redaÇÃo - curso prof. marco antÔnio 01/10/2015 · a maioria dos refugiados sírios que partiram...

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REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 De onde vêm os refugiados e por quê Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015) LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de pessoas tendo se refugiado em outros países. Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo, cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que os conflitos no país foram retomados no final de 2013. Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa. Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica. Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país. Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de 2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente: um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda. Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a "somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde. Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al- Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis pelo governo de Assad. O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado, sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem. No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta nestes países com a quebra do antigo status quo.

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Page 1: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 2: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

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entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

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REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 5: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

Page 6: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 7: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 8: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

Page 9: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 10: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 11: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

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entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 13: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 14: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

Page 15: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 16: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 17: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

Page 18: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 19: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 20: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

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entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

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REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 23: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

Page 24: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 25: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

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O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

Page 27: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia

Page 28: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no

continente europeu (Patrick Cockburn - Independent - 14/09/2015)

LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no

norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos

entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão

fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas

da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de

pessoas tendo se refugiado em outros países.

Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das

ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou

prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo,

cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que

os conflitos no país foram retomados no final de 2013.

Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se

tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de

território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo

lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas

estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.

Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas

casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na

Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer

e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas

de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica.

Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no

nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso

da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi

completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos

rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.

Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de

2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a

guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi

retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente:

um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por

guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos

EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento

marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos

enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.

Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do

Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três

combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a

"somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as

pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.

Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o

que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-

Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis

pelo governo de Assad.

O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu

inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado,

sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para

professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI

no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.

No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os

palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é

hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com

terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta

nestes países com a quebra do antigo status quo.

Page 29: REDAÇÃO - CURSO PROF. MARCO ANTÔNIO 01/10/2015 · A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não

hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o

quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".

Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões

externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram

depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam

estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública,

modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.

Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram

normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido

que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.

Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o

socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última

bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham.

Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se

reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."

Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações

contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor

do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões

pertencer aos xiitas da vertente zaydi.

A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército

Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto

Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas

casas.

Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que

abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos

três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua

família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.

— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a

capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis,

shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.

O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores,

mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas

diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de

forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.

A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a

ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do

Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as

milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas

usaram esta rota até a Itália.

Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no

mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria

tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito

pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra

urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda

controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de

assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria. As fugas em massa

vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.

FONTE: http://oglobo.globo.com/mundo/de-onde-vem-os-refugiados-por-que-17480704

Alemanha pode receber até 1 milhão de refugiados em 2015 (France Presse)

O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, afirmou nesta segunda-feira (14) que a Alemanha pode receber até um milhão de refugiados em

2015, um número superior à estimativa anterior de 800 mil

"Há muitos sinais que mostram que este ano não teremos que admitir 800 mil refugiados como previu o ministério do Interior, e sim 1

milhão", declarou Gabriel ao site do Partido Social-Democrata, que ele preside.

O número de 800 mil demandantes de asilo para 2015 já constituía um recorde na Europa.

Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, Gabriel afirmou que a "inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite de suas

capacidades".

"O primeiro problema não é o número de refugiados e sim a rapidez com que chegam, o que complica a tarefa dos Estados regionais e das

cidades para recebê-los", disse.

O país anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à

Alemanha", com a mobilização de "centenas" de policiais.

"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro do Interior da

Alemanha, Thomas de Maizier, em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de

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entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à

imprensa.

Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste

domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem

comum à questão dos refugiados.

"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e

regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual

na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/alemanha-pode-receber-ate-1-milhao-de-refugiados-em-2015.html

Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória. Corpo de garoto foi encontrado em praia turca após naufrágio. Jornal

inglês questiona se poder da imagem fará Europa mudar política. (G1, em São Paulo - 02/09/2015)

As imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia viraram símbolo da crise

migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que tentam chegar à

Europa para escapar de guerras, de perseguições e da pobreza.

O corpo do menino apareceu nesta quarta-feira (2) em Bodrum depois que duas embarcações

com imigrantes naufragaram. Pelo menos nove sírios morreram, segundo a agência AFP -- outros

veículos já citam 12. As duas embarcações haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha

grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

A foto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos da imprensa

internacional o destacaram como emblemática da gravidade da situação, até mesmo com

potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.

saiba mais

"Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia

não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?", questiona o

jornal britânico "Independent". As fotos são "um forte lembrete de que, enquanto os líderes

europeus progressivamente tentam impedir refugiados e imigrantes de se acomodarem no continente, mais e mais refugiados estão

morrendo em seu seu desespero para escapar da perseguição e alcançar a segurança", acrescenta.

"The Guardian", outro jornal britânico, disse que as fotos levaram para as casas das pessoas "todo o horror da tragédia humana que vem

acontecendo no litoral da Europa".

O americano "Washington Post" classificou a imagem de "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo".

Grave crise

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, segundo organizações como a Anistia Internacional e a

Comissão Europeia. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro deste ano e mais de 2.643 pessoas morreram no

mar quando tentavam chegar à Europa, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Quase 220 mil chegaram à Grécia e quase 115 mil, à Itália. Mais de 2 mil chegaram à Espanha e uma centena a Malta. O número no decorrer

de 2015 supera com folga o total de 2014, quando 219 mil migrantes tentaram atravessar o Mediterrâneo.

A maioria dos migrantes que chegam à Grécia por mar são sírios em fuga da guerra em seu país. Entre os que chegaram à Itália, os mais

numerosos são os eritreus.

A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em embarcações superlotadas, sem os mínimos requisitos de segurança, por traficantes de

pessoas. A viagem pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa, o que torna o negócio altamente lucrativo - uma única embarcação pode render

US$ 1 milhão.

Reação da Europa

A chegada de centenas de milhares de imigrantes confundiu a União Europeia, que eliminou todos seus controles fronteiriços para viagens

entre 26 países de sua área, mas requer que as pessoas que buscam asilo permaneçam no país onde chegaram, até que suas aplicações sejam

processadas.

Alguns governos têm se recusado a receber refugiados e resistido a propostas da União Europeia para criar um plano comum para lidar com

a crise.

No sábado (29), a Hungria anunciou que finalizou a construção de uma barreira constituída de três rolos de arame farpado que se estende ao

longo de 175 km da fronteira com a Sérvia. A medida foi criticada pela França. A Comissão Europeia também deixou claro seu desagrado com

a cerca húngara, mas o país não enfrenta sanção por construí-la.

A Alemanha tem tomado algumas iniciativas positivas com relação à acolhida dos refugiados. Inicialmente, o país favoreceu que os sírios

peçam refúgio diretamente à Alemanha após excluí-los do Regulamento de Dublin. Esse regulamento indicava que esse estrangeiro fosse

encaminhado ao país onde migrante ingressou na União Europeia. Países como a Itália e Grécia, por exemplo, têm recebido um número

muito elevado de migrantes que chegam pelo mediterrâneo.

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/foto-chocante-de-menino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-europeia.html

A partir da leitura dos fragmentos de textos colocados abaixo e de seus argumentos sobre o tema, elabore um texto

‘dissertativo-argumentativo’ (entre 25 e 30 linhas), com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A saga dos

refugiados: o caminho entre a fuga e a xenofobia.” Não se esqueça de dar um título a seu texto.

Apresente uma proposta de intervenção. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em

defesa de um ponto de vista.

Policiais paramilitares turcos

investigam o local onde apareceu o

corpo de uma criança imigrante numa

praia de Bodrum, na Turquia