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NÚMERO 33 DE 15 DE AGOSTO A 15 DE SETEMBRO DE 2005 1 'Galiza Qualidade' leva a confusom aos mercados em detrimento das denominaçons de origem O SELO COMERCIALIZA COMO GALEGOS PRODUTOS QUE NOM O SOM REDACÇOM / Nom é a primeira vez que o nome de um selo de qualidade que utiliza um refe- rente topográfico é mudado por causar confusom. Assim aconte- ceu, por exemplo, na Catalunha e na Andaluzia, e é o que des- ejam os conselhos reguladores das DOP (Denominaçons de Origem Protegida) para o caso galego. A origem da polémica reside na procedência dos produtos que abrange o selo 'Galiza Quali- dade', que nom garante, ao con- trário do que pensam muitos consumidores e consumidoras, que o produto tenha sido produ- zido, transformado e elaborado numha zona geográfica determi- nada, sendo só obrigatório que o produto passasse pola Galiza em algumha etapa da sua produçom ou embalagem. É o caso de 'Tenreira Galega', que embora pudesse ter sido considerada umha DOP, foi registada final- mente como IGP (Indicaçons Geográficas Protegidas), possibi- litando-se assim que o gado nom tenha nascido nem crescido na Galiza, mas apenas sacrificado. Embora da parte dos conselhos reguladores digam nom sentir-se 'pisados' comercialmente polo selo 'Galiza Qualidade', sim se sentem incomodados com a con- fusom que provoca que o ámbito comercial seja basicamente o mesmo (o agro-alimentar), assim como polo investimento da Junta na publicidade de umha marca sob a qual se reúnem as empresas mais importantes do País, sem que fosse claramente definido o interesse social da mesma. Afinal, o que está em questom é se é legítimo que um selo de qua- lidade definido em relaçom ao processo de produçom capture o mercado de um determinado tipo de produtos únicos pola sua espe- cificidade geográfica. / Pag. 10 Compostela viveu neste 25 de Julho o Dia da Pátria mais agitado e com maior assistência da última década / 05 E AINDA... UGIO CAAMANHO E GIANA RODRIGUES continuam em prisom enquanto a AMI sofre um forte assédio mediático / 06 O NOVO GOVERNO GALEGO principia a trabalhar prometendo transparência e diálogo com os agentes sociais / 04 Quatro retratos para uma mudança política por João Aveledo / 02 "Sabotagens como a do dia 23 tenhem sido habituais em datas próximas do Dia da Pátria, sem a transcendência mediática desta ocasiom" Joám Bagaria, responsável nacional de Organizaçom da AMI PÁGINA 17 Ainda nom se conhecem mudanças na política contra incêndios do novo governo Movimento nacional-popular chega aos ecráns através do olhar de Carlos Varela REDACÇOM / O novo conselhei- ro do Meio Rural considerou umha "temeridade" mudar o dis- positivo contra-incêndios em plena campanha de extinçom. Em contrapartida, prometeu transparência na difusom dos dados para que os cidadaos e cidadás tomem consciência real do problema. Porém, à vista dos números já conhecidos, nom parece que venha a ser difícil a 'tomada de consciência' em rela- çom ao problema: até o dia 7 de Agosto já arderam na Comu- nidade autónoma 15.217 hecta- res, dos quais 4.243 eram super- fície arborizada. Mas ainda há dados mais preocupantes: a administraçom investe 10,22 milhons de euros anuais na luita contra o lume, a política de pre- vençom continua sem existir, a formaçom das equipas de extin- çom é nula e em muitos concel- hos galegos o pessoal que fai parte das brigadas é nomeado polo próprio presidente da cámara, existindo umha crescen- te preocupaçom e desconfiança na sociedade por este modo de gerir a política florestal, sobretu- do tendo em conta que mais de 99% dos incêndios da CAG estám vinculados directa ou indirectamente à 'actividade humana', percentagem muito superior à estatal. Em definitivo, se continua a ser adiada umha verdadeira política de preven- çom, a Junta corre o risco de que se espalhe a sensaçom de que a própria administraçom fai parte do problema. / Pag. 14 A quantidade de incêndios e de superfície queimada convertem este Verao no mais destrutivo da última década Um filme dirigido por Ledo Cordeiro resgata as imagens da Galiza comprometida contra a segunda restauraçom borbónica / 13

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  • NÚMERO 33 DE 15 DE AGOSTO A 15 DE SETEMBRO DE 2005 1 €

    'Galiza Qualidade' leva a confusomaos mercados em detrimento dasdenominaçons de origemO SELO COMERCIALIZA COMO GALEGOS PRODUTOS QUE NOM O SOM

    REDACÇOM / Nom é a primeiravez que o nome de um selo dequalidade que utiliza um refe-rente topográfico é mudado porcausar confusom. Assim aconte-ceu, por exemplo, na Catalunhae na Andaluzia, e é o que des-ejam os conselhos reguladoresdas DOP (Denominaçons deOrigem Protegida) para o casogalego.A origem da polémica reside naprocedência dos produtos queabrange o selo 'Galiza Quali-dade', que nom garante, ao con-trário do que pensam muitosconsumidores e consumidoras,que o produto tenha sido produ-

    zido, transformado e elaboradonumha zona geográfica determi-nada, sendo só obrigatório que oproduto passasse pola Galiza emalgumha etapa da sua produçomou embalagem. É o caso de'Tenreira Galega', que emborapudesse ter sido consideradaumha DOP, foi registada final-mente como IGP (IndicaçonsGeográficas Protegidas), possibi-litando-se assim que o gado nomtenha nascido nem crescido naGaliza, mas apenas sacrificado.Embora da parte dos conselhosreguladores digam nom sentir-se'pisados' comercialmente poloselo 'Galiza Qualidade', sim se

    sentem incomodados com a con-fusom que provoca que o ámbitocomercial seja basicamente omesmo (o agro-alimentar), assimcomo polo investimento daJunta na publicidade de umhamarca sob a qual se reúnem asempresas mais importantes doPaís, sem que fosse claramentedefinido o interesse social damesma.Afinal, o que está em questom ése é legítimo que um selo de qua-lidade definido em relaçom aoprocesso de produçom capture omercado de um determinado tipode produtos únicos pola sua espe-cificidade geográfica. / Pag. 10

    Compostela viveu neste 25 de Julho oDia da Pátria mais agitado e com maiorassistência da última década / 05

    E AINDA...

    UGIO CAAMANHO E GIANA RODRIGUEScontinuam em prisom enquanto a AMI sofre um forte assédio mediático / 06

    O NOVO GOVERNO GALEGO principia atrabalhar prometendo transparência ediálogo com os agentes sociais / 04

    Quatro retratos para uma mudança política por João Aveledo / 02

    "Sabotagens como a do dia 23 tenhem sido habituais em datas próximasdo Dia da Pátria, sem a transcendência mediática desta ocasiom"Joám Bagaria, responsável nacional de Organizaçom da AMI PÁGINA 17

    Ainda nom se conhecemmudanças na políticacontra incêndiosdo novo governo

    Movimento nacional-popularchega aos ecráns através doolhar de Carlos Varela

    REDACÇOM / O novo conselhei-ro do Meio Rural considerouumha "temeridade" mudar o dis-positivo contra-incêndios emplena campanha de extinçom.Em contrapartida, prometeutransparência na difusom dosdados para que os cidadaos ecidadás tomem consciência realdo problema. Porém, à vista dosnúmeros já conhecidos, nomparece que venha a ser difícil a'tomada de consciência' em rela-çom ao problema: até o dia 7 deAgosto já arderam na Comu-nidade autónoma 15.217 hecta-res, dos quais 4.243 eram super-fície arborizada. Mas ainda hádados mais preocupantes: aadministraçom investe 10,22milhons de euros anuais na luitacontra o lume, a política de pre-

    vençom continua sem existir, aformaçom das equipas de extin-çom é nula e em muitos concel-hos galegos o pessoal que faiparte das brigadas é nomeadopolo próprio presidente dacámara, existindo umha crescen-te preocupaçom e desconfiançana sociedade por este modo degerir a política florestal, sobretu-do tendo em conta que mais de99% dos incêndios da CAGestám vinculados directa ouindirectamente à 'actividadehumana', percentagem muitosuperior à estatal. Em definitivo,se continua a ser adiada umhaverdadeira política de preven-çom, a Junta corre o risco de quese espalhe a sensaçom de que aprópria administraçom fai partedo problema. / Pag. 14

    A quantidade de incêndios e de superfíciequeimada convertem este Verao no maisdestrutivo da última década

    Um filme dirigido por Ledo Cordeiro resgataas imagens da Galiza comprometida contra asegunda restauraçom borbónica / 13

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 200502 OPINIOM

    Beiras. Nascido numa famí-lia de fidelidades patrióti-cas, foi educado para prín-cipe pela camarilha do Pinheiro.Jovem catedrático. Radical nadefesa das suas ideias. Ególatra evaidoso, como corresponde a umpríncipe. Dândi e afrancesado, foigauche divine galega.Em 63, co-fundou um PSG quese dizia socialista, democrático eeuropeu. Logo veio a democraciae a tentativa de absorção doPSOE, que Felipe queria PSG-PSOE com Beiras de secretáriogeral. Mas este recusou e o PSOEteria de ser finalmente PSdeG. Depois o fracasso eleitoral, um

    povo galego que virava as costasàquelas elites nacionalistas quereinavam na bolha compostelana,mas que eram quase desconheci-das no resto do País. A realidadefoi demasiado dura para o JoséManuel e este decidiu fugir... De77 a 81 desce aos infernos. Em 81, regressa ao mundo comforças renovadas e em 82, partici-pa na fundação do BNG. ComBeiras, como imagem referenciale com a UPG como exército fiel,a Frente volta ao Parlamento eem poucos anos passará de ape-nas 1 deputado a 18, da margina-lidade política a ser a segundaforça. Em 98, Beiras procura a

    homologação do BNG com bas-cos e catalães, e impulsa com CiUe PNV uma Declaração deBarcelona, que quer ressuscitar aGaleuzka republicana. Equivo-cou-se e o povo começou a virar-lhe as costas mais uma vez. Semmeios de comunicação próprios, onacionalismo era um gigante depés de barro que não pudoenfrentar o assédio mediático einstitucional a que o submeteu oaznarismo. Assim começou a san-gria de votos e Paco Rodrigues,decide então prescindir dos seusserviços...A verdade é que Beiras nuncagovernou, nem sequer o BNG

    que aparentava chefiar. A sua foiuma agonia política longa, comum defecho tão inevitável comoprevisível.Já é História. Passará à mitologiado nacionalismo.

    Quin. Tu quoque, Brutus, fili mi!Frase que poderíamos traduzirpara o galego como "Até tu, Quin,meu filho!". O que a pronunciaaqui não é César, mas Beiras querecebe a derradeira punhalada doseu afilhado político.Quin foi jovem revolucionário,que por jogar a agitador desaten-deu os estudos. A sua estrela polí-tica acende-se em 89, quando

    encabeça uma revolta, que o levaà Presidência da Câmara Muni-cipal de Alhariz. Transformou avila com uma gestão brilhante eali ganhou todas as eleições.Depois deu o salto à políticanacional e perdeu eleição apóseleição até chegar à Vice-Presidência da Junta. Nas últimasperdeu 4 deputados.Político convencional, de discur-so pobre e populista, está por verse consegue fazer-se respeitar noGoverno e se dará no BNG abatalha que Beiras nunca se atre-veu a dar. Vai a todos os enterros. Pode serfuturo do nacionalismo.

    Quatro retratospara uma

    mudança política

    O PELOURINHO DO NOVAS

    Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido nas NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as trinta linhas digitadas acomputador. É imprescindível que ostextos estejam assinados. Em casocontrário, NOVAS DA GALIZA reserva-seo direito de publicar estas colabora-çons, como também de resumi-las ouextractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeitopessoal ou promoverem condutasantisociais intoleráveis. Endereço: [email protected]

    JOÃO AVELEDO

    “TUDO DEVE MUDAR PARA QUE NADA MUDE”(PRÍNCIPE DI LAMPEDUSA)

    "A DEMOCRACIA É O PIOR SISTEMA DE GOVERNOEXISTENTE, COM A EXCEPÇÃO DE TODOS OS

    OUTROS”(CHURCHILL)

    DESCOBERTA DOREITEGRACIONISMO PORUM CATALÁM

    Estou a passar uns dias de fériasna Galiza (terra dos meus pais edo meu sogro). Ontem tivem "asorte" de comprar o seu jornalNovas da Galiza. Foi umhaverdadeira surpresa poder ler umgalego escrito numha grafia queparece tam própria do galego. Eunascim em Barcelona e portantosou catalám, filho de galegos eeducado em castelhano naescola. Com os anos, com grandesurpresa, descobrim a existênciade umha língua muitosemelhante ao galego que sefalava além-Minho: o português. Vejo que a normativa empregadapor vocês tem como referência oportuguês (de maneiradiametralmente oposta à actualnormativa galega baseada noespanhol). Acho que o Galegopertence lingüisticamente àesfera do galego-português e quea normativa actual supom umha

    barreira para se entender com asua comunidade naturallingüística. Por outo lado,encontro bem acertado oconteúdo crítico do jornal,sempre que nom seja excluentepara ninguém.

    Manuel Álvarez Fernández

    DEZOITO DE JULHO: 69 ANOS DEPOIS

    A data de 18 de Julho é de tristememória para a maioria dosespanhóis. Marcou o dia em queo estado de direito, a legalidadebaseada na consulta e vontadepopular foi substituída polaordem baseada na força dasarmas. Marca o dia em que omelhor e mais florido dasociedade foi sacrificado para darexemplo, diante da atemorizadapopulaçom, com a morte ou como exílio forçado para aqueles quelográrom fugir daquele infernoque se dasatou no qual irmaos,

    vizinhos ou amigos empunháromas armas contra irmaos, vizinhosou antigos amigos. Lembremosapenas, para fazermos umhamínima ideia do que aquilosignificou, as palavras que MillanAstray, um daqueles generaisrevoltados, pronunciou naUniversidade de Salamanca, emfrente de Unamuno: "Viva amorte! Abaixo a inteligência!".Abria-se assim a "longa noite depedra" que ia durar mais de 40anos e que submergiu a Galiza naincultura, no atraso económico ena ignoráncia de si mesma e dasua própria história.Neste 18 de Julho, na Galiza,começou um novo parlamentoformado polas pessoas eleitaspola vontade popular. Aconformaçom deste permite queas forças da esquerda, PSOE eBloco Nacionalista Galego,podam formar um governo decoligaçom, depois de, durante 16anos, terem estado a governareste País as forças da direita,presididas por um ex-ministrofranquista, herdeiro, portanto,daqueles terríveis tempos que já

    referimos acima. Nom foi umhavitória esmagadora mas tambémsabemos que nom foi fácilromper a inércia do sistemacaciquista que baseia o poder naduplicidade da dádiva e dotemor.Agora abre-se um tempo novo.Nenhum dos notáveis do futurogoverno da Galiza tenhem nada aver com aquela triste etapa dahistória de Espanha, em que osprivilégios pertenciam aos"afectos ao regime", e em quetoda dissidência era afogada polaforça.Um novo 18 de Julho que, semque esqueçamos o passado paraaprendermos dos seus erros,abre um tempo novo, depromessas, de liberdade, deprogresso e de auto-estima, paraos que cremos na Galiza comoPaís...Que assim seja. Aguardamos queos novos governantes podamlevar adiante os seus programaspolo bem de todos e todas ascidadás galegas.

    Adela Figueroa Panisse

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 03EDITORIAL

    Fraga. Catedrático, ministro,embaixador, pai da Constitui-ção... A sua biografia pode comtudo, com a Lei de Imprensa, oboom turístico, a bomba dePalomares, Montejurra, Gas-teiz, o Jacobeu e ainda com oPrestige de Cascos. Autoritário, hiperactivo, reac-cionário, erudito, austero nopessoal. Foi um homem depoder, leal por cima de tudo àEspanha. E Espanha que não oquis!Dezasseis anos de PoderPopular galego. Reinou numrevival de uma Galiza medievaldividida em feudos e entreteci-da de redes clientelares. O seufoi um populismo regionalistade gaiteirada e festa gastronó-mica, de Juan Pardo e Luar. Apesar das 4 maiorias absolutas,do Prestige, dos seus excessosverbais, de um corpo maltrata-do por anos e trabalhos, do des-maio televisado e de ter o parti-do dividido, só perdeu 4 depu-tados e ficou a uns poucos mil-hares de votos da 5ª.Está a ser, por fim, História.Falta ver quem elege comosucessor... Com um PPdeG emguerra interna entre "caciquesPaís" e "espanholitos urbanos",esperará, talvez, por Rajoy?

    Tourinho. Entre 85 e 94 exer-ceu altas responsabilidadesnum Ministério que discrimina-va a Galiza, deixando-a incomu-nicada. Só a forte mobilizaçãopopular e institucional conse-guiu que, mais tarde que cedo,chegaram as rodovias. Nessa

    altura desputou a cátedra deEconomia Aplicada a Suevos. OTribunal pretendeu dar-lha,argumentando não entenderemo galego! Escândalo universitá-rio e afinal justiça.Desde 98, encabeça um PSdeGextremamente localista, ondequem mais manda é o espanho-lismo vasquista. Contudo, noque alguns julgam galego, falade "comunidade nacional" e de"aprofundar no autogoverno",claro que milita numa forçaespecializada em mudar o signi-ficado das palavras, onde, p.ex.,"esquerda" significa "neolibera-lismo económico" e "aliança dascivilizações" "reforçar a invasãoianque de Afeganistão".Agora é Presidente. Chegoucom ares kennedianos, masnão dá...

    Epílogo. Com estes anteceden-tes, pouco podemos esperardeste novo governo que se dizde esquerda e/ou nacionalista. Aesquerda real há muito que dei-xou de ser possível a nível mun-dial e tampouco resultam possí-veis políticas verdadeiramentenacionalistas num país em queo nacionalismo é minoritárioainda entre aqueles que assimse chamam.No entanto, desde o profundocepticismo com que algunsacreditamos na democracialiberal, recebemos estamudança com a alegria que,por higiene democrática,supõe a mudança em si mesmae máximo quando o que cai étodo um regime.

    Adesfeita do património naturaltem, na Galiza, a condiçom ubíquado espectáculo. Com umha sinistrapontualidade, a vaga de incêndios quecada ano assola os montes do nosso paísnom só certifica a decadência de um des-articulado mundo rural: confirma tambéma instalaçom resignada e quase plácida detodo um povo nos piores recordes das pio-res estatísticas. A já tópica imagem dostranquilos veraneantes a desfrutarem daspraias com o pano de fundo de imensascolunas de fumo negro e o barulho doshidroavions chegou a ilustrar muito mel-hor o fenómeno do que as mais lúcidasanálises: a indolência fatalista com queassistimos anualmente à presença dasbrasas e da borralha permite convertermais um problema político com directosresponsáveis em inevitável parte da pai-sagem.

    Um consenso bem fundamentado situaa soluçom ao problema numha eficaz polí-tica preventiva que recupere o papel eco-nómico e social que outrora tivérom osnossos montes. O novo governo autonó-mico, fazendo-se eco de um sentidocomum apoiado por todo o ambientalismoorganizado, pareceu oficializar nas suasprimeiras declaraçons esta via tantotempo desprezada. A evidente falta detempo para a tomada de medidas defundo deve levar-nos a manter umha pru-dência vigilante antes de cairmos em lou-vanças cegas ou condenaçons prematuras.Ainda, e em companhia da sociedade civilmais activa, deveríamos atrever-nos aantecipar aqueles aspectos mais confliti-vos que se perfilham no horizonte.

    Os países do capitalismo desenvolvidotêm confinado o mundo rural ao puro pai-

    sagismo, onde um cuidadíssimo espaço deturismo e lazer urbano subsitui socieda-des labregas desaparecidas há já váriasdécadas. Na Galiza, onde a falta de plani-ficaçom e compromisso com as popula-çons rurais deu lugar a umha decadênciaacelerada e sem remendos, o pensamentomais avançado e audaz tem assinaladoterceiras vias possíveis; entre o puroabandono e o desenho de imensas zonasde recreio, a pretensom de um rural real-mente produtivo e vigoroso parece ser amelhor garantia de blindagem contra olume: umha sociedade de aldeias e nomde urbanizaçons; um espaço plurifuncio-nal organizado a partir da produçom agro-pequária e nom um ermo cinegético parasafari-park e vivendas de desenho; unsmontes alicerçados na gestom comunalalém do florestalismo produtivista eempobrecedor. Estas apostas genéricas,materializadas num plano global de longoprazo, achariam difícil acomodo no para-digma vigente de progresso e terciariza-çom que a UE vem executando; por isso apolítica anti-incêndios e, por extensom, arelacionada com o meio rural, provará nosvindouros anos o alcanço real das trans-formaçons tantas vezes prometidas.

    Nas últimas décadas, os mais activosmovimentos populares do nosso país -ambientalistas, sindicais e em defesa dapropriedade em mao comum- têm avaliza-do com a sua constante prática reivindi-cativa aquelas propostas teóricas empen-hadas na viabilidade do rural e na defesado seu papel simbólico, cultural e produ-tivo. Da continuidade de todas essas exi-gências -sem complexos e em plena rua-dependerá a profundidade das medidasde choque que todos exigimos.

    O RURAL QUE ARDE

    GONZALO

    As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando aortografia e citando procedência.A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

    EDITORAMINHO MEDIA S.L.

    DIRECTORRamom Gonçalves

    REDACTOR-CHEFECarlos Barros G.

    CONSELHO DE REDACÇOMMarta Salgueiro, Antom Santos, IvámGarcia, Alonso Vidal, Xiana Árias, Sole Rei

    DESENHO GRÁFICO E MAQUETAÇOMMiguel Garcia, Carlos Barros e Alonso Vidal

    INTERNACIONAL:Nuno Gomes (Portugal)Jon Etxeandia (País Basco)Juanjo Garcia (Países Cataláns)

    COLABORAÇONSMaurício Castro, Inácio Gomes, DavideLoimil, X. Carlos Ánsia, Santiago Alba,Kiko Neves, José R. Pichel, RamomPinheiro, Joseba Irazola, Asier Rodrigues,Carlos Taibo, Ignacio Ramonet, RamónChao, Germám Hermida, Celso A.Cáccamo, João Aveledo, Jorge Paços,Adela Figueroa, F. Marinho e Joám Peres.

    FOTOGRAFIAArquivo NGZ, Natália Gonçalves

    HUMOR GRÁFICOSuso Sanmartin, Pepe Carreiro,Pestinho +1, Xosé Lois Hermo,Gonzalo, Aduaneiros sem fronteiras

    CORRECÇOM LINGÜÍSTICAEduardo Sanches Maragoto

    IMAGEM CORPORATIVAMiguel Garcia

    FECHO DA EDIÇOM: 15/08/05

  • REDACÇOM / Finalmente, asnegociaçons entre o PSdeG-PSOE e o BNG para o desenhoda gestom do poder autonómicofôrom mais singelas do que setemia. As comissons negociado-ras, formadas por RicardoVarela, Dolores Villarino e XoséLuís Méndez Romeu poloPSOE e Francisco Jorquera,Carlos Aymerich e ÁnxelaBugallo polo BNG fôrom asencarregadas de levar ao papel onovo esquema de governo, cujaslinhas programáticas se podemresumir na palavra de ordemque Tourinho e Quintana ten-hem repetido sem descanso nasúltimas semanas: "regeneraçomdemocrática". Porém, nem oacordo nem as declaraçons dosdous dirigentes fam pensar emprofundas transformaçons decarácter político. Assim, a rela-tivizaçom da importáncia doprocesso estatutário e da "dívi-da histórica" nos últimos com-passes da negociaçom, leva apensar sobretudo em mudançasde rumo em relaçom ao funcio-namento das conselharias e aodiálogo com a sociedade civil,que a Junta pretende tornar emagente protagonista.

    Comunidade de carácter nacionalPara além de definir o quadroespanhol como "estado plurina-cional", o texto do acordo resol-veu finalmente que a Galizanom é umha naçom mas "umhacomunidade de carácter nacio-nal", eufemismo que matizapara a Galiza a própria propostado PSOE nas negociaçons parao novo Estatut da Catalunha. Ooutro eufemismo que afinal vin-cou no texto aprovado foi o de"défice estrutural acumulado"em substituiçom do que, con-forme à proposta nacionalista,havia de ser definido com o

    termo, já de por si eufemístico,"dívida histórica".

    Para além de disquisiçons ter-minológicas, o acordo entre osdous partidos que compartilha-rám o poder quer assentarnomeadamente "a eficácia e atransparência no funcionamen-to dos poderes públicos". Estavontade revitalizadora vai-senotar sobretudo no combate aoclientelismo que nas anterioreslegislaturas fora especialmentenotável na chamada "adminis-traçom paralela", tantas vezesdenunciada através das páginasdeste jornal, e no terreno dosmeios de comunicaçom, dosquais se quer banir a manipula-çom informativa.

    No campo económico, adivin-ha-se umha mudança de atitudeem relaçom com os agentessociais, encenada já nos primei-ros dias com umha reuniomentre o chefe do executivo e osporta-vozes das três centraissindicais maioritárias na Galiza.

    Também parece que vai estarentre os planos do novo governoum impulso à I+D e à econo-mia agrária através daConselharia do Meio Rural quejá está a dirigir Alfredo SuárezCanal, o conselheiro maismediático até o momento polasua polémica decisom de nomtomar medidas excepcionaiscontra os incêndios.

    O software livre, um domíniogalego de internet ou a promo-çom de selecçons desportivasgalegas "dentro do quadro legalvigente" serám as apostas sim-bólicas do novo executivo.

    BNG fica sem política lingüísticaPorém, a principal frustraçomapós as negociaçons entre abase social do nacionalismo pro-duziu-se na área de planifica-çom lingüística. A espectaculardescida do número de falantesde galego nas últimas décadasfizera com que muitos naciona-listas albergassem umha única

    esperança: que o nacionalismogerisse essa área, o que afinalnom aconteceu, passando adepender de Presidência, quepor sua vez ficou em maos dovasquista Méndez Romeu. Ajustificaçom interna fôrom asalegadas pressons de Madridpara o impedir, e a contraparti-da a criaçom de umhaComissom Interdepartamentalde Seguimento e Impulso doPlano Geral de NormalizaçomLingüística com representantesde várias conselharias, tal comoacontecerá com a política decomunicaçom. Pola primeiravez, no entanto, reconhece-se aimportáncia do mundo lusófonopara a normalizaçom lingüística,sendo referido na alínea deLíngua. Nom obstante, aLusofonia nom volta a sernomeada, e na área de cultura,apesar de ficar nas maos doBloco, Ánxela Bugallo nom ins-pira demasiada confiança nomundo normalizador.

    NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005

    NOTÍCIAS

    04 NOTÍCIAS

    A nova legislatura começa a andar compromessas de 'regeneraçom democrática'

    O BNG gerirá a pasta de Cultura, renunciando a Educaçom e a Política Lingüística

    As comissons negociadoras de PSOE e BNG fechárom o pacto de governo no 22 de Julho / WEB DO PSDG-PSOE

    REDACÇOM / A nomeaçom doprofessor Elias Torres Feijócomo vice-presidente da AIL(Associaçom Internacional deLusitanistas) foi o principalreflexo do êxito da organizaçomdo VI Congresso desta entida-de, que pola primeira vez na suahistória correspondeu a umhacomissom galega daUniversidade de Santiago deCompostela.O congresso, realizado entre osdias 18 e 22 de Julho, foi dedi-cado a várias figuras doRessurgimento galego e contoucom até 400 especialistas dediversas áreas como a lingüísti-ca, a literatura e a sociedade dosdiversos territórios que partil-ham a língua portuguesa aolongo do mundo, se bem quefosse significativamente nume-rosa a delegaçom de especialis-tas procedentes do Brasil. O ambiente congressual deco-rreu com o pleno reconheci-mento da realidade lingüística ecultural galega como sendoparte da Lusofonia. Destemodo, e como exemplo paradig-mático, as comunicaçons fôromapresentadas com total normali-dade em qualquer umha dasnormas cultas do português nomundo, incluída a galega, quefoi a empregada em todo omomento pola organizaçom doevento.A celebraçom do congresso pro-curou também achegar aos parti-cipantes umha visom o maiscompleta possível da culturagalega e assim, além da apresen-taçom das comunicaçons e dodebate por volta das mesmas, osespecialistas fôrom convidados aassistir a várias actuaçons musi-cais e artísticas galegas, como asde Marful ou Quico Cadaval, erealizárom umha excursom àCosta da Morte.

    Congresso deLusitanistasinsere Galizana Lusofonia

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 05NOTÍCIAS

    10.07.05

    Memória. Comissom Viguesapola Memória de 1936 exige aMadrid a restituiçom dosdocumentos galegos de 1936 a1975.

    11.07.05

    Infra-eestruturas. O Plano Galizaé assumido oficialmente poloExecutivo espanhol e integradono PEIT.

    12.07.05

    Espanholizaçom. Instituto Cer-vantes celebra reuniom inter-nacional na Corunha com PérezTourinho e Francisco Vázquez.

    13.07.05

    Ence. PSOE e BNG asseguramque a celulose sairá da Ria.

    Demografia. Segundo o Inserso,21.3% da populaçom da CAG émaior de 65 anos e temos a piorcobertura assistencial do Estado.

    14.07.05

    Infra-eestruturas. A Confederaçomde Empresários da Galiza valorizapositivamente o PEIT.

    Carta-bbomba. Francisco José V.P. é ferido ao receber umhacarta-bomba.

    16.07.05

    Antom Moreda. É homenageadoo histórico nacionalista e secre-tário do Conselho da Mocidade.

    17.07.05

    Manipulaçom informativa. AMIqualifica de “intoxicaçom políti-co-policial” as informaçons que avinculam ao envio de umha carta-bomba a Francisco José V. P.

    Espoliaçom energética. Ascentrais de ciclo combinado dasPontes e Sabom começarám atrabalhar em 2007.

    19.07.05

    Língua. PSOE dirigirá a políticalingüística da administraçomautonómica.

    Morte no trabalho. O camionistaManuel M. morre nas obras doporto exterior corunhês.

    20.07.05

    Turismo. 300.000 pessoas visi-tárom a CAG no primeiro se-mestre de 2005 som , 3.5% maisdo que em 2004.

    CRONOLOGIA

    Milhares de pessoas marchárom mais um ano polas ruas de Compostela pedindo liberdade para a Galiza / WEB DE GALIZA NOVA

    Grande participaçom numconvulso Dia da Pátria GalegaO BNG consegue mobilizar mais simpatizantes que em 2004 enquanto as diferentes forçasindependentistas se manifestam por separado e sob um forte dispositivo policial

    REDACÇOM / Fôrom três asmanifestaçons que partírom daAlameda de Santiago deCompostela para reivindica-rem e celebrarem o Dia daPátria Galega noutro 25 deJulho. O Bloco NacionalistaGalego manifestou-se pola pri-meira vez desde que chegou aogoverno, e as forças indepen-dentistas, que em 2004 se uní-rom na convocatória das BasesDemocráticas Galegas, esteano concorrêrom separada-mente.

    Recuperando manifestantesOs militantes e simpatizantesdo BNG partírom ao meio-diada Alameda na manifestaçommais numerosa. Aliás, a primei-ra manifestaçom do BNGdesde a recente entrada nogoverno conseguiu reunir maispessoas que em 2004: mais de20.000, segundo a organiza-çom. O lema eleito por estaformaçom para a nova ediçomdo Dia nacional foi "Galiza vaicontigo". A manifestaçom aca-bou na praça da Quintá e aencarregada de apresentar oacto foi a já conselheira daCultura, Ánxela Bugallo. Neleparticipárom o vice-presidentedo governo Anxo Quintana e osecretário geral de GalizaNova, Xosé Emilio VicenteCaneda.

    Quintana reivindicou no seudiscurso um novo Estatuto deNaçom e reclamou ao Estadoespanhol o reconhecimento dadívida histórica que tem com aGaliza. Logo a seguir, os nacio-nalistas jantárom, como é tra-diçom, na Carvalheira de SantaSusana.

    Marcha pola república galegaCom um cartaz inicial em quese lia "Política de esquerda.República galega" que leva-vam, entre outras pessoas,Méndez Ferrín e MarianoAbalo, transcorreu a manifesta-çom da Frente Popular Galega,que partiu também daAlameda para chegar à praça doToural, entre berros de "inde-pendência" e "Galiza ceive,poder popular". MéndezFerrín, que lembrou no palco aexecuçom de Julián Grimau,falou do novo governo comoumha aliança de "de neoregio-nalistas e socialdemocratas".Os actos contárom com a parti-cipaçom activa dos moços emoças da Adiante (MocidadeRevolucionária Galega), orga-nizaçom juvenil ligada ideolo-gicamente à FPG, que solici-tou o compromisso com o inde-pendentismo que ela represen-ta. Adiante-MRG aproveitoupara distribuir e dar a conhecero primerio número do seuboletim porta-voz nacional, oEmbate.

    AMI nonm participa nos actosA organizaçom juvenil inde-pendentista AMI nom partici-pou em nenhuma das manifes-taçons convocadas para o dia25 e os seus actos limitárom-seà tradicional Rondalha daMocidade com a bandeira nanoite anterior ao Dia de Pátria.Esta XI ediçom estivo forte-mente marcada pola detençome incomunicaçom de dous mili-tantes dessa organizaçom nodia anterior, mas percorreucom normalidade as ruas dazona velha de Compostela,

    agrupando mais de cem pesso-as atrás de umha faixa em quese podia ler: "O futuro está naluita, o futuro está na Terra".Durante a festa posterior orga-nizada na Porta do Caminho,denunciaron a situaçom deprecariedade laboral da juven-tude galega e a detençom eincomunicaçom de UgioCaamanho e Giana Rodrigues,exigindo a sua imediata postaem libertaçom.

    I Jornada de Rebeliom JuvenilPor sua vez, a organizaçomjuvenil revolucionária galegaBRIGA decidiu apoiar a convo-catória da manifestaçom deNÓS-Unidade Popular paraeste Dia da Pátria, mas na vés-pera organizou a I Jornada deRebeliom Juvenil com actosdiversos relacionados com anecessidade de agir perante asmedidas repressivas que oEstado espanhol implementacontra o independentismoorganizado. Estes abrírom-secom umha mesa redonda sobreJuventude e Repressom, emque participárom Séchu Sendee Xosé Brandariz. A seguirumha outra mesa, Jovens eAuto-organizaçom, em tornodos movimentos juvenis daesquerda independentista daGaliza, dos Países Cataláns ede Castela. Finalmente, comoacto de solidariedade com aoutra organizaçom juvenilindependentista polo trata-mento mediático sofrido nes-ses dias, BRIGA participoucom faixa própria na XIRondalha da Juventude com abandeira que organizava aAMI. A elaboraçom de um graf-

    fitti "Quem fai a lei fai a tram-pa" e um concerto na praça deMaçarelos pugérom o pontofinal aos actos dessa I Jornadade Rebeliom.

    Sob controlo policialA organizaçom independentis-ta NÓS-Unidade Popular con-vocou umha manifestaçom noDia da Pátria, desta vez com olema "Nem estatuto, nemconstituiçom: autodetermi-naçom". Às 13 horas saía daAlameda para dirigir-se até apraça de Maçarelos. Palavrasde ordem contra Espanha ereclamando a independênciafôrom ouvidas pola polícianacional que controlava amarcha com vários efectivos.Nom faltárom também pala-vras de solidariedade com osindependentistas detidosnos dias anteriores. No dis-curso final, Maurício Castrofijo um claro chamamento àunidade do independentismopara ampliar a sua base ereclamou ao novo governo daJunta, entre outras cousas,que abra "um processo políti-co em que o povo galegotome a palavra para decidir oseu estatuto político semexcluir nenhuma possibilida-de, partindo do reconheci-mento do direito de autode-terminaçom". A seguir tivolugar um jantar de confrater-nizaçom e umha mesa debatecom representantes das orga-nizaçons catalás MDT eEndavant, a basca Batasuna,a portuguesa PolíticaOperária e a própria NÓS-UPcom o título "Esquerda eautodeterminaçom".

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 200506 NOTÍCIAS

    21.07.05

    Galiza como naçom. A adminis-traçom bipartida reconhece o“carácter nacional da Galiza”,mas nom os direitos políticosque dela se derivam.

    22.07.05

    Resistência galega. Difunde-seum Manifesto pola ResistênciaGalega, aparecido na páginabrasileira de Indymedia.

    PSOE e BNG pactuam. Fecha-se o acordo entre as formaçonsoferecendo “diálogo” ao PP.

    24.07.05

    Internet. Segundo a FundaçomBBVA, só 30% dos e das galegasutilizárom a rede algumha vez.

    Sentimento nacional. Grupo Vozpublica um estudo de Sondaxesegundo o qual 12.2% dapopulaçom galega nom se senteespanhola.

    26.07.05

    Fronteira. Mais de 3.000 ope-rários atravessam diariamente araia com Portugal por motivoslaborais. 57% residem na Galiza.

    CCOO espanholista. Opom-se àtransferência à Galiza dos portosde interesse geral hoje geridospor Madrid.

    27.07.05

    Morte em Ramilo, S. L. Ooperário da empresa viguesaManuel A. C. é esmagado porumha prancha de granito.

    Ence ganha. A papeleira acres-centa ganhos em 41% durante oprimeiro semestre.

    28.07.05

    Repressom. Ceivar convocaconcentraçons de solidariedadecom os dous independentistaspresos.

    Moço morto no trabalho. Javier V.G., de 22 anos e vizinho de Sangui-nheda (Mós), é esmagado polamáquina elevadora que manipula.

    A única versom existentesobre os factos acontecidos nodia 23 de Julho e as detençonssimultáneas é a dada polaPolícia espanhola. Esta ver-som 'oficial' foi a repetida poloconjunto da comunicaçomsocial, mas em meios próxi-mos do independentismonom se lhe dá credibilidade,por responder a interessespolíticos concretos (criminali-zar o independentismo, pôr namira policial determinadasorganizaçons e pessoas, prepa-rar a "opiniom pública" parafuturas intervençons repressi-vas e criar um ambiente favo-rável às mesmas). A situaçomde incomunicaçom absoluta aque fôrom submetidos osmilitantes independentistasdetidos impossibilita o conhe-cimento de qualquer outra

    versom do sucedido. Só comoexemplo, ao contrário do afir-mado polos meios informati-vos, Ugio Caamanho encon-trava-se emigrado na Catalun-ha até o dia da sua detençom,sendo falsas as informaçonsque asseguram que teria saídoda sua casa familiar disfarçado.Esta falsidade informativatambém situa no olho do fura-cám repressivo a sua família,umha vez que o domicíliodesta apareceu publicado emdiversos meios.

    Foi-llhes aplicada a polémicalegislaçom antiterroristaOs detidos fôrom conduzidosà esquadra da Polícia espanho-la em Compostela e submeti-dos à aplicaçom da legislaçom"antiterrorista". Isto implica asupressom de todos os direi-

    tos constitucionais formais deque umha pessoa detida dis-pom no Estado espanhol. Odetido ou detida nom podepôr em conhecimento de nin-guém a sua detençom e nompode nomear um advogado ouadvogada da sua confiança;fica apenas em companhia dosseus captores sem que nenhu-ma presença externa poda fis-calizar o que ali acontecedurante um prazo de 72 horas,prorrogável a 120. É nesteregime de incomunicaçom,autorizado pola AudiênciaNacional espanhola, que secometem multidom de casosde maus tratos e torturas,como tenhem vindo a consta-tar organismos tam pouco sus-peitos de parcialidade como aAmnistia Internacional, aONU ou diversas entidades

    contra a tortura e os tratosinumanos e degradantes.Porém, segundo as informa-çons obtidas por NOVAS DAGALIZA, os detidos nom fôromsubmetidos a torturas físicasdurante a sua detençom e aincomunicaçom prolongou-sedurante 3 dias. A Políciaespanhola nom solicitou nestecaso a prórroga das detençonsaté os 5 dias.

    Quando fôrom postos a dis-posiçom judicial, familiaresdos detidos e membros daorganizaçom anti-repressivaCEIVAR deslocárom-se até aAudiência Nacional (Madrid)no dia 26, à procura de infor-maçom sobre a sua situaçom,mas nom o conseguírom. Osmotivos alegados fôrom asegurança e da distorçom dasinvestigaçons. Mesmo se re-

    Os dous independentistasdetidos caracterizam-se porum perfil individual comple-tamente contrário ao transmi-tido polos meios de difusom.Segundo os seus conhecidos eamigos som pessoas comumha funda implicaçomsocial e política e "um grandeamor por este País". Nom sepode falar de pessoas "patoló-gicas", "associais" ou "fanatiza-das" como se tem feito nal-guns meios sem contrastar asinformaçons e reproduzindointegramente a versom poli-cial. Para os seus companhei-ros e companheiras, a ideia deque se trata de pessoasinconscientes e aloucadas,vendida polos meios de difu-

    som, fai parte da campanhade calúnias de que fôromobjecto e pretende despresti-giar as pessoas e o que elasrepresentam politicamente.

    Ugio Caamanho é militanteindependentista desde muitojovem. Licenciado emEconómicas, tem participadomuito activamente na cons-truçom de meios de comuni-caçom galegos. Desenvolveudiferentes responsabilidadesna AMI, foi membro daDirecçom Nacional de NÓS-UP e umha das pessoas queparticipou na sua constitui-çom em 2001 através doProcesso Espiral. Como con-tributos teóricos destacamsignificativos estudos no

    campo da adequaçom do mar-xismo às problemáticas liga-das ao nacionalismo, oambientalismo e os movi-mentos sociais.

    Giana Rodrigues tem parti-cipado desde jovem no movi-mento estudantil galego. Émilitante da AMI, para alémde activista no movimento

    feminista e dinamizadora daconstruçom de locais sociaisno nosso País. Fora agredidahá agora quase três anos poragentes da Polícia local com-postelana. Tendo sofrido con-tusons por este motivo estápendente a resoluçom deumha denúncia contra estecorpo da Polícia municipal.

    O 'historial' da Giana e do Ugio

    Independentistas Ugio Caamanho eGiana Rodrigues presos no cárceremadrileno de Soto del RealREDACÇOM / A detençom de Ugio Caamanho e Giana Rodriguesna tarde do dia 23 de Julho como supostos autores da colocaçomde um explosivo na sede de Caixa Galicia em Compostela, ser-viu para desatar umha intensa campanha mediática de descrédi-

    to contra a formaçom independentista AMI, da qual os dousmoços som membros. Enquanto os detidos permaneciam inco-municados, os partidos políticos PP, PSOE e BNG faziam públi-ca a sua "enérgica repulsa" polos acontecimentos.

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 07NOTÍCIAS

    Banca aumenta ganhos. BancoPastor eleva os seus benefíciosem 88%.

    31.07.05

    Economia galega. O PIB daCAG cresce 2.8%, 0.5% menosdo que o estatal. IGE atribui adiferença a “mudanças metodo-gicas” na estatística.

    2.08.05

    Operário morto no Porrinho.Néstor Ó. I. eleva a 54 as mortesno trabalho na CAG durante2005.

    Despedimentos. Companhiatêxtil ferrolana Unicen anunciadespedimento de 113 operários.

    Caixa Galicia e Ence. A entida-de financeira é o principal sóciode Ence com 16.92% do seucapital social.

    3.08.05

    Exército espanhol. 200 soldadosda Brilat partem da Lavacolharumo ao Afeganistám. Dozedeles morrerám duas semanasdepois. O Ministério da Defesatenta desacreditar a hipótese doataque da resistência.

    4.08.05

    Sector lácteo. 11.600 ganadeirosgalegos deverám pagar multa de14.6 milhons por exceder a quo-ta de produçom fixada pola UE.

    Morte laboral. O marinheiro dePortozinho Joaquim V. Q. morrequando estava a trabalhar.

    6 .08.05

    Banca na Galiza. Caixanovaganha 49.4 milhons nosprimeiros seis meses do ano.

    7.08.05

    Incêndios. 13.806 hectaresardem na CAG em menos deumha semana.

    Sinistro laboral. Falece o pilotoanti-incêndios e vereador deLáncara do BNG António D.quando participava na extinçomde um incêndio.

    8.08.05

    Arde o Berzo. Incêndios arrasambosques bercianos. Presidentesautárquicos solicitam ajudas aMadrid.

    Supertaxa láctea. O pagamentoda sançom pode levar ao encer-ramento de 2.300 pequenas emédias exploraçons.

    cusou aos familiares, submeti-dos a três dias de máxima ten-som e desconcerto pola situa-çom, a possibilidade de veremfisicamente os seus filhos. Ojuiz substituto do titular Isma-el Moreno foi quem denegouqualquer comunicaçom entreachegados e detidos. Aliás,também se recusárom a darqualquer tipo de informaçomsobre as acusaçons realizadascontra os independentistas.

    A incomunicaçom foi manti-da por ordem do juiz até aentrada na prisom madrilenade Soto del Real ou Madrid 5,situada numha planície às afo-ras de Madrid. Só sete diasdepois, através de locutórios, éque se permitiu o contactoentre detidos e familiaresdirectos.

    Num processo de adaptaçomao mundo penitenciário, UgioCaamanho encontra-se nomódulo 2 de Soto del Real eGiana Rodrigues no 12 (Mó-dulo de Mulheres); som módu-los de presos FIES-3 ('terroris-tas') em companhia de presos epresas políticas bascas. Ten-hem as visitas reduzidas, porenquanto, às familiares, ocorreio intervindo e as comuni-caçons realizam-se num locutó-rio, gravadas. Até o momentonom podem receber visitas decompanheiros e amigos, umhasituaçom que se prolongará emprincípio durante 60 dias desdea entrada na cadeia.

    Mostras de apoio aos detidosA solidariedade tem sido mani-festa por parte de dúzias depessoas que se oferecêrompara visitá-los nos cárceres,escrever, colaborar com asnecessidades económicas que

    se derivam da nova situaçomou participarem em concentra-çons e actos de solidariedade.Os colectivos NÓS-UP, AMI eBRIGA manifestárom a suasolidariedade em comunicadospúblicos.

    Por sua vez, o organismoanti-repressivo CEIVAR con-firmou a este jornal que se res-ponsabilizará pola "assistênciajurídica aos pressos, polasquestons derivadas da estánciaem prisom e pola mobilizaçomem favor da liberdade dos douspatriotas galegos" . Para estecolectivo anti-repressivo a con-diçom de Ugio Caamanho eGiana Rodrigues é a de douspresos políticos, e o seu ingres-so em prissom é "a expressome o sintoma de um problemapolítico nom resolvido, como éa falta de soberania nacionalque sofre o nosso País e o pro-cesso de extinçom como pro-jecto nacional em que nosencontramos."

    Tratamento mediáticorecebido pola AMINa organizaçom juvenil AMIdenuncia-se o papel colabora-cionista com a repressom queos meios de comunicaçomespanhóis estám a desempen-har, suprimindo a presunçomde inocência ou fazendo comque factos individuais tipifica-dos como delitivos polo Códigopenal espanhol se tornassemresponsabilidades colectivas ede pessoas jurídicas, ao ter-setratado a AMI como se fosseumha organizaçom armada.Assim chegárom a publicar-secabeçalhos do tipo "Desarticu-lada a cúpula da AMI" quandoesta organizaçom é perfeita-mente pública e legal.

    REDACÇOM / Coincidindocom o XXX cabo de ano doassassinato de José RamomReboiras Noia em Ferrol,as formaçons políticasUPG, FPG, AMI e NÓS-Unidade Popular organizá-rom diversos actos de lem-brança do combatentegalego.

    A Uniom do Povo Galego(UPG) homenageou o quefoi um dos seus mais des-tacados militantes eimpulsionador da suaFrente Militar, liquidadadepois da morte deReboiras. Neste XXX ani-versário apresentou umprograma de actos compos-to por umha concentraçomàs doze da manhá no cemi-tério de Imo, onde sedepositou um ramo de flo-res na tumba do militante.Às sete e meia da tardeconcentrárom-se na Praçade Armas de Ferrol paralogo caminharem até a por-taria em que Reboiras foiassassinado. No fim destasegunda concentraçom,realizou-se na Praça dasArmas um acto político emque participárom, entre

    outros tribunos, ElviraSouto e Bautista Álvarez.

    A Frente Popular Galegaconcentrou os seus mili-tantes e simpatizantes naigreja da paróquia natal deMoncho Reboiras, Imo.

    A Assembleia daMocidade Independen-tista (AMI) convocou ajuventude a umha concen-traçom no dia 12 deAgosto em Vigo, durante aqual a Praça do Beréstomou o nome de Praça deMoncho Reboiras. Ao actopolítico, no que um mem-bro do Conselho Nacionalda AMI interviu para ligaro exemplo do revolucioná-rio assassinado ao da“mocidade combatenteque segue a luitar porGaliza e o seu povo trabal-hador”, assistírom uns 40moços e moças.

    Finalmente, a assem-bleia comarcal de NÓS-Unidade Popular de Ferrollevou a cabo umha con-centraçom às sete e meiado tarde perante a portariada rua da Terra ondeReboiras foi baleado, háagora trinta anos.

    Moncho Reboiras éhomenageado noXXX aniversário doseu assassinato

    REDACÇOM / Sessenta pessoasassistírom no passado sábadodia 27 de Julho à homenagemque companheiros, amigos efamiliares tributárom no caisde Porto Cubelo ao militantenacionalista e ex-membro doEGPGC Ramom PinheiroBeiro, mais conhecido como'o Tupa'. O acto consistiunumha evocaçom da figura domilitante nacionalista porparte de Ramom Muntxaraze dos ex-presos independen-tistas Xavier FilgueiraDomingues e Antom ÁriasCurto, incidindo-se no com-promisso político e sindicalde Ramom Pinheiro, a suamilitáncia no EG e a sua ver-tente mais humana e pessoal.

    Após o canto do hino nacio-nal e do lançamento de vários

    cravos vermelhos ao mar deLira, a assistência deslo-cou-se até a casa natal doindependentista, onde foidescoberta umha placa demadeira na sua honra com alegenda 'O povo nomesquece no sexto cabo deano do falecimento doTupa.' Depois do canto daInternacional, familiares eamigos e amigas reunírom-se na casa de RamomPinheiro Beiro.

    Por sua vez, no passadodia 5 de Agosto, tambémrecebeu umha homenagemem Vigo o independentistagalego Júlio Torres Couso,histórico militante deGaliza Ceive e da APU,recentemente falecido naemigraçom.

    Ramom Pinheiro Beiro'Tupa' é lembrado emLira no VI aniversáriodo seu falecimento

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 200508 INTERNACIONAL

    INTERNACIONAL

    3 de Julho, 12h25, no comboio entre Redondela e Santiago

    As viagens começam a enervar-me. Sempre as fiz comtudo combinado ao segundo, tudo tratado.Compromissos certos. Hoje as peripécias enredam-se, eainda nem digeri o pequeno-almoço. A viagem é só dedois dias, o mais certo é nem acabar a digestão. Não meatendem o telefone, isto começa a preocupar-me.

    Não se nota qualquer diferença entre a Galiza e oMinho. As casas são igualmente feias, os eucaliptosomnipresentes, a ocupação do solo é a mesma. [E a lín-gua ecoa, vinda do outro lado do Minho. Aqui e ali o somé mais claro, e o português da Galiza soa como tal. Masinvariavelmente fala-sse um português tão castelhaniza-do que o eco é quase imperceptível]

    [As aves que ia vendo pela janela do comboio] Poupa,pêga rabuda, andorinha, gaivota argêntea, avestruz,corvo, rola, melro. [A minha tia diz-mme que antes, naPóvoa (de Varzim, a minha terra), havia poupas. Nuncaas vejo agora, só quando viajo]

    A Galiza tem dos subúrbios mais repelentes que os fil-hos de Deus já viram. [Nunca mais critico os subúrbiosportugueses como o fazia antes]

    Na Galiza a heterogeneidade ibérica é translucidamen-te evidente, mas com uma invulgar profusão de genesbritânicos. Os irlandeses, ruivos e de ar indeciso, sãocomuns por aqui. Há muitos de cabelos castanhos, aindamais do que ruivos. [Em Compostela (e não Santiago,como eles gostam de enfatizar) comemos rã e chouriço

    acompanhados de Alvarinho, e perseguimos QuicoCadaval pelas estreitas ruas centrais. Quando o Eduardome perguntou se queríamos ir a uma festa galega, aoinvés da visita a uma aldeia galega, nunca pensei quefôssemos a um São Pedro. A festa do solstício na Póvoaversa o mesmo santo com as chaves, e foi com uma agra-dável familiaridade que me juntei a algumas dezenas degalegos, num relvado perto do centro. Gaitas, caixas e…Super Bock. Se restava alguma dúvida da sensação depertença, de estar numa celebração que também eraminha, a cerveja desvaneceu-aa. Estava entre os meus]Mais uma vez, a história da fronteira mais idiota da his-tória.

    20h45, no comboio Regional Compostela-Ourense

    Qualquer ideia negativa ou pejorativa que poderia tersobre a paisagem galega desvaneceu-se totalmente. Alinha Compostela - Ourense é inacreditável. O sol defim de tarde, tangente, dá a tudo um tom dourado-cha-muscado que idiliza qualquer mundo feioso. Mas estapaisagem, acredito, até num dia amaldiçoado pareceriabelíssima.

    Na estação de Ponte Tabuada

    O Mika acorda e diz ‘xau’ e eu discorro sobre o colonia-lismo arquitectural das estações de comboio galegas.Ele meneia com a cabeça, como quem diz ‘sim, sim’.Mas afinal não, está mesmo a dormir. O estranho dasminhas viagens é só adormecer segundos antes de aca-barem. Não percebo bem qual a razão desta disfuncio-nalidade corporal. [Devido a uma qualquer tradição

    galega que ignorava, o Valentim, que apenas conheciada internet, deu-mme a chave do seu apartamento poucosminutos depois de me conhecer. Agradeço o amávelgesto social, mas eu poderia ser mais um louco com oestranho prazer de partir ou roubar a propriedade alheia.Violento ou cleptómano, acabei por receber uma chave.No sítio reintegracionista onde estávamos, anunciava-sseo ‘fino’ Super Bock. Como em casa]

    Gosto muito das mulheres reintegracionistas. Sãoestranhamente mais atraentes que as não-reintegracio-nistas.

    [A expressão anglófona mixed feelings é a que melhorcaracteriza as memórias que guardei da viagem. Gosteide ver o ‘fino’ Super Bock, mas estranhei os amigos rein-tegracionistas a responderem-mme em português dePortugal. Às vezes questiono-mme sobre as suas verdadei-ras motivações. Dizem que aproveitam todas as oportu-nidades que têm de treinar a pronúncia. Como são quasetodos de filologia, consigo compreender a vontade. Masestranho-aa. Os reintegracionistas não podem nunca con-fundir qualquer predilecção que possam ter por Portugalcom a luta da língua, que é o seu principal objectivo].

    CRÓNICA DESPRETENSIOSA DE UMA PEQUENA VIAGEM por Nuno Gomes

    Em relaçom à situaçom do basco,estades a viver um processo deretrocesso ou de recuperaçom?Após um processo de contínuoretrocesso, podemos afirmar quena actualidade nos encontramosnum momento de recuperaçomlingüística. Isto deve-se a umhaclara vontade da populaçom emfavor da normalizaçom da língua.As provas som o contínuo incre-mento das inscriçons no modelode ensino em basco, o facto deterem começado a andar diferen-

    tes projectos de normalizaçomlingüística, a actuaçom do conjun-to dos diferentes organismospopulares que trabalham polareeuskaldunizaçom (euskalgint-za)... e o que talvez seja maisimportante: a aquisiçom de com-promissos reais por parte dos dife-rentes agentes sociais (empresas,organismos sociais, partidos polí-ticos e sindicatos ou cidadás ecidadaos a título pessoal). Emqualquer caso, ainda nos é impos-sível afirmarmos que o processo

    de recuperaçom tenha atingidoum ponto de irreversibilidade.Mostra disto é a ausência de ini-ciativas políticas que resolvamdefinitivamente a permanenteconculcaçom de direitos lingüísti-cos em cada umha das administra-çons do país, a falta de um statusde oficialidade real.

    Como avalias a crescente adop-çom na Comunidade AutónomaBasca (CAB) do modelo monolín-güe em euscara na educaçom? Aque se deve?Este contínuo incremento da pro-cura é um fenómeno que nom seproduz exclusivamente na CABmas em todo o País Basco. Cadaano é mais elevado o número deinscriçons no modelo euskaldun,apesar dos entraves colocadospola administraçom (aglomera-çom do estudantado, reduçom desubsídios...). Pensamos que estatendência positiva obedece àaposta que fai umha grande maio-ria dos cidadaos e cidadás na cons-truçom de um país euskaldun.Em qualquer caso convém nomesquecermos que no conjunto doPaís Basco a percentagem deestudantes que finaliza os estudoscom conhecimento do euscaraatinge só 60%. É por isso quetemos estado a denunciar durante

    anos a ilegalidade desta política,por entendermos que som activosna conculcaçom dos direitos lin-güísticos da populaçom.

    Em que medida contibuírom osmovimentos lingüísticos de basepara a normalizaçom do basco?O labor de 'euskalgintza' na nor-malizaçom do basco tem sidodeterminante em diferentes sen-tidos; talvez o facto de que setrate de um movimento socialtam amplo e diversificado tenhacontribuído para isto. Hoje em diafalar de 'euskalgintza' é falar deensino em euscara, alfabetizaçomde pessoas adultas, publicaçom delivros e revistas, criaçom de meiosde comunicaçom, criaçom de pla-nos de normalizaçom locais, movi-lizaçom e denúncia para eliminaras dificuldades que impedem umpleno desenvolvimento dobasco… em definitivo, é falar deum movimento que, devido aotrabalho desenvolvido duranteanos e aos logros conseguidos,conta com um importante recon-hecimento social.

    Nos dias de hoje, existem condi-çons para que um monolíngüeem basco poda viver plenamen-te sem mudar de idioma na suaterra?

    Ainda que haja um númeroimportante de localidades que,ao entrarem na Mancomunidadede Municípios Euskalduns(UEMA), optárom por desen-volver toda a sua actividadeadministrativa em basco (naactualidade 52 povoaçons), ocerto é que a tónica geral é outramuito diferente. A legalidadeimpom-se nestes casos eenquanto o espanhol e o francêssejam as línguas de conhecimen-to e uso obrigatório, o euscaracontinuará a ficar relegado a umsegundo plano.

    Que medidas urgentes pensasque devem ser adoptadas nestesentido?Pensamos que a oficialidade realdo basco no conjunto do seuterritório é umha medida que jánom pode demorar mais.Trataria-se de umha medida decarácter estratégico pola suarepercusom na normalizaçom doeuscara. Em qualquer caso, a ofi-cialidade reflectiria-se em medi-das mais concretas como garan-tir o conhecimento da língua noconjunto do estudantado pormeio da escola e declarar a obri-gatoriedade do conhecimentodo basco no conjunto de ofertasde emprego público.

    "A oficialidade doeuscara no conjunto doterritório basco é umhamedida que nom podedemorar mais"País Basco em basco, Euskal Herrian Euskaraz, nascia em 1979 paraa defesa da língua basca, luitando desde entom pola sua presençasocial e institucional, encaminhada ao reconhecimento dos direitoslingüísticos do seu povo. Falamos com Mikel Irastorza, membrodeste colectivo.

  • Nom é novo falar sobre asconseqüências das dife-rentes "integraçons"económico-jurídicas que impon-hem os poderes do aparelho doEstado espanhol sobre o nossotecido económico agrário pró-prio. Podemo-nos remontar jáno século XIX às tentativas daRestauraçom borbônica de apro-priar-se dos montes comunaiscomo um início modernizadorque termina nos latifúndios dopatrimónio florestal do Estadofranquista; ou mesmo falar daspolíticas 'arancelares' de iníciosdo século XX que estrangulam avocaçom ganadeira exportadora.

    Contudo, som os acordos quetoma o general Franco na décadade 50 a favor de umha integra-çom do agro na esfera dominan-te das multincionais dos EUAque provocam as importaçonsobrigatórias de cereiais e sojapara serem alimentadas as gran-jas sem terra. Estos acordos

    favorecem a desapropriaçom doscomunais com a ajuda doInstituto da Emigraçom queorganiza quadros de pessoalintegrados por moços e moçasdas aldeias para formarem futu-ros trabalhadores e trabalhado-ras na Europa. A desconexomda terra é fulcral para entender-mos o que acontece depois. Dopaternalismo do franquismoagrário (expressado nasUTECO, que logo dariam lugara cooperativas como COREN eLEYMA) passamos aos anos 80,à paralisaçom de projectos auto-desenvolvidos por mor da entra-da na CEE, na qual se desenha aaniquilaçom "subvencionada" demais de cento cinqüenta milexploraçons em menos de 20anos. Em benefício da macroe-conomia de pam barato para aclasse operária é sacrificadaqualquer alternativa sustentávelno agro que ponha em questoma acumulaçom cada vez mais

    alheia geográfica e politicamen-te. Isto é o significado das quo-tas, direitos de plantaçom, pri-mas às vacas nutrices e outrosengados que nom impedem adescida em termos reais dospreços dos nossos produtos.

    A seguinte etapa de integra-çom seria já letal de mais seobservamos que a OMC (criadado anterior GATT) consagra alivre actuaçom dos actorestransnacionais na forma de eli-minaçom de 'arancéis' (queainda existem) e outras limita-çons às importaçons. O esque-ma é simples: um ou vários ope-radores transnacionalizados(espanhóis ou estrangeiros)afundam os preços nos territó-rios nom controlados através daajuda ao desenvolvimento(cereais grátis), exportaçonssubsidiadas, entrada de produtoforáneo sob dumping (produzi-do por baixo do custo) quer sejalaboral quer ambiental (mao-de-

    obra muito barata e ausência derestriçons à poluiçom e destrui-çom de solos e águas).

    É por isso que o SLG trabalhana sensibilizaçom para a impor-táncia de saber quem quer con-trolar a nossa agricultura e ali-mentaçom. As grandes superfí-cies controlam mais quota devenda ao consumidor em vez defomentar os mercados locais e apublicidade condiciona as crian-ças para consumirem produtoscom textura cremosa e gostodoce ('bollicaos', cereais dealmoço, 'pollo blando pimpollo',etc.) e reijeitar o recendo e tex-tura dos produtos labregos(carne, vinho, horta, etc.).

    Esta integraçom que parte domacroeconómico ao somáticofará inviável qualquer projectode soberania nacional já que eli-mina a salvaguarda mínima coma mais cruel das dependênciasque é a necessidade de impor-tar todos os alimentos.

    A OMC consagra o desejo demonopolizar a produçom de ali-mentos nas poucas multinacio-nais globais (Kraft, Monsanto,Syngenta, Unilever...) e tam-bém consagraria a privatizaçomde todo o tipo de bens e serviçospúblicos. Por exemplo, noIraque ocupado já é proibida areutilizaçom de sementescomerciais. Em Dezembro temosumha cimeira da OMC en HongKong, até agora fracassárom osanteriores encontros de Seattlee Cancun, e o labor das organi-zaçons labregas do mundo intei-ro integradas na Via Camponesa(onde está o SLG) foi funda-mental. E por isso estivemos emVigo, Verim, na Rua e Riba d'Á-via, para continuarmos nasdemais vilas, informando e con-vencendo de que outra agricul-tura e outro País é possível.

    NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 09OPINIOM

    FOI D

    ITO

    “O SPIDERMAN DO VERAOEM OURENSE VOLTA A SERDETIDO E SOMA UM TOTALDE 35 DETENÇONS”Faro de VigoCabeçalho. 09.08.05

    “UMHA VIZINHACONSEGUE DORMIRAPÓS OITO ANOS DE LUITACONTRA O BARULHO”El Correo GallegoManchete da capa. 26.07.05

    “SOMOS NOVE COMPANHEIROSQUE MANTEMOS UMHA LUITACONTRA O ESTADO”Um Guarda Civil Envolvido no assassinato deRoquetas de Mar. Denunciao "abandono" que dizem estara sofrer. 06.08.05

    “NOM PODEMOS MATARTODOS OS NOSSOS INIMIGOS”Bill Clinton Denuncia perante Bush o becosem saída que é a política de gue-rra total dos EUA. 09.08.05

    “SE CONTINUAREMA CHEGAR IMIGRANTES,NALGUNS SÍTIOSGANHARÁ UM LE PEN”José María Sánchez FornetSecretário geral do SindicatoUnificado da Polícia (SUP).02.08.05

    “MUTISMO NA AMI QUEPREPARA UMHA CIMEIRAAPÓS O ATENTADO FALIDO”El Correo GallegoManchete da capa. 26.07.05

    “VERA SAIRÁ DO CÁRCERE24 HORAS POR SEMANAPORQUE SOFRE DEPRESSOM”La Voz de GaliciaCabeçalho sobre o ex-secretário deEstado implicado na 'guerra suja'06.08.05

    “PASSAR TEMPO FORADE WASHINGTON DÁ AOPRESIDENTE UMHA FRESCAPERSPECTIVA DO QUEPREOCUPA À GENTE DA RUA”Porta-voz da Casa Branca03.08.05

    O agro ante os acordos globalizantesna agricultura e alimentaçom

    XOSÉ MANUEL GONZÁLEZ VILAS

    Xosé Manuel González Vilasé secretário de Acçom Sindical emSectores Agrícolas do SLG

    A OMC CONSAGRA O DESEJO DE MONOPOLIZAR A PRODUÇOM MUNDIAL DE ALIMENTOSNAS POUCAS MULTINACIONAIS GLOBAIS (KRAFT, MONSANTO, SYNGENTA, UNILEVER...)

    E TAMBÉM CONSAGRARIA A PRIVATIZAÇOM DE TODO O TIPO DE BENS E SERVIÇOS PÚBLICOS.

  • ERICA DO CABO / Em 1992 aComunidade Europeia criou, noquadro da política de qualidaderelativa aos produtos agrícolas ali-mentares, sistemas de valoriza-çom e protecçom das denomina-çons geográficas e das especiali-dades tradicionais. ORegulamento 2081/1992 naGaliza véu a substituir a denomi-naçom Produtos Galegos deQualidade, criada polaConselharia de Agricultura em1983 para geri-los. Desde 1992estes produtos evoluírom paraumha das formas que recolhia anova normativa europeia: asDenominaçons de OrigemProtegida (DOP) e as IndicaçonsGeográficas Protegidas (IGP)maioritariamente, mas tambémpara as EspecialidadesTradicionais Garantidas (EGT) ea agricultura ecológica. A norma-tiva europeia estabeleceu desdeentom umha protecçom jurídicaautomática a escala europeia paraos produtores destes alimentos,favorecendo ao mesmo tempo aperdurabilidade dos produtosespecíficos e tradicionais e facili-tando aos mais de 400 milhonsde consumidores europeus acompra de uns produtos cada vezmais procurados. A potencializa-çom dos indicativos de qualidadecontribuiu também para estimu-lar o desenvolvimento económicodas zonas de produçom, habitual-mente rurais, assim como para amanutençom de umha produçomagrícola variada.

    Mas na Galiza as denomina-çons de origem encontraram umentrave na existência de um selode qualidade que emprega oreferente topográfico 'Galiza'para a promoçom do produto,quando a procedência galega des-tes produtos nom está totalmen-te garantida, bastando que o cicloprodutivo seja fechado na Galiza.Embora nom contemplem 'GalizaQualidade' como concorrência,nom entendem como um selo dequalidade leva o nome de umharegiom, sobretudo tendo emconta que em comunidades autó-

    nomas como a Catalunha ou aAndaluzia, onde também existiaum selo de qualidade que faziaconfusom, o nome lhe foi muda-do. O problema é que, como afir-ma Mari Sé Mosteiro, doConselho Regulador do Queijode Tetilha, "todo o mundo rela-ciona 'Galiza Qualidade' com osprodutos galegos de qualidade eisto nom é assim".

    DGP´s e IGP´sA Galiza tem actualmente, noregisto comunitário de DOP´s eIGP´s, 17 produtos, ainda queestejam à espera de serem apro-vados outros tantos. Contudo,cumpre salientar as diferençasentre as tipologias que a normati-va europeia recolhe. As DOP´s,as mais abundantes na Galiza,garantem que o produto que levao selo foi produzido, transforma-do e elaborado numha zona geo-gráfica determinada, com conhe-cimentos específicos reconheci-dos e comprovados, enquantoque as IGP´s garantem que oproduto que leva esse selo apre-senta um vínculo com o meiogeográfico polo menos numha

    das etapas do seu desenvolvi-mento. É o caso de 'TenreiraGalega', que ainda que pudesseser umha DOP preferiu-se quefosse estabelecida como IGPpara que toda a carne produzidana Galiza estivesse controlada eao mesmo tempo ficasse aberta aporta à possibilidade de seremvendidas como 'Tenreira Galega'reses nom nascidas mas simsacrificadas na Galiza. O decreto2081/1992 regula também os pro-dutos de agricultura ecológica eas ETG´s, que garantem que oproduto que leva esse selo foielaborado segundo um métodode produçom tradicional.

    Mari Sé Mosteiro, do ConselhoRegulador do Queijo de Tetilha,explica que "nom temos nada aver com as marcas de garantianem queremos ter nada a ver", jáque, com efeito, som cousasmuito diferentes. Se os indicati-vos de qualidade garantem produ-tos 'Galiza Qualidade', garantemprocessos de produçom que serepetem. Da parte de 'GalizaQualidade' afirma-se que a marcade garantia certifica "produtos eserviços que tenham superado os

    controlos exigidos através dosnossos programas de auditorias eensaios, requerendo materias pri-mas de alta qualidade, óptimasproduçons e excelentes serviços".'Galiza Qualidade' é assim um selode qualidade como AENOR,ISSO 9001 ou IQ-NET, selos queumha empresa consegue préviopagamento ao selo e depois deumhas auditorias mais ou menosrigorosas. Qualquer produto podeaspirar a possuir o selo 'GalizaQualidade', enquanto que, comoindica Mosteiro "para que um pro-duto poda estar acolhido a umhaprotecçom de qualidade tem queser património dessa zona".

    Os requisitos que umhaempresa deve cumprir para obtero selo 'Galiza Qualidade' paraalgum dos seus produtos som "tero domicílio social e fiscal naGaliza e que o processo de elabo-raçom, produçom, transforma-çom, manufacturaçom e comer-cializaçom dos produtos e servi-ços se realize desde a Galiza, oubem o ciclo produtivo se feche naGaliza", o que deixa a porta aber-ta à concessom a produtos quesimplesmente tenham sido

    NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 200510 A FUNDO

    A FUNDO

    'Galiza Qualidade' permite apresentarprodutos foráneos como galegos OS CONSELHOS REGULADORES CRITICAM O DESLEIXO DA JUNTA PARA ESCLARECER AQUILO QUE OS DISTINGUE

    O incremento no consumo de produtos com indicaçom de qualidade num mercadocada vez mais diversificado derivou na criaçom por parte da UE no ano 1992 de umhanormativa para regular o funcionamento destes indicativos. Mas na Galiza acontece que

    os conselhos reguladores, responsáveis pola supervisom dos produtos galegos dequalidade, consideram que o uso do indicativo topográfico 'Galiza' na marca de garantia'Galiza Qualidade' causa confusom entre as pessoas consumidoras.

    As denominaçonsde origemencontraram umentrave naexistência de umselo de qualidadeque emprega oreferentetopográfico‘Galiza’ para apromoçom doproduto, quandoa procedênciagalega destesprodutos nomestá totalmentegarantida

    Dos 32 produtos hoje registados em ‘Galiza Qualidade’ quase 70 por cento som de carácter agro-alimentar,ámbito de actuaçom das denominaçons de origem.

    Basta que o cicloprodutivo sejafechado noPaís. ‘GalizaQualidade’ é umselo como AENORou IQ-NET, queumha empresaconsegue préviopagamento edepois deauditorias maisou menosrigorosas

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 11A FUNDO

    Na actualidade, a Galiza pos-sui 17 indicativos de qualida-de, estando outros 13 em pro-cesso de aprovaçom. Quantoaos vinhos, som denomina-çons de origem: o Ribeiro, Vald'Eorras, Rias Baixas, MonteRei e Ribeira Sacra, do mesmomodo que a Aguardente daGaliza, estando em processode registo o licor café e aaguardente de ervas. Quatroqueijos galegos possuemainda o título de DOP: queijode tetilha, Arçua-Ulhoa, SamSimom da Costa e queijo doZebreiro. No que diz respeitoàs carnes possuímos as IGP´s

    Tenreira Galega e Lacom daGaliza, para além doMexilhom da Galiza. Outrosprodutos com certificaçomsom a denominaçom específi-ca Mel da Galiza, a IGPBatata da Galiza e a denomi-naçom de origem Pam deCeia, assim como a agriculturaecológica da Galiza. Aliás,estám prestes a serem aprova-dos em Bruxelas o grelo daGaliza, a fava de Lourençá, atarte de Santiago, os pimen-tos do Couto, de Oimbra,Ervom e Arnoia, a castanha daGaliza, o chouriço galego, obotelo e a androia.

    17 indicativos galegos

    embalados no País. Assim, sebem que em 'Galiza Qualidade'afirmem que a possessom damarca é "garantia de origem gale-ga", esta origem está em causa,tal como acontece com os produ-tos lácteos da empresa Président,por exemplo.

    Confusom no consumidorAssim, nos conselhos reguladoresafirmam que ainda que nom sesintam "pisados" por 'GalizaQualidade', "sim que há umhaconfusom no consumidor e nopúblico em geral no que a isto dizrespeito, que tendem a confun-di-lo com os produtos galegos dequalidade". Aliás, apontam quenom vem tampouco nenhumavontade de esclarecer esta dife-renciaçom nem em 'GalizaQualidade', dependente daConselharia da Indústria, nem naprópria Junta da Galiza. A confu-som torna-se mais grave quandodos 32 produtos hoje registadosem 'Galiza Qualidade' quase 70por cento som de carácter agro-alimentar, ámbito de actuaçomdas denominaçons de origem.

    Nos conselhos reguladores,encarregados de orientar e con-trolar a produçom, assim como dedefenderem os interesses dasdenominaçons, veem com preo-

    cupaçom esta confusom presenteno mercado, assim como o des-conhecimento do público emgeral do que som os produtoscom indicaçom de qualidade,ainda que reconheçam que "nomé fácil falar de todos em conjuntosem que se confundam".

    Especial preocupaçom levantaesta situaçom num momento emque estám a certificar um pedidodo consumidor "de ter um signodistintivo", entendendo que "se agente vem comer à Galiza tudo o

    que sair daqui com a etiqueta'Galiza' vai-se vender melhor".

    Também se sentem incomoda-dos com o facto de que as verbasda Junta da Galiza para financiara publicidade do organismo públi-co 'Galiza Qualidade', que reúnealgumhas das empresas mais ricasdo País, tenham superado os 100milhons de pesetas anuais.

    Aliás, é criticável, deste pontode vista, a permanente necessi-dade de 'Galiza Qualidade' derecorrer a fundos públicos para a

    sua sustentabilidade sem queesteja claramente definido uminteresse social que justifique asua existência.

    Perspectivas de futuroO que está fora de questom éque, como afirma Mari SéMosteiro, "as denominaçons dequalidade estám a ser um instru-mento para organizar sectores"que ainda nom estavam organi-zados para a produçom exterior,e por isso deveria ser umha prio-ridade para a Junta da Galiza asua continuidade. De facto, oParlamento galego aprovourecentemente a Lei dePromoçom e Defesa daQualidade Alimentar Galega,que estabelece "critérios paragarantir a traçabilidade da pro-duçom agro-alimentar galega ecriar um enquadramento de con-corrência leal entre eles". Destamaneira, a lei modifica o funcio-namento dos conselhos regula-dores para adequá-los aos reque-rimentos internacionais de qua-lidade. Além disso, criou-se oInstituto Galego de QualidadeAlimentar , umha instituiçomencarregada de coordenar a acti-vidade investigadora e o desen-volvimento tecnológico paraaplicá-lo a estes produtos.

    As diferenças entre os indicati-vos de qualidade e 'GalizaQualidade' podem-se resumir naconfrontaçom directa entre onatural e o processado, o tradi-cional e o moderno, e, finalmen-te, entre o pequeno e o grande;um confronto habitual demais noactual modelo económico capita-lista. Enquanto os indicativos dequalidade certificam produtoselaborados seguindo a tradiçomde um modo integrado no terri-tório de que som originários,'Galiza Qualidade' certifica queos sofisticados processos de pro-duçom dos alimentos que avalizasom sempre os mesmos. Bons oumaus, mas sempre os mesmos. Oque os selos de qualidade como'Galiza Qualidade' pretendem écapturar umha parte do mercadodisposta a pagar por umha supos-ta qualidade superior, enquantoque os indicativos de qualidadese aplicam a produtos que polasua especificidade geográficasom únicos. Outra diferença fun-damental encontra-se nos secto-res sociais que beneficiam decada um deles. Por um lado,'Galiza Qualidade' abrange asempresas mais ricas do País(Hijos de Rivera SA, Rianjeira,Escuris, Pizza-móvel ou Águas deMondariz, por exemplo); os con-selhos reguladores aglutinamtodo o tipo de produtores,empresas grandes e pequenas"lutando todas juntas para leva-

    rem um produto adiante". Outradiferença é que 'GalizaQualidade' nom se responsabili-za nunca polos defeitos dos pro-dutos que se identificam com oseu selo, sendo as pessoas autori-zadas para empregarem a marcade garantia "os únicos responsá-veis". Face a isto, com os indica-tivos de qualidade, os conselhosreguladores nom só som os res-ponsáveis desde o início, senomque som os encarregados de con-trolar todo o processo. A priori-dade comercial e nom qualitati-va de 'Galiza Qualidade' ficamanifesta ao ler-se o pedido ofi-

    cial de concessom da licença deuso que, quanto ao lugar defabricaçom, diz o seguinte: "senom se dispom deste dado indi-car o aproximado". Afinal,'Galiza Qualidade' reconhece-secomo garante de produtos ouserviços que o empresário jáacreditado lança ao mercado,nom formando nunca parte dasua criaçom ou comercializa-çom. A actividade que o consel-ho regulador tem nas denomi-naçons fica reduzida em 'GalizaQualidade' ao papel das audito-rias, umha entidade de controloexterna ao produto. Som, enfim,

    Natural vs. processado

    O vinho da Ribeira Sacra figura entre as denominaçons de origem.

    ‘Galiza Qualidade’ serve como garante de produtos ou serviçosque o empresário já acreditado lança ao mercado.

    O mel galego conta com denominaçons de origem divididas em mel multifloral, de eucalipto,de castanheiro, de queiroga ou de silva.

    Os conselhosreguladores veemcom preocupaçoma confusom e odesconhecimentopresentes nomercado

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 200512 A FUNDO

    F. MARINHO / Longe das grandesfestas em honra do Alvarinho, oudas provas pantagruélicas, a reali-dade do vinho galego ofereceumha imagem muito preocupanteporquanto nom se trata do mundoideal apresentado polos grandesadegueiros. No dia 11 de Agosto,sexta-feira, o grande enólogoRobert Parker, gabava a qualidadedo alvarinho dizendo que era umdos mais excelentes produtosvinícolas da Europa. Mas em con-trapartida, as festas só som umhamáscara que oculta a triste elamentável situaçom do vinho.

    O primeiro exercício que cum-pre realizar é diferenciar entre ocolheiteiro e viticultor e o ade-gueiro. O primeiro cultiva e recol-he a uva; o segundo elabora ovinho. Na actualidade as imagensdos dous podem ser confundidas,mas som os adegueiros os benefi-ciários da exploraçom vinícola.

    Começamos polas ajudas querecebem os trabalhadores do sec-tor. As subvençons dependem dasuperficie a trabalhar. A superfíciemínima para aceder é de 10 hecta-res no caso dos solicitantes colec-tivos; no caso dos individuais seriade meio hectar. O investimentoprevisto para esta campanha é de1.775.351 euros. O dinheiro seriaentregue ao viticultor quando estejá tivesse realizadas as tarefas decondicionamento e melhoramentonas suas terras. Existem tambémajudas para a plantaçom em novosterrenos, que podem ser novos oucomprados a outro viticultor. Asajudas som de 20%.

    A situaçom actual é a quesegue: som os pequenos proprie-tários os que nom recebem asajudas plenas para o melhora-mento das suas terras. Estespequenos produtores tenhemdinheiro para renovarem o aramede espinho, para o emparrado,para o acesso à água e parapequenas obras de condiciona-mento. Os grandes empresáriosdo sector estám a receber quase ocem por cento das subvençons.Com o seu poder aquisitivo ten-hem acesso à compra de novaspropriedades que se transforma-rám em vinhas com direito a maisajudas. Entre os grandes proprie-tários de vinhas galegas figuram opresidente do Celta, o presiden-te da Cámara de Ourense ou opresidente da Deputaçom dePonte Vedra.

    Mas a grave situaçom do vinhogalego chegou até o paroxismoquando a Junta da Galiza anterior,

    que controla a legislaçom sobre asDenominaçons de Origem, fijoumha mudança recente na lei paramanter no poder os seus aliados.Um caso importante neste senti-do foi o da DO Rias Baixas, que hátempo teria que ter abandonado adirecçom da DO, mas o seu man-dato foi prorrogado por dous anospola Junta de Fraga Iribarne(DOG 6 de Abril de 2005).

    Preços e ameaçasSituando-nos na análise, os preçosque recebe cada quilograma deuva é um preço ridículo em com-paraçom com o preço que tem ovinho no mercado. Nom existe

    umha margem estipulada, umpreço negociado entre produtorese adegueiros. Tudo é um acordoverbal entre as duas partes. Masisto implica que nom há obriga-çom de pagamento no mesmomomento de entregar as uvas.Assim se produzem situaçonscomo as acontecidas nas RiasBaixas. Dá-se aos viticultores oucolheiteiros um primeiro paga-mento no mês de Maio, mas nemtodos recebem o dinheiro. Osegundo pagamento é sobre o mêsde Junho, tudo sob a decisom daindústria vinícola.

    Os preços que alcança o quilode uva som ridículos. Na vindima

    de 2004, os pagamentos fôrom deentre 0,80 cêntimos de euro e1,10 euros por quilo, enquanto nacampanha anterior os pagamentoschegárom a ser de 1,50 euros porquilo. A diferença situa-se en 0,70cêntimos. O grave deste tema é aprecariedade em que vivem oscolheiteiros. Neste sentido osbenefícios que se obtenhem navenda do vinho vam para os gran-des adegueiros, que controlamtodo o sistema.

    Os beneficios com que ficam asgrandes denominaçons som de400%, caso das Rias Baixas. Mastambém as grandes superfíciescomerciais entram no jogo, quan-do som elas mesmas a aplicarempreços mínimos, usando o vinho(e outros produtos) como chama-da de atençom para os possíveisclientes. O efeito é umha descidana quantidade de benefício para oprodutor da uva. Só há benefíciopara adegas e centros comerciais.

    O dramatismo também fai partedesta situaçom. A imprensa recol-hia no dia 1 de Agosto a agressomde um representante da CámaraMunicipal de Cambados a um col-heiteiro, que reclamou ao políticolocal 1.300 euros pola uva que lhevendera. O político, José AntonioDomínguez, agrediu o viticultorcom um golpe na cabeça. Nomomento da agressom, Dopazo iade motocicleta e com o capaceteposto, parando quando lho solici-tou J.A. Domínguez. Dopazo deuentrada no hospital no dia seguin-te da agressom. Segundo o partemédico por umha hemorragia súbi-ta interna. Os médicos nom asse-gurárom que se devesse ao golperecebido na cabeça. A denúncia foitramitada perante os tribunais,mas quando o viticultor recebeu odinheiro, o filho de Domínguezameaçou o agredido com “possí-veis acidentes”. A mesma impren-sa recolhia a demora dos adeguei-ros a pagar as uvas compradas.

    Os preços do quilo de uva som ridículos. Na vindima de 2004, os pagamentos fôrom de entre 0,80 cêntimosde euro e 1,10 euros por quilo, enquanto na campanha anterior chegárom a 1,50 euros.

    Conflituosidade no vinho galego Depois de vendê-llo como um dos mais importantes produtos do agro galego, ovinho do País sofre nestes momentos umha conflituosidade interna devida àspráticas nada limpas dos empresários do sector. Actuaçons mafiosas, preços baixos

    e atrasos no pagamento da uva levam a situaçons muito perigosas como aacontecida na primeira semana de Agosto, quando um colheiteiro foi agredidopolo empresário ao qual tinha vendido uva por valor de 1.300 euros.

    NUMEROSOS ABUSOS DO EMPRESARIADO FRENTE AOS PRODUTORES NUM SECTOR EM TRANSFORMAÇOM

    A maior parte dos subsídios destinados ao sector vam para os grandes adegueiros, ficando os produtoresnumha situaçom de indefensom ante os baixos preços e a dificuldade para rendabilizar o trabalho

    Entre os grandesproprietários de vinhasfiguram o presidentedo Celta, o da Cámarade Ourense ou o daDeputaçom de PonteVedra. Fraga mudou alei para manter o poderda DO das Rias Baixas

    Um representanteda CámaraMunicipal deCambados agrediaum colheiteiroa finais de Julho,que reclamava aopolítico local 1.300euros pola uva quelhe vendera

  • DANIEL SALGADO / Na revelaçomtrabalhava precisamente a cáma-ra de super8 que manejava CarlosVarela Veiga (Lugo, 1945-Malpica, 1980). O cinematógra-fo, em qualidade de lanterna deVarela Veiga, registou, e aliásempurrou, a imagem colectiva deum povo erguido, a Galizaenfrentada à SegundaRestauraçom Borbónica. Assim,polas fitas de Carlos Varela, mili-tante da UPG entre 1972 e a suamorte, transitam os momentosdecisivos do País, as gentes emrebeliom, a crónica das luitasnacional-populares. O movimen-to gravado e ao serviço da organi-zaçom política: as Encrovas,Baldaio, a quota empresarialagrária, a plataforma contra a cen-tral nuclear em Jove, os Dias daPátria, os congressos da UPG. Ocinema como ferramenta e odocumento como pedaço do pro-cesso emancipador.

    As mais de quinze horas defitas recolhidas por CarlosVarela entre 1976 e 1980 dormí-rom o sono dos justos, dos ver-dadeiramente justos, durantequase vinte e cinco anos. NesteAgosto de 2005, sob a direcçomde Ramiro Ledo Cordeiro,estrea-se o filme 'CCCV - CineClube Carlos Varela', que arma abiografia do cineasta lucenseatravés das suas próprias ima-gens. Ledo Cordeiro juntou ofilmado por Varela Veiga pesqui-sando nos armários da família,nos fundos do Centro Galegodas Artes da Imagem, nos arqui-vos da UPG e traçou um mapade mais de sessenta minutos. Aingente tarefa de documenta-çom deu como resultado oredescobrir um cineasta noesquecimento, mas também umhomem comprometido a fundo,desses que o poeta afro-ameri-cano Amiri Baraka considera doseu interesse: "Gente sériafazendo cousas sérias". Todaumha etapa nacional interessei-ramente silenciada toma corpo erosto em 'CCCV - Cine ClubeCarlos Varela'. O invisível torna-se visível. A resistência contra oopressor existiu e agora transco-rre perante os olhos.

    "O Carlos Varela Veiga", explicaLedo Cordeiro, "também trabal-

    hou na fotografia, de onde proce-dia a sua vocaçom cinematográfi-ca; na cerámica; na elaboraçomde murais e tapiçarias; no desen-ho gráfico, no associacionismocultural -clube Valle-Inclán, emLugo- e no cineclubismo debase, alerta de que as salas alter-nativas e militantes som a chavepara o cinema nacional própriodo futuro". Ramiro Ledo conti-nua: "Varela Veiga percorreu aGaliza inteira com a sua cámarade cinema para realizar a crónicado movimento nacional-popu-lar". "Carlos Varela foi um cineas-ta de cinema galego; como di

    Xosé Paz, o único militantedesde Galicia, de Carlos Velo em1936", termina o director de'CCCV - Carlos Varela Veiga'.

    A estirpe no exílioA estirpe cinematográfica -e políti-ca, já que as duas se fundem e con-fundem no cinema militante- deCarlos Varela Veiga arranca, justa-mente, no grande filme perdido docinema galego. Quando depois doalçamento fascista de 1936 CarlosVelo, o cineasta de Cartelhe, saiupara o exílio mexicano, as esperan-ças de umha cinematografia nacio-nal galega exilárom-se com ele.

    Atrás ficava 'Galicia', a fita de Veloque, com roteiro do Xocas e desen-hos de Castelao, deveu funcionarcomo pedra fundacional de umcinema próprio da Galiza. Na altu-ra de hoje, conservam-se apenasdez minutos da sua metragem ori-ginal, e neles adivinham-se os visio-nados de um Velo instalado na van-guarda artística e política da suaépoca. A estética e a técnica sovié-

    tica confluem com umha extremasensibilidade perante o real. O fas-cismo expulsou, também, a possibi-lidade de um cinema aferrolhado àterra e aos seus conflitos.

    Contra 1977, Carlos Velo, insu-bornavelmente apegado ao docu-mentário, opinava do que devia sera cinematografia galega: "O idealestá no homem vivo, os labregos,os estudantes, os marinheiros, osburgueses das vilas... a gente talcomo é, com os seus conflitos numsentido mui amplo. Esse é o retra-to que cumpre fazer hoje daGaliza". Naqueles mesmos anosde retornos e desengado, CarlosVarela passava polas Jornadas deCinema e Vídeo do Carvalhinhocom umha cópia de 'Universidadecomprometida', o filme que CarlosVelo realizara durante a visita deSalvador Allende à Universidadede México em 1973. Semelhavaque as feridas ainda se encontra-vam a tempo de estinhar.

    Do mesmo modo Varela Veigadeixava o alento e a película da suasuper8 capturando a fractura, umdocumentarista catalám, LlorençSoler, montava filmes de agitaçomno sul do País. 'O monte é nosso' -sobre a mancomunidade de mon-tes do Condado- e 'Autopista,umha navalhada à nossa terra' -adesfeita da auto-estrada doAtlántico-, pagas polas coordenado-ras de afectados e gravadas em16mm., na actualidade depositadasna filmoteca catalá, partilham como cinema de Carlos Varela a suacondiçom de fitas à margem deestruturas comerciais e metidascomo um estrato mais do processopolítico. Registados em 1977 e1978, os filmes de Llorenç Solerdisparam contra o fluxo desigual deinformaçom e proporcionárom, pro-porcionam, a face escura do desen-volvimento invertebrado da Galiza.

    O cinema enleado na históriaem andamento conheceu umúltimo degrau com a experiênciado filme colectivo 'Há que botá-los'. Fora da sua discutível validezideológica, o que de aproveitávelguarda o acontecimento 'HQB'reside no seu absoluto prescindirdos canais cinematográficosusuais. Umha miga aquilo docineasta Jean-Luc Godard: "Setens um franco no peto, fai filmesque custem um peso".

    NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 13REPORTAGEM

    Manifestaçom em Carvalho no dia 8 de Maio de 1977. Os vizinhos e vizinhasprotestavam contra a usurpaçom da areia das praias de Baldaio.

    REPORTAGEM

    A história perdida do cinema galegoSegundo o nomeado historiador francês George Sadoul, o verdadeiro sentidodo cinema só se pode enxergar no seu vínculo com o "génio e os anseios de umpovo". Na medida em que o cineasta adquire consciência do tempo histórico ea cámara incorpora o real ao seu cerne, a celulóide impressionada muda em algo

    que vai para além de um filme. Desaparecida a encenaçom, o cinema da realidadeencarna o mundo, como quer Víctor Erice, em lugar de o representar. O dispositivocinematográfico serve, entom, para a revelaçom, no significado mais nobre dapalavra, e os assuntos da humanidade ficam a nu perante o espectador.

    UM FILME SOBRE CARLOS VARELA RESGATA AS IMAGENS DO MOVIMENTO NACIONAL-POPULAR

    Foto: Carlos Varela Veiga

    Varela Veiga registoua imagem colectivade um povo erguido.Recolheu momentosdecisivos do País,a crónica das luitasnacional-populares:as Encrovas, Baldaio,a quota empresarialagrária, Jove...O cinema comoferramenta e odocumento comopedaço do processoemancipador.

    Carlos Varela Veiga filmando o acto políticodo 25 de Julho de 1979, na Praça da Quintá.

    Extraído do filme CCCV

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 200514 REPORTAGEM

    MARTA SALGUEIRO / Este Veraofalecia novamente um pilotodos avions anfíbios Dromadercontratados pola Junta para estelabor. Som três pilotos mortosem dous anos a bordo destamesma nave. A administraçomautonómica investe 10,22 mil-hons de euros anuais na luitacontra o lume. Mas a maiorparte deste dinheiro só servepara a extinçom. Nom há políti-ca de prevençom e os agentesflorestais demandam tambémformaçom. Som centos os tra-balhadores e trabalhadoras quena Galiza formam parte das bri-gadas contra incêndios munici-pais ou da Junta que nom rece-bem nenhum tipo de formaçomantes de começarem a trabalharna extinçom. Em muitos concel-hos galegos a escolha de pessoalpara fazer parte das brigadas épor designaçom do próprio pre-sidente da Cámara.

    579 paróquias emespecial risco de incêndio579 freguesias de 120 concelhosgalegos fôrom declaradas comozonas de especial risco deincêndio. Ourense é a provínciacom maior número de paróquiasafectadas, con 263, que corres-pondem a 52 concelhos, seguidada de Ponte Vedra, com 158,situadas em 33 termos munici-pais. A Corunha também passada centena de lugares declara-dos como zonas de especialrisco de incêndio florestal, 116situadas em 26 concelhos,enquanto que a província de

    Lugo é a que apresenta menoslugares especialmente sensíveisao lume, com 42 paróquias denove municípios. A superfíciemédia anual queimada diminuiunos anos '90, mas apesar dos pla-nos INFOGA, o número deincêndios disparou-se até11.000 por ano.

    Formaçom das equipas de trabalhoAs centrais sindicais lamentama pouca formaçom que recebemmuitas das brigadas de extin-çom. Exigem "mais cursos de

    “Os incêndios apagam-se para sempre com empenho e constáncia, incidindo nas causas estruturais que os provocam,e restituindo ao rural galego o protagonismo e o compromisso que se lhe deve”, destacam no Manifesto.

    Em 2005 ardêrom na Galiza 15.217 hectares,dos quais 4.243 eram superfície arborizada

    Nos últimos 30 anos, uns 150 mil incêndios florestais afectárom 1.500.000 hectares,metade da superfície da nossa terra. A Galiza é a zona da Europa com maior densidadede fogos florestais. Entre Janeiro de 2005 e o dia 7 de Agosto deste ano ardêrom na Galiza15.217 hectares. O maior número de fogos e de superfície arrasada localizam-sse naprovíncia de Ourense, onde já temos 6.282 hectares de monte afectados, faltando ainda

    dous meses de campanha contra os incêndios. O conselheiro do Meio Rural, AlfredoSuárez Canal considerava nestes momentos umha "temeridade" mudar o dispositivocontra-iincêndios em plena campanha de extinçom. Prometeu, na sua primeiracomparecência, clareza no tratamento dos dados e máxima transparência para quea cidadania "tome consciência real do problema".

    O NOVO GOVERNO NA JUNTA MANTERÁ O DISPOSITIVO DE EXTINÇOM DE INCÊNDIOS DA ÚLTIMA ‘ETAPA FRAGA’

    Entre os dias 1 e 7de Agosto ardêromna Galiza 1.465 hec-tares de superfíciedos quais 974correspondem àprovíncia deOurense. 517 hectareseram arrasados emzona arborizada

    O Comité deDefesa do MonteGalego continua adar validez aomanifesto"Defendamos omonte, apaguemoso lume. O mundorural galego existe"Entre as organiza-çons assinantes estáo BNG que temnestes momentos agestom da prevençome extinçom deincêndios florestaisda Junta da Galiza

    REPORTAGEM

    579 freguesias fôrom declaradas como zonas de especial risco de incêndio

  • NOVAS DA GALIZA15 de Agosto a 15 de Setembro de 2005 15REPORTAGEM

    formaçom e material para osagentes florestais encarregadosda extinçom" esclarecendo quenem todas as pessoas que estáma trabalhar neste labor "som domesmo colectivo, polo qual cadaumha delas tem carências".

    No Comité de Defesa doMonte Galego mantenhem asexigências que há um ano figu-ravam no manifesto assinadopor 12 organizaçons sociais epolíticas, entre as quais estáo BNG, no passado dia 1 deSetembro de 2004.

    Entre as exigências destemanifesto figuravam a "total eurgente acçom para defender omeio rural galego". Declaravama "Galiza país livre de incêndios.Sabemos como lográ-lo. Semdemagogias, sem mentiras esem pr