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Reflexes sobre a autonomia (2): lutas no trabalho5 de abril de 2015Categoria:Ideias & DebatesComentar|Imprimir como parte deste processo que surgem as lutas contra a alienao psicolgica e cultural e as lutas contra explorao econmica.Por Passa PalavraNenhum indivduo constri, sozinho, relaes de qualquer tipo; preciso haver pelo menos dois para constru-las. E mesmo estes dois, se no conseguem contagiar outros a envolver-se tambm nas relaes criadas entre si, se no conseguem fazer estas relaes alastrarem-se no espao e perseverarem no tempo, no tero construdo nada de duradouro. O problema doindivduo autnomo, para ns, desprovido de sentido.No apenas por isto, mas igualmente porqueo individualismoea fragmentao socialso necessrios para a reproduo das relaes de explorao e opresso sob o capitalismo. Porquesob o capitalismo, diferente do que j aconteceu nos imprios da Antiguidade e sob o regime senhorial, a classe explorada no apenas sustenta os exploradores, mas recebe deles o quadro e as modalidades em que se organiza.Esgarados entre aalienaoe aplena realizao pessoal(nos campos psicolgico e cultural), entre amais-valiae aautogesto(no campo econmico), entre ahetero-organizaoe aauto-organizao(no campo poltico), os trabalhadores levam uma vida dupla sob o capitalismo: ao mesmo tempo em que se inserem no capital e o fazem funcionar, enquanto portadores de fora de trabalho, os trabalhadores entram em choque com ele, e esta dualidade to sistemtica que os administradores de empresa, situados no prprio cerne dos antagonismos sociais, sabem que gerir a atividade produtiva consiste acima de tudo em administrar conflitos.Por isto mesmoa fragmentao e o individualismo so instilados por todos os meios na conscincia dos trabalhadores apesar de sua vivncia no trabalho, enquanto peas da complexa engenharia social que a empresa, ensinar-lhes o tempo todo o contrrio. Percebem que nada se produz no capitalismo sem o esforo combinado de muitos, mas percebem nas partes que compem este todo muito maisadversriosquecolaboradores.E no trabalho mesmo, no interior da empresa qualquer que seja seu nome: escritrio,call center, fbrica, ONG, repartio, redao, escola, almoxarifado, canteiro, oficina,shopping center, garagem, armazm etc. onde esta ideologia encontra seu solo mais propcio. A fragmentao das funes, cargos e categorias; o estmulo competio entre setores, e entre trabalhadores do mesmo setor, atravs de promoes e bnus de produtividade; a diferenciao salarial entre trabalhadores que exercem as mesmas funes mediante critrios de cor de pele ou de sexo; tcnicas de gesto de pessoal voltadas fragmentao do corpo social da empresa; a experincia da descartabilidade dos trabalhadores, demitidos por desobedecerem s regras da empresa ou por cumpri-las com mais zelo que o esperado pela gerncia; tudo isto o que leva os trabalhadores a conceber-se no enquanto coletivo de produtores associados, no enquanto classe, mas enquanto indivduos em constante competio uns com os outros. No mbito do trabalho, capitalistas e gestores dividem a classe para melhor govern-la.Apesar disso, cada classe social, sendo igualmente uma entidade econmica, comea a assumir tambm uma realidade sociolgica quando o acirramento dos conflitos sociais leva seus membros a uma tomada de conscincia quanto posio social que ocupam, adotando ento algumas formas de vida comum e ostentando certos traos culturais que se destinam a proclamar a sua insero nessa classe e, ao mesmo tempo, a sua distino relativamente s demais. O reforo da sua posio prtica nas lutas sociais permite que uma classe definidaem si, no plano econmico da produo e da apropriao da mais-valia, adquira identidade cultural e poltica e assuma uma realidade sociolgicapara si, convertendo-se numa classe perante os seus prprios membros e os membros das outras classes.A longo prazo, nos movimentos amplos e mais profundos, a luta de classes consiste naoscilao da classe trabalhadora entre as fases da dissoluo da sua existncia para si e as fases em que, depois de uma reorganizao interna mais ou menos demorada, ela apresenta novos tipos de existncia para si. Nas rupturas revolucionrias a classe trabalhadora surge com uma enorme coeso poltica interna e uma conscincia fortssima da sua identidade sociolgica e cultural, enquanto a burguesia e os gestores se mostram internamente repartidos e inseguros quanto aos padres culturais e polticos que devem seguir. Reciprocamente, durante os seus longos perodos de apatia a classe trabalhadora limita-se a uma existncia econmica e, deixando de ter referncias polticas e culturais prprias, os seus membros procuram em vo imitar formas de comportamento dos membros das classes dominantes.Dado o fato de os trabalhadores estarem submetidos por seis a doze horas dirias s rotinas e disciplinas do trabalho, nestes perodos de calmaria, inevitvel que a competitividade, a fragmentao e isolamento promovidos pelos setores de RH, seja introjetada em suas mentes e transborde para outros lugares. Em outros casos, e cada vez mais, este princpios se encontram presentes mesmo em momentos de lazer. O hbito, neste caso, faz o monge, a reza, a missa e a religio inteira. nas conversas de bar, nas portas das escolas enquanto se espera a sada dos filhos, nos intervalos das partidas de futebol, nos sales de beleza, nas baladas, nas filas dos caixas dos supermercados, nas correntes de Whatsapp, l onde pululam os elogios iniciativa, ao esforo prprio, meritocracia, l onde recorrente a afirmao de que um fulano no conseguiria sobreviver na iniciativa privada, l onde se comenta a falta de tino para negcios ou de profissionalismo de um beltrano (veraqui) Estas so as pedras basilares com que burgueses e gestores constroem, distncia, a dissoluo da classe trabalhadora tambm fora das empresas.A situao muda quando os conflitos sociais se acirram. Os sucessivos cortes de ponto causados pelo atraso dos nibus, trens e metrs so comparados com a impunidade dos atrasos de gerentes, supervisores e donos de empresas. As constantes dificuldades em tirar o oramento domstico do vermelho so confrontadas no com aostentaopor vezes caricata de algumas figuras pblicas, mas com as fotos da ltima viagem de frias do parente mais remediado. As exigncias de acelerao do ritmo de trabalho sem aumento salarial em momentos conjunturais favorveis ao consumo, tanto quanto os programas de demisso voluntria, as listas de demisses e mesmo o fechamento de empresas em conjunturas de recesso, tudo isto comparado com a relativa estabilidade dos estratos mais altos da hierarquia da empresa. Cada pequena opresso e humilhao, cada agravamento da explorao no trabalho, tudo isto vai-se acumulando no corpo e na memria de cada trabalhador (veraqui), at que levam a alguma ruptura, individual ou coletiva. O absentesmo, o corpo mole, a dispersividade, o uso inteligente do seguro desemprego (veraqui); o sacode no supervisor, o boicote a certas ordens, a reao contra demisses coletivas (veraqui); greves ditas selvagens, ou com ultrapassagem da pauta sindical (veraqui); tudo isto so sinais de que o individualismo, a fragmentao e a passividade podem ser rompidos nas lutas, qualquer que seja o alcance de seus objetivos.Portanto, a luta pela autonomia pode ser definida inicialmente comoluta contra o individualismo e a fragmentao social impostas por burgueses e gestores aos trabalhadores,comoluta pelo controle da produo, comoluta contra a hetero-organizao, comoluta pela auto-organizao. no processo desta auto-organizao, como parte deste processo que surgem aslutas contra a alienao psicolgica e culturale aslutas contra explorao econmica(ou seja, contra a mais-valia). Embora tenhamos, forosamente, de considerar os trs processos separadamente por necessidades de anlise, trata-se de trs dimenses indissociveis das mesmas lutas.Mas os trabalhadores, apesar de estarem sujeitos explorao no trabalho durante a maior parte das horas de seu dia, via de regra h excees no vivem enclausurados em seus locais de trabalho. Sua vida fora do ambiente do trabalho tambm frtil em campos de luta.

A srieReflexes sobre a autonomiacontm 6 partes, com previso de publicao de uma parte a cada domingo.Etiquetas:Anarquismo,Burocratizao,Extrema_esquerda,Marxismo,Trabalho_e_sindicatosComentrios23 Comentrios on "Reflexes sobre a autonomia (2): lutas no trabalho"ulisses em 7 de abril de 2015 10:12

JUST A LITTLE HELP ou NDIO METROPOLITANOYou dont need a weatherman to know which way the wind blows. Bob Dylanhumanaesferaem 9 de abril de 2015 18:15

No concordo com o tipo de crtica em que o texto se concentra (como a crtica ao individualismo entre proletrios), pois parece um chamado conteno, auto-represso, ao recuo do proletariado. Como se tivssemos de renunciar ao que gostamos (nosso individualismo) para se dedicar a algo trabalhoso e sacricial que um dia ser recompensado. Digam o que for, mas isso heteronomia do proletariado, no autonomia.A autonomia do proletariado s comea quando os proletrios ultrapassam, superam, nunca quando eles se contm. Por exemplo: querem que sejamos individualistas reduzindo-nos a instrumentos? Ento vamos at o fim: nosso individualismo impede que aceitemos sermos tratados como coisas! Os empresrios dizem querer acabar com os monoplios? Ento acabemos com o monoplio primrio que a propriedade privada! A burguesia se diz contra o estado? Ento acabemos primeiro com a polcia e as prises!Mas, na minha opinio, o erro principal do texto a ideia de uma autonomia de classe que comea pouco a pouco (trabalho de base, de formiguinha), e perdura a longo prazo no prprio capitalismo.Toda a histria do sculo XX mais do que prova que toda e qualquer forma de luta que perdura e convive com o que combate no s perdura porque fracassou mas tambm forada a passar a existir no mesmo plano do que busca combater (passando para o lado da contra-revoluo), constituindo uma nova classe dominante (gangue/burocracia) concorrente com a velha, e/ou uma nova forma de extrao de mais-valia (por exemplo, muito trabalho feito gratuitamente para a organizao/empresa/autogerida), que mantm da autonomia dos trabalhadores, soviet, comunismo apenas o nome, mas confunde o proletariado, fazendo-o ir por caminhos suicidas fantasiosamente realistas durante dcadas e talvez sculos.Manoloem 9 de abril de 2015 20:31

Mas se no comea pelo trabalho de base, de formiguinha, comea por onde, ento?humanaesferaem 9 de abril de 2015 22:43

Manolo, no sei S sei que no me parece nada autnoma uma luta que exija ainda mais trabalho do que o trabalho que o proletariado j forado a fazer. Acho difcil algum discordar que, nesta era de toyotismo, de trabalho sem jornada, a premissa absoluta de toda ao autnoma (isto , contgio revolucionrio, solidariedade proletria) relaxar.Lucas em 10 de abril de 2015 00:44

humanaesfera, voc parece descrever como trabalhador aquele tipo de indivduo que na Argentina chamado de pecho fro. aquele cara que vive criticando o capitalismo, mas na hora de defender o colega que foi demitido no aparece nas reunies, no prope nada, prefere no sacrificar o seu imobilismo confortvel para lutar por um companheiro.Acredito que o texto vai num sentido completamente oposto, mostrando que a autonomia das coletividades se baseia justamente nas opes autnomas de cada indivduo em encampar lutas que so essencialmente coletivas, quando o capitalismo nos empurra para o individualismo e para a desmobilizao. E como o trabalho costuma ser ao menos metade das horas de nossos dias (sem contar o sono, quando existe), nada mais lgico do que abordar os processos de autonomizao a partir destes ambientes, para no entrar numa contextualizao histrica que subjaz.Luis em 10 de abril de 2015 13:52

Engraado a diferena. Na parte 1 do artigo, que s tava provocando o nome autonomia, choveu comentrio, deu polmica. Ai essa parte 2 vem falar de trabalho, conflito de classe, e parece que o interesse todo acabouhumanaesferaem 11 de abril de 2015 10:35

No, Lucas. Voc est redondamente enganado. Os trabalhadores se solidarizam no por caridade e auto-imolao (clssica viso burocrtica, heternoma), mas porque o ataque a seus companheiros compreendido como ataque a eles mesmos como indivduos em livre associao contra os patres (classe). compreensvel que burocratas e rackets expliquem a seus capachos que o sacrifcio e a dor sejam o valor supremo, pois afinal prometendo recompensar alto a infelicidade que eles mantm seu poder. Mas no compreensvel que quem defende a autonomia diga a mesma coisa.Lucas em 11 de abril de 2015 22:13

humanaesfera, ento confesso que no entendi o seu comentrio. Voc poderia apontar no texto o pargrafo onde se encontra esta viso burocrtica do sacrifcio e da dor?Pablo em 11 de abril de 2015 23:47

O humanaesfera est pirando na batatinha. O trabalhador no esse ser epicurista que s se solidariza com outros tendo em vista interesses individuais. Alm disso no mnimo engraado ver o sentido de luta autnoma e de trabalho de base serem associados a exigir ainda mais trabalho do que o trabalho que o proletariado j forado a fazer. Como se lutar coletivamente com os camaradas por melhores condies de vida e mais tempo para relaxar j no fosse algo que carrega de sentido a ao do trabalhador e lhe parece totalmente inversa ao trabalho, sinnimo de explorao e desgaste e tortura, que ele sofre cotidianamente. Quem associa a luta e o trabalho de base a trabalho ou profisso ou coisa chata que eu preferia no estar fazendo a militncia pequeno burguesa, que milita ancorada em ideias crists de altrusmo. Pro trabalhador lutar no trabalhar, finalmente fazer algo por e para si mesmo, algo carregado de sentido. Se o contgio revolucionrio e a solidariedade proletria s ocorrem com a premissa do relaxar e do fazer o que quiser enquanto plataforma ideolgica e organizativa autonomista, no sei o que foram todas as revolues que tivemos at hoje.ulisses em 12 de abril de 2015 12:33

REMEMBERING Recuerdos de Ypacara OXENTE!No se trata do que tal ou qual proletrio ou mesmo o proletariado inteiro se represente em determinado momento como alvo. Trata-se do que o proletariado e do que, conforme a seu ser, historicamente ser compelido a fazer.MARX & ENGELS A Sagrada Famlia.humanaesferaem 12 de abril de 2015 13:52

Lucas e Pablo, fiz duas crticas muito simples (nenhuma delas falcias ad hominem). Uma delas a crtica ideia do texto de que uma espcie de conteno, recuo, auto-represso por exemplo, abandonar o individualismo por ser ideologia burguesa a premissa da luta autnoma. A isso contrapus que a luta autnoma , ao contrrio, superao, ou ultrapassagem, e tentei explicar o por qu. Dei o exemplo do prprio individualismo. A outra crtica sobre a defesa no texto de uma luta de longo prazo que convive com e no capitalismo, mas cuja dinmica a meu ver fatalmente burocrtica (e busquei explicar o por que), e que a implicao prtica dessa perspectiva errnea o chamado oco e permanente para um rduo, dolorido, interminvel trabalho de formiguinha, trabalho de base. Meu intuito no irritar vocs, mas apenas expressar outra opinio sobre luta autnoma e as razes que tenho para no concordar com esses dois pontos do texto. Saudaes.Diego Polese em 12 de abril de 2015 15:59

Concordo com a crtica do humanaesfera acerca da implicao prtica do trabalho de formiguinha, no sentido de possuir uma tendncia fatal de terminar em burocracia. Parece que a autonomia elucidada no foge da mesma lgica de fragmentao das lutas do trabalhador que o capital cria (e anseia que assim seja para sempre) por meio de suas estruturas. Ora, o capital alm de ser internacional no transnacional? Ento o proletariado como classe global no pode se organizar de forma que reforce uma localidade restrita de ao. Ora Camaradas, o fato de o quadro e as modalidades em que o proletariado se organiza ser dados pelo capitalismo, devia deixar claro que eles servem to-somente para assegurar a reproduo das relaes de explorao e opresso. Se primeiro tivermos que nos organizar dentro de determinado Estado Nacional (em suas divises fragmentrias: bairros, municpios, fbricas, locais de trabalho, Estados, etc) nunca conseguiremos super-lo, porque estaremos querendo ou no excluindo a possibilidade de alastramento da luta. Tal como disse Marx e bem citou Ulisses, historicamente o Proletariado compelido pela estrutura histrica a agir de determinada maneira para superar a lgica exploratria a qual est submetido, e a meu ver somente se nos organizamos internacional e transnacionalmente desde o incio que poderemos superar o atual estado de coisas (como? No sei. S acho que no pode ser de outra forma porque a prpria estrutura social assim exige para que a luta tenha a potencialidade de ser coletiva e radicalmente ativa). Acho que o trabalho de formiguinha tambm acarretar em uma forma diferente de estrutura hierrquica de poder (tal como qualquer poder poltico propriamente dito) que reforar sua manuteno dentro dos quadros do capitalismo. Ao mesmo tempo, sei que uma organizao transnacional do proletariado ter complicaes extremamente complexas e potencialmente desastrosas (umas das questes: como fazer que tal organizao se assente em bases horizontais e no verticais? Como seria organizada fisicamente essa organizao? Por fim, como dar unidade s fragmentadas (fisicamente) formas de lutas anticapitalistas? Questes que foram postas pela Internacional Comunista e que seguem sem serem resolvidas). O perigo da assimilao-recuperao das lutas est por todos os lados. Mas no consigo ver outra forma de superar uma lgica exploratria que global. A autonomia que detemos para criar as estruturas de lutas para ao relativa. E o problema crucial exatamente explicarmos o que essa relatividade e como agiremos a partir dela. No sei como que uma luta que se construir desde o incio respeitando os limites do Estado Nacional pode influenciar que as outras partes da Classe Trabalhadora faam a mesma coisa. Permaneceremos divididos, pois continuaramos lutando fragmentariamente. No sei como poderia sair disso tudo uma unidade que vise superar o sistema como um todo. O que estou dizendo, alis, no significa que estaramos pulando uma etapa do processo de construo da luta da classe trabalhadora. Mas to-somente que essa etapa (nacional) no radical e tende inevitavelmente a no ser superada, tal como aconteceu com a URSS e sua revoluo. O processo de construo da classe (para si) necessita ser internacional desde o incio.Caio em 12 de abril de 2015 19:30

Diego, a tendncia fatal de terminar em burocracia no exclusividade das lutas construdas pelo trabalho de base. , ao contrrio, a regra geral para toda luta dentro do capitalismo: na medida que no o destri, refora-o.Reconhecendo que a burocratizao e a recuperao sero uma tendncia sempre presente em qualquer luta, a sada abdicar de lutar ou assumir os riscos da ao coletiva e viv-la em suas contradies? Alis, bom atentar pra isso: alguns comentrios aqui parecem supor o trabalho de base como uma experincia absolutamente anticapitalista que perduraria a longo prazo no prprio capitalismo. No se trata disso, uma experincia contraditria, como qualquer luta.E no a primeira vez que humanaesfera traz essa discusso. O mesmo debate apareceu nos comentrios de um texto sobre uma cooperativa autogerida de transportes no Uruguai publicado aqui ano passado (http://passapalavra.info/2014/10/99976/).Como comentei na poca: alm de descolada da prtica, essa defesa de esperar relaxadamente a revoluo, como se fosse vir como uma irrupo global repentina e extraordinria, negando qualquer esforo organizativo, me parece ao final descartar a ao coletiva dos trabalhadores e jogar as apostas no desenvolvimento inexorvel das foras produtivas. (Se aproxima um pouco at daquele discurso de que foi o twitter que fez a revoluo no Egito)A meu ver, chamado conteno, auto-represso, ao recuo do proletariado, renunciar ao que gostamos justamente o que faz essa posio. Aceitar a explorao sem luta que sacrifcio.Lucas em 12 de abril de 2015 20:56

a defesa do individualismo como uma entidade existencial imune de ideologia um obstculo para qualquer debate marxista srio. O indivduo uma abstrao. Tampouco o capitalismo uma substncia que contamina tudo e a todos que entram em contato com ele.Se queremos ver a superao do capitalismo como um processo que se d naturalmente, sem intencionalidades, ento comecemos jogando toda a obra de Marx no lixo.No faa trabalho de base quem no quer, mas equiparar o trabalho dos que sim o vm como algo importante com o trabalho dos burocratas, isso me parece uma postura reacionria.Diego Polese em 12 de abril de 2015 21:52

Caio, concordo com todas suas observaes. A tendncia de terminar em burocracia (ser assimilada-recuperada em favor da explorao capitalista) sem dvida alguma a regra geral para qualquer tipo de luta social no sistema do capital.O que eu estou querendo colocar em questo para discusso que o trabalho de base assentado inicialmente em condies meramente locais seria a meu ver muito mais propenso em terminar por criar-reforar castas burocrticas do que uma ao que tivesse desde o incio cunho transnacional. A referida autonomia j nasceria com um defeito heteronmico. No estou dizendo que devemos abdicar de lutar ou assumir os riscos da ao coletiva e viv-la em suas contradies, mas sim que se a classe trabalhadora uma classe global, devamos construir nossos organismos para que o carter fragmentrio da ao da classe pudesse ser extrapolado desde o incio. S assim construiramos uma teia de solidariedade e no um conjunto de unidades individualizadas. A meu ver, as mediaes para rompimento da ordem devem ser construdas nesse sentido.Sobre a questo de que a premissa de toda ao autnoma (isto , contgio revolucionrio, solidariedade proletria) seria relaxar, tambm discordo completamente. Relaxar s serviria como mecanismo de recuperao da fora de trabalho (reforando o desenvolvimento da mais-valia relativa: o fator dinmico do desenvolvimento do capitalismo). Ora, o trabalhador relaxar tambm parte indispensvel para a reproduo do processo exploratrio do capital. Seria uma forma passiva de luta.Manoloem 13 de abril de 2015 00:11

Trabalhei durante alguns anos num bairro onde as ruas no tinham CEP, e onde s as ruas principais tinham asfalto. D para conseguir estas duas coisas relaxando?Trabalho num bairro onde as pessoas temem a cada chuva que tudo lhes caia sobre a cabea, pois o bairro inteiro uma encosta. D para melhorar as condies de vida a relaxando?Trabalhei numa empresa onde um supervisor costumava ligar cmeras de vigilncia nos sanitrios femininos para se masturbar. D para botar fim nessa histria relaxando?Trabalhei noutra empresa onde as reclamaes trabalhistas eram respondidas, todas, com a mesma petio, mudando apenas o nome dos trabalhadores, porque a empresa j tinha vrios juzes e desembargadores na mo para os casos mais drsticos, e confiava, nos casos mais simples, que o peo no ia resistir a ver os R$ 2.000,00 (valores de 1999) rotineiramente oferecidos pela empresa nas audincias de conciliao quando s vezes tinham direito a indenizaes por acidentes, por horas extras, multas etc. que batiam nos R$ 5.000,00 ou R$ 10.000,00. D para melhorar isso relaxando?Manoloem 13 de abril de 2015 00:18

Surpreende-me muito que no debate inteiro, ao invs de usar-se a lgica para compreender o sentido da ao poltica, seja a prpria ao poltica a ser tratada procusticamente nos moldes de uma funo lgica. Da inao um pulo, pois a lgica, como se sabe, fatal em sua formalidade.ulisses em 13 de abril de 2015 08:59

AO DIRETA OU MILITANTISMO? (*) e (**)Ao longo de sua histria, o proletariado sempre contraps a ao direta s manobras da social-democracia, instituio burguesa de conteno e enquadramento da luta de classes, cuja estratgia se baseia na representao e na mediao, por meio dos sindicatos e partidos. Ao direta, ou seja, sem intermedirios, nem representantes, e protagonizada por todos: nas greves e manifestaes, ocupando as ruas, na violncia das insurreies etc. Ao direta, tambm, porque recusando mediaes e delegaes, combate sem trguas a impostura democrtica, representativa e cidad.Em Davos, Seattle, Praga, Bolonha grupelhos militantes vociferavam, mastigando o cadver da ao direta, que confundem (?) com a violncia das manifestaes. Mas a violncia, por necessria que seja, no suficiente para caracterizar a ao direta. O proletariado contrape sua ao direta ao parlamento, aos sindicatos, s eleies, lutando autonomamente, de modo reproduzvel e generalizvel em todos os lugares. Esta ao direta alm de ser violenta e rechaar qualquer tipo de mediao ou representao realizvel pelos proletrios onde quer que estejam, desde que lutem enquanto classe autnoma. Portanto, o que acontece nesses eventos, por mais sincera e corajosa que seja a atitude dos manifestantes, nada tem a ver com ao direta.Certamente, o que acontece nesses eventos parte da ao (heternoma, segmentada e espetacular) do proletariado. Alm disso, as organizaes presentes no impulsionam as lutas cotidianas, o aqui-agora da resistncia proletria em todos os lugares (pois o capital est em todos os lugares), mas enaltecem o prprio ativismo, essa caricatura frentica da ao direta que apresentam como a mais vlida de todas.O cmulo da mistificao ocorre quando tentam atribuir a tais eventos um carter pr-insurrecional que eles no tm. O que poderia haver de efetivamente anticapitalista nessas manifestaes que ocorrem em lugares determinados pelo calendrio dos encontros da burguesia mundial? Pois isso que chamam de ao direta contra o capitalismo mundial.Quem defende a realizao desses eventos antiglobalizao ignora ou esquece que, com exceo dos proletrios que l vivem e que saem (?) s ruas para se manifestar, somente um punhado de militantes, pretensos representantes e dirigentes do proletariado de diferentes pases, comparecem. O fato de que sejam abnegados e combativos, lancem pedras ou coquetis molotov contra o aparato repressivo da burguesia etc., em nada muda seu carter de representantes de um proletariado cuja maioria os ignora.Muito diferente seria se os proletrios de cada pas onde se realizam essas farras capitalistas ocupassem as ruas e tentassem impedir sua realizao, e que proletrios de outros pases atuassem na coordenao e centralizao dessas lutas em outros locais.O que afirmamos que a maioria dos proletrios simplesmente no pode se que lhe interessa ir aos lugares em que tais eventos ocorrem. Quem comparece uma pequena minoria, que tem condies de trabalho privilegiadas em termos de remunerao e de tempo livre para se deslocar. Em alguns casos, grupos de revolucionrios fazem um imenso esforo para enviar uns poucos militantes a esses eventos. Mas bvio que, em geral, s os dirigentes dos sindicatos e dos partidos, que funcionam por representao e so fundamentais para a dominao democrtica do proletariado, tm recursos para se deslocar permanentemente. Nada menos estranho, portanto, do que a predominncia, nessas manifestaes, dos mandarins polticos e sindicais, dos servios secretos de vrios pases e a indefectvel polcia.A ao direta proletria a de todos os dias, nas lutas autnomas contra os patres, contra a burguesia que est diante de ns, contra os partidos e os sindicatos que querem perpetuar a escravido assalariada. Sim, preciso generalizar a luta, radicaliz-la e torn-la mundial, coorden-la; estimular o intercmbio militante entre os proletrios revolucionrios de todos os pases e combater o capital em todos os lugares. Mas contraproducente e nocivo acreditar que os proletrios do mundo se manifestaro, de forma cada vez mais massiva, num determinado lugar e hora, contra esses eventos, at liquidar o capitalismo.Ainda que pudssemos e quisssemos, seria absurdo concentrar a luta do proletariado de todos os pases num s lugar, porque no se trata de destruir a mercadoria em tal ou qual cidade ou mesmo pas. Nossa ao direta, nossa luta como revolucionrios proletrios e internacionalistas, para destruir o poder do capital. Em todos os lugares, no mundo inteiro.(*)Publicado em outubro de 2001 (http://www.oocities.org/autonomiabvr/ars0.html) em Amigos da Revoluo Social # 0.(**) Para Diego Lennon Polese e Pablo McCartney Polese beAMONGtween others passapalavrantes.humanaesferaem 13 de abril de 2015 23:36

Manolo e demais, falei em relaxar obviamente me referindo s lutas no trabalho (o texto no sobre isso?), como oposio ao trabalho e como premissa primria da luta autnoma (no trabalho e alm). Ao contrrio de defender o relaxamento como panaceia, tive de falar dele para criticar o militantismo (crtica que alis tambm um desdobramento das ideias do texto que o sbio Ulisses colou acima). Ento vou esclarecer melhor essa crtica.O militante parte do princpio de que ele age e que existe ou possa existir algum que no faz nada. Mas, pelo contrrio, se existimos, agimos. No preciso esperar uma panelinha de militantes para agir, a no ser numa luta heternima. O que preciso ento? Agir como se (um proletrio), isto , como igual. Primeiro apresentando opinies e propostas (quanto aos meios e aos fins) tal e qual os outros iguais apresentam as opinies e propostas deles. As propostas podem ser aceitas ou rejeitadas, adaptadas por outros ou no, difundidas ou no, e num raro momento sim e noutros momentos normais no. E o que uma assembleia decidir cada um pode concordar ou no, cumprir ou no. Isso no depende de apelos morais (por exemplo, criticar o individualismo como ideologia burguesa), mas de se a deciso coletiva compreendida ou no como aumentando a capacidade de agir e pensar dos prprio proletrios contra aquilo que os submete e/ou lhes causa sofrimento (pois h decises coletivas boas ou ruim; por exemplo, suicidas). Como igual, posso apresentar meus desejos comunistas libertrios e internacionalistas como um objetivo que me move. Pelo contrrio, se chega algum fazendo trabalho de base, j comea feio, porque pressupe que ningum age e que ele age. Fica mais feio ainda quando o militante alega no ter objetivos mas s servir. O que os proletrios no deixam de perceber que o militante age em nome de uma panelinha, buscando usar gente como instrumento assim como os patres j usam.H tambm o efeito clssico do militantismo que destruir a luta autnoma submetendo a luta de classes polarizao intra-capitalista entre duas classe dominantes concorrentes: burocratas (esquerda) e empresrios (direita). A militncia costuma falar em a esquerda isso, a esquerda aquilo, como se essa metade do capital fosse um agente da histria ao invs da classe.Se estamos falando de luta autnoma, vocs realmente acham que todas essas questes so irrelevantes, no pertinentes, imaginrias?Diego Polese, concordo com tuas colocaes sobre agirmos de forma lcida sobre a necessidade de uma perspectiva de classe global. Se alguns proletrios (numa fissura, numa rede produtiva alternativa, numa empresa autogerida, num pas, numa regio) adquirem propriedade dos meios de vida, no mnimo eles prprios passam classe proprietria explorando os demais proletrios. Para o proletariado, se h sada, a sada lcida. Lucidamente ela s pode ser concebida como simultnea e universal.Manoloem 14 de abril de 2015 02:05

Acho que todas essas questes so irrelevantes, no pertinentes e imaginrias. E que o anti-ativismo to prejudicial luta de classes que Leo Vinicius deveria arder no mrmore do inferno por ter traduzido Give up activism sem ter traduzido junto The necessity and impossibility of anti-activism.Leo Vinicius em 14 de abril de 2015 02:16

Quando traduzi a primeira vez o Give up Activism acho que esse outro texto em resposta nem existia ainda, mas no tenho certeza, precisaria ver as datas. H bastante tempo eu gosto mais da resposta tambm. Uma dialtica muito bem explicitada.De qualquer modo, obviamente o Abandone o Ativismo no uma apologia de no se fazer nada. Ainda mais se se toma como autocrtica produzida num movimento de ativistas. A crtica incide mais num papel de ativismo que distancia esses grupos das pessoas comuns e no enxerga o que existe de potencialmente transformador no fazer delas. E acho que no todo foi a leitura que prevaleceu no Brasil tambm.Paique em 14 de abril de 2015 19:13

* quem est demandando que, como Novidade realizemos trabalhos de base com escala transnacional deveria voltar vinte anos no tempo e acompanhar o chamado movimento antiglobalizao.* quem est falando em dissociao e vanguardizao pela realizao do trabalho de base poderia relatar as experincias de trabalho de base que tem realizado.* ainda tempo de traduzir este outro texto.Pablo em 15 de abril de 2015 00:43

Humanaesfera,Disse Walter Benjamin que convencer infrutfero. A isso uma pessoa de ideias radicalmente opostas s suas e aos que esto aqui criticando as lutas realmente existentes a partir de parmetros lgicos (e transhistricos) em torno do que elas deveriam ser e no so, comentou certa vez:A frase do W.B. faz pensar.Juntei velhas idias do barbudo:A conscincia no seno o ser consciente, e o ser dos homens o seu processo real de vida. No basta que o pensamento busque a realidade, preciso que a realidade busque o pensamento. E o que a vida seno atividade?A lgica o dinheiro do esprito. (a frase encontra-se nos comentrios de:http://passapalavra.info/2013/01/71616)AbraoPablo