refraÇÃo sÍsmica profunda no setor sudeste da …

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto Astronômico e Geofísico Departamento de Geofísica Dissertação de Mestrado REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA PROVÍNCIA TOCANTINS Fábio André Perosi Orientador: Jesus Antonio Berrocal Gomez São Paulo 2000

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Page 1: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto Astronômico e Geofísico

Departamento de Geofísica

Dissertação de Mestrado

REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA PROVÍNCIA

TOCANTINS

Fábio André Perosi

Orientador: Jesus Antonio Berrocal Gomez

São Paulo 2000

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“Be careful with your wish. You may get it...” (Anônimo)

À minha mãe, Maria, com todo carinho.

À Simone e Mateus.

Presentes no meu dia a dia. Sempre.

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AGRADECIMENTOS

Quero expressar o meu sincero agradecimento ao meu orientador, Prof. Dr.

Jesus Antonio Berrocal Gomez, tanto pelo seu profissionalismo na orientação e

coordenação nos trabalhos acadêmicos e de campo, quanto pelo otimismo e

serenidade passados a cada momento do desenvolvimento deste trabalho que

foram uma lição de vida.

À FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo), uma das

entidades de fomento à pesquisa mais importantes do país, pelo apoio dado a este

projeto específico e à continuidade do Projeto Temático, ao qual este faz parte.

Agradeço a todos os Professores do IAG que me auxiliaram direta e

indiretamente no desenvolvimento desta pesquisa. Aos Funcionários do IAG que por

sua paciência e simpatia tornaram mais agradáveis as longas horas passadas no

interior da instituição. Ao pessoal da UnB, que também estiveram presentes nos

trabalhos de campo.

Page 4: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

iii

Um agradecimento especial ao grupo do IAG/USP (foto) que no trabalho de

campo, se empenharam com extrema força de vontade para superar os inúmeros

percalços ocorridos nesta etapa.

Aos meus colegas do IAG, ao pessoal do CRUSP e aos meus amigos

Instituto de Física/UFRGS que me apoiaram pessoalmente ou por e-mail durante o

tempo inteiro e que transformaram os momentos difíceis em momentos mais

agradáveis.

E, finalmente, mas não menos importante, agradeço aos meus familiares , à

minha mãe, que sempre se esforçou para me dar um boa educação e me estimulou

em vários momentos, à Simone, minha adorável companheira, que esteve ao meu

lado nos momentos mais duros e suportou o meu difícil humor nesses momentos e

ao Mateus que ocupa o seu lugar em meu coração e é motivo das minhas alegrias

mais sinceras.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA i

AGRADECIMENTOS ii

SUMÁRIO iv

ÍNDICE DE FIGURAS vi

ÍNDICE DE TABELAS viii

RESUMO xix

ABSTRACT xi

1. INTRODUÇÃO 1 1.1 Generalidades 1 1.2 Objetivo 2 1.3 Conteúdo da Dissertação 2

2. CONCEITOS BÁSICOS DO MÉTODO DE REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA 4 2.1 Introdução 4 2.2 Crosta, Manto, Litosfera e Astenosfera 5

2.2.1 Definições de Crosta 5 2.2.2 Definições de Manto Superior 6 2.2.3 Litosfera e Astenosfera 7

2.3 Teoria da Elasticidade 7 2.4 Propagação de Ondas 8 2.4.1 Ondas Planas 9 2.4.2 Ondas Esféricas 10 2.4.3 Teoria dos Raios 11 2.4.4 Espalhamento de Ondas 13 2.5 Refração Sísmica Profunda 14 2.5.1 Tempo Reduzido 16 2.5.2 Gradiente de Velocidade 16 2.5.3 Camadas Inclinadas 17 2.6 Procedimentos e Características Básicas na Interpretação 18 2.7 Métodos de Interpretação em Refração Sísmica – Aspectos Gerais 19

3. ARCABOUÇO TECTÔNICO 21 3.1 Localização e Embasamento Tectônico 21 3.2 Seqüência Geocronológica 23

4. LEVANTAMENTO DE DADOS DO EXPERIMENTO DE REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA 29

4.1 Localização 29 4.2 Equipe e Equipamentos 29 4.3 Metodologia 33 4.3.1 Etapa Preparatória 33 4.3.2 Execução do Levantamento de Dados de RSP 34 4.3.3 Posicionamento dos Pontos de Tiro e de Registro 38

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v

5. ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS 40 5.1 Introdução 40 5.2 Qualidade dos Dados 41 5.3 Processamento dos Dados 44

5.3.1 Padronização dos Arquivos 44 5.3.2 Modelos Preliminares 55

5.4 Interpretação e Refinamento dos Modelos 58 5.4.1 Generalidades 58 5.4.2 Resultados 59

6. MODELAMENTO FINAL E INTERPRETAÇÃO 68 6.1 Introdução 68 6.2 O pacote SEIS 69 6.3 Processamento de Dados 73 6.4 Resultados Finais 82

6.4.1 Seção 1 82 6.4.2 Seção 2 87 6.4.3 Seção Total 87

6.5 Interpretação dos Resultados 88

7. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 100

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 103

ANEXO I - Fotografias 106

ANEXO II – Leituras das fases 111

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viii

Figura 6.9 – Sismogramas Sintéticos – Seção 2 Direto 84 Figura 6.10 – a. Tempos Reduzidos b. Raios – Seção Total Direto 85 Figura 6.11 – Sismogramas Sintéticos – Seção Total Direto 86 Figura 6.12 – Ajuste do Modelo para a Seção 1 (Tiro Direto) no Prog. XMGR 89 Figura 6.13 – Ajuste do Modelo para a Seção 1 (Tiro Reverso) no Prog. XMGR 90 Figura 6.14 – Ajuste do Modelo para a Seção Total (Tiro Direto) no Programa

XMGR 91 Figura 6.15 – Seção Sísmica referente ao tiro direto da Seção 1 94 Figura 6.16 – Seção Sísmica referente ao tiro direto da Seção 1 95 Figura 6.17 – Seção Sísmica referente ao tiro reverso da Seção 1 96 Figura 6.18 – Seção Sísmica referente ao tiro reverso da Seção 1 97 Figura 6.19 – Seção Sísmica referente ao tiro direto da Seção Total 98 Figura 6.20 – Seção Sísmica referente ao tiro direto da Seção Total 99

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INDÍCE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Onda esférica se propagando 10 Figura 2.2 – Raios refletidos e refratados (Lei de Snell) 13 Figura 2.3 – Curva de tempos de propagação para um modelo de crosta com

duas camadas 15 Figura 2.4 – Modelo V-z com um acentuado gradiente de velocidade 17 Figura 2.5 – Camada inclinada com tiros direto e reverso 17 Figura 2.6 - Exemplos de curvas caminho-tempo com tiros direto e reverso com a camada inclinada da Figura 2.5 18 Figura 3.1 – Mapa geológico simplificado da região de estudo mostrando a

linha L3 de RSP 22 Figura 3.2 – Regiões, sistemas e faixas de dobramentos do ciclo Brasiliano e

crátons relacionados 25 Figura 3.3 – Arqueano 26 Figura 3.4 – Proterozóico Médio 26 Figura 3.5 – Proterozóico Superior 27 Figura 3.6 – Mesozóico 27 Figura 3.7 – Cenozóico 28 Figura 3.8 – Época Atual 28 Figura 4.1 – Mapa político da região de estudo com a localização da linha L3 30 Figura 5.1 – Seção Sísmica da Explosão EX31 46 Figura 5.2 – Seção Sísmica da Explosão EX34 47 Figura 5.3 – Seção Sísmica da Explosão EX37 48 Figura 5.4 – Registro do mesmo ponto com o mesmo intervalo de tempo visua-

lizados no SAC e no SU 50 Figura 5.5 – Sismogramas dos três primeiros registros da Ex31 visualizados

no programa SU 51 Figura 5.6 – Os mesmos traços da Figura 5.5. visualizados no SAC. 52 Figura 5.7 – Registros da mesma estação, original e filtrado, visualizados no SAC 57 Figura 5.8 – Curvas caminho-tempo da Seção 1 (tiro direto) 61 Figura 5.9 – Curvas caminho-tempo da Seção 1 (tiro reverso) 62 Figura 5.10 – Modelo Teórico para a Seção 1 63 Figura 5.11 – Modelo Teórico para a Seção 1 Tiro reverso 64 Figura 5.12 – Seção Reduzida do Tiro Direto ( Seção 1) 65 Figura 5.13 – Seção Reduzida do Tiro Reverso ( Seção 1) 66 Figura 6.1 – a.Tempos Reduzidos b. Raios – Seção 1 Direto 75 Figura 6.2 – Sismogramas Sintéticos – Seção 1 Direto 76 Figura 6.3 – a. Tempos Reduzidos b. Raios – Seção 1 Direto 77 Figura 6.4 – Sismogramas Sintéticos – Seção 1 Direto 78 Figura 6.5 – a. Tempos Reduzidos b. Raios – Seção 1 Direto 79 Figura 6.6 – a. Tempos Reduzidos b. Raios – Seção 1 Reverso 80 Figura 6.7 – Sismogramas Sintéticos – Seção 1 Reverso 81 Figura 6.8 – a. Tempos Reduzidos b. Raios – Seção 2 Direto 83

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INDÍCE DE TABELAS

Tabela 4.1 – Dados das explosões da linha L3 . 33 Tabela 4.2 – Programação dos tiros da linha L3 37 Tabela 5.1 – Modelos preliminares obtidos com o programa TVEL 67 Tabela 6.1 – Modelos finais para a Seção 1 88 Tabela 6.2 – Modelo final para a Seção Total 93

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RESUMO

O presente trabalho de mestrado está inserido nos estudos de refração

profunda do Projeto Temático “Estudos Geofísicos e Modelo Tectônico dos Setores

Central e Sudeste da Província Tocantins, Brasil Central”. Nesses estudos foram

levantadas três linhas de refração de aproximadamente 300 km de extensão, duas

no setor Central da Província Tocantins e uma no setor Sudeste, que é o objeto de

estudo deste trabalho.

Foram utilizados 111 sismógrafos digitais SGR pertencentes ao programa

PASSCAL, instrumentos auxiliares do USGS, e 13 sismógrafos digitais e

instrumentos auxiliares do IAG/USP. A linha sísmica teve aproximadamente 300 km

de extensão com pontos de registro separados a cada 2,5 km, distribuídos ao longo

de estradas principais e secundárias. A cada 50 km, aproximadamente, foi realizada

uma explosão, nas explosões dos extremos da linha foram utilizados 1000 kg de

explosivo e para a explosão central uma carga de 500 kg. Para a determinação das

coordenadas geográficas dos pontos de tiro e de registro, foi utilizado o método

diferencial com medidas de GPS.

O principal objetivo deste trabalho foi obter como produto final um modelo de

velocidades sísmicas contendo as características físicas das principais

descontinuidades na crosta terrestre e no manto superior. Para análise e

processamento dos dados foram utilizados os pacotes SAC, SU, SEIS. Para o

modelamento foram utilizados a teoria do raio e a elaboração de sismogramas

sintéticos, do pacote SEIS.

Para a elaboração do modelo final foram utilizados os dados das explosões

dos pontos extremos e central, tendo em vista que devido a problemas técnicos não

Page 11: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

x

foram registrados os sinais das outras 4 explosões. Além disso, as explosões

registradas não apresentaram sinais claros em toda a extensão da linha. Devido a

tudo isso e considerando as unidades geológicas presentes na região de estudo são

sugeridos três modelos de velocidades sísmicas.

O primeiro modelo refere-se ao tiro direto (EX31) localizado no extremo

sudoeste da linha, sobre a Bacia do Paraná. Para este modelo obteve-se para

superfície (0 km) a velocidade inicial de 2 km/s (coberturas); para a profundidade de

0,086 km a velocidade inicial é de 5,15 km/s (basalto); para a profundidade de 0,350

km obteve-se a velocidade inicial de 4,6 km/s (arenito - camada de baixa

velocidade); para profundidade de 0,650 km a velocidade inicial é de 5,75 km/s e

para profundidade de 4 km obteve-se a velocidade inicial de 6,07 km/s.

O segundo modelo refere-se ao tiro reverso (EX34) localizado no centro da

linha sobre granitóides do Grupo Araxá. Para este modelo obteve-se para superfície

(0 km) a velocidade inicial de 2 km/s; para a profundidade de 0,06 km a velocidade

inicial é de 5,69 km/s e para a profundidade de 0,860 km obteve-se a velocidade

inicial de 6,25 km/s.

Finalmente, o terceiro modelo refere-se ao tiro direto para toda a extensão da

linha (300 km). Este modelo foi definido a partir de fases secundárias lidas nos

registros e modelos anteriores propostos na literatura. Da superfície até os 4 km

iniciais de profundidade este modelo é igual ao primeiro, para uma profundidade de

20 km obteve-se a velocidade inicial de 6,70 km/s e para uma profundidade de 40

km a velocidade é de 8,00 km/s (descontinuidade de MOHO).

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ABSTRACT

This work to fulfil the degree of Master of Sciences is inserted among the deep

seismic refraction studies of the Thematic Project “Geophysical Studies and Tectonic

Model of the Tocantins Province Central and Southeast Sectors, Central Brazil”.

Three refraction lines, of around 300 km long each, were deployed, two of them in

the Central sector and the other in the SE sector, that is subject of the present work.

The equipment used in this experiment was composed by 111 SGR digital

seismographs belonging to the PASSCAL Program. Complemented with auxiliary

instruments from USGS and 13 seismographs belonging to IAG/USP. The space

among the recording points was 2.5 km, which were located along main and

secondary roads. Every 50 km was fired an explosion with 1000 kg of emulsion in

each extreme and 500 kg in the central point. The geographical co-ordinates were

determined by using the GPS differential method.

The main objective of this work is to obtain as a final product a seismic velocity

model with the physical characteristics of the main discontinuities in the crust and

upper mantle. The packages SAC, SU and SEIS were used to perform the data

analysis and processing. To carry on the modelling were used the ray theory and the

synthetic seismograms cons truction, belonging to the SEIS package

Data from the extreme and middle points of the seismic line were used to

elaborate the final model, considering that due to technical problems signals from the

other four explosions were not recorded. Apart from that, the recorded explosions did

not present clear signals all along the extension of the line. Due to these facts, and

considering also the geological units present in the studied region, are suggested

three seismic velocity models.

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xii

The first model is referred to the direct shot (EX31), which is localised in the

Southwest extreme of the line on the Parana Basin province. In this model we

obtained the P wave velocity (V P) of 2 km/sec at the surface, corresponding to the

unconsolidated sediments and soil on the top of that basin. At a depth of 86 m we

found VP of 5,15 km/sec and at a depth of 350 m the velocity VP of 4,6 km/sec,

corresponding to the basalt and sand layers of the Parana Basin. Underlying them, at

650 m of depth we found the basement with VP of 5,75 km/sec and finally at a depth

of 4 km there is a layer with VP of 6,07 km/sec, corresponding to a typical upper crust

P wave velocity.

The second model corresponds to the reverse shot (EX34) that is localised in

the middle point of the line on the granitoides of the Araxa Group. For this model we

obtained VP of 2 km/sec for the superficial layers, then at a depth of 60 m was

obtained V P of 5,69 km/sec and for a depth of 860 m the value of V P is 6,25 km/sec.

Finally, the third model belongs to the whole line section (300 km) from the

direct shot (EX31). This model was obtained by using the arrivals of secondary

phases and the results of models proposed in other works. From the surface down to

4 km of depth this model is similar to the first one. At 20 km of depth there is a layer

with VP of 6,70 km/sec, corresponding to the lower crust, with Moho at a depth of 40

km with VP of 8,00 km/sec.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Generalidades

Este trabalho sobre Refração Sísmica Profunda faz parte do Projeto Temático

de Equipe “Estudos Geofísicos e Modelo Tectônico dos Setores Central e Sudeste

da Província Tocantins, Brasil Central”, aprovado pela FAPESP através do Processo

No. 96/1566-0, que está sendo desenvolvido pelo Instituto Astronômico e Geofísico

da Universidade de São Paulo (IAG/USP), o Instituto de Geociências da

Universidade de Brasília (IG/UnB) e o Centro de Pesquisa Prof. Manuel Teixeira da

Costa da Universidade Federal de Minas Gerais (CPMTC/ UFMG), e conta também

com a colaboração do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília

(SIS/UnB) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tem como

finalidade principal efetuar estudos geofísicos e geológicos nos setores Central e

Sudeste da Província Tocantins, de acordo com a definição adotada por Marini et al.

(1984a-b), objetivando um melhor entendimento da estruturação tectônica da região

e sua dinâmica atual.

A proposta do Projeto Temático, consiste em utilizar métodos geofísicos

(gravimétricos, refração sísmica profunda, auscultação de abalos sísmicos locais e

telessísmicos e monitoração tectônica através de GPS) e geológicos para estudar a

estrutura da crosta e do manto superior.

Os estudos que estão sendo propostos no Projeto Temático, inéditos no

Brasil, pretendem utilizar de maneira combinada ferramentas geofísicas e geológicas

com vistas a uma melhor compreensão da compartimentação geotectônica de uma

extensa área orogenética Neoproterozóica.

Antes deste projeto, foram efetuadas algumas tentativas de levantamentos de

refração sísmica profunda, utilizando explosões de pedreiras e sismógrafos com

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2

registro analógico em número inferior a 20 (Giese & Shutte, 1975; Bassini, 1986;

Mignona, 1987; Alarcon, 1989; Pedreschi, 1989) e com um número similar de

sismógrafos, porém digitais (Pereira, 1995). Os levantamentos de refração sísmica

profunda efetuadas em Minas Gerais e Goiás como parte do Projeto Temático, são

pioneiros no Brasil por utilizarem mais de uma centena de sismógrafos com registro

digital operando simultaneamente e explosões diretas e reversas, com hora de

origem controlada, programadas exclusivamente para este experimento.

1.2. Objetivo

O presente trabalho de mestrado está inserido nos estudos de refração

profunda do Projeto Temático acima mencionado. Nesses estudos foram levantadas

três linhas de refração de aproximadamente 300 km de extensão, duas no setor

Central da Província Tocantins e uma no setor Sudeste, que é o objeto de estudo

deste trabalho. O projeto de mestrado aqui proposto, tem por objetivo a execução da

linha de refração sísmica profunda localizada no setor Sudeste da Província

Tocantins, a redução e processamento dos dados e a interpretação dos resultados

obtidos neste experimento. Será elaborado, como produto final, um modelo de

velocidades sísmicas contendo as características físicas das principais

descontinuidades na crosta terrestre e manto superior, existentes sob esse setor.

1.3 Conteúdo da Dissertação

As definições básicas e os aspectos teóricos e matemáticos dos conceitos

envolvidos no método de refração sísmica são apresentados no Capítulo 2, onde se

menciona de forma sucinta a teoria da elasticidade e a propagação das ondas

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3

sísmicas, necessárias para fundamentar este método. Os principais aspectos

geológicos da região de estudo são apresentados no Capítulo 3, onde se descrevem

as principais estruturas tectônicas e o arcabouço tectônico.

As atividades de campo durante o intervalo de aquisição de dados são

descritas no Capítulo 4, incluindo a logística de programação, instalação dos

aparelhos e as características deste experimento. No Capítulo 5 é descrito o

procedimento de análise e processamento dos dados que estavam em formatos

distintos e necessitavam de uma uniformização para utilização em conjunto. Discute-

se, também neste capítulo, a qualidade dos dados.

Depois dos dados analisados, processados e da elaboração do modelo

preliminar, iniciou-se a fase de modelamento final no Capítulo 6. Neste capítulo,

apresenta-se o pacote de programas SEIS de extrema importância para este

modelamento final, bem como os recursos e procedimentos necessários para

utilizá-los. Encerra-se este capítulo com um modelo final de velocidades sísmicas

sugerido para a região de estudo.

Finalmente, no Capítulo 7, discute-se sobre a interpretação do modelo final

sugerido e alguns aspectos da problemática envolvida no experimento de refração

sísmica profunda.

Page 17: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

2. CONCEITOS BÁSICOS DO MÉTODO DE REFRAÇÃO SÍSMICA

PROFUNDA

2.1 Introdução

A maioria dos detalhes da estrutura da crosta provém dos estudos através de

métodos sísmicos, segundo mostraram, entre outros, autores como Sheriff (1982),

Dobrin (1985) e Meissner (1986). Apesar disso, a avaliação dos processos

isostáticos e da densidade cumprem um papel importante na definição mais

realística do campo tectônico. Assim como medições de esforços e aplicações dos

métodos magnéticos, eletromagnéticos e geotérmicos contribuem significativamente

para o nosso conhecimento atual das feições crustais.

No método de Refração Sísmica são utilizadas fontes de energia, ativas

(sismos) e, principalmente, passivas (explosões) e registradores (sismógrafos) para

captar e armazenar as perturbações produzidas por estas fontes depois de terem

percorrido as camadas do interior da Terra contendo informações sobre as

características dessas camadas. Como particularidade, podemos ressaltar uma

característica importante do método de refração que é a instalação dos sismógrafos

a distâncias, da fonte de energia, bem maiores que a profundidade estudada. Por

exemplo, na presente pesquisa utiliza-se uma linha de 300 km de extensão para

alcançar-se uma profundidade de 50 km aproximadamente. Uma vantagem do

método da refração sísmica é permitir a cobertura de uma grande região em um

curto espaço de tempo, se comparada à reflexão sísmica, e a um custo bem menor

que esse método. Os levantamentos de refração sísmica permitem a obtenção de

um modelo representativo de velocidades dos principais substratos existentes na

região auscultada, através da análise do tempo de propagação das ondas sísmicas

Page 18: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

5

da fonte até os sismógrafos, embora sem o nível de detalhe obtido no método de

reflexão sísmica.

2.2 Crosta, Manto, Litosfera e Astenosfera

2.2.1 Definições de Crosta

Atualmente a definição sismológica, de acordo com Meissner (1986), parece

ser a mais clara embora exista uma certa sobreposição entre as velocidades

sísmicas dos materiais da crosta profunda (“fria”) e do manto superior (“quente”). Em

1909, Mohorovicic percebeu que as velocidades das ondas sísmicas compressionais

aumentavam consideravelmente em profundidades de algumas dezenas de

quilômetros. Desde então, uma grande quantidade de dados acerca da transição

entre crosta e manto vem sendo obtida por métodos sísmicos e sismológicos. A

interface entre a crosta e o manto é denominada Descontinuidade de Mohorovicic,

ou simplesmente Descontinuidade de Moho. Existem várias definições de crosta

terrestre, cada uma de acordo com alguma área: sismologia, gravimetria, geologia,

mineralogia, química, etc., abaixo são citadas as três primeiras.

- Definição por velocidades sísmicas:

Crosta é a camada externa da Terra na qual a velocidade das ondas

compressionais (ondas P) é menor que 7,6 km/s ou a velocidade das ondas de

cisalhamento (ondas S) é menor que 4,4 km/s.

- Definição por densidade:

Crosta é a camada externa da Terra na qual a densidade das rochas é

menor que 3,1 g/cm3 = 3,1 t/m3.

- Definição pelo tipo de rochas:

Crosta é a camada externa da Terra a qual consiste predominantemente de

Page 19: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

6

sedimentos, gnaisses, granito, granodiorito, gabro, anfibolito e granulito para a

crosta continental e sedimentos, basaltos, gabros e serpentinitas para a crosta

oceânica.

A crosta oceânica e a crosta continental têm diferenças muito importantes. A

crosta oceânica é mais fina, em geral com uma espessura de 5 km, ao se aproximar

do continente esta espessura aumenta, pois há o carregamento de sedimentos

devido à erosão continental. Também vale ressaltar que a espessura da porção

cristalina da crosta oceânica se mantém quase constante desde sua criação nas

dorsais oceânicas, de modo que as porções mais velhas, em torno de 180 Ma, estão

situadas perto dos continentes. A crosta continental não contém, somente, rochas

mais leves como granitos e gnaisses e mais material silicático, mas, em geral, é

também mais espessa que a crosta oceânica. Ela pode variar de um pouco menos

de 20 km até 70 km (na região dos Andes e Himalaia, por exemplo).

A composição final da crosta, de acordo com Meissner (1986) é determinada

pela diferenciação de densidades, pontos de fusão e a química de fusões parciais.

As correntes convectivas no interior da Terra podem causar uma mistura ou

reciclagem dos materiais, complicando a estrutura da crosta. Assim, a crosta

terrestre – e especialmente a crosta continental da Terra – não é uniforme e difere

de lugar para lugar.

2.2.2 Definições de Manto Superior

Definições do manto superior também são relevantes neste trabalho, por se

tratar de um experimento de refração sísmica profunda que atinge a interface

crosta-manto. As definições de manto superior de acordo com os critérios usados

para definir a crosta (Meissner, 1986), são:

Page 20: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

7

- Definição por velocidades sísmicas:

Manto é a zona abaixo da crosta com velocidades das ondas P maiores que

7,6 km/s (geralmente maiores que 7,8 km/s) ou as velocidades das ondas S maior

que 4,4 km/s (geralmente maiores que 4,5 km/s).

- Definição por densidade:

Manto é a zona com densidade maior que 3,1 g/cm3 (= 3,1 t/m3).

- Definição pelo tipo de rochas:

Manto Superior é a zona a qual se consiste predominantemente de rochas

ultramáficas como peridotitos (mesmo dunita) e eclogitos.

2.2.3 Litosfera e Astenosfera

As propriedades reológicas são os fundamentos para definir porções da Terra

que envolvem crosta e manto, denominadas Litosfera e Astenosfera.

Litosfera, placa, ou placa litosférica é a porção superior da Terra, rígida e de

alta viscosidade, com uma espessura fortemente dependente da temperatura,

geralmente com 50 a 100 km de espessura abaixo dos oceanos e de 100 a 200 km

abaixo dos continentes.

Astenosfera é a zona onde o “solidus” das rochas do manto é alcançado (ou

quase alcançado) e o material está no estado mais dúctil com uma grande

possibilidade de reagir a qualquer tipo de tensão na forma de uma deformação

gradual (creep), corresponde ao “Canal de baixa velocidade” de Gutenberg

(Gutenberg, 1959; apud Meissner, 1986) e com a “Zona de Baixa Viscosidade”

(Stacey, 1977a, apud Meissner, 1986) e com a zona de alta condutividade elétrica.

Page 21: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

8

2.3 Teoria da Elasticidade

A teoria da elasticidade diz respeito às deformações sofridas por um material

elástico quando sujeito a algum esforço, ela é de grande importância para a

sismologia e possui um tratamento matemático elaborado não cabendo ser

demonstrado aqui. Esta teoria assume que o meio é formado por partículas as quais

estão suficientemente compactadas, que podem ser descritas por funções contínuas

e diferenciáveis. As tensões exercidas e as deformações sofridas por um material

podem ser descritas por tensores, o tensor Esforço e o tensor Deformação,

respectivamente.

Os estudos da teoria da elasticidade são fundamentais em sismologia, pois as

ondas sísmicas são propagações de deformações elásticas em todo interior de

Terra. O estudo de terremotos também fornece informações sobre os esforços a que

está submetida a litosfera e as deformações sofridas pelas placas tectônicas.

Através da teoria da elasticidade chega-se à equação da onda fazendo uma

combinação da Lei de Hooke, que relaciona tensão com deformação, e a Lei de

Newton, que relaciona força (tensão) com aceleração, utilizando as constantes

elásticas e a densidade.

2.4 Propagação de Ondas

A definição física de onda corresponde a um fenômeno periódico que

transporta energia mediante um campo oscilante ou perturbação de um meio

elástico, podendo ser denominadas ondas eletromagnéticas ou mecânicas. Existe

um vasto número de equações ligadas à propagação de ondas, porém uma destas é

considerada a equação “clássica” e de fundamental importância de acordo com o

mesmo autor:

Page 22: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

9

ycty 222

2

∇=∂∂

(1)

Desta equação pode-se derivar o conceito de onda plana, muito utilizado em

sismologia.

2.4.1 Ondas Planas

Será discutido o caso em uma dimensão, podendo ser estendido para três

dimensões. A equação para o caso de uma dimensão é:

2

22

2

2

xy

cty

∂∂

=∂∂

(2)

Onde c é uma constante, t é o tempo, x é uma coordenada Cartesiana

retangular, e y é uma função de x e t que representa a perturbação de alguma

quantidade física; em sismologia y denota uma componente de deslocamento

(deformação).

Pode-se mostrar através de uma mudança de variáveis (novas variáveis

independentes: ctx − e ctx + ) que uma solução geral para (2) é:

( ) ( ) )(, ctxFctxftxy ++−= (3)

Onde f e F estão restritas às condições iniciais e de fronteira. Se t for

incrementado em qualquer valor, t∆ , e simultaneamente x por tc ∆⋅ , o valor de

( )ctxf − não é alterado; assim o primeiro termo do lado direito de (3) representa

uma perturbação que avança no tempo, no sentido positivo do eixo-x, sem modificar

sua forma, com velocidade c . Para cada instante, y depende somente de x , e tem

o mesmo valor em todos os pontos de um plano normal ao eixo-x, deste modo

( )ctxf − é uma onda plana que avança no sentido positivo do eixo-x e ( )ctxF +

segue no sentido negativo.

Page 23: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

10

2.4.2 Ondas Esféricas

Pode-se derivar uma solução mais geral de (1) sujeita a uma restrição de que

y é simétrico em torno de um ponto central O. Se r for a distância do centro O,

deduz-se:

( ) ( )2

22

2

2

xry

ctry

∂∂

=∂

∂ (4)

E com uma solução geral comparável à (3), na forma:

( ) ( ){ }ctrFctrfry ++−= −1 (5)

O resultado de (5) difere do resultado de (3) somente onde r substitui x e

pelo fator de amplitude 1−r . A solução corresponde a transmissão de uma onda

esférica, o valor de y em um dado instante corresponderá a todos os pontos de uma

superfície esférica de centro O. Na maioria das aplicações utiliza-se uma esfera se

expandindo com velocidade c , então o termo ( )ctrF + se torna irrelevante.

O conceito de Frente de Onda é aplicado tanto em ondas planas como

esféricas. A frente de onda é o lugar onde a onda se encontra após ter transcorrido

um determinado tempo. Se o meio de propagação for homogêneo e isotrópico, as

ondas provindas de uma fonte pontual se propagarão esfericamente (ver Figura 2.1).

2.1 - Onda esférica se propagando, os raios são perpendiculares à frente de onda (Boyd, 1999).

Figura

Page 24: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

11

2.4.3 Teoria dos Raios

O conceito de raio é utilizado em propagação de ondas. Os raios são linhas

traçadas perpendicularmente às frentes de onda, eles são uma abstração matmática

que auxiliam a visualização do caminho percorrido pela onda e obedecem ao

Princípio de Fermat (citado mais adiante). A distância entre duas frentes de onda é o

comprimento de onda ( )λ e que a onda, de freqüência ( )f , se movimenta com uma

velocidade de fase ( )V , respeitando a seguinte relação:

fV ⋅= λ (6)

No caso da Terra, as propriedades do meio variam ponto a ponto, a

velocidade da onda é função da posição e não é constante. Neste caso, a frente de

onda em um certo tempo t não será uma esfera, mesmo se a perturbação for

simétrica em relação ao centro.

Princípio de Huygens

“Todos os pontos do meio atingidos por uma frente de onda comportam-se

como fontes pontuais de frentes de onda secundárias.” Este é o princípio de

Huygens e as leis de Reflexão e Refração podem ser explicadas por este princípio.

Depois de um certo tempo t, a nova posição da frente de onda será dada por uma

superfície envoltória dessas frentes de ondas secundárias.(Bullen, 1985)

Princípio de Fermat

Fermat demonstrou matematicamente que “entre os possíveis raios que ligam

dois determinados pontos o raio verdadeiro tem um tempo de propagação

estacionário”, em outras palavras seria dizer que o raio percorre o caminho cujo o

tempo é mínimo.

Page 25: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

12

Reflexão

O ângulo de incidência do raio é igual ao ângulo do raio refletido. Este ângulo

é medido em relação à uma linha imaginária normal à superfície refletora (interface

entre dois meios diferentes), mostrado na Figura 2.2.

Lei de Snell

Um raio proveniente de um meio com velocidade de propagação 1V , ao ser

transmitido para o outro que apresenta velocidade igual 2V , sofrerá refração, e os

ângulos de incidência, 1θ , e refração, 2θ , respeitam a relação dada pela Lei de

Snell:

22sen

11sen

VVθθ

= (7)

Quando o ângulo de incidência alcançar um determinado valor, tal que o

ângulo de refração seja igual a 90°, o raio refratado será tangente a interface. Este

ângulo é denominado de ângulo crítico ( )cθ , e para incidências além deste valor

ocorre o fenômeno da reflexão total, isso para uma situação onde 12 VV > (Figura

2.2). O conceito de refração crítica é muito importante em refração sísmica , pois o

raio usado nos experimentos de refração sísmica é aquele que “choca-se” com o

topo da camada inferior de velocidade mais alta, com o ângulo crítico (ou muito

próximo a ele), viaja horizontalmente ao longo da camada com velocidade V2, e é

refratado de volta para a superfície terrestre com o mesmo ângulo.

A relação abaixo provém da Lei de Snell e é utilizada para definir o parâmetro

de raio p, ou simplesmente, parâmetro p :

.sensen

constpV

iV

i

o

o

i

=== (8)

Este parâmetro é importante porque é um identificador de raios. A razão

Page 26: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

13

acima é constante para qualquer raio que é gerado com um dado ângulo inicial de

penetração na Terra e descreve cada raio em termos da velocidade na superfície Vo

e de seu ângulo de emergência io.

2.4.4 Espalhamento de Ondas

De acordo com Bullen (1985), as deflexões de uma porção da energia da

onda ocorrem quando ondas elásticas encontram um obstáculo no qual as

propriedades elásticas do meio diferem das propriedades do meio incidente. Existem

três possibilidades de espalhamento de ondas:

O primeiro caso acontece quando os obstáculos são muito menores se

comparados ao comprimento de onda ( )λ da onda incidente. Se as ondas sísmicas

passam por uma região onde há muitos espalhamentos pequenos, as ondas

espalhadas interferem com as outras resultando em trens de ondas coerentes ou

incoerentes, isto dependerá de como os obstáculos que causam o espalhamento

estão distribuídos.

No segundo, se uma onda sísmica incidir num obstáculo muito maior

Figura 2.2 - Raios refletidos e refratados (Lei de Snell).

Page 27: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

14

comparado ao seu λ, são válidas as suposições da ótica geométrica e da teoria do

raio. Neste caso, as ondas espalhadas podem ser tratadas como ondas refletidas e

refratadas numa interface.

No terceiro caso, trata-ss de obstáculos com a mesma ordem de grandeza de

λ, ocorre difração, elas são difratadas além de espalhadas. Quando a frente de onda

incide no obstáculo, ela é espalhada para todas as direções, a ótica geométrica não

pode ser aplicada neste caso, porém os princípios de Huygens e Fermat são válidos.

Por exemplo, se uma tela é colocada em frente a um feixe de luz, haverá um pouco

de luz transmitida na região atrás da tela, que deveria ter sombra pela teoria dos

raios. Na borda da sombra, a amplitude da onda oscila antes de cair a zero. Este

pouco de luz é causado pelo fenômeno da difração.

2.5 Refração Sísmica Profunda

A maior parte da quantidade de informações que temos da crosta da Terra

vem das investigações com refração e reflexão sísmicas. O método de refração

sísmica começou com Mintrop em 1910 e em 1920 começaram os experimentos

com reflexão sísmica. O tratamento dos dados tem aspectos diferentes nos dois

métodos, pois fatores como ganho na amplitude, técnicas de filtragem, etc., são

distintos para cada método. Todos os desenvolvimentos nas técnicas de

processamento dos dados não vencem a ambigüidade básica da interpretação dos

dados. Ambos os métodos têm vantagens e limitações e deveriam ser usados em

conjunto a fim de obter-se um ótimo imageamento da crosta.

As considerações acima servem tanto para Refração Rasa como para

Profunda, porém vamos nos deter na Refração Sísmica Profunda (RSP), ou “Deep

Seismic Sounding (DSS), que é o assunto desta dissertação. Uma das principais

Page 28: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

15

finalidades do método de RSP é o estudo de grandes estruturas da crosta terrestre,

as investigações sísmicas do embasamento cristalino da crosta profunda da Terra

até o manto superior são ainda dominados pelo método de refração (Figura 2.3).

Através deste método são elaborados os “Perfis Litosféricos”, assim

chamados pela quantidade de sismômetros utilizados e pela extensão das linhas, as

quais, às vezes, podem passar de 1000 km de comprimento e a separação dos

sismômetros variada de 300 m até 5 km. O método de Refração Sísmica Profunda

também pode ser chamado de Reflexão de Ângulo Amplo (“Wide-Angle Reflection”).

Os eventos de ângulo amplo geralmente têm as chegadas mais claras nos

registros. Eles provêm das interfaces de primeira ordem na forma de reflexões ou de

zonas que têm um forte gradiente positivo de velocidade. Freqüentemente, estes

eventos mais fortes vem da Descontinuidade de Moho. A resolução de tais zonas de

Figura 2.3 - Curva de tempos de propagação para um modelo de crosta com duas ca- madas. é o evento “granítico” (primeiro), é o refratado (onda que se propagou pelo mando superior), é a onda refletida na descontinuida- de de Moho, é a porção subcrítica, é o ponto crítico, é a porção su- percrítica, é a crosta superior (gnaisse-granito), é a crosta inferior (gabro-granulito) e é o manto ultramáfico (Meissner, 1986).

Pg Pn PmP

sc ic ocg ga

u

Page 29: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

16

gradiente foram melhoradas incluindo-se o comportamento das amplitudes, no

modelamento de sismogramas sintéticos. A avaliação dos eventos de ângulo amplo

se desenvolveu como o mais importante ramo da interpretação na refração profunda

e forma a base para os perfis de velocidade-profundidade (modelo V-z) nos

experimentos de RSP.

2.5.1 Tempo Reduzido

Os tempos de chegada são reduzidos para a melhor correlação dos diferentes

tempos de propagação, já que utilizando-se a escala de tempo reduzido obtem-se

uma visão ampliada das fases em relação a escala de tempo normal. Esta relação é

dada por:

rr V

xtt −= (8)

Onde x é a distância entre a fonte e o receptor, rV é a velocidade usada para

a redução e rt é o tempo de propagação reduzido. Geralmente, para crosta utiliza-

se rV = 6 km/s e para o manto superior rV = 8 km/s.

2.5.2 Gradiente de Velocidade

Podemos ter camadas onde existe gradiente de velocidade (Figura 2.4), este

gradiente pode ser positivo ou negativo. Se o gradiente for positivo percebemos que

as curvas caminho-tempo são curvilíneas (e não retas). Porém, se o gradiente de

velocidade for negativo, não será possível identificá-lo diretamente, com técnicas de

refração sísmica.

Page 30: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

17

2.5.3 Camadas Inclinadas

Geralmente as camadas refratoras não são paralelas à superfície onde estão

os geofones (Figura 2.5). No caso destas camadas serem inclinadas, ou seja,

formarem um declive com um ângulo constante pode-se utilizar a mesma formulação

matemática das camadas horizontais, com um ajuste para levar-se em conta o

ângulo de inclinação da camada.

Figura 2.5 – Camada inclinada com tiros direto e reverso (Boyd, 1999).

T(s)

V(km/s)

Z(km)

X(km)

Figura 2.4 - Modelo com um acentuado gradiente de velocidade, caminhos dos raios e feição característica do gradiente de velocidade no di- agrama (Meissner, 1986).

V-z

T x X

Page 31: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

18

Para detectar-se este atraso, ou adiantamento, relativos do sinal em

determinado registrador faz-se necessário um tiro reverso, assim combinando as

informações dos tempos de trajetória correspondentes às explosões em

extremidades distintas chega-se à uma estimativa do grau de inclinação da interface.

(ver Figura 2.6)

Figura 2.6 – Exemplo de curvas caminho-tempo com tiros direto e reverso com

a camada inclinada da Figura 2.5 (Boyd, 1999).

2.6 Procedimentos e Características Básicas da RSP

Os levantamentos de RSP são normalmente efetuados em arranjos lineares.

Os tempos registrados necessitam ser corrigidos em certos parâmetros como

altitude, hora da explosão, distâncias e solo intemperizado. Depois são colocados

em seções sísmicas numa escala reduzida, os registros individuais são, geralmente,

normalizados (impressos relativamente à mais alta amplitude), analisam-se as

freqüências a fim de escolher-se o melhor filtro possível. Em termos gerais, a

interpretação das seções sísmicas de RSP são efetuadas em três etapas, nesta

dissertação utiliza-se alguns tópicos dos abaixo relacionados.

Page 32: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

19

1. Avaliação em uma dimensão da estrutura velocidade-profundidade por

aplicação de métodos diretos e fórmulas simples, como resolver um caso de duas

camadas com velocidades constantes (fórmulas de interceptação “time-crossover”)

ou aplicando algoritmos como o p−τ , de Wiercht-Herglotz ou Giese.

2. Traçamento de raios para a verificação dos principais ramos das curvas

caminho-tempo utilizando cálculos de modelos e rotinas interativas (geralmente por

tentativa e erro), objetivando encontrar um ajuste entre as curvas caminho-tempo

calculadas e as observadas. (ver Cerveny et al, 1977; apud Meissner, 1986).

3. Elaboração dos sismogramas sintéticos e suas modificações interativas

para achar uma correspondência entre as amplitudes calculadas e observadas, entre

as curvas caminho-tempo teóricas e reais, e finalmente para toda a seção sísmica,

incluindo eventos múltiplos (Fuchs & Mueller, 1971; Braile & Smith, 1975; apud

Meissner, 1986).

2.7 Métodos de Interpretação em Refração Sísmica – Aspectos Gerais

Sob circunstâncias favoráveis os dados de refração podem fornecer dados

estruturais e litológicos, porém, geralmente, somente as informações estruturais são

obtidas. Em regiões onde o levantamento de refração é efetuado pela primeira vez

temos dois objetivos principais: determinar, a grosso modo, a forma e a profundidade

do embasamento e a natureza ou o tipo de rochas das principais unidades litológicas

baseadas nas suas velocidades. A identificação dos eventos de refração é bem mais

simples que os eventos de reflexão. Usualmente, o único problema, mas não trivial,

é identificar os diferentes eventos de refração quando existem muitos refratores.

A interpretação da refração sísmica freqüentemente é baseada somente nas

primeiras chegadas, principalmente porque estas permitem maior precisão na

Page 33: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

20

determinação dos tempos de propagação. Quando utilizamos as chegadas

secundárias, temos que selecionar um ciclo posterior no trem de ondas e estimar o

tempo de propagação através do tempo medido. Entretanto se, as velocidades

baseadas nas chegadas secundárias forem precisas, representam uma informação

muito útil.

As ambigüidades da interpretação geralmente são resolvidas quando se conta

com uma grande quantidade de dados suficientes para isso. Porém, no esforço de

manter baixos custos no experimento, somente a quantidade mínima de dados é

conseguida (ou inferior) e isso pode tornar a solução dessas ambigüidades difíceis

ou até mesmo impossíveis.

Page 34: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

3. ARCABOUÇO TECTÔNICO

3.1 Localização e Embasamento Tectônico

A região auscultada pela linha L3 compreende o Triângulo Mineiro e a porção

central do Estado de Minas Gerais. Essa linha possui direção aproximada SW-NE, e

começa na porção NE da Bacia do Paraná, atravessa a Faixa de Dobramentos

Brasília, e penetra as coberturas do Cráton de São Francisco, deste modo a linha de

RSP atravessa a porção NE da Província Tectônicas Paraná, a porção SE da

Província Tectônica Tocantins e a porção SW da Província Tectônica São Francisco.

(Figura 3.1)

A Província Tocantins, uma mega-entidade litotectônica, de direção

aproximadamente N-S, erigida entre os Crátons Amazônico e São Francisco-Congo

(Almeida et al., 1981) no ciclo orogenético Pan-Africano/Brasiliano, durante o

Neoproterozóico, ocasião em que amalgamou-se o supercontinente do Gondwana

(Unrug, 1992; Trompette, 1994).

Este supercontinente viria a fragmentar-se de novo, a partir do Paleozóico-

Mesozóico, resultando na abertura dos oceanos Atlântico e Índico atualmente

conhecidos e na individualização dos atuais continentes da América do Sul, África e

Antártida, no sub-continente da Austrália e na formação do bloco continental da

Índia.

O conhecimento geológico atual sugere fortemente que a Província Tocantins

formou-se pela colisão dos crátons Amazônico e São Francisco-Congo. Por suas

dimensões sub-continentais (aproximadamente 1000 km de comprimento N-S por

400 km de largura E-W) os setores Central e Sudeste da Província Tocantins

exibem uma diversidade de terrenos geológicos que os caracterizam como

Page 35: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

3.1

-M

ap

ag

eo

lóg

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sim

plifi

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BU

BU

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SG

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Ga1

SG

BP

PA

F

MC

AE

Ga1

22

Page 36: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

23

provavelmente o remanescente do mais completo orógeno Neoproterozóico da

América do Sul, comparável em escala e em feições com cadeias de montanhas

colisionais modernas como os Alpes e os Himalaias.

A Província Tocantins compreende as faixas de dobramentos Brasília,

Araguaia e Paraguai que são constituídas por sedimentos e tectonitos de fácies

metamórfico até xisto verde-anfibolito, derivados principalmente de rochas

sedimentares e vulcânicas de idades Paleo-Meso a Neoproterozóicas.

A região de estudo foi afetada pelo ciclo geodinâmico Brasiliano (450-700 Ma)

que provocou diversas faixas de dobramentos no território brasileiro, entre as quais a

Faixa de Dobramentos Brasília, conforme se mostra no mapa da Figura 3.2. Essa

faixa encontra-se entre a cobertura fanerozóica da Bacia do Paraná e as coberturas

proterozóicas do Cráton de São Francisco.

3.2 Seqüência Geocronológica

As formações geológicas presentes na região de estudo são mostradas de

acordo com a seqüência geocronológica desde o Arqueano até a atualidade.

O Arqueano, na região de estudo, está representado por granitos e

granitóides (ga1) retrabalhados no Ciclo Brasiliano, distribuidos nas proximidades da

linha L3, conforme mostrado na Figura 3.3.

As formações geológicas, dessa região, correspondentes ao período

Proterozóico Médio estão mostradas na Figura 3.4. Na parte superior dessa figura,

observa-se em vermelho rochas correspondentes à Formação Paracatu (PAF)

composta de quartzitos e filitos carbonosos ou não. A lado e abaixo, em porções

menores (em laranja escuro), apresentam-se dolomitos, cherts, metapelitos e

fosforitos, correspondentes à Formação Vazante (VAD). O restante da área colorida

Page 37: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

24

(laranja claro) apresentam-se quartzitos e filitos correspondentes ao Grupo Canastra

(CAQ).

As formações correspondentes ao período Proterozóico Superior apresentam-

se na Figura 3.5. A área de cor laranja corresponde a micaxistos, anfibolitos,

quartzitos, gnaisses e formação ferrífera do Grupo Araxá (ARX). A área de cor verde

claro (IBF) corresponde aos filitos da Formação Rio Verde pertencente ao Grupo

Ibiá. E a área de cor azul (BP) corresponde às rochas formadas por calcário, marga,

dolomito, folhelho, argilito, siltito, arenito, arcóseo e silex restritos do Subgrupo

Paraopeba (Grupo Bambuí - Supergrupo São Francisco).

O período Mesozóico está representado na Figura 3.6. A oeste, a região em

verde claro (BU) corresponde aos arenitos, arenitos calcíferos, conglomerados e

calcários da Formação Marília (Grupo Bauru). A região em verde médio (SG)

corresponde aos basaltos toleíticos com intercalações de arenito e diabásios da

Formação Serra Geral (Grupo São Bento). E a região em verde escuro (BUB),

próxima à cidade de Uberaba, corresponde aos arenitos, conglomerados e pelitos

vulcanoclásticos da Formação Uberaba (Grupo Bauru). A região central da figura, no

sentido centro-sul mostra, respectivamente, Suíte Alcalina Salitre (LS), Suíte Alcalina

Araxá (LA) e Suíte Alcalina Tapira (LT), todas na cor verde. E a leste, em verde

mais claro (MC), os arenitos sineríticos da Formação Capacete (Grupo Mata da

Corda) e em verde escuro (AE), os arenitos, conglomerados, pelitos, calcretes e

cherts do Grupo Areado.

Na Figura 3.7, apresentam-se as unidades geológicas correspondentes ao

período Cenozóico. Na parte central da figura, em verde (TQ), observam-se

coberturas detrítico-lateríticas, detriticas e eluvionares em superfície de

aplainamento.

Page 38: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

25

O conjunto de todas as unidades geológicas conforme se apresentam na

época atual é mostrado na Figura 3.8.

Page 39: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

3.4

-P

rote

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ico

Méd

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CA

Q

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O

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Fig

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26

Page 40: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

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3.5

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Fig

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27

Page 41: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

3.7

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19

O

18

O

28

Page 42: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

4. LEVANTAMENTO DE DADOS DO EXPERIMENTO DE REFRAÇÃO

SÍSMICA PROFUNDA

4.1 Localização

A região auscultada compreende: o Triângulo Mineiro e a porção central do

Estado de Minas Gerais, denominada linha L3, considerando-se as outras duas

linhas de RSP levantada no Projeto Temático descrito na Introdução. Esta linha,

que atravessa o setor Sudeste da Província Tocantins, se inicia na divisa entre os

estados de São Paulo e Minas Gerais, próximo ao Reservatório de Volta Grande,

passa pelas cidades de Uberaba, Perdizes, Patrocínio, perto de Patos de Minas e

termina nas proximidades do lugarejo conhecido como Varjão. Essa linha possui

direção aproximada SW-NE, e começa na porção NE da Bacia do Paraná, atravessa

a Faixa de Dobramentos Brasília, e penetra a borda oeste do Cráton de São

Francisco. (ver Figura 4.1)

4.2 Equipe e Equipamentos

A equipe foi formada por 22 pessoas, em sua maioria os integrantes eram do

IAG/USP (um professor, cinco alunos, cinco técnicos, um engenheiro elétrico, dois

motoristas e dois técnicos convidados), dois técnicos do USGS (Menlo Park,

Califórnia) e quatro membros da UnB (um professor, dois técnicos e um aluno).

Nos levantamentos de refração sísmica deste projeto foram utilizados

sismógrafos digitais pertencentes ao programa PASSCAL, instrumentos auxiliares

do USGS, e sismógrafos digitais e instrumentos auxiliares do IAG/USP.

Page 43: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 4.1 - Mapa político da região de estudo com a localização da linha L3.

30

Page 44: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

31

O programa PASSCAL (Program for the Array Seismic Studies of Continetal

Lithosphere) é uma das facilidades oferecidas para a comunidade sismológica

internaciona l pelo IRIS (Incorporated Research Institutions for Seismology), que é

um consórcio de universidades dos Estados Unidos que facilitam os estudos da

litosfera continental e outros estudos sismológicos, emprestando os sismógrafos

necessários para esses projetos. Esse empréstimo foi conseguido, por intermédio do

Dr. Walter Mooney do USGS, que participa no Projeto Temático.

Os equipamentos emprestados do programa PASSCAL, são os seguintes:

- 111 Sismógrafos Digitais, modelo Seismic Recorders Unit (SGR), registro

em fita magnética; com baterias recarregáveis e cabo para o sismômetro;

- 112 Sismômetros de período curto (T0 = 0,5 s) verticais, modelo L4-C; e

- 04 Computadores Portáteis (Notebook Programemr) para comunicação

com os SGRs.

Os equipamentos auxiliares pertencentes ao USGS, foram os seguintes:

- 04 Unidades de Disparo (System Time Units), para o controle da hora

precisa e execução automática das explosões, de fabricação própria;

- 04 Relógios Padrão (Master Clocks), com receptores GPS para o controle

preciso do tempo.

Os equipamentos e instrumentos auxiliares do IAG/USP, foram os seguintes:

- 03 Sismógrafos Digitais, modelo SSR-1, conversor A/D de 16 bits, com

capacidade para registrar seis canais e 2 Mb de memória, com cabo para 3

sismômetros locais;

- 04 Sismógrafos Digitais, modelo Pragmática, conversor A/D de 12 bits,

com capacidade para registrar até seis canais e 1 Mb de memória, com cabo para 3

sismômetros locais;

Page 45: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

32

- 20 Sismômetros de período curto (T0 = 0,5 s) verticais, modelo L4-C;

- 08 Sistemas Telemétricos, para efetuar o enlace entre estações remotas e

os registradores digitais, compostos por um transmissor e um receptor UHF de baixa

potência, modelo Monitron, uma caixa de campo com amplificador-modulador

modelo Teledyne, um demodulador fabricado no IAG/USP, e antenas e mastros;

- 03 Computadores Portáteis, para comunicação com os registradores SSR-

1 e Pragmatica; e

- 07 receptores GPS, GARMIN, modelo 100 SRVY II para a localização dos

pontos de tiro e de registro.

Esse equipamento permitiu contar com até 130 conjuntos sismográficos para

o registro simultâneo das ondas que seriam geradas nas explosões e constituir até

três grupos para detonar os tiros em frentes diferentes.

Além do equipamento e instrumentação utilizada no experimento, foram

utilizados os seguintes veículos para o transporte do equipamento e dos

participantes:

- Camioneta Toyota, cabina dupla e caçamba, placa GBG 0410, do

IAG/USP;

- Camioneta Toyota, cabina simples e caçamba, placa JFO 6946, do IG/UnB;

- Camioneta Toyota, modelo Bandeirante, placa GZ 9179, do IAG/USP;

- Camioneta Chevrolet D20, cabina dupla e caçamba, placa BFG 4879, do

IAG/USP;

- Camioneta Ford F1000, cabina dupla e caçamba, placa JFO 0534, do

SIS/UnB;

- Caminhão F4000, com corroceria, placa GZ 7975, do IAG/USP;

- Camioneta Paratí, placa GBG 0404, do IAG/USP;

Page 46: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

33

- Camioneta Paratí, placa BRZ 4257, do IAG/USP;

- Camioneta Saveiro, placa GBG 0402, do IAG/USP;

Algumas fotos do equipamento e momentos das atividades de campo são

apresentadas no Anexo I.

4.3 Metodologia

4.3.1 Etapa Preparatória

Em Março de 1998, foram iniciadas as viagens de campo com a finalidade de

localizar os pontos de tiro e os pontos de registro, que já tinham sido selecionados

nos mapas, assim como para efetuar os contatos com os proprietários e solicitar as

autorizações para a perfuração dos poços onde seriam efetuadas as explosões.

Nessa etapa preparatória que durou até agosto do mesmo ano, foram contratadas

as firmas de perfuração e perfurados os poços para as explosões.

Os poços nas três linhas foram perfurados com perfuratrizes de percussão, de

6” (polegadas) de diâmetro. Estes poços foram revestidos com um tubo de metal a

fim de evitar desabamentos do solo e dos sedimentos não consolidados, geralmente

encontrados nas camadas superficiais. Os dados dos furos para acomodar as

cargas de explosivos estão na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Dados das Explosões da Linha L3

Explosão Lat. Long. Localização (aproximada)

Profundidade Carga

EX31 -20,0489 -48,2192 Miguelópolis - SP 65 m 1.000 kg

EX32 -19,6906 -47,879 Uberaba – MG 55 m 800 kg

EX33 -19,4535 -47,5061 Santa Juliana –MG 41 m 600 kg

EX34 -19,1518 -47,193 Patrocínio – MG 41 m 500 kg

EX35 -18,826 -46,8317 Patrocínio – MG 41 m 600 kg

EX36 -18,6271 -46,4219 Patos de Minas – MG 55 m 800 kg

EX37 -18,4298 -46,0017 Patos de Minas – MG 65 m 1.000 kg

Page 47: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

34

Para o fornecimento de explosivos foi contratada a empresa IBQ - Indústrias

Químicas Ltda. Esta firma, além de fabricar o explosivo específico para este tipo de

experimento, possui uma fábrica em Minaçú, convenientemente localizada com

relação as nossas linhas L1 e L2 (Setor Central da Província Tocantins); entrega o

explosivo na forma de emulsão nos seus próprios tanques e no local onde será

utilizado; carrega os furos e ajuda a providenciar, perante as autoridades

competentes, as licenças para o transporte e utilização do explosivo.

Neste tipo de serviço, o bombeamento de emulsão até profundidades

relativamente grandes, foi também pioneiro para a IBQ, que necessitou adaptar o

seu equipamento com mangueiras mais compridas, portanto, mais pesadas, das que

normalmente são utilizadas. O explosivo utilizado foi uma emulsão bombeada

(IBEMUX), com densidade de 1,35g/cm3 reduzida quimicamente para 1,25g/cm3

(quanto menor a densidade, maior é a energia da explosão, a densidade mínima de

segurança é 1,1g/cm3) e velocidade de detonação de 5.200m/s.

A linha sísmica utilizada neste trabalho tem aproximadamente 300km de

extensão com pontos de registro separados a cada 2,5km, distribuídos ao longo de

estradas principais e secundárias. A cada 50km, aproximadamente, foi realizada

uma explosão.

4.3.2 Execução do Levantamento de Dados de RSP

Em 29 de agosto de 1998 começou a etapa de aquisição de dados do

experimento de refração sísmica profunda, em Minas Gerais. Nesse dia chegaram a

São Paulo os dois técnicos americanos, encarregados pela preparação dos

sismógrafos emprestados do programa PASSCAL e pelo controle da hora de origem

e execução das explosões.

Page 48: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

35

Foi alugada uma casa na cidade de Santa Juliana, localizada na porção

central desta linha, que foi utilizada como Centro de Operações, onde foi instalado

um pequeno laboratório eletrônico para a preparação dos sismógrafos e dos enlaces

de telemetria. No mesmo dia, seis veículos transportaram os quase 4.000 kg de

equipamento, a maior parte no caminhão F4000, e 15 membros participantes

provenientes de São Paulo (incluindo os dois técnicos americanos). No dia seguinte,

se juntaram ao grupo, quatro participantes do SIS/UnB trazendo dois veículos, e um

dia depois chegou um engenheiro eletrônico do IAG/USP, trazendo outro veículo.

Posteriormente, no final da semana seguinte, se juntaram ao grupo três alunos do

Curso de Graduação em Geofísica do IAG/USP.

Os primeiros dias, depois da chegada a Santa Juliana, foram utilizados na

preparação do equipamento, para recarregar as baterias dos SGR, na verificação de

funcionamento dos vários equipamentos e principalmente para o treinamento dos

participantes na instalação dos sismômetros e operação dos sismógrafos SGR e os

do IAG/USP. A segunda base para as medidas de GPS foi instalada no ponto central

da linha (na sede da fazenda onde seria realizada a explosão EX34).

A equipe da IBQ, empresa que forneceu os explosivos, sofreu um

contratempo na estrada logo depois que saiu de Curitiba (PR), o que resultou em um

atraso de dois dias no cronograma de aquisição de dados desta linha.

Os 120 pontos de registro desta linha foram divididos em seis porções de 20

pontos cada. Foram formados seis grupos, de duas ou de três pessoas, para atender

às seis porções dessa linha, que incluia: o reconhecimento da posição de cada

ponto, inclusive o ponto de explosão que estivesse localizado nessas porções da

linha; procurar locais apropriados e seguros onde seriam instalados os

equipamentos sismográficos, inclusive solicitando permissão dos proprietários do

Page 49: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

36

terreno, se necessário, no dia anterior ao das explosões; instalar os sismômetros,

efetuando a leitura das coordenadas do ponto do sismômetro com um dos

receptores GPS e no dia das explosões instalar os sismógrafos correspondentes.

Além desses seis grupos, foram designados três grupos para efetuar as explosões e

um grupo para administrar a utilização dos receptores GPS, para armazenar e

processar esses dados, e para instalar as bases GPS, que serviriam de referência

para a localização precisa de cada ponto ocupado na linha sísmica, através do

método diferencial.

Os sismógrafos foram testados e programados para operar automaticamente

durante o registro das 7 explosões, que deveriam ser detonadas na mesma

madrugada. A detonação das explosões durante o período da madrugada se faz

necessária, para evitar o ruído provocado pelo tráfego nas estradas e pelo ruído

cultural das cidades e povoados próximos aos pontos de registro. Os SGRs são

registradores digitais, que utilizam fita magnética com memória de 300Kb e

capacidade para registrar 16 janelas de tempo de aproximadamente 80s cada, com

uma amostragem de 200a/s. Os SGR foram programados de modo que as janelas

fossem acionadas quatro segundos antes dos horários previstos para as explosões,

com uma duração de 60s ou de 90s, de acordo com a distância dos registradores

aos pontos de tiro. Os SGRs possuem um relógio interno que são ajustados

automaticamente, utilizando os relógios padrão (master clocks), antes e após as

explosões, para o cálculo da deriva dos relógios. Os sismógrafos SSR-1 do

IAG/USP, possuem uma memória de 2Mb, que permitiu serem programados com a

mesma quantidade e duração, das janelas dos SGR, para o registro de até seis

canais e também com 200a/s. Os sismógrafos Pragmatica, além de serem menos

sensíveis que os sismógrafos mencionados acima, possuem menos memória (1 Mb),

Page 50: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

37

de modo que não foi possível programá-los com o mesmo número de janelas que os

anteriores, desse modo foi necessário utilizar dois destes sismógrafos em dois

pontos de registro.

No total, foram programadas 16 janelas, em cada registrador, para as sete

explosões desta linha. Sete janelas para abrir nos tempos prefixados, outras sete de

reserva, uma para cada explosão com uma diferença de 40 minutos, entre a janela

inicial e a janela de reserva. Além dessas 14 janelas foram programadas mais 2

janelas para o dia seguinte, em horários semelhantes às primeiras janelas da noite

anterior, como previsão para qualquer motivo de falha na tentativa de detonação das

explosões. A programação das janelas para a linha L3 é apresentada na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Programação dos tiros da linha L3 nas madrugadas dos dias 6 e 7 de

Setembro de 1998

GMT Hora Local Pontos de Tiro Dia Juliano

03:00 00:00 1 (EX31) 250

03:10 00:10 7 (EX37) 250

03:30 00:30 4 (EX34) 250

03:40 00:40 1 alternativo 250

03:50 00:50 7 alternativo 250

04:10 01:10 4 alternativo 250

05:00 02:00 2 (EX32) 250

05:10 02:10 6 (EX36) 250

05:40 02:40 2 alternativo 250

05:50 02:50 6 alternativo 250

07:00 04:00 3 (EX33) 250

07:10 04:10 5 (EX35) 250

07:40 04:40 3 alternativo 250

07:50 04:50 5 alternativo 250

03:00 00:00 Alternativo 251

03:10 00:10 Alternativo 251

Page 51: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

38

4.3.3 Posicionamento dos Pontos de Tiro e de Registro

Para a localização preliminar dos pontos das explosões e dos pontos de

registro foram utilizadas cartas topográficas com escala 1/100.000. Devido as cartas

serem muito antigas, a maioria das estradas principais e secundárias que foram

utilizadas como referências para o traçado das linhas sísmicas, tiveram seus cursos

originais modificados, de modo que em vários casos foi necessário fazer uma

reconstituição dos cursos atuais das estradas utilizadas. Em outros casos foi

necessário utilizar trilhas antigas, que são mostradas nas cartas, mas que não são

mais transitadas.

Nos levantamentos de RSP é imprescindível o conhecimento da localização

precisa dos sismômetros e das explosões. Essas operações foram facilitadas graças

a utilização de receptores GPS (Global Positioning System), que ajudaram a

encontrar os locais predeterminados nas cartas e a navegar ao longo das estradas

desejadas, efetuando a sua reconstituição de forma automática.

Para a determinação das coordenadas geográficas dos pontos de tiro e de

registro, foi utilizado o método diferencial com medidas de GPS. Neste método são

corrigidos os desvios intrínsecos do sistema GPS, através do registro simultâneo das

medidas GPS do ponto, cujas coordenadas estão sendo determinadas, e as

medidas GPS numa base, com coordenadas conhecidas, localizada a não mais de

150 km do ponto pesquisado. É necessário utilizar receptores GPS do mesmo

modelo e fazer medidas simultâneas de alguns minutos de duração. Assim, podem

ser determinadas as coordenadas de vários pontos no intervalo que o receptor GPS

base estiver funcionando. Desse modo é possível atingir uma precisão da ordem de

5 a 20 metros1.

1 O erro existente nas medidas com GPS é causado pela Selective Availability (S/A), que é a capacidade que o governo dos EUA tem de degradar os sinais dos satélites, através da transmissão de informações ligeiramente erradas na posição das órbitas e no tempo dos relógios dos satélites, para propósitos de segurança. Com o S/A ativado a imprecisão pode chegar a 100 metros, porém a experiência atual é de que esta imprecisão fica em torno de 40 metros. (Garmin,1993).

Page 52: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

39

Nos levantamentos das coordenadas dos pontos foram utilizados 7 receptores

GPS GARMIN, modelo 100 SRVY II, sendo possível levantar até 6 pontos das linhas

sísmicas simultaneamente (um fixo na base e 6 móveis no campo).

Para a linha L3, foi utilizada uma base em Santa Juliana e outra nas

proximidades do ponto central dessa linha (na sede da fazenda Quebra Anzol).

Essas bases foram transferidas a partir do ponto de triangulação conhecido, Vértice

Chuá, efetuando-se leituras simultâneas em ambos pontos, na base de referência e

na nova base, durante pelo menos uma hora, para se obter uma precisão melhor.

Os dados recolhidos no campo, armazenados na memória de cada receptor

GPS, eram diariamente transferidos a um microcomputador portátil (Laptop) para

liberar a memória do receptor GPS e para posterior processamento.

Page 53: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

5. ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS

5.1 Introdução

Em experimentos de refração sísmica profunda, onde uma de suas

características são linhas de grande extensão e um número relativamente grande de

sismógrafos que operam isoladamente, é díficil conseguir 100% de eficiência de

registro. Neste projeto obteve-se uma eficiência de registro em torno de 90%, pois

dos 120 sistemas instalados (sismômetros mais registradores) cerca de 10 não

funcionaram adequadamente por vários motivos (não abriram as janelas de registro

ou o mecanismo da fita magnética não funcionou).

A etapa de redução e análise preliminar dos dados iniciou-se em Fevereiro de

1999, pouco tempo depois do equipamento e dos dados terem chegado em Menlo

Park, CA - EUA, quando dois integrantes da nossa equipe estiveram no laboratório

sismológico do USGS, para transferir os dados das fitas originais de registro para um

meio e formato apropriados, que premitissem analisar estes dados nas

dependências do Laboratório de Sismologia do IAG/USP. Nesta ocasião, se obteve

uma visão mais realista da eficiência e da qualidade de registro dos dados das 3

linhas sísmicas.

Os registros obtidos pelo equipamento do IAG/USP já haviam sido

processados e previamente analisados utilizando o programa SAC (Seismic Analysis

Code, Tapley & Tull, 1991). Entretanto, estes registros eram de pouca

representatividade (10 % de total) e não permitiam a elaboração de modelos

preliminares, pois a maioria dos registros havia sido feita com o equipamento SGR.

Page 54: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

41

5.2 Qualidade dos Dados

Os dados chegaram ao IAG/USP de três formas distintas: via FTP, em fita

exabyte (backup do FTP) e em um disco JAZ contendo a cópia integral das fitas

utilizadas nos registradores SGR durante o experimento. A princípio esperava-se

trabalhar na linha sísmica de Minas Gerais (L3) com os dados das sete explosões:

EX31, EX32, EX33, EX34, EX35, EX36 e EX37 (de sudoeste à nordeste,

respectivamente). Entretanto, os dados de quatro explosões (EX32, EX33, EX35 e

EX36) aparentemente não foram registrados pelos sismógrafos SGR, que foram a

maioria dos equipamentos utilizados (90%). Todas as explosões foram registradas

pelos sismógrafos do IAG/USP.

Os dados originais que vieram no disco JAZ foram transferidos para um CD-

ROM, assim estes dados tornaram-se mais acessíveis, pois o IAG/USP não possui

unidade que lê discos JAZ. Entretanto, não foi possível analisar estes dados, devido

ao fato do IAG ainda não possuir o software necessário para ler os dados

registrados originalmente nos sismógrafos SGR.

Devido a tudo isso, resolveu-se trabalhar com os dados das três explosões

restantes: tiros das extremidades e o central (EX31, EX37 e EX34, respectivamente).

Além disso, estes dados não apresentam uma boa qualidade, por exemplo, os

dados dos tiros das extremidades têm uma qualidade pobre para os pontos de

registros com distâncias superiores a 200 km. Em particular, os dados da explosão

EX37 tem sinais mais fracos que os da explosão EX31.

Para explicar a possível falta dos dados nos sismógrafos SGR nas quatro

explosões mencionadas acima e a qualidade pobre dos dados registrados nas

outras três explosões, apontam-se as seguintes prováveis causas:

Page 55: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

42

O primeiro problema, seria que os registradores teriam aberto suas janelas

num instante diferente da hora de origem das explosões que não foram registradas.

Isto poderia ter ocorrido porque os laptops que são utilizados para programar os

registradores SGR entraram em pane, logo no início do experimento, por problemas

técnicos no cabo de transmissão de dados do laptop para o SGR, que queimava a

placa do laptop. Dos quatro laptops que foram levados para o experimento, dois

ficaram permanentemente danificados e a situação só não ficou pior porque o

problema foi descoberto e sanado pelos engenheiros eletrônicos do IAG/USP que

faziam parte da nossa equipe. Dessa forma o experimento pôde continuar nesta

linha e nas linhas de Goiás que foram executadas nas semanas seguintes. Tudo

indica que os registradores funcionaram normalmente nas linhas em Goiás, por isso

deduzimos que o problema técnico foi resolvido. Entretanto, com toda a agitação

causada pela demora para resolver os problemas técnicos na linha em Minas

Gerais, poderia ter ocorrido falha humana na programação da hora de abertura das

janelas dos SGR.

O que explicaria o segundo problema, ou seja, a qualidade pobre dos dados

registrados, seria a carga insuficiente de explosivo nos poços e a qualidade do meio

onde foram perfurados os poços, com maior quantidade de sedimentos

inconsolidados, comparado com as linhas de Goiás, os quais não teriam

apresentado uma boa coesão para os tiros. Esta causa afeta, principalmente, os

tiros das extremidades, pois a qualidade do sinal sísmico diminui rapidamente a

medida que os pontos de registro se afastam da fonte. As características geológicas

da região também podem ter influenciado na atenuação rápida dos sinais, pois a

mesma quantidade de explosivos foi utilizada nas linhas de refração sísmica no

estado de Goiás e foram registrados ótimos sinais sísmicos ao longo de toda a

Page 56: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

43

extensão das linhas, principalmente na L1 (de São José do Araguaia até Minaçu,

norte de Goiás).

No decorrer do processamento dos dados surgiram algumas dúvidas a

respeito das coordenadas geográficas de algumas estações de registro e de um

ponto de tiro. As dúvidas apareceram durante o processamento e análise dos sinais

sísmicos. Alguns pequenos erros poderiam ter sido introduzidos durante o cálculo

das coordenadas dos pontos com o software do GPS que utiliza o método DGPS

(Differential GPS). Este cálculo é executado para se obter uma coordenada mais

precisa, porém durante este procedimento são utilizados diversos parâmetros

definidos pelo usuário, portanto havia um certo temor em terem sido calculadas

coordenadas com uma imprecisão maior que 20 metros, definido como erro máximo

aceitável na posição dos pontos de registro neste experimento, ou seja,

correspondente a 0.002 s na leitura do tempo nos sismogramas. Deste modo, a

integridade da leitura de tempo é mantida até a segunda casa decimal e é

compatível com a precisão na leitura do tempo devido a amostragem utilizada, como

veremos mais adiante (Seção 5.3.1).

Durante o estágio de campo do experimento, alguns pontos tiveram que ser

ocupados novamente com o GPS, devido aos dados originais não permitirem o

processamento diferencial pela insuficiência de satélites registrados. Em alguns

casos não houve tempo suficiente para verificar se esse problema teria sido

resolvido, de modo que alguns destes pontos tiveram que ser re-ocupados. Por este

motivo retornou-se para a região do experimento a fim de medir-se novamente a

posição dos pontos em que as coordenadas não correspondiam aos tempos lidos.

Apesar de ter passado aproximadamente um ano após o experimento conseguimos

desta vez determinar com uma boa precisão a localização dos pontos que haviam

Page 57: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

44

sido ocupados na época do levantamento de dados. Estas novas coordenadas

foram confirmadas nos mapas e através das leituras dos sinais sísmicos.

Foram elaborados alguns testes com os aparelhos de GPS (inclusive no

próprio terraço do IAG) e trocadas algumas informações com a assistência técnica

destes aparelhos, desse modo ratificou-se que o erro estimado para cada

coordenada utilizando o método DGPS, era inferior a 10 metros, segundo o que a

assistência técnica havia informado.

5.3 Processamento dos Dados

5.3.1 Padronização dos Arquivos

Os dados foram convertidos, no USGS de Menlo Park, EUA, do formato

utilizado pelos registradores SGR para um arquivo único com os dados de todas as

explosões, no formato SEGY, que, por sua vez, é convertido automaticamente pelo

pacote SU (Seismic Unix; Stockwell, 1999) para o seu próprio formato. Um arquivo

único, para cada linha sísmica, com todas as explosões, seria muito grande e nada

prático para ser trabalhado. A primeira providência foi dividi-lo em sete partes, uma

para cada explosão com 107 sismogramas (registrados nos SGRs), perfazendo um

total de 707 traços no caso da linha L3, depois de tirar os sismógrafos que não

operaram direito, porém incluindo todas as 7 explosões (101 registros em SGR de

cada explosão) que deveriam ter sido registradas. Posteriormente, foram atualizados

os cabeçalhos dos traços, neste processo são inseridos os campos com

coordenadas, nomes e números das estações e hora origem. Este processo é

relativamente lento por causa do volume de dados e do tempo gasto para a

conferência.

Page 58: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

45

Os dados registrados nos sismógrafos SGR tinham um formato de

digitalização de 500 amostras por segundo (a/s). Durante a conversão destes dados

para o formato SEGY, eles foram decimados numa proporção de 1/3 que resultou

numa nova amostragem de 166,67 a/s. O procedimento de decimação foi necessário

devido ao formato utilizado nos Estados Unidos, para transportar os dados das fitas

originais para o disco rígido dos computadores de processamento.

A análise dos dados no IAG/USP, iniciou-se com o pacote SU devido ao

volume de dados e a característica deste programa de facilitar a visualização de

seções sísmicas com um grande número de dados. Entretanto, quando começou a

etapa de identificar as primeiras chegadas e aplicar os filtros e ganhos do SU,

sentiu-se uma certa dificuldade em utilizar este pacote porque não era possível

melhorar a qualidade dos traços na seção sísmica de uma forma geral. Foi

contatado o autor do pacote SU, Dr. John Stockwell, que aconselhou que fosse

adquirida (por download) a versão beta do programa, que estava sendo

desenvolvida, por essa possuir uma rotina de normalização de dados, que

possivelmente ajudaria visualizar os dados de uma forma mais clara. Esta versão foi

adquirida, compilada e utilizada. De fato, a visualização dos dados das explosões

EX31, EX34 e EX37 melhorou ligeiramente, mas não o esperado (ver Figuras 5.1,

5.2 e 5.3). Foi nesta fase que decidiu-se abandonar as quatro explosões (EX32,

EX33, EX35 e EX36) que não apresentavam sinais na análise inicial e trabalhar

somente com os dados dos tiros extremos e central.

Page 59: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

50100150200250300

50 100 150 200 250 x (km)

t (s)

Figura 5.1 - Seção Sísmica da Explosão EX31.Observar os sinais chegando em 0 km

ao redor de 4 segundos, 50 km em 10 s e assim sucessivamente ( ).

46

Page 60: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

5.2

-S

eção

Sís

mic

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aE

xp

losão

Ex34,co

mo

rig

em

em

0km

esin

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cla

ros

até

-70

km

(Su

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este

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+50

km

(No

rdeste

).

x(k

m)

t(s)

47

Page 61: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 5.3 - Seção Sísmica da Explosão Ex37, mostrando sinaisaté aproximadamente 50 km a partir da origem.

250 200 150 100 50 x (km)

t (s)

48

Page 62: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

49

Apesar do SU facilitar na análise preliminar e a construção de seções

sísmicas que permitem uma visualização geral dos dados e identificar as diferentes

inclinações indicadas pelas primeiras chegadas que correspondem às camadas

existentes no subsolo, achou-se melhor, devido a qualidade pobre dos sinais na

linha L3, analisar cada traço correspondente a um ponto de registro de forma

individual utilizando o programa SAC, que já se encontrava disponível para utilização

no Laboratório de Sismologia do IAG/USP. Ambos pacotes de programas são

similares em termos de recursos operacionais, embora o SAC, mais antigo, não

apresentar o mesmo grau de interatividade do SU, é mais eficaz para tratar os traços

sísmicos individualmente (ver Figuras 5.4, 5.5 e 5.6). A maior parte da análise dos

dados foi feita com o programa SAC (o SU foi utilizado para visualização conjunta

das seções). Para o modelamento preliminar foi utilizado o programa TVEL e para o

modelamento final o pacote de programas SEIS (Cerveny, 1977).

Os registros obtidos com o equipamento do IAG/USP (registradores SSR1 e

Pragmática), foram transformados para o formato SAC com uma amostragem de

200a/s, diferente da amostragem dos traços dos dados dos registros nos SGR que é

166,67a/s. Por este motivo foi preciso uniformizar a amostragem e o tamanho dos

registros de todos os traços sísmicos.

Para colocar todos os dados na mesma amostragem foi trabalhoso porque os

dados dos SGR precisaram ser interpolados e depois decimados, sendo que cada

passo foi monitorado afim de minimizar o erro cometido com estas operações. Foi

necessário converter os arquivos no formato do SU para o formato do SAC.

Page 63: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

AmplitudeDistância

Tem

po

(s)

Fig

ura

5.4

-R

eg

istr

od

om

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tem

po

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ualizad

on

oS

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a)

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oS

U(a

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o).

-

L31001

L31001

50

Page 64: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 5.5 - Sismogramas dos três primeiros registros da Ex31 visualizados no programa SU.

Tem

po

(s)

Posição

51

Page 65: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

5.6

-O

sm

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os

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Fig

ura

5.5

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SA

Cm

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ão

).

Tem

po

(s)

Amplitude

52

Page 66: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

53

Não existe uma rotina que faça isso automaticamente (de SAC para SEGY e

de SEGY para SU existe uma rotina) de modo que foi necessário transformar os

arquivos do SU (ou binário) em ascii e de ascii para SAC, pois o SAC possui uma

rotina que transforma os dados das amplitudes que estão em formato ASCII para o

seu próprio formato, ficando a edição dos cabeçalhos para ser feita manualmente.

Também foi necessário dividir os arquivos com 101 registros do SU em arquivos

com registros individuais.

Para dividir estes arquivos e convertê -los para ASCII foi elaborado um

programa escrito em UNIX compatível com o programa SU. Este programa além de

otimizar a rotina de conversão também evita a possibilidade de erro de trocar a

posição de algum registro na linha, já que o corte e a nomenclatura dos arquivos é

automática. Ao transformar os arquivos de binário para ascii foi observado que neste

processo era criado um certo ruído no início dos arquivos, provavelmente devido aos

cabeçalhos, isto foi observado nos primeiros testes realizados para avaliar se esta

conversão seria possível sem perda na qualidade dos dados. Este problema foi

resolvido removendo esses pontos problemáticos criados no início dos arquivos.

Com todos os arquivos separados individualmente e colocados em formato

SAC, começou-se o processo de igualar o tamanho dos arquivos (número total de

amostras) e o intervalo de tempo entre as amostras registradas (∆t, em segundos)

dos arquivos vindos do SU e daqueles que já estavam em formato SAC.

O primeiro passo foi igualar os intervalos de amostragem (∆t). Os registros do

IAG (aqueles que já estavam em formato SAC) possuem um ∆t de 0,005s (200a/s) e

os registros dos SGR (os que estão em formato SU) possuem um ∆t de 0,006s

(166,67a/s).

Page 67: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

54

Como a quantidade de pontos de registro efetuados com os sismógrafos do

IAG/USP é menor, o ideal seria converter estes sismogramas para a mesma

amostragem dos dados provindos dos registradores SGR. Ou seja, passar os dados

com ∆t 0,005s e 17920 amostras, correspondentes a uma janela de 89,6 segundos

de registro, para o mesmo ∆t e a mesma quantidade de amostras dos dados

registrados nos SGR (∆t 0,006s e 16001 amostras, correspondente a uma janela de

96s).

A solução seria interpolar os registros dos IAG/USP para 500a/s ou 1000a/s e

depois decimá-los por 3 ou por 6 (isto é, dividir o número de amostras por 3 ou por

6), pois não é possível fazer uma decimação por um valor não inteiro. Como o SAC

não informa se aplica filtros para esta tarefa, poderia ocorrer na interpolação um erro

de deslocamento do traço em tempo, isto é, o traço ficaria com a mesma forma em

amplitudes, porém com uma certa defasagem de tempo em relação ao arquivo

original. Para a decimação este problema não preocupou, pois, para esta tarefa o

SAC automaticamente aplica um filtro afim de evitar esta migração. Foram testadas

duas alternativas: a primeira, interpolar diretamente do ∆t de 0,005s (200a/s) para

0,002s (500a/s) e decimar por um fator 3, e a segunda, interpolar de 0,005s (200a/s)

para 0,001s (1000a/s) e decimar por um fator 6. Nenhuma dessas opções foi

possível pois o SAC possui um limite máximo no número de pontos criados na

interpolação dos registros e este limite era inferior ao necessário para fazer a

decimação. Por exemplo:

Amostras no arquivo inicial do SAC

Amostras necessárias após a interpolação

Número máximo de amostras permitidas pelo SAC

17920 (∆t 0,005s) 96006 (∆t 0,001s) 85595

48003 (∆t 0,002s) 44798

Page 68: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

55

Esses números de amostras eram necessários porque dividindo-se 96006 por

6 (ou 48003 por 3) obtém-se 16001 amostras que é o número de amostras dos

registros em formato SU. Mesmo sabendo-se que os arquivos do SU possuem 4

segundos de registro antes da hora origem das explosões, de nada adiantaria cortar

esses 4 segundos e interpolar porque mesmo assim o número de amostras

permitidas pelo SAC seria insuficiente, já que neste caso os registros necessitariam

de 92006 (> 85595) para ∆t de 0,001s e de 46003 (> 44798) para ∆t de 0,002s.

Devido a essa limitação decidiu-se converter todos os arquivos dos

sismógrafos SGR que estavam no formato SU, e que já foram convertidos para o

formato SAC, para a mesma amostragem de 0,005s dos registradores do IAG/USP.

Depois do intervalo de amostragem ter sido igualado em todos os arquivos foi

necessário igualar também o número total de amostras, já que os arquivos do IAG

eram mais curtos e os dos SGR além de mais curtos iniciavam 4 segundos antes de

cada explosão. A solução foi a de remover os 4 segundos iniciais dos arquivos dos

SGR e cortar os segundos finais de todos os arquivos, de modo que ficaram com a

mesma hora de início de registros e com o mesmo número e intervalo de amostras

(17120 pontos, 200a/s, 85,6 segundos de registro), sem a perda de dados.

5.3.2 Modelos Preliminares

O estágio de leituras das fases começou pela explosão EX31, extremidade

sudoeste da linha, que havia sido tentada no ambiente SU, foi melhor sucedida no

ambiente SAC, pois tem-se a possibilidade de visualizar traço a traço com uma

definição melhor que a do SU, e deduzir melhor que filtro de freqüência aplicar para

identificação das fases. Também, pode-se comparar o traço filtrado com o original

mais facilmente e ter-se uma idéia de como se comporta o filtro observando se o

Page 69: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

56

filtro enfatiza ou atenua o sinal sísmico no traço, assim como comparar os traços

próximos de forma mais nítida que utilizando o pacote SU. (ver Figura 5.7)

A análise dos dados utilizando o pacote SAC é mais lenta que com o pacote

SU, porém é necessária devido a qualidade pobre dos dados da linha L3. A linha

sísmica foi dividida em duas seções: a Seção 1 entre as explosões EX31 e a EX34

(tiro direto, EX31-EX34, e tiro reverso, EX34-EX31), e a Seção 2 entre as explosões

EX34 e EX37 (tiro direto, EX34-EX37), cada uma com 150 km de extensão.

Para se obter uma avaliação geral das seções foram analisados no ambiente

SAC, os sismogramas de conjuntos de 5 em 5 pontos de registro para ver a

qualidade dos dados e o nível de ruído de fundo. Foram selecionados os registros

de melhor qualidade e os outros foram filtrados para tentar recuperar o sinal. Em

alguns casos os registros filtrados em freqüência, onde se esperava e não foi

possível identificar nenhum sinal, não foram incluídos na análise. Seguidamente, os

registros foram analisados individualmente e lidos os tempos das primeiras

chegadas e algumas fases secundárias mais claras. Esta rotina foi auxiliada por

planilhas criadas no Excel que eram preenchidas com os nomes das estações, as

distâncias e os valores das fases lidas (ver Anexo II). Este procedimento auxiliava na

observação do comportamento das chegadas das fases iniciais e também na

precisão da leitura dessas fases, pois embora o tempo dessas chegadas aparecesse

no monitor do computador com milésimos de segundo de precisão, no arquivo

gerado com o SAC esta precisão chegava somente até centésimos de segundo.

Com essas leituras e as coordenadas dos pontos de registro foram construídos

os gráficos caminho-tempo preliminares.

Page 70: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Tem

po

(s)

Amplitude

Fig

ura

5.7

-R

eg

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os

da

mesm

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ção

,o

rig

inale

filt

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ualizad

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no

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C.

Filtr

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an

da

de

15-3

0H

z

L34039

L34039

57

Page 71: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

58

No tiro direto EX31-EX34 da Seção 1, os dados permitiram leituras confiáveis

das primeiras chegadas, somente até os primeiros 100 km de distância. Na

seqüência, foram analisados, seguindo o procedimento acima referido, os registros

do tiro reverso EX34-EX31, onde se conseguiu leituras das primeiras chegadas até

perto do final da linha (140 km). Com esses dados foram elaborados os modelos

preliminares dos tiros direto e reverso da Seção 1 fazendo a regressão linear de

agrupamentos dessas leituras para o cálculo das velocidades e dos tempos de

intersecção (ver Figuras 5.8 e 5.9)

5.4 Interpretação e Refinamento dos Modelos

5.4.1 Generalidades

A condição fundamental para efetuar a análise dos dados que resulte numa

interpretação mais realística, nos experimentos de refração sísmica profunda, é a

precisão na determinação das coordenadas dos pontos de explosões e de registro,

bem como no registro da hora de origem das explosões afim de ter certeza de que

uma determinada fase de um registro, está chegando naquele instante e naquela

posição. Outra condição é a identificação correta da fase e a leitura precisa de seu

instante de chegada, que está diretamente relacionada à qualidade dos dados.

Para o refinamento preliminar dos modelos foi utilizado o programa TVEL.

Este programa possibilita a construção de modelos unicamente com camadas

horizontais e gradientes lineares de velocidade definido arbitrariamente de acordo

com as variações do modelo. Para a sua utilização é necessário criar um arquivo de

entrada contendo o modelo preliminar com as espessuras das camadas, suas

respectivas velocidades e as leituras efetuadas nos sismogramas registrados. As

Page 72: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

59

velocidades são obtidas nos gráficos caminho-tempo das seções sísmicas e as

espessuras das camadas são calculadas através de:

nn

n avx

t +=, onde ∑

=

=1n

1j j

jnjn v

icosh2a

Onde n é o número de camadas, tn e vn são o tempo de intersecção e a

velocidade na camada n, h j e vj são a espessura e a velocidade na j-ésima camada e

o

=

n

jjn V

Vi arcsen (Lei de Snell). Dado um modelo preliminar, o programa traça as

curvas caminho-tempo das ondas diretas, refratadas e refletidas desse modelo, e

mostra os pontos correspondentes às fases lidas. Pela característica interativa deste

programa, é possível ir modificando o modelo (espessuras ou velocidades das

camadas) até obter-se a coincidência das curvas caminho-tempo geradas no

programa com as leituras reais.

5.4.2 Resultados

No caso da linha L3, além do provável efeito da fonte de energia, que não

permitiu o registro de sinais claros ao longo de toda a linha sísmica, existiram outros

motivos que podem ter provocado, em alguns pontos de registro, uma deficiência

adicional que afetou a qualidade dos dados. Existem algumas lacunas nessas

seções que podem ter sido provocadas pela existência de ruído nas proximidades

de alguns pontos (veículos transitando perto desses pontos), ou pelas características

desfavoráveis do terreno onde foi instalado o sismômetro, ou até pelo mal

funcionamento do equipamento nesses pontos. Essas lacunas deixadas nas seções

sísmicas provocam uma imprecisão no cálculo da velocidade de propagação da

onda nos refratores afetados do modelo preliminar, o que dificulta a interpretação

Page 73: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

60

correta dos resultados. Foram utilizados os modelos preliminares dos tiros direto e

reverso da Seção 1 para a criação de dois modelos parciais refinados.

Além das velocidades determinadas, e das espessuras das camadas

calculadas nos modelos preliminares, utilizou-se também dados da literatura para

compor o modelo preliminar alimentado na entrada do programa TVEL. Por exemplo,

no setor da linha referente ao tiro direto, que se inicia sobre a Bacia do Paraná e

chega até a Faixa Brasília, sabe-se que a bacia possui camadas de baixa

velocidade. Estas camadas não podem ser percebidas diretamente através de

observações dos registros nas seções sísmicas, fato este que provoca imprecisão

nos valores obtidos para a profundidade das camadas subsequentes e faz-se

necessário a utilização de informações adicionais para a construção de um modelo

preliminar mais preciso. As informações sobre as velocidades superficiais e,

principalmente, a velocidade correspondente à camada de baixa velocidade foram

obtidas da tese de Higashi (1999). Já as informações sobre a estrutura da porção

nordeste da Bacia do Paraná foram obtidas de um trabalho publicado por Melfi et al

(1988).

Os modelos preliminares refinados foram conseguidos depois de várias

interações do programa TVEL. Nas Figuras 5.10 e 5.11 mostram-se as saídas do

programa TVEL correspondentes aos modelos do tiro direto e do tiro reverso da

Seção 1, respectivamente. Nas Figuras 5.12 e 5.13, são mostradas as seções

reduzidas dos tiros direto e reverso, respectivamente, onde estão indicados as

curvas caminho-tempo obtidas no refinamento dos modelos preliminares através do

programa TVEL.

Page 74: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

5.8

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urv

as

cam

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da

Seção

1(T

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6.0

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31

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0.0

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5km

/s

Quadra

dos

y=

0.0

09x

+0.2

047

R2

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86

V=5,7

km/s

Círculo

s

y=

-0.0

245x

+1.6

266

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=0.5

676

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3km

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Triângulo

s

y=

-0.0

057x

+0.7

253

R2

=0.2

324

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6,2

km/s

-2

-1,5-1

-0,50

0,51

1,52

01

02

03

04

05

06

07

08

09

01

00

11

01

20

13

01

40

15

0

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(km

)

t-X/6(s)

Page 75: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Fig

ura

5.9

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as

cam

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po

da

Seção

1(T

iro

Revers

o)

-V

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=6.0

km

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62

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-T

iro

Re

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sa

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0,0

27

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,03

11

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,95

87

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5,1

5k

m/s

Qu

ad

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do

s

y=

-0,0

05

3x

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,21

05

R2

=0

,90

98

V=

6,1

8k

m/s

Triâ

ng

ulo

s

y=

-0,0

25

1x

+1

,67

8

R2

=0

,99

75

V=

7,0

6k

m/s

-2-1012

01

02

03

04

05

06

07

08

09

01

00

11

01

20

13

01

40

15

0

Dis

tân

cia

(km

)

t-X/6(s)

Page 76: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

2.0

1.2

0.5

-0.3

-1.00 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

tempo (s) x dist.(km)

20

16

12

8

4

0

1.0 2.7 4.5 6.3 8.0

prof.(km) x vel.(km/s)prof.(km) x vel.(km/s)

Figura 5.10 - Modelo Teórico para a Seção 1 - Tiro Direto

63

Page 77: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 5.11 - Modelo Teórico para Seção 1 - Tiro Reverso

300 0 15060 90 1208642

18

24

30

12

0 3

26

1

0

-1

-2

tempo (s) x dist.(km)prof.(km) x vel.(km/s)prof.(km) x vel.(km/s)

64

Page 78: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

020

40

60

80

100

120

140

-2-1012

5.1

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/s

5.7

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/s

6.6

km

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7.2

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5.1

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1).

65

Page 79: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

14

01

20

10

08

06

04

02

00

-1012 -2

7.1

km

/s

6.2

km

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5.2

km

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5.1

3-

Seção

Red

uzid

ad

oT

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Revers

o(S

eção

1).

(t-/6.0)(s) D

Dis

tân

cia

(km

)

66

Page 80: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

67

Na Tabela 5.1 estão indicados os valores correspondentes aos modelos

preliminares refinados da Seção 1.

Tabela 5.1 – Modelos preliminares obtidos com o programa TVEL.

EX31-EX34 EX34-EX31

Camadas Prof. (km) V (km/s) Prof. (km) V (km/s)

1 0 2,0 0 2,0

2 0,06 5,1 0,06 5,2

3 0,4 4,2 0,8 6,2

4 0,9 5,7 8,5 7,1

5 5,4 6,6

6 9,8 7,2

Apesar do SU permitir a elaboração de seções sísmicas mais facilmente que

o SAC, as seções apresentadas estão sendo geradas no SAC, porque são mais

claras estética e qualitativamente, devido a qualidade pobre de nossos dados, como

se explicou anteriormente. O SAC possui uma rotina para gerar seções sísmicas,

mas também utilizou-se um programa em ambiente SAC (macro) cedido pelo Dr.

Martin Schimmel, pós-doutorando no IAG/USP, que após de serem realizadas

pequenas alterações, adaptou-se perfeitamente para o propósito de construir seções

sísmicas preliminares. (ver Figuras 5.12 e 5.13)

Esses modelos preliminares refinados não foram relacionados para obter-se

um modelo único, com camadas inclinadas e espessuras mais precisas, devido a

insegurança das leituras preliminares, além dos traços não serem claros ao longo de

toda essa seção e da presença da camada de baixa velocidade.

Page 81: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

6. MODELAGEM FINAL E INTERPRETAÇÃO

6.1 Introdução

Os problemas de propagação de ondas desempenham um papel importante

em vários ramos da Geofísica, entre os quais está o método de investigação do

campo das ondas elásticas dentro da crosta e do manto superior da Terra, cuja

estrutura é muito complicada. Em muitas regiões a velocidade das ondas sísmicas

muda consideravelmente em todas as direções, regiões estas que são de grande

interesse para estudos contemporâneos de Geodinâmica. Além disso, existem

descontinuidades estruturais nas camadas mais superficiais da Terra que

apresentam formas geométricas e propriedades físicas das mais complicadas.

Para estudar a propagação das ondas elásticas em estruturas complicadas

podem ser utilizados métodos analíticos de aproximação, tais como o método do

raio. Nas aplicações sismológicas este método foi utilizado inicialmente para

investigar principalmente a estrutura interna da Terra a partir das curvas de tempos

de percurso das body waves e para calcular raios e tempos de percurso teóricos, em

vários tipos de meio, para, finalmente, compará-los com os dados observados.

Uma das limitações na aplicação do método do raio é que dá resultados

aproximados, mesmo assim é o método que permite obter respostas aproximadas

para muitos problemas da propagação das ondas sísmicas de volume em meios

com modelos complicados. A grande utilidade do método de raio e, conjuntamente,

do pacote SEIS, é possibilitar a modelagem de meios lateralmente heterogêneos

com interfaces curvas.

Page 82: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

69

6.2 O Pacote SEIS

O pacote SEIS consiste em uma série de programas que auxiliam na

modelagem numérica de um campo de ondas sísmicas em estruturas de camadas

em duas dimensões, através do método de propagação de raios e da elaboração de

sismogramas sintéticos, que foi originalmente elaborado na Charles University,

Praga- Rep. Tcheca. (Cerveny & Psencik, 1988). Este pacote possui os programas

fontes abertos dando possibilidade de qualquer pesquisador alterá-los de acordo

com as suas necessidades, desse modo, com o passar dos anos é possível

encontrar várias versões desse pacote.

O pacote SEIS é constituído de seis programas. O programa principal

SEIS88, calcula as trajetórias dos raios, a partir de um modelo inicial, com seus

respectivos tempos de percurso e as amplitudes para a construção dos

sismogramas sintéticos. Os programas RAYPLOT, SYNTPL e SEISPLOT são

utilizados para construir os gráficos dos dados calculados no SEIS88, ou seja, eles

permitem principalmente a visualização dos modelos com o traçado de raios, as

curvas caminho-tempo e os sismogramas sintéticos. Estes programas possibilitam a

utilização da escala de tempo em tempo reduzido (Seção 2.5.1). Finalmente, os

programas SMOOTH e POLARPLOT tem por finalidade auxiliar na construção de

modelos de velocidade e para construir o diagrama de movimento de uma partícula,

respectivamente.

Para cada programa é necessário criar um arquivo de entrada. Nestes

arquivos de entrada são colocadas as informações básicas como o modelo

estrutural, grade de velocidades, posições dos registradores, escalas de tempo e de

distância para os gráficos dos modelos, densidade do meio e fator de qualidade,

entre as principais. Todos estes dados são colocados em arquivos formato ASCII,

Page 83: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

70

estruturados para que o pacote localize em cada posição do arquivo os valores que

deverão ser utilizados para determinado processamento.

Um ponto positivo do pacote de programas SEIS é que ele proporciona o

processamento de modelos relativamente complicados. Permite a elaboração de

modelos com interfaces inclinadas e curvas, regiões em forma de lente, camadas

com quinas, além de poder considerar gradientes verticais e variações laterais de

velocidades. A limitação numérica do programa, no caso da grade de velocidades é

de 1000 pontos para todas as camadas, consideradas no modelo, o que é suficiente

para descrever uma estrutura complexa. O traçado de raios, que está limitado a 400

pontos por raio, e o número total de estações de registro que está limitado a 99

posições. O limite de 400 pontos força-nos, algumas vezes, a reduzir a precisão do

traçado do raio (curvatura) ou ampliar o círculo de precisão de chegada do raio em

torno do registrador, para que haja uma convergência. O problema do número

máximo de registradores pode ser contornado diminuindo-se o número de

registradores concentrando-os nas regiões da maior interesse do modelo. No caso

dos modelos das Seções 1 e 2, estes problemas não chegaram a afetar tanto,

porque os raios tem uma distância menor para percorrer se comparados aos raios

do modelo para uma seção com 300 km. No caso da seção de 300 km de extensão

é necessário reduzir a amostragem dos raios e o número de posições de registro,

pois no nosso caso, existem mais de 99 posições de registro e os raios percorrem

trajetórias mais extensas. Os raios que excedem os 400 pontos são

desconsiderados automaticamente.

Outro ponto positivo deste pacote é a quantidade de documentos explicativos

(manuais) que ele possui, dando respaldo para os iniciantes e para quem deseja

alterar o seu código fonte.

Page 84: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

71

Para determinar os raios que chegam aos registradores é utilizado o método

de traçado de raios entre dois pontos (two-point ray tracing): o programa faz partir

um raio da fonte sísmica até determinado registrador e depois, se o raio atingir um

círculo ao redor do registrador com um diâmetro que é estipulado pelo usuário, faz o

caminho de volta até a fonte. Desta forma, o programa vai gerando raios com

distâncias próximas ao registrador até conseguir o raio mais próximo da posição do

registrador. Este raio é armazenado em um arquivo. Se não é obtido êxito em um

certo número de iterações (também determinado pelo usuário), ou se o raio passar

de 400 pontos, esta posição de registrador é desconsiderada, então o programa não

cria um raio para esta posição. O tempo de percurso para um determinado

registrador é obtido através de uma interpolação linear entre os tempos de percurso

dos raios mais próximos, em ambos os lados da posição do registrador em questão

e é utilizada a amplitude do raio mais próximo.

Quanto a distribuição de velocidades em cada camada, o pacote SEIS utiliza

a aproximação bicubic spline interpolation, que é a mais utilizada neste tipo de

modelamento. Esta aproximação consiste numa interpolação suave dos valores de

velocidade na interface (as primeiras e segundas derivadas são contínuas). Este

procedimento é utilizado quando é necessário efetuar uma interpolação em um

intervalo razoavelmente grande, dividindo este intervalo em intervalos menores e

utilizando polinômios de graus baixos (geralmente do 3º grau) para fazer a

interpolação nestes intervalos menores. Finalmente, unem-se estes intervalos

menores, cada uma com a sua interpolação, voltando a formar o intervalo original

totalmente interpolado. Esse processo garante uma interpolação bem suave.

O programa também possui em sua documentação uma tabela de código de

erros que ocorrem com mais freqüência. Esta tabela é muito útil para direcionar a

Page 85: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

72

construção dos arquivos de entrada no caminho certo, entretanto muitas mensagens

não são diretas, por exemplo, se uma mensagem indica que o raio não consegue

alcançar a superfície o problema pode estar no gradiente de velocidade escolhido,

ou na posição da fonte, ou na escolha do intervalo dos ângulos dos raios que saem

da fonte, ou seja, é exigido um conhecimento razoável da lógica do programa para

identificar onde estariam as prováveis fontes de erro.

Este pacote, possui a opção de gerar automaticamente ondas diretas e

refletidas, do tipo P e/ou S. Também permite gerar manualmente ondas refletidas e

as diving waves através de um código simples definido por seus programadores.

Neste código indica-se o tipo de raio (refletido ou transmitido), o número de

elementos que os raios terão e por quais camadas passarão. Os códigos que iniciam

com 1 indicam reflexão e os que iniciam com 0 indicam transmissão, e o segundo

algarismo indica o número de componentes que o raio possuirá. Por exemplo, o

código 1 4 1 2 2 1, indica que o raio é refletido na segunda interface, tem quatro

elementos e passará duas vezes pela primeira e duas vezes pela segunda camada.

No caso das ondas “refratadas”, o código 0 1 1, indica que o raio será transmitido,

que tem um elemento e que passará pela primeira camada e pelas seguintes

camadas, dependendo da distância epicentral considerada, desse modo, o

programa gerará todos os raios com estas características que o modelo permitir.

Observando-se os exemplos de códigos de raios acima, pode-se perceber

que no caso do código 0 1 1, é mencionado que o raio é transmitido e não refratado,

o que significa que o programa não traça as refrações críticas seguindo as

interfaces, mas sim uma sucessão de raios que mergulham e curvam-se em várias

profundidades da mesma camada, devido ao gradiente de velocidade. Desse modo,

o código acima (0 1 1) é suficiente para o programa traçar todas os raios

Page 86: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

73

transmitidos possíveis para um determinado modelo, pois os raios iniciais (primeira

camada) são transmitidos para as demais camadas e, de acordo com os gradientes,

são curvados e redirecionados à superfície quando for o caso. Assim, ajustando-se o

gradiente de velocidade para um valor adequado obtêm-se raios que simulam com

precisão satisfatória as refrações críticas.

Outra limitação do pacote SEIS é que não mostra nos gráficos caminho-

tempo, as curvas correspondentes as ondas refletidas em conjunto com as diving

waves. As reflexões são mostradas somente nos sismogramas sintéticos.

Além de utilizar o programa SEIS, foram utilizados também diversos pacotes

de programas instalados nas estações de trabalho do Laboratório de Sismologia do

IAG/USP, tais como: GMT, para a construção das seções sísmicas e traçado das

curvas caminho-tempo teóricas nessas seções; XMGR, para visualizar o refinamento

dos modelos e alguns scripts elaborados em Unix por diversos autores, que

permitem transformar os arquivos do SAC em formato ASCII e utilizá-los no GMT.

Todos estes pacotes acima citados são de grande auxílio no processo de

modelagem, pois permitem uma visualização rápida dos traços em conjunto com as

linhas correspondentes às velocidades sísmicas.

6.3 Modelagem dos Dados

Iniciou-se com o programa SEIS dos dados relativos à Seção 1 (tiros direto e

reverso). O primeiro modelo considerado foi o modelo refinado obtido

preliminarmente com o programa TVEL. Desta vez, delimitou-se melhor a interface

relativa à Bacia do Paraná, considerando camadas inclinadas, e utilizou-se um

gradiente de velocidade mais realístico, 0.01km/s (Mooney et al., 1983), que o

utilizado anteriormente no programa TVEL. A partir deste modelo começou-se o

Page 87: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

74

aperfeiçoamento contínuo do modelo através da comparação entre os resultados

teóricos, gerados do modelo, e os dados reais obtidos no campo.

Para cada modelo (Seção 1) foram gerados o diagrama de raios, o gráfico

com as curvas caminho-tempo e os sismogramas sintéticos para fazer a

comparação com os dados reais. Como o programa SEIS88 salva em arquivos

ASCII as tabelas para a construção do gráficos, fica facilitada a leitura dos tempos

teóricos de chegada que o programa calculou para as fases principais. Desse modo,

pode-se comparar os valores calculados com os tempos de chegada observados

originais e ir modificando o modelo, sucessivamente.

Os modelos finais conseguidos, utilizando o pacote SEIS, estão apresentados

nas Figuras 6.1a e 6.1b, correspondentes, respectivamente, ao gráfico das curvas

caminho-tempo e ao traçado de raios do tiro direto da Seção 1. Na Figura 6.2 se

apresentam os sismogramas sintéticos correspondentes a esse tiro. Na Figura 6.3

são apresentados resultados semelhantes para a porção inicial da linha

correspondente ao tiro direto. Os resultados correspondentes ao tiro reverso da

Seção 1 são apresentados nas Figuras 6.4 e 6.5.

Nas Figuras 6.6 e 6.7 são apresentados, respectivamente, os gráficos

caminho-tempo/traçado de raios e os sismogramas sintéticos do tiro direto da Seção

2 (EX34-Ex37). O modelo apresentado nessas figuras foi extrapolado do tiro reverso

da Seção 1

Page 88: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

A.

B.

Figura 6.1 - A) Curvas Caminho-Tempo - Seção 1 - Tiro Direto - Modelo Final(Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

Figura 6.1 - B) Traçado de Raios - Seção 1 - Tiro Direto - Modelo Final

75

Page 89: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 6.2 - Sismogramas Sintéticos com ondas refratadas e refletidas - Seção 1 - Tiro Direto -Modelo Final (Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

76

Page 90: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

A.

B.

Figura 6.3 - A) Curvas Caminho-Tempo - Seção 1 - Tiro Direto - Tempo Reduzido (Vred = 6km/s)

Figura 6.3 - B) Traçado de Raios - Seção 1 (Região da Bacia do Paraná) - Tiro Direto

77

Page 91: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

A.

B.

Figura 6.4 - A) Curvas Caminho-Tempo - Seção 1 - Tiro Reverso - Modelo Final(Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

Figura 6.4 - B) Traçado de Raios - Seção 1 - Tiro Reverso - Modelo Final

78

Page 92: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 6.5 - Sismogramas Sintéticos com ondas refratadas e refletidas - Seção 1 - Tiro Reverso-Modelo Final (Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

79

Page 93: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

A.

B.

Figura 6.6 - A) Curvas Caminho-Tempo - Seção 2 - Tiro Direto(Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

Figura 6.6 - B) Traçado de Raios - Seção 2 - Tiro Direto

80

Page 94: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 6.7 - Sismogramas Sintéticos com ondas refratadas e refletidas - Seção 2 - Tiro Direto -(Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

81

Page 95: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

82

Foi elaborado um modelo teórico preliminar para a linha sísmica integral entre

as explosões EX31 e EX37, principalmente para ser utilizado como orientação na

identificação de algumas reflexões de ângulo amplo de refletores mais profundos

(20km e 40km), utilizando como base o modelo obtido na porção superficial da

Seção 1 e complementado com dados da porção mais profunda da crosta

publicados em trabalhos anteriores (Giese & Schutte, 1975; Pedreschi, 1989;

Alarcon, 1989; Assumpção, 1994). Nos registros originais da linha L3 aparecem

alguns sinais relativamente claros, com tempos superiores a 30 segundos e

distâncias superiores a 150 km, sugerindo tratar-se de prováveis reflexões de

camadas mais profundas. Através deste modelo preliminar tenta-se neste trabalho

identificar essas prováveis reflexões. Os resultados correspondentes a este modelo

são apresentados nas Figuras 6.8 (gráficos das curvas caminho-tempo e traçado de

raios) e 6.9 (sismogramas sintéticos). Nas Figuras 6.10 e 6.11 pode-se observar as

reflexões da camada cuja velocidade inicial é de 8 km/s (descontinuidade de Moho),

que não aparece nas figuras anteriores por uma limitação numérica do programa.

6.4 Resultados Finais

6.4.1 Seção 1

A Seção 1, de 150 km de extensão, entre os tiros EX31 e EX34, como foi dito

anteriormente, é importante porque cruza a interface da Bacia do Paraná com a

Faixa de Dobramentos Brasília. Durante o processo de modelagem e verificação dos

traços iniciais das primeiras chegadas, foram observadas fases secundárias

importantes que ajudaram a definir os parâmetros do modelo. Isso auxiliou na

reformulação da grade de velocidades, tornando-a mais realística.

Page 96: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

A.

B.

Figura 6.8 - A) Curvas Caminho-Tempo - Seção Total - Tiro Direto - Modelo Final(Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

Figura 6.8 - B) Traçado de Raios - Seção Total - Tiro Direto - Modelo Final

83

Page 97: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 6.9 - Sismogramas Sintéticos - Seção Total (ref. Figura 6.8) - Tiro Direto -Modelo Final (Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

84

Page 98: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

A.

Reflexão MOHO

Figura 6.10 - A) Curvas Caminho-Tempo - Seção Total - Tiro Direto - Modelo Final(Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

Figura 6.10 - B) Traçado de Raios enfatizando a reflexão na descontinuidade de MOHOSeção Total - Tiro Direto - Modelo Final

B. MOHO

85

Page 99: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Figura 6.11 - Sismogramas Sintéticos incluindo a reflexão na descontinuidade de MOHO -Seção Total - Tiro Direto - Modelo Final (Tempo Reduzido com Vred = 6km/s).

86

Page 100: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

87

Os resultados apresentados nas Figuras 6.1 a 6.3 foram obtidos através de

diversas tentativas de comparação entre os dados reais com os dados teóricos do

modelo, até conseguir-se a melhor aproximação entre esses dados, como se mostra

na Figura 6.12 (modelo final), que corresponde ao tiro direto da Seção 1. De forma

semelhante, para o tiro reverso da Seção 1, os resultados apresentados nas Figuras

6.4 e 6.5 foram obtidos através das comparações como as mostradas na Figura 6.13

(modelo final). Esse procedimento tornou-se de grande utilidade para a conseguir o

modelo final, considerando-se a qualidade pobre dos sinais desta linha de RSP.

Os tempos de percurso teóricos, dos primeiros 60 km do tiro direto da Seção

1 mostrados na Figuras 6.3, concordam, em grande parte, com os tempos de

percurso reais. Entretanto, não é possível identificar a reflexão da camada de baixa

velocidade nos sismogramas registrados devido a sua proximidade com outras fases

secundárias, apesar dessa camada ter sido incluída no modelo.

6.4.2 Seção 2

Nas Figuras 6.6 e 6.7 foram apresentados os resultados parciais do tiro direto

da Seção 2. O modelo apresentado nessas figuras foi extrapolado do tiro reverso da

Seção 1. Esse modelo não chegou a ser refinado, principalmente, devido a

qualidade dos dados (Figura 5.3) ser inferior aos da Seção 1 (Figuras 5.1 e 5.2).

6.4.3 Seção Total

Para o modelo de 300 km de extensão não foram elaboradas grades de

velocidades específicas. Foi utilizada a grade da Seção 1, extrapolando a penúltima

Page 101: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

88

camada dessa grade e para as camadas mais profundas foram utilizados dados

retirados de modelos existentes na literatura.

Neste caso, da mesma forma que nas seções anteriores, os resultados

mostrados nas Figuras 6.8 e 6.9 foram conseguidos de ajustes obtidos através de

gráficos como o da Figura 6.14, que mostra o resultado final dessa seção.

6.5 Interpretação dos Resultados

Os resultados obtidos para a Seção 1 não permitiram a elaboração de um

modelo único representativo dessa seção. Isto foi devido a baixa qualidade dos

sinais que não atingiram a extensão completa desta seção em ambos sentidos. Além

disso, a presença da Bacia do Paraná num extremo desta seção dificultou o cálculo

das profundidades devido a presença da camada de baixa velocidade sob a camada

de basalto. Por este motivo o modelo final proposto para esta seção é apresentado,

na Tabela 6.1, para os tiros direto e reverso.

Tabela 6.1 – Modelos finais para a Seção 1 (150km)

Seção 1 – Tiro Direto Seção 1 – Tiro Reverso

Camada Prof. (km) V (km/s) Camada Prof. (km) V (km/s)

1 0 2,00 1 0 2,0

2 0,086 5,15 2 0,060 5,69

3 0,350 4,60 3 0,860 6,25

4 0,650 5,75 4 16,5 6,7

5 4,00 6,07 5 41,5 8,00

6 20,00 6,70

7 40,00 8,00

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05

01

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TempoReduzido(s)-[tr=t-X/6]

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89

Fig

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6.1

2-

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Seção

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90

Fig

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6.1

3-

Aju

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mo

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para

Seção

1(t

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TempoReduzido(s)-[tr=t-X/6]

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Tiro

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91

Fig

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6.1

4-

Aju

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mo

delo

para

Seção

To

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iro

dir

eto

)n

op

rog

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-5-4-3-2-1012345

TempoReduzido(s)-[tr=t-X/6]

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Tota

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Da

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Curv

as

Teo

rica

s

Page 105: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

92

Na Tabela 6.1 as fases definidas com as primeiras chegadas estão diferen-

ciadas das definidas com chegadas secundárias (sombreadas), em ambos os tiros.

A Bacia do Paraná é a feição tectônica dominante na região do tiro direto da

Seção 1. Ela está presente nos primeiros 125 km da porção superficial SW dessa

seção, como pode ser observado na Figura 6.1, porém com mais detalhe na Figura

6.3. Os dados reais também mostram a presença dessa bacia, como se observa na

Figura 6.12. Na seção da Figura 6.16 aparece uma curva correspondente a reflexão

no topo da camada de baixa velocidade, porém esta fase não foi identificada nos

sismogramas reais.

As seções das Figuras 6.15 e 6.16, em escala de tempo normal e reduzido,

respectivamente, não mostram uma correlação clara entre os sinais registrados e as

curvas caminho-tempo teóricas, devido a baixa qualidade dos dados como se

explica anteriormente e a escala em que os dados são representados. Essa

correlação pode ser observada no gráfico da Figura 6.12 que mostra as mesmas

curvas caminho-tempo teóricas juntamente com as leituras das fases identificadas

nos sismogramas reais.

Os sismogramas sintéticos foram utilizados principalmente para identificar

algumas fases através do tempo de percurso teórico das mesmas, no entanto eles

também podem ser utilizados para correlacionar as amplitudes dos sismogramas

sintéticos e as amplitudes das fases reais observadas.

Nas Figuras 6.18 e 6.18 são apresentadas as seções em tempo normal e

reduzido para o tiro reverso da Seção 1, respectivamente. Nestas seções observa-se

a melhor qualidade dos sinais correspondentes a explosão EX34 que foi efetuada

num poço perfurado numa rocha competente (granitóide da Formação Araxá),

apesar de ter sido utilizada uma carga de 500 kg de explosivo, ou seja, a metade da

carga utilizada na explosão EX31. Outro fator que pode ter influenciado na qualidade

pobre dos sinais do tiro direto, além da falta de coesão no local do tiro, é a geologia

da Bacia do Paraná que teria atenuado os sinais da carga de 1000 kg da explosão

Page 106: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

93

EX31. O gráfico da Figura 6.13 também mostra uma correlação melhor entre os

dados teóricos e reais do que os dados mostrados nas seções das Figuras 6.17 e

6.18.

O gráfico da Figura 6.13 apresenta algumas peculiaridades que podem

corresponder a feições geológicas existentes em algumas porções desta seção. Por

exemplo, o tiro reverso apresenta, em torno dos 25 km a partir da origem, uma

distribuição de pontos formando uma curva com tempos de chegada mais rápidos

que a velocidade sugerida pelos pontos anteriores e posteriores a essa porção da

linha. Esta feição resultou na opção de uma velocidade média maior que a dos

pontos extremos, que talvez não seja a mais apropriada para esta camada.

Finalmente, a Seção Total (tiro direto) com dados da explosão EX31. Nas

Figuras 6.19 e 6.20, são mostradas as seções com tempo normal e reduzido,

respectivamente, juntamente com as curvas caminho-tempo teóricas

correspondentes ao modelo apresentado na Tabela 6.1 (tiro direto). Na seção da

Figura 6.19 foi possível observar algumas fases secundárias (prováveis reflexões)

em torno dos 150 km e dos 200 km e outras mais que ajudaram a definir um modelo

preliminar para a crosta sob a região de estudo. Estas fases podem ser verificadas

no gráfico da Figura 6.14, o modelo é apresentado na Tabela 6.2.

Tabela 6.2 – Modelo final para a Seção Total

Seção Total – Tiro Direto

Camada Prof. (km) V (km/s)

1 0 2,00

2 0,086 5,15

3 0,350 4,60

4 0,650 5,75

5 4,00 6,07

6 20,00 6,70

7 40,00 8,00

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94

Fig

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6.1

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Seção

Sís

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Seção

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01234567891

011

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00

15

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000-501

001-503002-508

003-509

004-510

005-511

006-512

007-513

008-515

010-518

011-533

012-521

013-522

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027-542

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030-SSR1

032-SSR1

035-552

036-553

037-554

038-558

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043-569

044-570

045-572

046-575

047-578

049-580

050-581

051-582

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054-SSR1

055-585056-SSR1

059-587 060-588

Tempo(s)

Dis

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(km

)

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95

Fig

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6.1

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Seção

Sís

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003-509

004-510

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006-512

007-513

008-515

010-518

011-533

012-521

013-522

015-525

019-534

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023-538

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030-SSR1

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039-559

040-560

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047-578

049-580

050-581

053-584

054-SSR1

055-585056-SSR1

059-587 060-588

t-X/6(s)

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96

Fig

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6.1

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023-538

025-540

027-542

029-543

032-SSR1

033-549

035-552

036-553

037-554

038-558

039-559

040-560

041-561

042-563

043-569

044-570

045-572

046-575

047-578

049-580

050-581

051-582 052-583

053-584

054-SSR1

055-585056-SSR1

058-SSR1059-587060-588

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97

Fig

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6.1

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Seção

Sís

mic

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tem

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019-534

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028-SSR1

029-543

030-SSR1

032-SSR1

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053-584

054-SSR1

055-585056-SSR1

058-SSR1059-587060-588

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Seção

Sís

mic

are

fere

nte

ao

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dir

eto

da

Seção

To

tal.

Tempo(s)

Dis

tância

(km

)

05

10

15

20

25

30

35

40

45

50

05

01

00

15

02

00

25

03

00

000-501001-503002-508003-509004-510005-511006-512007-513008-515

010-518011-533012-521013-522

023-538

025-540

029-543

032-SSR1033-549

035-552036-553

039-559040-560

043-569

047-578049-580050-581

053-584054-SSR1055-585 056-SSR1

058-SSR059-587 060-588

061-589062-590

066-594067-SSR1068-596

071-SSR3072-598073-599074-600075-601

077-603078-604079-605080-606 081-608 082-609

086-615087-616 088-617090-PRG1091-619092-620094-622

096-623

099-PRG4 100-625101-626102-627103-628104-629105-630106-631107-633108-641

110-643

115-656

Page 112: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

99

Fig

ura

6.2

0-

Seção

Sís

mic

a,em

tem

po

red

uzid

o,re

fere

nte

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tiro

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od

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eção

To

tal.

Dis

tância

(km

)

-5-4-3-2-1012345

050

100

150

200

250

300

000-501001-503002-508003-509004-510005-511006-512

008-515

010-518011-533012-521013-522

023-538

025-540

029-543

032-SSR1

035-552036-553

039-559040-560041-561

043-569

047-578049-580050-581

053-584054-SSR1055-585 056-SSR1

058-SSR059-587 060-588

061-589062-590

066-594067-SSR1068-596

071-SSR3072-598073-599074-600075-601

077-603078-604079-605080-606 081-608 082-609083-612

087-616 088-617090-PRG1

094-622095-PRG2096-623

100-625101-626102-627103-628104-629105-630106-631107-633108-641

110-643

115-656

t-X/6(s)

Page 113: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

7. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

O experimento de RSP apresentado neste trabalho é um experimento

pioneiro no Brasil, que além da dimensão da linha levantada (300 km), pela primeira

vez foi utilizado, de forma simultânea, um número relativamente grande (120) de

sismógrafos com registro digital, explosões próprias com controle da hora de origem,

garantia na precisão do tempo de origem e de chegada das ondas sísmicas e na

localização das coordenadas geográficas dos pontos.

A etapa de aquisição de dados foi bastante educativa, tendo em vista que ela

foi desenvolvida em um tempo bastante curto (em torno de 1 semana) quando foram

efetuadas diversas atividades, desde a familiarização com o equipamento

sismográfico SGR emprestado pelo Programa PASSCAL até executar as próprias

explosões. O resultado das atividades nesta etapa foi satisfatório considerando que

somente 10 % dos sismógrafos instalados não funcionaram por algum motivo.

No entanto, a quantidade de dados registrados não correspondeu a eficiência

conseguida na operação dos equipamentos. Um problema nos laptops de

comunicação com os sismógrafos provocou a perda de 4 explosões em todos os

sismógrafos SGR. Por outro lado, o sinal dos tiros registrados deixou muito a

desejar, principalmente as explosões efetuadas nos extremos da linha, que foram

disparadas em poços perfurados em terreno composto por sedimentos soltos e solo.

Com isso, o alcance dos sinais úteis dessas explosões, foi muito reduzido, tanto

assim que os sinais da explosão EX31 foram observados até pouco mais de 100 km

e na explosão EX37 não chegou a 70 km. No caso do tiro central (EX34) os sinais

registrados foram de melhor qualidade que os sinais dos tiros extremos, apesar da

carga desta explosão ter sido a metade daquelas, principalmente no sentido do tiro

Page 114: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

101

EX31 que chegou praticamente no final da linha. Uma conseqüência dessa má

qualidade de dados foi a dificuldade na modelagem e na obtenção de melhores

resultados.

Apesar dessas dificuldades foi possível, no presente trabalho, aplicar na

análise e processamento desses dados, pacotes de programas que são

normalmente utilizados em trabalhos de refração sísmica profunda no meio

acadêmico. O mérito deste trabalho está em ter utilizado, pela primeira vez, no

Laboratório de Sismologia do IAG/USP, os pacotes SU e SEIS na análise e

processamento de dados de refração sísmica profunda que até agora eram

utilizados somente para o processamento de dados de reflexão sísmica.

Os resultados obtidos neste trabalho, que estão apresentados no capítulo

anterior, mostram no extremo SE da Seção 1 a presença da porção NE dos estratos

superiores da Bacia do Paraná e da interface desta bacia com a Faixa de

Dobramentos Brasília. Durante a modelagem foi incluída a presença da camada de

baixa velocidade, com base em dados geológicos e geofísicos existentes, entretanto

ela não pode ser observada nos sismogramas reais. Esta camada é formada pelos

arenitos da Formação Botucatu que é subjacente aos basaltos da Formação Serra

Geral. Na porção NE da Seção 1, os resultados indicam a presença de um meio de

maior velocidade, que corresponderia as rochas metamórficas do Grupo Araxá.

Apesar dos dados não terem permitido uma modelagem satisfatória com base

nas primeiras chegadas ao longo de toda linha, foi possível interpretar um modelo

até profundidades correspondentes a MOHO utilizando a presença de algumas

fases secundárias. O modelo final resultou em camadas profundas que estão em

concordância com as propostas em modelos de trabalhos anteriores.

Page 115: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

102

Considerando o exposto acima, podemos concluir que os resultados obtidos

neste trabalho sobre a estrutura da crosta na região de estudo são confiáveis para

as camadas mais superficiais da Seção 1 e que os resultados propostos para

camadas mais profundas da crosta não são muito diferentes que os resultados

conseguidos em trabalhos anteriores. A metodologia para a análise e

processamento de dados de refração sísmica profunda, através dos pacotes SAC,

SU e SEIS foi aplicada da melhor forma possível e ficou implementada no sistema

de informática do Laboratório de Sismologia do IAG/USP.

Page 116: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

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Page 119: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

ANEXO I

Page 120: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Sismômetros e Rádio-transmissor para Telemetria.

Sismográfos Pragmática (azuis) e SSR1 (cinzas).

107

Page 121: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Catalogando fitas dos SGR’s.

Arranjo Telemétrico.108

Page 122: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Laptops laptopsMaster clocks

(grafite) para processamento de dados, (beges, ao fundo) para programaçãodos SGR’s e (azuis).

Master clock (azul) e Unidade de Tiro, com controle de tempo preciso.

109

Page 123: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Planejamento e localização dos pontosde registo para cada equipe.

Revestimento do poço após o tirocom um aparelho de GPS ao lado.

Acidentes! Parati (atolada) sendo rebocada pela Toyota.110

Page 124: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

ANEXO II

Page 125: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

112

Leituras referentes à explosão EX31

Distância (km) tempo (s) t - X/6 (s)

0,067 0,07 0,0588333

3,012 0,62775 0,12575

4,868 0,9878 0,176467

7,391 1,46995 0,238117

9,644 1,83005 0,222717

9,644 1,90705 0,299717

11,02 2,10195 0,265283

11,02 2,48175 0,645083

14,87 2,7403 0,261967

14,87 2,9163 0,437967

19,93 3,63625 0,314583

19,93 3,81025 0,488583

24,91 4,4675 0,315833

24,91 4,6185 0,466833

27,39 4,90245 0,33745

27,39 5,01145 0,44645

29,76 5,2959 0,3359

29,76 5,4339 0,4739

32,14 5,7314 0,374733

56,65 9,78334 0,341676

56,65 10,0943 0,652676

56,65 11,2623 1,82067

62,05 10,6983 0,356619

62,05 11,0503 0,708619

62,05 12,0683 1,72662

67,63 11,5531 0,28139

67,63 11,9061 0,63439

67,63 12,8611 1,58939

71,78 12,2239 0,260524

71,78 12,6799 0,716524

71,78 13,5169 1,55353

136,5 22,513 -0,237

136,5 22,777 0,027

136,5 24,504 1,754

138,3 22,859 -0,191

138,3 23,186 0,136

138,3 23,346 0,296

Page 126: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Distância (km) tempo (s) t - X/6 (s)

138,3 24,42 1,37

146 24,045 -0,288333

146 24,202 -0,131333

146 25,454 1,12067

146,4 24,088 -0,312

146,4 24,25 -0,15

146,4 25,583 1,183

150,8 24,773 -0,360333

150,8 24,914 -0,219333

150,8 25,082 -0,0513333

150,8 26,035 0,901667

150,8 26,246 1,11267

168,5 27,502 -0,581333

168,5 27,621 -0,462333

168,5 27,838 -0,245333

168,5 28,302 0,218667

168,5 28,684 0,600667

175,3 28,474 -0,742667

175,3 28,653 -0,563667

175,3 29,002 -0,214667

175,3 29,1 -0,116667

175,3 29,55 0,333333

198,8 31,912 -1,22133

198,8 32,075 -1,05833

198,8 32,414 -0,719333

198,8 32,569 -0,564333

198,8 32,833 -0,300333

270,9 40,933 -4,217

270,9 42,583 -2,567

270,9 42,989 -2,161

270,9 43,733 -1,417

113

Page 127: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Leituras referentes à explosão EX34

Distância (km) tempo (s) t - X/6 (s) Dist. 2

146,407 0,04 0,0245 0,093

144,814 0,37 0,089 1,686

142,949 0,71 0,118167 3,551

137,459 1,69 0,183167 9,041

135,76 1,97 0,18 10,74

133,39 2,36 0,175 13,11

130,85 2,75 0,141667 15,65

130,85 2,882 0,273667 15,65

127,26 3,34 0,133333 19,24

126,58 3,41 0,09 19,92

123,67 3,85 0,045 22,83

123,67 4,125 0,32 22,83

120,67 4,33 0,025 25,83

120,67 4,632 0,327 25,83

116,75 5,013 0,0546667 29,75

116,75 5,331 0,372667 29,75

114,18 5,423 0,0363333 32,32

114,18 5,783 0,396333 32,32

111,47 5,857 0,0186667 35,03

106,91 6,57 -0,028333 39,59

106,91 7,059 0,460667 39,59

101,88 7,396 -0,040667 44,62

101,88 8,004 0,567333 44,62

99,69 7,72 -0,081667 46,81

96,76 8,33 0,04 49,74

96,76 14,816 6,526 49,74

93,68 8,78 -0,023333 52,82

89,32 9,44 -0,09 57,18

86,85 9,87 -0,071667 59,65

81,84 10,708 -0,068667 64,66

74,26 11,928 -0,112 72,24

71,78 12,447 -0,006333 74,72

49,54 16,73 0,57 96,96

49,54 19,692 3,532 96,96

34,9 18,468 -0,132 111,6

34,9 18,778 0,178 111,6

31,6 18,946 -0,204 114,9

114

Page 128: REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA NO SETOR SUDESTE DA …

Distância (km) tempo (s) t - X/6 (s) Dist. 2

31,6 19,358 0,208 114,9

24,4 20,536 0,186 122,1

24,4 22,49 2,14 122,1

16,7 21,642 0,0086667 129,8

Distância do EX34 = 146.5 km

Dist. 2 -> Distância relativa ao ponto de tiro EX34, em km

115