fascinaÇÃo-086-sublime tentaÇÃo-janet dailey

72
8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 1/72 S ublime  T  T entação Janet Dailey Digitalização: Joyce Revisão: Cynthia M. Sublime tentação - Copyright: © by Janet Dailey Título original: "For tem Love of God" Seth Talbot era atraente, excitante, o tipo de homem que despertava a atenção das mulheres. E era também o novo pastor da igreja da pequena Eureka Springs. Um verdadeiro presente dos céus! Só que nada nele fazia lembrar um homem de Deus, nem o jeito informal de se vestir, nem o modo sensual de andar, nem o olhar ardente, cheio de promessas... Abbie logo viu que seria impossível ficar ao lado dele sem alimentar desejos inconfessáveis e sem atrair os comentários ferinos da comunidade. Seth era viril demais, rebelde demais, independente demais, e estava numa idade em que também era capaz de pecar... CAPÍTULO I

Upload: danielle

Post on 07-Apr-2018

261 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 1/72

SSublime T TentaçãoJanet Dailey

Digitalização: JoyceRevisão: Cynthia M.

Sublime tentação - Copyright: © by Janet Dailey

Título original: "For tem Love of God"

Seth Talbot era atraente, excitante, o tipo de homem que despertava a atenção dasmulheres. E era também o novo pastor da igreja da pequena Eureka Springs. Umverdadeiro presente dos céus!

Só que nada nele fazia lembrar um homem de Deus, nem o jeito informal de se vestir,nem o modo sensual de andar, nem o olhar ardente, cheio de promessas... Abbie logo viuque seria impossível ficar ao lado dele sem alimentar desejos inconfessáveis e sem atrair os comentários ferinos da comunidade. Seth era viril demais, rebelde demais,independente demais, e estava numa idade em que também era capaz de pecar...

CAPÍTULO I

Page 2: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 2/72

O vento, soprando através da janela aberta do carro, naquele dia quente e úmido deverão, levantava os cabelos avermelhados que cobriam o pescoço de Abbie Scott, cau-sando um efeito refrescante. Um par de óculos escuros, de enormes lentes ovais,repousava sobre o painel. Ela os tinha tirado algum tempo atrás, pois não queria ter umavisão artificialmente colorida do cenário.

A chuva matinal trouxera nova vida e luminosidade à paisagem de Arkansas Ozark,intensificando o verde das árvores e arbustos que ladeavam a estrada. O ar claro, semum só grãozinho de poeira, também contribuía para aumentar a beleza da vegetaçãoluxuriante da montanha Ozark.

De vez em quando, os olhos cor de mel de Abbie desviavam-se da estradinhaserpenteante para admirar as colinas cobertas de árvores e rochas. Nesses momentos,os pontinhos verdes em torno de suas pupilas quase davam a impressão de ser umreflexo da verdejante paisagem.

Tinha havido uma época na vida de Abbie, em que ela não soubera apreciar a belezaem torno de si. Queixava-se, então, das estradinhas estreitas que serpenteavam pelascolinas Ozark, da falta de diversões e facilidade de compras oferecidas por cidades

maiores, além das limitadas oportunidades de emprego encontradas na área, cuja maior fonte de renda era o turismo.

Ao terminar o segundo grau, ela trocara a serenidade das colinas pelo excitamento deKansas City. No começo, sentira-se contente, mas, aos poucos, a nova vida começara aperder o brilho. Ura ano atrás, depois de quatro anos de ausência, Abbie voltara paraEureka Springs, sua cidade natal.

Muita gente, inclusive seus pais, não entenderam por que ela havia desistido de umapromissora carreira na Trans World Airlines, uma companhia de aviação sediada emKansas City, que lhe oferecia tantas viagens e vantagens financeiras. Sempre que alguémlhe perguntava a razão, o que não era raro, Abbie respondia que ficara com saudades decasa. Mas isso não era inteiramente verdade.

Um homem fora a causa de sua volta, mas ela tinha muito orgulho para admitir que oromance entre eles dera em nada. Em princípio, viera para casa para chorar as mágoas,mas, depois de um ano, a distância lhe mostrara que o romance desfeito tinha sidoapenas a última gota, e não a causa principal de sua volta.

Agora, em vez de ter um lucrativo emprego numa enorme empresa, Abbie trabalhavacomo secretária no escritório de advocacia do pai, ganhando bem pouco, em comparaçãocom seu salário de antes. No entanto, fazendo uma certa economia, ela se ajustara bem ànova vida. Com o dinheiro que lhe sobrara do antigo emprego, reformara o cômodo queficava sobre a garagem da casa dos pais, transformando-o num apartamento pequeno,mas funcional. Vivendo lá, gozava de várias vantagens: tinha privacidade, pagava um

aluguel barato e estava perto dos pais.E havia também Abel, seu carro. Abbie trocara seu veloz carrinho esporte, Porsche, por outro, mais velho e mais barato. Olhando-o, ninguém daria muito por Abel, como ela ochamava. A carroceria mostrava sinais de ferrugem e algumas batidinhas, além de ser bicolor, já que o azul do capo e da porta do passageiro não eram exata-mente do mesmotom que a pintura restante. Mas, se era possível para veículos terem personalidade, Abeltinha e muita! Ele era mal-humorado, tossia e resmungava tanto quanto um velho, masnão havia um pistão ou parafuso estragado em seu motor.

Quando a estrada começou a subir uma colina, Abbie mudou a marcha para umasegunda. O motor soltou um grunhido de protesto, mas Abel não hesitou, o que trouxe umsorriso a seus lábios.

Apesar de julho marcar o auge da estação turística em Ozark, havia pouco tráfego na

Page 3: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 3/72

estrada estadual que levava a Eureka Springs. A maior parte dos turistas preferia usar asestradas maiores, por isso Abbie só passou por veículos das redondezas. Além do mais,era uma tarde de sábado, e a maioria dos turistas já estava se divertindo nas áreas deatração local, em vez de na estrada.

Depois de enfrentar a hora do rush em Kansas City por tanto tempo, Abbie não deixavaque as movimentadas estradas de Ozark a impedissem de visitar a avó, nos fins de

semana. Vovó Klein continuava morando na fazenda onde vivera com o falecido marido,embora as terras de cultivo estivessem arrendadas para um vizinho. Ela ainda criavagalinhas, tinha uma vaca leiteira e uma horta enorme, onde plantava mais legumes everduras do que jamais poderia comer, ignorando totalmente o fato de que já estava commais de setenta anos e deveria diminuir as atividades.

Ninguém visitava vovó Klein sem sair carregado com cestas e mais cestas dealimentos, e nada seria capaz de mudar isso. No chão, em frente ao banco do passageiro,Abbie estava levando vários potes de picles, além de um grande sortimento de geléias edoces em compota. No banco de trás havia dois sacos: um continha tomates, abobrinhase milho; o outro estava cheio de pêssegos recém-apanhados, cujo delicioso aromaespalhava-se por todo o carro.

A tentação era grande demais para resistir, e Abbie estendeu a mão para pegar umpêssego, exatamente quando se aproximava do topo da colina. A fruta ainda estavaquente do sol e esguichou suco à primeira mordida, obrigando-a a usar alguns dedos paraimpedir que o líquido escorresse por seu queixo.

Quando começou a enterrar os dentes na pele aveludada dá fruta para outra mordida,Abbie viu uma luz vermelha, de aviso, acender-se no painel do carro. Franzindo a testa,ela tirou o pêssego da boca. Era raro o motor de Abel esquentar demais naquelasestradinhas cheias de subidas e descidas.

— Não perca a frieza agora, Abel — murmurou para o carro. — Estamos quase notopo.

Mas a luzinha não se apagou, mesmo depois que começaram a descida da colina.Quando Abbie viu o vapor escapando do capo, percebeu que estava com problemas ecomeçou a procurar um lugar para sair da estrada. Quase um quilômetro se passou,antes que encontrasse um trecho de acostamento largo o bastante para acomodar Abel.Nessa altura, uma verdadeira cortina de vapor estava saindo do capo.

Depois de estacionar o carro, Abbie deu uma olhada para ter certeza de que a estradaestava livre e desceu para inspecionar o motor. Esqueceu-se de que estava segurando opêssego, até precisar das duas mãos para levantar o capo. Agarrou-o então com osdentes, ignorando o suco que começava a pingar em sua blusa.

Ela havia amarrado as pontas da blusa sob os seios, para combater o calor, e gotas deágua escaldante espirraram em seu estômago nu, assim que abriu o capo alguns

centímetros. Abbie pulou para trás, quase deixando cair o pêssego e salvando-o por pouco com uma das mãos, enquanto enxugava o estômago com a outra.— Como pôde cuspir em mim deste modo, Abel? — censurou o carro, passando a mão

molhada pela desbotada calça jeans.De baixo do capo erguido saiu mais uma golfada de vapor, que logo se dissipou. Abbie

aproximou-se cautelosamente, para ver se descobria a causa daquilo tudo. Havia umburaco na tampa do radiador/ Seus ombros inclinaram-se para a frente, tão desanimadaela se sentiu.

Virando-se, Abbie olhou para a estrada, tentando se lembrar de onde ficava a fazendamais próxima. Faltavam quase oito quilômetros para a cidade, e ela não estava disposta aandar nem um, naquele calor.

Um carro puxando um trailer aproximou-se e passou por ela. Esperançosa, Abbie olhou

Page 4: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 4/72

novamente para a estrada. Conhecia quase todos por ali e talvez conseguisse umacarona até a cidade. Mas, em hipótese alguma, aceitaria carona de um estranho.

Mais de dez veículos passaram, sem que ela reconhecesse os motoristas. Algunsdiminuíram a velocidade ao vê-la, mas nenhum parou. E Abbie também não acenou paranenhum. Distraída, mordendo o pêssego, tentou decidir o que seria melhor: caminhar atéa casa mais próxima, de onde poderia telefonar para os pais, ou esperar mais um pouco.

Foi então que um carro esporte verde-escuro surgiu na curva, aproximando-se de Abelpor trás. O motorista diminuiu a velocidade, assim que viu o capo erguido. Ele estava coma capota arriada, mas o pára-brisa impediu que Abbie o visse com clareza. No entanto,quando ele estacionou atrás de Abel, ela notou a chapa de outro estado e sentiu-se meiotensa. Quatro anos vivendo numa grande cidade tinham-na ensinado a desconfiar deestranhos.

O motorista não se preocupou em abrir a porta do conversível. Saltando simplesmentepor cima dela, aproximou-se do carro de Abbie. Era um homem alto, com mais de ummetro e noventa, e naquela terra de turismo, não havia nada de estranho no fato de estar usando short, camiseta e tênis. Sua pele era queimada de sol, e os cabelos,despenteados pelo vento de uma forma muito atraente, tinham um tom dourado.

Abbie não pôde ver os olhos por trás dos óculos escuros espelhados, mas gostou dosângulos fortes das feições masculinas. Sentiu pelo desconhecido uma atração imediata elamentou que ele fosse apenas um turista de passagem. Não existiam muitos homenssolteiros e atraentes em Eureka Springs.

— Olá! — Os lábios masculinos curvaram-se num sorriso breve mas amigável, querevelou uma fileira de dentes fortes e brancos. — Está tendo problema com o carro?

— Infelizmente, estou.Mesmo sabendo que aquilo não levaria a nada, Abbie sentiu seu interesse pelo homem

aumentar, quando ele removeu os óculos e ela se viu fitando um par de incríveis olhosazuis.. Havia neles um brilho caloroso, que lhes dava um charme todo especial.

A consciência do magnetismo sensual do dono daqueles olhos atingiu-a em cheio.Fazia muito tempo que não se sentia tão interessada por uma pessoa do sexo oposto.Nas poucas vezes em que saíra com rapazes, desde a sua volta, o desejo de companhiafora a principal causa.

— Sabe qual é o problema?Abbie notou a força dos braços musculosos, queimados de sol, quando o

desconhecido inclinou-se para olhar sob o capo, e, apesar do radiador furado já ter deixado de espirrar água quente, avisou:

— Tome cuidado. Abel está com um vazamento.O olhar curioso que ele lhe lançou fez com que percebesse que havia se referido ao

carro pelo nome que lhe dera.

— Abel é o nome que dei ao meu carro — explicou, sentindo-se meio tola.Um interesse que não estivera presente antes surgiu nos olhos azuis do estranho,enquanto ele a examinava, rapidamente, da cabeça aos pés. Ela era alta, tinha quase ummetro e setenta e cinco e a esbeltes de um modelo, a não ser pelo fato de ter as curvascertas nos lugares certos. Seus cabelos vermelhos possuíam tons dourados, e ela nãoseria honesta se não reconhecesse que era, pelo menos, razoavelmente atraente. Só seuar ingênuo de garota do interior a impedia de ser deslumbrante.

O desconhecido deu a impressão de gostar do que estava vendo, sem ser ofensivo.Logo em seguida, ele voltou a atenção para o radiador, examinando a tampa para ver aextensão do estrago.

— Acho que consigo dar um jeito em Abel — disse, com um leve sorriso que mostrou

que ele aprovara, ou pelo menos entendia, o tratamento pessoal que ela dava ao carro. —

Page 5: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 5/72

Você tem um trapo qualquer por aí? Uma toalha velha também serve.— Tenho, sim. Está debaixo do banco da frente. Espere um pouquinho que eu vou

pegar.Em vez de usar o lado do motorista, onde teria que estar atenta ao tráfego da estrada,

Abbie deu a volta pela grama que crescia no acostamento e abriu a porta do passageiro.Foi meio difícil esticar-se o suficiente para alcançar o velho pedaço de flanela, enfiado sob

o banco do motorista. Ela bateu com o cotovelo nos potes de geléia, desequilibrando-os efazendo com que eles começassem a cair uns sobre os outros, como uma fileira dedominós. Abbie chegou a fechar os olhos, esperando que um dos potes se quebrasse epreparando-se para o som, mas nada aconteceu. Ainda estava meio reclinada no banco ecom o trapo na mão, quando ouviu o barulho de passos na grama. Não havia muitoespaço para movimentos, com tantas coisas dentro do carro, e ela teve que virar bem acabeça, para ver atrás de si.

— Você está bem?O desconhecido parou ao lado da porta, olhando-a com ar preocupado.— Estou. Só derrubei alguns potes de geléia. Consciente de estar numa posição

vulnerável e pouco graciosa, sem a menor chance de ser corrigida com elegância, Abbie

arrastou-se para trás e para fora do carro. Seu rosto estava vermelho como um pimentão,mas isso poderia ter sido causado pela quantidade maior de sangue que fora para a suacabeça, quando ela se inclinara sobre o banco para pegar a flanela.

No momento em que se virou para entregar a flanela, Abbie descobriu que estava maisperto do desconhecido do que imaginava. A camiseta de algodão, molhada de suor,colava-se aos ombros largos e ao peito musculoso como se fosse uma segunda pele, e apotente masculinidade dele tornou-se uma força que não mais poderia ser ignorada,principalmente daquela distância. Seu pulso disparou, comportando-se da forma maislouca possível.

— Quebrou alguma coisa? Abbie viu a boca masculina formar as palavras, mas seucérebro levou um segundo inteiro para registrar a pergunta.

Qual era o problema com ela? Estava reagindo como uma solteirona carente de afeto,que não se via perto de um homem há anos.

"E não se vê mesmo", argumentou uma vozinha dentro dela. "Pelo menos, não de umhomem do calibre deste aqui."

Os olhos castanho-esverdeados lançaram um olhar de culpa ao desconhecido. Pareciahaver no olhar dele um brilho que refletia o conhecimento exato do que ela estavapensando e sentindo. O que não seria de se admirar. Experiência de vida — e demulheres — era algo evidente em todas as linhas do rosto masculino.

— Nada — Abbie murmurou, lembrando-se de responder à pergunta. Seu sorrisoexpressava uma boa dose de resignação, quando prosseguiu: — Vovó Klein encheu meu

carro de picles e geléias feitas em casa, antes de eu sair.O ombro do desconhecido roçou-lhe o braço, quando ele se inclinou para endireitar ospotes. Tendo mãos grandes, ele os colocou em pé de dois em dois, às vezes usando opolegar para empurrar um terceiro para o lugar certo. Num piscar de olhos, todos os potesestavam em ordem novamente.

— Obrigada. Você não precisava ter feito isso — disse Abbie, quando ele terminou.— Minha avó costumava fazer uma geléia deliciosa de amoras silvestres. Ela sabia que

essa qualidade era a minha favorita e sempre tinha um ou dois potes prontos, a minhaespera, quando eu ia visitá-la. Avós são assim: estão sempre tentando nos engordar ounos casar.

— É verdade — Abbie replicou, resistindo à vontade de olhar para a mão esquerda do

desconhecido, para ver se a avó dele fora bem-sucedida em casá-lo. — Olhe, este é o

Page 6: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 6/72

trapo que eu tenho. — Entregou-o a ele e seguiu-o até a frente do carro. — O que vaifazer? Amarrar o trapo em volta da tampa, como se fosse uma bandagem?

— Não. — Ele divertiu-se com a sugestão, mas sem colocá-la em ridículo. — Duvidoque parasse. Tenho um rolo de fita isolante no meu carro. Assim que eu secar a tampa,vou passar a fita em torno dela e tentar vedar o buraco. Falta pouco para Eureka Springs,e a fita deve agüentar até você chegar lá.

Ela mordeu o lábio inferior, lembrando-se do que acontecera.— Só que tem uma coisa: a água ferveu e espirrou quase toda para fora do radiador.Usando a flanela para proteger a mão, ele desenroscou a tampa do radiador.— Eu sempre carrego um galão de água potável comigo. Creio que ainda tenho o

suficiente para colocar seu radiador em condições de funcionar.Abbie balançou a cabeça, maravilhada com a facilidade com que o estranho estava

resolvendo o problema de seu carro.— Puxa, estou contente por você ter passado por aqui — declarou, com sinceridade.

— Eu já estava achando que teria que andar até a fazenda mais próxima, para conseguir ajuda. Você me salvou de uma caminhada neste calor, além de me fazer economizar odinheiro do guincho. Obrigada por parar.

— Eu só estou sendo um bom samaritano — ele respondeu, os lábios curvando-se denovo num sorriso. Com a fita isolante, remendou a tampa do radiador e depois o encheucom a água que tinha. — Pronto! Acho que vai dar.

— Acho que só lhe dizer "muito obrigada" não é o suficiente — disse Abbie, enquantoele fechava o capo com todo cuidado. — Você não só consertou meu radiador, comousou sua própria fita isolante e a sua água. Eu gostaria de lhe pagar por isso.

O estranho abriu a boca para recusar, depois sorriu, subitamente. Abbie sentiu ocoração disparar e prendeu a respiração. Amor não era algo capaz de acontecer àprimeira vista, mas atração física era. E ela não teve dúvidas de que estava sofrendo deum caso seriíssimo de atração física.

— Foi cheiro de pêssego que eu senti no seu carro?— Foi, sim — ela concordou, estudando o modo como o sol da tarde intensificava o

tom dourado dos cabelos dele.— Eu aceito dois pêssegos então, já que você insiste em me pagar. Frutas cultivadas

em casa têm um sabor especial.— Está bem. — Rindo, Abbie deu a volta no carro e tirou o saco de pêssegos. — Sirva-

se à vontade. Se quiser, pode ficar com todos. Vovó Klein me dará mais, no próximo fimde semana.

— Só quero dois. -— Sem escolher, ele pegou dois pêssegos. — Seguirei você atéEureka Springs, para o caso de ter mais problemas com Abel. Vou parar lá e acho quedeve entrar na primeira oficina que encontrar e comprar uma tampa nova para o radiador.

— É o que vou fazer — Abbie murmurou, distraída, pensando na declaração que elefizera, de que pararia em Eureka Springs. — Eureka Springs é uma cidadezinha bembonita. Vai ficar algum tempo por lá?

— Pretendo. — De novo, os olhos azuis percorreram-na de alto a baixo.— Vai gostar de lá — ela continuou apressada, meio consciente de que ele ia dizer 

mais alguma coisa e que o havia interrompido. Normalmente, não convivia com os turistasde verão, pois sabia que romances de férias eram os que menos chances tinham de dar certo. Mas, daquela vez, estava certa de uma coisa: queria rever aquele homem. — Antesque eu me esqueça, meu nome é Abbie Scott.

— Abbie? Apelido de Abra? Abbie espantou-se.— Como sabe? Quase todo mundo acha que meu nome é Abigail.

Um ombro musculoso levantou-se, num gesto expressivo.

Page 7: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 7/72

— Pareceu-me apropriado. Abra era a favorita de Salomão, na Bíblia. — Ele estendeua mão, para completar a apresentação. — Meu nome é Seth. Seth Talbot.

— É um nome bíblico, também. — Abbie preferiu não dizer que não sabia muito sobrea Abra de Salomão. Seth parecia conhecer bem a Bíblia, e ela achou que seriadesagradável revelar a própria ignorância.

— Seth era o terceiro filho de Adão. Não é tão conhecido quanto seus irmãos, Caim e

Abel.— É verdade.Ela sorriu, a mão formigando de uma forma gostosa entre os dedos dele. Seth tinha

mãos fortes e capazes, mas relativamente macias, sem os calos de alguém que ganha avida com elas. Isso não a surpreendeu. Apesar do físico avantajado, ele dava a impressãode ser um homem que usava a mente para ganhar a vida.

Soltando a mão dela, Seth virou-se para pegar a fita isolante e o garrafão de água.— Se tiver algum problema, buzine duas vezes. Estarei bem atrás de você.— Está bem.O fato de vários veículos estarem passando permitiu que Abbie observasse Seth

caminhar até o carro dele, guardar a fita e o garrafão no porta-malas, e entrar pulando a

porta. Ela esperou até a estrada estar livre para dar a volta e abrir a porta. Depois deacomodar o saco de pêssegos no banco, sentou-se atrás da direção e preparou-se parapartir.

O motor roncou baixinho, quando girou a chave na ignição. Ao voltar para a pista,Abbie acenou para Seth. Segundos depois, o reflexo do carro esporte verde-escuro surgiuem seu espelho retrovisor, seguindo-a a uma distância segura.

O modelo do carro esporte não era dos mais novos, mas não havia dúvidas de quedevia ter custado muito caro. Ela tentou adivinhar qual seria a profissão de Seth e chegouà conclusão de que ele tanto poderia ser um médico quanto um advogado.

"Se ele fosse um vendedor, seria capaz de me vender qualquer coisa", pensou, rindobaixinho.

Os oito quilômetros até Eureka Springs terminaram num piscar de olhos. Abel nãoacendeu a luz vermelha uma única vez, e Abbie não conseguiu decidir se estava contenteou triste com isso. Um problema mecânico lhe teria dado a oportunidade de descobrir mais a respeito de Seth Talbot. Coisinhas essenciais, tais como aonde ele iria sehospedar e que lugares planejava visitar, enquanto estivesse em Eureka Springs.

Abbie sentiu-se chocada, quando tomou consciência dos próprios pensamentos.Estava fazendo planos para caçar um homem! Ela não era uma moça tímida, mastambém estava longe de ser do tipo agressivo. Mesmo assim, não pôde deixar deimaginar como seria, se ele a beijasse. Parecia mentira, mas Seth Talbot havia conquis-tado seu interesse em menos de uma hora. Mas talvez não fosse bem assim. Seu

interesse por ele podia simplesmente significar que estava curada da desconfiança quevinha sentindo pelo sexo oposto, desde seu decepcionante romance em Kansas City.Essa era, provavelmente, a verdade.

Quando Abbie entrou na oficina que costumava freqüentar, Seth buzinou e acenou coma mão, antes de continuar em frente. Ela não conseguiu abafar um suspiro de tristeza, aovê-lo sumir. Seria sorte demais encontrá-lo de novo, e sabia disso.

Um homem usando macacão de brim saiu dos fundos da oficina e aproximou-se dela,com um andar gingado. Era Kermit Applebaum, o proprietário do estabelecimento. Elecuidava dos carros da família Scott, desde que Abbie era uma garotinha sardenta. Com otempo, as sardas haviam sumido do rosto dela, mas Kermit ainda a chamava de sardenta,um apelido que ninguém mais adotara. Para grande alívio de Abbie, é claro!

— Oi, Sardenta! Como vai o velho Abelardo?

Page 8: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 8/72

Ela já estava esperando pelo cumprimento, mas, mesmo assim, teve que se conter para não estremecer de desgosto.

— O nome dele é Abel — corrigiu com paciência, descendo do carro. — E está com umfuro na tampa do radiador. Tem outra para me vender?

— Vou dar uma olhada. — Kermit limpou as mãos sujas de graxa num pedaço deestopa e levantou o capo de Abel. — Seu conserto não ficou mal.

— Não fui eu que consertei. Foi um turista que parou, quando percebeu que eu estavacom problemas.Depois, ele me seguiu até aqui, para ter certeza de que tudo estava em ordem.— Foi aquele sujeito que buzinou, quando você estava entrando? — Kermit perguntou,

surpreso. E quando ela fez que sim, acrescentou, com ar pensativo: — Pensei que ele sóestivesse querendo chamar sua atenção. Acho que o julguei mal. — Fechou o capo comuma batida firme c falou: — Leve seu carro até aquele canto. Vou buscar umas tampas,para experimentarmos.

No fim, com todas as interrupções e telefonemas de fregueses, Kermit levou mais dehora e meia para consertar Abel. Já era quase hora do jantar, quando Abbie tomou ocaminho de casa.

Eureka Springs era um lugarzinho cheio de charme. Edifícios vitorianos, restaurados emobiliados de acordo com seu estilo, erguiam-se na encosta das colinas, dando aocenário um ar nostálgico e antiquado. Alguns turistas consideravam uma incongruência aexistência de uma cidade como aquela no meio das colinas Ozark, mas Abbie sempre aencarara como seu lar.

Eureka Springs tinha sido apelidada de "A pequena Suíça da América", por causa daestranha combinação de sua arquitetura com o local montanhoso onde fora construída, eera, desde o início do século, uma das mais populares estâncias de férias do país. Nocomeço, sua maior atração tinha sido as fontes de água mineral. Agora, no entanto, asmuitas lojas de artigos feitos à mão e a cidade em si eram a grande atração, e váriascharretes cruzavam as ruas íngremes e tortuosas de um lado para o outro, para confortodos turistas.

Durante a temporada de férias, milhares de pessoas apareciam para assistir a GrandePaixão, uma peça encenada ao ar livre, sobre os últimos dias de Cristo na terra. A cidadeoferecia outras atrações religiosas também, como a estátua de Cristo nas colinas Ozark,com a altura de um prédio de sete andares; o Museu Bíblico; uma galeria de arte, ondeCristo era o único tema dos trabalhos apresentados; e a Nova Terra Santa, comreproduções em tamanho natural de cenas da Bíblia.

No entanto, por mais que amasse sua terra natal, Abbie admitia que viver numa cidadeque pouco mudara, desde o início do século, tinha grandes desvantagens. Ela era capazde ficar tão irritada quanto os outros motoristas, dirigindo por ruas que não tinham sido

projetadas para acomodar o tráfego atual. E o pior é que não havia semáforos emnenhum cruzamento, cada motorista dependendo da gentileza dos outros para entrar ousair de uma rua.

No verão, quando os turistas chegavam às centenas, Abbie reclamava tanto quando osoutros habitantes dos engarrafamentos de trânsito. Mesmo assim, continuava a adorar acidade onde nascera, talvez por se identificar tanto com ela: ambas eram orgulhosas eestavam um pouquinho em desacordo com os tempos atuais.

Todas as suas amigas de infância já estavam casadas e, a maioria, com filhos. Elahavia desistido de uma promissora carreira e voltado para. . . Para quê? Para fantasiar arespeito de um estranho que tinha parado para ajudá-la?

Roseiras subiam pelas treliças em forma de leque, que ladeavam a entrada de carros

na casa dos Scott. A garagem com o apartamento em cima, literalmente construída para

Page 9: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 9/72

dentro da colina, ficava num canto, totalmente isolada. Como lá só havia lugar para umveículo, Abbie costumava deixá-lo para o carro do pai, estacionando do lado de fora.Afinal, ficar ao relento dificilmente poderia piorar a aparência de Abel.

Desta vez, ela parou junto à porta dos fundos do sobrado branco. Seus armários jáestavam cheios de alimentos dados pela vovó Klein, e Abbie sabia que a velha senhoranão se importaria se dividisse o que ganhara aquela tarde com a mãe. E o mais sensato

era dividir os alimentos agora, em vez de subir com tudo para o apartamento e depoisdescer com uma parte.Sem se dar ao trabalho de bater à porta, ela entrou na cozinha com os braços

carregados de potes de geléia e compotas. O ambiente, refrescado pelo aparelho de ar-condicionado, estava uma delícia, e ela esperou por um momento, saboreando umamaravilhosa sensação de alívio, depois do calor lá de fora.

Uma mulher alta, de cabelos avermelhados, que estava junto ao fogão, preparando o jantar, voltou-se para olhá-la. A semelhança entre mãe e filha era patente, embora hou-vesse algumas diferenças. Alice Scott era tão esbelta que poderia ser chamada de magra,com olhos mais para o verde que para o castanho.

— Como você demorou, Abbie! Mamãe estava doente ou com algum outro problema?

— Não. — Abbie atravessou a cozinha e, com todo cuidado, colocou os potes sobre amesa. — A tampa do radiador de Abel furou, no caminho de volta. Passei as últimas duashoras na oficina de Kermit, fazendo o conserto necessário.

— Não sei como esse seu carro ainda anda — comentou a Sra. Scott, balançando acabeça com ar de espanto.

O som inconfundível do pai descendo a escada e assobiando uma melodia desafinadalogo chegou aos ouvidos de Abbie. Em 'algumas coisas, ele era bem previsível. Umadelas era a rotina após um dia de trabalho: assim que chegava do escritório, ele vestiauma calça de brim caqui e uma camisa de algodão xadrez ou um velo pulôver decashmere, dependendo do tempo.

Seguindo o padrão de costume, o Sr. Scott entrou na cozinha usando calça caqui euma camisa xadrez.

— Humm, que cheirinho delicioso, querida — disse, cheirando o ar. Aproximando-se daesposa, beijou-a no rosto e foi até a geladeira, à procura de uma cerveja. — Quandovamos jantar? — Vendo, então, Abbie parada junto à mesa, acrescentou: — Pensei quetivéssemos empurrado aquela ali para fora do ninho, mas aqui está ela na hora darefeição, esperando de boca aberta!

—: Temos bastante para todos nós — a Sra. Scott garantiu, virando as costeletas deporco que estavam assando no forno. — Você vai jantar conosco, não vai, Abbie?

— Obrigada, mamãe, mas hoje não.Abbie recusou porque seria fácil demais cair no hábito de almoçar e jantar na casa dos

pais. Tinha se acostumado a viver sozinha e gostava da independência que oapartamentozinho sobre a garagem lhe dava.— Você é teimosa demais — o pai acusou-a. Mas, ainda que de má vontade, ele

admirava a independência da filha.— Puxei a você — ela replicou, sorrindo.— Venha almoçar conosco amanhã. — A mãe não estava convidando, e sim falando

como se já fosse algo definitivo. — Vai ser bom nós três irmos à igreja juntos, como antes.O Sr. Scott limpou a garganta, com ar de quem não estava gostando do rumo da

conversa.— Abe falou qualquer coisa a respeito de uma pescaria, amanhã. Eu pretendia lhe

contar antes, mas me esqueci.

— Drew Fitzgerald Scott, amanhã você irá à igreja. É a última vez que o reverendo

Page 10: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 10/72

Augustus vai estar entre nós, conduzindo o serviço religioso. Ele está se aposentando.— Aleluia! — O Sr. Scott levantou as mãos para o réu, fingindo grande alegria.— Drew! — A voz de Alice Scott tinha um inconfundível tom de zanga.— Eu nunca cheguei a gostar daquele homem e não vou fingir que sinto estar se

aposentando. Se eu for à igreja amanhã, pode ter certeza de que será para dar graças .Deus.

— "Se", não. Você vai. E também vai ao chá de despedida que o Clube das Senhorasoferecerá ao reverendo e à Sra. Augustus, amanhã à tarde.O Sr. Scott virou-se para a filha, os olhos castanhos brilhando, maliciosos.— Você vai?— Ela vai, sim — a mãe respondeu por ela. Abbie deu de ombros, indicando que a

decisão fora tirada de suas mãos.— Você ouviu, papai — disse, sorrindo. — Eu vou.— Então, acho que também não terei escolha. — Ele suspirou, resignado. — Só

espero que não nos arranjem outro ministro do tipo que só sabe dizer: O céu os castigará!Gosto de ir à igreja e ser inspirado, não ameaçado. — Tomou um gole de cerveja,pensativo. — O que acha, Alice? Já está sabendo de alguma coisa a respeito do novo

ministro?— Eu só sei que ele é altamente qualificado — a Sra. Scott respondeu, desligando o

forno. — Mas amanhã teremos oportunidade de conhecê-lo e à família dele. O reverendoAugustus vai apresentá-los à congregação, depois do serviço religioso, e elesprovavelmente estarão presentes ao chá. Você poderá, então, tirar as suas própriasconclusões.

Com o assunto do novo ministro aparentemente fechado, Abbie teve oportunidade defazer a pergunta que estava em sua cabeça, desde aquela tarde.

— Mamãe, por que você me deu o nome de Abra? Ele tem algum significado especial?— Que pergunta estranha, depois de todos esses anos! — A Sra. Scott riu. — Uma das

minhas amigas tinha uma tia com esse nome, e eu gostei do som dele. Por quê?— Eu descobri que Abra era o nome da esposa favorita de Salomão, na Bíblia. Senti

curiosidade de saber se você tinha conhecimento disso.— Que interessante! — A Sra. Scott estava surpresa e contente com a novidade sobre

o nome que escolhera para a filha. — Quem lhe contou?— Um turista que parou para me ajudar, quando Abel quebrou e. . . — Abbie começou,

mas foi interrompida pelo pai.— Abel quebrou?Ela explicou tudo novamente, sobre o buraco na tampa do radiador e a demora de

Kermit para fazer o conserto. Quando terminou de responder — ou tentar responder —todas as perguntas de mecânica que ele lhe fez, sua mãe já estava colocando o jantar na

mesa. Recusando um segundo convite para juntar-se a eles, Abbie saiu e pôs-se acarregar os presentes da avó para o apartamento.

CAPÍTULO II

O som de um martelar incessante despertou Abbie de seu sono tranqüilo. Gemendo,ela virou-se e enterrou a cabeça debaixo do travesseiro, mas não conseguiu abafar ohorrível ruído.

"O sujeito que está fazendo este barulho todo, numa manhã de domingo, deveria ser preso e condenado", pensou.

Numa manhã de domingo! De repente, Abbie percebeu que não havia ninguém

Page 11: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 11/72

martelando. Estavam era batendo na porta de seu apartamento. Apressada, ela jogou ascobertas para o lado e sentou-se na cama, procurando o roupão com olhos embaçadosde sono.

— Já vou! — gritou, achando e enfiando o roupão com movimentos aindadescoordenados.

O despertador fora colocado sobre a cômoda, longe da cama, para que tivesse que se

levantar para desligá-lo, quando tocasse. Agora, o ponteiro maior estava apontando parao número um, e o sol, entrando pela janela, iluminava todo o ambiente.Não era possível! Não podia ser uma hora da tarde!Com um suspiro, Abbie percebeu que o despertador estava parado. Esquecera de lhe

dar corda, na noite anterior. Certa de que já devia ser horrivelmente tarde, apesar de nãoter idéia da hora exata, ela atravessou correndo o cômodo principal do apartamento, queincluía sala de visitas, sala de jantar e cozinha. Jogando a massa de cabelosavermelhados para trás, abriu a porta que dava para a escada externa da garagem,deparando com o pai em pé, do lado de fora.

Ele estava de terno e gravata, e examinou-a por um momento, antes de sorrir,divertido.

— Não creio que esta seja uma roupa apropriada para você ir à igreja.— Meu relógio parou. — Naturalmente, Abbie não mencionou que tinha se esquecido

de lhe dar corda. — Que horas são?— Faltam dez minutos para o serviço religioso começar.— Não vou conseguir me arrumar em cinco minutos. Você e mamãe terão que ir sem

mim.— Ela não vai gostar disto — ele avisou-a, com seriedade. Mas, logo em seguida,

sorriu de novo, com ar maroto. — Foi uma pena eu não ter pensado nessa desculpatambém.

— Mamãe é o seu despertador. Ela teria colocado você de pé com tempo de sobrapara se arrumar.

O som impaciente de uma buzina ressoou pelo pátio. O Sr. Scott olhou para agaragem.

— Sua mãe detesta chegar atrasada. O que devo dizer a ela? Que você vai depois?— Quando eu terminar de me arrumar, o serviço religioso estará pela metade. É melhor 

vocês transmitirem minhas desculpas ao reverendo Augustus, por não ter podidocomparecer. Mas digam a ele que não faltarei ao chá do Clube das Senhoras.

— Sua mãe fará isso. — Ele começou a descer a escada pintada de branco. — Atédepois, então.

Não tendo mais motivos para se apressar, Abbie tomou um banho demorado, dechuveiro. Os pingos mornos despertaram seus sentidos e eliminaram os últimos traços de

sono, e ela saiu do boxe sentindo-se revigorada e animada. Com uma toalha em tornodos cabelos, vestiu novamente o roupão de algodão amarelo e foi para a cozinha.Uma espécie de balcão separava a área ocupada pela cozinha do resto do cômodo.

Embora houvesse uma mesa pequena e duas cadeiras, num canto, Abbie geralmente sóa usava quando tinha companhia, preferindo o balcão para as refeições que fazia sozinha.

Como não faltava muito para a hora do almoço, ela tomou apenas um copo de suco delaranja e uma xícara de café, sentada na banqueta alta, que ficava junto do balcão.Quando terminou, a toalha já havia absorvido quase toda a umidade de seus cabelos, enão levou mais que alguns minutos para acabar de secá-los, com um secador de mão. Osfios avermelhados, naturalmente jeitosos, assumiram um estilo solto e casual, curvando-se em torno de seu pescoço.

Escolher uma roupa que fosse apropriada para o chá de despedida de um ministro e,

Page 12: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 12/72

ao mesmo tempo, confortável o bastante para um dia de verão, foi mais ou menos fácil,pois Abbie não tinha um guarda-roupa variado. O vestido que colocou era branco, combolinhas azul-marinho, feito segundo um modelo simples e clássico. O decote eradiscreto, apesar do corpinho justo realçar a linha dos seios, e um cinto de couro azul-marinho marcava a cintura estreita. Um par de sandálias de salto alto, também marinho,completou a toalete.

Abbie tinha comprado um bracelete de ouro e brincos de argola para usar com aquelevestido, mas o reverendo Augustus não gostava de jóias, e ela hesitou, ao pegá-las. Noentanto, depois de um rápido debate consigo mesma, acabou por colocá-las.

O único relógio marcando a hora certa era o da cozinha e, olhando-o, ela viu que oserviço religioso já estava para terminar. Apressada, desceu a escada e cruzou o pátioem direção à casa dos pais.

Ao contrário da filha, Alice e Drew Scott não tinham o hábito de trancar as portas. Napequena comunidade em que viviam, não havia a menor necessidade disso. Alice erauma pessoa terrivelmente organizada e, assim que entrou, Abbie viu que todos ospreparativos para o almoço de domingo já tinham sido feitos. Uma deliciosa carne comlegumes assava no forno, enquanto uma salada completa repousava na geladeira, à

espera de ser servida. Ela colocou-a sobre à mesa, já coberta com uma linda toalha delinho e guarnecida por um aparelho de porcelana e talheres de prata. Havia até mesmouma floreira com flores recém-cortadas ornamentando o centro da mesa.

Ao ouvir o carro dos pais entrando na garagem, Abbie colocou um avental e tirou acarne do forno. Estava terminando de passar tudo da assadeira para uma travessa deprata, quando a porta da cozinha se abriu.

— Como foi o serviço religioso? — perguntou com mais ânimo do que na realidadesentia, pois já tinha percebido, pela cara da mãe, que ainda não fora perdoada por não ter ido à igreja.

— O reverendo Augustus fez um excelente sermão de despedida. Foi uma pena vocênão ter ido, Abbie — Alice Scott respondeu.

— O que ela está querendo dizer é que foi um sermão curto — Drew interferiu, com ar brincalhão. — Pela primeira vez, desde que veio para cá, o reverendo Augustus nãoameaçou e amaldiçoou até ter a voz abafada pelo ronco dos nossos estômagos.

Alice tirou outro avental de uma gaveta e colocou-o, para ajudar a filha.— O sermão dele foi comovente.— De um sentimentalismo de bêbado — Drew declarou, piscando para Abbie.— Ele disse mesmo algumas coisas sem sentido. Mas acho que isso deu um toque

mais emocionante ao sermão.Abbie virou-se para o pai, mudando o assunto por um instante.— Dá para você cortar a carne? — Quando ele fez que sim, ela colocou a faca de corte

e o tridente ao lado da carne e afastou-se, para lhe dar lugar. — Como é o novo ministro?— O velho Augustus se perdeu tanto no próprio sentimentalismo que se esqueceu deapresentá-lo. Acho que ele estava sentado num dos bancos da frente, mas a igreja estavatão cheia, que não pude vê-lo. De qualquer modo, tive a impressão de que o reverendonão aprova totalmente seu substituto.

— Não?! Por quê? — Abbie lançou-lhe um olhar cheio de curiosidade.— Não sei. Mas havia um certo tom de censura na voz dele, quando ele falou a

respeito de estar chegando sangue novo para a igreja.— Acho que ele só quis dizer que o novo ministro e a esposa são jovens — Alice Scott

opinou. — O fato de ele ter esquecido de apresentá-los deve ter sido pura distração.— Distração ou não, se o reverendo Augustus não gosta do novo ministro, é sinal de

que vou gostar dele.

Page 13: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 13/72

— Você deveria ser mais tolerante, Drew — Alice censurou o marido. E, entregando-lhe a travessa com a carne, pediu: — Leve isto para a sala de jantar.

O chá estava marcado para as quatro horas, no porão da igreja. Como Alice pertenciaao Clube das Senhoras, tinha que estar lá antes, para ajudar nos preparativos, e acabouconvencendo o marido e a filha a colaborarem na arrumação das mesinhas e cadeiras.

Abbie estava ocupada, colocando travessas de sanduíches sobre as mesas, quando os

convidados de honra, o reverendo Augustus e a esposa, chegaram, acompanhados dealguns de seus melhores amigos. Como ainda faltavam os guardanapos e os talherespara serem dispostos, ela não pôde ir cumprimentá-los, lançando apenas um rápido olhar na direção deles. Depois disso, o lugar foi invadido por uma verdadeira multidão, o que aobrigou a se concentrar no que estava fazendo, para terminar antes que as mesinhascomeçassem a ser ocupadas.

Abbie ainda estava com um punhado de colheres na mão, quando ouviu passos atrásde si. Não havia jeito de arrumá-las depressa, por isso continuou a trabalhar no mesmoritmo, torcendo para que a pessoa que estava chegando tivesse um pouquinho depaciência.

— Como vai, Srta. Scott? — cumprimentou-a uma voz de homem, cheia de prazer.

Abbie ficou tão surpresa ao reconhecer a voz de Seth Talbot, o homem que haviaparado para ajudá-la, na véspera, que nem se perguntou o que ele poderia estar fazendoali. Deliciada, virou-se para encará-lo.

— Como vai, Sr. Talbot?A princípio, fitou apenas os olhos intensamente azuis. Eles eram mais sexy do que se

lembrava, tão claros em contraste com a pele queimada de sol! Mas o que chamou suaatenção para as roupas dele nunca soube, pois o choque que sentiu ao ver o estreitocolarinho branco que lhe envolvia o pescoço, símbolo de um ministro ordenado, deixou-acompletamente atordoada.

— Conseguiu outra tampa para o radiador de Abel? Abbie ouviu-o, mas não conseguiufalar. Suas cordas vocais pareciam estar congeladas e tudo que fez foi balançar a cabeça,num gesto afirmativo. No entanto, a pergunta de Seth tirou-a do atordoamento em queestava, levando-a a encará-lo. Olhando os cabelos de um loiro escuro e o rosto másculo eatraente, o fato de ele ser um ministro pareceu-lhe mais incrível ainda. Não havia nada debenigno no jeito dele, nada que fizesse alguém julgá-lo um homem de Deus. Ao contrário,havia nele muita virilidade, muita masculinidade, muita coisa sugerindo paixões másculas.Outra expressão tomou conta das feições de Seth.

— O que foi? — ele perguntou. — Aconteceu alguma coisa?— Aconteceu. Não, é só que... — Abbie parou de falar, ao perceber o quanto estava

sendo grosseira, fitando-o daquele modo. Depois de uma ligeira pausa, levada pelahonestidade, confessou: — Nunca imaginei que você pudesse ser um ministro. Você não

parece um.— Ah! — Ele sorriu, divertido, e ruguinhas atraentes surgiram em torno de seus olhos.— Pelo menos. . . Ontem, na estrada, você não se parecia com um. Pelo modo como

está vestido, agora, não há dúvida de que é um ministro, mas... — Vendo que aexplicação estava ficando confusa demais, Abbie interrompeu-se de novo. — Olhe,desculpe!

— Por quê? Sua reação foi perfeitamente natural. Se eu tivesse percebido que vocêmorava em Eureka Springs, teria lhe falado da minha transferência para esta igreja.

— Mas... — Repassando na memória o encontro do dia anterior, Abbie viu querealmente não tinha mencionado que vivia ali. — Ê, eu não lhe disse mesmo.

— Estou contente por você ser um membro da minha nova congregação. Estava

começando a pensar que ninguém com menos de quarenta anos pertencia a esta igreja.

Page 14: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 14/72

Havia tanto charme no olhar e no meio sorriso de Seth, que ela teve que olhar para ocolarinho branco que lhe envolvia o pescoço, para lembrar-se de que ele era um ministro.Seria fácil esquecer. . .

— Com as férias de verão, muitos membros da minha idade têm outros planos — dissecom tato, não querendo criticar a atitude do reverendo Augustus, que não encorajava os jovens a freqüentarem a igreja.

— Talvez você possa me ajudar a persuadir alguns deles a incluírem os serviçosreligiosos de domingo nesses planos.A vontade de Abbie foi aceitar a sugestão de imediato e só recusou porque não sabia

se estava sendo levada pelo desejo de ajudar a igreja ou pelo fato de se sentir fisica-mente atraída por Seth Talbot. No fundo, achava que a última razão era a verdadeira.Todas as suas reações ao novo ministro eram puramente femininas.

— Eu... eu mesma não sou um membro muito ativo da igreja. . . reverendo.Foi difícil citar o título profissional dele. "Reverendo" parecia não combinar com a

atração máscula emanada por aquele homem. Embaraçada, Abbie tomou consciência dapequena artéria pulsando em seu pescoço.

Mas, se Seth notou sua hesitação em chamá-lo de reverendo, ignorou-a com muito

tato.— Então, faço questão de que seja a primeira ovelha a voltar para o meu rebanho —

declarou, sorrindo.Ela abaixou a cabeça, para resistir à inegável atração daquele sorriso."Carisma, é isso que ele tem", disse para si mesma. "Seth é capaz de atrair a atenção

de qualquer pessoa, não só a minha."— Terminou, Abbie?A voz de sua mãe interrompeu a conversa, assustando-a e fazendo com que se virasse

com ar de culpa no rosto, como se fosse uma garotinha surpreendida desobedecendo auma ordem. Foi uma expressão que Alice Scott reconheceu de imediato.

— Estou quase terminando, mamãe. — Abbie olhou para as colheres que tinha namão, e das quais havia se esquecido por completo, até aquele momento.

Mas a atenção de Alice já se voltara para o homem em pé ao lado dela, e um brilho desurpresa surgiu-lhe nos olhos, quando reparou rio hábito negro e no colarinho branco queele estava usando.

— Acho que ainda não nos conhecemos. Sou o reverendo Seth Talbot, seu novopastor — Seth apresentou-se, assumindo o domínio da situação.

— Desculpe. — Corando, Abbie percebeu que tinha se esquecido de uma das regrasmais simples de educação. — Esta é minha mãe, Alice Scott.

— Eu notei a semelhança entre vocês duas. — O sorriso caloroso surgiu novamentenos lábios de Seth. — É fácil ver que sua filha herdou da senhora a beleza que tem, Sra.

Scott.O comentário poderia ter soado comum e sem significado, mas, pelo modo como elefalou, assumiu a forma de um elogio sincero. Abbie ficou um pouco surpresa com areação da mãe, que pareceu desabrochar sob o encanto de Seth, remoçando anos ereadquirindo o frescor da juventude. Ainda que apenas por um minuto, ela se sentiuirritada com isso.

— Meu pai também está aqui — informou a Seth, olhando em torno. — Mas não o vejo,no momento.

De forma inconsciente, ela havia tentado lembrar à mãe que era casada.— Meu marido está ansioso para conhecê-lo, reverendo Talbot. Sua família está aqui?A idéia de que Seth pudesse ter mulher e filhos atingiu Abbie com a força de um

choque elétrico. Seth. . . Já estava pensando nele como apenas Seth. Isso tinha que

Page 15: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 15/72

parar!— Minha família? — A sobrancelha dele ergueu-se, mas voltou logo em seguida à linha

normal. -— Está se referindo à minha esposa? Eu sou um dos raros ministros nãocasados que existem, Sra. Scott.

— O senhor é solteiro?!— Sou, sim.

A resposta direta não deixou lugar para dúvidas, e Abbie estremeceu de alívio. Eraruim sentir-se atraída por um ministro, mas seria dez vezes pior se ele fosse casado.— Eu não estava querendo ser indiscreta, reverendo— Alice desculpou-se. — Mas, como o senhor mesmo disse, um ministro solteiro não é

comum.— Acho que sou uma espécie de mau elemento.— Desta vez, ele incluiu Abbie em seu olhar. — Deveria estar ocupado, escolhendo

uma esposa própria para um ministro, mas prefiro esperar até achar a mulher certa paramim, não para o meu trabalho.

— Desconfio que o senhor age fora das regras em muitas coisas — Abbie murmurou,lembrando-se do carro esporte verde e das roupas que ele estava usando, no dia anterior.

— Já me disseram isto.Havia um brilho de malícia nos olhos azuis, algo totalmente inadequado para um

homem de Deus, e Abbie percebeu que existia mais do que um traço de rebeldia em SethTalbot.

— O que o senhor faz, quando alguém lhe diz isto?— Rezo. — Virando-se então para Alice, ele continuou, como se estivesse tentando

avisá-la de que seus métodos não seriam os mesmos do antigo reverendo. — Minhasatitudes são muitas vezes encaradas como pouco convencionais, mas isto não as tornaerradas.

— Todos nós teremos que nos adaptar um pouco — Alice comentou polidamente, comum relutante brilho de admiração no olhar. — E acho que podemos começar nosalegrando pelo fato de o senhor não ter barba e cabelos longos.

— Como Jesus?A Sra. Scott inspirou abruptamente, depois sorriu.— Nessa o senhor ganhou de mim, reverendo Talbot.— Prefiro ganhar sua presença na minha igreja, nos domingos de manhã — Seth

replicou, com um sorriso que aprofundou as rugas de expressão em suas faces.— Nossa família estará lá — Alice garantiu, desviando o olhar para a mesa atrás dele.

— Abbie, é melhor você terminar de distribuir essas colheres. Temos que começar aservir.

— Com licença. — Inclinando a cabeça de leve, Seth afastou-se para o outro lado do

salão.Observando-o' misturar-se com a multidão, Abbie tentou não pensar no quanto eleficava bem, de preto, nem no modo como o hábito realçava-lhe a largura dos ombros.Achou que seria errado ficar reparando nesse tipo de coisa, tratando-se de um ministro.

— Abbie! — A voz da mãe forçou-a a tirar os olhos da atraente figura masculina. —Termine de colocar as colheres.

— Está bem. O que você achou dele?Houve uma longa pausa, enquanto Alice examinava o salão, à procura de Seth Talbot.— Ainda não formei uma opinião — disse, finalmente.As pessoas estavam começando a se aproximar das mesinhas, quando Abbie terminou

de colocar as colheres. Ela encheu duas xícaras de café e saiu atrás do pai. Uma era

para ele e a outra para si mesma. Como que atraído por um imã, seu olhar estava sempre

Page 16: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 16/72

se voltando para Seth, e foi só apelando para todos as suas forças que conseguiucontinuar caminhando em direção ao canto onde estava o pai, conversando com umcompanheiro de pescaria.

Não foi fácil atravessar a multidão carregando duas xícaras de café, mas Abbieconseguiu. Distraído com a conversa, seu pai assustou-se quando ela colocou uma dasxícaras diante dele.

— É para mim?— Achei que você deveria estar com a garganta seca, depois de tantas histórias depescarias.

— Existem histórias de pescarias e estórias de pescarias — Ben Cooper, o amigo deseu pai, comentou, rindo das próprias palavras.

Abbie quase gemeu da falta de graça da piada. Ben Cooper tinha um escritório devenda de apólices de seguro ao lado do de seu pai e era um visitante freqüente, apare-cendo sempre para um cafezinho.

— Eu poderia lhe oferecer esta xícara de café, Ben, mas não coloquei leite e sei quevocê prefere o seu quase branco.

— Pode deixar, Abbie. Vou buscar uma xícara para mim. — Ele se levantou, puxando o

cós da calça para cima. — Guarde esta cadeira para mim, está bem?— Certo — Abbie concordou, sentando-se na cadeira vaga.— Este Ben é uma figura — Drew disse, sacudindo a cabeça com ar divertido.— Humm. . . — Tomando um gole de seu café, Abbie percorreu o salão com os olhos,

até encontrar Seth Talbot. Mais uma vez seu corpo estremeceu de alto a baixo, numareação puramente sexual à bela aparência dele.

— O que foi? Para quem você está olhando? — Drew inclinou a cabeça para o lado,observando-a cheio de curiosidade.

— Para o novo pastor. Já foi apresentado a ele?— Não. Quem é? — Virando-se, ele examinou a multidão.— Aquele homem alto, conversando com a Sra. Smith. Perto da mesa principal, está

vendo?— Aquele?! Mas ele não parece um ministro! Um riso divertido escapou dos lábios

dela.— Foi isso que eu disse, também. Infelizmente, estava conversando com ele, quando

fiz esse comentário.Drew sorriu.— Você não costuma fazer dessas gafes. Geralmente tem muito tato.— Todos têm o direito de errar, de vez em quando. Além disso, ele é o motorista que

me ajudou ontem, quando Abel parou na estrada. Ele dirige um carro esporte.E estava usando short e camiseta. Nunca vi ninguém tão pouco parecido com um

ministro quanto ele, ontem à tarde.— Não é de admirar que você tenha ficado surpresa. E a esposa dele, como é?— Ele é solteiro. — Abbie fingiu não ouvir o assobio de espanto do pai e tomou mais

um gole de café. Mas foi impossível ignorá-lo, quando ele voltou os olhos para seu rosto.— Será que notei uma nota de interesse na sua voz?— Papai, eu o vi hoje pela segunda vez!— E o que tem isso?— Tem que eu mal o conheço. Além disso, ele é um ministro.— Um ministro, não um padre.A conversa estava tomando um rumo inesperado, e foi com alívio que Abbie viu Ben

Cooper chegar, trazendo um pratinho com bolo e sanduíches. Depressa, levantou-se da

cadeira em que estava sentada.

Page 17: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 17/72

— Tome sua cadeira, Ben — disse, fingindo olhar com interesse para a tortinha demorangos que estava no meio dos sanduíches. — Humm, acho que vou fazer uma visitaà mesa de doces.

Uma tortinha de morangos e depois outra xícara de café, Abbie viu-se presa numaconversa com as irmãs Coltrain, duas agradáveis senhoritas de oitenta e poucos anos,que podiam falar horas e horas sobre o passado. Como já tinha ouvido todas as histórias

que elas contavam pelo menos duas vezes, era inevitável que seus pensamentoscomeçassem a vagar.Seu interesse parecia só ter um alvo: Seth Talbot. Voluntária ou involuntariamente,

passou quase todo o tempo observando o modo descontraído com que ele se misturava etravava conhecimento com os membros da congregação que, a partir do dia seguinte,estaria dirigindo. Não só as mulheres, como também os homens, davam a impressão deestarem fascinados por ele. O salão inteiro fervilhava de conversas e, em todas elas, onovo ministro era o assunto principal.

Deveria ter sido um chá de despedida para o reverendo Augustus, mas Seth Talbotestava roubando o espetáculo. Ou era apenas sua imaginação? Só porque estavapraticamente obcecada pelo homem não queria dizer que os outros também estivessem.

Com um suspiro, Abbie voltou a atenção para a xícara que tinha nas mãos,descobrindo que seu café estava gelado.

— Você poderia fazer isso?Isabel Coltrain fixou os olhos azuis em Abbie, sem saber que ela não tinha ouvido uma

única palavra da conversa.— Eu... Desculpe — Abbie murmurou. — Há tanta gente falando, que não ouvi sua

pergunta.— Você pode datilografar o livro que Esther e eu estamos escrevendo, quando

terminarmos? — a mais velha das duas irmãs repetiu. — Nós lhe pagaremos. . . se nãofor muito caro.

— Claro que sim. — Abbie descontraiu-se um pouco, ao descobrir exatamente a quêestava se comprometendo. — Posso datilografar para vocês à noite.

— Estou tão contente por aquele rapaz ter sugerido que escrevêssemos um livro! Vocênão está, Esther? — Isabel Coltrain estava praticamente resplandecendo de ânimo eenergia.

— Rapaz? — Abbie murmurou, meio confusa. Sua impressão tinha sido de que omanuscrito já estava quase pronto.

— O novo reverendo. — Esther estava tão excitada quanto a irmã. — Ele gostou tantode algumas histórias que lhe contamos, que nos aconselhou a escrevê-las.

— Ele é um homem tão atraente, não acham? — Com a mão sobre o coração, Isabelsemicerrou os olhos. — Ele me faz ter vontade de ser jovem de novo.

— Aja de acordo com a sua idade! — Esther censurou a irmã mais velha.Abbie sabia que as duas podiam se tornar bem desagradáveis, quando estavamenciumadas, e resolveu intervir.

— Mas que idéia maravilhosa, essa do livro! Quando pretendem começar?— Ah, hoje mesmo — Esther garantiu-lhe. — Vamos começar tomando nota de

nossas idéias. Depois decidiremos quem vai escrever o quê.— Parece prático — Abbie comentou, embora achasse que isso poderia gerar muita

discussão. E antes que se visse bem no meio de uma, decidiu pedir licença e se afastar.— Com licença. . . Vou buscar outra xícara de café. O meu está gelado.

— Não beba muito café — aconselhou Isabel. — Não é bom para a saúde.— Só vou tomar mais um pouquinho — Abbie prometeu, girando nos calcanhares.

Page 18: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 18/72

CAPÍTULO III

O velho relógio, na parede do escritório, indicava que faltavam cinco minutos para omeio-dia. Abrindo a gaveta da escrivaninha, Abbie pegou uma enorme bolsa a tiracolo edela tirou um espelhinho e um batom.

A lâmpada, onde estava, não fornecia uma iluminação muito boa para se aplicar maquilagem, mas era infinitamente melhor que a do banheiro. Virando-se na cadeiragiratória de modo a receber a luz em pleno rosto, ela retocou o batom e examinou oresultado no espelhinho. Em seguida, com a ponta dos dedos, afofou os cabelosavermelhados e, satisfeita, tornou a guardar o espelho.

Abbie estava terminando de fechar o zíper da bolsa, quando viu o pai sair do escritórioparticular que usava. Ele estava sem casaco, com as mangas da camisa enroladas até ocotovelo e um copo na mão, atrás de mais um pouco de café. Há mais de uma hora ele sedebruçara sobre os livros de direito penal, e os casos que exigiam pesquisa sempre lhedavam mais vontade de tomar o líquido escaldante.

Drew Scott lançou um olhar distraído para a escrivaninha da filha e, vendo a bolsa

dela, levantou os olhos para o relógio na parede.— Nossa, como já é tarde! — Balançou a cabeça, como se achasse difícil acreditar na

rapidez com que o tempo passava. — Não se esqueça de fazer aquele depósito nobanco.

— Está tudo aqui. — Abbie indicou um envelope sobre a escrivaninha. — É a primeiracoisa que vou fazer, assim que sair daqui. Você vai almoçar fora ou quer que eu lhe tragaalgo?

Franzindo a testa, ele desligou a cafeteira e olhou-a.— Ed vem para cá à uma ou à uma e meia?— À uma.— Então é melhor você me trazer um sanduíche. Levantando-se, Abbie pôs a bolsa no

ombro e pegou o envelope com o dinheiro a ser depositado.— Estarei de volta dentro de uma hora. Até antes, se der — disse, e o pai concordou

com um gesto de cabeça.Lá fora, o sol estava quente, e ela procurou a calçada mais sombreada para andar. A

única coisa que impedia o calor de se tornar sufocante era a brisa gostosa que estavasoprando e que, de vez em quando, levantava a saia de seu vestido azul, preso na cinturapor uma larga faixa de couro, da mesma cor.

Naquela hora, o tráfego nas ruas e calçadas estava sempre congestionado. Enquantocaminhava para o banco, Abbie viu tantos estranhos que acabou desistindo de procurar rostos familiares no meio da multidão. Chegando ao seu destino, estendeu a mão para

abrir a pesada porta de aço, mas a mão de um homem foi mais rápida que a sua.Sorrindo polidamente, ela virou-se para agradecer a delicadeza. Só que o homeminclinado para diante, segurando a porta, não era um estranho, e sim, Seth Talbot. O ar faltou-lhe abruptamente. Não estava preparada para enfrentar o tipo de sensualidade virilque ele emanava. Principalmente depois dos últimos três dias, quando fizera o possível eo impossível para tirá-lo da cabeça e parar de tecer fantasias românticas a respeito de umministro da igreja.

— Como vai, Srta. Scott?Seth cumprimentou-a com o mesmo ar caloroso, amigável e natural de sempre, e foi só

apelando para toda a sua força de vontade que Abbie conseguiu tirar os olhos das feiçõesatraentes e dos olhos mais intensamente azuis que já vira.

— Bem, obrigada, reverendo — respondeu. Irritada com o tom cerimonioso da própria

Page 19: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 19/72

voz, acrescentou, tentando parecer mais natural: — E o senhor?Um brilho divertido surgiu nos olhos de Seth. No entanto, foi sem o menor sinal de

zombaria na voz que ele respondeu, seguindo-a para dentro do banco:— Bem, obrigado.Abbie estava se sentindo um verdadeiro feixe de nervos. O verão tinha trazido a

mistura usual de turistas e clientes ao banco, pois, sendo uma construção da época

vitoriana, ele era uma das maiores atrações da cidade. Certa de que a conversa com Sethhavia acabado, ela começou a abrir caminho em direção às caixas, desviando-sehabilmente das cadeiras de encosto alto, reunidas em torno de um aquecedor antigo, acarvão, e de duas velhas escarradeiras.

Só então percebeu que Seth ainda estava a seu lado. Como sempre, ele usava roupasincomuns para um ministro: calça jeans, justa nos quadris e delineando as pernas longase musculosas; unia camisa esporte branca, com os dois primeiros botões desabotoados,e. . . botas de vaqueiro!

Abbie estava pasma! Afinal, uma coisa era ele viajar com roupas comuns, mas outramuito diferente era ele andar pela cidade sem o hábito e o colarinho branco. Aquela era acomunidade que Seth Talbot estava servindo como ministro, mas como alguém poderia

saber disso, se ele não se vestia como um deles?,Seth terminou de examinar a interessante decoração do banco e voltou-se para ela.— Este lugar está bem de acordo com o resto da cidade. O tempo parece não ter 

passado por aqui.— Eles têm também uma exposição muito bonita de máquinas e objetos antigos,

usados nos bancos, durante o século passado — Abbie replicou, sentindo-se de novotensa com a atenção que ele estava lhe dedicando.

— Eu dei uma olhada neles quando estive aqui, na segunda-feira. Você veio ao centroda cidade fazer compras ou está na sua hora de almoço?

A pergunta pessoal pegou-a desprevenida.— Estou na minha hora de almoço — admitiu. E, sentindo que precisava de uma

desculpa para estar no banco, explicou, mostrando o envelope que tinha na mão: — Masantes preciso fazer um depósito.

— Onde você trabalha? — A voz dele não continha mais do que um leve interesse.— No escritório de meu pai. Sou secretária dele.— Não há nada melhor que o protecionismo para manter uma pessoa fora da fila de

empregados. — Seth riu, mostrando os dentes brancos e perfeitos.Ofendida com o comentário, apesar de saber que esta não tinha sido a intenção dele,

Abbie respondeu com frieza:— Acontece que eu tenho todas as qualificações necessárias para o cargo.A sobrancelha dele arqueou-se por um breve momento, e os olhos intensamente azuis

assumiram uma expressão mais gentil, diante da sensibilidade dela.— Eu não estou jogando pedras, Srta. Scott. Afinal, eu também trabalho para meu Pai.Ela não pôde deixar de sorrir da comparação, o que trouxe um sorriso aos lábios dele

também.— Assim é melhor! Agora, se me dá licença, tenho que ir falar com um dos funcionários

do banco.— Claro. Eu também tenho que fazer este depósito. — Foi uma resposta defensiva,

uma declaração de que não era sua intenção impedi-lo de se afastar, já que também tinhao que fazer.

A fila menor era exatamente a da caixa mais próxima, e Abbie dirigiu-se para lá,acompanhando com o rabo dos olhos a caminhada de Seth Talbot para a mesa do

gerente. Os dois clientes à sua frente não demoraram, e logo chegou sua vez de ser 

Page 20: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 20/72

atendida.— Oi, Roberta — ela cumprimentou a moça gorducha no caixa, entregando-lhe o

dinheiro a ser depositado.— Está tão quente lá fora quanto parece? — Roberta conferiu rapidamente o dinheiro e

a ficha de depósito.— Mais quente ainda, mas está soprando uma brisa gostosa.

Uma loira oxigenada aproximou-se delas e inclinou-se sobre o balcão, para perguntar aAbbie, num sussurro excitado:— Quem é aquele homem maravilhoso que estava com você?Fran era uma antiga colega de escola de Abbie. Ela agora estava casada e com dois

filhos, o que não a impedia de ficar excitada sempre que via um homem bonito.— Que homem? — Mal começou a falar, Abbie percebeu que Fran estava se referindo

a Seth... ao reverendo Talbot.— Ela ainda pergunta! — Fran lançou a Roberta um olhar exasperado.— Ah, você deve estar falando do reverendo Talbot. Ele é o novo pastor da igreja,

agora que o reverendo Augustus se aposentou.— Aquele é o novo pastor?! — O sussurro teatral de Fran ressoou pelo ambiente. —

Ah, Roberta. acho que minha alma acaba de ser salva!— Não a culpo — Roberta murmurou, olhando para o outro lado do banco. Sem dúvida

para Seth Talbot. — Ele é o homem mais sexy que já apareceu nesta cidade, nos últimosvinte anos!

— Não há dúvida. — O entusiasmo de Fran era inegável. — Vou comprar um novovestido para usar no próximo domingo, quando for à igreja.

— Você pertence à nossa igreja?! — Abbie não se lembrava de ter visto Fran ou omarido em pelo menos um dos serviços religiosos de domingo.

— Faz muitos anos que não vou. . . Na verdade, a última vez que entrei na igreja foiquando Butch e eu nos casamos — Fran confessou, sorrindo com malícia. —'Mas achoque, de agora em diante, vou ser dos membros mais fiéis.

— E eu, acho que vou me converter — Roberta exclamou, com um sorriso tãomalicioso quanto o da outra.

— Meu Deus, ele está vindo para cá — Fran disse baixinho. — Oh, Abbie, você temque nos apresentar!

Abbie estava detestando o comportamento das duas, e um olhar para as outras caixasao longo do balcão mostrou-lhe que elas não eram as únicas olhando avidamente para ohomem que se aproximava. É verdade que todas estavam tendo a mesma reação que elaa Seth Talbot, mas isso não tornava o fato menos detestável.

Roberta entregou a Abbie o comprovante do depósito e disse, em voz alta:— Aqui está, Abbie.

— Obrigada.Ela havia assumido uma postura rígida ao lado do balcão, evitando olhar para Seth,mas foi obrigada a fazê-lo, quando ele parou ao seu lado e perguntou:

— Terminou?— Terminei. — Relutantes, seus olhos encontraram-se com os dele. Era incrível o

modo como a presença daquele homem alterava suas emoções.— Oi, eu sou Fran Bigsby — a loira apresentou-se, sem esperar que Abbie o fizesse,

como seria o certo. — Abbie estava nos contando que você é o novo pastor. Bem-vindo aEureka Springs.

— Eu sou Roberta Flack, mas não tenho nenhum parentesco com a cantora. —Roberta sorriu abertamente, o que a deixou bem bonita, apesar dos muitos quilos que

tinha de sobra.

Page 21: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 21/72

— É um prazer conhecer vocês.Quando Abbie se afastou da caixa para que Roberta pudesse atender outro cliente,

Seth seguiu-a, acenando para as duas e dizendo, com aquele sorriso tão atraente:— Espero vê-las na igreja, um dia destes.— Nós nos veremos, sem a menor dúvida — Fran prometeu.Abbie apressou o passo, embaraçadíssima, embora sem saber por quê. Seth

acompanhou-a com facilidade.— Você estava planejando almoçar em algum lugar em especial?— Não. Por quê? — Muitas pessoas estavam deixando o banco naquele horário, e ela

foi obrigada a diminuir o passo.— Eu estou querendo almoçar. Você, também. Por que não fazemos isso juntos? Há

um restaurantezinho com ótima cara, descendo a rua. Que tal irmos até lá?Ele parecia não ter dúvidas de que seu convite seria aceito, e Abbie não conseguiu

pensar numa única desculpa para recusar.— Boa idéia — murmurou.O restaurante estava lotado de turistas, mas, por um golpe de sorte, Abbie e Seth

tiveram que esperar poucos minutos antes de serem conduzidos a uma mesinha de

canto. No entanto, a mesa era tão pequena, que os joelhos dela estavam sempre batendonos dele, por mais que ela tentasse dobrá-los. E a cadeira não podia ser empurrada paratrás, tão junto da parede já estava.

— Desculpe — Abbie murmurou, quando seu joelho esbarrou no dele pela quarta vez.Só esperava que ele não achasse que tinha feito de propósito.

— O espaço aqui é pequeno. — Seth ofereceu a desculpa, mas o brilho de seus olhosfez que ela corasse.

— É, sim. — Abbie abriu o cardápio e pôs-se a estudá-lo com toda atenção. Talvez, seficasse completa-mente imóvel, do jeito que estava, não fosse tão ruim.

— O que vai comer?— Uma salada à moda da casa. — Seu estômago não estava se comportando muito

bem, e seria melhor não enchê-lo de comida. — Não quer me acompanhar?Levantando a cabeça, ela deu com Seth a fazer um exame detalhado da parte superior 

de seu corpo, principalmente dos seios arredondados e firmes. Era o olhar de um homem,e uma centena de sininhos de alarme tocaram em seus ouvidos.

— Está fazendo regime? — Finalmente, ele levantou o olhar para o rosto dela. — É sóminha opinião, mas não vejo no quê você pode melhorar sua figura.

Em primeiro lugar, Abbie não sabia se ele deveria notar essas coisas. Em segundo,achava que, mesmo que notasse, ele não deveria comentar. Mas como é que alguémpode censurar um ministro? Era preferível acreditar que havia interpretado mal o olhar dele. Talvez tivesse sido um olhar mais analítico e menos íntimo.

— Não gosto de comer muito num dia quente como hoje -— disse, para explicar aprópria falta de apetite.— O que é ótimo para a saúde.A garçonete se aproximou, e Seth fez o pedido. No último momento, Abbie lembrou-se

de que tinha prometido levar um sanduíche para o pai.— Vou querer um sanduíche de rosbife frio também, por favor — pediu, apressada. E,

quando a mocinha se afastou, explicou a Seth: — Meu pai não pôde sair para almoçar.Está estudando um caso complicado.

— Ele exerce a advocacia aqui mesmo?— Exerce. Mas o escritório dele é pequeno. Ele está sempre falando em se aposentar,

mas nunca toma providências para isso. A verdade é que papai gosta demais da

profissão. — Era mais fácil falar do pai do que dos outros assuntos que tinha à escolha.

Page 22: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 22/72

Como o tempo, por exemplo. — Se bem que ele sempre se queixa de que o escritórioatrapalha suas pescarias — acrescentou, rindo divertida.

— Pelo modo como você diz, seu pai deve ser um pescador fanático.— E como! — Abbie concordou, pensando que Seth também era um pescador. Um

Pescador de Almas.— Não fui apresentado a ele domingo passado durante o chá. Mas gostaria muito de

conhecê-lo. Faz tempo que está trabalhando no escritório dele?— Quase um ano. — Ela recostou-se na cadeira, quando a garçonete inclinou-se paracolocar, sobre a mesa, seu copo de chá gelado e o leite de Seth. Acidentalmente, maisuma vez sua perna esbarrou na dele.

— Não se preocupe — Seth declarou, num tom de voz sedutoramente baixo. — Nãovou fazer mau juízo de você.

Abbie sentiu as faces em fogo e não conseguiu pensar numa única palavra para dizer.Mas logo em seguida ele tirou-a da situação embaraçosa, perguntando:

— O que você fazia, antes de trabalhar para o seu pai? Freqüentava a Universidade?— Não. Eu trabalhava para a TWA, em Kansas City.— Como aeromoça?

.— Não, na parte de administração.O interesse de Seth aumentou, e Abbie preparou-se para a próxima pergunta, certa de

que ele haveria de querer saber por que saíra da TWA. Mas essa pergunta nunca veio, esó teve que suportar um exame atento dos perspicazes olhos azuis.

— Thomas Wolfe, o sujeito que fez aquele estudo sobre as pessoas que deixam a casapaterna, estava errado. É possível voltar — foi o único comentário que ele fez.

— No fundo, eu não passo de uma garota de cidade pequena.No momento exato em que a garçonete chegava com o almoço, o juiz local parou

diante da mesa deles. Abbie conhecia o juiz Sessions desde que era uma garotinha, por isso não se surpreendeu com o modo como ele a cumprimentou.

— Oi, menininha! Como está passando hoje? — Sorrindo, o juiz segurou um punhadode seus cabelos e puxou-os, afetuosamente.

— Muito bem, obrigada, juiz.O olhar dele foi do rosto de Abbie para o de Seth.— E quem é este rapaz? Um novo namorado? — Uma piscadela maliciosa

acompanhou a perguntaindiscreta.— Não, claro que não — Abbie negou apressada, consciente de que Seth já estava se

levantando para ser apresentado. — Este é o novo ministro da nossa igreja, o reverendoSeth Talbot. Reverendo, este é o juiz Sessions, um amigo de minha família.

— Reverendo?! Eu nunca teria adivinhado — o juiz confessou rindo, enquanto

apertava a mão de Seth.— Isso acontece com muita gente. — Seth lançou um rápido olhar para Abbie.— Você parece um homem mais ligado à carne do que um homem ligado à alma.— Eu sou a combinação normal dos dois — respondeu Seth, nem um pouco

aborrecido com o comentário do juiz.Mas Abbie achou que a descrição do juiz não poderia ser mais correta. Seth era um

homem de carne e osso, que exalava masculinidade por todos os poros. Nem mesmo ohábito era capaz de esconder isto.

— Fico contente em saber. Estávamos precisando de um descanso daqueles ministrossantarrões, velhos demais para pecar. — O juiz colocou uma das mãos sobre o ombro deAbbie. — Seja bom para esta menininha aqui. Não se fazem mais garotas como ela. —

Sorrindo e balançando a cabeça com ar de aprovação, ele se afastou em direção à porta

Page 23: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 23/72

do restaurante.Desta vez foi Seth quem esbarrou o joelho no de Abbie, ao se sentar. Isso a levou a

imaginar se não estaria se sentindo mais descontraída, sem aquele constante contatofísico. Sua saia tinha subido até o meio das coxas, mas seria impossível puxá-la parabaixo, sem tocar novamente nele. Como ele não podia ver o que estava acontecendodebaixo da mesa, resolveu não tentar consertar nada.

— Você conhece o juiz há muito tempo? — Seth perguntou, pegando os talheres paracomeçar a comer o filé de frango com purê de ervilhas, que tinha pedido.— Desde que nasci. — Ela espetou um pedaço de presunto e uma rodela de tomate,

com o garfo. — Não é de admirar que todos se surpreendam, quando descobrem queestão diante de um ministro. Acho que deveria usar seu colarinho. Assim, pelo menos, asurpresa não seria tão grande.

Se Seth estivesse usando o colarinho, o juiz não teria achado que ele era seunamorado, as garotas do banco não teriam ficado entusiasmadas e ela... ela talvez sesentisse um pouco mais segura.

Esta última idéia era uma tolice, mas mesmo assim Abbie continuou achando que ocolarinho lhe daria uma espécie de proteção.

— Você não faz idéia de como aqueles colarinhos rígidos arranham o pescoço dagente, num dia quente como este — Seth comentou, parecendo divertido com as palavrasdela.

De imediato, Abbie percebeu que tinha sido rude e presunçosa.— Desculpe. Não era minha intenção criticar seu modo de vestir.— Não foi nada. — Os olhos azuis fitaram-na, brilhantes e divertidos. — Mas eu lhe

garanto que nunca deixo de usar meu colarinho, quando visito hospitais ou sou chamadoà casa de um membro da congregação.

— De certo modo, esta é uma comunidade muito conservadora. Era isso que eu estavatentando lhe dizer.

"E, como o juiz sugeriu, você é liberal demais e está numa idade em que ainda é capazde pecar", ela completou em pensamento.

— Eu sei que estou exatamente no coração da Região Bíblica.Abbie olhou-o, para ver se estava zombando dela, mas nada descobriu na expressão

dele. Seu olhar vagou para a camisa branca, que delineava tão bem os ombros largos emásculos. Os três botões superiores estavam desabotoados, deixando à mostra uma boaporção de pêlos loiros e crespos, outra indicação da evidente masculinidade de Seth.Uma corrente envolvia-lhe o pescoço, também.

— Algo errado? — Seth surpreendeu seu olhar e o divertimento aprofundou-lhe osvincos em torno da boca, sem, no entanto, materializar-se num sorriso.

Com o coração acelerado, Abbie mergulhou o garfo na salada.

— Sua aparência não é mesmo a de um ministro — admitiu, suspirando. A latentemasculinidade dele era enervante demais.O riso grave e baixo que escapou dos lábios de Seth atingiu todas as suas terminações

nervosas, fazendo-a vibrar de alto a baixo.— Vejamos. . . que tipo de aparência um leigo espera que um ministro tenha? — ele

refletiu. — Devem existir várias categorias. O intensamente pio deve ser pálido, magro,com olhos fundos, rosto encovado e voz fervorosa. Há também os parecidos com um paibenevolente: cabelos brancos, rosto redondo e ar bondoso. E temos também o tipotrovejante, que está sempre pregando a fúria de Deus e apontando os pecadores comdedo acusador. Este tipo é sempre alto, com sobrancelhas espessas e barba comprida.— Lançou um olhar zombeteiro a Abbie. — Falta algum?

Ela sorriu.

Page 24: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 24/72

— Bem... eu me confesso culpada de pensar nesses termos.— Todo mundo faz isso. Veja, a idéia que eu faço da secretária de uma firma de

advocacia é uma mulher de mais ou menos quarenta anos, com os cabelos presos nanuca, óculos de aro dourado e roupas sérias. Mas você não se encaixa nessa idéia.

Pela primeira vez, Abbie riu com naturalidade.— Prometo não fazer mais julgamentos baseados na aparência, reverendo. — Mas,

por dentro, ela sabia que continuaria a achar que ele não tinha cara de ministro.— Afinal, fiz você rir!O olhar dele fixou-se em seus lábios entreabertos, e Abbie estremeceu. A expressão

dos olhos azuis era tão. . . tão carnal!— Superamos o primeiro obstáculo — Seth murmurou, enigmático.— Para quê?— Para nos tornarmos amigos.— Ah!Sem saber por quê, Abbie sentiu-se desapontada. Comeu mais algumas garfadas da

salada, mas achou tudo completamente sem gosto. Estava consciente demais do calor daperna de Seth contra a sua. Isso, sem falar na sensação dada pelo brim áspero da calça

que ele estava usando, toda hora esbarrando em seus tornozelos. Era imperativo que nãoparassem de conversar.

— Já se mudou para a casa paroquial?— Já, mas ainda tenho muitas caixas cheias de objetos para arrumar. Conhece a

casa paroquial por dentro?— Não.— É uma monstruosidade caindo aos pedaços. Tem tantos quartos que eu jamais serei

capaz de usar todos. Creio que conservarei metade deles fechados.— Pelo que sei, ela foi planejada para abrigar uma família, não um homem solteiro.— Isso é praticamente uma regra não escrita. Um homem já deve ter escolhido uma

esposa adequada, antes de se formar no seminário e assumir o cargo de ministro de suaprimeira igreja. — Seth comentou, não parecendo nem um pouco preocupado com o fatode não ter seguido a regra.

— Mas, no seu caso, não foi isso que aconteceu.— Não, não foi — ele admitiu, fixando o olhar no dela.Abbie sentiu-se tensa.— Acho que é o que todos esperam. . . Que um ministro seja casado — conseguiu

explicar, falando com uma certa dificuldade. — Faz tempo que se formou? — Por seuscálculos, ele devia estar mais ou menos com trinta e cinco anos.

— Treze anos. Passei quatro como capelão da Força Aérea. — Abaixando o olhar,Seth pôs-se a cortar outro pedaço do filé de frango.

— Onde foi sua primeira igreja? -— Incapaz de resistir à curiosidade, Abbie começou ainvestigar o passado dele.— Esta é a minha primeira igreja.— Quer dizer que, antes, sempre foi pastor assistente?!— Não, eu trabalhava nos escritórios nacionais da Igreja. Meu trabalho era mais

orientado para negócios que qualquer outra coisa. — Os lábios dele curvaram-se numsorriso ligeiramente irônico. — Por várias razões, pedi que me fosse dada uma igrejanuma comunidade calma e pequena. Acho que estou me submetendo a uma espécie deteste.

— Entendo. . .— Duvido. — Ele mostrou um certo cinismo, logo substituído por um olhar de desafio.

— Mas isso não tem importância. Eu gostaria de saber é por que ainda não se casou,

Page 25: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 25/72

Srta. Scott.Abbie abriu e fechou a boca duas vezes, antes de conseguir pensar numa resposta

segura. Finalmente, rindo para esconder a própria hesitação, murmurou:— Vovó Klein diz que é porque ainda não procurei bem.— Ou talvez tenha andado procurando nos lugares errados...Ela teve vontade de lhe perguntar onde eram os lugares certos, mas resistiu.

— Talvez — concedeu, revirando com o garfo a salada que ainda tinha no prato.Distraída, olhou para o relógio de pulso e levou um susto, ao ver as horas. — Já é maisde uma hora da tarde! Tenho que voltar para o escritório.

Colocou o guardanapo ao lado do prato e estendeu a mão para a nota que a garçonetehavia deixado, mas Seth foi mais rápido. Seus dedos acabaram se enroscando nos delepor um breve momento, e o contato atingiu-a como um choque elétrico.

— Desta vez, fica por minha conta — ele disse.— De jeito nenhum! — Ela abriu a bolsa para tirar o dinheiro, com a intenção de deixá-

lo sobre a mesa, apesar do oferecimento dele.— Você mesma disse que já era tarde e que tinha que voltar para o escritório. Se

insistir em pagar, vai chegar mais atrasada ainda. Ponha o que acha que me deve no

prato de coleta, domingo que vem.— Eu... Está bem. — Cedendo, Abbie tornou a fechar a bolsa.— O sanduíche de seu pai.Agradecida pela lembrança, ela pegou o saquinho de papel que ele lhe estendeu.

Chegar atrasada já seria ruim, chegar atrasada e sem o sanduíche do pai, então, nem sefala!

— Obrigada.— Até domingo.Abbie achou a caminhada até o escritório mais longa que de costume, provavelmente

porque estava atrasada e tentando não se atrasar mais ainda. Seu pai era um homemtolerante e fácil de conviver, mas fazia questão de pontualidade.

Quando entrou, a porta da sala particular dele estava fechada e de lá vinha o somabafado de vozes. Obviamente, o cliente de uma hora já tinha chegado. Apressada, elasentou-se à escrivaninha, guardou a bolsa na última gaveta e colocou o sanduíche numamesinha ao lado. Em seguida, girou a cadeira de frente para a máquina de escrever eligou o fone de ouvido ao ditafone. No entanto, antes que conseguisse ajustá-lo à cabeça,a porta se abriu.

Abbie percebeu que o pai estava irritado, antes mesmo que ele se aproximasse de suaescrivaninha.

— Deixei uns papéis aí, para você datilografar.— Eu vi. Olhe, eu trouxe seu sanduíche.

— Estou surpreso que tenha se lembrado! Posso saber por que demorou tanto?— Almocei com o reverendo Talbot. — Ela sabia que, se não contasse, o juiz contaria.E guardar segredo seria o mesmo que admitir que tinha algo a esconder. — O tempopassou sem que eu percebesse.

Ele murmurou qualquer coisa impossível de ser entendida e abriu o saquinho de papel,para olhar dentro.

— Rosbife?— É.A expressão dele suavizou-se um pouquinho.— Pelo menos, você trouxe meu favorito.

Page 26: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 26/72

CAPÍTULO IV

Abbie não se lembrava de ver tanta gente na igreja há muito tempo, principalmentelevando-se em conta que não era Páscoa nem Natal. Obviamente, muitos tinham ido por pura curiosidade. A figura de Seth, conduzindo o serviço religioso do púlpito, vestida denegro, era mesmo de impressionar qualquer um.

O sermão já estava no meio, quando Abbie percebeu que ele não estava usando ummicrofone. No entanto, sua voz bem modulada atingia, sem esforço, todos os recantos daigreja. Ele falava com naturalidade, como se estivesse conversando em vez de pregandoum sermão. Seus gestos nada tinham de dramáticos ou teatrais, e em muitos momentos acongregação chegou a rir do humor contido em suas palavras.

.Todos tiveram a impressão de que Seth mal havia começado, quando ele terminou.Pela primeira vez em sua vida, Abbie se viu desejando que um sermão fosse mais longo.Lançando um rápido olhar aos pais, sentados no mesmo banco, ela viu que o paiexaminava o relógio com ar surpreso, enquanto a mãe continuava a dar toda a suaatenção ao homem no púlpito.

Minutos depois, eles se juntaram às pessoas que saíam da igreja. A fila movia-se

vagarosamente, pois todos paravam na porta, para apertar a mão do ministro.Inclinando-se para a filha, Drew Scott murmurou:— Seu reverendo não é mau, Abbie.— Ele não é meu reverendo, papai — ela corrigiu num tom de voz igualmente baixo.

Não gostara nem um pouco da insinuação de que estava, de certo modo, ligada a Seth,só porque tinham almoçado juntos uma vez.

— Se você diz. . . — Ele deu de ombros, deixando que ela passasse à frente, quando afila para cumprimentar Seth transformou-se em fila indiana.

Abbie esperou, pacientemente, sua vez, um arrepio de antecipação esquentando-lhe osangue, enquanto observava Seth conversando com o casal a sua frente. O hábito negrotornava os cabelos dele mais castanhos que loiros, mas não diminuía em nada a másculaatração que ele exalava com a mesma facilidade com que respirava.

Num dado momento, o olhar dele desviou-se do casal e fixou-se no rosto dela. Deimediato os olhos intensamente azuis brilharam, assumindo uma expressão que a fezsentir-se especial.

Seu coração falhou uma batida, mas Abbie recusou-se a admitir, mesmo para simesma, que aquilo pudesse ter um significado qualquer. Ela era só um rosto familiar,alguém que ele conhecia, no meio de tantos estranhos.

A troca de olhares não durou mais do que alguns segundos. A atenção de Seth voltou-se novamente para o casal, e a conversa continuou. Logo, no entanto, o casal sedespediu e chegou a vez de Abbie. De perto, Seth pareceu-lhe maior e mais imponente,

com o hábito negro. A mão dele segurou a sua, num cumprimento, não a soltando mesmoquando tentou puxá-la.— Então, qual é o veredicto? — Havia um brilho divertido e caloroso no olhar que ele

lançou às próprias roupas. — Passo ou não passo.Abbie percebeu que Seth estava brincando com ela, por causa das críticas que tinha

feito ao modo como ele se vestia, e sorriu.— Passa. E devo reconhecer que também falou como um ministro, reverendo.Ele jogou a cabeça para trás e riu. Foi um riso baixo e grave, mas nem por isso menos

autêntico.— Este foi o melhor cumprimento que recebi, hoje — disse, inclinando a cabeça num

gesto de zombeteiro reconhecimento. — Obrigado, Srta. Scott.

— Não há de quê, reverendo.

Page 27: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 27/72

Abbie virou-se para descer a escada, mas Seth impediu-a, continuando a segurar suamão com firmeza. Confusa, olhou-o, mas a atenção dele já tinha se desviado para seuspais.

— Este é seu pai? — ouviu-o perguntar, num tom que a obrigou a fazer aapresentação.

— É, sim. E gostaria muito que o conhecesse.

Só quando viu, por seu modo de falar, que ela ia atender ao pedido silencioso quefizera, Seth soltou-lhe a mão.— Papai, este é o reverendo Talbot. Reverendo, meu pai, Drew Scott. Já conhece

minha mãe, não é?— Já, sim. É bom ver a senhora de novo, Sra. Scott. E é um prazer conhecer seu

marido. Sr. Scott. . .— Eu estava ansioso para conhecê-lo, reverendo — Drew admitiu. — Gostei muito do

seu sermão.— Fiquei sabendo que o senhor é um pescador. Talvez possa me mostrar uns bons

pesqueiros por aí, qualquer dia destes.Seth não mencionou que ficara sabendo disto através de Abbie, mas Drew adivinhou.

— Com todo prazer, desde que me prometa que, da próxima vez que levar minhasecretária para almoçar, ela não chegará tarde.

— Papai! — Abbie protestou, em voz baixa e impaciente. Ele falava como se fosseuma coisa certa, ela almoçar com Seth de novo.

Mas Seth não se aborreceu com as palavras de Drew.— Combinado, Sr. Scott.Havia mais gente atrás deles, esperando para deixar a igreja, e Abbie sentiu-se

aliviada quando os pais viraram-se para descer a escada. Nem toda a congregação tinhase dispersado, após cumprimentar o novo ministro. Muitos ainda estavam reunidos emgrupinhos, na calçada, e seus pais eram conhecidos demais para irem diretamente para ocarro, sem serem detidos por alguém. Como ela tinha ido com eles, foi obrigada aesperar, todas as vezes que eles paravam para um dedinho de prosa.

De minuto a minuto, seu olhar voltava-se para as portas da igreja. Reconheceu FranBigsby, quando a outra saiu acompanhada por dois filhos pequenos. Não havia sinal demarido por perto, quando a falsa loira parou para falar com Seth.

"Flertar com ele seria uma descrição melhor", Abbie pensou, com maldade. E notouque, apesar do marido não ter vindo, Fran trouxera junto a irmã mais nova, Majorei.

De repente, seu cérebro registrou que muitas mulheres haviam assistido ao serviçoreligioso sem os maridos, principalmente aquelas que não tinham o hábito de comparecer regularmente. E não gostou da conclusão a que chegou, de que elas haviam aparecidomais levadas pela vontade de conhecer o atraente pastor solteiro, de que toda a cidade

estava falando, do que motivadas pelo desejo de dar as boas-vindas ao novo ministro daigreja.Isso tornou-a silenciosa e, pensativa, Abbie tentou analisar os próprios motivos. Por 

mais que quisesse, não poderia ignorar a atração física que sentia por Seth. Estavavivendo numa casa com telhado de vidro e não podia se dar ao luxo de jogar pedras notelhado dos outros.

Abbie olhou para o relógio, enquanto tirava da máquina a carta que acabara deescrever. Já era quase meio-dia, mas teria tempo suficiente para datilografar o envelope edeixar a carta pronta para ser colocada no correio, antes de sair para almoçar. Era quinta-feira, e fazia exatamente uma semana que havia almoçado com Seth.

A lembrança daquele dia devia estar em seu subconsciente, pois seu coração disparou

quando a porta da rua se abriu. Virou-se, esperando ver Seth entrar. Mas o juiz Sessions

Page 28: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 28/72

não se parecia em nada com ele, e foi difícil conservar o sorriso nos lábios.— Oi, juiz — cumprimentou, esforçando-se para esconder a decepção. — Papai está

sozinho na sala dele. Pode entrar, se quiser.— Talvez eu não tenha vindo para vê-lo. Talvez eu esteja aqui para ver você.— É possível, mas não creio.Agora que havia superado o desapontamento inicial, Abbie podia responder com

naturalidade às brincadeiras do juiz.— Bem que eu achei que tinha ouvido a sua voz, Walter — disse Drew Scott, abrindo aporta do escritório e colocando a cabeça para fora. — O que o trouxe até aqui, seu velhodanado?

Aceitando, bem-humorado, o cumprimento brincalhão, o juiz apertou a mão do amigo,que tinha atravessado a sala com rápidas passadas.

— Vim convidar meu par favorito de pai e filha para o almoço. — Seu olhar brilhantedeslizou para Abbie. — Isto é, se a filha já não tiver se comprometido com outrapessoa. . .

— Creio que hoje o horário de almoço está vago, na agenda social — ela replicourindo.

— Você poderia estar reservando todo o seu tempolivre para aquele simpático novo reverendo — o juiz sugeriu. — Quando vai se

encontrar com ele de novo?— Provavelmente domingo, na igreja, como todo mundo. — A voz de Abbie tinha um

traço de frieza. Os comentários do velho amigo estavam começando a irritá-la. — Sóporque almocei uma vez com ele, por puro acaso, não quer dizer que isso vá se tornar umhábito.

— Drew, acho que esta menina está doente! Ela finge que não está interessadanaquele sujeito!

— E não estou mesmo — Abbie protestou, mentindo com a cara mais limpa destemundo.

— Posso saber o que a faz diferente do resto das mulheres desta cidade? — O olhar incrédulo do juiz fixou-se em seu rosto. — Pelo que ouvi dizer, elas não sabem mais oque fazer para chamar a atenção dele.

— Verdade? — Drew Scott entrou na conversa, juntando-se ao juiz para brincar com afilha. — Ê impressionante como fica sabendo de todos os boatos desta cidade, "Walter!Não quer nos contar o que andou ouvindo?

— Pelo que sei, o homem não tem um minuto livre, com todas as visitas que andarecebendo. Todas as mulheres da congregação resolveram presenteá-lo com bolos,saladas, pão feito em casa e uma infinidade de outras coisas. Não há um lugarzinho vagona geladeira e nos armários de cozinha do reverendo.

Abbie partiu em defesa das presenteadoras.— Acho isso bonito, da parte delas. Sempre devemos dar as boas-vindas a um novohabitante da cidade.

— Mas essas mulheres são sabidas. — O juiz piscou, cheio de malícia. — Nunca ouviudizer que o caminho para o coração de um homem é através do estômago?

— Falando nisso, Alice fez uma torta de maçãs para ele, terça-feira passada — Drewcomentou. — Talvez seja melhor eu ficar de olho na minha esposa. Ela demorou mais deuma hora, na casa paroquial.

— Papai, você não pode estar com ciúmes do reverendo!— Eu não me importo que ela olhe. . . desde que não passe disso! — Ele riu,

mostrando que, na realidade, não estava preocupado.

— Parece que um grande número de esposas descobriu, de repente, que têm

Page 29: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 29/72

problemas conjugais... O que foi um choque para seus felizes maridos — disse o juiz. —E agora todas elas estão recorrendo ao bom reverendo, em busca de conselhos ecompreensão.

Abbie teve a desagradável intuição de que Fran Bigsby era uma dessas esposas. Eentendeu o que o juiz estava tentando insinuar: na verdade, tudo não passava de umaartimanha para atrair a atenção de Seth e despertar seu interesse.

— Mas é mais do que de simpatia que elas estão atrás — Drew Scott murmurou,confirmando o receio da filha.— A mulherada toda está se oferecendo para ajudá-lo em tudo, desde a limpeza da

casa até a datilografia dos boletins da igreja. — O juiz suspirou com ar exagerado eergueu os olhos para o céu. — E ainda dizem que a vida de um homem solteiro ésolitária! Basta ele mexer um dedinho que metade das mulheres do estado virãocorrendo. Aposto que a igreja estará cheia até o teto, domingo que vem.

— Isso não me surpreenderia nem um pouco — Drew concordou.Foi nesse exato momento que Abbie decidiu que não seria uma daquelas mulheres.

Não queria que Seth tivessea impressão de estar sendo caçado por ela, como todas as outras mulheres da cidade

pareciam estar fazendo. Não costumava ir à igreja todos os domingos, por isso ninguémestranharia se faltasse a um ou dois serviços religiosos.

Ela falou de modo bem casual a este respeito quando, conversando com a mãe nosábado, mencionou que não iria à igreja no dia seguinte, pois pretendia visitar vovó Klein.Sua mãe aceitou a decisão sem problemas, mas seu pai lançou-lhe um olhar estranho.No entanto, não fez nenhum comentário.

Abbie mal tinha se sentado à escrivaninha, na segunda-feira de manhã, quando a portada rua se abriu e as irmãs Coltrain entraram. As duas sempre usavam roupas que nãocombinavam com a da outra e, naquele dia, para não fugir à regra, Esther estava com umvestido vivamente estampado de vermelho, enquanto Isabel exibia um modelo vaporoso,de chiffon cor-de-rosa.

— Aí está você, Abbie! — Esther declarou, com ar feliz. O estampado de seu vestidorefletia a luz fluorescente do escritório, o que dava a seus cabelos brancos um tomligeiramente rosado. — Bem que achamos que a encontraríamos aqui, no escritório doseu papai.

— Eu trabalho aqui, durante a semana — Abbie explicou, certa de já ter dito isto àsduas pelo menos uma dúzia de vezes, antes.

Nenhuma das irmãs Coltrain jamais trabalhara, pois tinham sido criadas acreditandoque lugar de mulher, casada ou não, é em casa. Felizmente, a herança que os pais lhesdeixara, ao morrer, permitira que continuassem vivendo de acordo com essa idéia.

Abrindo a enorme bolsa preta de tapeçaria, decorada com flores cor-de-rosa, Isabel

tirou um maço de papéis dos mais variados tamanhos e cores, presos por uma estreitafaixa de elástico.— Nós pretendíamos lhe entregar isto ontem, na igreja, mas você não foi — ela disse.— O que é isto? — Franzindo a testa, Abbie estendeu a mão para os papéis.— Não se lembra? — Esther olhou-a, aflita. — Você prometeu datilografar nosso

manuscrito.— Ele já está pronto?! — Abbie levantou os olhos da primeira folha de papel,

inteiramente coberta por garranchos difíceis de serem decifrados, e fitou, incrédula, asduas irmãs.

— Deus do céu, não! — Isabel riu, alegre. — Nós só achamos que seria mais fácil sevocê fosse passando a limpo o que fôssemos terminando.

— Já escrevemos bastante, não acha? — perguntou Esther, excitadíssima. —

Page 30: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 30/72

Trabalhamos todos os dias, não foi, Isabel?— É tão divertido, Abbie! — Isabel declarou, inchada de satisfação e orgulho. — Não

imagina como estamos contentes com a sugestão do reverendo.Abbie nunca vira as duas irmãs tão contentes. O entusiasmo delas era contagiante!— Espero que não tenha dificuldade pata ler o que escrevemos. — Cobrindo a boca

com a mão, Isabel sussurrou para Abbie: — Esther costumava ter uma letra linda, mas

com o reumatismo nem sempre ela consegue escrever de forma legível.— Acho que não vou ter dificuldade nenhuma. Mas, se tiver, telefono para vocês.— Não contamos a ninguém o que estamos fazendo. — Num gesto protetor, Esther 

colocou a mão sobre o manuscrito. — Você é a única que sabe.— Não direi uma palavra a ninguém. — Abbie fez uma cruz sobre o coração, numa

promessa solene de segredo. — Desde agora, ele ficará trancado na última gaveta daminha escrivaninha.

— Tome cuidado com ele.Isabel estava tão preocupada, que Abbie resolveu guardá-lo diante dela.— Assim que acabar de datilografar estas folhas, telefone para nós — pediu Esther. —

Até lá, já teremos mais alguns capítulos escritos. — Virou-se para a irmã. — Vamos,

Isabel. Vamos para casa, continuar nosso romance.— Até logo — disse Abbie, sorrindo da pressa com que as duas se dirigiram para a

porta. — E não se preocupem! Eu aviso assim que terminar de datilografar esta parte.Aquela noite, ao colocar a máquina de escrever portátil sobre a mesa da cozinha e

datilografar as primeiras páginas do manuscrito, Abbie começou o que se tornou umarotina. As irmãs Coltrain tinham usado tudo para escrever, desde papel de pão atésofisticados papéis de carta, e ela logo descobriu que os números marcando a seqüênciade páginas nem sempre eram corretos. Na verdade, na maior parte das vezes elesestavam errados.

Antes de começar a datilografar, Abbie teve que decifrar os garranchos das duas irmãse organizar as páginas na ordem certa. Ela esperava que o manuscrito fosse uma coleçãode anedotas de anos atrás e histórias de velhos cidadãos locais, sem a menor conexão.Mas, para sua surpresa, as duas irmãs tinham alinhavado tudo isso de modo a formar umenredo inteligente, conseguindo como resultado um romance incrivelmente tórrido,passado em Eureka Springs, no início do século.

Todas as noites, dali em diante, Abbie se sentava à máquina de escrever por trêshoras, corrigindo as palavras mal escritas e colocando a pontuação adequada em frasesonde não existia nem sequer uma vírgula correta. Era um processo longo e tedioso, masao mesmo tempo fascinante por causa dos personagens e histórias narrados pelas duasirmãs. O único senão era que, quando ela já estava se acostumando a ler os garranchosde Esther e podendo trabalhar mais depressa, a parte seguinte vinha na letra de Isabel e

tudo voltava à estaca zero.Datilografar o manuscrito deu-lhe uma desculpa perfeita para não ir à igreja, nodomingo seguinte. E, quando terminou de datilografar o primeiro maço de folhas, as irmãs já tinham escrito outro tanto, o que lhe servia de motivo para não comparecer ao próximoserviço religioso também.

Com o tempo, ela começou a se cansar de trabalhar no escritório durante o dia; à noitee nos fins de semana, em casa. Na segunda-feira após o terceiro domingo em que nãofora à igreja, Abbie entrou no escritório praticamente se arrastando. Apoiando-se namesa, ligou a cafeteira e esperou que o café começasse a pingar na xícara. Seu paiapareceu quando estava exatamente no meio de um enorme bocejo.

— Você não pode continuar assim, Abbie — ele disse, balançando a cabeça. —

Precisa sair um pouco, para se divertir. Todas as noites eu ouço você martelando naquela

Page 31: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 31/72

máquina de escrever!— Vou tirar esta noite de folga, papai — ela prometeu, tentando sufocar outro bocejo.— Não é só esta noite. Você está precisando de duas ou três noites de folga. Vá ao

cinema. . . Ou então convide um rapaz para sair. Estamos na época da liberaçãofeminina!

— Está bem, papai. — Abbie sorriu com desânimo, pensando que não estava

interessada em convidar ninguém. A não ser Seth, é claro! Mas a luz vermelha dacafeteira acendeu, para indicar que o café estava pronto, e ela afastou essa idéia dacabeça. — O café está pronto.

— Tenho que ir ao tribunal. — Ele lançou um rápido olhar para o relógio. — Mas dátempo para tomar uma xícara.

Quando seu pai saiu, Abbie já havia tomado uma xícara de café e conseguido,finalmente, abrir os olhos por inteiro. Servindo-se de outra xícara, ela sentou-se àescrivaninha e ligou o ditafone para ver o que tinha a datilografar. Quanto mais pensavana sugestão do pai, mais se convencia de que ele estava certo.

Momentos depois, ouviu a porta da rua se abrir e preparou-se para cumprimentar orecém-chegado com um sorriso alegre. Só que o recém-chegado era Seth Talbot. Seus

olhos castanho-esverdeados arregalaram-se e, de repente, ela se sentiu mais desperta doque nunca.

Nas últimas três semanas, só o vira de vez em quando pelas ruas da cidade, aovolante do carro esporte verde. Mas agora ali estava ele, em carne e osso, e seu coraçãocomeçou a bater como um louco. E quando ele se aproximou da escrivaninha, tão alto,másculo e sorridente, uma estranha fraqueza apossou-se de seus joelhos. O colarinhobranco de ministro envolvia-lhe o pescoço, contrastando intensamente com a pelebronzeada de sol que cobria, mas seus sentidos não mostraram o menor respeito pelosímbolo que o marcava como um homem de Deus. Todo o seu ser estava reagindo àmasculinidade, às feições atraentes e aos olhos profundamente azuis de Seth Talbot.

— Bom dia, reverendo. — Abbie surpreendeu-se com o tom calmo de sua voz.— Bom dia. — Os olhos de Seth enrugaram-se nos cantinhos parcialmente,

escondendo a intensidade do olhar com que ele a examinou da cabeça aos pés. — Comovai você?

— Bem, obrigada. — Achando que ele tinha vindo à procura de seu pai, elaacrescentou: — Papai acabou de sair, mas até o meio-dia deve estar de volta.

— Eu não vim ver seu pai. Vim ver você.Seth falou de um modo casual, mas mesmo assim uma excitação atordoante tomou

conta de Abbie, deixando-a quase incapaz de respirar.— Não a tenho visto na igreja ultimamente, por isso resolvi entrar e ver se não há nada

de errado com você.

— Ah! — Abbie balançou a cabeça, desapontada. — O pastor está à procura dasovelhas que se perderam de seu rebanho. . .Seth semicerrou os olhos, ao perceber a leve ironia na voz dela.— Mais ou menos isso. Sinto falta de alguém que possa me criticar com honestidade,

na congregação. Se eu disser ou fizer algo de que você não goste, sei que não hesitaráem chamar minha atenção. Você não é do tipo capaz de lisonjear meu ego.

Mas ele estava lisonjeando o dela, tentando fazê-la acreditar que se importava comsua presença na igreja. O único senão era que persuadir os membros da igreja, afreqüentarem regularmente os serviços religiosos de domingo, fazia parte do trabalhodele.

— Sabe como é. . . — Abbie deu de ombros. — A gente vai se deitar no sábado com a

melhor das intenções, mas, sem saber como, não acorda a tempo de ir para a igreja, no

Page 32: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 32/72

dia seguinte. — A falta de alegria em seu sorriso tinha muitas causas. — Eu lhe disse quenão era uma das ovelhas mais fiéis.

— E eu lhe disse que a traria de volta ao rebanho — Seth lembrou-a, sorridente.— É verdade. Está bem, eu prometo ir à igreja este domingo. Satisfeito?Abbie não queria prolongar a conversa, pois estava com medo de que Seth percebesse

que não era diferente das outras mulheres da cidade, que se sentiam atraídas por ele,

como homem. E, se ficassem muito tempo juntos,era exatamente isso que iria acontecer.— Foi fácil. — Ele deu a impressão de encarar a rápida rendição dela com uma certa

curiosidade.— "Peça e receberás" — Abbie replicou, citando a Bíblia.— Este é um oferecimento que não vou recusar. — O sorriso dele abriu-se mais. —

Você poderia datilografar algumas coisas para mim?— Pelo que ouvi dizer, muitas voluntárias já se ofereceram para datilografar seus

boletins. . .— Ah, mas elas não são voluntárias capazes de datilografar. Pelo menos, não com

mais de um dedo.

— Eu gostaria de ajudá-lo, mas já concordei em datilografar um manuscrito para. . .para outra pessoa. — Como havia prometido às irmãs Coltrain, Abbie manteve o segredodelas. — Trabalhando aqui, durante o dia, e datilografando o manuscrito, à noite, não mesobra tempo para mais nada.

— Pelo seu jeito de falar, parece que sua vida se resume em muito trabalho enenhuma diversão.

— É, eu tenho andado bastante ocupada, mas hoje vou me recompensar: tirarei a noitede folga.

— Vai sair com alguém?Numa comunidade pequena como aquela, não havia sentido em mentir. Se dissesse

que ia se encontrar com alguém, teria que dar um jeito de arranjar esse alguém ou seriaapanhada em flagrante mentira.

— Não — respondeu com indiferença, para mostrar que não se importava com isso.— Ótimo. O que acha, então, de jantar comigo? Era a última coisa que Abbie esperava,

e uma enorme vontade de aceitar invadiu-a. Mas resistiu.— Obrigada, mas eu estava planejando uma noite calma e curta. Quero ir cedo para a

cama.— Não há problema. Depois do jantar eu a levo diretamente para casa, para que possa

descansar. O que prefere? Comida mexicana? Pizza? Carne?Estava ficando mais difícil recusar, e ela balançou a cabeça, num gesto negativo.— Usarei meu colarinho esta noite, em sua homenagem — Seth declarou, zombeteiro.

Abbie respirou fundo, para criar coragem.— Viver numa comunidade pequena como esta é muito difícil, reverendo. Se jantarmos juntos esta noite, amanhã toda a cidade estará dizendo que estamos tendo, um. . . umcaso!

— E o que tem isso?Ela gostaria que Seth não estivesse tão perto. Ele havia apoiado as mãos sobre a

escrivaninha e se inclinado em sua direção, de tal modo que podia até mesmo sentir-lhe ocheiro da loção pós-barba.

— Tem que. . . que um ministro, e ainda por cima solteiro, não pode se dar ao luxo dedespertar falatórios.

— Falatórios não me atingem. E se eles não me atingem nem me preocupam, também

não devem preocupá-la.

Page 33: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 33/72

— Eles não me preocupam.— Então, vai jantar comigo.— Pizza.A atmosfera numa pizzaria seria bem mais casual, sem a menor chance de levar a uma

intimidade maior. E não haveria nenhuma conversa agradável, depois da refeição. Detodas, esta era a escolha mais segura.

— Pego você às seis e meia. Certo?— Certo! — Abbie concordou, sem a menor dúvida de que havia ficado completamentelouca. — Sabe onde eu moro?

— Sei. Seu endereço está no arquivo da congregação. Que ele tinha verificado ondeela morava, era evidente. Mas se fora por acaso ou de propósito, Abbie não sabia.

— Deve ser o endereço de meus pais que está no arquivo. Eu moro no apartamentoem cima da garagem.

Seth endireitou o corpo.— Eu também morava num lugar assim, quando estava no seminário. Meus amigos e

eu nos divertimos muito lá.— Eu gosto do meu apartamento.

— Bem, não vou atrapalhar seu trabalho por mais tempo. Não quero criar maisproblemas com seu pai, a respeito disso — ele declarou, sorrindo de um modo quedesmentia a seriedade de suas palavras. — Até a noite.

— Até.Abbie só esperava não se arrepender depois.

CAPÍTULO V

Dez minutos depois das cinco, aquela tarde, Abbie estava colocando a escrivaninhaem ordem, para ir embora, quando seu pai saiu da sala em frente, cornos óculos na pontado nariz e uma carta na mão.

— Mudei de idéia sobre o modo como esta carta deve ser escrita, Abbie, Você vai ter que batê-la de novo — ele disse, sem prestar atenção ao que ela estava fazendo.

— Mas não precisa ser agora, precisa? São mais de cinco horas.Drew levantou o pulso, para enxergar o relógio.— Puxa! Eu não havia percebido que já era tão tarde. Mas você não se importa de ficar 

mais alguns minutos, não é? Não há razão para que queira ir correndo para casa.— Para ser franca, há sim. Tenho um encontro. Surpreso, ele tirou os óculos para vê-la

melhor.— Desde quando? Não me diga que seguiu meu conselho e convidou um rapaz para

sair!— Não. — Ela ainda não era tão liberada. — O reverendo Talbot passou por aqui, hojede manhã, e me convidou para ir comer uma pizza.

— O reverendo Talbot! Ora, ora. . .Abbie conhecia aquele tom de voz. Ele sempre precedia uma verdadeira inquisição

para determinar seu grau de interesse por alguém.— Papai, nós só vamos sair para comer uma pizza — repetiu, para impedir que o pai

enxergasse mais do que havia, naquele convite. O que valia como um aviso para simesma, também.

— Acho que a carta pode esperar. . . desde que você a refaça assim que chegar aoescritório, amanhã de manhã. — Drew resolveu, desistindo das perguntas indiscretas que

pretendia fazer.

Page 34: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 34/72

— Obrigada.Mandando-lhe um beijo, Abbie saiu apressada do escritório para pegar o carro. Um

estranho poderia pensar que seria mais fácil, para ela, ir e voltar com o pai. Mas Drew eraum sujeito madrugador, que muitas vezes começava a trabalhar às quatro ou cinco horasda manhã, quando tudo estava em silêncio e as chances de ser interrompido erammenores, e ela não tinha necessidade de chegar antes das nove. Por isso, geralmente ia

sozinha.Gemendo, Abel abriu caminho por entre o tráfego e -subiu a rua serpenteante quelevava à casa dos Scott. Abbie só tinha uma hora para se arrumar, antes de Seth chegar,e aproveitou cada minutinho dessa hora. Enquanto a banheira enchia de água, tirou o pódos móveis e catou as revistas e jornais espalhados pelo chão. Depois, um rápido banhoe viu-se diante da difícil decisão do que vestir.

Nada lhe parecia apropriado. Suas roupas ou eram muito justas, ou muito decotadas,ou simples demais. No fim, acabou escolhendo um jeans branco e um blusão largo emoderno, verde-garrafa. O decote do blusão era um pouco pronunciado, mas, se selembrasse de sentar ereta, tudo correria bem.

Ela estava passando uma escova pelos cabelos, quando ouviu o carro esporte de Seth

subindo a rua. Em sua pressa, enganchou as cerdas da escova no brinco de argola queestava usando, dando um doloroso puxão na própria orelha.

— Ai!Foi um grito baixo e involuntário, interrompido pelo som de passos na escada.

Correndo, Abbie alcançou a porta no momento exato em que Seth deu a primeira batida.Abriu-a, com. a intenção de partir imediatamente, mas ele não lhe deu chance. Semesperar convite, entrou.

— Cheguei um pouco adiantado. Espero que não se importe — disse, virando-se paraela, que ainda estava segurando a porta aberta.

— Não, não tem importância. E eu já estou pronta. Uma pequena faixa branca apareciaacima da gola

do blusão de náilon azul-claro de Seth. Ele estava usando o colarinho de ministro.— Ótimo. — Os olhos intensamente azuis percorreram, rapidamente, o apartamento.

— Se eu pudesse, mudaria para cá e lhe daria a casa paroquial.Abbie franziu a testa, sem saber se um ministro podia ou não fazer esse tipo de

comentário. Adivinhando o que lhe ia pela cabeça, Seth sorriu.— Não se preocupe, não estou quebrando nenhum mandamento. Não estou cobiçando

seu apartamento.— Eu. ..— Você não tinha certeza. -— Não.— É melhor pegar um lenço. — O olhar dele pousou sobre os cabelos dela. — Estou

com a capota do carro abaixada, e o vento pode embaraçar seus cabelos.— Está bem. — Sorrindo com um certo nervosismo, Abbie dirigiu-se ao quarto. — Jávolto..

— Não há pressa.Mas ela pensava de modo diferente e, no quarto, remexeu apressada a gaveta de cima

da cômoda, até achar uma echarpe de seda pura, verde com desenhos dourados. O tomde verde não era exatamente o do blusão, mas era bem próximo.

Quando voltou para o outro cômodo, Seth estava em pé diante da mesa com amáquina de escrever, lendo as páginas já datilografadas. Ele seguia uma linha com aponta dos dedos, como se estivesse examinando uma passagem em especial, e umtremor de apreensão percorreu-a de alto a baixo.

Onde mesmo tinha parado de datilografar? Algumas cenas do livro eram incrivelmente

Page 35: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 35/72

quentes.— É este o manuscrito que você está datilografando? — Seth perguntou, assim que

sentiu sua presença no local.— É.— Estou contente pelas irmãs Coltrain terem seguido meu conselho.— Como sabe que o manuscrito é delas?!

— Reconheci a letra. — Ele sorriu. — Isabel me mandou um bilhete. Ninguém maisescreve com tantos floreios. — Arqueou uma das sobrancelhas, com ar interrogativo. —Por quê? Elas querem manter a autoria do livro secreta?

— Querem, sim.— Bem, comigo o segredo está a salvo. — Seth garantiu, divertido. E, batendo com um

dedo no papel, comentou: — A julgar por esta passagem, não é difícil adivinhar por queelas não querem ser apontadas como as autoras deste livro.

— Que passagem?Ansiosa, Abbie moveu-se em direção à mesa, mas estacou abruptamente, quando ele

começou a ler.— "A mão dele envolveu-lhe o seio, e Sofre achou que, na certa, desmaiaria de

prazer."Uma exclamação abafada escapou-lhe dos lábios, interrompendo-o e levando-o a

levantar os olhos para ela.— O livro tem bom enredo. Não deve julgá-lo só por este pedaço. Os personagens são

interessantes e muito bem ambientados — defendeu.— Eu não estou julgando nada. — Riso e uma expressão indefinível brilharam nos

olhos azuis. — Achou que eu fiquei ofendido com o que li? Ou chocado?Ela mordeu o lábio inferior, nervosa e embaraçada.— Não sei. . . Mas este não deve ser seu padrão normal de leitura. —

Involuntariamente, seu olhar desviou-se para o colarinho dele.— Por prazer, eu leio histórias de mistério. — Agora, a expressão dele era francamente

zombeteira. — Travis McGee é um dos meus personagens favoritos. E ele vive algumascenas de amor bem apaixonadas.

— Oh! — Abbie não queria continuar a falar de amor e paixões humanas. Sexo era apalavra que desejava evitar, pois estava por demais consciente do fato de estarem osdois sozinhos no apartamento. Há quanto tempo Seth tinha subido? Cinco minutos? Dez?E se sua mãe ou um dos vozinhos o tivesse visto entrar? Apertando com força a echarpe,sugeriu: — Não é melhor irmos andando?

— Claro — ele concordou, seguindo-a em direção à porta.Abbie percebeu que estava sendo observada com cuidado, mas, mesmo assim,

surpreendeu-se quando Seth lhe perguntou, no momento exato em que alcançaram a

porta:— Há quanto tempo não recebe um homem em seu apartamento?Assustada, virou-se para encará-lo.— Desde que... — Interrompeu-se abruptamente. Quase tinha dito "desde que

terminei com Jim", quando não havia a menor necessidade de ser tão sincera. — Hábastante tempo — respondeu em vez disso, tirando a chave da bolsa.

— Achei que você não estava à vontade. — Seth esperou no primeiro degrau,enquanto ela trancava a porta.

— Poucas pessoas trancam a porta por aqui, quando saem de casa.— É um hábito que ficou, de viver na cidade grande— ela admitiu, guardando a chave na bolsa e caminhando para a escada.

A escada era larga o bastante para os dois descerem lado a lado, e a sensação da

Page 36: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 36/72

mão de Seth em sua cintura quase fez Abbie estacar. Ela não estava preparada para otoque casual, que atingiu-a como um choque elétrico e tornou-a mais consciente ainda dafigura alta e máscula junto de si.

Seth não tirou a mão de sua cintura quando chegaram ao último degrau, continuando aguiá-la até o carro. Só então caminhou à frente, para abrir a porta.

— De vez em quando este fecho emperra — explicou, abrindo a porta por dentro e

esperando que Abbie entrasse, para fechá-la de novo.Era um carro pequeno, com um console entre os bancos, colocados o mais próximopossível. E o espaço, que já era pouco, tornou-se menor ainda quando ele se sentouatrás do volante, o ombro quase tocando o dela.

Abbie tentou esconder o quanto estava consciente dessa proximidade forçada,amarrando a echarpe sob o queixo. Enquanto ela não terminou, Seth não fez o menor gesto para ligar o motor.

— Pronta? — perguntou então.Virando-se para confirmar com a cabeça, Abbie foi atingida pela força total do olhar 

que ele lhe lançou, examinando-lhe o rosto.— Com esta echarpe, seus olhos ficam mais verdes. Seu coração disparou e tornou-se

tão difícil manter uma atitude alegre e despreocupada, que Abbie se viu desejando queele não tivesse notado sua aparência. Elogios colocavam o passeio amigável num níveldiferente, muito mais pessoal.

— Obrigada. . . reverendo. — Era preciso não se esquecer da profissão dele.Uma expressão pensativa apareceu no rosto de Seth, antes que ele se virasse para

dar a partida no carro. O poderoso motor rugiu de imediato e, acidentalmente, ele bateucom a mão no joelho de Abbie, ao engatar a marcha à ré.

Com as feições totalmente inexpressivas, Seth passou o braço pelo encosto do bancoao lado e olhou para trás, para manobrar o carro para fora do pátio dos Scott, onde haviaestacionado. Ao ver que ele estava com a atenção concentrada no volante, Abbie fez opossível para relaxar. O barulho do motor e o vento gerado pela velocidade em queestavam tornava difícil uma conversa, e ela manteve a boca fechada, os olhos fixos napaisagem em frente e os joelhos fora do caminho da mão dele, que estavaconstantemente mudando a marcha.

O carro esporte cruzou rapidamente as ruas serpenteantes e sombreadas por árvores,que nunca se cruzavam, formando ângulos retos. Através da cidade construída naencosta da colina, existiam quilômetros e quilômetros de paredões de pedra cinzenta,feitos para evitar desabamentos de terra. Seth evitou o caminho mais procurado, quepassava pelo centro histórico da cidade, e virou para o leste, em direção à principalestrada da região.

A pizzaria já estava mais ou menos cheia, quando eles chegaram, mas ainda havia

algumas mesas vagas. Seth escolheu uma num canto calmo e meio escondido, o quelevou Abbie a imaginar se ele tinha feito isso procurando privacidade ou para evitar ser visto. A diferença entre as duas razões era pequena e, ao mesmo tempo, enorme!

Quatro cadeiras rodeavam a mesa forrada com uma toalha de algodão, xadrez devermelho e branco. Seth ajudou-a a sentar-se e acomodou-se na cadeira ao lado. Depoisde fazer o pedido, começou a falar e, quando Abbie deu por si, estavam numa conversagostosa e descontraída. Mais à vontade, ela pôde corresponder aos modos amigáveisdele.

— Pode ficar com o último pedaço, Abbie.Seth empurrou a bandeja de papelão para o seu lado, mas ela recostou-se na cadeira,

sacudindo a cabeça num gesto negativo.

— Obrigada, mas estou satisfeita, reverendo. Poucas vezes comi uma pizza tão

Page 37: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 37/72

gostosa.— Quer mais alguma coisa? Outro refrigerante, talvez?— Obrigada. — Ela apontou para o copo, com bebida pela metade. — Ainda tenho

bastante.Houve um momento de silêncio, durante o qual ele observou-a tomar um gole do

refrigerante pelo canudinho de plástico. Seu olhar deslizou da boca para os olhos dela,

quando Abbie levantou a cabeça.— Você não costuma sair muito, não é, Abbie? Nervosa, ela mexeu a bebida com ocanudinho.

— Saio quando tenho vontade — murmurou, explicando a falta de atividade em suavida social e, ao mesmo tempo, declarando que isso acontecia por sua vontade.

— Não tem amigos chegados?— Estive fora daqui quatro anos, e isto me fez perder o contato com eles. A maioria

está casada e com família para cuidar, e muitos mudaram-se para outras cidades.Mas eu não me sinto, só, reverendo. — Queria deixar isso bem claro, para evitar que

ele sentisse pena dela. — Acho que gosto da minha própria companhia — acrescentou,com um leve sorriso.

— Ou então não está preparada para assumir um relacionamento mais sério, tãopouco tempo depois de terminar com aquele sujeito de Kansas City.

Abbie empalideceu.— Como soube de Jim?!— Eu poderia fingir que adivinhei, mas seria bobagem. Como deve saber, numa cidade

pequena fica-se sabendo de tudo... E eu já estava desconfiado. Estava muito apaixonadapor ele?

— Não, mas pensei que estava. — Tensa, Abbie colocou o copo sobre a mesa. Aqueleera um assunto que ainda não tinha discutido com ninguém, e não estava certa de querer falar a respeito com ele. Se bem que, na realidade, havia muito pouca coisa para ser dita.— No entanto, superei tudo tão depressa, que não pode ter sido amor.

— O que aconteceu?— Nada. Eu estava pronta para um relacionamento sério e ele não. Um namoro desses

não tem sentido e só poderia acabar mesmo.— Fico contente por não terem restado cicatrizes profundas.Vozes altas e risonhas ressoaram do outro lado da pizzaria, onde vários jovens

estavam sentados. Seth olhou para eles, depois voltou-se para Abbie.— O lugar está começando a ficar cheio. Talvez seja melhor sairmos, para ceder nossa

mesa a outros.Abbie fez que sim e levantou-se, empurrando a cadeira paca trás. As perguntas dele, a

respeito de seu romance fracassado, não lhe saíam da cabeça. Estava começando a

desconfiar de que essa era a razão daquele convite para sair, e precisava descobrir logoa verdade, para não fazer papel de tola.— Reverendo. . . — murmurou, quando já estavam se aproximando do carro. E quase

perdeu a coragem de continuar, quando notou a impaciência que brilhou nos olhos deSeth por um breve momento, quando ele parou para olhá-la. — Este convite parasairmos, esta noite. . . foi porque achou que eu estava sofrendo por causa do meuromance fracassado e precisando de consolo?

Surpreso, ele franziu a testa.— Isso nunca me passou pela cabeça, Abbie. Certa de que a reação de Seth fora

sincera, Abbiesorriu, aliviada, e entrou no carro cuja porta ele acabava de abrir.

— Eu sei que prometi levá-la de volta para casa assim que terminássemos de jantar,

Page 38: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 38/72

mas parece que vamos ter um lindo pôr-do-sol. — Sentando-se junto dela, Seth apontoupara o sol, que já começava a tingir as nuvens de rosa. — Não quer ir até o mirante, lá emcima, para vê-lo?

— Quero, sim. — De repente, Abbie perdeu toda a pressa de voltar para seuapartamento vazio.

Eles não estavam longe do mirante, de onde se via toda Eureka Springs e de onde se

podia observar tanto o nascer quanto o pôr-do-sol. Seth parou o carro na extremidadeoeste e, desligando o motor, passou os dedos pelos cabelos desarrumados pelo vento. Osilêncio do anoitecer envolveu Abbie, e uma brisa gostosa, típica do verão, começou asoprar. Enquanto o céu passava de rosado para vermelho, ela desamarrou a echarpe edeixou-a escorregar até os ombros.

— Parece bonito demais para ser real, não acha? — Seu olhar voltou-se para Seth.— Parece — ele concordou, passando o braço pelo encosto do banco em que ela

estava. — Se um artista tentasse pintar um pôr-do-sol como este, sairia algocompletamente artificial.

— É verdade. — Percebendo que estava sussurrando, Abbie riu baixinho. — Por queestamos falando assim?

— Provavelmente porque somos os únicos aqui. — Seth sorriu, olhando a área emtorno. — Mas acho que isso vai mudar, assim que anoitecer. Este parece o lugar idealpara adolescentes virem namorar. — Virou-se para Abbie. — Ê para cá que elescostumam vir?

— Bem. . . este mirante costumava mesmo ser o lugar preferido dos namorados deEureka Springs — Abbie admitiu, perturbada pela idéia.

— Você chegou a vir para cá com seu namorado? — Ele estava caçoando doembaraço dela.

— Algumas vezes, mas isto foi há muitos anos, reverendo.— Quer parar de me chamar de reverendo a todo momento? — Seth pediu, num tom

de voz meio divertido, meio exasperado. — Não sei se sabe, mas eu tenho um nome. ÉSeth.

— Eu sei, reverendo, mas... — Seu pulso disparou, quando sentiu o dedo másculopousar sobre seus lábios.

— Seth — ele corrigiu, com firmeza.Abbie estava tão tensa que não conseguia respirar. Ele estava se inclinando em sua

direção, a outra mão apoiada na curva de seu ombro, e a estranha sensação de estar sendo atraída para as profundezas dos olhos incrivelmente azuis atingiu-a. Quando odedo bronzeado deslizou por sua boca, numa quase carícia, estremeceu da cabeça aospés, desejando. . . O quê?

— Diga — Seth ordenou, a voz rouca. Seu olhar procurou os lábios dela, para vê-los

formar seu nome.— Seth — Abbie sussurrou.A cabeça loira inclinou-se e ela soube, por instinto, que ele ia beijá-la. Os dedos

másculos repousavam, de leve, ao longo de seu queixo e da curva de seu pescoço,mantendo-a imóvel sem aplicar a mínima pressão. Uma onda de excitação tomou contade seus sentidos, mas, apelando para toda a sua força de vontade, conseguiu mantê-lossob controle.

O primeiro roçar dos lábios de Seth foi breve e suave, mas eles logo voltaram paratomar posse de sua boca com calor. Abbie hesitou em corresponder, pois não queria de-monstrar o quanto desejava a carícia, mas, insistindo com ardor, ele persuadiu-a a ceder.

Finalmente, Seth afastou-se alguns centímetros para estudá-la. Devagar, as pálpebras

de Abbie ergueram-se, revelando o atordoamento e a incerteza em seus olhos. Sua boca

Page 39: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 39/72

permaneceu ligeiramente entreaberta, suavizada pelo beijo persuasivo, e seu corpo,apesar de imóvel, por dentro ardia de vontade de aproximar-se mais do dele. Mas elaainda estava muito insegura de si mesma — e dele — para tomar a iniciativa.

Os olhos azuis notaram tudo isso com satisfação.— Seth?A boca de Seth curvou-se num sorriso atraente, que a fez prender a respiração.

— Até que enfim você me chamou de modo certo, Abbie — ele murmurou,aproximando-se de novo.Seus lábios estavam se movendo para encontrar os dele, quando o encanto do

momento foi quebrado pelo ruído de outro carro chegando. Endireitando o corpoabruptamente, Abbie lançou um olhar ansioso por cima do ombro. Ao mesmo tempo, Sethtirou a mão de seu pescoço e pousou-a em seu braço, como se estivesse esperando queela fosse abrir a porta e fugir para longe. O outro veículo ainda não era visível, mas o somde seu motor estava cada vez mais perto.

— Com todos os diabos! — ele praguejou baixinho, antes de virar-se e colocar as duasmãos sobre o volante.

— O que foi que disse?!

— Com todos os diabos — Seth repetiu, sorrindo de leve. — Tive um avô que eradinamarquês. Sempre que estava zangado ou aborrecido, ele usava esta expressão.Dizia que era melhor do que quebrar um mandamento, tomando o nome do Senhor emvão.

Um sorriso trêmulo surgiu nos lábios de Abbie. Por dentro, ela estava deliciada por eleter se aborrecido com a interrupção.

— E é mesmo — concordou, baixinho.O olhar dele prendeu o seu por um longo momento, cheio de promessas atordoantes.

Depois, exatamente quando um carro superlotado de adolescentes entrava no mirante,Seth estendeu a mão para a chave e deu a partida.

— Acho que é melhor irmos para casa — disse. Enquanto ele dava marcha à ré paravoltar para a estrada, Abbie amarrou a echarpe na cabeça. Estava se sentindo tão bemque teve vontade de cantar. Naturalmente, não fez nada disso, nem mesmo quando,durante a volta, surpreendeu o olhar de Seth fixo em seu rosto, várias vezes.Estacionando em frente à garagem, Seth desligou o motor. Abbie esperou que ele dessea volta para abrir sua porta e aceitou a mão que lhe foi oferecida, para ajudá-la a descer.

— Foi uma noite muito gostosa. Obrigada por ter me convidado — murmurou, deixandoa mão na dele por um instante além do necessário.

— O prazer foi todo meu. Vou acompanhá-la até a porta.— Obrigada, mas não há necessidade de você subir todos aqueles degraus comigo.— Como quiser. — Seth deu de ombros, com ar zombeteiro. — Só sugeri isto porque

achei que poderia se aborrecer, se eu lhe desse um beijo de boa-noite aqui, onde seuspais e os vizinhos podem nos ver.Quando Abbie riu, chocada com a declaração, ele perguntou:— Não prefere mudar de idéia?— Não é justo fazer uma pergunta destas a uma garota — ela protestou. Porque se

respondesse "sim", estaria confessando que desejava ser beijada por ele, e se dissesse"não", estaria mentindo. Se bem que, dizendo "não", pelo menos não pareceria tãoaudaciosa.

— Entendo. — Com um meio sorriso zombeteiro nos lábios, Seth passou o braço por sua cintura e guiou-a para a escada. — Um homem deve acompanhar a garota até aporta, sem dizer nada, e se arriscar.

— Mais ou menos isso — Abbie admitiu, tirando a echarpe e ajeitando os cabelos,

Page 40: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 40/72

distraída.Seu coração começou a bater cada vez com mais força, à medida que subiam a

escada. Não sabia o significado das atitudes de Seth nem a que poderiam levá-la,sentimentos daquele tipo. Mas gostava da sensação que tinha, sempre que ele andava aseu lado, como naquele momento.

— Está com a chave? — ouviu-o perguntar, quando alcançaram o degrau superior.

— Estou, sim.Abrindo a bolsa, guardou a echarpe e pegou a chave. Quando fechou de novo a bolsa,as mãos dele pousaram em seus ombros, fazendo com que o encarasse. No momentoem que a cabeça loira inclinou-se para a sua, os magnéticos olhos azuis prendiam todasua atenção.

— Quais são minhas chances? — Seth perguntou, os lábios curvados comsensualidade.

Foi tão fácil inclinar-se para ele e dar resposta erguendo o rosto, simplesmente. Deimediato a pressão das mãos viris aumentou, puxando-a para mais perto do corpo mus-culoso. Um segundo antes de os lábios dele tocarem os seus, uma vozinha interior avisou-a de que estava beijando um ministro e que não deveria corresponder com muito

ardor.Mas tornou-se praticamente impossível seguir este conselho, quando as curvas suaves

de seu corpo entraram em contato com os contornos rijos de Seth, fazendo com que selembrasse das diferenças entre os dois sexos. Com uma certa timidez, envolveu-lhe acintura com as mãos, ao mesmo tempo em que as dele deslizavam ao longo de suascostas, para segurá-la com firmeza.

Desta vez, a boca de Seth não precisou explorar nada, pois já havia descoberto acalorosa suavidade de seus lábios. O beijo foi mais profundo, mais exigente e mais ardo-roso. Sentindo o desejo crescer dentro de si, Abbie afastou-o, relutante, antes que ochocasse com seu comportamento.

Não foi fácil respirar de forma natural, principalmente com os braços dele ainda emtorno de seu corpo e sentindo as coxas rijas de encontro às perna. Ela fitou-o por entre oscílios semicerrados, depois desviou o olhar para o colarinho branco, que aparecia acimada gola do blusão azul.

— Obrigada, mais uma vez, revê. . . Seth.Devagar, Seth tirou as mãos dela e deixou que uma certa distância os separasse.— Boa noite, Abbie.— Boa noite. Até domingo.Ele parou no primeiro degrau e olhou-a.— Ou antes, até — disse.Havia uma certa promessa nessas palavras, mesmo não sendo algo definitivo. Abbie

abriu a porta do apartamento sorrindo, enquanto ouvia o som dos passos dele na escada.

CAPÍTULO VI

— E então? — seu pai perguntou, sentando-se na beirada de sua escrivaninha.Depressa, Abbie removeu a xícara de café que estava perto dele, para evitar que a

derrubasse por acaso.— E então, o quê? Havia algo de errado com a carta que bati de novo?— Nem uma vírgula. Eu estou querendo é que me conte como foi seu encontro com o

reverendo, ontem à noite.

Evitando o olhar dele, ela começou a empilhar alguns papéis.

Page 41: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 41/72

— Não foi bem um encontro. Mas foi agradável, se é isto que está querendo saber.----Agradável! Engraçado, eu seria capaz de jurar que ele era o tipo de homem capaz

de proporcionar noites bem mais excitantes que uma simples noite agradável.— Papai, ele é um ministro — Abbie protestou, sabendo muito bem que o pai tinha

razão.— Ele é um homem de carne e osso, como todos nós. Não o coloque num pedestal,

Abbie. — Drew estudou a filha com atenção. — Vai vê-lo de novo?— Imagino que sim. Domingo, na igreja.— Você sabe que não é isto que estou perguntando. Ele a convidou para sair, de

novo?— Não.Drew pensou a respeito disso por um instante, depois comentou, olhando a xícara de

café vazia, que tinha nas mãos:— Um ministro não deve ter muitas noites livres, com as reuniões de jovens, os

ensaios do coral e todas as funções cívicas a que deve comparecer. Isto deve limitar muito sua vida social.

— Eu não havia pensado nisso.

Mas era uma idéia reconfortante, pois oferecia uma explicação aceitável para o fato deSeth não ter sido mais explícito sobre quando se veriam de novo.

— Bem... — Drew levantou-se. — Acho melhor eu pegar outra xícara de café e voltar para a minha sala, para que você possa trabalhar em paz.

Na quinta-feira, Abbie deixou o escritório mais cedo na hora do almoço, para quepudesse parar no correio e mandar algumas cartas. Quando voltou, pouco depois da uma,seu pai lhe disse:

— Logo depois que você saiu, o reverendo Talbot passou por aqui. Ele queria vê-la.Uma onda de frustração invadiu-a. Aquela era a primeira indicação de que ele

pretendia mesmo vê-la antes de domingo, e ela não estava.— Ele disse o que queria? — perguntou, fingindo apenas um leve interesse.— Acho que queria convidá-la para almoçar. Disse que tentaria falar com você outra

hora.— Ah! — Outra meia promessa indefinida. — Obrigada, papai.Fazendo o possível para não demonstrar o quanto estava desapontada, Abbie sentou-

se à escrivaninha e guardou a bolsa na última gaveta.No sábado de manhã, Abbie levantou-se cedo, juntou a roupa suja da semana e

dirigiu-se à lavanderia mais próxima. Sua mãe havia lhe oferecido as máquinas de lavar esecar que tinha, mas lavar e secar em casa geralmente consumia a maior parte de seudia, enquanto que, na lavanderia automática, não levava mais do que uma hora.

Quando as roupas ficaram prontas, voltou para casa, parando num supermercado para

pegar algumas coisas de que precisava. Já eram mais de onze horas quando estacionouseu carro no pátio e desceu, carregando um saco de mercadorias.— Abbie! — Sua mãe chamou da porta dos fundos, quando ela remexia a bolsa à

procura da chave do apartamento. — Telefonaram várias vezes para o seu apartamento,esta manhã. Quando elas viram que você não respondia, ligaram para cá.

— Elas quem?— Isabel Coltrain e a irmã. Falei com Isabel. Ela não disse o que queria, mas me

pareceu ansiosa para falar com você. — Alice Scott estava verde de curiosidade. — Temidéia do que ela poderia querer?

Abbie estava certa de que as irmãs desejavam saber se havia terminado de bater aprimeira parte do manuscrito, mas como tinha prometido guardar segredo, respondeu com

meia verdade:

Page 42: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 42/72

— Talvez queiram que eu datilografe alguma coisa. Já se espalhou pela cidade queando fazendo "bicos". Recebi vários telefonemas a respeito.

— Mas o que elas poderiam querer que você datilografasse?— Quem sabe?Para evitar uma mentira, Abbie deu-lhe as costas e pôs-se a caminhar para a garagem.

No entanto, a aceleração do motor de um carro, entrando no pátio, fez com que olhasse

por cima do ombro.Um carro esporte verde-escuro avançou em sua direção, as linhas longilíneas dacarroceria fazendo com que desse a impressão de estar numa velocidade muito maior que a real. Uma onda de excitação invadiu-a quando reconheceu o carro e seu motorista,e voltou-se para ir ao encontro deles.

— Esqueci de lhe dizer — sua mãe berrou. — O reverendo Talbot telefonou, também.— E, quando Seth desligou o motor e pulou para fora do carro, explicou: — Eu estavaacabando de dizer a Abbie que o senhor tinha telefonado, reverendo.

— Obrigado, Sra. Scott.Seth cumprimentou Alice com um gesto de cabeça e aproximou-se de Abbie, com

passadas longas e ágeis. Estava usando uma calça jeans, com uma camisa esporte azul,

aberta no pescoço. E, mais uma vez, estava sem colarinho.— Acabei de chegar. — A alegria que Abbie estava tentando conter brilhava no fundo

de seus olhos castanho-esverdeados.— Estou vendo. Dê-me isso. — Ele estendeu as mãos para o saco de mercadorias. —

Eu carrego para você.Quase sem resistência, ela entregou o pacote e caminhou para a escada.— Foi uma pena eu não estar no escritório, quando passou por lá na quinta-feira,

reverendo.— Vamos começar com isso de novo?— Começar com o quê? — Abbie parou no primeiro degrau.— Com esta história de reverendo.A intensidade do olhar dele fez seu sangue se aquecer.— "Eu os chamo do modo como os vejo" — citou, com um olhar entre zombeteiro e

provocante. E, de imediato, sentiu-se culpada por estar flertando com ele.— Olhe, Abbie. — Seth tocou o pescoço com os dedos. — Estou sem colarinho. Pelo

resto do dia, você estará vendo Seth. Portanto, faça p favor de chamá-lo como o vê.— Está bem. . . Seth — ela concordou, num tom de voz bem menos provocante.— Tem alguma coisa para fazer hoje? — Mantendo-se um degrau abaixo, ele seguiu-a

escada acima.— Eu estava pensando em datilografar o manuscrito das irmãs Goltrain. Elas estão

ficando aflitas.

— Está um dia lindo, e o que você precisa é de ar fresco e um pouco de sol, não demais horas diante de uma máquina de escrever. Eu estou aqui para libertá-la disso. .— Está?Abbie destrancou a porta e abriu-a, entrando na frente dele. Estava se sentindo

embriagada de prazer. Era delicioso saber que Seth queria passar o dia a seu lado, masfaria de tudo para não parecer ansiosa ou alegre demais.

— Estou, sim.Ele caminhou até a cozinha e colocou o saco de mercadorias sobre o balcão.

Aproximando-se pelo outro lado, Abbie começou a guardar tudo. Era difícil enfrentar osbrilhantes olhos azuis. Havia algo de possessivo neles, que fazia seus pulsos latejarem.

— Vou precisar de alguns minutos para trocar de roupa, depois que guardar estas

compras.

Page 43: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 43/72

Devagar, Seth examinou o jeans desbotado que lhe envolvia os quadris e a camisetabranca, ligeiramente decotada. Seus cabelos avermelhados estavam presos num rabo-de-cavalo, e amarrados com uma echarpe de seda branca.

— O que você está usando é perfeito.Eram roupas de todo dia, limpas mas mostrando que  já tinham sido usadas e lavadas muitas vezes. Abbie olhou para elas, depois para

Seth.— Aonde vamos? — quis saber, inclinando a cabeça para o lado.A boca de traços fortes sorriu.— Ao paraíso.— Aonde?!— Eu deveria ter dito ao paraíso na terra — Seth concedeu, com voz divertida. —

Achei um lugarzinho maravilhoso no campo. É quieto, bonito, cheio de paz. . . Perfeitopara um piquenique.

— Um piquenique! — Ela sorriu, atraída pela idéia. Mas logo em seguida ficou séria,pensando na comida que tinha no apartamento e no que poderia preparar.

Seth deve ter lido seus pensamentos, pois disse:

— Já estou com uma cesta cheia de alimentos, no carro. Não precisa se preocupar com nada.

— Quer dizer que não posso contribuir com nada?— Só com você mesma.O olhar que ele lhe lançou foi tão vibrante, que Abbie estremeceu por dentro.— Está bem — respondeu levemente ofegante, entregando-se ao encanto que dele

emanava.O telefone começou a tocar, produzindo um som agudo que se intrometeu entre eles.

Indecisa, Abbie mordeu o lábio e olhou para o aparelho.— Deve ser uma das irmãs Coltrain — murmurou, imaginando que desculpa poderia

dar, para explicar o atraso na entrega das folhas datilografadas.— Eu atendo. — Seth já estava se movendo em direção ao telefone, quando falou.— Ah, mas. . .Mas ele já estava com a mão no fone e, lançando-lhe um olhar por cima do ombro,

ordenou:— Acabe de guardar estas compras, para podermos sair. Eu dou um jeito nas irmãs

para você.Segurando com força a lata de leite em pó, que acabara de tirar do saco, Abbie

observou Seth atender, cheia de ansiedade.O que as irmãs pensariam, quando descobrissem com quem estavam falando?— Casa da Srta. Scott. — Pausa. — Ela está ocupada, no momento. Aqui quem fala é

o reverendo Talbot. Posso ajudar em alguma coisa, Srta. Coltrain?Olhando novamente por cima do ombro, Seth viu Abbie parada, observando-o. Comum gesto, pediu-lhe para se apressar. Sem tirar dele o olhar ansioso, ela foi até ageladeira e abriu a porta, para guardar o leite.

— Não, ela ainda não terminou. A Srta. Scott pretendia datilografar um pouco maishoje, mas eu achei que ela está trabalhando demais e resolvi levá-la para passar o diafora. — Ele virou-se um pouco, sorrindo para Abbie. — Eu tinha certeza de que asenhorita entenderia. Pode deixar, que eu direi a ela. Até logo.

Enquanto Seth recolocava o fone no gancho e se aproximava, Abbie empurrou o pão eum vidro de geléia para dentro de um armário.

— O que foi que ela disse?

— Isabel pediu desculpas por estar pressionando você e disse que esperava que não

Page 44: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 44/72

estivesse muito cansada, E achou a idéia do passeio excelente.— Mas ela não...Com medo de estar sendo sensível demais e reagindo de forma excessiva, Abbie

calou-se.— Não achou estranho que eu atendesse ao telefone? Por que haveria de achar? —

ele prosseguiu, despreocupado, quando ela se virou com um sobressalto. — É normal,

para um ministro, visitar os membros da congregação em suas casas.— Eu sei, mas. . .— Mas você é uma moça jovem, solteira e muito atraente, e eu também sou solteiro.— Mais ou menos isso.— Com a alma romântica que aquelas duas têm, aposto que elas estão deliciadas com

a possibilidade de um romance estar se desenvolvendo entre nós.Seth sorriu, ao encontrar o olhar assustado de Abbie.— Ah! — Foi tudo que ela conseguiu dizer, uma vez que ele havia confirmado

exatamente o que imaginava que as duas irmãs deviam estar pensando.— Nós almoçamos juntos, jantamos uma noite e agora vamos fazer um piquenique.

Não é improvável que as pessoas que nos vêem cheguem a esta conclusão.

— Eu sei.Com calma deliberação, Seth deu a volta no balcão e tirou-lhe o saco de açúcar das

mãos, colocando-o sobre a pia. O protesto de Abbie morreu, quando ela sentiu os dedosdele em seus braços, movendo-se de forma acariciante.

— Por que se dar ao trabalho de negar? — ouviu-o perguntar baixinho, olhando-a bemnos olhos. — Ê verdade, não é?

— Eu. . . acho que sim.A admissão sussurrada foi hesitante. Abbie estava com medo de revelar abertamente

os sentimentos que se tornavam mais fortes, a cada novo encontro.Seth inclinou a cabeça para o lado, as feições atraentes expressando um leve

desagrado pela resposta cautelosa enquanto, com as mãos, continuava a acariciar-lhe osbraços.

— Você não parece muito certa. Mas se este não é o começo de um romance, o quemais pode ser?

— Não sei. — Abbie sorriu, incerta.— O que está havendo com você? Por que não quer admitir a verdade?— Acho que não estou acostumada a ser tão franca. Como foi que -as irmãs Coltrain

descobriram que você estava a par do manuscrito delas?O brilho zombeteiro nos olhos de Seth mostrou-lhe que ele sabia por que estava

mudando de assunto.— Elas me convidaram para jantar, quinta-feira à noite. Eu mencionei que tínhamos

estado juntos, na noite anterior, e que eu tinha lido algumas páginas do manuscrito quevocê estava datilografando. Não contei que havia reconhecido a letra de Isabel, mas asduas estavam tão ansiosas para saber minha opinião, que acabaram me dizendo queeram as autoras e perguntando o que eu achava. — O sorriso dele tornou-se maispronunciado. — Pode ficar descansada, que elas não estão pensando que você as traiu.

— Isso é ótimo.— Também prometi a elas que escreveria a alguns amigos editores que tenho e veria o

que posso fazer para ajudar, quando o manuscrito estiver pronto. — Tirando as mãos dosbraços dela, ele virou-se para olhar o saco de mercadorias. — Há mais alguma coisa aquique possa estragar?

— Não, já guardei tudo. Só ficaram os enlatados.

— Então, vamos fazer nosso piquenique.

Page 45: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 45/72

— Vamos — Abbie murmurou, com a impressão de que seria capaz de concordar comquase tudo que ele sugerisse.

Pouco depois de deixar a cidade, Seth saiu da estrada principal e tomou umaestradinha secundária, que serpenteava por entre as colinas. Abbie não tinha a menor idéia de para onde estavam indo, pois nunca fora muito de explorar o campo e não estavafamiliarizada com aquelas estradinhas.

O calor de verão havia queimado o capim, dando-lhe uma tonalidade amarelada queformava um lindo contraste com o verde-escuro das árvores. Sorrindo, ela virou o rostopara a corrente de vento gerada pelo carro esporte, que levantava nuvens de poeira dochão coberto de cascalho.

Nuvens brancas flutuavam vagarosamente no céu, e o sol parecia uma bola dourada,aquecendo a terra com seus raios. Acima deles, um gavião começou a circular, planandosem esforço nas correntes de vento. Ao longe, as montanhas Ozark ondulavam nohorizonte, como ondas no mar.

O barulho do potente motor do carro mudou, quando Seth tirou o pé do acelerador,diminuindo a velocidade. A estrada continuava em frente, reta e sem ramificações.Olhando em torno, Abbie viu uma trilha que levava ao portão de um campo cercado, e

surpreendeu-se quando Seth entrou por ele e estacionou na primeira curva.Desligando o motor, ele removeu os óculos escuros e abriu a porta para descer.— Chegamos — disse.Abbie olhou para o portão e a tabuleta onde se lia claramente: "Propriedade Particular 

— Os invasores serão processados".— Nós não vamos entrar neste campo, vamos? — perguntou, saindo do carro também.A colina quase limpa continha apenas alguns carvalhos altos e imponentes para

sombrear a grama amarela. Não havia animais à vista, mas o aviso na tabuleta era bemclaro.

Seth fez que sim e, retirando do banco de trás uma cesta de vime, falou:— Espere só até você ver a vista que se tem daquelas árvores. Acha que agüenta

carregar isto aqui?— Mas há um aviso proibindo a entrada, no portão.— Abbie apontou para a tabuleta, enquanto pegava a cesta.— Não podemos entrar lá.— Podemos, sim. — Tirando uma geladeira portátil do porta-malas do carro, ele pôs-se

a caminhar para o portão. — Estas terras pertencem à minha família.— À sua família?! Eu não sabia que você tinha parentes morando por aqui.— E não tenho. — No portão, Seth parou e tirou uma chave do bolso. Colocando a

geladeira no chão, usou-a para abrir o cadeado da corrente que mantinha o portãotrancado. — Estas terras são um investimento apenas, para futuro desenvolvimento ou

revenda.— Ah!— Cuidado para não tropeçar no arame farpado — ele avisou, quando ela começou a

atravessar a estreita abertura. — Não quero ser processado como causador de lesãopessoal.

Seth falou em tom de brincadeira, mas Abbie perguntou-se se ele não estaria dizendoa verdade. Enquanto passava pelo portão, conseguiu ler a inscrição com letras menores,ao pé da tabuleta. O proprietário era identificado como a Corporação Tal-Bar.

— A Corporação Tal-Bar pertence à sua família? — perguntou, quando Seth já estavaa seu lado.

— Pertence. O nome é uma combinação de Talbot e Barlow. Barlow era o nome de

solteira da minha avó, e o irmão dela foi um dos sócios de meu avô. Pensei em fazermos

Page 46: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 46/72

o piquenique debaixo daquela árvore lá. — Com um gesto de cabeça, ele indicou ocarvalho mais próximo.

-— A Tal-Bar é uma companhia muito grande? — Para ter terras naquela região, Abbieachava que só podia ser.

— Para uma companhia pertencente a uma só família, eu diria que é bem grande. Masestá longe de ser uma das maiores do país. — Havia um tom divertido na voz dele.

— E quando você foi transferido para a nossa igreja, sua família mencionou que tinhaestas terras.— Na verdade, eu estive aqui alguns anos atrás, quando compramos a propriedade.

Antes de obter minha transferência, eu já estava familiarizado com esta região.— Você não tem parte ativa na companhia de sua família, tem?Quando Seth parou sob o carvalho, Abbie parou também, automaticamente. Ela não

via como era possível ele fazer parte de uma companhia, sendo um ministro. No entanto,o comentário que ele acabara de fazer dava essa idéia.

— Meu pai insiste para que eu permaneça no Conselho Diretor, para agir comoconsciência dos outros membros — ele admitiu, abaixando-se para colocar a geladeira nochão. — Há um cobertorzinho na cesta. Podemos forrar o chão com ele.

Enquanto refletia sobre o que acabara de ouvir, Abbie abriu a cesta, tirou o cobertor eestendeu-o no chão. Em seguida, ajoelhou-se sobre ele e pôs-se a retirar os pratos deplástico e demais utensílios.

— Eu sei que não é da minha conta — comentou, incapaz de vencer a curiosidadesobre a vida particular dele —, mas tenho a impressão de que seu pai teria preferido quese juntasse à companhia. . .

— Em vez de me tornar um ministro? — Ajoelhando-se em frente a ela, Seth começoua remover as saladas da cesta. — No começo, ele foi contra. Mas depois que seconvenceu de que era isso mesmo que eu queria, não protestou mais. Há vários anos euvenho tendo sua bênção e apoio total. E do resto da família também.

Abbie sentiu-se contente pelo fato da profissão de Seth não ter criado atrito entre ele ea família, mas não disse nada por medo de parecer tola. Tirando os guardanapos, o sal ea pimenta, sentou-se e colocou a cesta vazia sobre a grama.

— Temos aqui uma enorme variedade de alimentos.— Seth indicou os recipientes de plástico, arranjados em semicírculo sobre o cobertor.

— Salada de macarrão, salada de batata, ambrósia, carne de geladeira, salada degalinha, presunto, frutas frescas e queijo. Não sei como se chamam as coisas que estãonestes dois potinhos.

Abbie olhou para os alimentos.— Você não está achando que vamos comer tudo isso, está?Um brilho malicioso surgiu nos olhos dele.

— Para ser sincero, este foi o modo mais rápido que achei para limpar minhageladeira. As senhoras da comunidade foram mais do que generosas, presenteando-mecom alimentos preparados por elas mesmas.

— Elas devem ter pensado que esse era o modo de cair nas boas graças de umministro solteiro.

— "O caminho para o coração de um homem. . ."— Seth riu, entendendo o que ela queria dizer. —, Infelizmente, elas não podiam saber 

que eu já tinha sido tentado por uma garota de cabelos vermelhos que me deu pêssegosna estrada, quando eu vinha para cá. — Prendendo com seu olhar o de Abbie, elecontinuou: — Alguns acreditam que foi um pêssego e não uma maça, que Adão e Evacomeram no paraíso.

— É mesmo? — Abbie murmurou, um pouco enervada pela vivacidade do olhar fixo em

Page 47: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 47/72

seu rosto, tão vibrante e cheio de interesse.— É, sim — Seth zombou, virando-se para abrir a geladeira. — Você não acha que tem

o necessário para me induzir a pecar?— Tem certeza de que não é ao contrário? — ela replicou, enfrentando a provocação

sexual sem deixá-lo perceber o quanto estava perturbada.Um riso gostoso escapou dos lábios de Seth.

— Eu mereci esta. Você sabe mesmo como colocar um homem em seu lugar, hem,Abbie? — Sem esperar resposta, ele pegou uma garrafa de vinho gelada e continuou. —Isto aqui veio da minha adega particular. Não é presente de ninguém.

— Você pode beber vinho?!— No capítulo quinze do livro de Mateus, Jesus explica: "Não é o que entra pela boca o

que contamina o homem, mas o que sai da boca. Isto sim, contamina o homem." — Elefez uma pausa, depois acrescentou: — Qualquer coisa, em excesso, não é boa para ocorpo. Doces, gorduras, álcool...

— É verdade.— Nos tempos bíblicos, eles tomavam vinho com as refeições porque a água não era

potável, na maioria dos lugares. Foi o fruto da videira que Jesus deu a seus discípulos, na

última ceia. Mas isso não é justificativa para se consumir álcool em exagero. Existe umagrande diferença entre beber sempre e tomar um copo de vinho, durante uma refeição.

— Não há dúvida. — Abbie girou o copo entre os dedos, observando o líquido rosado.— Eu não estava criticando você por ter trazido o vinho.

— Não?!— Não, apesar de, provavelmente, ter dado essa impressão — admitiu, rindo.— Às vezes eu acho que você é mais religiosa do que eu. Nem um passinho para fora

do caminho estreito e reto! —..-ele brincou.— É, nunca tive contato de ordem pessoal com um ministro. Não sei o que esperar.— Já percebi. E agora, aposto que está imaginando se vou ou não agradecer a Deus

pelo que vamos comer.— Estou, mesmo — Abbie confessou, rindo. Mas, quando Seth abaixou a cabeça,

imitou-o, muito séria.— Nós vos agradecemos, Senhor, pelos alimentos que estão diante de nós, e

imploramos para que mateis a fome de nossos corações com a graça de Vosso amor.Amém.

— Amém — ela repetiu baixinho, emocionada com a simplicidade da oração.— Vamos começar? — Seth perguntou, passando-lhe a salada de batata.

CAPÍTULO VIl

Abbie provou apenas um pouquinho de cada coisa, mas a variedade de alimentos eratão grande que estava com o prato cheio, quando se deu por satisfeita.

— Acho que, desta vez, meus olhos foram maiores que meu estômago — murmurou,com um suspiro, colocando o garfo sobre o prato.

— Aqui existem muitos animais para comer o que sobrar. Nada será desperdiçado. —Seth levantou-se. — Se já terminou, vou raspar seu prato naquele toco, para evitar que assobras atraiam as moscas para perto de nós.

— Terminei, sim.Abbie estendeu-lhe o prato e, enquanto ele caminhava até o toco de uma árvore, uns

vinte metros adiante, começou a tampar os recipientes e guardá-los na geladeira, para

Page 48: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 48/72

que a comida restante não estragasse.Quando Seth voltou, ajudou-a a pôr os pratos e os talheres na cesta. Ela então sacudiu

o cobertor e sentou-se novamente, esticando as pernas e reclinando-se para trás,apoiada nas mãos. Assim que terminou de se acomodar, Seth deitou-se no cobertor e,antes que pudesse adivinhar-lhe a intenção, pousou a cabeça em seu cabelo.

— Você se importa de que eu a use como travesseiro? — Ele olhou-a com olhos que

fingiam inocência, consciente de estar pedindo permissão com um ligeiro atraso.— Não.Mas Abbie achou a situação perturbadoramente íntima. O tecido de sua calça já estava

velho e fino, e quase não oferecia barreiras a sua pele sensível. A cabeça dele, apoiadasobre suas coxas, só poderia mexer com suas emoções, alterando-as por completo.

— Ótimo.Seth fechou os olhos e acomodou-se melhor, cruzando os braços sobre o peito com ar 

de satisfação. Abbie aproveitou-se disso para melhor estudar-lhe o rosto, de traçosinegavelmente atraentes. Havia força nos malares salientes e firmeza e determinação nalinha do queixo. As sobrancelhas eram loiras, e os cílios, longos e cheios, um pouquinhomais escuros. A linha do nariz apresentava uma ligeira irregularidade, e a boca era bem

definida, nem fina, nem cheia demais, e muito máscula.Os cabelos, de um loiro escuro, tinham uma aparência sedosa e convidativa, e Abbie

teve que agarrar o cobertor com força para resistir à vontade de enterrar os dedos neles.O calor dos ombros largos aquecia suas coxas e parte do quadril, e toda sorte depensamentos perigosos passou-lhe pela cabeça, enquanto o observava respirar. Dianteda situação, achou que a melhor saída seria iniciar uma conversa. E bem rápido!

— Onde sua família mora, Seth? Ele enrugou a testa, de leve.— Travesseiros não falam — grunhiu. Abbie riu.— Bem, este aqui fala. Onde vive sua família?— Meus pais moram em Denver — Seth replicou, com ar zombeteiramente resignado.— É lá que estão localizados os escritórios da Corporação Tal-Bar?— Humm. . .— Como foi que a companhia começou? , Ele abriu um dos olhos.— Nossa, mas como você pergunta, hem?— De que outro modo podemos descobrir o que queremos saber?— Meu avô e meu tio-avô começaram como perfuradores de poços, depois entraram

no negócio de petróleo e gasolina e, no fim, recuaram para a criação de gado.— Recuaram para a criação de gado?! Como assim?— Meu avô achou que estava adquirindo os direitos minerais de umas terras que

comprou do governo, mas depois descobriu que, na realidade, só tinha direito à explo-ração da superfície do solo. Então ele e meu tio-avô transformaram um engano num

negócio de sucesso. Atualmente, a companhia também tem interesses em campos de mi-neração.— Você tem irmãos?— Uma casa cheia. — Inesperadamente, Seth sentou-se e encarou Abbie, as mãos

apoiadas de cada lado dos joelhos dela. — Tenho cinco irmãs e três irmãos. Meus paisacreditavam em famílias grandes. Você gosta de famílias grandes?

— Gosto. — A resposta foi hesitante, porque ela não tinha idéia do que ele pretendiacom aquela pergunta.

— Quantos filhos você quer ter, quando se casar?— Isto é algo. . . que eu teria que discutir com meu marido. — Sua respiração alterou-

se e seu coração disparou, quando Seth se inclinou para diante.

— O que você diria... — ele inclinou a cabeça para beijar-lhe o pescoço — ... se seu

Page 49: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 49/72

marido quisesse... — Mordeu-lhe, de leve, o músculo sensível junto ao ombro. — ... umbando de crianças?

Suas emoções estavam tão intensificadas e alteradas que Abbie levou algunsmomentos para conseguir responder.

— Eu. . . eu acharia uma boa idéia. — Sua tensão era tão grande que mal estavapodendo respirar. Um gemido nasceu em seu íntimo, mas foi abafado pelos músculos

contraídos de sua garganta.— E se ele quisesse adotar algumas crianças. . . — os lábios masculinos deslizaram aolongo de seu rosto. — . . . além das suas?

— Por que não? — ela murmurou, virando a cabeça para acabar com aquele tormento.Os lábios de Seth colaram-se aos seus com firmeza, marcando-os com deliberada

possessividade, como se há muito tempo tivessem o direito de fazê-lo. E não encontraramresistência. Seus lábios entreabriram-se voluntariamente para aprofundar o beijo,enquanto a mão dele procurava suas costas. Uma sensação atordoante assolou-a, e elaentregou-se à glória do momento. Era como se estivesse sendo drogada pelo beijo e, por um instante, chegou a imaginar se aquela reação, tão intensa, não seria causada pelovinho que bebera.

De repente, todos os pensamentos sumiram de sua mente, e só os sentimentosrestaram. Estava sem peso, flutuando numa nuvem de encantamento. Sem que tomasseconsciência disso, seu corpo reclinou-se para trás, até deitar-se no cobertor. Só percebeuque, repentinamente, suas mãos estavam livres para deslizar pelos ombros musculosos eenterrar-se nos cabelos sedosos de Seth.

Pequenos gemidos de prazer escaparam de sua garganta, quando Seth mordiscou olóbulo de sua orelha e fez uma exploração íntima de sua nuca e pescoço. Os contornosrijos do corpo masculino pressionaram sua pele sensível, enquanto as mãos delevagavam por onde queriam, acariciando e excitando.

O desejo pareceu-lhe uma continuação natural das emoções intensas causadas peloabraço de Seth. Era a forma mais pura de paixão que jamais conhecera, e a beleza detudo que estava sentindo encheu-lhe o coração até fazê-la desejar a satisfação final comuma intensidade que chegava a doer.

As mãos dele percorreram suavemente seu corpo, aproximando-se de seus seiosarredondados. De repente, a sensação de pele contra pele despertou-a do transe em queestava, mostrando-lhe o quanto havia se descontrolado. Os botões de sua blusa estavamabertos até a cintura!

Com um gemido abafado, livrou-se dos braços de Seth e levantou-se, dando-lhe ascostas para evitar o olhar surpreso e desconcertado que surgira nos olhos dele.

"Meu Deus!", pensou, quase em pânico, "o que ele não deve estar me julgando!"— Abbie?

— Sinto muito. — Depressa, começou a fechar a blusa, o que se revelou uma tarefaquase impossível, por causa do tremor de suas mãos. Ouvindo-o levantar-se, continuou:— Não sei o que deu em mim. Devem ter sido os dois copos de vinho que bebi.

As mãos de Seth pousaram em seus ombros, e o contato paralisou-a por um instante.Sua blusa estava meio aberta, meio fechada, e tudo indicava que não teria condições determinar de abotoá-la.

— Isto não é muito agradável para o meu ego — Seth declarou, forçando-a a virar-sede frente.

Abbie olhou para todos os lados, menos para o rosto dele. No entanto, a visão do peitolargo e musculoso, mal escondido pela camisa colada à pele úmida de suor, foi quase tãoenervante quanto se o tivesse fitado nos olhos.

— Não entendi — murmurou, mantendo as mãos rigidamente fechadas, para não

Page 50: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 50/72

ceder à vontade de tocá-lo novamente.— Você disse que sua reação foi causada pelo vinho— Seth explicou, num tom terno e indulgente. — Eu estava com esperança de que a

causa fossem os meus beijos.— E foram. Mas... Eu me deixei levar por causa. . . por causa do vinho.Segurando-lhe o queixo, ele levantou seu rosto e estudou-a com atenção.

— Não foi por causa do vinho. Você estava gostando de ser acariciada e beijada.— Eu estava, mas... — Abbie sentia-se tão ansiosa para que ele não a julgasse mal,que por pouco não chorou. Nunca se sentira tão vulnerável em sua vida. — Não queroque pense que sou imoral.

— E por que eu haveria de pensar uma coisa dessas?— Seth sorriu, mas era evidente que estava confuso.— Porque. . . — Ela não conseguiu terminar.— Porque eu estava tocando você? Porque eu queria tocar seus seios? Ou porque

você queria que eu a tocasse?— Seth... — Abbie fechou os olhos, para que ele não pudesse ler em seu olhar o

quanto estava certo.

— Estou feliz por você não ter me chamado de reverendo — Seth zombou, sacudindo-a de leve para forçá-la a abrir os olhos. — Abbie, eu sou um homem, não um santo. Vocêé uma mulher bonita, com um corpo bonito. Acha que eu não sinto desejo, quando estouperto de você?

— Não sei.— Pois bem, eu sinto. — Os cantos da boca máscula curvaram-se num sorriso. — O

desejo não é, necessariamente, um pecado. A promiscuidade, a infidelidade, o adultério,estes sim, são pecados. O desejo é um sentimento terno e maravilhoso entre duaspessoas que se querem bem. Não precisa se sentir envergonhada.

— Eu não estava com vergonha. Verdade! É só que. . . — Ela parou de falar abruptamente, ao ver Seth desabotoar a camisa e puxá-la para fora da calça. — O queestá fazendo?!

— Desabotoando minha camisa. O que lhe parece? Como você ficou envergonhadapor estar com a blusa aberta, achei que se sentiria melhor se o mesmo acontecessecomigo.

— Seth, isto é ridículo! — Ele não podia estar falando sério.O riso baixo e grave de Seth vibrou no ar. Segurando-a pela cintura, ele puxou-a de

encontro a si. A mesma sensação maravilhosa de antes assolou-a, no momento em queos lábios dele tocaram os seus, separando-os com suavidade. E quando ele deslizou asmãos por suas costas, pressionando-a com intimidade de encontro ao corpo rijo, umaonda deliciosa de calor percorreu-a da cabeça aos pés.

Seth aumentou a sensualidade do abraço com habilidade, atordoando Abbie com oprazer que lhe proporcionou. Com as mãos espalmadas no peito dele, ela absorveu ocalor emanado pelo corpo musculoso, somando-o ao fogo que já queimava dentro de si.Estava tremendo, quando ele finalmente levantou a cabeça e distribuiu uma série de bei- jos por seu rosto.

Relutante, Abbie começou a se afastar, certa de que aqueles beijos leves assinalavamo fim das carícias, mas Seth apertou os braços em torno de seu corpo, mantendo-acolada ao peito.

— Fique aqui — ouviu-o murmurar. — É este o seu lugar.Enrolando os dedos nos cabelos que tinham escapado de seu rabo-de-cavalo e que

agora repousavam em sua nuca, Seth forçou-a a descansar a cabeça no ombro dele.

Como se tivessem vontade própria, seus braços envolveram-no pela cintura e, contente,

Page 51: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 51/72

inalando o aroma másculo e atordoante que ele emanava, Abbie deixou-se ficar.Logo, no entanto, sentiu o queixo de Seth esfregar seus cabelos, numa carícia sensual.

Com a firme impressão de que seu lugar era mesmo nos braços dele, virou a cabeça umpouquinho e, com a ponta da língua, experimentou o gosto da pele rija e queimada de solque lhe cobria o peito. Seus lábios não tardaram a dar com a corrente de ouro que tinhavisto em torno do pescoço forte, alguns dias atrás. Curiosa, percorreu com os dedos os

elos brilhantes até encontrar, no meio dos pêlos loiros e crespos, uma cruz também deouro, lisa e simples.— Outro dia, senti vontade de saber o que era isto! — confessou baixinho, examinando

a cruz já um pouco gasta e arranhada. — Parece bem antiga.— Era de meu avô. De certa forma, ele era um homem muito religioso. E muito

sensual, também. As duas coisas podem andar juntas.Tinha lhe parecido tão natural ser abraçada por Seth, que só quando ouviu este

comentário Abbie percebeu que; ele havia fechado a mão em torno de um de seus seiose\ acariciava-lhe o mamilo com o polegar. Uma blusa e o sutiã separavam a mão dele desua pele, mas, de repente foi como se não houvesse nada entre eles. Num ataque tardiode pudor, ela enrijeceu o corpo.

Adivinhando o motivo, Seth deixou a mão escorregar até a curva da cinturinha esbelta.— Eu tinha conhecimento do que minha mão direita estava fazendo, portanto, não vou

cortá-la fora — zombou, gentilmente. — Tenho a impressão, Abbie, de que você é tãocheia de idéias antiquadas quanto o resto desta cidade.

Achando que estava sendo ridicularizada por ter uma personalidade tão puritana, Abbiecomeçou a se afastar, mas Seth impediu-a, apertando o braço que lhe envolvia a cintura.Ao mesmo tempo, segurou-lhe o rosto com a mão livre e obrigou-a a encará-lo. Havia umprazer intenso no olhar que se encontrou com o dela.

— Estou contente por você ser como é — ele murmurou, para dar a ela a certeza deque aprovava seu modo de ser. — Mas não se esqueça de que chegará um dia em quenão terá mais necessidade de conter seus desejos.

— Está bem.Depois de lhe dar mais um beijo, desta vez rápido e leve, Seth soltou-a.— Por mais que eu queira passar o resto da tarde beijando você, acho melhor 

 juntarmos nossas coisas e irmos embora. Senão, não teremos tempo de visitar sua avó.— Vovó Klein?!— Você sempre vai vê-la nos fins de semana, não vai? E, no momento, parece-me

mais prudente passar o resto da tarde com ela do que deitado neste cobertor, com você.A tentação pode se tornar irresistível.

— Acho que você está tentando me chocar, de propósito!Abaixando-se, Seth pegou o cobertor e começou a dobrá-lo. Brilhante e divertido, seu

olhar percorreu-a de alto a baixo.— Tenho que fazer alguma coisa para acabar com essa personalidade assexuada quevocê atribui a um ministro.

— E está conseguindo — ela admitiu, meio embaraçada.— Já não era sem tempo!Eles não levaram muito tempo para guardar tudo e colocar a cesta e a geladeira no

carro. Trinta minutos depois, seguindo as instruções de Abbie, Seth entrou na estradinhaque levava à casa de vovó Klein.

Galinhas brancas correram para todos os lados, cacarejando e batendo as asas,quando o carro esporte parou no pátio da fazenda, em meio a uma nuvem de poeira. Umvelho gato cinza apareceu para inspecionar os invasores de seu território e soltou um

miado de boas-vindas ao reconhecer Abbie. Para Seth, ele olhou com ar altivo e um

Page 52: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 52/72

pouquinho curioso.— Este é Godfrey — Abbie apresentou o animalzinho. — Ele acha que é o dono da

fazenda.— Pois, pelo jeito dele, eu também achei — Seth replicou, rindo.— Onde está sua dona, Godfrey?Abbie olhou para a casa, mas não havia sinal de vida por trás das portas e janelas. O

gato sacudiu o rabo e, pulando agilmente para junto do carro, começou a se limpar com ar desdenhoso. Ele jamais se rebaixaria a servir de guia para aqueles humanos.— Vovó deve estar na horta. Fica atrás da casa. Abbie pôs-se a caminhar para lá e

Seth acompanhou-a, a mão apoiada familiarmente em sua cintura. Havia um leve toquepossessivo naquele gesto, o que fez com que ela tivesse a impressão de realmentepertencer a ele. Uma sensação da qual gostou muito.

Exatamente quando eles entraram na horta, uma mulher pequena, de calça larga eblusa florida, surgiu no canto da casa. A leve inclinação dos ombros era o único sinalvisível de sua idade avançada, pois seus cabelos curtos ainda eram de um vermelho vivo,resultado de uma boa rinsagem, aplicada com regularidade. Ela estava carregando umaenorme cesta, cheia de espigas de milho, e seu rosto sardento e queimado de sol não

demonstrava o menor cansaço.— Oi, vovó!A mulher parou e, sem colocar a cesta no chão, esperou que eles se aproximassem.

Seus olhos vivos e verdes inspecionaram Seth da cabeça aos pés, sem esquecer umúnico detalhe.

— Eu achei mesmo que a senhora deveria estar aqui. Não deve trabalhar do lado defora com este calorão, vovó. Pode lhe fazer mal.

— Com a minha idade, se eu não fizer exercícios fico emperrada. — Os olhos verdesda velha senhora pousaram novamente em Seth. — Então, você finalmente trouxe umhomem para eu conhecer. Já não era sem tempo. — Sem lhes dar uma chance dereplicar, ela lançou um olhar para o carro de Seth e continuou: — Aquele carro é seu? Eusempre tive vontade de sair estrada afora num desses velozes conversíveis, com meuscabelos voando ao vento. Eu costumava usá-los longos, quando era jovem.

— Eu a levarei para um passeio quando quiser, Sra. Klein. — Seth ofereceu, sorrindo.— Eu sou Seth Talbot.

— É um prazer conhecê-lo, Seth. — E, olhando para a neta, vovó Klein comentou: —Você arranjou um homem forte e viril, Abbie. Aposto que, um mês depois de seucasamento, já estará grávida.

— Vovó! — Abbie estava boquiaberta. Era a primeira vez que ouvia a avó falar daquelemodo. Tinha ouvido encorajamentos para se casar e iniciar uma família, pois, sendomulher de fazendeiro, vovó Klein sempre havia encarado com naturalidade nascimentos e

acasalamentos, julgando-os algo imperativo na vida de uma mulher. Mas nunca disseranada tão escandaloso quanto aquilo. — Vovó, Seth é um ministro!— E daí? Ele é um homem, não é? E é bom que ele fique sabendo, logo de início, que

quero ser bisavó, antes de morrer.— Há muito tempo para isso. A senhora não é tão velha — Abbie protestou, tentando

encontrar um jeito delicado de explicar à avó que estava enganada sobre a situação.— Levando em conta o tempo que você gastou para achar o homem certo, eu não diria

que me sobram muitos anos. Eu me casei aos dezessete anos, e aos dezoito tive meuprimeiro filho. Você está com vinte e três, Abbie! Já demorou demais para ficar noiva,quanto mais casar.

— Seth e eu não estamos noivos, vovó.

— Não?! Eu pensei que você o tivesse trazido para cá por causa disso. — A velha

Page 53: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 53/72

senhora não escondeu o embaraço. — Você nunca trouxe um homem junto, quando veiome visitar das outras vezes.

— Fui eu que quis vir, esta tarde — Seth declarou, tomando a responsabilidade dadecisão. — Abbie tinha me dito que sempre a visitava, nos fins de semana. Como está-vamos fazendo um piquenique não muito longe daqui, tive a idéia de vir vê-la. — Ele deuum passo para a frente, nem um pouco embaraçado pela conclusão inicial da velha

senhora. — Posso carregar esta cesta de milho para a senhora?— Não, pode deixar que eu mesma carrego. — Vovó Klein estava vermelha como umpimentão, pois não gostava de fazer papel de velha e tola. — Estou acostumada.

— Eu sei que está, Sra. Klein, mas meu pai arrancaria meu couro se eu não acarregasse para a senhora, como deve fazer um cavalheiro.

Abbie ficou surpresa ao ver a avó entregar a cesta a Seth. Todas as vezes que seoferecera para carregar alguma coisa pesada, vovó Klein havia recusado com im-paciência, insistindo em que não queria ser tratada como uma inválida.

— Coloque na porta da cozinha, que depois eu dou um jeito neste milho — vovó Kleindisse a Seth. — Agora, quero que entrem para tomar um refresco gelado.

— Estas espigas estão muito bonitas, Sra. Klein — Seth elogiou.

— Não é fácil ficar um passo à frente dos guaxinins Entre eles e os veadinhos, não seicomo minha horta ainda não acabou. — A velha senhora reclamava da luta eterna quemantinha com os animaizinhos da região. — Vou arranjar um saco para você levar algumas dessas espigas para a sua família, Abbie. O senhor também pode levar algumas,se quiser, Sr. Talbot. Ou devo chamá-lo de reverendo?

Seth lançou um olhar divertido para Abbie.— Seth está ótimo, Sra. Klein.Quando Seth e Abbie saíram da casa, uma hora depois, estavam ambos carregados

de produtos da horta. Além das espigas de milho, vovó Klein havia lhes dado vários potesde tomate e ervilha em conserva.

— Alice falou que viria me ajudar a colher o resto do milho, na terça-feira — ela disse,acompanhando-os até o carro. — Peça a ela para trazer mais alguns potes, Abbie. Osque tenho não vão dar.

— Pode deixar, vovó.— Seth, não se esqueça de que prometeu me levar para dar uma volta neste carro, um

dia destes.— Que tal sábado que vem? — Seth sugeriu. — Nós dois podemos sair por aí,

enquanto Abbie prepara o almoço.— Excelente idéia— Está combinado, então. — Ele deu a partida e acelerou o motor algumas vezes, em

homenagem à velha senhora, antes de dar a volta e rumar para a estrada. — Sua avó é

uma mulher e tanto — comentou logo depois, levantando a voz para se fazer ouvir acimado barulho do carro.Sem tentar competir com o barulho do carro e do vento, Abbie respondeu com um

gesto afirmativo de cabeça. O barulho aumentou quando entraram na estrada paraEureka Springs e Seth acelerou.

Abbie teve a impressão de que o dia e o passeio tinham sido curtos demais, mas jáeram mais de cinco horas quando Seth parou o carro no pátio dos Scott. Descendo, elaestendeu as mãos para pegar o saco de espigas e conservas, que estava no banco detrás.

— Deixe que eu levo para você — Seth ofereceu-se.— Obrigada, mas vou passar pela casa de meus pais, antes — Abbie explicou. E, com

o saco nos braços, ficou ali em pé, meio sem graça, olhando para ele. — Foi um passeio

Page 54: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 54/72

muito gostoso. O piquenique estava uma delícia.A lembrança da última vez em que ele a trouxera para casa, ameaçando beijá-la na

frente de quem estivesse por ali, voltou-lhe à mente. Mas não tinha nenhuma desculpapara ir ao apartamento e depois descer, carregando aquele saco. Seria uma atitude óbviademais, para quem estivesse olhando.

— Até amanhã, na igreja — Seth disse. E, inclinando a cabeça, beijou-a de leve nos

lábios.Foi só depois que ele se foi que Abbie recuperou-se da surpresa e viu que tinhadeixado as roupas lavadas no banco de trás de Abel. Poderia ter pedido a Seth que aslevasse até o apartamento. Seria a desculpa perfeita. Que falta de cabeça!

Seu pai surgiu na porta da cozinha, carregando uma lata de lixo.— Foi o reverendo que acabou de sair?— Foi. Nós estivemos na fazenda da vovó. Ela mandou algumas espigas de milho e

uns potes de conserva para vocês.— Você passou o dia todo com o reverendo? — Ele tirou o pacote das mãos dela. —

Pensei que estivesse em seu apartamento o tempo todo, datilografando.— Nós saímos para um piquenique, depois fomos visitar vovó.

— Por acaso são sinos de casamento, este barulhinho que estou ouvindo?—- Papai, você é impossível!— Por quê? O reverendo não é do tipo que se casa? Já ouvi dizer que os vendedores

de Bíblia são notórios namoradores. Talvez os ministros também sejam.— Isto não tem graça, papai!Abbie recusou-se a pensar que Seth poderia estar apenas brincando com ela.

CAPÍTULO VIII

Com o cardápio aberto à sua frente, sobre a mesa, Abbie tomou outro gole de água eolhou para o relógio de pulso. Ao sair mais cedo do escritório, para almoçar com Seth,tinha se esquecido de que, com o reinicio das aulas, o número de turistas visitando acidade diminuía. Eles haviam combinado se encontrar ao meio-dia, e ainda faltavam cincominutos para essa hora.

Desde o dia do piquenique, há um mês, eles vinham se encontrando com bastanteregularidade. Pelo menos duas vezes por semana almoçavam juntos, e uma ou duasnoites saíam para jantar fora ou ver um show artístico. A menos que Seth estivessetrabalhando em algum sermão, passavam o sábado juntos também, passeando ouvisitando vovó Klein, que estava positivamente louca pelo carro dele.

— George, aquele rapaz conversando com o juiz, perto da porta, não é o reverendo

Talbot?Abbie empertigou-se ao ouvir a mulher da mesa ao lado, atrás de um biombo,mencionar Seth, em voz baixa. Olhou em torno, mas de onde estava não pôde vê-lo.

— Acho que é — o homem, certamente George, respondeu.— Ele está sem o colarinho, de novo — a mulher disse, em tom de censura, e Abbie

disfarçou um sorriso, levando o copo de água aos lábios. — O comportamento dele não épróprio de um ministro.

—— Você não pode condenar o homem só porque ele tira o colarinho de vez emquando. Deve ser como usar uma gravata. Quando não estou trabalhando, não queronem passar perto de uma.

—- Mas não é só isso, George. É o modo como ele vem se comportando com aquela

moça, também. Você sabe, a filha daquele advogado, o Scott.

Page 55: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 55/72

Tendo começado a ouvir a conversa, Abbie não conseguiu mais parar. Ficara sabendoque os boatos sobre ela e Seth estavam correndo à solta, mas isso já era de se esperar.

— Os dois são solteiros. Não vejo nada de errado em namorarem — o homem replicou.E Abbie pensou: Um viva para George! Pelo menos ele os estava defendendo dos

ataques maliciosos da mulher.— Ela não mora com os pais, embora muita gente ache que sim — a mulher continuou.

— Ela transformou o cômodo em cima da garagem em apartamento e vive lá,completamente isolada da casa dos pais.A voz da mulher abaixou para um sussurro do tipo conspirador, que Abbie mal

conseguiu ouvir.— Dizem que o reverendo já esteve no apartamento dela!— Verdade? — O desinteresse de George era evidente.

— Você não acha estranho o modo como ela voltou de Kansas City, tão de repente? Epelo que sei, ela tinha um ótimo emprego, lá. Na minha opinião, devei haver uma razãomuito forte para uma moça atraente como ela ainda estar solteira. Aposto que ela estáescondendo alguma coisa.

— Maude, nunca vi ninguém com tanto talento para descobrir pecado nos outros, como

você.— Sabe, eu acho que ele deveria estar saindo com uma boa garota em vez de... Não

olhe agora, George, mas ele está vindo para cá. — Em voz mais alta, a mulher cumprimentou: — Boa tarde, reverendo. Como vai?

— Bem, obrigado.No instante seguinte, Seth surgiu no campo de visão de Abbie. Com um sorriso um

pouco forçado, ela observou-o sentar-se no banco em frente.— Oi, Abbie. Você chegou cedo — ele comentou, fitando-a com olhos cheios de calor.

— Pensei que teria que ficar a sua espera.— Eu saí mais cedo.Abbie pegou o cardápio, esforçando-se para não pensar na conversa que acabara de

ouvir. Mas Seth conhecia muito bem seu modo de ser, para não perceber que algo estavaerrado.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — Ele inclinou a cabeça para o lado, oscabelos loiros mostrando sinais de terem sido despenteados pelo vento e arrumados comos dedos.

Abbie abriu a boca para dizer que tudo estava bem, mas depois lembrou-se de que amulher ao lado já devia ter percebido que ouvira a conversa e mudou de idéia. Num tomum pouco mais alto que o necessário, replicou:

— Eu estava pensando sobre aquela canção infantil, que fala a respeito de "paus epedras". . .

Seth afastou-se alguns centímetros, os olhos apertados estudando-a com atenção.Abaixando novamente a cabeça para ler o cardápio, Abbie perdeu o olhar que ele lançouao Reservado atrás dela.

— Carne de panela é o prato do dia, hoje. Acho que vou pedir uma porção para mim.Seth resolveu acompanhá-la e, quando a garçonete chegou, pediu duas porções.— Como você tem passado? — ele perguntou depoisque a mocinha se afastou, como se não a visse há muito tempo, e não há apenas dois

dias.— Bem. Acabei de datilografar o manuscrito. Ele agora está a salvo, na mão de suas

autoras. — Ela teve o cuidado de não mencionar o nome das irmãs Coltrain, pois, naquelelugar, até as paredes pareciam ter ouvidos.

— Em boa hora.

Page 56: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 56/72

— Em boa hora por quê?— Porque estou precisando de ajuda para datilografar os boletins da igreja. Tenho que

colocá-los no correio a semana que vem. Você não vai levar mais do que uma noite parabater tudo.

— Você fala como se eu já tivesse me oferecido! — Abbie comentou, divertida.— Eu sabia que você concordaria —- zombeteiro, ele fingiu que era isso realmente o

que havia acontecido. — Pode ser esta noite?— Acho que sim.— Dá para você estar na casa paroquial um pouco antes das sete?Tensa, de repente, Abbie imaginou o que a mulher no reservado ao lado pensaria de

sua ida à casa paroquial.— Eu tenho que estar na igreja logo depois das sete, para ensaiar um casamento —

Seth prosseguiu, e ela deixou escapar um suspiro de alívio. — Você terá o escritório sópara si. Não quero ser acusado de perturbá-la, enquanto estiver trabalhando.

— Espero que não me perturbe, mesmo. Você tem máquina de escrever?— Uma manual.— Vou levar minha elétrica portátil, então.

No meio do almoço, um membro do conselho diretor da igreja viu-os e aproximou-separa um dedinho de prosa com Seth. Abbie ouviu o casal da mesa ao lado sair edescontraiu-se um pouquinho.

Inevitavelmente, a conversa entre Seth e o diretor acabou caindo em assuntos daigreja, o que a deixou totalmente de fora. De negócios da igreja, os dois passaram adiscutir a Bíblia, e uma diferença de opinião a respeito da interpretação de uma passagemnas Escrituras acabou surgindo.

— A senhorita vai decidir nosso impasse, Srta. Scott — o membro do conselho diretor disse, dirigindo-se a ela. — Qual é a interpretação mais correta?

Abbie sentiu-se embaraçada e presa numa armadilha, pois não conhecia a passagemsobre a qual eles estavam falando. Graças a Deus, Seth veio em sua ajuda.

— Acho que Abbie vai insistir em permanecer neutra. E como ela não se julga umaconhecedora da Bíblia, é injusto pedir-lhe para agir como juiz.

— O reverendo tem razão. — Ela sempre se referia a ele pelo título profissional,quando estavam na companhia de estranhos. — Prefiro permanecer neutra, sobre essesassuntos.

— Imagino que vocês dois devam ter coisas mais interessantes a discutir do que aBíblia, quando estão juntos — o homem comentou, com uma piscadela maliciosa.

Foi um comentário inocente, sem nenhuma intenção de crítica, mas Abbie não pôdedeixar de imaginar se não deveria estudar um pouco a Bíblia. Como aquele homem,outras pessoas esperariam que tivesse mais conhecimentos a respeito, do que na

realidade tinha. Este pensamento não saiu de sua cabeça o resto do dia.Abbie diminuiu a velocidade do carro, ao avistar a casa paroquial.— Acho que podemos estacionar bem em frente à casa dele, Abel. Nessa altura, a

cidade inteira já deve estar sabendo que fiquei de vir para cá, esta noite — murmurou,encostando o velho automóvel à sarjeta.

Desligando o motor e puxando o breque de mão, ela desceu e deu a volta para pegar amáquina de escrever, que estava no banco do passageiro. O barulho de uma porta seabrindo chamou sua atenção e, virando-se, Abbie viu Seth descer, correndo, a escada dacasa paroquial. Vestido todo em negro, com apenas a estreita faixa branca do colarinhopara fazer contraste, ele estava de tirar o fôlego de qualquer mulher.

— Deixe que eu levo a máquina.

— Ela não é pesada — Abbie protestou, mas mesmo assim Seth tirou-a de suas mãos.

Page 57: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 57/72

— Imagine só o que os vizinhos iriam pensar, se eu a deixasse carregar isto, estandode mãos vazias — ele brincou, zombeteiro. — No mínimo, iriam achar que não tenho amenor educação.

— E você tem?Rindo, Abbie adiantou-se para abrir a porta da casa, afastando-se para deixá-lo entrar 

primeiro.

Era uma casa antiga, com o pé direito bem alto. A porta de entrada dava para um hallespaçoso, de onde saíam várias portas. O tapete jogado sobre o chão não escondia ospedaços puídos do carpete por baixo, e o papel de parede, que antigamente deviacombinar com o carpete, estava agora velho e desbotado.

— O escritório é aqui. — Seth abriu a porta da direita com o pé.Assim que entrou, Abbie percebeu a diferença. O hall de entrada dava a impressão de

algo velho e gasto, mas o escritório era vibrante e aconchegante. Um tapete bege.-clarocobria o assoalho de tábuas largas, combinando às mil maravilhas com as paredesforradas de lambris de madeira e fazendo um lindo contraste com o tom ocre das cortinase de duas poltronas estofadas.

— É aqui que você passa a maior parte do seu tempo, não é? — Abbie perguntou,

virando-se para Seth.Ele colocou a máquina de escrever sobre a antiga escrivaninha de mogno, que ficava

diante de uma das janelas, e lançou um rápido olhar em torno, antes de responder.— Dá para ver, não dá?— E como!—- Eu mandei reformar as poltronas e comprei as cortinas e o tapete. A casa inteira

precisa ser redecorada, mas eu não sei como.— Existem muitas possibilidades.— Como, por exemplo.— Esta casa é tão antiga que eu não me surpreenderia se descobríssemos que o

assoalho do hall de entrada também é de tábuas largas. Com as paredes pintadas deamarelinho, o lugar ficaria bem mais claro e alegre.

Abbie lançou a primeira idéia que lhe veio à cabeça, pois Seth havia cruzado oescritório e agora estava perigosamente perto dela.

— Não quer arranjar tudo para mim? Eu lhe darei carta branca.Seria um desafio agradável, mas ela balançou a cabeça, cética.— Não creio que a igreja concorde em gastar tanto dinheiro com a casa paroquial. E

você teria que apresentar vários planos e orçamentos ao conselho diretor.— O conselho não ligaria, se eu mesmo pagasse por tudo. O que me diz? Quer 

redecorar tudo para mim?De novo, Abbie balançou a cabeça.

— Sem motivo, a cidade já está falando de nós. Pode imaginar o que eles diriam, se eucomeçasse a redecorar a casa paroquial? — Ela olhou para Seth como se achasse queele havia ficado completamente louco.

— "Paus e pedras..." — Deliberadamente, ele repetiu a frase que ela havia usado,durante o almoço.

— "Podem quebrar meus ossos, mas palavras não podem me ferir." Só que, nestecaso, as palavras podem acabar ferindo você, Seth.

— O que foi que você ouviu hoje, enquanto estava me esperando para almoçar?— Nada.— Não minta, Abbie. — Tomando-a pelos braços, ele aproximou-a de si. — A Sra.

Jones disse qualquer coisa de que não gostou, não foi?

— Não foi nada. Vindo de quem veio, é algo que só merece ser esquecido. E eu não

Page 58: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 58/72

sou tão sensível assim.— Aí é que você se engana!E, para provar o quanto estava certo, Seth abraçou-a e começou a beijar-lhe o

pescoço. Abbie estremeceu de prazer. As faces dele eram macias de encontro à sua pele,e o aroma da loção pós-barba que ele estava usando estimulou seus sentidos. Era fatal!Sempre que estava nos braços dele, experimentava a mesma sensação intensa e

atordoante.— Pensei que você tivesse me pedido para vir datilografar os boletins da igreja. — Arouquidão de sua voz mostrou, claramente, o quanto estava perturbada.

— Talvez eu tenha mudado de idéia. — Seth enterrou o rosto nos cabelos dela.— E o ensaio do casamento? — Abbie lembrou. E depois, para chamar a atenção dele,

acrescentou: — Reverendo!— Ah, isso foi maldade! — Ele levantou a cabeça, mas continuou a acariciar-lhe as

costas com lentidão.— Os noivos não podem ensaiar sem o ministro. — Fascinada, ela fitou a boca

máscula e de traços fortes.— Mas o ministro só deve estar lá daqui a vinte minutos. O que é tempo mais do que

suficiente para Seth Talbot...— Comporte-se, Seth. — De repente, lembrando-se de que a porta da frente não

estava trancada, ela empurrou-o para longe. Qualquer um poderia entrar e encontrá-losnuma situação embaraçosa.

— Por quê? — Seth permitiu que Abbie se afastasse um pouquinho, mas manteve-apresa unindo as mãos junto às costas dela. — Acha que vou perder o controle dos meusdesejos lascivos?

— Não acha melhor me mostrar o que quer que eu datilografe? — Ela ainda não tinhacondições de enfrentar a franqueza dele, e muito menos conversas deste tipo.

— Provavelmente. Venha cá. — Tomando-a pela mão, ele levou-a até a escrivaninhaonde tinha posto a máquina de escrever. — Olhe, os envelopes são estes aqui. E nestafolha de papel estão os nomes e endereços que devem ser colocados neles.

— Só isso?!— É. Acha que é capaz de dar conta do recado? — Os olhos azuis brilharam,

brincalhões.— Parece bem simples. Qualquer garota de escola, com um semestre de datilografia,

seria capaz de fazer o que você quer.— Então, acha que está super qualificada para a tarefa?— Bem, eu não diria isso. . .— Ótimo. Porque não existe mais ninguém que eu queira que me ajude. — Seth

declarou. E, olhando para o relógio na parede, acrescentou com ar lamentoso: — Preciso

ir. Tem alguma dúvida?— Não.— Não sei quanto tempo vou demorar. Se alguém telefonar, diga que estarei na igreja.— Está bem.Erguendo a mão, ele segurou-a pelo queixo e beijou-a na boca. Então, endireitou o

corpo e, com uma piscadela bem-humorada, virou-se e caminhou para a porta.Foi uma carícia breve, mas, mesmo assim, o pulso de Abbie disparou e ela só

conseguiu sair de onde estava, algum tempo depois de ter ouvido a porta da frente bater.Dando a volta à escrivaninha, ligou a máquina à tomada, mas suas ações foram todasautomáticas e não dirigidas por um pensamento consciente.

Não tinha havido nada de especial na partida de Seth, nada que a tornasse diferente

das outras. No entanto, daquele momento em diante, Abbie não teve mais dúvidas a

Page 59: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 59/72

respeito do que sentia por ele. Dentro dela, livre de todas as sombras que na certaexistiriam, caso estivesse apenas fisicamente entusiasmada por ele, surgiu a verdadeclara e simples: amava Seth Talbot.

Um sorriso leve tocou-lhe os lábios, quando sentou-se na cadeira em frente àescrivaninha. Não tinha ouvido sinos nem trovões ensurdecedores, e também não viraluzes cegantes; a verdade atingira-a de forma pura e calorosa, enchendo todo seu ser 

com a certeza de seus sentimentos. No momento, só estava conseguindo saborear adescoberta. Mais tarde gastaria tempo imaginando se este amor era ou nãocorrespondido.

Abbie ligou a máquina e colocou o primeiro, envelope nela. Em seguida, correu osolhos pela lista de nomes e endereços que teria que copiar. Gastaria mais tempo tirando ecolocando os envelopes na máquina, do que propriamente datilografando.

Algum tempo depois, uma mariposa entrou no escritório, atraída pela luz do abajur sobre a escrivaninha. Abbie parou de datilografar por um instante e arqueou as costas,tentando diminuir a tensão dos músculos cansados. Satisfeita, notou que a pilha deenvelopes prontos era maior do que a dos não prontos.

Estava datilografando o envelope seguinte, quando o telefone tocou. Usando o ombro

para manter o fone junto ao ouvido, atendeu, enquanto tirava o envelope da máquina.— Casa paroquial.Um silêncio total respondeu do outro lado da linha, o que despertou sua atenção.

Segurando o fone com ambas as mãos, repetiu:— Casa paroquial. Alô!— Quem está falando? — uma voz de mulher perguntou, com arrogância.— Aqui é Abbie Scott — Abbie se identificou, já na defensiva.— Quero falar com o reverendo Talbot. Ele está aí... com você? — A ligeira pausa,

antes das duas últimas palavras, tornou bem clara a insinuação na voz da mulher.— Não, ele não está. O reverendo Talbot tinha um ensaio de casamento marcado para

esta noite. A senhora pode encontrá-lo na igreja.— Eu já telefonei para a igreja, Srta. Scott, e ninguém atendeu. Tem certeza de que o

reverendo Talbot não está mesmo aí?— Tenho, sim. — Abbie mal estava conseguindo conter a raiva. — Talvez seja melhor 

a senhora ligar novamente para a igreja e deixar o telefone tocar algum tempo. Pode ser que o reverendo não tenha podido responder, da outra vez.

— E pode ser que ele não esteja lá. Sabe que horas são, Srta. Scott?Abbie estivera tão entretida datilografando os envelopes, que não prestara atenção às

horas, a não ser para notar que já havia escurecido, lá fora. Olhando para o relógio, viu,surpresa, que era mais tarde do que supunha.

— São nove horas e dezoito minutos.

— A senhorita se importaria de me dizer o que está fazendo na casa paroquial, a estahora da noite, Srta. Scott?— O reverendo precisava de alguém que datilografasse alguns papéis para ele.Se não fosse pela possibilidade de Seth sofrer as conseqüências de sua rudeza, Abbie

teria dito à mulher que aquilo não era da conta dela.— Que conveniente!— Se o reverendo voltar logo, quem eu digo que o chamou?— Vou seguir sua sugestão, Srta. Scott, e ligar de novo para a igreja.Um "clic" anunciou o final da ligação. Queimando de raiva, Abbie bateu o fone no

gancho. Com os lábios comprimidos numa linha fina, olhou para a janela, desejandoardentemente que Seth atendesse ao telefone na igreja e a mulher fosse obrigada a

engolir todos os pensamentos maldosos que tivera. Tomada por uma leve curiosidade,

Page 60: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 60/72

imaginou por que ele não havia atendido quando a mulher telefonara, da primeira vez. Seé que ela realmente havia telefonado. . .

Pensando nisso, levantou-se e foi até a janela da frente. A escuridão lá fora criavareflexos nos vidros, o que a impediu de ver a rua com nitidez, mas teve a impressão deque as luzes da igreja estavam apagadas. Preocupada, franziu a testa.

Se o ensaio já havia acabado, onde estaria Seth? Confusa, voltou para a máquina e

forçou-se a continuar trabalhando. Quarenta e cinco minutos depois, completou o últimoenvelope. Suas têmporas estavam latejando de dor, e esfregou-as com as pontas dosdedos antes de virar-se na cadeira, para organizar os envelopes em duas pilhas bemfeitas. O abajur clareava uma pequena área em volta da escrivaninha, mas o resto doescritório estava na sombra.

— Terminou?Abbie quase pulou de susto. Não tinha percebido Seth entrar, pois sua figura, vestida

de negro, confundia-se com a escuridão do hall. Ele estava recostado ao batente daporta, com os braços cruzados sobre o peito, quando o vira. Mas ficara com a -nítidaimpressão de que ele já estava ali há algum tempo, observando-a em silêncio.

— Não ouvi você chegar — murmurou, quando se recuperou do susto.

— Desculpe, não queria assustá-la.Descruzando os braços, Seth aproximou-se da escrivaninha, entrando no círculo de

luz. Havia algo profundamente perturbador no modo como a estava olhando, e Abbiesentiu o coração disparar.

— Não foi nada. Acaba de vir da igreja? Eu olhei pela janela algum tempo atrás e tive aimpressão de que as luzes de lá estavam apagadas.

Sentando-se na beirada da escrivaninha, ele examinou-a com um olhar divertido, antesde perguntar, em tom de censura:

— Está me checando, por acaso?— Não, de jeito nenhum. Mas uma mulher telefonou para cá, atrás de você, e disse

que já havia ligado para a igreja, sem que ninguém atendesse. Ela conseguiu falar comvocê?

— Não. Que horas eram?— Nove e vinte, mais ou menos.— Eu já havia saído da igreja. — E, vendo o brilho incerto e interrogativo nos olhos de

Abbie, Seth continuou: — Os pais do noivo ofereceram uma ceia aos participantes doensaio, na casa deles, e eu não pude recusar o convite para ir. Mas saí assim quepossível. A mulher deixou o nome ou algum recado?

— Não. Como ela não telefonou de novo, achei que tinha conseguido falar com vocêna igreja.

Abbie não mencionou os comentários desagradáveis da mulher, mas não pôde deixar 

de pensar no que ela estaria imaginando a respeito de seu relacionamento com Seth,uma vez que não o encontrara na igreja.— Se ela tivesse alguma coisa de realmente importante para falar comigo, teria

telefonado de novo — Seth concluiu, encerrando o assunto. — Já que terminou detrabalhar, o que acha de tomarmos um cafezinho?

Se não fosse pelo telefonema da mulher, Abbie provavelmente teria aceitado. Agora,no entanto, estava consciente demais do fato de estarem sozinhos na casa paroquial.

— É melhor não. Já é muito tarde. Inclinando-se para a frente, desligou a máquina datomada. Seu relógio de pulso marcava mais de dez horas e, com toda certeza, alguém

 já devia ter notado que seu carro continuava estacionado do lado de fora.— Neste caso — Seth levantou-se — terei que pensar em outro motivo para convencê-

la a ficar. — Deu a volta na escrivaninha, aproximando-se dela por trás.

Page 61: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 61/72

— Seth — Abbie protestou, quando ele fechou as mãos em torno de sua cintura,puxando-a de encontro ao peito.

Ela sentiu o próprio corpo moldar-se ao peito sólido, aos quadris inquietos de Seth.Preocupada, tentou impedir que as mãos dele prosseguissem na caminhada deliciosaagoniante em direção a seus seios. Mas logo mostrou a fragilidade de sua reação,inclinando a cabeça para o lado e dando-lhe livre acesso à curva de seu pescoço.

Um calor gostoso percorreu suas veias, amolecendo-a de alto a baixo, quando oslábios dele tocaram a pele sensível junto a sua orelha. Tomada por ondas sucessivas deexcitação, fechou os olhos e sentiu-o apertá-la com mais força, enquanto deslizava umadas mãos por seu ventre, despertando em seu íntimo outro tipo de emoção.

O tilintar agudo do telefone foi uma intrusão mal recebida, mas que, decididamente,veio em boa hora. Não fosse por isso, Abbie teria cedido às táticas persuasivas de Seth eficado mais um pouco.

— É melhor você atender — ela murmurou, ao perceber que ele havia enrijecido eestava resistindo ao chamado.

— Eu sei. — Relutante, Seth soltou-a e foi até a escrivaninha, onde tirou o fone dogancho. — Reverendo Talbot falando.

Abbie não esperou. Tirando vantagem da distração dele, levantou a máquina portátil.Se Tião saísse dali naquele momento, provavelmente só sairia horas depois.

Percebendo sua intenção, Seth lançou-lhe um olhar impaciente.— Um momento — disse à pessoa que estava do outro lado. E, tapando o bocal com a

mão, sussurrou para Abbie: — Abbie, você não precisa ir. _ Preciso, sim — ela insistiu, afastando-se do campo de alcance dele e caminhando

para a entrada. — É tarde e tenho que trabalhar amanhã.— Abbie...— É a mulher que telefonou, quando você não estava? _ É, sim. Mas. . . — Que Seth não estava se importando com aquilo era evidente.— Então, é melhor você não deixá-la esperando — Abbie aconselhou, certa de que

uma espera só serviria para atear mais fogo à imaginação da mulher. — Até logo.Sem esperar que ele respondesse, dirigiu-se com passadas rápidas e decididas para a

porta da frente. No momento em que colocou o pé no patamar da escadinha de entrada,ouviu Seth falando de novo ao telefone.

CAPÍTULO IX

Uma chuvinha fina e incessante batia de encontro às vidraças do apartamento,enquanto nuvens escuras e assustadoras cobriam o céu, dando a tudo um ar desolado edeprimente. Inquieta, Abbie afastou-se da janela e da Á chuva que não mostrava sinais de

parar. Não tinha absolutamente nada para fazer.A televisão não estava apresentando nada de interessante, e os programas de rádioeram ainda piores. Detendo-se em frente à estante, ela leu os títulos dos livros láenfileirados. Um deles, escrito em letras douradas sobre uma capa de couro marrom,chamou sua atenção de imediato: a Bíblia Sagrada. Era uma edição revisada da versãodo rei James para a Bíblia, um presente que ganhara da igreja, ao se tornar um membrodela.

Após uma breve hesitação, tirou-a da estante e levou-a para o sofá. Sentando-se sobreas pernas, numa posição bem confortável, abriu-a e começou a correr os olhos pelaspáginas cobertas de escrita fina, a mente ocupada pela vaga esperança de dar com apassagem sobre a qual Seth havia discutido, alguns dias atrás.

Sendo ele um ministro, era provável que várias conversas daquele tipo surgissem, no

Page 62: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 62/72

futuro, e sua ignorância da Bíblia acabaria se tornando cada vez mais notada. E isso eraalgo que não estava disposta a deixar que acontecesse.

Pouco depois, ouviu um barulho estranho, acima do ruído feito pela chuva batendo notelhado. Levantou a cabeça, curiosa, mas não ouviu mais nada e voltou à leitura. Folheoumais algumas páginas e, por lealdade a seu sexo, resolveu ler a história de Ruth, noVelho Testamento. Estava no meio da primeira coluna, quando escutou passos na

escada.A certeza de que era Seth apossou-se dela, de forma rápida e segura. Mesmo nãotendo combinado nenhum encontro para aquele sábado, havia imaginado que ele tele-fonaria ou iria vê-la, na primeira oportunidade que tivesse. Largando a Bíblia aberta sobreuma almofada, levantou-se e correu para a porta.

A batida ressoou pelo ambiente no momento exato em que a alcançou. Abrindo-a, deucom Seth em pé do lado de fora, o casaco de náilon pingando água. Ele enxugou o rostocom a mão e comentou:

— Está chovendo.— Se você não me dissesse, eu jamais desconfiaria.— Rindo, Abbie abriu mais a porta, para deixá-lo entrar.

— Vou buscar uma toalha para você. — Caminhou até a área da cozinha e, de umagaveta do armário, retirou uma toalha de mão. — Você não tem um guarda-chuva ouesqueceu de subir a capota do seu carro?

— Eu esqueci o guarda-chuva — Seth replicou, tirando o casaco.O tempo chuvoso de outono tinha trazido uma certa umidade para o ar. Abbie notou

que Seth estava se defendendo do frio com um pulôver branco, feito à mão, que lherealçava os ombros largos e a solidez do.peito musculoso. E o contraste da lã branca comos cabelos dele, escurecidos pela chuva e brilhando como bronze à luz artificial, erarealmente arrebatador.

— O que você vai fazer esta tarde? — ele perguntou, pegando a toalha das mãos delae entregando-lhe o casaco molhado.

— Nada. Para ser franca, eu já estava começando a ficar cansada da minha própriacompanhia. — Abbie dependurou o casaco numa cadeira, para secar. — Por quê? Ondeestá querendo ir?

— A lugar nenhum. Estou querendo ficar aqui mesmo.Quando ela se voltou para olhá-lo, incerta, Seth passou a toalha em torno de seu

pescoço e, juntando as duas pontas, puxou-a para junto de si. A excitação era patente, nomodo como a contemplou.

— E fazer o quê?Abbie não pretendia falar num tom provocante, mas foi isso que aconteceu. Sorrindo,

Seth inclinou a cabeça e beijou-a na boca.' Uma onda de fraqueza invadiu-a, e ela

agarrou-se aos braços dele para não cair.— O que você estava fazendo, quando cheguei? — ele murmurou por entre beijos,misturando o hálito morno ao dela. — Não sei o que era, mas agora podemos fazer muitas coisas. . . Como isto, por exemplo.

Abbie sentiu os lábios dele tocarem os seus e correspondeu cegamente, perdendo-senuma sensação deliciosa.

— Não vai me convidar para sentar? — Levantando a cabeça, Seth olhou-a com ar brincalhão de censura.

— Sente-se, por favor.Ele soltou uma ponta da toalha e tirou-a do pescoço dela. Segurando-a, então, pela

mão, levou-a consigo para o sofá. A Bíblia estava sobre a almofada do meio e, ao

empurrá-la para o lado, Seth reconheceu-a.

Page 63: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 63/72

— O que é isto? — Os olhos azuis lançaram um olhar curioso a Abbie, antes de sefixarem nas páginas abertas. — Você estava lendo a história de Ruth?

Ela sorriu, lembrando-se da pergunta que ele lhe fizera, logo depois de entrar.— Era isto que eu estava fazendo, quando você chegou.— Por algum motivo especial? — Uma das sobrancelhas loiras ergueu-se, num gesto

interrogativo. — Ou só está tentando me impressionar?

Seth sentou-se no meio do sofá, enquanto Abbie se ajeitava na ponta.— Como eu não sabia que você vinha, não poderia estar tentando impressioná-lo —disse Abbie, apesar de saber que a pergunta não tinha sido feita à sério. — Admito que fuiparcial quando escolhi a história de Ruth para ler, já que ela era uma mulher. Maspareceu-me certo ser leal ao meu sexo.

— Uma escolha muito lógica, por sinal. Peço-lhe desculpas por ter dito, aquele dia, noalmoço, que você não conhecia bem as Escrituras, a ponto de poder manifestar umaopinião.

— Não precisa pedir nenhuma desculpa, pois tinha razão. Foi por isso que abri aBíblia: para ler um pouco e aprender algo além do que me ensinaram nas aulas dereligião.

— Sei. . . — Distraído, Seth olhou para as páginas abertas.— É uma pena que eu não tenha ninguém para me ensinar. — Fingindo tristeza, Abbie

sussurrou. Mas seus olhos tinham um brilho provocante.— Está, por acaso, insinuando que quer passar a tarde comigo, lendo a Bíblia? — Ele

fitou os lábios dela, suavizados pelos beijos que haviam trocado.— Não foi você que sugeriu que poderíamos passar a tarde fazendo a mesma coisa

que eu estava fazendo, antes da sua chegada?— Foi. E como ministros não mentem, creio que terei que ter algumas passagens da

Bíblia para você. Tem alguma preferência?— Não. Pode escolher o que quiser.— Vejamos... O que você poderia gostar de ouvir? — ele murmurou, folheando o livro.

— Algo para Abbie. Abra, a que tem o mesmo nome da esposa favorita de Salomão. OsCantares de Salomão. — Lançou-lhe um rápido olhar. — Acha que será apropriado?

— Muito. — Apoiando-se no encosto do sofá, ela encarou-o de frente.Seth virou mais algumas páginas, como se estivesse selecionando uma passagem em

particular, e parou. Com uma expressão levemente enigmática nos olhos azuis, fitou-a denovo.

— Dos Cantares de Salomão — repetiu, antes de começar a ler em voz baixa evibrante.

"Quão formosa e quão aprazível és, ó amor em delícias!"Estas palavras atingiram Abbie como um dedo acariciante deslizando ao longo de sua

espinha. Elas não eram o que estava esperando ouvir. Seu pulso acelerou-se um pouco,em antecipação do que estava para vir, e seus olhos, fixos no rosto dele, observaram aboca máscula formar as palavras seguintes.

"A tua estatura é semelhante à da palmeira, e os teus peitos aos cachos de uvas. Diziaeu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos."

Abbie prendeu a respiração, ao notar a paixão e as promessas contidas na voz deSeth. Fogo líquido espalhou-se por suas veias, e sua pele aqueceu-se com a audácia e abeleza das coisas que ele estava dizendo.

"E então, os teus peitos serão como cachos na vide,e o cheiro da tua respiração como o das maças.E os teus beijos como o bom vinho,

que se bebe suavemente e faz com que falem os

Page 64: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 64/72

lábios dos que dormem."Seth levantou a cabeça e fitou-a com os olhos intensamente azuis. Abbie não

conseguiu disfarçar o quanto tinha sido atingida pela seleção apaixonada. Estavatremendo de desejo.

— Agora, é a sua vez de ler para mim — ouviu-o dizer. — Comece daqui.Pegou o livro com ambas as mãos e olhou, atordoada, para onde ele estava

apontando. Com voz rouca e cheia de sentimento, pôs-se a ler:"Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição.Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemosas noites nas aldeias.Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas,vejamos se florescem as vides, se se abre aflor, se já brotam as romeiras.Ali..."Abbie fez uma pausa e levantou os olhos para Seth. Então, com a voz num simples

sussurro, continuou: "... eu lhe darei meu grande amor."— Dará? — ele murmurou, inclinando-se em sua direção.

— Darei — ela afirmou baixinho, ardendo de vontade de entregar-se a ele, seduzidapelo inegável amor que lhe dedicava.

Abbie não percebeu Seth tirar a Bíblia de suas mãos e colocá-la de lado. Não tinhaconsciência de nada, a não ser do bater de seu próprio coração e dos olhos intensamenteazuis que a estavam mantendo cativa, com o fogo que emanavam.

— Pois então venha cá, meu amor em delícias.Fechando as mãos em torno de sua cintura, Seth forçou-a a se aproximar. Como um

salgueiro, Abbie curvou-se ante a força dele. A boca máscula estava a poucos centí-metros da sua, quando sentiu-se empurrada para- o sofá, levada pelo peso do corpopressionado ao longo do seu. Aquele foi um momento perdido no tempo, sem começo esem final.

Segundos ou minutos podem ter se passado, antes que sentisse o calor dos lábiosdele nos seus. Foi um beijo maravilhoso, que procurou e explorou os limites sem fronteirado prazer, aprofundando-se depois com uma fome insaciável, que foi se tornando maisintensa a cada novo toque. Seus lábios entreabriram-se, cedendo às exigências da línguade Seth, e, em troca, ela experimentou uma satisfação que a fez estremecer e aumentouseu desejo.

Com as pernas enroscadas nas dele, passou as mãos pelos ombros largos, cobertospelo pulôver branco, e sentiu os músculos fortes contraírem-se e descontraírem-se, aoseu toque. Um gemido escapou de sua garganta, quando Seth deslizou a boca por seuslábios entreabertos e, com a ponta da língua, acariciou-a.

— Seus beijos são como o vinho, Abra. Suaves e intoxicantes — ele murmurou,provando-os de novo.Mas Abbie não tinha dúvidas de que, se alguém ali estava bêbada de amor, era ela.

Foi uma experiência atordoante ver-se perdida de desejo, ansiando desesperadamentepelo que a outra pessoa poderia lhe dar. Levada por esta necessidade, ela comprimiu-seainda mais de encontro ao corpo rijo e excitado sobre o seu.

A boca de Seth estava em seus lábios, pescoço, orelha, enchendo-a de prazer,enquanto com uma das mãos ele trabalhava nos botões de sua blusa, abrindo-os um aum. Por um instante, sua pele ficou exposta ao ar frio e úmido da tarde, mas logo a mãodele aqueceu-a, transmitindo-lhe o próprio calor.

Quando Seth virou a cabeça para olhar a beleza feminina que havia descoberto, Abbie

não sentiu necessidade de se esconder. Ela o amava, e o desejo dele era por ela. Queria

Page 65: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 65/72

agradá-lo com tudo que tinha.— Você tem seios lindos, Abbie — ouviu-o declarar com voz rouca, enquanto tomava

um de seus seios na palma da mão e, com dedos acariciantes, criava um prazer tãointenso que chegou a doer. — Lindos!

Mas a dor não durou muito. Logo, a boca máscula desceu para pôr-lhe um fim e fazer uma exploração detalhada dos vales, das colinas e dos picos endurecidos de seus seios.

Por dentro, Abbie estava se sentindo como uma mola por demais comprimida, querendoabsorvê-lo com seu corpo e precisando da proximidade absoluta que só a consumação doato de amor pode dar.

— Me ame, Seth — sussurrou, enterrando os dedos nos cabelos dele, ligeiramenteúmidos.

Estas palavras exprimiam não só um desejo de posse física, como também — eprincipalmente — um pedido de comprometimento emocional. Um pedido para que Sethdeclarasse que aquilo que estava acontecendo, era tão belo e cheio de significado paraele, quanto era para ela.

Num gesto rude, Seth deslizou a boca por seu pescoço e gemeu baixinho.— Não me peça isto, Abbie.

— Mas. . . — A dor aguda da rejeição abafou-lhe a voz.— Não pode ser — ele insistiu, com um traço de zanga. — Não comigo e com você.Decidido, Seth fechou sua blusa, cobrindo-a. Então, abraçou-a com força, achatando

seus seios de encontro ao peito e enterrando o rosto em seus cabelos.Abbie sentiu a rigidez do corpo másculo pressionado junto ao seu, de forma bem

íntima. Era uma tortura tê-lo tão perto de si e saber que não haveria satisfação. Por quê,ainda não sabia. Sua mente estava muito perturbada por desejos insatisfeitos paraconseguir pensar com clareza. Quase em desespero, agarrou-se a ele.

— Abbie... — Seth pronunciou seu nome em meio a um suspiro longo e profundo. —Eu quero você e não pretendo fingir que não.

— Eu também — ela murmurou, a voz cheia de emoção.Um som, semelhante a um riso desanimado, escapou dos lábios dele.— O que vou fazer com você, Abbie? — ele perguntou baixinho, o que só serviu para

confundi-la ainda mais.O telefone, colocado sobre a mesinha ao lado do sofá, tocou repentinamente, quase

em seu ouvido. Como se a pessoa que estava ligando pudesse vê-los deitados no sofá,abraçados de forma tão íntima, Abbie enrijeceu, tomada por uma intensa sensação deculpa. Durante um momento, hesitou entre atender ou não.

Seth tirou a decisão de suas mãos, soltando-a para que pudesse atender.— É melhor você ver quem é — ele aconselhou com evidente relutância. — Pode ser 

importante.

Trêmula, Abbie sentou-se de costas para ele. Na quinta chamada, tirou o fone dogancho com uma das mãos enquanto, com a outra, tentava abotoar a blusa.-— Alô! — Foi impossível controlar sua voz ofegante, causada não pelo esforço físico e

sim, pela suavidade do amor.— Srta. Scott? — Uma mulher perguntou, do outro lado do fio.Um arrepio gelado percorreu a espinha de Abbie. Aquela era a mesma mulher que

havia telefonado para a casa paroquial, algumas noites atrás.— Sou eu, sim. Quem está falando?— Aqui é a Sra. Cones. Estou tentando localizar o reverendo Talbot. Ele está aí? O que

tenho a falar com ele é urgente.Abbie tampou o fone com a mão e olhou por cima do ombro. Seth tinha se sentado e

estava passando os dedos pelos cabelos.

Page 66: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 66/72

— É a Sra. Cones. Ela quer falar com você.Ele levantou a cabeça, como que pressentindo problemas. Depois, uma máscara

inexpressiva cobriu-lhe as feições.— Vou falar com ela.— Um momento, por favor — Abbie disse ao telefone.— Ele está aí? Foi o que pensei — a mulher comentou, em tom malicioso.

Abbie sentiu uma onda de sangue invadir-lhe o rosto e, evitando olhar para Seth,levantou-se e entregou-lhe o fone. Em seguida, abotoando a blusa e ajeitando o resto dasroupas, dirigiu-se ao centro da sala.

— Reverendo Talbot falando — ouviu Seth dizer.Não querendo escutar nem mesmo um pedaço da conversa, caminhou depressa para

a janela, onde se pôs a olhar a chuva que caía, o rosto quente apoiado na vidraça fria e amente vazia de pensamentos. Só quando Seth tocou em seu ombros, voltou à realidade.Com um pequeno movimento de cabeça mostrou que estava ciente da presença deleatrás de si, mas não se voltou para encará-lo.

— Sinto muito pelo que aconteceu, Abbie.— Não tem importância. Está tudo bem. — Mas as palavras dele magoaram-na, e isso

transpareceu na inexpressividade de sua voz.— Espere um pouco! — Impaciente, Seth enterrou os dedos em seus ombros e forçou-

a a virar-se para ele. — Eu estou pedindo desculpas pelo telefonema, não pelo resto.Embora sua expressão pouco mudasse, o brilho de seus olhos esverdeados retornou.

Ele examinou-a por um momento, satisfeito, e repetiu:— Só pelo telefonema, por mais nada.— Eu também sinto pelo telefonema — Abbie admitiu, achando que este era o

comentário mais seguro a fazer. Não havia sentido em reafirmar o que sentia por ele. Játinha expressado seus sentimentos de forma bem clara, tanto por meio de palavrasquanto por ações.

A mão em seu ombro diminuiu a pressão, mas não a soltou.— Quer saber por que escolhi aquele pedaço da Bíblia?— Por quê? — Talvez a resposta dele fosse o que estava desejando ouvir.— Porque eu queria que você visse que a Bíblia é um livro de paixão e sofrimento, mas

principalmente de amor.Este era um sentimento com o qual ela já estava familiarizada, há algum tempo.— Não olhe para mim assim, Abbie. — Um músculo começou a se contrair ao longo do

queixo de Seth, revelando o quanto ele estava lutando para se controlar.— Assim, como?! — Para ela, não havia diferença no modo como o estava fitando.— Como... — Os lábios dele desceram para esmagar os de Abbie, num beijo feroz e

possessivo, que a deixou ofegante e com o coração aos pulos. Quando ele se afastou,

estava com a boca apertada numa linha fina e os olhos azuis brilhando, turbulentos. — Eutambém sou feito de carne e osso, como você, Abbie.— Acho que eu sempre soube disso — Abbie admitiu, recostando-se na janela para

estudá-lo. -- O que aconteceu foi que deixei seu colarinho me confundir.— Pensa que não sei? — A mão forte moveu-se sobre o ombro dela, numa carícia

inquieta. — Precisamos ter uma conversa séria, Abbie, mas não tenho tempo agora. ASra. Cones telefonou porque a mãe está no hospital, muito doente, e o pai deixou-sevencer pela dor e pelo medo de perdê-la. Prometi ir falar com ele, por isso não possoficar.

— Eu entendo — ela garantiu, sufocando a tristeza de vê-lo partir.— Você esperará por mim amanhã, depois da igreja? Podemos almoçar juntos, aqui ou

na casa paroquial. Onde não importa, desde que possamos falar em particular.

Page 67: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 67/72

— Não creio que a casa paroquial seja uma boa idéia. — Na verdade, Abbie nãoconsiderava nenhum dos dois lugares uma boa escolha. — Por que não almoçamos aqui?Posso preparar um assado e regular o forno para que ele esteja quase pronto, quandosairmos da igreja.

— Ótimo. — Seth olhou para a chuva lá fora, depois para ela, novamente. Pareciaestar travando uma batalha consigo mesmo. — Tenho que ir, agora — declarou, com

amarga determinação.Beijando-a mais uma vez pegou o casaco e caminhou depressa para a saída, como seestivesse com medo de mudar de idéia, caso demorasse mais um pouco. Na porta,deteve-se e olhou por cima do ombro. Abbie ainda estava na mesma posição, e os lábiosdele curvaram-se num sorriso breve.

No instante seguinte, a porta fechou-se suavemente e passos rápidos ressoaram pelaescada.

CAPÍTULO X

Abbie entrou na fila para cumprimentar Seth, depois do serviço religioso. Quandochegou sua vez, colocou a mão na dele e sentiu-o apertá-la com um gesto firme epossessivo. Havia uma expressão vibrante nos olhos intensamente azuis, um interessededicado apenas a ela.

— Bom dia, Srta. Scott! — ele cumprimentou arrastando um pouco as palavras, comoque zombando da formalidade que era obrigado a ter.

— Bom dia, reverendo.Abbie sorriu de leve, consciente das outras pessoas observando-os, alguns

criticamente e outros, por simples curiosidade.— Seus pais não vieram?— Não, eles não estão na cidade, hoje. Foram ao Missouri, visitar uns amigos.— Espero que tenha preparado um bom almoço de domingo.— Preparei, sim — ela garantiu, ciente de que o comentário era um jeito sutil de

lembrá-la de que almoçariam juntos.Quando Seth soltou sua mão para cumprimentar a pessoa seguinte, Abbie afastou-se e

desceu a escada que levava ao pátio da igreja. Lá, procurou um cantinho meio isolado epreparou-se para esperá-lo.

As irmãs Coltrain viram-na ao descer a escada, vestidas, como sempre, com umachocante combinação de cores: Isabel de rosa, e Esther, de laranja vivo. As duas eraminseparáveis, mas faziam questão de deixar clara a própria individualidade. Daí seu modo

de vestir.Abbie sorriu, quando as viu se aproximando.— Bom dia — disse, notando a excitação nos rosto das duas irmãs.— Vimos você na igreja e saímos depressa, na esperança de alcançá-la. Queremos

falar com você — Isabel declarou.— É — Esther confirmou. E, chegando mais de perto de Abbie sussurrou, em tom de

conspiração: — Mandamos aquilo que você sabe para uma editora de Nova York.— O reverendo nos deu o nome de um homem. Ele já tinha falado com esse homem,

pessoalmente, e o homem quis ver. . . o que tínhamos feito. Não é maravilhoso? — Isabelriu como se fosse uma mocinha.

— Claro que é!

Abbie ficou contente por elas. Não era um bom juiz, mas gostara do romance e tinha

Page 68: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 68/72

certeza de que o editor também gostaria.— O reverendo disse que podem se passar uns dois meses, antes que tenhamos

notícias do homem — Esther explicou. — Mas. . . — Hesitante, ela olhou para a irmã.— Esther e eu estamos com outra idéia na cabeça — Isabel prosseguiu. — Mas não

sabemos se devemos começar a desenvolver esta idéia, antes de termos notícias. . .daquilo. Poderíamos estar perdendo nosso tempo.

— É, e gostaríamos que nos desse sua opinião.— Se eu fosse vocês, iria em frente e começaria a desenvolver a nova idéia amanhãmesmo — Abbie replicou.

Os rostos das duas irmãs iluminaram-se.— Você ouviu, Esther? Eu sabia que Abbie diria isto! Eu não lhe falei?— Se nós não tivéssemos você e o reverendo para conversar a respeito disto, acho

que explodiríamos — Esther disse, ignorando as palavras provocantes da irmã.— Você vai continuar datilografando para nós, não vai?— Claro que sim.— Você é uma garota maravilhosa, Abbie. — Num gesto cheio de espontaneidade,

Esther tomou as mãos de Abbie entre as dela. — E não deve ligar para o que estão

falando de você. As pessoas que estão espalhando estes boatos maldosos não passamde umas desocupadas, sem nada melhor para fazer. — Sem notar a súbita palidez deAbbie, ela virou-se para a irmã. — Precisamos ir para casa, Isabel.

— Precisamos, sim. Agora que já decidimos que o melhor é começar o. . . o novo,temos muita pesquisa a fazer. Até depois, Abbie.

— Até logo — Abbie respondeu, distraída.Ela sempre soubera que seu relacionamento com Seth causaria muito falatório na

cidade. E dificilmente poderia ser de outro modo, sendo ele o ministro local. Durante asúltimas semanas-, chegara a ouvir alguns desses comentários, e não se surpreenderacom o fato de serem, todos eles, injustos e maldosos. No entanto, sua maior preocupaçãoera com Seth, com a possibilidade de ele poder ser prejudicado por essas mentiras, e nãocom ela mesma.

Mas uma coisa havia ficado clara, com as palavras de Esther, não era Seth quemestava sendo atacado, e sim, ela. E não adiantava dizer para si mesma que não seimportava com os comentários maldosos, porque se importava, e muito.

A fila de pessoas saindo tinha acabado, mas as portas da igreja ainda estavamabertas. Não havia sinal de Seth, e Abbie deduziu que ele fora tirar o hábito. O jardim emvolta e o estacionamento estavam praticamente vazios, e não querendo chamar aatenção ficando ali, sozinha, em pé junto à escada, ela decidiu voltar e esperar no interior da igreja.

Assim que entrou, ouviu vozes vindo da área do púlpito. Reconheceu a de Seth entre

elas e, levada pela vontade de vê-lo, adiantou-se alguns passos. Ele ainda não haviatrocado de roupas e, na companhia de mais três homens, estava em pé junto ao primeirobanco.

Como não tinha intenção de se intrometer ou ouvir conversa alheia, Abbie resolveu seafastar. Os três homens pertenciam ao conselho diretor da igreja e deviam estar discutindo algo importante com Seth. No entanto, antes que pudesse se mover, ouviu umdeles mencionar seu nome. Uma terrível premonição invadiu-a, paralizando-a, e, contrasua vontade, ela se viu ouvindo o que eles estavam dizendo.

— Não queremos criticá-lo, reverendo — declarou um homem careca, num tom de vozcheio de censura. — Mas é nossa obrigação, tanto para conosco como para com a igreja,expressar nossa opinião a respeito deste assunto.

— Tenho certeza de que suas intenções são as melhores possíveis — Seth murmurou,

Page 69: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 69/72

com secura.Mesmo de onde estava, Abbie pôde notar a intensa frieza nos olhos azuis e a atitude

de desafio que ele havia tomado.— Não é que tenhamos qualquer coisa contra a Srta. Scott — um segundo homem

apressou-se a garantir.— Todos nós reconhecemos que ela vem de boa família. Os pais dela são membros

respeitados desta comunidade e da igreja — o terceiro homem disse. — E a Srta. Scott é,provavelmente, uma boa moça.— No entanto. . . ? — O tom de Seth exigiu que eles falassem claramente o que, até

aquele momento, tinham apenas insinuado.— No entanto... — O homem careca lançou um rápido olhar aos companheiros. — ela

não nos parece a. . . companhia adequada para o ministro de nossa igreja.— Desde que a Srta. Scott voltou para a nossa cidade, nunca participou ativamente

dos serviços da igreja. Para ser franco, até sua chegada, ela nem mesmo compareciaregularmente ao serviço religioso de domingo — o terceiro homem explicou.

— Estas são coisas que o senhor não poderia saber, a respeito dela — o segundohomem disse. — Foi por isso que sentimos que tínhamos obrigação de falar com o

senhor.— Tenho certeza de que entende, agora, por que o estamos aconselhando a cortar 

este relacionamento com a Srta. Scott. Seria do melhor interesse para todos envolvidos— o homem careca concluiu, com ar de dono da verdade.

Abbie sentiu os olhos queimarem, ao ouvir a frase final. Jamais pensara que uma coisadaquelas pudesse acontecer. Seu olhar fixou-se em Seth e, no silêncio que se seguiu, acena toda tomou o aspecto de um horrível pesadelo.

— Eu entendo a preocupação que os levou a me procurarem, para podermos discutir este assunto abertamente.

— A voz de Seth soou clara e concisa, no interior da igreja.— E concordo plenamente com os senhores que a Srta. Scott não tem algumas das

qualidades que são encaradas como essenciais, para uma mulher ser considerada a com-panheira apropriada de um ministro. . .

Ao ouvir esta condenação dos lábios do homem que amava, Abbie deixou escapar uma exclamação involuntária de dor. Horrorizada, levou a mão à boca para abafar qual-quer outro som, mas já era tarde. Seth já a tinha visto.

— Abbie!Ela ouviu a irritação na voz dele e girou nos calcanhares, correndo para a porta.

Lágrimas embaçavam-lhe a visão quando desceu a escada, ofegante e soluçando. Sónão se afastou mais depressa, porque os saltos de seus sapatos impediram-na.

Suas ilusões tinham sido despedaçadas. Estremecendo, percebeu, de repente, por que

motivo Seth lhe dissera que precisavam conversar em particular. Ele pretendia lhemostrar, delicadamente, que não era a esposa adequada para um ministro. Mais uma vez,o amor a levara para um beco sem saída.

Na tarde anterior, a cena apaixonada no sofá de seu apartamento não passara distomesmo: paixão. Pelo menos, da parte de Seth. Agora, era fácil ver o que ele estavatentando lhe dizer, quando havia declarado que também era feito de carne e osso. Osdesejos da carne, . . Tão opostos aos desejos do coração!

Ela se lembrou do modo como ele a tinha abraçado e murmurado "O que vou fazer com você, Abbie?". Lágrimas quentes estavam escorrendo por suas faces, quandoalcançou Abel, no estacionamento da igreja. Agora, estava tudo tão claro. Seth, semdúvida, adivinhara que estava apaixonada por ele. Mas casamento era uma possibilidade

fora de questão. Que tola tinha sido! Que grande tola!

Page 70: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 70/72

— Abbie!Sobressaltada, ela olhou para trás. Seth estava atravessando o gramado em sua

direção, quase correndo, o hábito negro esvoaçando junto às pernas. Uma onda depânico a invandiu. Não poderia encará-lo. Não estava em condições para isso. Talveznunca estivesse.

Enxugando as lágrimas com as costas das mãos, Abbie abriu a porta do carro e

sentou-se atrás do volante. Com mãos trêmulas, tirou a chave da bolsa e tentou colocá-lana ignição. Falhou. Frenético, seu olhar voltou-se para a figura de Seth, cada vez maispróxima. As feições másculas tinham um ar sério e inflexível.

— Não me falhe agora, Abel — ela pediu, colocando e girando a chave na ignição.O motor gemeu em protesto, mas, vagarosamente, começou a produzir sons

encorajadores. Abbie pisou no acelerador para mandar-lhe mais gasolina e os grunhidostransformaram-se numa queixa constante. O câmbio raspou nas engrenagens, quandodeu marcha à ré. Mas já era tarde demais.

Seth estava abrindo a porta do lado oposto e inclinando-se para a frente. Elapressionou o corpo contra a porta do motorista, tentando fugir, mas a intenção dele nãoera segurá-la e sim, pegar a chave.

Quando Abbie percebeu, Seth já havia desligado o motor e tirado a chave da ignição.Acuada, ela agarrou a direção com ambas as mãos e fixou os olhos em frente. Se haviauma coisa que não ia fazer, era encará-lo. Não queria ver a piedade que devia estar brilhando nos olhos azuis.

— Quer fazer o favor de me devolver a chave? — pediu, pálida pelo esforço que estavafazendo para se controlar.

A resposta de Seth foi sentar-se no banco ao lado e fechar a porta. Abbie teve aimpressão de que iria explodir de nervosismo, quando ele se inclinou e recolocou a chavena ignição.

— Aí está sua chave — ouviu-o dizer.Seu queixo começou a tremer, e ela apertou os dentes com força, para disfarçar.— Quer fazer o favor de sair do meu carro? — murmurou, ainda sem olhar para ele.— Nós vamos almoçar juntos, lembra-se?— O convite foi cancelado. — Abbie piscou, para impedir as lágrimas de caírem.— Pois então, ficarei sentado ao lado na mesa, olhando você comer. Mas nós vamos

esclarecer este mal-entendido.— Não há nada para ser esclarecido. — Ela levantou o queixo, bem alto. — A situação

está mais do que clara. Entendi tudo, e muito bem!— Entendeu, mesmo?— Claro que sim. Não há nada para você explicar.— Mesmo que você não queira, é exatamente isso que vou fazer. É óbvio que você

ouviu minha conversa com os representantes do conselho diretor.— Ouvi, sim — Abbie admitiu, em tom amargo. E lançou-lhe um olhar que quase foisua perdição, pois encontrou os olhos azuis fixos em seu rosto. Felizmente, virou logo acabeça para o outro lado.

— Existem muitas desvantagens em se casar com um ministro. Seus fins de semananunca são livres. Chova, faça sol, neve ou vente, você tem que estar na igreja, aos do-mingos. Quase todas as noites, seu marido está fora, em alguma reunião. Tudo que vocêfaz é examinado pelos outros membros da congregação nos mínimos detalhes, desde aroupa que você veste até o modo como arruma os cabelos. Todos esperam que você se junte a todos os projetos sociais, religiosos e caridosos que surgem, e que esteja presenteem todas as reuniões, a menos que um de seus filhos esteja doente. Você. . .

— Pare com isso! — Abbie fechou os olhos, incapaz de agüentar mais. — Eu sei muito

Page 71: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 71/72

bem que não tenho as qualidades necessárias para ser a esposa de um ministro, por issonão precisa ficar citando um bando de razões pelas quais não devo querer me candidatar à sua esposa.

— Você pode não estar querendo se candidatar, Abbie — Seth disse baixinho — masmesmo assim estou lhe pedindo para ser minha esposa.

Ela prendeu a respiração ao ouvir estas palavras, mas recusou-se a acreditar que ele

estivesse falando sério. Seus olhos estavam nadando em lágrimas, quando, finalmente,abriu-os e fitou-o, com ar acusador.— Eu ouvi o que você disse lá dentro, Seth. Eu não.. .— Se tivesse ficado para ouvir minha resposta, agora saberia que não me importo com

o fato de você ser ou não a companheira adequada para um ministro. Você é a mulher com quem quero me casar.

— Eu... — Ela ainda não estava conseguindo acreditar. — Está me pedindo emcasamento?!

— Estou. — Um sorriso lento surgiu nos lábios de Seth. — Eu me ajoelharia para fazer o pedido como manda o figurino, se Abel não fosse tão apertado. — Levantando o hábito,ele enfiou a mão no bolso da calça. — Eu ia lhe oferecer isto, depois do almoço.

Atordoada, Abbie soltou o volante no momento exato em que o fulgor de um anel debrilhante atingia seus olhos. Quando Seth estendeu a mão para a sua, deu-lhe, hesitante,a direita.

— É lindo — murmurou, quando já estava com o anel no dedo anular.— Isto significa que vai se casar comigo?— Se tem certeza de que é isto que quer. . .— Certeza absoluta — ele insistiu, inclinando-se para provar a sinceridade de suas

palavras.Foi um beijo ardente e possessivo, com o braço dele envolvendo-a pela cintura e

puxando-a para o outro banco, a fim de conseguir uma proximidade maior. Abbie sentiu osangue latejar nas veias e foi invadida por uma onda de felicidade tão grande, que eraquase insuportável. Quando, afinal, Seth afastou a boca da sua, escondeu o rosto nopeito dele.

— Nunca pensei que pudesse ser tão feliz — confessou, baixinho. — Pensei que otivesse perdido.

— Nunca! — Ele enterrou os dedos em seus cabelos e levantou-lhe a cabeça, paraestudar suas feições suavizadas pelo amor. — Você vai ser minha esposa. . . A Sra. SethTalbot.

Abbie estremeceu de felicidade.— Ainda não acredito que você queira realmente se .casar comigo!— Lembra-se da segunda vez em que nos encontramos, quando eu disse a sua mãe

que ainda não tinha me casado porque não havia encontrado a mulher certa para mim? Éque eu não estava procurando a esposa adequada para um ministro. Eu queria a mulher certa para mim! E você é esta mulher, Abbie.

— Eu tinha me esquecido desta sua conversa com a minha mãe.— Se você tivesse se lembrado, não teria saído da igreja como saiu. — Os lábios dele

crisparam-se. — Se soubesse o medo que senti, naquele momento! E como fiqueizangado também, por aqueles homens terem magoado você, com seus comentáriosimpensados.

— Não foi só o que eles disseram que me magoou. Os comentários que você fez,ontem, também me magoaram.

— Os comentários que eu fiz?! Você deve ter me entendido mal. O que foi que eu lhe

disse?

Page 72: FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

8/4/2019 FASCINAÇÃO-086-SUBLIME TENTAÇÃO-JANET DAILEY

http://slidepdf.com/reader/full/fascinacao-086-sublime-tentacao-janet-dailey 72/72

— Uma porção de coisas. Por exemplo, quando eu lhe pedi para fazer amor comigo,você recusou e disse-me para não lhe pedir uma coisa dessas.

— Isso foi porque eu não queria antecipar nossa noite de núpcias. — Seth balançou acabeça, incrédulo. — Você deve ter pensado que eu estava dizendo que não podia fazer amor com você.

— Na hora, eu não pensei nada. Só depois é que comecei a juntar as coisas e. . . —

Abbie interrompeu-se, triste por ter entendido tudo tão errado.— Que coisas?— Como quando você falou que não sabia o que fazer comigo. Eu achei que estava

tentando achar um jeito de me mostrar, delicadamente, que não me amava.— Eu te amo — Seth declarou, para que ela não tivesse mais dúvidas a respeito. — E

o que eu quis dizer, com aquele comentário, foi que não sabia mais o que fazer paraconvencê-la que sou um homem de carne e osso, igual a todos os outros, e que a amocorno um homem. Por eu ser um ministro, você estava sempre tentando me pôr acimadessas coisas. — Um sorriso iluminou-lhe o rosto. — Ontem, no entanto, foi você quemquase me fez esquecer que sou um ministro, também.

— Eu aprenderei a ser uma boa esposa de ministro — Abbie murmurou, passando os

dedos pelo queixo e pelas rugas de expressão em torno dos lábios dele.— Isto é outra coisa que eu estava tentando lhe explicar, ontem. Não quero que ache

que, por minha causa, é seu dever conhecer a Bíblia, ir à igreja ou qualquer outra coisa.Se quiser fazer algo neste sentido, faça pela mesma razão que eu: por amor a Deus, nãopor ser a esposa de um ministro e se sentir obrigada a isto.

— Está bem. Eu lhe prometo.Seth apertou-a nos braços e inclinou a cabeça para mais um beijo. Foi uma carícia

longa e apaixonada, que abalou Abbie até o último fio de cabelo.— Como eu te amo, Abbie — ele murmurou, enterrando o rosto em seu pescoço.— Seth! — Por cima do ombro dele, Abbie lançou um olhar para as paredes da igreja.

— Você reparou que estamos nos acariciando no estacionamento da igreja?Seth ficou imóvel por um instante; depois, levantou a cabeça e riu, divertido.— E existe lugar melhor, para isto? Eu te amo. Diante dos olhos de Deus e dos

homens, quero você para minha esposa.— E eu quero você para meu marido — ela sussurrou, incapaz de pensar num lugar 

melhor para se amarem. Então, de repente, lembrou-se do almoço e afastou-se dele comum gesto abrupto. — O assado!

— O que é que tem?— Ele ainda está no forno. Nosso almoço está arruinado!— Não tem importância. Teremos muitos outros almoços de domingo — Seth

garantiu, abraçando-a de novo.

FIM