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“A é compromisso de e responsabilidade ainda por aqueles que a .” saúde alta relevância mal conduzida desfrutam FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 128 • Nº 2.171 • Fevereiro 2010 D EUS , C RISTO E C ARIDADE R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749

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“A é compromissode eresponsabilidade ainda

poraqueles que a .”

saúdealta relevância

mal conduzidadesfrutam

F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 128 • Nº 2.171 • Feverei ro 2010D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

R$ 5,00

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 128 / Fevereiro, 2010 / N o 2.171

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:

Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:

Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 39,00

Número avulso R$ 5,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 35,00

Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mail: [email protected]

Editorial

Fazer

Entrevista: Josef Jackulak

Espiritismo ressurge em países da Europa Central

Presença de Chico Xavier

Missão do Espiritismo – Emmanuel

Esflorando o Evangelho

Apliquemo-nos – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

A Bíblia em esperanto – Affonso Soares

Seara Espírita

Espiritismo – marco de um novo tempo –

Juvanir Borges de Souza

Coragem e responsabilidade – Vianna de Carvalho

O primeiro – Therezinha Radetic

Chico Xavier e o ideal de União –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Bioética espírita – uma abordagem filosófica –

João Luiz Romão

A verdade de cada um – Carlos Abranches

Preparemos o amanhã feliz – Olympia Belém

Homem de Bem (Em louvor a Chico Xavier) –

Sebastião Lasneau

Em dia com o Espiritismo – Saúde e Espiritualidade

(Capa) – Marta Antunes Moura

Retorno a Pátria Espiritual – Jonas da Costa Barbosa

e Vanderlei Marques

Eventos espíritas na Alemanha e Espanha

Comemorações do Centenário de Chico Xavier têm

início em Pedro Leopoldo

Cristianismo Redivivo – História da Era Apostólica –

Ainda a Síntese Cronológica – Haroldo Dutra Dias

Inveja nos e entre os médiuns – Orson Peter Carrara

Aos Colaboradores

Paz no lar, paz no mundo! – Davilson Silva

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4 Reformador • Fevere i ro 201042

Editorial

1LUCAS, 10:25-37.2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. Rio de Janeiro: FEB2009. Cap. 15, item 1.3Idem. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.4JOÃO, 13:17.

estre, que farei para herdar a vida eterna?”, perguntou o doutor da lei aJesus, que devolveu a questão indagando: “Que está escrito na lei? Comolês?”. Este, de pronto, esclareceu que a lei determina: “Amarás ao Senhor,

teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todoo teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”. Ouvindo isto, Jesus afirmou:“Respondeste bem; faze isso e viverás”. O diálogo continuou, com o doutor da lei per-guntando: “E quem é o meu próximo?”. Jesus, então, narrou a Parábola do Bom Sama-ritano, a qual levou o doutor da lei a reconhecer que o “próximo daquele que caiu nasmãos dos salteadores” foi “o que usou de misericórdia para com ele”. Concluiu Jesus:“Vai e faze da mesma maneira.”1

Este diálogo do doutor da lei com Jesus, aqui resumido, destaca a importância, emnossas vidas, do verbo fazer, constantemente citado no Evangelho.

Em outra parábola, referindo-se aos justos, o Mestre afirma: “[...] todas as vezes queisso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que ofizestes”.2

O Evangelho é, para nós, consolação, orientação e bálsamo: demonstra a nossa imor-talidade, fortalece a nossa esperança e a nossa fé, mostra-nos o caminho a seguir, des-venda a bondade e a justiça de Deus junto a nós, mas deixa claro, também, que a felici-dade e a paz que pretendemos alcançar dependem, fundamentalmente, da nossa von-tade e da nossa ação direta na execução da Lei de Amor, que emana de Deus.

Na questão 642 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: “Para agradar a Deuse assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?” E osEspíritos superiores afirmam: “Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças,porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem”.3

(Negritamos.) Diante deste alerta, é importante permanecermos atentos para com asnossas tarefas na Seara Espírita, uma vez que poderemos estar fazendo tão-somenteuma pequena parte do bem que temos condições de fazer, sentindo, posteriormente, afalta do que deixamos de fazer.

Tem sido comum, nas reuniões mediúnicas, a manifestação de espíritas desencarna-dos que muito realizaram aqui na Terra, mas que lamentam não terem feito tudo quan-to podiam e deviam. Realmente, muitas vezes estudamos as leis que nos regem, reconhe-cemos e agradecemos a bondade divina, emocionamo-nos com os ensinos do Evangelho,mas não realizamos, plenamente, toda a cota de bem que poderíamos e deveríamos fazer.

Não é sem razão que o Bom Mestre insiste, no seu Evangelho: “Se sabeis essas coisas,bem-aventurados sois se as fizerdes”.4

É importante meditarmos sobre isto neste ano em que se comemora o Centenário deNascimento de Chico Xavier que, para nós, é um bom exemplo e uma boa referência.

“MFazer

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5Fevere i ro 2010 • Reformador 43

chegada do Consoladorao mundo, anunciado porJesus e enviado muitos sé-

culos após, por razões que hojepodemos compreender, inaugurao início de uma Nova Era para aHumanidade.

Reafirmando todos os ensinose exemplos deixados pelo Cristo,que não puderam ser entendidosquando o Mestre Incomparávelesteve na Terra, pela incapacidadedos homens de então, agora vive-mos um novo tempo, com consi-derável avanço dos conhecimen-tos humanos, reunindo e reafir-mando verdades antigas, ao ladode revelações novas trazidas pelaEspiritualidade superior.

Mas a presença do Consoladorentre os homens é também o mar-co de um novo tempo, em que o atual planeta de “expiações eprovas” se transformará em ummundo regenerado, conforme asprevisões que nos vêm como de-sígnios do Alto.

A regeneração de um mundohabitado por bilhões de Espíritosimperfeitos, como o nosso, embo-ra pareça impossível para muitospensadores e religiosos, é perfeita-mente admissível de acordo comas leis divinas, entre as quais a leido progresso.

Todas as leis de Deus, todos osensinos do Cristo, todos os escla-recimentos e novos conhecimen-tos trazidos pela Doutrina Espíri-ta, além das conquistas das ciên-cias e das realizações do bem, têmum sentido perfeitamente defini-do, que é a evolução em toda acriação divina.

O tempo necessário para o de-senvolvimento progressivo, sejade um Espírito, seja de um mun-do, é que é variável e de difícilentendimento por nós, em virtu-de de nossas limitações.

A Nova Era prevista para onosso mundo não é de fácilcompreensão, quando depara-mos, na atualidade, com tantas

incompreensões, guerras entrenações, violências, maldades eignorância no seio das socieda-des humanas, com a tendênciapara o mal em grande númerode criaturas.

Entretanto, na população daTerra, tanto de encarnados quan-to de desencarnados, vivendo emdiferentes esferas espirituais desteplaneta, encontram-se também,em proporção considerável, aque-les que já compreenderam e acei-taram as lições de Jesus, comocaminho que conduz ao conheci-mento da verdade e da vida.

São os que já sentem a neces-sidade da vivência do Bem e doAmor, reconhecendo a reencar-nação, enquanto necessária, co-mo meio e impulsora da evolu-ção e do progresso, individual ecoletivo.

A quantidade dessas criaturascresce sempre, tornando-se reco-nhecidas a Deus e ao Cristo, o Go-vernador espiritual deste orbe.

Espiritismo –marco de um

novo tempo

AJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

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Dentro dessas realidades decor-rentes das leis divinas, não se tor-na difícil compreender que, tantoos indivíduos quanto o mundo emque vivem, não permanecem está-ticos, mas evoluem sempre, em-bora não haja um prazo ou tempopreestabelecido para ser alcançadaa nova condição evolutiva, já queas causas determinantes do pro-gresso são variáveis.

Quais os objetivos do Espiri-tismo na Terra, identificado co-mo o Consolador Prometido?

Seria somente o de revelar aoshomens o mundo invisível dosEspíritos?

Ou o de tornar patente a comu-nicação entre “mortos” e “vivos”?

Ou o de trazer o conhecimen-to das leis naturais estabelecidaspor Deus, diante das quais o ho-mem toma conhecimento de sua

verdadeira natureza, da vidaeterna e das consequências dessasrealidades?

Sem dúvida que a Doutrina Con-soladora responde afirmativamen-te a todas essas indagações, masvai muito além, propondo-se a in-dicar aos homens o caminho desua redenção, roteiro que passapelos ensinos do Cristo de Deus epor sua Doutrina de Amor.

Assim, o Espiritismo visa tam-bém a transformação da Humani-dade, gradual e paulatinamente,através do progresso moral e inte-lectual dos indivíduos.

Para tanto, não basta a crençana existência dos Espíritos e a suacomunicação com os homens,mas torna-se necessária uma vas-ta programação intelecto-moral eeducacional, a ser desenvolvidaatravés de séculos.

Os desígnios da ProvidênciaDivina, visando o bem de to-dos, não têm prazo predetermi-nado para sua efetivação. Todos

sabemos das dificulda-des para se transfor-

mar os indivíduos re-beldes em criaturasfraternas.

A moral evangéli-ca, ou seja, os ensi-nos do Cristo sem os

desvios interpretati-vos das instituições hu-

manas, é o ponto essen-cial para o encontro de to-

dos que desejam um mundomelhor, onde o bem seja a preo-cupação permanente.

Assim, o Espiritismo cristão ehumanitário, na expressão deKardec, constitui-se como o sinale a âncora para uma nova era daHumanidade.

Com essas diretrizes aqui resu-midas, todo o mal será combati-do de forma constante, restandoaos seres rebeldes ao chamamen-to amoroso a transferência paraoutro mundo compatível comseus sentimentos.

O Evangelho de Jesus, entendidoà luz do Consolador por Ele envia-do para complementar seus ensinos,contém as verdades já conhecidase também previsões para o futuro.

O mundo contemporâneo émuito diferente daquele que osséculos e milênios deixaram paratrás, com seus usos e costumes ecom suas limitações pela falta deconhecimentos de que dispomos.

Torna-se instintivo e de fácil en-tendimento que o mundo futuroserá também diverso do atual, peloprogresso que se impõe como leinatural, embora possa haver estag-nações passageiras.

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Tudo obedece às leis imutáveisdo Criador, entre as quais a daevolução, nada havendo de mila-groso ou de sobrenatural.

Apenas não podemos calcularum tempo certo para as transfor-mações futuras, uma vez que elasdependem de fatores diversos quenão nos é possível prever.

Por isso é lógica e natural a in-formação da Espiritualidade deque a Terra, que é atualmente ummundo de expiações e provas, on-de imperam o orgulho, o egoísmo,os preconceitos e suas consequên-cias diversas, inclusive o fanatismoreligioso, que é uma contradiçãoevidente, se transformará um diaem um mundo ditoso, de regene-ração, no qual o mal, que prevale-ce em grande parte da população,será substituído pelo reinado dobem, como finalidade e preocupa-ção permanente de seus habitantes.

Para que ocorra essa transfor-mação prevista e esperada para aTerra, torna-se necessário que osEspíritos que a povoem, encarna-dos e desencarnados, aspirem evivenciem o bem.

Nesse caso, os rebeldes, inclina-dos ao mal, serão removidos paraoutros mundos compatíveis comsuas condições morais.

Essa é também uma decorrên-cia lógica que se coaduna perfei-tamente com a referida transfor-mação.

Todas essas previsões ocorrerãode forma natural, sem nenhumcataclismo que perturbe a ordemnatural das coisas.

Para isso, serão utilizadas as reen-carnações, tanto com a vinda de

Espíritos regenerados para a Ter-ra, como pela remoção dos incli-nados ao mal para outros mundos.

A época atual é de transição,iniciada com a chegada do Con-solador, com as novas revelações ereafirmação das lições do Cristo.

Tudo se fará gradualmente, deconformidade com as leis divinas,que Jesus interpretou e esclareceude forma perfeita, mas nem sem-pre entendidas pelos homens nassuas reais significações.

Criados para a eternidade, osEspíritos ainda imperfeitos, comoo são os que habitam este planeta,inclinam-se a julgar que suasideias, conhecimentos e crenças,de uma determinada época, ofe-reçam solução a todos os proble-mas, mesmo àqueles acima ealém de seus domínios, até quesurja uma retificação superior.

Exemplo dessa pretensão é a evo-lução das crenças religiosas. Hou-ve época em que praticamente to-da a Humanidade desconhecia averdade da existência de um Deusúnico, dedicando-se ao politeísmocomo convicção generalizada.

Com o decorrer do tempo, to-dos os povos desprezaram o cultoaos múltiplos deuses e reconhece-ram a unicidade do Criador, trazi-da pelos hebreus e confirmadapelo Cristo.

A Era Nova já se iniciou, em-bora não percebida pela grandemaioria da população terráquea,na qual predominam as religiõesimpregnadas de desvios e enga-nos interpretativos das antigasrevelações, o materialismo ex-presso nas organizações sociais e

nas ciências e o prazer cultuadoa qualquer preço pelas geraçõesnovas.

Mas o conhecimento da verda-de e da vida, indicado pelo Cristohá cerca de dois mil anos, com-plementado pelos novos escla-recimentos do Consolador, queEle prometeu e enviou, estão nomundo.

Compete aos próprios homensdespertarem para o sentimentoinato do bem, baseado nas verda-des reveladas pelo Cristo e pelooutro Consolador, o Espiritismo.

A mudança das mentalidades,com a aquisição dos conhecimen-tos novos, em substituição aos an-tigos, não é tarefa fácil, deman-dando tempo indeterminado,trabalho constante e divulgaçãodos novos valores, tudo auxiliadopelas novas gerações que chegamcom as reencarnações sucessivas.

Convencer Espíritos atrasados,que negam a existência de Deus ede qualquer poder superior ao quepodem perceber, opor-se às pro-pensões instintivas para as pai-xões inferiores e aos sentimentosantifraternos de ódio, de orgulho,de egoísmo, de cupidez, demandao cultivo da fé, da coragem e dapaciência, com confiança no po-der de Deus e nos ensinos e exem-plos do Mestre Jesus.

Essa é a tarefa de todos que játêm a consciência de que o Con-solador, o Espiritismo, é a senda, ocaminho que conduz à esperadarenovação, quaisquer que sejamos obstáculos a remover.

A Era Nova entre os homens po-de demorar, mas é uma certeza.

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uando o ser humano des-cobre o Espiritismo é to-mado por especial alegria

de viver, passando a compreenderas razões lógicas da sua existência,os mecanismos que trabalham emfavor da felicidade, experimen-tando grande euforia emocional.

Quando o Espiritismopenetra na mente e no

sentimento do ser hu-mano, opera-se-lheuma natural trans-formação intelecto--moral para melhor,

propondo-lhe radicalalteração no comporta-

mento que enseja a conquista demetas elevadas e libertadoras.

Quando o indivíduo mantémos primeiros contatos com a Dou-trina Espírita, vê-se diante de ummundo maravilhoso, rico de bên-çãos que pretende fruir, deixan-do-se fascinar pelas propostas ilu-minativas de que é objeto.

Quando o Espiritismo encon-tra guarida no indivíduo, logo selhe despertam os conceitos de res-ponsabilidade, coragem e fideli-dade à nova conquista.

Nem todos, porém, alteram aconduta convencional a que seacostumaram. Ao entusiasmoexagerado sucede o convenciona-

lismo do conhecimento sem asua vivência diária, aguar-

dando recolher conve-

niências e soluções para os pro-blemas afligentes, sem maioresforço pela transformação mo-ral. Não se afeiçoando ao estudocorreto dos postulados espíritas eneles reflexionando, detêm-se nasexterioridades das informaçõesque recolhem, nem sempre verda-deiras, tornando-se apenas bene-ficiários dos milagres que esperamlhes aconteçam a partir do mo-mento da sua adesão.

Com o tempo e a frequência àsreuniões, acomodam-se ao novoritualismo da participação semrealizações edificantes, ou entre-gam-se à parte da assistência so-cial, procurando negociar comDeus o futuro espiritual em razãodo bem e da caridade que acredi-tam estar realizando.

O conhecimento do Espiritis-mo de forma natural e conscientedesperta os valores enobrecidosda responsabilidade e da coragemindispensáveis à existência ditosa.

Todo conhecimento nobre li-berta o ser humano da ignorân-cia, apresentando-lhe a realidadedesvestida dos formalismos e dasilusões, na sua face mais bela esignificativa, por ensejar a con-

Q

Coragem eresponsabilidade

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quista dos valores legítimos quedevem ser cultivados.

O homem livre da superstição edos complexos mecanismos da tra-dição da fé imposta redescobre-se eexulta por compreender que é o au-tor de todas as ocorrências que lhesucedem, exceção ao nascimento e àdesencarnação, e mesmo essa, de-pendendo muito do seu comporta-mento durante a vilegiatura física,podendo antecipá-la ou postergá-la.

Adquire a responsabilidade mo-ral pelos atos, não mais seapoiando nas bengalas psi-cológicas de transferirpara os outros a razãodos insucessos que lheocorrem, dando lu-gar aos sofrimen-tos e suas inevitá-veis consequências.

Compreendeque uma excelen-te filosofia nãobasta para propor-cionar uma existên-cia feliz, mas sim avivência dos seus ensi-namentos, que se tornamresponsáveis pelo que ve-nha a ocorrer-lhe na área doseu comportamento moral.

É comum a esses adeptos preci-pitados, passado algum tempo,apresentarem-se decepcionados etristes, informando que espera-vam muito mais do Espiritismo eque encontraram pessoas confu-sas e perversas, insensatas e dese-quilibradas no seu Movimento.

Da alegria exagerada passam àcrítica contumaz, à maledicência,ao azedume.

Afinal, essa responsabilidadenão é do Espiritismo, mas daque-les que o visitam levianamente enão incorporam à vida espiritualos ensinamentos excepcionais deque se constitui a sã doutrina.

De igual maneira que esses neó-fitos não se preocuparam em con-seguir a autoiluminação o mes-mo sucedeu com outros adeptosque o precederam,acostumados que

estavam ao ócio espiritual, à le-viandade religiosa, aguardandosempre receber sem a menor preo-cupação em contribuir.

O Movimento Espírita não é oEspiritismo. O primeiro é consti-tuído pelos indivíduos, bons emaus, conhecedores e ignorantesdas verdades do mundo espiri-tual, ativos ou ociosos, que se de-

veriam integrar de corpo e almaao serviço de renovação interior eda divulgação pelo exemplo. Noentanto, para esse cometimento énecessária a coragem da fé, essarobustez de ânimo que enfrentaas dificuldades de maneira lúcidae clara, com destemor e espíritode ação, para remover-lhes osobstáculos e alcançar os patama-res mais elevados de harmonia ede bem-estar.

Em muitos, que permanecemna irresponsabilidade do com-

portamento e na falta decoragem para arrostar

as consequências dasua conversão ao Es-

piritismo, demo-rando-se na du-biedade, nas in-certezas que pro-curam não escla-recer, receandoos impositivos da

fidelidade pessoalà doutrina, insta-

lam-se as justificati-vas infantis para pros-

seguirem sem alteração,esperando que os Espíritos

realizem as tarefas que lhesdizem respeito.

Outros ainda, viciados na con-duta da inutilidade, esperam ter re-solvido todos os problemas de saú-de, família, economia, surpreen-dendo-se, quando convocados aosfenômenos existenciais das enfer-midades, dos desafios domésticose financeiros, sociais e profissionais,que desejavam não lhes ocorres-sem em decorrência da sua adesãoao Espiritismo…

9Fevere i ro 2010 • Reformador 47

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Só mesmo a mente insensatapode elaborar conceito dessamagnitude: a adesão a uma dou-trina feliz basta para que tudo lheocorra a partir de então, de ma-neira especial e magnífica!

O Espiritismo enseja a com-preensão dos fatores existenciais,dos compromissos que a cada qualdizem respeito, do esforço que de-ve ser envidado em favor da cons-trução do próprio futuro. Elucidaas situações dolorosas, explican-do as suas causas e oferecendo osinstrumentos para a sua erradica-ção, com a consequente construçãodos dias felizes do porvir.

Eis por que se impõe, logo apósa adesão aos seus postulados, depar com a responsabilidade da con-duta, a coragem para as mudançasinteriores que devem acontecer aolargo do tempo, com a vigilânciaindispensável à produção de fato-res elevados para o desenvolvi-mento intelecto-moral que aguar-da o candidato às suas fileiras.

Tomando como modelar a con-duta de Jesus, o Espiritismo trá-lode volta, desmistificado das fábu-las com que o envolveram atravésdos tempos, real e companheirode todos os momentos, ensinandosempre pelo exemplo de que assuas palavras se revestem.

O espírita sincero, que se redes-cobre através do conhecimentodoutrinário, transforma-se emverdadeiro cristão, conforme ospadrões estabelecidos pelo Mes-tre galileu.

Não se permite justificativasinfantis após os insucessos, levan-ta-se dos erros e recomeça as ati-

vidades tantas vezes quantas ocor-ram, tem a coragem para o auto-enfrentamento, libertando-se dosinimigos de fora para vencer aque-les de natureza interna, sempre dis-posto a servir e a amar.

Evocando os mártires do Cris-tianismo primitivo, enfrenta hojevalores decadentes da ética e damoral, graves problemas sociais emorais, que lhe exigem sacrifíciopara uma existência honorávelsem os conchavos com a indigni-dade, a traição e o furto legalizado.

Torna-se alguém intitulado co-mo portador de comportamentoexcêntrico, porque tem a coragemde manter a vida saudável, man-tendo-se digno em todas as cir-

cunstâncias, responsável pelos pen-samentos, palavras e atos, incom-preendido e, não poucas vezes, per-seguido, mesmo nos locais em quelabora doutrinariamente, em face daconduta doentia dos acostumadosà leviandade e ao ócio.

Sem qualquer dúvida, a adesãoao Espiritismo impõe a consciên-cia de responsabilidade e de cora-gem, para tornar-se verdadeira-mente espírita todo aquele quelhe sinta a sublime atração.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Dival-

do Pereira Franco, no dia 10 de agosto de

2009, na cidade do Rio de Janeiro.)

10 Reformador • Fevere i ro 201048

Quem segue pela estrada da existência,semeando a doce bênção da bondade;quem traz no coração a caridade,em sua pura e divinal essência;

quem passa pela vida com clemência,fiel, sempre, aos anseios da verdade;quem sabe espargir a claridadedo amor, em sua nobre quintessência;

Será pelo Senhor o mais querido,o primeiro nos céus, o escolhido,entre os humildes servos de Jesus.

Sempre subindo, firme e altaneiro,com fé, com compreensão, amor e luz,Será do Cristo o doce mensageiro.

Therezinha Radetic

Fonte: RADETIC, Therezinha. Catedrais. Editado por J. P. Jornalismo e Promoções,p. 21.

O primeiro

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Reformador: Como surgiu a Socie-dade Espírita, em Viena?Josef: A Sociedade para EstudosEspíritas Allan Kardec (Verein fürspiritistische Studien Allan Kardec– VAK), de Viena, teve seu inícioem 1987, quando dois irmãosbrasileiros espíritas, Túlio e Lena,que estudavam em Viena, senti-ram saudade do Movimento Es-pírita de seu país, e começaram aestudar as obras básicas de AllanKardec. Casualmente, nós os co-nhecíamos, e fomos convidados aparticipar desses estudos. Em-bora católico, aceitamos o convitepela curiosidade, pois a questãodos Espíritos sempre nos interes-sou. No outono do mesmo ano, osdois irmãos viajaram a Paris para seencontrar com o orador DivaldoPereira Franco, e convidaram-nopara vir à Áustria. No verão de1988, em companhia de Nilsonde Souza Pereira, Divaldo Franco

veio proferir a primeira palestraespírita, depois da 2a GuerraMundial, em Viena. Desde então,apoia a formação do grupo, visi-tando-nos anualmente. Em agos-to de 1989, visitou-nos o oradorJosé Raul Teixeira, apoiando-nostambém. Os irmãos Túlio e Lenavoltaram para o Brasil e, apesar de nos sentirmos despreparados,continuamos os estudos em nos-sa casa em companhia de amigosbrasileiros e austríacos. Quandonos sentimos mais seguros, em de-zembro de 1999, registramos ofi-cialmente a Sociedade e realiza-mos a primeira assembleia nodia 29 de abril de 2000.

Reformador: Quais são as ati-vidades do VAK?Josef: Desde o começo, a So-ciedade dedica-se ao estu-dos das obras básicas doEspiritismo. Estudamos,

várias vezes, O Livro dos Espíritos,O Evangelho segundo o Espiritismoe O Livro dos Médiuns, comple-

11Fevere i ro 2010 • Reformador 49

JO S E F JAC K U L A KEntrevista

Josef Jackulak, dirigente da Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec, de Viena (Áustria), comenta as perseguições contra o Espiritismo na segunda

metade do século XX e o seu ressurgimento em países da Europa Central

Espiritismo ressurge

Europa Centralem países da

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mentando-as com O Céu e o In-ferno e A Gênese, e estudandotambém obras psicografadas porFrancisco Cândido Xavier, Dival-do Pereira Franco e José Raul Tei-xeira. Durante estes anos tivemosdiferentes formas de organizarnossas atividades. Realizamos se-manalmente: a reunião “ponto deluz”, que consiste de breve leiturae comentário do Evangelho, deorações em favor dos necessita-dos, por acontecimentos do mo-mento e pela paz mundial. Elaserve, ao mesmo tempo, como pre-paração para a reunião mediúni-ca, que se inicia em seguida; reu-nião para estudo mediúnico, emque adotamos o livro Qualidadena Prática Mediúnica, do ProjetoManoel Philomeno de Miranda(Editora LEAL). Segue-se a pales-tra pública, cujo tema é referenteao estudo de O Livro dos Espíri-tos, e da obra de Joanna de Ânge-lis, O Despertar do Espírito. Apósa palestra há aplicação de pas-ses. A terceira reunião contemplao atendimento fraterno, seguidode palestra pública sobre O Evan-gelho segundo o Espiritismo e so-bre o livro Amor Imbatível Amor,de Joanna de Ângelis. Duas vezespor mês, oferecemos um encon-tro para as crianças, a fim deatender os futuros adultos e, quemsabe, nossos futuros frequentado-res e trabalhadores. No últimosábado de cada mês, depois dapalestra, realizamos o encontrofraterno, onde oferecemos lan-che. Temos visitado os paísesvizinhos: a República Tcheca e aEslováquia.

Reformador: Vocês têm apoiado aformação inicial de grupos em paí-ses vizinhos?Josef: O VAK colabora com paísesvizinhos. No verão de 1989, ain-da no tempo da “cortina de fer-ro”, durante a estada de DivaldoFranco e de Nilson de Souza Pe-reira, planejamos visitar a antigaTchecoslováquia no ano seguinte.Pensávamos em reunir, em Pra-ga, um grupo de pessoas na ca-sa de um amigo para falar sobre oEspiritismo. Seria um teste da cora-gem, pois como tcheco, refugiadodo comunismo, conhecia o risco esabia da capacidade da polícia se-creta da antiga Tchecoslováquia.Felizmente, com a queda do co-munismo em novembro de 1989,pudemos, sem preocupações, vi-sitar Praga em 1990. Foi um mo-mento histórico. Alugamos, atra-vés de uma amiga, a sala de umcinema, e organizamos palestrasnos dias 2 e 3 de junho. A partirdesta data, voltamos, a cada ano, aPraga. Em 1992 organizamos umapalestra na cidade de Brno (Repú-blica Tcheca) e, em 1994, visita-mos pela primeira vez a cidade deBratislava, agora capital da Eslo-váquia. Anualmente, organizamospalestras nessas três cidades, con-vidando Divaldo Pereira Franco,José Raul Teixeira, Juan AntonioDurante e, recentemente, o dire-tor do CEI e da FEB Cesar Perri.Em 2003 organizamos, junto comos amigos da Hungria, a primeirapalestra em Budapeste, por Di-valdo Pereira Franco. Em 2006 vi-sitamos, com o mesmo orador,pela primeira vez, Varsóvia, capi-

tal da Polônia. No outono de2003, formamos um núcleo espí-rita em Bratislava (Eslováquia),junto com Rejane Spiegelberg--Planer, o qual visitamos mensal-mente. Em 2005, com Rejane, for-mamos outro grupo na cidadede Brno (República Tcheca), quetambém visitamos mensalmente.Em ambas as cidades estudamosas obras de Allan Kardec, com oobjetivo de criar sociedades es-píritas autônomas. Não podemosvisitar Praga mensalmente, mas jáorganizamos algumas visitas pa-ra seminários e palestras na ci-dade. Nestas ocasiões tivemos,em nossa companhia, a amigaEdith Burkhard, da Suíça. Aguar-damos o dia de podermos criarem Praga uma célula espírita. OVAK está apoiando a formação denovos grupos na Áustria. Em2007, promovemos a primeira pa-lestra de Divaldo Franco, em De-bant, no Tirol. Além desses países,o VAK organizou, sob a liderançade Rejane Spiegelberg-Planer, pa-lestras sobre o Espiritismo junto àOrganização das Nações Unidas.Como fruto destas palestras, foiefetuada, em 2007, a primeira pa-lestra espírita em Istambul, naTurquia, proferida por DivaldoPereira Franco.

Reformador: Com os regimes polí-ticos anteriores houve dificuldadespara o Espiritismo?Josef: Os regimes políticos ante-riores acabaram com o Espiritis-mo, que pulsava livremente an-tes da 2a Guerra Mundial na anti-ga Tchecoslováquia. O pouco que

12 Reformador • Fevere i ro 201050

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sobreviveu ao nazismo foi des-truído pelo comunismo. Nesse pe-ríodo de regime totalitário, haviavigilância em todas as atividades,através da sua bem formada polí-cia secreta. As religiões não erambem vistas e eram consideradasinimigas do regime opressor uto-pista e materialista. As casas espí-ritas foram confiscadas e qualqueratividade espírita era proibida;algumas pessoas foram encarcera-das, ou constantemente vigiadas.No entanto, a fé foi sempre maisforte do que o medo, e os espíritascontinuaram a se encontrar ile-galmente, nas suas casas, onde aprivacidade permitia, ou nos pas-seios na natureza e florestas. Co-nhecemos ainda alguns sobrevi-ventes dessa opressão, que sãoverdadeiros heróis.

Reformador: Tem algum exemplode lutas desse período anterior?Josef: Ouvi falar de vários casos,mas pessoalmente conheço so-mente alguns. Entre estes, tenhocontato, até hoje, com VladimirSláde/ek, que chamamos carinho-samente Vlado. Nosso amigo éverdadeiro exemplo de coragem.Apesar de ser constantemente per-seguido e ter sofrido várias agres-sões da polícia, nunca abandonouo seu ideal espírita. Escondeu nosótão as obras de Kardec, que fo-ram depois roubadas pela própriapolícia, que se utilizou da doençade sua esposa, aplicando-lhe remé-dios e injeções, no hospital, fazen-do-a louca, provocando seu ódiocontra o marido e obrigando-a adenunciá-lo. O casamento e a famí-

lia foram destruídos. Vlado falamuito bem alemão e esperanto, deforma que já no tempo comunistacomeçou a traduzir ilegalmente li-vros espíritas. Hoje, conta commais de 100 livros traduzidos, in-cluindo os psicografados por Dival-do Pereira Franco e Francisco Cân-dido Xavier, entre outros. Contou--nos Vlado que, no período comu-nista, recebeu em forma de cartasos livros Depois da tempestade eGrilhões partidos, psicografadospelo médium Divaldo PereiraFranco, traduzidos em forma deresumo por sua amiga HelenaStavelová, que viveu no Brasil. Re-solveu então juntar as páginas,datilografá-las e copiá-las em ca-sa, para poder distribuí-las gratui-tamente. Foi por meio desta senho-ra, com a qual eu mantinha cor-respondência, através de Divaldo,que conhecemos Vlado, e o convi-damos para a primeira palestra deDivaldo Franco em Praga. Desdeentão, Vlado ajudou-nos na propa-gação das palestras, gravando-as,transcrevendo-as e distribuindo--as pelo correio para seus amigos.Vlado, hoje, está com 80 anos,praticamente paralisado, vive nu-ma casa para idosos, mas conti-nua traduzindo os livros e servin-do à Humanidade, um exemplopara todos nós.

Reformador: Quais as necessida-des espirituais do povo da EuropaCentral?Josef: Acredito que, em geral, asnecessidades do ser humano sãoiguais no mundo inteiro. A vidaespiritual é oprimida pela vida ma-

terial. Vivemos numa época derápido e grande desenvolvimen-to nas áreas tecnológica e cien-tífica, demonstrando o grandepotencial do intelecto no serhumano. Até bem pouco tempoatrás, na Europa Central, tive-mos guerras terríveis, como naantiga Iugoslávia, comparáveis àbarbaridade nazista, provocandosofrimentos que até hoje senti-mos. Há falta de desenvolvimen-to moral. A lição cruel da 2a

Guerra Mundial não foi sufi-ciente. Apesar da religiosidade edas várias religiões existentes naEuropa Central, não foi possívelmanter a paz. Na parte orientalda Europa a ideia comunistaoprimiu a vivência da religião,mas não ofereceu nada parasubstituí-la e alimentar o espíri-to, criando pessoas materialis-tas. O ideal seria despertar para avida espiritual. Isso não é possí-vel no momento, na forma quedesejaríamos, mas seria bom seas pessoas vivessem bem a suareligião, a essência da mensagemdo Cristo.

Reformador: Qual o impacto damensagem espírita em sua vida?Josef: O Espiritismo criou em mimoutro tipo de fé, que se baseia narazão, em vez de ser cega. Assim,sou muito grato ao Espiritismopor ter-me orientado, e devo-lhemuito. Em nome do VAK, deseja-mos expressar aos leitores de Re-formador e aos irmãos espíritas, nomundo, muita paz e felicidade nasemeadura do bem, em nome donosso Mestre Maior, Jesus.

13Fevere i ro 2010 • Reformador 51

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o ensejo do Centenário deChico Xavier, torna-seoportuno o destaque a um

assunto de sua vida e obra que émuito pouco lembrado: o apoiodo dedicado médium a esforçosde união dos espíritas e de unifi-cação do Movimento Espírita.

De início, são significativas al-gumas considerações obtidas dalavra mediúnica de Chico Xavier.O citado médium foi convida-do, mas não podendo compare-cer ao I Congresso Brasileiro deUnificação Espírita, realizado emSão Paulo (SP), no período de31 de outubro a 5 de novembrode 1948, gentilmente enviou men-sagem de Emmanuel, por elepsicografada:

Reunidos, assim, em grande

conclave de fraternidade, que

os irmãos do Brasil se compe-

netrem, cada vez mais, do es-

pírito de serviço e renuncia-

ção, de solidariedade e bonda-

de pura que Jesus nos legou.

O mundo conturbado pede,

efetivamente, ação transfor-

madora. Conscientes, porém,

de que se faz impraticável a

redenção do Todo, sem o bu-

rilamento das partes, unamo-

-nos no mesmo roteiro de

amor, trabalho, auxílio, edu-

cação, solidariedade, valor e

sacrifício que caracterizou a

atitude do Cristo em comu-

nhão com os homens, servin-

do e esperando o futuro, em

seu exemplo de abnegação,

para que todos sejamos um,

em sintonia sublime com os

desígnios do Supremo Se-

nhor.1

A referida mensagem é ummarco histórico: a primeira so-bre o tema, psicografada porChico Xavier.

Dois anos depois, como con-sequência da assinatura do Pac-to Áureo, companheiros idealis-tas efetivaram visitas aos diri-gentes e lideranças dos Estados

do Nordeste e Norte, consti-tuindo a chamada “Caravana daFraternidade”. Ao final, encerra-ram a jornada com uma visitaao médium, em Pedro Leopol-do. Chico Xavier psicografouduas mensagens destinadas aos“caravaneiros”, no dia 11 de de-zembro de 1950, as quais têm si-do pouco divulgadas:

[...] Cultuemos, acima de tu-

do, a solidariedade legítima.

Nossa união, portanto, há de

começar na luz da boa vonta-

de. Guardemos boa vontade

uns para com outros, apren-

dendo e servindo com o Se-

nhor, e felicitando aos com-

panheiros que se confiaram

à tarefa sublime da confra-

ternização, usando o próprio

esforço.2

[...] Unamo-nos, irmãos,

[enquanto fulge o dia,

Guiando o arado à frente, em

[plena primavera,

A

Chico Xaviere o ideal de União

AN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

14 Reformador • Fevere i ro 201052

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Pela Fraternidade, a fé nobre e

[sincera

Edifica, entre nós, o Reino da

[Harmonia.3

No ano de 1963, Chico psico-grafou a mensagem “Unificação”,em que Bezerra de Menezes pro-põe uma clara diretriz para otrabalho de unificação do Movi-mento Espírita:

[...] Seja Allan Kardec, não

apenas crido ou sentido, apre-

goado ou manifestado, a nos-

sa bandeira, mas suficiente-

mente vivido, sofrido, chora-

do e realizado em nossas pró-

prias vidas. Sem essa base é

difícil forjar o caráter espíri-

ta-cristão que o mundo con-

turbado espera de nós pela

unificação.4

Entre muitas outras alusões aotema em várias obras psicográfi-cas de Chico Xavier, há um capí-tulo em Fonte Viva intitulado“União fraternal”:

A união fraternal é o sonho

sublime da alma humana, en-

tretanto, não se realizará sem

que nos respeitemos uns aos

outros, cultivando a harmo-

nia, à face do ambiente a que

fomos chamados a servir. So-

mente alcançaremos seme-

lhante realização “procurando

guardar a unidade do espírito

pelo vínculo da paz”.5

Além dos textos psicográficos,há entrevistas e alguns fatos inte-ressantes na vida do médium.

O lançamento de sua obra psi-cográfica inaugural e de váriasoutras consideradas clássicas foiefetivado, pela Federação Espíri-ta Brasileira, a partir do contatoinicial estabelecido por ManuelQuintão e o continuado apoio,principalmente, do presidenteAntônio Wantuil de Freitas. Acontínua correspondência entreeste presidente e Chico Xavier foicomentada na obra Testemunhos deChico Xavier,6 permitindo acom-panhar a opinião do médium

sobre muitos episódios do Movi-mento Espírita nacional.

Em entrevista concedida noano de 1971, o médium respon-deu a uma questão sobre con-fraternizações de Mocidades Espíritas:

[...] acreditamos que as reu-

niões e confraternizações de

Mocidades Espíritas – que a

nosso ver deveriam ser também

acompanhadas de reuniões e

confraternizações de adultos

espíritas [...] são um movimen-

to sério que nós devemos acatar

e estimular com todas as ener-

gias ao nosso alcance.7

Em outra resposta, específicasobre movimentos de unificação,ele afirmou:

[...] Os nossos amigos espiri-

tuais dão extraordinário relevo

a esses movimentos e esperam

que nós todos, os companhei-

ros do Espiritismo, venhamos

a encorajá-los por todos os

Algumas das obras psicografadas por Chico Xavier,editadas pela FEB

15Fevere i ro 2010 • Reformador 53

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modos que surjam den-

tro das nossas possibili-

dades, de vez que é pela

reciprocidade, na per-

muta de nossas expe-

riências, que chegare-

mos a conclusões e a

realizações do mais alto

interesse para o movi-

mento espírita agora e

no futuro.7

Chico Xavier foi amigopessoal de vários dirigen-tes da União Espírita Mi-neira, notadamente da ex--presidente Maria Philome-na Aluotto Berutto.

Dentro de nossa trajetó-ria no trabalho de unifica-ção tivemos mais contato comlideranças do Estado de São Paulo.Temos conhecimento de algunsepisódios e fomos testemunha deoutros, no relacionamento comChico Xavier.

O ex-presidente da União dasSociedades Espíritas do Estado deSão Paulo (USE-SP), Luiz Montei-ro de Barros, visitou muitas vezes omédium mineiro. Em 1977, os di-retores da USE-SP, Merhy Seba,Antonio Schilliró e Nestor JoãoMasotti (presidente), entrevista-ram Chico Xavier, em Uberaba,de onde extraímos o trecho:

[...] deveríamos refletir em

unificação, em termos de fa-

mília humana, evitando exces-

sos de consagração das elites

culturais na Doutrina Espírita,

embora necessitemos susten-

tá-las e cultivá-las com respei-

tosa atenção, mas nunca em

detrimento dos nossos irmãos

em Humanidade, que recla-

mam amparo, socorro, esclare-

cimento e rumo. [...] Não con-

sigo entender o Espiritismo,

sem Jesus e sem Allan Kardec

para todos, a fim de que os

nossos princípios alcancem

os fins a que se propõem.8

Entre os múltiplos contatosque mantivemos com o médium,alguns ocorreram na cidade deSão Paulo, oportunidades em que,como presidente e em represen-tação da USE-SP, ouvimos delepalavras de carinho e de estímu-lo ao trabalho da instituição.8

Referências:1XAVIER, Francisco C. Em nome do Evan-

gelho. Pelo Espírito Emmanuel. In: Anais

do I Congresso Brasileiro de Unificação,

realizado em São Paulo (SP), no período

de 31 de outubro a 5 de novembro de

1948, p. 39-41. Reformador, out. 2009.

p. 15(373).2______. Mensagem aos Caravaneiros.

Pelo Espírito Emmanuel. In: MACHADO,

Leopoldo. A caravana da fraternidade.

Nova Iguaçu: Lar de Jesus, 1954. p. 176-177.3______. União. Pelo Espírito Amaral

Ornellas. In: Op. cit., p. 180.4______. Unificação. Pelo Espírito Bezer-

ra de Menezes. In: Reformador, dez. 1975,

11(275); nov. 2009, p. 14(412)-15(413).5______. Fonte viva. Pelo Espírito Em-

manuel. 36. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. Cap. 49.6SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos

de Chico Xavier. 3. ed. 1. reimp. Rio de Ja-

neiro: FEB, 2008.7______. Entrevistas. Pelo Espírito

Emmanuel. Araras: IDE, 1972. p. 112-114.8PERRI DE CARVALHO, Antonio C. Chico

Xavier – O homem e a obra. São Paulo:

Ed. USE, 1997. p. 76-83.

Chico Xavier na União Espírita Mineira

16 Reformador • Fevere i ro 201054

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missão do Espiritismo, tanto quanto o minis-tério do Cristianismo, não será destruir asescolas de fé, até agora existentes.

Cristo acolheu a revelação de Moisés.A Doutrina dos Espíritos apoia os princípios

superiores de todos os sistemas religiosos.Jesus não critica a nenhum dos Profetas do Velho

Testamento. O Consolador Prometido não vem paracensurar os pioneiros dessa ou daquela forma de crerem Deus.

O Espiritismo é, acima de tudo, o processo liber-tador das consciências, a fim de que a visão do ho-mem alcance horizontes mais altos.

Há milênios, a mente humana gravita em derredorde patrimônios efêmeros, quais sejam os da precáriaposse física, atormentada por pesadelos carnais de va-riada espécie. Guerras de todos os matizes consomem--lhe as forças. Flagelos de múltiplas expressões situam--lhe a existência em limitações aflitivas e dolorosas.

Com a morte do corpo, não atinge a liberação.Além-túmulo, prossegue atenta às imagens que a ilu-são lhe armou ao caminho, escravizada a interessesinconfessáveis. Em plena vida livre, guarda, ordina-riamente, a posição da criatura que venda os olhos emarcha, impermeável e cega, sob pesadas cargas a lhedobrarem os ombros.

A obstinação em disputar satisfações egoísticas,entre os companheiros da carne, constitui-lhe deplo-rável inibição e os preconceitos ruinosos, os terríveisenganos do sentimento, os pontos de vista pessoais,as opiniões preconcebidas, as paixões desvairadas, oslaços enfermiços, as concepções cristalizadas, os pro-pósitos menos dignos, a imaginação intoxicada e oshábitos perniciosos representam fardos enormes queconstrangem a alma ao passo vacilante, de atençãovoltada para as experiências inferiores.

A nova fé vem alargar-lhe a senda para mais eleva-das formas de evolução. Chave de luz para os ensina-

mentos do Cristo, explica o Evangelho não como umtratado de regras disciplinares, nascidas do caprichohumano, mas como a salvadora mensagem de frater-nidade e alegria, comunhão e entendimento, abran-gendo as leis mais simples da vida.

Aparece-nos, então, Jesus, em maior extensão desua glória. Não mais como um varão de angústia,insinuando a necessidade de amarguras e lágrimas esim na altura do herói da bondade e do amor, edu-cando para a felicidade integral, entre o serviço e acompreensão, entre a boa vontade e o júbilo de viver.

Nesse aspecto, vemo-lo como o maior padrão desolidariedade e gentileza, apagando-se na manjedou-ra, irmanando-se com todos na praça pública eamparando os malfeitores, na cruz, à extrema hora,de passagem para a divina ressurreição.

O Espiritismo será, pois, indiscutivelmente, aforça do Cristianismo em ação para reerguer a almahumana e sublimar a vida.

O espaço infinito, pátria universal das constela-ções e dos mundos, é, sem dúvida, o clima natural denossas almas, entretanto, não podemos esquecer quesomos filhos, devedores, operários ou companheirosda Terra, cujo aperfeiçoamento constitui o nosso tra-balho mais imediato e mais digno.

Esqueçamos, por agora, o paraíso distante para aju-dar na construção do nosso próprio céu. Interfiramosmenos na regeneração dos outros e cogitemos mais denosso próprio reajuste, perante a Lei do Bem Eterno,e, servindo incessantemente com a nossa fé à vida quenos rodeia, a vida, por sua vez, nos servirá, infatigável,convertendo a Terra em estação celestial de harmoniae luz para o acesso de nosso espírito à Vida Superior.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Roteiro. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2008. Cap. 38.

Missão do Espiritismo

17Fevere i ro 2010 • Reformador 55

A

Presença de Chico Xavier

Pelo Espírito Emmanuel

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ara podermos falar de Bioé-tica espírita, precisamos an-tes entender o que é Ética e

Bioética.Etimologicamente, a palavra Éti-

ca origina-se do termo grego ethos,que significa modo de ser, caráter,hábitos. É um ramo ou disciplinada Filosofia. Ou, ainda, é o estudodo comportamento moral e da vidaem sociedade. Os filósofos da éticaquerem saber o que significa seruma pessoa, e como se pode e sedeve agir. Um ato ético é o que écerto de se fazer. É a filosofia doagir ou a ciência da moral. O cam-po da ética é uma área filosóficavital, na atualidade, como veremosposteriormente, em especial nosexemplos práticos da atuação daBioética espírita.

A Ética sempre foi tratada ouestudada por renomados pensado-res-filósofos, bastando citar algu-mas obras clássicas (antigas, mo-dernas ou contemporâneas) escri-tas sobre o tema:

• Ética a Nicômaco e Ética a Eude-mo – Aristóteles (filósofo grego);

• Ética – Baruch Spinosa (filó-sofo holandês);

• Ética – George Edward Moore(filósofo inglês);

• Ética prática – Paul Singer (filó-sofo australiano).

Entre outras.Partindo para nossa próxima

definição, podemos afirmar queBioética é a ética da vida. Ou ain-da, a Bioética é um campo trans-disciplinar entre Biologia, Medici-na, Filosofia (ética) e Direito, queestuda as dimensões morais e so-ciais das técnicas resultantes doavanço do conhecimento nasciências biológicas e médicas. Re-flexão que faz uma ponte entre osconhecimentos científicos e os va-lores e princípios filosóficos.

Algumas informações históri-cas e conceituais vão nos ajudar aentendê-la melhor. Surgiu, em1970, pelas mãos de Van Rensse-laer Potter (1911-2001), doutorem Bioquímica e pesquisador emOncologia (cancerologista), oconceito de um neologismo deri-vado das palavras gregas bios (vi-da) e ethike, ethos (ética):

Nós temos uma grande necessi-

dade de uma ética da terra, uma

ética de populações, uma ética

do consumo, uma ética inter-

nacional [...]. Todas elas envol-

vem a Bioética.

Porém, Albert Schweitzer (1875--1965), médico e filósofo francês,1

ganhador do Prêmio Nobel da Pazde 1952, é considerado por muitoscomo o precursor da Bioética, fun-damentando o pensamento bioéticoem seu texto Ethics of Reverence forLife, de 1923, que influenciou não sóPotter como outros autores da área.

De acordo com Reich (em 1978)na obra Encyclopedia of Bioethics,a Bioética abarcaria a ética médica,mas não se limitaria a ela, estenden-do-se muito além dos limites tradi-cionais que tratam dos problemasdeontológicos (deonto, dever, “tra-tado dos deveres”) que decorrem dasrelações entre os profissionais de saú-de e seus pacientes.Para Álvaro Valls:

A Bioética surgiu como área de

conhecimento e prática científica,

com base filosófica, mas essencial-

Bioética espírita –uma abordagem filosófica

PJO Ã O LU I Z RO M Ã O

1N. da R.: 1875 a 1918 – nacionalidadealemã. (Período em que a Alsácia, onde elenasceu, estava incorporada à Alemanha, emconsequência da guerra franco-prussianade 1870, vencida pela Prússia de Bismarck.)1919 a 1965 – nacionalidade francesa. (Re-torno da Alsácia à França em 1919, graçasao tratado de Versalhes, tratado de paz assi-nado pelas potências europeias e que encer-rou oficialmente a 1a Guerra Mundial.)

18 Reformador • Fevere i ro 201056

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mente interdisciplinar e se con-

centrou sobre o meio ambiente

e a área de saúde. (Da obra, Da

ética à bioética, Ed. Vozes, p. 56.)

Sendo assim, podemos partir pa-ra nossa definição seguinte, a quenos interessa mais de perto. A Bioé-tica espírita (do ponto de vista filo-sófico) é essencialmente a reflexãosobre a vida e a morte não só do serhumano, mas de todo ser vivente,levando em conta, no seu bojo deanálise e reflexão, categorias como“Espírito ou alma”,“imortalidade”,“reencarnação”,“perispírito”,“me-diunidade”, entre outras, aplican-do essas reflexões às diversas situa-ções da vida em sociedade e no tra-to com as diversas formas de vida(humana, animal e vegetal).

De acordo com a Carta de Princí-pios de uma Bioética Espírita, o para-digma (modelo) central é o persona-lismo espírita, no qual se contemplaa dignidade ontológica (onto, ser), apartir do zigoto, que é onde se esta-

belece o início da vida. E, igualmen-te, de acordo com a questão 344 deO Livro dos Espíritos, o ser espiritualse liga ao corpo físico na concepção.

Outro ponto importante, quepodemos e devemos considerar naabordagem da Bioética espírita, équestão da moral. Através do termolatino mos,moris (que mantém o sig-nificado de ethos, dos quais derivam,no plural, moralis, mores), que signi-ficando costumes ou bons costumes,deu origem à palavra moral em por-tuguês. Para muitos autores, na áreade filosofia, moral e ética seriamsinônimos; para outros, teriam sig-nificados distintos. E para a Bioéticaespírita? Na análise conceitual a par-tir da Doutrina Espírita a posição ébem clara, definindo-se moral como“a regra de bem proceder, isto é, dedistinguir o bem do mal. Funda-sena observância da lei de Deus”(ques-tão 629,de O Livro dos Espíritos).Emsuma, moral é a ação preceitual de sefazer o bem e não o mal. Dessa for-ma, a conduta ética (ou moral) é a

de bem agir em benefício de todosos seres viventes. Saber discernir en-tre o bem e o mal, entre o que deveou não realizar, para gerar, em suaestrutura espiritual íntima, hábitossalutares e dignos. É o senso ético--moral. Poderemos chamá-lo igual-mente de ética prática espírita oumesmo cristã, já que a moral espí-rita é a mesma moral do Cristia-nismo do Cristo. Ou, na definiçãode Joanna de Ângelis:

[...] nobilitante comportamento

com que [o homem] se liberta

das constrições primitivas e se

põe em sintonia com as vibra-

ções sutis da Espiritualidade,

para onde ruma na condição de

Espírito imortal que é. (Da obra,

Estudos Espíritas, cap. 22.)

Podemos citar, a título de exem-plo, dez questões significativas eatuais de Ética e Bioética que pe-dem respostas filosóficas e cien-tíficas (seja na área da Saúde, do

19Fevere i ro 2010 • Reformador 57

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Direito, da Política etc., porquemuitas vezes os cientistas se tor-nam filósofos da ética e da moral,o eticista):

1. Quais os direitos dos que –ainda – não existem (fisica-mente falando)?

2. O que é vida? Como, quandoe onde começa a vida? O que épessoa? É possível falar de dig-nidade e de respeito humanosem apelar para a pessoa?

3. É eticamente válida, no âmbi-to da clonagem humana, a es-colha do sexo dos embriões?Quais são os fins últimos damanipulação genética? E quemestá legitimado a tomar deci-sões nesses assuntos? Até ondepodemos ir ou dirigir os pro-cessos de mudança?

4. Decifrando o genoma huma-no, o candidato a um empregodeve apresentar sua ficha gené-tica, para que os empregadorescalculem se vale a pena contra-tá-lo, tendo em vista o desen-volvimento de futuras doenças?

5. É eticamente válida a pesqui-sa com seres humanos e ani-mais? Quem deve receber osbenefícios da pesquisa e supor-tar pelos seus encargos ou poreles responder?

6. É viável, confiável ou necessá-ria a criação de clones huma-nos? Homens-máquinas cominteligências artificiais? Com-putadores biológicos com re-des neurais?

7. Há um dever ético-moral deajudar os necessitados?

8. Deve-se efetivar a eutanásia,ortotanásia ou a distanásia?

O que seria cada uma dessascategorias? O que se deve en-tender por morte digna?

9. Já pôde a Ciência estabelecercritérios de segurança paradiagnosticar a morte encefá-lica e assim autorizar a retira-da de órgãos e tecidos a se-rem transplantados?

10. Estaria o homem querendo brincar de Deus?

São perguntas tão simples de fazerquanto complexas para responder.

Igualmente, vários ramos de pes-quisa e atuação surgem, na contem-poraneidade, no âmbito dessa pers-pectiva no binômio ética-bioética:

1. A Ética das virtudes;2. Ética empresarial (ou da Res-

ponsabilidade social);3. Ética das (ou nas) profissões;4. Ética do cuidado;5. Ética discursiva (consciência

moral e agir comunicativo);6. Ética biomédica;7. Genética (Engenharia gené-

tica);8. Comitês de Ética e Pesquisa;9. Metaética;

10. Ética procedimental;11. Ética ecológica (Desenvolvi-

mento sustentável e Biodi-versidade);

12. Ética educacional;13. Ética antropocêntrica e Ética

centrada na vida.A nosso ver, o estudo e a aborda-

gem da Bioética, espírita ou laica,está apenas se iniciando, desafian-do os estudiosos, pesquisadores emesmo interessados no seu apren-dizado e difusão, para o desenvol-vimento de suas teses e postuladose, como afirmamos no início desse

artigo, a sua aplicabilidade às di-versas situações da nossa existên-cia, constituindo, dessa forma,imenso terreno investigativo nocampo da moral e da ética prática.

Como já afirmava o filósofoAristóteles: “A ética é para ser vi-vida” (em, Ética a Nicômaco). Oucomo enfatiza o imperativo cate-górico do filósofo Kant: “Age mo-ralmente” (em, Fundamentaçãoda metafísica dos costumes).

Bibliografia:ASSOCIAÇÃO-MÉDICO ESPÍRITA DO BRA-

SIL. Cartas de princípios de uma bioética

espírita. São Paulo, 28 de maio de 2005.

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lo Espírito Joanna de Ângelis. Rio de Ja-

neiro: FEB, 1999.

JONAS, Hans. El principio de responsabili-

dad: ensayo de uma ética para la civiliza-

ción tecnológica. Barcelona: Herder, 1995.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafí-

sica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2008.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.

Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2008.

LOBO, Ney. Filosofia espírita da educa-

ção: e suas consequências pedagógicas e

administrativas. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2002. v. 5.

REICH, Warren T. Encyclopedia of bioe-

thics. London/New York: MacMillan &

Free Press, 1978. (Nova edição 1995.)

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POTTER VAN, R. Bioethics – Bridge to the futu-

re. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1971.

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sófico. São Paulo: Loyola, 2008.

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ca e direitos humanos. 2005. Disponível em

URL: <www.bioetica.catedraunesco.unb.br>.

20 Reformador • Fevere i ro 201058

Page 21: reformador Fev. 2010 - a.qxp

21Fevere i ro 2010 • Reformador 59

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“E os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras,nas coisas necessárias, para que não sejam infrutuosos.”

– PAULO. (TITO, 3:14.)

Apliquemo-nos

Fonte: XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 25.

preciso crer na bondade, todavia, é indispensável movimentarmo-nos com

ela, no serviço de elevação.

É necessário guardar a fé, contudo, se não a testemunhamos, nos trabalhos

de cada dia, permaneceremos na velha superfície do palavrório.

Claro que todos devemos aprender o caminho da iluminação, entretanto, se nos

não dispomos a palmilhá-lo, não passaremos da atitude verbalista.

Há no Espiritismo cristão palpitantes problemas para os discípulos de todas as

situações.

É muito importante o conhecimento do bem, mas que não esqueçamos as boas

obras; é justo se nos dilate a esperança, diante do futuro, à frente da sublimidade dos

outros mundos em glorioso porvir, mas não olvidemos os pequeninos deveres da

hora que passa.

De outro modo, seríamos legiões de servidores, incapazes de trabalhar, belas

figuras na vitrina das ideias, sem qualquer valor na vida prática.

A natureza costuma apresentar lindas árvores que se cobrem de flores e jamais

frutificam; o céu, por vezes, mostra nuvens que prometem chuva e se desfazem sem

qualquer benefício à terra sedenta.

As escolas religiosas, igualmente, revelam grande número de demonstrações

dessa ordem. São os crentes promissores e infrutuosos, que a todos iludem pelo

aspecto brilhante. Dia virá, porém, no qual se certificarão de que é sempre melhor

fazer para ensinar depois, que ensinar sempre sem fazer nunca.

É

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22 Reformador • Fevere i ro 201060

ão adianta esconder a pró-pria verdade. Ela escapapor entre os dedos, reve-

lando-se a quem tem olhos de ver.Verdade que se oculta, demo-

ra na revelação.Há quem olhe para fora, à

procura de respostas que naverdade estão dentro, na inti-midade de si mesmo.

Uma história ilustra bem essarealidade.

Narra Mansour Chalita1 queMullah Nasrudin, o homem san-to sufista, exímio gracejador,atravessava frequentemente a

fronteira entre a Turquia e a Gré-cia, montado em seu cavalo.

Sempre que cruzava a fron-teira, levava uma sacola compedras preciosas e outra compoções medicinais, pois tinhapermissão legal para transpor-tá-las.

Quando o guarda perguntavaqual era o seu negócio, ele res-pondia: “Sou contrabandista”.

Todas as vezes, o guarda o re-vistava e nunca encontrava na-da incomum. A cada viagem,Nasrudin ficava mais rico, e o

guarda, cada vez mais descon-fiado. Apesar de todas as revis-tas, feitas a cada vez com maisriqueza de detalhes, nunca en-contrava nada.

Finalmente, o viajante seaposentou. Um dia, encontrou--se em uma reunião social como mesmo guarda da fronteira,que lhe perguntou:

– Nasrudin, agora que vocêse aposentou e não pode serprocessado, conte-me o quecontrabandeava, que nunca en-contramos e que lhe trouxe tan-ta riqueza.

Nasrudin respondeu tranqui-lamente:

– Eu negociava cavalos!

A verdadede cada um

NCA R LO S AB R A N C H E S

1MANSOUR, Chalita. Os mais belos pen-samentos de todos os tempos. 2. ed. SãoPaulo: Ed. Acigi.

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Um segredo fica maisbem escondido quando éóbvio, e pode ser desco-berto quando você parade pensar que ele estáoculto.

Assim acontece comnossa saúde. É fácil dizer“tudo vai bem”, mesmoque o que esteja por trásdas aparências não sejaalgo tão bom assim. Eisso passa a ser um risco,quando está em jogouma solução que precisaser rápida, que preservea vida e a integridade dapessoa.

Há quem esconda tanto aprópria realidade, que acaba per-dendo contato com a verdadeque mora dentro de si.

Emmanuel alerta sobre esseaspecto, quando afirma:

Os reflexos dos sentimentos

menos dignos que alimentamos

voltam-se sobre nós mesmos,

depois de convertidos em ondas

mentais, tumultuando o serviço

das células nervosas que, insta-

ladas na pele, nas vísceras, na

medula e no tronco cerebral,

desempenham as mais avança-

das funções técnicas [...]. 2

Mais adiante, na mesma pági-na, o Benfeitor esclarece

[...] que esses reflexos menos

felizes, em se derramando so-

bre o córtex encefálico, pro-

duzem alucinações que po-

dem variar da fobia oculta à

loucura manifesta, pelas quais

os reflexos daqueles compa-

nheiros [...] nos atingem com

sugestões destruidoras, dire-

tas ou indiretas, conduzindo-

-nos a deploráveis fenômenos

de alienação mental, na ob-

sessão comum, ainda mesmo

quando no jogo das aparên-

cias possamos aparecer como

pessoas espiritualmente sa-

dias”.3

Um dia, entenderemos que amanutenção da saúde não dependede remédios e drogas, mas de umadecisão interior, que nos remeta

a um estado íntimo de saúdeemocional. Para quem decidirviver nessa faixa psíquica, “cairde cama” será uma exceção, e nãouma regra.

As verdades de nosso corpoespelham nossas opções men-tais. Fugir da própria realidadepode ser uma solução passageira,mas, com o tempo, essa escolhasilenciosamente vai impor umasolução melhor.

É mais interessante encontraruma maneira de ser saudável,do que apenas estar saudável.

A decisão é nossa. Está em jo-go nossa felicidade.

A questão é definir claramen-te o que podemos fazer paraacionar nossos próprios meca-nismos de melhoria, sem pre-cisar depender de “remédios”que nem sempre estão ao nossoalcance.

23Fevere i ro 2010 • Reformador 61

2XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 15, p. 67. 3Idem, ibidem.

l

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24 Reformador • Fevere i ro 201062

tempo que passa nos en-contra atados aos deve-res, às lutas, às realizações,

enfim, como um fardo pertinen-te à condição expiatória do nossomundo. É por demais comumesse modo de pensar.

Quase sempre se assevera queo nosso é um mundo de dores ede lágrimas sofridas, ou que, naTerra, tudo tem odor de tragé-dia e de lamentação.

Pensa-se, comumente, que a si-tuação provacional do planeta im-ponha aos seus habitantes a con-vivência obrigatória com as frus-trações contínuas, com as decep-ções ou desencantos com quetantos se enredam pelos caminhos.

Acresce-se, no rol de agrurasatribuídas ao Orbe, que a cadadia vai se tornando mais difícilter amigos verdadeiros, nessaescalada crescente de perfídias ede insinceridades.

Lamentam-se as situaçõesdesastrosas em que se cha-

furdaram tantas institui-ções familiares, dando aimpressão de que o larestá falido como cons-trução social de base.

Entretanto, fazemoscoro com outros inu-meráveis corações que

têm o olhar voltado parao hemisfério da esperan-ça e que se ajustam às po-laridades do otimismo.

Sem contestação, en-contramos pelas aveni-das planetárias toda essaonda de dores, de lágri-mas sofridas como osnefastos episódios das

traições, do abandono, do des-mazelo para com o bem, o queconfigura um contexto por de-mais preocupante, no que se re-fere às visões do mundo futuro.

Não deveremos enganar-noscom relação a esses quadros la-mentáveis, desenhados com ascores fortes das expiações e dosnegativos comprometimentos.O que precisaremos consideraré que foi Jesus, o Cristo, que nosfalou das bem-aventuranças al-cançadas pelos que sofressemtodas as agrestias terrestres comnobreza, embora os esporões detodas as árduas pelejas.

O futuro traria as bênçãos defelizes conquistas: de justiça,de fortuna moral, de consolo e depaz para todos os que conse-guissem enfrentar com galhar-dia as torturantes provaçõescom suas carências gerais.

Quando acompanhamos, comos olhos de ver, os acontecimentoshumanos, conseguimos verificar aexistência de famílias honradas,bem estribadas na ética do amor edo trabalho, oferecendo excelentesexemplos para toda a sociedade.

Achamos amigos plenamenteidentificados com a honestidade

Preparemos oamanhã feliz

O

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da convivência, estabelecendoparcerias embelezadas pelo sen-timento da fraternidade.

Deparamos homens e mulhe-res operosos, dinâmicos, dedica-dos às leis de Deus de tal maneiraque conseguem influenciar posi-tivamente todos quantos se mo-vimentem ao seu redor.

O mundo que experimenta-mos na atualidade é o mesmoque elaboramos com nossos fei-tos e não-feitos, com nossa luz enossa sombra, sem que nos dés-semos conta de que deveríamosretornar aos seus proscênios,mais cedo ou mais tarde, a fimde operar as correções cabíveisem nosso roteiro.

O conhecimento haurido nasfontes do Espiritismo dá-nos acerteza de que ninguém é vítimasobre o solo planetário, senãode si próprio.

Urge substituamos as longashoras de lamentação, de lamúrias,de desesperação ou de depressão,pelas atitudes que sejam capazesde ensementar a terra complexados corações com as sementes for-mosas da dignidade de viver, daboa vontade no agir, da responsa-bilidade perante toda e qualqueratitude tomada.

Deus não instalaria os seusbem-amados filhos num campojuncado de misérias ou de defi-ciências e necessidades, se isso nãofosse importante e indispensávelao seu progresso, se tudo não fos-se exigência da lei de causalidade,em sua divina perfeição.

Quando olharmos o nossomundo, embora toda a sombraque sobre ele se espalha, veja-mo-lo como o nosso lar plane-tário, belo e próprio para quepossamos dar conta dos com-promissos que engendramos emtempos propínquos ou longín-quos, embasados em nosso li-vre-arbítrio.

A Terra é uma das moradas doPai a mover-se na imensidão. Tra-temos de fazer o nosso melhortrabalho, abraçando os nossos ir-mãos que se encontrem em nosso

derredor, a fim de que, juntos,unificados no amor e no anseiode crescer, logremos construir aspontes da fraternidade entre oscorações, transformando em re-generador o tempo de dores ex-piatórias em que nos encontra-mos na Humanidade.

Olympia Belém

(Mensagem psicografada por Raul Teixei-

ra, em 6/11/2009, durante a Reunião Ordi-

nária do Conselho Federativo Nacional da

FEB, em Brasília, DF.)

25Fevere i ro 2010 • Reformador 63

l

Homem de Bem

(Mensagem captada por psicoaudiência pelo médium Raul Teixeira, em 7/11/2009, du-

rante a Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da FEB, em Brasília, DF.)

Sebastião Lasneau

Trabalhador, amigo e companheiro,Foco de amor, que nas Minas GeraisServiu ao bem e doando sempre maisA cada irmão, amou a Deus primeiro.

Irmão de luz, dedicado seareiro,Na caridade mostrou-se capazDe incentivar fraternidade e paz,Nos passos do Celeste Pegureiro.

Ante o mundo que sofre é nobre intentoApresentá-lo como um grande alento,Após viver o seu duro fadário.

Grandioso é ver o Chico ser lembrado– Homem de bem, coração renovado –,Nas evocações do seu Centenário.

(Em louvor a Chico Xavier)

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creditamos que já está ocor-rendo a aliança entre a Re-ligião e a Ciência, “[...] as

duas alavancas da inteligência hu-mana [...]”,1 nas palavras de AllanKardec, que complementa assimas suas considerações:

[...] uma revela as leis do mun-

do material e a outra as do mundo

moral. Ambas, porém, tendo o

mesmo princípio, que é Deus, não

podem contradizer-se. [...] A in-

compatibilidade que se julgou

existir entre essas duas ordens

de ideias provém apenas de uma

observação defeituosa e de um ex-

cesso de exclusivismo, de um la-

do e de outro. Daí um conflito

que deu origem à incredulidade

e à intolerância.1

Como se tivessem firmado umacordo mútuo, cientistas e religio-sos da atualidade estão empenha-

dos em construir pontes de enten-dimento, em substituição aos mu-ros do desprezo e intransigênciaconstruídos ao longo dos séculos.É verdade que ainda há um longocaminho a ser percorrido, a fim deque se estabeleça a definitiva uniãoentre as duas partes. Entretanto,vemos com redobrado otimismoas inúmeras publicações científi-cas relacionadas à temática saúdee religião, ou saúde e espirituali-dade, surgidas em diferentes par-tes do mundo, e desenvolvidas porcompetentes autoridades, nas aca-demias e institutos de ciência es-palhados no Planeta.

Jeff Levin, professor e epide-miologista estadunidense, é umareferência no assunto, não só pelaimportância e confiabilidade desuas pesquisas, mas pela repercus-são obtida nas comunidades lei-gas e científicas, a ponto de seustrabalhos científicos serem objeto

de matéria de capa em revistas deabrangência mundial (Time, Rea-der’s Digest e Maclean’s), ou trans-formados em destacados artigos,publicados em periódicos de re-nome como Newsweek, USA To-day e The New York Times.

Em seu livro Deus, fé e saúde,publicado entre nós pela editoraPensamento-Cultrix, ele exploracom segurança e sensibilidade aconexão espiritualidade–cura. Tra-ta-se de uma obra na qual o autor“[...] empreende uma jornada porexpressões cada vez mais profun-das e pessoais da religião e de es-piritualidade”,2 condições que per-mitem ao professor Levin afirmar:“[...] as evidências científicas dasligações entre o corpo, a mente e oespírito desafiam as nossas suposi-ções a respeito do que significa serum ser humano, de como ficamosdoentes e de como recuperamos asaúde”.3 Ainda perplexo com os

A

Em dia com o Espiritismo

EspiritualidadeMA RTA AN T U N E S MO U R A

Saúde e

Capa

26 Reformador • Fevere i ro 2010 64

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resultados das pesquisas, própriase de outros colegas, o cientista con-sidera que a Ciência precisa refazeras tradicionais concepções relati-vas ao ser humano e, igualmente,rever processos terapêuticos e psi-coterápicos. Propõe, inclusive, a edi-ficação de uma nova prática médi-ca, denominada “medicina teos-somática”, regida por sete princí-pios. As suas palavras, reproduzi-das no texto que se segue, esclare-cem a respeito dos resultados daspesquisas que tratam do assunto.

As evidências apresentadas aqui

indicam que, para termos saúde,

é preciso mais do que ter apenas

bons genes ou a atitude correta.

[...] Eu dei a essa nova perspecti-

va que reconhece os fatores espi-

rituais determinantes da saúde o

nome de “medicina teossomá-

tica”. Essa expressão significa, li-

teralmente, uma visão dos fato-

res determinantes da saúde com

base nas ligações aparentes en-

tre Deus ou o espírito – ou a fé em

Deus – e o bem-estar do corpo.3

Os sete princípios da medici-na teossomática são assim enu-merados:4

1. A afiliação religiosa e a par-ticipação como membro deuma comunidade religiosa

beneficiam a saúde ao pro-mover comportamentos eestilos de vida saudável.

2. A frequência regular a umacongregação religiosa bene-ficia a saúde ao oferecerapoio que ameniza os efeitosdo stress e do isolamento.

3. A participação no culto e naprece beneficia a saúde graçasaos efeitos fisiológicos dasemoções positivas.

4. As crenças religiosas benefi-ciam a saúde pela sua seme-lhança com crenças e comestilos de personalidade quepromovem a saúde.

5. A fé, pura e simples, beneficiaa saúde ao inspirar pensamen-tos de esperança e de otimis-mo e expectativas positivas.

6. As experiências místicas [me-diúnicas] beneficiam a saúdeao ativar uma bioenergia ouforça vital ou estado alteradode consciência que promo-vem a cura.

7. A prece a distância em favorde outras pessoas é capaz decurar por meios paranormaisou por intervenção divina.

As consequencias dessas e ou-tras contribuições científicas são

incalculáveis, pois têm o poder dederrubar o paradigma mecani-cista, tradicionalmente utilizadopela saúde e pela educação, queconsidera o homem apenas comoalguém dotado de razão (intelec-to), ignorando que o ser humanoé também um ser sensível, emo-cional, que possui crenças, senti-mentos e percepções. Em termospráticos e operacionais, essas pes-quisas já estão promovendo mu-danças significativas na condutae procedimentos médicos, nos ser-viços de enfermagem e nas abor-dagens psicoterápicas, no mundointeiro, mudanças nomeadas como jargão técnico “cuidado espiri-tual”.5, 6, 7

Sabemos que o Espiritismo, ante-cipando-se às publicações cientí-ficas, considera, necessariamente,a dimensão espiritual do ser, exis-tente e sobrevivente à morte docorpo físico, as influências espiri-tuais, o auxílio de benfeitores, o

Capa

27Fevere i ro 2010 • Reformador 65

Page 28: reformador Fev. 2010 - a.qxp

valor da prece, o apoio do passee da água magnetizada, entre ou-tros. Neste sentido, o espírita es-clarecido evita qualquer tipo deconduta que lhe possa compro-meter a saúde, ciente de que osmales que afetam o cosmo orgâ-nico têm raízes espirituais. O Es-pírito Manoel Philomeno de Mi-randa lembra, a propósito, os cui-dados devidos à prevenção dedoenças, considerando que “a saú-de é compromisso de alta relevân-cia e responsabilidade ainda malconduzida por aqueles que a des-frutam e, menoscabando-a, per-dem-na, a fim de se afadigarempela sua recuperação mais demo-rada e mais difícil”.8

Outros instrutores espirituais en-sinam também que, dentro de umavisão mais ampla, saúde pode serentendida como “[...] o pensamen-to em harmonia com a lei de Deus.Doença é o processo de retificá-lo,corrigindo erros e abusos perpetra-dos por nós mesmos, ontem ouhoje, diante dela”.9 No sentido maisrestrito, esclarecem que saúde

[...] é reflexo da harmonia espi-

ritual [...].

A escravização aos sintomas

e aos remédios não passa, na

maioria das ocasiões, de fruto

dos desequilíbrios a que nos

impusemos.10

Referências:1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezer-

ra. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 1,

item 8, p. 60.2LEVIN, Jeff. Deus, fé e saúde. Trad. Newton

Roberval Eichemberg. 7. ed. São Paulo: Pen-

samento-Cultrix, 2009. Introdução, p. 37.3______. ______. Cap. 8, p. 207.4______. ______. Introdução, p. 28-29.5SOARES, Márcio. Cuidando da família de

pacientes em situação de terminalidade

internados na unidade de terapia intensi-

va. São Paulo: Revista brasileira de tera-

pia intensiva. v. 19, n. 14, out.-dez. 2007. 6SIQUEIRA, Vera Lúcia. Razão e fé: estudo

do grupo de oração como prática comple-

mentar na promoção à saúde (Dissertação

de Mestrado). Natal: Universidade Federal

do Rio Grande do Norte – Centro de Ciên-

cias em Saúde. Departamento de Enferma-

gem, 2007.

7KOVÁCS, Maria Júlia. Espiritualidade e psi-

cologia – cuidados compartilhados. In: O

mundo da saúde, São Paulo, 2007, abr.-

-jun. 31(2): 246-255.8FRANCO, Divaldo P. Loucura e obsessão.

Pelo Espírito Manoel P. de Miranda. 11.

ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 26, p.

325.9XAVIER, Francisco C. Instruções psicofô-

nicas. Por diversos Espíritos. 9. ed. 3.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 38

(mensagem de Lourenço Prado), p. 180.10______. Falando à Terra. Por diversos

Espíritos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2002. Cap. Saúde (mensagem de Joaquim

Murtinho), p. 143.

Desencarnou em Belém (PA),no dia 13 de dezembro de 2009, oconfrade Jonas da Costa Barbo-sa, dedicado trabalhador do Mo-vimento Espírita brasileiro. Eleesteve na direção da União Espí-rita Paraense por 53 anos, sendoseu presidente nos períodos de

1960 a 1971 e de 1979 a 30/4/ 2006.No velório e sepultamento de seucorpo, além do comparecimentoda família espírita paraense e deincontáveis amigos, recebeu ho-menagens de todo o Estado, re-gistrando-se a presença de repre-sentante do Governo.

Registramos a desencarnação,nos Estados Unidos da América,em 15 de dezembro de 2009, doconfrade Vanderlei Marques, 2o te-soureiro do Conselho Espírita In-ternacional (CEI). Foi ele um dosfundadores do Conselho Espírita

dos Estados Unidos, e trabalhouincansavelmente em favor do Mo-vimento Espírita daquele país, on-de residia há mais de 20 anos.

Aos seareiros do Consolador,que retornam à Pátria Espiritual,rogamos as bênçãos de Jesus.

Jonas da Costa Barbosa

Vanderlei Marques

Retorno à Pátria Espiritual

28 Reformador • Fevere i ro 201066

Capa

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Alemanha

Nos dias 28 e 29 de novembro,realizou-se em Berlim o VII En-contro dos Grupos Espíritas daAlemanha, promovido pela UniãoEspírita Alemã, tendo como te-ma central “O aspecto religiosodo Espiritismo”. No evento esti-veram presentes representantesdos diversos grupos integradosà União Espírita Alemã. NestorJoão Masotti, secretário-geraldo Conselho Espírita Interna-cional e presidente da FEB, dis-correu sobre “Orientações parao Funcionamento dos Grupos eCentros Espíritas”. Em seguida,foi apresentado um panoramageral das atividades do CEI, porFernando Quaglia, da equipe daEditora do Conselho EspíritaInternacional (EDICEI). Sob acoordenação da presidente daUnião Espírita Alemã, MariaGekeler, foram desenvolvidaspalestras por companheiros da-quele país. No último dia ocor-reu a Assembleia Geral da UniãoEspírita Alemã. Informações:<[email protected]>;página eletrônica: <www.spiritismus-dsv.de>.

Espanha

A Federação Espírita Espanholapromoveu o XVII Congreso Espí-rita Nacional, em Calpe, nos dias 6,7 e 8 de dezembro, tendo como te-ma central “Vida antes y despuésde la Vida”. Na cerimônia de aber-tura o presidente da Federação Es-pírita Espanhola, Salvador Martín,fez a saudação inicial, seguida desaudação de Nestor João Masotti;Divaldo Pereira Franco proferiua conferência, subordinada ao te-ma central. Estavam presentes oitomembros da Comissão Executivado Conselho Espírita Internacionalque, posteriormente, também rea-lizaram reunião específica. O pro-grama do Congresso foi desenvol-

vido com atuação de 12 expositoresdo Movimento Espírita espanhol.Simultaneamente houve um traba-lho com crianças e jovens, paren-tes dos participantes do evento. Nacerimônia de encerramento, Dival-do Pereira Franco realizou um se-minário sobre o tema “La inmorta-lidad es el triunfo de la vida” e odiretor da FEB e do CEI AntonioCesar Perri de Carvalho fez a sau-dação final, enfatizando o Centená-rio de Chico Xavier e os CongressosBrasileiro e Mundial, programadospara 2010, proferindo a prece deencerramento. O evento transcor-reu no Hotel Diamante Beach. Nototal compareceram 410 inscritos.

Informações: <www.espiritismo.cc>.

Eventos espíritasna Alemanha e Espanha

29Fevere i ro 2010 • Reformador 67

Cesar Perri, Nestor Masotti e Divaldo Franco, expositoresno Congresso Espírita da Espanha

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ázaro Luís Zamenhof, o iniciador do esperanto,tinha plena consciência do valor das traduçõespara o enriquecimento e consequente fortaleci-

mento da língua.Vertendo obras significativas da literatura mun-

dial, evidenciou a aptidão da Língua InternacionalNeutra para a plena expressão das belezas e sutilezasdo pensamento artístico, com o que motivou talen-tosos tradutores que, ao longo dos anos, têm ofereci-do ao Movimento Esperantista textos preciosos nomesmo nível das obras originais.

Já nos referimos aqui, em outra oportunidade, àrica e fecunda atividade de Zamenhof nesse campo,de que resultou uma prodigiosa produção compostapor obras de Shakespeare, Gogol, Schiller, Goethe,Molière, Dickens, Orzeszkowa, Sholem Aleichem eAndersen.

Mas a um imponente monumento lítero-religiosoele dedicaria parte significativa de seu tempo comomentor dos trabalhos pioneiros em torno do espe-ranto: a língua não poderia prescindir de uma dignaversão daquela que é inegavelmente a mais universaldas obras literárias de nossa civilização: a Bíblia.

Já desde 1907, quando o esperanto completava o20o ano de existência, a conceituada editora francesaHachette publicava regularmente, no periódico es-perantista La Revuo (A Revista), traduções, capítuloa capítulo, de alguns livros do Velho Testamento,feitas por Zamenhof. Assim foram dados a lume ostextos dos livros Eclesiastes (1907), Salmos (1908) eProvérbios (1909).

Naquele ano de 1907, um dos resultados do 3o

Congresso Universal de Esperanto, em Cambridge,Inglaterra, foi o surgimento de uma Comissão paraacelerar os trabalhos em torno das Escrituras, cujoprimeiro fruto foi a versão do Novo Testamento,anunciada em 1909 durante o Congresso Britânico

de Esperanto e publicada em 1912. A maior parte dotrabalho coube ao pastor anglicano John CyprianRust, poliglota, profundo conhecedor do hebraico edo árabe, entre outros idiomas.

Certamente instigado por tão significativo em-preendimento, Zamenhof, evidenciando modéstia ehumildade invulgares, escreve uma carta ao pastor,dizendo-lhe do seu propósito de iniciar uma tradu-ção sistemática do Velho Testamento, mas se subme-tendo à autoridade do pastor:

[...] antes de iniciar a tradução, dirijo-me ao senhor

com o pedido de opinar sobre a minha intenção.

[...]

Esteja certo de que uma resposta negativa não me

causará nenhuma dor, pois eu muito desejaria que

pudéssemos ter uma boa tradução da Bíblia, e, com

grande prazer, cederia para outras pessoas o cometi-

mento, se assim for útil, segundo o seu critério.

Rust e, com ele, toda a Comissão Bíblica aprovamo projeto de Zamenhof que, sobre o tema, dá divul-gação através da mesma La Revuo, num prefácio aolivro Gênese, nele apresentando sólidos argumentosem favor da iniciativa, dos quais tentamos um resumo:

– Ninguém pode negar, nem mesmo o maior ini-migo da religião, que a obra mais importante da lite-ratura universal é a Bíblia, sendo de extraordináriaimportância para o Esperanto dela possuir uma dig-na tradução;

– As principais razões dessa importância são:

• não havendo no mundo livro mais conhecidodo que a Bíblia, sua versão em esperanto seriauma poderosa propaganda do idioma;

L

30 Reformador • Fevere i ro 2010 68

A FEB e o Esperanto

A Bíblia em esperanto

Page 31: reformador Fev. 2010 - a.qxp

• ela representaria, para a sua literatura, umaconquista muito mais valiosa do que possuiruma enorme quantidade de outras obras;

• muitas pessoas, que nunca leram a Bíblia emsuas línguas nacionais, certamente a leriamnuma boa tradução em esperanto;

• a Bíblia foi a base por excelência para o desen-volvimento da maior parte das línguas de cul-tura, principalmente para a formação de sualiteratura, o que também aconteceria ao espe-ranto, enriquecendo-o com palavras e expres-sões de caráter universal;

• como todos possuem a Bíblia em sua línguamaterna, a comparação do texto com a versãoem esperanto possibilitaria um estudo apro-fundado da Língua Internacional Neutra.

Em carta de 23/7/14, dirigida a um devotadopioneiro esperantista inglês, Harold BolingbrokeMudie, que havia atraído com sucesso a Socie-dade Bíblica para a edição da obra, Zamenhofdeclara ceder plenamente a tradução, renuncia a qualquer direito de também publicá-la porconta própria, concede ao pastor Rust plenos po-deres para fazer todas as alterações necessáriasno texto, desde que não fossem em nome dele,Zamenhof.

Em 3/3/15, Zamenhof escreve ao pastor, dando--lhe notícia de que a tradução estava concluída etoda datilografada. Mas as últimas páginas só foramenviadas em 1917, algumas semanas antes de suadesencarnação.

A 1a edição de La Sankta Biblio – Malnova kajNova Testamentoj (A Bíblia Sagrada – o Velho e oNovo Testamentos), baseada nas línguas originais(hebraico e grego, respectivamente), veio a lume em1/8/26, durante o Congresso Universal em Edimbur-go, Escócia, em solene ofício religioso na Catedral deSaint Giles. Duas fervorosas esperantistas, as irmãsAlgerina e Priscilla Peckover, financiaram a quasetotalidade do empreendimento.

Finalizamos nosso artiguete evocando duas mani-festações do saudoso Ismael Gomes Braga, especial-mente significativas para nós e ligadas à Bíblia emesperanto.

A primeira é de uma carta que Ismael nos enviouem 14/7/65, quando havíamos encerrado o estudodo Esperanto sem Mestre, de F. V. Lorenz. Transcreve-mos apenas os pequenos trechos pertinentes:

Com prazer recebi sua carta de 9 deste e felicito-o

fraternalmente por já ter vencido o estudo do Espe-

ranto. D’agora em diante só lhe cumpre gozar a lín-

gua, aperfeiçoando-se sempre pela leitura atenta.

[...]

Só a Bíblia fornece Zamenhof para muito tempo.

(Grifo nosso.)

A segunda está num cartão postal de 30/9/66, queconservamos colado à capa de nosso exemplar de LaSankta Biblio, oferecido por meu pai em 8/7/66.Vamos transcrever boa parte do texto, por julgá-losempre útil a todos os que querem se aperfeiçoar noesperanto:

Congratulo-me pelo seu progresso na querida lín-

gua: seu estilo já é fluente, claro, correto. A leitura de

La Sankta Biblio lhe será de grande utilidade.

Leia primeiramente a frase em Esperanto, procuran-

do compreendê-la sem auxílio de qualquer tradu-

ção. Preste atenção no modo de se exprimir em

Esperanto.

Em seguida, compare com a mesma frase na

tradução em português. Você observará que o

mesmo pensamento se expressa em formas di-

ferentes. Aprenda então a maneira de redigir o

pensamento em Esperanto, para não cair nas cons-

truções da língua nacional. Leia devagar, com

paciência.

A Bíblia em esperanto pode ser adquirida na LigaBrasileira de Esperanto: <www.esperanto.org.br> e<[email protected]>.

Existem também edições que contêm apenas oVelho ou o Novo Testamento.

31Fevere i ro 2010 • Reformador 69

Page 32: reformador Fev. 2010 - a.qxp

O “Projeto Centená-rio de Chico Xavier”,coordenado pela Fede-ração Espírita Brasi-leira, foi iniciado comcomemorações em Pe-dro Leopoldo (MG), ter-ra natal do médium.Na manhã do dia 1o dejaneiro, houve alvora-da com apresentação daBanda da Polícia Mili-tar do Estado de MinasGerais, na Praça ChicoXavier. Numa promo-ção conjunta da Fede-ração Espírita Brasi-leira e da União Espírita Minei-ra (UEM), na noite do mesmodia ocorreu a abertura das co-memorações no Centro EspíritaLuiz Gonzaga, fundado pelomédium. A Mesa foi coordena-da pela dirigente deste Centro,Célia Diniz Rodrigues, ocorren-

do apresentação de grupo mu-sical da UEM, prece de aberturapor Juselma Maria Coelho (deBelo Horizonte), saudação pelopresidente da UEM, Marival Ve-loso de Matos, e a palestra pro-ferida pelo presidente da FEB,Nestor João Masotti. Após leitu-

ra de poema pelo presidente daUEM, foram lidas as mensagenspsicografadas por Wagner Go-mes da Paixão: “Mediunidadesublimada”, de Irmão X e “Sob atutela de Ismael”, de ManuelQuintão, as quais serão publi-cadas em próximas edições de

Comemoraçõesdo Centenário de

têm início em Pedro LeopoldoChico Xavier

32 Reformador • Fevere i ro 201070

Presidente Nestor (falando), ladeado por Célia Diniz Rodrigues e Marival Veloso de Matos

Page 33: reformador Fev. 2010 - a.qxp

Reformador. A prece de en-cerramento, com manifes-tações de gratidão a ChicoXavier, foi proferida porJaques Albano da Costa (di-retor do Centro-sede de1971 a 1988). Integraram aMesa o vice-presidente daFEB Altivo Ferreira, os di-retores da FEB AntonioCesar Perri de Carvalho eJoão Pinto Rabelo, o presi-dente da Fundação CulturalChico Xavier, os presidentesdas Alianças Municipais Es-píritas das cidades de PedroLeopoldo e Uberaba, e WagnerGomes da Paixão.

Na manhã do dia 2 houve umacaminhada, coordenada pelo pre-sidente da Aliança Municipal Es-pírita de Pedro Leopoldo, JohnHarley Marques, saindo da Pra-ça Chico Xavier e visitando aCasa de Chico Xavier (sua resi-dência de 1948 a 1958, agoraum museu), o Centro EspíritaLuiz Gonzaga, o Centro Espíri-ta Meimei (também fundadopor Chico Xavier). Neste local,

onde estava montada uma mos-tra de fotos sobre o médium,houve saudação pelo dirigenteEugênio Eustáquio dos Santos e

apresentação sobre acampanha publicitária

do Centenário e do 3o

Congresso EspíritaBrasileiro, feita porRicardo Mesquita, as-sessor da FEB. Às 18horas do mesmo dia,

os visitantes compa-receram à reunião que

habitualmente se realizana Casa de Chico Xavier, e,

às 20 horas, ocorreu um saraumusical no Lar Espírita Chi-quinho Carvalho, local em queChico Xavier, muitas vezes,

participava da confraterni-zação de passagem de

ano. Em vários locaiscompareceram sobri-nhos do homenagea-do e, neste últimoevento, esteve presen-

te sua irmã Cidália Xa-vier de Carvalho. Infor-

mações sobre o Centenário deChico Xavier e o 3o CongressoEspírita Brasileiro:<www.febnet.org.br>;<www.100anoschicoxavier.com.br>.

Início da caminhada na Praça Chico Xavier

33Fevere i ro 2010 • Reformador 71

Page 34: reformador Fev. 2010 - a.qxp

tendendo ao alvitre de Si-mão Pedro, Barnabé con-vidou Paulo para os traba-

lhos promissores na Igreja deAntioquia. No artigo anterior [pu-blicado em jan. 2010, p. 33-35],concluímos que, da data de sua con-versão em Damasco até sua chega-da em Antioquia, transcorreramseis longos anos (primeiro trimes-tre do ano 36 d.C. até o verão doano 42 d.C.), nos quais o Apóstolodos Gentios consolidou as profun-das transformações que o encon-tro com Jesus lhe provocou.

Consoante os informes de Em-manuel e Irmão X:

[...] Ainda, aí, entrou a com-

preensão de Pedro para que não

faltasse ao tecelão de Tarso o

ensejo devido. Observando as

dificuldades, depois de indicar

Barnabé para a direção do nú-

cleo do “Caminho”, aconse-

lhou-o a procurar o convertido

de Damasco, a fim de que sua

capacidade alcançasse um cam-

po novo de exercício espiritual.

[...]

Pressuroso e prestativo, Saulo

de Tarso em breve se instalava

em Antioquia, onde passou a

cooperar ativamente com os

amigos do Evangelho. [...]2

Com efeito, daí a meses, um

portador da igreja de Jerusalém

chegava apressadamente a An-

tioquia, trazendo notícias alar-

mantes e dolorosas. Em longa

missiva, Pedro relatava a Barna-

bé os últimos fatos que o aca-

brunhavam. Escrevia na data

em que Tiago, filho de Zebedeu,

sofrera a pena de morte, em

grande espetáculo público. [...]3

(Grifo nosso.)

Onze anos após a crucificação do

Mestre, Tiago, o pregador, filho

de Zebedeu, foi violentamente

arrebatado por esbirros do Si-

nédrio, em Jerusalém, a fim de

responder a processo infaman-

te. (Grifo nosso.)

[...]

O antigo pescador e aprendiz de

Jesus é atado a grande poste e, ali

34 Reformador • Fevere i ro 2010 72

A

Cristianismo Redivivo

HA RO L D O DU T R A D I A S

“Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando versículos para trazerem à tona os erros do nosso tentame singelo. [...] e ao

pedantismo dogmático, ou literário, de todos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o espírito vivifica” 1

História da Era ApostólicaAinda a Síntese Cronológica

1XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão.Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. 2. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. Breve notícia,p. 10. 2Idem, ibidem. P. 2, cap. 4, p. 388. 3Idem, ibidem. p. 395.

Page 35: reformador Fev. 2010 - a.qxp

mesmo, sob a alegação de que

Herodes lhe decretara a pena, le-

gionários do povo passam-no pe-

la espada, enquanto a turba es-

tranha lhe apedreja os despojos.4

Imensas surpresas aguardavam

os emissários de Antioquia, que

já não encontraram Simão Pe-

dro em Jerusalém. As autorida-

des haviam efetuado a prisão

do ex-pescador de Cafarnaum,

logo após a dolorosa execução

do filho de Zebedeu. [...]5

Nos capítulos 11, 12 e 13 do li-vro Atos dos Apóstolos encontra-

mos uma descrição parcial dos fa-tos ocorridos durante a perma-nência do Apóstolo em Antio-quia, entre eles a mudança do no-me dos seguidores de Jesus, quepassaram a se chamar “cristãos”,um ano depois da chegada dePaulo (Atos, 11:26); as previsõesdo profeta Ágabo a respeito dosmartírios em Jerusalém (Atos,11:28); o martírio de Tiago, filhode Zebedeu, e irmão de JoãoEvangelista (Atos, 12:2); a prisãode Simão Pedro, a morte de He-rodes (Atos, 12:3 e 23) e a viagemde Paulo e Barnabé a Jerusalém(Atos, 12:25).

Essa descrição parcial é bastan-te enriquecida com os dados tra-zidos pelo Benfeitor Emmanuel,no romance Paulo e Estêvão, per-mitindo-nos organizar um qua-dro razoavelmente detalhado doperíodo.

Desse modo, conjugando asinformações, é possível deter-minar que o martírio de Tiagoocorreu, segundo o relato do Es-pírito Irmão X, onze anos apósa crucificação. Em publicaçõesanteriores demonstramos que acrucificação de Jesus se deu emabril/maio do ano 33 d.C.,6

portanto, Tiago morreu no ano44 d.C.,7 data em que Simão Pedro escreveu a missiva para

35Fevere i ro 2010 • Reformador 73

4XAVIER, Francisco C. Contos desta edoutra vida. Pelo Espírito Irmão X. 2. ed.2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.Cap. 23. p. 111-112.

5Idem. Paulo e Estêvão. Pelo EspíritoEmmanuel. 44. ed. 2. reimp. Rio de Janei-ro: FEB, 2007. P. 2, cap. 4, p. 396.

6Consultar o artigo intitulado “A cruci-ficação de Jesus”, publicado na revistaReformador, ano 126, n. 2.154, set. 2008,p. 33(351)-35(353).

7Consultar o artigo intitulado “A Igreja deAntioquia”, publicado na revista Reforma-dor, ano 127, n. 2.167, out. 2009, p. 34(392)--36(394).

Tiago, filho de Zebedeu, por Benvenuto Tisi de Garofalo

Page 36: reformador Fev. 2010 - a.qxp

Barnabé, que se encontrava emAntioquia.

Herodes Agripa I, filho maisnovo de Herodes Magno (Hero-des, o Grande), foi condecoradocom o título real pelo imperadorromano Calígula no ano 37 d.C.,mas somente reinou, efetivamen-te, a partir do ano 41 d.C. Os his-toriadores divergem quanto à da-ta da sua morte, especulando queela tenha ocorrido entre setem-bro/outubro de 43 d.C. e feverei-ro de 44 d.C.

Harold Hoehner, em sua tesede doutorado intitulada Chronolo-gy of the Apostolic Age,8 postula que

Herodes morreu no ano 44 d. C.,apresentando diversas evidênciasdocumentais e arqueológicas bas-tante convincentes. Ademais, suadata se harmoniza perfeitamentecom aquela informada pelo Espí-rito Irmão X.

Após o recebimento da carta deSimão Pedro, Paulo e Barnabé di-rigiram-se a Jerusalém, onde fo-ram surpreendidos pela ausênciado próprio Simão, que havia seretirado da cidade, em função dasua anterior prisão.

Não obstante, Barnabé e Pauloentregaram a coleta de donativosao apóstolo Tiago, regressando a

Antioquia profundamente im-pressionados com as mudançasocorridas na Igreja de Jerusalém,que perdera suas característicasde simplicidade e independência.

O resumo das datas mencio-nadas neste artigo e no anteriorpode ser conferido na tabela aci-ma, enriquecida com outros even-tos mencionados no livro Atosdos Apóstolos.

36 Reformador • Fevere i ro 2010 74

9Consultar o artigo intitulado “A cruci-ficação de Jesus”, publicado na revistaReformador, ano 126, n. 2.154, set. 2008,p. 33(351)-35(353).

10Consultar o artigo intitulado “O pri-meiro Mártir”, publicado na revistaReformador, ano 127, n. 2.158, jan. 2009,p. 29(27)-31(29).

11Consultar o artigo intitulado “A Igrejade Antioquia”, publicado na revista Reformador, ano 127, n. 2.167, out. 2009,p. 34(392)-36(394).

8O leitor não deve confundir essa tese dedoutorado, não publicada, com outro livrode Harold Hoehner intitulado Chronolo-gical Aspects of the Life of Christ, publicadopela Editora Zondervan, de caráter estrita-mente religioso. Sua tese de doutorado

reúne todos os requisitos que uma obraacadêmica deve apresentar para ser aceitapelos especialistas da área, ao contrário doseu livro, acima citado, que foi dirigido aopúblico religioso.

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esgosto pelo bem alheio oudesejo de possuir o que ou-tro tem estão entre as situa-

ções geradoras da inveja. Sentimen-to originário das paixões negativase fomentador de angústias, situa-sedistante de comportamento ou pos-tura que classifique seu possuidorcomo da classe dos bons Espíritos,conforme indicação da “Escala espí-rita” (questões 100-113 de O Livrodos Espíritos).1 De acordo com a Es-cala, informa a citada obra básica:2

Quando encarnados, são bon-

dosos e benevolentes com os seus

semelhantes. Não os movem o

orgulho, nem o egoísmo, ou a

ambição. Não experimentam

ódio, rancor, inveja ou ciúme e

fazem o bem pelo bem.2

Breve pesquisa no subtítulo“O egoísmo” – capítulo XII, ParteTerceira, questões 913 a 917 daobra em referência – permite en-

tender com facilidade que a invejaé derivada daquele que é conside-rado como o vício mais radical,verdadeira chaga da sociedade:exatamente o egoísmo. Referidasquestões oferecem vasto materialpara reflexões. Em toda a obra, osentimento de inveja ou a própriapalavra são citados inúmeras ve-zes pelo Codificador e nas respos-tas dos Espíritos.

Sendo um sentimento huma-no, próprio da condição atual emque estagia a Humanidade, a sersuperado com a inevitável evolu-ção a que nos destinamos, tam-bém está presente naqueles quenos aproximamos da DoutrinaEspírita, por razões de diferentesorigens. E, como não poderia dei-xar de ser – até pela nossa própriacondição humana de seres imper-feitos –, está presente também nouso e exercício da mediunidade.

Em O Evangelho segundo o Espi-ritismo – capítulo V, item 13, no sub-título “Motivos de resignação” –,Kardec pondera: “[...] com a inve-ja, o ciúme e a ambição, voluntaria-mente se condena à tortura e au-menta as misérias e as angústias da

sua curta existência”,3 entre outrascitações constantes da mesma obra.

Em O Livro dos Médiuns igual-mente há o destaque de que den-tre os defeitos morais que afastamos médiuns da assistência dosbons Espíritos está a inveja, con-forme se pode encontrar no capí-tulo XX, Parte Segunda – “Da in-fluência moral do médium”. Mui-to claro entender as razões.

A Revista Espírita, na moder-níssima edição da Federação Es-pírita Brasileira, cujo volume doÍndice Geral (1858-1869)4 permitepesquisar com grande facilidadeos temas desejados, informa o ter-mo inveja com cinco indicaçõesde pesquisa naquela publicaçãofundada por Kardec.

Dentre as inúmeras possibilida-des de abordagem, em face do ex-tenso material disponível nas pu-blicações referidas, optamos pelacomunicação assinada pelo Espírito

Inveja nos eentre os médiunsD

OR S O N PE T E R CA R R A R A

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2008.

2Idem, ibidem. Q. 107.

3Idem. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. Riode Janeiro: FEB, 2009.

4SOBRINHO, Geraldo Campetti (Coord.).Revista Espírita 1858-1869: índice geral.Rio de Janeiro: FEB, 2008.

37Fevere i ro 2010 • Reformador 75

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Luos, que foi enviada pelo Sr. Ky...,correspondente da Sociedade Pa-risiense de Estudos Espíritas emCarlsruhe. Referida mensagem foiincluída por Kardec na Revista Es-pírita de abril de 18615 com o tí-tulo “Sobre a inveja nos médiuns”,acrescida de comentário pessoaldo Codificador, em texto inspiradorda presente abordagem.

Comenta o Espírito autor dotexto:

Sede humildes de coração, vós a

quem Deus permitiu participás-

seis de seus dons espirituais. Não

atribuais nenhum mérito a vós

mesmos [...]. Lembrai-vos bem

de que não passais de instrumen-

tos de que Deus se serve para

manifestar ao mundo o seu Es-

pírito onipotente, e que não ten-

des nenhum motivo para vos glo-

rificardes de vós mesmos. Há

tantos médiuns, ah! que se tor-

nam vãos, em vez de humildes,

à medida que seus dons se de-

senvolvem! Isso é um atraso no

progresso, pois no lugar de ser

humilde e passivo, muitas ve-

zes o médium repele, por vaida-

de e orgulho, comunicações

importantes dadas a lume por

outros mais merecedores. [...]6

Depois dessas importantes con-siderações estimuladoras da humil-dade, o autor espiritual adentra naquestão da inveja e afirma:

No médium a inveja é tão temí-

vel quanto o orgulho; prova a

mesma necessidade de humil-

dade. [...] Não é mostrando in-

veja dos dons do vosso vizinho

que recebereis dons semelhan-

tes, porquanto,

se Deus dá mui-

to a uns e pouco a

outros, ficai certos

de que, assim agindo,

tem um motivo bem

fundado. A inveja exas-

pera o coração; abafa

mesmo os melhores senti-

mentos. É, pois, um inimigo

que só se poderia evitar com

muito cuidado, pois não dá ne-

nhuma trégua, uma vez que se

apoderou de nós. Isto se aplica

a todos os casos da vida terrena.

Mas eu queria falar principal-

mente da inveja entre os médiuns,

tão ridícula quanto desprezível

e infundada, e que prova quão

fraco é o homem quando se dei-

xa escravizar pelas paixões.7

Notem a conclusão do Espírito,referindo-se às paixões. Nesse sen-tido, para ampliar o entendimen-to, é de muita utilidade uma pes-quisa em O Livro dos Espíritos, nasrespostas às questões 907 a 912.

Na abordagem específica, cons-tante da Revista Espírita, aqui emdestaque, Kardec comenta a men-sagem, acrescentando a reação dogrupo diante da sua leitura, emvirtude da comparação sobre a in-veja dos médiuns com a dos so-nâmbulos. O texto merece ser lidona íntegra, no original da obra, maso objetivo aqui é abordar exata-

5KARDEC, Allan. Revista espírita: jornalde estudos psicológicos, ano 4, p. 195. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2007. 6Idem, ibidem. p. 195. 7Idem, ibidem. p. 196.

38 Reformador • Fevere i ro 2010 76

Page 39: reformador Fev. 2010 - a.qxp

mente a inveja. O comentário lúci-do de Allan Kardec se faz presentecom precisão:

[...] Um médium tem inveja de

outro médium porque está em

sua natureza ser invejoso. Esta

falha, consequência do orgulho

e do egoísmo, é essencialmente

prejudicial à boa qualidade das

comunicações [...]. Os Espíritos

simpatizam com ele em razão

de suas qualidades ou de seus

defeitos. Ora, os defeitos mais

antipáticos aos bons Espíritos

são o orgulho, o egoísmo e a

inveja. [...]8

Ora, eis, portanto, diretriz pa-ra o caminho do equilíbrio nointercâmbio com os bons Espíri-tos: o libertar-se desses sentimen-tos contrários à própria propostado Espiritismo.

Quantos prejuízos não são ad-vindos da inveja nos médiuns eentre os médiuns? Quantas de-cepções e contrariedades não po-dem ser evitadas, desde que nosdisponhamos a exercer com hu-mildade o mandato mediúnico?

Não é por acaso que o Codifi-cador, em seu Discurso de 1o deabril de 1862, na Sociedade Pari-siense de Estudos Espíritas, em pre-cioso texto disponível na RevistaEspírita, de junho de 1862, decla-ra com muita propriedade:

[...] como discutir comunica-

ções com médiuns que não ad-

mitem a menor controvérsia,

que se ofendem com uma obser-

vação crítica, com um simples

comentário, e ficam contraria-

dos quando não são aplaudidos

pelas coisas que recebem, mes-

mo aquelas eivadas das mais gros-

seiras heresias científicas? [...]

Essa imperfeição, em médiuns

assim atingidos, é um enorme

obstáculo ao estudo. [...] não

podemos nos eximir de discu-

tir, mesmo com o risco de desa-

gradar aos médiuns. [...]9

Observações lúcidas e extrema-mente atuais, não é mesmo?

Verifiquemos o detalhe dainveja:

[...] Alguns levam a sua suscep-

tibilidade a ponto de se escan-

dalizarem com a prioridade da-

da à leitura das comunicações

recebidas por outros médiuns.

Quando é que uma comunica-

ção é preferida à sua? [...].10

A clara e fraterna advertênciade Kardec, cabível nas dificulda-des humanas atuais, é um convi-te para vencermos esses obstácu-los à boa sintonia com os benfei-tores espirituais que nos cercam de carinho e estímulos ao bem.Vencendo-os, teremos reuniõesmais produtivas, com resultadosseguros, promovendo o bem e oprogresso da equipe envolvida,nas bênçãos próprias da ativida-de mediúnica orientada pelo Es-piritismo.

8KARDEC, Allan. Revista espírita: jornalde estudos psicológicos, ano 4, p. 197,abril 1861. Trad. Evandro Noleto Bezerra.3. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2007.

10Idem, ibidem. p. 234.

9Idem. Ano 5, p. 233-234. Trad. EvandroNoleto Bezerra. 3. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2007.

Aos nossos prezados colaboradores solicitamos o obséquiode enviarem suas matérias, de preferência, digitadas no progra-ma Word, fonte Times New Roman, tamanho de fonte 12, régua15, justificado. O texto, para ser devidamente ilustrado, deveconter: até 30 linhas (1 página), até 80 linhas (2 páginas) e até110 linhas (3 páginas).

Nas citações, mencionar as respectivas fontes (autor, títuloda obra, edição, local, editora, capítulo e página), em nota derodapé ou referência bibliográfica.

Em face da grande quantidade de artigos recebidos, a Re-dação não se compromete com a publicação de todos, arquivan-do os não publicados, independentemente de comunicaçãoaos seus autores.

Agradecemos o apoio e a compreensão de todos, e quepossamos continuar unidos na tarefa de divulgação da Dou-trina Espírita.

Aos Colaboradores

39Fevere i ro 2010 • Reformador 77

Page 40: reformador Fev. 2010 - a.qxp

alando-se em paz, remete-mo-nos logo a países sem lu-tas, sem violência e tumulto

de toda a sorte. Há colóquios depaz pelo desarme de grandes na-ções que, vez por outra, acabamem insultos e ameaças, resultantesda falta de base do verdadeirosentido de fraternidade. Entende--se também por paz o direito de serespirar em clima de perfeitaquietude, longe dos demais trans-tornos da esfera social.

Paz, sinônimo de concórdia,de entendimento entre criaturashumanas, começaria essencial-mente num reduto doméstico.Lar, esse bendito recesso da con-juntura consanguínea, significasublime fonte da educação parao êxito dos valores morais e inte-lectuais ante os transes comple-xos da existência; se bem conhe-cidos e compreendidos, esses va-lores ajudam sobremaneira acriatura humana a superá-los.Em tese, lar é um espaço onde sedariam por princípio as primei-ras noções de convivência pro-veitosa em prol de uma socieda-de mais humana, fraterna, segu-ra e justa.

Âmbito em louvor ao exercícioda perfeita dignidade, cada núcleodoméstico se caracteriza pela con-duta de seus membros. Quis Deusque, na ambiência familial, as vir-tudes conduzidas pela firmeza decaráter fossem levadas a efeito pe-la crença nos vínculos interpes-soais saudáveis segundo lei dobem irrestrito, sobretudo em rela-ção aos mais próximos, incluindonesse bem qualquer ser vivo orga-nizado, dotado de sensibilidade,com ou sem movimento, afora oconjunto de condições peculiarese de influências atuantes em nos-so meio ambiente. Quem de ver-dade ama a Deus sobre todas ascoisas e ao próximo como a simesmo ama o ar que respira, rios,mares, plantas, animais.

Mais que um aglomerado depessoas, o instituto de convivên-cia foi estabelecido para o auxílioem comum entre a parentela con-sanguínea. Sendo, ainda, impor-tante grupo de reeducandos, oslares terrenos deveriam ser pri-morosos recintos de nobre tradi-ção moral com base na solidarie-dade e respeito fraternos entre osseus indivíduos.

Por isso, Deus, a eterna e su-prema bondade e justiça, fez ascriaturas associarem-se em regi-me de reparação através do meiopalingenésico, tendo em vista oexercício da boa convivência emfavor do progresso espiritual. Masa família consanguínea, não seiluda, segundo o Espírito Emma-nuel, é formada “[...] de agentesdiversos, porquanto nela se reen-contram, comumente, afetos e de-safetos, amigos e inimigos, paraos ajustes e reajustes indispensá-veis ante as leis do destino”.1 (Gri-fo nosso.) Cada lar representa agarantia da sobrevivência dos va-lores morais de interesse do pró-prio gênero humano, e não dá pa-ra estabelecer o bem em nossa so-ciedade sem essa garantia.

Por exemplo, enchemo-nos de dó ante lastimoso padecer demães afligidas por filhos viciadosem drogas, leves ou pesadas, princi-palmente, se estes se transforma-ram em criminosos cruéis, algunsdos quais homicidas a partir da

Paz no lar,paz no mundo!

FDAV I L S O N S I LVA

1XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. PeloEspírito Emmanuel. 26. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2009. Cap. 2, p. 19.

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infância... Muitos infortúnios nãoocorreriam, se certos pais com-batessem, desde cedo, em seus fi-lhos o princípio das más tendên-cias: o egoísmo, filho do orgulho,que “é o causador de todas as mi-sérias do mundo terreno”.2 Co-brando explicação de si mesmosou do Criador, é comum aquelapatética e famosa pergunta: On-de foi que eu errei?! A maior par-te de pais e mães considera os fi-lhos propriedade exclusiva e, aocolherem o que semearam, ouseja, a falta de respeito, a ingra-tidão, julgam-se os maiores “coi-tadinhos”...3

Concluindo, a paz entre as po-tências do mundo só será real-mente obtida com base na frater-nidade pura, com responsabilida-de e respeito mútuos, sem restri-ção, e não apenas à custa de mani-festações públicas de gesticula-ções, exibições de símbolos, decartazes e de anúncios na TV. Pazverdadeira não depende de even-tos de caráter diplomático, asmais das vezes sem nenhum efeitopositivo, notabilizados por atitu-des teatrais de sorrisos, abraços eapertos de mão para sair no noti-ciário. Não adianta: paz, exata-mente, tem de começar primeiroem casa, e ponto final.

Como vimos, lar não é ape-nas uma construção em certoespaço de terreno, limitada

por paredes e tetos, com sala, quar-to, cozinha, demais dependências,e o carro na garagem... Quandonos referimos à família, não fala-mos de um grupo de pessoas domesmo sangue, reunidas nummesmo endereço destinado a re-pastos, descanso e lazer, nem nosreferimos a indivíduos que nãocostumam dirigir cumprimentosnem pedir licença, desculpas, umnão sabendo onde o outro está,se volta cedo ou tarde, ou se nãovolta... Fiquemos, portanto, comestas brilhantes palavras da vene-randa Joanna de Ângelis, sublimeespecialista em ciência dos fenô-menos psíquicos e do conjunto

de reações da individualidadeencarnada:

A Doutrina Espírita, atualizan-

do a lição evangélica, descorti-

na na família esclarecida espiri-

tualmente a Humanidade dito-

sa do futuro promissor.

Sustentá-la nos ensinamentos

do Cristo e nas lições da reta

conduta, apesar da loucura ge-

neralizada que irrompe em to-

da parte, é o mínimo dever de

que ninguém se pode eximir.4

2KARDEC, Allan. O evangelho se-gundo o espiritismo. Trad. GuillonRibeiro. 129. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2009. Cap. 11, item 11.

3Idem, ibidem. Cap. 5, item 4.

4FRANCO, Divaldo P. Estudos espíritas. PeloEspírito Joanna de Ângelis. 8. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 24, p. 179.

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Amazonas: Encontro de TrabalhadoresO presidente da FEB, Nestor João Masotti, proferiupalestra pública em Manaus, no dia 22 de janeiro,para abertura das comemorações do Centenário deChico Xavier no Estado e dos 106 anos da FederaçãoEspírita Amazonense. Nos dois dias seguintes oPresidente participou do Encontro de Trabalhado-res, abordando o tema “Comprometimento e Auto-transformação no Trabalho do Bem”. Informações:<www.feamazonas.org.br>.

Prêmio Observatório EspíritaA Associação dos Divulgadores do Espiritismo deCampinas (SP), através de sua emissora RádioEspírita de Campinas, instituiu o I Prêmio Obser-vatório Espírita – Os destaques da Imprensa Espíritaem 2009. Na categoria Popularização do Espiritismo,foi premiado o artigo “Evolução e evolucionismo,biológico e metafísico”, de Nadja do Couto Valle,publicado em Reformador de julho de 2009. A entre-ga do Prêmio será realizada em 6 de fevereiro na sededa USE Internacional de Campinas.

Áustria e República Tcheca: Palestras doConselho Espírita Internacional

A Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec(VAK), sediada em Viena, foi visitada pelo diretor daFEB e do CEI Antonio Cesar Perri de Carvalho e suaesposa Célia Maria Rey de Carvalho, onde proferi-ram palestras no período de 28 de novembro a 1o dedezembro. Esta Sociedade mantém apoio a gruposem formação na República Tcheca e na Eslováquia, eincluiu Praga e Brno na programação de palestra doscitados expositores, respectivamente, nos dias 2 e 3de dezembro, com o apoio e tradução do dirigentedo VAK Josef Jackulak, para o idioma tcheco. Infor-mações: <[email protected]>.

Anencéfalos: Audiência na Câmara dosDeputados

A Comissão de Legislação Participativa da Câmara

dos Deputados promoveu audiência pública no dia10 de dezembro sobre a questão dos fetos anencéfa-los (cujo cérebro não está completamente formado).A FEB esteve representada por Jaime Ferreira Lopes,diretor da Federação Espírita do Distrito Federal, oqual reforçou o caráter constitucional e de funda-mentação espírita do direito à vida, fazendo consi-derações no sentido de que esta tem início nomomento da concepção. Informações:<www2.camara.gov.br/agencia/noticias/143941.html>.

Pará: Feira do Livro EspíritaA União Espírita Paraense promoveu a XX Feira do

Livro Espírita de Belém, no período de 5 a 13 dedezembro, na Praça da República, em Belém. Alémde lançamentos, a promoção contou com literaturavariada, como: livros clássicos, históricos, roman-ces, infantis, mensagens, palestras, seminários enovelas em DVD e CD. A novidade foi a exposiçãode obras espíritas em francês e esperanto. Informa-ções: <www.paraespirita.com.br>.

O Livro dos Espíritos: Lançamento emáudio-livro

O ator Carlos Vereza lançou no dia 14 de dezembro,no Rio de Janeiro, a versão áudio-livro de O Livro dosEspíritos. Ao lado da filha Larissa Vereza, que tam-bém emprestou a sua voz, o ator narra o texto dacitada obra, mantendo fidelidade ao original. O lan-çamento ocorreu na Livraria da Travessa, do BarraShopping. Informações:<www.audiolivrodosespiritos.com.br>.

Piauí: Livro Espírita em Praça PúblicaA 23a Feira do Livro Espírita movimentou o centrode Teresina. Instalada na Praça Pedro II, a Feira apre-sentou mais de cinco mil títulos da literatura es-pírita, com publicações de diversas editoras, entre asquais a Federação Espírita Brasileira. O evento es-tendeu-se do dia 7 ao dia 30 de dezembro. Infor-mações: <www.fepiaui.org.br>.

Seara Espírita

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