sição de parte do loteamento com o loteamento vizinho; as interferências posteriores à apro-vação do projeto original: rodovia, linha de transmissão de energia elétrica e suas respectivas faixas de domínio; a resistência do loteador a propostas que o onerassem; a dificuldade de entendimento e aceitação da proposta pela população residente, principalmente quanto às remoções e insuficiência de equipamentos e equipe técnica para realizar o trabalho.

As ações que se fizeram necessárias para a regularização da área foram: o redesenho da planta do loteamento, adaptando-o à situação atual e sua aceitação pelo loteador; a de-socupação de áreas de risco por desapropriação ou permuta com lotes criados; a conserva-ção de áreas sensíveis não ocupadas, por meio da criação de áreas verdes e institucionais; a designação de lotes para implementação da cota-parte verde (instrumento a ser criado para compensação do excedente de área construída); o englobamento de lotes desocupados para formação de lotes maiores; o estabelecimento de taxas de uso e ocupação diferenciadas; a implantação de sistema de drenagem e ampliação da rede coletora de esgoto.

Gleba 2, Santo André (SP) Foto: Rosilene Dias

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As etapas do trabalho foram: levantamento planialtimétrico; cadastro socioeconômico; elaboração de pré-proposta; envolvimento da comunidade por meio de plenárias e de uma comissão de acompanhamento do processo; estabelecimento de parâmetros ambientais e urbanísticos; finalização da proposta; celebração de acordo judicial.

Desde 2001, a Prefeitura Municipal de Santo André trabalha na proposta de regula-rização fundiária e readequação urbanística e ambiental do loteamento parque Represa Billings. A partir de 2004, foram realizadas diversas reuniões com os moradores, o Ministério Público, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e o responsável pelo loteamento, visando tornar o processo o mais participativo possível.

Em 2007, foi criada uma comissão de acompanhamento, formada por representantes dos moradores, do poder público, do loteador e de órgãos prestadores de serviços públicos, que teve por objetivo discutir a elaboração da proposta de regularização, buscar e trazer informa-ções de interesse para os trabalhos e divulgar as informações à comunidade. Esse acompanha-mento se deu por meio de reuniões periódicas, vistorias de campo, auxílio para cadastramento social e sugestões diversas.

Os resultados alcançados foram: a celebração do acordo judicial com o loteador em 2008; anuência da Secretaria de Estado do Meio Ambiente à proposta; elaboração de ante-projetos para abastecimento de água, ampliação da rede de coleta de esgoto, drenagem e pavimentação das vias; manifestação de interesse do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) no desenvolvimento de projeto de unidade habitacional, adequada à região e que atenda a critérios de sustentabilidade.

Nessa ação, o aprendizado ficou por conta da importância da atuação do poder público no controle do uso e ocupação do solo para evitar a degradação ambiental que, neste caso, contribuiu para a poluição e assoreamento da represa Billings, uma das principais fontes de abastecimento da região metropolitana de São Paulo; da participação dos moradores, que enriquece a proposta, contribuindo com suas experiências e conhecimento do cotidiano da região; da importância de se ouvir as diversas opiniões técnicas, quando se trabalha em uma equipe multidisciplinar; da tomada de decisão, pelo poder público, baseada na participação democrática, que facilita a conciliação dos interesses das partes envolvidas; da elaboração de uma proposta fundamentada em estudos técnicos, objetivos e detalhados, que permite que a implementação das ações previstas não seja afetada por mudanças políticas.

Responsável pelas informações:Nome: Adriana Aparecida da Fonseca ViscardiEntidade: Prefeitura de Santo André - Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque AndreenseCargo: ArquitetaEndereço: Rodovia Índio Tibiriçá, Km 39,5, Parque Andreense, Santo André-SPE-mail: [email protected]: (11) 4439-5014 / Fax: (11) 4439-5028

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3.28 - Prefeitura Municipal de Santos (SP)

A Prefeitura de Santos firmou contrato de repasse do Programa de Urbanização, Regu-larização e Integração de Assentamentos Precários, com a União Federal, por intermédio do Ministério das Cidades, representada pela Caixa Econômica Federal, para apoio à formulação e/ou implementação de programas de regularização fundiária sustentável – atividades ju-rídicas e administrativas de regularização fundiária, por meio do qual foi feita a atualização dos levantamentos planialtimétrico cadastral e socioeconômico existentes e elaboração de projeto urbanístico e complementares, necessários ao processo de regularização fundiária e urbanística do assentamento Vila Progresso.

Buscando a efetivação e conclusão dos trabalhos de regularização fundiária e urbanís-tica no município, a prefeitura firmou convênio de cooperação técnica com o Programa de Regularização do Governo do Estado de São Paulo, denominado Cidade Legal.

O assentamento Vila Progresso de propriedade particular começou a ser ocupado em 1968, após o desmoronamento de terras nos morros Jabaquara e Castelo. Em seguida, a pro-prietária foi intimada pelo Poder Público Municipal a acolher mais de 30 famílias em sua chá-cara no morro Nova Cintra.

Dessas ações resultaram a contratação de uma empresa para a realização dos seguin-tes trabalhos: projetos e peças gráficas; planta de localização; atualização do levantamento planialtimétrico; perfis longitudinais e transversais das vias de circulação; infraestrutura; geo-tecnia; projeto urbanístico; plantas individualizadas; memorial descritivo do parcelamento e cadastro socioeconômico.

O assentamento Vila Progresso mede 113.127,63 m² e está localizado no topo de um morro, em área íngreme com declividade variando entre 10% e 80%. Essa área está consoli-dada em sua quase totalidade e isso pode ser observado com as ruas pavimentadas de porte médio onde trafega o transporte coletivo e vielas para acesso às moradias.

No local há uma nascente com o córrego totalmente canalizado e existem algumas ro-chas que afloram por entre as casas e vias. O valor paisagístico dessa área localizada em zona urbana, a cerca de 2 km do centro urbano, é relevante.

O assentamento Vila Progresso encontra-se parcelado em 413 lotes, sendo que 78 lo-tes foram registrados no cartório Imobiliário sem a aprovação e o registro do loteamento. Contratos de compromisso de compra e venda foram firmados por 58 ocupantes e os de-mais 264 pagam “aluguel de chão” para a proprietária do assentamento onde predominam construções de alvenaria.

No assentamento Vila Progresso, a prefeitura utilizará o instrumento de regularização fundiária visando ao registro em cartório do parcelamento de solo ocorrido no local, com individualização dos lotes, sistema viário de veículos e pedestres e áreas públicas.

A administração municipal já iniciou o processo para os licenciamentos ambientais nas

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esferas municipal e estadual. O Ministério Público Estadual, por meio de inquérito civil, acom-panha essas ações.

A Lei Complementar Municipal nº 53, de 15 de maio de 1992, define a área como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) e formaliza a criação da Comissão de Urbanização e Legali-zação (Comul).

A Comissão é paritária e composta por nove representantes da comunidade eleitos pela população e nove representantes do poder público, sendo oito representantes das secreta-rias municipais, um representante da Companhia de Habitação da Baixada Santista, um repre-sentante da Câmara Municipal de Santos e um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O objetivo dessa comissão é participar e acompanhar o processo de regulariza-ção fundiária e urbanística do local.

Como a maioria dos lotes do assentamento da Vila Progresso apresentam uso residen-cial multifamiliar, depois do registro do lote será utilizado o instrumento de condomínio para titular todas as famílias moradoras no lote.

Neste projeto, não haverá remanejamento de famílias, só algumas construções terão parte da edificação demolida para dar possibilidade da manutenção do córrego canalizado existente na área.

Quanto ao topo de morro, classificado como Área de Preservação Permanente (APP), para seu licenciamento será aplicado a Resolução Conama nº 369/06. Um estudo ambiental da área – que foi objeto de deliberação e aprovação pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente do Município de Santos (Condema) – já foi apresentado.

A regularização fundiária do assentamento da Vila Progresso beneficiará 4.435 pesso-as totalizando 949 famílias.

Responsável pelas informações:Nome: Carla PupinEntidade: Prefeitura Municipal de SantosCargo: Coordenadora de Regularização Fundiária Endereço: Praça dos Expedicionários, 10, 11º andar, Santos-SP E-mail: [email protected]: (13) 3228-8800 - ramal 8828

3.29 - Prefeitura Municipal de São José dos Campos (SP)

A regularização fundiária no loteamento Jardim dos Coqueiros, realizada pelo Plano de Regularização Fundiária Sustentável Municipal do Programa Habitacional da Prefeitura Muni-cipal de São José dos Campos, conta com a participação de vários atores: Ministério Público, Poder Legislativo, Sociedade de Amigos de Bairros (Sabes), Defesa Civil, Instituto de Geologia (IG) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), Secretaria Municipal

Jardim dos Coqueiros, São José dos Campos (SP)

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de Desenvolvimento Social, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), Compa-nhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), cartórios de registro de imóveis, Companhia de Desenvol-vimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e Secretaria Estadual de Habitação, por meio do Programa Cidade Legal, criado pelo decreto nº 52.052, de 13 de agosto de 2007.

A formação do núcleo localizado na zona leste do município ocorreu a partir do parcela-mento clandestino do solo na década de 1980, em quatro glebas distintas e contíguas. Numa delas houve a ocupação por 50 famílias de baixa renda. A área ocupada é de 76.399,90m², instituí-da como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), pelo plano diretor (lei complementar nº 306/06) e pela lei complementar nº 114/94.

Com o êxito na ação de reintegração de pos-se por parte dos proprietários, a prefeitura inter-veio, assinando com os proprietários das glebas o compromisso para a permanência das famílias no local. No entanto, o compromisso não foi cum-prido nem pelos moradores nem pelos proprietá-rios, o que resultou em parcelamentos irregula-res. As demais glebas também foram parceladas, vendidas e ocupadas, resultando num loteamen-to com 354 famílias com infraestrutura básica de-ficiente, sérios problemas de arruamento, de dre-nagem, de meio ambiente com o esgotamento por fossas sendo lançado no córrego existente no bairro, devido a algumas casas estarem em Áreas de Proteção Permanente (APP).

Para a implementação da regularização fun-diária foram realizadas as seguintes ações: retirada

Jardim dos Coqueiros, São José dos Campos (SP)

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das famílias residentes em APP e a inclusão delas no programa habitacional do município, bem como a recuperação florestal da APP; implantação do sistema de drenagem, coleta e tratamen-to de esgoto. Melhoria do traçado das vias existentes (tentativa de adequar o leito carroçável) e implantação de asfalto; implantação de programas de educação ambiental e informação da população, desestimulando a compra e venda de lotes em loteamentos clandestinos, cons-cientização dos moradores dos lotes existentes quanto aos cuidados com a APP, áreas de risco e com o próprio bairro; e realização de um trabalho com toda a população por meio de um centro de referência ambiental e de um espaço virtual com todas as informações sobre o tema.

A partir da elaboração da lei que instituiu as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), o núcleo foi “congelado”. Foi executado um levantamento planialtimétrico cadastral, realizados mutirões para coleta da documentação dos moradores e reuniões com a comunidade para esclarecimentos sobre o processo de regularização.

Foram também realizadas vistorias com o Ministério Público e com o DEPRN, para se de-terminar a abrangência da APP, respeitando a legislação vigente, sem prejudicar a população carente do loteamento. Constatou-se a necessidade de remoção de 39 casas que estavam na APP e a recomposição da área.

Um dos grandes obstáculos enfrentados foi exatamente no processo de licenciamento ambiental. Observou-se vários obstáculos com relação à legislação ambiental em áreas urba-nas e à demanda social relacionada ao plano, além da inexperiência nesse tipo de ação por parte dos vários órgãos envolvidos, para promover a regularização fundiária em APP. Como resultado, espera-se que o plano beneficie 1.600 pessoas integrantes das 354 famílias do lo-cal, objeto desse trabalho.

Responsáveis pelas informações:Nome: Ricardo Pires Cunha e Pollyanna Drumond Entidade: Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de São José dos Campos – Divisão de Regularização FundiáriaCargo: ArquitetoEndereço: Rua José de Alencar, 123, Vila Santa Luzia, São José dos Campos-SP E-mail: [email protected] Telefone: (12) 3947-8202 / (12) 3947-8204

3.30 - Prefeitura Municipal de São Paulo (SP)

A Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (Sehab) é órgão responsável pela execução da política habitacional do município. Possui três coordenadorias: Habitação, Desenvolvimento Urbano e Administrativo-Financeiro. A Coordenadoria de Habitação é composta pela Superintendência de Habitação Popular (Habi), responsável pelo desenvol-vimento e implantação dos programas e dos projetos habitacionais voltados para a popu-lação moradora em habitação precária (favelas e cortiços), e pelo Departamento de Regu-larização do Parcelamento do Solo (Resolo).

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

O município de São Paulo conta com uma população de 10.886.5181 habitantes. Dentre esses, 1.311.112 vivem em 321.060 domicílios, distribuídos entre as 1.326 favelas situadas fora da área de proteção aos mananciais, cadastradas pela Habi.

Nas áreas de proteção aos mananciais, foram identificados e cadastrados 572 assen-tamentos – considerando-se favelas e loteamentos irregulares. Nessas localidades moram 587.478 habitantes2, em 151.026 domicílios.

Baseada nos preceitos do Plano Diretor Estratégico e nas diretrizes da política habitacio-nal, a Habi iniciou, em 2002, o Programa de Regularização Urbanística e Fundiária de assen-tamentos em áreas públicas municipais ocupadas por população de baixa renda, com o ob-jetivo geral de reconhecimento do direito à moradia e à cidade aos habitantes e à integração administrativa e jurídica dos assentamentos objeto de intervenção.

Desde o seu início, o programa já regularizou aproximadamente 4.000.000,00 m², distri-buídos em 503 perímetros, beneficiando cerca de 54 mil famílias, com a outorga de Termos de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) e Concessão de Uso Especial para Fins de Mora-dia (CUEM) e de Autorização para Fins Comerciais, Institucionais e de Prestação de Serviços (Acips), em duas etapas: 1ª fase (2002-2004) e 2ª fase (2005-2008).

Os números alcançados pelo Programa de Regularização Urbanística e Fundiária do município de São Paulo são bastante expressivos, considerando-se seu pioneirismo. Na pri-meira fase (2002 - 2004) foram regularizados 160 assentamentos, com a outorga de 41.449 termos administrativos de concessão e autorização de uso. Na segunda fase (2005-2008) regularizaram-se 108 assentamentos, com a outorga de 14.193 termos de concessão ou autorização. Do total dos 268 assentamentos, apenas 38 já se encontram matriculados no Cartório de Registro de Imóveis.

Não obstante o foco na regularização jurídica, o programa incorpora em seus objetivos e estratégias as dimensões urbanística e social dos assentamentos e das comunidades.

A dimensão urbanística está contemplada tanto como critério básico de seleção das áreas para regularização fundiária, quanto na elaboração de diagnósticos e diretrizes para a intervenção física nos assentamentos selecionados. A dimensão social está presente na defi-nição do universo de atuação, quando se considera o nível de organização comunitária dos assentamentos, e permeia todo o processo de implementação das ações, como condição sine qua non para o sucesso das atividades específicas e dos objetivos gerais do programa.

O programa desenvolve-se em sucessivas etapas, não linearmente organizadas, e utili-za -se dos instrumentos jurídico-urbanísticos definidos na MP nº 2220/01 (CUEM e Acips) e no decreto lei nº 271/67 (CDRU), além das Zonas Especiais de Interesse Social do tipo 1 – (ZEIS-1), demarcadas na lei nº 13.885/04 – Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras.

1 Contagem da População 2007. Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 – Acesso em 12/02/2009.2 Relatório analítico: Atualização de dados censitários de favelas e loteamentos irregulares do município de São Paulo. Fundação SE-ADE, maio/ 2008.

Fonte: http://www.habisp.inf.br/download/files/rel_Sehab_produto7.pdf – Acesso em 11/08/2009.

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As etapas são: 1) Seleção das áreas para regularização; 2) Elaboração dos Levantamentos Planialtimétricos Cadastrais (Lepac); 3) Desafetação das áreas por meio de decreto; 4) Identifi-cação dos imóveis, dos moradores e dos lotes; 5) Elaboração de diagnósticos físico-ambientais – plano de massas; 6) Coleta e análise da documentação para caracterização dos termos de concessão ou autorização; 7) Autorização, emissão, assinatura e outorga dos termos de con-cessão ou autorização; 8) Abertura das matrículas-mãe nos cartórios de registro de imóveis; 9) Abertura das matrículas dos lotes regularizados e registro dos termos de concessão outorga-dos; 10) Oficialização de logradouros e lançamento fiscal; 11) Gestão dos termos outorgados e das áreas regularizadas.

Os assentamentos integrantes do programa constituíram-se, em sua maioria, à época da implantação dos planos dos loteamentos aos quais são pertencentes. Esses locais, destinados no projeto a integrarem o sistema de áreas verdes do município, geralmente caracterizam-se como “sobras” ou trechos não aproveitáveis de terreno, de baixo valor comercial, tornando-se atrativos para as populações de baixa renda, sem condições de acesso às áreas urbanizadas.

Para integrar o programa, as áreas passam por um trabalho de seleção, iniciando-se com a análise da base fundiária, descartando-se aquelas cujo domínio não é público municipal ou figura desconhecida ou incerta. Depois, verifica-se o tempo de ocupação dos assentamen-tos, visando atender aos requisitos da MP nº 2220/01. São priorizadas as áreas inseridas em ZEIS, que apresentem melhores condições de habitabilidade, maior consolidação do ponto de vista urbanístico3 e com características favoráveis à regularização registrária isto porque o processo de regularização fundiária no município de São Paulo não está necessariamente atrelado à intervenção física nas áreas. Nesse sentido, uma parte dos núcleos titulados já foi incluída no Programa de Urbanização de Favelas, e a terceira fase do Programa possui como diretriz a intervenção em núcleos já urbanizados e integrados espacialmente à cidade.

Além disso, na segunda fase foi incluída no processo de regularizaçãoz a elaboração de planos de massas, a partir de diagnósticos físico-ambientais executados por consultores especializados, com o objetivo de definir as áreas a serem tituladas e as áreas reservadas para futura intervenção no interior dos assentamentos, e dar subsídio à caracterização dos termos de concessão ou declaração, garantindo a titulação definitiva somente àqueles lotes que se encontram em condição para tanto. Para isso, equipes especializadas são responsáveis pelo trabalho de análise e demarcação em planta dos principais problemas encontrados em cada assentamento, em muitos casos indicando alternativas para a sua solução. Essa abordagem não estava presente na primeira fase, em que os assentamentos foram titulados sem conside-rar as necessidades de futura intervenção urbanística nas áreas.

Ao longo da gestão 2005-2008, o Programa de Regularização Urbanística e Fundiária am-pliou seu espectro de atuação, criando um novo marco com a titulação de um assentamento

3 São desconsideradas as áreas que apresentam problemas cuja solução deve preceder a titulação ou terrenos residuais cuja destina-ção para moradia não é desejável, como alças de sistema viário, extensão de vãos sob pontes e viadutos, entre outros.

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localizado na bacia hidrográfica do reservatório Guarapiranga, integrante do Programa Manan-ciais. Esse programa possui como objetivo o saneamento das áreas de proteção aos mananciais integrantes da região metropolitana de São Paulo, por meio da intervenção em assentamentos informais nelas instalados. Na segunda metade da década de 1990, essas intervenções foram iniciadas em cerca de 80 assentamentos localizados naquela Bacia, cujas primeiras obras foram concluídas há mais de dez anos e que ora passaram a constituir objeto de regularização.

O referido assentamento, denominado Nova Guarapiranga I e II, constituído por duas áreas públicas municipais que perfazem um total de 22.011,19 m², tem sua ocupação da-tada de 1967, e foi objeto de intervenção pelo Programa Guarapiranga (hoje denominado Programa Mananciais) na década de 1990, com base em autorização especial expedida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, em 9 de junho de 19944, respaldada na deliberação do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) nº 01/1992, baseada em Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e em pareceres de outros órgãos estaduais5.

Hoje, a área Nova Guarapiranga I e II conta com 100% de abastecimento de água, esgo-tamento sanitário, rede elétrica domiciliar, iluminação pública, drenagem pluvial, pavimen-tação e coleta de lixo. Vistoria recente, por ocasião da regularização, demonstrou que as in-tervenções foram mantidas pela população. Neste assentamento, assim como nas outras 268 áreas regularizadas, o Programa de Regularização Urbanística e Fundiária pôde observar uma predominância do uso residencial em detrimento daqueles destinados a comércios, institui-ções e prestação de serviços. De acordo com os dados armazenados no Sistema de Informa-ções para Habitação (Habisp), dentre a população desta área foram identificadas 252 famílias, para as quais foram outorgados 227 termos administrativos de CUEM e de CDRU.

A regularização deste assentamento foi viabilizada por alterações introduzidas pela lei municipal nº 14.665/08, descritas mais à frente, bem como pela edição da lei estadual nº 12.233/06, que permite a regularização de Áreas de Recuperação Ambiental (ARA), isto é, ocorrências localizadas de usos ou ocupações que estejam comprometendo a quantidade e a qualidade das águas da Guarapiranga, desde que as intervenções de recuperação urbanística e ambiental tenham sido concluídas e estejam mantidas há pelo menos dois anos. No presen-te caso, não foi elaborado o Programa de Recuperação de Interesse Social (Pris) por se tratar de área urbanizada e dotada de infraestrutura.

Há que se considerar também que o referido diploma legal é omisso quanto à regula-rização fundiária de áreas de interesse social urbanizadas anteriormente a sua publicação. Supõe-se que o Pris nesses casos terá o caráter de prestar contas das intervenções já feitas e comprovar sua manutenção no tempo, demonstrando-se assim que os requisitos da lei foram

4 Esta Autorização versava sobre a execução de obras e intervenções de recuperação urbana previstas para serem realizadas exclusiva-mente nas favelas situadas na Bacia do Guarapiranga, no município de São Paulo.5 Os pareceres favoráveis às obras de urbanização e saneamento foram emitidos pelo Departamento de Avaliação de Impacto Ambien-tal (DAIA) nº 12/1992, pelo Departamento de Uso do Solo Metropolitano (DUSM) nº 02/1994 e pelo Coletivo Jovem (CJ) nº 281/1994.

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atendidos. Não obstante essa indefinição, a Prefeitura de São Paulo implementou a ação de titulação baseada no entendimento de que a outorga de concessão de uso especial trata do reconhecimento de direitos à população moradora em áreas públicas, desde que preenchi-dos os requisitos legais da MP nº 2220/01.

Quanto aos obstáculos enfrentados no âmbito do programa, destacam-se aqueles rela-cionados à base fundiária, desde a caracterização de domínio, até a abertura das matrículas-mãe nos cartórios de registro de imóveis. Trata-se da abertura de matrículas de áreas públicas caracterizadas originalmente como bens de uso comum, que em muitos casos possuem uma implantação divergente em relação ao que se encontra assentado nas serventias imobiliárias. Em função da escala de intervenção e da morosidade da abertura das matrículas-mãe, o pro-grama de regularização procede à titulação dos moradores antes de concluído esse procedi-mento, na maior parte dos casos.

Essa decisão de gestão baseia-se no entendimento de que a titulação é uma etapa im-portante para a garantia da segurança na posse da população beneficiária; não obstante, pode gerar retrabalhos, devidos à distância temporal entre a primeira outorga e a viabilização do registro dos termos, bem como a alterações perimétricas decorrentes de perícias nos pro-cedimentos judiciais.

Quanto às conquistas alcançadas pelo programa, além da ampliação já mencionada de seu espectro de atuação, do ponto de vista territorial, a segunda fase também avançou no aspecto normativo, com a aprovação da lei municipal nº 14.665/08 e a edição do seu decreto regulamentador nº 49.498/08, construídos com o objetivo de superar obstáculos detectados pela avaliação dos resultados obtidos na primeira fase.

A lei nº 14.665, de 08 de janeiro de 2008, alterou a lei nº 13.514/03 (primeira fase), in-troduzindo as seguintes inovações: a previsão de descrição e caracterização das áreas objeto de regularização por ato do Executivo; a autorização de processamento da desafetação de áreas pelo Executivo6, desde que elas estejam consolidadas, ocupadas anteriormente a 30 de junho de 2001 e demarcadas como ZEIS no PDE; a alteração da redação do artigo 3º da lei nº 13.514/03, incluindo a possibilidade da soma de posse nos casos de titulação individual; a retificação das áreas desafetadas pela lei nº 13.514/03, a partir dos perímetros definidos sobre base Lepac; e a possibilidade de indicar parcelas de terrenos ou lotes para construção de unidades habitacionais, nos casos de áreas regularizadas e incluídas no programa de Ur-banização de Favelas.

O decreto nº 49.498/08, além de regulamentar o programa de forma abrangente pela primeira vez, introduziu o dispositivo inédito de comprovação do prazo de posse por foto aérea7 e deu autonomia à Secretaria Municipal de Habitação para o processamento do pro-grama em sua completude.

6 Com base nesse dispositivo, foram editados quatro decretos, por meio dos quais foram desafetadas sete áreas, em benefício de cerca de 1.750 famílias.

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Outro exemplo da simplificação de procedimentos foi a alteração do decreto de oficia-lização de logradouros, tornando a planta de individualização dos lotes produzida pelo pro-grama documento hábil para tanto, desde que acompanhada de parecer técnico atestando sua viabilidade técnica, de forma a agilizar a legalização dos endereços das comunidades, possibilitando a sua inclusão no sistema municipal de gestão do território por meio do cadas-tramento fiscal e regularização da numeração das moradias.

Responsáveis pelas informações: Nome: Elisabete FrançaEntidade: Superintendência de Habitação PopularCargo: SuperintendenteEndereço: Rua São Bento, 405, sala 113-AEmail: [email protected]: (11) 3397-3850 / Fax: (11) 3397-3850

Nome: Ana Paula BrunoEntidade: Superintendência de Habitação PopularCargo: Coordenadora do Programa de Regularização Urbanística e FundiáriaEndereço: Rua São Bento, 405, sala 113-AEmail: [email protected]: (11) 3397-3829 - 3830 / Fax: (11) 3397-3829

Nome: Ellade ImparatoEntidade: Superintendência de Habitação PopularCargo: Jurista e urbanistaEndereço: Rua São Bento, 405, sala 113-AEmail: [email protected]: (11) 3397-3829 - 3830 / Fax: (11) 3397-3829

Nome: Natasha Maria BauttoEntidade: Superintendência de Habitação PopularCargo: Arquiteta e urbanistaEndereço: Rua São Bento, 405, sala 113-AE-mail: [email protected]: (11) 3397-3829 - 3830 / Fax: (11) 3397-3829

3.31 - Prefeitura Municipal de São Vicente (SP)

A cidade de São Vicente tem uma população de 317.289 habitantes. Desses, 108.720 são de baixa renda, num total de 27.180 famílias. A explosão demográfica da área México 70 ocorreu principalmente na década de 1970, quando milhares de famílias buscaram nas terras alagadas do mangue uma oportunidade de moradia. No local existe um alto índice de edi-ficações precárias, com o uso habitacional com gabarito de altura de um a dois pavimentos.

7A comprovação do prazo de posse por meio de foto aérea possibilitou a prevalência da outorga da CUEM sobre a CDRU. Na primeira fase foram outorgadas aproximadamente 40% de CUEM contra 60% de CDRU, enquanto na segunda, foram outorgados 93% de CUEM contra 7% de CDRU.

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Existem 162 unidades em alvenaria, 403 unidades em madeira, sendo que 267 são na tipolo-gia de palafitas e 42 unidades mistas – madeira e alvenaria.

O objetivo principal é a regularização urbanística e fundiária com a inclusão do assenta-mento à cidade legal. A viabilização da regularização fundiária consiste na outorga de títulos aos efetivos moradores bem como na implantação de infraestrutura completa e de equipa-mentos urbanos, a consolidação geotécnica, a construção de unidades habitacionais e o re-parcelamento do solo, com a promoção de melhorias habitacionais. O projeto urbanístico consiste em duas fases: consolidação urbana e reestruturação urbana.

Cumpre salientar que a proposta de intervenção na área busca também a melhoria da qualidade ambiental e a remoção de famílias que habitam palafitas em condições de risco e elevada precariedade.

As estratégias usadas para a regularização da área foram: criação da Comissão Municipal de Urbanização e Legalização (Comul); levantamento topográfico; cadastro socioeconômico; estudo de viabilidade urbanística; pesquisa de propriedade; aprovação do projeto pela co-munidade envolvida; e registro do parcelamento.

Os principais problemas enfrentados foram: burocracia no processo de aforamento da área na Secretaria de Patrimônio da União (SPU); no início, a resistência por parte da comuni-dade pelo desconhecimento do projeto; registro da área no Cartório de Registro de Imóveis; anuência/licenciamento nos órgãos ambientais.

A regularização fundiária deu-se nas seguintes etapas: cessão sob regime de aforamen-to das áreas ao município, conforme convênio de cooperação técnica com a União, visando ao desenvolvimento de ações conjuntas destinadas a qualificar e acelerar o processo de regu-larização fundiária no município.

Ainda nesse intento, em 2005, o município firmou convênio com a Associação de Notá-rios e Registradores do Brasil (Anoreg). A municipalidade definiu a transferência do domínio útil aos beneficiários finais, pela cessão de direitos enfitêuticos não onerosos, como forma de transferência de domínio real às famílias beneficiárias do projeto integrado. Será regida por lei municipal própria, específica, e por instrumentos contratuais a serem firmados com as famílias.

Os instrumentos de concessão serão devidamente averbados nos registros notariais públicos, concomitante às assinaturas dos termos particulares, com as formalidades previstas na escrituração pública, ou seja, descrição minuciosa da edificação e terreno, caracterizações e confrontações.

Ações existentes na área denominada México 70 - Avenida Brasil foram realizadas, tais como os levantamentos planialtimétricos, a selagem das casas, cadastramento socioeconô-mico das famílias e várias reuniões com a população moradora. Foram escolhidos represen-tantes da comunidade, que participaram ativamente de todas as discussões referentes à pro-posta de intervenção.

A área de reassentamento está localizada em imóvel da União na região denominada Área de Terrenos de Marinha e Acrescidos do Parque Bitaru, situada entre a avenida Capitão

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Palafitas, São Vicente (SP) Fotos: Acervo Seurb

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Luiz Pimenta e a rua Japão, no bairro Parque Bitaru, limitando-se à oeste com a rodovia dos Imigrantes, ao sul pela ponte do Mar Pequeno, ao leste com campo do Guamium e ao norte com o parque Bitaru, onde serão construídas 504 novas unidades habitacionais, geminadas e sobrepostas. Serão 466 unidades residenciais de 40,95 m² e 38 unidades mistas de 49,35 m².

São propostas ações de implantação de rede de distribuição de água potável em todo o conjunto habitacional; implantação de rede coletora de esgoto com ligações domiciliares para todas as unidades habitacionais; implementação de iluminação residencial e pública; implementação de equipamentos sociais, possibilitando o uso sustentável da área além da integração das propostas.

Como medida complementar, também será intensificada a arborização nos passeios dos logradouros, tratamento paisagístico, prevendo recuperar o meio ambiente degradado e exe-cução de microdrenagem com guias e sarjetas e rede coletora. O orçamento da intervenção e composição do investimento ficará em R$15.189.382,22, sendo R$ 5.730.907,22 como contra-partida e o valor do repasse do governo federal de R$ 9.458.475,00.

A participação da comunidade no processo estabeleceu-se pela associação de mora-dores, que se reuniu recorrentemente com a equipe técnica do projeto, participando do cro-nograma e prestando informações aos demais moradores. Esses encontros aconteceram nas escolas locais, quando foram eleitos alguns representantes da comunidade, uma forma que possibilitou a participação efetiva no projeto. Como já é de to, a regularização fundiária tam-bém envolve inclusão social, visto que moradores de assentamentos precários em área de remoção precisam ser preparados para uma nova realidade socioeconômica.

Nesse contexto, existe na região uma rede de serviços socioassistenciais, formada por associações comunitárias e religiosas que oferecem cursos semiprofissionalizantes e ativida-des manuais para jovens e adultos.

Com os levantamentos e o diagnóstico efetuados, foi possível o aforamento da área ao município. Assim, iniciou-se o processo de abertura de Registro Individual Patrimonial (RIP) por lote e emissão de Certidão Autorizativa de Transferência (CAT) pela Gerência Regional do Patrimônio da União de São Paulo (GRPU/SP). Com esses documentos, a municipalidade passou a outorgar aos moradores título de cessão de direitos enfitêuticos.

Importante destacar que os referidos títulos somente serão encaminhados ao cartório de registro de imóveis após decisão do juiz corregedor bem como da senhora curadora quan-to ao pedido de descrição e registro que possibilitará o cadastramento da área no cartório de registro de imóveis em nome da União. Foram entregues 320 títulos aos moradores e 108 processos de regularização foram iniciados.

Trata-se de uma experiência concreta do município de São Vicente em regularização fundiária, remoção e remanejamento das famílias de assentamento precário. Até o momento da consolidação do projeto e início das ações, havia muitas dúvidas, muitas divergências de entendimento com os órgãos responsáveis pela regulamentação do processo. Com isso, o

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projeto foi alterado muitas vezes até alcançar a forma que apresentamos hoje. Concluiu-se que essa experiência contribuiu para dar mais agilidade às novas ações de regularização em-preendidas pelo município.

Responsável pelas informações:Nome: Alfredo Martins AlvesEntidade: Secretaria da HabitaçãoCargo: SecretárioEndereço: Rua José Bonifácio, 404, centro, São Vicente-SPEmail: [email protected]: (13) 3569-2215 / Fax: (13) 3569-2215

3.32 - Prefeitura Municipal de Sumaré (SP)

O processo de urbanização do município de Sumaré ocasionou a ocupação de terras com pouca valorização por famílias de baixa renda, em sua maioria, áreas com destinação pública. O assentamento denominado Jardim Irmã Davina foi implantado numa área de 118.340 m², em gleba originariamente doada à Ordem Regular dos Missionários Capuchinhos, as quais foram posteriormente desapropriadas pelo município, em 1999, para fins de regularização fundiária. Foi regularmente matriculada e apresenta aspectos que podem fomentar discus-sões por ela estar inserida na bacia do ribeirão Quilombo, apresentando duas nascentes e pequeno córrego. Além disso, as Áreas de Preservação Permanente (APP) encontram-se ocu-padas por moradias.

O projeto de regularização prevê a manutenção de parte dessas moradias, localizadas próximas a uma das nascentes, propondo-se para tanto ações reparadoras, compensatórias e mitigadoras, dentre as quais estão a retirada das construções edificadas sobre a faixa de 30 metros junto aos córregos e o reassentamento das famílias em lotes urbanizados desa-propriados para este fim.

Assentamento Jardim Irmã Davina, Sumaré (SP) Foto: Marilda Gutierrez/Guilherme

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A APP desocupada será revegetada; a rede de coleta e emissário de esgotos executa-dos evitarão o despejo de efluentes sem tratamento no córrego. Foram realizadas reuniões com a comunidade envolvida, sendo que os projetos urbanísticos estão sob análise da Caixa Econômica Federal.

Em razão dos padrões urbanísticos do assentamento e da população moradora, em situação de vulnerabilidade social, foi instituída a Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) no seu perímetro.

As ações de regularização previstas contemplam ações urbanísticas, por meio da in-fraestrutura; regularização jurídica, pela aprovação do parcelamento, seguidos da titulação dos ocupantes com instrumentos de Concessão do Direito Real de Uso (CDRU); e da já refe-rida regularização ambiental.

Esse projeto está sendo desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Sumaré e conta com os recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), no financiamento do projeto, e a Caixa Econômica Federal, como órgão gestor. Serão beneficiadas 317 famílias dentro do universo de 1.260 habitantes.

Responsáveis pelas informações:Nome: Jesuel Pereira e Marilda GutierrezEntidade: Secretaria Municipal de Habitação, Planejamento, Desenvolvimento e Gestão Estratégica Cargo: Secretário municipal Endereço: Avenida Brasil, 1.111, Nova Veneza, Sumaré-SPE-mail: [email protected] Telefone: (19) 3854-8020

3.33 - Prefeitura Municipal de Suzano (SP)

O município de Suzano está localizado na região metropolitana de São Paulo e tem uma população de 296.604 habitantes (Seade 2009). Mesmo apresentando níveis elevados de ri-queza, o município não apresenta bons indicadores sociais. Isso se justifica, pelo menos em parte, porque se reproduziu aquele padrão de urbanização verificado nas regiões metropoli-tanas do país nos últimos 30 anos. Observou-se o crescimento populacional na área passível de urbanização da cidade – que representa apenas 20% do território, pois os 80% restantes são gravados com algum instrumento de preservação ambiental – desvinculado de ações efetivas de planejamento urbano e controle efetivo do uso do solo urbano.

No processo de ocupação do território, prevaleceu a “reserva” das áreas nobres para a po-pulação de melhor renda e a destinação zdas áreas impróprias, como as margens de córregos, áreas alagadiças, áreas verdes e institucionais dos loteamentos, para a população de baixa renda.

Nesse cenário, nas áreas de risco, prevalece o uso habitacional unifamiliar com baixa densidade populacional, com habitações precárias e desprovidas dos serviços públicos bási-cos, localizadas em áreas públicas ou abandonadas por eventuais proprietários.

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A administração municipal, a partir de 2005, mudou a concepção sobre a forma de enfrentar essas contradições. A criação da Secretaria Municipal de Política Urbana buscou integrar as ações de habitação, planejamento urbano, mobilidade e saneamento ambien-tal, na perspectiva de produção de uma nova política pública, de caráter fortemente inclu-dente e democrático.

Uma das primeiras ações foi a elaboração do Plano Municipal de Erradicação de Áreas de Risco, que identificou cerca de 92 assentamentos informais, que abrigavam 1.850 famílias. Esse número representa 2,7% da população da cidade residindo em condições que implica-vam, em maior ou menor grau, risco à segurança e à salubridade das famílias. Dessas famílias, 650 eram habitantes das áreas consideradas de risco máximo, necessitando de atendimento imediato. Esse grupo, sujeito a risco iminente, foi o objeto da ação inicial do programa.

Assim, foi desenvolvido o Programa Melhor Agora, que se estrutura na garantia do direito à moradia, nos termos da Constituição Federal, e do acesso à terra urbanizada, conforme pre-coniza o Estatuto da Cidade. É constituído por um conjunto de ações de regularização fundiária sustentável, de erradicação de áreas de risco e da provisão habitacional de interesse social.

A experiência teve início no ano de 2006, a partir da realização de contratos de repasse de recursos com o Ministério das Cidades, que possibilitaram a realização dos planos munici-pais de Erradicação de Áreas de Risco e de Regularização Fundiária Sustentável.

Especificamente, a ação de erradicação de áreas de risco e provisão habitacional preocu-pou-se em enfrentar a situação dramática daqueles que residiam nas margens dos córregos, nas áreas alagadiças e sujeitas aos deslizamentos. Para tanto, indicou alternativa de moradia digna na área urbanizada da cidade e permitiu a requalificação ambiental das áreas anterior-mente ocupadas irregularmente.

Para cumprir o objetivo de erradicação das áreas de risco iminente, o programa desdo-brou-se em ações específicas, a saber: elaboração do Plano de Erradicação de Áreas de Risco; cadastramento socioeconômico das famílias e mobilização comunitária; transferência das fa-mílias para a área urbanizada da cidade.

A elaboração do Plano de Erradicação de Áreas de Risco deve ser destacada, em razão da metodologia, que buscou conhecer a realidade em torno da população diretamente envolvida. O conhecimento técnico da equipe de geólogos, geógrafos, arquitetos e dos servidores da administração somou-se ao conhecimento das lideranças comunitárias dos locais estudados.

A ação enfrentou forte resistência político-parlamentar, na medida em que desestru-turou antigos “redutos/feudos eleitorais” e relações de clientelismo e de paternalismo. Além disso, também enfrentou a dificuldade de propor a remoção que gera a quebra de víncu-los sociais, familiares, econômicos e culturais. Foi necessário estabelecer uma estratégia de convencimento, diálogo e logística que reduzisse ao máximo o impacto social da medida e aumentasse a eficiência da ação.

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Como ações complementares ao processo de erradicação das áreas de risco, foram im-plementados os instrumentos de regularização fundiária, previstos no Estatuto da Cidade, e a revisão do plano diretor.

No caso de áreas que não apresentavam risco iminente foi realizada a titulação. O instru-mento utilizado foi o da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM) / MP 2.220/2001 e decreto municipal nº 7512/06, beneficiando até o momento cerca de 1.500 famílias.

No caso da urbanização, o município, com recursos próprios, executou a urbanização do assentamento informal denominado Vila Real, beneficiando diretamente, cerca de 60 famílias.

No caso do reassentamento, foram atendidas, numa primeira fase, 120 famílias – de um total de 580 – para apartamentos no próprio município, no âmbito de convênio com a Com-panhia Estadual de Habitação (CDHU).

A participação da comunidade procedeu-se pela formação de comissões de morado-res, quando ausente a representação por associação de moradores. Em cada área atendida foi formado um grupo de representantes que acompanhou e influiu no processo desde as primeiras reuniões de elaboração de diagnóstico até a conclusão do processo, seja pela transferência para nova moradia, seja pela concessão dos títulos de regularização. Os ca-nais de participação foram as reuniões locais, as audiências públicas e o Conselho Munici-pal de Habitação (criado em 2007).

Os resultados obtidos foram a CUEM para 1.546 famílias e a urbanização de assentamen-tos precários nos seguintes locais: Vila Real - 60 famílias (obra concluída); Jardim Graziela - 40 famílias (obra concluída); Ramal São José - 130 famílias (obras em andamento).

Responsável pelas informações:Nome: Miguel Reis AfonsoEntidade: Prefeitura Municipal de SuzanoCargo: Secretário Municipal de Política UrbanaEndereço: Rua Baruel, 430, 2º andar, Suzano-SPE-mail: [email protected]: (11) 4745-2123 / Fax: (11) 4745-2252

3.34 - Prefeitura Municipal de Taboão da Serra (SP)

A Prefeitura de Taboão da Serra, a partir de 2005, priorizou os trabalhos de regularização fundiária na cidade, como uma das ferramentas fundamentais da luta por uma cidade mais justa.

Taboão é como a grande maioria das cidades brasileiras. Elas se constituíram e se consolidaram reproduzindo desigualdades sociais e precariedades ambientais. Os pro-blemas de qualidade de vida, de economias urbanas atingem praticamente todos os cidadãos e administrações públicas. Além disso, a grande maioria da população das ci-dades, por conta de seus baixos salários e pela histórica falta de políticas públicas que

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enfrentassem esses problemas, não conseguem viver em moradias dignas, não tem se-gurança na posse e nem acesso aos benefícios, oportunidades e serviços que a vida na cidade traz aos munícipes.

Mas os problemas urbanos foram também indutores de movimentos sociais, estudos e propostas que delinearam novos caminhos. A partir da Constituinte de 1988, novas legisla-ções, novos arranjos institucionais, experiências importantes e recursos significativos fazem com que hoje estejamos vivendo um novo momento da luta pela reforma urbana.

Nesse quadro, a situação de Taboão, sem legislação adequada, sem recursos próprios, com equipe técnica reduzida e com uma cultura política na cidade que não colocava a regu-larização como pauta prioritária, exigiu muitas e necessárias ações em diversos campos para enfrentar os problemas acumulados. Mais que projetos pilotos exemplares, a universalização do atendimento deveria ser buscada.

Taboão tem 22 km², é a segunda maior densidade populacional do Estado de São Paulo, e 100% urbana. Moram nos assentamentos irregulares, com diversos níveis de precariedade de infraestrutura, 20 mil famílias, que correspondem a 36% dos domicílios da cidade, em 20% do território bruto do município. São 61 assentamentos em áreas públicas e 17 em particulares.

O trabalho de regularização faz parte da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habi-tação, responsável pelo desenvolvimento urbano, meio ambiente e habitação na cidade, que, em 2005, estruturou e implantou uma coordenação específica para as ações de regularização.

Logo no inicio de 2005, deu-se prioridade à elaboração do Plano Diretor Participativo, com consultoria de professores da FAU-USP com um amplo processo de participação. Seg-mentos e setores da cidade participaram de atividades de formação, diagnóstico e elabora-ção de propostas em eventos mais amplos, como assembleias regionais e setoriais e com o grupo de acompanhamento formado por representantes dos grupos maiores.

Após encaminhamento para a Câmara Municipal, nova rodada de debates foi realizada. Aprovado em 2006, o Plano Diretor Participativo instituiu instrumentos autoaplicativos para dar transparência e agilizar a regularização. Foram delimitadas as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) de tipo 1 para área ocupada, e de tipo 2 para área vazia, bem como instâncias de participação e discussão como o Conselho de Desenvolvimento Urbano e a Comissão de Análise de Programas de Habitação de Interesse Social (Caphis).

A prefeitura buscou também fortalecer a comunicação com os moradores das áreas a ser regularizadas, com o Cartório de Registro de Imóveis da região, com as demais secretarias municipais, e também com o governo estadual e federal, para agregar esforços – recursos que permitissem além da regularização jurídica, a regularização urbanística.

A ação do Ministério Público na cidade, particularmente a Promotoria de Justiça, Meio Ambiente e Urbanismo teve um papel fundamental para que o processo de regularização avançasse significativamente no município. E o exemplo do caso identificado como “Osvaldi-nho” é emblemático.

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Em maio de 2004, a área particular situada na avenida Cid Nelson Jordano X rua Jorge Rodrigues Pasqualine, com 184.751,38 m², foi ocupada por cerca de 350 famílias. A ação de reintegração de posse teve medida liminar concedida aos proprietários após audiência de justificação. Conforme relato dos moradores, a ocupação não havia sido organizada no início, e, no decorrer do tempo, aumentou a disputa pela liderança e controle da área, assim como a presença de grileiros, pessoas ligadas ao tráfico de drogas etc. A ocupação predominante era residencial, havendo também uso comercial e religioso pontuais.

Em 2005, a prefeitura realizou o levantamento físico e social da área e procurou o pro-prietário para evitar a reintegração de posse, propondo a regularização do terreno. Nessa época, também foi instaurado no Ministério Público o procedimento preparatório de inqué-rito civil nº 05, e, em 2006, foi assinado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os proprietários, a prefeitura e o Ministério Público, estabelecendo as ações para regularizar o empreendimento e para evitar o cumprimento da liminar de reintegração de posse. Um dos compromissos do proprietário foi a elaboração dos projetos de regularização, enquanto a prefeitura assumiu o trabalho social, a busca de financiamento, a assessoria técnica para as edificações, além do trabalho de fiscalização, que já é sua atribuição.

Em 2006, foi feita selagem e cadastro socioeconômico dos moradores, diversas e cons-tantes assembleias e reuniões com moradores e outros órgãos públicos afetos ao projeto e a área foi então definida como ZEIS 1 no plano diretor.

Posteriormente, foram firmados TACs individuais com cada ocupante, com compromis-so de enquadramento nos critérios sociais da política de habitação (renda até três salários mínimos, não possuir outro imóvel ou ter sido atendido em outro programa de moradia de-finitiva, e ser morador da cidade há no mínimo um ano), no projeto urbanístico (adequado da situação existente) e uso prioritário para habitação em todos os imóveis e não vender, emprestar ou alugar ou ceder o imóvel até o final do processo de regularização. Uma co-missão de representantes eleita em assembleia realizada pela prefeitura e Ministério Público acompanha de maneira mais próxima o processo de regularização, com reuniões quinzenais abertas a todos moradores.

A pesquisa socioeconômica comprovou que a grande maioria das famílias é de baixa renda (até três salários mínimos), predomina o desemprego estrutural, mulheres como chefes de família, baixa escolaridade e falta qualificação profissional.

O trabalho intersecretarial, com atividades da cultura, saúde, educação, social e obras, foi importante para ajudar a construir novos vínculos com as diversas políticas públicas exis-tentes na cidade e integrar a cidade na região.

O projeto foi encaminhado ao Grupo de Análise de Projetos Habitacionais (Graprohab), órgão de âmbito estadual, que oficializou a dispensa de manifestação por se tratar de re-gularização. A seguir, foi aprovado na Caphis, emitida a certidão de diretrizes e publicado o decreto do plano de urbanização, nos termos do plano diretor municipal. As dívidas de IPTU,

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referente ao período da ocupação, foram assumidas pelos moradores, para concluir a regu-larização, após definição em assembleia com cerca de 2 mil participantes. O Alvará de Apro-vação de Regularização foi encaminhado ao juiz corregedor em 26/06/09 no Pedido de Pro-vidências - autos nº. 79/09 para ser levado a registro no Cartório de Registros de Imóveis de Itapecerica da Serra. Está na fase final para o registro. O projeto aprovado prevê a recuperação da Área de Proteção Permanente (APP) e de todas as áreas verdes do conjunto, a implantação de equipamentos públicos, além da infraestrutura completa.

O Ministério Público chamou as concessionárias de água/esgoto (Sabesp) e de luz (Eletropaulo), que se comprometeram com suas partes. Também o governo federal, por intermédio da Caixa Econômica, e o governo estadual, por meio da Secretaria de Habitação, foram chamados e estão aportando recursos para a compra da terra, urbanização e edifica-ções, que serão financiadas aos moradores. O retorno será de acordo com a possibilidade financeira de cada um. Está sendo necessário agregar diversas fontes de recursos para fi-nanciar todo o processo.

O congelamento da área não foi alcançado plenamente. A fiscalização municipal dire-cionada a evitar novas ocupações é extremamente difícil, com ameaças, inclusive com armas aos funcionários. Também a demora para concluir o processo foi um dos maiores problemas. Serão consolidadas 1.426 famílias.

Outro projeto já está sendo viabilizado, em outra área, para as famílias que serão re-movidas, pois atualmente já são cerca de 1.700 que estão no local. Todas foram analisadas e está sendo verificado o enquadramento na política habitacional da cidade, para confir-mar o atendimento.

Como resultado alcançado, é importante ressaltar a participação dos representantes lo-cais, permitindo melhor compreensão do processo e ação mais direta nas decisões. Estimular a participação da população em outros espaços de vivência e troca de saberes ajuda a quali-ficar e direcionar a política pública.

Outra questão a ser refletida é a possibilidade de enfrentamento às situações de vulne-rabilidade social a qual estão inseridas essas famílias, utilizando como instrumento a garantia da posse e regulamentação da situação de moradia, com apoio do Ministério Público. Além disso, articular os diversos níveis de governo, municipal, estadual e federal para garantir re-cursos e procedimentos necessários.

A parceria ocorreu também com o proprietário e com as famílias que ocuparam o imó-vel, cada um assumindo uma parte de todo o trabalho. O que deve ser melhor discutido é sobre “o poder paralelo” ao poder público que se forma nessas situações, face à ausência his-tórica do Estado, ou convivência pactuada por interesses clientelistas, demonstrando limites de intervenção e alternativas de enfrentamento.

Até janeiro de 2009, já haviam sido tituladas mais 2.500 famílias em áreas públicas e em processo final para registro no cartório. Até o final do ano, a meta será beneficiar mais 3 mil.

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As famílias irão receber o documento comprobatório do registro, que ficou sob responsabili-dade da prefeitura.

As áreas particulares, com processos no Ministério Público, estão em fase conclusiva e estarão sendo encaminhadas nos próximos meses, beneficiando mais de 5 mil moradias.

Apesar da estrutura administrativa ainda ser pequena face à dimensão do problema, a vontade política, aliada à capacidade técnica e ao esforço de toda a prefeitura, a postura de-cisiva do Ministério Público e o envolvimento e fortalecimento dos moradores que realmente precisavam de moradia e abraçaram o projeto de regularização, tem conseguido concretizar avanços significativos na regularização da cidade, contribuindo para a construção de uma cidade mais justa e mais bonita.

Responsável pelas informações:Nome: Marcela Barbato Hoenen e outrosEntidade: Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação.Cargo: Supervisora de trabalho socialEndereço: Praça Miguel Ortega, 286, 2º andar, Parque Assunção, Taboão da Serra-SPE-mail: [email protected] Telefone: 4788-5462 / Fax: 4788-5330

3.35 - Prefeitura Municipal de Ubatuba (SP)

A ação de regularização fundiária do parque Guarani, localizado na região central em Ubatuba, São Paulo, foi desenvolvida pelo Poder Executivo Municipal, em parceria com o Mi-nistério Público, Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), Com-panhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), Cartório de Registro de Imóveis, Associação de Bairro, Sabesp (empresa de saneamento do governo do Estado) e Elektro (dis-tribuidora de energia elétrica).

Ubatuba está inserida na mata atlântica, tendo mais de 80% de seu território tombado como parque estadual. A regularização nessa localidade tem o importante objetivo de reor-ganizar a ocupação do solo e remanejar famílias que ocupam Áreas de Preservação Perma-nentes (APP) e Unidades de Conservação (UC).

Esse projeto piloto refere-se à área verde de quatro loteamentos, inseridas em área mu-nicipal, com 63.000 m², ocupada por 330 famílias de baixa renda. A ocupação, que possui cerca de 20% de sua área em APP, deu-se durante as últimas décadas, com construções pre-dominantemente de alvenaria para fins de moradia, além de alguns barracos de madeira. As características do local, inicialmente de baixa densidade construtiva, terreno plano e a proxi-midade da região central da cidade facilitaram a ocupação.

O início dos trabalhos foi marcado por reunião com a participação dos diversos atores envolvidos, onde se manifestou o desejo de regularizar as áreas irregulares e definiram-se

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ações e a forma do desenvolvimento dos trabalhos. Minimizaram-se assim as margens de erro ou indeferimento de pedidos de aprovações e registros futuros. A partir de então, foi funda-mental a participação da associação do bairro, que promoveu reuniões regulares com toda a comunidade. Essas reuniões definiram o que a comunidade queria para o bairro, influencian-do nas decisões do legislativo local.

Como o objetivo principal da ação foi conter o crescimento, desocupar a APP e a área de segurança do aeroporto e ainda dar condições dignas de moradia às famílias, a área foi “congelada” por lei municipal. Essa ação foi inicialmente contestada, mas, posteriormente, depois de diversos esclarecimentos e resultados apresentados, a situação reverteu-se e a população passou a ser a principal aliada na fiscalização do local, o que foi fundamental para o sucesso do projeto.

Por se tratar de área verde de quatro loteamentos antigos, que tinham como limite um rio, e como registro as transcrições dos loteamentos, foi necessário levantamento da poligo-nal das áreas que haviam se alterado pela retificação natural do rio. Foi aprovada lei de desa-fetação da área, transformando-a em bem dominial, concluindo com o registro em cartório, gerando uma única matrícula.

Na sequência, foi publicada uma segunda lei transformando a área em Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), descritos detalhadamente todos os lotes e o quadro demonstrativo de áreas. Posteriormente, foram elaborados projetos definindo todas as casas a ser removidas, áreas de lazer, local para construção das novas moradias, recuperação de APP, arborização e

Foto: Adriane MorattiUbatuba (SP)

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esgotamento sanitário. Assim, foi possível a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público e a emissão da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) para as famílias que irão permanecer no local.

Apesar de o bairro possuir em seu entorno escolas, centro de saúde, creche e outros ser-viços públicos, foram realizadas algumas intervenções, como implantação de abastecimento de água tratada e distribuição de energia elétrica individualizada. Há previsão de entrega do primeiro bloco de apartamentos em 2009, para remoção das famílias que moram na beira do rio. Essas novas habitações foram construídas com recursos próprios e do Programa de Ace-leração do Crescimento (PAC), do governo federal. Além da construção de playground, estão previstas também ações como a recuperação da APP, arborização, rede coletora de esgoto e escoamento de águas pluviais.

Os resultados do início de 2009 apontam para 20 núcleos “congelados” e em processo de regularização. São aproximadamente 270 CDRUs concedidas na área referente ao Projeto Piloto do Parque Guarani, que receberam autorização do juiz corregedor para o registro no Cartório de Registro de Imóveis da cidade, após parecer favorável do cartório, e TAC devida-mente homologado pelo Conselho Superior do Ministério Público.

Responsável pelas informações:Nome: Luis Claudinei SalgadoEntidade: Prefeitura Municipal de UbatubaCargo: Secretário de Cidadania e Desenvolvimento SocialEndereço: Rua Paraná, 375, Ubatuba-SP E-mail: [email protected]: (12) 3832-6038

3.36 - Prefeitura Municipal de Varjão (GO)

O loteamento objeto da regularização foi criado há mais de 40 anos. O proprietário, um grande empreendedor da cidade, vendeu e doou para famílias de baixa renda cerca de 395 lotes. No entanto, os lotes não foram devidamente escriturados e registrados e, em consequência, os atuais proprietários detêm somente recibo de compra e venda, e, em muitos casos, nem esse documento.

O programa municipal de regularização fundiária identificou o problema e aprovou e re-gistrou o loteamento, tendo a prefeitura patrocinado o apoio jurídico para as famílias ingressa-rem com ações de usucapião, a fim de que pudessem exercer plenamente o direito à moradia, buscando assim a efetividade do pleno gozo da função social da propriedade. Salienta-se que o programa vem sendo bem sucedido, uma vez que está sendo reconhecido o direito suscitado, com o devido amparo judicial, o que alavanca o número de famílias interessadas no projeto.

Até o ano de 2006 (quando se deu o início do projeto para regularização fundiária), não havia uma família sequer que detivesse escritura definitiva de seu lote, prevalecendo os di-

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reitos de posse mediante recibo precário e manuscrito. Destaca-se que todos os possuidores exercem a posse mansa pacífica e sem oposição.

As etapas desenvolvidas ao longo do processo foram as seguintes: identificação do pro-blema por meio de pesquisa com os moradores e histórico da cidade; posteriormente inclu-são da área como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), por meio de decreto, após devido estudo; aprovação do loteamento; cadastro das famílias; proposição das ações de usucapião; parceria com o Estado de Goiás e União, que apoiaram as ações propostas; discussão com o Poder Judiciário local e Ministério Público, que desempenharam papel importante com rela-ção à importância social das ações protocolizadas; e aprovação de lei concedendo isenções de impostos sobre transmissão de imóvel a favor de quem teve a decisão favorável do Poder Judiciário, uma vez que as famílias não detinham condições de arcar com tais despesas.

Salienta-se que o loteamento já possui infraestrutura básica, como rede de energia, as-falto, água e outros. Os resultados alcançados até o momento são cerca de 150 ações de usu-capião já propostas (com recursos da prefeitura municipal) e cerca de 70 sentenças proferidas e transitadas em julgado, favoravelmente aos requerentes. Com a lei que concedeu isenção no recolhimento do Imposto Sobre Transmissão de Imóveis (ISTI), poderão os requerentes efetivar os registros de imóveis sem custos.

Responsáveis pelas informações:Nome: Eustáquio Ricardo de Souza, Sebastião Ferreira Leite e Sebastião Hélcio P. Alves FilhoEntidade: Prefeitura Municipal de Varjão Cargo: Prefeito e assessores jurídicosEndereço: Praça Moisés Franco, 25, centro, Varjão-GO e Rua 10, 238, salas 801/802, setor Oeste, Goiânia-GOE-mail: pm.varjaã[email protected] e [email protected]: (62) 3554-1656 e (62) 3215-6004 / Fax: (62) 3215-6004

3.37 - Prefeitura Municipal de Vitória (ES)

A área objeto da intervenção, bairro Nova Palestina, está inserida na região da grande São Pedro, norte/noroeste da ilha de Vitória, estando a uma distância de 4 km do centro da cidade. Foi definida como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e tem parte de seu território em Zona de Proteção Ambiental, definida no Plano Diretor Municipal de 2006.

O processo de ocupação irregular na grande São Pedro ocorreu a partir da segunda me-tade da década de 1970, com os bairros sendo formados ao longo dos anos pelos aterros executados em extensas áreas de mangue, e onde o município mantinha depósito de lixo, constituindo, dessa forma, opção de moradia barata. A ocupação deu-se em grande parte devido à conclusão das obras dos grandes projetos industriais, notadamente a Companhia Siderúrgica Tubarão (CST), que demandaram um grande contingente de mão de obra, que, ao término das obras, optou por permanecer em Vitória.

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

O Projeto Terreno Legal considera os aspectos sociais, urbanísticos, ambientais, eco-nômicos e jurídicos. A comunidade participa de todo o processo, por meio de reuniões com técnicos do município, com líderes comunitários e associações visando à capacita-ção dessas lideranças quanto à compreensão das atividades de regularização fundiária e participação efetiva nos trabalhos propostos.

Dentre os projetos da Prefeitura de Vitória para o bairro, que já possui um estu-do urbanístico e bom nível de urbanização, como pavimentação, saneamento básico e equipamentos, estão o Projeto Orla, que contempla a reforma e urbanização da orla do manguezal, e o Projeto Reconstrução, que tem como objetivo a substituição de casas de madeira por casas de alvenaria.

As ações específicas de regularização fundiária utilizadas no assentamento, fruto da articulação com a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), lideranças comunitárias, cartórios e Universidade, envolvem levantamento topográfico da área; cadastramento socioeconômico; elaboração da planta de parcelamento do solo; revisão dos cadastros imobiliários; georreferenciamento das informações; aprovação e registro da planta de parcelamento do solo e do memorial descritivo; solicitação de autorização de transferên-cia de aforamento à Gerência do Patrimônio da União; identificação de titulações gratui-tas ou onerosas; pagamento de taxas cartorárias, quando necessário; e instrução e ajui-zamento de ações judiciais ou outras medidas judiciais ou extrajudiciais necessárias para solucionar a situação civil dos beneficiados, etapa esta desenvolvida em parceria com a Faculdade de Direito de Vitória.

A ação resultou em 369 escrituras entregues, 471 processos com documentação completa, 101 processos aguardando a certidão de aforamento e 18 processos arquiva-dos, dada a constatação de uso não residencial ou área acima de 800 m² e 15 cadastros em branco. Existem ainda 319 processos aguardando a documentação dos moradores e outros 124 aguardando pagamento de taxas cartorárias.

Responsável pelas informações:Nome: Flavia Giacomin Pimentel de Almeida Entidade: Prefeitura Municipal de Vitória Cargo: Gerente de Regularização FundiáriaEndereço: Rua Vitório Nunes da Mota, 220, sala 713, Enseada do Suá, Vitória-ES E-mail: [email protected] Telefone: (27) 3382-6490

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

3.38 - Prefeitura Municipal de Volta Redonda (RJ)

O município de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, possui uma população de aproximadamente 270 mil habitantes. Desses, 45 mil são residentes em áreas informais. O município elaborou leis municipais em conjunto com o Movimento de Posseiros Urbanos, que dispunha sobre uma Política Municipal de Desfavelamento, em que estava incluída a criação do Fundo Comunitário de Volta Redonda, cujo objetivo é promover o desenvol-vimento social do município. Desse modo, foram previstos os programas de urbanização e regularização fundiária. O Fundo Comunitário de Volta Redonda, popularmente conhe-cido como Furban, foi fruto da organização e da luta dos posseiros de Volta Redonda, apoiados pela Igreja Católica, pela Comissão de Direitos Humanos e pela Comissão de Posseiros Urbanos.

O Programa Municipal de Regularização, promovido pela administração municipal, já entregou aproximadamente 4 mil títulos de propriedade, por meio de Contrato de Compra e Venda, e outros 250 títulos estão em andamento por intermédio do Programa de Acelera-ção do Crescimento (PAC). A venda somente pode ser adotada para o limite de 300 m² para cada morador. Para as áreas que excedem aos 300 m² é utilizada a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU).

As áreas destacadas são os núcleos Vila Rica e Três Poços, cuja ocupação teve início em 1975 e encontra-se já consolidada. A área está localizada à oeste do município, à direita do rio Paraíba do Sul, às margens da rodovia VRD-101, que liga os municípios de Volta Re-donda e Pinheiral, em área de propriedade do município. Sua população conta hoje com aproximadamente 5 mil habitantes em 1.500 unidades habitacionais, com renda média de dois salários mínimos.

A área apresenta condições satisfatórias em relação à urbanização e possui toda infra-estrutura básica. A intervenção justifica-se pelo fato de possuir uma área de 1.105.770,02 m², em uma planície aluvial parcelada em lotes de grande extensão, onde as famílias receberam os Títulos de Reconhecimento de Posse de administrações passadas, firmando um compro-misso do governo em assegurar o uso dos respectivos terrenos. Porém, esses títulos não ti-nham valor legal e não asseguravam o direito ao imóvel, necessitando o desenvolvimento de projetos específicos que dependem de instrumentos jurídicos inovadores e de acordos com a população ocupante.

Os objetivos dessas intervenções são a atuação em áreas públicas ocupadas, o reco-nhecimento do direito ao acesso à terra e/ou moradia, a garantia da segurança jurídica e a melhoria nas condições de habitabilidade. Com a aprovação do novo plano diretor, as áreas mencionadas foram gravadas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS).

A experiência contempla as áreas com equipamentos comunitários e com a construção de 58 unidades habitacionais para promover o reassentamento de toda uma comunidade

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

ribeirinha, que será remanejada para o próprio bairro, com recuperação ambiental da mata ciliar do rio Paraíba do Sul.

Foram titulados 931 lotes no núcleo Vila Rica e 385 lotes no núcleo Três Poços. A experi-ência conta com recursos do Ministério das Cidades, disponibilizados por intermédio da Caixa Econômica Federal. A comunidade participa do processo por meio do Conselho Comunitário.

Responsável pelas informações:Nome: Fabiano Vargas Machado de Carvalho Entidade: Fundo Comunitário de Volta Redonda Cargo: Coordenador de TitulaçãoEndereço: Praça Sávio Gama, 63, Aterrado, Volta Redonda-RJE-mail: titulaçã[email protected] Telefone: (24) 3345-2001

3.39 - Prefeitura Municipal de Votuporanga (SP)

A Vila Carvalho é um Vilarejo localizado próximo ao município de Votuporanga, São Pau-lo, na região noroeste do Estado. As terras são da Igreja Católica (Bispado de São José do Rio Preto) e foram ocupadas por volta de 1890 a 1925. Hoje, a Vila é habitada por 220 moradores.

A Vila Carvalho é um ícone histórico para a região, pois, além de agregar o primeiro cemitério do município, também é ladeada pela estrada Boiadeira, que serviu de ponto de transição para refugiados da Revolução de 1932 e foi o primeiro núcleo populacional do mu-nicípio de Votuporanga.

Sua ocupação ocorreu de forma desordenada. À medida que as terras iam sendo toma-das, cada posseiro cercava sua área, originando a diversidade de forma e dimensão dos lotes. No local existem 65 residências, três bares, uma igreja, um campo de futebol, uma creche e uma escola (atualmente desativados) e um poço da Superintendência de Água e Esgoto de Votuporanga (autarquia).

Essa área, de 62.117,39 m², passou por várias tentativas de regularização, sem êxito, ten-do sido mais fortemente fomentada em 2004 quando foi elaborado um projeto de regulari-zação fundiária para o local.

A partir dessa proposta, a Vila foi instituída como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) por lei municipal (3.750/2004) e deu-se início ao levantamento físico territorial, sob respon-sabilidade da equipe de topografia da prefeitura, e o levantamento socieconômico. Em de-zembro de 2008, os mapas, os memoriais descritivos georreferenciados e o recolhimento da documentação foram finalizados e o material foi entregue ao departamento jurídico da pre-feitura para início do processo de usucapião.

A falta de lotes para remoção de famílias constituiu um dos entraves, pois, diante da existência de quatro moradias na estrada Boiadeira, foram necessárias reuniões com o Con-

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EXPERIÊNCIAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ELABORADAS PELOS MUNICÍPIOS

selho de Patrimônio do Município, quando, em votação, decidiu-se que, apesar da grande importância histórica, prevaleceria o aspecto social, e assim a estrada permaneceu ocupada.

Ao longo do processo, foram construídas casas populares, perfurado um poço artesia-no. Atualmente, o Vilarejo é servido pela rede de abastecimento de água. Foi implantado o programa de alfabetização de adultos e reforço escolar para crianças e jovens, educação am-biental, biblioteca, assistência odontológica e projetos culturais. Há também um projeto para construção de lagoa de tratamento de esgoto e estão previstas a pavimentação da via princi-pal e das vias de acesso, implantação de uma horta comunitária.

Outra questão importante é a implantação da rotatória de acesso à Vila, que durante a elaboração do projeto de regularização fundiária pôde-se contar com o apoio do Departa-mento de Estradas de Rodagem (DER-SP).

A Vila Carvalho é um ícone histórico para a região noroeste paulista e por isso foi con-servado o traçado original do Vilarejo e suas particularidades, dando-se ênfase à implantação da hierarquização viária. Qualquer intervenção na área passará por processo de desmembra-mento dos lotes, após cessar a ação de usucapião.

Hoje, o processo tramita no Poder Judiciário, por meio da usucapião individual, porém numa ação coletiva.

Responsável pelas informações:Nome: Janaina Andréa CucatoEntidade: Prefeitura do Município de Votuporanga Cargo: Arquiteta encarregada do Setor de Controle Urbano da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e HabitaçãoEndereço: Rua Pará, 3.227, Votuporanga-SP E-mail: [email protected]: (17) 3405-9700 - ramal 57

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Experiências de Regularização Fundiária Realizadas por Entidades Civis e Públicas4Jardim Irmã Davina - Sumaré (SP) Foto: Marilda Gutierrez/Guilherme

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O chamado terceiro setor tem se legitimado como um importante agente da implemen-tação de políticas públicas no Brasil. O Ministério das Cidades viabilizou, dentro dos

parâmetros normativos vigentes, a implementação de ações de regularização fundiária de assentamentos informais por iniciativa de entidades civis sem fins lucrativos. Até o presente momento, no âmbito do Programa Papel Passado,17 entidades são responsáveis por ações específicas de regularização fundiária em 16 municípios de 11 Estados brasileiros.

A experiência do Programa Papel Passado com o terceiro setor mostra que a inserção da regularização fundiária nas agendas municipais pode ser fortalecida com o protagonismo dessas entidades alinhadas às expectativas das comunidades em assegurar o direito à mora-dia em terras urbanas regularizadas. A seguir, apresentamos um número variado de experiên-cias de regularização fundiária de iniciativa, e implementadas, por entidades civis.

4.1 - Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (PE)

O município de Recife apresentava, no ano 2000, segundo dados do IBGE, uma especial característica: 42% de sua população residia em Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), concentrando relevante percentual das necessidades habitacionais da região metropolitana do Recife. Nesse contexto, as ações de regularização fundiária têm sido realizadas por diver-sos atores, tais como prefeitura, Defensoria Pública Estadual e ONGs.

O Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec), fundado em 1989, é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, caracterizada como centro de defesa de direitos humanos com atuação na área da infância e adolescência e na garantia ao acesso à terra urbanizada dos moradores das ZEIS em Recife.

O Cendhec, por meio do Programa Direito à Cidade, vem atuando na defesa da seguran-ça da posse da terra desde 1993. Nesses anos de atuação, vem contribuindo com o debate no campo da gestão democrática das cidades e atuando na defesa jurídica de cerca de 2.500 famílias, beneficiárias de 933 ações de usucapião constitucional urbano.

Na ZEIS Mangueira, o Cendhec realizou, entre junho de 2006 e agosto de 2007, um pro-cesso de regularização fundiária, em convênio com o Ministério das Cidades, com o objetivo de promover ações de usucapião constitucional urbano, beneficiando 502 famílias.

A área da ZEIS objeto do projeto, com 30,11ha, era composta por dois loteamentos privados – Ipiranga e João Leite. Possui uma população de 8.719 habitantes, distribuída em 2.522 domicílios. Sua organização comunitária conta com a Comissão de Urbanização e Lega-lização (Comul) e participação popular, por meio de entidades parceiras.

A Mangueira caracteriza-se por ser uma área ribeirinha, às margens dos canais ABC e IPA. O espaço foi ocupado de diferentes formas: compra de lotes, aterros de mangues e bar-reiros e ocupação irregular, pois parte considerável é formada de loteamentos particulares.

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Essa condição acarreta traçados bem definidos da maior parte das ruas. Trata-se de uma área predominantemente residencial, que apresenta algumas áreas com maior deficiência de infraestrutura.

O plano de regularização fundiária implementado consistiu em um processo de sen-sibilização, mobilização e ajuizamento das ações de usucapião constitucional urbana e na realização de capacitações nos grupos comunitários e equipe de cadastramento. Dessa for-ma, foram adotadas as seguintes estratégias: mobilização dos grupos comunitários e mora-dores; implementação do plano de regularização fundiária; capacitação temática dos grupos comunitários e equipe de cadastramento; cadastramento para fins de regularização fundiária; promoção das ações de usucapião coletiva; reunião com os autores das ações para informa-ção sobre o andamento processual.

Para efetivar a regularização fundiária foi eleito como instrumento jurídico de promoção de política urbana a Usucapião Constitucional Urbana Individual e Coletiva. A implementação do instrumento teve início com a mobilização dos grupos organizados para a elaboração do plano de regularização fundiária. Foi feito o levantamento fundiário no Cartório de Registro Imobiliário da jurisdição competente. No cadastramento, foi atualizado o levantamento topo-gráfico e elaborados memoriais e croquis.

Foram realizadas assembleias e plantões na comunidade com o objetivo de esclarecer acerca do processo, bem como para recolher os documentos necessários. Após análise dos documentos, foram ajuizadas as ações de Usucapião Constitucional Urbana perante a Justiça Comum Estadual de Pernambuco.

Dentre os obstáculos enfrentados no processo destacaram-se a inexistência de um ade-quado banco de dados na prefeitura, no que diz respeito à base cartográfica e aos aspectos fundiários sobre as ZEIS, a burocracia e os custos cartorários, a falta de tempo para desenvol-vimento da sensibilização da comunidade e o desconhecimento de operadores do direito, principalmente, acerca de direito urbanístico.

O processo resultou no ajuizamento de 52 ações de Usucapião Constitucional Urbana, sendo 48 ações plúrimas, beneficiando 463 famílias e quatro coletivas, beneficiando 39 famí-lias. Foram contempladas na totalidade das ações 502 famílias.

Recife (PE) Fotos: Acervo Cendhec

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A experiência na ZEIS Mangueira reforçou a dependência das articulações políticas para o fortalecimento das ações no campo da regularização fundiária, assim como a participação dos grupos organizados, que se comprovaram essenciais para a mobilização da comunidade.

Responsáveis pelas informações:Nome: Mércia Alves, Juliana Accioly e Adriana MendonçaEntidade: Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação SocialCargo: Membros da equipe do Programa Direito à CidadeEndereço: Rua Galvão Raposo, 295, Madalena, Recife-PEE-mail: [email protected]: (81) 3227-4560 / (81) 3227-7122

4.2 - Centro de Estudos, Articulação e Referência sobre Assentamentos Humanos (CE)

O Centro de Estudos, Articulação e Referência sobre Assentamentos Humanos (Cearah Periferia) é uma organização não governamental sem fins lucrativos, criada em 1991, que atua principalmente em Fortaleza e sua região metropolitana. É membro do Conselho Nacional das Cidades e compõe o Fórum Nacional de Reforma Urbana. Apoia o movimento popular urbano em suas lutas, visando à melhoria das condições de vida nos assentamentos humanos por meio do desenvolvimento e fortalecimento de ações coletivas no âmbito da habitação, geração de renda e capacitação de lideranças comunitárias.

Em parceria com o Ministério das Cidades, em ações coordenadas pela Secretaria Nacio-nal de Programas Urbanos e Associações Comunitárias do bairro Planalto do Pici, desde 2005, o Cearah Periferia desenvolve atividades específicas de regularização fundiária para 1.450 fa-mílias, com a implementação das seguintes etapas: elaboração da metodologia; mobilização e sensibilização comunitária; cadastro e diagnóstico das famílias; trabalho técnico jurídico para formatação da ação; ações de informações e desenvolvimento comunitário; monitora-mento e avaliação.

Na década de 1950, a área onde se localiza a comunidade foi a base aérea dos america-nos, e, em 1962, ouve a primeira ocupação que desencadeou no bairro populoso do Pici, cuja situação de precariedade das habitações são um produto da realidade do município. O plano diretor, aprovado em dezembro de 2008, incluiu o bairro como ZEIS.

Há duas principais ações nesse trabalho: a concessão do título de posse aos morado-res contemplados pelo projeto e o desenvolvimento sustentável da comunidade, buscan-do-se a regularização urbanística da região por meio de um plano de ação denominado Planejamento Urbano Local. Destaca-se também as parcerias firmadas com associações de moradores locais, cartórios, companhias de água, esgoto e energia elétrica e com a Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU-CE), além da instituição de um núcleo

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gestor, composto pelas associações e o recrutamento de moradores como membros da equipe do projeto.

Para a efetivação do processo de regularização, em parceria com o Ministério das Cida-des, Caixa Econômica Federal e associações comunitárias, está prevista a utilização do instru-mento da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM).

Responsável pelas informações:Nome: Rita Angélica Pereira da CostaEntidade: Cearah Periferia Cargo: Coordenadora de projeto / assistente socialEndereço: Rua Carlos Vasconcelos, 1.339, Aldeota, Fortaleza-CEE-mail: [email protected] Telefone: (85) 3261-2607 / Fax: (85) 3261-8754

4.3 - Centro pelo Direito à Moradia e Contra Despejos (RS)

O Centro pelo Direito à Moradia e Contra Despejos (Cohre) é uma organização não go-vernamental e de atuação internacional, comprometida com a defesa e a garantia plena do direito humano à moradia adequada para todos em todos os lugares. A instituição promove, desde 1994, a busca e a implementação de soluções aos problemas da falta de moradia e de condições inadequadas de habitação. Para isso, trabalha com entidades de direitos humanos e atua em diversas instâncias intergovernamentais, na sua qualidade de entidade registrada com status consultivo na Organização das Nações Unidas (ONU).

Para implementar suas ações, o Cohre organiza-se em programas temáticos (direito à àgua, litígio, direito das mulheres à moradia, restituição da moradia e da propriedade e pre-venção de despejos forçados) e programas regionais. O Programa para as Américas trabalha na defesa do direito a uma moradia adequada na região, organizando programas de capaci-tação, assistência legal e promovendo o direito à terra de grupos minoritários e comunidades marginalizadas em assentamentos informais. Também realiza ações de incidência em nível nacional e internacional, missões de pesquisa, litígios, monitoramento e promoção de cam-panhas contra a prática de despejos forçados.

Os países onde atualmente são realizadas tais atividades são: Argentina, Brasil, Colôm-bia, Equador, Guatemala, México e Honduras. Em Porto Alegre, o Cohre atua desde 2005 na promoção da regularização fundiária das vilas São Pedro, São Judas Tadeu e Salvador França.

O projeto na Vila São PedroA Vila São Pedro é um assentamento informal de baixa renda com ocupação iniciada

há mais de 40 anos, sobre área de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul, localizado em área central e valorizada da cidade de Porto Alegre, próxima a shoppings, universidades

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e hospitais. A área, que é gravada como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), está inserida em uma gleba com cerca de 27,43 ha, juntamente com a Vila Salvador França, o Hospital Psi-quiátrico São Pedro (edificação tombada pelo patrimônio histórico), o Instituto Psiquiátrico Forense e a Associação Médica do Rio Grande do Sul.

O perfil socioeconômico das famílias indicou que 16% têm sobrevivência garanti-da por meio do lixo e 65% dos chefes de família estão inseridos no mercado informal ou estão desempregados. A maioria desses chefes de família (66,67%) não concluiu o ensino fundamental. As famílias da Vila São Pedro cumprem os requisitos da medida provisória nº 2.220/2001, e, desde 2005, lutam pela efetivação desse direito, por meio de ação judicial que visa à Concessão Especial para Fins de Moradia (CUEM-Coletiva) em beneficio das famílias.

A Vila São Pedro foi constituída em função do Hospital São Pedro, na década de 1960. Esse crescimento ocorreu de forma informal e irregular. Nesse período, a região onde localiza-se o hospital passa a ser ocupada, especialmente por populações de baixa renda.

Em 2000, o governo do Rio Grande do Sul iniciou a implementação do Projeto Morada São Pedro, que previa a regularização fundiária, a implantação de infraestrutura e a recons-trução de unidades habitacionais para a comunidade da Vila São Pedro. Em 2002, foram en-tregues as primeiras unidades habitacionais (1/3 da Vila), mas não foram expedidas as con-cessões, apenas termos de uso, precários juridicamente. Em 2005, a associação de moradores, com o apoio do Cohre ajuizou ação de CUEM contra o Estado. Atualmente, após quatro anos de luta, a comunidade, assessorada pelo Cohre, está negociando com o governo do Rio Gran-de do Sul os termos da concessão de uso.

O Projeto de Regularização Fundiária da Vila São Pedro tem como objetivos promover a sustentabilidade (no tempo e no espaço) da regularização fundiária por meio da integração dos aspectos jurídicos, socioeconômicos, ambientais e urbanísticos; estimular a participação da comunidade em todas as etapas do projeto; auxiliar na organização da comunidade, capa-citando-as para um processo autônomo de regularização fundiária; afirmar a inclusão social na cidade por meio da permanência das comunidades em seus locais de moradia e fazer cumprir o direito humano à moradia com garantia da posse e da retomada das obras de urba-

Vila São Pedro, Porto Alegre (RS) Fotos: Acervo Cohre

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nização, iniciadas em 1999, quando foram construídas 90 unidades habitacionais com a infra-estrutura básica necessária (1/3 da demanda da Vila). O projeto visa também a interlocução com outras comunidades – que também são beneficiárias do mesmo programa do governo federal, pelo qual demandam pela CUEM, já que utilizam para fins de moradia há mais de 40 anos área de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul.

O projeto de regularização fundiária em implementação (Cohre/Ministério das Cidades) trabalha com a questão da regularização jurídica da área para se obter a garantia da posse pela CUEM coletiva e a retomada das obras de urbanização, paralisadas desde 2002.

O trabalho do Cohre no âmbito do programa do governo federal desenvolveu-se a partir do trabalho do Estado do Rio Grande do Sul até 2002, com a atualização do cadastro socioe-conômico e a elaboração de um diagnóstico territorial da área para estudar a melhor forma de promover a regularização jurídica, com vistas a um projeto urbanístico. Estão sendo bene-ficiadas 280 famílias.

O projeto na Vila São JudasA Vila São Judas, localizada próxima à Vila São Pedro, sofreu intervenções físicas de obras

de urbanização decorrentes de demandas da comunidade no Orçamento Participativo Muni-cipal. Nessa comunidade, a urbanização prevê a adequação de acessos, melhoria do sistema viário e a viabilização de espaços para a construção de algumas unidades habitacionais ne-cessárias para atender o déficit apontado pelo diagnóstico habitacional realizado no âmbito do programa do governo federal.

A comunidade também demanda por área para creche e está organizada para acessar esses recursos de forma direta. No entanto, a questão da titularidade da área e da dificuldade em encaminhar projeto urbanístico para o poder público municipal inviabiliza essa iniciativa. A Associação Comunitária da Vila São Judas Tadeu luta pela mesma demanda (CUEM) e atua de forma conjunta à Vila São Pedro.

A Vila São Judas Tadeu é um assentamento informal de baixa renda com ocupação ini-ciada há 40 anos, sobre área de propriedade do Estado. A Vila ocupa cerca de 6 ha e é gravada como Zona Especial de Interesse Coletivo (ZEIS). Em meados da década de 1970, a comuni-dade sofreu a primeira ameaça de despejo. Quando se iniciou o período de abertura política, após a ditadura, foram iniciados também os primeiros movimentos na Vila com o objetivo de uma organização comunitária, em resposta às ameaças de despejos.

A ocupação na Vila São Judas consolidou-se em função do Sanatório Partenon, na déca-da de 1940. Em 2006, a associação de moradores, com o apoio do Cohre, foi contemplada no programa Papel Passado do Ministério das Cidades, por meio do qual busca alternativas para efetivar seu direito à moradia pela CUEM, visando beneficiar 560 famílias.

A regularização fundiária, entendida como um processo, é trabalhada de forma inter-disciplinar, utilizando-se de diferentes instrumentos, reconhecendo as ocupações a partir

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de suas conformações (físicas ou sociais), preservando a densidade histórica dos assenta-mentos, reafirmando-os na cidade. Mas é importante também ter em mente que o objetivo é trazer “as pessoas” para a regularidade, e não somente os lotes. Nesse sentido, é primor-dial desenvolver o processo a partir dos desejos e expectativas da comunidade. Na Vila São Pedro e na Vila São Judas, a luta é pela CUEM, mas o que move a comunidade da Vila São Pedro é a necessidade de urbanização e vontade de morar, sem lixo, sem animais, sem alagamentos e em casas adequadas, já a comunidade da Vila São Judas luta para ver seu direito à moradia reconhecido pela CUEM.

Sem dúvida, a maior conquista desse processo é o fortalecimento das comunidades, que lutam desde 1998 pela regularização fundiária das áreas. Essas comunidades, mesmo tendo o processo de regularização interrompido, buscaram alternativas (programas e par-ceiros), ajuizaram ação judicial e, enfrentando inúmeras barreiras ideológicas e burocráticas, fortaleceram-se e ainda insistem em ver efetivado, por meio da CUEM e da retomada das obras de urbanização, o direito à moradia.

Responsável pelas informações:Nome: Karla Fabrícia MorosoEntidade: Centro pelo Direito à Moradia contra DespejosCargo: PesquisadoraEndereço: Rua Jerônimo Coelho, 102/31, Porto Alegre-RSE-mail: [email protected]: (51) 3212-1904 / Fax: (51) 3213-1904

4.4 - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Norte (RN)

A partir de uma parceria entre o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agro-nomia do Rio Grande do Norte e a Prefeitura Municipal de Natal foi realizada a regularização fundiária para 300 famílias no bairro Nova Descoberta, em Natal.

O processo de ocupação da área estabeleceu-se de forma pacífica. Os terrenos foram ocupados com autorização do antigo proprietário, que possuía documentação da área, mas não o parcelou oficialmente. Conforme relato da comunidade, a grande demanda por esse bairro ocorreu na década de 1960 devido à grande seca no interior do Estado.

A área é ocupada por população de baixo poder aquisitivo em média de três salários mí-nimos. Possui aproximadamente 3 ha com densidade 300 hab/ha. Possui sistema viário defini-do, com uma ocupação de uso residencial predominante de residências multifamiliares. Existe também uma pequena área de comércio local e poucas áreas institucionais. Os lotes possuem na sua maioria uma extensão em torno de 200 m², com área ocupada de 50 m². Foi declarada e regulamentada como Área Especial de Interesse Social (AEIS) por lei municipal específica.

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O objetivo principal do processo de regularização é entregar o título de propriedade às famílias que não possuem condições financeiras de pagar os custos. O instrumento jurí-dico analisado como mais adequado foi a Usucapião Especial Urbana, uma vez que a área possuía um proprietário formal com documentação registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Foi feito um estudo de caso da área delimitada como AEIS, onde se identificou todos os parâmetros físicos, territorial e socioeconômico.

Está em processo de implantação a rede de esgotamento sanitário. Todas as ruas são pavimentadas, existem escolas, creches, posto de saúde, quando não dentro da comuni-dade, nas ruas periféricas.

Foi também utilizada a estratégia de participação coletiva da população local e das instituições parceiras, onde cada um dos conveniados entrou com o seu conhecimento e ação técnica, possibilitando assim uma eficiência e rapidez nos procedimentos operacio-nais. A Câmara Municipal ajudou no processo da participação social e no apoio jurídico, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA/RN) com o trabalho técnico de medição, elaboração da minuta de lei e da justificativa técnica para apresentar o Projeto de Lei na Câmara Municipal, a Associação de Notários e Registradores do Brasil (Anoreg/RN) com as orientações aos cartórios e as universidades com o corpo de estagiá-rios e professores.

O processo transcorreu em três etapas: sensibilização da comunidade; levantamen-tos, pesquisas, entrevistas e medições; atendimento jurídico e social, pesquisa jurídica e entrada dos processos nas varas competentes.

Um dos principais problemas encontrados foi exatamente o desconhecimento e a insegurança jurídica da população. Outro obstáculo foi a falta de recursos. Assim, todas as ações dependiam exclusivamente do compromisso das instituições parceiras.

O principal entrave é o entendimento do Judiciário local, que não considera a ação de Usucapião como especial urbana. Portanto, os processos ajuizados não foram despacha-dos. Embora trabalhando com a Defensoria Pública do Estado e com as instituições ligadas às demandas judiciais, não tivemos avanços nessa área.

Foram também parceiros no processo a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, a Secretaria de Ação Social do Estado, a Câmara Municipal de Natal, a Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo, a Secretaria de Ação Fundiária do Estado, a Universidade Potiguar, a Faculdade de Natal, a Anoreg/RN e o Tribunal de Justiça.

Como resultado do processo de regularização, deram entrada 305 processos de Usu-capião nas 19ª e 20ª varas. O projeto de regularização teve notoriedade no município, sendo ampliadas suas ações com a criação da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária. A partir dessa experiência, novos estudos para regularização de outras áreas no município de Natal foram iniciados. A parceria é destacada como o caminho mais ade-

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quado para se efetivar um processo de regularização fundiária, pois este envolve um grau significativo de complexidade nas diversas ações e dimensões.

Responsável pelas informações:Nome: Maria Eleonora Silva de Macedo Entidade: CREA - RN Cargo: Ex-secretária de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes de Natal Endereço: Rua Santa Tereza D’aVila, 3289, Candelária, Natal-RN E-mail: [email protected] Telefone: (84) 3231-9026 / Fax: (84) 3234-7383

4.5 - Fundação Educacional de Criciúma (SC)

A entidade responsável pela experiência em destaque é a Fundação Educacional de Cri-ciúma (Fucri), universidade comunitária de ensino privado sem fins lucrativos. A Fucri possui curso de engenharia de agrimensura, com sólida formação em questões fundiárias, e um Ins-tituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas, que trabalha com questões relacionadas ao Cadastro Técnico Multifinalitário.

A maior parte da ocupação em Ponta Rasa, localidade de Imbituba, possui cerca de 1 km² e está inserida em terreno particular. Possui também margens de ferrovia, rodovia, área de ma-rinha e de proteção ambiental. Está instituída como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) na legislação municipal, mas não possui parâmetros urbanísticos próprios. A maioria dos imó-veis é residencial, existindo ainda alguns estabelecimentos comerciais e de ensino.

Criciúma (SC) Foto: Eliton Patrício Nazário

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O projeto é financiado pelo Ministério das Cidades e objetiva principalmente a elabora-ção de estudos e projetos que resultem em ações consolidadas para promoção de melhoria da qualidade de vida da comunidade. Estão previstas as seguintes atividades: levantamento topográfico das Áreas de Preservação Permanentes (APP) e outras Unidades de Conservação (UC), de uso e ocupação do solo, da cobertura vegetal e socioeconômico; pesquisa dominial; capacitação dos técnicos municipais; elaboração de projetos de parcelamento do solo; elabo-ração de projetos básicos para as obras de urbanização e de acessibilidade, identificando cus-tos estimados, fontes de recursos, viabilidade econômica e solução alternativa; participação comunitária; estudo para proposição de alteração da legislação municipal de parcelamento do solo; e elaboração de produtos cartográficos.

A participação da comunidade está prevista em diversas etapas do processo. Entre elas, estão previstas quatro reuniões com formato de audiência pública, com ampla divulgação e participação, de acordo com o seguinte planejamento:

1ª reunião) apresentação dos objetivos do projeto, a metodologia proposta e os resul-tados esperados, acatando opiniões e identificando representantes da comunidade que farão parte das discussões técnicas sobre o projeto;

2ª reunião) apresentação do mapa de levantamento prévio, pesquisa dominial e debate sobre condicionantes para o projeto de parcelamento;

3ª reunião) apresentação e debate da proposta do projeto de parcelamento;4ª reunião) apresentação do projeto definitivo, dos resultados e conclusão dos trabalhos

da proponente.Estima-se em 450 o número de famílias beneficiadas. Os documentos necessários (plan-

tas, requerimentos e anotações de responsabilidade técnica) à elaboração das ações de usu-capião serão produzidos durante o processo de formatação do projeto de parcelamento do solo, sendo conduzido posteriormente pela administração municipal, efetivando a primeira etapa de regularização.

Responsável pelas informações:Nome: Marino Nazareno Lopes SumarivaEntidade: Fundação Educacional de Criciúma Cargo: Engenheiro agrimensorEndereço: Rodovia Jorge Lacerda, km 4,5, Criciúma-SCE- mail: [email protected] Telefone: (48) 3431-4544

4.6 - Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (SP)

A regularização fundiária na Vila Prudente, denominada “Amadeu”, foi desenvolvida pelo Ins-tituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Pólis). Trata-se de uma organização

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não governamental de atuação nacional, constituída como associação civil sem fins lucrativos. Sua equipe do Programa Direito à Cidade efetua trabalhos relacionados à temática da regulari-zação fundiária, prestando apoio técnico a movimentos sociais de moradia e organizações locais.

A Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) referente a Amadeu compreende área de apro-ximadamente 5.847,53 m². Antes de iniciado o processo de regularização, as moradias eram precárias, bem como o acesso ao miolo do assentamento, que só era possível por vielas estrei-tas. Predominava o uso residencial e, raramente, o uso misto. Apesar da carência nos serviços públicos oferecidos, havia a cobrança do IPTU pelo município.

Nos cartórios de registro de imóveis não foi possível verificar a dominialidade da área em sua totalidade. O IPTU de uma parte da área era lançado em nome de um particular que se dizia proprietário de toda a área.

A ação não contou com recursos para as intervenções físicas e a urbanização necessária à comunidade. O principal objetivo do trabalho na Amadeu era ingressar com ação de usucapião coletiva, uma vez que se tratava de área particular. Porém, no decorrer do projeto, verificou-se a necessidade de realizar algumas ações previamente. Em assembleia com moradores observou-se a necessidade de resolver a dívida do IPTU, o que ocorreu via procedimento administrativo nos órgãos responsáveis. Quanto à falta de identificação da área no Cartório de Registro de Imóveis decidiu-se por uma ação de retificação na forma de procedimento administrativo, para criar uma matrícula correspondente à área e assim facilitar o processo da usucapião.

O trabalho social direcionou-se para a criação de uma associação na comunidade, a As-sociação Nova Esperança da Amadeu, tanto para representação jurídica das famílias nas ações de retificação da área e de usucapião, como para organizar a comunidade e exigir melhorias habitacionais, de forma a combinar a regularização jurídica à urbanização. São exemplos de sua atuação dois processos administrativos protocolados na Vila Prudente: um para constru-ção de um posto de saúde e outro para construção de área recreativa.

O Pólis, no desenvolvimento da ação, buscou articulação com o Poder Executivo Munici-pal, com o Poder Judiciário e com o Instituto dos Registradores Brasileiros (IRIB). Contou ainda com a parceria do Escritório Modelo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que prestou os serviços de assessoria jurídica, e com o Movimento de Defesa do Favelado. Foram beneficiadas diretamente 165 famílias.

Responsável pelas informações:Nome: Nelson Saule JúniorEntidade: Instituto Pólis Cargo: Coordenador de Equipe Endereço: Rua Araújo, 124, Vila Buarque, São Paulo-SPE-mail: [email protected]: (11) 2174-6815

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4.7 - Instituto Light S.A. (RJ)

A experiência relatada a seguir é a primeira desta natureza a ser desenvolvida pela Light – Serviços de Eletricidade S.A. Trata-se de uma parceria da Light com a empresa Terra Nova Regularizações Fundiárias. O projeto beneficia em torno de 1.200 famílias por meio de um programa de regularização fundiária de interesse social com titulação para as famílias que aderirem ao programa.

O terreno com 64.950 m², situado no bairro de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, é denomi-nado Largo do Tanque, propriedade da Light. A área em questão foi adquirida pela empresa para ali construir a subestação do tanque, desativada em 2000. Em 1985, já contava com 19 ocupantes, dez anos depois passaram a 108 famílias ocupantes. Nessa época, houve negocia-ção amigável com 51 ocupantes que deixaram o local. Atualmente, existem aproximadamen-te 1.200 famílias, com imóveis de até três pavimentos, tendo em alguns casos, três famílias morando em um lote.

A comunidade possui alta densidade e boa organização comunitária, sendo que parte da ocupação ocorre em área de proteção ambiental. A área possui boa infraestrutura, contan-do com rede de água e energia elétrica, ainda que informal, porém não possui esgotamento sanitário. Nenhum dos moradores possui título de propriedade da terra.

A parceria Light/ Terra Nova prevê ações para assegurar a transferência do imóvel, após o pagamento de indenização ao proprietário, respaldado pelo Poder Judiciário e Ministério Públi-co. Estão previstas ainda ações de urbanização da área (diminuindo os impactos ambientais), organização da comunidade, educação e melhoria da qualidade de vida das famílias envolvidas.

Destaca-se que a lei nº 3.204, promulgada em 27 de março de 2001, tornou a área como de especial interesse social. A finalidade do trabalho é de regularização da propriedade com titulação definitiva. Para tal, são objetivos principais do trabalho: regularização fundiária sus-tentável com processo respaldado pelo Poder Judiciário e Ministério Público; assegurar aos ocupantes a transferência do imóvel, após o pagamento da indenização; urbanização da área, diminuindo ou revertendo os impactos ambientais; negociação com as lideranças e discussão com a comunidade; discussão com os órgãos públicos; mediação e encaminhamento dos acordos judiciais; levantamento socioeconômico dos moradores; projeto urbano; montagem do posto de atendimento-coleta de assinaturas para os contratos individuais; estudos am-bientais; e administração da carteira de cobrança.

No projeto está incluída a elaboração do plano diretor, a disponibilização à comunidade dos serviços de um “arquiteto social”, a remoção de famílias em área de risco ambiental, a regularização dos serviços de infraestrutura urbana e a criação de equipamentos públicos.

A fundamentação jurídica do acordo está no Código Civil Brasileiro, título III, capitulo I, que trata da propriedade em geral. Após o levantamento das famílias aderentes ao pro-jeto, será negociado o valor da indenização. O acordo prevê a transferência do direito de

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superfície por tempo determinado ao pagamento e à aprovação do parcelamento. Parte do valor arrecadado irá para o Fundo de Compensação Urbanística e Ambiental, gerido por membros da empresa proprietária da terra, representantes da comunidade, governos estadual e municipal.

Além dos parceiros Terra Nova e Light S.A., são participantes do projeto a Associação de Mo-radores da Chácara do Tanque, Prefeitura do Rio de Janeiro, Poder Judiciário e Ministério Público.

Responsável pelas informações:Nome: Rosalva Filgueiras AlmeidaEntidade: Instituto Light Cargo: Coordenadora de ProjetosEndereço: Avenida Marechal Floriano,168, centro, Rio de Janeiro-RJ E-mail: [email protected] Telefone: (21) 2211-7185

4.8 - Rede Internacional de Ação Comunitária (SP)

A experiência apresentada refere-se à regularização fundiária realizada na Vila Real, no município de Várzea Paulista, com a participação da Rede Internacional de Ação Comunitá-

Vila Real (SP) Foto: Rede Interação

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ria (Interação), que desenvolve, com apoio da Prefeitura do Município de Várzea Paulista, o Programa de Regularização Fundiária em Vila Real/ Várzea Paulista desde 2007, onde estão sendo beneficiadas 3.461 famílias dentro do universo de 13 mil pessoas. A Rede Interação é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), composta por um quadro societário multidisciplinar, que representa no Brasil o Slums Dwellers Internacional (SDI).

A área de intervenção em Várzea Paulista localiza-se na Vila Real e ocupa cerca de 650.000 m². A gleba em questão é de propriedade pública (551.000 m²) e particular (99.000 m²), assim classificada como Qualificação Urbana, entendida por área urbanizada ou em processo de urbanização. Essa área possui alta densidade populacional, ocupada por famílias de baixa renda, carente de infraestrutura e equipamentos públicos. É passível de inclusão como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), definido no plano diretor, e de prioridade nos investimen-tos públicos para proporcionar qualidade de vida à população.

Por meio do decreto nº 3.325/07, a Vila Real foi declarada ZEIS. A ocupação do território teve início na década de 1970, inicialmente com posseiros e arrendatários e posteriormente com parcelamento irregular e ocupação desordenada.

As intervenções adotadas desde os anos 1980 foram de ordem legislativa e jurídica. Por meio de um acordo extrajudicial, foi formalizada a aquisição da área, homologada nos autos da ação de desapropriação, processo nº 188/91, com a expedição de carta de sentença, que, levada a registro, transferiu o domínio da área à municipalidade.

Para implementar as ações de regularização, foram elaborados os diagnósticos urba-nístico e jurídico da Vila Real; socialização dos dados coletados e sistematizados pelo censo; realização de oficinas setorizadas sobre a regularização fundiária e as etapas percorridas; ca-pacitação e legitimação da participação dos representantes dos setores na questão fundiária; incentivo à participação nos canais existentes de discussão e deliberação das propostas de intervenção no bairro; disponibilização e capacitação dos moradores para operar e atuali-zar o banco de dados; fortalecimento dos grupos de poupança existentes; detalhamento do Levantamento Planialtimétrico Cadastral (Lepac), com a definição das medidas perimetrais e área de cada lote, quadra, sistema viário e demais áreas públicas.

Para a atividade em campo, utilizou-se a estratégia de aproximação da equipe técnica da prefeitura com os moradores, obtendo, como resultado, a maior precisão dos dados coletados.

Em relação à atividade urbanística, verificou-se que o levantamento aerofotogramétrico disponível na prefeitura não retratava a realidade do local. Houve a necessidade de confe-rência lote a lote em campo. A prefeitura obteve recurso do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) para o projeto de urbanização da área.

Existe a possibilidade de aplicação de vários instrumentos. No caso de desapropriação, houve consenso entre a prefeitura e os moradores da Vila para que o instrumento a ser aplica-do tenha relação com a condição financeira da família. Podem ser aplicados o instrumento de compra e venda, em casos onde o morador possa adquirir o imóvel, e a Concessão de Direito

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Real de Uso (CDRU) ou a Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM), no caso de famílias que não possuam condições financeiras para a aquisição do imóvel. Já na situação de área de particular, a melhor opção, no caso, é a aplicação da usucapião.

As ações e discussões da regularização fundiária na Vila Real foram pautadas na parti-cipação dos moradores como agentes multiplicadores, seja atuando como agentes comuni-tários e/ou representantes dos setores. A participação dos moradores também ocorreu em reuniões com a equipe técnica da prefeitura e, posteriormente, em trabalho conjunto no le-vantamento topográfico em campo.

O poder público municipal mostrou-se presente em todo o processo. Contribuiu nas discussões com a comunidade e participou das reuniões e assembleias.

O poder público e a Rede Interação estabeleceram uma relação com os cartórios de registro de imóveis, Cetesb e o Departamento de Proteção de Recursos Naturais (DPRN). Das reuniões e realizadas com os agentes tem-se que:

• Objetivou-se a abertura de um canal de diálogo com os cartórios de registro de imó-veis e o esclarecimento da metodologia e execução do trabalho de regularização fun-diária. Esse trabalho resultou na parceria entre o poder público e os cartórios no que diz respeito à cooperação de informações de ambas as partes. Por parte dos cartórios há o informe da atualização dos registros que foram feitos, e da prefeitura sobre o lan-çamento fiscal de cada um dos lotes registrados;

• Técnicos da Prefeitura de Várzea Paulista e da Companhia de Tecnologia em Saneamen-to Ambiental (Cetesb) reuniram-se para verificação do procedimento a ser adotado com relação à geração de carga poluidora na Vila Real. O resultado foi a formalização de documento para o qual a Cetesb dará um parecer favorável em face da documenta-ção apresentada pela prefeitura. Essa documentação consiste na declaração da Sabesp informando sobre a existência da rede coletora de esgoto e coleta de lixo regular, aná-lises constando que a área não apresenta risco geotécnico e não foi objeto de aterro sanitário; e do compromisso firmado com a prefeitura para a construção de um coletor tronco com destino à estação de tratamento de esgoto;

• Buscou-se a adesão do DPRN às ações de regularização fundiária, o que deverá resultar na autuação de um processo conjunto entre a Prefeitura do Município de Várzea Pau-lista e o DPRN, contendo a planta de regularização e comprovação da inexistência na área de cursos d’água, nascentes e vegetação significativa.

Responsável pelas informações:Nome: Rosemeire Yukie NakashimaEntidade: Rede Internacional de Ação Comunitária – Rede InteraçãoCargo: Assistente de DireçãoEndereço: Rua Marquês de Itu, 58, 9º andar, sala 908, Vila Buarque, São Paulo-SPE-mail: [email protected]: (11) 3159-2621

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4.9 - Serviço de Justiça e Paz (PE)

O Serviço de Justiça e Paz (SJP) tem como objeto de atuação a regularização fundiária judi-cial e administrativa, contando com recursos públicos e privados na execução de suas atividades.

A ação em destaque foi desenvolvida em área pública municipal, localizada nas ruas Nelson Fernandes e Givaldo Mota, em região bastante valorizada no bairro de Boa Viagem. Foi desenvolvida em ocupação que remonta ao ano de 1954 e, hoje, abriga 122 famílias.

Em 1997, um proprietário de terrenos próximos às ruas ocupadas, alegando impossi-bilidade de acesso ao seu bem, ajuizou contra o município de Recife uma ação demolitória cumulada com perdas e danos e preceito determinante.

Posteriormente, houve determinação judicial para que os ocupantes integrassem a lide, na condição de Litisconsorte Necessário Passivo, oportunidade que tiveram para formalizar nos autos a respectiva defesa.

Assim, num trabalho de cunho político, social e jurídico, com a participação do conselho de moradores, foi ofertada a defesa, bem como formalizado o requerimento de Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM) no município.

As razões contidas no requerimento de CUEM foram levadas aos autos como direito dos posseiros à legalização fundiária no local ocupado ou à remoção com provimento de habita-ção à custa do município de Recife.

É importante registrar parecer do Ministério Público nos autos reconhecendo o direito dos posseiros à CUEM, acolhendo a ideia da remoção-habitação popular a ser patrocinada pelo município.

Foi realizado um amplo trabalho de divulgação e estudo do Estatuto da Cidade e da medida provisória nº 2.220/01. Ao final, os ocupantes optaram por desistir da proposta de indenização feita pelo município e lutar pela remoção via CUEM.

Nas audiências e em despachos judiciais, face ao desconhecimento do magistrado com relação às espécies normativas pertinentes, foram realizadas amplas exposições sobre as pe-culiaridades da CUEM.

A ideia básica era explicitar a condição inusitada de que os posseiros, embora legitima-dos passivos, eram portadores de um direito material, no caso, o direito à remoção dotados de habitação. No processo, foram envolvidos todos os moradores do bem público ocupado e não apenas os réus contidos na peça inicial.

Foram realizadas várias audiências judiciais, sempre com a presença do município de Recife, autores e réus acompanhados de assessoria jurídica do SJP. A sentença, publicada em março de 2008, determinou ao município de Recife que procedesse a remoção dos réus das ruas ocupadas, estipulando um prazo de 120 dias para a edificação de unidades habitacionais para todos que integraram o requerimento de CUEM. Também definiu uma multa diária para o caso de descumprimento do objeto no prazo conferido ao município.

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Trata-se da primeira sentença judicial no Brasil a reconhecer o direito de ocupantes de bem público à CUEM, com a determinação a um ente estatal para que proceda com a satisfação de unidades habitacionais para ocupantes, em virtude da impossibilidade de permanência no local. A decisão teve grande repercussão em Recife, notadamente nos movimentos populares.

Resta-nos, doravante, após o trânsito em julgado da decisão, um novo desafi o, qual seja, a execução voluntária da sentença pelo município, a ser satisfeita em prazo razoável, via ne-gociação a envolver réus e a entidade associativa, ou a execução forçada do julgado, no caso de resistências ou protelamento injustifi cado.

Enfi m, não é impossível a perspectiva de uma inusitada execução forçada de obrigação de fazer a ser cumprida pelo município, tendo como objeto um direito peculiar, no caso, a satisfação de habitação popular.

Responsável pelas informações:Nome: Carlos Antônio Barroso de AguiarEntidade: Serviço de Justiça e PazCargo: CoordenadorEndereço: Rua Bispo Cardoso Ayres, 252, Boa Vista, Recife-PEE-mail: [email protected]: (81) 3222-0846

4.10 - Terra de Direitos – Organização de Direitos Humanos (PR)

A área denominada como Moradias Sabará teve sua ocupação há quase vinte anos, por 192 famílias que vieram da região do bairro Campo Comprido em Curitiba e que foram realo-cadas por meio de programas de habitação da prefeitura municipal para a área denominada Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

A ocupação da região foi realizada sob a ordem da necessidade dos moradores e mo-radoras, que na década de 1980, buscaram abrigo na região, em confl ito com a legislação vigente de parcelamento, ocupação e uso do solo urbano. Em 2000, a região de ocupações foi declarada Setor Especial de Habitação de Interesse Social, pela lei municipal nº 9.800/2000.

Os dados1 levantados sobre o Loteamento Moradias Sabará comprovam a baixa quali-dade habitacional, a falta de diversos serviços e infraestrutura públicos, a ocupação de áreas ambientalmente frágeis, não sendo uma exclusividade desta ocupação.

O primeiro momento das ações do projeto Direito e Cidadania aconteceu em 2001, quan-do um grupo de alunos do Curso de Direito da Universidade Federal do Paraná, Ministério Pú-blico do Paraná e outras instituições da sociedade civil organizada iniciaram uma proposta de trabalho na comunidade Moradias Sabará, tendo como objetivo reconhecer as demandas exis-

1 GOES, Paulo R.H., Do sertanejo ao mano: expressões musicais e religiosas entre os moradores do Sabará. Trabalho de monografi a em Ciências Sociais. UFPR, 2005.

1 GOES, Paulo R.H., Do sertanejo ao mano: expressões musicais e religiosas entre os moradores do Sabará. Trabalho de monografi a

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tentes no local e trabalhar coletivamente a perspectiva de desenvolvimento da comunidade. Em julho de 2004, o projeto foi retomado com a participação voluntária de professores e

alunos dos cursos de Direito da Universidade Positivo, UFPR e PUCPR, profissionais da área do Serviço Social e um membro do Ministério Público do Estado do Paraná. A partir de reunião com as lideranças comunitárias, foi identificada a necessidade de ações para resolução dos problemas referentes à questão fundiária da região. No início de 2005, o projeto ampliou a parceria de trabalho com as organizações Terra de Direitos e Ambiens Sociedade Cooperativa.

As dificuldades encontradas para continuar os trabalhos na comunidade, sem recursos, fizeram com que se decidisse inscrever um projeto no Programa de Urbanização, Regulariza-ção e Integração de Assentamentos Precários do Ministério das Cidades.

O Projeto Direito e Cidadania de Regularização Fundiária das Vilas Nova Conquista, El-dorado e Esperança elencou como proposta principal superar a vertente proprietária, fortale-cendo a comunidade no reconhecimento de seus direitos econômicos, sociais, culturais e am-bientais, para que seus moradores tenham condições de reivindicação e luta por esses direitos.

O projeto teve como caminho incentivar a organização popular e instrumentalizar a co-munidade, para a realização da regularização fundiária sustentável e inclusiva. Nesse sentido, optou-se pela proposta metodológica do planejamento participativo baseado numa prática dialógica, que consistiu em: metodologia participativa; realização de um diagnóstico; ação participativa da comunidade; avaliação participativa do projeto. Ademais, foram realizados eventos festivos, reuniões com os moradores, reuniões com membros poder público, cursos sobre temas relativos à regularização; criação de um jornal comunitário e de um documentá-rio sobre o bairro.

O presente projeto, além de contemplar essas tarefas fundamentais do processo, fez uma proposta complementar importante e que fez o diferencial: através de uma pesquisa–ação par-ticipante, visa (in)formar para transformar, ou seja, por meio dos cursos e oficinas específicas das áreas, assembleias e conversas, o processo de regularização fundiária teve por objetivo não só titular os moradores, mas orientá-los para não permitir que se reproduza o ciclo da informalidade. Assim, a compreensão da dinâmica das comunidades, a conscientização de sua participação numa gestão democrática de direitos e dos meios e instâncias possíveis para isso, foram as bases primárias de qualquer ação do projeto.

Como instrumento de regularização, após pesquisa jurídica e fundiária, foi utilizada a Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano, com amparo legal no Estatuto da Cidade e na Constituição Federal, sendo que as ações ainda encontram-se em análise judicial.

Após a formalização de convênio com o Ministério das Cidades realizou-se: cadastra-mento técnico-social para identificação das famílias ocupantes das três Vilas beneficiadas; regularização da representação dos moradores pelas associações de moradores; realização de amplo levantamento dominial para identificação dos titulares do direito de propriedade das áreas ocupadas; realização de levantamento topográfico para identificação dos limites

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das áreas efetivamente ocupadas; coleta de documentos e provas para justificar o direito dos moradores à usucapião do imóvel de forma coletiva; interposição de três ações judiciais de usucapião especial coletiva perante o Poder Judiciário do Paraná e assessoria jurídica, urba-nística e social às associações de moradores para esclarecimento dos direitos dos moradores e em reuniões das associações representativas com os órgãos públicos, especialmente órgãos municipais de habitação e planejamento urbano.

No processo foi também fundamental o pacto realizado entre a equipe do projeto e os moradores para a efetivação das ações de regularização fundiária, entendendo essa prática, não apenas como uma sequência de procedimentos jurídicos ou urbanísticos, mas principalmente como um processo social no qual a participação da população moradora é parte essencial da regularização dos terrenos, pois, o que se buscou no processo foi a garantia legal da posse, a me-lhoria do ambiente urbano, o resgate da qualidade de vida e a promoção social da população.

A mobilização das autoridades públicas, que voltaram a olhar e procuraram intervir na região após a entrada do projeto nas vilas, por exemplo, fez com que poder público e mora-dores despertassem de uma passividade cômoda e atuassem politicamente em prol da efeti-vidade de seus direitos.

Um dos limites também identificados no processo de regularização foi a falta de regula-mentação das ações de acompanhamento e repasse de recursos pela Caixa Econômica Fede-ral, que tinha a atribuição de fiscalização das atividades do projeto e liberação de verba dos contratos de regularização fundiária com as organizações da sociedade civil.

Entretanto, apesar dessas dificuldades, as ações propostas foram cumpridas em todas as etapas, principalmente pelo compromisso e responsabilidade da equipe em relação à ex-pectativa dos moradores.

Nos avanços e êxitos identificados no processo, destaca-se o despertar de novas refe-rências nas Vilas que fizeram com que novas lideranças fossem ressaltadas, ampliando a ca-pacidade de mobilização da comunidade em prol da causa própria, seja contra ou a favor de atividades realizadas pelo projeto ou poder público.

Na relação com o projeto, outro fator de extrema importância foi à relação entre os es-tudos técnicos dos profissionais com a prática ideologizada por eles, ou seja, a práxis. A difícil quebra no ciclo histórico de participação e a reafirmação de um pragmatismo dicotômico en-tre o saber técnico e o saber popular proporcionaram à equipe uma reflexão profunda sobre as atitudes intervencionistas que haviam realizado em busca de uma sociedade mais justa e emancipada. A realização de um trabalho dessa extensão, de forma transdisciplinar, promo-veu um amadurecimento político e profissional aos técnicos da equipe, no qual o entrelaçar de diversos saberes proporcionou um busca permanente do processo em sua totalidade e entender a situação sociopolítica da questão fundiária brasileira, tanto no aspecto histórico quanto nas questões econômicas.

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Os fatores mencionados, entre outros, revelam a complexidade do processo de regula-rização fundiária sustentável na perspectiva legal de participação e conscientização de uma realidade de sobrevivência dos assentamentos informais encontrados em abundancia nas cidades brasileiras. A necessidade de se quebrar o círculo vicioso das políticas assistencialistas e clientelistas, de favores, e promover um despertar coletivo em busca de uma sociedade au-tônoma, mais justa e igualitária. Dessa forma, entender que o direito a cidade e a conquistas legais garantidas com o movimento histórico de luta dos atores sociais tem como sonho uma cidade que garanta, não somente o direito do acesso à terra, mas um olhar para o futuro e espaços que não permitam a exclusão social e o medo.

Assim, entende-se a necessidade de que esteja implícita nas práticas sociais o ideário de concretizar um processo histórico que transforme nossas cidades em lugares socialmente jus-tos, ambientalmente sustentáveis, economicamente desenvolvidos, espaços que valorizem a condição da vida humana.

Responsável pelas informações:Nome: Carolina Caraíba Nazareth AlvesEntidade: Terra de DireitosCargo: Assessora Jurídica da Terra de DireitosEndereço: Rua Desembargador Ermelino de Leão, 15, Conjunto 72, Curitiba-PRE-mail: [email protected]: (41) 3232-4660 / Fax: (41) 3232-4660

4.11 - Universidade Federal Fluminense (RJ)

O assentamento popular Vila Esperança está situado no bairro Porto Novo, distrito de Neves, município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, em terreno acrescido de marinha, ainda sob a guarda da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e parte de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Trata-se de um antigo manguezal, aterrado em virtude da construção do novo traçado da rodovia BR-101 (trecho Niterói-Manilha), um dos limites do assentamento. Sua ocupação, iniciada na década de 1970, teve impulso nos anos 1980, com a BR-101 e em fun-ção da facilidade de acesso aos centros urbanos de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro e das oportunidades de empregos geradas nesses municípios.

Atualmente, 450 famílias (aproximadamente mil pessoas) residem em 327 moradias. Sua vizinhança é predominantemente residencial, marcada por população de renda média e média baixa e por estabelecimentos de comércio varejista, não havendo, portanto, grandes contrastes sociais em relação ao entorno.

Anteriormente à sua delimitação como ZEIS em 2004, o cenário era de incerteza para os moradores, inclusive com ameaças de transferência para bairro distante devido a projeto de implantação de um terminal hidroviário no local.

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Ações efetivas do município com relação à regularização fundiária do assentamento ocorreram em 2005, em decorrência da luta da população pela posse da terra e por melhorias das condições de moradia. O projeto de regularização fundiária e de urbanização do assenta-mento, iniciados e concluídos em 2007, foram desenvolvidos, a pedido da própria Associação de Moradores de Vila Esperança (Amovile), por meio de cooperação técnica entre a Universi-dade Federal Fluminense (UFF) / Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais Urbanos (Nephu) e a Prefeitura Municipal de São Gonçalo.

O processo de regularização fundiária sustentável lá desenvolvido tratou simultaneamen-te não só do aspecto legal e jurídico da propriedade da terra (titulação individual das famílias por meio de concessão especial para fins de moradia) como também do aspecto urbanístico e social. Portanto, o projeto buscou resolver, além da titularidade da terra, as situações de risco, preparar o assentamento para receber infraestrutura e saneamento básico e dar acesso aos mo-radores a espaços públicos e privados planejados (ruas, praças, lotes, edificações etc.). Envolveu ainda um processo social voltado para informar e conscientizar a população sobre as implica-ções da passagem da condição de posseiros para a de proprietários ou equivalente.

Quanto à qualidade de vida local, a Vila Esperança não dispõe de rede de esgotamento sanitário. Lá, o esgoto corre em valas até os canais que limitam o assentamento. O abasteci-mento de água ocorre por ligações improvisadas feitas pelos próprios moradores, facilmente sujeitas à contaminação. A predominância da ocupação é residencial, contando com cinco estabelecimentos comerciais e um religioso. Em algumas quadras, a precariedade e insalu-bridade das unidades habitacionais são percebidas apenas em seu interior, decorrente dos desmembramentos e ocupações recentes.

O assentamento apresenta três elementos físicos que constituem áreas com restrição à ocupação e de risco: a faixa de domínio e de proteção da rodovia BR-101, a faixa de proteção das torres e rede de alta tensão que o atravessa e a faixa marginal de proteção de um canal que corta e limita a vila.

Nas faixas non aedificandi de domínio e de proteção da rodovia (35 metros e 15 metros de largura a partir de seu eixo, respectivamente) existem 61 casas; sob a faixa de proteção das torres e da rede de alta tensão da Ampla (6 metros de largura) estão localizadas 24 casas, sen-do uma delas construída sob a torre; e na faixa marginal do canal (10 metros de cada margem) estão três casas. Além disso, a situação de insalubridade verificada em algumas casas consti-tui risco adicional à saúde dos moradores, assim como os frequentes episódios de inundação.

Foram também identificados pontos de estrangulamento de vias e servidões, avanço das construções em áreas públicas, assim como pontos de alagamento e soleiras baixas, o que dificulta o acesso a serviços públicos de emergência e à circulação dos próprios morado-res. Com relação às condições das moradias, foram encontradas situações de alta densidade, especialmente no centro das quadras, casas sem sanitários e algumas delas com risco de de-sabamento e incêndio por comprometimento da instalação elétrica.

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Todo o projeto foi desenvolvido por meio de processo participativo. A participação da população ocorreu nas assembleias e por meio da “Equipe da Comunidade” apontada em as-sembleia, composta por moradores de diferentes quadras do assentamento, para a função de acompanhamento e direcionamento da equipe técnica nas visitas de campo. Sempre com o acompanhamento da prefeitura, em assembleias gerais com a população e reuniões com as li-deranças foram apresentados, discutidos e decididos os encaminhamentos e soluções técnicas a serem adotadas. Para tanto, foi utilizada linguagem lúdica que traduzia os aspectos técnicos e permitia estabelecer o diálogo com a comunidade. Assim, todas as decisões foram tomadas cole-tivamente em assembleias, permitindo prevalecer o bem estar coletivo. Essa ação faz aflorar um sentimento de pertencimento, além de fortalecer as lideranças comunitárias e o movimento po-pular em sua luta pelo direito à moradia, dando transparência à longa trajetória a ser percorrida.

O projeto de redesenho urbanístico permitiu, entre outras ações, eliminar as situações de risco, promovendo o remanejamento de 107 famílias para uma área livre vizinha ao assentamen-to, que está ainda sob a guarda da SPU e que foi murada pela fábrica de sardinhas Conservas Pira-cema S/A, hoje em processo de falência; a implantação de redes de infraestrutura, equipamento coletivo e áreas de lazer; e o redesenho dos lotes antigos, considerando a unidade residencial como elemento principal e redefinindo suas áreas de modo a viabilizar o acesso à infraestrutura urbana prevista e assegurar a área mínima adotada coletivamente e simultaneamente e garantir a permanência de unidades habitacionais em bom estado de conservação e habitabilidade.

Em resumo, o projeto permitiu promover a inserção “corrigida” do assentamento na es-trutura física da cidade, agregando qualidade à moradia e contribuindo para que, após a con-clusão do processo de titulação, ela não retorne à condição de informalidade agora existente.

Os projetos de regularização fundiária e os de urbanização obedeceram ao redesenho do traçado urbano, realizado a partir de parâmetros urbanísticos acordados coletivamente pelos moradores, com decisões tomadas em assembleias a partir de alternativas apresenta-das pela equipe técnica e posteriormente aprovadas pela prefeitura.

O projeto contempla: o remanejamento de famílias em situação de risco para novas uni-dades habitacionais (lote médio de 66 m2 para unifamiliar e 110 m2 para multifamiliar – so-brados) no próprio terreno de Vila Esperança; a requalificação de moradias precárias; a urba-nização do assentamento (pavimentação, construção de muros que definem os novos limites dos lotes já existentes, abertura e tratamento de vias já existentes e construção da ciclovia cruzando o assentamento e integrando a comunidade com o bairro, arborização e construção de áreas de lazer com quadras de esporte e áreas de convívio); obras de drenagem urbana; desvio e tratamento das margens do canal; implantação de rede de água e esgoto sanitário; serviço de terraplanagem para locação de novas unidades habitacionais; proteção da BR-101 com massa arbórea; construção de equipamento comunitário (contemplando sede para as-sociação de moradores, biblioteca, salas de serviço médico e creche); e trabalho social de acompanhamento do período de obra, continuidade da etapa de projeto.

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Quanto aos trâmites legais em relação à posse da terra, como a área pertence à União, o instrumento adotado foi a Concessão Especial de Uso para Fins de Moradia (CUEM) conferida aos moradores, preferencialmente às mulheres, mães de família. O processo jurídico incluiu também a negociação dos casos de posseiros com mais de uma posse alugada, em que in-quilinos e posseiros firmaram contrato de compra e venda a longo prazo, acompanhado por um advogado e testemunhas.

Ao final do processo serão beneficiadas 450 famílias. A transferência da terra aos mora-dores encontra-se em andamento e já existe o comprometimento da prefeitura e da SPU em se posicionarem perante aos cartórios para que seja exigida a gratuidade cartorial. Quanto à implantação efetiva do projeto com a execução das obras propostas, a comunidade busca alternativas, o que gera muitas expectativas.

Responsáveis pelas informações:Nome: Regina Bienenstein e Daniela AmaralEntidade: Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos da Universidade Federal FluminenseCargo: Coordenadora do Nephu / UFF e Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação / UFF Endereço: Rua Almirante Tefé, 637, 3º andar, centro, Niterói-RJE-mail: [email protected]: (21) 2629-2471 / 2629-2473 / Fax: (21) 2629-2473

4.12 – Universidade Federal de Minas Gerais (MG)

A Vila Acaba Mundo é uma favela localizada em uma das regiões mais valorizadas de Belo Horizonte (MG), próxima aos bairros Sion, Mangabeiras e Anchieta. A ocupação da área teve início na década de 1940, quando famílias vieram do interior do Estado para trabalhar nas mineradoras Lagoa Seca e Magnesita, que ainda atuam nas proximidades da vila. Atual-mente, há cerca de 1.400 moradores na vila, ocupando uma área de 5,36 hectares, com a qual os proprietários formais nunca tiveram nenhum vínculo efetivo.

Em 2004, por ocasião da renovação do licenciamento ambiental das mineradoras, a co-munidade organizou-se para propor condicionantes sociais ao processo de licenciamento. Foi feita uma pesquisa, em que se buscaram as principais demandas dos moradores da Vila Acaba Mundo. A regularização fundiária surgiu como a questão de maior urgência para a comunidade. O resultado não surpreendeu: o terreno, anteriormente localizado no “fim do mundo”, ou seja, na periferia da cidade, adquiriu grande valor comercial ao longo dos anos, tornando-se alvo de grande especulação imobiliária em razão de em seu entorno terem se lo-calizado moradias e prédios que alojaram classe média-alta de alto poder aquisitivo. Por essa razão, 97 % dos moradores da vila, que não possuíam os títulos de propriedade dos terrenos em que vivem há mais de 20 anos, passaram a temer a expulsão de suas moradias pelos inte-resses de grandes imobiliárias em relação àquela área privilegiada da cidade.

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Em 2007, o Programa Pólos de Cidadania, da UFMG, descobriu que o temor dos mora-dores não era infundado. Apesar de a Vila Acaba Mundo ser considerada Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e constituir-se, portanto, em área destinada à regularização fundiária e à moradia da população de baixa renda, havia, no Judiciário, mandados de demolição contra 71 casas da vila. A maioria das ações correu sem o conhecimento dos moradores, que não tiveram oportunidade de alegar a usucapião. Os moradores não eram encontrados para cita-ção, mas eram facilmente “descobertos” para serem comunicados do trânsito em julgado da ação e da decisão de removê-los de suas casas. A política local e o Judiciário, contudo, não contavam com o fato de que essa população gradativamente se organizava em um Fórum de Entidades do Entorno do Acaba Mundo (Femam), cuja constituição era mista e possuía prio-ritariamente organizações de moradores bem como de residentes não apenas da vila, como também de domiciliados na área circundante de classe média e, ainda, de representantes de setores da administração local. Pressionados, os habitantes da vila, apoiados pelo Femam, pelo Programa Pólos de Cidadania e pela comunidade do entorno, levaram à Câmara Munici-pal proposta de projeto de lei, declarando de utilidade pública para fins de desapropriação o terreno da Vila Acaba Mundo.

No início de 2008, foi realizada audiência pública na Câmara, com a presença de grande número de integrantes da população da vila e de muitos apoiadores. O número de moradores que compareceu à audiência surpreendeu à Câmara Municipal. Um dos salões da instituição ficou completamente lotado, com pessoas sentadas nas cadeiras, no chão e em pé, além da-queles que foram obrigados a permanecer de fora por impossibilidade de entrada no salão. Isto ocorreu em momento em que a cidade vivenciava grande dificuldade de mobilização, como de resto tem ocorrido em todo o Estado, o que demonstra a importância que a questão da moradia assume na vida da população mais pobre.

Após cerca de um ano, o projeto de lei foi aprovado por unanimidade. Em janeiro de 2009, no entanto, foi vetado pelo prefeito de Belo Horizonte. A população, inconformada, co-meçou a organizar-se para pedir à Câmara a derrubada do veto do Executivo. Diante da mo-bilização, a prefeitura convidou as lideranças da vila para negociar. Um dia após a reunião da comunidade com a prefeitura, o maior jornal de Minas Gerais publicou reportagens de desta-que, expondo os fatos relacionados à vila de forma deturpada e posicionando-se, claramente, contra o esforço em busca da regularização fundiária. As reportagens tiveram, ao contrário, efeito bastante positivo na mobilização dos moradores da Vila Acaba Mundo e no processo de tomada de consciência acerca do jogo de poderes existente na sociedade. A comunidade buscou outros meios de comunicação para expor sua versão dos fatos e conseguiu reunir-se novamente com a prefeitura e demonstrar que a integridade da ZEIS, criada por lei municipal, estava sendo violada e precisava ser protegida.

A prefeitura concordou em editar um decreto declarando de utilidade pública para fins de desapropriação os 19 lotes onde estavam os barracos ameaçados por mandados de de-

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molição provenientes de ações judiciais já transitadas em julgado. Com relação aos demais lotes, o Executivo comprometeu-se a celebrar convênio com o Programa Pólos de Cidadania, para garantir a regularização de toda a vila por meio da Usucapião Coletiva a ser realizada a partir da colaboração entre Poder Público e a UFMG. Em abril de 2009, foi, então, editado o Decreto Municipal nº 13.519/09, que garantiu a permanência temporária das famílias ame-açadas em suas casas. A população não pediu a derrubada do veto, mas que a Câmara con-tinuasse a monitorar o processo de regularização na Vila Acaba Mundo para garantir a sua efetiva implantação. Sabe-se, porém, que ações apenas jurídicas não asseguram a sustenta-bilidade da regularização fundiária. O Programa Pólos destaca dois pontos essenciais para a garantia da sustentabilidade da moradia: a geração de renda e a organização da população.

Na Vila Acaba Mundo, antes de iniciado o processo de regularização fundiária, foram constituídos três grupos de geração de renda: um grupo de produção de sabonetes medici-nais, um grupo de costura e uma horta comunitária. A organização da horta foi decorrência direta da luta pela regularização fundiária. Ela é liderada por moradores que foram quase expulsos de suas casas e que passaram a assumir responsabilidade sobre a terra e sobre a comunidade. Chamaram a horta de “Terra Nossa”, em homenagem ao esforço pela regu-larização e atribuíram a razão de sua existência à “vontade de unir pessoas que precisam”. O processo político permitiu o contato das famílias com setores da administração e com a possibilidade de garantir a realização de direitos de cidadania por meio da participação: uma expansão da consciência para a defesa futura de outros direitos de forma cada vez mais autônoma e emancipada.

Responsáveis pelas informações:Nome: Miracy Barbosa de Sousa GustinEntidade: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG Cargo: Coordenadora do Programa Pólos de Cidadania Endereço: Rua Oriente, 402, Serra, Belo Horizonte-MG E-mail: [email protected] Telefone: (31) 3221-6590 e (31) 9983-4078

Nome: Daniel CarvalhoEntidade: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMGCargo: Coordenador de Campo do Projeto Acaba Mundo do Programa Pólos de CidadaniaEndereço: Rua Paulo Simoni, 143/104, Santo Antônio, Belo Horizonte-MGE-mail: [email protected]: (31) 9882-4170

Nome: Raquel Nunes PortugalEntidade: Universidade Federal de Minas Gerais-UfmgCargo: Coordenadora Técnica do Projeto Acaba MundoEndereço: Rua Professor Estévão Pinto, 637/1104, Serra, Belo Horizonte-MG E-mail: [email protected]: (31) 9997-3015

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4.13 - Universidade Federal do Pará (PA)

A partir do final da década de 1970, ocorreu de maneira crescente um processo de ocupa-ção e favelização da área hoje denominada Terra Firme. São terras pertencentes à Universidade Federal do Pará (UFPA), até então regularmente registradas em cartório de imóveis, cuja ocupa-ção ocorreu sem qualquer planejamento, fazendo coexistir desde grandes favelas até loteamen-tos de alto padrão construtivo. Em função disso, foi criada na região uma nova rede viária local.

Como forma de iniciar um processo de regularização da situação existente, em 1991, foi publicado um decreto presidencial, que autorizava a UFPA a alienar, vender, ceder ou realizar outros atos de interesse social em uma área de 1.849.000 m², parte da propriedade que se encontrava ocupada.

Com a edição da lei federal nº. 11.481, de 2007, que trouxe nova fundamentação jurídica à regularização fundiária em imóveis da União, a UFPA iniciou as parcerias necessárias e co-meçou o processo de regularização de suas terras. A UFPA transmitiu a propriedade de uma área de 327.695,15 m², contemplada no decreto de 1991, para o Estado do Pará e, em maio de 2008, celebrou convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb), para realizar os trabalhos de regularização fundiária.

A estratégia utilizada pela Sedurb incluiu: cadastro técnico topográfico, habitacional e socioeconômico; avaliação das áreas cadastradas (imóveis), dentro das normas técnicas, para fins de posterior repasse legal do título do imóvel, por instrumento jurídico a ser definido (CDRU, CUEM ou Direito de Superfície) ao ocupante ou mesmo de remanejamento, se neces-sário; registro legal do repasse no cartório de imóveis.

Terra Firme conta ainda com intervenções do Projeto Tucunduba, trabalhado pelo go-verno do Estado por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), consistindo em retificação do canal denominado Tucunduba e em trabalhos de urbanização e construção de redes de água, esgoto, drenagem e de melhorias do sistema viário.

Os trabalhos de regularização começaram em maio de 2008 e até o início de 2009 não fo-ram concluídos. Os resultados parciais apresentavam 1.500 imóveis com levantamentos cadas-trais realizados em campo, 300 imóveis com informações já sistematizadas e encaminhadas para análise jurídica e 39 títulos entregues e registrados em cartório de imóveis, sendo 16 ori-ginários da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) e 23 da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (CUEM). Está prevista, para o fim do ano de 2009, a entrega de 2 mil títulos.

Responsável pelas informações:Nome: André Augusto Azevedo Montenegro DuarteEntidade: Universidade Federal do Pará Cargo: Coordenador do projeto Endereço: Cidade Universitária José da Silveira Neto, Campus Profissional, Instituto de Tecnologia, sala 145, Belém-PAE-mail: [email protected] Telefone: (91) 3201-8200

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4.14 - Universidade São Francisco (SP)

A Universidade de São Francisco (USF), no âmbito de Projetos de Extensão Universitária, firmou convênios com os municípios da região, com objetivos relacionados à temática de regularização fundiária. Em 2006, firmou o primeiro convênio com a Prefeitura Municipal de Amparo com ações nas áreas de regularização fundiária, regularização urbanística e mobiliza-ção social. Destaca-se a experiência de regularização no loteamento Jaguary.

O loteamento Jaguary localiza-se ao longo da SP-306 numa área de 198.300,00 m², entre as margens do rio Jaguary e do ribeirão das Onças, ocupando parte de suas Áreas de Proteção Permanente (APP). O bairro começou clandestinamente quando, em 1983, foi implantado um loteamento que posteriormente teve sua matrícula cancelada, mas isso não impediu que alguns lotes fossem vendidos. Os lotes vendidos têm a área de 300m² e eram 300 frações ideais. Ao longo do tempo alguns lotes foram remembrados e outros fracionados. Hoje, são 342 lotes com áreas que variam de 67 - 68 m² a 4.801,76 m². O Plano Diretor de Amparo classificou o bairro Jaguary como Núcleo Urbano Pré-Existente (NUP) e a área foi reconhecida como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Nesse loteamento, as construções existentes são na sua maioria casas residenciais (95%) e suas áreas variam de 27,94 m² a 276,68 m².

O Projeto Habitamparo-Jaguary é um projeto global que leva em consideração a regula-rização fundiária, regularização urbanística e mobilização social. As principais dificuldades ini-ciais encontradas em levar adiante o projeto foram a baixa credibilidade nas instituições ofi-ciais (prefeitura municipal, Poder Judiciário, Serviço Autônomo de Água e Esgoto, Promotoria Pública etc.) por parte dos moradores. Isso ocasionou uma pequena adesão da população ao projeto e a descrença na obtenção dos resultados e objetivos propostos. Aliado aos fatos anteriores, a falta de representatividade da associação de moradores prejudicou a integração da população no projeto de regularização.

A impossibilidade de congelamento da realidade do bairro, gerando a necessidade de constantes checagens e modificação dos levantamentos e procedimentos realizados, tam-bém propiciou atrasos nas metas propostas. Causou ainda prejuízo a continuidade do merca-do informal de compra e venda dos lotes e também dos desdobramentos mesmo durante o encaminhamento do projeto.

Foram identificadas ainda dificuldades originárias da legislação processual vigente que não distingue a necessidade de facilitação e agilidade nos procedimentos envolvendo regu-larização fundiária de áreas classificadas como ZEIS.

Superados os problemas iniciais, os trabalhos que estão sendo executados para se ob-ter como produto final a legalização da posse e das construções são: o levantamento de da-dos (cadastral, socioeconômico e documental) necessários para atingir as metas propostas; a elaboração de kits judiciais a ser utilizados no ajuizamento das ações de usucapião para

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legalização da posse (essa ação ainda está em andamento); acompanhamento do andamen-to e resultados das ações judiciais propostas; regularização administrativa das construções existentes; viabilização de empréstimo/parcerias com organismos estatais; implantação de infraestrutura com recursos obtidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – efetivado e em fase de licitação da obra; regularização jurídica da associação de moradores, que já se encontra em fase final.

A regularização documental iniciou-se com a coleta de documentos e a preparação dos kits judiciais. A seguir, foram realizadas reuniões com o Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e OAB para viabilizar caminhos facilitadores e rapidez nas ações de usu-capião a serem propostas. Os casos de usucapião urbana serão propostos pela Defensoria Pública por meio de Ação Civil Pública e o restante por ações normais.

A regularização urbanística do Jaguary pretende sanar os problemas de infraestrutura e garantir o atendimento ao plano diretor, assim como estancar o processo de degradação ambiental decorrente da ocupação desordenada e irregular, revertendo-o com a implantação das obras de infraestrutura necessárias no local, o que está se tornando realidade em função das verbas conseguidas do Orçamento Geral da União, com recursos do PAC, por intermédio do Ministério das Cidades.

Os principais agentes colaboradores para a realização dos trabalhos foram: a Associação de Moradores de Amparo; Universidade São Francisco (USF); OAB/Amparo; Poder Judiciário da comarca; Ministério Público Estadual; Cartório de Registro de Imóveis de Amparo.

Foram elaborados kits judiciais destinados a ser o instrumento de ajuizamento das ações de usucapião. A concepção do kit é da equipe da USF e seu conteúdo foi definido a partir de discussões com os membros do Poder Judiciário local, Promotoria e Defensoria Pública e car-tório de registros locais. Cada um dos kits é composto por: caracterização do possuidor e do imóvel; cópias dos documentos coletados; histórico do loteamento; carta de anuência prefei-tura; cartas de anuência dos confrontantes; memorial descritivo do lote; planta cadastral do lote; cópia da lei ZEIS; cópia das ARTs.

Os primeiros 90 kits foram entregues aos moradores em dezembro de 2008. As primei-ras ações estão sendo ajuizadas em 2009.

As lições aprendidas com esse processo foram: a constatação da necessidade de atua-ção conjunta do Estado, município e organizações civis; a importância do conhecimento dos órgãos públicos (Judiciário, Ministério Público etc.) entenderem que são partes na resolução do problema, devendo facilitar os procedimentos, atuando com posições mais pragmáticas e menos formais; a necessidade efetiva da consolidação do princípio da função social da pro-priedade e a reformulação dos instrumentos processuais vigentes para dar mais agilidade e eficácia e menor custo às ações de regularização nos casos das ZEIS.

A maior conquista foi, além de proporcionar a integração da população à cidade legal e ofertar melhores condições materiais de habitação, verificar a retomada da confiança da po-

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pulação nas ações estatais, por intermédio da efetiva presença do poder público no seu meio social, afastando a possibilidade de instalação de outras organizações de poder paralelas.

Responsáveis pelas informações:Nome: M.Camila L. D’Ottaviano e Sérgio L. Quaglia-SilvaEntidade: Observatório das Metrópoles São Paulo e Universidade São FranciscoCargo: Coordenadores Projeto HabitamparoEndereço: Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, centro, Itatiba-SPE-mail: [email protected] e [email protected]: (11) 4534-8139 ou 9902-0880 / Fax: (19) 3252-4083

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Anexos5Complexo do Alemão (RJ) Foto: Pedro Aleixo

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ANEXOS

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5.1 – Anexo 01:

LEI Nº 11.977, DE 7 DE JULHO DE 2009.

Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas; altera o Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941, as Leis nos 4.380, de 21 de agosto de 1964, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 10.257, de 10 de julho de 2001, e a Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.

CAPÍTULO IDO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA – PMCMV 

Seção IDa Estrutura e Finalidade do PMCMV Art. 1o  O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV compreende: I – o Programa Nacional de Habitação Urbana - PNHU; II – o Programa Nacional de Habitação Rural - PNHR; III – a autorização para a União transferir recursos ao Fundo de Arrendamento Residencial - FAR e ao Fundo de Desenvolvimento Social - FDS; IV – a autorização para a União conceder subven-ção econômica tendo em vista a implementação do PMCMV em Municípios com população de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; V – a autorização para a União participar do Fundo Ga-rantidor da Habitação Popular - FGHab; e VI – a autorização para a União conceder subvenção econômica ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES. Art. 2o O PMCMV tem como finalidade criar mecanis-mos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades habitacionais pelas famílias com renda men-sal de até 10 (dez) salários mínimos, que residam em qualquer dos Municípios brasileiros. Art. 3o  Para a definição dos beneficiários do PMCMV, devem ser respeitadas, além das faixas de renda, as políticas estaduais e municipais de atendimento habi-tacional, priorizando-se, entre os critérios adotados, o tempo de residência ou de trabalho do candidato no Município e a adequação ambiental e urbanística dos projetos apresentados. § 1o  Em áreas urbanas, os critérios de prioridade para atendimento devem contemplar também: I – a doação pelos Estados, pelo Distrito Federal e pe-los Municípios de terrenos localizados em área urbana consolidada para implantação de empreendimentos vinculados ao programa; II – a implementação pelos Estados, pelo Distrito Fe-deral e pelos Municípios de medidas de desoneração

tributária, para as construções destinadas à habitação de interesse social; III – a implementação pelos Municípios dos instrumen-tos da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, vol-tados ao controle da retenção das áreas urbanas em ociosidade. § 2o  (VETADO) § 3o  Terão prioridade como beneficiários os mora-dores de assentamentos irregulares ocupados por população de baixa renda que, em razão de estarem em áreas de risco ou de outros motivos justificados no projeto de regularização fundiária, excepcionalmente tiverem de ser relocados, não se lhes aplicando o sor-teio referido no § 2o. Seção IIDo Programa Nacional de Habitação Urbana – PNHU Art. 4o  O Programa Nacional de Habitação Urbana - PNHU tem como objetivo subsidiar a produção e a aqui-sição de imóvel para os segmentos populacionais com renda familiar mensal de até 6 (seis) salários mínimos. § 1o  Incluem-se entre as ações passíveis de serem rea-lizadas no âmbito do PNHU: I – produção ou aquisição de novas unidades habita-cionais em áreas urbanas; II – (VETADO); III – requalificação de imóveis já existentes em áreas consolidadas. § 2o  A assistência técnica deve fazer parte da compo-sição de custos do PNHU. Art. 5o Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica no âmbito do PNHU até o montante de R$ 2.500.000.000,00 (dois bilhões e quinhentos mi-lhões de reais). Parágrafo único.  Enquanto não efetivado o aporte de recursos de que trata o caput, caso o agente operador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS te-nha suportado ou venha a suportar, com recursos das disponibilidades atuais do referido fundo, a parcela da subvenção econômica de que trata o caput, terá direito ao ressarcimento das quantias desembolsadas, devidamente atualizadas pela taxa Selic. Art. 6o A subvenção econômica de que trata o art. 5o será concedida exclusivamente a mutuários com ren-da familiar mensal de até 6 (seis) salários mínimos, somente no ato da contratação da operação de finan-ciamento, com o objetivo de: I – facilitar a aquisição do imóvel residencial; ou II – complementar o valor necessário a assegurar o equilíbrio econômico-financeiro das operações de fi-nanciamento realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da Habitação - SFH, compreen-dendo as despesas de contratação, de administração e cobrança e de custos de alocação, remuneração e perda de capital. § 1o A subvenção econômica no âmbito do PNHU será

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concedida 1 (uma) única vez para cada beneficiário final e será cumulativa, até o limite máximo a ser fi-xado em ato do Poder Executivo, com os descontos habitacionais concedidos com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, nas operações de financiamento realizadas na forma do art. 9o da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990. § 2o  A subvenção poderá ser cumulativa com subsídios concedidos no âmbito de programas habitacionais dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Art. 7o  Em casos de utilização dos recursos da subven-ção de que trata o art. 5o em finalidade diversa da de-finida nesta Lei, ou em desconformidade ao disposto no art. 6o, será exigida a devolução ao erário do valor da subvenção concedida, acrescido de juros e atu-alização monetária, com base na remuneração dos recursos que serviram de lastro à concessão da sub-venção, sem prejuízo das penalidades previstas em lei. Art. 8o  Caberá ao Poder Executivo a regulamentação do PNHU, especialmente em relação: I – à fixação das diretrizes e condições gerais; II – à distribuição regional dos recursos e à fixação dos critérios complementares de distribuição des-ses recursos; III – aos valores e limites máximos de subvenção; IV – ao estabelecimento dos critérios adicionais de priorização da concessão da subvenção econômica; e V – ao estabelecimento das condições operacionais para pagamento e controle da subvenção econômica. Art. 9o  A gestão operacional dos recursos de sub-venção do PNHU será efetuada pela Caixa Econômi-ca Federal. Parágrafo único.  Os Ministros de Estado das Cidades e da Fazenda fixarão, em ato conjunto, a remunera-ção da Caixa Econômica Federal pelas atividades exercidas no âmbito do PNHU. Art. 10.  Competem aos Ministérios da Fazenda e das Cidades a regulamentação e a gestão do PNHU no âmbito das suas respectivas competências. 

Seção IIIDo Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR 

Art. 11.  O Programa Nacional de Habitação Rural - PNHR tem como finalidade subsidiar a produção ou a aquisição de moradia aos agricultores familiares, defi-nidos nos termos do art. 3o da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006, e trabalhadores rurais.  Parágrafo único.  A assistência técnica deve fazer parte da composição de custos do PNHR. Art.12.  Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica no âmbito do PNHR até o montante de R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais). Parágrafo único.  Enquanto não efetivado o aporte de recursos de que trata o caput, caso o agente operador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS te-nha suportado ou venha a suportar, com recursos das

disponibilidades atuais do referido fundo, a parcela da subvenção econômica de que trata o caput, terá direito ao ressarcimento das quantias desembolsadas, devidamente atualizadas pela taxa Selic. Art. 13.  A subvenção econômica de que trata o art. 12 será concedida somente no ato da contratação da operação de financiamento, com o objetivo de: I – facilitar a aquisição do imóvel residencial; II – complementar o valor necessário a assegurar o equilíbrio econômico-financeiro das operações de fi-nanciamento realizadas pelos agentes financeiros; ou III – complementar a remuneração do agente financei-ro, nos casos em que o subsídio não esteja vinculado a financiamento. § 1o  A subvenção econômica no âmbito do PNHR será concedida 1 (uma) única vez para cada beneficiário fi-nal e será cumulativa, até o limite máximo a ser fixado em ato do Poder Executivo, com os descontos habi-tacionais concedidos com recursos do Fundo de Ga-rantia do Tempo de Serviço - FGTS, nas operações de financiamento realizadas na forma do art. 9o da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990. § 2o  A subvenção poderá ser cumulativa com subsídios concedidos no âmbito de programas habitacionais dos Estados, Distrito Federal ou Municípios. § 3o  A concessão da subvenção econômica deverá guar-dar proporcionalidade com a renda familiar e o valor do imóvel, além de considerar as diferenças regionais. Art. 14.  Em casos de utilização dos recursos da sub-venção de que trata o art. 12 em finalidade diversa da definida nesta Lei, ou em desconformidade ao dis-posto no art. 13, será exigida a devolução ao erário do valor da subvenção concedida, acrescido de juros e atualização monetária, com base na remuneração dos recursos que serviram de lastro à concessão da sub-venção, sem prejuízo das penalidades previstas em lei. Art. 15.  O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Seção, especialmente no que concerne à defini-ção das diretrizes e condições gerais de operação, ges-tão, acompanhamento, controle e avaliação do PNHR. Art. 16.  A gestão operacional do PNHR será efetuada pela Caixa Econômica Federal. Parágrafo único.  Os Ministros de Estado das Cidades e da Fazenda fixarão, em ato conjunto, a remuneração da Caixa Econômica Federal pelas atividades exercidas no âmbito do PNHR. Art. 17.  Competem aos Ministérios da Fazenda e das Cidades a regulamentação e a gestão do PNHR no âmbito das suas respectivas competências. 

Seção IVDas Transferências de Recursos por parte da União e da Subvenção para Municípios de Pequeno Porte 

Art. 18.  Fica a União autorizada a transferir recursos para o Fundo de Arrendamento Residencial - FAR, até o limite de R$ 14.000.000.000,00 (quatorze bilhões de

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reais), e para o Fundo de Desenvolvimento Social - FDS, até o limite de R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais). § 1o  A liberação dos recursos pela União será efetuada no âmbito do PMCMV. § 2o Enquanto não efetivado o aporte de recursos de que trata o caput, caso o agente operador do FAR te-nha utilizado ou venha a utilizar as disponibilidades atuais do referido Fundo, em contratações no âmbito do PMCMV, terá o FAR direito ao ressarcimento das quantias desembolsadas, devidamente atualizadas pela taxa Selic. Art. 19.  Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica, no montante de até R$  1.000.000.000,00 (um bilhão de reais), para implementação do PMCMV em Municípios com população de até 50.000 (cin-quenta mil) habitantes e para atendimento a benefici-ários com renda familiar mensal de até 3 (três) salários mínimos, por meio de instituições financeiras autori-zadas pelo Banco Central do Brasil ou de agentes fi-nanceiros do Sistema Financeiro da Habitação - SFH. § 1o  Os recursos referidos no caput serão alocados mediante oferta pública às instituições financeiras e aos agentes financeiros, a critério dos Ministérios da Fazenda e das Cidades. § 2o  Cada instituição financeira ou agente financeiro participante só poderá receber recursos até o máximo de 15% (quinze por cento) do total ofertado em cada oferta pública. § 3o A regulamentação deste artigo disporá necessaria-mente sobre os seguintes aspectos: I – os valores e limites das subvenções individualizadas a serem destinadas a cada beneficiário; II – a remuneração das instituições financeiras ou dos agentes financeiros pelas operações realizadas;  III – as condições e modalidades de ofertas públicas de cotas de subvenções, como também sua quantidade; IV – a tipologia e o padrão das moradias e da infraes-trutura urbana; V – a permissão pelo Banco Central do Brasil, na esfera de sua competência e a seu exclusivo critério e discrição, para que as instituições financeiras referidas no caput possam realizar operações no âmbito do PMCMV; VI – a atribuição ao Conselho Monetário Nacional - CMN para definir as instituições financeiras e os agen-tes financeiros do SFH referidos no caput; e VII – a permissão pelos Ministérios da Fazenda e das Cidades, na esfera de sua competência e a seu exclu-sivo critério, para que as instituições financeiras e os agentes financeiros do SFH definidos pelo CMN pos-sam realizar operações no âmbito do PMCMV. § 4o Os Estados e os Municípios poderão complemen-tar o valor dos repasses com créditos tributários, bene-fícios fiscais, bens ou serviços economicamente men-suráveis, assistência técnica ou recursos financeiros. § 5o A aplicação das condições previstas neste artigo dar-se-á sem prejuízo da possibilidade de atendimen-

to aos Municípios de que trata o caput por outras for-mas admissíveis no âmbito do PMCMV. 

Seção VDo Fundo Garantidor da Habitação Popular – FGHab 

Art. 20. Fica a União autorizada a participar, até o limite de R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), de Fun-do Garantidor da Habitação Popular - FGHab, que terá por finalidades: I – garantir o pagamento aos agentes financeiros de prestação mensal de financiamento habitacional, no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, devida por mutuário final, em caso de desemprego e redução temporária da capacidade de pagamento, para famílias com renda mensal de até 10 (dez) salários mínimos; e II – assumir o saldo devedor do financiamento imobi-liário, em caso de morte e invalidez permanente, e as despesas de recuperação relativas a danos físicos ao imóvel para mutuários com renda familiar mensal de até 10 (dez) salários mínimos. § 1o As condições e os limites das coberturas de que tratam os incisos I e II deste artigo serão definidos no estatuto do FGHab. § 2o  O FGHab terá natureza privada e patrimônio próprio dividido em cotas, separado do patrimônio dos cotistas. § 3o  Constituem patrimônio do FGHab: I – os recursos oriundos da integralização de cotas pela União e pelos agentes financeiros que optarem por aderir às coberturas previstas nos incisos I e II do caput deste artigo; II – os rendimentos obtidos com a aplicação das dis-ponibilidades financeiras em títulos públicos federais e em ativos com lastro em créditos de base imobiliária, cuja aplicação esteja prevista no estatuto social;  III – os recursos provenientes da recuperação de pres-tações honradas com recursos do FGHab; IV – as comissões cobradas com fundamento nos inci-sos I e II do caput deste artigo; e V – outras fontes de recursos definidas no estatuto do Fundo. § 4o Os agentes financeiros que optarem por aderir à cobertura do FGHab deverão integralizar cotas pro-porcionais ao valor do financiamento para o mutuário final, na forma definida pelo estatuto. § 5o  A integralização de cotas pela União será autori-zada por decreto e poderá ser realizada, a critério do Ministério da Fazenda: I – em moeda corrente; II – em títulos públicos; III – por meio de suas participações minoritárias; ou IV – por meio de ações de sociedades de economia mista federais excedentes ao necessário para manu-tenção de seu controle acionário. § 6o  O FGHab terá direitos e obrigações próprias, pe-

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las quais responderá com seu patrimônio, não respon-dendo os cotistas por qualquer obrigação do Fundo, salvo pela integralização das cotas que subscreverem. Art. 21.  É facultada a constituição de patrimônio de afetação para a cobertura de que trata o inciso II do ca-put do art. 20, que não se comunicará com o restante do patrimônio do FGHab, ficando vinculado exclusiva-mente à garantia da respectiva cobertura, não poden-do ser objeto de penhora, arresto, sequestro, busca e apreensão ou qualquer ato de constrição judicial de-corrente de outras obrigações do Fundo. Parágrafo único.  A constituição do patrimônio de afe-tação será feita por registro em cartório de registro de títulos e documentos. Art. 22.  O FGHab não pagará rendimentos a seus co-tistas, assegurando-se a qualquer deles o direito de requerer o resgate total ou parcial de suas cotas, corres-pondente ao montante de recursos financeiros dispo-níveis ainda não vinculados às garantias já contratadas, fazendo-se a liquidação com base na situação patrimo-nial do Fundo. Art. 23.  Os rendimentos auferidos pela carteira do FGHab não se sujeitam à incidência de imposto de renda na fonte, devendo integrar a base de cálculo dos impostos e contribuições devidos pela pessoa ju-rídica, na forma da legislação vigente, quando houver o resgate de cotas, total ou parcial, ou na dissolução do Fundo. Art. 24.  O FGHab será criado, administrado, gerido e representado judicial e extrajudicialmente por institui-ção financeira controlada direta ou indiretamente pela União, com observância das normas a que se refere o inciso XXII do art. 4o da Lei no 4.595, de 31 de de-zembro de 1964. § 1o  A representação da União na assembleia de co-tistas dar-se-á na forma do inciso V do art. 10 do Decreto-Lei no 147, de 3 de fevereiro de 1967. § 2o  Caberá à instituição financeira de que trata o caput deste artigo, na forma estabelecida no esta-tuto do Fundo: I – deliberar sobre a gestão e a alienação dos bens e direitos do FGHab, zelando pela manutenção de sua rentabilidade e liquidez, após autorização dos cotistas; II – receber comissão pecuniária, em cada operação, do agente financeiro concedente do crédito, que po-derá exigi-la do mutuário, desde que o valor cobrado do mutuário, somado a outras eventuais cobranças de caráter securitário, não ultrapasse 10% (dez por cento) da prestação mensal. § 3o  A instituição financeira a que se refere o caput des-te artigo fará jus à remuneração pela administração do FGHab, a ser estabelecida no estatuto do Fundo. § 4o  O estatuto do FGHab será proposto pela institui-ção financeira e aprovado em assembleia de cotistas. Art. 25.  Fica criado o Comitê de Participação no Fun-do Garantidor da Habitação Popular - CPFGHab, órgão colegiado com composição e competência estabeleci-

das em ato do Poder Executivo. § 1o  O CPFGHab contará com representantes do Mi-nistério da Fazenda, que o presidirá, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Casa Civil da Presidência da República.§ 2o  O estatuto do FGHab deverá ser examinado pre-viamente pelo CPFGHab antes de sua aprovação na assembleia de cotistas. Art. 26.  O FGHab não contará com qualquer tipo de garantia ou aval por parte do setor público e respon-derá por suas obrigações até o limite dos bens e direi-tos integrantes de seu patrimônio. Art. 27.  A garantia de que trata o inciso I do caput do art. 20 será prestada mediante as seguintes condições: I – limite de cobertura, incluindo o número de presta-ções cobertas, a depender da renda familiar do mutu-ário, verificada no ato da contratação; II – período de carência definido pelo estatuto; III – retorno das prestações honradas pelo Fundo na forma contratada com o mutuário final, imediata-mente após o término de cada período de utilização da garantia, dentro do prazo remanescente do finan-ciamento habitacional ou com prorrogação do prazo inicial, atualizadas pelos mesmos índices previstos no contrato de financiamento; e IV – risco de crédito compartilhado entre o Fundo e os agentes financeiros nos percentuais, respectivamente, de 95% (noventa e cinco por cento) e 5% (cinco por cento), a ser absorvido após esgotadas medidas de co-brança e execução dos valores honrados pelo FGHab. Art. 28.  Os financiamentos imobiliários garantidos pelo FGHab, na forma do inciso II do caput do art. 20, serão dispensados da contratação de seguro com co-bertura de Morte, Invalidez Permanente - MIP e Danos Físicos ao Imóvel - DFI.Art. 29.  O FGHab concederá garantia para até 600.000 (seiscentos mil) financia-mentos imobiliários contratados exclusivamente no âmbito do PMCMV. Art. 30.  As coberturas do FGHab, descritas no art. 20, serão prestadas às operações de financiamento habi-tacional que obedeçam às seguintes condições: I – aquisição de imóveis novos, com valores de finan-ciamento limitados aos definidos no estatuto do Fun-do; II – cobertura para somente um único imóvel finan-ciado por mutuário no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação; e III – previsão da cobertura pelo FGHab expressa em cláusula específica dos contratos celebrados entre os agentes financeiros e os mutuários finais. Parágrafo único.  O estatuto do FGHab definirá o prazo das coberturas oferecidas pelo Fundo. Art. 31.  A dissolução do FGHab ficará condicionada à prévia quitação da totalidade dos débitos garantidos. Art. 32.  Dissolvido o FGHab, o seu patrimônio será dis-tribuído entre os cotistas, na proporção de suas cotas, com base na situação patrimonial à data da dissolução.

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Seção VIDa Subvenção Econômica ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES 

Art. 33.  Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica ao BNDES, sob a modalidade de equaliza-ção de taxas de juros e outros encargos financeiros, especificamente nas operações de financiamento de linha especial para infraestrutura em projetos de ha-bitação popular. § 1o  O volume de recursos utilizado para a linha de que dispõe o caput deste artigo não pode superar R$ 5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais). § 2o  A equalização de juros de que trata o caput deste artigo corresponderá ao diferencial entre o custo da fonte de captação do BNDES e o custo da linha para a instituição financeira oficial federal. Art. 34.  A concessão da subvenção de equalização de juros obedecerá aos limites e normas operacionais a serem estabelecidos pelo Conselho Monetário Na-cional, especialmente no que diz respeito a custos de captação e de aplicação dos recursos. 

Seção VIIDisposições Complementares 

Art. 35.  Os contratos e registros efetivados no âmbito do PMCMV serão formalizados, preferencialmente, em nome da mulher. Art. 36.  Os lotes destinados à construção de moradias no âmbito do PMCMV não poderão ser objeto de re-membramento, devendo tal proibição constar expres-samente dos contratos celebrados. Parágrafo único.  A vedação estabelecida no caput perdurará pelo prazo de 15 (quinze) anos, contados a partir da celebração do contrato. 

CAPÍTULO IIDO REGISTRO ELETRÔNICO E DAS CUSTAS E EMOLUMENTOS 

Art. 37.  Os serviços de registros públicos de que trata a Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, observados os prazos e condições previstas em regulamento, insti-tuirão sistema de registro eletrônico. Art. 38.  Os documentos eletrônicos apresentados aos serviços de registros públicos ou por eles expedidos deverão atender aos requisitos da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP e à arquitetura e-PING (Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrôni-co), conforme regulamento. Parágrafo único.  Os serviços de registros públicos disponibilizarão serviços de recepção de títulos e de fornecimento de informações e certidões em meio eletrônico. Art. 39.  Os atos registrais praticados a partir da vi-gência da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de

1973, serão inseridos no sistema de registro eletrô-nico, no prazo de até 5 (cinco) anos a contar da pu-blicação desta Lei. Parágrafo único.  Os atos praticados e os documentos arquivados anteriormente à vigência da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, deverão ser inseridos no sistema eletrônico. Art. 40.  Serão definidos em regulamento os requisitos quanto a cópias de segurança de documentos e de li-vros escriturados de forma eletrônica. Art. 41.  A partir da implementação do sistema de re-gistro eletrônico de que trata o art. 37, os serviços de registros públicos disponibilizarão ao Poder Executi-vo federal, por meio eletrônico e sem ônus, o acesso às informações constantes de seus bancos de dados, conforme regulamento. Art. 42.  As custas e os emolumentos devidos pelos atos de abertura de matrícula, registro de incorporação, parcelamento do solo, averbação de construção, ins-tituição de condomínio, registro da carta de habite-se e demais atos referentes à construção de empreendi-mentos no âmbito do PMCMV serão reduzidos em: I – 90% (noventa por cento) para a construção de unidades habitacionais de até R$ 60.000,00 (sessen-ta mil reais); II – 80% (oitenta por cento) para a construção de uni-dades habitacionais de R$ 60.000,01 (sessenta mil re-ais e um centavo) a R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); e III – 75% (setenta e cinco por cento) para a constru-ção de unidades habitacionais de R$ 80.000,01 (oi-tenta mil reais e um centavo) a R$ 130.000,00 (cento e trinta mil reais). Art. 43.  Não serão devidas custas e emolumentos re-ferentes a escritura pública, quando esta for exigida, ao registro da alienação de imóvel e de correspon-dentes garantias reais, e aos demais atos relativos ao primeiro imóvel residencial adquirido ou financiado pelo beneficiário com renda familiar mensal de até 3 (três) salários mínimos. Parágrafo único.  As custas e emolumentos de que tra-ta o caput, no âmbito do PMCMV, serão reduzidos em: I – 80% (oitenta por cento), quando os imóveis resi-denciais forem destinados a beneficiário com renda familiar mensal superior a 6 (seis) e até 10 (dez) salá-rios mínimos; e II – 90% (noventa por cento), quando os imóveis re-sidenciais forem destinados a beneficiário com renda familiar mensal superior a 3 (três) e igual ou inferior a 6 (seis) salários mínimos. Art. 44.  Os cartórios que não cumprirem o disposto nos arts. 42 e 43 ficarão sujeitos à multa no valor de até R$ 100.000,00 (cem mil reais), bem como a outras sanções previstas na Lei no 8.935, de 18 de novembro de 1994. Art. 45.  Regulamento disporá sobre as condições e as etapas mínimas, bem como sobre os prazos máximos, a serem cumpridos pelos serviços de registros públi-

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cos, com vistas na efetiva implementação do sistema de registro eletrônico de que trata o art. 37. 

CAPÍTULO IIIDA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE ASSENTAMENTOS URBANOS 

Seção IDisposições Preliminares 

Art. 46.  A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregula-res e à titulação de seus ocupantes, de modo a garan-tir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Art. 47.  Para efeitos da regularização fundiária de as-sentamentos urbanos, consideram-se: I – área urbana: parcela do território, contínua ou não, incluída no perímetro urbano pelo Plano Diretor ou por lei municipal específica;  II – área urbana consolidada: parcela da área urbana com densidade demográfica superior a 50 (cinquen-ta) habitantes por hectare e malha viária implantada e que tenha, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes equipa-mentos de infraestrutura urbana implantados: a) drenagem de águas pluviais urbanas; b) esgotamento sanitário; c) abastecimento de água potável; d) distribuição de energia elétrica; ou e) limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sóli-dos; III – demarcação urbanística: procedimento adminis-trativo pelo qual o poder público, no âmbito da regu-larização fundiária de interesse social, demarca imóvel de domínio público ou privado, definindo seus limites, área, localização e confrontantes, com a finalidade de identificar seus ocupantes e qualificar a natureza e o tempo das respectivas posses;  IV – legitimação de posse: ato do poder público desti-nado a conferir título de reconhecimento de posse de imóvel objeto de demarcação urbanística, com a iden-tificação do ocupante e do tempo e natureza da posse; V – Zona Especial de Interesse Social - ZEIS: parcela de área urbana instituída pelo Plano Diretor ou definida por outra lei municipal, destinada predominantemente à moradia de população de baixa renda e sujeita a regras específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo; VI – assentamentos irregulares: ocupações inseridas em parcelamentos informais ou irregulares, localiza-das em áreas urbanas públicas ou privadas, utilizadas predominantemente para fins de moradia; VII – regularização fundiária de interesse social: regu-larização fundiária de assentamentos irregulares ocu-pados, predominantemente, por população de baixa renda, nos casos: 

a) em que tenham sido preenchidos os requisitos para usucapião ou concessão de uso especial para fins de moradia;  b) de imóveis situados em ZEIS; ou c) de áreas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios declaradas de interesse para implan-tação de projetos de regularização fundiária de inte-resse social; VIII – regularização fundiária de interesse específico: regularização fundiária quando não caracterizado o interesse social nos termos do inciso VII. Art. 48.  Respeitadas as diretrizes gerais da política urbana estabelecidas na Lei no 10.257, de 10 de ju-lho de 2001, a regularização fundiária observará os seguintes princípios: I – ampliação do acesso à terra urbanizada pela popu-lação de baixa renda, com prioridade para sua perma-nência na área ocupada, assegurados o nível adequa-do de habitabilidade e a melhoria das condições de sustentabilidade urbanística, social e ambiental; II – articulação com as políticas setoriais de habitação, de meio ambiente, de saneamento básico e de mobi-lidade urbana, nos diferentes níveis de governo e com as iniciativas públicas e privadas, voltadas à integração social e à geração de emprego e renda; III – participação dos interessados em todas as etapas do processo de regularização; IV – estímulo à resolução extrajudicial de conflitos; e V – concessão do título preferencialmente para a mulher.  Art. 49.  Observado o disposto nesta Lei e na Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, o Município poderá dispor sobre o procedimento de regularização fundiá-ria em seu território. Parágrafo único.  A ausência da regulamentação pre-vista no caput não obsta a implementação da regula-rização fundiária. Art. 50.  A regularização fundiária poderá ser promo-vida pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios e também por: I – seus beneficiários, individual ou coletivamente; e II – cooperativas habitacionais, associações de mora-dores, fundações, organizações sociais, organizações da sociedade civil de interesse público ou outras asso-ciações civis que tenham por finalidade atividades nas áreas de desenvolvimento urbano ou regularização fundiária. Art. 51.  O projeto de regularização fundiária deverá definir, no mínimo, os seguintes elementos: I – as áreas ou lotes a serem regularizados e, se houver necessidade, as edificações que serão relocadas; II – as vias de circulação existentes ou projetadas e, se possível, as outras áreas destinadas a uso público; III – as medidas necessárias para a promoção da sus-tentabilidade urbanística, social e ambiental da área ocupada, incluindo as compensações urbanísticas e ambientais previstas em lei; 

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ANEXOS

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IV – as condições para promover a segurança da popu-lação em situações de risco; e V – as medidas previstas para adequação da infraes-trutura básica. § 1o O projeto de que trata o caput não será exigido para o registro da sentença de usucapião, da senten-ça declaratória ou da planta, elaborada para outorga administrativa, de concessão de uso especial para fins de moradia. § 2o O Município definirá os requisitos para elaboração do projeto de que trata o caput, no que se refere aos desenhos, ao memorial descritivo e ao cronograma fí-sico de obras e serviços a serem realizados. § 3o  A regularização fundiária pode ser implementada por etapas. Art. 52. Na regularização fundiária de assentamentos consolidados anteriormente à publicação desta Lei, o Município poderá autorizar a redução do percentual de áreas destinadas ao uso público e da área mínima dos lotes definidos na legislação de parcelamento do solo urbano. 

Seção IIDa Regularização Fundiária de Interesse Social 

Art. 53.  A regularização fundiária de interesse social depende da análise e da aprovação pelo Município do projeto de que trata o art. 51. Parágrafo único.  A aprovação municipal prevista no caput corresponde ao licenciamento ambiental e ur-banístico do projeto de regularização fundiária de in-teresse social, desde que o Município tenha conselho de meio ambiente e órgão ambiental capacitado. Art. 54. O projeto de regularização fundiária de inte-resse social deverá considerar as características da ocupação e da área ocupada para definir parâmetros urbanísticos e ambientais específicos, além de identifi-car os lotes, as vias de circulação e as áreas destinadas a uso público. § 1o O Município poderá, por decisão motivada, admitir a regularização fundiária de interesse social em Áreas de Preservação Permanente, ocupadas até 31 de de-zembro de 2007 e inseridas em área urbana consolida-da, desde que estudo técnico comprove que esta inter-venção implica a melhoria das condições ambientais em relação à situação de ocupação irregular anterior. § 2o O estudo técnico referido no § 1o deverá ser elabo-rado por profissional legalmente habilitado, compati-bilizar-se com o projeto de regularização fundiária e conter, no mínimo, os seguintes elementos: I – caracterização da situação ambiental da área a ser regularizada; II – especificação dos sistemas de saneamento básico; III – proposição de intervenções para o controle de ris-cos geotécnicos e de inundações; IV – recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de regularização; 

V – comprovação da melhoria das condições de sus-tentabilidade urbano-ambiental, considerados o uso adequado dos recursos hídricos e a proteção das uni-dades de conservação, quando for o caso; VI – comprovação da melhoria da habitabilidade dos moradores propiciada pela regularização proposta; e VII – garantia de acesso público às praias e aos corpos d´água, quando for o caso. Art. 55.  Na regularização fundiária de interesse social, caberá ao poder público, diretamente ou por meio de seus concessionários ou permissionários de serviços públicos, a implantação do sistema viário e da infra-estrutura básica, previstos no § 6o do art. 2o da Lei no 6.766, de 19 de dezembro de 1979, ainda que promovida pelos legitimados previstos nos incisos I e II do art. 50. Parágrafo único.  A realização de obras de implantação de infraestrutura básica e de equipamentos comunitá-rios pelo poder público, bem como sua manutenção, pode ser realizada mesmo antes de concluída a regu-larização jurídica das situações dominiais dos imóveis. Art. 56.  O poder público responsável pela regulariza-ção fundiária de interesse social poderá lavrar auto de demarcação urbanística, com base no levantamento da situação da área a ser regularizada e na caracterização da ocupação.  § 1o  O auto de demarcação urbanística deve ser ins-truído com:  I – planta e memorial descritivo da área a ser regula-rizada, nos quais constem suas medidas perimetrais, área total, confrontantes, coordenadas preferencial-mente georreferenciadas dos vértices definidores de seus limites, bem como seu número de matrícula ou transcrição e a indicação do proprietário, se houver; II – planta de sobreposição do imóvel demarcado com a situação da área constante no registro de imóveis; e III – certidão da matrícula ou transcrição da área a ser regularizada, emitida pelo registro de imóveis, ou, diante de sua inexistência, das circunscrições imobiliá-rias anteriormente competentes. § 2o  Na possibilidade de a demarcação urbanística abranger área pública ou com ela confrontar, o poder público deverá notificar previamente os órgãos res-ponsáveis pela administração patrimonial dos demais entes federados, para que informem se detêm a titula-ridade da área, no prazo de 30 (trinta) dias. § 3o  Na ausência de manifestação no prazo previsto no § 2o, o poder público dará continuidade à demar-cação urbanística. § 4o No que se refere a áreas de domínio da União, apli-car-se-á o disposto na Seção III-A do Decreto-Lei no 9.760, de 5 de setembro de 1946, inserida pela Lei no 11.481, de 31 de maio de 2007, e, nas áreas de domínio dos Estados, Distrito Federal ou Municípios, a sua respectiva legislação patrimonial. Art. 57.  Encaminhado o auto de demarcação urbanís-tica ao registro de imóveis, o oficial deverá proceder

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às buscas para identificação do proprietário da área a ser regularizada e de matrículas ou transcrições que a tenham por objeto. § 1o  Realizadas as buscas, o oficial do registro de imó-veis deverá notificar pessoalmente o proprietário da área e, por edital, os confrontantes e eventuais interes-sados para, querendo, apresentarem, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnação à averbação da demarcação urbanística. § 2o  Se o proprietário não for localizado nos ende-reços constantes do registro de imóveis ou naqueles fornecidos pelo poder público, a notificação do pro-prietário será realizada por edital. § 3o  São requisitos para a notificação por edital:  I – resumo do auto de demarcação urbanística, com a descrição que permita a identificação da área a ser demarcada e seu desenho simplificado;  II – publicação do edital, no prazo máximo de 60 (ses-senta) dias, uma vez pela imprensa oficial e uma vez em jornal de grande circulação local; e III – determinação do prazo de 15 (quinze) dias para apresentação de impugnação à averbação da demar-cação urbanística. § 4o  Decorrido o prazo sem impugnação, a demarca-ção urbanística deverá ser averbada na matrícula da área a ser regularizada. § 5o  Não havendo matrícula da qual a área seja objeto, esta deverá ser aberta com base na planta e no memo-rial indicados no inciso I do § 1o do art. 56. § 6o  Havendo impugnação, o oficial do registro de imóveis deverá notificar o poder público para que se manifeste no prazo de 60 (sessenta) dias. § 7o  O poder público poderá propor a alteração do auto de demarcação urbanística ou adotar qualquer outra medida que possa afastar a oposição do pro-prietário ou dos confrontantes à regularização da área ocupada. § 8o  Havendo impugnação apenas em relação à par-cela da área objeto do auto de demarcação urbanísti-ca, o procedimento seguirá em relação à parcela não impugnada.  § 9o  O oficial de registro de imóveis deverá promo-ver tentativa de acordo entre o impugnante e o po-der público. § 10.  Não havendo acordo, a demarcação urbanística será encerrada em relação à área impugnada. Art. 58.  A partir da averbação do auto de demarcação urbanística, o poder público deverá elaborar o projeto previsto no art. 51 e submeter o parcelamento dele decorrente a registro. § 1o  Após o registro do parcelamento de que trata o caput, o poder público concederá título de legitima-ção de posse aos ocupantes cadastrados. § 2o  O título de que trata o § 1o será concedido pre-ferencialmente em nome da mulher e registrado na matrícula do imóvel. Art. 59.  A legitimação de posse devidamente regis-

trada constitui direito em favor do detentor da posse direta para fins de moradia. Parágrafo único.  A legitimação de posse será conce-dida aos moradores cadastrados pelo poder público, desde que: I – não sejam concessionários, foreiros ou proprietá-rios de outro imóvel urbano ou rural; II – não sejam beneficiários de legitimação de posse concedida anteriormente; e III – os lotes ou fração ideal não sejam superiores a 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados).Art. 60.  Sem prejuízo dos direitos decorrentes da posse exercida anteriormente, o detentor do título de legi-timação de posse, após 5 (cinco) anos de seu regis-tro, poderá requerer ao oficial de registro de imóveis a conversão desse título em registro de propriedade, tendo em vista sua aquisição por usucapião, nos ter-mos do art. 183 da Constituição Federal. § 1o  Para requerer a conversão prevista no caput, o adquirente deverá apresentar: I – certidões do cartório distribuidor demonstrando a inexistência de ações em andamento que versem so-bre a posse ou a propriedade do imóvel; II – declaração de que não possui outro imóvel urbano ou rural; III – declaração de que o imóvel é utilizado para sua moradia ou de sua família; e IV – declaração de que não teve reconhecido anterior-mente o direito à usucapião de imóveis em áreas urba-nas. § 2o  As certidões previstas no inciso I do § 1o serão relativas à totalidade da área e serão fornecidas pelo poder público. 

Seção IIIDa Regularização Fundiária de Interesse Específico 

Art. 61.  A regularização fundiária de interesse especí-fico depende da análise e da aprovação do projeto de que trata o art. 51 pela autoridade licenciadora, bem como da emissão das respectivas licenças urbanística e ambiental. § 1o  O projeto de que trata o caput deverá obser-var as restrições à ocupação de Áreas de Preservação Permanente e demais disposições previstas na legis-lação ambiental. § 2o  A autoridade licenciadora poderá exigir contra-partida e compensações urbanísticas e ambientais, na forma da legislação vigente. Art. 62.  A autoridade licenciadora deverá definir, nas licenças urbanística e ambiental da regularização fun-diária de interesse específico, as responsabilidades re-lativas à implantação: I – do sistema viário; II – da infraestrutura básica; III – dos equipamentos comunitários definidos no pro-jeto de regularização fundiária; e 

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ANEXOS

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IV – das medidas de mitigação e de compensação ur-banística e ambiental eventualmente exigidas. § 1o  A critério da autoridade licenciadora, as respon-sabilidades previstas no caput poderão ser comparti-lhadas com os beneficiários da regularização fundiária de interesse específico, com base na análise de, pelo menos, 2 (dois) aspectos: I – os investimentos em infraestrutura e equipamentos comunitários já realizados pelos moradores; e II – o poder aquisitivo da população a ser beneficiada. § 2o  As medidas de mitigação e de compensação ur-banística e ambiental exigidas na forma do inciso IV do caput deverão integrar termo de compromisso, fir-mado perante as autoridades responsáveis pela emis-são das licenças urbanística e ambiental, ao qual se garantirá força de título executivo extrajudicial. Art. 63.  (VETADO) Seção IVDo Registro da Regularização Fundiária Art. 64.  O registro do parcelamento resultante do pro-jeto de regularização fundiária de interesse específico deverá ser requerido ao registro de imóveis, nos ter-mos da legislação em vigor e observadas as disposi-ções previstas neste Capítulo. Art. 65.  O registro do parcelamento resultante do projeto de regularização fundiária de interesse social deverá ser requerido ao registro de imóveis, acompa-nhado dos seguintes documentos: I – certidão atualizada da matrícula do imóvel; II – projeto de regularização fundiária aprovado; III – instrumento de instituição e convenção de condo-mínio, se for o caso; e IV – no caso das pessoas jurídicas relacionadas no inciso II do art. 50, certidão atualizada de seus atos constitutivos que demonstrem sua legitimidade para promover a regularização fundiária. Art. 66.  O registro do parcelamento resultante do pro-jeto de regularização fundiária deverá importar: I – na abertura de matrícula para toda a área objeto de regularização, se não houver; e II – na abertura de matrícula para cada uma das par-celas resultantes do projeto de regularização fundiária. Art. 67.  As matrículas das áreas destinadas a uso pú-blico deverão ser abertas de ofício, com averbação das respectivas destinações e, se for o caso, das restrições administrativas convencionais ou legais. Art. 68.  Não serão cobradas custas e emolumentos para o registro do auto de demarcação urbanística, do título de legitimação e de sua conversão em título de propriedade e dos parcelamentos oriundos da regula-rização fundiária de interesse social. 

Seção VDisposições Gerais 

Art. 69.  Aplicam-se ao Distrito Federal todas as atribui-ções e prerrogativas dispostas neste Capítulo para os

Estados e Municípios. Art. 70.  As matrículas oriundas de parcelamento re-sultante de regularização fundiária de interesse social não poderão ser objeto de remembramento. Art. 71.  As glebas parceladas para fins urbanos ante-riormente a 19 de dezembro de 1979 que não possu-írem registro poderão ter sua situação jurídica regula-rizada, com o registro do parcelamento, desde que o parcelamento esteja implantado e integrado à cidade. § 1o  A regularização prevista no caput pode envolver a totalidade ou parcelas da gleba. § 2o  O interessado deverá apresentar certificação de que a gleba preenche as condições previstas no caput, bem como desenhos e documentos com as informa-ções necessárias para a efetivação do registro do par-celamento. 

CAPÍTULO IVDISPOSIÇÕES FINAIS 

Art. 72.  Nas ações judiciais de cobrança ou execução de cotas de condomínio, de imposto sobre a proprie-dade predial e territorial urbana ou de outras obriga-ções vinculadas ou decorrentes da posse do imóvel urbano, nas quais o responsável pelo pagamento seja o possuidor investido nos respectivos direitos aquisiti-vos, assim como o usufrutuário ou outros titulares de direito real de uso, posse ou fruição, será notificado o titular do domínio pleno ou útil, inclusive o promiten-te vendedor ou fiduciário. Art. 73.  Serão assegurados no PMCMV: I – condições de acessibilidade a todas as áreas públi-cas e de uso comum; II – disponibilidade de unidades adaptáveis ao uso por pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida e idosos, de acordo com a demanda; III – condições de sustentabilidade das construções; IV – uso de novas tecnologias construtivas. Art. 74.  O Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 15.  ...................................................................................................................................................................................................... § 4o  A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente.” (NR) “Art. 32.  .......................................................................................... § 1o  As dívidas fiscais serão deduzidas dos valores depositados, quando inscritas e ajuizadas. § 2o  Incluem-se na disposição prevista no § 1o as multas decorrentes de inadimplemento e de obriga-ções fiscais. § 3o  A discussão acerca dos valores inscritos ou execu-tados será realizada em ação própria.” (NR)Art. 75.  A Lei no 4.380, de 21 de agosto de 1964, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 8o  ............................................................................................I – pelos bancos múltiplos; II – pelos bancos comerciais; 

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III – pelas caixas econômicas; IV – pelas sociedades de crédito imobiliário; V – pelas associações de poupança e empréstimo; VI – pelas companhias hipotecárias; VII – pelos órgãos federais, estaduais e municipais, inclusive sociedades de economia mista em que haja participação majoritária do poder público, que ope-rem, de acordo com o disposto nesta Lei, no financia-mento de habitações e obras conexas; VIII – pelas fundações, cooperativas e outras formas associativas para construção ou aquisição da casa própria sem finalidade de lucro, que se constituirão de acordo com as diretrizes desta Lei; IX – pelas caixas militares; X – pelas entidades abertas de previdência comple-mentar; XI – pelas companhias securitizadoras de crédito imobiliário; e XII – por outras instituições que venham a ser consi-deradas pelo Conselho Monetário Nacional como in-tegrantes do Sistema Financeiro da Habitação..................................................................................................” (NR) “Art. 15-A.  É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade mensal nas operações rea-lizadas pelas entidades integrantes do Sistema Finan-ceiro da Habitação - SFH. § 1o  No ato da contratação e sempre que solicitado pelo devedor será apresentado pelo credor, por meio de planilha de cálculo que evidencie de modo claro e preciso, e de fácil entendimento e compreensão, o seguinte conjunto de informações: I – saldo devedor e prazo remanescente do contrato; II – taxa de juros contratual, nominal e efetiva, nas pe-riodicidades mensal e anual; III – valores repassados pela instituição credora às se-guradoras, a título de pagamento de prêmio de segu-ro pelo mutuário, por tipo de seguro; IV – taxas, custas e demais despesas cobradas junta-mente com a prestação, discriminadas uma a uma; V – somatório dos valores já pagos ou repassados re-lativos a: a) juros; b) amortização; c) prêmio de seguro por tipo de seguro; d) taxas, custas e demais despesas, discriminando por tipo; VI – valor mensal projetado das prestações ainda não pa-gas, pelo prazo remanescente do contrato, e o respectivo somatório, decompostos em juros e amortizações; VII – valor devido em multas e demais penalidades contratuais quando houver atraso no pagamento da prestação. § 2o  No cômputo dos valores de que trata o inciso VI do § 1o, a instituição credora deve desconsiderar os efeitos de eventual previsão contratual de atualização monetária do saldo devedor ou das prestações.” “Art. 15-B.  Nas operações de empréstimo ou finan-

ciamento realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro da Habitação que prevejam pa-gamentos por meio de prestações periódicas, os sis-temas de amortização do saldo devedor poderão ser livremente pactuados entre as partes. § 1o  O valor presente do fluxo futuro das prestações, compostas de amortização do principal e juros, gera-das pelas operações de que trata o caput, deve ser cal-culado com a utilização da taxa de juros pactuada no contrato, não podendo resultar em valor diferente ao do empréstimo ou do financiamento concedido. § 2o  No caso de empréstimos e financiamentos com previsão de atualização monetária do saldo devedor ou das prestações, para fins de apuração do valor pre-sente de que trata o § 1o, não serão considerados os efeitos da referida atualização monetária. § 3o  Nas operações de empréstimo ou financiamento de que dispõe o caput é obrigatório o oferecimento ao mutuário do Sistema de Amortização Constante - SAC e de, no mínimo, outro sistema de amortização que atenda o disposto nos §§ 1o e 2o, entre eles o Sistema de Amortização Crescente - SACRE e o Sistema Francês de Amortização (Tabela Price).” Art. 76.  A Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 17.  ..........................................................................................Parágrafo único.  O acesso ou envio de informações aos registros públicos, quando forem realizados por meio da rede mundial de computadores (internet) deverão ser assinados com uso de certificado digital, que atenderá os requisitos da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP.” (NR) “Art. 167.  ........................................................................................I – ..................................................................................................................................................................................................................41.  da legitimação de posse;  II – .................................................................................................................................................................................................................26.  do auto de demarcação urbanística.” (NR) “Art. 221.  ....................................................................................................................................................................................................V – contratos ou termos administrativos, assinados com a União, Estados e Municípios no âmbito de pro-gramas de regularização fundiária, dispensado o reco-nhecimento de firma.” (NR) “Art. 237-A.  Após o registro do parcelamento do solo ou da incorporação imobiliária, até a emissão da carta de habite-se, as averbações e registros relativos à pessoa do incorporador ou referentes a direitos reais de garantias, cessões ou demais negócios jurí-dicos que envolvam o empreendimento serão reali-zados na matrícula de origem do imóvel e em cada uma das matrículas das unidades autônomas even-tualmente abertas.  § 1o  Para efeito de cobrança de custas e emolumentos, as averbações e os registros realizados com base no caput serão considerados como ato de registro único,

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não importando a quantidade de unidades autôno-mas envolvidas ou de atos intermediários existentes. § 2o  Nos registros decorrentes de processo de parcela-mento do solo ou de incorporação imobiliária, o regis-trador deverá observar o prazo máximo de 15 (quinze) dias para o fornecimento do número do registro ao interessado ou a indicação das pendências a serem satisfeitas para sua efetivação.” Art. 77.  O inciso VII do art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, passa a vigorar com a seguinte re-dação: “Art. 20. .......................................................................................................................................................................................................VII – pagamento total ou parcial do preço de aquisi-ção de moradia própria, ou lote urbanizado de inte-resse social não construído, observadas as seguintes condições:.................................................................................................” (NR) Art. 78.  O inciso V do art. 4o da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, passa a vigorar acrescido das se-guintes alíneas t e u: “Art. 4o  ........................................................................................................................................................................................................V – .................................................................................................................................................................................................................t) demarcação urbanística para fins de regularização fundiária; u) legitimação de posse..................................................................................................” (NR) Art. 79.  O art. 2o da Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001, passa a vigorar com a se-guinte redação: “Art. 2o  Os agentes financeiros do SFH somente po-derão conceder financiamentos habitacionais com co-bertura securitária que preveja, no mínimo, cobertura aos riscos de morte e invalidez permanente do mutu-ário e de danos físicos ao imóvel. § 1o  Para o cumprimento do disposto no caput, os agentes financeiros, respeitada a livre escolha do mu-tuário, deverão: I – disponibilizar, na qualidade de estipulante e bene-ficiário, uma quantidade mínima de apólices emitidas por entes seguradores diversos, que observem a exi-gência estabelecida no caput; II – aceitar apólices individuais apresentadas pelos pretendentes ao financiamento, desde que a cober-tura securitária prevista observe a exigência mínima estabelecida no caput e o ente segurador cumpra as condições estabelecidas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP, para apólices direcionadas a operações da espécie. § 2o  Sem prejuízo da regulamentação do seguro ha-bitacional pelo CNSP, o Conselho Monetário Nacional estabelecerá as condições necessárias à implementa-ção do disposto no § 1o deste artigo, no que se refere às obrigações dos agentes financeiros.” (NR) Art. 80.  Até que a quantidade mínima a que se refere

o inciso II do § 1º do art. 2º da Medida Provisó-ria nº 2.197-43, de 24 de agosto de 2001, seja regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional, os agentes financeiros poderão oferecer apenas uma apólice ao mutuário. Art. 81.  Ficam convalidados os atos do Conselho Monetário Nacional que relacionaram as instituições integrantes do Sistema Financeiro da Habitação. Art. 82.  Fica autorizado o financiamento para aquisi-ção de equipamento de energia solar e contratação de mão de obra para sua instalação em moradias cujas famílias aufiram no máximo renda de 6 (seis) salários mínimos. Art. 83.  Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-blicação. 

Brasília,  7  de  julho  de 2009; 188o da Independência e 121o da República. 

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto Guido Mantega Paulo Bernardo Silva Carlos Minc Marcio Fortes de Almeida*Este texto não substitui o publicado no DOU de 8.7.2009

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5.2 – Anexo 02:

LEI Nº 11.952, DE 25 DE JUNHO DE 2009.

Dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal; altera as Leis nos 8.666, de 21 de junho de 1993, e 6.015, de 31 de dezembro de 1973; e dá outras providências.

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situadas em áre-as da União, no âmbito da Amazônia Legal, definida no art. 2º da Lei Complementar nº 124, de 3 de janeiro de 2007, mediante alienação e concessão de direito real de uso de imóveis. Parágrafo único.  Fica vedado beneficiar, nos termos desta Lei, pessoa natural ou jurídica com a regulariza-ção de mais de uma área ocupada.Art. 2o  Para os efeitos desta Lei, entende-se por:I - ocupação direta: aquela exercida pelo ocupante e sua família;II - ocupação indireta: aquela exercida somente por interposta pessoa;III - exploração direta: atividade econômica exercida em imóvel rural, praticada diretamente pelo ocupante com o auxílio de seus familiares, ou com a ajuda de terceiros, ainda que assalariados;IV - exploração indireta: atividade econômica exercida em imóvel rural por meio de preposto ou assalariado;V - cultura efetiva: exploração agropecuária, agroin-dustrial, extrativa, florestal, pesqueira ou outra ativida-de similar, mantida no imóvel rural e com o objetivo de prover subsistência dos ocupantes, por meio da produção e da geração de renda;VI - ocupação mansa e pacífica: aquela exercida sem oposição e de forma contínua;VII - ordenamento territorial urbano: planejamento da área urbana, de expansão urbana ou de urbanização es-pecífica, que considere os princípios e diretrizes da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, e inclua, no mínimo, os seguintes elemea) delimitação de zonas especiais de interesse social em quantidade compatível com a de-manda de habitação de interesse social do Município;b) diretrizes e parâmetros urbanísticos de parcelamen-to, uso e ocupação do solo urbano;c) diretrizes para infraestrutura e equipamentos urba-nos e comunitários; ed) diretrizes para proteção do meio ambiente e do pa-trimônio cultural;VIII - concessão de direito real de uso: cessão de direito real de uso, onerosa ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, para fins específicos de re-gularização fundiária; e

IX - alienação: doação ou venda, direta ou mediante lici-tação, nos termos da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, do domínio pleno das terras previstas no art. 1o.Art. 3o São passíveis de regularização fundiária nos ter-mos desta Lei as ocupações incidentes em terras:I - discriminadas, arrecadadas e registradas em nome da União com base no art. 1o do Decreto-Lei no 1.164, de 1o de abril de 1971;II - abrangidas pelas exceções dispostas no parágrafo único do art. 1o do Decreto-Lei no 2.375, de 24 de novembro de 1987;III - remanescentes de núcleos de colonização ou de projetos de reforma agrária que tiverem perdido a vocação agrícola e se destinem à utilização urbana; IV - devolutas localizadas em faixa de fronteira; ouV - registradas em nome do Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária - Incra, ou por ele administradas.Parágrafo único.  Esta Lei aplica-se subsidiariamente a outras áreas sob domínio da União, na Amazônia Le-gal, sem prejuízo da utilização dos instrumentos pre-vistos na legislação patrimonial.Art. 4o  Não serão passíveis de alienação ou concessão de direito real de uso, nos termos desta Lei, as ocupa-ções que recaiam sobre áreas:I - reservadas à administração militar federal e a outras finalidades de utilidade pública ou de interesse social a cargo da União;II - tradicionalmente ocupadas por população indígena;III - de florestas públicas, nos termos da Lei no 11.284, de 2 de março de 2006, de unidades de conservação ou que sejam objeto de processo administrativo volta-do à criação de unidades de conservação, conforme regulamento; ouIV - que contenham acessões ou benfeitorias federais.§ 1o As áreas ocupadas que abranjam parte ou a tota-lidade de terrenos de marinha, terrenos marginais ou reservados, seus acrescidos ou outras áreas insuscetí-veis de alienação nos termos do art. 20 da Consti-tuição Federal, poderão ser regularizadas mediante outorga de título de concessão de direito real de uso. § 2o  As terras ocupadas por comunidades quilombolas ou tradicionais que façam uso coletivo da área serão re-gularizadas de acordo com as normas específicas, apli-cando-se-lhes, no que couber, os dispositivos desta Lei.

CAPÍTULO IIDA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM ÁREAS RURAIS

Art. 5o  Para regularização da ocupação, nos termos desta Lei, o ocupante e seu cônjuge ou companheiro deverão atender os seguintes requisitos:I - ser brasileiro nato ou naturalizado;II - não ser proprietário de imóvel rural em qualquer parte do território nacional;III - praticar cultura efetiva; IV - comprovar o exercício de ocupação e exploração direta, mansa e pacífica, por si ou por seus antecesso-

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res, anterior a 1o de dezembro de 2004; e V - não ter sido beneficiado por programa de reforma agrária ou de regularização fundiária de área rural, ressalvadas as situações admitidas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.§ 1o  Fica vedada a regularização de ocupações em que o ocupante, seu cônjuge ou companheiro exerçam cargo ou emprego público no Incra, no Ministério do Desenvolvimento Agrário, na Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão ou nos órgãos estaduais de terras.§ 2o  Nos casos em que o ocupante, seu cônjuge ou companheiro exerçam cargo ou emprego público não referido no § 1o, deverão ser observados para a regu-larização os requisitos previstos nos incisos II, III e IV do art. 3o da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006.Art. 6o  Preenchidos os requisitos previstos no art. 5o, o Ministério do Desenvolvimento Agrário ou, se for o caso, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-tão regularizará as áreas ocupadas mediante alienação. § 1o  Serão regularizadas as ocupações de áreas de até 15 (quinze) módulos fiscais e não superiores a 1.500ha (mil e quinhentos hectares), respeitada a fração míni-ma de parcelamento.§ 2o  Serão passíveis de alienação as áreas ocupadas, demarcadas e que não abranjam as áreas previstas no art. 4o desta Lei.§ 3o  Não serão regularizadas ocupações que incidam sobre áreas objeto de demanda judicial em que seja parte a União ou seus entes da administração indireta, até o trânsito em julgado da respectiva decisão.§ 4o  A concessão de direito real de uso nas hipóteses previstas no § 1o do art. 4o desta Lei será outorgada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, após a identificação da área, nos termos de regulamento. § 5o  Os ocupantes de áreas inferiores à fração mínima de parcelamento terão preferência como beneficiários na implantação de novos projetos de reforma agrária na Amazônia Legal.Art. 7o  (VETADO)Art. 8o  Em caso de conflito nas regularizações de que trata este Capítulo, a União priorizará:I - a regularização em benefício das comunidades lo-cais, definidas no inciso X do art. 3o da Lei no 11.284, de 2 de março de 2006, se o conflito for entre essas comunidades e particular, pessoa natural ou jurídica;II – (VETADO)Art. 9o  A identificação do título de domínio destacado originariamente do patrimônio público será obtida a partir de memorial descritivo, assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilida-de Técnica - ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites do imóvel rural, georreferencia-das ao Sistema Geodésico Brasileiro. Parágrafo único.  O memorial descritivo de que trata o caput será elaborado nos termos do regulamento. Art. 10.  A certificação do memorial descritivo não será

exigida no ato da abertura de matrícula baseada em título de domínio de imóvel destacado do patrimônio público, nos termos desta Lei. Parágrafo único.  Os atos registrais subsequentes de-verão ser feitos em observância ao art. 176 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973.Art. 11.  Na ocupação de área contínua de até 1 (um) módulo fiscal, a alienação e, no caso previsto no § 4o do art. 6o desta Lei, a concessão de direito real de uso dar-se-ão de forma gratuita, dispensada a licitação, ressalvado o disposto no art. 7o desta Lei.Parágrafo único.  O registro decorrente da alienação ou concessão de direito real de uso de que trata este artigo será realizado de ofício pelo Registro de Imóveis competente, independentemente de custas e emolu-mentos.Art. 12.  Na ocupação de área contínua acima de 1 (um) módulo fiscal e até 15 (quinze) módulos fiscais, desde que inferior a 1.500ha (mil e quinhentos hecta-res), a alienação e, no caso previsto no § 4o do art. 6o desta Lei, a concessão de direito real de uso dar-se-ão de forma onerosa, dispensada a licitação, ressalvado o disposto no art. 7o.§ 1o  A avaliação do imóvel terá como base o valor mí-nimo estabelecido em planilha referencial de preços, sobre o qual incidirão índices que considerem os cri-térios de ancianidade da ocupação, especificidades de cada região em que se situar a respectiva ocupação e dimensão da área, conforme regulamento. § 2o  Ao valor do imóvel para alienação previsto no § 1o serão acrescidos os custos relativos à execução dos serviços topográficos, se executados pelo poder públi-co, salvo em áreas onde as ocupações não excedam a 4 (quatro) módulos fiscais.§ 3o  Poderão ser aplicados índices diferenciados, quan-to aos critérios mencionados no § 1o, para a alienação ou concessão de direito real de uso das áreas onde as ocupações não excedam a 4 (quatro) módulos fiscais.§ 4o  O ocupante de área de até 4 (quatro) módulos fiscais terá direito aos benefícios do Programa Nossa Terra - Nossa Escola.Art. 13.   Os requisitos para a regularização fundiária dos imóveis de até 4 (quatro) módulos fiscais serão averiguados por meio de declaração do ocupante, su-jeita a responsabilização nas esferas penal, administra-tiva e civil, dispensada a vistoria prévia.Parágrafo único.  É facultado ao Ministério do Desen-volvimento Agrário ou, se for o caso, ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão determinar a re-alização de vistoria de fiscalização do imóvel rural na hipótese prevista no caput deste artigo. Art. 14.  As áreas ocupadas insuscetíveis de regulari-zação por excederem os limites previstos no § 1o do art. 6o poderão ser objeto de titulação parcial, nos moldes desta Lei, de área de até 15 (quinze) módulos fiscais, observado o limite máximo de 1.500ha (mil e quinhentos hectares).

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§ 1o  A opção pela titulação, nos termos do caput, será condicionada à desocupação da área excedente. § 2o  Ao valor do imóvel serão acrescidos os custos re-lativos à execução dos serviços topográficos, se execu-tados pelo poder público.Art. 15.  O título de domínio ou, no caso previsto no § 4o do art. 6o, o termo de concessão de direito real de uso deverão conter, entre outras, cláusulas sob condição resolutiva pelo prazo de 10 (dez) anos, que determinem:I - o aproveitamento racional e adequado da área;II - a averbação da reserva legal, incluída a possibilida-de de compensação na forma de legislação ambiental;III - a identificação das áreas de preservação perma-nente e, quando couber, o compromisso para sua re-cuperação na forma da legislação vigente;IV - a observância das disposições que regulam as re-lações de trabalho; eV - as condições e forma de pagamento. § 1o  Na hipótese de pagamento por prazo superior a 10 (dez) anos, a eficácia da cláusula resolutiva prevista no inciso V do caput deste artigo estender-se-á até a integral quitação. § 2o  O desmatamento que vier a ser considerado ir-regular em áreas de preservação permanente ou de reserva legal durante a vigência das cláusulas reso-lutivas, após processo administrativo, em que tiver sido assegurada a ampla defesa e o contraditório, implica rescisão do título de domínio ou termo de concessão com a consequente reversão da área em favor da União.§ 3o  Os títulos referentes às áreas de até 4 (quatro) mó-dulos fiscais serão intransferíveis e inegociáveis por ato inter vivos pelo prazo previsto no caput.§ 4o  Desde que o beneficiário originário esteja cum-prindo as cláusulas resolutivas, decorridos 3 (três) anos da titulação, poderão ser transferidos títulos referentes a áreas superiores a 4 (quatro) módulos fiscais, se a transferência for a terceiro que preencha os requisitos previstos em regulamento.§ 5o  A transferência dos títulos prevista no § 4o so-mente será efetivada mediante anuência dos órgãos expedidores.§ 6o  O beneficiário que transferir ou negociar por qualquer meio o título obtido nos termos desta Lei não poderá ser beneficiado novamente em programas de reforma agrária ou de regularização fundiária.Art. 16.  As condições resolutivas do título de domínio e do termo de concessão de uso somente serão libe-radas após vistoria. Art. 17.  O valor do imóvel fixado na forma do art. 12 será pago pelo beneficiário da regularização fundiária em prestações amortizáveis em até 20 (vinte) anos, com carência de até 3 (três) anos.§ 1o  Sobre o valor fixado incidirão os mesmos encargos financeiros adotados para o crédito rural oficial, na forma do regulamento, respeitadas as diferenças referentes ao

enquadramento dos beneficiários nas linhas de crédito disponíveis por ocasião da fixação do valor do imóvel.§ 2o  Poderá ser concedido desconto ao beneficiário da regularização fundiária, de até 20% (vinte por cento), no pagamento à vista. § 3o  Os títulos emitidos pelo Incra entre 1o de maio de 2008 e 10 de fevereiro de 2009 para ocupantes em terras públicas federais na Amazônia Legal terão seus valores passíveis de enquadramento ao previsto nesta Lei, desde que requerido pelo interessado e nos ter-mos do regulamento.Art. 18.  O descumprimento das condições resolutivas pelo titulado ou, na hipótese prevista no § 4o do art. 15, pelo terceiro adquirente implica rescisão do título de domínio ou do termo de concessão, com a conse-quente reversão da área em favor da União, declarada no processo administrativo que apurar o descumpri-mento das cláusulas resolutivas, assegurada a ampla defesa e o contraditório.Parágrafo único.  Rescindido o título de domínio ou o termo de concessão na forma do caput, as benfeitorias úteis e necessárias, desde que realizadas com obser-vância da lei, serão indenizadas.Art. 19.  No caso de inadimplemento de contrato firma-do com o Incra até 10 de fevereiro de 2009, ou de não observância de requisito imposto em termo de con-cessão de uso ou de licença de ocupação, o ocupante terá prazo de 3 (três) anos, contados a partir de 11 de fevereiro de 2009, para adimplir o contrato no que foi descumprido ou renegociá-lo, sob pena de ser retoma-da a área ocupada, conforme regulamento. Art. 20.  Todas as cessões de direitos a terceiros que envolvam títulos precários expedidos pelo Incra em nome do ocupante original, antes de 11 de fevereiro de 2009, servirão somente para fins de comprovação da ocupação do imóvel pelo cessionário ou por seus antecessores.§ 1o  O terceiro cessionário mencionado no caput des-te artigo somente poderá regularizar a área por ele ocupada. § 2o  Os imóveis que não puderem ser regularizados na forma desta Lei serão revertidos, total ou parcialmen-te, ao patrimônio da União.

CAPÍTULO IIIDA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM ÁREAS URBANAS

Art. 21.  São passíveis de regularização fundiária as ocu-pações incidentes em terras públicas da União, previs-tas no art. 3o desta Lei, situadas em áreas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica. § 1o  A regularização prevista no caput deste artigo será efetivada mediante doação aos Municípios inte-ressados, para a qual fica o Poder Executivo autoriza-do, sob a condição de que sejam realizados pelas ad-ministrações locais os atos necessários à regularização

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das áreas ocupadas, nos termos desta Lei.§ 2o  Nas hipóteses previstas no § 1o do art. 4o desta Lei, será aplicada concessão de direito real de uso das terras.Art. 22.  Constitui requisito para que o Município seja beneficiário da doação ou da concessão de direito real de uso previstas no art. 21 desta Lei ordenamento ter-ritorial urbano que abranja a área a ser regularizada, observados os elementos exigidos no inciso VII do art. 2o desta Lei.§ 1o  Os elementos do ordenamento territorial das áre-as urbanas, de expansão urbana ou de urbanização es-pecífica constarão no plano diretor, em lei municipal específica para a área ou áreas objeto de regularização ou em outra lei municipal.§ 2o  Em áreas com ocupações para fins urbanos já consolidadas, nos termos do regulamento, a trans-ferência da União para o Município poderá ser feita independentemente da existência da lei municipal referida no § 1o deste artigo.§ 3o  Para transferência de áreas de expansão urbana, os municípios deverão apresentar justificativa que de-monstre a necessidade da área solicitada, considerando a capacidade de atendimento dos serviços públicos em função do crescimento populacional previsto, o déficit habitacional, a aptidão física para a urbanização e ou-tros aspectos definidos em regulamento.Art. 23.  O pedido de doação ou de concessão de direi-to real de uso de terras para regularização fundiária de área urbana ou de expansão urbana será dirigido:I - ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, em ter-ras arrecadadas ou administradas pelo Incra; ouII - ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-tão, em outras áreas sob domínio da União.§ 1o  Os procedimentos de doação ou de concessão de direito real de uso deverão ser instruídos pelo Municí-pio com as seguintes peças, além de outros documen-tos que poderão ser exigidos em regulamento:I - pedido de doação devidamente fundamentado e assinado pelo seu representante;II - comprovação das condições de ocupação; III - planta e memorial descritivo do perímetro da área pretendida, cuja precisão posicional será fixada em regulamento; IV - cópia do plano diretor ou da lei municipal que con-temple os elementos do ordenamento territorial urba-no, observado o previsto no § 2o do art. 22 desta Lei;V - relação de acessões e benfeitorias federais exis-tentes na área pretendida, contendo identificação e localização. § 2o  Caberá ao Incra ou, se for o caso, ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão analisar se a plan-ta e o memorial descritivo apresentados atendem as exigências técnicas fixadas. § 3o  O Ministério das Cidades participará da análise do pedido de doação ou concessão e emitirá parecer sobre sua adequação aos termos da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001.

Art. 24.  Quando necessária a prévia arrecadação ou a discriminação da área, o Incra ou, se for o caso, o Minis-tério do Planejamento, Orçamento e Gestão procede-rá à sua demarcação, com a cooperação do Município interessado e de outros órgãos públicos federais e es-taduais, promovendo, em seguida, o registro imobiliá-rio em nome da União. Art. 25.  No caso previsto no § 2o do art. 21 desta Lei, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão la-vrará o auto de demarcação.Parágrafo único.  Nas áreas de várzeas, leitos de rios e outros corpos d’água federais, o auto de demarcação será instruído apenas pela planta e memorial descritivo da área a ser regularizada, fornecidos pelo Município, observado o disposto no inciso I do § 2º do art. 18-A do Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946.Art. 26.  O Ministério do Desenvolvimento Agrário ou, se for o caso, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão formalizará a doação em favor do Município, com a expedição de título que será levado a registro, nos termos do art. 167, inciso I, da Lei no 6.015, de 1973.§ 1o  A formalização da concessão de direito real de uso no caso previsto no § 2o do art. 21 desta Lei será efetivada pelo Ministério do Planejamento, Orça-mento e Gestão. § 2o  Na hipótese de estarem abrangidas as áreas re-feridas nos incisos I a IV do caput do art. 4o desta Lei, o registro do título será condicionado à sua exclusão, bem como à abertura de nova matrícula para as áreas destacadas objeto de doação ou concessão no registro imobiliário competente, nos termos do inciso I do art. 167 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973.§ 3o  A delimitação das áreas de acessões, benfeitorias, terrenos de marinha e terrenos marginais será atribui-ção dos órgãos federais competentes, facultada a rea-lização de parceria com Estados e Municípios. § 4o  A doação ou a concessão de direito real de uso serão precedidas de avaliação da terra nua elaborada pelo Incra ou outro órgão federal competente com base em planilha referencial de preços, sendo dispen-sada a vistoria da área. § 5o  A abertura de matrícula referente à área inde-penderá do georreferenciamento do remanescente da gleba, nos termos do § 3º do art. 176 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, desde que a doação ou a concessão de direito real de uso sejam precedidas do reconhecimento dos limites da gleba pelo Incra ou, se for o caso, pelo Ministério do Plane-jamento, Orçamento e Gestão, garantindo que a área esteja nela localizada. Art. 27.  A doação e a concessão de direito real de uso a um mesmo Município de terras que venham a perfazer quantitativo superior a 2.500ha (dois mil e quinhentos hectares) em 1 (uma) ou mais parcelas deverão previamente ser submetidas à aprovação do Congresso Nacional. Art. 28.  A doação e a concessão de direito real de uso

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implicarão o automático cancelamento, total ou parcial, das autorizações e licenças de ocupação e quaisquer outros títulos não definitivos outorgados pelo Incra ou, se for o caso, pelo Ministério do Planejamento, Orça-mento e Gestão, que incidam na área. § 1o  As novas pretensões de justificação ou legitimação de posse existentes sobre as áreas alcançadas pelo can-celamento deverão ser submetidas ao Município.§ 2o  Para o cumprimento do disposto no caput, o Mi-nistério do Desenvolvimento Agrário ou, se for o caso, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão fará publicar extrato dos títulos expedidos em nome do Município, com indicação do número do processo administrativo e dos locais para consulta ou obtenção de cópias das peças técnicas necessárias à identifica-ção da área doada ou concedida. § 3o  Garantir-se-ão às pessoas atingidas pelos efeitos do cancelamento a que se refere o caput:I - a opção de aquisição de lote urbano incidente na área do título cancelado, desde que preencham os requisitos fixados para qualquer das hipóteses do art. 30; eII - o direito de receber do Município indenização pelas acessões e benfeitorias que houver erigido em boa-fé nas áreas de que tiver que se retirar. § 4o  A União não responderá pelas acessões e benfeito-rias erigidas de boa-fé nas áreas doadas ou concedidas. Art. 29.  Incumbe ao Município dispensar às terras re-cebidas a destinação prevista nesta Lei, observadas as condições nela previstas e aquelas fixadas no título, cabendo-lhe, em qualquer caso:I - regularizar as ocupações nas áreas urbanas, de ex-pansão urbana ou de urbanização específica; eII - indenizar as benfeitorias de boa-fé erigidas nas áre-as insuscetíveis de regularização. Art. 30.  O Município deverá realizar a regularização fundiária dos lotes ocupados, observados os seguin-tes requisitos:I - alienação gratuita a pessoa natural que tenha in-gressado na área antes de 11 de fevereiro de 2009, atendidas pelo beneficiário as seguintes condições: a) possua renda familiar mensal inferior a 5 (cinco) sa-lários mínimos; b) ocupe a área de até 1.000m² (mil metros qua-drados) sem oposição, pelo prazo ininterrupto de, no mínimo, 1 (um) ano, observadas, se houver, as dimensões de lotes fixadas na legislação municipal;c) utilize o imóvel como única moradia ou como meio lícito de subsistência, exceto locação ou asse-melhado; ed) não seja proprietário ou possuidor de outro imó-vel urbano, condição atestada mediante declaração pessoal sujeita a responsabilização nas esferas penal, administrativa e civil;II - alienação gratuita para órgãos e entidades da ad-ministração pública estadual, instalados até 11 de fe-vereiro de 2009;III - alienação onerosa, precedida de licitação, com di-

reito de preferência àquele que comprove a ocupação, por 1 (um) ano ininterrupto, sem oposição, até 10 de fevereiro de 2009, de área superior a 1.000m² (mil me-tros quadrados) e inferior a 5.000m² (cinco mil metros quadrados); eIV - nas situações não abrangidas pelos incisos I a III, sejam observados na alienação a alínea f do inciso I do art. 17 e as demais disposições da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.§ 1o  No caso previsto no § 2o do art. 21, o Município deverá regularizar a área recebida mediante a transfe-rência da concessão de direito real de uso. § 2o  O registro decorrente da alienação de que trata o inciso I do caput e da concessão de direito real de uso a beneficiário que preencha os requisitos estabeleci-dos nas alíneas a a d do mesmo inciso será realizado de ofício pelo Registro de Imóveis competente, inde-pendentemente de custas e emolumentos.

CAPÍTULO IVDISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 31.  Os agentes públicos que cometerem desvios na aplicação desta Lei incorrerão nas sanções previs-tas na Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, sem prejuízo de outras penalidades cabíveis.Parágrafo único.  Não haverá reversão do imóvel ao patrimônio da União em caso de descumprimento das disposições dos arts. 29 e 30 pelo Município.Art. 32.  Com a finalidade de efetivar as atividades pre-vistas nesta Lei, a União firmará acordos de coopera-ção técnica, convênios ou outros instrumentos congê-neres com Estados e Municípios. Art. 33.  Ficam transferidas do Incra para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, pelo prazo de 5 (cinco) anos renovável por igual período, nos termos de regu-lamento, em caráter extraordinário, as competências para coordenar, normatizar e supervisionar o processo de regularização fundiária de áreas rurais na Amazônia Legal, expedir os títulos de domínio correspondentes e efetivar a doação prevista no § 1o do art. 21, manten-do-se as atribuições do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão previstas por esta Lei.Art. 34.  O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão criarão sistema informatizado a ser disponibilizado na rede mundial de computadores - internet, visando a assegurar a transparência sobre o processo de regula-rização fundiária de que trata esta Lei.Art. 35.  A implementação das disposições desta Lei será avaliada de forma sistemática por comitê ins-tituído especificamente para esse fim, assegurada a participação de representantes da sociedade civil organizada que atue na região amazônica, segundo composição e normas de funcionamento definidas em regulamento.Art. 36.  Os Estados da Amazônia Legal que não apro-

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varem, mediante lei estadual, o respectivo Zoneamen-to Ecológico-Econômico - ZEE no prazo máximo de 3 (três) anos, a contar da entrada em vigor desta Lei, ficarão proibidos de celebrar novos convênios com a União, até que tal obrigação seja adimplida.Art. 37.  Ficam transformadas, sem aumento de des-pesa, no âmbito do Poder Executivo, para fins de atendimento do disposto nesta Lei, 216 (duzentas e dezesseis) Funções Comissionadas Técnicas, criadas pelo art. 58 da Medida Provisória no 2.229-43, de 6 de setembro de 2001, sendo 3 (três) FCT-1, 7 (sete) FCT-2, 10 (dez) FCT-3, 8 (oito) FCT-4, 14 (quatorze) FCT-9, 75 (setenta e cinco) FCT-10, 34 (trinta e quatro) FCT-11, 24 (vinte e quatro) FCT-12, 30 (trinta) FCT-13 e 11 (onze) FCT-15, em 71 (setenta e um) cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, sendo 1 (um) DAS-6, 1 (um) DAS-5, 11 (onze) DAS-4, 29 (vinte e nove) DAS-3 e 29 (vinte e nove) DAS-2. § 1o  Os cargos referidos no caput serão destinados ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e à Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamen-to, Orçamento e Gestão. § 2o  O Poder Executivo disporá sobre a alocação dos cargos em comissão transformados por esta Lei na es-trutura regimental dos órgãos referidos no § 1o.§ 3o  Fica o Poder Executivo autorizado a transfor-mar, no âmbito do Incra, 10 (dez) DAS-1 e 1 (um) DAS-3 em 3 (três) DAS-4 e 2 (dois) DAS-2.Art. 38.  A União e suas entidades da administração in-direta ficam autorizadas a proceder a venda direta de imóveis residenciais de sua propriedade situados na Amazônia Legal aos respectivos ocupantes que possam comprovar o período de ocupação efetiva e regular por período igual ou superior a 5 (cinco) anos, excluídos:I - os imóveis residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares;II - os imóveis considerados indispensáveis ao servi-ço público.Art. 39.  A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a vigorar com as seguintes alterações:“Art. 17.  .........................................................................................I - ...................................................................................................................................................................................................................b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer es-fera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i;............................................................................................................i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União na Ama-zônia Legal onde incidam ocupações até o limite de 15 (quinze) módulos fiscais ou 1.500ha (mil e quinhentos hectares), para fins de regularização fundiária, atendi-dos os requisitos legais;............................................................................................................§ 2o  ..............................................................................................................................................................................................................II - a pessoa natural que, nos termos da lei, regulamen-

to ou ato normativo do órgão competente, haja imple-mentado os requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa e pacífica e exploração direta sobre área rural situada na Amazônia Legal, superior a 1 (um) módulo fiscal e limitada a 15 (quinze) módulos fiscais, desde que não exceda 1.500ha (mil e quinhentos hectares);............................................................................................................§ 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2o ficam dispen-sadas de autorização legislativa, porém submetem-se aos seguintes condicionamentos:.................................................................................................” (NR)Art. 40.  A Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 167.  .................................................................................................................................................................................................II - ..................................................................................................................................................................................................................24.  do destaque de imóvel de gleba pública originá-ria.” (NR)“Art. 176.  ..................................................................................................................................................................................................§ 5º Nas hipóteses do § 3o, caberá ao Incra certificar que a poligonal objeto do memorial descritivo não se sobrepõe a nenhuma outra constante de seu cadastro georreferenciado e que o memorial atende às exigên-cias técnicas, conforme ato normativo próprio. § 6o  A certificação do memorial descritivo de glebas pú-blicas será referente apenas ao seu perímetro originário. § 7o  Não se exigirá, por ocasião da efetivação do re-gistro do imóvel destacado de glebas públicas, a reti-ficação do memorial descritivo da área remanescente, que somente ocorrerá a cada 3 (três) anos, contados a partir do primeiro destaque, englobando todos os destaques realizados no período.” (NR)“Art. 250.  ..................................................................................................................................................................................................IV - a requerimento da Fazenda Pública, instruído com certidão de conclusão de processo administrativo que declarou, na forma da lei, a rescisão do título de domí-nio ou de concessão de direito real de uso de imóvel rural, expedido para fins de regularização fundiária, e a reversão do imóvel ao patrimônio público.” (NR)Art. 41.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília,  25  de junho de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Tarso Genro Guido Mantega Paulo Bernardo Silva Carlos Minc Guilherme Cassel Márcio Fortes de AlmeidaEste texto não substitui o publicado no DOU de 26.6.2009

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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA NO BRASIL

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