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1 RECUPERAÇÃO FUNCIONAL DE PACIENTES COM AVE APÓS A TERAPIA DO ESPELHO Rita de Fàtima Marinho Gomes 1 [email protected] Dayana Mejia 2 Pos-graduação em fisioterapia em neuro-funcional- Faculdade Sul-Americana/FASAM Resumo O objetivo deste estudo foi analisar a eficácia da Terapia do Espelho na função motora em pacientes com Acidente Vascular Encefálico (AVE). A pesquisa foi feita através de revisão de artigos científicos sobre o AVE, a Teoria do Neurônio Espelho, a Terapia do Espelho e a sua eficácia na recuperação da funcionalidade de pacientes com AVE. A revisão de literatura foi realizada nas bases de dados científicos: Google Acadêmico, Pub Med, Scielo e Lilacs nos idiomas inglês e português, publicados entre os anos de 2004 a 2014. Os critérios de inclusão foram: estudos de casos clínicos, estudos randomizados controlados e revisões sistemáticas relacionadas à Terapia do Espelho, a Teoria do Neurônio Espelho e a eficácia da Terapia do Espelho na funcionalidade dos pacientes com AVE. A Terapia do Espelho proporciona uma maior funcionalidade para o paciente acometido de AVE, sendo associada ou não a outras técnicas, porém é preciso mais estudos para entender seu mecanismo. Palavras-chave: Neurônio Espelho; Terapia do Espelho; Acidente Vascular Encefálico. 1. Introdução O AVE (Acidente Vascular Encefálico) é um disfunção neurológica de origem vascular que afeta ambos os sexos, pode ser isquêmico ou hemorrágico com o isquêmico prevalecendo em 80% dos casos, pode levar a morte e sua evolução implica em algum tipo de dependência. O AVE pode causar déficits motores, alteração na sensibilidade, disfagia, disartria, amnésia, diplopia, afasia, nistagmo e déficits cognitivos. Os déficits motores e sensitivos se manifestam contalateralmente à lesão causando hemiparesia, hemiplegia, diminuição de adm, contraturas. A intervenção fisioterapêutica se faz necessária na recuperação dos movimentos, da sensilbilidade, possibilita uma melhora na função e consequentemente proporciona uma maior independência. Para diminuir os déficits sensoriais-motores e otimizar a função destes pacientes pode ser utilizada a Terapia do Espelho, iniciada em 1992 por Ramachadran e Roger em pacientes amputados e posteriomente utilizada em pacientes com perda motora e imprecisão no movimento. A Terapia do Espelho age através da percepção visual, provocando um feedback externo (espelho) e feedback interno (prática mental). O presente estudo se propôs a analisar através de revisão de artigos científicos a eficácia da Terapia do Espelho na função motora de pacientes acometidos por AVE. O AVE é a segunda causa de incapacidade no mundo, prejudicando assim a independência dos indivíduos acometidos, comprometendo sua funcionalidade abalando sua capacidade motora. ______________________________________ ¹ Pós Graduando em Fisioterapia Neuro-Funcional ² Orientadora, Fisioterapeuta, Especialista em metodologia do ensino superior, Mestranda em aspectos bioéticos e jurídicos da saúde

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RECUPERAÇÃO FUNCIONAL DE PACIENTES COM AVE APÓS

A TERAPIA DO ESPELHO

Rita de Fàtima Marinho Gomes1

[email protected]

Dayana Mejia2

Pos-graduação em fisioterapia em neuro-funcional- Faculdade Sul-Americana/FASAM

Resumo

O objetivo deste estudo foi analisar a eficácia da Terapia do Espelho na função motora em

pacientes com Acidente Vascular Encefálico (AVE). A pesquisa foi feita através de revisão de

artigos científicos sobre o AVE, a Teoria do Neurônio Espelho, a Terapia do Espelho e a sua

eficácia na recuperação da funcionalidade de pacientes com AVE. A revisão de literatura foi

realizada nas bases de dados científicos: Google Acadêmico, Pub Med, Scielo e Lilacs nos

idiomas inglês e português, publicados entre os anos de 2004 a 2014. Os critérios de inclusão

foram: estudos de casos clínicos, estudos randomizados controlados e revisões sistemáticas

relacionadas à Terapia do Espelho, a Teoria do Neurônio Espelho e a eficácia da Terapia do

Espelho na funcionalidade dos pacientes com AVE. A Terapia do Espelho proporciona uma

maior funcionalidade para o paciente acometido de AVE, sendo associada ou não a outras

técnicas, porém é preciso mais estudos para entender seu mecanismo.

Palavras-chave: Neurônio Espelho; Terapia do Espelho; Acidente Vascular Encefálico.

1. Introdução

O AVE (Acidente Vascular Encefálico) é um disfunção neurológica de origem vascular que

afeta ambos os sexos, pode ser isquêmico ou hemorrágico com o isquêmico prevalecendo em

80% dos casos, pode levar a morte e sua evolução implica em algum tipo de dependência. O

AVE pode causar déficits motores, alteração na sensibilidade, disfagia, disartria, amnésia,

diplopia, afasia, nistagmo e déficits cognitivos. Os déficits motores e sensitivos se manifestam

contalateralmente à lesão causando hemiparesia, hemiplegia, diminuição de adm, contraturas.

A intervenção fisioterapêutica se faz necessária na recuperação dos movimentos, da

sensilbilidade, possibilita uma melhora na função e consequentemente proporciona uma maior

independência. Para diminuir os déficits sensoriais-motores e otimizar a função destes

pacientes pode ser utilizada a Terapia do Espelho, iniciada em 1992 por Ramachadran e

Roger em pacientes amputados e posteriomente utilizada em pacientes com perda motora e

imprecisão no movimento. A Terapia do Espelho age através da percepção visual, provocando

um feedback externo (espelho) e feedback interno (prática mental). O presente estudo se

propôs a analisar através de revisão de artigos científicos a eficácia da Terapia do Espelho na

função motora de pacientes acometidos por AVE. O AVE é a segunda causa de incapacidade

no mundo, prejudicando assim a independência dos indivíduos acometidos, comprometendo

sua funcionalidade abalando sua capacidade motora.

______________________________________

¹ Pós Graduando em Fisioterapia Neuro-Funcional

² Orientadora, Fisioterapeuta, Especialista em metodologia do ensino superior, Mestranda em

aspectos bioéticos e jurídicos da saúde

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Segundo O’Sullivan (2004), o Acidente Vascular Encefálico (AVE) é o surgimento agudo de

uma disfunção neurológica devido a uma anormalidade na circulação cerebral, tendo como

resultado sinais e sintomas que correspondem ao comprometimento de áreas focais do

cérebro. Há dois tipos de AVE: hemorrágico e isquêmico, o hemorrágico é causado por

aneurisma ou traumas ocorre sangramento anormal dentro das áreas extravasculares do

cérebro, já o isquêmico é devido a trombos e embolismo. O AVE causa comprometimentos

diretos: déficits somatossenssoriais, dor, déficits visuais, déficits motores, distúrbio da fala e

linguagem, disfagia, disfunção perceptiva, disfunção cognitiva, distúrbio afetivos, disfunção

da bexiga e do intestino; e comprometimentos indiretos: tromboembolismo venoso,

diminuição da flexibilidade, subluxação, dor no ombro e distrofia reflexa simpática. Os

déficits motores apresentam nos primeiros estágios com flacidez sem movimentos e depois a

espasticidade, hiperreflexia, padrões sinérgicos anormais, déficit de programação motora,

distúrbios de controle postural e equilíbrio.

Segundo o Ministério da Saúde o AVE é a principal causa de incapacidade no Brasil e

segundo a World Stroke Organization 1 a cada 6 pessoas no mundo sofrerá um AVE durante

a sua vida. O AVE é uma disfunção neurológica de origem vascular, onde as sequelas motoras

é um fator determinante na incapacidade. As pesquisas na área de neurociência tem

possibilitado novas técnicas de tratamento das disfunções motoras diminuindo assim a

incapacidade, uma das técnicas usadas para atenuar a perda motora e melhorar a

funcionalidade é a Técnica do Espelho, que visa a reorganização cortical.

Nos anos 90 um grupo de cientistas liderado por Giacomo Rizzolati descobriu neurônios na

região dos lobos frontais e parietais do encéfalo de macacos deram o nome de neurônios

espelhos, esses neurônios são ativados quando o animal vê uma ação ou realiza uma ação. Em

1996, um grupo de cientistas atestou que estes neurônios também estão presentes nos

humanos possibilitando nossas habilidades motoras. As pesquisas mostraram que as ações que

mais ativam os neurônios espelhos nos macacos são: agarrar, manipular e prender, Rizzolati e

Craighero (2004) determinou através de estudos com imagem funcional que há uma área

funcional analoga a F5 dos macacos em humanos e que seria a área de Broca; Buccino et al.,

(2004) em um estudo com ressonância magnética funcional observou que a execução e

observação de açoes com a mão, boca e pés em humanos ativavam áreas frontais do cérebro e

confirmaram a ativação da área de Broca, estudos realizados Estimulação Transcraniana

comprovoram o mesmo fato. Os neurônios espelhos são a via para trabalhar com a Terapia do

Espelho, essa terapia se baseia na plasticidade cerebral onde há interações sensórias, os

exercícios são realizado de frente para um espelho proporcionando um feedback para o

membro parético e ativando as áreas somatosensoriais. A Terapia faz com que o cérebro

entenda que o movimento realizado pelo membro sadio esta sendo feito pelo membro

acometido e assim estimulando as áreas corticais responsáveis por estes movimentos.

A Terapia do Espelho foi desenvolvida nos anos 90 por Ramachandram e Rogers em

pacientes amputados e depois passou a ser utilizada para pacientes com perda motora. Em um

dos seus artigos sobre Terapia do Espelho Ramachandran et al., (2009) analisou o potêncial

uso de feedback visual para muitas doenças neurológicas incluindo o AVE, quebrando o

paradigma da irreversibilidade dos distúrbios neurológicos, percebendo que alguns desses

danos podem surgir de mudanças funcionais de curto prazo que são potêncialmente

reverssíveis, se assim for, a Terapia do Espelho algo relativamente simples pode ser

concebido como um exemplo para restaurar a função, a paralisia que segue o AVE pensado

resultando a danos “irreversíveis” a capsula interna, no entanto, durante os primeiros dias ou

semanas há inchaço e edema da matéria branca, resulta em uma interrupção temporária de

sinais corticofugal deixando para trás uma forma de paralisia aprendida, mesmo após o

inchaço e o edema desaparecer, este é análoga à paralisia aprendida, mesmo após o inchaço,

assim os autores sugerem que a terapia do espelho pode acelerar a recuperação da hemiparesia

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após AVE. Segundo Rizzolati e Sinigaglia (2010), essa terapia foi baseada na descoberta do

mecanismo do espelho que se encontra no córtex pré-motor ventral do macaco (área f5),

experiências mostraram que os neurônios espelhos disparavam quando um macaco observava

outro macaco executar uma ação especifica ou quando observava uma pessoa executando um

ato significativo. Há evidencias convincentes de que um circuito espelho com execução de

observação-ação também existe em humanos. Esta evidencia vem dos exames de imagem

como: estimulação magnética transcraniana, eletroencefalografia, magnetoencefalografia e

Ressonância Magnética Funcional.

A Terapia do espelho tem o objetivo de estimular áreas corticais através do feedback externo

(espelho) e feedback interno (prática mental) restaurando assim o membro lesionado, o

paciente realiza o movimento com o membro sadio em frente ao espelho fazendo com que o

cérebro “se engane” achando que é o membro lesionado, isso acontece devido ao sistema de

neurônio espelho que se encontra na região parieto-frontal do cérebro, esses neurônios

disparam quando observam movimentos habilidosos, os neurônios espelhos permitem que

uma pessoa veja o mundo na perspectiva do outro. O objetivo desta pesquisa foi analisar na

literatura a eficácia da Terapia do Espelho na funcionalidade do paciente com AVE.

2. METODOLOGIA

A pesquisa foi feita através de revisão de literatura sobre o AVE, a Teoria do Neurônio

Espelho, a Terapia do Espelho e a sua eficácia na recuperação da funcionalidade de pacientes

que tenham sofrido AVE. A revisão de literatura foi realizada através de artigos científicos

disponibilizados nas bases de dados: Google Acadêmico, Pub Med, Scielo e Lilacs nos

idiomas inglês e português. As palavras usadas na busca foram neurônios espelho, Terapia do

espelho e AVE, o período de busca de artigos foi outubro de 2013 a julho de 2014. As fontes

utilizadas variam em 2004 a 2014, os critério de inclusão foram: estudos de casos clínicos,

estudos randomizados controlados e revisões sistemáticas relacionados a Terapia do Espelho,

a Teoria do Neurônio Espelho e a eficácia da Terapia do Espelho na funcionalidade dos

pacientes acometidos de AVE.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os artigos consultados demonstraram a importância da utilização da Terapia do Espelho na

reabilitação funcional de pacientes com AVE, proporcionando melhora na coordenação

motora, força de preensão, facilitação de movimentos, melhora de movimentos grossos e

finos, heminegligência, funcionalidade e maior independência nas atividades de vida diária,

um método econômico e simples, porém distacam que os mecanismos neurofisiológicos ainda

não são claros, falta um protocolo unificado para a técnica e pode ser associada com outras

técnicas para uma melhor eficácia.

Há muitas dúvidas e controvérsias sobre os mecanismos neurofisiológicos da Terapia do

Espelho, na revisão de literatura de Machado et al., (2010) ressalva o fato de os mecanismos

fisiológicos da Terapia do Espelho não está clara, no entanto esta relacionada com o feedback

visual e os efeitos de platicidade neural nas áreas córticais sensório-motora. Apesar da falta de

explicaçações precisas, Machado et al., (2010) acredita que a Terapia do Espelho é uma

técnica útil e segura e vem demonstrando os seus efeitos em pacientes com AVE. O trabalho

de revisão de Ferreira et al., (2012) observou que a Terapia do espelho é uma tecnica de

baixo custo, simples, com resultados imediatos e as pesquisas sobre o tema expressam o fato

de o mecanismo fisiológico não está claro, a teoria mais aceita seria a percepção visual no

membro sádio refletir uma resposta no membro acometido, outra teoria seria baseada nos

neurônios espelhos estimulados quando se observa uma atividade motora, segundo autor os

artigos analisados mostram que em exames de ressonância magnética as áreas estimuladas

não são onde estão os neurônios. Nos estudos utilizando Eletromiografia (ENMG), Potêncial

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Evocado Motor (PEM), Ressonância Magnética (RM) e a Escala de Fulgl-Meyer (EFFM)

foram observados otimização motora, a descoberta mais significativa fica por conta do

aumento da área cortical que realiza a atividade do membro lesado comprovando a ocorrêcia

de neuroplasticidade. A Teoria do Espelho manifesta melhora em lesões agudas do que em

crônicas, alguns imprevistos foram encotrados: confusão, tontura, mal-estar e ansiedade na

aplicação da técnica, deve-se ter cuidado ao aplicar a técnica ou recomendá-la, em relação aos

pacientes com AVE houve resultados positivos, mas há pouca quantidade de artigos sobre o

assunto, a Terapia do Espelho pode ser feita através de várias formas usando a neurociência

como um espelho plano, um telescópio astronômico e dois sistemas de reflexão de prisma ou

a caixa de espelho, Ferreira et al. (2012) concluiu que o sistema de prisma é mais fácil de se

fazer. Na busca de saber o mecanismo fisiológico da Terapia do Espelho o estudo de Garry et

al. (2005) vem analizar a afirmação, que a excitabilidade do cortéx motor primário (M1) é

modulada por ambos os movimentos dos membros ipsilaterais e observação passiva de

movimentos do membro contralateral. Uma interação desses efeitos dentro do cortéx motor

primário pode ser responsável por pesquisas recentes sugerindo melhor recuperação funcional

do braço prejudicado após o AVE, visualizando um reflexo dos movimentos do braço intacto

sobreposto ao braço prejudicado. Esta hipotese foi testada no presente estudo, o uso de

Estimulação Transcraniana Magnética (TMS) em oito individuos neurologicamente

saudaveis, a excitabilidade do cortéx motor ipsilateral, o movimento da mão unilateral foi

medida enquanto individuos realizaram movimento de oposição entre o dedo indicador e o

polegar unilateralmente. Condição Ativa (vendo o lado ativo), Condição Central (vendo o

lado lesionado), Condição Espelho (vendo o reflexo da mão ativa em um espelho orientada no

plano mediano-sagital) e a Condição de Repouso com as duas mãos em repouso, a

excitabilidade do cortéx motor primário ipsilateral a um movimento da mão unilateral é

facilitado pela visualização de um reflexo no espelho da mão em movimento. Esta descoberta

neurofisiológica apóia a aplicação da Terapia do Espelho na reabilitação do AVE.

O estudo de Michielsen et al. (2012) investigou a base neuronal da Terapia Espelho em

pacientes com AVE. Vinte e dois pacientes com AVE participaram deste estudo, foi usado a

Ressonância Magnética (FMRI) para investigar padrões de ativação neuronal, nos

experimentos unimanuais, os pacientes moveram sua mão afetada, seja observando

diretamente (condição sem espelho) ou ao observar seu reflexo no espelho (condição

espelho). No experimento bimanual, os pacientes moveram ambas as mãos, ou a observar a

mão afetada diretamente (condição sem espelho) ou ao observar o reflexo no espelho do lado

não afetado no lugar da mão afetada (condição espelho). Uma análise de dois fatores

movimento (atividade versus repouso) e espelho (espelho versus sem espelho) como fatores

principais foram realizados para avaliar atividade neuronal resultante da ilusão do espelho.

Neste estudo foi demonstrado que durante o movimento bimanual a ilusão espelho aumenta a

atividade no Precuneus áreas associadas com a consciência de si mesmo e atenção espacial,

aumentando a consciência do membro afetado, a ilusão espelho pode deduzir não uso

aprendido. Diferente de Garry et al. (2005) não foi encontrado nenhum diferencial sobre a

atividade neuronal da ilusão do espelho durante os movimentos unimanuais nem foram

encontrados evidências de aumentar a atividade em áreas motoras. Aumentando a consciência

do membro afetado, possivelmente devido à incompatibilidade entre ação e a observação, a

ilusão espelho aprende a reduzir a não utilização.

Em outro estudo de Micheielsen et al., (2012) se propôs a avaliar os efeitos clinicos, a

reorganização cortical da Terapia do Espelho em pacientes com AVE crônico com moderada

paresia na extremidade superior. A pesquisa contou com 40 participantes com AVE crônicos

foram aleatoriamente designados 20 pacientes para o grupo espelho e 20 pacientes para o

grupo controle em um programa de tratamento de 6 semanas. Ambos os grupos realizaram o

tratamento uma vez por semana sob a supervisão de um fisioterapeuta no setor de reabilitação

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e tambem praticado em casa uma hora por dia, cinco vezes por semana. A força de aderência,

espasticidade, dor, destreza e qualidade de vida após seis meses foram avaliados pela escala

de Fugl-Meyer (FMA), mudanças nos padrões de ativação neural foram avaliados com a

Ressonância Magnética Funcional (FMRI) no início do estudo e após o tratamento no grupo

espelho, não houve alterações nas outras medidas de resultado. Os resultados da Ressonãncia

Magnética (FMRI) mostraram o memo que Garry at al. (2005) concluiu, que há uma mudança

no equilíbrio de ativação do cortéx motor primário em direção ao hemisfério afetado somente

no grupo espelho. Houve eficácia para a Terapia do Espelho em pacientes com AVE crônico e

é o primeiro a associar a Terapia do Espelho com a reorganização cortical. A revisão de

literatura de Ramachandran et al. (2009), discute a maneira pela qual restauramos a

congruência entre a visão aprendida em pacientes com AVE, a explicação pode ser a dos

neurônios espelhos encontrados nos lobos frontais, bem como nos lobos parietais, estas áreas

são ricas em neurõnios de comando motor cada um que dispara para produzir uma sequência

de contrações musculares, as quais produzem movimento hábil. Os neurônios espelhos

envolvem necessariamente interações entre várias modalidades: visão, comandos motores,

propriocepção isso sugere que estão envolvidos na eficácia da Terapia do Espelho no AVE, a

lesão nem sempre é completa, pode haver um resíduo de neurônios espelho que sobrevivem

mas estão inativos ou cuja a atividade é inibida, a Terapia do Espelho vai estimular estes

neurônios. Do ponto de vista clínico os artigos revisados por Ramachandram et al., (2009)

sugerem que a Terapia do Espelho pode acelerar a recuperação da função de pacientes com

AVE. Em nível teórico, os resultados têm uma relevância mais ampla para a nossa

compreenção da função normal e anormal do cérebro. A antiga visão da função cerebral do

modo padrão do século XX da neurologia é a noção de que o cérebro consiste em partes

autonômas altamente especializados que interage muito pouco ou nada, distúrbios

neurológicos neste ponto de vista resultam em lesão relativamente permanente irreversível

para uns, o que explicaria não só a espasticidade dos sinais e déficits mas também porque que

normalmente há tão pouco recuperação da função após lesão ao cérebro. As novas pesquisas

sugerem rever o ponto de vista hierárquico do cérebro e substituí-la por uma nova visão mais

dinâmica do cérebro. Em vez de considerar partes cerebrais autonômas, devemos considerá-

las em um estado de equilíbrio dinâmico com o outro e com o meio ambiente, com conexões

sendo constantemente formadas e reformadas em resposta à evolução das necessidades

ambientais. Disfunção neurológica, pelo menos em alguns casos, pode ser causada não tanto

por destruição de um módulo, mas por uma mudança no equilibrio. Se assim for, talvez o

ponto de equilibrio pode ser restaurado ao seu estado normal, usando procedimentos não

invasivos relativamente simples.

Pesquisas realizadas por Michielsen et al. (2011), Siitbeyaz et al. (2007), Pereira et al. (2013),

Yavuzer et al. (2008), Dohle et al. (2008), Thieme et al. (2012) e Souza et al. (2011)

mostraram a eficácia da Terapia do Espelho em relação a melhora da sensibilidade,

hemiplegia e aprendizagem motora com issso consequentemente a funcionalidade do membro

afetado. Em pesquisa realizada por Michielsen et al. (2012) avaliou os efeitos a curto prazo de

pacientes com AVE submetidos a Terapia do Espelho em uma tarefa de alcançar nas

diferenças de paradigmas de formação unilateral e bimanuais com e sem o uso de espelho. No

estudo foram incluídos 93 pacientes com AVE e pós-AVE de pelo menos seis meses,

participantes foram instruidos a realizar uma tarefa de alcançar o mais rápido que pudessem,

tiveram que mover seu dedo indicador de um alvo localizado junto a sua cadeira em direção a

um alvo localizado em frente a eles. Todos pacientes começaram com a realização da tarefa

de alcançar com seu lado parético e com controle visual direto. Os pacientes foram

distribuídos aleatoriamente em um dos cinco grupos experimentais: o desenvolvimento de

tarefas com o braço parético com vista direta, o desenvolvimento de tarefas com o braço não

parético e sem espelho, tarefa com o espelho braço não parético reflexo no espelho, o

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desempenho da tarefa com os dois lados e com uma tela transparente não impedindo o

controle visual do parético, o desempenho de tarefas com ambos os lados com espelho reflexo

do braço não parético. Achados do tempo de realização do exercício indicam que os grupos

melhoraram significativamente após os exercícios de alcance, as melhorias mais significativas

em relação ao tempo de movimento se deu no grupo parético sem espelho e o grupo espelho

que trabalhava o braço não parético, ambas as condições bimanuais não apresentaram

diferença significativa. O estudo confirmou que o uso de um espelho de reflexão pode facilitar

a aprendizagem motora. No estudo randomizado controlado de Dohle et al. (2008) avaliou-se

o efeito da Terapia do Espelho na recuperação de hemiparesia grave logo após AVE. Trinta e

seis participantes com hemiparesia grave devido a um primeiro AVE isquêmico na artéria

cerebral média com até oito semanas de pós AVE. Eles completaram um protocolo de seis

semanas de tratamento adicional (vinte minutos por dia, cinco dias por semana), com

atribuição aleatória para Terapia do Espelho ou a terapia controle equivalente. No subgrupo

de vinte e cinco pacientes com plegia distal no início da Terapia do Espelho recuperaram

função mais rápido do que os pacientes controle, além disso, em todos os pacientes a Terapia

do Espelho melhorou a recuperação da sensibilidade superficial, estimulou a recuperação da

heminegligência. A Terapia do Espelho logo após o AVE é um método promissor para

melhorar os defícits sensoriais e de atenção, proporcionando também a recuperação motora

em um membro plégico. O trabalho randomizado controlado de Siitbeyaz et al. (2007) avalia

os efeitos da Terapia do Espelho usando o treinamento imaginética motora em recuperação

motora dos membros inferiores e da função motora de pacientes com AVE subagudo. Um

total de 40 pacientes com AVE, todos dentro de 12 meses após o AVE e sem dorsiflexão

volutiva do tornozelo 20 pacientes foram submetidos a 30 minutos por dia à Terapia do

Espelho, que consistia em movimento de dorsiflexão do tornozelo não parético e 20 pacientes

realizaram terapia placebo, além de um programa de reabilitação convencional de AVE

aplicados aos 40 pacientes 5 dias por semana, de 2 à 5 horas por dia durante 4 semanas. A

Terapia do Espelho combinado com um programa de reabilitação de AVE convencional

aumentou a recuperação motora dos membros inferiores e do funcionamento motor em

pacientes com AVE subagudo. O estudo randomizado controlado de Yavuzen et al. (2008)

avaliou os efeitos da Terapia do Espelho sobre a recuperação motora da extremidade superior,

espasticidade e funcionamento relacionado com a mão de pacientes com AVE subagudo, um

tratamento de 4 semanas de experiência com o acompanhamento de seis meses, um total de

40 pacientes com AVE todos com mais ou menos 12 meses após o AVE, 20 pacientes no

grupo de Terapia do Espelho e 20 pacientes de grupo controle, o grupo espelho fez 30

minutos de Terapia de Espelho por dia consistindo em flexão e extensão de punho e dedos

além de programa convencional de reabilitação de AVE, 5 dias por semana, o grupo controle

praticou só o tratamento convencional de reabilitação de AVE. Os grupos foram avaliados

em relação ao estágio de recuperação através da escala de Brunnstrom motor, espasticidade e

funcionalidade da mão (foram medidos pela FIM). A pontuação da escala de Brunnstrom e

FIM (Escala de Independencia Funcional) se mostrram melhores no grupo espelho do que no

grupo contole. Em seu estudo de caso Pereira et al. (2013) avaliou uma paciente com

hemiparesia espática na fase crônica (84 meses de lesão), efetuou um protocolo de exercicios

de simuladores das AVD’s, as atividades que incluiam pronação-supinação, cortar pedaços

de massa de modelar com garfo e faca, virar dominós etc., observou melhora na coordenação

motora destreza manual, melhora no sistema sensoriomotor, precisão dos movimentos e a

velocidade do movimento do membro superior, atribuindo a realização do movimento no

espelho constantemente a ativação da plasticidade neural, o autor destaca que ainda não estar

claro o mecanismo fisiológico da terapia do espelho. Thieme et al. (2012) realizou uma

revisão sistemática sobe a eficácia da Terapia do Espelho para melhorar a função motora,

atividades da vida diária (AVD’s), dor e negligência visuo-espacial em pacientes após AVE,

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os autores deduziram que a Terapia do Espelho poderia ser aplicada, pelo menos, como uma

intervenção adicional na reabilitação de pacientes após o AVE. Além disso, a Terapia de

Espelho pode melhorar as atividades de vida diária (AVD’s) mas ressaltam que os resultados

devem ser interpretados com cautela, para pacientes com síndrome de dor regional complexa

devido ao AVE, a Terapia do Espelho parece ser uma intervenção eficaz, tanto para melhorar

a função motora e a redução da dor, os autores sugerem que futuros estudos devem buscar um

protocolo para técnica. Souza et al. (2011) pesquisou a recuperação motora e funcional da

mão após o AVE com a Técnica de Mirror Visual Feedback (Terapia do Espelho),

participaram desta pesquisa 6 pacientes, três do sexo masculino e três do sexo feminino, cinco

pacientes tiveram AVE isquêmico e um hemorrágico, quatro pacientes tiveram lesionado o

hemisfério direito e dois o esquerdo. Para a avaliação foi utilizadas a escala de Medida de

Inidependência Funcional (FIM) que avalia a independência das atividades de vida diária, a

função motora foi avaliada do Protocolo de Desempenho Físico de Fugl-Meyer e o Wolf

Motor Function Test (WMFT) avaliou as habilidades motoras. O tratamento foi realizado por

dez sessões, duas vezes por semana com uma adaptação da caixa de espelho de

Ramachandran, o espelho estava na vertical e perpendicular à mesa, foram realizados

movimentos de prono-supinação do antebraço, flexão dorsal e palmar do punho na sequência

das sessões foram acrescidos os movimentos de flexão e extensão de dedos e pinça, o paciente

realizava estes movimentos com a mão não afetada olhando para o espelho com duas séries de

cinco minutos cada. Os resultados foram animadores a FIM aumentou de 30+/- 4 antes do

tratamento para 35+/-3 depois do tratamento, a função motora (PDFFM) melhorou de 26+/-17

para 36+/-13. Dos seis pacientes deste estudo dois voltaram a ter um bom uso funcional da

mão, uma capacidade parcial e três não desenvolveram a funcionalidade da mão, apesar de

todos terem obtido melhora na função motora, pois a melhora da motricidade nem sempre

implica em funcionalidade.

Trevisan et al., (2010) e Figueredo et al., (2009) concordam que associação de outras técnicas

como Terapia de Restrição e Indução do movimento com Terapia do Espelho há uma

melhora nos movimentos e consequentemente na sua funcionalidade, o trabalho de Trevisan

et al., (2010) analisou os efeitos da associação das terapias de imagem motora (Terapia do

Espelho) e de movimento induzido por restrição na funcionalidade do membro superior

hemiparético crônico devido a AVE. A terapia de imagem motora foi realizada com a Terapia

do Espelho em três sessões semanais com trinta a sessenta minutos por quatro semanas, a

imagem motora com prática mental em três sessões semanais de 15 minutos por três semanas

e a terapia de indução ao movimento por restrição do membro superior não afetado foi

realizada por catorze dias, sendo que dez foi de atividade funcional do membro superior

parético em seis horas diárias. O paciente de quarenta e três anos, AVE hemorrágico que

ocorreu a trinta meses, hemiparesia à esquerda com predominância de comprometimento

sensorial, deficit motor, dificuldades de praticar tarefas manuais. Após as terapias serem

aplicadas o paciente mostrou uma redução do tempo de realizações de tarefas, essa melhora

na funcionalidade já foi percebida na aplicação da Terapia do Espelho, na ADM passiva e

ativa aumentaram pós Terapia do Espelho e após indução de movimento tambem percebeu-se

melhora significativa, o tratamento tambem melhorou a preensão palmar significativamente, a

Terapia do Espelho proporcionou a realização de movimentos com o membro superior

afetado como flexão, rotação interna e externa do ombro, supinação, pronação e flexão do

cotovelo e extensão do punho. O objetivo do estudo de Figueredo et al., (2009) analisou a

eficácia da Terapia de Restrição e Indução do Movimento (TRIM) depois da aplicação da

Terapia do Espelho (Mirror Visual Feedback) em um paciente hemiparético crônico na

recuperação motora funcional da mão hemiparética, a Terapia do Espelho proporcionou

melhora motora, mas não foi capaz de possibilitar o retorno da atividade funcional. O estudo

contou com uma paciente com comprometimento de membro superior direito devido a AVE

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há dez anos não apresentava movimento ativo, a técnica da Terapia do Espelho foi aplicada

com o objetivo de reestabelecer os movimentos. Foram utilizados para a avaliação o

Protocolo de Avaliação de Fugl-Meyer, Escala de Ashworth para avaliar o tônus muscular

com valor 1+ e aferiação do tempo para ralização das tarefas, com a Terapia do Espelho a

paciente conseguiu voltar a realizar os movimentos com a mão afetada mas relatou que não

conseguia lembrar de utiliza-la nas Atividades de Vida Diária (AVD`s). Para melhorar a

execução das AVD’s utilizou-se a Terapia de Restrição e Indução do Movimento durante 14

dias seguidos, nos quais usou na mão não afetada uma luva de cozinha em 90% do tempo,

para não poder usa-la induzindo o uso da mão afetada nas AVDs, durante dez dias realizou

exercícios funcionais com a supervisão de um fisioterapeuta. Ao final do tratamento a

paciente foi submetida à nova avaliação apresentando melhora, mas não houve mudança no

tônus segundo a Escala de Ashworth, houve diminuição no tempo de realização das tarefas,

constatou-se a eficácia da TRIM após a aplicação da Terapia do Espelho que proporcionou a

recuperação dos movimentos ativos mas só com a associação de Terapia do Espelho e a

TRIM aconteceu os movimentos funcionais.

A pesquisa de Gaspar et al. (2011) teve o objetivo de produzir um protocolo usando a Terapia

do Espelho com a cinesioterapia convencional comparando a sua eficácia com o uso somente

da cinesioterapia e investigar os efeitos na recuperação funcional dos membros superiores em

pacientes com AVE. Foram avaliados quatro pacientes com AVE na fase aguda com o critério

de haver hemiparesia ou hemiplegia, os pacientes foram separados em dois grupos um grupo

realizou Terapia do Espelho com cinesioterapia e o outro apenas cinesioterapia convencional.

Os movimentos realizados nos exercícios foram flexão e extensão de punho de dedos,

oponências e preensões diversas, esses movimentos foram realizados com a mão acometida

dentro da caixa de espelho. A terapia convencional era baseada em alongamentos, dos

músculos flexores do ombro, cotovelo, punho e dedos e rotadores mediais do ombro

alongados por trinta segundos em cada posição, fortalecimento muscular e mobilização ativa

ou passiva das articulações de ombro, cotovelo, punho e dedos por três séries de dez

repetições. Os pacientes foram avaliados utilizando a Escala de Ashworth modificada

(avaliação de tônus), para avaliação funcional da mão foi usado Jebsen-Taylor adaptado, para

a avaliação das atividades instrumentais de vida diária (AIVD’s) a Escala de Lawton e Brody

adaptada, os resultados destes testes mostraram comprometimento funcional, dificuldades

para realizar atividades, alteração de tônus e nível elevado de dependência das atividades de

vida diária (AVD’s). Os pacientes realizaram vinte sessões da terapia do espelho associada à

terapia convencional, dois pacientes hemiparéticos obtiveram ganho na capacidade funcional

do membro superior, realização das atividades de vida diária, melhora na força,

movimentação e coordenação, houve melhora do membro acometido principalmente quando a

atividade era realizada bilateralmente, os outros dois pacientes eram hemiplégicos, não pôde-

se chegar a uma conclusão se o protocolo proposto é superior a terapias convencionais, pois

as diferênças socioculturais (um dos pacientes era analfabeta) dificultaram uma conclusão

mais precisa, melhoraram a marcha, o membro não acometido mas em relação ao membro

superior plégico não houve evolução, os autores recomendam novos estudos com pacientes

hemiplégicos.

Mol Baby et al. (2014) avaliou a Terapia do Espelho como um complemeto do tratamento

sendo realizada em casa pelo próprio paciente como um recurso sócio-econômico. Neste

estudo experimental 30 pacientes com AVE subagudo entre 40 e 65 anos, de ambos os sexos

com a função da mão prejudicada aleatoriamente alocados em 15 individuos no grupo de

Terapia Espelho e 15 individuos no grupo controle, o grupo controle recebeu terapia com

exercicios convencional, enquanto grupo de Terapia Espelho realizou em casa Terapia do

Espelho com exercicios convencionais. Os pacientes eram monitorados uma vez por semana e

seguia o tratamento em casa por quatro semanas, as funções manuais foram medidas usando

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Chedoke, antes e depois de 4 semanas de intervenção. Nos treinos no espelho o individuo

sentado em uma cadeira perto da mesa em que o espelho foi colocado verticalmente e

aconselhados a colocar ambas as mãos sobre a mesa. O lado envolvido foi colocado atrás do

espelho e a mão não envolvida na frente do espelho, os pacientes foram aconselhados a não

olhar para o lado e se concentrar no espelho, manter o lado afetado sobre a mesa. A prática

consistiu em flexão e extensão do punho, flexão e extensão dos dedos, exercicio de preensão

(indicador-polegar), agarrar objetos, enquanto olhava para o espelho, observando a imagem

de seu lado não afetado, os pacientes foram convidados a fazer os mesmos movimentos na

mão paralizada. A Terapia do Espelho como um programa domiciliar associados com

exercicios convencionais foi significativamente eficaz comparado ao grupo controle, houve

uma evolução das funções da mão em AVE subagudo.

A padronização de um Protocolo Unificado de Terapia do Espelho aplicada a recuperação

funcional do AVE é um fato muito contestado pelos autores dos artigos aqui revisados e

tomando como base esses artigos analisados percebem-se a importância dos seguintes fatores:

padronização do formato do espelho a caixa de espelho de Ramachandram consiste em um

espelho vertical apoiado sagitalmente no meio de uma caixa retangular, os lados superior e

frontal da caixa são removidos, a caixa deve ser posicionada à linha sagital do paciente, foi

recurso usado na maioria dos artigos revisados. Os exercícios devem ser realizados com o

membro sadio, e o paciente olhando seu reflexo no espelho, com seu membro acometido atras

do espelho esse método foi o que obteve maior sucesso, o paciente deve estar consentrado na

tarefa, sem distração olhando seu reflexo no espelho.

O exercicío mais usado para membro inferior (Figura 1 e 2) é dorsiflexão do tornozelo ao

olhar seu reflexo no espelho. p

Fonte:fisioterapeutahumberto.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html

Figua 1- exercícios membros inferiores

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Fonte:passofirme.files.wordpress.com/2012/03/espelho.jpeg

Figura 2 – Espelho utilizado para exercícios de membros inferiores

Para o membro superior (Figura 3) há uma variedade muito maior de exercicíos de flexão e

extençao de punho, flexão e extensão de dedos, pronação-supinação do antebraço e pinça,

ainda exercicíos que visem as AVD’s (atividades de vida diária) realizados com a membro

sádio olhando a imagem no espelho com seu membro acometido encoberto pelo espelho,

destaca-se que deve associar a Terapia do Espelho com fisioterpia convencional, o paciente

deve estar consentrado na tarefa, sem distração olhando o espelho. Os exercicíos devem ser

praticados em uma média de vinte minutos por dia três vezes por semana em uma clínica ou

consultório, deve-se recomendar ao paciente que faça os exercicío também em casa com a

caixa de espelho de Ramachandram. O paciente deve ser avaliado por escalas antes e depois

do tratamento para determinar sua evolução, as escalas mais utilizadas nos artigos revisados

foram: Escala de Fugl-Meyer que avalia a recuperação do paciente hemiplégico (função

motora, sensibilidade, equilíbrio, amplitude de movimento, coordenação e atividade reflexa),

Escala de Brunnstrom motor (avalia o movimento) e FIM.

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Fonte: www.scielo.com.br/scielo.php?pid=S0103-73312013000100010&script=sci_arttex#f04

Figura 3 – Terapia do Espelho para membros superiores

4. Conclusão A Terapia do Espelho é um achado que tem suscitado muito interesse nos ultimos anos,

fornece um mecanismo baseado na observação da ação, gera muita polêmica com os seus

mecanismos fisiológicos ainda sem explicações precisas, ao proporcionar uma recuperação do

dano cerebral, ao possibilitar a neuroplasticidade. Mesmo com exames de Ressonância

Magnética Funcional em várias pesquisas as dúvidas ainda perduram sobre o mecanismo

fisiológico, as estruturas anatômicas que são ativadas na aplicação da Terapia do Espelho. A

eficácia da terapia aplicada ao AVE é mostrado pela melhora da sensibilidade, hemiplegia e

funcionalidade do membro afetado, a técnica de Terapia do Espelho associada a outro tipo de

terapia como Terapia de Restição e Indução do movimento mostram também serem eficazes

para obter a funcionalidade perdida pelo AVE. A associação da Terapia do Espelho com a

Cinesioterapia convencional também mostrou-se com sucesso, o uso como um recurso

econòmico tem sua eficácia, estudos mostraram que a técnica pode ser desempenhada em

casa pelos pacientes com segurança desde que sejam orientados por um profissional

fisioterapeuta, é importante que os pacientes tenham a cognição preservada para se obter

sucesso na terapia. Um Protocolo Unificado da técnica voltada para o AVE se faz necessário

para melhorar sua performance, esse protocolo deve-se valer de eliminar certas dúvidas como

o reflexo no espelho deve ser do membro sádio e não do membro acometido, começar com

exercícios simples como de flexão e extensão e ir aumentando sua complexidade como

exercicíos de AVD’s. Pode se destacar a importância de novos estudos sobre esta técnica que

desafia com sua simplicidade o ponto de vista hierárquico modular do cérebro, possibilitando

uma visão de interação do organismo com o meio ambiente, conexões as quais são formadas e

reformadas assim proporcionando a volta da funcionalidade para pacients com AVE.

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