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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

Revista de Espiritismo CristãoAno 125 / Fevereiro, 2007 / N o 2.135

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Diretor-substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO

NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO

Secretária: SÔNIA REGINA FERREIRA ZAGHETTO

Gerente: AMAURY ALVES DA SILVA

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-cia Federal do Ministério da Justiça),CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Souza Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mail: [email protected]

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected] e

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES

Editorial

Reencarnação

Entrevista: Lauro de Oliveira São Thiago

Uma vida dedicada à Homeopatia e ao Espiritismo

Presença de Chico Xavier

Lições do momento – André Luiz

Esflorando o Evangelho

Mar alto – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Valiosas sugestões do presidente da Associação Universal de

Esperanto – Affonso Soares

Reformador de ontem

Eutanásia, nunca! – Vianna de Carvalho

Seara Espírita

As religiões e as tradições – Juvanir Borges de Souza

De vez em quando – Richard Simonetti

Riqueza intocada – Dario Veloso

Tendências: Reflexos do passado (Capa) –

A. Merci Spada Borges

Ouve – Amaral Ornellas

Casos de evidências de reencarnação (Capa) –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A reencarnação fortalece os laços de família –

Allan Kardec

Em dia com o Espiritismo – Células-tronco e congela-

mento de embriões – Marta Antunes Moura

FEB no “Fórum Espiritual Mundial”

Questão de escolha – Ivone M. M. Ghiggino

Com Cristo, não há sombra sombria –

Jorge Leite de Oliveira

Eutanásia – Nestor Vítor

Há órgãos no corpo espiritual? – Mauro Paiva Fonseca

Conflitos de jurisdição – Alfredo Fernandes de Carvalho

Cursos na Sede Seccional da FEB em 2007

Bezerra de Menezes Abolicionista –

João Marcos Weguelin

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SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual RR$$ 3399,,0000Número avulso RR$$ 55,,0000

PARA O EXTERIORAssinatura anual UUSS$$ 3355,,0000

AAssssiinnaattuurraa ddee RReeffoorrmmaaddoorr:: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

EE--mmaaiill:: [email protected]

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Editorial

4 Reformador • Fevere i ro 2007 4422

“[...]Quando Jesus pronunciou a divina palavra – amor, os povos sobressalta-

ram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto

divino. Estai atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a

reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patri-

mônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem: condu-lo à conquis-

ta do seu ser, elevado e transfigurado.”

LÁZARO (PARIS, 1862)*

ma das mais graves situações que o ser humano vivencia em nossa época,marcada pela insegurança e pela instabilidade, é a falta de respostas às suasdúvidas: o que sou?, de onde vim?, para onde vou?, o que faço aqui na

Terra?, qual o sentido da existência humana?... São questões a que o materialismo,assim como as doutrinas espiritualistas que admitem apenas uma única existência,não conseguem responder.

O Espiritismo, porém, desde a metade do século XIX, nos esclarece, assentadoem fatos submetidos ao crivo da razão, a realidade da multiplicidade das existênciasfísicas, já registrada no Velho e no Novo Testamentos, e que proporciona ao Espí-rito imortal as oportunidades de crescimento e aprimoramento intelectual e moral.

Independentemente de qualquer revelação espiritual, os fatos não deixam dúvi-das a respeito desta verdade. Eles ocorrem com pessoas sem nenhuma convicçãoreligiosa ou espiritualista, obrigando-as a reformulações relacionadas com suasconvicções próprias diante de realidades por elas vividas, conforme relatos queconstam desta edição de Reformador.

Estudiosos, voltados às pesquisas científicas, já reúnem um número avassaladorde fatos levantados, comprobatórios da reencarnação. Da mesma forma, psicólogose psiquiatras, sem nenhuma vinculação religiosa, já se utilizam, com resultados al-tamente positivos, das terapias de vivências passadas, buscando, em reencarnaçõesanteriores, as causas das patologias encontradas em seus pacientes na presenteexistência.

Isto tudo deixa claro que a reencarnação não é apenas uma proposta teórica, filo-sófica ou religiosa, mas um fato científico constatado, utilizado e vivenciado nonosso dia-a-dia.

U

Reencarnação

*KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. XI, item 8.

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o observarmos o roteiro doprogresso do homem naTerra, ao longo das idades

e das múltiplas civilizações, pode-mos perceber que a Humanidadeem todas as épocas e os povos detodos os quadrantes têm recebidoo auxílio divino, através dos envia-dos do Governador deste Orbe – oCristo de Deus.

O estudo das religiões, das maisantigas às atuais, assim como a pes-quisa dos sistemas filosóficos emorais demonstram que todos ospovos, nações, raças, tribos ougrupamentos humanos tiveramseus missionários, seus guias, seuspensadores e seus profetas, Espíri-tos mais adiantados, ou mais escla-recidos e vividos que vieram emmissão da Espiritualidade Supe-rior, com o objetivo de proporcio-nar o progresso espiritual de seuscontemporâneos e pósteros.

Por vezes, esses missionários seconstituem em verdadeiras alavan-cas para o deslocamento de errosarraigados, ou de superstições eatrasos de difícil remoção.

São formas de auxílio utilizadaspela Espiritualidade, sem prejuízodo livre-arbítrio com que foi cria-do cada beneficiário.

No mundo ocidental são notó-rias as três grandes Revelações, emcerca de 3.400 anos, vindas atravésde Moisés, do Cristo e da DoutrinaEspírita.

Cada uma dessas Revelaçõesatende às necessidades de melhorcompreensão das verdades e reali-dades referentes a Deus, o Criadordo Universo, à vida e à natureza dohomem, de sua origem e destino,sem perder de vista a capacidadede entendimento e as limitaçõesdaqueles seres aos quais foramdirigidas.

Moisés foi o grande legisladorhebreu, nasceu no ano 1.500 a. C. emorreu em 1.380 a. C. Criado nacorte faraônica do Egito antigo, re-cebeu ensinamentos e educaçãoespeciais. Chefiou a retirada doshebreus do Egito, onde eram es-cravos, e conduziu-os à Terra daPromissão, a atual Palestina.

Médium e missionário do Go-vernador da Terra – o Cristo deDeus – recebeu da Espiritualidade,no Monte Sinai, as Tábuas da Lei,com os Dez Mandamentos queconstituem a base para a legislaçãocivil em todo o mundo.

Além dos Mandamentos,recebidos mediunica-

mente, Moisés legou ao povo ju-deu o denominado Pentateuco,compreendendo cinco livros de re-gras civis e religiosas, além de in-formações históricas e narrações,que fazem parte do Antigo Testa-mento da Bíblia.

O Cristo representa a SegundaRevelação.

É o próprio Governador desteOrbe que, após enviar muitos mis-sionários aos habitantes da Terra,vem pessoalmente, no momentocerto por Ele escolhido, para indi-car à Humanidade o caminho cor-

As religiõese as tradições

AJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

Moisés: Primeira Revelação

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reto, o conhecimento da verdade eda vida, com ensinamentos e exem-plificações.

Sua autoridade provém da suacondição de Espírito puro, numamissão divina, indicando aos ho-mens o verdadeiro roteiro para aascensão humana.

Suas parábolas estão impregna-das de simplicidade, de sabedoria ede verdades eternas.

“Eu sou o Caminho, a Verdadee a Vida”, proclamou Ele, e exem-plificou como deve proceder o ho-mem para viver e elevar-se sem-pre, obedecendo às leis eternas deDeus.

Jesus veio no seio do Judaísmo,aproveitando a circunstância de sero povo hebreu o único a cultivar acrença no Deus único. Sua vindafoi anunciada pelos profetas bíbli-cos com séculos de antecedência.

Mas é evidente que sua Men-sagem se dirige a todos os povos,nações e raças, sem exceções, jáque todos os homens são criatu-ras de Deus.

Sabia Ele que seus ensinos nãoseriam compreendidos integral-mente, que haveria deturpações de-vidas à ignorância, de um lado, eaos interesses inferiores, de outro.

Por isso, prometeu o envio deoutro Consolador, para retificar osdesvios que ocorressem e ensinarcoisas novas.

Era a previsão da ocorrência daTerceira Revelação.

A última das três grandes Re-velações é representada pelo Es-piritismo, denominação criada pe-lo missionário Allan Kardec paradesignar a doutrina trazida aoshomens pela Espiritualidade Su-perior, à frente o Espírito de Ver-dade, tudo conforme a promessado Cristo, de enviar um outro Con-solador.

A época escolhida para o cum-primento da previsão de Jesus foi omeado do século XIX, por razõesque hoje podemos identificar, nasua significação transcendente.

O mundo havia caminhado eevoluído, impulsionado pelas reli-giões e pelas ciências, apesar dosenganos e erros dos homens.

O Cristianismo, embora nãoentendido na sua significação inte-gral, pela incapacidade interpreta-tiva, de um lado, e pelos interesseshumanos, de outro, não deixou deproduzir resultados benéficos, ape-sar dos desvios ocorridos em cercade dezoito séculos da presença daMensagem Cristã na Terra.

As ciências, de outro lado, ape-sar de contribuirem com muitosconhecimentos novos para o pro-gresso de toda a Humanidade, dei-xaram-se dominar pelo materialis-

mo de múltiplas faces, com gravesprejuízos para a realidade do espí-rito, o outro elemento do Univer-so, ao lado da matéria.

O aparecimento de diversas cor-rentes filosóficas materialistas nosúltimos séculos da história huma-na foi outro fator a justificar a pre-sença do Consolador no mundo.

Essas ocorrências mostram, comclareza, as razões pelas quais o Go-vernador Espiritual da Terra, sem-pre atento ao seu progresso, esco-lheu o século XIX para o adventode uma Nova Luz a iluminar oscaminhos da sua evolução – o Espi-ritismo, com suas revelações novassobre a vida futura e as necessáriasretificações dos erros ocorridos.

Com a nova ciência evidencia--se a existência e a natureza domundo espiritual e seu relaciona-mento com o mundo material, acla-rando e explicando o sentido davida e de muitos ensinos do Cristoque permaneciam ininteligíveis,por falta de conhecimentos da rea-lidade espiritual presente em todoser humano.

A Terceira Revelação aclaramuitos dos ensinos do Mestre In-comparável constantes dos Evan-gelhos e que foram interpretadosde conformidade com as tradiçõese com os interesses das instituiçõeshumanas criadas à sombra doCristianismo.

Assim como o Cristo declarouque não vinha destruir a lei antiga,mas, sim, dar-lhe cumprimento,vale dizer, mostrar sua real signifi-cação, interpretada pelos fariseus e

Jesus: Segunda Revelação

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saduceus de conformidade comsuas tradições e com seus interes-ses, também a Doutrina Espíritavem retificar a compreensão dosEvangelhos, restabelecendo o en-tendimento correto da lei de amor,justiça e caridade, que sintetiza to-das as leis morais.

Para que prevaleça o amor, operdão, o esquecimento das ofensas,a aceitação do semelhante, há ne-cessidade do retorno ao Cristianis-mo do Cristo, deturpado, mal inter-pretado e imposto pela tradição dasIgrejas em práticas variadas que sedistanciam dos ensinos do Mestre.

Mais importante que as mani-festações religiosas exteriores é oresguardo dos pensamentos e açõesque conduzem ao amor a Deus e aopróximo. É conservar os melhoressentimentos, repartindo-os cadacriatura com seus companheiros dejornada, para que a compreensão ea paz sejam sempre preservadas.

Tanto com relação às leis anti-gas, prescritas no Velho Testamen-to, quanto com referência aos ensi-nos do Cristo, acrescentaram-se, nodecorrer dos séculos, determina-das tradições, aceitas por sucessivasgerações, que se transformaram emusos, costumes e vivências, confun-didos com os preceitos originais.

Dessa forma, ao lado das Reve-lações Divinas, encontram-se osaditamentos humanos, tradicio-nais, confundidos com as prescri-ções superiores mas que, de certaforma, alteram sua significação.

Compulsando-se a história daIgreja, percebe-se que, a partir dosprimeiros séculos do Cristianismo,foram estabelecidas normas, re-

gras e dogmas, nos múltiplos Con-cílios, os quais deveriam ser obe-decidos e praticados pelos cristãos,transformando-se em costumes etradições, com prejuízo dos ensi-namentos originais.

É admirável a prescrição doCristo na síntese – “amar a Deussobre todas as coisas e ao próximocomo a si mesmo” – como normasuperior e invariável, capaz de di-rimir quaisquer dúvidas no enten-dimento da lei e na sua vivência.

É o Amor Soberano a sobrepor--se a quaisquer situações duvido-sas sobre como devemos agir e sen-tir, já que o amor ao nosso Criadoré um imperativo para todas as cria-turas em relação àquele que nosdeu o ser; e o amor aos nossos se-melhantes, sem exclusão de nin-guém, deve ter como base o amora nós mesmos, que nos é inato.

“Toda planta, que meu Pai ce-lestial não plantou será arranca-da.” (Mateus, 15:13.)

As palavras de Jesus, emboraalegóricas, não deixam dúvida so-bre a necessidade de preservar osuperior, o divino, das alterações eadições humanas, que só trazemprejuízos aos próprios homens.

A advertência de Jesus aos fari-seus aplica-se perfeitamente aostradicionalistas da época atual,que se preocupam com os precei-tos humanos criados por suas igre-jas, esquecendo-se da essência dasrevelações sucessivas, trazidas pelaEspiritualidade Superior ao tempode Moisés, do Cristo de Deus e doEspírito de Verdade.

O culto verdadeiro ao Se-nhor da Vida, o Criador do

Universo, e ao seu filho, o Cristo,Governador deste Orbe, há que par-tir do sentimento puro dos cora-ções, sem necessidade da interferên-cia de tradições oriundas dos usose costumes humanos, traduzidosgeralmente por honras exteriores.

O amor a Deus e ao próximo,na síntese inigualável do Cristo,desdobra-se nos sentimentos dejustiça, de fraternidade e de solida-riedade para com todos os seme-lhantes e na aceitação de nossos ir-mãos tais como são, embora nemsempre possamos concordar comseus pensamentos e ações.

O Espírito de Verdade e a plêia-de de Espíritos Superiores, tal co-mo já fizera antes o Cristo, vieramrestabelecer a prevalência do espí-rito sobre a matéria, a afabilidade ea benevolência de todos para comtodos, a indulgência para com asimperfeições alheias e o perdãodas ofensas.

Espiritismo: Terceira Revelação

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eus consola os humildes edá força aos aflitos que lhapedem. Seu poder cobre a

Terra e, por toda a parte, junto decada lágrima colocou Ele um bál-samo que consola. A abnegação eo devotamento são uma prece con-tínua e encerram um ensinamen-to profundo. A sabedoria humanareside nessas duas palavras. Pos-sam todos os Espíritos sofredorescompreender essa verdade, em vezde clamarem contra suas dores,contra os sofrimentos morais queneste mundo vos cabem em parti-lha. Tomai, pois, por divisa estasduas palavras: devotamento e ab-negação, e sereis fortes, porque elasresumem todos os deveres que a ca-ridade e a humildade vos impõem.O sentimento do dever cumpridovos dará repouso ao espírito e re-signação. O coração bate então me-lhor, a alma se asserena e o corpose forra aos desfalecimentos, porisso que o corpo tanto menos fortese sente, quanto mais profunda-mente golpeado é o espírito.

Essa manifestação, que consta

do capítulo VI, item 8, de OEvangelho segundo o Espiritismo,é assinada pelo Espírito de Ver-dade.

Enfatiza a presença de Deusno Universo, consolo dos aflitos,amparo dos desvalidos.

Nos séculos passados floresceua idéia do panteísmo, segundo aqual Deus seria o somatório uni-versal, isto é, o Universo seria ocorpo de Deus e nós seríamos áto-mos divinos, parte do Criador.

O Espiritismo nos ensina quenão é bem assim. Deus é a cons-ciência cósmica do Universo, oCérebro Criador. Está em tudo eem todos, sustentando a vida e aharmonia do Universo, mas nãosomos substância dele. Apenassuas criaturas.

Jesus simplifica.Deus é o Nosso Pai, de infini-

to amor e misericórdia, que nosama desde o princípio e nosconduz pelas veredas da justiça,como ensina o salmista.

Por isso, Evangelho significaBoa Nova. A notícia de que te-

mos alguém muito poderoso, to-do bondade e solicitude, a cui-dar de nós.

Se acreditamos nessas afirma-tivas, se estamos conscientes dapresença divina, por que, freqüen-temente, nos sentimos combali-dos e tristes, amargurados e per-turbados?

É um tanto contraditório, co-mo alguém que tem uma des-pensa cheia de alimentos e recla-ma que está com fome.

Isso ocorre porque a nossa fésitua-se um tanto precária, fé pa-ra os dias felizes, quando tudocorre bem.

Se surgem atribulações, vaci-lamos.

É preciso, portanto, fortalecera fé.

Como? Freqüentando mais ascasas religiosas, orando mais,lembrando mais de Deus?

Tudo isso pode ser bom, masnão é suficiente. Falta algo, exa-tamente o que destaca o Espírito

De vez emquando

DRI C H A R D SI M O N E T T I

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de Verdade: abnegação e devota-mento.

A verdadeira oração, semprepresente, como se fora uma respi-ração espiritual, que nos habilitaà permanente comunhão comDeus, não é feita de palavras, masdesses dois sentimentos, que pre-cisamos definir bem, até para quepossamos exercitá-los.

Primeiro a abnegação. Explicao dicionário:

Ação caracterizada pelo des-prendimento e altruísmo, em quea superação das tendências egoís-ticas da personalidade é conquis-tada em benefício de uma pessoa,causa ou princípio.

Simplificando.Abnegação seria o esforço por

vencer o egoísmo, exercitando ainiciativa de fazer algo em favordo bem comum.

Aqui há uma dificuldade: o serhumano é um de-vez-enquandá-rio.

O médico conversa com opaciente.

– Sua pressão está alta. O se-nhor está com o peso acima donormal. Os índices de colesterolsão ruins. Tem feito regime ali-mentar, como lhe recomendei,evitando alimentos gordurosos ecalóricos?

– De vez em quando, doutor.Não resisto à picanha e aos doces.

– Exercícios físicos e respira-tórios?

– De vez em quando. Achoenjoado.

– Cuida de trabalhar com dis-

ciplina, observando horários derepouso?

– De vez em quando. Há milcoisas a fazer!

– Dorme oito horas diárias?– De vez em quando. Não re-

sisto aos filmes na madrugada.– Então, meu amigo, de vez

em quando você vai ter proble-mas de saúde, culminando, pro-vavelmente, com uma dor no pei-to muito forte, em enfarte fulmi-nante, quando a morte, que nãoé de-vez-enquandária, o carrega-rá de vez para o Além.

Algo semelhante acontece coma abnegação.

Não vale cultivá-la de vez emquando.

– De vez em quando atendo opobre que bate à minha porta…

– De vez em quando tolero asimpertinências da minha sogra…

– De vez em quando não man-do alguém que me aborreceu pa-ra o diabo que o carregue…

– De vez em quando peço per-dão por uma má palavra…

– De vez em quando trabalhocomo voluntário numa institui-ção filantrópica...

– De vez em quando participode um grupo de trabalhos me-diúnicos…

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Imaginemos uma empresa deeletricidade que forneça energiaelétrica à cidade, de vez em quan-do...

Que transtorno para a gela-deira, o cozido, a novela, o ba-nho quente, a iluminação notur-na... Tudo imprevisível!

Perdemos a sintonia com Deusporque apenas de vez em quandocultivamos abnegação, algo quedeveria ser de vez em sempre.

Para superar o comportamentode-vez-enquandário, no cultivo daabnegação, há o outro sentimentorecomendado pelo Espírito deVerdade – o devotamento, assimdefinido pelo dicionário:

Qualidade de quem se dedica emfavor de alguém ou de uma causa.

Quando aliamos a abnegação,o desejo de servir, ao devota-mento, o servir com dedicação, avida flui melhor em nossas veiase somos capazes de todos os sa-crifícios e renúncias em favor dobem comum.

Temos marcante exemplo nafigura da mãe.

Naturalmente abnegada, por-que responsável por alguém quelhe é inteiramente dependente,será a devoção ao filho que lhesustentará energia sem fim, dis-posta a ver no bem-estar dele oespelho em que se mira afortuna-da, luz que lhe põe nos olhos novobrilho, conforme a expressão fe-liz de Coelho Neto.

Ocorre que os filhos não sãonossos, como enfatiza Khalil Gi-bran, no seu poema famoso –são filhos da ânsia da vida...

E um dia eles partem,batem asas, bus-

cam outros ho-rizontes e sua

própria realização, e fica a mãecom a síndrome do ninho vazio,marcada por insuperável nostal-gia, a repercutir negativamenteem seus estados de ânimo.

Algo semelhante ao profissio-nal abnegado, que se devota auma empresa, entregando-se decorpo e alma, centralizando nelatodas as suas aspirações. Quandoobrigado a afastar-se em virtudeda aposentadoria, pela enfermi-dade ou pelos azares da profis-são, cai em depressão, angustia--se como se lhe faltasse o chão.

O devotamento a que se refe-re o Espírito de Verdade não de-ve limitar-se aos cuidados hu-manos em relação à família ou àprofissão.

É preciso ir além, buscando asrealizações divinas, no campo dobem e da verdade.

Nunca nos faltarão energia ebom ânimo enquanto estivermosdispostos a dar o melhor de nos-so esforço em favor do bem co-mum, cultivando abnegação edevotamento.

Na medida em que esses doissentimentos estiverem presentesem nossas ações, não de vez em

quando, mas permanente-mente, iremos compreen-

dendo, em toda sua exten-são, o que quis dizer oEspírito de Verdade aoproclamar que com essecomportamento o cora-ção bate melhor, a al-ma se torna tranqüilae o corpo se isenta deseus males.

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Uma vida dedicada àHomeopatia e ao Espiritismo

Lauro de Oliveira São Thiago relata oportunos fatos sobre sua família – pioneira do

Espiritismo em Santa Catarina e colaboradora da FEB desde os seus primeiros anos –,

e ainda sobre sua atuação como médico-homeopata e dirigente da FEB

LAU RO D E O. SÃ O TH I AG OEntrevista

Reformador: Como se tornou espí-rita?Lauro: Em verdade, propriamentenão me tornei espírita, pois nasciespírita no seio de uma das maisantigas e maiores famílias cristãs--espíritas do Brasil. Meu tio-avôPolidoro Oliveira de S. Thiago, en-genheiro, jornalista e político, quechegou a vice-governador de San-ta Catarina, passou a estudar oEspiritismo e a freqüentar a Fede-ração Espírita Brasileira, desde oseu nascedouro, e, em 20 de abrilde 1890, fundou a “Assistência aosNecessitados” da FEB, em funcio-namento ininterrupto até o pre-sente.

Iniciado na Doutrina Espíritapor tio Polidoro, meu avô, Joa-quim Antônio de S. Thiago, pro-fessor, escritor e político, cuja bio-grafia encontra-se no livro edita-do pela FEB, Grandes Espíritas doBrasil, de autoria do nosso queri-do Zêus Wantuil, tornou-se umdos pioneiros do Espiritismo noEstado de Santa Catarina, fundan-do, em 21 de julho de 1895, com

outros confrades, em sua casa nacidade de São Francisco do Sul, oCentro Espírita mais antigo doEstado.

Meu avô Joaquim e sua esposa,Clara Almeida de S. Thiago (vovóClarinha), professores públicos eespíritas convictos, educaram seusfilhos e filhas à luz dos princípiosda Doutrina Espírita. Desta for-ma, meu pai e seus irmãos funda-ram novos lares espíritas, ondenascemos eu, meus onze irmãos emeus primos, todos espíritas des-de o berço.

Reformador: Tendo exercido os car-gos de secretário de 1970 a 1974 –diretor-substituto de Reformadorde 1980 até janeiro de 1983, e a par-tir de 1980 vice-presidente da FEB,conte-nos um fato importante li-gado ao Espiritismo, ocor-rido durante esseperíodo?

Lauro: Foram muitos fatos liga-dos à consolidação do Espiritismono Brasil e à sua expansão mun-dial. Para citar apenas um, repor-to-me ao ano de 1984 com as co-memorações ocorridas em todo opaís para marcar, de forma indelé-vel, o centenário da Federação

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Espírita Brasileira. Principalmen-te as solenidades ocorridas no dia2 de janeiro, na Sede de Brasília,com o lançamento do carimbocomemorativo, emitido pela Em-presa de Correios e Telégrafos, docartão postal, as mensagens vi-brantes e emocionadas de inúme-ros confrades e do plano espiri-tual e a edição histórica de Refor-mador.

Reformador: Existe algum livro es-pírita, que tenha influenciado asua vida?Lauro: Neste ponto só posso dizerque todos eles, sem exceção, in-fluenciaram grandemente noaperfeiçoamento gradual de meucaráter.

Reformador: Dirigindo durantebastante tempo a Biblioteca da FEB,na Av. Passos, e promovendo a suareabertura em 1973, qual o interessepelos livros espíritas naquela épocae atualmente?Lauro: No período em que presteimeus modestos serviços à direçãoda Biblioteca da FEB, pude cons-tatar dois fatos significativos: o in-teresse das pessoas pelos livros es-píritas e o poder que eles têm deesclarecê-las e integrá-las nas filei-ras do Espiritismo. Quanto ao in-teresse, despertado hoje, pelos li-vros espíritas, devo dizer que elesupera, em muito, todas as nossasexpectativas.

Reformador: O que representamAllan Kardec e Francisco C. Xavier,na sua opinião, para o Espiritismo?Lauro: Allan Kardec, por suas

qualidades morais e sua elevaçãoespiritual, foi e continua sendo omissionário da Terceira Revelação,recebendo de nosso Mestre Jesus agrandiosa tarefa de trazer-nos oConsolador através da Codifica-ção da Doutrina Espírita.

Francisco Cândido Xavier podeconsiderar-se um admirável ins-trumento dos Espíritos elevadosque vieram completar e consoli-dar a obra de Kardec, no Brasil eno Exterior, com vistas à implan-tação definitiva de um mundo re-generado e feliz.

Reformador: O que acha da mídia,nos assuntos ligados ao Espiritismoatualmente?Lauro: É a demonstração mais evi-dente do interesse que o Espiritis-mo vem progressivamente des-pertando em toda a comunidadehumana.

Reformador: Qual foi a contribui-ção da sua família, começando pe-lo seu pai, para sua evolução comoespírita?Lauro: A família tem sido a gran-de escola onde, progressivamente,venho burilando o meu espíritodas imprudências do passado,com vistas a tornar-me modestoobreiro de nosso Divino Mestre.

Com meu pai, Arnaldo Clarode S. Thiago, adquiri profundosconhecimentos da Doutrina, for-taleci minha convicção, aprendi adefender a causa espírita comenergia e amor e entendi que ver-dadeiro espírita é o que exemplifi-ca, na prática diária da vida, ospostulados do Mestre Jesus. Com

minha mãe, Maria Eugênia deOliveira S. Thiago, aprendi as li-ções da humildade, da brandura,da doação, do amor ao próximo,da renúncia e do devotamento àfamília.

Com meus tios, primos, irmãose irmãs, vivi as lições da igualda-de, da fraternidade e da liberdaderesponsável.

Com minha querida esposa,Neide Costa Pereira de S. Thiago,vivi os momentos mais impor-tantes da minha vida e aprendi osignificado maior do verdadeiroamor, além de ter podido estudaro fenômeno da mediunidade pro-longada e detalhadamente. A elatodo o meu carinho e gratidão. Aosmeus filhos, filhas, genros, noras,netos e bisnetos devo a graça deter constatado o imenso papel de-sempenhado pela educação cris-tã-espírita na obra de redenção daHumanidade.

Reformador: Teve alguma atuaçãoefetiva em Instituição Espírita?Lauro: Participei da Sociedade deMedicina e Espiritismo do Rio deJaneiro, fazendo atendimento am-bulatorial semanalmente e duran-te algum tempo presidindo-a. Fuiprofessor do Instituto de CulturaEspírita, fundado por DeolindoAmorim.

Fui fundador, juntamente commeu pai, do Centro Espírita Be-zerra de Menezes, do Andaraí, doqual sou presidente e médico hávárias décadas.

Reformador: E com relação à Ho-meopatia?

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Lauro: Abracei a doutrina médi-ca de Samuel Hahnemann a par-tir de minha formatura, comomédico, pela Faculdade Nacionalde Medicina, há sessenta e cincoanos, exercendo ininterruptamen-te atividade de médico-homeo-pata até hoje. Pela manhã, aten-do os pacientes ambulatoriais doCentro Espírita Bezerra de Me-nezes, do Andaraí, e à tarde os deminha clínica particular. Sou mem-bro efetivo do Instituto Hahne-manniano, do qual fui por mui-tos anos orador. Meu amor pelaHomeopatia pude expor em mo-desto opúsculo, publicado pelaFEB, intitulado Homeopatia eEspiritismo.

Reformador: Como se integrou àFEB? E em que tipo de atuação?Lauro: Comecei na FEB comosimples assistente nos seus ambu-latórios de assistência médica-clí-nica; posteriormente, passei a fa-zer parte de sua diretoria comoterceiro secretário, chegando a vi-ce-presidente.

Reformador: Quais fatos relevan-tes destaca na sua convivência compresidentes da FEB?Lauro: Com todos eles sempremantive laços de plena amizade esolidariedade fraternal. O fato re-levante para mim, é que pudeconviver com Espíritos prepara-dos para a grande tarefa de man-ter o vigor e a exuberância da Fe-deração Espírita Brasileira comvistas ao papel que esta Institui-ção desempenha no presente e de-sempenhará no porvir.

Reformador: Como analisa a ex-pansão editorial da FEB?Lauro: A expansão editorial é oresultado do excelente trabalhodesenvolvido por toda a equipedo Departamento Editorial, dosdiretores aos funcionários maishumildes e o apoio incondicionalda presidência e demais membrosda equipe dirigente.

Reformador: E o interesse pelosnossos livros no Exterior?Lauro: Esse interesse é crescente,demonstrando o papel que o li-vro espírita e a Federação Espíri-ta Brasileira, através de seu De-

partamento Editorial, estão fada-dos a desempenhar na grandiosaobra de regeneração da Humani-dade.

Reformador: Qual a sua mensa-gem a propósito das comemora-ções do Sesquicentenário do Espi-ritismo?Lauro: A todos os confrades, en-volvidos nas comemorações doSesquicentenário do Espiritismodeixamos as mais sinceras expres-sões de apoio e de júbilo pela for-ma vibrante, responsável e dedi-cada com que estão preparandotão justas comemorações.

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Tudo sofre na Terra implacável mudança,Pólo a pólo, alma a alma, em ritmo profundo,Mês a mês, dia a dia e segundo a segundo,A vida se refaz, aprimora-se e avança.

Reflete no museu onde a História descansa.Bronzes, troféus, brasões, em repouso infecundo,Mostram que a pompa humana é cinza para o mundoOntem, púrpura e sol; hoje, trapo e lembrança...

Força, fama, ilusão, graça, beleza e glóriaCaem da ostentação da senda transitóriaNos arquivos do tempo – o eterno sábio mudo!...

Uma riqueza só permanece intocada,A riqueza do bem que esparziste na estrada,Luz a esperar-te além da alteração de tudo.

Riqueza intocada

Dario Veloso

Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas redivivos. Diversos Espíritos. 3. ed. Rio de Ja-

neiro: FEB, 1994. Cap. 27, p. 52.

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reencarnação não apagaas experiências adquiri-das no pretérito; apenas

as encobre com o véu do esqueci-mento, a fim de que o indivíduopossa prosseguir, sem interferên-cias diretas, a sua jornada evolu-tiva. Na busca constante de novosconhecimentos, o Espírito com-pletará o seu aprendizado ao lon-go das eras.

O ser humano, a cada encar-nação, enfrentará as vicissitudesque definirão o seu aprimoramen-to. Se bem-sucedido, incorporaránovas conquistas; se derrotado,árduas lutas se travarão entre osverdadeiros e falsos valores incor-porados.

Jesus apresenta ao homem afórmula segura para alcançar osseus objetivos sem tombar pelosatalhos:

“Entrai pela porta estreita,porque larga é a porta, e espaço-so, o caminho que conduz à per-dição, e muitos são os que en-tram por ela. [...]

Nem todo o que me diz: Se-nhor, Senhor! entrará no Reino

dos céus, mas aquele que faz avontade de meu Pai, que está noscéus”. (Mateus, 7:13 e 21.)

Portanto, todo aquele que dire-ciona a vontade pelos caminhosdo estudo, do trabalho digno, dorespeito a Deus e aos semelhan-tes, consegue enriquecer o espíri-to de bens perenes. Estes bens sãoconquistas que o tempo jamaisapagará.

Experiências adquiridas ficamimpressas nos arquivos mentaisdo Espírito e acompanham-no aolongo das reencarnações, razãopela qual a criança revela tendên-cias incompreensíveis àquelesque desconhecem as leis da reen-carnação. De tempos em temposa mídia revela crianças-prodígioque apresentam o dom da músi-ca e se identificam com certosinstrumentos sem qualquer apren-dizado anterior. Outras encontramtanta intimidade com os núme-ros a ponto de realizar cálculosimpossíveis de se conceber na fai-xa etária em que se encontram.Não é raro observar crianças malsaídas do berço que já revelam

tendências agressivas e paixão porarmas. São tendências que de-monstram seu cabedal de expe-riências adquiridas em outras vi-das. Algumas delas se manifestamlogo na primeira idade; enquantooutras podem vir à tona em mo-mentos marcantes da vida. Os pais,geralmente, assistem, atônitos, aseus adoráveis rebentos revelaremcaráter agressivo ou dócil; con-fiante ou temeroso; obediente ourevoltado; amoroso ou arredio.Se os genitores apresentam traçossemelhantes, certamente se con-vencerão de que a virtude ou afalha moral, que se manifesta noseu descendente, é de origem he-reditária. Daí se ouvir certos re-frões: “Aquele menino puxou ogênio do pai, ou a inteligência damãe”; “Aquele outro tem a agres-sividade do seu avô”. Há caracte-rísticas que em nada se asseme-lham às dos seus familiares.

O Espiritismo faz luz sobre adiferença entre a hereditariedadee as tendências inatas. Assim, ostraços físicos que se assemelhamaos dos familiares, como a cor dos

Tendências:Reflexos do passado

AA. ME RC I SPA DA B O RG E S

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olhos, da pele, dos cabelos; com-pleição física e outros tantos tra-ços, próprios do corpo carnal, per-tencem à lei da hereditariedade,pois sua origem está nos elemen-tos biológicos herdados de seus an-tecessores, os quais compõem avestimenta material. No entanto,se a criança apresenta deficiênciasfísicas, congênitas ou, até certoponto, adquiridas, não se pode di-zer que são heranças biológicas esim os reflexos atuais de mazelasque foram armazenadas em vidasanteriores, pelo Espírito que reen-carna para cumprir expiação vo-luntária ou compulsória, a fim dequitar seus débitos com a lei. En-tretanto, a hereditariedade podecolaborar para que a lei se cumpra.

As características psicológicasinatas não são heranças que setransmitem de pais para filhos.São, sim, conseqüências de crédi-tos ou débitos adquiridos pelo Es-pírito em encarnações preceden-tes. Determinadas tendências quecaracterizam o indivíduo podemapresentar semelhanças com asapresentadas por seus genitores.Todavia, se esses traços não foramadquiridos nesta vida, pelos veí-culos da educação ou do exem-plo, certamente se explicam pelasleis da reencarnação. Os dons se-melhantes se revelam pela afini-dade existente entre famílias espi-rituais. Há grupos que partilha-ram, em outras vidas, ou no pla-no espiritual, experiências afins.Assim, um ou mais membros deuma mesma família podem tervivenciado situações pretéritasem que todos ou parte deles per-

tenceram à mesmafamília, mesma região,ou participaram de orga-nizações científicas, reli-giosas, artísticas, profis-sionais, políticas, que lhespropiciaram tendênciassemelhantes. Um outrogrupo familiar podese identificar comg u e r r e i ro s ,desordeiros,viciosos comos quais convive-ram no passado.

A infância é,portanto, o perío-do apropriado parase reforçar as tendên-cias boas e desfazeras infelizes. E os paisque amam seus filhos nãopossuem instrumento me-lhor para educá-los senãoo Evangelho, complementa-do pela disciplina e hábitossaudáveis. Este é o mecanismopara a educação moral do ser emformação.

O insigne Codificador expõe oprocesso educativo ideal:

“[...] Há um elemento, [...] semo qual a ciência econômica nãopassa de simples teoria. Esse ele-mento é a educação, não a educa-ção intelectual, mas a educaçãomoral. Não nos referimos, porém,à educação moral pelos livros esim à que consiste na arte de for-mar os caracteres, à que incute há-bitos, porquanto, a educação é oconjunto dos hábitos adquiridos.[...]”. (O Livro dos Espíritos, ques-tão 685, comentário de Kardec.)

É importante ressaltar que orenascimento não ocorre aleato-riamente, há sempre uma pro-gramação com finalidade útilpara o Espírito renascente. Por-tanto, reencarnar não tem porobjetivo único cumprir provas eexpiações, mas, sobretudo, pro-mover o crescimento do Espírito.Quanto maior o crédito acumu-lado, mais curto se torna o cami-nho que conduz aos ideais supe-riores. Daí a responsabilidadedos pais de investir na educação,no aprimoramento moral dos fi-lhos, ainda no período infantil, afim de que a reencarnação deles

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seja proveitosa. Esse é o caminhopara que o Espírito cresça de con-formidade com os padrões mo-rais evangélicos e, no momentoaprazado, retorne à vida espiri-tual com o futuro consolidadonas leis divinas.

A Doutrina Espírita, alicer-çada no Evangelho de Jesus, pro-põe ao homem o trabalho cons-tante de sua escultura moral.

Aceitar a hereditariedade co-mo causa das insuficiências mo-rais é duvidar da Justiça Divina.A lei da reencarnação é a expres-são mais justa da misericórdia doCriador para com suas criaturas.É a oportunidade de desfazerenganos e apagar delitos; de refa-zer amizades e ampliar vínculosno equilíbrio de energias afins;de se reconstruir o que se des-truiu em existências anteriores. Éoportunidade de crescer. AfirmaKardec: Reconhece-se o verdadei-ro espírita pela sua transformaçãomoral e pelos esforços que empregapara domar suas inclinações más.(O Evangelho segundo o Espiritis-mo, cap. XVII, item 4.)

Esse é o objetivo primordial dareencarnação. É importante que oser humano se conscientize de quenenhuma educação, nenhumaaquisição moral se efetiva semperseverança, sem esforço, semEvangelho. A conquista da luz in-terior só se alcança com muitosuor e lágrimas.

Jesus legou ao homem o maisperfeito roteiro de vida: o seuEvangelho, programado para seprojetar futuramente no Conso-lador, que floresceu na Doutrina

Espírita. É preciso valorizar essetesouro.

Para o Espírito recalcitrante,cujos instrumentos educacionaisnão surtem o efeito desejado, umoutro se apresenta infalível: a dor.

Nesse mecanismo de conquis-tas e aquisições, ou quedas e so-frimentos, de acordo com as leisda vida, a hereditariedade podecolaborar para a realização dessefeito. Assim, o conjunto de hábitosmorais e intelectuais, adquiridose aprimorados por uma educa-ção bem direcionada, se agrega-rão às tendências inatas arquiva-das ao longo do carreiro evoluti-vo, e jamais se perderão com adesintegração da matéria.

Um físico saudável é benesseadquirida em vivências de equilí-brio e respeito à veste carnal, en-quanto que um corpo doente re-flete os abusos e vícios cultiva-dos. É, pois, a lei da hereditarie-dade que faculta esta tarefa. Umamente prodigiosa revela as con-quistas encetadas ao longo de mui-tas encarnações. Porém, somenteum Espírito evangelizado irradia-rá a paz das conquistas sedimen-tadas nos celeiros de obras reali-zadas em sincronia com as leisdivinas.

Esta realidade, revelada pelaDoutrina dos Espíritos, é o cerneda semente plantada pelo DivinoLavrador.

OuveEscuta! Enquanto a paz da oração te domina,Qual melodia excelsa, a fremir, doce e mansa,Há quem padeça e morra à míngua de esperança,Rogando amparo, em vão, no lençol de neblina.

Ouve! A sombra tem voz que clama e desatina...É a provação que ruge... A dor que não descansa...Desce do pedestal da fria segurança,Transfigura a bondade em fonte cristalina.

Estende o coração!... Serve, instrui, alivia...Das sementes sutis de ternura e alegria Prepararás, agora, o jardim do futuro...

Um dia, voltarás à pátria de onde vieste E apenas colherás na luz do Lar CelesteO que dás de ti mesmo ao solo do amor puro.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia dos imortais. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2002. p. 49.

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Amaral Ornellas

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Presença de Chico Xavier

eus é amor invariável e o amor desafivela osgrilhões do espírito.

Se há repouso na consciência, a evoluçãoda alma ergue-se, desenvolta, dos alicerces insubsti-tuíveis do sacrifício.

Quem não se bate pelo bem, desce imperceptivel-mente para as fileiras do mal.

Junto à correção sempre existe o desacerto, exal-tando o mérito do dever na conduta digna.

Identifique, na dificuldade, o favor da ProvidênciaDivina para dilatar-lhe a paz, sentindo, no imprevis-to da experiência mais grave, o fulcro de incitamentoà perseverança na boa intenção e vendo, na tibiez dequantos imergiram na invigilância, o exemplo inde-lével daquilo que não deve ser feito.

Quanto maior a sombra em torno, mais valiosa afonte da luz.

Desse modo, a alegria pura viceja entre a dor e oobstáculo; a resignação santificante nasce em meioàs provas difíceis; a renúncia intrépida irrompe noseio da injustiça das emulações acirradas, e a purezaconstrutiva surge, não raro, em ambiente de viciaçãomais ampla.

Eis por que, em seu círculo pessoal, se entrecru-zam mensagens importantes e diversas a lhe doaremo estímulo e a consolação, o entendimento e a clari-dade de que você carece para ajustar-se espiritual-mente, através das lides variadas de cada instante.

O chefe irritadiço é instrumento providencial dacorrigenda.

O companheiro problemático deixa-nos livrecaminho à sementeira da fraternidade sem mescla.

O engano é precioso contraste a ressaltar as linhasconfigurativas da atitude melhor.

A tortuosidade do caminho demonstra a excelên-cia da estrada reta.

Faça, pois, do momento que transcorre, a lição

recolhida para o momento a transcorrer, verificandoquantas vezes, em vinte e quatro horas, você é requi-sitado a auxiliar os semelhantes, e não regateie co-operação.

Na oficina de trabalho, buscam-lhe a gentileza noamparo de muitos corações que se sentem ao desa-brigo.

Na via pública, esbarram-lhe o passo, companhei-ros que vão e vêm buscando encontrar o sorriso quevocê pode ofertar-lhes como incentivo à esperança.

No recesso do lar, o alvorecer encontra-lhe a pre-sença, em novas possibilidades de exaltar a confian-ça nos Desígnios da Altura.

Na conversação comum, requisições ostensivasauscultam-lhe a disposição de estender conhecimen-to e virtude, na enfermagem das chagas morais en-trevistas na modulação das vozes e nos traços dossemblantes, afora variegados ensejos de assistir o pró-ximo, a lhe desafiarem a eficiência e a vigilância, taiscomo a necessidade interior estampada no silênciodo visitante, o azedume do colega menos feliz, odoente a buscar-lhe os préstimos, o sofredor a rogar--lhe compreensão, a abordagem da criancinha des-valida, a surpresa menos agradável, a correspondên-cia a exigir-lhe a atenção ou o noticiário intranqüiloque a imprensa propala.

Pureza inoperante é utopia igual a qualquer outra,e, em razão disso, ignorar a poça infecta é manter-lhea inconveniência.

Não menospreze, assim, a lição do momento, nacerteza de que renovamos idéias, experiências e des-tinos, cada dia, segundo as particularidades das ma-nifestações de nosso livre-arbítrio.

Fonte: XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. O espírito da ver-

dade. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 28, p. 72-74.

Lições do momentoD

Pelo Espírito André Luiz

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urante estada para compro-misso doutrinário na In-glaterra, entramos em con-

tato com informações sobre umcaso de lembrança de vida passa-da que tem despertado atençõesda mídia britânica.

Trata-se do menino CameronMacaulay, de seis anos, resi-dente em Clydebank, Glas-gow (Escócia). Este me-nino passou a comentarsobre uma outra mãe,mais velha, as paisagensde outra localidade queele chamava Isle of Bar-ra (Escócia), a 160 mi-lhas de distância de suacidade, e a descrever ou-tra moradia. Seria uma ca-sa branca, com três banhei-ros, e da janela de seu quartoteria visão para o mar. Sua mãeNorma declarou: “Ele fala deseus antigos parentes, como seupai faleceu, e de seus irmãos eirmãs”. Norma, de início, pensouque se tratasse da imaginação in-fantil, mas quando o menino pas-sou a freqüentar a escola, os co-mentários e informações dife-

rentes de seu contexto de vidacomeçaram a preocupar princi-palmente seus professores. Estesentraram em contato com a fa-mília de Cameron. Os episódios

deixaram a família atônita. Con-tinuaram a surgir detalhes e omenino comentava que sua anti-ga família era religiosa, diferenteda atual. Relatou sua mãe Nor-

ma: “Ele também falou sobre umgrande livro que utilizava paraler, e sobre Deus e Jesus. [...] Nósnão somos uma família religiosa,mas sua família de Barra era”. Naseqüência, ocorreram consultasa profissionais da saúde, culmi-

nando com a indicação de umdeles para que a família de

Cameron procurasse umprofissional que traba-

lhasse com casos simi-lares. Foi quando fize-ram consultas com opsicólogo Jim Tucker,de Virgínia, conformecomentou a Sra. Nor-

ma Macaulay: “Ele seespecializou em reencar-

nação e tem pesquisadooutras crianças”. Este últi-

mo profissional assumiu aorientação do caso, recomendan-do à família que realizasse regis-tros das observações de Came-ron, culminando com a viagem,realizada em fevereiro de 2006, àBaía de Cockleshell, próxima aGlasgow. Ao chegarem a Isle ofBarra – a localidade citada pelomenino –, desconhecida de todo

Casos de evidênciasde reencarnação

DAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

Cameron no programa de TV

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o grupo familiar, depois de algu-mas buscas infrutíferas, recebe-ram a indicação do Hotel ondepoderia haver uma casa brancajunto a uma baía, que teria per-tencido à família Robertson. Aochegarem com Cameron ao localindicado, surpresos, passaram aconstatar os informes relatadospelo menino. Colheram dados so-bre os antigos proprietários, entreos quais se incluía uma senhorajá falecida. Nas pesquisas subse-qüentes encontraram fotos quecoincidiam com informações da-das por Cameron, sobre um au-tomóvel preto e um cão preto ebranco. Outro fato interessanterelatado pela mãe: “Quando per-gunto-lhe qual era seu nome an-tes, ele responde: É Cameron.Ainda sou eu”.

Esse caso mereceu reportagemde página inteira de autoria dajornalista Yvonne Bolouri, no pe-riódico londrino The Sun – “Theboy who lived before”–, Londres,8/9/2006, p. 38-39), e documentá-rio no programa de TV “Five onMonday”, no dia 18/9/2006.

Curiosamente um outro episó-dio, transcorrido na Inglaterranos anos 90, vem à tona na atuali-dade, em virtude do lançamentono Brasil do filme e DVD “MinhaVida na outra Vida”. Este filme éinspirado num fato real e foiadaptado do livro As Crianças deOntem (Yesterday’s Children), de-poimento da britânica Jenny Co-ckell, nascida em 1953 e que, em1990, começa a ter visões da suaúltima encarnação nos primeirosanos da década de 30. Surgem de-talhes de seu relacionamento, co-mo Mary, com os antigos filhos eo difícil marido. Mary desencar-nou em 1932, em decorrência departo e, pelo fato de seu maridoser alcóolatra e violento, em de-sespero, o filho mais velho entre-gou os irmãos a um orfanato de-dicado à adoção de menores. Jen-ny Cockell, intrigada com as vi-sões, mas contando com a coope-ração de seu marido e do filhoadolescente, procurou apoio deprofissionais da saúde e recebeu aorientação para a averiguação dosfatos. Dirigiram-se à cidade da Ir-

landa, que via nos sonhos e des-crevia aos familiares, e passaram aprocurar os locais a que ela se re-feria e também a família dos anos30. Depois de minuciosa procuraem registros e entrevistas compessoas mais idosas, acabaram lo-calizando o filho mais velho deMary, o mais ligado a ela, agora nafaixa dos 70 anos.

Vários episódios das visões deJenny foram constatados e facili-taram as identificações, a partirdas entrevistas com o surpreso eassustado filho mais velho de Ma-ry. Em seguida, foram localizadosos demais filhos de Mary, restabe-lecendo-se contatos entre os ir-mãos já envelhecidos, separadosapós as adoções que se seguiram àmorte da mãe.

O depoimento de Jenny Co-ckell é surpreendente e contribuipara os estudos sobre evidênciasde reencarnação. No filme, pro-duzido nos Estados Unidos, comalgumas alterações de finalidadescomerciais, Jenny é interpretadapela atriz Jane Seymour. Este fil-me tem valor também histórico,pois pela primeira vez um filmeretrata um caso real de reencarna-ção (www.dvdversatil.com.br).

Os dois casos recentes da Grã--Bretanha se somam a milhares deoutros estudados em várias partesdo mundo, relacionados com me-mória de vidas anteriores e mar-cas de nascimento. Nos anos 70, oDr. Hemendra Nath Banerjee(1929-1985), da Índia, se destacouneste tipo de pesquisa. Em seguida,notabilizou-se o Dr. Ian Stevenson,da Universidade de Virgínia (EUA),

Cameron diz ser esta a casa onde viveu

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autor de inúmeros artigos e de vá-rios livros, inclusive de Reencarna-ção e Biologia: Uma Contribuiçãoà Etiologia das Marcas e Defeitosde Nascimento (Reincarnation andBiology: A Contribution to the Etio-logy of Birthmarks and Birth De-fects, Praeger Publishers, 1997) com2.080 páginas e em dois volumes.Em nosso país, Hernani Guima-

rães Andrade (1913-2003) tam-bém se dedicou ao estudo de ca-sos que sugerem reencarnação epublicou a obra Reencarnação noBrasil (O Clarim, 1988).

As questões de O Livro dos Es-píritos, no item “Esquecimento dopassado” (cap. VII, Parte Segun-da) deixam claras as razões parao esquecimento, mas esclarecemque “[...] muitos sabem, o que fo-ram e o que faziam” (questão395) e alertam: “Algumas vezes, éuma impressão real; mas tam-bém, freqüentemente, não passade uma mera ilusão, contra aqual precisa o homem pôr-se emguarda, porquanto pode ser efei-to de superexcitada imaginação”(questão 396). No capítulo VIII(questão 455), ao comentar sobreos fenômenos do sonambulismo,

do êxtase e da dupla vista, o Co-dificador chama a atenção paraestas vias de obtenção de infor-mações: “Para o Espiritismo, o so-nambulismo é mais do que umfenômeno psicológico, é uma luzprojetada sobre a psicologia. É aíque se pode estudar a alma, por-que é onde esta se mostra a des-coberto.[...]”

O protocolo de pesquisa e otrabalho dos estudiosos sobre re-encarnação prevêem a separaçãodas várias situações e influencia-ções para se identificar os querealmente passam a ser casos su-gestivos ou evidências de reencar-nação. Sem dúvida, os casos cons-tatados de vidas passadas repre-sentam uma das situações em quese projeta luz para a melhor com-preensão da alma humana.

Capa do DVD:Minha Vida na outra Vida

s laços de família não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como o pensam certas pes-soas. Ao contrário, tornam-se mais fortalecidos e apertados. O princípio oposto, sim, os destrói.

No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pelasemelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos ou-tros. A encarnação apenas momentaneamente os separa, porquanto, ao regressarem à erraticidade,novamente se reúnem como amigos que voltam de uma viagem. Muitas vezes, até, uns seguem a ou-tros na encarnação, vindo aqui reunir-se numa mesma família, ou num mesmo círculo, a fim de traba-lharem juntos pelo seu mútuo adiantamento. Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam deestar unidos pelo pensamento. Os que se conservam livres velam pelos que se acham em cativeiro. Osmais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam. Após cada existência, todos têmavançado um passo na senda do aperfeiçoamento. Cada vez menos presos à matéria, mais viva se lhestorna a afeição recíproca, pela razão mesma de que, mais depurada, não tem a perturbá-la o egoísmo,nem as sombras das paixões. Podem, portanto, percorrer, assim, ilimitado número de existências cor-póreas, sem que nenhum golpe receba a mútua estima que os liga.[...]

Fonte: O evangelho segundo o espiritismo. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. IV, item 18.

Allan Kardec

OA reencarnação fortalece os laços de família

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Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao

mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.”

(LUCAS, 5:4.)

Mar alto

ste versículo nos leva a meditar nos companheiros de luta que se sentem

abandonados na experiência humana.

Inquietante sensação de soledade lhes corta o coração.

Choram de saudade, de dor, renovando as amarguras próprias.

Acreditam que o destino lhes reservou a taça da infinita amargura.

Rememoram, compungidos, os dias da infância, da juventude, das esperanças

crestadas nos conflitos do mundo.

No íntimo, experimentam, a cada instante, o vago tropel das reminiscências que

lhes dilatam as impressões de vazio.

Entretanto, essas horas amargas pertencem a todas as criaturas mortais.

Se alguém as não viveu em determinada região do caminho, espere a sua opor-

tunidade, porquanto, de modo geral, quase todo Espírito se retira da carne, quan-

do os frios sinais de inverno se multiplicam em torno.

Em surgindo, pois, a tua época de dificuldade, convence-te de que chegaram para

tua alma os dias de serviço em “mar alto”, o tempo de procurar os valores justos,

sem o incentivo de certas ilusões da experiência material. Se te encontras sozinho,

se te sentes ao abandono, lembra-te de que, além do túmulo, há companheiros que

te assistem e esperam carinhosamente.

O Pai nunca deixa os filhos desamparados, assim, se te vês presentemente sem

laços domésticos, sem amigos certos na paisagem transitória do Planeta, é que Jesus

te enviou a pleno mar da experiência, a fim de provares tuas conquistas em supre-

mas lições.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 21, p. 55-56.

E

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s seres pluricelulares sãoconstituídos de diferen-tes tipos de células, origi-

nárias das células precursoras, de-nominadas células-mãe, célulasestaminais ou células-tronco (stemcells). São células que produzemos tecidos orgânicos pelo processobiológico de diferenciação celular,geneticamente regulado por genesespecíficos. As células-tronco são,na atualidade, objeto de comple-xas e onerosas pesquisas científi-cas, consideradas úteis no contro-le de doenças neurodegenerativas,cardíacas, metabólicas, hematoló-gicas, renais, acidentes vascularescerebrais (AVCs).

As células-tronco são classifica-das em dois tipos básicos: em-brionárias e adultas. As embrio-nárias são denominadas totipon-tentes porque podem originarqualquer tecido do organismo,além da placenta e dos anexos pla-centários. Na fase inicial de desen-volvimento, o embrião é conheci-do como blastocisto, o qual possui

células pluripotentes com a pro-priedade de formar todos os teci-dos, exceto a placenta e anexos. Ascélulas-tronco adultas, de diferen-ciação limitada, são encontradasnos órgãos do corpo, sendo que asmais utilizadas nas terapias são asda medula óssea, placenta e docordão umbilical.

É mais apropriado o uso de cé-lulas-tronco adultas cuja terapia,além de não contrariar os princí-pios da bioética, revela mínimapossibilidade de rejeição biológi-ca. Neste sentido, é oportuno des-tacar a impressionante capacida-de das células-tronco localizadasna medula óssea: elas podem dife-renciar-se nos nove tipos celularesque circulam no sangue e, tam-bém, nas células localizadas nosórgãos linfóides (envolvidos nosmecanismos de imunidade). Arenovação celular no sangue é tãointensa que, diariamente, entramna corrente sangüínea cerca de oi-to mil células novas, provenientesda medula óssea.

O processo de extração de célu-las-tronco embrionárias encontrabarreiras éticas devido à mortedos embriões (blastocistos). Essesembriões, quando congelados emnitrogênio líquido por mais de trêsanos, são considerados excedentesou inviáveis pelas clínicas de ferti-lização in vitro, ou são formadosespecificamente para fins de tera-pias médicas. No Brasil, a Lei Fe-deral 11.105, de 24 de março de2005, regulamenta as pesquisas naárea, permitindo o uso de células--tronco embrionárias para pes-quisa e terapia. Durante os trâmi-tes de elaboração dessa lei, cau-sou-nos surpresa a afirmação dealguns colegas da área de saúdeque, na tentativa de justificarem arealização de pesquisas com em-briões congelados, alegavam (ealegam), como pretensa verdadeabsoluta, a não-existência de vidano blastocisto, reduzido a meroconceito de simples agrupamentode células, um pré-embrião.

Em sentido diametralmente

O

Células-tronco econgelamento de embriões

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

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oposto, o Espírito André Luiz in-forma:

“É importante considerar, to-davia, que nós, os desencarnados,na esfera que nos é própria, estu-damos, presentemente, a estrutu-ra mental das células, de modo ainiciarmo-nos em aprendizadosuperior, com mais amplitude deconhecimento, acerca dos fluidosque nos integram o clima demanifestação, todos elesde origem mental etodos entretecidosna essência da maté-ria primária, o Haus-to Corpuscular deDeus, de que se com-põe a base do UniversoInfinito”.1

Ora, se uma célula,germinal ou somáticatem estrutura mental,é óbvio que, onde háelementos mentais,existe também vida.

A discussão sobre adestruição dos em-briões congelados nãoé, portanto, banal,que deva ser relegadaa plano secundário,sobretudo pelo espíritaque, a priori, sabe que aunião do Espírito ao corpo co-meça na concepção:

“[...]Desde o instante da con-cepção, o Espírito designado parahabitar certo corpo a este se ligapor um laço fluídico, que cada vezmais se vai apertando até o instan-te em que a criança vê a luz[...]”.2

Os Espíritos Superiores tam-bém esclarecem que a ligação, do

laço fluídico perispiritual ao cor-po em formação, não é tão super-ficial como se supõe à primeiravista:

“[...]À medida que o gérmen[embrião] se desenvolve, o laço seencurta. Sob a influênciado princípio vito-ma-terial do gérmen, operispírito, que

possui certas pro-priedades da matéria,se une, molécula a molécula, aocorpo em formação, donde o po-der dizer-se que o Espírito, por in-termédio do seu perispírito, se en-raíza, de certa maneira, nesse gér-

men, como uma planta na ter-ra[...]”.3

É preferível, do ponto de vistaespiritual, que os casais inférteis,desejosos de ser pais, adotem umacriança ou, se fizerem opção pelos

métodos da reprodução assis-tida, façam a insemina-

ção de todos os em-briões congelados,não se comprome-tendo com a mortede nenhum deles. Épreferível, igualmen-te, que os enfermos

se fortaleçam moral-mente e suportem as

suas doenças provacio-nais, do que serem be-

neficiados por terapiasresponsáveis pela destrui-

ção de embriões.Devemos ter fé em Deus

e em Jesus, guia e modelo daHumanidade. Os Benfeitoresespirituais trabalham inces-santemente em benefício doprogresso terrestre, nos dife-rentes campos do saber hu-mano. É por isso que recebe-mos como auspiciosa a re-

cente publicação da revistaNature (julho de 2007)que faz referência aospromissores resultadosde pesquisa realizadapor uma equipe de

cientistas americanos. Es-ses pesquisadores conseguiram

produzir duas linhagens de célu-las-tronco embrionárias sem cau-sar a morte dos embriões utiliza-dos. O método empregado estáem fase experimental, ainda reve-

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la-se incipiente, mas representaum avanço científico de valor. Tra-balhos dessa natureza demons-tram que não nos encontramos noPlaneta por conta e risco próprios,mas submetidos a uma direção deordem superior, sábia, amorosa ejusta. Deus concede a todos nós,em caráter particular e coletivo, aproteção de Espíritos guardiõesque, sob a orientação de Jesus,velam pelo progresso humano,guiando-nos como faz um pai emrelação aos filhos; protegendo-nosna senda do bem, consolando-nosnas aflições e nos levantando oânimo nas provas da vida.4

Aguardemos, pois, confiantes,os avanços da Ciência. É medidade bom senso deixar de lado dis-cussões infrutíferas que questio-nam a existência, ou inexistência,de um Espírito ligado ao embriãocongelado, assim como consultarmédiuns para solucionar taldúvida. Os métodos cien-tíficos não fornecemgarantias a respeito.Detectam apenas seos embriões são viá-veis ou inviáveis, doponto de vista bioló-gico. O Espiritismo, poroutro lado, esclarece que há,sim, possibilidade de ser rompidaa ligação que mantém unidos a al-ma e o corpo, caso o reencarnan-te, por vontade própria, recuarpor temer as provas que escolheu.5

Nesse sentido, ocorre um abortoespontâneo ou nascimento de na-timorto, se a desistência ocorreu,respectivamente, no primeiro ouúltimos trimestres da gestação. Na

situação dos embriões congelados,deduzimos que a integridade (hi-gidez) e a viabilidade do blastocis-to, detectadas por técnicas cientí-ficas apropriadas, são evidênciasque falam a favor da presença deum Espírito unido ao corpo emformação.

Necessitamos, na verdade, estu-dar com mais afinco os postuladosda Doutrina Espírita, orientaçãosegura que nos auxilia agir comopessoas de bem, responsáveis econscientes, aptas a fazer escolhasmais acertadas sem medo de dene-grir a consciência e de comprome-ter a felicidade que nos aguarda nosdias futuros. É preciso, em suma,saber exercitar o “[...]dai, pois, aCésar o que é de César e a Deus, oque é de Deus”(Mateus, 22:21),pois como nos lembra, acertada-mente, o apóstolo Paulo: “Todas as

coisas me são lícitas, mas nem todasas coisas convêm; todas as coisas mesão lícitas, mas nem todas as coisasedificam”. (I Coríntios, 10:23.)

Referências:1XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.

Evolução em dois mundos. Pelo Espírito

André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2006. Cap. 2, item “Estrutura mental das

células”, p. 32-33.2KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. Edição Co-

memorativa do Sesquicentenário. Rio de

Janeiro: FEB, 2006. Questão 344.3______. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro.

50. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. XI,

item 18.4______. O livro dos espíritos. Trad. Evan-

dro Noleto Bezerra. Edição Comemorativa

do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB,

2006. Questão 491.5Idem, ibidem. Questão 345.

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A Federação Espírita Brasilei-ra foi uma das parceiras do “Fó-rum Espiritual Mundial”, organi-zado pelas entidades União Pla-netária, Iniciativa das ReligiõesUnidas e Universidade HolísticaInternacional, realizado de 6 a 10de dezembro de 2006, no Centrode Convenções Ulysses Guima-rães, em Brasília. O evento tevecomo tema central “Valorizandoa diversidade para a construçãode uma solidariedade planetá-ria”. A FEB participou com es-tande para divulgação das Cam-panhas Família, Vida e Paz, dofolheto “Conheça” da Campanhade Divulgação do Espiritismo, edo Sesquicentenário da Doutri-na Espírita. O presidente NestorJoão Masotti atuou na mesa-re-donda “Diálogo entre as Religiões

para a Paz Mundial” e os dire-tores João Pinto Rabelo e Anto-nio Cesar Perri de Carvalho par-ticiparam, respectivamente, da me-

sa-redonda “A Economia a Ser-viço da Justiça Social” e do gru-po para esclarecimentos sobreMovimento Espírita.

FEB no “FórumEspiritual Mundial”

Aspecto da Mesa: abertura das atividades

Estande da FEB no Fórum

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Doutrina Espírita nosalerta sobre a liberdadeque temos de escolher ca-

minhos em nossa vida: é o livre--arbítrio.

Embora muitos desavisadosaleguem que essa liberdade é ilu-sória, devido a tantas imposiçõesda matéria, do mundo moderno,os queridos benfeitores incansa-velmente nos esclarecem que po-demos sempre selecionar a nossaatitude em presença de qualquerfato ou situação: podemos, a todo

momento, optar por aquilo quesabemos ser o correto ou cederante os apelos negativos que aindapermanecem em nós. Exemplo:diante de uma doença séria, de-sesperamo-nos e revoltamo-noscontra Deus, dificultando todotratamento que venhamos a fazer,físico ou espiritual... Ou, em con-trapartida, elegemos acertada-mente optar por confiar na Justiçae na Bondade do Pai, executandoa nossa parte tanto no tratamentodevido, quanto na nossa contínua

prática do bem. Essa é a autênticaresignação, palavra tão mal inter-pretada por muitos de nós...

“Resignação” vem do latim, dajunção do prefixo “RE” (de novo),com o verbo “signare” (assinar),mais o substantivo “actionem”(ação); e significa, ao pé da letra,“ação de assinar de novo”. Ora,quem “assina” algo, concorda comesse algo: resignação é atuante,não conformismo como váriaspessoas pensam...

Nós já “assinamos” antes de

Questão deescolha

AIVO N E M. M. GH I G G I N O

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reencarnar, ao participarmos dapreparação da nossa futura exis-tência na carne, quando, usandonosso livre-arbítrio, pedimos assituações que se apresentarão emnosso caminho ou com elas con-cordamos, visando nosso apren-dizado e conseqüente aperfeiçoa-mento. Assim, tudo isso que acei-tamos estará presente, “pré-deter-minado” por nós mesmos, emnossa vida terrena, quando reen-carnarmos. Porém, não está de-terminado o resultado de cadauma dessas situações, pois sempredependerá de nós, das escolhasque fizermos perante elas...

Sem dúvida, a melhor dessasescolhas dar-se-á toda vez que se-guirmos a Lei do Amoroso Pai, anós trazida pelo Mestre dos Mes-tres, Jesus. E nós conhecemos essaLei! Nenhum de nós pode alegardesconhecê-la...

Então, faz-se as seguintes per-guntas: “Como estão nossas esco-lhas? Realmente adequadas a quemdeseja sinceramente se melhorar etornar-se, um dia, genuíno tare-feiro de Jesus?... Quais as compa-nhias espirituais que escolhemos,sabendo sobre a “lei de afinidade”,e que nosso pensamento é ener-gia, vibrando em determinadafreqüência, e sintonizando comencarnados e desencarnados quevibrem em modo semelhante?...”

O benfeitor Marco Prisco, nolivro Luz Viva, através da psico-grafia de Divaldo Franco, oferece--nos o capítulo 11, cujo título éjustamente “Questão de escolha”.Aí, mais uma vez, dedicadamenteincentiva-nos a seguir na estrada

da evolução, descortinando paranós a realidade daquele que se es-força, de verdade, em “domar suasinclinações más” (como está em OEvangelho segundo o Espiritismo,no capítulo XVII, item 4) e avan-çar rumo à luz: esse estabelecerá“sintonia com vibrações superio-res”, conseqüentemente “receben-do estímulos vigorosos” e alcan-çando crescentes “harmonia inte-rior e renovação”, tendo “visãomais ampla” e respirando “ar maissaudável”...

Mostra-nos Marco Prisco omal que faz a si mesmo aqueleque, seja por inércia, acomoda-mento, e até mesmo por pessimis-mo, estaciona, paralisa-se, “aca-lentando insucessos” e assimilan-do “ondas inferiores, cheias demiasmas pestilenciais”, que geram“desequilíbrios e enfermidades”...

E quantas pessoas vivenciam ascélebres frases destrutivas: “Nadadá certo comigo!”, “Ninguém gos-ta de mim!”, “Não vou conseguir,

por isso não vou nem tentar!”, ou“Eu vou tentar, mas a tarefa émuito difícil!”... Vamos resoluta-mente mudar a colocação dessaconjunção adversativa “mas”, dan-do-lhe o enfoque positivo daconstrução: “A tarefa é muito difí-cil, mas eu vou tentar!” E certa-mente irá conseguir executá-la...

Confiantes no amparo do pla-no maior, deixemos de nos ator-mentar com “dúvidas e paixõesdissolventes”, e escolhamos entre-gar-nos a Jesus através da decisãode usarmos nosso livre-arbítriocom sabedoria, trabalhando nobem, reparando erros, aprenden-do sempre, cheios da energia quea fé espírita, raciocinada, clara-mente nos confere.

Sigamos as recomendações fi-nais de Marco Prisco, que nos ofe-rece o seguinte roteiro:

� “Utilizar acertadamente seutempo” aqui na Terra: o tempo éum talento do qual também tere-mos que prestar contas.

� “Insistir no nosso esforço demelhoria”: não desanimemos anteos desfalecimentos ao longo dotrajeto; recomecemos com maisforça, capacitando-nos com a ob-servação dos nossos enganos, afim de não repeti-los desastrada-mente.

� “Eleger ideais nobres”: defini-tivamente o bem, definitivamenteo amor, como nos ensinou Jesus.

Desse modo, indubitavelmen-te, estaremos fazendo excelentesescolhas!

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Confiantesno amparodo plano

maior,deixemos

de nosatormentar

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m Malaquias, AntigoTestamento (4:5-6), en-contramos este “ter-

rível” anúncio: “Eis que vosenvio o profeta Elias, antesque venha o dia grande eterrível do Senhor; e con-verterá o coração dos paisaos filhos e o coração dosfilhos a seus pais; para queeu não venha e fira a terracom maldição”.

Um dos grandes desa-fios da Humanidade atualé o da educação. As pessoasestão confusas, perdendoo referencial semânticotradicional dos conceitos,que estão sendo transfor-mados, tendenciosamen-te, em “pré-conceitos”. Tu-do o que a cultura antigaconsiderava certo e sabidovem sendo questionado, desclas-sificado e demolido pela mentali-dade da pós-modernidade.

A conduta humana, cada vezmais voltada para o ter, em detri-mento do ser, cultua o materialis-mo. A descrença e a hipocrisiagrassam em toda a parte. Muitos

dos que se dizem espiritualistasfingem ser o que não são, com oúnico objetivo de se darem bem.O oportunismo inconseqüente eegoísta, em todo o mundo, pre-valece nas intenções ocultas degrande número de pessoas, gra-ças a uma visão, cada vez mais

hedonista, que não respeitanada, apenas visa desfrutar,das mais variadas formas,de tudo aquilo que lhes sa-tisfaça aos interesses mate-riais e às paixões dos senti-dos. É o culto ao prazer e àmatéria, como bens supre-mos a serem conquistados,não importa como.

O leitor destas linhas po-deria perguntar-nos qualseria a nossa visão desse ser“terrível”, com poderes deferir a Terra com maldição,citado acima por Mala-quias. Seria Jesus, o cordei-ro manso de Deus? Impos-sível. A mensagem do Cris-to, relatada por João, e queprocuramos despir da letrado simbolismo para a rea-lidade dos dias atuais, visa

justamente dar-nos, em definiti-vo, segurança, certeza e coragemnas lutas cotidianas, por tornarconhecido o desconhecido. É oraio de luz de um novo dia nodespertar das consciências semrumo ou em dúvida sobre o ca-minho a seguir, entre tantos apre-

EJO RG E LE I T E D E OL I V E I R A

Com Cristo, não hásombra sombria

A sombra*

Pressinto estranho ser junto de mim.Soturnamente, avança o espectro mau com esgares terríveis de animal sedento do meu sangue, do meu fim.

Os pêlos eriçados de terrorfalam do meu estado neste instante em que o temor se instala, alucinante,ante este inusitado dissabor.

Emite o espelho o espanto do meu rosto.Nenhum reflexo de outro vulto, e um grito se esboça no meu peito assaz aflito.

Quero livrar-me breve deste encosto e, à tênue luz da Lua, vejo bem a sombra de mim mesmo e mais ninguém.

*Há cerca de vinte anos produzimos este soneto.

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goados pelos falsos profetas dosdias atuais.

A mensagem de Jesus é a com-panhia segura nas horas de apa-rente solidão, pois quem cami-nha com o Cristo jamais se sen-tirá abandonado. Ainda que omundo dele se afaste, o Mensa-geiro Divino estará a seu lado,orientando seus passos com se-gurança na caminhada evolutivasem fim. E não somente no ca-minhar o Mestre nos antecede-rá, mas também na escalada domonte da elevação, que este é odestino de todos nós.

A mensagem de Jesus é o equi-líbrio mental de quem se encon-tra no domínio pleno de seuspensamentos, pois terá semprepresente, nos atos da vida, a reco-mendação do Mestre da Galiléia:“Vigiai e orai, para que não en-treis em tentação; o espírito, naverdade, está pronto, mas a carneé fraca”. (Marcos, 14:38.)

A mensagem de Jesus é, por-tanto, a segurança mental dosque reconhecemos, com Ele, quea origem do mal está em nósmesmos. E, para que nos livre-mos dessa tendência, precisamoster absoluto controle dos nos-sos pensamentos. Conse-qüentemente, de nossaspalavras e atos. Nisto es-tá a sabedoria cristã:em reconhecer Deuscomo nosso Pai eadorá-lo em Es-pírito e Verda-de; em reco-

nhecer Jesus como caminho quenos conduzirá a Deus, verdadeque nos livrará da ignorância,vida plena que nos encherá depaz, remédio para nossas mazelasmorais, equilíbrio para nosso or-ganismo psicossomático.

Com a saúde espiritual e físicaque nos proporciona o Verbo lu-minoso – Jesus –, perceberemosque tanto a Lua como o Sol nosproporcionam sombras amigas.Vultos que não vemos, mas sen-timos estarem presentes conos-co, em nossas mentes e corações:o Mestre dos mestres, que seuapóstolo João nos revela como oVerbo encarnado, que estavacom Deus, co-criador, junto anosso Pai Celestial, do mundoem que vivemos, e seus emissá-rios de luz. Veremos, na mensa-gem mística de João, que o Cris-to veio para nos tirar o véu da ig-norância e permanecer conoscoaté o fim dos tempos.

Esta é a sombra que nos pro-porciona a presença de Jesus emnossas vidas: a sombra das boascompanhias espirituais. E a Dou-trina Espírita, Consolador envia-do por Ele, surgiu no mundo pa-ra nos tirar do medo e da igno-rância, afirmando-nos, sem amea-ças, sobre a presença permanen-te da companhia espiritual. ComJesus, representado ao nosso la-do pelos Espíritos iluminados,ainda que estejamos em vale es-curo, não temeremos mal algum,pois ao nosso lado estarão asboas companhias, inspirando-nospensamentos amigos e paz in-descritível.

Se atentarmos para o sublimeobjetivo de nossa existência, queé a prática permanente do bem,não teremos de temer a sombrado mal, pois, com Cristo, não hásombra sombria.

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ranscrevemos abaixo o que pudemos obter dagentileza do Dr. Renato Corsetti, presidenteda U. E. A. – Universala Esperanto-Asocio –,

com vistas a uma ação eficaz no sentido de conscien-tizar os espíritas de outras terras a respeito da utili-dade do esperanto como língua ideal para as relaçõesinternacionais da família espírita mundial:

Mensagem de Affonso Soares aoDr. Renato Corsetti

“Caro Renato,

Como você sabe, ao longo de muitas décadas osespíritas brasileiros apóiam, divulgam e utilizamo esperanto, o que tem trazido ganhos para ambos osmovimentos: – nas asas da Língua Internacional osprincípios espíritas se fazem muito mais amplamen-te conhecidos, e o esperanto, cultivado e sustentadopelos espíritas, se tem assegurado mais uma basesólida para seu desenvolvimento. Naturalmente,muitos outros benefícios recíprocos têm resultadodessa união de forças, mas, a meu ver, os acima refe-ridos são os mais evidentes.

Durante quase cem anos o esperanto, nos círculosespíritas, tem permanecido como um assunto quaseexclusivo do Movimento Espírita brasileiro, desper-tando muito pouco interesse nos movimentos espí-

ritas do Exterior. Isso se deve, provavelmente, à faltade relações internacionais mais intensas, as quaisobrigariam a se refletir sobre o problema lingüístico,além de, também, à falta de uma conscientização maisvigorosa por parte do Movimento Espírita do Brasil.

Já se realizaram quatro congressos mundiais deEspiritismo, com a participação de adeptos de diver-sos países, principalmente das Américas e da Europa.O problema lingüístico sempre e cada vez mais defi-ne seus contornos, e nós, os espíritas brasileiros, per-cebemos nesse fato uma ocasião favorável para co-roarmos o trabalho quase centenário que empreen-demos no Brasil em favor do esperanto, isto é, paraconscientizarmos nossos confrades de outras terrassobre o fato de que eles devem ver no esperanto alíngua mais adequada às nossas relações internacio-nais. De há muito temos cultivado esse sonho, embo-ra estejamos conscientes sobre a extensão do cami-nho que conduz a que ele um dia se concretize.

E aí está, querido amigo, o motivo de minha men-sagem, já muito longa, a você: – como agir com efi-cácia para a gradativa concretização desse sonho?quais as primeiras providências práticas a tomar pa-ra atrairmos cada membro, individual e coletivo,dessa crescente família espírita mundial, ao esperan-to como solução do problema lingüístico? devería-mos, por exemplo, dirigir a atenção desses movi-mentos espíritas nacionais para a existência das

Valiosas sugestões dopresidente da AssociaçãoUniversal de Esperanto

T

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A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

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organizações esperantistas nacionais? deveríamosdisponibilizar-lhes material de propaganda, em lín-gua nacional, sobre o esperanto?

Pedimos-lhe, humildemente, auxílio, uma vez quenos faltam justamente as experiências práticas indis-pensáveis para conceber uma estratégia minima-mente boa.

Até hoje trabalhamos apenas em uma coletivi-dade nacional. Temos usado o esperanto para di-fundir o Espiritismo entre os esperantistas. Divul-gamos o esperanto tão-somente entre os espíritasbrasileiros. Publicamos manuais de aprendizado,dicionários, bem como sustentamos cursos, pro-gramas radiofônicos, mas tudo num exclusivo âm-bito nacional.

Agora temos que enfrentar o desafio de atrair cadaMovimento Espírita nacional para o esperanto. Nos-so Conselho Espírita Internacional, a que estão filia-dos, em sua maior parte, os movimentos espíritasnacionais, até possui um setor dedicado ao esperan-to, mas, como lhe disse, faltam-nos experiências prá-ticas nesse novo campo de ação.

Por essa razão, nós ficaríamos muito gratos, sepudéssemos merecer a sua atenção e de você receberalgumas sugestões, instruções, como um início segu-ro de nossa ação, de nossos primeiros passos nessecampo.

Perdoe-me, pois certamente eu o incomodei – jus-tamente você, o presidente da U. E. A.! – com essamensagem quilométrica, com esses pedidos. Mas eusenti a necessidade de me dirigir a um co-idealistatão gentil quanto competente como você, apesar deter a consciência do peso das responsabilidades queestão sobre seus ombros.

Pedindo-lhe perdão e antecipadamente grato,

Affonso Soares”

Resposta do presidente daAssociação Universal de Esperanto

“Caro Affonso,

Você absolutamente não me incomodou. Ao con-

trário, eu diria que essa foi a melhor mensagem dasemana.

Para falar a verdade, sinto, como você, o mesmoproblema para pensar em algo concreto. Mas eu lhediria:

� crie um slogan para os espíritas não-brasileiros,do tipo “Para a comunicação no mundo espíri-ta”, ou “Espiritismo e Esperanto melhorando asrelações mundiais”, ou “Não à guerra, sim à paz– Espiritismo e Esperanto”, ou “Espiritismo eEsperanto para as boas relações culturais”. Vocêcertamente poderá pensar em algo melhor. Oslogan deveria ser a cobertura geral da campa-nha;

� envie, em língua nacional, material informativosobre o esperanto juntamente com uma cartados espíritas brasileiros;

� indique as organizações esperantistas nacionaise as possibilidades de contactá-las através da re-de de computadores.

Após alguns anos de informações dessa natureza,algo começará a acontecer: por exemplo, poderá sersolicitada a inclusão do esperanto entre as línguasoficiais dos congressos mundiais de Espiritismo, etc.

A U. E. A. (Associação Universal de Esperanto)pode ajudar por meio de convite dirigido às associa-ções esperantistas nacionais no sentido de colaborarcom vocês.

O que acha?Com amizade, Renato.”

Aí temos, caros co-idealistas do tríplice idealEvangelho-Espiritismo-Esperanto, um material dig-no de aproveitamento e aperfeiçoamento, destinadoaos trabalhos numa nova fase que consideramoscomo o coroamento das atividades dos espíritas emtorno do esperanto, iniciadas com o memorável arti-go publicado em Reformador de 15 de fevereiro de1909.

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Reformador de ontem

eja qual for a razão pela qual se pretenda inter-romper uma vida humana, justificativa algumaserá aceitável na área da eutanásia.

Por mais longa e dolorosa a enfermidade, ninguémse pode arrogar o direito de, em nome da piedade fra-ternal, aplicar a terapia do repouso sem retorno.

Mesmo que o paciente, parecendo exausto de so-frer, solicite e autorize a medida extrema, nunca serádireita a aplicação do recurso último.

Apesar de esperança alguma restar para a recupera-ção do enfermo no largo trânsito de uma vida vegeta-tiva, irreversível, diante de uma família desgastadapelas longas vigílias, não se faz moral a usança da téc-nica de encerramento da vida...

A eutanásia é crime que um dia desaparecerá daTerra, quando a sociedade crescer em valores moraisfundamentados nas realidades do Espírito.

Somente uma cultura primitiva, porque bárbara ousemibárbara, aplica os recursos da interrupção davida, exatamente por desconhecer os comportamen-tos morais relevantes.

Também medram tais atitudes em homens de for-mação deficiente, estribados nos extremos do mate-rialismo, que no corpo apenas encontra a legitimida-de da vida.

Ignorando ou teimosamente negando a realidadeespiritual, pensa que na cessação das expressões fisio-lógicas se encerra o ciclo da existência humana, seapaga a claridade da inteligência, somente por causada fragilidade e pouca duração dos implementos queconstituem a maquinaria física.

Enfermidades que antes constituíam calamida-des; distúrbios orgânicos e psíquicos, que no passa-do se revelavam irrecuperáveis, problemas de saúde,que antes eram verdadeiras desgraças coletivas eindividuais; epidemias que varriam a Terra, periodi-camente; males mutiladores e dolorosos que se ins-talavam em milhões de criaturas; desequilíbrios or-

gânicos e mentais que assolavam, cruéis, consti-tuem, hoje, lembranças do processo de evolução dasCiências Biológicas e Médicas, que conseguiramapagá-los das páginas da História Contemporânea,constituindo capítulo arquivado na literatura daMedicina...

A cirurgia abriu portais dantes jamais ultrapassa-dos; a terapêutica preventiva e as medidas sanitaristas,o tratamento especializado com recursos de alta sofis-ticação, as técnicas imunológicas vêm ganhando mui-to espaço nas “terras de ninguém”, no que diz respei-to às doenças lamentáveis.

Outros recursos sociológicos, educacionais, econô-micos aumentam, com as valiosas contribuições daMedicina para alongar a estância carnal, quanto à du-ração da vida humana na Terra...

É certo que ainda faltam muitas realizações a seremganhas.

Descobrem-se novas enfermidades, porque a diag-nose imperfeita do passado as encaixava em quadrosoutros que não correspondiam à realidade.

Aí estão, assustadoras, ceifando vidas, com outrasdesignações.

Sem embargo, a batalha está travada com cientistase pesquisadores que encanecem e sacrificam as horasnos laboratórios e gabinetes de estudos, esforçando-sepor vencê-las, o que lograrão, sem dúvida, hoje, oumais tarde, quando o homem já não necessitar deevoluir sob o látego da pedagogia do sofrimento, co-mo ocorre nestes dias...

As enfermidades são resultado do estágio primevoda evolução em que a Terra se encontra.

Por isso, realizam o seu mister invitando a criaturaao estudo da fragilidade carnal, de modo a entender erespeitar-se como ser espiritual que é, em aprendiza-gem temporária na escolaridade terrena.

Cada instante de vida de um paciente é-lhe valioso,porque lhe pode constituir chamamento para desper-

Eutanásia, nunca!S

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tar os sentimentos mais elevados, dando-se conta dosobjetivos essenciais da existência.

Outrossim, os sucessos felizes ou inditosos que têmcurso nas vidas são efeito inevitável dos atos pretéritosrealizados nas reencarnações passadas.

Este homem, hibernado, numa tremenda alienaçãomental, é antigo déspota que se utilizou da vida parainfelicitar e afligir, ora expiando em injunção educativaos delitos perpetrados...

Esse padecente, em torpe imobilidade, com os cen-tros mentais e motores lesados, é anterior suicida quepensou burlar a Lei, evadindo-se dos compromissosque assumira e que não quis sofrer...

Aquele, portador de cruel neoplasia maligna commetástase generalizada, em extremos de desespero, é oalucinado destruidor de vidas, que culminou a existên-cia antiga em autocídio espetacular, e que ora resgata,repassando pelos caminhos antes percorridos com ainsânia do orgulho e da prepotência...

Todos eles, ressalvadas algumas exceções de abnega-dos missionários que se entregam à dor para ensinar aosseus coevos como superá-la, os que experimentam lar-gos desgastes na saúde estão em justo mecanismo repa-rador de que, resignados e humildes, se liberarão, de-mandando à paz e à felicidade que todos alcançaremos.

Ninguém está condenado irremissivelmente, que nãousufrua as bênçãos da harmonia, quando regularizadoo compromisso no qual falhou.

É de alta importância a libertação pela dor ou atravésdo sacrifício do bem que se pode produzir, do amor.

Não cabe, portanto, a ninguém, o direito de fazer ces-sar o processo do sofrimento por meio da eutanásia,mesmo porque a morte do corpo não anula o fenôme-no da necessidade específica de cada um, nos múltiplosestágios do crescimento espiritual.

A morte apenas destrói o corpo, sem modificar aestrutura da vida.

Aqueles que pensam driblar a Justiça Divina, fugindoou sendo expulsos da matéria, despertam, no Além--túmulo, mais sofridos e alienados, retornando à Terrapara darem curso à reabilitação em corpos iguais oumenos aparelhados do que aquele de que se supunhamliberar...

A vida – na matéria ou fora dela – é indestrutível, já

que o Espírito transita pelo corpo ou sem ele, sementrar ou sair da realidade intrínseca onde se encontracolocado no Universo.

Amar e atender aos pacientes com carinho, envolven-do-os em vibrações de paz, orando por eles, aplicando--lhes recursos magnéticos de que todos dispõem são asatitudes corretas que a consciência cristã e espírita deveaplicar em quaisquer situações em que se encontre, nacondição de familial ou facultativo, de amigo ou decompanheiro, na enfermagem ou no serviço social...

Eutanásia, nunca!

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, em

15/12/1980, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, em Sal-

vador, Bahia.)

Fonte: Reformador de dezembro de 1990, p. 29(377)-30(378).

Ofega o corpo a sós... Oculta, a morte espia...– Invisível chacal na tocaia da presa.Na máscara do rosto, a ansiedade retesa Aparenta velar a dor do último dia.

Choras ao ver prostrada a criatura indefesa Cujo olhar sem consolo a lágrima embacia,E intentas ministrar-lhe a branda anestesia Que apresse o longo fim e ajude a Natureza.

Susta, porém, teu gesto! A vida é sábia em tudo!...A alma jungida à carne, em pranto amargo e

[mudo,Roga-te, embora gema e fale de outra esfera:

– “Aguardo a mão da Lei, sempre doce e bem-[-vinda!

Dá-me silêncio e paz! Não me expulses ainda!..”E, por trás da alma em luta, a Lei exclama: –

[“Espera!”

Fonte: XAVIER, Francisco C.; VIEIRA Waldo. Antologia dosimortais. Poetas diversos. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB,2002. p. 209-210.

Nestor Vítor

Eutanásia

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a pergunta que todos gosta-ríamos de ver respondida,tal é a dificuldade para con-

cebermos e assimilar aquilo quenão podemos ver nem percebercom os imperfeitos sentidos docorpo físico. Entretanto, a respostanão poderá ser “sim” ou “não” co-mo gostaríamos que fosse, porqueseriam afirmações categóricas, ra-dicais, que jamais expressariam acomplexidade e magnitude das va-riantes que determinam uma ououtra das afirmativas.

O iluminado Espírito Emma-nuel na obra O Consolador res-ponde, na pergunta número 30:

“Dentro das leis substanciaisque regem a vida terrestre, exten-sivas às esferas espirituais maispróximas do planeta, já o corpofísico, excetuadas certas alteraçõesimpostas pela prova ou tarefa arealizar, é uma exteriorização apro-ximada do corpo perispiritual, ex-teriorização essa que se subordinaaos imperativos da matéria maisgrosseira, no mecanismo das he-ranças celulares, as quais, por suavez, se enquadram nas indispen-

sáveis provações ou testemunhosde cada indivíduo”.

Ora, se é uma exteriorização docorpo perispiritual, então os ór-gãos preexistem à criação do cor-po físico!

Não deveremos esquecer que operispírito é o plano organogêni-co do corpo físico, do mesmo mo-do que uma semente o é da árvo-re que sua germinação trará à vi-da; por isso, é absolutamente na-tural e lógico que, ao desprender--se dele pelo fenômeno da morte,os sistemas orgânicos o acompa-nhem e, com eles, as necessidadespróprias.

Sabemos que o perispírito, oucorpo espiritual, é o veículo de ex-pressão do Espírito, energia inteli-gente individualizada pelo Cria-dor, e tem sua formação materialfluídica dependente do estado vi-bratório do desencarnado que ohabita. Quanto mais evoluído mo-ral e intelectualmente, mais eté-rea é a sua natureza e menosimperiosas as necessidades asatisfazer. Do mesmo modocomo na Terra o homem mais

Há órgãos nocorpo espiritual?

ÉMAU RO PA I VA FO N S E C A

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intelectualizado e moralizado sesatisfaz com uma alimentação fru-gal e o homem ignorante e embru-tecido pela deficiência intelectuale atraso moral em que se demoraexige uma alimentação mais pesa-da, mais densa, os Espíritos de-sencarnados igualmente terão asexigências da natureza “material”de seu corpo espiritual, a depen-

der do estado vibratório quelhe seja peculiar.

Afirmar que os Espíritos desen-carnados não comem, não dor-mem, não se cansam, e não estãosujeitos às necessidades físicas dossistemas orgânicos em geral, nãofaria sentido. Na obra Os Mensa-geiros, psicografada por FranciscoC. Xavier, à página 92 da 5a edição,FEB, vemos André Luiz e Vicente,dois Espíritos em viagem da colô-nia Nossa Lar para a crosta terres-tre, descansarem numa pousada ameio do trajeto, onde lhes foi ofe-recida farta refeição de frutas.

Supor que alguém, porque mor-reu, poderá prescindir dos siste-mas orgânicos que o acompanha-ram durante toda a vida materialseria santificá-lo ou emprestar-lheuma angelitude que nem todos es-tarão à altura de possuir, pois apassagem direta da Terra para asEsferas de Luz é apanágio das al-mas angélicas e santificadas, paraas quais as dependências mate-riais já não têm qualquer sentido.Como ninguém vira santo porquemorre, segue-se que a quase tota-lidade dos desencarnados carece-rá dos sistemas orgânicos paraconduzir-se na vida espiritual.

Assim, cada Espírito procura-rá a satisfação das próprias ne-cessidades, conforme o estado dematerialidade que ainda guar-de. À proporção que as neces-sidades forem desaparecendo,com a transferência dos esta-dos mentais e conscienciaispara condições mais eleva-

das, os órgãos irão se atro-fiando por falta de uso ob-jetivo até o completo de-saparecimento. Na obra

supracitada, à mesma página, oanfitrião Alfredo refere-se à faltade medicamentos e alimentos pa-ra atender o grande número dedesencarnados que estão sob tute-la do Posto de Socorro de Camposda Paz, cujos estados de materiali-dade e desequilíbrio ainda recla-mam tais recursos.

Na obra Nosso Lar, do mesmoautor espiritual, vemos a Gover-nadoria da colônia de mesmo no-me, providenciando o auxílio deespecialistas em alimentação pra-naiama pela respiração, habitan-tes de outras esferas, para coibirabusos da população da colôniaque começava a sofisticar o apurodas preferências alimentares, exi-gindo cardápios cada vez maispróximos dos alimentos materiaisterrenos.

Se estes fatos acontecem comdesencarnados de mediana evolu-ção, imaginemos o que ocorrerácom os infelizes irmãos, habitan-tes das regiões inferiores do um-bral, sujeitos às aflitivas carênciasde uma vida embrutecida e semesperança!

À proporção que o desencarna-do vai adquirindo independênciapela elevação de sentimentos e en-riquecimento intelectual, o domí-nio mental sobre seu veículo de ex-pressão vai aumentando, e o fenô-meno da ideoplastia vai promo-vendo as transformações normais,da natureza material para a nature-za espiritual. A ideoplastia é a for-ça resultante das ações produzidaspela consciência, pelo pensamen-to e pela vontade, capaz de modi-ficar a estrutura do perispírito.

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ogo no início de uma im-portante rodovia federal queliga grande capital a cidades

do interior e a outros Estados sur-giu pequeno buraco na pista deasfalto, cujas pedrinhas, uma auma, foram ganhando liberdade,por força do intenso e pesado trá-fego. O buraco aumentava de ta-manho a cada dia, transforman-do-se numa grande cratera quecolocava em risco a vida dosusuários da estrada. Reclamaçõessurgiram. Os policiais rodoviáriosdo posto próximo ouviam compaciência os reclamantes e infor-mavam-nos de que já haviam pe-dido providências aos seus supe-riores hierárquicos. Autoridadesfederais vieram a público esclare-cer que nada poderiam fazer parasanar o problema porque a rodo-via se iniciava exatamente no localonde se encontrava o posto rodo-viário e o buraco estava antes dele,por conseqüência, fora de suajurisdição, que atribuíam ao Esta-

do. Por sua vez, altos funcionáriosestaduais da esfera pertinente,embora reconhecendo a gravida-de do problema, declararam que aresponsabilidade por aquele tre-cho era da prefeitura da capital, aqual justificou a sua omissão ale-gando ser o conserto da alçadado município limítrofe, cujo pre-feito, considerando que o buraco,a cada dia maior e mais perigoso,se situava em plena rodovia, atri-buiu ao Governo Federal a obri-gação de fazer as obras necessáriaspara tapá-lo. Formou-se, assim,um grande círculo burocrático, umjogo de empurra, tecnicamentechamado conflito de jurisdição.

Os dias corriam rápido e eis que,finalmente, trabalhadores, máqui-nas e material apareceram e a cra-tera foi tapada. A imprensa, semprediligente, trouxe as explicações pa-ra o tão esperado evento: um em-presário havia mandado executar,por sua conta, as obras que recons-tituíram a pista de rolamento.

Aqui na Terra, entre as religiõescristãs, em que pese terem os seusfundamentos originados em ummesmo e grande fanal, que é Je-sus, eternizam-se os conflitos dejurisdição, porque vitimadas pelasdistorções que o homem, Espíritoimperfeito, lhes tem trazido aolongo dos séculos, através deadendos, supressões, omissões ouerrôneas interpretações, proposi-tais ou frutos da ignorância. Cadauma delas diz-se a verdadeira, aúnica que salva, garantindo às al-mas o Céu. Há dirigentes voltadosmais para César do que paraDeus. Templos suntuosos, intitu-lados Casa de Deus, são encontra-dos a poucos passos de comuni-dades extremamente carentes detudo, mostrando de modo claroque existem devotos que fazemtabula rasa para o que, de Estêvão,está registrado em Atos dos Após-tolos (7:48-49): “[...] mas o Altís-simo não habita emtemplos fei-

Conflitos de jurisdição

LAL F R E D O FE R NA N D E S D E CA RVA L H O

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tos por mãos de homens, como dizo profeta:

O Céu é o meu trono, e a terra,o estrado dos meus pés.

Que casa me edificareis [...]?”(Ver Isaías, 66:1.)

Amplos espaços estão criadospara a discriminação e para amais irracional intolerância. Re-ligiosos há que matam e se entre-matam em nome de Deus ou nodo doce Jesus. Fanáticos explo-dem-se para matar. E todos ga-rantem que serão devidamenterecompensados pelo Pai Aman-tíssimo...

Ensina-nos Ana no seu Cântico(I Samuel, 2:3) que de nadaadiantam louvores a Deus sem oscorrespondentes labores dignifi-cantes, nem condenações de rotosa rasgados, quando diz: “Nãomultipliqueis altíssimas altivezas,nem saiam coisas árduas da vossaboca: porque o Senhor é o Deusda sabedoria, e por Ele são asobras pesadas na balança”.

Nada obstante, reconheça-se, agrande massa dos religiosos querviver em paz e em mútuo respei-to, procurando seguir, dentro desuas limitações, a vontade deDeus, o qual, em sua infinita sabe-doria, ainda não quer que nenhu-ma religião tenha a maioria abso-luta de fiéis neste planeta.

O Espiritismo, que é a con-substanciação do Consoladorprometido por Jesus, age como oempresário que mandou tapar oburaco da estrada, indiferente aosconflitos de jurisdição religiosos.O Espiritismo veio trazer a Ver-dade para o homem, da mesma

forma como Jesus, em pessoa,trouxe-lhe o Amor, e Moisés, pelamediunidade, os Mandamentosda Lei. O Espiritismo nada pro-mete, nada impõe; não ataca,não revida, não condena; sim-plesmente mostra o caminho pa-ra mais rápida ascensão espiri-tual. Uma vez que não traz aba-los às bases de qualquer religiãoou crença, a Doutrina dos Espí-ritos veio fadada a ser a religiãodo futuro, quando o homem, pe-lo raciocínio da fé e por sua pró-pria vontade, obedecer à lei dejustiça, amor e caridade, fazendodesaparecer os inaceitáveis con-flitos religiosos e outros, quetanto prejudicam e desarmoni-zam a Humanidade, mantendomultidões de Espíritos presos aum quase infindável ciclo de

reencarnações de aprendizadodoloroso.

Merece registro a definição daDoutrina Consoladora pelo Espíri-to Manoel Philomeno de Miranda,em consonância com a CodificaçãoKardequiana: “– O Espiritismo é aDoutrina de Jesus, em espírito everdade, sem fórmulas nem ritos,sem aparências nem representan-tes, sem ministros. É a religião doamor e da verdade, na qual cadaum é responsável pelos própriosatos, respondendo por eles [...]”.*

Lembrado seja: “Fora da cari-dade não há salvação”.

*FRANCO, Divaldo P. Nos bastidores da

obsessão. Pelo Espírito Manoel Philome-

no de Miranda. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,

1992. Cap. 16, p. 271.

37Fevere i ro 2007 • Reformador 7755

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38 Reformador • Fevere i ro 2007 7766

s grandes vultos do Espiritismo sempre le-vantaram a sua voz a favor da emancipaçãodos escravos. Já em 1866 Antônio da Silva

Neto publicou um opúsculo intitulado Estudos sobrea Emancipação dos Escravos no Brasil. Mais tarde, aspáginas do Reformador também defenderam por esteideal, até que em 1888 fosse decretada a extinção daescravidão no Brasil.

Uma parte dessa história se encontra em deplorá-vel estado de decomposição nas prateleiras da Bi-blioteca Nacional. Trata-se da obra A Escravidão noBrasil e as Medidas que Convém tomar para Extingui--la sem dano para a Nação, de Bezerra de Menezes,com 30 páginas, publicada pela Tipografia Progres-so, em 1869. O único exemplar existente deste livrona Biblioteca Nacional tem a seguinte localização:BN – V-261, 2, 6, no 11.

Bezerra escreveu, na introdução do trabalho, quenenhuma questão reclamava mais a atenção do povobrasileiro do que a questão da emancipação da escra-vatura. Para ele, a escravidão era “uma lamentávelaberração do espírito humano”, condenada pela reli-gião, pela civilização do século XIX, pela economiapolítica e pela moral. Bezerra de Menezes condenoua maldita sede do ouro e a insaciável cobiça do ho-mem que o leva a colocar os ganhos materiais à fren-te dos princípios morais.

Em seguida, Bezerra de Menezes demonstrou, atra-vés de fatos, que o trabalho feito por braço escravo nãopodia competir com o que era feito por braço livre.

Ele começou a contar a história da então Provín-

cia do Ceará, onde, até 1845, todo o serviço domés-tico e industrial era feito por braço escravo. Segundoafirmou: “Quem não possuía escravos, não podia serlavrador!” Os fazendeiros, todos juntos, mal produ-ziam para o consumo da Província, a exportação eranula e o comércio insignificante.

Com a chegada de uma seca devastadora no Cea-rá, em 1845, contudo, a única solução foi colocar àvenda os escravos, o que deixou a Província despo-voada dos mesmos. Então, ao longo de 24 anos, afortuna pública e particular dos cearenses cresceuenormemente, prosperando a indústria de criação,bem como os fazendeiros, que antes mal davam con-ta da manutenção de suas fazendas, mas que agorahaviam enriquecido. As fazendas passaram a valersem os escravos o mesmo que valiam com todos eles.Sem falar que muitos escravos morriam, o que acar-retava grande prejuízo ao seu dono.

Um contingente enorme de pessoas correu paratrabalhar nas fazendas, como explicou Bezerra deMenezes:

“Toda essa população, acoimada pelos viajantes

de preguiçosa, e que de fato vivia na ociosidade, para

não trabalhar em comum com os escravos, corre ho-

je para os pontos agrícolas em procura de trabalho.

Assegura-me pessoa competente e acima de toda

a suspeição, que essa afluência de trabalhadores se

faz em escala admirável, e que pela concorrência ex-

traordinária que há, os salários são módicos, que fei-

to o cálculo do que se gastava com um preto, não

Bezerra de MenezesAbolicionista

O

Muito antes de tornar-se espírita, Bezerra de Menezes levantou a vozpela emancipação dos escravos

JO Ã O MA RC O S WE G U E L I N

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contando o empate do capital e o risco de perdê-lo,

reconhece-se ser muito menor a despesa que se faz

com um trabalhador livre.”

Bezerra de Menezes começou a expor, então, asmuitas formas de emancipação da escravatura queeram defendidas naquela época. Havia os que defen-diam a emancipação rápida e os que preferiam aemancipação gradual. Dentre os que clamavam pelaemancipação rápida, uns a queriam de forma imedia-ta, indenizando-se os proprietários; outros preferiamque se marcasse, desde aquele momento, um prazo,depois do qual todos os escravos ficariam livres, semque a Nação indenizasse os seus proprietários.

Bezerra de Menezes defendeu a forma gradual deemancipação, optando ainda pela decretação do ven-tre livre.

Ventre livre, é, pois, o meio mais simples, mais fá-

cil e mais cômodo entre todos de quantos se tem, até

hoje, cogitado.

Ele remove todos os perigos e prejuízos que os

outros acarretam, e resume em si todas as vantagens

que se podem desejar, quando se trata de uma ques-

tão tão melindrosa, que joga com tantos interesses

quer públicos quer particulares.

Porém esse meio não nos dá senão a solução de

uma parte do problema; não nos dá senão a extinção

da escravidão, e nós queremos o complemento dessa

reforma, queremos a transformação do escravo em

cidadão útil, sem o que todo o resultado é nulo, e

porventura prejudicial.

Para que a emancipação pudesse servir de trans-formação para a vida do escravo, pudesse oferecerum futuro mais digno para todos aqueles que passas-sem a ser livres, Bezerra de Menezes defendeu que oEstado deveria ficar responsável pela criação e edu-cação das crianças nascidas do ventre escravo.

Seu projeto, ao contrário dos demais projetos daépoca, visava não somente libertar o escravo, mascuidar da sua educação moral, fazer com que elecompletasse os estudos, conseguisse emprego e con-traísse matrimônio.

Bezerra de Menezes explicou, a seguir, como seriaesse plano:

A criação das crianças libertadas, não deve, pois, ser

feita na casa dos senhores de suas mães, quer por inte-

resse da vida dessas crianças, quer e principalmente

por interesse de seu futuro e de sua educação moral.

Julgo que o melhor é estabelecerem-se casas de

criação em todos os municípios, sob as vistas ime-

diatas das respectivas Câmaras.

Essa corporação fará recolher à casa de criação,

confiada à sua guarda e vigilância, todas as crianças

que nascerem de ventre escravo em seus municípios,

quer empregando, para esse fim, agentes seus, quer

obrigando, por meio de posturas, os senhores a

transportarem as crianças recém-nascidas.

Bezerra se preocupou inclusive com a amamenta-ção dos bebês e, já naquela época, ele afirmou que aamamentação natural era a mais conveniente.

Na parte seguinte, Bezerra de Menezes escreveusobre os seus planos para a educação das crianças:

Instrução primária acompanhada de princípios

morais e religiosos, tão necessários como aos estu-

dos; a prática desses princípios, fortificada pelos

princípios de preceptores e diretores escrupulosa-

mente escolhidos, eis no que se pode resumir a pri-

meira educação a dar aos meninos de ambos os se-

xos, colocados sob a tutela da Nação.

Mais tarde, e logo que tenham aprendido as pri-

meiras letras, devem os rapazes aplicarem-se ao es-

tudo dos princípios elementares das ciências, que

servem de base às artes mecânicas; e as raparigas à

aprendizagem desses misteres que constituem o tra-

balho da mãe de família.

Chegados a este grau, as mulheres têm completa-

do a sua educação; os homens, porém, precisam ain-

da aprender, cada um, um ofício para que tenham

vocação.

Bezerra de Menezes entendia que a educação de-veria ser de responsabilidade do Estado – iniciandoentre os seis ou sete anos –, devendo ser levada adian-

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te nas capitais das províncias, na Corte ou em qual-quer lugar onde houvesse estabelecimentos compe-tentemente montados para essa educação. Comohomem à frente de seu tempo, Bezerra de Menezesressaltou que o governo deveria dar muita atenção àinstrução agrícola, avaliando que a agricultura seriaa principal base da grandeza futura do Brasil. Alémdisso, ele sabia que somente educar esses jovens nãoresolvia o problema. O Estado não poderia lançaressas pessoas à sociedade e entregá-las a seus pró-prios recursos. Ele considerava que os homens saíamdesses estabelecimentos públicos dotados da instru-ção necessária para ganharem a vida, mas entendiaque o mesmo não acontecia com as mulheres.

A maior preocupação de Bezerra de Menezes, por-tanto, era com as mulheres, consideradas entes fracose dependentes da vontade alheia. Muito discrimina-das, elas tinham a obrigação de contrair matrimônioe de formar uma família. Era nessa proteção familiarque deveriam se tornar excelentes mães de famílias,educadas e formadas para a vida. Mas, por seremmuito discriminadas, essa tarefa se tornava muito di-fícil e poderia colocar todo o plano a perder.

Para resolver problemas deste tipo, Bezerra deMenezes propunha a criação de colônias nacionais,para os libertos que fossem completando a sua edu-cação moral e artística. Os filhos de escravos que es-tivessem preparados para a vida civil e social se reu-niriam em um ou mais destes centros comuns, o quefacilitaria ainda que moças encontrassem seus mari-dos, de acordo com as suas próprias condições, econstituíssem famílias honestas e laboriosas, ao invésde se perderem no seio da sociedade.

Bezerra de Menezes se defendeu ainda das críticasque seu projeto pudesse sofrer e afirmou que ao seisolar os libertos da comunhão dos brasileiros não seestaria fomentando indisposições ou rivalidades dasraças. Mesmo porque esse entrelaçamento ocorreriapouco a pouco dentro da família geral brasileira. Eleresumiu o seu plano da seguinte forma:

Receber do escravo o fruto de seu amor depravado;

criá-lo com todo o cuidado, como recomenda a cari-

dade santa; educá-lo pelo trabalho, pela ilustração do

espírito e pela prática dos sãos princípios da moral e

da religião; constituir com ele uma família, em que se

reproduzam aqueles princípios zelosamente incutidos

em sua alma e em seu coração; e, por meio dessa famí-

lia, levar a pureza dos costumes a todos os que se lhe

aproximarem, a todos os que com ela se forem entre-

laçando; é a meu ver a única solução que se deve dar à

questão da emancipação do escravo no Brasil.

Ele considerou que o seu plano não era de difícilexecução e que os brasileiros não se furtariam aos sa-crifícios que fossem impostos a eles para levar a ter-mo esta iniciativa. Achava que não haveria problematambém para conseguir os recursos necessários paracolocar o plano em prática. Afirmou que o Brasil era“um país onde o ouro se desperdiça a largas mãos”,acusou gastos exorbitantes com coisas inúteis e criti-cou a existência de um “funcionalismo estragado,sem préstimo e desnecessário”, Bezerra de Menezesdefendeu um corte nos gastos no funcionalismo pú-blico, para que estas economias pudessem ser empre-gadas no seu plano. Pediu que fossem suspensos, ouao menos reduzidos, os gastos com a colonização es-trangeira, e colocou em primeiro plano a coloniza-ção nacional. Afirmou que o Estado poderia lançarmão de um imposto especial ou até mesmo contrairempréstimos, esclarecendo que essas despesas com aemancipação trariam vantagens reais ao país e con-tribuiriam para o aumento da renda pública.

Bezerra de Menezes defendeu ainda que o progres-so material deveria caminhar junto com o progressomoral:

Não nos dediquemos exclusivamente ao progres-

so material, sacrificando-lhe toda a receita do Estado.

Atendamos também ao desenvolvimento moral,

repartindo com ele uma parte daquela receita.

E como a emancipação dos escravos é atualmen-

te a maior e mais elevada questão de caráter moral

que temos a resolver, repartamos com ela uma parte

da receita pública, que se costuma aplicar a verbas

de melhoramentos materiais.

Ele acreditava que esses estabelecimentos agrícolas

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e industriais, essas oficinas e fábricas que o governoestabeleceria para escola dos educandos libertos, de-veriam resultar em renda para o Estado se eles fossemconvenientemente administrados. Se isso ocorresse,os gastos efetuados seriam cobertos e haveria até umsaldo significante para os cofres públicos. Nos primei-ros 8 a 10 anos não haveria qualquer compensaçãopara o Estado, mas depois desse período os educandospassariam a produzir e estariam aptos a retribuir aoEstado as despesas efetuadas com a sua criação, com asua educação e com o próprio estabelecimento.

No seu plano, Bezerra de Menezes estabelecia queos educandos não poderiam deixar os estabeleci-mentos antes de determinada idade, período em queeles teriam que trabalhar para o Estado, para cobriras despesas que este mesmo Estado teve com eles.

Outra questão que foi pensada por Bezerra de Me-nezes foi a de como os educandos recomeçariamsuas vidas quando eles saíssem desses estabelecimen-tos. Afirmando que era possível conciliar o interessepúblico com o dos educandos, Bezerra de Menezesdefiniu que a partir do momento em que os educan-dos começassem a trabalhar, uma determinada par-cela de seus rendimentos seria retirada e guardada,estabelecendo um sistema de cotas, em que todos te-riam que contribuir. Com isso, aqueles que comple-tassem a idade para deixarem os estabelecimentosdividiriam todo o valor acumulado. Bezerra de Me-nezes acreditava que essa idéia cobria as despesas fei-tas pelo Estado com os educandos, além de auxiliá--los no momento de deixarem os estabelecimentos.

No final da obra, Bezerra de Menezes afirmou queseu plano não era uma utopia ou um meio parado-xal de resolver a questão. Eis o que escreveu:

Dizem-me a consciência e a razão que a não ser

ela resolvida por aquele modo, ou por outro seme-

lhante, estulta será a glória de quem exterminar a

escravidão no Império, porque em vez do bem que

se espera, resultarão infinitos males de tão recla-

mada reforma.

Ao escrever essa obra, Bezerra de Menezes deseja-va estabelecer uma discussão em torno do assunto.Queria que suas idéias pudessem ser avaliadas eaperfeiçoadas pelas grandes inteligências do país eque, com isso, ele pudesse contribuir indiretamentepara o que ele considerava ser a mais importante re-forma que o país necessitava.

A obra é datada de 10 de março de 1869 e o seuautor assinou apenas “Dr. Bezerra”.

O resgate deste livro é extremamente importantepor dois aspectos. Em primeiro lugar, para mostrar aluta de Bezerra de Menezes pela emancipação dos es-cravos, uma luta que também foi de Antônio da SilvaNeto e de outros grandes homens. Essa luta começoua ser ganha pouco mais de dois anos e meio depoisda data desse livro, em 28 de setembro de 1871, coma promulgação da Lei do Ventre Livre. A outra ques-tão pertinente é que a cópia deste livro, encontradana Biblioteca Nacional, está em estado de decompo-sição, não se sabendo se existem outras cópias daobra deste grande brasileiro, que em vida se tornoumais conhecido como o “Médico dos Pobres”.

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Ilustração representando aescravatura no Brasil

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Seara Espírita

Goiás: Congresso Espírita Estadual De 18 a 20 de fevereiro, crianças, jovens e adultosterão a oportunidade de compartilhar idéias e im-pressões no XXIII Congresso Espírita Estadual doEstado de Goiás. O evento, que terá palestras deAlberto Almeida, Irvênia Prada, Jacbson Sant’annaTrovão e Otaciro Rangel, contará com o estudo detemas como Evolução, Encontro das Leis Humanascom a Lei de Deus e debate sobre ciência e religião.No encerramento, Divaldo Pereira Franco coor-denará o seminário “O Despertar da Consciência”.A FEEGO oferece mais informações na páginawww.feego.org.br ou pelo telefone (62)3281-0200.

Rio de Janeiro (RJ): Palestra na FEB No dia 27 de janeiro, o presidente da FEB, NestorJoão Masotti, fez a palestra inaugural das atividadesde 2007 na sede histórica da Federação Espírita Bra-sileira, no Rio de Janeiro. E no dia 24 de fevereiro, nomesmo local, às 10h30, José Carlos da Silva Silveiracoordena um seminário com o tema “A promoçãosocial à luz da Doutrina Espírita”. As palestras pros-seguirão nos demais meses do ano. Informações pe-los telefones (21) 2221-3153/3155 ou no seguinte en-dereço: Av. Passos, 30, Centro (RJ).

Movimento de Integração EspíritaEm sua 34a edição, o Movimento de IntegraçãoEspírita Paraibano (MIEP), que ocorrerá em Campi-na Grande (PB), conta com o estudo do tema “O Li-vro dos Espíritos, 150 anos de verdade e consolação”.O evento, de 17 a 20 deste mês, tem como palestran-tes André Luiz Peixinho (BA), Frederico Menezes(PE), Severino Celestino de Souza (PB) e JuselmaMaria Coelho (MG), entre outros. A realização é daCoordenadoria Espírita da Borborema e AssociaçãoMunicipal de Espiritismo, com o apoio da FederaçãoEspírita Paraibana. O MIEP será realizado na So-ciedade de Estudos e Educação Espírita, Rua JoãoPequeno, 181, Catolé. Informações na página eletrô-nica www.miep.com.br

Distrito Federal: Espaço Federativo“Atendimento Espiritual na Casa Espírita” foi o temado Espaço Federativo que ocorreu no dia 3 de de-zembro, das 8h30 às 17h, na sede da FederaçãoEspírita do Distrito Federal (FEDF). A expositoraconvidada foi Maria Euny Herrera Masotti, diretorada FEB e coordenadora da Área de AtendimentoEspiritual na Casa Espírita das Comissões Regionaisdo Conselho Federativo Nacional da FEB. Mais in-formações sobre o Movimento Espírita no DistritoFederal: www.fedf.org.br

Amazonas: Eventos EspíritasDuas palestras públicas e um seminário foram pro-movidos, de 1 a 3 de dezembro de 2006, em Manaus(AM). Para o evento, a Federação Espírita Amazo-nense convidou a presidente da Associação Médico--Espírita Internacional, Marlene Nobre. Ela fez a pa-lestra “Nossa Vida no Além”, coordenou o seminário“A Obsessão e suas Máscaras” e também fez confe-rência específica para profissionais da área de saúde.A página eletrônica da Federação Espírita Amazo-nense é: http: www.feamazonas.org.br

Espírito Santo: Encontro de TrabalhadoresEm novembro de 2006, a Federação Espírita doEstado do Espírito Santo promoveu o seu 9o En-contro de Trabalhadores da Assistência e PromoçãoSocial (Entradas) e aproveitou a oportunidade parainaugurar uma nova metodologia com ênfase no re-lacionamento interpessoal. Participaram 22 Institui-ções espíritas capixabas.

Encontro Espírita no PanamáDe 8 a 11 de fevereiro, o Movimento Espírita doPanamá realizará o I Encontro Espírita Panamenho,que contará com a presença de vários representantesdo Movimento Espírita da América Latina. Entre osbrasileiros, Divaldo Pereira Franco, José RaulTeixeira e Ney Prieto Perez. Tema central: “A Ciênciae o Espírito no Mundo Contemporâneo”.

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