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RECURSO DE HABEAS CORPUS N.O },086 SP.~
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos Filho Recorrente - Juiz de Direito da 2.a Vara Criminal da Co
marca de Santos Recorrido - Georg Wilhelm Müller
Acórdão
Não obstante os têrmos expressos da letra b, inciso n, do art. 104 da Constituição, mas, tendo em vista a orientação do Egrégio Supremo Tribunal Federal, conhece-se de recurso de ofício em decisão concessiva de habeas corpus.
No mérito, a sentença se confirma quando bem aplicou o direito.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Recurso de Habeas Corpus n.O 1. 086, de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:
Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, preliminarmente, e por voto de desempate, em conhecer do recurso; e, no mérito, em negar-lhe provimento, unânimemente, conforme consta das notas taquigráficas em anexo, que ficam fazendo parte integrante dêste julgado.
Custas ex lege. Brasília, 25 de março de 1963.
- Sampaio Costa, Presidente; Cunha Vasconcellos Filho, Relator.
Relatório e voto (preliminar vencido)
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Trata-se de recurso de ofício em decisão concessiva de habeas corpus.
Sr. Presidente, tenho êste relatório como bastante para resol-
* Nota da Redação Interposto Recurso Extraordinário pela União em 25-8-65.
ver a preliminar, não conhecendo do recurso.
Voto-preliminar
O Sr. Min. Henrique d'Ávila: -Conheço, data venia, do recurso, em obediência à jurisprudência iterativa do Egrégio Supremo Tribunal Federal.
Em princípio, estou de inteiro acôrdo com o eminente Relator. Mas o Supremo Tribunal Federal já pacificou seu entendimento em sentido contrário. Só nos cumpre obedecê-lo.
Voto - preliminar (vencido)
O Sr. Min. Djalma da Cunha Mello: - Data venia, não conheço.
Voto-preliminar
O Sr. Min. Oscar Saraiva: Não conheço, data venia do Sr. Min. Henrique d' Ávila, e em atenção ao texto expresso da Constituição.
Voto-preliminar
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Srs. Ministros, conheço do recurso. É verdade que se estabele-
ceu, neste Tribunal, controvérsia fundada na Constituição, fixando-se a maioria no sentido de não conhecer. Ao admitir também que, de fato, a controvérsia se assentava na letra da Constituição, passei a acompanhar os emi"nentes Colegas. Todavia, tive oportunidade de ressaltar em vários votos, inclusive quando. recursos voluntários foram interpostos de decisão concessiva, tive oportunidade de ressaltar que não. se justificava o tratamento que a Constituição, pôsto o assunto como estava na sua letra, dava aos crimes de caráter federal ou crimes de interêsse da União, que ficavam, então, subordinado.s, exclusivamente ao arbítrio do Juiz de Primeira Instância. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal, na sua alta prerrogativa de interpretar a Constituição, passou a determinar a êste Tribunal, o conhecimento. Já, aí, parece-me que os eminentes Colegas, data venia, não estejam seguindo a melhor orientação. Há uma razão de conveniência, clara e evidente, para que se conheça. Fora disso, o Supremo Tribunal Federal, que, em matéria de Constituição é, na verdade, o oráculo., mandou que se conheça. Isso, seguidamente. Que teimosia, então, é esta do Tribunal Federal de Recursos insistir numa jurisprudência, quando o órgão encarregado pela Constituição, de velar pela sua expressão e pelo ;,;eu cumprimento, já decidiu em sentido contrário?! Conheço do recurso.
Voto-preliminar
O Sr. Min. Aguiar Dias: - Sr. Presidente, quando Juiz de Pri.
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meira Instância fui chamado de "Juiz rebelde". Uma designação que muito me honrava, porque não me submetia à jurisprudência dos Tribunais Superiores, desde que na minha faculdade de livremente pensar entendesse que essa
estava errada. Todavia, Sr. Presidente, na mi
nha rebeldia, nunca tive o propósito de alongar o. caminho das partes, de adiar o desfecho das pendências judiciais; quero ser prático, como sempre fui.
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - V. Ex.a não acha que nesta hipótese ...
O Sr. Min. Aguiar Dias: -O Ministério. Público recorre, o Supremo Tribunal Federal dá proviment') e nos obriga a nôvo trabalho. Não fiquei macio, não fiquei mais manso., mas continuo muito prático e entendo que para ser prático é preciso seguir a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,desde que não obedecê-la significa aumentar o tempo de duração da causa e aumentar, talvez, um atrito entre os tribunais. Conheço.
Voto-desempate
O Sr. Mio. Amando Sampaio Costa: - Desde que tive a suma honra de pertencer a êste Egrégio Pretório, sempre me pronunciei no sentido do não conhecimento do recurso. Motivos de ordem Constitucional, no entender do meu raciocínio, vedavam-me o conhecimento de tais recursos, porque presumia - e meu ponto de vista pessoal ainda é êste - que a Constituição não me outorgava co.mpetência para julgar essa matéria. No Egrégio Supremo Tri.
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bunal (onde tive por várias vêzes a honra de assentar-me) sustentei com o maior calor de argumentos que me era possível apresentar, êste mesmo princípio que vi lá também adotado. por eminentes Ministros,
De comêço a jurisprudência ficou duvidosa. O Supremo Tribunal ora reconhecia têrmos razão, ora modificava aquêle seu entendimento. Mas por último ela se tornou, por assim dizer, iterativa. Hoje mesmo tivemos oportunidade de julgar três ou quatro recursos iguais mandando o Egrégio Supremo Tribunal Federal que os conhecêssemos.
A jurisprudência há de ser, data vsnia, respeitada, depois de ser consolidada, sob pena de direito, ficar ao sabor da incerteza.
É certo que aquêles que votam não conhecendo, não desrespeitam coisa alguma; afirmam um pensamento que o Egrégio Supremo Tribunal, em vista de seus argumentos, poderá modificar. Mas, a verdade e que até agora, temos visto, iterativamente êsses acórdãos, mandando conhecer de recurso de hab.eas corpus.
Há que obedecer à jurisprudência já iterativa, e quase que mansa; há também o lado processual a considerar, como muito bem o disse, o eminente Min. Aguiar Dias.
Tudo prenuncia que não conhecido êsse recurso a Procuradoria interporá o recurso extraordinário e daqui a vários meses, talvez anos ou mais, venhamos, novamente, a conhecer, por fôrça de determinação do Egrégio Supremo Tribunal Federal a qual não poderemos desobedecer.
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Por essas razões, sem abdicar o meu po.nto de vista, mas com respeito à jurisprudência iterativa do Supremo Tribunal Federal e, ao mesmo tempo, à economia processual, eu desempato a favor do conhecimento. É o meu voto.
Voto-mérito
o Sr. Mino Cunha Vasconcellos: - A sentença concessiva do habeas corpus e recorrida é esta: "O Bel. Flávio Conceição Paiva impetra uma ordem de habeas corpus em favor de Georg Wilhelm Müller, cidadão alemão mas portador da Carteira modêlo 19 Reg. N.O 295.604, expedida pelo Serviço de Registro de· Estrangeiros, porque, ao chegar a Santos, a bordo do navio francês Maneah, de uma viagem que fizera à Alema,nha em companhia de sua mulher e três filhos menores, todos brasileiros, fôra impedido de desembarcar, no dia 27 de setembro de 1962, pelo Sr. Inspetor de Imigração, por não possuir no passaporte, visto do Consulado Brasi~ leiro de onde provém o navio, sob a alegação de que tal fato. infringia o disposto no art. 24 do Dec.lei 7.967/1945. Mas a alegação não procede, acrescenta, porque o paciente tem domicílio no Brasil, onde se radicou, não sendo cabível que, com todos êsses fatôres, fique impedido de desembarcar, por falta de visto no passaporte. Além disso, estivera êle ausente do país pouco mais de três meses, quando, de acôrdo com o art. 37 do citado Dec.-lei autorizado ~ra o regresso, com a simples apresentação do seu registro, ainda que estivesse fora do país pelo prazo de dois anos. Portanto, não
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se tratando de clandestino, nem de estrangeiro que pela primeira vez desembarcasse no país, era de justiça a concessão da ordem impetrada.
O pedido veio instruído com os seguintes documentos: a) dec1a~ ração da firma empregadora do paciente de que havia autorizado a viagem e que o paciente conti. nuava vinculado a contrato de trabalho constante de sua carteira profissional; b) lista de passageiros, firmada pelo comandante do navio "Maneah"; c) certidões de casamento e de nascimento dos três filhos de seu casal; d) car_ teira profissional; e) carteira "modelo 19", n.o 295.604 e f) cópia de decisão já proferida, nesta comarca, em caso idêntico ao presente.
Solicitadas informações à autoridade apontada como coatora, vieram elas a fls. 17 e 18, afirmando que o impedimento se dera com base no art. 111, item 2.°, do Decreto n.o 3.010, de 20-8-38 e art. 24 do Dec.-lei n.O 7.967, de 18 de setembro de 1945, pelos quais não poderão entrar no país os estrangeiros que não tenham tido contato com as autoridades consulares brasileiras ou sem visto regular para o Brasil; que o impetrante fôra impedido de desembarcar à vista do imperativo constante do art. 83 do Dec.-Iei n.o 7.967, de 18-9-45. Além disso, o Departamento Consular e de Imigração do Ministério das Relações Exteriores, à vista de um caso ocorrido no Rio de Janeiro, expedira instruções urgentes aos órgãos competentes, no sentido de que fôsse vedada a inclusão, na Declaração Geral, de passageiros
que pretendam entrar no país e não estejam com a documentação em ordem, de acôrdo com a legis- . lação vigente, considerados clandestinos os indevidamente incluídos na referida Declaração Geral.
O da Car-teira "modêlo 19", pela qual obteve permanência definitiva no país; veio relacionado na lista de passageiros do navio "Maneah".
Não é, portanto, clandestino nem estrangeiro que esteja de chegada, pela primeira vez, ao país, ou que, embora registrado como permanente, houvesse se ausentado do Brasil por um ano.
E se - argumento por analogia - não estaria êle sujeito à expulsão do território nacional, ainda que fôsse nocivo à ordem pública, por estar casado com brasileira e ter filhos brasileiros dependentes da economia paterna (Constituição Federal, art. 143), é evidente que não se lhe aplica o impedi, menta oposto pelo digno Inspetor de Imigração de Santos, por equivalente à expulsão vedada pela Magna Carta.
Provado que o paciente é radi. cada no Brasil, com permanência regular, não se lhe aplica a proibição constante do art. 24 do Dec.-lei n.O 7.967, de 18 de setembro de 1945, porque, a rigor, como ficou dito, o paciente nem estrangeiro pode mais ser considerado.
Não tem cabimento, pois, o imo pedimento oposto ao seu desembarque.
Com tais fundamentos, concedo a ordem impetrada, para que o
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paciente, retro qualificado, e com seu passaporte, possa desembarcar neste pôrto.. P. R . I. e remeta-se cópia ao Pôsto de Imigração. de Santos.
Recorro do ofício, Custas na forma da lei, Santos, 29 de setembro de
1962. - Carlos Mendes Coelho", Sr. Presidente, esta sentença se
impõe mais pelo bom senso do que por suas conclusões jurídicas. Para mim, entretanto., impõe-se pelos dois aspectos. Eu a confirmo, integralmente.
Voto
o Sr. Min. Aguias Dias: - De acôrdo, opinando pela responsabilização do Inspetor da Alfândega.
Decisão
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por voto de desempate conheceram do recurso; no mérito, por unanimidade, negaram-lhe provimento. Na preliminar os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello, Godoy Ilha e Oscar Saraiva votaram com o Sr. Min. Relator; e os Srs. Mins. Cândido Lôbo, Amarílio Benjamin, Aguiar Dias e Presidente desempatando concluíram de acôrdo com o Sr. Min. Henrique d'Ávila. No méritO( os Srs. Mins . Henrique d'Ávila, Djalma da Cunha Mello, Cândido Lôbo, Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Amarílio Benjamin e Agqiar Dias acompanharam o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Sampaio Costa-.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N.O 1.262 - SP.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d' Ávila Recorrente - Oswaldo Cifuentes Repas Recorrido - Justiça Pública
Acórdão
Habeas corpus. Define a competência judicial para apreciar o pedido a categoria da autoridade que exerce a coerção, pouco importando que o faça a mando de outrem.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Recurso de Habeas Corpus n.o 1.262, em que são partes as acima indicadas:
Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, preliminarmente, por maioria, em julgar-se competente para conhecer do recurso; no. mérito, por unanimidade, em dar-lhe provimento para que o Dr. Juiz a quo julgue o pedido, na forma do relatório,
votos e resultado do julgamento de fls. retro. que ficam fazendo parte integrante do presente. Custas de lei.
Brasília, 9 de novembro de 1964. - Cunha Vasconcellos, Presidente; Henrique- d'Ãvila, Relator.
Relatório
O S1'. Min. Henrique d'Ávila:O Bel. Roberto Telles Sampaio requer uma ordem de habeas cor-
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pus em favor de Oswaldo Cifuentes Repas, funcionário da Prefeitura de Pirajuí, Estado de São Paulo.
Alega o impetrante que o paciente foi detido como acusado de crime de contrabando pelo Delegado de Polícia Regional daquela cidade. Prestando as informações de estilo, a pretendida auturidade coatora acentuou que o pElc1ente estaria prêso à ordem do Sr. Coronel Comandante da 6.a Circunscrição de Recrutamento lVIilitar, sediada naquela cidade, pelo fato de ter incidido no crime de contrabando. O Dr. Juiz a quo, em vista dessa informação, despachou, a fls. 16, nestes têrmos: "Atendendo à resposta dada pela autoridade polícial ao pedido de informacões dêste Juízo de que o paciente ~stá prêso à disposição do Comando da 6.a Circunscrição Militar, desta cidade, pela sua participação em delito contra a Fazenda Nacional . ' Julgo-me incompetente para co-nhecer do presente pedido de ha'beas corpus, devendo o ilustre advogado, que o subscreve, dirigir-se à autoridade competente. Custas na forma da lei."
Irresignado, o impetrante interpôs recurso para o Tribunal de Justiça do Estado que, pelo venerando acórdão de fls. 32, deu-se por incompetente para apreciar o apêlo, declinando para êste Tribunal de Recursos, por ser êste Sodalício Judiciário o indicado para cuidar dos delitos perpetrados contra a Fazenda Pública.
É o relatório.
Voto
O Sr. Min. Henrique d'Ávila:Conheço do recurso, por parecer-
me indisfarçável nossa competência para apreciá-lo, em razão da natureza do delito.
E de meritis, dou-lhe provimento para que o Dr. Juiz a quo se pronuncie sôbre o pedido. A êle toca também a el1'l
primeiro grau, para cuidar da implicação do paciente no preten_ dido crime de contrabando de que é acusado.
É meu voto.
Voto
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Meu voto está baseado na exposição e conclusão que ainda há pouco fiz no Recurso de Habeas Corpus n.o 1.256. Tenho que a hipótese é a mesma.
O Supremo Tribunal Federal, como mencionei naquele processo decidiu, há poucos dias, que a~ questões de competência, no setor criminal, mesmo que esteja em causa o interêsse da União, são decididas pelo Tribunal local, uma vez que, no crime, não existe justiça especializada, como existe no cível. No crime, qualquer Juiz julga.
Ora, sendo assim, baseado nesta doutrina do Supremo Tribunal Federal, que certamente ainda vai ser desenvolvida, apreciada e reapreciada, até se firmar, entendo eu que o pronunciamento exato deve ser no sentido de não se conhecer da matéria e uma vez que há decisão de igual teor, por parte do Tribunal local, proponho que se levante conflito de jurisdição perante o Supremo Tribunal Federal, o qual dará a última palavra.
Não deixo de acentuar que, no presente caso, o Juiz não indicou,
como devera, a instância para a qual teria declinado. Ao se declarar incompetente, c Juiz é obri~ gado a declarar o fôro que, a seu ver, deve julgar o feito, e a êle remeter o processo. O Juiz não fêz isso,
É meu voto, portanto, que se declare a incompetência do. Tribunal Federal de Recursos e, ao mesmo tempo, se levante conflito de jurisdição, para que o Supremo Tribunal Federal tenha oportun1-dade de dar a última palavra.
Proposta-preliminar
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - O Sr. Min. Amarílio Benjamin, como ouviu o Tribunal, propõe uma questão prejudicial ao julgamento. Isso importa em reconhecer a incompetência do Tribunal Federal de Recursos.
Não obstante ilustres Co.legas já terem conhecido da competência do Tribunal, eu, pela orientação aqui praticada, vou consultá-los.
O Tribunal tem entendido, contra meu pensamento, não obstante haver pronunciamento, até decisivo sôbre mérito, pode, a qualquer altura, ser levantada a questão preliminar. Conseqüentemente, estou dentro do enquadramento do Tribunal.
Voto
O Sr. Min. Henrique. d'Ávila:Rejeito a proposta do Sr. Min. Amarílio. Benjamin. Não há pOl'que suscitar conflito negativo de jurisdição; parece-me indubitável a competência dêste Tribunal para apreciar o caso, em razão do interêsse da União na prática do crime, que é o de contrabando.
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o Sr. Min. Antônio Nader: -Com a licença de V. Ex.a. A matéria controvertida diz respeito, só e só, com a competência para decidir matéria puramente processual. O Juiz não entrou no mérito. De modo que, em se tratando de incidente processual p8I'a decidir da competência, parece-me que o Sr. Min. Amarílio Benjamin está certo.
O Sr. Min. Henrique d'Ávila:Data vania, o. incidente prende-se ao delito de contrabando praticado em Pirajuí. Portanto, ratione materiae, cabe-nos a competência para apreciá-lo.
O Sr. Min. Antônio Neder: -O Dr. Juiz deu-se por incompetente.
O Sr. M in. Henrique d' Ávila: -Houve recurso para o. Tribunal de Justiça, e êste declinou de sua competência.
O Sr. Min. Antônio Neder: -Caso se tratasse de matéria pertinente à configuração ou não do crime eu não teria dúvida, concordaria com V. Ex.a, mas ela di.z respeito ao Juiz de Primeira Instância.
O Sr. Min. Godoy Ilha: - O Sr. Min. Relator entendeu que a competência é nossa.
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - A minha informação é que parece que V. Ex.as não atentaram bem ao que informei em outro caso.
O Supremo Tribunal Federal, examinando hipótese dessa, disse que tôdas as vêzes que se disputar sôbre matéria de competência, em se tratando de crime, o competente, como órgão de Segunda Instância, é o Tribunal local. Não se
deve aplicar o mesmo preceito na órbita civil porque no crime não existe justiça especializada. Qualquer Juiz julga. Esto.u na inspiração do acórdão do Pretóno Excelso. É verdade que V. Ex.a.,
assim como eu, também às vêzes, divergem do Supremo Tribunal Federal.
O Sr. Min. Henrique d'Ãvila:Mas se é assim vamos declinar de nossa competência para o Supremo Tribunal Federal.
O Sr. Min. Antônio Neder: -É que a matéria contro.vertida é só processual.
O Sr. Min. Henrique d'Ãvila:Não importa.
Voto
O Sr. Min. Godoy Ilha: - A preliminar argüida pelo Sr. Min. Amarílio Benjamin, data venia, já tinha sido repelida no voto do Sr. Min. Relato.r, pois está implícita.
Data venia, mantenho o meu voto em conformidade com o ponto de vista do Sr. Mio. Relator. O Tribunal de São Paulo declinou de sua competência para êste Tribunal po.rque, dada a natureza das infrações e a circunstância do paciente queixar-se de estar sofrendo cerceamento de liberdade na sua locomoção, a êste Tribunal compete, a tôda a evidência, conhecer do recurso.
Acompanho o voto do Sr. IvIín. Relator, para que baixem os autos à Instância Inferior, para que o Juiz se manifeste sôbre o pedido.
Voto
O Sr. Min. Oscar Saraiva: -Não creio, data venia, que aquela lição sábia do Egrégio Supf'~mo
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Tribunal Federal se aplique a êsses casos, porque o que é certo é que não há uma cisão de competências - e aqui peço a atenção do Sr. Min. Antônio Neder, para êsse aspecto. O Tribunal Federal de do art. da dera1, é competente numa série de crimes que poderíamos chamar de crimes federais. Essa compe_ tência federal se firma ratione materiae, quanto ao Juiz de Primeira Instância. O Min. Amarílio Benjamin disse bem que não há Juiz especializado no crime. O Juiz criminal, evidentemente, decide todos os processos crimi.nais, sejam o.S crimes contra a Fazenda ou contra os particulares. Ora, qualquer ato do Juiz, que envolve recurso, devolve-se ao conhecimento dêste Tribunal, pouco importando que seja incidente processual sôbre a competência ou verse sôbre o mérito, porque, do contrário, o processo sofreria uma verdadeira divisão. Quanto aos aspectos que os norte-americanos chamariam de tecnicalidade, haveria a competência local, e naquilo que fôsse de fundo, a competência seria federal e isso daria uma situação quase inextricável, porque V. Ex.a sabe que o fundo e a forma dificilmente se separam. Portanto o que ocorre, por outro lado, é o êrro freqüente dos Juízes, advogados e membros dI) Ministério Público, de recorrerem e remeterem os autos aos tribunais locais, qUe nada têm a ver com o assunto. Parece incrível que sendo a Constituição de 1946 e o Tribunal Federal de Recursos de 1947, ainda não se haja firmado na consciência dos praticantes
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da Justiça do vasto território do País, essa noção elementar, a de que o Tribunal Federal de Recursos é que é o órgão competente para conhecer de tais recursos. Até com prejuízo dos pacientes, pois perdem-se meses com idas e vindas de autos. l\1as não temos culpa de que as Faculdades não ensinem o Direito, como o deveriam, ou que os alunos não o aprendam suficientemente. Como diz o velho ditado, "dos erros vivem os escrivães e os advogados e sofrem as partes", inclusive na própria liberdade, quando se trata de matéria criminal.
No caso, o Juiz julgou-se incompetente, porque a prisão advinha de uma autoridade militar; daí é que surgiu a idéia de incompetência. Mas não se trata, no caso, de I. P . M. O oficial em causa fazia às vêzes da polícia comum, na repressão ao contrabando. Por isso, o Dr. Juiz seria autoridade competente. Quando os oficiais do Exército exercem funções policiais comuns, a matéria se desloca da esfera militar para a policial.
O Sr. Min. Henrique d' Avila: -:íl:sse general foi argüido apenas, para afastar co.mpetência.
O Sr. Min. Antônio Neder: -Sr. Min. Oscar Saraiva, faço uma distinção nessa controvérsia. Diz o art. 104, da Constituição Federal: "Compete ao Tribunal Federal de Recursos: II - julgar em grau de recurso: a) as causas decididas em Primeira Instância, quando a União fôr interessada como autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de falência; ou quando se tratar de crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interêsses da União."
Ora, a matéria controvertid:a nos autos não. diz respeito com a configuração de crime praticado em detrimento de bens, serviços ou interêsses da União. A controvérsia é somente processual.
O Sr. Mino Oscar Saraiva: -1\las a competência principal strai tôda matéria que nasce no processo. Veja V. Ex.a que confusão se criaria se, dentro da competência do Tribunal de Recursos -vamos chamar, dentro da sua competência judicial contra os crimes de interêsse da União - surgisse uma competência paralela para os incidentes processuais.
O Sr. Min. Antônio Neder: -Mas ocorre que a Constituição não se refere a isso. A competência do Tribunal de Recursos é, de certo modo, especial. Não lhe parece que a matéria processual deve ser decidida na Justiça local?
O Sr. Min. Oscar Saraiva: -Posso dizer a V. Ex.a - e o Sr. Min. Henrique d'Ãvila que é um dos fundadores do Tribunal poderá corroborar no que estou dizendo - que jamais se procurou dividir a competência .do Tribunal e, do contrário, estaríamos repartindo. a nossa competência que emana da Constituição. Concluindo, Sr. Presidente, e por tôdas estas razões, meu voto é para concordar com o Sr. Min. Henrique d'Ãvila.
Decisão
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Depois dos votos dos Srs. Mins. Relator, Godoy Ilha e Oscar Saraiva, conhecendo e dando provimento ao recurso para determinar que o Dr. Juiz da Primeira Instância julgue o pe-
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dido de meritis, levantou o Sr. Min. Amarílio. Benjamin a prejudicial de incompetência do Tribunal com a proposta de remeter os autos ao Egrégio Supremo Tribunal Federal. Ouvido o Plenário, manifestaram-se opondo-se o.s Srs. Mins. Relator, Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Armando Rollemberg; pedindo vista o Sr. Min. Antônio N eder. Presidiu o julgamento o Sr. Mino Cunha Vasconcellos.
Voto-vista O Sr. Min. Antônio Neder: -
Sr . Presidente, pedi vista dêste processo porque me senti em dúvida sôbre certos aspectos da matéria controvertida. Agora, contudo, que o li, tenho por dissipada minha dúvida, confirmando-se o. meu convencimento, então já em formação, no sentido de acompanhar o Sr. Min. Relator, a quem peço desculpas pelo contratempo.
Decisão
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Prosseguindo-se no julgamento a decisão foi a seguinte: Preliminarmente o Tribunal julgou-se competente para conhecer do recurso, vencido (; . Min. Amarílio Benjamin; de meâtis, deu-se-Ihe provimento para que o Dr. Juiz a quo julgue o pedido de meritis, unânimemente. Na preliminar os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Armando Rollemberg e Antônio Neder votaram co.m o Sr. Min. Relator; e no mérito, os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Amarílio Benjamin, Armando Rollemberg e Antônio N eder votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. José Thomas da Cunha Vasconce,zzos Filho.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N.o 1.322 - SP.
Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila Pacientes - Adolfo. Pacheco Colli e outros Recorrente - Joaquim Canuto Mendes de Almeida Recorrido - Juízo de Direito da Comarca de Guarulhos
Acórdão
Em matéria criminal, a competência se estabelece ratione Ioei. Daí cumprir ao juiz local onde está sediada a autoridade apontada como coatora conhecer e julgar os habeas corpus contra ela impetrados.
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Habeas Corpus n.o
1.322, de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:
Acorda o Tribunal Federal de
Recursos, em sessão plena, por unanimidade, em dar provimento ao recurso para determinar a remessa dos autos ao Juiz da Comarca de Guarulhos para decidir
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como de direito, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes, que ficam integrando o presente julgado. Custas como de lei.
Brasília, 28 de maio de 1965. - Cunha Vasconcellos Filho, Presidente; Godoy Ilha, Relator, art. 81 do RI.
Relatório
o Sr. Min. Henrique d' Ávila: -O professor Joaquim Canuto Mendes de Almeida requereu uma ordem de habeas corpus em favor de Adolfo Pacheco CoIli, Luiz Miguel de Souza e José Dominsues Siqueira para que cessasse a coação ilegal que sofriam os pacientes, infligida pela Comissão de Investigação, instaurada para apurar fraude na Recebedoria de Renda Federal, em São Paulo, e constituída pelo Brigadeiro Roberto Brandini e outros, que insistia pelo comparecimento dos pacientes para depor como testemunhas ou indiciados, so.b ameaça de prisão.
O Dr. Juiz de Direito de Guarulhos, pelo despacho de fls. 7/8, reputou-se incompetente para conhecer do pedido, sob o fundamento de que tocaria a um dos Juízes criminais da Capital de São. Paulo ocupar-se do assunto.
Irresignado, recorreu o impetrante, com as razões de fls . 10/11.
O Dr. Juiz a quo manteve o seu despacho e os autos vieram ter a êste Egrégio Tribunal.
É o relatório.
Voto
o Sr. Nlin. Henrique d'Ávila: -Sr . Pres~dente, conheço do recurso, porque manifesta a competência dêsse Tribunal para ocupar-se do caso, e, dou-lhe provimento para admitir a competência do Dr. Juiz de Direito de Guarulhos para apreciar o pedido. Em verdade os pacientes queixam-se de coação partida da Comissão de Investigações sediada na Base-aérea de Cumbica, no Município de Guarulhos. Portanto, o Juiz competente para apreciar e sanar qualquer constrangimento ilegal, será o de Guarulhos. Meu voto é, portanto, para que se remeta os autos àquele Juízo para o.s fins devidos.
Voto
o Sr. Min. Oscar Saraiva: -Sr. Presidente, na matéria criminal, a competência é ratione Ioci, de sorte que a meu ver, por se tratar de matéria criminal, o competente é o Dr. Juiz de Direito da Comarca de Guarulhos, que é o município onde tem sede a Comissão contra a qual se dirige a impetração.
Voto (vencido na preliminar)
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Srs . Ministros, demorei-me um pouco para manifestar o meu voto, po.rque, enquanto o Sr. Ministro Relator expunha a matéria,
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ia-me lembrando de que não faz muito, tivemos aqui hipótese mais ou menos semelhante. Vou, portanto, manifestar-me, porque acabei de encontrar as notas relativas ao assunto. Verifica-se do processo que a Secretaria do Tribunal laborou num equívoco. A matéria não poderia ter sido autuada como recurso de habeas corpus, porque não é recurso de habeas corpus. O Dr. Juiz da Primeira Instância, provocado pelo ilustre advogado do paciente, deixou de conhecer do habeas corpus, por considerar-se incompetente. O Dr. advogado, em seguida, recorreu strictu sensu contra a declinação de competência. Ora, se re. correu strictu sensu, o recurso teria que ser processado nessa feição e não como recurso de habeas corpus.
Tenho para mim que a variação dos temas dá sentido diverso à decisão que naturalmente deveria ser tomada. Em face de um recurso strictu sensu, o Tribunal teria antes de tudo, considerar se era, ou não, o competente para examinar a matéria e, em seguida, se não se considerasse competente, levantar o conflito de jurisdi'ção e, lao contrário, apreciar o motivo da controvérsia.
É verdade que o Dr. Juiz, pela orientação mesma do Código, uma vez que se declarou incompetente, teria que mandar o próprio processo de habeas corpus originário à autoridade para quem declinou. Não obstante, tal não se fêz, e os autos aqui chegam como recurso de habeas corpus. Entendo que, ainda nesta oportunidade, não fico
sujeito ao equívoco da Secretaria. Ou mandaria que o processo fôsse autuado devidamente e seguisse a tramitação. regular ou faria como vou fazer neste momento, em se tratando de assunto que diz
com acu~
sado, sempre sagrada para o Juiz, de acôrdo, aliás, com a melhor inspiração do direito. Conhecendo da matéria, o que entendo é que o Tribunal não seja o competente. Os Colegas têm discrepado dessa minha maneira de ver. Reitero, porém, êste ponto de vista porque o Supremo Tribunal Federal decidiu que, em matéria criminal, mesmo nos feitos de competência, para julgamento final dos tribunais federais, quando há disputa entre juízes de Primeira Instância sôbre a competência no processo, o Tribunal próprio para decidir o incidente é o Tribunal local. Entendo que essa decisão do Supremo Tribunal Federal tenha melhor justificação, por isso que, em têrmos de direito criminal, a Constituição não obriga a existência de varas especiais. Todos os juízes do crime decidem sem nenhuma restrição as matérias que porventura toquem em segundo grau a esta Côrte.
O Sr. Min. Henrique d'Avila: -Não me detive na questão da nossa competência, porque se me afigura ela manifesta.
A Comissão de Investigação foi instaurada para apurar possíveis irregularidades, corrupção e frau. des de funcionários da Recebedoria Federal de São Paulo. Pareceu-me, portanto, que o Juiz com-
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petente será o de Guarulhos, sede da aludida Comissão.
O Sr. Min. Amarílio Ben.iamin: _ Agradeço O< aparte do Sr. Min. Henrique d'Ãvila, que esclarece, sobretudo, as razões por que S. Ex.a tomou o caminho que pro~ pôs à Casa. Não obstante, man~ tenho-me de acôrdo com a ordem de idéias em que passei a considerar a hipótese sub judice.
Como remate de meu ponto de vista, proponho que o Tribunal decline não só da sua competência paIla examinar o processo, e o remeta ao Tribunal de São Paulo, como o Tribunal próprio a dizer se êste ou aquêle juiz do crime é o que deve julgar a matéria.
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Esclareço ao Colega que esta parte já está decidida. O Tribu~ nal, por sua maioria, conheceu.
O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Não há dificuldades comigo. Data venia, faço um reparo, sem constrangimento, para V. Ex.a e para os Colegas. Votando, na oportunidade que tive de votar, de algum modo levantei uma preliminar, dentro do meu ponto de vista. A preliminar deveria ser posta para os eminentes Colegas, sobretudo porque, no relatório, o Sr. Min. Relator não pôs a ques. tão. Considero, entretanto, pelo critério adotado por V. Ex.a, que o assunto é vencido, e passo a meu voto.
O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Tenho por V. Ex.a a máxima consideração. Não ouvi V. Ex.a
dizer que propunha uma preliminar; ouvi concluir pela incompetênda do Tribunal. Se V. Ex.a
está propondo uma preliminar, já examinada a questão da competência, eu submeto ao Tribunal.
O Sr:. Min. Amarilio Benjamin: - Então o remate de meu voto. Vencido na questão do conheci. mento, o meu voto é no sentido de acompanhar o Sr. Min. Relator.
Decisão
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Preliminarmente e por maioria de votos, o Tribunal houve-se por competente, vencido o Sr. Min. Amarílio Benjamin; de meritis, unânimemente, deu-se provimento ao recurso para determinar a remessa dos autos ao Juiz da Comarca de Guarulhos para decidir como de direito. Na preliminar os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Hugo Auler votaram com o Sr. Min. Relator; e de meritis, os Srs. Mins. Godoy Ilha, Oscar Saraiva, Amarílio·Benjamin e Hugo Auler votaram com o Sr. Min. Relator. O Sr. Min. Hugo Auler encontra-se como ocupante temporário da vaga ocorrida com a aposentadoria do Sr. Min. Cândido Lôbo. Não compareceram, por motivo justificado, os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello, Armando Rollemberg e Antônio Neder. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.