nova lei de falência e recuperação de empresas

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Nova Lei de Falncia e Recuperao de Empresas. Comentrios sistemticos. Primeira e Segunda PartesGecivaldo Vasconcelos Ferreira O presente trabalho est sendo publicado em partes. A Primeira Parte foi publicada em 26/04/2005. A Segunda Parte, publicada em 19/05/2005, encontra-se logo abaixo da Primeira.

PRIMEIRA PARTE UNIDADE I FALNCIA: NOES INTRODUTRIAS 1. EVOLUO DO INSTITUTO A palavra "falncia" vem do latim: fallere (faltar). Utilizava-se como sinnimo de falncia a expresso quebra, haja vista que, a banca dos devedores era quebrada pelos credores. Usava-se, ainda, a palavra bancarrota para definir a situao relativa falncia, sendo que tal palavra deriva da expresso italiana banco rotto, que significa banco quebrado, pois era costumeiro, na Idade Mdia, se quebrar o banco em que negociava o comerciante em praa pblica. Quanto evoluo do instituto falimentar, percebemos que na antigidade a execuo do devedor no se restringia somente ao patrimnio, atingindo, tambm, a sua pessoa, ocorrendo aprisionamento, escravizao e at morte como sano queles que no pagavam suas dvidas. Tal fato pode ser observado nas legislaes das antigas civilizaes: ndia (Cdigo de Manu), Egito, Judeus e Grcia. Com o Direito Romano, a execuo das dvidas comeou a ter alguma aparncia com o sistema atual. Por exemplo, atravs da bonoruim distractio, os bens do devedor eram administrados por um curador nomeado pelo pretor e, posteriormente, vendidos a varejo e sob a observncia dos credores, venda cujo valor ia at o montante da dvida. Na Idade Mdia, a grande inovao foi a atribuio da Justia ao Estado, ficando sob a incumbncia deste a execuo do patrimnio do devedor. Nessa poca, ainda permanecia o carter de represso penal do instituto falimentar, mas sem distino entre comerciantes e no comerciantes.

A falncia, de acordo do Arnoldi [1], passa a ter cunho eminentemente comercial a partir do Cdigo de Comrcio de 1807 da Frana, mais conhecido como Cdigo Napolenico, que serviu de inspirao para as legislaes falimentares de grande parte dos pases da Europa Continental e dos latino-americanos. 2. CONCEITO JURDICO E ECONMICO O conceito econmico de falncia prende-se noo de que ela se constitua um estado de insolvncia, levando em considerao primordialmente a situao patrimonial do devedor. J o conceito jurdico leva ao entendimento de que o primordial para caracterizar a falncia no o estado de insolvncia, mas sim o prprio estado de falncia. Destaca Ruben Ramalho [2] que um dos melhores conceitos de falncia foi formulado por Amaury Campinho, no qual este aglutina tanto a noo econmica como a noo jurdica de falncia. Assim define-a: "Falncia a insolvncia do devedor comerciante que tem seu patrimnio submetido a um processo de execuo coletiva". A falncia, destarte, pode ser analisada por dois aspectos: o esttico e o dinmico. Estaticamente a situao do devedor empresrio que no consegue pagar pontualmente seu dbito, lquido, certo e exigvel (insolvncia). Dinamicamente um processo de execuo coletiva, institudo por fora da lei em benefcio dos credores. Perceba-se, ainda, que na falncia h uma presuno de insolvncia, que por seu turno diferente do inadimplemento, pois este um fato relativo prpria pessoa; enquanto a insolvncia um estado que diz respeito ao patrimnio. Para Sampaio de Lacerda, "A falncia se caracteriza como um processo de execuo coletiva, decretado judicialmente, dos bens do devedor comerciante ao qual concorrem todos os credores para o fim de arrecadar o patrimnio disponvel, verificar os crditos, liquidar o ativo, saldar o passivo, em rateio, observadas as preferncias legais" [3]. A Lei n 11.101/2005, conhecida como nova Lei de Falncias, fiel ao princpio de preservao da empresa, que lhe norteia, conduze-nos a formular o seguinte conceito de falncia (art. 75): " o processo que, pelo afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilizao produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangveis, da empresa".

3. PROCESSO DE EXECUO A falncia constitui-se um processo de execuo coletiva, onde todos os credores do falido, ressalvadas as excees previstas legalmente, acorrem a um nico juzo e em um nico processo executam o patrimnio do devedor empresrio. Diferencia-se, portanto, da execuo individual, onde so executados algum(s) bem(s) do devedor, visto que na falncia todo o patrimnio penhorvel do devedor comprometido pela execuo. E, ainda, na execuo temos um ou alguns credores determinados acionando o devedor, j na falncia temos todos os credores, ressalvadas as excees legais, executando coletivamente o patrimnio do falido. 4. FALNCIA DO DEVEDOR EMPRESRIO E DO DEVEDOR CIVIL No pode ocorrer a falncia (submetida Lei n 11.101/2005) do devedor civil, somente aplicando-se tal instituto ao devedor empresrio (seja ele individual ou sociedade empresria), conforme se depreende do artigo 1 da referida norma. A insolvncia do devedor civil regida pelos Cdigos Civil e Processual Civil. 5. SOCIEDADES EMPRESRIAS NO SUJEITAS FALNCIA A LFR enftica (art. 2) que no esto submetidos falncia e recuperao as seguintes pessoas jurdicas: a) empresa pblica e sociedade de economia mista; b) instituio financeira pblica ou privada, cooperativa de crdito, consrcio, entidade de previdncia complementar, sociedade operadora de plano de assistncia sade, sociedade seguradora, sociedade de capitalizao e outras entidades legalmente equiparadas s anteriores. Note-se que o regime de excluso de algumas sociedades empresrias do regime falimentar j era uma realidade na vigncia da lei anterior, sendo apenas endossado pelo novel diploma normativo. Ressalve-se, ademais, que o fato das pessoas jurdicas enunciadas ao norte no estarem sujeitas LFR no significa que estas no possam ser liquidadas quando em crise, pois existem leis especficas que autorizam esta soluo, mas que ao mesmo tempo estabelecem procedimentos diferenciados para levar a liquidao a efeito. , por exemplo, nesse desiderato que a Lei n 6.024/1974 disciplina a interveno e a liquidao extrajudicial de instituies financeiras, dando poderes ao Banco Central do Brasil para intervir, ou at liquidar referidas pessoas jurdicas.

UNIDADE II RECUPERAO DE EMPRESAS 1. A RECUPERAO DE EMPRESAS NO DIREITO BRASILEIRO O instituto da recuperao de empresas ingressou no direito ptrio via Lei n 11.101/2005. Como sabido, o Decreto-lei n 7.661/1945 (antiga Lei da Falncias) no fazia qualquer referncia recuperao em evidncia, apesar de disciplinar o instituto da concordata que tambm se prestava a possibilitar ao empresrio o retorno normalidade via interveno judicial em seu empreendimento. Assim, tinha-se a concordata preventiva que era decretada (quando cabvel) antes da falncia, propiciando ao empresrio evitar a quebra; e a concordata suspensiva que era decretada (tambm se cabvel) quando j em curso o processo falimentar, e que visava sust-lo, fazendo o empresrio retornar ao comando de sua atividade econmica. As semelhanas entre concordata e recuperao, conquanto, so muito pequenas, visto que se fosse diferente no haveria necessidade de se revogar o DL 7661/1945 e promulgar uma nova Lei. A recuperao de empresas, nos moldes institudos pela Lei n 11.101/2005, pode ser judicial ou extrajudicial. A judicial decretada pelo Judicirio, mediante a aprovao de um plano de recuperao judicial. J na extrajudicial, o Judicirio funciona apenas como rgo homologador de um acordo extrajudicial j entabulado entre o devedor empresrio e alguns credores. 2. A RECUPERAO JUDICIAL FACE CONCORDATA Como j adiantamos, o instituto disposio do devedor empresrio para recuperar judicialmente o seu empreendimento em dificuldades, quando ainda em vigor o DL 7661/1945, era a concordata, em sua forma preventiva ou suspensiva. Por tal medida, o empresrio poderia conseguir uma remisso parcial de suas dvidas, uma dilatao nos prazos de vencimento ou, ainda, as duas coisas de uma s vez. Acontece que tal desconto (remisso) e a dilatao de prazo eram engessados pelo diploma regulador, pois este previa que tal desconto poderia ser de no mximo 50% (cinqenta por cento) e o prazo, obedecidas as amortizaes anteriores impostas legalmente, dilatado apenas at 2 (dois) anos. Alm do qu, a concordata, fosse ela suspensiva ou preventiva, somente afetava os crditos quirografrios. Logo, revelou-se a concordata como ineficiente para apresentar-se como soluo vivel para possibilitar ao empresrio a recuperao de sua atividade econmica pela via judicial, pois a Lei no lhe dava nenhuma soluo quanto aos dbitos com garantias reais e trabalhistas; que so geralmente os grandes causadores da derrocada das empresas. Alm do mais, as nicas alternativas que a Lei disponibilizava para recuperao da empresa em dificuldades era o desconto e a dilatao nos prazos de vencimento, limitando a criatividade do devedor e seus credores no sentido de encontrarem solues alternativas para salvar o empreendimento. Por exemplo, se o devedor resolvesse vender um estabelecimento para recuperar-se, mas no saldasse suas dvidas trabalhistas e

tributrias, o adquirente de referido estabelecimento, por mais que estivesse de boa-f, responderia por dbitos trabalhistas e tributrios do alienante. Com a recuperao judicial instituda pela LFR, alm de se propiciar uma maior participao dos credores nas discusses no sentido de encontrar alternativas de recuperao da empresa em crise, atravs da assemblia de credores, a Lei tambm propicia vrias formas de recuperao (art. 50 LFR) que podem ser adotadas, isoladamente, ou de forma conjunta. Na recuperao judicial h a sujeio, com exceo dos crditos fiscais e obedecidas algumas outras restries, de todos os crditos existentes na data do pedido (art. 49). Portanto, enquanto na concordata havia a sujeio somente dos crditos quirografrios, na recuperao judicial, atravs da ampliao dos credores sujeitos medida, o devedor tem maiores possibilidades de conseguir se restabelecer economicamente. Outro ponto que conta bastante para que possamos ser otimistas no sentido de que a recuperao judicial ser um instituto utilizado com sucesso pelas empresas com dificuldades econmico-financeiras, o fato de que, havendo alienao judicial de estabelecimento como forma de recuperao, o adquirente no poder ser responsabilizado pelas obrigaes tributrias do alienante. Nesse sentido dispe o art. 60 da LFR: Art. 60. Se o plano de recuperao judicial aprovado envolver alienao judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenar a sua realizao, observado o disposto no art. 142 desta Lei. Pargrafo nico. O objeto da alienao estar livre de qualquer nus e no haver sucesso do arrematante nas obrigaes do devedor, inclusive as de natureza tributria, observado o disposto no pargrafo 1 do art. 141 desta Lei. Quanto sucesso trabalhista, achou o legislador por bem mant-la em caso de recuperao judicial, assumindo o adquirente de estabelecimento responsabilidade por eventuais crditos trabalhistas inadimplidos pelo alienante. O Senado justificou a manuteno, no substitutivo que aprovou (transformado na Lei n 11.101./2001), da sucesso trabalhista com os seguintes argumentos [4]: O substitutivo mantm a sucesso trabalhista na recuperao judicial (art. 60, pargrafo nico). Justificao: - Ao contrrio da falncia, o dinheiro obtido com a venda de estabelecimentos da empresa na recuperao judicial no fica sob o controle do juiz, razo pela qual a excluso da sucesso trabalhista poderia prejudicar os trabalhadores.

3. A RECUPERAO EXTRAJUDICIAL No tocante recuperao extrajudicial, pode-se adiantar nesse momento preliminar que esta uma inovao sem precedentes no direito comercial nacional, pois na legislao anterior no era possvel tal medida. Alis, o devedor que convocasse seus credores para propor renegociao coletiva de dvidas estava sujeito que fosse pedida e decretada sua falncia por atos de falncia, pois o artigo 2, III, do DL 7661/1945, previa que: "art. 2. Caracteriza-se, tambm, a falncia, se o comerciante:[...] III convoca credores e lhes prope dilao, remisso de crditos ou cesso de bens; [...]". 4. A VIGNCIA DAS NORMAS DE RECUPERAO DE EMPRESAS Como j adiantamos nos tpicos anteriores, a recuperao judicial e extrajudicial foi instituda pela Lei n 11.101/2005. Como tal diploma legal somente entra em vigor 120 (cento e vinte) dias aps sua publicao (que ocorreu em 09.02.2005), a recuperao de empresas nos moldes por ela institudo somente poder ser posta em prtica quando esta estiver vigorando. Ressalte-se, ainda, que a LFR, de acordo com seu artigo 192, no se aplicar aos processos de falncia ou de concordata ajuizados [5] anteriormente ao incio de sua vigncia, que sero concludos nos termos do DL 7661/1945. Estabelece, ainda, o novel diploma falimentar, que: a. b. Fica vedada a concesso de concordata suspensiva nos processos de falncia em curso (art. A existncia de pedido de concordata anterior sua vigncia no obsta o pedido de recuperao

192, pargrafo 1); judicial pelo devedor que no houver descumprido obrigao no mbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperao judicial para microempresas e empresas de pequeno porte (art. 192, pargrafo 2); c. Deferido o processamento da recuperao judicial, no caso descrito na letra anterior, o processo de concordata ser extinto e os crditos submetidos concordata sero inscritos por seu valor original na recuperao judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatrio (art. 192, pargrafo 3); d. 7661/1945; e. Os devedores proibidos de requerer concordata nos termos da legislao especfica em vigor na data da publicao da LFR ficam proibidos de requerer recuperao judicial ou extrajudicial; ficam excetuadas de tal disposio, entretanto, as empresas areas ou de infra-estrutura aeronutica, que eram proibidas de impetrar concordata ex vi art. 187 da Lei 7565/1986, mas que agora podem requer recuperao judicial ou extrajudicial (arts. 198 e 199). As disposies da atual lei aplicam-se s falncias decretadas em sua vigncia resultantes de convolao de concordatas ou de pedidos de falncia anteriores, s quais se aplica, at a decretao, o DL

UNIDADE III REGRAS GERAIS DA RECUPERAO JUDICIAL E DA FALNCIA 1. JUZO COMPETENTE A competncia para apreciar pedidos de falncia, recuperao judicial e extrajudicial do juzo do local onde estiver situado o principal estabelecimento do devedor. Caso o principal estabelecimento deste esteja situado fora do pas, ser competente o juzo do local onde estiver situada sua filial aqui no Brasil. Quanto ao conceito de estabelecimento principal [6], conforme notamos, no h consenso na doutrina e na jurisprudncia acerca do mesmo. Inclusive, no Conflito de Competncia n 37.736-SP (relativo ao caso SHARP), julgado pelo STJ, vemos o quo controvertido a exata delimitao do conceito de principal estabelecimento, pois os ministros que compem a Segunda Seo defenderam posicionamentos variados, saindo vencedor, mas por maioria de votos, o entendimento esposado pela Douta Ministra Nancy Andrighi. Isto posto, de antemo podemos adiantar que pacfico na jurisprudncia superior (STJ e STF) somente o entendimento de que deve ser considerado como principal estabelecimento "o centro vital das principais atividades do devedor". Agora, no tocante a se definir a exata interpretao do que seja esse centro vital; conforme notamos, no h consenso. Porquanto, dada essa polmica, estamos elaborando artigo especfico tratando sobre essa peculiaridade, onde aprofundaremos mais essa problemtica. 2. DISPOSIES BSICAS COMUNS Tanto na falncia quanto na recuperao judicial deve-se atentar para as seguintes regras bsicas: a) Crditos inexigveis No so exigveis as obrigaes a ttulo gratuito contradas pelo devedor (ex: doao), nem as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperao judicial ou na falncia, salvo as custas judiciais decorrentes de litgio com o devedor. b) Suspenso do curso da prescrio e das aes Diz o art. 6 da LFR que: "A decretao da falncia ou o deferimento do processamento da recuperao judicial suspende o curso da prescrio e de todas as aes e execues em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do scio solidrio". Destaque-se que a suspenso ora evidenciada somente daquelas obrigaes que o falido ou recuperando so devedores, e das aes que estes figurem no plo passivo. Portanto, aquelas obrigaes em

que o falido ou recuperando so credores; e as aes que estes figurem no plo ativo no so suspensas pela supervenincia da recuperao judicial ou da falncia. No tocante s aes e execues de natureza fiscal e trabalhista, conforme acreditamos, o dispositivo em tela no pode ser interpretado sem uma anlise contextualizada da Nova Lei. Assim, em caso de recuperao judicial no temos dvida que as execues trabalhistas devam ser suspensas somente pelo prazo mximo de 180 (cento e oitenta) dias, ex vi art. 6, pargrafo 5, da LFR; j as aes trabalhistas que no sejam executivas, de acordo com nosso entendimento, no sofrem qualquer suspenso com a supervenincia da recuperao judicial, pelo que se extrai do artigo 5, pargrafo 2. Na falncia, defendemos que as execues trabalhistas devam ser suspensas, pois o credor dever habilitar seus crditos junto ao juzo falimentar; no entanto, no tem para qu se suspender as aes de conhecimento e cautelar que estejam sendo processadas contra o falido na Justia do Trabalho; encontrando esse posicionamento guarida no artigo 76 da LFR. Quanto s aes de natureza fiscal, o pargrafo 7 do artigo 6 diz claramente que as execues de tal natureza no so suspensas pelo deferimento da recuperao judicial. De outra banda, conforme pensamos, nem mesmo as aes fiscais cognitivas devem ser suspensas pela recuperao judicial, visto que este processo em nada interferir nas mesmas. No caso de falncia, entende a doutrina [7] (com amparo no artigo 187 do CTN) que as execues fiscais tambm no devem ser suspensas; devendo, igualmente, prosseguir seu curso normal as aes fiscais cognitivas (art. 76, pargrafo nico, da LFR). Registre-se, ainda, que mesmo as aes comerciais e cveis, que no sejam executivas, no sero suspensas pela supervenincia da falncia ou da recuperao judicial ex vi 1 do artigo 6. c) Preveno do Juzo Uma vez realizado novo pedido de recuperao judicial ou de falncia face a devedor que j tenha pedido de falncia ou de recuperao judicial sendo processado, o juzo para qual foi distribudo o primeiro pedido tornarse- prevento, sendo competente para apreciar o novo pleito. 3. O ADMINISTRADOR JUDICIAL Quando decretada a falncia ou deferido o processamento da recuperao judicial incumbe ao juiz nomear um administrador judicial que assumir atribuies administrativas na conduo do processo. Diramos que, na recuperao judicial, o seu principal papel seria de fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperao judicial, haja vista que, em tal situao no h, necessariamente, o afastamento do devedor de suas atividades. J na falncia, as atribuies do administrador judicial aumentam, pois nesse caso h o afastamento do falido da administrao de seus bens, passando aquele a representar a massa falida do devedor.

As atribuies gerais (na recuperao judicial e na falncia) do administrador judicial esto elencadas no artigo 22, caput, e inciso I, da LFR. As especficas, no tocante recuperao judicial esto dispostas no artigo 22, II; e as especficas, relativas falncia, no artigo 22, III. Diz a LFR que o administrador judicial deve ser um profissional idneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurdica especializada (art. 21). Tal profissional deve ser nomeado pelo juiz, conforme j frisamos, no momento da decretao da falncia (art. 99, IX) ou por ocasio do deferimento do processamento da recuperao judicial (art. 52, I). Pela atividade desempenhada o profissional em evidncia faz jus a uma remunerao a ser fixada pelo juiz, que estipular o valor e a forma de pagamento da mesma, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. Tal remunerao, contudo, no poder exceder a 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos recuperao judicial ou do valor de venda dos bens na falncia; e ser paga pelo devedor ou pela massa falida. 4. ASSEMBLIA GERAL DE CREDORES A assemblia-geral de credores nada mais do que a reunio de todos os credores, observadas as excees legais, sujeitos recuperao judicial ou falncia de um devedor empresrio. Tal rgo [8] ter, na recuperao judicial, a funo de deliberar sobre (art. 35, I, da LFR): a) aprovao, rejeio ou modificao do plano de recuperao judicial apresentado pelo devedor; b) a constituio do Comit de Credores, a escolha de seus membros e sua substituio; c) o pedido de desistncia do devedor; considerando que este, aps deferido o processamento de sua recuperao judicial, somente poder desistir de tal demanda mediante autorizao da assemblia-geral de credores; d) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; e) qualquer outra matria que possa afetar os interesses dos credores. Na falncia, assemblia em tela incumbir deliberar sobre (art. 35, II, da LFR): a) a constituio do Comit de Credores, a escolha de seus membros e sua substituio;

b) a adoo de outras modalidades de realizao do ativo; considerando que a LFR diz que os ativos do devedor sero alienados atravs de leilo (por lances orais), propostas fechadas ou prego, mas deixa aos credores a opo de escolherem outra forma de alienao (art. 145); c) qualquer outra matria que possa afetar os interesses dos credores. 4.1. Convocao, Quorum e Voto A assemblia-geral ser convocada pelo juiz da falncia por edital publicado no rgo oficial e em jornais de grande circulao nas localidades da sede e filiais do falido, com antecedncia mnima de 15 (quinze) dias; devendo a cpia do aviso de convocao ser afixado de forma ostensiva na sede e filiais do devedor. Alm de outros casos expressamente previstos (que veremos a medida em que formos aprofundando o estudo da LFR), credores que representem no mnimo 25% (vinte e cinco por cento) do valor total dos crditos de uma determinada classe podero requerer ao juiz a convocao de assemblia-geral. A assemblia em questo ser presidida pelo administrador judicial. Havendo incompatibilidade deste com a deciso a ser tomada em assemblia, esta ser presidida pelo credor presente que tenha maior crdito. Instalar-se-, em 1 (primeira) convocao, com a presena de credores titulares de mais da metade dos crditos de cada classe, computados pelo valor, e, em 2 (segunda) convocao, com qualquer nmero. O voto do credor, na assemblia, ser proporcional ao valor de seu crdito, ressalvado, nas deliberaes sobre o plano de recuperao judicial, o caso dos credores trabalhistas; que votaro referido plano (que afete seus crditos), atravs de voto democrtico, onde cada trabalhador ter direito a um voto, independentemente do valor de seu crdito. Tero direito a voto na assemblia, a princpio, as pessoas arroladas no quadro-geral de credores (art. 39). O quorum de deliberao norteado pela seguinte regra geral (art. 42): "considerar-se- aprovada a proposta que obtiver votos favorveis de credores que representem mais da metade do valor total dos crditos presentes assemblia-geral [...]". 4.2. Composio A assemblia geral ser composta pelas seguintes classes de credores (art. 41): a) titulares de crditos derivados da legislao do trabalho ou decorrentes de acidentes do trabalho; b) titulares de crditos com garantia real;

c) titulares de crditos quirografrios, com privilgio especial, com privilgio geral, ou subordinados. 5. COMIT DE CREDORES um rgo de existncia facultativa, tanto na falncia quanto na recuperao judicial, composto por representantes de cada classe de credores do devedor submetidos ao processo, que tem como principal finalidade zelar pelo bom andamento deste. O rgo em epgrafe (assim como a assemblia-geral de credores) no era previsto no Decreto-lei n 7661/1945 (Lei de Falncias anterior), constituindo-se uma inovao da Lei n 11101/2005. 5.1. Composio Como j se disse anteriormente, o Comit de Credores um rgo facultativo, cabendo a uma das classes de credores, em assemblia-geral, deliberar por sua constituio. Ser composto por: a. b. um representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com dois suplentes; um representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilgios

especiais, com dois suplentes; c. um representante indicado pela classe de credores quirografrios e com privilgios gerais, com dois suplentes. Caso uma(s) das classes decida(m) no apresentar representante para compor o Comit em evidncia, mesmo assim este poder ser constitudo e funcionar normalmente. Na escolha dos representantes de cada classe no Comit de Credores, somente os respectivos membros podero votar. Os titulares de crditos derivados da legislao do trabalho votam na sua classe com o total de seu crdito, mesmo considerando que os crditos trabalhistas acima de 150 salrios mnimos, por credor, sero considerados quirografrios. J os titulares de crditos com garantia real votam na sua classe somente no limite do valor do bem onerado, e na classe dos quirografrios pelo restante do valor de seu crdito. Portanto, cada credor com garantia real, caso o(s) bem(s) especfico(s) vinculado(s) ao seu crdito no possua(m) valor suficiente para solv-lo, votar em duas classes distintas. Destaque-se, ademais, que o juiz da falncia poder, mediante requerimento subscrito por credores que representem a maioria dos crditos de uma classe, independentemente da realizao de assemblia, nomear o representante e suplentes dessa classe, se porventura ainda no representada no Comit; ou substituir o seu representante ou suplentes.

Uma vez escolhidos os membros do rgo referenciado (seja em assemblia ou na forma referida no pargrafo anterior), estes sero nomeados pelo juiz da falncia, que determinar a intimao pessoal dos mesmos para, em 48 (quarenta e oito) horas, assinarem, na sede do juzo, o termo de compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo e assumir todas as responsabilidades a ele inerentes. Os prprios membros do Conselho escolhero, entre eles, quem ir presidi-lo. 5.2. Atribuies Na recuperao judicial e na falncia, o Comit de Credores ter, dentre outras, as seguintes atribuies: a. b. d. e. fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial; zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei; apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamaes dos interessados; requerer ao juiz a convocao da assemblia-geral de credores;

c. comunicar ao juiz, caso detecte violao dos direitos ou prejuzo aos interesses dos credores;

f. manifestar-se nas hipteses previstas na LFR. Especificamente na recuperao judicial, o Comit ter, dentre outras, as seguintes atribuies: a. b. fiscalizar a administrao das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, fiscalizar a execuo do plano de recuperao judicial;

relatrio de sua situao; c. submeter autorizao do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipteses previstas na LFR, a alienao de bens do ativo permanente, a constituio de nus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessrios continuao da atividade empresarial durante o perodo que antecede a aprovao do plano de recuperao judicial. Caso no haja Comit, na recuperao judicial ou na falncia, as atribuies deste sero exercidas pelo administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, pelo juiz. No ser paga qualquer remunerao aos membros do Comit pelo devedor ou pela massa falida. Da se entendendo que estes no tero remunerao (sero voluntrios no remunerados) ou que tal despesa ser assumida pelos membros de cada classe no tocante ao seu respectivo representante. 5.3. Impedimentos No podem ser membros do Comit quem, nos ltimos cinco anos, no exerccio do cargo de administrador judicial ou de membro do Comit em falncia ou recuperao judicial anterior, foi destitudo, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestao de contas desaprovada.

Igualmente, no pode integrar referido rgo quem tiver relao de parentesco ou afinidade at o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. Os mesmos impedimentos acima tambm se aplicam ao administrador judicial. 5.4. Destituio Cabe ao juiz da falncia, de ofcio ou mediante requerimento fundamentado, destituir o membro do Comit, quando verificar desobedincia aos preceitos da LFR, descumprimento de deveres, omisso, negligncia ou prtica de ato lesivo s atividades do devedor ou a terceiros. Destitudo membro do Comit, no mesmo ato o juiz convocar o respectivo suplente para assumir as funes do destitudo. Ressalte-se, ainda, que os membros do Comit, assim como o administrador judicial, respondero pelos prejuzos causados massa falida, ao devedor ou aos credores por dolo ou culpa. Assim sendo, prev a LFR (art. 32) que o membro que no concorde com determinada deciso do Comit, que possa causar prejuzos a terceiros, deve consignar sua discordncia em ata para eximir-se de responsabilidade. 6. O REPRESENTANTE DO MINISTRIO PBLICO O representante do Ministrio Pblico tem participao efetiva nos processos de falncia e de recuperao judicial; sendo, pois, tambm um rgo de tais processos. Por oportuno, frise-se que o art. 4 da LFR que previa participao irrestrita do Ministrio Pblico no processo falimentar ou de recuperao judicial; e, ainda, nos processos movidos pela massa falida contra terceiros fora do juzo falimentar, foi vetado pelo Presidente da Repblica. Ante tal veto, fica sendo obrigatria a interveno do MP somente nos casos expressa e legalmente previstos [9]. Nesse sentido foram alinhavadas as razes do veto abaixo transcritas [10]: O dispositivo reproduz a atual Lei de Falncias DL 7661, de 21 de junho de 1945, que obriga a interveno do "parquet" no apenas no processo falimentar, mas tambm em todas as aes que envolvam a massa falida, ainda que irrelevantes, e. g. execues fiscais, aes de cobrana, mesmo as de pequeno valor, reclamatrias trabalhistas etc., sobrecarregando a instituio e reduzindo sua importncia institucional.

Importante ressaltar que no autgrafo da nova Lei de Falncias enviado ao Presidente da Repblica so previstas hipteses, absolutamente razoveis, de interveno obrigatria do Ministrio Pblico, alm daquelas de natureza penal. UNIDADE IV RECUPERAO JUDICIAL 1. CONCEITO A recuperao judicial o processo que tem por objetivo viabilizar a superao da situao de crise econmico-financeira do devedor, a fim de permitir a manuteno da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservao da empresa, sua funo social e o estmulo atividade econmica. Tal conceito extrado do artigo 47 da LFR, e deixa bem claro que as motivaes da mudana da legislao falimentar, principalmente no tocante criao do instituto de recuperao de empresas, esto ancoradas na busca de prevalncia do interesse coletivo da sociedade. No se quis com tais alteraes (pelo menos ao que se declara) facilitar a vida do empresrio, mas sim propiciar a preservao da empresa como unidade produtiva, visando os interesses da sociedade no tocante preservao de empregos, produo de riquezas e arrecadao de tributos. 2. REQUISITOS PARA SE TER ACESSO RECUPERAO JUDICIAL Primeiramente, reitera-se que somente o empresrio (coletivo ou individual) pode ter acesso recuperao judicial. As restries, contudo, no param por a. Mesmo sendo empresrio o interessado, este ainda tem que atender a certos requisitos impostos pela LFR. Nessa linha, poder requerer recuperao judicial o devedor empresrio que atenda os seguintes requisitos (art. 48): a. b. no momento do pedido, exera regularmente suas atividades h mais de 2 (dois) anos; no ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentena transitada em julgado, as

responsabilidades da decorrentes; c. no ter, h menos de 5 (cinco) anos, obtido concesso de recuperao judicial; d. e. no ter, h menos de 8 (oito) anos, obtido concesso de recuperao judicial com base no plano no ter sido condenado ou no ter, como administrador ou scio controlador, pessoa condenada especial de recuperao judicial para microempresas e empresas de pequeno porte; por qualquer dos crimes previstos na LFR; salvo se referidas pessoas j foram reabilitadas na forma da lei.

Atente-se que a regra que enunciamos na letra "a" exige que o empresrio exera regularmente suas atividades. Logo, o empresrio de fato (posto que este no exerce regularmente sua atividade) no tem direito de acesso recuperao judicial. Destaque-se, ademais, que, conforme j se adiantou em tpico anterior, os devedores proibidos de requerer concordata nos termos da antiga Lei de Falncias na data de publicao da LFR tambm ficam impedidos de requerer a recuperao judicial, com exceo das companhias areas e de infra-estrutura aeronutica. 3. CRDITOS SUJEITOS RECUPERAO JUDICIAL Esto sujeitos recuperao judicial todos os crditos que se tenha contra o devedor recuperando na data do pedido de recuperao, ainda que no vencidos. Esta a regra geral, inserta no artigo 49. Cabe ressaltar, entretanto, que esta regra possui excees, visto no estarem sujeitos recuperao judicial os seguintes crditos: a. b. no qual o credor tenha a posio de credor fiducirio de bens mveis ou imveis. o caso, por relativos a arrendamento mercantil (leasing);

exemplo, da alienao fiduciria em garantia, forma contratual muito utilizada em nossos dias; c. no qual o credor seja proprietrio ou promitente vendedor de imvel cujos respectivos contratos contenham clusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporaes imobilirias; d. e. devedor; f. os crditos fiscais (vide artigo 191-A do CTN, acrescentado pela LC 118/2005) Esclarea-se, outrossim, que no tocante aos credores elencados nas letras "a", "b", "c" e "d", considerando que estes so proprietrios de bens que esto na posse do recuperando, e que so vinculados em garantia de seu crdito, traz a LFR restrio no direito desses ditos credores reaverem os bens junto o devedor, o que ns poderamos classificar como uma relativa restrio ao exerccio dos direitos de tais credores em caso de recuperao judicial. Nesse particular, o pargrafo 3 do artigo 49 diz que no se permite, durante o prazo de 180 (cento e oitenta dias) em que se processa o pedido de recuperao judicial, a venda ou retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. Portanto, quando o devedor pede sua recuperao judicial, caso o juiz determine o processamento [11] da mesma, no prazo de 180 (cento e oitenta dias) sero entabulados os atos necessrios ao deferimento ou no da recuperao judicial, e nesse prazo, ocorrer a restrio ora evidenciada. cujo credor seja proprietrio de bem objeto de venda com reserva de domnio; decorrentes de adiantamento de contrato de cmbio para exportao onde o recuperando seja

4. MEIOS DE RECUPERAO Enquanto que na concordata o devedor, a princpio, poderia conseguir mediante pronunciamento judicial somente um desconto em suas dvidas, uma dilatao no prazo de vencimento das mesmas, ou as duas coisas ao mesmo tempo; na recuperao judicial, o leque de opes dos benefcios legais que podem ser conseguidos com o objetivo de recuperar a empresa amplia-se sobremaneira. Assim sendo, a LFR, atravs de seu artigo 50 traz um rol exemplificativo dos meios de recuperao pelos quais a empresa pode optar de forma isolada ou conjunta. Eis os meios expressamente mencionados na LFR: a. vincendas; b. ciso, incorporao, fuso ou transformao de sociedade, constituio de subsidiria integral, ou cesso de cotas ou aes, respeitados os direitos dos scios, nos termos da legislao vigente; c. alterao do controle societrio; d. administrativos; e. concesso aos credores de direitos de eleio em separado de administradores e de poder de veto em relao s matrias que o plano especificar; f. aumento de capital social; g. empregados; h. i. j. k. l. reduo salarial, compensao de horrios e reduo da jornada, mediante acordo ou dao em pagamento ou novao de dvidas do passivo, com ou sem constituio de garantia constituio de sociedade de credores; venda parcial dos bens; equalizao dos encargos financeiros relativos a dbitos de qualquer natureza, tendo como termo conveno coletiva; prpria ou de terceiro; trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive sociedade constituda pelos prprios substituio total ou parcial dos administradores do devedor ou modificao de seus rgos concesso de prazos e condies especiais para pagamentos das obrigaes vencidas ou

inicial a data da distribuio do pedido de recuperao judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crdito rural, sem prejuzo do disposto em legislao especfica; m. n. o. p. usufruto da empresa; administrao compartilhada; emisso de valores mobilirios; constituio de sociedade de propsito especfico para adjudicar, em pagamento dos crditos, os

ativos do devedor;

Note-se que o rol de medidas que podem ser adotadas na recuperao da empresa bem extenso, e ainda, apenas exemplificativo, podendo, conforme entendemos, ser adotadas outras espcies de medidas no enunciadas expressamente na LFR. Assim, percebe-se que o processo de recuperao judicial no fica engessado por alternativas limitadas, podendo o devedor e os credores utilizar sua criatividade com vistas a encontrar os melhores meios de recuperar a empresa em dificuldades. 5. O PEDIDO DE RECUPERAO JUDICIAL Podem requerer a recuperao judicial: a) o prprio devedor; b) o cnjuge sobrevivente, herdeiros do devedor ou inventariante, em caso de falecimento do devedor; c) scio remanescente. Entendemos que a letra "b" aplica-se somente ao empresrio individual falecido; j a letra "c" aplica-se somente sociedade empresria, pois somente nela teremos a figura do scio remanescente. Parece-nos, entretanto, e primeira vista, imprecisa a referncia feita pelo pargrafo nico do artigo 48 ao scio remanescente, como legitimado para pedir a recuperao judicial, pois quem pode pedir a recuperao judicial da sociedade empresria justamente o seu representante legal (estando devidamente autorizado para tanto nas condies da lei que rege a espcie societria representada e dos atos constitutivos de referido ente empresarial). Ora, se um scio faleceu ou retirou-se da sociedade, e no ele o representante legal da mesma, pode perfeitamente, independentemente de previso na LFR, o scio remanescente que seja representante legal (estando devidamente autorizado), pedir a recuperao judicial da empresa. Talvez, porm, a disposio em epgrafe seja til no caso do scio remanescente no ser representante legal da sociedade e/ou no estar autorizado para realizar tal pleito, a sim teria relevncia o disposto na LFR, garantindo a este, mesmo no sendo legitimado ordinariamente para tanto, requerer a recuperao judicial da pessoa jurdica de que faz parte unicamente como scio prestador de capital [12] e/ou minoritrio. 5.1. A petio Inicial de Recuperao Judicial Como toda petio inicial que se sujeite ao processamento no juzo cvel em sentido lato, a exordial da recuperao judicial deve, a princpio, atender aos requisitos do artigo 282 do CPC. Deve, ainda, especialmente ser instruda com (artigo 51 da LFR): a) a exposio das causas concretas da situao patrimonial do devedor e das razes de crise econmicofinanceira; b) as demonstraes contbeis relativas aos 3 (trs) ltimos exerccios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observncia da legislao societria aplicvel e compostas obrigatoriamente de:

balano patrimonial; demonstrao de resultados acumulados; demonstrao do resultado desde o ltimo exerccio social; relatrio gerencial de fluxo de caixa e de sua projeo;

c) a relao nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigao de fazer ou de dar, com a indicao do endereo de cada um, a natureza, a classificao e o valor atualizado do crdito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicao dos registros contbeis de cada transao pendente; d) a relao integral dos empregados, em que constem as respectivas funes, salrios, indenizaes e outras parcelas a que tm direito, com o correspondente ms de competncia, e a discriminao dos valores pendentes de pagamento; e) certido de regularidade do devedor no Registro Pblico de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeao dos atuais administradores; f) a relao dos bens particulares dos scios controladores e dos administradores do devedor; g) os extratos atualizados das contas bancrias do devedor e de suas eventuais aplicaes financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituies financeiras; h) certides dos cartrios de protestos situados na comarca do domiclio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; i) a relao, subscrita pelo devedor, de todas as aes judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. A LFR no exige que j com a inicial da recuperao judicial o requerente junte as certides negativas de dbitos tributrios. No pense, contudo, que o devedor com dbitos tributrios no parcelados legalmente poder ter acesso recuperao em questo, pois no ter; apenas a LFR determina que a exigncia das certides negativas de dvidas tributrias seja feita em um momento futuro, qual seja: aps a juntada aos autos do plano de recuperao judicial aprovado pela assemblia-geral de credores ou decorrido o prazo previsto no artigo 55 sem objeo dos credores. Logo, quando do ingresso do pedido de recuperao, ainda no h a obrigao de se juntar certides negativas de dbitos tributrios, mas antes do deferimento de tal benefcio legal deve-se fazer tal juntada, no prazo que a Lei estipula, atendendo-se o disposto no artigo 191-A do CTN (acrescido pela LC 118/2005), que assim determina: "A concesso de recuperao judicial depende da apresentao da prova de quitao de todos os tributos, observado o disposto nos arts. 151, 205 e 206 desta Lei".

Robson Zanetti faz alguns comentrios sobre a exigncia acima destacada, frisando a mudana feita na LFR na fase final de aprovao desta. Vejamos: Da possibilidade de ser requerida recuperao judicial com dbito tributrio. O artigo 57 do substitutivo do Senado Federal sofreu uma pequena modificao, ao ser retirado o prazo de 5 dias para o empresrio apresentar certides negativas de dbitos tributrios. Tambm foi retirado o pargrafo nico que estabelecia que o juiz declararia a falncia se essas certides no fossem apresentadas dentro desse prazo. Foi deixado um prazo em aberto para sua apresentao aps a aprovao do plano de recuperao judicial [13]. 5.2. Momento de Ingressar com o Pedido de Recuperao Judicial Como conhecido, na sistemtica do DL 7661/1945 existia a concordata preventiva e suspensiva; sendo que com esta se ingressava no curso do processo falimentar (objetivando suspend-lo), e com aquela ingressava-se antes da falncia. No tocante recuperao judicial no h oportunidade para o devedor conseguir este benefcio legal se j tiver sido decretada a sua falncia. Dessa forma, cabe-se postular a recuperao judicial somente antes da falncia. Quando dizemos antes da falncia, entenda-se antes da decretao, pois mesmo aps o pedido, no prazo da defesa, ainda pode o devedor requerer o benefcio legal, consoante expressa o artigo 95 da LFR: "Dentro do prazo de contestao, o devedor poder pleitear sua recuperao judicial". 6. O PROCESSAMENTO DA RECUPERAO JUDICIAL Estando em termos a documentao exigida para o pedido de recuperao judicial, e percebendo que este feito por parte legtima, o juiz deferir o seu processamento. Logo, no exame inicial do pedido de recuperao judicial o juiz no ir se deter em apreciar o mrito do mesmo, limitando-se apenas a verificar se este atende as exigncias de ordem processual impostas pela legislao processual comum (CPC) e pela LFR. Assim, quando o juiz defere o processamento da recuperao judicial no est concedendo ao devedor a recuperao em si, est apenas admitindo tal pedido como processualmente idneo, deixando o exame de mrito, aps o qual ir deferir ou no a recuperao judicial, para um momento futuro. No pense, contudo, que o provimento jurisdicional que defere o processamento da recuperao judicial no produz nenhum efeito sobre as relaes do devedor requerente com seus credores, pois isso no corresponde realidade.

Conquanto, no mesmo ato que o juiz defere o processamento da recuperao judicial, este j deve (art. 52): a. b. nomear o administrador judicial; determinar a dispensa da apresentao de certides negativas para que o devedor exera suas

atividades, exceto para contratao com o Poder Pblico ou para recebimento de benefcios ou incentivos fiscais ou creditrios, porm em seus atos negociais o devedor dever acrescer ao seu nome empresarial a expresso "em recuperao judicial"; c. ordenar a suspenso de todas as aes ou execues contra o devedor, ressalvadas aquelas que digam respeito a crditos no sujeitos recuperao judicial ou que a lei prev que no devam ser suspensas; d. e. determinar ao devedor que apresente contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a ordenar a intimao do Ministrio Pblico e comunicao por carta Fazendas Pblicas recuperao judicial, sob pena de destituio de seus adminstradores; Federal e de todos os Estados e Municpios em que o devedor tiver estabelecimento; f. ordenar a expedio de edital, para publicao no rgo oficial, com vistas a dar publicidade de sua deciso, no qual conter o resumo do pedido do devedor e da deciso, relao nominal de credores apresentada pelo requerente e a advertncia acerca dos prazos para habilitao dos crditos e para apresentao de objeo por parte dos credores ao plano de recuperao judicial. Aps o deferimento do processamento de seu pedido de recuperao judicial o devedor, salvo aquiescncia da assemblia-geral de credores, no poder mais desistir do pleito de recuperao; tendo que aguardar a apreciao do mrito do pedido, que redundar com o deferimento do benefcio legal ou seu indeferimento; neste ltimo caso, acarretando a decretao da falncia do devedor. Deferido o processamento em questo, j podem os credores (que representem, no mnimo, 25% do valor total dos crditos de uma determinada classe) solicitarem ao juiz a convocao da assemblia de credores para deliberarem sobre a constituio do comit de credores. Percebam que no ato do deferimento do processamento da recuperao judicial ainda no h a obrigatoriedade do juiz, de ofcio, convocar a assemblia-geral de credores. Isso ocorrer somente aps a apresentao do plano de recuperao judicial, caso ocorra objeo de credor (artigo 56, caput) a referido documento. Note-se, ademais, que junto com o seu pedido de recuperao judicial ainda no obrigado o requerente a apresentar em juzo o plano mencionado no pargrafo anterior, posto que tem at sessenta dias, contados da publicao da deciso que deferir o processamento de sua recuperao judicial, para realizar tal ato, conforme se ver de forma mais analtica no tpico em que trataremos especificamente sobre o plano em epgrafe.

7. VERIFICAO E HABILITAO DOS CRDITOS Como j expressamos na primeira parte dos presentes comentrios, quando o juiz defere o processo da recuperao judicial, ele j deve nomear o administrador judicial. E, dentre as atribuies de tal profissional est realizar a verificao de crditos [1]; procedimento este que se inicia com a habilitao dos credores. 7.1. Habilitao dos Credores (art. 7, 1) Aps publicado o edital que comunica o deferimento do processamento da recuperao judicial, os credores tero o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitaes ou suas divergncias quanto aos crditos relacionados no referido edital. Note-se que no prazo para habilitaes podem tambm os credores, no somente se habilitar, mas tambm apresentarem divergncias quanto aos crditos relacionados no edital publicado logo aps o deferimento do processamento da recuperao, considerando que neste documento constar a relao de credores apresentada em juzo pelo devedor. Logo, caso o credor perceba alguma discrepncia nessa relao de credores, pode manifestar-se quanto a isso no mesmo prazo de habilitao. A habilitao de crdito, a seu turno, dever conter (art. 9): a) o nome, o endereo do credor e o endereo em que receber comunicao de qualquer ato do processo; b) o valor do crdito, atualizado at a data do pedido de recuperao judicial, sua origem e classificao; c) o original ou cpia autenticada (caso estejam juntados a outro processo) dos documentos comprobatrios do crdito e a indicao das demais provas a serem produzidas; d) a indicao da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento; e) a especificao do objeto da garantia que estiver na posse do credor. Perceba-se que as informaes que devem constar na petio de habilitao, e os documentos que devem instru-la so absolutamente necessrios para se averiguar a idoneidade do crdito habilitando. A habilitao no apresentada no prazo legal ser recebida como retardatria; no tendo o credor retardatrio (salvo se for trabalhista) o direito de voto nas deliberaes da assemblia-geral de credores (art. 10). Considerando que a habilitao dirigida ao administrador judicial, pode-se dizer que ela no se configura ato de postulao judicial; e por esse motivo, pensamos possa ser feita pessoalmente pelo credor, independentemente da assistncia de advogado.

7.2. Publicao da Segunda Relao de Credores (art. 7, 2) Como vimos, quando o devedor ingressa com o pedido de recuperao j apresenta ao juiz uma relao de credores, que publicada atravs de edital logo aps o deferimento do processamento da recuperao. Depois isso, aberto prazo para os credores se habilitarem. Findo o prazo para habilitao (de quinze dias), e tendo verificado os crditos com base nos livros contbeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, o administrador far publicar, no prazo de quarenta e cinco dias, edital, no qual dever constar: relao de credores; e o local, o horrio e o prazo comum em que as pessoas legitimadas para apresentar impugnaes tero acesso aos documentos que fundamentaram a elaborao dessa relao. A est a segunda relao de credores a que estamos nos referindo. 7.3. Impugnao Contra a Relao de Credores (art. 8) No prazo de dez dias, contados da publicao referida anteriormente, o Comit (se houver), qualquer credor, o devedor ou seus scios ou o Ministrio Pblico podem apresentar ao juiz impugnao contra a relao de credores elaborada pelo administrador judicial; onde apontaro a ausncia de qualquer crdito ou manifestao contra a legitimidade, importncia ou classificao de crdito relacionado. Nessa fase, h a oportunidade para os legitimados manifestarem a sua discordncia no tocante segunda relao de credores, elaborada pelo administrador judicial. Desse modo, constate-se que a primeira relao de credores unilateral, apresentada pelo devedor. A segunda relao de credores, por sua vez, j um documento cuja presuno de idoneidade bem maior, visto que produto de uma anlise feita pelo administrador judicial frente s habilitaes e divergncias apresentadas pelos credores, e ainda, face aos documentos trazidos pelo devedor e credores aos autos. A discordncia manifestada pelos legitimados quanto relao de credores no se limita existncia de determinado crdito, pode ser no que concerne ao valor, classificao etc, pois na relao de credores tais crditos j constaram com seu respectivo valor e classificao. Sendo apresentada impugnao esta ser autuada em separado. Devendo a petio inicial ser dirigida ao juiz da recuperao, e ser instruda com os documentos que tiver o impugnante; indicando este, ainda, demais provas que pretender produzir. A petio em destaque deve ser subscrita por advogado, visto a impugnao caracterizar-se como ato de postulao judicial.

As impugnaes que visam atacar um mesmo crdito sero autuadas juntas; pois o juiz decidir quanto idoneidade de cada crdito impugnado; no havendo justificativa para autuar em separado impugnaes voltadas ao mesmo crdito. 7.4. Demais Manifestaes Aps a Impugnao (arts. 11 e 12) Os credores cujos crditos forem impugnados sero intimados para contestar a impugnao no prazo de 5 (cinco) dias; devendo, por ocasio da defesa, juntar os documentos que julguem necessrios e indicando outras provas que pretendem produzir (art. 11). Por fora da apresentao da impugnao deve ser institudo o contraditrio para que o juiz possa, dando oportunidade de defesa aos envolvidos, ao final julgar a procedncia ou no do incidente instaurado. Nesse desiderato que se d possibilidade ao credor que teve seu crdito impugnado apresentar a sua defesa face s alegaes de um ou mais legitimado(s) impugnante(s), posto que um crdito pode ser alvo de vrias impugnaes diferentes, desde que estas partam de pessoas legitimadas para tanto. Prev a LFR (art. 12), ainda, que uma vez transcorrido o prazo para manifestao do credor que teve seu crdito impugnado, o devedor e o Comit, este se houver, sero intimados pelo juiz para se manifestar sobre a impugnao no prazo de 5 (cinco) dias. Percebe-se com tal disposio, que a Lei quer d amplas possibilidades para que o julgamento da impugnao seja o mais justo possvel, haja vista que h a previso de serem ouvidos todos os interessados (pessoalmente ou representados pelo Comit) no evento. Transcorrido o prazo para o Comit e o devedor se manifestarem, o administrador ser intimado pelo juiz para emitir parecer no prazo de cinco dias sobre a impugnao (art. 12, nico), devendo juntar sua manifestao todos os documentos e informaes que tiver acesso acerca do crdito impugnado, e que sero teis ao julgamento da impugnao. 7.5. Julgamento da Impugnao (art. 15) Aps os prazos para impugnaes e manifestaes quanto a estas, dispe o artigo 15, que os autos de cada impugnao, caso haja alguma, sero conclusos ao juiz, que: a)determinar a incluso no quadro-geral de credores das habilitaes de crditos no impugnadas, no valor constante na relao [2] apresentada pelo administrador judicial anteriormente; b)julgar as impugnaes que entender suficientemente esclarecidas pelas alegaes e provas apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crdito, o valor e a classificao; c)fixar, em cada uma das restantes impugnaes, os aspectos controvertidos e decidir as questes processuais pendentes;

d)determinar as provas a serem produzidas, designando audincia de instruo e julgamento, se necessrio. Nas impugnaes que haja necessidade de dilao probatria, na forma referida na letra "d" supra, aps realizados os atos processuais necessrios; caber ao juiz, por bvio, prolatar a respectiva deciso. Da deciso judicial sobre a impugnao caber agravo, seja esta prolatada na forma descrita no pargrafo anterior, ou conforme o referido na letra "b" ao norte. 7.6. Consolidao do Quadro-Geral de Credores (art. 18) Decididas as impugnaes, caber ao administrador consolidar o quadro-geral de credores, a ser homologado pelo juiz. Referido quadro ser consolidado com base na relao de credores antes elaborada por tal administrador e, ainda, levando em considerao as decises das impugnaes. O art. 18, nico, dispe, ademais, quanto ao quadro em epgrafe, que este ser assinado pelo juiz e pelo administrador judicial, mencionar a importncia e a classificao de cada crdito na data do requerimento da recuperao judicial, e ser juntado aos autos e publicado no rgo oficial, no prazo de cinco dias, contado da data da deciso que houver julgado as impugnaes. Com a homologao do quadro-geral de credores, tem-se uma posio final (modificvel apenas via recurso ou atravs de ao prpria) quanto aos dbitos do recuperando, ficando aberto o caminho para um juzo de mrito quanto viabilidade da proposta de reorganizao apresentada pelo devedor, atravs da comparao entre a situao vislumbrada no quadro em tela e os meios de recuperao indicados no plano de reorganizao apresentado. De outra banda, destaque-se, por oportuno, que mesmo aps procedida a homologao do quadro-geral de credores, ainda possvel o administrador judicial, o Comit, qualquer credor ou o representante do Ministrio Pblico, pedirem (at o encerramento da recuperao judicial) a excluso, outra classificao ou a retificao de qualquer crdito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulao, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na poca do julgamento do crdito ou da incluso no quadro-geral de credores. Para tanto, porm, devero se socorrer nos meios ordinrios previstos no CPC; devendo o pedido ser feito junto ao juzo da recuperao (salvo nas hipteses previstas no art. 6, 1 e 2, da LFR; pois nestes casos o pedido dever ser feito junto ao juzo que tenha, originariamente, reconhecido o crdito). Prev a LFR, outrossim, que uma vez proposta a ao visando questionar determinado crdito, conforme referido acima, o pagamento ao seu titular (do crdito) por ela atingido somente poder ser realizado mediante a prestao de cauo no mesmo valor do crdito questionado.

Por fim, observe-se que todo o procedimento complexo de instruo e julgamento de impugnaes somente necessrio, por evidente, se estas forem apresentadas, pois em caso contrrio, o juiz dever homologar, como quadro-geral de credores, a relao dos credores elaborada pelo administrador judicial logo aps as habilitaes de crditos; no havendo necessidade tambm da publicao do quadro aps homologao, visto que a relao elaborada pelo administrador j foi publicada atravs do edital previsto no art. 7, 2, e esta valer como quadro-geral de credores. 7.7. Habilitaes Retardatrias e Quadro-Geral de Credores (art. 10, 5 e 6) A homologao do quadro-geral de credores um marco divisrio no tocante ao procedimento que deve ser adotado para habilitar crdito retardatrio. Nesse passo, se a habilitao retardatria for apresentada antes da homologao do quadro-geral de credores ela ser recebida como impugnao e processada na forma explicitada nos subtpicos 8.3 a 8.5 supra (com as devidas adaptaes, por bvio). O procedimento culmina com o julgamento da pretenso do credor retardatrio. Desse jeito, sendo o crdito idneo, o juiz deferir a habilitao do mesmo determinando a insero do crdito retardatrio no quadro-geral de credores. Em caso contrrio, apenas afastar a pretenso. De outro modo, se no momento que o credor retardatrio for se habilitar j estiver sido homologado o quadro multicitado, aquele dever utilizar-se do procedimento ordinrio (previsto no CPC) para postular a retificao do quadro em questo. Com certeza, nesse caso, ter maiores dificuldades para se inserir na relao de credores do recuperando. 8. PLANO DE RECUPERAO JUDICIAL O artigo 53 da LFR enftico em estabelecer que: "o plano de recuperao ser apresentado pelo devedor em juzo no prazo improrrogvel de 60 (sessenta) dias da publicao da deciso que deferir o processamento da recuperao judicial, sob pena de convolao em falncia [...]" Logo, o devedor tem um termo final para apresentao do plano de recuperao judicial, no podendo realizar tal ato a qualquer tempo. A pena para o descumprimento do prazo a decretao de sua falncia; ou, nos termos utilizados pela LFR, a convolao da recuperao em falncia. De se destacar, tambm, que o procedimento de habilitao e verificao de crdito que enfocamos no tpico anterior em nada interfere no transcurso do prazo para apresentao do plano de recuperao. 8.1. Contedo do Plano de Recuperao Por bvio, que o plano de recuperao judicial dever conter a estratgia que se pretende utilizar para recuperar a empresa em crise. Nesse passo, obriga a Lei que este contenha (art. 53, incisos I a III):

a)discriminao detalhada dos meios de recuperao a serem utilizados, e seu resumo; b)demonstrao de viabilidade econmica; c)laudo econmico-financeiro e de avaliao dos ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Os trs elementos exigidos pela Lei so de extrema importncia; pois no se tem como analisar a consistncia de um plano de recuperao se este no expressar os meios que se pretende empregar na reorganizao empresarial, os argumentos favorveis viabilidade da proposta, e, ainda, a exata demonstrao da situao econmico-financeira da empresa, a se incluindo a avaliao de seus ativos (bens e direitos). Portanto, a documentao que se exige seja apresentada juntamente com o plano de recuperao vem complementar a documentao j apresentada pelo empresrio por ocasio do ingresso da petio inicial, dando possibilidades aos terceiros envolvidos no processo de terem uma visualizao da situao da empresa, bem como da consistncia da proposta apresentada. Agora, um plano bem feito, apesar de fazer presumir maiores chances de efetiva recuperao, no garantia absoluta de que esta realmente ocorrer, porquanto sabemos que a atividade empresarial vulnervel a diversos fatores externos, como por exemplo, de poltica governamental, acontecimentos econmicos internacionais etc. Desse jeito, a aprovao de um plano de recuperao judicial , via de regra, um "tiro no escuro", pois apesar de toda a documentao exigida pela Lei para que se averiguar a viabilidade do plano, a deciso dos credores e do juiz sempre ser baseada na previso de acontecimentos futuros, o que de per si nos faz concluir seja esta baseada em incertezas. Contudo, na maioria das vezes, melhor arriscar minimizar os prejuzos (por parte dos credores) do que, de pronto, assumi-los. Uma vez recebido o plano de recuperao deve o juiz determinar a publicao de edital, avisando os credores acerca do recebimento do plano e fixando-lhes prazo para manifestar eventuais objees. 8.2. A Previso de Pagamento dos Crditos Trabalhistas no Plano de Recuperao O plano de reorganizao pode se resumir a outras estratgias de recuperao que no sejam descontos ou dilatao nos prazos de pagamentos. Se assim for, no tem que se falar em limitaes no tocante incidncia deste sobre os crditos trabalhistas. Caso o meio, ou um dos meios escolhidos para recuperao, impliquem na dilatao no prazo de pagamento dos crditos trabalhistas, imperioso que se observe as limitaes legais estabelecidas para tanto. Nesse particular a LFR traz as seguintes limitaes:

Art. 54. O plano de recuperao judicial no poder prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos crditos derivados da legislao do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos at a data do pedido de recuperao judicial. Pargrafo nico. O plano no poder, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, at o limite de 5 (cinco) salrios-mnimos por trabalhador, dos crditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (trs) meses anteriores ao pedido de recuperao judicial. As limitaes, pois, a princpio parecem muito claras. A primeira delas ordena no sentido de que qualquer crdito trabalhista ou de acidente do trabalho, vencido at a data do pedido, dever ser pago dentro de um ano. A segunda comanda no sentido que os crditos trabalhistas estritamente salariais vencidos nos trs meses anteriores ao pedido de recuperao, at o limite de 5(cinco) salrios-mnimos por trabalhador, devem ser pagos em prazo no superior a trinta dias. Existe, porm, segundo pensamos, uma relevante omisso no artigo 54 que dar combustvel para significativas discusses doutrinrias, qual seja: o dispositivo transcrito no estipula a data inicial (termo a quo) para contagem dos prazos l estabelecidos; ou seja, diz que determinados crditos devem ser pagos em um ano, e que outros l especificados devem ser pagos em 30 (dias), mas no explicita a partir de que data comea a contar tal prazo. Fbio Ulhoa Coelho (2005, p. 160), enfrentando a problemtica exposta no pargrafo anterior, opina no sentido de que a contagem deve iniciar a partir do vencimento da obrigao. Discordamos, todavia, de tal posicionamento; por acharmos que se prevalecer tal entendimento, chegaremos ao absurdo de termos situaes em que o prazo de trinta dias ter escoado mesmo antes da apresentao do plano de recuperao judicial, visto que este pode ser apresentado at 60 (sessenta) dias aps o juiz deferir o processamento da recuperao; o que acontece, por bvio, aps o ingresso do pedido de tal benefcio. Para ns, melhor seria entender que o termo a quo para tais prazos dar-se- na data do deferimento da recuperao judicial, pois antes disso ainda no existe vinculao compulsria do devedor ao plano de reorganizao, visto que a deciso de deferimento da recuperao, com eficcia de ttulo executivo extrajudicial, que far com que as condies previstas no plano possam ser impostas coercitivamente. E, ainda, o artigo 54 remete previso no plano de recuperao judicial dos pagamentos de crditos trabalhistas l discriminados. Ora, caso o plano nem tenha sido aprovado, como poder se exigir do devedor que cumpra um prazo com base em tal documento? Por outro vrtice, poder-se-ia criticar o nosso posicionamento com o argumento de que o trabalhador cujos salrios esto atrasados por mais de trs meses na data do pedido de recuperao ser extremamente prejudicado se tiver que esperar at ser prolatada a deciso judicial concessiva para poder receber seus crditos,

considerando ainda que no pode este executar tais direitos (se por ventura sejam lquidos e certos) por fora da suspenso das execues operada pelo deferimento do processamento da recuperao. Porm, quem pensar levantar esta crtica deve lembrar que somente esto sujeitos recuperao os crditos existentes na data do pedido. Assim sendo, o trabalhador que est com salrios atrasados na data do pedido, no tocante a estes crditos sofrer os efeitos da recuperao, mas no que diz respeito aos salrios subseqentes no h que se falar em subordinao a tais efeitos; podendo execut-los (uma vez reconhecidos judicialmente) tranqilamente. 8.3. Objeo dos Credores ao Plano de Recuperao Imediatamente depois de receber o plano de recuperao judicial, o juiz dever ordenar a publicao de edital informando os credores de tal ocorrncia e, na mesma oportunidade, j fixando prazo para estes manifestarem eventuais objees ao plano. Diz a LFR, em seu artigo 55, que o prazo para manifestao (objeo) dos credores deve ser de 30 (trinta) dias, contado da publicao da relao de credores que o administrador judicial dever elaborar aps as habilitaes de crditos. Ento, vejamos a seguinte seqncia de acontecimentos para podermos compreender o momento da apresentao das objees dos credores: 1) ingressa-se com o pedido de recuperao; 2) juiz defere o processamento; 3) juiz ordena expedio de edital (para publicao no rgo oficial) com o resumo da deciso que defere o processamento da recuperao judicial e a relao nominal de credores; 4) no prazo de at quinze dias aps a publicao do edital mencionado acima, os credores apresentaro ao administrador judicial suas habilitaes de crdito ou suas divergncias quanto aos crditos relacionados no referido edital; 5) no prazo de at quarenta e cinco dias, contado do fim do prazo supra, o administrador ter que fazer publicar edital contendo a relao dos credores; 6) No prazo de at dez dias, contado do transcurso do prazo do item anterior, o Comit, qualquer credor, o devedor ou seus scios ou o Ministrio Pblico podem apresentar ao juiz impugnao contra a relao de credores; Paralelamente seqncia acima descrita, tambm devero ser observados os seguintes prazos no tocante apresentao do plano de recuperao judicial:

1) No prazo de at sessenta dias aps a publicao da deciso que deferir o processamento da recuperao judicial (vide item 3 ao norte) ser apresentado pelo devedor em juzo o plano de recuperao judicial; 2) Aps receber o plano, o juiz ordenar a publicao de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento, e fixar prazo para a manifestao de eventuais objees; 3) Em at trinta dias, contados da publicao da relao de credores (vide item 5 ao norte), qualquer credor poder manifestar ao juiz sua objeo ao plano de recuperao judicial; caso, na data da publicao da relao de credores referida, ainda no tenha sido publicado o aviso mencionado no item imediatamente anterior, contar-se- da publicao deste o prazo de trinta dias para as objees. Esclarecido o caminho a ser percorrido no procedimento da recuperao judicial at que se chegue objeo dos credores ao plano de recuperao, necessrio se faz agora demonstrar o que ocorrer aps a apresentao de tal manifestao. Diz a Lei que, ante apresentao de objeo, deve o juiz convocar a assemblia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperao (art. 56). Referida assemblia deve ser realizada em data no superior a cento e cinqenta dias, contados do deferimento do processamento da recuperao judicial. Nela poder se aprovar alteraes no plano de recuperao apresentado, desde que haja expressa concordncia do devedor e, ainda, que as alteraes no impliquem diminuio dos direitos exclusivamente dos credores ausentes. Portanto, os credores tm, basicamente, trs opes no momento da deliberao em assemblia-geral quanto ao plano apresentado: a) aprovam o plano; b) no aprovam, mas propem alteraes; c) simplesmente no aprovam. No primeiro caso, aps apresentadas certides negativas de dbitos tributrios, o juiz conceder a recuperao judicial do devedor. No segundo caso, seguir-se- o mesmo procedimento, caso acatadas, na forma da lei, as alteraes propostas pelos credores. No terceiro caso, em vista da no aprovao do plano de reorganizao, o juiz decretar a falncia do devedor. 8.4. Deliberao Acerca do Plano de Recuperao No subtpico acima falamos da aprovao ou no aprovao do plano de recuperao. Contudo, faltou esclarecermos como se dar, em termos especficos, a deliberao quanto ao plano em tela. Primeiro, de pronto adiantemos, que somente haver deliberao relativamente ao plano de recuperao judicial se houver apresentao de objeo, pois o artigo 58 da LFR muito claro no sentido de que, caso o plano apresentado pelo devedor no tenha sofrido objeo de credores, o procedimento seguir com a apresentao de certides negativas de dbitos tributrios por parte do devedor, e logo aps, o juiz (caso o plano atenda s exigncias legais) conceder a recuperao judicial.

Destarte, somente se apresentadas objees que o plano multimencionado ser objeto de deliberaes. De outra banda, sendo submetido a deliberaes em assemblia, ser aprovado se: a)aprovado em cada uma das trs classes de credores [3], observadas as condies constantes nas letras seguintes; b)aprovado na classe dos credores trabalhistas e de acidentes de trabalho pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor do crdito de cada um; c)aprovado em cada uma das outras duas classes por credores que representem mais da metade do valor total dos crditos presentes assemblia e, cumulativamente, pela maioria [4] simples dos credores presentes; Quanto aos legitimados para deliberar, pode-se dizer, observado o disposto no art. 39, que poder votar todos os credores que constarem regularmente no quadro-geral de credores. No ter direito a voto, porm, o credor que no estiver sujeito a alteraes no crdito que possui face ao devedor por fora do plano de recuperao em deliberao. Isto posto, verifica-se que a concesso da recuperao judicial, a princpio, est condicionada aprovao do plano de reorganizao pelos credores na forma explicitada anteriormente. H previso, no obstante, na LFR de situao em qu o plano no aprovado pelos credores, mas mesmo assim pode o juiz decretar a recuperao judicial. Nesse passo, faculta o art. 58, 1, conforme segue: O juiz poder conceder a recuperao judicial com base em plano que no obteve aprovao na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assemblia, tenha obtido, de forma cumulativa: I o voto favorvel de credores que representem mais da metade do valor de todos os crditos presentes assemblia, independentemente de classes; II a aprovao de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovao de pelo menos 1 (uma) delas; III na classe que o houver rejeitado, o voto favorvel de mais de 1/3 (um tero) dos credores, computados na forma dos 1 e 2 do art. 45 desta Lei. Note-se que as condies acima so cumulativas; exigindo a LFR, ainda, que alm de atendidas tais condies, o plano a ser aprovado judicialmente no implique tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado (art. 58, 2).

Logo, para ser decretada a recuperao judicial deve ocorrer manifestao favorvel da maioria dos credores face ao plano de recuperao em apreciao. Esta aprovao pode se dar pelas vias usuais (aprovao em todas as classes, isoladamente) ou nas condies explicitadas no art. 58, 1, na forma transcrita retro. Sendo que, nesse segundo caso, a Lei muito clara ao facultar ao juiz a deciso de conceder ou no o benefcio legal perseguido pelo devedor. Dessa forma, torna-se lmpido que tal deciso (nesse ltimo caso), aps superados os requisitos objetivos estabelecidos legalmente, se nortear pela anlise do magistrado quanto viabilidade da reorganizao proposta. Seguindo adiante o procedimento recuperatrio, e em formalidade que antecede a decretao da recuperao judicial, a LFR estabelece que o devedor dever apresentar certides negativas de dbitos tributrios; deixando claro que o empresrio que possuir dbitos exigveis de tal natureza no ter acesso ao benefcio em tela. Concedida a recuperao judicial, ter este decisum efeito de ttulo executivo judicial, implicando em novao dos crditos anteriores ao pedido, obrigando o devedor e todos os credores sujeitos ao plano de recuperao, e atacvel pelo recurso de agravo, que poder ser manejado por qualquer credor ou pelo representante do Ministrio Pblico. 9. A SUCESSO DAS OBRIGAES DO DEVEDOR A questo da sucesso nas obrigaes do devedor torna-se relevante a partir do momento que constar no plano, como uma das medidas de reorganizao, a alienao de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor. Essa alienao judicial ser feita atravs de leilo, por lances orais; propostas fechadas; ou prego; ambos conforme procedimento previsto para alienao de ativos em caso de falncia do devedor. Referente questo central que ora nos ocupamos, disciplina o artigo 60, nico, da LFR, a alienao sob foco, no seguinte sentido: "o objeto da alienao estar livre de qualquer nus e no haver sucesso do arrematante nas obrigaes do devedor, inclusive as de natureza tributria, observado o disposto no 1 do art. 141 desta Lei". Quer dizer o dispositivo em evidncia que o adquirente no assumir quaisquer obrigaes que porventura possua o alienante por ocasio da transferncia. No suceder, pois, o alienante em suas obrigaes. Outrossim, o produto da alienao tambm estar livre de qualquer nus (hipoteca [5], por exemplo). Ressalvese, contudo, que a sucesso nos dbitos trabalhistas, nesse caso, foi mantida; no se entendendo inclusas as obrigaes laborais na expresso genrica que se refere s "obrigaes do devedor". Desse jeito, prevalece o disposto na CLT que garante ao trabalhador acionar o sucessor de estabelecimento ou unidade produtiva no sentido de pleitear o pagamento de verbas trabalhistas inadimplidas pelo antigo proprietrio.

10. GESTOR JUDICIAL Gestor judicial no se confunde com o administrador judicial. Enquanto este tem amplas atribuies no processo de recuperao judicial (principalmente na verificao de crditos, como vimos alhures), aquele tem sua atuao limitada no tocante administrao da empresa recuperanda. O gestor judicial, pois, um profissional nomeado pelo juiz, sob indicao da assemblia-geral de credores, para administrar a atividade empresarial do devedor recuperando quando este (se empresrio individual) ou seus administradores (se pessoa jurdica) forem afastados da administrao da empresa em crise. Portanto, podem ocorrer situaes em que uma das medidas necessrias para recuperao empresarial j em andamento o afastamento forado de seus administradores. A regra geral, porquanto, que durante a recuperao judicial sejam os administradores da empresa em crise mantidos em seus cargos, conduzindo os rumos do negcio sob a fiscalizao do Comit (se houver) e do administrador judicial. Agora, existem situaes supervenientes que exigem o afastamento dos administradores para que haja o transcurso seguro da recuperao. nessa situao que se insere o gestor judicial, pois o juiz da recuperao, se por um lado afasta os administradores do devedor (ou o prprio devedor, se for empresrio individual) da conduo dos negcios, deve nomear para substitu-lo um administrador, que a LFR chama de gestor judicial. Os casos previstos legalmente (art. 64) de afastamento dos administradores ou do prprio devedor da conduo da empresa em recuperao so os seguintes: a) condenao em sentena penal transitada em julgado por crime cometido em recuperao judicial ou falncia anteriores ou por crime contra o patrimnio, a economia popular ou a ordem econmica; b) indcios veementes do cometimento de crime previsto na LFR; d) houver agido com dolo, simulao ou fraude contra os interesses de seus credores; e) houver praticado qualquer das seguintes condutas: - efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relao a sua situao patrimonial; - efetuar despesas injustificveis por sua natureza ou vulto, em relao ao capital ou gnero do negcio, ao movimento das operaes e a outras circunstncias anlogas; - descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operaes prejudiciais ao seu funcionamento regular;

- simular ou omitir crditos ao apresentar a relao de credores na petio inicial de recuperao, sem que haja para tanto relevante razo de direito ou amparo em deciso judicial; a)negar-se a prestar informaes solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais membros do Comit; b)Tiver seu afastamento previsto no plano de recuperao judicial. Mesmo havendo nomeao de gestor judicial, a LFR (art. 64, nico) prev que diante do afastamento dos administradores devem ser nomeados outros em substituio. Assim, fica transparente que o gestor em epgrafe no assumir todos os encargos da administrao da recuperanda, de tal sorte que teremos duas espcies de administradores para uma mesma sociedade: um nomeado judicialmente e outro (s) escolhido(s) na forma dos atos constitutivos ou do plano de recuperao. Agora, no tocante aos atos diretamente ligados ao exerccio da atividade empresarial (compra, venda, contratao de servios etc.) somente ao gestor judicial incumbir a representao da sociedade; os demais administradores, de outro modo, representaro a sociedade nos atos que no sejam eminentemente de gesto. A verdade, contudo, que certamente gerar confuso o fato da sociedade possuir administradores de duas espcies, pois nem sempre estes estaro coesos em suas aes, podendo ocorrer situaes de indefinio quanto a quem compete representar a pessoa jurdica em determinado ato que ambos se julguem competentes ou incompetentes. Por outro ngulo, no tocante ao empresrio individual, parece-nos que no deixa a Lei brecha para que ocorra a situao acima descrita (existncia de administradores de duas espcies), pois o art. 64, nico, faz referncia unicamente escolha de novo administrador em consonncia com previso em ato constitutivo ou plano de recuperao. Logo, ressalvada a hiptese de previso em plano de reorganizao, no se tem como escolher novo administrador para o empreendimento do empresrio individual com base em seu ato constitutivo, visto que este no possui contrato nem estatuto social, pois se constitui apenas por requerimento perante a Junta Comercial. Desse jeito, em se tratando de empresrio individual afastado da conduo da empresa, entendemos restar ao gestor judicial assumir plenamente a administrao do negcio em recuperao; devendo ser chamado o empresrio afastado quando for necessrio prestar informaes que somente ele detenha sobre seu empreendimento. Por imposio legal (art. 65), toda vez que o juiz for nomear gestor judicial deve, previamente, convocar a assemblia-geral de credores para deliberar sobre o nome deste. Na realidade, portanto, quem deve escolher o profissional referenciado a assemblia-geral de credores, cabendo ao juiz unicamente nome-lo, verificando por esta ocasio se o escolhido atende as exigncias da lei. Quanto aos deveres, impedimentos e remunerao do gestor, devem estes ser regulados pelas normas atinentes ao administrador judicial, no que forem compatveis.

Finalmente, acrescente-se que pode ocorrer situao em que imperiosa a imediata destituio do administrador da empresa em recuperao, sem que haja tempo para a assemblia-geral deliberar sobre o nome do gestor judicial. Nesse caso, manda a LFR que o administrador judicial assuma, provisoriamente, as atribuies de gestor. 11. RESTRIES SOFRIDAS PELO DEVEDOR DURANTE A RECUPERAO Acreditamos que a principal restrio sofrida pelo devedor em recuperao no sentido de estar submetido fiscalizao de terceiros. Esse simples fato, adicionado impresso inevitvel no meio empresarial, de que o empresrio individual ou os administradores da sociedade em recuperao no foram competentes o suficiente para conduzir o empreendimento ao sucesso (visto que recuperao pressupe crise), levando fornecedores a evitarem ao mximo contratar com estes, configuram-se, a nosso ver, fatores primordiais que subtraem parcela da autonomia da recuperanda. Traz a lei, contudo, especificidades que melhor demonstram as restries que sofre o empresrio em crise. Vejamos: a) Impossibilidade de alienar ou onerar: uma vez distribudo o pedido de recuperao, o devedor no poder mais alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo autorizao judicial, que ser precedida da oitiva do Comit de Credores (art. 66). Por bvio, que tal restrio no se aplica para os atos de alienao e onerao previstos no plano de recuperao judicial aprovado; pois se constam neste documento (aprovado e homologado), os atos em evidncia constituem-se meios de recuperao. Com a restrio em evidncia, conforme ntido, quer a Lei preservar o patrimnio do devedor, no sentido de evitar que este, utilizando-se do benefcio da recuperao, ganhe tempo apenas para se desfazer de seus ativos antes da decretao de sua falncia. b) Identificao da condio de recuperando: o empresrio, estando em recuperao, dever acrescer ao seu nome empresarial a expresso "em Recuperao Judicial" com vistas a deixar clara sua condio perante terceiros com quem entabular relaes jurdicas. Nesse passo, ordena a LRF que (art. 69): "Em todos os atos, contratos e documentos firmados pelo devedor sujeito ao procedimento de recuperao judicial dever ser acrescida, aps o nome empresarial, a expresso em Recuperao Judicial ". Quanto ao momento a partir do qual o devedor est obrigado imposio legal transcrita, acreditamos que essa obrigao existe desde o momento em que deferido o processamento de sua recuperao ex vi art. 52, II, da LFR. Por fim, ressalte-se que deve ser anotada no Registro de Empresas a ocorrncia da recuperao, fato este que aumenta a publicidade [6] quanto condio do recuperando. c) Vinculao ao Plano de Recuperao Judicial: durante a recuperao judicial o devedor se v obrigado a cumprir estritamente o que constar no plano de recuperao judicial adotado, pois; caso contrrio, ser

decretada a sua falncia. O exerccio de sua liberdade empresarial, portanto, encontra limites nas obrigaes impostas pelo plano em tela. Em linhas gerais, so as restries acima as principais que podemos identificar na LFR no tocante ao devedor em recuperao; considerando que, se por um lado o Estado concede um benefcio empresa em crise, de outro, tambm impe restries ao empresrio em recuperao como forma de garantir o sucesso da medida e principalmente de evitar que o devedor utilize o benefcio legal como mecanismo facilitador de fraudes. 12. PRAZO DE RECUPERAO Pela redao do artigo 61 fica claro que o prazo para recuperao judicial de 2 (dois) anos, contados da deciso que conceder a medida. Agora, devemos atentar para o fato de que a LFR no est impondo que o plano de recuperao judicial estabelea uma estratgia de reorganizao a ser empreendida somente durante dois anos. No isso. Pode muito bem, conforme pensamos, o plano de recuperao conter estratgias a serem desenvolvidas em um perodo maior que 2 (dois) anos. A grande diferena, porm, que as obrigaes constantes no plano que devem ser cumpridas pelo devedor nos dois anos seguintes concesso do benefcio tm um tratamento legal e aquelas que extrapolam tal perodo tem outro tratamento. Durante os dois anos multicitados, se o devedor descumprir qualquer obrigao prevista no plano, tal fato acarretar a decretao de sua falncia; havendo, por conseguinte, a instaurao do concurso de credores. De outro modo, se o devedor, aps o perodo supra, descumpre obrigao imposta pelo plano, ele ser cobrado pelas vias processuais normais; ou seja, o seu credor poder executar individualmente a obrigao ou pedir a decretao de sua falncia (caso seja cabvel). 13. ENCERRAMENTO DA RECUPERAO JUDICIAL Caso o devedor, durante dois anos que esteja em recuperao, cumpra, nesse nterim, todas as obrigaes que o plano de reorganizao lhe impe, cabe ao juiz decretar, por sentena, o encerramento da recuperao; ocasio em qu determinar as providncias necessrias para a extino do processo, das quais arrola a LFR (art. 63) as seguintes: a) pagamento do saldo de honorrios ao administrador judicial, aps a prestao de contas deste e a aprovao de seu relatrio final; b) apurao do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; c) a apresentao de relatrio circunstanciado do administrador judicial, versando sobre a execuo do plano de recuperao pelo devedor; d) a dissoluo do Comit de Credores e a exonerao do administrador judicial; e) a comunicao ao Registro Pblico de Empresas para as providncias cabveis.

Note-se que aps o encerramento da recuperao, mesmo que o devedor ainda tenha obrigaes a cumprir, impostas pelo plano de reorganizao, no mais obrigado a ostentar em acrscimo ao seu nome empresarial a expresso "em Recuperao Judicial". Outrossim, ante exegese do artigo 63, parece-nos deva o juiz decretar de ofcio o encerramento da recuperao judicial, pois este conseqncia do decurso de um lapso temporal previsto legalmente. 14. CONVOLAO DA RECUPERAO JUDICIAL EM FALNCIA Durante a recuperao judicial fica o devedor sempre sob a ameaa (s vezes silenciosa, em outras bem veemente) de ser decretada a qualquer momento a sua falncia. Por isso, deve ser ponderado que o benefcio da recuperao judicial no para ser perseguido por aquele empresrio que est enfrentando moderadas dificuldades momentneas, mas sim para aquele que no tem outra alternativa para salvar seu empreendimento que no seja ao benefcio outorgado pela LFR. Nesse passo, o artigo 73 arrola as situaes que autorizam ao juiz decretar a falncia do devedor em recuperao, quais sejam: a) Deliberao da assemblia de credores - a assemblia de credores poder deliberar pela decretao da falncia do devedor, bastando para isso que tal ato encontre apoio de credores que representem mais da metade do valor total dos crditos presentes (art. 42). Assim, verificamos que o recuperando fica refm de seus credores, que podem, independentemente da ocorrncia de justo motivo, reunidos em assemblia-geral deliberarem sobre sua quebra. E, pela imposio do art. 73, acreditamos no tenha o juiz outra alternativa (diante de uma deciso da assemblia) seno convolar (converter) a recuperao em falncia. De outra banda, de se observar, ainda, que em segunda convocao a assemblia referida se instala com qualquer nmero de credores (art. 37, 2), podendo ocorrer situaes em que poucos credores, at mesmo sem boas intenes, tero a possibilidade de impor ao devedor a quebra. Por fim, em um primeiro momento, sentimos que a deliberao da assemblia-geral tendente a aprovar a decretao da falncia do devedor possa ocorrer somente enquanto no aprovado o plano de recuperao judicial, pois no faria sentido tal rgo primeiro aprovar uma estratgia de reorganizao, e logo aps, mesmo que o devedor venha cumprindo-a rigorosamente, imponha-lhe a bancarrota sem qualquer justificativa. A LFR, contudo, no faz qualquer ressalva nesse sentido (art. 73, I), apenas diz que a falncia do recuperando ser decretada se houver deliberao da assemblia-geral. Conquanto, acreditamos que ainda deva surgir polmica sobre o assunto. b) No apresentao tempestiva do plano de recuperao - o plano de recuperao deve ser apresentado pelo devedor no prazo de sessenta dias, contados da publicao da deciso que deferir o processamento da recuperao judicial. A pena para o descumprimento de tal imposio a decretao da falncia. c) Rejeio do plano de recuperao - acaso rejeitado o plano de recuperao judicial pela assembliageral, impe-se a decretao da quebra.

d) Descumprimento de obrigao constante no plano - o plano de reorganizao constitui-se inarredvel compromisso assumido pelo devedor perante os credores e a Justia. Logo, se durante os dois anos que devem durar a recuperao o devedor vier a descumprir obrigao por ele assumida via plano, autoriza este fato a convolao da sua recuperao em falncia. e) Inadimplemento de obrigaes no atingidas pela recuperao - sabemos que existem obrigaes que no so atingidas pela recuperao judicial, tais como aquelas inerentes a contratos de leasing, alienao fiduciria, adiantamento de contrato de cmbio para exportao etc. Assim sendo, essas obrigaes so perfeitamente exigveis (e na forma pactuada) durante o perodo de recuperao; podendo seus credores, inclusive, ante impontualidade [7] do devedor ou prtica por parte deste de atos de falncia [8], requerer a sua quebra, mesmo que este esteja em recuperao. Por conveniente, devemos alertar o leitor, neste tpico, para uma situao bem peculiar no tocante ao descumprimento de obrigao no curso do processo de recuperao, mas que no autoriza ao juiz decretar a falncia do devedor. Estamos aqui falando do dever que tem o empresrio de, antes da concesso de sua recuperao, apresentar certides negativas de dbitos tributrios (art. 57). Nesse caso, mesmo que o juiz intime o requerente para apresentar tais documentos em certo prazo,