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Recordações do Espírito Santo de 2012 Vol.8 Nº69 MAIO DE 2013 Director: Mário Carvalho

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Recordações do Espírito Santo de 2012

Vol.8

Nº6

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aio

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Director: mário Carvalho

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Sobre as origens do culto e dos rituais utilizados, pouco se sabe. A corrente dominante filia o culto

açoriano ao Divino Espírito Santo nas celebrações introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isa-bel, que por sua vez as teria trazido do seu Aragão natal. De facto existem notícias seguras da existên-cia do culto nos séculos XIV e XV em Portugal.

O seu centro principal parece ter sido em torno de Tomar (a Festa dos Tabuleiros parece ter aí raiz), lo-calidade que era sede do priorado da Ordem de Cristo, a que foi confiada a tutela espiritual das novas terras, incluindo dos Açores.

Outro centro relevante foi Alenquer, localidade onde, nos primeiros anos do século XIV, a rainha San-

ta Isabel terá introduzido em Portugal a primeira celebração do Império do Divino Espírito Santo, provavelmente influenciada por franciscanos espiritualistas, que ali fun-daram o primeiro convento franciscano em Portugal. Pelo menos assim reza um velho pergaminho franciscano de-positado na Câmara Velha daquela vila estremenha.

A partir dali o culto expandiu-se, primeiro por Portugal (Aldeia Galega, na época Montes de Alenquer, Sintra, Tomar, Lis-boa) e depois acompanhou os portugueses nos Descobri-mentos. As novas colónias, de início subordinado di-rectamente ao prior de Tomar, e depois ao arce-bispado do Funchal e ao novo bispado de An-gra, estavam sobre a orientação religiosa da Ordem, a quem competia a no-meação do clero e a supervisão do seu desen-vo lv imen to religioso.

N e s t e contexto, as refe-

rências ao cul-to do

Introdução sobre o Espírito SantoEspírito Santo aparecem muito cedo e de forma ge-neralizada em todo o arquipélago, já que Gaspar Fru-tuoso, escrevendo cerca de 150 anos após o início do povoamento, já o menciona, indicando ser comum a todas as ilhas. Tal expansão apenas seria possível se contasse com a tolerância, ou mesmo o incentivo, da Ordem de Cristo. Também as referências a feste-jos feitas nas Constituições Sinodais da Diocese de Angra, aprovadas em 1559 pelo bispo D. frei Jorge de Santiago, demonstram que naquela altura já eram matéria a merecer a atenção da autoridade episcopal.

Tendo em conta que os povoadores vieram de múl-tiplas origens, desde o norte ao sul de Portugal, e ain-da da Flandres e outras regiões europeias, o que aliás está bem patente na diversidade dos falares açorianos e das tradições e costumes das ilhas, e que excluindo a diocese, não existia no temporal qualquer forma de governo comum, a existência de um culto unificador, comum a todo o arquipélago, e com existência em fase tão precoce do povoamento, parece demonstrar que terá existido uma clara intenção e coordenação na sua introdução. Admitindo tal facto, não resta senão a pre-sença franciscana como explicação para a propagação do culto e como veículo de introdução das doutrinas joaquimitas.

A existência de Irmandades do Divino Espírito San-to é já generalizada no século XVI. O primeiro hospi-tal criado nos Açores (1498), a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Angra, recebe a designação, ainda hoje mantida, de Hospital do Santo Espírito. A distri-buição de carne e os bodos eram também já comuns em meados do século XVI.

E nesse mesmo século era celebrada a bordo das Naus do Brasil e das Armadas da India: em carta en-viada para Itália desde Goa, o missionário jesuíta Fúl-vio de Gregori, comunica o seguinte: Costumam os portugueses eleger um imperador pela festa de Pente-costes e assim aconteceu também nesta nau S. Francis-co. Com efeito, elegeram um menino para imperador, na vigília de Pentecostes, no meio de grande aparato. Vestiram-no depois muito ricamente e puseram-lhe na cabeça a coroa imperial. Escolheram também fidalgos para seus criados e oficiais as ordens, de modo que o capitão foi nomeado mordomo da sua casa, outro fi-dalgo foi nomeado copeiro, enfim, cada um com o seu oficio, à disposição do imperador. Entraram nisto até os oficiais da nau, o mestre, o piloto, etc.

Depois, no dia de Pentecostes (ou Páscoa do Espí-rito Santo), trajando todos a primor, fez-se um altar

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3na proa da nau, por ali haver mais espaço, com belos panos e prataria.

Levaram, então, o imperador à missa, ao som de música, tambores e festa e ali ficou sentado numa ca-deira de veludo com almofadas, de coroa na cabeça e ceptro na mão, cercado pela respectiva corte, ouvindo-se entretanto as salvas de artilharia. Comeram depois os cortesãos do imperador e, por fim, serviram toda a gente ali embarcada, à volta de trezentas pessoas.

A partir daí, e particularmente após o início do sé-culo XVIII, o culto do Divino Espírito Santo assume-se como um dos traços centrais da açorianidade, sendo o verdadeiro traço cultural unificador das populações das diversas ilhas. Com a imigração açoriana o culto é levado para o Brasil, onde já no século XVIII existia no Rio de Janeiro, na Baía e nas zonas de colonização açoriana de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Per-nambuco. No século XIX é levado para o Hawaii, para o Massachussets e para a Califórnia.

Hoje o culto açoriano do Divino Espírito Santo está em claro crescimento, tanto nos Açores como nas zo-nas de imigração açoriana, nomeadamente as costas leste e oeste dos Estados Unidos e a Província do On-tário, Canadá. Com o renascer da identidade açoriana no sul do Brasil, os festejos do Divino revigoraram-se também aí.A essência joaquinita dos Impérios do DivinoCoroa, ceptro e orbe do Espírito Santo.A organização do culto, embora com pequenas varia-ções entre ilhas, e particularmente entre estas e as co-munidades de origem açoriana nas Américas, o culto

assenta nas seguintes estruturas:A Irmandade — A irmandade constitui o núcleo

organizacional do culto. É composta por irmãos, vo-luntariamente inscritos e consensualmente aceites, todos eles iguais em direitos e deveres. Embora haja notícia de antigas irmandades exclusivamente mascu-linas, desde há muito que homens e mulheres parti-cipam sem diferenças. O carácter igualitário das ir-mandades, condicente com a crença joaquimita, é bem patente, não sendo aceites diferenças por origem ou posses. Esta regra foi raramente violada, mas há no-tícia nalgumas ilhas de Impérios dos nobres (o mais conhecido e o único sobrevivente é o da Horta, hoje sob responsabilidade da Câmara Municipal) que ape-nas aceitavam irmãos provenientes da aristocracia lo-cal. As irmandades são de carácter territorial, consti-tuindo-se como verdadeiras associações de vizinhos, agrupando famílias residentes numa mesma freguesia ou localidade, sem prejuízo de aceitarem irmãos re-sidentes noutras localidades, desde que tenham vín-culo de origem ou família à localidade onde se situa a irmandade. As irmandades têm um compromisso, mas em geral regem-se por regras consensuais, não escritas. Sempre que a diocese ou as autoridades civis tentaram intervir em matérias das irmandades depara-ram-se com enorme resistência e indignação, seguida de resistência passiva que impediu a interferência.

O Império — Cada irmandade estrutura-se em tor-no de um Império do Divino Espírito Santo, normal-mente um pequeno edifício com arquitectura distinta em torno do qual se realizam as actividades do cul-

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4to. A arquitectura dos Impérios varia grandemente de ilha para ilha, variando desde um simples telheiro no tardoz das igrejas na ilha de Santa Maria até capelas vistosamente ornadas e encimadas pela coroa imperial na ilha Terceira. Aos impérios está normalmente asso-ciada uma dispensa ou copeira, espaço destinado ao armazenamento dos adereços utilizados, dos víveres e vitualhas e para confecção e distribuição das funções e demais refeições rituais. O aparecimento generalizado dos impérios como edifícios permanentes em alvena-ria data última metade do século XIX, provavelmente em resultado do retorno de dinheiro dos emigrantes no Brasil e na Califórnia. Até ali o culto realizava-se em torno dos treatros (e não teatros!), palanques em madeira montados especificamente para a ocasião. Na diáspora açoriana, particularmente na Nova Inglaterra e no Canadá, para além dos pequenos impérios, são hoje comuns os grandes salões, onde as festas se rea-lizam em ambiente fechado.

O Mordomo — Para cada celebração os irmãos es-colhem um irmão responsável que recebe a designa-ção de mordomo. A escolha é normalmente feita pela retirada de pelouros, bilhetes em papel onde é inscrito um nome, enrolados e colocados num saco ou chapéu, de onde são retirados por uma criança. A maioria das irmandades admite a existência de mordomos volun-tário, que se oferecem a realizar a festa em resultado do cumprimento de promessa feita para recebimento de uma especial graça do Divino Espírito Santo. Ao mordomo cabe coordenar a recolha de fundos para a festa e coordenar a sua realização, sendo para tal efei-to considerado a autoridade suprema a que todos os irmãos estão obrigados a estrita obediência.

No que respeita às crenças, que estão por detrás da organização acima descrita, elas entroncam directa-mente no joaquimismo. São elas:

A esperança — os devotos esperam a chegada de um tempo novo onde todos os homens serão irmãos e onde o Espírito Santo será a fonte de todo o saber e de toda a ordem.

A fé no Divino e nos seus sete dons — o Divino Espírito Santo está presente em todo o lado, tudo sabe e tudo vê, não havendo para ele segredos. As ofensas ao divino são punidas severamente (Diz-se: O Divino Espírito Santo é vingativo), não ficando impunes as promessas não cumpridas. Os Sete Dons do Espírito Santo (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortale-za, Ciência, Piedade e Temor) são a fonte de toda a virtude e de toda a sabedoria, devendo guiar os irmãos.

O igualitarismo — todos os irmãos são iguais e todos podem ser mordomos, e todos podem ser co-roados assumindo a função de imperador, merecendo igual respeito e obediência quando investidos dessa autoridade. É a expressão prática do igualitarismo joa-

quimita.A solidariedade e a caridade — na distribuição do

bodo e das pensões, devem ser privilegiados os mais pobres para que todos possam igualmente festejar o Divino Espírito Santo. Todas as ofensas devem ser perdoadas para se ser digno de receber o Divino Espí-rito Santo.

A autonomia face à Igreja — o culto do Divino Espírito Santo não depende da organização formal da igreja nem necessita da participação formal do clero. Não existem intermediários entre os devotos e o Di-vino. É clara a influência do pensamento joaquimita, preferindo a igreja mística à igreja formal.

Os rituais do culto assentam num conjunto de ob-jectos simbólicos e em cerimónias visando a represen-tação directa das crenças subjacentes. São eles:

A coroa, o ceptro e o orbe — são os símbolos mais importantes do Império do Divino Espírito Santo, as-sumindo o lugar central em todo o culto. A coroa é uma coroa imperial, em prata, normalmente com três braços, encimada por um orbe em prata dourada sobre o qual assenta uma pomba de asas estiradas. O tama-nho da coroa varia, e em geral cada irmandade dispõe de uma coroa grande e duas mais pequenas. Cada co-roa é completada com um ceptro em prata, encimado

por uma pomba de asas estiradas. A coroa é decorada com um laço de fita de seda branca, o mesmo aconte-cendo com o ceptro. Por vezes os braços da coroa são decorados com pequenos botões de flor de laranjeira em tecido branco. A coroa é colocada sobre uma ban-deja de pé alto, também em prata. Simboliza o impé-

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5rio do Divino Espírito Santo e o seu poder universal. Para além de servir para coroar, é considerada uma honra, conferida pelo imperador, transportar a coroa e segurar a respectiva bandeja. Durante o ano as coroas circulam semanalmente entre as casas dos irmãos, que as colocam em lugar de honra, rezando e louvando o Divino, todas as noites, perante elas. As coroas são também transportadas pelos mordomos quando reali-zam peditórios.

A bandeira — a bandeira é confeccionada em da-masco vermelho vivo, normalmente de dupla face, de forma quadrangular, com 5 palmos de lado (embora existam bandeiras maiores e menores), sobre o centro da qual é bordada em relevo uma pomba branca da qual irradiam para baixo raios de luz em branco e fio de prata. A bandeira é colocada numa haste em madei-

ra com cerca de dois metros de comprido, encimada por uma pomba em prata ou latão. A bandeira acom-panha a coroa e está sempre presente nas cerimónias litúrgicas onde se coroe. Uma bandeira menor é içada junto à casa do imperador durante a permanência das coroas. Junto aos impérios é hábito existir um gran-de mastro no qual é içada durante as cerimónias uma grande bandeira de tecido branco onde estão pintadas cenas alusivas ao culto. É considerada uma honra ser escolhido para levar a bandeira nos cortejos.

O Hino — o Hino do Espírito Santo, composto em finais do século XIX para ser tocado pelas bandas e ser cantado durante as coroações, é o mais reverencia-do de todos os hinos, sendo sempre escutado nos Aço-res com grande emoção e respeito. Alguns dos acordes estão patentes no Hino dos Açores.

As varas e as fitas — claramente inspiradas nas antigas varas municipais e dos juízes, as cerimónias e

cortejos são acompanhadas por um número variável de varas em madeira polida (em geral 12), com cerca de 1,5 m de comprido, encimadas por um suporte no qual é possível colocar uma vela. Algumas varas são deco-radas com fitas brancas e vermelhas. Notros casos são colocadas sete fitas, todas de cor diferente, represen-tando os sete dons do Espírito Santo. Nas cerimónias de coroação, são colocadas velas que se acendem du-rante o acto. Nos cortejos as varas rodeiam as coroas, nalguns casos sendo seguradas por dois participantes e colocadas de forma a formar um quadrado em torno de cada coroa. Nalgumas irmandades existe uma vara extra, mais cumprida e sem suporte para vela, por ve-zes pintada de branco, que é entregue pelo imperador a uma pessoa que se responsabiliza por mater o corte-jo em boa ordem. Esta vara é por vezes referida como o “enxota porcos”, talvez uma referência aos tempos em que os animais domésticos andavam pelas ruas e precisavam de ser afastados para o cortejo passar. O imperador escolhe para levar as varas pessoas, nor-malmente jovens, que deseje honrar.

O cortejo, império ou mudança — no dia de Pás-coa as coroas são transportadas para a igreja, fazen-do-se no final da missa a primeira coroação, depois de coroado, o imperador parte para sua casa, acom-panhado por um cortejo, acompanhado pelos irmãos, que é aberto pela bandeira e termina pelas coroados rodeados pelas varas. Atrás vai normalmente uma fi-larmónica que acompanha com música alegre o per-curso. Chegados a casa do imperador, as coroas são colocada num trono armado em madeira revestida de papel branco e de flores, ficando em exposição toda a semana. Todas as noites, os vizinhos e convidados reúnem-se para um pequeno convívio, por vezes in-cluindo danças, que termina pela recitação do terço e de orações alusivas ao Divino Espírito Santo. No do-mingo seguinte, as coroas partem novamente em cor-tejo para a igreja, sendo recebidas à porta pelo pároco, que entoa o Magnificat. O processo repete-se até ao Domingo do Bodo (o sétimo após a Páscoa), e nalguns casos até ao 2.º Bodo (o Domingo da Trindade - 8.º após a Páscoa). Começa a ser comum fazer cortejos durante o Verão, normalmente associados a funções oferecidas por emigrantes em férias.

A coroação – a coração é feita após o termo da mis-sa e consiste na colocação, pelo sacerdote, da coroa na cabeça do imperador ou das pessoas que ele desig-nar, e na imposição do ceptro, que depois de beijada a pomba que o encima, é empunhado pelos coroados. Os fiéis assistem de pé à coroação, sendo por vezes cantado o Hino. Depois da coroação, inicia-se o corte-jo, sendo o imperador seguido até à porta pelo sacer-

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6dote, que canta o Magnificat.

O bodo — No 7.º domingo após a Páscoa (dia de Pentecostes) realiza-se o bodo. Nesse dia, o cortejo depois de sair da igreja dirige-se ao império, sendo as coroas e bandeiras aí colocadas em exposição. Frente ao império, em longos bancos corridos são colocadas as esmolas, que depois de abençoadas são distribuí-das. Os irmãos recebem-nas e todas as pessoas que passam podem livremente servir-se de pão e vinho. No entretanto são arrematadas as oferendas, normal-mente gado, alfenim e massa sovada. O bodo é organi-zado e gerido pelo mordomo e por quem ele designe. Terminado o bodo as coroas recolhem em cortejo a casa do mordomo. A segunda-feira imediata é o Dia dos Açores, ou dia da pombinha.

A esmola ou pensão — é constituída por uma por-ção de carne de vaca (de gado especialmente abatido para o efeito), por um pão de cabeça (ou pão do bodo), e por vinho de cheiro. É distribuída aos irmãos que as pretenderem e às famílias mais necessitadas.

A função — é uma refeição ritual servida a um numeroso grupo de convidados por um dos irmãos, normalmente em resultado de um voto ou promessa. A refeição consiste de “sopa do Espírito Santo” (pão seco que depois é recoberto com água de cozer carne, temperada com hortelã e outros condimentos), o cozi-do de carne, pão de água, a massa sovada (um pão de massa doce e rico em ovos) e arroz doce polvilhado com canela. Na Terceira é por vezes incluída a alcatra, um prato de carne cozinhada em vinho num alguidar de barro. A função simboliza a partilha e é servida na presença das coroas e da bandeira, sendo acompanha-da por cantigas alusivas ao Império do Divino Espírito Santo, normalmente cantadas por foliões. As funções são hoje servidas em contextos cerimoniais, como seja

a celebração do Dia dos Açores e recepções protoco-lares. O recorde de participação numa função (cerca de 8 mil convivas) ocorreu na Rua de São Pedro, em Angra do Heroísmo, nas celebrações do 10 de Junho de 2000, com a presença do Presidente da República, do Primeiro-Ministro, do Presidente do Governo dos Açores e de todo o corpo diplomático acreditado em Portugal, entre outros convidados.

A briança — é um cortejo em que o gado que vai ser abatido para o bodo ou arrematado é mostrado á comunidade, com flores de papel colorido coladas na pelagem e acompanhado por foliões ou cantadores de cantigas ao desafia. O cortejo para à porta de cada fa-mília que contribuiu, sendo então cantadas cantigas alusivas. Durante o percurso é tocada a briança (mú-sica tradicional para este evento) ou um pezinho ade-quado.

Ceia dos criadores — são jantares organizados em honra dos lavradores que contribuíram com gado ou das pessoas que deram ofertas relevantes à irmandade. Funciona como momento de recolha de fundos, sendo tradição em algumas ilhas convidar figuras ilustres as política ou da vida social local.

Os foliões — são pequenos grupos de até 5 pes-soas, os Foliões do Divino, que, com as suas cantigas, acompanhadas por tamborete e címbalos, participam da preparação das Festas do Divino, visitando as casas dos irmãos, cantando os feitos e os poderes do Divino Espírito Santo, recolhendo donativos e marcando os rituais da distribuição do bodo ou da função. Na ilha de Santa Maria e no lugar da Beira, ilha de São Jorge, sobrevivem rituais extremamente complexos, autênti-ca liturgia do culto do Espírito Santo, que já desapare-ceram nas outras ilhas.

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Espírito Santode Hochelaga 2012

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Salve RainhaSalve, Rainha,

Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A vós brandamos os degradados filhos de Eva.

A vós suspiramos, gemendo e chorando

Neste vale de lágrimas.

Eia pois, advogada nossa,

Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus,

Bendito fruto de vosso ventre,

ó clemente, ó piedosa, ó doce

Sempre Virgem Maria.

Rogais por nós Santa Mãe de Deus.

Para que sejamos dignos

das promessas de Cristo.

Amen Jesus.

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11Senhor Eu Vou-Me EmboraRefrão

Senhor eu vou-me emboraComigo vais tambémA minha vida agoraMaior sentido tem

1º: Senhor eu aprendi Como se deve amarSem reservar para siQuanto se deve darFoi a lição que eu viFoi a lição que eu viFoi a lição que eu viFoi a lição do altar

2º: Amigo é quem dáSua vida pelo irmão

doutrina forte háA que se dá ao CristãoMas não caminha sóMas não caminha sóMas não caminha só

Quem como deste pão

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Espírito Santode Santa Cruz 2012

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15Cantai, o Senhor é BomRefrão

CANTAI, O SENHOR E BOM, CANTAI, O SENHOR É BOM,

NAS TREVAS BRILHOU SUA LUZ. CANTAI, O SENHOR É BOM, CANTAI, O SENHOR É BOM, A VIDA NOS DEU EM JESUS.

O reino chegou, o reino chegou Ao meu coração.

Jesus me salvou, Jesus me salvou, deu-me o Seu perdão.

É bela a notícia, é bela a notícia que Jesus me traz.

Estou perdoado, estou perdoado, tenho a Sua paz.

O Pai nos reune, o Pai nos reune, de nós faz um povo.

Por Cristo nos dá, por Cristo nos dá um coração novo.

Cristo é a Verdade, Cristo é a Verdade e vem construir

um reino mais justo, um reino mais justo em fraternidade.

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17Deixa A Luz Do Céu EntrarTu anseias, eu bem sei, a salvação, Teu desejo de banir a escuridão,

Abre pois de par em par, teu coração, E deixa a luz do céu entrar!

Refrão:Deixa a Luz do céu entrar (2x)

Abre bem as portas do teu coração! E deixa a luz do céu entrar

Cristo, a luz do céu, em ti quer habitar, Para as trevas do pecado dissipar. Teu caminho e coração iluminar,

E deixa a luz do céu entrar!

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Espírito Santode Laval 2012

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21O Anjos, Cantai ComigoRefrão

Ó ANJOS, CANTAI COMIGO

Ó ANJOS, LOUVAI SEM FIM.

DAR GRAÇAS EU NAO CONSIGO

Ó ANJOS, DAI-AS POR MIM.

Ó Jesus, que amor tão terno,

Ó Jesus, que amor é o Teu:

Deixas o Trono supremo,

Vens fazer da terra o céu.

Canta serena minh’alma,

Bela jóia em ti reluz.

Já colheste a rica palma

Já desceu a ti Jesus.

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23Senhora NossaSenhora nossa, Senhora minha,

Vida, esperança, clemência e luz.

SALVÉ RAINHA, SALVÉ RAINHA! SENHORA MINHA, MÃE DE JESUS!

Virgem das dores, da Conceição,Dos pecadores, tem compaixão.

Virgem das Graças, MedianeiraDos portugueses, sois padroeira.

Nossa Senhora de Portugal,Vinde livrar-nos de todo o mal.

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1. Alva Pomba, que meiga aparecestes, Ao Messias no rio Jordão, Estendei vossas asas celestes Sobre os povos do orbe cristão!

REFRÃO Vinde, Vinde, entre nuvens de glória, Entre os anjos e bênçãos de amor! Entre os cantos de eterna vitória, Qu’os rubins vos elevam, Senhor.(bis 2x)

2. Quem aos pobres seus braços estende, Quem lhes veste seus ombros tão nus, Faz o bem que, por tudo, só tende Para a glória e honra da cruz.

3. Ofertai caridosas oferendas, Ofertai-as em nome de Deus! Colhereis, lá, um dia, mil prendas, Quando entrardes no reino dos céus.

Hino do Espírito Santo

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Espírito Santode Anjou 2012

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29Lenta e CalmeLenta e calma sobre a terra

desce a noite e foge a luz. Quero agora despedir-me:

obrigado, bom Jesus!

Ó Senhor, dai-nos a bênção e do mal que nos seduz,

a meus pais e a mim guardai-me. Boa noite, bom Jesus!

A teus pés, o Virgem pura peço a bênção maternal. Boa noite, Mãe querida,

boa noite, meu Jesus.

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Espirito Santo de West Island 2012

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33Queremos Deus Homens IngratosQueremos deus, homens ingratos

Ao Pai supremo, ao RedentorZombam da fé, os insensatos

Erguem-se em vão contra o Senhor.

Queremos Deus, um povo aflitoó doce Mãe vem repetir

a vossos pés d’alma este grito,Que aos pés de Deus fareis subir.

DA NOSSA FÉ Ó VIRGEMO BRADO ABENCOAI;

QUEREMOS DEUS, QUE É NOSSO REIQUEREMOS DEUS QUE É NOSSO PAI

Queremos deus e a sã doutrina,Que nos legou na cruz,

Que leva à escola e à oficinaA lei de Cristo, amor e luz

Queremos deus na pátria amadaamar-nos todos como irmãos

e ver a Igreja respeitadasão, nossos votos de cristãos.

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Espirito Santo de Ste-Thérèse 2012

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37Vinde Espírito SantoEnchei o coração dos vossos fiéis

E acendei neles o fogo do vosso amor.

Divino Espírito Santo

Nós te confiamos a nossa família

Fazei que sejamos unidos no amor.

Nós te confiamos os nossos amigos

Que eles sintam a tua presença salvadora.

Nós te confiamos os nossos vizinhos

Que nós nos esforcemos por viver em paz.

Nós te confiamos a nossa comunidade

Dá-nos a graça da comunhão.

Vinde Espírito Santo

Enchei o nosso coração com

O fogo do vosso amor.

E renovaremos a face da terra.

AMEN.

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Espírito Santo

Espírito Santo está passando por aqui (x2) Quando ele passa tudo se renova

A tristeza vai, e alegria vem!Quando ele passa tudo se renova

A alegria vem, vem p’ra ti, p’ra mim também.

O Amor está passando por aqui (x2) Quando ele passa tudo se renova

A tristeza vai, e alegria vem! Quando ele passa tudo se renova

A alegria vem, vem p’ra ti, p’ra mim também.

A Amizade está passando por aqui (x2) Quando ela passa tudo se renova

A tristeza vai, e alegria vem! Quando ele passa tudo se renova

A alegria vem vem p’ra ti , p’ra mim também .

A Alegria está passando por aqui (x2) Quando ela passa tudo se renova

A tristeza vai, e alegria vem! Quando ele passa tudo se renova

A alegria vem, vem p’ra ti, p’ra mim também.

O Perdao está passando por aqui (x2) Quando ele passa tudo se renova

A tristeza vai, e alegria vem! Quando ele passa tudo se renova

A alegria vem, vem p’ra ti, p’ra mim também.

Espírito Santo está passando por aqui (x2) Quando ele passa tudo se renova

A tristeza vai, e alegria vem! Quando ele passa tudo se renova

A alegria vem, vem p’ra ti, p’ra mim também.

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Espirito Santo de Blainville 2012

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