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- 167- RECURSO DE HABEAS CORPUS N.O },086 Relator - O Ex. mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos Filho Recorrente - Juiz de Direito da 2. a Vara Criminal da Co- marca de Santos Recorrido - Georg Wilhelm Müller Acórdão Não obstante os têrmos expressos da letra b, inciso n, do art. 104 da Constituição, mas, tendo em vista a orientação do Egrégio Supremo Tribunal Federal, conhece-se de recurso de ofício em decisão concessiva de habeas corpus. No mérito, a sentença se confirma quando bem aplicou o direito. Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Recurso de Habeas Corpus n. O 1. 086, de São Paulo, em que são partes as acima indi- cadas: Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, preli- minarmente, e por voto de de- sempate, em conhecer do recurso; e, no mérito, em negar-lhe provi- mento, unânimemente, conforme consta das notas taquigráficas em anexo, que ficam fazendo parte integrante dêste julgado. Custas ex lege. Brasília, 25 de março de 1963. - Sampaio Costa, Presidente; Cunha Vasconcellos Filho, Rela- tor. Relatório e voto (preliminar vencido) O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Trata-se de recurso de ofício em decisão concessiva de habeas corpus. Sr. Presidente, tenho êste re- latório como bastante para resol- * Nota da Redação Interposto Recurso Extraordinário pela União em 25-8-65. ver a preliminar, não conhecendo do recurso. Voto-preliminar O Sr. Min. Henrique d'Ávila: - Conheço, data venia, do recurso, em obediência à jurisprudência iterativa do Egrégio Supremo Tri- bunal Federal. Em princípio, estou de inteiro acôrdo com o eminente Relator. Mas o Supremo Tribunal Federal pacificou seu entendimento em sentido contrário. nos cumpre obedecê-lo. Voto - preliminar (vencido) O Sr. Min. Djalma da Cunha Mello: - Data venia, não conheço. Voto-preliminar O Sr. Min. Oscar Saraiva: Não conheço, data venia do Sr. Min. Henrique d' Ávila, e em atenção ao texto expresso da Constituição. Voto-preliminar O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Srs. Ministros, conheço do re- curso. É verdade que se estabele-

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- 167-

RECURSO DE HABEAS CORPUS N.O },086 SP.~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos Filho Recorrente - Juiz de Direito da 2.a Vara Criminal da Co­

marca de Santos Recorrido - Georg Wilhelm Müller

Acórdão

Não obstante os têrmos expressos da letra b, inciso n, do art. 104 da Constituição, mas, tendo em vista a orientação do Egrégio Supremo Tribunal Federal, conhece-se de recurso de ofício em decisão concessiva de habeas corpus.

No mérito, a sentença se confirma quando bem aplicou o direito.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Recurso de Habeas Corpus n.O 1. 086, de São Paulo, em que são partes as acima indi­cadas:

Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, preli­minarmente, e por voto de de­sempate, em conhecer do recurso; e, no mérito, em negar-lhe provi­mento, unânimemente, conforme consta das notas taquigráficas em anexo, que ficam fazendo parte integrante dêste julgado.

Custas ex lege. Brasília, 25 de março de 1963.

- Sampaio Costa, Presidente; Cunha Vasconcellos Filho, Rela­tor.

Relatório e voto (preliminar vencido)

O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Trata-se de recurso de ofício em decisão concessiva de habeas corpus.

Sr. Presidente, tenho êste re­latório como bastante para resol-

* Nota da Redação Interposto Recurso Extraordinário pela União em 25-8-65.

ver a preliminar, não conhecendo do recurso.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Henrique d'Ávila: -Conheço, data venia, do recurso, em obediência à jurisprudência iterativa do Egrégio Supremo Tri­bunal Federal.

Em princípio, estou de inteiro acôrdo com o eminente Relator. Mas o Supremo Tribunal Federal já pacificou seu entendimento em sentido contrário. Só nos cumpre obedecê-lo.

Voto - preliminar (vencido)

O Sr. Min. Djalma da Cunha Mello: - Data venia, não conheço.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Não conheço, data venia do Sr. Min. Henrique d' Ávila, e em atenção ao texto expresso da Constituição.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Srs. Ministros, conheço do re­curso. É verdade que se estabele-

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ceu, neste Tribunal, controvérsia fundada na Constituição, fixan­do-se a maioria no sentido de não conhecer. Ao admitir também que, de fato, a controvérsia se assentava na letra da Constitui­ção, passei a acompanhar os emi­"nentes Colegas. Todavia, tive oportunidade de ressaltar em vá­rios votos, inclusive quando. re­cursos voluntários foram interpos­tos de decisão concessiva, tive oportunidade de ressaltar que não. se justificava o tratamento que a Constituição, pôsto o assunto co­mo estava na sua letra, dava aos crimes de caráter federal ou cri­mes de interêsse da União, que ficavam, então, subordinado.s, ex­clusivamente ao arbítrio do Juiz de Primeira Instância. Posterior­mente, o Supremo Tribunal Fede­ral, na sua alta prerrogativa de interpretar a Constituição, passou a determinar a êste Tribunal, o conhecimento. Já, aí, parece-me que os eminentes Colegas, data venia, não estejam seguindo a melhor orientação. Há uma ra­zão de conveniência, clara e evi­dente, para que se conheça. Fora disso, o Supremo Tribunal Fe­deral, que, em matéria de Cons­tituição é, na verdade, o oráculo., mandou que se conheça. Isso, se­guidamente. Que teimosia, então, é esta do Tribunal Federal de Re­cursos insistir numa jurisprudên­cia, quando o órgão encarregado pela Constituição, de velar pela sua expressão e pelo ;,;eu cumpri­mento, já decidiu em sentido con­trário?! Conheço do recurso.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Aguiar Dias: - Sr. Presidente, quando Juiz de Pri.

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meira Instância fui chamado de "Juiz rebelde". Uma designação que muito me honrava, porque não me submetia à jurisprudência dos Tribunais Superiores, desde que na minha faculdade de livre­mente pensar entendesse que essa

estava errada. Todavia, Sr. Presidente, na mi­

nha rebeldia, nunca tive o propó­sito de alongar o. caminho das partes, de adiar o desfecho das pendências judiciais; quero ser prático, como sempre fui.

O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - V. Ex.a não acha que nesta hipótese ...

O Sr. Min. Aguiar Dias: -O Ministério. Público recorre, o Supremo Tribunal Federal dá proviment') e nos obriga a nôvo trabalho. Não fiquei macio, não fiquei mais manso., mas continuo muito prático e entendo que para ser prático é preciso seguir a ju­risprudência do Supremo Tribu­nal Federal,desde que não obe­decê-la significa aumentar o tem­po de duração da causa e aumen­tar, talvez, um atrito entre os tri­bunais. Conheço.

Voto-desempate

O Sr. Mio. Amando Sampaio Costa: - Desde que tive a suma honra de pertencer a êste Egrégio Pretório, sempre me pronunciei no sentido do não conhecimento do recurso. Motivos de ordem Constitucional, no entender do meu raciocínio, vedavam-me o co­nhecimento de tais recursos, por­que presumia - e meu ponto de vista pessoal ainda é êste - que a Constituição não me outorgava co.mpetência para julgar essa ma­téria. No Egrégio Supremo Tri.

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bunal (onde tive por várias vêzes a honra de assentar-me) susten­tei com o maior calor de argu­mentos que me era possível apre­sentar, êste mesmo princípio que vi lá também adotado. por eminen­tes Ministros,

De comêço a jurisprudência fi­cou duvidosa. O Supremo Tri­bunal ora reconhecia têrmos ra­zão, ora modificava aquêle seu en­tendimento. Mas por último ela se tornou, por assim dizer, itera­tiva. Hoje mesmo tivemos opor­tunidade de julgar três ou quatro recursos iguais mandando o Egré­gio Supremo Tribunal Federal que os conhecêssemos.

A jurisprudência há de ser, data vsnia, respeitada, depois de ser consolidada, sob pena de direito, ficar ao sabor da incerteza.

É certo que aquêles que votam não conhecendo, não desrespeitam coisa alguma; afirmam um pensa­mento que o Egrégio Supremo Tribunal, em vista de seus argu­mentos, poderá modificar. Mas, a verdade e que até agora, temos visto, iterativamente êsses acór­dãos, mandando conhecer de re­curso de hab.eas corpus.

Há que obedecer à jurisprudên­cia já iterativa, e quase que man­sa; há também o lado processual a considerar, como muito bem o disse, o eminente Min. Aguiar Dias.

Tudo prenuncia que não conhe­cido êsse recurso a Procuradoria interporá o recurso extraordinário e daqui a vários meses, talvez anos ou mais, venhamos, nova­mente, a conhecer, por fôrça de determinação do Egrégio Supre­mo Tribunal Federal a qual não poderemos desobedecer.

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Por essas razões, sem abdicar o meu po.nto de vista, mas com res­peito à jurisprudência iterativa do Supremo Tribunal Federal e, ao mesmo tempo, à economia proces­sual, eu desempato a favor do co­nhecimento. É o meu voto.

Voto-mérito

o Sr. Mino Cunha Vasconcellos: - A sentença concessiva do ha­beas corpus e recorrida é esta: "O Bel. Flávio Conceição Paiva impetra uma ordem de habeas corpus em favor de Georg Wilhelm Müller, cidadão alemão mas por­tador da Carteira modêlo 19 Reg. N.O 295.604, expedida pelo Ser­viço de Registro de· Estrangeiros, porque, ao chegar a Santos, a bor­do do navio francês Maneah, de uma viagem que fizera à Alema,­nha em companhia de sua mu­lher e três filhos menores, todos brasileiros, fôra impedido de de­sembarcar, no dia 27 de setembro de 1962, pelo Sr. Inspetor de Imigração, por não possuir no pas­saporte, visto do Consulado Brasi~ leiro de onde provém o navio, sob a alegação de que tal fato. infrin­gia o disposto no art. 24 do Dec.­lei 7.967/1945. Mas a alegação não procede, acrescenta, porque o paciente tem domicílio no Brasil, onde se radicou, não sendo cabí­vel que, com todos êsses fatôres, fique impedido de desembarcar, por falta de visto no passaporte. Além disso, estivera êle ausente do país pouco mais de três meses, quando, de acôrdo com o art. 37 do citado Dec.-lei autorizado ~ra o regresso, com a simples apre­sentação do seu registro, ainda que estivesse fora do país pelo prazo de dois anos. Portanto, não

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se tratando de clandestino, nem de estrangeiro que pela primeira vez desembarcasse no país, era de justiça a concessão da ordem im­petrada.

O pedido veio instruído com os seguintes documentos: a) dec1a~ ração da firma empregadora do paciente de que havia autorizado a viagem e que o paciente conti. nuava vinculado a contrato de tra­balho constante de sua carteira profissional; b) lista de passagei­ros, firmada pelo comandante do navio "Maneah"; c) certidões de casamento e de nascimento dos três filhos de seu casal; d) car_ teira profissional; e) carteira "mo­delo 19", n.o 295.604 e f) cópia de decisão já proferida, nesta co­marca, em caso idêntico ao pre­sente.

Solicitadas informações à auto­ridade apontada como coatora, vieram elas a fls. 17 e 18, afir­mando que o impedimento se dera com base no art. 111, item 2.°, do Decreto n.o 3.010, de 20-8-38 e art. 24 do Dec.-lei n.O 7.967, de 18 de setembro de 1945, pelos quais não poderão entrar no país os estrangeiros que não tenham tido contato com as autoridades consulares brasileiras ou sem visto regular para o Brasil; que o im­petrante fôra impedido de desem­barcar à vista do imperativo cons­tante do art. 83 do Dec.-Iei n.o 7.967, de 18-9-45. Além disso, o Departamento Consular e de Imi­gração do Ministério das Rela­ções Exteriores, à vista de um caso ocorrido no Rio de Janeiro, expedira instruções urgentes aos órgãos competentes, no sentido de que fôsse vedada a inclusão, na Declaração Geral, de passageiros

que pretendam entrar no país e não estejam com a documentação em ordem, de acôrdo com a legis- . lação vigente, considerados clan­destinos os indevidamente incluí­dos na referida Declaração Geral.

O da Car-teira "modêlo 19", pela qual obte­ve permanência definitiva no país; veio relacionado na lista de passa­geiros do navio "Maneah".

Não é, portanto, clandestino nem estrangeiro que esteja de chegada, pela primeira vez, ao país, ou que, embora registrado como permanente, houvesse se au­sentado do Brasil por um ano.

E se - argumento por analogia - não estaria êle sujeito à expul­são do território nacional, ainda que fôsse nocivo à ordem pública, por estar casado com brasileira e ter filhos brasileiros dependentes da economia paterna (Constitui­ção Federal, art. 143), é evidente que não se lhe aplica o impedi, menta oposto pelo digno Inspetor de Imigração de Santos, por equi­valente à expulsão vedada pela Magna Carta.

Provado que o paciente é radi. cada no Brasil, com permanência regular, não se lhe aplica a proi­bição constante do art. 24 do Dec.-lei n.O 7.967, de 18 de se­tembro de 1945, porque, a rigor, como ficou dito, o paciente nem estrangeiro pode mais ser consi­derado.

Não tem cabimento, pois, o imo pedimento oposto ao seu desem­barque.

Com tais fundamentos, concedo a ordem impetrada, para que o

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paciente, retro qualificado, e com seu passaporte, possa desembarcar neste pôrto.. P. R . I. e remeta-se cópia ao Pôsto de Imigração. de Santos.

Recorro do ofício, Custas na forma da lei, Santos, 29 de setembro de

1962. - Carlos Mendes Coelho", Sr. Presidente, esta sentença se

impõe mais pelo bom senso do que por suas conclusões jurídicas. Para mim, entretanto., impõe-se pelos dois aspectos. Eu a confir­mo, integralmente.

Voto

o Sr. Min. Aguias Dias: - De acôrdo, opinando pela responsabi­lização do Inspetor da Alfândega.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por voto de desem­pate conheceram do recurso; no mérito, por unanimidade, nega­ram-lhe provimento. Na prelimi­nar os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello, Godoy Ilha e Oscar Saraiva votaram com o Sr. Min. Relator; e os Srs. Mins. Cândido Lôbo, Amarílio Benjamin, Aguiar Dias e Presidente desempatando concluíram de acôrdo com o Sr. Min. Henrique d'Ávila. No mé­ritO( os Srs. Mins . Henrique d'Ávila, Djalma da Cunha Mello, Cândido Lôbo, Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Amarílio Benjamin e Agqiar Dias acompanharam o Sr. Min. Relator. Presidiu o julga­mento o Sr. Min. Sampaio Costa-.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N.O 1.262 - SP.

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d' Ávila Recorrente - Oswaldo Cifuentes Repas Recorrido - Justiça Pública

Acórdão

Habeas corpus. Define a competência judicial para apreciar o pedido a categoria da autoridade que exerce a coerção, pouco importando que o faça a mando de outrem.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Recurso de Habeas Corpus n.o 1.262, em que são par­tes as acima indicadas:

Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, preli­minarmente, por maioria, em jul­gar-se competente para conhecer do recurso; no. mérito, por unani­midade, em dar-lhe provimento para que o Dr. Juiz a quo julgue o pedido, na forma do relatório,

votos e resultado do julgamento de fls. retro. que ficam fazendo parte integrante do presente. Custas de lei.

Brasília, 9 de novembro de 1964. - Cunha Vasconcellos, Pre­sidente; Henrique- d'Ãvila, Relator.

Relatório

O S1'. Min. Henrique d'Ávila:­O Bel. Roberto Telles Sampaio requer uma ordem de habeas cor-

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pus em favor de Oswaldo Cifuen­tes Repas, funcionário da Prefei­tura de Pirajuí, Estado de São Paulo.

Alega o impetrante que o pa­ciente foi detido como acusado de crime de contrabando pelo Dele­gado de Polícia Regional daquela cidade. Prestando as informações de estilo, a pretendida auturidade coatora acentuou que o pElc1ente estaria prêso à ordem do Sr. Co­ronel Comandante da 6.a Circuns­crição de Recrutamento lVIilitar, sediada naquela cidade, pelo fato de ter incidido no crime de contra­bando. O Dr. Juiz a quo, em vista dessa informação, despachou, a fls. 16, nestes têrmos: "Atendendo à resposta dada pela autoridade polícial ao pedido de informacões dêste Juízo de que o paciente ~stá prêso à disposição do Comando da 6.a Circunscrição Militar, desta cidade, pela sua participação em delito contra a Fazenda Nacional . ' Julgo-me incompetente para co-nhecer do presente pedido de ha'­beas corpus, devendo o ilustre ad­vogado, que o subscreve, dirigir­-se à autoridade competente. Custas na forma da lei."

Irresignado, o impetrante inter­pôs recurso para o Tribunal de Justiça do Estado que, pelo vene­rando acórdão de fls. 32, deu-se por incompetente para apreciar o apêlo, declinando para êste Tri­bunal de Recursos, por ser êste Sodalício Judiciário o indicado para cuidar dos delitos perpetra­dos contra a Fazenda Pública.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Henrique d'Ávila:­Conheço do recurso, por parecer-

me indisfarçável nossa competên­cia para apreciá-lo, em razão da natureza do delito.

E de meritis, dou-lhe provimen­to para que o Dr. Juiz a quo se pronuncie sôbre o pedido. A êle toca também a el1'l

primeiro grau, para cuidar da im­plicação do paciente no preten_ dido crime de contrabando de que é acusado.

É meu voto.

Voto

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Meu voto está baseado na ex­posição e conclusão que ainda há pouco fiz no Recurso de Habeas Corpus n.o 1.256. Tenho que a hipótese é a mesma.

O Supremo Tribunal Federal, como mencionei naquele processo decidiu, há poucos dias, que a~ questões de competência, no setor criminal, mesmo que esteja em causa o interêsse da União, são decididas pelo Tribunal local, uma vez que, no crime, não existe jus­tiça especializada, como existe no cível. No crime, qualquer Juiz julga.

Ora, sendo assim, baseado nesta doutrina do Supremo Tribunal Fe­deral, que certamente ainda vai ser desenvolvida, apreciada e re­apreciada, até se firmar, entendo eu que o pronunciamento exato deve ser no sentido de não se co­nhecer da matéria e uma vez que há decisão de igual teor, por parte do Tribunal local, proponho que se levante conflito de jurisdição perante o Supremo Tribunal Fe­deral, o qual dará a última pala­vra.

Não deixo de acentuar que, no presente caso, o Juiz não indicou,

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como devera, a instância para a qual teria declinado. Ao se de­clarar incompetente, c Juiz é obri~ gado a declarar o fôro que, a seu ver, deve julgar o feito, e a êle remeter o processo. O Juiz não fêz isso,

É meu voto, portanto, que se declare a incompetência do. Tri­bunal Federal de Recursos e, ao mesmo tempo, se levante conflito de jurisdição, para que o Supremo Tribunal Federal tenha oportun1-dade de dar a última palavra.

Proposta-preliminar

O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - O Sr. Min. Amarílio Benja­min, como ouviu o Tribunal, pro­põe uma questão prejudicial ao julgamento. Isso importa em re­conhecer a incompetência do Tri­bunal Federal de Recursos.

Não obstante ilustres Co.legas já terem conhecido da competência do Tribunal, eu, pela orientação aqui praticada, vou consultá-los.

O Tribunal tem entendido, con­tra meu pensamento, não obstante haver pronunciamento, até deci­sivo sôbre mérito, pode, a qual­quer altura, ser levantada a ques­tão preliminar. Conseqüentemente, estou dentro do enquadramento do Tribunal.

Voto

O Sr. Min. Henrique. d'Ávila:­Rejeito a proposta do Sr. Min. Amarílio. Benjamin. Não há pOl'­que suscitar conflito negativo de jurisdição; parece-me indubitável a competência dêste Tribunal para apreciar o caso, em razão do in­terêsse da União na prática do crime, que é o de contrabando.

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o Sr. Min. Antônio Nader: -Com a licença de V. Ex.a. A matéria controvertida diz respei­to, só e só, com a competência para decidir matéria puramente processual. O Juiz não entrou no mérito. De modo que, em se tra­tando de incidente processual p8I'a decidir da competência, parece-me que o Sr. Min. Amarílio Benja­min está certo.

O Sr. Min. Henrique d'Ávila:­Data vania, o. incidente prende-se ao delito de contrabando pratica­do em Pirajuí. Portanto, ratione materiae, cabe-nos a competência para apreciá-lo.

O Sr. Min. Antônio Neder: -O Dr. Juiz deu-se por incompe­tente.

O Sr. M in. Henrique d' Ávila: -Houve recurso para o. Tribunal de Justiça, e êste declinou de sua competência.

O Sr. Min. Antônio Neder: -Caso se tratasse de matéria per­tinente à configuração ou não do crime eu não teria dúvida, concor­daria com V. Ex.a, mas ela di.z respeito ao Juiz de Primeira Ins­tância.

O Sr. Min. Godoy Ilha: - O Sr. Min. Relator entendeu que a competência é nossa.

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - A minha informação é que pa­rece que V. Ex.as não atentaram bem ao que informei em outro caso.

O Supremo Tribunal Federal, examinando hipótese dessa, disse que tôdas as vêzes que se disputar sôbre matéria de competência, em se tratando de crime, o competen­te, como órgão de Segunda Ins­tância, é o Tribunal local. Não se

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deve aplicar o mesmo preceito na órbita civil porque no crime não existe justiça especializada. Qual­quer Juiz julga. Esto.u na inspi­ração do acórdão do Pretóno Excelso. É verdade que V. Ex.a.,

assim como eu, também às vêzes, divergem do Supremo Tribunal Federal.

O Sr. Min. Henrique d'Ãvila:­Mas se é assim vamos declinar de nossa competência para o Supre­mo Tribunal Federal.

O Sr. Min. Antônio Neder: -É que a matéria contro.vertida é só processual.

O Sr. Min. Henrique d'Ãvila:­Não importa.

Voto

O Sr. Min. Godoy Ilha: - A preliminar argüida pelo Sr. Min. Amarílio Benjamin, data venia, já tinha sido repelida no voto do Sr. Min. Relato.r, pois está im­plícita.

Data venia, mantenho o meu voto em conformidade com o pon­to de vista do Sr. Mio. Relator. O Tribunal de São Paulo decli­nou de sua competência para êste Tribunal po.rque, dada a natureza das infrações e a circunstância do paciente queixar-se de estar so­frendo cerceamento de liberdade na sua locomoção, a êste Tribunal compete, a tôda a evidência, co­nhecer do recurso.

Acompanho o voto do Sr. IvIín. Relator, para que baixem os au­tos à Instância Inferior, para que o Juiz se manifeste sôbre o pedido.

Voto

O Sr. Min. Oscar Saraiva: -Não creio, data venia, que aquela lição sábia do Egrégio Supf'~mo

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Tribunal Federal se aplique a êsses casos, porque o que é certo é que não há uma cisão de com­petências - e aqui peço a aten­ção do Sr. Min. Antônio Neder, para êsse aspecto. O Tribunal Federal de do art. da dera1, é competente numa série de crimes que poderíamos chamar de crimes federais. Essa compe_ tência federal se firma ratione materiae, quanto ao Juiz de Pri­meira Instância. O Min. Amarí­lio Benjamin disse bem que não há Juiz especializado no crime. O Juiz criminal, evidentemente, decide todos os processos crimi.­nais, sejam o.S crimes contra a Fa­zenda ou contra os particulares. Ora, qualquer ato do Juiz, que envolve recurso, devolve-se ao co­nhecimento dêste Tribunal, pouco importando que seja incidente processual sôbre a competência ou verse sôbre o mérito, porque, do contrário, o processo sofreria uma verdadeira divisão. Quanto aos aspectos que os norte-americanos chamariam de tecnicalidade, ha­veria a competência local, e na­quilo que fôsse de fundo, a com­petência seria federal e isso daria uma situação quase inextricável, porque V. Ex.a sabe que o fundo e a forma dificilmente se sepa­ram. Portanto o que ocorre, por outro lado, é o êrro freqüente dos Juízes, advogados e membros dI) Ministério Público, de recorrerem e remeterem os autos aos tribu­nais locais, qUe nada têm a ver com o assunto. Parece incrível que sendo a Constituição de 1946 e o Tribunal Federal de Recursos de 1947, ainda não se haja firma­do na consciência dos praticantes

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da Justiça do vasto território do País, essa noção elementar, a de que o Tribunal Federal de Re­cursos é que é o órgão competen­te para conhecer de tais recursos. Até com prejuízo dos pacientes, pois perdem-se meses com idas e vindas de autos. l\1as não temos culpa de que as Faculdades não ensinem o Direito, como o deve­riam, ou que os alunos não o aprendam suficientemente. Como diz o velho ditado, "dos erros vi­vem os escrivães e os advogados e sofrem as partes", inclusive na própria liberdade, quando se trata de matéria criminal.

No caso, o Juiz julgou-se incom­petente, porque a prisão advinha de uma autoridade militar; daí é que surgiu a idéia de incompetên­cia. Mas não se trata, no caso, de I. P . M. O oficial em causa fazia às vêzes da polícia comum, na re­pressão ao contrabando. Por isso, o Dr. Juiz seria autoridade com­petente. Quando os oficiais do Exército exercem funções policiais comuns, a matéria se desloca da esfera militar para a policial.

O Sr. Min. Henrique d' Avila: -:íl:sse general foi argüido apenas, para afastar co.mpetência.

O Sr. Min. Antônio Neder: -Sr. Min. Oscar Saraiva, faço uma distinção nessa controvérsia. Diz o art. 104, da Constituição Fe­deral: "Compete ao Tribunal Fe­deral de Recursos: II - julgar em grau de recurso: a) as causas decididas em Primeira Instância, quando a União fôr interessada como autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de falência; ou quando se tratar de crimes pra­ticados em detrimento de bens, serviços ou interêsses da União."

Ora, a matéria controvertid:a nos autos não. diz respeito com a configuração de crime praticado em detrimento de bens, serviços ou interêsses da União. A con­trovérsia é somente processual.

O Sr. Mino Oscar Saraiva: -1\las a competência principal strai tôda matéria que nasce no pro­cesso. Veja V. Ex.a que confu­são se criaria se, dentro da compe­tência do Tribunal de Recursos -vamos chamar, dentro da sua com­petência judicial contra os crimes de interêsse da União - surgisse uma competência paralela para os incidentes processuais.

O Sr. Min. Antônio Neder: -Mas ocorre que a Constituição não se refere a isso. A competência do Tribunal de Recursos é, de certo modo, especial. Não lhe parece que a matéria processual deve ser decidida na Justiça local?

O Sr. Min. Oscar Saraiva: -Posso dizer a V. Ex.a - e o Sr. Min. Henrique d'Ãvila que é um dos fundadores do Tribunal po­derá corroborar no que estou di­zendo - que jamais se procurou dividir a competência .do Tribunal e, do contrário, estaríamos repar­tindo. a nossa competência que emana da Constituição. Concluin­do, Sr. Presidente, e por tôdas es­tas razões, meu voto é para con­cordar com o Sr. Min. Henrique d'Ãvila.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Depois dos votos dos Srs. Mins. Relator, Godoy Ilha e Oscar Saraiva, conhecendo e dando provimento ao recurso para determinar que o Dr. Juiz da Primeira Instância julgue o pe-

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dido de meritis, levantou o Sr. Min. Amarílio. Benjamin a preju­dicial de incompetência do Tribu­nal com a proposta de remeter os autos ao Egrégio Supremo Tribu­nal Federal. Ouvido o Plenário, manifestaram-se opondo-se o.s Srs. Mins. Relator, Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Armando Rollemberg; pedindo vista o Sr. Min. Antô­nio N eder. Presidiu o julgamento o Sr. Mino Cunha Vasconcellos.

Voto-vista O Sr. Min. Antônio Neder: -

Sr . Presidente, pedi vista dêste processo porque me senti em dú­vida sôbre certos aspectos da ma­téria controvertida. Agora, con­tudo, que o li, tenho por dissipada minha dúvida, confirmando-se o. meu convencimento, então já em formação, no sentido de acompa­nhar o Sr. Min. Relator, a quem peço desculpas pelo contratempo.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Prosseguindo-se no julgamento a decisão foi a seguin­te: Preliminarmente o Tribunal julgou-se competente para conhe­cer do recurso, vencido (; . Min. Amarílio Benjamin; de meâtis, deu-se-Ihe provimento para que o Dr. Juiz a quo julgue o pedido de meritis, unânimemente. Na preliminar os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Armando Rollemberg e Antônio Neder vo­taram co.m o Sr. Min. Relator; e no mérito, os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Amarílio Ben­jamin, Armando Rollemberg e An­tônio N eder votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presi­diu o julgamento o Sr. Min. José Thomas da Cunha Vasconce,zzos Filho.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N.o 1.322 - SP.

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila Pacientes - Adolfo. Pacheco Colli e outros Recorrente - Joaquim Canuto Mendes de Almeida Recorrido - Juízo de Direito da Comarca de Guarulhos

Acórdão

Em matéria criminal, a competência se estabe­lece ratione Ioei. Daí cumprir ao juiz local onde está sediada a autoridade apontada como coatora conhe­cer e julgar os habeas corpus contra ela impetrados.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Habeas Corpus n.o

1.322, de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:

Acorda o Tribunal Federal de

Recursos, em sessão plena, por unanimidade, em dar provimento ao recurso para determinar a re­messa dos autos ao Juiz da Co­marca de Guarulhos para decidir

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como de direito, na forma do re­latório e notas taquigráficas pre­cedentes, que ficam integrando o presente julgado. Custas como de lei.

Brasília, 28 de maio de 1965. - Cunha Vasconcellos Filho, Pre­sidente; Godoy Ilha, Relator, art. 81 do RI.

Relatório

o Sr. Min. Henrique d' Ávila: -O professor Joaquim Canuto Men­des de Almeida requereu uma ordem de habeas corpus em favor de Adolfo Pacheco CoIli, Luiz Miguel de Souza e José Domin­sues Siqueira para que cessasse a coação ilegal que sofriam os pa­cientes, infligida pela Comissão de Investigação, instaurada para apu­rar fraude na Recebedoria de Renda Federal, em São Paulo, e constituída pelo Brigadeiro Ro­berto Brandini e outros, que in­sistia pelo comparecimento dos pacientes para depor como teste­munhas ou indiciados, so.b ameaça de prisão.

O Dr. Juiz de Direito de Gua­rulhos, pelo despacho de fls. 7/8, reputou-se incompetente para co­nhecer do pedido, sob o funda­mento de que tocaria a um dos Juízes criminais da Capital de São. Paulo ocupar-se do assunto.

Irresignado, recorreu o impe­trante, com as razões de fls . 10/11.

O Dr. Juiz a quo manteve o seu despacho e os autos vieram ter a êste Egrégio Tribunal.

É o relatório.

Voto

o Sr. Nlin. Henrique d'Ávila: -Sr . Pres~dente, conheço do re­curso, porque manifesta a compe­tência dêsse Tribunal para ocu­par-se do caso, e, dou-lhe provi­mento para admitir a competên­cia do Dr. Juiz de Direito de Guarulhos para apreciar o pedi­do. Em verdade os pacientes quei­xam-se de coação partida da Co­missão de Investigações sediada na Base-aérea de Cumbica, no Município de Guarulhos. Por­tanto, o Juiz competente para apreciar e sanar qualquer cons­trangimento ilegal, será o de Gua­rulhos. Meu voto é, portanto, para que se remeta os autos àquele Juízo para o.s fins devidos.

Voto

o Sr. Min. Oscar Saraiva: -Sr. Presidente, na matéria crimi­nal, a competência é ratione Ioci, de sorte que a meu ver, por se tratar de matéria criminal, o com­petente é o Dr. Juiz de Direito da Comarca de Guarulhos, que é o município onde tem sede a Co­missão contra a qual se dirige a impetração.

Voto (vencido na preliminar)

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Srs . Ministros, demorei-me um pouco para manifestar o meu voto, po.rque, enquanto o Sr. Mi­nistro Relator expunha a matéria,

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ia-me lembrando de que não faz muito, tivemos aqui hipótese mais ou menos semelhante. Vou, por­tanto, manifestar-me, porque aca­bei de encontrar as notas rela­tivas ao assunto. Verifica-se do processo que a Secretaria do Tri­bunal laborou num equívoco. A matéria não poderia ter sido au­tuada como recurso de habeas cor­pus, porque não é recurso de ha­beas corpus. O Dr. Juiz da Pri­meira Instância, provocado pelo ilustre advogado do paciente, dei­xou de conhecer do habeas corpus, por considerar-se incompetente. O Dr. advogado, em seguida, recor­reu strictu sensu contra a declina­ção de competência. Ora, se re. correu strictu sensu, o recurso te­ria que ser processado nessa feição e não como recurso de habeas corpus.

Tenho para mim que a varia­ção dos temas dá sentido diverso à decisão que naturalmente de­veria ser tomada. Em face de um recurso strictu sensu, o Tribunal teria antes de tudo, considerar se era, ou não, o competente para examinar a matéria e, em seguida, se não se considerasse competen­te, levantar o conflito de jurisdi­'ção e, lao contrário, apreciar o motivo da controvérsia.

É verdade que o Dr. Juiz, pela orientação mesma do Código, uma vez que se declarou incompetente, teria que mandar o próprio pro­cesso de habeas corpus originário à autoridade para quem declinou. Não obstante, tal não se fêz, e os autos aqui chegam como recurso de habeas corpus. Entendo que, ainda nesta oportunidade, não fico

sujeito ao equívoco da Secretaria. Ou mandaria que o processo fôsse autuado devidamente e seguisse a tramitação. regular ou faria co­mo vou fazer neste momento, em se tratando de assunto que diz

com acu~

sado, sempre sagrada para o Juiz, de acôrdo, aliás, com a melhor ins­piração do direito. Conhecendo da matéria, o que entendo é que o Tribunal não seja o competente. Os Colegas têm discrepado dessa minha maneira de ver. Reitero, porém, êste ponto de vista porque o Supremo Tribunal Federal de­cidiu que, em matéria criminal, mesmo nos feitos de competência, para julgamento final dos tribu­nais federais, quando há disputa entre juízes de Primeira Instância sôbre a competência no processo, o Tribunal próprio para decidir o incidente é o Tribunal local. Entendo que essa decisão do Su­premo Tribunal Federal tenha melhor justificação, por isso que, em têrmos de direito criminal, a Constituição não obriga a exis­tência de varas especiais. Todos os juízes do crime decidem sem nenhuma restrição as matérias que porventura toquem em se­gundo grau a esta Côrte.

O Sr. Min. Henrique d'Avila: -­Não me detive na questão da nossa competência, porque se me afigura ela manifesta.

A Comissão de Investigação foi instaurada para apurar possíveis irregularidades, corrupção e frau. des de funcionários da Recebedo­ria Federal de São Paulo. Pare­ceu-me, portanto, que o Juiz com-

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petente será o de Guarulhos, sede da aludida Comissão.

O Sr. Min. Amarílio Ben.iamin: _ Agradeço O< aparte do Sr. Min. Henrique d'Ãvila, que esclarece, sobretudo, as razões por que S. Ex.a tomou o caminho que pro~ pôs à Casa. Não obstante, man~ tenho-me de acôrdo com a ordem de idéias em que passei a consi­derar a hipótese sub judice.

Como remate de meu ponto de vista, proponho que o Tribunal decline não só da sua competência paIla examinar o processo, e o remeta ao Tribunal de São Paulo, como o Tribunal próprio a dizer se êste ou aquêle juiz do crime é o que deve julgar a matéria.

O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Esclareço ao Colega que esta parte já está decidida. O Tribu~ nal, por sua maioria, conheceu.

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Não há dificuldades comigo. Data venia, faço um reparo, sem constrangimento, para V. Ex.a e para os Colegas. Votando, na oportunidade que tive de votar, de algum modo levantei uma pre­liminar, dentro do meu ponto de vista. A preliminar deveria ser posta para os eminentes Colegas, sobretudo porque, no relatório, o Sr. Min. Relator não pôs a ques. tão. Considero, entretanto, pelo critério adotado por V. Ex.a, que o assunto é vencido, e passo a meu voto.

O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Tenho por V. Ex.a a máxima consideração. Não ouvi V. Ex.a

dizer que propunha uma prelimi­nar; ouvi concluir pela incompe­tênda do Tribunal. Se V. Ex.a

está propondo uma preliminar, já examinada a questão da compe­tência, eu submeto ao Tribunal.

O Sr:. Min. Amarilio Benjamin: - Então o remate de meu voto. Vencido na questão do conheci. mento, o meu voto é no sentido de acompanhar o Sr. Min. Re­lator.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Preliminarmente e por maioria de votos, o Tribu­nal houve-se por competente, ven­cido o Sr. Min. Amarílio Benja­min; de meritis, unânimemente, deu-se provimento ao recurso para determinar a remessa dos autos ao Juiz da Comarca de Guarulhos para decidir como de direito. Na preliminar os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Hugo Auler votaram com o Sr. Min. Relator; e de meritis, os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Amarílio·Ben­jamin e Hugo Auler votaram com o Sr. Min. Relator. O Sr. Min. Hugo Auler encontra-se como ocupante temporário da vaga ocorrida com a aposentadoria do Sr. Min. Cândido Lôbo. Não compareceram, por motivo justi­ficado, os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello, Armando Rol­lemberg e Antônio Neder. Presi­diu o julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.