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1 RECURSOS HÍDRICOS DA ILHA DA MADEIRA Susana Prada Ambientes insulares vulcânicos São regiões acidentadas; de reduzidas dimensões; delimitadas por drásticas fronteiras físicas Dependentes de um correto e criterioso aproveitamento dos recursos naturais disponíveis As águas subterrâneas, constituem, na maioria das ilhas, a maior fonte de abastecimento (> 90% na Madeira) A ocorrência, circulação e armazenamento da água subterrânea apresenta especificidades decorrentes da natureza heterogénea e anisótropa do meio insular vulcânico. Natureza heterogénea e anisótropa Modelo hidrogeológico conceptual para a ilha da Madeira (Prada et al., 2005)

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RECURSOS HÍDRICOS DA ILHA DA MADEIRA

Susana Prada

Ambientes insulares vulcânicos

São regiões acidentadas; de reduzidas dimensões; delimitadas por drásticas fronteiras físicas

Dependentes de um correto e criterioso aproveitamento dos recursos naturais disponíveis

As águas subterrâneas, constituem, na maioria das ilhas, a maior fonte de abastecimento (> 90% na Madeira)

A ocorrência, circulação e armazenamento da água subterrânea apresenta especificidades decorrentes da natureza heterogénea e anisótropa do meio insular vulcânico.

Natureza heterogénea e anisótropa Modelo hidrogeológico conceptual para a ilha da Madeira

(Prada et al., 2005)

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Clima da ilha da Madeira

Orientação: E/W=> Formação de nuvens e nevoeiros orográficos

Relevo: 1861mN

P r e c i p i t a c a o ( m m )

< 8 0 0

8 0 0 - 1 0 0 0

1 0 0 0 - 1 2 0 0

1 2 0 0 - 1 4 0 0

1 4 0 0 - 1 6 0 0

1 6 0 0 - 2 0 0 0

2 0 0 0 - 2 4 0 0

2 4 0 0 - 2 8 0 0

> 2 8 0 0

3 0 3 k m

Precipitação anual média: 1630 mm

Variação espacial da Precipitação

Variação temporal da Precipitação Cobertura nebulosa

3

Florestas da MadeiraA precipitação oculta é uma importante

fonte de recarga

A capacidade que a vegetação tem de, por um

processo de impacto ou colisão, fazer precipitar as gotículas de

água existentes no nevoeiro e que na sua ausência se perderiam para

a atmosfera

Fluxo subterrâneo Modelo hidrogeológico conceptual para a ilha da Madeira

(Prada et al., 2005)

4

Condutividade das águas

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

-10 0 10 20 30 40

Con

dutiv

idad

es (

µS/c

m)

Aquífero de BaseAquíferos suspensos

2

16

Média = 96,5

Média = 316

38

39

• A distribuição espacial da condutividade revela um aumento da mineralização das águas com a profundidade e proximidade do mar, reflectindo, a crescente influência dos principais mecanismos mineralizadores das águas, a hidrólise de minerais silicatados das

rochas e a contaminação por sais de origem marinha

• Aquíferos suspensos: situados geralmente em altitude são originados pela presença de formações geológicas impermeáveis.

• Caracterizam-se por águas frias, pouco mineralizadas (condutividades entre 33 e 62 µS/cm), com pH ligeiramente ácidos e por fácies bicarbonatada sódica a cloretada sódica. Os seus caudais variam ao longo do ano hidrológico consoante a recarga.

Aquífero de Base • O aquífero caracteriza-se, em geral, por elevadas transmissividades que vão desde 1000 a 25 000 m2/d (representa a capacidade do aquífero para ceder água, indica a sua produtividade).

• As águas são medianamente mineralizadas com condutividades entre 100 e 500 µS/cm e fácies bicarbonatada sódica, bicarbonatada magnesiana e ainda, bicarbonatada cálcica.

• As captações efectuadas neste complexo vulcânico são muito produtivas, como é o caso das galerias das Rabaças, do Rabaçal, do Porto Novo, Fontes Vermelhas, Tornos 4, etc.

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Captações de água subterrânea: 1. Nascentes

As levadas: recolha e transporte

2. As galerias e os túneis 3.Os furos

6

Dec. Lei 243/2001

Localização da área agrícolamáx 600m de altitude

Análises de nitratos

Nitratos em Furos

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Furo 1 Socorridos(JK1)

Furo 2 Socorridos(JK2)

Furo 3 Socorridos(JK3)

Furo 4 Socorridos(JK4)

Furo 5 Socorridos(JK5)

Furo 6 Socorridos(JK16)

Furo João Gomes(JK18)

Furo Santa Luzia(JK20)

Furo São João(JK19)

Furo 2 Machico(JK7)

Furo 3 Machico(JK12)

Furo 4 Machico(JK13)

Furo 5 Machico(JK8)

Furo 1 Boaventura(JK17)

Furo 2 Boaventura(JK21)

Furo 1 Santa Cruz(JK14)

Furo 2 Santa Cruz(JK15)

Furo 1 Porto Novo(JK9)

Furo 2 Porto Novo(JK10)

Furo 1 Santo Serra(JK11)

Furo 2 Santo Serra(JK22)

Furo da Ribeira do Caniço(JK23)

< 25 mg/l 25-50 mg/l > 50 mg/l

Nitratos em Nascentes

0% 25% 50% 75% 100%

Poiso

Ribeiro Frio

Homem em Pé

Pico das Pedras

Cedro Gordo

Pedras

Cascalho

Risco

Fonte Barro

João Frino

Eira do Serrado

Água d'Alto

Véu da Noiva

25 Fontes

Geraldo

Empenas

até 25 mg/l 25-50 mg/l mais 50 mg/l

Nitratos em Galerias e Túneis

0% 25% 50% 75% 100%

T. Pico Grande

T. Socorridos 2

Gal. Rabaças

Gal. Rabaçal

T. Madalena do Mar

Gal. Porto Novo

G. Fontes Vermelhas

Fajã da Ama

T. Levada do Seixal

Túnel do Norte

T2 Tornos (quente)

T2 Tornos (fria)

até 25 mg/l 25-50 mg/l mais 50 mg/l

Origem dos caudais subterrâneos captados na ilha da Madeira

Origem Caudal (l/s) %

Nascentes 3650 62.4

Galerias 420 7.2

Túneis 680 11.6

Furos 1100 18.8

Total 5850 100

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Protecção das captações

• O perímetro de protecção é a área contígua à captação na qual se interditam ou condicionam as actividades susceptíveis de poluírem as águas subterrâneas:

� zona de protecção imediata� zona de protecção intermédia� zona de protecção alargada

O Decreto-Lei 382/99, define as normas e critérios para a delimitação dos perímetros de

protecção das captações

Metodologias

2. Método do Raio Fixo:

� Fórmula simples baseada no tempo de circulação da água (50 dias para a zona intermédia e 3500 dias para a zona alargada)

ri, raio fixo calculado para um determinado tempode depuração, t

( )Hn

tQtri ..14,3

.=

1. Estudos Hidrogeológicos específicos

� Aplicável a furos em meios homogéneos e isotrópicos

GALERIA DA FAJÃ DA AMA 100 l/s

TÚNEL DA LEVADADO SEIXAL 200 l/s

TÚNEL DO NORTE 80 l/s

GALERIA DO RABAÇAL 60 l/s

GALERIA DAS RABAÇAS 100 l/s

TÚNEL 4 DOS TORNOS 300 l/s GALERIA DO PORTO NOVO 90 l/s

GALERIA DAS FONTES VERMELHAS 70 l/s

Modelo PMWINPaul da Serra

N

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Disponibilidades hídricas subterrâneas

Reservas = Recarga – Descarga subterrânea

Escoamento/RecargaModelo BALSEQ

Reservas = 59 mmReservas = 120 mm

Recarga = 363 mmRecarga = 424 mm

Descarga = 304 mm Descarga = 304 mm

Alterações climáticas na RAM

Temperatura: Aumento de 1,4 a 3,2ºC até 2099

Precipitação: Redução entre 20 e 40% até 2099

Consequências da mudança climática nos recursos hídricos

� Subida do nível médio das águas do mar cerca de 50 cm até 2099

�Aumento da evapotranspiração

�Redução do escoamento superficial e da recarga de 40 a 50% até ao final do século

�Rebaixamento dos níveis freáticos

Impactos nos recursos hídricos subterrâneos

• Diminuição do caudal das nascentes

• Diminuição do caudal das galerias

• Avanço da cunha salina

• Diminuição da qualidade da água para consumo humano

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� Adoptar medidas de poupança de água

� Reduzir as perdas nas redes de distribuição

� Reutilizar a água tratada na rega e protecção civil

� Alterar o regime de exploração dos furos

� Aumentar a área de floresta

Medidas de adaptação

� Captar água dos nevoeiros para reflorestação � O equilíbrio entre as disponibilidades e as necessidades pode, a qualquer momento, ser quebrado quer pelo aumento do consumo quer pela diminuição da recarga

� A água que consumimos é de qualidade – é subterrânea -devemos valorizá-la! Temos a responsabilidade de a proteger e de a conservar!

� Importância da água dos nevoeiros para as disponibilidades hídricas subterrâneas

� A reflorestação, estrategicamente selecionada, origina um acréscimo na recarga dos aquíferos

Considerações finais