recuperaÇÃo de empresas e funÇÃo social

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO DISCIPLINA DE FALENCIAS E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS Antonio Luiz Garcia Junior (Manhã) RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL: UMA VISÃO DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO SOB O PRISMA NEOCOSTITUCIONAL DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

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Page 1: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁFACULDADE DE DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADODISCIPLINA DE FALENCIAS E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

Antonio Luiz Garcia Junior(Manhã)

RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL:UMA VISÃO DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO SOB O PRISMA

NEOCOSTITUCIONAL DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

Fortaleza/CE2010

Page 2: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Antonio Luiz Garcia Junior(Manhã)

RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL:UMA VISÃO DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO SOB O PRISMA

NEOCOSTITUCIONAL DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

Trabalho entregue à UFC como parte da nota da disciplina de Falência e Recuperação de Empresas no semestre letivo de 2010.2

Fortaleza/CE2010

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Page 3: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

INDICE

1.INTRODUÇÃO........................................................................................................................4

2. O PAPEL DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS NO ESTADO CONTEMPORÂNEO.....5

3. ASPECTOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.............................................................................................................................................9

3.1. Fundamentos e Princípios que regem a Atividade Econômica..............................11

3.2. Diferenças entre “Empresa” e “Sociedade Empresarial”.......................................13

4. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA.....................................................................................14

4.1. Conceito de Função Social da Empresa..................................................................15

4.2. O princípio da Função Social da Empresa no âmbito Constitucional ...................16

4.3. O papel da Propriedade Privada e da Atividade Empresarial

para a efetivação da Função Social da Empresa............................................................18

4.4. Conclusões acerca da Função Social das Empresas...............................................20

5. ASPECTOS GERAIS DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS..........................................21

5.1. Conceitos de Falência trazidos pela Doutrina....................................................... 23

5.2. Do nosso próprio conceito de Falência...................................................................24

5.3. Conceitos de Recuperação de Empresas trazidos pela Doutrina............................25

5.4. Do nosso próprio conceito de Recuperação de Empresas......................................27

6. REQUSITOS PARA A CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL........................27

7. PRINCIPAIS OBJETIVOS DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS SOB O PRISMA DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA........................................................................................28

8. PRINCIPAIS EFEITOS DA FUNDAMENTAÇÃO NA FUNÇÃO SOCIAL: A RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS COMO DIREITO E/OU OBRIGAÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESARIAL................................................................................................30

8.1. Da Recuperação como Direito do empresário........................................................31

8.2. Da Recuperação como Obrigação do empresário...................................................32

8.3. Conclusões acerca da visão da Recuperação como Direito

2

Page 4: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

e/ou Obrigação...............................................................................................................34

9. CONCLUSÃO.......................................................................................................................36

10. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................38

3

Page 5: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

1. INTRODUÇÃO

O estudo do Direito Falimentar requer uma visão global de todos os ramos do direito,

visto que se encontra intimamente ligado à questões cíveis, constitucionais, penais,

processuais e até de certo modo tributárias, dentre outras.

Exemplo disso é a análise de um instituto criado pela nova legislação falimentar no

país, a lei 11.101/2005, qual seja, a figura da Recuperação Judicial e Extrajudicial de

Empresas. Tal instituto, para que atinja seu fim precípuo, deve ser visto sob o prisma

neoconstitucional que se nos afigura desde a promulgação da atual Carta Magna, em 1988,

mais especificamente no que diz respeito à questão da observância da Função Social das

empresas.

A nova legislação foi elaborada diante do desgaste da antiga regulamentação, que,

com a figura da concordata, não conseguiu atingir o objetivo de reerguer as empresas em

crise, tendo em vista a ineficiência do antigo instituto. Assim, a lei 11.101/05, ao criar a figura

da Recuperação Judicial, buscou efetivar o soerguimento das instituições empresariais em

crise, com o objetivo mediato de garantir o cumprimento da Função Social das empresas.

Todavia, essa visão da fundamentação do instituto nos deixa algumas indagações,

como: a Recuperação é um direito ou uma obrigação? Até que ponto o Estado pode/deve

intervir para garantir a observação da Função Social? No que se baseia essa observância?

Essas e outras observações que poderão surgir ao longo de nosso estudo são as razões que nos

levam a analisar, de maneira mais pormenorizada, a relação existente entre a figura da Função

Social, trazida pela própria Constituição de 1988, e o instituto da Recuperação, introduzido no

ordenamento pátrio pela Lei 11.101/2005.

Assim, através de uma analise dos dois institutos ( Função Social e Recuperação de

Empresas), buscaremos entender melhor a relação entre ambos, de forma que possamos, após

o estudo compreender a fundamentação da Recuperação e a necessidade de o Estado, apensar

de Neoliberal, garantir o cumprimento efetivo da função social das empresas.

4

Page 6: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

2. O PAPEL DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS NO ESTADO

CONTEMPORÂNEO

Antes de adentrarmos realmente no cerne da questão que nos levou a elaborar este

trabalho, cabe destacar e ilustrar a importância que as sociedades empresárias imprimem

hodiernamente no Estado, demonstrando qual o verdadeiro papel por elas desempenhando.

Na sociedade em que vivemos hoje, ou seja, dentro do âmbito neoliberalista

vivenciado pelo mundo após o fim da Guerra Fria em meados do fim dos anos 80, as

sociedades empresárias vem se apresentando como as principais propulsoras da atividade

econômica mundial.

Algumas multinacionais, por exemplo, chegam a ocupar papeis principais nos

quesitos de geração de empregos, controle dos meios de produção e circulação de capital, bens

e serviços. Para o Estado, isso significa ainda que tais instituições vêm sendo também as

principais fontes da renda fiscal, o que nos mostra a importância da manutenção da “saúde”

dessas empresas e das atividades por ela desempenhadas.

Deste modo, podemos perceber o quão indispensáveis as “empresas” se nos

apresentam no mundo hodierno, tendo em vista que são detentoras dos bens de produção e

serviço que acarretam inclusive na evolução da humanidade através de pesquisas, além de

gerar, de certa forma, uma maior integração social, visto que, ao gerar uma grande massa de

empregos, garante a oportunidade de diminuir-se as desigualdades sociais mediante o trabalho

e o respeito da pessoa humana. À isso, como veremos mais adiante, chamamos de Função

Social da Empresa.

No que se refere ao papel salutar das empresas na sociedade contemporânea, assim

nos assevera sabiamente GOMES ao nos trazer, em trabalho sobre o assunto, que são as

empresas e suas atividades desenvolvidas as principais responsáveis pelo desenvolvimento da

sociedade em que vivemos, servindo ainda de termômetro para medirmos a salubridade do

meio econômico.

Desde a Revolução Industrial em meados do século XIX até o advento da era global pós-moderna que hoje se vivencia, a sociedade empresária ganhou contornos de instituição central no cenário político-econômico. Determinadas corporações, ditas

5

Page 7: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

transnacionais, possuem atualmente maior influência política e econômica que vários Estados do mundo.

A atividade empresária cumpre relevante papel social e econômico, uma vez que produz bens e serviços importantes para o desenvolvimento humano, gera arrecadação tributária para os Estados além de empregos diretos e indiretos em prol dos trabalhadores. É também fundamental no equilíbrio das contas públicas e na balança comercial1.

Mais adiante, a mesma autora afirma, ao tratar da regulamentação do assunto pela

Carta Magna do Brasil que

desse modo, verifica-se que a Constituição confere à iniciativa empresarial importante papel na sociedade, condizente com seu poder econômico e político. A empresa, enquanto atividade de organização dos fatores de produção ocupa no meio social, um papel muito maior do que gerar e circular riquezas, ela atua como mecanismo de sustentação e transformação da ordem social.2.

De maneira complementar ao pensamento acima desenvolvido, cabe ainda trazer ao

debate as sábias palavras do doutrinador COMPARATO, que, em seu estudo, afirma

se se quiser indicar uma instituição que, pela sua influência, dinamismo e poder de transformação, sirva de elemento explicativo e definidor da civilização contemporânea, a escolha é indubitável: essa instituição é a empresa. É dela que depende, diretamente, a subsistência da maior parte da população ativa desse país, pela organização do trabalho assalariado. A massa salarial já equivale, no Brasil, a 60% da renda nacional3.

Assim vemos que, desde a Revolução Industrial, a atividade empresária tem sido a

grande “engrenagem” que vem movimentando a evolução da sociedade, seja, como dito

alhures, pela detenção dos meios de produção, pela circulação de capital, bens e serviços,

geração de empregos ou fonte fiscal do próprio Estado. Inclusive, tal “importância” das

sociedade empresárias desde a referida Revolução, tem sido apontada como motivos mediatos

para a deflagração de Guerras, incluindo-se ai as duas Grandes Guerras Mundiais.

1 GOMES, Larissa Silva. “Função Social e Recuperação de Empresas: uma abordagem sob o prisma da ordem econômica constitucional e da análise econômica do Direito.” Texto extraído do sitio eletrônico Jus Navigandi (HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=15040).2 Op. Cit., GOMES, p. 1.3 COMPARATO, Fábio Konder. Direito empresarial: estudos e pareceres. São Paulo: Saraiva, 1995, p.3.

6

Page 8: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

O fato é que, sendo a atividade por elas desenvolvida tão primordial para a

sobrevivência da economia estatal hodierna, em contrapartida, a saúde e manutenção de tais

instituições é de salutar importância para o Estado, o que, no direito contemporâneo gerou o

efeito que hoje estudamos nesse trabalho, qual seja, a necessidade de o ente estatal interferir

na atividade econômica – que, como veremos mais adiante, inicialmente é deixada sob a

responsabilidade do setor privado –, através da atividade jurisdicional, com a finalidade de

garantir a continuidade do cumprimento da Função Social que a instituição vinha

desempenhando, com o objetivo mediato de garantir a saúde econômica e financeira do

Estado.

Neste ponto, a titulo de corroborar nosso entendimento, cabe trazer à baila o sábio

ensinamento de CANHA e CRESQUI que, fazendo uma análise do meio em que as

instituições empresariais estão inseridas, lêem de forma maestral os riscos da atividade

desenvolvida (princípio da austeridade) e a importância do papel desenvolvido pelas empresas

no âmbito da Função Social. Senão vejamos:

No mercado econômico, seja em épocas de crise ou não, algumas sociedades empresárias têm dificuldade no desenvolvimento das suas atividades e no cumprimento dos compromissos e, para tanto, buscam soluções que viabilizam a continuidade dos negócios. Destaca-se que a sociedade empresária está inserida no contexto econômico e, em face disso, deve atender ao princípio da função social, adequando a atividade econômica com outros campos afins, ou seja, preocupando-se com os impactos gerados ao meio ambiente, aos empregados, aos concorrentes e também os reflexos para a comunidade. Ao perceber que a sociedade empresária não é uma entidade isolada, pois o seu prejuízo poderá ser repassado para a população, que na condição de consumidor, sofre a influência nos preços, é necessário observá-la de forma sistêmica. 4.

Essa observação de forma sistêmica é que traz a obrigação Estatal de regulamentar

essas situações de crise e fornecer meios às sociedades empresárias de sobreviverem à essa

situação calamitosa, que, por ventura, poderia trazer graves prejuízo não apenas ao setor

privado, mas à todo o sistema em que se encontra inserida a empresa, qual seja, a comunidade

que dela depende e a circunda.

Nesse sentido, OLIVEIRA firma entendimento de que

4 CANHA, Lucas Alves, e CRESQUI, Wesley Luiz Vidigal. “A função social na recuperação judicial da empresa”. Texto extraído do sitio eletrônico “Paraná Online” (http://www.parana-online.com.br/colunistas/226/76984/?postagem=A+FUNCAO+SOCIAL+NA+RECUPERACAO+JUDICIAL+DA+EMPRESA).

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Page 9: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

O processo de recuperação de empresas não é o objeto de preocupação apenas de executivos e administradores. Em virtude dos reflexos que a eventual falência de uma empresa pode acarretar ao ambiente em que ela está inserida, quase todos os países buscam criar e aperfeiçoar legislações específicas. 5.

Em conseqüência a este entendimento, que ao nosso ver demonstra perfeitamente a

importância da atividade desempenhada pelas instituições empresárias na sociedade em que se

encontram inseridas, é que podemos entender o porque de as legislações espalhadas pelo

mundo estarem trazendo em seu conteúdo cada vez mais preocupação com a fiscalização de

atos praticados por empresários (no afã de policiar possíveis atividades ilegais, sonegações e

abusos), formas de garantir que a atividade desenvolvida por essas instituições empresariais

cumpram com seu dever cívico ao realmente exercerem e desenvolverem sua Função Social,

bem como meios de sanar o meio econômico e recuperar empresas que se encontrem em

situações de crise.

Exemplo dessa regulamentação é o fato de a própria Constituição Federal do Brasil,

de 1988, trazer em seu bojo diretrizes econômicas que, apesar de deixar o exercício da

atividade econômica primordialmente nas mãos da “iniciativa privada”, seguindo o

Neoliberalismo dominante no mundo contemporâneo, abre espaço para que o Estado, como

fiscal do fiel cumprimento das diretrizes por ele mesmo estabelecidas, possa atuar como

sanador de possíveis abusos e inclusive interferir em casa de crises. Temos que toda essa

precoupação Estatal em ver a atividade empresarial, e em conseqüência a atividade

econômica, saudável se dá primordialmente em ração da grande função desempenhada por

essas instituições na sociedade em que estão inseridas, posto que, como dito acima, deve-se

observar o quadro da situação empresarial não de forma isolada, mas de maneira sistêmica a

fim de se perceber a importância das empresas para o meio em que se encontram.

Da mesma forma o legislador ordinário, buscando uma efetividade maior na busca

pela salvaguarda da Função Social das empresas em crise, diante da ineficiência explícita da

antiga figura da Concordata, com o advento da Lei 11.101/2005 (Nova Lei de Falências),

introduziu no ordenamento jurídico brasileiro o instituto da Recuperação de Empresas, com a

finalidade precípua de resgatar de forma mais enfática o soerguimento de sociedade

5 OLIVEIRA, Celso Marcelo. “Comentários à Nova Lei de Falências”. 1ª ed. São Paulo, IOB Thonson Editora.

8

Page 10: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

empresarial em crise, com o conseqüente resgate de sua função na sociedade em que se

encontra inserida.

Desta forma, ao ver de PRETTO NETO, “o legislador percebeu a necessidade de dar

tratamento diferenciado às empresas com dificuldades. Essa lei preocupa-se não somente com

o interesse dos credores, mas com a sociedade em geral que depende da atividade

empresarial6”, o que demonstra ainda mais a preocupação com a Função Social desenvolvida

pelo empresário em sua atividade econômica.

Assim sendo, passemos agora para uma analise mais legalista no que se refere à

regulamentação da atividade econômica e da Função Social desempenhada por ela, tratando

do assunto principalmente no âmbito axiológico e constitucional, trazendo o presente estudo,

através da analise pormenorizada da regulamentação do assunto pela nossa Constituição, para

o ambiente jurídico-econômico nacional.

3. ASPECTOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988

Muito embora não seja o objetivo primordial de nosso estudo, uma análise da

regulamentação da atividade econômica pela Constituição Federal se faz salutar e primordial

no momento em que através de suas diretrizes, poderemos chegar ao fundamento da Função

Social, e, conseqüentemente, ao da Recuperação de Empresas, que é nosso objetivo neste

trabalho. Assim vejamos:

Nossa Carta Magna disciplina o tema da Atividade Econômica de forma direta e

contundente, dedicando assim um Titulo para a Ordem Econômica (TITULO VII – DA

ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA) e um capítulo exclusivo para as diretrizes que

regem e norteiam a atividade econômica no país (CAPITULO I – DOS PRINCIPIOS

GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA).

Deste modo, nos arts. 170 e seguintes regulamentam exclusivamente aspectos da

ordem econômica e financeira que devem ser seguidos pelos empresários e pelo próprio

6 PRETTO NETO, Dary. “Função Social, preservação da empresa e viabilidade econômica na Recuperação de Empresas.” Texto retirado do sitio eletrônico “Web Artigos” (http://www.webartigos.com/articles/45063/1/FUNCAO-SOCIAL-PRESERVACAO-DA-EMPRESA-E-VIABILIDADE-ECONOMICA-NA-RECUPERACAO-DE-EMPRESAS/pagina1.html)

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Page 11: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Estado no desenvolvimento da atividade empresarial. Trata-se da “Constituição Econômica”

contida em nossa Carta Magna de 1988.

Segundo ALBINO DE SOUZA, é importante se fazer a distinção entre “Constituição

Econômica” e “Ordem Econômica”. Senão vejamos:

A presença de temas econômicos, quer esparsos em artigos isolados por todo o texto das Constituições, quer localizados em um de seus "títulos" ou “capítulos”, vem sendo denominada "Constituição Econômica". Significa, portanto, que o assunto econômico assume sentido jurídico, ou se "juridiciza", em grau constitucional. Decorre desse fato a sua institucionalização pela integração na "Ordem Jurídica", configurando a "Ordem Jurídico-Econômica"7.

Acerca do mesmo tema, cabe ainda destacar as sábias palavras de FONSECA ao

asseverar que

a Constituição Econômica se corporifica no modo pelo qual o direito pretende relacionar-se com a economia, a forma pela qual o jurídico entra em interação com o econômico. Assim, "constituição política e constituição econômica se interrimplicam e se integram”.8

Assim percebemos que Constituição Econômica é o sistema de normas que regulam

o setor econômico no ordenamento jurídico constitucional do Estado. Deste modo,

percebemos que a Constituição de 88 integra, em seu texto, sob a denominação de Ordem

Econômica os assuntos que se relacionam ao desempenho da atividade empresarial, seja pelo

Estado, seja pela iniciativa privada, que, como dito antes, detém a prioridade para o exercício

de tal atividade.

3.1. Fundamentos e Princípios que regem a Atividade Econômica

A esta altura, cabe analisar o dispositivo legal que trata do assunto. Vejamos:

7 SOUZA, Washington Peluso Albino. Primeiras Linhas de Direito Econômico. 4. ed. São Paulo: LTr, 1999. p.218.8 FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 89.

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Page 12: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. 

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.9.

A partir da análise do dispositivo acima transcrito, percebemos que os objetivos e

princípios que devem reger a atividade empresarial são praticamente os mesmo que norteiam a

própria atividade estatal como um todo. Assim é que vemos ao notar que a valorização do

trabalho, o respeito à dignidade da pessoa humana e à soberania nacional, a busca pela

redução das desigualdade sociais, a manutenção do meio ambiente, dentre tantos outros

objetivos da própria Republica, por assim dizer, são fundamentos para o exercício da atividade

econômica pelo empresário.

Todavia, ocorre que, ao lado destes “aspectos públicos”, encontramos também

aspectos primordialmente “privados”, como a livre iniciativa, o respeito à propriedade privada

e o livre exercício de atividade econômica, salvo nos casos em lei. Assim, o próprio Estado

delimita as ações da iniciativa privada, ao impor diretrizes públicas bem fortes, mas também

limita bastante seu papel de fiscal ao estipular a observância de aspectos liberais.

Nesse sentido, assevera GOMES que

9 Art. 170 da Constituição da República Federativa do Brasil.

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Page 13: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

a Carta Magna, sob inspiração do neoliberalismo, outorga à iniciativa privada a prioridade para a prática da atividade econômica, consoante o caput dos artigos 170 e 173. Ou seja, a ordem econômica baseia-se na propriedade privada e na livre iniciativa limitando-se o Estado à regulação econômica para corrigir distorções e condutas ilegais10.

Não obstante, apesar dessa limitação, devemos entender que o Estado não só pode,

mas deve intervir em casos de crise econômica ou abuso de poder econômico por parte da

sociedade empresária, a fim de garantir o cumprimento da Função Social da atividade

empresarial desenvolvida, diante principalmente de mais um princípio insculpido inclusive no

caput do art. 170 da CF 88, qual seja, o da justiça social.

Assim, a justiça social se apresenta a nós como predicado da dignidade da pessoa

humana, ao asseverar no já citado caput do art. 170 que “a ordem econômica (...) tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (...)". Assim é que

BASTOS e MARTINS definem a expressão como nos seguintes termos: “A justiça social

consiste na possibilidade de todos contarem com o mínimo para satisfazerem as suas

necessidades fundamentais, tanto físicas quanto espirituais, morais e artísticas11”.

Seguinte com nosso estudo, cabe trazer o pensamento da já citada autora GOMES,

que em seu estudo sobre o tema afira de maneira salutar e pontual que

a Constituição da República prevê também como princípios da ordem econômica a propriedade privada e sua função social, disciplinando-os no art. 170, II e III, respectivamente e, ainda como direitos fundamentais individuais, no art. 5º, XXII e XXIII, na mesma sequência. Esses princípios relacionam-se intrinsecamente, uma vez que a propriedade privada é pressuposto da função social da propriedade. A propriedade que deve exercer função social é a particular ou individual, uma vez que os bens públicos já exercem precípua função coletiva.

Tratando a Carta Magna da propriedade, quer se referir a todas as formas possíveis, seja móvel ou imóvel, propriedade industrial, literária ou artística, propriedade do solo e do subsolo, dos bens de consumo e dos bens de produção, enfim, reporta-se às várias modalidades de propriedades privadas, as quais integram a noção de "propriedade empresarial". Dessa banda, a exegese dos princípios da Constituição Econômica em comento deve ser ampliativa.

Esses dispositivos constitucionais são a fonte normativa direta do princípio da função social da empresa. A principal propriedade privada a que se refere a ordem

10 FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 89.11 BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988, v.7. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 20.

12

Page 14: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

econômica é, indubitavelmente, a propriedade dos bens de produção e do capital produtivo em sentido genérico, os quais compõem a noção jurídica de empresa.12

Assim percebemos que, ao ver da ilustre doutrinadora, a função social a ser

desenvolvida pela sociedade empresária decorreria de todos os fundamentos acima elencados.

Todavia, essa obrigação de exercer uma função dentro da sociedade em que se encontra

inserida derivaria principalmente da Função Social que nasce com a propriedade privada, seja

móvel, imóvel, industrial, literária ou artística, etc.

Desde modo, delimitamos o inicio do aspecto social da função a ser desempenhada

pela empresa. Todavia, antes de nos aprofundarmos no assunto, cabe fazermos uma breve

distinção entre “empresa” e “sociedade empresarial”, a fim de que possamos mais adiante

entender melhor o tema em questão.

3.2. Diferenças entre “Empresa” e “Sociedade Empresarial”

Levando-se em consideração o aspecto jurídico da questão em comento, o termo

“empresa” trata de uma abstração, tendo em vista que não se trata propriamente de sujeito de

direito, posto se tratar de uma atividade econômica, nem de objeto, já que não possui

personalidade jurídica.

Deste modo, se falando em atividade, a “empresa” deve ser “exercida” por um ente,

pessoa natural ou jurídica, com personalidade jurídica própria. Nesse caso, o empresário.

Assim, não se pode confundir os dois termos (“empresa” e “sociedade empresária”), uma vez

que a primeira é a atividade, e a segunda o sujeito de direito que a exerce.

Por fim, cabe trazer à baila os comentários de GOMES acerca do assunto.

As "empresas" em virtude de sua relevante posição no cenário social e pelo poder econômico que detêm, figuram, a par do Estado, como promovedoras do interesse social, na busca da transformação do estado de subdesenvolvimento. Vislumbra-se, dessa forma, que o princípio da função social da empresa encontra-se inserto na Constituição, principalmente na ordem econômica, seja de forma material, depreendido do princípio da propriedade privada e função social da propriedade,

12 Op. Cit., GOMES. p 3.

13

Page 15: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

seja pela interpretação teleológica de outros princípios, de fundamentos e dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.13

O fato é que esta distinção, na verdade, torna-se mais técnica do que prática, visto

que no dia-a-dia é comum confundir-se e misturar-se os dois termos ao tratarmos do assunto,

chamando de “empresa” o ente administrador, principalmente. Assim, esclarecidos quaisquer

problemas terminológicos já apresentados ou futuros, passemos adiante e tratemos da Função

Social da Empresa, enquanto atividade econômica.

4. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

A partir do presente ponto, passaremos a tratar especificamente da Função Social da

empresa, conceituando-a e tratando de suas diretrizes e conseqüências para a sociedade.

Anteriormente, podemos ter abordado o assunto, mas de maneira apenas superficial ao

citarmos sua presença e relevância decorrente de certo tema. Todavia, no presente ponto,

entramos no cerne da primeira parte de nosso trabalho ao analisar referida figura, tão

importante no ordenamento jurídico pátrio e que serve de fundamento precípuo para a

Recuperação de Empresas. Assim, vejamos:

4.1. Conceito de Função Social da Empresa

Como vimos alhures, a Função Social da Empresa decorre principalmente da

propriedade privada. Assim, para termos um entendimento mais claro acerca do instituto em

comento, devemos ampliar a interpretação de outro conceito jurídico: o da propriedade.

13 Op. Cit., GOMES. p 3.

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Page 16: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Isso se faz necessário pelo fato de que a Função Social não se dirige realmente para a

“empresa” (conceito delimitado no último ponto to tópico anterior), mas sim para a riqueza

decorrente da atividade desenvolvida, seu fundo de comércio e seu valor de mercado e valor

na sociedade, principalmente.

De maneira mais clara, deve-se ter em mente que a Função Social não tem por objeto

a empresa por esta ser simplesmente a atividade desenvolvida. O que realmente importa para a

sociedade são os produtos decorrentes dessa atividade, sejam os bens de produção, de

consumo ou de serviços; as riquezas por ela criadas, como a circulação de capital e as

contribuições fiscais adimplidas ao Estado; seus bens móveis e imóveis, cambiais ou não,

marcas, patentes, Konw How’s, etc; o valor de suas ações; e principalmente, o valor

axiológico que a empresa possui dentro da sociedade em que está inserida.

Esse último valor se percebe através do numero de empregos gerados, sejam de

forma direta pela própria empresa, seja de forma indireta, através de inúmeros outros

pequenos mercados que se abrem ao redor e em função da principal atividade desenvolvida;

através de medidas que permitam a pessoa humana a se integrar, trabalhando e crescendo

individual e coletivamente, além de meios que possam buscar a diminuição das desigualdades

sociais; todos esses temas defendidos e resguardados pela própria Constituição de 1988.

Deste modo, de forma maestral, e utilizando-se de todos os fundamentos acima

expostos, o melhor conceito por nós encontrado de Função Social da empresa pertence a já

citada autora GOMES, que em seu trabalho assegura que

função social da empresa é, portanto, princípio jurídico de conteúdo complexo. Conferir função social à empresa significa, em linhas gerais, orientar a atividade empresarial para fins sociais, para objetivos coerentes com o interesse da coletividade. Implica, ademais, a observância de deveres jurídicos positivos14.

Todavia, deve-se ter em mente que, apesar de a empresa dever se dirigir no sentido

da busca pelo social, isso não significa abster-se a percepção de lucro. A necessidade da

observância da Função Social da empresa apenas acarreta que o lucro deva ser precedido de

um prévio “adimplemento” das obrigações Jurídicas assumidas. Nesse sentido, nos fala a

jurista MEZZANOTTI: “o lucro não se legitima por ser mera decorrência da propriedade dos

14 Op. Cit., GOMES. p 4.

15

Page 17: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

bens de produção, mas como prêmio ou incentivo ao regular desenvolvimento da atividade

empresária, segundo as finalidades sociais estabelecidas em lei”15.

Por fim, mas de forma não menos importante ,vale trazer os ensinamentos do

professor COMPARATO, que afirma que

Função, em direito, é o poder de agir sobre a esfera jurídica alheia, no interesse de outrem, jamais em proveito do próprio titular. Algumas vezes, interessados no exercício da função são pessoas indeterminadas e, portanto, não legitimadas a exercer pretensões pessoais e exclusivas contra o titular do poder. É nessas hipóteses, precisamente, que se deve falar em função social ou coletiva. A função social da propriedade não se confunde com as restrições legais ao uso e gozo de bens próprios; em se tratando de bens de produção, o poder-dever do proprietário de dar à coisa uma destinação compatível com o interesse da coletividade transmuda-se, quando tais bens são incorporados a uma exploração empresarial, em poder-dever do titular do controle de dirigir a empresa para a realização dos interesses coletivos.16.

ASSIM SENDO, NO SENTIDO SOCIAL E JURIDICO, MERTON conceitua

função social da empresa como “o conjunto de tarefas, ações, comportamentos e atitudes que

fazem a adaptação e o ajustamento de um dado sistema.17”

4.2. O princípio da Função Social da Empresa no âmbito

Constitucional

Estando inserido no conjunto de fundamentos, princípios e finalidades da

“Constituição Econômica” contida da Constituição de 1988, o principio jurídico da Função

Social das Empresas está regulamento em diversos dispositivos da Carta Magna, como no art.

170, caput e seus incisos (já citados acima), da mesma forma que em outros dispositivos da

Lei Maior.

Como dito acima, a função social da empresa encontra regulamentação

constitucional e respaldo no princípio da função social da propriedade, positivado no já citado

15 MEZZANOTTI, Gabriela. A Disciplina da Empresa: efeitos da autonomia privada e da solidariedade social. Novo Hamburgo: Feevale, 2003, p.38.16 Op. Cit., COMPARATO. p 235.17 Op. Cit., COMPARATO. p 236.

16

Page 18: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

art. 170, III, bem como no art. 5º, XXIII, e no princípio da propriedade privada, disciplinado

no art. 170, II, e art. 5º, XXII, da Lei Máxima.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

(...)18.

Ademais, a Função Social da Empresa se relaciona também com os princípios da

defesa do consumidor (art.170, V), da defesa do meio-ambiente (art.170, VI), da redução das

desigualdades regionais e sociais (art. 170, VII) e à busca do pleno emprego (art.170, VIII),

todos já levados em consideração nos tópicos anteriores.

Deste modo, percebemos de forma mais acentuada como a Função Social decorre da

propriedade privada, principalmente se analisarmos os incisos do art. 5º da CRFB/1988

transcritos acima. Em conseguinte, podemos perceber que a atividade empresarial, por ser

meio de exercício da propriedade, é também meio de efetivação da Função Social da Empresa.

Assim, cabe estudarmos o papel de ambos os institutos (Atividade Empresária e Propriedade)

para a efetivação do fundamento da Função Social.

4.3. O papel da Propriedade Privada e da Atividade Empresarial

para a efetivação da Função Social da Empresa

Para um melhor entendimento, devemos partir do pressuposto de que o principio da

Função Social da Empresa depreende-se da cláusula geral de Função Social da Propriedade.

18 Art. 5º, XXII e XXIII da CRFB.

17

Page 19: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Assim se fala devido ao fato de a Sociedade Empresária não ser nada mais que uma

propriedade privada devidamente organizada, regendo-se por fatores produtivos, visando o

aumento desta propriedade (através do lucro).

Os bens de produção, seja o maquinário, o capital circulante, a sede da empresa, não

mais é do que uma propriedade privada que visa o lucro e o consequente aumento desta

propriedade. Por este motivo falamos alhures que para entender melhor o principio da função

social da empresa, fazia-se necessário ampliar-se o conceito de propriedade privada, pois

entendemos que a Função Social da propriedade aplica-se à empresa, tendo em vista que esta

se trata de uma mera propriedade, se analisado em sentido lato.

Para melhor elucidação e corroboração do aqui exposto, cabe trazer o ensinamento o

ilustre ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, GRAU, que afirma:

A propriedade não constitui uma instituição única, mas o conjunto de várias instituições, relacionadas a diversos tipos de bens. Não podemos manter a ilusão de que à unicidade do termo – aplicado à referência a situações diversas – corresponde a real unidade de um compacto e integro instituto. A propriedade, em verdade, examinada em seus distintos perfis – subjetivo, objetivo, estático e dinâmico – compreende uma conjunto de vários institutos. Temo-la, assim, em inúmeras formas, subjetivas e objetivas, conteúdos normativos diversos sendo desenhados para a aplicação a cada uma delas, o que importa no reconhecimento, pelo direito positivo, da multiplicidade da propriedade19.

Assim, entendemos que, tratar da Função Social da Empresa, “é falar da propriedade

privada dos meios de produção e de uma gama cada vez maior de bens corpóreos e

incorpóreos que excedem a mera destinação e fruição individual do bem20”.

Já no que tange a Atividade Empresaria, temos que esta possui papel fundamental

para a efetivação da função social em comento. Isso porque, segundo assevera mais uma vez

GOMES,

A atribuição de função social à empresa é necessidade cada vez mais atual no contexto do capitalismo. Isso porque esse modelo caracteriza-se pela dinamização na circulação do capital, amparado no incremento tecnológico. A valorização dos "bens de raiz", consubstanciados na propriedade imóvel, o qual perdurou nos últimos séculos, é hoje mitigada por bens incorpóreos como as propriedades

19 GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 273.20 Op. Cit., GOMES, p. 4.

18

Page 20: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

intelectuais e científicas (patentes, direitos autorais), as ações ou os títulos creditícios, que podem agregar ainda mais valor e são facilmente comercializados.21.

Deste modo, a Atividade Empresaria possui papel dominante neste processo, vez que

é principalmente, se não exclusivamente através das “empresas” que respondem pela

circulação de capital no meio globalizado hodierno, através da produção de riquezas que serão

utilizadas para o “consumo social” (criação de empregos, valorização do trabalho e da pessoa

humana, etc.) ou para o aumento da produção, seja através de bens de consumo ou produção.

Para melhor ilustrar e por um ponto final ao assunto, cabe trazer ao estudo o

ensinamento de CHAVES e ROSENVALD:

A alteração de paradigmas é acentuada na moderna noção de empresa. Ela é a propriedade tecnicamente organizada para produção de lucro que não guarda qualquer relação com a propriedade tradicional dos Códigos Civis. Acionistas e sócios não controlam bens materiais, porém capital – valores mobiliários- na forma de títulos, dividendos e ações de grande liquidez e conversíveis em recursos, sem que em qualquer instante se discuta sobre a posse de bens móveis ou imóveis, pois o objeto da propriedade é a fração do capital e não os bens que a compõem. Com o processo de globalização, a empresa assume papel ainda mais decisivo na ordem jurídica contemporânea. Se dela provém a grande maioria dos bens e serviços consumidos, urge, em contrapartida, que a sua função social deva resultar de uma ampliação de sua responsabilidade social, redefinindo e valorizando sua missão perante a coletividade. Essa contribuição social não importa em diminuição de lucros, tampouco em desoneração do Estado sobre as funções que lhe são inerentes. A empresa não pode renunciar à sua finalidade lucrativa, mas é tão responsável quanto o Poder Público em assegurar direitos fundamentais ao indivíduo, por meio de políticas ambientais e culturais e oferta de benefícios diretos e indiretos à sociedade22.

Em resumo, podemos entender que a importância da Propriedade Privada está

no sentido de que, por ser a empresa, com seus meios de produção e demais aspectos,

nada mais que uma ampliação da propriedade da Sociedade Empresarial que visa o

aumento desta mesma propriedade através do lucro, é dela que advém a Função Social

da Empresa propriamente dita. Ou seja, a Função Social da Empresa decorre

diretamente da Função Social da Propriedade Privada.

Já no que se refere à Atividade Empresarial, temos que a atribuição de uma

Função Social à Empresa se dá de forma diretamente ligada ao desenvolvimento desta 21 Op. Cit., GOMES, p. 4. 22 Farias, Cristiano Chaves de; Rosenvald, Nelson. Direitos Reais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 11.

19

Page 21: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

atividade, pois é através dela que, no meio capitalista no qual estamos inseridos hoje em

dia, é que se fará a Justiça Social insculpida como fundamento da Atividade Econômica

pela própria Constituição. Ou seja, é através das políticas de produção, circulação de

capital e geração de riquezas patrimoniais e sociais acima delimitadas é que se atinge a

finalidade de resgatar a solidariedade e se atingir os objetivos contidos na Lei Maior.

4.4. Conclusões acerca da Função Social das Empresas

Através do estudo da regulamentação da atividade econômica e empresarial contida

na Carta Magna de 1988 pudemos perceber que a Função Social é diretriz que deve reger toda

a sociedade em busca, principalmente, da Justiça Social, utilizando-se para tanto de outros

tantos princípios que devem também nortear a atividade comercial.

O fato é que, diante do meio em que se está inserida a empresa, não se pode abstrair

a importância que a mesma possui para a sociedade, devendo entende-la de forma sistêmica e

não isolada. Daí nasce a importância da observação da Função Social pela Empresa. Função

esta decorrente da propriedade privada e canalizada através das atividades empresariais

desenvolvidas pelas instituições.

Nesse mesmo passo, podemos perceber a principal fundamentação para a

necessidade de legislações que permitam a atuação Estatal a fim de salvaguardar o saúde do

meio econômico e social em que as empresas estão inseridas, visto que uma crise comercial

certamente geraria mais prejuízos sociais do que se poderia imaginar, podendo inclusive,

diante da sistemática em que se encontra inseria da empresa, acarretar em danos irreparáveis à

questão social.

Deste modo, seguindo as palavras de GOMES, entendemos que

A função social da empresa é, portanto, princípio de conteúdo jurídico delimitado, apto a orientar o legislador na elaboração de leis e, concomitantente, norteador a atuação do aplicador do direito. Trata-se de princípio que favorece a consecução de valores constitucionais e sociais relevantes como a dignidade da pessoa humana, a justiça social, a defesa do consumidor e do meio-ambiente, a redução das desigualdades sociais e regionais e a busca do pleno emprego.23.

23 Op. Cit., GOMES, p. 4.

20

Page 22: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Assim, encerrados os comentários iniciais acerca da Função Social da Empresa,

passemos a insculpi-la dentro do instituto falencial da Recuperação Judicial e Extrajudicial,

onde referida figura serve de fundamento para o instituto agora comentado.

5. ASPECTOS GERAIS DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

Introduzido pela Lei 11.101/05, o instituto da Recuperação de Empresas veio em

substituição ao ineficaz processo de Concordata que, ao longo dos 60 anos em que esteve

vigorando, se mostrou ineficaz na busca do soerguimento das sociedades empresárias das

crises porventura enfrentadas.

Assim, o instituto da Recuperação surge no ordenamento pátrio como alternativa

para aquelas sociedades empresariais que se encontram em situação difícil e que desejem

superar tais circunstâncias.

Ao tratar do assunto, OLIVEIRA ressalta que o objetivo econômico do instituto em

comento é

Permitir às empresas em dificuldades econômicas, que voltem a se tornar participantes competitivas e produtivas da economia. Os beneficiados, sob esse ponto de vista, serão não somente os entes econômicos diretamente envolvidos como os controladores, credores e empregados, mas principalmente a sociedade.24.

Na mesma esteira vem GOMES ao firmar que

o instituto da recuperação de empresas disciplinado, pela Lei n.º 11.101/05, tem o objetivo primordial de potencializar a continuidade dos negócios da firma individual ou sociedade empresária, enquanto unidade produtiva organizada. Consequentemente, permite-se a manutenção das relações de trabalho, o adimplemento dos contratos e débitos tributários, enfim, garante-se segurança aos empregados, aos credores, à Fazenda Pública e a todo o ambiente econômico e social25.

24 OLIVEIRA, Celso Marcelo. “Comentários à Nova Lei de Falências”. 1ª ed. São Paulo, IOB Thonson Editora. 25 Op. Cit., GOMES, p. 4.

21

Page 23: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Assim, de logo percebemos o caráter social do instituto da Recuparação, que visa

não apenas a recuperação imediata da empresa, mas o saneamento do meio no qual a mesma

está inserida, analisando assim a situação de forma sistêmica e observando a necessidade de

garantir o exercício da Função Social da empresa.

Nesse sentido, a Recuperação já se mostra mais eficaz do que a Concordata, que, a

seu turno, se preocupava apenas em garantir o cumprimento das prestações devidas pelo

empresário em crise para com alguns poucos credores.

A preocupação do legislador em deixar claro que um dos objetivos precípuos da

Recuperação é a garantia da continuidade do emprego, da revitalização dos meios de

produção, e principalmente da manutenção da Função Social da empresa demonstra a

preocupação com a sociedade em que está inserida a empresa, e não apenas com o

soerguimento do empresário recuperando.

Isso, entenda-se, é reflexo da regulamentação contida na CRFB, em seu art. 170, no

que tange aos fundamentos e objetivos da atividade econômica, que, como dito alhures, deve

pautar-se na livre iniciativa e na propriedade privada, mas sempre observando-se a questão da

justiça social e da Função Social que a atividade empresarial deve desenvolver dentro da

sociedade.

Disso decorre a implementação do instituto da Recuperação no país, visto a

necessidade de o Estado prover meios salutares de garantir não apenas o soerguimento das

empresas, mas a continuidade do exercício de sua Função e do crescimento da sociedade ao

seu redor, que se desenvolve ao mesmo passo que a atividade desenvolvida pela empresa.

Assim, antes de nos aprofundarmos mais no estudo da Função Social dentro da

Recuperação de Empresas, devemos entender melhor esse mecanismo concursal introduzido

pela Lei 11.101/05, além de primeiro entender aquilo que a Recuperação busca evitar, ou seja,

a própria Falência. Senão vejamos:

5.1. Conceitos de Falência trazidos pela Doutrina

Nosso primeiro conceito de Falência nos é apresentado por MAXIMILIANUS

FÜHRER, que, através de uma análise adjetiva do instituto nos afirma que “a falência (...) é

22

Page 24: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

um processo de execução coletiva, em que todos os bens do falido são arrecadados para uma

venda judicial forçada, com a distribuição proporcional do ativo entre os credores”.

Já nosso segundo conceito, trazido pelo jurista italiano ROCCO, usa aspectos

diferentes daqueles trazidos pelo jurista alemão para delimitar os termos da falência. Segundo

o autor italiano, partindo-se de uma análise mais especifica do crédito advindo das obrigações,

temos que Falência

é o efeito do anormal funcionamento do crédito, tendo em vista que crédito é a base de expectativa de um pagamento futuro comprometido pelo devedor. Assim sendo, falência é a condição daquele que, havendo recebido uma prestação à crédito não tenha à disposição para a execução da contra prestação, a que se obrigou, um valor suficiente, realizável para cumprir sua parte.

Nosso terceiro doutrinador utiliza do mesmo paradigma que o primeiro, ou seja,

analisa a Falência através da ótica processual e afirma, em suma, que se trata de um processo

de execução coletiva. Assim é que o autor SAMPAIO DE LACERDA afirma

a falência se caracteriza como um processo de execução coletiva, decretado judicialmente, dos bens do devedor comerciante ao qual concorrem todos os credores para o fim de arrecadar o patrimônio disponível, verificar os créditos, liquidar o ativo, saldar o passivo, em rateio, observadas as preferências legais26

O mesmo aspecto é analisado no conceito fornecido pelo autor SILVA PACHECO

ao afirmar que “A falência é o processo através do qual se apreende o patrimônio do

executado, para extrair-lhe valor com que atender à execução coletiva universal, a que

concorrem todos os credores27.”

Destaca Ruben Ramalho em sua obra que um dos conceitos que melhor exprimem a

natureza e os objetivos do instituto que ora comentamos nos foi dado por Amaury Campinho.

Referido autor conseguiu fundir tanto a noção econômica como a noção jurídica de falência.

Desde modo, define-a: “Falência é a insolvência do devedor comerciante que tem seu

patrimônio submetido a um processo de execução coletiva28”

26 LACERDA, J. C. Sampaio. Manual de Direito Falimentar, Ed. Freitas Bastos, 1999, pág. 1827 PACHECO, José da Silva. Processo de Falência e Concordata. 7ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 199728 RAMALHO, Ruben. Curso Teórico e Prático de Falências e Concordatas, Ed. Saraiva, 1993, pág. 4

23

Page 25: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Por fim, mas não menos brilhante, afirma PAES DE ALMEIDA de maneira salutar

que

a falência deve ser considerada como um instituto jurídico que objetiva garantir os credores do comerciante insolvente, assim, considerado aquele cujo passivo é superior ao patrimônio, ou, por outras palavras, cujos bens são insuficientes para saldar seus débitos29

5.2. Do nosso próprio conceito de Falência

Partindo da análise das doutrinas acima apresentadas, podemos chegar à conclusão

de que para definir-se a falência de maneira precisa, deve-se ter em mente tanto os aspectos

processuais quanto materiais, bem como sua noção jurídica e econômica embutidas no

conceito.

Assim, entendemos que, das conceituações acima elencadas, a que melhor exprime o

instituto em comento é aquela apresentada por Ruben Ramalho quando cita Amauri

Campinho. Assim, podemos entender que

Falência é quando o passivo de uma empresa é maior que seu ativo, o que acarreta em sua situação de insolvência, dando assim ensejo à execução coletiva de seu patrimônio a fim de que os interesses dos credores sejam garantidos, de forma que se liquidem as obrigações e se encerre a atividade empresarial.

5.3. Conceitos de Recuperação de Empresas trazidos pela Doutrina

A lei 11.101/2005 trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro o instituto da

Recuperação de empresas, seja de forma Judicial ou de forma Extrajudicial. Com isso,

buscando substituir a antiga Concordata, buscou o legislador uma forma mais efetiva de

garantir a sobrevivência de uma empresa ante uma crise por ela sofrida. Assim foi o

surgimento deste instituto que passamos agora a conceituar.

29 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de Falência e Concordata, 10ª Edição, SARAIVA

24

Page 26: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

A própria legislação traz em seu corpo uma conceituação da instituto, que os

doutrinadores tentam interpretar ou complementar.

De imediato, cabe trazer à baila o sábio ensinamento de APPROBATO MACHADO,

que afirma que o instituto da Recuperação “é a reestruturação da empresa que se encontra

em situação difícil, mas não irremediável, através da elaboração de um plano de recuperação

aprovado por uma Assembléia de Credores30”.

Tal conceito analisa o instituto através de uma ótica apenas procedimental,

processual, pois não traz em seu bojo as finalidades mediatas do instituto, que serão

apresentadas mais adiante.

GUERRA, em seu livro, por sua vez, afirma que referido instituto pode ser entendido

como o “meio de se preservar as organizações produtivas, as fontes de riqueza e as

empresas, uma vez que o devedor e seus credores terão liberdade para um acordo que

permita recuperar a sociedade empresária e manter os empregos gerados31”. Em tal conceito,

desta vez, já vemos por parte do autor uma preocupação maior em delimitar a necessidade de

se resguardar aspectos mais sociais do que empresariais, como os empregos, por exemplo.

Ainda sobre o assunto conceitual da Recuperação, cabe trazer ao nosso estudo as

palavras do doutrinador LOPES ao afirmar, levando em consideração os procedimentos a

serem utilizados durante a Recuperação, que

referido instituto pode ser visto como o ato de convocar os credores para verificar a viabilidade do plano de recuperação apresentado pela sociedade empresária e implementar as diretrizes traçadas pelo mesmo, caso aceito pelos credores, sob a égide do poder judiciário 32.

Ainda sob a ótica processual, temos o professor CAMPINHO, que afirma que

Recuperação de Empresa pode ser visto como

30 MACHADO, Rubens Approbato (Coordenador). Comentários à Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. Ed. Quartier Latin, 2ª Edição.31 GUERRA, Erica. Nova Lei de Falências. Ed. LZN, 2005.32 LOPES, Bráulio Lisboa. Nova Lei de Falências e Recuperação Judicial de Empresas. Artigo retirado do sítio eletrônico http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/2232/NOVA_LEI_DE_FALENCIAS_E_RECUPERACAO_JUDICIAL_DE_EMPRESAS

25

Page 27: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

a medida se implementa por meio de uma ação judicial, de iniciativa do empresário regular, com o escopo de viabilizar a superação de sua situação de crise, embora a dita pretensão somente possa ser exercida até a declaração de sua falência, como dispõe o artigo 48, I da Lei 11.101/200533.

Por fim, mas não menos brilhante, cabe trazer o conhecimento magistral do professor

PAES DE ALMEIDA ao afirma,

sob um prisma puramente teleológico, a recuperação judicial tem, a rigor, o mesmo objetivo da concordata, ou seja, recuperar, economicamente, o devedor, assegurando-lhe, outrossim, os meios indispensáveis à manutenção da empresa, considerando a função social desta34.

5.4. Do nosso próprio conceito de Recuperação de Empresas

Analisando os ensinamentos doutrinários apreendidos durante o presente estudo,

podemos chegar à conclusão de que Recuperação de empresas é o instituto que visa, através

de medidas a serem tomadas por um ‘interventor’, a sobrevivência à crise de referida

sociedade empresarial, seja por meio de dilatação de prazos, seja através da concessão de

crédito, com a finalidade de se garantir que a continuidade dos meios de produção e da

atividade empresarial como um todo, a fim de que seja resguardada a sociedade em que se

encontra a empresa inserida.

Deste modo, estaria sendo observada a Função Social da Empresa em todos os seus

aspectos, seja no cumprimento das obrigações assumidas pelos devedores, seja pelo resguarda

a direitos sociais como o emprego, a circulação de capital, e o desenvolvimento da sociedade

ao seu redor.

Assim, conceituada a Recuperação de empresa levando-se em consideração a

questão central de nosso trabalho, passemos agora a estudar os objetivos precípuos do

33 CAMPINHO, Sérgio. Falência e Recuperação de Empresa – o novo regime de insolvência empresarial. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 1134 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e recuperação de empresa. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

26

Page 28: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

instituto, também sob o prisma da Função Social da Empresa, bem como os requisitos

necessários para sua concessão.

6. REQUSITOS PARA A CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Pela lei 11.101/05, nos moldes do art. 48, poderá requerer a Recuperação Judicial o

empresário devedor que exerça atividade empresarial a mais de 2 anos e que atenda aos

seguintes requisitos de maneira cumulativa:

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;

III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.35

Os requisitos de que se tratam no dispositivo acima trazido apresentam aspectos

tanto subjetivos quanto objetivos. Desta forma, o empresário só poderá requerer sua

Recuperação se estiver adequado aos requisitos enumerados no art. 48 da Lei 11.101/2005.

7. PRINCIPAIS OBJETIVOS DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS SOB

O PRISMA DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

O art. 47 da lei 11.101/05, que regulamenta os procedimentos de Falência e

Recuperação de Empresas explicita que este ultimo instituto, introduzido no ordenamento 35 Art. 48 da lei 11.101/2005. Lei de Falência e Recuperação de Empresas.

27

Page 29: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

pátrio com o advento de referida lei possui como finalidades precípuas viabilizar a superação

da situação de crise econômica e financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da

fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo

assim a preservação da empresa, sua função social e o estimulo à atividade econômica.

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.36

Desse modo deve-se entender que todos os meios possíveis e enumerados no

dispositivo legal ao longo de seu conteúdo devem ser empreendido no sentido de garantir a

continuidade da atividade econômica pela empresa, e, em conseguinte, a satisfação dos

créditos devidos, a viabilização do soerguimento da empresa, a manutenção da fonte

produtora e dos empregos, além de principalmente viabilizar a realização da função social que

lhe é precípua na economia moderna, como demonstrado no começo do presente trabalho.

A Lei de Falências e Recuperação de Empresas, através da recuperação judicial tem como objetivo principal, beneficiar a empresa com dificuldades econômico-financeiras, porém com possibilidade de superação, para preservar a produção e manutenção de emprego. Para isso, a lei estabelece uma ordem de prioridade, sendo seu primeiro objetivo a manutenção da fonte produtora e manutenção do emprego dos trabalhadores, após isto é que se satisfaz os interesses dos credores. BEZERRA FILHO (2008) lembra que a eficiência da lei só se saberá com o tempo, pois a avaliação final é realizada pelos resultados obtidos.37

Esse entendimento de PRETTO NETO demonstra a preocupação do legislador em

garantir a observância da Função Social de maneira prioritária, ao afirmar a existência de uma

“ordem de preferência” dos objetivos da Recuperação. Para tal autor, deve-se primeiro

resguarda a manutenção da fonte produtora e os empregos dos trabalhadores envolvidos com a

empresa. De uma analise destes objetivos percebemos novamente a importância da atividade

empresarial e de sua função social.

36 Art. 47, caput. Lei 11.101/2005 – Lei de Falências e Recuperação de Empresas.37 Op. Cit., PRETTO NETO, p. 11.

28

Page 30: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Através do que foi visto nos tópicos anteriores, podemos chegar a conclusão de que a

prioridade de se manter a fonte produtora decorre da necessidade de seu garantir a

continuação da atividade empresarial. Perdida a capacidade de produzir da empresa, fica

visivelmente dificultado o cumprimento por parte da empresa daqueles aspectos tidos como

fundamentais para a efetivação da função social da empresa, quais seja, a circulação de

capital, a produção de bens de consumo e serviço que desenvolvem a sociedade em que se

encontra inserida a empresa, etc. Até mesmo a manutenção dos empregos se torna dificultada

e quase impossibilitada diante da “Falência” prévia dos meios de produção.

Recuperação judicial é o instituto jurídico, fundado na ética da solidariedade, que visa a sanar o estado de crise econômico-financeira do empresário e da sociedade empresária com a finalidade de preservar os negócios sociais e estimular a atividade empresarial, garantir a continuidade do emprego e fomentar trabalho humano, assegurar a satisfação ainda que parcial e em diferentes condições, dos direitos e dos interesses dos credores e impulsionar a economia creditícia, mediante a apresentação, nos autos da ação de recuperação judicial, de um plano de reestruturação e reerguimento, o qual, aprovado pelos credores, expressa ou tacitamente e homologado pelo juízo, implica novação dos créditos anteriores ao ajuizamento da demanda e obriga a todos os credores a ela sujeitos, inclusive os ausentes, os dissidentes e os que se abstiverem de participar das deliberações da assembléia geral38

Desse modo, podemos entender que, por reflexo, qualquer outro objetivo da

Recuperação de Empresas visa a manutenção de sua função social no meio em que se encontra

inserida.

Por fim, no que diz respeito aos objetivos da Recuperação, cabe trazer o

entendimento do professor OLIVEIRA, que afirma que

Devemos destacar que a lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, tem como objetivo viabilizar a superação da crise financeira da empresa, permitindo a manutenção e a existência da própria empresa, os empregos gerados pela empresa, promovendo ainda a preservação e a continuação da empresa, sua importante função econômica e social e propriamente o estímulo à atividade econômica.39

38 Op. Cit., PRETTO NETO, p. 13.39 Op. Cit., OLIVEIRA, p. 239.

29

Page 31: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Assim percebemos que o próprio estimulo à atividade econômica reflete no

cumprimento da Função Social da empresa, no passo em que as conseqüências desta

continuidade, que inclusive já foram exaustivamente enumerados neste estudo, se traduzem

nos principais interesses coletivos que configuram a Função da empresa para com a sociedade

em que se encontra inserida.

8. PRINCIPAIS EFEITOS DA FUNDAMENTAÇÃO NA FUNÇÃO

SOCIAL: A RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS COMO DIREITO E/OU

OBRIGAÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESARIAL

Ao entendermos que a Função Social da empresa se insculpe no interesse coletivo da

sociedade em que referida instituição empresarial está inserida, podemos entender que a

Recuperação, no momento em que serve para garantir a defesa desse interesse, seria uma

obrigação ao empresário que vislumbra a situação de crise da sociedade que dirige.

Ao mesmo passo desse entendimento, podemos chegar à conclusão de que, estando o

empresário enquadrado naqueles requisitos insculpidos pelo art. 48 da lei 11.101/05, teria ele

direito à prestação jurisdicional do Estado na forma da concessão de um plano de

Recuperação que viabilizasse a sobrevivência de sua atividade empresarial, e em

conseqüência, do interesse social sistêmico.

Todavia, embora ambos os posicionamento possam ser sustentados, os dois possuem

algumas ressalvas importantes e que merecem certo aprofundamento por parte deste estudo

(principalmente no que tange ao posicionamento de que seria o instituto em estudo uma

obrigação), vez que refletem as principais conseqüências, ao nosso ver, da fundamentação de

Recuperação na Função Social das empresas. Vejamos:

8.1. Da Recuperação como Direito do empresário

Se o empresário devedor apresenta pedido de Recuperação de sua Empresa nos

termos dos requisitos enumerados no art. 48 da Lei 11.101, de 2 de fevereiro de 2005, terá

então o direito a ter a prestação jurisdicional do Estado no sentido de ter concedida a sua

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Page 32: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Recuperação Judicial ou homologada a sua Recuperação Extrajudicial, impedindo assim a

decretação de uma possível Falência (cujo conceito já foi apresentando acima).

Isso se dá pelo fato de o empresário, além de ser titular de seus interesses pessoais e

privados, responde também pelos interesses coletivos da sociedade em que sua atividade está

inserida, de forma sistêmica, como dito alhures. Desta forma, sequer pode renunciar a este

direito, devendo prover todos os meios de resguardar sua atividade em prol do bem estar

coletivo e da saúde do meio em que se encontra.

A principal conseqüência desta idéia pode ser traduzida no sentido de que o Juiz

apenas atuará como fiscal da regularidade formal do pedido. Assim sendo, verificando o

magistrado que o requerente realmente apresenta todos os requisitos trazidos em lei, nada

mais poderá fazer a não ser deferir o processamento da recuperação da empresa.

Todavia, deve-se ter em mente que após o deferimento da Recuperação, o

magistrado deve continuar atento a sua função jurisdicional, vez que, qualquer desobediência

ao plano de Recuperação apresentado e deferido pelo devedor, acarretará na “convolação” da

recuperação em Falência.

Assim, por mais que seja um direito do devedor, a Recuperação ainda deve ser vista

como uma “intervenção” estatal nos meios de produção privados. Deste modo, deve-se ter

cuidado no momento da concessão e observar-se se realmente é o caso de deferimento.

Deve-se ter em mente que, muitas vezes, embora a sociedade empresaria apresente

os quesitos trazidos na lei, não há viabilidade econômica na busca do soerguimento da

empresa.

Desta forma, pode sair demasiadamente danoso tentar sanar a crise em que se

encontra determinada empresa, ocorrendo que os ônus são muito maiores do que os possíveis

benefícios. Neste caso, em prol também da Função Social, prefere-se a decretação imediata da

Falência do que a concessão da Recuperação, tendo em vista os prejuízos que a tentativa de

reerguer a empresa traria ao meio econômico.

O fato é que não se pode prejudicar o meio econômico em detrimento de uma única

empresa caso a inviabilidade econômica da empresa em questão ponha em xeque toda a

sociedade e o próprio Estado.

Assim, por mais que seja um direito, deve-se ponderar os limites desta concessão, na

medida da observância da viabilidade econômica da Recuperação da empresa.

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Page 33: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

8.2. Da Recuperação como Obrigação do empresário

Como visto no começo deste trabalho, a atividade empresarial é deveras importante e

salutar para a sociedade, pois gera, dentre outras conseqüências, inúmeros empregos,

arrecadação de impostos, gerando fundos para o Estado investir em educação, saúde e

desenvolvimento humano, circulação de capital e riquezas, bem como prestação de serviços e

produção de bens de produção e consumo.

Por meio disso, percebemos que o empresário, como dito alhures de maneira

exaustiva, é detentor não apenas de seus direitos privados e individuais, mas também

representante dos interesses coletivos da sociedade em que se encontra insculpido, vez que sua

atividade empresarial acarreta em crescimento de empregos, renda e diminui as desigualdade

sociais, acarretando assim em uma Justiça Social mais eficaz e lídima. A isso chamamos de

Função Social da Empresa.

Por esses motivos pode-se entender que hoje em dia a Recuperação é uma obrigação

da sociedade empresária, não podendo o empresário renunciar a este direito (pois a

recuperação também é um direito), tendo em vista a necessidade/obrigação que sua empresa

tem de cumprir com a Função Social acima delimitada.

Todavia, embora seja uma obrigação do empresário, o Estado não possui meios

coercivos de impor ao devedor o devido cumprimento. Com efeito, não há como realmente

coagir a sociedade empresária à requerer a Recuperação Judicial.

Apenas no caso do requerimento de autofalência, nos termos do art. 105 da lei

11.101/05 (“o devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos

para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões

da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial), é que se vislumbra uma

pequena intenção do legislador de querer realmente impor a obrigação de requerimento da

Recuperação, tendo em vista que no requerimento da falência, o devedor deverá informar o

porquê de não ter ajuizado pedido de Recuperação anterior ao de Falência.

Ocorre que, por força da Lei Maior, por ser a atividade econômica deixada nas mãos

da iniciativa privada, cabendo ao Estado exercer tal atividade apenas em casos específicos e

determinados em lei, não pode realmente o Estado interferir ex oficio no âmbito empresarial a

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Page 34: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

fim de garantir o exercício da função social das empresas, mesmo diante da inércia do

empresário em requerer a Recuperação Judicial ou Extrajudicial, sob pena de malferir os

interesses privados e interferir na ordem econômica financeira, que, por força dos arts. 170 e

173 da Carta Magna fora deixada nas mãos da iniciativa privada, nos termos expostos no

inicio deste trabalho.

Desta forma, não pode o Estado extrapolar os limites estipulados por ele próprio na

Carta Política. Seria um total abuso por parte do Poder Público, mesmo que este agisse em

defesa dos interesses coletivos na busca de garantir a Função Social da empresa.

Para alguns estudiosos, a pena para o empresário que não requer a Recuperação de

sua empresa em tempo oportuno já é suficiente nos dias de hoje: qual seja, a decretação da

falência da sociedade empresária. Todavia, este não é nosso entendimento. É verdade que a

decretação direta de Falência do empresário pode ser uma forma de “repressão” pelo não

requerimento da recuperação a tempo. Mas o fato é que, por muitas vezes, a decretação

falencial acaba sendo bom para empresários que, de algum modo, por meios ilícitos, causa a

própria insolvência a fim de fugir da cobrança de credores. Além do mais, o mais importante é

que, tendo em vista sempre a Função Social que a atividade empresária desenvolve, o prejuízo

causado à sociedade em que a empresa falida está inserida pode ser grave demais, causando

danos muitas vezes irreparáveis, como a falência de inúmeros outros pequenos empresários

que dependiam da atividade desenvolvida por aquele que ficou inerte e teve sua Falência

decretada de maneira sumaria como simples “punição” por sua inércia.

Não pode a sociedade responder pela inércia da sociedade empresária. Ao nosso ver,

a solução seria sim a falência do empresário inerte, bem como a averiguação de possíveis

crimes falimentares ou comuns por ele cometido, mas também a implantação de medidas que

garantam a sobrevivência do meio econômico em que a empresa estava inserida (o que

também é um objetivo da Recuperação) através, por exemplo, da liberação de incentivos

fiscais aos micros e pequenos empresários que dependiam de alguma forma da atividade antes

desempenhada pelo falido.

Por fim, cabe destacar que, muito embora não haja meios coercitivos eficientes ainda

para imprimir à sociedade empresária a obrigação de requerer a Recuperação Judicial, o

simples fato de haver a exigência de o empresário justificar o porque de não ter requerido o

instituto em comento já comprova o fato de que o requerimento da Recuperação se trata

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Page 35: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

realmente de uma obrigação da empresa, e não de um mero direito, devendo o empresário

inerte arcar com as devidas conseqüências de seus atos e omissões.

8.3. Conclusões acerca da visão da Recuperação como Direito e/ou

Obrigação

Como vimos, diante da necessidade de a empresa buscar o cumprimento de sua

função social, a Recuperação se apresenta não como apenas um Direito da sociedade

empresária, mas também como uma obrigação do devedor diante da situação de crise e de

iminente insolvência.

Todavia, como visto, não pode o Estado interferir na sociedade empresária e na

atividade desempenhada apenas pela inércia do empresário, sob pena de ferir os limites

insculpidos por ele próprio na CRFB de 1988, que, seguindo os ideais Neoliberais

contemporâneos, deixou sob a responsabilidade da iniciativa privada a atividade econômica e

financeira, cabendo ao Estado atuar apenas em certos casos determinados na própria Lei

Maior. No entanto, tal circunstancia, não retira a obrigatoriedade por parte do empresário de

requerer a recuperação diante de uma situação de crise, por ser este titular não apenas de

interesses privados seus, mas também representar os interesses coletivos da sociedade que o

circunda e que se reflete na observância da função social de sua empresa.

Por fim, cabe destacar que estas duas colocações, ao nosso ver, são as conseqüências

mais importantes decorrentes da fundamentação da Recuperação de Empresas na necessidade

de cumprimento da Função Social por parte da sociedade empresária, visto que reflete não

apenas a necessidade de o Estado prestar meios de garantir este cumprimento, ao tratar o

instituto falencial em comento como Direito, mas também demonstra o caráter público e

irrenunciável da função social, ao caracterizar a recuperação como obrigação do devedor.

Não obstante esta conclusão, o maior problema que ainda persiste a falta de meios

coercitivos que o Estado poderia impor ao devedor inerte em caso de não requerimento da

Recuperação por ele. Todavia, este empecilho não retira o caráter público insculpido na

Recuperação pela Função Social da empresa.

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Page 36: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

9. CONCLUSÃO

Ao longo deste estudo, pudemos perceber a importância que a sociedade empresária

possui no mundo contemporâneo, no passo em que serve não apenas como meio de produção

de riquezas individuais, mas também como termômetro da sociedade em que está inserida, vez

que está insculpida de tal modo na sociedade que a instituição deve ser sempre analisada não

de maneira isolada, mas sim de forma sistêmica.

Diante desta importância, analisamos a questão da Função Social da empresa diante

dos interesses que nascem na sociedade ao redor da empresa diante da geração de empregos,

circulação de capital e riquezas, além de servir tal Função como meio de garantia da Justiça

Social buscada pela Constituição na regulamentação da atividade econômica, nos termos do

art. 170 e 173 da Carta Magna nacional.

Deste modo percebemos a necessidade de o Estado regulamentar meios de garantir o

cumprimento desta fuunção social mesmo diante de situações de crise da empresa, o que, na

pratica, acarretou na substituição da figura da concordata pela Recuperação de empresas,

através da elaboração da Lei 11.101/2005 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas).

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Page 37: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

Assim foi que analisando o instituto falencial da Recuperação, percebemos seu

estreito laço para com a função social da empresa, visto que esta ultima serve de

fundamentação precípua para tal instituto, aparecendo inclusive como um dos objetivos da

recuperação enumerados no art. 47 da lei 11.101/2005.

Por fim, pudemos concluir que as duas principais conseqüências dessa

fundamentação da recuperação na função social da empresa é o fato de que aquele instituto

passa a ter caráter não apenas de direito, mas também de obrigação para a sociedade

empresária.

Deste modo, julgamos ter atingido objetivo principal deste trabalho, qual seja, uma

análise do instituto da Recuperação de Empresas, fosse Judicial ou Extrajudicial, sob o prisma

da Função Social desenvolvida pela atividade empresarial, analisando seus fundamentos e

objetivos, bem como as conseqüências dessa fundamentação, dando assim uma visão

teleológica e fundamental do instituo falencial a fim de se poder melhor entender não apenas a

importância da continuidade da atividade empresária, mas também a do cumprimento da

função social que todas as empresas desenvolvem na sociedade em que se encontram

inseridas.

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Page 38: RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FUNÇÃO SOCIAL

10. BIBLIOGRAFIA

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