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REFORMA AGRÁRIA E EDUCAÇÃO NO CAMPO: DA REDISTRIBUIÇÃO DA PROPRIEDADE DA TERRA À CIDADANIA DO TRABALHADOR RURAL REFORME AGRAIRE ET EDUCATION DANS LA CAMPAGNE: DE LA REDISTRIBUTION DE LA PROPRIETE DE LA TERRE A LA CITOYENNETE DU TRAVAILLEUR RURAL Juliana Cristine Diniz Campos RESUMO Este trabalho tem por finalidade analisar as especificidades da educação especial para reforma agrária, como instrumento de inclusão social do trabalhador rural. Busca-se demonstrar que o sistema fundiário brasileiro foi estruturado a partir de três elementos básicos: o latifúndio, a monocultura para exportação e a exploração do trabalho do camponês. Essa forma de organização gerou profundas desigualdades socioeconômicas, especialmente a exclusão de grande parte dos trabalhadores rurais ao acesso da terra. Como forma de superar o paradigma liberal-individualista, surge o novo regime do direito de propriedade, que prevê, além dos atributos básicos de garantia, deveres de funcionalização. Nesse contexto, foi a reforma agrária institucionalizada como exigência política e jurídica básica, por meio de sua previsão na legislação agrária e nas cartas constitucionais. A reforma deve ser realizada em duas fases, sendo a distribuição da propriedade apenas o início. É seguida pelo assentamento, onde as políticas de assistência têm a função primordial de garantir o êxito da ampla reestruturação. Entre as ações afirmativas relacionadas à inclusão do trabalhador rural, tem-se a mediação educacional como elemento básico de emancipação, possibilitando a conquista de sua cidadania. O direito à propriedade da terra assume uma função complexa de garantir não apenas o meio de produção econômica, mas a própria dignidade humana como núcleo axiológico da ordem constitucional. PALAVRAS-CHAVES: PROPRIEDADE. REFORMA AGRÁRIA. EDUCAÇÃO ESPECIAL. CIDADANIA. RESUME Ce travail analyse les caracteristiques de l’education speciale pour la réforme agraire, comme moyen d’inclusion sociale du travailleur rural. On démontre que le système distribution de la terre brésilien a été structuré sur trois elements: vaste proprieté rurale, monoculture pour l’exportation et l’exploration du travail. Cette forme d’organisation a produit des inégalités sociales et economiques, specialement l’exclusion d’une grande partie des travailleurs rurales à la terre. Comme moyen de surmonter le paradigme liberal-individualiste, il surge le nouveau régime du droit de proprieté, qui prevoît des devoirs de fonction social outre que des attributs basiques de garantie. Dans ce contexte, la réforme agraire a eté instituée comme exigence politique et juridique, par sa prévision 558

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REFORMA AGRÁRIA E EDUCAÇÃO NO CAMPO: DA REDISTRIBUIÇÃO DA PROPRIEDADE DA TERRA À CIDADANIA DO TRABALHADOR RURAL

REFORME AGRAIRE ET EDUCATION DANS LA CAMPAGNE: DE LA REDISTRIBUTION DE LA PROPRIETE DE LA TERRE A LA CITOYENNETE

DU TRAVAILLEUR RURAL

Juliana Cristine Diniz Campos

RESUMO

Este trabalho tem por finalidade analisar as especificidades da educação especial para reforma agrária, como instrumento de inclusão social do trabalhador rural. Busca-se demonstrar que o sistema fundiário brasileiro foi estruturado a partir de três elementos básicos: o latifúndio, a monocultura para exportação e a exploração do trabalho do camponês. Essa forma de organização gerou profundas desigualdades socioeconômicas, especialmente a exclusão de grande parte dos trabalhadores rurais ao acesso da terra. Como forma de superar o paradigma liberal-individualista, surge o novo regime do direito de propriedade, que prevê, além dos atributos básicos de garantia, deveres de funcionalização. Nesse contexto, foi a reforma agrária institucionalizada como exigência política e jurídica básica, por meio de sua previsão na legislação agrária e nas cartas constitucionais. A reforma deve ser realizada em duas fases, sendo a distribuição da propriedade apenas o início. É seguida pelo assentamento, onde as políticas de assistência têm a função primordial de garantir o êxito da ampla reestruturação. Entre as ações afirmativas relacionadas à inclusão do trabalhador rural, tem-se a mediação educacional como elemento básico de emancipação, possibilitando a conquista de sua cidadania. O direito à propriedade da terra assume uma função complexa de garantir não apenas o meio de produção econômica, mas a própria dignidade humana como núcleo axiológico da ordem constitucional.

PALAVRAS-CHAVES: PROPRIEDADE. REFORMA AGRÁRIA. EDUCAÇÃO ESPECIAL. CIDADANIA.

RESUME

Ce travail analyse les caracteristiques de l’education speciale pour la réforme agraire, comme moyen d’inclusion sociale du travailleur rural. On démontre que le système distribution de la terre brésilien a été structuré sur trois elements: vaste proprieté rurale, monoculture pour l’exportation et l’exploration du travail. Cette forme d’organisation a produit des inégalités sociales et economiques, specialement l’exclusion d’une grande partie des travailleurs rurales à la terre. Comme moyen de surmonter le paradigme liberal-individualiste, il surge le nouveau régime du droit de proprieté, qui prevoît des devoirs de fonction social outre que des attributs basiques de garantie. Dans ce contexte, la réforme agraire a eté instituée comme exigence politique et juridique, par sa prévision

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dans la législation agraire et les constitutions. La reforme doit être realisée en deux phases, tant que la distribution de la proprieté soit le début. Elle est suivie par “l’assentamento”, où les politiques d’assistance ont la fontion primordiale de garantir le succès de la restructuration. Entre les actions affirmatives relationées à l’inclusion du travailleur rural, on a l’éducation comme moyen basique d’émancipation, qui permet la conquête de sa citoyenneté. Le droit à la proprieté de la terre gagne une fonction complexe d’assurer non seulement le moyen de production économique, mais la dignité humaine comme la base axiologique de l’ordre constitutionelle.

MOT-CLES: PROPRIETE. REFORME AGRAIRE. EDUCATION SPECIALE. CITOYENNETE.

INTRODUÇÃO

Este artigo analisa a educação para reforma agrária como medida de inclusão social do trabalhador rural, condicionante da conquista de sua autonomia individual e de sua cidadania. A fim de investigar as especificidades da educação especial no campo como ação afirmativa, faz-se necessária a compreensão histórica da formação do sistema fundiário brasileiro, uma vez que a reforma agrária se qualifica como processo de divisão igualitária da terra como unidade produtiva básica, a partir da consolidação do novo regime jurídico da propriedade, que a associa a um dever fundamental de funcionalização.

A exploração predatória da propriedade rural no Brasil – identificada pela concentração da titularidade do direito à terra durante séculos – determinou a constitucionalização da reforma agrária no Brasil, através da previsão de capítulo específico para política agrícola, inserido no título referente à ordem financeira e econômica. Através de dispositivos específicos, estabelece-se um novo regramento para propriedade, enquanto dimensão de valor fundamental das relações sócio-econômicas no campo.

A disciplina jurídico-constitucional do direito de propriedade alcança, na realidade pós-1988, restrições às dimensões do uso, gozo e disposição da terra, relativamente à realidade rural. Nesse aspecto, pode-se afirmar que a propriedade é compreendida como fator de desenvolvimento, condicionada não apenas pela pretensão individual de uso de seu titular, mas também pelas pretensões da coletividade relacionadas à sua utilização funcional e proveitosa.

A partir de tal disciplina, já delineada como dever fundamental no artigo 5º da constituição e especificada nos capítulos da ordem econômica, tem-se a reforma agrária como o conjunto de medidas tendentes a assegurar a redistribuição da terra, concebida como meio de produção primordial, garantindo-se, em última análise, a efetividade da nova disciplina da propriedade a que se referiu.

A reforma agrária, como política em ato, inicia-se com a identificação dos imóveis mal utilizados seguida da expropriação pelo Estado, para o fim de redistribuição entre os trabalhadores rurais destituídos de acesso à terra. Realizada essa fase inicial, introdutória por viabilizar a reorganização da titularidade do direito à propriedade imóvel rural, segue-se o período mais complexo, em que se busca

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assegurar, através de políticas diversas, a permanência no campo da família assentada, motivada por seu desenvolvimento social, econômico e cultural.

O sucesso da reforma depende, primordialmente, do êxito das políticas públicas posteriores ao assentamento, por determinarem a transformação das estruturas – não apenas institucionais, mas também ideológicas – de exclusão do trabalhador rural da condução do desenvolvimento do campo, em suas múltiplas dimensões. Pode-se afirmar que tais políticas de apoio ao assentado, ao garantirem a conquista da autonomia, permitem a reforma desde sua base, em face da transmutação de valores operada entre a comunidade rural.

Nesse aspecto, há falar em formas de “apoio” e de “incentivo” que vão além da esfera fiscal, creditícia ou de técnica agrícola, alcançando a prática educacional como meio privilegiado de reforma, possível através da inclusão – no sentido de alcance da liberdade de pensamento e de escolha – do trabalhador rural. Paulo Freire esclarece: incidindo sobre a estrutura do latifúndio, transformando-a noutra, transitória, a do “asentamiento”, a reforma agrária exige um permanente pensar crítico em torno da ação transformadora mesma e dos resultados que dela se obtenham.[1]

Associada à reestruturação fundiária, mediada pela ordem jurídica, a educação no campo é identificada como meio de reflexão sobre o novo sentido que se pretende dar à terra, enquanto elemento complexo de desenvolvimento e liberdade, a ser explorado de forma sustentável, ambientalmente correta e socialmente relevante. O reconhecimento do dever do proprietário do imóvel rural passa, necessariamente, pelo resgate da cidadania através educação, especialmente conduzida junto às comunidades assentadas, tendo em vista suas particularidades sócio-econômicas e culturais.

Neste estudo, busca-se apresentar e interpretar as principais especificidades da educação no campo no Brasil – nomeada pela União Federal como “educação para reforma agrária” –, a partir de sua inserção no contexto jurídico-político brevemente delineado. É o objetivo, portanto, compreender os processos de mudança estrutural mediados pela educação especial, como modalidade de ação afirmativa, relacionados à cidadania do trabalhador rural.

1. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA: REESTRUTURAÇÃO FUNDIÁRIA E GARANTIA DO DIREITO À TERRA

Os vícios estruturais relacionados à propriedade da terra são fruto da precária empresa rural instalada no Brasil a partir do século XVI. O processo histórico de formação do sistema fundiário brasileiro teve por base a hipertrofia do latifúndio, fundada na exploração de monoculturas para exportação, através do emprego da mão-de-obra escrava.

Ainda no período colonial, com marco inicial em 1531, a organização da produção agrícola se deu a partir do regime sesmarial, já experimentado em Portugal desde o século XIV. As sesmarias se caracterizavam como grandes extensões de terra

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conferidas a indivíduos a quem competia investir na economia rural. A empresa agrícola era fundada no latifúndio, dada a enorme quantidade de terra sem exploração e a ausência de pessoas interessadas em empreender. A elaboração da lei se deu em 1345, quando Portugal se recuperava de uma peste, os campos esvaziados e um déficit considerável de produtos alimentícios [2].

Desse modo, como esclarece Holanda, a exploração dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez-se antes com desleixo e certo abandono.[3] O modelo de colonização escolhido pelos portugueses não foi resultado de uma intenção desenvolvimentista preocupada com a sustentabilidade da empresa implantada, buscou-se, em verdade, usufruir imediatamente os proveitos da colônia recém-descoberta. Nesse sentido:

Não é certo que a forma particular assumida entre nós pelo latifúndio agrário fosse uma espécie de manipulação original, fruto da vontade criadora um pouco arbitrária dos colonos portugueses. Surgiu, em grande parte, de elementos adventícios e ao sabor das conveniências da produção e do mercado. Nem se pode afiançar que o sistema de lavoura, estabelecido, aliás, com estranha uniformidade de organização, em quase todos os territórios tropicais e subtropicais da América, tenha sido, aqui, o resultado de condições intrínsecas e específicas do meio. Foi a circunstância de não se achar a Europa industrializada ao tempo dos descobrimentos, de modo que produzia gêneros agrícolas em quantidade suficiente para seu próprio consumo, só carecendo efetivamente de produtos naturais dos climas quentes, que tornou possível e fomentou a expansão desse sistema agrário.[4]

Ao contrário do que comumente se atribui a uma “natural” forma de organização, a escolha do latifúndio como unidade de produção fundamental foi decorrente de um complexo de fatores econômicos e culturais relacionados à falta de interesse inicial do português em desenvolver empresa agrícola duradoura, à ausência de uma agricultura já avançada em Portugal e à imensa extensão territorial da colônia, quase que inteiramente desbravada à época.

Com economia fundada na empresa agrícola, sem a instalação de uma dinâmica cooperativa entre diversas atividades produtoras, observou-se, na história econômica nacional, o suceder de ciclos de produção concentrados na monocultura (cana-de-açúcar, café, algodão, etc), sempre fundados na concentração da propriedade e na exploração predatória da terra como meio de produção.

Tem-se a compreensão de que a organização da propriedade em latifúndios não é determinante para a alta produtividade nem medida indispensável para o desenvolvimento da economia agrícola. A desmistificação dessa realidade motivou a constitucionalização da reforma agrária, como imperativo ético, mas igualmente técnico, relacionado à necessidade de alcançar níveis mais satisfatórios de produtividade para o fim de promover o desenvolvimento nacional.

1.1 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL: A TERRA COMO MEIO FUNDAMENTAL DE PRODUÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

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É possível afirmar que a institucionalização da reforma fundiária deve-se ao novo regime do direito de propriedade experimentado no Ocidente e, também no Brasil, que a compreende para além da concepção liberal-individualista. Se antes vista como direito individual absoluto e perpétuo, tutelado por diversos mecanismos processuais, com a nova ordem constitucional tem-se uma transformação do conceito, que associa a propriedade não apenas à dimensão da garantia, mas igualmente à dimensão do dever de funcionalização. Apesar de tardia, a transformação da disciplina jurídica da propriedade encontra-se como um dos paradigmas básicos da nova constituição.

A mudança estrutural da estrutura fundiária se dá, portanto, através da mediação do estado, que institucionaliza a reforma como programa constitucional. Observa-se que, mesmo em países de organização tipicamente socialista, os processos de reestruturação são efetivados pela atuação do poder institucionalizado, que detém os mecanismos de estabilização das relações jurídicas de propriedade. Assim, é possível identificar dois métodos fundamentais de reforma agrária: o método coletivista e método privatista, ambos dependentes do poder estatal, sendo aquele caracterizado pela reversão da propriedade privada em favor do estado, que distribui a terra como posse, não como domínio.

O método brasileiro de reforma agrária é necessariamente privatista, tendo em vista os dispositivos constitucionais que garantem, entre as liberdades públicas fundamentais, o direito à propriedade. No mesmo sentido, o artigo 170 da constituição federal estabelece, como um dos princípios gerais da atividade econômica, a propriedade privada (inciso II), inexistindo a possibilidade de uma reestruturação fundiária que implique: a) o combate ao domínio particular da terra, como forma de organização fundamental; b) a expropriação do direito de propriedade sem uma indenização correspondente.

Esses dois elementos são importantíssimos quando se organiza a reforma agrária, uma vez que o estado tem uma função primordialmente regulatória e assistencial. É sua função elaborar a normatividade infraconstitucional que exija a obediência ao dever de funcionalização da propriedade, ao mesmo tempo em que possibilita, com a criação de instituições especializadas em atender o trabalhador, a transformação da realidade no campo. Apesar de ter uma função interventiva bastante notória na primeira fase da reforma, referente à desapropriação, o desenvolvimento da atividade econômica do campo, a partir de uma política agrícola, é atividade eminentemente privada. O estado atua, em relação ao trabalhador assentado, como uma fonte provisória de auxílio, para que ele possa tornar-se autônomo e desenvolver sua própria produção, daí o teor assistencial[5].

A disciplina normativa da reforma agrária foi realizada, no Brasil, pela lei federal nº 8.629/1993, já de acordo com a nova ordem constitucional. É possível identificar mecanismos frágeis de reestruturação já na lei nº 4.504/1964, que institui o Estatuto da Terra e define a reforma agrária como “o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade” (artigo 1º, §2º). Apesar de prevista, a mudança da organização fundiária no Brasil não

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alcançou níveis satisfatórios de efetividade até a promulgação da nova constituição, em 1988.

O processo de reforma compreende duas fases principais, a desapropriação por interesse social, que arrecada as propriedades improdutivas por não atenderem a sua função social, e o assentamento, como estrutura provisória, organizada pelo estado juntamente com os trabalhadores rurais. Através de políticas assistenciais, o poder público auxilia o agricultor assentado a se desenvolver, a partir do assessoramento técnico e do incentivo creditício e fiscal. Essa organização, marcada pela forte presença do estado, é necessária, pois restaria inviabilizado o direito à terra, como fonte de produção, sem os meios de desenvolvimento, até então inacessíveis ao agricultor.

É possível afirmar que a função da reforma é possibilitar o acesso à terra, como fator de inclusão social. Essa atuação não se limita à distribuição dos imóveis rurais, decorrente dos processos de desapropriação. O projeto de assentamento, como meio de organização básica da unidade rural recém-implantada, é fundamental no processo de desenvolvimento da economia do campo e da concretização da dignidade do trabalhador. É justamente nesse momento que a educação especial assume um papel relevante: pela mediação educativa, o sujeito resgata a sua autonomia, superando a exclusão – sobretudo simbólica e ideológica – a que estava submetido.

Para Alfonsin:

À rigidez do espaço terra adquirido como bem próprio, portanto, não corresponde rigidez dos direitos humanos fundamentais alheios aos do proprietário que, pelo exercício que for imposto ao direito dele, descumpra a função social da qual dependam, quando menos parcialmente, a eficácia dos primeiros. Isso significa que a validade “erga omnes” dos direitos reais não é invariável. É ela que tem de se adaptar e deixar interpelar pelos “interesses alheiros” que explicam e justificam a função social daqueles direitos e não o contrário [6].

A propriedade rural tem, nesse contexto, o papel de possibilitar a inclusão social do agricultor, na medida em que é a partir dela que as relações sociais no campo irão se desenvolver. A construção da autonomia pelo trabalho livre e a conquista do direito à terra como meio de produção garante, ao trabalhador rural, o resgate de sua condição cidadã, através da concretização do imperativo da justiça social. A terra tem, assim, uma função social imprescindível, e é por essa razão que a divisão igualitária da propriedade rural é medida inaugural da reforma agrária.

A construção da cidadania do trabalhador rural, é possível, assim, através do processo de reforma do sistema fundiário, a partir da garantia do direito à terra, complementado pelas políticas de assistência posteriores à distribuição das propriedades, dentro da estrutura do assentamento. Entre as políticas, destacam-se: assessoramento técnico-científico; seguro agrícola; crédito rural; tributação e incentivos fiscais; formação profissional e educação rural [7].

É preciso compreender, portanto, as especificidades da educação contextualizada no âmbito da reforma agrária, para se tenha uma maior efetividade na reorganização da estrutura fundiária no Brasil. Associa-se essa tarefa à exigência constitucional de

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garantir a dignidade humana, por meio do combate às desigualdades econômicas e sociais características da sociedade nacional.

EDUCAÇÃO ESPECIAL: INTENCIONALIDADE E POLITICIDADE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO MEDIDA DE INCLUSÃO SOCIAL

O ato educativo apresenta-se como prática social, através da qual é possível não apenas transmitir o conhecimento acumulado por determinada civilização, mas inserir o indivíduo no mundo de significados de sua comunidade. A educação tem, assim, uma dimensão de permanência das estruturas, ao mesmo tempo em que possibilita a construção da autonomia individual, abrindo o caminho para a mudança. Por essa razão, Federico Mayor[8] a define como um processo que, ao longo de toda a vida, confere a capacidade de dirigi-la de acordo com a nossa reflexão, pensamento e escolhas. A educação liberta. Ela nos concede a soberania pessoal.

Reconhecer a dupla função aparentemente contraditória da prática educativa traz algumas consequências teóricas. A primeira delas é relacionada ao reconhecimento da intencionalidade da atividade educacional: educa-se para determinado fim, ainda que o sentido desse educar não seja explícito ou refletido. A segunda consequência fundamental refere-se à politicidade da práxis: educação é formação em valores, para o bem ou para o mal; tem-se a referência, portanto, à eticidade da função educativa.

Nesse sentido, é possível sustentar que toda concepção de processo educativo sempre expressa uma doutrina pedagógica, a qual implícita ou explicitamente se baseia em uma filosofia de vida, concepção de homem e sociedade [9]. Refere-se, portanto, a um quadro valorativo responsável pela coesão e permanência do corpo social conforme determinada identidade, desenvolvida na histórica. O direito à educação, como institucionalização da pretensão social ao ensino, não está dissociado dessa discussão propriamente filosófica e necessariamente histórica.

Por que educar? Para que educar? São perguntas cujas respostas condicionam necessariamente o modo de concretizar a prática educativa e constituem o fundamento material do direito à educação. Desse modo, é possível afirmar que toda ação educacional que tenha por finalidade construir a autonomia do educando deve ser necessariamente contextualizada social e historicamente. A educação especial para reforma agrária surge, nesse contexto, como ação afirmativa, por possibilitar, a partir das especificidades da realidade do campo, a inclusão do trabalhador através da crítica de sua condição de excluído.

Tem-se o conceito de ação afirmativa como medida inclusiva, que garante a igualdade material em um contexto de profundo desequilíbrio de forças. Apesar de tradicionalmente associadas à proteção de minorias étnicas e de gênero[10], é possível sustentar uma noção de ação afirmativa mais ampla: tratam-se, em última análise, de medidas interventivas relacionadas ao reconhecimento da diversidade e da possibilidade de participação social, econômica e política de minorias marginalizadas.

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Para Capelo:

A discussão em torno da diversidade cultural faz parte desse paradoxo contemporâneo que engendra tanto a possibilidade de padronização cultural e de massificação, quanto uma perspectiva comunitarista erigida em torno da mobilização de grupos sociais que reivindicam o reconhecimento de suas especificidades socioculturais: índios, trabalhadores rurais, terceira idade, punks, negros, índios, gays, mulheres, jovens, etc [11].

Desse modo, tem-se que a educação para reforma agrária, ao dirigir-se a uma categoria social específica, excluída do ponto de vista econômico, pode ser conceituada como ação afirmativa, na medida em que tem como função a conquista da autonomia desse grupo, por meio do reconhecimento de suas especificidades culturais.

Sobre a especificidade da educação especial como medida de inclusão, tem-se que as políticas devem atentar para a questão central da diversidade. Implica reconhecer que os trabalhadores rurais carregam consigo múltiplas aprendizagens obtidas enquanto compartilham espaços sociais e geográficos diferentes [12]. Desse modo, é preciso empreender: a) medidas de formação educacional da comunidade camponesa, instalada nos assentamentos, como política pública inserida na reforma agrária e como ação afirmativa básica; b) o desenvolvimento de uma metodologia de ensino apropriada às condições culturais do grupo, para que possibilite uma inclusão respeitadora da diferença. Para Candau:

A consciência do caráter homogeneizador e monocultural da escola é cada vez mais forte, assim como a consciência da necessidade de romper com esta e construir práticas educativas em que a questão da diferença e do multiculturalismo se façam cada vez mais presentes.[13]

A execução de programas educacionais específicos para reforma agrária surge, então, como medida relacionada à reestruturação fundiária, decorrente do processo de redistribuição da terra. As ações educativas especiais permitem, assim, a inclusão social dos camponeses assentados, sendo, por essa razão, identificadas como ações afirmativas, a partir de uma definição ampliativa do conceito. É indispensável que se compreenda que essa prática educacional está referenciada à sua intencionalidade – a inclusão e a conquista da cidadania – de que modo que deve ser conduzida de forma especial, atentando-se para as diferenças culturais do grupo atingido.

EDUCAÇÃO PARA REFORMA AGRÁRIA E REESTRUTURAÇÃO DAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO

A educação para reforma agrária não se destina a uma simples transmissão de conhecimentos nos mesmos moldes da educação escolar tradicional, efetuada nos espaços urbanos. É uma educação especial, por duas razões fundamentais: em geral a comunidade camponesa assentada, beneficiada pela ação educacional, demanda um processo prévio de alfabetização, especialmente direcionado a jovens e adultos, em um

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espaço de tempo menor relativamente ao alfabetizar de crianças; a ação educacional tem a função de possibilitar a reestruturação fundiária, a partir da compreensão da terra como unidade de produção, a ser explorada pela comunidade de forma sustentável e em regime cooperativo.

Tem-se, portanto, um público-alvo bastante específico, com condições de aprendizado diferenciadas em razão de idade e de tempo disponível. Além disso, demanda-se uma formação que integre o conhecimento à ação e ao trabalho, pois o agricultor conquista sua autonomia pela reflexão da estrutura de exclusão social que ele deve superar, através do assentamento e do amparo estatal. Como esclarece Freire, faltando aos homens uma compreensão crítica da totalidade em que estão, captando-a em pedaços nos quais não reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade, não podem conhecê-la [14]. Sem conhecê-la, permanecem num estado de dominação que impede a transformação do latifúndio em unidade produtiva explorada de forma familiar, através do desenvolvimento do assentamento.

Desse modo, o êxito da reforma agrária como mudança estrutural depende, primordialmente, das políticas educacionais específicas para a comunidade camponesa, para que se estabeleça um diálogo entre educador e agricultor, mediador do processo inclusivo. O método da educação para reforma agrária é, portanto, dialogal e problematizador, fundado no conceito de “temas geradores”, também nominado de “universo temático” [15].

A formação do trabalhador rural está referenciada ao seu horizonte de compreensão, sendo ineficaz a aplicação irrefletida da mesma metodologia de ensino escolar tradicional ao público dessa forma especial de educação. Como esclarece Freire:

Isso significa, então, que não é possível desconhecer o back-ground cultural que explica os procedimentos técnico-empíricos dos camponeses. Sobre essa base cultural – em que se constituem suas formas de proceder, sua percepção da realidade – devem trabalhar todos os que tenham esta ou aquela responsabilidade no processo da reforma agrária [16].

O educador trabalha, assim, com o universo temático do agricultor, a partir da discussão de situações-problema enfrentadas pelo educando no fazer diário de sua atividade laboral. Discute-se, fundamentalmente, a partir da compreensão da terra como elemento complexo de desenvolvimento, daí porque uma nova concepção de propriedade faz-se imprescindível a uma política especial de educação para reforma agrária.

A transformação da estrutura fundiária não se dá pela simples distribuição da terra, possibilitada pela fase inicial da reforma. Isso porque, muitas vezes, as relações de domínio (determinantes da exclusão social) são reproduzidas no assentamento, devendo a educação trabalhar o novo conceito de propriedade como instrumento de aproveitamento racional e efetivo, responsável pelo desenvolvimento econômico e humano do campo, a partir de moldes isonômicos. A reforma deve ser acompanhada, portanto, pela mudança da consciência camponesa em relação à terra e do papel do agricultor como sujeito de transformação social.

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Assim sendo, a compreensão de reforma não busca, simplesmente, tornar um latifúndio improdutivo em unidade bem aproveitada com a transmissão de técnicas avançadas de produção. A educação para reforma agrária não tem a única finalidade de apresentar ao trabalhador a tecnologia agropecuária. É preciso trabalhar a conquista da autonomia, que se converte em prática cidadã quando o camponês compreende a si mesmo como agente titular de direitos e deveres relacionados à comunidade de que faz parte.

Desse modo, é possível afirmar que a reforma agrária, relacionada, pelo artigo primeiro da lei 4.504/1993, à justiça social, depende do desenvolvimento de uma compreensão crítica da realidade, através da qual o agricultor se percebe como sujeito digno em si mesmo, titular de direitos fundamentais. O acesso à terra é, assim, apenas uma dessas pretensões constitucionalmente tuteladas, na qualidade de instrumento-base que possibilita a concretização da autonomia individual.

Sendo a dignidade humana um dos princípios fundamentais da república brasileira, conforme dispõe o artigo 1º, inciso III, da constituição, a reforma agrária aparece como política pública específica que concretiza a norma principiológica em referência, especialmente no que se refere ao objetivo de construir uma sociedade livre, justa e solidária (artigo 3º, inciso I). Para Landa:

A dignidade não é apenas um valor e princípio constitucional, mas igualmente o motor dos direitos fundamentais; pois ela serve tanto de parâmetro fundamental da atividade do estado e da sociedade, como também de fonte dos direitos fundamentais dos cidadãos. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana se projeta não apenas defensiva ou negativamente ante as autoridades e os particulares, mas também como um princípio de ações positivas para o livre desenvolvimento do homem.[17] [tradução nossa]

A educação para reforma agrária se insere nesse contexto, em que a exigência normativa de concretização da dignidade humana impõe a realização de ações positivas de enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas. Realiza-se, assim, pela mediação educacional, a mudança das estruturas ideológicas de exclusão, através da crítica da estrutura superada como incapaz de atender aos postulados de igualdade e bem-estar amparados pelo projeto constitucional.

CONCLUSÕES

Este trabalho buscou analisar as especificidades da educação especial para reforma agrária, enquanto categoria de ação afirmativa realizada no contexto da redistribuição do direito à terra. Para tanto relacionou-se o processo de formação do sistema fundiário brasileiro ao surgimento do novo regime do direito de propriedade, na medida em que o histórico de concentração das unidades de produção em latifúndios provocou imensas desigualdades sociais e econômicas que demandaram, com o surgimento do estado social, uma nova concepção de propriedade.

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A partir da compreensão de que a terra assume uma função social complexa de promover a produção econômica no campo, ao mesmo tempo em que garante o desenvolvimento humano e a concretização da dignidade, tem-se a redistribuição das propriedades imóveis rurais como o primeiro passo de transformação. O processo de divisão mais igualitário deve ser seguido da estrutura do assentamento, onde o auxílio do estado permite que o camponês tenha acesso aos meios de desenvolver-se, que envolvem incentivos fiscais, creditícios e a formação profissional e educativa.

Nesse contexto, conforme se demonstrou, a educação assume o papel primordial de garantir a autonomia do trabalhador, através de um processo reflexivo, que reconhece criticamente a anterior situação de excluído a ser necessariamente transposta pelo trabalho da terra. Mostra-se imprescindível que essas políticas educacionais considerem o universo cultural específico da comunidade camponesa, a fim de que a transformação da estrutura preconizada pela legislação e pela carta constitucional tenha sucesso.

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[1] FREIRE, Paulo. Ação Cultural e Reforma Agrária. In: FREIRE, Paulo. Ação Cultural para Liberdade e outros Escritos. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

[2] PEREIRA, Luciene Maria Pires. Portugal e Brasil: Um Estudo Comparado acerca da Distribuição das Terras. In: Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. São Paulo: 2008.

[3] HOLANDA. Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, pg. 33-34.

[4] Op. cit., pg. 38-39

[5] É preciso distinguir o assistencialismo, como retórica política de cunho negativo, da assistência social. Esta está relacionada ao reconhecimento jurídico das desigualdades sociais e tem como consequência a institucionalização de medidas de apoio e de inclusão a categorias sociais específicas, como mulheres, idosos, pobres, crianças, etc. A garantia de medidas assistenciais está prevista na constituição, a partir do artigo 203 e tem como objetivos a “proteção”, o “amparo” e a “promoção da integração ao mercado de trabalho. O apoio estatal ao trabalhador rural assentado tem um teor claramente assistencial, e decorre da compreensão de que, sem o auxílio, o agricultor não terá meios de tornar a propriedade recebida produtiva.

[6] ALFONSIN, Jacques Távora. O Acesso à Terra como Conteúdo de Direitos Humanos Fundamentais à Alimentação e à Moradia. Porto Alegre: SAFE, 2003, pg. 204.

[7] Medidas previstas no artigo 4º da lei federal 8.171/1991, que dispõe sobre a Política Agrícola.

[8] MAYOR, Federico. Prefácio. In: KONINCK, Thomas de. Filosofia da Educação: Ensaio sobre o Devir Humano. São Paulo: Paulus, 2007, pg. 7.

[9] FREITAG, Barbara. Educação, Escola e Sociedade. São Paulo: Centauro, 2005, pg. 33.

[10] Sobre o conceito tradicional e mais restritivo de ações afirmativas, conferir: GOMES, Joaquim B. Barbosa. O Debate Constitucional sobre as Ações Afirmativas. Disponível em: <www.lpp-uerj.net/olped/documentos/ppcor/0049.pdf>. Último acesso em: 1 de maio de 2008.

[11] CAPELO, Maria Regina Clivati. Diversidade Sociocultural na Escola e a Dialética da Exclusão/Inclusão. In: GUSMÃO, Neusa Maria M. de (org.). Diversidade, Cultura e Educação: Olhares Cruzados. São Paulo: Editora Biruta, 2003, pg. 115.

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[12] CAPELO, Maria Regina Clivati. Op. cit., pg. 121.

[13] CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e Educação: Desafios para a Prática Pedagógica. In: MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU, Vera Maria (orgs.). Multiculturalismo: Diferenças Culturais e Práticas Pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2008, pg. 15.

[14] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2008, pg. 111.

[15] FREIRE, Paulo. Op. cit., pg. 101.

[16] FREIRE, Paulo. Reforma Agrária, Transformação Cultural e o Papel do Agrônomo Educador. In: SOUSA, Inês Ana (org.). Paulo Freire: Vida e Obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001, pg. 308.

[17] LANDA, César. Dignidad de la Persona Humana. In: Cuestiones Constitutionales, julio-diciembre, n. 7, Universidade Autónoma de México. México: 2002, pg. 112. No original: Pero la dignidade no solo es un valor y principio constitucional, sino también es una dínamo de los derechos fundamentales; por ello, sirve tanto de parámetro fundamental de la actividad del Estado y de la sociedad, como también de fuente de los derechos fundamentales de los ciudadanos. De esta forma, la dignidad de la persona humana se proyecta no solo defensiva o negativamente ante las autoridades y los particulares, sino tambíen como um principio de actuaciones positivas para el libre desarrollo del hombre.

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