reflexão e comunicação contributo para o desenvolvimento … · relatório de estágio...

236
Reflexão e Comunicação Contributo para o Desenvolvimento Profissional Relatório de Estágio Profissional Relatório de Estágio Profissional apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário ao abrigo do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e do Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro. Orientador: Dr. Tiago Manuel Tavares de Sousa César José Moreira Barros Porto, setembro de 2012

Upload: vonhu

Post on 10-Feb-2019

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Reflexão e Comunicação –

Contributo para o Desenvolvimento

Profissional

Relatório de Estágio Profissional

Relatório de Estágio Profissional apresentado

com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos

conducente ao grau de Mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário ao abrigo do Decreto-lei nº

74/2006 de 24 de março e do Decreto-lei nº

43/2007 de 22 de fevereiro.

Orientador: Dr. Tiago Manuel Tavares de Sousa

César José Moreira Barros

Porto, setembro de 2012

II

Ficha de Catalogação

Barros, C. (2012). Reflexão e Comunicação – Contributo para o

Desenvolvimento Profissional: Relatório de Estágio Profissional. Porto: C.

Barros. Relatório de Estágio Profissional para a obtenção do grau de Mestre

em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado

à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO FÍSICA, ENSINO-APRENDIZAGEM,

ESTÁGIO PROFISSIONAL, RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO, REFLEXÃO.

III

“Hoje aconteceu a nossa última aula com o nosso professor César Barros. Ao

longo deste ano letivo conhecemos uma pessoa que nos mostrou que a

Educação Física não é uma aula secante como as outras (…).

Nós não temos palavras para exprimir os nossos sentimentos por si. Desde o

dia 21 de setembro que (…) tem demonstrado que é uma pessoa fantástica e

(…) que entrou nas nossas vidas e vamos sempre lembrá-lo.

Vamo-nos lembrar daquela pessoa que comia bananas antes e depois das

aulas de Educação Física. Da sua forma de estar, (…) da sua forma de agir e

da sua forma de cantar e tocar guitarra.

Vamo-nos lembrar dos almoços fantásticos e divertidos, e da maneira como

gosta de competir até mesmo quando está a comer.

Além de ser um professor é um grande amigo que queremos preservar e ter

para toda a vida e vamos relembra-lo aos nossos filhos (se tivermos).

Nunca nos vamos esquecer do evento culminante, em que apesar dos

vencedores, achamos que todos ficamos a ganhar não só experiência mas

também companheirismo e cooperação, e claro que vamos guardar os

equipamentos para mais tarde recordar. Nunca nos esqueceremos do vídeo

que mostramos nessa altura e que o deixou comovido (apesar de conter as

lágrimas).

(…) Adoramos o passeio organizado por si e pelos outros professores de

Educação Física.

OBRIGADO POR TUDO O QUE FEZ POR NÓS!

AGRADECEMOS DO FUNDO DO CORAÇÃO”

(Carta de despedida do 9ºD, 6 de junho de 2012)

V

DEDICATÓRIA

Dedico este relatório à minha FAMÍLIA, em especial ao meu pai, à minha

mãe e à minha irmã, porque foram e são os pilares, não desta aventura, mas

de toda a minha vida.

À gente que se cruzou comigo ao longo destes 24 anos de existência e

que contribuiu para o processo (inacabado) de formação do meu ser.

A mim, porque… Estou de parabéns!

VII

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha FAMÍLIA por tudo o que me deu e continua a dar. Por

todos os sacrifícios que fez para me proporcionar esta oportunidade. Um

especial agradecimento ao meu pai, à minha mãe e à minha irmã! O que sou

devo-o a eles.

Aos AMIGOS que me acompanharam durante este 2º ciclo de estudos

(Ana C., Anabela, Joana M., Joana S., Paulinha, Rui, Sandra, Sylvia e Teresa)

e aos AMIGOS para a vida que fiz durante o 1º ciclo de estudos e que

SEMPRE me acompanharam em aventuras inesquecíveis (Baquetas, Bem,

Gustavo, Meira, Pedro, Rebelo e Xinês).

Aos AMIGOS de outras histórias (Andreia Patrícia, Hélder, Lígia, Pedro

Daniel, Rui, Wilson, aos Magníficos, aos Grandiosos e ao BDF).

Ao professor orientador da faculdade, Tiago Sousa, pela disponibilidade,

apoio e partilha que me ofereceu e por todos os seus ensinamentos que

partilhou ajudando-me em todas as fases deste caminho.

Ao professor cooperante, Fernando Vaz, por me ter dado a possibilidade

de arriscar e por ter sido o exemplo que eu necessitava, tendo-me ajudado a

moldar um pouco à sua imagem.

Ao meu núcleo de estágio, Berto, Felicia e Vítor, que por todo o

companheirismo demonstrado durante este ano letivo se transformaram em

verdadeiros amigos.

À Escola Básica 2,3 da Sobreira e aos seus intervenientes,

principalmente aos professores do grupo de Educação Física que me

acolheram e ajudaram a proporcionar esta rica experiência.

VIII

Ao 9ºD, por terem sido únicos do primeiro ao último dia. Nunca vos

esquecerei!

Ao 7ºD, por me terem “adotado” com facilidade e aos restantes alunos

da escola, em particular ao PP1 e ao 9ºC por terem sido presenças constantes

durante este ano letivo.

A todos aqueles que ao longo dos últimos anos foram treinados por mim.

Vocês foram as primeiras cobaias deste processo.

A todos os amigos que conheci até hoje no balneário como jogador de

FUTEBOL.

Por fim, deixo um agradecimento mais platónico a um conjunto de

pessoas que involuntariamente me acompanhou durante a elaboração deste

relatório: Damien Rice, James, Muse, Pearl Jam, Queen, Radiohead e Sigur

Rós.

Este resultado não é meu, é NOSSO!

IX

ÍNDICE GERAL

DEDICATÓRIA ................................................................................................... V

AGRADECIMENTOS ....................................................................................... VII

ÍNDICE GERAL ................................................................................................. IX

ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................... XIII

ÍNDICE DE ANEXOS ...................................................................................... XV

RESUMO....................................................................................................... XVII

ABSTRACT .................................................................................................... XIX

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................... XXI

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 3

2. DIMENSÃO PESSOAL................................................................................... 9

2.1. O Meu Percurso ....................................................................................... 9

2.2. Expectativas em relação ao Estágio Profissional ................................... 15

3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA .............................................................. 25

3.1. Ensino: Dicotomia entre a Sorte e o Mérito ............................................ 25

3.2. A Realidade de um País à Beira Mar ..................................................... 26

3.3. O Estágio Profissional do Ponto de Vista Legislativo ............................. 28

3.4. Uma Gota no Meio de um Imenso Mar .................................................. 29

3.5. Sobreira, um túnel com necessidade de luz .......................................... 32

3.6. A Importância do Planeamento .............................................................. 41

3.7. Conhecer, ensinar, aprender e reconhecer PRÓXIMO do 9ºD .............. 43

3.8. A Motivação do Professor como catalisador do Empenho da Turma..... 50

3.9. O Bom Professor .................................................................................... 55

3.10. Refletir Transformando a Ação ............................................................ 58

X

3.11. Avaliação – um processo útil devido à sua complexidade ................... 60

3.12. Modelos Instrucionais (Instrução Direta, Desenvolvimental, Educação

Desportiva) .................................................................................................... 64

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ............................................. 69

4.1. Área 1: Organização e Gestão do Processo de Ensino e da

Aprendizagem ............................................................................................... 69

4.1.1. Um Mundo por Descobrir: Necessidade de Adaptação ................... 69

4.1.2. Planear para a ação ......................................................................... 71

4.1.2.1 Planeamento (Anual, UT e Aula) ................................................... 72

4.1.3. Aplicando a Teoria – Realização ..................................................... 76

4.1.3.1. A Selva de Aula ......................................................................... 76

4.1.3.2. O Problema das Dispensas ....................................................... 79

4.1.3.3. A Gestão da Aula ...................................................................... 84

4.1.3.3.1. Atrasos dos alunos .............................................................. 84

4.1.3.3.2. A utilização de “capitães” .................................................... 85

4.1.3.3.3. Organização dos Alunos através de diferentes Níveis de

Desempenho Motor ............................................................................. 86

4.1.3.3.4. A Gestão dos Espaços ........................................................ 88

4.1.3.3.5. A Ativação Geral ................................................................. 89

4.1.3.4. A Importância da Instrução ........................................................ 90

4.1.3.5. A Necessidade de Ajustamento ................................................. 91

4.1.3.6. A Competição como Fator Motivador para as Aulas de EF ....... 94

4.1.3.7. Motivar os Alunos através da Utilização de novos materiais ..... 95

4.1.3.8. Comunicação Professor-Aluno: A Proximidade como Base da

Afetividade .............................................................................................. 97

4.1.3.9. A Observação das Aulas ......................................................... 100

XI

4.1.3.10. Unidade Temática de Voleibol (9ºD) – Uma visão através do

Modelo de Educação Desportiva .......................................................... 104

4.1.3.11. Unidade Temática de Badminton (7ºD) – Um Modelo Híbrido

............................................................................................................. 114

4.1.3.12. Estudo: “Hábitos de Higiene na Aula de Educação Física: o

caso específico do duche” .................................................................... 121

4.1.4. Avaliar em Situação Real ............................................................... 148

4.2. Área 2 e 3: Participação na Escola e Relações com a comunidade .... 154

4.2.1. Ser Professor Fora de Aulas .......................................................... 154

4.2.1.1. Jogos de Futsal: professores vs alunos .................................. 155

4.2.1.2. Feira de S. Martinho ................................................................ 156

4.2.1.3. Dia da Dança ........................................................................... 157

4.2.1.4. Mega atleta – Fase Escola ...................................................... 158

4.2.1.5. Encontro Nacional de Educação Moral Religiosa e Católica

(EMRC) ................................................................................................ 159

4.2.1.6. Dia da Caminhada – 8º ano ..................................................... 160

4.2.1.7. Feira do Final de Ano Letivo .................................................... 161

4.2.1.8. Restauração das balizas de Orientação .................................. 161

4.2.2. A Direção de Turma ....................................................................... 162

4.2.3. O Desporto Escolar (DE) ............................................................... 164

4.2.4. O Corta-Mato Escolar .................................................................... 168

4.2.5. Atividade “Vídeo Games” ............................................................... 171

4.2.6. A Taça Coca-Cola .......................................................................... 173

4.2.7. Futebol na Formação ..................................................................... 179

4.2.8. Passeio à FADEUP e ao Estádio do Dragão ................................. 182

4.2.9. Vigilância do Teste Intermédio de Matemática .............................. 182

4.3. Área 4: Desenvolvimento Profissional: ................................................. 185

XII

4.3.1. Licença para Estudar ..................................................................... 185

4.3.2. A Importância de um Diário ........................................................... 191

4.3.3. Diferentes: um medo transformado em paixão .............................. 193

4.3.4. O Resultado do Processo .............................................................. 197

5. CONCLUSÃO E PERSPETIVAS DE FUTURO .......................................... 201

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 205

7. ANEXOS ................................................................................................... XXV

XIII

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Caraterização da amostra de acordo com o ano letivo. .............. 127

Quadro 2 – Respostas à questão 3.2 “Porque não tomas banho depois das

aulas de EF?”. ................................................................................................ 133

Quadro 3 – Outras razões apontadas à questão 3.2 “Porque não tomas banho

depois das aulas de EF?”. .............................................................................. 133

Quadro 4 – Respostas dos alunos à questão 3.5 “Que cuidados de higiene

tens depois de uma aula de EF em que não tomas banho?”.Erro! Marcador

não definido.

Quadro 5 – Percentagem dos alunos que tomam banho depois das aulas de

EF de acordo com o seu ano letivo. ............................................................... 136

Quadro 6 – Respostas dos alunos do sexo masculino e feminino à questão 3.2

“Porque não tomas banho depois das aulas de EF?”. ................................... 136

Quadro 7 – Alunos que tomam banho depois da aula de EF. ....................... 137

XV

ÍNDICE DE ANEXOS

7.1. - Anexo 1 – Inquérito utilizado no estudo “Hábitos de Higiene na Aula de

Educação Física: o caso específico do duche” ........................................... XXV

XVII

RESUMO

O Estágio Profissional é a parte final do processo de formação que

ocorre ao longo do 2º ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico

e Secundário. Ao longo do mesmo, existe a possibilidade de colocar em prática

todos os conhecimentos adquiridos até então.

Este processo decorreu na Escola Básica 2,3 de Sobreira, onde

juntamente com o Carlos Pinto, Filipe Felicia e Vítor Queirós, constituímos o

núcleo de estágio. O mesmo era permanentemente acompanhado pelo

professor cooperante, Fernando Vaz, e pelo professor orientador, Tiago Sousa.

Este documento está dividido em cinco capítulos. No primeiro capítulo

encontra-se a “Introdução”. No segundo capítulo “Dimensão Pessoal” faço uma

apresentação do meu percurso de vida e refiro as minhas expectativas,

objetivos e receios para este Estágio Profissional. No terceiro capítulo realizo o

“Enquadramento da Prática Profissional” onde apresento teoricamente todas as

envolventes desta experiência. O quarto capítulo “Realização da Prática

Profissional” organiza-se segundo áreas, sendo a Área 1 – Organização e

Gestão do Ensino e da Aprendizagem, a Área 2 e 3 – Participação na Escola e

Relações com a Comunidade e, por fim, a Área 4 – Desenvolvimento

Profissional. Este capítulo está constantemente fundamentado pela reflexão

das práticas que eu ia fazendo ao longo do Estágio Profissional no Diário de

Bordo. É também apresentado neste capítulo o estudo: “Hábitos de Higiene na

Aula de Educação Física: o caso específico do duche”. Por fim, no quinto

capítulo “Conclusão e Perspetivas de Futuro” finalizo este relatório,

considerando aquilo que o futuro me possa reservar.

Todos os momentos vividos nesta aventura foram envolvidos em

constantes práticas reflexivas e numa relação próxima entre professor e

alunos. Esses dois aspetos caraterizam e oferecem sabor a uma experiência

inesquecível e que foi o mais pessoal possível.

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO FÍSICA, ENSINO-APRENDIZAGEM,

ESTÁGIO PROFISSIONAL, RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO, REFLEXÃO.

XIX

ABSTRACT

The Practicum Training is the final part of the training process that occurs

during the Physical Education Teacher's Learning. Along the same, there is the

possibility of putting into practice all the knowledge acquired so far.

This process resulted in EB 2,3 Sobreira, in a practicum training group

formed with me, Carlos Pinto, Filipe Felicia and Vítor Queirós. The same was

under permanently monitoring by the cooperating teacher, Fernando Vaz, and

by the supervising teacher, Tiago Sousa.

This document is divided in five chapters. In the first chapter is

"Introduction". In the second chapter "Personal Dimension" is made a

presentation of my life course and i refer my expectations, goals and fears for

this stage. In the third chapter I realize the "Professional Practice Framework"

where I present the theory surrounding this experience. The fourth chapter

"Professional Practice Implementation" is organized by areas, being: Area 1 -

Teaching and Learning organization and management, Area 2 and 3 -

Participation in School and Community connections, and finally, Area 4 -

Professional development. This chapter is continuously supported by the

reflections of the practices that I was doing in the logbook. It is also presented in

this chapter the study: "Hygiene Habits in Physical Education Class: the case of

the shower”. Finally, in the fifth chapter "Conclusion and Future's Prospects" i

finalize this report, considering what the future may hold to me.

All the moments of this adventure were involved in constants reflexive

practices and in a closer teacher-student relationship. These two aspects were

fundamental to a personal unforgettable experience.

KEY WORDS: PHYSICAL EDUCATION, TEACHING AND LEARNING,

PRACTIUM TRAINING, TEACHER-STUDENT’ RELATIONSHIP,

REFLECTION.

XXI

LISTA DE ABREVIATURAS

CEF – Cursos de Educação e Formação de Jovens

DE – Desporto Escolar

DB – Diário de Bordo

DT – Diretor(a) de Turma

EB 2,3 de Sobreira – Escola Básica do 2º e 3º ciclo de Sobreira

EF – Educação Física

EP – Estágio Profissional

FB – Feedback

GEF – Grupo de Educação Física

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

MD – Modelo Desenvolvimental

MED - Modelo de Educação Desportiva

MID – Modelo de Instrução Direta

NEE – Necessidades Educativas Especiais

NE – Núcleo de Estágio

PC – Professor Cooperante

PO – Professor Orientador

UT – Unidade Temática

1. INTRODUÇÃO

3

1. INTRODUÇÃO

O presente documento foi elaborado no âmbito da unidade curricular

Estágio Profissional (EP) I e II, do 1º e 2º semestres do 2º ciclo de estudos,

conducente ao grau de Mestre de Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

O Estágio Profissional decorreu na Escola Básica do 2º e 3º Ciclo da

Sobreira situada no concelho de Paredes, distrito do Porto. O núcleo de estágio

era formado por mais três elementos, Carlos Pinto, Filipe Felicia e Vítor

Queirós, tendo o mesmo sido acompanhado pelo professor cooperante,

Fernando Vaz e pelo professor orientador, Tiago Sousa.

O EP é a fase final do processo de formação legal do professor. Surge

após um vasto leque de unidades curriculares teóricas que possibilitam a

aquisição de pilares fundamentais (conhecimentos) para a realização das

tarefas pedidas. Digo também que esta fase é “a fase final do processo de

formação legal do professor”, porque de facto, o professor nunca estará

perfeitamente formado. Existe uma necessidade óbvia de constante formação e

desenvolvimento do professor de forma a dar resposta a todas as situações na

realização da sua prática.

O EP surge como uma fase de integração do estudante-estagiário na

realidade escolar através de uma prática de ensino supervisionada. Nesta fase,

prevê-se que o estudante-estagiário possa acompanhar uma turma da escola,

realizando todas as tarefas inerentes à mesma. Durante o ano letivo 2011/2012

tive o prazer de acompanhar o 9ºD, tendo esta sido a minha maior componente

de experimentação. Tive também a possibilidade de durante o 3º período

lecionar uma Unidade Temática à turma 7ºD, o que me trouxe ganhos extra ao

longo desta fase de formação.

Pretende-se então que o estudante-estagiário possa desenvolver um

conjunto de competências profissionais que o tornem num sujeito reflexivo,

capaz de responder a cada situação. Para isso, decidi criar um Diário de Bordo

que foi o meu acompanhante de todos os momentos vividos neste ano letivo.

Foi o local onde escrevi as minhas mágoas e derrotas, o local onde repensei

4

estratégias, onde atingi as primeiras e tão saborosas vitórias no processo de

ensino-aprendizagem posto em prática. Foi o local onde me felicitei por boas

estratégias e também onde me critiquei por outras menos conseguidas. Foi

também lá que ia fazendo a momentos reflexões esporádicas do

funcionamento da vida na escola. Lá fundamentei os meus planeamentos e

avaliações. E também foi nesse local que descrevi atividades nas quais

participei. Lá partilhei cada situação e momento vivido no EP. Através dele me

fui tornando cada vez mais e mais reflexivo. A decisão de criar este Diário

passou por mim. Não fui obrigado a fazê-lo, mas para quem estiver a ler este

documento e esteja prestes a entrar no seu EP, um conselho: cria o teu Diário

de Bordo. É trabalhoso, mas atingirás um estado de desenvolvimento

profissional que sem o mesmo te escapará.

Quer-se que este relatório seja um documento, também ele reflexivo

tendo em conta o caminho que se percorreu. De certa forma, pretende-se que

este documento seja escrito em tons de reflexão final, onde procuro resumir o

trabalho desenvolvido ao longo do EP e de que forma este contribuiu para o

meu desenvolvimento profissional. Torna-se então óbvio que este é um

documento pessoal, escrito na primeira pessoa, centrado nas minhas

aprendizagens e nos momentos mais marcantes do EP. Torna-se então

imperativo fundamentar as minhas opiniões com as reflexões realizadas no

Diário de Bordo e também com outras realizadas no decorrer da elaboração

deste relatório.

Durante o ano letivo, muitos foram os momentos marcantes e por tanto

tornou-se um pouco complicado resumir tudo isso num documento. Ao longo

do mesmo utilizo uma grande variedade desses momentos, e de certa forma

me ia empolgando à medida que os ia expondo. Peço, então desculpa se

nalguns momentos do relatório, me estendo demasiado na descrição e reflexão

desse episódios, mas o prazer que tinha enquanto os relembrava impediu-me

de ser mais sucinto. A linguagem que tento utilizar ao longo deste documento,

não sendo brejeira, de forma a facilitar a comunicação, tenta criar uma relação

próxima com o leitor, um pouco à imagem da relação que procurei manter com

os alunos.

5

Este documento está organizado em diferentes capítulos, sendo que o

primeiro se refere à “Introdução”, onde são feitas breves considerações acerca

do relatório de estágio.

No segundo capítulo “Dimensão Pessoal” faço uma apresentação do

meu percurso de vida e refiro as minhas expectativas, objetivos e receios para

este Estágio Profissional.

No terceiro capítulo realizo o “Enquadramento da Prática Profissional”

onde apresento teoricamente todas as envolventes desta experiência. Reflito

acerca do Ensino em Portugal, sem esquecer de o contextualizar à escola e à

zona que me acolheu. Reflito também acerca do contexto legal e institucional

do EP. Também aqui sublinho a importância do planeamento, da motivação do

professor, das caraterísticas do bom professor, da reflexão e da avaliação.

Ainda neste capítulo, sustento aquele que foi o maior guia de todo o meu

desempenho, a busca por uma proximidade na relação entre o professor e os

alunos.

O quarto capítulo “Realização da Prática Profissional” organiza-se

segundo áreas, sendo a Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem, a Área 2 e 3 – Participação na Escola e Relações com a

Comunidade e, por fim, a Área 4 – Desenvolvimento Profissional. Neste

capítulo faço uma retrospeção acerca de tudo o que foi concebido, planeado,

realizado e avaliado ao longo do ano. Tudo isso é constantemente

fundamentado pela reflexão das práticas que eu realizei ao longo do Estágio

Profissional no Diário de Bordo. É também apresentado neste capítulo o estudo

que desenvolvi sobre a temática “Hábitos de Higiene na Aula de Educação

Física: o caso específico do duche”, que era algo que me trastornava desde o

primeiro dia.

Por fim, no quinto capítulo “Conclusão e Perspetivas de Futuro” finalizo

este relatório, tentando perspetivar os resultados deste processo e de que

forma me poderão ser úteis no futuro.

2. DIMENSÃO PESSOAL

9

2. DIMENSÃO PESSOAL

2.1. O MEU PERCURSO

“se faz caminho ao andar”

(Antonio Machado1, s.d.)

A minha grande paixão é o Desporto. Suar através do esforço físico é

um dos maiores prazeres que a vida me oferece. Apesar da minha prática

desportiva federada não se ter iniciado muito cedo, digo isto com base na

realidade atual, onde frequentemente se veem miúdos com 4 e 5 anos a entrar

para as pré-escolas dos clubes, toda a minha infância foi passada com jogos

de rua, onde correr, saltar e lançar faziam parte dos meus dias. Devo ter

repetido tantas vezes essas ações, que agora sinto uma certa necessidade de

as realizar, como se de um vício se tratasse.

Tal como muitas outras crianças nascidas numa zona rural, cheia de

espaços amplos e com um vasto grupo de amigos, as atividades físicas e

desportivas assumiram uma acentuada importância na minha infância, bem

como realça Medeiros (2003). A mesma autora parece relatar a minha infância

quando diz que as atividades físicas e desportivas são importantes no

desenvolvimento pessoal e social das crianças jovens. Tive a sorte de poder

crescer junto de imensas pessoas da mesma idade. Para interagirmos

utilizávamos os jogos e com isso, saltar, pular e lançar tornaram-se parte

integral do meu crescimento. Numa fase mais adiantada da minha

adolescência, foi curioso ver grande parte dos meus amigos afastarem-se

destes jogos desportivos, trocando-os por outros meios de socialização. No

entanto eu continuei apaixonado pelo prazer que as mais diversas sensações

desportivas me ofereciam. Ao longo deste período tive de ser capaz de

partilhar com os meus amigos, tive de aprender a respeitar aqueles que eram

mais velhos e quando me tornei mais velho, fui respeitado pelos mais novos.

Ainda agora quando os mesmos amigos se juntam para uma partida de futebol,

1 Informação recolhida do site: http://blogs.utopia.org.br/poesialatina/cantares-antonio-

machado/

10

no campo onde sempre jogamos, aos poucos, miúdos mais novos se

aproximam para ver o jogo e é curioso sentir que sou admirado por alguns.

Esse sinal de respeito e admiração que as pessoas tinham por mim, mesmo

quando eu era adolescente, fez de mim uma pessoa mais responsável e que

deveria ponderar com mais profundidade nas ações antes de as tomar. Penso

que todas estas situações contribuíram para a minha forma de “ser” professor.

Sinto que sou capaz de agir com ponderação, merecer o respeito e admiração

em mim depositados e sou capaz de confiar em quem confia em mim, para

além de nunca evitar um ambiente mais divertido onde todos são capazes de

ter o seu espaço e de aproveitar cada momento.

Por volta dos 7 anos comecei a jogar futebol no clube da terra (Futebol

Clube Cete) ainda que de forma não federada, uma vez que a equipa apenas

se organizava para disputar torneios de Verão. Mais tarde, surgiu a

possibilidade de me federar e aos 9 anos fui para o Futebol Clube Penafiel.

Como no 5º ano escolar fui estudar para a Escola Básica 2,3 de Paredes, e por

ter mais facilidades de transporte, os meus pais decidiram colocar-me a jogar

no União Sport Clube Paredes. Por lá passei vários anos, até que no escalão

de Iniciados, decidi abandonar equivocamente a equipa, após num jogo ter

entrado apenas nos últimos 15 minutos. Essa decisão foi tomada de forma

precipitada, mas como nunca tinha idealizado seguir carreira profissional como

jogador de Futebol, acabou por não ser um choque tremendo para mim. No

entanto, o “bichinho” da bola continuou em mim e um ano após ter

abandonado, com 14 anos, fui convidado a integrar a equipa sénior da minha

localidade, na altura Associação Recreativa de Cete. Apesar da equipa não ser

federada, por lá continuei vários anos, entre os quais houve uma alteração do

nome da equipa (passando-se a chamar Centro Cultural de Cete). No meu

último ano de júnior aceitei o convite para jogar, novamente como sénior numa

equipa que disputava o campeonato amador de Paredes (União Cetense).

Quando finalmente tive idade de sénior, e apesar de ter pouca experiência a

nível federado, já tinha 4 anos de experiência nesse escalão e sempre a jogar.

Isso fez-me crescer bastante a nível futebolístico, mas principalmente a nível

social, uma vez que, no balneário, estava em contato frequente com colegas de

11

equipa mais velhos, que tinham temas de conversa diferentes dos meus, o que

me fez crescer um pouco precocemente em termos de mentalidade. Depois

nos meus primeiros dois anos de sénior joguei na equipa Lusitano Clube

Retorta que disputava o campeonato amador de Penafiel e onde eu já tinha

responsabilidades de capitão. Depois disso voltei ao futebol federado, tendo

regressado por dois anos ao clube da minha terra Futebol Clube de Cete

disputando a 2ª divisão distrital da Associação de Futebol do Porto, onde mais

uma vez enverguei a braçadeira no 2º ano. Este ano aceitei uma proposta mais

séria, onde jogo no Sport Clube Nun’Álvares na Divisão de Honra do Porto,

estando até ao momento a ser uma experiência positiva.

Ao longo de todo este percurso, como referi tive o privilégio de ser

capitão em vários clubes. Essa é uma função que acarreta uma grande

responsabilidade e que acrescentou algo à minha personalidade e

posteriormente ao meu “ser” professor. A partilha, a superação, o sentido de

justiça e de rigor, o cumprimento de regras, o espírito de grupo, a capacidade

de ajuda são todas características de um jogador de futebol que normalmente

se querem sublinhadas num capitão. Talvez por alguns dos meus treinadores

identificarem algumas delas em mim fui escolhido. Essas características

pessoais mantêm-se em mim e imagino-as naqueles que é o docente que eu

pretendo ser.

Quanto ao meu percurso enquanto treinador, no ano 2007 fui treinador

principal da seleção da freguesia de Cete no torneio de futebol de 5 sub-12

realizado pela câmara de Paredes. Em 2009 assumi o comando técnico da

equipa de pré escolas do União Sport Clube de Paredes (“Os Laranjinhas”),

cargo que abandonei neste início de ano letivo. Em 2010 conciliei as funções

de treinador nos Laranjinhas, com o cargo de treinador adjunto no escalão de

iniciados do Futebol Clube de Cete e, em Dezembro desse ano, assumi o

comando dos juniores do Futebol Clube de Cete até ao final da época, tendo

esta sido a experiência mais gratificante e desafiadora que eu já tive como

responsável técnico, uma vez que era uma equipa com miúdos pouco mais

novos que eu, alguns eram meus amigos (todos ficaram meus amigos), o clube

passava imensas dificuldades e eu para além de treinador, era treinador

12

adjunto, treinador de guarda-redes, preparador físico, diretor, roupeiro e

massagista. Apesar de ter sido uma tarefa trabalhosa, agora que olho para trás

sinto-me imensamente orgulhoso pelo que fui capaz de fazer, tanto a nível

individual, como no coletivo, passando pelos aspetos desportivos e sem nunca

esquecer o fundamental, a formação pessoal de cada jovem. Esta época tenho

a função de treinador principal da equipa sub-10 do Sport Clube Nun’Álvares.

Liderança, gestão de indivíduos, capacidade de adaptação, criatividade

entre muitas outras características são fundamentais para um treinador. Como

tal, ao longo da minha experiência nessa função tive que as adquirir. Se no

caso de algumas foi mais fácil por ter um potencial maior para elas, noutras

como a capacidade de adaptação ou a gestão de indivíduos, tive a

necessidade de me aprofundar nesses campos. Assim, grande parte daquilo

que um professor necessita ser e ter, eu por intermédio do “ser” treinador já

consegui atingir esses estados. É claro que muito mais ainda há para

desenvolver, a formação é um processo contínuo, mas sinto que a base já

estava cá e graças a isso, alguns problemas iniciais foram superados.

No que diz respeito a outras modalidades desportivas, apesar de já ter

praticado inúmeras, umas num nível mais lúdico e outras num nível mais

organizado (Voleibol, Basquetebol, Andebol, Futsal, Natação, Atletismo:

velocidade e meio fundo, BTT, Bodyboard, Escalada, Squash, Ténis, Ténis de

mesa, Natação, Kinball e Tiro ao Arco) não me federei em mais nenhuma para

além do futebol.

Quanto ao percurso académico, após ter concluído o 4º ano de

escolaridade na Escola das Lajes em Cete, estive, como já disse, entre o 5º e o

9º ano na Escola Básica 2,3 de Paredes. No 10º ano fui para a Escola

Secundária de Paredes para o agrupamento científico-natural.

Durante este percurso escolar, convivi com diferentes professores, e tive

bons e maus professores. O gosto é pessoal, e o facto de eu gostar de um

professor não quer dizer que toda a minha turma tenha que gostar do mesmo.

No entanto, no final de tudo isso, quando se recorda com calma os

professores, vemos que alguns foram melhores do que outros. Porquê? Porque

aprendemos mais com eles, porque algumas das suas frases nos ficaram na

13

cabeça, porque as suas aulas eram diferentes das outras. Curiosamente a

professora que mais me marcou foi a professora Célia Guedes de Matemática.

Uma professora extremamente exigente (e tinha que ser assim), atenciosa e

muito nossa amiga. Fui aluno dela durante 3 anos e só no 2º ano é que

comecei a perceber as duas outras suas caraterísticas para além da exigência.

Ainda agora dou por mim a pensar nalguns momentos passados com ela. As

aulas dela eram sempre muito sérias e os alunos não tinham sequer tempo

para estar parados, tamanha era a carga de exercícios, mas na final da aula,

com o seu sentido de humor, dava-nos mais do que precisava de dar. Esta

relação de proximidade, sempre me fascinou, uma vez que ela tinha a turma

controlada e para além disso, fazia parte daquelas professoras que eram

constantemente cumprimentadas, fora da escola, pelos alunos. Este foi o meu

modelo a seguir, e grande parte das minhas atitudes nas aulas vai de encontro

com aquilo que ela fez comigo.

Através da utilização deste modelo, quis manter uma proximidade

envolvida em sentimentos de confiança e admiração mútuas, mais do que

aquele autoritarismo que tantas vezes é imagem do professor. Como se

percebe sou grande defensor deste esquema pedagógico, uma vez que

através dele, é depositada nos alunos mais responsabilidade o que os torna

mais sensíveis a certas situações de aprendizagem e desenvolvimento.

Imagine-se por exemplo um aluno que tem a minha total confiança, num

momento seu menos bom. Acredito que não terei de fazer muito para o

repreender de forma a melhorar o seu comportamento, uma vez que não há

maior sentimento de transformação do que aquele que se sente quando

desiludimos alguém que de alguma forma é importante para nós.

Esse é outro sentimento que busco entre os alunos. O sentimento de

importância que me tornará um possível pilar na formação e desenvolvimento

pessoal de cada aluno com o qual interaja.

Quanto aos professores de Educação Física (EF), a verdade é que tive

um maior número de más experiências do que de boas. Tive demasiado

professores que nos deixavam fazer o que queriam, e isso agora repercute-se

em aulas que eu não consigo lembrar, em professores que eu não consigo

14

relembrar e em modalidades que eu não lembro praticar. Aquele professor de

EF que mais notei, que se esforçou pelos seus alunos era curiosamente uma

estagiária. Ainda bem que tive esta prova porque assim, não me permitirei

tornar nos próximos anos num professor bem pior do que sou agora em ano de

estágio. O ano de estágio não deve ser, na minha opinião, aquele ano em que

um professor mais se deve esforçar. O esforço e responsabilidade devem estar

presentes por todos os anos de prática do professor, esteja ele a ser observado

ou não por um colega, ou um orientador, porque tudo o que ele faz, mesmo

naquela aula que pode parecer a menos importante de todas, é observado

pelos seus alunos.

Assim, após a conclusão do 12º ano, e devido às práticas desportivas

que tive e não aos professores de EF, concorri à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto (FADEUP) onde realizei a minha licenciatura em

Ciências do Desporto na opção Treino Desporto - Futebol.

Uma das minhas grandes desilusões enquanto aluno licenciado na

FADEUP, revela-se num problema que vivencio todos os sábados. Na hora do

jogo da minha equipa de sub-10, para ir para o banco de suplentes, tenho que

mostrar o meu cartão de diretor do clube! Não faz qualquer sentido, depois de

me ter licenciado em Ciências do Desporto, no ramo de Futebol, onde tive um

privilegiado contato com os Professores Vítor Frade e José Guilherme, não me

ser dada sequer a equivalência ao nível 1 de treinador. Existem imensos

treinadores, com os quais contacto no meu clube, que têm diploma de nível,

mas que estão drasticamente a anos de luz da formação que eu tive. Vê-se

pela forma como treinam, pela forma como lidam e falam com os jogadores,

pela forma como estão no banco, pela forma como montam os exercícios, pela

forma como instruem, pela forma como corrigem… No entanto, eles são

treinadores de futebol (esses mesmo que colocam as equipas a correr à volta

do campo durante 45 minutos sem qualquer critério) e eu sou um mero diretor

do clube, dito “vogal”.

Após conclusão de Licenciatura, candidatei-me ao 2º Ciclo em Ensino de

EF nos Ensinos Básico e Secundário e também ao 2º ciclo em Treino de Alto

Rendimento Desportivo. Como só entrei na 1ª hipótese, decidi então aí de

15

forma sublinhada formar-me como Professor de EF. Talvez devesse ter

decidido mais cedo, mas a verdade é que optei por deixar as duas portas

abertas até ao final. No caso de entrar nos dois mestrados, a escolha seria

dificílima, mas teria de ser feita. Se entrasse só num mestrado, a partir daí

apostaria forte na minha formação conduzida para essa função.

Adiei ao máximo essa decisão por, no fundo, me sentir mais seduzido

pelo treino do que pela educação. Devido ao meu passado intimamente ligado

ao futebol, sempre me interessou mais esse lado do profissional de Desporto.

Até então a minha experiência na educação era nula e como tal tinha algum

receio de não me sentir enquadrado nesse campo. No meu primeiro ano de

licenciatura, na disciplina de Pedagogia Escolar tive a possibilidade de

entrevistar um professor estagiário na escola Augusto Gomes. Dessa entrevista

e das posteriores conversas com a Professora Paula Queirós (responsável da

disciplina) entendi que muitos estagiários ao longo do Estágio Profissional

percebem que afinal aquela profissão não é ideal para eles, acabando por

desistir ou por terminar o ano com uma nota baixa.

Isso era exatamente aquilo que eu não queria que acontecesse comigo.

Depois de todas as dificuldades que tive de ultrapassar ao longo de vários anos

de escolaridade, uma má decisão poderia hipotecar as minhas possibilidades

de vir a atingir o meu completo potencial enquanto profissional tal como a

minha felicidade na exerção do mesmo.

2.2. EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO AO ESTÁGIO PROFISSIONAL

O estágio pedagógico é o culminar de 5 anos de vivências, instruções e

transmissão de conhecimentos, onde temos oportunidade de transformar toda

essa informação aplicando-a na escola através da nossa turma e dos nossos

alunos.

É, portanto, um momento sobre o qual criei grandes expectativas.

Durante o último ano letivo, quando tentava imaginar como seria este estágio,

dava por mim muitas vezes apavorado com esse “destino”. Muitas coisas me

atormentavam. Em que escola ficarei? Quem serão os meus colegas de

16

estágio? Quem será o meu Professor Orientador (PO)? Como será a minha

turma? Será calma e interessada? Será indisciplinada? De que ano será? Terei

de ensinar Dança, Ginástica ou Natação? Estarei à altura das minhas

responsabilidades como professor? Estas eram algumas das questões que me

assombraram durante o último verão. Quando saíram as listas de colocação,

apesar de não conhecer pessoalmente os meus colegas de estágio, fiquei

agradado com os resultados uma vez que a Escola EB 2,3 da Sobreira tinha

sido a minha primeira opção pela proximidade geográfica com a localidade

onde moro (Cete). Depois com o decorrer das várias reuniões com o Professor

Cooperante (PC) Fernando Vaz e com o restante Núcleo de Estágio (NE), fui

acalmando à medida que ia percebendo melhor a realidade da Escola e o seu

contexto.

O estágio é uma experiência riquíssima. Os estagiários, durante o

mesmo, são simultaneamente professores e alunos e como reforça Cardoso

(2009), esta situação provoca fragilidades resultantes da tensão entre a teoria e

a prática. De certa forma, os estagiários vivem nesse período um momento

extremamente sensível na sua formação. O facto de terem a função de

professor simultaneamente com a realidade de continuarem como alunos de

um curso torna este momento único. A necessidade de saber lidar com uma

turma, mantendo o controlo e o respeito, e ao mesmo tempo pertencer a uma

turma que por vezes esquece as dificuldades que o professor passa para ser

ouvido, pode criar no estagiário uma sensação de inadaptação tanto numa

situação como noutra. Assim, sublinha-se o papel dos auxiliares (PC e PO)

para ajudarem-no a superar da melhor forma este período, aconselhando-o

através das suas vastas experiências no campo. Hynes-Dusel (1999) refere

que o PC é mesmo a figura central no processo de estágio, uma vez que os

estagiários passam mais tempo com ele do que com qualquer outro formador.

O estágio é assim um momento onde vários fatores e variantes se

cruzam conduzindo a um resultado muito pouco previsível. Como diz Cardoso

(2009) os professores cooperantes e orientadores têm uma forte influência nos

comportamentos dos estagiários, e apesar de esta influência ser mais

verificada neste ano crítico da minha formação, a mesma autora diz que essa

17

influência se prolonga nas decisões que os novos professores tomam mais

tarde, durante a sua carreira profissional, o que sublinha sobremaneira a

importância presente e futura do ano de estágio.

Reforça-se aqui também a importância do PC e do PO, uma vez que as

suas diretrizes, ajudas e conselhos levarão a um caminho que será feito

futuramente pelo agora estagiário, como professor. São por tanto duas

personagens indispensáveis neste enredo.

Osunde (1996) estudou as perceções que os estagiários adquiriram

através dos comportamentos e práticas do orientador e chegou à conclusão

que os estagiários concordam que as suas experiências durante a prática

tiveram uma influência poderosa no seu desenvolvimento profissional e que a

personalidade dos orientadores é um fator decisivo na sua formação.

Apesar de reconhecer a importância destas influências recebidas, o

estagiário não pode dispensar uma prática reflexiva. Segundo Goodfellow

(2000), a prática reflexiva torna-se uma forma onde, não apenas os

professores, mas também os estagiários se podem interrogar acerca das suas

práticas, e dessa forma, criarem as suas próprias conceções de ensino. E por

sua vez, as diferentes conceções de ensino e de desenvolvimento profissional

sustentadas pelos estagiários podem influenciar o que eles consideram

relevante e útil no processo de formação e a forma como analisam a sua

prática e a dos outros.

Concordando com tudo isto, adotei desde o primeiro dia a estratégia de

criação do “diário de bordo”, onde coloco lá todos os momentos que merecem

reflexão da minha parte. Aos poucos tenho vindo a perceber que este

documento é fundamental. Por vez, dou por mim a preencher uma qualquer

situação no diário e apercebo-me que se não tivesse que o fazer, nunca mais

pensaria naquilo que tinha acontecido. O facto de estar constantemente a ver

no meu dia-a-dia que episódios podem caber nesse diário, tornam-me mais

reflexivo, ainda antes do período exato da reflexão. Isto é, durante o dia, já

estou a pensar formas de contornar certos problemas, ou como motivar ou criar

aspetos pretendidos por mim mesmo. Da mesma forma, Albuquerque et al.

(2005) referem que a prática, ao ser problematizada, desencadeia a ação

18

reflexiva, procurando soluções lógicas para os problemas que a própria prática

levanta.

Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa com umas

caraterísticas especiais. Normalmente no meu dia-a-dia estou muito à vontade,

gosto de brincar e utilizo o humor com grande frequência. Na minha vida social

sou assim, mas também transporto esse “eu” para os meus treinos. Como tal, o

mesmo acontece nas aulas. No entanto, tenho que ter sempre na ideia que não

sou mais um aluno. E isso torna-se cada vez mais claro a cada dia que passa.

Quando entrei para o estágio, ainda estava muito na pele de aluno, e como tal,

a minha presença nas aulas bem como as minhas atitudes não eram as mais

naturais, uma vez que tentava incorporar uma personagem mais séria, a

personagem de professor. Com o passar do tempo, consegui conciliar o meu

verdadeiro “eu” com a forma de estar de um professor. Digo conciliar, mas na

verdade deveria dizer que me estava a adaptar. No fim de contas, todo este

processo do EP é uma grande adaptação, onde limam-se uns pormenores,

sublinham-se outros e apagam-se definitivamente uns restantes. Esta

necessidade de mudança é traduzida pela afirmação que diz ”mudar é uma

exigência imposta pelas leis da vida” (Bento, 2005), tal como eu, sinto que já

não sou a mesma pessoa que era quando começou este ano letivo.

De acordo com isto, Cardoso (2009) diz que a formação de professores

é um processo transformativo e não apenas uma forma de adquirir

conhecimentos e habilidades. Também Graça (2001) refere que o

conhecimento que o professor tem da disciplina que leciona interage com

conhecimentos, convicções e crenças acerca da educação, do ensino e

aprendizagem, acerca dos alunos e acerca dos contextos educativos.

Ambos os autores referem a importância da transformação do professor

em formação através das experiências que se lhe vão acumulando ao longo

desse processo. Essa transformação foi vivida em pleno por mim. Aquele

professor estagiário, que lecionou as primeiras aulas, entre setembro e

outubro, nada tem a ver com aquele que terminou o ano letivo em maio, apesar

de o “pacote” ser exatamente o mesmo. Durante esse período, as experiências

acumuladas tornaram-no num profissional completamente distinto, e não me

19

refiro apenas ao desempenho nas aulas. Fora das aulas, através das mais

diversas relações com a comunidade escolar, o meu desempenho foi-se

modificando, fruto de um maior à-vontade sinónimo do passar do tempo, mas

também devido a uma acumulação das experiências vividas.

Uma vez que o Professor Fernando deu ao NE, a liberdade de escolher

a sua turma, eu optei pelo 9ºD. Trata-se de uma turma onde a maioria dos

alunos eram desconhecidos do Professor Fernando. Assim, de forma a inteirar-

me da situação, na reunião de conselho de turma foram-me dadas as

informações necessárias para que eu aguardasse calmamente as primeiras

aulas. Nessas mesmas primeiras aulas, a turma mostrou ser bastante calma.

Para mim o grande desafio para esta turma, fazendo uma análise das aulas

que já lecionei, foi aumentar o interesse e a motivação para as aulas de EF,

visto ser, uma turma composta maioritariamente por raparigas, com alguns

alunos que se mostram um pouco desinteressados pelas modalidades

lecionadas e pelo exercício físico.

Refiro o facto de em 27 alunos, somente 7 serem rapazes porque como

Santos (2003) refere no seu estudo realizado nas Escolas Secundárias de

Gondomar, os indivíduos do sexo masculino evidenciam níveis de motivação

mais elevados relativamente às raparigas, sendo o fator motivacional PRAZER

ter sido detetado como o mais importante.

Também espero que, no final do ano os alunos sintam que os influenciei,

devido à forma como ajo com eles, nas aulas e fora delas, onde procuro estar o

mais próximo possível de todos eles. Quanto aos resultados de aprendizagem,

sinceramente, mais do que ver no final do ano letivo que os alunos sentem que

aprenderam imensas coisas nas minhas aulas, gostava que as aprendizagens

se verificassem mais na prática, isto é, nos seus hábitos a curto, a médio e se

possível a longo prazo.

“Toda a arte de ensinar é apenas a arte de acordar a curiosidade natural

nas mentes jovens, com o propósito de serem satisfeitas mais tardes” (Anatole

France, s.d.2).

2 Frase retirada do site: http://www.ronaud.com/frases-pensamentos-citacoes-de/jacques-

anatole-france no dia 4 de Julho de 2012.

20

Foi com alguma expectativa que aguardei a lecionação das aulas de

Ginástica e que aguardo as aulas de Natação, visto serem áreas nas quais não

me sinto muito à vontade. Apesar de no 1º ano do 2º Ciclo de Estudos ter

frequentado as disciplinas de Didática de Ginástica e Didática de Natação

(modalidades que também frequentei nas disciplinas de Estudos Práticos do 1º

ano da licenciatura), estas são modalidades com as quais não tinha grande

experiência e por tanto tive de apostar muito mais na preparação dessas aulas,

evitando assim qualquer problema.

Para isso, as minhas aulas de Natação foram antecedidas por aulas

lecionadas por um colega de estágio e, assim, decidi assistir a todas essas

sessões de forma a tentar evitar todos os erros que descobrisse, para além de

adotar e desenvolver estratégias que considerasse oportunas. No final de todas

as informações recolhidas, fiz ainda uma síntese de todo o material que me

tinha sido fornecido na disciplina de Estudos Prático de Natação do 1º ciclo, e

da disciplina de Didática de Natação do 2º ciclo. Essas informações foram

fundamentais para o planeamento e organização dos conteúdos.

Para ginástica tive também a sorte de lecionar esta disciplina à minha

turma, simultaneamente que um outro colega de estágio lecionava à sua.

Assim, assistindo às aulas um do outro, podemos elaborar estratégias e

perceber o que se poderia fazer, bem como aquilo que deveria ser evitado. Em

termos de planeamento, utilizei tal como para a Natação, uma busca mais

profunda, através dos documentos fornecidos no 1º e 2º ciclos acerca desta

disciplina e como se tratou da primeira Unidade Temática ensinada, tive muito

atento aos inúmeros conselhos que o PC Fernando Vaz nos forneceu.

Em relação às outras modalidades sentia-me mais à vontade,

principalmente nas modalidades coletivas, devido às minhas experiências

passadas.

Quanto à aplicação do Modelo de Educação Desportiva (MED), apliquei-

o no 2º período na Unidade Temática de Voleibol e os resultados foram

absolutamente positivos, principalmente em relação à assiduidade,

pontualidade, participação e motivação dos alunos nas aulas.

21

De uma forma geral, espero no final deste percurso ser capaz de olhar

para trás e orgulhar-me daquilo que fiz. Vários erros já foram cometidos e

percebidos e outros tantos ainda acabaram por passar despercebidamente ao

longo deste estágio e ao longo da minha vida. Toda a gente passa por isto,

mas nem todos são capazes de aprender, melhorar e de se superar.

Possuir um equilíbrio entre ambição e humildade é na minha opinião o

segredo. Não me permitirei a estar satisfeito com o atingido, sempre que for

possível atingir um patamar superior. Da mesma forma que não será por atingir

um determinado posto que me recusarei a ouvir alguém ou a fazer outro

qualquer ato que revele falta de humildade. Um professor deve ser capaz de o

fazer. De ambicionar atingir um nível e estado profissional elevado, em termos

de todas as capacidades indispensáveis para as suas funções, mas para o

fazer, terá de ser humilde o suficiente para reconhecer em que aspetos e

capacidades deve depositar uma maior percentagem do seu tempo para que

assim, se consiga desenvolver. Depois, quando atingido esse estado é

fundamental que o professor não se desleixe impossibilitando assim

decréscimos das suas capacidades. Mantendo sempre a sua ambição para

manter ou melhorar a sua performance, sem esquecer a humildade que o fez

desenvolver-se com tanta eficácia e profundidade.

Quando entrei no estágio pensava estar preparado para tudo. Na 2ª

semana percebi que estava totalmente enganado. Agora sinto-me capaz de ser

professor. Mas, ser capaz ainda é pouco. Quero ir mais além. Quero ser

relembrado pelos meus alunos com saudade e com um sorriso na cara.

3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA

25

3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA

3.1. ENSINO: DICOTOMIA ENTRE A SORTE E O MÉRITO

O ensino em Portugal vive um momento peculiar. Face às enormes

dificuldades económicas que o nosso país atravessa, o futuro não pode mais

ser assegurado através de um caminho seguro. Aquela que até há vários anos

atrás era vista como uma aposta segura, tornou-se agora uma aposta como

todas as outras que são feitas nos jogos de sorte.

Quando aceitamos jogar um jogo desse tipo, pense-se no poker por

exemplo, temos que ter perfeita noção de possuímos apenas uma pequena

probabilidade de acabarmos vencedores. Sabemos que num jogo de sorte é

verosímil que o final seja angustiante, triste e desolador. Mas mesmo assim

existem inúmeras pessoas que continuam a jogar. Existem até uns poucos que

conseguem viver apenas desses jogos. Será que nesses casos trata-se apenas

de sorte? Alguns podem dizer que sim, mas há claro quem contrarie essa ideia.

Nesses casos há possivelmente mais mérito do que sorte mas sem dúvida que

por muito mérito que alguém tenha num desses jogos, sem sorte acabará

desolado como a grande maioria. Esta eterna dicotomia entre a sorte e a

habilidade compõe o universo deste jogo.

No ensino, acredito que a sorte tem muito menos importância do que

nos jogos de sorte. Acredito que nesta área, alguém extremamente competente

terá um futuro muito mais brilhante do que alguém favorecido pela sorte No

entanto existem fatores que não nos são inerentes e que são fundamentais

para a formação de cada um. A escola e o seu contexto, a nossa turma e

colegas, os professores e respetivos critérios de avaliação, a empregabilidade

do nosso curso, são aspetos que nos transcendem e que são fundamentais

para o ensino. Depois, em relação ao mérito de cada um, aí começam-se a

diferenciar os sujeitos. As aptidões, competências, capacidades ou habilidades

são o resultado do potencial de cada indivíduo. É portanto previsível que se

sublinhe o mérito que está associado ao resultado final deste longo e complexo

26

processo que é o ensino, mas a verdade é que o potencial de um indivíduo

difere sempre do contexto em que se encontra.

Sei que é de uma completa insensatez comparar o ensino a um jogo de

sorte, mas de uma forma geral, pretendia apenas destacar dois fatores que são

em ambos os contextos fulcrais, o mérito próprio e a sorte.

3.2. A REALIDADE DE UM PAÍS À BEIRA MAR

Existe no profissional uma clara necessidade de conhecer o que o rodeia

e com que regras se rege. Assim, como estudante estagiário da disciplina de

EF, sinto-me na obrigação de apresentar aqui o Sistema Educativo do nosso

país.

Através da consulta de dados do Ministério de Educação3, percebe-se

que o Sistema Educativo Português divide-se ao longo de 6 ciclos de ensino. A

educação pré-escolar, o ensino básico, o ensino secundário, o ensino pós-

secundário não superior, a educação e formação de jovens e adultos e o

ensino superior.

A educação pré-escolar é facultativa e destinada para crianças entre os

3 anos e a entrada na escolaridade obrigatória. Os estabelecimentos podem

ser públicos ou privados, sendo que os públicos são grátis.

O ensino básico inicia a obrigatoriedade da escola. É dividido por 3

ciclos. O 1º ciclo referente ao intervalo de anos entre o 1º e o 4º ano de

escolaridade, o 2º ciclo referente ao 5º e 6º ano e o 3º ciclo composto pelo 7º,

8º e 9º ano de escolaridade. Os alunos têm normalmente entre 6 e 15 anos. As

atividades físicas e desportivas são desde logo introduzidas no 1º ciclo através

da área de expressão e educação físico-motora presente no currículo

obrigatório e das áreas de enriquecimento curricular. O ensino básico público é

gratuito e os alunos que terminam com sucesso o 3º ciclo recebem o diploma

de ensino básico.

O ensino secundário alonga-se por mais 3 anos letivos (10º, 11º e 12º) e

divide-se por diferentes tipos de cursos:

3 Informações consultadas em: http://www.gepe.min-edu.pt/

27

Curso científico-humanístico é vocacionado para o prosseguimento de

estudos de nível superior;

Cursos tecnológicos são dirigidos a alunos que desejam entrar no

mercado de trabalho, permitindo também o prosseguimento de estudos

em cursos tecnológicos especializados ou no ensino superior;

Cursos artísticos especializados asseguram formação artística

especializada nas áreas de artes visuais, audiovisuais, dança e musica e

permitem a entrada no mundo do trabalho ou o prosseguimento de

estudos em cursos pós-secundários não superiores ou, ainda, no ensino

superior;

Cursos profissionais proporcionam a entrada no mundo do trabalho,

facultando também o prosseguimento de estudos em cursos pós-

secundários não superiores ou no ensino superior.

No final do nível secundário os alunos estão sujeitos a uma avaliação

sumativa interna. Para além disso os alunos dos cursos científico-humanísticos

são também submetidos a uma avaliação sumativa externa, através da

realização de exames nacionais, em determinadas disciplinas. Nesta fase de

ensino os alunos tem de pagar uma pequena propina anual, e é também aqui

completa a escolaridade obrigatória.

No ensino pós-secundário não superior existem cursos de

especialização tecnológica que possibilitam uma formação especializada em

diferentes áreas tecnológicas, permitindo a inserção no mercado de trabalho ou

o prosseguimento de estudos de nível superior. A conclusão deste curso

confere um diploma de especialização tecnológica e qualificação profissional

de nível 4, podendo ainda dar acesso a um certificado de aptidão profissional.

A educação e formação de jovens e adultos é normalmente reconhecida

como “novas oportunidades” para indivíduos que abandonaram ou estão em

risco de abandonar a escola precocemente. É uma segunda hipótese também

para quem não teve a oportunidade de frequentar a escola enquanto jovem, e

para os que procuram a escola por razões profissionais ou de valorização

pessoal. As diferentes modalidades de educação e formação de jovens e

28

adultos permitem adquirir uma certificação escolar bem como o

prosseguimento de nível pós-secundário não superior ou o ensino superior.

O ensino superior está estruturado com uma nova forma desde o

processo de Bolonha. O grande objetivo desse processo visa que o ensino

superior assegure uma sólida preparação científica, cultural, artística e

tecnológica que habilite para o exercício de atividades profissionais e culturais

e também para o desenvolvimento de capacidades de conceção, inovação e

análise crítica. Este ensino em Portugal está dividido no ensino universitário e

no ensino politécnico, podendo os mesmos ser administrados por instituições

públicas, privadas e cooperativas. Os alunos que pretendem seguir este ensino

devem concluir com êxito o ensino secundário ou alguma qualificação

equivalente, realizar os exames de admissão e satisfazer os pré-requisitos

exigidos para o curso. No ensino superior são conferidas as diferentes

qualificações académicas: 1º ciclo (licenciado), 2º ciclo (mestre) e 3º ciclo

(doutor). As propinas são fixadas pelas instituições do ensino superior, entre

um valor mínimo e máximo, de acordo com o tipo de cursos.

3.3. O ESTÁGIO PROFISSIONAL DO PONTO DE VISTA LEGISLATIVO

Este estágio resulta de uma ligação entre o 2º ciclo e o ensino básico e

secundário tendo em vista a formação de professores de EF. O início da prática

profissional do 2º Ciclo em Ensino de Educação Física da FADEUP decorre na

forma de EP. O mesmo é composto por duas componentes, a Prática de

Ensino Supervisionada e o respetivo Relatório de Estágio Profissional.

Através da consulta do Regulamento de Estágio 4 percebe-se que a

“estrutura e funcionamento do Estágio Profissional consideram os princípios

decorrentes das orientações legais nomeadamente as constantes do Decreto-

lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro e

têm em conta o Regulamento Geral dos segundos Ciclos da UP, o

4 Documento interno “Regulamento da Unidade Curricular Estágio Profissional do Ciclo de

Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário da FADEUP” elaborado pelo Professora Zélia Matos para o ano letivo 2011-2012.

29

Regulamento geral dos segundos ciclos da FADEUP e o Regulamento do

Curso de Mestrado em Ensino de Educação Física”.

Salienta-se que em nenhum dos decretos-lei referidos, se determina que

cada aluno de mestrado, durante o estágio, deverá ter encarregue a si a

docência total de uma turma. Assim, percebe-se que essa norma foi introduzida

pelos órgãos responsáveis da FADEUP.

3.4. UMA GOTA NO MEIO DE UM IMENSO MAR

A minha particular experiência relata a entrada no 2º ciclo na FADEUP,

após ter concluído o 1º ciclo de estudos na mesma instituição. O 2º ciclo de

estudos pretende preparar os alunos de uma forma intrinsecamente direta para

a realidade escolar.

Este ciclo está dividido em 4 semestres. O primeiro pretende fornecer

fundamentação base aos alunos, tornando-os indivíduos conhecedores

teóricos da realidade do ensino em Portugal. Disciplinas como

Profissionalidade Pedagógica, Desenvolvimento Curricular, Gestão e Cultura

Organizacional da Escola ou ainda Investigação em Educação ou Psicologia da

Educação são portanto fundamentais para este objetivo, tornando-se pilares

desta fase da formação.

No segundo semestre o aluno é colocado pela primeira vez em

situações e fases distintas do processo ensino-aprendizagem. Através das

disciplinas didáticas específicas, os alunos podem assistir, ser objetos ou ainda

ser produtores do processo pedagógico. Enquanto nalgumas dessas disciplinas

os alunos reconstroem entre eles aulas, como o caso de Didática Específica de

Atletismo ou Futebol, noutras disciplinas como Didática Específica de Voleibol,

ou Ginástica, os alunos são desde logo colocados em provas mais complexas

dentro de uma adaptada realidade escolar. Refiro adaptada, apenas e só, pela

curiosidade de todas as aulas serem lecionadas em grupo, o que apesar de

facilitar esse processo é completamente fundamental para esta fase de

desenvolvimento do aluno. Todas estas experiências foram fundamentadas

30

com as riquíssimas passagens que a Professora Paula Botelho nos deliciou

nas aulas de Didática Geral de Desporto.

Nos dois restantes semestres incide-se o Estágio Profissional. Segundo

o documento de Normas Orientadoras de Estágio5, o EP tem como objetivo “a

integração na vida profissional de forma progressiva e orientada, em contexto

real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos futuros

docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios

e exigências da profissão”. Esta é a prova de fogo de toda esta formação e

sem dúvida que é aquela onde o aluno se desenvolve exponencialmente

devido à constante experienciação do global contexto escolar. No EP cada

indivíduo deverá prestar provas em quatro diferentes áreas de desempenho. A

área 1 “Organização e Gestão de Ensino e da Aprendizagem” tem como

objetivo “construir uma estratégia de intervenção, orientada por objetivos

pedagógicos, que respeite o conhecimento válido no ensino da Educação

Física e conduza com eficácia pedagógica o processo de educação e formação

do aluno na aula de EF”. Nas áreas 2 e 3 “Participação na Escola e Relações

com a Comunidade” o objetivo passa por “contribuir para a promoção do

sucesso educativo, no reforço do papel do professor de Educação Física na

escola e na comunidade local, bem como da disciplina de Educação Física,

através de uma intervenção contextualizada, cooperativa, responsável e

inovador”. Por fim na área 4 pretende-se “perceber a necessidade do

desenvolvimento profissional partindo da reflexão acerca das condições e do

exercício da atividade, da experiencia, da investigação e de outros recursos de

desenvolvimento profissional. Investigar a sua atividade em toda a sua

abrangência (criar hábitos de investigação/reflexão/ação”.

Ainda de acordo com o referido documento3 Segundo o artigo 4º

(Coordenação, Orientação e Organização do EP) do Regulamento de Estágio

“cada estagiário pertence a um núcleo de estágio de uma Escola cooperante”

(Matos, 2011). O meu EP foi realizado na Escola EB 2,3 de Sobreira. Esta

5 Documento interno “Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos

Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário da FADEUP” elaborado pela Professora Zélia Matos para o ano letivo 2011-2012.

31

minha primeira opção deveu-se à proximidade desta escola com a minha

residência. Este contexto escolar6 poderia ser novidade para alguns dos meus

colegas de curso, devido ao afastamento dos grandes centros urbanos. É

facilmente entendido que os alunos destes locais têm ideias e mentalidades

diferentes daqueles que estudam por exemplo no centro do Porto. Acredito que

os alunos com os quais interagi tenham menos perspetivas quanto às suas

formações académicas, muito devido às dificuldades económicas que grande

parte das famílias vivem.

Essas diferenças entre alunos devem-se na minha opinião a um

diferente desenvolvimento vocacional. Salsinha (2011) refere que todos os

indivíduos estão em constante desenvolvimento. À medida que estes se

desenvolvem e conhecem o meio em que estão inseridos orientam o seu

desenvolvimento nas áreas da sua vida, como por exemplo o desenvolvimento

vocacional. Sousa (2008) define o desenvolvimento vocacional como “a direção

e o sentido que cada indivíduo confere à sua trajetória de vida no que concerne

ao mundo da formação e do trabalho”. Salsinha (2011) sublinha que este

desenvolvimento ocorre em vários contextos, mas o familiar é sem dúvida o

mais significativo. Depois vai mais além e enaltece a importância do estatuto

socioeconómico, “as investigações neste domínio vêm transmitir a ideia de que

o nível cultural e socioeconómico dos pais tem influência na determinação

vocacional dos filhos, sendo por isso, um indicador de sucesso, ou insucesso,

dos mesmos”.

As diferenças entre alunos de zonas diferentes não ficam por aqui.

Baseando-me agora apenas na minha curta experiência ao longo destes dois

anos de formação, acredito que os alunos das zonas rurais sejam jovens mais

genuínos. Digo isto com base na comparação entre os alunos com os quais

convivi neste último ano letivo e aqueles com que me cruzei no 2º semestre

desde ciclo de estudos. Ao longo do segundo semestre tive a oportunidade de

leciona na Escola Básica 2,3 da Areosa, Escola Básica 2,3 Pêro Vaz de

Caminha e Escola Básica 2,3 de Paranhos, onde os alunos, apesar de todas as

6

Este contexto é apresentado com pormenor no ponto 3.5. “Sobreira, um túnel com

necessidade de luz”.

32

diferenças situacionais, mostraram-se mais próximos da ideia de “pequenos

adultos”. Esta ideia sai portanto em defesa de que os alunos das regiões rurais

são aparentemente diferentes dos das regiões urbanas. Podendo eu, ainda

enfeitiçado pela magnificência das relações com eles criadas, classificar

os primeiros como jovens mais fechados e com mais defesas ao

desconhecido, quando se é capaz de quebrar tais inibições, demonstram-

se humanos, afetivos e com um sentido de responsabilidade e

companheirismo que eu nunca ousei imaginar. É claro que agrupar alunos

em determinadas caraterísticas para depois os diferenciar, é algo muito

redundante. Refira-se que estamos a falar, não de coisas, mas de pessoas e

não há nada mais complexo que essa existência.

3.5. SOBREIRA, UM TÚNEL COM NECESSIDADE DE LUZ

A Escola Básica 2,3 de Sobreira tornou-se por tanto um espaço que eu

jamais esquecerei. As minhas primeiras experiências, ideias e estratégias

foram aqui construídas e postas em prática. Uma escola acolhedora, não muito

grande, com uma comunidade com caraterísticas únicas resultantes do meio

envolvente e que tem alunos de Cursos de Educação e Formação de Jovens

(CEF) que transmitem ao ambiente escolar uma riqueza e biodiversidade única.

Sobreira é uma das vinte e quatro freguesias do concelho de Paredes. A

área de influência7 da escola estende-se às freguesias de Sobreira, Recarei e

Aguiar de Sousa, que no seu conjunto representam 16% da população e 40.7%

da área do concelho de Paredes.

É uma zona predominantemente rural que se revela incapaz de oferecer

empregos à maioria da população, sendo que os seus habitantes trabalham

maioritariamente no Porto deslocando-se para esse local de comboio. Grande

percentagem das mulheres trabalha no campo, devido à escassez de outros

empregos. As habitações têm condições precárias, destacando-se nalguns

casos a falta de eletricidade e de água.

7 Informações recolhidas em: http://agsobreira.gotdns.org/portal2/

33

A EB 2,3 de Sobreira faz parte desde o ano letivo 2000-2001 ao

agrupamento de escolas da Sobreira, juntamente com as restantes escolas da

Sobreira, Recarei e Aguiar de Sousa. Algumas destas escolas estão

distanciadas a apenas 15 km e havia a necessidade de facilitar a interação

entre elas. Com a criação deste agrupamento, as escolas são capazes de

dialogar acerca dos problemas de aprendizagem dos alunos e encontrar

soluções comuns face a problemas que lhe são comuns, permitem o acesso

dos alunos às novas tecnologias e contribuem para a valorização cultural do

meio.

Para o ano letivo 2011-2012, o Grupo de Educação Física (GEF)

pertencia ao Departamento de Expressões juntamente com as disciplinas de

Educação Musica, Educação Visual e Tecnológica, Educação Tecnológica,

Educação Visual e Educação Especial. O Chefe de Departamento era um

professor que prefiro manter no anonimato. Ao longo das várias reuniões a que

assisti, fui-me apercebendo que havia um grande atrito entre ele e alguns

constituintes do Departamento. Para melhor se perceber isso, de seguida

coloco um excerto retirado do Diário de Bordo8, do dia 27 de outubro de 2011

após uma reunião do Departamento de Expressões:

“Esta reunião marcou-me pela simples facto da relação profissional e pessoal entre

professores estar separada por uma linha tão ténue. (…)

O Chefe de Departamento perguntou se todos os grupos já tinham as avaliações

iniciais realizadas e prontas para serem recolhidas de forma a serem posteriormente

entregues à direção. Aqui o Professor (…) questionou acerca do porquê dessa

informação ter de ser entregue, uma vez que quem a utiliza são os próprios

professores do grupo e como tal essa informação deveria estar num dossier do grupo.

O Chefe de Departamento disse que deveriam haver 2 dossiers diferentes, uma para o

grupo e outro para ser entregue à direção. A verdade é que vários professores

mostram-se na dúvida acerca da funcionalidade dessa opção, no entanto mais uma vez

somente o Professor (…) voltou a questionar acerca disso e como o chefe de

Departamento não conseguia responder, o Professor (…) pediu para que se colocasse

em ATA que ele queria saber o porquê dessa opção, uma vez que o Chefe de

Departamento se recusou a questionar a direção sobre isso. Rapidamente esta

discussão passou a ter traços pessoais quando a esposa do chefe de Departamento

(também Professora da Escola e do Departamento) acusou o Professor (…) de coisas

que já nada tinham a ver com o processo educativo”.

8 Ao longo deste relatório de estágio, com exceção dos elementos do núcleo de estágio,

sempre que sejam citados excertos provenientes do Diário de Bordo, o anonimato e sigilo dos intervenientes serão mantidos.

34

O GEF era presidido pela Professora Leonor Zita e os elementos

constituintes variaram ao longo do ano letivo. Essas variações deveram-se a

uma transferência de escola, a duas licenças de parto e respetivas

substituições. Apesar dessas alterações, foi possível criar relações de

proximidade entre o NE e alguns professores. A presidente do grupo

demonstrou ser uma pessoa altamente competente em relação às

necessidades que essa função obriga. Era organizada, sistemática e tinha

vontade de trabalhar. Para se ter uma melhor noção disso, ela dispensava a

existência de um secretário e encarregava-se ela própria de elaborar

posteriormente as atas das reuniões. As reuniões de grupo realizavam-se às

5as feiras entre as 13h30 e as 14h30, quando previamente marcadas. Os

assuntos debatidos variavam muito do contexto situacional do momento da

reunião. Ou seja, as reuniões eram marcadas para dar resposta a certos

problemas que eram colocados ao grupo. Entre alguns desses assuntos,

destaco a escolha das modalidades a lecionar em cada ano letivo

(planograma), a escolha das modalidades do Desporto Escolar (DE), a

organização dos horários do DE, a perceção do ponto de situação das

avaliações iniciais e possíveis estratégias de atuação, a listagem de materiais

desportivos que necessitavam de renovação, o ajustamento de últimos

pormenores antes de uma atividade organizada pelo grupo, reuniões acerca

das avaliações finais em cada período, criação do Plano Anual de Atividades

ou ainda a estipulação do horário de utilização da piscina ou ainda para a

realização de jornadas pedagógicas.

Em relação ao Núcleo de Estágio, segundo o Regulamento da Unidade

Curricular Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de

Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da

FADEUP, o número de estagiários por núcleo depende da especificidade de

cada Escola e do PC, conforme o estabelecido no Protocolo celebrado entre a

Escola e a FADEUP. De acordo com todas essas especificidades, foram

atribuídos para o núcleo da Sobreira 4 alunos.

Quanto aos seus elementos, à primeira vista fiquei um pouco desiludido

uma vez que eram colegas com os quais tinha pouca ou nenhuma confiança.

35

Apenas com o Vítor Queirós já tinha interagido por no 2º semestre de ciclo de

estudos ter sido meu colega na disciplina de Didática Específica de Atletismo,

onde se implementou o MED e por isso algumas interações existiram. Quanto

ao Carlos Pinto e ao Filipe Felicia, nunca tinha sequer conversado com eles até

esta fase da minha formação. Entre os 4, apenas eu fiz a minha total formação

na FADEUP e também por isso, as nossas relações anteriores eram reduzidas

ou mesmo inexistentes. Para melhor se perceber isso, apresento a reflexão de

dia 1 de setembro de 2011, retirada do DB, após a primeira interação do

núcleo:

“Assim, a primeira impressão criada acabou por ser bastante positiva uma vez que o

Filipe Felicia é um aluno bastante mais velho que eu e, como tal, poderei vir a

enriquecer-me bastante através do contato contínuo e da troca de experiências que

poderei vir a ter com ele. Quanto ao Carlos Pinto, desde logo me pareceu ser alguém

bastante parecido comigo e isso poderá ser importante nalgumas alturas em que seja

preciso superar certas situações através de momentos mais descontraídos, mas

também eles absolutamente fundamentais para o bom equilíbrio pessoal e do grupo. O

Vítor Queirós, como já referi, era-me já conhecido, como tal não criei nenhuma primeira

impressão, uma vez que essa impressão já tinha sido criada há meses atrás. Nele vejo

alguém que será fundamental para a minha integração neste grupo de estágio, uma

vez que tem já “pontes relacionais” que o une a todos os alunos do nosso núcleo de

estágio. Para além disso, parece-me ser alguém que se empenhará bastante nestes

próximos dois semestres”.

Ao longo do ano letivo aprendi a lidar com eles, aprendi a brincar com

eles, aprendi a aprender com eles… Nos últimos momentos do ano letivo, era

frequente conversarmos acerca da proximidade que tínhamos, e por muitas

vezes acabávamos por tentar perceber se nos outros núcleos a relação entre

estagiários era a mesma. De facto, este ano atingiu um expoente tão elevado

na minha formação também devido a eles. As brincadeiras que tínhamos entre

nós jamais serão esquecidas. A forma direta como o Felicia dizia o que tinha

para dizer, conjugada com a experiência de vida que mais nenhum de nós

tinha e com um sentido de humor que aos poucos fui percebendo tornaram-no

num pilar fundamental deste percurso. A rabugice matinal, a forma como

tentava sempre irritar o Felicia, a pronúncia e dizeres completamente

caraterísticos com que o “Berto” (Carlos Pinto) expunha as suas opiniões e

dava as suas aulas cativaram toda a gente. A timidez e vontade de evoluir que

o Vítor demonstrou desde o primeiro dia, fizeram com que ele fosse visto como

36

o “menino” do grupo e por isso muitas das nossas brincadeiras lhe eram

destinadas. Os bolos que por uma ou por outra nunca satisfaziam toda a gente,

os jogos de futsal e de voleibol onde vimos que muitos de nós tinha mais

potencial para criticar do que para jogar, os almoços no restaurante Andrés

com as suas caraterísticas batas fritas e as nossas manias (as horas que o

Felicia passava ao telemóvel, o brinco que o “Berto” teimava em esquecer-se

de retirar antes das suas aulas, o constante pensamento do Vítor na sua

“Xaninha” e quanto a mim, tinham que ser eles a dizer) fizeram com que este

ano tivesse caraterísticas absolutamente especiais.

A verdade é que apesar de toda esta proximidade, não foi diretamente

através dela que pude desenvolver o meu potencial. Para isso aproveitei os

momentos em que os elementos do núcleo tinham de mostrar as funções tanto

dentro como fora da aula. Aí, aprendi com o Felicia que através de uma

tremenda rigidez se pode controlar de forma quase perfeita uma turma

problemática. Desde o primeiro dia que o Felicia serrou o punho e decidiu

liderar a aula de uma forma autoritária. Naquela turma não tenho duvidas que

foi a melhor opção e por isso tive a oportunidade de aprender através de um

professor com caraterísticas totalmente diferentes das minhas.

Com o Carlos fui capaz de perceber o que é um professor que tem os

seus níveis de aula sempre dentro dos mesmos parâmetros. A forma séria

como ele encarou todo este processo possibilitou-lhe ter aulas do início ao final

do ano letivo sempre de bom nível. Através dele vi os resultados de um

professor que não tem altos e baixos, habituando-se assim a turma a trabalhar

a um nível e dinâmica elevados.

Através do Vítor fui capaz de repensar muitas estratégias. As

dificuldades que ele teve de ultrapassar através de um grande espirito de

sacrifício e de vontade de trabalhar inspiraram-me também a mim a adotar

estas caraterísticas para o meu ser professor.

Todo o estágio pedagógico é acompanhado de perto por um professor

cooperante. De acordo com o artigo 4º do Regulamento da Unidade Curricular

Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da FADEUP, o

37

professor cooperante tem as seguintes funções: programar as atividades do

núcleo de EP ao longo do ano escolar, de acordo com as orientações definidas

pela regência e comunicá-lo à FADEUP através do professor orientador da

FADEUP; orientar os estagiários cooperativamente com o orientador da

FADEUP; cooperar na elaboração PFI dos estudantes do núcleo que

supervisiona; elaborar o perfil inicial de cada estagiário do seu núcleo; apoiar e

orientar os estagiários, nas atividades do projeto de formação desenvolvidas na

Escola, promovendo a sua integração na comunidade escolar; supervisionar a

atividade letiva dos estudantes estagiários nas turmas às quais estão adstritos

e em todas as atividades programadas; dinamizar a atividade do núcleo de

Estágio através de seminários, reuniões e outras iniciativas; realizar sessões

semanais de cariz pedagógico-didático, com todo os estagiários do núcleo,

com horário fixo e duração definida por lei, das quais devem ser elaborados o

registos escritos assinados por todos; avaliar individualmente os estudantes

estagiários, elaborando o perfil inicial de cada estudante estagiário e todos os

documentos de avaliação decorrentes do artigo 10º deste regulamento;

colaborar na classificação do desempenho do Estagiário, nos termos da lei,

solicitando a informação do professor coordenador do Departamento Curricular

da Escola e elaborando o parecer relativo ao desempenho de cada Estagiário.

O PC Fernando Vaz desde o primeiro contato que revelou caraterísticas

que eu não reconheci na maioria dos meus professores do ensino básico e

secundário. Foi alguém que desde o primeiro dia se mostrou próximo ao núcleo

e que tinha enorme experiência adquirida na sua prática docente para partilhar

connosco. Para além disso, aquela que foi a primeira impressão dele retratou

um docente com enorme autonomia, vontade de trabalhar e com uma busca

incessante por novas abordagens e modalidades de ensino, enriquecendo ao

máximo às práticas desportivas dos alunos. O excerto seguinte retrata o

momento do meu primeiro contato com ele (DB, 1 de setembro de 2011):

“Quanto ao Professor Cooperante Fernando Vaz, demonstrou ser de fácil acesso, com

algumas ideias bem claras e com uma alta experiência na divulgação de modalidades

menos habituais nas escolas como a Orientação, o Tiro ao Arco ou ainda o KinBall. O

Professor mostrou ser um aficionado da orientação, continuando a participar em

enumeras provas ao longo do ano, o que o fez implementar essa modalidade na

escola. Para além disso, diz também que quando entrou para a Escola EB 2,3 de

Sobreira e apesar da proximidade geográfica das instalações escolares com as

38

piscinas da Sobreira (+/- 700 metros), nenhum Professor de Educação Física (EF)

aproveitava para lecionar Natação aos seus alunos. Assim, após criar um protocolo

com as piscinas, as suas turmas começaram a ter Natação e nos anos seguintes os

restantes Professores de EF imitaram-no“.

Esta foi de facto uma caraterística que sempre se verificou de forma

clara no perfil do PC. A sua busca por matérias alternativas de ensino foi uma

vez mais verificada ao longo do ano, quando me foi proposta a lecionação de

Orientação e aos meus colegas KinBall e Tiro ao Arco. O professor Fernando é

um defensor destas matérias alternativas principalmente nas turmas CEF’s,

uma vez que na sua experiência, os resultados desta aplicação tem revelado

uma motivação maior dos seus alunos.

Ao longo do ano, o professor foi dando preciosos conselhos para a

minha formação. Os seus conhecimentos da prática tinham uma abrangência

indeterminável, tornando apto para a lecionação de qualquer modalidade no

contexto em que estávamos inseridos. De quando a quando, o professor

aproveitava certos aspetos para aconselhar a tomarmos certa estratégia e

porquê. Isso verifica-se no seguinte relato do DB de dia 6 de outubro após uma

aula de Ginástica:

“O Professor Fernando disse que na sua opinião, para uma aula de Ginástica, há um

exercício que é fundamental e muito rico na preparação do organismo, principalmente

dos pulsos e da tonicidade geral, para as rodas e apoios faciais invertidos. Refiro-me

aos afundos à frente seguidos de pino. O afundo é fundamental nas rodas de forma a

não se iniciar esse elemento de uma posição tão alta. Não conhecia este exercício nem

a sua alta riqueza na preparação do corpo, mas após a demonstração do Professor,

percebi isso tal como percebi quais são os aspetos críticos importantes na sua

execução”.

Para além disso, o professor teve sempre em mente a vontade de

manter uma relação próxima connosco. Para isso, entre as dezenas de

almoços que partilhou connosco, ainda nos apresentou a sua casa em

construção, o seu filho e a sua namorada, abrindo totalmente as portas da sua

vida privada para o NE. Exemplo disso é a situação que aparece referenciada

no DB no dia 6 de junho:

“Este churrasco já estava prometido desde o 1º período. Finalmente chegou o dia da

sua realização. Foi um final de manhã e tarde de completa harmonia entre pessoas que

começaram colegas e se tornaram amigos.

39

Aquela proximidade entre estagiários que eu em vários momentos deste diário de

bordo destaquei, não se fica só por aí. Em conversa com colegas de outros núcleos de

estágio percebo que algumas das suas relações não são como as nossas e para além

disso, a relação entre eles e os seus Professores Cooperantes não passa de

estritamente profissional.

Na Sobreira encontramos uma pessoa que desde o primeiro dia que não colocou

barreiras entre ele e nós. O Professor Fernando, para além de ter marcado

completamente este núcleo de estágio, moldando cada um de nós um pouco à sua

imagem, sempre se mostrou uma pessoa acessível. Essa acessibilidade para

diferentes conversas, fossem elas mais relacionadas com o estágio, ou com o nosso

desempenho nas aulas, ou até sobre Futebol, ou de brincadeiras entre nós, ou ainda

tantas outras que surgiram ao longo destes 10 meses, tornou o nosso Professor

Cooperante numa pessoa que a olho como amiga.

Todas estas envolventes tornaram este estágio pedagógico numa experiência (…)

bastante mais positiva e completamente inesquecível.

Deixo aqui um grande agradecimento aos meus amigos de estágio, ao “Berto”, ao

Felicia e ao Vítor porque me ajudaram a ultrapassar esta fase crucial da minha vida.

Deixo também um enorme agradecimento ao Professor Fernando porque para mim foi

sem dúvida a pessoa mais importante neste meu estágio (…)”.

Segundo o Regulamento da Unidade Curricular Estágio Profissional do

Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação

Física nos Ensinos Básico e Secundário da FADEUP a orientação da prática de

Ensino Supervisionada é realizada por um docente da FADEUP, adiante

denominado orientador da FADEUP, nomeado pelo órgão competente, ouvido

o professor regente da unidade curricular Estágio Profissional. A orientação do

Relatório de Estágio é realizada pelo orientador da FADEUP designado para

supervisionar a PES. No mesmo regulamento, artigo 6º revela as funções dos

Orientadores da FADEUP: dar cumprimento ao Regulamento do EP; apoiar a

conceção e a realização do Projeto de Formação Individual (PFI) do estudante

estagiário, num quadro de colaboração com a escola cooperante, professor

cooperante, numa lógica de equidade e de corresponsabilização; garantir todas

as fases do ciclo de supervisão na realização do PFI de cada estagiário,

supervisionar a prática educativa dos estudantes estagiários em todas as áreas

de desempenho, de acordo com os documentos orientadores do EP; observar

as aulas previstas no documento orientador de Estágio; reunir com os

professores cooperantes, núcleo de estágio e estagiários individualmente;

avaliar e aprovar o desempenho da PES e propor a classificação do Estudante

Estagiário; participar nas reuniões de orientadores da FADEUP, partilhar e

40

discutir as questões inerentes ao processo de Estágio com os seus pares;

participar nos ciclos de formação dos Estagiários, realizados na FADEUP;

colaborar na realização do plano de formação dos professores cooperantes;

orientar o Relatório de Estágio e integrar o júri das provas públicas.

O PO Tiago Sousa mostrou sempre ser um Orientador extremamente

acessível. Esta caraterística é na minha opinião fundamental para um bom

acompanhamento dos estagiários. O estágio pedagógico é um processo que

está em constante mudança. Em nenhuma altura do mesmo, o estudante

estagiário sente que o mundo à sua volta está parado. Os apoios que tão

importantes são para o bom desenvolvimento do estudante, rapidamente

se escapam entre os seus dedos, tamanha é a velocidade com que tudo

se movimenta nesta complexa fase da formação. O Professor Orientador

é um dos poucos apoios que consegue acompanhar a velocidade de

movimento deste processo. Assim, a sua disponibilidade para ajudar o

estudante é condição fulcral para o seu desenvolvimento. No caso do

Professor Tiago Sousa, a sua disponibilidade era tal, que por vezes sentia que

ele até gostaria de ser mais procurado por nós. Se em relação à prática

docente, não o fiz mais frequentemente, não foi por ousar torna-lo dispensável,

mas porque sempre pretendi ser capaz de superar as minhas dificuldades

através de novas estratégias elaboradas ou adotadas por mim, para além de

que me era mais simples e fácil questionar o PC. Já em termos teóricos, isto é,

na realização dos documentos do planeamento (anual, PA e UT), do PFI ou

deste relatório final de estágio a necessidade de busca por ajuda do PO foi

mais frequente. O Professor Tiago é um individuo que conhece como ninguém

o processo pedagógico e o EP. A sua ajuda e a passagem dos seus

conhecimentos foram momentos riquíssimos que me ofereceram bases de

apoio para me preparar para a elaboração destes projetos. Para além disso, foi

alguém que também se demonstrou desde cedo próximo de mim e isso foi algo

que eu talvez não esperasse de um docente da FADEUP devido ao estatuto e

responsabilidade que lhes são inerentes. Termino este subcapítulo com a

apresentação de um excerto retirado mais uma vez do DB, do dia 6 de Junho:

“ (…) sem esquecer a ajuda do Professor Orientador Tiago Sousa (…) sempre que

interagi com ele se demonstrou inteiramente disponível, demonstrando uma clara

41

acessibilidade e completo conhecimento do que se pretende para este estágio. Para

além disso, tenho que sublinhar que após conversar com certos colegas pertencentes a

núcleos orientados por outros Professores, me senti imensamente afortunado por ser

orientado pelo Professor Tiago Sousa”.

3.6. A IMPORTÂNCIA DO PLANEAMENTO

A importância do planeamento é sempre elevada, no entanto alguns

docentes dão-lhe maior importância que outros. Nalgumas escolas, como diz

Siedentop (1991), o diretor da escola obriga os professores a deixarem de um

dia para o outro os planos de aula nos seus cacifos para a eventualidade de no

caso de faltarem por motivo de doença ou de outra emergência, puderem ser

substituídos por outro professor.

Apesar de nem todos os professores terem de planear com este rigor, a

verdade é que todos eles planeiam. Ainda Siedentop (1991) refere que

independentemente do método que utilizam, ou de quão independentes se

tornaram, os professores de EF planeiam com maior ou menor cuidado tendo

em consideração as modalidades e os objetivos da aula, as progressões de

ensino, o equipamento e o espaço necessário, as medidas de segurança, as

necessidades de gestão de aula e ainda as estratégias de avaliação.

O planeamento realizado por um professor pode abranger três diferentes

áreas: o planeamento anual, o planeamento das unidades temáticas e os

planos de aula.

O planeamento anual é um documento que deve ser complexo o

suficiente para ajudar em todas as áreas as funções do professor. Para isso, o

NE da Sobreira optou por utilizar a estrutura do Modelo de Estrutura de

Conhecimento proposto por Vickers (1990), dividindo o planeamento anual

pelos diferentes módulos.

No 1º módulo existe uma pequena referência ao que é a EF e para que

serve. Analisam-se os programas da disciplina e esclarece-se como se

selecionam as Unidades Temáticas a lecionar durante o ano letivo. No 2º

módulo faz-se a caracterização da Escola EB 2,3 de Sobreira com referências

ao número de pavilhões e espaços onde se podem lecionar as aulas de EF.

Indica-se ainda o que se leciona com essas condições e deixa-se um conselho

42

sobre que se poderia lecionar de novo. No módulo 3 é feita a análise aos

alunos da turma, não esquecendo a caraterização médica e as medidas que

serão tomadas para superar os obstáculos que esses aspetos acarretam. No

módulo seguinte estabelece-se a extensão para as Unidades Temáticas

através de uma tabela que refere quais os objetivos para as capacidades

condicionais, para a cultura desportiva e para os conceitos psicossociais. O

módulo 5 é onde se encontram os objetivos gerais para as diferentes

categorias. No módulo 6 esclarece-se acerca da avaliação. Isto é, define-se

como se pretende avaliar as diferentes categorias transdisciplinares. No último

módulo explica-se como se pretende articular a EF com outras disciplinas.

No final pretende-se que este documento seja um bom auxílio para ser

utilizado a qualquer momento por nós, estagiários. Este foi um ano em que me

surgiram inúmeras dúvidas e para manter a coerência do início ao fim do ano

letivo como Professores, nada melhor do que utilizar este documento que serve

como base de orientação para todas as ações do Professor.

As unidades temáticas foram elaboradas de acordo com o modelo da

Vickers.

No primeiro módulo é feita uma análise da modalidade. Vickers (1990)

refere que aqui se encontra uma personalizada estrutura de conhecimento que

será utilizada no processo ensino aprendizagem. Aqui são explorados os

aspetos da cultura desportiva, as habilidades motoras, a fisiologia do treino e a

condição física e ainda os conceitos psicossociais.

No segundo módulo Vickers (1990) diz que são exploradas questões

acerca da compreensão e gestão do ambiente de aprendizagem. De facto, aqui

é feita uma análise das condições de aprendizagem, referenciando-se os

recursos espaciais, materiais e temporais.

O módulo seguinte é onde se faz a análise dos, através da caraterização

da turma e da avaliação inicial da modalidade em questão. Vickers (1990)

reparte para este módulo a necessidade de se observar com astucia os alunos.

Este módulo foi sempre prioridade para mim. A necessidade que tinha em criar

uma relação próxima dos alunos necessitava primeiramente que eu os

conhecesse bem.

43

No 4º módulo a nossa tarefa passa por desenvolver uma extensão e

sequência de conhecimentos que conduzirá os alunos através das experiências

planeadas de aprendizagem até ao final da unidade (Vickers, 1990). Neste

módulo encontra-se a Unidade Temática.

O módulo 5 é onde se definem os objetivos. Aqui aprimoram-se objetivos

para os alunos, tanto de forma geral como individual. A indispensabilidade

deste módulo traduz-se na necessidade da aprendizagem buscar certas metas

gerais, traduzindo assim o desenvolvimento do aluno.

No 6º módulo configura-se a avaliação. Este módulo está intimamente

ligado ao anterior, uma vez que é através da avaliação que se percebe se os

objetivos foram ou não atingidos.

O 7º módulo é caraterizado pelas progressões de ensino que são

utilizadas durante as aulas.

O último módulo diz respeito à aplicação de todo o planeamento.

Segundo Vickers (1990), este módulo concentra-se na realização, isto é,

colocar em prática o conhecimento organizado entre os módulos 1 e 7.

O módulo 2 e parte do 3 (caraterização da turma), independentemente

da modalidade em questão, são sempre bastante idênticos, uma vez que as

diferenças que as modalidades implicam, não têm resultados diretos nestes

módulos. Assim, são módulos que se constroem para uma UT e se mantêm

praticamente inalterados para as restantes.

Os planos de aula são documentos imprescindíveis no apoio da ação do

professor. Eles podem adquirir várias formas de acordo com o objetivo do

professor. Mais à frente, no capítulo 4.1.2.1. “Planeamento (Anual, UT e Aula)”,

irei desenvolver este tópico apresentando a minha forma ideal de Plano de

Aula.

3.7. CONHECER, ENSINAR, APRENDER E RECONHECER PRÓXIMO DO 9ºD

Neste ano letivo de 2011-2012 tive a possibilidade de conhecer uma

turma que jamais irei esquecer. O 9ºD era uma turma sempre bastante

educada. No início deste ano letivo a média de idades desta turma era de 14

44

anos e os alunos que a compunham eram de diferentes turmas no ano letivo

2010-2011.

Na primeira reunião de conselho de turma, foi feita uma pequena

descrição individual dos alunos e houve um aluno que me chamou atenção. O

seguinte relato foi retirado do DB no dia 14 de Setembro:

“O aluno (…) foi apelidado como sendo o «terror da turma». Muito falador, hiperativo e

com a mania que é engraçado, procura constantemente testar o Professor. Estes são

os casos que mais me interessam. Quando eu era aluno, o meu comportamento era

bastante similar ao deste aluno, sendo que estas situações despertam-me uma maior

vontade de trabalhar para perceber e desbloquear estes casos. Já nas experiências

pedagógicas que tive no último semestre, eram estes alunos que mais me

entusiasmavam, tendo acabado por nutrir uma afinidade especial por eles. É um

desafio saber como devemos lidar com eles e isso é o que me agrada”.

Na mesma reflexão, refiro uma outra caraterística individual de uma

aluna. O conhecimento desta caraterística foi determinante para a

compreensão de alguns dos comportamentos que ainda viria a ter, uma vez

que se trata de uma aluna completamente desintegrada da escola, muito

introvertida e com extremas dificuldades no relacionamento com os seus pares.

“Uma outra informação que nos foi dada diz respeito ao facto do Representante dos

Encarregados de Educação ser a mãe da aluna (…), alguém que pediu para que a sua

filha fosse isolada. Penso que uma pessoa que pensa assim, não deveria ser eleita

para um cargo tão importante na Escola, no entanto tenho que perceber que muitos

destes pais não têm disponibilidade para aceitar a função e apesar disso, a mãe da (…)

conhece a filha bem melhor do que eu e por eu não concordar, com base nos

conhecimentos pedagógicos que possuo, isso não quer dizer que ela esteja errada.

Talvez quando conhecer a aluna possa perceber melhor esta situação”.

Como se percebe por estes dois diferentes relatos, a biodiversidade de

uma turma é tremenda. Dentro dela, existem jovens completamente diferentes

que devem ser levados a relacionar-se de uma forma positiva. Essa

necessidade é neste caso dificuldade pela fase da “Idade da Parvalheira”9 que

9 “Idade da parvalheira” é informalmente vista como uma fase da adolescência onde o rapaz

(ou rapariga), assemelhando-se aos galanteios do pavão à sua fêmea, aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir e ser notado. Esta é uma fase que dura mais ou menos tempo, tendo em conta o tempo que o adolescente demora a ter alguma maturidade, a qual lhe permita dar-se conta de algumas situações ridículas a que se expõe. Metaforiza-se esta ação com a do pavão que, ao mostrar à fêmea o que tem de melhor, lhe vira as costas deixando exposto também o que tem de menos interessante: o ânus. Informações recolhidas no site: http://adolescentenet.blogspot.pt/2009/11/adolescencia-idade-da-parvalheira.html

45

os jovens atravessam na adolescência. O trabalho de Professor na tentativa de

criar um clima de aula propício a aprendizagem deve ter então todos estes

fatores em conta, tentando, no caso do Professor de EF ter uma redobrada

atenção na criação dos grupos e equipas para os exercícios das aulas.

A turma era composta maioritariamente por raparigas, 20 alunas do sexo

feminino e 7 do masculino, o que facilitava um pouco o comportamento geral,

mas que em contrapartida poderia ser um obstáculo em termos de motivação

nas práticas. Digo isto com base nos resultados obtidos por Maia (2003) e

confirmados por Couto (2010) quando afirmam que os rapazes possuem mais

vontade de praticar as aulas de EF do que as raparigas. Maia (2003) tenta

ainda justificar esses resultados com dois diferentes fatores. O primeiro

defende que os rapazes estão mais envolvidos em atividades desportivas

competitivas fora do contexto escolar. O segundo sublinha a importância dos

estereótipos masculinos em relação à participação em atividades físicas.

Para combater essa situação desde a primeira aula que apostei numa

relação professor-aluno com uma elevada proximidade, contrariando a ideia

que nos revoga a expressão e máxima de alguns professores “don’t smile until

christmas”, como se pode ver pelo relato que é feito no DB, no dia 21 de

setembro de 2011 após a minha primeira aula:

“Como já disse estava nervoso (…) Apesar de ter recebido, ao longo da minha

formação, informações de que se deve criar um primeiro contato com os alunos através

de uma atitude mais severa e se possível sem mostrar os dentes, senti que deveria ser

o mais verdadeiro possível e como tal transmiti uma postura descontraída e próxima”.

Acredito que muitos dos estagiários, deste e de anos anteriores, refiram

o mesmo, cada um deles com as suas particularidades e vivências, mas eu

sinto que fiz mesmo tudo o que poderia ter sido feito de forma a programar

todas as minhas ações com base nesta proximidade.

Para a realização do indivíduo não se pode excluir a importância fulcral

da afetividade. Todos os processos que envolvem o homem derivam da

interação. A interação entre sujeitos pode ser feita de várias formas. Ao longo

de todos estes anos de formação utilizei diariamente o comboio. Muitas dessas

vezes as viagens eram realizadas em hora de ponta, com o comboio lotado por

completo não havendo sequer lugares em pé com apoio. Noutras ocasiões

46

tinha lugar sentado, para mim e para a minha companheira de inúmeras

histórias, aventuras e aprendizagens, a minha mochila. Em qualquer das

situações, durante as viagens, tinha a possibilidade de viajar através da mente

por espaços indeterminados. Numa dessas viagens dei por mim a comparar as

diferentes formas, ou melhor, semblantes com que as pessoas entravam no

comboio. A grande maioria das pessoas, também devido à hora da viagem,

entrava no comboio com rostos carregados de sono, ou fatigados pelo longo

dia de trabalho. Evitavam cruzar olhares e quando estes ocorriam, rapidamente

redirecionavam o seu foco para um ponto longínquo, reforçando o seu ar

carregado e opaco. No entanto, por vezes existiam algumas exceções. Muito

longe a longe, lá aparecia alguém, normalmente mais velho, com um olhar que

transmitia simpatia. Se cruzássemos olhar com esse individuo, a probabilidade

de ele nos oferecer de volta um simples mas extraordinariamente reconfortante

sorriso era muito elevada. Daí para a frente a viagem, por muito que ainda

restasse, tornava-se mais calma, os minutos passavam com mais graciosidade,

e o meu dia ficava tocado por um simples momento, que não tinha durado mais

do que breves instantes.

Percebi que a afetividade, que aqui parece ser natural, ocorre

principalmente depois de muitos anos de experiência. Sublinhei o facto de

normalmente essa pessoa se tratar de alguém mais velho, o que em muitos

casos significa alguém mais ponderado, menos intransigente e

fundamentalmente mais vivido. A experiência de vida, nesses casos, parece

que transmite a necessidade de nos guiarmos com um maior clima de

afetividade. Ao contrário do que parece ser norma na idade

contemporânea, que é a valorização da mente e de todas as suas ações

inerentes, em detrimento do coração e à espontaneidade que lhe é

caraterística, algumas pessoas continuam a valorizar os antigos valores e

ideais que nos tornaram naquilo que somos agora. Quantos de nós já ainda

se lembra da última vez que entrou no posto dos correios, na mercearia ou no

talho e não ouviu ou disse “boa tarde” a quem já lá estava?

47

Existe um formalismo que aos poucos tem vindo a abarcar campos que

até então eram da afetividade. Esse formalismo evoluiu para algo que parece

não ter nome, mas que eu classifico como desinteresse pelos outros.

Com base em tudo isso, atrevi-me a levar para a Escola a afetividade

que parece estar a evaporar-se deste grande mar que é a humanidade.

Sêco (1997) diz que a Escola é um local de encontro de gerações, que

ultrapassou a perspetiva única de ensino. Atualmente é uma escola de massas

com uma biodiversidade riquíssima (crianças e jovens de várias classes) e

tornou-se num instrumento que tem como objetivo ensinar, educar e ainda

socializar.

Sêco (1997) define ainda ensino como “uma atividade interpessoal: no

caso limite, há um professor e há um aluno, resultando o processo da ação-

reação entre ambos estabelecida. A situação “docente/discente” constitui,

assim, o ponto de partida da transmissão de conhecimentos” (p. 60). O mesmo

autor conclui ainda que educar é estar com, mas refere que é um estar com o

outro, mais profundo, tentando conhece-lo realmente. A escola oferece essa

oportunidade, que para o autor, é a “mais significativa, mais profunda e que

realmente interessa na vida” (Sêco, 1997, p. 61).

É aqui que este autor (1997) dá o mote para toda a minha atuação neste

EP “ Na relação educativa, o papel do professor, em vez de ser de natureza

intelectual, passará a ser de ordem afetiva” (p. 61).

O aluno é de uma elevada complexidade. Todos eles quando

chegam à escola vêm carregados com a sua bagagem de experiências,

com os seus gostos e desgostos, com as suas valias e dificuldades.

Todos eles são seres únicos e os professores devem-lhes, por isso, uma

relação, também ela, única. A relação professor-aluno inicia-se com esta

base. No meu caso, a base era mais concreta porque desde o início que

pretendi criar ligações próximas entre cada aluno, e para isso todas essas

ligações teriam de ser únicas. Para que essa ligação se crie é necessário um

clima ótimo de confiança, diálogo, segurança e por tanto de afetividade.

48

Todo o meu desempenho foi balizado segundo estes pilares. Aquando

da primeira observação do PO Tiago Sousa, a 9 de novembro de 2011, eu

refiro o seguinte no DB:

“O Professor Tiago Sousa percebeu que eu tenho um controlo da turma democrático

(…) Quanto a isto, apenas foi-me dado o conselho de estar atento para que, num certo

momento em que seja necessário atuar de forma mais severa, eu esteja pronto. Esta

preparação é indispensável para quando os alunos demostrarem pela primeira vez

algum tipo de mau comportamento, eu seja capaz de o corrigir, evitando assim que

essa situação ocorra uma segunda vez. Caso eu não seja capaz de advertir, castigar e

corrigir certos comportamentos, eles poder-se-ão repetir”.

É no seguimento deste conselho que o episódio seguinte ganha especial

importância. Ao longo do ano letivo, o Professor Tiago Sousa por inúmeras

vezes me disse que sempre suspeitou um pouco da possibilidade de eu perder

o controlo da turma, de um momento para o outro, devido ao clima de

proximidade que criei com os alunos. Essas suspeitas ao longo do ano foram

desaparecendo e apesar das felicitações que me deram por isso, eu nunca

identifiquei claramente em que momento é que senti que ganhei

completamente o controlo da turma, sem perder a confiança e proximidade dos

alunos. Aqui fica o relato na 1ª pessoa, retirado do DB e escrito no dia 17 de

novembro de 2011:

“Nesta aula tive o meu primeiro grande momento de necessidade em controlar a turma.

Esta foi a segunda aula de 90 minutos de Orientação e como tive acesso aos mapas já

existentes da Escola criados pelo Professor Cooperante Fernando Vaz, foi-me possível

fazer jogos de ativação geral mais longos relacionados com a noção espacial dos

pontos cardeais. No entanto, logo no início da aula vários alunos se queixavam dos

mais diversos problemas que os impossibilitavam de poderem correr como: estarem

cansados, terem tido treino ontem à noite, estarem magoados ou ainda não terem o

calçado apropriado para o piso que estava um pouco escorregadio. Durante alguns

minutos tentei convencê-los a exercitarem com dinâmica mas nada feito. Dois alunos

(Pedro Vieira e Pedro Neves) simplesmente recusavam-se a correr. Percebi então que

era o momento de atuar e abandonar por momentos a atitude mais democrática com a

qual tento realizar a minha ação de ser professor. Chamei-os a todos e sublinhei o

facto de estarem sem qualquer motivação numa aula de E.F. e ironizei dizendo que

talvez se fosse matemática ou ciências estariam mais satisfeitos. Como estava no

espaço exterior, dirigi-me para a entrada do pavilhão gimnodesportivo sem dizer nada.

A turma de imediato seguiu-me e lá referi que quem quisesse ir tomar banho e ir

embora para pensar nas suas atitudes, podia ir que eu não marcaria falta, porque

preferia que não estivessem ali a destabilizar a turma. Quanto aos que quisessem fazer

a aula esses que viessem comigo novamente para o espaço exterior onde a mesma se

iniciou.

Nenhum aluno abandonou a aula e a mudança de atitude foi enorme. De um momento

para o outro os alunos perceberam o que tinham para fazer e quando eu passei para a

49

instrução do exercício seguinte, que já implicava a procura de algumas balizas

utilizando os mapas que eu ia fornecendo, toda a turma se aplicou com afinco.

Penso que esta situação foi absolutamente fulcral para o controlo da turma. Se tivesse

deixado passar esta situação sem atuar, provavelmente teria perdido o controlo da

turma para as próximas aulas”.

Este foi de facto o meu momento de afirmação enquanto líder. Foi o

primeiro problema nesta escala que vivi em termos de empenho dos alunos na

aula. Graças à minha atenção e capacidade para atuar de imediato, o controlo

da turma foi-me rapidamente devolvido e no final das aulas ainda recebi alguns

pedidos de desculpa por parte de alguns alunos.

Olhando agora para trás sinto-me orgulhoso pela decisão que tomei e

pelo resultado que esta teve. Mas não existem fórmulas milagrosas. Por acaso

(ou não) aquela ação correu lindamente com a minha turma, com o contexto

em que ela se inseria e com todas as variáveis. Talvez tenha corrido bem

porque o céu estava limpo, ou porque na véspera dessa aula todos os alunos

tivessem visto um belo programa televisivo. Talvez tenha corrido bem apenas

porque eu estava com uma camisola que favorecia os meus olhos, ou porque

eles tiveram algum teste adiado nesta semana. Talvez até tenha corrido bem

porque eu falei com o timbre adequado, ou eles viram o reflexo das suas caras

nos meus olhos. Ou, quem sabe, correu bem porque era exatamente aquilo

que eu deveria ter feito. Não tenho capacidade para dizer concretamente

porque correu bem ali e porque poderia correr mal noutro lugar, apenas

aconselho todos a serem capazes de decidir conforme a situação, mas sem

nunca esquecer a responsabilidade e autonomia que, caso seja verdade,

demos aos alunos no início das nossas relações. Os alunos são seres e por

isso sentem. Ninguém gosta de sentir que desiludiu alguém que

primeiramente confiou nele. Acredito que controlar esse sentimento é um

dos maiores trunfos que o professor tem quando decide ter uma relação

próxima e afetiva com os seus alunos. Se querem mesmo saber, não tenho

como referir concretamente porque é que neste dia esta minha atuação correu

tão bem. Sinceramente ainda não sei o que teria feito se algum dos alunos

tivesse decidido sair da aula como eu sugeri. Teria mais uma vez de utilizar

50

toda a minha capacidade de adaptação para reajustar a situação. Mas, ainda

bem que não tive essa necessidade.

Quanto a essa proximidade entre professor e alunos, ela foi ilustrada das

mais variadas maneiras ao longo deste ano letivo. Desde jogos de futebol entre

professores e alunos, a conversas pessoais com alunos acerca de problemas

que elas atravessavam no momento, passando pelas conversas que tinha com

grupos de alunos (grande parte deles que nem eram da minha turma) e

chegando a momentos de convívio como almoços, passeios e até o baile de

finalistas. Aproveito para deixar aqui a narração de um desses momentos, feita

no DB no dia 12 de abril de 2012:

“Enquanto decorriam as captações para a equipa de Futsal da escola (…) a aluna (…)

pediu para falar comigo a sós. Rapidamente me aproximei dela e perguntei-lhe qual era

o problema. Ela disse-me que o seu namorado (…) tinha rompido a relação com ela e

ela precisava da minha ajuda para lhe demonstrar o quanto gosta dele.

Como no almoço do final do 1º período ela me ouviu a tocar guitarra e a cantar, pediu-

me para fazer o mesmo, mas só para ela e para o namorado. (…) disse-lhe que ela

podia contar comigo, (…) , mas primeiro devia deixar passar uns dias para acalmar a

situação e depois, (…), falaria comigo para combinarmos exatamente o que pretendia.

Ela aceitou e pediu para não contar a mais nenhum dos Professores do Núcleo.

Atingir este nível de relacionamento com um aluno, ainda para mais uma aluna que

outros professores descrevem como complicada, é algo que me deixa extremamente

orgulhoso. Desde o 1º dia de aulas que pretendo estabelecer uma relação entre

Professor e alunos o mais próxima possível, porque acredito que assim consigo marca-

los com maior facilidade e simultaneamente, por mais tempo. Eles olham para mim e

não vêm só um Professor. Vêm-me como uma pessoa com a qual é fácil contactar e

que podem contar. Para que eles me vejam assim, eu tento vê-los da mesma maneira.

Não os vejo como uns meros alunos. Esta aluna não é a nºx do 9ºD. É a (…), que

gosta de nadar, não gosta que falem dela nas costas dela, gosta do (…), tem um feitio

especial e uma das suas melhores amigas é a (…) ”.

3.8. A MOTIVAÇÃO DO PROFESSOR COMO CATALISADOR DO EMPENHO DA TURMA

“Um dos aspetos mais importantes da motivação

humana é a capacidade de iniciar e de manter

esforços durante períodos prolongados de tempo”

(Ferreira, 2005)

A motivação é fulcral no processo ensino-aprendizagem.

51

Ferreira (2005) refere que nas aulas de EF, os alunos podem ter

diferentes níveis de motivação. Esses estados devem-se a diferentes razões,

podendo-se deduzir que a motivação deve ser considerada e analisada

conforme a heterogeneidade da turma.

A motivação quando relacionada com os alunos, é entendida por

Ferreira (2005, p. 16) como “uma variável chave para o desenvolvimento

equilibrado das aprendizagens, quer na Educação Física, quer noutras áreas,

todas elas relevantes para a aquisição das competências e desenvolvimento

das aptidões que (…) são essenciais nos dias de hoje para a integração do

indivíduo na sociedade”.

Mas no desempenho do processo de ensino não é só fundamental a

motivação dos alunos. Também os professores na minha opinião devem utilizar

esse estado para potenciar ao máximo os seus desempenhos. Em várias aulas

que assisti ao longo do meu percurso académico reforçou-se a importância do

professor estar constantemente motivado na realização da sua função.

Normalmente é estudada a motivação dos alunos, uma vez que está

intimamente relacionada com o empenho e com a aprendizagem dos mesmos.

No entanto eu questiono, não será de igual importância o professor estar

motivado na lecionação das suas aulas? Na minha opinião sim e é fácil

perceber-se porquê. Um professor motivado, tal como um aluno com essas

caraterísticas, é normalmente mais empenhado do que os restantes e isso

oferece mais qualidade às suas funções.

Em termos práticos, a primeira vez que percebi a importância da

motivação do professor remonta a uma experiência vivida no 2º semestre deste

ciclo de estudos, aquando de uma das observações de aulas que fiz em grupo

na disciplina de Didática Específica de Voleibol, na escola EB 2,3 Pêro Vaz de

Caminha. O grupo de colegas que na altura lecionava a aula surpreendeu-me

com uma simples ideia. Num exercício de passe, colocaram amarrados à fita

(que substituía a rede) balões cheios de ar, que deviam ser os alvos dos

passes dos alunos (um de cada lado da rede). Apesar de na altura o exercício

ter sido um pouco criticado pelo Professor Rui Araújo, uma vez que os balões

não estavam bem amarrados à fita, o que fez com que se soltassem com o

52

passar do tempo, eu facilmente detetei uma mudança que essa simples

estratégia causou. Através da utilização dos balões, os meus colegas foram

capazes de quebrar com a monotonia que vinha envolvendo a aula e a

resposta dos alunos foi fantástica. Todos eles se mostraram mais empenhados

e motivados do que normalmente porque, na minha opinião, viram as rotinas

das suas aulas quebradas. Com a utilização de apenas alguns balões, os meus

colegas foram capazes de mostrar um interesse maior aos alunos e eles

retribuíram da mesma forma.

Estratégias como esta, bem simples mas capazes de quebrar com a

monotonia criada ao longo das aulas, são, na minha opinião, fundamentais

para manter a turma empenhada.

No meu EP, na lecionação da UT de Atletismo, passei por um episódio,

um quanto idêntico ao que referi anteriormente. O seguinte excerto foi retirado

no DB e foi escrito no dia 23 de novembro:

“De acordo com a progressão feita ao longo das últimas aulas, nesta decidi introduzir a

partida de blocos. A escola da Sobreira não possuía este tipo de material e como tal o

núcleo de estágio encarregou-se de criar vários blocos de partida de madeira. (…)

Reparei que a introdução deste novo material aumenta bastante a motivação dos

alunos, uma vez que eles se sentem valorizados por terem um Professor que tenta

oferecer-lhes o maior e mais vasto número de experiências possíveis”.

Tentar fugir da monotonia foi um dos meus grandes princípios bases.

Para isso, recusei-me constantemente a repetir exercícios de ativação geral,

tentando que os alunos se sentissem, através da novidade, constantemente

motivados. No entanto, essa necessidade de busca por exercícios inovadores

acabou por criar certas limitações, ou não tivesse eu lecionado 93 aulas.

Durante as aulas lecionadas, os alunos demonstraram sempre um

empenho menor, talvez aliado a uma maior desconcentração, quando o

exercício de ativação geral já tinha sido feito numa aula anterior. Refira-se o

episódio de dia 24 de novembro presente no DB:

“Nesta aula voltei a ter alguns problemas (…) no exercício de ativação geral. Depois de

na semana passada alguns alunos terem tido uma prestação menos dinâmica (…)

pretendi testá-los colocando o mesmo exercício para a parte inicial da aula. (…) Dois

alunos mostraram um nível de empenhamento motor muito abaixo do pretendido, como

tal terminei com o exercício e chamei toda a turma a atenção”.

53

Aqui percebe-se o porquê da necessidade de procurar constantemente

novos exercícios para a parte inicial da aula. Desta forma evitava momentos de

menor empenhamento por parte dos alunos. É claro que isto também traz

desvantagens. Esta necessidade de procura por novos exercícios obriga a que

as rotinas desta parte inicial da aula não sejam muito profundas, e também

obriga o professor a que em todas as aulas tenha um novo momento de

instrução para explicar o exercício, algo que se evita quando se utiliza

exercícios das aulas anteriores. Apesar disso, acredito que alterando

constantemente os exercícios, no final do ano percebe-se que se ofereceu um

maior espetro de exercícios, dinâmicas e atividades aos alunos, alargando o

seu desempenho em detrimento de o aprofundar. Por outro lado a falta de

rotinas nesta fase inicial da aula era compensada pelas rotinas existentes na

parte fundamental da aula, onde aí sim os alunos, de forma a poderem

consolidar certas habilidades, repetiam de aula para aula certos exercícios ou

variantes dos mesmos. Assim, o tempo que se despende na instrução dos

exercícios de ativação geral era compensado pela inexistência ou ocorrência

em menor frequência deste comportamento do professor, nos exercícios da

parte fundamental.

E qual é a utilidade de se colocarem exercícios mais criativos e

invulgares na parte inicial da aula? Para responder a isso atrevo-me a

responder com base na experiência acumulada neste Estágio Pedagógico.

Ao longo deste meu percurso no Estágio percebi que a parte inicial da

aula é fundamental para desde logo conseguir um bom controlo da turma.

Percebi isso diretamente nas minhas aulas e de forma indireta nas

observações que fiz aos meus colegas de NE.

Um desses colegas de núcleo revelou algumas dificuldades no controlo

da sua turma. Entre as inúmeras estratégias que o PC Fernando Vaz lhe

indicou para colmatar essa situação, uma delas foi, para mim, muito rica em

termos práticos. O Professor Fernando disponibilizou-se a lecionar uma aula de

Natação à turma em questão, para que todo o NE pudesse perceber o que

fazer para melhorar essa importante caraterística da aula. De seguida refiro os

relatos feitos no DB acerca desta situação, datados de 8 de Fevereiro de 2011;

54

“Desde o início do ano que o núcleo de estágio vinha a questionar-se como seria o

Professor Fernando a lecionar uma aula. (…) Uma vez que o maior problema que o

colega Vítor tem vindo a ter com esta turma se refere ao controlo da turma, o Professor

Fernando desde cedo tentou controlar isso. (…) Começou por no início da aula, atribuir

a tarefa individual de cada aluno transportar o seu material (placa, pullboy e

esparguete) e de seguida fez com que toda a turma se sentasse nas bancadas.

Depois, referiu as rotinas que esta aula viria a ter, demonstrando claramente que não

iria abrir exceções (castigou dois alunos que chegaram atrasados) e por outro lado

referiu o que seria abordado na aula.

Nestes momentos em que a turma esteve sentada na bancada, o Professor aproveitou

para demonstrar que tem total controlo sobre a mesma. Estes momentos são ideais

para prevenir certas situações de descontrolo e para relembrar outras que foram

vivenciadas durante aulas passadas”.

A primeira impressão de cada aula é fundamental para que os

alunos se sintam bem liderados. Para que eu acredite no meu líder, é de

supor, que o admire por quem ele é, pela sua forma de ser e também pelo

que ele me oferece. Se nesta parte inicial da aula o líder/professor oferece aos

alunos algo que já ofereceu em aulas anteriores, os alunos vão perdendo a

motivação, o que poderá levar à falta de empenho e daí para a existência de

comportamentos desviantes (mau comportamento) o passo é muito curto.

Esta ideia é defendida por (Ferreira, 2005) quando diz que motivação é

responsável pelas variáveis mais importantes e condicionantes do rendimento

e da eficácia do comportamento.

Mesmo no caso dos exercícios que são muito bem acolhidos pelos

alunos, ao final da terceira ou quarta vez, que eles os exercitam, o encanto vai-

se perdendo. E se o encanto (motivação e empenho), de um aluno por uma

aula, se perde logo no início da mesma, é de esperar que a restante aula

ocorra com os mesmos sentimentos, como que numa debandada. É, na minha

opinião, muito mais complicado motivar um aluno a meio da aula, do que logo

no início da mesma. E é por isso que defendo que os exercícios de ativação

geral devam mostrar o máximo de criatividade dos professores e proporcionem

aos alunos atividades divertidas, motivadoras e fora das suas rotinas.

55

3.9. O BOM PROFESSOR

De uma forma ligeira, Professor é um indivíduo profissional com

conhecimentos específicos na área da educação, que o tornam preparado,

disponível e competente para essa função.

Para A.C. Cunha (2008) o profissional tem um conjunto de

conhecimentos especializados de caráter científico, técnico, humanístico ou

artístico. O indivíduo deve ser capaz de transferir esses conhecimentos para a

prática profissional e social.

Um profissional, independentemente da sua área, deve ser capaz de

mostrar no seu desempenho, uma profunda e vasta capacidade de utilização

dos vários conhecimentos que lhe foram transmitidos durante a sua formação.

Socialmente, a profissão de professor está associada a alguém que

beneficia de longos períodos de férias e com um reduzido horário de trabalho.

Este sentido pejorativo com que a sociedade vê o professor parece não

justificar as dificuldades que estes profissionais passam.

A.C. Cunha (2008) vai mais longe e diz que as difíceis condições do

exercício profissional, a degradação dos níveis salariais, o estatuto social, a

ausência de perspetiva de construção de um projeto futuro na profissão, a

instabilidade da atividade principalmente para os professores mais jovens, e o

desgaste físico e psíquico permanente, visível após 15/20 anos de exercício de

funções, tornam a profissão de Professor é de difícil função e organização.

A identidade do professor é algo que se desenvolve ao longo da vida em

diferentes espaços, onde emergem normas, códigos e valores do

comportamento desse mesmo profissional. Depois, essa mesma identidade

será demonstrada através da ação do professor na sua prática.

Devido às constantes alterações resultantes da evolução da sociedade,

o Professor necessita de acompanhar estas mesmas alterações. Esta

necessidade de reinventar-se invoca a capacidade de se reajustar as

alterações que se vivem na idade contemporânea e também a necessidade do

professor ser um “artista de várias funções”. Ao longo de um ano letivo, um

professor tem funções tão diversas quanto se pode imaginar. Dando o meu

56

exemplo concreto, ao longo do ano letivo 2011/2012 tive a possibilidade de, em

diferentes situações, ser educador, amigo, professor, treinador, psicólogo,

nutricionista ou colega. Aqui se pode ver a diversidade das tarefas que um

professor tem. Elas diferem consoante o sistema onde o professor está

inserido, seja na sua turma, no conselho de turma, na direção de turma, na

administração e gestão escolar, no conselho pedagógico ou no departamento a

que pertence.

Quanto à forma de atuação, o Professor jovem comparativamente com o

Professor mais experiente parece apoiar-se principalmente no conhecimento

específico da sua formação de base. Ele considera na sua prática quase só os

programas e os conteúdos, mantendo-se aparentemente indiferente aos

métodos e às técnicas pedagógicas ou até aos interesses e dificuldades dos

alunos (Cavaco, 1990). A experiência, é por tanto, algo que, através da

formação contínua, torna o professor um profissional bastante mais competente

na sua prática docente. Eu, desde já alertado para essa realidade, terei de

fazer os possíveis para não repetir os erros dos professores mais jovens, nas

próximas experiências pedagógicas que tenha. Ao longo deste ano, sinto que,

apesar de ter começado por cometer alguns dos erros apontados, consegui

com o passar do tempo, melhorar esses detalhes, tornando-me num professor

mais competente baseando-me principalmente nas reflexões.

A autonomia do professor é outra caraterística que percebi ser

fundamental. Esta caraterística é uma qualidade que deveria ser aspirada por

todos na prática da atividade profissional. Associada à autonomia surge o

conceito de liberdade. A capacidade de intervir na nossa vida com total

liberdade é condição base para a autonomia individual.

Rodrigues (2009) diz que pelo facto do Professor estar normalmente

sozinho na sala de aula e ser obrigado a decidir e a conduzir todo o processo

educativo de forma direta e interativa, dir-se-á que é um sujeito autónomo.

Esta capacidade de decidir e atuar sozinho, normalmente conduz a uma

certa marca de individualidade nos sujeitos. As escolhas que são feitas pelo

Professor são um reflexo dessa individualidade, tornando-se por isso difícil

decidir, quando a pessoa não é autónoma.

57

A entrada pelos domínios do que é, ou não, o bom professor, não pode

ser feita de forma ténue. A abrangência deste termo e das suas componentes é

de tal ordem complexa que se reitera a necessidade de fundamentação das

ideias. Assim, parto em busca daquilo que, atualmente é defendido como o

bom professor.

A.C. Cunha (2008) refere que a conceção de bom professor está

inerente à condição humana, à condição profissional e às interações entre as

duas. Dele deriva um conjunto de caraterísticas que são valorizadas de forma

diferente, conforme o público que o classifica.

No estudo desenvolvido por M.I. Cunha (1988), os resultados

demonstram que para os alunos, o bom professor é uma pessoa especial, que

demonstra prazer em interagir com eles e entusiasmo em ensinar. É ainda

sério no ensino dos conteúdos e está ligado afetivamente ao seu campo de

saber. Este estudo ainda demonstra que o bom professor é alguém que

procura desenvolver em si condições para ensinar e goza de boas habilidades

de ensino.

De facto, a tentativa de classificar o que é um bom professor é um sério

problema devido aos inúmeros fatores que condicionam o perfil desses

profissionais. De acordo com isto M.I. Cunha (1988) diz que há várias maneiras

de responder às exigências desta profissão. No entanto isso não impede que o

professor deva conhecer profundamente a matéria de ensino, criando assim

situações que permitam aos alunos apropriar-se dela eficazmente.

Esta busca pelo reconhecimento das caraterísticas que tornam um

indivíduo num professor com mais qualidade, não é de agora. Desde de 1920,

(Graça, 1997) que testes de personalidade, listas de caraterísticas do bom

professor segundo a opinião dos alunos e avaliações impressionistas de

diretores escolares ou professores eram usados para categorizar professores e

permitir a comparação dos resultados dos alunos em testes estandardizados

ou em exames.

No seu estudo M.I. Cunha (1988) conclui que o conceito de bom

professor é valorativo e referencia-se a um tempo e a um lugar. O contexto é

fundamental para todas as capacidades humanas que envolvam interação

58

entre sujeitos. A capacidade de adaptação a um novo contexto é fundamental

para que o professor seja capaz de entender a comunidade escolar, criando as

suas estratégias de ensino de acordo com elas.

Por fim, a mesma autora explica que os bons professores são os

melhores dentro de uma conceção de educação, de ensino e de aprendizagem.

Caso essas conceções sejam alteradas, o conceito de bom professor

certamente também o será. Sublinha-se assim a ideia de que um bom

professor não é um indivíduo com características imutáveis. Essa qualidade

está inerente a várias condicionais que já foram referidas nos parágrafos

anteriores. É fundamental que um professor seja capaz de encontrar a melhor

forma de ser, sendo o melhor para cada escola, para cada turma, para cada

aula, para cada matéria lecionada e ainda para cada aluno.

3.10. REFLETIR TRANSFORMANDO A AÇÃO

“O profissional competente deverá ser (…) um prático reflexivo, capaz de

produzir conhecimentos segundo as suas experiências”

(A.C. Cunha, 2008)

Ao longo do meu percurso neste último ano letivo, houve uma

caraterística que achei fundamental para me tornar num melhor professor.

Refiro-me à capacidade de reflexão.

O professor na sua prática por muitas vezes é confrontado com

situações complexas e com uma singularidade tremenda. A peculiaridade

destas situações estão normalmente relacionadas com o contexto em que

ocorre a mesma. A.C. Cunha (2008) defende que esta complexidade das

situações obriga o professor a possuir um maior conhecimento científico,

técnico, rigoroso e profundo, bem como uma elevada capacidade de

questionamento, análise, reflexão e de resolução de problemas.

Para que um professor seja capaz de dominar todas as qualidades

anteriormente referidas, é necessário que a sua capacidade de reflexão seja

mais profunda e que englobe todas as componentes. È necessário que a

59

sensibilidade e atenção do professor estejam desenvolvidas de tal modo, que

nada que possa ser um importante alvo de reflexão lhe passe ao lado.

Segundo Dewey (cit por Rodrigues, s.d.) a melhor maneira de pensar é o

que ele denomina por pensamento reflexivo, isto é, um pensamento que

consiste em examinar mentalmente um assunto e dar-lhe consideração séria e

consecutiva. Evidencia-se deste modo uma distinção entre o simples ato de

pensar e o ato de pensar reflexivamente.

Schön (1987) diz que se pode refletir sobre a ação, pensando no que

fizemos para descobrirmos a nossa contribuição para um resultado inesperado.

De forma idêntica, Dewey (cit por Rodrigues, s.d.) afirma que o pensamento

reflexivo visa a uma conclusão, devendo sempre conduzir-nos a algum lado.

Dewey (cit por Rodrigues, s.d.) valoriza os saberes da experiência, por

serem os saberes a que primeiro recorremos durante a atividade reflexiva. A

reflexão é entendida por este autor como um processo de pesquisa e

experimentação.

Sugerindo a forma como poderemos refletir, Shön (1987) refere que

“podemos fazê-lo em tranquilidade após a ação, ou podemos fazer uma pausa

durante a situação” (p. 26). Este autor realça a existência de três diferentes

formas de reflexão: a “reflexão na ação”, a “reflexão sobre a ação” e a “reflexão

sobre a reflexão na ação”. A reflexão na ação é a reflexão que é feita durante o

acontecimento, e tem resultados bastantes similares com a reflexão sobre a

ação que é realizada logo após o acontecimento. Mais diferente é a reflexão

sobre a reflexão na ação, que é realizada com um intervalo de tempo maior,

permitindo ao sujeito um maior desenvolvimento resultante da reflexão.

O mesmo autor (1987) assume que “a nossa reflexão acerca de uma

ação passada pode modificar indiretamente a forma de uma futura nova ação”

(p. 31). Este é um objetivo da reflexão, oferecer diferentes soluções a situações

que nos vão surgindo nas nossas ações, tornando-nos em seres mais

preparados e adaptáveis.

Com esta capacidade reflexiva, pretende-se que o docente seja capaz

de centrar-se nos problemas que lhe vão aparecendo, consciencializando-se

dos mesmos, para de seguida estruturar uma solução. Essa solução surge na

60

tentativa de transformar a forma de abordar o processo de ensino-

aprendizagem.

Por analogia ao conceito de professor reflexivo, Alarcão (2001)

desenvolve o conceito de escola reflexiva designando-o como uma

“organização escolar que continuadamente se pensa a si própria, na sua

missão social e na sua organização, e se confronta com o desenrolar da sua

atividade em um processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo.

(…) Só a escola que se interroga sobre si própria se transformará em uma

instituição autônoma e responsável.” (p. 25).

Pensar na escola deste modo, é pensar no presente da escola de forma

a projetar o futuro. Considerando os problemas atuais, tenta-se melhorar a

educação praticada na escola, envolvendo no processo todos os membros do

processo educativo de forma a valorizar o valor da aprendizagem que daí

resulta. Percebe-se então que a abrangência de um processo reflexivo não se

restringe ao docente. A escola e todos os seus membros devem ser alvos

deste processo de forma a permitir ganhos significativos a nível do processo de

ensino e aprendizagem.

3.11. AVALIAÇÃO – UM PROCESSO ÚTIL DEVIDO À SUA COMPLEXIDADE

Não se pode falar em Escola sem que a ideia de avaliação nos venha à

cabeça. Os processos de ensino-aprendizagem invocam uma necessidade de

desenvolvimento das capacidades dos seus destinatários. Esses processos

precisam ser controlados percebendo quanta foi a evolução, isto é

desenvolvimento das capacidades do sujeito. Esse controlo é feito através da

avaliação. A avaliação dos resultados permite então um conhecimento do

rendimento do aluno. Impede-se assim que alunos avancem por diversos

ensinos, sem saberem as lacunas que têm ou se vão formando até chegarem a

um ponto crítico onde não poderão realizar novas aprendizagens por falta de

conhecimentos bases necessários.

Carrasco (1985) utiliza uma metáfora extremamente bem conseguida

entre este processo e uma balança. Quando nos pesamos, ou melhor,

61

medimos a massa do nosso corpo, através de uma balança, é nos dado um

valor. Esse valor, normalmente expresso em quilogramas, cria em nós

sensações de alegria ou tristeza que dependem dos juízos de valor que

fazemos perante o mesmo. O valor em si, sem comparação com a norma pré-

estabelecida não nos diz nada. Se alguém diz que a Anabela pesa 56 kg,

ninguém pode dizer que ela é gorda ou magra: depende sua idade e estatura.

O valor em si é uma simples medição. O juízo de valor que se obtém a partir da

medição, ao compará-lo com a norma estabelecida é uma avaliação. Assim é

preciso sublinhar que o conceito de avaliar é mais amplo do que medir.

Normalmente quando se pensa em avaliação, rapidamente surge a ideia

daquele momento formal e de grande nervosismo onde os alunos são

avaliados individualmente, isto é o momento de exame final. Apesar da

utilidade desse momento, devido a capacidade que tem de verificar a eficácia

do processo educativo, a verdade é que a avaliação é muito mais do que isso.

A avaliação deve ter sempre um carater contínuo. Esta caraterística

permite que, assim se detete alguma deficiência no processo de avaliação, seja

possível rapidamente atuar tentando remediá-lo. Carrasco (1985), carateriza a

avaliação contínua como sendo sistémica, isto é planeada, permanente, ou

seja sem interrupções, integral de forma a englobar todo o contexto escolar,

pessoal, social e familiar, consequente para detetar as deficiências existentes,

personalizada orientando os alunos de forma individual, diagnóstica refletindo

as deficiências e orientando as respetivas correções, cientifica utilizando

técnicas, métodos e procedimentos adequados e por fim cooperativa

envolvendo todas as pessoas envolvidas, alunos, professores e pais.

Para além deste carater contínuo, existem momentos que são

absolutamente fundamentais para a riqueza global deste processo.

O primeiro momento refere-se à avaliação inicial. Esta serve como base

para o planeamento da ação educativa da turma em geral e do aluno em

concreto. Entende-se então que esta é de extrema importância, uma vez que

determina o ponto de partida em que estão os alunos e partindo desse quadro,

torna-se possível traçar um plano ajustado à situação, evitando erros de

planeamento.

62

A avaliação formativa 10 permite ao professor conhecer o estado do

desenvolvimento do aluno. Através dela revelam-se as dificuldades do

processo, e por isso, é fundamental que este momento esteja centrado em todo

o processo de ensino-aprendizagem. Assim, através da perceção das

dificuldades, é possível ao professor tomar medidas de ajustamento, tentando

assim corrigi-las e remedia-las. A avaliação formativa é desta forma, uma

ferramenta extremamente útil na regulação do processo ensino-aprendizagem.

A avaliação final é, portanto, de forma ligeira vista como aquele

momento já referido como de exame onde o formalismo está mais ou menos

evidenciado. Carrasco (1985) refere que “no sentido estrito da expressão

nunca se pode falar de avaliação final, pois a educação realiza-se, para cada

pessoa, ao longo de um processo sem fim”. Este momento é visto como o

resultante de todas as avaliações verificadas ao longo do processo, e é onde

se expressa o resultado final. Este resultado final, pretende-se sempre

passageiro, uma vez que espera-se que seja apenas o ponto de partida para

processos futuros.

No processo educativo, o professor está diretamente relacionado com a

avaliação dos alunos e da aprendizagem. Na tarefa avaliativa, o professor

precisa conhecer o contexto na qual se vai realizar a tarefa, os requisitos

relacionados com o projeto educativo, a avaliação do processo e por fim a

avaliação do produto (Portela, 2009).

Os juízos de valor parecem também tornar menos claros os processos

de avaliação. A avaliação deve ser feita com exatidão e por isso, é fundamental

que o Professor seja capaz de se centrar com exatidão naquilo que é

importante.

Quanto às formas de avaliação, a heteroavaliação consiste na

valorização do rendimento escolar por parte de pessoas distintas ao próprio

aluno. Já a autoavaliação consiste no juízo de valor que o aluno faz do seu

próprio rendimento educativo. Esta segunda forma de avaliação, faz sentido

numa perspetiva de que o aluno é o principal responsável pela sua formação.

10

Informações recolhidas do documento criado pela Professora Doutora Paula Botelho Gomes e facultado na disciplina de Didática Geral do Desporto “Análise e Avaliação do Ensino” para o ano letivo 2010/2011.

63

Desse jeito, a capacidade de perceção do seu próprio nível de

desenvolvimento está intimamente ligado ao estado do mesmo. Ou seja,

pretende-se que os alunos, através da sua autoavaliação, sejam capazes de

reunir condições mais favoráveis para o desenvolvimento dos seus potenciais.

Pode-se ainda optar por uma avaliação mista onde o Professor e o aluno

avaliam juntos o rendimento do segundo. Aqui o aluno emite juízos de valor

acerca do que fez e o Professor encarrega-se de aceitar ou reorientar os

mesmos, conforme julgue melhor (Carrasco, 1985).

Para uma boa avaliação, é necessária uma excelente classificação. O

professor deve ter consciência de como classifica os alunos e para isso os

critérios têm que ser claros tanto para ele como para os próprios alunos e

respetivos encarregados de educação. Ao longo do estágio, em certos

momentos de avaliação, senti enormes dificuldades em ajustar o nível de um

aluno à classificação. Não é fácil perceber se aquele aluno merece uma nota 3

ou 4 numa avaliação prática. Na disciplina de EF as notas expressam

principalmente aquilo que os alunos fazem na prática. Assim, o professor tem a

necessidade de classificar em poucos segundos uma habilidade realizada pelo

aluno instantes antes. Para isso, é absolutamente fundamental que o professor

tenha presente em si, e de forma clara, os critérios de avaliação. Mas quando

se avaliam simultaneamente 27 alunos, como me aconteceu durante este ano

letivo, torna-se difícil olhar com objetividade e de forma individual para cada um

deles.

Digo assim que a avaliação pode ser um processo “importantizado”.

Com isto não estou a questionar a importância deste valioso instrumento

educativo. Esta afirmação só tem sentido quando se percebe que encarno

naqueles indivíduos que pensam que todo o complexo processo de avaliação é

apenas sinónimo de avaliação final. Esse momento, na disciplina de EF não

pode nunca ser visto como a única forma de avaliar os alunos. Como já referi é

impossível para o professor, avaliar com objetividade toda uma turma numa

sessão de 45 ou 90 minutos. A avaliação contínua é então, uma ferramenta

que se bem utilizada, pode debelar algumas destas falhas. A necessidade de

um acompanhamento constante é fundamental para o processo ensino-

64

aprendizagem. Porém, o processo de avaliação é apenas, todo ele útil, quando

mergulhado na grande complexidade dos seus diversos momentos.

3.12. MODELOS INSTRUCIONAIS (INSTRUÇÃO DIRETA, DESENVOLVIMENTAL,

EDUCAÇÃO DESPORTIVA)

Existem de facto inúmeros modelos de instrução que podem ser

utilizados através das mais variadas técnicas de ensino. Opto por referir neste

ponto apenas 3 desses modelos, por se tratarem de modelos com

características completamente diferentes.

Os modelos de ensino que serão aprofundados neste ponto são o

Modelo de Instrução Direta (MID), o Modelo Desenvolvimental (MD) e o Modelo

de Educação Desportiva (MED).

De facto, não há nenhum modelo que seja adequado a todos os

contextos e envolvimentos de ensino. O sucesso da aplicação do modelo

depende da ponderação de todos os fatores inerentes a uma prática

desportiva. Com base nesses fatores, é que se poderá escolher um modelo de

instrução mais centrado no agente de ensino e nas suas recomendações ou

um modelo que oferece mais liberdade e iniciativa aos participantes.

Modelo de Instrução Direta

“O MID carateriza-se por centrar no professor a tomada de praticamente

todas as decisões acerca do processo ensino-aprendizagem” (Graça &

Mesquita, 2009, p. 62).

Os mesmos autores referem que através deste modelo, o professor

realiza um total controlo da aula, determinando com rigor as regras e rotinas de

gestão e a ação dos alunos, tentando assim obter máxima eficácia nas

atividades desenvolvidas pelos alunos.

Graça e Mesquita (2009) referem que este modelo demonstra grande

aplicabilidade em contextos de prática desportiva e por isso é recorrentemente

utilizado nas aulas de EF. Para isso a monitorização e o controlo próximo das

atividades são estratégias frequentemente utilizadas pelos professores.

Modelo Desenvolvimental

65

“O MD de Rink (1996) assenta no postulado de que «um bom

desenvolvimento do conteúdo pode melhorar a aprendizagem», porquanto não

é possível aprender tudo de uma só vez, sob pena de se incorrer no risco de

nada aprender (…) O MD decorre da assunção de que a matéria de ensino

exige um tratamento didático, materializado na manipulação da complexidade

das situações de aprendizagem (aumento ou diminuição) e na estruturação do

desenvolvimento do trabalho do aluno” (Graça & Mesquita, 2009, p. 51).

McGown (cit. por Graça & Mesquita, 2009) refere que este modelo

subentende que “a prática, por si só, não proporciona aprendizagens

consistentes e duradoiras” (p. 51).

Para que se atinjam níveis ideais de aprendizagem, Famose (cit. por

Graça & Mesquita, 2009) refere que é necessário fazer-se um ajustamento da

dificuldade das tarefas ao nível de desempenho dos praticantes, considerando

assim as individualidades de cada sujeito, sem esquecer a fase de formação

desportiva em que o mesmo se encontra.

Para isso Riera et al. (cit. por Graça & Mesquita, 2009) refere que “para

favorecer a aprendizagem, é indispensável que o praticante seja confrontado

com um problema a resolver, mas que a solução, e acima de tudo as condições

para a sua efetivação, estejam ao seu alcance” (p. 52).

Neste modelo existe a necessidade de conhecer o nível do praticante,

sabendo o que ele é capaz de fazer, de forma a desenvolver o seu potencial

através da aprendizagem para no futuro, se encontrar num nível superior.

Modelo de Educação Desportiva

Segundo Curnow e Macdonald (cit. por Graça & Mesquita, 2009) “O

MED proposto por Siedentop (1987) vai ao encontro da necessidade de

conferir um cunho afetivo e social às aprendizagens. (…) O modelo define-se

como uma forma de educação lúdica e critica as abordagens

descontextualizadas, procurando estabelecer um ambiente propiciador de uma

experiência desportiva autêntica, conseguida pela criação de um contexto

desportivo significativo para os alunos, o que pressupõe resolver alguns

equívocos e mal-entendidos na relação da escola com o desporto e a

competição” (p.59).

66

Graça e Mesquita (2009) referem que neste modelo existem três eixos

fundamentais: a “competência desportiva”, a “literacia desportiva” e o

“entusiasmo pelo desporto”. Segundo Siedentop (cit por. Graça & Mesquita,

2009) a competência está relacionada com o domínio das habilidades de modo

a participar na competição de modo satisfatório e com a compreensão e

adoção de um comportamento apropriado ao nível de prática em que se insere.

Por sua vez, culto significa que o sujeito conhece e valoriza as tradições e

rituais desportivos e que sabe distinguir a boa da má prática desportiva. Por

fim, entusiasta quer dizer que a prática do desporto atrai o indivíduo tornando-o

um promotor da qualidade e defensor da autenticidade da prática desportiva.

Este modelo pode ser aplicado a todas as atividades desportivas

desenvolvidas na aula de EF, quer sejam individuais ou coletivas. No entanto,

mesmo nas modalidades individuais, formam-se equipas de forma a diminuir ao

máximo as comparações de resultados individuais.

Os três modelos instrucionais apresentados oferecem diferentes

contributos no âmbito do ensino das atividades físicas e desportivas.

Segundo Graça e Mesquita (2009) o MID torna-se útil em contextos

transversais de prática desportiva e em momentos específicos do processo

ensino-aprendizagem. Já o MED demonstra ter uma extrema validade em

múltiplas atividades valorizando a dimensão humana e cultural do Desporto

bem como a socialização desportiva através da promoção da inclusão e

colocando os alunos a assumir diferentes papéis e responsabilidades. Por fim,

o MD demonstra ser imprescindível no momento de estruturação do processo

de instrução, através do entrelaçamento da matéria de ensino com os

princípios didáticos.

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA

PROFISSIONAL

69

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1. ÁREA 1: ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO PROCESSO DE ENSINO E DA

APRENDIZAGEM

4.1.1. UM MUNDO POR DESCOBRIR: NECESSIDADE DE ADAPTAÇÃO

Aquando da minha chegada à escola, o meu estado de preparação para

a atuação neste contexto real estava longe de ser o ideal. Para superar essa

situação, tive então de preparar-me conhecendo as particularidades do

contexto onde me inseria e partindo daí traçar um caminho ideal para as

minhas futuras ações.

No primeiro contato com o PC e com o restante NE, foram-nos

apresentadas as instalações desportivas da escola. Partindo dessa informação,

o PC aproveitou desde logo para referir que normalmente as suas turmas

costumam ser de 3º ciclo e são presenteadas nas aulas de EF com o ensino de

modalidades optativas.

Mais tarde, a direção da escola promoveu uma reunião com todo o corpo

docente, tendo esta servido para a apresentação dos novos membros, bem

como para a atribuição e divulgação de funções importantes na comunidade

escolar, refiro-me aos componentes dos diferentes departamentos e grupos de

disciplinas, bem como as direções de turma. Para além disso foi-nos também

fornecida um vasto conjunto de informações acerca do funcionamento da

escola, como o número de alunos, a terminologia das escalas de avaliação e

ainda o calendário escolar.

Com esta primeira base de informação, chegou o momento de eu

aprofundar o conhecimento acerca da realidade e contexto escolar e também

do processo de organização e gestão do ensino e da aprendizagem.

Em relação ao contexto escolar, como já referi a minha localidade é

vizinha desta e pertence ao mesmo concelho. Assim, as semelhanças entre os

dois locais são imensas o que me fez compreender com mais facilidade as

particularidades desta região.

70

Depois tive a necessidade de analisar o Projeto Educativo da Escola de

forma a compreender a identidade da escola. Depois através da análise do

Regulamento Interno, especificamente a parte da disciplina de EF, foi possível

o estabelecimento de regras de comportamento, fundamentais para o processo

de lecionação.

O grupo de EF elaborou um documento onde se calendarizaram todas

as atividades organizadas pelo grupo. Este documento, denominado Plano

Anual de Atividades pretende fornecer uma base de trabalho para todo o grupo

e por isso é sua utilidade é inquestionável uma vez que fornece uma base para

que os elementos do grupo possam organizar com qualidade as atividades

visadas, evitando assim que as mesmas sejam mal planeadas dando aso a

erros e problemas que facilmente se evitam com um bom planeamento.

Mais tarde a análise do Plano Nacional de Educação Física do 3º ciclo,

para o 9º ano de escolaridade foi ponto-chave para a minha preparação para

as funções docentes.

Sem dúvida que a análise deste último documento foi preponderante

para a minha preparação. No entanto, este documento não fornece pontes

entre o que apresenta e o que existe na realidade escolar, isto é as dificuldades

das instalações e dificuldades e conhecimentos prévios dos alunos.

Uma vez que ao longo do ano letivo, o programa exige que sejam

lecionadas muitas modalidades, torna-se difícil alcançar o grau de exigência de

todos conteúdos, uma vez que eles são demasiados para o tempo disponível.

Assim nesta sequência de ideias torna-se fundamental a capacidade de

ajustar cada uma das situações tornando-as mais-valias para o processo de

ensino e aprendizagem. O grupo de EF da EB 2,3 da Sobreira tem em ação um

plano que estipula para cada ano letivo e respetivo período, que modalidades

deverão ser ensinadas nesses períodos. Essas modalidades são selecionadas

de acordo com as dificuldades dos alunos e condições das instalações das

escolas. Partindo dessa base, espera-se que a ação do professor esteja

facilitada, mas apesar disso, é possível que o professor altere esse plano de

ação caso a justificação seja pertinente. Neste sentido, é fundamental que o

71

professor seja capaz de adequar as necessidades de cada aluno aos

programas nacionais.

À imagem do que referi, apresento o excerto do DB, do dia 9 de abril de

2012, onde relato uma destas alterações para o 3º período:

“Para o planeamento deste período decidi desde o início não seguir o que estava

estipulado no Planeamento Anual. Ou seja, neste período deveria ser lecionado

Natação nas aulas de 90 minutos e Basquetebol nas aulas de 45 minutos. Como o

Basquetebol é modalidade presente em todos os anos, decidi substituí-la por

Badminton. Fiz isto apenas após conversar com o Professor Fernando explicando esta

minha decisão pelo facto de achar que esta modalidade motiva mais a turma. (…) sei

que eles são alunos que quando gostam de uma modalidade são capazes de se aplicar

com afinco. Por outro lado, quando a matéria que lhes é ensinada não lhes interessa,

torna-se um pouco complicado gerir as emoções de todos eles. Assim após revisão do

inquérito social entregue na 1ª aula do 1º período, verifiquei que grande parte dos

alunos colocaram Badminton como modalidade preferida e nenhum deles referiu

Basquetebol. Assim, e como este período pode ser pouco motivador para aqueles

alunos que não gostam de piscina, tentarei compensa-los com uma modalidade

alternativa que normalmente tem uma maior receção por parte dos alunos”.

Por fim, o NE elaborou um protocolo de avaliação inicial, que se trata de

um documento para o 3º ciclo onde estão presentes exemplos de exercícios

que podem ser utilizados nas avaliações iniciais de cada uma das

modalidades.

4.1.2. PLANEAR PARA A AÇÃO

O planeamento é condição fundamental do processo de ensino-

aprendizagem. De facto, a sua utilidade vai para além da facilitação do trabalho

do professor. Uma aula bem planeada possui características que potenciam a

aprendizagem do aluno a um índice que outras aulas não o fazem. Costa

(1983) explica que um planeamento serve-se de uma estratégia de ensino que

organiza as condições de ensino-aprendizagem com o intuito de facilitar o

desenvolvimento do potencial do aluno.

O planeamento é importante também porque assegura a existência de

uma progressão de ensino entre aulas. Também ajuda o professor a manter-se

centrado nas tarefas da aula, não perdendo tempo de aula em aspetos

72

acessórios. E reduz ainda a ansiedade do professor, dando-lhe bases para se

sentir confiante durante o processo educativo.

Um correto planeamento assegura até certo ponto a inexistência de

grande parte das possíveis falhas de uma aula. O excerto seguinte, retirado do

DB, no dia 14 de dezembro de 2011, reflete isso mesmo:

“Após a pequena reunião (…), aproveitei a minha presença na escola para ir tratar da

preparação das aulas nº33 e 34. Para essas aulas planeei avaliar a Orientação. No

entanto, a pedido do Professor Fernando, não utilizei os mapas já existentes. Em vez

disso, e utilizando as balizas já existentes, criei o meu próprio mapa. Para isso, nesta

tarde percorri o recinto da escola criando um percurso tipo, anotando as soluções

desse percurso, de forma a que em casa pudesse criar outros percursos utilizando

sempre as mesmas balizas.

(…) Apesar de ter demorado mais tempo do que esperava para fazer tudo isto, foi uma

boa experiência porque percebi que ao contrário das últimas aulas de orientação que

vinham a ser facilmente planeadas, quando se tem todo este trabalho, a planificação

deixa de ser tão simples e apesar de não ser difícil (até porque as balizas definitivas já

estão marcadas) torna-se uma tarefa demorada”.

Como se percebe, nesta situação o planeamento aliado a uma maior

disponibilidade foram fundamentais para que a aula atingisse os objetivos

pretendidos. Nem todas as aulas são planeadas da mesma forma. Algumas,

devido à semelhança com outras anteriores, podem ser planeadas rapidamente

e com maior facilidade, porém existem outras aulas que exigem uma

envolvente bastante maior, o que implica maior disponibilidade do professor

para planear corretamente a aula.

4.1.2.1 PLANEAMENTO (ANUAL, UT E AULA)

Durante o estágio, esta etapa foi uma primeira tarefa que obrigou a uma

análise do Programa Nacional de Educação Física, nomeadamente para o

ensino básico.

Primeiro, em reunião de NE foram atribuídas as turmas por cada

estagiário. A mim foi atribuída a turma de finalistas de ciclo do 9ºD.

Depois em reunião de grupo criou-se um planograma onde foi estipulado

que modalidades seriam lecionadas em cada ano letivo. DB, 9 de setembro de

2011:

73

“Agora já estava preparado para conferir que modalidades lecionarei segundo o

Planograma (…). Assim, as turmas de 9º ano no 1º Período terão de lecionar as

modalidades de Atletismo e Ginástica, no 2º Período o Atletismo manter-se-á e passa a

ser acompanhado pelo Voleibol, e por fim no 3º Período serão lecionadas as

modalidades de Basquetebol e Natação”.

Planeamento Anual

Assim, partindo desta base foi-me possível começar a criar o

planeamento anual. Foi estipulado para o NE da Sobreira que o planeamento

anual é um documento que deve ser complexo o suficiente para ajudar em

todas as áreas as funções do professor. Para isso, utilizamos a estrutura do

MEC de Vickers (1990), dividindo o planeamento anual pelos diferentes

módulos.

O que percebi ao longo do ano é que este documento se vai

constantemente alterando com o aparecimento das mais variadas

circunstâncias. Como já referi anteriormente, ainda durante o 1º período, decidi

em colaboração com o PC que deveria lecionar Orientação contornando assim

algumas situações. A UT dessa modalidade primeiramente não é referenciada

no planeamento anual. Mais tarde, foi necessário realizar-se uma

reestruturação desse documento de forma a integrar essa UT. Mas esta não foi

uma situação isolada. Aulas que não aconteceram devido a passeios

posteriormente marcados, também foram anuladas. Mais tarde, também isso

originou nova retificação deste documento.

O planeamento anual deve e consegue fornecer uma ótima base de

trabalho para o professor. No entanto, devido às constantes alterações que

estão inerentes à situação do ensino, não consegue oferecer ao professor, com

o máximo rigor, um plano estrito de ação. É portanto um documento que

necessita de constante atualização para se conseguir manter atualizado do

início ao final do ano letivo.

Planeamento das Unidades Temáticas

Para o planeamento das unidades temáticas, utilizei os conhecimentos

que me foram passados pela Professor Paula Botelho Gomes na disciplina

74

Didática Geral do Desporto e também as ricas orientações fornecidas pelo

Professor Tiago Sousa.

Cada modalidade ensinada durante o ano letivo tinha a sua respetiva

unidade temática. Este documento era criado segundo o modelo da Vickers

(1990), dividindo-se assim ao longo de 8 módulos.

Na minha opinião, o módulo 4 demonstrou ser ao longo da minha prática

docente o mais importante. É lógico que os restantes módulos foram

indispensáveis para a construção contextualizada deste módulo, mas de uma

forma direta, para o planeamento das aulas, era este o módulo que eu mais

consultava. Devido a essa importância, era também o módulo que eu criava

com maior cuidado. Um bom módulo 4 fornece ao professor uma base de

trabalho riquíssima para o seu ano letivo. Com base nesta ideia, tanto o PC

Fernando Vaz como o PO Tiago Sousa, tentaram levar ainda mais além a

construção deste módulo. Assim, aconselharam-nos a realizar uma Unidade

Temática, onde para além de situarmos em cada aula o tipo de função didática

de cada conteúdo (habilidades motoras, cultura desportiva, capacidades

coordenativas e condicionais e conceitos psicossociais), deveríamos também

relatar desde logo o tipo de exercício que escolhemos para esse objetivo. Eu

apenas adotei esta metodologia no 3º período na disciplina de Natação e de

facto, com isso poupei bastante tempo na realização dos planos de aula. É

claro que em contrapartida o tempo despendido na elaboração da UT foi maior,

mas esse tempo foi recuperado mais tarde nos planos de aula e para além

disso consegui assim criar melhores sequências e progressões de ensino

Quanto ao módulo 7, este tem uma utilidade extraordinária, porque

fornece bases exemplares de exercícios para as aulas. No entanto, a partir do

momento em que optei por criar um módulo 4 mais complexo, senti que alguma

da utilidade deste módulo diminui-se uma vez que no módulo 4 já estão

presentes os exercícios e respetivas progressões. O módulo 7 é indispensável

para o planeamento, no entanto se o módulo 4 preparar melhor o que pretende

para cada aula através da UT, ele passa a ter uma função menos fundamental.

Esta foi a sensação que tive, no decorrer das aulas de Natação. Se nas outras

modalidades, eu frequentemente utilizava o módulo 7 para planear as aulas, na

75

modalidade referida passei apenas a utilizar o módulo 4 e toda a sua

abrangência.

Ainda em relação ao planeamento das UT, ao longo do ano letivo

apercebi-me de uma necessidade que estas unidades deveriam ter. O relato

seguinte, retirado do DB, no dia 1 de janeiro de 2012, reflete isso mesmo:

“ (…) com a experiência do último período percebi que a última semana de aulas

deverá ser sempre deixada de vago em relação ao planeamento. Assim, nas Unidades

Temáticas deste período não planearei as aulas da última semana, podendo isso ser

útil para as mais variadas tarefas”.

Com esta opção, pretendo ter algo que salvaguarde os possíveis

imprevistos que ocorrem ao longo do período, como visitas de estudo, ou faltas

dos alunos, assegurando assim que todos os conteúdos planeados sejam

ensinados e por fim avaliados. Se porventura, não ocorrer nenhum imprevisto

ao longo do período e toda a matéria for ensinada e avaliada dentro das aulas

previstas, as aulas da última semana podem ser utilizadas para premiar os

alunos, deixando-os praticar uma modalidade que não esteja no planeamento

anual e que eles gostassem de vivenciar.

Planos de Aula

Quanto aos planos de aula, estes foram os documentos onde mais

percebi o meu desenvolvimento ao longo do ano letivo em termos de

planeamento. Se por alturas de setembro, a elaboração deste documento era

tarefa para ocupar um longo período de tempo, já por maio estes documentos

quase se criavam automaticamente. É verdade que o maior e mais complexo

planeamento do módulo 4 do modelo de ensino e aprendizagem também

contribuiu para isso, mas apenas através do acumular da experiência de

constante planeamento é que fui capaz de atingir esse estado.

Os planos de aula são uma ferramenta indispensável para as funções do

professor. Todo o docente utiliza esta estratégia para as suas aulas. É verdade

que durante o seu estágio o professor realiza um planeamento da aula mais

complexo de forma a desenvolver as suas capacidades de organização da

aula. Já após o estágio, o professor deixa de ser tão minucioso no

planeamento, mas não coloca o planeamento de parte. De facto, é usual que

76

alguns professores comecem a tornar os planos de aula em documentos mais

simples e objetivos. Alguns deles utilizem para isso um pequeno caderno onde

planeiam de forma geral as suas aulas, referenciando apenas o exercício,

normalmente através de esquema e a sua duração. Na minha opinião essa é

uma ótima estratégia. Na prática docente considero menos importante a

realização de PA complexos. Penso que aí, uma complexa Unidade Temática

compensa perfeitamente os planos de aula mais simples mas ao mesmo mais

objetivos.

Uma caraterística que os meus PA tinham que ter obrigatoriamente era o

esquema do exercício. Durante as aulas, quando por vezes tinha dúvidas

acerca do exercício que iria instruir de seguida, bastava dar uma rápida vista

de olhos ao esquema para me lembrar completamente do exercício, em vez de

ler toda a sua descrição. Nesse esquema futuro, penso ser fundamental

apenas referir o objetivo da aula, o esquema dos exercícios, as suas durações

e ainda o material e espaço necessário.

Sem dúvida que a elaboração de planos de aula com a complexidade

daqueles que elaborei durante este ano foi fundamental para o meu

desenvolvimento das capacidades de planeamento enquanto docente. No

futuro, pretendo utilizar todas essas capacidades para planear de forma mais

simples, aulas com a mesma complexidade.

4.1.3. APLICANDO A TEORIA – REALIZAÇÃO

4.1.3.1. A SELVA DE AULA

O processo de ensino aprendizagem ocorre dentro de um ambiente

físico especial. A sala de aula é na maioria das vezes esse ambiente. Esta é

vista como uma sala, feita de 4 paredes, onde estão inúmeras cadeiras e

secretárias para os alunos e à sua frente existe um quadro que é utilizado pelo

professor para expor o que quer ensinar. No caso da disciplina de EF, a aula

não ocorre num espaço tão amorfo como esse. A sala de aula de EF é tão

complexa como a imaginação do professor possa ser. As aulas podem decorrer

77

dentro de uma pavilhão, ou dentro de meio pavilhão, podem ocorrer nos

campos do espaço exterior, ou nas bancadas desse mesmo espaço, ou podem

ainda ocorrer por toda a escola, ou apenas numa escadaria.

Seja qual for a sua forma, seja uma sala de aula de EF ou uma de

Matemática, espera-se sempre que a sala de aula tenha algumas

caraterísticas. Rief & Heimburge (2000) tentam enumerar quais são as

caraterísticas de uma sala de aula “perfeita” e chegam à conclusão que nesta,

primeiramente os alunos quereriam frequentar a escola, aprendendo porque a

escola e os pais trabalham em conjunto na sua formação. Depois os alunos

sentir-se-iam motivadas para aprender, através da perceção da relevância e

significado da instrução. Numa sala de aula “perfeita” os alunos teriam também

sucesso e sentir-se-iam bem consigo próprios uma vez que faziam o melhor

que podiam ao seu próprio nível. Também o processo de aprendizagem seria

eficaz através de diferentes abordagens por parte dos professores,

contemplando as individualidades de cada aluno. O respeito seria sentido entre

alunos e professores uma vez que valorizam a diversidade e a capacidade de

cada um para aprender. Seguidamente, as crianças participariam de forma

ativa na sala de aula porque gostam de aprender. E finalmente todos os alunos

apresentariam bons resultados porque a avaliação do seu desempenho não se

centraria exclusivamente em testes.

A verdade é que sala de aula “perfeita” é uma espécie de utopia. Uma

turma tão “perfeita” que reúna tais condições de trabalho é algo que dificilmente

se consegue atingir. Uma turma é composta por alunos com as mais variadas

experiências de vida, com diferentes formas de se relacionar, com diferentes

temperamentos e com uma complexidade tal, que se torna improvável esperar

que num espaço com 25 ou 30 diferentes indivíduos, o comportamento global

possa ser enquadrado naquilo que as autoras referem como sendo

comportamentos de uma sala de aula “perfeita”. No entanto cabe ao professor

criar condições que tornem a sua sala de aula o mais perfeita quanto possível.

Ao longo deste estágio, não tive grandes dificuldades em termos de

controlo de turma, no entanto, essa meta do meu desenvolvimento enquanto

profissional, foi atingida através de um processo aos poucos construído. Como

78

se percebe pelos seguintes excertos retirados do DB, o controlo da turma não

começou de forma ideal. Só ao longo das aulas, através das mais diversas

estratégias de ensino, fui capaz de ir desenvolvendo este aspeto. O primeiro

excerto é retirado do dia 29 de setembro de 2011 e diz respeito a uma aula de

Ginástica onde fiz a avaliação inicial mas com alguns erros, uma vez que me

fui reduzindo a minha atenção aos alunos que avaliava e por isso fui perdendo

o controlo da turma.

“Apesar de ter saído desanimado desta aula, sei agora que numa próxima

oportunidade, não irei voltar a cometer os mesmos erros, porque os compreendi e

acima de tudo assumi, até porque “uma vez caiem todos, na segunda cai quem quer…

na terceira só os tolos”.

O segundo excerto que apresento diz respeito à aula seguinte. Dia 6 de

outubro de 2011:

“Após uma última experiência de lecionação muito mal conseguida, a verdade é que

estava um pouco nervoso no início desta aula. Aquele que eu identificava como o maior

obstáculo a ultrapassar seria o meu comportamento como Professor líder, e o controlo

de aula que está diretamente relacionado com isso”.

Como se percebe, após uma aula onde o meu desempenho foi menos

conseguido, encarei a aula seguinte com grande vontade de ser bem-sucedido,

preparando-me da melhor maneira para a mesma. Após uma prolongada

reflexão, limei alguns aspetos da minha atuação e assim, fui capaz de melhorar

bastante o controlo da turma.

Por fim apresento um último relato (16 de novembro) onde senti pela

primeira vez que tinha atingido um bom nível do controlo da turma.

“Por fim, refiro apenas o facto de nesta aula ter sentido grande controlo da turma, uma

vez que os alunos já se identificam com as rotinas criadas e com a minha forma de

estar. No entanto e fazendo um pequeno transfere do treino para a escola, eu sei que a

numa próxima aula os alunos poderão voltar a dificultar-me o trabalho, sendo que terei

de estar preparado para estas eventualidades”.

Este excerto revela também que nunca senti que algo que tivesse

conseguido fosse infinitamente garantido. O sucesso, como tudo o que existe

neste universo, não é eterno. Manter esta ideologia presente, torna-me mais

preparado para poder atuar imediatamente nos momentos em que o insucesso

me invade. Isso é perfeitamente percebido no relato anterior, uma vez que

79

apesar de sentir que atingi um bom nível no controlo da turma, não me deixei

relaxar por esse feito, mantendo-me constantemente em alerta para o que

poderia acontecer.

4.1.3.2. O PROBLEMA DAS DISPENSAS

Ao longo das aulas houve um aspeto que me foi bastante complicado de

superar. Refiro-me às dispensas das aulas. Logo na primeira aula, percebi que

a turma era constituída por imensos alunos que preferiam ter dispensa às aulas

de EF em vez de participarem nelas de forma prática. A origem desta realidade

pode ter diversas fontes passadas, mas senti que seria um extraordinário

desafio para mim tentar debelar este problema. Assim, no dia 12 de outubro de

2011, no DB refiro o seguinte:

“Comparativamente com as restantes turmas que estão entregues aos estagiários, a

minha é sem dúvida aquela que tem maior número de alunos com dispensa por aula. O

Professor Fernando no início do ano referiu que como esta turma nunca tinha sido dele,

seria de esperar que tivesse um pouco “mal habituada” e isso é mesmo verdade.

Tenho uma aluna (…) que nunca faz aula. Tem líquido no joelho e diz que está à

espera de uma consulta no médico para saber se pode fazer alguma atividade física ou

não. Tenho também um grupo de 3 alunos que se recusam a fazer qualquer tipo de

rolamentos por experiências anteriores mal conseguidas. Para além disso tenho

também um pequeno grupo de rapazes que praticam Futebol e que constantemente

chegam às aulas dizendo que não podem participar na mesma porque estão

lesionados (…). Todos estes alunos criam um certo ambiente em torno da disciplina,

tornando-a quase como facultativa e isso não pode acontecer. Já comecei a mandar

fazer relatórios de aula, e aí é notório que alguns alunos levam essa tarefa mais a serio

do que outros. Isso não me poderá passar ao lado no momento das suas avaliações.

Quanto às dispensas, gostaria de criar uma espécie de objetivo para o final do ano

letivo, que seria reduzir o número de alunos dispensados a um por aula”.

Apesar desta nova meta, os resultados não foram imediatos. As

estratégias que utilizei também preferiam resultados a longo prazo. A primeira

estratégia utilizada obrigava os alunos dispensados a realizarem um relatório

sobre a aula. No entanto, poucos alunos levavam a elaboração desse

documento como algo importante, sendo que muito deles se revelavam fracos

quanto à descrição da aula e nulos em relação às opiniões dos alunos acerca

dos mesmos. A continuidade desse problema pode ser percebida através do

relato do dia 19 de outubro de 2011:

80

“Por fim refiro o facto de mais uma vez um grande número de alunos terem pedido

dispensa, dois por estarem mal da garganta, uma por estar aleijada nas costas e outra

porque contínua com problemas nos joelhos. (…) Este é sem dúvida aquele problema

que mais me tem massacrado. A minha turma tem uma elevada percentagem de

alunos dispensados por aula, coisa que não diminui com a obrigatoriedade da

realização de relatórios de aulas”.

O passo seguinte na minha estratégia foi obrigar os alunos dispensados

a estarem equipados devidamente a assistir à aula de EF. Na primeira aula do

ano distribui o regulamento das aulas pela turma e todos os alunos tiveram que

o assinar demonstrando conhecimento de todos os seus deveres. Um desses

deveres falava da obrigatoriedade de todos os alunos presentes na aula

(dispensados ou não) terem de estar equipados. Assim, no dia 26 de outubro

de 2011 tenho uma nova atuação:

“Na primeira aula apresentei o regulamento e pedi para que todos assinassem-no de

forma a não haver mal-entendidos. Apesar disso, nesta aula, vários alunos que

pediram dispensa apresentaram-se sem estarem equipados. Nesta aula decidi então

deixar assistir à aula no ginásio apenas aqueles alunos que estavam devidamente

equipados. Os restantes não puderam assistir e tiveram falta de material. Este tipo de

ação (…) é fundamental para que os alunos percebam a necessidade do cumprimento

das regras. Sem grande grau de alarmismo, vinha já há algum tempo a planear uma

atitude semelhante a esta para que os alunos percebessem o que se está a passar de

errado. Aguardo agora com alguma expectativa a próxima aula para perceber como

irão reagir, se verão este catalisador de uma forma positiva (corrigindo os

comportamentos) ou de uma forma negativa”.

De facto, depois de uma atitude tão drástica da minha parte, seria muito

importante perceber como seria o comportamento dos alunos na aula seguinte.

Assim, no dia 27 de outubro de 2011 refiro o seguinte:

“Após o que aconteceu na última aula (…) tinha alguma expectativa para o início desta

aula. A turma acabou por responder de forma positiva uma vez que não faltou ninguém

e apesar de 3 alunos pedirem dispensa, todos se encontravam devidamente

equipados.

Logo no início da aula fiz uma nova reestruturação dos capitães de cada grupo

(retirando dessa função os alunos que na última aula tinham tido falta material) o que

foi visto como outro castigo, tal como eu pretendia”.

Como se percebe, aproveitei para prolongar ainda mais o castigo dos

alunos que mais vezes pediam dispensa. Senti que este era o momento ideal

para que eles sentissem os prejuízos que podiam ter ao continuarem com este

tipo de comportamento.

81

A obrigatoriedade dos alunos levarem o equipamento para as aulas,

mesmo como dispensados, pretende então que a grande maioria opte por

realizar a aula em vez de estarem parados. Para isso precisavam apenas de

sentir vontade em realizar a aula. Essa motivação devia ser transmitida através

dos exercícios e ambiente da aula e isso, daí para a frente, tornou-se parte

integrante dos meus objetivos quando planeava uma aula.

Assim, na busca por aulas mais motivadoras fui verificando que devido à

diversidade de alunos que uma turma possuía, alguns vão sendo mais

facilmente motivados que outros. Esses casos que eu considero extraordinários

devem e podem ser utilizados como exemplos para motivar os restantes

alunos. O relato do dia 23 de novembro de 2011 refere exatamente isso:

“Por fim a (…) trouxe um atestado médico que informa que ela tem um traumatismo no

joelho e que por isso não podia fazer a aula. No entanto no decorrer da aula, pediu-me

para integrar a mesma e eu deixei, valorizando o seu esforço. Este exemplo será

utilizado na próxima aula, como sendo um modelo a seguir por parte da turma, uma vez

que ela poderia ter-se acomodado ao facto de não fazer a aula uma vez que até

atestado possuía, no entanto a sua vontade de participar na aula superou tudo isso”.

O passo seguinte só surgiu devido à complexidade do contexto. De

início tinha planeado para o primeiro período a lecionação de apenas duas

modalidades, Atletismo e Ginástica. No entanto, devido à rotação de espaços,

a partir de 10 de novembro deixei de ter possibilidade de realizar as aulas de

90 minutos no Ginásio. Assim, tive que adaptar o meu planeamento anual. Na

altura foi-me dada a liberdade de escolher uma qualquer modalidade que ainda

não tivesse planeada para o ano letivo, e apesar de não me sentir muito à

vontade com a Orientação, senti que essa modalidade era ideal para debelar o

problema das dispensas. Através da Orientação pude oferecer aos alunos

práticas desportivas onde a existência de dispensados teria de ser nula, uma

vez que todos podem realizar estas aulas, independentemente dos estados de

saúde. Isso acontece por ser uma modalidade que pode ser executada com

grande intensidade de atividade física, mas pode também ser praticada através

de uma intensidade menor. DB, dia 24 de novembro de 2011:

“Sublinho o facto desta modalidade permitir (…) a ausência absoluta de alunos

dispensados, uma vez que mais depressa ou mais devagar, todos eles têm condições

mínimas para a prática da Orientação e isto é algo que, para mim, valoriza de forma

tremenda a modalidade”.

82

De uma forma geral pretendia que os alunos através da constante prática desta

modalidade se fossem habituando à prática de todas as aulas de EF. No entanto a melhoria

deste aspeto não foi assim tão simples. No dia 30 de novembro de 2011, após uma aula de

Atletismo as dispensas voltaram a aparecer e eu relato o seguinte:

“ (…) nesta aula, houve, ao contrário do que aconteceu nas últimas, um aumento do

número de alunos dispensados. Aproveitei assim para anunciar que no próximo

período a cada duas dispensas os alunos terão de fazer um trabalho acerca da

modalidade ensinada nesse momento. Espero que com esta estratégia as dispensas

diminuam definitivamente”.

Esta nova estratégia de atuação pretendia que os alunos optassem por

realizar a aula de EF evitando a realização de um trabalho mais penoso.

Assim para o 2º período programei diferentes abordagens para debelar

este problema. DB, 1 de janeiro de 2012:

“ (…) Para combater esse facto, naqueles casos que são mais pontuais, defini que de

agora em diante, duas dispensas significam um trabalho teórico sobre a

disciplina/modalidade dada nesse bloco de matéria. Com isso espero que os alunos

sintam preferência para o facto de fazerem a aula em vez de estarem dispensados.

Para além desse trabalho que o aluno terá de fazer a cada duas dispensas, em cada

dispensa o aluno terá de fazer um relatório dessa aula e para além disso terá tarefas

extra, como alisar a areia (nos saltos em comprimento e altura), ajustar a fasquia (no

salto em altura), apanha-bolas (voleibol) e também exercícios dinâmicos como dar

voltas ao campo a passo, ou outros. Quanto aos relatórios de aula, neste período os

alunos terão uma semana para os entregar de forma a não existir mais relatórios

entregues em mau estado e de fraco nível. Para melhorarem o nível voltarei a referir o

facto de serem importantes as suas opiniões pessoais em relação aos exercícios feitos

durante as aulas, através de conselhos, críticas ou dicas”.

Para além disso, na modalidade de Voleibol foi utilizado o MED e

através dele, finalmente, consegui atingir valores ideais de dispensas. A turma

recebeu o MED de bom grado e a competição entre equipas atingiu valores

elevadíssimos. Assim, como as dispensas dão direito a penalizações diretas às

equipas, toda a turma encarou este período com uma nova mentalidade. DB,

dia 5 de janeiro de 2012:

“Quanto às dispensas, é de bom grado que realço que nesta aula não houve um único

aluno dispensado o que me deixou bastante satisfeito”.

Esta realidade prolongou-se por todo o período e em todas as aulas de

Voleibol não tive um único aluno dispensado e isso revelou-se uma meta

extraordinária. Nas restantes aulas deste período, nomeadamente de Atletismo

83

onde não foi utilizado o MED, as dispensas também se reduziram, mantendo-

se apenas as dispensas de duas alunas com atestado e que foram avaliadas

diferentemente11 de acordo com a apresentação do mesmo. Realço que essas

duas alunas, apesar do atestado realizaram todas as aulas de Voleibol, porque

as mesmas foram sendo incentivadas pelas próprias equipas.

No último período, com Badminton as dispensas continuaram com

valores reduzidos. Já na Natação, como seria de esperar houve um novo

aumento deste estado dos alunos. Dois alunos apresentaram de antemão um

atestado que os proibia de entrar na piscina e assim foram avaliados

diferentemente. De resto era frequente que pelo menos mais um aluno pedisse

dispensa em cada aula.

Em forma de conclusão, considero que aquela meta que, no longínquo

dia 12 de outubro, instintivamente tentei colocar para a turma, foi através de

uma longa epopeia alcançada. De facto, em momentos do ano letivo, esse

objetivo até foi superado e aí, iniciar uma aula com 27 jovens predispostos a

fazer tudo aquilo que queremos, com uma total crença e confiança naquilo que

dizemos, faz-nos perceber a importância que temos nas vidas destes.

O PC Fernando Vaz, acerca disto, tinha uma afirmação curiosa. Ele dizia

que se nós quiséssemos, eramos capazes de tornar os nossos alunos em

nossos capangas, levando-os a fazer tudo aquilo que pretendemos. Aos

poucos fui percebendo que isto é verdade. Por muito faladores que os alunos

sejam, por muito arrogantes que eles se mostrem, por muita agressividade que

eles evidenciem, por muito altos ou baixos que eles sejam, é sempre possível

tocar em todos eles. Tratando-os como pessoas especiais e únicas, os

alunos vão confiando em nós e devido ao constante convívio, vão

construindo uma relação que não têm com muitos dos seus familiares.

Torna-se portanto fundamental que o professor seja capaz de refletir bem

acerca do que pode fazer com os alunos. Se por um lado, como o Professor

Fernando diz, podemos torná-los nossos capangas, podemos também ajudá-

11

Os alunos eram normalmente avaliados através de três diferentes domínios. O domínio psicomotor valia 60%, o domínio cognitivo 10% e o domínio sócio afetivo 30%. Já os alunos que apresentassem atestado eram avaliados de forma diferente: o domínio cognitivo valia 70% e o domínio sócio afetivo 30%.

84

los a tornarem-se melhores adolescentes, melhores amigos, melhores filhos,

no fundo melhores pessoas.

4.1.3.3. A GESTÃO DA AULA

A Gestão da Aula envolve inúmeros fatores. De forma a perceber o que

precisava controlar para garantir uma aula bem gerida, logo na primeira aula

tive necessidade de apresentar à turma as normas de funcionamento das aulas

como refere o relato do DB de dia 21 de setembro de 2011:

“Comecei por me apresentar, de seguida falei sobre as normas de funcionamento e

critérios de avaliação”.

Através da apresentação das normas, consegui que várias fossem

cumpridas durante o ano letivo. No entanto, aspetos existiram onde foi

necessária uma diferente intervenção para garantir que o regulamento fosse

cumprido.

4.1.3.3.1. Atrasos dos alunos

Refiro-me aos atrasos que curiosamente apenas ocorreram durante o 2º

período. O seguinte relato foi retirado do DB, no dia 25 de janeiro de 2012:

“ (…) um grupo de alunos (…) chegou bastante atrasado à aula (cerca de 15 minutos).

Como castigo tinha a ideia de os colocar a correr na pista de Atletismo durante toda a

aula, porém, o Professor Cooperante chamou-os, e esteve a conversar com eles

alguns minutos. Após isso, como faltavam poucos minutos para o final da aula, eles

integraram os exercícios que a turma fazia”.

Como se percebe por este relato, eu não estava devidamente preparado

para atuar numa situação deste tipo. Pensei que a conversa que o PC teve

com os alunos que chegaram atrasados, fosse suficiente para que este

comportamento não voltasse a ser repetido. Mas como se percebe pelo

próximo excerto retirado do DB no dia 15 de fevereiro, estava equivocado:

“No início da aula, voltei a ter o problema dos atrasos. Como sempre dei 5 minutos de

tolerância, tendo começado a aula somente às 9h25. No entanto, um grupo de alunos,

apenas chegou junto da turma às 9h33. Como se tratava de um grupo reincidente

neste tipo de comportamento, decidi castigar os alunos, colocando-os a correr durante

a ativação geral. No final da ativação geral, pedi para que eles amarrassem as cordas

que foram utilizadas pela turma no 1º exercício e de seguida se sentassem nas

85

bancadas a observar a aula. Depois quis que eles arrumassem os cones utilizados no

2º exercício e que voltassem a sentar-se nas bancadas. No final da aula chamei toda a

turma e sublinhei a importância de acabar de uma vez por todas com estes atrasos”.

Uma vez que já tinha idealizado como deveria atuar se um novo atraso

ocorresse, tive uma ação mais convergente com o que pretendia, marcando

bem nos alunos, que aqueles que chegassem atrasados seriam colocados a

realizar tarefas acessórias e desmotivadoras afastando-os da dinâmica da aula.

De certo modo penso que consegui que os alunos percebessem e sentissem

exatamente aquilo que eu pretendia.

Esta atuação acabou por resultar como se percebe no que é referido no

relato do DB de dia 29 de fevereiro de 2012:

“Como tenho vindo a referir ao longo do diário, neste 2º período, as aulas de 45

minutos têm sido aquelas onde eu tenho tido mais dificuldades em debelar os atrasos

dos alunos. Depois de na última aula de 45 minutos eu ter colocado os alunos que

chegaram atrasados, sentados na bancada como castigo, na aula de hoje nenhum

aluno chegou atrasado”.

4.1.3.3.2. A utilização de “capitães”

Ao longo das aulas utilizei por inúmeras vezes uma estratégia muito

utilizada pelos professores de EF, que passa por dar a determinados alunos o

título de capitães, com o intuito de aumentar a motivação e o empenho da

turma em geral. Esta estratégia foi utilizada tanto em Ginástica, como em

Voleibol (MED) e ainda na Natação.

Nas aulas de Ginástica esta estratégia foi utilizada de forma a manter o

controlo da turma, nomeando numa primeira fase como capitães aqueles

alunos com razoáveis competências mas que mais facilmente se

desinteressavam pela aula. Os dois relatos seguintes retirados do DB, dos dias

13 e 27 de outubro de 2011 respetivamente, refletem o mesmo:

“Mais uma vez escolhi capitães para me ajudarem no controlo da turma. Os capitães

que na última aula tiveram um melhor desempenho foram mantidos, os restantes foram

substituídos”.

“Logo no início da aula fiz uma nova reestruturação dos capitães de cada grupo

(retirando dessa função os alunos que na última aula tinham tido falta material) o que

foi visto como outro castigo, tal como eu pretendia”.

86

A gestão dos capitães na forma das constantes reestruturações desses

cargos em função dos acontecimentos das aulas anteriores foi um importante

trunfo na gestão do empenho dos alunos.

Também nas aulas de Natação, esta estratégia fui utilizada, como

reporta o relato do DB do dia 26 de abril de 2012:

“Para esta aula decidi dividir o PA apenas depois dos exercícios de ativação geral e de

AMA e em dois níveis. Nesse momento os alunos mais evoluídos ficaram nas pistas 2

e 3 (…). Uma vez que neste momento a minha atenção teria de estar voltada com

maior predominância para aqueles alunos de nível mais baixo, pedi à aluna X e ao

aluno Y (alunos mais desenvolvidos nesta modalidade) para coordenar os alunos que

estavam nas pistas 2 e 3, enquanto eu ficava pela pista 1”.

Como se percebe, nas aulas de Natação a utilização de alunos com

funções de capitães teve uma importância redobrada, uma vez que através da

utilização desses alunos, foi-me possível, redobrar a atenção nos alunos com

estados de desenvolvimento mais reduzidos. Assim, o risco de algum acidente

com esses alunos diminuiu e o empenho da turma foi-se conseguindo manter

em níveis razoáveis através dos incentivos que estes alunos davam aos

restantes colegas.

4.1.3.3.3. Organização dos Alunos através de diferentes Níveis de

Desempenho Motor

Em termos da gestão da organização dos alunos, as estratégias que

utilizava dependiam da aula, mas tinham sempre em mente a divisão dos

exercícios de acordo com os níveis dos alunos. Para isso, por exemplo em

Ginástica, como refiro no DB no dia 13 de outubro de 2011, optei por dividir

cada exercício em três diferentes níveis de dificuldade, adaptando-se assim

melhor às características individuais dos alunos:

“Na parte fundamental, coloquei 3 níveis de dificuldade por cada estação de forma a

adequar o nível aos alunos e de forma a aumentar também assim a dinâmica da aula”.

Também nas aulas de Natação tive esta necessidade de tornar os

exercícios adequados ao nível dos alunos, mantendo-os de igual forma

motivados. Essa realidade é relatada no DB nos excertos de dia 19 de abril e 3

de maio respetivamente:

87

“Hoje, como já dividi parte da aula por níveis (3 níveis onde os alunos vão realizando

diferentes exercícios) a partir do momento em que separei a turma, senti que foi bem

mais complicado mantê-los a todos empenhados. Como é lógico deixei-me estar mais

perto dos alunos com mais dificuldades tentando diminuir o risco, mas com isso tive de

elevar o tom de voz para que os alunos dos outros níveis percebessem o que tinham

para fazer. Sinceramente não consigo ver o que poderia fazer para minimizar a

necessidade de utilizar a voz de forma tão alta, trata-se de um utensilio que numa aula

de Natação dificilmente pode ser poupada. No entanto sinto que para tornar a aula

mais dinâmica para os alunos dos níveis superiores, na próxima aula tentarei planeá-la

tendo desde logo exercícios mais complexos e mais vocacionados para esses alunos,

impedindo assim que os alunos percam a dinâmica devido ao cansaço acumulado

durante a aula e também a um pouco de falta de motivação”.

“ (…) os alunos foram mais uma vez divididos por níveis, sendo que eu fiquei mais uma

vez mais próximo dos alunos de nível inferior(…). Apesar de eu pedir para que os dois

alunos mais evoluídos (…) tentassem manter dinâmica as duas outras pistas, a

verdade é que com o passar do tempo, os alunos vão começando a parar e a dinâmica

vai-se perdendo.

Para combater essa situação, penso que em vez de dar tarefas mais longas aos alunos

dessas pistas, como “façam 4 piscinas na técnica de costas”, poderei tentar colocá-los

a exercitar situações mais curtas e que me obriguem a mudar o exercício com mais

frequência evitando assim perdas de dinâmica”.

Como se percebe pelos dois relatos anteriores, a necessidade de dividir

as turmas de acordo com os níveis dos alunos, levou a que eu manifestasse

alguns problemas na instrução, por ter de me manter, por toda a aula, mais

próximo dos alunos de nível inferior possibilitando uma mais rápida intervenção

no caso da ocorrência de algum problema.

Isso fez com que eu sentisse a necessidade de aumentar bastante o

volume da voz, durante as minhas intervenções para com os alunos mais

afastados e assim, pude perceber de melhor forma a importância da colocação

da voz e do posicionamento do professor. Numa aula de Natação, por muito

controlada que esteja a turma, existem sempre alguns problemas de acústica

que nos obrigam a elevar o volume da voz para sermos capazes de falar com

todos os alunos.

Estas inevitabilidades tornam a profissão de professor muito desgastante

em termos físicos e a obrigação de um professor lecionar duas ou três aulas

seguidas nestas condições (piscina), fazem-me compreender de forma mais

eficaz esta realidade.

88

4.1.3.3.4. A Gestão dos Espaços

Também a necessidade de gerir os espaços onde decorriam as aulas se

tornou uma necessidade. Ao contrário das outras vertentes da gestão da aula,

este aspeto não estava apenas e só dependente de mim, uma vez que era

necessário chegar a um acordo entre os professores de EF. O relato do DB do

dia 20 de abril de 2012, reflete uma dessas situações:

“Quando cheguei ao pavilhão percebi que o mesmo estava cheio. (…) Na EB 2,3 de

Sobreira, temos a regra interna no gabinete de Educação Física de disponibilizar o

espaço interior para as turmas que têm aulas de 45 minutos. Dessa forma falei com a

Professora Teresa que estava a ter uma aula de 90 minutos e que já estava no final

dos primeiros 45 para me disponibilizar o seu espaço. A professora fê-lo sem grandes

problemas…”.

Por vezes, devido a estas dificuldades de espaço, tinha a necessidade

de lecionar aulas que exigiam um maior espaço em locais mais reduzidos e

gerir bem essas situações era uma necessidade. Os relatos do DB dos dias 16

de fevereiro de 2012 e 11 de abril de 2012, respetivamente, exprimem essas

situações: “ (…) em relação à gestão do espaço, tenho vindo a ter alguns problemas. Nas

primeiras aulas da UT de Voleibol eu apenas tive ao meu dispor metade do Pavilhão.

(…) apesar de ter tido algumas dificuldades em adaptar a primeira aula a essas

circunstâncias,(…) todas as aulas seguintes foram planeadas para metade do Pavilhão.

Em termos de resultados, penso que da forma como as redes (…) são montadas, as

dimensões dos campos são suficientes para a (…) aula. No entanto, nas últimas duas

aulas, tenho tido todo o pavilhão para mim, mas (…) contínuo a planear as aulas para

apenas metade do Pavilhão. Quando os exercícios envolvem jogo de 3x3, metade do

pavilhão é (…) suficiente, uma vez que consigo marcar 4 campos bem largos onde

podem jogar simultaneamente 24 alunos e com as outras funções (…) os 27 alunos da

turma ficam ocupados. Porém quando são jogos de 2x2, é necessária a construção de

mais campos e eles ficam muito limitados (uma vez que ficam uns colados aos outros)

e se calhar a utilização de todo o pavilhão nestas situações seria benéfica”.

“Como estava a chover, as 3 turmas que tinham aula neste tempo foram mandadas

para dentro do pavilhão e assim tivemos que dividir o pavilhão para duas turmas e o

Ginásio ficou para a outra turma.

(…) O 9ºD tem 27 alunos e é impossível colocar todos a jogar ao mesmo tempo ao

longo de uma rede em meio pavilhão. Assim, dividi a turma em metade e enquanto

metade estava a jogar, a outra metade estava comigo a fazer exercício de condição

física. Acho que solucionei este problema da melhor maneira, no entanto, para que a

metade que estava a fazer condição física não fosse “adormecendo” foi necessário que

eu estivesse constantemente “em cima” deles”.

89

4.1.3.3.5. A Ativação Geral

Um dos aspetos em que tive que redobrar a minha atenção foi na

ativação geral de cada aula. Ao longo do ano percebi que os alunos perdiam o

empenho e o interesse na aula quando os exercícios de ativação geral eram

repetidos de aulas anteriores. O excerto do DB é do dia 11 de janeiro de 2012

e refere-se a uma aula de Atletismo:

“ (…) escolhi uma ativação geral com dois exercícios relacionados com o salto em

altura (…). Esta fase foi bem recebida pela turma, na minha opinião, por se tratar de

exercícios novos e por isso mesmo, mais cativantes. Os momentos da ativação geral

têm vindo a ser aqueles onde eu tenho demonstrado mais dificuldades. Digo isto

porque a certa altura, os exercícios de aquecimento relacionados com a modalidade da

UT, tornam-se repetitivos e isso, no 1º Período, houve alguns momentos de reduzido

empenho, o que fez com que algumas aulas não começassem da melhor maneira”.

A identificação desse problema foi o primeiro passo para o poder

ultrapassar com distinção. Um pouco mais à frente do excerto que foi referido

anteriormente exponho esse mesmo passo: “Uma vez que já defini o problema (…), passo agora para a fase de o tentar contornar,

ou seja, utilizando exercícios diferentes. Até aqui tudo bem, não fosse o problema de

por vezes se chegar ao ponto de já não se conseguir planear, encontrar ou criar,

exercícios ótimos para a modalidade e/ou para a turma. Assim, cria-se uma nova

questão que tem a ver com o facto de se saber até que ponto, em certas aulas, não se

poderá fazer um exercício de ativação geral, que não seja relacionado com o resto da

aula.”.

Mais adiante no meu percurso neste estágio percebi que não faz sentido

pensar em exercícios “desligados” da modalidade em questão, uma vez que

não existem assim tantas aulas para cada UT que obriguem a que esses

exercícios sejam repetidos. A modalidade de Atletismo foi uma exceção uma

vez que se prolongou ao longo do 1º e do 2º período, mas mesmo assim,

devido à variedade de disciplinas de Atletismo que foram ensinadas, assim que

percebi a utilidade de procurar exercícios novos, fui capaz de o fazer. O relato

do dia 15 de fevereiro de 2012 presente no DB refere a utilização de um

desses diferentes exercícios de ativação geral:

“Como tenho vindo a constatar ao longo das aulas, uma ativação geral diferente e

inovadora revela claros benefícios no empenho motor geral da aula. Assim, optei por

fazer uma vez mais uma nova ativação geral. Como nesta aula, o salto era parte

integrante da mesma, decidi fazer um aquecimento com este mesmo tipo de

movimentos.”.

90

4.1.3.4. A IMPORTÂNCIA DA INSTRUÇÃO

A função do professor está completamente envolvida num processo de

comunicação entre sujeitos. Para que exista aprendizagem, tem que haver

exercitação, e para haver exercitação é necessário que o professor explique

aos alunos aquilo que quer que eles executem.

Esse processo de “explicação” é entendido como instrução e pode ser

realizado através da utilização da linguagem e do vocabulário do professor, da

apresentação de documentos escritos ou da demonstração.

Este momento é absolutamente fundamental no processo de ensino-

aprendizagem e no caso de ocorrer alguma falha no momento de instrução, se

o aluno não questionar o professor acerca da sua dúvida, pode construir más

ideias acerca de um conhecimento correto. Uma situação destas é relatada no

DB, no dia 15 de fevereiro de 2012:

“Neste exercício uma aluna questionou-me acerca de como se deve fazer a receção

após o jump para caixa de areia. Esse era um pormenor que eu tinha preparado, mas

que no momento da instrução me escapou. Assim expliquei que o jump deve terminar

com uma receção a dois pés na caixa de areia”.

Por vezes o professor tem a necessidade de transmitir muitos conteúdos

de uma só vez e é impensável que os alunos os adquiram todos. É necessário

pensar por etapas e distinguir o fundamental do suplemento, eliminando assim,

caminhos sinuosos do conhecimento.

Para simplificar esse momento, tentei por inúmeras vezes utilizar um

vocabulário mais próximo daquele que é utilizado pelos alunos para tentar ser

compreendido na totalidade. A narração seguinte, retirada do DB, de dia 16 de

setembro de 2011 dá a conhecer a minha opinião acerca deste tema:

“Na minha opinião deveremos sempre que possível utilizar uma linguagem o mais

próxima daquela que os alunos utilizam de forma a que a sua compreensão seja

facilitada. Mas isso não impede que para além dessa linguagem simplificada, o

Professor não utilize a terminologia correta para certos aspetos, tendo somente de

seguida de explicar o que isso significa. (…) Assim, e aos poucos, pode ser que os

alunos consigam assimilar algum vocabulário mais específico, mas sem que em

momento algum não percebam o que é pedido”.

91

Exemplo de uma dessas situações é o que se refere no relato de dia 9

de novembro de 2011 aquando de uma reunião que tive com o PO:

“Segundo o Professor, utilizei frequentemente a expressão “Siga” para dar início a

cada uma das vagas de repetições. (…) Penso que este tipo de linguagem poderá

trazer certas vantagens uma vez que se cria uma relação mais próxima com os alunos,

não deixando que eles tenham grandes dúvidas acerca do que eu quero”.

Para além de ter em atenção a utilização de linguagem simples, por

inúmeras vezes tive também a preocupação de demonstrar a tarefa enquanto a

explicava. Quando pedia algum exercício novo, que fosse mais facilmente

percebido através da observação, eu recorria à demonstração. A demonstração

era feita ou por mim ou por um aluno de nível elevado de forma a fornecer

através da observação um bom exemplo do que pretendia para aquele

exercício. O relato de 4 de janeiro de 2012, retirado do DB refere uma dessas

demonstrações:

“ (…) após eu ter demonstrado várias vezes como se fazia cada um dos saltos, eles

tentaram repetir imitando os meus movimentos e a verdade é que demonstraram um

bom nível no salto em comprimento”.

4.1.3.5. A NECESSIDADE DE AJUSTAMENTO

A imprevisibilidade é uma caraterística iminentemente ligada ao ensino.

O professor no decorrer das suas funções tem de tomar diferentes decisões.

Esta capacidade tal como muitas outras vai-se desenvolvendo ao longo do

tempo e de certa forma, sinto que este processo também ocorreu em mim.

Ao longo deste ano letivo, várias foram as situações que me surgiram

onde tive necessidade de decidir rapidamente de forma a ajustar um

planeamento previamente feito.

Foram várias as áreas onde tive necessidade de ajustar o planeamento

e os seguintes relatos, enumeram alguns deles. Os dois primeiros referem-se à

necessidade de ajustamento do espaço de aula e também da sequência dos

conteúdos, e datam do dia 22 de setembro de 2011 e do dia 5 de janeiro de

2012 respetivamente (DB):

“ (…) a aula foi planeada para o espaço maior do pavilhão, no entanto teve que ser

lecionada no espaço mais pequeno. Isso teve que ser contornado, uma vez que para a

medição da altura de cada aluno estava desenhada uma régua na parede do espaço

92

maior do pavilhão e para além disso o teste de vaivém necessitava de 20 metros

(previamente medidos) para ser realizado (…). Assim, antes da aula conversei com a

professora X que lecionaria a sua aula no espaço maior do pavilhão, para ela me ceder

um quarto desse espaço nos primeiros 20 minutos da aula. E assim foi (…) medi (…)

os elementos da turma (…) e depois realizei o teste do vaivém no corredor desse

pavilhão de forma a não prejudicar a aula da professora X (…).

(…) Estas adaptações (…) acabaram por correr bem, uma vez que a aula (…) não

perdeu grande dinâmica (…). No entanto tenho que perceber que apesar de eu ter

demonstrado alguma capacidade de adaptação, estas improvisações deverão ser

reduzidas ao máximo de forma a não proporcionar algum imprevisto incontornável”.

“Segundo o planograma de utilização dos espaços (…) nesta aula eu deveria ter de

partilhar o Pavilhão nos primeiros 45 minutos com outra turma e nos segundos 45

minutos deveria ter o pavilhão só para mim. (…) No entanto, (…) no início dos 90

minutos aula a professora X disse-me que iria ocupar a outra metade do pavilhão

durante os 90 minutos de aula. (…) Como na primeira metade da aula não iria precisar

de rede, metade do pavilhão seria o suficiente, no entanto, na segunda metade (…) já

iria ser necessário usar a rede (…) e como a rede de voleibol tem apenas dois locais

fixos de colocação no pavilhão (um de cada lado do pavilhão) só iria ter acesso a uma

rede o que é insuficiente para 27 alunos. (…) juntamente com o PC decidimos colocar

duas redes de voleibol numa metade do campo, amarrando-as de um lado à parede e

do outro lado aos postes da rede de Badminton”.

Os excertos seguintes retirados do DB (28 de setembro de 2011 e 26 de

outubro de 2011 respetivamente) referem-se a uma condicionante que muitas

vezes tem implicações diretas nas aulas de EF. Refiro-me às condições

climatéricas, mais concretamente à chuva. Grande parte das aulas de EF na

EB 2,3 de Sobreira ocorrem no espaço exterior e a chuva é causadora de

claros ajustamentos ao planeamento da aula:

“Logo quando acordei e abri a janela de casa, percebi que esta aula teria de ser

adaptada. (…) Estava a chover (…) e como tal eu optei por não levar os alunos para

fora do pavilhão. Desde logo percebi que esta decisão teria repercussões em todo o

planeamento deste período uma vez que tencionava acabar nesta aula a Avaliação

Diagnóstica do FITNESSGRAM e assim, não me foi possível atingir o planeado.

(…) Quanto à aula, (…) optei por adapta-la às circunstâncias prolongando um pouco a

ativação geral, sendo mais rigoroso no registo dos resultados da impulsão horizontal e

por fim destinei 5 minutos para um exercício de velocidade e cooperação.

(…) A aula acabou por correr positivamente em termos de gestão do tempo, o que era

aquilo que eu mais receava uma vez que, como já referi, foi adaptada às situações

climatéricas que condicionaram o espaço”.

“Esta aula ficou marcada pela chuva. No entanto (…) desta vez, as previsões

meteorológicas apontavam para essa realidade. Assim, foi-me possível fazer o

planeamento desta aula de Atletismo para dentro do Ginásio (…). Porém, na Unidade

Temática de Atletismo, tinha planeado para esta aula, (…) realizar a avaliação inicial do

salto em comprimento e do triplo salto o que teve que ser desde logo cancelado pela

93

impossibilidade de utilizar a caixa de areia. Desta forma, terei de fazer uma

reestruturação da Unidade Temática”.

Também tive a necessidade de ajustar o Planeamento Anual. No relato

do DB do dia 10 de novembro de 2011 explico porquê:

“No início do ano, o planeamento anual referia que neste período as aulas de 45

minutos seriam dedicadas à lecionação de Atletismo e as aulas de 90 de Ginástica. No

entanto, devido à rotação de espaços, desta aula para a frente, já não tenho disponível

para as aulas de 90 minutos o Ginásio. Assim, após conversa com o PC decidi lecionar

nas últimas 4 aulas de 90 minutos deste período a modalidade de Orientação”.

Este ajustamento teve grandes repercussões em termos práticos, uma

vez que através da introdução de uma nova modalidade, todo o planeamento

tinha que ser refeito e outros pormenores como a avaliação dos alunos tinha

que ser adaptada. Apesar de todas estas necessidades, o ajustamento do

Planeamento Anual acabou por ser uma solução proveitosa uma vez que o

obstáculo do espaço foi facilmente ultrapassado, já que a Orientação é uma

modalidade que pode ser lecionada em qualquer local.

Ao longo do ano existiram outros tipos de contratempos que obrigaram a

ajustar de algum modo os planeamentos realizados. O excerto seguinte refere-

se à necessidade de modificar o objetivo geral de uma aula devido à

proximidade de uma Atividade do Grupo de EF e foi retirado do DB de dia 8 de

fevereiro de 2012 refere um dessas situações:

“Devido à aproximação do evento Mega-Atleta (fase escola) senti necessidade de

escolher os alunos que representariam a turma na disciplina de velocidade (40 m).

Assim, adaptei a Unidade Temática que realizei ainda no 1º período (…).

No entanto, a realização de cada aula nesta fase do ano é fundamental e o não

cumprimento da mesma (…) levou a que eu fizesse uma grande mudança na UT de

Atletismo. Apesar de ter planeado ensinar o salto em altura (…) penso que é mais

favorável retirá-la da UT, acrescentando por sua vez uma aula extra de triplo salto (uma

vez que os alunos têm vindo a demonstrar grande dificuldade nesta disciplina) ”.

Neste último caso, o ajustamento foi feito devido à necessidade de se

escolher os alunos representantes da turma para um evento do Grupo de EF.

Apesar desse ter sido o principal motivo do ajustamento, a partir dele permiti-

me a ajustar também a UT tornando-a mais ajustada às necessidades reais

dos alunos.

94

O professor no decorrer das suas funções deve ter capacidades de

atenção, reflexão e atuação que lhe permitam tornar todos os momentos,

sejam eles planeados ou inesperados, como potenciadores da melhoria do

processo de ensino-aprendizagem.

4.1.3.6. A COMPETIÇÃO COMO FATOR MOTIVADOR PARA AS AULAS DE EF

Ao longo das aulas, independentemente da modalidade, por inúmeras

vezes se utilizaram exercícios de competição individual ou coletiva. Estes

exercícios tinham o intuito objetivo de aumentar o empenho e o entusiasmo dos

alunos. O relato seguinte, de uma aula de Atletismo, do 16 de novembro de

2011 retirado do DB refere uma dessas situações:

“Após esse momento realizei diferentes tipos de exercícios de velocidade (sempre com

testemunho), (…) onde os alunos demonstraram que com competição se aplicam

bastante. (…) Apesar de o Atletismo ser normalmente visto pelos alunos como

aborrecido, o facto de eu escolher constantemente exercícios de competição entre

equipas tem feito com que a motivação (…) seja elevada”.

Em muitas conversas com o PC, percebi que ele aconselhava que as

aulas terminassem com elevados níveis de empenho e competitividade entre

os alunos como se compreende através do relato de 6 de outubro de 2011 do

DB:

“No final da aula optei por realizar vários exercícios de força, tendo em conta aquilo

que o Professor Vaz tinha dito acerca dos benefícios dos alunos saírem da aula um

pouco excitados, contrariamente ao que é normal, com a utilização dos usuais retornos

à calma. Para mim, este momento correu muito bem, e como foi a primeira vez que

optei por tal estratégia e os resultados foram positivos, é de esperar que daqui por

diante volte a optar por terminar as aulas de Ginástica desta forma”.

Esta ideologia foi inúmeras vezes utilizada ao longo do ano, se bem que

sempre com alguma ponderação. Percebe-se que terminar, por exemplo uma

aula de Atletismo com os alunos em níveis altíssimos de excitação devido a

uma prova entre equipas de estafetas, pode resultar em conflitos nos

balneários devido a provocações entre os alunos. Para evitar estas situações,

tentei acompanhar de perto os efeitos das vitórias e das derrotas individuais e

95

coletivas dos alunos nestes momentos. O excerto do DB de dia 26 de abril de

2012 refere-se a uma aula de Natação e exprime exatamente isso:

“No final da aula, tentando colocar alguma emoção e competitividade à aula (…) fiz

uma prova de estafetas em crol. Assim fiz duas equipas, no entanto como estava

número impar de participantes, decidi também participar na prova, o que deu ainda

mais emoção a esse momento”.

Esta foi uma estratégia que ajudou imenso a aumentar o empenho e a

motivação dos alunos bem como a dinâmica da aula. Tal como o meu PC

defende, eu acredito que as aulas de EF devem-se distinguir de todas as

outras, também porque no final deixam o aluno num estado diferente. Esse

estado, procura conjugar um certo cansaço físico, com um elevado sentido de

competitividade englobado num espírito de equipa e sem esquecer uma

sensação de dever cumprido por se ter esforçado na aula.

Falta apenas ressalvar a importância da atenção do professor em todos

estes momentos de forma a estar pronto para atuar imediatamente evitando

que a competição entre alunos conduza a despiques pessoais.

4.1.3.7. MOTIVAR OS ALUNOS ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE NOVOS MATERIAIS

Uma outra estratégia foi utilizada para manter elevados os índices de

motivação dos alunos para as aulas de EF. Falo da utilização de materiais que

de alguma forma são ”novos” para os alunos.

Ao longo das aulas, várias vezes utilizei esta estratégia de forma a

quebrar com a monotonia acumulada ao longo das aulas, de forma a despertar

o interesse dos alunos.

O primeiro excerto apresentado refere-se a uma aula de Atletismo e

remonta ao dia 23 de novembro de 2011 (DB):

“De acordo com a progressão pedagógica aplicada ao longo das últimas aulas, esta

aula era destinada à introdução da partida de blocos. A EB 2,3 de Sobreira não possuía este

tipo de material e como tal o núcleo de estágio encarregou-se de criar vários blocos de partida

em madeira. (…)

Mais uma vez reparei que a introdução de material novo aumenta bastante a motivação

dos alunos, sentindo-se eles valorizados por terem um professor que tenta oferecer-lhes o

maior e mais vasto número de experiencias possíveis”.

96

Neste caso a estratégia passou por criar blocos de partida, mas nem

sempre optei por esse caminho para aumentar o leque de materiais

proporcionadores de novas experiências aos alunos. No dia 18 de janeiro de

2012, o relato refere a utilização de forma criativa de diferentes materiais:

“ (…) utilizando a minha criatividade, coloquei uma bola de Andebol dentro de uma

saca plástica e amarrei-a a uma corda de ginástica.(…) O aluno do centro deveria rodar

a bola ao longo do seu eixo vertical e junto ao solo, obrigando os alunos da periferia a

saltar por cima da mesma. Este exercício devido à sua inovação foi muito bem aceite

pela turma. (…) O problema foi que ao longo do exercício, as sacas como iam

raspando no solo, acabavam por rasgar e soltar a bola. (…) Talvez se tivesse usado

uma ou duas sacas por cima da mesma bola, este problema tivesse sido superado”.

Como se percebe por vezes a utilização da criatividade para elaborar

novos materiais tinha certos danos colaterais. Neste caso tratou-se do erro das

sacas serem demasiado frágeis para continuarem intactas com a fricção criada

pelo contato entre elas e o solo. De qualquer das formas neste mesmo excerto

está presente uma pequena reflexão que cria uma possível solução para este

problema no caso de este exercício ser novamente utilizado.

Por fim apresento o relato de dia 26 de abril de 2012, retirado do DB,

onde refiro a utilização de uma diferente estratégia numa aula de Natação:

“Por fim, faço referência à utilização da placa. A maioria dos alunos não se sente bem

com esse utensilio e como tal eu pesquisei e descobri que através dos chouriços, se

podiam criar “guiadores” que têm a mesma função que a placa. Para isso, basta

apenas dar-se um nó num chouriço. Dei por mim nesta aula a verificar que todos os

alunos que precisam de apoio puseram de parte a placa e utilizaram o “guiador”. A

criatividade e inovação fazem sem dúvida a diferença nas aulas. Os alunos, caso tenho

possibilidade de escolher, optam na maioria das vezes por coisas novas e para que

isso aconteça, os professores têm a necessidade de se renovar constantemente”.

Aqui compreende-se que os professores nem sempre necessitam de

grandes investimentos para novos materiais para inovar nas aulas. É possível

com materiais já conhecidos pelos alunos, proporcionar aulas onde através dos

mesmos, mas de forma diferente ou conjugada, se ofereçam novas

experiências. Este tema será ainda desenvolvido no ponto 4.3.1.”Licença para

Estudar” aquando da referência à ação de formação acerca dos materiais

autoconstruídos.

97

4.1.3.8. COMUNICAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: A PROXIMIDADE COMO BASE DA

AFETIVIDADE

A comunicação entre professor e aluno pode ser feita de diversas

formas. Através da forma da mesma, é possível ao professor atingir espaços

dos alunos que normalmente estão fechados. A utilização de uma comunicação

que torne a relação entre professor e aluno mais próxima pode então ser uma

estratégia pedagógica útil durante o processo de ensino-aprendizagem.

Quem teve a possibilidade de me ver nas funções de docente na EB 2,3

de Sobreira por 5 minutos, dentro ou fora das aulas, percebeu que todas as

minhas decisões e ações foram feitas com base numa grande proximidade

entre mim e os alunos.

Como expliquei no capítulo 2. “Dimensão Pessoal”, a professora que

mais me marcou ao longo do meu percurso académico obrigatório, distinguia-

se restantes professores por oferecer aos alunos mais do que era obrigada.

Criando relações pessoais próximas com cada aluno, ela tornava-se

capaz de controlar os comportamentos dos alunos, através da

responsabilização dos mesmos. Raramente tinha de nos chamar á atenção.

Quando por alguma razão, nós pisávamos a linha, ela com um simples olhar

que transparecia uma certa desilusão, acabava com todos os comportamentos

impróprios.

Este foi um dos modelos adotados por mim para este ano. Através de

uma relação próxima, baseada num clima de afetividade muito elevado com

cada um dos alunos, permitia que eles olhassem para mim de forma diferente

da que olham para um professor. A partir daí, a minha atenção passava por ser

capaz de tornar esse “diferente” olhar num trunfo. Assim, mais do que

reprimendas e grandes castigos, quando certos alunos demonstravam algum

comportamento improprio, eu rapidamente atuava sublinhando o facto de me

sentir desiludido com eles. Com essa ação, colocava toda a responsabilidade

desses comportamentos nos alunos e após remediar a situação, afastava-me

um pouco deles em termos de afetividade o que os fazia repensar ainda mais o

acontecido.

98

É claro que esta atuação resultou bem nesta turma (9ºD), mas isso não

invalida que pudesse ter sido falhada noutra turma. De facto, como se

perceberá no subcapítulo 4.1.3.11. “Unidade Temática de Badminton (7ºD) –

Um Modelo Híbrido” em que eu falo da experiência de lecionação à turma 7ºD,

como se tratava de uma turma com alunos mais novos, optei por ter uma

postura diferente, demonstrando um controlo mais rígido de acordo com as

caraterísticas da turma e daquilo que me era pedido.

Exemplos da proximidade criada entre mim e o 9ºD e fundamentada na

afetividade, são os relatos do DB de dois momentos semelhantes. Falo dos

almoços do final de 1º e 2º período respetivamente. O primeiro é referente ao

dia 16 de dezembro de 2011 e o segundo ao dia 21 de março de 2012:

“Ao contrário dos colegas Carlos Pinto e Filipe Felicia que tentaram premiar as suas

turmas através de um jogo de futebol entre professores e alunos, eu preferi fazer algo

que englobasse toda a turma (rapazes e raparigas) de forma a reforçar a relação

Professor-Aluno que é algo que eu desde o início tento fazer. Ao contrário daqueles

que pensam que os alunos «abusam» quando têm muita confiança com o Professor,

eu acredito, principalmente nestas idades (14-15-16 anos) que os alunos sentem que

devem aproveitar esta proximidade da melhor forma, tentando a todo o custo não

desiludir o Professor (…).

Assim, com a ajuda de dois ou três elementos da turma, marquei um almoço num

restaurante a 200 metros da escola, de forma a terminar assim o 1º período. (…).

Durante o almoço conversámos sobre vários temas e quando o Professor Fernando e o

colega Vítor tiveram de se ausentar para a reunião da turma do 7ºD, eu fui buscar a

guitarra e passámos toda a tarde a cantarolar musicas conhecidas. Ao final da tarde,

quando olhei para o relógio, já eram 18.45 e eu ainda estava no restaurante com

grande parte dos participantes do almoço”.

“Este almoço contou ainda com as presenças dos colegas Felicia e Vítor. Quanto ao

clima vivido, como este almoço foi feito num local maior, não houve uma

confraternização tão intensa como no primeiro almoço. Apesar disso, verifiquei a

presença de alunos que tinham faltado ao primeiro almoço e que neste período se

mostraram muito mais ligados à turma demonstrando também maior dinamismo e

empenho na aula”.

Foi exatamente nas primeiras férias deste ano letivo que percebi o

quanto próximo me estava a tornar da escola. O excerto é do dia 1 de janeiro

de 2012 e foi retirado do DB:

“ (…) sinto (…) alguma “saudade” das aulas, algo que eu poderia achar impensável há

alguns meses atrás. Mas a verdade é que tenho vontade de rapidamente voltar à

escola. E isso só me faz perceber que ao contrário de vários professores-estagiários

que durante o estágio percebem que “ser Professor” não é aquilo que realmente

99

esperavam e queriam, eu estou cada vez mais empolgado com esta situação e por isso

tenho expectativas altas para este período e para o resto do ano letivo”.

Durante o ano, várias foram as conversas que tive com alguns alunos

num contexto mais particular. Por vezes, nessas conversas os temas nem

passavam pela escola, o que demonstra a profundidade da relação que se foi

estabelecendo. O relato seguinte narra uma situação onde dois alunos vieram

conversar comigo após a aula e é datado do dia 29 de fevereiro de 2012 (DB):

“Depois da aula terminar, o aluno K e o aluno L aproximaram-se de mim para falar

sobre as escolas secundárias de desporto da zona. Esta foi uma conversa que apesar

de curta (…), foi gratificante, uma vez que percebi que eles se sentem atraídos pela

disciplina”.

Ao longo de tantas e tantas aulas, a proximidade entre professor e

alunos aos poucos se foi transformando em afetividade. No momento da minha

última aula (24 de maio de 2012) escrevo no DB um texto que mais tarde

apresento à turma.

“Hoje ACONTECEU a minha última aula ao MEU 9ºD. Digo que aconteceu porque ao

longo do ano percebi que estas aulas não eram "dadas" nem "lecionadas" nem outra

coisa qualquer, elas simplesmente aconteciam. Aconteciam porque foram passando

num ápice, sem qualquer esforço. Foram acontecendo até que chegou ao dia de eu

fazer a minha última reflexão. (…)

Antes de começar o ano letivo, ansiava por este momento para poder finalmente entrar

em descompressão. Agora (…) quem me dera poder voltar aquele longínquo dia 21 de

Setembro... O dia da 1ª aula.

Muitas coisas se passaram ao longo de todo este tempo, algumas mais inesquecíveis

que outras, mas em todas elas, vocês deram-me oportunidades para aprender. E eu

aprendi imenso!

Sinceramente não me acho capaz de vos poder esquecer. É certo que daqui por 20 ou

30 anos, terei dificuldade em lembrar-me dos nomes de todos vocês. Mas mesmo

nessa altura, quando estiver sozinho a recordar, numa louca viagem temporal estes

momentos, vou-me lembrar do evento culminante de Voleibol e logo me recordarei dos

premiados...

(…) Vou-me lembrar daquele estranho dia em que as emoções de alguns de vocês

falaram mais forte e logo de seguida me lembrarei da surpresa que me fizeram na aula

seguinte (a vossa foto contínua no meu quarto).

(…) Vou-me lembrar dos almoços e das brincadeiras em conjunto, dos nossos esforços

para cantarmos algumas músicas da moda...

(…) Vou-me lembrar daquelas meninas que nas aulas de 45 minutos chegavam

sempre 10 minutos mais cedo.

(…) Vou-me lembrar de vocês as quatro que todas as 5ª feiras me davam os “bons

dias” primeiro que toda a gente por estarem na estação quando eu saía do comboio.

(…) Vou-me lembrar de alguns de vocês terem colocado de lado certos atestados

médicos só pelo prazer da prática das aulas.

100

(…) Vou-me lembrar das «futeboladas» entre professores e alunos…

Vou-me lembrar dos ciúmes que vocês tiveram quando TIVE de mudar de turma...

(…) No final de contas quero agradecer-vos a todos por este belo caminho que fiz com

a vossa companhia… Foi um prazer viver o dia-a-dia ao vosso lado!

E a verdade é que gosto muito de vocês, 9ºD!

O VOSSO professor César.”

Este texto deu direito a um texto de resposta, que aproveito também

para apresentar aqui. O texto está presente numa entrada do DB no dia 6 de

junho de 2012 e foi escrito pelos alunos da turma e foi-me oferecido juntamente

com uma t-shirt assinada por todos.

“Mais tarde, na hora da despedida, a turma ofereceu-me uma t-shirt assinada por todos

os alunos e também me deram uma carta. E aí, pela primeira vez, as palavras

custaram-me a sair. Estava tudo envolvido num clima extremamente emotivo, e isso

«deu cabo de mim». De certa forma, foi a despedida perfeita de um ano inesquecível”.

4.1.3.9. A OBSERVAÇÃO DAS AULAS

A perceção dos meus atos e daquilo que eu poderia melhorar em mim,

nunca teria atingido tanta significância, no caso de eu não ter passado por duas

variações das observações das aulas.

A primeira variação colocou em mim todos os olhos dos observadores.

No início, como é logico, esses momentos envolviam-me num certo clima de

desconfiança e instabilidade, uma vez que tinha medo de errar. No entanto, o

erro faz parte da aprendizagem e do desenvolvimento do sujeito. Se não

tivesse errado metade das vezes que errei, por agora, talvez ainda utilizasse

algumas estratégias e tomasse algumas decisões ainda sem saber em

concreto o porquê de o estar a fazer.

Por outro lado, errar só por errar não garante aprendizagem a ninguém.

É necessário que alguém esteja atento e seja capaz de corrigir as decisões e

ações menos bem conseguidas. Para isso, as reuniões semanais de NE, onde

todas as aulas eram debatidas, foram fundamentais. Coloco aqui um excerto

de dia 13 de outubro de 2011 retirado do DB, onde enumero os conselhos que

o PC Fernando Vaz me dá em relação a uma aula que lecionei da UT de

Ginástica:

101

“No final da aula o Professor Fernando referiu três aspetos que devem ser melhorados.

O primeiro aspeto refere-se à necessidade de nalgumas aulas (momentos finais) o

professor fazer um balanço da aula referindo o que de mais importante se fez (…)

dizendo também como será de modo geral a próxima aula. O segundo aspeto que o

PC focalizou refere-se ao material. Este não deve ser arrumado ou organizado pelo

professor mas sim pelos alunos. Nesta aula, na passagem do 2º circuito para a

sequência gímnica, fui eu quem organizou os 5 colchões (um para cada grupo). Isso

deveria e será feito numa próxima aula pelos alunos (…). O último aspeto refere-se á

motivação dos alunos nestas aulas. (…) Estes elementos que têm vindo a ser

ensinados por mim, não são novos para eles. (…) os alunos deveriam ter tido contato

com estes conteúdos desde o 5º ano, o que poderá começar a tornar esta aula

aborrecida. (…) o PC pensa que será positivo fazer a introdução do mortal, da rodada

ou do flick flack (…) por serem elementos completamente diferentes e que

normalmente motivam mais os alunos”.

.

Como se percebe ele tenta corrigir e dar outras soluções naqueles

aspetos onde eu demonstrei mais dificuldades.

Para além disso, como no NE da Sobreira, todos os elementos do

núcleo observavam de forma formal ou informal todas as aulas uns dos outros,

ao final de algum tempo, fui-me adaptando a essa realidade e toda a pressão

que está inerente ao conceito de “sessão observada” foi-me abandonando.

A segunda variação das observações das aulas implicou que eu me

tornasse no observador. Nesse plano, pude observar as aulas dos restantes

três elementos do NE, bem como as aulas de outros professores da escola.

No final das observações que fazia aos meus colegas de NE, elaborava

um documento com as conclusões que retirava e enviava-lhes. Para além

disso, numa primeira oportunidade, tinha uma simples conversa com eles

explicando aquilo que eu achava que eles poderiam fazer de forma a atingir os

resultados que na minha opinião são ideais. Ao longo de todas essas

conversas, nem por uma vez, senti que os conselhos que eu lhes dava

estavam a ser mal recebidos. A relação criada entre os elementos do NE

facilitou imensamente estes momentos em que por vezes temos que colocar “o

dedo na ferida”.

Por outro lado, não senti em nenhuma observação dos meus colegas de

estágio um claro momento onde detetasse uma clara e rápida evolução num

determinado aspeto. Digo isto porque acompanhei, do primeiro ao último dia,

as aulas dos meus colegas de estágio, tendo observado de forma formal ou

informal mais de 80% das mesmas. Isso fez com que eu não fosse capaz de

102

visualizar drásticas e instantâneas melhorias nos seus desempenhos. Pelo

contrário, estive com eles durante cada etapa dos seus longos percursos e

festejei juntamente com eles, cada mínima vitória, bem como senti em mim

cada derrota em termos de desenvolvimento profissional.

Tudo isso oferece-me uma visão mais ampla que permite conhecer

claramente cada ponto onde uns eram fortíssimos e outros mostravam mais

debilidades.

De seguida apresento 4 diferentes excertos de observações realizadas

por mim retirados do DB, respetivamente dos dias 13 de dezembro de 2011, 24

de janeiro de 2012, 8 de fevereiro de 2012 e 16 de março de 2012:

“Fazendo agora uma análise aos resultados obtidos e comparando-os com os

resultados da última observação do Felicia, (…) de uma forma geral, penso que

aqueles aspetos que eu referi que deveriam ser melhorados, acabaram por sê-lo na

maioria dos casos, com a exceção da redução do número de comportamentos de

«Observação» o que no meio de tudo o que envolve esta aula (Natação) até pode nem

ser um aspeto muito negativo. Digo isto uma vez que existe um maior risco numa aula

de Educação Física realizada no meio aquático, e por isso o Professor deverá ter maior

atenção na observação dos alunos e dos riscos que eles poderão correr. Assim uma

percentagem maior na verificação de comportamentos deste tipo poderá até nem ser

um mau resultado”.

“Fazendo agora um apanhado dos conselhos que eu deixei na última observação e

considerando o que foi verificado nesta observação, percebe-se que:

Os Feedbacks continuam presentes na atuação do professor Carlos em grande

número, mas o tipo de FB poderia ser mais proveitoso. Na maioria das vezes o Carlos

foi capaz de emitir um ciclo de feedback, e só através desse processo o Professor é

capaz de após corrigir o aluno, ver na prática se ele realmente melhorou, ou não,

tendo, conforme o resultado, voltar a intervir ou não.

Relativamente aos resultados, o Carlos aumentou o número de Fb descritivo, ficando a

faltar apenas uma maior incidência de Fb avaliativos que são tão importantes como os

prescritivos e os descritivos.

De uma forma geral percebe-se que o Carlos já se encontrava num nível razoável em

termos de atribuição de Fb, logo na primeira observação que eu fiz. De qualquer das

formas isso não faz com que ele deixe de ter a necessidade de continuar a melhorar

(…). De qualquer das formas ainda nem a meio do ano lectivo chegamos, por isso ele

tem bastante tempo para chegar a um ponto de excelência no que diz respeito à

atribuição de Fb”.

“O Professor Cooperante acabou também por utilizar o aluno líder da turma a seu

proveito. Assim, sempre que via esse aluno a realizar algo corretamente, sublinhava

esse facto, sublinhando as melhorias no seu desempenho. Isso fez com que o esse

aluno estivesse empenhado durante toda a aula, e essa dinâmica de trabalho alastrou-

se indiretamente ao grupo de alunos mais próximos dele”.

103

“Verifica-se que existe uma grande diferença entre o Plano de Aula e a aula real.

O planeamento foi seguido de uma forma muito abstrata, sendo (…) por vezes isso (…)

necessário na função docente. Muitas vezes os professores têm a necessidade de

adaptar o seu plano de aula às circunstâncias que vão ocorrendo. No entanto, numa

aula de avaliação, tudo deve estar planeado ao pormenor, ainda para mais numa aula

de 45 minutos onde o tempo é escasso.

(…) o Vítor demonstrou atenção e capacidade de improvisação, uma vez que percebeu

cedo que os exercícios presentes no PA não seriam os mais indicados para a avaliação

dos conteúdos programados do Basquetebol.

Por fim faço um último e novo reparo ao tempo de aula. (…) a aula prolongou-se para

lá do estipulado no horário, devido a um não cumprimento do tempo de exercícios que

se originou desde logo com os imensos atrasos dos alunos”.

Para além das várias observações das aulas, ao longo do ano letivo

percebi que tinha a possibilidade de observar aulas individuais a alunos com

acompanhamento. Essas aulas eram individuais e denominadas de aulas de

motricidade e eram lecionadas pelos tutores (professores de EF responsáveis).

Como o PC Fernando Vaz era tutor de um aluno com necessidades

educativas especiais (NEE), aproveitei para observar várias dessas aulas,

utilizando estes momentos para alargar a riqueza deste EP. No dia 23 de

setembro de 2011 (DB) observo pela primeira vez uma destas aulas:

“Estas aulas de motricidade consistem em aulas individuais para alunos com NEE e

que por isso, potenciam uma aprendizagem mais acompanhada (…).

Nesta aula o professor, apesar do reduzido material disponível, conseguiu potenciar ao

aluno uma experiência de descida de Rapel com os materiais de Escalada. Assim,

desde as bancadas do Pavilhão Gimnodesportivo, fez descer uma corda (…) até ao

chão. De seguida o aluno com o Boudrier vestido, e com a ajuda do mosquetão e do 8,

desceu a corda com o contrabalanço feito pelo corpo do Professor Vaz. (…)

Por fim o PC tentou ensinar-lhe o nome de apenas três matérias, o Boudriers, o

Mosquetão e o Oito. Apesar de serem só três materiais (…) o aluno só por uma vez

conseguiu identificar os três. Isso fez-me refletir (…) e percebi que no caso deste aluno,

apesar da sua aprendizagem motora ser feita a uma velocidade mais lenta do que (..) a

aprendizagem da maioria dos alunos (…), ele acabou por realizar corretamente o que

se pretendia. Por outro lado, a aprendizagem teórica já se tornou mais difícil (…). Isso

sublinha (…) a importância redobrada destas experiências práticas que são

possibilitadas nestas aulas individuais”.

104

4.1.3.10. UNIDADE TEMÁTICA DE VOLEIBOL (9ºD) – UMA VISÃO ATRAVÉS DO MODELO

DE EDUCAÇÃO DESPORTIVA

Um dos momentos-chave deste ano letivo foi sem dúvida a aplicação do

MED na UT de Voleibol devido aos objetivos atingidos através desta estratégia,

mas fundamentalmente devido ao caminho percorrido até esses objetivos.

O MED foi implementado durante o 2º período e a verdade é que até lá,

a minha turma não se mostrava claramente ser ideal para este modelo.

Existiam muitos atritos entre alunos, os alunos não demonstravam elevados

níveis de empenho e quando eu conversei com o PC sobre a possibilidade de

aplicar o MED, ele foi de uma sinceridade tremenda e disse-me que talvez não

fosse a melhor opção.

Assim, pus de lado essa hipótese até ao momento de uma reunião, por

volta do final do 1º período, com o PO Tiago Sousa onde estavam presentes

todos os seus núcleos. Lembro-me perfeitamente dele perguntar a todos os

estagiários presentes na sala, um por um, quem iria implementar o MED no

decorrer do ano letivo. Nem toda a gente disse que o ia fazer, mas o NE da

Sobreira foi o único que não tinha um estagiário com ideias de aplicar esse

modelo.

Fui para casa a pensar nisso e simplesmente decidi arriscar. De um

momento para o outro decidi implementar o modelo e a partir do momento em

que tomei essa decisão, apliquei-me nele com todo o empenho, tentando torná-

lo numa decisão se sucesso.

Por volta dessa altura, no dia 16 de dezembro de 2011 (DB), refiro pela

primeira vez num excerto a ideia clara de aplicar o MED:

“Este clima de festividade que existiu neste último dia de aulas parece-me ser um bom

ponto de partida para a implementação do Modelo de Educação Desportiva no próximo

período. Apesar de eu ter algumas reticências em relação a aplicação deste modelo

uma vez que a minha turma demonstra alguma falta de empenho, depois deste dia de

convívio fiquei com grande vontade de transportar este clima de festividade para as

aulas de EF”.

Logo na primeira aula desta UT que tive a noção de que seria muito

difícil ter mais do que metade do pavilhão para as aulas de Voleibol. Uma vez

105

que a turma tinha 27 alunos, desde logo que tentei contornar este sério

problema de forma a não deteriorar, de alguma forma, toda a envolvente do

MED. Assim, planeei todas as aulas para metade do pavilhão, com exceção do

evento culminante, uma vez que para esse dia teria autorização do Grupo de

EF para utilizar todo o pavilhão.

Quanto ao planeamento, optei inicialmente por transformar metade de

uma aula prática numa aula teórica para apresentar aos alunos os conceitos e

implicações do MED. O seguinte excerto foi retirado do DB e data de dia 12 de

janeiro de 2012:

“Os primeiros 45 minutos (…) foram utilizados para fazer uma apresentação em

formato digital acerca das aulas de Voleibol que decorrerão segundo o Modelo de

Educação Desportiva.

Assim, após ter explicado com algum cuidado os grandes objetivos deste modelo,

divulguei as equipas (criadas de acordo com a Avaliação Diagnóstico) e pedi que

realizassem as primeiras tarefas:

Definir Nome, Cor e Capitão de Equipa;

Um dos aspetos que mais sublinhei foi o facto de não pretender que os capitães

fossem eleitos somente pelas suas capacidades como jogadores de Voleibol, uma

vez que terão (…) tarefas de responsabilidade, sem esquecer da reunião que terão

(…) comigo antes de cada aula;

(…) Ficou também definido que as equipas terão de apresentar já na próxima aula,

o seu (…) Grito, Lema e cada elemento deverá trazer equipamento da cor da sua

equipa. Para além disto, cada equipa terá obrigatoriamente de apresentar o

emblema (…) na aula de dia 2 de fevereiro. Opcionalmente cada equipa poderá

também criar (…) Bandeira, Mascote e Hino. Estes aspetos são opcionais uma vez

que para já desconheço como será o MED acolhido pela turma”.

Depois deste primeiro contato entre a turma e o MED, eis o que refiro

um pouco mais à frente no mesmo excerto:

“De uma forma geral, penso que o MED foi bem recebido pela turma, as raparigas

acharam certa piada às novidades (cores e gritos) enquanto os rapazes mostraram um

elevado espírito competitivo já nesta primeira aula”.

Depois da apresentação do MED, tinha muitas expectativas para

perceber como se iria apresentar a turma na aula seguinte. O excerto do DB

refere-se ao dia 19 de janeiro de 2012:

“Esta foi a aula onde fiz um primeiro teste à aceitação do MED por parte da turma. (…)

Das 6 equipas presentes, todas elas trouxeram equipamentos da cor da sua equipa,

sendo que tenho que destacar a equipa «Cras», onde os seus elementos

compareceram com t-shirts iguais e ainda mais a equipa «The White Voley» que nesta

aula já trouxe t-shirts personalizadas, com nome da equipa, emblema e lema.

106

(…) Quando os alunos chegaram à aula, já estava afixada a pontuação geral da

primeira aula (…). Logo ali, notei mais uma vez que este aspeto é talvez aquele que

mais entusiasma a turma. Falo da competição. Os elementos das equipas que estão

nos primeiros lugares demonstraram (…) satisfação (…).

No final da aula, juntei a turma e pedi para que cada equipa apresentasse o seu grito.

Este foi um outro momento em que percebi que o entusiasmo inerente ao MED está a

crescer de forma diferente no seio das equipas. Tentarei que na próxima aula as

equipas façam um grito com maior frequência ao longo da aula para retirar alguma

inibição existente nalguns alunos”.

Após a observação de duas aulas segundo este modelo, o PC criou uma

nova opinião acerca do risco de implementar o MED nesta turma. O excerto

seguinte é de uma reunião de NE, do dia 19 de janeiro de 2012 (DB):

(O PC) “Começou por falar de mim, destacando a aplicação do MED que até ao

momento tem vindo a mostrar-se como uma boa aposta. Os alunos têm vindo a

responder da melhor forma e isso tem surpreendido o PC, até porque ele relembrou

que me tinha aconselhado a não o fazer, destacando positivamente o risco que eu

corri, e ainda corro. Segundo o Professor, a turma é o espelho do Professor e destacou

assim de forma positiva o que eu tenho vindo a conseguir fazer com ela, ou seja,

diminuir as dispensas da aula e aumentar o entusiasmo dos alunos”.

Foi com base na ideia de aumentar o entusiasmo e a festividade dos

alunos durante as aulas que criei uma caraterística muito vincada das sessões

lecionadas por mim.

Lembro-me que por volta do meio do 2º período, os meus colegas de NE

começarem a descrever as minhas aulas como “aulas à César, com muito

barulho e muito movimento”. Estas aulas tornaram-se no espelho do professor

e de uma turma que já era o reflexo do professor. O primeiro passo para

conseguir atingir esse clima de festividade nas aulas, foi numa conversa que

tive com a turma no final de uma aula da UT de Voleibol, onde o MED foi

aplicado. DB, 2 de fevereiro de 2012:

“No final deste exercício, conversei com a turma explicando que o entusiasmo inerente

ao MED deve ser seguido de forma indiscriminada ao longo das aulas e como tal, os

alunos deverão empenhar-se mais em criar um maior clima de festividade, uma vez

que têm total liberdade para isso”.

Ao longo das aulas, a festividade e a competitividade foram aumentando

para índices que eu pensava impensáveis. Ao longo das aulas, optei por

bonificar aquelas equipas que traziam elementos extra como bandeira,

mascote ou o hino. Essa bonificação levou a que todas as equipas quisessem

107

e criassem autonomamente os seus extras, dando uma vida acrescida às aulas

de EF. O seguinte relato apresenta essa realidade (DB, 23 de fevereiro de

2012):

“O início desta aula ficou marcado pela habitual conversa onde algumas equipas

trouxeram umas agradáveis surpresas. Na apresentação do MED (…) deixei (…) a

ideia de que, se as equipas quisessem, poderiam fazer opcionalmente bandeira,

mascote e hino. Até esta aula as equipas apenas se faziam acompanhar pelos itens

obrigatórios. No entanto, nesta aula a equipa «White Voley» trouxe mascote, os

«Pocoyos» trouxeram bandeira e os «Cras» para além da bandeira também trouxeram

o seu hino. Isso foi algo que me fez extremamente feliz, uma vez que é sinal do

empenho e do entusiasmo que as aulas de Voleibol despertam na turma. Assim, o

início da aula ficou marcado pela apresentação do hino dos «Cras». (…) Para elogiar

ainda mais estes esforços que cada equipa fez, bonifiquei à frente de todos todas as

equipas que tinham braçadeira, mascote, bandeira, hino e caneta”.

A competitividade presente no MED traz enormes benefícios, mas

quando mal gerida pode-se tornar num problema. Ao longo desta UT, existiram

alguns focos isolados de problemas derivados pela competitividade entre os

alunos. De seguida aproveito para os apresentar, demonstrando a necessidade

de estar atento a todos estes fatores, de forma a evitar a sua propagação.

O primeiro relato é do dia 12 de janeiro de 2012 e descreve o momento

da apresentação dos elementos das equipas (escolha realizada por mim):

“Apenas o aluno X mostrou-se um pouco desiludido, devido à equipa onde calhou.

Espero que nas próximas aulas ele se consiga integrar e mostrar a qualidade que tem,

não só jogando, como também ajudando a sua equipa a evoluir e a tornar-se

competitiva”.

O segundo excerto do DB (9 de fevereiro de 2012) reflete o momento em

que as pontuações são apresentadas no início de uma aula:

“Esta aula começou com a divulgação das pontuações atingidas pelas equipas na

última aula. (…) desta vez (…) o capitão da equipa «Cras» (…) mostrou clara

insatisfação. Começou por dizer que não gostava do emblema que a sua equipa tinha

feito (…). Mais tarde acabou por remover esse emblema. Já numa parte mais

adiantada da aula, onde ele deveria ter a função de estatístico, apercebi-me que ele

(…) somente estava a observar o jogo. Rapidamente o chamei à atenção e disse-lhe

que no final da aula conversaríamos (…) ”.

Este momento foi ultrapassado na reunião de capitães que ocorreu

depois da aula (DB, 9 de fevereiro):

“O aluno Y como nesta última aula demonstrou grande insatisfação (…) começou por

ser questionado sobre quais as razões para tal comportamento. Ele referiu que os

108

estatísticos têm vindo a ser injustos com a sua equipa («Cras») em prole da equipa

«Os Cinco Em Ação». Eu falei logo com todos os capitães de forma a fazerem chegar a

informação aos restantes elementos das suas equipas, para acabarem com esta falta

de rigor por parte dos estatísticos”.

Este problema foi resolvido, uma vez que assim que o aluno em questão

se sentiu ouvido por mim, rapidamente mudou a sua atitude e voltou a

demonstrar um empenho e competitividade, que o fazem exercitar nas aulas de

EF com uma dinâmica elevadíssima.

A última situação, talvez por envolver dois alunos da mesma equipa, foi

aquela que me causou mais apreensão. O texto é do dia 1 de março de 2012

(DB):

“No final da aula, pedi aos professores que observavam a aula para pontuar aqueles

hinos que achavam melhores. Nesse momento, houve um problema. Na equipa

«Pocoyos» o seu capitão (aluno W) estava emocionalmente instável devido aos

resultados que a sua equipa tinha tido nas jornadas desta aula (período competitivo)

(…). Quando chegou o momento de cantar, também porque a aluna A (da mesma

equipa) não o deixou pegar na bandeira, saiu da aula em lágrimas e logo de seguida a

aluna A fez (…) o mesmo”.

Mais tarde percebi que o aluno W abandonou a aula porque, devido aos

seus elevados índices competitivos, estava frustrado com os resultados da sua

equipa nesta aula. Já a aluna A, ela sentiu-se culpada pelos resultados

negativos da sua equipa e quando viu o colega a chorar, o sentimento de culpa

desabou sobre ela.

Ambos os alunos me pediram desculpa pelo sucedido, mas a verdade é

que eu tenho de estar preparado para estas situações. Ser professor é uma

profissão de risco, onde se trabalha em situações, com pessoas e com

sentimentos todos eles também de risco. Estes comportamentos não são tão

raros como se poderá pensar. É importante estar preparado para eles para ter

uma forma de atuação delineada no nosso pensamento. Devido à grande

proximidade que tinha com os alunos, situações como esta seriam ótimas para

eles temerem a possibilidade de me desiludirem ou não. De seguida contínuo a

apresentação do excerto anteriormente referido:

“Ela (aluna A) (…) pediu-me desculpa e senti que ela percebeu que errou. Já com o

aluno W, apenas tive a possibilidade de conversar com ele, por meio eletrónico

(internet) (…). Nessa conversa o aluno W pediu desculpa pelo que aconteceu, porque

109

percebeu que não pode agir dessa forma mesmo que a vontade de ganhar seja

imensa. Prometeu também (…) que situações como estas não se voltariam a repetir.

(…) Sinto que tenho uma boa relação com os alunos (…). Durante o meu 12º a minha

turma tinha uma relação idêntica com a professora de Matemática. Numa das últimas

aulas, um comportamento menos positivo da turma, desapontou claramente a

Professora e ela sem que tivesse feito questão de o referir, demonstrou como se

sentia. Ainda hoje me sinto mal quando relembro esse momento (…). A verdade é que

essa situação ajudou-me a crescer tanto a nível escolar como pessoal, uma vez que

depois da aula, eu e vários colegas, fizemos uma longa reflexão sobre o acontecido.

Quem sabe se este episódio não poderá funcionar do mesmo jeito para alguns deles?”

As reuniões que os capitães tinham comigo serviram algumas vezes

para se resolver situações que iam acontecendo nas aulas. Mas a sua utilidade

não se ficava por aqui. Eram fundamentais para o planeamento das aulas e

para a perceção de como os alunos estavam a compreender o modelo. Para

além disso também pedia as opiniões dos capitães acerca de certos aspetos

da aula. Na reunião do dia 19 de janeiro de 2012 (DB) um dos assuntos é o

seguinte:

“Nesta reunião (…) pedi a opinião doas capitães acerca da necessidade de se

introduzir já o serviço por cima e o remate, numa das próximas aulas. Como seria de

esperar, alguns capitães disseram que por eles já se deveriam abordar esses dois

conteúdos numa próxima aula. Então retorqui, explicando que poucos são os que

dominam perfeitamente os conteúdos ensinados até ao momento e a verdade é que a

maioria demonstra alguns problemas na direção do serviço por baixo, bem como na

colocação do corpo no passe e na manchete. Assim, decidimos (…) utilizar a próxima

aula para consolidar estes conteúdos (…) ”.

Estes momentos foram também utilizados como momentos ideais para

distribuir as tarefas dos capitães ao longo das aulas, nos diferentes momentos

da época desportiva. (DB, 16 de fevereiro de 2012):

“ (…) tratou-se de explicar como se procederão as próximas aulas (período

competitivo). Os capitães serão responsáveis por organizar o aquecimento (10

minutos) das suas equipas e após isso entraremos na fase de competição.

(…) referi que os alunos poderão falar comigo caso queiram sugestões acerca de

possíveis exercícios de aquecimento”.

Foi numa destas reuniões que um capitão colocou uma hipótese que

acabou por gerar muita controvérsia. No dia 9 de fevereiro de 2012 (DB), o

capitão da equipa «Cras» sugere o seguinte:

“O aluno Y sugeriu também uma nova possibilidade para este modelo: a possibilidade

de transferências de elementos de equipa. Ou seja, eu dava um valor a cada aluno (de

110

acordo com o seu desempenho nas aulas até ao momento), e para uma equipa o poder

contratar, teria de pagar esse valor.

A princípio esta ideia pareceu-me (…) positiva, mas comecei logo por sublinhar que no

caso de eu aceitar essa possibilidade, não poderão haver contratações de capitães. De

qualquer das formas (…) defini que ainda iria ponderar melhor sobre essa situação”.

Esta possível nova regra rapidamente se propagou entre a turma, e

ainda no mesmo dia, um grupo de alunos veio pedir para falar comigo: “Depois de ter feito a reunião com os capitães, alguns alunos demonstraram a sua

insatisfação pela possibilidade de se (…) fazerem transferências.

(…) na próxima aula da modalidade no momento de instrução inicial, vou conversar

com a turma para esclarecer (…) esta situação. Assim, no caso de haver algum aluno a

impor-se a esta ideia, não haverão quaisquer transferências”.

Assim, no início da aula seguinte (16 de fevereiro de 2012, no DB)

perguntei a opinião da turma em relação a esta nova possível regra

(transferências): “Aproveitei (…) a parte inicial para debater o assunto introduzido na última reunião de

capitães. (…) Como foi algo que não estava estipulado desde o início, e para ser justo

com todos, disse que (…), apenas iria aceitar, se toda a turma concordasse. (…) Como

(…) alguns alunos se mostraram contra esta sugestão, a ideia ficou posta de parte”.

As exigências do planeamento das aulas desta UT foram elevadíssimas.

Não tenho qualquer dúvida, que a fase de planeamento é muito mais complexa

utilizando-se o MED comparativamente com qualquer outro modelo aplicado

neste ano de estágio. Apesar de a função dentro da aula do professor, no

período competitivo da época desportiva ser mais suave, o planeamento das

aulas desse período obrigam a uma dedicação e empenho redobrados. O

relato (DB) de dia 23 de fevereiro de 2012 explica essa situação:

“Um aspeto onde ainda mantenho algumas dúvidas na aplicação do MED é nas

funções do Professor durante as aulas do período competitivo. Nesta que foi a primeira

aula deste período, senti que a minha ação foi muito reduzida. As minhas intervenções

limitaram-se ao momento inicial e final da aula (…). A sensação que me deu foi (…)

que estas aulas parecem ser mais fáceis de lecionar, no entanto tenho que admitir que

planeá-las dá o triplo do trabalho.

(…) Um dos aspetos que mais “dores de cabeça” me deu durante o planeamento do

período competitivo, prendia-se com a forma de pontuação destes campeonatos. (…)

acabei por decidir dar 20 pontos por vitória e 5 por derrota, mais os possíveis bónus de

5 pontos por uma vitória por mais de 6, ou um bónus de 10 pontos por uma derrota por

menos de 5. O último bónus consistia em premiar as equipas que ultrapassassem os

21 por jogo (recebiam 5 pontos de bónus) ”.

111

Durante o período competitivo, como a ativação geral era organizada

pelos capitães de equipa, de modo a manter esse momento de certa forma

dinâmico e rico em termos técnicos, decidi bonificar sempre as duas equipas

que realizassem os melhores exercícios de ativação geral. De forma a não

haver qualquer tipo de possibilidade dos alunos sentirem que eu queria

beneficiar uma equipa em relação às outras, este bónus era atribuído pelo PC

e pelos colegas de NE que sempre assistiam às aulas. O texto do DB do dia 1

de março reporta essa situação:

“O aquecimento foi (…) feito de acordo com o que tinha planeado (…). Os capitães

ficaram responsáveis pela sua equipa e com a ajuda do Professor Cooperante e do

Professor Orientador, foram premiados os dois melhores aquecimentos, com pontos

bónus.

No final desse momento eu expliquei o porquê desta pontuação extra (…). As duas

equipas premiadas realizaram aquecimentos específicos para o Voleibol (…) ”.

A época foi finalizada com uma aula diferente. O evento culminante foi

preparado com alguma insegurança, uma vez que não sabia exatamente como

poderia aumentar ainda mais a festividade inerente às aulas: (8 de março de

2012, DB)

“Para o evento culminante pretendo que este dia seja de completa festividade, mas

tenho ainda algumas dúvidas acerca de como planear essa aula. Como ao longo de

todas as (…) aulas, eu tento que a festividade esteja sempre presente, tenho medo que

os alunos sintam que este evento seja um pouco monótono”.

Assim, apostei em tornar esta aula num dia inesquecível, oferecendo

aos alunos uma experiência que lhes poderia permanecer na memória por

muitos e muitos anos. O evento culminante ocorreu no dia 15 de março de

2012 (DB) e foi o finalizar de todas as emoções vividas ao longo desta UT.

Um dos grandes objetivos desta aula passou pela criação de atividades

que proporcionassem grandes índices de entusiasmo e festividade nos alunos:

“ (…) aproveitei para seguir um conselho dado por uma aluna (…) e realizei um jogo

6x6 (rapazes contra raparigas). Para isso, pela primeira vez montamos a rede da

escola e notei que isso impressionou de alguma forma a turma. Este momento foi

também bem competitivo e terminou com a vitória dos rapazes com 23-25. (…)

Após este jogo, fez-se um último jogo 6x6 entre elementos da turma (rapazes e

raparigas) contra os professores”.

112

Foi uma aula que ficou marcada pela atribuição dos diferentes prémios

(50 medalhas que distinguiam todos os prémios individuais e coletivos

premiando assim, todos os alunos sem exceção) pelos quais os alunos

competiram ao longo das aulas da UT:

“As equipas apresentaram os seus hinos, mascotes e gritos e foram premiadas nessas

mesmas categorias, para além de melhor bandeira e melhor equipamento. Para a

eleição desses prémios, e como se tratam de atribuições segundo preferências (…)

pessoais, pedi para que dois convidados e amigos estagiários de outras escolas (…)

formassem o júri responsável pela atribuição desses prémios. (…)

Realizaram-se dois torneios para eleger o e a melhor passador(a), bem como

manchetista. Para isso foram feitos dois exercícios simultâneos onde os alunos iam

sendo eliminados sempre que deixavam a bola cair. Num lado do pavilhão no exercício

apenas se realizavam manchetes, do outro apenas passe, cabia aos alunos

“inscreveram-se” naquele lado que se sentiam mais à-vontade (…). Para arbitrar esta

competição recorri aos colegas de Núcleo de Estágio Felicia e Carlos Pinto, sendo

tarefa deles decidirem que ia sendo eliminado. Sei que a partir deste exercício não se

pode definir corretamente quem são os melhores alunos a realizar passe ou manchete,

uma vez que se trata de um exercício muito analítico e sem margem de erro. No

entanto, optei na mesma por realizá-lo, porque, tal como esperava, este momento foi

de grande intensidade e motivação o que aumentou a festividade e entusiasmo da

aula”.

No final da aula, os alunos conseguiram ainda surpreender-me,

contribuindo para a festividade da aula:

“A aula terminou com (…) uma surpresa que me deixou comovido. Na última aula de

Voleibol, uma aluna (…) tirou fotografias (…) e com esse material, os alunos fizeram

uma apresentação em Power Point que me deixou (…) orgulhoso. Para além disso (…)

também me ofereceram um quadro com uma foto da turma com os alunos a usar os

equipamentos utilizados nas aulas de Voleibol”.

Por fim, apresento um pequeno excerto que reflete bem o sentimento ao

longo do evento culminante:

“Durante a aula foi frequente ouvir expressões como «Isto é tudo para nós?». Não há

nada que me tivesse feito mais orgulhoso do que o reconhecimento por parte de quem

(…) beneficia com estes momentos, ou seja os meus alunos”.

Quanto aos resultados da implementação do MED, a turma atingiu os

objetivos propostos. As habilidades motoras propostas foram consolidadas com

correção, havendo claras melhorias em termos de passe, manchete e serviço

por baixo. Com agrado, vi durante as aulas que vários alunos eram capazes de

adequarem a sua posição base ao local em que se encontravam no campo. É

113

também verdade que um pequeno grupo de alunos acabou por não evoluírem

tanto na modalidade com a grande maioria da turma, mas em termos globais,

considero que esta modalidade foi aquela onde os alunos mais desenvolveram

as suas habilidades ao longo do ano. Para além disso, todos os alunos também

demonstraram um elevado conhecimento teórico, em termos de regulamento

do voleibol, fosse nas funções de árbitro, ou nas funções de jogador. Por fim,

em termos psicossociais, esta modalidade alcançou resultados bem distintos

das restantes modalidades. Aqui a turma conheceu-se, interagiu, e conseguiu

solucionar problemas entre alunos que vinham desde há muito tempo. Em

suma, no dia 23 de fevereiro de 2012 refiro o seguinte acerca dos resultados:

“ (…) dei por mim também a perceber que a turma evoluiu razoavelmente desde o

inicio da Unidade Temática. Para além disso o entusiasmo, clima de festividade e de

competitividade (…) tem vindo a atingir valores surpreendentes! A verdade é que desde

o ano passado que fiquei bem impressionado com os proveitos da aplicação do MED.

As aulas do Professor Ramiro Rolim fizeram de mim fã deste modelo e desde então

que tinha um certo desejo de aplicá-lo no meu estágio”.

Em termos de resultados práticos em relação às dispensas e aos

atrasos na implementação do MED no 9ºD, os resultados foram brilhantes. O

texto seguinte é do DB (23 de fevereiro de 2012):

“Como em todas as outras aulas de Voleibol, para evitarem penalizações para as suas

equipas, todos os alunos chegaram à aula atempadamente e nenhuma falta ou

dispensa foi registada. Isso é algo que me deixa absolutamente satisfeito, uma vez que

sempre foi o meu objetivo desde o primeiro dia de aulas, levar esta turma a esta

situação”.

Termino este ponto do relatório com uma pequena reflexão acerca dos

benefícios e prejuízos que observei através da utilização do MED: (DB, 1 de

março de 2012)

“O MED tem aspetos absolutamente positivos, no entanto tem algumas caraterísticas

cujos proveitos podem andar lado a lado com os prejuízos. Como já referi (…) a

motivação e presença dos alunos nas aulas aumentaram drasticamente com este

modelo enquanto as dispensas, faltas e atrasos diminuíram.

Por outro lado a competitividade inerente a este modelo, leva a que os alunos estejam

em grande parte das aulas perto do limite e nestas idades não é fácil controlar miúdos

nestas circunstâncias.

Constatei que a intervenção do Professor é (…) reduzida em momentos do período

competitivo, onde se pretende que os alunos compitam entre eles. Quanto a este

aspeto, eu tenho vindo a contornar esta situação porque tenho a necessidade de

corrigir e atribuir feedbacks quando vejo alunos a cometerem erros tanto técnicos,

114

como táticos, ou ainda arbitrários ou de registo. Assim, vou como que moldando um

pouco a ação do Professor na aplicação do MED em situações como essas, onde uma

correta intervenção do Professor pode significar o incremento na aprendizagem dos

alunos”.

Em momento algum desta reflexão questiono as virtudes da aplicação

do MED. Mesmo com a existência destes aspetos que eu refiro, a escolhe

deste modelo foi uma decisão de risco que em muito superou as minhas

expectativas.

Todos os aspetos que refiro como mais ambíguos na reflexão anterior,

são apenas referidos porque ao longo da implementação do modelo, terem-me

causado certas dúvidas.

A verdade é que os problemas que a competitividade pode trazer, estão

presentes em maior ou menor escala em todas as aulas de EF, seja qual for o

modelo que o professor escolha. É importante por isso estar atento a esta

realidade e estar preparado para intervir a qualquer momento.

Em relação ao menor raio de ação que o professor tem no período

competitivo, isso apenas demonstra a autonomia dos alunos. De qualquer das

formas o professor está sempre no direito de intervir a qualquer momento nas

aulas. E no caso de querer manter a postura exata de autonomia dos alunos,

pode utilizar posteriormente as reuniões com os capitães para corrigirem

aspetos mais gerais.

Em suma, as questões mais ambíguas que o MED levantou nesta sua

implementação, são mínimas comparativamente com os proveitos finais.

Grande parte dos objetivos que atingi neste ano letivo foi alcançada no

decorrer desta UT. Outros, foram atingidos tendo esta UT como base.

4.1.3.11. UNIDADE TEMÁTICA DE BADMINTON (7ºD) – UM MODELO HÍBRIDO

A aplicação desta UT esteve longe de ser planeada no início do ano.

Inicialmente cada elemento do NE tinha delineado para si o contato com uma

turma.

No entanto, ao longo do ano letivo o PC sentiu a necessidade de trocar

as aulas de 45 minutos de dois estagiários. Eu fui um dos escolhidos, e no dia

115

17 de abril de 2012 o PC informou-me a mim e ao meu colega de núcleo que

trocaríamos de turmas.

Apesar de a princípio esta situação me ter deixado um pouco nervoso,

acabei por perceber que esta seria uma excelente oportunidade para provar o

meu valor enquanto professor. Para além disso, a junção de variadas

circunstâncias potenciou que a minha experiência no EP fosse mais profundo e

colorido do que eu esperava, uma vez que tive a possibilidade de contatar com

duas turmas diferentes.

O 7ºD era uma turma que estava a colocar dificuldades ao seu professor

principalmente ao nível do controlo. Uma vez que eu observei inúmeras aulas

desta turma, tinha já acumulado algum conhecimento da mesma. Era uma

turma que tinha um aluno com claros comportamentos desviantes e que

demonstrava ser o líder dos rapazes. As raparigas sempre se mostraram muito

pouco empenhadas e aos poucos, devido à falta de empenho acabaram

também por ajudar na destabilização da turma. Por fim, a turma tinha dois

alunos NEE que necessitavam de acompanhamento próximo. Um deles tinha

claras dificuldades motoras e facilmente se desmotivava. Exemplo disso é o

facto de terem sido raras as aulas em que ele tenha participado nos exercícios

do início ao fim. O outro aluno era muito explosivo e nos momentos em que

não gostava de alguma coisa que o afetasse diretamente, “explodia”

descarregando nos colegas ou materiais que lhe aparecessem à frente.

Tendo em conta todas estas caraterísticas da turma e vindo eu de uma

recente experiência da lecionação através do MED com resultados fantásticos,

decidi utilizar um modelo de instrução que utilizasse algumas características do

MED e se adaptasse à turma em questão. O relato seguinte do DB, de dia 20

de abril de 2012, reflete essa minha estratégia:

“ (…)decidi utilizar uma nova estratégia. Como se trata de uma turma com um grupo de

alunos que jogam Futebol, percebi que para os motivar, terei de utilizar ao máximo a

competição entre eles. Assim, decidi pontuar individualmente os alunos de acordo com

os atrasos, dispensas, faltas, falta de material, ajuda na recolha do material, interesse e

aplicação na aula. No final da Unidade Temática aproveitarei para premiar os primeiros

classificados neste «campeonato» ”.

A utilização desta competição foi muito bem recebida pelos rapazes. Já

as raparigas apenas se mostraram interessadas quando eu lhes expliquei que

116

elas não competiriam diretamente com os rapazes. Ou seja, existirá uma

competição individual entre rapazes e outra entre raparigas.

Percebe-se então que neste modelo utilizo a estratégia de competição

individual entre alunos de forma a aumentar a motivação dos mesmos e

também os seus empenhamentos.

Para isso foi utilizado mais uma vez o quadro de pontuações (tal como

no MED) onde desta vez, em vez do nome das equipas, estavam assinalados

os nomes de todos os alunos da turma e à sua frente colocavam-se os

parâmetros onde cada um deles podia ser bonificado ou penalizado

(pontualidade, comportamento, material, empenho e qualidade da tarefa).

Começando pela pontualidade, esta era bonificada sempre que um

aluno chegasse até 6 minutos depois do toque de entrada, dando assim tempo

para que eles saíssem da aula anterior, se dirigissem aos balneários e se

equipassem. De acordo com o horário escolar, entre esta aula e a anterior não

havia intervalo e por isso era frequente que toda turma chegasse muito

atrasada. Para evitar isso decidi colocar esta estratégia e os resultados foram

positivos. Esta nova regra foi recebida de forma diferente entre os rapazes e as

raparigas da turma. Enquanto os rapazes viram esta nova realidade como uma

oportunidade para acumularem pontos, algumas raparigas não se mostraram

tão interessadas. Para se perceber melhor como esta regra influenciou o

comportamento dos rapazes, antes destas aulas era frequente eu estar no

espaço exterior a assistir as aulas de motricidade do PC. Não raras vezes, vi os

alunos a saírem do pavilhão onde estavam a ter a aula antecedente à minha

em sprint desenfreado, para chegarem antes dos colegas à aula. Já com as

raparigas tive de intervir de diferente forma. O excerto seguinte do DB (4 de

maio de 2012) conta o episódio em que atuei para acabar com os atrasos de

um grupo de raparigas:

“A aula começou com um primeiro problema, (…) 5 alunas chegaram cerca de 15

minutos atrasadas (…). (…) aproveitei para dar uma (…) reprimenda às alunas. Senti

que elas compreenderam a situação, mas fiquei com esse atraso gravado na memória,

e por tanto com estas alunas a minha tolerância nesta aula seria “0”. Assim, mais à

frente na aula (…), percebi que duas dessas alunas mantinham uma atitude (…) nada

empenhada. Depois de as ter chamado à atenção uma vez, e como as suas atitudes

não melhoraram, achei que era altura de intervir.

117

(…) Após verificar novamente a falta de empenho das duas alunas, imediatamente

interrompi a aula e “mandei-as” para o banho. Durante alguns segundos elas ficaram

sem resposta, mas eu mantive a minha intenção. Percebi claramente que as consegui

tocar com esta ação (…) e dei-lhes uma última possibilidade de participarem na aula,

mas desta feita com a atitude correta. Elas aceitaram e até ao final não me causaram

mais nenhum transtorno”.

Através desta ação bani definitivamente os atrasos à aula. Estava ainda

numa fase de tentar controlar a turma e estas minhas ações mais autoritárias

foram fundamentais para evitar comportamentos indesejáveis. De facto, o

comportamento dos alunos era um outro parâmetro que podia ser bonificado ou

penalizado durante as aulas.

Para isso utilizei toda a minha atenção para detetar possíveis

comportamentos indesejáveis. Para além de procurar manter uma elevada

atenção, também senti necessidade de adotar diferentes estratégias para 3

diferentes alunos. Os próximos três relatos estão presentes no DB no dia 27 de

abril de 2012.

O primeiro aluno foi aquele que já referi como sendo o líder dos rapazes

da turma:

“Esse aluno costuma querer dar nas vistas e na maioria das vezes opta por uma atitude

passiva em relação à aula. Conhecendo-o como já o conheço, de todas as aulas que

observei, decidi não o pressionar nesses momentos, tentando que ele integre a atitude

da turma por si só”.

Optei então por não dar muito valor às atitudes que ele ia tendo ao longo

da aula, de forma a que ele se consciencializasse de que as atenções durante

a aula não estão só nele. Esta estratégia acabou por trazes frutos, porque o

aluno foi se sentindo cada vez mais igual aos colegas da turma.

O segundo aluno é aquele com NEE com um temperamento de risco:

“ (…) decidi manter a mesma postura em relação ao aluno B integrando-o nos

exercícios, e afastando-o dos locais mais propícios para se criarem conflitos (isto é,

longe dos alunos mais conflituosos)”.

Com esta estratégia, consegui controlar o aluno de uma forma que até a

mim me surpreendeu um pouco. Para além de o tirar das zonas mais

conflituosas da aula, tinha a necessidade de o colocar rapidamente em

118

exercitação, evitando tempos de paragem que o tornassem aborrecido e com

vontade de fazer algo impróprio para a aula.

O último caso era o do aluno também com NEE com muitas dificuldades

motoras e com um comportamento extremamente passivo devido à dificuldade

com que se motivava:

“Já o aluno C (…) fez a aula com os restantes apesar de me ter dito que não ia fazer

porque «não sabia fazer os exercícios». Com ele utilizei um acompanhamento mais

próximo, equilibrando os exercícios para o seu nível (…), e prometi-lhe que caso ele

faça todas as aulas de Badminton até ao final da Unidade Temática, eu oferecer-lhe-ei

uma medalha. Ele ficou muito entusiasmado com essa situação e espero que isso sirva

para o motivar para as restantes aulas”.

No entanto a verdade é que o meu ser professor é incapaz de manter

uma postura autoritária durante toda a aula e por vezes, ainda nesta fase de

controlo da turma, sentia necessidade de por instantes adotar uma postura

mais relaxada que é sem dúvida na qual me sinto melhor (20 de abril de 2012,

DB):

“Aproveitei também pequenos momentos de distração dos alunos para mostrar quem é

o líder da turma, pondo-os nesses momentos “em sentido”. Mais tarde voltei aquele

que é a minha atitude mais natural, isto é uma atitude descontraída utilizando o humor

em diversos momentos para aumentar a atenção dos alunos”.

Quanto ao material, esse parâmetro era bonificado de duas formas. A

primeira referia-se à necessidade de os alunos estarem bem equipados para a

aula. Para além disso decidi bonificar sempre os alunos que me ajudavam a

colocar e a recolher o material das aulas, principalmente postes e redes de

Badminton, sinalizadores e ainda o quadro de pontuações.

Já o empenho e a qualidade da tarefa eram classificados de acordo com

o que eu ia observando ao longo da aula. Estes dois tipos de bónus foram

fulcrais para o alcançar de níveis elevados de desempenho dos alunos e de

certa forma da dinâmica da aula. (18 de maio de 2012, DB)

“Destaco que grande parte do empenho demonstrado pelos alunos deve-se à

estratégia de pontuações individuais que implementei desde a primeira aula”.

Ao longo destas 6 aulas que constituíram esta curta UT de Badminton,

sinto que atingi resultados que me deram, sem dúvida, motivos de orgulho pelo

meu estado de desenvolvimento profissional.

119

Nesta pequena UT optei por utilizar este modelo de instrução, onde

atuava segundo diretrizes semelhantes à instrução direta, sendo responsável

por todas as decisões implicativas do processo de aprendizagem, mas

utilizando a competitividade (adaptada do MED) para manter a turma

empenhada e para ajudar a controlá-la bem como despistar certos problemas

como os atrasos (1 de junho de 2012, DB):

“Como nota final, tenho que referir que esta estratégia que utilizei para motivar uma

turma que na minha opinião era bastante desmotivada, foi sem dúvida um êxito, até

porque através da mesma, fui capaz de controlar a turma e gerir melhor os materiais.

Foi sem dúvida um desafio diferente que me levou a repensar estratégias, (…) sinto

que esta troca foi extremamente benéfica”.

121

4.1.3.12. ESTUDO: “HÁBITOS DE HIGIENE NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O CASO

ESPECÍFICO DO DUCHE”

Resumo

Na idade contemporânea é impensável que os hábitos de higiene não

possam ser considerados como fundamentais no dia-a-dia de cada individuo.

Isso influencia o bem-estar dele próprio e de com quem ele interage.

A higiene pessoal significa primeiramente saúde e daí deve partir o

pressuposto de tudo o que ela implica. Comportamentos e hábitos de higiene

são então fundamentais para a qualidade de vida de cada um de nós. Estes

estão entranhados dentro de cada um, mas nalguns casos são tão inoperantes

que é preciso uma reestruturação daquilo que pensamos ser fundamental, para

alcançar um estilo saudável de vida durante o dia-a-dia.

Estas falhas e incapacidades a nível de hábitos de higiene foram

reconhecidas nos alunos da EB 2,3 de Sobreira e como tal decidiu-se estudar

esses mesmos problemas e causas.

Metodologicamente, realizámos um questionário de forma a criarmos

posteriormente um inquérito acerca de hábitos de higiene pessoais que foi

entregue a uma larga amostra dos alunos da escola. Os resultados

demonstram diferenças entre os comportamentos dos rapazes e das raparigas,

bem como entre os vários anos de escolaridade. Também as causas que

levam os alunos a terem uma inexistência de comportamentos de higiene,

nomeadamente do banho, depois das aulas de Educação Física (EF), foram

apontadas.

Após a análise de todo este documento percebe-se a importância que o

mesmo seja entregue à EB 2,3 de Sobreira, esperando que as conclusões

possam ser utilizadas para uma melhoria dos comportamentos de higiene dos

alunos.

PALAVRAS-CHAVE: HÁBITOS DE HIGIENE, AULAS DE EDUCAÇÃO

FÍSICA, DUCHE.

122

Abstract

Nowadays is unthinkable that hygiene habits are considered dispensable

on life of every individual. This influences the well-being of each individual and

with whom he interacts.

First, personal hygiene means health, and then entails everything else.

Behaviors and hygiene habits are fundamental to the quality of life of each of

us. These behaviors are ingrained within each one, but in some cases are so

dead that we need a restructuring of what we think is fundamental to achieving

a healthy lifestyle.

These failures in hygiene habits were recognized in students in EB 2,3

Sobreira and we decided to study the problems and causes of that behavior.

Methodologically, we conducted a questionnaire in order to subsequently

create an inquiry about personal hygiene habits that was delivered to a large

sample of school students. The results show differences between the behavior

of boys and girls, as well as between the school years. Also were pointed the

causes that lead students to have a lack of hygiene behaviors after Physical

Education.

After analyzing this whole document we realize the importance that it be

delivered to the EB 2,3 Sobreira, hoping that the findings could be used for the

improvement of student's hygiene behaviors.

KEY WORDS: HYGIENE HABITS, PHYSICAL EDUCATION CLASSES,

SHOWER.

123

Introdução

A pele é o órgão que envolve o corpo sendo a sua barreira com o meio

externo. Corresponde a 16% do peso corporal, sendo o maior órgão do corpo

humano. Entre as funções exercidas destacam-se: regulação térmica, defesa

orgânica, controlo do fluxo sanguíneo, proteção contra diversos agentes do

meio ambiente e funções sensoriais (calor, frio, pressão, dor e tato). A pele, por

tudo isso, é um órgão vital e, sem ela, a sobrevivência seria impensável. A

melhor maneira de manter a pele limpa e livre de infeções é lavá-la

frequentemente, tomando um banho, preferencialmente com água quente e

sabão (Lereno, 2009).

Todos os alunos que realizam uma aula prática, devido ao aceleramento

do organismo resultante da ativação motora, acabam por libertar substâncias

através do suor. A pele tem milhões de glândulas que produzem suor. O banho

ou o duche permite ao organismo uma limpeza das toxinas produzidas ao

longo das mais diversas tarefas diárias. A falta de um banho ou duche provoca

a acumulação de substâncias nocivas, que se somam às poeiras, terra e areia.

A consequência é o risco de aparecimento de doenças, além de um odor (mau

cheiro) desagradável. Aconselha-se portanto que depois da aula os alunos

tomem um banho ou duche morno preparando-se dessa forma para as

restantes atividades do seu dia.

No Programa de Educação Física para o 2º ciclo refere-se como uma

finalidade da disciplina a promoção da formação de hábitos, atitudes e

conhecimentos relativos à interpretação e participação nas estruturas sociais,

no seio dos quais se desenvolvem as atividades físicas, valorizando: a higiene

e a segurança pessoal e coletiva. No mesmo documento, é referido como

objetivo geral para o ensino básico o conhecimento e aplicação dos cuidados

higiénicos.

Hábitos de Higiene nas Aulas de Educação Física

Costa (1919) refere que a higiene escolar ocupava, naqueles tempos,

um dos primeiros lugares em termos de educação pública. Importância que não

se tem vindo a perder, aliás, a mesma tem vindo sim, a ser reforçada.

124

Mas para começar, o que significa higiene? Lereno (2009) refere que a

resposta a essa questão depende da pessoa que é questionada. Higiene

poderá significar limpeza e asseio; poderá ser a relação entre os

microrganismos patogénicos e as doenças por eles transmitidas; ou poderá

ainda ser um conceito que começou por significar saúde e que gradualmente,

ao longo da história da Humanidade, se tornou mais específico.

A mesma autora refere que nos dias de hoje a higiene é uma área da

medicina que estuda o conjunto de técnicas sanitárias destinadas a preservar e

a melhorar o estado de saúde e de conforto da população. Pretende por tanto

ensinar à sociedade as normas de vida saudável. A Organização Mundial de

Saúde (OMS) através do seu site12 define que atualmente a higiene refere-se à

condição e prática que ajuda a manter a saúde e prevenir a propagação de

doenças. Higiene médica inclui, portanto, um conjunto específico de práticas

associadas a esta preservação da saúde, por exemplo, limpeza ambiental,

esterilização dos equipamentos, a higiene das mãos, água e saneamento e

eliminação segura dos resíduos hospitalares.

Inerente à definição de higiene, surge a saúde. É importante referir como

a OMS define este conceito: a saúde deve ser entendida como traduzindo não

apenas a ausência de doença ou de enfermidade, mas um estado de completo

bem-estar físico, psicológico, mental, emociona, moral, espiritual e social. Para

isso, os hábitos de higiene contribuem de sobremaneira. É incoerente pensar-

se em alguém com fracos hábitos de higiene com um bem-estar que englobe

todas as componentes anteriormente referidas. Assim, percebe-se a relação

estrita entre a higiene e a saúde.

Existem medidas simples de higiene tais como a lavagem de mãos, a

escovagem de dentes e o banho diário com água e sabão que são

indispensáveis para a manutenção de um bom estado geral e para a prevenção

de doenças, como infeções intestinais agudas ou por parasitas (Gomes, 2011).

O banho surge na antiga população romana não como uma prática

prioritária de higiene, mas de prazer. Todas as cidades tinham pelo menos um

12

Informações consultadas em: http://www.who.int/en (Site oficial da Organização Mundial de

Saúde).

125

banho público e estas infraestruturas acabavam por contribuir para limitar o

papel dos piolhos e outros responsáveis por epidemias. Existia até uma

preocupação de serem construídas longe dos pântanos e de águas

estagnadas. Os romanos eram desde logo capazes de referir organismos

invisíveis a olho nu, mas transmissores de doenças (Lereno, 2009).

Nos séculos XIX e XX houve uma clara melhoria da qualidade e da

esperança média de vida. Entre as muitas razoes para isso, a importância da

evolução nos hábitos de higiene da população não pode ser negada (Lereno,

2009).

Uma boa higiene pessoal é sinónima de saúde. Por outro lado, uma má

higiene torna favorável o desenvolvimento de microrganismos, o que aumenta

o risco de contágio de doenças infeciosas. De ano para ano aparecem novas

infeções e as antigas surgem com formas renovadas. Uma boa higiene torna-

se portanto na única forma de as evitar. Os hábitos de cada individuo

influenciam o seu bem-estar bem como o bem-estar de com quem ele interage

(Lereno, 2009).

No caso específico do Desporto, Almeida (1988) defende que os hábitos

de higiene que se criam revestem-se de uma importância extrema e estão

intimamente relacionados com a saúde dos atletas. O mesmo autor refere

também que após a aula de EF, o treino ou a competição, é hábito

imprescindível a necessidade de um banho que permita eliminar os produtos

de sudação resultantes das atividades desportivas e que permita à pele e aos

seus componentes a continuação da sua função protetora.

Ao longo deste ano letivo, deparamo-nos com uma situação curiosa. Em

todas as aulas de Educação Física lecionadas ao 9ºD, apesar dos esforços

contínuos para que essa situação se invertesse, os alunos raramente tomaram

banho. Começou-se por tentar inverter essa situação explicando que esse é

um item de avaliação e que poderia ajudá-los a melhorar as suas notas, mas

essa estratégia não resultou.

Com a identificação deste problema achamos pertinente conhecer,

através de um estudo, as razões que levam os alunos à adoção deste

comportamento e se conhecem os resultados do mesmo.

126

Objetivos do estudo

Primeiramente pretende-se identificar os hábitos gerais de higiene dos

alunos, constituindo este um ponto base para os restantes objetivos do estudo.

O propósito principal deste estudo passa por conhecer devidamente as

razões que levam os alunos da EB 2,3 de Sobreira a evitar constantemente o

banho, após as aulas de Educação Física. Desde o início do ano letivo que os

alunos têm vindo a evitar essa ação, tanto nas nossas aulas como na maioria

das aulas que observamos. Como não os conseguimos convencer a tomar

banho através de simples conversas acerca da importância do banho, é

importante identificar as razoes que inibem este comportamento.

Um outro objetivo pretende identificar e suprimir eventuais fragilidades

ao nível das condições para o duche.

Gostávamos também de perceber se existe uma maior prevalência de

hábitos de higiene em função do ano de escolaridade e se existe alguma

relação entre ano e comportamentos de higiene.

Por fim pretende-se aferir se o sexo dos alunos tem relação direta com a

ausência de comportamentos de higiene após aula de EF.

As nossas expectativas quanto ao estudo são elevadas uma vez que

acreditamos que vamos passar a perceber melhor o porquê dos alunos não

tomarem banho. Por outro lado, temos algumas dúvidas de sermos capazes de

mudar essas atitudes quando conhecermos as razões que os inibem do banho,

porque pensamos que este é um problema de atitude, isto é, alguma preguiça,

e geral, ou seja, de todos.

Metodologia

Amostra

Este estudo trata-se de um estudo transversal realizado na Escola

Básica 2,3 de Sobreira, no ano letivo de 2011/2012. De um total de 669 alunos

inscritos na escola, o inquérito foi colocado a uma amostragem de 108

indivíduos, de ambos os sexos, entre os 11 e os 17 anos, representantes de

todos os anos escolares (5º, 6º, 7º, 8º e 9º). A seleção dos participantes foi feita

de acordo com a facilidade de interação entre o NE e os alunos. Assim, foram

127

escolhidas para participar nesta amostra as quatro turmas do NE e mais duas

turmas do professor Hélio Azevedo que prontamente se disponibilizou a ajudar.

Quadro 1 – Caraterização da amostra de acordo com o ano letivo.

Ano letivo Nº de alunos Percentagem

5º ano 17 15.7%

6º ano 20 18.5%

7º ano 13 12%

8º ano 13 12%

9º ano 45 41.7%

Total 108 100%

Instrumentos de recolha

Questionário

Inicialmente foi feito um pequeno questionário. Este questionário

preliminar teve como objetivo conhecer as respostas dos alunos e através dele

ser possível criar-se um novo questionário (definitivo). Ao longo do estudo, são

utilizadas duas nomenclaturas diferentes para se perceber mais facilmente o

momento que pretendemos referir. Assim, quando se fala em questionário fala-

se do questionário preliminar que foi utilizado como base para a criação do

questionário definitivo. Já o questionário definitivo, realizado posteriormente, é

referido como inquérito.

Como para esta fase do estudo não se pretendia um grande número de

participantes por apenas se querer traçar linhas gerais para a elaboração do

inquérito, a aleatoriedade da escolha dos alunos foi feita através da utilização

dos alunos que se apresentaram numa aula num determinada dia em que

existiu uma viagem de estudo organizada por outra disciplina letiva. Assim

explica-se o porquê de terem sido utilizados apenas 3 alunos do 9ºD para esta

fase.

As respostas deste questionário foram utilizadas para a criação do

inquérito colocado a todos os alunos da amostra (5º, 6º, 7ºD, PP1, 9ºC e 9ºD).

O questionário foi inteiramente e autonomamente desenvolvido pelos

responsáveis por este estudo.

128

Para esta primeira fase, o questionário foi de resposta aberta e pretendia

saber de forma geral o passado, isto é, o que aconteceu nos anos letivos

anteriores, dos alunos em termos de cuidados higiene depois das aulas de

Educação Física. Para além disso pretende-se descobrir se os alunos têm

noção da importância do banho e dos comportamentos de higiene, bem como

do peso que esses comportamentos têm nas suas notas avaliações finais da

disciplina. Serão colocadas também outras pequenas questões acerca das

rotinas dos alunos de forma a compreender melhor o contexto em que estão

inseridos. Por fim, quer-se perceber de uma forma geral quais as causas para a

falta de higiene dos alunos e se estão disponíveis a modificar esse

comportamento no caso de melhoria das mesmas.

Inquérito

Esta é a segunda fase do estudo. A primeira parte do inquérito pretende

revelar os hábitos de higiene pessoais dos alunos. Para isso foi utilizado como

base o questionário sobre hábitos de higiene desenvolvido pelo Agrupamento

de Escolas do Torrão, em Alcácer do Sal, nomeadamente na escola básica

Bernardim Ribeira.

De acordo com as respostas obtidas no questionário realizado

anteriormente, foi criado um inquérito maioritariamente de resposta direta que

permite perceber exatamente quem não toma banho na escola e porque não o

faz. Apontadas as causas para esse comportamento é altura de refletir sobre

essas causas percebendo quais podem ser modificadas e de que forma.

Procedimentos metodológicos

Questionário

O questionário foi feito durante uma aula de 90 minutos de Educação

Física. Os 3 alunos foram selecionados aleatoriamente para o seu

preenchimento, tendo apenas e só em consideração as suas disponibilidades

para o preenchimento do mesmo, tal como já foi referido. Neste questionário os

alunos responderam a 10 questões, entre as quais: “Achas o duche

importante?”; “Quando foi a última vez que tomaste duche na escola depois de

129

uma aula de EF?”; “Quantas vezes tomaste duche na escola no 2º período?”;

“Que material costumas trazer para o duche depois das aulas de EF?”.

Com base nas respostas recolhidas, foram determinados os campos

mais importantes na formação do inquérito. Destacou-se então a importância

de se perceber com pormenor o que fazem os alunos em termos de

comportamentos de higiene depois das aulas de Educação Física, perceber

porque é que eles se comportam dessa forma e ainda que sugestões dão para

que possam melhorar esses comportamentos.

Inquérito

Para compreender mais profundamente a alteração de comportamentos

entre fases diferentes da adolescência dos alunos, este mesmo questionário foi

colocado a 6 turmas diferentes. Foram selecionadas turmas de cada um dos

anos escolares, uma do 5º ano e outra do 6º ano, também ao 7ºD, onde uma

maioria dos alunos, segundo os relatos do seu professor opta por tomar banho

na escola, o PP1 (turma CEF equivalente ao 8º ano), o 9ºC e o 9ºD, onde, com

a exceção das aulas de Natação, nenhum dos alunos toma banho depois das

aulas de Educação Física.

Os inquéritos foram preenchidos apenas por aqueles alunos que se

mostraram disponíveis, ou seja, o seu preenchimento não foi obrigatório. Para

além dessa característica, os inquéritos eram também de preenchimento

anónimo para não limitar de alguma forma a sinceridade das respostas. A

maioria dos inquéritos foi preenchida durante as aulas de Educação Física

(duração de cerca de 10 minutos), apenas os alunos do 9ºD preencheram os

inquéritos em casa e posteriormente os entregaram.

Este inquérito estava dividido em 3 grupos de questões. No primeiro

grupo, estavam presentes questões acerca dos hábitos gerais de higiene dos

alunos, como “Tomas banho: a) todos os dias, b) duas vezes por semana, c)

uma vez por semana”; “Lavas os dentes: a) nunca lavo, b) de manhã e à noite,

c) de manhã, depois de cada refeição e à noite”. O segundo grupo pretendia

perceber os comportamentos de higiene após as aulas de EF dos alunos:

“Depois da aula de EF tomas banho completo?”; “Depois da aula de EF trocas

130

de roupa interior?”. O terceiro grupo pretendia perceber as causas das

ausências de duche depois das aulas de EF: “Porque não tomas banho nos

balneários da escola?”; “Dá uma sugestão do que poderá ser feito, para

melhorar o problema que referiste anteriormente para que no futuro possas

tomar banho na escola”. Para uma consulta mais profunda, um exemplar deste

inquérito encontra-se nos anexos (7.1.) deste relatório de estágio.

Procedimentos estatísticos

Foram realizados procedimentos estatísticos apenas para a análise dos

dados recolhidos através do inquérito.

A análise dos dados foi feita através da utilização do programa SPSS

20.0 (Statiscal Package for the Social Sciences) transformando os dados

recolhidos em informações importantes. Foi feita uma análise de frequência

através da estatística descritiva e os resultados apresentados com recurso a

tabelas.

Análise das respostas abertas

As duas respostas abertas do inquérito foram analisadas

individualmente. Para isso, tentou-se formar grupos de respostas. Dentro de

cada grupo as respostas eram agrupadas por terem algo em comum entre si

(por exemplo juntar no grupo de sugestões “Higiene” respostas como “remover

mau-cheiro” e “limpar balneários”). Depois de formados esses grupos de

respostas, os mesmos foram analisadas descritivamente percebendo quais

eram apontadas mais vezes.

Apresentação e discussão dos resultados

Resultados dos questionários:

Sublinha-se mais uma vez que a utilização deste questionário, que se foi

desenvolvendo um pouco de forma aberta, serviu unicamente para se criar o

inquérito fundamental para este estudo.

Este foi analisado de forma individual uma vez que a amostra ao qual foi

entregue foi de apenas 3 indivíduos (todos do 9º ano).

131

Através dele percebeu-se que os alunos já tomaram banho nos

balneários da escola em anos de escolaridade anteriores, e que por isso faz

sentido perceber, com pormenor, porque já não tomam, uma vez que todos

eles referiram falta de condições. Desde logo através deste questionário

percebeu-se que os alunos referiam os chuveiros enferrujados, falta de

chuveiros individuais e de reguladores para a temperatura da água como falta

de condições. Fazia sentido também perceber se os alunos se achavam

capazes de mudar os seus comportamentos de higiene caso os problemas

apontados fossem resolvidos e nesta fase, e curiosamente (comparativamente

com os resultados dos inquéritos) todos eles disseram que sim.

Estes resultados serviram para perceber quais os campos deveriam ser

mais aprofundados no inquérito e de que forma.

Resultados dos inquéritos:

Nas aulas de Educação Física o comportamento de higiene é inúmeras

vezes ignorado por parte dos alunos. Nas normas e regras de avaliação

entregues no início do ano às turmas do NE de Educação Física da EB 2,3 da

Sobreira, os alunos tiveram acesso à seguinte informação: Normas de higiene

e saúde: Duche obrigatório; Usar chinelos, champô, gel de banho/sabonete,

levar saco plástico para colocar a roupa suja; Após o banho mudança

obrigatória da roupa interior; Todo o equipamento deve ser lavado após a sua

utilização. Quanto às regras de avaliação, dentro do domínio sócio afetivo,

7.5% da nota final será atribuído para os alunos que cumprissem os cuidados

de higiene.

Apesar de conhecerem o regulamento, a realidade demonstra que os

alunos ignoram quase por completo todos os hábitos de higiene que têm no

seu dia-a-dia após as aulas de Educação Física.

132

Hábitos gerais de higiene:

Como já foi referido, a primeira parte do inquérito pretende perceber os

hábitos gerais de higiene dos alunos, como tal são de seguida referidos os

resultados das questões que se mostraram mais importantes.

Na questão 1.1, pretende-se que os alunos refiram com que frequência

tomam banho. Dos 108 indivíduos questionados, 81 referem que tomam banho

todos os dias (isto é 75% dos indivíduos), 25 tomam banho duas vezes por

semana (23.1%) e 2 alunos tomam apenas uma vez por semana (1.9%).

Na questão acerca da frequência com que os alunos lavam as mãos

(1.4), 50% dos inquiridos, isto é 54 alunos referem que as lavam sempre que

se justifica, 44 sempre que comem (40.7%) e os restantes 10 alunos (9.3%)

lavam-nas de manhã e à noite. Nesta mesma questão, ainda foram isoladas as

respostas dos alunos da turma PP1 (curso de padaria e pastelaria equivalente

ao 8º ano) com o intuito de perceber este básico comportamento de higiene em

alunos que passam grande parte do tempo escolar na confeção de alimentos.

Dos 13 alunos da turma PP1, 8 (61.5%) referem que lavam as mãos sempre

que se justifica e os restantes 5 (38.5%) lavam-nas sempre que comem.

Comportamentos de higiene após a aula de EF:

Na segunda parte do inquérito pretende-se perceber de forma direta os

comportamentos de higiene dos alunos após as aulas de Educação Física

(EF).

Para a questão inicial deste estudo, isto é, saber se os alunos tomam

banho depois da aula de EF, a mesma questão foi feita de duas formas

diferentes. Uma forma direta “Depois da aula de EF tomas banho completo?”

(2) e uma forma indireta “Porque não tomas banho nos balneários da escola?”

(3.2).

Para a questão realizada de forma direta os resultados são, 62 alunos

afirmam tomar banho depois da aula (57.4%) e os restantes 46 dizem que não

o fazem (42.6%).

Já na questão formulada em forma indireta (3.2) que pretende saber

porque é que os alunos não tomam banho depois das aulas de EF os

resultados foram os seguintes:

133

Quadro 2 – Respostas à questão 3.2 “Porque não tomas banho depois das aulas de

EF?”.

Respostas Nº de respostas Percentagem

Não há água quente 8 7.4%

Tenho vergonha 4 3.7%

Não tenho tempo suficiente 38 32.5%

Outras razões 25 23.1%

Não responde/não sabe 33 30.6%

Total 108 100%

Quadro 3 – Outras razões apontadas à questão 3.2 “Porque não tomas banho depois

das aulas de EF?”.

Respostas Nº de respostas Percentagem

Falta de condições materiais 11 44%

Tomam banho noutro local 3 12%

Falta de higiene nos balneários

3 12%

Doença infetocontagiosa 1 4%

Decisão pessoal 1 4%

Falta de privacidade 1 4%

Sofre de bullyng 1 4%

Falta de condições materiais e de higiene

1 4%

Falta de condições materiais e de privacidade

1 4%

Falta de condições materiais, de higiene e por decisão

pessoal 1 4%

Falta de condições materiais, de higiene e de privacidade

1 4%

Total 25 100%

Após terem sido apontadas as fragilidades das condições de duche,

apresentam-se os resultados de uma questão que se demonstra prioritária para

a aplicabilidade deste estudo. Refiro-me à questão 3.3 (“Se os aspetos que

referiste na questão 3.2 forem melhorados, ponderas vir a tomar banho depois

das aulas de EF?”). Dos 108 alunos da amostra, apenas 76 alunos

responderam a essa questão, havendo por isso um conjunto de 32 respostas

134

inválidas. Desses 76 alunos, 60 dizem que sim (78.9%) e 16 (21.1%) dizem

que não.

Na questão 3.4, pretende-se que os alunos ofereçam uma sugestão do

que se poderá fazer para melhorar os aspetos que eles sentem que os inibem

do banho depois das aulas de EF. Dos 108 alunos da amostra, apenas 51

alunos responderam a esta questão. As sugestões foram agrupadas por grupos

oferecendo os seguintes resultados: 3 alunos sugerem melhorias das

condições de higiene dos balneários (5.9%), 26 alunos referem a necessidade

de melhorar as condições materiais (51%), 19 alunos aconselham a uma

melhor gestão do tempo de aula e dos horários por parte dos professores e dos

restantes responsáveis (37.3%), Existem ainda 2 alunos que referem tanto a

necessidade de melhorar as condições materiais como de higiene (3.9%) e um

aluno que instiga a melhorar as 3 áreas, tanto as condições materiais, como de

higiene e ainda a gestão dos recursos (2%).

Na questão 3.5 (“Que cuidados de higiene tens depois de uma aula de

EF em que não tomas banho?”), dos 108 alunos da amostra, existiram 11

respostas inválidas, resumindo-se a 97 o número de respostas válidas e os

resultados são apresentados no quadro 4:

135

Quadro 4 – Respostas dos alunos à questão 3.5.

Respostas Nº de

respostas Percentagem

Percentagem válida

Utilizo desodorizante 10 9.3% 10.3%

Utilizo toalhetes 4 3.7% 4.1%

Passo o cabelo por água 10 9.3% 10.3%

Lavo a cara e as mãos 12 11.1% 12.4%

Nenhuns 4 3.7% 4.1%

Utilizo desodorizante e toalhetes 1 0.9% 1%

Utilizo desodorizante e passo o cabelo por água

3 2.8% 3.1%

Utilizo desodorizante e lavo a cara e as mãos

10 9.3% 10.3%

Utilizo toalhetes e lavo a cara e as mãos

3 2.8% 3.1%

Lavo a cara e as mãos e passo o cabelo por água

3 2.8% 3.1%

Utilizo desodorizante, toalhetes e lavo a cara e as mãos

21 19.4% 21.6%

Utilizo desodorizante, lavo a cara e as mãos e passo o cabelo por água

11 10.2% 11.3%

Utilizo toalhetes, lavo a cara e as mãos e passo o cabelo por água

2 1.9% 2.1%

Utilizo desodorizante, toalhetes, lavo a cara e as mãos e passo o cabelo

por água 3 28% 3.1%

Total de respostas válidas 97 89.8% 100%

Não responde/não sabe 11 10.2%

Total 108 100%

Relação entre comportamentos de higiene após aula de EF e ano de

escolaridade:

De forma a tentar perceber se esta ausência do banho depois da aula de

EF tem alguma relação com o ano de escolaridade em que se encontram os

alunos, isolaram-se as respostas dos alunos primeiro à questão “Tomas banho

depois da aula de EF?” e depois, para tentar perceber exatamente a realidade,

136

à questão “Porque não tomas banho nos balneários da escola” (3.2) de acordo

com os respetivos anos letivos.

Quadro 5 – Percentagem dos alunos que tomam banho depois das aulas de EF de

acordo com o seu ano letivo.

Resposta 5º Ano 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano

Sim 94.1% 80% 76.9% 46.2% 31.1%

Não 5.9% 20% 23.1% 53.8% 68.9%

Agrupando os resultados desta questão (3.2 “Porque não tomas banho nos

balneários da escola?”) de acordo com o ano letivo do aluno, percebe-se que tanto no

5º ano, no 8º ano e no 9º ano, a causa “não ter tempo suficiente” é aquela que é mais

vezes referida pelos alunos (36.4% no 5º ano, 72.7% no 8º ano e 53.3% no 9º ano). Já

no 6º ano, os alunos apontam prioritariamente (50%) o facto de “não haver água

quente” e, por sua vez, os alunos do 7º ano preferem apontar “outras razões” (50%)

como causa para a ausência do seu duche após a aula de EF.

Relação entre comportamentos de higiene após aula de EF e sexo dos

alunos:

Quadro 6 – Respostas dos alunos do sexo masculino e feminino à questão 3.2 “Porque

não tomas banho depois das aulas de EF?”.

Respostas Rapazes Raparigas

Nº de respostas

% %

Válida Nº de

respostas %

% Válida

Não há água quente 1 2.7% 3.6% 2 6.5% 6.9%

Tenho vergonha 1 2.7% 3.6% 0 0% 0%

Não tenho tempo suficiente

18 48.6% 64.3% 12 38.7% 41.4%

Outras razões 8 21.6% 28.6% 15 48.4% 51.7%

Total respostas válidas

28 75.7% 100% 29 93.5% 100%

Não responde/não sabe

9 24.3% 2 6.5%

Total 37 100% 31 100%

137

Quadro 7 – Alunos que tomam banho depois da aula de EF.

Respostas

Rapazes Raparigas

Nº de respostas

% Nº de

respostas %

Sim 20 54.1% 9 29%

Não 17 45.9% 22 71%

Total 37 100% 31 100%

Através dos resultados apresentados no quadro 7 pretendemos

perceber, se o sexo dos alunos tem alguma relação com este comportamento.

Quando questionados diretamente, os resultados apontam para que 54.1% dos

rapazes tomem banho, enquanto nas raparigas apenas 29% demonstram este

tipo de comportamento depois das aulas de EF.

Discussão

Este estudo teve por objetivo perceber as causas da ausência de hábitos

de higiene no comportamento dos alunos após as aulas de EF, em especial o

banho.

Inicia-se a discussão através da referência dos comportamentos básicos

de higiene. Dos 108 participantes, 75% afirmam tomar banho todos os dias o

que é claramente o pretendido quando se trata de uma população (faixa etária)

que se pretende fisicamente ativa e que por isso precisa frequentemente de

tomar banho. Porém, 23.1% da amostra revela que toma banho apenas duas

vezes por semana, algo que fica bastante aquém daquilo que são os

comportamentos saudáveis de higiene. Ainda mais dramático é o caso de 1.9%

dos alunos que assume tomar banho apenas uma vez por semana. Apesar

desta última percentagem ser tão baixa que se percebe que se trata de

exceções, ainda existem 23.1% de alunos que tomam banho apenas duas

vezes por semana o que é algo que na idade contemporânea deve ser alvo de

atenção. As razões para tal realidade não são fáceis de perceber, mas é claro

que, não se tratam de dificuldade de acesso a instalações básicas de higiene,

uma vez que pelo menos na escola os alunos têm essas condições

disponíveis. Supõem-se então que se trata de uma questão de hábitos que são

138

transmitidos aos alunos nas suas famílias e que são de tal forma enraizados

que se revela muito difícil contornar tal situação.

Importa aqui discutir a frequência com que os alunos lavam as mãos no

seu dia-a-dia. Exatamente metade dos inquiridos demonstra comportamentos

corretos em relação a este hábito referindo que as lavam sempre que se

justifica. Apesar de não ser exatamente o comportamento aconselhado, 40.7%

dos alunos lava as mãos sempre que comem, o que é algo de positivo quando

se trata da grande maioria dos alunos. No entanto, existem casos de alunos

que têm funções e tarefas diferentes e como tal os seus hábitos de higiene

devem-se ajustar às mesmas. Alunos de um curso de padaria e pastelaria, que

confecionam todos os dias na escola inúmeros doces, quando questionados

acerca deste hábito revelam que 38.5% têm um comportamento insuficiente

uma vez que apenas lavam aos mãos quando comem em detrimento de

sempre que se justifica. É fundamental então que alunos com este tipo de

especificidade tenham uma formação prática em termos de higiene bastante

mais evoluída que a grande generalidade dos alunos, preparando-os mais cedo

para aquilo que se esperam que façam quando entrarem para o mercado de

trabalho. Apesar desta maior urgência em relação a estes alunos, os restantes

não podem ser descorados, mesmo que não venham a ser profissionais

diretamente relacionados com o manuseamento de alimentos, serão todos eles

adultos que se pretendem o mais saudáveis e higiénicos.

Dos 108 participantes, quando perguntado diretamente 57.4% dos

alunos dizem tomar banho depois das aulas de EF e os restantes 42.6%

afirmam não o fazer. Como de uma forma geral, seria de esperar que alguns

alunos, inadvertidamente ou não, ocultassem a realidade, no mesmo inquérito

faz-se a mesma questão mas de uma forma diferente, percebendo aí, quanto a

nós, de uma forma mais válida, a realidade.

Nessa questão, pretendia-se que os alunos apontem as razões para não

tomarem banho e como apenas 33 alunos deixaram essa resposta em branco,

depreende-se que na realidade apenas esse grupo de alunos na verdade tome

banho. Diz-se isso porque se acredita que se os alunos apontam razões para

não tomar banho, de alguma forma partem do princípio que não o tomam.

139

Assim, fazendo essa leitura, percebe-se que afinal apenas 30.6% dos alunos

toma banho depois das aulas de EF e os restantes 69.4% evitam esse

comportamento.

Entre as causas para a ausência do banho depois das aulas de EF os

resultados contrariam as conclusões de Lereno (2009) onde a maioria dos

alunos referiram tomar banho em casa. Aqui verificou-se uma prevalência de

50.7% de alunos que referem a falta de tempo como a causa maior para não

tomarem banho. Este problema de gestão do tempo de aula pode ser resolvido

se o Professor de EF tiver em atenção o que o rodeia. Os Professores de EF

têm inúmeras causas para não permitirem que os alunos saiam 5 a 10 minutos

mais cedo da sua aula. Apesar dos motivos para o professor não dar tempo

para o banho não terem sido alvo de estudo, ousamos apontar possíveis

causas. Desde logo o facto dos professores acharem que o tempo de intervalo

é suficiente para que os alunos tomem banho. Depois porque têm enormes

limitações a nível do que está no programa nacional de EF comparativamente

com o tempo que têm para lecionar todos esses conteúdos, de tal forma que

cada minuto da sua aula é imprescindível. Também o facto de muitos alunos

utilizaram a desculpa para saírem mais cedo e acabarem por não tomar banho.

O estudo de todas estas causas e a perceção de quais as melhores soluções

para cada uma delas abriria um estudo e respetiva revisão bibliográfica

extremamente complexos e por tanto não nos sentimos com o conhecimento

suficiente para podermos ditar o que o Professor deve ou não fazer. De

qualquer forma, fica a ideia que um Professor deve possuir todas as

capacidades para poder ultrapassar estes, e outros obstáculos, através das

suas próprias estratégias ou recorrendo à adoção de outras.

De seguida, e ainda em relação às causas para o evitar do banho,

aparecem outras razões enumeradas pelos alunos (33.3%). Entre as diferentes

razões apontadas, encontra-se principalmente a falta de condições materiais

(14.7%). Aí os alunos apontam para a falta de reguladores da temperatura da

água, limitado número de chuveiros, inexistência de cabines individuais, falta

de ar condicionado, estado precário dos estrados e inexistência de secador.

Ainda dentro das outras razões apontadas, surgem explicações por parte de

140

decisão pessoal (4%) - “Não quero” (aluno A), ou de alunos que tomam banho

noutro local (4%) - “Vou a casa” (aluno B). As restantes razões surgem através

de relatos unitários e que por tanto não têm grande peso para este estudo.

Por fim, causas como a falta de água quente ou a vergonha surgem

apenas com 7.4% e 3.7% respetivamente dos relatos dos alunos.

Quando se relaciona o ano letivo com o hábito de tomar banho depois

das aulas de EF, e quando questionados de forma indireta (“Porque não tomas

banho nos balneários da escola?”), percebe-se que no 5º ano apenas 35.3%

dos alunos tomam banho. No 6º e 7º ano atinge-se o máximo de percentagem

de alunos que tomam banho com 80% e 69% respetivamente.

No 8º ano a percentagem cai para os 15.4% e no 9º ano verifica-se que

nenhum aluno toma banho. Quando questionados de forma direta percebe-se

mais facilmente que os hábitos de higiene depois das aulas de EF,

nomeadamente o banho, decresce com o ano letivo em que os alunos se

encontram (ver quadro 5). Entrando pelos campos da suposição pode-se tentar

atribuir isso, a duas possíveis causas. A primeira hipótese tem a ver com a

maior facilidade que os Professores têm em controlar e de certa forma obrigar

os alunos mais novos a cumprir certas regras. A segunda hipótese refere-se

aos diferentes estados maturacionais em que os alunos se encontram. Essa

diferença começa por ser pouco notória no 5ºano, mas nos anos seguintes as

diferenças tornam-se cada vez maiores e aliado a isso, os alunos sentem-se

inibidos em mostrar os seus corpos por pudor ou vergonha.

Ainda em relação às causas para a ausência de hábitos de banho

depois das aulas de EF, percebe-se que de acordo com o ano letivo a causa

difere. Por exemplo no 6º ano a razão mais apontada é a falta de água quente

(50%). No 7º ano também 50% dos alunos referem outras razões. Apenas no

5º, 8º e 9º ano existem uma certa congruência atribuindo à falta de tempo para

tomar banho a razão mais importante com percentagens de 36.4%, 72.7% e

53.3% respetivamente.

Esse mesmo hábito quando relacionado com o sexo dos alunos não dá

claras respostas uma vez que existe uma grande limitação neste campo (algo

que foi referido nos primeiros parágrafos da discussão). Quando perguntado

141

diretamente, 54.1% dos rapazes afirmam tomar banho e 29% das raparigas

fazem o mesmo. Quando questionados indiretamente percebe-se que apenas

24.3% dos rapazes assumem tomar banho, enquanto se atingem uns

dramáticos 6.5% de alunas que aceitam tomar banho depois das aulas de EF.

Em ambos as formas de questionar, percebe-se que nesta amostra os rapazes

demonstram uma maior utilização do banho depois das aulas de EF, o que vai

de encontro com os resultados de Lereno (2009) para os alunos de 9º ano.

Supõem-se uma vez mais aqui uma maior disponibilidade dos rapazes para

este tipo de comportamentos íntimos, uma vez que estão mais ligados a

atividades desportivas, onde a inibição foi ultrapassada mais cedo. Já as

raparigas, como diz Lereno (2009), atribuem mais importância à sua aparência

e popularidade do que os rapazes. Assim, elas tornam-se mais suscetíveis a

sentimentos de insegurança provocadas pelas alterações inerentes à

puberdade.

Por fim quando se tenta relacionar o porquê da ausência do banho

depois das aulas de EF com o sexo dos alunos, percebe-se que 64.3% dos

rapazes atribuem esse comportamento à falta de tempo, enquanto nas

raparigas as outras razoes são mais referidas com 51.7% das escolhas. Os

rapazes sublinham essa causa, muito pelo espirito de balneário que também

existe nas escolas. As conversas e brincadeiras de balneário estão presentes

em todas as escolas e clubes e ocupam o seu espaço temporal. É portanto

presumível que a falta de tempo que a grande maioria dos rapazes identifica,

poderia ser facilmente ultrapassada caso os rapazes tivessem uma maior

atenção e controlo do tempo.

Já as raparigas preferem atribuir outras razões, principalmente em

relação às precárias condições materiais como são exemplos as afirmações

“Não há regulador da temperatura” (aluno C), “Existem janelas no local do

duche” (aluno D), ou ainda “Os balneários são pequenos” (aluno E).

Quando são pedidas sugestões aos alunos para que os problemas

apontados por eles próprios possam ser superados, grande parte dos

participantes opta por não responder. Apenas 47.2% dos alunos tentam

solucionar o problema.

142

Das sugestões recolhidas a grande maioria (51%) aponta as condições

materiais como aquelas que mais urgentemente necessitam ser melhoradas.

“Deviam arranjar regulador da temperatura da água” (aluno F); “Precisam de

mais chuveiros” (aluno G); “Arranjar estrados para o piso” (aluno H). Como se

percebe alguns dos conselhos de melhoramento do material não implica um

investimento monetário muito elevado e por isso poderiam ser considerados. É

claro que isso exigiria um esforço extra à escola, mas que poderá ter

repercussões a vários níveis (satisfação dos alunos, estado de higiene dos

mesmos, melhoria das condições básicas da escola) e que se torna num

investimento para vários anos, basta para isso que os funcionários e alunos

zelem pelo mesmo objetivo.

Também os conselhos para a melhoria da gestão do tempo de aula e

dos horários são muito verificados (37.7%). Entre estes relatos, a grande

maioria aponta para a necessidade de terem “Mais tempo para tomar banho”

(aluno I). Para isto é importante que os Professores de EF continuem a fazer

aquilo que todos nós queremos acreditar que eles fazem, ou seja, uma

excelente gestão do tempo de aula. Os restantes alunos apontam como

necessidades a melhoria da higiene (5.9%), como por exemplo “Remover o

mau cheiro” (aluno J), um grupo mais pequeno (3.9%) afirma ser necessário

melhorar tanto as condições materiais como de higiene e por fim, uma última

pequena amostra (2%) aponta para a necessidade de se melhorarem as três

áreas. Para as necessidades de melhoria das condições de higiene, o trabalho

fundamental passa por uma maior disponibilidade dos funcionários das escolas

para manterem esses locais como se espera que estejam. Para além disso é

absolutamente fundamental, e aí as coisas já se tornam mais complicadas, que

os alunos zelem pelas mesmas condições.

Quando questionados acerca das suas disponibilidades para

melhorarem os seus comportamentos de higiene caso os problemas fossem

melhorados, as respostas demonstram uma realidade que apenas para quem

não interage diretamente com os alunos pode parecer surpreendente. Dos

participantes que responderam a essa questão, 21.1% afirma que mesmo que

existam melhorias a todos os níveis, eles continuarão a recusar-se a tomar

143

banho, o que de certa forma sublinha a importância da decisão pessoal de

cada um dos alunos, abstraindo-a de qualquer outra causa. Nesses casos a

ação do Professor será muito mais complexa e dificultada uma vez que os

alunos não deixam por um momento sequer em aberto a possibilidade de

cumprirem as regras básicas de funcionamento de uma aula de EF.

Revela-se também que é fundamental que aos hábitos de higiene sejam

corrigidos em grande parte da população escolar. Nas aulas em que os alunos

não tomam banho existe uma pequena mas preocupante percentagem que

afirma que não tem quaisquer cuidados de higiene (4.1%). Estes são sem

dúvida os casos mais preocupantes. São casos mais frequentes do que aquilo

que se espera e que merecem uma intervenção cuidada e individual por parte

do Professor de EF tentando sensibilizar para certos comportamentos.

Existem também 12.4% dos alunos que apenas lava a cara e as mãos

depois da aula. Apesar de se tratar de um comportamento base de higiene

revela-se insuficiente depois de uma aula de EF em que o esforço é intenso e

por isso mesmo grande parte do corpo produz secreções e odores que não

estão apenas envoltos da cara e das mãos. Ainda 10.3% dos alunos afirmam

passar o cabelo por água depois da aula. Acredita-se que este comportamento

nada tem a ver com higiene, mas sim com a tentativa dos alunos ludibriarem os

responsáveis (Professores e funcionários) tentando levá-los a pensar que

tomaram banho. É um comportamento que, tal como os anteriores é

insuficiente e que por isso mesmo necessita de revisão.

A utilização de toalhetes e desodorizante depois da aula, respetivamente

4.1% e 10.3% dos alunos, são já comportamentos mais complexos mas que

quando são realizados isoladamente não têm os benefícios que poderiam ter, e

por isso mesmo continuam-se a tratar de comportamento insuficientes.

Os restantes alunos utilizam as mais diversas combinações de

comportamentos de higiene, algo que, apesar de tudo contínua longe dos

benefícios que um banho. Aqui destaca-se que a maioria dos participantes

(21.6%) revela utilizar desodorizante, lavar a cara e as mãos e ainda passar o

cabelo por água depois da aula de EF. Destaca-se ainda uma amostra de 3.1%

que revela ter da conjugação de comportamentos mais recomendados logo

144

depois do banho, isto é a utilização de desodorizante, toalhetes, a lavagem da

cara e das mãos e ainda a passagem do cabelo por água.

Conclusões e ilações pedagógicas

O índice de alunos que não toma banho depois de uma aula de EF é

realmente preocupante.

Percebe-se que existe uma relação entre o ano de escolaridade e a

realização do banho depois das aulas. Ou seja, quanto mais avançado é o ano

de escolaridade menos vezes este comportamento aparece representado entre

os hábitos de higiene. Podem-se apresentar duas possíveis causas. A

diferença maturacional aliada à vergonha que é mais evidenciada nos anos

mais avançados e a facilidade em moldar os comportamentos dos alunos mais

novos.

Por outro lado, quando se relaciona a ausência deste comportamento

com o sexo dos participantes, percebe-se que os rapazes têm uma maior

percentagem de elementos que tomam banho.

Quanto às causas para a inexistência desse comportamento, a maioria

refere a falta de tempo. Apesar disso, os alunos não deixam de referir a

necessidade de melhorar as condições materiais da escola, através de ações

mais ou menos complexas (arranjar ar condicionado, arranjar mais chuveiros,

arranjar chuveiros individuais, arranjar regulador da temperatura da água ou

ainda estrados para o piso).

Tanto a falta de tempo como a necessidade de melhorar as condições

materiais (e também de higiene) podem ser melhoradas com ações também

elas mais ou menos complexas.

Para a falta de tempo o Professor de EF deve ter em atenção a gestão

do tempo da aula. Para além disso os responsáveis pelos horários das turmas

devem ter uma atenção redobrada para certas particularidades, como

sequência das disciplinas, tempo de intervalo ou ainda a colocação da EF no

horário.

Para melhorar as condições materiais, pede-se um esforço suplementar

à escola para que sejam disponibilizadas verbas para a compra de certos

145

materiais essenciais, como estrados, ou ainda para a troca de velhos por

novos, falo de reguladores da temperatura da água ou ainda a colocação de

cabines individuais para o duche. As condições de higiene devem ser

melhoradas através de uma maior disponibilidade por parte dos funcionários e

ainda um maior comportamento de zelo dos alunos.

Apesar de tudo isso, fica ainda enublado o possível resultado de todas

essas melhorias uma vez que uma pesada percentagem de alunos refere que

mesmo com elas, não pondera vir a tomar banho na escola. Isto fornece por

fim a necessidade de alteração de hábitos e comportamentos que estão

absolutamente enraizados nas personalidades dos alunos. Para isso é

importante que se crie uma nova e mais forte coligação entre a Educação

Física e disciplinas como a Formação Cívica, tentando dessa forma atingir um

objetivo que parece trazer apenas benefícios tanto para toda a escola.

As conclusões aqui apresentadas devem ser apresentadas à direção da

Escola Básica 2,3 de Sobreira, esperando que através delas os órgãos

responsáveis consigam elaborar um plano de ação que melhore de certa forma

este problema de higiene.

Limitações

Ao longo deste estudo percebe-se que existem algumas limitações que

derivam de diversos fatores.

Começando pela caraterização da amostra, é importante salientar que

existem algumas limitações neste campo. Para começar na determinação do

sexo dos participantes houve um pequeno percalço. Apenas 68 dos 108

participantes referiram o seu sexo, uma vez que quando os alunos do 5º e 6º

ano preenchiam o inquérito o seu professor esqueceu-se de pedir para os

alunos anotarem essa informação, problema também inerente ao inquérito uma

vez que não pedia explicitamente que os alunos referissem essa informação.

Assim, na discussão da possível relação entre o sexo dos alunos e a ausência

de comportamentos de higiene, em especial o banho, é necessário não

esquecer que as respostas não são tão válidas como poderiam ser, apesar de

146

o número de alunos que referiu o seu sexo é o suficiente para permitir algumas

considerações.

Outra limitação tem a ver com a distribuição dos alunos pelos anos de

escolaridade. A amostra é constituída por uma turma de cada ano letivo, o que

corresponde a cerca de 20 alunos por cada ano. No entanto, no 9º ano, o

inquérito foi colocado a duas turmas (45 alunos) o que torna limitada a

perceção da existência de mais ou menos alunos a tomar banho em

determinados anos letivos.

147

Referências Bibliográficas

Agrupamento de Escolas do Torrão. (2011). Questionário Hábitos de

Higiene. Alcácer do Sal: Escola Básica Bernadim Ribeiro.

Almeida, J. P. (1988). Desporto, Higiene e Primeiros Socorros. Oeiras:

Serviços Municipais de Desporto.

Costa, M. T. (1919). Higiene Escolar. Exame otológico nas escolas

primárias. Porto: A UNIVERSAL.

Educação, M. d. (2011). Programa de Educação Física 2º Ciclo. Lisboa:

Departamento da Educação Básica.

Gomes, A. Á. (2011). Comportamentos de higiene e ocorrência de diarreia

em adolescentes. Porto: FMUP.

Lereno, A. L. (2009). Preparando as próximas gerações para as epidemias

do futuro: um estudo sobre os hábitos de higiene dos jovens do

concelho da Maia. Porto: ICBAS - Universidade do Porto.

O banho ou duche e a aula de Educação Física. (13 de Outubro de 2007).

Obtido em 15 de Abril de 2012, de Escola Secundária de Latino

Coelho Projeto "Educação para a Saúde": http://escolalatinocoelho-

escolasaudavel.blogspot.pt/

Pereira, M. (10 de Novembro de 2007). O banho após a atividade física.

Obtido em 15 de Abril de 2012, de Centro de Competência CRIE da

Beira Interior: http://www.anossaescola.com/

World Health Organization. (2012). Obtido em 25 de Junho de 2012, de

http://www.who.int/en/

148

4.1.4. AVALIAR EM SITUAÇÃO REAL

Ao longo do ponto 3.11. “Avaliação – um processo útil devido à sua

complexidade” aprofundei os domínios da avaliação, caraterizando como esta é

feita no processo ensino-aprendizagem. Para isso utilizei fundamentação

teórica necessária para tornar credível esse ponto.

Aqui, pretendo apresentar características, curiosidades e dificuldades

sentidas ao longo do ano letivo para a realização correta do processo de

avaliação.

Em termos do que se pretende avaliar nas aulas de Educação Física, é

de consenso geral que existem 3 diferentes domínios. O domínio do saber

fazer, o domínio do saber estar e ainda o domínio dos saberes. No NE da

Sobreira, decidimos classificar estes três domínios através de uma diferente

nomenclatura, domínio psicomotor, domínio socio afetivo e domínio cognitivo e

respetivamente.

No domínio do saber fazer, ou psicomotor, o professor deve centrar-se

nos aspetos relacionados com as capacidades condicionais, com as

capacidades coordenativas e com as performances desportivo-motoras. As

capacidades condicionais expressam a aptidão física do aluno e através das

capacidades coordenativas espera-se que o aluno fundamente os processos

de aprendizagem de novas habilidades. Este domínio é usualmente avaliado

pelo professor através da observação dos desempenhos dos alunos ao longo

dos exercícios propostos.

No domínio do saber estar, ou sócio afetivo, no caso específico do NE

da Sobreira, consideramos pertinentes aspetos como: a assiduidade e a

pontualidade, o empenho, o interesse e a participação, o fair-play, a

responsabilidade e autonomia e ainda os cuidados de saúde e de higiene. No

meu caso, todos estes aspetos foram avaliados através da utilização de uma

grelha diária onde, após cada aula, assinalava de um modo geral como tinha

sido o desempenho individual dos alunos.

No domínio dos saberes, ou cognitivo, pretende-se que o aluno

demonstre conhecimento acerca das modalidades aprendidas e dos respetivos

149

regulamentos. Normalmente a avaliação deste domínio é feita ou através de

um teste teórico, ou através da realização de trabalhos também eles teóricos,

onde o aluno coloca em escrito o seu estado de aprendizagem.

Tal como foi referido no ponto 3.11. o processo de avaliação divide-se

em diferentes fases.

Nos primeiros momentos do estágio, senti algumas dificuldades na

primeira fase da avaliação (avaliação inicial). A primeira aula de uma UT revela

sempre alguns problemas em termos de planeamento, uma vez que nunca é

possível para o Professor saber com total clareza o estado dos alunos. Espera-

se que seja na avaliação inicial que o Professor conheça esta incógnita. No

meu caso, nas primeiras UT que lecionei dei imensa importância a esse facto,

e outros fatores importantes da aula, foram relegados para segundo plano.

Sinto que o meu grande problema nestes momentos de avaliação foi a falta de

capacidade para tornar esta aula dinâmica como as outras. Ao longo do

primeiro período, as minhas avaliações iniciais tornaram a aula numa sessão

pouco dinâmica, com um rendimento escasso e que por se tratarem de UT de

modalidades individuais, no caso ginástica, atletismo e orientação, levaram os

alunos a se sentirem pouco motivados. Uma das grandes razões para tudo isso

foi a minha colocação espacial durante a aula. Apesar de interiormente saber

que não o deveria fazer, sempre que estava a avaliar um certo aluno, acabava

por me aproximar mais dele e isso fazia com que perdesse o controlo da

restante turma. Em seguida apresento o relato presente no DB do dia 29 de

setembro de 2011 referente à aula de avaliação inicial de Ginástica onde senti

este problema:

“Antes desta aula, questionei o PC, acerca desta (…) estratégia (estações) e ele desde

logo pareceu estar de acordo, no entanto sublinhou um facto: a importância do

professor não se reduzir à observação individual de cada estação (…). Assim, (…)

planeei fazer exatamente como o professor disse, no entanto, entre o planeado e o

realizado vai uma grande distância. Como (…) não sei ainda o nome de todos os

alunos (…) fui-me aproximando das estações e fazendo uma observação localizada

(…). Quando a turma percebeu que eu estava a agir desta forma, começou a fazer

aquilo que era esperado, ou seja, só se aplicava nos momentos em que eu observava

e isso levou a que a dinâmica da aula se fosse reduzindo até números (…) baixos”.

Por outro lado a complexa tabela de avaliação que criei para estes

momentos, fez com que acabasse algumas avaliações com menos de metade

150

da turma avaliada. O seguinte excerto foi retirado do DB e data de 29 de

setembro de 2011:

“Pretendo referir também certas dificuldades que tive durante o preenchimento da

grelha de observação. Durante a minha formação, por inúmeras vezes ouvi (…)

defender que as grelhas de observação deveriam ser extremamente simples de forma

a não suscitarem qualquer dúvida durante o seu preenchimento. Assim, em todas as

AD (…) os níveis de classificação dos alunos deveriam estar entre o 1 e o 3 (…). No

entanto o Professor Fernando Vaz (…) referiu que pensa ser extremamente proveitoso

que o professor avalie desde logo os alunos numa escala de 1 a 5. Isto levará desde

logo o professor a classificar uma avaliação inicial exatamente como uma avaliação de

final do período, tendo adjacente a isso todas aquelas dúvidas que aparecem quando

um aluno parece estar entre o 3 e o 4, ou entre o 4 e o 5. Assim, (…) coloquei uma

escala de avaliação de 1 a 5. Com isso (…) percebi que as duas ideologias têm prós e

contras. Por um lado, com uma escala de 1 a 5, avaliamos os alunos de forma mais

rigorosa e criamos desde já uma maior experiência no campo da avaliação. Por outro

lado com este tipo de classificação, as dificuldades de avaliar devido à complexidade

que existe na diferença de um 3 para um 4 é acrescida e como tal este tipo de

avaliação necessita de um tempo de observação do professor um pouco mais

prolongado”.

Ao longo do ano, com a ajuda do restante núcleo e do PC Fernando

Vaz, fui capaz de melhorar estes aspetos. A capacidade de liderar uma aula

implica uma perfeita colocação espacial. A colocação no centro do pavilhão,

sem virar as costas a ninguém e com a possibilidade de observar toda a turma

simultaneamente, facilita o controlo da turma. A partir do momento em que a

turma está controlada, tornar a aula dinâmica é algo que fica também mais

potencializado. Quanto às grelhas de observação que comecei por criar para

estas aulas, introduzia-lhes todas as habilidades que pudessem ser

observadas na aula, independentemente da sua complexidade e utilidade para

o futuro. Com o tempo, percebi que de acordo com o nível dos alunos, existem

habilidades bases para todas as modalidades e são essas que devem ser

avaliadas. Para além disso, a possibilidade de em vez de avaliar toda a turma,

avaliar apenas aqueles alunos que saem positivamente ou negativamente da

norma, oferece-nos mais tempo de manobra.

Exemplo dessa melhoria no meu estado de desenvolvimento é o relato

de 5 de janeiro de 2012 (DB), referente a uma aula de avaliação inicial de

Voleibol:

“Ao contrário do que ocorreu por exemplo em Ginástica (…) na (…) AD, nesta aula

senti-me perfeitamente capaz de a fazer sem perder o controlo da turma (…), pois

151

desta vez consegui observar sem estar “em cima” dos alunos que pretendida observar.

É lógico que o conhecimento atual das caras dos alunos (…) facilitou esta minha maior

capacidade de realizar o pretendido, mas não foi o único responsável. O meu à

vontade nas aulas é maior, sendo que agora já não tenho nenhum problema em intervir

em qualquer momento. Também a experiência acumulada, sobretudo suportada pelos

erros cometidos e mais tarde refletidos (…), é indispensável para este meu crescimento

como profissional”.

Quanto à avaliação formativa, este tipo de avaliação foi no meu

percurso, muito relacionada com o professor reflexivo. A necessidade que eu

tinha em refletir acerca de tudo o que ocorria no meu dia-a-dia na Escola,

espelhou-se na minha elevada atenção ao longo das aulas que fui lecionando.

Assim, sempre que percebia que alguma estratégia de ensino não estava a

funcionar corretamente, após uma posterior reflexão, era capaz de modificar

essa situação, adotando novas ou ajustando a antiga estratégia. Essa

capacidade de adaptação é fundamental na avaliação formativa e na minha

opinião está completamente relacionada de forma direta com a atenção e

capacidade reflexiva.

Por para a avaliação final e influenciado pelo que aprendi ao longo do

primeiro ano deste 2º ciclo de estudos, defendo que este momento seja o mais

parecido possível com o momento da avaliação inicial. Só assim, se poderá ter

uma clara leitura do desenvolvimento do aluno. No entanto, ao longo do

primeiro período tive a necessidade de mudar bastante os exercícios da

avaliação final comparativamente com os da avaliação inicial, por me ir

apercebendo que os exercícios escolhidos não eram os mais adequados.

Refiro o momento da minha primeira avaliação final, da modalidade de

Ginástica, retirado do DB no dia 3 de novembro de 2011, onde relato

exatamente isso:

“Sabendo que nesta fase de avaliação todos os alunos têm que ser avaliados com

alguma precisão, esse era um primeiro obstáculo que teria de ultrapassar para não

perder a dinâmica da aula. Para além disso, ao longo das aulas percebi que a melhor

forma de avaliar os aspetos gímnicos de solo é através da realização de uma

sequência. (…) No entanto quando realizei a avaliação inicial, optei por colocar em

diferentes estações somente um elemento gímnico. Agora, com alguma experiência

acrescida, percebo que essa não foi a melhor solução possível. Teria várias vantagens

se logo na primeira aula tivesse optado pela realização de uma pequena sequência,

uma vez que os elementos seriam realizados numa situação mais próxima da realidade

gímnica, bem como o transfere de aprendizagem entre a Avaliação Inicial e a Avaliação

Final seria mais facilmente verificado”.

152

Nos restantes períodos, através de longas reflexões, fui sendo capaz de

planear aulas de avaliação inicial mais corretas e funcionais e por isso nos

momentos das avaliações finais dessas modalidades não tive a necessidade

de alterar muita coisa.

Em relação à avaliação do domínio dos saberes ou cognitivos, optei em

todos os períodos por realizar um mini-teste teórico. Através do mesmo quis de

uma forma prática, detetar e premiar aqueles alunos que mais vezes

participaram nas aulas e de forma empenhada/atenta. Assim, em nenhum dos

testes decidi fornecer material teórico para os alunos estudarem, apesar de ter

sido aconselhado a fazer isso, como se vê no relato do dia 14 de março de

2012 (DB):

“Nesta aula foi realizado um mini-teste teórico. Apesar de no último período o

Professor Orientador ter-me aconselhado a fornecer material de apoio para que os

alunos se preparassem para o teste, eu decidi não o fazer por considerar esta ideia

impraticável tendo em conta os objetivos do teste. Com a realização do teste teórico,

não pretendo “premiar” aqueles alunos que são mais estudiosos, mas sim aqueles que

participaram em mais aulas e fundamentalmente o fizeram com mais atenção. Assim,

apenas coloco questões fundamentadas nas informações que eu vou dando nas aulas

e (…) acerca do funcionamento das mesmas”.

Ainda em relação à avaliação sumativa, no caso da condição física dos

alunos, esta foi avaliada conjuntamente com os objetivos das modalidades.

Desta forma, não necessitei de avaliar isoladamente esses aspetos. Pelo

contrário, utilizei os objetivos da UT para definir um conjunto de capacidades

condicionais ou coordenativas que foram avaliadas ao longo da unidade.

Referindo por exemplo o que sucedeu no 1º período, no que toca às

capacidades condicionais, ao longo da UT de Ginástica avaliei a flexibilidade e

a força, já na UT de Atletismo pude avaliar de forma direta a velocidade e a

resistência dos alunos. Por sua vez, na UT de Orientação, foi-me possível

avaliar a orientação espacial dos alunos (capacidade coordenativa). Como se

percebe, a condição física ia sendo exercitada e consolidada de acordo com as

caraterísticas da UT em questão, facilitando assim sua avaliação final.

Por fim, os conceitos psicossociais foram avaliados através de diferentes

aspetos: assiduidade e pontualidade; empenho, interesse, participação e

153

qualidade de tarefa; relação socio-afetiva; responsabilidade e autonomia; e

cuidados de higiene. Para tornar esta avaliação mais clara e precisa, decidi

juntamente com o núcleo de estágio, criar uma ficha de diária, onde, após cada

aula, eram preenchidos todos estes aspetos para cada aluno. Assim, com toda

esta informação armazenada, tornava-se mais fácil a avaliação final dos

conceitos psicossociais e diminuía-se a possibilidade de avaliações injustas. A

princípio o preenchimento desta ficha demonstrou ser uma tarefa complexa,

porque tinha a necessidade de avaliar todos os alunos em todos os aspetos.

Isso tornou esta ação em algo muito complicado de se concretizar uma vez que

na parte inicial do ano letivo a minha facilidade em identificar e reconhecer toda

a turma estava longe de ser a ideal para esta tarefa. Com o passar do tempo,

fui conhecendo mais profundamente os alunos e tornou-se bastante mais

simples lembrar-me após a aula dos seus desempenhos. Para além disso, com

o acumular de experiência, percebi também que era mais fácil relembrar a aula,

através da separação dos alunos que se distinguiam dos restantes por

desempenhos positivos ou negativos. No final de contas, este instrumento foi

fundamental, e assumiu ser o pilar mais importante da avaliação dos conceitos

psicossociais dos alunos.

154

4.2. ÁREA 2 E 3: PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA E RELAÇÕES COM A COMUNIDADE

4.2.1. SER PROFESSOR FORA DE AULAS

“Na hora de almoço, muitos alunos querem sair da escola para comer alguma coisa

nos cafés das redondezas. No entanto, apenas os alunos que têm autorização para

sair o podem fazer. Para identificar estes alunos o funcionário da portaria pede os

cartões dos alunos para saber quem tem permissão para isso.

Neste dia, estava uma nova funcionária na portaria e (…) estava a pedir o cartão a

todos os alunos (…). Quando eu ia a passar (…) a funcionária correu para a minha

frente, abrindo os braços impedindo a minha passagem e pediu o meu cartão (…) ”.

(Diário de Bordo, 25 de janeiro de 2012)

Começo este ponto através deste excerto para sublinhar que o professor

não existe só dentro da sala de aula. É claro que o episódio anterior é um caso

raro daquilo que pode acontecer aos professores (principalmente estagiários)

fora das suas salas, mas é sempre importante estar preparado para estas

situações de forma a responder da melhor maneira.

A função do professor está envolta de imensa complexidade. De facto

um professor não o pode ser só nas suas aulas. A escola não se encerra nas

salas onde cada professor leciona. É um contexto muito elaborado e que

necessita de uma grande disponibilidade por parte do professor, para dar

resposta a todas as caraterísticas da mesma.

A escola não pode ser para o caso de um professor de EF apenas o

pavilhão gimnodesportivo. A escola engloba diferentes locais em si e o

professor tem a necessidade de saber responder nos demais às diferentes

circunstâncias. Um professor deve saber distinguir a forma de conversar com

um aluno dependentemente do local onde se encontra possibilitando assim

uma maior proximidade entre eles.

Eu fiz minha esta regra ao longo de todos os momentos deste ano letivo.

Apesar de manter na maioria do tempo uma postura mais descontraída, tinha

necessidade de contextualizar o meu comportamento ao local onde me

encontrava. Se estivesse no pavilhão a lecionar, mostrava ser um professor

mais dominador, se estivesse no pavilhão a observar, mostrava ser um

155

professor mais respeitador, nos corredores tornava-me num professor mais

extrovertido, no bar mantinha uma postura mais serena…

4.2.1.1. JOGOS DE FUTSAL: PROFESSORES VS ALUNOS

Esta minha facilidade de adaptação ao contexto em que me inseria

facilitou bastante a construção de uma relação mais próxima com os alunos.

De facto, tentei ao máximo responder às diversas abordagens dos alunos, não

me restringindo à relação de sala de aula. Para isso, tive a ideia de agendar

mensalmente jogos de futsal entre os alunos e os professores disponíveis. O

texto de 4 de outubro de 2011 retirado do DB explica porque decidi organizar

estes jogos:

“A ideia partiu de mim (…). Uma vez que, (…) só um colega estagiário não está ligado

ao Futebol, pensei que seria uma boa forma de se fazer alguma atividade física,

praticando uma modalidade onde nos sentimos bem. O Professor deve ser visto como

um exemplo, e se nós somos professores que queremos exaltar para a necessidade da

prática desportiva, devemos começar por tentar mostrar que gostamos de praticar. (…)

O facto de podermos “convocar” diferentes alunos para estes jogos poderá ser um

motivo extra de motivação para eles. Ou seja, assim existe uma forma fácil de

podermos premiar as atitudes das turmas e dos seus alunos, ao longo das aulas”.

Esta forma de premiar os alunos e as turmas foi realmente muito

utilizada pelo nosso NE. Exemplo disso foi o jogo do dia 13 de dezembro de

2011 (DB):

“Com o chegar do final do período o colega Carlos Pinto decidiu premiar a sua turma

com um jogo de Futsal entre alunos e Professores Estagiários”.

Como por inúmeras vezes refiro ao longo deste relatório, a admiração

dos alunos é algo que sempre busquei por poder ser um grande trunfo para o

professor no decorrer das suas funções, mais concretamente na gestão das

tarefas que envolvam uma relação entre ambos. Quando no dia 16 de fevereiro

de 2012 (DB) este jogo de futsal opôs os professores à minha turma e os

objetivos do jogo foram de certa forma buscar tal admiração:

“O jogo serviu (…) para ganhar um pouco mais de admiração por parte dos alunos,

uma vez que o Futsal é uma modalidade onde estou muito à vontade e como tal, sinto-

me bem a jogar.

Aproveitei também para ver mais de perto como são as personalidades de alguns

alunos em situação de total empenho (…). Isto poderá ser utilizado por mim para (…)

“manobrar” de melhor forma os comportamentos, motivações e atitudes dos alunos”.

156

Refiro apenas mais uma destas situações por se tratar de um jogo que

opôs uma turma que não era do NE aos professores. Esse jogo ocorreu no dia

22 de maio de 2012 (DB):

“ (…) os alunos da turma de 9º ano CEF de Serviço de Mesa, desafiaram-nos para este

jogo. Isto demonstra o impacto que o núcleo de estágio teve (…) na comunidade

escolar. (…) a nossa relação com a comunidade ao longo do ano estendeu-se aos

alunos com os quais não lidamos diretamente (…).

Através de interações como esta, foi-se criando uma relação especial

entre o NE e a turma SM9. Esta relação foi-se estendendo até que no 31 de

maio de 2012 (DB) a turma fez questão que participássemos numa ocasião

especial:

“Esta foi a última semana de aulas para esta turma (…) e por isso marcaram uma

churrascada para este final de tarde, convidando todos aqueles que lhes eram mais

próximos. Em termos de professores, verifiquei a presença de apenas 4 que são desta

turma. De resto a mesa estava preenchida apenas por alunos e por nós, estagiários.

Este estágio não existiu claramente apenas durante os 90 ou 45 minutos de aulas que

eu tinha de lecionar. Todos os momentos foram aproveitados para se tornarem

riquíssimos em termos do meu desenvolvimento profissional e pessoal. Estes alunos

convidaram-nos porque realmente, admiram-nos e/ou identificam-se connosco”.

4.2.1.2. FEIRA DE S. MARTINHO

Ao longo do ano letivo tentei participar de alguma forma nas várias

atividades organizadas pelos diversos departamentos e grupos disciplinares.

Algumas dessas vezes a ponte entre as atividades e a disciplina de EF estava

longe de existir, mas existia sim um túnel entre a atividade e a relação com a

comunidade académica. Partindo desse pressuposto, participei no máximo

dessas atividades.

O excerto seguinte é do dia 11 de novembro de 2011 (DB) e refere-se à

festa de S. Martinho:

“Este (...) foi (…) um dia especial. Esta zona geográfica é (…) bastante festiva no S.

Martinho. (…) Assim, optou-se por, durante a manhã desta 6ªfeira, realizar-se a feira de

S. Martinho suspendendo as aulas para que toda a comunidade escolar pudesse

participar neste evento.

A feira realizou-se dentro do Pavilhão Gimnodesportivo uma vez que devido à chuva

não foi possível realizá-la no espaço exterior.

A feira era constituída por várias barracas (…) e cada barraca tinha algo para vender,

(…) como bolos, vegetais ou fruta, (…) também existiam barracas onde se vendiam

pulseiras, ou se jogavam jogos tradicionais. Noutras barracas ainda, os alunos CEF

157

faziam uma demonstração do que aprendem, havia uma barraca onde se podia fazer

manicure, outra barraca onde se serviam bolos e pizzas confecionados na escola e

ainda barracas onde se faziam pequenas exposições de carpintaria.

(…) a maioria dos lucros desta feira servirão para a viagem de finalistas do 9º ano (…).

Reparei que grande parte das pessoas que andavam pela feira era de fora da escola

(…) que aproveitaram para ajudar os alunos com as suas compras e ao mesmo tempo

para se ajudarem a si mesmas, uma vez que nos tempos de agora fazer compras por

preços mais acessíveis é indispensável.

Durante a feira houve a atuação do grupo de bombos da escola. (…) para além da

grande aderência (…) por parte dos alunos, apercebi-me que grande parte deles

conversava sobre os bombos demonstrando (…) interesse e (…) conhecimento acerca

deste instrumento.

Já no final da manhã aproximei-me da barraca da turma dos meus alunos (…) e

aproveitei o facto de estar uma guitarra acústica por lá parada para animar um pouco o

momento junto dos alunos. Acabei por sair de lá prometendo que num outro dia (…)

levaria a minha guitarra para cantarmos novamente (…).

Quanto ao meu papel nesta feira, (…) ajudei na montagem do espaço e das barracas.

Já durante a feira a minha tarefa passou a ser a de convívio com os alunos, ajudando-

os apenas quando eles necessitavam de algum material ao qual não tinham acesso”.

4.2.1.3. DIA DA DANÇA

No dia 14 de fevereiro de 2012 (DB) o grupo de EF organizou o dia da

dança, no qual alguns elementos do NE participaram com diferentes tarefas.

Foi um dia com um elevado índice de festividade, onde pude desenvolver o

meu ser professor fora das aulas:

“Esta foi (…) uma atividade organizada pelo gabinete de Educação Física. (…) as

responsáveis foram a Professora A e a Professora B, no entanto tenho que destacar o

esforço feito por todos os elementos do gabinete para a preparação e realização do

evento.

Para a preparação do evento, foi necessário pintarem-se cartazes com frases acerca

do dia dos namorados. (…) Depois, foi necessário também montarem-se duas

barracas. Uma serviria para a venda de doces/bolos (0.40€) com alusões ao dia dos

namorados e a outra barraca seria onde os alunos ou professores poderiam escrever

uma carta para a sua cara-metade (carta (…) que (…) seria entregue pelo valor

simbólico de 0.10€). Para além disso, montou-se um palco através da utilização de

mesas e por fim foi montado o sistema de som.

(…) O Núcleo de Estágio (…) foi responsável pelo aquecimento através do vídeo jogo

«wii-dance3». (…) Esse momento levou ao rubro os presentes no pavilhão, devido à

clara empatia existente entre os alunos e os professores estagiários de Educação

Física.

(…) Depois das atuações de dois grupos de alunos de diferentes jardins-de-infância

(…) foi a vez do animador (…) contratado (…) fazer uma bela aula de ritmos. A

aderência por parte dos presentes no pavilhão foi de tal forma elevada que, havia

dificuldade em imitar os passos do animador sem chocar com as pessoas à nossa

volta. (…)

158

Depois (…) as alunas da Professora C apresentaram as suas coreografias (hip hop).

Para finalizar oferecemos 3 momentos musicais à plateia, todos eles cantados por

alunos da escola. (…)

Quanto a mim, para além da participação no aquecimento, tive a função de

apresentador do evento juntamente com duas alunas. (…) a parte final do evento (…)

também (…) foi feita por mim. Acabei por ser eu o delegado para essas funções uma

vez que me sinto um pouco mais à-vontade (…) do que os meus colegas estagiários.

Não quer dizer que também não tivesse nervoso (…), mas alguém o tinha de fazer (…).

No final do evento a Professora A veio ter comigo, e ainda que um pouco a brincar,

aconselhou-me a apostar (…) nestes caminhos da animação, uma vez que, como se

sabe, o futuro como professor está muito difícil”.

4.2.1.4. MEGA ATLETA – FASE ESCOLA

Esta foi uma nova atividade na qual participei e pude desenvolver

bastante o meu ser professor fora da sala de aula. Esta atividade está

intimamente ligada à EF e como tal foi organizada pelo grupo de EF. A mesma

decorreu no dia 2 de março de 2012 e o seguinte excerto foi retirado do DB:

“O Mega-Atleta é um evento que pretende divulgar diferentes disciplinas do Atletismo

como a velocidade (corrida de 40m, Mega - Sprint), a corrida de meio fundo (corrida de

1Km, Mega – Km) e o salto em comprimento (cada aluno tinha direito a duas tentativas,

Mega – Salto). (…) o Professor de EF deve selecionar os melhores representantes das

turmas, para competirem entre eles de forma a se selecionar os melhores da escola

para participarem na fase seguinte (…).

O evento envolvia 5 diferentes escalões (…) segundo o género (…)

A minha função ao longo de todo o evento foi de medidor do comprimento dos saltos.

Quanto aos restantes professores, as suas funções passaram por: dois medidores do

salto, um alisador, um fotógrafo, um juiz de partida, 3 cronometristas e 2 estatísticos.

Durante a manhã todas essas funções foram cumpridas (…), no entanto, na parte da

tarde os professores presentes foram menos e isso fez com que fosse necessária a

ajuda de alguns alunos (…). O facto deste evento estar fora do horário dos professores,

fez com que de tarde somente estivessem presentes os que teriam aulas no horário

para além do núcleo de estágio. (…)

Com o relato anterior percebe-se perfeitamente que o interesse e

disponibilidade dos professores para estas atividades variam de sujeito para

sujeito.

O convívio com esta realidade fez-me perceber que algumas das

caraterísticas que um bom professor deve ter, poderão ser mais inatas que

outras.

Como pode ser desenvolvida a disponibilidade de um professor para

este tipo de tarefas? É fácil desenvolvê-la obrigando (pelos responsáveis da

escola ou da educação) o professor a participar nas mesmas. Mas mais cedo

159

ou mais tarde, seja por espaços ou por longos períodos de tempo, essa

disponibilidade “criada” vai voltar ao que era.

Esta caraterística não é, portanto, fácil de se desenvolver. Olhando

agora para trás, vejo que ao longo do EP demonstrei uma disponibilidade muito

elevada, o que me trouxe alguns benefícios. É claro que por vezes deixei de ter

tempo para outras coisas, e nalguns momentos se calhar até fui “usado” por

outros para fazer o trabalho deles, mas no final, tudo resultou num produto final

de desenvolvimento profissional superior ao que esperaria no início do ano

letivo.

4.2.1.5. ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MORAL RELIGIOSA E CATÓLICA

(EMRC)

Tive também a possibilidade de participar numa atividade curiosa. Ao

longo do ano letivo, fui criando uma boa relação com o professor de EMRC e

ele convidou-me para participar no encontro nacional de EMRC que se realizou

no parque da cidade do Porto.

Este encontro era destinado a todos os alunos do 7º ano e era muito

aguardado pelos alunos. Lembro-me de ser abordado nos dias anteriores ao

meso por diversos alunos que me questionavam sobre a minha participação no

mesmo, tentando incentivar-me a ir dizendo que é um dia único e muito

divertido.

Esta situação foi completamente diferente de todas as outras que vivi ao

longo do EP e por isso refiro-a de seguida (25 de maio de 2012, DB):

“O passeio foi ao Parque da Cidade do Porto (…). Da parte da manhã os alunos

experienciaram várias atividades radicais e de jogos lúdicas. De tarde os alunos

assistiram a vários concertos (…).

Ao longo do dia coube-me acompanhar (…) dois alunos com NEE (…). Como a mãe de

um desses alunos também foi ao passeio, as minhas principais preocupações

passaram pelo acompanhamento do outro (…). Da parte da manhã, aproveitei para

levá-lo à praia, uma vez que ele dizia que nunca lá tinha ido. Vê-lo neste novo

ambiente foi extremamente recompensador. Na parte da tarde, levei-o a assistir aos

concertos, algo que o maravilhou (…).

Deixo uma nota final para a falta de noções ambientais dos alunos, uma vez que o local

onde os alunos e professores da nossa escola se instalou, acabou por ficar bastante

sujo. Eu, com a ajuda do aluno que acompanhava, estive a apanhar todo esse lixo, e

enquanto alguns alunos iam dizendo certas “piadas” sobre isso, outros, aos poucos, se

160

foram juntando a nós, demonstrando que nem todos os alunos são despreocupados

com o ambiente”.

4.2.1.6. DIA DA CAMINHADA – 8º ANO

Tal como a atividade anterior, este dia foi organizado pelo professor de

EMRC e tinha como objetivo proporcionar um dia diferente, envolto no convívio

e nas atividades ao ar livre.

Apesar do NE ter sido convidado para participar nesta atividade ainda no

1º período pelo professor responsável, a mesma apenas se realizou no final do

3 período, transformando-se numa espécie de despedida de ano letivo da

disciplina de EMRC para os alunos do 8º ano.

Para a atividade isso foi contratada uma empresa de desportos radicais

que nos disponibilizou na sua quinta em Paredes, um dia agradável cheio de

atividade física, diversão e convívio.

O seguinte relato refere os sentimentos vividos ao longo deste dia (12 de

junho de 2012, DB):

“O núcleo de estágio foi convidado para este passeio (…). Apesar de apenas

conhecermos os alunos do 8º ano através de algumas participações na Taça Coca-

Cola, no Desporto Escolar e noutras atividades fora de aula, o Professor (…)

organizador do passeio convidou-nos uma vez que seria um passeio muito ativo, onde

os alunos poderiam experimentar desportos radicais e assim nós poderíamos ajudar no

supervisionamento dos mesmos.

Cada aluno (…) teve direito a um dia passado numa quinta muito acolhedora, com dois

campos de Futebol, dois campos de Voleibol, duas mesas de matraquilhos, e um

espaço interior bastante amplo. Para além disso, (…) foi disponibilizado aos alunos a

experimentação de jogos tradicionais, tiro ao arco e ainda atividades radicais como

Escalada, Arvorísmo e Slide. (…) os alunos que quisessem experimentar Paintball,

foram avisados para levar mais 7€ (…).

A manhã começou (…) com alguma chuva, e (…) os alunos foram jogando

matraquilhos. Mais tarde (…) os alunos foram jogando futebol e conhecendo

autonomamente a quinta, simultaneamente que as atividades radicais grátis se iam

realizando. No final da manhã, fez-se um (…) piquenique (…), onde alunos puderam

conviver com os professores. (…) eu participei num jogo de Futebol entre alunos e

professores e depois fui experimentar todas as atividades (Jogos tradicionais, Tiro ao

Arco, Escalada, Arvorismo e Slide). Na parte final do dia participei (…) nas partidas de

Paintball.

Foi um dia extremamente ativo e divertido, onde os alunos tiveram oportunidade de

conviver, divertir-se e de praticar (…) atividade física (…) ”.

161

4.2.1.7. FEIRA DO FINAL DE ANO LETIVO

Esta feira foi realizada com o intuito de dar por terminado o ano letivo

2011/2012. Realizou-se no espaço exterior, junto à portaria e distinguiu-se das

outras atividades por eu sentir alguma nostalgia nas conversas e olhares que

troquei com professores, alunos e funcionários (15 de junho de 2012, DB):

“A feira consistia num recinto cheio de barracas (…) onde se vendiam inúmeros

materiais (…)

Era um evento parecido com o que tinha ocorrido no S. Martinho (…). A grande

diferença está na (…) relação com os alunos. Apesar de nesta feira não ter estado

presente nenhum aluno da minha turma participante, (…) em todas as barracas havia

um aluno que me chamava para lá ir comprar algo, o que tornou esta feira (…) bem

mais dispendiosa do que a primeira. As relações estenderam-se a um ponto que eu

não previa e isso deixa-me enormemente satisfeito. (…) todos estes momentos vividos

fora das aulas fazem-me sentir parte integrante deste ano letivo para a grande maioria

dos alunos da EB 2,3 de Sobreira”.

4.2.1.8. RESTAURAÇÃO DAS BALIZAS DE ORIENTAÇÃO

A minha atuação como professor fora das aulas não se pode resumir a

momentos de interação entre alunos dentro da escola (feiras/jogos de futsal) ou

fora da escola (visitas de estudo/passeios).

No decorrer do ano letivo, foram surgindo algumas tarefas que me

surpreenderam um pouco. Aproveito para relatar aqui uma destas experiências

(7 de fevereiro de 2012, DB):

“Esta manhã foi aproveitada para se pintar as balizas de Orientação originalmente

pintadas pelo PC. Com o tempo, as indicações lá presentes começaram a ficar gastas

(…).

Assim, aproveitamos (…) para restaurar e adicionar novos pontos.

(…) O PC encaminhou-nos então na busca de todas as balizas, levando eu o pincel e a

lata de tinta preta para pintar os códigos de cada baliza, e o PC o spray de tinta

vermelha para assinalar essas mesmas balizas.

(…) Esta situação reforça a necessidade de constante adaptação (…) que a Escola, tal

como (…) os professores, têm. As escolas/professores que estagnam no tempo são

ultrapassadas e acabam por ser substituídas (…) por outras, com melhores

caraterísticas que lhes permitam estarem mais atualizadas”.

Ao longo do ano realizei várias outras tarefas que normalmente não são

esperadas do Professor. Por exemplo, no dia 2 de dezembro de 2011 (DB),

quando ajudei na afixação de uma lona que divulgava uma atividade

organizada pelo NE, refleti o seguinte:

162

“Relatei esta situação por me ter apercebido (…) do grande leque de tarefas que um

professor tem. (…) é por exemplo responsável pela educação e ensino dos alunos, da

organização de eventos e da manutenção das instalações (…). Mas deve também ter

mente aberta e vontade de trabalhar (…) fazendo isso a diferença entre um professor

que é bom somente na (…) sua aula e um professor que é bom professor, ou seja na

sua disciplina, na sua aula, na sua escola e nas suas mais diversas funções.

4.2.2. A DIREÇÃO DE TURMA

No início do ano letivo decidi acompanhar o DE de forma mais próxima

em detrimento da Direção de Turma. No entanto, quando soube que o PC era

Diretor de Turma (DT) do PP1 (CEF) decidi estar também atento aos

acontecimentos mais importantes que envolvem a direção de turma.

Apesar de não ter feito reflexões muito profundas acerca do tema, deu

para perceber claramente como o PC entende que uma turma CEF deve ser

gerida pelo DT.

Uma vez que a turma em questão era uma bastante mais problemática

que o normal e sabendo de antemão (uma vez que também já tinha sido DT de

grande parte destes alunos no ano letivo anterior) que os encarregados de

educação destes alunos não se importam o suficiente com o sucesso escolar

dos alunos, o PC decidiu na maioria das vezes atuar diretamente nos alunos.

Quando um aluno tinha algum comportamento inadequado (algo

frequente na turma em questão) o PC castigava-os, obrigando-se a fazerem

trabalhos extra e limpeza (das cozinhas, dos refeitórios, ou dos espaços

exteriores da escola). Por algumas vezes me cruzei com alunos desta turma

com enormes sacos do lixo dizendo que só poderiam ir embora quando

enchessem totalmente o saco com lixo.

De uma só vez o PC conseguia chamar a atenção dos alunos, limitando-

lhes o prazer e liberdade que tinham na escola ao longo dos intervalos,

obrigando-os a limpar o recinto contribuindo assim para um melhor ambiente.

Ao longo do ano letivo, fui-me apercebendo que aquela direção de turma

não poderia estar melhor entregue. O PC é um indivíduo rigoroso e que dá

grande valor ao controlo da turma e ao respeito dos alunos. Assim, a forma

como ele atuava com eles era por vezes implacável. Implacável porque não

163

deixava margem de resposta aos alunos. Apesar de por vezes acharem

injustas algumas das decisões do PC (como é normal em todos os

adolescentes) eles aceitavam o que tinham de fazer e faziam-no. Não acredito

que tal obediência pudesse resultar com um outro professor qualquer.

As aulas de Direção de Turma do PP1 eram maioritariamente divididas.

Quase sem exceção, na primeira parte da aula o PC aproveitava para falar dos

problemas comportamentais da turma. Na segunda parte da aula deixava-os

jogar futsal no pavilhão. Mais uma vez esta ação era guiada pela necessidade

de castigar alguns alunos. Ou seja, no caso dos alunos sobre os quais foram

apresentadas queixas recentemente, as suas participações nestes jogos era-

lhes negada, sendo substituída por um dos castigos já descritos.

O PC sempre sublinhou a importância de manter os alunos com

comportamentos de risco, em práticas mais dinâmicas. Muitas vezes aquando

destes jogos de futsal durante a parte final da aula de Direção de Turma ele

explicava isso mesmo.

Aproveito para relatar uma aula de Direção de Turma que foi lecionada

pelo NE e que seguiu o mesmo plano que as restantes (14 de dezembro de

2011):

“ (…) uma vez que como se trata da última semana de aulas, optámos por premiar a

turma com uma atividade que é sempre vista com bons olhos (…) um jogo de futsal.

Como nem todos os alunos se sentiam à vontade no futsal, 3 alunos optaram por jogar

Badminton (…) contra os Professores.

O único aspeto que na minha opinião pode ser refletido é o facto de alguns alunos não

terem o equipamento apropriado. (…) apesar de por um lado compreender que o

equipamento nesta aula (Direção de Turma) não é obrigatório (…), por outro lado trata-

se de uma turma do curso de pastelaria e como tal devem respeitar ao máximo os

cuidados higiénicos (…).

É claro que esta forma de tornar iminentemente prática a grande maioria

das aulas de Direção de Turma e a forma de atuação do PC não podem ser

generalizadas. Por exemplo com a minha turma, não faria muito sentido o DT

ter este tipo de atuação com eles. Acredito que numa turma como a minha, é

preferível que o DT tente criar laços entre os alunos e posteriormente entre os

seus encarregados de educação, não tendo depois de atuar de forma tão direta

quando o mesmo é necessário.

164

4.2.3. O DESPORTO ESCOLAR (DE)

A EB 2,3 da Sobreira tem uma forte aderência por parte dos alunos aos

clubes de Desporto Escolar. Para responder a todas estas necessidades,

existem modalidades como Andebol, Badminton, Orientação, Caminhada,

Dança, Patinagem, Rugby e Natação.

O Andebol feminino, o Badminton e a Orientação são as modalidades

mais procuradas pelos alunos e foram também aquelas que eu escolhi para

acompanhar mais de perto.

O Andebol feminino dividia-se em dois escalões (iniciados e juvenis) e

treinavam três vezes por semana (às 2ª, 3ª e 5ª feira das 17.40h às 19.10h). O

Badminton era misto e existiam também dois escalões (infantis e iniciados) e

tinham dois treinos por semana (à 2ª feira das 12.40h às 14.20h e à 4ª feira das

13.30h às 15.05h). Já a Orientação era destinada a todos os escalões e tinha

no horário três diferentes treinos por semana (à 3ª feira das 12.40h às 13h, à 5ª

feira das 11.55h às 12.30h e à 6ª feira das 9.20h às 10h).

No início do ano letivo foi realizado um atividade denominada “Jornadas

de captações para o DE” que tinha como objetivo dar a conhecer aos alunos

(principalmente aos novos) o leque de modalidades existente. Essa atividade

ocorreu no dia 2 de novembro de 2011 (DB):

“Este dia serviu para dar a conhecer aos alunos (…) as diferentes modalidades

presentes no Desporto Escolar (…) na EB 2,3 de Sobreira. (…)

Eu, juntamente com o colega Vítor Queirós e o PC Fernando Vaz, ficámos

responsáveis pela dinamização da Orientação. (…) Uma vez que tínhamos 8 diferentes

mapas (…) a minha primeira tarefa foi realizá-los para ficarmos com a solução de cada

mapa, que foi afixada na parede para os alunos puder verificar os seus resultados (…).

Depois (…) fiquei responsável por esclarecer qualquer dúvida que os alunos

apresentassem no decorrer das suas provas. Por fim, (…) fiquei na mesa encarregue

de entregar os mapas aos alunos que pretendiam realizar a prova, bem como apontar

os seus nomes e turmas para posterior consulta por parte dos seus professores.

Ao longo da manhã constatei que a grande maioria dos alunos realizaram a prova de

Orientação e vários até preferiram repeti-la por uma ou mais vezes (…).

A única sugestão que poderia fazer no final deste dia resume-se ao facto dos

resultados das provas puderem ser mais valorizados. (…) apesar de o nome do evento

estabelecer este momento como uma “captação” a verdade é que não é bem disto que

se trata. Não se pretende ver quais são os alunos mais aptos para cada modalidade e

tentar convencê-los a inscreverem-se no DE. Pretende-se (…) dar a conhecer as

modalidades. Assim, penso que o nome do evento deveria ser repensado, podendo ser

substituído por exemplo para “Dia do Desporto Escolar (…) ”.

165

Este último conselho foi revelado numa reunião de grupo de EF do final

deste período e é com algum orgulho que digo que o mesmo foi aceite. De

certa forma, sinto que contribui (ainda que nesta situação de uma forma muito

branda) para o desenvolvimento da escola. No próximo ano letivo, a escola terá

uma atividade com os mesmos objetivos que a deste ano, mas com um nome

totalmente criado por mim.

Quanto ao acompanhamento do DE, como decidi acompanhar mais do

que uma modalidade, decidi assistir a um treino por semana de Badminton uma

vez que decorria num momento em que eu estava na escola. Quanto às

provas, o NE decidiu acompanhar as provas de Orientação, uma vez que o

responsável por essa modalidade era o PC Fernando Vaz. O PC aconselhou-

nos a dividir as diferentes provas por nós, para não estarmos todos juntos na

mesma prova.

Assim, no dia 21 de abril de 2012 (DB) tive a função de acompanhar o

PC numa prova de Orientação que decorreu na Maia:

“ (…) ao longo do meu percurso académico nunca tinha participado numa prova de

Orientação e (…) estava curioso para ver como se organiza, como as escolas aderem

e (…) em saber da dificuldade dos mapas e do nível dos participantes.

(…) o transporte fez-se de camioneta e partiu (…) às 8.20h. (…) Chegámos ao local da

prova por volta das 9.30h (…). Tal como aconteceu nas anteriores provas de corta-

mato, devido à falta de instalações, os alunos têm que se equipar dentro do autocarro

(…).

As provas eram de dois tipos: singulares e pares. Os representantes da EB 2,3 de

Sobreira estavam todos eles inscritos em provas individuais, com a exceção de um

aluno (…) que se está a iniciar na modalidade e como tal foi inscrito numa prova de

nível fácil de pares. (…) Vários alunos faltaram e entre eles estava o parceiro desse

aluno. Assim (…) decidi acompanhá-lo durante a prova. (…) Acabou por fazer um bom

tempo de prova tendo acabado em 2º na classificação geral (…).

As provas eram diferentes de acordo com o escalão/nível referente e para que os

alunos não saíssem todos ao mesmo tempo e se guiassem uns pelos outros, foi feito

um plano de partidas (…) de forma a coordenar os alunos.

Comparativamente com as provas de corta-mato (…) detetei que o número de

participantes é relativamente idêntico, no entanto verificou-se um maior empenho geral

nas provas de Orientação (…).

Ao longo da prova houve períodos (…) com e sem chuva. Isso poderia ter levado a que

alguns participantes nesta prova se mostrassem (…) insatisfeitos e desmotivados, mas

a verdade é que eles (…) acabaram por mostrar algum prazer por praticarem nestas

condições. (…) nestas situações deveriam estar disponíveis (…) locais para se tomar

(…) duche para evitar constipações, (…) após as suas provas”.

166

A minha experiência em provas do DE não se ficou por aqui. No dia 10

de abril de 2012 (DB) o professor responsável pelo Andebol, convidou-me a

participar numa prova organizada pela Câmara Municipal de Paredes:

“ (…) o Professor H aproximou-se dos estagiários e perguntou se havia alguém

disponível para acompanhá-lo a ele e às equipas de DE de Andebol Feminino e

Badminton na 4ª feira (…) a um torneio do concelho uma vez que a professora

responsável pelo Badminton não poderia estar presente e ele iria precisar de ajuda.

Rapidamente eu e o colega Felicia aceitamos (…) de forma a alargarmos a nossa

participação no Desporto Escolar”.

No dia seguinte (DB) a experiência foi a seguinte:

“Apesar deste torneio não entrar no calendário do Desporto Escolar, (…) como os

participantes são as equipas do Desporto Escolar das várias escolas do concelho,

incluo este evento como do Desporto Escolar.

Este torneio acolheu várias modalidades ao longo desta semana e tem como objetivo

criar uma seleção de alunos de cada modalidade que possa representar o concelho de

Paredes. A EB 2,3 de Sobreira inscreveu-se nas modalidades de Andebol Feminino

trazendo a sua equipa de DE (…) e também as suas equipas de Badminton Feminino e

Masculino (…).

O torneio de Andebol (vencido pela nossa equipa) consistia em dois jogos, uma vez

que estavam apenas 3 escolas inscritas. (…) No final do mesmo, o treinador da

seleção municipal tentou convencer várias atletas da escola a inscreverem-se em

clubes federados de Andebol, uma vez que lhes reconheceu (…) potencial e desde

logo as selecionou para representarem o concelho.

Já o torneio de Badminton decorreu de forma diferente. Eram dois torneios de

singulares, um masculino e outro feminino, mas como havia apenas um campo, os

jogos de masculinos eram intercalados com os femininos. Os jogos eram apenas de

um set e tinham a duração de 5 minutos ou (…) 21 pontos. O torneio funcionava de

acordo com o esquema de eliminação direta (…).

Quanto ao nível dos alunos, enquanto no Andebol Feminino nos destacamos

positivamente (…), já no Badminton as prestações foram negativas. De todos os alunos

da EB 2,3 de Sobreira que participaram no torneio (6) apenas um seguiu para a 2ª fase

(…). Mais tarde, na 2ª fase (…) foi derrotado por claros 21-1. Em todos os alunos da

Sobreira denotei (…) dificuldades técnicas e (…) de decisão (…), isto é, um dos alunos

era incapaz de fazer (…) Clear, um outro respondia a qualquer batimento com (…)

amorti, as raparigas demonstraram (…) dificuldades nos deslocamentos e nas pegas

(…) ”.

Ao longo do ano letivo ocorreram várias competições e para todas elas

os alunos tiveram a possibilidade de treinar. Eu tive a possibilidade de assistir a

vários treinos e a algumas competições o que me fez ficar com uma ideia do

funcionamento desta área escolar.

Enquanto nas competições de Andebol as atletas demonstravam um

bom nível individual e coletivo, que só se atinge com treino de qualidade, em

167

modalidades como o Badminton assisti a treinos que eram a imagem das

competições, onde alunos demonstravam dificuldades nas pegas e em

batimentos básicos.

É caso para dizer que a parece que experiência tende a adormecer a

competência. Digo isto porque duas das professoras responsáveis com mais

anos de efetividade à escola, demonstraram nos treinos uma certa passividade

em termos da sua atuação o que levava a que os alunos se desmotivassem e

não desenvolvessem os seus jogos como se esperaria. Por outro lado, dois

outros professores, ambos contratados e que estão na escola apenas desde o

início deste ano letivo, demonstram uma motivação bem maior no que toca aos

treinos, o que se evidenciava em termos práticos no desempenho dos alunos.

Para além disso, a motivação e alegria que se vive nos treinos e competições

dessas modalidades são completamente diferentes daquilo que existe nas

outras modalidades.

O facto dos professores mais novos terem maior energia parece-me o

aspeto fundamental para estas diferenças. Mas isso não chega para justificar

toda esta realidade constatada. O PC Fernando Vaz não se encaixa na

classificação de “professor jovem” e apesar disso demonstra a mesma

disponibilidade, paixão e competência que demonstram os dois professores

mais novos.

De uma forma geral, percebe-se que existem pessoas mais e menos

competentes e é revoltante perceber que algumas das menos competentes têm

os seus lugares assegurados. Por outro lado estamos nós, professores jovens,

cheios de energia, novas dinâmicas e estratégias, capazes de desenvolver um

bom projeto nas escolas e que apesar disso vamos passar por um deserto que

nos afastará das escolas por tempo indeterminado. Temo mesmo que esse

deserto possa secar algumas das características que nos separam dos

professores mais acomodados e que, de uma forma geral, nada acrescentam à

escola e aos alunos.

No final do ano letivo, o grupo de EF organiza um passeio que tem como

objetivo presentear o mérito desportivo dos alunos do DE. Assim os

professores responsáveis pelas várias modalidades do DE escolhem os alunos

168

que mais se evidenciaram em termos de empenho e assiduidade ao longo do

ano.

A atividade ocorreu no dia 13 de junho de 2012 (DB) e levou os alunos

ao parque aquático de Amarante:

“Este passeio é já uma tradição do Grupo de Educação Física da EB 2,3 de Sobreira.

(…) Partimos da Sobreira por volta das 9.15h, com uma comitiva de 71 alunos e 4

professores, uma vez que os estagiários Vítor e Carlos foram lá ter. (…)

Durante o dia os alunos tiveram liberdade total para conhecerem o parque e os

diferentes escorregas e piscinas.

(…) Acabamos por ser os últimos a abandonar o parque oferecendo (…) um dia

inesquecível e (…) divertido aos participantes. (…)

Este dia não será tão cedo esquecido por mim, por isso acredito que, de certa forma,

os alunos também o levarão nas memórias durante muito tempo”.

O ano letivo termina para o DE com um passeio ao parque aquático de

Amarante que permite premiar os alunos mais empenhados e assíduos. É um

momento ótimo para a confraternização entre alunos e professores. Pois bem,

a verdade é que apesar de tudo isso, dos professores responsáveis pelos

diferentes clubes de DE, apenas dois professores se mostraram disponíveis

para participarem neste passeio, o que reforça a ideia que tenho vindo a tentar

reforçar que é a existência de alguns professores, mais acomodados às suas

situações que demonstram claramente falta de disponibilidade para certas

atividades.

4.2.4. O CORTA-MATO ESCOLAR

Esta é sem dúvida uma das atividades mais carismáticas dos grupos de

Educação Física em grande parte das escolas do país.

O Corta-Mato Escolar é uma prova com alguma tradição junto da

comunidade escolar. A mesma foi introduzida nas escolas após os excelentes

resultados obtidos por atletas como Carlos Lopes, Rosa Mota ou Fernanda

Ribeiro em provas de fundo e meio fundo a nível internacional. Assim, através

do Corta-Mato, que é uma prova relativamente simples de organizar, tornou-se

mais fácil detetar potenciais talentos que pudessem vir a atingir, com o devido

acompanhamento, excelentes resultados no futuro.

169

A primeira fase desta atividade é a “fase escola” e destina-se a recrutar

os melhores representantes da mesma para competir a nível regional. Esta

primeira fase decorreu na EB 2,3 da Sobreira no dia 13 de dezembro de 2011

(DB):

“Esta atividade organizada pelo gabinete de Educação Física (…) tem sempre grande

peso no plano de atividades das escolas

(…)o horário não foi cumprido à risca, uma vez que devido à chuva que se sentiu (…),

alguns ajustes de última hora tiveram que ser feitos. Falo por exemplo do local de

chamada e partida, do local de chegada e do local de entrega de pulseiras que tiveram

que ser transferidos para locais onde existissem cobertos.

A mim e ao (…) Núcleo de Estágio, coube a tarefa de entregar as pulseiras que

numeravam as voltas dadas. Esta estratégia levantou alguns problemas. Desde logo

porque mesmo com a ajuda dos alunos voluntários, foi muito difícil entregar as

pulseiras a todos os alunos, principalmente àqueles que seguiam no pelotão. Para

além disso, (…) no ano passado as pulseiras eram atribuídas por cores, onde cada cor

representava um número de voltas específico. Este ano decidimos entregar as

pulseiras independentemente da cor, (…) o que interessava era apenas o número de

pulseiras que cada participante tinha no final da prova, isso fez alguma confusão aos

alunos que tinham participado no ano passado (…).

Para tentarmos minimizar o problema das pulseiras, decidimos não entregar pulseira

nas duas primeiras passagens. Esta solução fez com que as pulseiras entregues

fossem em menor número o que diminuiu alguns dos possíveis problemas.

Na minha opinião, haveria uma possível solução para grande parte destes problemas,

que é o facto do percurso da prova não aproveitar o recinto escolar na totalidade.

Apesar de saber que isso traria a necessidade de mais pessoal responsável espalhado

pela escola, um percurso maior, retirava a necessidade de atribuição de algumas

pulseiras (…).

No final da prova, o professor (…) responsável (…), congratulou-nos porque apesar

dos problemas anteriormente apontados, apenas verificou três situações onde um

participante contestava o lugar que lhe fora atribuído e em todos esses casos, referiam-

se a lugares do meio da tabela o que não interfere na seleção dos alunos participantes

da próxima fase (…).

Por fim, refiro que na minha opinião esta atividade foi bastante positiva, devido a

aderência dos alunos e devido à organização do evento que na minha opinião só falhou

por não ter conseguido arranjar lanche para os alunos participantes”.

Um dos aspetos mais positivos deste Corta-Mato foi sem dúvida a

aderência em massa por parte dos alunos. Para isso contribuiu muito o facto de

alguns professores terem tornando obrigatória a participação dos alunos das

suas turmas.

Do NE da Sobreira, eu fui o único que tornei esta participação

obrigatória. No entanto, dei a escolher aos alunos a possibilidade de no caso

de não participarem, terem de fazer um trabalho teórico acerca do fundo e do

170

meio fundo em Portugal. A resposta dos alunos foi bastante clara (13 de

dezembro de 2011, DB):

“ (…) a quantidade (…) de participantes (…) superou em muito as expectativas e os

registos do ano passado, apesar de neste ano a chuva (…) se ter feito sentir (…). Isto

aconteceu porque alguns professores decidiram tornar obrigatória a participação dos

alunos nesta atividade. Eu fui um desses professores, e apesar de ter dado a hipótese

aos alunos que não quisessem participar no evento pudessem realizar um trabalho

escrito, de 27 alunos, apenas 9 alunos optaram por não participar”.

Com esta estratégia não obriguei os alunos a participarem na prova,

mas obriguei-os a encará-la como algo que merece as suas atenções. A

grande maioria da turma aceitou participar e não tenho dúvida que alguns deles

o fizerem para evitarem a necessidade de realizarem o trabalho, já uma

percentagem mais pequena fê-lo porque realmente queria fazer. Quanto aos

alunos que realmente se sentiam incapazes de fazer a prova, fosse pelo motivo

que fosse, tiveram a possibilidade de realizar um trabalho teórico.

A segunda fase do Corta-Mato é a fase regional. No entanto o concelho

de Paredes, como tem alguma tradição no Atletismo, decidiu criar uma prova

de Corta-Mato para as escolas do município. Essa prova ocorreu no dia 26 de

janeiro de 2012 (DB) no parque da cidade de Paredes. Para representar a

escola da EB 2,3 da Sobreira foram recrutados os 8 melhores classificados de

cada escalão na fase escola do Corta-Mato:

“Dos alunos representantes da EB 2,3 de Sobreira tenho o prazer de dizer que a minha

turma esteve (…) representada com 8 alunos (…). Isto apesar de haver mais alunos do

9ºD apurados para esta prova, mas que pelas mais variadas razões decidiram não

participar.

Quanto à prova (…) esta ocorreu sobre grande valor organizativo. O transporte dos

alunos foi feito através da câmara municipal de Paredes. Para além disso, os lanches

distribuídos por todos os participantes também foram oferecidos pelo município. Na

entrega dos prémios, a câmara municipal (…) esteve representada pelo (…) vereador

do Desporto, o ex-ciclista Cândido Barbosa.

(…) iniciativas como esta são de louvar, porque premeiam alguns alunos que por vezes

são “marginalizados” pelos professores nas suas escolas. Falo especificamente do

aluno R que ficou em 3º lugar nos juvenis masculinos. É um aluno com alguns

problemas comportamentais na sala de aula, mas com grande valor desportivo e que

teve neste dia a possibilidade de subir a um pódio sendo aplaudido por dezenas de

pessoas. São sensações únicas que poderão não se repetir”.

A fase regional ocorreu então no autódromo de Lousada no dia 6

fevereiro de 2012 (DB):

171

“Quanto ao corta-mato (…) ocorreu no autódromo de Lousada, que foi muito bem

adaptado para a receção de um evento com muitos participantes. Os representantes da

nossa escola colocaram-se nas bancadas e sempre que uma nova prova se iria iniciar,

eu levava os alunos participantes dessa prova (…) para a zona de partida. Essa foi a

minha função ao longo de todo o evento. Realço apenas o facto do acompanhamento

dos alunos mais novos ter sido feito de forma mais facilitada, uma vez que todos eles

se encontravam por perto, já os alunos mais velhos (…) nos momentos iniciais das

suas provas (…) por vezes encaminhavam-se sozinhos para o local de chamada.

Neste corta-mato (…) pude observar, a utilização de chips nos dorsais dos

participantes, o que facilita (…) a contagem, de voltas de cada aluno. (…) na passagem

pela meta ao final da (…) volta, alguns elementos da organização colocavam uma (…)

“raquete” perto do dorsal de cada participante para que a volta fosse contada. Isto é

algo que eu (…) desconhecia.(…)

Quanto aos representantes da Sobreira (…) os dois melhores resultados foram dois

quartos lugares, o que não permite o apuramento para a fase nacional (…). todos os

participantes acabaram por dignificar (…) a escola (…). Houve apenas uma exceção.

(…) as juvenis femininas (…) decidiram ficar (…) em último e recusavam-se a

ultrapassar fosse quem fosse. (…) no final eu senti-me um pouco frustrado. (…) percebi

(…) que este evento é utilizado pelos alunos como uma (…) forma de faltar às aulas

(…).

Percebi que esta atividade causa pouca expectativa e interesse na

maioria dos alunos. A grande maioria deles participa para a poder faltar a aulas

e isso é algo que os professores têm que saber lidar.

De certa forma, no caso de continuar a lecionar nesta escola, já teria

uma base de informações que me possibilitariam poder escolher com mais

rigor que alunos levar a estas provas.

Assim, aos poucos a seleção dos representantes seria mais rigorosa e

apenas apoiada no empenho dos alunos durante as provas. É logico que nem

todos os alunos podem ganhar. Mas todos eles podem dar o seu melhor e se

estão a representar a sua escola, deveriam realmente tentar superarem-se.

No entanto estas atividades têm mais objetivos do que os resultados

competitivos. É um dia de convívio entre os alunos, onde se dá a conhecer um

clima competitivo e de festividade, onde os professores têm a oportunidade de

conhecer melhor os alunos e que por tudo isso, é sempre uma boa aposta.

4.2.5. ATIVIDADE “VÍDEO GAMES”

Esta foi a primeira atividade desenvolvida exclusivamente pelo NE.

172

Decidiu-se dar continuidade a um evento que se realizou pela primeira

vez no ano letivo passado (ideia do anterior NE) e que tem como objetivo

promover a atividade física dos jovens através da utilização dos jogos de vídeo.

Para isso foram apenas selecionados jogos de vídeo que obriguem os

jogadores à realização de movimentos corporais.

Para a divulgação desta atividade começámos por afixar cartazes por

todos os pavilhões da escola. Depois, afixou-se uma lona gigante na parede

exterior do pavilhão que fica em frente à portaria.

Ajudando na divulgação da atividade, eu fui responsável por uma sessão

de demonstração dos jogos que ocorreu no bar da escola. Esta sessão

prolongou-se durante toda a manhã e apesar de ter sido demonstrado apenas

um dos quatro jogos que estariam disponíveis no dia da atividade, cativou o

interesse de muitos alunos.

Os alunos que pretendessem participar na atividade, tiveram a toda a

semana para se inscrever junto do gabinete de EF. Cada inscrição dava direito

à participação nos quatro diferentes torneios (cada jogo tinha o seu torneio). No

final foram premiados os melhores classificados de cada torneio.

A atividade ocorreu no dia 16 de dezembro de 2011 (DB):

“ (…) Esta atividade ocorreu no Pavilhão Gimnodesportivo (…). Utilizámos 4 consolas

(…) cada uma com 4 (…) retroprojetores, 4 telas, 4 sistemas de som e respetivas

extensões (…). Os jogos (…) foram de boxe, de esgrima, de rally e de dança. Em

relação ao último ano letivo, (…) tivemos (…) a estreia do jogo da dança (…).

(…) tinha sido decidido que as inscrições na atividade seriam feitas até ao dia 14 de

dezembro para que o torneio fosse organizado com antecedência. No entanto, devido

ao reduzido número de inscrições, decidimos aceitar durante a manhã deste dia

inscrições (…).

Foi planeado um torneio com fase de grupos e (…) depois fase a eliminar. No entanto

esse (…) torneio tinha um limite máximo de 16 participantes e como durante a manhã

as inscrições ultrapassaram esse número, o PC decidiu realizar um torneio de

eliminação direta (…).

(…) aproveitei os momentos antecedentes ao torneio para experimentar o jogo da

dança. (…) alguns alunos juntaram-se a mim para assistir (…) e aos poucos (…)

começaram por dançar (…).

(…) continuaram a chegar (…) mais alunos e graças ao grande impacto que teve o jogo

da dança (…) várias inscrições continuaram a ser feitas. (…) as inscrições foram (…) à

volta de 30. No entanto, antes deste dia apenas 10 alunos estavam inscritos. Isso leva-

me a pensar que se tivéssemos feito uma melhor divulgação deste evento (mais

demonstrações dos jogos) (…) teríamos um maior número de participantes (…).

No jogo da dança, que era de 1 contra 1, um elevado grupo de alunos colocou-se atrás

dos participantes e (…) fizeram as coreografias pedidas como se também tivessem a

173

jogar. Quando escolhemos (…) esta atividade (…) pensámos em jogos que obrigassem

os alunos à realização de movimentos. (…) Ver os alunos não participantes a

realizarem as coreografias, elevou esta atividade a um grau de sucesso e eficácia

ainda maior do que o pensado”.

Em relação às causas que limitaram a participação dos alunos nesta

atividade, no mesmo texto eu refiro o seguinte:

“Este último dia de aulas acabou por não ser obrigatório para os alunos e (…) muitos

preferiram ficar por casa. (…) Para além disso simultaneamente à atividade «Vídeo

Games», no Pavilhão principal da escola, decorriam outros (…) eventos (…) como

teatro, canções…

Este elevado espetro de atividades (…) valoriza a escola (…). Porém, se todas as

atividades ocorressem no mesmo espaço físico, a aderência a todas elas teria sido

maior e a “fotografia geral” do dia teria sido diferente (…). Nesse caso os alunos ter-se-

iam concentrado apenas num único local, elevando o clima de festividade que deverá

estar sempre presente num último dia de aulas”.

4.2.6. A TAÇA COCA-COLA

A decisão de participar na Taça Coca-Cola com uma equipa

representante da EB 2,3 da Sobreira surgiu pela primeira vez após uma

reunião do NE com o PO Tiago Sousa.

Esta taça é organizada pela Coca-Cola e divide-se em várias fases.

Cada fase destina-se a uma parte do país, sendo que decidimos participar na

fase de Famalicão por ser a mais próxima.

É uma competição de futebol e que se divide nos géneros feminino e

masculino. Assim, decidimos construir duas equipas (uma masculina e outra

feminina) para podermos participar nesta competição.

A primeira fase passou pela organização das captações. Assim, após

divulgação de panfletos que referiam com exatidão o local e o dia das

captações, elas ocorreram (12 de abril de 2012, DB):

“Depois de esperarmos durante algum tempo por novidades acerca do regulamento

(…), decidimos realizar as captações apesar de não sabermos quando serão as provas

nem que idades deverão ter os representantes.

Assim (…) divulgamos pelos pavilhões (…) informações acerca das captações (…),

(…) que seriam para rapazes e raparigas nascidos em 97, 98 e 99. Divulgamos essas

idades por sabermos que nos anos anteriores a Taça Coca-Cola se destinar ao escalão

de juvenis. No entanto, sempre que algum aluno nos perguntava se podia participar

nas captações mesmo tendo nascido num outro ano, nós dizíamos que sim, mas que

possivelmente (…) não poderia participar nos jogos da competição.

174

Decidimos começar com um exercício analítico de drible, passe, finalização (…) e só

depois os observamos em situação de jogo.

No (…) final do primeiro jogo (…) decidimos realizar apenas a situação de jogo com os

alunos que viriam a ser observados, por ser mais fácil avaliar o seu nível nessas

situações e porque tínhamos muitos alunos para observar (…).

Quanto aos participantes, apesar deste evento ocorrer durante o período letivo e não

haver justificação de faltas, compareceram (…) 11 raparigas e (…) 53 rapazes. A

participação foi (…) um êxito (…).

(…) foram selecionados 28 rapazes e todas as (…) raparigas entraram para a equipa.

Na próxima semana, será divulgada uma lista com os alunos selecionados e será (…)

marcado o próximo treino (…).

Após as captações, e devido à grande adesão por parte dos alunos,

rapidamente este prova se espalhou por toda a comunidade escolar. No

entanto, enquanto a maioria das pessoas felicitava o NE por esta iniciativa,

houve quem preferisse criticar.

Alguns colegas do grupo de EF criticaram-nos por termos realizado as

captações sem o consentimento da direção da escola. É verdade que não

comunicamos a realização destas captações à direção, mas não o fizemos

apenas porque não teria grande interferência no normal funcionamento das

aulas, uma vez que utilizaríamos os espaços disponíveis e apenas os alunos

que não estivessem em aulas poderiam participar. Para tornar mais justo,

decidimos estender por toda a tarde esta atividade, dando oportunidade a

todos os interessados de participarem.

O PC defendeu-nos e mais tarde conferenciou-nos que alguns

professores quando veem outros a criarem novas iniciativas e a mostrarem

muita disponibilidade para dinamizar certas atividades, ficam um pouco

reticentes. Acredito que este foi exatamente um destes casos. Mas para que

nada mais nos pudesse ser apontado, o NE decidiu marcar uma reunião com a

diretora da escola. Para além disso aproveitamos para tentar tratar do

transporte para esta atividade (26 de abril de 2012, DB):

“Assim, decidimos (…) falar com a Diretora (…) de forma a esclarecer toda essa

situação e também para tentar arranjar transporte para as equipas que forem

representar a escola no dia 26 de maio a Famalicão.

Quanto ao primeiro tema, a Diretora mostrou-se extremamente acessível e explicou

que não é necessário preocuparmo-nos com isso, no entanto daqui para a frente, para

que algum aviso seja afixado, ela deve assiná-lo e carimbá-lo (…).

Já sobre o transporte, a Diretora (…) aconselhou-nos a enviar uma carta para a

Câmara Municipal de Paredes pedindo transporte para este evento”.

175

Assim, elaborámos e enviámos a carta para a Câmara Municipal de

Paredes pedindo ajuda para o transporte. Enquanto esperávamos a resposta

continuámos a organizar passo a passo a atividade.

Por esta altura, o interesse por esta atividade parecia já não se restringir

à comunidade escolar. Este excerto relata esta situação (1 de maio de 2012,

DB):

“Enquanto nos rapazes, apareceram dezenas de candidatos, nas raparigas apenas 11

mostraram-se disponíveis para participar. Assim, a busca por novos elementos que

possam integrar a equipa feminina contínua (…).

Sabendo disso, uma ex-aluna da escola (…),perguntou se (…) poderia participar nesta

competição.

(…) o núcleo de estágio decidiu aceitar a sua participação, no caso de ela conseguir

conciliar as (…) aulas na Escola Secundária de Paredes com os treinos que faremos

na EB 2,3 de Sobreira.

Esta para já é a única exceção e justifica-se por se tratar de uma ex-aluna da escola,

que conhece todas as restantes participantes (…).

Esta hipótese foi colocada apenas por não haver um número suficiente

de jogadoras. Assim, no caso do aparecimento de novas candidatas, esta ex-

aluna seria substituída por elas, uma vez que esta atividade se destina aos

alunos da EB 2,3 da Sobreira.

Para a seleção dos rapazes, o critério principal era a capacidade técnica

e tática do aluno na prática da modalidade de Futebol. Para além disso, como

se pretendia criar uma equipa, tivemos de selecionar alunos de acordo com o

enquadramento tático do nosso jogo, de forma a criar uma equipa equilibrada.

Marcou-se então o primeiro treino para os alunos e alunas selecionados.

Devido ao lançamento do regulamento da prova, entre os alunos previamente

selecionados tivemos que eliminar quatro por terem uma idade superior à idade

limite. Os resultados deste primeiro treino foram os seguintes (3 de maio de

2012, DB):

“Neste treino pretendíamos poder reduzir ainda mais a lista de alunos, uma vez que

apenas poderemos levar a participar na competição, 16 rapazes e 16 raparigas, e para

este treino ainda tínhamos 24 rapazes. Já raparigas continuam a ser apenas com 13

candidatas.

O treino foi então dividido em duas fases. Como estava a chover e apenas tínhamos ao

nosso dispor o Pavilhão Gimnodesportivo, (…) tivemos de dividir os alunos, e a

primeira parte do treino foi destinada às raparigas, sendo a segunda para os rapazes.

No treino feminino apenas foi realizado uma situação de jogo 5x5.

176

Nos rapazes, fizemos primeiro um exercício de organização ofensiva, onde

pretendíamos verificar o nível ofensivo coletivo dos jogadores. Depois fizemos também

uma situação de jogo 5x5.

Quanto ao nível geral das alunas, temos que destacar que algumas (…) estão num

bom nível (…). Sabendo que o torneio será de futebol de 11 e como apenas podemos

treinar Futsal, aproveitamos para questionar as alunas e os alunos acerca das posições

onde se sentem melhor.

(…) vários alunos faltaram porque o treino foi marcado para uma altura em que eles

têm aulas (…).

Para tentar contornar essa situação, pretendemos marcar os próximos treinos à 4ªfeira

e à 5ªfeira dando duas possibilidades para que os alunos não tenham de faltar a aulas

(…). O próximo treino será (…) já na próxima semana, onde (…) pretendemos reduzir o

número de rapazes (…).

Por fim, falta apenas realçar a nossa intenção de realizarmos um último treino num

campo de futebol de 11, para que os alunos treinem pelo menos uma vez nas

condições em que a taça irá decorrer (…).

Assim, com os objetivos traçados para o segundo treino este decorreu

da seguinte forma no dia 10 de maio de 2012 (DB):

“Neste treino continuamos a pretender reduzir a lista de alunos que participarão na

competição. O treino foi mais uma vez dividido em duas fases, a primeira parte do

treino foi destinada às raparigas, sendo a segunda para os rapazes.

Tanto no treino feminino como no masculino foi realizado primeiro uma situação de

jogo 5x5 e depois foram feitos inúmeros exercícios de finalização.

Mais uma vez vários alunos faltaram porque os treinos são marcados para alturas em

que eles têm aulas e não podem faltar. (…)

Quanto ao treino que pretendemos realizar no campo de futebol de 11, o pai de um dos

alunos participantes desta atividade é presidente do clube local (…) e mostrou-se

disponível para nos fornecer o campo para um treino (…).

Uma vez que até ao momento todos os treinos tinham sido marcados

para 5ªfeiras, o terceiro treino foi marcado finalmente para uma 4ªfeira para

possibilitar a presença de alunos que não podem treinar à 5ªfeira (16 de maio

de 2012, DB):

“O treino foi mais uma vez dividido em duas fases, a primeira parte do treino foi

destinada ao treino dos rapazes e depois treinaram as raparigas. Tanto no treino

feminino como no masculino foram realizados apenas situações de jogo 5x5.

(…) o próximo treino acontecerá no campo do Imperial Sport Clube Sobreirense. Para

isso, pedimos para que todos os alunos trouxessem um recado na caderneta do aluno,

assinado pelo seu encarregado de educação, informando que permite que o seu

educando vá treinar às instalações do clube local.

(…) Aproveitamos também este treino para entregar as autorizações para serem

assinadas pelos pais, documentos que serão indispensáveis para a inscrição da equipa

na Taça Coca-Cola. Como ainda não selecionámos definitivamente os alunos

representantes da escola entregámos as autorizações a todos, e apenas utilizaremos

aquelas que são dos alunos futuramente selecionados”.

177

Como se percebe pelo excerto anterior, nesta fase de preparação para a

Taça Coca-Cola ainda não tínhamos definido os alunos (rapazes) que seriam

selecionados para a prova. Isso deve-se a algumas dúvidas em relação a à

qualidade técnica de alguns alunos. Assim, só no último treino foi divulgada a

seleção final dos representantes da escola. Desta forma, pudemos utilizar a

nosso favor na seleção dos alunos, as suas presenças nos treinos,

selecionando os alunos que mais vezes treinaram.

Em relação ao transporte para o local onde iria decorrer a competição,

recebemos a resposta por parte da Câmara Municipal de Paredes (17 de maio

de 2012, DB):

“Boa tarde

Na sequência do Vosso pedido datado de 15/05/2012 e de acordo com as práticas

organizativas do setor dos transportes, incumbe-me o Exmo. Sr. Vereador, Dr. PM

informar V. Ex.ª da indisponibilidade de transporte para o dia 26 de Maio de 2012, facto

que lamentamos.

Com os melhores cumprimentos.”

Assim, momentaneamente ficámos sem grandes soluções para o

transporte dos 16 alunos, 13 alunas e 4 estagiários no dia 26 de maio de 2012

para Famalicão.

Para contornar essa situação, em reunião do NE criámos três diferentes

hipóteses. A primeira passava pelo transporte dos alunos ser feito pelos seus

pais. A segunda hipótese passava por falar com os clubes e organizações da

zona, bem como com as juntas de freguesia da Sobreira e de Recarei,

tentando sensibilizá-los a emprestar as suas carrinhas para o transporte. Por

fim a última hipótese era a de alugar um autocarro, sendo esta hipótese a única

onde alguns custos teriam de ser suportados pelos alunos.

Percebemos então que o mais justo seria conversar com os alunos e

com eles tomarmos uma decisão final. Assim, no dia 23 de maio de 2012 (DB)

o treino ocorreu no campo do Imperial Sport Club Sobreirense:

“Como tínhamos ao nosso dispor todo o campo, pudemos dividir metade do campo

para a equipa masculina (…) e na outra metade ficaram as raparigas (…).

Após um breve aquecimento, fez-se uma situação de jogo reduzido e na parte final do

treino aproveitamos para treinar (…) as bolas paradas.

A divulgação da seleção final dos alunos será feita durante a manhã de amanhã. (…)

178

No final do treino, aproveitámos então para falarmos com os alunos acerca do

transporte. Assim, (…) todos eles se revelaram a favor do aluguer do autocarro.

Anteriormente ao treino, (…) ligamos para uma empresa transportadora para saber o

preçário. Assim, pelo aluguer de um autocarro de 50 lugares, (…) o preço é de 160€ o

que dá 5€ a cada um. Para além disso, como são lugares a mais, os alunos podiam

convidar amigos ou familiares a irem ver a prova, no mesmo autocarro, tendo apenas

de pagar por isso 2€.

Posteriormente ao treino, um aluno e uma aluna mostraram ter dificuldades em reunir

os 5€. Decidimos levá-los na mesma, através do dinheiro pago pelas pessoas que

queiram ir assistir (…).

Com o problema do transporte resolvido, eis que chegou o dia da Taça

Coca-Cola (26 de maio de 2012 (DB):

“Chegado finalmente o dia (…), o mesmo começou com alguns percalços.

Na véspera deste dia, o aluno A, jogador do Leixões Futebol Clube (…), contou-nos

que não teve autorização do clube para participar nesta competição (…). Também o

aluno R faltou à chamada, situação que foi justificada por um seu amigo que disse que

ele estava doente. Assim, partimos para a prova com menos alunos do que o planeado.

(…) Para além dos alunos selecionados, outros cinco revelaram-se disponíveis para ir

assistir à prova (…) aumentando (…) o número de elementos da comitiva.

Por fim, alguns pais acabaram por nos acompanhar neste sábado. Apesar de (…)

haver espaço no autocarro, eles preferiram ir nos seus próprios automóveis (…).

Lá chegados, os pais sentaram-se num local da bancada que se tornou a nossa

referência espacial para os alunos (…).

(…) Tanto a equipa feminino como a masculina integraram uma fase de grupos

juntamente com outras duas equipas. (…) O primeiro classificado de cada grupo

passava à fase seguinte (…). Os rapazes se passassem a fase de grupos apuravam-se

para as meias-finais, no caso das raparigas apuravam-se para final. Os jogos tinham a

duração de 15 minutos, sem intervalo. Era obrigatório que nos dois jogos da fase de

grupos, todos os jogadores fossem titulares pelo menos num jogo.

Ao longo do torneio, alguns olheiros iam tomando notas acerca daqueles jogadores que

se destacavam. No final de todas as fases será revelada uma seleção de 16 jogadores

que irá representar a seleção portuguesa da taça Coca-Cola num jogo contra a seleção

espanhola.

Decidi ficar mais próximo dos rapazes, como seu treinador. Já o colega Carlos teve a

mesma função na equipa feminina.

O primeiro jogo dos rapazes terminou com um empate algo dececionante, uma vez que

tivemos as melhores oportunidades. (…)

Partimos então para o 2º jogo com a obrigação de vencer para podermos passar esta

fase. O jogo terminou com 2-0 e os alunos acabaram por se mostrarem ao longo do

mesmo muito dinâmicos e concentrados. (…)

Passámos então para a fase a eliminar e aí o calendário atraiçoou-nos. Para além de

defrontarmos a equipa que se veio a sagrar campeã desta fase, fizemo-lo sem ter (…)

descanso. (…) assim que vencemos a fase de grupo, (…) foi-me informado que

tínhamos apenas 2 minutos para estarmos prontos para novo jogo, enquanto que os

nossos adversários puderam descansar o suficiente para se apresentarem na máxima

força nesse jogo. Apesar da forma sincera e empenhada como os alunos encararam o

jogo, acabamos por perder por 2-0, sendo que sofremos o 2º golo já numa situação em

179

que tínhamos feito algumas substituições de risco, depois de termos perdido uma clara

chance de golo para inaugurar o marcador. (…)

Apesar da eliminação, durante os nossos jogos, um grupo de jogadores da nossa

equipa evidenciou-se e por isso os olheiros vieram-me pedir informações acerca deles.

(…) Já as raparigas também empataram a 0 o primeiro jogo e perderam por 1-0 o

segundo jogo, o que as impediu de ultrapassarem a fase de grupos.

Acabando os jogos, os alunos pediram para ficarem mais um pouco para verem as

respetivas finais.

Enquanto víamos a final, todos os alunos assinaram uma t-shirt que mais tarde me

ofereceram deixando-me extremamente feliz.

Foi um dia de convívio extremo, que dá cor a esta fase final do ano letivo. Para

recordação, todos os participantes puderam trazer o equipamento oferecido (…). Para

além disso, ao longo deste dia, nalguns passatempos (…) os alunos puderam ganhar

outros prémios”.

4.2.7. FUTEBOL NA FORMAÇÃO

Esta atividade foi organizada por completo pelo NE e foi dedicada à

comunidade local.

A ideia partiu do princípio de todos os elementos do núcleo terem

ligações, mais ou menos duradouras, com camadas jovens na modalidade de

Futebol. Assim decidimos organizar uma ação de formação, com a presença de

diferentes convidados com experiência no campo que se destinaria aos clubes

locais.

Entre os vários nomes postos na mesa para participarem como

convidados nesta atividade, acabámos por escolher três pessoas com

experiências em diferentes campos. O Professor Rui Gomes (então treinador

da equipa júnior do Futebol Clube do Porto) aceitou participar de forma a

partilhar as suas vastas vivências nos escalões jovens de um clube de elite. O

Professor Orientador Tiago Sousa aceitou participar neste mesmo evento

partilhando os seus conhecimentos acerca da observação dos jogos. Por fim, o

também estagiário Joaquim Ferraz aceitou participar nesta atividade,

partilhando as suas experiências como antigo jovem atleta das camadas jovens

e mais tarde atleta profissional.

Decidimos organizar esta ação de formação nas instalações da escola, à

noite, aliciando assim a uma maior aderência por parte dos possíveis

interessados. Para a sua divulgação, para além da utilização da internet,

180

afixamos informações acerca desta atividade pela escola e pelos clubes mais

próximos. Foi também escrita uma carta endereçada a todos os clubes de

futebol da zona com camadas de formação, convidando os seus treinadores e

diretores para este evento.

Estes últimos eram de facto o público-alvo desta ação de formação.

Pretendíamos através da atividade deixar nas mentes dos responsáveis

clubísticos locais, certas ideias fundamentais para o treino de formação,

conjugação com os estudos, motivação dos atletas ou ainda planeamento.

Neste momento, através das nossas funções como professores

estagiários da EB 2,3 da Sobreira, tivemos a possibilidade de contatar

diretamente com a comunidade local de fora da escola. Através disso

pretendíamos alterar algumas caraterísticas que o futebol de formação local

tem (por exemplo, a falta de rigor no planeamento) e também solucionar alguns

problemas que os alunos que praticam esta modalidade costumam referir

(como por exemplo, treinos que acabam muito tarde) (16 de abril de 2012, DB):

“ (…) alguns dos nossos alunos que jogam Futebol queixam-se dos horários a que

chegam a casa depois do treino e da futilidade dos exercícios que realizam nos seus

treinos”.

Após todo planeamento desta atividade, faltava realizar-se apenas uma

reunião com a diretora da escola, onde os últimos pormenores foram acertados

(16 de abril de 2012, DB):

“ (…) a Diretora aproveitou para nos questionar acerca de como chegámos a esta

ideia.(…)

Apesar de se ter mostrado um pouco retraída em relação a elaboração desta atividade,

por pensar não existir grande ligação entre a mesma e a escola (…) também deixou no

ar a hipótese de haver pouca participação por parte da comunidade local.

No final, Diretora (…) referiu que estaria presente para fazer a abertura da sessão”.

Apesar de ter saído desta reunião com uma certa sensação de

desconforto devido às suspeitas levantadas pela diretora em relação à

realização desta atividade, continuei a acreditar que iriam assistir a esta

atividade muitos responsáveis dos clubes locais, sendo essa a melhor forma de

traduzir esta ação de formação num sucesso.

O evento ocorreu então no dia 17 de abril de 2012 (DB):

181

“Este (…) evento (…) começou por ser uma pequena ideia que surgiu durante o

almoço. A ideia tinha crescido, sido pensada, planeada e estava na hora de a pôr em

prática.

A ideia geral era criar uma ação onde (…) se pudessem ouvir (…) opiniões de três

pessoas com experiência nas camadas jovens do Futebol. A prioridade passava por se

debater aspetos do treino dos jovens, mas com a presença de pessoas ligadas ao

Futebol sénior de alta competição, esperar-se-ia que (…) o debate se alargasse (…)

por esses lados.

(…) eis que me deparo com uma imagem que muito me encheu de satisfação: a sala

estava repleta. (…)

(…) na intervenção do Professor Rui Gomes, percebi que todos os presentes estavam

inteiramente interessados naquilo que ele apresentava e o momento de debate foi (…)

muito rico.

(…) na intervenção do Professor Tiago (…) utilizou a sua experiência como observador

(…) a demonstração de interesse manteve-se (…).

Para finalizar (…) a intervenção do ex-atleta profissional Joaquim Ferraz (…) foi (…)

um testemunho (…) interessante, uma vez que permitiu ver todo este processo através

de outros olhos.

Antes desta última intervenção, houve um (…) coffee break onde foram oferecidos

bolinhos, cafés e sumos.

Por fim, (…) foram distribuídos certificados que confirmam a participação dos mesmos

nesta ação. Foram também oferecidas três pequenas lembranças aos convidados,

como agradecimento pelas suas participações”.

Como considerações finais acerca desta atividade, tenho que sublinhar

que a mesma foi um grande êxito. Resultado esse que deixou o NE

extremamente satisfeito (17 de abril de 2012, DB):

(…) deixo uma pequena consideração final (…) na opinião do núcleo de estágio o

evento foi um tremendo êxito, porque os presentes encheram a biblioteca (mais de 50

pessoas) e todos eles estavam ligados ao Futebol de Formação. Esperamos (…) ter

sido capazes de contribuir para aumentar o conhecimento de alguns deles, (…) e

nalguns casos se ter dado o mote para um processo (…) de mudança nos clubes

participantes (…).

Os resultados desta atividade conseguiram também mudar a opinião da

diretora da escola (18 de abril de 2012, DB):

“ (…) fomos abordados pela Diretora da Escola. Até ontem (…) ela não se mostrava

muito recetiva e a favor do evento «Futebol na Formação» (…).

(…) hoje quando se aproximou de nós, o sorriso que trazia (…) era o espelho do que

lhe ia na alma. (…) felicitou-nos pelo evento, uma vez que a participação em massa da

comunidade a surpreendeu. (…) Ontem (…) juntamos mais de 50 pessoas para se falar

sobre futebol e à mesma hora que se jogava a 1ª mão das meias-finais da Liga dos

Campeões (Bayern Munich vs Real Madrid)”.

182

4.2.8. PASSEIO À FADEUP E AO ESTÁDIO DO DRAGÃO

Este passeio foi organizado para as duas turmas do 9º ano do NE (9ºC e

9ºD). O grande objetivo passava por proporcionar aos alunos um dia onde

poderiam desenvolver os seus conhecimentos acerca do Desporto.

Selecionámos os alunos do 9º ano, por serem alunos que num futuro próximo

teriam de escolher uma área relativamente concreta de estudos.

Assim, decidimos levar os alunos a conhecer as instalações da FADEUP

tentando cativar alguns alunos para a continuação dos seus estudos por esta

área. Da parte da tarde planeamos realizar uma visita guiada ao Estádio do

Dragão, símbolo emblemático da cidade do Porto e do futebol internacional.

A visita decorreu no dia 31 de maio de 2012 (DB):

“Na parte da manhã vos alunos conheceram a FADEUP, (…) através de uma visita

guiada (…).

Ao longo da visita pôde-se (…) assistir a momentos de (…) aulas (…). Os alunos

questionaram o porquê de haver turmas só de rapazes ou de raparigas. Isso deve-se à

estruturação dos 2 primeiros anos de licenciatura onde as turmas são organizadas por

sexo (…).

Após (…) a visita, dirigimo-nos para o parque da cidade do Porto, onde almoçámos.

Como (…) sobrou bastante tempo, e como os alunos queriam muito ir à praia (…),

decidimos dar-lhes essa oportunidade. (…)

Apesar de não termos muito tempo (…), (…) os alunos (…) não evitaram um ou outro

mergulho, exponenciando ao máximo a diversidade de sensações que esta visita

possibilitou. (…)

Depois (…) saímos (…) em direção ao Estádio do Dragão (…).Enquanto os alunos

aguardavam pela visita, aproveitaram para (…) visitar a loja do Dragão, conversar e um

jogar uma mini partida de Futebol (…).

Na visita ao Estádio (…) a maioria dos alunos demonstrou grande atenção. (…)

Regressados à Sobreira (…) sentimos que (…) os objetivos desta visita foram

alcançados (…) “.

4.2.9. VIGILÂNCIA DO TESTE INTERMÉDIO DE MATEMÁTICA

Refiro esta situação pela sua riqueza na área da transdisciplinaridade. A

escola resulta de um modelo onde entre disciplinas, por mais diferentes que

possam parecer, existem sempre pontes de ligação.

O teste intermédio da disciplina de Matemática foi marcado para o dia 10

de maio de 2012 e curiosamente para o horário onde habitualmente decorriam

as aulas de 90 minutos de Educação Física.

183

Tal como estipulado, o professor que é responsável pela turma no

horário do teste, fica encarregue de vigiar os alunos na realização do mesmo.

Encarei esta vigilância de forma idêntica à que realizei durante os mini-testes

teóricos de EF que apresentei nos finais dos três períodos.

Realço que os alunos demonstraram um estado de nervosismo

claramente diferente daquele que apresentaram nos testes de EF. A turma

estava completamente concentrada no teste e nos momentos antecedentes ao

mesmo, era claro o sentimento dos alunos.

Ao longo desta particular situação, dei por mim a refletir sobre o facto de

não estar presente nenhum professor de Matemática capaz de ajudar nas

dúvidas dos alunos num teste dessa disciplina. Apesar destes testes sofrerem

várias revisões do seu enunciado para precaver todos os possíveis mal-

entendidos, é normal que na realização dos exercícios, algumas dúvidas

apareçam e por isso a utilidade da presença de um professor da disciplina não

pode ser negada. Digo isto apesar de todas as dúvidas dos alunos terem sido

solucionadas por mim ou pelo PC Fernando Vaz.

O PC ajudou-me na vigilância deste teste. Apesar de ter sido ele o

responsável por ir buscar e trazer para a sala de aula os testes, eu entreguei-

os um a um e as caras dos alunos ficaram-me gravadas na memória.

Até então, ainda não tinha tido uma experiência tão clara onde os alunos

demonstrassem as suas fragilidades. Naquele momento, senti os alunos

pequenos como nunca.

Aquela sensação fez-me pensar que não é assim que quero que os

meus alunos se sintam nas minhas aulas. Alguns professores devem sentir-se

bem com este tipo de sentimento. Sentir os alunos nervosos e frágeis é algo

sentido por alguns professores mais autoritários. Não falo do autoritarismo só

da gestão e controlo da aula, mas de um estado autoritário já subjacente ao

indivíduo. Esses professores sentem, tal como senti neste dia no momento da

entrega de um teste tão importante, que têm uma importância tremenda na vida

dos seus alunos, mas optam por utilizá-la de forma menos construtiva,

restringindo os comportamentos dos alunos.

184

Apesar de ser mais difícil manter uma atitude próxima, dando espaço,

liberdade e motivação aos alunos para estarem presentes e praticarem nas

aulas, os resultados finais superam e fazem esquecer rapidamente todas as

dificuldades do percurso.

185

4.3. ÁREA 4: DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL:

Na área de desenvolvimento profissional estão englobadas as

experiências vividas ao longo deste ano letivo que se mostraram ricas para o

desenvolvimento profissional.

Opto por apresentar nesta área três aspetos que me ofereceram

possibilidades de desenvolvimento do meu estado profissional.

4.3.1. LICENÇA PARA ESTUDAR

Ao longo da minha formação, em particular no 1º ciclo de estudos, vários

professores afirmaram que no final desse percurso, quando eu tivesse

finalmente o diploma e estatuto de licenciado, estaria apenas a receber uma

licença para continuar a estudar.

A formação de um qualquer profissional é contínua e por isso, não deve

finalizar-se com a obtenção de um grau que o classifique como apto para

exercer a sua profissão. No caso dos professores, essa necessidade é ainda

mais evidente. As suas performances e estratégias de ensino, de controlo e de

motivação são diariamente postas à prova. Assim, percebe-se que um

professor que acaba a sua formação (atualmente mestrado) está pronto para

apenas continuar a formar-se.

É até possível que no final da formação, como toda a aprendizagem está

ainda fresca na memória e no desempenho do professor, ele se sinta mais

preparado e apto para lecionar do que vários anos depois de lecionação, caso

não aposte na sua formação contínua, mesmo com as apetências que a

experiência lhe vai oferecendo.

A.C. Cunha (2007) afirmou que a formação contínua também parte da

missão das instituições da formação inicial. É um poderoso instrumento de

formação e devido à sua importância deve ser ressalvado por cada docente.

Como se sabe atualmente, devido ao regime jurídico da formação

contínua consignado no Decreto-Lei nº 207/96, de 2/11, com as alterações

186

introduzidas pelo Decreto-Lei nº155/99, de 10/0513, todos os professores têm

de realizar diversas ações de formação do longo do ano letivo, em prol da sua

formação contínua. Isto é, os professores têm, obrigatoriamente, de frequentar

ações de formação para a obtenção de créditos, dos quais depende a sua

avaliação e progressão na carreira.

Acredito que este é um sistema com boas intenções, mas que na

realidade fica aquém do esperado. Todos os profissionais devem renovar

ideias e partilhar práticas. Mas tornar esta ação obrigatória, pode ter efeitos

opostos. Obrigando os docentes a assistir a essas formações, na maior parte

das vezes, a razão por detrás disso, está na necessidade de se obter créditos,

e não, por se querer aprender algo de novo ou reciclar conhecimentos.

E o que é mais significativo? A experiência na área ou a constante

formação que vai desenvolvendo as aptidões?

Na minha opinião, a consolidação destas duas componentes é a melhor

solução. Nesta minha curta experiência no estágio, já pude interagir e conhecer

diferentes exemplos. Professores experientes que se conformaram com as

suas situações e que por isso não me parece que apostem muito nas suas

formações contínuas. Professores formados há pouco tempo, com ideias e

vontade, mas com pouca experiência na Escola. E ainda professores com

alguma experiência que não abdicam de desenvolver a sua formação contínua.

De seguida vou relatar diferentes exemplos, salvaguardando o

anonimato dos professores. O primeiro refere-se a duas professoras com

experiência e às suas atuações no DE. Este excerto foi retirado do DB no dia

14 de junho:

“Sem querer ser ofensivo de uma forma pessoal, percebi que existe uma clara

diferença de nível e qualidade entre responsáveis. Ao contrário do que se poderia

esperar, a experiência tende a adormecer a competência dos professores, pelo menos

foi o que percebi. Digo isto porque duas das professoras responsáveis com mais anos

de efetividade à escola, (…) demonstraram nos treinos que assisti uma clara

passividade em termos da sua atuação o que fazia com que os alunos se

desmotivassem e de certa forma não atingissem os níveis esperados para competir

com os alunos de outras escolas”.

13

Decretos-Lei consultados em http://www.gaiasul.edu.pt/pn/npag/fdocentes/Lig1-Regulamento/Reg_Aval_PD.pdf

187

Convivi também com professores, neste caso estagiários, que apesar de

terem as suas competências recentemente desenvolvidas, tinham algumas

dificuldades nalguns aspetos das aulas, devido talvez à sua falta de

experiência na escola e neste caso em particular na modalidade. Relato de dia

9 de novembro, retirado do DB:

“Antes de mais refiro que esta aula refere-se à modalidade de Futebol o que poderia

ser visto como um aspeto favorável para todos os Estagiários exceto para o aluno em

questão, uma vez que é o único que não tem ligações próximas com a modalidade. Isto

foi algo que desde logo o colega destacou, o facto de não se sentir muito à vontade nas

modalidades desportivas coletivas e que teria de ser nesse campo onde teria de fazer

uma maior aposta na sua formação autónoma e individual”.

Por outro lado tive também o prazer de interagir e aprender com outros

tipos de profissionais. Aqueles que buscam constantemente pelo seu

desenvolvimento, independentemente do estado em que já se encontram. O

relato seguinte é de 14 de junho e está presente no DB:

“Por outro lado, o Professor (…) e a Professora (…), ambos contratados e que estão na

escola apenas desde o início deste ano letivo, demonstram uma motivação bem maior

no que toca aos treinos o que se evidenciava em termos práticos no desempenho dos

alunos. Para além disso, a motivação e alegria que se vive nos treinos e competições

das suas modalidades de Andebol ou a Orientação são completamente diferentes

daquilo que existe nas competições de Badminton, ou nos treinos de Caminhada onde

os alunos demonstravam um semblante negativo devido da falta motivação e

incentivo”.

Acredito claramente que o tipo de professores que aposta

continuamente na sua formação está num nível superior quanto à sua

qualidade de professor.

No seguimento desta ideia a FADEUP ofereceu-nos ao longo destes

dois semestres de estágio, várias ações de formação às segundas-feiras que

tinham como objetivo privilegiar a nossa formação contínua e alargada.

No global tivemos a possibilidade de assistir a palestras acerca do DE,

da natação na escola, do golfe, da procura de talentos (jovens atletas de

sucesso), de biomecânica, do desenvolvimento motor, de estatística, de

aprendizagem motora, de questões posturais, de teorias do treino, de modelos

de ensino das modalidades desportivas coletivas, do futebol na escola, de

estudos acerca da prática desportiva nos jovens, da motivação para a prática

188

desportiva, do professor como promotor de saúde, da aptidão física e saúde e

ainda da estética desportiva. Entre todas elas, destaco duas que se revelaram,

na minha particular formação, muito proveitosas: a ação de formação de

primeiros socorros e a ação de formação acerca de materiais autoconstruídos

realizada pelo espanhol Antonio Méndez Gimenéz, da Universidade de Oviedo.

Ambas tinham a particularidade de terem sido muito mais práticas do

que as restantes, o que consegue sempre cativar mais o público a quem se

destina.

No primeiro caso vi debelada, de alguma forma, uma necessidade que

eu tinha há muito tempo. Qualquer pessoa pode e deve ter formação em

primeiros socorros.

O ministério de educação14 define o primeiro socorro como sendo o

“tratamento inicial e temporário ministrado a acidentados e/ou vítimas de

doença súbita, num esforço de preservar a vida, diminuir a incapacidade e

minorar o sofrimento”.

Como professor estagiário, durante este ano letivo já senti a

necessidade de desenvolver esta valência. Estar preparado e saber o que fazer

é algo absolutamente fundamental entre pessoas que trabalham com grupos

de pessoas em atividades físicas. Ao longo deste ano letivo, tive apenas de

solucionar uns poucos enjoos e faltas de ar que os meus alunos sentiram.

Tenho de assumir que tive sorte, uma vez que se tivesse acontecido alguma

coisa de maior gravidade, a minha atuação poderia não ser a melhor. Exemplo

de uma dessas situações é o relato que se apresenta de seguida. Refira-se

que esta situação ocorreu antes da ação de formação referida e eu tentei

debela-la através dos meus conhecimentos gerais e da minha capacidade de

improvisação. DB, 19 de outubro de 2011:

“ (…) No final da aula, já após todo o esforço realizado, uma aluna (…) sentiu-se tonta

e por isso fui chamado à entrada dos balneários onde ela estava sentada no chão.

Após lhe ter perguntado se ela tinha comido antes da aula, pedi um copo de água com

açúcar ao funcionário e dei-lhe. Alguns minutos depois ela ainda se sentia mal disposta

e então optei por apostar no efeito Placebo. Ou seja, fui à sala de professores de E.F.

14

Definição presente no documento “Manual de Primeiros Socorros: situações de urgência nas escolas, jardins-de-infância e campos de férias” criado em colaboração pelo Ministério da Educação, pela Direção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, pelo Alto Comissariado da Saúde e pela Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.

189

buscar o fruto mais estranho que lá tinha (physalis) e ofereci-lhe. (…) Este fruto tem um

sabor muito intenso e isso, com a ajuda da água com açúcar e de a ter levado para um

local mais amplo onde o ar circula com maior dinâmica, fez com que ela melhorasse o

seu estado. Apesar de ter ficado um pouco sem saber o que fazer, mantive uma

postura calma e segura, o que se alastrou à aluna e aos elementos da turma que a

acompanhavam”.

Com esta ação de formação, senti que fiquei mais preparado para

intervir nos casos de reconhecimento de uma situação de risco. Acredito que

esta minha formação conseguiu sensibilizar-me porque, para além do tema, se

tratou também de uma formação iminentemente prática, onde me foi dada a

oportunidade de observar com detalhe, como uma ação de imergência deve

ser feita por alguém com formação como socorrista. No entanto, estou apenas

um pouco mais preparado do que estava antes dessa formação. É importante

referir que esta ação não teve uma duração superior a 4 horas e, como tal,

muita coisa ficou por contar. Uma ação de formação mais pormenorizada é

ainda indispensável na minha preparação para este tipo de casos. Só assim

poderei desenvolver as qualidades que Reis (2010) refere como fundamentais

num socorrista: autocontrolo e sentido de responsabilidade, capacidade de

organização e liderança, capacidade de comunicação, capacidade para tomar

decisões, compreensão e respeito pelo outro e consciência das duas

limitações.

A segunda ação de formação que pretendo assinalar é aquela que se

refere aos diferentes momentos liderados pelo Professor Antonio Méndez

Giménez que se baseavam na utilização de materiais vulgares para a

construção de materiais com uma riqueza desportiva assinalável.

Através da reutilização de materiais, na sua maioria domésticos, foi

possível a criação de momentos deveras ricos para a adaptação de certas

modalidades. Desde jornais que se transformaram em tacos e bolas de

basebol, cabides e meias de licra metamorfosearam em raquetes e bolas de

Badminton, caixas de cartão que se fizeram em paladós ou em ringos (discos),

ou ainda sacas plásticas que evoluíram para curiosas bolas de voleibol (todos

eles, claro, com a ajuda de imensa fita-cola).

190

Nesta formação (que se estendeu ao longo de 3 sessões) foi-me dada a

possibilidade de praticar as modalidades e atividades com materiais

construídos por mim. Essa experiência revelou-se mais profunda do que eu

esperaria. Percebi a facilidade com que se podem debelar certas dificuldades

que estão bastante presentes nas escolas como a falta de material didático

específico à modalidade em questão.

Como percebi ao longo desta formação, com pouco se pode transformar

uma situação de aprendizagem que a princípio poderia parecer desvantajosa.

No estágio utilizei ideias parecidas com esta para aumentar a motivação e a

debelar certas dificuldades de material. Criei blocos de partida em madeira,

utilizei tapetes de várias formas para apoios dos pés no triplo salto em

comprimento e adaptei bolas criando novos exercícios. Numa dessas

adaptações, no DB, de dia 18 de janeiro refiro o seguinte:

“O primeiro exercício, de ativação geral, pretendia criar uma situação de multisaltos

(…) Coloquei uma bola de Andebol dentro de uma saca plástica e amarrei-a a uma

corda de ginástica. Em relação à organização dos grupos, coloquei um aluno no centro

e os restantes na periferia (3 grupos diferentes). O aluno do centro, segurando na

ponta da corda oposta à bola, deveria rodar ao longo do seu eixo vertical e junto ao

solo, obrigando os alunos da periferia a saltar por cima da mesma. Este exercício

devido à sua inovação foi muito bem aceite pela turma. Para se compreender melhor o

que digo, sublinho que nos momentos antecedentes à aula, quando preparava este

material, um grupo de alunas que costuma chegar sempre um pouco mais cedo,

aproveitou desde logo para, com a minha permissão, experimentar o exercício. A

euforia e motivação que a simples utilização de um novo material causaram, tornou

complicada a transição desse momento para o início da aula, uma vez que as alunas

em questão não queriam parar com a ação. A solução passou por, e uma vez que este

exercício era o de ativação geral, transferir a palestra inicial para a parte final da aula,

de forma a potenciar ainda mais a motivação dos alunos para o desenrolar da aula”.

Como se verifica pelo excerto anterior, a utilização criativa de diferentes

materiais pode potenciar de uma forma elevada a qualidade da aula. Esta pode

e deve ser a melhor solução para debelar a falta de materiais que uma escola

apresenta. A criatividade e capacidade de inovação são capacidades que na

minha opinião são fundamentais do bom professor.

191

4.3.2. A IMPORTÂNCIA DE UM DIÁRIO

Tentando adotar uma postura de sujeito reflexivo, decidi ao longo do EP

escrever um DB, que não tinha caráter obrigatório, mas que me ajudou imenso

no meu processo reflexivo. Através da elaboração desse documento fui

podendo refletir acerca de quase todas as experiências que vivi ao longo deste

ano letivo. Digo quase todas, porque é impossível garantir que nenhum relato

me escapou. A estratégia de escrita no Diário seguiu, quase sempre, uma

ordem por mim estipulada. Sempre que experienciava alguma situação

que na minha opinião deveria ser relatada, seguia os seguintes passos:

primeiro revia o acontecimento, depois refletia sobre ele, de seguida

percebia se existia algum problema relacionado com o mesmo, tentava

encontrar soluções para debelar esse problema e por fim desenvolvia

estratégias que impossibilitassem uma nova ocorrência do mesmo

problema. Através deste instrumento sinto que realizei os requisitos para

potenciar a minha formação reflexiva. A.C. Cunha (2008) sustenta que o

professor que é competente deverá ser um prático reflexivo, capaz de produzir

conhecimentos segundo as suas experiências. Assim cria-se um processo que

facilita o desenvolvimento das ações futuras, partindo da perspetivação de

comportamentos passados, isto sem nunca esquecer a importância do

presente.

No decorrer deste ano letivo, para o preenchimento do Diário do Bordo,

utilizei os mais diversos temas que de alguma forma foram capazes de fornecer

bases para uma reflexão e respetivo desenvolvimento pessoal. Por exemplo,

no dia 8 de setembro, acerca de uma reunião do GEF, escrevi o seguinte:

“Um outro ponto que destaquei nesta reunião foi o facto da Professora (…) ser muito

jovem, e como tal, ser cheia de ideias novas. Achei fantástica a forma como ela, nesta

reunião, tentava fazer-se ouvir em quase todos os pontos discutidos, tendo sempre

uma nova ideia para partilhar. Por outro lado, notei algum conformismo na sala,

existindo uma certa inclinação para não aceitar várias propostas por ela apresentadas”.

Através deste momento, criei os primeiros fundamentos acerca da forma

como devem tentar intervir os professores mais inovadores. A professora em

questão, tinha sempre imensas ideias, o que de certo modo se tornou um

192

constrangimento para ela. Com isto quero dizer que a professora em questão é

uma profissional que, não parece ser capaz de distinguir aquilo que são ideias

que realmente podem aumentar a qualidade do ensino, e outras que apenas

substituem outras tão ou mais eficazes. Como esta reunião era a minha

primeira, fiquei com a sensação que os restantes professores não a ouviam

com atenção e mais tarde fui percebendo porquê. Professores como esta são

fundamentais para a melhoria dos processos e estratégias de ensino, uma vez

que são inovadores e para além disso, têm muita disponibilidade para se

aplicarem em assuntos essenciais. No entanto, não se pode querer mudar o

mundo de uma só vez, e por isso é preciso perceber o que se pode fazer e

quando. O planeamento até nas ideias faz sentido. Os professores criativos

devem ser capazes de planear com coerência os momentos-chave para a

divulgação de uma nova estratégia, e para além disso, devem ter total certeza

da utilidade da mesma.

Também as aulas observadas foram infinitamente utilizadas como

grande arma no processo de reflexão. Deixo aqui um pouco do relato da

primeira aula lecionada por um elemento do meu NE no dia 16 de setembro:

“Quanto aos aspetos que (…) penso que devem ser corrigidos, o primeiro deve-se ao

facto do Professor (…) ter dado a aula sentado. A nossa disciplina é uma disciplina

iminentemente prática, e esses pormenores deverão ser corrigidos. Mostrar desde

cedo que o Professor é dinâmico e está preparado para atuar é algo que na minha

opinião deverá ser feito. Por outro lado, o colega utilizou também algum vocabulário

que se pretende que seja mais simplificado (…) Posso estar a ser demasiado rigoroso,

mas o que me pareceu foi que os alunos não compreenderam perfeitamente o que era

para fazer (…) Na minha opinião deveremos sempre que possível utilizar uma

linguagem o mais próxima aquela que os alunos utilizam de forma a que a sua

compreensão seja facilitada. Mas isso não impede que para além dessa linguagem

simplificada, o Professor não utilize a terminologia correta para certos aspetos, tendo

somente de (…) explicar o que isso significa. Por exemplo, aquando da realização do

teste de abdominais, explicarei que os alunos têm que se deitar de costas para o chão,

referindo imediatamente a terminologia correta “decúbito dorsal”. Assim, e aos poucos,

pode ser que os alunos consigam assimilar certo vocabulário mais específico, mas sem

que em momento algum não percebam o que é pedido”.

Como se pode ver pelo excerto anterior, as aulas observadas foram

uma magnífica arma potenciadora de reflexão e posterior

desenvolvimento pessoal. No NE da Sobreira, o PC Fernando Vaz, além do

que indica o documento normativo, quis que os quatro estagiários assistissem

193

ao máximo de aulas do núcleo. Assim, tornou obrigatória a nossa presença nas

aulas uns dos outros até ao início do 3º período. Dessa forma podemos

constantemente refletir acerca de diferentes matérias como: estratégias de

ensino, comportamentos do professor, técnicas de gestão do tempo de aula e

dos materiais, qualidade da instrução e ainda planeamento das aulas (escolha

e ordem dos exercícios).

4.3.3. DIFERENTES: UM MEDO TRANSFORMADO EM PAIXÃO

“Toda a pessoa tem direito à educação”

Artigo 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Até à década de 70, as crianças com necessidades educativas especiais

não tinham direitos legais à educação pública, sendo muitos deles excluídos do

sistema educativo público (Cerqueira, 2010).

Atualmente vive-se uma nova realidade. A realidade da escola inclusiva.

Neste propósito, Monteiro (2010) diz que o maior desafio que se coloca à

escola é o de encontrar capacidade de resposta às necessidades educativas

de uma população cada vez mais diferente, sendo também capaz de se tornar

verdadeiramente inclusiva, onde todos são aceites pelo que são e não apenas

pelo seu desempenho académico.

Para Cerqueira (2010) a expressão “Necessidades Educativas

Especiais” aplica-se a “todas as crianças e jovens cujas carências se

relacionam com deficiências ou dificuldades escolares”.

Aceitar a diferença nunca me causou grandes problemas. No entanto ser

capaz de lidar com ela sempre foi algo muito difícil para mim. Ao longo da

minha formação não tive que lidar diretamente com estes casos. Apesar dos

conteúdos que me foram dados na disciplina de Desporto de Populações

Especiais, na verdade nunca me senti muito preparado para esse tipo de

interações.

No primeiro ano de mestrado, tive a possibilidade de, na disciplina de

Didática Específica de Andebol, lecionar algumas aulas para alunos com

194

deficiências visuais e outros com deficiências de índole intelectual. Também na

disciplina de Didática Específica de Dança tive essa experiência mas nesse

caso tratou-se de um aluno com hiperatividade.

Em ambos os casos a experiência acabou por não se mostrar tão

benéfica como se poderia pensar. Tive claras dificuldades no relacionamento

com esses alunos e isso chegou a alterar a motivação com que eu me

preparava para a aula.

Este ano, quando o meu NE definiu quem ficava com que turma, tenho

que admitir que fiquei extremamente satisfeito por não ter nenhum aluno com

necessidades educativas especiais na minha área de ação.

Com o começar das aulas, devido à minha constante presença na

observação das aulas de uma turma com dois alunos com NEE, fui-me

aproximando deles e aos poucos fui perdendo os mesmos receios iniciais.

O primeiro relato que aqui apresento foi retirado do DB, no dia 23 de

setembro e refere-se a uma aula de motricidade de um aluno com NEE que tive

o prazer de assistir:

“ (…) as aulas de motricidade, consistem em aulas individuais para alunos com NEE e

que por isso, potenciam a aprendizagem de modalidades que, de uma forma geral, não

pode ser feita com turmas (…) com um número elevado de alunos. Assim, devido à

curiosidade acrescida por se tratar de um aluno com NEE, aproveitei para vir um pouco

mais cedo para a escola e assistir à aula.

Nesta aula, o Professor, apesar do reduzido material disponível, conseguiu potenciar

ao aluno uma experiência de descida de Rapel com os materiais de Escalada. (...)

Apesar de o aluno se mostrar bastante assustado, e de na primeira descida ter

“bloqueado” um pouco, nas descidas seguintes demonstrou estar a gostar e já ser

capaz de se colocar na posição correta (…).

Por fim o Professor (…) tentou ensinar-lhe o nome de apenas três materiais, o

Boudrier, o Mosquetão e o Oito. (…) o aluno só por uma vez conseguiu identificar os

três. (…) apesar da aprendizagem motora deste aluno ser feita a uma velocidade mais

lenta do que a velocidade de aprendizagem da maioria dos alunos, ele acabou por

realizar corretamente o que se pretendia. Por outro lado, a aprendizagem teórica já se

tornou mais difícil de ser feita. Isso sublinhou (…) a importância redobrada destas

experiências práticas que são possibilitadas nestas aulas individuais”.

Como se percebe facilmente, esta minha primeira interação com um

aluno NEE foi muito suave. Ou seja, devido aos enormes receios e dificuldades

que já referi ter na relação com estes alunos, apenas assisti à aula, não

intervindo diretamente com o aluno. Na altura, sem saber, estava também a dar

195

tempo para que o aluno se habituasse a mim. No caso de ter chegado pela

primeira vez e ter tentado fazer logo imensas interações com o aluno, acredito

que o fracasso estaria muito perto. Assim, ainda que bafejado pela sorte,

acredito que o meu medo inicial foi fundamental para a relação que

posteriormente criei com este aluno.

O segundo relato refere-se a um outro aluno. O “Paulinho” (nome

fictício). Desde já, realço que muito do meu desenvolvimento profissional se

deve a este aluno. O Paulinho é um aluno com deficiência mental, mas que me

foi conquistando como nunca ninguém me tinha feito até hoje na minha vida. A

autenticidade que ele tem não encontrei em mais ninguém.

A minha primeira interação com ele remonta ao dia 27 de setembro de

2011, no momento de uma das suas aulas de motricidade (retirado do DB):

“O Professor estava a jogar à baliza-baliza (1x1) (…) contra o aluno e num momento

em que (…) teve de (…) ir ao WC, pediu para que eu ficasse a jogar um pouco contra o

«Paulinho». E assim foi, apesar de eu ter algumas dificuldades na relação com alunos

NEE, nesta situação, após alguns minutos, já me sentia à vontade. Tão à vontade que

com o passar do tempo me fui abstraindo de tudo e fui aproveitando o momento,

divertindo-me a fazer uma das coisas que mais gosto (jogar futebol). A abstração foi tal,

que comecei a brincar com o aluno, pondo de parte a situação de eu ser um Professor

e ele um aluno. Fui brincando com ele até que no regresso do Professor (…) o

«Paulinho» disse ao seu Professor: «Aquele Professor é maluco!» com um grande

sorriso na cara. Isso fez-me ver que apesar daqueles estereótipos que eu (…) tenho

acerca destes alunos, com mais algum tipo de experiência poderei um dia vir a ser um

ótimo Professor para eles”.

No entanto, foi extremamente difícil fazer com que este aluno confiasse

em mim. Finalmente, quando aconteceu, ao vê-lo, por exemplo, entrar na

piscina, pela primeira vez na sua vida, de mão dada comigo, fui inundado por

um sentimento de realização que até então me era desconhecido. Apresento

de seguida exatamente o momento da primeira entrada do Paulinho na piscina

(18 de janeiro de 2012):

“Na semana passada, tentámos convencê-lo a fazer a aula, mas ele acabou por não

aceitar. Desta vez, e sabendo que esse aluno tem uma boa relação comigo, o

Professor Fernando emprestou-me o seu equipamento e lá fui eu para a piscina. (…)

Quando cheguei à piscina, vi o «Paulinho» sentado no primeiro degrau que lhe dá

acesso, agarrado ao corrimão e absolutamente apavorado. Logo percebi que não ia ser

fácil coloca-lo lá dentro. (…)

Para fazer o «Paulinho» descer todos os degraus, entrei para a piscina e pedi-lhe para

atirar umas bolas que eu ia busca-las e devolvia-lhe. A cada bola que eu lhe devolvia

ele deveria descer um degrau e assim foi, até ao último que ele recusava-se a transpor.

196

Assim, lembrei-me de me colocar dentro de água e medir por onde a mesma me

chegava, depois aproximei-me dele e fi-lo ver que a água quase não lhe iria subir dos

calções. Ainda que a medo, ele lá se deixou convencer e desceu até ao fundo do

tanque (onde a água lhe batia pela bacia) mas sempre agarrado ao bordo.

Depois deste primeiro obstáculo superado, tentei fazer com que ele largasse o

bordo.(…)

Esta aula acabou por ser bastante especial para mim, porque até agora as únicas

experiências que eu tinha tido numa aula de Motricidade a um aluno NEE, tinham todas

elas sido feitas na Escola. Esta aula acabou por me mostrar o vasto leque de

possibilidades que se podem apresentar aos alunos, oferecendo-lhes experiências que,

nalguns casos, poderão nunca mais vir a ser repetidos.

O facto de ter visto o «Paulinho» no início da aula apavorado e agarrado ao corrimão

da piscina, e no final da mesma aula, vê-lo sozinho no meio da piscina a mergulhar a

face e a rir-se, deu-me uma grande sensação de satisfação. Satisfação que apesar de

tudo, ainda não tinha conseguido sentir, com a mesma profundidade, na minha turma.

Como se trata de um aluno NEE, o seu desenvolvimento é mais lento, mas muito mais

saboroso quando atingido. Sem dúvida que esta foi uma das melhores experiências

que tive até ao momento, no decorrer do Estágio”.

Muitas das horas passadas na escola, foram ao lado deste aluno. Mas

nem só no recinto escolar esta relação de confiança se construiu como se pode

verificar pelo seguinte excerto de dia 25 de maio de 2012 aquando do encontro

nacional da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica:

“Ao longo do dia coube-me acompanhar os dois alunos com NEE, o (…) e o Paulinho.

Como a mãe do (…) também foi ao passeio, as minhas principais preocupações

passaram pelo acompanhamento do «Paulinho». Da parte da manhã, aproveitei para

levar o «Paulinho» à praia, uma vez que ele dizia que nunca lá tinha ido. Vê-lo neste

novo ambiente foi extremamente recompensador. Na parte da tarde, levei-o a assistir

aos concertos, algo que o maravilhou, sendo que se agarrou à grade da fila da frente e

nunca mais de lá saiu.

Deixo uma nota final para a falta de noções ambientais dos alunos, uma vez que o local

onde os alunos e professores da nossa escola se instalaram, acabou por ficar bastante

sujo. Eu e «Paulinho» estivemos a apanhar todo esse lixo, e enquanto alguns alunos

iam dizendo algumas “piadas” sobre isso, outros foram-se juntando a nós,

demonstrando que nem todos os alunos são despreocupados com o ambiente”.

As vivências ao lodo do Paulinho foram imensas e olhando agora para

trás, percebo o quanto gratificantes elas foram. Quanto ao Paulinho, as

interações entre mim e ele eram tantas, que alguns dos meus colegas de

estágio já diziam na brincadeira para “eu o levar para minha casa”. A verdade é

que foi ele que me abriu as portas de uma divisão que eu evitava a todo o

custo. Olhava para esta divisão, como uma criança olha para a dispensa de

sua casa que sempre teve a luz fundida e que por isso nunca foi explorada por

197

ela. Na verdade, a criança não tem medo da dispensa nem do escuro. Tem

medo é do desconhecido e bastará abrir a porta e olhar com atenção lá para

dentro, para perceber que no meio de uma divisão com menos luz, podem

estar brinquedos que não se encontram em mais lado nenhum.

A extrema fragilidade quando conciliada com a confiança que depositou

em mim, fez-me sentir alguém especial. O Paulinho foi capaz de transformar

um EP, numa experiência especial e por isso, ficar-lhe-ei eternamente grato. As

suas brincadeiras, a sua forma de correr, o seu equipamento para as aulas de

Educação Física, a sua música preferida do Quim Barreiros e a sua expressão

preferida quando alguém brincava com ele (“já fostes”) nunca serão esquecidos

por mim.

4.3.4. O RESULTADO DO PROCESSO

Sinto que fui capaz de atingir um estado de desenvolvimento profissional

que me permite finalizar o processo de passagem de estagiário para professor.

De facto, ao longo do EP, vi em mim o crescimento de um sujeito autónomo

mas com capacidade de trabalho de grupo, crítico, competente, criativo,

responsável, dinâmico e disponível. Para além disso consolidei o objetivo de

me tornar um professor acessível e próximo dos alunos, demonstrando,

sempre que possível, boa disposição, tranquilidade e interesse pelos mesmos.

A possibilidade de trabalhar perto de pessoas incríveis foi fundamental

para este desenvolvimento. Essas pessoas foram pilares durante cada dia

desta inacreditável experiência e por isso estar-lhes-ei eternamente grato.

Com ajuda destas pessoas, com a vivência de cada experiência e com a

minha busca por um constante desenvolvimento profissional, superei medos,

angústias e dúvidas que me dominaram em diferentes momentos.

Acredito que criei uma identidade profissional que me permite estar

preparado para encarar, no futuro, uma aventura profissional, dessa vez

totalmente independente.

5. CONCLUSÃO E PERSPETIVAS DE

FUTURO

201

5. CONCLUSÃO E PERSPETIVAS DE FUTURO

No decorrer deste longo processo, senti que a mudança foi se

apoderando de mim. O César que iniciou esta viagem é diferente daquele que

a terminou. Acredito certamente que estas diferenças me tornam agora num

profissional melhor, mais apto e com mais vontade de encarar o mundo

escolar.

Para que atingisse este estado de preparação, alguns aspetos vividos ao

longo do EP se demonstraram fundamentais. Para começar refiro a relação

professor aluno. A aposta numa relação próxima acabou por sabotar todas

aquelas ideologias que isolam o professor numa sala de pânica inacessível

para os alunos, remetendo-os a respeitar uma figura tao distante. A

proximidade de relação entre mim e eles foi fundamental para os objetivos que

atingi. O clima de aula que se demonstrou ser sempre muito positivo,

facilitando assim um pouco a minha necessidade de controlo da aula, em muito

foi produto da proximidade entre professor e alunos.

A opção pela criação de um diário de bordo revelou ser para mim o

mesmo que uma bengala é para um coxo. Para mim esta ferramenta tornou-se

indispensável para o meu desenvolvimento. As constantes reflexões que ia

fazendo ao longo das semanas, estão todas elas presentes neste documento.

Assim, foi um documento, onde pude perceber os meus erros, repensar

estratégias, alcançar sucessos e onde pude também criar um suporte

extraordinário para a realização deste Relatório de Estágio.

Por fim, e sem querer menosprezar todos os aspetos vividos ao longo do

EP, sublinho um momento que me permitiu posteriormente atingir um estado

de desenvolvimento que eu sinto ser elevado. Falo do momento em que decidi

implementar o MED durante uma UT. Através deste modelo, o desempenho

dos alunos revelou-se fantástico, os problemas que tinha até então

desapareceram (assiduidade e pontualidade), eu pude através deste modelo

desenvolver a minha capacidade de planeamento e por fim possibilitei uma

experiência que sei que se tornou única para a turma.

202

Aproveito por fim este momento final do relatório para apresentar uma

reflexão acerca da profissão de professor. Esta situação ocorreu no dia 27 de

setembro de 2011 e foi um momento que marcou-me bastante em termos de

perspetivas futuras:

“Após a aula de motricidade o Professor (…) veio falar comigo (…) quis despedir-se de

mim, uma vez que no dia seguinte iria entrar de serviço na EB 2,3 de Paredes (…) O

Professor (…) estava já há dois anos a lecionar na EB 2,3 de Paredes e no final do

último ano letivo, o diretor da escola tinha-lhe dado a ideia de que ele iria ficar por lá

mais um ano e que a partir daí o passo para se tornar efetivo estaria cada vez mais

próximo. No entanto, (…), surpreendentemente percebeu que tinha sido na EB 2,3 de

Sobreira. Apesar de ser relativamente perto uma da outra (…), ele ficou com apenas

meio horário o que se revelou numa diminuição do seu salário. Apesar de insatisfeito e

um pouco desmotivado, o Professor (…) aceitou o desafio (…). Quando já parecia estar

com o seu presente e futuro determinados, o Professor foi contatado pela EB 2,3 de

Paredes porque (…) ele poderia ser chamado para lecionar lá. Esta notícia foi-lhe dada

no dia 25 de setembro e sem certezas de nada continuou a lecionar na Sobreira. Até

que no dia 27 foi contatado definitivamente para aceitar um horário completo em

Paredes. (…)

Tudo isto fez-me pensar bastante no futuro, uma vez que este Professor quando

pensava já ter uma vida estabilizada (últimos anos a lecionar em Paredes), de um

momento para o outro, a sua vida deu uma volta completa e ele teve que se agarrar a

essa nova realidade com unhas e dentes. Isto que na verdade é mesmo um grande

problema para o Professor (…), seria para mim uma ótima solução uma vez que o

Professor apesar de tudo vai sendo colocado nalgum sítio (terminou o curso entre 2003

e 2005). Eu, com 8 anos de atraso comparativamente a ele, sei perfeitamente que terei

longas listas de espera a superar até que um problema/solução como este me bata à

porta”.

Como se percebe as minhas perspetivas futuras não sou muito positivas,

mas um pouco à imagem do que o meu pai me transmite, a ideia não é

alcançar tudo de uma vez. Primeiro terminei o secundário, depois a licenciatura

e agora o mestrado. Sem dúvida que era ótimo poder já a trabalhar como

professor efetivo, mas todos nós sabemos que isso não vai ocorrer.

Mesmo que nunca venha a trabalhar na minha área de formação, o

curso superior nunca terá sido uma perda de tempo. Tornei-me numa pessoa

que nunca seria se tivesse percorrido outros caminhos. As pessoas que me

conhecem vão sendo cativadas por mim e pela minha vontade de lutar.

O futuro não é claro, mas o caminho faz-se caminhando…

6. REREFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

205

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agrupamento de Escolas da Sobreira. (s.d.). Escola EB 2,3 de Sobreira. Obtido

em 10 de julho de 2012, de Web Site do Agrupamento de Escolas da

Sobreira: http://agsobreira.gotdns.org/portal2/index.php

Agrupamento de Escolas do Torrão. (2011). Questionário Hábitos de Higiene.

Alcácer do Sal: Escola Básica Bernadim Ribeiro.

Alarcão, I. (2001). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed

Editora.

Cardoso, M. I. (2009). O contributo do estágio pedagógico para o

desenvolvimento da profissionalidade dos docentes de Educação Física

– a perspetiva do estagiário. Dissertação apresentada com vista à

obtenção do 2º Ciclo em Desporto para Crianças e Jovens. Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto.

Carrasco, J. F. (1985). Como Avaliar a Aprendizagem. Madrid: Edições ASA.

Cavaco, M. H. (1990). Retrato do Professor enquanto jovem. Revista Crítica de

Ciências Sociais . (pp. 121-139).

Cerqueira, S. P. (2009). O Bem-estar Subjetivo e a Prática Desportiva em

alunos com Necessidades Educativas especiais. Porto: Monografia de

Licenciatura apresentada à Faculdade Desporto da Universidade do

Porto.

Costa, F. C (1983). A Selecção de Estratégias de Encino em Educação Física.

Condicionantes para o seu tratamento experimental. (pp. 35-52). Cruz

Quebrada: ISEF.

Costa, M. T. (1919). Higiene Escolar. Exame otológico nas escolas primárias.

Porto: Empresa gráfica A UNIVERSAL.

Couto, R. A. (2010). Relatório de Estágio profissional. Porto: FADEUP.

Cunha, A. C. (2007). A Educação Física em Portugal. Os Desafios na

Formação de Professores. (pp. 95-104). Porto: Jardim do Tabaco.

Cunha, A.C. (2008). Ser Professor - Bases de uma Sistematização Teórica.

Braga: Casa do Professor.

206

Cunha, M. I. (1988). A Prática Pedagógica do "Bom Professor" - Influências da

sua Educação. São Paulo: Tese de douturamento apresentada à

Universidade Estadual de Campinas.

Ferreira, J. P. (2005). A Importância da Motivação nas Aulas de Educação

Física: Estudo com Alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico. Covilhã:

Universidade da Beira Interior.

Gomes, A. Á. (2011). Comportamentos de higiene e ocorrência de diarreia em

adolescentes. Porto: FMUP.

Goodfellow, J (2000). Knowing from the Inside: reflective conversations with

and through the narratives of one cooperating teacher. Reflective

Practice, (pp. 25-42).

Graça, A. B. (1997). O Conhecimento Pedagógico do Conteúdo no Ensino do

Basquetebol. Porto: Tese de Douturamento apresentada à Faculdade de

Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto.

Graça, A. (2001). Breve roteiro da investigação empírica na pedagogia do

desporto: a investigação sobre o ensino da educação física. Revista

Portuguesa de Ciências do Desporto, (pp. 104-113).

Graça, A. & Mesquita, I. (2009). Pedagogia do Desporto: Modelos instrucionais

no ensino do desporto. Lisboa. Edições FMH.

Hynes-Dusel, J. M. (1999). Cooperating Teachers’ Perceptions about the

Student Teaching Experience [Versão eletrónica], (pp.179-195). The

Physical Educator.

Lereno, A. L. (2009). Preparando as próximas gerações para as epidemias do

futuro: um estudo sobre os hábitos de higiene dos jovens do concelho da

Maia. Porto: ICBAS - Universidade do Porto.

Maia, J. T. (2003). Objetivos de realização, Perceção de Competência,

Motivação Intrínseca face à Educação Física e Intenção para Praticar

Desporto. Porto: FDEF.

Matos, Z. (2011). Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de

Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário da FADEUP. Documento não

publicado. FADEUP.

207

Matos, Z. (2011). Regulamento da Unidade Curricular Estágio Profissional do

Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da FADEUP.

Documento não publicado. FADEUP.

Medeiros, V. (2005). O Valor da Atividade Física nos Jovens – O caso da Ilha

Terceira, (pp. 4-25). Faculdade de Ciências de Desporto de Educação

Física da Universidade do Porto. Porto.

Ministério da Educação. (s.d.). Gabinete de Educação e Planeamento da

Educação. Obtido em 6 de Julho de 2012, de Sistema Educativo:

http://www.gepe.min-edu.pt/

Ministério da Educação. (2011). Programa de Educação Física 2º Ciclo. Lisboa:

Departamento da Educação Básica.

Ministério da República. (s.d.). Regime Júridico da Formação Contínua de

Professores. Obtido em 11 de julho de 2012, de

http://www.prof2000.pt/users/cfeci/cfeci72.htm

Monteiro, I. C. (2010). A Atividade Física e Desportiva de Alunos com

Necessidades Educativas Especiais. Que Realidade? Estudo realizado

em alunos do 3º ciclo do ensino básico e secundário. Porto: Dissertação

de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade de

Desporto.

Nações Unidas. (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de

dezembro.

O banho ou duche e a aula de Educação Física. (13 de Outubro de 2007).

Obtido em 15 de Abril de 2012, de Escola Secundária de Latino Coelho

Projeto "Educação para a Saúde": http://escolalatinocoelho-

escolasaudavel.blogspot.pt/

Oliveira, S., Sá, M., Ferreira, A., & Santos, C. (Outubro de 2009).

Adolescência...«Idade da Parvalheira»?!? Obtido em 15 de Julho de

2012, de adolescentenet: http://adolescentenet.blogspot.pt/

Osunde, E. O. (1996). The Effect on Student Teachers of The Taching

Behaviors of Cooperating Teachers [Versão eletrónica]. (pp. 612-618).

208

Pereira, M. (10 de Novembro de 2007). O banho após a atividade física. Obtido

em 15 de Abril de 2012, de Centro de Competência CRIE da Beira

Interior: http://www.anossaescola.com/

Portela, A. J. (2009). Perceção de Estudantes Estagiários relativamente à

Avaliação em Educação Física, quanto ao Género e à Modalidade

Desportiva. Porto: Dissertação de mestradoapresentada à Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto.

Reis, I. (2010). Manual de Primeiros Socorros: Situações de Urgência nas

Escolas, Jardins de Infância e Campos de Férias. Direção-Geral de

Inovação e de Desenvolvimento Curricular.

Rief, S. F., & Heimburge, J. A. (2000). Como Ensinar Todos os Alunos na Sala

de Aula Inclusiva: Estratégias Prontas a Usar, Lições e Atividades

Concebidas para Ensinar Alunos com Necessidades de Aprendizagem

Diversas - I Volume. (pp. 35-41). Porto: Porto Editora.

Rodrigues, D. B. O Pensar Reflexivo: Uma Análise à Luz de John Dewey.

Brasil: UFPI.

Rodrigues, E. A. (2009). Supervisão Pedagógica: Desenvolvimento da

autonomia e da capacidade reflexiva dos estudantes estagiários. Porto:

Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto.

Salsinha, H. (2011). Influência do Contexto Familiar no Desenvolvimento

Vocacional de Crianças e Adolescentes. Lisboa: FPUL.

Santos,L. F. (2003). (Des)Motivação dos Alunos para as Aulas de Educação

Física - um estudo realizado nas Escolas Secundárias de Gondomar.

Universidade da Beira Interior. Covilhã.

Schön, D. (1987). Educating the Reflective Practitioner. Toward a New Design

for Teaching and Learning in the Professions. São Francisco: Jossey

Bass.

Sêco, J. (1997). Chamados pelo nome: Da importância da afetividade na

educação da adolescência. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.

Siedentop, D. (1991). Developing teaching Skills in Physical Education. (pp.

184-205). Ohio: Mayfield Publishing Company.

209

Sousa, C. M. (2008). A Vinculação aos Pais, Par Romântico e Amigos e o

Desenvolvimento Vocacional. Porto: FPCE.

Vickers, J. N. (1990). Instruction design for teaching physical activities: a

knowledge structures approach. (pp. 53-189). Champaign, Illinois:

Human Kinetic Books.

World Health Organization. (2012). Obtido em 25 de Junho de 2012, de

http://www.who.int/en/

7. ANEXOS

XXV

7. ANEXOS

7.1. - ANEXO 1 – INQUÉRITO UTILIZADO NO ESTUDO “HÁBITOS DE HIGIENE NA AULA

DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O CASO ESPECÍFICO DO DUCHE”

Este inquérito visa perceber o que se pode fazer para melhorar o bem-estar dos alunos durante o período

escolar.

Pretende-se que cada aluno seja o mais sincero possível, porque assim estará ajudar tanto o Professor,

como a vossa escola e ainda vocês e os vossos colegas mais novos.

Desde já agradeço a vossa colaboração.

1) Coloca um círculo na letra da alínea correspondente à resposta à resposta que mais se assemelha com o

teu dia-a-dia.

1.1 Tomas banho:

a) Todos os dias.

b) Duas vezes por semana.

c) Uma vez por semana.

1.2 Lavas o cabelo:

a) Quando está muito sujo.

b) Todos os dias.

c) Uma a duas vezes por semana.

1.3 Mudas de roupa interior

a) Todos os dias.

b) Quando está suja.

c) No fim-de-semana.

1.4 Lavas as mãos

a) Sempre que como.

b) Sempre que se justifique.

c) De manhã e à noite.

1.5 Usas desodorizante

a) Todos os dias, de manhã e depois do banho.

b) Sempre que transpiro.

c) Quando sinto que estou a cheirar mal.

1.6Lavas os dentes

a) Nunca lavas.

b) De manha e à noite.

c) De manhã, depois de comer e à noite.

2) Coloca uma cruz na resposta que mais se assemelha com o que acontece depois das aulas de Educação

Física.

Depois da aula de Educação Física Sim Não

Tomas banho completo?

Lavas o cabelo?

Usas desodorizante?

Lavas as mãos?

Trocas de roupa interior?

XXVI

3) Coloca um círculo na letra da alínea correspondente à resposta que melhor se identifica contigo.

3.1 Quando foi a última vez que tomaste banho nos balneários da escola?

a) Este ano.

b) No ano passado.

c) No 5º e 6º ano.

d) Nunca.

3.2 Porque não tomas banho nos balneários da escola?

a) Não há água quente.

b) Tenho vergonha.

c) Não tenho tempo suficiente para tomar banho.

d) Outras razões. Quais são as outras razões? (No caso de referirem “falta de condições” digam

concretamente do que falam).

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

_________________________________________

3.3 Se os aspetos que referiste anteriormente forem melhorados, ponderas vir a tomar banho depois da

aula de EF?

a) Sim.

b) Não.

3.4 Dá uma sugestão do que poderá ser feito, para melhorar o problema que referiste anteriormente

para que no futuro possas tomar banho na escola.

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

__________________________

3.5 Que cuidados de higiene tens depois de uma aula de EF em que não tomas banho?

a) Utilizo desodorizante.

b) Utilizo toalhetes.

c) Passo o cabelo por água.

d) Lavo a cara e as mãos.

e) Nenhuns.

4) Se por acaso necessitar de prosseguir este inquérito com uma entrevista, estás disponível?

a) Sim

b) Não