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  • Traduzido do ingls porAna Pedroso de Lima

    CREBRO DE FARINHA

    David Perlmutter, MD com Kristin Loberg

    Grain BrainThe surprising truth about wheat, carbs, and sugar: your brain silent killers

    A chocante verdade sobre o trigo, o glten e o acar os assassinos silenciosos do seu crebro

  • CONTEDOS

    INTRODUO :: Contra os cereais 11

    AUTOAVALIAO :: Quais os seus fatores de risco? 25

    PARTE 1 :: TODA A VERDADE SOBRE OS CEREAIS INTEGRAIS

    > Captulo 1 :: Os aspetos fundamentais das doenas cerebrais: o que no sabe acerca da inamao 35

    > Captulo 2 :: A protena pegajosa: o papel do glten na inamao cerebral (no se trata s da barriguinha) 61

    > Captulo 3 :: Ateno viciados em hidratos de carbono e fbicos a gorduras: verdades surpreendentes acerca dos verdadeiros amigos e inimigos do seu crebro 89

    > Captulo 4 :: Uma unio pouco frutfera: o efeito do acar (natural ou no--natural) no crebro 129

    > Captulo 5 :: As ddivas da neurognese e dos interruptores-chave de regulao: como alterar o rumo da sua gentica 155

    > Captulo 6 :: Um crebro incapacitado: de que forma o glten perturba o sossego do crebro: seu e dos seus lhos 181

    PARTE 2 :: REABILITAR O CREBRO DE FARINHA

    > Captulo 7 :: Hbitos alimentares para um crebro perfeito: habitue-se ao jejum, s gorduras e aos suplementos essenciais 217

    > Captulo 8 :: Medicina gentica: exercite os seus genes para um crebro melhor 231

    > Captulo 9 :: Boa noite, crebro: tire partido da leptina para governar o seu reino hormonal 245

    PARTE 3 :: DIGA ADEUS AO CREBRO DE FARINHA

    > Captulo 10 :: Um novo estilo de vida: o plano de ao de quatro semanas 261

    > Captulo 11 :: O caminho para um crebro saudvel atravs da alimentao: planos de refeies e receitas 287

    EPLOGO :: As verdades hipnotizantes 341

    AGRADECIMENTOS 347

    CRDITO DAS ILUSTRAES 349

    NOTAS 351

    NDICE REMISSIVO 367

  • PARTE 1

    TODA A VERDADE SOBRE OS CEREAIS INTEGRAIS

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    Se a ideia de que o seu crebro pode ser prejudicado com um prato de uma massa apetitosa ou com uma rabanada lhe parece improvvel, prepare-se. Provavelmente, j sabia que os acares processados e os hidratos de carbono no lhe fazem muito bem, principalmente se ingeridos em excesso, mas que o mesmo se passa com os chamados hidratos de carbono saudveis, como os cereais integrais e acares naturais, no sabia, pois no? Seja bem-vindo a toda a verdade sobre os cereais integrais. Nesta parte, vamos explorar o que acontece quando o crebro bombarde-ado com hidratos de carbono, muitos dos quais esto carregados de ingredientes inamatrios, como o glten, que podem irri-tar o sistema nervoso. Os danos podem comear por se mani-festar com sintomas dirios, como dores de cabea e ansiedade inusitada, e progredirem depois para perturbaes mais graves, como a depresso e a demncia.

    Veremos tambm qual a funo de alguns problemas meta-blicos usuais, como a resistncia insulina e a diabetes, rela-tivamente disfuno neurolgica e, ainda, veremos como, muito provavelmente, as epidemias da obesidade e da doena de Alzheimer se devem ao nosso amor eterno pelos hidratos de carbono e ao grande desdm pela gordura e pelo colesterol.

    No nal desta parte do livro, ter uma nova apreciao sobre a gordura alimentar e uma apreenso fundamentada no que diz respeito maior parte dos hidratos de carbono. Vai tam-bm aprender que h certas coisas que pode fazer para esti-mular o crescimento de novas clulas cerebrais, conseguir controlar a sua predestinao gentica e proteger as suas facul-dades mentais.

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    CAPTULO 1

    OS ASPETOS FUNDAMENTAIS DAS DOENAS CEREBRAISO que desconhece acerca da Inamao

    O principal uso do corpo carregar o crebro.THOMAS A. EDISON

    Imagine-se a ser transportado para a era do paleoltico, quan-do os homens viviam em cavernas e vagueavam pela savana, h milhes de anos. Faa de conta que a lngua no uma bar-reira e que consegue comunicar com facilidade. Tem a opor-tunidade de contar a esses homens como o futuro. Sentado de pernas cruzadas, no cho de terra, em frente a uma foguei-ra, comea a descrever as maravilhas do nosso mundo moder-no, com os seus avies, comboios e automveis, arranha-cus, computadores, televises, smartphones e Internet. O Homem at j foi Lua. A certa altura, a conversa muda de rumo para outros aspetos da vida e para o que , de facto, viver no s-culo XXI. Comea ento a descrever a Medicina moderna e a espantosa quantidade de medicamentos que h para tratar problemas e combater doenas e germes. As ameaas sobre-vivncia so praticamente inexistentes. Ningum tem de se preocupar com tigres sorrateiros, com a fome ou com pestes. Explica-lhes o que signica ir s compras a uma mercearia ou a um supermercado, algo que eles desconhecem totalmente.

  • 36

    CREBRO DE FARINHA

    A comida abunda e fala-lhes de coisas como os hambrgue-res com queijo, batatas fritas, refrigerantes, piza, bagels, po, bolos de canela, panquecas, wafes, scones, massa, bolos, bo-lachas, cereais, gelados e rebuados. Diz-lhes que comemos fruta o ano todo e que basta clicarmos num boto ou deslo-carmo-nos alguns metros para termos a comida que quiser-mos. A gua e os sumos so embalados, para que possam ser transportados. Apesar de no querer falar em marcas, dif-cil, porque se tornaram parte da vida Starbucks, Pillsbury, Subway, McDonalds, Hagen-Dazs, Cheerios, Yoplait, Coca- -Cola, Hersheys, Budweiser.

    Eles esto perplexos, pois no conseguem imaginar tal cenrio no futuro. A maior parte das coisas que descreve incomensu-rvel; eles no so sequer capazes de visualizar um restaurante de fast-food, uma pastelaria ou padaria. O termo comida de plstico impossvel de pr por palavras que estas pessoas percebam. Antes de comear a falar sobre alguns dos maio-res feitos da humanidade, ao longo de milnios, tais como a agricultura e o pastoreio e, mais tarde, a confeo de alimen-tos, eles perguntam-lhe quais so os desaos que as pessoas modernas tm de enfrentar. A primeira coisa que lhe ocorre a epidemia da obesidade, qual ultimamente tem sido dada muita ateno por parte dos media. Este no um tema que eles compreendam facilmente, tendo em conta os seus cor-pos magros e tonicados; nem to pouco outros temas sobre doenas que agelam a sociedade doenas cardacas, diabe-tes, depresso, doenas autoimunes, cancro e demncia. Esta realidade para eles muito estranha e no param de questio-nar. O que uma doena autoimune? O que causa a diabe-tes? O que a demncia? Neste momento, est a falar uma linguagem diferente da deles. Na verdade, enquanto faz uma descrio daquilo que mais mata as pessoas no futuro, dando o seu melhor para denir cada uma das doenas, depara-se com olhares de confuso e descrena. Primeiro, pintou um

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    CAPTULO 1

    quadro maravilhoso e extico sobre o futuro, mas depois des-tri-o, ao falar das causas de morte que parecem bem mais assustadoras do que morrer de uma infeo ou devorado por um predador. A ideia de vivermos com uma doena crnica que lentamente nos conduz morte parece horrvel. Quando tenta convenc-los de que as doenas prolongadas e degene-rativas so a contrapartida de ter uma vida mais longa do que eles tm, os seus ancestrais pr-histricos no se deixam con-vencer. E, no tarda, consigo acontecer o mesmo. H algo de errado neste cenrio.

    Enquanto espcie, somos gentica e sicamente idnticos a estes humanos que viveram antes do aparecimento da agricul-tura. E somos o produto de um prottipo perfeito concebido pela natureza ao longo de milhares de geraes. Hoje em dia j no nos consideramos caadores-recoletores, mas os nossos organismos continuam a comportar-se segundo essa perspe-tiva biolgica. Agora, vamos supor que, durante a sua viagem de regresso ao tempo atual, comea a ponderar a sua experin-cia com estes antepassados. De um ponto de vista meramente tecnolgico, muito simples carmos maravilhados com as nossas conquistas, mas, ao mesmo tempo, no difcil reco-nhecermos as diculdades pelas quais milhes dos nossos contemporneos tm de passar sem necessidade. Poder inclu-sivamente car surpreendido com o facto de as doenas sus-cetveis de preveno e no-transmissveis constiturem maior causa de morte em todo o mundo do que todas as outras em conjunto. Esta realidade difcil de aceitar. verdade que pode-mos viver mais tempo que os nossos antepassados, mas pode-ramos viver muito melhor usufruindo da vida sem doenas principalmente durante a segunda fase da nossa vida, em que o risco de contrair doenas aumenta. Embora seja verdade que vivemos mais tempo do que as geraes anteriores, os aspe-tos mais positivos so sobretudo a diminuio da mortalidade infantil e a melhoria das condies de sade das crianas. Por

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    CREBRO DE FARINHA

    outras palavras, tornmo-nos melhores na sobrevivncia aos acidentes e s doenas da infncia. Infelizmente, ainda no melhormos na preveno e no combate s doenas que nos aigem quando somos mais velhos. E, embora possamos ar-mar que existem tratamentos muito mais ecazes para mui-tas doenas, isto no signica que nos esqueamos de que h ainda milhes de pessoas a sofrer desnecessariamente de cer-tas doenas que poderiam ter sido evitadas. Ao aplaudirmos a esperana mdia de vida nos Estados Unidos, hoje em dia, no nos deveramos esquecer da qualidade de vida.

    Quando frequentava a faculdade de Medicina, h alguns anos, as aulas consistiam em diagnosticar e tratar doenas ou, por vezes, curar cada uma delas com um medicamento ou outro tipo de terapia. Aprendi a conhecer os sintomas e a solucion-los. Desde ento, muito mudou, pois, hoje em dia, no s muito menos provvel depararmo-nos com doenas fceis de tratar ou curar como tambm somos capazes de compreender melhor muitas das doenas crnicas modernas luz de um denomina-dor comum: a inamao. Assim, em vez de identicarem as doenas infeciosas e de as tentarem tratar com os agentes habi-tuais, tais como os germes, os vrus ou as bactrias, os mdi-cos deparam-se com uma srie de patologias para as quais no tm respostas claras. No posso prescrever a algum um medi-camento para curar o cancro, acabar com uma dor estranha, eliminar a diabetes ou restaurar um crebro que foi destrudo pela doena de Alzheimer. Claro que posso disfarar ou ate-nuar os sintomas e controlar as reaes do organismo, mas h uma grande diferena entre tratar uma doena na raiz e man-ter os sintomas controlados. Agora que um dos meus lhos estuda Medicina, verico como os tempos e o ensino mudaram. Os estudantes de Medicina aprendem no s a diagnosticar e a tratar doenas mas tambm a raciocinar de uma nova forma que os ajuda a lidar com as epidemias modernas, muitas das quais provm do descontrolo das vias inamatrias.

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    CAPTULO 1

    Antes de chegar relao entre a inamao e o crebro, vamos olhar para o que considero ser, provavelmente, uma das maiores descobertas da nossa era: na maior parte dos casos, as doenas cerebrais devem-se alimentao. Apesar de existirem vrios fatores na gnese e progresso das doenas cerebrais, h imensas perturbaes neurolgicas que reetem principal-mente o erro de consumir demasiados hidratos de carbono e poucas gorduras saudveis. A melhor maneira de compreender esta situao tomarmos em considerao a doena neurol-gica mais temida de todas a doena de Alzheimer e olhar-mos para ela como um tipo de diabetes despoletado apenas pela alimentao. Todos ns sabemos que uma m alimenta-o pode causar obesidade e diabetes, mas tambm a destrui-o do crebro?

    DOENA DE ALZHEIMER UMA DIABETES TIPO III?

    Volte ao seu momento com os caadores-recolectores. Os cre-bros deles no so muito diferentes do seu. Ambos se desen-volveram para procurar alimentos com elevado teor de gordura e de acar. No passa de um mecanismo de sobrevivncia. O problema que os nossos hbitos de caa acabaram depressa, pois vivemos na era da abundncia e temos mais facilidade em encontrar gorduras processadas e acares. Os nossos ami-gos das cavernas passam mais tempo procura dos alimen-tos e encontram apenas as gorduras dos animais e os acares naturais das plantas e das bagas, nas devidas estaes. Por isso, mesmo que os nossos crebros funcionem de maneira seme-lhante, as fontes de nutrio no so as mesmas. Veja o gr-co que se segue para perceber as principais diferenas entre a nossa alimentao e a dos nossos antepassados.

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    CREBRO DE FARINHA

    Que relao existe, concretamente, entre uma mudana dos hbitos alimentares e um envelhecimento saudvel e a contra-o, ou no, de uma perturbao ou doena neurolgica?

    Tudo.Os estudos que descrevem a doena de Alzheimer como um

    Tipo III de diabetes surgiram em 20051, mas a relao entre uma m alimentao e a doena de Alzheimer aparece com estudos recentes que demonstram esta possibilidade.2,3 Estes estudos so aterradores e, ao mesmo tempo, convincentes. Pensar que podemos prevenir a doena de Alzheimer apenas mudando a nossa alimentao , no mnimo, espantoso. Esta medida no se adequa exclusivamente preveno da doena de Alzheimer, mas a outras doenas do crebro, tal como ir observar nos cap-tulos seguintes. Mas, primeiro, vejamos o que a diabetes e o crebro tm em comum.

    Com a evoluo, o nossos organismo desenvolveu uma forma brilhante de transformar o potencial dos alimentos em energia que as nossas clulas podem utilizar. Durante quase toda a exis-tncia da nossa espcie, a glicose a maior fonte de energia de quase todas a clulas tem sido escassa. O que fez com que cri-ssemos outras formas de a armazenar e obter. Se necessrio,

    75%

    20%Protena

    Gordura

    Gordura20%

    Hidratos de carbono

    Hidratos de carbono

    ALIMENTAO DOS ANTEPASSADOS

    5%

    60%

    ALIMENTAO RECOMENDADA PELOS ESPECIALISTAS NOS EUA

    Protena20%

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    CAPTULO 1

    o organismo pode produzir glicose a partir da gordura e da pro-tena, atravs de um processo chamado gliconeognese. Porm, este processo requer mais energia do que a converso de amidos e de acar em glicose, que uma reao mais direta.

    O processo pelo qual as nossas clulas aceitam e utilizam a glicose muito complexo. As clulas no se limitam a absor-ver a glicose quando esta passa por elas na corrente sangunea. Esta molcula vital do acar s aceite pela clula atravs da hormona insulina, que produzida pelo pncreas. Como pro-vavelmente j sabe, a insulina uma das substncias biolgi-cas mais importantes do metabolismo celular. A sua funo transportar a glicose da corrente sangunea para os msculos, tecido adiposo e fgado. Quando l chega, utilizada como fonte de energia. As clulas normais e saudveis so muito sensveis insulina. Mas, como as clulas esto constantemente expostas a nveis elevados de insulina, pela ingesto persistente de gli-cose (a maior parte causada pelo consumo excessivo de alimen-tos altamente processados, com muitos acares renados que elevam os nveis de insulina acima dos limites considerados sau-dveis), as nossas clulas adaptam-se, reduzindo o nmero de recetores sua superfcie para responder insulina. Por outras palavras, as nossas clulas deixam de ser sensveis insulina, ganhando-lhe resistncia, o que faz com que as clulas a igno-rem e no absorvam a glicose do sangue. O que faz com que o pncreas responda, libertando mais insulina. Ento, os nveis elevados de insulina so necessrios para que o acar chegue s clulas. Isto provoca um problema cclico, que acaba por cul-minar na diabetes Tipo II. As pessoas com diabetes tm nveis elevados de acar no sangue, pois o seu organismo no con-segue transportar o acar at s clulas, onde seria adequa-damente armazenado como fonte de energia. E este acar no sangue origina muitos problemas (demasiados para enumerar). Tal como um fragmento de vidro, o acar txico provoca dema-siados danos, levando a cegueira, infees, leses nos nervos,

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    CREBRO DE FARINHA

    doenas cardacas e, sim, doena de Alzheimer. Durante esta cadeia de acontecimentos, a inamao circula desenfreada pelo organismo.

    Deveria tambm salientar que a insulina pode ser vista como cmplice dos acontecimentos, manifestando-se quando o a-car no sangue no bem gerido. Mas, infelizmente, a insulina no se limita a levar a glicose s nossas clulas. tambm uma hormona anablica, o que signica que estimula o crescimento, promove a formao e reteno de gordura e instiga a inama-o. Quando os nveis de insulina so altos, h outras hormo-nas que podem ser afetadas desfavoravelmente, sendo os seus nveis aumentados ou diminudos devido presena dominante da insulina. Isto faz com que o organismo desenvolva padres no saudveis que levam ao caos, o que o impossibilita de recu-perar o seu metabolismo normal.4

    A gentica tem tambm o seu papel no desenvolvimento da diabetes nas pessoas e pode igualmente determinar o momento em que o interruptor da diabetes se liga, quando as clulas dei-xam de conseguir tolerar o nveis elevados de acar no sangue. Para que se saiba, a diabetes Tipo I uma doena diferente, con-siderada uma doena autoimune que diz respeito a apenas 5 por cento dos casos. As pessoas com diabetes Tipo I tomam pouca insulina, ou nenhuma, pois o seu sistema imunitrio ataca e destri as clulas do pncreas que produzem insulina, por isso, so necessrias injees dirias desta hormona to importante para manter os nveis de acar no sangue equilibra-dos. Ao contrrio da diabetes Tipo II, que por norma diagnos-ticada nos adultos em que o organismo vai sofrendo abusos de glicose ao longo do tempo, a diabetes Tipo I por norma diag-nosticada em crianas e adolescentes. E, ao contrrio da diabe-tes Tipo II, que poder ser revertida mudando a alimentao e o estilo de vida, para a diabetes de Tipo I no h cura. Assim sendo, importante no esquecer que mesmo que os genes inuenciem fortemente o risco de desenvolver diabetes Tipo I,

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    CAPTULO 1

    tambm o ambiente desempenha o seu papel. H muito que se sabe que o Tipo I resulta de inuncias genticas e ambien-tais, mas o aumento da sua incidncia, ao longo das ltimas dcadas, levou alguns investigadores a conclurem que os fato-res ambientais podem ter mais inuncia no desenvolvimento do Tipo I do que se pensava.

    TRISTE, MAS VERDADE

    Mais de 186 mil pessoas com menos de 20 anos tm diabetes (Tipo I e Tipo II).5 H pouco mais de uma dcada, a diabetes Tipo II era conside-rada uma doena com incio na idade adulta, mas, com tantos casos de jovens diagnosticados, este pressuposto deixou de ser vlido. E a nova cincia mostra que a progresso da doena mais rpida nas crian-as do que nos adultos. Tratar as geraes mais novas tambm um grande desao.

    Comeamos agora a perceber que a resistncia insulina, no que diz respeito doena de Alzheimer, precipita a formao daquelas placas que existem nas doenas cerebrais. Estas placas formam uma protena estranha que assalta o crebro e ocupa nele o lugar das clulas normais. O facto de podermos associar os nveis baixos de insulina s doenas cerebrais impulsionou os investigadores a falar numa diabetes Tipo III. de referir que as pessoas obesas apresentam maior risco de problemas do funcionamento do crebro, e que as pessoas com diabetes tm, pelo menos, duas vezes mais probabilidades de desenvolver a doena de Alzheimer.

    Esta armao no signica que a diabetes causa a doena de Alzheimer, signica apenas que ambas as doenas tm a mesma origem. Ambas provm de alimentos que foram o organismo a desenvolver vias biolgicas que levam disfuno e, mais tarde, doena. verdade que uma pessoa com diabetes e outra com

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    CREBRO DE FARINHA

    demncia apresentam caractersticas diferentes, mas na verdade tm muito mais em comum do que se pensava.

    Ao longo da ltima dcada, temos assistido a um aumento semelhante do nmero de casos de diabetes Tipo II e do nmero de pessoas consideradas obesas. Alm disso, hoje em dia, come-amos a vericar um padro entre as pessoas com demncia, ao mesmo tempo que a taxa da doena de Alzheimer aumenta a par com a diabetes Tipo II. No acredito que esta observao seja arbitrria. Trata-se de uma realidade que todos ns temos de enfrentar, uma vez que carregamos o fardo dos custos eleva-dos na sade e de uma populao em envelhecimento. As novas estimativas indicam que, em 2050, a doena de Alzheimer afe-tar possivelmente 100 milhes de pessoas, um nmero debili-tante para o sistema de sade e que far com que a epidemia da obesidade parea menor.6 A prevalncia da diabetes do Tipo II, que contabiliza 90 a 95 por cento de todos os casos de diabe-tes Tipo II, nos Estados Unidos, triplicou nos ltimos quarenta anos. No admira que o governo americano esteja ansioso que os investigadores melhorem os prognsticos e evitem esta cats-trofe. Nos prximos quarenta anos, estima-se que surjam mais de 115 milhes de novos casos de Alzheimer, a nvel global, o que nos custar mais de um bilio de dlares (ao cmbio de hoje).7,8 Segundo os centros de preveno e controlo de doen-as, 18,8 milhes de americanos foram diagnosticados com dia-betes, em 2010, e 7 milhes de casos passaram despercebidos. Entre 1995 e 2010, o nmero de casos de diabetes diagnostica-dos subiu pelo menos 50 por cento em 42 estados e pelo menos 100 por cento em 18 estados.9

    O CREBRO QUE SOFRE EM SILNCIO

    Uma das perguntas mais frequentes que os familiares de pes-soas com Alzheimer me fazem no consultrio : Como que

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    CAPTULO 1

    isto aconteceu? Que fez a minha me (pai, irmo, irm) de mal? Sou muito cuidadoso ao responder perante as circunstncias to delicadas pelas quais a famlia est a passar. O facto de assistir ao declnio do meu pai, dia aps dia, um lembrete constante do turbilho de emoes pelas quais uma famlia tem de pas-sar. um misto de frustrao com impotncia e de angstia com tristeza. Mas, se eu tivesse de dizer aos membros de uma famlia (eu includo) toda a verdade, segundo o que j sabemos hoje em dia, talvez dissesse que os seus familiares haviam feito uma das seguintes coisas:

    > Vivido com nveis elevados de acar no sangue crnicos, mesmo no tendo diabetes> Ingerido hidratos de carbono em demasia> Optado por uma alimentao pobre em gorduras que minimizasse o colesterol> Tivessem intolerncia ao glten, a protena do trigo, do centeio e da cevada, sem ser diagnosticada.

    Quando digo s pessoas que a intolerncia ao glten repre-senta o maior perigo e a ameaa mais subestimada pela huma-nidade, respondem-me quase sempre o mesmo: No pode ser. Nem toda a gente intolerante ao glten. Claro que poss-vel, se sofrer de doena celaca, mas so poucas as pessoas que sofrem dessa doena. E quando relembro s pessoas que os ltimos desenvolvimentos da cincia indicam que o glten prejudicial, causando no s demncia mas tambm epilepsia, dores de cabea, depresso, esquizofrenia, PHDA e at falta da libido, h uma tendncia generalizada da resposta: No per-cebo. Todas as pessoas dizem isto porque sabem que o glten est principalmente relacionado com a sade intestinal, e no com o bem-estar neurolgico.

    Vamos falar intimamente sobre o glten, no prximo cap-tulo. O glten no s um problema para quem tem a doena

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    CREBRO DE FARINHA

    celaca (uma doena autoimune que atinge uma pequena mino-ria). Quarenta por cento de ns no processamos adequada-mente o glten e os restantes 60 por cento podem estar em risco. A questo que temos de nos colocar a seguinte: E se todos ns formos intolerantes ao glten do ponto de vista do cre-bro? Infelizmente, o glten no existe apenas nos produtos que contm trigo. O glten existe nos produtos que menos espera-mos, desde gelados a creme das mos. Cada vez mais estudos conrmam a ligao entre a intolerncia ao glten e a disfun-o neurolgica. Isto acontece at com as pessoas que no tm problemas em digerir o glten, em que os testes de intolerncia ao glten do negativo. Verico esta situao todos os dias na minha clnica. Muitos dos meus doentes vm ter comigo depois de terem experimentado tudo e de terem consultado muitos outros mdicos para resolver os seus problemas. Quer se trate de dores de cabea e enxaquecas, sndrome de Tourette, convul-ses, insnia, ansiedade, PHDA, depresso ou apenas de sinto-mas estranhos no identicados, uma das coisas que prescrevo a eliminao total de glten na alimentao. E os resultados continuam a surpreender-me.

    Os investigadores sabem, h algum tempo, que a base de todas as doenas degenerativas, incluindo as perturbaes do crebro, a inamao. Contudo, ainda no conseguiram determinar os instigadores dessa inamao; as primeiras falhas que desen-cadeiam esta reao mortfera. E comeam a descobrir que o glten e, j agora, uma alimentao com elevado teor de hidra-tos de carbono esto entre os estimulantes mais proeminentes das vias inamatrias que chegam ao crebro. Contudo, o mais perturbante desta descoberta que, muitas vezes, desconhece-mos que o nosso crebro est a ser prejudicado. Os problemas digestivos e as alergias aos alimentos so muito mais fceis de identicar, pois os sintomas, como os gases, o inchao, a dor, a obstipao e a diarreia, manifestam-se desde logo. Mas o cre-bro um rgo mais indenido. Pode sofrer danos ao nvel

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    CAPTULO 1

    molecular, sem que se aperceba. A no ser que esteja a fazer o tratamento a uma dor de cabea ou a um problema neurol-gico evidente, poder ser difcil aperceber-se do que est a acon-tecer no seu crebro at ser tarde demais. No que diz respeito s doenas cerebrais, assim que doenas como a demncia so diagnosticadas, difcil reverter a situao.

    Mas tenho uma boa notcia: vou mostrar-lhe como podemos controlar a nossa predestinao gentica, mesmo que tenhamos nascido com uma tendncia natural para desenvolver um pro-blema neurolgico. Para isso, preciso que se liberte de alguns mitos, aos quais muitas pessoas continuam presas. Os dois maio-res so: (1) devemos fazer uma alimentao rica em hidratos de carbono e pobre em gorduras; (2) o colesterol prejudicial.

    A histria no acaba com a eliminao do glten. O glten apenas uma pea do puzzle. Nos prximos captulos, ir com-preender rapidamente por que razo o colesterol um dos agen-tes mais importantes do funcionamento e da sade do crebro. H imensos estudos que demonstram que o colesterol elevado reduz o risco de doenas cerebrais e aumenta a longevidade. Do mesmo modo, nveis elevados de gordura alimentar (da boa, sem ser gorduras trans) tm demonstrado ser o segredo para a sade e o elevado rendimento do crebro.

    Como disse? Pois, eu sei que poder duvidar destas armaes, pois so bastante contrrias ao que tem sido levado a acreditar. Um dos estudos mais valorizados e respeitados, realizado nos Estados Unidos, o famoso Framingham Heart Study, acrescen-tou muita informao para compreendermos certos fatores de risco para doenas como, recentemente, a demncia. Este estudo teve incio em 1948, com o recrutamento de 5 209 homens e mulheres da cidade de Framingham, Massachusetts, com idades compreendidas entre os 30 e os 62 anos. Nenhum deles tinha sofrido enfartes ou AVC, ou desenvolvido qualquer sintoma de doena cardiovascular.10 Desde ento, o estudo tem acrescentado vrias geraes provenientes do grupo original, o que permitiu

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    CREBRO DE FARINHA

    aos cientistas acompanhar minuciosamente estas populaes e reunir provas das suas condies siolgicas, tendo em conta vrios fatores: idade, sexo, condies psicossociais, caracters-ticas fsicas e padres genticos. Em meados de 2000, inves-tigadores da Universidade de Boston comearam a estudar a relao entre o colesterol total e o desempenho cognitivo, anali-sando 789 homens e 1105 mulheres que faziam parte do grupo original. Nenhum dos indivduos sofria de demncia ou tinha sofrido um AVC e todos eles foram seguidos durante um per-odo entre 16 e 18 anos. A cada quatro e seis anos, foram reali-zados testes cognitivos para avaliar fatores como a memria, a aprendizagem, a formao de conceitos, a concentrao, a aten-o, o raciocnio abstrato e as capacidades organizacionais todas as caractersticas que esto comprometidas em doentes com Alzheimer.

    Segundo o relatrio deste estudo, publicado em 2005, houve uma associao positiva e linear entre o colesterol total e os resultados da avaliao da uncia verbal, da concentrao, do raciocnio abstrato, e uma classicao complexa para avaliar mltiplos domnios cognitivos.11 Alm disso, os participantes com nveis desejados de colesterol total (menos de 200) obtive-ram resultados menos satisfatrios do que os participantes com valores no limite mais elevado (entre 200 e 239), e os participan-tes com valores elevados (mais de 240). O estudo concluiu que os nveis de colesterol total tendencialmente baixos esto asso-ciados a um desempenho cognitivo fraco, o que tornava mais difcil o raciocnio abstrato, a concentrao, a uncia verbal e a funo executiva. Por outras palavras, as pessoas que tinham os nveis mais elevados de colesterol obtiveram valores mais altos nos testes cognitivos do que as pessoas com nveis mais baixos. Claro que existe um fator de proteo, relativamente ao coleste-rol e ao crebro. Vamos explor-lo no Captulo 3.

    A investigao continua a ser levada a cabo em vrios laborat-rios, por todo o mundo, mudando as convices convencionais