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CRIMES DE ÓDIO racismo, feminicídio e homofobia Regina Cirino Alves Ferreira de Souza

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C R I M E S D E

Ó D I Oracismo, feminicídio e homofobia

Regina Cirino Alves Ferreira de Souza

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ÓD

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editora

ISBN 978-85-8425-962-5

O ódio encontra-se na pauta do dia jurídico-pe-nal, sendo que tal se deve não apenas ao fascínio em torno da nomenclatura, mas também em ra-zão da diária veiculação de práticas delitivas mo-tivadas pelo ódio preconceituoso. O temário, que já ostentava grande carga de preocupação por motivos de origem histórica, vem ganhando ainda maior destaque, tendo em vista, por exemplo, as infindáveis discussões em torno do terrorismo, do fluxo imigratório e do desrespeito à questão mul-ticultural. Objetiva-se, então, sopesar qual deve ser a postura do Direito Penal ante aos reclamos dos gestores atípicos da moral pela criminalização dife-renciada daquelas condutas motivadas pelo despre-zo e repulsa sentida pelo odiador em detrimento do odiado, em razão de uma de suas característi-cas, dentre elas, raça, gênero ou orientação sexual.

O debate em torno da ques-tão do ódio e suas formas de exteriorização sinaliza-se como fundamental no senti-do de conhecer seus novos contornos e sua amplitude na sociedade da contempo-rânea, vez que os indivíduos desejam não só igualdade formal e material, mas tam-bém o reconhecimento de suas identidades. Neste in-fluxo, o ódio preconceituo-so é o enfoque da presente análise, visto que pode não apenas figurar como discur-so incitador à discriminação (discurso do ódio), como também ser catalizador para a perpetração de condutas criminosas (crimes de ódio).

REGINA CIRINO ALVES FERREIRA DE SOUZA

Doutoranda e Mestre em Direito Penal pela Univer-sidade de São Paulo (USP). Especialista em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de Salamanca (USAL). Especialista em Direi-to Penal Econômico e Euro-peu pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (UC). Coordenadora da pós--graduação em Fashion Law na Faculdade Santa Marce-lina (FASM). Pós-graduada em Moda e Criação pela Faculdade Santa Marcelina (FASM). Bacharel em Direito pela Universidade Presbite-riana Mackenzie. Advogada. Sócia no escritório Souza e Velludo Salvador Advogados.

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CRIMES DE ÓDIO:rac i smo, femin ic íd io e homofob ia

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CRIMES DE ÓDIO:rac i smo, femin ic íd io e homofob ia

Reg i n a C i r i n o A l v e s F e r r e i ra d e S ou za

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Copyright © 2018, D’Plácido Editora.Copyright © 2018, Regina Cirino Alves Ferreira de Souza.

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa, projeto gráficoLetícia Robini

DiagramaçãoEnzo Zaqueu Prates

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843, Savassi

Belo Horizonte – MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida,

por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

SOUZA, Regina Cirino Alves Ferreira deCrimes de Ódio: racismo, feminicídio e homofobia -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018.

Bibliografia.ISBN: 978-85-8425-962-5

1. Direito. 2. Direito Penal. 3. Criminologia. I. Título.

CDU343.9 CDD341.59

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“O opressor tem que ser libertado tanto quanto o oprimido. Um homem que tira a liberdade de outro homem é um prisioneiro do ódio, está preso

atrás das grades do preconceito e da pobreza de espírito. Ser livre não significa apenas se livrar de suas algemas, mas sim viver de uma maneira

que respeite e reforce a liberdade dos outros”.

Nelson Mandela

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Aos meus amados pais, cuja gratidão palavras não podem traduzir e a minha avó Ana Maria Silva, “vodana”, que com seus lúcidos 98 anos é

motivo de muito orgulho e admiração.

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As linhas que se fazem presentes nessa obra são fruto de dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a qual foi submetida à avaliação dos ilustres professores Renato de Mello Jorge Silveira, Eunice Aparecida de Jesus Prudente e Christiano Falk Fragoso, os quais, desde logo, agradeço pelas preciosas contribuições. Sem dúvidas, foi um grande privilégio ser avaliada por Vossas Excelências.

Durante três anos me dediquei ao estudo do Ódio e o Direito Penal e, após avaliação, tive a felicidade de ser aprovada cum laude, o que não teria sido pos-sível sem a contribuição diversos professores e o apoio de amigos e familiares. Assim, inicialmente, gostaria de externar publicamente a minha gratidão ao meu querido orientador Professor Titular Renato de Mello Jorge Silveira, o qual recebeu com entusiasmo minha proposta de tema e soube compreender minha relação de amor e ódio pelo trabalho que vinha sendo desenvolvido. Muito obrigada por acreditar mesmo quando eu duvidei.

Igualmente, consigno o meu sincero agradecimento ao Professor Cate-drático Jesús-Maria Silva Sánchez, pela acolhida na Universitat Pompeu Fabra em Barcelona e por suas valiosas orientações.

Não poderia deixar de fazer uma especial referência ao meu amigo e sócio, Alamiro Velludo Salvador Netto, cuja exemplar trajetória acadêmica e profissional é digna de nota e é para mim motivo de inspiração diária. Obrigada pelos conselhos e por estar presente no importante dia da defesa da dissertação.

Agradeço o Professor Titular Gilberto Bercovici pelas valorosas suges-tões bibliográficas, na pessoa de quem cumprimento os demais professores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e, em especial, os profes-sores do Departamento de Direito Penal, Criminologia e Medicina Forense.

Aproveito a oportunidade para registrar meu agradecimento à Profes-sora Flávia Piovesan, cujos estudos acadêmicos humanistas foram fonte de

AGRADECIMENTOS

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inspiração. Obrigada por, mesmo sem me conhecer pessoalmente, ter aceito o convite de prefaciar o presente livro.

Dedico esse livro aos meus amados pais, Gilberto Alves Ferreira e Sandra Helena Cirino Silva Ferreira e aos meus irmãos Bruno Cirino Alves Ferreira e Renan Cirino Alves Ferreira, os quais enfrentaram, com doçura, todas as dificuldades para que eu pudesse realizar esse e outros sonhos. Jamais con-seguirei expressar meu amor profundo por vocês. Do mesmo modo, dedico essas linhas ao meu marido, Luciano Anderson de Souza, cujo incentivo e sugestões foram determinantes para a conclusão dessa etapa. Somente o amor é capaz de explicar sua paciência nesses anos que me debrucei ao estudo do ódio. Obrigada pela deliciosa convivência diária, te amo.

A autora

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PREFÁCIO 15

APRESENTAÇÃO 17

INTRODUÇÃO 21

1. DOS PRECONCEITOS NEGATIVOS AOS CRIMES DE ÓDIO 25

1.1. A NATUREZA DO ÓDIO 25

1.1.1. A influência da emoção e da paixão no Direito Penal 29

1.2. O PRECONCEITO E AS EXPRESSÕES VIOLENTAS 34

1.2.1. Preconceitos exteriorizados: da discriminação aos atos de violência e extermínio 37

1.2.1.1. O caso do nacional-socialismo 41

2. ORIGEM E DEFINIÇÃO DE CRIME DE ÓDIO (HATE CRIME) 51

2.1. O LIAME ENTRE A OFENSA CRIMINAL E O MOTIVO DISCRIMINATÓRIO 58

2.2. CRIMES DE ÓDIO E CONCEITOS CORRELATOS 61

2.2.1. Os crimes de ódio e os crimes odiosos (heinous crimes) 62

SUMÁRIO

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2.2.2. Os crimes de ódio e os crimes contra a humanidade 67

2.2.3. Os crimes de ódio e as legislações antidiscriminatórias 68

2.2.4. Os discursos do ódio (hate speeches) 69

2.2.4.1. Discurso do ódio e liberdade de expressão na Suprema Corte norte-americana 71

2.2.4.2. Liberdade de expressão: as teorias revisionistas e o discurso do ódio 77

3. A LEITURA DO ÓDIO NO BRASIL: DAS LEGISLAÇÕES DISCRIMINATÓRIAS A PROTETIVAS 81

3.1. O TRATAMENTO JURÍDICO-PENAL DO ESCRAVO: SUA CONDIÇÃO DE AUTOR E VÍTIMA 81

3.2. O FIM DO PERÍODO ESCRAVOCATA BRASILEIRO E A CONSAGRAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO 86

3.2.1. A questão da raça e a responsabilidade penal: o pensamento de NINA RODRIGUES 90

3.3. MODELO POLÍTICOS-CRIMINAIS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO 95

3.3.1. Criminalização da discriminação: proteção da igualdade de direitos 98

3.3.1.1. A discriminação em razão de orientação sexual ou identidade de gênero: reflexões acerca do Projeto de Lei nº 122/2006 101

3.3.2. O crime de injúria qualificada pelo preconceito 111

3.3.3. Criminalização do discurso do ódio no Brasil: o caso Siegfried ELLWANGER 117

4. CRIMES DE ÓDIO NO BRASIL 133

4.1. O QUADRO ATUAL DA MATÉRIA 133

4.2. A CRIMINALIZAÇÃO DO FEMINICÍDIO 136

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4.2.1. Feminicídio ou femicídio 140

4.2.2. Antecedente legislativo à criminalização do feminicídio no Brasil: Projeto de Lei do Senado nº 292/2013 145

4.2.3. A inserção do feminicídio como qualificadora penal 151

4.3. ÓDIO DISCRIMINATÓRIO COMO QUALIFICADORA E AGRAVANTE PENAL 154

5. A LUTA POR RECONHECIMENTO E SEUS REFLEXOS NA NORMATIVA ANTIDISCRIMINATÓRIA 159

5.1. A LUTA POR RECONHECIMENTO 159

5.2. A BUSCA POR RECONHECIMENTO E A PLURALIDADE DE PROJETOS DE LEIS ANTIDISCRIMINATÓRIOS NA REALIDADE BRASILEIRA 167

5.2.1. A busca por reconhecimento em face da produção legislativa 167

5.2.2. Os projetos legislativos brasileiros atuais 173

5.2.3. O emblemático Projeto de Lei nº 7582/2014 176

CONCLUSÕES 181

BIBLIOGRAFIA 189

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Avaliar qual deve ser o papel do Direito Penal em face do ódio precon-ceituoso, que assume novos contornos e crescente complexidade na ordem contemporânea, surge como o desafio central da presente obra.

Com toda densidade e competência, o estudo de Regina Cirino Alves Ferreira de Souza adota, como ponto de partida, a análise da emergência dos crimes de ódio, mediante a exteriorização dos preconceitos, com especial destaque ao caso do nacional-socialismo e ao Direito Penal como instrumento de criminalização e condutas.

É a partir desta reflexão, que transita ao exame da origem e definição dos crimes de ódio (compreendendo os crimes odiosos; os crimes contra a huma-nidade; os crimes de discriminação; e os discursos de ódio), para então enfocar o ódio no Brasil, por meio da criminalização da discriminação à proteção da igualdade de direitos. Prossegue o detido estudo, tecendo um quadro atual da matéria, com destaque à criminalização do feminicídio (por meio da Lei n. 13.104/2015) e do ódio discriminatório como qualificadora e agravante penal.

Por fim, traz instigantes reflexões acerca da luta por reconhecimento sobretudo de grupos vulneráveis e seus reflexos na normativa anti-discrimi-natória, com atenção a projetos de lei sobre o tema, em um mergulho ana-lítico sobre os limites e potencialidades do Direito Penal no enfrentamento da matéria, com vistas a assegurar a igualdade por meio do controle social de condutas, em defesa do respeito e da dignidade humana.

Sob a perspectiva dos direitos humanos, o ódio discriminatório corrói o idioma da alteridade, como essência mesma dos direitos humanos -- ver no outro um ser merecedor de igual consideração e profundo respeito. O lema da alteridade é pilar estruturante da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. A Declaração surgiu como resposta às atrocidades come-tidas no nazismo: se a Segunda Guerra significou a ruptura com os direitos

PREFÁCIO

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humanos, o Pós-Guerra deveria significar a esperança de sua reconstrução. A Declaração endossa a universalidade dos direitos humanos, ao reconhecer que a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para ter direitos. Repudia a equação nazista que condicionava a titularidade de direitos à pertença à raça pura ariana, amparada na doutrina da supremacia racial. Reconhece a dignidade humana como um componente intrínseco de toda e qualquer pessoa, por sua unicidade, diversidade e valor infinito. Endossa a indivisibilidade dos direitos humanos, ao adotar uma perspectiva integral de direitos, aliando ineditamente o valor da liberdade ao valor da igualdade, compondo direitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e culturais, em sua indivisibilidade, inter-relação e interdependência.

A ordem contemporânea enfrenta o desafio das crescentes hostilidades, intolerâncias e do fortalecimento do discurso do ódio. Avançam doutrinas de superioridade baseadas em diferenças, sejam de origem, nacionalidade, raça, etnia, gênero, diversidade sexual, idade, dentre outras categorias. A diferença é tomada como fator a aniquilar direitos, em nome da supremacia de uns em detrimento de outros, na perversa ideologia a hierarquizar humanos. Viola-ções de direitos humanos são fomentadas por um forte componente cultural: alimentam-se de uma ideologia de negação a direitos. A violência do racismo, do sexismo, da xenofobia, da homofobia e de outras formas de intolerância é nutrida pela cultura da violência racial, sexista, xenófoba e homofóbica, que nega ao outro a condição plena de sujeito de direito. O combate à cultura da intolerância requer o fortalecimento da cultura do respeito às diversidades. O combate à cultura da violência requer o fortalecimento da cultura da paz. O combate à cultura da negação e violação a direitos requer o fortalecimento da cultura a afirmação e promoção de direitos. Daí a urgência em potencializar a ideologia emancipatória dos direitos humanos.

Hoje, mais do que nunca, há que se expandir e difundir a ideologia dos direitos humanos, como racionalidade de resistência e a única platafor-ma emancipatória de nosso tempo. Neste sentido, a primorosa obra vem a engrandecer a literatura jurídica nacional, ao contribuir para uma mudança de paradigmas e para a desconstrução de preconceitos, resgatando potencial ético e transformador que o Direito há de ter.

Flávia Piovesan1

1 Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da PUC-SP; Professora dos Programas de Pós Graduação da PUC-SP e da PUC-PR; foi membro da UN High Level Task force for the implementatiton of the right to development; e membro do OAS Working Group para o monitoramento do Protocolo de San Salvador em matéria de di-reitos econômicos, sociais e culturais. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

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Os mistérios sobre a real motivação de um crime são uma das ques-tões mais difíceis da vida forense, da compreensão humana com um todo e, particularmente, dos meandros da dogmática penal. Conforme sejam estes, pode se dar uma absolvição ou uma mais severa condenação. Injustiça ou impunidade. Correção ou abuso. Mas, quais seriam, de fato, os limites para uma dada reprovação? Estariam eles ligados à cultura ou ao entorno de cada qual?

Seria, por outro lado, e em outras palavras, o Brasil a terra do chamado homem cordial? Semelhante imagem cultivada durante tanto tempo, quer interna, quer externamente, seria válida em dias de hoje? Em que pese certa inegável hospitalidade do povo brasileiro, ele não parece se mostrar incorrupto às severas ondas de ódio do século XXI, e existem muitas razões para tanto. Talvez, aqui, na específica noção do ódio, repulsem algumas das respostas buscadas pelo Direito Penal.

Não obstante o Código Penal brasileiro afirmar que a emoção e a paixão não afastam a imputabilidade penal, é de se recordar que tal preocupação, afeta aos sentimentos e ao Direito Penal, acompanha perenemente o homem. Na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em outra época, Guilherme Cândido Percival de Oliveira debruçou-se sobre as minúcias, noções e impli-cações dos estados afetivos, em importante estudo de Docência Livre. Foi essa perspectiva que acabou também por levar Regina Cirino Alves Ferreira de Souza aos seus estudos preambulares de Mestrado, e, em especial, à busca científica em respeito ás considerações do “Ódio e do Direito Penal.” A sintomática mudança de percepção verificada na sociedade quanto a modulações de agressões físicas e verbais, em especial quanto aos seus motes e justificativas tem revolucionado as relações humanas e, também, a seara criminal.

Advogada de rara sensibilidade, pesquisadora dedicada e hábil penalista, Regina, após cursos pontuais no Brasil e no estrangeiro, ingressou no Mestrado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo com uma meta central, qual

APRESENTAÇÃO

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seja, a de analisar, justamente, as atuais matizações do ódio em Direito Penal. De pronto, as reações de cunho racista, em um país de triste memória escravocrata, pareceram-lhe um frutífero campo de atuação, quanto mais em um momento de relações virtuais como hodiernamente vivido. Mas não só. Haveria de ser feita a fundamental distinção para além das fronteiras da futilidade de um crime. Deveria, a seus olhos, ser melhor traçada a questão, novamente, da motivação.

Muito em função do rumoroso caso Elwanger, e as próprias repercus-sões vistas na Lei 7.716, de 15.01.1989, mostrou-se fundamental a menção, também, de casos de discriminação em relação ao povo judeu. A partir daí, descortinou-se o cenário para preocupações em relação ao ódio em relação às mulheres e à população homoafetiva, talvez o aspecto mais sintomático, e lamentável, da atualidade.

Deveria enfim, a sociedade, ser mais tolerante em relação à tais mino-rias, dando-lhe o necessário espaço para sua livre atuação? Caberia, ainda, a pontuação de que pensiero non paga gabella, dito peninsular tão repetido por autores em suas aulas? Tais colocações, bastante comuns, mesmo em rodas acadêmicas, podem até mesmo já denotar certa dose (inconsciente) de pre-conceito, uma vez que a noção de tolerância pressupõe uma ideia de que determinado grupo, que se coloca em posição de superioridade, intui-se como correto e predominante, face aos demais, simplesmente aceitando-os. Não se trata de aceitação, pois em uma sociedade igualitária não deveria pressupor-se deferência, mas, sim, e sempre, um ombrear-se de todos em mesmo patamar.

Procurando aprimorar suas pesquisas, foi a autora até Barcelona, onde participou dos seminários coordenados pelo querido Professor Jesús-María Silva Sánchez, tendo mantido com ele estreito relacionamento e discutin-do, detalhadamente, vários dos acertados passos que findou por trilhar. O pensamento frankfurtiano de Honneth, sob uma leitura atinente à expansão proposta por Silva Sánchez, acabaram por auxiliar sobremaneira sua bem ponderada construção.

Dessa forma, a autora, agora Mestre cum laude, reconhecida pelas Arcadas, trilha um seguro caminho desde os preconceitos negativos até o que hoje se conhece por crimes de ódio. Isso lhe dá segurança para começar a trabalhar o próprio conceito de crime de ódio (hate crime), que possui significativa distinção na literatura alienígena, dando âncora para as leituras nacionais. A princípio, traça diferencial e evolucional entre as normativas discricionárias e protetivas. Ao depois, procura mais aprofundada análise da questão do feminicídio no Brasil, bem como a luta pelo ideal reconhecimento.

Diz-se, comumente, que um trabalho de pós-graduação acaba por envolver uma relação de amor e de ódio. Ama-se o tema, mas acaba-se, derradeiramente, por criar certa aversão ao mesmo ao depois de um so-frimento intelectual que acompanha os passos da criação. Seria de se dizer que Regina fez o caminho inverso. Buscou o ódio, aprendeu a dele gostar

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até que pudesse encerrar aquela etapa de sua carreira científica. Hoje, já em seus estudos doutorais, por certo, Regina Cirino Alves Ferreira de Souza, já com um reconhecimento para além da casta dos bacharéis, pode dizer que entende o que se passou. De minha parte somente posso externar o orgulho pessoal e acadêmico de ter podido auxiliá-la em uma empolgante jornada, julgada que foi também por pelos Senhores Professores Eunice Aparecida de Jesus Prudente (USP) e Christiano Falk Fragoso (UERJ), e certo de tudo mais que virá pela frente.

Renato de Mello Jorge Silveira2

2 Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

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21

O tema proposto cuida-se do estudo da relação entre ódio e Direito Penal, com destaque para seu delineamento no ordenamento jurídico brasileiro. Neste sentido, a análise do ódio preconceituoso e suas diversas formas de ma-nifestação é o foco do labor acadêmico pretendido, sobretudo sua repercussão político-criminal. Esta última, diante dos novos contornos e proporções que vem assumindo, fundamentalmente como reflexo da expansão do Direito Penal das últimas décadas. Insta observar, preliminarmente, que não se trata de analisar qualquer ódio, mas sim o ódio exteriorizado lastreado em um preconceito, o qual, geralmente, encontra-se baseado na suposta superioridade de um grupo social em relação a outro, considerado inferior.

Consoante se verifica na realidade pátria o termo ódio vem sendo em-pregado indiscriminadamente para identificar uma pluralidade de situações. Ou seja, encontra-se, verdadeiramente, vulgarizado. Dentre outros exemplos, são ditas de ódio desde aquelas ofensas e violências ocorrentes entre motoris-tas nos grandes centros urbanos, bem como são nomeados de odiosos alguns crimes e criminosos, tal como naqueles que envolvem violência sexual contra vulneráveis. Ainda, são alcunhados de ódio os crimes cometidos em razão de uma característica da vítima como, v.g., raça, gênero e orientação sexual.

Muito embora tais situações, aparentemente, apresentem como pano fundo o ódio - por vezes, confundido com a ira e outros estados emocionais - são situações que se sinalizam distintas, as quais, inclusive, exigem uma resposta estatal diferenciada, não necessariamente relativa ao ramo jurídico-penal. Em outras palavras, o fascínio popular por este termo, atrelado a um mass media de cunho imediatista e sensacionalista, conduz, ainda que intuitivamente, à categorização de uma ampla gama de comportamentos como sendo crimes de ódio (hate crime), os quais, por vezes, não os são.

Referida nomenclatura, trazida de ordenamentos estrangeiros, como se terá oportunidade de analisar, se restringe a situações delimitadas e circuns-

INTRODUÇÃO

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critas a critérios específicos. Isto é, refere-se tão somente a circunstâncias que envolvem práticas delitivas por motivo de ódio preconceituoso. Desta sorte, uma análise detida sobre a conceituação e o verdadeiro escopo dos crimes de ódio é um dos primeiros desafios do presente estudo.

Deste modo, será necessário observar o modelo político-criminal anti-discriminatório adotado pelo Brasil. Isto pois, embora não seja imprescindível discorrer em pormenores sobre todas as legislações que versam ou tangenciam a proteção da igualdade, categorizá-las consoante sua finalidade será funda-mental para avaliar se essas carecem de reformulações ou, mais que isso, se o Direito Penal deveria oferecer novos tipos penais, bem como proteger grupos sociais ainda não contemplados pela legislação penal brasileira.

A seguir, novas questões serão postas, dentre as quais, verificar se o aden-do sancionatório para crimes praticados por motivo de ódio seria mais um exemplo de expansionismo meramente simbólico do Direito Penal brasileiro ou, ao contrário, medida necessária para fomentar o desenrolar de uma melhor cultura, bem como para conferir visibilidade para grupos sociais vulneráveis. Neste aspecto, a paradigmática inserção da qualificadora do feminicídio, ocorrida no ano de 2015, por meio da Lei nº 13.104, suscita esta e outras questões, dentre as quais a relativa a se outros grupos vulneráveis também não mereceriam uma menção diferenciada no texto penal.

A pluralidade de projetos legislativos presentes no Congresso Nacional é claro reflexo de um movimento pela intervenção penal que se formou nos últimos anos, sobretudo por influência dos gestores atípicos da moral. Este cenário merece especial atenção, vez que pode ser representativo de que outras esferas de controle social falharam, mas também pode significar que o Direito Penal estaria sendo chamado de maneira antecipada e açodada. Mais que isso, pode ser a sinalização de que alguns grupos desejam igualdade formal e material, mas também o reconhecimento de suas individualidades, buscando para tal escopo, com ou sem razão, o Direito Penal.

Neste sentido, a presente obra perpassa por específicas questões funda-mentais, as quais, subdivididas em cinco capítulos, subsidiarão as conclusões desejadas. A saber:

No capítulo 1, após panorama acerca do que se compreende por ódio, bem como a análise do tratamento jurídico-penal brasileiro acerca da emoção e da paixão, será investigado o que se entende por preconceito, especifica-mente preconceito negativo. Neste diapasão, tendo em vista que o Direito Penal trata exclusivamente da criminalização de condutas, serão observadas as formas de manifestação do preconceito negativo.

Desta forma, oportunamente, será rememorado o paradigmático caso do nazismo, o qual, com sua faceta autoritária levada às últimas consequências, lamentavelmente, é o exemplo máximo da exteriorização de preconceitos de modo institucionalizado. Embora, cronologicamente, o período de horror

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vivenciado pela Alemanha nazista tenha se dado após o regime de submissão dos negros africanos às agruras da escravatura, a menção preliminar do ir-racionalismo do nacional-socialismo oportuniza uma visão macro e recente dos preconceitos reverberados em condutas simplesmente excludentes, ou seja, sem um declarado direto interesse outro, como o revelado pelo viés econômico do escravismo. Mais que isso, ao que tudo indica, o inconformis-mo internacional em relação a esta passagem histórica serviu de mote para a adoção de políticas voltadas à proteção dos direitos humanos, nas quais se inserem medidas cunho jurídico-penal.

Nesta esteira, uma vez identificadas algumas formas de preconceitos ex-teriorizadas, no capítulo 2 será procedida uma aproximação do que se entende por crime de ódio (hate crime), bem como suas primeiras aparições em texto escrito. A seguir, analisar-se-á a relação deste conceito com outras acepções correlatas, as quais, por vezes são identificadas como sinonímias, muito embora, ao revés, comportem distinções significativas. Assim, serão estudados os crimes de ódio em relação aos crimes odiosos; aos crimes contra a humanidade; aos crimes de discriminação e aos discursos do ódio (hate speeches).

No que diz respeito a este último aspecto, qual seja, discursos do ódio, serão tecidas algumas observações acerca do emblemático tratamento conferido à liberdade de expressão nos Estados Unidos da América. Especificamente, o posicionamento da Suprema Corte norte-americana quanto às possíveis tensões entre o direito à liberdade de expressão e o direito a não ser discri-minado por discursos do ódio. Na sequência, como exemplo qualitativo, por sua importância e atualidade, será abordada a questão das teorias revisionistas, isto é, a necessidade, ou não, de imposição de limites às teorias que pregam o negacionismo do Holocausto.

Mais adiante, aproximando o temário à realidade brasileira, no capítulo 3, será rememorado o paradigmático caso do período escravocrata, com especial enfoque ao desumano tratamento jurídico-penal conferido aos negros trazidos da África, os quais foram submetidos às mais diversas formas de violência, inclusive, endossadas pelo próprio Direito vigente. Fruto das consequências da conformação de uma sociedade preconceituosa e excludente aos descendentes de tal período, de igual modo, será objeto de análise o início da proibição penal de práticas discriminatórias, bem como a postura do legislador brasileiro após o advento da Lei Afonso Arinos, a qual serviu de prelúdio para diversas outras normas criminais sobre a matéria.

A seguir, no capítulo 4, a análise se centrará na tipificação dos crimes de ódio no Brasil. Assim, tendo em vista a incorporação da qualificadora denominada feminicídio no rol dos crimes de homicídio (novel inciso VI do § 2º do art. 121 do Código Penal), será dedicada uma especial atenção a esta construção penal. Isto é, as contextualizações histórica e legislativa que precederam esta tipificação, bem como uma visão em torno da nomencla-

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tura utilizada e, no mesmo influxo, a possível contribuição político-criminal desta inédita qualificadora. Por meio deste tracejado investigativo, poderá ser observada também a questão dos homicídios motivados pelo ódio a outros grupos sociais, como, v.g., os integrantes da categoria LGBT, os quais, até o momento, não apresentam medida penal específica.

Por fim, no capítulo 5, pretende-se uma reflexão acerca da luta pelo reconhecimento, ínsita aos grupos vulneráveis anteriormente apontados, e seus consectários penais. Isto é, ao lado da busca por igualdade formal e material, os indivíduos desejam ser respeitados e reconhecidos em suas particularidades. Neste sentido, impõe-se observar se este anseio por visibilidade consiste ou não em um dos fatores contribuintes para os exorbitantes números de proposições legislativas antidiscriminatórias presentes no Congresso Nacional, bem como se isso seria legítimo. Desta forma, a título ilustrativo serão observados alguns aspectos positivos e negativos do Projeto de Lei nº 7.582/2014, ora em trâ-mite perante a Câmara dos Deputados, o qual pretende a criminalização dos crimes de ódio e intolerância, bem como dos discursos do ódio manifestados como meio para a prática de discriminação.

Portanto, consoante os contornos investigativos próprios de um estudo de Mestrado, a análise descritiva do ódio em torno do ramo jurídico-penal, mormente brasileiro, representará uma importante baliza com vistas à reflexão acerca da existência ou não de um papel legítimo de tratamento da matéria, que toca com a igualdade social, pelo mais grave meio de controle social formal de condutas.

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C R I M E S D E

Ó D I Oracismo, feminicídio e homofobia

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ISBN 978-85-8425-962-5

O ódio encontra-se na pauta do dia jurídico-pe-nal, sendo que tal se deve não apenas ao fascínio em torno da nomenclatura, mas também em ra-zão da diária veiculação de práticas delitivas mo-tivadas pelo ódio preconceituoso. O temário, que já ostentava grande carga de preocupação por motivos de origem histórica, vem ganhando ainda maior destaque, tendo em vista, por exemplo, as infindáveis discussões em torno do terrorismo, do fluxo imigratório e do desrespeito à questão mul-ticultural. Objetiva-se, então, sopesar qual deve ser a postura do Direito Penal ante aos reclamos dos gestores atípicos da moral pela criminalização dife-renciada daquelas condutas motivadas pelo despre-zo e repulsa sentida pelo odiador em detrimento do odiado, em razão de uma de suas característi-cas, dentre elas, raça, gênero ou orientação sexual.

O debate em torno da ques-tão do ódio e suas formas de exteriorização sinaliza-se como fundamental no senti-do de conhecer seus novos contornos e sua amplitude na sociedade da contempo-rânea, vez que os indivíduos desejam não só igualdade formal e material, mas tam-bém o reconhecimento de suas identidades. Neste in-fluxo, o ódio preconceituo-so é o enfoque da presente análise, visto que pode não apenas figurar como discur-so incitador à discriminação (discurso do ódio), como também ser catalizador para a perpetração de condutas criminosas (crimes de ódio).

REGINA CIRINO ALVES FERREIRA DE SOUZA

Doutoranda e Mestre em Direito Penal pela Univer-sidade de São Paulo (USP). Especialista em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de Salamanca (USAL). Especialista em Direi-to Penal Econômico e Euro-peu pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (UC). Coordenadora da pós--graduação em Fashion Law na Faculdade Santa Marce-lina (FASM). Pós-graduada em Moda e Criação pela Faculdade Santa Marcelina (FASM). Bacharel em Direito pela Universidade Presbite-riana Mackenzie. Advogada. Sócia no escritório Souza e Velludo Salvador Advogados.