referencial curricular 20-08-10

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  • 7/21/2019 Referencial Curricular 20-08-10

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    GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOASSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO E DO ESPORTE SEE/AL

    PROJETO DE COOPERAO TCNICA MEC-PNUD-SEE/AL

    REFERENCIAL CURRICULAR DA EDUCAO BSICA PARA ASESCOLAS PBLICAS DE ALAGOAS

    Alagoas

    2010

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    Teotonio Brando Vilela Filho

    GOVERNADOR DO ESTADO DE ALAGOAS

    Jos Wanderley Neto

    VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE ALAGOAS

    Rogrio Auto Tefilo

    SECRETRIO DE ESTADO DA EDUCAO E DO ESPORTE

    Maria Ccera Pinheiro

    SECRETRIA DE ESTADO ADJUNTO DA EDUCAO

    Luis Antonio Camargo Ribas

    SECRETRIO DE ESTADO ADJUNTO DO ESPORTE

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    Maria Cicera PinheiroCOORDENAO TCNICA OPERACIONAL

    Jos Fernando Santa CruzCOORDENAO DE APOIO LOGSTICO

    ngela Maria Costa dos SantosLDER DO EIXO

    Claudiane Oliveira Pimentel FabrcioCOORDENAO DA AO

    Adeilma Maria Claudino da FonsecaClaudiane Oliveira Pimentel FabrcioGelvana Almeida CostaJos Gerson de FariasJizelda de Lima NetoJoelina Alves CerqueiraJoo Jos Cavalcante da SilvaMaria Carmlia Lopes SilvaMaria Gerusa Bezerra ArajoMaria de Jesus MachadoMaria do Carmo Custdio de Melo SilveiraMaria Margarete Luiz de FranaMaria de Jesus MachadoMaria do Carmo Custdio de Melo Silveira

    Mrcia Valeria Cardoso NiccioMarta Betnia Marinho SilvaMarizete Maria de Melo SantosWalnyce Miranda Vasconcelos VianaEQUIPE DE DISCUSSO

    Claudiane Oliveira Pimentel FabrcioMaria de Jesus MachadoMaria do Carmo Custdio de Melo SilveiraEQUIPE DE ELABORAO

    Laudo Bernardes Coordenador GeralMaria Edenise Galindo Coordenadora LocalLiliane Marchiorato Consultora LocalManuel Orleilson Ferreira da Silva Consultor LocalEQUIPE DE APOIO TCNICO MEC-PNUD

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    Caro(a) educador(a),

    Num mundo marcado por tantas desigualdades e processos sociaisdesumanizadores, muitos so os desafios enfrentados por quem se prope a trabalhar

    numa proposta educacional voltada formao humana e comprometida com atransformao da realidade social.

    Como educadores, sempre buscamos oferecer o que temos de melhor para nossosalunos. Entretanto, apesar dos esforos, constata-se que h ainda um longo caminho a ser

    percorrido em direo qualidade desejada e necessria formao escolar dos alunos doensino pblico, seja na rede estadual ou nas redes municipais.

    Por isso, com grande satisfao que apresentamos o Referencial Curricular da

    Educao Bsica para as Escolas Pblicas de Alagoas RECEB, com o propsito deorientar a organizao da ao pedaggica desenvolvida pelas escolas pblicas do estado,enfatizando os princpios norteadores do processo de ensino-aprendizagem na EducaoInfantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Mdio, de modo a promover a melhoria da suaqualidade.

    Assim, vale ressaltar que o RECEB, por si s, no muda a realidade educacional dasEscolas Pblicas de Alagoas, mas pode ser utilizado como um instrumento que venha

    contribuir para a reflexo das prticas pedaggicas, a construo das PropostasCurriculares das escolas, bem como a organizao dos processos pedaggicos do cotidianoescolar.

    Diante destes desafios necessrio o compromisso de todos os profissionais quefazem a Educao Pblica de Alagoas em todas as Instncias: Administrao Central,Coordenadorias Regionais de Educao, Escolas e a Comunidade, na luta por umaEducao de Qualidade Social para todos.

    As transformaes que o RECEB provocar, depende do uso que se fizer dele.

    Esperamos que o mesmo constitua-se uma ferramenta de discusso, reflexo,compreenso e organizao da ao pedaggica.

    Daqui em diante com voc, educador (a)!

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    SUMRIO

    APRESENTAOINTRODUO .................................................................................................................... 7

    1. EDUCAO BSICA: PRECEITOS LEGAIS .................................................................. 9

    1.1. Educao Infantil .......................................................................................................... 12

    1.2. Ensino Fundamental ..................................................................................................... 13

    1.3. Ensino Mdio ................................................................................................................ 15

    2. ANLISE DA ORGANIZAO CURRICULAR DE OUTRAS UNIDADES FEDERATIVAS E

    DAS INICIATIVAS LOCAIS .................................................................................................. 17

    2.1. Anlise das iniciativas locais ........................................................................................ 17

    2.2. Anlise da organizao curricular de outras unidades federativas ................................ 19

    3. PRINCPIOS NORTEADORES E FUNDAMENTOS TERICO-METODOLGICOS DO

    PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM .................................................................. 20

    3.1. Princpios norteadores .................................................................................................. 20

    3.2. Currculo e formao humana ....................................................................................... 22

    3.3. Desenvolvimento e aprendizagem ................................................................................ 23

    3.4. Educao, trabalho e humanizao .............................................................................25

    3.5. Educao, diversidade e diferena ............................................................................... 29

    3.6. Educao Ambiental e formao humana ..................................................................... 32

    4. PRESSUPOSTOS PARA A ORGANIZAO CURRICULAR DAS ETAPAS E

    MODALIDADES DA EDUCAO BSICA .......................................................................... 34

    4.1. Educao Infantil .......................................................................................................... 34

    4.2. Ensino Fundamental ..................................................................................................... 40

    4.3. Ensino Mdio ................................................................................................................ 44

    4.4. Educao de Jovens e Adultos ..................................................................................... 424.5. Educao Especial ....................................................................................................... 49

    4.6. Educao Profissional e Tcnica ................................................................................. 51

    4.7. Educao no Campo..................................................................................................... 53

    4.8. Educao Escolar Indgena .......................................................................................... 56

    4.9..Educao Quilombola ................................................................................................... 58

    5. PRESSUPOSTOS METODOLGICOS DO PROCESSO DE ENSINO E

    APRENDIZAGEM ................................................................................................................ 60

    5.1. A Organizao do Conhecimento ................................................................................. 615.2. A Abordagem Metodolgica .......................................................................................... 62

    5.3. Ensinar Exige Rigorosidade Metdica e Pesquisa ........................................................ 65

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    5.4. Avaliao da Aprendizagem.......................................................................................... 67

    5.4. Aprendizagens bsicas esperadas na educao bsica ............................................... 715.4.1. Aprendizagens bsicas esperadas ao final da Educao Infantil ............................... 71

    5.4.2. Aprendizagens bsicas esperadas ao final do 3 ano do Ensino Fundamental .......... 72

    5.4.3. Aprendizagens bsicas esperadas ao final do 5 ano Ensino Fundamental ............... 74

    5.4.4. Aprendizagens bsicas esperadas ao final do 9 ano do Ensino Fundamental .......... 76

    5.4.5. Aprendizagens bsicas esperadas na Juventude1 ao 3 ano do Ensino Mdio .... 80

    6. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 84

    7. REFERENCIAS ............................................................................................................... 86

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    APRESENTAO

    O Referencial Curricular da Educao Bsica para as Escolas Pblicas de Alagoascaracteriza-se como um dos resultados do esforo conjunto entre a Secretaria de Estado da

    Educao e do Esporte de Alagoas (SEE/AL), o Ministrio da Educao (MEC) e oPrograma das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por meio de um projeto decooperao tcnica cujo objetivo elaborar e apresentar sociedade alagoana umaproposta de educao com foco na melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos daeducao bsica e na consequente reverso dos indicadores educacionais do estado.

    A construo de um referencial curricular da educao bsica para as escolas

    pblicas de Alagoas se justifica num conjunto integrado de aes de reestruturao,modernizao e reorganizao da educao pblica, com o intuito de promover as

    condies bsicas para a reverso do quadro educacional que se encontra no estado.

    Ao propor um referencial curricular, a SEE/AL tem como propsito nortear a aopedaggica dos profissionais da educao, assegurando padres bsicos para a construoda qualidade da aprendizagem dos alunos.

    O referencial curricular ora apresentado resultado de estudos e discusses dosprofissionais dos setores da SEE/AL diretamente responsveis pela execuo das polticas

    educacionais, no que se refere organizao curricular e ao desenvolvimento da educaobsica pelas escolas pblicas estaduais e municipais.

    O ponto de partida dessa construo foi a anlise de diversos documentos legais,conceituais, normativos e operacionais j existentes na SEE/AL, frutos de discussescoletivas com os profissionais das comunidades escolares, tais como o Plano Estadual deEducao, a Carta de Princpios, as propostas curriculares da Escola Normal e da Educaode Jovens e Adultos, assim como outros documentos de orientao encaminhados pelos

    responsveis pela educao infantil, ensino fundamental, ensino mdio, educao indgena,educao quilombola e educao no campo na Administrao Central da SEE/AL. Nesse

    processo, foram considerados os avanos e os limites da caminhada pedaggica jpercorrida pelos profissionais da educao da SEE/AL na construo de um currculo bsico

    para as escolas.

    Com todas as limitaes inerentes a qualquer proposta educacional, este referencialcurricular no pretende estabelecer dogmas e nem esgotar a discusso terica emetodolgica, mas, isto sim, almeja oferecer aos professores, diretores e coordenadorespedaggicos das escolas pblicas um instrumento orientador na construo de prticaspedaggicas transformadoras da triste realidade escolar que assombra, h muito tempo, oscidados alagoanos.

    Nesse sentido, entende-se que areflexo da prtica pedaggica s tem sentido parae por aqueles que a fazem no cotidiano da escola e que, somente a partir dela, se pode

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    efetivar qualquer possibilidade de transformao. Isso significa dizer que a prticapedaggica dos profissionais das escolas a principal responsvel pela materializaodeste referencial e depende do compromisso de toda a equipe escolar.

    A escola assume, portanto, um papel estratgico nessa trajetria, refletindocriticamente a prtica pedaggica realizada, a partir das questes e orientaesapresentadas neste referencial curricular, com o intuito de avaliar suas proposies naimplementao da gesto democrtica, na co-responsabilidade de todos, no fortalecimentoinstitucional, na construo de uma aprendizagem qualitativa em que, respeitadas as

    diferenas e os diversos tempos dos alunos, apresente resultados educacionais positivos.

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    Na escola, o currculo espao em que se concretiza o processoeducativo pode ser visto como o instrumento central para a

    promoo da qualidade na educao. por meio do currculo que asaes pedaggicas se desdobram nas escolas e nas salas de aula. por meio do currculo que se busca alcanar as metas discutidas edefinidas, coletivamente, para o trabalho pedaggico. O currculocorresponde, ento, ao verdadeiro corao da escola. Da anecessidade de permanentes discusses sobre o currculo, que nospermitam avanar na compreenso do processo curricular e dasrelaes entre o conhecimento escolar, a sociedade, a cultura, aautoformao individual e o momento histrico em que estamossituados. (MOREIRA, 2008, p.5)

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    INTRODUO

    A educao bsica de Alagoas tem apresentado indicadores educacionais muitoabaixo do esperado no cenrio educacional brasileiro, conforme pode ser comprovado pelos

    Indicadores de Desenvolvimento da Educao Bsica IDEB dos ltimos anos. Issosignifica que o desempenho escolar dos alunos das escolas pblicas em Alagoas nocorresponde s aprendizagens bsicas referentes a cada nvel de ensino e a cada anoescolar, conforme os padres de qualidade definidos pelo Ministrio de Educao - MEC.

    A reverso dessa situao requer um conjunto de mudanas estruturais de naturezatcnica, administrativa, financeira e, principalmente, pedaggica, j que a qualidade da

    educao est diretamente vinculada qualidade do processo de ensino-aprendizagemefetivado nas salas de aula.

    Dessa forma, necessrio criar as condies bsicas para superao dos atuaisdesafios e promover os avanos essenciais construo de uma educao pblica dequalidade. No caso de Alagoas, essas condies incluem, prioritariamente, a garantia dealfabetizao de todos os alunos matriculados nas escolas pblicas, a correo do fluxoescolar, a expanso da oferta de ensino em todos os nveis, a definio de uma baseterico-metodolgica comum, o alcance das aprendizagens escolares bsicas e oaprimoramento do processo de ensino-aprendizagem, de modo a garantir a efetivao das

    polticas educacionais no estado.

    Nesse projeto, os profissionais da educao da SEE/AL, com o apoio e colaboraodo Projeto de Cooperao Tcnica MEC-PNUD, so os responsveis pela elaborao daspropostas de reestruturao, modernizao e reorganizao da educao pblica deAlagoas, do planejamento avaliao dos resultados. A equipe do trabalho tomou comoponto de partida as propostas curriculares j existentes, contemplando os nveis daeducao bsica (infantil, fundamental e mdio), suas modalidades (Educao de Jovens e

    Adultos, Ensino Profissional, Educao Especial e Educao Distncia) e especificidades(Educao no Campo, Indgena e Quilombola).

    A construo do referencial curricular foi desenvolvida nas seguintes etapas:

    Estudo da legislao educacional vigente;

    Anlise dos documentos e propostas curriculares existentes na SEE/AL;

    Pesquisa e anlise das experincias de organizao curricular de outros estados;

    Estudos e discusses sobre as concepes filosfico-educacionais, pressupostosmetodolgicos, abordagem do conhecimento em cada nvel de ensino, modalidades eespecificidades, organizao dos contedos escolares e avaliao;

    Elaborao do documento.

    Vale ainda destacar que, nesse processo, foram respeitadas as intenes eprodues das diversas personagens que tm construdo a educao pblica de Alagoas e,

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    principalmente, se procurou atender as expectativas sociais com relao aprendizagemdos principais atores desse processo os alunos. Nesse sentido, o referencial curricular seconsagra como uma construo coletiva que revela as intencionalidades da educaopblica no estado de Alagoas e aponta caminhos e possibilidades, sem, contudo, limitar a

    ao pedaggica.

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    1. EDUCAO BSICA: PRECEITOS LEGAIS

    As condies para o desenvolvimento da multiplicidade de aspectos e dimensesque constituem a vida humana devem ser garantidas em lei como direito cidadania, mas,

    para que se tornem direito de fato, devem ser efetivadas pela e na prtica social. Aeducao um desses direitos sociais, assegurada na legislao brasileira a todos oscidados, conforme determina a Constituio Federal de 1988, no seu art. 205: Aeducao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivadacom a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

    preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    No entanto, a realidade tem demonstrado que, apesar da garantia da lei, ainda huma significativa excluso das camadas mais pobres da populao ao acesso e,

    principalmente, de permanncia na educao bsica.

    A Lei n. 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB) e aResoluo CNE/CEB n 4/2010 (Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da EducaoBsica DCNGEB), retomam o principio constitucional da educao como um direito detodos, dever da famlia e do Estado:

    Art. 2. A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios de

    liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o plenodesenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania esua qualificao para o trabalho.(Lei n. 9394/96)Art. 4 As bases que do sustentao ao projeto nacional de educaoresponsabilizam o poder pblico, a famlia, a sociedade e a escola pelagarantia a todos os educandos de um ensino ministrado de acordo com osprincpios de:I - igualdade de condies para o acesso, incluso, permanncia e sucessona escola;II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, opensamento, a artee o saber;III - pluralismo de ideias e de concepes pedaggicas;IV - respeito liberdade e aos direitos;V - coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino;VI - gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais;VII - valorizao do profissional da educao escolar;VIII - gesto democrtica do ensino pblico, na forma da legislao e dasnormas dosrespectivos sistemas de ensino;IX - garantia de padro de qualidade;X - valorizao da experincia extraescolar;XI - vinculao entre a educao escolar, o trabalho e as prticas sociais.(DCNGEB, Res. n. 4/2010)

    Nesse sentido, a Educao Bsica direito universal para o exerccio da cidadania,por meio da qual possibilita a conquista de outros direitos, definidos na Constituio Federal,no Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e demais legislaes, considerando as

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    dimenses do educar e do cuidar como funes indissociveis, buscando recuperar, nessenvel da educao, a centralidade do educando na sua essncia humana. 1

    A educao de jovens e adultos, educao especial e educao profissional atendems necessidades especficas das diferentes clientelas dos nveis de ensino, de modo agarantir que o processo pedaggico seja adequado s suas peculiaridades. Alm disso, nabusca de garantir que todos possam ter acesso educao bsica sem qualquer tipo depreconceito, discriminao ou forma de excluso social, os nveis de ensino devem serorganizados no sentido de incorporar e respeitar as diversidades culturais, tais como: aeducao escolar indgena, a educao no campo e a educao quilombola.

    O art. 22 da LDB ratifica o referido preceito constitucional ao afirmar que a

    Educao Bsica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurandolhe a formaocomum indispensvel para o exerccio da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir notrabalho e nos estudos superiores (BRASIL, 2003, p.14).

    Pelo que se pode constatar nas legislaes, educao bsica atribuda uma tripla

    finalidade na formao do educando:

    promover a cidadania;

    qualificar para o mundo do trabalho;

    garantir as condies para a continuidade dos estudos.

    Proporcionar uma formao bsica que possibilite o cumprimento dessas trsfinalidades representa um enorme desafio escola pblica brasileira e maior ainda sescolas pblicas de Alagoas, em virtude de seu distanciamento da realidade nacional.Segundo a LDB e as DCNGEB2, essa formao deve ser efetivada a partir de uma basenacional comum, a qual deve ser complementada por uma parte diversificada, conforme asnecessidades e peculiaridades locais.

    Art. 26. Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter umabase nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de

    ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, dacultura, da economia e da clientela. 1. Os currculos a que se refere o caput devem abranger,obrigatoriamente, o estudo da lngua portuguesa e da matemtica, oconhecimento do mundo fsico e natural e da realidade social epoltica, especialmente do Brasil. 2. O ensino da arte constituir componente curricular obrigatrio,nos diversos nveis da educao bsica, de forma a promover odesenvolvimento cultural dos alunos.

    1DCNGEB,2010, artigos 5 e 62DCNGEB,2010 artigos 14, 15 e 16

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    3. A educao fsica, integrada proposta pedaggica da escola, componente curricular obrigatrio da Educao Bsica, sendo sua

    prtica facultativa ao aluno:I-que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;II-maior de trinta anos de idade;III-que estiver prestando servio militar inicial, ou que, em situaosimilar estiver obrigado prtica da educao fsica.IV-que tenha prole; 4. O ensino da Histria do Brasil levar em conta as contribuiesdas diferentes culturas e etnias para a formao do povo brasileiro,especialmente das matrizes indgena, africana e europia. 5. Na parte diversificada do currculo ser includo,obrigatoriamente, a partir da quinta srie, o ensino de pelo menosuma lngua estrangeira moderna, cuja escolha ficar a cargo dacomunidade escolar, dentro das possibilidades da instituio. 6 A msica dever ser contedo obrigatrio, mas no exclusivo,do componente curricular de que trata o 2 deste artigo.(Lei n.9394/96)

    Para isso, define algumas diretrizes a serem ponderadas na seleo e organizaodos contedos nas propostas curriculares da educao bsica.

    Art. 27. Os contedos curriculares da educao bsica observaro,

    ainda, as seguintes diretrizes:I - a difuso de valores fundamentais ao interesse social, aosdireitos e deveres dos cidados, de respeito ao bem comum e ordem democrtica;II - considerao das condies de escolaridade dos alunos emcada estabelecimento;III - orientao para o trabalho;IV - promoo do desporto educacional e apoio s prticasdesportivas no-formais.

    No que concerne s responsabilidades do Poder Pblico com relao s etapas deensino, os pargrafos 2 e 3, do art. 211, da Constituio Federal, definem que osMunicpios devem atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educao infantil,enquanto que os Estados devem priorizar o ensino fundamental e mdio. A LDB, por suavez, nos artigos 10 e 11, reitera essas reas de competncia, todavia, estabelece aosEstados como oferta prioritria o ensino mdio, mas tambm delega a responsabilidade deassegurar a oferta do ensino fundamental em regime de colaborao com os Municpios(incisos II e VI, art. 10):

    (...) II - definir, com os Municpios, formas de colaborao na oferta doensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuio proporcionaldas responsabilidades, de acordo com a populao a ser atendida e osrecursos financeiros disponveis em cada uma dessas esferas do PoderPblico;

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    (...) VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade,o ensino mdio.

    Da mesma forma, a LDB (inciso V, art. 11) determina a oferta do ensino fundamentalcomo prioridade dos Municpios e tambm estabelece como sua responsabilidade oatendimento dos alunos da educao infantil.

    (...) V - oferecer a educao infantil em creches e pr-escolas, e, comprioridade, o ensino fundamental, permitida a atuao em outros nveis deensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidadesde sua rea de competncia e com recursos acima dos percentuaismnimos vinculados pela Constituio Federal manuteno e

    desenvolvimento do ensino.

    Apesar de responsabilidades e competncias distintas com relao educao,Unio, Estados e Municpios devem ofertar os nveis de ensino da educao bsica a toda apopulao, em regime de colaborao.

    1.1. Educao infantil

    A Constituio Federal de 1988, em seu art. 208, inciso IV, garante atendimento em

    creche e pr-escola s crianas de zero a seis anos de idade, sendo somente esta a

    referncia a respeito da educao infantil.

    No art. 29 da LDB, no art. 22 das DCNGEB e no art. 5 das DCNEI, a educao

    infantil definida como a primeira etapa da educao bsica, que tem como finalidade (...)o desenvolvimento integral da criana at seis anos de idade, em seus aspectos fsico,psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade.Afirma ainda, no art. 30 da LDB que as creches ou entidades equivalentes devem ofertar

    educao infantil para crianas de at trs anos e as pr-escolas para as crianas de quatroa seis anos de idade.3

    A legislao em vigor assegura e dispe que a educao infantil rea decompetncia dos Municpios, no entanto, as taxas de atendimento da demanda na faixaetria entre zero e seis anos revelam a omisso dos Municpios quanto s suasresponsabilidades legais.4

    Apesar de a educao infantil ser mencionada nos textos legais, sua estruturao,formas de organizao e normatizao em mbito nacional ainda no so contempladas demaneira mais efetiva, a ampliao do acesso para atendimento da demanda e as condiesbsicas para permanncia das crianas nas instituies escolares.

    3 Pela Lei n. 11.274, de 06/02/2006, essa ltima faixa etria foi alterada para quatro at seis anos deidade em funo do ensino fundamental de nove anos4LDB 9394/06, DCNEI,2009, DCNGEB, 2010

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    1.2. Ensino fundamental

    Segundo o artigo 32 da LDB, o ensino fundamental se constitui como etapaobrigatria da educao bsica com a durao de 9 anos, iniciando-se aos 6 anos de idade,

    e ter por objetivo a formao bsica do cidado. direito pblico garantido o acesso atodos na escola pblica, dever dos Municpios, assegurada a oferta, em regime decolaborao com os Estados e a assistncia da Unio.

    Desde 1988, Estados e Municpios vm compartilhando as responsabilidades

    administrativas, tcnicas e financeiras relativas ao ensino fundamental, ficando, na maioriados casos, os anos iniciais sob a responsabilidade direta dos Municpios e os anos finais

    delegados aos Estados.

    5

    De acordo com a legislao educacional, o ensino fundamental obrigatrio e responsabilidade do Poder Pblico assegurar as condies de sua oferta, ficando inclusivesujeita ao judicial a autoridade competente que no cumprir esse preceito legal.

    Art. 5. O acesso ao ensino fundamental direito pblico subjetivo,podendo qualquer cidado, grupo de cidados, associaocomunitria, organizao sindical, entidade de classe ou outralegalmente constituda, e, ainda, o Ministrio Pblico, acionar oPoder Pblico para exigi-lo.

    (...) 2. Em todas as esferas administrativas, o Poder Pblicoassegurar em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatrio, nostermos deste artigo, contemplando em seguida os demais nveis emodalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais elegais. 3. Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo temlegitimidade para peticionar no Poder Judicirio, na hiptese do 2do Art. 208 da Constituio Federal, sendo gratuita e de rito sumrioa ao judicial correspondente. 4. Comprovada a negligncia da autoridade competente para

    garantir o oferecimento do ensino obrigatrio, poder ela serimputada por crime de responsabilidade. 5. Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, oPoder Pblico criar formas alternativas de acesso aos diferentesnveis de ensino independente da escolarizao anterior.

    A LDB define um conjunto de pressupostos para o ensino fundamental, de modo agarantir o cumprimento de sua finalidade na formao do cidado nessa etapa da educaobsica.

    5DCNGEB,2010, Art. 7.

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    Art. 32. O ensino fundamental, com durao mnima de oito anos,obrigatrio e gratuito na escola pblica, ter por objetivo a formao

    bsica do cidado, mediante:I O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo comomeios bsicos o pleno desenvolvimento da leitura, da escrita e doclculo;II A compreenso do ambiente natural e social, do sistema poltico,da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta asociedade;III O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo emvista a aquisio do conhecimento e habilidades e a formao deatividades e valores;IV O fortalecimento dos vnculos de famlia, dos laos desolidariedade humana e de tolerncia recproca em que se assentaa vida social.

    Esse conjunto de princpios revela as intenes de formao de um cidado que,

    instrumentalizado pelo conhecimento, possa se desenvolver como sujeito capaz decompreender as inter-relaes dos elementos que constituem sua realidade social.

    Revogando o artigo 32, da atual LDB, que estabelece oito anos como tempo de

    durao do ensino fundamental, a Lei n. 11.274/2006 vem ampliar os anos relativos aoensino fundamental para nove anos. O objetivo dessa ampliao assegurar um tempomaior de convvio escolar, mais oportunidades de ensino e, com isso, melhores condiesde construo de uma aprendizagem mais qualitativa a um nmero maior de crianas.Dessa forma, a Lei n. 11.274/06 altera a redao dos artigos 29, 30, 32 e 87 da LDB,dispondo sobre a durao de nove anos para o ensino fundamental, com matrculaobrigatria a partir dos seis anos de idade.

    Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educao (Cmara de Educao Bsica),atravs da Resoluo n. 3/2005, de 03/08/05, define as normas nacionais para a ampliaodo ensino fundamental para nove anos.6 O artigo 2, da referida resoluo, determina a

    organizao do ensino fundamental de nove anos em duas etapas: anos iniciais, de seis adez anos de idade, com durao de cinco anos e anos finais, de 11 a 14 anos de idade, comdurao de quatro anos.

    Alm das alteraes legais, a incluso das crianas de seis anos de idade no ensino

    fundamental merece ateno especial, pois requer uma adequao do processo de ensino-aprendizagem s caractersticas dessa etapa da infncia, tomando-se os devidos cuidadosna seleo, organizao e abordagem metodolgica dos contedos escolares a seremtrabalhados nessa faixa etria.

    6

    As legislaes pertinentes ao tema so: Lei n. 11.274/2006, PL n. 144/2005, Lei n. 11.114/2005, ParecerCNE/CEB n. 6/2005, Resoluo CNE/CEB n. 3/2005, Parecer CNE/CEB n. 18/2005, Resoluo n.08/2007CEE-AL.

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    1.3. Ensino mdio

    A LDB, ao integrar o ensino mdio educao bsica, amplia suas finalidades edestaca as necessidades essenciais formao do cidado (conforme art. 35):

    Art. 35. O ensino mdio, etapa final da educao bsica, comdurao mnima de trs anos, ter como finalidades:I A consolidao e o aprofundamento dos conhecimentosadquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimentode estudos;II A preparao bsica para o trabalho e a cidadania, doeducando, para continuar aprendendo de modo a ser capaz de se

    adaptar com flexibilidade a novas condies de ocupao ouaperfeioamento posteriores;III O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindoa formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e dopensamento crtico;IV A compreenso dos fundamentos cientficos e tecnolgicos dosprocessos produtivos, relacionando a teoria com a prtica, no ensinode cada disciplina.

    Nessa perspectiva, a legislao aponta caminhos para uma viso mais abrangentesobre a formao do aluno do ensino mdio, destacando, alm dos conhecimentos bsicosessenciais compreenso da realidade social e histrica e continuidade de seus estudos,a importncia da educao tecnolgica, da pesquisa cientfica, das formas contemporneasde linguagem e dos conhecimentos filosficos e sociolgicos e das formas de produo.

    O art. 36 da referida lei tambm dispe sobre a organizao dos contedos, asmetodologias de ensino e as formas de avaliao, de modo que os alunos demonstremmaior autonomia no processo de apreenso da realidade e no domnio dos princpios

    cientficos e tecnolgicos.

    O ensino mdio pode preparar o aluno para o exerccio de profisses tcnicas, desdeque assegurada sua formao geral (art. 36, 2., alnea e). A lei vai mais alm ao proporque a preparao geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitao profissional,podero ser desenvolvidas nos prprios estabelecimentos de ensino mdio ou emcooperao com instituies especializadas em educao profissional (LDB, art. 36, 4.).

    A integrao entre formao propedutica e formao profissional abre novasoportunidades aos jovens brasileiros, principalmente queles pertencentes s classesmenos favorecidas economicamente e que precisam trabalhar. Entretanto, alm dademanda regular advinda do ensino fundamental, hoje o ensino mdio conta com uma

    demanda reprimida historicamente e que tambm precisa ser atendida. Nesse caso, soduas propostas de atendimento: uma, de correo da defasagem existente entre oferta edemanda reprimida e outra, de atendimento regular.

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    Nesse sentido, a legislao estabelece como dever do Estado a progressivaextenso da obrigatoriedade do ensino mdio, inteno tambm ratificada pelo PlanoEstadual de Educao de Alagoas7que prope a garantia de acesso a todos os concluintes

    do ensino fundamental em idade regular, num prazo de 10 anos, a contar do ano de suapromulgao.

    7Lei 6.757/2006

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    2. ANLISE DA ORGANIZAO CURRICULAR DE OUTRAS UNIDADES FEDERATIVASE DAS INICIATIVAS LOCAIS

    2.1. Anlise das iniciativas locais

    Alagoas , hoje, um dos poucos estados brasileiros que ainda no possui seus

    prprios padres de qualidade e as diretrizes curriculares para a educao pblica. Isso nosignifica a inexistncia de iniciativas nesse sentido, pois, h diversos documentosrelacionados organizao do processo pedaggico das escolas estaduais.

    No entanto, o que se constata que, historicamente, essas iniciativas foram pontuais

    e realizadas de forma isolada, desarticulada e sem a viso de totalidade da gestoeducacional, dessa maneira, tambm no atingiram o objetivo de organizar o processo deensino-aprendizagem da rede estadual.

    Algumas aes foram destacadas por sua relevncia do ponto de vista damobilizao e da organizao curricular do processo educacional em Alagoas, as quais soanalisadas na sequncia.

    Ao final da dcada de 90, a SEE/AL realizou um amplo movimento de mobilizaosocial e de participao popular na construo das bases de um processo poltico-

    educacional mais democrtico para garantia do direito a uma educao pblica de qualidadepara todos e a construo de uma escola de excelncia com qualidade social.

    A I Conferncia Estadual de Educao de Alagoas (2000) deu incio a um movimentode orientao curricular, cuja intencionalidade era construir novas prticas de organizaodos espaos escolares e de garantia da aprendizagem de todos. Foram elaborados diversos

    documentos de organizao curricular da educao no estado, tais como a propostapedaggica de educao infantil, proposta curricular da educao de jovens e adultos,proposta de organizao escolar em ciclos de formao e proposta de educao do campo.Das quais, foram concludas e publicadas apenas as propostas curriculares para Educao

    Infantil (1995), a Escola Normal (2004) e Educao de Jovens e Adultos (2002).

    Nos anos seguintes, a implementao dessas propostas curriculares ocorreu deforma fragilizada pela descontinuidade na gesto da SEE/AL, fragmentao dos programase projetos, desarticulao dos setores responsveis pelos nveis de ensino.

    Diante de todas as adversidades vivenciadas ao longo deste perodo, promover umareorganizao curricular em todos os nveis constitui-se a maior necessidade e um grandedesafio para a SEE/AL.

    Para a reorganizao curricular do ensino fundamental, foram realizadas duas

    tentativas de elaborao do documento, nas quais foram constitudas assessorias junto sempresas e universidades para discusso e elaborao de um Plano de Trabalho para a

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    elaborao da Proposta Curricular, o qual no foi executado por uma srie de questes deordem pedaggicas, administrativas e financeiras.

    Em meio a esse processo surgiram outras aes pedaggicas para serem

    desenvolvidas em carter emergencial, a exemplo da implantao de projetos, tais como: aorganizao do ensino fundamental em ciclos de formao em quatro escolas, aimplantao dos laboratrios pedaggicos e um programa (Pro-seguir) de correo do fluxoescolar. Contudo, a fragmentao e a desarticulao entre as aes desenvolvidas, alm, claro, da morosidade do andamento dos processos para liberao de recursos financeiros

    foram alguns dos fatores que inviabilizaram a continuidade do processo de construo daproposta curricular do ensino fundamental.

    Nesse perodo, foi regulamentada pelo MEC, a implantao do ensino fundamental

    de nove anos, o que estabeleceu novas exigncias para a organizao curricular dasescolas. Nesse sentido, tambm foram elaboradas orientaes pedaggicas e diretrizesoperacionais para adequao da nova estrutura do ensino fundamental, tais como:enturmao dos alunos e reorganizao dos espaos, orientaes pedaggicas, fichasdescritivas de desempenho para subsidiar o planejamento das atividades curriculares eavaliativas, as quais resultaram do trabalho realizado durante os encontros de formao deprofessores do ensino fundamental.

    Paralelamente, os tcnicos responsveis pelo ensino mdio tambm iniciaram, como apoio de uma consultoria contratada pela SEE/AL, as discusses para sistematizao deum plano de trabalho, objetivando a construo de um referencial curricular para esse nvelde ensino. Foram realizadas reunies e discusses com os tcnicos do setor na SEE/AL,oficinas de estudo para elaborao dos eixos curriculares e competncias das reas afins esistematizao e socializao das discusses com participao de representes dacomunidade escolar. Este processo de discusso no teve continuidade por conta dafragilidade e da conjuntura poltico-administrativa e do contexto vivenciado naquele

    momento.

    Como se pode perceber, ao longo desse perodo, as aes de organizao curricularda rede estadual fora conduzidas de forma desarticulada e descontnua, apesar de diversas

    tentativas, por falta de vontade poltica e de um eixo norteador das prticas educativas,capaz de articular o processo de ensino-aprendizagem nas escolas estaduais.

    Em 2008, o MEC iniciou um grande movimento de discusso e reorientaocurricular no Brasil, com o lanamento dos Cadernos de Indagaes sobre Currculo, osquais contriburam e subsidiaram as discusses inerentes ao currculo no mbito estadual. Apartir desse movimento, as discusses foram ampliadas com a realizao de seminrios edebates com representantes de diversos setores da SEE/AL.

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    2.2. Anlise da organizao curricular de outras unidades federativas

    Durante os estudos realizados para elaborao documento do referencial curricularde Alagoas, a equipe de trabalho foi orientada a fazer uma anlise da estrutura e

    concepes das propostas curriculares de outros Estados e Municpios, visto a importnciade se conhecer os aspectos relevantes para subsidiar o trabalho em questo. Dentre esses,foram analisados os documentos das Secretarias de Estado da Educao de SantaCatarina, do Paran, do Mato Grosso e do Cear, assim como dos municpios de Santos/SPe Porto Alegre/RS. Alm desses documentos, foram estudados os documentos oficiais

    publicados pelo MEC, Conselho Nacional de Educao CNE e Conselho Estadual deEducao de Alagoas.

    A partir dessa anlise foram destacados alguns aspectos significativos e relevantes

    que comungam com as concepes e prticas educativas presentes nas discusses e nasprodues ora elaboradas. Nos documentos investigados, as intenes poltico-pedaggicasso fundamentalmente as mesmas, propondo a formao de sujeitos conscientes de seupapel na transformao da sociedade.

    No que se refere abordagem do conhecimento, observou-se que, apesar dadiscusso ser encaminhada por reas ou eixos temticos, os contedos escolares acabamsendo agrupados por disciplinaso que, pelos indicadores educacionais desses Estados e

    Municpios, no representa um retrocesso nas inovaes curriculares. Outro fatointeressante diz respeito nfase na abordagem interdisciplinar dos contedos, a qual referenciada em todos os documentos analisados.

    A avaliao considerada um processo permanente e contnuo de acompanhamento(processo) e de efetivao da aprendizagem (resultados) tambm apresenta base conceitualcomum, destacando a necessidade de se estabelecer parmetros bsicos para o processoavaliativo.

    Dentre os documentos analisados, as propostas de Mato Grosso, de Santa Catarina

    e os Cadernos de Indagaes sobre Currculo do MEC foram os que mais contriburam naconstruo deste referencial, visto que indicaram caminhos significativos para o

    aprofundamento das temticas presentes no documento, tais como: formao humana,aprendizagem e desenvolvimento humano, diversidade, avaliao, educao e trabalho,organizao do conhecimento e das prticas pedaggicas.

    Outras propostas e documentos de orientao curricular podem ainda contribuircomo referncia e apoio para o estudo, a compreenso e a organizao do processopedaggico de forma a promover mudanas qualitativas na prtica escolar.

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    3. PRINCPIOS E FUNDAMENTOS TERICO-METODOLGICOS NORTEADORES DOPROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

    Um currculo , teoricamente, a expresso das intenes poltico-pedaggicas de

    uma escola, construdo a partir da anlise e reflexo da realidade de uma comunidade nocontexto social em que est inserida, por isso reflete uma determinada viso de mundo, dehomem, de conhecimento e de sociedade. Nesta perspectiva, currculo uma produocoletiva, construda em cada realidade escolar de forma diferenciada, num processodinmico, aberto e flexvel, sujeito a inmeras influncias.

    Como se pode constatar, em Alagoas, apesar das inmeras tentativas de construo

    de um currculo bsico para as escolas pblicas do estado, essa inteno at o momentono se efetivou. A opo pela elaborao de um referencial curricular se fundamenta pelo

    entendimento de que um referencial um instrumento de conduo, de direcionamento dotrabalho pedaggico das escolas.

    Sem a inteno de ser obrigatrio, o referencial curricular se prope a atuar comoelemento aglutinador das intenes poltico-pedaggicas da comunidade interna e externadas escolas, no sentido de construir uma unidade na educao das crianas, jovens eadultos do estado de Alagoas. Por sua natureza norteadora, o referencial deve guiar oprocesso de elaborao das propostas curriculares das escolas, considerando as

    necessidades pedaggicas e as caractersticas de cada comunidade.

    Nesse sentido, o referencial tambm contribui para a reflexo e reelaborao dosprojetos poltico-pedaggicos, pois se compreende que no mbito da prtica educativa eno ambiente escolar que se processa e se revela a realidade social. 8

    Portanto, pertinente que a escola busque e fundamente suas propostascurriculares a partir da anlise e questionamento da sua prpria realidade, uma vez que o

    papel social da escola instrumentalizar os alunos em seu processo de formao humana,de modo a participar na construo de uma sociedade em que as pessoas possam viver

    melhor.

    3.1. Princpios norteadores da educao bsica

    Na perspectiva da formao humana, o currculo precisa estar orientado porprincpios que possibilitem uma anlise da realidade social, compreendida como umprocesso contnuo e constante de mudana histrico-cultural e o reconhecimento crtico daspeculiaridades do contexto em que se d o processo educativo.

    Considerando o atual contexto histrico, seguem alguns princpios norteadores do

    referencial curricular da educao bsica das escolas pblicas de Alagoas:

    8DCNGEB, 2010, artigos 42, 43, 44 e 45

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    1. As aes humanas transformam a realidade, materializam as intenes e ospensamentos, portanto, isso no diferente no processo educativo, so as aes queeducam e promovem o desenvolvimento humano;

    2. O currculo da escola pblica tem a finalidade de promover a formao humana, de

    modo a propiciar as condies bsicas para o desenvolvimento humano de todos;3. O currculo escolar deve enfatizar a importncia do acesso de todos aos bens culturais e

    ao conhecimento historicamente produzido no processo de formao humana;4. O currculo precisa ser situado historicamente, no tempo e no espao, considerando que

    os instrumentos culturais mediadores do desenvolvimento humano se modificam com o

    avano tecnolgico e cientfico e criam novas reas do conhecimento;5. O currculo escolar deve criar situaes de aprendizagens e convvio social em que as

    diferenas individuais, sociais e culturais sejam concebidas como tais, propondo aes ealternativas de superao de todas as formas de discriminao, preconceito e excluso

    social;6. A abordagem metodolgica do currculo deve possibilitar o aprofundamento do

    conhecimento dos alunos e a vinculao dos contedos escolares e a prtica social, deforma a possibilitar que o aluno faa uso do conhecimento cientfico para aprimorar eampliar sua compreenso e interveno na realidade;

    7. A prtica pedaggica deve ser encaminhada para garantir o desenvolvimento dacapacidade de anlise, compreenso, interpretao, explicao, associao e sntese,de modo a ampliar seu conhecimento sobre os fenmenos que compem a realidade em

    suas mltiplas dimenses, assim como suas implicaes nos problemas locais,nacionais e mundiais;

    8. A prtica pedaggica deve incorporar ao processo de ensino e aprendizagem sdiversas linguagens (verbais e no verbais, artsticas, matemticas, simblicas, musical,cartogrfica, corporal etc.) e meios tecnolgicos como instrumentos de apropriao doconhecimento e de compreenso da realidade;

    9. As aprendizagens bsicas devem ser resultado dos processos psquicos,gradativamente mais complexos, que permitam aos educandos a compreenso das

    inter-relaes que constituem a sua realidade e uma atuao mais qualitativa em seumeio social;

    10. O processo pedaggico na escola pblica deve ser organizado de maneira a propiciarcontnuas e diversas situaes de aprendizagem e de desenvolvimento a todos os

    alunos;11. O processo pedaggico desenvolvido pela escola pblica deve promover o

    estabelecimento de relaes interpessoais entre educandos (crianas, adolescentes,jovens e adultos) e educadores, que possibilitem vivncias significativas para aconstruo das aprendizagens bsicas e contribuam para o desenvolvimento humano detodos;

    12. O processo de ensino e aprendizagem deve considerar como ponto de partida osconhecimentos j produzidos pelos alunos sobre a realidade para, a partir desses,

    promover a construo de novos conhecimentos;

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    13. A escola pblica tem um compromisso poltico e social com a populao, o qual seefetiva na medida em que ela cumpre a especificidade do trabalho escolar com eficinciae eficcia;

    14. A escola pblica deve proporcionar as condies de formao humana dos sujeitos em

    suas diferentes fases da vida: infncia, adolescncia, juventude, idade adulta e velhice,no sentido de promover as necessrias adequaes curriculares a partir daspeculiaridades, caractersticas e interesses de cada etapa de vida;

    15. A escola pblica deve promover a incluso social, criando oportunidades de acesso e depermanncia a todos os sujeitos, independentemente de classe, gnero, etnia e

    orientao religiosa e/ou poltica.

    3.2. Currculo e formao humana

    A concepo de currculo que embasa este referencial pressupe a superao dadicotomia entre formao acadmica e formao humana, formao geral e formaotcnica, teoria e prtica, reflexo e ao, pois entende que, apesar das diferenas entreeles, so processos indissociveis e necessrios formao humana e compreenso darealidade.

    a ideia de um currculo em que a abordagem dos contedos escolares extrapola osmuros das instituies e interage no mundo social, poltico, econmico, cultural e

    tecnolgico, sem perder de vista a natureza humana do processo educativo.

    Entende-se que um currculo, ao expressar as intenes da comunidade escolar,revela o tipo de formao humana desejada para os alunos, por isso, sua construo develevar em conta o equilbrio entre as diversas dimenses do desenvolvimento humano, demodo que determinados aspectos no se sobreponham a outros. Isto quer dizer que ocurrculo escolar deve pensar a formao do aluno em sua totalidade, o que significa criar ascondies para seu desenvolvimento cognitivo, psquico, afetivo, fsico, social e cultural.

    Nesse sentido, o currculo deve propiciar ao aluno a formao de sua base

    conceitual, a apreenso das formas de aprender, a atualizao dos conhecimentos japrendidos, a aquisio de novos conhecimentos, o desenvolvimento de competncias,

    habilidades e atitudes e a incorporao de valores que promovam seu processo dehumanizao, cumprindo, assim, a finalidade primeira da educao contempornea: aformao de seres humanos preparados para um mundo dinmico e repleto de complexastransformaes e desafios.

    Para Moreira e Candau (2008, p.36), o que deve ser evidenciado no currculo so asnecessidades histricas de apropriao e de produo do conhecimento, enquantoconstruo social e os rumos dados a ele pela sociedade, de modo a compreender as razes

    histricas e culturais que se constituem como elementos fundamentais para odesenvolvimento humano. Dessa maneira, o currculo se constitui em elementosistematizador das intenes poltico-pedaggicas dos profissionais da educao, no qual

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    se manifestam as relaes entre sociedade e escola, saberes elaborados e prticassocialmente construdas.

    O currculo entendido como as experincias escolares que se desdobram em torno

    do conhecimento, em meio a relaes sociais, e que contribuem para a construo dasidentidades de nossos/as estudantes (MOREIRA; CANDAU, 2008, p.18). O currculoassocia-se, assim, a um conjunto de compreenses e esforos pedaggicos desenvolvidosa partir de intenes educativas, gerando um movimento que revela outra viso e apresentanovas categorias de reflexo, como as relaes entre escola, currculo e trabalho, tendo

    como pano de fundo a interdisciplinaridade, a contextualizao e a diversidade.

    Nessa perspectiva, o currculo pode e deve ser o territrio onde se estabelece umdilogo pedaggico entre os diversos tempos de vida do educando e os tempos do

    conhecimento e da cultura da sociedade. Para tanto, a escola precisa organizar melhor otempo escolar a partir do compromisso com o tempo de aprendizagem do sujeito, de modoque os processos de ensino e de aprendizagem possam se cruzar nos diferentes tempos,to diversos quanto so as formas de viver de cada fase da vida humana, em cada raa,classe, etnia, gnero, no campo ou cidade.

    Assim, o currculo como orientador da prtica escolar e do processo pedaggico, quese efetiva na sala de aula, deve assegurar a especificidade do trabalho escolar com a

    mxima eficincia e eficcia, numa perspectiva mais ampla, dinmica, contextualizada ehumanizadora, pois a apropriao do conhecimento cientfico s adquire sentido social ehistrico quando possibilita ao sujeito seu aprimoramento e amplia sua capacidade detransformao da realidade, enquanto ser humano.

    3.3. Desenvolvimento e aprendizagem

    Diferente do conceito utilizado comumente para explicar o desenvolvimento humano,

    Lima (2007, p.24) apresenta uma nova forma de compreenso.

    Os perodos de desenvolvimento so, normalmente, referidos comoinfncia, adolescncia, maturidade e velhice. mais adequado, porm,pensarmos o processo de desenvolvimento humano em termos dastransformaes sucessivas que o caracterizam, transformaes que somarcadas pela evoluo biolgica (que constante para todos os sereshumanos) e pela vivncia cultural.(LIMA, 2008, p.24)

    Dessa maneira, se considera o desenvolvimento humano como resultante de umarelao dialtica entre o biolgico e o cultural, pressupondo que o aprimoramento de umpromove essencialmente o desenvolvimento do outro. Nesse sentido, possvel afirmar que

    o processo de humanizao depende diretamente do desenvolvimento do ser humano, doponto de vista biolgico e cultural.

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    Para alguns estudiosos da Antropologia,

    (...) humanizar o processo pelo qual todo ser humano passa para seapropriar das formas humanas de comunicao, para adquirir e desenvolveros sistemas simblicos, para aprender a utilizar os instrumentos culturaisnecessrios para as prticas mais comuns da vida cotidiana at para ainveno de novos instrumentos, para se apropriar do conhecimentohistoricamente constitudo e das tcnicas para a criao nas artes e criaonas cincias.(LIMA, 2007, p.18)

    Nessa perspectiva, o processo de humanizao implica, igualmente, em desenvolveraes psicomotoras que permitam ao ser humano a realizao de aes (das mais simples

    s mais complexas) que lhe garanta sua existncia no mundo. Nesse processo dedesenvolvimento, o ser humano aprende as formas de ao existentes em seu meio numdado tempo histrico e num determinado espao, ou seja, as aes e os padres deinterao so definidos pelas prticas culturais historicamente construdas e apreendidas.Isso significa que a cultura constitutiva dos processos de desenvolvimento e deaprendizagem, sendo assim o sujeito aprende a lngua falada por sua comunidade cultural,as atitudes e os padres de comportamento que nela so praticados etc.

    A criana, o adolescente e o adulto se constituem enquanto membros do seu grupo

    social por meio da formao de sua identidade cultural, a qual possibilita sua convivncia,

    interao e permanncia no grupo. Contudo, ao mesmo tempo em que se identifica comosujeito cultural, o indivduo tambm se distingue dos demais, construindo suas experinciase estabelecendo suas prprias marcas no mundo, formando, assim, sua personalidade e

    suas caractersticas como ser humano nico, exclusivo, mpar.

    De qualquer forma, os comportamentos e aes privilegiados em cada cultura so,ento, determinantes no processo de desenvolvimento de cada membro do grupo. A vida

    cotidiana sempre est envolvida pela cultura: as brincadeiras, o faz-de-conta, as festas, osrituais, as celebraes e o trabalho, so situaes recheadas de significados e desimbolismo.

    A relao entre sujeitos na escola, por exemplo, uma relao especfica e distintadas demais relaes sociais, porque o professor no simplesmente mais um adulto comquem a criana/adolescente/adulto interage ele um adulto com a tarefa especfica deutilizar o tempo de interao com o aluno para promover seu processo de humanizao, oque determina uma enorme responsabilidade atividade pedaggica.

    Em suma, o desenvolvimento humano mediado pelo momento histrico de cadacomunidade e pelo grau de participao de cada indivduo no acervo da cultura, da

    tecnologia, das cincias e dos bens culturais disponveis naquele momento. Estaparticipao mediada pela educao e definida tambm pela insero do sujeito nummundo constitudo por segmentos sociais, etnias, gneros e diversidades culturais.

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    Subjacente elaborao do currculo, est a concepo de ser humano e o

    papel que se pretende que a escola tenha em seu processo dedesenvolvimento. No h, portanto, currculo ingnuo: ele sempre implicaem uma opo e esta opo poder ou no ser favorvel ao processo dehumanizao. (LIMA, 2007, p. 25)

    Um currculo pode ser considerado democrtico quando cria as condies dehumanizao para todos, garantindo o acesso aos bens culturais disponveis numa dadasociedade e num determinado momento histrico, de modo a propiciar e ampliar asoportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento humano.

    A educao bsica, fundamentada numa concepo de educao cuja finalidade oprocesso de humanizao, precisa contemplar no currculo escolar questes relativas aodesenvolvimento do conhecimento, da cultura, da cidadania, do trabalho, do respeito vidae ao planeta. Esses elementos da realidade cultural no devem ser somente o cenrio emque o processo educativo ocorre, mas devem se transformar em aprendizagens escolares.Essa realidade multiforme de fato o objeto de conhecimento dos processos educativos ese torna o contedo bsico da aprendizagem para a compreenso, interpretao, explicaoe interveno na realidade, visando a transformao da existncia histrico-social dossujeitos, no sentido de torn-la cada vez mais humana (FREIRE, 1994).

    Dessa maneira, formar o sujeito para situar-se no mundo, inclusive como membro deum grupo social, passa a ser objetivo de uma educao escolar voltada para a humanizaoe, nesse caso, o conhecimento torna-se no somente uma aquisio individual, mas umelemento essencial para seu desenvolvimento enquanto ser humano, com reflexos na suavida pessoal e social.

    Em sntese, o currculo deve refletir as intenes da comunidade escolar frente sexigncias e necessidades histricas da sociedade, no no sentido de reproduzir asrelaes sociais, mas de transform-las em funo da melhoria da qualidade da existncia

    humana.

    3.4. Educao, trabalho e humanizao

    O trabalho, em sua essncia, se constitui como prxis social, pois na realizaodessa atividade intencional e planejada de produo da subsistncia material que seestabelece a interdependncia dos seres humanos. Inicialmente, nas relaes sociais detrabalho que se concretiza a humanidade.

    Pode-se distinguir os homens dos animais pela conscincia, pela religio epor tudo o que se queira. Mas eles prprios comeam a se distinguir dosanimais logo que comeam a produzir seus meios de existncia (...). Aoproduzirem seus meios de existncia, os homens produzem indiretamentesua prpria vida material. (...) A maneira como os indivduos manifestam sua

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    vida reflete exatamente o que eles so. O que eles so coincide, pois, comsua produo, isto , tanto com o que eles produzem quanto com a maneira

    como produzem. O que os indivduos so depende, portanto, das condiesmateriais da sua produo. (MARX e ENGELS, 2001, p.1011)

    Ao organizar as condies de produo da existncia humana, os sujeitos tambmestabelecem suas relaes polticas, sociais, jurdicas, culturais e educacionais, que podemser modificadas ao longo da histria, da mesma forma que o modo de produo. Astransformaes no modo de produo, alm de interferirem diretamente na organizao dasforas produtivas tambm modificam as formas de organizao social e poltica das

    sociedades, redefinindo a interao entre os sujeitos e a natureza e entre seus pares.

    No contexto das relaes sociais de trabalho, os sujeitos produzem bens materiais(objetos, utenslios etc.) e no materiais (conceitos, valores, crenas, princpios, papis

    sociais etc.) que constituem, historicamente, o mundo humano, revelado na linguagem,cultura, arte, cincia, filosofia e tecnologia. A continuidade desse mundo criado pelahumanidade prescinde de formas de socializao, que dependem do nvel dedesenvolvimento de cada sociedade e do tempo histrico.

    Muito mais do que um instrumento de socializao dos bens culturais, a educao o processo pelo qual se formam homens e mulheres para uma determinada sociedade.Inicia-se no seio da organizao familiar e se estende nas diversas relaes sociais, sendorealizada por instituies criadas especificamente para cumprir essa funo social.

    Nesse sentido, a educao o processo contnuo e permanente pelo qual cadasujeito se humaniza, isto , se apropria e incorpora em si a produo histrica e social dahumanidade. Nesse sentido, cabe afirmar que o processo educativo garante a cada sujeitoas condies histricas de sua humanizao, socializao e construo de sua identidadecultural. A educao o processo que possibilita ao sujeito situar-se no mundo, enquantoindivduo particular e enquanto indivduo coletivo.

    Segundo Frigotto (2003, p.25), a educao, quando apreendida no mbito dasdeterminaes e relaes sociais, se apresenta, ao mesmo tempo, constituda e constituintedessas relaes, j que historicamente pode ser considerada como um dos campos de

    disputa hegemnica. Nessa perspectiva, a educao um instrumento de poder que tantopode servir reproduo da ordem social como pode semear os caminhos para suatransformao. Portanto, no h neutralidade quando se trata de educao.

    Isso significa que a escola, instituio social criada para cumprir uma funoeducativa, deve ter clareza de seu papel poltico na sociedade. Ao cumprir com eficincia eeficcia seu papel social promover a aprendizagem com desenvolvimento humano , a

    comunidade escolar demonstra suas intenes poltico-pedaggicas, j que essas sematerializam nos resultados da aprendizagem dos alunos.

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    Todas essas reflexes fazem parte da construo do currculo da escola,independente da concepo e vertente a ser adotada. So as intenes poltico-pedaggicas da comunidade escolar que determinam a concepo filosfico-educacional aser incorporada no trabalho escolar e no o contrrio, pois a viso de mundo e o

    compromisso poltico-social dos profissionais da educao que direciona o fazerpedaggico.

    A opo poltico-pedaggica da comunidade escolar se materializa no conjunto deaes dos profissionais, na seleo e organizao didtica dos contedos escolares, na

    escolha do mtodo de ensino e das atividades metodolgicas, nas prticas pedaggicas dosprofessores, nas diversas relaes interpessoais dentro e fora do contexto escolar, nas

    formas de avaliao e nos resultados da aprendizagem.

    Nesse sentido, a escola deve estar atenta s exigncias e necessidades histricasdo mundo do trabalho, pois as transformaes que vm ocorrendo no modo de produocapitalista tm criado novas expectativas sociais sobre o papel da educao de modo gerale da educao escolar em sua especificidade.

    A forma de organizao do trabalho numa determinada sociedade depende deinmeros fatores, como o grau de complexidade do processo de produo, o nvel dedesenvolvimento tcnico das foras produtivas, a propriedade dos meios de produo, o

    domnio da matria-prima, a apropriao da fora de trabalho e a organizao poltica. Asrelaes de trabalho so diretamente influenciadas pelas foras produtivas que, por sua vez,so alteradas pela mudana dos instrumentos de produo, ocorrendo uma mudanatambm nas relaes entre os sujeitos.

    Na denominada sociedade ps-moderna, o capitalismo contemporneo, em funo

    de sua necessidade de expanso e sobrevivncia, promove mudanas no cenrioeconmico mundial com o avano tecnolgico, a reestruturao produtiva, a implantao do

    processo de globalizao e a transnacionalizao dos grandes grupos econmicos. Nessecontexto, se estabelece uma nova lgica na economia e no mundo do trabalho, definindo um

    novo perfil de trabalhador: mais dinmico, flexvel, criativo, com iniciativa prpria,capacidade de deciso sobre a execuo, mais socivel, colaborativo e multifacetrio.

    A implantao de uma nova lgica do mundo do trabalho tambm se reflete naeducao, j que o novo perfil do trabalhador requer uma nova formao dos sujeitos nasdiversas instituies educativas. No entanto, todo cuidado pouco quando se trata deatender s necessidades impostas pelo capitalismo, j que ele defende os interesses deuma minoria cujo nico objetivo a gerao e ampliao dos lucros.

    Contudo, as exigncias do capitalismo provocam dvidas e reflexes a respeito do

    tipo de ser humano que vem sendo formado pelas instituies educativas. Por exemplo,inmeros estudos, avaliaes e pesquisas realizados sobre a escola pblica brasileira tmdemonstrado que a formao escolar no atende plenamente s necessidades do mercado

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    capitalista e nem instrumentaliza para a construo de outras possibilidades de produo daexistncia humana.

    Para superar esse desafio, o currculo escolar precisa ser repensado e reorganizado

    a partir de uma perspectiva humanizadora, no sentido de formar sujeitos mais humanos,instrumentalizados, conscientes, crticos, atuantes, criativos, competentes e transformadoresda realidade. Para isso, a escola precisa criar as oportunidades de acesso aos bensculturais produzidos e disponveis na sociedade, garantir a apropriao de um conhecimentocientfico continuamente atualizado e possibilitar situaes diversas de aprendizagem,

    vinculando o conhecimento compreenso da prtica social.

    Dessa forma, a atividade escolar deixa de ter a funo de preparar os sujeitos paracompor os quadros do mercado capitalista e passa a se organizar para proporcionar a todos

    o acesso aos bens e servios produzidos histrica e socialmente, de modo a contribuir paraa superao da viso mercadolgica dos sujeitos e do trabalho.

    A superao da dicotomia entre prtica social e prtica escolar, mundo do trabalho emercado de trabalho, intelectuais e trabalhadores, educao acadmica e educaoprofissional, formao humana e formao tcnica, um dos grandes desafios atuais a serenfrentado pelos profissionais da educao na construo dos currculos escolares. Essatarefa pressupe conectar o processo de escolarizao realidade dos sujeitos e das

    necessidades histrico-sociais, sendo a qualificao para o mundo do trabalho um aspecto aser contemplado no currculo.

    A qualificao para o mundo do trabalho deve contribuir para que os sujeitos possamter condies intelectuais e instrumentais para criar alternativas de desenvolvimentosustentvel e solidrio para a existncia humana, gerao de renda e convivncia social.

    A escola deve preparar para a humanizao, entendida como garantia depreservao da dignidade dos sujeitos do fazer, seja no mercado formal ou informal e,nesse contexto, a educao passa a ser vista e organizada sob outra lgica, que no da

    empregabilidade e do mercantilismo trabalhista, mas da gerao de renda e da auto-sustentabilidade. Portanto, superar a viso dos alunos como empregveis, como

    mercadoria precondio para repensar os currculos (ARROYO, 2008, p.25).

    A formao humana, aqui, entendida enquanto busca de integrao da formaogeral formao profissional, na superao das diversas dicotomias dadas comoverdadeiras e absolutas. Nesse sentido, a oferta do ensino mdio integrado EducaoProfissional Tcnica de Nvel Mdio, uma das alternativas oferecidas atualmente peloMEC para a superao da dicotomia entre educao e mundo do trabalho.

    A realidade de Alagoas revela um nmero elevado de jovens e adultos excludos doseu direito subjetivo dignidade e ao trabalho.

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    nesse contexto que o currculo escolar deve ser pensado e construdo a partir danecessidade urgente de proporcionar a esses sujeitos os instrumentos culturais essenciais busca de novas formas de sobrevivncia, que garantam alternativas de gerao de renda. emergente a construo de um modelo de educao para crianas, adolescentes, jovens e

    adultos para alm das desigualdades sociais, da desqualificao profissional e dadesescolarizao.

    Nesse processo de reflexo e avaliao do currculo da escola atual, no se podedispensar os elementos bsicos do processo pedaggico sob pena de excluir, ainda mais,

    os sujeitos da escola.

    A educao escolar deve ter como pressuposto bsico na organizao do processoeducativo a formao e a valorizao do ser humano como sujeito responsvel pelos rumos

    da sociedade.

    1.5. Educao, diversidade e diferena

    O Brasil um pas rico em sua diversidade biolgica, cultural, tnica, religiosa esocial. Essa diversidade,

    (...) se constitui das diferenas que distinguem os sujeitos uns dos outros

    mulheres, homens, crianas, adolescentes, jovens, adultos, idosos, pessoascom necessidades especiais, indgenas, afrodescendentes, descendentesde portugueses e de outros europeus, de asiticos, entre outros. Adiversidade que constitui a sociedade brasileira abrange jeitos de ser, viver,pensar que se enfrentam. Entre tenses, entre modos distintos deconstruir identidades sociais e tnico-raciais e cidadania, os sujeitos dadiversidade tentam dialogar entre si, ou pelo menos buscam negociar, apartir de suas diferenas, propostas polticas. Propostas que incluam atodos nas suas especificidades sem, contudo, comprometer a coesonacional, tampouco o direito garantido pela Constituio de ser diferente.9

    (CONFINTEA, 2008, p.12)

    Nessa perspectiva, o currculo escolar deve abordar a diversidade como parteintegrante das temticas que constituem as relaes sociais brasileiras, caso contrrio,corre-se o risco de reforar ainda mais a discriminao, negando a diferena edesconsiderando a diversidade.

    A efetivao de uma sociedade democrtica em que as diferenas sejam respeitadase os direitos dos diferentes sujeitos e grupos sociais sejam garantidos em suasrepresentaes na organizao social, poltica, econmica e cultural do pas s possvel

    9Extrado do documento base da VI Conferncia Internacional de Jovens e Adultos CONFINTEA, realizada emBraslia no ms de maro de 2008.

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    por um processo educativo que considere e respeite a diversidade das construeshumanas para melhor compreenso dos seres humanos e de suas relaes.

    Para tanto, o currculo escolar deve incluir na abordagem dos contedos escolares

    as discusses sobre questes de gnero, tnico-raciais e religiosas, multiculturalismo, entreoutras. necessrio que a discusso das diferenas faa parte do contexto escolar,compreendida a partir de seus determinantes histricos e sociais e das relaes que seestabelecem entre os diferentes sujeitos de uma sociedade. As mltiplas relaes sociais noBrasil diferenciam homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, negros, ndios e

    brancos, restringindo os direitos e as oportunidades entre os sujeitos em funo dadiscriminao e do preconceito.

    A cultura da discriminao e do preconceito introjetada nos sujeitos pelas

    interaes sociais que so estabelecidas numa sociedade num determinado tempo.Historicamente buscou-se entender as relaes sociais de gnero com base nas diferenasentre os sexos, com nfase na especificidade biolgica de mulheres e homens,caracterizada pela dominao de um sexo sobre o outro, estabelecendo uma relaohierarquizada de poder, na qual a masculinidade hegemnica seria a ideal e, portanto,superior (VELOSO, 2000).

    Segundo LOURO (2001), a sociedade vive mergulhada em mltiplos discursos sobre

    a sexualidade, um discurso homofbico e reverso em que a homossexualidade entendidacomo desvio e patologia. Desconstruir esse discurso implica em perturbar e subverter ostermos que afirmam as oposies binrias de cada um dos plos (homem/mulher,heterossexual/homossexual).

    necessrio empreender uma mudana epistemolgica que efetivamente rompacom a lgica binria e construa uma abordagem que permita compreender aheterossexualidade e a homossexualidade como interdependentes, como mutuamente

    necessrias e integrantes de um mesmo quadro de referencia (LOURO, 2001, p. 549),questionando o processo pelo qual uma forma de sexualidade (a heterossexualidade)

    acabou por se tornar anorma. A problematizao das fronteiras tradicionais de gnero peem xeque as dicotomias homem/mulher, heterossexualidade/homossexualidade,

    questionando as prprias categorias e sua fixidez.

    Esse processo de mudana nas relaes sociais nos lana para uma pedagogia quesugere o questionamento, a problematizao, a desnaturalizao10 e a incerteza como

    estratgias frteis e criativas para pensar qualquer dimenso da existncia e suas diferentesformas de expresso.

    Outra temtica que deve permear as discusses curriculares e potencializar o

    trabalho pedaggico diz respeito s relaes tnico-raciais. O aluno negro e/ou indgena,

    10Rompimento com o conceito naturalmente posto.

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    por exemplo, precisam (re)construir sua identidade cultural e, nesse sentido, a escola podecontribuir na busca e compreenso dos referenciais que constituem sua etnicidade. Issosignifica reconhecer a importncia e o legado da cultura do povo africano e indgena,construindo estratgias e diretrizes para incluso no currculo escolar de conhecimentos

    sobre a Histria da frica, da Cultura Afro-Brasileira e Afro-Alagoana e Indgena, a luta dospovos negros e indgenas na formao da sociedade alagoana, resgatando as suascontribuies na rea social, econmica e poltica. 11

    preciso que o trabalho pedaggico respeite a tradio cultural dos diferentes

    sujeitos, apreendendo e compreendendo os elementos da construo histrica dessasculturas, estabelecendo as relaes entre elas e os contedos escolares, de forma

    interdisciplinar, a partir da anlise dos aspectos histricos, culturais, sociolgicos,antropolgicos, vistos sob a tica dos sujeitos em todos os nveis da educao bsica:

    infantil, fundamental e mdio.

    Portanto, faz-se necessrio promover mudanas curriculares que contemplem apluralidade cultural e a diversidade tnico-racial, como elementos fundamentais para aafirmao da identidade - pluricultural e multitnica - do povo brasileiro e que combatam oracismo e as discriminaes.

    O currculo deve possibilitar a formao de atitudes, posturas e valores que

    possibilite a formao de cidados orgulhosos de seu pertencimento tnico-racial parainteragir na construo de uma sociedade democrtica em que todos possam ter seusdireitos garantidos e sua identidade valorizada.

    A diversidade religiosa outro tema da diversidade, sendo papel das escolas orespeito a todas as formas de expresso e de representao das diversas religiosidades,sejam elas matrizes religiosas europias, africanas, asiticas, indgenas, orientais, dentreoutras. o reconhecimento e auto-afirmao dos sujeitos e do direito de liberdade de

    expresso de suas crenas e rituais religiosos12. Portanto, as prticas pedaggicas devemcombater todo tipo de intolerncia religiosa13.

    A prtica pedaggica da escola deve estar conectada com diferentes espaos,

    considerando como referncia a comunidade onde se encontra inserida, no entanto, sem selimitar a ela. Deve partir da valorizao da realidade social dos sujeitos a quem se destina,sejam eles povos da cidade ou do campo.

    Esta prtica precisa estar vinculada cultura e s relaes mediadas pelo trabalho,entendido como produo material e cultural de existncia humana. Essas relaes

    11Implementao das Leis 11.645/2006 (Nacional) e 6.814/2007 (Estadual) que tornam obrigatrio o ensino de

    Histria e Cultura Afro-Brasileira, Afro-Alagoana e Indgena nos estabelecimentos de ensino da educao bsica.12 Conforme afirma o artigo 5, inciso VI da Constituio e artigo 18 da Declarao Universal dos DireitosHumanos13Lei N 7.028/2009

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    econmicas e sociais so vividas e construdas por sujeitos concretos, de diferentesgneros, etnias, religies, grupos sociais, movimentos populares, vinculadas a diferentesorganizaes sociais e diferentes formas de produzir e viver individual e coletivamente.

    Faz-se necessrio desenvolver uma prtica pedaggica em que todos se sintamincludos, sem ter que negar a si mesmo e adotar costumes, ideias e comportamentosadversos ao grupo tnico-racial, de gnero, classe, religio e/ou orientao sexual ao qualpertencem.

    preciso, pois, garantir o direito e o acesso educao a todos os cidadosbrasileiros, homens e mulheres, homossexuais e heterossexuais, ndios, brancos e negros,

    habitantes do campo e da cidade, criando formas e estratgias para que todos possam ter aoportunidade de construir sua vida escolar com respeito e sucesso.

    3.6 A Educao ambiental e a Formao Humana

    A sociedade contempornea convive com graves problemas ambientais, decorrentesde um conjunto de fatores relacionado a questes polticas, econmicas, sociais e culturais.As atuais condies de vida no planeta apontam para grandes dificuldades a seremenfrentadas pelos seres humanos num futuro bem prximo, tais como: aquecimento global,

    escassez de gua potvel, processo de desertificao e poluio do ar. Esses casosdemonstram alguns sinais do cenrio produzido pela ao humana sobre a natureza.

    Assim, a educao ambiental parte integrante da formao humana, tanto nombito social como no mbito educacional, perpassando todos os nveis e modalidades deensino. Portanto, necessrio garantir, no currculo das escolas, a insero da educaoambiental, fundamentada no respeito a todas as formas de vida, na construo de valores eno desenvolvimento de aes que contribuam para a preservao do ecossistema

    planetrio.

    Analisar criticamente essa questo diz respeito, entre outras coisas, ao exercciopleno da cidadania e a perspectiva de construo de uma sociedade mais democrtica,

    sustentvel e solidria.

    Nesse contexto, a educao ambiental tem o compromisso de promover a reflexosobre as aes praticadas cotidianamente, a incorporao de novos hbitos e valores e amudana de prticas sociais, polticas e produtivas. Implica analisar a forma como se vivenesta sociedade, o conjunto de princpios, valores, comportamentos, hbitos e atitudes quesustentam as relaes entre os seres humanos e destes com a natureza.

    A Constituio Federal de 1988 atribui ao Estado, o dever de promover a EducaoAmbiental em todos os nveis de ensino. Essa responsabilidade ratificada pela Lei n.9394/96 (LDB), pela Lei n. 9.795/99 e regulamentada pelo Decreto n. 4.281/02. Tais

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    normativos asseguram o direito educao ambiental e, simultaneamente, compromete ossistemas de ensino a prov-lo no mbito da educao bsica.

    Nessa perspectiva, no processo ensino e de aprendizagem, a educao ambiental

    deve ser trabalhada de forma interdisciplinar, integrando-se aos conhecimentos especficosde cada componente curricular, de modo a oferecer ao aluno as condies necessrias paraa construo de uma viso global e equilibrada do meio em que vive e uma atuao maisconsciente e responsvel.

    Para isso necessrio o desenvolvimento de prticas curriculares que garantam:

    o desenvolvimento do pensamento crtico e inovador, em qualquer tempo ou lugar,

    em seu modo formal, no formal e informal, ou seja, no cotidiano da prxis social,promovendo a transformao e a construo de uma nova sociedade;

    a educao ambiental de forma individual e coletiva, contribuindo para a formao decidados com conscincia local e planetria, que respeite a autodeterminao dospovos e a soberania das naes;

    o envolvimento dos educandos no debate das questes ambientais, enfocando arelao entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar;

    a discusso das questes ambientais globais, abordando suas causas e inter-

    relaes no contexto social e histrico, contemplando os aspectos primordiaisrelacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente tais como: populao, sade,

    democracia, fome, degradao da flora e da fauna; a cooperao e o dilogo entre indivduos e instituies, com a finalidade de criar

    novos modos de vida, baseados em atender as necessidades bsicas de vida paratodos, sem distines de etnia, gnero, idade, religio, classe ou habilidades fsicasou mentais;

    a democratizao dos meios de comunicao de massa e seu comprometimentocom os interesses de todos os setores da sociedade, transformando-o em um canalprivilegiado de educao e disseminao de informaes em bases igualitrias;

    a conscincia tica sobre todas as formas de vida com as quais os seres humanoscompartilham esse planeta, respeitando seus ciclos vitais e impondo limites explorao dessas formas de vida.14

    Sendo assim, o papel social da escola garantir um espao de reflexo contnuasobre suas prticas, contribuindo para ampliar a viso crtica da sociedade e, com isso,incentivar uma maior participao da comunidade escolar nas discusses sobre as relaesentre sociedade e natureza, objetivando um possvel modo de vida sustentvel.

    14Tratado da Educao Ambiental

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    4. PRESSUPOSTOS PARA A ORGANIZAO CURRICULAR DAS ETAPAS EMODALIDADES DA EDUCAO BSICA

    A Educao Bsica est organizada em trs etapas: Educao Infantil, EnsinoFundamental e Ensino Mdio. A cada etapa da Educao Bsica pode corresponder uma oumais modalidades de ensino: Educao de Jovens e Adultos, Educao Especial, EducaoProfissional e Tecnolgica, Educao do Campo, Educao Escolar Indgena, EducaoQuilombola e Educao a Distncia.

    As etapas e as modalidades do processo de escolarizao na Educao bsicaestruturam-se de modo orgnico, sequencial e articulado. A dimenso orgnica atendida

    como as especificidades e a diferenas de cada sistema educativo. A dimenso sequencialcompreende os processos educativos que acompanham as aprendizagens definidas emcada etapa do percurso formativo da Educao Bsica. E a articulada entendida enquantoarticulao das dimenses orgnica e sequencial das etapas e das modalidades daEducao Bsica.15

    A transio entre as etapas da Educao Bsica e suas fases requer formas dearticulao das dimenses orgnica e sequencial que assegurem aos educandos, semtenses e rupturas, a continuidade de seus processos peculiares de aprendizagem edesenvolvimento, seus tempos mentais e os aspectos socioemocionais, culturais e

    identitrios como princpio orientador de toda a ao educativa.

    4.1. Educao infantil

    A educao infantil tem como desafio uma dupla funo: cuidar e educar as crianasde zero at seis anos de idade. Essa dupla funo deve ser trabalhada de forma articulada eintegrada no currculo escolar. 16

    Refletir sobre a construo do currculo da educao infantil pensar o conjunto de

    atividades pedaggicas do ponto de vista do universo da infncia e significa conceber omundo sob a perspectiva das crianas em suas diferentes fases de desenvolvimento. Apartir da, possvel perceber o papel de interveno do adulto no processo deaprendizagem e desenvolvimento das crianas.

    Adentrar o universo infantil implica perceber e compreender as formas utilizadas

    pelas crianas para se comunicar, expressar e interagir com outras crianas, com os adultose tambm com o mundo que as cerca. necessrio compreender que crianas pequenasesto em permanente descoberta do mundo e, por isso, as atividades curriculares devemestimular e propiciar cada vez mais essa busca de entendimento dos por qusem relao a

    15DCNCNGEB,2010. Art.18.16DCGNEB,2010 Art. 6, DCNEI,2009 Art.9 alnea a.

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    coisas, seres, objetos, fenmenos e relaes. A criana pequena est iniciando suasinteraes com o mundo e a partir dessas interaes que estabelece suas anlises,hipteses, associaes, generalizaes e snteses.

    A interao social se constitui, portanto, em elemento direcionador na definio eorganizao das atividades curriculares a serem desenvolvidas no cotidiano da sala de aula,j que as crianas aprendem na troca entre elas e com as crianas mais experientes.Interagindo, as crianas, alm de levantar e propor hipteses, discutem, negam ou afirmamconceitos, testam e constroem suas verdades.

    O currculo da educao infantil deve ser organizado de forma a propiciar a

    construo das aprendizagens bsicas essenciais criana para uma melhor compreensoe interao no mundo em suas diversas dimenses (espaciais, ecolgicas, estticas,

    sociais, histricas, lingsticas, matemticas, etc). Nesse processo, o ldico, presente nofaz-de-conta, nas brincadeiras, nos jogos e na fantasia, pressuposto fundamental nodesenvolvimento das crianas pequenas e, portanto, deve ser considerado como elementopropulsor da aprendizagem.

    No trabalho pedaggico da educao infantil, as interaes e as brincadeiras so ofio condutor na organizao das atividades curriculares, de maneira a contribuir nodesenvolvimento das aprendizagens bsicas, construo de conceitos, incorporao de

    valores e construo dos conhecimentos que promovam uma melhor compreenso dasinter-relaes que fazem a dinmica das relaes sociais mais prximas das crianas. 17

    Atravs dos jogos e brincadeiras, a criana aprende a conhecer a si prpria,as pessoas que a cercam, as relaes entre as pessoas e os papeis queelas assumem. Ela aprende sobre a natureza, os eventos sociais, aestrutura e a dinmica interna de seu grupo. atravs deles, tambm, queela explora as caractersticas dos objetos que a rodeiam e chega acompreender seu funcionamento. (LIMA,1990, p.21)

    Atravs das brincadeiras, a criana pequena representa, imita, experimenta eincorpora papis sociais, condutas, valores e atitudes observados na realidade adulta.Quando a criana brinca apresenta atitudes e comportamentos incomuns ao seu dia a dia,incorpora personagens e/ou fatos que podem ter sido observados em seu cotidiano: filmes,novelas, desenhos animados etc. Por isso, as atividades escolares devem propordramatizaes, imitaes, vivncias e experincias significativas para o seudesenvolvimento.

    Pouco a pouco, as brincadeiras vo se transformando, acrescentando e/ousubstituindo elementos no s exteriores, pois tambm vo promovendo novas capacidades

    17DCNEI, 2009, Artigos 6,7,8,9 e 10.

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    intelectuais (associao, classificao, seriao, generalizao, imaginao, percepo etc.)em atendimento a alguma necessidade psicolgica, afetiva, biolgica ou social.

    Os brinquedos diferem em seu contedo e origem. H jogos com regras tradicionais

    e/ou criadas pelo grupo, jogos em que as regras podem variar e o princpio permanecerinalterado, jogos de papis, jogos com objetivos, jogos de fantasia, jogos de dramatizao,jogos didticos. As crianas podem brincar das mesmas coisas em idades e formasdiferentes.

    Desse modo, faz-se necessrio que os espaos e tempos escolares sejamcuidadosamente organizados, considerando o conjunto de atividades curriculares que se

    pretende realizar durante o processo de permanncia das crianas na escola. Porconseguinte, o espao escolar deve ser amplo e adequado a uma multiplicidade de

    atividades, com recursos diversificados que permitam a realizao de brincadeiras,construo de brinquedos e jogos, e a interao dos grupos, permitindo o acesso aatividades sistemticas de engatinhar, treinar seus primeiros passos, correr, pular, explorarobjetos, jogos e brincadeiras de faz-de-conta em funo de suas necessidades e interesses.

    A linguagem, tambm, deve ser considerada como princpio terico-metodolgico naorganizao curricular, j que tem papel fundamental no desenvolvimento da criana, poisna medida em que a utilizam como forma de interao, promove o desenvolvimento de suas

    funes cognitivas e psquicas.

    No trabalho com as crianas nas creches e pr-escolas, o uso das diversaslinguagens fundamental, pois alm de auxiliar a comunicao das crianas em suasdiferentes fases de desenvolvimento, contribuem para o desenvolvimento do seu processocognitivo e ampliam as possibilidades de interao e vice-versa. primordial para odesenvolvimento das crianas que o adulto leia histrias, cante, brinque, converse com elas,mesmo com aquelas que ainda no se utilizam da linguagem verbal.

    Na escola, o adulto tem papel importante no desenvolvimento da linguagem oral da

    criana pequena, j que ele o responsvel por atribuir significados s palavras proferidaspela criana e fornecer os elementos lingusticos essenciais construo de seu

    vocabulrio.

    A linguagem permite ao ser humano simbolizar elementos (objetos e fatos) darealidade, possibilitando-lhe operar na ausncia de tais elementos, desenvolvendo cada vezmais sua capacidade de abstrao. O salto qualitativo para o pensamento verbal e tambmpara a fala int