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UFOP - CETEC - UEMG REDEMAT REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG Dissertação de Mestrado Preparação, caracterização e fabricação de sensores de acúmulo de dose de radiação azul baseado em sistemas orgânicos luminescentes” Autor: Giovana Ribeiro Ferreira Orientador: Prof. Rodrigo Fernando Bianchi Fevereiro de 2009

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  • UFOP - CETEC - UEMG

    REDEMATREDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

    UFOP – CETEC – UEMG

    Dissertação de Mestrado

    “Preparação, caracterização e fabricação de sensores

    de acúmulo de dose de radiação azul baseado em

    sistemas orgânicos luminescentes”

    Autor: Giovana Ribeiro Ferreira

    Orientador: Prof. Rodrigo Fernando Bianchi

    Fevereiro de 2009

  • UFOP - CETEC - UEMG

    REDEMATREDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

    UFOP – CETEC – UEMG

    Giovana Ribeiro Ferreira

    “Preparação, caracterização e fabricação de sensores de acúmulo

    de dose de radiação azul baseado em sistemas orgânicos

    luminescentes”

    Dissertação de Mestrado apresentada

    ao Programa de Pós-Graduação em

    Engenharia de Materiais da

    REDEMAT, como parte integrante dos

    requisitos para a obtenção do título de

    Mestre em Engenharia de Materiais.

    Área de concentração: Análise e seleção de materiais

    Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Fernando Bianchi

    Ouro Preto, Março de 2009

  • iii

    Dedico este trabalho às

    pessoas mais importantes de minha vida:

    meus pais Cesário e Cristina.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus.

    Aos meus pais pelo apoio, confiança e incentivo em todos os momentos e

    principalmente pelos valores e princípios ensinados. A toda minha família, minha primeira

    escola, pelo apoio e ensinamentos.

    Ao professor Dr. Rodrigo Fernando Bianchi pela confiança, amizade, ensinamentos e,

    principalmente, pelo exemplo de dedicação, profissionalismo e amor à ciência.

    Aos colegas de trabalho do Laboratório de Polímeros e Propriedades Eletrônicas de

    Materiais – LAPPEM pelos estudos, ajudas, discussões, risadas, e pelo ambiente amigável de

    trabalho. Principalmente àqueles que além de colegas de trabalho se tornaram verdadeiros

    amigos. É muito bom poder contar com vocês! Em especial, agradeço à Velha Guarda:

    Mirela, Marcos Vinícius, Fábio e Cláudia pela convivência e companheirismo durante este

    trabalho, pelas horas de estudo, pelas dificuldades divididas, pelos desabafos...

    À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes, ao Instituto

    Multidisciplinar de Materiais Poliméricos – IMMP, pelo suporte financeiro.

    À Profa. Dra. Alceni Werle Augusta pela co-orientação e auxilio para a execução

    deste trabalho.

    À Dra. Déborah Tereza Balogh e ao Prof. Dr. Eduardo Ribeiro de Azevedo pelas

    medidas de GPC e RMN e discussões sobre o trabalho.

    Aos professores, técnicos e corpo administrativo do DEFIS/UFOP e DEQUI/UFOP.

  • v

    “Quaisquer que sejam os prodígios realizados pela inteligência humana, essa

    inteligência tem, ela mesma, uma causa, e quanto maior o que ela realiza é,

    maior deve ser a causa primeira. Esta inteligência é a causa de todas as coisas,

    qualquer que seja o nome sob o qual o homem a designe.”

    Allan Kardec

  • vi

    SUMÁRIO

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. IV

    SUMÁRIO ............................................................................................................................... VI

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. VII

    ABSTRACT .......................................................................................................................... XVI

    1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 2

    1.1 – Objetivos e descrição do trabalho ..................................................................................... 4

    2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 6

    2.1- Compostos orgânicos conjugados ....................................................................................... 6

    2.1.1 – A hibridização sp2 do carbono sua relação com as propriedades de moléculas

    orgânicas conjugadas .................................................................................................................. 7

    2.1.2 – Processos de absorção, emissão e transferência de energia ........................................... 9

    2.1.3 – Aplicações de moléculas orgânicas conjugadas: eletrônica orgânica .......................... 15

    2.1.4 – Aplicação dos compostos orgânicos conjugados como sensores de radiação ............. 18

    2.2.1 - Hiperbilirrubinemia neonatal e fototerapia com luz azul ............................................. 20

    3 - MÉTODOS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS .................................................. 30

    3.1 - Reagentes ou compostos utilizados ................................................................................. 30

    3.1.1 - Poli(2-metóxi,5-etil(2-hexilóxi)-p-fenilenovinileno) – MEH-PPV .............................. 31

    3.1.2 - Tris-(8-hidroxiquinolinolato) de alumínio (III) ............................................................ 33

    3.1.2 – Poliestireno - PS ........................................................................................................... 35

    3.2 – Preparação de soluções e filmes orgânicos luminescentes .............................................. 36

    3.2.1 - Tratamento do solvente ................................................................................................. 37

    3.2.2 - Preparo das soluções de Alq3, MEH-PPV e Alq3/MEH-PPV ....................................... 37

    3.3.3 - Preparação dos filmes de PS/MEH-PPV, PS/Alq3 e PS/MEH-PPV/Alq3 ..................... 39

    4 - EQUIPAMENTOS E MÉTODOS DE CARACTERIZAÇÃO .......................................... 41

    4.1 – Medidas Ópticas .............................................................................................................. 41

    4.1.1 – Espectrofotômetro UV-VIS SHIMADZU série 1650 .................................................. 41

    4.1.2 – Espectrofotômetro Ocean Optics USB 2000 ................................................................ 42

    4.1.3 – Sistema Fototerapêutico Bilitron® 3006 ...................................................................... 43

    4.2.1 – Espectrômetro de Infravermelho com Transformada de Fourier Nicolet 560 ............. 46

    4.2.5 – Espectroscopia de ressonância magnética nuclear ....................................................... 47

    5 - CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS ........................................................................ 48

    5.1 - Caracterização Óptica ...................................................................................................... 48

    5.2 - Caracterizações estruturais ............................................................................................... 65

  • vii

    5.2.1 - Espectroscopia de absorção no infravermelho (FTIR) ................................................. 65

    5.2.3 – Cromatografia de exclusão por tamanho ...................................................................... 70

    5.2.4 – Ressonância magnética nuclear .................................................................................... 75

    5.2.2 - Espectrometria de massas (MS) .................................................................................... 76

    5.3 – Discussão dos resultados ................................................................................................. 78

    6 - DESENVOLVIMENTO DE DOSÍMETRO ...................................................................... 80

    6.1- Concepção, desenvolvimento, fabricação e otimização do sensor ................................... 80

    6.2 Discussão dos Resultados. .................................................................................................. 85

    7 - CONCLUSÃO .................................................................................................................... 87

    8 - PRINCIPAIS RESULTADOS GERADOS AO LONGO DO TRABALHO .................... 90

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1.1: (a) Aparelho de barbear com display monocromático[3]

    e (b) display

    policromático, flexível e de alta definição produzido com polímeros conjugados

    luminescentes[4]

    . ......................................................................................................................... 2

    FIGURA 1. 2: (a) Soluções de MEH-PPV expostas a radiação azul. (b) Sensor de acúmulo de

    radiação desenvolvimento no LAPPEM [36, 37]

    . .......................................................................... 4

    FIGURA 2. 1: Esquema representativo da hibridização do tipo sp2 em átomos de carbono. (a)

    orbital s e dois dos orbitais p antes da hibridização; (b), (c) e (d) orbitais híbridos sp

    mostrados de diferentes ângulos[40]

    . ........................................................................................... 7

    FIGURA 2. 2: Esquema representativo dos orbitais envolvidos na ligação entre dois C sp2: (a)

    Início da sobreposição frontal entre orbitais sp de dois átomos de carbono (b) Visão superior

    da sobreposição entre orbitais sp e formação da ligação (c) Visão lateral da sobreposição

    entre orbitais sp e formação da ligação (d) Início da sobreposição entre os orbitais p-puros

    (e) Sobreposição entre os orbitais p-puros e formação da ligação π (f) molécula do eteno,

    formando por ligações /π entre átomos de C e ligação com átomos de hidrogênio[40]

    . ........ 8

    FIGURA 2. 3: Diagrama, em distribuição de energia, da formação de orbitais moleculares

    entre dois átomos de carbono sp2[41]

    . .......................................................................................... 8

    FIGURA 2. 4: Diagrama de níveis de energia idealizado por Jablonski mostrando as formas

    de desativação de um cromóforo orgânico [50]

    . ........................................................................ 10

    FIGURA 2. 5: Possibilidades de decaimento radiativo e não radiativo de um excímero ou

    agregado. .................................................................................................................................. 11

    FIGURA 2. 6: Esquema hipotético de níveis de energia mostrando os processos de absorção e

    de fluorescência e os correspondentes espectros. ..................................................................... 12

    FIGURA 2. 7: Display de alta definição policromático confeccionado com material orgânico

    não polimérico[54]

    . .................................................................................................................... 15

    FIGURA 2. 8: Esquema representativo a respeito das conclusões relacionadas à fotooxidação

    por diferentes autores nos últimas décadas[12-25]

    . ..................................................................... 17

    FIGURA 2. 9: Fórmula estrutural da molécula de bilirrubina. ................................................ 20

    FIGURA 2. 10: Esquema ilustrativo do mecanismo de transformação da Bilirrubina

    promovido pela radiação[61]

    . ..................................................................................................... 22

    FIGURA 2. 11: Espectro de absorção da bilirrubina ............................................................... 23

  • ix

    FIGURA 2. 12: Esquema representativo dos fatores que interferem na eficácia da fototerapia

    no tratamento da Hiperbilirrubinemia neonatal[62]

    . .................................................................. 24

    FIGURA 2. 13: Recém-nascido ictérico recebendo tratamento de fototerapia. Foto:

    R.F.Bianchi (2005). .................................................................................................................. 24

    FIGURA 2. 14: Gráfico ilustrativo da irradiância emitida por diferentes fontes de radiação

    utilizadas em fototerapia neonatal. ........................................................................................... 26

    FIGURA 2. 15: Esquema representativo da necessidade e das conseqüências causadas pela

    falta de controle da radiação administrada durante a fototerapia neonatal. ............................. 28

    FIGURA 2. 16: Levantamento estatístico do número de neonatos que nascem no país e

    apresentam ou não icterícia e que, conseqüentemente, necessitam de tratamento ou

    apresentam seqüelas graves ou óbito. ...................................................................................... 29

    FIGURA 3. 1: Fórmula estrutural do poli(2-metóxi,5-etil(2-hexilóxi)p-fenilenovinileno)[63]

    . 31

    FIGURA 3. 2: Espectros de absorção e de emissão do MEH-PPV (250 µg/ml) em solução de

    clorofórmio com excitação em 417 nm. Destaca-se na figura a solução polimérica excitada

    com luz violeta. ........................................................................................................................ 32

    FIGURA 3. 3: Fórmula estrutural do tris-(8-hidroxiquinolinolato) de alumínio (III)[64]

    . ........ 33

    FIGURA 3.4: Espectros de absorção e de emissão do Alq3 (500 µg/ml) em solução de

    clorofórmio com excitação em 417 nm. ................................................................................... 34

    FIGURA 3.5: Espectros de MEH-PPV e de Alq3 em clorofórmio mostrando absorção do

    MEH-PPV e emissão do Alq3 antes da exposição à radiação. ................................................. 35

    FIGURA 3.6: Fórmula estrutural do tris-(8-hidroxiquinolinolato) de alumínio (III). ............. 35

    FIGURA 3.7: Espectro de absorção no visível apresentado pelo PS. ...................................... 36

    FIGURA 3.8: Ampola de vidro sendo recoberta com tinta para a fotoproteção das soluções. 38

    FIGURA 3.9: Diagrama representativo das etapas descritas neste capítulo. ........................... 40

    FIGURA 4.1:Suporte de amostras confeccionado para realização de medidas ópticas em

    soluções dispostas em ampola de vidro com o espectrômetro UV-VIS SHIMADZU série

    1650. ......................................................................................................................................... 42

    FIGURA 4.2: Espectro de emissão do LED violeta utilizado para excitação dos compostos

    MEH-PPV e Alq3. .................................................................................................................... 42

    FIGURA 4.3: Sistema de excitação dos materiais. .................................................................. 43

    FIGURA 4.4: a) Sistema fototerapêutico Bilitron® 3006 posicionado a 30 cm das amostras.

    b) Super-Leds do Sistema fototerapêutico Bilitron® 3006. ..................................................... 43

  • x

    FIGURA 4.5: Diagrama de Cromaticidade .............................................................................. 45

    FIGURA 5.1: Espectros de (a) absorção e de (b) fotoemissão da solução de MEH-PPV em

    CHCl3 exposta durante 480 min à radiação azul, onde te é o tempo de exposição da solução à

    radiação. ................................................................................................................................... 49

    FIGURA 5.2: Espectros de (a) absorção e de (b) fotoemissão da solução de Alq3 em CHCl3

    exposta durante 480 min à radiação azul, onde te é o tempo de exposição da solução à

    radiação. ................................................................................................................................... 50

    FIGURA 5.3: Comprimento de absorção e emissão máximas, λmax, obtidas das Figs. 5.1 e 5.2

    para as soluções em clorofórmio de (a) MEH-PPV e (b) Alq3 em função do tempo de

    exposição à radiação (te). .......................................................................................................... 51

    FIGURA 5.4: Intensidade de absorção e emissão em λmax, I(λmax), obtidas das Figs. 5.1 e 5.2

    para as soluções em clorofórmio de (a) MEH-PPV e (b) Alq3 em função do tempo de

    exposição à radiação (te). .......................................................................................................... 51

    FIGURA 5.5: Intensidade de fotoemissão em máx, I(máx), em função do tempo de exposição

    à radiação para soluções de (a) MEH-PPV e (b) Alq3 com diferentes concentrações em

    clorofórmio. .............................................................................................................................. 53

    FIGURA 5.6: Intensidade fotoemissão em λmax, I(λmax) para as soluções de (a) MEH-PPV e

    (b) Alq3 em clorofórmio enriquecido com O2 ou N2 em função do tempo de exposição à

    radiação (te). ............................................................................................................................. 55

    FIGURA 5.7: Intensidade de fotoemissão em máx, I(λmax), para as soluções de Alq3 tratadas

    de diferentes forma em função do tempo de exposição à radiação (te). ................................... 56

    FIGURA 5.8: Reação de hidrólise do Alq3 e consecutiva oxidação da 8-Hq em compostos não

    luminescentes. .......................................................................................................................... 57

    FIGURA 5.9: Espectros (a) de absorção e (b) de emissão da solução de MEH-PPV/Alq3 com

    250µg/ml de MEH-PPV e 500 µg/ml Alq3 expostas à radiação durante 480 min. .................. 58

    FIGURA 5.10: Evolução das cores de emissão das soluções de MEH-PPV/Alq3 quando

    expostas à radiação azul durante (a) 0 min, (b) 120 min, (c) 240 min e (d) 480 min à radiação

    azul. .......................................................................................................................................... 59

    FIGURA 5.11: Intensidade de luminescência da solução de MEH-PPV/Alq3 em clorofórmio

    (a) Intensidade em 570 nm durante a primeira hora de irradiação (b) Intensidade em 540 nm

    no intervalo de 1 hora a 8h de irradiação. ................................................................................ 60

    FIGURA 5.12: Espectro de (a) absorção; (b) fotoemissão filmes de PS/MEH-PPV exposto à

    radiação durante 480 min. ........................................................................................................ 61

    FIGURA 5.13: Espectro de (a) absorção; (b) fotoemissão filmes de PS/Alq3 exposto à

    radiação durante 480 min. ........................................................................................................ 62

  • xi

    FIGURA 5.14: Comprimento de absorção e emissão máximas, λmax, obtidas das Figs. 5.12 e

    5.13 para filmes de (a) PS/MEH-PPV e (b) PS/Alq3 em função do tempo de exposição à

    radiação (te). ............................................................................................................................. 63

    FIGURA 5.15: Os espectros de (a) absorção e (b) emissão obtidos para filmes de PS/MEH-

    PPV/Alq3 expostos à radiação durante 480 min. ...................................................................... 64

    FIGURA 5.16: Espectros de Absorção na região do infravermelho obtidos a partir de soluções

    de MEH-PPV expostas à radiação durante diferentes tempos e depositadas em lâminas de

    silício. ....................................................................................................................................... 66

    FIGURA 5.17: Espectros de Absorção na região do infravermelho obtidos a partir de filmes

    de PS, PS/MEH-PPV, PS/Alq3, PS/MEH-PPV/Alq3. .............................................................. 67

    FIGURA 5.18: Evolução da intensidade das bandas relacionadas às carbonilas e ligações

    vinílicas com te. ........................................................................................................................ 69

    FIGURA 5.19: Cromatograma representando a distribuição do polímero sem exposição à

    radiação. ................................................................................................................................... 70

    FIGURA 5.20: Distribuição de massa molar para o MEH-PPV obtida no intervalo de 104-10

    7

    g/mol. ........................................................................................................................................ 71

    FIGURA 5.21: Cromatograma de Exclusão por Tamanho apresentando a distribuição da

    massa molecular de polímeros expostos à radiação durante diferentes tempos: (a)120 min; (b)

    480 min; (c) 720 min; (d) 1440min. ......................................................................................... 72

    FIGURA 5.22: Evolução de Mn e Mz obtidas para amostras de MEH-PPV calculada para (a)

    moléculas de polímeros (b) moléculas de oligômeros e polímeros. ........................................ 74

    FIGURA 5.23: Espectros de RMN do MEH-PPV (a) antes e (b) após a sua exposição à

    radiação azul durante 336 horas. .............................................................................................. 75

    FIGURA 5.24: Espectro de massas obtido para a fração do polímero solúvel em metanol não

    exposto à radiação (a) espectro de moléculas polarizadas positivamente (b) espectros de

    polarizadas negativamente. ...................................................................................................... 77

    FIGURA 5.25: Espectro de massas obtido para a fração do polímero solúvel em metanol

    exposto à radiação por 1440 min (a) espectro de moléculas polarizadas positivamente (b)

    espectros de polarizadas negativamente. .................................................................................. 77

    FIGURA 6.1: Diagrama de cores obtido de fotografias das soluções representado (a) Cores

    refletidas; (b) cores emitidas em função do tempo de exposição à radiação. As soluções foram

    preparadas com 250 µg/ml de MEH-PPV em clorofórmio e variando-se a massa de Alq3 ..... 81

    FIGURA 6.2: Diagrama de cromaticidade representando as mudanças na cor refletida ao

    longo da exposição à radiação para soluções de MEH-PPV/Alq3 com proporção em massa de

    (a) 1/1; (b) 1/2; (c) 1/3; (d) 1/4 de MEH-PPV/Alq3. Os resultados foram extraídos das

    soluções apresentadas na Fig. 6.1. ............................................................................................ 82

  • xii

    FIGURA 6.3: Diagrama de cromaticidade representando as mudanças na cor emitida ao longo

    da exposição à radiação para soluções de MEH-PPV/Alq3 com proporção em massa de (a)

    1/1; (b) 1/2; (c) 1/3; (d) 1/4 de MEH-PPV/Alq3. ...................................................................... 83

    FIGURA 6.4: Foto e diagrama de cromaticidade mostrando a mudança na coloração da

    radiação emitida por filmes flexíveis à base de PS/MEH-PPV/Alq3 antes (emissão de luz

    vermelha) e depois (emissão de luz verde) da exposição à radiação azul. ............................... 84

    FIGURA 6.5: Dosímetro sinalizador à base de PS/MEH-PPV/Alq3 colado na fralda de uma

    boneca representando o neonato (a) antes e (b) depois da exposição à radiação. .................... 85

  • xiii

    LISTA DE TABELAS

    Nenhuma entrada de índice de ilustrações foi encontrada.

    TABELA V. 1: Bandas vibracionais observadas nos espectros de FTIR e ligações aos quais

    são atribuídas. ........................................................................................................................... 68

    TABELA V. 2: Valores Mn, Mz e D obtidas para amostras de MEH-PPV expostas à radiação

    durante diferentes intervalos de tempo. .................................................................................... 73

  • xiv

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ABS - Absorção.

    Alq3 - Tris-8(hidroxiquinolinolato) de alumínio

    FTIR - Espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier / (Fourier

    Transform Infrared).

    HOMO - Orbital molecular de maior energia ocupado / (Highest occupied molecular orbital).

    IC – Conversão Interna / (Internal conversion).

    ISC – Cruzamento intersistema / (Intersystem crossing)

    LAPPEM - Laboratório de Polímeros e Propriedades Eletrônicas de Materiais.

    LUMO - Orbital molecular de maior energia ocupado / (Lowest unoccupied

    molecular orbital).

    MEH-PPV - Poli(2-metóxi,5-etil(2-hexiloxi)parafenilenovinileno).

    MS - Espectroscopia de massas / (Mass spectrometry).

    PS - Poliestireno.

    PL - Fotoluminescência / (Photoluminescence).

    PLED - Dispositivo polimérico emissor de luz / (Polymer light-emitting diode).

    PPV - Poli(p-fenilenovinileno).

    RMN 13

    C - Ressonância magnética de carbono 13 / (NMR13

    C - 13

    C nuclear magnetic

    resonance spectroscopy).

    RN - Recém nascido.

    SEC - Cromatografia de exclusão por tamanho / (Size exclusion chromatography).

    SOC - Acoplamento spin-órbita / (Spin-orbit coupling).

    UV-VIS - Ultravioleta -visível.

  • xv

    LISTA DE SÍMBOLOS

    λmax - Comprimento de onda de maior intensidade do espectro.

    , - Orbitais moleculares ligantes.

    *, * - Orbitais moleculares anti-ligantes.

    -*, -* - Transições entre orbitais moleculares

    - Deformação fora do plano,

    - Estiramento da ligação,

    a - Antissimétrica

    s - Simétrica.

    te - Tempo de exposição à radiação

    I(λmax) - Intensidade em λmax.

  • xvi

    RESUMO

    Desde a descoberta das propriedades eletroluminescentes dos cristais orgânicos em 1963 e

    posteriormente dos polímeros conjugados em 1977, inúmeros grupos de pesquisa focaram

    seus estudos na preparação, na caracterização e no uso desses materiais como elemento ativo

    de dispositivos emissores de luz. Embora esforços tenham sido realizados com o objetivo de

    ampliar o tempo de vida desses dispositivos visando, sobretudo, sua inserção comercial, os

    efeitos de fotoxidação dos materiais orgânicos ainda é uma das principais causas dessa

    limitação e restrição. Se por um lado esse efeito é atualmente a principal barreira para

    inserção comercial dos dispositivos luminosos baseados em cristais orgânicos ou polímeros,

    por outro ele abre a possibilidade de concepção e desenvolvimento de dosímetros de radiação.

    Neste trabalho é apresentado a concepção, o design, a caracterização e a fabricação de um

    novo sensor de radiação de luz azul baseado nas mudanças das propriedades ópticas de

    soluções e filmes de tris(8-hydroxiquinolato) de alumínio - Alq3 e poli(2-metóxi,5-etil(2-

    hexiloxi)parafenilenovinileno) – MEH-PPV. Os resultados obtidos mostram que o sistema

    MEH-PPV/Alq3 apresenta mudança gradativa de cor do laranja ao amarelo claro, enquanto

    seu pico de emissão máxima muda do vermelho-laranja (571 nm) ao verde (540 nm) com o

    tempo de exposição à radiação (foco 460 nm, 40 W/cm2/nm). As taxas dessas mudanças são

    alteradas facilmente de 2 h a 8 h por meio da manipulação de alguns parâmetros como

    abundancia de oxigênio umidade e possibilitando o desenvolvimento de um sensor, tipo selo

    inteligente, de fácil operação e leitura, de baixo custo (< R$ 0,10) e de grande confiabilidade

    para o monitoramento e controle individual da dose de radiação azul incidente em neonatos

    durante o tratamento fototerápico da hiperbilirrubinemia neonatal. Finalmente, as mudanças

    nas propriedades ópticas do MEH-PPV/Alq3 exposto à radiação foram ainda acompanhadas

    por cromatografia de permeação em gel e por espectroscopias de absorção no infravermelho e

    de RMN em estado sólido, bem como espectrometria de massas para avaliar o papel da

    radiação na alteração da estrutura química dos materiais.

  • xvii

    ABSTRACT

    Since the discovery of electroluminescence properties of organic crystals and conjugated

    polymers, a considerable number of studies have been done in order to investigate the

    semiconducting properties of this class of materials as well as their related applications in

    optoelectronic devices. Recently, efforts have focused on improving the lifetimes of these

    devices, but the photoxidation process of the organic materials is still an obstacle for many of

    their commercial applications. Nevertheless, this effect reflects the possibility to design and

    develop dosimeters where the influence of visible radiation on the optical properties of

    conjugated materials is more important then improving the luminance and life-time of light-

    emitting devices made from them. In present work, we have designed, characterized and

    developed a new blue-light dosimeter based on change in the optical properties of tris(8-

    hydroxyquinolato)aluminum (Alq3) and poly[(2-methoxy-5-hexyloxy)-p-phenylenevinylene

    (MEH-PPV) organic systems during photoxidation process. The results show that the material

    presents a gradation of color from orange to yellow ligth, while its peak position emission

    shifts from orange-red (571 nm) to green (540 nm) with blue radiation exposure time (460 nm

    focus, 40 W/cm2/nm). The rate of these changes can be altered by manipulations of organic

    materials and they are usually slow from 2 to 8 h, suggesting these color and emission

    changes can be used to design a low cost (US$ 0.05) and easy to make smart device which is

    also easy to read, easy to operate and accuracy in order to represent easily the radiation

    exposure time usually used in management of neonatal jaundice. Finally, changes on the

    optical properties of MEH-PPV/Alq3 systems were followed by gel permeation

    chromatography, as well as solid state NMR and IR spectroscopies and mass spectrometry in

    order to evaluate the role of the radiation on the chemical structure of the organic materials.

  • 2

    CAPÍTULO I

    INTRODUÇÃO

    A partir da descoberta da eletroluminescência em cristais orgânicos em 1963[1]

    ,

    inúmeros grupos de pesquisa focaram seus estudos na preparação e na caracterização de

    moléculas orgânicas que apresentassem essa propriedade[2]

    . Desde então, deu-se início a

    busca por materiais orgânicos com características ópticas e elétricas adequadas para a

    fabricação de displays luminosos de alta durabilidade, alta eficiência quântica e baixo custo[3]

    .

    Este desenvolvimento foi acelerado a partir de 1977, com a descoberta das propriedades

    condutoras dos polímeros conjugados[4]

    . A partir de então, as moléculas orgânicas conjugadas

    (polímeros ou cristais orgânicos) tornaram-se o foco de estudo de inúmeros grupos de

    pesquisa em todo mundo devido, principalmente, aos seus baixos custos de preparação

    atrelados as facilidades de processamento e de manufatura dos seus dispositivos emissores de

    luz[5]

    . A título de ilustração, a Fig. 1 mostra imagens de dois displays luminosos baseados em

    polímeros eletroluminescentes. Um monocromático, Fig. 1.1(a), e outro policromático,

    flexível e de alta definição, Fig. 1.1(b).

    FIGURA 1.1: (a) Aparelho de barbear com display monocromático[3]

    e (b) display policromático,

    flexível e de alta definição produzido com polímeros conjugados luminescentes[4]

    .

    O resultado direto dos avanços científicos e tecnológicos na área de displays orgânicos

    ao longo dos últimos anos, da qual os materiais orgânicos eletroluminescentes fazem parte,

    (a) (b)

  • 3

    pode ser medido a partir do número de empresas que vem investindo nesse setor, como a

    Royal Philips Electronics[5]

    , a Merck[6]

    , a DuPont/UNIAX[7]

    , a EPSON[8]

    , a NHK Science and

    Technical Research Laboratories[9]

    e a Intel Business Mach - IBM[10]

    . Entretanto, a

    degradação dos materiais orgânicos, sobretudo os poliméricos, quando expostos à radiação

    não ionizante, umidade e/ou oxigênio é atualmente um dos principais obstáculos para inserção

    comercial de seus dispositivos emissores de luz[11,12]

    . De modo geral, a degradação dos

    polímeros com a radiação implica na perda da eficiência luminosa e na limitação da

    durabilidade dos seus dispositivos luminosos, devido, principalmente, a substituição dos

    grupos vinílicos (C=C) por carbonilas (C=O) nas suas cadeias principais[12-25]

    . Todavia, se por

    um lado o efeito da (foto)degradação constitui atualmente uma barreira comercial para os

    dispositivos emissores de luz orgânicos[11-25]

    , por outro o controle desse efeito abre a

    possibilidade de desenvolvimento de sensores de acúmulo de dose de radiação [26-29]

    , onde as

    mudanças na cor e nos espectros de absorção e emissão de polímeros luminescentes expostos

    à radiação são mais importantes do que a minimização da durabilidade dos seus dispositivos

    eletroluminescentes. Já são conhecidos sensores desse tipo para aplicações em cobaltoterapia

    e fototerapia com luz azul, ambos baseados nas mudanças das propriedades ópticas do poli(2-

    metóxi,5-etil(2-hexilóxi)parafenilenovinileno) – MEH-PPV[26-29]

    com o tempo de exposição à

    radiação e em desenvolvimento no Laboratório de Polímeros e Propriedades Eletrônicas de

    Materiais - LAPPEM do DEFIS/UFOP. Em particular, o interesse pelo controle da radiação

    azul administrada em neonatologia advém da simplicidade deste tratamento no controle da

    icterícia (ou hiperbilirrubinemia) em recém-nascidos, patologia que atinge grande parte dos

    neonatos atermos e pré-termos em todo mundo[30]

    . Embora este tratamento seja bastante

    simples e de alta eficiência, a literatura médica tem alertado[31]

    sobre uso de lâmpadas

    inadequadas e sobre o mau posicionamento dos recém-nascidos ao banho de luz[31,32]

    . Esses

    problemas reduzem consideravelmente a eficiência do tratamento fototerápico e,

    conseqüentemente, aumentam os casos de seqüelas, complicações decorrentes da patologia,

    kernicterus e mortes em recém-nascidos[33]

    . Como exemplo, por ano no Brasil cerca de 200

    mil crianças em estado grave de icterícia passam por tratamentos fototerápicos, e desses cerca

    de 2.500 apresentam danos neurológicos ou morte no final do tratamento[34]

    . Mais alarmante

    ainda é que o desconhecimento do número de neonatos que poderiam sobreviver ou não

    apresentar seqüelas caso a conduta médico-hospitalar fosse realizada corretamente. Ademais,

    exceto pelo uso de radiômetros – que indicam a dose instantânea de radiação incidente em

  • 4

    neonatos, não existe nenhum sensor de acúmulo de controle da dose de radiação incidente nos

    neonatos sob fototerapia. Isso aponta uma oportunidade não apenas de cunho científico e

    tecnológico, mas, sobretudo, de caráter social, uma vez que o desenvolvimento de tal sensor

    pode beneficiar cerca de 18 milhões de recém-nascidos ictéricos por ano em todo mundo[35]

    .

    Nesse contexto, um sensor de acúmulo de dose de radiação à base de MEH-PPV começou a

    ser desenvolvido no LAPPEM em 2006 [28-29, 36-37]

    e atualmente encontra-se em fase de

    prototipagem, Fig.2. Esse sensor apresenta como principal característica o acompanhamento

    da dose de radiação azul incidente em recém-nascidos por meio da comparação da mudança

    de cor gradativa do vermelho ao incolor de soluções de MEH-PPV com uma tabela de cores

    pré-definida. Portanto, para aferir com segurança a dose de radiação incidente em um neonato

    é necessária apenas a comparação das cores de um conjunto de soluções poliméricas com as

    cores dispostas em uma tabela pré-definida[28-29]

    . Contudo, o fato de se utilizar materiais

    tóxicos, como clorofórmio, e vidro tornam o uso médico-hospital desse dosímetro bastante

    limitado. Baseado no princípio de funcionamento desse sensor e visando o desenvolvimento

    um sensor inteligente, de fácil leitura e principalmente seguro, foi proposto neste trabalho a

    concepção, o desenvolvimento, a caracterização e a fabricação de filmes (selos) de materiais

    orgânicos eletroluminescentes para uso como sensor de radiação azul.

    FIGURA 1.2: (a) Soluções de MEH-PPV expostas a radiação azul. (b) Sensor de acúmulo de radiação

    desenvolvimento no LAPPEM [36, 37]

    .

    1.1 – Objetivos e descrição do trabalho

    Baseado na proposta de fabricação de um sensor de radiação azul do tipo selo

    inteligente que apresentasse segurança aos recém-nascidos e mudança abrupta e irreversível

    de cor como princípio básico de funcionamento, o objetivo principal deste trabalho foi

  • 5

    preparar e caracterizar opticamente soluções e filmes fotoluminescentes baseados em

    polímeros e moléculas orgânicas pequenas para uso como elemento ativo de sensores de

    acúmulo de dose radiação com aplicações no controle e no monitoramento de radiação azul

    incidente em neonatos durante o tratamento da hiperbilirrubinemia neonatal. Para atingir esse

    objetivo, foram preparadas soluções e filmes de MEH-PPV e Alq3, o primeiro um polímero

    com emissão na região do vermelho (λ máx = 570 nm) e o segundo um cristal orgânico com

    emissão no verde (λ máx = 540 nm). Os sistemas, uma vez preparados, foram expostos à

    radiação (40μW/cm2, foco em 460 nm) e suas propriedades ópticas investigadas por meio de

    espectroscopia de absorção no UV-VIS, fotoemissão e diagramas de cromaticidade (cor). Para

    correlacionar as mudanças das cores refletidas e emitidas de soluções e filmes com as

    alterações nas estruturas químicas dos materiais, foram realizadas medidas de cromatografia

    de exclusão por tamanho, espectroscopias de absorção no infravermelho e de ressonância

    magnética nuclear em estado sólido bem como espectrometria de massas. Neste contexto, essa

    dissertação foi dividida em 8 partes. A revisão da literatura é apresentada no Capítulo 2, que

    aborda os conceitos principais envolvidos nos fenômenos de fluorescência, de

    fotodegradação, como também o atual estágio de desenvolvimento de moléculas orgânicas

    conjugadas e os detalhes do monitoramento da radiação azul incidente em recém-nascidos

    durante o tratamento da hiperbilirrubinemia neonatal. Em seguida, no Capítulo 3, são

    apresentadas as principais características do MEH-PPV e do Alq3, além dos métodos de

    preparação dos sistemas orgânicos utilizados nesse trabalho. No Capítulo 4, por sua vez, são

    descritos os equipamentos utilizados na caracterização dos materiais. Os resultados obtidos

    são, então, mostrados, analisados e discutidos no Capítulo 5, enquanto as o desenvolvimento

    dos dosímetros é apresentado no Capítulo 6 e a conclusão do trabalho apresentada no

    Capítulo 7. Finalmente, o Capítulo 8 apresenta os principais resultados gerados durante o

    desenvolvimento deste trabalho, com especial destaque ao Primeiro lugar do Prêmio de

    Incentivo à Ciência e Tecnologia aplicada ao SUS, além da publicação do artigo G. R.

    Ferreira, C. K. B. de Vasconcelos e R. F. Bianchi, Design and characterization of a novel

    indicator-dosimeter for blue-light radiation and its applications in the treatment of neonatal

    jaundice, Medical Physics 36, 2, 642-644 (2009).

  • 6

    CAPÍTULO II

    REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    Neste capítulo é apresentada uma breve revisão sobre as principais características dos

    polímeros conjugados que aborda desde suas principais características físico-químicas até as

    vantagens de suas aplicações em sensores de acúmulo de radiação não ionizante para

    aplicações médico-hospitalares. Para tanto, foram discutidos os principais mecanismos

    envolvidos nos processos de fluorescência e de fotodegradação dos polímeros luminescentes,

    como também a importância do monitoramento da radiação azul utilizada em fototerapia

    neonatal.

    2.1- Compostos orgânicos conjugados

    Compostos orgânicos são moléculas cuja cadeia principal é formada por ligações

    covalentes entre átomos de carbonos. Os polímeros representam uma classe destes compostos,

    comumente chamados de plásticos, cuja estrutura é formada por unidades químicas que se

    repetem ao longo de suas cadeias poliméricas principais conhecidas como meros[38]

    . Na

    indústria eletro-eletrônica estes materiais foram durante muito tempo aplicados como

    isolantes elétricos, porém com a descoberta da eletroluminescência em cristais de antraceno[1]

    em 1963, da alta condutividade elétrica do trans-poliacetileno (t-PA)[4]

    em 1977 e da

    descoberta da eletroluminescência do poli(p-fenilenovinileno) (PPV) em 1990[39]

    , essa

    classificação mudou drasticamente e, os polímeros começaram a ser investigados não apenas

    como isolantes elétricos mas também como semicondutores e condutores de eletricidade.

    Como resultado dessas descobertas e dos avanços nas pesquisas científicas e tecnológicas

    desses materiais, sobretudo na área de dispositivos eletrônicos, deu-se início ao

    desenvolvimento de uma nova área da eletrônica, a chamada eletrônica orgânica. Nos

    próximos itens é apresentado como a descoberta e compreensão das propriedades físico-

    químicas das moléculas orgânicas conjugadas contribuiu para o desenvolvimento dessa área.

  • 7

    2.1.1 – A hibridização sp2 do carbono sua relação com as propriedades de

    moléculas orgânicas conjugadas

    As propriedades eletrônicas dos semicondutores orgânicos podem ser compreendidas

    observando os orbitais moleculares dos átomos de carbono que compõem sua cadeia

    principal. Os polímeros ou moléculas pequenas que se comportam como semicondutores

    orgânicos apresentam cadeia principal constituída de átomos de carbono hibridizados em sp2,

    ou seja, átomos de carbono nos quais um orbital s se funde com dois orbitais p, formando três

    orbitais híbridos sp2, como mostrado na Fig. 2.1 na qual são ilustrados os orbitais s e p

    presentes no átomo de carbono ainda não hibridizado, Fig. 2.1(a), bem como o orbital p-puro

    e os orbitais híbridos sp apresentados pelo átomo depois da hibridização vistos de diferentes

    ângulo, Fig. 2.1(b).

    .

    FIGURA 2. 1: Esquema representativo da hibridização do tipo sp2 em átomos de carbono. (a) orbital s

    e dois dos orbitais p antes da hibridização; (b), (c) e (d) orbitais híbridos sp2 mostrados de diferentes

    ângulos[40]

    .

    Na Fig. 2.1 observa-se que os orbitais híbridos se distribuem em um mesmo plano, ao

    redor do núcleo do átomo, a uma distancia de 120° entre si, o orbital não hibridizado

    remanescente (p-puro) se localiza, então, perpendicularmente ao plano destes orbitais. A

    sobreposição de dois orbitais sp forma uma ligação , enquanto a sobreposição de dois

    orbitais p-puros forma uma ligação do tipo π. A título de ilustração na Fig. 2.2 estão

  • 8

    mostrados os orbitais envolvidos na ligação entre dois átomos de carbono sp2 no eteno,

    mostrando, portanto, as ligações e π já citadas[40].

    FIGURA 2.2: Esquema representativo dos orbitais envolvidos na ligação entre dois C sp2: (a)

    Início da sobreposição frontal entre orbitais sp de dois átomos de carbono (b) Visão superior

    da sobreposição entre orbitais sp2 e formação da ligação (c) Visão lateral da sobreposição

    entre orbitais sp2 e formação da ligação (d) Início da sobreposição entre os orbitais p-puros

    (e) Sobreposição entre os orbitais p-puros e formação da ligação π (f) molécula do eteno,

    formando por ligações /π entre átomos de C e ligação com átomos de hidrogênio[40]

    .

    Na Fig. 2.2 é possível observar que a superposição dos orbitais p é menos efetivo do

    que a superposição entre dois orbitais sp2, portanto ligações são mais estáveis que ligações

    π. Os átomos de carbono ligados entre si por ligações π-conjugadas apresentam, ainda,

    encurtamento das distâncias interatômicas, fazendo com que estas tenham um comprimento

    de 1, 2 Å, enquanto as distancias interatômicas entre carbonos sp3 apresentam comprimento

    de 1,4 Å[40]. A combinação destes dois comportamentos confere aos materiais cujas moléculas

    possuem ligações π-conjugadas um comportamento eletrônico de caráter semicondutor ou até

    mesmo metálico[41]

    . Energeticamente, os orbitais e π ligantes e anti-ligantes,

    respectivamente , π, * e π*, e são distintos, conforme mostrado na Fig. 2.3[41].

    FIGURA 2. 3: Diagrama de níveis de energia da formação de orbitais moleculares entre dois átomos de

    carbono sp2[41]

    .

    ENER

    GIA

  • 9

    Na Fig. 2.3 observa-se a diferença de energia entre os orbitais , *, π e π*. É possível

    notar que o orbital π é o de maior energia dentre os orbitais ligantes (HOMO -

    highest occupied molecular orbital) e o orbital π* (LUMO - Lowest Unoccupied

    Molecular Orbital) o de menor energia dentre os anti-ligantes. Dessa forma a diferença

    energética entre o HOMO e o LUMO (GAP) nessas moléculas é dada pela diferença entre as

    energias dos orbitais π e π*. Quando o GAP se encontra entre 1,4 e 3,3 eV, correspondendo a

    comprimentos de onda compreendidos entre 890 e 370 nm, ou seja dentro do espectro

    eletromagnético visível, a molécula é capaz de emitir radiação quando seus elétrons são

    excitados por meio de luz (fotoluminescência) ou corrente elétrica (eletroluminescência) cuja

    diferença está na forma com que o estado eletrônico excitado é gerado[42]

    .

    2.1.2 – Processos de absorção, emissão e transferência de energia

    Quando uma molécula absorve luz, a energia absorvida resulta na promoção de um

    elétron de um orbital molecular de menor energia para um de maior energia, através de várias

    combinações de energia cinética e potencial regidas pelo princípio de Franck-Condon, o qual

    postula que a transição mais provável é aquela na qual não há alteração na posição ou no

    momentum nuclear. Segundo este princípio configurações nucleares do estado excitado devem

    ser idênticas àquelas do estado fundamental[43]

    . As transições eletrônicas entre os diferentes

    orbitais moleculares ocorrem com diferentes intensidades de energia, seguindo regras pré-

    estabelecidas (regras de seleção de dipolo elétrico) segundo as quais para haver uma interação

    entre a molécula e o campo elétrico do fóton, é necessário que exista um estado no qual os

    estados fundamental e excitado, com diferentes simetrias, formem um dipolo. Quanto maior a

    intensidade desse dipolo, mais provável a ocorrência de uma transição de dipolo elétrico[44,45]

    há uma relação entre a variação no spin do elétron e sua interação com o campo elétrico do

    fóton. Em uma transição permitida, não há mudança na orientação no spin do elétron, uma

    vez que os fótons não têm spin e não poderiam induzir tais mudanças. Sendo assim, a

    transição de um elétron de um estado singleto (S), no qual os spins estão emparelhados, para

    um estado tripleto (T), onde os spins não estão emparelhados, não é permitida, pois envolve

    alteração no momento angular, violando a lei de conservação do momento, além disso, quanto

    mais provável for a transição, menor o tempo de vida da molécula no estado eletrônico

    excitado[45]

    . Outra consideração a ser feita relacionada à absorção de luz é que em moléculas

  • 10

    complexas, como polímeros conjugados, é que o fenômeno de absorção resulta em transições

    entre níveis rotacionais muito próximos e, por conseqüência, todas as transições são

    representadas por uma banda de absorção larga[44]

    . Os estados excitados formados têm tempos

    de vida curtos devido ao grande número de processos que podem contribuir com sua

    desativação de volta ao estado fundamental. O modo de dissipação dessa energia dos estados

    excitados é dado pelo diagrama de Jablonski, mostrado na Fig. 2.3. Nesse diagrama, somente

    os estados de energia mais baixos estão mostrados, S1, S2, T1 e T2[44-46-47]

    .

    FIGURA 2. 4: Diagrama de níveis de energia idealizado por Jablonski mostrando as formas de

    desativação de um cromóforo orgânico [47]

    .

    Na Fig. 2.4 é possível observar os diferentes modos pelos quais estados excitados

    podem relaxar. Do nível de menor energia S1, a molécula é excitada e pode retornar a

    qualquer um dos níveis vibracionais / rotacionais do estado fundamental de mesma

    multiplicidade, emitindo fluorescência. Esse fenômeno pode ser resultante de processos uni

    ou bimoleculares. Nos processos unimoleculares, o fenômeno é resultante do decaimento

    radiativo do cromóforo isolado, enquanto que, nos bimoleculares, ocorre o decaimento de

    espécies emissoras agregadas formadas no estado excitado, como os excímeros e os

    exciplexos, cuja formação é dependente da concentração, viscosidade e temperatura [44]

    .

    Excímeros são dímeros no estado excitado, formados pela colisão de uma molécula

    excitada com uma molécula idêntica, não excitada M* + M ↔ [MM]*, sendo que a notação

    [MM]* significa que a energia de excitação está deslocalizada entre as moléculas. Exciplexos,

    por sua vez, são complexos no estado excitado, formados pela colisão de uma molécula

  • 11

    excitada, doadora ou receptadora de elétrons, com uma molécula diferente não excitada,

    receptora ou doadora de elétrons R* + D ↔ [RD] *[48]

    .

    É possível ainda haver a formação de agregados no estado fundamental, os quais são

    espécies também associadas, igualmente dependentes da concentração. Neste caso, tanto o

    espectro de absorção quanto o espectro de fluorescência são alterados, sendo que, o último

    será deslocado para regiões de comprimentos de onda maiores. A formação de excímeros e

    agregados requer basicamente as mesmas condições e seus decaimentos podem seguir o

    mesmo caminho, mas são provenientes de diferentes mecanismos, como mostrado na Fig. 2.5,

    a qual ilustra as possibilidades de decaimento de excímeros e agregados[49]

    .

    Para que ocorra a formação de excímero, a distância entre as unidades paralelas deve

    ser pequena o suficiente para permitir a sobreposição dos orbitais, enquanto que, na formação

    do agregado, a interação entre as unidades paralelas deve ser suficientemente forte a ponto de

    formar novas espécies no estado fundamental, sendo possível, inclusive, a interação de mais

    de um par de moléculas, as quais podem se dissociar ou não durante o decaimento. Para o

    excímero não existe correspondência entre o estado excitado e o estado fundamental, pois

    sempre ocorre dissociação[49]

    .

    FIGURA 2. 5: Possibilidades de decaimento radiativo e não-radiativo de um excímero ou agregado.

    Na Fig. 2.5 observam-se as possibilidades de decaimento de excímeros e agregados: (i)

    decaimento radiativo dissociativo; (ii) decaimento não radiativo dissociativo; (iii) decaimento

    não dissociativo e não radiativo e (iv) decaimento não dissociativo radiativo, os decaimentos

    não dissociativos acontecem exclusivamente a partir de agregados[50]

    .

    Da mesma forma que a absorção, um espectro de fluorescência poderá ou não ter uma

    progressão vibracional que corresponde às transições do estado vibracional de menor energia

    do primeiro estado eletrônico excitado para os vários níveis vibracionais do estado eletrônico

  • 12

    fundamental. Na Fig. 2.6 são representados os prováveis espectros de absorção e de emissão a

    partir da transição de níveis de energia.

    FIGURA 2. 6: Esquema hipotético de níveis de energia mostrando os processos de absorção

    e de fluorescência e os correspondentes espectros.

    Na Fig. 2.6 é possível notar que uma das transições apresentadas está presente tanto na

    absorção quanto na emissão de radiação, esta transição está relacionada à sobreposição dos

    espectros eletrônicos de absorção e de emissão e é conhecida como transição 0-0. Visto que a

    absorção ocorre sempre em transições a partir do mais baixo nível vibracional do estado

    fundamental (”) enquanto a emissão ocorre, exclusivamente, a partir do mais baixo nível

    vibracional do primeiro estado excitado (’), a transição de energia que envolve os níveis

    energético mais baixo, tanto do estado fundamental e do estado excitado, está presente em

    ambos os espectros e caracteriza a transição 0-0[44]

    .

    Como o fenômeno de absorção requer maior quantidade de energia que as demais

    transições, o espectro de emissão situa-se imediatamente na direção de maiores comprimentos

    de onda do espectro de absorção, definindo a lei de Stokes, a qual postula que o comprimento

    de onda da fluorescência será sempre maior que o da luz utilizada na excitação[44]

    . Se um

    cromóforo é excitado a um estado eletrônico mais alto, por exemplo, S2, ocorre um processo

  • 13

    extremamente rápido (conversão interna) o qual converte um estado eletrônico excitado de

    maior energia para o estado eletrônico excitado de mais baixa energia como conseqüência de

    transições próximas da superfície do potencial do estado excitado acima do estado excitado de

    mais baixa energia (S1). De maneira geral, conversões eletrônicas entre estados de

    multiplicidade idêntica de spin são conhecidas como conversões internas (IC – “internal

    convertion”) e, aquelas que ocorrem entre estados de diferentes multiplicidades são

    isoenergéticas, conhecidas como cruzamento intersistema (ISC – “intersystem crossing”).

    Esses processos são similares porque ambos envolvem a conversão de energia eletrônica em

    energia vibracional, seguida de rápida relaxação para o nível vibracional menos energético do

    estado excitado menos energético, sem emissão de fóton luz, sendo, portanto, conhecidos

    como fenômenos não-radiativos de dissipação de energia[42]

    .

    O cruzamento intersistema é um processo proibido, entretanto, é facilitado por

    acoplamento spin-órbita (SOC – “spin-orbit coupling”), originado de interações magnéticas

    entre o momento orbital do elétron e o momento magnético de spin, resultando em uma

    combinação de dois ou mais estados de diferentes multiplicidades, relaxando as regras de

    seleção de spin e permitindo o cruzamento intersistema efetivo[42,43]

    . O fenômeno associado

    ao decaimento radiativo dos estados de diferentes multiplicidades, usualmente T1 e S0, para

    moléculas orgânicas, é chamado fosforescência. Uma vez que a excitação direta de uma

    molécula a um estado excitado tripleto, T1, é proibida pelas regras de seleção, este estado é

    populado somente por cruzamento intersistema do primeiro estado excitado singleto, S1. Se

    houver cruzamento intersistema do primeiro estado excitado tripleto, T1, de volta para o

    primeiro estado excitado singleto, S1, possível somente quando o GAP de energia entre eles é

    pequeno suficiente para permitir a repopulação térmica do estado excitado singleto, ocorre o

    fenômeno da fluorescência atrasada e seu tempo de vida será correspondente a emissão dos

    estados tripleto.

    O decaimento pode ocorrer, ainda, com ausência de emissão de radiação devido à

    conversão de excitação eletrônica em movimentos rotacionais e vibracionais da molécula,

    fenômeno que consiste da conversão intramolecular da excitação eletrônica em energia

    vibracional e transferência dessa energia vibracional para o meio[43]

    . Esse processo pode ser

    considerado como uma falha da aproximação de Born-Oppenheimer, a qual considera que, em

    uma molécula, os núcleos e os elétrons possuem cargas elétricas e momento da mesma ordem

    de magnitude e, por isso, numa escala de tempo relativa ao movimento dos núcleos, muito

  • 14

    mais pesados, os elétrons, no estado excitado, relaxam instantânea e rapidamente à sua

    configuração do estado fundamental, portanto, sempre de maneira radiativa[51]

    .

    A transferência de energia é definida como a doação de energia de excitação de uma

    molécula para outra ou de um cromóforo para outro. Enquanto a transferência de energia

    rotacional e vibracional entre moléculas pode ser entendida com certa clareza em termos de

    momento quantizado, teorias adicionais são requeridas para explicar o fenômeno da

    transferência eletrônica de energia. Uma das formas mais gerais desse tipo de transferência

    pode ser representada por: D* + R → D + R*, em que D representa uma molécula doadora, R

    representa uma molécula receptora e * denota a excitação eletrônica. Essa representação

    considera que, em um tempo inicial, a excitação pode ser associada com D e, após algum

    tempo, associada a R. O processo de transferência de energia pode ocorrer de duas formas:

    com o envolvimento de um fóton (nesse caso, transferência radiativa de energia), ou por meio

    de um processo não-radiativo, pela interação direta do doador excitado com o receptor. Nem

    todos os processos de transferência ocorrem segundo o esquema representado anteriormente,

    uma vez que alguns destes processos não resultam em excitação eletrônica do receptor. Tais

    processos podem ser descritos como: D* + R → DV + R

    V. Nesse caso, a excitação eletrônica é

    convertida em calor, isto é, em rotações e vibrações de ambos, doador e receptor. A

    transferência radiativa ou trivial de energia envolve a reabsorção da emissão do doador pelo

    receptor, num processo que pode ser representado por: D* → D + hv, seguido de imediato

    processo: hv + R → R*. Esse tipo de transferência de energia pode ocorrer quando D e R são

    moléculas similares, devido à sobreposição dos espectros de emissão e de absorção. De forma

    diferente, a transferência eletrônica de energia com ausência de radiação envolve a simultânea

    perda de excitação do doador e de excitação do receptor, a qual requer uma interação direta

    entre D e R e uma baixa energia de transição entre eles, diferentes mecanismos têm sido

    sugeridos para explicar esse fenômeno como: (i) Transferência por Ressonância que ocorre

    quando a separação do doador e do receptor é diversas vezes maior que a soma dos seus raios

    de Van der Waals (~100 Å), sendo importantes somente as forças de interação coulômbicas e

    negligenciáveis os efeitos de troca eletrônica; (ii) Transferência por Troca na qual a

    transferência de energia ocorre com perda de radiação e envolve a troca de excitação

    eletrônica entre doador e receptor quando estes estão próximos o suficiente para que haja uma

    sobreposição de nuvens eletrônicas, na qual os elétrons são indistinguíveis. (iii) Transferência

    Não Clássica mecanismo no qual é proposta a formação de um exciplexo, entre a molécula

  • 15

    excitada do doador e do receptor, o qual, subseqüentemente, sofre um rápido processo de

    desativação[48]

    .

    2.1.3 – Aplicações de moléculas orgânicas conjugadas: eletrônica orgânica

    O caráter luminescente dos materiais orgânicos conjugados aliado às suas variadas

    vantagens como flexibilidade, baixo custo, facilidade de processamento e manufatura atraiu o

    interesse não só de grupos de pesquisa como de diversas empresas ao redor do mundo nos

    últimos anos. Hoje em dia, dezenas são os equipamentos eletrônicos que utilizam tais

    materiais[5-10]

    . Destaca-se que em março de 2003, a Kodak lançou o primeiro visor

    policromático orgânico[52]

    mostrado na Fig. 2.6. Com 2,2” de diâmetro, e sem necessidade de

    luz de fundo (backlight), este produto foi lançado em uma câmera fotográfica digital com o

    objetivo de impulsionar o mercado dos displays luminosos orgânicos de pequenas áreas.

    FIGURA 2.7: Display de alta definição policromático confeccionado com material orgânico

    não polimérico[52]

    .

    O uso de substâncias orgânicas conjugadas em dispositivos eletroluminescentes

    apresenta vantagens como facilidade de processamento, flexibilidade, baixas tensões de

    operação (menor de 10 V), simplicidade de composição estrutural (óxido

    condutor/polímero/metal) e, principalmente, possibilidade de construção de painéis planos

    com grande área etc. Atualmente, inúmeros polímeros luminescentes são conhecidos e já

    existem materiais com emissão nas cores amarela, laranja, vermelha, verde, azul e violeta,

    abrangendo praticamente toda a região visível do espectro eletromagnético com grande

    eficiência, brilho e uniformidade e permitindo, ainda, a composição de cores necessária para a

    obtenção de luz branca[53]

    . Como já dito, a cor da emissão depende da diferença de energia

    entre os estados eletrônicos π-π* do polímero conjugado, e decorre de vários fatores,

  • 16

    incluindo-se a estrutura química, o comprimento da conjugação, a morfologia do material no

    caso de sólidos ou, a concentração da solução. A estrutura química do material tem forte

    influência sobre a região espectral da emissão, justamente porque a partir dela se definem os

    níveis de energia, o potencial de ionização e a afinidade eletrônica. Ademais, prevê-se

    inúmeras aplicações em um futuro breve[41]

    . No setor energético, polímeros poderão ser

    usados como materiais ativos na área de iluminação de baixo custo e baixo consumo de

    energia bem como na produção de células fotovoltaicas[22]

    . No setor optoeletrônico,

    protótipos de telas de monitores planos e displays de telefones portáteis, de DVD’s com

    amplo ângulo de visão (165°) já são uma realidade, indicando uma forte tendência de

    mercado além de embalagens, roupas, tintas e papéis inteligentes, estes são alguns poucos

    exemplos do potencial tecnológico e comercial dos polímeros, ou plásticos como são

    popularmente conhecidos[5-9]

    .

    Mesmo com o estágio atual de desenvolvimento já citado, os fenômenos responsáveis

    pela eficiência luminosa e pelo tempo de vida destes dispositivos ainda não são totalmente

    compreendidos[12-25]

    . Assim, enquanto promessas de novos dispositivos crescem a cada dia, o

    fraco desempenho destes sistemas e a mudança de suas propriedades em função do tempo tem

    inviabilizado várias destas aplicações comerciais[22]

    . Muitos autores tem estudado este tema,

    propondo que a otimização da eficiência luminosa e do tempo de vida só será possível quando

    os mecanismos ligados à sua degradação forem entendidos e minimizados[19-22]

    . Dentre estes

    mecanismos destaca-se a fotooxidação da camada polimérica[15]

    . Devido à presença de luz e

    oxigênio, a cadeia polimérica é oxidada com formação de compostos carbonílicos[12-25]

    diminuindo a extensão da conjugação da cadeia, o que modifica as propriedades eletrônicas

    dos polímeros e influencia o desempenho de seus dispositivos luminosos[12,15-19-22]

    . Apesar de

    muito estudados os mecanismos e os produtos finais da fotooxidação ainda não são

    completamente estabelecidos ainda havendo controvérsias na literatura. A Fig. 2.8 mostra o

    que diferentes autores como Scott[12]

    , Cumpston[15]

    , Schurlot[16]

    , Zyung[14]

    , Hale[18]

    , Atreya[19]

    ,

    Ghosh[21]

    , Arnautov[22]

    e Chambon[23 - 25]

    concluíram a respeito da fotooxidação de polímeros

    derivados do PPV ao longo dos últimos vinte anos.

  • 17

    FIGURA 2. 8: Esquema representativo a respeito das conclusões relacionadas à fotooxidação por

    diferentes autores nos últimas décadas[12-25]

    .

    Na Fig. 2.8 observa-se que aspectos relacionados à estabilidade do MEH-PPV e outros

    derivados do PPV tem sido amplamente estudados nas últimas décadas. É possível notar,

    também, as inúmeras controvérsias existentes na literatura em relação à fotooxidação do

    destes polímeros havendo ainda hoje discrepâncias em relação ao produto final formado na

    degradação e não há, ainda, consenso quanto aos mecanismos de reação envolvidos. Pode-se

    destacar, por exemplo, que Cumpton et al.[15]

    encontram, como produtos da degradação,

    ésteres e aldeídos. A formação de ésteres também é proposta por Shutherland et al.,[16]

    enquanto Zyung[14]

    et al e Hale et al [18]

    relatam a formação de ácidos carboxílicos. A cisão de

    ligações não é citada por nenhum destes autores (apesar de subentendida na formação de

    aldeídos. No entanto Atreya[19]

    et al propõem que ocorre quebra na cadeia principal

    polimérica ou perda dos grupos laterais devido ao aumento de grupamentos CH3, observado

    por FTIR. Outro fator divergente relaciona-se à estabilidade dos derivados ramificados em

    relação ao PPV. Acredita-se que o PPV seja mais estável quando exposto à radiação do que

    seus derivados alcóxi[17,20]

    , fato explicado pelo aumento da susceptibilidade à oxidação

    ocasionado pela adição de grupos laterais doadores de elétrons. Por fim, Scott et al.[12]

    discutem a possibilidade de a oxidação ocorrer principalmente devido ao oxigênio liberado

    pelo cátodo durante o funcionamento dos dispositivos, enquanto Chambon et al. [22-25]

    mostram que a cadeia polimérica reage principalmente com o oxigênio atmosférico e propõe

    um novo mecanismo de reação para a oxidação dos derivados do PPV diferente do

  • 18

    anteriormente proposto por Cumpton et al[15]

    . Ademais, recentemente diversas tentativas de

    melhorar a estabilidade desta classe de polímero vêm sendo relatadas com a adição de

    antioxidantes, aceptores de elétrons, desenvolvimento de blendas com polímeros com baixa

    permeabilidade a gases e adição de camada protetora entre o eletrodo (ITO) e a camada

    eletroluminescente (PPVs)[12-25]

    . Em resumo, o estudo da degradação do MEH-PPV e de

    outros polímeros derivados do PPV ainda é um tema de grande interesse científico e

    tecnológico não apenas pelas questões que ainda se encontram em aberto na literatura, como

    mostrado anteriormente, como também pelo fato de que sem o completo entendimento do

    processo de fotooxidação desta classe de materiais, a utilização destes polímeros, nas diversas

    possíveis aplicações tem sido limitada, pois a compreensão de sua degradação é crucial para

    possibilitar predizer e melhorar o tempo de vida e a durabilidade do polímero e seus produtos

    comerciais, sendo a elucidação dos mecanismos químicos e físicos um passo importante para

    atingir este objetivo[19]

    .

    2.1.4 – Aplicação dos compostos orgânicos conjugados como sensores de

    radiação

    Se do ponto de vista da tecnologia de displays a degradação tem limitado a

    comercialização dos dispositivos, este fenômeno surge como uma importante característica

    para o desenvolvimento de novos dispositivos eletrônicos nos quais a variação de suas

    propriedades ópticas e elétricas sob exposição à luz torna-se aspecto de grande interesse

    científico e tecnológico[26-29,36-37]

    . Em particular o crescente número de estudos na área de

    radiação encontra justificativa tanto nos malefícios causados às pessoas por exposição a este

    tipo de radiação, como a ocorrência de câncer de pele, bem como, nos benefícios, por

    exemplo, em tratamentos da hiperbilirrubinemia neonatal, freqüentemente usado na prática

    rotineira em neonatologia[32-34]

    . O fato dos espectros de absorção e fotoluminescência de

    materiais orgânicos luminescentes, como o poli(2-metóxi,5-etil(2-

    hexilóxi)parafenilenovinileno) e o tris-(8-hidroxiquinolinolato) de alumínio (III), sofrerem

    alterações quando expostos à radiação não ionizante[11-12]

    abre possibilidades para a confecção

    de sensores de radiação ou dosímetros com grande potencial de aplicação na área médica, não

    apenas no controle da exposição à radiação por pacientes neonatais[32-35]

    , como também das

    taxas de exposição excessivas com propósito de bronzeamento artificial, ou ainda, no setor de

  • 19

    segurança do trabalho, no controle das taxas de exposição de trabalhadores civis e rurais à

    radiação ultra-violeta[28]

    .

    Aplicações de materiais orgânicos como sensores para fototerapia neonatal

    O desenvolvimento da área de dosimetria é cada vez mais consistente com a

    introdução de novos dispositivos que, colocados em um meio onde exista um campo de

    radiação, são capazes de indicar sua presença [26-29]

    . O dosímetro ideal deve ser capaz de

    medir a dose emitida por uma fonte de radiação e também apresentar exatidão, precisão,

    limite de detecção, faixa de medida, dependência de energia, resolução espacial e facilidade

    de operação. Contudo, essas e outras exigências não são plenamente satisfeitas por nenhum

    dosímetro conhecido atualmente. Isso torna o desenvolvimento de sistemas de

    monitoramento, controle e/ou identificação de radiação cada vez mais estimulante e bastante

    oportuno. Como resultado há nas áreas médicas, hospitalares e afins, grande interesse no

    desenvolvimento de dispositivos que possam inferir não somente a dose de radiação absorvida

    por um dado indivíduo ou meio material, mas que seja eficiente para uma dada especificação

    (ex: controle de dose, identificação de faixa de radiação etc.), de baixo custo e/ou fácil

    processamento. Nesse contexto, os compostos conjugados têm recebido grande destaque na

    literatura, pois podem apresentar mudanças acentuadas nas suas propriedades ópticas e/ou

    elétricas quando expostos a diferentes fontes e doses de radiação[26-29,53-54]

    . Os poli(p-

    fenilenovinilenos) – PPVs e o Alq3 são bons exemplos desses materiais pelo fato de suas

    propriedades de absorção e emissão óptica, na região do visível, serem drasticamente

    alteradas quando o polímeros é submetido, por exemplo, a radiação não-ionizante[17,18,21,26-29]

    .

    Por outro lado, também se abre perspectivas para o uso dos compostos luminescentes como

    elemento ativo de dosímetros para radiação não-ionizante. Isso se deve a necessidade das

    áreas medidas em se monitorar tratamentos de doenças neonatais via fototerapia, por

    exemplo, a hiperbilirrubinemia, onde resultados da literatura mostram que os PPVs são

    bastante sensíveis a essa radiação[26-29]

    . No LAPPEM, laboratório onde este dosímetro é

    desenvolvido, foi patenteado e realizado um trabalho sobre um dosímetro de radiação azul

    com aplicação em fototerapia neonatal. Esse dispositivo apresenta como princípio de

    funcionamento a mudança de tonalidade da coloração da solução de MEH-PPV, bem como da

    intensidade de fotoluminescência. Tal dosímetro apresenta vantagens como fácil leitura e

  • 20

    baixo custo, além de ser o primeiro tipo apresentado na literatura. Por essa razão o trabalho

    foi laureado com a segunda colocação no Prêmio de Ciência e Tecnologia da Sociedade

    Mineira de Engenheiros, em Nov/2007[36]

    e primeira colocação no 3º Prêmio Werner von

    Siemens de Inovação Tecnológica [37]

    .

    2.2.1 - Hiperbilirrubinemia neonatal e fototerapia com luz azul

    A hiperbilirrubinemia neonatal é a patologia mais comum encontrado na prática

    clínica diária em neonatologia, pois 80% dos recém-nascidos (RN) podem apresentar algum

    grau de icterícia já nos primeiros dias de vida[34]

    . É encontrada praticamente em todos os

    neonatos pré-termo de muito baixo peso e pode apresentar-se clinicamente como icterícia,

    coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas conseqüente à deposição do

    pigmento biliar nesses locais. Por sua vez, ela está intimamente relacionada à boa maturidade

    funcional hepática[55-58]

    . Por ausência desta maturidade a capacidade de excretar metabólitos

    endogenamente formados como a bilirrubina é alterada[55-58]

    . Os pigmentos biliares

    (bilirrubina) são constituídos por uma cadeia de quatro anéis pirrólicos ligados por três pontes

    de carbono. A bilirrubina deriva principalmente da desintegração da hemoglobina e apresenta

    extensa porção de cadeias carbônicas bem como sítios polares ao longo da cadeia, carbonilas,

    carboxilas e grupos amino, mas mesmo assim é hidrofóbica devido ao posicionamento destes

    sítios polares. A Fig. 2.9 mostra a estrutura química do pigmento.

    FIGURA 2. 9: Fórmula estrutural da molécula de bilirrubina.

    Na Fig. 2.9 observa-se a estrutura química da molécula de bilirrubina, em sua forma

    insolúvel em água conhecida como bilirrubina não conjugada. A bilirrubina não conjugada ou

    indireta liga-se reversivelmente à albumina, forma pela qual é transportada no plasma

    sangüíneo. No fígado, os hepatócitos conjugam esta molécula ao ácido glicurônico tornando-a

    hidrossolúvel, em condições normais a molécula é rapidamente captada e metabolizada pelo

  • 21

    fígado que a prepara para ser eliminada pois após a conjugação pode ser eliminada para a bile.

    Após a conjugação, a bilirrubina vai para os canalículos biliares mediante mecanismo ativo ao

    atravessar a membrana dos hepatócitos chegando ao intestino delgado, onde será reduzida a

    estercobilina pela presença de bactérias da flora local e uma pequena quantidade será

    hidrolisada para bilirrubina indireta (pela enzima beta glicuronidase) e reabsorvida pela

    circulação entero-hepática. Contudo, no recém nascido, a flora intestinal está ausente até em

    torno da primeira semana de vida e a beta glicuronidase está presente de forma ativa,

    aumentando a quantidade de bilirrubina indireta que será reabsorvida.

    O metabolismo fetal da bilirrubina é diferente do adulto devido à, além da falta de

    flora intestinal já citada, imaturidade do fígado e é mais grave quando há prematuridade e

    baixo peso, indicando menor capacidade de metabolismo da bilirrubina no período neonatal e

    gerando aumento na concentração sérica de bilirrubina não conjugada ou indireta que pode ser

    simplesmente fisiológico ou patológico[54]

    . Os neonatos podem apresentar, também, aumento

    da bilirrubina conjugada (ou direta) no sangue que embora não aconteça com freqüência

    merece atenção, pois é sempre patológico. Esse aumento pode ser explicado, por exemplo,

    por alteração no transporte intracelular de bilirrubina conjugada até a membrana do

    hepatócito.

    A grande maioria dos recém–nascidos apresenta valores elevados de bilirrubina sem

    uma etiologia específica. Quando presente em valores elevados, o pigmento pode ultrapassar

    a barreira hematoencefálica e impregnar-se no sistema nervoso central desencadeando uma

    síndrome neurológica chamada Kernicterus, extremamente grave, que deixa seqüelas

    neurológicas irreversíveis e com alta mortalidade[54]

    . Adicionalmente a estes altos níveis

    podem apresentar fatores associação facilitadores da impregnação bilirrubínica em nível

    cerebral. O pH sanguíneo interfere na solubilidade da bilirrubina no plasma, determinando o

    equilíbrio entre as formas ácida, monoânica e diânica. Em pH igual a 7,4 a molécula é

    estabilizada por pontes de hidrogênio que saturam os grupos hidrofílicos tornando-a pouco

    solúvel em água. Em meio alcalino, as pontes de hidrogênio se abrem formando um anion

    mono ou bivalente, com exposição de grupos hidrofílicos e maior solubilidade. Na presença

    de acidose os íons de hidrogênio saturam os grupos hidrofílicos, diminuindo a solubilidade da

    bilirrubina e favorecendo a formação de agregados que se depositam nas células nervosas e

    gerando o quadro de encefalopatia bilirrubínica[32]

    . Tais condições são devastadoras e causam

    lesões neurológicas irreversíveis, até mesmo o óbito do neonato.

  • 22

    Afortunadamente, foi desenvolvida uma técnica terapêutica capaz de utilizar a energia

    luminosa na transformação da bilirrubina indireta em produtos mais hidrossolúveis para

    serem excretados, denominada Fototerapia. Desde 1958 quando Cremer e Perryman[55]

    observaram que a exposição de recém nascidos ictéricos a luz fluorescente levava a uma

    queda nos níveis sanguíneos de bilirrubina, a fototerapia vem sendo extensivamente usada

    como modalidade terapêutica para o tratamento da Hiperbilirrubinemia Neonatal e tem se

    apresentado capaz de controlar os níveis de bilirrubina em quase todos os pacientes com raras

    exceções em casos de eritroblastose fetal[56]

    . Esta terapia consiste na aplicação de luz de alta

    intensidade que, absorvida pela molécula de bilirrubina, promove transformação fotoquímica

    da molécula, que sofre alteração em sua estrutura formando fotoprodutos capazes de serem

    eliminados pelos rins ou pelo fígado sem sofrerem modificações metabólicas. Nesse caso,

    podem ocorrer três reações químicas: a foto-oxidação e as isomerizações configuracional e

    estrutural. Dentre estas reações se destaca a fotoisomerização estrutural formando a

    lumirrubina, principal fotoproduto e altamente solúvel em água eliminando-se rapidamente na

    urina. A formação deste isômero estrutural é atualmente considerada o principal mecanismo

    pelo qual a fototerapia diminui os níveis séricos da bilirrubina[57]

    . A título de ilustração a Fig.

    2.10 mostra as transformações na molécula promovida pela energia luminosa.

    FIGURA 2.10: Esquema ilustrativo do mecanismo de transformação da bilirrubina promovido pela

    radiação[57]

    .

    Da Fig. 2.10 observa-se que com a incidência de radiação a molécula é excitada sendo

    que estes estados excitados reagem com o oxigênio formando produtos de menor peso

  • 23

    molecular. Os estados excitados podem, ainda, se rearranjarem formando isômeros estruturais

    ou configuracioanais, sendo que o isômero estrutural lumirrubina é o principal produto

    formado no organismo humano exposto à fototerapia. Os fotoisômeros formados são muito

    menos lipofílicos que a molécula de bilirrubina e podem ser excretados pela urina.

    FIGURA 2.11: Espectro de absorção da bilirrubina

    Na Fig. 2.11 observa-se que a molécula de bilirrubina absorve energia luminosa

    emitida no comprimento de onda entre 400-490 nm. Não resta dúvida, portanto, de que a luz

    azul (440-490 nm) é a mais eficaz para promover sua fotoisomerização. A radiação emitida

    nesta faixa penetra na epiderme e atinge o tecido subcutâneo. Entretanto somente a bilirrubina

    que estiver próxima da superfície da pele será afetada diretamente pela luz e a eficácia da

    fototerapia dependerá da quantidade de energia luminosa liberada e a qualidade do espectro

    luminoso também exerce influencia na formação do fotoproduto.

    Dessa forma, a eficácia terapêutica dos aparelhos de fototerapia depende da

    concentração sérica inicial da bilirrubina antes do tratamento, superfície corporal exposta à

    luz, distância entre a fonte luminosa e o paciente, dose e irradiância emitida e tipo de luz

    utilizada, além de características intrínsecas do recém nascido como peso, nutrição em uso e

    patologias associadas como mostrados na Fig. 2.12.

  • 24

    FIGURA 2. 12: Esquema representativo dos fatores que interferem na eficácia da fototerapia no

    tratamento da Hiperbilirrubinemia neonatal[57]

    .

    Na Fig. 2.12 observa-se que além de alguns fatores relacionados ao recém-nascido,

    como causa e tipo de hiperbilirrubinemia, peso, prematuridade e nível de bilirrubina no

    sangue, alguns fatores operacionais influenciam na eficácia da terapêutica como, por

    exemplo, tipo de radiação utilizada, distância entre fonte de radiação e neonato e radiância

    emitida pela fonte. A título de ilustração, a Fig. 2.13 mostra um neonato exposto ao

    tratamento fototerápico em uma unidade neonatal brasileira.

    FIGURA 2. 13: Recém-nascido ictérico recebendo tratamento de fototerapia. Foto: R.F.Bianchi

    (2005).

    radiação

  • 25

    Na Fig. 2.13 é possível observar a presença de alguns fatores que interferem na

    eficácia do tratamento fototerápico, como a grande distância entre o neonato e a fonte de

    radiação, existência de uma placa de acrílico, de uma toalha e de um equipamento entre o

    neonato e a fonte de radiação e balão de oxigênio em torno da cabeça do neonato, além do

    fato da lâmpada utilizada não ser a azul especial que oferece maior eficiência a este

    procedimento terapêutico. Vale ressaltar que a influência destes fatores é desconhecida e

    ignorada por muitos profissionais de saúde[33]

    . Trabalhos recentes mostram que muitos

    profissionais não seguem um padrão para realizar este tratamento, usando diferentes tipos de

    equipamentos e lâmpadas. Por exemplo, luz fluorescente branca, combinação de lâmpadas

    brancas e azuis e ou apenas lâmpadas azuis[33]

    . Neste mesmo estudo foram entrevistados 89

    profissionais de saúde, sendo 50 médicos (13 chefes de serviço, 3 médicos residentes e 34

    médicos neonatologistas plantonistas) e 39 profissionais de enfermagem (30 enfermeiras e 9

    técnicos de enfermagem). Porém apenas três desses profissionais de saúde em entrevista

    relataram que as lâmpadas são trocadas regularmente, outros que nunca são trocadas e alguns

    sequer sabiam informar a respeito dessa necessidade. O mais surpreendente é que as

    informações variam inclusive dentro da mesma unidade de tratamento. Quanto à verificação

    da radiância, 50 % dos entrevistados afirmaram que existia uma rotina no serviço para tal fim,

    44 % afirmaram que não existia e 6 % não souberam informar nada a esse respeito. Dos 45

    profissionais que afirmaram existir uma rotina de verificação da irradiância, 21 não souberam

    informar a freqüência em que isso ocorria e os demais relataram desde avaliação “diária” até

    “a cada 60 dias”. Quando indagados a respeito da troca de lâmpadas, 34 % dos profissionais

    entrevistados declararam que as lâmpadas fluorescentes eram trocadas regularmente, 37 %

    afirmaram que as lâmpadas nunca eram trocadas e 29 % não souberam responder nada sobre

    esse assunto. Dos 30 profissionais que afirmaram que as lâmpadas eram trocadas

    regularmente, 26 não souberam precisar a freqüência dessas trocas. Dos quatro restantes, um

    relatou troca a cada quatro dias, um a cada 7 dias e dois a cada 90 dias. Quando questionados

    a respeito de uma distância padronizada entre o recém-nascido ictérico e a fonte luminosa,

    96% dos profissionais afirmaram que ela existia em seu serviço, porém, as respostas variaram

    significativamente (de 20 cm até 70 cm)[33]

    .

    Outro ponto que merece especial atenção é que muitas das unidades de fototerapia

    brasileira possuem apenas equipamentos que não emitem a dose mínima de radiação para a

    eficiência do tratamento[30]

    . Sabe-se que a dose terapêutica mínima de irradiância corresponde

  • 26

    a 4 mw/cm2/nm

    [30], sendo porém o ideal que a irradiância seja superior a 16 mw/cm

    2/nm, já

    que quanto maior a dose de irradiância liberada, mais eficaz será a fototerapia [30]

    . Entretanto,

    vários trabalhos publicados demonstraram que a irradiância média dos aparelhos de

    fototerapia encontram-se abaixo da recomendada na literatura, como mostrado na Fig. 2.14[57]

    .

    Alguns insucessos nessa terapia podem ser causados