reflexÃo Á cerca do ensino na instituiÇÃo escolar

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1 FECILCAM - FACULDADE ESTADUAL DE CIENCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO ANE CAROLINE DA SILVA EDILENE ALESSANDRA GIL REFLEXÃO Á CERCA DO ENSINO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

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RELATÓRIO CIENTÍFICO DE ESTAGIO DE 1° ANO DO CURSO DE PEDAGOGIA

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FECILCAM - FACULDADE ESTADUAL DE CIENCIAS E LETRAS DE CAMPO

MOURÃO

ANE CAROLINE DA SILVA

EDILENE ALESSANDRA GIL

REFLEXÃO Á CERCA DO ENSINO

NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

CAMPO MOURÃO

2009

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ANE CAROLINE DA SILVA

EDILENE ALESSANDRA GIL

REFLEXÃO Á CERCA DO ENSINO

NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Relatório Científico apresentado à Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão - FECILCAM, como parte dos requisitos para aprovação na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado do 1º ano do curso de Pedagogia noturno.

Orientadora: Wanessa Gorri de Oliveira.

CAMPO MOURÃO

2009

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AGRADECIMENTOS

Aos nossos colegas de equipe; Ana Paula, Valéria e Marcos; pelos momentos de

aprendizagem constante e pela amizade solidificada, ao longo deste trabalho, que,

certamente se eternizará.

Aos professores, especialmente à Professora Wanessa Gorri de Oliveira e ao

Professor Richard André, pela contribuição, dentro de suas áreas, para o

desenvolvimento de nosso relatório científico, e, principalmente pela dedicação e

empenho que demonstraram no decorrer de suas atividades para com o grupo e

com a sala.

À todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram para que este trabalho

consiga atingir aos objetivos propostos.

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RESUMO

Este relatório científico, elaborado a partir de uma pesquisa empírica, tem como

objeto de estudo a observação participante feita em uma escola municipal localizada

em Campo Mourão - PR, abrangendo a 3ª série do ensino fundamental e alguns

elementos da instituição escolar no que se refere a sua estrutura física, a relação

escola-professor-aluno e as atividades dentro e fora da sala de aula. Realizamos

essa pesquisa social a partir de observações participantes, coletas de depoimentos,

entrevistas estruturadas e coletas de documentos. A partir dos dados coletados,

tecemos uma reflexão sobre os processos de ensino-aprendizagem, com o propósito

de explicar a atuação da escola e dos professores de hoje, que podem reproduzir

um sistema de formação ideológico que privilegia o mercado de trabalho,

concomitantemente contribuindo para a reprodução das relações de produção

capitalista. Utilizamos como pressupostos teóricos os apontamentos de Althusser

(1985); Meksenas (2002) e Jean Piaget ao olhar de Barros (1996). O estudo mostrou

que a instituição não esta somente reproduzindo ideologias, esta também buscando

meios para que seja possível uma educação transformadora.

Palavras-chave: pesquisa social. ensino-aprendizagem. capitalismo.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIE Aparelho Ideológico do Estado

LDBN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

PPC Proposta Política Curricular

PPP Projeto Político Pedagógico

RE Regimento Escolar

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................7

2 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA INSTITUIÇÃO OBSERVADA.........................8

3 A PROPOSTA DE ENSINO NA INSTITUIÇÃO..............................................................9

3.1 A INFUÊNCIA DO APARELHO IDEOLÓGICO DO ESTADO NA INSTITUIÇÃO

ESCOLAR...........................................................................................................................11

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................................17

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................18

REFERÊNCIAS......................................................................................................................20

APÊNDICE..............................................................................................................................21

ÍNDICE DE AUTORES..........................................................................................................22

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Essa pesquisa social foi feita, a partir de um Estágio Curricular

Supervisionado, em uma escola municipal na cidade de Campo Mourão - PR. Num

primeiro momento procuramos observar, dentro de nossas condições, a sua

totalidade no que diz respeito à estrutura física e a interação entre professores,

coordenação pedagógica, alunos e família. Posteriormente focamos as nossas

atenções para uma classe de 3ª série do Ensino Fundamental, sendo essas duas

ocasiões indispensáveis para levantarmos nossos questionamentos e

apontamentos.

O objetivo geral foi compreender como se desenvolve o processo de ensino-

aprendizagem em uma instituição escolar, tendo em vista que esta se encontra

inserida dentro das relações de trabalho estabelecidas pelo sistema vigente, o

capitalismo.

Abordamos nesse relatório, como a pesquisa social pode contribuir para a

compreensão das relações de trabalho que se materializam no processo de ensino-

aprendizagem?

Dentro da instituição, foi possível observarmos, que as ações que visam à

formação de um indivíduo crítico e participativo na sociedade se mesclam com as

ações que projetam o mesmo para comungar com a alienação existente,

despertando, portanto em nós uma vontade maior de se prepararmos corretamente

para que possamos contribuir de forma positiva no complexo e progressivo processo

de formação de indivíduos.

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2 ALGUMS DADOS QUE CARACTERÍZAM A INSTITUIÇÃO OBSERVADA

A instituição se encontra em um bairro que faz ligação entre as várias regiões

da cidade de Campo Mourão - PR e se situa em frente a uma avenida muito

movimentada, porém com sinalizações de transito adequadas. Agrega alunos de

diversas localidades e alguns permanecem em período integral.

A mesma funciona em um prédio de dois andares e existe somente escadas

para o acesso no segundo andar, a cozinha é bem estruturada e foi recentemente

reformada, a biblioteca é pequena, o parquinho para as crianças menores é cercado,

e a quadra de esportes com aparência bem cuidada e com capacidade para

comportar os alunos matriculados.

Em sentido geral as crianças que ali estudam são provenientes de famílias de

classe baixa, como nos informou a orientadora pedagógica da instituição, e também

são afetivamente muito carentes, como percebemos, e em específico na classe

observada os alunos se mostram bastante participativos, interessados e

observadores de tudo o que acontece no mundo ao seu redor.

A interação dos funcionários e alunos é aparentemente boa, obviamente que

vimos e consideramos alguns problemas existentes que enfocaremos a seguir, mas

a instituição é um ambiente no qual contribuiu muito nesse início de nossa formação,

sendo o nosso primeiro contato como educadoras com um ambiente escolar,

possibilitou que percebêssemos como ocorre esse progressivo e infinito processo de

ensino-aprendizagem.

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3 A PROPOSTA DE ENSINO NA INSTITUIÇÃO

No início do período da observações nós estabelecemos alguns caminhos a

serem percorridos para que houvesse um melhor aproveitamento do tempo, então

decidimos primeiramente fazer a leitura dos seguintes documentos: Proposta

Política Curricular - PPC e o Regimento Escolar - RE , posteriormente a entrevista

estruturada (Apêndice) direcionada para a pedagoga e por fim as observações em

sala de aula e na instituição em geral.

Com a autorização da diretora a pedagoga da instituição nos forneceu, para a

leitura de documentos, a Proposta Política Curricular e o Regimento escolar

permitindo-nos a transcrever algumas citações para contribuir em nossa pesquisa.

Iniciamos lendo o PPC (2007) e em sua apresentação a instituição propõe

uma educação transformadora

[...] sendo esta libertadora, crítica e humanitária, oportunizando ao educando um conhecimento científico, político e cultural, visando formar um cidadão consciente de seus direitos e deveres, preparando-o para a vida. Um indivíduo capaz de interagir com o outro e com o meio ambiente de forma equilibrada, onde prevaleça o respeito e a dignidade humana. (PPC, 2007, p.4)

A partir dessa citação observamos que a instituição vem tentando fazer com

que os alunos interajam com o meio ambiente e tenha um conhecimento

progressivo, conscientizando-os a ter uma visão crítica de mundo através de aulas

expositivas e materiais didáticos que proporcionam reflexão. Estávamos

especificamente na semana da pátria e presenciamos a conscientização feita

através de discursos de professores e da diretora a cerca de assunto como, por

exemplo, respeitar a pátria e cantar o hino nacional brasileiro.

Porém existem também algumas imperfeições quando se diz ter como meta

trabalhar com a diversidade humana, respeitando as potencialidades, limitações e

especificidades de cada indivíduo, pois são a favor de uma sociedade sem exclusão

social.

Percebemos que muito se fala de inclusão social na instituição e em

contrapartida a sala em que fizemos a maior parte das observações se localiza no

segundo andar, e para se ter acesso existe somente uma escada. Como falar de

inclusão social se não existem rampas de acesso para a sala da 3ª série? Como irão

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matricular alguém que tenha alguma necessidade especial como, por exemplo,

deficiência física?

Quanto à metodologia de trabalho indicada no PPC (2007), consta uma

proposta de trabalho interdisciplinar e a observação das ações das crianças, na

intenção de problematizar suas intenções, intervindo para que reflitam sobre o

conhecimento.

Segundo Fazenda (1993,p.22) ”[...] a interdisciplinaridade pode ser

compreendida como sendo um ato de troca, de reciprocidade entre as [...] áreas do

conhecimento.”

E graças a essa reciprocidade entre as disciplinas é possível trazer

motivações para os alunos terem prazer em estudar, pois essa ligação entre as

disciplinas proporciona um conteúdo com maior consistência e mais próximo da

prática dos alunos. Não podemos considerar o ensino de forma fragmentada, já que

os fenômenos sociais nunca ocorrem de maneira isolada.

Ou seja, trabalhar de forma interdisciplinar é muito importante, porém na

instituição observamos que isso não ocorre na prática. Os professores passam os

seus conteúdos como se fosse algo especifico de sua matéria apenas, não fazendo

relação nenhuma com a interdisciplinaridade.

No que diz respeito à concepção de desenvolvimento humano, infância e

ensino-aprendizagem é citado que a aquisição de conhecimento, desenvolvimento e

aprendizagem são processos que se articulam na constituição do ser humano. E não

há uma concepção única de infância, a diversidade dessa concepção é diretamente

influenciada pela forma que a sociedade se relaciona com a criança, ou seja, a

ideologia transmitida pela sociedade é que forma a infância.

Após a leitura do PPC nos concentramos na leitura do RE, tivemos a

oportunidade de comparar o RE (2002) com o RE (2009) vigente, pois a pedagoga

nos forneceu os dois alertando que poderíamos observar o aumento da qualidade do

documento. E nessa comparação vimos que os direitos dos alunos tem aumentado

de forma desproporcional se comparado com os deveres. No atual RE (2009) são

colocados 12 direitos dos alunos, entre eles, ser respeitado por seus educadores e

ter acesso a escola pública e gratuita. Já os deveres são 7, e entre eles, executar as

tarefas escolares e estudar; cooperar na manutenção da higiene e na conservação

das instalações escolares e manter uma atitude ética na escola e na comunidade.

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Isso se mostra importante, pois repassam para os alunos alguns valores que

contribuam para uma boa convivência dentro da sociedade, promovendo de forma

implícita um inicio de conceito de cidadania que, segundo Dimenstein (1999), é uma

palavra que possui vários sentidos “[...] mas hoje, significa em essência, o direito de

viver decentemente.” (1999, p.29). Mas para isso é preciso respeitar o próximo,

considerando os direitos e deveres de cada um.

No que diz respeito a uma das 12 proibições aos alunos contidas no RE

(2009) vigora-se que é proibido “entrar e sair da sala de aula sem permissão do

professor” (p.67), porém há um aluno com hiperatividade, controlada pelo uso de

medicamento, que entra e sai da sala de aula sem a permissão do professor e não é

tomada nenhuma atitude em respeito a essa ação, ou seja, nem tudo o que esta

documentado é fácil de concretizar por meio da prática.

Quanto aos direitos e deveres dos pais é percebido que os pais tem alguns

direitos que nem eles mesmos sabem que possuem como, por exemplo, “contestar

os critérios avaliativos” (p.70). E nem todos os deveres são cumpridos, há um que

diz “comparecer a este estabelecimento quando solicitado.” (p.70). E foi afirmado

pela coordenação pedagógica que muitos pais não comparecem quando solicitados.

E é bem nessa ocasião que a escola joga a culpa de indisciplina dos alunos

nas costas dos pais, pois afirmam que quem tem que educar e dar exemplos de

valores morais é em primeiro lugar a família.

3.1 A INFUÊNCIA DO APARELHO IDEOLÓGICO DO ESTADO NA INSTITUIÇÃO

ESCOLAR

Durante o período de observações participante na instituição, percebemos

que a criança se situa entre a presença do Aparelho Ideológico do Estado familiar e

escolar, sendo que, em ambas há também a atuação do AIE religioso. Segundo

Althusser existem vários AIE, - os religiosos, os escolares, os familiares, os jurídicos,

os políticos, os culturais, etc. - e eles se encarregam de convencer ideologicamente

os indivíduos a reproduzirem as condições de produção, os meios de produção e a

dicotomia existente da força de trabalho para manter estático o atual sistema

capitalista e continuar com as explorações de trabalho, na qual o proletariado

sempre deverá fazer um trabalho braçal enquanto a burguesia mantém-se

cristalizada na sua posição politicamente hierárquica.

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Não estamos, de maneira alguma, negando a religião, pois seus valores e

crenças são pertinentes para uma vida civilizada, com respeito e tolerância em

relação aos outros indivíduos. Segundo Meksenas (2002, p.64) “Não sendo possível

hierarquizar ciência e religião, admitimos que ambas são validas como atividade que

explicam e interpretam o mundo natural e o social, utilizando para isso modos

diferentes de fazê-lo.”. Ou seja, os mitos, crenças e práticas da religião, mesmo não

sendo comprovado cientificamente, jamais podem ser hierarquizado com o

conhecimento cientifico, sendo ambos os conhecimentos válidos e verdadeiros.

Mas o que nos chamou a atenção durante as observações, foi à tentativa de

incumbir a ideologia do cristianismo nas crianças. Isso foi observado na sala de aula

por praticarem o chamado “minuto do silencio” no qual agradecem a Deus pelo dia,

pela saúde, pela família, pela escola, etc. E também por colocarem dentro da sala

músicas religiosas.

O processo de ensino-aprendizagem vem se desenvolvendo dentro da

instituição escolar de maneira ideológica, reproduzindo as relações de produção

incumbidas pelo sistema, a fim de proporcionar que nunca acabem as relações de

exploração capitalista.

Althusser (1985) diz em seu livro Aparelhos Ideológicos de Estado que o AIE

dominante é a escola, pois,

[...] ela se encarrega das crianças de todas as classes sociais desde o Maternal, e desde o Maternal ela lhes inculca, durante anos, precisamente durante aqueles em que a criança é mais “vulnerável”, espremida entre o aparelho de Estado familiar e o aparelho de Estado escolar, os saberes contidos na ideologia dominante (o francês, o cálculo, a história natural, as ciências, a literatura) ou simplesmente a ideologia dominante em estado puro (moral, educação cívica, filosofia). Por volta dos 16 anos, uma enorme massa de crianças entra na “produção”, são operários ou pequenos camponeses. Uma outra parte da juventude escolarizável prossegue: e, seja como for, caminha para os cargos dos pequenos e médios quadros, empregados, funcionários pequenos e médios, pequenos burgueses de todo o tipo. Uma última parcela chega ao final do percurso, seja para cair num semi-desemprego intelectual, seja para fornecer além dos “intelectuais do trabalhador coletivo”, os agentes da exploração (capitalistas, gerentes) os agentes de repressão (militares, policiais, políticos, administradores) e os profissionais da ideologia (padres de toda a espécie, que em sua maioria são “leigos” convictos). (ALTHUSSER, 1985, p.79, grifos do autor)

Logo, entendemos que Althusser (1985) acredita que grande parte da

ideologia que é transmitida para a criança se faz no ambiente escolar, porque é lá

que ela permanece durante aproximadamente 5 dias por semanas e de 4 a 8 horas

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por dia, e por ser um período da vida do ser humano em que esta mais vulnerável

as aceitações transmitidas pela ideologia dominante, é facilmente coagido pela

instituição e todos os membros que estão dentro dela, incluindo os professores e os

amigos. Isso pode colaborar para que a educação seja alienante e meramente

reprodutiva para que se mantenham a hierarquização entre trabalho manual e

trabalho intelectual. Porém isso tudo não isenta que a ideologia seja repassada pela

classe dominante através também dos outros AIE.

Isso é uma das várias causas que permeiam a dicotomia entre trabalho

intelectual e manual, já que, a elite tem como prioridade manter a sua posição na

hierarquização existente na divisão das classes sociais.

Segundo Meksenas (2002), para conseguirmos superar essa dicotomia é

fundamental que o professor tenha em sua formação a prática da pesquisa social,

pois isso associado com o ensino irá permitir que se abram leques de oportunidades

para duvidar das causas dos atuais problemas educacionais e também para deixar

perder de vista a ênfase da sociedade em tratar a educação como uma mercadoria

que proporcionalmente aliena muitos educadores a ponto de se interessarem

somente pelo mercado de trabalho, assim a pesquisa contribuirá para a construção

de uma educação menos capitalista e mais transformadora.

Na citação abaixo Meksenas (2002) alega que é preciso lutar contra a

pedagogia única, podemos entender que se refere ao medo que educadores têm de

alterar o seu método pedagógico e o mesmo fracassar, por isso os mantém

cristalizados, não produzindo pensamentos críticos e apenas reproduzindo

conhecimentos inquestionáveis.

Meksenas (2002) diz:

Quando lutamos por fazer pesquisa e fazer educação escolar aspirando à construção de democracia,o primeiro passo é lutar contra a hierarquização entre trabalho manual e intelectual, e contra o método único, a reforma única, os procedimentos únicos, enfim, contra a pedagogia única. É preciso seguir a direção inversa: valorizar os espaços públicos de debate da escola pública já existente na sociedade; lutar por uma carreira docente regulamentada nacionalmente, que dignifique o professor; lutar por fazer ciência e pesquisa de modo indissociável do processo de sua socialização na educação escolar. (2002, p.27, grifos do autor)

Se comparado esse contexto com a realidade observada no estágio curricular

supervisionado, percebemos que é real a luta de classes existente na sociedade e

sucessivamente a dicotomia da educação junto a não democracia escolar.

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Durante a entrevista estruturada direcionada à coordenação pedagógica foi

feito a seguinte pergunta (Apêndice 1) : Qual o tipo de gestão que existe na escola e

qual é a sistemática de tomadas de decisões?

A resposta foi, “Não há excesso de burocracia, o tipo de gestão existente

atualmente é democrática e as decisões são tomadas em conjunto.”

Essa frase foi contraditória a todas as observações feitas porque na verdade

existe muita burocracia e as decisões são ostentadas somente pela diretora que é

extremamente autoritária. Foi aqui que intuímos a existência da ideologia, aplicada

pela escola, sobre os indivíduos da sociedade em geral.

Apesar de darmos ênfase á influência dos AIE dentro da escola, observamos

também aspectos e iniciativas que vão ao encontro a uma educação transformadora

que estabeleça uma boa relação entre aluno-escola-família que, para ter sucesso e

proveito, necessita que ambas as partes envolvidas se ajudem reciprocamente.

Essa relação precisa ser cultivada fora das reuniões bimestrais ou semestrais

que visam apenas mostrar resultados obtidos ou a falta deles e essa situação faz

com que se crie uma situação na quais ambos os lados se culpam e se delegam as

funções de educar e formar, criando por fim uma situação na qual quem sofrerá as

conseqüências será somente o aluno.

A iniciativa que citamos acima partiu da professora que leciona a disciplina de

Psicomotricidade, disciplina esta que busca equilibrar o desenvolvimento mental e

físico da criança. Conduzidos pela professora os alunos cultivam uma horta, esta

produzindo hortaliças, folhas e vegetais, todos orgânicos; a mesma é cultivada em

uma parte disponível do pátio escolar, e a partir do momento em que começaram a

desenvolver esse projeto na escola, os alunos são incentivados pela professora a

também cultivarem uma horta em suas casas e com a ajuda da família, esta atitude

possibilita uma maior aproximação entre pais e filhos e dá a estes a possibilidade de

trocarem experiências, e a divisão de responsabilidades como propôs Piaget

segundo Barros (1996), se torna gratificante. Dentro da classe observada,

constatamos que muitos alunos cultivaram a sua horta com a ajuda dos pais, e

demonstram grande contentamento ao comentar seus progressos.

De acordo com Paro (2000, p.15), um dos erros da escola acontece “[...]

porque não tem dado a devida importância ao que acontece fora e antes dela, com

seus educandos.”, esse desligamento que acontece quando o aluno sai das

dependências escolares, impede a continuação do processo iniciado dentro da

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escola, porque muitos pais por si só não dispõe de preparo para lidar com os filhos

em suas diversas fases de desenvolvimento.

A nossa observação procedeu de forma mais próxima com alunos

matriculados na terceira série do ensino fundamental, com idades entre 8 e 9 anos,

e de acordo com Barros (1996), Jean Piaget psicólogo suíço, que estudou o

desenvolvimento das habilidades cognitivas do ser humano, em especial das

crianças, ele esquematizou em quatro fases este processo de desenvolvimento,

sendo elas a sensório-motor que vai de 0 a 2 anos, é nesta fase que a criança

adquire controle motor e aprende sobre os objetos físicos que a rodeiam; pré-

operacional, dos 2 aos 7 anos, a criança nesta fase procura conseguir habilidade

verbal; operações concretas atinge dos 7 aos 12 anos, já nesta fase a criança

começa a lidar com alguns conceitos abstratos como os números e

relacionamentos, e por fim o estágio das operações formais, dos 12 anos em diante,

nesse estágio a criança dá inicio a uma transição para a maneira adulta de pensar,

sendo capaz de pensar sobre idéias abstratas. De acordo com Barros (1996), Piaget

chegou até estas fases depois de observar minuciosamente crianças, dentre essas,

estão seus filhos; as crianças observadas dentro da instituição escolar se encontram

no terceiro estágio, o das operações concretas; nesta idade:

[...] as operações mentais da criança ocorrem em resposta a objetos e situações reais. A criança usa a lógica e o raciocínio de modo elementar, mas os aplica apenas na manipulação de objetos concretos. (BARROS, 1996, p.61)

Ou seja, absorvem com maior facilidade o que se materializa para elas e

possuindo a devida compreensão dessas fases dentro do processo de

desenvolvimento, cabe também ao professor encontrar maneiras que façam com

que esta criança se desenvolva mediante as potencialidades de sua idade, e

entendemos que a iniciativa do cultivo da horta, além de promover a aproximação da

família com a escola, também dá possibilidade para este desenvolvimento, “[...] As

crianças devem ocupar-se com atividades apropriadas e não apenas em sentar-se e

escutar ou observar os outros [...]”(BARROS, p.63).

Neste sentido não seria coerente e nem correto, colocarmos de lado, o ensino

adquirido em sala de aula, mas sim exemplificarmos, que a associação entre prática

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e teoria, é possível, e que somente a partir desta junção, um ensino igualitário e

qualitativo será possível.

A escola tem como função contribuir para a formação e preparação de

indivíduos capacitados para a vida, mas o que se pode perceber nitidamente é que o

ensino tem se tornado utilitarista, preparando apenas indivíduos capacitados para o

competitivo mercado de trabalho; essa forma de educar faz com que os interesses

capitalistas se tornem legítimos, devido à necessidade que os indivíduos possuem

de sobreviver. A criança precisa aprender não só a lutar por seus ideais, mas

também se conscientizar da sua inserção na sociedade, de modo que essa

conscientização faça com que ela se torne um ser atuante e diferenciado.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o objetivo de identificar alguns elementos da instituição escolar no que

se refere ao processo de ensino-aprendizagem, realizamos essa pesquisa social a

partir de observações participantes, coletas de depoimentos, entrevistas

estruturadas e coletas dos seguintes documentos: Proposta Política Curricular e

Regimento Escolar.

Faz-se necessário esclarecer que ao realizar a observação participante,

segundo Severino (2007), devemos interagir e acompanhar todas as ações

praticadas pelos sujeitos, registrando descritivamente todos os detalhes e jamais

intervindo em seus atos.

Durante as observações foi necessário, devido ao curto período de 20 horas,

designar e planejar os aspectos que seriam mais relevantes para essa pesquisa,

enfocando a estrutura física da instituição, a interação entre professores-diretora-

pedagoga, as relações entre aluno-escola-família e também o processo de ensino-

aprendizagem, não somente dentro da sala de aula e sim na totalidade da

instituição.

Com o intuito de complementar os dados coletados dentro das observações

participantes, e em seguida registrados para posterior análise, elaboramos uma

entrevista estruturada e direcionamos à pedagoga da instituição,visando

estabelecer paralelos entre o que foi possível observar, e o que se coloca como

base para que ela desenvolva seu trabalho.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível concluirmos até o presente momento, através do que nossa

pesquisa nos possibilitou, que a instituição escolar dentro de sua práticas pode estar

caminhando em sentido contrário ao que foi teorizado, o artigo 2 da LDBN- 9394/96

diz que: “A educação [...] tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,

seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” No

que tange o desenvolvimento para o exercício da cidadania, a escola pode estar

deixando a desejar devido ao seu já anteriormente citado caráter de ensino

utilitarista, dando ênfase apenas em qualificar os alunos para o mercado de trabalho,

e como conseqüência a mesma pode se tornar apenas mais um reprodutor de

ideologias e também das reações de produção e exploração que existem e

perduram no sistema capitalista.

O não desenvolvimento do exercício da cidadania, que abrange desde o

momento em ter direito de viver decentemente até o direito de ter e conhecer seus

direitos e deveres como cidadão, na escola se dá neste instante, pois a noção de

cidadania é extremamente importante para a formação de indivíduos críticos e para

isso o ensino de conteúdos precisa atrelar-se com a realidade social de cada um

destes indivíduos.

Para que eles sejam impulsionados a apreenderem o que lhes é ensinado, e

não somente aprenderem, entendendo aqui apreender, como algo que poderão

carregar para sempre consigo, é preciso que o professor se comprometa

verdadeiramente com seu papel de educador, e tenha consciência da extrema

importância que sua postura e suas ações terão em muitas vidas.

É sabido que o professor, em seu caráter profissional, vem sofrendo

constante desvalorização, com baixa remuneração, locais de trabalho em estado

precário, horários exaustivos entre outros problemas que acometem a estrutura

educacional. Esses problemas podem ser colocados como algumas das causas do

desinteresse do professor por buscar um ensino qualitativo, ou seja, o profissional

também precisa ser impulsionado e valorizado.

A partir dessa pesquisa social, tivemos a oportunidade de ver como o

cotidiano do ambiente escolar é complexo, entendendo que não é possível

estabelecer nenhum julgamento primário com respeito ao que observamos, mas

podendo sim, retirar aprendizados que contribuirão com nossa busca por um ensino

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que esteja em conformidade com a qualidade, a democracia e, sobretudo que seja,

de fato, para todos.

Por fim, graças à pesquisa social é possível, não só analisar e descrever os

fenômenos estudados como diz Soriano (2004), mas se for uma pesquisa

consistente e confiável, pode-se fornecer um conhecimento empírico que ajude a

resolver os problemas da realidade social e também permitir a explicação e a

compreensão científica dos fenômenos sociais, que nunca são estáticos,

contribuindo na sua transformação.

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20

REFERÊNCIAS

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 10. ed. Trad. de Valter José Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

BARROS, Célia Silva Guimarães. Psicologia e construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

BRASIL. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996. Disponível em <www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9394.htm> Acesso em: 10 set.2007.

DIMESNTEIN, Gilberto.O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil. 16.ed. São Paulo: Ática,1999.

FAZENDA, Ivani C. A. Práticas interdisciplinares na escola.2.ed. são Paulo: Cortez, 1993.

MEKSENAS, Paulo. Pesquisa social e ação pedagógica: conceitos, métodos e práticas. 2.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

PARO, V. H. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2000.

Proposta Política Curricular, 2007.

Regimento Escolar, 2002.

Regimento Escolar, 2009.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.

SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social.Trad. de Ricardo Rosenbusch. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.

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APÊNDICE

Questionário direcionado à pedagoga da instituição.

1- Qual o tipo de gestão que existe na escola?

2- O regimento escolar é conhecido por todos os membros da escola?

3- A escola tem conselho escolar?

4- Qual é o principal objetivo da coordenação pedagógica da escola?

5- Há uma atividade de assistência pedagógica com o professor?

6- Como é feita a assistência pedagógica aos alunos e aos pais?

7- Como é feito o acompanhamento do trabalho do professor e do rendimento

do aluno?

8- Quais os problemas de indisciplinas ou infrações mais freqüentes?

9- Há uma programação de hora atividade?

10- Há um efetivo acompanhamento das atividades pedagógicas e

administrativas, em termos de sua eficácia e objetivos?

11- Quem elaborou o PPC? Os professores usam para organizar o seu plano de

aula?

12- Há um levantamento de dados para a escola conhecer a realidade sócio

cultural do aluno? Como é realizado?

13-Há escola desenvolve atividades envolvendo a comunidade?

14- É grande o índice de reprovação e desistência?

15-Quem é o mantenedor da escola e os recursos são suficientes?

16-Como seu trabalho é organizado?

17-Qual a sua concepção de aprendizagem?

Page 22: REFLEXÃO Á CERCA DO ENSINO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

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ÍNDICE DE AUTORES

Althusser, 11, 12

Barros, 14, 15

Dimenstein, 11

Fazenda, 10

LDBN-9394/96, 18

Meksenas, 12, 13

Paro, 14

Severino, 17

Soriano, 19