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Fl. GBJF RE nº 670-28 1 TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS RECURSO ELEITORAL 670-28.2016.6.09.0128 CLASSE 30 PROTOCOLO Nº 167.553/2016 TURVELÂNDIA GO (128 a ZONA ELEITORAL) RELATOR: JESUS CRISÓSTOMO DE ALMEIDA RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RECORRIDO: AILTON ALVES MINERVINO ADVOGADO: TULIO DE ALENCAR COSTA LEITE - OAB: 20597/GO RECORRIDA: REILA APARECIDA NAVES DE FÁRIAS RECORRIDO: ALEX QUEIROZ FLORENCIO ADVOGADO: ADRIANO FABIO DE CARVALHO OAB: 27105/GO ADVOGADO: PAULO HENRIQUE DA SILVA - OAB: 27203/GO RELATÓRIO MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (MPE) interpõe Recurso Eleitoral contra a sentença que julgou improcedentes os pedidos por ele aduzidos em Ação de Investigação Judicial Eleitoral por prática de conduta vedada ao agente público em campanha (art. 73, IV, da Lei 9.504/97), captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei 9.504/97) e abuso do poder político (artigos 19 e 22 da LC 64/90), proposta em face de AILTON ALVES MINERVINO, então prefeito de Turvelândia - GO, REILA APARECIDA NAVES DE FARIAS, então vice-prefeita e candidata a prefeita, e ALEX QUEIROZ FLORÊNCIO, candidato a vice-prefeito, os dois últimos eleitos no pleito eleitoral de 2016. Nas razões recursais (fls. 690-711), o Ministério Público Eleitoral apresenta as seguintes alegações: 1) "no que diz respeito à suposta doação de quantia em dinheiro para uma festa de casamento, no decorrer da instrução processual, não restou devidamente comprovado que a recorrida Reila tenha efetivamente contribuído financeiramente para a realização da festa, conforme relatado pelas

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RE nº 670-28

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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS

RECURSO ELEITORAL Nº 670-28.2016.6.09.0128 – CLASSE 30 – PROTOCOLO Nº 167.553/2016 – TURVELÂNDIA – GO (128a ZONA ELEITORAL)

RELATOR: JESUS CRISÓSTOMO DE ALMEIDA RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RECORRIDO: AILTON ALVES MINERVINO ADVOGADO: TULIO DE ALENCAR COSTA LEITE - OAB: 20597/GO RECORRIDA: REILA APARECIDA NAVES DE FÁRIAS RECORRIDO: ALEX QUEIROZ FLORENCIO ADVOGADO: ADRIANO FABIO DE CARVALHO – OAB: 27105/GO ADVOGADO: PAULO HENRIQUE DA SILVA - OAB: 27203/GO

RELATÓRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (MPE) interpõe

Recurso Eleitoral contra a sentença que julgou improcedentes os pedidos por

ele aduzidos em Ação de Investigação Judicial Eleitoral por prática de conduta

vedada ao agente público em campanha (art. 73, IV, da Lei 9.504/97), captação

ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei 9.504/97) e abuso do poder político (artigos

19 e 22 da LC 64/90), proposta em face de AILTON ALVES MINERVINO, então

prefeito de Turvelândia - GO, REILA APARECIDA NAVES DE FARIAS, então

vice-prefeita e candidata a prefeita, e ALEX QUEIROZ FLORÊNCIO, candidato

a vice-prefeito, os dois últimos eleitos no pleito eleitoral de 2016.

Nas razões recursais (fls. 690-711), o Ministério Público

Eleitoral apresenta as seguintes alegações:

1) "no que diz respeito à suposta doação de quantia em

dinheiro para uma festa de casamento, no decorrer da instrução processual, não

restou devidamente comprovado que a recorrida Reila tenha efetivamente

contribuído financeiramente para a realização da festa, conforme relatado pelas

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testemunhas Rita da Silva Pereira Lourenço e Edimário Júnior Lourenço Pereira"

(fl. 695);

2) a sentença recorrida merece reforma, contudo, tendo em

vista que restou comprovado "o uso da máquina pública (Município de

Turvelândia) para angariar o maior número possível de votos, mediante

promessa de doação de lotes, haja vista que foi implementado um loteamento

às vésperas do processo eleitoral" (fl. 695);

3) várias testemunhas e informantes ouvidos em Juízo

confirmaram os depoimentos prestados perante a Promotoria Eleitoral e

informam que receberam promessas de doação de lotes;

4) não se tratou de simples promessa genérica de

implantação de políticas de habitação direcionada a todas as pessoas de baixa

renda do município, que não tinham condições de comprar seu lote ou casa,

mas, sim, foram feitas promessas de doação de lotes, direcionadas a pessoas

determinadas e às vésperas do início do processo eleitoral;

5) as obras no aludido terreno iniciaram-se antes de quitar

a compra do imóvel, antes de transferir o terreno para a propriedade do Município

de Turvelândia e antes de conseguir as licenças ambientais, o que evidencia o

intuito eleitoreiro da promessa de lotes;

6) iniciaram-se as obras durante a campanha eleitoral para

que a recorrida Reila pudesse utilizar a construção do referido loteamento em

sua campanha e tornar efetivas, concretas e reais as promessas de doação de

lotes, independentemente de qualquer critério;

7) a legislação veda em período eleitoral a prática de

fornecimento de qualquer tipo de doação ou vantagem, traçando hipóteses

restritas e excepcionais de execução de programas assistenciais;

8) restou evidenciada a potencialidade lesiva concreta,

com desequilíbrio do pleito em favor dos candidatos recorridos Reila e Alex.

Ao final, requer o provimento do recurso para reformar

parcialmente a sentença, a fim de que sejam cassados os diplomas de prefeita

e de vice-prefeito dos recorridos Reila Aparecida Naves de Farias e Alex Queiroz

Florêncio, respectivamente, bem como sejam declarados inelegíveis todos os

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recorridos para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à

eleição em que se verificaram os fatos alegados, nos termos do art. 22, inciso

XIV, da LC nº 64/90.

Em contrarrazões, o recorrido AILTON ALVES

MINERVINO requer o desprovimento do recurso interposto, sob os seguintes

argumentos (fls. 714-737):

1) resultou incontroverso que inexistiu a entrega efetiva de

lote a qualquer pessoa e muito menos abuso de poder político e/ou conduta

vedada;

2) o que ocorreu foi uma simples divulgação de

implantação de futuro loteamento, o que não configura conduta ilícita ou vedada

que implique em abuso de poder político;

3) "não existiu qualquer ato de cadastramento pela

Prefeitura, quanto menos distribuição de lotes, apenas proselitismo político em

palanque, na medida em que houve apenas divulgação de plataforma de

governo, em atendimento às pessoas necessitadas de moradia no Município" (fl.

720);

4) os três candidatos que disputaram o pleito têm em seus

planos de governo propostas semelhantes, contendo o termo "distribuição de

lotes";

5) promessas genéricas feitas em palanque, dirigidas a

toda a coletividade, não são suficientes para a caracterização de abuso de poder,

conforme entendimento assente dos tribunais eleitorais;

6) a mera apresentação de projetos habitacionais futuros

não tem o condão de desequilibrar qualquer eleição e afetar a sua legitimidade;

7) as provas dos autos demonstraram que a limpeza do

terreno questionado se deu pelo temor de invasão à área adquirida pelo

município (fl. 728), e não com a intenção de entregar os referidos lotes à

população.

Requer, por fim, o desprovimento do recurso.

Nas contrarrazões de fls. 738-766, os recorridos REILA

APARECIDA NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ FLORÊNCIO reiteram os

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fundamentos apresentados pelo recorrido AILTON ALVES MINERVINO e

pedem, ao final, "seja julgado o recurso eleitoral totalmente improcedente, haja

vista a ausência de abuso de poder político e conduta vedada por qualquer dos

investigados", mantendo, assim, inalterada a sentença recorrida.

A Procuradoria Regional Eleitoral, por sua vez, "manifesta-

se pelo conhecimento e provimento do recurso para que seja reformada a

sentença recorrida e julgados integralmente procedentes os pedidos formulados

na petição inicial da AIJE, a fim de que: a) sejam cassados os diplomas de

prefeita e de vice-prefeito outorgados aos recorridos REILA APARECIDA

NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ FLORENCIO, em razão da prática de

abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio; b) seja declarada a

inelegibilidade por 08 (oito) anos dos três recorridos, nos termos do art. 22, XVI

da LC nº 64/90; e c) seja aplicada multa pela prática de captação ilícita de

sufrágio apenas aos recorridos AILTON ALVES MINERVINO e REILA

APARECIDA NAVES DE FÁRIAS, nos termos do art. 41-A da Lei nº 9.504/97"

(fls. 775-790).

Em manifestação apresentada às fls. 793-805, os

recorridos REILA APARECIDA NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ

FLORÊNCIO defendem ser "totalmente inviável à espécie, nesta fase, conforme

o ordenamento jurídico pátrio, a inovação proposta pelo Procurador Regional

Eleitoral, em buscar a imputação (compra de votos) que nunca ao menos foi

ventilada e/ou defendida, sob pena de violação do due process of law e do

princípio da congruência ou adstrição, nos termos do Código de Processo Civil,

bem como viola o Princípio Constitucional do Duplo Grau de Jurisdição, haja

vista que tal matéria não foi abarcada na decisão de 1ª instância" (fls. 804-805,

sic).

Com nova vista dos autos, o douto Procurador Regional

Eleitoral "ratifica integralmente o parecer lançado às fls. 775/790" (fls. 809-814).

É o relatório.

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VOTO

O recurso merece conhecimento, porque adequado,

tempestivo e preenche os demais pressupostos de admissibilidade recursal.

I - Do pedido de condenação dos recorridos nas penas

do art. 41-A da Lei 9.504/97 formulado pelo Procurador Regional Eleitoral

em seu parecer recursal

Segundo os recorridos REILA APARECIDA NAVES DE

FÁRIAS e ALEX QUEIROZ FLORÊNCIO afigura-se inviável a análise por esta

Corte Eleitoral da imputação de captação ilícita de sufrágio, prevista no art. 41-

A da Lei 9.504/97, conforme proposto pelo douto Procurador Regional Eleitoral

em seu parecer. Argumentam que essa matéria não teria constado da petição

inicial e da sentença recorrida e, portanto, sobre ela os investigados/recorridos

não teriam tido oportunidade de apresentar defesa nos autos.

Na petição inicial da AIJE (fls. 2-33), o Ministério Público

Eleitoral imputou ao investigado AILTON ALVES MINERVINO, então prefeito de

Turvelândia-GO, e aos investigados REILA APARECIDA NAVES DE FARIAS,

então vice-prefeita e candidata ao cargo de prefeita, e ALEX QUEIROZ

FLORÊNCIO, candidato a vice-prefeito, apoiados pelo primeiro investigado e

eleitos no pleito eleitoral de 2016, os seguintes fatos tidos como ilícitos:

1) promessa de doação de lotes pela prefeitura de

Turvelândia a eleitores, por meio do então prefeito AILTON ALVES MINERVINO

(1º investigado), mediante a implementação de um loteamento destinado à

população carente, às vésperas do processo eleitoral, em benefício da

candidatura aos cargos de prefeita e vice-prefeito de REILA APARECIDA

NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ FLORENCIO (2ª e 3º investigados,

respectivamente);

2) doação de quantia em dinheiro a eleitores, pela

investigada REILA APARECIDA NAVES DE FÁRIAS, para custeio de uma festa

de casamento.

O Exmo. Juiz da 128ª Zona Eleitoral julgou totalmente

improcedentes os pedidos formulados na AIJE, sob o fundamento de "ausência

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de prova de que houve abuso de poder político suficiente a influenciar no

resultado da Eleição Municipal de Turvelândia" (fls. 685-688).

Em suas razões recursais, o Ministério Público Eleitoral

requer a reforma parcial da sentença por entender configurado o abuso do

poder político, tendo em vista a comprovação durante a instrução processual do

1º fato narrado na petição inicial, qual seja, a utilização da máquina pública

(prefeitura de Turvelândia) para realização de promessas de doação de lotes a

eleitores do município, com a finalidade de obter-lhes o voto.

Quanto ao 2º fato suscitado (doação de quantia em

dinheiro em favor de eleitores para custeio de uma festa de casamento), o

recorrente/investigante (MPE) reconhece expressamente que não restou

devidamente comprovado nos autos (fl. 695). Portanto, não houve nas razões

recursais impugnação da sentença quanto a este capítulo ou fato específico.

Conforme preceitua o artigo 1.013, caput, do CPC/2015,

aplicável no processo eleitoral, "a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento

da matéria impugnada”. Dessa forma, esta Corte está limitada, na análise do

recurso interposto pelo recorrente, ao conhecimento das matérias por ele

impugnadas.

Segundo a doutrina, "este é o efeito devolutivo do recurso,

pelo qual ao tribunal é conferido o poder (e, ao mesmo tempo, dever) de proferir

novo julgamento da causa, respeitado o limite posto pelo recorrente. O caput

deste artigo [art. 1.013 do CPC/2015], que tem exatamente a mesma redação do

caput do art. 515 do CPC/1973, utiliza a expressão 'matéria impugnada' para se

referir ao pedido de nova decisão formulado pelo apelante" (Código de Processo

Civil 2015 Anotado, Coordenadores: José Rogério Cruz e Tucci, Manoel Caetano

Ferreira Filho, Ricardo de Carvalho Aprigliano, Rogéria Fagundes Dotti e Sandro

Gilbert Martins, atualizado em 8/3/2016, ISBN 978-85-86893-00-1. Original sem

grifos).

Na espécie, o recorrente (MPE) requer a reforma da

sentença recorrida no tocante ao reconhecimento do abuso do poder de

autoridade.

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Assim, embora a petição inicial da Ação de Investigação

Judicial Eleitoral proposta pelo Parquet (fls. 2-33) contenha pedido de

reconhecimento de abuso do poder político e de captação ilícita de votos (arts.

19 e 22 da LC 64/90 e 41-A da Lei 9.504/97), o certo é que a peça recursal se

restringe a buscar a reforma da sentença somente no tocante ao abuso do poder

político.

Nesse contexto, a alegada prática de captação ilícita de

sufrágio, prevista no art. 41-A da Lei 9.504/97, não comporta reexame nesta

instância, ante a incidência da coisa julgada material com relação a esse ponto.

Por todo o exposto, cabe a esta Corte Eleitoral analisar,

pelo efeito devolutivo apenas o abuso do poder político,

Assim, delimitado o âmbito de conhecimento do recurso,

passo à análise da referida conduta.

II - Do abuso de poder político ou de autoridade - Gravidade da conduta e potencialidade eleitoral lesiva

O abuso do poder político ou de autoridade encontra

previsão na Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar 64/90:

Constituição Federal de 1988: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (…) § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994)

Lei Complementar 64/90:

Art. 19. As transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e Corregedores Regionais Eleitorais. Parágrafo único. A apuração e a punição das transgressões mencionadas no caput deste artigo terão o objetivo de

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proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta, indireta e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: (...) XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) (...) Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: (...) d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) (Original sem grifos).

"O abuso de poder político configura-se quando agente

público, valendo-se de condição funcional e em manifesto desvio de

finalidade, desequilibra disputa em benefício de sua candidatura ou de

terceiros (...). (Recurso Ordinário nº 378375, Acórdão, Relator Min. Antonio

Herman De Vasconcellos E Benjamin, Publicação: DJE - Diário de justiça

eletrônico, Tomo 107, Data 06/06/2016, Página 9-10).

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No caso, os bens jurídicos tutelados pela norma são a

liberdade do voto e a legitimidade das eleições, conforme se depreende da

redação dos artigos 19 e 22, XIV, da LC 64/90, antes transcritos.

De acordo com o XVI do art. 22 da LC 64/90, incluído pela

LC 135, de 2010, “para a configuração do ato abusivo não será considerada a

potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade

das circunstâncias que o caracterizam”. (Original sem grifos)

Por oportuno, colacionam-se os seguintes precedentes do

Colendo Tribunal Superior Eleitoral sobre a necessidade de se averiguar na AIJE

a seriedade e gravidade do ato abusivo de modo a comprometer a normalidade

e legitimidade do pleito:

(...) 3. Na hipótese de abuso do poder (...), o requisito da potencialidade deve ser apreciado em função da seriedade e da gravidade da conduta imputada, à vista das particularidades do caso, não devendo tal análise basear-se em eventual número de votos decorrentes do abuso, ou mesmo em diferença de votação, embora essa avaliação possa merecer criterioso exame em cada situação concreta. (RO - Recurso Ordinário nº 2098 - Porto Velho/RO - Acórdão de 16/06/2009 - Relator Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES); (...) 7. O reconhecimento da potencialidade em cada caso concreto implica o exame da gravidade da conduta ilícita, bem como a verificação do comprometimento da normalidade e da legitimidade do pleito, não se vinculando necessariamente apenas à diferença numérica entre os votos ou a efetiva mudança do resultado das urnas, embora essa avaliação possa merecer criterioso exame em cada situação concreta. Precedentes (RCED - Recurso Contra Expedição de Diploma nº 661 - Aracaju/SE - Acórdão de 21/09/2010 -Relator Min. ALDIR GUIMARÃES PASSARINHO JUNIOR);

(...) 3. O bem jurídico a ser protegido com a proibição do abuso é de titularidade coletiva, sendo suficientes, para demonstrar o liame entre a prática da conduta e o resultado do pleito, a sua gravidade e aptidão para macular a igualdade na disputa. (Recurso Especial Eleitoral nº 872331566, Acórdão, Relatora Min. Luciana Christina Guimarães Lóssio, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 116, Data 25/06/2014, Página 62). (Original sem grifos).

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Nesse contexto, a ilicitude da conduta deve ser examinada,

na espécie, sob o enfoque da gravidade das circunstâncias, que constitui

pressuposto essencial para o reconhecimento do abuso do poder político.

Narra a petição inicial da AIJE que o então prefeito de

Turvelândia/GO, AILTON ALVES MINERVINO, juntamente com a candidata a

prefeita eleita, REILA APARECIDA NAVES DE FARIAS, à época Vice-Prefeita,

teriam realizado ampla divulgação da implantação de loteamento e feito

promessa de doação de lotes a diversos eleitores, em pleno período eleitoral,

para a promoção da campanha eleitoral da candidata a prefeita Reila e de seu

vice Alex.

Os recorridos teriam agido, portanto, com abuso e desvio

do poder de autoridade ao se utilizarem da máquina pública (Prefeitura Municipal

de Turvelândia) para fins de captação ilícita de sufrágio, mediante promessa de

lotes.

O MM. Juiz Eleitoral sentenciante entendeu não

configurado a abuso do poder político, mediante promessa de doação de lotes,

com base nos seguintes fundamentos:

Inicialmente destaco que a presente demanda objetiva a cassação do registro de candidatura e do mandato eletivo de CANDIDATOS ELEITOS para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito da cidade de Turvelândia, com base em alegação de que, devido a atos de abuso de Poder Político, houve influência direta no resultado do pleito eleitoral.

Para que ocorra abuso de poder político é necessário que exista a prova dos fatos alegados na inicial, por essa razão passo à analisar fato por fato.

FATO 01 - ABUSO DE PODER POLÍTICO EM PROMESSA DE DOAÇÕES DE LOTES Sustenta o Representante do Ministério Público que houve

uso abusivo do Poder Político por parte do então Prefeito AlLTON ALVES MINERVINO ao incutir na mente de eleitores que a doação de lotes em futuro loteamento a ser realizado, com a finalidade de favorecer a candidatura de RElLA APARECIDA NAVES DE FARIAS e ALEX QUEIROZ FLORENCIO.

Destaco que não ha acusação de doação de lotes, mas sim de promessa aliada ao uso da maquina publica seria capaz de desequilibrar o resultado das eleições.

Após a instrução o processual, segundo meu juízo, constatei que houve promessas de implantação de políticas públicas de habitação por todos os candidatos, conforme afirmado por todos na audiência de instrução e julgamento.

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Imaginar que eleitores não os assediaram solicitando lotes após a eleição e que não houve a promessa mesmo que de forma genérica seria ignorar como as coisas de fato acontecem na vida real.

Entretanto, o que se esta em jogo neste processo e se o fato de o Município de Turvelândia ter dado seguimento às políticas públicas de habitação teria desequilibrado as forças de forma abusiva.

Evidentemente aqueles que são apoiados pela maquina publica, seja Municipal, Estadual ou Federal levam o bônus de receber méritos de políticas acertadas e o ônus de políticas equivocadas, fazendo isso parte do jogo eleitoral regular.

Apesar do esforço em comprovar o Abuso do Poder Político apto a influenciar no resultado das eleições municipais, entendo que não encontrou êxito o autor da presente AIJE. (...) (fls. 685-690) (sic).

Como corretamente ressaltou o MM. Juiz Eleitoral

sentenciante, não há acusação nos autos de efetiva distribuição de lotes pelo

poder público, "mas sim de que a promessa aliada ao uso da máquina pública

seria capaz de desequilibrar o resultado das eleições".

Nesse ponto, é importante consignar que a alegada prática

de conduta vedada ao agente público em campanha, prevista no inciso IV do art.

73 da Lei 9.504/971, não restou caracterizada nos autos, tendo em vista que a

imputação lançada na petição inicial e verificada no decorrer da instrução

processual consiste exclusivamente na realização de promessa de doação de

lotes em troca de votos.

Não restou comprovada, ou sequer alegada, a efetiva

"distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou

subvencionados pelo Poder Público", conforme exigência contida no referido

dispositivo legal, que, dessa forma, não incide no presente caso concreto.

Afigura-se incontroverso nos autos que não houve a

implantação do propalado loteamento nem a efetiva distribuição de lotes à

população carente de Turvelândia em decorrência da execução de programas

assistenciais do município.

1 Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar

a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: IV – fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público;

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De um lado o investigante/recorrente (MPE) sustenta que

restou comprovada a realização de promessa de lotes a vários eleitores

identificados nos autos. De outro lado, os investigados/recorridos afirmam em

suas contrarrazões recursais que ocorreram apenas promessas genéricas feitas

em palanque, dirigidas a toda a coletividade, indistintamente.

Sobre o referido loteamento, consta dos autos cópia do

Contrato de Compra e Venda de Imóvel para fins de Utilidade Pública, pelo qual

a Prefeitura de Turvelândia, por intermédio do então Prefeito Municipal, Ailton

Alves Minervino (1º recorrido), teria adquirido, na data de 5 de maio de 2016, 2

(dois) alqueires do imóvel rural denominado Fazenda Santa Maria, localizado no

referido município, às margens da rodovia GO-210, pelo valor de R$ 250.000,00

(duzentos e cinquenta mil reais) (fls. 46-49).

Não houve a comprovação da efetiva transferência da

propriedade do aludido terreno ao Município de Turvelândia. Pelo contrário,

consta dos autos Certidão de Inteiro Teor exarada pelo Cartório de Registro de

Imóveis daquele município, datada de 23 de setembro de 2016, onde se

percebe que não há averbação da transferência desses 2 (dois) alqueires de

terra ao Município de Turvelândia (fls. 51-52).

Em 20 de julho de 2016, a Prefeitura de Turvelândia

prestou informações à Promotoria Eleitoral de origem, em que esclarece que "os

programas sociais que foram e estão em execução se trata de doações de cestas

básicas e materiais de construção" (fl. 54, sic), ou seja, não confirma a existência

de programa de doação de lotes. Na sequência apresenta cópias das leis

municipais que autorizam a execução dos programas sociais mencionados (fls.

54-91).

Por sua vez, o Assessor Jurídico do Município, Sr. Júlio

Cezar da Silva, em resposta ao ofício de n. 365/2016, datada de 19 de agosto

de 2016, informa que "o município adquiriu uma área próximo ao lago da cidade,

a qual estava funcionando de lixão" (sic). Acrescenta que, "agora neste mês, foi

aprovado pela Câmara Municipal a implantação de um loteamento, cujo nome

será Residencial Vereador Carlos César Merchi, onde está sendo feito uma

análise da área minuciosamente, até mesmo do solo e seus componentes, para

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que, só assim, a administração juntamente com a Câmara, vejam a melhor forma

de aproveitamento da área, seja em parceria com o governo estadual ou mesmo

com o governo federal, com a construção de casas populares, destinadas à

população carente do município" (fls. 86-87, sic).

Consta dos autos o teor da Lei Municipal nº 006/2016,

publicada em 10 de agosto de 2016, autorizando a criação e implantação do

Loteamento Residencial com a denominação de "Residencial Vereador Carlos

César Merchi" (fl. 93).

O Representante (MPE) juntou aos autos fotos do terreno,

feitas em 28 de setembro de 2016 pelo oficial de Promotoria, que certifica que

"no loteamento as quadras e ruas já estão demarcadas", apresentando

fotografias onde se percebe a afixação de algumas faixas com os seguintes

dizeres: "IMPLANTAÇÃO DO LOTEAMENTO RESIDENCIAL (VEREADOR

CARLOS CESAR MERCHI) (fls. 95-97 e 101-102).

Os recorridos alegam que a limpeza do terreno

questionado, com abertura de ruas, se deu pelo temor de invasão à área

adquirida pelo município, a exemplo do que ocorreu com outra área pública (fls.

422-427), e não com a intenção de entregar os referidos lotes à população (fl.

728).

Contudo, não se comprovou a existência de qualquer

ameaça de invasão à área rural questionada. Pelo contrário, a natureza das

obras realizadas (demarcação de quadras e ruas) e as faixas afixadas no local

não deixam duvidas de que se tratava da noticiada implantação do futuro

loteamento "Vereador Carlos Cesar Merchi".

Com efeito, foram juntadas notas de esclarecimento (com

data de publicação de 24.09.2016) e de repúdio (com data de publicação de

26.09.2016), relacionadas à implantação do referido loteamento residencial,

publicadas na página oficial da Prefeitura Municipal de Turvelândia/GO e em

perfil do município na rede social Facebook, com os seguintes conteúdos:

"NOTA DE ESCLARECIMENTO A Prefeitura Municipal de Turvelândia, vem através da presente nota esclarecer alguns fatos que estão sendo veiculados de

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maneira arbitrária e com intuito eleitoral sobre a implantação de um loteamento residencial nesta cidade conforme consta do Decreto de Lei n. 006/2016: -A Câmara Municipal de Turvelândia aprovou por unanimidade a implantação de um loteamento residencial denominado "Vereador Carlos César Merchi". O qual foi sancionado na data de 10 de agosto de 2016 pelo chefe do poder executivo municipal, cuja área foi devidamente adquirida na data de 05 de maio de 2016 conforme contrato de compra e venda de imóvel rural para fins de utilidade pública. Por fim, esclarecemos que as providências judiciais cabíveis referentes às informações inverídicas divulgadas em nome do município já estão sendo tomadas" (fl. 100). "NOTA DE REPÚDIO Novamente o município de Turvelândia vem sendo vítima de ataques difamatórios com fins eleitorais por parte de algumas pessoas, que de uma maneira desonrosa à legislação vigente insistem em tentar confundir a população acerca da aquisição de uma área rural para fins de utilidade pública adquirida pelo município na data de 05 de maio de 2016, tudo conforme cópia em anexo do contrato de compra e venda celebrado entre o Município de Turvelândia (Comprador) e a senhora Eniube Mosconi (Vendedora), onde a presente área adquirida após minucioso estudo feito pelo departamento de Engenharia do Município optou pela implantação de um loteamento residencial o qual o presente projeto foi devidamente aprovado pela Câmara Municipal de Turvelândia e sancionada a Lei nº 006/2016, autorizando a implantação do mesmo e também denominado-o como Residencial Vereador Carlos César Merchi. Salientamos ainda que o Croqui do presente loteamento já se encontra devidamente aprovado pelo município, conforme sugestão do Departamento de Engenharia" (fl. 103).

Na sequência às referidas publicações, verifica-se a

postagem de vídeo e de fotos do referido loteamento, com o seguinte comentário

de "Arthur Rangel":

"Máquinas a todo vapor. Novo Loteamento em andamento. Turvelândia sempre avançando, a cidade e povo agradecendo, o progresso e o desenvolvimento não podem parar... Mais uma grande oportunidade pra muitas famílias que não tem a sua casa própria e vão sair do aluguel.

Adm: trabalhando com Responsabilidade". (fls. 100 e 102, sic).

Às fls. 105-113, constam cópias do mapa do loteamento e

de vários "comentários" e "curtidas" dos internautas relativas às publicações da

página do município de Turvelândia, na rede social Facebook.

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Verifica-se pelas circunstâncias e datas dos

acontecimentos que a Prefeitura de Turvelandia não deu somente seguimento

às políticas públicas de habitação, como afirmou o MM. Juiz sentenciante, na

verdade foram realizadas obras concretas no terreno em pleno período de

campanha eleitoral e antes mesmo da transferência do terreno para a

propriedade do Município, conforme se percebe das provas constantes dos

autos.

Tanto é assim que, diante da situação, "visando minorar os

efeitos deletérios das falsas promessas de doação de lotes na disputa eleitoral"

(fl. 114), o Parquet de origem publicou notas de esclarecimento na página do

Ministério Publico Eleitoral do Estado de Goiás, datadas de 23 e 27 de setembro

de 2016, contendo, em suma, o seguinte conteúdo:

(...) Cumpre esclarecer que o terreno localizado a margem da GO-210, saída para Santa Helena de Goiás, NÃO É DE PROPRIEDADE DO MUNICÍPIO DE TURVELÂNDIA, uma vez que esta registrado no Cartório de Registro de Imóveis em nome de Eniube Mosconi, atual proprietária do local, conforme esclarecido na nota 01/2016.

Todavia, vale ressaltar que o Município de Turvelândia tem a posse do referido terreno, uma vez que esta em processo de aquisição da área, conforme contrato de compra e venda de imóvel rural apresentado pela administração publica.

No ofício de fls. 71, assinado pelo Prefeito Municipal, na data de 20 de julho de 2016, não foi informada a existência da lei n. 00271;2011, que autoriza a doação de lotes para assentamento de famílias.

Dessa forma, qualquer candidato, SEJA ELE DE QUALQUER COLIGAÇÃO, que estiver prometendo a doação de lotes no local esta enganando a população e valendo-se da humildade e simplicidade do eleitorado para fazer promessas falaciosas, uma vez que não haverá doação de lotes no curto e médio prazo. (fl. 117, sic).

Durante a instrução processual dos presentes autos,

foram ouvidos 11 (onze) supostos eleitores beneficiados com a promessa de

doação de lotes em troca de votos no pleito eleitoral de 2016. Transcrevem-se a

seguir os depoimentos das referidas testemunhas (ou informantes), na parte que

interessa:

SOLANGE SANTOS DA SILVA, testemunha compromissada, relatou ser esposa de Juvani Romão da Silva. Que seu esposo

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teve uma discussão com o pai de Ailton, Sr. Francisco. Que Ailton foi até a casa da declarante e ofereceu lote ao casal caso votassem na candidata Reila. Que Ailton mostrou o mapa do loteamento no celular. Que no mesmo dia, mais tarde, Reila também foi até a casa da declarante oferecer aumento de salário. Que tudo isso ocorreu dias antes das eleições. Que foi oferecido lote para seu irmão Mário. Que a pessoa de Marciano, candidato a vereador conhecido como Brecha, levou seu irmão até a casa do prefeito Ailton, onde foi oferecido o lote para seu irmão. Que pediram documentos para o seu irmão (Termo de declarações às fls. 124/125 e mídia da audiência à fl. 574). JUVANI ROMÃO DA SILVA, testemunha compromissada, relatou que estava em um bar e disse ao pai de Ailton que não votaria nele, tendo em vista que nas eleições passadas Ailton havia prometido doar lotes e não havia cumprido a promessa. Que o pai de Ailton disse que se o declarante não apoiasse, rebaixaria sua mulher Solange de cargo. Que esses fatos ocorreram durante a campanha. Que após alguns dias Ailton foi até a casa do declarante e prometeu um lote em troca de apoio nas eleições. Que Ailton inclusive mostrou um mapa do loteamento. Que no mesmo dia a candidata Reila foi até a casa do declarante confirmar a promessa de doação do lote. Que também foi oferecido lote para seu irmão Severino Romão da Silva, que inclusive mostrou a localização do lote no mapa do loteamento. (Termo de declarações às fls. 126/127 e mídia da audiência à fl. 574). ANTÔNIO CLÉSIO, testemunha compromissada, relatou que procurou Ailton e pediu a doação de um lote. Que Ailton disse que arrumaria o lote. Que procurou o Ailton porque ouviu os comentários na cidade de que estava sendo doados lotes (...) Que o declarante entregou copias dos seus documentos pessoais para o Ailton (Termo de declarações às fls. 129 e mídia da audiência à fl. 574). GERALDO APARECIDO DE ANDRADE JÚNIOR, ouvido como informante, relatou que nas eleições de 2016 a candidata Reila ofereceu-lhe um lote caso fosse eleita, isso antes da campanha eleitoral. (...) Que também ouviu comentários que foi prometido lote a seu primo Flávio Borges da Silva; Que mora em Santa Helena; Que essa reunião foi antes da eleição, durante a campanha eleitoral. (Termo de declaração às fls. 131 e mídia da audiência à fl. 574). ADRIANA DA SILVA RIBEIRO, testemunha compromissada, relatou que procurou Reila e Ailton para ver se conseguia um lote, em razão da implantação de um loteamento na saída para Santa Helena. Que eles disseram que se desse certo a negociação lhe dariam o lote. Que seu esposo estava junto. Que não apresentou nenhum documento. Que não

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recebeu o lote (Termo de declaração às fl. 132 e mídia da audiência à fl. 574). EDILSON ALMEIDA DE OLIVEIRA, ouvido como informante, relatou que durante a campanha Reila procurou o declarante e lhe prometeu um lote caso fosse eleita. Que Reila disse que daria o lote e o ajudaria a construir a casa. Que a candidata também lhe prometeu que ajudaria a arrumar serviço na usina. Que não conhece ninguém que tenha recebido os lotes (Termo de declaração às fls. 134 e mídia da audiência à fl. 574). CLEIBE CÉSAR DOS SANTOS, testemunha compromissada, relatou que Reila e o irmão de Ailton lhe ofereceram lote caso Reila ganhasse a eleição. Que ofereceram para sua esposa que lhe contou que a candidata Reila utilizou as palavras: "Se eu for eleita, você vai ganhar o lote". (...) Que não recebeu lote. Que está na expectativa de receber o lote. Que não apresentou nenhum documento. (Termo de declaração às fls. 133 e mídia da audiência à fl. 574). OSMAILSON SANTANA OLIVEIRA, testemunha compromissada, relatou que Reila lhe ofereceu um lote para mudar de lado, pois estava apoiando o candidato Marlos Borges. Que pediu logo uma casa, mas que Reila disse que o lote já estava bom demais (Termo de declaração às fls. 136 e mídia da audiência à fl. 574). ANTÔNIO GOMES DA SILVA, testemunha compromissada, relatou que Ailton fez uma reunião com os servidores chamando-os um a um. Que perguntou ao declarante o que ele estava precisando, que Ailton disse que ia conseguir a cirurgia para o declarante. Que disse que precisava de um lote. Que disse que precisava manter o emprego, tendo Ailton dito que até o final de seu mandato o emprego estava garantido. Que Ailton pediu apoio para doar o lote. Que Ailton disse que no dia 03 de outubro daria o lote. Que uns quatro dias após a eleição foi mandado embora. Que outros servidores foram mandados embora (Termo de declaração às fls. 135 e mídia da audiência à fl. 574). CARLOS BARROS, testemunha compromissada, relatou que durante a campanha procurou o prefeito e a Reila para pedir lote; Que ouviu boatos na rua de que iria ter um loteamento e, assim, foi até o prefeito Ailton e a candidata Reila pedir um lote; Que eles não prometeram, mas disseram que se tudo desse certo, ele e sua esposa iriam ter o lote. (mídia da audiência à fl. 574). RODRIGO DOS SANTOS DUARTE, ouvido como informante, relatou que durante a campanha Reila foi até sua residência para pedir voto e perguntou se o declarante pagava aluguel, tendo dito que sim. Que Reila disse caso fosse eleita havia

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uns lotes para doar. Que os lotes eram localizados em um loteamento na saída para santa Helena. Que apoiou Reila nas eleições (Termo de declaração às fls. 138 e mídia da audiência à fl. 574).

Os depoimentos dos eleitores, acima transcritos, prestados

perante o Ministério Público Eleitoral e a Justiça, então em harmonia entre si e

em conformidade com o vasto conjunto probatório dos autos.

As testemunhas e informantes ouvidos em juízo afirmaram

com clareza que houve promessa de doação de lotes com pedido expresso de

votos ou apoio político.

Os depoimentos revelam sempre o mesmo modo de agir

dos recorridos AILTON MINERVINO e REILA NAVES, os quais ou se dirigiam

até os eleitores ou eram procurados por eles em razão da notícia de implantação

do loteamento que se espalhou pela cidade. Ailton e Reila pediam votos aos

eleitores; ofertavam-lhes um lote; mostravam o mapa ou croqui do loteamento

em fase de implantação; apontavam, inclusive, o lote que seria doado e sua

localização.

As testemunhas SOLANGE SANTOS DA SILVA e

ANTÔNIO CLÉSIO afirmam, inclusive, que foram entregues aos recorridos

cópias de documentos pessoais para efetivação da doação prometida.

Algumas testemunhas, a exemplo de OSMAILSON

SANTANA OLIVEIRA, afirmaram, ainda, que, apesar de não apoiarem a

candidatura dos recorridos, também receberam promessas de lotes com a

finalidade de que passassem a apoiar e pedir votos para a candidata Reila.

Em fim, os depoimentos testemunhais, analisados em

conjunto com toda a documentação juntada aos autos, referentes a implantação

do loteamento e às postagens nas redes sociais, revelam o modus operandi

utilizado pelos recorridos na captação de votos no último pleito eleitoral.

As provas são, pois, suficientemente conclusivas no

sentido de comprovar a realização, por parte dos recorridos AILTON e REILA,

de promessa de entrega de lote em troca dos votos dos eleitores acima

individualizados, em pleno período de campanha eleitoral.

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Como bem observou o douto Procurador Regional

Eleitoral, "além de se dirigirem individualmente aos eleitores oferecendo lotes,

os investigados AILTON e REILA, simularam a construção de um loteamento na

saída do Município, às vésperas da eleição, para dar concretude e realismo às

suas promessas, o que provocou verdadeiro alvoroço em grande parcela do

eleitorado, iniciando-se uma 'corrida' entre estes para garantia de seus lotes" (fl.

783).

Com efeito, chama a atenção na presente AIJE a

implantação pela prefeitura de um loteamento em pleno período de campanha

eleitoral, com a realização de obras no local (limpeza do terreno, demarcação de

quadras e ruas) e ampla divulgação desse programa de habitação na página da

Prefeitura Municipal, nas redes sociais, palanques e por meio de faixas no local.

Nesse contexto, parece óbvio que não se tratou apenas de

promessa de implantação de políticas públicas de habitação voltada a toda a

coletividade, que, inclusive, é próprio dos discursos políticos e dos planos de

governo dos candidatos, como, inclusive, confirmaram os demais candidatos a

prefeito ouvidos em juízo (fl. 574), mas da comprovada oferta a eleitores

individualizados de lotes em futuro loteamento que seria implementado pela

prefeitura, em troca de seus votos e de seus familiares, conforme restou

confirmado pelos depoimentos testemunhais.

No caso, não há como negar a gravidade das

circunstâncias e, portanto, a configuração do abuso de poder político ou de

autoridade, diante do fato de que um grande número de pessoas, potenciais

eleitores, foi supostamente beneficiado com promessa de lotes ofertados pelo

então prefeito AILTON e a então candidata a prefeita REILA, ora recorridos, em

pleno período de campanha eleitoral, conforme se verifica do relato das

testemunhas ouvidas em juízo e da vasta documentação comprobatória juntada

aos autos.

A promessa de doação de vantagens pessoais à

população, vinculada explicitamente ao nome de pré-candidatos, no caso

manifestamente apoiados pelo então prefeito, Chefe do Poder Executivo local,

tem, sem dúvida, o evidente efeito de desequilibrar as eleições em favor dos

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responsáveis e/ou patrocinadores da promessa de lotes ofertada aos eleitores

mais carentes financeiramente, o que denota gravidade da conduta.

Considerando-se, ainda, o efeito multiplicador inerente à

finalidade requerida pela realização dessa benesse à população carente do

município, visto que além de tornarem incisivos os votos dos beneficiados

diretamente com a promessa de lotes, por óbvio magnetizam familiares e

pessoas próximas, com notável incremento no sucesso da campanha dos

recorrentes REILA APARECIDA NAVES DE FARIAS e ALEX QUEIROZ

FLORÊNCIO.

Apesar de previsão legal expressa de que para a

configuração do ato abusivo não será considerada a potencialidade de o fato

alterar o resultado da eleição, transparece das circunstâncias do caso concreto

que a promessa de lotes a vários eleitores de Turvelândia (várias testemunhas

ouvidas confirmaram que receberam e que conhecem outras pessoas que

também teriam recebido promessas de entrega de lotes), com intuito eleitoreiro,

realização de atos concretos alusivos à implantação de loteamento, em período

de campanha eleitoral, com grande divulgação na internet, na página oficial da

Prefeitura de Turvelândia, nas redes sociais e em palanques de comícios,

evidenciou potencialidade suficiente para comprometer a legitimidade do pleito.

Diante do vasto material probatório formado ao término a

instrução processual, tem-se que de fato a liberdade do voto, a normalidade e a

lisura das eleições majoritárias do Município de Turvelândia-GO foram

sensivelmente deturpadas pela prática de abuso do poder político ou de

autoridade por parte dos recorridos.

Caracterizado, portanto, o requisito da gravidade das

circunstâncias do caso concreto para a imposição aos recorridos das penas de

cassação dos diplomas e declaração de inelegibilidade por 8 (oito) anos.

Nesse ponto, cumpre consignar que as penas de

inelegibilidade, em razão do seu caráter personalíssimo, são aplicadas somente

àqueles que praticarem ou contribuírem para a prática do ato de abuso de poder.

No caso, embora seja beneficiário do ato ilícito (abuso do poder político ou de

autoridade), não existem provas ou indícios de que o Vice-prefeito ALEX

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QUEIROZ FLORÊNCIO tenha contribuído para a prática do ato ou de qualquer

forma colaborado para sua consecução, conforme exigências do art. 22, XIV, da

LC 64/90.

Ademais, quanto à declaração de inelegibilidade, o art. 18

da LC 64/90 dispõe que: "a declaração de inelegibilidade do candidato à

Presidência da República, Governador de Estado e do Distrito Federal e Prefeito

Municipal não atingirá o candidato a Vice-Presidente, Vice-Governador ou Vice-

Prefeito, assim como a destes não atingirá aqueles".

Nesse sentido, transcrevem-se precedentes do Colendo

Tribunal Superior Eleitoral e desta Corte Regional:

ELEIÇÕES 2014. RECURSOS ORDINÁRIOS. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. PUBLICIDADE INSTITUCIONAL. GOVERNADOR, VICE-GOVERNADOR E SECRETÁRIO DE ESTADO DE PUBLICIDADE INSTITUCIONAL. CONDUTA VEDADA DO ART. 73, VI, B, DA LEI 9.504/97, ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 74 DA LEI 9.504/97) E ABUSO DE PODER POLÍTICO (ART. 22 DA LEI COMPLEMENTAR 64/90). CONDUTA VEDADA. ART. 73, VI, B, DA LEI 9.504/97.1. (...) ABUSO DO PODER POLÍTICO. ART. 22 DA LC 64/90.10. (...) 14. Não demonstrada a participação do candidato ao cargo de vice-governador no ilícito apurado, não é possível lhe impor a pena de inelegibilidade em decorrência do abuso do poder político. Precedentes. (...). Recurso ordinário do vice-governador parcialmente provido, para afastar o abuso de autoridade de que trata o art. 74 da Lei 9.504/97, bem como a declaração de inelegibilidade, por abuso do poder político (art. 22 da LC 64/90), diante da ausência de responsabilidade no fato apurado, mantendo a aplicação da multa decorrente da conduta vedada do art. 73, VI, b, da LC 9.504/97. (TSE - Recurso Ordinário nº 172365, Acórdão, Relator(a) Min. ADMAR GONZAGA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 40, Data 27/02/2018, Página 126/127); RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. PRELIMINARES. DECADÊNCIA. REJEIÇÃO. ILEGALIDADE DA PROVA PRODUZIDA UNILATERALMENTE PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL. ACOLHIMENTO PARCIAL. MÉRITO. FORNECIMENTO E PROMESSA DE BENS EM TROCA DE APOIO DE PARTIDO POLÍTICO. INTERFERÊNCIA NA NORMALIDADE E NA LEGITIMIDADE DO PLEITO. ELEIÇÕES EM ÂMBITO MUNICIPAL. CARACTERIZAÇÃO. CONHECIMENTO E PARCIAL PROVIMENTO.

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(...) VI - A declaração de inelegibilidade possui caráter pessoal; dessa forma, quando se refere a apenas um dos membros da chapa majoritária, não alcança a esfera jurídica do outro (artigo 18 da Lei Complementar nº 64, de 18.5.1990). Precedente do TSE. VII - Condenação dos responsáveis diretos pela realização dos atos abusivos. Exclusão da pena de inelegibilidade imposta ao vice-prefeito, porque não demonstrado seu envolvimento. VIII - Recurso conhecido e parcialmente provido apenas para decotar da sentença de 1º Grau a sanção de inelegibilidade aplicada ao vice-prefeito. (TRE-GO - RECURSO ELEITORAL nº 19512, Acórdão nº 13771, de 08/04/2013, Relator WILSON SAFATLE FAIAD, Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 068, Tomo 1, Data 11/04/2013, Página 03); RECURSO ELEITORAL. ABUSO DE PODER POLITICO. PRELIMINARES. INTEMPESTIVIDADE RECURSAL. NULIDADE DA AÇÃO CAUTELAR APENSADA. AUSÊNCIA CITAÇÃO VICE-PREFEITO E DA COLIGAÇÃO. REJEIÇÃO. PROVAS ROBUSTAS CARACTERIZADORAS DO ABUSO DE PODER POLITICO. CASSAÇÃO DO REGISTRO OU DIPLOMA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PENALIDADE PECUNIÁRIA. INCOMUNICABILIDADE DE INELEGIBILIDADE. EFEITO PESSOAL. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (...) 6. Em razão do princípio da unicidade e indivisibilidade da chapa majoritária, previsto no art. 91, do Código Eleitoral (CE), a decisão que importe em decretação da perda do diploma do candidato eleito afeta tanto o titular da chapa quanto o seu vice. 7. Inexistência de previsão sancionatória a título de multa para aqueles que violam o art. 22, da Lei das Inelegibilidades; 8. A sanção de inelegibilidade, ex vi do que dispõe o art. 18, da LC n. 64/90, afigura-se como pessoal, ou seja, apenas se aplica aos que praticaram o ilícito eleitoral, não se arrastando aos demais componentes da chapa. Precedentes; 10. Recurso conhecido e parcialmente provido. (RECURSO ELEITORAL n 15751, ACÓRDÃO n 13793 de 29/04/2013, Relator WILSON SAFATLE FAIAD, Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 1, Tomo 083, Data 02/05/2013, Página 02/03). RECURSO. Representação eleitoral. Condutas descritas nos arts. 41-A e 73, IV, ambos da Lei nº 9.504/97, bem como no art. 22 da LC 64/90. (...) Insubsistência das reprimendas de inelegibilidade e multa em relação ao vice-prefeito tendo em vista a natureza personalíssima de tais sanções. Recursos parcialmente providos. (...) Desconstituição das penas de inelegibilidade e multa quanto ao candidato a vice-prefeito. (RECURSO ELEITORAL n 3317, ACÓRDÃO n 3317 de 15/05/2006, Relator URBANO LEAL BERQUO NETO,

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Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 14761, Tomo 1, Data 19/5/2006, Página 1- seç.2).

Destarte, tendo em vista a natureza personalíssima da

reprimenda de inelegibilidade, deixo de aplicar a referida sanção ao recorrido

ALEX QUEIROZ FLORÊNCIO, Vice-prefeito, diante da completa ausência de

provas da sua participação ou envolvimento nos fatos apurados na presente

AIJE, sendo certo que a necessária cassação do seu diploma decorre da

incidibilidade da chapa majoritária a qual pertence.

IV – Dispositivo

À vista do exposto, dou parcial provimento ao recurso

eleitoral interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (fls. 690-711)

para condenar os Recorridos AILTON ALVES MINERVINO, REILA

APARECIDA NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ FLORÊNCIO pela prática

de abuso do poder político ou de autoridade, prevista no art. 22, XIV, da LC

64/90, e, em consequência:

a) cassar os diplomas dos recorridos REILA APARECIDA

NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ FLORENCIO (LC 64/1990, arts. 19 e 22,

XIV);

b) declarar a inelegibilidade dos recorridos AILTON

ALVES MINERVINO e REILA APARECIDA NAVES DE FÁRIAS, pelo prazo de

8 (oito) anos, a contar da data da eleição de 2016, nos termos do art. 22, inciso

XIV, da LC nº 64/90.

Tendo em vista o disposto no art. 224, § 3º, do Código

Eleitoral2 , determino, após o trânsito em julgado desta decisão, que sejam

realizadas novas eleições para os cargos de prefeito e vice-prefeito, em data a

ser definida por esta Corte.

2 Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições

federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal

marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.

§ 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do

mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições,

independentemente do número de votos anulados. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015).

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Fl. GBJF

RE nº 670-28

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Fica determinado, ainda, o afastamento dos recorridos

mandatários REILA APARECIDA NAVES DE FÁRIAS e ALEX QUEIROZ

FLORÊNCIO da Chefia do Executivo Municipal, bem como seja oficiado ao

Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Turvelândia/GO, para que

assuma, provisoriamente, o cargo de Prefeito do referido município, conforme

preceituam o caput e § 1º do art. 257 do Código Eleitoral3, comunicando a este

Relator, no prazo de 48 horas. O cumprimento da presente determinação fica

suspenso em caso de oposição e admissão de Embargos Declatórios, até seu

respectivo julgamento, conforme orientação adotada por esta Corte Eleitoral no

julgamento de casos semelhantes.

É como voto.

Goiânia, 26 de abril 2018.

Jesus Crisóstomo de Almeida

JUIZ RELATOR

EMENTA:

RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2016. PREFEITO DA ÉPOCA DOS FATOS. CANDIDATOS A PREFEITO E VICE-PREFEITO ELEITOS. IMPUTAÇÃO DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO (ART. 41-A DA LEI 9.504/97) E PRÁTICA DE ABUSO DO PODER DE AUTORIDADE OU POLÍTICO (ARTIGOS 19 E 22, CAPUT, DA LC 64/90). PROMESSA DE DOAÇÃO DE LOTES EM CAMPANHA ELEITORAL, COM PEDIDOS DE VOTOS E APOIO POLÍTICO, A ELEITORES INDIVIDUALIZADOS. DELIMITAÇÃO DO ÂMBITO DE CONHECIMENTO DO RECURSO. PLEITO RECURSAL QUE SE LIMITOU A QUESTIONAR A REJEIÇÃO DO ABUSO DO PODER POLÍTICO. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA

3 Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.

§ 1o A execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através de comunicação por ofício, telegrama, ou, em

casos especiais, a critério do presidente do Tribunal, através de cópia do acórdão. (Redação dada pela Lei nº 13.165,

de 2015)

§ 2o O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que

resulte em cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será recebido pelo Tribunal

competente com efeito suspensivo. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Original sem grifos).

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Fl. GBJF

RE nº 670-28

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EM RELAÇÃO AO FUNDAMENTO DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO (ART. 41-A DA LEI 9.504/97). CARACTERIZAÇÃO DO ABUSO DO PODER POLÍTICO OU DE AUTORIDADE. DEMONSTRAÇÃO DA GRAVIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS QUE CARACTERIZAM O ATO ABUSIVO. EXISTÊNCIA DE PROVAS CONCLUDENTES QUANTO À PRATICA DA CONDUTA ILÍCITA IMPUTADA AOS RECORRIDOS. NÃO OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA MORALIDADE. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. REFORMA DA SENTENÇA RECORRIDA.

1. Embora conste da petição pedido de reconhecimento de abuso de poder político e de captação ilícita de sufrágio, o pleito recursal se limitou a questionar a rejeição do abuso de poder político.

2. Pelo princípio devolutivo fica o Tribunal adstrito ao tema do abuso de poder político.

3. Existência de provas conclusivas no sentido de comprovar a realização por parte dos recorridos de promessa de entrega de lotes em futuro loteamento que seria implementado pela Prefeitura Municipal, em troca dos votos de vários eleitores individualizados nos autos, em pleno período de campanha eleitoral.

4. Implementação pela prefeitura municipal de loteamento em pleno período de campanha eleitoral, com a realização de obras no terreno (limpeza e demarcação de quadras e ruas) e ampla divulgação na página eletrônica da prefeitura municipal nas redes sociais, e por meio de faixas no local.

5. Restou evidenciado nos autos que a candidatura dos recorridos para os cargos de prefeito e vice-prefeito foi impulsionada pela influência política do então prefeito, também recorrido, mediante a promessa de doação de lotes em futuro loteamento, situação capaz de desequilibrar a disputa, com manifesto abuso de poder político ou de autoridade e com potencialidade suficiente para comprometer a legitimidade do pleito.

6. Reconhecimento da gravidade das circunstâncias e, portanto, da configuração do abuso de poder político ou de autoridade por parte dos recorridos, diante do fato de que um grande número de pessoas, potenciais eleitores, foi beneficiado com a oferta de entrega de lote em futuro loteamento que seria implantado pela prefeitura municipal, em pleno período de campanha eleitoral.

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7. Reconhecimento da inaplicabilidade da reprimenda de inelegibilidade ao vice-prefeito, em razão da natureza personalíssima da referida sanção, diante da completa ausência de provas da sua participação ou envolvimento nos fatos apurados na AIJE.

8. Recurso conhecido e parcialmente provido para reformar a sentença e condenar os recorridos pela pratica de abuso do poder político ou de autoridade, previsto no art. 22, XIV, da LC 64/90, nos termos do voto condutor do presente acórdão.