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REUNIÃO PLENÁRIA DE 07 DE MAIO Presidente: Exmo. Sr. José Miguel Jardim de Olival Mendonça Secretários: Exmos. Srs. Rui Miguel Moura Coelho Ana Mafalda Figueira da Costa Sumário O Sr. Presidente declarou aberta a Sessão às 09 horas e 25 minutos. PERÍODO DE ANTES DA ORDEM DO DIA:- Para tratamento de assuntos de interesse político relevante interveio o Sr. Deputado Medeiros Gaspar (PSD), após ao que respondeu a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Carlos Pereira (PS), Lino Abreu (CDS/PP) e Edgar Silva (PCP). - Ainda neste período foi rejeitado, com os votos contra do PSD e do CDS/PP e os votos a favor do PS, do PTP, do PCP e do MPT, um Voto de Protesto, da autoria do Partido Comunista Português, “Contra o Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017”. Intervieram a propósito os Srs. Deputados Edgar Silva (PCP), Raquel Coelho (PTP) e Lino Abreu (CDS/PP). Produziram ainda declarações de voto os Srs. Deputados Carlos Pereira (PS) e Jaime Filipe Ramos (PSD). PERÍODO DA ORDEM DO DIA:- Iniciou-se este período com a apreciação, na generalidade, do Projeto de Resolução, da autoria do PSD, intitulado “Pedido de parecer jurídico - inconstitucionalidade por omissão – artigo 73.º a 75.º da CPR – cometida pelo Estado Português, ao não transferir os meios financeiros para fazer face aos encargos com o ensino e a educação no arquipélago da Região Autónoma da Madeira”, na qual usaram da palavra, a diverso título, os Srs. Deputados Emanuel Gomes (PSD), Carlos Pereira (PS), José Manuel Rodrigues (CDS/PP), José Manuel Coelho (PTP), Rui Almeida (PAN), Roberto Vieira (MPT), Edgar Silva (PCP), Savino Correia (PSD), Agostinho Gouveia (PSD) e Jaime Filipe Ramos (PSD). Submetido à votação, foi aprovado. - Por fim, a Câmara rejeitou o pedido de processo de urgência, depois de cumpridas as disposições regimentais de auscultação dos parceiros sociais, relativo ao projeto de Decreto Legislativo Regional, da autoria do Partido Comunista Português, intitulado “Suspende a vigência das disposições legais que revogam o complemento regional de 30% nas ajudas de custo para funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local”, depois de terem intervindo os Srs. Deputados Roberto Vieira (MPT), Edgar Silva (PCP), Raquel Coelho (PTP), Maximiano Martins (PS), Lino Abreu (CDS/PP) e Francisco Gomes (PSD). O Sr. Presidente declarou encerrada a Sessão às 12 horas e 55 minutos. X Legislatura Número: 40 III Sessão Legislativa (2013/2014) Quarta-feira, 07 de maio de 2014 Região Autónoma da Madeira Diário Assembleia Legislativa

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REUNIÃO PLENÁRIA DE 07 DE MAIO

Presidente: Exmo. Sr. José Miguel Jardim de Olival Mendonça

Secretários: Exmos. Srs. Rui Miguel Moura Coelho

Ana Mafalda Figueira da Costa

Sumário

O Sr. Presidente declarou aberta a Sessão às 09 horas e 25 minutos. PERÍODO DE ANTES DA ORDEM DO DIA:- Para tratamento de assuntos de interesse político relevante interveio o Sr.

Deputado Medeiros Gaspar (PSD), após ao que respondeu a pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Carlos Pereira (PS), Lino Abreu (CDS/PP) e Edgar Silva (PCP).

- Ainda neste período foi rejeitado, com os votos contra do PSD e do CDS/PP e os votos a favor do PS, do PTP, do PCP e do MPT, um Voto de Protesto, da autoria do Partido Comunista Português, “Contra o Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017”. Intervieram a propósito os Srs. Deputados Edgar Silva (PCP), Raquel Coelho (PTP) e Lino Abreu (CDS/PP). Produziram ainda declarações de voto os Srs. Deputados Carlos Pereira (PS) e Jaime Filipe Ramos (PSD).

PERÍODO DA ORDEM DO DIA:- Iniciou-se este período com a apreciação, na generalidade, do Projeto de Resolução, da autoria do PSD, intitulado “Pedido de parecer jurídico - inconstitucionalidade por omissão – artigo 73.º a 75.º da CPR – cometida pelo Estado Português, ao não transferir os meios financeiros para fazer face aos encargos com o ensino e a educação no arquipélago da Região Autónoma da Madeira”, na qual usaram da palavra, a diverso título, os Srs. Deputados Emanuel Gomes (PSD), Carlos Pereira (PS), José Manuel Rodrigues (CDS/PP), José Manuel Coelho (PTP), Rui Almeida (PAN), Roberto Vieira (MPT), Edgar Silva (PCP), Savino Correia (PSD), Agostinho Gouveia (PSD) e Jaime Filipe Ramos (PSD). Submetido à votação, foi aprovado.

- Por fim, a Câmara rejeitou o pedido de processo de urgência, depois de cumpridas as disposições regimentais de auscultação dos parceiros sociais, relativo ao projeto de Decreto Legislativo Regional, da autoria do Partido Comunista Português, intitulado “Suspende a vigência das disposições legais que revogam o complemento regional de 30% nas ajudas de custo para funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local”, depois de terem intervindo os Srs. Deputados Roberto Vieira (MPT), Edgar Silva (PCP), Raquel Coelho (PTP), Maximiano Martins (PS), Lino Abreu (CDS/PP) e Francisco Gomes (PSD).

O Sr. Presidente declarou encerrada a Sessão às 12 horas e 55 minutos.

X Legislatura Número: 40

III Sessão Legislativa (2013/2014) Quarta-feira, 07 de maio de 2014

Região Autónoma da Madeira

Diário Assembleia Legislativa

Diário da Assembleia Legislativa Sessão nº 40 X Legislatura, III Sessão Legislativa (2013/2014) Quarta-feira, 07 de maio de 2014

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O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Bom dia, Srs. Deputados.

Façam o favor de ocupar os vossos lugares.

Estavam presentes os seguintes Srs. Deputados: PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA (PSD) Agostinho Ramos de Gouveia Ana Mafalda Figueira da Costa Ana Maria de Gouveia Serralha Edgar Alexandre Garrido Gouveia Élvio Manuel Vasconcelos Encarnação Emanuel Sabino Vieira Gomes Francisco Manuel de Freitas Gomes Jaime Ernesto Nunes Vieira Ramos Jaime Filipe Gil Ramos José António Coito Pita José Gualberto Mendonça Fernandes José Jardim Mendonça Prada José Lino Tranquada Gomes José Luís Medeiros Gaspar José Miguel Jardim Olival Mendonça José Paulo Baptista Fontes José Savino dos Santos Correia Maria Rafaela Rodrigues Fernandes Miguel José Luís de Sousa Nivalda Nunes Silva Gonçalves Roberto Paulo Cardoso da Silva Rui Miguel Moura Coelho Vânia Andrea de Castro Jesus Vicente Estevão Pestana

CENTRO DEMOCRÁTICO SOCIAL/PP (CDS/PP) António Manuel Lopes da Fonseca José Lídio Figueira Aguiar José Manuel de Sousa Rodrigues José Roberto Ribeiro Rodrigues Lino Ricardo Silva de Abreu Luísa Isabel Henriques Gouveia Maria Isabel Vieira Carvalho de Melo Torres Mário Jorge de Sousa Pereira Martinho Gouveia da Câmara

PARTIDO SOCIALISTA (PS) Ana Carina Santos Ferro Fernandes Avelino Perestrelo da Conceição Carlos João Pereira Maria Luísa de Sousa Menezes Gonçalves Mendonça Maximiano Alberto Rodrigues Martins Vítor Sérgio Spínola de Freitas

PARTIDO TRABALHISTA PORTUGUÊS (PTP) José Manuel da Mata Vieira Coelho José Luís Gonçalves Rocha Raquel da Conceição Vieira Coelho

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS (PCP) Edgar Freitas Gomes Silva

PARTIDO PELOS ANIMAIS E PELA NATUREZA (PAN) Rui Manuel dos Santos Almeida

MOVIMENTO PARTIDO DA TERRA (MPT) Roberto Paulo Ferreira Vieira

DEPUTADO INDEPENDENTE José Pedro Correia Pereira

Srs. Deputados, dispomos de quórum, declaro aberta a Sessão.

Eram 09 horas e 25 minutos.

E para uma intervenção política, tem a palavra o Sr. Deputado Medeiros Gaspar.

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O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Exmo. Senhor Presidente da Assembleia,

Senhoras e Senhores Deputados, Motiva esta minha intervenção aquilo que foi dito, e de sobremaneira aquilo que não foi dito, no dia em que se assinalou

os 40 anos do dia 25 de Abril de 1974. Permita-me Vossa Excelência, Senhor Presidente da Assembleia, que destaque em particular algumas das palavras

por vós proferidas nesse dia, a propósito da importância dessa data para as Autonomias. Haveis dito que, e cito: “Sendo a data que hoje se comemora também de transcendental significado para a nossa

Autonomia, é necessário salientar os sinais que enfatizam e colocam o acento tónico no nosso direito à diferença, de que decorre também o direito de sermos tratados de forma preferencialmente diferente, em coerência com os princípios da coesão económica e social que são condição, não apenas para uma Europa mais solidária mas, também, para um Portugal mais solidário.” Fim de citação.

Pois bem, caro Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Nem de propósito, foi possível constatar que na cerimónia realizada na Assembleia da República, quase à mesma

hora, ninguém se referiu às Autonomias como uma das importantes conquistas da Revolução! Os partidos políticos ignoraram as Autonomias! Essas – que outrora, por diversas vezes haviam merecido rasgado elogio, referência de destaque e enaltecimento

bastante, como uma das conquistas perene, incontornável e bem-sucedida da revolução, foram obliteradas do “molho de palavras” escolhidos para os discursos!

Se pudermos atribuir, com benevolência bastante, tal esquecimento à preocupação latente de privilegiar argumentos, réplicas e tréplicas relacionadas com a crise, a austeridade e a Europa, a partir da diferente grande angular que cada um envergou para olhar o tema, considero que mesmo assim já é motivo de preocupação!

Pior ainda foi constatar, e tive o cuidado de rever o texto para de tal me certificar, mas constatar, dizia, que até o Presidente a República Portuguesa, na sua intervenção considerou mais confortável obliterar, também ele, as Autonomias do cardápio das conquistas perenes, insofismáveis e merecedoras de nota!

Preferiu sim relevar outra grande conquista de Abril – o poder autárquico! (citei). Se vos causa alguma estranheza, Senhoras e Senhores Deputados, gostaria então de vos dar nota de uma

constatação simples e que de modo eloquente traça a realidade do tema. Desde 2006 até hoje, em todas as comemorações levadas a cabo pela Assembleia da República da data do 25 de

Abril, quase sempre a expressão “Regiões Autónomas” pode ser lida no Diário da Sessões daquele Parlamento! Não, meus caros parlamentares, não encontrarão essa referência nos discursos dos Deputados, muito menos nos de

Sua Excelência o Sr. Presidente da República Portuguesa – não se enganem! Encontrá-la-ão, isso sim, feita nos sumários, onde por norma se refere quem esteve presente de entre os convidados. Aí encontrarão com abundância a referência a Regiões autónomas, uma vez que estiveram na galeria os

representantes da República Portuguesa para a Madeira e para os Açores, ou um deles e também em algumas vezes um dos vice-presidentes deste Parlamento, em representação do mesmo.

Aí sim, podemos dizer que as Regiões Autónomas estão referenciadas! Não devemos pois queixar-nos de um qualquer esquecimento!

É, Senhoras e Senhores Deputados, uma suprema ironia! Perante este quadro, aquela que é uma fundada expectativa de que possa vir a ter lugar um debate comprometido e

sério sobre os desenvolvimentos da nossa Autonomia, está evidentemente destinada a uma morte por esquecimento conveniente!

Relembro, uma vez mais e dada a propriedade e pertinência, as palavras de Vossa Excelência, Senhor Presidente, quando referia que, e vou citar novamente, “tendo lugar, ao que julgamos e desejamos, no decurso da atual legislatura da Assembleia da República, a revisão da nossa lei fundamental acresce referir que, embora esteja vedada a esta Câmara iniciativa legislativa em matéria de revisão constitucional, tem este parlamento (…) feito chegar à Assembleia a República (…) o testemunho, sob a forma de resolução, da vontade maioritária dos seus deputados, legítimos representantes da população deste território, no que concerne a propostas de alteração do texto constitucional”. Fim de citação.

Prosseguia depois com esperança nos bons presságios de alguns, quanto ao desenvolvimento próximo desta matéria.

Pois bem, como compreenderão escusar-me-ei de enumerar aqui uma vez mais, dos méritos e matérias de maior relevo que defendemos serem vitais para uma bem-sucedida revisão da Constituição.

Tal poderá ser encontrado, revisitando a intervenção que efetuei aqui em 6 de fevereiro deste ano. O que hoje pretendo destacar é a crueza dos factos face aos nossos melhores desejos e mais valiosas intenções.

Apartes inaudíveis.

Tendo lugar eleições para o Parlamento Europeu em fins de maio, até lá será inútil qualquer ideia de que esta matéria será merecedora de atenção.

Segue-se a isso o encerramento da Assembleia da República em meados de junho com retoma de trabalhos em meados de setembro, com o Orçamento de Estado a dominar a agenda até novembro.

Após fevereiro de 2015, a euforia pré-eleições legislativas nacionais não permitirá quaisquer entendimentos e trabalho profícuo!

Deste modo, Senhoras e Senhores Deputados, A única janela de oportunidade que se apresenta à Madeira, para que um processo de revisão da Constituição ocorra

com um mínimo de condições para que, com um diálogo construtivo entre as diferentes forças políticas na Assembleia da República e entre estas e as representações políticas na Assembleia Legislativa da Madeira é o tempo que medeia entre o dia seguinte às eleições europeias e meados de junho, altura em que o normal funcionamento da Assembleia da República é interrompido.

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Não sendo deste modo, tudo ficará adiado para uma data nunca antes do segundo semestre de 2016, uma vez que as legislativas nacionais e as legislativas regionais de 2015 e as posteriores eleições presidenciais de janeiro de 2016 empurrarão tudo para essa altura!

Não sendo encetada neste período, ficará como um nado morto nas boas intenções desta Casa, que sempre encontrou inoportunidade, incómodo, desconforto e desajeitada protelação conveniente em quem não a deseja, nem dela quer ouvir falar – nomeadamente alguns atores políticos da República!

Burburinho.

Como reforço desta ideia de que Autonomia é coisa para colocar no sumário do diário da Assembleia da República em dia de convidados vindos dessas paragens, e não para ser debatida com a seriedade, profundidade e comprometimento que os Portugueses da Madeira e dos Açores merecem, desejam e esperam, recordo apenas o mais recente episódio referente à audição, por parte da Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República, sobre o “Programa de Trabalho da Comissão Europeia para 2014”.

Anualmente a Assembleia Legislativa da Madeira é convidada a participar numa audição efetuada na Assembleia da República, conjuntamente com Deputados àquele parlamento, ao Parlamento Europeu e à Assembleia Legislativa dos Açores, sobre o Programa Legislativo da Comissão Europeia para o ano seguinte.

Desta feita, com tal documento finalizado em 22 de outubro de 2013, entendeu o parlamento nacional remeter a esta Casa uma solicitação com data de abril deste ano, seis meses depois, indagando do interesse em esta Casa se pronunciar sobre o tema, uma vez que não foi possível encontrar agenda junto da Comissão Europeia para se fazer representar a essa audição, dados (e vou citar os argumentos) os constrangimentos relacionados com as eleições para o Parlamento Europeu e o final do Mandato da Comissão Europeia!

Não deixou de ser surpreendente o argumento, uma vez que em outras ocasiões não esteve presente nenhum enviado de Bruxelas mas sim, a Dra. Margarida Marques, Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal!

Este pequeno nada é bem revelador do modo pouco ou nada interessado como a Assembleia da República deseja estreitar, promover ou mesmo aprofundar o seu papel no que ao escrutínio do processo legislativo comunitário diz respeito, e na integração participativa das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas nesse mesmo processo!

Compreendemos como foram incómodas as críticas reiteradas ao longo dos diversos anos pelos Deputados desta Casa, que participaram nas diferentes reuniões, nomeadamente quanto ao modo apressado, com pouco tempo e com demasiados participantes ao mesmo tempo para que as diferentes posições pudessem ser transmitidas.

Não me surpreende, assim, a nova forma escolhida pela Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República para se esquivar a mais esse enfadonho momento – simplesmente arranjar uma esfarrapada desculpa para que a audição não tenha lugar!

Senhoras e Senhores Deputados, A Autonomia é uma herança do 25 de Abril mas resulta de uma conquista do Povo – que beneficiou do espírito de

liberdade da revolução. Mas, resultou da reivindicação dos líderes de opinião, com fortíssimo apoio da população! Temos o dever cívico e o compromisso moral de não permitir que, por um protelar conveniente e útil aos detratores

da Autonomia, o seu reforço seja considerado um romantismo de alguns! A Autonomia Progressiva será sempre o nosso lema! Transcrito do original. Aplausos do PSD.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Carlos Pereira para um pedido de esclarecimento, tem a palavra. O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a primeira nota, é observar que o Sr.

Deputado, e dessa forma o Grupo Parlamentar do PSD, acompanha os partidos da oposição na crítica à organização das comemorações do 25 de Abril por causa da ausência de intervenção dos deputados, porque, como se viu, o Sr. Deputado tinha coisas a dizer sobre o 25 de Abril e foi impedido de o dizer, porque a cerimónia apenas permitia a intervenção do Sr. Presidente.

Apartes inaudíveis. A não ser, Sr. Deputado, que o Sr. Deputado tenha uma visão da democracia inquinada, que acha que quem deve

falar só no 25 de Abril é o PSD. E acho que esse não é o seu pensamento, porque o conheço, vagamente, mas conheço, e sei que não pensa assim!

Por outro lado, Sr. Deputado, permita-me dizer o seguinte, já que referiu o discurso do Sr. Presidente da Assembleia, para dizer que o discurso do Sr. Presidente da Assembleia foi, ele próprio, um tampão à autonomia, foi, ele próprio, um tampão à discussão da realidade da Madeira, foi, ele próprio, um tampão à discussão daquilo que é o estado atual do quotidiano dos madeirenses, das empresas e das famílias, porque não disse uma palavra sobre o estado da Madeira, não disse uma palavra sobre o estado das consequências políticas do PSD, não disse uma palavra sobre o estado do efeito do Plano de Ajustamento Económico e Financeiro na vida dos madeirenses. E isto, sim, é um tampão à autonomia, é uma ausência total de discussão daquilo que interessa à Madeira, que é a discussão da realidade dos madeirenses, das nossas famílias e das nossas empresas.

E, portanto, Sr. Deputado, perante isto, a pergunta que lhe queria fazer é a seguinte: não acha que é precisamente, ou foi precisamente as opções políticas do PSD nos últimos anos, e designadamente nos últimos 12 anos, as políticas do PSD, as opções completamente irresponsáveis, em que se atirou dinheiro,…

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Apartes inaudíveis.

…de forma irresponsável, para a economia regional, com os resultados que nós hoje temos, de uma dívida insustentável, que retirou a vontade nacional de aprofundar a autonomia, de conquistar mais autonomia, de consolidar a autonomia?

Aparte inaudível do Sr. Madeiros Gaspar (PSD).

Se não foi precisamente o comportamento do PSD, o comportamento deste Governo Regional ao longo dos últimos anos, que tornou a Madeira no estado em que está do ponto de vista das suas contas…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Olhe que não!

O ORADOR:- …que envergonhou os madeirenses e a Madeira no plano nacional, que envergonhou este Parlamento

no plano internacional e no plano europeu, que retirou qualquer margem de manobra para nós hoje estarmos de peito cheio e podermos discutir aquilo que nos interessa verdadeiramente, e que estou de acordo consigo, que é a nossa autonomia, que é a forma que nós temos de poder gerir melhor a nossa vida!?

Não! Este Governo, o seu Governo, demonstrou que não está à altura dos acontecimentos…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Faz favor de concluir.

O ORADOR:- …que não esteve à altura daquilo que lhe foi concedido, que não esteve à altura do aprofundamento

da lei que lhe permitia ter mais poder. E isso está-nos a criar um problema tão grande, Sr. Deputado, que hoje limita-nos a nossa margem de manobra e a nossa capacidade para discutir e aprofundar a autonomia. Por isso, só há uma solução, do nosso ponto de vista, que é: este Governo tem que sair, para reconfigurarmos uma nova conquista da autonomia e um novo modelo de autonomia, que esse, sim, vá servir as pessoas e não vá servir o Governo!

Muito obrigado.

Vozes do PS:- Muito bem!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Medeiros Gaspar para responder, tem a palavra. O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vejo a forma entusiasmada como o Sr.

Deputado Carlos Pereira pretende discutir o estado da Região. Como sabe, há uma reunião de líderes, que decorrerá, salvo erro, às 11 horas, no intervalo do nosso Plenário, onde

essa matéria será agendada, e já é do seu conhecimento. Portanto, Sr. Deputado, podia-se ter poupado a dizer que o debate da evocação dos 40 anos do 25 de Abril era o

momento para fazer o debate do estado da Região, quando o próprio Partido Socialista solicitou um debate sobre essa matéria, e que o senhor sabe que será agendada na reunião das 11, o que significa que, como é óbvio, vai ter todo o espaço e toda a oportunidade para, nesse agendamento, fazer, nesse debate, a discussão do estado da Região e não confundir com aquilo que foi a sua mistura feita sobre o 25 de Abril e o momento da sua evocação.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

E, Sr. Deputado, eu recomendaria vivamente que relesse, com o vagar suficiente, a intervenção feita pelo Sr.

Presidente da Assembleia, que isso permitir-lhe-á certamente ter uma visão diferente do que disse que entendeu que foi a intervenção do Sr. Presidente da Assembleia Legislativa.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS). Não foi nada daquilo que o senhor aqui disse e foi exatamente o recolocar de um tema que é fundamental, que nunca

deverá ser abandonado pelos parlamentares desta Casa e que o PSD folga em ver o entusiasmo… Apartes inaudíveis. …e vou citar a sua expressão: “de peito cheio”. Finalmente! Finalmente o PSD regozija-se com isso, ver que também do lado da oposição há gente de peito cheio

para que se passe ao debate de uma revisão constitucional que possa permitir que a autonomia não fique estagnada e bloqueada, que possamos ter opções próprias, nossas, que nos permitam caminhos diferentes, que não têm nada a ver com separatismos.

Portanto, folgamos com isso. Vamos ver se essa sua disponibilidade, que eu não tenho dúvida que é sincera, depois, na prática, se irá trazer o contributo que nós esperamos para este objetivo!

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Lino Abreu para um pedido de esclarecimento, tem a palavra.

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O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Sr. Presidente, Sr. Deputado Medeiros Gaspar, eu ouvi com atenção o seu discurso,

e a determinada altura ficou preocupado que a Assembleia da República muito pouco, ou nada, falou sobre as regiões autónomas, a Madeira, na sessão do 25 de Abril…

Apartes inaudíveis. …e que os partidos que lá tiveram voz também se esqueceram do 25 de Abril. Eu acho também e estou inteiramente de acordo consigo, mas o que é facto é que aqui, no seu partido, o seu Governo

proíbe qualquer partido da oposição dar voz e se manifestar na Sessão do 25 de Abril, não só neste 25 de Abril que foi comemorado nesta Assembleia, em que foi vedado a que qualquer partido da oposição tivesse voz nessa Sessão, e eu não compreendo a sua falta de coerência no seu discurso, quando acontece uma determinada falta de discurso sobre as regiões, e aqui o Governo Regional proíbe qualquer partido da oposição de ter voz nessa sessão.

Aparte inaudível. E, Sr. Deputado, no que toca ao esquecimento das regiões autónomas por parte do Presidente da República e dos

partidos da oposição e do próprio PSD nacional, acha que não é uma consequência dum discurso de ódio, separatista, que foi feito nos últimos anos pelo seu próprio Governo e pelo próprio Presidente do Governo Regional?

E são estas duas perguntas que gostaria que respondesse. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Medeiros Gaspar para responder, tem a palavra. O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Lino Abreu, vou-lhe dizer,

em primeiro lugar, que não posso concordar com essa visão de que apenas um discurso simpático, mole e frouxo é que pode granjear avanços na autonomia. A autonomia há de ser sempre algo que nós conquistaremos numa dialética que existe, e existirá sempre, e será obviamente algo sempre difícil de conseguir fazer avançar. Não espere nunca…

Aparte inaudível do Sr. Lino Abreu (CDS/PP).

Não espere nunca que, por exemplo, aquele que é o objetivo e um propósito que temos e que achamos que é

fundamental, que é a maior capacidade de competências financeiras para termos um sistema próprio… O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Inteiramente de acordo!

O ORADOR:- Ainda bem que está inteiramente de acordo.

Aparte inaudível do Sr. Lino Abreu (CDS/PP). Não é pelo discurso de todos, é pelo discurso de todos no mesmo objetivo. É que se ouviu bem aquilo que eu disse,

se ouviu bem a intervenção que eu também fiz em 6 de fevereiro, há de ver que, ou os partidos conseguem uma plataforma de entendimento para terem uma posição mais forte na negociação com os partidos nacionais, ou então isso não será possível.

Aparte inaudível do Sr. Lino Abreu (CDS/PP). É evidente, e eu concordo, agora, Sr. Deputado, no seu próprio partido estou certo que tem dificuldades em fazer

vingar muitas das posições mais autonomistas de avanço, com as quais também concorda, mas que não consegue, nem colhem o apoio da estrutura nacional do seu partido. É verdade, ou não é verdade?

O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Por vezes!

O ORADOR:- Por vezes, ou no essencial, porque nas minudências eles estão de acordo, porque isso servirá de

moeda de troca para dizer: “Bom! Como viram, afinal nós até condescendemos aqui!”. Mas isso é nas pequenas linhas de rodapé e isso não é o que nos interessa, porque de notas de rodapé estamos fartos, de pequenas notas de rodapé, que são, depois, alcandoradas a grandes avanços da autonomia, estamos cheios…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …conhecemo-las bem e sabemos qual o seu resultado prático!

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Edgar Silva para um pedido de esclarecimento, tem a palavra. O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado, a questão que gostaria de colocar tem a ver com a linha da sua intervenção e com uma ideia que, sendo generosa, sendo interessante, devendo ser apelativa e mobilizadora a ideia da autonomia progressiva, nós deparamo-nos com um problema, que é o da grande décalage entre aquilo que é o discurso, a retórica política, e aquela que é, de facto, a materialidade dos atos. Porque, se nós olharmos àquela que tem sido a

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prática do Governo Regional, a prática que tem sido assumida pelo próprio PSD, nas votações, nas decisões, naquilo que tem vindo a apoiar, tem sido o próprio PSD a pedir menos autonomia, a se autopropor, não uma autonomia progressiva, não o exercício dialético da conquista de direitos políticos, económicos, sociais, mas exatamente o contrário.

Na prática é que há aqui, na verdade, de facto, um contraste muito grande, entre uma afirmação com a qual estamos completamente em sintonia convosco, quanto à necessidade de se intensificar todo este processo dialético de aprofundar tudo quanto deve decorrer da autonomia progressiva, mas o problema é que a prática tem dito e tem demonstrado o contrário.

O PSD, a verdade é que subscreveu, com outros partidos, subscreveu o Pacto de Agressão, o Pacto de Agressão ao País, acabou por subscrever, quase que incondicionalmente, todo o certificado de morte da autonomia. Nós estamos numa situação, onde o Governo Regional, com o apoio do PSD, subscreveu compromissos em que, para fazer um simples pagamento, para assinar um cheque, tem que ir a Lisboa para efetuar um pagamento, estamos completamente condicionados, estamos completamente manietados em aspetos vitais, essenciais da afirmação autonómica, ou seja,…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- E termino já, Sr. Presidente, permita-me só que termine a formalização da pergunta.

A questão é esta: como é que, no entendimento de V. Exa., estando V. Exa. a colocar uma questão de fundo com a qual nós concordamos, que é a da necessidade de se profundar tudo quanto decorre da necessidade de termos uma autonomia progressiva, conquista de Abril que tem que ter perspetivas de futuro, mas como é que isso se compagina com os compromissos que o PSD, com o CDS…

Uma voz:- Com o PCP!

O ORADOR:- Com o PCP, não, nós sempre fomos contra o Pacto de Agressão, combateremos sempre o Pacto de

Agressão, tudo quanto é negar a soberania e a autonomia regional. Mas como é que sairão deste colete-de-forças que V. Exas. pediram e se puseram a jeito para o assumir e o

interiorizar?

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Medeiros Gaspar para responder, tem a palavra.

O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Edgar Silva, eu não me surpreende

que a posição do Sr. Deputado e do seu partido seja de concordância com aquilo que foi a intervenção que eu fiz na sua ideia, porque, justiça seja feita, o Partido Comunista Português sempre foi daqueles que esteve disponível para um diálogo de aprofundamento da autonomia. E isso tem-se visto nas várias etapas em que este Parlamento, por exemplo, procurou apresentar propostas concretas sobre a revisão constitucional.

Agora, eu compreendo o seu argumento, mas o que lhe vou responder, a essa constatação que faz, é com o seguinte: uma coisa é a estratégia e o objetivo, outra coisa é a tática.

E, portanto, estamos num momento em que as circunstâncias obrigam a que alguns passos táticos possam ter essa leitura, mas…

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Uma contenção tática!

O ORADOR:- …mas não tenha dúvida, e estou certo que tem noção disso, que o Partido Social-Democrata da Madeira

nunca abandonará o seu objetivo estratégico e aquilo pelo qual se tem batido durante estes 40 anos. E foi nessa linha que eu fiz esta intervenção.

Agora, como é evidente, as circunstâncias do momento não permitem que todos sejam avanços que representam ganhos na autonomia, mas aquilo que referiu, as necessidades de pagamento, isso são processos que já estão em regressão, ou seja, já estamos num processo de retoma dessas competências do modo autónomo. E porquê? Pela confiança que os últimos anos têm demonstrado quanto aos procedimentos, às práticas, temos recuperado aquilo que disse que tínhamos perdido, a questão dos pagamentos, agora, é uma questão de tática, de operação, mas não impede, nem nunca vai apagar o objetivo final e a estratégia final, e nessa nós contamos com o Partido Comunista também para esse diálogo frutuoso e produtivo, no sentido de um avanço da autonomia!

Aparte inaudível do Sr. Edgar Silva (PCP).

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Esgotámos o tempo da primeira parte do período de antes da ordem do dia, passamos aos votos. E temos um voto de protesto, da autoria do Partido Comunista Português, “Contra o Documento de Estratégia

Orçamental 2013-2017”.

Consta do seguinte: Voto de Protesto

“Contra o Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017” No passado dia 30/04/2013, o Conselho de Ministros aprovou e remeteu à Assembleia da República o Documento de

Estratégia Orçamental para 2013-2017. Dois anos depois do início da aplicação do Pacto de Agressão celebrado entre a Troika externa (FMI/BCE/UE) e a

troika colaboracionista (PSD/CDS-PP/PS), está claro para todos que as suas medidas se traduzem num profundo retrocesso e que o verdadeiro programa do memorando não foi nunca o equilíbrio das contas públicas ou a redução da dívida pública, mas sim a concentração da riqueza por via da redução de salários, reformas e pensões, da negação do

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acesso a direitos essenciais, na transferência de dinheiros públicos e de recursos nacionais para os grandes grupos económicos, seja através de recapitalizações, PPP, swaps, privatizações, privilégios fiscais ou outros mecanismos. Trata-se afinal de uma tentativa de golpear e rever de facto a Constituição da República Portuguesa sob o falso argumento dos condicionalismos e da realidade económica, criados pelo próprio Pacto.

Por isso nenhum dos problemas estruturais do País foi resolvido e todos se agravaram. O desemprego galopante - instrumento para a quebra de salários a precariedade e a retirada de direitos aos trabalhadores -, a recessão económica continuada, a crescente dependência externa, a falta de investimento, a degradação dos serviços públicos, o recuo da proteção social, a falta de aposta na produção nacional e também a manutenção do desequilíbrio orçamental e o sistemático aumento da dívida pública, são a prova de que este programa de ataque aos Portugueses e ao País nunca foi feito para ter qualquer resultado positivo. É certo também que o Governo Central PSD/CDS-PP e a Troika ocupante há muito se preparam para aplicar um segundo resgate, procurando assim continuar o pacto de agressão em curso.

A apresentação, pelo Governo da República, do Documento de Estratégia Orçamental para 2013-2017, com o propósito de cortar mais 6 mil milhões de euros nas funções sociais do Estado e nos serviços públicos, a adoção de novas benesses para o grande capital, a previsão de mais recessão económica e mais desemprego e do garrote da dívida até, pelo menos, ao ano 2037, são a comprovação de que os promotores desta política querem impor décadas de retrocesso a Portugal e aos Portugueses, são a comprovação que esta política é uma política de autêntico desastre nacional.

Por isso, é imperioso rejeitar o Documento de Estratégia Orçamental para 2013-2017. E é imperioso rejeitá-lo porque: - Agrava a exploração, promove o empobrecimento, destrói as estruturas produtivas, aumenta o desemprego, põe em

causa as funções sociais do Estado e os serviços públicos; - Não só não resolve o problema do défice como aumenta a dívida pública e promove o declínio do País; e - Só serve a acumulação de mais e mais lucros para os grupos monopolistas, e promove o saque dos recursos

nacionais ao serviço do capital financeiro transnacional. Assim, a Assembleia Legislativa da RAM expressa o seu Voto de Protesto contra Documento de Estratégia Orçamental

para 2013-2017, e exige uma política alternativa que resgate o País do declínio económico e social. Funchal, 07 de Maio de 2013. Pel’A Representação Parlamentar do PCP na ALRAM, O deputado único, Ass.: Edgar Silva.- Está à discussão o texto do voto. E o autor tem prioridade na intervenção. Tem a palavra, Sr. Deputado Edgar Silva.

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há circunstâncias que às vezes, circunstâncias do tempo e da história, que às vezes provocam coincidências deveras interessantes. E esta é uma delas.

Burburinho.

É porque, há um ano atrás, quando este voto foi apresentado há um ano atrás, ele tinha atualidade há um ano atrás. Entretanto, existiram eleições autárquicas, havia eleições autárquicas, e o PSD e o CDS, bem!, a tal contenção tática, “vamos recuar, ganhar tempo, e o chamado DEO, o Documento de Estratégia Orçamental vai ficar a aboborar, e a gente, depois das eleições, volta a entender-se!”. Só que as instituições europeias disseram: “Não! Isto tem prazo e os credores não perdoam!”, e disseram: “Não! Isto em maio tem que estar despachado!”.

Apartes inaudíveis.

Eis que o DEO não pôde ser mais adiado, foi aguentando, empurrando com a barriga, tra!, e aí está ele, foi aprovado! E confirma-se tudo, tudo, tudo, até 2038, com a troika aqui a controlar. Aqui, a tal data. Até houve quem comprasse um relógio para medir a hora da libertação. Até 2038! Aquele relógio tem a pilha completamente avariada.

Risos da oposição.

Burburinho.

Até 2038, a trela da troika, ali, a amarrar os algozes dos credores implacáveis, a sugar o sangue do povo deste País!

Burburinho.

Eis que aqui estamos, até 2038, sob o jugo dos exploradores do FMI. E esta situação ganhou uma atualidade tremenda. Aquele relógio da propaganda a gente sabe o que vale, já não consegue enganar a maioria da população, já de pouco serve a propaganda, quando confrontada com a realidade de quem tem o desemprego, não recebe o salário, tem cortes nas suas reformas…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …tem a miséria a bater em casa. Não há relógio de propaganda que valha! E isto vai até 2038! Não

pode ser. Nós temos que protestar, dizer que não podemos aceitar estas orientações e estas políticas para o País e para a Região.

É este o sentido deste voto, que tem mais atualidade ainda do que há um ano atrás!

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Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sra. Deputada Raquel Coelho para uma intervenção, tem a palavra.

A SRA. RAQUEL COELHO (PTP):- Obrigada, Sr. Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, mais uma vez estamos a debater um voto de protesto com um ano de atraso, vamos discutir um documento de estratégia de 2013 quando já foi apresentado um de 2014. Mais uma demonstração do funcionamento acéfalo desta Assembleia. De qualquer das formas, ambos os documentos de estratégia orçamental pouco diferem entre si, refletem, sim, a postura do nosso Governo, do total desligamento da realidade, menosprezando a economia e todos os portugueses.

Os efeitos do Documento de Estratégia Orçamental 2013 foram devastadores para a nossa economia, foi-se gradualmente destruindo as funções sociais do Estado, degradando a qualidade dos serviços públicos, as populações foram alvo de um ataque sem precedentes nos direitos laborais e sociais, promoveu-se o despedimento de milhares de funcionários públicos, destruiu-se o sector empresarial do Estado, confiscou-se salários, reformas, pensões, privatizou-se empresas que eram lucrativas e fundamentais para a independência e soberania do País. E como se isso não bastasse, o Documento de 2014 é a extensão da estratégia de agressão: já anunciaram, para 2015, mais aumentos de impostos, nomeadamente do IVA e da TSU para os trabalhadores.

E depois, não compreendo como é que o PSD e o CDS se podem regozijar com a suposta saída da troika, se no momento em que se devia devolver aquilo que foi prometido, os salários, as pensões e os direitos, já que estes eram cortes temporários, dão-se ao desplante de anunciar novos cortes, mais impostos para 2015.

Por estas e muitas outras razões é que o PTP se vai associar, com toda a convicção, a este voto de protesto do PCP. Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sra. Deputada.

Sr. Deputado Lino Abreu para uma intervenção, tem a palavra.

O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Edgar, se me perguntar se estou

inteiramente de acordo com o documento, com os vários documentos de estratégia, que já são 4 apresentados pelo País, se estou inteiramente de acordo com tudo aquilo que lá está escrito e os sacrifícios que foram pedidos ao País, eu digo, sinceramente, que não estou totalmente de acordo com as medidas e com as políticas que foram tomadas pelo País e que tiveram efeitos nefastos aqui na Região, mas o que é certo, é que em 2011, e o Sr. Deputado irá concordar, o País estava em grandes dificuldades em termos financeiros, tinha uma dívida excessiva, tinha uma falta de confiança com os credores externos, tinha uma falta de credibilidade em todas as instituições europeias e precisava de um apoio externo e foi obrigado a pedi-lo, que teve obrigações, como todos nós sabemos, orçamentais, de forma a poder cumprir com aquilo que foi pedido.

O que é facto é que o Governo podia ter, quanto a nós, também, acompanhado com uma estratégia de austeridade que tivesse também uma estratégia de crescimento económico sustentável. Infelizmente, essa agenda foi criada já no fim destes últimos 3 anos.

O que é facto é que eu gostaria de saber, da parte da esquerda, qual era a solução, em 2011, para o País, quando não tinha dinheiro para pagar salários, quando não tinha dinheiro para pagar pensões? Gostaria de saber qual era a estratégia que a esquerda tinha para repor o País no lugar devido, com a credibilidade que nós todos hoje nos orgulhamos de ter com esta saída limpa que foi anunciada, mas o que é facto é que, com o sacrifício de todos, de todos os portugueses!?

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Estamos conscientes que os portugueses sofreram…

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Alguns!

O ORADOR:- Alguns? Todos!

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Alguns, mas não muitos!

O ORADOR:- …estamos conscientes que é necessário manter a partir de agora medidas de apoio social, medidas de

sustentabilidade económica, para que o País possa novamente ser credível, aumentar a riqueza e aumentar a sua competitividade, aumentar a sua economia e criar emprego.

Estou certo que estas medidas que foram criadas foram de grande sofrimento, mas que irão ter, a curto prazo, benefícios reiais na economia real!

Vozes do CDS/PP:- Muito bem!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Srs. Deputados, vou colocar à votação o texto do voto do PCP.

Submetido à votação, foi rejeitado com 32 votos contra, sendo 23 do PSD e 9 do CDS/PP e 11 votos a favor, sendo 6 do PS, 3 do PTP, 1 do PCP e 1 do MPT.

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Sr. Deputado Carlos Pereira para uma declaração de voto, tem a palavra. O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vou pedir desculpa ao Sr. Deputado Edgar

e não vou falar no Documento de Estratégia Orçamental do País, que é o quarto do País, vou falar, Sr. Deputado, na ausência de Documento de Estratégia Orçamental da Madeira.

Apartes inaudíveis. Em maio de 2012, a primeira avaliação sobre os programas de ajustamento económico e financeiro dizia que “está

estipulado na Medida 2 do Plano de Ajustamento Económico e Financeiro a existência de uma estratégia orçamental para a Região Autónoma da Madeira”. E diz que esta medida obrigava ainda a que aquele relatório (e relatório significa orçamento) contivesse uma secção sobre estratégia orçamental de médio prazo, a qual, segundo o Governo Regional da Madeira (não é segundo nós, é segundo o Governo Regional da Madeira), constará de documento autónomo, seguindo, assim, a mesma metodologia adotada a nível nacional. E acaba, dizendo assim: “Aguarda-se assim a elaboração de idêntico documento por parte da Região no decurso do mês de maio de 2012”, Srs. Deputados.

E a diferença é esta, é que nós estamos a discutir… Burburinho. …nós estamos a discutir e a debater a política orçamental do Governo da República, estamos a discutir essa política.

Gostamos, estamos contra, não interessa, mas estamos a discuti-la! Sobre a Madeira, não podemos discutir. E não podemos discutir, porque o Governo da República é severo, o Governo da República é severo, é exigente com os madeirenses, mas é absolutamente negligente com o Governo Regional, porque o Governo Regional não interessa, não cumpriu, não apresentou, os madeirenses comem e calam, os madeirenses vão ter austeridade escondida durante dois anos!

Apartes inaudíveis.

Burburinho.

Foi isso que aconteceu, Srs. Deputados. Durante dois anos, na Madeira, não se sabia o que é que ia acontecer no futuro, o Governo fazia como queria, nem relatórios do Plano de Ajustamento Económico e Financeiro existiram durante um ano, os senhores ocultaram toda a austeridade que queriam apresentar aos madeirenses e continuam a ocultar!

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- E agora, qual é a desculpa esfarrapada? É que criaram uma lei de finanças regionais, que entra em

vigor este ano, e porventura vai haver um quadro plurianual orçamental que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Estamos à espera de um documento de estratégia orçamental há dois anos, Srs. Deputados, e não temos esse documento de estratégia orçamental.

O SR. VICTOR FREITAS (PS):- Muito bem!

O ORADOR:- E eu pergunto: onde é que está a austeridade escondida? O que é que pretende o Governo Regional

fazer? E se a política e a democracia se fazem com agendas ocultas, umas atrás das outras, piorando a vida dos madeirenses?

O SR. VICTOR FREITAS (PS):- Muito bem!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Jaime Filipe para uma declaração de voto, tem a palavra. O SR. JAIME FILIPE RAMOS (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, relativamente a esta iniciativa, ela é

oportuna um ano depois, e, provavelmente, se entrar agora, será para o próximo ano. Esta questão do Documento de Estratégia Orçamental, todos nós temos consciência das dificuldades que criou nos

portugueses, e nos madeirenses em especial. A alta e a elevada carga fiscal foi um sinal errado daquilo que foi necessário fazer para recuperar a economia do País, e em especial as finanças. Mas também não importa aqui branquear as causas e as razões deste Documento de Estratégia Orçamental, porque é preciso perguntar aqui: quem chamou a troika? O Partido Socialista!

Uma voz:- O PSD!

O ORADOR:- Quem teve o ónus de aplicar a austeridade? O PSD e o CDS!

Quem agora nega a responsabilidade? O Partido Socialista!

Burburinho.

Quem agora não quer contribuir para um compromisso de futuro? O Partido Socialista!

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E o autor desta iniciativa, o PCP, que alternativa protagoniza? Zero! A não ser que seja chamar a China como alternativa ao FMI e à própria União Europeia.

Apartes inaudíveis.

Burburinho.

E por isso, esta ausência de alternativa, esta incapacidade de assumir a responsabilidade não dá a oportunidade de aprovar esta iniciativa do PCP.

Mais! Este voto não pode merecer o nosso apoio, porque, ao ler o mesmo voto, eu vejo que o autor não quer o nosso apoio, basta lê-lo para perceber que o autor, brilhantemente, escreveu de maneira a que o PSD não pudesse votar a favor, porque até sabe que, se tivesse escrito de outra forma, provavelmente tinha o voto favorável. E por isso, sobre esta matéria estamos terminados.

Sobre a questão que o Sr. Deputado Carlos Pereira falou, do Documento de Estratégia Orçamental da Região, como sabe, Sr. Deputado, depois desta mesma iniciativa há a Lei de Finanças 2013. E o que lhe foi transmitido, a si, é que, depois desta iniciativa do Governo da República, foi traduzido todas as obrigações da Região na Lei de Finanças 2013.

Aparte inaudível do Sr. Victor Freitas (PS).

No artigo 20.º da Lei de Finanças 2013, está lá explícito que a obrigatoriedade é até 31 maio da entrega do quadro plurianual. Do quadro plurianual, em que estejam explícitas, a despesa e a receita subjacentes à estratégia orçamental.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

Mais, Sr. Deputado! Como sabe, a Lei de 2013 só entra em vigor a 1 de janeiro de 2014, ou seja, não há qualquer incumprimento do ponto de vista do documento.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Já termino, Sr. Presidente.

Se o Sr. Deputado quer uma estratégia à parte, oh! Sr. Deputado, o Sr. Deputado sabe tão bem como nós, e melhor também como nós sabemos isso, que é o seguinte: a estratégia nacional condiciona a estratégia da Madeira, da mesma forma que o pacto Orçamental da União Europeia implica todos os países, como também as obrigações com o FMI implica todos os países e, portanto, não há aqui…

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

Oh! Sr. Deputado, o PAEF da Madeira define as linhas nessa matéria, agora, deixe-me dizer o seguinte:…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Sr. Deputado, faz favor de concluir.

O ORADOR:- Termino, Sr. Presidente, e peço desculpa.

…eu gostava que a Madeira pudesse fazer o próprio Documento de Estratégia Orçamental, estamos de acordo, mas que não tivesse a obrigação constitucional de seguir o documento nacional!

Muito obrigado.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

Burburinho.

Srs. Deputados, terminamos assim o período de antes da ordem do dia, vamos entrar na nossa ordem de trabalhos.

ORDEM DO DIA

E temos como ponto 1 a leitura do parecer da 2.ª Comissão Especializada e apreciação na generalidade do Projeto de Resolução, da autoria do PSD, intitulado “Pedido de parecer jurídico - inconstitucionalidade por omissão – artigo 73.º a 75.º da CPR – cometida pelo Estado Português, ao não transferir os meios financeiros para fazer face aos encargos com o ensino e a educação no arquipélago da Região Autónoma da Madeira”.

E pedia à Sra. Secretária o favor de ler o parecer da 2.ª Comissão Especializada.

Foi lido e consta do seguinte: Projeto de Resolução

“Pedido de parecer jurídico - inconstitucionalidade por omissão – artigo 73.º a 75.º da CPR – cometida pelo Estado Português, ao não transferir os meios financeiros para fazer face aos encargos com o ensino e a educação no

arquipélago da Região Autónoma da Madeira” PARECER

Nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 136.º do Regimento da Assembleia Legislativa da Madeira, reuniu no dia 10 de abril de 2014, pelas 9:30 horas, a 2.ª Comissão Especializada Permanente de Economia, Finanças e Turismo, para analisar o diploma em epígrafe.

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Após a verificação formal e material do diploma, a Comissão considerou por unanimidade estarem reunidos os pressupostos para envio do Projeto de Resolução para discussão e apreciação em Plenário.

Este parecer foi aprovado por unanimidade. Funchal, 10 de abril de 2014. O Relator, Ass.: Élvio Encarnação.- O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sra. Secretária.

Está à discussão, na generalidade, o diploma. Sr. Deputado Emanuel Gomes para uma intervenção, tem a palavra. O SR. EMANUEL GOMES (PSD):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ainda há pouco, na sua intervenção, o nosso colega Medeiros Gaspar falava de que na Assembleia da República, por ocasião do 25 de Abril, dos 40 anos do 25 de Abril, ninguém falou das regiões autónomas, nenhum partido se lembrou, 40 anos depois do 25 de Abril, que Portugal não é apenas o continente, mas que também há regiões onde o Estado tem responsabilidades.

Uma voz:- Devia ter!

O ORADOR:- Sabe-se que há questões políticas que estão subjacentes a isso, mas também sabemos que há

questões de ordem financeira que, neste momento de crise, no País, também contribuem para que o discurso político queira propositadamente esquecer as regiões autónomas. É natural, um País em crise, um Estado em crise, as finanças públicas depauperadas, a consciência de que as receitas do Estado dão para pouco mais do que os seus encargos com o estado social levam a que os protagonistas nacionais queiram, propositadamente, esquecer das responsabilidades do Estado para com as regiões. Mas isso não pode ser, digamos, a nossa posição, nós havemos de lembrar ao Estado, sim, os seus deveres constitucionais para com as regiões autónomas, e por isso esta resolução.

Como se sabe, Sras. e Srs. Deputados, aqui várias vezes foi dito, quer pelo Sr. Presidente do Governo, pelo Sr. Secretário da Educação e por nós próprios, deputados do PSD, que o Estado estaria eventualmente a incorrer numa inconstitucionalidade por omissão pelo facto de não estar a assumir as suas responsabilidades financeiras no pagamento das despesas do sistema de educação na Região Autónoma da Madeira.

Como sabem, é um desígnio constitucional e uma obrigação do Estado Português, para com todo o País, o pagamento das despesas de educação, tudo isso está consignado nos artigos 73.º, 74.º e 75.º da Constituição, onde se diz claramente que é uma obrigação do Estado proporcionar a escolaridade obrigatória a todos os cidadãos e, digamos, dar os meios para que todos os portugueses possam aceder ao sistema educativo. Logo, pensamos nós que, apesar de na Madeira se ter criado um sistema regional de educação, isso não isenta o Estado da responsabilidade também na Região Autónoma.

É verdade que a Região Autónoma tem uma delegação de competências do Estado em matéria de educação, mas também é verdade que a Constituição diz claramente que “cabe ao Estado assumir as responsabilidades no País pelo sistema educativo”.

E nós até sabemos que o sistema educativo regional é muito condicionado pelas determinações nacionais, isto é, se nós aqui temos a escolaridade obrigatória até o 4.º ano, como tivemos em tempos, depois até o 9.º ano, e agora, como se quer, até o 12.º ano, isso não é uma determinação regional, é uma determinação do próprio Estado, é o Estado quem determina o volume, a quantidade, até os conteúdos em termos curriculares daquilo que deve ser a aprendizagem dos alunos em Portugal. E se o Estado assim determina, caberia, por maior força de razão, também a ser o Estado a assumir diretamente as suas responsabilidades.

Apartes inaudíveis. Dirão alguns: “Mas, digamos, a Região tem direito a determinadas receitas, às receitas criadas na Região, deveria

com isso pagar a educação!”. Mas, Sras. e Srs. Deputados, o que a Constituição diz é que, sim, a Região tem direito a essas receitas, e diz que o

Estado tem o dever de assumir o seu compromisso com todo o País em matéria de educação. Por isso, estamos convencidos que poderemos estar perante uma inconstitucionalidade e daí esta proposta que se

coloca, de um pedido, através de uma resolução, da aprovação desta resolução, para que a Assembleia, através da Mesa da Assembleia, possa solicitar um parecer jurídico a um jurista, digamos, abalizado em matéria constitucional para, com esse parecer, podermos suscitar, se assim for o caso, a inconstitucionalidade por omissão pelo facto do Governo Português, representante do Estado, não estar a assumir as despesas de educação também na Região Autónoma.

Burburinho.

E isto tem maioria de razão, numa altura em que se questiona as capacidades do Estado em termos de despesas da educação, de saúde (que também é o caso na Região) e de todas as despesas sociais do Estado. Sabe-se que neste momento está colocada a questão de saber se é sustentável, ou não, para o Estado Português, continuar a manter este nível de apoio social na educação, na saúde, em todas as prestações sociais, de reformas, etc., e também, se é difícil para o Estado manter esse nível de prestações sociais e de apoio social, de estado social, por maioria de razão será difícil à Região também manter, ter capacidade de manter o estado social que foi, digamos, orientado ao longo destes anos todos pelos diversos governos no País.

E este problema deve colocar-se, isto vai ser uma questão importante para o futuro, porque se a Madeira não tiver apoio do Estado para financiamento do seu sistema educativo e do seu sistema de saúde, porque como todos sabem as prestações sociais, o sistema de segurança social já é um sistema nacional, é financiado pelo País, mas o sistema de

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educação e o sistema de saúde, que são os dois grandes sistemas que levam grande parte das receitas do Estado são financiados apenas pela Região, e, a continuar assim, dificilmente a Madeira conseguirá manter o nível de apoio, de prestações que dá, ou de que dispõe, quer no âmbito da educação e também no âmbito da saúde.

E daí nós, oportunamente, nesta ocasião, porque também é verdade que a situação de ajustamento económico e financeiro, quer do País, quer da Região, se colocam neste momento, é altura de questionarmos esta situação e por isso vamos, com esta resolução, a nossa ideia é pedir este parecer a um constitucionalista para termos a certeza de que podemos reivindicar isto, que nos parece de todo razoável.

Obrigado. Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Carlos Pereira para um pedido de esclarecimento, tem a palavra. O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Emanuel Gomes, confesso

que a bancada do Partido Socialista não sabe bem o que dizer sobre esta matéria, precisa duma clarificação do Grupo Parlamentar, e em particular do Sr. Deputado, sobre esta questão, porque a pergunta que eu queria fazer é: em 1978, o Governo era PSD, o Presidente do Governo era exatamente o mesmo que ainda temos hoje, foi pedido a regionalização da educação, como sabe, conhece o Decreto-Lei sobre essa matéria, e depois, em 82, foi pedido a da saúde nos mesmos termos. E o que o Sr. Deputado disse na sua intervenção foi que, basicamente, passados 34 anos, está na altura de questionar o que foi feito pelo Sr. Presidente do Governo e pelo seu partido.

Ora, qualquer um que ouça isto, diz: Bom! Isto é uma assunção do erro. Nós nunca devíamos ter pedido aquela autonomia para estes sectores da saúde e da educação, nunca devíamos ter pedido, pelo menos nunca devíamos ter pedido naqueles termos. No fundo, o que o Sr. Deputado está a dizer é: Nós cometemos um erro gravíssimo, que nos fez perder 9 mil milhões de euros, conforme diz o vosso projeto de resolução. Nós nunca devíamos ter feito isto desta forma. Aliás, olhe! Por exemplo, Canárias não fez assim, pediu a regionalização, mas, olhe!, paga metade, recebe metade dos impostos, fez uma coisa mais equilibrada e a coisa fica mais satisfeita e mais adequada para os cidadãos. O Governo da Madeira não, a pontapé, queremos a regionalização, acabou! Passados 34 anos, o Sr. Deputado diz assim: Está na altura de reconfigurar isto!

Mas porque é que está na altura, Sr. Deputado? O SR. VICTOR FREITAS (PS):- Porquê agora?

O ORADOR:- Esta é a pior altura, o Estado tem zero de meios financeiros para poder contribuir para essa matéria. O

Sr. Deputado está a colocar em cima da mesa uma discussão na pior altura possível e não colocou durante os 34 anos que passou na Região Autónoma da Madeira, o Sr. Deputado está a colocar uma questão em cima da mesa, quando passou 34 anos alegre e contente, a dizer que tudo isto estava bem, convencido que o sector da educação e da saúde na Madeira estava melhor do que no País…

O SR. JAIME RAMOS (PSD):- E estava!

Burburinho. O ORADOR:- …(e já vamos falar sobre essa matéria) e não está!

Oh! Sr. Deputado, nós queremos o melhor para a Madeira, nós vamos aprovar este projeto, mas, Sr. Deputado, coerência é uma coisa muito importante, credibilidade é uma coisa ainda maior e mais relevante para um governo e assumir as suas responsabilidades, os seus erros, da incompetência que foi pedir a regionalização da educação e da saúde nestes termos tem que ser assumido por V. Exas.. Se há alguém nesta Casa que não tem nenhuma legitimidade para fazer o discurso que o Sr. Deputado fez, é o PSD. Não tem nenhuma legitimidade! Tiveram tudo na mão durante estes anos todos, mas fizeram tudo errado, e agora vêm aqui, com uma coroa de anjinhos na cabeça a dizer: “Meus caros amigos, está na altura de reconsiderar isto.…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …Nós rebentámos a Madeira toda, nós já não temos dinheiro para nada, nós já não conseguimos pagar

a educação, nem a saúde, ai, ai, ai, venha o Estado e ajude-nos!”. Sr. Deputado, isto não é possível, isto é a assunção do erro, isto é vir aqui, levantar-se em nome do Sr. Presidente do

Governo, do seu Governo, e dizer: Nós errámos, nós fomos incompetentes, nós fizemos uma regionalização que está toda errada e que ficamos muito pior!

Portanto, Sr. Deputado, tem que explicar a esta Casa o que é que se passou nestes anos todos, para de repente o Governo mudar de ideias. E durante 34 anos não houve uma cabecinha pensante nesse partido…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Faz favor de concluir, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …uma cabecinha pensante nesse partido que se lembrasse: Isto não pode ser. Nós não podemos

continuar assim! Muito obrigado. O SR. VICTOR FREITAS (PS):- Agora tem cinco cabeças pensantes!

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Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Emanuel Gomes para responder, tem a palavra. O SR. EMANUEL GOMES (PSD):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Carlos Pereira, eu julgo que o Sr. Deputado, em relação a esta matéria de erros do passado, eu julgo que poderia estar a problematizar todos os políticos em Portugal. Repare! Neste momento, aquilo que eu digo, é que se está a repensar Portugal em termos da sustentabilidade de todos os seus sistemas.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS). Não foi o PSD-Madeira que fez o Serviço Nacional de Saúde, não foi o PSD-Madeira que fez o Serviço Nacional de

Educação, não foi o PSD-Madeira que teve culpa das políticas nacionais na educação, na segurança social. Aparte inaudível do Sr. Victor Freitas (PS).

Oh! Sr. Deputado, se a nível nacional se está a pensar fazer uma reforma das pensões, uma reforma da segurança

social porque o sistema é completamente insustentável, se a nível nacional se está a equacionar repensar todo o apoio do Estado em todos os sectores, porque não aqui na Madeira repensarmos os modos como financiávamos o sistema educativo? E se durante todos estes anos o PSD não reclamou, foi porque, de uma forma ou de outra, os meios chegavam para fazer face às despesas do sistema educativo.

Apartes inaudíveis. Burburinho. Os nossos alunos tiveram e têm boas escolas, tiveram e têm um bom quadro de professores, tiveram e têm todas as

condições para exercerem a sua atividade escolar, digamos, ao mesmo nível que todos os estudantes do País, agora, se a situação do País é outra, se a situação da Europa é outra, se a situação da Região é outra, há que pôr tudo em causa, há que reequacionar, há que rever e isso…

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

…e isso não deve envergonhar aqueles que em momentos idos contratualizaram, fizeram outro tipo de acordos,

combinaram com o Estado com as maiores das intenções, com as melhores das intenções. Agora, só não muda quem é…

Uma voz:- Burro!

Burburinho. O ORADOR:- Porque aqueles que querem o bem da sua região, aqueles que querem continuar a dar uma

oportunidade aos jovens madeirenses de terem um serviço de ensino de qualidade… O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …hão de encontrar meios, hão de encontrar maneiras de subsidiar o sistema. E se esta for uma maneira,

pois estaremos de acordo com ela!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado José Manuel Rodrigues para uma intervenção, tem a palavra. O SR. JOSÉ MANUEL RODRIGUES (CDS/PP):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a Constituição da República

Portuguesa consagra vários tipos de inconstitucionalidades, uma delas, naturalmente, é esta da inconstitucionalidade por omissão que aqui é trazida pelo Grupo Parlamentar do PSD, tendo em vista encomendar um parecer jurídico sobre se o Estado está ou não a cumprir a Constituição naquilo que lhe compete para os cidadãos das regiões autónomas em matéria de educação e em matéria de saúde.

Vejamos o que é que diz o artigo 283.º da nossa Constituição, precisamente aquele que estipula o que é inconstitucionalidade por omissão. Diz, no seu ponto 1, que “A requerimento do Presidente da República, do Provedor de Justiça ou, com fundamento em violação de direitos das regiões autónomas, do presidentes das Assembleias Legislativas das regiões autónomas, o Tribunal Constitucional aprecia e verifica o não cumprimento da Constituição por omissão das medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis as normas constitucionais”, ou seja, a inconstitucionalidade por omissão não se refere a matéria financeira, refere-se a matéria legislativa, isto é, quando há vazio legislativo.

Ora, não é o caso premente desta questão relacionada com a cobertura… Apartes inaudíveis.

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…das despesas da educação e da saúde. A própria proposta de resolução do PSD não fala de quais as medidas legislativas que não existem e devam existir, fala apenas da falta de comparticipação financeira.

Ora, quando a Constituição refere que cabe ao Estado a educação, nos artigos 73.º n.º 2, 74.º n.º 2 e 75.º n.º 1, não está também a querer dizer que o Estado seja apenas o Governo da República. Aqui, na Constituição, o sentido da palavra “Estado” deve ser entendido de forma lata, compreendendo a Administração Central, a Administração Regional e a Administração Local. O mesmo sentido aparece em outros preceitos, como por exemplo os artigos constitucionais, 65.º sobre o direito à habitação, 66.º sobre o ambiente e qualidade de vida, 67.º sobre a proteção da família e o 71.º sobre a deficiência.

Não nos parece, ao CDS, que a propósito de cada função do Estado seja passível equacionar a constitucionalidade da não transferência de dinheiros do Estado para as regiões autónomas.

A questão poderia ter algum interesse por causa da transferência de competências, mas nunca em matéria de constitucionalidade.

Em matéria de transferência de competências e a assunção de determinadas atribuições pelas regiões autónomas, isso é regido, como se sabe, pelo artigo 229.º da Constituição da República Portuguesa. O que falhou aqui, em 1978, com a regionalização da saúde, foi não ter assegurado que, a par de mais poderes para a Região Autónoma, se tivesse tido também mais meios financeiros para cumprir o direito do acesso à saúde. Foi nisto que falhou o Governo Regional, como falhou em 1982, com a regionalização do sector da educação.

Apartes inaudíveis. E, portanto, não se pode pôr aqui em causa, hoje, passados mais de 30 anos destas regionalizações, que a Madeira

tivesse tido direito a ter um sistema de saúde próprio, porque isso foi positivo para os madeirenses, claramente, nem um sistema também de educação próprio, porque isso permitiu ter mais jovens na escola, o que deveremos pôr em causa, foi a forma como se negociou a correspondente transferência de meios financeiros, que afinal se revelou não ter existido.

Mas a própria Constituição estipula, no seu artigo 229.º, a cooperação dos órgãos de soberania e dos órgãos regionais, tendo em vista o desenvolvimento económico e social das regiões autónomas, visando, como diz a Lei Fundamental, a correção das desigualdades derivadas da insularidade. E remete para um artigo da Lei de Finanças das Regiões Autónomas, que é o artigo 164.º da Constituição, precisamente plasmar que meios financeiros o Estado transfere para as regiões autónomas para cumprir aquilo que são as incumbências e tarefas do Estado na Madeira e nos Açores, ou seja, o desempenho das tarefas públicas nas regiões insulares, por força da autonomia política, é desempenhado pelos órgãos de governo próprio, com o recurso aos meios que a autonomia financeira propicia. Na autonomia, a regra é a disposição de receitas para o exercício de competências e não o seu contrário.

Essas receitas, não chegando, ou não podendo, com base nessas receitas, satisfazer todas as tarefas, entra aqui, naturalmente, o princípio da solidariedade que a própria Lei de Finanças das Regiões Autónomas prevê através das transferências orçamentais motivadas nesse princípio da solidariedade, o que de alguma forma compreende esta matéria.

É bom também, e o PSD não faz referência no seu projeto de resolução, lembrar aquilo que diz o artigo 103.º do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma da Madeira. Todos nós sabemos que, por força de circunstâncias políticas e financeiras, o Estatuto tem sido claramente violado por parte do Estado, mas que também a Região Autónoma, pela sua forma de governação até este momento, tem dado azo a que isso aconteça. Mas devemos continuar, como políticos regionais, defensores da autonomia, a fazer desse Estatuto a nossa própria Constituição. E é bom lembrar o que diz esse artigo 103.º, que vincula, no seu ponto 1, “…o Estado a suportar os custos das desigualdades derivadas da insularidade, designadamente no respeitante a transportes, comunicações, energia, educação, cultura, saúde e segurança social…”. Aqui está um artigo que deveria ter sido invocado, e deve ser invocado, quando se defender que o Estado deve cobrir os custos que a Região tem com os sectores da educação e com os sectores da saúde.

E também é bom lembrar, que foram os deputados do CDS na Assembleia da República, e do PSD, que na última revisão da Lei de Finanças das Regiões Autónomas, em maio do ano passado, apresentaram precisamente uma proposta para que ficasse consagrado na Lei de Finanças das Regiões Autónomas que o Estado passava a cobrir as despesas com a saúde e com a educação nos Açores e na Madeira.

Apartes inaudíveis.

Infelizmente esta proposta não mereceu acolhimento na Assembleia da República. Burburinho. E, portanto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o CDS é claramente a favor que o Estado assegure aos madeirenses e

aos açorianos o acesso aos serviços de saúde e aos serviços de educação. E não tendo a Região, neste momento, meios para cobrir essas despesas, o Estado, dentro do Princípio da Solidariedade Nacional, deve naturalmente cumprir a Constituição e assumir, ele próprio, esta tarefa fundamental dirigida aos cidadãos das regiões autónomas.

Sr. Presidente, Srs. Deputados, só foi pena que esta questão de princípio, que vem, como vimos, desde 77, com as primeiras regionalizações, não fosse encarada pelo Governo Regional do PSD como uma questão prioritária. Enquanto houve dinheiro da banca, enquanto houve dinheiro fácil, nunca o Governo Regional do PSD se lembrou de pedir ao Estado que cobrisse as despesas com o sector da educação e com o sector da saúde na Região Autónoma da Madeira, foi preciso ter-se descoberto aquela dívida gigantesca, de 6,5 mil milhões de euros, foi preciso a Região ter entrado em situação de pré-bancarrota, para que o Governo Regional do PSD se lembrasse de que ao Estado competia suportar os custos com a educação e com a saúde na Região Autónoma da Madeira.

E talvez fosse bom, para dar substância a esta discussão, saber quanto é que a Madeira vai gastar este ano com estes dois sectores. O Orçamento Regional para 2014 prevê 345 milhões de euros de despesas de funcionamento com o sector da saúde e prevê despesas com a educação de 331 milhões de euros, isto é, só com dois sectores, saúde e

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educação, temos aqui um gasto em despesas de funcionamento de 376 milhões de euros, ou seja, 44% do Orçamento Regional. Por aqui se vê que é incomportável no futuro a Região assumir sozinha as despesas com os sectores da saúde e da educação.

E, portanto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o que falta ao Governo Regional do PSD é credibilidade para negociar. Esta é a questão essencial hoje da autonomia da Madeira e da governação da Madeira. É por isso que o CDS tem vindo a propor, e reafirma hoje no Parlamento, a necessidade de haver um compromisso interpartidário, com os três partidos do arco da governabilidade…

Aparte inaudível do Sr. José Manuel Coelho (PTP). …para podermos ter propostas comuns em termos de renegociação da dívida da Madeira com a República e em

termos, também, de negociar esta matéria da cobertura das despesas com a saúde e com a educação. Este é o momento, esta é a oportunidade para a Região assegurar mais meios financeiros para o seu desenvolvimento.

Agora que Portugal vai reganhar a autonomia e soberania financeira, libertando-se da troika que foi trazida pela terceira vez para Portugal pelo Partido Socialista, está na hora da Madeira também reganhar a sua autonomia!|

Vozes do CDS/PP:- Muito bem!

Aplausos do CDS/PP. Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Carlos Pereira para um pedido de esclarecimento, tem a palavra. O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado José Manuel Rodrigues, eu

ouvi o Sr. Deputado dizer que era incomportável a Região Autónoma da Madeira pagar 300 milhões de euros, grosso modo, da educação, mais 300 com a saúde.

A pergunta que lhe queria fazer era: Sr. Deputado, não é incomportável para a Região Autónoma da Madeira pagar um serviço da dívida de 6,3 mil milhões de euros, que hoje, em 2013, o serviço da dívida ascendeu a 340 milhões de euros? E, Sr. Deputado, 340 milhões de euros, sem ainda estarmos a pagar 1.500 milhões de empréstimos no âmbito do PAEF, que não estamos a pagar, estamos a pagar juros, não estamos a pagar amortização, apenas pagaremos a partir de 2016, e não estamos a pagar ainda a amortização dos 1.100 milhões do aval do Estado, ou seja, o serviço da dívida da Região Autónoma da Madeira é superior, hoje, já, do que o valor da educação, e neste momento ainda não estamos a pagar amortizações e juros de 2.500 milhões de euros, que às contas atuais, com os juros atuais e na situação e no contexto atual, significa acrescentar a isto mais quase 200 milhões de euros.

E, portanto, nós estamos praticamente a dizer que o serviço da educação e da saúde corresponde praticamente ao serviço da dívida da Região Autónoma da Madeira.

Portanto, está aqui em causa dois erros gravíssimos do Governo Regional: o primeiro erro foi a regionalização a pontapé, como foi feita, da educação e da saúde, uma regionalização que não teve em conta os custos necessários para a tornar moderna e para a tornar adaptada aos tempos e às necessidades dos madeirenses, uma regionalização que teve apenas o interesse de ganhar poder, de ficar com o poder da gestão dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos auxiliares, de ficar com a gestão de tudo isso, e não uma regionalização de ter em conta aqueles que eram os indicadores de crescimento da educação e da saúde.

O segundo erro grave…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Eu termino rapidamente.

E o segundo erro grave, uma dívida irresponsável, que é impossível pagar e que neste momento não é, pura e simplesmente, sustentável.

Portanto, Sr. Deputado, gostaria que isto ficasse claro, para que nós não estejamos aqui a fazer o jogo do PSD, que é: andámos 34 anos a dormir, é mesmo assim, e a pedir dinheiro emprestado, porque alguém haveria de pagar, e agora já não conseguimos pagar e entregamos tudo!

Não há responsabilidades e essas responsabilidades têm que ser assumidas por quem as fez. E é isso que eu gostaria de ver clarificado.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado José Manuel Rodrigues para responder, tem a palavra. O SR. JOSÉ MANUEL RODRIGUES (CDS/PP):- Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Carlos Pereira,

concordo naturalmente com aquilo que acaba de dizer e, aliás, no final da minha intervenção, quando falei da necessidade de haver um compromisso interpartidário, que deveria ser o mais alargado possível (e ouvi o Sr. José Manuel Coelho se expressar pelo facto de eu ter dito que eram só os três partidos), eu acho que todos os partidos deviam integrar este compromisso, se ele for possível, vejo isso com algumas dificuldades, mas sobretudo os partidos com maiores responsabilidades na Região Autónoma da Madeira, a exemplo, aliás, do que vai ser necessário no País, devem entender-se à volta das questões centrais para o futuro da autonomia e do desenvolvimento da Região Autónoma da Madeira. Eu acho que, acima do PSD, acima do PS e acima do CDS, estão os interesses dos madeirenses e dos porto-santenses e é

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isso que temos que salvaguardar no presente e sobretudo para o futuro. E foi por isso que eu, quando apelei a este compromisso entre os três grandes partidos, enunciei precisamente duas áreas em que temos que chegar a acordo: a renegociação da dívida e a cobertura, pelo Estado, de toda, ou de parte, das despesas com a saúde e com a educação, porque são incomportáveis para o Orçamento Regional. O Sr. Deputado avançou alguns números a propósito da dívida, e eu lembro que, só no 1.º trimestre deste ano, pagámos de juros da dívida 102 milhões de euros. Em três meses, a Madeira pagou 102 milhões de euros de juros, um terço do que se gasta anualmente com a área da educação.

E, portanto, Sr. Deputado, plenamente de acordo com essa matéria, agora, é preciso é realmente encontrar aqui os pontos de contacto entre os partidos para que, independentemente de quem ganhe as eleições regionais para o ano na Madeira e de quem ganhe as eleições legislativas nacionais no Continente, seja possível encetar…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …uma nova fase de autonomia, aquilo que eu chamaria de “autonomia com responsabilidade” e que

vai ter que ter, necessariamente, o apoio do Estado Português! Apartes inaudíveis.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado José Manuel Coelho para uma intervenção, tem a palavra. O SR. JOSÉ MANUEL COELHO (PTP):- Exmo. Sr. Presidente da Assembleia,

Exmas. Sras. e Srs. Deputados, Exmos. visitantes, Muito bom dia para todos. Eu estive ouvindo atentamente algumas intervenções dos Srs. Deputados que me antecederam e tive observando,

com particular detalhe, a intervenção do Sr. Deputado Emanuel Gomes, onde ele se lamentava e chorava lágrimas de crocodilo, se lamentando por que razão na comemoração dos 40 anos do 25 de Abril não se falava de autonomia, que foi uma conquista dos madeirenses.

Eu quero dizer ao Sr. Deputado, que é falacioso que os madeirenses aspirassem autonomia. A história não vai falar nisso, porque o povo madeirense, quando veio o 25 de Abril, despolitizado, completamente afastado do que era a política, não conhecia sequer em que regime vivia, completamente anestesiado pela propaganda da Igreja que defendia o regime salazarista e das professoras das escolas, que diziam que se devia defender Portugal até a última gota de sangue e ir para o exército defender as colónias, o madeirense não aspirava autonomia, nem tinha essa perceção política.

Portanto, é falacioso aquilo que o Sr. Deputado Emanuel Gomes diz. A autonomia foi defendida, sim, por alguns intelectuais madeirenses, muitos ligados à esquerda – Pestana Júnior, que participou na Revolução de 31 –, esses intelectuais é que defendiam realmente a autonomia para o povo da Madeira no tempo do Salazar.

Depois, a FLAMA, os ativistas da FLAMA, ligados ao Alberto João Jardim, ligados ao Bispo Santana… Apartes inaudíveis. …agarraram essa bandeira. Agarraram essa bandeira, e toca de defender a autonomia e fazer disso um chavão, uma

conquista. E realmente, os revolucionários de Abril concederam a autonomia à Região Autónoma da Madeira e à Região

Autónoma dos Açores, mas o Dr. Alberto João Jardim, na sua ânsia de querer mandar em tudo e de querer tudo dominar, cometeu um erro económico grave, que foi pedir autonomia para a educação e para a saúde. Começou a construção das escolas, em cada concelho uma escola secundária, foram construídas escolas básicas por toda a ilha, e o Dr. Alberto João Jardim nunca se lembrou que não ia ter meios para assegurar o funcionamento das escolas. Uma coisa é construir edifícios das escolas, outra coisa é equipa-las e mantê-las, com professores, com pessoal docente, com técnicos. E o mesmo se passa com a saúde, que foram construídos, e bem, centros de saúde por toda a ilha, em todos os concelhos, criaram-se os serviços de urgência, e depois verifica-se, a Região Autónoma, o regime jardinista verifica que não tem dinheiro para manter esses serviços, porque esses serviços nunca deviam de ser regionalizados, é um dever da República assegurar a educação e a saúde em todo o País, porque nós agora estamos, passo a expressão, permitam-me a expressão, entalados, e com a Madeira ingovernável, porque o Governo Regional, o Dr. Alberto João Jardim quis regionalizar tudo.

Apartes inaudíveis.

E agora vem atrás do prejuízo, com esta proposta, para nós pagarmos um constitucionalista, que deve ser o Sr. Jorge

Bacelar Gouveia, para vir fazer um estudo que obriguem o Governo da República a dar cinco mil e quinhentos mil milhões de euros à Região para pagar a saúde e a educação, quando nós sabemos que tal não vai ser possível, o dinheiro que vai ser dado provavelmente ao senhor constitucionalista, Jorge Bacelar Gouveia, vai ser dinheiro perdido, porque ele vai chegar à conclusão que isto é autónomo, que foi concedida autonomia à Madeira, a Madeira governa-se por si, com as suas verbas próprias, com as suas receitas próprias, e tem, com isso, que pagar a saúde e a educação. E continuamos na mesma!

Burburinho.

Porque na realidade, o regime jardinista vai cair exatamente por este erro económico. Os regimes caem por erros económicos. Foi assim na antiga União Soviética, o regime soviético caiu por erros económicos, ninguém o derrubou, não

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houve nem um tiro e eles caíram, por contradições económicas, e assim o regime jardinista também está a desfazer-se e vai cair por erros económicos, contradições. Eu lembro-me, ainda há poucos anos, uma vez tive uma conversa com o Sr. Representante da República, Monteiro Dinis, e onde falámos acerca das atoardas do Dr. Alberto João Jardim, que dizia: “Vamos pedir a independência!”. Ele dizia: Amigo Coelho, não se preocupe, que isso é falacioso, porque ele nunca pode pedir a independência. Já viu? Para pagar a PSP, 1.500 homens da PSP, com oficiais, tudo isso, quanto é que isso custa!? Para pagar uma fragata, ou duas, para patrulhar os mares da Madeira, para ter uma marinha para manter a Zona Económica Exclusiva da Madeira, quanto é que isso custaria!? Para pagar a GNR, pagar os tribunais, quanto é que isso importa? Naturalmente que o Dr. Alberto João Jardim nunca iria pedir, digamos, a independência, porque isso seria o fim dele!”.

Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Portanto, o que eu queria dizer é que na realidade esta autonomia está em queda livre e não há

suspensórios (e refiro-me aqui ao Sr. Deputado Medeiros Gaspar, que é o Sr. Deputado dos suspensórios)… Risos. Apartes inaudíveis. O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Os meus são bons!

O ORADOR:- …não há suspensórios que aguentem a queda vertiginosa desta autonomia que o Sr. Dr. Alberto João

Jardim quis conquistar! Muito obrigado. Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Rui Almeida para uma intervenção, tem a palavra. O SR. RUI ALMEIDA (PAN):- Obrigado, Sr. Presidente.

Esta resolução, se a lermos, ficamos a perceber que o Estado deve pagar à Região as suas despesas com a educação em si, mas não só, também com a cultura e com a saúde, que foi regionalizada, isto apesar de todas as receitas de impostos cobradas na Região que cá ficaram.

Eu penso que não sou o único que considera que houve aqui legislação e processos de regionalização que foram feitos, mal feitos, e que houve uma Constituição da República que, a meu ver, não foi adaptada. E este é certamente o caso, e não é honesto, nem fica bem, a meu ver, vitimizarmo-nos, considerando que o suposto benefício certamente é devido à natureza insular da Região Autónoma e dificuldades consequentes, como é referido. Possivelmente nós conseguiríamos, como aqui se pretende, explorar ao máximo estes contornos jurídicos da redação da Constituição e da legislação que temos, com vista a que o Estado pagasse na Região a educação, a saúde, e isto até, possivelmente, podia permitir que reduzíssemos drasticamente o número de desempregados, afetando ao Estado os custos com estes sectores.

Mas então, se realmente isto for conseguido, e eu não estou certo que este é o fórum, que esta é a maneira como vamos conseguir alterar isto, mas se se conseguisse obrigar o Estado a pagar estas despesas, então que se regionalize também a cultura, e porque não também a justiça, e eu digo isto com um tom algo jocoso, porque isto com certeza permitiria que todos vivêssemos muito folgadamente.

Portanto, a meu ver, aqui, a questão prende-se com uma questão de justiça e se nós achamos que, analisada a questão desta forma se fica bem e se acham que isto era possível fazer-se com a cultura e com, inclusivamente, a justiça.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Roberto Vieira para uma intervenção, tem a palavra.

O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, um projeto de resolução para pedir um

parecer, para gastar mais dinheiro. Todos nós sabemos que Portugal não é só o retângulo, é também as ilhas, e há aqui um fator, que é uma realidade,

que é o Governo tem que assumir as despesas da educação. Mas também é verdade, e não podemos esquecer, que o nosso Governo Regional regionalizou, primeiro a saúde, depois a educação, na altura em que meia dúzia de sanguessugas enchiam os bolsos, na altura em que havia rios de dinheiro, na altura em que abundava muito dinheiro o Governo Regional começou a regionalizar, porque queria mandar, controlar, ser ele a decidir, ser ele a pôr e a dispor. Esta também é a realidade! Agora, que caíram na bancarrota, depois de esconderem uma dívida escandalosa, caíram na bancarrota, agora os outros é que têm que pagar.

Que está na Constituição, é verdade, mas, aqui, o Governo Regional infelizmente não é o penalizado, quem está a ser penalizado são as famílias lá fora que votaram neste PSD regional, que votaram no Dr. Jardim!

Não posso deixar de dizer: houve um esbanjamento nesta Região. Construíram-se campos de futebol que não são usados, construíram-se piscinas que estão fechadas, marinas, escolas, centros de saúde, muito bem, mas talvez demasiados, não tínhamos meios de controlar, de pagar estas despesas…

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Burburinho.

…nomeadamente nos anos que se seguiam, na manutenção, no pessoal, e aqui o Governo Regional não estava preocupado em fazer mais um centro de saúde, mais uma escola, o Governo Regional tinha que assegurar era o apoio do Governo Regional àqueles que o apoiam, aqueles da construção civil, aqueles que construíam, aqueles que ganhavam, aqueles que exploravam e que empolavam os valores que eram gastos na Região para hoje a educação estar como está, a saúde estar como está.

Tenho que repetir e não posso deixar de repetir: na altura que havia rios de dinheiro, os sanguessugas andavam de roda do Dr. Jardim, era regionalizar, regionalizar, tudo tinha que ser regionalizado, porque não podia ser controlado por Lisboa. O regionalizar não foi para ter mais autonomia…

Aparte inaudível do Sr. Jaime Filipe Ramos (PSD).

…foi para não ser controlado por Lisboa, para não ter as contas fiscalizadas por Lisboa. E era isto que o Governo queria: regionalizava para mandar pôr, dispor e meter no bolso de muitos que lhe pagavam depois as campanhas. Foi isto que se fez durante anos, durante muitos anos, enganou-se a população e agora vamos ao hospital e não temos medicamentos, vamos à escola e nem papel higiénico existe nas casas de banho…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …e é isto que nós temos, culpa do Governo Regional, culpa das políticas do PSD!

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Edgar Silva para uma intervenção, tem a palavra. O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Muito obrigado, Sr. Presidente. Sras. e Srs. Deputados, ficou célebre, há algum tempo atrás, a expressão res non verba, utilizada para apresentar os

feitos heroicos do autonomismo e do jardinismo. A verdade é que nós estamos perante uma situação onde se aplica, com maior propriedade, o dito latino res non verba.

Hoje ainda se fala de autonomia progressiva, mas a autonomia progressiva aqui está: res non verba. Ou seja, não há dinheiro para a educação, não há dinheiro para a saúde, mas que autonomia progressiva? Quem não tem dinheiro não tem autonomia, quem não tem meios financeiros não tem autonomia, e é uma região que não tem autonomia financeira. Sem autonomia financeira, sem os meios financeiros adequados, não há autonomia!

E, portanto, quem não tem, quem não luta pelos seus direitos a meios financeiros próprios, não tem, não tem, não tem autonomia. E nós teremos, quanto muito, um tigre de papel.

Aparte inaudível.

É o murganho madeirense. Tem o ADN, nasceu de facto nas ilhas, é um murganho, nem consegue roer de forma jeitosa um queijo!

Risos.

Ora, sem meios financeiros não há autonomia!

Burburinho.

Depois, há a questão de fundo, que é a forma como nós discordamos da resolução apresentada pelo PSD. É que o PSD cita o artigo 73.º, cita o artigo 75.º da Constituição, mas, curiosamente, e não percebo porquê, ou percebo, ou não quero perceber, ou não é importante saber porque é que eles não citam, e portanto é que não citam, não citam o artigo 74.º da Constituição, e citam o 73.º muito bem, citam o 75.º muito bem, e porque é que saltam o 74.º? Aqui é que tinha que estar a argumentação da Região, a argumentação da Região em relação aos órgãos da República tinha que assentar no artigo 74.º. Diz 73 e salta para o 75, não refere e devia explorar era o artigo 74.º. Porquê? Porque o artigo 74.º diz: “3. Na realização da política de ensino incumbe ao Estado: a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito; b) Criar um sistema público e desenvolver o sistema geral de educação pré-escolar; e por aqui abaixo, até a alínea j)”.

O que nós tínhamos que argumentar, nem era preciso os outros artigos, bastava este, se o Estado tem por dever garantir o ensino básico, universal, obrigatório e gratuito para todos, da mais elevada qualidade e para todos, o que nós tínhamos que reivindicar…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Termino já, Sr. Presidente.

…o que nós tínhamos e temos que reivindicar é: na Região Autónoma da Madeira ainda não é universal e gratuito, para todos, o acesso à educação. Para que esse direito constitucional seja garantido ao povo das ilhas, o que é que é necessário? Que meios financeiros são necessários para termos uma rede pública da mais elevada qualidade e gratuita para todos? O Estado não está a cumprir com as suas obrigações em relação ao povo da Região. E era aqui, no artigo 74.º, e não é preciso ir a mais lado nenhum, que nós tínhamos que assentar a nossa argumentação e a nossa reivindicação em relação ao Estado. Não basta dizer que existe o artigo 74.º, é preciso explorar…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Faz favor de concluir, Sr. Deputado.

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O ORADOR:- …é preciso explorar até o tutano aquilo que a Constituição reconhece como um direito que é também

do povo das ilhas. E esta é a questão: por erro de orientação estratégica, nós não podemos concordar com a proposta do PSD!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Srs. Deputados, vamos fazer aqui o nosso intervalo regimental. E temos uma reunião de líderes imediatamente a seguir.

Eram 11 horas.

INTERVALO

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Srs. Deputados, façam o favor de ocupar os vossos lugares para

reiniciarmos os nossos trabalhos.

Eram 11 horas e 45 minutos.

E dou a palavra ao Sr. Deputado Emanuel Gomes para uma segunda intervenção.

O SR. EMANUEL GOMES (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, das intervenções proferidas sobre esta

matéria da educação, eu registo duas coisas importantes. A primeira concordo, concordo com a ideia que se passou nesta Assembleia de que de facto há um problema de

financiamento do sistema educativo regional que urge resolver, que urge atalhar, e todos, de um modo geral, concordarão que o Estado deverá, de uma forma, ou de outra, alterar, digamos, o seu comportamento em termos de poder vir a financiar totalmente, ou em parte, o sistema educativo regional, uma vez que é o seu dever constitucional.

Mas, por outro lado, também aqui foi dito, por vários intervenientes, de que teria sido um erro, que o PSD reconhece, disseram, o erro que tinha feito com a regionalização.

Ora, nada disso, nós não dissemos que tinha sido um erro se ter procedido à regionalização do sistema educativo, antes pelo contrário, nós até confirmamos aqui as virtudes do sistema regional de ensino. Não fora a regionalização do sistema educativo na Região Autónoma da Madeira, e de certeza que estaríamos muito, mas muito pior aqui na Região em termos de educação, estaríamos pior, se compararmos até aquilo que são os números e os índices de conforto e de progresso que foram feitos no sistema educativo, nas escolas da Região. A Região, por via da regionalização, passou a contar com um parque escolar invejável…

Apartes inaudíveis. …tem escolas de boa qualidade e, digamos, renovadas, novas… O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- Como no Porto Santo, que tem uma escola espetacular!

Burburinho. O ORADOR:- …em quase todas as freguesias, para o 1.º ciclo, e algumas para o 2.º e 3.º ciclo, e tem escolas

secundárias em todos os concelhos, onde os alunos têm todas as condições, os alunos, os professores e todos os agentes de ensino têm todas as condições para exercerem a sua atividade. E isto, como se sabe, não acontece em todo o território nacional, que ainda faz um esforço neste momento para tentar dotar todo o território de escolas com o mínimo de condições. E isso já é uma realidade adquirida na Madeira desde algum tempo e isso deve-se em particular ao facto de termos tido a regionalização do sistema de ensino.

Além disso, há que contar também com o facto de termos tido a oportunidade de implementar mais cedo do que o País o regime de Escola a Tempo Inteiro, que na Região foi implementada muito antes do que a nível nacional, que ainda hoje tem uma grande percentagem de escolas que ainda não têm a Escola a Tempo Inteiro e isso já existe na Região.

Apartes inaudíveis.

Para além disso, também sabemos que o conjunto de atividades extracurriculares que são dadas nas escolas da Região são orientadas por professores licenciados, e muitas vezes, no Continente Português, essas atividades extracurriculares são exercidas por técnicos que não têm habilitação própria para o efeito.

Aparte inaudível do Sr. Roberto Vieira (MPT).

Portanto, há aqui um conjunto de benefícios que decorrem da regionalização e que de modo nenhum podem nos

permitir dizer que a regionalização foi um erro. O que nós dizemos, e mantemos, é que o sistema de financiamento do ensino na Região, bem como o da saúde, precisa de reflexão e precisa, se calhar, de ser alterado. E isso é aquilo que nós dizemos, mantendo e continuando a manter a mesma qualidade de ensino que até agora foi lecionado na Região, daí que não haja, da parte do PSD, e julgo eu também da parte do Governo Regional, nenhum arrependimento pela forma como foi feita a regionalização do ensino na nossa Região.

Burburinho.

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O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Savino Correia para um pedido de esclarecimento, tem a palavra. O SR. SAVINO CORREIA (PSD):- Sr. Presidente, Srs. Deputados, se há uma área que eu acho que é sensível a

todos nós é, sem dúvida, a área da educação, porque tem a ver com a formação das pessoas, tem a ver com a emancipação das pessoas, tem a ver com a emancipação que leva à liberdade e à autodeterminação de cada pessoa. E eu penso que os pais, os senhores professores e os alunos estão atentos ao nosso debate.

E eu não podia deixar de interpelar o meu colega, porque esta, sendo uma área prioritária, eu não poderia deixar de colocar aqui uma questão. É que parece-me que nós estamos aqui só a ver isto numa perspetiva financeira e negativa porque se regionalizou. Alguém com boa intenção, em 78, regionalizou, e bem…

Burburinho.

…porque quis dar respostas que o Estado Novo não deu. Lembrem-se o que era a Madeira em 1974 no que tem a

ver com a rede escolar, com o acesso às escolas, com a formação dos professores, com o nível de instrução dos senhores professores, com os mecanismos e apoio da ação social, com os equipamentos, e compare-se, hoje mesmo, no presente, os equipamentos da área da educação com aquilo que se passa no País, e sobretudo na cintura industrial de Lisboa, a qualidade das infraestruturas com as nossas.

E, portanto, eu não estou aqui a falar de uma marina, ou de uma promenade, eu estou a falar de um lugar onde se aprende, onde se estuda, onde o homem se emancipa a ser mais homem e onde muitos deputados deviam de lá passar e de lá aprender alguma coisa para depois falarem aqui com alguma bondade e com alguma dose de valor.

E, portanto, há aqui outra questão fundamental, que são os curricula também, o facto de se introduzir aperfeiçoamentos no modelo do currículo escolar, a questão da gestão no que tem a ver com a colocação dos senhores professores, no tempo certo. E eu pergunto, Sr. Deputado…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Já termino.

…e meu colega que aqui falou sobre esta matéria, porque nós temos que ser sensatos e reconhecer que a regionalização foi um bem e nasceu para dar respostas e com boas intenções e que o saldo é manifestamente positivo, e nesta fase do processo em que estamos a viver, é pertinente reequacionarmos esta questão, como esta, como todas as outras áreas, reequacionarmos à luz daquilo que são as exigências do tempo presente, nomeadamente, também, enquadrando a questão financeira, portanto, aquilo que eu pergunto é, ao fim e ao cabo, para nós ficarmos com um quadro pintado a cores e não com um quadro a preto e branco: valeu ou não valeu a regionalização da educação?

O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- Ah! Valeu, valeu, para muitos!

Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Emanuel Gomes para responder, tem a palavra. O SR. EMANUEL GOMES (PSD):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, é inquestionável que a regionalização da educação foi um dos méritos da autonomia da Região Autónoma da Madeira, foi enorme o salto qualitativo que se operou nas nossas escolas, no sistema educacional da Região. É verdade que isso também aconteceu no País, é verdade que aconteceu um pouco por todo o lado, um sistema evolutivo bastante acentuado em matérias de educação, mas se todos tivessem conhecimento daquilo que era o sistema educativo no Estado Novo, antes do 25 de Abril, do qual eu fiz parte, fui aluno, nessa altura todos dariam inegavelmente valor àquilo que foi feito e dariam mérito àqueles que foram os responsáveis pela implementação de um sistema regional de ensino, não só pela qualidade das escolas e pela evolução e a quantidade do número de alunos que ingressaram no sistema educativo, mas sobretudo porque veio dar aos madeirenses e aos jovens madeirenses a oportunidade de se elevarem socialmente. E quero eu dizer com isto que, numa sociedade relativamente pobre, onde os meios para se elevar em termos sociais não são muitos,…

O SR. SAVINO CORREIA (PSD):- Muito bem!

O ORADOR:- …não há grandes riquezas, a escola é, sem dúvida, o melhor elevador social que alguém das classes

menos favorecidas pode ter. E, nesse aspeto, não há dúvidas que, se hoje devemos louvar os méritos do sistema regional de ensino, é sobretudo termos consciência que há milhares e milhares de madeirenses que, sendo jovens, tiveram oportunidade de um sistema universal e gratuito, apoiado…

O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- Gratuito? Aonde?!

Burburinho.

O ORADOR:- …gratuito e apoiado pelo Estado, que conseguiu dar-lhes oportunidade de deixarem de pertencer,

infalivelmente, a famílias com dificuldades… O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

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O ORADOR:- …e passaram a níveis mais favorecidos, de situação financeira e de situação social. E isso,

indubitavelmente, deve-se ao ensino, e é por isso que nós devemos manter, a todo o custo, seja de que forma for e pedindo também as ajudas do Estado, devemos manter esse sistema de ensino, porque é a única forma de garantirmos o futuro para todos, sem qualquer exceção, dos jovens madeirenses!

O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- E depois mandá-los para o estrangeiro. Dão formação e depois mandam-nos

embora, para o estrangeiro! Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Carlos Pereira para uma intervenção, tem a palavra. Dispõe de 4 minutos. O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o PSD não foi capaz de demonstrar,

conforme era desejável e exigível com este diploma, que sem esta regionalização, sem a regionalização que engendrou nos anos 70 e 80, nós estaríamos pior. Não foi capaz de demonstrar! Mas foi capaz de demonstrar uma coisa que nós temos vindo a insistir ao longo dos anos, foi capaz de demonstrar que o PSD continua a insistir no primado do betão, face àquilo que é fundamental, que é o primado do conhecimento. E isso ficou claro na sua intervenção, Sr. Deputado. O Sr. Deputado, para referir aquele que era o suposto sucesso da escola madeirense (e a escola, eu não estou a falar do edifício, Sr. Deputado)…

Apartes inaudíveis. Burburinho.

…mas para poder apresentar o sucesso da escola madeirense, só foi capaz de referir o parque escolar. Sr. Deputado, a sua intervenção foi traída por aquilo que é o ADN do seu partido. E o ADN do seu partido

é o triunfo de uma corrente de betão perante aquilo que era fundamental para os madeirenses, que era olhar para aquilo que são as condições de desenvolvimento, para olhar para uma escola que não se esgota na escola em si, no edifício em si, mas para olhar para a escola que tem a ver com muito mais do que isso e que nós não fomos capazes de construir, apesar de derramarmos mais de 700 milhões de euros por ano nesta mesma escola, derramar 700 milhões de euros, que serviram…

Aparte inaudível. Perdão! 700 milhões – educação e saúde – que serviram, Sr. Deputado, para, infelizmente, criar grupos de intervenção

económica que infelizmente não trouxeram aquilo que deviam ter trazido à escola da Madeira. Apartes inaudíveis do Sr. Jaime Ramos (PSD). Burburinho. E, portanto, Sr. Presidente, é importante juntar a esta discussão aquilo que são, de facto, os resultados daquilo que é

a escola pública gerida por este Governo do PSD. E esses resultados não é o parque escolar, Sr. Deputado, é demasiado pouco para nós estarmos aqui a dizer que, agora, que tivemos 35 anos, construímos escolas, e não tínhamos construído se não tivéssemos a regionalização!

Sr. Deputado, pense naquilo que disse! O SR. JAIME RAMOS (PSD):- É verdade!

O ORADOR:- O que o Sr. Deputado disse foi: “Nós tivemos 35 anos para construir escolas e precisámos da

regionalização. Nós não quisemos ter alunos mais preparados, alunos mais bem-educados, uma escolarização maior, uma taxa de escolarização maior, menos analfabetos, não quisemos nada disso, quisemos construir escolas!”. E isto é o primado do betão sobre o primado do conhecimento, que os senhores continuam a insistir!

Protestos na bancada do PSD.

E por isso, Sr. Deputado, o Sr. Deputado não foi capaz de demonstrar que a vossa regionalização foi acertada, não foi capaz de demonstrar que a vossa regionalização foi adequada, mas demonstrou que falhou na vossa regionalização. E, pior! Neste momento, passados 34 anos, tanto insistiram que erraram, que estão disponíveis para refazer tudo, mas que vêm a esta Assembleia apresentar um projeto, não de um novo modelo da escola, não de um novo modelo de financiamento da escola, não, não existe nada disso, existe um projeto para fazermos um parecer jurídico sobre esta matéria! Significa que os senhores continuam sem pensamento sobre aquilo que é a escola, continuam sem saber como é que querem financiar a escola regional, continuam sem pensamento sobre o que deve ser a regionalização da escola madeirense, porque os senhores só souberam fazer uma coisa ao longo de 34 anos: foi construir edifícios, ponto final, não conseguiram fazer mais nada!

E, portanto, tudo o que são indicadores relevantes, não conseguiram superar, e estamos hoje pior do que está o Continente nessa matéria. E esse é o resultado daquilo que foi a vossa regionalização!

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Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado José Manuel Rodrigues para uma segunda intervenção, tem a palavra. O SR. JOSÉ MANUEL RODRIGUES (CDS/PP):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no final deste debate valerá

a pena reafirmar algumas questões relacionadas com esta matéria da autonomia e também com o pedido do PSD, para que seja encomendado a um jurista um parecer sobre uma possível inconstitucionalidade por omissão, que existe pelo facto do Estado não estar a cobrir as despesas com a saúde e com a educação nas regiões autónomas.

Ora, na opinião do CDS, não há qualquer inconstitucionalidade por omissão nesta matéria, porque a inconstitucionalidade por omissão refere-se à falta de medidas legislativas, ou a vazio legislativo.

Ora, nós temos medidas legislativas na Constituição, temos também no Estatuto Político-Administrativo, temos na Lei de Finanças das Regiões Autónomas, sobre a solidariedade que é devida pelo Estado às regiões autónomas.

E, portanto, este pedido do PSD, de inconstitucionalidade por omissão, não existe, porque não há vazio legislativo, aquilo que existe é falta de dinheiro para fazer cumprir os princípios constitucionais e os princípios estatutários. Esta é a questão essencial que tem que ser dirimida entre as regiões autónomas e o Estado Português. É por isso que este não é o caminho correto para pedir a inconstitucionalidade por omissão, porque vai levar chumbo do Tribunal Constitucional, o caminho correto é termos um Governo Regional credível, que apresente as contas direitas a Lisboa e que negoceie com a República o novo modelo de financiamento das autonomias. Esta é a questão central.

E, Sr. Presidente, Srs. Deputados, há aqui também um debate a fazer. Nós estamos aqui a pedir que o Estado venha cobrir as despesas com a saúde e com a educação na Madeira, mas nós gastamos na Madeira muito mais com a saúde e com a educação do que gasta o Governo nacional com o Continente e, apesar disso, os resultados em termos de saúde e os resultados em termos de educação são piores que os resultados nacionais.

E, portanto, isto deveria servir também de motivo para um debate sobre a forma como estamos a gastar no sector da saúde e no sector da educação, porque se gastamos mais do que no Continente, se gastamos mais do que nos Açores, então deveríamos ter aqui resultados bem melhores na área da saúde, com menos listas de espera, quer para consultas, quer para cirurgias, e devíamos ter melhores resultados no sector da educação, designadamente quando se comparam os exames nacionais dos alunos da Madeira com os alunos dos Açores ou com os alunos do Continente. E é este debate que também tem que ser feito: porque é que, investindo mais, tanto na saúde, como na educação, estamos a ter maus resultados nestas duas áreas?

O CDS não põe em causa também as regionalizações efetuadas, não está em causa a regionalização dos sectores da educação e da saúde efetuada em 1976, o que nós contestamos é o facto de quem negociou essas regionalizações ter atendido apenas à transferência de poderes e competências e não ter pedido, também, os correspondentes meios financeiros, que só 30 anos depois, quando a dívida ficou incontrolável, é que a Madeira agora vem pedir ao Estado que cubra essas despesas com a saúde e com a educação.

Apartes inaudíveis.

Finalmente, Sr. Presidente e Srs. Deputados, há uma questão que para nós é a mais preocupante de todas e que tem

a ver com isto: a autonomia política da Madeira está sequestrada em Lisboa, devido à irresponsabilidade financeira dos governos regionais do PSD…

O SR. ROBERTO RODRIGUES (CDS/PP):- Muito bem!

Burburinho.

O ORADOR:- …que endividaram a Madeira até os limites do inaceitável. E enquanto não se resolver este problema,

a nossa autonomia será sempre mitigada. Eu ainda me lembro de há 10 anos ouvir nesta Casa discursos de governantes do PSD, de deputados do PSD, a dizer que a Madeira era autossustentável e que não precisaríamos da solidariedade do Estado para nada. Dez anos depois, estamos aqui, infelizmente, a mendigar que nos cubram as despesas com os sectores da saúde e da educação.

O SR. ROBERTO RODRIGUES (CDS/PP):- Muito bem!

O ORADOR:- Não queremos esmolas da República, queremos que se cumpra a Constituição e a solidariedade

financeira, apesar da má governação regional do PSD! Vozes do CDS/PP:- Muito bem!

Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Agostinho Gouveia para uma intervenção, tem a palavra. O SR. AGOSTINHO GOUVEIA (PSD):- Obrigado, Sr. Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, eu pegava nas palavras do Sr. Deputado José Manuel Rodrigues, exatamente naquele termo em que ele diz “não precisamos de esmolas da República, precisamos é que se cumpra a Constituição”.

Concordo plenamente com as suas palavras, Sr. Deputado, é preciso que a República, de uma vez por todas, cumpra com o que está na Constituição. E quando, no nosso Estatuto Político-Administrativo, se diz que se deve aqui resolver os

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problemas da continuidade territorial, nós temos aqui várias situações para analisar, e podemos, e devemos, nesta Casa, analisar se, em 78, quando se regionalizou a educação, se fez bem, ou se se fez mal. Isso é uma situação: fizemos bem, ou fizemos mal? Mas aqui nós temos que analisar outra situação: foi bom, ou não, fazermos a regionalização? E eu fazia aqui um pequeno exercício, porque nessa altura eu andava na minha escola primária, na Calheta, e só para terem uma ideia do que era a minha escola primária na altura desta regionalização, a escola era composta por duas salas, numa tinha os rapazes, noutra tinha as raparigas, da 1ª à 4ª classe. A professora muito se esforçava, porque tinha à sua frente 4 anos letivos, desde a 1ª à 4ª classe. Na outra sala, a outra professora tinha exatamente 4 filas de cadeiras, com 4 turmas, da 1ª à 4ª classe.

Apartes inaudíveis. Nem casa de banho existia, não havia qualquer zona de apoio, era uma casa com duas salas! É esta é a ideia que eu tenho da minha escola primária em 78, altura da regionalização, é esta a ideia da educação

que eu tenho e que tento passar aos meus filhos, do que era a educação que nós tínhamos na Madeira. E o que nós temos aqui que analisar é, se foi, ou não foi, importante a regionalização!? Se tivemos, ou se não tivemos evolução!? É que se compararmos com 78, a maioria dos concelhos, e eu estou a falar da Calheta, no Arco da Calheta, que nós tínhamos esta situação, mas tenho quase a certeza que em todos os concelhos existiam ene situações desta maneira. Não havia qualquer condição, nem para os alunos, nem para os professores, mas era a forma que existia, era o único remédio que nós tínhamos para aprender a ler e a escrever. Foi com esta regionalização que se pode agora dizer: “Ah! Mas podíamos ter feito diferente!”.

Claro que, passados estes 30 anos, podíamos ter feito diferente, agora é fácil de analisar, e se calhar podíamos ter exigido mais. Mas havia a possibilidade de exigir mais? Foi o que foi possível na época! E o que nós precisamos, e que penso que todos nós defendemos, é de uma autonomia evolutiva. E nessa evolução da autonomia, é preciso lutar por melhores condições. É natural que eu quando continuei a estudar até ao 9.º ano, aos meus 14 anos não tinha mais hipótese de continuar a estudar no concelho da Calheta, e nessa altura tive que vir para o Funchal, que era o único sítio onde existia o secundário para poder continuar. E isto aconteceu com alguns que tiveram possibilidade de vir viver para o Funchal, porque não era possível, todos os dias, deslocar-se do Funchal à Calheta. E esta era a triste realidade que nós tínhamos na Madeira e penso que não estou a dizer nada de extraordinário, porque todos aqui dentro têm a noção de que era esta a realidade que nós tínhamos na Madeira. E foi com esta regionalização que foi possível, hoje, em todos os concelhos da Madeira, nós termos ensino secundário e qualquer aluno poder estudar até o 12.º ano.

Portanto, não podemos agora dizer que afinal foi tudo mau. Não foi tudo mau e na época esta foi a melhor opção, porque, caso contrário, a República não nos dava os meios que nós precisávamos e que também tínhamos o direito de os ter como qualquer cidadão a nível nacional. Esta, na altura, foi a melhor forma. Agora, com a evolução da autonomia, com a evolução dos tempos, nós precisamos de mais meios, de outros meios, de forma diferente, é por isso que nós estamos aqui a discutir, porque é preciso analisar qual a forma, ou qual a melhor forma de um relacionamento com a República por forma a termos os meios para podermos continuar numa evolução da educação.

Apartes inaudíveis. Burburinho. É isto o que está em causa, daí que não vejo o porquê de tanta desigualdade na forma e no ponto de vista! Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Emanuel Gomes, tem a palavra. O SR. EMANUEL GOMES (PSD):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, uma curta intervenção, para esclarecer duas coisas. Primeiro, o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues diz que também é de questionar por que razão é que, investindo

mais na educação, a Região tem índices de resultados mais baixos!? O SR. JOSÉ MANUEL RODRIGUES (CDS/PP):- Exato!

O ORADOR:- Sr. Deputado, é fácil, basta saber de que ponto é que partimos, para logo se saber qual é o lugar onde

se chega!

Burburinho.

Porque o Sr. Deputado, nessa equação, não refere que nós estávamos muito mais atrasados em termos de educação e em termos de sucesso escolar, em termos de escolarização, do que estava o Continente Português, além das desvantagens que sempre tivemos, de sermos uma ilha, com dificuldades de acessos e um conjunto de fatores endógenos que nos levam a essa situação.

A outra questão, tem a ver com o Sr. Deputado Carlos Pereira que insistiu que no meu discurso eu faço a apologia do betão.

Oh! Sr. Deputado Carlos Pereira, eu julgo que o Sr. Deputado, penso eu, sendo do Funchal, nós, nas outras freguesias, dizemos “os meninos do Funchal”, não sei se será “um menino do Funchal”, mas nós, no campo, andávamos em escolas miseráveis, deploráveis. Eu frequentei a minha instrução primária numa escola que tinha uma casa de banho sempre

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fechada, nem casa de banho tinha, a luz elétrica só muito raramente estava presente, não havia qualquer condição para nós termos o processo de ensino/aprendizagem como tivemos. Eu mais tarde fui professor numa escola em Machico, a escola secundária, que funcionava naquilo que os alunos chamavam “os contentores”, era um conjunto de contentores de ferro, onde os alunos tinham as suas aulas; em Santa Cruz, fui professor na escola básica, aqui a Vânia era minha aluna na altura, a escola funcionava nos escritórios…

Apartes inaudíveis. Burburinho. Sr. Deputado, estávamos no 3.º ciclo, a escola básica de 2.º e 3.º ciclo, Sr. Deputado, funcionava nos escritórios,

funcionava no edifício que tinha servido de escritórios da empresa que construiu o aeroporto, portanto, foram os restos que ficaram dos escritórios que construíram o aeroporto, a primeira fase de ampliação do aeroporto, e foi os escritórios que se adaptou para a escola do 2.º e 3.º ciclos de Santa Cruz, e vem o Sr. Deputado, não sei em que escolas é que andou, subestimar o valor que nós damos ao betão, à construção de escolas! Sr. Deputado, o Sr. Deputado certamente não é deste mundo, não é do mundo da Madeira, da Madeira profunda, que teve dificuldades enormes, os alunos não conseguiam dar atenção aos professores porque não tinham condições nenhumas, não havia luminosidade, na escola de Santa Cruz não se conseguia escrever no quadro porque os alunos não conseguiam ver as letras devido à luminosidade das janelas, não conseguíamos ter o mínimo, chovia dentro da escola. Sr. Deputado, se o Sr. Deputado tivesse tido a experiência que eu tive, e mesmo como autarca, que conheci escolas que funcionavam praticamente dentro de ribeiros, na tasca da Sra. Francisca, ou do Sr. Ambrósio, por baixo ou por cima da tasca, se você tivesse conhecido esta realidade, certamente não falava do betão como nós falamos.

Apartes inaudíveis. É preciso reconhecer também, entre outras coisas, e isso também reconhecemos, que a construção de novas

escolas… porque uma coisa vou-lhe dizer, Sr. Deputado: você pode ter o melhor sistema de educação, pode ter bons professores, o melhor sistema de ensino, mas se não tiver condições físicas para o processo de ensino/aprendizagem, tudo isso vai por a água abaixo!

A SRA. ISABEL TORRES (CDS/PP):- O contrário também é verdade!

O ORADOR:- Também o contrário é verdade, é verdade, mas também aquilo que eu estou a dizer é verdade, se não

tiver escolas em condições não funciona o sistema de ensino/aprendizagem! As escolas não tinham recreios, as escolas não tinham cantinas, as escolas não tinham salas de atividades alternativas curriculares, as escolas não tinham um pátio, não tinham absolutamente nada, tinham uma sala miserável, sem estarem pintadas, com o teto a cair…

Apartes inaudíveis. Sr. Deputado, se o Sr. Deputado tivesse tido esta experiência, penso eu que certamente não falaria assim! Vozes do PSD:- Muito bem!

Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Carlos Pereira, tem a palavra. O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há aqui uma questão de fundo sobre esta

matéria que tem a ver com o que fragiliza este projeto. O Sr. Deputado José Manuel Rodrigues disse que o problema é que o Estado não tem dinheiro. E eu digo o seguinte:

o problema é que houve uma opção tomada nos anos 70 e 80 e essa opção foi tomada pelo PSD e pelo Governo Regional do PSD. E para nós contrariarmos esta opção, temos que encontrar argumentos para dizer que a opção que tomámos na altura não foi a opção certa. E, gostem ou não, isto tem que ser feito!

Sr. Presidente, Sr. Deputado, ou seja, nós, perante esta proposta que está em cima da mesa, a questão que se coloca, que o Governo colocará e que a República colocará é: os senhores pediram a regionalização nestes termos, o que é que correu mal para quererem alterar os termos?

Aparte inaudível do Sr. Jaime Ramos (PSD).

O que é que correu mal para alterarem os termos? Aparte inaudível do Sr. Jaime Ramos (PSD).

Repita o que disse, Sr. Deputado. Os senhores aceitaram a regionalização nestes termos, tiveram 34 anos e não

colocaram nenhuma questão em cima da mesa. A pergunta que tem que ser feita é: o que é que alterou, o que é que mudou, o que é que falhou para alterarmos isto tudo?

O SR. JAIME RAMOS (PSD):- Mudou tudo!

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O ORADOR:- Sr. Deputado, se mudou tudo, os senhores falharam nesta matéria!

O SR. AGOSTINHO GOUVEIA (PSD):- Não é nada disso!

O ORADOR:- Os senhores falharam nesta matéria e têm que colocar neste projeto porque é que querem mudar.

Querem mudar, porque na altura não negociaram uma gestão partilhada! Querem mudar, porque na altura não negociaram um financiamento partilhado! Querem mudar, porque na altura quiseram ficar com o poder todo, para poderem gerir do ponto de vista político!

Burburinho na bancada do PSD. E, portanto, Sr. Deputado, este projeto é um projeto frágil, Sr. Deputado, porque neste projeto falta a argumentação

das responsabilidades que os senhores tiveram, neste projeto falta a argumentação daquilo que os senhores fizeram de errado, neste projeto falta dizer à República que “nós enganámo-nos, não era isto que queríamos, fizemos mal, precisamos de dinheiro, porque não soubemos fazer o que queríamos fazer!”.

O SR. AGOSTINHO GOUVEIA (PSD):- Não é nada disso!

O ORADOR:- E, Sr. Deputado, os dados são evidentes, o senhor tem um parque escolar intocável, como diz o Sr.

Deputado, o seu parque escolar é maravilhoso, é fantástico, mas o senhor tem a segunda maior taxa de analfabetismo do País, tem o segundo maior abandono escolar do País e tem das piores taxas de escolarização do País. Estes são os resultados que interessam aos madeirenses, estes são os resultados que interessam à escola pública!

E, Sr. Deputado, esse discurso que o Sr. Deputado fez aí, é um discurso de deputado empreiteiro, não é um discurso de deputado que tem, em consciência, aquilo que é a realidade dos madeirenses, aquilo que é a vontade dos madeirenses!

O SR. JOSÉ PRADA (PSD):- Ele é engenheiro, não é empreiteiro!

Burburinho.

O ORADOR:- O Sr. Deputado fez um discurso igual àquele que se faz nos países de África, que hoje procuram se

desenvolver a todo o custo, um discurso em que o que está em causa é o triunfo, outra vez, do betão e do dinheiro injetado no betão. E isso é lamentável. Não aprenderam nada, não mudaram nada!

Muito obrigado. Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Jaime Filipe Ramos para uma intervenção, tem a palavra. O SR. JAIME FILIPE RAMOS (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta intervenção que faço, apenas

serve para voltar a referir aquilo que muito bem foi referido pelo meu colega Deputado Emanuel Gomes relativamente à defesa desta iniciativa.

Parece-me que ficou bem claro, nas suas intervenções, do objeto, da necessidade e da objetividade desta iniciativa, mas estranho que haja partidos nesta Casa, que ainda hoje tiveram essa atitude, de defender a unidade, de defender um consenso alargado, de defender que há matéria da autonomia que tem que unir os partidos, de defender que nestas matérias tem que haver entendimento e defender que, no que diz respeito à autonomia, devemos estar todos no mesmo lado, estranho é que, quando se está a discutir uma matéria como esta, da educação, esses partidos, de repente, querem fazer um acerto e um ajuste com o passado e com a história da Madeira, ou seja, e desta forma referir algo como: fizeram tudo errado (e eu estou a citar aquilo que foi dito aqui nesta manhã), que fizeram tudo errado, que não fizeram opções corretas, que a hoje a Madeira não está melhor!

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

Oh! Sras. e Srs. Deputados, vamos ser realistas nesta matéria. Por mais situações que possam merecer reparos, por

mais situações que merecessem outra estratégia, se há matéria em que temos que nos orgulhar na Região, no pós-autonomia, é na área da educação e na área da saúde. E essa matéria é uma matéria…

O SR. JOSÉ MANUEL RODRIGUES (CDS/PP):- Era!

O ORADOR:- Sr. Deputado, deixe-me terminar.

…que deve orgulhar todos que estão nesta Casa. Se poderíamos ter ido mais longe e ter melhores resultados, aí estamos todos de acordo, que é esse o nosso objetivo.

Aparte inaudível.

Nos dois, na educação e na saúde! Aparte inaudível do Sr. José Manuel Rodrigues (CDS/PP).

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Não, não, não! Oh! Sr. Deputado, eu não vou perder a minha intervenção, porque eu tenho um problema aqui com o CDS. O CDS

tem uma visão da saúde na Madeira fulanizada, de uma pessoa, e isso é um erro, isso vai-lhes custar caro, isso não vai resolver nada da vossa opção. E, mais! Estão ao serviço das invejas pessoais de certas pessoas, o que é triste, porque na política não devia ser feito dessa maneira.

Protestos na bancada do CDS/PP. Mas, voltando à matéria da educação, que é a matéria que estamos aqui a discutir e é essa matéria que merece a

nossa discussão, eu não tenho quaisquer dúvidas que a educação merece esta posição. Ouvi partidos dizerem aqui que o Partido Social-Democrata falhou, e até a citação que faço aqui é de que, falhou! O que é que mudou? E porque é que falhou?

Oh! Srs. Deputados, eu acho que nada mudou e nada falhou, eu acho é que, passados estes anos todos, é preciso refletir aquilo que é uma coisa que deve ser uma preocupação permanente de quem governa e de quem tem responsabilidades na Região, que é saber se o sistema que existe é, ou não é, sustentável nas circunstâncias atuais!? Porque também não haverá uma negociação com a República para 40 e 50 anos, que todos nós sabemos. Todos nós sabemos que, o que houver a negociar com a República, também terá um prazo, também terá certamente metas a serem atingidas, e por isso mesmo não há nada eterno, nem o que está certo, nem o que está errado. E por essa mesma leitura, nós não aceitamos que o facto de querermos que o Estado assuma as suas responsabilidades signifique que a Madeira falhou e que tudo está errado!

O SR. JOSÉ MANUEL RODRIGUES (CDS/PP):- O Governo é que falhou, não foi a Madeira!

Burburinho. O ORADOR:- Essa matéria, nós não aceitamos, e muito bem o Sr. Deputado Emanuel Gomes comprovou, na sua

intervenção, essa mesma situação, e os Srs. Deputados sabem que nós temos razão. Agora, há uma questão, que é a seguinte: nós, num momento como este, e é verdade, não há que escamotear, que

há metas para atingir na área da educação, mas nós não estamos a discutir a educação neste momento. E eu quero dizer que há mais de dez anos, há mais de dez anos usamos na JSD um lema que é (e estão aqui pessoas que acompanharam a JSD e sabem melhor do que eu): melhores escolas têm que obrigatoriamente ter melhores alunos. Esse era o lema da JSD.

A SRA. ISABEL TORRES (CDS/PP):- E isso falhou!

Burburinho. O ORADOR:- Nós tínhamos esse lema há mais de dez anos, em que as melhores escolas obrigatoriamente tinham

melhores alunos. Agora, vou-lhes dizer sinceramente o seguinte: não se pode imputar a responsabilidade exclusivamente ao Governo

Regional, porque eu acho, e há deputados que estão aqui que até estão ligados a esta área de formação e sabem que a questão formativa não é apenas uma responsabilidade do Governo, é dos alunos, dos pais, dos professores, toda a comunidade.

E, portanto, essa visão de dizer, “o Governo é o responsável!”, é uma visão errada, totalmente errada da parte da política!

Apartes inaudíveis na bancada do CDS/PP. E por isso, Sras. e Srs. Deputados, eu quero dizer o seguinte: eu acho que quando o Sr. Deputado José Manuel

Rodrigues há pouco falava no apelo ao consenso, no negociar com a República, ainda esta manhã o meu colega Deputado Gaspar falou no futuro da autonomia, da necessidade de haver um consenso para uma revisão constitucional, haver um consenso entre os maiores partidos, oh! Srs. Deputados, se nós não temos um consenso neste Parlamento na discussão de uma matéria como esta, difícil será um consenso futuro relativamente à autonomia da Região Autónoma da Madeira.

Mais! Dificilmente conseguiremos atingir algum objetivo com a República com esta divisão cá dentro!

Aparte inaudível do Sr. Lopes da Fonseca (CDS/PP).

E, mais! E se não houver a capacidade de partidos porem de parte determinados sentimentos e determinadas opções, não vamos chegar a lugar nenhum. Eu acho que aqueles que entendem que é melhor pôr o interesse partidário à frente do interesse da Região, vão ser penalizados mais rápido do que julgam!

E quero dizer o seguinte: esta teoria de querer governar apenas a fazer ajustes com o passado e com a história e vitimizar-se, como temos assistido nalgumas câmaras, não em todas, mas em algumas câmaras, isso não vai dar por muito tempo. Eu desejo as maiores felicidades a esses presidentes de câmara, e só lamento é que alguém queira para o futuro da Madeira um governo que apenas vai ter como preocupação chorar sobre o passado e não olhar para o futuro de uma região. Não sei quem é que pode governar, nem sei quem pode votar num partido que não tem projeto para o futuro, mas que só tem um projeto de vitimização e de tentar lamentar-se com o passado. É triste que isso seja um programa eleitoral, mas se alguém entender que isso é um programa eleitoral para o futuro da Região, certamente terá a sua opção no próximo ano!

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A SRA. ISABEL TORRES (CDS/PP):- Nós temos propostas, não se preocupe!

Burburinho.

O ORADOR:- Mas deixem-me só terminar a minha intervenção naquilo que eu queria complementar da intervenção

do Sr. Deputado Emanuel Gomes. Nós não temos quaisquer problemas em dizer que a regionalização na área da educação foi um ganho para a nossa

autonomia, nós não temos qualquer problema em dizer que a regionalização da educação foi uma vantagem para as gerações dos madeirenses nos últimos anos, agora, também não vamos abdicar daquilo que é uma obrigação do Estado em comparticipar naquilo que é a sua obrigação constitucional. E é isso que nós pretendemos, nós queremos que o Estado atinja a comparticipação.

Há pouco o Sr. Deputado Carlos Pereira falou do modelo das Canárias, em que a receita não era na totalidade para a própria região. É óbvio que sim! Nós temos noção que um consenso futuro vai obrigar a cedências por parte da Região, mas desde que o objetivo final seja conseguido, estamos todos de acordo. Agora, custa-me é que o Partido Socialista, que quer ser alternativa na Madeira, que queira ter responsabilidades na Madeira, em vez de ter um projeto de futuro, quer é fazer ajustes com o passado!

O SR. MEDEIROS GASPAR (PSD):- Muito bem!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Carlos Pereira, tem a palavra. Dispõe de um minuto.

O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a minha última intervenção para referir e

comentar o seguinte: Sr. Deputado Jaime Filipe Ramos, não conte connosco para lavar o passado! E a razão é muito simples, Sr. Deputado, é que não é possível construir um futuro melhor, se nós não aprendermos com os erros do passado. E eu percebo, Sr. Deputado, que o Sr. Deputado esteja envergonhado com o passado do seu Governo…

O SR. JAIME FILIPE RAMOS (PSD):- O quê?

Burburinho.

O ORADOR:- …eu percebo que o Sr. Deputado esteja desconfortável com o passado do seu Governo, eu percebo

que o Sr. Deputado não queira falar desse passado, porque esse passado incomoda o Sr. Deputado, incomoda o Grupo Parlamentar, mas sobretudo, Sr. Deputado, incomoda os madeirenses, incomoda as famílias, incomoda as empresas, porque os resultados das opções do passado do PSD estão à vista de todos. Nós estamos a passar dificuldades e as dificuldades não vieram do céu, não caíram do céu, as dificuldades têm origem na governação do PSD, na governação do seu partido.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- E por isso eu compreendo, Sr. Deputado, que o Sr. Deputado não queira falar do passado!

E vou dizer aquilo que o PS quer fazer: o PS não vai lavar o passado, quer perceber o que é que se passou mal no passado, para aprender com os erros que os senhores cometeram, para construir um futuro sem esses erros e sem ser um futuro construído em cima de um monte de lixo!

Muito obrigado. Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Jaime Filipe Ramos, tem a palavra. O SR. JAIME FILIPE RAMOS (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Carlos Pereira, se há

matéria que eu tenho que me vergar perante o Partido Socialista é em matéria de lavar o passado. Aquilo que o País hoje tem feito ao Partido Socialista e ao Eng. José Sócrates não há detergente que consiga resistir àquela sensação.

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS).

Não há! E eu tenho que me vergar, e digo o seguinte: não há campanha de marketing, nem de publicidade de qualquer

marca, que consiga atingir os objetivos que o Partido Socialista tem. Apartes inaudíveis do Sr. Carlos Pereira (PS).

Burburinho.

É fantástico! E digo-lhe mais! Eu, sobre essa matéria, vou-lhe responder tão simples: não me arrisco a debater consigo lavar o

passado, porque certamente o Sr. Deputado ganhava-me de largo. E por isso, não vou entrar por aí!

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Em relação ao futuro, que é isso que me preocupa, e espero que a si também… Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS). Em relação ao futuro, quero dizer o seguinte: o PSD, os erros do PSD não nos envergonha, Sr. Deputado, mas dá-

nos a obrigação, dá-nos a obrigação, não só de corrigir, como de sermos melhores, para evitar que tal possa voltar a acontecer. Agora, isso é um ato de inteligência de qualquer um deputado e de qualquer um partido e eu espero e tenho a certeza que o futuro do PSD não passa só por corrigir esses erros, como superar essas mesmas fragilidades, criando novas oportunidades e novas forças!

Mas deixe-me dizer o seguinte, Sr. Deputado: nós, o que não aceitamos, e ao contrário daquilo que o Sr. Deputado disse, é ficar agarrados ao passado. E o que eu referi na minha intervenção foi isso, não é não aprender com o passado, ah!, isso temos que aprender, concordo consigo, agora, ficar agarrado ao passado, isso é que não. E foi essa crítica que eu fiz, que é haver dirigentes que estão agarrados ao passado e não fazem nada pelo seu futuro, lamentando o que está para trás.

Sr. Deputado, corrigir erros, subscrevo! Agora, ficar agarrado é que não! E o que eu quero dizer, é que o Sr. Deputado, hoje, penso que passou uma teoria, e eu há pouco falava com o meu

colega Deputado Emanuel Gomes, o Sr. Deputado passou uma teoria que eu percebo, o Sr. Deputado até, se calhar, vai votar a favor disto, mas quer deixar aqui alguma crítica, prontos, que é a lógica da oposição…

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS). Não vou entrar por aí! …mas o Sr. Deputado deixou, pelo menos na primeira intervenção, que foi aquela que eu ouvi com maior atenção,

que tudo isto foi um erro, e isso nós não podemos aceitar. Essa teoria que o Sr. Deputado passou esta manhã, de que tudo isto foi um erro, a regionalização da educação, nós não podemos aceitar, porque não foi!

Aparte inaudível do Sr. Carlos Pereira (PS). Pronto, está corrigido. Muito bem! Era a forma, mas disse que tudo falhou e até escrevi, “fizeram tudo errado!”. Eu

estou a citá-lo! O SR. CARLOS PEREIRA (PS):- De certa forma, sim!

O ORADOR:- Sr. Deputado, e termino, dizendo assim: não posso admitir, e penso que nenhum partido aqui pode

admitir, essa ideia de que tudo foi errado e que não valeu a pena a regionalização. Valeu! Se ela deveria ter sido acompanhada de outras contrapartidas? Ah! Isso de certeza, estamos todos de acordo!

Burburinho. Ah! Isso, estamos todos de acordo. Agora, hoje o Sr. Deputado Emanuel Gomes disse a realidade, que no tempo em

que era possível manter, foi mantido; no tempo em que é difícil manter, temos claramente que negociar. E essa é uma realidade para tudo na nossa vida e isso não é nada de novo. Agora, deixe-me dizer o seguinte e termino a minha intervenção: a regionalização da educação, a par da saúde, foi das melhores coisas que a autonomia nos trouxe!

Muito obrigado.

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Vou colocar à votação, na generalidade, o diploma que tem estado em debate. Submetido à votação, foi aprovado com 39 votos a favor, sendo 24 do PSD, 9 do CDS/PP, 5 do PS e 1 do Deputado

Independente, 5 votos contra, sendo 3 do PTP, 1 do PCP e 1 do PAN e 1 abstenção do MPT. Passamos ao ponto 2 da nossa ordem de trabalhos, com a leitura do parecer da 7ª Comissão Especializada e

apreciação do Projeto de Decreto Legislativo Regional, da autoria do Partido Comunista Português, intitulado “Suspende a vigência das disposições legais que revogam o complemento regional de 30% nas ajudas de custo para funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local”, apresentado com processo de urgência e depois

de cumpridas as disposições regimentais de auscultação dos parceiros sociais. Consta do seguinte: Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira Funchal, 03 de fevereiro de 2014. Exmo. Senhor A Representação Parlamentar do PCP na ALRAM, através do seu deputado único vem, ao abrigo das disposições

regimentais, requerer a V. Exa. processo de urgência para o Projeto de Decreto Legislativo Regional intitulado “Suspende a vigência das disposições legais que revogam o complemento regional de 30% nas ajudas de custo para funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local”, da autoria desta Representação Parlamentar, e que se anexa, com os seguintes requisitos:

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a) Redução do prazo previsto no artigo 145.º; b) Dispensa do exame em Comissão (artigo 235.º, alínea b)); b) Dispensa do envio à Comissão para redação final (artigo 235.º, alínea d)). Com os melhores cumprimentos, Pel’A Representação Parlamentar do PCP na ALRAM, O deputado único, Ass.: Edgar Silva.-

Sr. Deputado Edgar Silva, é para que efeito?

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Para um requerimento, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sr. Deputado.

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o requerimento, sob a forma oral, em conformidade com o Regimento, é para propor que um ponto da ordem de trabalhos, que está no n.º 136 da ordem de trabalhos de hoje, que é uma proposta que é do PSD, passe para ponto 1 da ordem de trabalhos de amanhã. Eu estou a propor que a vossa proposta tenha prioridade no agendamento amanhã e por isso recorro ao Plenário. E o ponto 136 é para que seja implementado o bilhete corrido na ligação aérea Porto Santo/Funchal/Lisboa e vice-versa.

Portanto, o meu requerimento, o requerimento do Deputado do PCP, é para que a proposta apresentada pelo PSD, para a criação de um bilhete corrido, tenha prioridade no agendamento, porque é uma questão de relevante interesse para a Região, e particularmente para os porto-santenses.

Apartes inaudíveis.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Srs. Deputados, é uma proposta muito concreta, que vou pôr à votação.

Submetida à votação, foi aprovada por unanimidade.

Sra. Secretária, fazia o favor, procedia à leitura do parecer da 7ª Comissão Especializada.

Foi lido e consta do seguinte: Projeto de Decreto Legislativo Regional

“Suspende a vigência das disposições legais que revogam o complemento regional de 30% nas ajudas de custo para funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local”

PARECER No dia 13 de março de 2014, pelas 11 horas, reuniu a 7ª Comissão Especializada Permanente de Administração

Pública, Trabalho e Emprego, a fim de verificar o cumprimento do dever de auscultação dos parceiros sociais, nos termos do artigo 139.º do Regimento da Assembleia Legislativa da Madeira.

Conforme deliberado pela Comissão em reunião realizada a 19 de fevereiro de 2014, foi solicitado parecer ao Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública da Região Autónoma da Madeira, ao Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública da Região Autónoma da Madeira, ao Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas, ao Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local, à União dos Sindicatos da Região Autónoma da Madeira, à União Geral dos Trabalhadores.

Dentro do prazo estabelecido, responderam a União Geral dos Trabalhadores, o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública da Região Autónoma da Madeira e a União dos Sindicatos da Região Autónoma da Madeira conforme pareceres que constam em anexo.

Considerado cumprido o dever de auscultação dos parceiros sociais, a Comissão deliberou por unanimidade que o diploma fosse remetido à Presidência da Assembleia para agendamento e discussão em Plenário.

Este parecer foi aprovado por unanimidade. Funchal, 13 de março de 2014. A Relatora, Ass.: Rafaela Fernandes.-

Muito obrigada, Sra. Secretária. Está à discussão a deliberação da urgência. E pergunto ao MPT se deseja intervir na deliberação da urgência?

O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- Sim, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sr. Deputado.

O SR. ROBERTO VIEIRA (MPT):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta proposta aqui apresentada para

urgência por parte do PCP vai ter o meu voto favorável, isto porque é para repor o subsídio de insularidade aos trabalhadores do Porto Santo, uma reposição que tem todo o sentido, visto que a retirada deste subsídio não passou mais do que mais um roubo feito pelo Estado aos trabalhadores e a perda de um direito, que era um direito, repito, dos trabalhadores do Porto Santo.

Esta é a primeira de algumas propostas que o PCP apresenta, algumas que vão ser discutidas possivelmente amanhã, ou talvez não, que também têm a ver com a suspensão e vigência para o subsídio de insularidade aqui, já da Região Autónoma, e também, novamente, os valores do subsídio de insularidade no Porto Santo, os pontos 7 e 8.

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Estas propostas deveriam ser discutidas em conjunto, mas acharam por bem não o fazer, daí o facto de estarem aqui separadas, e muito separadas umas das outras, nomeadamente do ponto 1 para o ponto 7.

Vai merecer o nosso voto favorável, tendo por base que isto foi um roubo e uma perda de um direito aos trabalhadores do Porto Santo.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

O PAN deseja intervir? O SR. RUI ALMEIDA (PAN):- Não, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- O PCP deseja intervir?

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Sim, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sr. Deputado.

O SR. EDGAR SILVA (PCP):- Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta proposta de Decreto Legislativo Regional tem a ver com a reposição do direito aos 30% para os trabalhadores da Administração Pública Local e Regional do Porto Santo, o objetivo é recuperar o que foi roubado, recuperar o que foi roubado, o que foi retirado como direitos no âmbito da aplicação das medidas decorrentes do programa de agressão ao povo e à Região. Esta é uma medida, juntamente com um conjunto de outras que aí vêm, que nós tomámos a iniciativa de apresentar, uma vez que alguns falam numa saída limpa.

Não pode haver saída limpa se não houver recuperação de direitos, se não houver a reposição daquilo que foi retirado. Só haverá saída limpa se os trabalhadores recuperarem os seus direitos. E estamos a analisar concretamente em relação ao Porto Santo. No Porto Santo tinham o direito a 30% de subsídio de insularidade, esse direito tem que ser recuperado, esse direito tem que ser restituído!

É urgente. E é urgente, porquê? Em primeiro lugar, porque nunca devia ter sido roubado aquele que é um direito conquistado! Em segundo lugar, é urgente, porque a troika diz que, a partir de agora, e diz o Governo da República e já diz o

Governo Regional, afinal, a partir de agora, estamos a recuperar a confiança e vamos recuperar as novas condições para uma nova fase para o desenvolvimento regional. Eis a hora de demonstrar, preto no branco, se é verdade ou se é mentira!

Em terceiro lugar, porque esta medida só poderá vigorar com a entrada em vigor do próximo Orçamento Regional. É o artigo 3.º, entrada em vigor. Só entrará em vigor com o próximo Orçamento Regional.

Burburinho. Ora, como entrará em vigor só depois do Orçamento, para em 2015 ser aprovado, tem que ser agora, para que se

comece rapidamente a preparar toda a perspetiva orçamental para que o Orçamento, que virá a este Parlamento em outubro, novembro, garanta que os trabalhadores no próximo ano, em 2015, vão recuperar aquilo que ilegitimamente lhes foi usurpado, que abusivamente lhes foi roubado, o direito ao subsídio de insularidade, neste caso em concreto…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- …o direito aos 30% para os trabalhadores da Administração Pública do Porto Santo, na Administração

Pública Local e Regional. E é urgente, hoje e agora, dar passos nesse sentido, porque senão, nem em 2015, nem em 2016, nunca mais esse direito será restituído. E este direito tem que ser restituído e por isso é urgente decidir, agora, no sentido de que, em 2015, isso seja materialmente garantido como algo que não passa apenas de palavra, mas corresponde a direitos efetivos, a direitos remuneratórios…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Faz favor de terminar, Sr. Deputado.

O ORADOR:- Termino já.

…que têm que ser imediatamente restituídos e reconhecidos agora!

Burburinho.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

O PTP deseja intervir? A SRA. RAQUEL COELHO (PTP):- Sim, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sra. Deputada.

A SRA. RAQUEL COELHO (PTP):- Obrigada, Sr. Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, a reposição dos 30% do complemento regional nas ajudas de custo para os funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local não é um benefício, é um direito, fruto da nossa autonomia, que deveria ter sido salvaguardado, como disse, e bem, o Sr. Deputado do PCP, Edgar Silva. Mas tal, como em outras situações, os erros gravíssimos cometidos pelo PSD durante décadas de governação deixou-nos amarrados ao Plano de Ajustamento Económico e Financeiro, obrigando e tornado inevitável a retirada de mais este direito.

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Quando as imposições da troika foram para cortar no direito dos trabalhadores, o Governo Regional foi rápido na sua execução, mas quando a exigência diz respeito a tocar nas sinecuras dos amigos do regime, dos amigos do PSD, isso já dá tempo, toca a empatar. Temos o caso da renegociação das parcerias público-privadas, que, apesar de ser uma das imposições do PAEF, ainda não foi reduzido sequer um cêntimo, nem um cêntimo tocaram, sendo que aquela despesa é claramente um valor criminosamente excessivo, apenas, e digo apenas, para a manutenção da Via Expresso e Vialitoral, não estamos a falar de construção, estamos a falar de manutenção, 140 milhões de euros.

Depois, também temos 3 portos na Região que são explorados a custo zero pelo Grupo Sousa, quando poderiam ser uma fonte de receita vital para a Região. Também a troika veio exigir que se fizesse toda a renegociação das concessões portuárias por todo o País. Mais uma vez o PSD, aqui na Madeira, recusou-se a fazer essa renegociação da exploração dos portos, dando esta benesse ao Grupo Sousa.

Então, se existe folga financeira para se dar uma borla desta dimensão ao empresário do Grupo Sousa, e se há meios para se disponibilizar do Orçamento Regional, 140 milhões de euros, para as parcerias público-privadas, também existe dinheiro para repor o complemento…

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sra. Deputada.

A ORADORA:- …das ajudas de custo.

E tenho dito. Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sra. Deputada.

O PS deseja intervir?

O SR. MAXIMIANO MARTINS (PS):- Sim, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sr. Deputado.

O SR. MAXIMIANO MARTINS (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o PS acompanha esta iniciativa e

considera que faz sentido e que deve ser, de facto, debatida, quer na sua substância, quer na sua oportunidade. Na sua substância, porque, à luz da própria Constituição da República Portuguesa, se justifica que existam medidas

supletivas, ou complementares, face à situação de insularidade. A Madeira é uma pequena economia insular, uma economia insular de pequena dimensão, e tem todos os handicaps próprios desta situação.

Portanto, justifica-se, e os constituintes reconheceram tal facto, que existam medidas supletivas deste tipo. E, portanto, se foram retiradas, devem ser repostas, de acordo com as possibilidades que existam! Mas também faz sentido na sua oportunidade, porque, a ser verdade que a conjuntura nacional e internacional começa

a melhorar, então é tempo de acabar com medidas extraordinárias que invocaram justamente a situação de emergência e é tempo de dar a consistência económica à recuperação. E uma das formas de dar consistência económica à recuperação é justamente aumentar o rendimento disponível das famílias.

Por estas razões, pela sua substância, até constitucional, e pela sua oportunidade, designadamente económica e de rendimentos, nós achamos que é tempo de discutir e rediscutir estas matérias sociais e económicas, esta e outras!

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

O CDS/PP deseja intervir?

O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Sim, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sr. Deputado.

O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Sr. Presidente, Srs. Deputados, o CDS vai votar favoravelmente este processo de

urgência, porque entende que é na altura, em 2015, como propõe o Decreto Legislativo aqui em discussão, da reposição de um direito que foi suspenso pelo Decreto-Lei n.º 1/2012.

E até percebemos esta suspensão, porque estávamos num período de alguma contenção de despesas, estávamos num período, num ano onde o PAEF exigia alguns cortes em termos de subsídios, mas o que é facto é que este projeto, aqui proposto pelo PCP, entra em vigor no Orçamento de 2015 e já começa a fazer sentido esta reposição, de um valor que é justo, quanto a nós, porque estamos a falar de funcionários que têm uma dupla insularidade, têm custos acrescidos de tudo aquilo que consomem e de tudo aquilo que é consumido no Porto Santo, têm os transportes mais caros do País, tanto aéreos, como marítimos, e nestes anos todos, infelizmente, não houve uma estratégia quanto aos transportes, com o objetivo de baixar os custos dos transportes, que para 15 minutos um porto-santense tem que pagar um valor superior a 115 euros de cada ida, ida e volta, por um percurso tão pequeno e para um custo tão alto, que é aquele que paga, não havendo as contrapartidas que eram exigidas em termos financeiros, têm, como todos nós sabemos, as dificuldades no que toca à saúde, têm as dificuldades no que toca aos bens essenciais, que são acrescidos, comos todos nós conhecemos, por um custo acrescido no que toca aos transportes marítimos, temos o contentor mais caro da Europa para um percurso tão pequeno, que custa o triplo do que se paga em qualquer ilha no que toca a Canárias, por isso mesmo, nós achamos que é a altura certa de discutirmos e de repor um benefício que foi retirado em 2012 e que faz todo o sentido que volte a vigorar em 2015.

O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

O PSD deseja intervir?

O SR. FRANCISCO GOMES (PSD):- Sim, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Tem a palavra, Sr. Deputado.

O SR. FRANCISCO GOMES (PSD):- Sr. Presidente, Srs. Deputados, o PSD não poderia estar mais em total acordo

com a necessidade de proteger funcionários que têm uma dupla insularidade e que têm que ser protegidos dos custos acrescidos de viver e de trabalhar nas regiões autónomas, aliás, e é importante que seja relembrado, foi o próprio PSD-Madeira que criou o complemento regional de 30% nas ajudas de custo para funcionários e agentes da Administração Pública Regional e Local, mas eis que, quando analisamos a proposta do PCP, chegamos ao ponto D da nota justificativa, no que concerne à avaliação sumária dos meios financeiros envolvidos na respetiva execução, e diz isto: “Do diploma e pela sua natureza resultam novos encargos financeiros diretos”.

Srs. Deputados, aqui vemos bem a diferença entre ser oposição e ser governo. Quem é governo não pode ceder ao facilitismo de sugerir e de defender uma medida que nós sabemos muito bem que o País e a Região não têm estrutura financeira para aguentar neste momento.

Apartes inaudíveis. E se fosse possível fazer um rebobinar desta mesma sessão, eu lembraria as palavras do próprio Deputado Edgar,

que disse ainda há pouco tempo: “A trela da troika até 2038 estará a pairar pelo País. Os algozes dos credores estarão aí e não há relógio de propaganda que valha…”.

É verdade! E você sabe disso, Sr. Deputado, você sabe tão bem quanto eu que o País e a Região não têm estrutura financeira para suportar a medida que propõe. E há aqui uma linha que você sempre respeitou, mas que tem que ser relembrada neste momento, que é a linha da ética na política.

Apartes inaudíveis. Burburinho.

E é assim, Sr. Deputado: não podemos sugerir algo só porque soa bem, só porque as pessoas que se sentam atrás

de si vão julgar bem e vão promover isso. O interesse regional não é o interesse da comunicação social! O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Terminou o tempo, Sr. Deputado.

O ORADOR:- E concluo já, Sr. Presidente.

Aparte inaudível do Sr. Edgar Silva (PCP). Burburinho. E não podemos, Sr. Deputado, ceder ao facilitismo de sugerir coisas que não são exequíveis. E permita-me, usando uma outra expressão: é verdade que é necessário proteger os funcionários públicos através de

todas as medidas possíveis, mas esta medida, este murganho, este murganho não consegue roer o queijo, Sr. Deputado, não é isto que chega lá! Por isso, vamos votar contra a urgência.

Muito obrigado. Burburinho. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Muito obrigado, Sr. Deputado.

Srs. Deputados, vou colocar à votação a deliberação da urgência. Submetida à votação, foi rejeitada com 24 votos contra, sendo 23 do PSD e 1 do Deputado Independente, 17 votos a

favor, sendo 8 do CDS/PP, 4 do PS, 3 do PTP, 1 do PCP e 1 do MPT e 1 abstenção do PAN. O SR. PRESIDENTE (Miguel Mendonça):- Srs. Deputados, no uso das minhas competências regimentais, dou por

terminados os nossos trabalhos de hoje. Muito boa tarde, Srs. Deputados. Eram 12 horas e 55 minutos. Faltou à Sessão o seguinte Sr. Deputado: PARTIDO DA NOVA DEMOCRACIA (PND) Eduardo Pedro Welsh

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