reflexÕes a cerca do fenÔmeno fraseolÓgico: contribuiÇÕes teÓricas para o ensino da...

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN FACULDADE DE LETRAS E ARTES - FALA DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS DLE MARIA EVÂNIA PINHEIRO DE ALBUQUERQUE REFLEXÕES ACERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA Mossoró/ RN 2012.2

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JULIO CASARES, CORPAS PASTOR E RUIZ GURILLO

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Page 1: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

FACULDADE DE LETRAS E ARTES - FALA

DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS – DLE

MARIA EVÂNIA PINHEIRO DE ALBUQUERQUE

REFLEXÕES ACERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO:

CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA

ESPANHOLA

Mossoró/ RN

2012.2

Page 2: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

MARIA EVÂNIA PINHEIRO DE ALBUQUERQUE

REFLEXÕES ACERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES

TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

Monografia apresentada a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte como requisito para aprovação na disciplina Seminário de Monografia II ministrada pela Professora Ma. Regiane Santos Cabral de Paiva. Orientadora professora Ma. Márcia Socorro Ferreira de Andrade Silva.

Mossoró/RN

2012

Page 3: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

MARIA EVÂNIA PINHEIRO DE ALBUQUERQUE

REFLEXÕES ACERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES

TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

Monografia apresentado a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte como requisito para aprovação na disciplina Seminário de Monografia II ministrada pela Professora Ma. Regiane Santos Cabral de Paiva. Orientadora professora Ma. Márcia Socorro Ferreira de Andrade Silva.

Aprovada em __/__/__

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Profª Ma. Márcia Socorro Ferreira de Andrade

Universidade do Estado do Rio grande do Norte – UERN

(Orientadora)

___________________________________________________________________

Profª Ma. Regiane Santos Cabral de Paiva

Universidade do Estado do Rio grande do Norte – UERN

(Examinador (a))

___________________________________________________________________

(Examinador)

Page 4: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

A Profª Ma. Márcia

Socorro Ferreira de Andrade Silva

e ao seu primogênito.

Page 5: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

AGRADECIMENTOS

A Deus, Amparo de todas as horas.

A meus filhos, que embora jovens, são meus leais companheiros, presença viva em

todos os momentos da minha trajetória.

A minha companheira Emanuela Azevedo, amiga fiel, incansável que, embora frágil,

esteve ao meu lado firme e forte durante toda nossa caminhada acadêmica.

A Benito Piñeiro Ferradanes, pela sua valiosa contribuição a minha formação

acadêmica e humana.

A professora, filólogo, paremióloga e tradutora da Universidad Complutense de

Madrid, Dra. Julia Sevilla Muñoz, perita estudiosa em Paremiologia e Fraseologia,

pela sua gentileza em contribuir com nosso Trabalho de Conclusão de Curso.

A Équivalences, Revista do Instituto Superior de Tradutores e Intérpretes Bruselas,

França e ao Anuário L/L, Instituto de Literatura y Lingüística, de Cuba

A Alcimar Gonçalves Aquino, como esquecer o meu professor do Ensino

Fundamental menor que despertou em mim o gosto pela leitura, a qual me trouxe

até aqui.

A Carmelina Carneiro, minha dedicada professora de português do supletivo, onde

concluí o Ensino Médio, devo a ela muito do que sei sobre a norma padrão culta.

A professora Ma. Regiane Santos Cabral de Paiva por ter norteado meu caminho,

não só na faculdade, mas principalmente quando ainda era aluna do Núcleo de

Ensino e Estudo em Línguas (NEEL) da UERN, onde iniciei meus estudos na língua

espanhola.

Ao professor Me. Telmir Soares, meu mestre, por ter me incentivado as primeiras

leituras na área da Pragmática, quando iniciei minha vida universitária.

Page 6: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

A professora Ma. Márcia Socorro Ferreira de Andrade Silva por me proporcionar a

oportunidade de iniciar-me na pesquisa científica, apresentando-me o universo da

fraseologia.

A professora Dra. Eretuza Gurgel de Oliveira, pois devo a ela minha primeira

participação em evento.

A professora Ma. Maria Solange Farias, pequena grande mestra, a quem sou grata

pela dedicação, apoio e incentivo na pesquisa com os gêneros literários.

Ao meu professor Dr. Pedro Adrião da Silva Júnior e a professora Aparecida Antônia

Alves Herrera, sinônimos de humildade, pelos braços sempre abertos nos momentos

de desilusão.

Ao professor Dr. Gilberto Oliveira, por sua capacidade de ultrapassar o “ser

docente”, transmitindo não só conhecimentos, mas formando cidadãos pensantes.

A professora Ma. Ana Maria de Carvalho, um exemplo a ser seguido.·.

A professora Ma. Franceliza Monteiro da Silva Dantas, as professoras Daniela

Praxedes e a Rosaly Ferreira, educadoras dedicadas e comprometidas com seus

discentes.

A professora Especialista Anna Neri Dantas Camacho de Valera, gentileza em

pessoa.

A Adilino Juvêncio de Andrade, pessoa simples, acolhedora, dedicado profissional,

sempre pronto a nos auxiliar.

Uma vez uma pessoa me disse que eu não tive referência para formar minha

identidade, no entanto, quero dizer aos senhores e senhoras supracitados que

minha referência são vocês, já que não tive meus pais para me orientarem na vida.

Sou grata a todos meus professores, que contribuíram direta ou indiretamente com

Page 7: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

minha formação, não só como educadora, mas, principalmente, contribuíram para

que eu me tornasse um ser melhor.

Page 8: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

“A leitura é peregrinação um “ir em

direção a...” o leitor não só decifra as

letras como caminha pelos sendeiros que

a escritura traça. Ao palmilhá-los sai de

claustro que o encerra e vaga pelos

espaços livres. A leitura é liberdade e o

leitor, ao ler reinventa aquilo que lê

participa assim da criação universal”.

(OCTAVIO PAZ 1998, p. 128)

“A fraseologia descreve o mundo real, as

experiências quotidianas, o colorido e a

sabedoria de um povo e por isso torna-se

um importantíssimo veículo de identidade

e de cultura... São formas de

conhecimento da história, do pensamento

social no decorrer dos séculos e, portanto,

portadoras das vivencias de uma ou mais

gerações”. (ORTIZ ALVAREZ E HUELVA

UNTERNBÄUMEN 2011, p.o7).

Page 9: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

RESUMO

Nossa pesquisa surgiu das inquietações que nos despertaram as reuniões do

PIBIC/UERN 2011-2012, onde começamos a estudar os fraseologismos. Assim,

pois, ao longo deste trabalho, buscamos soluções para os seguintes

questionamentos: a) Quais os principais desafios teóricos e práticos dos estudos

fraseológicos para o ensino de espanhol como língua estrangeira? e b) Quais os

principais estudos teóricos e práticos atualmente realizados na Espanha acerca do

fenômeno fraseológico? Para buscar solucioná-las, realizamos uma pesquisa

bibliográfica a partir dos textos de Julio Casares (1969), Ruiz Gurillo (1997) e Corpas

Pastor (1996). Além da pesquisa bibliográfica, analisamos os três manuais didáticos

Español en Marcha A1+A2, B1 e B2 (livros do aluno), a fim de verificar o lugar que

ocupam as unidades fraseológicas em ditos manuais. E ao final, chegamos à

conclusão que nos manuais analisados, a presença das UFs é simbólica. O

ensino/aprendizado das unidades fraseológicas apresenta algumas dificuldades,

porém ao longo do nosso estudo constatamos que é possível seu ensino de forma

satisfatória pelos que tenham o desejo de assim fazê-lo.

PALAVRAS CHAVES: Fraseologia. Espanhol. Ensino.

Page 10: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

RESUMEN

Nuestra investigación surgió de las inquietudes que nos han despertado las

reuniones del PIBIC/UERN 2011-2012, donde empezamos a estudiar los

fraseologismos. Así pues, a lo largo de este trabajo, buscamos soluciones a las

siguientes cuestiones de investigación: a) ¿Cuáles son los principales desafíos

teóricos y prácticos para los estudios fraseológicos en la enseñanza del español

como lengua extranjera? y b) ¿Cuáles los principales estudios teóricos y prácticos

actualmente realizados en España acerca del fenómeno fraseológico? Para buscar

solucionarlas, realizamos una investigación bibliográfica a partir de textos de Julio

Casares (1969), Ruiz Gurillo (1997) y Corpas Pastor (1996). Además de la

investigación bibliografía, analizamos los tres manuales didáctico Español en

Marcha A1+A2, B1 e B2 (libros del alumno), con el propósito de verificar el lugar que

ocupan las unidades fraseológicas en dichos manuales. Y al final, llegamos a la

conclusión, de que en los manuales analizados, la presencia de las UFs es

simbólica. Las unidades fraseológicas en su enseñanza/aprendizaje presentan

algunas dificultades, pero a lo largo de nuestra investigación constatamos que es

posible su enseñanza de forma satisfactoria por los que tengan el deseo de así

hacerlo.

PALABRAS CLAVES: Fraseología. Español. Enseñanza.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Capa do manual Español en macha A1+A2 (2007) ................................... 42

Figura 2. Saludos. Manual Español en macha A1+A2, unidade zero,

(2007) ........................................................................................................................ 43

Figura 3. Estruturas fraseológicas encontradas na Unidade 1 do Manual

Español en macha A1+A2 (2007).............................................................................. 43

Figura 4. Atividade auditiva da unidade 7, seção B do manual Español en

Marcha A1+A2 (2007). .............................................................................................. 45

Figura 5. Atividade da unidade 16, seção B do manual Español en Marcha

A1+A2 (2007). ........................................................................................................... 46

Figura 6. Atividade do manual Español en Marcha A1+A2 (2007) ............................ 47

Figura 7. Capa do manual Español en macha B1. .................................................... 48

Figura 8. retirada do manual Español en macha B1 (2007, p. 73). ........................... 51

Figura 9. Manual Español en macha B1, unidade 10 seção B. (2008) ...................... 52

Figura 10. capa do manual Español en machaB2. .................................................... 53

Figura 11. Imagens da unidade 4, seção B do manual Español en macha

B2 (2007). .................................................................................................................. 54

Figura 12. Manual Español en macha B2 (2007, p.38). ............................................ 55

Figura 13. Manual Español en macha B2 (2007, p. 106) .......................................... 56

Page 12: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

1.1 Conceitos de fixação e de idiomaticidade versus fraseologismos ....................... 17

1.2 Definição e classificação de unidades fraseológica............................................. 19

1.2.1 Julio Casares (1969) ........................................................................................ 20

1.2.3 Corpas Pastor (1996) ....................................................................................... 24

1.3 Panorama dos principais estudos fraseológicos ................................................ 30

1.3.1 Pesquisas sobre unidades fraseológicas na Espanha ..................................... 31

1.3.2 Pesquisas sobre unidades fraseológicas em outros países ............................. 32

CAPÍTULO II - ENSINO DE UNIDADES FRASEOLÓGICAS: RELAÇÃO

TEORIA-PRÁTICA .................................................................................................... 36

2.1 As unidades fraseológicas em manuais didáticos de E/LE ................................. 36

2.2 Caracterização da pesquisa.................................................................................39

2.2.1 Corpus...............................................................................................................40

2. 2. 1. 1 Análise do componente fraseológico nos manuais Español en Marcha

A1+ A2, B1 e B2.................................................................................................... 41

2.2.1.1.1 Análise do Español en Marcha A1 +A2 ................................................. 41

2.2.1.1.2 Análise do Español en macha B1........................................................... 48

2.2.1.1.3 Análise do Español en macha B2........................................................... 53

2.2.1.1.4 Discussão dos resultados da análise ..................................................... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 61

ANEXOS ................................................................................................................... 65

Anexo 01. Esquema de fixação e idiomaticidade de Corpas Pastor (1996) .............. 66

Anexo 02. Teoria de Julio Casares (1950[1969]) ...................................................... 67

Anexo 03. Teoria de Ruiz Gurillo (19970................................................................. 68

Page 13: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

13

INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa, abordamos um tema ainda um tanto quanto complexo

para muitos estudantes de línguas estrangeiras: os fraseologismos. Optamos por

esse tema, porque no decorrer das nossas discussões nas reuniões do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, doravante PIBIC, na Universidade do

Estado do Rio Grande do Norte (doravante, UERN), na modalidade UERN voluntário

na edição 2011-20121, percebemos a complexidade do estudo da fraseologia, assim

como também, a insuficiência de trabalhos relacionados ao tema no Brasil, apesar

de seu amplo interesse na Europa.

A fraseologia ou unidades fraseológicas, conhecidas, muitas vezes, de

modo equivocado, simplesmente por ‘expressões idiomáticas’, vêm mostrando sua

importância ao longo do percurso feito pelos teóricos que a estudam. É cada vez

mais evidente que esse fenômeno linguístico está presente na comunicação

coloquial dos falantes de forma muito arraigada, daí sua relevância para o ensino

aprendizado de línguas.

Compartilhamos dos mesmos pensamentos de Ruiz Gurillo (2000),

Corpas Pastor (2002) e Sevilla Muñoz (2012) quando defendem que a fraseologia é

fundamental para o ensino de línguas, pois alunos e professores devem saber que

as unidades fraseológicas existem e que são usadas não apenas no falar do dia a

dia, mas estão presentes em todas as situações de manifestação da linguagem

verbal, sejam desde as mais informais até as mais formais, podendo levar os que a

desconhecem a não serem compreendidos ou a não compreenderem o falar natural,

quando inseridos no contexto de uso do falante nativo.

Vale ressaltar ainda que as fraseologias estão presentes em todos os

idiomas, e que devemos ter uma “consciência fraseológica” ao estudarmos toda e

qualquer língua estrangeira ou materna. Corpas Pastor (1996, p.14) acrescenta que

1Neste período realizamos a pesquisa intitulada “Fundamentos para a macro-e microestrutura de um

glossário onomasiológico de fraseologismos espanhóis”. Os resultados desta pesquisa estão disponíveis no site: http://propeg.uern.br/downloads/SIC/VIII_SIC/Anais/Anais_VIII_SIC_Completo.pdf

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as fraseologias são “[...] Muito generalizadas na língua, e de importância na

aquisição e no processamento da LI (língua materna) e na L2 (segunda língua) [...]”2.

Gostaríamos ainda de colocar que não devemos confundir a Fraseologia com inicial

maiúscula com fraseologia iniciada por letra minúscula, pois a primeira refere-se ao

nome da ciência que tem como objeto de estudo as fraseologias.

O conceito e a classificação de fraseologia têm criado bastantes

discussões, visto que os teóricos da área não entram em consenso. Tal divergência

conceitual demonstra a complexidade do assunto. Ainda assim, é inegável a

importância do conhecimento do fenômeno fraseológico por parte dos professores e

alunos de espanhol como língua estrangeira. Sabendo da carência de trabalhos na

UERN, especialmente no curso de letras/espanhol, sobre esse tema e do pouco

conhecimento sobre o assunto, buscamos realizar um estudo bibliográfico a fim de

fornecer um panorama geral da Fraseologia através da resposta ao seguinte

questionamento: Quais os principais desafios teóricos e práticos dos estudos

fraseológicos para o ensino de espanhol como língua estrangeira?

Para buscarmos resposta para o nosso segundo questionamento: Quais

os principais estudos teóricos e práticos atualmente realizados na Espanha acerca

do fenômeno fraseológicos?, realizamos uma pesquisa bibliográfica e tivemos como

objetivos específicos: (1) descrever as diferentes definições de fraseologia com

destaque para a perspectiva teórica européia; (2) enumerar as principais taxonomias

fraseológicas; (3) discorrer sobre os resultados de pesquisas na área de ensino-

aprendizagem de línguas que relatam a importância do ensino fraseológico nas

aulas de espanhol como língua estrangeira; além de (4) relacionar teoria e prática a

partir da análise do manual didático adotado pelo curso de Letras da Uern: Español

en Marcha A1+A2, B1 e B2.

Os três objetivos iniciais foram alcançados a partir de uma pesquisa

bibliográfica, cujos resultados foram expostos detalhadamente no capítulo 1 da

presente monografia. Já o quarto e último objetivo resultaram no segundo capítulo

deste trabalho, no qual realizamos una análise nos manuais Español en macha

2 “[...] muy generalizadas en la lengua, y de importancia en la aquisición y el procesamiento de la LI

(lengua materna) y la L2 (segunda lengua) […]” (CORPAS PASTOR, 1996, p.14). Tradução do autor

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A1+A2, B1 e B2, com o objetivo de verificar se há unidades fraseológicas3 nesses

manuais e, caso haja, como são apresentadas aos alunos, ou melhor, se é adotada

alguma proposta didática. Serviram-nos de base as propostas didáticas de Sevilla

Muñoz e González Rodríguez (1994-1995)4, Penadés (1999)5 e Ruiz Gurillo (1994,

2000, 2001, 2002).

No decorrer de nossa pesquisa, adotamos o método dedutivo, pois

iniciamos relatando o estudo da fraseologia de forma ampla e, ao longo da nossa

pesquisa, direcionamo-nos aos estudos na Espanha, ou seja, partimos do mais geral

para o particular como coloca Oliveira (2008).

As Unidades Fraseológicas, segundo Corpas Pastor (1996), começaram

a ser estudadas na Espanha no início dos anos 50 com o trabalho de Casares

(1950), desde então, muitos teóricos como Zuluaga (1980), Tristá Pérez (1979-

1980), Ruiz Gurillo (1997), Corpas Pastor (1996), dentre outros, deixaram suas

contribuições para este tema. Todos esses autores contribuíram para a nossa

fundamentação teórica e suas publicações nos serviram de fontes indiretas durante

o desenvolvimento da pesquisa, portanto; com base na classificação de Alves

(2007), quanto ao delineamento, inicialmente realizamos uma pesquisa bibliográfica,

que teve como finalidade expor as principais contribuições dos estudos realizados

acerca da fraseologia espanhola.

Quanto aos objetivos, segundo Alves (2007), nossa pesquisa classifica-se

como descritiva, pois realizamos uma descrição minuciosa das principais definições

adotadas atualmente para o conceito de unidade fraseológica, além de expormos,

com exemplos, a taxonomia fraseológica elaborada por autores da área, com

destaque para Corpas Pastor (1996).

Quanto à natureza, de acordo com Alves (2007), realizamos uma

pesquisa do tipo qualitativa, pois nossas análises não se fundamentaram em

manuseio de dados estatísticos. Em relação à coleta de dados, durante o primeiro

momento, no qual buscamos descrever a teoria de alguns dos principais estudiosos

3Unidades fraseológicas de acordo com a teoria de Corpas Pastor (1996).

4La traducción y la didáctica de las expresiones idiomáticas (francés-español). Julia Sevilla Muñoz e Antonio González Rodríguez. 1994-1995. 5La enseñanza de las UFs. Inmaculada de Penadés Martínez, 1999.

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das unidades fraseológicas, usamos como fontes indiretas publicações, artigos,

livros e resenhas de autores que tratam do componente fraseológico da língua

espanhola. Já no segundo momento da pesquisa, nosso corpus foi composto pelos

três volumes do livro didático Español en Marcha (livros do aluno), nos quais

verificamos o tratamento didático do componente fraseológico.

No primeiro capítulo, abordamos as definições e taxonomias das unidades

fraseológicas (UFs), para tanto nos fundamentamos nas teorias dos teóricos

supracitados, assim como também o contexto atual em que elas se os encontram na

Espanha e no mundo de modo geral. Ao longo do segundo capítulo analisamos os

três volumes do manual didático Español en Marcha, utilizamos a classificação de

Corpas Pastor (1996), e tentamos explicá-la de modo esclarecedor a fim de fornecer

informações acessíveis aos iniciantes que buscam informações sobre este

fenômeno linguístico.

Com esta pesquisa, esperamos contribuir com a comunidade acadêmica,

assim como também com todos aqueles que tenham interesse pelo tema,

fornecendo um material de consulta sobre os fraseologismos espanhóis. Buscamos

explicar e classificar as unidades fraseológicas e mostrar a contribuição que elas

poderão dar a todos nós que estudamos ou ensinamos a língua espanhola. Além

disso, como resultado da análise dos três volumes do manual Español en Marcha

A1+A2, B1 e B2, esperamos orientar o trabalho de docentes e discentes que

manuseiam as páginas destes livros, muitas vezes, sem se darem conta da

presença de fraseologismos.

Page 17: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

17

CAPITULO I - CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS INICIAIS SOBRE A FRASEOLOGIA

Neste capítulo, expomos inicialmente as definições mais conhecidas

sobre o fenômeno fraseológico, incluindo os conceitos de idiomaticidade e fixação,

os quais são inevitáveis quando se estuda fraseologia. Por essa razão, listamos três

das mais importantes formas de se definir e classificar as unidades fraseológicas, ou

seja, os conceitos resultantes de pesquisas de Julio Casares (1969), Ruiz Gurillo

(1997) e Corpas Pastor (1996), todos representantes da corrente teórica européia.

Concluímos este capítulo com um panorama dos principais estudos sobre o assunto

na Espanha e em outros países.

Todos os teóricos acima citados têm contribuído muito nos últimos anos

com suas pesquisas acerca das unidades fraseológicas. Para Corpas Pastor (2001),

a fraseologia “[...] deixou de ser uma subdisciplina subdesenvolvida da lexicografia

para se converter em uma disciplina, consolidada, em busca de sua estabilidade

definitiva" (CORPAS PASTOR, 2001, p. 25) 6.

Em nossa pesquisa, adotaremos a classificação de Corpas Pastor

(1996), embora venhamos a mencionar outros autores, pois reconhecemos que

todos os anteriormente citados são de suma relevância para o estudo das unidades

fraseológicas. Vale salientar ainda que temos como objetivo geral discorrer sobre os

principais estudos realizados acerca da fraseologia espanhola, por isso ao longo do

nosso trabalho forneceremos algumas das principais definições para a fraseologia,

suas distintas classificações assim como também discorremos sobre os resultados

de pesquisas na área de ensino-aprendizagem.

1.1 Conceitos de fixação e de idiomaticidade7 versus fraseologismos

As unidades fraseológicas (UFs) são aquelas sequências de palavras

que estão sempre juntas e que formam “expressões fixas”, ou seja, co-aparecem

6 “[…] ha dejado de ser una subdisciplina subdesarrollada de la lexicología para convertirse en una

disciplina en toda regla, consolidada, en busca de su madurez definitiva”. (CORPAS PASTOR, 2001, p. 25). Todas as traduções são de responsabilidade da autora.

7 Ver anexo nº 1 o Conceitos de fixação e de idiomaticidade.

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18

sempre na mesma estrutura e trazem como características principais a fixação e a

idiomaticidade.

Corpas Pastor (1996, p. 17) define as unidades fraseológicas, segundo o

Dicionário Real da Academia Espanhola (DRAE) como sendo: “[...] conjunto de

frases feitas, locuções figuradas, metáforas e comparações fixas, modismos e

refrãos, existentes em uma língua, no uso individual ou no de algum grupo” 8.

Quando uma comunidade de falantes passa a usar determinadas

expressões, determinadas estruturas sintáticas, sem que essas estruturas que

passam a serem usadas permitam transformações em sua estrutura sintática,

dizemos que aquelas expressões são fixas.

Determinadas expressões, locuções devido a sua fixação, “perdem” seu

sentido literal9 não podendo ser compreendidas levando-se em conta a soma de

seus vocábulos. Para serem compreendidas, é preciso serem analisadas

metaforicamente, pois possuem significado figurado. Neste caso, teremos um outro

tipo de característica das unidades fraseológicas que é a ‘idiomaticidade’. Assim

sendo, a idiomaticidade é uma característica que possuem quando não as

compreendemos de forma literal. Como, por exemplo, a expressão a toda hóstia,

pois não é compreensiva quando analisada de modo literal, seu significa é

metaforizado e pode ser substituído por a toda velocidade, no entanto é mais usual

na Espanha a expressão a toda hóstia.

Desta forma, as UFs que têm um alto grau de idiomaticidade, tais como:

a toda hostia (“a toda hóstia”)10, mosca muerta (“mosca morta”)11, muitas vezes, não

são compreendidas quando analisadas em seu sentido literal, o que dificulta a sua

interpretação semântica, porém uma grande parte delas, embora tenha um grau

8 “[...] conjunto de frases hechas, locuciones figuradas, metáforas y comparaciones fijadas, modismos

y refranes, existentes en una lengua, en el uso individual o en el de algún grupo”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 17). 9 ou seja, seu sentido dicionarizado, não figurado ou metafórico.

10 Ditas estruturas, que indicam geralmente velocidade, geralmente aporta um valor intensificador.

(RUIZ GURILLO, 1997, p. 118). 11

Aplica-se a pessoas que esconde uma má intenção ou maldade por traz de uma aparência inofensiva. Corpas Pastor (1996, p. 95).

Page 19: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

19

maior ou menor de idiomaticidade, são compreendidas, como é o caso, por

exemplo: tomar un baño (“tomar um banho”), hacer una foto (“fazer uma foto”)12.

1.2 Definição e classificação de unidades fraseológica

Segundo Timofeeva (2008), Charles Bally é considerado o pai da

fraseologia, pois foi ele o precursor dos estudos fraseológicos na União Soviética no

século XX, porém somente depois das contribuições de Victor Vinogradov, que

resgata os estudos de Bally, é que a fraseologia ganha o status de disciplina

linguística autônoma13.

Na Espanha, em 1950 Julio Casares publicou a obra, denominada

Introdução à lexicografia moderna, que surgiu com o objetivo principal de nortear a

produção de um grande dicionário da língua espanhola. Segundo Corpas Pastor

(2002), depois desse trabalho de Casares, a fraseologia passa a ser esquecida por

um longo tempo. Somente a partir dos anos 90 é que as unidades fraseológicas

voltam a serem pesquisadas.

Muitas são as tentativas dos autores de denominar o fenômeno

fraseológico, alguns dos termos mais difundidos são: expressões idiomáticas, frases

feitas, expressões fixas, porque segundo Corpas Pastor (1996), os teóricos não

entram em consenso quanto a sua definição tão pouco quando a sua classificação.

Diante de tal divergência é importante fazer a seguinte aclaração, Fraseologia com

inicial maiúscula se refere à disciplina que estuda as unidades fraseológicas (ou

fraseologismos com inicial minúscula) que são, por sua vez, o objeto de estudo

desta ciência. Segundo Corpas Pastor, Fraseologia é:

Disciplina que se dedica a elaborar e colocar em prática os princípios de tratamento das unidades fraseologismos dicionários gerais e fraseológicos. A fraseologia se dedica a recorrer e registrar o conjunto (ou uma parte) dos fraseologismos de uma língua (ou varias línguas), de um setor de uma

12 Tomar un baño (tomar el/los baño(s)), hacer una foto (hacer la(s) foto(s)). Ruiz Gurillo (1997,

p.111) 13

Para mais informações ver tese Acerca de los aspectos traductológicos de la fraseología española. Larissa Timofeeva, 2008.

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20

língua, de uma classe social, ou de um indivíduo – muito espacialmente de um autor e sua obra. (CORPAS PASTOR, 2002, p. 166)

14.

Na Fraseologia, portanto, encontramos algumas definições e classificações

para seu objeto de estudo, ou fraseologismo. A seguir descrevemos as definições e

classificações das unidades fraseológicas apresentadas por teóricos como Julio

Casares (1969), Ruiz Gurillo (1997) e Corpas Pastor (1996).

1.2.1 Julio Casares (196915)

Reconhecidamente, Julio Casares foi e continua sendo de singular

importância para o estudo das unidades fraseológicas, pois foi ele o precursor

desses estudos fraseológicos na Espanha e continua sendo estudado até hoje. Sua

teoria segue sendo a base para muitos trabalhos não só espanhóis, mas também em

outros países, são exemplos os trabalhos de Zuluaga (1980), na Alemanha, Tristá

Pérez (1979-1980), em Cuba, e Ruiz Gurillo (1997) na Espanha.

Casares (1969) classifica as fraseologias16 em: locuções, fórmulas

pluriverbais, refrãos e modismos, sendo estas subdivididas como veremos em

seguida.

Casares (1969) define as locuções como: “[...] combinação estável de dois

ou mais termos, que funcionam como elemento oracional e cujo sentido unitário

concebido não si justifica, sem mais, como uma soma de significado normal dos

componentes” (CASARES, 1969, p.170)17. Em seguida, ele separa as locuções

significativas das conexivas.

14 “Disciplina que se dedica a elaborar y poner en práctica los principios de tratamiento de las

unidades fraseológicas en los diccionarios generales o fraseológicos. La fraseología se dedica a recoger y registrar el conjunto (o una parte) de los fraseologismos de una lengua (o varias lenguas), de un sector de una lengua, de una clase social o de un individuo - muy especialmente de un autor y su obra”. (CORPAS PASTOR, 2002, p. 166). 15

A teoria de Julio Casares foi apresentada em 1950. (1950 [1969]). 16

Ver anexo nº 2 teoría de Julio Casares (1950). 17

“[…] combinación estable de dos o más términos, que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitario consabido no se justifica, sin más, como una suma de significado normal de los componentes”. (CASARES, 1969, p.170).

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21

As Locuções, por sua vez, são divididas em: significantes ou conceituais

que podem ser: locuções nominais, papel moneda (“papel moeda”); adjetivas, de

rompe y rasga (“de rompe e rasga”)18; verbais, tomar el olivo19; de particípios, hecho

un mar de lágrimas; adverbiais, Dios dirá; pronominais este cura e de interjeição

¡Ancha es Castilla!. As locuções conexivas estão classificadas como conjuntivas

com tal que e prepositivas por encima de.

As fórmulas pluriverbais são definidas de acordo com Casares como

sendo:

[...] algo que falado ou escrito, e seu uso na língua tem o caráter de uma citação, de uma recordação, de algo que se leva em conta em uma situação que de algum modo se assemelha ao que originou o dito. Seu valor expressivo não esta nas imagines que pode conter coisa essencial as locuções significativas, mas sim no paralelismo que estabelece entre o momento atual e o passado, evocado com determinadas palavras. (CASARES, 1969, p. 190)

20.

Já o refrão segundo Casares é “[...] uma frase completa e independente

que em sentido direto ou alegórico, e geralmente em forma sentenciosa e elíptica,

expressa um pensamento - cheio de experiência, ensinamento [...]”. (CASARES,

1969, p. 193)21.

De acordo com Timofeeva (2008), Casares (1950) traz em sua

classificação três grandes classes de unidades léxicas pluriverbais, ou seja, as

locuções, as frases proverbiais e os refrãos. Só que para ele os refrãos não devem

ser incluídos nos dicionários porque não constituem uma unidade conceitual. O

verdadeiro interesse de Casares era nas locuções e nas frases proverbiais, pois

para ele “o objetivo de um refrão consiste em formular, de forma abstrata, uma

18 Um desgosto

19 fugir

20[…] algo que se dijo o se escribió, y su uso en la lengua tiene el carácter de una cita, de una

recordación, de algo que se trae a cuento ante una situación que en algún modo se asemeja a la que dió origen al dicho. Su valor expresivo no está en las imágines que pueda contener, cosa que es esencial en las locuciones significativas, sino en el paralelismo que se establece entre el momento actual y otro pretérito, evocado con determinadas palabras. (CASARES, 1969, p. 190). 21

[…] una frase completa e independiente que en sentido directivo o alegórico, y por lo general en forma sentenciosa y elíptica, expresa un pensamiento – hecho de experiencia, enseñanza […]”. (CASARES, 1969, p. 193).

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22

verdade valida para todos, não levando em conta os tempos nem os lugares”.

(TIMOFEEVA, 2008, p.122)22.

1.2.2 Ruiz Gurillo (1997)

Entre 1997 e 1998, Ruiz Gurillo defende a primeira e segunda parte de

sua tese e, desde então, são inúmeras suas publicações nessa área. Alguns de

seus trabalhos sobre fraseologia são: La fraseologia del español coloquial (1998);

Las locuciones en español actual (2001); Hechos pragmáticos del español (2006),

assim como também inúmeros artigos.

Em 1997, Leonor Ruiz Gurillo publicou Aspectos de fraseologia

espanhola, na qual ela defende sua teoria fraseológica conhecida como estreita ou

restrita, pois se dedica basicamente às locuções fraseológicas.

Ruiz Gurillo (1997) recorre ao conceito de centro e periferia da Escola de

Praga para elaborar sua teoria. Levando em conta os critérios de fixação e

idiomaticidade dos sintagmas nominais: mesa eletoral, camino real, caballo de

batalla (“mesa eleitoral, caminho real, cavalo de batalha”), sintagmas verbais: hacer

una foto, vivir de conto, ser un diablo (“fazer uma foto, viver de conto, ser um diabo"),

e os sintagmas preposicionais: a trancos y barrancos, de muy malo gusto (“a trancos

e barrancos, de muito mau gosto” etc.) ela desenvolve sua taxonomia23.

Sendo assim, as unidades fraseológicas (UFs) totalmente fixas e

idiomáticas ficam no centro e, à proporção que vai diminuindo essa característica,

conseqüentemente vão se aproximando da periferia que contemplam as UFs mais

desprovidas de fixação e idiomaticidade. Nas palavras desta autora:

Desde uma posição estreita da fraseologia, resulta possível traçar uma zona nuclear e uma zona periférica para as UFs, si bem entre uns estratos e outros os limites resultam difusos. As classes periféricas revelam em geral grande criatividade e viveza; as nucleares, devido a sua maior fixação, permitem escassas variações [...]. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 121)

24.

22 “El objetivo de un refrán consiste en formular, de forma abstracta, una verdad válida para todos,

que no distinga de tiempos ni lugares”. (TIMOFEEVA, 2008, p.122). 23

Ver anexo nº 3 teoria de R. Gurillo (1997). 24

Desde una posición estrecha de la fraseología, resulta posible trazar una zona nuclear y una zona periférica para las UFS, si bien entre unos estratos y otros los límites resultan en extremos difusos.

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23

Depois de esclarecer acerca da fixação e idiomaticidade das UFs, Ruiz

Gurillo (1997) diferencia os sintagmas nominais fraseológicos dos compostos, pois

segundo ela é muito complexo delimitar o que vem a ser os compostos e o que são

as locuções nominais. Segundo a autora, a grande diferença entre estes primeiros e

as locuções é a grafia “[...] a diferença mais importante é, em nossa opinião, de

índole formal: os elementos integrantes dos compostos manifestam unidades

gráficas, enquanto as locuções acostumadas a aparecer separadas na escrita

mantêm, deste modo, sua independência formal”. (RUIZ GURILLO 1997, p. 106)25. E

acrescenta ainda que o diferencial entre uma locução e uma colocação é que essas

últimas não são idiomáticas.

Os sintagmas nominais fraseológicos, de acordo com Ruiz Gurillo são

“[...] aquelas locuções nominais totalmente fixas e idiomáticas com palavras

diacríticas e/ ou anomalias estruturais”. (RUIZ GURILLO1997, p.109)26. Estão

incluídas aqui as locuções idiomáticas em diversos graus caballo de batalla (“cavalo

de batalha”), talón de Aquiles (“calcanhar de Aquiles”), as colocações nominais água

de coco, água de colonia (“água de colônia”) que devido a seu baixo grau de

idiomaticidade estão situadas na periferia e, entre elas, encontramos ainda, de

acordo com Ruiz Gurillo (1996), as locuções mistas dinero negro, lista negra (“dinero

negro, lista negra”), que apresentam alguma fixação e idiomaticidade.

Os sintagmas verbais, assim como os nominais, são classificados por

Ruiz Gurillo (1997) de acordo com seu grau de fixação e idiomaticidade. Dessa

forma temos locuções com alto grau de fixação e idiomaticidade, semiidiomáticas,

escasamente idiomáticas, mistas, meramente fixas, com variantes.

[…] representam UFS de diferentes complexidades que situam em diversos lugares da escala fraseologica que vai do centro a periferia. Alguns deles podem ser considerados, graças as propriedades de fixação e idiomaticidade e aos traços que manifestam [...] outros, ao contrario,

Las clases periféricas revelan en general gran creatividad y viveza; las nucleares, debido a su mayor fijación, permiten escasas variaciones […]. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 121). 25

“[...] la diferencia más importante es, a nuestro juicio, de índole formal: los elementos integrantes de los compuestos manifiestan unidad gráfica, mientras que los de las locuciones acostumbran a aparecer separados en la escritura, manteniendo de este modo su independencia formal”. (RUIZ GURILLO 1997, p. 106). 26

“[...] aquellas locuciones nominales totalmente fijas e idiomáticas con palabras diacríticas y/o anomalías estructurales”. (RUIZ GURILLO, 1997, p.109).

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24

representam graus de fixação escasos e nula idiomaticidade, por isso ficarão na periferia. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 110)

27.

É importante salientar que Ruiz Gurillo (1997) inclui também as unidades

sintagmáticas verbais que são aquelas “[...] UFS que se caracterizan formalmente

por las estructuras V+SN o V+S Prep: hacer uso, tomar un baño [...]” (R. GURILLO

1997, p. 111). As colocações verbais, segundo ela, são, por exemplo: estallar una

guerra, zarpara un barco, “[...] seus componentes manifestam uma alta co - aparição

conjunta que em algumas ocasiões se devem a razões semânticas como a

solidariedade lexica […]. (Ruiz GURILLO 1997, p. 110)28.

Os sintagmas prepositivos, igual que os anteriores, são classificados

quanto a sua fixação e idiomaticidade.

[…] o núcleo dos sintagmas prepositivos fraseológicos vem representados por locuções totalmente fixas e idiomáticas com palavras diacríticas e/ ou anomalias estruturais [...] outros estratos do núcleo são completados pelas locuções totalmente idiomáticas, fixas e idiomáticas em diversos graus [...], e as meramente fixas [...]. A zona de transição entre o núcleo e a periferia são preenchidos com as locuções com variantes [...] que constituem um espaço muito próximo as unidades da periferia [...]. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 121)

29.

1.2.3 Corpas Pastor (1996) Já Corpas Pastor (1996) segue uma linha de pesquisa distinta. Em 1994,

defende sua tese que resultará, em 1996, na publicação do Manual de fraseologia

espanhola no qual expõe sua taxonomia para as unidades fraseológicas. Esta obra

passa a ser referenciada por todos aqueles que pretendem estudar esse tema, pois

é neste manual Corpas Pastor descreve de modo incansável todo o percurso

27 [...] representan UFS de distinta complejidad que se sitúan en diversos lugares de la escala

fraseológica que va del centro a la periferia. Algunos de ellos pueden ser considerados, gracias a las propiedades de fijación e idiomaticidad y a los rasgos que manifiestan […] otros, en cambio, representan grados de fijación escasos y nula idiomaticidad, por lo que habrán de adscribirse a la periferia. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 110). 28

“[…] sus componentes manifiestan una alta coaparición conjunta que en algunas ocasiones se deben a razones semánticas como la solidaridad léxica […]”. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 110). 29

[…] el núcleo de los sintagmas prepositivos fraseológicos viene representados por locuciones totalmente fijas e idiomáticas con palabras diacríticas y/o anomalías estructurales [...]. Otros estratos del núcleo son completados por las locuciones totalmente idiomáticas […], fijas y idiomáticas en diversos grados […] y las meramente fijas […]. La zona de transición entre el núcleo y la periferia la rellenan las locuciones con variantes (de […] que constituyen un espacio muy próximo a las unidades periféricas […]. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 121).

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25

realizado pela fraseologia, assim como também sua teoria que é conhecida por ser

muito extensa. Inicialmente ela contextualiza o surgimento dos estudos das

fraseologias, depois cita alguns dos estudiosos mais importantes até então,

discorrendo, inclusive, sobre suas teorias. Somente depois, Corpas Pastor apresenta

sua teoria e segue fundamentando o porquê de cada nomenclatura e classificação

adotadas por ela ao longo do seu trabalho.

Para denominar as fraseologias em sua teoria, Corpas Pastor opta pelo

termo unidades fraseológicas (UFs), pois segundo ela, é esse o termo que goza de

maior aceitação entre as três correntes (estruturalismo europeu ocidental, a

linguística da extinta União Soviética e o estruturalismo norte-americano) mais

relevantes que estudam as fraseologias.

Para estabelecer a sua classificação, Corpas Pastor (1996) recorre às

definições de enunciado, ato de fala (Austin30) e fixação. Segundo ela, os

enunciados podem ser completos, como é o caso dos enunciados fraseológicos:

Buenos dias!, ¿Qué tal?, más vale un pájaro en mano que ciento volando, contigo

pan y cebolla (“bom dia, como vai você, mais vale um pássaro na mão que dois

voando, contigo pão e cebola”)31 e incompletos, ou seja, as colocações error

garrafal, ignorancia supina (“erro garrafal, ignorância suprema”)32 e locuções água

de coco, água de colonia (“água de coco, água de colônia”).

É relevante colocar que os exemplos citados são usados na oralidade e

na escrita de brasileiros e espanhóis. As locuções e as colocações não constituem

atos de fala, enquanto que os enunciados fraseológicos ao contrario são enunciados

completos que, por sua vez, refletem o falar natural do falante nativo no seu contexto

de uso. Dito isso é importante acrescentar que unidades fraseológicas para Corpas

Pastor:

[…] são unidades léxicas formadas por mais de duas palavras gráficas em seu limite inferior, cujo limite superior se situa no nível da oração composta. Ditas unidades se caracterizam por sua alta freqüência no uso, e de co-aparição de seus elementos integrantes; por sua idiomaticidade e

30 Para mais informações ler: Cómo hacer cosas con palabras. J. L. Austin (1955). Edición electrónica de www.philosophia.cl / Escuela de Filosofía Universidad ARCIS. 31

¡Buenos días!, ¿Qué tal?, más vale un pájaro en mano que ciento volando, contigo pan y cebolla. 32

UF usada quando nos referimos a um erro muito grande. Ignorância suprema (ignorancia supina) usamos para no referirmos a uma pessoa extremamente ignorante.

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26

variação potenciais; assim como pelo grau no qual se dão todos estes aspectos nos diferentes tipos. (CORPAS PASTOR,1997, p. 20)

33.

São seis, de acordo com Corpas Pastor (1996), as características mais

relevantes das UFs: frequência, institucionalização, estabilidade, idiomaticidade,

variação e gradação. Quanto à frequência as UFS podem ser de co-aparição ou de

uso. Dessa forma a primeira se refere à frequência que certas palavras aparecem

sempre juntas e a segunda, desrespeito ao uso. Institucionalização, podemos dizer a

groso modo que é quando uma comunidade de falante tem inúmeras formas de

dizer algo mais elegem um modo, distinto para expressar algo ou alguma coisa e

essa modo passa a ser usado freqüentemente. Podemos citar como exemplo a UF

hacer la cama34 expressão que é usada em espanhol ao invés de arreglar la cama35.

A terceira característica apontado por Corpas Pastor (1996) é a

estabilidade, de que gozam essas UFs no que diz respeito a sua fixação, umas na

norma, como é o caso das colocações e locuções (fixação interna) e outras no uso,

são exemplo, os enunciados fraseológicos (fixação externa). Elas também são

estáveis en relação à lexicalização.

Já a idiomaticidade, acima citada, é outro fator que devemos levar em

consideração ao estudar as UFs, pois é um ponto que levamos em conta quando

vamos classificar-las de acordo com seu grau (idiomáticas, semi-idiomáticas).

Agora que descrevemos de forma muito sucinta o que vem a ser as

principais características das UFs, abordaremos a taxonomia de Corpas Pastor

(1996).

Para a elaboração de sua taxonomia fraseológica, Corpas Pastor leva

em conta os critérios de fixação e enunciado36 o que a possibilita classificar as UFs

33 […] son unidades léxicas formadas por más de dos palabras graficas en su límite inferior, cuyo

límite superior se sitúa en el nivel de la oración compuesta. Dichas unidades se caracterizan por su alta frecuencia de uso, y de coaparición de sus elementos integrantes; por su idiomaticidad y variación potenciales; así como por el grado en el cual se dan todos estos aspectos en los distintos tipos. (CORPAS PASTOR,1996, pag.20). 34

Fazer a cama 35

Arrumar a cama 36

Zuluaga enunciado é “[...] una unidad de comunicación mínima, producto de un acto de habla, que corresponde generalmente a una oración simple o compuesta, pero que también puede constar de un sintagma o una palabra”. Zuluaga (Apud CORPAS PASTOR 1996).

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27

em três esferas37. Na primeira esfera estão as colocações, seguidas das locuções e,

na terceira esfera, encontramos os enunciados fraseológicos.

Em sua teoria Corpas Pastor define as colocações como sendo: [...]

unidades fraseológicas formadas por duas unidades léxicas em relação sintática,

que não constituem, por si mesmas, ato de fala nem enunciados, e que, devido a

sua fixação na norma, apresentam restrições de combinação estabelecidas pelo uso,

geralmente de base semântica […]. (CORPAS PASTOR 1996, p.66) 38.

As locuções, por sua vez, segundo Pastor (1996) são vistas como: “[...]

unidades fraseológicas do sistema da língua com [...] fixação interna, unidade de

significado y fixação externa pasemâtica. Estas unidades não constituem

enunciados completos, e, geralmente, funcionam como elementos oracionais”.

(CORPAS PASTOR 1996, p.88) 39.

Na terceira esfera da taxonomia de Corpas Pastor, encontramos os

enunciados fraseológicos que são denominados por ela como sendo: “[...]

enunciados completos em si mesmo que si caracterizam por constituir atos de fala e

por apresentar fixação interna (material e de conteúdo) e externa”. (CORPAS

PASTOR 1996, p. 132) 40. Estes últimos são compostos por parêmias41 e fórmulas

de rotina, sendo que elas se subdividem como veremos mais adiante.

Parafraseando Corpas Pastor (1996) podemos acrescentar que entre as

parêmias e as fórmulas de rotinas há algumas diferenças. “As parêmias possuem

significados referencial e gozam de autonomia textual enquanto que as fórmulas

37Ver anexo nº 4 teoria de Corpas Pastor (1996).

38 “[…] unidades fraseológicas formadas por dos unidades léxicas en relación sintáctica, que no

constituyen, por sí mismas, actor de habla ni enunciados; y que, debido a su fijación en la norma, presentan restricciones de combinación establecidas por el uso, generalmente de base semántica […]” (CORPAS PASTOR, 1996, p. 66). 39

“[…] unidades fraseológicas del sistema de la lengua con […] fijación interna, unidad de significado y fijación externa pasemática. Estas unidades no constituyen enunciados completos, y, generalmente, funcionan como elementos oracionales” Corpas Pastor (1996, p.88).

41

“[…] son enunciados fraseológicos completos en sí mismas que se caracterizan por constituir actos de habla y por presentar fijación interna (material) y externa”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 132). 41

Já Sevilla Muñoz (2012) defende que as parêmias são objeto de estudo da Paremiologia e que essa é uma ciência tão consolidada como a Fraseologia, sendo cada vez mais desenvolvido estudos nessa área. 41

“[…] las paremias poseen significado referencial […] mientras que en las fórmulas rutinarias el significado es de tipo social, expresivo discursivo fundamentalmente […] las paremias gozan de autonomía textual […]”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 132 e 133). 41

“Aquellas paremias que no cumplen este cuarto criterio, pero que aun así constituyen enunciados fraseológicos textuales […]”. (CORPAS PASTOR, 1996, p.137).

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rotineiras seu significado é do tipo social, expressivo ou discursivo

fundamentalmente [...]”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 132 e 133) 42 e seu sentido é

determinado pelo contexto de uso.

As parêmias estão divididas em enunciados de valor específicos, citações

e refrão. Os primeiros são entendidos por Corpas Pastor como sendo “aquelas

parêmias que não contemplam o critério de valor de verdade geral, porém constitui

enunciado fraseológico textual [...]”. (C. PASTOR, 1996, p.137)43. Exemplos: si ti vi

não lembro, as paredes ouvem.

Nas palavras de Corpas Pastor (1996) as citações também são parêmias,

porém ao contrario dos refrãos elas têm origem conhecidas, geralmente apresentam

denotatividade de caráter literal, ou melhor, se trata de enunciados extraídos de

textos escritos ou de fragmentos proferidos por personagens reais ou fictícios.

Temos como exemplo: a vida é sonho (P. Calderon de la Barca), a religião é o ópio

do povo (Karl Marx). Enquanto que citações nascem na literatura nacional ou

internacional, acrescenta Corpas Pastor, os refrãos têm sua origem desconhecida e

são denominados como: provérbios, adágio, máximas, ditos, e outros mais. Segundo

Corpas Pastor “o refrão é a parêmia por excelência, pois nele encontramos as cinco

características que definem uma parêmia: lexicalização, autonomia, sintática e

textual, valor de verdade geral e caráter anônimo”. (CORPAS PASTOR, 1996,

p.148)44. Exemplo: a ocasião faz o ladrão, que não chora não mama.

Ainda na III esfera da classificação de Corpas Pastor, estão às fórmulas de

rotina, também chamadas por: timos, fórmulas da vida social, e frases habituais,

orações rituais dentre outras. Corpas Pastor dividi-las em formas discursivas e psico

- sociais, as quais se subdividem e se caracterizam por ser “[...] formas de interação

social habitual e estereotipada que cumprem funções especificas em situações

44

“El refrán es la paremia por excelencia, pues en él se dan las cincos características definitorias mencionadas anteriormente: lexicalización, autonomía sintáctica, y textual, valor de verdad general y carácter anónimo. (CORPAS PASTOR, 1996, p.148).

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previsíveis de rotinas, e, ate certo ponto, ritualizada”. (CORPAS PASTOR, 1996, p.

171) 45.

As formas discursivas (FD) são aquelas usadas pela comunidade de

falante que tem, entre outras, a finalidade de organizar a interação entre os falantes.

As FD se constituem de fórmulas de aberturas e fechamento, ou seja, são UFs que

usamos como saudação, já as fórmulas de transição tem a finalidade de dar

sequência a interação entre os falantes e

[...] desempenham um papel muito importante na estrutura dos intercâmbios conversacionais, regulando a interação, reorganizando e precisando o que se diz, ressaltando alguma parte, enlaçando uns tópicos com outros e permitindo aos interlocutores tomem a palavra, manter o turno ou orientar a mudança deste [...]”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 189 e 190)

46.

As formas psico – sociais por sua vez se constituem de formas

expressivas, comissivas, diretivas, assertivas e rituais. Segundo Corpas Pastor

(1996) “[…] estas UFs estão divididas geralmente mediante critérios semânticos [...]”.

(CORPAS PASTOR, 1996, p. 192)47.

As fórmulas expressivas “[...] constituem primordialmente atos de fala

expressivos. O emissor emprega estas unidades para expressar uma atitude e seus

sentimentos”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 193) 48. Estas expressões se

subdividem em fórmulas de desculpas (lo siento), de consentimento (ya lo creo), de

recusação (ni habla, de ninguna manera), desejar boa sorte (feliz navidad), de

solidariedade (qué si le va hacer), de insolidariedade (Allá tu).

Em relação às fórmulas comissivas elas são responsáveis por expressar

permissão ou ameaça, temos como exemplo: te dou minha palavra! Já as fórmulas

diretivas têm como características persuadir ou exortar “[...] todas as fórmulas

45“[...] fórmulas de la interacción social habituales y estereotipadas que cumplen funciones específicas

en situaciones predecibles, rutinarias y, hasta cierto punto, ritualizadas”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 171). 46

“[…] desempeñan un papel muy importante en la estructuración de los intercambios conversacionales, regulando la interacción, organizando y precisando lo que se dice, resaltando alguna parte, enlazando unos tópicos con otros, y permitiendo a los interlocutores tomar la palabra, mantener el turno u orientar el cambio de éste. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 189 e 190). 47

“Estas UFs se han subdividido generalmente mediante criterios de tipo semántico”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 192). 48

[…] constituyen primordialmente actos de habla expresivos. El emisor emplea estas unidades para expresar su actitud y sus sentimientos”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 193).

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enquadradas aqui compartilham o objetivo de que o receptor faça algo [...]”.

(CORPAS PASTOR, 1996, p. 203)49.

As fórmulas assertivas (asseveração, emocionais, de promessa) são

aquelas que têm a função de informar, ou seja, “[...] o falante as utiliza para

transmitir informação que declara verdadeira, seja factual, ou concernentes a suas

crenças e sentimentos”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 206)50.

Ainda em relação às fórmulas psico – sociais encontramos as fórmulas de

rituais, expressões usadas para saudação e despedidas e ao final encontramos as

miscelâneas, que segundo afirma Corpas Pastor (1996) não possuem um verbo

performativo que traduza sua força inlocucionaria51 e são bastante parecidas com as

parêmias.

Corpas Pastor tem um verdadeiro legado de publicações como podemos

mencionar: Manual de fraseología española (1996); La fraseología en los

diccionarios bilingües (1996); Fraseología y traducción (2000); Las lenguas de

Europa: Estudios de fraseología, fraseografía y traducción (2000), assim como

também uma vasta lista de artigos.

Esta mesma autora (2001) relata que desde 1995 para cá as unidades

fraseológicas vêm sendo bastante pesquisadas, não só na Espanha, mas em toda a

Europa. Com a finalidade de discutir e socializar os estudos da fraseologia

espanhola, ocorreram, nos últimos anos, inúmeros congressos, jornadas e

colóquios. Em seguida apresentaremos o contexto em que si encontra os estudos

das UFs de modo geral.

1.3 Panorama dos principais estudos fraseológicos

49“Todas las fórmulas encuadrables aquí comparten el objetivo de que el receptor haga algo”.

(CORPAS PASTOR, 1996, p. 203). 50

“[...] el hablante los utiliza para transmitir información que declara verdadera, sea factual, o concierna a sus creencias y sentimientos”. (CORPAS PASTOR, 1996, p. 206). 51

Verbo performativo e ato locucionario, ilocucionário e perlocucionários ver: Cómo hacer cosas con palabras. J. L. Austin (1955). Edición electrónica de www.philosophia.cl / Escuela de Filosofía Universidad ARCIS.

Page 31: REFLEXÕES A CERCA DO FENÔMENO FRASEOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENSINO DA FRASEOLOGIA ESPANHOLA

31

As unidades fraseológicas, de suma relevância para o ensino aprendizado de

língua estrangeira (LE), vêm sendo pesquisadas em inúmeros países, pois há

fraseologias em todas as línguas. Na Espanha esse fenômeno linguístico vem sendo

estudado desde 1950. Atualmente teóricos da área defendem o ensino dos

fraseologismos no estudo das línguas estrangeiras por ser elas de grande

importância na hora de compreender e ser compreendido dentro de contexto de uso

do falante nativo. Por outro lado, ainda é simbólica a, presença delas, nos

dicionários e nos materiais destinados as aulas de espanhol como LE.

1.3.1 Pesquisas sobre unidades fraseológicas na Espanha

Parafraseando Corpas Pastor (2001) podemos dizer que depois do

trabalho de Zuluaga (1980), somente a partir da publicação do Manual de

fraseologia espanhola, de Corpas Pastor (1996) e do trabalho de Martínez Marín

(1996), a fraseologia volta a ser estudada na Espanha. A partir dai foram

desenvolvidos inúmeros trabalhos, publicações, levando em conta os aspectos

sincrônicos e diacrônicos para delimitar, definir e classificar as UFs, sendo

estudadas somente dois tipos delas: as locuções e os refrães. Estes últimos são

estudados na Espanha desde o Século XV e segue sendo pesquisados até hoje.

Ruiz Gurillo (1997) acrescenta que:

A princípio do século XVII o interesse por estas estruturas aumentaram, de tal modo que se aparecem também outras formas como frases proverbiais ou sintéticas populares. Seu reflexo aparece em dicionários gerais como o Tesoro de la lengua española, de Sebastián de Covarrubias em 1611, ou en gramática como o Espexo general de la gramática en Diálogos, de Ambrosio Salazar em 1614. (RUIZ GURILLO, 1997, p. 18)

52.

Levando em conta os critérios de fixação e idiomaticidade, foram

desenvolvidas algumas teorias, como por exemplo, a de Ruiz Gurillo (1997) como

52 A principio del siglo XVII el interés por estas estructuras se ha incrementado, de tal modo que se

recogen también otras formas como frases proverbiales o sentencias populares. Ello se ve reflejado en diccionarios generales como el Tesoro de la lengua española, de Sebastian de Covarrubias en 1611, o en gramáticas como el Espexo general de la gramática en Diálogos, de Ambrosio Salazar en 1614. (RUIZ GURILLO, 1997, P. 18).

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32

expusemos anteriormente. Corpas Pastor (1996) desenvolveu uma larga teoria,

acrescentou aos critérios de fixação, idiomaticidade, os de institucionalização,

estabilidade e a enunciação e passou a incluir na sua teoria os enunciados

fraseológicos.

Atualmente são desenvolvidos estudos das unidades fraseológicas

relacionados aos aspectos funcionais, a função discursiva e textual, o caráter

psicológico e a relação entre duas ou mais línguas como coloca Corpas Pastor

(2001). O resultado desses trabalhos são as inúmeras publicações, os congressos,

os seminários e as jornadas que são realizados anualmente na Espanha com o

objetivo de propiciar a divulgação das últimas descobertas sobre as UFs53.

Ao longo de nossa pesquisa consultamos alguns dos trabalhos mais

relevantes na área da ciência fraseológica e observamos que as investigações sobre

as UFs vêm se desenvolvendo muito de alguns anos para cá. Inicialmente as

investigações fraseológicas estavam voltadas para sua delimitação, definição e

classificação. Atualmente, graças à consolidação da Fraseologia, as UFs estão

sendo estudadas relacionadas a outras ciências tais como: sociolingüística,

pragmática semiótica e outras mais, segundo Corpas Pastor (2002).

1.3.2 Pesquisas sobre unidades fraseológicas em outros países

Os estudos fraseológicos na língua espanhola tiveram seus primeiros

trabalhos publicados fora da Espanha como coloca Corpas Pastor (2002) “[...] os

primeiros estudos fraseológicos e obras fraseográficas referentes ao castelhano se

realizaram fora do país [...] o manual publicado por A. Zuluaga na Alemanha

Ocidental e o Dicionário fraseológico espanhol-ruso (DFER) editado na URSS

(Levintova, red., 1985)” (CORPAS PASTOR 2002, P. 165)54.

53 Para mais informações sobre os últimos eventos realizados na Espanha, assim como também as

teses de doutorado visite o site http://hispanismo.cervantes.es/documentos/0008/paremiologia/actividadesparemiologia 54

“[...] los primeros estudios fraseológicos y obras fraseográficas referidas al castellano se realizan fuera del país [...] el manual publicado por A. Zuluaga en Alemania Occidental y el Diccionario fraseológico español-ruso (DFER) editado en la URSS (Levintova, red., 1985)”. (CORPAS PASTOR, 2002, p. 165).

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33

Hoje as UFs são pesquisadas não só na Espanha, como já citamos os

trabalhos de alguns dos principais teóricos, como também em vários países, dentre

eles podemos citar, de acordo com Corpas Pastor (2001), os trabalhos de Kótova

(1998), na Rússia, Bárdosi (1990), na França, Fleischer (1997[1982]), Burger (1998)

e Korhonen (1998), na Alemanha e as investigações de Arora (2000) sobre a

paremiologia hispano-americana, de Hundt (1994) sobre as UFs em português e

Ghiser (1996) e Howart (1996) estudam as UFs em inglês.

Segundo Corpas Pastor (2001), atualmente estão sendo desenvolvidos

estudos sobre as UFs relacionadas com outras ciências, como é o caso, por

exemplo, “a vertente semântica-semiotica, junto com a fraseologia terminológica ou

especializada, vem concentrando uma boa parte da pesquisa que se realiza

atualmente. Neste aspecto destaca, sem dúvida alguma, a escola Alemanha”.

(CORPAS PASTOR, 2001, p. 30) 55. A escola russa desenvolve pesquisas na

vertente onomasiológica; a escola francesa é responsável pela organização de

inúmeros eventos e inúmeras publicações e a inglesa, “salvo exceções como Gläser

(1986), estamos diante de uma “escola” tradicionalmente ilhada, centrada na

idiomaticidade, e desconhecedora de grande parte da pesquisa que se realiza no

resto da Europa”. (CORPAS PASTOR, 2001, p. 23)56.

Sevilla Muñoz (2012) cita alguns dos grupos de pesquisa espanhóis

como: FRASESPAL (Universidade de Santiago de Compostela); FRASEMIA,

Fraseologia, Paremiologia e Tradução (Universidade de Múrcia); FRASYTRAM,

Fraseologia e Tradução Multilíngüe (Universidade de Alicante); GILTE, Grupo de

Investigação Linguística Tipológica Experimental (Universidade de Granada);

IDIOMAT (Idiomaticidade contrastiva alemão-espanhol) e PAREFRAS dirigido por

Maria Teresa Zurdo Ruiz-Ayúcar e Sevilla Muñoz que são responsáveis pela

fundação do primeiro doutorado de fraseologia e paremiologia do mundo. Seus

estudantes são de muitos países, entre eles, Armênia, Brasil, Espanha, Finlândia,

França, Grécia, Itália, México, Noruega, Ucrânia. (SEVILLA MUÑOZ, 2012, p. 13).

55 “La vertiente semántico-semiótica, junto con la fraseología terminológica o especializada, viene

acaparando una buena parte de la investigación que se realiza actualmente. En este aspecto destaca, sin duda alguna, la escuela alemana”. (CORPAS PASTOR 2001, p. 30). 56

“salvo excepciones como Ghiser (1986), estamos ante una “escuela” tradicionalmente aislada, centrada en la idiomaticidad, y desconocedora de gran parte de la investigación que se realiza en el resto de Europa”. (CORPAS PASTOR 2001, p. 23).

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Segundo Corpas Pastor (2001) a EUROPHRAS (European Society of Phraseology)

“[…] aglutina os pesquisadores que já se reuniam periodicamente desde princípios

dos anos oitenta, ao mesmo tempo em que proporciona novas incorporações, entre

as quais figuram delegações espanholas, britânicas, francesas e italianas”.

(CORPAS PASTOR, 2001, p. 22)57

Assim como a EUROPHRAS a EURALEX (European Association lor

Lexicography) e a revista parêmia, que, de acordo com Sevilla Muñoz (2012), é a

primeira revista espanhola a estudar os refrãos e os enunciados sentenciosos e a

segunda do mundo, são responsáveis por organizar e publicar uma grande maioria

das pesquisas realizadas sobre as UFs. Ainda segundo Sevilla Muñoz “a pesquisa

fraseológica encontra um novo espaço para sua divulgação graças à criação do

Caderno de fraseologia galega” (SEVILLA MUÑOZ, 2012, p. 12)58.

No Brasil também há pesquisadores na área da fraseologia. A professora

Cláudia Maria Xatara, Universidade Estadual Paulista – São José do Rio Preto

(UNESP-SJRP) é estudiosa da Lexicografia e da Fraseologia, e como tal vem

desenvolvendo muitos trabalhos na área. Maria Luisa Ortíz Alvarez, Universidade

de Brasília (UnB), é um dos grandes nomes da fraseologia brasileira. Atualmente é

Presidente da Associação Brasileira de Fraseologia e organizou o II Congresso

Internacional de Fraseologia e Paremiologia e o I Congresso Brasileiro de

Fraseologia que aconteceram em Novembro de 2011 em Brasília na UnB. De acordo

com Sevilla Muñoz (2012, p. 15), “Este evento possibilitou uma intensa interação

entre as investigações fraseológicas e paremiologicas que estão sendo

desenvolvidas neste país”59. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), a professora

Rosemeire Selma Monteiro-Plantin, vice-presidente da associação brasileira de

fraseologia, tem desenvolvido muitas pesquisas sobre a fraseologia, assim como

também o ensino de português como língua estrangeira (PLE).

57 “[...] aglutina a los investigadores que ya se reunían periódicamente desde principios de los

ochenta, al tiempo que da cabida a nueva incorporaciones, entre las cuales figuran nutridas delegaciones española, británica, francesa e italiana”. (CORPAS PASTOR 2001, p. 22). 58

“la investigacón fraseológica encuentra un nuevo espacio para su difusión gracias a la creación de Cadernos de Fraseoloxía Galega". (SEVILLA MUÑOZ 2012, p.12). 59

“Este evento ha puesto de manifiesto la intensa actividad investigadora fraseológica e paremiológica que se está llevando a cabo en este país” (SEVILLA MUÑOZ, 2012, p. 15). Para mais informações ver http://www.pgla.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=379&Itemid=259

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35

De acordo com Corpas Pastor (2002), devido ao crescimento das investigações fraseológicas, seria importante:

[…] reunir e editar juntos estes artigos, criando assim uma biblioteca fraseológica [...]. A criação de um centro peninsular para a coordenação das investigações fraseológicas com uma revista especializada e, sobre tudo, com um banco de dados das publicações aparecidas acessíveis para todos na internet poderia contribuir de maneira decisiva ao desenvolvimento da fraseologia, não só nacional, mas sim a nível internacional. (CORPAS PASTOR, 2002, p. 175)

60

A segunda parte do nosso trabalho será dedicada à abordagem sobre a

importância das unidades fraseológicas na aprendizagem das línguas estrangeiras,

mais especificamente a língua espanhola. Dessa forma faremos a relação entre as

teorias acima citadas e a prática. Com este objetivo realizaremos uma análise dos

manuais Español en macha A1+A2, B1 e B2.

60[...] reunir y editar juntos estos artículos, creando así una biblioteca fraseológica [...] La creación de

un centro peninsular para la coordinación de las investigaciones fraseológicas, con una revista especializada y, sobre todo, con un banco de datos de las publicaciones aparecidas, accesibles para todos en el internet, podría contribuir de manera decisiva al desarrollo de la fraseología, no sólo a nivel nacional, sino también a nivel internacional. (CORPAS PASTOR, 2002, p. 175).

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36

CAPÍTULO II - ENSINO DE UNIDADES FRASEOLÓGICAS: RELAÇÃO TEORIA-

PRÁTICA

Após a contextualização sobre os aspectos teóricos das unidades

fraseológicas (UFs), realizada no capítulo anterior, no presente capítulo, discorremos

a respeito dos resultados de uma análise que realizamos nos três volumes do

manual didático adotado no curso de Licenciatura em Letras-Espanhol da UERN. A

partir desta análise, buscamos estabelecer uma relação entre os achados teóricos e

sua aplicabilidade na prática docente. Antes, porém, reservamos o próximo

subtópico a algumas considerações gerais sobre a presença de unidades

fraseológicos em livros didáticos.

2.1 As unidades fraseológicas em manuais didáticos de E/LE

Os manuais de E/LE foram, ao longo do tempo, desenvolvendo-se

acompanhando os diferentes métodos61 que serviram de base para o ensino de uma

segunda língua (L2), buscando atingir seus diversos objetivos.

De acordo com Gómez Molina (2008), o Marco Común Europeo de

Referencia62, ao estabelecer o que tem que aprender ou adquirir os alunos de

línguas, indica de forma explícita que o objetivo do ensino/aprendizado é “[...]

conseguir o desenvolvimento da competência lingüística comunicativa, que

compreende as competências lingüísticas63; as sociolingüísticas64 e as

pragmáticas65”. (GÓMEZ MOLINA, 2008, p.491)66.

61Método de gramática e tradução, audiolingual e audiovisual, comunicativo e comunicativo por tarefa.

Ver Aquilino Sánchez Pérez (2000) Los métodos en la enseñanza de idiomas e Pilar Melero Abadía (2000) Métodos y enfoque en la enseñanza/aprendizaje del español como lengua extranjera. 62

Para mais informações sobre o Marco Común Europeo de Referencia ver http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/marco/cvc_mer.pdf 63

“[...] que incluyen las tradicionales descritas (competencia léxica, gramatical, semántica, fonológica, ortográfica u ortoépica) [...]”. (GÓMEZ MOLINA, 2008, P.631). 64

“[...] el conocimiento y las destrezas necesarias para que el alumno sepa abordar con éxito la dimensión social del uso de la lengua”. (GÓMEZ MOLINA, 2008, P.631). 65

“[...] tiene que ver con uso funcional de los recursos lingüísticos e incluye una competencia discursiva, referente a la habilidad de organizar secuencialmente las oraciones de tal modo que se

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Sendo assim, para que o aluno seja capaz de se comunicar, com certa

fluidez na língua meta, tem que dominar outras competências além da gramatical,

pois a linguagem natural vai muito além de seu sentido literal, ou melhor, “[...] é

nossa capacidade de usar frases léxicas a que nos ajuda a falar com fluidez”. (DE

CARRICO apud GÓMEZ MOLINA, 2008, p. 492)67.

Ainda segundo Gutiérrez Rivilla (2008), o Marco Común Europeo sugere

um enfoque centrado na língua como ação “[...] supõe uma aplicação e uma

aproximação aos estudos sobre o aprendizado e o ensino de línguas que abarca o

uso social da língua [...]”. (GUTIÉRREZ RIVILLA, 2008, p. 625)68

Em relação aos conteúdos que devem estar presentes nos manuais

destinados ao ensino-aprendizado de E/LE, Gomez Molina (2008) relata que o

Marco Común Europeo de Referencia propõe que os conteúdos sejam organizados

por temas semânticos divididos e em subáreas levando em conta o tipo de aluno e o

objetivo do curso.

A sugestão do Marco Común Europeo de Referencia é bastante clara, e

mostra que, ao ensinar línguas, deve ser ensinado aos estudantes a comunicar-se

dentro dos contextos de uso, para tanto, tendo em vista a reconhecida importância

das UFs para o ensino, é de suma relevância que as encontremos nos manuais

destinados ao ensino de espanhol como língua estrangeira, incluindo-as assim nas

suas competências lingüísticas, sociolingüísticas e pragmáticas. Fernández López

(2008) relata que:

O ensino de espanhol como língua estrangeira se encontra em um de seus melhores momentos, pois existe uma grande preocupação com a boa formação do professor e pela qualidade (e não só quantidade) de manuais e materiais que continuamente aparecem no mercado editorial com a finalidade de ajudar ao bom desenvolvimento do ensino-aprendizado. (FERNÁNDEZ LÓPEZ, 2008, p. 715)

69.

produzcan fragmentos textuales dotados de significado, y una competencia funcional, referente al conocimiento de las formas y las funciones lingüísticas”. (GÓMEZ MOLINA, 2008, P.631). 66

[...] logra el desarrollo de la competencia lingüística comunicativa, la cual comprende las competencias lingüísticas, las sociolingüísticas y las pragmáticas […].(GÓMEZ MOLINA, 2008, p.491). 67

[...] es nuestra capacidad de usar frases léxicas la que nos ayuda a hablar con fluidez”. (DeCarrico apud GÓMEZ MOLINA, 2008, p. 492). 68

[...] supone una ampliación y una aproximación a los estudios sobre el aprendizaje y la enseñanza de las lenguas que abarcan el uso social de la lengua […]”. (GUTIÉRREZ RIVILLA, 2008, p. 625). 69La enseñanza del español como lengua extranjera se encuentra en uno de sus mejores momentos, pues existe

una gran preocupación por la buena formación del profesor y por la calidad (y no sólo cantidad) de manuales y

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Com essa finalidade, Fernández López (2008) acrescenta que há muitos

pesquisadores incumbidos em analisar os manuais para que eles atendam de modo

satisfatório às necessidades dos estudantes e profissionais da área, servindo de

norte para que os docentes de línguas tenham uma ferramenta de trabalho de modo

que possam desenvolver as quatro habilidades lingüísticas (ler, escrever, falar e

ouvir).

Ruiz Gurillo (2000) defende que a implantação das unidades

fraseológicas nos manuais deve ser realizada levando em conta:

[…] as diversas unidades fraseológicas não podem ser tratadas do mesmo modo. As locuções, ou estruturas equivalentes a lexemas ou sintagmas, apresentam em geral um significado idiomático que as distancia de sua compreensão literal. Por isso, será conveniente dispor de expressões ou palavras sinônimas (puñalada trapera=traição, tomar el pelo=enganar, cortar el bacalao=dominar, de la noche a la mañana=rapidamente). Os enunciados fraseológicos apresentam não somente idiomaticidade, como também dificuldades derivadas de seu emprego. As fórmulas de rotina, que se encontram fixadas pragmaticamente, atendendo a situação comunicativa em que se empregam, haverá de ser reveladas em contextos reais, de acordo com os atos de fala que apresentam: para saudação (buenos días, buenas tardes), para despedidas (hasta luego), para mostrar aborrecimento (de eso nada), para expressar agradecimento (muchas gracias, que dios te lo pague), etc. Por outro lado, os refrãos, as citações e outras parêmias (a quien madruga, dios le ayuda; divide y vencerás) deverão ser estudadas a partir do significado pragmático que encerram (uma verdade geral aplicavel a uma situação concreta) e na medida do possível haverá de se observar os contextos adequados.(RUIZ GURILLO, 2000, 263)

70.

materiales que continuamente aparecen en el mercado editorial con fin de ayudar al buen desarrollo de proceso

de enseñanza-aprendizaje. (FERNÁNDEZ LÓPEZ, 2008, p. 715). 70

[…] las diversas unidades fraseológicas no podrán ser tratadas del mismo modo. Las locuciones, o estructuras equivalentes a lexemas o sintagmas, presentan por lo general un significado idiomático que las aleja de su comprensión literal. Por ello, sería conveniente disponer de expresiones o palabras sinónimas (puñalada trapera=traición, tomar el pelo=engañar, cortar el bacalao=dominar, de la noche a la mañana=rápidamente). Los enunciados fraseológicos presentan no sólo idiomaticidad, sino también dificultades derivadas de su empleo. Las fórmulas rutinarias, que se hallan fijadas pragmáticamente, atendiendo a la situación comunicativa en que se emplean, habrán de ser reflejadas en contextos reales, de acuerdo con los actos de habla que presentan: para saludar (buenos días, buenas tardes), para despedirse (hasta luego), para mostrar enfado (de eso nada), para expresar agradecimiento (muchas gracias, que dios te lo pague), etc. Por otro lado, los refranes, las citas y otras paremias (a quien madruga, dios le ayuda; divide y vencerás) deberán estudiarse a partir del significado pragmático que encierran (una verdad general aplicable a una situación concreta) y en la medida de lo posible habrán de observarse en contextos adecuados. RUIZ GURILLO, 2000, p. 263).

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Sevilla Muñoz e González Rodríguez (1994-1995) recomendam que as

UFs sejam introduzidas nas aulas de E/LE, primeiro, explicando sua origem e

significado, dentro do contexto de uso, relacionando-as com seus sinônimos e

antônimos, em seguida, mostrando seu registro e freqüência e, ao final, seja

aplicado atividades para práticar a compreensão de seu significado, sua utilização e

memorização.

A ausência das UFs nos manuais dificulta o trabalho do professor que

tenha como objetivo seu ensino, no entanto podemos recorrer a estudiosos do tema

como, por exemplo, Ruiz Gurillo (2002), que conhecedora do contexto atual no qual

se encontram os fraseologismos, publicou o livro Ejercicios de fraseologia, para

servir “[...] como amostra para todos aqueles professores que em algum momento

venham buscar atividades com os fraseologismos”. (Ruiz GURILLO, 2002, p.7)71.

Em seguida descreveremos a análise que realizamos nos manuais supracitados.

2.2 Caracterização da pesquisa

Com base na classificação de Alves (2007), quanto ao delineamento,

inicialmente realizamos uma pesquisa bibliográfica, que teve como finalidade expor a

relação entre a teoria fraseológica de Corpas Pastor (1996) e a presença dos

fraseologismos nos manuais referenciados anteriormente.

Quanto aos objetivos, segundo Alves (2007), nossa pesquisa classifica-se

como descritiva, pois realizamos uma descrição minuciosa das unidades

fraseológicas presentes nos manuais español en macha A1+A2, B1e B2 e como elas

são incluídas nestes.

Quanto à natureza, de acordo com Alves (2007), realizamos uma

pesquisa do tipo qualitativa, pois nossas análises não se fundamentaram em

manuseio de dados estatísticos. Em relação à coleta de dados, nosso corpus foi

composto pelos três volumes do livro didático Español en Marcha (livros do aluno).

Para relacionar a teoria e a prática recorremos às propostas didáticas,

para o ensino das unidades fraseológicas, de Sevilla Muñoz e González Rodríguez

71“[...] Como muestra para todos aquellos profesores que en algún momento han de buscar actividades relacionadas con la fraseología”. (RUIZ GURILLO, 2002, p.7).

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(1994-1995), assim como também a de Ruiz Gurillo (2000, 20001, 2001).

Analisamos os manuais Español en macha A1+A2, B1 e B2, para verificar se há

unidades fraseológicas72 nesses manuais e, caso haja, como são apresentadas aos

alunos, ou melhor, se é adotada alguma proposta didática.

Elegemos esse manual porque ele é usado nas aulas das disciplinas de

Fundamentos da língua espanhola, Língua 1, Língua 2, Língua 3, Língua 4, Língua 5

e Língua 6, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no curso de

Licenciatura em Letras com Habilitação em Língua Espanhola do Campus Central.

Ao final do nosso trabalhos faremos algumas observações que julgamos pertinentes.

No entanto, visto que o enfoque que adotamos foi o qualitativo, as

perguntas de investigação puderam ser refinadas e/ ou reformuladas ao longo da

coleta e análise de dados, conforme nos orientam Hernández Sampieri et. al (2010).

Outra das características da pesquisa qualitativa é que, nestas; geralmente, não se

provam hipóteses, pois estas são geradas durante o processo investigativo.

2.2.1 O corpus

Serviu-nos de corpus os manuais Español en macha A1+A2, B1 e B2.

Estes foram organizados respectivamente por: Castro Viúvez, F., Ballesteros, P. D.,

Rodero Díez, I., Sardinero Franco, C. segundo as orientações do Marco Común

Europeo de Referencia para o ensino de línguas.

O primeiro volume analisado, o A1+A2, é composto por apenas um volume

com 18 unidades, mas com os conteúdos de dois níveis em um único livro. Já os

manuais Español en macha B1 e o B2 foram elaborados por: Castro Viúvez, F.,

Rodero Díez, I., Sardinero Franco, C. Estão compostos por 12 unidades cada um

deles. Os três manuais são constituídos de: três seções A, B, C destinadas aos

conteúdos linguísticos e comunicativo mais outra parte intitulada De Acá y de Allá

que traz conteúdos culturais da Espanha e Hispanoamérica e, ao final de cada

unidade, uma parte intitulada de Autoevaluación, com atividades para exercitar os

72Unidades fraseológicas de acordo com a teoria de Corpas Pastor (1996).

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conteúdos ministrados. Nossa análise se dará em todo o conteúdo do referido

manual.

2. 2. 1. 1 Análise do componente fraseológico nos manuais Español en

Marcha A1+ A2, B1 e B2

Para orientar nossa análise, serviram-nos de base as orientações de

Fernández López (2008), com quem estamos de pleno acordo quando diz que: “o

objetivo final dos diferentes tipos de análises nunca é criticar o trabalho dos autores

de manuais ou materiais, porém tentar mostrar a que grupos estão melhor destinada

a sua utilização frente a outros manuais”. (FERNÁNDEZ LÓPEZ, 2008, p. 717)73.

Portanto, nosso objetivo não é o de criticar a obra mencionada, mas de orientar o

uso deste manual por docentes e discentes com respeito ao componente

fraseológico presente nestes manuais didáticos.

2.2.1.1.1 Análise do Español en Marcha A1 +A2

Este manual está composto por 18 unidades, cada unidade com três

seções A, B e C destinadas aos conteúdos linguísticos e comunicativos, assim como

também de mais duas partes: De Acá y de Allá que traz conteúdos culturais da

Espanha e Hispanoamérica, e ao final de cada unidade há uma parte intitulada de

Autoevaluación, com atividades para repassar os conteúdos vistos ao longo da

unidade. Abaixo fornecemos a capa deste manual:

73“El objetivo final de diferentes tipos de análisis nunca es criticar el trabajo de los autores de

manuales o materiales, sino intentar describir en qué grupos resulta mejor la aplicación de un manual frente a otros ”. (FERNÁNDEZ LÓPEZ, 2008, p. 717).

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Figura 1. Capa do manual Español en macha A1+A2 (2007)

É importante resaltar que este manual usa, para contextualizar os

conteúdos, pequenos diálogos e imagens fabricadas com fins didáticos ao invés de

textos autênticos. Observamos ainda que, de modo geral, há uma imagem,

relacionada ao tema que será abordado, e, em seguida, são apresentadas

atividades, referentes ao assunto mencionado, para que os alunos respondam. Essa

estrutura se repete nos três manuais analisados, ou seja, A1+A2, B1 e B2.

No que diz respeito aos tipos de UFs encontradas neste primeiro manual,

há sobretudo a presença dos enunciados fraseológicos, mais especificamente das

fórmulas de rotina, ou seja, formas discursivas, psico – sociais, expressivas

comissivas, assertivas que fazem parte da terceira esfera da teoria de Corpas Pastor

(1996). Vejamos cada uma das dezoito unidades. Comecemos pela unidade zero.

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A unidade zero já se inicia por uma unidade fraseológica. Logo no título

que abre esta unidade aparece a expressão: !Hola!, que consiste numa fórmula

discursiva de abertura usada para cumprimentar alguém. Depois de uma atividade

baseada em um diálogo, com o objetivo de praticar a leitura e audição, encontramos

algumas imagens relacionadas às fórmulas de abertura e encerramento. As imagens

seguintes fazem parte da seção A.

Na primeira unidade, que traz o título ¡Encantado! Em uma atividade

auditiva, encontramos o seguinte quadro, conforme se verifica abaixo na Figura 3,

com algumas fórmulas de abertura e encerramento.

Figura 3. Estruturas fraseológicas encontradas na Unidade 1 do Manual Español en macha A1+A2 (2007, p. 14)

Figura 2. Saludos. Manual Español en macha A1+A2, unidade zero, (2007,p. 09)

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44

Na parte intitulada De acá y de Allá, da primeira unidade, estão as

fórmulas de abertura e encerramento como: ¡Hola!, ¡Hasta luego!, ¡Buenos días!,

¡Buenas tardes! e ¡Buenas noches!. Todas elas são apresentadas como saudação

na parte destinada a mostrar as saudações formais e informais, seguidas de

pequenos exercícios, nos quais os alunos devem relacionar a saudação a uma

imagem correspondente.

Na unidade 2, não foi possível identificar a presença de unidades

fraseológica. Nas unidades 3 e 4 respectivamente, há apenas as fórmulas de

saudação: ¡Buenos días! e ¡Buenas tardes!; fórmulas de transição tais como muy

duro; bueno, pues; muy bien; por favor. Além de fórmulas de afirmação, tais como

de acuerdo; sí, por supuesto e a fórmula de despedida ¡Hasta pronto!. Na unidade 5,

penas a fórmula de agradecimento muchas gracias foi encontrada.

Na unidade 6, as fórmulas de rotina como: perdone; por favor; muchas

gracias; si, claro; ah, sí; gracias por todo, encontradas nas unidades anteriores se

repetem. Na unidade 7, temos UFs como: ¡Hola!; venga, vale; vale. ¡Hasta luego!;

bueno, vale; sí, de acuerdo; ¡Hasta mañana!; muchas gracias; ¡Adiós!; ¡Buenos días!

e muy bien. Ainda nesta unidade observamos que em uma atividade para se

trabalhar a pronúncia e a ortografia há algumas fórmulas de rotina como veremos

abaixo:

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Figura 4. Atividade auditiva da unidade 7, seção B do manual Español en Marcha A1+A2 (2007, p.65).

Na unidade 8 encontramos apenas algumas fórmulas de rotina (¡Buenos

días!; perdone; sí, ¡Como no!, muchas gracias; ¡Hasta luego!; por favor; disculpe;

¡Hasta pronto!) inseridas nos diálogos que aparecem para servirem de base para as

atividades. Na unidade 9 e 10 também há somente poucas fórmulas de rotina

(¡Buenos días!; Sí, claro; Lo siento; ¡Hola!; ¡Felicidades!; ¡De maravilla!).

Na unidade 11 não há nenhuma UF. Já na 12, as fórmulas de rotina

(¡Vaya, hombre!; Qué tal?; ¡Sí, quiero!) continuam a se repetirem como nas

unidades anteriores. Nas unidades 13, 14 e 15 estão as seguintes fórmulas de

rotina: ¡Buenos dias!; Sí, claro; No, Lo siento; ¡Qué bonito!; Perdone; Por favor;

¡Buenas tardes!; Lo siento; Adiós; Muchas gracias; No, gracias.

Na unidade 16, em um fragmento de um texto do gênero histórias em

quadrinhos, encontramos algumas unidades fraseológicas como a fórmula de

saudação ¿Qué te pasa?, a locução adjetiva triste como um perro, fórmulas de

rotina como: ¡venga, hombre!; venga; vale; por favor e também o refrão ¡la vida es

bella!. Vejamos o fragmento da tirinha logo em seguida:

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Figura 5. Atividade da unidade 16, seção B do manual Español en Marcha A1+A2 (2007, p.137).

Na unidade 16 também encontramos em uma atividade que tem como

título !Que te mejores! Uma atividade, onde deve ser feita uma relação das fórmulas

de rotina (¡Que te mejores!, ¡Que tengas buen viaje!, ¡Que aproveche!, ¡Que seáis

felices!, ¡Que cumplas muchos más!) com suas respectivas imagens como “pretexto”

para introduzir o conteúdo gramatical presente do subjuntivo. Vejamos a atividade:

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Figura 6. Atividade do manual Español en Marcha A1+A2 (2007, p.138)

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Ainda na unidade 16, na parte destinada a Autoevaluación estão as

fórmulas de boa sorte: ¡Que te divirtas!, !Que descanses!, !Que tengas suerte! Em

uma atividade onde os alunos são orientados a ler a frase e completar.

Já na unidade 17 registramos as fórmulas de transição ¡Ah, muy bien!;

Bueno, pues; Pues, no sé e as fórmulas de abertura e encerramento: !Buenos dias!,

Hola!, Gracias. No que diz respeito à unidade 18 há somente a fórmula de transição

¿Ah. Sí?.

2.2.1.1.2 Análise do Español en macha B1

Em seguida, forneceremos a capa do manual Español en macha B1.

Figura 7. Capa do manual Español en macha B1 (2006).

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No manual Español en macha B1, não detectamos muita diferença do

A1+A2 em relação a sua organização. Ao longo de suas paginas registramos a

presença de algumas fórmulas de rotina. Essas fórmulas como vimos são

classificadas em fórmulas discursivas e psico-sociais, as quais se subdividem como

apresentaremos logo abaixo:

FÓRMULAS DE ROTINA ( manual Español en macha B1)

Fórmulas discursivas

Fórmula de saudação Fórmula de

encerramento

Fórmula de transição

Hola Adiós Bien

¡Buenos días! Hasta luego La veo muy seria

¿Qué tal estás? Hasta pronto No tengo ni Idea

¿Qué tal te va? Muchos besos No es raro

Un beso Por favor

Un abrazo Vale

Pues, nada

Oiga

Muy bien

¡ah!

Bueno

Tabela 1. Fórmulas discursivas ( manual Español en macha B1)

FÓRMULAS DE ROTINA ( manual Español en macha B1) Fórmula psico-social (fórmulas expresivas)

Fórmula de desculpa Fórmula de agradecimento

Fórmula de solidariedade

Perdone Gracias ¿Qué le pasa?;

Muy agradecido Lo siento

Qué pena Tabela 2. Fórmula psico-social ( manual Español en macha B1).

FÓRMULAS DE ROTINA ( manual Español en macha B1) Fórmula psico-social (fórmula directiva)

Fórmula de exortação Fórmula de informação

¡Qué vida! ¿A ti te cae bien?

¡Qué frio hace! Tabela 3. Fórmula psico-social ( manual Español en macha B1).

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Na segunda unidade deste, encontramos na parte dedicada à pronúncia

e à ortografia algumas UFs como: !Estupendo!, ¡No me digas!, ¡Enhorabuena!,

¡Cuánto tiempo sin verte!, ¡Ven aquí!, ¡Qué bonito!, ¡Eres genial!, ¡Estoy harta!,

¡Espérame!. Essas UFs são usadas em uma atividade para os alunos praticarem a

pronúncia, pois depois de ouvi-las, através do áudio de cd, os alunos são orientados

a repeti-las.

Em seguida, encontramos outras UFs como: !Qué pena!, ¡Qué barato!,

¡Estás tonto!, que aparecem em um exercício no qual os alunos escutam um áudio e

são orientados a escrever a pontuação de acordo com a entonação dos falantes do

áudio.

Na unidade 4, não encontramos nenhuma UF. Nas unidades 5 e 6,

também não há fraseologismos. De acordo com o visto, percebemos que não há a

intenção de se trabalhar as UFs, pois elas aparecem sempre com outras finalidades.

No final da unidade 7, na seção De Acá y de Allá, encontramos alguns

refrãos, que constituem outra subcategoria dos enunciados fraseológicos, como: a

quien madruga Dios le ayuda; a caballo regalado no le mires el diente; en boca

cerrada no entran moscas; cuando el río suena, agua lleva; más vale un pájaro en la

mano que ciento volando; muchos ruidos y pocas nueces; quien mal anda, mal

acaba; contigo, pan y cebolla, em uma atividade para serem relacionados por seus

significados, como vemos a seguir:

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Figura 8. retirada do manual Español en macha B1 (2007, p. 73).

Sevilla Muñoz e González Rodríguez (1994-1995) sugerem que, antes

de aplicarmos atividades, seja apresentado aos alunos à origem dos fraseologismos,

se possível, que as UFs sejam trabalhadas a partir de textos autênticos, pois seu

significado depende do contexto. Segundo estes autores devemos falar sobre seu

registro, freqüência e uso para depois realizarmos atividade com a finalidade de ver

se o aluno compreendeu e é capaz de usá-las e memorizá-las. Ruiz Gurillo (2000)

acrescenta que as UFs quando não são trabalhadas dentro de seus respectivos

contextos, o que dificulta a compreensão dos estudantes.

Com base na proposta didática dos referidos estudiosos, podemos dizer

que essa atividade é inadequada, pois não há nenhuma explicação para que o aluno

possa compreender os significados desses refrãos.

Na unidade 8 não há nenhuma UF. Na unidade 9, apenas há : ¡Vaya

susto! Na unidade 10, em um quadro, que tem como função apresentar as formas

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formais e informais de se fazer um pedido, intitulado Comunicación, encontramos as

UFs: Sí, como no; Sí, ahora mismo; Lo siento. Vejamos o quadro abaixo:

Figura 9. Manual Español en macha B1, unidade 10 seção B. (2008, p.99)

Na unidade 10 está a seguinte unidade fraseológica: estaba lloviendo a

cantaros. Ela é parte de um texto que serve como “pretexto” para uma atividade

auditiva na qual os alunos, depois de completarem os espaços do texto com

palavras de um quadro, escutem o áudio para confirmarem suas respostas.

Já na unidade 11 há a UF no lo sigo al pie de la letra, que está incluída

em um texto. Após a leitura deste, vem uma interpretação textual. Na unidade 12

encontramos somente a fórmula de solidariedade ou desculpa lo siento.

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2.2.1.1.3 Análise do Español en macha B2

Vejamos a imagem de sua capa logo abaixo:

Figura 10. capa do manual Español en macha B2 (2007).

Nas três primeiras unidades do manual Español en macha B2 não

encontramos fraseologismos. Na unidade 4 estão algumas UFs, ou seja, locuções

verbais como: hacer lo que me dé la gana, estar de morros, que fazem parte de uma

atividade auditiva, desenvolvida a partir de imagens de alguns casais que estão

juntos há mais de 50 anos. Vejamos a imagem logo em seguida:

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Figura 11. Imagens da unidade 4, seção B do manual Español en macha B2 (2007, p. 38).

Nesta atividade o aluno é orientado a buscar em dicionários o significado

das expressões para adiante relacionar seu significado com as frases. Vejamos o

exemplo

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Figura 12. Manual Español en macha B2 (2007, p.38).

Como vemos, as UFs são ensinadas, talvez, de forma “indutiva”, pois,

nesta unidade fazem parte de um exercício sem as devidas informações a respeito

delas, ou seja, falar de sua origem, significado, relacioná-las com sinônimos y

antônimos e, ou com a língua materna e somente depois aplicar atividades para

memorizá-las e aprender a usá-las naturalmente como sugere Sevilla Muñoz e

González Rodríguez (1994-1995).

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Quando as UFs deixam de ser ensinadas levando-se em conta uma

abordagem didática seu aprendizado torna-se difícil, assim como também sua

compreensão por parte dos alunos. Em relação à sugestão de buscar informações

nos dicionários sobre as UFs, dependendo do nível do aluno, entendemos que a

aprendizagem pode tornar-se ainda mais complexa, pois a inclusão das UFs nos

dicionários apresentam algumas dificuldades para os que não estiverem adaptados

ao uso das obras lexicográficas.

Ruiz Gurillo (2002) sugere uma atividade com o uso de dicionário, porém

nomeia o dicionário que o aluno deve buscar, para realizar sua pesquisa, dessa

forma direciona o aluno para encontra as devidas informações.

Além de orientar como a consulta deve proceder, solicita que se busque

mais de um dicionário e veja se as informações, trazidas por eles, é suficientes para

compreender e usar as UFs, feito dessa forma entendemos ser útil tal atividade.

Nas unidades 5, 6, 7, 8, 9 e 10 não identificamos a presença de

fraseologismos. Observamos ainda que o manual citado, B2, apresenta na sua

unidade 11, intitulada Animales, algumas unidades fraseológicas mais precisamente

locuções adjetivas, tais como habla como un loro, duerme como un león, fuerte

como un toro, intituladas como expressões idiomáticas, relacionadas com alguns

animais. Vejamos alguns exemplos:

Figura 13. Manual Español en macha B2 (2007, p. 106)

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Logo em seguida o aluno é orientado a responder uma simples atividade,

onde deve preencher os espaços com o nome do animal que vir em um desenho e

depois completar as frases com as UFs. Sem explicações sobre o tema, sem tão

pouco apresentar-lhe o contexto para ser usado adequadamente, como é sugerido

por Sevilla Muñoz e Gonzalez Rodriguez (1994-1995).

2.2.1.1.4 Discussão dos resultados da análise

No manual Español en macha A1+A2, observamos que seus conteúdos

são apresentados descontextualizados. São poucos os textos, seus conteúdos são

desenvolvidos a partir de imagens seguidas de pequenos exercícios. Uma melhor

opção seria desenvolver os conteúdos a partir de textos autênticos, pois segundo

Gómez Molina (2008) o Consejo de Europa recomenda “[...] eleger textos

autênticos, falados e escritos, e que deve se trabalhar todas as palavras que ele

contenha”. (GÓMEZ MOLINA, 2008, p. 797)74.

Em relação às UFs encontramos somente enunciados fraseológicos,

mais especificamente fórmulas de rotina, comprovando o que diz Ruiz Gurillo (2000)

que geralmente as fórmulas de rotina são encontradas nos manuais que têm como

base o enfoque nocio-funcional ou comunicativo, pois elas fazem parte das

fórmulas que usamos de modo já ritualizado para cumprimentar, saudar ou em

tantos outros momentos de nosso dia a dia quando interagimos com outras pessoas.

O manual Español en macha B1 segue a mesma estrutura do A1+A2,

pois apesar de encontrarmos alguns textos seus conteúdos continuam sendo

trabalhados descontextualizados. Neste manual, além das fórmulas de rotina, há a

presença de alguns refrãos em uma atividade da unidade 7, seção De acá y de Allá,

pois como acrescenta Ruiz Gurillo (2002) “[...] todo o trabalho referente a fraseologia

esta encaminhado a enumeração destas unidades, fundamentalmente locuções e

refrãos, sem aporte contextual sobre seu uso e sem definição” (RUIZ GURILLO,

74“[...] elegir textos auténticos, hablados y escritos, y practicar la enseñanza-aprendizaje de cuantas

palabras contengan” (GÓMEZ MOLINA, 2008, p. 797).

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2002, p. 260)75, no entanto podem servir de ponta pé inicial para o ensino das UFs,

caso os professores tenham interesse.

O manual Español en macha B2 traz nas unidades 4, na seção B, e 11,

seção A, algumas locuções verbais e adjetivas, assim como também várias

fórmulas de rotina. Embora deixando a desejar em relação à falta de

contextualização e as poucas informações referentes às UFs pois, “ [...] as UFs

aparecem nos textos que o aluno deve trabalhar ou em alguns contados exercícios,

circunstancia que não resulta em nenhum caso suficiente” (RUIZ GURILLO , 2002,

p. 260)76. Entendemos que este manual pode servir para apresentar as UFs,

inclusive relacionando as locuções nele apresentadas com as da língua portuguesa,

pois, por exemplo, as locuções verbais ver a vida de color de rosa é também

reconhecida pelos brasileiros assim como também as locuções adjetivas hablar

como un loro, ser fuerte como un toro, tener memoria de elefante e muitas outras.

Ao relacionar as UFs da língua estrangeira com as da língua materna dos alunos,

facilitamos sua compreensão e utilização das UFs na língua meta.

75“[...] toda la labor referente a la fraseología se encamina hacia una enumeración de estas unidades,

fundamentalmente locuciones o refranes, sin aporte contextual sobre su uso y sin definición” (RUIZ GURILLO, 2002, p. 260). 76

“[...] las unidades fraseológicas aparecen en los textos que el alumno debe trabajar o en algunos contados ejercicios, circunstancia que no resulta en ningún caso suficiente” (RUIZ GURILLO, 2002, p. 260).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final da presente pesquisa, podemos responder aos dois

questionamentos que deram partida aos estudos empreendidos em torno da

fraseologia espanhola. Sobre o primeiro questionamento: a) Quais os principais

desafios teóricos e práticos dos estudos fraseológicos para o ensino de espanhol

como língua estrangeira?, concluímos que a falta de consenso entre os estudiosos

da área quanto à definição e classificação das unidades fraseológicas, constitui um

dos grandes desafios nesta área de estudo. Apesar disso, as teorias citadas ao

longo deste trabalho, sobretudo no capítulo1, dão conta de nomear e classificar as

UFs, seja Ruiz Gurillo (1997) com sua teoria estreita ou Corpas Pastor (1996) com

sua teoria extensa, pois são estudos transparentes bem fundamentados. Podemos

citar ainda outras teorias como, por exemplo, as de Zuluaga (1980) e Tristá Pérez

(1979-1980) que também são referência para os estudiosos dos fraseologismos.

No que diz respeito à prática, verificamos que são poucos os manuais

didáticos que contemplam os fraseologismos e, mesmo assim, os que o fazem

deixam muito a desejar em relação ao modo como o tema é apresentado aos

alunos. Com base nos estudos realizados, pudemos concluir que há uma infinidade

de publicações, resultado das pesquisas que buscam soluções para as dificuldades

encontradas para o ensino aprendizado das UFs.

Quanto ao segundo questionamento: b) Quais os principais estudos

teóricos e práticos atualmente realizados na Espanha acerca do fenômeno

fraseológicos?, verificamos que existem alguns trabalhos que tentam relacionar

teoria e prática. Por exemplo, Sevilla Muñoz e González Rodríguez (1994-1995),

Ruiz Gurillo (2000, 2001, 2002) e Penadés Martinez (1999) fornecem ricas propostas

didáticas para se explorar os fraseologismos em aulas de espanhol. Baseamo-nos

em suas propostas para a análise dos manuais Español en macha A1+A2, B1 e B2.

Como resultado desta análise, observamos que seus conteúdos são trabalhados a

partir de imagens e em sua maioria com pequenos diálogos, o contrário do que

recomenda o Marco Común Europeo de Referencia, no que diz respeito ao ensino

de espanhol como LE.

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É importante acrescentar ainda que a presença de unidades

fraseológicas nestes manuais de E/LE deixam muito a desejar, pois as poucas UFs

que são contempladas por eles são apresentadas aos alunos de forma “indutiva”,

sem nenhuma explicação sobre o tema, sua origem, significado e contexto de uso.

De acordo com o visto em nossa pesquisa, podemos ressaltar que a

Fraseologia é uma ciência que vem dialogando com outras tantas, como já

mencionamos, e que dispomos de teorias e um leque de propostas didáticas, não

menos consistentes que as teorias, que servem de norte para que os interessados

em trabalhar com as unidades fraseológicas possam realizar suas pesquisas e/ ou

colocá-las em prática nas aulas de línguas, embora seja simplória sua presença nos

manuais de E/LE.

Nos manuais analisados, registramos em sua maioria os enunciados

fraseológicos, mais especificamente as fórmulas de rotina nos três volumes, assim

como também refrãos no B1 e algumas locuções verbais e adjetivas no manual B2.

Verificamos ainda que a inclusão dessas unidades fraseológicas é realizada de

forma descontextualizada, a partir de atividades e imagens o que dificulta o

aprendizado desses fraseologismos.

Como sugestão para futuros trabalhos, propomos a elaboração de

atividades didáticas a partir de unidades fraseológicas tendo como base os textos

literários, fonte inesgotável de possibilidades para esse fim.

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ANEXOS

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Anexo 01. Esquema de fixação e idiomaticidade de Corpas Pastor (1996)

ESQUEMADE FIXAÇÃO TEORIA DE CORPAS PASTOR (1996)

Material

Fixação interna

De Conteúdo

Institucionalização

Situacional

Fixação externa Analítica

Pasemâtica

ESTABILIDADE Posicional

Especialização semântica

Lexicalização

ESQUEMA IDIOMATICO TEORIA DE CORPAS PASTOR (1996)

Literal

SIGNIFICADO DENOTATIVO

Figurado

Translatício (idiomático)

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Anexo 02. Teoria de Julio Casares (1950[1969])

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Anexo 03. Teoria de Ruiz Gurillo (19970

Teoria de Ruiz Gurillo (1997)

Núcleo

Locuções totalmente fixas e

idiomáticas com palavras

diacríticas e/ou anomalias

estruturais;

Locuções totalmente fixas e

idiomáticas;

Locuções semi-idiomáticas;

Locuções escassamente

idiomáticas;

Locuções fixas;

Locuções meramente fixas;

Locuções fixas em diversos

graus.

Zona de transição

Locuções com variantes

Periferia

Locuções com casinhas vazias;

Criações locucionais analógicas;

Esquemas fraseológicos;

Unidades sintagmáticas verbais;

Colocações.

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Anexo 04. Teoria de Corpas Pastor (1996)

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