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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT CULTURA DAS MÍDIAS, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.
www.compos.org.br / page 1/21 / Nº Documento: 725DF450-CF98-42F5-940A-F45100550489
Em busca de Janet Malcolm
Searching for Janet Malcolm
Bruno Costa I
IDoutor, UFMS. Contato: [email protected]
Resumo: A obra de Janet Malcolm tem um atração magnética sobre seus leitorese parece atrair tanto admiração e reverência como receio e desconfiança. Nesteartigo exploramos as reações à obra e a influência de Malcolm no jornalismo apartir de variados depoimentos de críticos, jornalistas, entrevistadores,etcpesando constantemente o componente dialético de seus escritos e a influênciamarcada de suas narrativas.
Palavra chave: Janet Malcolm, Jornalismo , Não-ficção
Abstract: The work of Janet Malcolm has a magnetic appeal to its readers andseems to attract both admiration and reverence as fear and distrust. In this paperwe explore the reactions to the work and the influence of Malcolm in journalismfrom various testimonials from critics, journalists, interviewers, etc. constantlyweighing the dialectical component of his writings and the marked influence of hisnarratives.
Keywords: Janet Malcolm, Journalism, Nonfiction
Malcolm’s work occupies that strange glittering territory between controversyand the establishment: she is both a grand dame of journalism, and still,somehow, its enfant terrible.
Katie Roiphe
Não é possível compreender o lugar peculiar que Janet Malcolm ocupa no
jornalismo americano sem recorrer a imagens dialéticas, pois é da energia poderosa de
forças conflitantes que nasce sua potência, e a honra de ocupar o centro sísmico deste abalo
cabe a O jornalista e o assassino , o livro que, nas palavras da jornalista ganhadora do
Pulitzer, Tracy Kidder, os jornalistas amam odiar. Muito da controvérsia se origina do
devastador primeiro parágrafo – extraordinário e memorável na opinião de Kidder – mas
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também sujeito as mais variadas objeções, pois ela conseguiu o que parece ser a realização
de uma suicida, sublevar toda a sua classe de colegas[1]. Na época de sua publicação, em
1990, a famosa abertura pareceu deixar todos irritados e alguns destes continuam irritados
até hoje. Entretanto, talvez seja seguro afirmar, em acordo com Douglas McCullun (2003),
que aquilo que outrora parecia tão controverso é recebido hoje como sabedoria.
Obviamente, como muito daquilo que cerca Malcolm, há um outro lado da questão, pois a
assimilação plena da provocação no cenário cultural mais amplo transformou aquela uma
vez poderosa instigação num truísmo, aquela verdade tão óbvia que nem necessita ser
enunciada
Hanna Arendt, sempre atenta à paisagem cultural, já denunciava em 1968 o
espraiamento do clichê nas sociedades massivas, ou da “simples fala”, aqueles
pronunciamentos que não parecem ter origem e nem direção, mas que conseguem envolver
“a gente” (para ficarmos em acordo com a origem heideggeriana do argumento)
“antecipando e aniquilando o sentido ou o sem-sentido de tudo que o futuro pode trazer.”
(ARENDT, 2008, p.8-9). Da trivialidade inescapável da mediocridade, hoje tão
absurdamente clara na nossa prosaica cultura de massas, só havia uma saída, o retiro para o
pensamento e a reflexão, a tentativa de escapar da luz pública que a tudo obscurece. Em
certo sentido o poder daquele devastador primeiro de Malcolm cumpriu o desígnio
pessimista de Arendt, se trivializando ao ponto que sua mera citação já nos traz uma espécie
de mal-estar. Entretanto, mesmo tornado trivial e banal, incorporado na cultura ampla e nos
currículos das faculdades de jornalismo, digerido e emplastrado pelo mediano, O jornalista
e o assassino ainda inspira alguns grandes nomes da não-ficção americana. Na coletânea de
depoimentos The new new journalism (2005), organizada pelo experiente jornalista e
professor Robert Boynton, existem duas referências explícitas ao trabalho de Malcolm.
Jonathan Harr é mais óbvio ao se referir à abertura de O jornalista e o assassino, ele a toma
como paradigmática. Em acordo com Malcolm ele afirma que “se você escreve não-ficção,
você comprou para você um bilhete para o nono círculo do inferno de Dante.” (BOYNTON,
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2005, p.120, tradução nossa[2]). Jon Krakauer, importante nome da não-ficção
contemporânea, vai mais além e cita Malcolm como grande influência do seu trabalho,
como umas pessoas que o ensinou que é possível escrever um livro com apenas uma grande
e fascinante personagem. Na mesma entrevista ele diz que O jornalista e o assassino
deveria ser texto obrigatório em todos os cursos de jornalismo, pois ensina uma verdade
incontornável do ofício. Todo repórter, na visão de Krakauer, escreve a sua história, ele não
tem menor intenção de contar a história como seu personagem quer que ela seja contada.
Ele, para se equilibrar no delicado dilema ético proposto pela jornalista, diz que sempre cita
esta abertura antes de suas entrevistas. “Eu digo às pessoas que estou entrevistando que eu
não terei controle sobre o processo, que eu não mostrarei o artigo para elas antes da
publicação, que elas me dirão coisas das quais elas se arrependerão... e nada disso nunca
deteve ninguém!” (BOYNTON, 2005, p. 167, tradução nossa[3]).
Mais fiel ao espírito dialético da obra de Malcolm são dois textos de Boynton
sobre a jornalista. No primeiro, intitulado Who is afraid of Janet Malcolm? , o autor
aproveita o lançamento da primeira coletânea de ensaios de Malcolm, The purloined clinic
, para ponderar sobre aquela que ele considera a mais perigosa entrevistadora do jornalismo
americano. Na abertura, uma emulação graciosa do já citado começo de O jornalista e o
assassino, ele estabelece sua visão sobre o perigo de estar frente-a-frente com a pequena e
intrépida repórter.
Nunca coma na frente de Janet Malcolm; ou mostre a ela seu apartamento; oucorte tomates enquanto ela assiste. De fato, provavelmente não é uma boa ideianem conceder a ela uma entrevista, uma vez que cada gesto desgracioso e tiquenervoso será registrado eventualmente com uma precisão devastadora. Vocêprovavelmente não ficará feliz com os resultados; você pode até quererprocessá-la. (BOYNTON, 2015, tradução nossa[4]).
Neste potente parágrafo está contido mais que uma mera crítica ou aviso; lido
com atenção ele passeia habilmente por várias características da obra e vida da jornalista. O
tom jocoso da primeira oração é seguido por uma indicação biográfica, pois se a astuta
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jornalista consegue tirar da maneira como você come uma síntese da sua personalidade
(com todas as benesses e prejuízos que só uma síntese pode conter), ela deriva parte de seu
poder dos anos menos gloriosos de sua carreira quando escrevia sobre decoração de
interiores e assuntos similares no começo de sua trajetória na New Yorker . Para o leitor
casual, a referência ao corte de tomates parece uma anedota com fins humorísticos, para
quem olha de mais perto é uma explícita referência ao ensaio A girl of the zeitgeist e, mais
precisamente, à figura central daquele trabalho, a então editora da Artforum (o texto é de
1986) Ingrid Sischy. Neste brilhante texto, incluído também na sua mais recente coletânea
Forty-one false starts (2013), ela vai à casa da editora e consegue, com uma maestria toda
sua, fazer do simples ato de cortar legumes uma metáfora para a ética de trabalho da jovem
comandante da revista. Diante da incrível inabilidade da entrevistada, ela toma uma direção
imprevista e poderosa.
Obviamente, ninguém nunca havia ensinado a ela a técnica de cortar vegetais,mas isso de nenhuma maneira a impediu de fazê-lo, do modo que fosse possível,ou a impossibilitou de chegar ao seu objetivo. Ela tem menos medo de gastarenergia sem necessidade do que qualquer pessoa que conheço. (MALCOLM,2013, p. 219-20, tradução nossa[4]).
Sim, está certo Boynton ao relatar que cada gesto desgracioso ficará anotado no
registro incontornável de Malcolm, ela é uma especialista em observar gestos e sugerir, às
vezes delicada e sub-repticiamente, outras vezes mais diretamente, a partir do nosso
inconsciente gestual, algum traço de personalidade. Para Sischy foi o desastrado corte de
tomates, mas ela de modo algum está sozinha. De fato, este é um dos traços mais marcantes
da autora, a observação astuta de quem se acostumou a olhar com muita atenção. Já na
abertura desta reportagem, desta vez se referindo a Rosalind Krauss, ex-colaboradora da
revista, ela traça um paralelo marcante entre o apartamento belamente decorado e a
personalidade da crítica de arte e professora. Observando a cuidadosa seleção de móveis ela
vê na exclusão, e não na inclusão, um fator determinante.
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Mas talvez mais forte que aura de originalidade impositiva do quarto é o seu senso deausência, sua evocação de todas as coisas que foram excluídas, e mesmo querendo,falharam em capturar o interesse de Rosalind Krauss – que são a maioria das coisas domundo, as coisas de “bom gosto”, as coisas da moda e do consumismo, as coisas quevemos nas lojas e nas casas das pessoas. Ninguém consegue deixar este loft sem sesentir um pouco admoestado: sua própria casa, de repente, parece cheia demais,mal-ajambrada, banal. Similarmente, a personalidade de Rosalind Krauss – ela éveloz, afiada, brava, tensa, friamente derrisiva, corajosamente sem piedade – faz anossa “gentileza” parecer, de algum modo, entediante e anacrônica. (MALCOLM,2013, p. 199, tradução nossa[6]).
No fecho do parágrafo citado, mantendo a leveza e bom-humor, Boynton avisa
que muito provavelmente você não gostará do perfil que ela tecerá de você, e ele tem boas
razões para esta afirmação, pois a própria Malcolm havia denunciado com precisão o jogo
de sedução e logro que está no cerne da relação entre os jornalistas e seus entrevistados (este
é um dos leitmotivs de O jornalista e o assassino). Parte do brilhantismo de Malcolm está,
entretanto, em não só denunciar como se incluir entre os denunciados operando através de
uma lógica dialética digna de Hegel, ao se imiscuir entre os réus ela consegue se justificar e
ser inocentada ao longo do processo. Para nos retermos mais uma vez em A girl of zeitgeist
– o longo artigo que parece ser responsável por modular alguns traços importantes da obra
madura de Malcolm – tragamos o momento exato em que ela se impõe uma
auto-repreensão. No começo do escrito ela já havia colhido um depoimento altamente
elogioso de John Coplan, um dos primeiros colaboradores da Artforum, sobre um de seus
colegas, Phil Leider, depoimento que atinge o pico da humildade quando Coplan fala de sua
admiração por Leider.
Eu considerava este cara tremendamente; eu realmente gostei dele, e ele viu emmim alguém profundamente estranho e sentiu que poderia haver algum diálogoentre nós. Eu tenho de dizer que ele não confiava em mim, de verdade, porquequando o tempo passava ele pensou – e poderia estar certo – que eu estava muitointeressado em poder. Ele viu em mim algum aspecto de ambição mundana quefez ele se afastar. (MALCOLM, 2013, p. 205, tradução nossa[7]).
Já na farte final da reportagem Malcolm cria uma espécie de refração duplicada deste
procedimento, vem a primeira pessoa para que ela possa repetir o procedimento que mistura
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admiração com autorrepreensão com novos papéis, a admoestada é Malcolm e a elogiada é
a figura central do texto, Ingrid Sischy. Porém, antes da confissão propriamente dita, ela
conta ter ouvido uma história da então editora sobre uma pequena humilhação ocorrida em
almoço. Sentada ao lado de um político que, depois das formais apresentações de vizinhos
de mesa, ostensivamente vira as costas para conversar com outra pessoa, Sischy vê a atitude
dele mudar quando outra pessoa chega ao restaurante e a reconhece como editora da revista
– e na mais patética retratação, o político pergunta de novo seu nome como não tivesse
ouvido bem da primeira vez. Antes de relatar todo o episódio, Malcolm já havia contado
como se havia mostrado uma interlocutora decepcionante para Sischy, que muitas vezes
sentia que não era compreendida. No relato de Sischy da pequena anedota, entretanto, o tom
de reprimenda relaciona-se mais ao do machismo e sexismo que as mulheres sofrem,
embora para Malcolm exista um recado secreto endereçado diretamente a ela, um recado
que ela só percebe quando se senta para escrever a matéria depois de um ano de apuração.
Eu tinha tido a ideia de escrever sobre ela depois de ver a transformação da Artforum de um periódico de finada opacidade para uma revista de tantaselvagem e assertiva contemporaneidade que qualquer um só poderia imaginarque seu editor deveria ser uma espécie de tipo moderno estonteante, algumaimpressionante sensibilidade feminina solta no mundo. E, em minha casa, tinhaentrado uma agradável, inteligente, discreta, responsável, ética jovem mulher quenão tinha nenhum traço das qualidades teatrais que eu, confiantemente, esperariae para quem, como o político do almoço, eu evidentemente havia virado as costasem desapontamento. (MALCOLM, 2013, p. 271, tradução nossa[8]).
O autorreproche é mais poderoso se olhado lado a lado com a fala de Coplan que, vista
retrospectivamente, parece ser também uma confissão velada – como se fosse a própria
Malcolm que merecesse alguma reprimenda por sua ambição e gosto por poder. Este
espelhamento se dá através de uma investida que acusa sua forte formação freudiana –
sintomas e processos de transferências são muito caros a Malcolm, filha de um psiquiatra e
autora de dois livros em que algumas teorias freudianas são apresentadas e debatidas com
precisão e elegância ( Psicanálise: a profissão impossível e Nos arquivos de Freud ). O
profundo autoexame de suas técnicas e de sua personalidade será uma das marcas de seu
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trabalho.
A ironia de Boynton não se detém no aviso preliminar da primeira sentença, mas
prossegue com mais um alarmante recado, “você pode até querer processá-la”, ele nos diz,
da confortável posição de quem sabe que, de fato, Malcolm foi processada por Jeffrey
Masson, personagem principal de In the Freud archives . Da contenda ela saiu vitoriosa,
embora este talvez não seja o mais apropriado adjetivo para caracterizar o resultado dos
julgamentos. Malcolm retrata bem esta ambiguidade no posfácio de O jornalista e o
assassino . De início ela conta que, apesar da ansiedade inicial e obrigatória que todos os
réus experimentam, ela sentiu uma empolgação quase infantil – também comum a todos –
pois o réu “começa a ver, por intermédio do advogado-terapeuta dele , que está coberto de
razão e não tem nada a temer. De todas as experiências agradáveis de leitura, não há
nenhuma mais agradável que a propiciada por um documento legal escrito em nosso nome.”
(MALCOLM, 2011, p. 144). Obviamente, e ela reconhece prontamente, o mundo jurídico é
uma espécie de ideal platônico de justiça, onde tudo é muito claro e delineado. Entretanto,
como toda ilusão platônica, esta também não escapa do choque do real que para ela é
expresso nos sentimentos ambíguos em relação a primeira sentença favorável.
Devo admitir que, no verão de 1987, quando um juiz federal encerrousumariamente o processo de Masson, eu me encontrei lendo e relendo o despachode 27 páginas do juiz com o velho arrebatamento solipsista. Mas o sentimento debaixo regozijo pela desgraça alheia foi logo substituído por uma certa simpatiacansada pelo homem cujos esforços não haviam dado em nada. (MALCOLM,2011, p. 145).
A vitória foi pírrica, ao menos em termos, pois não satisfez seus incansáveis
detratores. Masson, cujo talento para polêmica vulgar e midiática já era bem conhecido por
Malcolm, não se satisfez com o resultado do julgamento e saiu concedendo entrevistas a
todos que o quisessem ouvir (ela fala de “repórteres cujo único interesse nele era sua
utilidade como agente para o desenvolvimento da ‘história por trás da história’ que eles
procuravam; depois de usá-lo, eles o abandonaram.”). Apesar de vulgar, a história contada à
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exaustão começou a adquirir ares de veracidade e foi com muita surpresa que ela se viu
descrita em termos nada lisonjeiros no New York Times . “É uma experiência muito
desalentadora abrir o venerável jornal que se leu durante toda a vida adulta, de cuja
veracidade, nunca se teve motivos para duvidar, e ler-se [sic ] alguma coisa a respeito de
você que se sabe não verdadeira.” (MALCOLM, 2011, p. 146-47). Dias depois o próprio
Times publicou uma retratação, mas o dano à sua imagem já estava feito e consolidado
(como ela mesmo aponta e como provavelmente sabem todos os jornalistas, existe uma
diferença de grau e peso entre uma publicação original e sua retratação).
Nessa época os sentimentos mais profundos de Malcolm eram uma ambiguidade
moral e um desalento com seu periódico preferido, mas escrevendo em 1995, desta vez no
posfácio publicado originalmente na edição inglesa de In the Freud archives de 1997, a
reação é bem mais extremada. “Quando o veredito desfavorável a ele [a Masson] foi lido
pelo meirinho; eu explodi em lágrimas de alívio.” (MALCOLM, 2002a, p.160, tradução
nossa[9]). A contenda que parecia terminada em 1990 se arrastou até 1994 quando
finalmente foi proferida uma sentença definitiva. Neste posfácio Malcolm já não mostra
qualquer simpatia com Masson, aquele que a transformou em “mais uma agente de seu
desapontamento com o mundo”. Ela afirma ainda que as alegações do pleiteante, assim
como sua teoria sobre Freud, não tinham nenhuma base na realidade, “mas era tanta a sua
tenacidade, e é tão grande a paciência do sistema legal americano com pleiteantes que
tentam se reerguer e tentar de novo, que o processo foi capaz de manter a sua vida – e
obscurecer a minha – por mais de uma década.” (MALCOLM, 2002a, p. 160, tradução
nossa[10]). No posfácio ela ainda descreve como o processo inicialmente era baseado numa
queixa ampla de Masson (ele afirmava que não tinha dito uma série de coisas) e incluía uma
série de declarações que ele negava, declarações que os constrangidos advogados foram
obrigados a ouvir pela boca de seu cliente nas fitas gravadas da jornalista. Na segunda
tentativa, mais pontual, o resultado foi o mesmo, e os advogados ouviram mais uma vez
Masson falar na gravação aquilo que disse que não tinha dito.
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Mesmo assim, em 1995, depois de finalmente achar as últimas notas das entrevistas com
Masson que não constavam nos autos, ela foi vítima de uma reportagem irônica do
New York Times, Malcolm's lost notes and a child at play[11] (algo como “As notas
perdidas de Malcolm e uma criança brincando) que já em seu título sugere maldosamente
que o “achado” de Malcolm não passasse de uma brincadeira ou, nas palavras de Masson
contidas na reportagem, “uma versão adulta de ‘o cachorro comeu meu dever de casa’”. O
Times é um antigo inimigo de Malcolm, como nos indica a própria no posfácio de
O jornalista e o assassino e também como nos confirma uma busca nos arquivos do jornal
que cobriu todos os pormenores de sua longa contenda com Masson, quase sempre
lembrando a condenação parcial de Malcolm (ela não foi exatamente condenada, algumas
citações foram consideradas ‘inventadas’, mas sem qualquer dano ao acusador), numa
disputa quase cômica por cinco meras citações num livro que contém cerca de 40.000
palavras, muitas delas encapsuladas pelas aspas de Masson.
A imagem dialética de Malcolm não escapa a Boynton que a descreve a partir de
duas ilustrações que se chocam, ela é – um pouco à moda de Freud, ele sugere –
excruciantemente íntima e geladamente impessoal, sempre amigável, mas antes de tudo uma
jornalista. Nos perfis por ela criados esta ambivalência permanece, pois, ao dar traços
delicados, porém firmes, ela fixa as imagens de seus entrevistados, de modo que “eles
geralmente têm uma presença similar àquela das grandes figuras da literatura; como Emma
Bovary ou Raskolnikov, suas decisões parecem as únicas possíveis, atraídos como estes
personagens estão a um destino inelutável.” (BOYNTON, 2015, tradução nossa[12]). Para o
jornalista e professor Malcolm encapsula as possibilidades máximas da não-ficção e foi
exatamente esta excelência em transgredir e reafirmar a potência do jornalismo que o atraiu
para ela e, posteriormente, para o campo, como ele relata em outro artigo Notes toward a
supreme nonfiction. Mais uma vez, o texto de referência é A girl of the zeitgeist.
Que tipo de escrita era essa, eu pensei? Não era uma “reportagem” no sentidoconvencional. Não era um perfil pleno, uma vez que Sischy quase não é
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mencionada nas primeiras dez páginas. Há muita reportagem para ser um ensaio,e muitas reflexões de Malcolm para ser descrito como um simples artigo. Umretrato de grupo talvez? Eu li várias vezes, e até mesmo marquei as sessões comum marcador. Eu não sou profundamente interessado em crítica de arte, mas fuiatraído pela maneira como Malcolm sumariza ideias destes retratos em miniaturae os envolve em um tecido que eu nunca havia visto antes. Eu sabia que, qualquerque fosse esta escrita, era aquilo que eu gostaria de fazer, mesmo que issosignificasse abandonar minha trajetória corrente. (BOYNTON, 2015, traduçãonossa[13]).
Este depoimento pessoal aponta um caminho importante para situarmos a
produção de Malcolm, o texto bem cuidado e elegante, a pesquisa meticulosa e exaustiva, a
erudição despretensiosa e a forma inovadora são todos componentes essenciais de seu estilo
e dão as suas narrativas uma potência única. O renomado biografo e professor de Yale,
Peter Gay, autor de Freud: uma vida para o nosso tempo não poupa elogios a ela. Além de
citar os agradáveis e produtivos encontros que a transformaram em uma parceira de
conversa ( conversation-partner no original, replicando uma expressão alemã) ele declara
que o inteligente e traquinas Psychoanalysis: the impossible profession foi “louvado por
psicanalistas (com justiça) como uma introdução confiável à teoria e técnica analítica. Ele
tem a rara vantagem sobre textos mais solenes de ser tanto divertido como informativo.”
(GAY, 2006, p. 763, tradução nossa[14]).
Na mesma chave o célebre crítico Harold Bloom também elogia rasgadamente o
trabalho da jornalista. Comentando desta vez In the Freud archives , ele já abre sua
ponderação afirmando que o escrito transcende o que parece ser: uma reportagem soberba, e
segue elogiando a calma, inteligente e perspicaz mediação de Malcolm. Situada entre os
sisudos, sérios e ortodoxos europeus Kurt Eissler e Anna Freud e os brincalhões, brutos e
irresponsáveis Jeffrey Masson e Peter Swales, ela se comporta calma e racionalmente em
seu próprio País das maravilhas . A lucidez da jornalista ao falar sobre a centralidade
cultural de Freud – na visão de Malcolm sua influência se espalhou em toda nossa teia de
conexões culturais – também impressiona Bloom, pois “há uma melancolia contida em sua
sabedoria, sinta ela ou não. A psicanálise, neste estágio de nossa cultura, começa a parecer
como uma neurose de transferência universal. Freud, profeta de nossas ambivalências, agora
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involuntariamente inspira e provoca nossas ambivalências em direção a ele.” (BLOOM,
2015, tradução nossa[15]).
A poderosa verve de Malcolm, que inevitavelmente gera nossos próprios
sentimentos ambivalentes em relação a ela, desgraçou ao menos dois de seus personagens
principais: Jefrrey Masson de In the Freud archives e o jornalista de O jornalista e o
assassino , Joe McGinnis, embora devamos fazer a ressalva aqui que os dois já estavam a
um bom caminho andado de cavar suas covas quando entraram no radar de atenção de
Malcolm. Masson, o quase indescritível e certamente patético personagem central do livro
sobre os arquivos de Freud, experimentou uma breve celebridade quando o prestigioso
New York Times abriu espaço para as suas excêntricas e algo mal intencionadas ideias sobre
a teoria de sedução em Freud[16]. O auge de sua popularidade midiática foi o começo de
uma longa queda. Na crítica de Harold Bloom ao livro Masson é retratado em tons ainda
mais duros que o assumidamente picareta Peter Swales, pois este ao menos se autorretrata
como um enganador ( hustler no original). Se Swales é um pícaro bufão, Masson é
iluminado através de uma série de adjetivos ainda menos lisonjeiros que termina com a dura
definição de “assaltante da verdade.” Chamado de fundamentalista da literalidade
psicossocial, Masson está um andar abaixo do historiador punk e inegavelmente divertido
Swales.
O declínio de Masson, já registrado e em pleno vapor no livro de Malcolm, só foi
acentuado pela publicação de um livro que recebeu aclamação quase universal (In the Freud
archives). Masson ainda tentou retomar seu posto de sério pesquisador em psiquiatria (sem
nenhum sucesso, diga-se), mas num lance improvável que só confirma sua idiossincrasia,
ele se tornou autor de livros sobre animais. “Eu escrevi uma série completa de livros sobre
psiquiatria e ninguém os comprou. Ninguém gostou. Psiquiatras detestaram e eles eram
muito abstrusos para o público geral. Era muito difícil sobreviver e eu pensei ‘já que não
estou ganhando dinheiro, posso muito bem escrever sobre algo que eu verdadeiramente
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amo: animais.” (ANIMALS..., 2015, tradução nossa[17]). Masson certamente ganhou
dinheiro com seus novos livros, em especial com Quando os elefantes choram , best-seller
internacional que foi traduzido em mais de vinte países, incluindo o Brasil, mas certamente
perdeu para sempre sua credibilidade como pesquisador e estudioso.
McGinnis também experimentou sua espiral de decadência belamente registrada
numa matéria de David Carr que relata justamente a volta do jornalista. A writer is back in
the saddle after his fall from the grace (“Um escritor está de volta à sela depois de sua
queda do cavalo”, numa tradução livre, embora a expressão idiomática “fall from the grace”
seja meio intraduzível) descreve a queda de McGinnis tendo como pano de fundo temático
as corridas de cavalo, não por acaso, objeto do livro que restaurou parte de sua reputação
como escritor. Entretanto, antes de montar novamente, ele experimentou tudo menos uma
apeada suave, com o livro de Malcolm seu julgamento ocorreu num palco bem mais amplo
e iluminado do que qualquer tribunal. O veredito, implacável, pois o infame parágrafo de
abertura de O jornalista e o assassino apontava, se não diretamente, mas sem dúvida
implicitamente, para ao menos um culpado, McGinnis. Se todos os jornalistas são imorais, o
que dizer daquele que inspirou toda a condenação da classe? Bem, basta dizer que não se
ouviram muitas vozes em sua defesa. “Em turnos, ele foi acusado de engano, plagiarismo e
de usar a capa da não-ficção para perpetrar ficção. Ele se viu habitando todos os papeis do
mundo sobre o qual ele escreve: escritor-fonte, acusador-réu, herói-perdedor.” (CARR,
2015, tradução nossa[18]). Da pior forma, diz Carr, ele descobre que escrever livros de
não-ficção não é uma vocação de cavaleiro, mas se assemelha a uma corrida de cavalos;
bela olhada à distância, mas competitiva e feroz ao extremo quando vista de perto.
McGinnis não só ficou para trás nesta corrida como tombou epicamente, em meio ao
burburinho do livro de Malcolm e do fracasso de seu The last brother sobre o senador
Edward M. Kennedy (Carr diz que alguns o classificaram como uma imprestável forja de
mentiras), ele viu o fim de sua carreira bem próximo. Depressivo e amargo, ele sofre um
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acidente automobilístico seríssimo em 1997. Sobrevive, mas as sequelas são o aumento de
sua depressão e do vício em tranquilizantes, sequelas que o levam a ser hospitalizado em
2001. Nas palavras do advogado, amigo e agente de McGinnis, Dennis Holahan (citado por
Carr) sua queda foi epicamente grega. “Quando o conheci, ele estava no exílio, recém-saído
do hospital e ensinando numa universidade de culto budista no condado de Orange. Quão
mais baixo você pode descer que isso?” (CARR, 2015, tradução nossa[19]).
O estilo ousado e polêmico de Malcolm também fez outra vítima importante, ela
mesma, que de tão atacada mereceu uma defesa feroz de Craig Seligman na revista Salon
. Seligman, ele mesmo fã de autoras controversas (como prova seu livro sobre Pauline Kael
e Susan Sontag), começa seu artigo com a afirmação enfática que o linchamento público de
Malcolm constitui um dos escândalos da literatura americana. Como argumento para sua
tese ele levanta algumas questões importantes, a saber: por que Malcolm, uma virtuose do
estilo e uma sutil, excitante pensadora, desperta tanta ira? Que jornalista de seu calibre é tão
desprezada e muitas vezes acusada de má-fé? Por fim, por que tão poucos colegas se
apresentaram para defendê-la durante o circo que foi seu julgamento por falsificar citações,
julgamento que deixou cicatrizes em sua carreira?
Na visão de Seligman parece existir neste ânimo exaltado algo pessoal, embora
no curso do artigo ele não se proponha, de fato, a enfrentar duas questões que poderiam sim,
reforçar sua tese: o fato dela ser mulher e de ser judia. Antissemitismo e sexismo são dois
tópicos que um observador atento da obra de Malcolm pode notar em seus escritos, e
embora mesmo a ousada Malcolm não se proponha a enfrentar de frente estes temas, eles
estão presentes em pequenos momentos de seus livros e também subjacentes aos grandes
temas que ela elege para as suas reportagens e livros. Nos livros sobre a psicanálise estão
lado a lado a reverência ao mestre vienense e judeu Freud e a condenação ao machismo do
mesmo, na escolha por Sylvia Plath e mais fortemente na defesa de Anne Stevenson, está
patente uma tentativa de compreender melhor o lugar da mulher e as relações entre sexos
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que determinam em parte os juízos da crítica, mais explicitamente no livro sobre Gertrude
Stein e Alice Toklas estão postas as questões sobre judaísmo, antissemitismo e até
lesbianismo. Até que ponto estes fatores foram determinantes para a humilhação pública a
que foi sujeita Malcolm não é fácil medir, mas também nos parece igualmente difícil
ignorar estes dois componentes tão essenciais da obra e vida de Malcolm. A argumentação
de Seligman, por sua vez, prefere tomar outro caminho que, digamos de uma vez, parece
igualmente válido, a natureza dialética de sua obra e de seu estilo de jornalismo.
Mas eu não posso negar que ela é responsável por atrair alguma [condenação]para ela mesma, com a severidade – a suave severidade – de seu trabalho.Malcolm é dura com seus entrevistados. Na visão dela, ser dura com eles é o seutrabalho, “colocar os sentimentos de uma pessoa acima das necessidades dotexto” é, em sua árida e maldosa formulação, um “solecismo jornalístico”.(SELIGMAN, 2015, tradução nossa[20]).
Ao longo do texto o autor percorre alguns momentos importantes e decisivos da carreira
de Malcolm com observações pertinentes e às vezes agudas sobre o trabalho da jornalista
até então (o texto foi publicado em 2000), para finalmente voltar a questão central, por que
Malcolm é tão dura com seus entrevistados? Na opinião de Seligman, a resposta passa pela
escolha entre apagar a linha imaginária que separa o jornalismo da crítica. O ponto chave
para sustentar esta tese está em uma resenha de Malcolm do livro de Milan Kundera,
A insustentável leveza do ser [21] em que ela afirma que estamos todos, de algum modo,
sob o domínio do kitsch , temos todos um apreço pelo mau gosto e pelo medíocre. Mas,
curiosamente, para o autor, ela tem um radar implacável e sem remorso para o kitsch na vida
de seus personagens e usa este radar para atacá-los. Numa demonstração confiante da sua
argumentação, ele usa a primeira pessoa para reforçar sua tese. “Eu tremo às vezes com a
horrível fantasia de Malcolm visitando minha casa, que eu amo e na qual investi muito
esforço para transformá-la em minha, e contando ao mundo, em poucas e indolentes frases,
o quão decadente e afetado este lugar é.” (SELIGMAN, 2015, tradução nossa[22]).
O misto de reverência e reticência que cerca Malcolm não escapou a
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entrevistadora Gaby Wood do inglês The Telegraph . Depois de tentar traçar um perfil da
jornalista, ela confessa, sem medo ou vergonha, que não descobriu nada sobre Malcolm que
ela não quis contar, uma vez que ela é “too good at the game for that”, ou seja, domina
demais a arte da entrevista para revelar sem intenção algo de si mesma. Mas a jornalista sai
mudada do encontro, a gentileza em fornecer uma bela refeição – obviamente
primorosamente arranjada – e a disponibilidade em emprestar um par de tênis para uma
caminhada nos arredores da casa humanizaram e deram autenticidade humana a figura
mítica. “E quando eu olho para trás e penso nos escritos dela que eu amei, vejo que isto não
devia ter me surpreendido. Sua prosa é precisa, sua opinião independente, mas ela se
importa com que vê. Sua resposta é sempre humana.” (WOOD, 2015, tradução nossa[23]).
O olhar apurado de Malcolm que a faz temida e respeitada, curiosamente, foi
treinado nos bastidores do jornalismo, longe da ação principal. Formada, começou a
escrever uma coluna na New Yorker chamada de “Presentes”, sobre dicas de compras para o
natal. Durante mais um ano, escreveu outra coluna igualmente despretensiosa chamada
“Sobre a casa” que continha indicação de coisas bonitas para se comprar. Esta introdução
nada glamorosa ao jornalismo, contudo, lhe deixou boas lembranças e uma importante
herança, como ela comenta em entrevista a Emma Brockes, do também inglês The
Guardian. “Me sinto sortuda em ter tido este aprendizado; aprender a descrever coisas fora
do grande palco. Ninguém prestava muita atenção em mim. Foi uma educação
maravilhosa.” (BROCKES, 2015, tradução nossa[24]).
Este começo de carreira não conta apenas a trajetória de um foca, como também reflete
uma diferença profunda entre os gêneros no jornalismo de então. Olhando
retrospectivamente ela reconhece que sim, fazia parte de uma espécie de minoria
inferiorizada. “Acho que eu era tão parte daquela cultura que nunca pensei que aquilo era
um gueto de meninas. Mas era. Mulheres escreviam sobre aquelas coisas. Não existiam
homens escrevendo aquelas colunas de compras. E eu também fazia resenhas sobre livros
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infantis – isto, também, era trabalho de mulheres.” (BROCKES, 2015, tradução nossa[25]).
Depois de sua ascensão aos palcos principais, Malcolm jamais será novamente confinada
aos “guetos de meninas”, pelo contrário, em grande parte de seus escritos sente-se a
presença de um feminismo afirmativo, embora nunca agressivo ao extremo. A Malcolm
madura será sempre consciente de seu papel de mulher num mundo dominado por homens,
e enfrentará sem medo este mundo, confrontando quando necessário, mas na maioria das
vezes indicando sutilmente os pequenos momentos de machismo que ela enfrenta em seu
percurso.
Feminista, não se furtará a atacar um dos principais ícones do movimento, a poetisa
caída Sylvia Plath. Mantendo-se fiel ao seu espírito controverso, ela, em seu exercício
metabiográfico A mulher calada, critica a apropriação algo indébita das libbers da vida e da
história de Plath e se coloca corajosamente ao lado do acuado Ted Hughes. No momento em
que confronta a mais respeitada biógrafa de Plath, Jacqueline Rose, ela vê claramente como
está afetada por seu posicionamento. Diante da poderosa verve de Rose, da sua erudição e
da sua inteligência, diante da organização criteriosa dos materiais, ela confessa algo perto de
uma irracionalidade consciente. “Mas no debate Plath-Hughes, minha simpatia está com os
irmãos Hughes, e assim como um advogado apresenta uma defesa que saber ser fraca mas
ainda considera justa por alguma razão obscura, eu me encouraço para resistir aos atrativos
da testemunha mais forte e plausível da oposição.” (MALCOLM, 2012a, p. 195). Este
autoexame honesto concorda com seu princípio primeiro de nunca nem sequer tentar se
posicionar neutralmente em relação a nenhum assunto; para Malcolm o traço irreprimível de
qualquer escritor é seu envolvimento pessoal com o material e, portanto, não é
surpreendente que um pouco antes, neste mesmo livro, ela faça uma afirmação enfática para
marcar esta posição.
O ato de escrever não pode ocorrer num estado de ausência de desejo. A pose deequanimidade, a farsa do equilíbrio, a adoção de uma postura de distanciamentonunca pode ser mais que um ardil retórico; se fossem genuínas, se o escritor realmente não se importasse com a maneira como as coisas acabam acontecendo,
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não se incomodaria em representá-las. (MALCOLM, 2012a, p. 193).
Ela é corajosa o suficiente para admitir que Plath nunca a interessou especialmente, mas
que foi uma biografia em específico, de uma antiga conhecida, Anne Stevenson, que a atraiu
para o projeto. Na mesma chave, ela não abandona sua posição crítica quando se propõe a
escrever um livro sobre Gertrude Stein e sua companheira Alice Toklas, mesmo quando a
crítica aqui pressuponha uma eventual colaboração com o nazismo de Stein (sua
proximidade com o governo de Vichy já foi comprovada mais de uma vez). Nas primeiras
páginas do livro ela enfileira uma série de perguntas duras e difíceis. “Como foi que o casal
de idosas judias lésbicas conseguiu sobreviver aos nazistas? Por que permaneceram na
França em vez de voltar para a segurança dos Estados Unidos? Por que Toklas omitiu [em
seu livro] qualquer menção ao fato de ela e Stein serem judias (e lésbicas)?” (MALCOLM,
2008, p. 13). O livro, na verdade, mais brando e ameno que parece ser, falha em responder
plenamente as questões, mas a coragem em enunciá-las já demonstra que tipo de jornalista
Malcolm é.
Embora em menor proporção, mas em gradual crescimento, a influência de
Malcolm vai se fazendo sentir no Brasil. Pouco a pouco seus livros são incorporados nas
faculdades de jornalismo e sua influência também parece se espalhar pelas redações.
Anatomia de um julgamento: Ifigênia em Forest Hills e O jornalista e o assassino
ambos publicados recentemente pela Companhia das Letras (respectivamente em 2011 e
2012) mereceram resenhas elogiosas de Luiz Zanin do Estado de São Paulo e o posfácio da
edição brasileira do segundo foi assinado por Otávio Frias Filho, diretor de redação da
Folha de São Paulo que também, embora com ressalvas, elogia o jornalismo praticado por
ela, um jornalismo em que o grande tema é o próprio jornalismo. “Não o jornalismo
noticioso, dos furos de reportagem obtidos e relatados às pressas, da informação como
serviço público de primeira necessidade. Mas um mais extensivo e elaborado, situado já nas
vizinhanças da biografia, do ensaio e da crítica literária.” (FRIAS FILHO, 2011, p. 160).
Embora sem a mesma atenção midiática de seus compatriotas Tom Wolfe e Gay Talese,
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ambos estrelas incontestáveis do Novo Jornalismo, Malcolm ocupou (e ainda ocupa), gentil,
mas firmemente um espaço importante na reconfiguração do jornalismo como algo mais que
mero mercado de notícias.
Notas
[1] Parte da repercussão altamente negativa pode ser acompanhada em artigo do New York Times, Ehtics, reporters andThe New Yorker (disponível em http://www.nytimes.com/1989/03/21/arts/ethics-reporters-and-the-new.-yorker )assinado por Albert Scardino e publicado em 21 de maio de 1989, antes do lançamento do livro quando as reportagensforam publicadas na revista The New Yorker. No artigo ele se junta aos detratores de Malcolm e comenta o rebuliço quesuas reportagens causaram na comunidade jornalística americana.
[2] So, if you write nonfiction, you’ve bought yourself a ticket do Dante’s ninth circle.
[3] I tell the person I’m interviewing that I’ll have no control over the process, that I won’t show the article to himbefore the publication, that he will tell me things he’ll regret…and none of that ever deters anyone!
[4] Don't ever eat in front of Janet Malcolm; or show her your apartment; or cut tomatoes while she watches. In fact, itprobably isn't a good idea even to grant her an interview, as your every unflattering gesture and nervous tic will berecorded eventually with devastating precision. You most likely won't be happy with the results; you may even want tosue.
[5] Obviously, no one ever taught her the technique of chopping vegetables, but this had no way deterred her fromdoing in whatever way she could or prevented her from arriving at her goal. She is less afraid than anyone I have evermet of expending energy unnecessary.
[6] But perhaps even stronger than the aura of commanding originality is its sense of absences, its evocation of all thethings that have been excluded, have been found wanting, have failed to capture the interest of Rosalind Krauss – whichare most of the things of the world, the things of “good taste” and fashion and consumerism, the things we see in storesand in one another’s houses. No one can leave this loft without feeling a little rebuked: one’s own house suddenly seemcluttered, inchoate, banal. Similarly , Rosalind Krauss’s personality – she is quick, sharp, cross, tense, bracinglyderisive, fearlessly uncharitable – make one’s own “niceness” seem somehow dreary and anachronistic.
[7] I took to the guy tremendously; I really liked him, and he saw in me someone deeply strange and felt that therecould be some dialogue between us. I have to say that he didn’t trust me, really, because as time went on he thought –and he may have been right – that I was too interested in power. He saw in me some worldly ambition that he backedaway from.
[8] I have formed the idea of writing about her after seeing Artforum change from a journal of lifeless opacity into amagazine of such vivid and assertive contemporaneity that one could only imagine its editor to be some sort ofstrikingly modern type, some astonishing new female sensibility loosed in the world. And in my house had walked apleasant, intelligent, unassuming, responsible, ethical young woman who had no trace of the theatrical qualities I hadconfidently expected and from whom, like the politician at the lunch, I have evidently turned away in disappointment.
[9] When the verdict unfavorable to him it was read by the clerk; I burst into tears of relief.
[10] but it was as such his tenacity, and so great is the patience of the American legal system with plaintiffs trying to
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rebuild and try again, that the process was able to keep his life - and obscure mine - for more than a decade.
[11] Disponível em: http://www.nytimes.com/1995/08/30/arts/malcolm-s-lost-notes-and-a-child-at-play.html.Consultado em 7-11-15.
[12] they often have a presence akin to that of the great figures of literature; like Emma Bovary or Raskolnikov, theirdecisions seem to be the only ones possible, drawn as these characters are to an ineluctable fate.
[13] What kind of writing was this, I wondered? It wasn’t a “story” in a conventional way. It wasn’t a straight profile, asSischy is barely mentioned in the first ten pages. There was too much reporting for it to be an essay, and too many ofMalcolm’s reflections for it to be described simply as an article. A group portrait perhaps? I read it through severaltimes, and even outlined sections on a legal pad. I’m not terribly interested in art criticism, but I was entranced by theway Malcolm summoned ideas from these miniature portraits and wove them into the kind of fabric I had never seenbefore. I knew then that, whatever this writing was, it was what I wanted to do, even if it meant abandoning my currenttrajectory.
[14] has been praised by psychoanalysts (with justice) as a dependable introduction to analytic theory and technique. Ithas the rare advantage over more solemn texts of being funny as well as informative.
[15] There is a melancholy implied by her wisdom, whether she feels it or not. Psychoanalysis, in this stage of ourculture, begins to look like a universal transference neurosis. Freud, prophet of our ambivalences, now involuntarilyalso inspires and provokes our ambivalences toward him.
[16] A sensacionalista matéria, publicada em 24 de janeiro de 1984, pode ser acessada emhttp://www.nytimes.com/1984/01/24/science/freud-secret-documents-reveal-years-of-strife.html.
[17] I’d written a whole series of books about psychiatry, and nobody bought them. Nobody liked them. Nobody.Psychiatrists hated them, and they were much too abstruse for the general public. It was very hard to make a living, andI thought, ‘As long as I’m not making a living, I may as well write about something I really love: animals.’
[18] By turns, he was accused of deception, plagiarism and using the cloak of nonfiction to perpetrate fiction. He hascome to inhabit every role in the world he writes about: writer-subject, defendant-plaintiff, hero-loser.
[19] ''He was pretty much destroyed. When I met him, he was in exile, just out of the hospital and teaching at aBuddhist cult university in Orange County. How much lower can you go than that?''
[20] Yet I can’t deny that she brings some of it on herself, with the harshness — the mellifluous harshness — of herwork. Malcolm is hard on her subjects. As she sees it, being hard on them is her job; “putting a person’s feelings abovea text’s necessities” is, in her arid and damning formulation, a “journalistic solecism.”
[21] Esta resenha foi publicada sob o título “The game of lights” na edição de10 maio de 1984 do The New YorkReview of Books e está disponível em: http://www.nybooks.com/articles/archives/1984/may/10/the-game-of-lights
[22] I shudder sometimes at the awful fantasy of Malcolm visiting my house, which I love and have put a lot of thoughtinto making my own, and telling the world, in a few dismissive phrases, what a shabby and affected place it is.
[23] And when I looked back at the writing of hers that I had loved, I saw that this should not have surprised me. Theprose is taut, the stance uncompromising, but she cares about what she sees. Hers is always a human response.
[24] I feel fortunate in having had that apprenticeship; learning to describe things in an off-stage way. Nobody paid very
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much attention to me. It was a wonderful education.
[25] Yes, you're right. I guess I was so part of that culture that I didn't even think of it as a girls' ghetto. But it was.Women wrote about those things. There were no men writing those shopping columns. And I also reviewed children'sbooks – that, too, women did.
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